Ciencia, Poder e Os Riscos
-
Upload
carolina-costa -
Category
Documents
-
view
214 -
download
0
Transcript of Ciencia, Poder e Os Riscos
-
7/28/2019 Ciencia, Poder e Os Riscos
1/5
TEXTO ARGUMENTATIVO
A Cincia, o Poder e os Riscos
Introduo:
Comeando, com o domnio do fogo, com a inveno de ferramentas de caa,
cada vez mais aperfeioadas ao longo de geraes, o ser humano demonstra,
desde os tempos primitivos, um desejo de manipular os elementos, de modo a
controlar a natureza, ou seja, um desejo de deter o poder, de ser o mais
inteligente, o mais bem adaptado, o melhor.
A cincia e a tecnologia, podendo-se relacionar no sentido de actuarem uma
perante a outra, designando-se de tecnocincia, vieram neste sentido contribuir
muito para a realizao deste desejo do homem, tornando-se o conhecimento
cientfico poderoso.
certo que vivemos rodeados de cincia, no necessrio olharmos com muito
detalhe nossa volta, onde quer que estejamos, para encontrar um simples
objecto proveniente de um qualquer conhecimento cientfico e tecnolgico: um
simples candeeiro, um relgio de pulso, uma esferogrfica, ou uma caneta de
filtro, todos eles s existem porque algum se lembrou de relacionar factos e
descobriu a electricidade, um mecanismo de funcionamento; por mais bsico
que nos parea um objecto, tem, de certeza, na sua origem, muita cincia.
Na verdade, o conhecimento cientfico, designadamente na
vertente tecnolgica, infiltrou-se no quotidiano a partir de meados
do sculo XIX (), a tecnologia no cessa de nos fazer convencer
que o impossvel de ontem o trivial de amanh.
Levi Malho, O deserto da filosofia
No entanto os horizontes da tecnocincia no se limitam apenas a estes
objectos simples, mas a todo um universo de conhecimentos com vista a
desvendar os mistrios que mais assombram o mundo, com o objectivo final de
manipular o mundo em benefcio do homem. E, desde a era da industrializao,
com a inveno da mquina, que o ritmo de evoluo da cincia disparou, raro
-
7/28/2019 Ciencia, Poder e Os Riscos
2/5
o dia em que no nos deparemos com uma notcia na televiso sobre uma
descoberta cientfica, ou sobre a inveno de qualquer coisa.
Mas estar a cincia a evoluir demais? Dever o homem favorecer o seu
desenvolvimento, sem o limitar, para aproveitar ao mximo o poder que isso lhe
confere? Ou ser melhor, por outro lado, impedir em absoluto que se faa
cincia?
O problema no a cincia evoluir ao ritmo de hoje, no so os benefcios e os
riscos que ela acarreta que deveriam impor que ela se faa ou se proba. O
problema a direco que o desenvolvimento cientfico toma. O problema o
homem e a sua ambio pelo poder, ele o grande responsvel.
Desenvolvimento:
Pensar que a cincia, conjunto de conhecimentos relativos a objectos, factos ou
fenmenos explicados por leis e que so susceptveis de verificao, tal como a
tcnica s trazem consequncias positivas, que so factores que fomentam o
desenvolvimento do ser humano muito ingnuo. Mas tambm no podemos
recusar a todo o custo a tecnocincia, por pensar que esta apenas traz perigos eincrementa a degradao da espcie humana, tornando o homem mais
insatisfeito, isolado e sem saber dar sentido vida.
A cincia e a tecnologia so um poder tanto bom como mau, tanto construtivo
como destrutivo, dependendo do uso que o homem lhe d, dependendo do
sentido em que se processa o seu desenvolvimento.
Assim no podemos afirmar que a cincia um bem global, que favorece o
progresso da espcie humana, no podemos afirmar que a partir dos objectivos
da cincia, de conhecer, explicar, prever e controlar os fenmenos da natureza
o homem vive melhor, manipulando tanto os aspectos positivos como negativos
da vida na terra, nem que a cincia satisfaz todas as necessidades do homem
proporcionando melhor qualidade de vida. Mas afirmar tudo isto em absoluta
oposio tambm no sensato.
Ao olhar-mos para o que era a humanidade uns sculos atrs e comparando
com o estado dela nos nossos dias, vemos que a humanidade tanto progrediu
-
7/28/2019 Ciencia, Poder e Os Riscos
3/5
em certos aspectos como regrediu noutros. Vemos que a qualidade de vida
melhorou significativamente, tal como a esperana mdia de vida est mais
alta, as epidemias mundiais esto mais controladas, ou pelo menos h mais
mtodos de preveno e cura Contudo tambm nos damos conta que muitasdestas alteraes no ocorrem escala mundial, mas sobretudo nos pases
desenvolvidos.
