Ciencia, Poder e Os Riscos

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  • 7/28/2019 Ciencia, Poder e Os Riscos

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    TEXTO ARGUMENTATIVO

    A Cincia, o Poder e os Riscos

    Introduo:

    Comeando, com o domnio do fogo, com a inveno de ferramentas de caa,

    cada vez mais aperfeioadas ao longo de geraes, o ser humano demonstra,

    desde os tempos primitivos, um desejo de manipular os elementos, de modo a

    controlar a natureza, ou seja, um desejo de deter o poder, de ser o mais

    inteligente, o mais bem adaptado, o melhor.

    A cincia e a tecnologia, podendo-se relacionar no sentido de actuarem uma

    perante a outra, designando-se de tecnocincia, vieram neste sentido contribuir

    muito para a realizao deste desejo do homem, tornando-se o conhecimento

    cientfico poderoso.

    certo que vivemos rodeados de cincia, no necessrio olharmos com muito

    detalhe nossa volta, onde quer que estejamos, para encontrar um simples

    objecto proveniente de um qualquer conhecimento cientfico e tecnolgico: um

    simples candeeiro, um relgio de pulso, uma esferogrfica, ou uma caneta de

    filtro, todos eles s existem porque algum se lembrou de relacionar factos e

    descobriu a electricidade, um mecanismo de funcionamento; por mais bsico

    que nos parea um objecto, tem, de certeza, na sua origem, muita cincia.

    Na verdade, o conhecimento cientfico, designadamente na

    vertente tecnolgica, infiltrou-se no quotidiano a partir de meados

    do sculo XIX (), a tecnologia no cessa de nos fazer convencer

    que o impossvel de ontem o trivial de amanh.

    Levi Malho, O deserto da filosofia

    No entanto os horizontes da tecnocincia no se limitam apenas a estes

    objectos simples, mas a todo um universo de conhecimentos com vista a

    desvendar os mistrios que mais assombram o mundo, com o objectivo final de

    manipular o mundo em benefcio do homem. E, desde a era da industrializao,

    com a inveno da mquina, que o ritmo de evoluo da cincia disparou, raro

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    o dia em que no nos deparemos com uma notcia na televiso sobre uma

    descoberta cientfica, ou sobre a inveno de qualquer coisa.

    Mas estar a cincia a evoluir demais? Dever o homem favorecer o seu

    desenvolvimento, sem o limitar, para aproveitar ao mximo o poder que isso lhe

    confere? Ou ser melhor, por outro lado, impedir em absoluto que se faa

    cincia?

    O problema no a cincia evoluir ao ritmo de hoje, no so os benefcios e os

    riscos que ela acarreta que deveriam impor que ela se faa ou se proba. O

    problema a direco que o desenvolvimento cientfico toma. O problema o

    homem e a sua ambio pelo poder, ele o grande responsvel.

    Desenvolvimento:

    Pensar que a cincia, conjunto de conhecimentos relativos a objectos, factos ou

    fenmenos explicados por leis e que so susceptveis de verificao, tal como a

    tcnica s trazem consequncias positivas, que so factores que fomentam o

    desenvolvimento do ser humano muito ingnuo. Mas tambm no podemos

    recusar a todo o custo a tecnocincia, por pensar que esta apenas traz perigos eincrementa a degradao da espcie humana, tornando o homem mais

    insatisfeito, isolado e sem saber dar sentido vida.

    A cincia e a tecnologia so um poder tanto bom como mau, tanto construtivo

    como destrutivo, dependendo do uso que o homem lhe d, dependendo do

    sentido em que se processa o seu desenvolvimento.

    Assim no podemos afirmar que a cincia um bem global, que favorece o

    progresso da espcie humana, no podemos afirmar que a partir dos objectivos

    da cincia, de conhecer, explicar, prever e controlar os fenmenos da natureza

    o homem vive melhor, manipulando tanto os aspectos positivos como negativos

    da vida na terra, nem que a cincia satisfaz todas as necessidades do homem

    proporcionando melhor qualidade de vida. Mas afirmar tudo isto em absoluta

    oposio tambm no sensato.

    Ao olhar-mos para o que era a humanidade uns sculos atrs e comparando

    com o estado dela nos nossos dias, vemos que a humanidade tanto progrediu

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    em certos aspectos como regrediu noutros. Vemos que a qualidade de vida

    melhorou significativamente, tal como a esperana mdia de vida est mais

    alta, as epidemias mundiais esto mais controladas, ou pelo menos h mais

    mtodos de preveno e cura Contudo tambm nos damos conta que muitasdestas alteraes no ocorrem escala mundial, mas sobretudo nos pases

    desenvolvidos.

