Cinema e Literatura

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Cinema e Literatura Prof. Cristiano Leal

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Slide contendo técnicas usadas na transgreção entre cinema e literatura. Produzido pelo professor Cristiano Leal.

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Cinema e Literatura

Prof. Cristiano Leal

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Cinema e Literatura

De um modo geral, há coisas que estavam no romance e não estão mais no filme (Redução).

Há coisas que estão no filme e que não estavam no romance (Adição).

Há coisas que estão nos dois, porém, de modo diferente (Deslocamento, Transformação).

O que complica, porém, a relativa simplicidade do esquema é que essas reduções, adições e transformações acontecem em vários níveis que precisam ser distinguidos.

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Cinema e Literatura Cortar passa a ser praticamente obrigatório na

adaptação, o que já é feito na etapa pré-fílmica chamada de roteirização.

A roteirização é a primeira forma não-literária que um romance, ou peça, adquire, antes de virar imagem cinematográfica.

Normalmente num roteiro já estão feitos os cortes sobre o texto original, embora no ato da filmagem, ou se for o caso, na montagem, o diretor possa operar outros tantos cortes que julgue necessários para a viabilidade do filme. Essa é a Redução.

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Cinema e Literatura Menos freqüente que a redução, a Adição tem

um papel decisivo no processo adaptativo, dando ao filme a sua essência de obra específica.

Assim é que, em muitos casos, um elemento inexistente no livro é adicionado ao filme para compensar efeitos verbais perdidos em outras instâncias.

em Uma rua chamada pecado, na cena em que Kowalski estupra Bianche Dubois, a câmera se retira do recinto do estupro para mostrar uma mangueira desgovernada esporrando água sobre a rua, cena que não existe na peça em que foi baseado o filme.

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Cinema e Literatura No Deslocamento, tanto no romance quanto no

filme, os elementos são os mesmos, só que postos em outra ordem.

Não é nada incomum que uma cena intermediária no tempo da estória do romance, seja antecipada para o começo do filme, ou simplesmente, postergada para perto do seu final.

Às vezes os elementos deslocados são apenas trechos dos diálogos, ou meramente palavras, ou se for o caso, uma única imagem, mas de todo jeito a remontagem influi grandemente na composição do filme e na sua significação final.

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Exemplo de Deslocamento: Em Lolita, de Stanley Kubrick, adaptação do

romance homônimo de Nabokov, o desenvolvimento dos acontecimentos é invertido e a estória do filme começa pelo final, com o assassinato de Quilty, sem contar que o ponto de vista narrativo é mudado de onisciente para limitado.

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Cinema e Literatura Entre cortar, adicionar e deslocar, fica um

procedimento mais sutil, ao mesmo tempo mais genérico, mas também mais difícil de caracterizar, que aqui estamos chamando, por conta própria, de Transformação.

Na maior parte das vezes ele consiste em dar aos recursos verbais da literatura uma forma não-verbal, icônica, cinematográfica.

Como acontece com a tradução de um texto para uma língua estrangeira, a adaptação implica perdas inevitáveis e, em muitos casos a transformação procura compensar essas perdas com recursos substitutivos.

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Cinema e Literatura Em Lolita, Kubrick escolhe matar Quiltry entre quadros de

pintores famosos fazendo uma metáfora da crueldade das artes que, em termos plásticos, não seria viável dentro dos códigos verbais do romance.

Em Razão e sensibilidade, Ang Lee "transforma" a moça feita Margareth numa garota pequena e, com isso, consegue arrancar muito mais humor de suas travessuras, compensando de algum modo as perdas da ironia no discurso de Austen.

Amor sublime amor (West Side story) de Robert Wise, reconta, em estilo musical, a estória de Romeu e Julieta numa Nova York de 1960, onde as famílias Capuleto e Montequio se transformam em duas gangues de rua, e até os protagonistas têm nomes diferentes, ainda que o esqueleto de enredo seja o mesmo.

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Cinema e Literatura Nem sempre as transformações são óbvias. Em

muitos casos, como em alguns dos citados, elas são micro-estruturais e subreptícias e precisam de atenção para serem detectadas e avaliadas.

Quando um personagem masculino no romance vira feminino no filme, ou quando uma paisagem rural passa a ser urbana, ou quando a profissão do protagonista muda de arquiteto para tenista, tais mudanças dão na vista.

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Cinema e Literatura Como uma variação da transformação

propriamente dita, o procedimento em estudo pode ser de Simplificação, ou, ao contrário, de Ampliação.

Não é raro que dois ambientes de um romance sejam, no filme, “resumidos" num único cenário, que passa a ter as qualidades ou ressonâncias semânticas dos dois originais. (Simplificação)

Ou inversamente, pode acontecer de um personagem muito complexo no livro ser desdobrado em, digamos, dois no filme. (Ampliação)

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Simplificação: No livro de Graciliano Ramos, Fabiano vai à cidade em duas ocasiões completamente diferentes, uma vez sozinho, outra vez com a família, e contudo, no filme de Nelson Pereira essas duas visitas se resumem numa única.

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Cinema e Literatura Ampliação: no filme A última tempestade, de Peter

Greenaway, que adapta a peça A tempestade, de Shakespeare.

O enredo, como quase sempre no gênero teatral, nos chega pelas palavras dos personagens, pouco objetivas e empanturradas de figurações, onde se atropelam metáforas, metonímias e figuras de toda ordem.

A operação da adaptação aqui consistiu em, sistematicamente, simplificar o enredo e, ao mesmo tempo, ampliar as figurações, de tal modo que, de repente, o tempo e espaço de tela despendido com, digamos, uma simples metáfora é dez vezes maior que os dedicados a todo um episódio da estória.

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OPERAÇÃO Descrição

REDUÇÃOElementos que estão no texto Literário (romance, conto ou peça) e que não estão no filme.

ADIÇÃOElementos que estão no filme sem estar no texto literário.

DESLOCAMENTOElementos que estão em ambos, filme e texto Literário, mas não na mesma ordem cronológica, ou espacial.

TRANSFORMAÇÃO PROPRIAMENTE DITA

Elementos que, no romance e no filme, possuem significados equivalentes, mas em configurações diferentes.

SIMPLIFICAÇÃOTransformação que, no filme, diminui a dimensão de um elemento que, no romance, era maior.

AMPLIAÇÃOTransformação que, no filme, aumenta a dimensão de um ou mais elementos do romance.

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Conclusão

Ao contrário da crença comum, o filme adaptador, se bem realizado, não depende do texto literário adaptado.

Se porventura a comparação pode lançar luz sobre os dois – e esse é o pressuposto neste ensaio – por outro lado, cada um, texto literário e filme, constitui uma obra autônoma que funciona, ou deveria funcionar, sem a muleta do outro.