Cheiro de Feijao

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Aquele cheiro de feijo cozinhando foi demais para Eduardo. Depois de muito tempo nas ruas, comendo os restos do que conseguia, ele se deixou levar pelo aroma daquele feijo e, quando viu, estava batendo palmas naquela casa de onde provinha o aroma to marcante. Uma senhora de cabelos brancos e com um avental na cintura, tambm branco, atendeu e no se assustou com a roupa dele, j! muito gasta, nem pelos seus cabelos enormes, que h! muito no via um corte. " #$ue foi meu jovem, em que posso ajud!"lo%#.Eduardo ficou mudo diante daquele rosto to bondoso. 'ua voz no sa(a, e ele gaguejou)" #*om...bom...bom dia. 'abe,que eu senti o cheiro do feijo cozinhando e lembrei me da minha me, lembrei"me da fome e resolvi pedir um pouco, se a senhora puder. +ode ser num copo pl!stico mesmo, s, para eu poder matar a vontade de comer esse feijo to cheiroso. Dona *enedita ficou surpresa com o desejo daquele menino. 'im, apesar das roupas velhas e sujas, do rosto marcado pela sujeira, aquele rapazote no deveria ter mais do que -. ou -/ anos. At hoje ela no sabe o por qu0 daquele gesto to incomum nos tempos atuais, onde a viol0ncia est! em cada esquina. 1 fato que ela se comoveu com aquele menino e pediu para que entrasse. Eduardo no sabia o que fazer. 2unca algum o convidara para entrar em uma casa. 1 m!ximo que faziam era dar uma comida misturada em latas de goiabada ou em embalagem pl!stica de sorvete, que normalmente as pessoas nem queriam de volta, como se ele tivesse alguma doen3a contagiosa. 4imidamente ele entrou naquele quintal enorme e, seguindo aquela senhora to am!vel, entrou em uma cozinha muito bonita, simples, com azulejos azuis claros nas paredes, piso vermelho brilhando, uma mesa e 5 cadeiras brancas. 2a mesa, uma toalha muito branca e j! sobre ela, arroz em uma travessa, !gua fresca, pratos e copos.#Ah, meu Deus, o para(so deve ser assim6#, pensou Eduardo.'em saber o que fazer, ficou ali, na porta, em p, observando aquele ambiente que lhe deu uma paz indescrit(vel. Ele j! estava andando pelas ruas h! mais de 5 anos, desde que sua me morreu, l! naquele Estado distante, 'em nenhum parente, Eduardo lembrava"se apenas da me dizendo que teve um paizinho muito querido, que morava em 'o +aulo, l! pelas bandas da 7ila 8aria, que ela amava muito e queria tanto ver. 9embrava da me chorando todas as noites, falando baixinho para ele no acordar, da saudade do pai e da me to amada, que morreu de uma doen3a nos pulm:es, sem rever os parentes.Dona *enedita, voltou de um dos c;modos trazendo uma toalha e algumas roupas usadas mas muito limpas, e foi falando para ele tomar um bom banho e se trocar, enquanto ela acabava o feijo. 'em saber muito o que fazer, Eduardo entrou naquele banheiro e tomou o banho mais gostoso da sua vida. Ele tambm nunca viu tanta !gua encardida sair de uma pessoa... Aos poucos, aquela marca e aquela casca impregnada das ruas foram saindo.