    O que sofremos hoje em dia com a poluio no s consequncia da falta de

    considerao com o ambiente na actualidade, vindo-se a arrastar desde o incio

    das emisses de dixido de carbono em massa desde o perodo ps-

    industrializao. No entanto, ser que nunca devamos ter andado de comboio

    ou de carro? H duzentos anos levava-se tanto tempo de Liverpool a Londres

    como agora se leva da Terra Lua, disse Carl Sagan emAs ligaes csmicas.

    verdade que foi desde o apogeu da tecnocincia que se agravaram os

    problemas ecolgicos, uma vez que o seu desenvolvimento implica a explorao

    das riquezas naturais, a desflorestao, o efeito de estufa devido combusto

    de energias fsseis e outros, os que dizem respeito ao equilbrio e conservao

    da natureza e os problemas da biotica, ligados temtica da investigao

    cientfica no que toca vida humana, ou seja questes de reas como a

    medicina de reproduo, a gentica, biotecnologia, etc... Mas no a

    tecnocincia a responsvel por estes problemas! O homem quer conquistar,

    quer descobrir, quer poder, sem se preocupar com a lstima do mundo que o

    rodeia. No se pensa nas consequncias que uma barragem tem no ciclo de vida

    de milhares de organismos, dos mais simples aos mais complexos. Gastam-se

    milhes de dlares no envio de uma sonda a Marte para se analisarem as rochas

    da superfcie desse planeta, quando crianas caminham descalas sobre as

    superfcies arenosas do territrio africano, muitas a morrer de fome. Os ricos s

    ambicionam mais poder e mais fortuna, e por isto cada vez mais se notam as

    diferenas entre ricos e pobres.

    A cincia, que devia ter por fim o bem da humanidade,

    infelizmente concorre na obra de destruio e inventa

    constantemente novos meios de matar o maior nmero de homens

    no tempo mais curto

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    Lon Tolstoi, Confisses

    As prioridades esto trocadas, mas no a cincia que tem, directamente, culpa

    dos perigos para o planeta que o seu uso est a compreender, mas sim o

    homem, que a usa de modo errado, para benefcio prprio e no para benefcio

    comum.

    O homem tradicional sempre esteve habituado a viver segundo ele prprio. A

    mentalidade e os paradigmas desenvolveram-se segundo moldes

    antropocntricos (com o homem como centro, referncia). A definio de bem e

    de mal fazia-se exclusivamente em funo da relao estabelecida entre os

    seres humanos. Estas ticas tradicionais consideravam a natureza como mero

    local onde o homem desenvolvia as suas aces, revelando uma enorme

    negligncia em relao a esta e ignorando as geraes futuras. A situao

    actual em que vivemos em grande parte consequncia deste pensamento

    ingnuo que o homem adquiriu ao longo de sculos.

    Agora que o cenrio comea a tornar-se negro e os problemas ambientais e

    bioticos se agravam que se comea a verificar a adopo de uma nova

    atitude, mesmo que em pequena escala. E esta atitude que tem que se

    universalizar para se estagnar os riscos em que o mau uso da tecnocincia est

    a deixar o nosso mundo. E esta nova atitude baseia-se na crena em que

    possvel conciliar progresso cientfico e desenvolvimento humano. Para isto

    necessrio que no s certas organizaes, mas todas as pessoas, grupos,

    instituies, culturas sejam responsveis em colectivo pela humanidade, pela

    natureza e pelo futuro das geraes vindouras. impensvel, no grau de

    desenvolvimento em que nos encontramos, pensar em viver sem cincia e sem

    tcnica, e nem isso era o caminho correcto para a resoluo dos problemas com

    que nos defrontamos; no entanto tambm no podemos usufruir de todo o seu

    poder sem pensar nos riscos que da podero advir.

    Assim cabe ao ser humano controlar e usar o poder proporcionado pela cincia e

    pela tecnologia, de modo a orientar o seu desenvolvimento de acordo com as

    prioridades do ser humano, sem vendas nos olhos, no comprometendo o meio

    abitico, fauna e flora, que o envolve, e deixar de parte o desnecessrio, o

    suprfluo, enquanto outras necessidades se levantam.

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    Concluso:

    Em suma, a soluo no est na renncia ao conhecimento cientfico ou s suas

    aplicaes na prtica, nem, por outro lado, nos deixar-mos dominar por ela,

    est sim nas capacidades de orientao do seu desenvolvimento e do controlo

    por parte do ser humano. A tecnocincia uma condio necessria ao

    desenvolvimento, mas no o desenvolvimento, no o suficiente. Os saberes

    cientficos contribuem para o progresso da humanidade, no entanto no so o

    progresso, e no devemos deixar que estes nos dominem.

    A cincia e a tecnologia, por si s, no so suficientes para satisfazer os desejos

    do homem.

    O problema no que os computadores passem a pensar como a

    gente; mas que a gente passe a pensar como eles.

    Erich Fromm

    Bibliografia:

    . ABRUNHOSA, M. A. e LEITO, M. Um outro olhar sobre o mundo, Ed. ASA, Porto, 2008;

    . http://patologiaatm.blogspot.com/2008/10/evoluo-da-cincia.html;

    . http://fc08.deviantart.com/fs14/i/2007/019/5/6/polution_by_MonkeyRobotics.jpg

    . http://pt.wikipedia.org/wiki/Tecnoci%C3%AAncia

    . http://www.citador.pt/index.php