CidadeMaquina

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30 de novembro de 2006 Universidade de São Paulo - USP Escola de Engenharia de São Carlos – EESC Departamento de Arquitetura e Urbanismo RELATÓRIO DE INTRODUÇÃO À ARQUITETURA E URBANISMO MODERNOS CIDADE MÁQUINA Artur Favaro Mei Bárbara Maria Francelin Fabrício Menezes Spannó Gabriel Nery Prata Rafael de Oliveira Sampaio Professores: Cibele Saliba Rizek e Ruy Sardinha Lopes 1º Ano Arquitetura e Urbanismo

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RELATÓRIO DE INTRODUÇÃO À ARQUITETURA E URBANISMO MODERNOS 30 de novembro de 2006 Universidade de São Paulo - USP Escola de Engenharia de São Carlos – EESC Departamento de Arquitetura e Urbanismo Artur Favaro Mei Bárbara Maria Francelin Fabrício Menezes Spannó Gabriel Nery Prata Rafael de Oliveira Sampaio Professores: Cibele Saliba Rizek e Ruy Sardinha Lopes 1º Ano Arquitetura e Urbanismo

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30 de novembro de 2006

Universidade de São Paulo - USP Escola de Engenharia de São Carlos – EESC Departamento de Arquitetura e Urbanismo

RELATÓRIO DE INTRODUÇÃO À ARQUITETURA E URBANISMO MODERNOS

CIDADE MÁQUINA

Artur Favaro Mei Bárbara Maria Francelin Fabrício Menezes Spannó Gabriel Nery Prata Rafael de Oliveira Sampaio Professores: Cibele Saliba Rizek e

Ruy Sardinha Lopes 1º Ano Arquitetura e Urbanismo

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Primeiramente, é necessário conceituar os vários significados de “máquina”. Por se tratar de uma palavra polissêmica, pode-se defini-la, inicialmente, pelo seu sen-tido de um mecanismo propriamente dito, e dele derivam-se os demais, como o de funcionalidade, potencialidade, eficiência, racionalidade da produção industrial e, até em alguns casos, a própria revolução industrial.

Por segundo é importante contextualizar a relação da cidade com o homem. Em um primeiro momento a cidade é vista como virtude, ou seja, local de produção intelectual, política e econômica, servindo assim como um símbolo de ostentação. Com a Revolução Industrial a cidade passa a ser sede da produção, desaparecendo desta forma a idéia de virtude, passando a ser vista como algo negativo, o qual, de-grada a natureza humana. Tal Revolução expropria o homem do campo, provocando uma explosão demográfica nas cidades, alimentando as indústrias com mão-de-obra barata e desqualificada, ou seja, passível de exploração. Como as cidades não apre-sentaram infra-estrutura suficiente para comportar tamanho crescimento populacional, passaram a ser um local insalubre para a vida humana.

Apresentado este contexto, surgem vertentes filosóficas e práticas que pas-saram a observar o novo mundo que se configurava e a propor soluções para os, en-tão, problemas modernos.

Dentre as vertentes, vale destacar, a dos socialistas utópicos, os quais, no geral, propunham uma volta ao campo e uma negação do sistema de exploração fabril que se apresentava. Em outra vertente há os que não negavam a cidade, mas sim tentavam resolvê-la, na maioria das vezes, através do uso da força, representado em uma legislação que propunha um “urbanismo sem desenho” como, por exemplo, os sanitaristas e Haussmann com seu replanejamento de Paris, bem como a “cidade jar-dim”. Esta vertente tentando fugir do caos urbano, propõe a integração da cidade com a natureza, alem do deslocamento da habitação para o subúrbio, tudo isso sobre uma política de propriedade privada.

Os “urbanistas modernos” propriamente ditos, dentre eles destacando Hilber-seimer, foi o grupo que inaugurou uma aceitação do mundo moderno em questão tal como se configurava. Não era proposta uma volta ao campo, mas sim aceitar a natu-reza como elemento estrutural da formação do homem e de uma sociedade. Para isso, utilizavam-se das tecnologias da época unidas à lógica maquinista, não negando pois o advento da maquina. Defendiam também a idéia de que a propriedade do solo se mantivesse em poder do Estado, este então garantiria a ordem , e o capital privado não perpassaria o bem comum.

É proposta uma organização urbana de forma que sua construção seja em uma escala de multidão para assim abrigar a população de uma cidade pós Revolução Industrial, procurando também não perder uma determinada escala de indivíduo. Ne-gam-se também os adornos, uma vez que segue uma lógica de pré-fabricação. Para concretizar esses ideais modernos que estavam fomentando entre os arquitetos, reali-zaram-se os CIAMs — Congressos Internacionais de Arquitetura Moderna.

