Chuva Dirigida

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  MAPA BRASILEIRO DE “CHUVA DIRIGIDA” - Algumas considerações  LIMA, Maryangela Geimba de Lima (1); MORELLI, Fabiano (2) (1) Engenheira. Civil. Professor Adjunto, Doutora, Instituto Tecnológico de Aeronáutica, CTA-ITA-IEI, Praça Mal. Eduardo Gomes, 50. São José dos Campos- SP. CEP 12228-900. E-mail: [email protected]  (2) Oceanógrafo, Doutorando, Instituto Tecnológico de Aeronáutica, CTA-ITA-IEI, Praça Mal. Eduardo Gomes, 50. São José dos Campos-SP. CEP 12228-900. E-mail: [email protected]  RESUMO A degradação do ambiente construído está diretamente relacionada com as condições ambientais que envolvem as construções, ou seja, temperatura, umidade relativa, radiação, poluentes e outros, bem como as variações destes parâmetros e como e por quanto tempo eles incidem sobre os distintos elementos das construções. Este trabalho busca apresentar a conceituação pertinente a degradação relacionada com a incidência de chuva e vento em fachadas, ou seja, a ação de chuva dirigida; terminologia adotada internacionalmente para definir a ação da chuva somada a ação do vento, em especial, em fachadas. Serão apresentados também a normalização internacional relacionada com o tema, a metodologia adotada para construção e um  primeiro mapa b rasileiro de chuva dirigida. Os resultados aqui apresentados são decorrentes de um projeto brasileiro, que busca mapear a agressividade brasileira aos diferentes materiais e sistemas de construção. ABSTRACT The built environment degradation is direct related with the environment conditions around the constructions; i.e. temperature, humidity, pollutants and others, and its variations and how and how long these parameters affect the construction and its systems and materials. This paper presents definitions about degradation related with rain and wind, i.e. wind-driven rain, terminology adopted to explain the rain action plus the wind action, especially in facades. We present also the international standardization related with this subject, the methodology adopted to make a f irst Brazilian wind-driven rain map and the first map. The results presented in this paper are part of a Brazilian project which main objective is to develop aggressiveness maps to the built environment. Palavras-chave: chuva, vento,  chuva dirigida, durabilidade, degradação  Keywords: rain, wind, wind-driving rain, durability, degradation  1. INTRODUÇÃO O ambiente construído sofre ação deletéria dos agentes presentes no meio ambiente como temperatura, umidade relativa, chuva, insolação, etc. Vários pesquisadores VI Simpósio Brasileiro de Tecnologia de Argamassas  I International Symposium on Mortars Technology Florianópolis, 23 a 25 de maio de 2005  - 620 -

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VI Simpsio Brasileiro de Tecnologia de Argamassas I International Symposium on Mortars TechnologyFlorianpolis, 23 a 25 de maio de 2005

MAPA BRASILEIRO DE CHUVA DIRIGIDA - Algumas consideraes

LIMA, Maryangela Geimba de Lima (1); MORELLI, Fabiano (2)(1) Engenheira. Civil. Professor Adjunto, Doutora, Instituto Tecnolgico de Aeronutica, CTA-ITA-IEI, Praa Mal. Eduardo Gomes, 50. So Jos dos CamposSP. CEP 12228-900. E-mail: [email protected] (2) Oceangrafo, Doutorando, Instituto Tecnolgico de Aeronutica, CTA-ITA-IEI, Praa Mal. Eduardo Gomes, 50. So Jos dos Campos-SP. CEP 12228-900. E-mail: [email protected]

