Ciência Veterinária nos Trópicos2 Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v. 1, no 1/2, - aneiro/agosto,...

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Ciência Veterinária nos Trópicos v. 17 nº 1/2

janeiro-agosto/2014

CONSELHO REGIONAL DE MEDICINA VETERINÁRIA DE PERNAMBUCO – CRMV-PE

DIRETORIA EXECUTIVAMed. Vet. Erivânia Camelo de Almeida

PresidenteMed. Vet. Gerson Harrop Filho

Vice-presidenteMed. Vet. Késia Alcântara Queiroz Pontual

Secretária-geralMed. Vet. José Alberto Simplício de Alcântara

TesoureiroCONSELHEIROS TITULARESMed. Vet. João Alves do Nascimento JúniorMed. Vet. Geraldo Vieira de Andrade FilhoMed. Vet. Robério Silveira de SiqueiraMed. Vet. Paulo Ricardo Magnata da FonteMed. Vet. Marcelo Weinstein TeixeiraZootec. Valderedes Martins da Silva

CONSELHEIROS SUPLENTESMed. Vet. Maria José de SenaMed. Vet. Airon Aparecido Silva de MeloMed. Vet. Amaro Fábio de Albuquerque SouzaMed. Vet. João Ferreira CaldasMed. Vet. Luiz Paulo de Moraes BrandãoMed. Vet. Fabiano Sellos Costa

SEDE DO CRMV/PE Rua Conselheiro Theodoro, 460, Zumbi, Recife, PE, CEP 50711-030Fone: 081-3797.2517 | Fax: 081-3797.2506www.crmvpe.org.br

Reconhecida como veículo de divulgação técnico-científica pelo Conselho Federal de Medicina Veterinária (CFMV), Resolução nº 652, de 18 de novembro de 1998.

INDEXAÇÃORevista Ciência Veterinária nos Trópicos está indexada na base de dados da Cabi Abstracts, Agris e Agrobase.

CONSELHO EDITORIAL

EDITORAZoot. Helena Emília C. C. Cordeiro Manso

EDITORES ASSOCIADOSMed. Vet. Márcia de Figueiredo PereiraMed. Vet. Késia Alcântara Queiroz PontualMed. Vet. Jéssica de Torres Bandeira

CORPO EDITORIALAurino Alves Simplício

EMBRAPA-CaprinosCarlos Enrique Peña Alfaro

UFCG - Depto. de Clínicas VeterináriasCristiano Barros de Melo

UFSE - DEA/CCBSEduardo Alberto Tudury

UFRPE - Depto. de Medicina VeterináriaFrancisco Carlos Faria Lobato

UFMG - Escola de VeterináriaJosé Augusto Bastos Afonso

UFRPE - Clínica de Bovinos de GaranhunsMarcos Antônio Lemos de Oliveira

UFRPE - Depto. de Medicina VeterináriaMaria do Carmo de Souza Batista

UFPI - Depto. de Medicina Veterinária

JORNALISTA RESPONSÁVELEldemberga Grangeiro dos Anjos

Reg. Prof. 3686 DRT-PE

REVISÃO TÉCNICA Med. Vet. Késia Alcântara Queiroz Pontual

EDITORAÇÃO GRÁFICAJônathas Souza

Mameluco Design

PERIODICIDADEQuadrimestral

SITEEdições da Revista Ciência Veterinária nos Trópicos estão disponíveis no site www.rcvt.org.br

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Sumário Table of Contents

ARTIGO CIENTÍFICO • SCIENTIFIC ARTICLE

O ensino de epidemiologia e saúde pública em Universidades Federais do BrasilThe teaching of epidemiology and public health in Federal Universities in BrazilGONSALVES, M.T.; CARDOZO, R.F.; BRANDESPIM, D.F.

ARTIGO CIENTÍFICO • SCIENTIFIC ARTICLE

Alterações nos biomarcadores minerais após doação sanguínea em cães da Raça GreyhoundChanges in mineral biomarkers after blood donation in Greyhound breed dogsVAZ, S.G.; HUNKA, M.M.; MEQUITA, R.M.; ALMEIDA, T.L.A.C.;

MANSO, H.E.C.C.C.; MANSO FILHO, H.C.

ARTIGO CIENTÍFICO • SCIENTIFIC ARTICLE

Comparação do ensaio imunoenzimático indireto (ELISA-teste) com a reação da imunofluorescência indireta na detecção de anticorpos IgG anti-Toxoplasma gondii em ovinos naturalmente infectadosComparison of indirect enzyme-linked immunosorbent assay (ELISA test) with the indirect immunofluorescence assay for detection of IgG anti-Toxoplasma gondii antibodies in sheep naturally infectedRIZZO, H.; CARVALHO, J.S.; HORA, J.H.C.; RODRIGUES, F.M.;

FRAGA, G.J.M.; VILLA-LOBOS, E.M.C.

ARTIGO CIENTÍFICO • SCIENTIFIC ARTICLE

Detecção de anticorpos anti-Chlamydophila abortus em caprinos no estado de Alagoas, BrasilDetection of anti-Chlamydophila abortus antibodies in goats in the state of Alagoas, BrazilANDERLINI, G.A.; PIATTI, R.M.; PINHEIRO JUNIOR, J.W.;

VALENÇA, R.M.B.; ANDERLINI, G.P.O.S.; MOTA, R.A.

ARTIGO CIENTÍFICO • SCIENTIFIC ARTICLE

Perfil bioquímico em ovelhas da raça Morada Nova nos períodos de gestacão, parto e pós-partoBiochemical profile in Morada Nova ewes in periods of pregnancy, childbirth and postpartumSANTOS, F.M.S.; SOARES, P.C.; MESQUITA, E.P.; OLIVEIRA

FILHO, E.F.; GUIDO, S.I.; ALVES, K.H.G.; BARTOLOMEU, C.C.;

AMORIM, M.J.A.A.L.

ARTIGO CIENTÍFICO • SCIENTIFIC ARTICLE

Ocorrência de anticorpos IgG anti- Neospora caninum em vacas leiteiras no

estado de Pernambuco, BrasilOccurrence of anti-Neospora caninum IgG antibodies

in dairy cows in the state of Pernambuco, BrazilSILVA, J.G.; GUERRA, N.R.; MELO, R.P.B.; ALBUQUERQUE,

P.P.F.; ALVES, L.C.; MOTA, R.A.

ARTIGO CIENTÍFICO • SCIENTIFIC ARTICLE

Avaliação da eficácia da suplementação eletrolítica sobre parâmetros relacionados

a desidratação em equinos de vaquejadaEffectiveness evaluation of electrolyte supplementation on parameters related dehydration “vaquejada” horses

CÂMARA, D.R.; OLIVEIRA, A.S.

RELATO DE CASO • CASE REPORT

Brucelose em uma égua doadora de embriões: relato de caso

Brucellosis in an embryo donor Mare: case report FERNANDES, F.S.; GRADELA, A.

ARTIGO CIENTÍFICO • SCIENTIFIC ARTICLE

Indução de ovulações duplas utilizando baixa dose de deslorelina em éguas

Double ovulation induction using low dose of deslorelin in mares

AZEVEDO, M.V.; SOUZA, N.M; FERREIRA-SILVA, J.C;

BATISTA, I.O.; SALES, F.A.B.M.; ALVARENGA, M.A.;

OLIVEIRA, M.A.L.; LIMA, P.F.

ARTIGO CIENTÍFICO • SCIENTIFIC ARTICLE

Uso de glutationa peroxidase e cisteína aos diluentes botu-sêmen® e ACP-105® na

integridade de espermatozoides equinos refrigerados

Use of glutathione peroxidase and cysteine to diluents Botu-sêmen® and ACP-105® integrity of refrigerated

equine spermANDERLINI, G.A.; PIATTI, R.M.; PINHEIRO JUNIOR, J.W.;

VALENÇA, R.M.B.; ANDERLINI, G.P.O.S.; MOTA, R.A.

Informações Gerais

Editorial

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Informações Gerais revista Ciência Veterinária nos Trópicos é editada quadrimestralmente pelo Con-selho Regional de Medicina Veterinária de Pernambuco (CRMV – PE), e destina--se a divulgação de trabalhos técnico-científicos (trabalhos originais de interesse na área de ciência veterinária e zootecnia, ainda não publicados, nem encaminha-dos a outra revista para o mesmo fim) e de notícias de cunho profissional, ligadas

a área de ciência veterinária em meio digital.Reconhecida como veículo de divulgação técnico-científica pelo Conselho Federal de Me-

dicina Veterinária (Resolução no 652, de 18 de novembro de 1998).

ENDEREÇO PARA CORRESPONDÊNCIA:

Conselho Regional de Medicina Veterinária de Pernambuco (CRMV – PE) Rua Conselheiro Theodoro, 460 - Zumbi. CEP 50711-030 Recife, PE, Brasil.Telefone: (081) 3797.2506 e fax (081) 3797.2514

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Os artigos publicados nesta Revista são indexados nas bases de dados: CABI ABSTRACTS, AGRIS E AGROBASE

Ciência Veterinária nos Trópicos, v. 17, n 1,2 (jan-ago 2014) – Recife: CRMV – PE, 2014

Quadrimestral ISSN 1415-6326

1. Veterinária – Ciência – Periódico I. Conselho Regional de Medicina Veterinária de Pernambuco, Recife, PE.

CDD 636.08905

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Editorial

Zoot. Helena emília C. C. Cordeiro manso

o conjunto de prioridades traçadas pela Diretoria Executiva do CRMV-PE uma das que se destacam é a proposta de promover uma maior inserção deste periódico no seio da comunidade científica. O Conselho Editorial tem se empenhado ao má-ximo na missão de atrair grupos de pesquisa já consolidados, em nível regional e nacional, para que submetam artigos de grande relevância e aplicação prática no

âmbito da saúde e da produção animal. Mas, também temos buscado motivar os pesquisadores emergentes para que submetam seus trabalhos para publicação. Obviamente, a principal pre-missa técnico-científica é a busca de soluções para os persistentes problemas que afetam a saúde e o desempenho dos rebanhos no Nordeste.

Neste sentido, gratifica-nos registrar a boa acolhida que a Revista continua a receber por parte de professores, pesquisadores, pós-graduandos e técnicos no tocante a sua linha editorial. Os artigos constantes da presente edição contemplam temáticas diversas no âmbito da epi-demiologia e da saúde pública, biologia molecular, bacteriologia e reprodução em diferentes espécies animais. A expectativa desta editoria é que as conclusões e recomendações emanadas desses estudos possam servir como referencial teórico-prático que facilite a adoção de políticas sanitárias e estratégias governamentais que efetivamente melhorem a produção animal no tró-pico brasileiro.

Finalizando, gostaríamos de reafirmar o solene compromisso de todos os que fazem a Ciên-cia Veterinária nos Trópicos no sentido de continuar trabalhando para brindar os seus leitores com a publicação de artigos de grande expressão técnico-científica para o ambiente acadêmico e o setor produtivo.

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O ensino de epidemiologia e saúde pública em Universidades Federais do BrasilMárcia Torres GONSALVES¹; Rafael Feitosa CARDOZO¹; Daniel Friguglietti BRANDESPIM²

RESUMO

Objetivou-se com este trabalho avaliar ementas das disciplinas de epidemiologia e saúde pública das Instituições Federais de Ensino Superior (IFES) que possuem o curso de medicina veterinária, observando o tipo de formação oferecida ao profissional que desejar seguir a área de saúde pública. Analisou-se matriz curricular, ementas das disciplinas de epidemiologia e saúde pública, além das cargas horárias. Foram encontradas disparidades nos conteúdos das ementas da disciplina de epidemiologia, sendo a UFMG com maior percentual de carga horária em rela-ção ao total da carga horária do curso (3,9%) e em menor percentual a UFRRJ (1,3%). Analisan-do a ementa da disciplina de saúde pública, observou-se que não há nenhum conteúdo comum que esteja incluso em todas as ementas avaliadas, encontrando-se as zoonoses em maior pro-porção (61,1%) das IFES pesquisadas. Analisando as ementas da disciplina de epidemiologia percebeu-se maior ênfase no conteúdo relacionado aos métodos epidemiológicos (88,9%). Em menor proporção foram observados em ordem decrescente nas ementas, os conteúdos relacio-nados à estimativa populacional em 38,9%, epidemiologia das doenças por veículo comum em 22,2% e defesa sanitária animal em 11,1% das IFES. Concluiu-se que não há um padrão entre ementas além de cargas horárias em grande disparidade, o que pode acarretar em deficiências na formação de médicos veterinários que desejem ingressar no campo da saúde pública.

P A L A V R A S - C H A V E Ensino, epidemiologia, medicina veterinária preventiva, saúde pública

The guideline of Epidemiology and Public Health at Federal Universities in Brazil

ABSTRACT The main of this article was evaluate the outline of the subjects of Epidemiology and Pu-

blic Health of the Federal Institutions of Higher Education in Brazil, where offers course of Veterinary Medicine, also observing the type of background offered to the professional who wants to follow the Public Health Area. It was analysed the grades and outlines of the subjects of Epidemiology and Public Health, moreover the timetables. It was found differences in the contents of Epidemiology subject, where the UFMG (Federal University in Minas Gerais) has a bigger percentage of timetables related with the total timetable of the course (3.9%) and the lower percentage with the UFRRJ (Federal University of Rio de Janeiro) (1.3%). Analysing the outlines of Public Health subject, it was found that there is no similar contents among them, where zoonosis is in bigger proportion (61.1%) among the Federal Institutions researched. Analysing the outlines of Epidemiology subject, it was noticed that there is more emphasise on the content related with the epidemiologic methods (88.9%). With lower proportions was ob-served in descending order on the outlines, the contents related to Population Estimates with 38.9%, Epidemiology of Diseases through common vehicle with 22.2% and Animal Health Protection with 11.1%, of the Federal Institutions respectively. To sum up, there is no model of outlines besides timetables with huge differences, which might cause a deficit on the formation of Veterinarians who want to get into the Public Health Area.

K E Y W O R D S Education, epidemiology, preventive veterinary medicine, public health.

¹ Médica Veterinária- Rua Sebastião Pacheco, N°678, Severiano

Moraes Filho, Garanhuns-PE- [email protected]

² Médico Veterinário - [email protected] – Av. Bom Pastor s/nº - Boa

Vista – Garanhuns-PE

³ Doutor em Medicina Veterinária Preventiva- [email protected]

– Av. Bom Pastor s/nº - Boa Vista – Garanhuns-PE

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O ensino de epidemiologia e saúde pública em Universidades Federais do Brasil

INTRODUÇÃO

A grade curricular de um curso é um dos componentes para a formação do perfil profissional de um indivíduo e deve atender as exigências do mercado de trabalho (Barros, 2005). O Conselho Federal de Medicina Veterinária (CFMV) auxiliado pela Comissão Nacional de Ensino (CNEMV), criada em 1990, tem a responsabilidade de definir, acrescentar ou reformular a grade curricular do curso de Medicina Veterinária (CFMV, 2007).

De acordo com o decreto Nº 64.704, de 17 de Junho de 1969 o médico veterinário tem a responsabilidade de “regência de cadeiras ou disciplinas especificamente médico veterinário, bem como direção das respectivas seções e laboratórios, dire-ção e fiscalização do ensino de medicina veterinária” (Brasil, 1969). Entretanto, observa-se que o planejamento curricular deixa um pouco a desejar, referindo-se aos objetivos educacio-nais (Jerez, 2004). Por este e por outros motivos é que a qua-lidade do ensino superior, especificamente a medicina veteri-nária é motivo de discussão e se faz necessário uma revisão para formação de profissionais com qualidade que atenda as exigências geradas pelo mercado de trabalho (Barros, 2005).

Esta preocupação com o curso de medicina veterinária já vem sendo demonstrada há algum tempo, já que em 1972 foi realizado o 2º Seminário sobre Educação em Medicina Veteri-nária na América Latina pela Organização Panamericana de Saúde. Neste evento foi enfatizada a importância da introdu-ção dos médicos veterinários na saúde pública, sendo esta uma das principais áreas de atuação destes profissionais, porém falta uma maior exploração do que é trabalhar em saúde pública e estimulo para os formandos se dedicarem a essa área, refleti-do pelo número de formandos que escolhem a saúde pública como área de atuação (Pfuetzenreiter e Zylbersztajn, 2008).

Por mais relatos existentes que o curso de medicina vete-rinária esteja dividido em três campos de atuação, ou seja, a clínica, a produção animal e a medicina preventiva, na reali-dade esta última tem menor enfoque na matriz curricular dos cursos, entre as demais (Pfuetzenreiter e Zylbersztajn, 2004). Algumas sugestões de mudanças nas atividades curriculares já foram relatadas por Arámbulo e Ruíz (1992), na esperança de se ter um currículo mais direcionado à saúde pública.

A medicina populacional foi dividida em: preventiva que através da epidemiologia pode-se prevenir doenças em ani-mais de produção; e em saúde pública que avalia a produção de alimentos de forma higiênica desde o século XIX, onde ini-ciaram-se as atividades na indústria de carnes (Pfuetzenreiter, Zylberstajn e Avila- Pires, 2004).

São inúmeras as contribuições da medicina veterinária para a saúde humana. Dentre as funções básicas do médico veterinário estão: diagnóstico, controle e vigilância em zoono-ses; estudos comparativos da epidemiologia de enfermidades infecciosas dos animais em relação aos seres humanos; inter-câmbio de informações entre a pesquisa médica veterinária e pesquisa médica humana com vista à aplicação dessas para as necessidades da saúde humana; estudos sobre substâncias tóxi-cas e venenos provenientes dos animais; inspeção de alimentos de origem animal em todas as suas fases de processamento;

vigilância sanitária; estudo de problemas de saúde relaciona-dos às indústrias animais, incluindo o destino adequado de dejetos; supervisão da criação de animais de experimentação; estabelecimento de interligação e cooperação entre as orga-nizações de saúde pública e veterinária com outras unidades relacionadas com animais; avaliação de impacto ambiental de grandes empreendimentos; consulta técnica sobre assuntos de saúde humana relativa aos animais (CFMV, 2011).

Em todos os países, a saúde pública sempre foi um dos pilares da medicina veterinária, pois a prevenção das zoonoses é tarefa fundamental a ser exercida pelo médico veterinário. O bem estar dos animais e, especialmente, dos homens repre-senta a função maior desta profissão, pois o trabalho pelo bem estar animal será sempre atividade privativa deste profissional. Além disso, sua atuação tanto na produção e controle de qua-lidade dos alimentos consumidos pelo homem, ou mesmo na prevenção das doenças que apresentam fases de seu ciclo desenvolvidas nos animais ou transmitida por estes, também deve ser considerada como atividade das mais nobres e dignas que este profissional necessita exercer. Desta forma, a área de saúde pública foi e será sempre uma das mais importantes para a profissão e, sobretudo para a sociedade (FILHO, 2004).

A medicina veterinária vem ganhando cada vez mais es-paço na sociedade brasileira, prova deste fato é a recente in-trodução dos médicos veterinários nos Núcleos de Apoio à Saúde da Família (NASF). O NASF tem a função de apoiar um conjunto de ESFs (Equipes de Saúde da Família), composto por equipes multiprofissionais em saúde, que inicialmente o médico veterinário não estava incluído, porém a partir do ano de 2008, a Comissão Nacional de Saúde Pública Veterinária (CNSPV) do CFMV iniciou um trabalho de conscientização com os próprios médicos veterinários e demais profissionais da saúde, incluindo também a sociedade, sobre a importân-cia deste profissional junto aos demais profissionais de saúde e após várias reuniões e discussões sobre o papel do médico vete-rinário na saúde humana, definiu que o profissional formado no curso de medicina veterinária tem como uma das funções, além da promoção da saúde animal, assegurar que a interação homem com o ambiente seja saudável para a população huma-na (CFMV, 2009).

Recentemente, após o trabalho da CNSPV do CFMV com os seminários regionais realizados entre os anos de 2008 e 2011, o médico veterinário foi incluído na lista de profissionais que podem compor o NASF, pela portaria nº 2.488, de 21 de outubro de 2011, que aprova a Política Nacional de Atenção Básica, estabelecendo a revisão de diretrizes e normas para a organização da Atenção Básica, para a Estratégia Saúde da Fa-mília (ESF) e o Programa de Agentes Comunitários de Saúde (PACS) (Brasil, 2011).

O desafio para os médicos veterinários do século XXI está na ênfase de uma formação em que se destaque a saúde pública e na qual o profissional de medicina veterinária tenha um ní-vel de competência consistente com a demanda da sociedade. Nesse contexto, o reconhecimento da importância da profissão para a sociedade está na dependência de sua relevância social (Nielsen, 1997). Todavia, as escolas de medicina veterinária não tem enfatizado a capacitação nesse setor (CRMV, 2010). Os cur-

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8 Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v. 17, no 1/2, p. - janeiro/agosto, 2014

Márcia Torres Gonsalves et al.

sos de medicina veterinária necessitam aprimorar o conteúdo teórico das disciplinas de saúde pública, bem como proporcio-nar oportunidades para a realização de atividades práticas, com o intuito de preparar melhor o profissional para esse mercado de trabalho emergente (MENESES, 2005).

O objetivo deste trabalho foi avaliar as ementas das disci-plinas que envolvem a medicina veterinária preventiva, como epidemiologia e saúde pública, além das cargas horárias das mesmas em relação à carga horária total dos cursos de medi-cina veterinária das Instituições Federais de Ensino Superior (IFES), para observar as características de formação acadêmica oferecida aos profissionais que desejam seguir a área de saúde pública.

METODOLOGIA

Analisou-se a matriz curricular e as ementas curriculares das disciplinas de epidemiologia, saúde pública, zoonoses e/ou outras ligadas à área de medicina veterinária preventiva de cursos de medicina veterinária pertencentes à 18 Instituições Federais de Ensino Superior (IFES) do Brasil.

A coleta dos dados analisados foi realizada através da busca em sítios eletrônicos dos cursos de medicina veterinária das IFES das cinco regiões do Brasil, ou então pelo envio de email ao coordenador do curso, solicitando matriz e ementa curri-cular das disciplinas já relatadas anteriormente, quando não eram encontrados os dados nas páginas eletrônicas dos cursos. Portanto, os dados foram fornecidos pelos próprios coordena-dores do curso ou pelos professores das disciplinas por meio de email ou ainda pelos endereços eletrônicos dos cursos de medicina veterinária das IFES, durante o período de janeiro a dezembro do ano de 2014.

Os dados recebidos foram tabulados em planilhas do programa Excel for Windows, para comparação e análise dos conteúdos ministrados nas disciplinas, para observação da exis-tência de parâmetros semelhantes entre as universidades no tocante ao ensino de epidemiologia e saúde pública e também se o curso oferecia um embasamento adequado que assegure ao profissional em saúde pública a qualidade em seus serviços e formação acadêmica adequadas.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Das 42 universidades federais existentes no Brasil, que apresentam o curso de medicina veterinária, apenas 18 (42,8%) responderam ao censo realizado, sendo estas distribuídas em maior proporção nas regiões Nordeste (5), Centro-oeste (6) e Sul (5). E em menor proporção o Sudeste e Sul que apenas uma Universidade de cada região respondeu ao censo.

De acordo com a resolução nº 2, de 18 de junho de 2007 que dispõe sobre a carga horária mínima dos cursos de gra-duação, bacharelados, na modalidade presencial, o curso de medicina veterinária deve ter carga horária mínima de 4.000 horas, porém foram encontrados três cursos que a carga horá-ria foi inferior ao preconizado por esta portaria, o que mostra

que não há um cumprimento desta portaria por parte destas instituições. Pfuetzenreiter;Zylbersztajn (2004), encontraram resultados de carga horária total, em algumas instituições em comum com este trabalho, inferior à que se observa na car-ga horária total atualmente ofertada nas mesmas instituições, como por exemplo a UFPR que oferecia 4500 horas em 2004 e atualmente, no campus Palotina, são oferecidas 5595 horas, na UFF a carga horária total passou de 4650 horas em 2004 para 5310 horas atualmente, enquanto a UFBA atualizou sua carga horária no mesmo intervalo de tempo de 3630 para 4848 horas e a UFRRJ de 4245 para 4595 horas. Tais dados refletem a importância da atualização do tempo de ensino destinado a formação do médico veterinário, tendo em vista a necessi-dade deste profissional na sociedade. Entretanto, outras IFES ainda permanecem sem alterações em seus projetos políticos de curso, como a UFRPE que possuía uma carga horária total de 4170 horas e atualmente possui as mesmas 4170 horas, sem alterações.

Das cargas horárias totais das 18 IFES analisadas foram en-contrados percentuais para a disciplina de epidemiologia com disparidade, sendo a UFMG com maior percentual de carga horária em relação à carga horária total do curso (3,9%), se-guida pela UFV (3,6%) e UFLA (3,2%). O menor percentual da carga horária da disciplina de epidemiologia foi verificado em ordem decrescente na UFRA (2,2%), UFPB/Areias (2,1%) e UFRRJ (1,3%), de acordo com os dados da Tabela 1.

