CITAÇÃO E ATRIBUIÇÃO DE AUTORIA NO TWITTER: UM ESTUDO COM BASE NA LITERATURA NO MICROBLOG

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CENTRO FEDERAL DE EDUCAÇÃO TECNOLÓGICA DE MINAS GERAIS Raquel Graciele Camargo CITAÇÃO E ATRIBUIÇÃO DE AUTORIA NO TWITTER: UM ESTUDO COM BASE NA LITERATURA NO MICROBLOG Belo Horizonte (MG) 2011

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Twitter, literatura e outros conceitos se encontram na presente pesquisa de mestrado.

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CENTRO FEDERAL DE EDUCAÇÃO TECNOLÓGICA DE MINAS GERAIS

Raquel Graciele Camargo

CITAÇÃO E ATRIBUIÇÃO DE AUTORIA NO TWITTER:UM ESTUDO COM BASE NA LITERATURA NO MICROBLOG

Belo Horizonte (MG)

2011

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Raquel Graciele Camargo

CITAÇÃO E ATRIBUIÇÃO DE AUTORIA NO TWITTER:UM ESTUDO COM BASE NA LITERATURA NO MICROBLOG

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação Stricto Sensuem Estudos de Linguagens do Centro Federal de EducaçãoTecnológica de Minas Gerais – CEFET-MG, como requisito parcial àobtenção do título de Mestre.

Área de Concentração: Letras – Estudos de Linguagens

Orientador: Prof. Dr. Rogério Barbosa Silva

Belo Horizonte (MG)

2011

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Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas GeraisPrograma de Pós-Graduação em Estudos de Linguagens

Dissertação intitulada “Citação e atribuição de autoria no Twitter: um estudo com base na

literatura no microblog”, de autoria da mestranda Raquel Graciele Camargo, aprovada pela

banca examinadora constituída pelos seguintes professores:

____________________________________________________

Prof. Dr. Rogério Barbosa Silva- CEFET/MG- Orientador

____________________________________________________

Profª. Dra. Andréa Soares Santos – CEFET-MG

____________________________________________________

Profa. Dra Ana Elisa Ferreira Ribeiro – CEFET-MG

____________________________________________________

Prof. Dr. Paulo Cezar Santos Ventura – CEFET-MG

Belo Horizonte, 31 de outubro de 2011

Avenida Amazonas, 5253. Belo Horizonte, MG. – 30.421-169 – Brasil – Tel (31) 3319-7139

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Agradeço a minha família, amigos (os mais íntimos, os mais antigos, os mais

novos e, claro, aqeles da internet, que tanto me ensinam) pela paciência, compreensão e apoio.

Aos amigos, como Rafael Sancho e Ludmila Murta, pelo exemplo a ser seguido, e aos outros

inúmeros amigos especiais por darem contribuições especiais e diárias.

Agradeço aos meus avós, Hercília e Cândido (in memorian), minha mãe,

Clemilda, pai, Elisson, tios e tias pelo incentivo a este trabalho e aos estudos. Aos irmãos e

primos pela amizade.

Ao CEFET pelo auxílio estrutural, pedagógico e financeiro. A todos os professores

do Posling, pelos aprendizados, livros e até mesmo amizades conquistadas. Principalmente ao

Rogério Barbosa, pelo apoio e calma no papel de orientador, Adriano Machado, do

PPGMMC, pela vontade de unir os conhecimentos das exatas ao estudo, e Ana Elisa Ribeiro,

pela inspiração acadêmica.

A todos que passaram pelo meu caminho (inclusive os virtuais, como minha

timeline do Twitter e do Facebook), com quem troquei informações e ideias e me ajudaram a

amadurecer e construir o estudo.

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“Nada dura e, no entanto nada passa, tampouco. E

nada passa justamente porque nada dura”.

Philip Roth (2002)

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RESUMO

O presente trabalho propõe um estudo da plataforma de publicaçõesmais conhecida como microblog, Twitter, como espaço de publicaçõesliterárias. Pretende-se entender como o suporte tem sido usado parapublicar textos literários em seus mais diversos gêneros, e como temsido explorada a interação e demais recursos oferecidos pelaplataforma neste aspecto. Todas essas ações invocam questionamentossobre usos de redes sociais, noção de autoria e o status da literaturanos tempos atuais. Acredita-se na hipótese de que, embora váriasexperiências literárias tenham sido criadas e adaptadas ao microblog(tendo publicações acomodadas em até 140 caracteres), o Twitter nãoseja um meio de publicação propício para textos longos e contínuos,uma vez que a ordenação cronologicamente inversa das mensagensatrapalha a compreensão do sentido em seu todo. No entanto, seu usoneste contexto potencializa a literatura e seu acesso. Nesta pesquisa, aanálise de alguns casos e uma pesquisa quantitativa relacionam anoção de autoria às teorias discutidas, e levam a pesquisa a umareflexão sobre o comportamento do usuário na plataforma.

Palavras-chave: Twitter, literatura, hiperliteratura, mídias sociais

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ABSTRACT

The present work proposes a study of the publication platform bestknown as the microblog, Twitter, as a space for literary publications.It is intended to understand how it has been used to publish literarytexts in their different styles, and how its interaction and other offeredresources have been used. All these actions evoke questions about theuse of social nets, notions of authorship and literature status in presentdays. It is believed that, although many literary experiments have beencreated and adapted in the microblog ( publications have themaximum of 140 characters ) , Twitter is not an appropriatedpublishing mean for long and continuous texts, once the inversedchronological order of the messages disrupts their understanding.However, in this context its use creates a potential to literature and theaccess to it . The analysis of some cases and a quantitative researchrelate the notions of authorship to discussed theories and inducethinking about user´s behavior in the platform.

Key words: Twitter, literature, hiperliterature, social media

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES

FIGURA 1 - Ranking de usuários do Twitter por país ............................................................................ 39

FIGURA 2 - Mensagens mais recentes retiradas do site Blablabra ......................................................... 41

FIGURA 3 - Pesquisa Sysomos sobre reações geradas por tweets ......................................................... 43

FIGURA 4 - Alunos do 7º e 8º anos do colégio HUGO SARMENTO escrevem micro contosinspirados no twitter Sem Ruído ......................................................................................... 46

FIGURA 5 - Estatísticas sobre atualizações do Twitter ........................................................................... 53

FIGURA 6 - Exemplo de "retweets" ........................................................................................................ 54

FIGURA 7 - Imagem do perfil do Twitte r que originou mensagens retweets ..............................................55

FIGURA 8 - Imagem de perfil do Twitter que retwittou a mensagem de Millor Fernandes ...........................56

FIGURA 9 - Tweet divulgando post de blog ............................................................................................ 71

FIGURA 10 - Interatora usa o link, menciona a fonte, mas recria o texto ................................................... 72

FIGURA 11 - Twee t que originou o "meme" .............................................................................................. 74

FIGURA 12 Inúmeras frases sendo atribuídas erroneamente à Clarice Lispector devido ao "meme" ...........75

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LISTA DE TABELAS

1 - "Microsintaxe" do Twitter .............................................................................................. 69

2 - Formas de atribuição de autoria no Twitter ....................................................................70

3 - Relação de comportamento de escritores no Twitter em 2011 .........................................78

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

@ Arroba, sinal usado para referência de algum outro usuário do Twitter

API Application Programming Interface

CEFET-MG Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais

CD-ROM Compact Disc Reading Only Memory

TIC Tecnologias da Informação e Comunicação

RT Retweet , reenvio de uma mensagem do Twitter

WWW World Wide Web (Rede Mundial de Comunicação)

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................... 121.1 Itinerário da dissertação ................................................................................................... ...... 131.2 Objetivo ................................................................................................................................. 16

2 LEITURA E INTERNET .................................................................................................... 192.1 Leitura e Escrita no Twitter .................................................................................................... 242.2 Tecnologia na literatura e vice-versa ...................................................................................... 29

3 O SUPORTE, A HIPERTEXTUALIDADE, A LITERATURA E O TWITTER ............ 363.1 Sobre o suporte, Twitter, e seus desdobramentos ................................................................... 40

4 A "TWITTERATURA" .............................................................................................................48

5 O POTENCIAL DA AUTORIA .................................................................................................515.1 Tautismo cibernético ................................................................................................................ 635.2 O nome do autor na obra ..................................................................................................... ..... 68

6 A ATRIBUIÇÃO DE AUTORIA NO TWITTER ................................................................... 72

7 CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................................................................... 85

REFERÊNCIAS ................................................................................................................. .... 89

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1 INTRODUÇÃO

O ato de digitar em um objeto revestido de inúmeros circuitos elétricos, ou seja,

num teclado, permitiu a materialização desta pesquisa. Por outro lado, a mistura de técnicas e

tecnologias, como a linguagem, os formatos acadêmicos, os livros, os discursos, as conversas,

a internet, o computador, o celular, entre tantos outros, tornou-se a matéria prima do conteúdo

aqui presente. Na verdade, essa é a matéria prima de praticamente tudo que temos atualmente

em termos de comunicação, principalmente em se tratando do tema “arte”. Seja a pintura, a

fotografia, a dança, a música, a literatura ou outras formas da arte à escolha: todas passam,

desde o seu “nascimento”, por mudanças em sua história, sofrem novas influências e adquirem

outros usos. Isso tudo é inovação, não necessariamente evolução, mas essas mudanças no

campo da cultura também influenciam tecnologias e nos obrigam, dessa maneira, a novas

interpretações desses mesmos fenômenos culturais e artísticos no contexto tecnológico.

Ao nos lembrarmos da tecnologia, é preciso ter em mente que este termo é usado

constantemente fazendo referência a dispositivos e aparelhos. De fato, aparatos como tablets e

smartphones representam o “moderno” e, por conseguinte, constituem a última novidade

tecnológica. Porém, assim o são, tal como o fax, a máquina de escrever, o lápis ou uma caneta

também já representaram a tecnologia de ponta. Cabe-nos, então, explicitar o conceito a que

nos remete a palavra tecnologia quando empregado neste trabalho. Sendo assim, adotamos o

sentido de “tecnologia” proposto por Álvaro Vieira (2005), isto é, aquele que nos permite ver

o tema como uma teoria da técnica, como um campo teórico, que é o de ênfase à

ideologização da técnica. Este filósofo estuda a técnica como a representação de um aspecto

qualitativo de um ato humano que, necessariamente, esteja inserido em um contexto social, o

que, consequentemente, confere sentido a uma produção tecnológica: “Jamais seria possível

separá-la (a técnica) do homem e muito menos estabelecer conflito entre ambos, pois tal

confusão instalaria a contradição e a irracionalidade no íntimo do existente humano” (VIEIRA

PINTO, 2005, p. 349).