RESUMO A degradao do ambiente construdo est diretamente relacionada com as condies ambientais que envolvem as construes, ou seja, temperatura, umidade relativa, radiao, poluentes e outros, bem como as variaes destes parmetros e como e por quanto tempo eles incidem sobre os distintos elementos das construes. Este trabalho busca apresentar a conceituao pertinente a degradao relacionada com a incidncia de chuva e vento em fachadas, ou seja, a ao de chuva dirigida; terminologia adotada internacionalmente para definir a ao da chuva somada a ao do vento, em especial, em fachadas. Sero apresentados tambm a normalizao internacional relacionada com o tema, a metodologia adotada para construo e um primeiro mapa brasileiro de chuva dirigida. Os resultados aqui apresentados so decorrentes de um projeto brasileiro, que busca mapear a agressividade brasileira aos diferentes materiais e sistemas de construo. ABSTRACT The built environment degradation is direct related with the environment conditions around the constructions; i.e. temperature, humidity, pollutants and others, and its variations and how and how long these parameters affect the construction and its systems and materials. This paper presents definitions about degradation related with rain and wind, i.e. wind-driven rain, terminology adopted to explain the rain action plus the wind action, especially in facades. We present also the international standardization related with this subject, the methodology adopted to make a first Brazilian wind-driven rain map and the first map. The results presented in this paper are part of a Brazilian project which main objective is to develop aggressiveness maps to the built environment. Palavras-chave: chuva, vento, chuva dirigida, durabilidade, degradao Keywords: rain, wind, wind-driving rain, durability, degradation

1. INTRODUO O ambiente construdo sofre ao deletria dos agentes presentes no meio ambiente como temperatura, umidade relativa, chuva, insolao, etc. Vrios pesquisadores

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vm desenvolvendo trabalhos relacionando os parmetros ambientais com modelos de degradao, curvas dose-resposta, ensaios de envelhecimento natural e outros. No entanto, sempre estes modelos e estudos esbarram na complexidade do problema degradao pois ele resultado, na obra real, da ao conjunta dos diferentes agentes presentes no meio ambiente e incidentes sobre a obra. Buscando expressar a ao conjunta dos agentes de degradao so propostas variveis como o ndice de chuva dirigida (DRI) que tem como objetivo expressar a ao conjunta da chuva e do vento incidente nas fachadas quando da precipitao. A ao conjunta dos fatores de degradao provoca aes deletrias, em geral, superiores a ao de cada um dos agentes em separado. Essa ao conjunta pode ser acelerada e agravada pelas condies do entorno da edificao, como outros prdios, relevo, vegetao, etc. Existem vrias formas de expressar os ndices e agentes de degradao, passando por tabelas, grficos e mapas. Com a popularizao das ferramentas relacionadas com Sistemas de Informao Geogrfica (SIG) se torna melhor a disponibilizao das variveis, apresentando-as de forma espacial, na forma de mapas, com possibilidade de visualizao de regies com mesmo grau de agressividade e tambm em quais regies se tem um maior grau de agressividade dos parmetros em estudo. O termo chuva dirigida foi apresentado pelo CIB1, em meados dos anos 60 e representa a ao da precipitao somada ao vento incidente nas edificaes. A proposta do CIB foi de apresentar um ndice de chuva dirigida (DRI Drive Rain Index) como o produto do total de chuvas pela velocidade do vento, esses valores sendo expressos por mdias anuais (SILVA e GIRALT, 1995). Esses produtos podem ser expressos de vrias maneiras, at mesmo atravs de mapas, com curvas, onde podem ser visualizados os ndices para uma cidade, estado ou pas, dependendo da escala de trabalho adotada. Os conceitos relativos ao termo chuva dirigida foram evoluindo com o passar do tempo e hoje so calculados, onde existem dados disponveis, como funo da velocidade do vento durante a precipitao, o nmero de horas de precipitao e a quantidade de precipitao, levando em consideraes vrios fatores de correo como irregularidades no terreno, vegetao, tipo de entorno, etc, permitindo uma anlise bem localizada do fenmeno. Uma mostra deste tipo de anlise a apresentada pela norma BSI 8104 (BRITISH, 1992), que apresenta vrios coeficientes para correo para os ndices calculados atravs das mdias disponveis. O presente trabalho visa apresentar uma breve reviso sobre a temtica relacionada com chuva dirigida apresentando aspectos relativos ao clima nacional, mapas nacionais relacionados, os conceitos envolvidos com o tema, as normas existentes, a metodologia adotada para construo do primeiro mapa brasileiro de chuva dirigida e algumas consideraes finais.