A disciplina de saúde pública representa uma grande res-ponsabilidade na formação do graduando por oferecer gran-de parte dos conteúdos que envolvem a medicina veterinária preventiva, mas nem todas as universidades reconhecem este valor, pois existem IFES que oferecem carga horária mínima para esta disciplina. Foi encontrado através do censo, IFES que apresenta carga horária semanal de 2 horas/aula, com um total de 30 horas/aula em toda a disciplina. Na maior parte das IFES a carga horária semanal é de 4 horas/aula, com uma carga ho-rária total variando de 60 a 80 horas/aula. A universidade com maior número de aulas dispõe de 90 horas/aula total com 6 horas/aula por semana.

Analisando a ementa da saúde pública das diferentes IFES percebe-se a desuniformidade que existe entre elas. De acor-do com os dados da tabela 2, verificou-se que não há nenhum conteúdo em comum em todas as ementas avaliadas, verifican-do-se que as zoonoses aparecem em maior proporção (61,1%), em 11 das 18 IFES pesquisadas, porém deve-se ressaltar que em algumas universidades há uma disciplina específica para as zoonoses. Planificação em saúde animal foi um dos conteúdos menos abordados pela disciplina de saúde pública das IFES avaliadas, pois apenas 1(5,5%) das 18 abordavam este assun-to, seguido de posse responsável e análise de perigos e pontos críticos de controle (APPCC) que são abordados por apenas 2(11,1%) IFES de todas as analisadas.

Notou-se a ausência em 100,0% das IFES, conteúdos que abordem o SUS e a recente integralização do médico veteriná-rio no NASF, que por oferecer capacidade para desempenhar funções no campo da Atenção Básica e vigilância em saúde na área de saúde pública, as IFES deixam a desejar no tocante à obtenção de conhecimentos pelo graduando, sobre o campo

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O ensino de epidemiologia e saúde pública em Universidades Federais do Brasil

em que irão atuar, fato este desfavorável à atuação interdisci-plinar e multiprofissional exigida na função.

O correto exercício das competências comuns, enuncia-das nas diretrizes curriculares nos diferentes cursos da área da saúde, demanda não somente a discussão das alternativas de melhoria da formação técnica e científica na graduação, mas também a permanente reavaliação das interseções e limites profissionais entre as diversas áreas (Banduk, et. al, 2009).

Os conteúdos sobre as vigilâncias epidemiológica, sanitá-ria e ambiental apareceram em menos de 50% das IFES sendo encontradas em 7(38,8%), 8(44,4%) e 7(38,8%) universidades respectivamente, mostrando como os alunos de medicina ve-terinária estão se graduando despreparados para o exercício da função como um profissional em saúde pública, que também é exemplificado por o conteúdo da “função do medico vete-rinário na saúde pública” ser ministrados por 9(50%) das 18 IFES que responderam ao censo. Percebe-se portanto, a partir desses dados que muitos destes graduados terão que recorrer a cursos de especialização na área de saúde pública/coletiva para atuação na área.

Analisando-se as ementas da disciplina de epidemiologia,

de acordo com os dados da Tabela 3, percebeu-se uma ênfase em métodos epidemiológicos em 16 (88,9%) IFES, seguidos por medidas de profilaxia em 13 (72,2%) IFES e em 11 (61,1%) IFES conteúdos comuns como componentes ecológicos, ca-deia epidemiológica e história natural da doença. Em menor proporção nas IFES verificou-se, em ordem decrescente, abor-dagens sobre estimativa populacional em 07 (38,9%) IFES, epi-demiologia das doenças por veículo comum, em 04 (22,2%) IFES e defesa sanitária animal em apenas 02 (11,1%) IFES. Foi encontrado ainda, conteúdos como relação hospedeiro ambiente em 10 (55,5%) IFES e em 09 (50%) delas, a ementa de epidemiologia apresentava vigilância epidemiológica, por-tanto este conteúdo que estava inserido na ementa de saúde pública em outras 7 (38,8%) IFES, totalizaram a abordagem em 16 (88,9%) IFES.

CONCLUSÃO

Considerando a importância das disciplinas e a atual ex-pansão da área de trabalho com a inserção do médico veteriná-

IFESEpidemiologia Saúde Pública

(%)*C. H. (horas) C. H. (horas)

UFMG 80 80 3,90UFAL 60 80 2,68UFBA 68 68 2,81

UFERSA 60 60 2,86UFF 80 60 2,64UFG 32 64 2,68

UFLA 68 68 3,25UFMT 60 45 2,73

UFPB/Areias 45 45 2,07UFPel 68 68 2,75UFPR

UFPR/ Palotina 60 -UFRA 51 68 2,25UFRPE 60 60 2,87UFRRJ 30 30 1,31UFSM 30 90 2,62UFV 60 60 3,63

UNB/FAV 60 -

*% em relação ao total da carga horária do cursoCarga horária das disciplinas e percentual das duas disciplinas em relação ao total da carga horária do curso.

Tabela 1 - Carga horária das disciplinas de epidemiologia e saúde pública (em horas) e percentual em relação a carga horária total do curso, em 18 IFES

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10 Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v. 17, no 1/2, p. - janeiro/agosto, 2014

Márcia Torres Gonsalves et al.

rio no NASF, a formação do profissional deve estar em acordo com as necessidades da função que exercerá, pois, mesmo que a medicina veterinária seja dividida em clínica veterinária, pro-dução animal e medicina veterinária preventiva, a graduação

tem apresentado um enfoque maior na área de clínica médica e produção deixando a área de medicina veterinária preventiva defasada em relação à carga horária total do curso e conteúdo das disciplinas envolvidas.

Tabela 3 - Percentual de conteúdos verificados nas ementas da disciplina de epidemiologia em 18 IFES.

Conteúdos Número de IFES presente (%)

Métodos epidemiológicos 16 88,89Estimativa populacional 07 38,89Componentes ecológicos 11 61,11Relações hospedeiro ambiente 10 55,56Cadeia epidemiológica 11 61,11Medidas de profilaxia 13 72,22Vigilância epidemiológica 09 50Epidemiologia das doenças por veículo comum 04 22,22História natural da doença 11 61,11Defesa sanitária 02 11,11

Conteúdo Número de IFES presente (%)

Saneamento básico 7 38,8Impacto ambiental nos sistemas de produção 4 22,2Papel do médico veterinário na SP 9 50,0Programas oficiais 8 44,4Zoonoses 11 61,1Posse responsável 2 11,1Resíduos antimicrobianos 3 16,6Legislação sanitária nacional 7 38,8Segurança ocupacional 1 5,5Planificação em saúde animal 2 11,1Doenças de notificação compulsória 3 16,6Defesa sanitária animal 6 33,3Higiene ambiental 8 44,4APPCC 2 11,1Vigilância epidemiológica 7 38,8Vigilância sanitária 8 44,4Vigilância ambiental 7 38,8Sistemas de informação zoosanitárias 6 33,3

Tabela 2 - Percentual de conteúdos verificados nas ementas da disciplina de saúde pública em 18 IFES.

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11Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v. 17, no 1/2, p. - janeiro/agosto, 2014

O ensino de epidemiologia e saúde pública em Universidades Federais do Brasil

As ementas estão em grande disparidade entre as IFES, le-vando algumas instituições a uma deficiência na formação de médicos veterinários que desejam ingressar no campo da saú-de pública. Além disso, não há uma uniformidade em relação aos conteúdos elencados nas ementas das disciplinas avaliadas, mostrando que os profissionais graduados em todo o Brasil têm conhecimentos que não apresentam igualdade entre eles.

Sugere-se a partir desse estudo, uma reflexão por parte das IES e demais órgãos superiores envolvidos com a formação do médico veterinário, sobre o papel do profissional na área de saúde pública e especificamente na área de Vigilância em Saú-de, por meio da instituição de fóruns e debates para a melhoria na qualidade da formação do médico veterinário.

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Ciência Veterinária nos Trópicos, Recife-PE, v. 17, n. 1/2 p. - janeiro/agosto, 2014

INTRODUÇÃO

As funções metabólicas desenvolvidas pe-los minerais são importantes para diferentes aspectos do metabolismo animal. A manuten-ção do crescimento, o metabolismo energéti-co, a função imune são algumas dentre tantas funções fisiológicas desenvolvidas por esses elementos, para a manutenção da vida (LAMB et al., 2008; WILDE, 2006), então qualquer modificação, tanto para o excesso como para a deficiência, podem ser prejudiciais para a saú-de dos animais.

Com vista nas funções dos macro mine-rais, acredita-se que toda deficiência ou excesso mineral capaz de produzir alterações na saúde e no metabolismo do animal, possa interferir também, no seu desempenho como doador de sangue e quem sabe no receptor. Contudo, a li-teratura não evidencia para os macro minerais cálcio, magnésio, cloro e fósforo, envolvimen-to direto no sistema hematológico e como eles poderiam apresentar modificações em sua concentrações ao longo do processo de doação e de transfusão sanguínea. Os eventuais efeitos sobre este aspectos seriam, portanto, indiretos,

Alterações nos biomarcadores minerais após doação sanguínea em cães da Raça GreyhoundSimone Gutman VAZ1, Monica Miranda HUNKA1, Rebeca Menelau MESQUITA3, Telga Lucena Alves Craveiro ALMEIDA2, Helena Emilia Cavalcanti da Costa Cordeiro MANSO4, Helio Cordeiro MANSO FILHO4.

RESUMO

Objetivou-se avaliar os efeitos da doação sanguínea nos biomarcadores minerais em cães doadores de sangue da Raça Greyhound.Foram avaliados 12 cães da raça Greyhound, sadios, sem distinção de sexo, com idade variando entre dois e oito anos, doadores regulares de sangue. Foram colhidas amostras sanguíneas por meio de venopunção da cefálica esquerda nas seguin-tes ocasiões: pré-doação, +24 horas, + 7 dias, + 15 dias e + 30 dias pós-doação de sangue. Em seguida, as amostras foram enviadas ao laboratório para as análises. Os resultados foram anali-sados pelo ANOVA, com o P estabelecido em 5%. As diferenças entre as médias foram identifi-cadas através do teste de Tukey, em nível de 5%. Os níveis de P e Cl reduziram significativamete após doação de sangue (P< 0,05), emquanto Ca e Mg não sofreram vaiação. Conclui-se que com a doação de sangue ocorrem alterações nos biomarcadores minerais, porém essas alterações não são capazes de acarretar prejuízos à saúde dos animais.P A L A V R A S - C H A V E cálcio, fósforo, magnésio, cloretos

Changes in mineral biomarkers after blood donation in Greyhound breed dogs.

ABSTRACT

The present objective was to evaluate the effects of blood donation on mineral biomarkers in the blood of donor Greyhounds.Blood samples were collected from 12 dogs, regularly used for blood donation, on the following occasions: before blood donation and +24 hours, +7 days, +15 days and +30 days after donation. The samples were then sent to a laboratory for analysis. Results were analyzed by ANOVA, with P set at 5%. Differences between means were identified using Tukey’s test at 5 %. The concentration of P and Cl decreased significantly after blood donation (P < 0.05), while there was no change in [Ca] and [Mg]. It is concluded that donating blood leads to changes in mineral biomarkers, but these changes are not capable of causing harm to the animal’s health.K E Y W O R D S calcium, phosphorus, magnesium, chlorides

1 Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Ciência Veterinária – UFRPE

2 Doutoranda Programa de Pós-Graduação em Ciência Veterinária – UFRPE

3 Veterinária Autônoma

4 Professor do Departamento de Zootecnia, UFRPE, Recife, PE

*Autor para correspondência: [email protected]

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13Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v. 17, no 1/2, p. - janeiro/agosto, 2014

Alterações nos biomarcadores minerais após doação sanguínea em cães da Raça Greyhound

através do comprometimento da saúde ou do metabolismo do animal.

A terapia transfusional é uma prática utilizada em medici-na veterinária e que está em expansão (LUCAS et al., 2004). A perda sanguínea durante a doação representa um desafio du-plo para os animais, pois causa redução do volume plasmático e hipóxia em diferentes níveis. Nos dias que se seguem a doa-ção, há uma reposição gradual dos índices eritrocitários, cau-sado pela hemodiluição, pela reposição da volemia (CROWE, DEVEY, 1994). Mesmo sendo um processo seguro, durante a doação sanguínea os nutrientes e biomarcadores sanguíneos também são carreados para o animal receptor e podem afetar o funcionamento normal de alguns órgãos nos doadores. En-tretanto ainda se conhece pouco sobre os efeitos da perda de diferentes biomarcadores e nutrientes no animal doador, entre eles os minerais.

Desta forma, objetivou-se avaliar os efeitos da doação san-guínea nos biomarcadores minerais em cães doadores de san-gue da Raça Greyhound. Espera-se que a doação de sangue não seja capaz de produzir modificações significativas nos minerais sanguíneos estudados nos doadores de sangue.

MATERIAL E MÉTODOS

Animais: foram avaliados 12 cães da raça Greyhound, sa-dios, sem distinção de sexo, com idade variando entre dois e oito anos, doadores de sangue. Esses animais tinham como rotina a doação de 450 mL de sangue a cada 30 dias, em mé-dia, e sempre após exame clínico e realização de hemograma. Eram arraçoados com ração super-premium (26% PB, 16% EE, 3% FB; e 3,92 Mcal/Kg EM), específica para animais de gran-de porte, administrada rotineiramente na mesma quantidade e horários, segundo as indicações do NRC (2006). Todos os procedimentos utilizados nos animais foram aprovados pelo Comitê de Ética/UFRPE (23082.006184/2010).

Colheita de amostras e exames laboratoriais: foram colhi-das amostras sanguíneas por meio de venopunção da cefálica esquerda, utilizando-se o sistema de coleta a vácuo, em tubos previamente resfriados, nas seguintes ocasições: M0 ou pré--doação, M1 ou +24 horas, M2 ou +7 dias, M3 ou +15 dias e M4 ou +30 dias pós-doação de sangue. As amostras foram coloca-

das em tubos sem anticoagulante para análises bioquímicas e enviadas sob-refrigeração e de imediato, ao laboratório para realização das análises.

As análises bioquímicas foram realizadas em analisador semiautomático (Doles D-250, Doles, Brasil), fornecendo os parâmetros: cálcio, fósforo, magnésio e cloretos. Foram utili-zados kits comerciais (Doles, Brasil) seguindo as orientações do fabricante.

Análise Estatística: os resultados foram analisados pelo ANOVA, para medidas repetidas com um fator, utilizando-se o programa SigmaStat 3.0, com o P estabelecido em 5%. Em se-guida as diferenças entre as médias foram identificadas através do teste de Tukey, em nível de 5%. Os resultados estão expres-sos em média +/- erro padrão médio.

RESULTADOS E DISCUSÃO

Esse experimento demostrou que a doação de sangue é ca-paz de modificar a concentração do fósforo e cloretos no san-gue mesmo em animais alimentados dentro dos parâmetros preconizados pelo NRC (2006) para a espécie. A [P] diminuiu no sangue dos caninos estudados imediatamente após a doa-ção de sangue, mantendo-se cerca de 7% abaixo dos valores observados no pré-teste (M0) ao longo de toda a experimen-tação (P<0,05). Diferentemente do que ocorreu na [P], obser-vou-se que a [Cl] reduziu-se após a doação de sangue, cerca de 12% na primeira semana após a doação (P<0,05), mas os valo-res retornaram aos valores iniciais após 15 dias da doação.A concentração de cálcio e magnésio não apresentaram variações estatísticas (P<0,05). Os resultados estão na Tabela 1.

O fósforo (P) é o sexto elemento mais abundante no orga-nismo e, dentre suas inúmeras funções, pode ser destacado o fornecimento de energia para as atividades celulares. A con-centração de fósforo [P] encontrado neste estudo foram seme-lhantes ao estudo de Zaldivar-Lopes et al. (2011) que deter-minaram o valor de referência para fósforo em Greyhounds de 2,3-5,3 mg/dL e mais elevados que o resultado encontrado por Steisset al. (2000) que encontraram uma média de 3,9 mg/dL no seu estudo. Ainda observa-se que no atual experimento a redução na [P] após doação de sangue não produziuhipo-fasfatemia já que as [P] mensuradasmantiveram-se dentro dos

BiomarcadoresFases experimentais

M0 M1 M2 M3 M4

Cálcio (mg/dL) 6,58 ± 0,15 6,25 ± 0,01 6,33 ± 0,04 6,38 ± 0,04 6,42 ± 0,12

Fósforo (mg/dL) 4,99 ± 0,07A 4,67 ± 0,05B 4,71 ± 0,04B 4,76 ± 0,07B 4,66 ± 0,05B

Cloretos (mmol/L) 97,13 ± 3,62A 85,36 ± 1,43B 81,67± 2,00B 88,66 ± 3,07AB 86,54 ± 3,03AB

Magnésio (mg/dL) 0,86 ± 0,01 0,83 ±0,01 0,83 ± 0,01 0,84 ± 0,01 0,82 ± 0,01

Observações: M0: pré-doação, M1: +24 horas, M2: + 7 dias, M3: + 15 dias e M4: + 30 dias pós-doação de sangue; diferentes letras na mesma linha indicam que P<0,05 pelo teste Tukey.

Tabela 1 - Variação na concentração sanguínea de biomarcadores minerais em caninos sadios da raça Greyhound após a doação de sangue.

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14 Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v. 17, no 1/2, p. - janeiro/agosto, 2014

Simone Gutman VAZ et al.

padrões de normalidade e não foram observadas enfermidades metabólicas associadas à redução de mineral no sangue.

Poucos estudos associam a modificação na [P] com perdas de sangue, entretanto emestudos com choques hemorrágicos foi observado a ocorrência de hiperfosfatemia (Sternbach e Varron, 1992) não associado à insuficiência renal. Esses resulta-dos, ao contrário do observado no atual experimento, demons-tram como o comportamento da [P] pode ser influenciada pela perda de sangue e acredita-se que a correção imediata, da causa primária do choque, isto é, hipoperfusão, pode resultar em uma rápida normalização da [P] sanguíneo, no caso do choque hemorrágico. Entretanto essa adaptação do organismo ao choque hemorrágico não explica a ocorrência da redução na [P] nos doadores de sangue utilizados nesse experimento. Esse perfil do fósforo ainda não havia sido descrito para ani-mais doadores de sangue ou submetidos a uma perda de san-gue significativa, mas que não levassem aos sintomas de cho-que hemorrágico, demonstrando que ele precisa ser melhor estudado nos casos de perda significativa de sangue.

O cálcio é um mineral de grande importância no organis-mo e participa de váriasfunções metabólicas, e modificações significativas na sua concentração podem provocar enfermi-dades. A concentração do cálcio ([Ca]) apresentou valores in-feriores aos citados na literatura durante todo experimento (9-11,3mg/dl)(KANEKO et al, 2008) mas não se modificaram ao longo da experimentação. Em estudos realizados por Steisset al., (2000) e Zaldivar-Lopezet al. (2011) a [Ca] de Greyhounds manteve-se dentro dos valores de normalidade (9,4-11,4 mg/dL).

Diferentes estudos têm demonstrado que a hipocalcemia se deve à hipoalbuminemiadetectada, uma vez que 40% do cál-cioencontram-se ligados a proteína, no entanto, a fração de cál-cio ionizado pode apresentar-se normal (NELSON, 2006; KU-ROSKY, 2008). Nestes casos, os sintomas de hipocalcemia não estão presentes nos animais. Cakmakliet al. (1996) sugeriram que a hipoalbuminemia pode ser o principal fator na patogê-nese da hipocalcemia, quando apenas o cálcio total é dosado.

Também pode ocorrer hipocalcemia quando a concentra-ção sanguínea de magnésio se reduz a níveis inferiores a 1,2 mg/dL. Isto é causado pela inibição do paratormônio (PTH) liberado e por uma resposta prejudicada ao PTH no osso (KU-ROSKY, 2008), mas esse hormônio não foi mensurado nos animais doadores para se determinar se essa adaptação meta-bólica ocorre nos animais doadores. Todavia deve-se observar quenos casos de transfusão sanguínea, o citrato utilizado para conservação do sangue quela o cálcio, reduzindo a concentra-ção de cálcio iônico. Desta forma, os animais que recebem o sangue na hemotransfusão podem precisar de uma fonte de cálcio para suprir eventuais necessidadesdeste mineral (CRA-MAROSSA et al., 1993).

Modificações na concentração de cálcio livre no sangue dos animais pode interferir na atividades dos vasos sanguí-neos. Embora a doação de sangue não tenha causado altera-ções significativas na [Ca], nas diferentes fases do experimento, os valores obtidos para a concentração desse mineral foram considerados abaixo dos valores da normalidade. Diferentes experimentos têm demonstrado que a sensibilidade ao cálcio

pelos vasos modifica-se em animais após choque hemorrágico, tornando-os menos sensíveis ao cálcio, que desempenhou um papel importante no aparecimento de hipocontratilidade vas-cular após o choque (XU etal., 2005). Também a reatividade dos vasos linfáticos diminui progressivamente durante choque hemorrágico, como um resultado de dessensibilização de cál-cio (CHUN-YU et al., 2011). Em estudo avaliando os efeitos protetores dos diferentes graus de pré-concidionamento he-morrágico na reatividade vascular e sensibilidade de cálcio foi observado que poderia trazer efeitos sistêmicos mais benéficos em ratos com choque hemorrágico (XU et al., 2013). No atual experimento esse tipo de ação sobre os vasos sanguíneos não foi avaliada, mas outros estudos devem ser realizados em cani-nos dessa raça e de outras, para se identificar melhor os efeitos causados pela perda de sangue regular, como no casos dos doa-dores, ou patológica.

A hipomagnesemia foi detectada em todas as fases do ex-perimento quando comparados com os valores descritos na literatura (1,8-2,4 mg/dL)(KANEKO et al., 2008). Em estudos realizados em humanos após doação de 450 mL de sangue para avaliar as mudanças no cálcio e magnésio ionizados plas-máticos, demonstraram redução da concentração de ambos que foi justificada pela mistura de fluido intersticial como resposta compensatória à hipovolemia (FOGH-ANDERSEN, et al., 1996). Entretanto no atual experimento o volume plas-mático não foi mensurado nos animais doadores, para melhor compreensão do processo de modificação desses minerais no sangue dos animais.

Khanna et al., (1998) estudando a prevalência, fatores de risco e as associações clínicas de hipomagnesemia em cães, ao longo de um período de dois anos e meio demonstrou que a prevalência de hipomagnesemia foi de 6,1%, revelando ainda que os fatores que aumentam o risco de hipomagnesemia nes-ta população de cães foram menores concentrações da albumi-na plasmática.

A redução na concentração do Mg no sangue dos animais está associada à diferentes patologias que podem comprome-ter a saúde dos animais.A deficiência de magnésioestá associa-da a doenças ou fatores condicionantes, como distúrbios na absorção intestinal ou na homeostase, ou ainda em casos de perdas excessivas de tecidos corporais ou fluídos (SARIS et al., 2000), como nos casos dos Greyhounds, que são doadores regu-lares de sangue. As alterações decorrentes do déficit do volume de fluidos corporais provocam mudanças no funcionamento de todos os sistemas orgânicos. Em resposta à diminuição no volume do plasma ocorre uma troca dos fluidos intracelular e intersticial, para reposição deste volume, que está reduzida após doação de sangue (CHENEVEY, 1987).

A dosagem de cloreto é usada na investigação do equili-brio ácido-básico, balanço hídrico e cetoacidose. Os níveis séri-cos de cloretos mantiveram-se, durante todo experimento, em concentração abaixo dos valores de normalidade citados por Kanekoet al., (2008). Os valores encontrados por Zaldivar-Lo-pezet al. (2011) (108-119 mmol/L) e Steisset al. (2000) (110-122 mmol/L) em seus estudos com Greyhounds apresentaram-se dentro dos valores de normalidade. A hipocloremia ocorre as-sociada à hiponatremia, em situações onde o volume de fluido

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15Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v. 17, no 1/2, p. - janeiro/agosto, 2014

Alterações nos biomarcadores minerais após doação sanguínea em cães da Raça Greyhound

extracelular se expande para suprir o volume circulante reduzi-do (KUROSKY, 2008), como nos casos de reposição da volemia após doação sanguínea.

CONCLUSÃO

Pode-se concluir que com a doação de sangue ocorre al-terações nos biomarcadores minerais, porém essas alterações não são capazes de acarretar prejuízos a saúde dos animais, os quais não apresentaram nenhuma sintomatologia clínica. Apesar disso, sugere-se a suplementação mineral, uma vez que alguns índices apresentaram durante todo experimento abaixo dos valores de normalidade.

AGRADECIMENTOS

AJINOMOTO do Brasil (São Paulo - SP), Canil Hemopet da Clínica Veterinária Fauna (Recife-PE), e Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES).