Para estudarmos qualquer aspecto da cultura, precisamos passar pela análise das

técnicas envolvidas. É inevitável pensar em cultura desconsiderando a influência da sociedade

da informação atualmente. Com base nisso, faz-se relevante a discussão que relacione a

influência das novas tecnologias digitais na transformação da arte e da cultura

contemporâneas.

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Para chegar à motivação do presente trabalho e discutir temas a respeito desse

universo de literatura e internet, interesses pessoais foram somados a algumas oportunidades

acadêmicas. Tendo já experiência como usuária com a plataforma Twitter (desde outubro de

2007), somada à percepção de que as redes sociais são tema de grande interesse e relevância

social, foi observada a carência de trabalhos relacionando o tema ao contexto literário. É

muito frequente encontrarmos pesquisas no âmbito do jornalismo, da publicidade, do

marketing, mas, infelizmente, isso é mais raro quando se trata de enfocar o aspecto mais

cultural. Esta tendência de tratar o tema apenas pelo viés das tecnologias de comunicação

pode ser verificada por esta pesquisadora, uma vez que em sua graduação encerrou o período

com uma monografia fazendo análise dos processos interativos comparados aos blogs e

Twitter. Nessa ocasião, o estudo dava atenção aos processos e recursos interativos do

microblog, apenas, através de um olhar simplesmente funcional.

Após a análise crítica desse ambiente acadêmico, surgiu a ideia de investir estudos

dando atenção a um foco diferente do que foi usado na pesquisa monográfica. Desta vez, a

ideia é estabelecer reflexões sobre o lugar do texto literário nas redes sociais, ao mesmo tempo

incentivando o entendimento do seu papel nas trocas interculturais. Aqui, o objetivo é

entender melhor o comportamento do usuário que aos recursos interativos.

Para isto, aqui estão concentrados conteúdos relacionados à literatura e ao que têm

sido chamados pelos usuários do microblog de “twitteratura”. Para entender melhor a estrutura

da presente pesquisa, adentramos com o itinerário de capítulos.

1.1 Itinerário da dissertação

No capítulo 1, trazemos reflexões sobre as relações históricas e teóricas entre a

leitura e a internet, despertando a trajetória do texto na tela e as potencialidades do

ciberespaço, tais como a interação e a possibilidade de hibridização de mídias.

Apresentamos também uma discussão a respeito da leitura e da escrita

especificamente no objeto de pesquisa, o Twitter. Dessa vez mostramos de forma um pouco

mais aprofundada como as potencialidades da internet, descritas nos parágrafos anteriores,

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também fazem sentido no Twitter e são ainda mais promissoras devido às características

próprias de emissão de informações. A história do microblog também é apresentada para que

seja mais simples entender o objetivo da ferramenta e sua evolução, tal qual o comportamento

do usuário dentro do espaço em questão. Além disso, elencamos pesquisas que tratam de

alguma forma o microblog com olhar teórico. É neste tópico que começamos a adentrar no

que é a “twitteratura”. Ali, entende-se mais sobre as características do site e a sua relação com

a literatura.

No segundo capítulo, abordamos a técnica e a linguagem, destacando as suas

ambivalências. Neste momento aprofunda-se na discussão teórica e filosófica do termo

“tecnologia” com base em autores como Heidegger, Galimberti e Flusser. Discute-se também

como a leitura e a escrita foram transformadas diante das novas tecnologias, isto é, como as

novas tecnologias afetaram conhecimentos anteriores, relacionados às produções textuais.

Findada a apresentação conceitual, parte-se para uma discussão que envolve

diretamente a tecnologia na literatura e vice-versa. Ali refletimos sobre o receio presente em

toda a história cultural de uma nova tecnologia ameaçar uma anterior, como um Sócrates

perante a escrita, e a superação desse pensamento. De fato, podemos encontrar ao longo da

história discussões sobre o risco que a escrita poderia oferecer ao pensamento, que a ilustração

poderia oferecer à escrita, que os formatos digitais de áudio oferecem às mídias como vinil e

fitas, e assim por adiante. Esse debate leva o texto a abordar a literatura associada às novas

tecnologias, o que hoje permitem criações através de computadores e novos conceitos.

No capítulo seguinte, aborda-se o Twitter perante temas como a hipertextualidade,

o suporte de publicação e a literatura. Ali se associa a história do livro às novas tecnologias,

abordando desde os hábitos de leitura da Idade Média, até os recursos que ainda estão sendo

explorados, como o hipertexto – cuja ideia não é uma novidade da tela dos computadores

como muitos acreditam ser e desvenda os motivos para justificar a negação conceitual.

Acompanham esse tema as preocupações que são despertadas com a criação de bibliotecas

digitais, a digitalização e a pulverização de publicações. Logo após, aprofunda-se

especificamente a discussão sobre o Twitter, dando mais ênfase à ferramenta e à sua dinâmica,

além de exibir estatísticas que comprovam a popularidade do serviço em todo o mundo.

Após esclarecer os detalhes do Twitter, pode-se dar foco maior especificamente à

“twitteratura”. Isso é feito no próximo capítulo, onde se explica do que se trata o termo,

apresenta exemplos e uma pesquisa quantitativa que envolve mais de 6 milhões de mensagens

publicadas no microblog. A decisão de inserir os dados da pesquisa, sem transformar o estudo

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em algo especificamente quantitativo, foi tomada devido à importância de se ter também uma

noção estatística dos tweets estudados. Torna-se curioso observar como o fenômeno dos

microposts se entrelaça com nomes da literatura.

Ao longo da discussão vai sendo evidenciada a necessidade de dar-se crédito aos

autores de mensagens publicadas no Twitter e comportamentos que sempre poderão ser

associados à autoria. A seguir inicia-se um capítulo dedicado unicamente ao tema. Uma

discussão teórica e com embasamento baseado em nomes como Foucault, Barthes, Bakhtim,

Eco e Iser é feita a respeito dos papéis de autor e leitor diante algum discurso.

A partir disso, do uso de tais teóricos, apresenta-se exemplos a respeito dessa

dinâmica relacionada à atribuição de autoria nos textos publicados no microblog, usando

como exemplo uma mensagem publicada no perfil de Millôr Fernandes, que foi muito

repercutida.

O debate sobre autoria desperta curiosidades a respeito da identidade e da

autonomia dos indivíduos na rede. Portanto, torna-se uma deixa para a explanação a respeito

da teoria do “tautismo cibernético”, explorando a autonomia dos interagentes a partir do poder

das mídias. Ali é discutido, por exemplo, como as mídias ganham um suposto controle da vida

do homem, conectando ao capítulo que trabalha tecnologias, o que nos faz reforçar a

afirmação de McLuhan que as vê como “extensões do homem”. Com base nisso, conecta-se o

Twitter à teoria abordando a dinâmica de conteúdos na internet e de apresentação de

personalidades.

Passada a reflexão sobre a identidade do indivíduo na rede, parte-se para um novo

tópico: a presença explícita do nome do autor. Nesse momento, aborda-se como era no

passado o registro de autoria em publicações e como isso se atribui no Twitter. Tal questão

envolve preceitos culturais e éticos, e isso é trazido à realidade dos tempos do microblog e do

conteúdo colaborativo.

Segue-se discutindo, então, a atribuição de autoria no Twitter, ao se tratar da

“twitteratura”. Para isso, foi feita uma microssintaxe do Twitter que nos permitisse adentrar

com segurança na discussão de citação, sem o risco de desconhecer alguma expressão

específica, ou incorrer em equívocos. A título de ilustração, foi usado um exemplo que usa de

forma caricata o nome de Clarice Lispector e ainda apresenta um “meme”, ocorrido no

microblog, que elevou o nome da escritora ao espaço de citações mais frequentes do Twitter

em um curto espaço de tempo.

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Essa discussão, que envolve o fluxo das informações no microblog, encaminha a

pesquisa para sua conclusão, que desperta a importância de se observar fenômenos como o da

“twitteratura” e o do comportamento dos usuários dentro de cada rede, como no Twitter.

1.2 Objetivo

O ato de reproduzir uma frase e dar crédito ao autor é uma praxe normatizada no

meio jornalístico e no acadêmico, tornando-se também trivial no Twitter. Neste trabalho

preocupa-se especificamente em estudar como acontece a atribuição de autoria e as citações

no Twitter quando o cenário observado é especificamente o de figuras produtores de literatura.

Foi decidido dar atenção, portanto, ao caso especifico dos RTs (retweets)

principalmente na literatura produzida nessa plataforma, pois se acredita ser importante

entender como essa absorção da produção, recepção e reprodução tem acontecido quando

ligada às redes sociais que tanto modificam a vida de seus usuários.

Com o estudo aprofundado durante as disciplinas cursadas durante o mestrado,

foi-se percebendo a fragilidade, mas simultaneamente, a profundidade que o estudo

envolvendo ferramentas como o Twitter, a atribuição de autoria e a literatura poderia ter. A

densidade e as constantes mudanças das chamadas “redes sociais” se tornaram desafios.

O Twitter ganha relevância nesse trabalho, diante de um oceano de novos sites da

web 2.0, pela afinidade da autora e também pela já citada carência de atenção acadêmica

voltada ao tema, quando articulado às transformações promovidas no campo literário.

Podemos encontrar pesquisas falando sobre a literatura em espaços como o Orkut, blogs,

Facebook e outros espaços virtuais, contudo o Twitter ainda é algo semelhante a um feto nesse

universo.

Foi priorizada, nesta dissertação, uma análise mais reflexiva e teórica. Sendo

assim, a pesquisa norteou-se pela discussão de aspectos que transcende à ferramenta do

Twitter, como a questão da autoria, os processos de citação e o próprio comportamento do

usuário dentro da plataforma. Dessa maneira, evitamos uma pesquisa datada, considerando

que tais aspectos são relevantes no contexto das redes sociais, ou melhor, constituem, de certa

forma, os seus fundamentos. Então, se um dia o Twitter vier a ser substituído por uma outra

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plataforma com recursos diferentes ou até mesmo se tornar obsoleta, as questões levantadas

ainda terão alguma relevância. É preciso pensar em questões de longo alcance, já que, se os

meios são substituíveis ou se degeneram numa escala de alta rotatividade, não é interessante

produzir uma reflexão teórica de alcance tão provisório. Entendemos que a análise desse

fenômeno com um estudo teórico, para além de um estudo de caso, possa nos ajudar a

entender o que ocorre no atual processo de conversão digital – um processo acelerado na

sociedade contemporânea. De fato, o Twitter e todas as outras TICs estão sempre em

constante evolução, desenvolvimento e reforma, em um eterno lançamento de novas versões.