1.1 Consideraes sobre o clima brasileiro O Brasil est localizado entre os trpicos de Cncer e Capricrnio, com predominncia dos climas tropical e equatorial. Por isso, ao contrrio do que ocorre na Europa e nos pases Norte-Americanos, no Brasil as temperaturas mdias anuais so bastante elevadas. O Brasil um pas com dimenses continentais e tem variaes de clima e comportamento das variveis ambientais bastante complexo.1

CIB: International Council for Research and Innovation in Building and Construction. www.cibworld.nl

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Pela classificao de Kppen, o Brasil apresenta 6 grandes regies climticas, onde predominam os climas tropical e equatorial. Alm desta classificao, pode-se dizer que, mesmo nas zonas apresentadas na Figura 1, existem comportamentos diferenciados. As 6 grandes regies citadas possuem as seguintes caractersticas: - clima tropical mido (Aw, Cw) temperaturas acima dos 18C e perodos alternados de chuvas intensas e de seca; - clima equatorial mido (Am, Af) temperaturas acima de 22C e chuvas abundantes; - clima semi-rido (BSh) fraca nebulosidade, forte insolao e altas taxas de evaporao; - clima subtropical supermido (Cf) sem estao seca e com inverno fraco. Os principais aspectos relacionados com a temtica deste trabalho so aqueles relacionados com chuvas e ventos. Pode-se, portanto, apresentar o que se tem hoje disponvel, seja em normalizaes nacionais, literatura ou na internet.

Figura 1 Grandes zonas climticas brasileiras (MASCAR, s.d.) 1.1.1 Chuva Com relao precipitao, ou chuva, apresenta-se na Figura 2, o mapa de precipitao mdia anual, disponvel na internet, na pgina do Instituto Nacional de Meteorologia - INMET (2004). Este mapa e o apresentado na Figura 2 tem como base as normais climatolgicas (Perodo de 1931-1990). Na pgina do INMET (2004) tambm so encontrados mapas de totais mdios mensais. Somado a estes mapas, encontram-se tambm, mapas com nmero de dias mdios de chuva anual ou mensais. O mapa de nmero de dias mdio anual apresentado na Figura 3.

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Figura 2 Mapa brasileiro Precipitao total mdia anual (INMET, 2004) O que pode ser visualizado nestes mapas que se tem uma incidncia alta de chuvas e que chove muitos dias por ano no pas. Esses mapas do, ento, um indicativo de como o clima nacional agressivo s construes, pois disponibiliza gua para que as reaes de degradao aconteam durante muitos dias por ano. Alm disso, temse, em mdia, altas umidades relativas. No entanto, nenhum desses mapas ou qualquer outro disponvel, traz informaes sobre a incidncia dessas chuvas, se acontecem durante todo o dia ou concentrada em pequenos perodos do dia, uma vez que as estaes meteorolgicas registram informaes de acordo com uma programao realizada (em geral, o padro da Organizao Mundial de Meteorologia, que coleta informaes a cada 3 horas para ventos e o total dirio para precipitao). Atualmente, no existe demanda para que esta programao seja alterada e passe a coletar dados horrios dos agentes citados. Projetos como o desenvolvido pela equipe do Instituto Tecnolgico de Aeronutica ITA, que visa desenvolver mapas de agressividade ao ambiente construdo, so poucos e no interferem na coleta de dados nacionais ou mesmo internacionais.

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Figura 3 Mapa brasileiro Nmero mdio de dias de chuva anual (INMET, 2004) 1.1.2 Vento A incidncia do vento nas edificaes dependente de uma srie de fatores, que vo desde o formato da edificao, sua altura at as condies do entorno. Em muitas situaes, nas grandes cidades, tem-se a formao de corredores, que aumentam a incidncia do vento em algumas fachadas. A construo de um novo edifcio pode alterar completamente as condies existentes de incidncia de vento nas fachadas. Com isso tem-se a alterao tambm da incidncia de chuvas e da deposio de partculas. Os estudos, quando se pensa na varivel vento, remontam a tneis de vento e tambm a normalizao nacional, cuja ltima reviso aconteceu em 1988 (ABNT, 1988), baseada em trabalhos realizados na dcada de 70 (RIERA e PADARATZ, 1976). premente a necessidade de atualizao desta norma, especialmente devido aos recursos existentes atualmente, ou seja, as ferramentas SIG. Uma proposta de atualizao est sendo desenvolvida no ITA (Instituto Tecnolgico de Aeronutica) e buscar disponibilizar consultas mais regionais aos parmetros relacionados com vento. Essa atualizao passa pela apresentao de um novo mapa, nos moldes do apresentado na Figura 4, retirado diretamente da norma em vigncia hoje, e tambm pela construo de um SIG onde podero ser disponibilizadas e pormenorizadas outras informaes pertinentes a vento, permitindo consultas regionais georreferenciadas.