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Ciência Veterinária nos Trópicos, Recife-PE, v. 17, n. 1/2 p. - janeiro/agosto, 2014

Comparação do ensaio imunoenzimático indireto (ELISA-teste) com a reação da imunofluorescência indireta na detecção de anticorpos IgGanti-Toxoplasma gondii em ovinos naturalmente infectadosHuber RIZZO¹; Jeferson Silva CARVALHO²; João Henrique Costa HORA³; Fernanda Meneses RODRIGUES4, Gabriel José Moura FRAGA5, Eliana Monteforte Cassaro VILLA LOBOS6*

RESUMO

Este trabalho tem como objetivo avaliar a comparação do ensaio imunoenzimático indi-reto (ELISA-teste) e a reação de imunofluorescência indireta (RIFI) no diagnóstico sorológico da toxoplasmose em ovinos naturalmente infectados. Foram obtidas amostras de soros de 530 ovinos pertencentes a 28 propriedades de 13 municípios localizados no Estado de Sergipe. Das 530 amostras de ovinos submetidas à RIFI e ao ELISA, 52,4% (n=278) e 49,4% (n=262) foram positivas respectivamente. Os resultados comparativos entre os dois testes sorológicos mostraram sensibilidade de 69,8%, especificidade de 99,4%, valor preditivo positivo de 65,8%, valor preditivo negativo de 68,6% e concordância Kappa de 0,344. O índice Kappa apresentou concordância média entre os dois testes sorológicos, reforçando a importância da escolha do RIFI como técnica padrão ouro no diagnóstico sorológico da toxoplasmose ovina. Porém, vale ressaltar a escolha na utilização do ELISA como técnica sorológica auxiliar para o estudo epide-miológico da toxoplasmose em rebanhos ovinos.

P A L A V R A S - C H A V E Epidemiologia, diagnóstico sorológico, ovinocultura, Sergipe, toxoplasmose.

Comparison of indirect enzyme-linked immunosorbent assay (ELISA test) with the indirect immunofluorescence assay for detection of IgG anti-Toxoplasma gondii antibodies in sheep naturally infected

ABSTRACT

This study aimed to evaluate the comparison of enzyme-linked immunosorbent assay (ELISA test) and indirect immunofluorescence assay (IFA) on the serological diagnosis of to-xoplasmosis in sheep naturally infected. Samples were obtained of 530 sheep in 28 farms from 13 cities in the State of Sergipe. Of the 530 samples of sheep submitted  to IFA and ELISA test, 52.4% (n = 278) and 49.4% (n = 262) were respectively positive. The comparative results between the two serological tests showed a sensitivity of 69.8%, specificity of 99.4%, positive predictive value of 65.8%, negative predictive value of 68.6% and Kappa 0.344. The Kappa in-dex showed average agreement between the two serological tests, reinforcing the importance of choice of IFA as gold standard technique in serological diagnosis of ovine toxoplasmosis. However, is important emphasize the choice in using the ELISA test serological technique as assistant to the epidemiological study of toxoplasmosis in sheep breeding.

K E Y W O R D S Epidemiology, serological diagnosis, sheep breeding, Sergipe, toxo-plasmosis.

1 Professor Adjunto do Departamento de Medicina Veterinária da Universidade Federal Rural de Pernambuco. Av. Dom Manoel de Medeiros, s/n, Dois Irmãos, Recife, Pernambuco. E-mail: [email protected]

² Médico Veterinário Residente, Universidade Federal da Bahia, Escola de Medicina Veterinária e Zootecnia, Salvador, Bahia, Brasil.

³ Médico Veterinário Autônomo, Aracaju, Sergipe, Brasil.

4 Fundação Mamíferos Aquáticos, Aracaju, Sergipe, Brasil

5 Discente do curso de Medicina Veterinária, Faculdade Pio Décimo, Aracaju, Sergipe, Brasil

6 Pesquisadora do Laboratório de Raiva e Encefalites Virais, Instituto Biológico de São Paulo

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Comparação do ensaio imunoenzimático indireto (ELISA-teste) com a reação da imunofluorescência

INTRODUÇÃO

O diagnóstico da toxoplasmose é ainda hoje baseado na sorologia, e as técnicas moleculares se encontram em etapas re-centes de avaliação. É muito cedo para determinar uma técnica padrão-ouro diferente da sorológica, uma vez que os diferentes sistemas descritos na literatura se mostram efetivos, mas nem sempre reprodutíveis ou com baixa especificidade. Apesar dos métodos sorológicos auxiliarem grandemente no diagnóstico da toxoplasmose, os resultados devem ser interpretados no contexto da situação clínica, associados aos resultados dos ou-tros exames (KOMPALIC-CRISTO et al., 2005).

Muitos ensaios imunoenzimático são sensíveis, facilmente adaptados para serem aplicados em grande número de soros, e aqueles nos quais se utilizam antígenos recombinantes são relativamente baratos, com boa relação custo-benefício, para mensurar anticorpos específicos anti-T. gondii em amostras de soros de ovino (TENTER et al., 1992). A padronização do ELI-SA é o maior problema uma vez que, somente alguns kits são comercialmente avaliados para uso em animais, necessitando ainda de melhores estudos quanto aos procedimentos e padro-nização dos antígenos utilizados (SILVA et al., 2002).

Estudos tem sido realizados buscando testes soroló-gicos alternativos a RIFI que disponham de menor estrutura para realiza-los e assim disponibilizar mais oportunidades do diagnóstico da doença para seu controle, Fortes et al., (2013) utilizando soro de caprinos observaram maior concordância entre a Reação de Imunofluorescência Indireta (RIFI) e o En-saio Imunoenzimático (ELISA)do que em relação ao teste de Aglutinação Modificada (MAT) utilizando o índice Kappa para estabelecer o grau de concordância entre os testes diag-nósticos.

Estudos recentes em ovinos, comparando a RIFI com o ELISA, demonstraram variação no valor do coeficiente Kappa como 0,91, 0,74, 0,69, 0,68 e 0,41 (CARNEIRO et al., 2009; ROSSI et al., 2011; SAKATA et al., 2012; GLOR et al., 2013; FOETES et al., 2013). A diferença entre os resultados obtidos pode estar relacionada aos diferentes antígenos utilizados, uma vez que na técnica de RIFI utiliza-se parasitas íntegros, antígenos de membrana que estimulam a produção de anti-corpos mais precocemente na infecção, enquanto que no ELI-SA utiliza-se de antígenos solúveis (citoplasmáticos), cujos an-ticorpos seriam formados mais tardiamente na infecção. Além disso, o fato de soros não reagentes pela técnica de ELISA se-rem reagentes por outros métodos sorológicos clássicos, pode estar relacionado a maior especificidade, menor sensibilidade, diferentes antígenos e a qualidade do conjugado utilizado no teste (VAN KNAPEN, 1984)

A utilização de métodos para determinar a prevalên-cia de infecção por T. gondii em ovinos permite um adequado controle da infecção no rebanho, reduzindo o perigo a saúde humana, pois o consumo da sua carne certamente apresenta um risco para a transmissão do parasita (CARNEIRO et al., 2009). Sendo assim objetivou-se, nesse estudo, comparar o ELI-SA indireto à RIFI na detecção de anticorpos IgGanti-T. gondii em ovinos naturalmente infectados criados no Estado de Ser-gipe, Brasil.

MATERIAL E MÉTODOS

As 530 amostras de soros ovinos foram coletadas no ano de 2011, sendo 107 machos e 423 fêmeas adultas, prove-nientes de 28 propriedades pertencentes a 13 municípios das mesorregiões do Litoral, Agreste e Semiárido do Estado de Ser-gipe.

A RIFI foi realizada no Laboratório de Raiva e Encefalites Virais do Instituto Biológico de São Paulo, utilizando como ponto de corte 1:64 (CAMARGO, 1964), e o ELISA Indireto no Departamento de Patologia Veterinária da Faculdade de Ciências Agrarias e Veterinárias da UNESP - Campus de Jabo-ticabal utilizando kit de ELISA indireto comercial para ovinos (IMUNOTESTE®). Os orifícios das placas possuíam antígenos solúveis de T. gondii aderidos, sendo depois adicionados os so-ros controles positivo, negativo e amostra-teste que incubados e lavados com solução PBS Tween-20. Em seguida adicionou-se o conjugado (anti-IgG de ovino) e o substrato, onde foram in-cubados e lavados separadamente. A leitura foi feita em leitor de microplaca de ELISA com filtro de 405 nm. O ponto cut off de cada placa foi encontrado a partir da média das densidades ópticas (D.O) dos dois soros controles negativos, multiplicada pelo fator 2,5, e o cut off do teste foi calculado a partir da média do cut off de cada placa. Após a determinação dos resultados obtidos, foi estabelecida a prevalência da infecção para T. gon-dii a partir das duas técnicas sorológicas avaliadas.

Para comparação dos resultados encontrados entre os dois testes sorológicos, foi realizada tabela de contingência 2 x 2, calculando o coeficiente Kappa, sensibilidade, especifici-dade, valore preditivo positivo e negativo. O índice de concor-dância Kappa foi classificado conforme Landis e Koch (1977), sugerindo que valores de 0,01 a 0,2 representam concordância pequena, de 0,21 a 0,4 uma concordância média, de 0,41 a 0,6 sendo moderada, de 0,61 a 0,8 substancial e de 0,81 a 1,0 repre-sentariam concordância quase perfeita. Os pares discordantes foram avaliados utilizando o teste de McNemar, utilizando o programa GraphpadPrism 5.0.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Das 530 amostras de ovinos submetidas à RIFI 52,4% (n=278) foram positivas com titulações de 1:64 (80,6%), 1:128 (4,0%), 1:256 (6,8%), 1:512 (3,2%), 1:1024 (4,3%) e 1:2048 (1,1%). Esses resultados foram maiores que os observados por Mendonça et al., (2013) em Sergipe, que observaram ocorrên-cia de soropositivos de 28,22% (263/932) e titulações maiores, principalmente na de 1:256 com 42% dos soropositivos. Ao ELISA, 49,4% (n=262) dos ovinos foram soropositivos com ti-tulações variando entre 0,254 a 1,800, com uma maior concen-tração entre 0,900 a 1,200 (34,3%) (Tabela 1 e 2). Em Lages-SC foi obtido pela RIFI, 56,94% (205/360) e pelo ELISA, 42,5% (153/360) em amostras ovinas apresentando diferença signi-ficativa entre os testes, diferente do que foi observado nesse estudo (SAKATA et al., 2012).

Os resultados comparativos entre os dois testes sorológicos mostraram sensibilidade de 69,8%, especificidade de 99,4%,

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Huber RIZZO et al.

valor preditivo positivo de 65,8%, valor preditivo negativo de 68,6% e concordância Kappa de 0,344. Estudos demonstram uma maior sensibilidade do ELISA em relação a RIFI, sendo um teste mais específico (SHAAPAN et al., 2008).A compara-ção entre RIFI e ELISA demonstrou índice de concordância de 67% (n=356) e reatividade discrepante de 33% (n=174) das amostras de soro, de modo que 17,9% (n=95) dos soros nega-tivos para o ELISA foram positivos pela RIFI e 15,0% (n=79) positivos para ELISA, demonstraram negativas pela RIFI (Ta-bela 3).

O índice Kappa encontrado por Sakata et al. (2012) em amostras ovinas do município de Lages-SC (0,41) foi maior que o observado nesse estudo, no entanto a especificidade (82%) e a sensibilidade (61%) demostraram-se menores. Com

esse valor da concordância Kappa, considerado moderado, permitiu aos autores indicar o ELISA como técnica alternativa em estudos epidemiológicos para o diagnóstico de T. gondii na espécie ovina.

A variação de resultados obtidos em cada teste soro-lógico utilizado pode ser atribuída pela diferença de sensi-bilidade e especificidade que cada um possui. Além disso, o teste sorológico utilizado depende da amostra de antígeno isolada de T.gondii, pelo fato de existirem diversos tipos de kits comerciais para diagnóstico (SHAAPAN et al., 2008), assim como o tipo de amostra analisada. Em estudo com ovinos na Mongólia, observou-se bons resultados pelo ELISA utilizando a proteína recombinante rTgMAG1 que já havia demonstrado boa sensibilidade e especificidade quando utilizada no diag-

Município Total amostrasAmostras positivas (%)

RIFI ELISA

Aracaju 20 11 (55,0%) 12 (60,0%)Arauá 40 29 (72,5%) 26 (65,0%)Boquim 19 09 (47,3%) 11 (57,9%)Estância 19 09 (47,3) 13 (68,4)Feira Nova 20 13 (65,0%) 07 (35,0%)Itabaianinha 92 33 (35,9%) 35 (38,0%)Itaporanga D’Ajuda 71 33 (46,5%) 33 (46,5%)Lagarto 77 37 (48,1%) 46 (59,7%)Nossa Senhora das Dores 36 26 (72,2%) 26 (72,2%)Nossa Senhora da Glória 57 38 (66,6%) 18 (31,6%)Salgado 39 21 (53,8%) 10 (25,6%)São Cristóvão 20 11 (55,0%) 15 (75,0%)Simão Dias 20 08 (40,0%) 10 (50,0%)Total 530 278 262

Tabela 1 - Média ± desvio padrão de espermatozoides eqüinos diluídos em Botu-Sêmen® ou ACP-105®, suplementados com GPx (5 U) e ou Cisteína (5 mM), portadores de membrana plasmática e acrossoma íntegros após 24 horas de incubação a 14ºC

Tabela 2 - Distribuição da titulação de anticorpos IgGanti-T. gondii pela reação de imunofluorescência indireta (RIFI≥1:64) e o ensaio imu-noenzimático indireto (cutoff ELISA≥0,254), em 278 e 262 amostras de soro ovino do Estado de Sergipe respectivamente.

RIFI ELISA

Titulação Positivo n (%) OD ELISA-teste Positivo n (%)

1: 64 224 (80,6) 0,254 – 0,300 31 (11,8)1: 128 11 (4,0) 0,300 – 0,600 65 (24,8)1: 256 19 (6,8) 0,600 – 0,900 35 (13,3)1: 512 09 (3,2) 0,900 – 1,200 90 (34,3)1: 1024 12 (4,3) 1,200 – 1,500 39 (14,8)1: 2048 03 (1,1) 1,500 – 1,800 02 (0,007)

Total 278 Total 262

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19Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v. 17, no 1/2, p. - janeiro/agosto, 2014

Comparação do ensaio imunoenzimático indireto (ELISA-teste) com a reação da imunofluorescência

nóstico da toxoplasmose humana (TUMURJAV et al., 2000). A comparação entre a utilização de um antígeno purificado P30 no ELISA em relação a um ELISA de referência (SA-E-LISA), demonstrou alta correlação de resultados (SAGER et al., 2003). Pereira-Bueno et al. (2004) obteve índice Kappa de 1.0 utilizando amostras de fluidos fetais abortados na Espanha, resultado esse que não foi obtido em nenhum estudo utilizan-do amostras de soro (CARNEIRO et al., 2009; ROSSI et al., 2011; SAKATA et al., 2012; GLOR et al., 2013; FOETES et al., 2013).A condição da amostra também poderá interferir nos resultados, pois o ELISA demostrou-se ser mais sensível que a RIFI, em casos de amostras de soro fetal autolizadas, após apresentar uma correlação de 90% entre os testes (SEEFELDT et al., 1989).

Outros estudos apresentaram coeficiente Kappa mais sig-nificativos como o de Glor et al., (2013) que em 396 amostras de ovinos naturalmente infectados, apresentou coeficiente de 0,91, sensibilidade relativa de 93,33% e especificidade relati-va de 96,87%, considerando com isso o kit ELISA comercial como instrumento valioso para melhorada vigilância de T. gon-dii em população de ovinos. Ou ainda o de Foetes et al., (2013), em estudo com caprinos no Paraná, que sugeriram que o ELI-SA poderia ser utilizado, devido sua maior sensibilidade, em situações de aquisição de animais provenientes de áreas com alta prevalência, que poderiam tornar-se fontes de infecção em propriedades livres, após obterem, comprando 1058 amostra entre RIFI e ELISA, concordância Kappa significativa de 0,74, sensibilidade de 87% e especificidade de 89,7%. Estudo em hu-manos obteve índice kappa de 0,916 (CORTÉS; MANSELA, 2009)

Entre 711 amostras de soro ovino, 31,1% (221/711) fo-ram positivas para ELISA, e 43,2% (307/711) pelo RIFI no Es-tado de Minas Gerais. O grau de concordância pelo Kappa foi bom, correspondendo a 0,68. O resultado do ELISA foi usado para determinar alguns fatores de risco devido a sua alta repro-dutibilidade, especificidade e sensibilidade. O resultado com-parativo entre RIFI e ELISA, realizado por Rossi et al. (2011) para detecção de anticorpos IgG para T. gondii, mostrou 84% de concordância e coeficiente Kappa substancial de 0,69. De 25 (16,1%) amostras que apresentaram resultado negativo para RIFI e positivo para ELISA, 22 (14,2%) foram positivas pelo

immunoblot, reconhecendo predominantemente o antígeno p30 para T. gondii.

A vantagem do ELISA sobre outros métodos de diag-nóstico é que ele pode ser semiautomático, o procedimento pode ser facilmente conduzido e os resultados podem ser lidos objetivamente sem a presença de pessoal experiente, além do seu menor custo. Isso significa que pode ser usado para leitura de muitas amostras rapidamente, sendo ideal para inquéritos epidemiológicos em todo o mundo (ZHU et al., 2012). No entanto os resultados obtidos nesse estudo não nos permitem comparar sua eficiência em relação a RIFI, sendo necessário buscar aperfeiçoamento em relação a padronização do antíge-no utilizado, uma vez que apresentou coeficiente Kappa consi-derado mediana (0,344) (SHAAPAN et al., 2008).

CONCLUSÃO

O coeficiente Kappa apresentou concordância média entre os dois testes sorológicos, reforçando a importância da escolha do RIFI como técnica padrão ouro no diagnóstico so-rológico da toxoplasmose ovina. Porém, vale ressaltar a escolha na utilização do ELISA como técnica sorológica auxiliar para o estudo epidemiológico da toxoplasmose em rebanhos ovinos.

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Teste DiagnósticoELISA

TotalPositivos Negativos

RIFIPositivos 183 (34,5%) 95 (17,9%) 278 (52,4%)Negativos 79 (15,0%) 173 (32,6%) 252 (47,6%)Total 262 (49,4%) 268 (50,6%) 530 (100%)

S= 69,8%; E= 99,4%; VPP= 65,8%; VPN= 68,6%; Concordância Kappa= 0,344Teste McNemar com χ2 de 1,293 dos pares discordantes e p= 0,255.

Tabela 3 - Avaliação das técnicas de reação de imunofluorescência indireta (RIFI) e o ensaio imunoenzimático indireto (ELISA-teste) na detec-ção de anticorpos IgGanti-T.gondii em ovinos naturalmente infectados, com seus respectivos resultados: sensibilidade (S), especificidade (E), valor preditivo positivo (VPP), valor preditivo negativo (VPN) e concordância Kappa entre as duas técnicas, tendo o RIFI como referência.

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Ciência Veterinária nos Trópicos, Recife-PE, v. 17, n. 1/2 p. - janeiro/agosto, 2014

INTRODUÇÃO

A clamidofilose é uma doença bacteriana que provoca aborto nos últimos meses da ges-tação, natimortalidade ou parto prematuro, resultando em crias debilitadas e com baixo peso ao nascimento (RODOLAKIS, 2001). C.

abortus é o agente causador da enfermidade e está frequentemente relacionado ao aborto enzoótico ovino e caprino e ainda ao aborto epizoótico bovino, além de ter sido associado a casos de abortos em cavalos, coelhos, porcos da Índia, camundongos e suínos (EVERETT, 2000).

Detecção de anticorpos anti-Chlamydophila abortus em caprinos no estado de Alagoas, BrasilGiulliano Aires ANDERLINI¹, Rosa Maria PIATTI², José Wilton PINHEIRO JUNIOR³, Rômulo Menna Barreto VALENÇA4, Giovana Patrícia de Oliveira e Souza ANDERLINI¹, Rinaldo Aparecido MOTA3*

RESUMO

Objetivou-se com este estudo determinar a ocorrência de anticorpos anti-Chlamydophila abortus (C. abortus) em caprinos no Estado de Alagoas. O estudo foi realizado em 24 proprie-dades em dez municípios situados nas três Mesorregiões do Estado de Alagoas. A amostragem foi por conveniência composta por 255 matrizes caprinas com idade igual ou acima dos 24 meses. A pesquisa de anticorpos anti-C. abortus foi realizada utilizando a microtécnica da Rea-ção da Fixaçãodo Complemento. Das 255 amostras analisadas observou-se que três (1,17%) foram positivas para anticorpos anti- C. abortus e 8,33% das propriedades apresentaram ani-mais positivos. Relata-se a primeira ocorrência de anticorpos anti-Chlamydophila abortus em caprinos no Estado de Alagoas. A existência de focos em duas Mesorregiões do Estado indica a disseminação da infecção por C. abortus nas propriedades estudadas e pode ser um dos agentes infecciosos que causam distúrbios reprodutivos nas criações de caprinos estudadas. Entretanto, outros estudos são necessários para que se possa estabelecer o caráter enzoótico desta infecção, assim como o isolamento do agente.P A L A V R A S - C H A V E clamidofilose, doença infecciosa, pequenos ruminantes

Detection of anti-Chlamydophila abortus antibodies in goats in Alagoas state, Brazil

ABSTRACT

The objective of this work was to determine the occurrence and identify risk factors asso-ciated to Chlamydophila abortus (C. abortus) infection in goats from Alagoas State, Brazil. The research was developed on 24 farms of goat production from ten municipalities of the three different Alagoas Mesoregions. The sample consisted in blood serum of 255 females over then 24 months. The search of antibodies against C. abortus was made by micromethod of comple-ment fixation. From 255 samples that were examined, three (1,17%) were positive to antibodies against C. abortus with 8,33% of the farms showing positive animals. This was the first report on antibodies to C. abortus in goats in the Alagoas State. The existence of infection foci in two regions indicates the spread of infection by C. abortus is present in the studied farms and could be assume significance in reproduction of goat in the studied region.However, research from Chlamydophila abortus in routine diagnosis of reproductive disorders is necessary so that can be possible to establish the enzootic character of this infection and implement adequate control measures.

K E Y W O R D S clamidofilosis, Infectious Disease, small ruminants

1 Centro Universitário CESMAC. Medicina Veterinária, Rodovia Divaldo Suruagi, CEP. 57160-000, Marechal Deodoro, AL, Brasil

2 InstitutoBiológico de São Paulo (IB). Av. Cons. Rodrigues Alves, 1252, CEP. 04014-002, São Paulo, SP, Brasil

3 Departamento de Medicina Veterinária, Universidade Federal Rural de Pernambuco, Rua Dom Manuel de Medeiros, s/n, Dois Irmãos, CEP. 52.171-900, Recife – PE, Brasil.

4 Veterinário Autônomo, Carpina, PE

*Autor para correspondência: Rinaldo Aparecido MOTA([email protected]).

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22 Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v. 17, no 1/2, p. - janeiro/agosto, 2014

Huber RIZZO et al.

Após a ocorrência do aborto ou parto, um grande número de clamídias pode ser encontrado nos fluídos e descargas va-ginais ou uterinas, na placenta e na pele dos fetosou filhotes, sendo estas consideradas as principais fontes de contaminação ambiental(LONGBOTTOM e COULTER, 2003). O agente pode ser encontrado ainda em fezes e urina deruminantes as-sim como no leite de cabras (RODOLASKIS, 2001).

Dentre os principais fatores de risco para infecção por C. abortusemcaprinosincluem-se a raça, manejo, tipo de explora-ção e regime de monta natural (PEREIRAet al.,2009), embora propriedades com menos de 35 animais, produtos de aborta-mento napastagem e aluguel de pasto tenham sido conside-radas variáveis associadas à condiçãoda existência de foco da doença para bovinos (SILVA-ZACHARIAS et al., 2009)

Objetivou-se com este estudo determinar a ocorrência de anticorpos anti-Chlamidophylaabortusem caprinos no Estado deAlagoas.

MATERIAL E MÉTODOS

O Estado de Alagoas está localizado na Macrorregião Nor-deste do Brasilcobrindo uma área territorial de 27.767,661 km² o que corresponde a 0,3% do territórionacional. Situa-se na faixa intertropical possuindo climas quentes com tempe-raturasanuais em torno de 22ºC a 28ºC. É dividido em três Mesorregiões: Leste Alagoano,Agreste Alagoano e Sertão Ala-goano e em 13 Microrregiões Geográficas (IBGE, 2009).

Para este estudo foram coletadas amostras de 255 matrizes caprinas com idade igual ou acima dos 24 meses procedentes de 23 propriedades situadas em 10 municípios das três mesor-regiões. A amostragem foi não probabilística por conveniência e para o cálculo amostral considerou-se uma prevalência de 21,5% (PINHEIRO JUNIOR et al., 2010) com erro estatístico de 5% e intervalo de confiança de 95%, o que determinou uma amostragem mínima de 283 amostras (THRUEFIELD, 2004).

A pesquisa de anticorpos anti-Clamydophila abortusfoi rea-lizada noLaboratório de Doenças Bacterianas da Reprodução do Instituto Biológico de SãoPaulo, utilizando a microtécnica da Reação da Fixação do Complemento (RFC) (DONNet al., 1997). Para interpretação dos resultados considerou-se amos-tras positivas quando apresentavam títuloigual ou superior a 32 e amostras suspeitas com título igual ou superior a 16.

Em todas as propriedades foram aplicados questionários constituídos deperguntas objetivas, relativas a informações so-bre características gerais da propriedade edo rebanho, sistema de manejo, situação sanitária do rebanho e manejo reprodu-tivo.

