CENTRO UNIVERSITÁRIO 7 DE SETEMBRO CURSO DE … · 2019-12-01 · (UNI7), onde pude, por quase...
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CENTRO UNIVERSITÁRIO 7 DE SETEMBRO
CURSO DE GRADUAÇÃO EM COMUNICAÇÃO SOCIAL – JORNALISMO
RAFAELLA GIRÃO ALVES
DOCUMENTÁRIO: VELHAS NOVIDADES
FORTALEZA 2019
RAFAELLA GIRÃO ALVES
DOCUMENTÁRIO: VELHAS NOVIDADES Trabalho de Conclusão de Curso apresentado como requisito obrigatório para obtenção do grau de bacharel em Comunicação Social (habilitação em Jornalismo) pelo Centro Universitário Sete de Setembro. Orientadora: Profª. Ms. Morgana Bavaresco.
FORTALEZA 2019
CIP – Catalogação na Publicação
[Ficha catalográfica]
RAFAELLA GIRÃO ALVES
DOCUMENTÁRIO: VELHAS NOVIDADES Trabalho de Conclusão de Curso apresentado como requisito obrigatório para obtenção do grau de bacharel em Comunicação Social (habilitação em Jornalismo) pelo Centro Universitário Sete de Setembro.
Aprovada em:
BANCA EXAMINADORA
___________________________________________ Profª. Ms. Morgana Bavaresco - UNI7
Orientadora
___________________________________________ Prof. Ms. Jari Vieira Silva - UNI7
Examinador
___________________________________________ Profª. Ms. Moema Mesquita da Silva Braga – UNI7
Examinadora
DEDICATÓRIA
Por todo amor, sabedoria e força, dedico este trabalho à minha mãe, a
pasteleira Branca. Para Maria e Wellington, meu manifesto de amor. Para os
chegados e irmãos, “people have the power”.
AGRADECIMENTOS
Agradeço ao meu criador e conhecedor do meu coração, Jesus Cristo. Sem o
seu amor, nem o nada me restaria.
À minha mãe, Branca Girão, pelos nossos detalhes e pelo nosso tudo.
Desconheço mulher mais sábia e mais forte. Ela é a pessoa que mais me apoiou em
todos os momentos da minha vida.
À minha avó, Maria Girão, por ter me ensinado desde muito cedo sobre o valor
que as roupas possuem. Sobre cada costura, corte e modelagem impecáveis. Sobre
cada tecido e aviamentos encontrados pelos caminhos do centro de cidade de
Fortaleza.
Aos meus sobrinhos, Maria Elisa e Wellington por me mostrarem ainda mais
sobre o amor e a desordem. Por cada palavra descoberta. Por cada lugar desbravado
e ressignificado. Por me provarem que a vida, por mais pesada que seja, pode ser
leve.
À Maiane Almeida, minha melhor amiga, que segura pela minha mão desde
quando eu tinha apenas seis anos de idade. Ela, que sempre me incentiva a me lançar
ao mundo. Que me ama com liberdade. Que é caos e aconchego tudo na mesma
proporção. Que esconde uma certa sensibilidade transformando em razão, mas que
sempre está atenta a todas a miudezas dessa vida. Viva a Maiane! Viva a playlist mais
cafona das nossas vidas! Viva a nossa amizade! Viva o nosso amor!
Aos meus amigos e chegados, que são muitos e incrivelmente únicos. Tanta
gente massa e talentosa entrou, passou e ficou na minha vida ao longo dessa jornada
do curso de jornalismo. Aprendemos muito e juntos.
Ao meu amor e camarada, Carlos Augusto, que tem um abraço quente, cheiro
de mar e os olhos mais lindos que eu já vi.
À minha orientadora, Morgana Bavaresco, por acreditar em mim até o último
momento e aceitar direcionar este projeto sem nunca ter me visto na vida. Sua
contribuição foi imprescindível para que eu pudesse chegar até aqui. Sou grata por
sua paciência, disponibilidade e rápido retorno sempre. Agradeço cada troca e a cada
resposta sincera que recebi. Você é inspiradora. Adoro seu cabelo curtinho e o jeito
como você se veste. Obrigada por tudo.
Aos mestres do jornalismo, Jari Vieira e Moema Braga por aceitarem participar
da banca avaliadora. É uma satisfação poder contar com a experiência e
ensinamentos de profissionais tão competentes.
Agradeço ainda, aos demais mestres do Centro Universitário 7 de Setembro
(UNI7), onde pude, por quase sete anos, desenvolver habilidades e técnicas do fazer
jornalístico.
Obrigada, professores Diego Henrique, Eulália Camurça, Nila Bandeira, Márcio
Benevides, Fernando Cavalcante, Aldo Rabelo, Ana Paula Rabelo, a linda e forte Kátia
Patrocínio, Vânia Tajra, Edma Gois, Paulo Junior Pinheiro, ao casal mais amado e
inspirador do jornalismo cearense, Ana Márcia Diógenes e Miguel Macedo.
Agradeço a todos as pessoas que dedicaram seu tempo para que esse trabalho
fosse realizado, ouvir a história de cada um foi um presente para mim.
Agradeço ao melhor presidente que o Brasil já teve, o companheiro Luiz Inácio
Lula da Silva por ter me proporcionado a oportunidade de ser a primeira pessoa da
minha família a ter acesso ao ensino superior e por ter melhorado a vida deles desde
que chegaram na capital.
Eu acredito e luto pela implantação de políticas públicas de democratização do
acesso ao ensino superior. Eu acredito que jovens da periferia possam se
profissionalizar, ter um espaço de protagonismo e ampliar suas perspectivas no
mundo. Eu acredito no povo, porque faço parte dele.
Por fim, era uma vez agora.
"Busca-se o tempo todo coisas novas que, ao final não dão satisfação. Cada vez temos mais coisas, mais não significa que estamos mais felizes."
Gilles Lipovetsky
RESUMO
Este trabalho em forma de documentário apresenta a ação dos brechós como
alternativa de compra e venda de peças de roupas e acessórios usados. O
documentário exibe as diversas motivações dos usuários desses espaços, aponta
análises sobre os impactos ambientais relacionados ao mundo da moda e expõe
reflexões sobre o consumo abusivo. Os objetivos do trabalho foram os de buscar
elencar as motivações que tem levado as pessoas a consumir peças usadas de
brechós, entender sobre como a ação humana relacionada ao mercado da moda pode
afetar o meio ambiente, e, compreender a ação dos brechós e de seus usuários como
medida de diminuição de impactos ambientais e reversão de práticas de consumo
imoderado. O produto audiovisual foi realizado a partir da coleta e editoração de
depoimentos de pessoas que compram, vendem e transitam em três dos brechós de
em Fortaleza, Ceará. Observou-se que os usuários desses espaços se mobilizam a
partir de motivações orientadas pela redução de custo com a aquisição de roupas, de
busca por práticas de consumo moderadas e ambientalmente sustentável.
Palavras-chave: Moda. Brechós. Consumo consciente. Sustentabilidade.
Documentário.
ABSTRACT
This work in documentary form presents the thrift store action as an alternative to
buying and selling used clothing and accessories. The documentary shows the diverse
motivations of the users of these spaces, points out analyzes about the environmental
impacts related to the fashion world and exposes reflections on the abusive
consumption. The objectives of this work were to seek to list the motivations that have
led people to consume used thrift stores, to understand how the human action related
to the fashion market can affect the environment, and to understand the action of thrift
stores and their users as a measure of reducing environmental impacts and reversing
immoderate consumption practices. The audiovisual product was made by collecting
and editing testimonials from people who buy, sell and transit three of the thrift stores
in Fortaleza, Ceará. It was observed that the users of these spaces mobilize from
motivations oriented by the cost reduction with the purchase of clothes, the search for
moderate consumption practices and environmentally sustainable.