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Como pode ser visualizado, as informaes disponibilizadas pelo mapa da Figura 4 so apresentadas em uma escala bastante macro, sem referncias de localizao. Por exemplo, em que isopleta se encontra a cidade de So Paulo? Mesmo quando fcil de identificar em que isopleta a cidade se encontra, como o caso de Rio Branco (AC), ela condiz com as velocidades medidas atualmente? Com base nestes mapas, de vento e chuva apresentados, pouco se pode inferir sobre aspectos relativos a chuva dirigida, ou a ndices relacionados com este parmetro.

1.2 Dimenses do clima nos estudos sobre degradao do ambiente construido Quando se pensa em relacionar a degradao do ambiente construdo com os aspectos relativos ao clima se devem considerar como estes estudos sero relacionados. Pode-se relacionar, por exemplo, com os parmetros mdios (temperatura e umidade relativa mdia anual, por exemplo). No entanto, as variveis assim apresentadas pouco podem caracterizar um pas com as dimenses nacionais, com seu amplo territrio, sujeito a muitas variaes entre cada estado. Assim, preciso reduzir a escala de estudo, buscando relacionar a edificao diretamente com seu entorno. Alguns autores classificam os climas em microclima, mesoclima e macroclima; outros, em clima regional, clima local e clima no entorno da edificao, sendo que estas classificaes se referem sempre proximidade da edificao (LIMA e MORELLI, 2003). Uma idia das dimenses relacionadas a essas classificaes pode ser visualizada na Tabela 1. Tabela 1 Dimenses do clima (DURACRETE, 1999) Clima Macroclima ou clima regional Mesoclima ou clima local Microclima ou clima no entorno da edificao Exteso horizontal 1 - 200km 100m 10Km 0.01m 100m Extenso vertical 1m 100km 0,1m 1km 0.01m 10m

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V0 em m/s V0: mxima velocidade mdia medida sobre 3 s, que pode ser excedida em mdia uma vez a cada 50 anos, a 10m sobre o nvel do terreno em lugar aberto e plano.

Figura 4 Isopletas da velocidade bsica V0 (m/s) NBR 6123 (ABNT, 1988) As dimenses apresentadas na Tabela 1 podem ser melhor visualizadas no diagrama da Figura 5, observando-se a influncia das cidades e do ambiente construdo nos referidos climas. Os poucos estudos em desenvolvimento utilizam, em geral, dados oriundos de estaes meteorolgicas, trabalhando-se assim com o macroclima, ou seja, com variveis de clima em grande escala; por exemplo, a temperatura, considerando-se grandes reas e perodos de tempo grandes. Isto quer dizer que no se considera o clima no entorno da edificao ou estrutura, ou o microclima, uma vez que se trabalha com dados monitorados por estaes meteorolgicas. A modelagem realizada com este tipo de abordagem leva a modelos pouco precisos, uma vez que o microclima que rege os processos de degradao.

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Um exemplo de estudo de microclima apresentado por PETRUCCI (2002) quando considera aspectos como corredor de vento entre edifcios quando analisa manchamento de fachadas. No entanto, estudos deste tipo so raros e bastante localizados.