Portanto, decidimos realizar a pesquisa usando exemplos para reforçar as reflexões apontadas

nos estudos, contudo, de forma independente das teorias apontadas no trabalho.

A intenção é traçar características a respeito da “twitteratura” com análises

teóricas, entender melhor o comportamento do usuário geral no Twitter e como isso gera a

espontânea necessidade de se atribuir autoria aos conteúdos ali publicados, sem desconsiderar

também o aspecto prático de todo o processo. Isso será feito usando textos teóricos para

fundamentação das discussões e também com levantamento de exemplos de publicações feitas

no próprio microblog. Afinal, tudo isso é fruto de um comportamento do indivíduo dentro da

rede, portanto, se desperta a curiosidade de entender melhor o hábito que, em alguns

momentos, até parece ser inconsciente. Sendo assim, as intenções específicas da pesquisa são:

a) Traçar relações entre a literatura em suportes já conhecidos, como olivro, e o suporte Twitter;

b) refletir sobre como o universo da literatura se modifica com o ainserção das novas tecnologias em seus processos,

c) observar e entender como a citação e a atribuição de autoriaacontecem no Twitter, tendo como base tweets de contextos literários.

A hipótese desse trabalho é a de apontar os interagentes - conceito usado aqui com

base no livro "Interação Mediada por Computador", de Alex Primo - não apenas como

"usuários da internet" e "internautas", mas, sim, como sujeitos capazes de aplicar uma lógica

em sua vivência na internet. Uma lógica tal que se apega ao que já temos, por exemplo, na

literatura pré-internet, uma vez que os hábitos e as raízes dos novos hábitos praticados na

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literatura hipertextual e criada/reproduzida/recebida em redes sociais também são as mesmas

das que existem fora desse contexto. Com tal poder, esse interagente ganha um papel especial,

que é o de ter também uma importância significativa nos processos de criação e recepção,

podendo afetar diretamente na dinâmica desse conteúdo na rede e, consequentemente,

podendo ser encarado em algumas situações como autor. Para abordar essa perspectiva

Foucault, Backtin, Barthes, Compagnon, Deleuze e outros teóricos reforçam os exemplos que

solidificam as experiências e que marcam essa literatura praticada em ambientes onde a

interação entre os interagentes é forte e dita o ritmo.

Considerando esses pontos, por fim, o objetivo geral é proporcionar reflexões a

respeito dos novos fluxos informacionais e culturais que surgem a partir dos usos de produtos

já tradicionais quando associados às TICs e qual é a eficácia dessas associações na prática.

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2 LEITURA E INTERNET

Do nascer da ideia ao processo de composição e sua chegada à mão do público

final, a produção e distribuição de um livro reflete profundas mudanças, se comparado aos

processos anteriores à popularização do computador. Nesse contexto, não só é mais rápida,

segura – se se considerar a fidelidade da cópia em relação ao original, como também é mais

barata a sua produção, Por outro lado, ao se permitir a digitalização, alteram-se a recepção e

os modos de se ler um livro.

No entanto, o fato de se poder escrever e, principalmente, ler na tela não traz

consigo grandes transformações do ponto de vista da técnica editorial, se formos observar o

que se tem hoje publicado, ainda mais baseado nos modelos tradicionais do que se

convencionou ser um livro. É certo que a crescente digitalização de textos e imagens que até

então eram conhecidos apenas na forma impressa agora passam a figurar em versões online e

versões que podem ser acessadas a partir de outras mídias (CD-ROM) ou suportes além do

computador (celular). Contudo, como já observamos, os conteúdos são ainda apresentados

num formato que pouco se alterou na era digital, sendo, em vários casos, distribuídos em

suportes diferentes, sem que se alterem as suas linguagens.

Ler na tela ou ler no papel não constitui atos idênticos, pois implicam diferenças

de gestos e de sensações. O tato, o virar de páginas, o cheiro do papel e alguns outros

elementos são realmente inerentes à publicação impressa, e até o momento não se fez possível

criar gadgets que pudessem despertar nos leitores sentimentos tais quando a abordagem

envolve uma publicação eletrônica. O que é importante desmistificar quanto a esse assunto é a

questão da linearidade do ato de leitura. Pular para outra parte qualquer de um texto, ou até

mesmo estabelecer ligação com um conteúdo externo não é uma novidade trazida pelos

hiperlinks clicados pelos ponteiros do mouse. Trata-se de uma liberdade de qualquer leitor,

uma vez que todos estão livres para criar uma nova dinâmica de leitura, podendo saltar para o

meio das páginas ou o contrário. Isso, evidentemente, numa perspectiva bem simplista e

bastante generalizada do que constitui uma estrutura hipertextual. Ou melhor, considerando-se

que uma boa parte das informações produzidas em rede hoje realmente não constitui uma

estrutura complexa de hipertextos, tal como uma forma rizomática, nos moldes defendidos por

Deleuze e Guattari (2000).

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A questão levantada aqui se refere aos conhecidos papéis de receptor e produtor,

ou seja, da relação que um indivíduo tem com algo. Atualmente é possível perceber uma forte

mudança na recepção, na produção e na experimentação de conteúdos literários devido à

evolução da internet. Por exemplo, hoje é simples criar um texto literário e publicar em algum

site. A autonomia para publicar conteúdo na internet muda as rotas conhecidas, já que até

então se costumava apenas ver o emissor transmitindo informações para o receptor, sem que

fosse possível alguma interferência ou muitas interações. A web quebra essa rotina de controle

editorial principalmente com os blogs, que oferecem ao sujeito a oportunidade de produzir e

publicar conteúdos e ainda interagir com o leitor, de maneira espontânea, fato que podemos

presenciar constantemente no ciberespaço (PRIMO, 1997), espaço em que todos os integrantes

assumem papéis diferentes, e aparecem como atores, agentes e autores de interação.

Tudo isso, como visto, possibilita um diferente fluxo de chegada de produções às

pessoas, graças às novas tecnologias. As invenções tecnológicas que auxiliam a comunicação

desafiam o tradicionalismo dos séculos passados e trazem surpreendentes experiências.

Embora, sozinhas e isoladas, as tecnologias não sejam capazes de modificar nada sem uma

ideia ou um conceito acoplado, as TICs acabam condicionando a sociedade a pensar os novos

aparatos e plataformas no contexto adaptativo, tentando trazer aquilo que já existia

anteriormente para esse novo momento comunicacional. Pierre Lévy (2003, p.114) confirma

que “as mensagens difundidas pelo centro realizam uma forma grosseira de unificação

cognitiva do coletivo ao instaurarem um contexto comum”.

Em conseqüência, as ecologias cognitivas estão em via dereorganização rápida e irreversível. A brutalidade da desestabilizaçãocultural não deve nos desencorajar de discernir as formas emergentesmais positivas socialmente e de favorecer seu desenvolvimento. Comoum dos principais efeitos da transformação em curso, aparece um novodispositivo de comunicação no seio de coletividades desterritorializadasmuito vastas que chamaremos de ‘comunicação todos-todos’, (LÉVY,1998, p.112)

Lévy (2003) fala sobre a “construção cooperativa”, que também contribui para

possíveis novas experiências no ciberespaço, o que pode ser pensado principalmente em se

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tratando de textos literários, pela sua liberdade de conteúdo. “Segundo modalidades ainda

primitivas, mas que se aperfeiçoam de ano a ano, o ciberespaço oferece instrumentos de

construção cooperativa de um contexto comum em grupos numerosos e geograficamente

dispersos” (LÉVY, 2003, p.113).

“As comunidades online tiveram origens muito semelhantes às dos movimentos

contraculturais e [a] dos modos de vida alternativos que despontaram na esteira da década de

1960” (CASTELLS, 2003, p.47). A popularização dessa experiência fez com que a identidade

contracultural fosse perdida, e segundo Castells, isso pode ser justificado pelo fato de que suas

características internas tendem a criar sua cultura virtual específica, já que os participantes da

rede tendem a adaptar novas tecnologias para satisfazer seus interesses e aspirações.

Todas as esferas da vida social têm sentido algum impacto provocado pelo

desenvolvimento das novas tecnologias midiáticas. Principalmente por causa da popularização

da internet, a distribuição de produções tem ganhado uma dinâmica particular, que é marcada

principalmente pela produção que pode ser feita por qualquer indivíduo que esteja conectado.

Essas mudanças acontecem também no meio de produção artística. Com a

consolidação das novas mídias, parece que a literatura já não carrega consigo, pelo menos da

mesma forma e intensidade que em outros momentos, os mesmos padrões e conceitos e é

capaz de afrontar a mistura constante de gêneros não-literários e suportes de publicação

inusitados aplicados ao seu contexto ou utilizados como ferramenta de criação. Afinal, a

simbiose entre as artes, comunicações e afins sempre estão em constante adaptação

proporcional às condições sociais e materiais de seu tempo. Ao falarmos de internet, produção

de conteúdo via Twitter e afins, prova-se essa mudança, graças ao elemento híbrido presente

na cibercultura, que é mais pulsante quando unido às criações artísticas.

O avanço tecnológico observado no campo da internet, mais do que em outros

campos midiáticos, implicou mudanças na produção, na recepção e na experimentação de

conteúdos literários. A autonomia para publicar conteúdo na internet muda as rotas já

conhecidas, já que não é possível mais pensar a existência de um emissor transmitindo

informações para um receptor, de forma passiva. Para ilustrar isso podemos pensar na

facilidade em se criar um blog e publicar, por exemplo, poesias próprias; na quantidade de

bibliotecas online e na independência que o mercado literário tem hoje das grandes editoras e

das críticas de grandes jornais tradicionais. Na web, a interação é muito mais efetiva, se

pensarmos na dinâmica dos textos escritos fora dela, isto é, o distanciamento e o tempo para

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uma interlocução era muito mais longo. E a interferência não alterava a produção diretamente.

Com a web, aproximaram-se produção e recepção.