Keywords: Fashion. Thrift Stores. Conscious consumption. Sustainability.
Documentary.
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ........................................................................................... 11
2 OBJETIVOS ............................................................................................... 13
2.1 Geral .......................................................................................................... 13
2.1 Específicos ................................................................................................ 13
3 JUSTIFICATIVA ......................................................................................... 14
4 METODOLOGIA ........................................................................................ 16
5 ORIGEM DO CONSUMO ........................................................................... 17
5.1 O consumo de moda de segunda mão na contemporaneidade e os brechós ......................................................................................................
21
6 DOCUMENTÁRIO ...................................................................................... 24
6.1 Argumento ................................................................................................. 26
6.2 Personagens ............................................................................................. 28
6.3 Estrutura .................................................................................................... 28
7 PLANEJAMENTO ...................................................................................... 30
7.1 Pré-produção ............................................................................................ 30
7.2 Diário de gravação ................................................................................... 31
7.3 Pós-produção ........................................................................................... 33
7.4 Roteiro ....................................................................................................... 33
7.5 Cronograma geral ..................................................................................... 35
7.6 Sinopse ...................................................................................................... 35
8 CONSIDERAÇÕES FINAIS ....................................................................... 37
REFERÊNCIAS .......................................................................................... 39
APÊNDICE A – FOTOGRAFIAS EM CAMPO GRAVANDO, NA EDIÇÃO E FINALIZAÇÃO .........................................................................
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1 INTRODUÇÃO
O mundo está em constante transformação, seja no contexto político,
econômico, social e cultural. Em consequência disso surgem novos valores, crenças
e comportamentos disseminados na sociedade. Eles contribuem para mudanças no
perfil dos consumidores, que estão sempre buscando novos meios de inserção nos
contextos em que vivem.
Nesse sentido o presente trabalho apresenta por meio de um filme
documentário relatos sobre mudanças de comportamento, motivações e expectativas
dentro do campo da moda, levando em consideração o atual discurso sobre a
necessidade de um consumo mais consciente, com menos impacto e desgaste do
meio ambiente. Foram ouvidas pessoas que compram, vendem e participam de
eventos de bazar na cidade de Fortaleza, a fim de apresentar quais são seus objetivos
e como lidam com a moda de produtos usados. Seria o motivo desse consumo dessas
pessoas uma consciência coletiva, ou apenas mais uma forma de consumir ainda
mais, considerando como vantagem os preços baixos das peças devido seu estado
de uso?
É sabido que os recursos naturais estão cada vez mais sofrendo com as ações
desequilibradas do ser humano. No dia 29 de julho de 2019 foi atingido o limite do
estoque de recursos naturais para o ano, o 'Dia da Sobrecarga da Terra'. Isso significa
que, antes da chegada do mês de agosto, a humanidade esgotara toda a reserva de
recursos naturais do planeta para este ano.
Segundo dados da Global Footprint Network (GFN), todos os anos calcula-se
o número de dias em que a biocapacidade do planeta Terra é suficiente para suportar
a "pegada ecológica" da humanidade naquele mesmo ano, ou seja, as marcas de
utilização dos recursos naturais disponíveis - o quanto o homem "gastou" dos recursos
que o planeta dispõe. O restante do ano corresponde ao uso excessivo global. Estima-
se que, em 2050, a humanidade terá consumido o dobro do que o planeta produz.
A indústria da moda, por sua vez é responsável por usar esses recursos e gerar
uma série de impactos negativos no meio ambiente. Além disso é uma das indústrias
que mais geram lixo e resíduos no mundo. Refugos esses com números também
impactantes. Lorenzetti (2018) em entrevista para Patrick (2018) afirma que,
“calculando uma perda de 10% do tecido no processo de corte para a confecção,
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pode-se estimar que são geradas, no mínimo, 170 mil toneladas de resíduos têxteis,
por ano, no Brasil”.
Dessa quantidade, apenas 36 mil toneladas são reaproveitadas na produção
de peças novas de roupas, mantas e fios. De acordo com a Associação Brasileira da
Indústria Têxtil e Confecção (2018) na região do Bom Retiro, em São Paulo,
diariamente são descartados, inadequadamente, 12 toneladas de resíduos têxteis
(retalhos) produzidos por mais de 1,2 mil confecções.
A atual conjuntura global valida um futuro de incertezas e no presente, existe
a necessidade de ser criado um redesenho pautado em mudanças de hábitos e
comportamentos para inverter esse quadro.
À frente dessa movimentação, surge uma nova postura relacionada ao
consumo de moda e vários modelos de venda de roupas de usadas, além de novos
programas de TV, influenciadores de moda sustentável nas redes sociais e marcas
que estão repensando e se posicionado a favor da sustentabilidade, os brechós
ganham destaque, uma vez que expressam a ideia de uma compra mais consciente
e ecológica. À medida que a vida útil de uma peça de roupa que seria descartada de
forma incorreta, é expandida, os danos ecossistêmicos são reduzidos.
Para a concretização desse projeto, foram estabelecidos objetivos, geral e
específicos, que estão presentes neste relatório técnico. A relação pessoal e social da
pesquisadora com relação a moda e suas reflexões sobre o contexto atual.
Foi necessário um estudo metodológico para definir a ferramenta de pesquisa
adequada que possibilitasse chegar aos objetivos e possibilitar a criação do produto.
Foram realizadas entrevistas e um trabalho de pesquisa sobre o tema abordado.
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2 OBJETIVOS
Apresentam-se os objetivos geral e específicos.
2.1 Geral
Produzir material audiovisual no formato de documentário para apresentar
entrevistas verbais, pautadas nos dados e informações sobre o comércio de moda
de itens usados, realizado em brechós, na cidade de Fortaleza - CE. Apresentar
relatos de pessoas que compram, vendem e participam desse processo e as
motivações do consumidor contemporâneo para comprar roupas de moda de segunda
mão.
2.2 Específicos
a) Pesquisar informações sobre o porquê do aumento do consumo de moda de
usados e de que forma a consciência sustentável influência na compra de
roupas de segunda mão em brechós;
b) Filmar e gravar entrevistas durante a realização de uma edição do Bazar
Aberto, na Feira Alternativa La Grue e o brechó e loja compartilhada Revival;
c) Editar imagens com entrevistas em formato de documentário;
d) Apresentar a partir dos relatos coletados qual a motivação das pessoas em
consumir e comercializar itens usados;
e) Provocar reflexão sobre o consumo diante das contribuições dos participantes
do documentário.
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3 JUSTIFICATIVA
A moda sempre foi para mim uma forma de comunicação e expressão do que
sou em relação ao que está em minha volta. Na infância vivi diversas sensações com
conectadas o ao[MB1] universo do vestuário. Minha avó foi costureira por muitos anos,
ofício que lhe deu a sensibilidade de lidar com as cores, texturas e aviamentos e de
me proporcionar ricas experiências enquanto buscava absorver por contemplação e
voluntariado todo o conhecimento da minha fonte de inspiração.
O Centro da cidade de Fortaleza, um lugar de pertencimento, também me
proporcionou muito aprendizado, através de seus variados comércios voltados para
os artigos de costura. O ambiente já era muito familiar para mim, que aos poucos já
planejava mentalmente modelos e peças. Já sabia que materiais usar, que tipo de
tecido seria mais adequado e isso foi virando uma rotina até o final da minha
adolescência.
Os anos foram passando e essa paixão foi se firmando com a mesma
intensidade. As peças prontas começaram a fazer parte dos meus objetos de desejo,
gostava de trazer minha personalidade ao que vestia e adquirir peças de roupas foi
ficando cada vez mais uma atitude comum.
