Chafariz

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Por Juliana Mattos

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Pequenas porções de mim.

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Por Juliana Mattos

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Logo eu, que guardei tanto amor para dar - para

te dar. Eu, que sempre fui paciente e esperei como se a vida não tivesse fim. Eu, que sorria como uma tonta ao ver qualquer coisa que me lembrava você. Logo eu… mergulhei no abismo que são os teus olhos, sem medo de nunca mais voltar à superfície. Rendi-me à sua escuridão, e afoguei-me.

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Breve nota sobre como o amor bagunça com a

nossa cabeça: — Tento te escrever, mas nem pensar consigo; olho o sabiá cantando, mas só o que escuto são meus suspiros. Eu queria, ao menos, perguntar “como vai você?”, mas confundo o “como” com “eu”, o “vai” com “amo”, e me flagro falando que te amo. Ah, como eu te amo.

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Sentei-me num banco daquele pequeno bar; bar que passei a odiar, pois foi onde vi o

rapaz pela primeira vez. Tomei um gole do whisky e percebi que mais gelado que ele, só o meu coração. Com uma mão apoiada no joelho, apertei-o até que minhas unhas fincassem na pele. Mas não doía. Nada doía. Não mais. Levantei meus olhos pela primeira vez e o avistei num canto qualquer, despreocupado tragando seu cigarro. Por um segundo ou dois, desejei que a fumaça sufocasse o rapaz, e logo após, condenei-me.

Pensei na época em que o adorava, como era uma tola. Enganei-me ao sentir a paixão nos invadir na nossa primeira troca de olhares. Eu venerava alguém que nem alma possuía, era apenas um corpo vazio andando sobre a Terra. Percebi um tempo depois, que quando ele me olha, a indiferença é bem visível. Enquanto eu descartava tudo que havia de ruim entre nós e estremecia ao lembrar-me da profundidade daquele olhar grudado ao meu. Meus devaneios foram interrompidos pelas minhas próprias gargalhadas, não me importo em rir sozinha, ninguém nunca me notara, nem nunca se importaram comigo. E não será agora que vão perceber que estou bem ali.

Voltei a encará-lo quando nossa música começou a tocar, e então ele me olhou, com aqueles olhos sonhadores e pensativos, por um breve espaço de tempo achei que tinha visto um indício de sorriso no canto de seus lábios. Apertei meus olhos e olhei-o novamente, e lá estava, sorrindo. Pela primeira vez na vida, sorriu para mim. Porém não senti nada, meu coração não batia mais freneticamente ao olhá-lo, minhas mãos não estavam suando e meu estômago não revirava. Maldição! Tomei num gole só o restante do whisky, virei as costas e fui embora. A história se revertera. Agora indiferença era minha. Só minha.

Fui embora com passos largos, em meio à tempestade tropecei em buracos cheios d’água, entrei em becos e vielas, não sabia para onde ia, estava perdida. Acredito que perdi-me desde o dia que colocasse teus olhos nos meus. Ah, maldito olhar! Após dobrar mais uma esquina, sentei-me numa pedra e chorei. Chorei porque não conseguia entender o motivo de todos os sábados a noite encontrar-me no mesmo bar, no mesmo banco e tomando o mesmo whisky. Diabos, já enjoei daquele maldito whisky.

Escutei um barulho por trás de umas árvores e por instinto o segui. E mais tarde me condenaria por tê-lo feito. Lá estava o rapaz dos olhos negros novamente, no meio daquela neblina e encharcado de água do céu. Amaldiçoei-o. Joguei pragas baixinho, será que tinha me seguido? Mas ele não me olhou, nem sequer me notou. E então, abaixou-se e jogou uma rosa vermelha no chão. Ele estava chorando, ou eram apenas gotas da chuva em seu rosto? Atordoada, fiquei observando-o durante longos minutos até ele sumir de vista. Aproximei-me e toquei na pétala macia da flor, embalei meu corpo com meus próprios braços e li baixinho:

“Não houve tempo de dizer adeus, de fazer um gesto de carinho, de dizer uma palavra de amor, mas apenas alguns segundos foram o suficiente para você, pequena moça dos olhos de mel, roubar meu coração e possuí-lo, com apenas um olhar. Saudades do que não vivi, e que, infelizmente, sei que nunca viverei. Saudades… de você.” (☆ 07/11/1991 † 15/03/2012).