Para o estudo dos fatores de risco associados à infecção por C. abortusfoiutilizada a análise univariada das variáveis de interesse através do teste qui-quadrado dePearson ou Exato de Fisher quando necessário (ZAR, 1999). Utilizou-se o programa Epi-Info 3.5.1. (CDC, Atlanta) para a execução dos cálculos es-tatísticos com nível designificância de p<0,05.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Das 255 amostras analisadas observou-se que três (1,17%) foram positivas para anticorpos anti- C. abortus na titulação ≥ 32, 246 (96,47%) negativas e seis (2,35%)suspeitas com tí-tulos ≤ 16. Estudos sobre a prevalência de anticorpos anti-C. abortus em caprinos no mundo mostraram envolvimento da Chlamydophila nos casos de aborto como demonstrado por Cuelloet al. (1992) na Espanha (14,31%), Masala et al. (2005)na Itália (5,8%), Moeller (2001) nos Estados Unidos (14,2%), Čisláková et al. (2007) naRepública Eslovaca (7,7%), Al-Qudah et al. (2004) na Jordânia (11,4%), Rekiki et al.(2006) na Tunísia (11,3%) e Samkangeet al. (2010) na Namíbia (8,0%).

Em relação aos estudos de prevalência em caprinos realiza-dos no Brasil ficaevidente que a prevalência encontrada neste trabalho foi baixa quando comparada aosdois únicos trabalhos nacionais nessa espécie. Piattiet al. (2006) em São Paulo e Pe-reiraet al. (2009) em Pernambuco demonstraram a ocorrência de anticorpos anti-Chlamydophilaspp. em 12% dos animais es-tudados em cada pesquisa, evidenciando adisseminação da in-fecção e a necessidade de implantação de medidas de controle naspropriedades.

Das 24 propriedades utilizadas nesse estudo, 8,33% apre-sentaram animaispositivos enquanto que dos dez municípios analisados, dois (20,0%) apresentaramanimais soropositivos. Na Itália, Donnet al. (1997) observaram que 70,5% dosreba-nhos avaliados eram soropositivos para infecção por Chlamydo-phila.

Posteriormente, no mesmo país, Masalaet al. (2005) iden-tificaram 19,2% depropriedades positivas. Em estudo realizado no Estado de Pernambuco, Pereira et al.(2009) relataram que mais de 90% das propriedades caprinas 122 estudadas apresen-taramanimais positivos, contudo o não isolamento do agente, não possibilita a determinaçãoda participação dessa bactéria em casos de abortos em caprinos e ovinos no estudo.

Os animais soropositivos deste estudo pertenciam a duas Mesorregiões: Sertão eAgreste, o que significa que apesar da baixa frequência de animais positivos que ainfecção encon-tra-se distribuída no Estado. De forma semelhante, Pinheiro Junioret al. (2010) em estudo sobre fatores de risco associados à infecção por C. abortusemovinosdo Estado de Alagoas, de-monstrou que os animais de propriedades situadas nasMesor-regiões Sertão e Agreste apresentaram maior risco de infecção.

Todos os caprinos soropositivos nesse estudo eram manti-dos em regime decriaçãosemi-intensivo, com suplementação mineral, comedouros e bebedouros comunsa jovens e adultos. Dois dos animais positivos (66,6%) eram oriundos de proprie-dadesde tamanho entre 30-200 hectares (ha), o que foi estatis-ticamente significativo (p<0,05)e pertenciam a rebanhos entre 50-100 cabeças, enquanto o terceiro animal positivo (33,4%) era procedente de propriedade com menos de 30ha e com re-banho menor que50 animais. Silva-Zacharias et al. (2009), no Paraná, em análise de amostras de soro debovinos procedentes de propriedades com casos de aborto, observaram queproprie-dades com menos de 35 animais em regime intensivo ou se-mi-intensivo eramconsideradas fatores associados à condição da existência de foco da doença, além derelacionarem a baixa

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23Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v. 17, no 1/2, p. - janeiro/agosto, 2014

Comparação do ensaio imunoenzimático indireto (ELISA-teste) com a reação da imunofluorescência

prevalência encontrada à pouca ou nenhuma importância da-clamidofilose nos casos de aborto bovino na região estudada.

Distúrbios reprodutivos estavam presentes nas três pro-priedades estudadas ondeforam detectados animais soropo-sitivos, sendo o aborto presente em duas delasenquanto a re-tenção de placenta observada em uma delas. O aborto nessas propriedadestambém pode ser consequência de outros agen-tes como bactérias, vírus e protozoárioscomo demonstrado por Moeller (2001).

Relata-se a ocorrência de anticorpos anti-C. abortusem caprinos no Estado deAlagoas. A existência de focos em duas Mesorregiões do Estado indica a disseminação da infecção por este agente em caprinos nas propriedades estudadas e que o mesmo pode ser um dos agentes infecciososresponsáveis por distúrbios reprodutivos nas criações de caprinos estudadas. Contudo,outros estudos são necessários para que se possa es-tabelecer o caráter enzoóticodestainfecção, assim como o iso-lamento do agente.

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Ciência Veterinária nos Trópicos, Recife-PE, v. 17, n. 1/2 p. - janeiro/agosto, 2014

INTRODUÇÃO

A utilização do perfil metabólico em ani-mais de produção atua como um método au-xiliar na avaliação de rebanhos com diferentes

índices produtivos e reprodutivos, atuando também como uma importante ferramenta no diagnóstico clínico de doenças relacionadas à grande variabilidade da condição de apor-te energético, proteico, mineral, vitamínico e

Perfil Bioquímico em ovelhas da raça Morada Novanos períodos de gestação, parto e pós partoRESUMO

Avaliaram-se parâmetros bioquímicos relacionados ao perfil energético, proteico, mineral e atividade enzimática do sangue em ovelhas Morada Nova nos períodos de gestação, parto e pós-parto. Foram utilizadas dez ovelhas, adultas, criados em sistema intensivo. As ovelhas foram sincronizadas e cobertas com reprodutor da mesma raça. A partir do 90 dias de gestação, inicia-ram-se as coletas de material biológico para análises laboratoriais, e estas foram efetivadas nos tempos: – 60, – 30, – 15, – 7 antes do parto, no dia do parto, 7 e 15 dias pós-parto. Amostras de sangue foram coletadas para determinações bioquímicas. Variações significativas foram obser-vadas em todos os constituintes sanguíneos no período de gestação: proteína total (p<0.0001), albumina (p<0.0001), globulina (p<0.0001), ureia (p=0.0049), creatinina (p=0.0005), glicose plasmática (p<0.0001), colesterol (p<0.0001), triglicerídeos (p=0.0011), frutosamina (p<0.0001), Ca (p<0.0001), P (p<0.0001), Ca:P (p=0.0088), Mg (p<0.0004), AST (p=0.0035), GGT (p=0.0197) e FA (p=0.0336). O período gestacional influencia significativamente no perfil bioquímico de ovelhas no período de transição; podendo esses valores ser utilizados como referência para a raça Morada Nova, além de serem utilizadas como ferramentas de diagnóstico de transtornos nutricionais e metabólicos.

P A L A V R A S - C H A V E : alimentação, metabolismo, raça, sangue, bioquímica clínica

Clinical biochemistry in Morada Nova ewes during pregnancy, partum and postpartum

ABSTRACT

Biochemical parameters related to energy, protein, mineral profile and enzymatic blood activity in Morada Nova sheep during periods of pregnancy, childbirth and postpartum were evaluated. Ten sheep, adult, raised in intensive system were used. The sheep were synchroni-zed and covered with the same race player. From the 90 days of gestation, began the biolo-gical material collected for laboratory testing, and these were held in times: - 60 - 30 - 15 - 7 before delivery, the day of delivery, 7 and 15 postpartum days. Blood samples were collected for biochemical determinations. Significant variations were observed in all blood constituent during pregnancy: total protein (p<0.0001), albumin (p<0.0001), globulin (p<0.0001) urea (p=0.0049), creatinine (p=0.0005), plasma glucose (p<0.0001), cholesterol (p<0.0001), triglyce-rides (p=0.0011), fructosamine (p<0.0001), Ca (p <0.0001) P (p<0.0001) Ca:P (p=0.0088), Mg (p<0.0004), AST (p=0.0035), GGT (p=0.0197) and AF (p=0.0336). The gestational period signi-ficantly influences the biochemical profile of sheep in the transition period; these values can be used as reference for the Morada Nova, besides being used as diagnostic nutritional and metabolic disorders tools.

K E Y W O R D S : nutrition, metabolism, race, blood, clinical biochemistry

1 Graduação em Medicina Veterinária/Iniciação Científica – PIBIC/CNPq/

UFRPE; Zootecnista e Mestre em Produção Animal pelo Departamento de Zootecnia

da UFRPE

2 Professor Associado Dr do Departamento de Medicina Veterinária da UFRPE.

Departamento de Medicina Veterinária. Universidade Federal Rural de

Pernambuco. Rua Dom Manoel de Medeiros, s/n, Dois Irmãos, Recife, PE.

CEP: 52171-900. E-mail: [email protected] (Autor para correspondência)

3 Pós-graduação em Ciência Veterinária/UFRPE

4 Pesquisador Dr do Instituto Agronômico de Pesquisa (IPA)

5 Médico Veterinário, Mestre em Ciência Veterinária/UFRPE

6 Profa. Associada Dra. do Departamento de Morfologia e Fisiologia da UFRPE

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25Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v. 17, no 1/2, p. - janeiro/agosto, 2014

Perfil Bioquímico em ovelhas da raça Morada Novanos períodos de gestação, parto e pós parto

de água no organismo animal (PEIXOTO & OSÓRIO, 2007). Para uma adequada interpretação dos valores encontrados no perfil metabólico, deve-se ter um correto conhecimento da fi-siologia e bioquímica clínica animal, além de conhecer a fonte e a função de cada um dos metabólitos avaliados (WITTWER et al., 1993).

Segundo Araújo (2014), devido aos diferentes achados ex-perimentais na literatura e aos conflitos de opiniões, muitas dúvidas ainda imperam sobre a utilização de ferramentas de diagnóstico, utilizadas em provas laboratoriais no diagnóstico de distúrbios metabólicos. Embora os metabólitos sanguíneos estejam sujeitos ao grande controle homeostático, a partir de alterações metabólicas e endócrinas que ocorrem no organis-mo animal, é importante identificar uma ou um conjunto de variáveis que possam auxiliar no diagnóstico de carência ou excesso de nutrientes, daí a importância do perfil metabólico (ARAÚJO et al., 2014; 2003, SOARES et al., 2008).

Os mecanismos que promovem variabilidade de meta-bólitos do perfil energético, proteico e mineral em ovelhas gestantes ainda são pouco estudados (THOMAS et al,. 2001). Considerando diferentes fatores de variabilidade, como aspec-tos regionais, espécie, manejo nutricional e sistema de produ-ção, tem-se tornado relevante o fator racial, tendo a raça Santa Inês muito utilizada em diferentes delineamentos experimen-tais (SANTOS et al., 2011; ARAÚJO et al., 2014) . Soares et al. (2014) recentemente avaliaram alguns constituintes sanguí-neos em ovelhas da raça Dorper, encontrando relevantes dados bioquímicos na gestação e pós-parto. Já em relação às ovelhas da raça Morada Nova, é inexistente dados do perfil bioquímico nos períodos de gestação, parto e pós-parto.

Ovelhas Morada Nova têm sido amplamente utilizados em sistemas de criação no semiárido nordestino, por apresen-tarem boa capacidade de adaptação e manejo, sendo animais de alto índice de prenhez e prolificidade. Sendo escasso dados de bioquímica clínica que possam auxiliar o diagnóstico de enfermidades nutricionais e metabólicas nesta espécie, objeti-vou-se avaliar o perfil de biomarcadores sanguíneos durante os períodos de gestação, parto e pós-parto.

MATERIAIS E MÉTODOS

Foram utilizadas dez ovelhas da raça Morada Nova, com idade entre um e cinco anos, criados em sistema intensivo e alimentados duas vezes ao dia com 10 kg de palma forrageira, 50 kg de cana-de-açúcar moída, 10 kg de ração peletizada, sal mineral e água a vontade. O sal mineral e a água eram oferta-dos em cocho e bebedouro específicos, e separados da ração.

As ovelhas foram monitoradas quando ao ciclo reproduti-vo, verificando-se os critérios de sincronização de estro, quan-do serão registrados, em protocolos individuais, datas de cio para o efetivo controle do período provável de parto e, por conseguinte, coleta de material biológico. Todos os animais foram previamente vermifugados após análise parasitológica das fezes e avaliada quanto ao escore corporal, que variou de três a quatro.

Os animais foram sincronizados utilizando-se o seguinte

protocolo: implante vaginal de progesterona (dia zero). No dia sete, se utilizou 1,0 mL de eCG (200 UI/animal) e 0,4 mL de cloprotenol sódico, por via de aplicação intramuscular. No dia nove, retirada do implante de progesterona e, dias 10 e 11, ob-servação de cio e cobertura com reprodutores da mesma raça.

A partir dos 20 dias pós-cobertura as cabras foram sub-metidas à primeira avaliação com ultrassom em tempo real (USTR), Landwind medicalmodelo C4OVET. Foram reali-zados exames a cada sete dias até os 60 dias de gestação e, o transdutor utilizado foi o linear com frequência de 7,5 MHz e, posteriormente a partir dos 40 dias utilizou-se o transdutor convexo com frequência de 6,0 MHz, para avaliação de vesícu-la embrionária, frequência cardíaca (FC), observação da dife-renciação cabeça/tronco, placentônios, cordão umbilical, ob-servação dos botões dos membros, comprimento crâniocaudal (CCC), diâmetro biparietal (DBP), diâmetro torácico (DT) e diâmetro abdominal (DA). A partir do 90 dias de gestação, iniciaram-se as coletas de material biológico para análises labo-ratoriais, e estas foram efetivadas em diferentes tempos, cons-tituindo-se, portanto, os seguintes momentos: – 60, – 30, – 15, – 7 antes do parto, dia do parto, 7 e 15 dias pós - parto.

Amostras de sangue foram coletadas por venopunção jugular, em tubos siliconizados vacutainer®, sem e com os se-guintes anticoagulantes, fluoreto e ácido dietileno diamino tetracético – EDTA, para obtenção de soro e plasma, respec-tivamente. As amostras de sangue sem anticoagulante serão mantidas à temperatura ambiente, enquanto que as demais com anticoagulante serão homogeneizadas, prontamente re-frigeradas e conduzidas ao laboratório para posterior proces-samento. Todos esses tubos serão submetidos à centrifugação, por período de 15 minutos a 500 G. As alíquotas de soro e plasma serão, posteriormente, condicionadas em tubos tipo ependorf e armazenadas à temperatura de –20o C.

Os biomarcadores avaliados foram: glicose, proteína total, albumina, globulina, ureia, creatinina, frutosamina, colesterol, triglicerídeo, aspartato aminotransferase (AST), γ–glutami-notransferase (GGT), fosfatase alcalina (FA), cálcio, fósforo e magnésio. A concentração de globulina foi determinada pela diferença entre as concentrações séricas de proteína total e albumina. A frutosamina foi determinada utilizando-se kit comercial Roche (Fructosamine Plus), medida a 456 nm pela técnica do nitroblue tetrazolium. A concentração sérica de fru-tosamina foi corrigida tanto pela proteína sérica total quanto pela albumina sérica, utilizando-se, para tal, a fórmula descrita por Coppo et al. (1996). As determinações bioquímicas sanguí-neas foram realizadas em analisador bioquímico automatiza-do LABMAX 240 (LABTEST), utilizando-se kits bioquímicos LABTEST.

Os parâmetros foram testados, inicialmente, quanto à sua distribuição normal, utilizando-se o teste de Kolmogorov--Smirnov. Todos os dados atenderam às premissas de norma-lidade sendo, portanto, processados utilizando-se o procedi-mento GLM do SAS (SAS, 2000), como medidas repetidas no tempo. Para todas as análises estatísticas realizadas, foi adotado o nível de significância (P) de 5%. Na existência de significân-cia no teste F, as médias foram contrastadas pelo Teste de Stu-dent-Newman-Keuls.

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26 Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v. 17, no 1/2, p. - janeiro/agosto, 2014

Huber RIZZO et al.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Variações significativas foram observadas em todos os constituintes sanguíneos do perfil de metabólitos protéicos e energéticos, nos diferentes períodos de gestação: proteína total (p<0.0001), albumina (p<0.0001), globulina (p<0.0001), ureia (p=0.0049), creatinina (p=0.0005), glicose plasmática (p<0.0001), colesterol (p<0.0001), triglicerídeos (p=0.0011) e frutosamina (p<0.0001) (Tabela 1).

As maiores médias da proteína total sérica foram obser-vadas no período final da gestação em relação ao momento do parto, diminuindo durante o parto e até o tempo de 15 dias após-parto. Em relação à globulina foi observado maior média no tempo de 30 dias no momento pré-parto e um com-portamento análogo a proteína total no momento do parto e pós-parto.

Menor média da variável albumina foi registrada 60 dias anteriores ao parto (29,39 g/L), sendo que essas médias aumen-taram até o parto, apresentando diminuição significativa no parto e pós-parto. Quanto a variável ureia foi observado maior média 30 dias anteriores ao parto e uma diminuição gradual ao longo do término do período de gestação e parto, sendo que as médias foram diminuindo nas semanas subsequentes,

inclusive registrando as menores médias no período entre 7 e 15 dias após o parto, respectivamente.

Como demonstrado na tabela 1, as concentrações sanguí-neas de proteína total, albumina, globulina e ureia apresen-tam-se dentro dos valores considerados normais para a espécie (CONTRERAS & PHIL, 2000). Para Sandabe et al. (2004) o valor de proteína não é alterado em função da gestação e, para Saut et al. (2009) e Yanaka et al. (2012), esse valor não sofre influência do puerpério. Em contrapartida, Mbassa e Poulsen (1991) afirmam que há diminuição na proteína sérica ao final da gestação, provavelmente causada por uma hemodiluição devido a gestação, que se estende até poucos dias após o parto.

No caso das proteínas, os dois principais indicadores do metabolismo proteico em ruminantes são os níveis séricos de ureia e albumina; a ureia demonstra o estado proteico do ani-mal em curto prazo, enquanto que a albumina o demonstra em longo prazo (PAYNE & PAYNE, 1987). A albumina tem a função de carrear aos ácidos graxos não esterificados, os quais são utilizados pelos tecidos periféricos como fonte de energia (GONZÁLEZ & SILVA, 2003). Assim, como a sua diminuição, haverá menor aporte de energia para os tecidos e conquente-mente menor escore corporal.

Conforme Wittwer et al. (1993) a ureia é sintetizada no fí-

Parâmetros

Períodos da Gestação/Dias“p”Pré-Parto

PartoPós-Parto

-60 -30 -15 -7 7 15Perfil de Metabólitos Proteicos e Energéticos

Proteína Total (g/L)77,41 81,99 77,63 79,34 65,72 65,46 68,91

<.0001±5,01a ±5,06a ±4,78a ±5,11a ±4,63b ±5,88b ±8,53b

Albumina (g/L)29,39 30,60 30,61 32,14 26,69 25,93 26,48

<.0001±1,40b ±1,14ab ±1,16ab ±1,00a ±2,28c ±1,58c ±2,29c

Globulina (g/L)48,02 51,39 47,02 47,20 39,03 39,54 42,43

<.0001±5,61ab ±5,30a ±4,86ab ±5,57ab ±4,03c ±5,67c ±10,21c

Uréia (mmol/L)7,23 8,16 7,85 7,19 7,04 6,77 6,66

0.0049±0,67ab ±0,78a ±0,50ab ±1,11ab ±1,34ab ±0,87b ±1,01b

Creatinina (µmol/L)94,27 75,78 78,21 94,84 82,10 74,98 77,47

0.0005±17,89a ±9,98b ±7,19b ±11,08a ±13,58b ±12,57b ±11,57b

Glicose Plasmática (mmol/L)4,65 5,15 4,17 3,83 3,97 3,51 6,27

<.0001±0,35bc ±0,29b ±0,46cd ±0,33cd ±0,45cd ±0,33d ±2,22a

Colesterol (mmol/L)1,49 1,60 1,54 1,59 1,29 1,35 1,14

<.0001±0,23ab ±0,24a ±0,18ab ±0,22a ±0,21bc ±0,23bc ±0,25c

Triglicerídeos (mmol/L)0,25 0,29 0,34 0,23 0,28 0,26 0,18

0.0011±0,07abc ±0,08ab ±0,09a ±0,06bc ±0,08ab ±0,09abc ±0,05c

Frutosamina (µmol/L)176,29 183,57 176,45 182,45 135,9 128,91 149,33

<.0001±6,03a ±8,92a ±8,27a ±9,63a ±,33c1 ±8,03c ±13,34b

Letras minúsculas distintas na mesma linha diferem ao nível de 5% de probabilidade.

Tabela 1 - Valores médios, desvios-padrão e nível de significância (p) de parâmetros bioquímicos do sangue de ovelhas da raça Morada Nova no pré--parto, parto e pós-parto

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27Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v. 17, no 1/2, p. - janeiro/agosto, 2014

Perfil Bioquímico em ovelhas da raça Morada Novanos períodos de gestação, parto e pós parto

gado em quantidades proporcionais à concentração de amônia produzida no rúmen e sua concentração está diretamente rela-cionada com os níveis proteicos da ração e da relação energia/proteína da dieta. Os valores das concentrações de ureia estão de acordo com os achados de Mbassa e Poulsen (1991) que relataram valores de ureia diminuídos nos primeiros 60 dias de lactação, elevando-se somente após 90 dias do parto. Segun-do Piccione et al. (2009), a ureia de ovelhas não se alterou nas primeiras 5 semanas de lactação. Para as globulinas, as quais diminuíram significativamente, não tem sido encontrada na literatura uma explicação plausível para tal perfil.

Maiores médias de creatinina foram registradas 60 (94,27 µmol/L) e 7 dias (94,84 µmol/L) anteriores ao parto, porém, estas médias foram inferiores no tempo de 30 até 15 dias cor-respondentes ao período pré-parto e análogas ao momento do parto e pós-parto. Para a variável glicose plasmática, foi regis-trado menor média 7 dias (3,51 mmol/L) após o parto,sendo semelhante aos momentos correspondentes ao terço final da gestação; porém, foi observado na semana seguinte maior mé-dia de 6,27 mmol/L. Tais resultados discordam com Piccione et al. (2009), trabalhando com ovelhas, afirmaram que houve uma diminuição no teor de creatinina no terço final da ges-tação com relação ao período seco. Com relação à lactação os autores não observaram alterações.

Segundo Mbassa e Poulsen (1991) a concentração de gli-cose diminuiu no terço final da gestação e aumentaram logo após o parto. O nível de glicose plasmático é o indicador me-nos significativo do perfil para avaliar o status energético de-vido à insensibilidade da glicemia a mudanças nutricionais e à sua sensibilidade ao stress. A glicemia, todavia pode ser de utilidade em condições de déficit severo e em animais e em animais que não estão em gestação e lactação (GONZÁLEZ et al., 2000)

Menores concentrações plasmáticas de colesterol foram registradas no momento do parto e no período após o parto, apresentando menor média de 1,14 mmol/L, decorridos15 dias após o parto; porém, as maiores médias foram registradas 30 e 7 dias anteriores ao parto com médias de 1,60 e 1,59 mmol/L respectivamente, e valores semelhantes a estes no período de 60 e 15 anteriores ao parto.

González et al. (2000) afirmam que o colesterol nos ani-mais pode ser tanto de origem exógena, oriundos dos alimen-tos, como endógena, sendo sintetizada a partir do acetil-CoA no fígado, nas gônadas no intestino, na adrenal e na pele, e que seus níveis plasmáticos são indicadores adequados do total de lipídeos no plasma, pois corresponde a aproximadamente 30% do total. Sua diminuição está geralmente relacionada aos quadros de insuficiência hepática, dieta carente em energia, hipertireoidismo e pré-parto (SOARES et al., 2014). Pode-se ainda considerar que, além do estado final de gestação, a dieta dos animais tivesse um aporte energético não adequado, justi-ficando a diminuição no período próximo ao parto e pós-par-to. Para as concentrações séricas de triglicerídeos, observou-se maior média 15 dias (0,34 mmol/L) antes do parto e compor-tamento semelhantes nos tempos de 60 e 30 dias anteriores ao parto, parto e 7 dias do pós-parto; entretanto, foi registrado menor média 15 dias (0,18 mmol/L) no período após o parto.

Já em relação a variável frutosamina foram observados mé-dias superiores durante todo período correspondente ao terço final de gestação, ocorrendo uma diminuição significativa no parto e após 7 dias com médias de 135,91 µmol/L e 128,91 µmol/L respectivamente, voltando a aumentar no período de 15 dias pós-parto. A diminuição dos triglicerídeos e da frutosa-mina no decorrer das semanas, no terço final da gestação, parto e pós-parto, é possível dizer que o a gestação exerceu influência significativa sobre tais indicadores.

Foram observadas variações significativas em todos os parâmetros sanguíneos em relação ao perfil de atividade en-zimática, assim como para o perfil de minerais, nos diferentes períodos de gestação: AST (p=0.0035), GGT (p=0.0197), FA (p=0.0336), Ca (p<0.0001), P (p<0.0001), Ca:P (p=0.0088) e Mg (p<0.0004) ) (Tabela 2).

Maior média de AST foi registrada 7 dias antes do parto com média de 115,13 U/L e análogas aos tempos de 30 e 15 dias do pré-parto; observou-se que as menores médias ocorreu nos período de 60 dias no pré-parto e no parto; podendo ser visualizado um aumento da concentrações nos períodos de 7 e 15 dias pós-parto.

