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    30 DE ABRIL DE 2015

    CICLO E TENDNCIA NA CONSTRUO CIVIL

    Dentre as expresses econmicas mais pertinentes para qualquer anlise setorial, os termos pr-

    cclico e anticclico merecem destaque. Traduzindo de forma direta, um segmento da economia dito pr-cclico quando as variaes em seu nvel de atividade acompanham os movimentos da

    economia como um todo e, em muitos casos, de forma mais intensa. Um segmento anticclico

    aquele que vai bem quando a economia como um todo vai mal e vice-versa.

    Como regra dentre os segmentos que compem a indstria de base, a construo civil tem,

    tipicamente, um carter pr-cclico. Vai muito bem quando a economia vai bem e muito mal

    quando a economia vai mal.

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    GRFICO 1: PIB total e PIB da construo civil2007-2014

    Fonte: IBGE

    Olhando em perspectiva, os anos recentes so um exemplo claro desse comportamento setorial.

    As taxas de crescimento da construo atingiram a marca de dois dgitos em 2010, passando a

    desacelerar rapidamente a partir de 2013, movimento semelhante ao observado com o nvel de

    atividade global, s que muito mais intenso (Grfico 1).

    As razes para esse ciclo to amplo encontram-se nas polticas de estmulo adotadas desde o

    incio da crise financeira internacional, em 2008. A construo civil, sobretudo em seu segmento

    habitacional, foi fortemente estimulada e reagiu de maneira bastante positiva.

    Mais do que isso: o Governo Federal colocou em marcha um ambicioso programa habitacional, o

    Minha Casa, Minha Vida (MCMV), voltado para reduzir, de forma significativa, o dficit de moradias

    no Pas, estimado em mais de 5 milhes de unidades antes do incio dessa iniciativa.

    Em que pesem eventuais crticas, o MCMV contribuiu tanto para sustentar os nveis de atividade e

    emprego na construo civil quanto para dar acesso a moradias para milhes de famlias. Em

    paralelo, o crdito habitacional tambm estimulou a demanda no chamado segmento de

    mercado, isto , das famlias com renda acima de cinco salrios mnimos de renda mensal esse

    um indicador importante. Durante dcadas, o crdito habitacional no Brasil ficou estagnado namarca de 2% a 3% do PIB. Em pases mais desenvolvidos, esse indicador chega a 60%. Por conta

    das medidas de estmulo e, sobretudo, da atuao dos bancos oficiais, liderados pela Caixa,

    chegamos a honrosos 5,5% do PIB de crdito habitacional. Um prodgio para nossos padres

    histricos, mas ainda uma vergonha em termos internacionais.

    Graas a tudo isso, entre 2008 e 2013, a construo civil brasileira criou cerca de 1,5 milho de

    novos empregos. No mesmo perodo, Europa e EUA assistiram queda expressiva do nmero de

    empregados no setor e, em ambas as regies, o nvel de emprego ainda hoje permanece abaixo do

    que foi em 2007.

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    Essa foi a fase expansiva do ciclo, uma espcie de Era de Ouro para a construo habitacional.

    Mas, desde finais de 2013, diversas nuvens escuras se formaram no horizonte do setor.

    De um lado, o segmento de infraestrutura, parcela estratgica da formao bruta de capital, no

    seguiu os passos da construo habitacional. Em paralelo, os imveis comerciais comearam a

    apresentar contnuas quedas de preo. O quadro se agravou ao longo de 2014, com a reduoainda mais intensa do ritmo de atividade da economia como um todo, em um dos anos

    economicamente mais atpicos de nossa histria recente. Copa e eleies foram decisivas para

    esse carter incomum.

    No segmento de infraestrutura, o ritmo de obras se tornou ainda mais lento medida que a

    arrecadao tributria caa e os cronogramas eram dilatados. No segmento habitacional, houve

    forte retrao da demanda: em parte, devido ao esgotamento da capacidade de endividamento

    das famlias; em parte, por conta da crescente incerteza poltica.

    Como resultado, nos dois primeiros anos de 2015, o nvel de emprego na construo civil caiu,

    contrariando a tendncia sazonal de crescimento, tpica dos primeiros meses do ano. Mais do que

    isso, a queda foi vigorosa. Em fevereiro, ltimo deste ano, a construo empregava, em todos os

    seus segmentos, 3,3 milhes de trabalhadores, uma queda de mais de 278 mil postos de trabalho,

    em comparao com fevereiro de 2014. Com esse nmero, o nvel de emprego na construo

    voltou aos patamares de 2011, ano em que o setor ainda crescia de forma intensa.

    Descrito o ciclo e caracterizada a desacelerao atual, resta a questo: qual a tendncia para o

    futuro?

    A julgar pelo processo de ajuste fiscal em curso e a consequente necessidade de cortar gastos, e

    considerando a forte queda nos lanamentos no setor imobilirio, no h, no horizonte,

    perspectivas de recuperao do setor no curto prazo. As projees realizadas pela FGV Projetos

    para a ABRAMAT Associao Brasileira da Indstria de Materiais de Construo sugerem um

    recuo de 6% no nvel de atividade setorial em 2015.

    A volta do crescimento para a construo civil est fortemente condicionada ao desempenho dosegmento de infraestrutura. Muito embora responda por apenas 16% da atividade global da

    construo, na infraestrutura que se encontram os maiores gaps em termos de necessidade de

    investimentos. Alm disso, a adequao e a expanso da infraestrutura so vitais para sustentar o

    crescimento da atividade econmica como um todo, garantindo a reduo dos custos das

    empresas e melhorando nossa condio de competitividade.

    No resta dvida de que programas como o MCMV esto longe de ter se esgotado, dado o imenso

    passivo habitacional ainda existente no pas. Mas, como visto, j se avanou bastante nesse campo,

    ao passo que as carncias de infraestrutura tm se mostrado crescentes.

    Para que esses avanos ocorram, ser essencial, nos prximos meses, que o Governo Federal

    sinalize, de forma clara, a disposio de ampliar os programas de concesso, restaurando o papeldas agncias reguladoras e oferecendo a estabilidade poltica e jurdica compatvel com maiores

    ingressos de capital estrangeiro. S assim algumas das grandes obras de infraestrutura, bvias

    demais para serem citadas aqui, podero sair do papel e s assim ser possvel recuperar, de

    forma sustentada, a tendncia de crescimento da construo e da economia como um todo.