Temos aqui uma pesquisa que não trata apenas de uma análise de suporte e

literatura. Trata-se, sim, de uma análise cultural de um momento em que as supostas

evoluções se perdem em meio ao turbilhão de ideias e novas possibilidades, da hibridez que

tanto oferece até confundir e do excesso de informações, suportes, interfaces, plataformas e

meios. Bauman (1998), em “O Mal Estar da Pós-Modernidade”, chama atenção para o

incômodo e a dificuldade gerados por estudos relacionados à cultura quando trabalhados não

em aspectos apenas tradicionais, mas trazidos para os tempos em que a complexidade é um

dos adjetivos predominantes da sociedade. Considerando isso, podemos refletir sobre o tema

da cultura, que, no ambiente virtual, torna-se um cenário não controlado por inteiro, mas não

anárquico. É, sim, um território de autogoverno, como uma “cooperativa de consumidores”,

no qual não há um centro organizador, ainda que exista uma ordem permanente que é criada

espontaneamente. Isso, na prática, implica, por exemplo, o fato de uma pessoa ser tanto uma

colaboradora de uma enciclopédia online como a Wikipédia, onde se pode incluir novos

verbetes ou corrigir erros, quanto pode, simplesmente, fazer uso do conteúdo da mesma

enciclopédia enquanto uma pessoa que busca informações apenas.

São essas experiências que confundem as posições de produtor e de receptor, de

leitor e de autor; por fim, elas se tornam, a cada dia, mais comuns. No momento em que meios

de comunicação se tornaram também meios de produção de arte, destaca-se uma polêmica

típica de séculos passados, pois a arte folclórica e tradicional era facilmente identificada e

dividida entre públicos (eruditos ou populares). Com a revolução industrial a complexidade

cresceu, uma vez que os meios técnicos de produção cultural, como a arte do cinema e da

fotografia, trouxeram à tona a reprodução, e consigo novas formas de se fazer arte, fazendo

assim com que a cultura de massa se estabilizasse como algo comum e natural e permitindo a

reapropriação da cultura popular. Percebendo essas alterações, em 1992, Santaella cunha o

termo “Cultura das mídias”, e destaca o fenômeno da influência da mídia na fluidez do

produzir e receber conteúdos artísticos, culturais.

Desse momento adiante, a hibridez e a falta de pólo emissor tende a crescer e as

produções se tornam cada vez mais democráticas. O conceito de “cultura das massas” já fazia

referência àquela obra que é feita por poucas e recebida por muitos, e ao falar de “cultura das

mídias” Santaella despertava o movimento que mudava esse ciclo. A partir disso, os

consumidores passavam a ter um poder mais ativo perante os produtos. Tal movimento faz

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confirmar as observações de Bauman em relação ao estágio atual da cultura, conforme

apontamos acima. E também Santaella, destacando o papel das novas mídias:

[...] a dinâmica cultural midiática é peça chave para se compreender osdeslocamentos e contradições, os desenhos móveis da heterogeneidadepluritemporal e espacial que caracteriza as culturas pós-modernas,culturas fronteiriças, fluidas, desterritorializadas (SANTAELLA, 2003,p59)

Essa força de produção mais democrática e, ao mesmo tempo, dependente das

mídias, portanto, é o espaço em que se situa a questão das redes sociais, incluindo, claro, o

Twitter. Estamos falando do que também é definido como “mídias sociais”. Várias TIC’s são

exploradas hoje como potencial espaço de publicações não só pessoais, mas também

comerciais, comunicacionais, enfim, encontra-se nesse ambiente um espaço para se pensar

não só de forma pessoal e privada, mas também a chance de se fundirem intenções

corporativas e comerciais em um mesmo ambiente, mesclando linguagens e objetivos, e

reforçando mais os espaços de interação. Tais redes sociais tomaram tamanha importância nos

processos comunicativos que já é considerada uma área definida de mercado, pois

profissionais analisam e produzem conteúdo com estratégias específicas voltadas para tais

ambientes. Com base nesta análise de usos corporativos das redes sociais, a obra de Safko &

Brake (2009) aborda negócios e internet, algo que, mesmo abrangendo um objeto distante

desta pesquisa, para ela contribui. Portanto convém citar a caracterização feita no trabalho ao

abordar redes sociais, tal como é considerado o Twitter por eles. A partir do trabalho desses

autores, destacamos três características de algum espaço das mídias sociais:

a) Os espaços são essencialmente orientados para o fomento e facilitação deconversações;

b) neles não se controlam as interações e conversações, contudo, pode-seinfluenciar o seu percurso;

c) a influência e a credibilidade são os maiores pesos na construção derelacionamentos. (Safko e Brake (2009)

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Portanto, considerando a autonomia adquirida pelos usuários de tais espaços

virtuais, podemos verificar, consequentemente, mudanças na produção e recepção de

inúmeros tipos de obras, sendo estas artísticas ou não. Graças à cultura das mídias, e por fim,

às mídias sociais, temos novos modos de nos envolvermos com as pessoas e com os

conteúdos. É importante recordar que os apontamentos da citação anterior abordam contextos

empreendedores, contudo, é relevante também questionar como o comportamento do usuário

pode ser diferenciado quando se trata de uma situação onde se envolve arte ou uma proposta

publicitária.

Por fim, como já citado, essa pesquisa visa considerar conteúdos literários, logo,

nem sempre caracterizações como a do parágrafo anterior, que envolvem questões

mercadológicas, cabe às situações que serão trazidas aqui. Lembrando que as descrições dos

pesquisadores são amplas e abordam diversas plataformas da internet, iremos reconsiderar o

foco desse trabalho, que é o Twitter e uma parte dos textos que ali circulam, e então partimos

para um momento em que discutiremos o que e como se lê e se escreve nesse ambiente.

2.1 Leitura e Escrita no Twitter

A web começou a mostrar a chance de quebra do fluxo de emissão de

informações, que até então partia de pólos definidos (geralmente conhecidos como mídia

tradicional, editoras e outros meios oficializados). Essa mudança iniciou-se principalmente

com os blogs, que oferecem ao sujeito a oportunidade de produzir e publicar conteúdos e

ainda interagir com o leitor, de maneira espontânea. Isso é algo que podemos presenciar

constantemente no ciberespaço (PRIMO, 1997), espaço onde todos os integrantes assumem

papéis diferentes, e aparecem como atores, agentes e autores de interação.

O Twitter, que é, portanto, um microblog que contem características de uma rede

social, também traz consigo casos de apropriação literária. Diferente de artigos, cartas,

comunicados, textos publicitários e dentre várias outras possibilidades de mensagens, os

tweets ainda não foram alvos de estudos relacionados a gêneros literários e afins. Os processos

de produção e de recepção dos textos através do microblog ainda não foram bem explorados

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com a perspectiva literária, sejam por sociólogos, estudiosos da linguagem, comunicadores ou

demais especialistas. Por isso torna-se tarefa delicada falar de gêneros textuais de conteúdos

publicados ali, fora de uma discussão apropriada e específica sobre o tema.

Para entender essas características textuais, é conveniente entender também a

origem do sistema. O Twitter foi um dos serviços de microblogging pioneiros, e é atualmente

o mais popular1. A ideia gênese do Twitter envolvia taxistas. Em 1992, Jack Dorsey, fundador

da ferramenta, trabalhava no desenvolvimento de um software para organizar o tráfego de

taxistas e estava concentrado na tarefa de criar uma ferramenta para os motoristas informarem

onde estavam. Baseado nessa ideia, Dorsey decidiu ampliar e criar uma ferramenta para

demais pessoas, porém, específicas para elas informarem o que estavam fazendo. Alguns anos

depois o profissional criou a empresa Obvious Corp, que foi o local do “nascimento” do

Twitter, uma plataforma para publicações de textos de até 140 caracteres. Em julho de 2006,

quatro meses após a criação do Twitter, o site foi disponibilizado ao público, permitindo a

criação de perfis e, a princípio, atualizações através da própria página, de celulares (através de

conexão com a internet ou SMS2) e por IM’s, no entanto, a popularização da mesma só veio

acontecer em março de 2007 (Spyer, [2007]; Mischaud, [2007]).

Pesquisas mais densas sobre o Twitter ainda são trabalhos embrionários. Recuero

& Zago (2009), por exemplo, desenvolvem pesquisas sobre o site com foco maior em

comunicação social e jornalismo e, juntas, publicaram em 2009 o trabalho “Em busca das

“redes que importam”: redes sociais e capital social no Twitter”. O pesquisador Primo (2008)

também abrange a comunicação e fenômenos sociais focando no mesmo objeto e tem

publicado o artigo “A cobertura e o debate público sobre os casos Madeleine e Isabella:

encadeamento midiático de blogs, Twitter e mídia massiva”. Zago (2008) também escreveu

outros artigos sobre o tema, tais como “Apropriações Jornalísticas do Twitter: a criação de

mashups“, “Dos Blogs aos Microblogs: aspectos históricos, formatos e características” e

“Usos Sociais do Twitter: proposta de tipologia a partir do capital social”.

Ainda no Brasil temos pesquisadores com trabalhos pontuais como Consoni &

Oikawa (2009) com o estudo batizado “O microblog Twitter como agregador de informações

1 O Twitter não revela o número exato de usuários cadastros (MISCHAUD, 2007), porém o site TwittDirapresenta uma estimativa diariamente se baseando na quantidade de perfis que mantem atualizações constantes.Em consulta feita no dia 27 set. 2008, ele localizou 3.115.012 usuários.2 SMS: Short Message Service. Torpedos, mensagens de texto que são enviadas através de aparelhos celularesDisponível em < http://en.wikipedia.org/wiki/SMS> acesso em 15 nov. 2011.

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de relevância jornalística” e Gabrich (2009) com o artigo “O encadeamento midiático da

imagem dos índios isolados no Twitter”. Ferreira & Prado (2010) também escreveram juntos o

artigo “Diálogos: o Twitter e o peripatético”, em que cuja escola de Aristóteles é

correlacionada com as práticas do Twitter. Já Santaella e Lemos (2010) lançaram, juntas, o

livro “Redes sociais digitais: a cognição conectiva do Twitter”, no qual abordam o conceito de

redes e todas as peculiaridades da dinâmica do microblog. Tais trabalhos despertam novos

olhares a respeito da ferramenta, entretanto, ainda se concentram apenas no contexto das

comunicações e menos da arte e literatura, conforme já apontado.

Fora do Brasil existem mais pesquisas, tais como uma das pioneiras de Java, Song

& Finmtseng (2007) “Why We Twitter: Understanding Microblogging Usage and

Communities”, em que é cunhada uma taxonomia para os tipos de publicações feitas pelos

usuários. Boyd, Golder & Lotan (2010), pesquisadores da Microsoft também publicaram o

artigo “Tweet, Tweet, Retweet: Conversational Aspects of Retweeting on Twitter”, cujo

trabalho discute a lógica das publicações e “re” publicações feitas no microblog, tema que

também é debatido nessa dissertação.

Ainda em se tratando de pesquisas, porém numa perspectiva específica da

comunicação, um tema que vem rendendo inúmeros trabalhos é o das mídias sociais.