Morri no dia em que me apaixonei, no dia em que o desgraçado me olhou, esmoreci com a paixão que havia entre esse contato. E agora, percebo que ele me olha com indiferença apenas porque não me vê. Lembrei-me que ganhei seu sorriso hoje, depois de condenada. Ele sorriu pela lembrança que a música trouxe, mas nunca sorriu diretamente a mim, e nem nunca o fará. Se for possível, eu diria que acabo de morrer novamente, por saber que eu era amada - que ainda sou. E agora, nada posso fazer. De tanto acreditar em singelos pares de olhos, acabei com a minha vida. Cheguei à conclusão que olhares são fatais - e se assim o forem… - Eu escolho a morte.

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Te libertei. Dos meus pensamentos, dos meus

sonhos… da minha vida. Antes pensava que assim como as flores, que um dia terão que desabrochar; tu aparecerias oferecendo-me teu coração. E eu te observava, te esperava, e me preparava para tua chegada. Mas tu nunca vieste. Preso a mim, e ao mesmo tempo tão livre, como uma gaivota no céu. Segurei algumas gotículas de água salgada que persistiam em cair de meus olhos, enquanto te via a alguns passos de mim. Passos estes, que nunca diminuiriam a distância, notei. Passos estes, que ficariam entre nós pela eternidade. Porque tu nunca haverá de ser meu, e por mais que me corroa, admito que sempre soube disso. Então decidi te libertar, e assim como um dia as flores irão murchar, fui embora para nunca mais voltar.

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Não consigo decidir se fico feliz por saber que

irei te ver, ou se me encho de tristeza. Sei que há uma parte de mim querendo sorrir, mas ela logo se esvai. Porque essa é a minha vida, ficar na ânsia para te ver, e quando o faço nada acontece. Mas que diabos! Do que me adianta tanta esperança, se tudo sempre acaba do mesmo modo? Esta é a sequência de fatos: vejo-te, encho-me de alegria, te perco de vista, e logo em seguida perco-me. Queria encontrar meu eu que há tanto se foi. Tento me encontrar caminhando sem rumo por aí, porém só o que acho são migalhas… Pobres migalhas do meu ser, porque a melhor parte de mim tu levaste contigo. E todos os dias, malditos dias de minha vida tem sido assim. Tentando te encontrar e como consequência me achar, e por fim, acabo dando menos passos, acabo olhando para o céu e percebo com um sorriso forçado que o sol está escaldante.

Porém em mim, vai chover…

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Era uma manhã bonita aquela. Ventava tanto que as árvores não paravam de

chacoalhar e, com isso, largar suas folhas ao vento. Quem passava pelo jardim, não saia ileso… E aquela moça em particular, quando passou também não escapou. As folhas soltas agitavam-se de um lado para o outro e batiam violentamente em seu rosto, porém ela adorava. Quando conseguiu atravessar o jardim foi que ela o avistou. Sempre com aquele olhar misterioso, olhar este, que sempre se encontravam com os dela. E daquela vez não foi diferente, ele a observou e quase que instantaneamente a moça sentiu suas faces arderem, ficara tão avermelhada quanto as flores daquele jardim.

Porém, caro leitor, não pense que irei adiante com essa história. Porque é aí que ela acaba. Ou caso preferir, releia diversas vezes a primeira parte. Pois essa era a rotina, praticamente todo dia isso acontecia. Entretanto, enquanto o tempo passava, as flores iam perdendo a cor, e as árvores as suas folhas - acredito que não ressecaram e morreram completamente, porém chegou perto disto. Por fim, acabou tudo meio que preto no branco, com exceção da face da moça, que ainda corava sempre que o avistava.

Até que um dia como qualquer outro - ou pelo menos era isso o que ela pensava - por lá passou e nada avistou. Ele se fora. Sem nunca trocarem uma palavra, ou um sorriso. Partiu e levou consigo seus olhos penetrantes e seu silêncio, que eram as únicas coisas sobre ele que a moça conhecia tão bem.

E agora, você me pergunta “qual o propósito disso tudo? Por que perdi meu tempo lendo essas palavras?”, e eu te respondo sinceramente que não sei. Que só… precisei escrevê-las. E talvez seja por isso, quero que não tenhas medo. Que por mais que a situação seja impossível, ou sem sentido vale a pena arriscar. Porque num piscar de olhos tudo pode ir embora sem nem mesmo você notar.

Quero te mostrar que correndo alguns riscos e fizer alguma coisa a respeito você pode perder a pessoa que ama para sempre. Porém se não o fizer, isso também poderá acontecer.

Talvez seja porque eu quero que faça por mim o que eu não fiz. Lute pelo seu amor antes que ele parta. E não acabe aqui escrevendo frases, que não se sabe até, que alguém irá ler um dia. Precisamos arriscar e deixar esse medo de lado. Ele pode nos afastar da dor. Mas também nos afasta do sentimento mais bonito que existe…

O amor.