Através das cidades construídas até então, levanta-se os aspectos positivos e negativos para promover uma discussão em relação ao urbanismo. A partir dessas discussões, propões soluções para estabelecer-se um novo planejamento urbano. Dentre os CIAMs, um dos mais importantes foi o 4º, cujas discussões e idéias foram sintetizadas por Le Corbusier na “Carta de Atenas”. Esta síntese faz com que se pen-se em um planejamento através de uma abstração tanto da geografia quanto do ho-mem. Abstrai-se o homem para eu se organize a cidade de forma a atender às neces-sidades básicas do mesmo; e a geografia, pois a cidade pensada é tida como um dia-grama, de forma que ela é modelo que pode ser encaixado em qualquer espacialidade geográfica, sem moldada de acordo com a geografia da região a ser implantada.

A idéia de diagramação segue a lógica do fordismo/taylorismo, consistindo em um modelo de pré-fabricação e modulação das unidades que compõem a cidade. Baseadas nas idéias de Hilberseimer, a cidade máquina propunha aliar a máquina à construção e à organização de toda a sua infra-estrutura. Apesar de um pensamento

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mecânico, não se propõe o distanciamento do “homem-máquina” da natureza. Pelo contrário, utiliza-se a máquina para aproximar do homem da natureza, incorporando-a ao ambiente urbano.

Essa aproximação torna-se possível devido às novas tecnologias, que permi-tem explorar nas fronteiras da construção sintetizadas nos 5 pontos propostos por Le Corbusier: os pilotis, planta e fachada livres, pano de vidro, teto jardim. Nota-se o uso da tecnologia a fim de construir altos edifícios dispostos de forma pouco densa com o propósito de liberar mas espaço térreo para áreas verdes e outras áreas como de cir-culação e de recreação. Um dos pontos negativos encontrados na cidade jardim é o mal uso da terra, em que se desperdiçava grandes áreas térreas para poucas e pe-quenas construções, o que tornava a cidade jardim grandes extensões sem aprovei-tamento, além disso a cidade gastava muito com infra-estrutura,ou seja, em abasteci-mentos e transporte para vencer as grandes extensões.

Além dos 5 pontos citados anteriormente, é proposto o planejamento urbano a partir das 4 necessidades do homem abstrato: habitar, trabalhar, recrear e circular; analisadas separadamente porém as quais são totalmente dependentes umas das outras.

HABITAR “A casa é uma máquina de morar” Le Corbusier A idéia de máquina remete a potencialização de todas as funções da unidade

e também a idéia de pré-fabricação das mesmas, o que permite nos levar a uma no-ção de igualdade de todos os cidadãos na cidade proposta.

Utilizando propostas sanitaristas, o urbanismo moderno se apropria de con-ceitos de aeração, ventilação e insolação para as unidades urbanas, com o intuito de promover o bem estar psicofisiológico. Da-se então uma grande importância à neces-sidade da moradia em atender a questões relacionadas ao: espaço (permitindo uma melhor circulação de ar e de certa forma lutar contra os instintos claustrofóbicos do homem), iluminação (o homem ligado ao ciclo do sol e também ao ideal de que onde este atinge é proporcionado vida) e por fim a vegetação (proporcionando ar puro e um contato visual com a natureza, através do pano de vidro).

RECREAR Ao se pensar no sentido de recrear, não é somente o de lazer, mas também,

é o de recuperação física — praticar esportes ou mesmo o simples fato de se deslocar a pé diariamente pela cidade — e mental — crescimento intelectual e o repouso.

Mantendo-se no sentido de recrear, englobando-se as recuperações físicas e mentais ao lazer, que se divide em diário — usufruir-se do que está próximo —, sema-nal — pequenas viagens — e o anual — viagens de longas distâncias. É importante frisar que a cidade deve apresentar infra-estrutura suficiente para permitir os tipos de recuperação — parques, quadras, piscinas, etc.

TRABALHAR No âmbito do trabalhar, a área industrial se distancia da área habitacional,

assim como dos espaços em que se situam os centros comerciais. Tanto as zonas de industriais quanto os centros econômicos mantinham uma relação estratégica com o lugar em que eram colocados, estes não necessariamente eram diagramados nos centros geográficos. Essas áreas eram garantidas pelo Estado, o qual definia essa tal localização.

Os cinturões verdes possuíam características que proporcionavam uma or-ganização das áreas, juntamente com uma integração da cidade com a natureza e também agindo nas questões de poluição das cidades.

A área industrial seria disposta de forma linear, essa estrutura propicia um melhor aproveitamento da chegada de matéria- prima, produtos e trabalhadores, bem

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como a saída dos mesmos. Vale lembrar que as vias citadas anteriormente seriam separadas entre si, para assim evitar atrasos na logística dos mesmos.

Propunham-se uma organização das unidades fabris baseadas em uma es-cala de importância para que, como citado acima, tem- se uma eficiência no processo: nota-se então que o centro linear industrial teria um total embasamento na lógica de produção fordista/taylorista.

Na cidade radiocêntrica, situa-se o controle e a administração de todos os serviços, além das trocas comerciais.

CIRCULAR Para se ligar todas as partes da cidade e estabelecer uma comunicação ade-

quada entre elas, é necessário um sistema de circulação muito bem estruturado e com uma lógica racional. Porém é importante frisar que a questão se comporta como algo um tanto quanto complexo, pois para cada via seria preciso todo um aparato que pro-porcionasse a potencialidade máxima de seu uso. A melhor lógica para tais vias seria sua estruturação de maneira que diminuíssem as interrupções entre elas. Seriam tam-bém separadas de acordo com as velocidades a que seriam destinadas — altas velo-cidades para as máquinas e 4km/h para os transeuntes.