Ao entrar no mercado de trabalho, aos 19 anos, ainda de forma precoce,
construí uma carreira na área de gestão comercial dentro do varejo. Por quase cinco
anos da minha vida passei a vivenciar o consumo na sua pior forma, praticado dentro
dos grandes shoppings na perspectiva do exagero e não por uma necessidade de
possuir peças de roupas. Me tornei uma pessoa dependente do “fast fashion”, na
tradução livre, moda rápida. Cheguei a possuir duzentos e oitenta pares de
sapatos[MB2] . Uma pessoa com dois pés. Logo, esse exagero me trouxe angústia, um
vazio que foi constatado depois que comecei a questionar minhas práticas de
consumo, até por conta de uma questão de consciência coletiva também.
Hoje tenho dois sobrinhos pequenos, Wellington, de 8 anos e Maria Elisa, com
cinco anos e pensar no futuro tem sido uma prática recorrente, ainda mais quando o
futuro será o deles. Penso o que minha geração poderá deixar para eles, questiono
meus desejos de consumir cada vez que lembro o quanto os recursos naturais estão
ficando limitados. Há quatro anos resolvi me reinventar, buscar o que realmente
preciso e fazer circular as peças de vestuário que fizeram parte da minha história, mas
que não conversam comigo da mesma forma de antes.
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Juntei tudo que não me representava mais e comecei a participar de feiras
vendas de roupas de segunda mão, grupos que discutem novas formas de consumir
moda e sempre quando vou comprar algo, procuro incentivar o comércio local.
Comprar em grandes lojas não é mais uma opção e sim uma decisão.
Por meio dessa mudança passei a acompanhar o movimento e crescimento de
brechós da cidade de Fortaleza. Um mercado que expandiu a passos largos nos
últimos anos. É diante dessa resistência e ressignificação da roupa comercializada
nos brechós que me propus a construir o documentário Velhas Novidades.
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4 METODOLOGIA
Este trabalho se concretiza por meio de um documentário, que tem como base
a metodologia qualitativa, pois leva em consideração questões subjetivas e inerentes
do sujeito para tratar determinadas questões que possam ser de interesse coletivo,
segundo Paulilo (1999). O documentário Velhas Novidades aborda a relação do
consumo de produtos de moda usados, por pessoas que frequentam, compram e
vendem em eventos de bazar na cidade de Fortaleza. Para alcançar os objetivos foi
necessária a realização de uma agenda de gravações e a criação de um roteiro para
a captação de imagens e depoimentos sobre a relação com o consumo, a fim de gerar
uma reflexão sobre a motivação real de quem compra roupas e acessórios usados.
Para o documentário foram gravadas oito entrevistas individuais com pessoas
que têm relação com o universo da moda e se relacionam direta e indiretamente com
o consumo consciente. As entrevistas aconteceram no Bazar Aberto, na Praça da
Gentilândia e na Feira Alternativa La Grue, ambos em Fortaleza.
O processo de pesquisa exigiu aproximação e relação de confiança com os
pesquisados / entrevistados, tendo em vista que estes seriam fonte direta de dados
para a produção audiovisual. Essa relação do pesquisador e pesquisado é abordada
por Spindola e Santos (2003) e é caracterizada pela obtenção de dados descritivos,
no contato direto do pesquisador com a situação estudada, valorizando-se mais o
processo que o produto, preocupando se em retratar a perspectiva dos participantes,
isto é o significado que eles atribuem às coisas e à vida. Dessa forma, são percebidos
como as pessoas mais importantes no processo (SPINDOLA; SANTOS, 2003, p. 121).
Sobre entrevistas, Paulilo (1999, p. 141) ressalta que “são formas especiais de
conversação e, neste sentido, interativas”. Assim, o ambiente oferecido para o
entrevistado é também usado pelo entrevistador, ao passo que é estabelecida uma
relação mútua com seu objeto de pesquisa. A autora considera a construção do
conhecimento como o fruto dessa interação. A participação, neste nível de interação,
envolve ambos em um trabalho de produção de sentido (PAULILO, 1999, p. 143).
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5 ORIGEM DO CONSUMO
Em um passado marcado por guerras, o ato de consumir se dava pela
necessidade de ter o básico, que inclui alimentação, moradia e salubridade. No início,
grande parte da população morava na zona rural e vivia da agricultura, foram cerca
de 5.000 anos dominados pelos detentores da terra.
No período que compreende a passagem de transição da Idade da Pedra para
a Idade do Cobre (surgimento do metal), a Revolução Agrícola possibilitou o
surgimento dos primeiros povoados habitados por indivíduos que viviam em condições
de subsistência, ou seja, as pessoas plantavam o que comiam e confeccionavam as
próprias vestimentas para a sobrevivência.
Com chegada da Primeira Revolução Industrial muitas mudanças foram
ocorrendo na sociedade, como a migração da população da zona rural para a zona
urbana gerando um rápido crescimento e desenvolvimento nas capitais. Foram
acontecendo também, mudanças nos processos de manufatura, surgindo fábricas de
tecidos de algodão com o uso do tear mecânico. O que antes era feito de forma
artesanal, passou a ser fabricado por uma máquina. Houve uma superação dos níveis
de subsistência, um avanço da produção fez com que as pessoas se afastassem do
modo de como os produtos eram feitos em relação aos meios de fabricação. Esse
distanciamento ou desconhecimento, foi nomeado historicamente como “alienação”.
Para Marx (2004) o homem, no contexto do Capitalismo, se aliena em relação
ao fruto de seu trabalho e a sua própria essência e espécie. A Revolução Industrial
facilitou a solidificação do sistema capitalista, que busca a todo custo o lucro.
Diante dessa realidade causada pela mecanização do trabalho os operários
passaram a vender sua mão de obra para os donos das indústrias. Dando origem a
uma divisão, onde os trabalhadores acabam sem saber quanto custa o produto em
sua forma final e nem o tempo que leva para ser confeccionado. Com isso, as jornadas
de serviços tornam-se exaustivas iniciando um processo de exploração da mão de
obra, pois se esse trabalhador quiser possuir o que produz, ele precisa comprar
usando o dinheiro que ganhou com venda do seu trabalho, pois quem decide o valor
dos objetos são os donos das indústrias.
Os anos foram passando e logo chegamos na terceira fase da Revolução
Industrial, que ficou marcada por muitas transformações nas áreas do saber. No
Brasil, nos anos 1950, a comunicação ganhou mais importância com o surgimento da
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TV, onde o produto ainda era o centro das atenções, os comerciais mostravam seu
funcionamento e características. A imagem de uma vida perfeita era transmitida em
propagandas, ter uma família com filhos, uma casa preenchida com eletrodomésticos
e um carro, era a principal ideia de consumo que estava posto para sociedade, o
“sonho americano”. A ideia de se encaixar nesse modelo determinado pela
publicidade da época, para ser considerado um “vencedor”, tornou-se uma meta para
muitos.
Com o aumento do consumo e da concorrência entre as indústrias, mostrou-se
uma necessidade da diferenciação entre os concorrentes para vender o excedente de
produção. “Quem aparece mais, vende mais!”, as pessoas foram encorajadas a
comprar mais do que o necessário. Nascia a indústria do crédito pautada no conceito
de “compre agora, pague depois”. O mundo inteiro estava passando por mudanças,
um grande progresso da comunicação, a internet se popularizou fazendo com que as
informações fossem difundidas de uma forma cada vez mais rápida. Esse crescimento
acelerou as economias, as indústrias se espalharam pelo mundo estabelecendo-se
em países periféricos, dando origem a globalização, um processo do capitalismo que
consente que economias dos países mais fortes colonizem os países mais fracos.