Para a variável GGT as maiores concentrações ocorreram 7 dias anterior ao parto e 15 dias do pós-parto com médias de 47,81 e 48,77 U/L respectivamente, e com menores médias no período de 60 dias (31,18 U/L) que antecederam o parto. Já para a FA as maiores médias foram registradas nos tempos entre 30 e 15 dias (135,81 e 123,51 U/L, respectivamente) antes do parto, e médias inferiores nos demais momentos analisados.

As enzimas AST e GGT apresentaram valores superiores ao mínimo 60 U/L e 20 U/L, já a FA manteve- se abaixo do limite mínimo de 93 a 387 U/L relatados por Kaneko et al., (2008), durante a maior parte dos tempos observados, sendo influenciada pelo parto, voltando a aumentar logo após o parto. Acredita-se que possa ter ocorrido um equilíbrio nutri-cional pela ausência de transtornos metabólicos, como o que ocorre na toxemia da prenhez.

Maior média de Ca foi observado 30 dias (9,86 U/L) do período pré-parto, estas médias foram diminuindo até 7 dias após o parto, onde foi observado a menor concentração (7,14 U/L), voltando a elevar-se 15 dias após o parto. Entre 60 e 15 dias anteriores ao parto foram registrados médias superiores para o P, ocorrendo uma diminuição no período de 7 dias an-tes do parto e permanecendo até os 15 dias de observação após o parto.

O relato de Azab e Abdel-Maksoud (1999) descreve uma diminuição dos valores de cálcio desde quatro semanas antes do parto até a terceira semana de lactação. Segundo os mesmos autores, essa diminuição ocorre na gestação devido ao aumen-to da demanda de cálcio para a mineralização do esqueleto do feto. Iriadam (2007) observou uma diminuição deste mineral a partir da 18° semana de gestação até a terceira semana após o parto. Durante todos os momentos analisados o P e Mg man-tiveram-se acima dos valores de referência 2-9,6 e 1,8-3 U/L, res-pectivamente descritos por González et al. (2000). O Ca não é um bom indicador do estado nutricional do rebanho, devido ao controle endócrina da calcemia, enquanto que o P e o Mg refletem melhor o nível nutricional mineral (GONZÁLEZ et

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28 Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v. 17, no 1/2, p. - janeiro/agosto, 2014

Huber RIZZO et al.

al., 2000).Em relação a Ca:P foi observado uma menor média no

período de 7 dias (0,64 U/L) anteriores ao parto; registraram-se maiores médias nos tempos de 60 e 30 dias do terço final da gestação; demais tempos observados apresentaram concentra-ções semelhantes. A maior concentração de Mg foi registrada 7 dias antes do parto com valor médio de 3,13 U/L; com relação aos demais tempos foram registrados médias inferiores e seme-lhantes entre si.

Deve-se preocupar no sistema de produção das ovelhas com os minerais necessários, pelo fato que possuem funções essenciais, com na estrutura de tecidos e biomoléculas, no me-tabolismo animal, participando como cofatores enzimáticos e ativadores de ação hormonal, além de serem responsáveis pela pressão osmótica e equilíbrio ácido básico (GONZÁLEZ et al., 2000).

CONCLUSÃO

O período gestacional influencia significativamente no perfil de metabólitos de parâmetros bioquímicos séricos pro-teicos, energéticos, atividade enzimática e de minerais, po-dendo esses valores ser utilizados como referência para a raça

Morada Nova, além de serem utilizadas como ferramentas de diagnóstico de transtornos nutricionais e metabólicos.

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ParâmetrosPeríodos da Gestação/Dias

“p”Pré-PartoParto

Pós-Parto-60 -30 -15 -7 7 15

Perfil de Atividade Enzimática

AST (U/L)82,62 105,16 96,92 115,13 86,91 92,71 101,45

0.0035±19,27b ±11,39ab ±23,71ab ±16,96a ±11,69b ±22,66ab ±19,13ab

GGT (U/L)31,18 44,40 44,31 47,81 40,66 43,80 48,77

0.0197±8,41b ±14,62ab ±13,11ab ±9,40a ±8,38ab ±10,18ab ±12,50a

FA (U/L)92,97 135,81 123,51 84,26 68,35 75,87 89,13

0.0336±46,26b ±59,09a ±67,95a ±42,50b ±30,80b ±32,93b ±59,07b

Perfil de Minerais

Ca (mg/dL)8,57 9,86 8,83 8,45 7,86 7,14 8,03

<.0001±0,29bc ±0,35a ±0,51b ±0,54bcd ±0,80de ±1,04e ±0,73cd

P (mg/dL)7,09 8,19 7,16 5,43 5,87 6,12 5,29

<.0001±1,14a ±1,24a ±0,81a ±0,62b ±0,74b ±0,57b ±1,13b

Ca:P0,83 0,83 0,81 0,64 0,75 0,74 0,66

0.0088±0,12a ±0,12a ±0,11ab ±0,06b ±0,10ab ±0,22ab ±0,16ab

Mg (mg/dL)2,33 2,57 2,75 3,13 2,51 2,51 2,37

0.0004±0,30b ±0,27b ±0,28b ±0,72a ±0,39b ±0,20b ±0,34b

Letras minúsculas distintas na mesma linha diferem ao nível de 5% de probabilidade

Tabela 2: Valores médios, desvios-padrão e nível de significância (p) de parâmetros enzimáticos e minerais do sangue de ovelhas da raça Morada Nova no pré-parto, parto e pós-parto

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29Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v. 17, no 1/2, p. - janeiro/agosto, 2014

Perfil Bioquímico em ovelhas da raça Morada Novanos períodos de gestação, parto e pós parto

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Fonte de financiamento: CNPq, pela concessão de Bolsa de Ini-ciação Científica; FACEPE, pelo Projeto de Pesquisa aprovado no edital FACEPE/MCT/CNPQ/CT – INFRA - PROGRAMA

PRIMEIROS PROJETOS; CAPES, pela aprovação da aquisição do equipamento de bioquímica automatizado LABMAX 240

no edital Pró-Equipamentos CAPES/UFRPE.

O projeto referente a estudo de perfil bioquímico de fêmeas ges-tantes foi submetido à avaliação pelo Comitê de Ética (CEUA),

N°030/2012-004959/2012.

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30

Ciência Veterinária nos Trópicos, Recife-PE, v. 17, n. 1/2 p. - janeiro/agosto, 2014

INTRODUÇÃO

A Neosporose é uma enfermidade para-sitária de distribuição mundial causada por Neospora caninum, um protozoário coccídio intracelular (DUBEY & LINDSAY, 1996). Seu envolvimento em casos de abortos já foi relata-da em diversos países como Argentina (MOO-RE et al., 2009), Brasil (ANDREOTTI et al., 2009; MARQUES et al., 2011), China (WANG et al., 2010), Espanha (EIRAS et al., 2011), Es-tados Unidos (HOAR et al., 2007), Grécia (SO-TIRAKI et al., 2008), Inglaterra (WOODBINE et al., 2008), México (SEGURA-CORREA et

al., 2010; ROMERO-SALAS et al., 2010) e Peru (PURAY et al., 2006). Clinicamente caracte-riza-se por causar problemas reprodutivos, sendo considerada uma importante causa de aborto e morte neonatal em bovinos (DUBEY & SCHARES, 2011).

O Cão (Canis lupus familiaris), coiote (Ca-nis latrans), dingo (Canis lupus dingo) e lobo cinza (Canis lupus) atuam como hospedeiros definitivos, enquanto que bovinos, búfalos, ovinos, caprinos e aves são alguns dos hospe-deiros intermediários naturais comprovados (DUBEY et al., 2007).

Devido a sua alta prevalência em algumas

Ocorrência de anticorpos IgG anti- Neospora caninum em vacas leiteiras no estado de Pernambuco, BrasilJosé Givanildo da SILVA1, Neurisvan Ramos GUERRA2, Renata Pimentel Bandeira de MELO1, Pedro Paulo Feitosa de ALBUQUERQUE1, Leucio Câmara ALVES2, Rinaldo Aparecido MOTA1.

RESUMO

A Neosporose é uma enfermidade causada pelo Neospora caninum, considerada uma im-portante causa de aborto, responsável por sérios prejuízos econômicos e sanitários em criações de bovinos. Neste estudo foi realizada a pesquisa de anticorpos IgG anti-Neospora caninum em vacas leiteiras. Foram obtidas amostras de soro sanguíneo de 533 vacas provenientes de 13 mu-nicípios no Estado de Pernambuco. Para a pesquisa de anticorpos foi empregada a técnica de Imunofluorescência Indireta (RIFI). Na RIFI foi possível determinar uma positividade de 6,4% (34/533). Os resultados obtidos demostram a presença da infecção por Neospora caninum em diferentes regiões do Estado de Pernambuco.

P A L A V R A S - C H A V E Protozoário, Bovinos leiteiros, RIFI.

Occurrence of anti-Neospora caninum IgG antibodies in dairy cows in the state of Pernambuco, Brazil

ABSTRACT

Neosporosis is a disease caused by Neospora caninum, considered a major cause of abortion, responsible for major economic losses and sanitary problems in cattle creations. This study was performed to search for anti-Neospora caninum IgG antibodies in dairy cows. Blood serum samples were obtained from 533 cows from 13 municipalities in the state of Pernambuco. For the detection of antibodies was used the immunofluorescent antibody test (IFAT). IFAT was possible to determine a positivity of 6.4% (34/533). The results demonstrate the presence of infection by Neospora caninum in different regions of the state of Pernambuco.

K E Y W O R D S Protozoa, dairy cattle, IFAT

1 Laboratório de Doenças Infectocontagiosas dos Animais

Domésticos; Departamento de Medicina Veterinária; Universidade Federal Rural de

Pernambuco.

2 Laboratório de Doenças Parasitárias dos Animais Domésticos; Departamento

de Medicina Veterinária; Universidade Federal Rural de Pernambuco.

Email: [email protected]; [email protected]

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31Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v. 17, no 1/2, p. - janeiro/agosto, 2014

Ocorrência de anticorpos IgG anti- Neospora caninum em vacas leiteiras no estado de Pernambuco, Brasil

espécies domésticas e selvagens, é uma doença de considerá-vel preocupação mundial por suas significativas perdas econô-micas e reprodutivas que resultam em impactos na produção (LARSON et al., 2004). Os prejuízos econômicos estão atribuí-dos à perda fetal, redução da eficiência reprodutiva, redução no valor do rebanho, diminuição na produção leiteira e no teor de gordura do leite (THURMOND & HIETALA, 1997; BARTELS et al., 2006; TIWARI et al., 2007; REICHEL et al., 2013).

Considerando a carência de informações sobre a ocor-rência deste protozoário em vacas leiteiras no estado de Per-nambuco, objetivou-se neste estudo pesquisar a ocorrência de anticorpos IgG anti-Neospora em municípios desta região do Brasil.

MATERIAL E MÉTODOS

ANIMAIS E LOCAIS DE COLETA

Foram analisadas 533 amostras de soro sanguíneo de vacas de aptidão leiteira, a partir do banco de soros gentilmente cedi-do pelo Laboratório Nacional Agropecuário em Pernambuco (LANAGRO/MAPA).

Essas amostras eram provenientes de rebanhos localizados

em 13 municípios, sendo sete localizados na Região Metropo-litana do Recife, cinco na Zona da Mata e um no Agreste do Estado de Pernambuco (Figura 1).

Os animais eram mestiços, com faixa etária média de 5,56 anos e de 3,16 parições e as propriedades não apresentavam histórico de aborto (tabela 1).

A amostragem deste estudo foi do tipo não probabilística por conveniência (SAMPAIO, 1998).

EXAME SOROLÓGICO

No laboratório, as amostras foram submetidas à Reação de Imunofluorescência Indireta (RIFI) para a pesquisa de anticor-pos IgG anti-N. caninum, realizada de acordo com metodolo-gia descrita por Dubey (1988), utilizando anticorpos anti IgG bovine (Sigma®) conjugado ao isotiocianato de fluoresceína e ponto de corte 200. Como antígenos para sensibilização das lâminas foram utilizados taquizoítos da cepa NC1 de N. ca-ninum mantidos em cultivo de células Marc-145 e soros con-troles padrão positivo e negativo.

Figura 1: Distribuição espacial dos municípios estudados

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32 Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v. 17, no 1/2, p. - janeiro/agosto, 2014

José Givanildo da Silva et al.

RESULTADOS

Na RIFI, 6,4% (34/533) das amostras apresentaram anti-corpos IgG anti-N. caninum. Do total de amostras positivas, 97,06% (33/34) eram de animais com idade superior a 24 me-ses (Tabela 2).

Na tabela 3 encontram-se as distribuições das amostras positivas por município, na qual é possível observar que, com exceção dos municípios de Jaboatão dos Guararapes, Passira e São Lourenço da Mata, todos os demais apresentaram pelo menos um animal sororreagente.

Os títulos de anticorpos variaram de 200 a 3200 com maior frequência do título 400 (Tabela 4).

DISCUSSÃO

A frequência média global de animais sororreagentes en-contrada neste estudo (6,4%) está abaixo daquelas observadas em outros estudos realizados no Brasil. Em Pernambuco, Sil-va et al. (2008) relataram soroprevalência de 31,7% (163/469) em vacas leiteiras. Na Bahia, Gondim et al. (1999) detectaram

prevalência de 14,09% (63/447) em rebanhos leiteiros. Benetti et al. (2009) observaram 53,5% (499/932) de positividade em vacas leiteiras no Mato Grosso do Sul, enquanto que Guedes et al. (2008) detectaram 91,2% (510/559) em rebanho leiteiro e 97,2% (559/575) em vacas abatidas em matadouros de Minas Gerais, sendo estas as maiores prevalências em gado bovino já relatadas no país.

Variáveis como o país, a região, a técnica de detecção de anticorpos utilizada e o estado imunológico do animal são apontados como responsáveis pela variação nas frequências de anticorpos anti-N. caninum na espécie bovina (YÁNIZ et al., 2010). Devido a isto, as comparações dos resultados com dados de outros estudos devem ser realizadas com precaução, prin-cipalmente quando se utiliza técnicas sorológicas e pontos de corte diferentes. Pesquisas de anticorpos anti-N. caninum em bovinos utilizando a Reação de Imunofluorescência Indireta (RIFI) e Ensaio Imunoenzimático (ELISA) em diferentes paí-ses indicaram prevalência bastante variável de 0,7 % a 97,2% (GUEDES et al., 2008; SCHARES et al., 2009; KLEVAR et al., 2010; DUBEY & SCHARES, 2011).

No presente estudo todos os animais positivos na sorolo-gia eram adultos. Segundo Moore (2005) existe uma relação

Tabela 2 - Frequência absoluta e relativa das amostras positivas para a detecção de anticorpos IgG anti-Neospora caninum em bovinos do Estado de Pernambuco, de acordo com a idade.

Idade (meses) FA* FR (%)**

0-24 1/34 2,9425-36 9/34 26,47≥36 24/34 70,59Total 34 100

*FA= Frequência Absoluta; **FR= Frequência Relativa

Município Média da faixa etária Média do número de parições

Abreu e Lima 5,58 3,29Água Preta 9,29 6,07Barreiros 5,69 3,93Cabo de Santo Agostinho 5,66 3,39Glória de Goitá 5,03 2,87Igarassú 3,93 2,06Itamaracá 3,92 2,00Jaboatão dos Guararapes 4,83 2,76Moreno 4,14 2,22Palmares 6,71 2,33Passira 6,05 3,10São Lourenço da Mata 6,08 3,80Vitória de Santo Antão 5,43 3,36Média geral 5,56 3,16

Tabela 1 - Procedência das amostras coletadas, médias das faixas etárias e dos números de parições das vacas leiteiras provenientes do Estado de Pernambuco, Brasil.

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33Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v. 17, no 1/2, p. - janeiro/agosto, 2014

Ocorrência de anticorpos IgG anti- Neospora caninum em vacas leiteiras no estado de Pernambuco, Brasil

Tabela 3 - Distribuição, por município, da frequência de amostras positivas e negativas na detecção de anticorpos IgG anti-Neospora caninum em bovinos no estado de Pernambuco, Brasil.

Municípios Nº de amostrasPositivos Negativos

FA* FR (%)** FA* FR (%)**Abreu e Lima 23 2 8,7% 21 91,30%Água Preta 27 5 18,52% 22 81,48%Barreiros 15 3 20,00% 12 80,00%Cabo de Santo Agostinho 92 3 3,30% 89 96,7%Glória de Goitá 30 6 20,00% 24 80,00%Igarassú 32 2 6,25% 30 93,75%Itamaracá 27 1 3,70% 26 96,30%Jaboatão dos Guararapes 79 0 0% 79 100%Moreno 51 1 2,00% 50 98,0%Palmares 15 4 26,77% 11 73,33%Passira 14 0 0% 14 100%São Lourenço da Mata 25 0 0% 25 100%Vitória de Santo Antão 103 7 6,80% 96 93,2%Total 533 34 6,38% 499 93,62%

linear entre o aumento da idade e a soropositividade para N. caninum e de acordo com este autor, animais entre dois a seis anos tendem a apresentar maiores títulos de anticorpos. Tal relação também foi relatada por Guimarães Junior et al. (2004) que observaram menor soroprevalência em vacas com idade entre 12-24 meses quando comparadas com aquelas com mais de 24 meses, no estado do Paraná, Brasil. Por outro lado, San-derson et al. (2000) não observaram aumento na soropreva-lência em bovinos nos Estados Unidos e segundo os autores a relação idade-soroprevalência é inconsistente. Para Hietala & Thurmond (1999), bovinos com idade entre 13 e 24 meses pos-suem tendência a apresentar menor soroprevalência quando comparados a outras faixas etárias, indicando que ocorre um declínio de anticorpos em animais infectados congenitamen-te. No estudo realizado por Benetti et al. (2009) no Brasil, não foi observado relação entre as faixas etárias e a soroprevalência, tendo animais jovens e adultos apresentado valores semelhan-tes, segundo os autores esses resultados indicam que a trans-missão vertical apresentou maior importância nos rebanhos por eles estudados.

Outra variável que pode ter contribuído para a baixa soro-positividade é a inexistência de histórico de abortos nos reba-nhos, que já foi identificado anteriormente, em outros estudos, como um dos principais sinais clínicos e fator de risco da infec-ção (DUBEY & LINDSAY, 1996; DUBEY & SCHARES, 2011).

Em relação aos municípios foi observado que as cidades de Palmares, Barreiros e Glória de Goitá foram as que apresen-taram maior frequência de animais positivos. Todas estão lo-calizadas na região da Zona da Mata, possuindo um clima ca-racterizado como quente e úmido com média de precipitação pluviométrica superior a 1000 mm anuais, temperatura média em variando de 24 a 25ºC e umidade relativa em torno de 70 % (BRASIL, 2000; BRASIL, 2012). Tais condições climáticas são favoráveis à viabilidade do parasito no ambiente fato, que pode ter contribuído para a elevada taxa de animais infectados encontrada nesses municípios.

Tabela 4 - Frequência dos títulos de anticorpos IgG anti-Neospora caninum em bovinos no estado de Pernambuco, Brasil.

Título de anticorpos FA* FR**

200 10 29,4%400 12 35,3%800 6 17,6%1600 4 11,8%3200 2 5,9%Total 34 100%

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34 Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v. 17, no 1/2, p. - janeiro/agosto, 2014

José Givanildo da Silva et al.

CONCLUSÃO

Os resultados obtidos confirmam a presença do Neospo-ra caninum em diferentes regiões do Estado de Pernambuco, o que ressalta a importância de pesquisas sobre os impactos reprodutivos e econômicos nos rebanhos analisados. Mais es-tudos sobre a prevalência do agente em outras regiões do Brasil e do mundo são necessários, visto que ainda há escassez de informações.

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35Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v. 17, no 1/2, p. - janeiro/agosto, 2014

Ocorrência de anticorpos IgG anti- Neospora caninum em vacas leiteiras no estado de Pernambuco, Brasil

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Ciência Veterinária nos Trópicos, Recife-PE, v. 17, n. 1/2 p. - janeiro/agosto, 2014

Avaliação da eficácia da suplementação eletrolítica sobre parâmetros relacionados a desidratação em equinos de vaquejadaDiogo Ribeiro CÂMARA1, Aline Saraiva de OLIVEIRA2.

RESUMO

O presente estudo objetivou avaliar a influência do uso de suplementação eletrolítica oral em cavalos de vaquejada sobre parâmetros clínicos (frequência cardíaca e respiratória, tempera-tura retal, tempo de enchimento capilar e teste de prega cutânea) e laboratoriais (hematócrito, proteínas plasmáticas totais e densidade urinária) que podem estar relacionados a desidratação. Trinta equinos foram divididos em dois grupos, sendo um sem tratamento (Controle, n = 15), enquanto os animais do segundo grupo receberam suplementação eletrolítica oral (Tratado, n = 15). As avaliações clínicas e coleta de material biológico para a análise forma realizadas com os animais em repouso (T1), imediatamente após a atividade física (T2) e quatro a cinco horas após a atividade física (T3). Comparado ao grupo Controle, os animais do grupo Tratado apresentaram resultados que demonstraram sua maior capacidade de adequação ao desafios orgânicos impostos pela prova de vaquejada, se refletindo principalmente no aumento da den-sidade urinária por período mais prolongado (P < 0,05), ausência de elevação das proteínas plasmáticas totais ao longo dos períodos de avaliação (P > 0,05) e teste de prega cutânea em T3 com valores similares aos observados em T1 (P > 0,05). Foi possível concluir que a suplemen-tação eletrolítica

P A L A V R A S - C H A V E cavalo atleta, equilíbrio hidroeletrolítico, vaquejada.

Evaluation of the efficacy of electrolytes supplementation on dehydration related parameters in “vaquejada”horses

ABSTRACT

The goal of this study was to evaluate the influence of the oral electrolytes supplemen-tation in “vaquejada” horses on the clinical (cardiac and respiratory rate, rectal temperature, capillary refill time, and skin tent test) and laboratorial (hematocrit, total plasma proteins, and urinary density) parameters related to dehydration. Thirty horses were split into two groups, being one with no treatment (Control, n = 15) while the animals from the second group were treated with electrolytes oral supplementation (Treated, n = 15). Clinical evaluation and bio-logical sampling were performed in the horses during resting (T1), immediately after physical activity (T2), and four to five hours after physical activity (T3). Compared to Control, animals from Treated group presented better adaptation to the organic challenges induced by “vaque-jada”, with special reference to higher urinary density for a prolonged period of time (P < 0.05), the maintenance of total plasma protein throughout the evaluation time (P > 0.05), and reestablishment of the skin tent test in T3 similar to those observed in T1 (P > 0.05). It was concluded that oral electrolytic supplementation in “vaquejada” horses improves the organic response to dehydration.

K E Y W O R D S athlete horse, eletroctrolytes balance, “vaquejada”.

1 Prof. do Curso de Medicina Veterinária da U.E. Viçosa , Campus Arapiraca-

UFAL. Faz. São Luiz, s/n. Zona rural do Município de Viçosa. Viçosa-AL.

Autor para correspondência. E-mail: [email protected]

2 Médica Veterinária

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Avaliação da eficácia da suplementação eletrolítica sobre parâmetros

INTRODUÇÃO

A vaquejada é uma prática esportiva equestre bastante di-fundida na região Nordeste brasileira, tendo sido originada da lida em criações de gado e festas de apartação, sendo umarica representação da cultura sertaneja (Araújo et al., 2008). Esta prática é classificada como uma exercício de alta intensidade que exige elevada força física do cavalo no momento da derru-bada do boi (Lopes et al. 2009). Os exercícios de alta intensida-de caracterizam-se pela elevada atividade física em um período de curta duração,quando as respostas fisiológicas e bioquími-cas ocorrem de forma muito rápida, ativando nos primeiros segundos diferentes sistemas orgânicos (Silva, 2008).

A fisiologia do exercício em equinos estuda basicamente a resposta destes animais frente a atividade física e o quanto essas respostas podem ser modificadas e adaptadas através do treinamento (Evans, 2000), uma vez que nessa situação há um aumento na demanda energética do organismo para que haja a manutenção da atividade muscular (Silva, 2008).A produção do trifosfato de adenosina (ATP) visando a contração mus-cular (Reece, 2006) pode ocorrer a partir de vias metabólicas aeróbias ou anaeróbias, sendo que sua síntese sofre influência da velocidade e intensidade da demanda energética (Berge-ro et al., 2005). Independentemente da presença ou ausência de oxigênio durante o metabolismo, aproximadamente 25% da energia química (ATP) é traduzida em energia mecânica (contração muscular), sendo que o restante dissipa-se na forma de calor, resultando no aumento da temperatura corpórea do animal (Reece, 2006). Este calor armazena-se no tecido muscu-lar e no sangue, conduzindo a uma elevação da temperatura interna e, quandosob controle, conduz a um melhor desempe-nho muscular devido a sua influência positiva sobre a cinética enzimática (SchottII et al., 1991).