O que sofremos hoje em dia com a poluio no s consequncia da falta de
considerao com o ambiente na actualidade, vindo-se a arrastar desde o incio
das emisses de dixido de carbono em massa desde o perodo ps-
industrializao. No entanto, ser que nunca devamos ter andado de comboio
ou de carro? H duzentos anos levava-se tanto tempo de Liverpool a Londres
como agora se leva da Terra Lua, disse Carl Sagan emAs ligaes csmicas.
verdade que foi desde o apogeu da tecnocincia que se agravaram os
problemas ecolgicos, uma vez que o seu desenvolvimento implica a explorao
das riquezas naturais, a desflorestao, o efeito de estufa devido combusto
de energias fsseis e outros, os que dizem respeito ao equilbrio e conservao
da natureza e os problemas da biotica, ligados temtica da investigao
cientfica no que toca vida humana, ou seja questes de reas como a
medicina de reproduo, a gentica, biotecnologia, etc... Mas no a
tecnocincia a responsvel por estes problemas! O homem quer conquistar,
quer descobrir, quer poder, sem se preocupar com a lstima do mundo que o
rodeia. No se pensa nas consequncias que uma barragem tem no ciclo de vida
de milhares de organismos, dos mais simples aos mais complexos. Gastam-se
milhes de dlares no envio de uma sonda a Marte para se analisarem as rochas
da superfcie desse planeta, quando crianas caminham descalas sobre as
superfcies arenosas do territrio africano, muitas a morrer de fome. Os ricos s
ambicionam mais poder e mais fortuna, e por isto cada vez mais se notam as
diferenas entre ricos e pobres.
A cincia, que devia ter por fim o bem da humanidade,
infelizmente concorre na obra de destruio e inventa
constantemente novos meios de matar o maior nmero de homens
no tempo mais curto
-
7/28/2019 Ciencia, Poder e Os Riscos
4/5
Lon Tolstoi, Confisses
As prioridades esto trocadas, mas no a cincia que tem, directamente, culpa
dos perigos para o planeta que o seu uso est a compreender, mas sim o
homem, que a usa de modo errado, para benefcio prprio e no para benefcio
comum.
O homem tradicional sempre esteve habituado a viver segundo ele prprio. A
mentalidade e os paradigmas desenvolveram-se segundo moldes
antropocntricos (com o homem como centro, referncia). A definio de bem e
de mal fazia-se exclusivamente em funo da relao estabelecida entre os
seres humanos. Estas ticas tradicionais consideravam a natureza como mero
local onde o homem desenvolvia as suas aces, revelando uma enorme
negligncia em relao a esta e ignorando as geraes futuras. A situao
actual em que vivemos em grande parte consequncia deste pensamento
ingnuo que o homem adquiriu ao longo de sculos.
Agora que o cenrio comea a tornar-se negro e os problemas ambientais e
bioticos se agravam que se comea a verificar a adopo de uma nova
atitude, mesmo que em pequena escala. E esta atitude que tem que se
universalizar para se estagnar os riscos em que o mau uso da tecnocincia est
a deixar o nosso mundo. E esta nova atitude baseia-se na crena em que
possvel conciliar progresso cientfico e desenvolvimento humano. Para isto
necessrio que no s certas organizaes, mas todas as pessoas, grupos,
instituies, culturas sejam responsveis em colectivo pela humanidade, pela
natureza e pelo futuro das geraes vindouras. impensvel, no grau de
desenvolvimento em que nos encontramos, pensar em viver sem cincia e sem
tcnica, e nem isso era o caminho correcto para a resoluo dos problemas com
que nos defrontamos; no entanto tambm no podemos usufruir de todo o seu
poder sem pensar nos riscos que da podero advir.
Assim cabe ao ser humano controlar e usar o poder proporcionado pela cincia e
pela tecnologia, de modo a orientar o seu desenvolvimento de acordo com as
prioridades do ser humano, sem vendas nos olhos, no comprometendo o meio
abitico, fauna e flora, que o envolve, e deixar de parte o desnecessrio, o
suprfluo, enquanto outras necessidades se levantam.
-
7/28/2019 Ciencia, Poder e Os Riscos
5/5
Concluso:
Em suma, a soluo no est na renncia ao conhecimento cientfico ou s suas
aplicaes na prtica, nem, por outro lado, nos deixar-mos dominar por ela,
est sim nas capacidades de orientao do seu desenvolvimento e do controlo
por parte do ser humano. A tecnocincia uma condio necessria ao
desenvolvimento, mas no o desenvolvimento, no o suficiente. Os saberes
cientficos contribuem para o progresso da humanidade, no entanto no so o
progresso, e no devemos deixar que estes nos dominem.
A cincia e a tecnologia, por si s, no so suficientes para satisfazer os desejos
do homem.
O problema no que os computadores passem a pensar como a
gente; mas que a gente passe a pensar como eles.
Erich Fromm
Bibliografia:
. ABRUNHOSA, M. A. e LEITO, M. Um outro olhar sobre o mundo, Ed. ASA, Porto, 2008;
. http://patologiaatm.blogspot.com/2008/10/evoluo-da-cincia.html;
. http://fc08.deviantart.com/fs14/i/2007/019/5/6/polution_by_MonkeyRobotics.jpg
. http://pt.wikipedia.org/wiki/Tecnoci%C3%AAncia
. http://www.citador.pt/index.php