Sobre a globalização, Bauman (1999, p. 79) afirma que:
A globalização deu mais oportunidades aos extremamente ricos de ganhar dinheiro mais rápido. Esses indivíduos utilizam a mais recente tecnologia para movimentar largas somas de dinheiro mundo afora com extrema rapidez e especular com eficiência cada vez maior.
A globalização beneficia uma pequena parcela da sociedade, os ricos,
deixando de fora os menos favorecidos. Bauman (1999), ainda em sua obra
“Globalização – as consequências humanas”, afirma que com o avanço da tecnologia
da informação não existem mais divisões geográficas, pois as informações chegam
nas pessoas de forma imediata e com baixo custo. Ainda que de uma maneira
desigual, a comunicação e tecnologias de informação estão interligadas e pessoas de
todo o mundo podem se relacionar através da internet.
A globalização colaborou também, com a vida contemporânea, proporcionando
acesso às tecnologias e mostrando às empresas novas maneiras de vender seus
produtos. Por outro lado, trouxe consequências graves como escassez dos recursos
naturais e aumento de desemprego, já que os empresários acabaram migrando suas
produções para países que oferecem mão de obra mais barata. Essa é a ideia desse
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sistema produtivo, fabricar mais em menos tempo, usando cada vez mais matérias
primas da natureza, algo que acontece há anos na indústria têxtil.
De forma rotativa o capitalismo se estabeleceu na sociedade, pois quando geramos
uma demanda de consumo, o produtor aumenta a produção. Logo, as vagas de
emprego aparecem, os salários expandem e como resultado, o consumo aumenta,
até que o ciclo recomece. Essa é a lógica capitalista e sua solidificação foi essencial
para o nascimento de uma sociedade pautada em consumo.
Após algumas décadas, as necessidades e desejos do consumidor foram
mudaram e as indústrias passaram a produzir de uma forma diferente para atendê-lo.
O consumidor torna-se a grande estrela das empresas. Dessa vez, os cidadãos
estavam consumindo de forma mais individual e as fábricas passaram a atender à
essas necessidades de maneira segmentada em nichos. O ato de consumir tornou-se
um modo de ostentar, de promover status, de distinção social e para satisfazer o
prazer individual das pessoas.
Com essa expansão da indústria, o consumo fica ainda mais evidente, quase
sempre, de maneira exagerada. O ato de consumir não é mais necessário para
sobrevivência, ele passa a ser associado a uma necessidade construída de que
sempre estamos precisando de produtos novos.
A maneira como a sociedade atual molda seus membros é ditada primeiro e
acima de tudo pelo dever de desempenhar o papel de consumidor. A norma que nossa
sociedade coloca para seus membros é a da capacidade e vontade de desempenhar
esse papel (BAUMAN, 1999).
Para Bauman (1999, p. x), o consumidor da “sociedade do consumo é uma
criatura acentuadamente diferente dos consumidores de quaisquer outras sociedades
até aqui”. Uma vez que o indivíduo está inserido nela, ele tem que escolher um modo
de vida consumista para seguir. Nessa construção social, consumir torna- se um dever
de todos independente de classe, idade e gênero. Mesmo que o sujeito não tenha
dinheiro para comprar as possibilidades de créditos não vão faltar.
Ser membro dessa sociedade exige dedicação, pois as pessoas acabam
sendo a mercadoria do próprio consumo, as empresas criam os produtos baseados
nas demandas dos consumidores, aproveitando para produzir mercadorias para
estimulá-las nesse empenho de ser consumidor. Bauman (2008) afirma que é isso
que os torna consumidores autênticos. Ele ainda destaca que, “é preciso primeiro se
tornar mercadoria para ter uma chance razoável de exercer os direitos e cumprir os
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deveres de um consumidor”. Ou seja, o consumidor passa a ser o agente modificador
da sua maneira de consumir quando passa a ter necessidades individuais. A indústria
se moldou a esse comportamento dando origem a marcas diferentes, com
posicionamentos diversos e o consumidor começa a procurar e usar marcas que
representem suas convicções. Chegamos na era do consumismo, onde para cada
desejo de um indivíduo, um produto é criado e vendido. Diante de tantas opções o
consumidor começa a buscar marcas que representam seus valores e
comportamento, empresas que possuem uma relação direta com suas convicções.
Esse comportamento trouxe grandes consequências para a natureza e entramos num
verdadeiro processo de autodestruição.
A humanidade tem utilizado mais recursos naturais do que o planeta consegue
gerar. Em um ano consumimos o que o planeta levará de dois a três anos para
regenerar. Esse overshoot pode levar a dois resultados: (1) alguma forma de ruptura;
(2) uma correção, que deve ser profunda e realizada em breve (MEADOWS;
RANDERS; MEADOWS, 2007). Segundo o relatório do Programa das Nações Unidas
para o Meio Ambiente (PNUMA, 2016) a quantidade de matérias-primas extraídas
passou de 22 bilhões de toneladas em 1970 para 70 bilhões de toneladas em 2010.
Os países mais ricos consomem em média dez vezes mais commodities que os mais
pobres e duas vezes mais que a média mundial. Se as condições permanecerem as
mesmas, em 2050 às 9 bilhões de pessoas do planeta precisarão de 180 bilhões de
toneladas de matérias primas anualmente para satisfazer sua demanda. Esse número
equivale a quase três vezes a quantidade atual e provavelmente elevará a acidificação
e eutrofização dos solos e das águas no mundo todo, aumentará a erosão do solo e
produzirá maiores quantidades de resíduos e contaminação.
Preocupados com o diagnóstico do desgaste ambiental, com a escassez de
recursos naturais e motivados pelo propósito de frear os impactos causados no
planeta, nos início dos anos 2000, surge um novo modo do consumidor do século XXI,
o lowsumerism1 , “não consumo”, que é o atual desejo de quebrar o ciclo vicioso do
consumismo, levando um estilo de vida mais consciente, consumindo menos. O
primeiro sinal dessa tendência de comportamento foi divulgado através de um vídeo
no Youtube pela Box1824, uma empresa de pesquisa especializada em tendências
de comportamento.
1 The Rise of Lowsumerism. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=jk5GLBIhJtA. Acesso em: xx xx. xxxx.
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Nos últimos anos, a indústria da moda, a segunda mais poluente do globo -
atrás apenas da indústria do petróleo, tem exercitado a ideia desse movimento,
vivendo um momento de mudanças na organização da forma de produção e na
instigação de um novo sentimento para com seus consumidores.
O grave diagnóstico a respeito da degradação ambiental que as fábricas têxteis
geraram, desde o início dos seus processos de produção no plantio com uso de
agrotóxico e pesticidas, pelo uso excessivo da água, mão de obra barata, uso de
materiais de origem insólita, e principalmente, por conta do descarte na natureza de
peças de vestuário, ampliou um debate com temáticas sobre atitudes sustentáveis
que possibilitam um consumo de moda com mais propósito e, além disso, também
tem dado origem a vários grupos que se articulam com intuito de fortalecer um
pensamento de conscientização por uma moda mais ética e sustentável.
5.1 O consumo de moda de segunda mão na contemporaneidade e os brechós
Nos últimos anos, o aumento acentuado do consumo mundial foi um dos
principais responsáveis pela a ampliação da indústria. Para que essa expansão de
produção da sociedade contemporânea existisse, as empresas usaram e usam os
recursos naturais para confeccionar seus produtos, o que acabou gerando graves
consequências ambientais e humanas. Essa realidade se mostra insustentável
quando paramos para analisar dados sobre o impacto da produção de matéria-prima
da cadeia produtiva têxtil.