Relacionado ao uso das redes sociais no contexto midiático, o tema também esbarra

diretamente no Twitter em inúmeros casos e, por isso, rende publicações com contextos mais

amplos. Alguns exemplos de pesquisas do gênero é a de Asur & Humberman (2010) chamada

“Predicting the Future with Social Media”, e a de Kwak et al. registrada com o título “What is

Twitter, a Social Network or a News Media?”.

As pesquisas citadas têm alguma relação com o Twitter, entretanto, nenhuma se

arrisca a envolver a ferramenta com discussões relacionadas à literatura. Temos um grande

número de estudos que observam o movimento literário na internet, vários trabalhos sobre a

produção e recepção de conteúdos do gênero em redes sociais, contudo, não se encontra

nenhum longo escrito que se debruce no envolvimento dos temas que nos interessam neste

trabalho.

Primo e Recuero (2003) já falavam sobre escritas colaborativas no artigo

“Hipertexto cooperativo: uma análise da escrita coletiva a partir dos Blogs e da Wikipédia”.

Na ocasião os autores discutem a transformação de uma barreira de construção de websites

pela facilidade técnica proposta por espaços como a Wikipédia e os blogs, consequentemente

deixando mais acessível à produção e publicação de conteúdos para internet. Vemos, assim,

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estudos com inúmeros focos sendo feitos com base em um tema único, o Twitter, que é o que

trabalhamos aqui também, porém, com uma perspectiva um pouco diferente. No presente

trabalho encaramos o Twitter como um espaço de interações e também de publicações de

textos. Literários ou não, os textos estão presentes no espaço como objetos comunicativos que

podem ser reconstruídos e criados à vontade dos interagentes.

Não é intenção deste trabalho definir o que é ou não uma produção literária, em

especial aquela produzida ou veiculada no Twitter. Não se pretende julgar a validade literária

de algum texto ainda que saibamos da existência de inúmeros estudos a respeito da estética da

recepção que poderiam contribuir para esta discussão, embora não seja este o objetivo de

análise, talvez seja interessante pensar que a literatura veiculada pelo Twitter nos remete à

noção de estranhamento:

Seja para Tinianov, seja para Jauss, o texto se afirma literariamente na medida em quecontraria as expectativas do leitor. O estranhamento se tornou um dos maisvalorizados efeitos textuais, desde sua primeira proposição teórica pelos formalistasrussos. (...) Para essa mesma Teoria (literária) que enfatiza o estranhamento comovalor estético indispensável, nem haveria sentido falar-se em leitura literária, pois estaseria apenas a leitura de textos literários. Se os sentidos estão no texto, estão prontos,à espera de serem descobertos. Ao leitor bastaria conseguir enxergá-los (PAULINO,1990, p. 28).

Nesse sentido, um texto produzido ou veiculado pelo Twitter, na medida em que

se afasta de seu suporte tradicional, o livro, lançaria o leitor nesse jogo da afirmação e da

negação, o qual tem também a função de despertar uma discussão sobre o estatuto do literário.

Para o momento, interessa-nos investigar o que são esses tipos de produções especificamente

no Twitter.

O que tem sido chamado na rede de ““twitteratura”” é um movimento que

relaciona a prática de produção e recepção de conteúdos literários dentro do Twitter. O

analogismo é recente, assim como o próprio Twitter. Oliveira et al. (2009) citam a expressão

em um trabalho relacionado aos neologismos e seus registros em dicionários resgatando vários

vocábulos oriundos da internet que têm rendido muitas criações como blog (e suas respectivas

palavras Blogosfera, Blog, Blogueiro, Fotoblog) e Twitter (exemplificando com a própria

“twitteratura” e também com o verbo twittamos). Experiências do uso do espaço de 140

caracteres para publicação de “microcontos” e adaptações de narrativas publicadas no formato

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impresso para o sistema foram identificadas. A discussão que emerge dessa ferramenta é

como a dita “twitteratura” pode ser tratada e como ela vem alterando modos de produção e

recepção de conteúdos relacionados ao contexto da literatura.

O fato de o Twitter limitar a quantidade de caracteres em uma mensagem a ser

publicada não restringe as várias construções de sentido e significações que podem ser criadas

a partir de 140 caracteres, nem mesmo a noção de texto.

Assim o texto pode ser visto como uma “obra” finalizada da construção de um

sentido, contudo, podemos destacar o oposto, uma vez que essa edificação de interpretação

pode ser feita e refeita inúmeras vezes de formas singulares, dependendo da experiência, do

conhecimento e de outros fatores relacionados ao leitor. Roland Barthes em S/Z (1970) afirma

essa relação entre o texto e o leitor e nos mostra que o leitor também é um produtor e que

nenhum conjunto de enunciados teria um sentido fechado e único.

Para estarmos atentos ao plural de um texto, é preciso renunciar eestruturar esse texto em grandes blocos (...); nada de construção dotexto: tudo significa sem cessar e várias vezes, mas sem se submeter aum grande conjunto final, a uma estrutura última (BARTHES, 1970, p.17).

Ao trazer a discussão para o campo das redes sociais, lembramos Castells (2003,

p.108), ao escrever que “o papel mais importante da internet na estruturação de relações

sociais é sua contribuição para o novo padrão de sociabilidade baseado no individualismo”.

No Twitter isso também pode ocorrer, já que por ter características de rede social (interligação

entre os usuários, que podem interagir entre si), a estruturação interna do microblog une

inúmeros indivíduos, formando uma comunidade online, com fortes laços (que são criados e

intensificados pela interação, colaboração, instantaneidade e compartilhamento de

informações) entre cada usuário, que é independente e que supera os limites geográficos de

cada um.

Graças às interações feitas pelos usuários (seja enquanto leitor ou em qualquer

outro status), o Twitter pode ser considerado também um fenômeno comunicacional por ser

um canal de perguntas e respostas, por ter as informações construídas de forma colaborativa e

ainda por ser um espaço de divulgação, cobertura de eventos e demais fatos. Segundo Lévy,

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(1999, p. 11), “o crescimento do ciberespaço é resultado de um movimento internacional de

jovens áridos para experimentar coletivamente, formas de comunicação diferentes daquelas

que as mídias clássicas nos propõem”, e o Twitter é propenso a colaborar com isso.

Para essa reflexão, precisamos ponderar que o Twitter, de fato, não é uma

plataforma de publicação “estável”, uma vez que toda sua dinâmica é definida pelos seus

usuários. A comunicação que se observa no Twitter é pulverizada, assimétrica, ubíqua,

instantânea e assíncrona. Um dos diferenciais do ambiente é a assincronia e a possibilidade de

cada indivíduo adotar o papel de emissor e receptor, podendo ele produzir conteúdo e sentido,

e ao mesmo tempo recebendo, reforçando o conceito de Lévy de “comunicação todos-todos”

(1999, p.63), em que a hegemonia midiática é rompida já que qualquer indivíduo pode se

transformar um emissor sem precisar sair do seu papel de receptor.

Sendo assim, podemos observar uma nova dinâmica de produção, recepção e

formas de interagir com conteúdos, graças à facilidade de troca de papéis entre produtor e

receptor. Isso se deve às mudanças das técnicas e tecnologias. Até então aquele que, por

exemplo, tinha um livro em mãos poderia ser o autor apenas no sentido de que ele seria o

responsável em atribuir significados enquanto a sua leitura, todavia, com a internet e

ferramentas como o Twitter essa possibilidade de ocupar os dois lados é mais prática. Para dar

continuidade, iremos, no capítulo seguinte, abordar como a técnica e a linguagem caminham

juntas.

2.2 Tecnologia na literatura e vice-versa

O assunto desta pesquisa está diretamente relacionado à internet, à literatura e aos

meios de comunicação. Assim como a própria web, a pesquisa pode ser considerada híbrida

por transitar por várias áreas de pesquisa, entretanto isso é um reflexo explícito do que é a

dinâmica dos meios online.

É necessário delimitar nossa revisão, afinal, pesquisas sobre internet, literatura e

afins são desenvolvidas diariamente e por todo o mundo. A internet é considerada como um

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meio de comunicação híbrido. A definição de meio de comunicação, por Monteiro é a

seguinte:

[...] a) são operados por organizações amplas e complexas, envolvendodiversos profissionais, com diferentes habilidades; b) são capazes dedifundir suas mensagens para milhares ou até milhões de pessoas,utilizando grandes recursos tecnológicos (os veículos demassa),sustentados pela economia de mercado (através da publicidade,principalmente); c) falam para uma audiência numerosa, heterogênea,dispersa geograficamente e anônima; d) e, principalmente, exercemuma comunicação de um só sentido, ainda que possuam algum sistemade feedback (índices de audiência, por exemplo). (MONTEIRO, 2001,p. 31)

Portanto, essa definição consegue alcançar inúmeros meios de comunicação por

completo, entretanto, alguns aspectos da internet ainda reúnem características específicas. Os

três primeiros pontos do autor podem ser vistos, por exemplo, em portais de notícia, contudo,

a comunicação pela rede é bidirecional, uma vez que no ciberespaço é possível trabalhar com

mensagens diretas ou públicas, segmentadas ou generalistas, em um só ambiente. Já SAAD

pensa na internet desvinculando comparações aos meios tradicionais.

Ficaram em segundo plano os aspectos mais significativos das redesdigitais de comunicação e informação: uma tecnologia bidirecional quecoloca produtor e receptor da informação no mesmo patamar; quepossibilita diálogos interpessoais e intergrupais sem a intervenção doprodutor da informação; com potencial de uso não apenas dedistribuição e captação de informações, mas também de gerenciador dedados e criador de sentido para grupos de usuários de qualquer porte(SAAD, 2003, p. 26).

Afinal, por qual motivo esse tema se tornou um dos objetos de pesquisa de um

mestrado em Estudos de Linguagens? É importante delimitarmos e sublinhar a relevância

disso para o contexto. A linha de pesquisa que acolhe esta dissertação engloba estudos

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relacionados à cultura, sem dispensar o olhar para a técnica que envolve sua produção. Esse

trabalho especificamente visa um olhar equilibrado entre o “receber” e o “produzir”. Essa

dissertação não se concentra em análises críticas das obras, mas pretende observar o contexto

em que o conteúdo foi produzido e recebido.

A técnica e o discurso de qualquer produção constituem sempre dimensões em

interseção, as quais influenciam diretamente o resultado de cada trabalho. A escrita em si é

uma técnica, ela foi e ainda é usada para o registro de discursos orais e pensamentos. Em

qualquer época, tecnologias revolucionárias para seu tempo provocam polêmica e objeções.