No entanto, trabalhos de elevadas intensidades, anaeró-bios e de períodos curtos podem aumentar a produção de calor excedente em 40 a 60 vezes quando comparado aos ní-veis basais (Reece, 2006), devendo o excesso térmico ser dis-sipadopara manutenção da homeostase.Para isso, os equinos apresentam quatro alternativas: radiação, condução, convecção e evaporação (Seppa, 2008), sendo a evaporaçãoa principal via de dissipação do calor (SchottII et al., 1991), o quepode ocasio-nar uma produção de suor da ordem de 10-12 litros por hora (Reece, 2006).Assim, a perda hídrica ocasionada pelo exercí-cio, associada a baixa ingestão de água, acarreta um desequi-líbrio hídrico, levando o animal a um quadro de desidratação (McConaghy, 1994; Hodgson, 2014), perdas hidroeletrolíticas, exaustão ou até mesmo óbito (Lacerda-Neto et al, 2003), uma vez que alterações nas reservas de fluidos e eletrólitos podem influenciar a habilidade de manutenção dos sistemas metabó-licos, principalmente em condições de sudorese intensa (Hin-chcliffe Geor, 2008).

Os eletrólitos orgânicos exercem diversas funções, todavia a principal é a manutenção das forças osmóticas e consequente-mente o equilíbrio de líquidos entre os compartimentos extra e intracelular (Fan et al., 1994).Os movimentos intercomparti-mentais de fluidos corporais possuem, dentre outras funções, a capacidade de auxiliar na manutenção da pressão e vasodi-

latação nos músculos em atividade (Muriel, 2006), sendo que ajustes hemodinâmicos sistêmicos e da excreção renal de sódio são mecanismos fundamentais para manter a normovolemia e a perfusão tecidual (Rose et al., 1980). Por fim, a redução e depleção dos estoques de fluidos orgânicos e/ou eletrólitos conduzem à desidratação (Hinchcliff e Geor, 2008).

Considerando-se o tipo de atividade física a que os equi-nos de vaquejada são submetidos e a escassez de informações sobre sua capacidade de adaptação ao desequilíbrio hídrico as-sociado, objetivou-se com esse trabalho avaliar a influência do uso de suplementação eletrolítica oral sobre parâmetros clíni-cos e laboratoriais relacionados a desidratação nesses animais.

MATERIAL E MÉTODO

O Presente estudo foi realizado em trinta equinos,clinica-mente hígidos, da raça Quarto de Milha e seus mestiços, com idade variando entre cinco e vinte anos e peso corporal entre 450 e 650 Kg,durante vaquejadas realizadas no estado de Ala-goas, sob aprovação do Comitê de Ética da Universidade Fede-ral de Alagoas (Protocolo n. 011/2013). Os animais foram dis-tribuídos em dois grupos, independentemente de sexo e idade, sendo que 15 animais não receberam suplementação eletrolíti-ca (Grupo Controle – idade média 15,7 anos), enquanto os ou-tros 15 animais receberam reposição eletrolítica oral (Booster JCR, Vetnil, Brasil; Grupo Tratado – idade média 16,1 anos). Durante todo o período de execução do experimento os ani-mais de ambos os grupos tiveram acesso a água e volumoso (feno de tifton) ad libitum.

Antes do início das provas, com os animais ainda em re-pouso (T1),foram aferidos a frequência cardíaca (FC, bat.min-1) através de auscultação,frequência respiratória (FR, mo-vimentos.min-1) através da observação do movimento abdo-minal, temperatura retal (TR, °C) com auxílio de termômetro de mercúrio mantido em contato com a mucosa retal durante três minutos, tempo de enchimento capilar (TEC, segundos) após pressão digital da mucosa oral, e o teste de prega cutânea (TPC, segundos) através da realização de tração moderada da pele no terço médio do pescoço.

Além disso, os animais foram submetidos a venopunção jugular com agulhas 40 × 12 e o sangue colhido foi armaze-nado em tubos coletores a vácuo contendo EDTA. Amostras de urina (aproximadamente 30 mL) foram obtidas através de micção espontânea. Após os devidos processamentos, foram determinados os valores dos seguintes parâmetros laborato-riais: hematócrito (HT, %) pelo método de microcentrifugação (100 rpm, 10 minutos, Micro Spin, Brasil), proteínas plasmáti-cas totais (PPT, g/dL) e densidade urinária (DU, g/dL), ambos por refratometria (Biobrix, Brasil). Imediatamente após quatro corridas (T2) e entre quatro a cinco horas após o final da ati-vidade física (T3) todos os animas foram novamente subme-tidos a aferição dos parâmetros clínicos e coleta de material biológico, como descrito para o momento T1. Vale ressaltar que os animais do grupo Tratado receberam a suplementação eletrolítica na dose total de 50g, sendo dividida em duas doses de 25g nos momentos T1 e T2.

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Diogo Ribeiro CÂMARA et al.

Considerou-se cada animal como uma unidade experi-mental e as variáveis utilizadas com propósito de comparação foram os resultados dos parâmetros clínicos (FC, FR, TR, TEC e TPC) e laboratoriais (HT, PPT e DU). Os dados obtidos foram submetidos a análise de variância e as diferenças obtidas foram comparadas com auxílio do teste de Tukey, estando apresenta-dos na forma de média ± DP. Para fins de comparação, conside-rou-se significantes probabilidades inferiores a 5,0%.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Durante a realização do presente estudo,foi observado um aumento significativo (P<0,001) na FC em ambos os grupos em T2 quando comparadoa T1 e T3, apresentando valores simila-res entre os grupos Controle e Tratado em cada tempo de ava-liação (P > 0,05). Esse mesmo padrão foi observado observado também para a FR e TEC (dados não mostrados). Os achados vão ao encontro dos relatos de Reece (2006), que afirmou que a frequência cardíaca máxima é obtida nas situações de exercício intenso, porém com rápido declínio após a finalização da ati-vidade física, sendo necessário também uma compensação do trato respiratório caracterizada principalmente pelo aumento da frequência respiratória, para que haja maior ventilação pul-monar e disponibilidade de oxigênio ao organismo do animal (Bacila, 2003).Em casos de exercício físico, a sudorese é uma resposta termorregulatória a elevada produção de calor nestes animais, e a perda de fluidos através desta resposta supracitada leva à desidratação animal, assim ocasionando o aumento do TEC, acordando com Leroux et al. (1995).

Em relação à temperatura corporal, foi observada elevação da temperatura retal no momento T2 em ambos os grupos, quando comparado a T1(P < 0,001), fato esse já esperado uma vez que a realização de atividade física está associada a uma

elevação da produção de calor endógeno (Jones et al., 2006).Vale ressaltar que no período T2 o grupo Tratado apresentou maior temperatura retal (P < 0,01) quando comparado ao gru-po Controle, mas após o período de descanso (T3) foi inferior ao do grupo Controle (P < 0,05) – Figura 1. A maior produção de calor nos animais do grupo Tratado em T2, quando compa-rado aos animais do grupo Controle, pode ser consequência de um melhor equilíbrio hidroeletrolíticofavorecendo o pro-cesso de contração muscular, comconsequente maior geração de energia térmica (Bacila, 2003), ao mesmo tempo que em T3 esse mesmo equilíbrio aparentemente permitiu uma maior dissipação de calor nos animais do grupo Tratado em relação aos do grupo Controle.

Independentemente do grupo, foi observada uma eleva-ção no TPC em T2 quando comparado a T1 e T3(P<0,001). Todavia, os animais do grupo Controle permaneceram com valores superiores em T3 quando comparado a T1 (P<0,001), enquantono grupo Tratado os valores observados em T3 fo-ram similares a T1 (P>0,05) o que indica que os animais que não receberam suplementação eletrolítica permaneceram com sinais de desidratação moderada mesmo quatro horas após a finalização da atividade física (Thomassian, 2005). Não foram observadas diferenças significativas para esse parâmetro entre tratamentos dentro do mesmo período de avaliação – Figura 2.

Durante a análise dos resultados do HT os animais do gru-po Tratadoapresentaram valores superiores em T2 e T3 quando comparado a T1 (P<0,01 e 0,05; respectivamente). Já no grupo Controle a elevação em relação a T1 foi significativa apenas em T2 (P < 0,01). Não houve diferença significativa entre trata-mentos dentro de um mesmo período de avaliação(dados não mostrados).Todavia, devido à grande capacidade de espleno-contração durante a atividade física na espécie equina e a não realização de exame que permitisse estimar o volume esplêni-co dos animais experimentais, fator diretamente relacionado à

Figura 1 - Temperatura retal (TR, °C; média ± DP) de equinos de vaquejada tratados ou não com eletrolítico quando em repouso (T1), imediatamente após quatro corridas (T2) e entre quatro e cinco horas após o fim da atividade física (T3).

Letras maiúsculas diferentes indicam diferença para o mesmo grupo entre períodos de avaliação (P < 0,001).

Letras minúsculas diferentes indicam diferença entre grupos para o mesmo período de avaliação (*P < 0,05; **P < 0,01).

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Avaliação da eficácia da suplementação eletrolítica sobre parâmetros

capacidade de liberação de glóbulos vermelhos na circulação sistêmica (Poole e Erickson, 2004; Lopes et al., 2009) pode ter influenciado os resultados obtidos.

Nos animais do grupo Tratados os valores das PPT se man-tiveram similares ao longo de todo o período de avaliação (P> 0,05). Por outro lado, foi observada uma elevação (P < 0,001) no grupo Controle em T2 quando comparado a T1 e T3, que foram similares entre si, não havendo diferenças entre grupos dentro do mesmo período (P > 0,05)– Figura 3.

Em relação a DUos animais do grupoControle apresenta-ram uma elevação apenas em T2 (P<0,01) quando comparado a T1 e T3, enquanto no grupo Tratado foi possível observar uma elevação em T2 e T3 quando comparado aos valores obti-dos em T1 (P < 0,05), não havendo também diferenças signifi-cativas entre grupos para o mesmo período (Figura 4).

Uma avaliação conjunta dos achados do presente estudo indica maior capacidade de equilíbrio hídrico dos animais que receberam a suplementação com eletrolítico oral, uma vez que o TPC e a TR retornaram a valores similares aos iniciais mais rapidamente quando comparado ao grupo Controle, sem estar

associado a um aumento da pressão oncótica. Considerando-se que na espécie equina a sudorese é a forma mais eficaz de dissi-pação de calor endógeno, mas que apresenta como consequên-cia a redução dos fluidos do compartimento vascular (Rose, et al., 1980; Andrews, et al., 1995),aparentemente as perdas de líquido advindas dessa termorregulação fisiológica foram compensadas poruma capacidade mais prolongada da resposta renal a perda de líquidos, como demonstrado pelos resultados da DU, uma vez que alterações nas concentrações de água e so-lutos nos fluidos corporais afetam o volume e a concentração de eletrólitos na urina (Hinchcliff e Geor, 2008).

CONCLUSÃO

A utilização de suplemento eletrolítico oral em equinos de vaquejada é recomendada uma vez que é capaz de auxiliar numa melhor resposta orgânica aos desequilíbrios hídricos as-sociados a atividade física e termorregulação.

Figura 2 - Teste de prega cutânea (TPC, segundos; média ± DP) de equinos de vaquejada tratados ou não com eletrolítico quando em repouso (T1), imediatamente após quatro corridas (T2) e entre quatro e cinco horas após o fim da ativida-de física (T3).

Letras maiúsculas diferentes indicam diferença para o mesmo grupo entre períodos de avaliação (P < 0,001).

Figura 3 - Valores das proteínas plasmáticas totais (PPT, g/dL; mé-dia ± DP) de equinos de vaquejada tratados ou não com eletrolítico quando em repouso (T1), imedia-tamente após quatro corridas(T2) e entre quatro e cinco horas após o fim da atividade física (T3).

Letras maiúsculas diferentes indicam diferença para o mesmo grupo entre períodos de avaliação (P < 0,001).

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Diogo Ribeiro CÂMARA et al.

AGRADECIMENTOS

Aos propeitários que permitiram a utilização dos equinos para realização da Pesquisa, ao Médico Veterinário Kleber Bar-ros Nunes, pela grande ajuda na seleção e procedimentos jun-to aos animais e a Vetnil pela doação dos suplementos orais.

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Figura 4 - Valores da densidade urinária (DU, g/dL; média ± DP) de equinos de vaquejada tratados ou não com eletrolítico quando em repouso (T1), imedia-tamente após quatro corridas (T2) e entre quatro e cinco horas após o fim da atividade física (T3).

Letras maiúsculas diferentes indicam diferença para o mesmo grupo entre períodos de avaliação (P < 0,001).

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Ciência Veterinária nos Trópicos, Recife-PE, v. 17, n. 1/2 p. 29-35 - janeiro/agosto, 2014

Indução de ovulações duplas utilizando baixa dose de deslorelina em éguasMarlon Vasconcelos AZEVEDO¹, Natalia Matos SOUZA¹, José Carlos FERREIRA-SILVA¹, Ilana Oliveira BATISTA¹, Felipe Augusto Boudoux Martins SALES¹, Marco Antonio ALVARENGA2, Marcos Antonio Lemos OLIVEIRA1, Paulo Fernandes LIMA¹

RESUMO

Objetivou-se induzir ovulações múltiplas em éguas utilizando baixas doses de acetato de deslorelina (GnRH) visando aumentar a eficiência reprodutiva nessa espécie. Foram utilizadas 15 éguas doadoras de embriões da raça Quarto de Milha, em sistema “cross over” 15 x 2 (quinze animais x dois tratamentos), no qual cada uma foi monitorada por dois ciclos consecutivos. No Grupo Controle (GC), o estro das doadoras ocorreu de forma natural e o desenvolvimento folicular foi monitorado por ultrassonografia. A ovulação foi induzida com 2500 UI de hCG por via intravenosa, quando o foliculo alcançou diâmetro de 35 mm, momento em que se pro-cedeu a inseminação artificial. No oitavo dia (D8) após ovulação, as doadoras foram submetidas aos procedimentos de colheita embrionária. No Grupo Tratado (GT), as doadoras receberam, por via intramuscular, 7,5 mg de dinoprost-trometamina e após 48 horas de sua administração foi realizado o monitoramento folicular duas vezes ao dia com auxilio de ultrassom, até que o maior folículo atingisse o diâmetro de 23 a 25 mm e o segundo ≥ do que 18 mm. Posterior-mente iniciou-se o protocolo de superovulação com a administração de 100 µg de GnRH em intervalo de 12 horas até que o maior folículo atingisse o diâmetro entre 33 de 35 mm. A ovu-lação foi induzida com 1000 µg de GnRH, por via intramuscular, associado a 1000 UI de hCG aplicado por via intravenosa. Imediatamente após a ovulação efetuou-se a inseminação artificial e a colheita de embriões realizada no D8. O percentual de éguas com ovulações múltiplas no GC foi de 13,33% (2/15) e no GT de 86,66% (13/15), havendo diferença (P<0,05). O número médio de embrião por doadora foi de 1,066±0,497 no GT e de 0,6±0,48 no GC, registrando-se diferença (P < 0,05). A porcentagem de embrião por ovulação foi de 52,94% no GC e 57,14% no GT, existindo diferença (P < 0,05). A porcentagem de embrião por lavado foi de 60,00% no GC e de 80,00% no GT, havendo diferença (P > 0,05). Os resultados permitem concluir que a administração de pequenas doses de GnRH favorece o crescimento dos folículos dominante e co-dominante, aumenta a incidência de ovulações múltiplas e a taxa de recuperação embrioná-ria por ciclo, contribuindo para aumentar a eficiência reprodutiva das doadoras de embriões.

P A L A V R A S - C H A V E embrião, GnRH, folículo

Double ovulation induction using low dose of Deslorelin in mares

ABSTRACT

The wok was aimed to induce multiple ovulations in mares using low doses of deslorelin acetate (GnRH) to enhance the reproductive efficiency. A total of 15 mares of the quarter horse breed were used as embryo donors in a “cross over” 15 x 2 experimental design (fifteen animals x two treatments), where animals were monitored for two consecutive cycles. On the control group (CG), the estrous of donors occurred on its natural form and follicular development was monitored by ultrasonography. Ovulation was induced with 2500 IU hCG intravenou-sly, when the follicle reached 35 mm in diameter, moment when artificial insemination was performed. On day 8 (D8) after ovulation, donors were submitted to embryo collection. On Treated Group 2 (TG), donors received, by intramuscular shot, 7.5 mg dinoprost thrometamine and after 48 hours of its administration follicular development was monitored twice a day by ultrasound, until the larger follicle reached 23 to 25 mm and the second follicle reached at least 18 mm. Moreover, a super-ovulation protocol was performed with 100 µg deslorelin in 12

1 Laboratório de Biotecnologia aplicada à Reprodução Animal. Departamento

de Medicina Veterinária/ Universidade Federal Rural de Pernambuco, Recife.

Brasil.

² Laboratório de Reprodução Animal do Departamento de Reprodução Animal e Radiologia Veterinária da Faculdade

de Medicina Veterinária e Zootecnia da Unesp-Botucatu, SP, Brasil

Autor para correspondência:[email protected]

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Indução de ovulações duplas utilizando baixa dose de deslorelina em éguas

INTRODUÇÃO

A equinocultura é uma atividade importante para a economia brasileira, gerando um faturamento total da ordem de R$ 7,3 bilhões, além de 641 mil empregos diretos, seis vezes mais do que a indústria automotiva e 20 vezes mais do que a aviação civil.

A transferência de embriões (TE) é uma biotécnica capaz de acelerar a disseminação de genes de animais de alto mérito zootécnico (SILVA, 2003). Com 43% de todas as TE mundial-mente realizadas, o Brasil ocupa papel de destaque ao lado da Argentina (29%) e dos Estados unidos (18%), conforme Stroud (2010).

Apesar desse volume de TE em equinos, a eficiência des-sa biotécnica permanece baixa quando comparada com a de outras espécies domésticas, nas quais a adoção de protocolos de múltiplas ovulações já está estabelecida (ALVARENGA et al., 2001; NISWENDER et al., 2003). A égua é de natureza mo-noovular e a indução da superovulação constitui-se num dos principais problemas a ser superado, além das taxas de recupe-ração embrionária serem inconsistentes e abaixo do esperado (SCHERZER et al., 2008).

A possibilidade de incrementar o número de ovulações na égua tem motivado diversos pesquisadores buscarem estabele-cer tratamentos hormonais alternativos visando aumentar efi-ciência da TE utilizando fatores liberadores de gonadotrofinas (GnRH), FSH suíno (FSH-p), FSH equino (FSH-e), gonado-trofina coriônica equina (eCG), imunização contra inibina e extrato de pituitária equina (SQUIRES, 1986; MCCUE et al., 1992; GINTHER e BERGELT, 1993; NISWENDER et al., 2003; SQUIRES e MCCUE, 2007).

Inicialmente a utilização do GnRH mostrou-se capaz de induzir ovulação durante o anestro sazonal de éguas (JOHN-SON, 1986/1987), todavia, na estação de monta, pareceu não induzir ovulações múltiplas (HARRISON et al., 1990/1991). Posteriormente, Ginther e Bergelt (1990) mostraram que o tratamento com baixa dose do análogo de GnRH por longo período é eficiente para aumentar o número de ovulações, mesmo fora da estação de monta. Do mesmo modo, estudo re-cente demonstrou que o tratamento com baixa dose de GnRH resultou em 85% de ovulações duplas por ciclo estral (NAGAO

et al., 2012). Diante do exposto, objetivou-se induzir ovulações múltiplas em éguas utilizando baixas doses de GnRH visando aumentar a eficiência reprodutiva nessa espécie.

MATERIAL E MÉTODOS

O trabalho foi realizado na Central Ilana Reprodução Equina, localizada no Município de Pombos, a uma latitude 08º08’29» sul e a uma longitude 35º23’45» oeste, a uma alti-tude de 208 metros, situada na Região Agreste do Estado de Pernambuco.

Foram utilizadas 15 éguas doadoras de embriões da raça Quarto de Milha, em sistema “cross over” 15 x 2 (quinze ani-mais x dois tratamentos), no qual cada uma foi monitorada por dois ciclos consecutivos. As éguas, selecionadas através de exame clínico ginecológico, encontravam-se em plena ativida-de reprodutiva, com idade variando de oito a 20 anos e peso corporal entre 450 e 550 Kg. Foram mantidas em baias indi-viduais e a alimentação constou de feno de Tifton (Cynodon spp.), água e sal mineral ad libitum, além de suplementação com 4 kg de ração comercial peletizada própria para equinos, fornecida duas vezes ao dia.

O acetato de deslorelina (GnRH) foi doado pelo Laborató-rio de Reprodução Animal do Departamento de Reprodução Animal e Radiologia Veterinária da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da Unesp-Botucatu, SP, Brasil. O Ve-tercor® (hCG) foi produzido pela Empresa Laboratórios Her-tape Calier e o Lutalyse (Dinoprost-trometamina) pela Pfizer, ambos comercialmente adquiridos.

A dinâmica folicular foi avaliada por ultrassonografia transretal com auxílio de ultrassom (Aloka 500 Japan) equi-pado com um transdutor linear de 5 MHz. O diâmetro dos maiores folículos foram determinados por média aritmética das duas maiores distâncias transversais do antro folicular em uma única imagem congelada no monitor do aparelho de ul-trassonografia conforme sugerido por Ginther (1986/1995).

No Grupo Controle (GC), o estro das doadoras ocorreu de forma natural e o desenvolvimento folicular foi monitorado por ultrassonografia. A ovulação foi induzida com 2500 UI de hCG por via intravenosa, quando o foliculo alcançou diâme-

hour intervals until larger follicle reached 33 to 35 mm. The ovulation was induced with 1000 µg deslorelin acetate, by an intramuscular shot, concomitant with 1000 IU hCG intravenously. Artificial insemination was performed immediately after ovulation and embryo collection was on D8. The percentage of mares with multiple ovulations on CG was 13.33% (2/15) and TG of 86.66% (13/15), with difference between groups (P < 0.05). The mean number of embryos per donor was 1.066±0.497 on TG and 0.6±0.48 on CG (P < 0.05). The percentage of embryos per ovulation was 52.94% on CG and 57.14% on TG, with difference between groups (P < 0.05). The percentage of embryos per flushing was 60.00% on CG and 80.00% on TG, with difference between groups (P > 0.05). The percentage of embryo recovery per flushing was 60% CG and 80% on TG (P<0.05). The results allow the conclusion that administration of small doses of GnRH enhances dominant and co-dominant follicular growth, increasing the incidence of multiple ovulations, embryo recovery rates per cycle and contributes to increase the reproduc-tive efficiency of embryo donors.

K E Y W O R D S embryo, GnRH, follicle.

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44 Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v. 17, no 1/2, p. 29-35 - janeiro/agosto, 2014

Marlon Vasconcelos Azevedo et al.

tro de 35 mm, momento em que se procedeu a inseminação artificial. No oitavo dia (D8) após ovulação, as doadoras foram submetidas aos procedimentos de colheita embrionária.

No Grupo Tratado (GT), as doadoras receberam, por via intramuscular, 7,5 mg de dinoprost-trometamina e após 48 ho-ras de sua administração foi realizado o monitoramento folicu-lar duas vezes ao dia com auxilio de ultrassom, até que o maior folículo atingisse o diâmetro de 23 a 25 mm e o segundo ≥ 18 mm. Posteriormente iniciou-se o protocolo de superovulação com a administração de 100 µg de deslorelina em intervalo de 12 horas até que o maior folículo atingisse o diâmetro entre 33 de 35 mm. A ovulação foi induzida com 1000 µg de acetato de deslorelina, por via intramuscular, associado a 1000 UI de hCG aplicado por via intravenosa. Imediatamente após a ovulação efetuou-se a inseminação artificial e a colheita de embriões rea-lizada no D8.

A análise estatística foi realizada utilizando o programa computacional InStat (GraphPad Software, Inc., 2000). Para os dados considerados normais foi utilizado a ANOVA e as múltiplas comparações, visando analisar quais grupos diferi-ram entre si, utilizou-se o teste de Tukey. Para os dados que não seguiram uma tendência normal foi utilizado o teste de Kruskal-Wallis. O tratamento estatístico foi delineado com ní-vel de significância para P < 0,05.

RESULTADOS

Nas doadoras que evidenciaram mais de uma ovulação no mesmo ciclo estral observou-se que as ovulações ocorreram em intervalo médio de 24 horas. O percentual de éguas com múl-tiplas ovulações foi significativamente diferente (P < 0,005) entre os grupos, verificando-se que o GT apresentou resultado mais expressivo do que o GC. Do mesmo o número médio de

ovulação por doadora obtido no GC foi inferior (P < 0,05) ao observado no GT. (Tabela1).

Registrou-se maior média (P < 0,05) de embriões por doa-dora no GT quando comparado com o GC. Do mesmo modo constatou-se que no GT ocorreu o maior percentual de em-brião por ovulação, bem como de lavados positivos em relação ao GC (Tabela 2).

No que concerne a dinâmica folicular do GC foi possí-vel observar que quando o maior folículo atingiu o tamanho superior a 25 mm, os demais, entre o terceiro e o quarto dia, entraram em atresia (Gráfico 1).

Na dinâmica folicular do GT observou-se que o folículo co-domimante manteve seu desenvolvimento de modo seme-lhante ao dominante, culminando com uma dupla ovulação (Grafico 2).