Segundo dados da Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção
(2018), a produção média de confecção do ano de 2017 chegou a 8,9 bilhões de peças
incluindo vestuário, meias e acessórios, cama, mesa e banho, contra 5,7 bilhões de
peças em 2016. Os números são altos e surge um questionamento, você já parou
para pensar como, onde, quem confeccionou e quais são os impactos causados no
meio ambiente por cada peça dessas?
Os impactos são os resultados de todos os movimentos realizados na
fabricação de toda a cadeia produtiva têxtil, que se inicia com o plantio do algodão
indo até a confecção da peça e depois, quando chega na comercialização. Na
plantação de algodão são utilizados pesticidas, inseticidas e fertilizantes para obter
uma boa fibra, que será colhida causando contaminação do solo, água e fauna.
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O consumo de água é exagerado durante os processos de tingimento, aliados
ao gasto de energia, emissões atmosféricas de poluentes e resíduos sólidos. No
aspecto social, envolvem condições análogas ao trabalho escravo e sérios problemas
com mão de obra explorada, lamentavelmente, uma prática rotineira na produção de
grandes marcas de moda.
A sociedade do consumo é definida como uma sociedade em que há um
excesso de mercadorias e serviços, forte apego a objetos, cultura materialista pautada
na obsolescência programada. “Toda a cultura de massa-midiática tornou-se uma
formidável máquina comandada pela lei da renovação acelerada, do sucesso
efêmero, da sedução, da diferença marginal” (LIPOVETSKY,1989 apud MARTINS;
ASHTON, 2018, p. x). A partir disso que o setor de moda, foi nas últimas décadas, um
dos maiores responsáveis pelo consumo acelerado de bens e pelo acúmulo de
resíduos poluentes (BERLIM, 2016 apud MARTINS; ASHTON, 2018).
A prática de venda de roupas e objetos de segunda mão, no Brasil, teve seu
surgimento na cidade do Rio de Janeiro, durante o século XIX e foi iniciada por um
comerciante que se chamava Belchior, mesmo nome pelo qual as lojas eram
conhecidas, antes de serem chamadas de brechó.
Durante muito tempo os brechós não tinham muita importância e não eram bem
vistos pelas pessoas, devido a comercialização de roupas já usadas por terceiros.
Martins e Ashton (2018) explicam que a grande procura de itens em brechós e a
desmistificação do conceito que os associava a instituições de caridade, desencadeou
uma ruptura nesse segmento nos últimos anos. Em consequência disso a forma como
os brechós eram vistos até então, passou a sofrer um processo de ressignificação que
tem início fora do Brasil por volta da década de 1990, associado com o crescimento
da moda vintage.
Ricardo (2008) explica que a palavra vintage tem origem inglesa e designa, na
enologia, o ano de uma colheita de uvas. Na moda, é usada para definir roupas
antigas, que representam claramente o estilo de sua época, desde que estejam no
seu estado original. Ainda de acordo com Ricardo (2008) os brechós passaram por
diversas mudanças nos últimos anos. Toda uma reorganização com relação a espaço,
limpeza, higienização das peças e acessórios, além de uma forma melhor de
apresentar o local e as peças, o que contribuiu para a redução da resistência das
pessoas em relação a essa opção de consumo.
23
Importante salientar que os brechós acontecem também em espaços públicos,
geralmente ao ar livre e além do baixo valor das peças de roupas e acessórios, eles
têm como critérios oferecer peças em bom estado com qualidade e até ineditismo. O
consumo da moda de brechós, pode ser considerado, ainda de acordo com Martins e
Ashton (2018), como um movimento de contraconsumo, que busca alternativas
perante o mercado de moda tradicional pautado no consumo acelerado e na
obsolescência programada.
Pesquisas do SEBRAE, estimam que os brechós tiveram um crescimento de
210% entre 2007 e 2012 no Brasil (INNOVARE PESQUISA, 2015). A causa para esse
expressivo crescimento pode estar relacionado a fatores variados como o
enfraquecimento da sociedade de consumo; o aumento da preocupação com
questões ambientais; e a busca por peças raras e colecionáveis de outras décadas.
Porém Lipovetsky (1989 apud MARTINS; ASHTON, 2018) declara que de
fato existe movimento a favor da diminuição do consumo frívolo, mas que no entanto
a cultura do consumismo ainda está longe de ser erradicada. Ao invés disso, o que
acontece é a ascensão de novas formas de consumo.
24
6 DOCUMENTÁRIO
Gênero cinematográfico que percorre há décadas, o documentário vai se
modificando à medida que as transformações tecnológicas vão acontecendo. Através
de imagens captadas por câmeras, ele tenta transmitir as diversas realidades
existentes em que nós vivemos. É uma produção que narra um momento específico
da vida de alguém ou objeto, sempre acompanhado por uma “presença” ou “voz” que
participa de toda a narrativa. Estudiosos e especialistas buscam definir um verdadeiro
conceito para documentário e, muitas são as definições.
Na obra “Introdução ao documentário” o autor Bill Nichols (2007) evidencia que
o significado de documentário não pode ser reduzido a um verbete de dicionário como
“temperatura” ou “sal de cozinha”. De acordo com ele, se o documentário consistisse
numa reprodução da realidade, teríamos simplesmente a réplica ou cópia de algo já
existente. Porém não se trata de uma reprodução da realidade e sim uma
representação do mundo em que vivemos. Ou seja, é uma interpretação abstrata de
espaço de acordo com o que o documentarista observa que seja mundo.
Os documentários não adotam um conjunto fixo de técnicas, não tratam de apenas um conjunto de questões, não apresentam apenas um conjunto de formas ou estilos. Nem todos os documentários exibem um conjunto único de características comuns. A prática do documentário é uma arena onde as coisas mudam. Abordagens alternativas são constantemente tentadas e, em seguida, adotadas por outros cineastas ou abandonadas. Existe contestação. (NICHOLS, 2012, p. 48).
São muitas as definições, essa é apenas uma tentativa de conceituar o que é
de fato, o gênero documental. Algumas vezes coincidem, outras divergem. Uma outra
definição é a do documentário que pode estar ligado às características de filmes
ficcionais. Nichols afirma que todo filme é um documentário e que este pode ser
classificado como ficção e não-ficção:
Mesmo a mais extravagante das definições evidencia a cultura que a produziu e reproduz a aparência das pessoas que fazer parte dela. Na verdade, poderíamos dizer que existem dois tipos de filme: (1) documentários de satisfação de desejos e (2) documentários de representação social. Cada tipo conta uma história, mas essas histórias ou narrativas, são de espécies diferentes. (NICHOLS, 2007, p. 26).
25
Os documentários de satisfação de desejos são também chamados de ficção,
eles são projetados segundo a imaginação, desejos ou medos. São filmes em que se
pode ou não acreditar. Os documentários de representação social, são chamados de
não-ficcionais, retratam de forma mais fiel a realidade em que vivemos e nos
proporcionam diferentes visões do mundo. Lembrando que, apesar das diferenças
em cada uma das classificações acima, a interpretação vai acontecer de acordo com
os valores e significados que sentimos.