Se no século 21 vemos estudiosos e o próprio mercado receoso com os avanços tecnológicos e

principalmente digitais, antes não era diferente. Quando a escrita começou a ser uma técnica

reconhecida, Sócrates a desprezou:

O filósofo Sócrates condenava a escrita como forma de registro dopensamento humano. O que sabemos sobre ele se deve principalmenteaos escritos de seu discípulo Platão. Sócrates explicava que haviaperigos embutidos no uso sistemático da escrita. Sócrates, via em umtexto escrito a materialização do pensamento do seu autor. Umpensamento materializado em um texto poderia viajar no espaço e notempo, sem seu autor (Diniz, 2008, p 31)3

Dessa forma, na devida época, as pessoas entenderam a escrita como uma ameaça

ao que já tinham como registro cultural. Essa sensação nunca some em toda a história. A

indústria gráfica com o seu dinamismo quase sempre traz novas ameaças para o mercado, e

houve tempo em que chegaram a cogitar que a popularização de jornais ameaçaria o mercado

de livros. Assim como a escrita um dia foi interpretada como restrição da oralidade, da mesma

forma a consolidação da tecnologia impressa traz novos comportamentos para o leitor, se for

comparada com a era do manuscrito, por exemplo. A invenção da prensa por Johann

Gutemberg revolucionou o mundo da comunicação do século XV, e daí em diante os

manuscritos perdem espaço para a produção em massa das páginas impressas. O

3 Fonte: Revista Era Digital < http://rae.fgv.br/sites/rae.fgv.br/files/artigos/4558.pdf>, artigo de Eduardo H Diniz,

FGV-EAESP

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desenvolvimento tecnológico da impressão ainda deu vazão às ideias como ousadias nos

formatos: livros de bolso, em formatos diferentes, com diversos tipos de papéis, cores, objetos

anexados, ilustrações, costuras e materiais foram e ainda são explorados. A chegada de novos

aparatos ou métodos de produção, de fato, traz algum impacto ao contexto, mas não

necessariamente exclui algum outro. Afinal, o cinema não destruiu o livro, a televisão não

destruiu o cinema e o rádio não destruiu o jornal.

A ideia de se usar imagens em publicações não veio para matar o uso das letras, e

sim para auxiliar nas funções da palavra. Uma foto, um desenho ou outro tipo de imagem são

capazes de produzir entendimento ao conteúdo que, outrora, era uma série de letras. Bíblia em

quadrinhos, panfletos publicitários e ilustrações complementam a história das impressões.

Auxiliando ainda no processo da substituição da palavra escrita por outras formas de

expressão podemos falar do cinema, da televisão e do rádio. O poder de persuasão e emissão

de mensagens é tão grande quanto o de outras mídias, e Martins (2002) arrisca dizer que estes

“foram o livro da multidão”, pois são capazes de ditar gostos estéticos, remédios, opiniões,

etc. Ao falar do cinema, o autor o aborda considerando que ele “implantou a imagem no

campo mais fértil até então reservado à leitura: o do romance”. Do argumento de que o

homem contemporâneo não lê romances, Martins (2002) explora o tema e defende que hoje

este indivíduo “assiste” romances diariamente em salas de projeção. Quanto à televisão, o

escritor coloca críticas sobre a técnica e afirma que esta veio para completar o “vertiginoso

processo de imbecilização”: “é que a imagem está matando a imaginação, e o homem que

cada vez mais está apenas vendo deixa atrofiarem-se lentamente as suas faculdades de pensar

[...]. O pobre neandertal está sendo punido pelo seu próprio progresso” (MARTINS, 2002, p. 421).

Radical e negativo, Martins (2002) tem um ponto de vista crítico sobre a técnica

na produção midiática. A pesquisadora acredita ser válido despertar tais pontos de vista, para

reflexão, contudo, não está em total acordo com este em específico. Uma mídia não mata a

outra, uma linguagem não substitui a outra, enfim, uma criação que envolve tais situações não

vem para extinguir a anterior. Em inúmeros casos, como o do tema dessa pesquisa, uma nova

tecnologia vem para agregar e ampliar a outra. Vez ou outra, por vários fatores, algo se torna

obsoleto e deixa de ser relevante, contudo, em muitas situações, rastros dos hábitos do que se

tornou antiquado ainda acompanha aquilo que no momento é o “novo”, logo, nada é de fato

absolutamente inovador.

Tais misturas de conceitos e inovações criam às vezes novos produtos, mas não

costumam apagar a memória e até a permanência no presente de um processo não mais

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utilizado, como pode acontecer, por exemplo, com os processos de produção de um livro.

Noutras palavras, a chance de se criar e publicar quaisquer obras, artísticas ou não, em

suportes inusitados não declaram a morte dos então tradicionais suportes. As explorações de

técnicas não convencionais já aconteciam, por exemplo, no cubismo, quando artistas usavam

colagens dentro de pinturas e, por isso, tinham de readequar os suportes para a realização dos

trabalhos. O mesmo se deu no dadaísmo, quando Marcel Duchamp, artista francês que foi um

de seus fundadores na década de 1910, criou o termo Ready Made, que se trata de uma espécie

de estratégia que envolve o ato de usar objetos industrializados como arte. Talvez se inaugure

aí a era das instalações.

No âmbito musical, já vimos episódios em que falavam sobre o fim do LP, da fita

k7, do CD e de vários formatos digitais. A discussão sobre a morte do papel ao considerar

livros, jornais e outros tipos de impressos também marca esta era, considerando a rápida e

impactante mudança das tecnologias digitais. Em todo o tempo vemos esse rastro de receio

apocalíptico, considerando sempre que uma tecnologia substituirá por completo outra,

causando assim discussões polêmicas sobre qual é melhor ou pior, em clima de competição,

ora ou outra.

Mal foram iniciadas as discussões sobre o fim do livro impresso por conta dos e-

books, e os ventos já direcionam as atenções para as diferentes formas de publicar e a

facilidade do ato. A criação de um blog ou de um perfil em uma rede social da internet já

possibilita ao indivíduo a publicação de alguma obra. Em se tratando de blogs,

especificamente, um levantamento divulgado em julho 2010 pela Sysomos com cerca de 100

milhões de blogs de todo o mundo mostra números relacionados ao perfil de blogueiros.

Evidentemente esses dados não são referentes apenas à produção de conteúdos artísticos e/ou

jornalísticos. A pesquisa não foi feita com segmentos de publicação, mas considera de forma

genérica todos os blogueiros como produtores de conteúdo, seja este de qual gênero for.

Estudos a respeito da Teoria Estética não param de ganhar exemplos e estudos.

Um dos fundadores da Estética Informacional, André Abraham Moles (1958)4 trabalha temas

as artes plástica com um “olhar linguístico” e computacional. O intelectual apóia a ideia de

que se deve fortalecer a arte das máquinas, ou seja, a aproximação dos dois termos em ação

(GIANNETTI, 2006). Com essa ideia, ele trabalha o conceito de chave de simulacro usando a

ideia de que as máquinas devem simular efetivamente o foco das atenções e ser, de fato, a

4 MOLES, A.A. Theórie de L´information et perception esthétique, 1958, Colônia: Dumont Schauberg, 1971.

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simulação das obras de arte. O “simulacro” aqui não é tratado exatamente como cópias, mas

sim como um “amplificador de capacidade”, como um potencializador de obras. Em um dos

modelos de arte com base em máquinas, Moles sugere que o papel do artista restrinja-se à

definição de parâmetros artísticos e estilísticos, e que a máquina seja a protagonista da

finalização da obra. Em outro modelo ele apresenta a hipótese de ter o artista como usuário de

um sistema que serve como fonte de estímulos e inspiração graças à observação do trabalho

feito pela máquina.

No livro “Estética Digital: Sintopia da arte, a ciência e a tecnologia”, Cláudia

Giannetti (2006) desmembra todas as propostas e análises de Moles e desperta a discussão

proposta por ele a respeito da reflexão sociocultural quantitativa e qualitativa que suas

pesquisas podem gerar:

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Que efeitos têm para a sociedade o uso de produtos realizados pelamáquina, como a música aleatória, a linguagem artificial, a pinturaprogramada, os textos traduzidos por programas, a biblioteca nacionalintroduzida na memória do computador? (...) Como imaginamos umasimbiose com as máquinas? O artista será substituído por máquinas narealização de pinturas, música e literatura, como já acontece com ocontador e o operário? (MOLES, 1979, p.239-330 apud GIANNETTI,2006, p. 45).

Embora sejam importantes os questionamentos e geradores de conflitos, Moles

(1979) (apud Giannetti, 2006), afirma que os artistas não serão substituídos, entretanto, será

personagem de uma transformação e ganhará o papel de “programador”, e essa mudança trará

assim uma radical transformação na arte (o que hoje já conhecemos como media art).

Na tensão do papel de cada envolvido nesse processo, cria-se uma função para o

desenvolvedor da obra, que é a de criar as suas ferramentas se baseando em outras, criando

assim uma corrente, e atualmente “o que faz o verdadeiro poeta dos meios tecnológicos é

justamente subverter a função da máquina, manejá-la na contramão de sua produtividade

programada” (MACHADO, 2001, p 15).

Neste trabalho tratamos também de literatura. Esta, hoje, pode ser gerada de forma

“tradicional”, que não envolveria a máquina diretamente na criação, ou já no contexto citado

anteriormente. Uma máquina “criativa” é capaz de organizar palavras e, com algoritmos

específicos, processar as informações e produzir uma “literatura permutacional”

(GIANNETTI, 2006, p. 47). Ou seja, uma pessoa usando linguagens de programação pode

criar algum recurso que produza textos, a partir de vários critérios, portanto, essa prática

provoca a polêmica da autoria e da ação criativa. Contudo, aqui falamos mais da obra sem

passar pela discussão de sua autoria, embora ela seja relevante. É importante sabermos que as

tecnologias podem afetar de inúmeras formas a criação, a circulação e a recepção dos

materiais, por isso essa temática tem relevância neste trabalho.

Na presente pesquisa consideraremos como foco a produção literária não-

permutacional, ou seja, que é feita sim através de aparatos tecnológicos e envolvem inúmeros

tipos de suportes, contudo, não assumidamente é criada a partir de computadores, e usa a

máquina apenas este para ser concretizada.

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3 O SUPORTE, A HIPERTEXTUALIDADE, A LITERATURA E O

TWITTER

Discussões sobre o futuro da escrita, dos modos de leitura, produção e recepção de

conteúdo sempre estiveram presentes nas discussões culturais, desde sempre. É importante

considerar que o debate sobre as publicações online, os e-readers, dispositivos que modificam

as práticas de leitura e produção não é inédito e se faz presente há anos.