Figura 5 Dimenses do clima (DURACRETE, 1999) 2. CHUVA DIRIGIDA CONCEITUAO PERTINENTE O conceito de chuva dirigida est relacionado com a fora com que a chuva incide sobre um edifcio, em especial em suas fachadas. Essa fora est diretamente relacionada com a velocidade do vento durante a ocorrncia do perodo de chuva. Depende, portanto, da velocidade e direo do vento, do tempo e quantidade de chuva incidente. A norma BS 8104/92 (BRITISH, 1992) apresenta que a quantidade de chuva que escorre por uma superfcie vertical, como uma parede ou fachada, , em todos os pontos, dependente da intensidade da chuva e da velocidade do vento. Relaciona, de acordo com o proposto pelo BRE2 (1976, apud BRITISH, 1992) que a quantidade de chuva que escorre por uma fachada proporcional a quantidade de chuva que cai em uma superfcie horizontal e a velocidade do vento no local; sendo assim, apresenta mapas, para o Reino Unido, com ndice de chuva dirigida anual, como sendo resultado do produto da mdia anual de vento com o total de precipitao anual em um determinado local. Sendo assim, pode-se expressar o ndice de Chuva Dirigida (Driving Rain Index, DRI) atravs da seguinte expresso:

DRI =onde:

VP 1000

(1)

V = velocidade mdia anual do vento (m/s) P = total de precipitao anual (mm) O DRI, de acordo com a metodologia proposta por LACY3 e citada por vrios autores (CHAND e BHARGAVA, 2002; MARSH, 1977; SILVA e GIRALT, 1995)BRE, Building Research Establishment Report Driving Rain Index (1976). R.E. Lacy, Building Research Establishment Report Driving Rain Index, BRE, 1976.3 2

Lacy, R.E. An index of driving rain. Meteorol.Mag. 1962, vol.91 (1080) p.177-84.

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classificado de acordo com faixas de agressividade. A proposta original de Lacy apresentava 3 faixas; CHAND e BHARGAVA, 2002 propem uma quarta faixa, incluindo uma subdiviso na maior faixa de agressividade. A metodologia, com incluso desta quarta faixa, apresentado na Tabela 2. Tabela 2 Faixas de agressividade, metodologia de Lacy (apud SILVA e GIRALT, 1995, complementada por CHAND e BHARGAVA, 2002) Faixa 11 Grau de agressividade exposio protegida exposio moderada exposio alta exposio severa

Esta classificao no considera nenhum aspecto do entorno da edificao ou da prpria edificao. Existem propostas de correes destes valores, ou seja, do grau de agressividade, como o proposto por MARSH (1977) que diz que estes valores, apresentados na Tabela 2, devem ser corrigidos em funo, por exemplo, da proximidade da costa (litoral) e/ou de esturios; MARSH (1977) prope que, na considerao de exposio protegida devem ser excludas todas as reas que estejam a menos de 8km da costa; e que, neste caso, sempre se deve considerar o nmero obtido como um grau de agressividade acima. Outra proposta, bem mais completa, apresentada pela norma BS 8104 (BRITISH, 1992), onde so apresentados vrios coeficientes de correo para o valor calculado de DRI, em funo da altura da edificao, tipo de fachada (forma), materiais, relevo, direo do vento, etc. Propostas como essa tentam aproximar o DRI s condies reais de exposio e de incidncia da chuva e do vento, apresentando metodologias que necessitam monitorao constante de chuva e vento, horria, por exemplo. Existem estudos bem mais detalhados sobre medies e clculos de ndices de chuva dirigida. Um exemplo deste tipo de estudo o apresentado por SHARON e ARAZI (1997), onde foi realizado um mapa de chuva dirigida para um vale. Estudos envolvendo dispositivos para medir chuva dirigida so bastante antigos. O primeiro deles, desenvolvido em 1816, relatado por van MOOK (2002), apresentava um aparato, denominado vectopluviometer e media, na realidade, a quantidade de chuva que caia na horizontal e a capturada, por um orifcio no aparato, na vertical. Van MOOK (2002) desenvolveu aparatos para medir chuva dirigida e um dos ltimos estudos relatados sobre o tema; inclui simulaes computacionais inclusive com tamanhos e formato de gotas de chuva diferenciados. A incidncia da chuva, pressionada contra a fachada das edificaes pela ao do vento provoca gradientes de exposio a gua, provocando molhagem diferenciada nos materiais e sistemas utilizados. Essas condies provocam fissuras (devido a movimentao diferenciada), crescimento de fungos, lavagem diferenciada e consequnte manchamento nas fachadas. Uma idia da ao da chuva dirigida em uma fachada pode ser visualizada nas fotos apresentadas na Figura 5, a seguir.