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Dizem-me que passará. E eles estão certos,

porém isso me destrói. Eu gosto de me sentir esperançosa mesmo quando não deveria ficar. Acho que isso quer dizer alguma coisa, não é? Quer dizer que eu persisto e não abro mão facilmente das coisas que eu quero. Isso devia valer de alguma coisa, certo? Mas não é bem assim que as coisas são. Eu gosto de ver a tua felicidade de longe, mesmo sabendo que tu nunca a partilharás comigo. Eu gosto de me sentir esquisita só pelo fato de saber que vou te ver. Gosto de sorrir quando falam o teu nome, quando vejo uma foto sua, ou quando qualquer coisa me faz lembrar de você.

Sabe, eu não quero que você passe.

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Com que frequência tu pensava em mim?

Tu devia pensar em mim. Devia. O teu silêncio quando me olhava jorrava palavras não ditas no ar, era excruciante. Porque não falaste comigo antes de partir? Porque tu seguiu, sem ao menos avisar, para um mundo no qual eu não faço parte? Não podia ser. E ao mesmo tempo podia. Fazia sentido. Eu não tinha nada para oferecer-te senão meu amor, que confesso, não é pequeno. Mas passará, tudo passa. Eu só necessito parar de te necessitar…

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❝ Só de pensar em nunca mais te ver

É dilacerante, sinto minha alma esmorecer. O mundo não perde a cor, porém se torna embaçado e nebuloso. E a culpa por isto acontecer, não é sua, mas sim de minhas lágrimas que transbordam dos meus olhos, molhando e naufragando todo o meu ser.

❝De que adianta saber

que estás no mesmo bar?Se quando por lá eu passo

Não ganho nem o teu olhar…

❝Estou começando a ficar assustada com essas sensações

estranhas que sinto só de, sem querer e ao mesmo tempo querendo, pensar em você.

❝Eu que antes reclamava das tuas eventuais idas e vindas, agora

tenho saudades delas. Como eu era feliz e não sabia! A dor de te ver partir era sempre recompensada nas tuas voltas. E agora que não voltaste mais, me conta o que farei… Pois de te procurar já me cansei. Por onde andas, que não te acho? Dizem-me que não vou te encontrar, que a cidade é grande demais. Mas eu sempre respondo que sim, pode ser enorme, mas meu amor por você é maior. E um dia a gente se esbarra, moço. Você vai ver!

❝É essa minha mania de te querer, te amar, te desejar, te adorar, só

querer te olhar... Que acaba comigo aos pouquinhos.

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❝Eu sempre soube, desde o começo. Mas fiz questão de não me

importar, de me envolver, de te amar. E agora estou aqui, dando passos em sua direção, enquanto você vai dando os seus passos também… Só que para longe de mim.

❝Teus olhos são tão negros que se confundem com a escuridão.

Porém, vez ou outra, sorrateiramente, surge um brilho disfarçado quando me olha. É como a lua na imensidão do céu, entende? Só que

o brilho dela é reflexo do sol. E é aí que a minha esperança vai se esvaindo… Será que teu brilho não é nada mais que o reflexo do meu?

❝Porque não me canso de uma vez de você? Meses sem te ver,

dias a te esquecer. E aí, resolve aparecer e acabo por enlouquecer. Ou vai, ou fica. Porque essa enxurrada de emoções que sinto cada vez que

te revejo, leva toda minha sanidade embora. Ora quero te amar, ora quero te matar. Talvez eu devesse te matar de uma vez por todas… De

dentro de mim.

❝E meio sem jeito, sem saber o que sentir, se devo sentir… Vou

seguindo. Ando transparente, mostrando o quão sofrida me deixaste. Não finjo sorrisos, querido. Pelo motivo de que eles são teus, apenas teus. Se antes não sorria sem você por perto, porque hei de sorrir para esconder a dor? Quando resolve partir, tu arrancas o sorriso de meu rosto. E nem puxando os malditos cantos da boca com os dedos, eu consigo aparentar felicidade.

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Vem aqui pertinhoE fala baixinhoQue me quer junto a ti

Põe as mãos em minha faceEncosta teus lábios devagarinhoE me diz que não é ilusão

Que teus olhos só querem olhar os meusPois os meus só sabem te quererFaz isso, ou me recuso a viver…

Afinal que graça teria a vidaSe nela, não existisse você?

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Pequenas Porções de Mim

Não gosto de mudança, não gosto de coisas passageiras. Por isso, enquanto a vida vai se desenrolando, eu procuro eternizar

cada momento. Bom ou ruim, não importa, são eles que me definem. E é assim, como um chafariz, jorrando água sem parar, que eu vou

jorrando palavras, olhares, gestos e sentimentos pelos lugares que vou passando.

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