A chegada de tecnologias novas (e a renovação contínua do termo novo, que

envolve sempre com novos aparatos, que em pouco tempo se tornam obsoletos) é o fomento

de uma polêmica que sempre houve, embora seja ainda atual. Como demonstramos

anteriormente, o filósofo Sócrates criticava a escrita pelo fato de temer que esta nova

tecnologia fosse algo prejudicial ao pensamento:

O marido de Xantipa não estabelecia uma distinção rigorosa entrediferentes espaços expressivos: a imateriabilidade das obras orais,mesmo no meio em que eram disseminadas, era vista por ele comocorrelato imediato da imaterialidade do pensamento que as produzia.Consequentemente, a materialização (isto é, a fixação) da escrita sópoderia produzir uma imobilização definitiva do espírito (SANTOS,2005, p. 25)

Assim como a escrita, em uma época, foi temida por aqueles que já estavam

acostumados com a prática do pensamento e a oralidade por chegar como uma suposta

limitação de multimensionalidade do pensamento, inúmeras outras situações causaram tal

sentimento à sociedade.

Para que essa discussão seja bem fundamentada, é importante resgatar a história

da escrita, das publicações, dos livros, do texto, enfim do que nos faz chegar ao tamanho

impacto que a internet tem gerado nas vidas de todos.

Os termos do parágrafo anterior (livros, texto, escrita) quase são uma mistura

homogênea, entretanto cada um tem sua particularidade e vida própria interdependente. A

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história do livro, às vezes, é associada à história da tipografia, entretanto outras fases fazem

parte deste contexto. O livro não nasceu com Gutemberg, como nota Chartier (1995) em “O

Aparecimento do Livro”. A obra do pesquisador aponta o aparecimento do códice datado

ainda no início da era Cristã. Por sua vez, Bello (2008) conta que, na Idade Média, a leitura

pública em voz alta era hábito em locais como universidades a fim de divulgar uma obra.

Além disso, também havia a cópia manuscrita feita a partir de um material original que

recebia uma revisão do próprio autor, como nos mostra Ana Elisa Ribeiro (2008):

Para vários historiadores das práticas da leitura e do livro, o leitor podeser retratado em diversas posturas ao longo da história de sua relaçãocom o dispositivo de ler. Primeiro de pé, com o rolo nas mãos,desfiando o texto em direção horizontal; depois, ainda de pé, em recintofechado, folheando um códice pesado e grande; mais tarde, sentado oude pé, ao ar livre ou em um gabinete, absorvido por um livro pequeno,portátil, mídia móvel, completamente conhecedor das técnicas de leraquele objeto. Atualmente, é possível ler sentado, com as pernasencolhidas sob um teclado e olhos vidrados na luz do monitor.(RIBEIRO, 2008, p.15).

Uma das mudanças abordadas por muitos, provocadas pela inserção da literatura

nas novas tecnologias, é o argumento que envolve a hipertextualidade. Um ambiente com

navegação como labirinto, que não é linear e oferece ao receptor a chance de escolher seu

caminho é uma construção hipertextual. George Landow (1992) nomeia o tema como um

laboratório pronto para testar de hipóteses levantadas e sustentadas pelo fato de ser um espaço

para curiosos se aprofundarem em assuntos desejados. Na tela, temos o cursor do mouse

pronto para ser guiado pelos links, que sugerem um clique capaz de levar o leitor para uma

nova página, com um novo conteúdo. Ao mesmo tempo em que esse movimento pode ser

enriquecedor, ele corre o risco de ter seus momentos de fracionamento. Um mínimo de

letramento digital e objetivo estabelecido na leitura são necessários para não tornar falha a

ação. Essa hipertextualidade não impacta só o leitor, mas, evidentemente, aquele que produz o

texto e oferece ou não novos caminhos a serem percorridos por aquele que lê o texto. “Sempre

num processo de reorganização, ele [o hipertexto digital] propõe uma reserva, uma matriz

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dinâmica a partir da qual um navegador-leitor-usuário pode criar um texto em função das

necessidades do momento” (LÉVY, 1997, p.72).

Contudo, o que muitas vezes não é percebido é a existência do hipertexto fora do

meio digital, longe da tela e do clique. Na leitura de um texto impresso, o leitor pode interagir

ativamente em seu caminho de leitura e escolher a ordem por onde irá focar atenção. Assim

como acontece com o produtor do conteúdo hipertextual digital, aquele que produz um texto

para um suporte impresso também tem à disposição recursos do tipo, como notas, sumários e

outras formas que sugerem ao leitor um olhar possivelmente fragmentário e não-linear, e

podemos considerar que “um sistema hipermidiático tem como fundamento a articulação, a

organização da complexidade. Podemos dizer que a hipermídia só se realiza quando ocorrem

interações entre os pares complementares” (LEÃO, 1999, p. 64).

Essa discussão envolve o entrelaçamento de evoluções de duas coisas paralelas,

porém íntimas: a do suporte e a do texto. A evolução de um influencia (ou deveria)

diretamente o outro, pelo fato de alterar o modo no qual o leitor irá receber o conteúdo e o

discurso, pensamento que pode ser complementado com a citação de Chartier (1999).

O aparecimento do codex impõe uma nova forma de livro e novasrelações com a escrita, mas sem alterar a técnica de reprodução dostextos, que continuou a ser a da cópia manuscrita; a invenção daimprensa revolucionou essa técnica mas permaneceu fiel à forma dolivro, o codex, que lhe era muito anterior; por fim, a “revolução daleitura” do século XVIII provocou uma profunda transformação daspráticas, sem modificar as condições fundamentais que regiam aprodução do livro. Hoje, os três registros de mutações (técnica,morfológica, cultural) encontram-se estreitamente ligados(CHARTIER, 1999, p. 179-180).

Dessa forma, podemos considerar que o papel não impede a aplicação da

hipertextualidade, entretanto, modela-o de maneira diferente. A potencialização dos recursos

hipertextuais nas telas tem dado força à indústria cultural e demais nesse sentido, fato que,

para muitos, é encarado como uma ameaça ao impresso, ao papel. A hegemonia deste pode

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realmente se findar, entretanto, seu desaparecimento não está perto de acontecer. Derrida

(1997)5 abordara o tema, como pode ser lido abaixo:

[...] a transformação e o consumo do papel para impressão podemaumentar em quantidade e mais depressa do que nunca. A redução dopapel não é uma rarefação. Neste momento, é mesmo bem o inverso(DERRIDA, 1997, apud FURTADO, 2006, p. 21).

Ou seja, estamos em uma fase de transformação, e não necessariamente de

eliminação. É possível vermos exemplos de digitalização do impresso e, ao mesmo tempo, da

impressão do digital. Preocupado com a acessibilidade e também com a publicação ilegal de

suas produções, Walter Jon Williams, autor de ficção científica, lançou no início de 2011 uma

campanha para seus leitores ajudarem a digitalizar suas obras. O americano propõe oferecer

seus livros antigos e fora de catálogo pela internet. Contudo, ao anunciar a campanha o

escritor se surpreendeu ao descobrir que algumas de suas obras já estavam disponíveis na

internet. “Baixei meu próprio trabalho com a intenção de me poupar o esforço de escaneá-lo”,

afirmou ele através de seu blog6. No entanto, o escritor se diz assustado com a baixa qualidade

e erros nas digitalizações, e por isso decidiu lançar a campanha e contar com a ajuda dos

internautas para encontrar outras cópias distribuídas em sites piratas. Para isso, ele oferece um

livro autografado como recompensa.

Por outro lado, existem iniciativas que fazem o oposto. Em 2008 a Google

anunciou a criação de um projeto que incentiva a impressão de livros. Essa inversão de

processos está sendo pensada e idealizada pela demanda do público de se ter o conteúdo

impresso. Por mais que tablets e aparatos de leitura de livros digitais evoluam com novos

processadores e características técnicas, ainda existem inúmeras pessoas que não dispensam a

leitura do papel por diversos fatores. Dentre esses fatores, podemos lembrar: o conforto visual,

a não dependência de uma bateria que se torna obsoleta com o tempo, os riscos de se ter o

gadget furtado, o prazer de se ter o contato físico com o livro, entre outras razões. Portanto,

5 DERRIDA, Jacques. Mal de archivo; una impresión freudiana. Madrid: Editorial Trotta S.A., 1997. p.9.

6 Disponível em < http://www.walterjonwilliams.net/> Acesso em 17 de mai.2011

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prova-se que ainda não estamos perto do fim do papel, como se apregoa em apocalípticas

previsões.

A questão do suporte pode ser claramente associada ao perfil do leitor envolvido.

A leitura a partir de um aparato digital é, inegavelmente, revolucionária, pois amplia as

possibilidades de imersão nos temas, e extrapola a capa e contracapa de um livro, embora o

leitor tenha total poder de se aprofundar no conteúdo por iniciativa própria. Entretanto, na tela

tudo se concentra e se organiza de forma diferente, e isso expande ou renova as ideias. As

práticas que envolvem a criação de materiais para esses suportes ainda não estão seguindo o

ritmo e, na maior parte das situações, ainda se mantém enraizadas aos formatos tradicionais de

livros que temos. Cada tipo de suporte modifica diretamente a relação que o leitor tem com a

obra e capacita a criação de novos sentidos ao discurso que envolve toda a obra. Para Chartier

(1999), essa relação é ambivalente, já que há trocas entre as noções de produção e reprodução,

e como foi apontado por ele, os suportes influenciam, mas a técnica continua com as mesmas

características. Com base nisso, iremos agora procurar entender melhor o Twitter,

considerando-o também como um suporte de publicações.

3.1 Sobre o suporte, Twitter, e seus desdobramentos

O Twitter é o microblog pioneiro e mais acessado do mundo. Sua principal

característica é a limitação de 140 caracteres por mensagem publicada, e a organização da

rede através de “followers” (seguidores) e “followings” (seguidos). O primeiro citado é o

sujeito enquanto receptor, que “segue” perfis para receber suas atualizações; já o segundo

trata-se do usuário enquanto emissor, sendo o perfil que é seguido.

Sobre seu conceito, Boyd, Golder & Lotan (2010), e também Orihuela (2007)

falam que o Twitter é uma ferramenta de caráter híbrido, acolhendo características de blog e

de rede social.