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Figura 5 Fachadas mostrando molhagem diferenciada pela ao da chuva dirigida. Fotos: Maryangela Geimba de Lima, 2004. Os efeitos da chuva dirigida podem ser sentidos, a longo prazo, pelo manchamento diferencial nas fachadas, infiltraes, desagregaes e outros, dependendo do tipo e qualidade do material de revestimento da fachada em anlise. 3. NORMALIZAO RELACIONADA COM O TEMA Existe hoje apenas uma norma que relaciona a varivel chuva dirigida. Ela a BS 8104/92 (BRITISH, 1992). Nela so apresentados aspectos relativos ao clculo do ndice de chuva dirigida, bem como vrios coeficientes de correo, relacionados com a forma da edificao e o relevo, por exemplo. No Brasil, no se tem uma norma semelhante, ou que apresente, de alguma forma, indicaes sobre o clculo do ndice de chuva dirigida. A nica norma nacional referente aos aspectos relativos a norma que apresenta o mapa de vento, visualizado na Figura 4 (ABNT, 1988). 4. METODOLOGIA ADOTADA PARA A CONSTRUO DOS PRIMEIROS MAPAS BRASILEIROS DE CHUVA DIRIGIDA Os estudos envolvendo bancos de dados meteorolgicos, no Brasil, esbarram em diversos fatores; desde a falta de coleta sistematizada at a falta de confiabilidade nos dados disponveis. Muitas informaes ainda esto em planilhas em papel, no tendo sido digitalizadas pela falta de pessoal e verbas para que se completem as sries histricas (essa informao foi obtida com o pessoal responsvel pelos arquivos nacionais de dados, junto ao IPV Instituto de Proteo ao Vo); alm disso, os dados que j esto disponibilizados eletronicamente, em muitos casos, ainda no foram conferidos e averiguados; essa falta de conferncia leva a que se encontrem informaes absurdas como neve na regio amaznica, por exemplo. Portanto,

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cada trabalho a ser realizado utilizando dados meteorolgicos devem, em primeiro lugar, passar por uma conferncia exaustiva. Para realizao deste primeiro mapa de chuva dirigida optou-se por trabalhar com dados recentes, disponveis na pgina do Centro de Previso de Tempo e Estudos Climticos - CPTEC (2004); optou-se ento por trabalhar os dados referentes a todas as estaes disponveis para o ano de 2004. Aps essa deciso, o banco foi exaustivamente testado, buscando inconsistncias, sendo retiradas as informaes conflitantes, e, em alguns casos, as estaes com problemas repetitivos, significando uma baixa confiabilidade nos dados apresentados. A opo de trabalhar com dados recentes se deve s mudanas climticas, to enfatizadas pelo meio. Para compor o mapa final de chuva dirigida espera-se trabalhar com 10 anos (2004-1995), sendo assim trabalhados os ltimos 10 anos, que apontar mdias mais realistas com a situao climatolgica atual. Os dados foram tratados, disponibilizados e apresentados em um mapa, confeccionado com software especialista, da famlia ESRI. Este software permite a apresentao de mapas em vrios formatos, sendo o julgado mais adequado, para este estudo, o que apresenta curvas, em cores, com os distintos nveis de exposio. Esta apresentao conseguida atravs de interpolao com ferramentas estatsticas especiais (interpolao dos pontos relativos s estaes meteorolgicas disponibilizadas). 5. UM PRIMEIRO MAPA BRASILEIRO DE CHUVA DIRIGIDA Um primeiro mapa, trabalhado da forma apresentada no item 4, apresentado na Figura 6. Este mapa, mesmo com vrias restries, traz informaes importantes sobre o parmetro chuva dirigida para o Brasil. Tem-se, de acordo com o apresentado no mapa, que o Brasil apresenta, predominncia de exposio alta a severa; em especial considerando-se a observao apresentada por MARSH (1977) de um acrscimo de um nvel de exposio quando se consideram distncias de at 8km da costa. O extenso litoral nacional apresenta, nessas condies, graus de exposio alto a severo; sendo severo em sua maior parte. Nesta faixa tambm esto (segundo estimativas) mais de 60% das cidades nacionais.

