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  • 7/24/2019 cesrio

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    O Sentimento dum Ocidental

    de Cesrio Verde

    I

    Av-Maria

    Nas nossas ruas, ao anoitecer,H tal soturnidade, h tal melancolia,Que as sombras, o bulcio, o !e"o, a maresia#es$ertam-me um dese"o absurdo de so%rer&

    O cu $arece bai'o e de neblina,O (s e'travasado en"oa-me, $erturba)* os edi%cios, com as chamins, e a turba!oldam-se duma cor mon+tona e londrina&

    atem carros de alu(uer, ao %undo,evando . via-%rrea os /ue se v0o& 1eli2es3

    Ocorrem-me em revista, e'$osi45es, $ases6Madrid, 7aris, erlim, S& 7etersbur(o, o mundo3

    Semelham-se a (aiolas, com viveiros,As edi%ica45es somente emadeiradas6Como morce(os, ao cair das badaladas,Saltam de vi(a em vi(a os mestres car$inteiros&

    Voltam os cala%ates, aos ma(otes,#e "a/uet0o ao ombro, en%arruscados, secos)*mbrenho-me, a cismar, $or bo/ueir5es, $or becos,Ou erro $elos cais a /ue se atracam botes&

    * evoco, ent0o, as cr+nicas navais6Mouros, bai'is, her+is, tudo ressuscitado3uta Cam5es no Sul, salvando um livro a nado3Sin(ram soberbas naus /ue eu n0o verei "amais3

    * o %im da tarde ins$ira-me) e incomoda3#e um coura4ado in(l8s vo(am os escaleres)* em terra num tinir de lou4as e talheres1lame"am, ao "antar al(uns hotis da moda&

    Num trem de $ra4a aren(am dois dentistas)9m tr:$e(o arle/uim brace"a numas andas)Os /uerubins do lar %lutuam nas varandas)

    ;s $ortas, em cabelo, en%adam-se os lo"istas3

    Va2am-se os arsenais e as o%icinas)

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    II

    Noite 1echada

    !oca-se .s (rades, nas cadeias& SomQue morti%ica e dei'a umas loucuras mansas3O Al"ube, em /ue ho"e est0o velhinhas e crian4as,em raramente encerra uma mulher de >>dom??3

    * eu descon%io, at, de um aneurisma!0o m+rbido me sinto, ao acender das lu2es); vista das $ris5es, da velha S, das Cru2es,Chora-me o cora40o /ue se enche e /ue se abisma&

    A es$a4os, iluminam-se os andares,* as tascas, os ca%s, as tendas, os estancosAlastram em len4ol os seus re%le'os brancos)* a ua lembra o circo e os "o(os malabares&

    #uas i(re"as, num saudoso lar(o,an4am a n+doa ne(ra e %=nebre do clero6Nelas es%umo um ermo in/uisidor severo,Assim /ue $ela Hist+ria eu me aventuro e alar(o&

    Na $arte /ue abateu no terremoto,Muram-me as constru45es rectas, i(uais, crescidas)A%rontam-me, no resto, as n(remes subidas,* os sinos dum tan(er monstico e devoto&

    Mas, num recinto $=blico e vul(ar,Com bancos de namoro e e'(uas $imenteiras,r:n2eo, monumental, de $ro$or45es (uerreiras,

    9m $ico doutrora ascende, num $ilar3

    * eu sonho o C+lera, ima(ino a 1ebre,Nesta acumula40o de cor$os en%e2ados)Sombrios e es$ectrais recolhem os soldados)In%lama-se um $alcio em %ace de um casebre&

    7artem $atrulhas de cavalaria#os arcos dos /uartis /ue %oram " conventos6Idade Mdia3 A $, outras, a $assos lentos,#erramam-se $or toda a ca$ital, /ue es%ria&

    !riste cidade3 *u temo /ue me avives

    9ma $ai'0o de%unta3 Aos lam$i5es distantes,*nlutam-me, alve"ando, as tuas ele(antes,Curvadas a sorrir .s montras dos ourives&

    * mais6 as costureiras, as %loristas#escem dos ma(asins, causam-me sobressaltos)Custa-lhes a elevar os seus $esco4os altos* muitas delas s0o com$arsas ou coristas&

    * eu, de luneta de uma lente s+,Eu acho sempre assunto a quadros revoltados:*ntro na brasserie) .s mesas de emi(rados,Ao riso e . crua lu2 "o(a-se o domin+&

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    III

    Ao (s

    * saio& A noite pesa, esmaga.Nos7asseios de la"edo arrastam-se as im$uras&@ moles hos$itais3 Sai das embocaduras9m so$ro /ue arri$ia os ombros /uase nus&

    Cercam-me as lo"as, t$idas& *u $ensoVer crios laterais, ver %ilas de ca$elas,Com santos e %iis, andores, ramos, velas,*m uma catedral de um com$rimento imenso&

    As bur(uesinhas do Catolicismo

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    IV

    Horas mortas

    O tecto %undo de o'i(nio, de ar,*stende-se ao com$rido, ao meio das tra$eiras)V8m l(rimas de lu2 dos astros com olheiras,*nleva-me a /uimera a2ul de transmi(rar&

    7or bai'o, /ue $ort5es3 Que arruamentos39m $ara%uso cai nas la"es, .s escuras6Colocam-se tai$ais, ran(em as %echaduras,* os olhos dum caleche es$antam-me, san(rentos&

    * eu si(o, como as linhas de uma $autaA du$la corrente2a au(usta das %achadas)7ois sobem, no sil8ncio, in%austas e trinadas,As notas $astoris de uma lon(n/ua %lauta&

    Se eu n0o morresse, nunca3 * eternamenteuscasse e conse(uisse a $er%ei40o das cousas3

    *s/ue4o-me a $rever castssimas es$osas,Que aninhem em mans5es de vidro trans$arente3

    @ nossos %ilhoes3 Que de sonhos (eis,7ousando, vos trar0o a nitide2 .s vidas3*u /uero as vossas m0es e irm0s estremecidas,Numas habita45es transl=cidas e %r(eis&

    Ah3 Como a ra4a ruiva do $orvir,* as %rotas dos av+s, e os n+madas ardentes,N+s vamos e'$lorar todos os continentes* $elas vastid5es a/uticas se(uir3

    Mas se vivemos, os em$aredados,Sem rvores, no vale escuro das muralhas3&&&Dul(o avistar, na treva, as %olhas das navalhas* os (ritos de socorro ouvir, estran(ulados&

    * nestes nebulosos corredoresNauseiam-me, sur(indo, os ventres das tabernas)Na volta, com saudade, e aos bordos sobre as $ernas,Cantam, de bra4o dado, uns tristes bebedores&

    *u n0o receio, todavia, os roubos)A%astam-se, a distncia, os d=bios caminhantes)* su"os, sem ladrar, +sseos, %ebris, errantes,

    Amareladamente, os c0es $arecem lobos&

    * os (uardas, /ue revistam as escadas,Caminham de lanterna e servem de chaveiros)7or cima, as imorais, nos seus rou$5es li(eiros,!ossem, %umando sobre a $edra das sacadas&

    *, enorme, nesta massa irre(ular#e $rdios se$ulcrais, com dimens5es de montes,A #or humana busca os am$los hori2ontes,* tem mars, de %el, como um sinistro mar3

    Cesrio Verde