Além dessas classificações, Nichols (2007) apresenta, ainda, seis diferentes
categorias de documentário que são:
a) Modo poético: Modo que está muito próximo do cinema experimental, pessoal
e de vanguarda. Ele destaca associações visuais, qualidades de tons ou ritmos,
passagens descritivas e organização formal;
b) Modo expositivo: modo que a maior parte das pessoas reconhece o
comentário verbal e uma lógica argumentativa;
c) Modo observativo: enfatiza o engajamento direto no cotidiano das pessoas
que representam o tema do cineasta, conforme são observadas por uma
câmera discreta;
d) Modo participativo: Quando a filmagem é realizada por meio de entrevistas
ou outras formas de um envolvimento ainda mais direto. Chama atenção para
a interação de cineasta e tema. Comumente, une-se à imagem de arquivo para
examinar questões históricas;
e) Modo reflexivo: esse modo estimula a consciência na construção da
representação do real produzida pelo filme. Alerta para as hipóteses e
convenções que regem o cinema documentário;
f) Modo performático: evidencia o aspecto subjetivo ou expressivo do próprio
engajamento do cineasta com seu tema e a receptividade do público a esse
engajamento. Rejeita ideias de objetividade em favor de evocações e afetos.
Todos os filmes desse modo compartilham características com filmes
26
experimentais, pessoais e de vanguarda, mas com uma ênfase vigorosa no
impacto emocional e social sobre o público.
O autor afirma ser comum utilizar mais um modo na produção do trabalho. No
filme documentário “Velhas Novidades” é possível identificar, pelo menos, quatro dos
modos descritos acima. São eles: poético, expositivo, participativo e reflexivo.
6.1 Argumento
Toda construção de narrativa, seja uma matéria jornalística, uma escrita
literária ou um projeto audiovisual, precisa percorrer um caminho para que o
espectador ou telespectador tenha compreensão do que será apresentado. Ou seja,
a história precisa ter começo, meio e fim. Não exatamente nessa ordem, pois existem
estéticas diferentes, mas é importante que um percurso seja construído para quem
está recebendo esse material.
O presente documentário propõe uma narrativa de representação social e fala
sobre o movimento da venda de roupas de segunda mão em diferentes espaços na
cidade de Fortaleza. Recebi inspiração e influência dos trabalhos desenvolvidos por
Eduardo Coutinho, jornalista e cineasta brasileiro, essa ideia de filmar pessoas
comuns sempre me emocionou. O Instagram foi também uma grande ferramenta de
inspiração, pois lá acompanho toda a movimentação de eventos, programas,
influenciadores digitais, brechós online e tudo que está ligados ao debate da
sustentabilidade na moda.
Sérgio Puccini (2008) em sua publicação “Roteiro de Documentário”, afirma
que seguindo a ordem das etapas de elaboração de um roteiro, o argumento é uma
peça escrita previamente. De maneira resumida, suas etapas são:
a) Quem? Foram entrevistadas oito pessoas que estão ligadas diretamente a
comercialização e consumo desses produtos de segunda mão, em diferentes
espaços;
b) Quando? O tempo histórico abordado do documentário acontece na
contemporaneidade, as gravações aconteceram no mês de novembro de 2019;
27
c) Onde? Foram três locações diferentes, a Praça da Gentilândia, no bairro
Benfica onde acontece todos os sábados o Bazar Aberto, a casa de shows, Órbita
Bar, Praia de Iracema, onde acontece bimestralmente a Feria La Grue e a loja
compartilhada e brechó Revival, também na Praia de Iracema.
d) Como? Inicialmente foi apresentado o brechó a céu aberto, o “Bazar Aberto”,
que acontece todos os sábados na Praça da Gentilândia, que surgiu com a ideia de
ajudar quem deseja desapegar ou trocar aquilo que não usa mais, é um evento que
promove um grande bazar coletivo que apoia a sustentabilidade e a venda com
valores à baixo custo, no valor máximo de até R$ 20,00. Na ocasião, foram
entrevistadas duas pessoas, a organizadora do evento, Yasmin Cavalcante e Mariana
Maia, expositora.
O evento busca ocupar praças de Fortaleza com o intuito de movimentar e
fomentar a moda sustentável em virtude do momento econômico instável do país e da
necessidade de se pensar na preservação do meio ambiente. As praças são espaços
de interação e é uma alternativa de diversão que pode ser utilizada para incentivar
essa atividade colaborativa.
No segundo momento, foi a vez da Feira Alternativa La Grue, um evento que
acontece há cerca de seis anos de forma bimestral, dentro da casa de show Órbita
Bar. A Feira existe com a ideia de desenvolver a economia criativa tomando o slow
fashion como uma de suas causas e bandeiras, movimento que vai contra o fast
fashion e a falta de critérios e cuidados no processo de produção, como problemas
com mão de obra, desperdício de matéria-prima e quantidade de resíduos. A La Grue
dá preferência para marcas assinadas por designers e entusiastas da moda, que
fazem questão de apresentar histórias junto de suas peças, indo muito além das
tendências.
O terceiro e último momento foi gravado no Brechó e Loja Compartilhada
Revival, um espaço de moda sustentável que surgiu logo após uma viagem das
amigas Tainan Fernandes e Pérola Castro para um intercâmbio no momento da
faculdade. O brechó oferece um acervo com uma variedade de estilos dos anos 1980,
1990 e 2000, além de peças contemporâneas, tudo com uma pegada mais despojada.
Lá foram entrevistadas três pessoas, a consultora de moda sustentável, Lorena
Delfino, o designer de moda Belchior Araújo e a proprietária do brechó, Tainan
Fernandes.
28
6.2 Personagens
a) Yasmin Cavalcante, estudante e curadora do Bazar Aberto, evento de venda
de roupa de segunda mão que acontece na Praça da Gentilândia há três anos
e meio;
b) Mariana Maia, estudante de Ciências Sociais, curadora no brechó,
@cadillacbrecho;
c) Fabiana Maia, curadora do brechó, @saturnoexchange;
d) Fernanda Beviláqua, organizadora da Feira Alternativa de Moda La Grue;
e) Orleanne Barreto, designer de moda, curadora do brechó, @brechoretroagir;
f) Lorena Delfino, ativista e consultora de moda mais sustentável; Graduada em
Gestão de Marketing pelo Centro Universitário Estácio - Moreira Campos;
Especialista em Moda e Comunicação pela Unifor; Coolhunting pelo Senac/SP;
Representante Fashion Revolution Fortaleza;
g) Belchior Araújo, graduado em Criação de Moda, Espaço e Produtos
Derivados pela Paris College of Arts; Graduando em Design-Moda pela
Universidade Federal do Ceará;
h) Tainan Fernandes, designer de moda na @terralcamisaria, curadora do
brechó, @revival.loja e idealizadora da @feirafestachafurdim.
6.3 Estrutura
Realizar um planejamento é essencial para iniciar qualquer tipo de projeto. O
presente documentário me possibilitou a escolha de que tipo de produção seria feita,
quantidade de câmeras, outros equipamentos, referências de documentários,
entrevistados, ângulos, locações e qual linguagem seria utilizada.
29
Este documentário conta com oito personagens, em três ambientes diferentes:
o Bazar Aberto, um brechó ao ar livre que acontece todos os sábados na Praça da
Gentilândia, com vários perfis de expositores e compradores, onde os produtos
possuem o valor máximo de até R$20,00. Uma casa de show, chamada Órbita Bar,
que tem seu espaço ressignificado a cada dois meses através da La Grue, uma feira
com cerca de quarenta expositores de roupas e acessórios de moda novos e usados.
E o último, o brechó e loja compartilhada Revival, espaço que adota o consumo
consciente e abre espaço a produtos locais, que fica situado na avenida Monsenhor
Tabosa.
O documentário não apresenta uma divisão em capítulos e o roteiro é todo
costurado com as falas dos personagens, todas interligadas para orientar o
telespectador no decorrer do filme.
Para a captação das imagens, convidei um amigo, Yuri Juatama, fotógrafo e
estudante de audiovisual na Vila das Artes, equipamento cultural da Prefeitura de
Fortaleza, vinculado à Secretaria Municipal de Cultura. Yuri até aqui, já participou de
cinco curtas metragens, três como assistente de fotografia e dois como fotógrafo still.