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Figura 6 Mapa brasileiro de chuva dirigida 2004 Este mapa, portanto, considera somente estaes que permitiram o tratamento confivel de seus dados coletados, para o ano de 2004 apenas. Ele um indicativo, sendo necessrio trabalhar-se com mdias de um nmero maior de anos, permitindo a representatividade para o clima nacional na ltima dcada, por exemplo. Apresenta, portanto, consideraes de macroclima, bastante especficas, com dados de 2004. Salienta-se que este mapa traz informaes apenas sobre o grau de exposio para o ano de 2004, sem indicaes de sentido preferencial de incidncia da chuva dirigida relacionada. A considerao de sentido preferencial para um pas com as dimenses do Brasil somente far sentido no momento em que se tenha monitorao de vento e chuva horrios e com uma malha de estaes que permita estudos de microclima, possibilitando inclusive a influncia do entorno construdo no processo de chuva dirigida. Hoje, como se encontra a malha de estaes e a disponibilidade dos dados, os estudo somente so possveis com a preciso apresentada no mapa da Figura 6.

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6. CONSIDERAES FINAIS A varivel chuva dirigida considerada como um agente de degradao combinado, obtido pela ao conjunta da chuva e do vento, traz informaes sobre com que fora uma quantidade de chuva incidente em um certo perodo atua sobre uma edificao. A incidncia da ao combinada do vento e da chuva incidentes sofre ao do entorno da edificao, em especial pela formao de corredores de vento. Esses corredores interferem sensivelmente no valor do ndice de exposio, pois interferem em especial, na velocidade do vento considerado no momento do evento de chuva. O ndice de Chuva dirigida uma varivel complexa, e, nem sempre, um baixo DRI corresponde a baixas quantidades de chuva dirigida na realidade, porque, no momento da chuva, a velocidade do vento superior significativamente; e o vento incidente no momento da chuva difere significativamente do vento nos perodos sem chuva. O significado real do DRI depende, principalmente, da topografia e do clima da regio em estudo. O DRI no d indicativos reais de como as gotas de chuva incidem nas fachadas, sob ao das turbulncias no entorno da edificao.Cada gota de chuva, na realidade, tem sua trajetria e sua fora, diferentes, que provocam efeitos diferenciados nas fachadas. O Brasil, aps tratamento dos dados de chuva e vento referentes a 2004, apresenta na maioria do territrio nacional, grau de exposio alto a severo. O litoral nacional, de acordo com as consideraes apresentadas, encontra-se, em sua maioria, em faixa de exposio alta a severa, sendo severa em sua maior parte. Cabe ressaltar nestas consideraes finais as limitaes e problemtica do estudo aqui apresentado. O mapa aqui apresentado (Figura 6) foi construdo com dados referentes ao ano de 2004 somente e foi trabalhado com base no total de chuva anual e na mdia de vento do ano. Esta metodologia, apesar de ser consagrada para clculo do ndice de chuva dirigida apresenta limitaes, pois no considera as condies de vento exatamente no momento da chuva, trabalhando com mdias anuais. Essas consideraes cruzadas, de vento durante o episdio de chuva seriam mais realistas, mas, no caso do Brasil (e de quase todos os pases), esbarrariam na falta de dados ou na falta de um nmero significativo de estaes meteorolgicas que permitam essa monitorao. No entanto, de conhecimento, que durante os episdios de chuva as velocidades dos ventos incidentes so superiores, e em alguns casos bastante superiores, s mdias anuais; isso levaria a ndices de exposio maiores do que os apresentados. As consideraes aqui apresentadas conduzem aos prximos estudos, sejam no sentido de tentativas de apresentao de valores mais realistas para os ndices de chuva dirigida nacionais; tendo-se como principal restritivo aos estudos a malha de estaes meteorolgicas nacionais e a forma com que os dados de chuva e vento so medidos diariamente, no permitindo, na maior parte dos casos, o registro do vento exatamente durante os episdios de chuva. Em prximos trabalhos a serem publicados devero ser apresentados o mapa para um perodo de 10 anos, trabalhando com mdias histricas; outro aspecto que esta em estudo e que tambm ser publicado em breve o estudo referente ao clculo de ndices de exposio mensais, buscando registrar a influncia das estaes chuvosas, caractersticas do clima nacional. Esse ltimo estudo permitir observar discrepncias quando do estudo de mdias anuais; em alguns meses poder se ter ndices elevados enquanto a mdia anual apresenta valores baixos de exposio (exposio protegida).