Era proposta a separação da circulação de automóveis e pedestres, por uma questão tanto de segurança — para se evitar acidentes — como uma questão de oti-mizar as velocidades — a não-interrupção por parte dos cruzamentos entre os veícu-los e pedestres. Ao longo das vias de intenso tráfego automobilístico, propunham-se áreas verdes mais intensas — e também não se resolveria o fluxo intenso através de alargamento de vias. Conforme se aproximava das unidades de residência, o fluxo deveria ser diminuído, tal como a velocidade das máquinas, uma vez que a relação entre homem e automóvel era mais próxima.

Ou seja, para cada via uma determinada e específica preocupação, de modo a potencializar a funcionalidade da circulação.

CONCRETIZAÇÃO Tendo em vista todas as características da cidade máquina, pretendia-se,

pois, passá-la do diagrama abstrato para um projeto efetivado e concreto. Sendo as-sim, com tais idéias, Le Corbusier propõe planos urbanísticos para diversas cidades, dentre elas São Paulo, Rio de Janeiro e Buenos Aires. Nesta última, nota-se uma ca-racterística bastante importante da cidade máquina. O centro da capital argentina pos-sui um grande valor histórico. Le Corbusier planeja a transposição do centro adminis-trativo da cidade dessa região para uma outra área, com idéias de uma nova organi-zação mais lógica, de forma que todas as propostas sejam atendidas. Esse desliga-mento carrega, ao mesmo tempo, uma nova forma de organização racional da cidade e a preservação do patrimônio histórico. Tendo em vista uma cidade a fim de atender às necessidades humanas, racionalidade e funcionalidade vêm acima de qualquer monumento histórico, ou seja, a razão acima de qualquer memória. Entretanto, como a cidade-máquina é a representação do pensamento humano, ela não nega sua neces-sidade de memória. No caso de Buenos Aires era possível essa preservação. Porém, quando se tem um conflito como este em questão, a funcionalidade deve prevalecer. Se houver outras alternativas à destruição, optar-se-á pela solução mais funcional; se o patrimônio histórico atrapalhar a logicidade, deverá ser destruído para propiciar o bem-estar do homem moderno. A cidade deve contar sua história, de forma que isso não atrapalhe sua mecânica própria. Para Le Corbusier, a cidade deveria exprimir o espírito da época. Já que a sociedade máquina exigia uma escala industrial no urba-nismo e a técnica de construção permitia, não havia por que não embasar a idéia. Por isso a total negação do eclético e um contraponto a Haussmann — que reformou Paris e não se preocupou com questões sociais modernas em relação ao processo de cons-trução. O plano Voisin, um dos primeiro planos propostos por Le Corbusier, foi uma

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exposição de idéias de reforma do centro de Paris, que critica fortemente o pensamen-to da época e insere a idéia da cidade como máquina no pensamento do século XX.

Muitas dessas idéias foram, e são, bastante assimiladas em partes nas cons-truções a partir daquela época. As galerias promovem a circulação dos pedestres se-parada do fluxo dos automóveis e do uso do térreo dos edifícios para a circulação. Há também a unidade habitacional do próprio Le Corbusier, em Marselha, que foi referên-cia para o edifício Copan em São Paulo. Entretanto o Copan, apesar de pensar na infra-estrutura moderna, é construído em um contexto espacial em que acaba falhando em alguns aspectos, como na questão da iluminação, do espaço e da vegetação — características que são comprometidas seriamente em meio a um mar de edifícios onde foi construído o prédio em questão.

Talvez não haja símbolo maior da implantação dessas idéias no plano real do que Brasília. E essa concretização só obteve sucesso porque foi construída sob a in-tervenção e controle do Estado, que mantinha sob seu poder a totalidade da proprie-dade do solo. Ela acabou se aproximando bastante da idéia inicial da diagramação, devido à geografia da região onde se estabeleceu a construção da capital brasileira.

Um dos motivos que se pode encontrar para o enfraquecimento da idéia de implantação da cidade máquina seja o desaparecimento do Estado do bem-estar soci-al, bem como a perda do poder interventor do Estado atual na propriedade do solo e da cidade, valorizando-se os interesses privados sobre o direito do coletivo público, característica marcante da influência da lógica do capitalismo neo-liberal no âmbito urbano. Isso tudo é o oposto daquilo que seria pré-requisito para a possibilidade de efetivação da cidade máquina.

Contudo, podemos notar que, com o tempo, ocorreu-se um desgaste nos propósitos ideais da Arquitetura moderna, esgotando-se grande parte das práticas sociais implícitas nesta forma de construção, bem como a banalização dos símbolos da mesma. Isto acabou fazendo com que essa arquitetura se tornasse mais voltada para a imagem que passa, do que para os ideais pressupostos de anteriormente, tor-nando-se elitizada e instrumento efetivo em uma sociedade do espetáculo.