CHAUI Mal Estar Na Universidade

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pela docncia indica menosprezo pela melhoria da qualidade em todos os graus do ensino, impedindo que a escola pblica seja garantidora de um dos direitos fundamentais da cidadania, e, pior, tenta-se corrigir a injustia atual do acesso USP por meio da escola pblica paga e benemerente.

6O mal-estar na universidade: o caso das humanidades e das cincias sociais 1

Em maro de 1994, a Comisso de Pesquisa da Faculdade de Filosofia, Letras e Cincias Humanas da USP realizou um simpsio internacional sobre a situao do ensino e da pesquisa em humanidades e cincias sociais no Brasil e na Amrica Latina. Exposies, debates, diagnsticos e prognsticos fizeram vir tona o mal-estar que perpassa e corri as universidades do continente. Embora mltiplas e diversificadas, as perspectivas adota das pelos participantes podem ser agrupadas em trs conjuntos principais de preocupaes:

Comunicao des, Pesquisa,

apresentada Universidade,

no Simpsio Internacional realizado na Faculdade

Humanida de Filosofia,

Letras e Cincias Humanas da USP, em 1994. Uma primeira verso foi publicada emJancs I. COrg.) Humanidades, pesquisa, universidades. So Paulo: FFLCH/USP, 1996.

nalizantes, introduo do ensino por testes de escolha mltipla etc.), que, fazendo encolher o campo de atuao dos formados pelas universidades pblicas, nas reas de Humanas, escolarizou a graduao universitria, localizou o verdadeiro vestibular na ps-graduao, fez diminuir o direito de acesso universidade pblica para as camadas mais pobres da sociedade e, Brasil afora, "coronis" regionais exigiram a criao das universidades federais como signos de prestgio e poder e cabides de emprego para a parentela e clientela. Sabemos tambm que o projeto ditatorial, reduzindo verbas e recursos das universidades pblicas, mantendo quase fixo o quadro de docentes e ampliando o nmero de vagas para estudantes, forou trs perversidades: a queda do trabalho universitrio de docncia na mera escolarizao, como preo da massifica~:f\();a instrumentalizao da universidade para manter o :1 poio (1:1 classe mdia ao regime poltico, satisfazendO-:1 ('Il\ s('u d('sejo de :Iscenso social, sem oferecer univ('rsidade condk:f)es adequadas de funcionamento; e :1ampJia~o do corpo discente oriundo das escolas privadas, de melhor desempenho do que as pblicas. Finalmente, na medida em que os planos econmicos orientavam as demandas do mercado para as faculdades ditas profissionalizantes, as escolas de segundo grau, os cursinhos e os vestibulares passaram a descuidar da formao e da informao humansticas, reservando-nos os estudantes de segunda, terceira e quarta opes que vieram at ns no por escolha real, mas por necessidade ou desejo de obter um diploma universitrio. Simultaneamente a esse processo, dois outros ocorreram, um deles interno e o outro externo universidade. Internamente, surgiram fundaes e institutos com financiamento pblico e privado, autnomos, sem vnculo orgnico com a universidade, voltados para servios, assessorias, consultorias e encomendas das empresas pblicas e privadas, provocando, em primeiro lugar, o desequilbrio e a desigualdade salarial no corpo docente e facili-

tando, por seu prestgio, o arrocho salarial dos que no possuam know-how capaz de interessar s empresas; e, em segundo lugar, criando a mitologia de que o volume impressionante de recursos materiais