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Outro aspecto que deve ser considerado nos trabalhos futuros a incluso, no banco de dados com que se est trabalhando, de outros bancos de dados, como de agrometeorologia e do METAR. Esses dados, para que possam ser reunidos com o banco de dados de trabalho, necessitam passar por processos de adequao, pois muitas vezes as medies so realizadas de forma diferentes, o que no permite uma adio direta dos bancos de dados. Tambm deve ser ressaltado que, no presente trabalho, no so apresentadas direes preferenciais de vento uma vez que o Brasil um pas de dimenses continentais, sendo irreal trabalhar-se com uma direo preferencial de vento para o pas ou at mesmo para cada estado da nao. Estudos envolvendo direo preferencial de vento podem ser realizados quando se trabalha com dados municipais, desde que no se tenham fatores agravantes como formao de corredores de vento, por exemplo. Nesse sentido, exemplifica-se o caso da cidade de So Paulo, onde no faz sentido trabalhar-se com uma direo preferencial de vento para toda a cidade. Outro aspecto que refora a no incluso de velocidades preferenciais de vento nos estudos de chuva dirigida, no momento, que, hoje, no se tem nem mesmo o hbito da realizao de projetos de fachada; quanto mais de projetos diferenciados para cada fachada do prdio. A apresentao de ndices de exposio de chuva dirigida leva, pelo menos, que os responsveis atentem para a varivel e para sua importncia quando se considera a especificao de materiais para as fachadas. Este fator de degradao deve ser considerado tambm quando da especificao de detalhes de fachadas, em especial aqueles relacionados com estanqueidade gua (beirais, esquadrias, etc). Pelo estudo apresentado, pode-se considerar que o Brasil apresenta altos ndices de exposio sendo importante a sua considerao para a durabilidade dos materiais de fachada nacionais. 7. REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS ABNT, ASSOCIAO BRASILEIRA DE NORMAS TCNICAS. Foras devidas ao vento em edificaes. NBR 6123, ABNT, Rio de Janeiro, 1988, 80p. BRITISH STANDARD. Code of practice for assessing exposure of walls to winddriven rain. BS 8104. BSI. 1992, 74p. CPETEC, http://satelite.cptec.inpe.br/htmldocs/pcd/pcd.htm, 2004. CHAND, I.; BHARGAVA, P.K. Estimation of driving rain index for India. Building and Environment. n.37, 2002, p.549-554. DURACRETE. Models for environmental actions on concrete structures. Projeto Unio Europia Project BE 95-1347. Netherlands, 1999. ISBN: 90-376-0400-5. LIMA, M.G., MORELLI, F. Mapping of construction materials degradation agents A Brazilian experience. In: INTERNATIONAL CONFERENCE ON PERFORMANCE OF CONSTRUCTION MATERIALS IN THE NEW MILLENIUM, Cairo, 18-20 Feb 2003. Anais em CD. Cairo, 2003. ISBN 977-237192/193 MARSH, P. Air & Rain Penetration of Buildings. The Construction Press Ltd. New York, 1977. 30p. ISBN 0.904406.31.8. MASCAR, L.R. Energia na edificao estratgia para minimizar seu consumo. 213p., s.d. PETRUCCI, H.M.C. Manchamento das fachadas dos edifcios por partculas de- 633 -

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8. AGRADECIMENTOS CAPES Coordenao de Aperfeioamento de Pessoal de Nvel Superior FAPESP Fundao de Amparo a Pesquisa do Estado de So Paulo CEF Caixa Econmica Federal FINEP Financiadora de Estudos e Projetos Edital Habitare IPV Instituto de Proteo ao Vo ITA Instituto Tecnolgico de Aeronutica

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