Ele também, já colaborou com algumas exposições coletivas e individuais. Além do
trabalho artístico, desenvolve atividades sociais na Serrinha, bairro em que moramos.
Conversamos e trocamos ideias antes e durante todo o processo de gravação,
principalmente, quanto às imagens de apoio para o documentário.
Decidi terceirizar as gravações por admirar o trabalho do Yuri e para me
dedicar mais a seleção dos entrevistados, aos locais de gravação e a direção de todo
o documentário. Essa decisão também me permitiu ficar despreocupada com os
equipamentos, já que usamos os do Yuri.
No vídeo foi utilizado uma câmera fixa no tripé, que captou as entrevistas e os
detalhes de cada entrevistado, as peças expostas e as movimentações que
aconteceram nas locações abertas, que foram essenciais para construir uma
narrativa. A captação de áudio foi feita com dois microfones de lapela anexado ao
smartphone. Os equipamentos utilizados foram: Canon T5i, Canon 24mm 2.8, Lente
Canon 50mm 1.8, Luz ambiente e Luz artificial (LEDs).
30
7 PLANEJAMENTO
O planejamento se deu em etapas, apresentadas aqui.
7.1 Pré-produção
Esse momento foi de organizar as ideias e tomar decisões para realizar e
direcionar o projeto. Inicialmente fiz uma pesquisa sobre brechós de moda no
Youtube, assisti alguns vídeos e li artigos falando sobre esse movimento em várias
cidades do país. Depois direcionei a pesquisa para Fortaleza através da rede social
Instagram e fiz um mapeamento dos brechós da cidade, dividi os que eram online e
os que possuíam lojas físicas. Foram levantados dados e informações importantes
acerca do tema. Também foram analisados possíveis perfis/personagens que
poderiam participar do documentário.
Em seguida, em outra pesquisa, busquei inspiração e assisti alguns
documentários, matérias de televisão, IGTV no Instagram, que abordassem o tema
de sustentabilidade, minimalismo, brechós, moda circular e moda sustentável. Usei
como referência: Vida Longa às Roupas; The rise of Lowsumerism; The True Cost;
UNRAVEL - documentário sobre a indústria indiana de reciclagem de roupas; A
Revolução dos Brechós- Sustentabilidade na Moda; Os Impactos ambientais da
indústria da moda - Entrevista Completa no canal do YouTube “Modifica”; Vida Sóbria
- Documentário sobre Minimalismo. (EPCI). Assistir esses materiais audiovisuais,
aliando com o que já havia pesquisado e lido, me ajudou a ter ideias sobre o
documentário que eu iria produzir.
Pensei e sonhei com muitas coisas, mas nem tudo aconteceu como eu gostaria,
devido tudo demandar um certo tempo, que nem sempre eu tinha disponível. O
próximo passo foi conversar com o cinegrafista, para pensarmos em possibilidades.
Durante o processo precisei delimitar ainda mais o tema, comecei a enxugar e pensar
em outras possibilidades, pois algumas não estavam se encaixando com a minha
logística e tempo. As perguntas foram definidas de acordo com os perfis e serviram
também para direcionar a narrativa do documentário.
31
7.2 Diário de gravação
Este documentário foi gravado em três locais diferentes, Praça da Gentilândia,
Feira La Grue, no Órbita Bar e no Brechó e Loja Compartilhada Revival, todos
escolhidos em comum acordo com as fontes. As gravações aconteceram em quatro
dias, em datas distintas, 09, 16, 17 e 19 de novembro.
a) 09 de novembro
Primeiro dia - Local: Praça da Gentilândia.
Fui a campo com Yuri para acompanhar todo o processo inicial de montagem
do Bazar Aberto e procurar as fontes. Conheci algumas pessoas que eram
assíduas no evento e peguei o contato de três delas. A organizadora do evento,
Yasmin Cavalcante, Erika e Rogério, ambos expositores. A ideia era marcar as
entrevistas no sábado seguinte. Nesse mesmo dia, também participei como
expositor junto de uma amiga, para ter uma noção de movimentação e vendas;
b) 16 de novembro
Segundo dia - Local: Praça da Gentilândia.
Chegamos por volta de 13h40 e ficamos observando as pessoas montando
seus estandes, algumas no chão, outras improvisando com cadeiras, lonas,
araras e mesas. A entrevista com Yasmin, organizadora do Bazar Aberto tinha
sido agendada durante a semana pelo WhatsApp para acontecer nesse dia, no
momento em que ela tivesse uma folga. Yuri ficou analisando um bom local
para preparar o equipamento. As outras duas fontes tinham desmarcado
durante a semana e decidi procurar no mesmo dia outras pessoas. Yasmin
chegou, nos cumprimentou e nos sentamos um pouco em um banco. Yuri
queira criar uma certa relação de confiança, já que só eu a conhecia. Decidimos
juntos o enquadramento e gravamos. Em seguida fui atrás de outras pessoas
para poder falar sobre suas experiências de compra e venda no bazar. Conheci
a Mariana e ela topou a entrevista. No decorrer da tarde outras atividades foram
acontecendo na praça, gerando alguns ruídos sonoros. Diante desse desafio,
Yuri escolheu um lugar que possibilitasse uma forma melhor para gravarmos.
Mariana falou sobre como surgiu seu brechó online e seu posicionamento com
relação ao debate de sustentabilidade na moda. Usamos a câmera Canon T5i
32
e uns microfones de lapela. Como ficamos preocupados com o áudio, usamos
um segundo microfone para garantir duas gravações. Retornamos em torno de
18h30;
c) 17 de novembro
Terceiro dia - Local: Órbita Bar.
Chegamos às 15h. As entrevistas já tinham sido agendadas pelo
Whatsapp.Com exceção de uma figura que representasse quem compra
roupas em brechós. Decidi encontrar no local. Como os entrevistados estavam
participando do evento, as entrevistas foram acontecendo conforme eles
fossem tendo tempo para falar. A primeira entrevistada foi Orleanne Barreto,
do brechó on-line Retroagir. Na sequência Fernanda Beviláqua, organizadora
da Feira Alternativa de Moda La Grue e depois Fabiana Maia, curadora do
brechó, @saturnoexchange. Abordei várias pessoas que estavam comprando,
mas ninguém se sentiu à vontade para ser filmado. Nesse dia tivemos
problemas como captação do áudio, já que estávamos em uma locação
fechada e a música fazia parte da programação do evento. Cada entrevista
durou em torno de 7 a 10 min. Usamos a câmera Canon T5i, uns microfones
de lapela e luz LED;
d) 19 de novembro
Quarto e último dia - Local: Brechó e loja compartilhada Revival.
A gravação foi marcada por telefone e WhatsApp para 18h com os três
convidados. Nesse dia foi uma correria, porque os entrevistados tinham
compromissos às 19h. Chegamos na loja por volta de 18h15, tivemos um
problema com o trânsito. Yuri posicionou o equipamento e começou a fazer
umas imagens de apoio, enquanto fiquei conversando com os entrevistados
para reforçar sobre e como seria aquele momento. A loja tem uma iluminação
bem bonita, o que privilegiou as imagens. A ideia era fazer um bate papo com
os três convidados, mas houve um atraso e tivemos que gravar primeiro com
Lorena Delfino. Ela foi convidada para contextualizar esse mercado e as
motivações de compra deste consumidor de moda sustentável. Lorena precisou
ir embora e seguimos com os outros dois, Belchior e Tainan. O papo foi
acontecendo entre os dois e encerramos as gravações por volta de 19h25.