DISCUSSÃO

O tratamento com análogo de GnRH foi eficiente porque induziu maior número de dupla ovulação, quando comparado aos animais do GC, resultado também verificado anteriormen-te por Ginther e Bergfelt (1990) e por Nagao et al. (2012). Esse achado já era esperado tendo em vista que a égua apresenta característica monoovular e que a produção endógena de FSH não é capaz, normalmente, de estimular o desenvolvimento si-multâneo de mais de um folículo.

Além do GnRH, outras alternativas, como a utilização do Extrato de Pituitária Equina (EPE), vem sendo estudadas para induzir múltiplas ovulações na espécie equina, contudo, sem apresentar os mesmos resultados. Essa hipótese esta respalda-da nos resultados de Douglas (1979/1982), Farinasso (2004), Rocha Filho (2004), Carmo (2007) e Bonin (2011), os quais, utilizando baixa dose de EPE, obtiveram, respectivamente, por-

Grupo No de AnimaisOvulação por Doadora

Dupla n (%) ( ± s)

GC 15 13,33 (2/15)a 1,13±0,231a

GT 15 86,66 (13/15)b 1,86±0,23b

ab na mesma coluna indica diferença significativa (P < 0,05).

Embrião

Grupo No de AnimaisPor Doadora

± sPor Ovulação

%Por Lavado

%

GC 15 0,6±0,48a 52,94a 60,00a

GT 15 1,07±0,50b 57,14b 80,00b

ab na mesma coluna indica diferença significativa (P < 0,05).

Tabela 1 - Dados relativos a ovulação nos diferentes tratamentos.

Tabela 2 - Dados relativos ao embrião nos diferentes tratamentos.

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45Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v. 17, no 1/2, p. 29-35 - janeiro/agosto, 2014

Indução de ovulações duplas utilizando baixa dose de deslorelina em éguas

centagens de múltiplas ovulações da ordem de 75%, 77%, 31%, 84%, e 65%.

Em éguas submetidas a tratamentos superovulatórios é co-mum ocorrer falha de ovulação, desenvolvimento de folículos anovulatórios e folículos hemorrágicos ( DIPPERT et al., 1994; LAPIN e GINTHER, 1997), considerações não corroboradas neste trabalho, talvez em decorrência da qualidade do GnRH e da baixa doze aqui utilizada. Outra possível razão que pode explicar a não ocorrência desses fenômenos nesse trabalho é o fato das éguas não terem entrado no processo de “Down regu-lation”. Esse processo, segundo Irvine (1983), ocorre em várias espécies após a aplicação contínua de elevadas doses de GnRH, que inicialmente induz hipersecreção de gonadotrofina com dessensibilização da hipófise e posteriormente diminuição da liberação dessa gonadotrofina.

No que concerne aos valores médios de embriões produzi-dos por doadora, a média de recuperação embrionária do GC foi semelhante ao relatado por Alvarenga et al. (2008). Por sua vez, o aumento do número de ovulações no GT foi responsá-vel para que neste trabalho os resultados obtidos fossem mui-to próximo daqueles mencionados por Carmo et al. (2003) e

Bonin (2011) utilizando EPE nas doses, respectivamente, de 25 mg Bid e de 7,0 mg Bid, bem como de outros trabalhos com ovulações múltiplas que relatam a recuperação de 1 a 2 embriões por ciclo (DOUGLAS, 1979; WOODS e GINTHER, 1984; McCUE, 1996; MACHADO, 2003; FARINASSO, 2004). Do mesmo modo, Ginther (1992) relaciona aumento da taxa de ovulação com aumento do número de embriões recupera-dos.

Analisando o número de embriões recuperados por ovu-lação observa-se que o valor do GT foi maior do que o encon-trado no GC. Esse achado é semelhante aos 60% descrito por Woods e Ginther (1984) utilizando EPE. Por outro lado, mos-trou-se superior aos 49%, 43,2%, 30,2% e 26%, respectivamen-te, reportados por Alvarenga et al. (2001), Scoggin et al. (2002), Carmo et al. (2003) e Machado et al. (2003).

Apesar de duas éguas não responderem ao tratamento de superovulação, a taxa de recuperação embrionária por lavado foi também superior no GT, fato já esperado e que corrobora os dados de Ginther (1992) e Carmo et al. (2003). A taxa de recuperação embrionária por lavado obtida no GT foi superior aos dados reportados por Taveiros et al. (1999) e sem tratamen-

Gráfico 1 - Comportamento da dinâmica folicular das éguas do

GC durante o estro natural.

Gráfico 2 - Comportamento da di-nâmica folicular das éguas do (GT)

durante estro induzido. O Dia 1 é referente ao dia da aplicação do agente luteolítico e o Dia 3 dia ao

início do tratamento para dupla ovulação.

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46 Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v. 17, no 1/2, p. 29-35 - janeiro/agosto, 2014

Marlon Vasconcelos Azevedo et al.

to superovulatório, bem como ao de Guimarães et al. (2007) utilizando baixa dose de EPE e próximo do verificado por Ta-veiros et al. (2008) sem tratamento superovulatório.

O crescimento folicular médio ocorreu de forma si-milar tanto no GT quanto no GC, todavia, quando o maior folículo no GC atingiu a dominância (>25 mm), os demais fo-lículos diminuiram de diâmetro e entraram em atresia. No GT, o folículo co-dominante manteve o crescimento médio de 2,5 a 3,0 mm de diâmetro por dia, até os dois folículos chegarem a ovulação. Esse achado sinaliza que a utilização de GnRH não compromete o desenvolvimento folicular ovariano, fato pre-viamente relatado por Ginther (1986).

CONCLUSÕES

Os resultados permitem concluir que a administração de pequenas doses de GnRH aqui utilizadas favorece o cresci-mento dos folículos dominante e co-dominante, aumenta a incidência de ovulações múltiplas e a taxa de recuperação em-brionária por ciclo, contribuindo para aumentar a eficiência reprodutiva das doadoras de embriões na Região do Agreste de Pernambucano.

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47Ciênc. vet. tróp., Recife-PE, v. 17, no 1/2, p. 29-35 - janeiro/agosto, 2014

Indução de ovulações duplas utilizando baixa dose de deslorelina em éguas

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48

Ciência Veterinária nos Trópicos, Recife-PE, v. 17, n. 1/2 p. - janeiro/agosto, 2014

Uso de glutationa peroxidase e cisteína aos diluentes botu-sêmen® e ACP-105® na integridade de espermatozoides equinos refrigeradosVictor Netto MAIA¹, Felipe Costa ALMEIDA², Sildivane Valcácia SILVA³, Gustavo Ferrer CARNEIRO4, Pierre Castro SOARES4, Karen Mascaro Gonçalves da SILVA5, Maria Madalena Pessoa GUERRA4*

RESUMO

A finalidade deste trabalho é relatar a ocorrência de um caso de brucelose em égua Quarto de milha, doadora de embriões em um haras no município de Feira Nova – PE, enfocando-se as principais manifestações clínicas, métodos de diagnóstico, instituição ou não do tratamento e ações de controle e profilaxia.Uma égua, Quarto de Milha, 12 anos, mantida em baia a maior parte do dia e algumas horas em piquete exclusivo apresentou edema na região da cernelha com presença de abscesso, o qual apresentou cicatrização após tratamento local, seguida de recidiva dos sintomas. No histórico foram relatados abortamentos e nascimento de potros debi-litados, com peso corporal abaixo da média e sorologia positiva para Leptospira. Pelos sintomas optou-se pela colheita de amostra de sangue para realização do teste de triagem Antígeno Aci-dificado Tamponado (AAT) em laboratório credenciado.O teste de Fixação de Complemento (FC) confirmou o resultado positivo. Pelo valor comercial e uso como doadora de embriões, o proprietário optou pelo tratamento a base de estreptomicina e oxitetraciclina e drenagem do abscesso seguida de curativos diários. Como o animal não apresentou boa resposta ao tratamen-to foi sacrificado. Conclui-se que o sacrifício dos animais é o recomendado, pois nem sempre ocorre resposta satisfatória ao tratamento.

P A L A V R A S - C H A V E ACP-105®, Botu-sêmen®, antioxidantes, refrigeração.

Use of glutathione peroxidase and cysteine in Botu-Sêmen® and ACP-105® diluents on integrity of chilled equine spermatozoa

ABSTRACT

Aiming to study the effect of glutathione peroxidase (GPx) and cysteine (Cis) addition in Botu-Sêmen® and ACP-105® diluents on integrity of equine spermatozoa, semen samples were cooling (14 °C) and analyzed for total motility (TM), vigor, membrane integrity (iM) and acrosome (iAC), and mitochondrial membrane potential (MMP), after 0 (T0), 12 (T12) and 24 (T24) hours of cooling. Analysis of TM in T12 demonstrated that semen samples diluted in Botu-sêmen® (G1) and Botu-sêmen®+GPx+ Cis (G7) had higher (P<0.05) percentage than those diluted in ACP-105®+ Cis (G6). At T24, samples diluted in G7 had higher MT (P<0.05) than those in G2 and G6. Sperm vigor in T12 was higher (P<0.05) in samples diluted at G7 than in G2 and G6. At T24, the vigor of samples diluted G4 and G7 was higher (P<0.05) than in G2 and G6. No significant difference were observed to iM and MMP among groups, except to MMP at T0 was higher (P<0.05) in G1 than G7 and G8. At T24 the iAC parameter was higher (P<0.05) in the G6 than in G1. It can be concluded that GPx (5U) and Cis (5mM) in association preserves equine spermatozoa diluted in Botu-sêmen® at 14°C during 24 hours

.K E Y W O R D S ACP-105®, Botu-sêmen®, antioxidants, cryopreservation time.

1 UNINASSAU – Docente do Curso de Medicina Veterinária;

2 Médico Veterinário; 3 UFPB – Docente do Curso de

Biotecnologia; 4 UFRPE – Docente do Curso de

Medicina Veterinária; 5 Médica Veterinária.

*Autor para correspondência: [email protected]

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Uso de glutationa peroxidase e cisteína aos diluentes botu-sêmen® e ACP-105® na integridade de espermatozoides equinos refrigerados

INTRODUÇÃO

O sêmen de garanhões pode tolerar variação de tempe-ratura durante o armazenamento in vitro. Entretanto, tem-peraturas próximas a 0 ºC são prejudiciais à viabilidade dos espermatozoides desta espécie, quando o tempo de estocagem é prolongado. Assim, o uso de containers para transporte de sêmen pode ser utilizado por 22 horas, desde que a tempera-tura interna do dispositivo não seja reduzida a menos de 4 ºC (Vidament et al., 2012).

Diluentes à base de leite desnatado-glicose são eficazes em preservar a motilidade progressiva (MP) e o vigor espermáti-co durante 24 horas a 6-8 °C, resultando em boa capacidade de fertilização (Pugliesi et al., 2012), porém, hoje se busca por produtos que não sejam de origem animal e a água de coco tem se mostrado uma boa alternativa (Sobreira Neto, 2008). Na apresentação em pó, a água de coco (ACP-105®) proporcio-na as mesmas vantagens dos diluentes comerciais de origem animal (Silva et al., 2006).

Manipulação de sêmen equino durante o processo de res-friamento reduz a viabilidade espermática e fertilidade em consequência, dentre outros, da peroxidação dos lipídeos da membrana, devido ao alto teor de ácidos graxos poliinsatura-dos, que torna estas células altamente suscetíveis aos radicais li-vres e espécies reativas de oxigênio (ROS) (Cocchia et al. 2011). Estudos têm adicionado substâncias antioxidantes aos diluen-tes de criopreservação do sêmen, visando preservar a viabilida-de dos espermatozoides por mais tempo (Guerra et al., 2012).

A enzima glutationa peroxidase (GPx) converte o H2O2 em água pela oxidação da glutationa, protegendo os espermatozoi-des contra os efeitos das ROS (Maia et al., 2010). Cisteína, um antioxidante não enzimático, impede a peroxidação lipídica, tem a capacidade de penetrar nas membranas celulares (Bilo-deau at al., 2001) além de preservam alguns parâmetros cinéti-cos (Barros et al, 2013). Objetivou-se estudar o efeito da adição da glutationa peroxidase e cisteína aos diluentes Botu-sêmen® e ACP-105® na viabilidade de sêmen refrigerado de equinos.

MATERIAL E MÉTODO

Com exceção daqueles especificados no texto, os rea-gentes utilizados no experimento foram obtidos da Sigma Al-drich Co® (St. Louis, MO, USA).

Quatro Mangalarga Marchador, entre quatro e oito anos, clinicamente sadios, foram submetidos ao mesmo manejo nu-tricional e sanitário. O protocolo experimental foi aprovado pelo Comitê de Ética para Experimentação e Uso de Animais da Universidade Federal Rural de Pernambuco (CEUA/DMV 080/2008).

Os garanhões foram submetidos a colheitas de sêmen (n=3) com vagina artificial (modelo colorado; 42 ºC), a interva-los de 24 horas, totalizando 12 amostras, sendo utilizada égua em estro. Após colheita, procedeu-se a avaliação macroscópica (coloração, aspecto e volume) e microscópica (MT e vigor es-permático) (Mies Filho, 1987). Duas alíquotas (5 mL) de cada ejaculado foram diluídas (10 mL) em Botu-sêmen® (Biotech

Botucatu, Botucatu-SP, Brasil) ou ACP-105® (ACP Biotecnolo-gia, Fortaleza - CE, Brasil). A seguir, cada amostra de diluente + sêmen foi dividida para formar os grupos experimentais, de acordo com a adição de glutationa peroxidase (GPx; 5 U/mL de diluente) ou cisteína (Cist; 5 mM): G1= Botu-sêmen®; G2= ACP-105®; G3= Botu-sêmen®+GPx; G4= ACP-105®+GPx; G5= Botu-sêmen®+Cist; G6= ACP-105®+Cist; G7= Botu-sêmen®+-GPx+Cist e G8= ACP-105®+ GPx+Cist. Amostras de cada grupo foram colocadas em tubos de microcentrífuga (1 mL), acondicionados em duas caixas de refrigeração de sêmen (Bo-tu-Box®, Biotech Botucatu, Botucatu-SP, Brasil). Para controle da temperatura, um termômetro digital foi colocado em cada caixa. As amostras de sêmen foram submetidas à avaliação de MT, vigor, iM e iAc, e PMM, no tempo 0 (T0), 12 (T12) e 24 horas (T24) de refrigeração a 14 oC.

Nas análises com as sondas fluorescentes, um total de 200 células foi avaliado em microscópio de epifluorescência (Carl Zeiss, Göttingen, Germany) para cada teste e grupo. A análi-se da iM foi realizada e classificada pelo método de coloração dupla de acordo com Harrison e Vickers (1990). Para análise da iAc, utilizou-se IP e Isotiocíanato de Fluoresceína conju-gado a Peanut agglutinin (FITC-PNA; Barros et al., 2013). Os espermatozoides foram classificados como portadores de iAc, quando corados em verde fluorescente na região acrossomal, e reagidos, quando corados em verde fluorescente na região equatorial ou não apresentaram fluorescência verde. O PMM foi avaliado e classificado através do fluorocromo catiônico li-pofílico JC-1, segundo Guthrie e Welch (2006).

Os dados foram submetidos à análise de variância (Teste F) que separou como causa de variação o efeito de grupos e tempos de análise do sêmen. Nos casos de significância no tes-te F, as médias dos tratamentos foram comparadas pelo Teste de Duncan. Para avaliação de cada grupo em função do tempo, utilizou-se ANOVA e o teste de Tukey. Os dados foram analisa-dos no programa Statistical Analysis System (SAS, 2000), usan-do-se o procedimento GLM (General Linear Model) do SAS. Para todas as análises estatísticas foi adotado P<0,05. O modelo utilizado foi: Yij= G + T + GT + Eij, onde: Yij = valor observado; G = efeito dos grupos; T = efeito dos tempos; GT = Interação entre grupo x tempos; Eij = erro. Realizou-se, também, análi-se de correlação de Pearson para pares de variáveis do sêmen (Little e Hills, 1978).

RESULTADOS

Os ejaculados apresentaram, em média, volume de 40,4 mL, cor branca opalescente, aspecto leitoso a aquoso, motilida-de de 72,92% e vigor de 3,5.

Na Tabela 1 o PMM, em cada tempo, diferiu entre os gru-pos no T0h, com maior porcentual (P<0,05) de gametas com aPMM para o G1, em comparação ao G7 e G8. O G3 apresentou menor porcentual (P<0,05) no T12 em relação ao T0. O G1, G2, G5 e G6 apresentaram menores porcentuais (P<0,05) no T24 em relação ao T0.

No T12 a MT do G1 e G7 apresentaram maiores (P<0,05) percentuais do que G6. Com exceção do G6, todas as amostras

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Victor Netto MAIA et al.

diluídas em Botu-sêmen® preservaram mais a MT com valores acima de 30%, em comparação aos grupos em que se utilizou o ACP-105®, no T12 e no T24. No T24 amostras do G4 também pre-servaram a MT com valores acima de 30%. O G2, G3, G5, G6 e G8 apresentaram redução (P<0,05) da MT no T12, em relação a T0, enquanto que as amostras do G1 apresentaram redução (P<0,05) apenas no T24. No T12 o G7 apresentou maior valor (P<0,05) do que aquelas do G1 e G6. No T24, o G4 e G7 apre-sentaram maiores valores (P<0,05) do que aqueles observados no G2 e G6. As amostras G2, G4 e G6 apresentaram menores (P<0,05) valores no T12 do que no T0. No T12, valores de vigor acima de 3,0 foram observados no G1, G3, G4 e G7, enquanto que no T24 apenas as do G3, G4 e G7 (Tabela 2).

Não houve redução do percentual de gametas com iM. No T24 o G6 apresentou maior (P<0,05) porcentual com iAc do que do G1. G1 e G7 apresentaram redução dos porcen-tuais (P<0,05) de gametas com iAc no T24, em relação ao T0 (tabela 3).

Alta correlação (p<0,05) foi constatada da MT com vigor (r= 0,83022; p<0.0001) e aPMM (r= 0,70658; p<0,0001), assim como do vigor com o aPMM (r= 0,70357; p<0,0001). Obser-vou-se moderada correlação da MT com a iM (r= 0,39448; p<0,0001); do vigor com a iM (r= 0,39356; p<0,0001); do aPMM com a iM (r= 0,47289; p<0,0001) e a iAc (r= 0,34340; p<0,0001). Observou-se, ainda, que a iAc apresentou baixa correlação com MT (r= 0,15830; p<0,0743), vigor (r= 0,16194; p<0,0678) e iM (r= 0,13976; p<0,1156).

DISCUSSÃO

A média dos resultados obtidos na avaliação do sêmen no T0 foram considerados satisfatórios no que diz respeito aos pa-râmetros de MT, iM e PMM, visto que neste momento a célula ainda não sofreu estresse oxidativo, uma vez ser indispensável um período de tempo para que os espermatozoides produzam

ROS e determinem estresse oxidativo (Soares e Guerra, 2009).O diluente ACP-105® tem sido utilizado na criopreserva-

ção de sêmen de equinos, com resultados superiores aos de diluentes à base de leite (Raphael, 2007 e Sobreira Neto, 2008). Todavia, resultados insatisfatórios foram observados por Maia et al. (2010) ao utilizarem a água de coco como diluente de refrigeração a 5 ºC.

A refrigeração de amostras de sêmen diluídas em Botu-sêmen® e ACP-105® não preservaram a MT dos esperma-tozoides, embora Vidament et al. (2012) demonstraram tole-rância dos espermatozoides equinos à variação de temperatura positiva (5 a 15 ºC) durante o armazenamento por 22 horas ou mais, utilizando INRA 96. Animais podem apresentar sêmen classificado como viável no momento da colheita e após dilui-ção e redução de temperatura, estas amostras podem diminuir a viabilidade.

Nesta pesquisa foi observado que o uso do ACP-105® cau-sou redução acentuada da MT no T12, com exceção do G4, com porcentuais de gametas vivos acima de 30% até T24, ressaltando o efeito positivo da associação deste diluidor com a GPx, en-zima que atua na síntese de proteína, metabolismo e proteção celular (Meister e Anderson, 1983).

A água de coco é pobre em fosfolipídeos, assim como o leite desnatado. A proteção conferida pelo leite se baseia nas proteínas e carboidratos presentes em sua composição, sendo a caseína a proteína protetora da célula espermática (Bergeron e Manjunath, 2006). No entanto, os mecanismos de proteção da água de coco na célula espermática ainda não estão bem eluci-dados. Neste experimento, o uso do ACP-105® não promoveu a manutenção da MT em um período curto de tempo. Pode ser que a membrana plasmática do espermatozoide equino necessite se manter estável durante a redução da temperatura, uma vez que a transição da fase fluída para a fase gel tem início quando a célula espermática atinge a temperatura média de 20,7 ºC (Parks e Lynch, 1992), o que não foi conseguido no G1.

Amostras do G4 e G7 evidenciaram o efeito positivo da

Grupos ExperimentaisTempo de incubação (horas)

T0

T12

T24

Botu-Sêmen® 79,25±11,51Aa 64,71±10,65ab 45,08±26,19b

ACP-105® 76,29±11,87ABa 55,79±20,89a 45,50±22,74b

Botu-Sêmen®+GPx 73,58±11,98ABa 65,50±15,34b 57,75±22,14b

ACP-105®+GPx 69,46±19,87ABa 71,42±7,14a 58,63±19,97a

Botu-Sêmen®+Cist 70,46±13,18ABa 63,08±15,23ab 48,25±23,24b

ACP-105®+Cist 71,96±13,85ABa 53,33±16,41ab 47,13±18,98b

Botu-Sêmen®+GPx+Cist 65,46±10,48Ba 62,92±8,68a 56,79±23,68a

ACP-105®+GPx+Cist 63,88±13,74Ba 59,67±14,02a 45,96±19,07a

Cist = cisteína; Letras minúsculas distintas na mesma linha indicam P<0,05; letras maiúsculas distintas na mesma coluna indicam P<0,05.

Tabela 1 - Média ± desvio padrão de espermatozoides equinos diluídos em Botu-Sêmen® ou ACP-105®, suplementados com GPx (5 U) e ou Cisteína (5 mM), portadores de alto potencial de membrana mitocondrial durante 24 horas de incubação a 14ºC

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Uso de glutationa peroxidase e cisteína aos diluentes botu-sêmen® e ACP-105® na integridade de espermatozoides equinos refrigerados

adição de GPx em relação ao vigor no T24. Provavelmente isto resultou da presença do resíduo de cisteína contendo selênio covalentemente ligado, com ação no transporte de aminoáci-dos, síntese protéica, redução de cadeias de dissulfito e prote-ção contra ROS (Bertelsmann et al., 2007).

Os porcentuais reduzidos de gametas com iAc em todos os grupos no T0 podem ser explicados pelo fato de que em equinos, os padrões de motilidade e vigor espermáticos não são suficientes para classificá-los como bom reprodutor. No en-tanto, no T24 apenas as amostras do G1, G5, G6 e G8 apresen-taram porcentuais de células com iAc acima de 30%, mínimo para uso do sêmen na IA. Este resultado possivelmente está

relacionado com a técnica de análise, onde o corante se ligaria às lectinas, disponíveis em gema de ovo (Watson, 1995) ou no leite de soja (Bittencourt et al., 2008), não se ligando, priori-tariamente, ao acrossoma, por uma questão de biodisponibi-lidade. Uma hipótese é o fato da água de coco apresentar, em sua composição, o ácido 3-indol-acético (IAA), hormônio que atua no crescimento de vegetais e se liga a proteínas solúveis (Barbier-Brygoo, 1995). Esta associação do IAA às proteínas so-lúveis pode ter acarretado uma provável alteração do corante utilizado na técnica, já que o mesmo é de origem vegetal. O ajuste da técnica ao diluidor utilizado pode justificar a baixa correlação observada entre os resultados de MT, vigor e iM

Grupos Experimentais

Motilidade Total (%) Vigor (0-5)

Tempo de incubação (horas) Tempo de incubação (horas)

T0

T12

T24

T0

T12

T24

Botu-Sêmen® 65,00±13,48a 48,75±15,39Aab 35,00±21,21ABb 3,33±0,49a 3,17±0,39ABa 2,67±0,98ABCa

ACP-105® 47,50±15,74a 17,08±14,05ABbc 7,08±9,40BCc 3,25±0,75a 2,17±0,83Bb 1,42±1,00BCc

Botu-Sêmen®+GPx 64,58±15,29a 42,08±26,41ABbc 33,75±20,90ABCc 3,50±0,67a 3,00±1,13ABa 3,00±1,13ABa

ACP-105®+GPx 54,58±17,12a 36,00±22,71ABa 36,25±22,58ABa 3,50±0,67a 3,33±0,65ABb 3,42±0,67Ab

Botu-Sêmen®+Cist 56,25±16,67a 18,33±13,54ABb 14,17±14,59ABCb 3,50±0,90a 2,42±0,90ABab 2,08±1,16ABCb

ACP-105®+Cist 44,17±17,03a 8,33±6,51Bb 4,58±4,98Cb 3,42±0,79a 2,25±0,87Bb 1,58±1,51BCb

Botu-Sêmen®+GPx+Cist 57,08±18,64a 49,58±18,40Aa 39,58±20,50Aa 3,67±0,78a 3,58±0,51Aa 3,50±0,52Aa

ACP-105®+GPx+Cist 48,75±15,09a 23,75±10,25ABb 13,33±12,12ABCb 3,58±0,67a 2,92±0,79ABab 2,25±1,14ABCb

Cist = cisteína; Letras minúsculas distintas na mesma linha indicam P<0,05; letras maiúsculas distintas na mesma coluna indicam P<0,05.