33
Durante todos os dias de gravação tentei entrevistar pessoas que são
consumidoras dessas peças, mas nenhuma se sentiu confortável para dar a
entrevista. A maioria respondeu que estava comprando ali por questões
financeiras mesmo. Era uma forma de economizar.
7.3 Pós-produção
Após três dias de gravações, chegou a hora de reunir os arquivos originais e
lapidar o material. Para o processo de edição do documentário, convidei o Yuri
Juatama e fizemos os cortes que seriam usados na montagem final. Depois que todos
os entrevistados foram identificados com nome e função, montamos uma versão com
todo o material e algumas legendas, mas depois identifiquei que precisava incluir
alguns detalhes das entrevistas do vídeo na introdução e um BG instrumental para
deixar mais emocionante. Para finalizar esse processo convidei o editor Toni Amaral,
que finalizou todo o projeto incluindo legendas, créditos e o BG instrumental e dando
uma nova cara ao documentário. O resultado o filme ficou satisfatório apesar do
pouco tempo que eu tinha e o documentário Velhas Novidades, pode ser visto no DVD
entregue junto com este relatório.
7.4 Roteiro
Quadro 01 – Roteiro da pós-produção
DESCRIÇÃO IMAGENS
Abertura: Já inicia com a sonora da
entrevistada Yasmin Cavalcante.
Imagens do Bazar Aberto na Praça da
Gentilândia com várias pessoas
sentadas no chão, outras em pé expondo
seus produtos.
Desce áudio. Segue com sonora da
Yasmin.
Imagem de apoio de um senhor e depois
da Yasmin.
Entrevista com Mariana. Câmera fixa e imagens da Mariana.
34
Sonora da Fernanda Beviláqua.
Imagens de apoio do Órbita Bar - Feira
Alternativa La Grue.
Entrevista com Fernanda Beviláqua.
Câmera fixa e imagens da Fernanda
Beviláqua.
Sonora da Fernanda Beviláqua.
Imagens de apoio com pessoas olhando
os cabides com as roupas.
Entrevista com Orleanne Barreto Câmera fixa e imagens da Orleanne.
Sonora com Fabiana Maia Imagens de pessoas transitando pelas
araras de roupas no Órbita.
Entrevista com Fabiana Maia Câmera fixa e imagens da Fabiana Maia.
Sonora com Fabiana Maia Imagens da parede com pôsteres do
Órbita Bar e depois volta pra ela.
Sonora com Fabiana Maia Imagens da Fabiana atendendo seus
clientes e depois volta pra ela pra
encerrar a entrevista.
Sonora com Lorena Delfino Imagens do espelho e quadro no Brechó
Revival
Entrevista com Lorena Delfino Câmera fixa e imagens da Lorena
Delfino.
Sonora com Lorena Delfino Imagens da Lorena sendo produzida por
Belchior.
Sonora com Lorena Delfino Imagens da Lorena olhando as roupas
nas araras.
35
Entrevista com Tainan Fernandes e
Belchior Araújo
Câmera fixa e imagens de Tainan e
Belchior sentados na frente do balcão da
loja Revival.
Sobe áudio com trilha animada. Tela preta e nome do documentário.
Desce áudio e entra sonora do Belchior
falando sobre os diferentes perfis da
moda.
Imagens em preto e branco do Belchior,
Rafaella e Tainan. Caracteres com
créditos entrando aos poucos.
Finalizar: Sobe áudio com trilha
animada.
Logo UNI7.
7.5 Cronograma geral
Quadro 02 – Cronograma geral
ANO: 2019 Agosto Setembro Outubro Novembro Dezembro
Pesquisa X
Desenvolvimento X
Produção X
Edição X
Finalização X
Defesa X
7.6 Sinopse
Em tempos de excessos, há quem potencialize a força dos resíduos para o bem
comum. Os brechós estão se profissionalizando e cresceram muito nos últimos anos.
Um formato de negócio que promove o pós-consumo e aumenta a vida útil das peças
que seriam descartadas - muitas vezes sem destinação correta. Um mercado
promissor onde todos saem ganhando, o empreendedor, o cliente e planeta. O
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documentário "Velhas Novidades" propõe um debate e reflexões sobre o comércio de
moda de segunda mão nos brechós da cidade de Fortaleza. A narração traz
personagens que através de suas experiências dialogam sobre crise financeira,
mudança de comportamento, consumo de moda consciente e sustentabilidade.
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8 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Desde seu surgimento a moda é usada como expressão para dizer como você
quer ser visto pelo mundo. Cada pessoa carrega sentimentos e significados diferentes
com as peças que cobrem ou já cobriram seus corpos. A moda acompanha o
desenvolvimento da sociedade, representando fases e marcando gerações com os
diferentes tipos de comportamentos e estilos. Todo mundo tem uma peça que já foi a
sua predileta mas, que com o passar dos anos, passou a ter outro significado. Quando
isso acontece, o que fazer com essa peça?
A indústria da moda é uma das que mais geram impactos negativos no meio
ambiente. Além disso, é uma das produções que mais geram lixo no mundo. Diante
desse panorama de escassez de recursos mundial e inúmeros problemas causados
à natureza, relatórios e pesquisas de consumo mostram que uma parcela da
população mundial tem se movimentado com intuito de transformar esse quadro,
consumindo menos e de forma mais consciente.
Com esses dados, foi despertado um questionamento sobre o mercado de
brechó na cidade de Fortaleza, “o aumento do consumo de roupas de segunda mão
é uma questão de consciência ou preço? Essa é a pergunta necessária para nos
ajudar a entender, e analisar, com mais consistência, a realidade de quando o debate
é roupa usada e moda sustentável.
O documentário Velhas Novidades mostra como as roupas estão resistindo e
sendo ressignificadas através de relatos de pessoas que vendem, trocam e compram
moda de brechó em diferentes espaços da cidade de Fortaleza. Seja por uma
mudança de comportamento apoiado na sustentabilidade ou por uma questão de
economia mesmo. Através de relatos de personagens diferentes, que chamam
atenção pela liberdade que têm para escolher as peças e ocupar espaços públicos
como praças para vender essas roupas. Durante as gravações os consumidores que
circulavam nos locais não aceitaram participar do vídeo.
Cada locação visitada, entrevista feita e edição realizada, todo o processo
vivido dessa produção, me fez questionar ainda mais a maneira como tenho
vivenciado o consumo em minha vida, trazendo ainda mais aprendizado. Lamento por
não ter tido condições de realizar da forma que imaginei, contando outras histórias e
explorando outros lugares, mas quero deixar claro que tenho intenção de estender a
38
pesquisa no assunto. Ainda há muito o que ser pesquisado nesse segmento. É notória
a necessidade de atenção que o tema desperta.
Apresento este Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) com o sentimento de
muita gratidão a todos que contribuíram para seu desenvolvimento. A sensação de
encerrar esse ciclo é impagável. Com esperança, através dos relatos mostrados
espero que a sociedade possa despertar para uma nova forma de consumir roupas.
Encerro com uma frase da estilista-punk Vivienne Westwood: “compre menos, escolha
bem e faça durar.”.
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REFERÊNCIAS
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APÊNDICE A – FOTOGRAFIAS EM CAMPO GRAVANDO, NA EDIÇÃO E
FINALIZAÇÃO
Nota: Primeiro dia de gravação no Bazar Aberto, na Praça da Gentilândia. Fonte: Elaboração própria.
Nota: Segundo dia de gravação com Yuri checando o enquadramento, na Feira Alternativa La Grue. Fonte: Elaboração própria.
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Nota: Com Yuri Juatama iniciando o processo de edição. Fonte: Elaboração própria.
Nota: Com Toni Amaral finalizando a edição do Documentário “Velhas Novidades”. Fonte: Elaboração própria.