Tabela 2 - Média ± desvio padrão da motilidade total (%) e vigor (0-5) de espermatozoides equinos diluídos em Botu-Sêmen® ou ACP-105®, suple-mentados com GPx (5 U) e ou Cisteína (5 mM), durante 24 horas de incubação a 14ºC

Tabela 3 - Média ± desvio padrão de espermatozoides eqüinos diluídos em Botu-Sêmen® ou ACP-105®, suplementados com GPx (5 U) e ou Cisteína (5 mM), portadores de membrana plasmática e acrossoma íntegros após 24 horas de incubação a 14ºC

Grupos Experimentais

Membrana plasmática íntegra (%) Acrossoma íntegro (%)

Tempo de incubação (horas) Tempo de incubação (horas)

T0

T12

T24

T0

T12

T24

Botu-Sêmen® 61,17±14,90 61,29±9,65 60,08±9,39 33,00±19,43a 20,79±16,23a 13,83±5,86Bb

ACP-105® 64,83±10,04 55,83±18,51 51,79±20,64 38,96±15,80a 28,38±10,05ab 31,67±14,61ABab

Botu-Sêmen®+GPx 69,25±14,94 62,38±14,81 57,79±15,66 29,58±14,30a 22,33±12,57ab 17,63±17,88ABab

ACP-105®+GPx 59,08±11,53 63,08±17,84 62,75±14,47 30,96±19,12a 25,83±17,38a 15,67±14,00ABa

Botu-Sêmen®+Cist 67,54±15,90 56,00±16,66 44,67±23,20 34,83±15,87a 30,88±14,07a 30,17±14,16 ABa

ACP-105®+Cist 65,58±12,10 57,25±24,20 48,42±25,23 39,83±20,98a 38,83±15,83a 37,75±15,91Aa

Botu-Sêmen®+GPx+Cist 66,67±13,86 66,17±16,68 59,50±7,61 36,83±17,41a 23,58±12,57a 16,42±15,54ABb

ACP-105®+GPx+Cist 63,75±10,44 56,88±19,15 57,50±19,70 40,33±14,38a 39,29±20,03a 33,25±16,83 ABa

Cist = cisteína; Letras minúsculas distintas na mesma linha indicam P<0,05; letras maiúsculas distintas na mesma coluna indicam P<0,05

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Victor Netto MAIA et al.

com os de iAc. Considerações metodológicas são importantes a fim de projetar um protocolo de confiança e reprodutível para o estudo da reação acrossômica.

As amostras de sêmen refrigerado apresentaram porcen-tuais elevados de gametas com aPMM até 24 horas, indicando preservação do metabolismo espermático e pouca produção de ROS na peça intermediária durante este período de armaze-namento. Podendo ser justificados pelo fato das mitocôndrias serem responsáveis pela produção de energia necessária para a manutenção do movimento (Watson, 1995). Comparando as análises, constatou-se alta correlação da MT com vigor e aPMM, assim como do vigor com o aPMM. Estes resultados evidenciam que, para esta espécie e nas condições deste expe-rimento, a MT e o vigor foram positivamente influenciados pelo aPMM, uma vez que ATPs são requeridos para manter a atividade metabólica da célula espermática (Pozzan e Rudolf, 2009), que no sêmen refrigerado mantém reduzida, porém ati-va.

Moderada correlação foi observada entre MT e iM, vigor e iM; aPMM e iM. Evidenciando que a célula pode apresentar motilidade sem necessariamente apresentar suas estruturas in-tactas, uma vez que durante os processos de criopreservação existem modificações estruturais nas membranas, ocasionando a criocapacitação, onde se observam células com aumento de motilidade, decorrente de alterações na membrana plasmática, e precoce reação acrossomal (Silva et al., 2009).

CONCLUSÕES

O diluidor ACP-105® não é uma alternativa eficiente para sêmen equino refrigerado, quando comparado ao Botu-sê-men®; O uso de 5U de GPx, em associação ao Botu-sêmen® ou ACP-105® e o uso de 5mM de cisteína, em associação ao Botu-sêmen® ou ACP-105® e GPx, preservam a viabilidade de espermatozoides equinos refrigerados a 14 ºC durante 24 ho-ras. Estudos do uso de diferentes tipos e concentrações de an-tioxidantes para sêmen nesta espécie são necessários.

AGRADECIMENTOS

À Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), pela concessão de bolsa; à Fundação de Amparo à Ciência e Tecnologia do Estado de Pernambuco (FACEPE) e ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Cien-tífico e Tecnológico (CNPq), pelo suporte financeiro.

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Uso de glutationa peroxidase e cisteína aos diluentes botu-sêmen® e ACP-105® na integridade de espermatozoides equinos refrigerados

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INTRODUÇÃO

A brucelose é uma doença infectocon-tagiosa crônica de potencial zoonótico e de distribuição mundial, causada por bactérias intracelulares facultativas pertencentes ao gênero Brucella (MOLNÁR et al., 2002). Nos ruminantes domésticos, suínos e cães, é con-

siderada uma doença da esfera reprodutiva (CORRÊA e CORREA, 1992), enquanto que em equinos os transtornos reprodutivos são raros (RIBEIRO et al., 2003).

Equinos podem se infectar por Brucella abortus, Brucella suis e Brucella melitensis, sendo que em nosso meio o principal agente etioló-gico é a Brucella abortus, devido à convivência

Brucelose em uma égua doadora de embriões: Relato de CasoFernando Souza FERNANDES¹; Adriana GRADELA².

RESUMO

O objetivo deste trabalho foi relatar a ocorrência de um caso de brucelose em uma égua Quarto de Milha, usada como doadora de embriões em um haras em Feira Nova - PE, com foco nas principais manifestações clínicas, métodos de diagnóstico, instituição de tratamento e de ações de controle e profilaxia. A égua, que tinha 12 anos de idade e era mantida em baia a maior parte do dia e algumas horas em piquete exclusivo, apresentou edema na região da cernelha com presença de abscesso, o qual apresentou cicatrização após tratamento local, seguida de recidiva dos sintomas. No histórico foram relatados abortamentos e nascimento de potros debi-litados, com peso corporal abaixo da média e sorologia positiva para Leptospira. Pelos sintomas optou-se pela realização do teste de triagem do Antígeno Acidificado Tamponado (AAT) em laboratório credenciado. O teste de Fixação de Complemento (FC) confirmou o resultado posi-tivo. Pelo valor comercial e uso como doadora de embriões, o proprietário optou por tratamen-to com estreptomicina e oxitetraciclina e, em seguida, a drenagem do abscesso e curativo local. Como o animal não apresentou boa resposta ao tratamento foi sacrificado. Conclui-se que o sacrifício de animais é recomendado, pois nem sempre é a resposta satisfatória ao tratamento.

P A L A V R A S - C H A V E Equino. Brucella. Antígeno Acidificado tamponado.

Brucellosis in an embryo donor Mare: case report

ABSTRACT

The aim of this study was to report the occurrence of a case of brucellosis in a Quarter Horse Mare, used as donor embryos at a horse farm in Feira Nova - PE, focusing on major cli-nical manifestations, methods of diagnosis, treatment and prophylaxis and control actions. The Mare, who was 12 years old and was kept at Bay most of the day and a few hours in exclusive picket, presented swelling at the withers with presence of abscess, which presented healing after local treatment, followed by recurrence of symptoms. In the historic abortamentos have been reported and birth of foals debilitated, with body weight below average and positive se-rology for Leptospira. The symptoms we opted for screening test Buffered Acid Antigen (AAT) in an accredited laboratory. The complement fixation test (CFT) confirmed the positive result. By market value and use as donor embryos, the owner opted for treatment with Streptomycin and Oxytetracycline and then drain the abscess and local bandage. As the animal has not sho-wn good response to treatment was sacrificed. It is concluded that the sacrifice of animals is recommended because it is not always a satisfactory response to treatment.

K E Y W O R D S equine, disease, Brucella, antibiotic

1 Egresso do Colegiado de Medicina Veterinária do Campus de Ciências

Agrárias da Universidade Federal do Vale do São Francisco – UNIVASF, Rod. 407

km 12 Lote 543, Projeto Nilo Coelho C1, 56300-000 – Petrolina – PE

2 Colegiado de Medicina Veterinária do Campus de Ciências Agrárias – UNIVASF

Autor para correspondência:[email protected]

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Brucelose em uma égua doadora de embriões: Relato de Caso

entre bovinos e equinos que propicia a infecção e a efemerida-de do problema (ACHA e SZYFRES, 2001; THOMASSIAN, 2005; RIET-CORREA et al., 2007). A brucelose equina merece preocupação em virtude da debilidade orgânica que provoca nos animais, pelos prejuízos decorrentes da eutanásia dos ani-mais infectados, além de constituírem fonte de infecção para outras espécies domésticas e, inclusive, para o homem (RIBEI-RO et al., 2003; RADOSTITS et al., 2007)

Sugere-se que a transmissão da brucelose equina ocorra principalmente pela ingestão de água e alimentos contami-nados por secreções provenientes do trato reprodutivo, como descargas vaginais, lóquios de abortos e restos placentários de fêmeas infectadas, especialmente de bovinos e suínos (ARAÚ-JO et al., 2009).

Na espécie equina, as lesões mais sugestivas da doença são representadas por inflamações de caráter purulento em bursas, ligamentos, tendões, sinóvias e articulações, preferencialmente na região da cernelha ou na espinha da escápula (bursite supra--espinhal), com presença ou não de fístulas (PAULIN, 2003), popularmente denominadas “Mal da Cernelha”, “Mal da Cruz”, “Bursite Cervical” ou “Abscesso de Cernelha” (RIBEIRO et al., 2003).

A grande maioria dos estudos soro epidemiológicos para brucelose têm sido realizados em bovinos, ovinos, caprinos, suínos e cães, com destaque para os ruminantes (GONZÁLEZ et al., 2006). O diagnóstico de rotina da brucelose equina é fundamentado nos achados clínicos e epidemiológicos, apoia-do nos exames laboratoriais subsidiários. Pode ser feito tanto pelo isolamento e identificação da bactéria (diagnóstico dire-to) como pela pesquisa da resposta imunológica à infecção (diagnóstico indireto) (CASTRO et al., 2005). Embora o isola-mento do microrganismo seja o método mais seguro, a dificul-dade deste procedimento e limitação para uso em grande es-cala torna os métodos sorológicos os mais utilizados (NIMRI, 2003). Apesar da disponibilidade de vários testes sorológicos, diferentes autores têm alertado para a ocorrência de reações inespecíficas e para a falta de padronização na interpretação dos métodos de sorodiagnóstico da doença em equinos. O exa-me bacteriológico é realizado a partir de material oriundo do conteúdo de abscessos de cernelha, ligamentos, articulações e, excepcionalmente, casos de abortamentos.O diagnóstico ine-quívoco é firmado a partir do isolamento da bactéria proce-dente das lesões cervicais (RIBEIRO et al., 2003).

O Antígeno Acidificado Tamponado (AAT) também co-nhecido como Card Test ou Teste de rosa de bengala, é um teste simples e rápido, que deve ser utilizado como teste de ro-tina por médico veterinário em laboratório oficial e credencia-do e, a presença de qualquer aglutinação, classificará o animal como regente ao teste. Animais não reagentes serão considera-dos negativos, e aqueles que apresentarem reação poderão ser submetidos a testes confirmatórios, como o teste do 2-Mercap-toetanol e teste de fixação do complemento, enquanto que os positivos serão destinados ao abate ou sacrifício. Outros mé-todos indiretos ou sorológicos empregados no diagnóstico da doença em equinos no Brasil são o teste de Soroaglutinação Lenta em Tubo (SAL) e o Ensaio Imunoenzimático – ELISA (LANGONI e SILVA, 1997; MATHIAS, et al., 1998).

Os títulos para Brucella abortusdevem ser superiores a 1:50 e, preferencialmente, maiores do que 1:100 ou 1:150 (REED e BAYLY, 2000). São considerados positivos os equinos sem sin-tomas clínicos, cuja titulação é igual ou superior a 1:100 e o título de 1:50 em animais portadores de bursites e fístulas de cernelha (SILVA et al., 2001).

O tratamento para a brucelose animal não é recomenda-do, pois, existe grande risco de insucesso, devido à presença intracelular da bactéria, que impede os antibióticos de alcan-çarem concentrações ótimas para eliminá-la (ACHA e SZY-FRES, 1989; RADOSTITS et al., 1994), além da manutenção do agente etiológico no ambiente, prejudicando o controle e erradicação da doença.

Thomassian (2005) indicou a associação entre estrepto-micina e tetraciclina por várias semanas, concomitante a dre-nagem cirúrgica e/ou excisões dos abscessos. Contudo, estes ensaios foram conduzidos em situações controladas, com pe-queno número de animais e não mostraram efetividade que justificasse a manutenção dos equinos tratados no plantel, ou mesmo os riscos para o homem no manejo dos animais trata-dos, permanecendo a recomendação de eutanásia para equinos com diagnóstico microbiológico e/ou sorológico de brucelose. Contudo, em casos muito especiais e considerando-se o grande valor individual, poderá ser tentado tratamento com estrepto-micina e terramicina, sob estrito controle veterinário. Porém, não há literatura suficiente para que se possam avaliar os pos-síveis resultados. O controle da cura deverá ser clínico e soro-lógico sendo feita soro-aglutinação rápida semestralmente, até que o título baixe a 25 UI e se mantenha em duas provas con-secutivas ou desapareça, e durante esse tempo, o equino será mantido em isolamento (CORRÊA e CORRÊA, 1992).

Não existem medidas específicas de controle e/ou profila-xia na brucelose equina. No Brasil, as ações estão voltadas ao controle da brucelose em bovinos e bubalinos, devido à maior prevalência da doença nestas espécies, à presença de normativa oficial de conduta do Programa Nacional de Controle e Er-radicação da Brucelose e Tuberculose (PNCEBT) e, também, ao fato de que a doença nos equinos é causada preferencial-mente por Brucellaabortus, que predomina nas infecções em bovinos e bubalinos. Por isso realiza-se a vacinação sistemática de bezerras entre três e oito meses de idade com vacina ate-nuada B19 para auxiliar o controle da brucelose em equinos, especialmente em propriedades nas quais ocorre a coabitação entre bovinos, bubalinos e equinos.A aquisição de equinos de propriedades livres ou não endêmicas para brucelose e a ado-ção de quarentena para animais recém-adquiridos também são procedimentos indicados no controle e na profilaxia. Na vi-gência de animais suspeitos, faz-se importante isolar o animal, submeter material clínico para o diagnóstico microbiológico e também fazer exames sorológicos. Na presença de animais com isolamento microbiano e/ou sorológico, recomenda-se a eutanásia dos animais em frigorífico ou abatedouro inspe-cionado, além de investigação soroepidemiológica de animais contactantes (RIBEIRO et al., 2008).

Na espécie equina os prejuízos econômicos decorrentes da brucelose são considerados inferiores quando comparados às outras espécies de interesse zootécnico, visto que são raros os

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Fernando Souza Fernandes et al.

transtornos reprodutivos nesta espécie (RIBEIRO et al., 2003).Apesar da baixa importância econômica nestaespécie, a doen-ça é preocupante em virtude da possibilidade desses animais serem potenciais hospedeiros, contribuindo para a introdução da doença em áreas indenes, bem como para sua manutenção onde ela ocorre de forma endêmica (ARAÚJO et al., 2009). Ressalta-se aqui que a presença desta enfermidade em uma região ou país resulta em custos diretos ou indiretos para as propriedades rurais e para indústria animal, tais como redu-ção no preço da carne, do leite e derivados; desvalorização dos produtos para o mercado externo, altos custos com pesquisas, programas de controle e erradicação (TEIXEIRA et al., 1998).

Portanto, a finalidade deste trabalho é relatar a ocorrência de um caso de brucelose equina, evidenciando sua epidemio-logia, principais manifestações clínicas, métodos de diagnós-tico, instituição ou não do tratamento e ações de controle e profilaxia.

RELATO DO CASO

Relata-se um caso de brucelose em um equino, fêmea, da raça Quarto de milha com 12 anos de idade, utilizada como doadora de embriões e manejada em sistema semiextensivo, em uma propriedade rural no município de Feira Nova, loca-lizada na mesorregião Agreste e na Microrregião Médio Capi-baribe do estado de Pernambuco. O clima é do tipo tropical chuvoso, com verão seco. A estação chuvosa se inicia em janei-ro/fevereiro com término em setembro, podendo se adiantar até outubro.

A propriedade possuía outros 76 equinos, sendo alguns criados a pasto e outros em confinamento. A fêmea deste re-lato era mantida em baia a maior parte do dia, porém passava algumas horas em piquete exclusivo. Durante a anamnese foi relatado pelo proprietário que o animal apresentou edema na região da cernelha, sensível à palpação, o qual foi drenado e submetido à limpeza diária até a cicatrização. Contudo, o ani-mal voltou a apresentar os sintomassendo necessária uma nova visita do Médico Veterinário. Foi relatado também episódios de abortamento e nascimento de potros debilitados, com peso corporal abaixo da média, além de sorologia positiva para lep-tospirose.

Ao exame clínico observou-se a presença de intensa infla-mação na região escapular, que à palpação mostrou-se disten-dida, endurecida, hiperêmica e com pontos de flutuação, que tendiam à abscedação de material purulento (Figura 1). Por ser um achado patognomônico de Brucelose, colheu-se amostra de sangue para envio ao laboratório credenciado para reali-zação do teste de triagem Antígeno Acidificado Tamponado (AAT), mantendo-se o animal isolado até o resultado. Para con-firmar o resultado positivo do teste AAT foi realizado o teste de Fixação de Complemento (FC).

Devido ao valor comercial e utilização como doadora de embriões, o proprietário optou pelo tratamento a base de es-treptomicina 11 mg/kg duas vezes ao dia, via IM, associada a oxitetraciclina 5 a 20 mg/kg diluída em soro e administrada lentamente, via IV; drenagem do abscesso e realização de cura-

tivo diário utilizando solução de clorexidine a 10 % e spray repelente. A duração do tratamento dependeria da resposta do animal e da remissão dos sintomas (cicatrização do abscesso e término da liberação da secreção purulenta). Como o animal não apresentou boa resposta ao tratamento foi sacrificado.

DISCUSSÃO DO CASO

Neste relato, o animal em questão apresentou caracterís-ticas comuns às en contradas nos casos de Brucelose descritos na literatura, representados por intensa inflamação na região escapular,com pontos de flutuação, que tendiam à abscedação de material purulento (CASTRO et al., 2005; THOMASSIAN, 2005). Estas lesões popularmente são denominadas de “mal da cernelha”, “mal da cruz”, “mal da nuca” ou “abscesso de cerne-lha” (VASCONCELLOS et al., 1987).

A evolução do quadro clínico, com remissão dos sintomas e posterior recrudescimento, concorda com Riet-Corrêa et al. (2003) e Thomassian (2005), que afirmaram que o período de incubação é variável, perdurando de uma semana até quatro meses, sendo a fase inicial de bacteremia extremamente fugaz na primo-infecção e os animais tornando-se assintomáticos por meses, até manifestarem tardiamente os processos lesio-nais.

Neste relato as lesõesnão evoluíramaté as apófises espinho-sas das primeiras vértebras cervicais e torácicas e nem até às articulações e tendões, discordando de Thomassian (2005) e Cohen et al.(1992), respectivamente.Também não foram ob-servados quadros de infecção generalizada, manifestados por febre intermitente, rigidez, letargia, inapetência e dificuldade de locomoção, geralmente secundários ao desenvolvimento de bursite cervical (RIET-CORRÊA et al., 2003).

Embora na espécie equina os abortamentos sejam rara-mente atribuídos à infecção pelo gênero Brucella(CASTRO et al., 2005), a presença de fístula de cernelha deve ser levado em consideração como fator de contaminação ambiental para ou-tras espécies domésticas, assim como para a infecção humana, uma vez que o conteúdo do exsudato é altamente rico em Bru-cellas viáveis (RIBEIRO et al., 2003).

O Programa Nacional de Controle e Erradicação da Bru-celose e Tuberculose (PNCEBT) bovina e bubalina deflagrado em 2001 regulamenta as metodologias diagnósticas, estraté-gias de controle e profilaxia, entre outros procedimentos em bovinos e bubalinos (Brasil, 2006). No entanto, não dispõe de normas detalhadas para a brucelose equina, o que dificulta, so-bremaneira, as ações de controle e profilaxia da doença nesta espécie. Em adição, a ausência de padronização e interpreta-ção dos métodos sorodiagnósticos na Brucelose equina gera dificuldades quanto à conduta sanitária na doença. Apesar da disponibilidade de vários testes sorológicos, diferentes autores têm alertado para a ocorrência de reações inespecíficas e para a falta de padronização na interpretação dos métodos de soro-diagnóstico da doença em equinos.

O material que foi submetido ao teste de triagem de AAT apresentou-se reativo, sendo necessária a confirmação pelo método de FC, o qual foi realizado em outro laboratóriocon-

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Brucelose em uma égua doadora de embriões: Relato de Caso

firmando a suspeita clínica de Brucelose. Optou-se pela rea-lização detestes indiretos de diagnóstico (testes sorológicos) ao invés de testes diretos (testes microbiológicos) por orien-tação do próprio laboratório que alegou risco de alterações na amostra durante o período de transporte e sensibilidade do microrganismo. A dificuldade de isolamento de Brucellaspp em determinadas lesões, a contaminação por microrganismos oportunistas (COHEN et al., 1992) e o uso empírico de anti-microbianos na terapia de animais infectados são fatores que podem limitar o diagnóstico direto da Brucelose equina ou mesmo contribuir para o subdiagnóstico na espécie (RIBEIRO et al., 2003; RADOSTITS et al., 2007), por isso o diagnóstico sorológico é o mais recomendado (ACHA e SZYFRES, 2003). Porém, segundo Vasconcellos et al. (1987), apesar da disponibi-lidade de vários testes sorológicos, diferentes autores assinalam a ocorrência de reações inespecíficas e a dificuldade de padro-nização de título sérico significativo de doença nesta espécie.

De acordo com Nielsen (1995), os testes sorológicos no diagnóstico da brucelose animal apresentam como peculiari-dades, simplicidade de execução, de interpretação, custo aces-sível, uso massal, boa sensibilidade e especificidade. A FC é considerada a melhor prova para a confirmação da Brucelose pelo sorodiagnóstico, mostrando a melhor correlação com os isolamentos em animais natural ou experimentalmente infec-tados. A prova do AAT substituiu o teste de soroaglutinação rápida que, apesar da boa sensibilidade, apresenta dificulda-des de interpretação em virtude das várias diluições do soro (NIELSEN et al., 2004).

Macmillan et al. (1990) relatam que outras bactérias Gram--negativas possuem constituição de parede bacteriana similar ao gênero Brucella, como Yersinia enterocolitica, Escherichia coli, Salmonella spp e Pseudomonas aeruginosa, e isso pode levar à resultados falsos positivos em testes sorológicos, como o AAT. Este fato levou a realização do teste de FC no caso relatado e RADOSTITS et al.(2007) reforça a importância de realizar o

diagnóstico diferencial para o parasita Onchocercacervicalis.Acha eSzyfres (2001) observaram que os equinos geral-

mente são infectados devido ao estreito contato com bovinos, o que não foi confirmado neste caso, pois não há coabitação entre estas espécies na propriedade. Embora a transmissão de um equino a outro seja rara, o animal foi mantido isolado do plantel.

O tratamento para a Brucelose animal não é recomenda-do, pois, existe grande risco de insucesso, devido à presença intracelular da bactéria, que impede os antibióticos de alcança-rem concentrações ótimas para eliminá-la (ACHA e SZYFRES, 1989; RADOSTITS et al., 1994), além da manutenção do agen-te etiológico no ambiente, prejudicando o controle e erradica-ção da doença. Contudo, pelo fato de não haver evidências su-gestivas de que os equinos sejam um reservatório de Brucelose em áreas endêmicas ou uma fonte de infecção importante para outros animais (ACOSTA-GONZALEZ et al., 2006) e, como a transmissão de um equino a outro é rara (ACHA e SZYFRES, 2001) e o valor do animal era grande, optou-se pelo tratamento à base de estreptomicina e tetraciclina, conforme indicado na literatura (THOMASSIAN, 2005). Como o animal não apre-sentou boa resposta ao tratamento foi sacrificado.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A Brucelose equina apresenta formas de manifestação ca-raterísticas e embora pouco comum e raramente relatada, é uma enfermidade observada em equinos, que leva a considerá-veis perdas econô micas por comprometer a vida reprodutiva e produtiva desses animais e os programas nacionais de controle e erradicação da doença em bovinos e bubalinos. A ausência de relatos e de padronização nos testes de diagnóstico na espécie equina tornam necessários a discussão dos métodos de diag-nósticos, para se evitar a ocorrência de reações inespecíficas e

Figura 1 - Abscesso em cernelha de égua quarto de milha, doadora de embriões, diagnosticada com brucelose pelo teste de fixação de complemento.

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Fernando Souza Fernandes et al.

a falta de padronização na interpretação dos métodos de soro-diagnóstico da doença em equinos.

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