A comunicação no Twitter é pulverizada, assimétrica, ubíqua, instantânea e

assíncrona. Assim como dito anteriormente a respeito de microblogs, que agrega

características de redes sociais, blogs e IM´s, mas traz como diferencial a assincronia ao

usuário, já que o poder de produzir conteúdo e sentido, e ao mesmo tempo receber, diferencia

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os debates, reforçando a conclusão de Lévy ao falar das invenções tecnológicas: “Como um

dos principais efeitos da transformação em curso, aparece um novo dispositivo de

comunicação no seio de coletividades desterritorializadas muito vastas que chamaremos de

‘comunicação todos-todos’” (LÉVY, 2003, p.114).

Ao completar cinco anos de vida, no dia 21 de março de 2011, o Twitter contava

com 75 milhões de usuários, sendo que só no seu quarto ano de vida conquistou 900% de

crescimento. Na virada do ano de 2010 para 2011 foram registrados 6.939 tweets por

segundo7. Em setembro de 2011 foi anunciado pela empresa que o banco de dados do

microblog contava com mais de 200 milhões de cadastros e 100 milhões deles estavam

ativos8. O mundo todo usa o Twitter, mas os países que mais têm usuários são os Estados

Unidos, Brasil e Inglaterra, de acordo com estudo da Sysomos, conforme detalha a figura

abaixo.

FIGURA 1 - Ranking de usuários do Twitter por país

Fonte: <http://blog.sysomos.com/2010/01/14/exploring-the-use-of-twitter-around-the-world/> Acesso em 22 mar. 2011

7 Disponível em <http://ne10.uol.com.br/canal/cotidiano/tecnologia/noticia/2011/03/21/twitter-comemora-cinco-anos-com-uma-media-de-140-milhoes-de-tuites-por-dia-262316.php> Acesso em 22 mar. 20118 Disponível em < http://g1.globo.com/tecnologia/noticia/2011/09/twitter-tem-100-milhoes-de-usuarios-ativos-diz-ceo.html> Acesso em 01 out. 2011

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O Twitter permite que seus usuários publiquem textos de até 140 caracteres, como

dito anteriormente. Tal valor não foi escolhido aleatoriamente, trata-se de uma média de

caracteres de aparelhos celulares. Os aparelhos de telefones móveis tiveram estabelecidos 160

caracteres como o total de cada mensagem por Friedhelm Hillebrand9, que na década de 80

era uma autoridade de um comitê de serviços de dados na Global System for Mobile

Communications, um grupo que tinha autonomia para criar parâmetros para o mercado

mundial de comunicação móvel. Portanto, tendo esse número em questão, o Twitter, que tem

grande parte de sua “ideologia” voltada ao uso móvel, fez uso desse mesmo valor para

determinar seu limite, subtraindo 20 caracteres para reservas de nomes de seus destinatários.

Sabendo esses detalhes sobre as mensagens publicadas, que pelos usuários do

microblog são chamadas de tweets ou twittadas10, adentramos no tema envolvendo ainda

questões relacionadas à sua dinâmica. Este capítulo analisará aspectos de produção e

linguagem de mensagens publicadas no Twitter, que tratam de assuntos triviais - considerados

os mais frequentes no microblog. Para fazer referências ao conteúdo postado pelo usuário,

usaremos o termo “tweet”.

A empresa americana de pesquisa Pear Analytics11 divulgou em agosto de 2009

um estudo que mostrou que 40,5% das mensagens poderiam ser classificadas como

mensagens triviais (como comentários sobre o que está comendo), 37,5% como bate-papo

(interações diretas e contínuas), 8,7% como tendo algum valor de informação que possa ser de

interesse geral, 5,85% de textos autopromocionais e 3,75% de spam.

Para ilustrar os números acima, abaixo uma imagem das três mensagens mais

recentes do momento de acesso publicadas por usuários brasileiros. Ali é possível ver o que

9 Curiosamente a escolha de 160 caracteres como limite não foi feita com base em estudos Segundo o jornal LATimes, Hillebrand sentou-se diante de uma máquina de escrever em sua casa e datilografou várias frases eperguntas e fez o mesmo em uma folha de papel. Após isso foi feita uma contagem de letras, números,pontuações e espaços, e quase todas as frases tinham em média duas linhas e menos de 160 caracteres. "Isso éperfeitamente suficiente" - concluiu. Fonte: <Http://latimesblogs.latimes.com/technology/2009/05/invented-text-messaging.html> Acesso em 04 jan. 201010 No ano de 2010 o dicionário da língua portuguesa Aurélio incluiu o termo “tuitar” em seus verbetes, fazendoreferência ao ato de se publicar algo no Twitter. Disponível em <http://exame.abril.com.br/tecnologia/noticias/dicionario-americano-inclui-verbetes-tuite-e-social-media> Acessoem 15 nov. 201111 Mais informações sobre a pesquisa podem ser obtidas pelo site do jornal O Globo. In:<http://oglobo.globo.com/tecnologia/mat/2009/08/17/estudo-40-do-fluxo-do-twitter-feito-de-bobagens-757437932.asp> Acesso em 20 fev. 2010

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são classificados como mensagens de bate-papo e comentários triviais. Vejamos alguns

exemplos:

FIGURA 2 - Mensagens mais recentes retiradas do site Blablabra

Fonte: <http://blablabra.net/> Acesso em 24 fev. 2010

As mensagens mostradas acima não têm entre si nenhuma relação direta,

necessariamente. São as mensagens mais recentes – em relação ao período de acesso -

publicadas por brasileiros através do sistema, sendo que algumas têm interação com outros

usuários (estas podem ser identificadas através do uso do caractere @ - arroba, que tem o

objetivo de fazer referência a outro usuário do Twitter). O exemplo da imagem acima

exemplifica mensagens enviadas com esse tom de diálogo trivial12.

O conteúdo apresentado faz lembrar o que era publicado em blogs em sua gênese,

tendo a grande gama de textos publicados alguma relação com o que se vivenciou. Por isso,

os blogs trazem características de diários e, consequentemente, levam o estigma de “diário

virtual” - algo que ainda persegue essas páginas até os dias atuais, mesmo sendo comum

encontrarmos blogs que não têm nenhum conteúdo pessoal e que faça lembrar esse rótulo. Os

autores Nardi, Schiano e Gumbrecht (2004) abordam o tema, contudo apresentam um texto

discrepante ao falar da comparação entre blogs e páginas íntimas.

12 Interessante seria aprofundar essa discussão e também investir em uma análise de discurso, entretanto estetrabalho pretende se limitar às reflexões apenas no foco explicado anteriormente, ao conceito de tecnologialiterária.

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O blog não é um mundo fechado, mas parte de um espaçocomunicacional maior no qual vários meios, e comunicação face a facetambém podem ser usados. Blogs, portanto, se diferem de diáriosprivados, sendo de natureza totalmente social (NARDI, SCHIANO &GUMBRECHT, 2004, p. 225).

Outro aspecto das mensagens publicadas no microblog é o das mensagens

enquanto mediação, que está ligada à reconstrução narrativa do fato. A relevância de algo

acontecido com o indivíduo (no critério dele próprio) pode fazê-lo publicar ou não tal

conteúdo. Em contrapartida, essa relevância está diretamente ligada à capacidade desse

usuário de produzir textos que sejam atrativos e compreensivos para os demais usuários, para

que haja algum “destino” ou leitor para aquela mensagem. Sendo assim, o trabalho de

reconstrução narrativa da experiência dentro do microblog pode coincidir com a reconstrução

narrativa praticada em diários. Devemos levar em consideração também que, a priori, um

diário é escrito para não ser lido por terceiros, enquanto o Twitter permite a leitura de

publicações por outras pessoas além do autor. Essa não é, entretanto, uma regra, já que o

microblog admite que as mensagens publicadas sejam “privadas” e acessíveis apenas para

pessoas permitidas (à escolha do dono da conta).

Não necessariamente mensagens “triviais” sobre o dia-a-dia de usuários do

sistema são uma forma de intermediação, as quais pretendem transmitir sem omissões ou

mudanças de visões, impressões de determinadas vivências. Por se tratar de publicações, em

suma, descomprometidas, os textos são soltos e não seguem padrões editoriais.

Devido à restrição de caracteres e à própria dinâmica do Twitter, que permite a

troca de mensagem entre seus usuários, a linguagem ali usada geralmente é dotada de

enunciados pouco robustos e frágeis. Esses enunciados podem ser questionados por qualquer

outro indivíduo participante do sistema, caracterizando assim ações interativas mútuas, que,

para Primo (2007, p. 228), são dotadas de uma dinâmica que se atualiza através das “ações de

um interagente em relação à(s) do(s) outro(s), ou seja, não é mera somatória de ações

individuais”.

Não é possível concluir que as mensagens publicadas no Twitter sejam de fato

relatos objetivos. Conforme afirma Baccega (1995), discursos são capazes de materializar

“visões do mundo” na perspectiva de várias culturas sociais, cada uma com seus devidos

interesses e interpretações, e claro, com seu próprio estoque de palavras e estilos de escrita.

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As falas emitem, na verdade, predominantemente, discursos de máscaraimpostos pela sociedade. São as máscaras ditadas pela ideologia. Aofalar, o indivíduo leva em consideração o que se pode ou não se podedizer (...) é a sociedade das aparências (BACCEGA, 1995, p. 40-41).

A descrição de algo acaba sendo feita pelo usuário de uma maneira relativa,

dependendo diretamente da intenção do autor. Sendo assim, pensando nas mensagens

publicadas no Twitter como relatos é preciso observar que estes podem conter máscaras,

conforme diz a autora, entretanto, tal fato não o faz deixar de ser uma tecnologia literária, uma

vez que a escrita está sendo utilizada para registrar algo.

Outro fato curioso a respeito do conteúdo publicado no Twitter é a reação dos

usuários perante os tweets. Um estudo da Sysomos divulgado em outubro de 2010 afirmou que

a maior parte dos interagentes conversa “sozinho”, ou seja, vive alimentando um grande

monólogo com pílulas de 140 caracteres. Com base em 1,2 bilhão de tweets, coletados entre

agosto e setembro de 2009, a pesquisa informa que 71% das atualizações feitas pelos mais de

100 milhões de usuários não geram nenhum feedback de outro usuário. Esse fato não significa

que a mensagem não foi recebida ou lida, mas apresenta a baixa geração de interação a partir

dos textos. As reações que se pode esperar de algo publicado no microblog é um replie

(@nome de usuário e mensagem) ou retweet (RT), ato importante que será chave para essa

pesquisa, e que será melhor discutido adiante. Veja na figura abaixo um gráfico da pesquisa.

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FIGURA 3 - Pesquisa Sysomos sobre reações geradas por tweets

Fonte: <http://www.sysomos.com/insidetwitter/engagement/ > Acesso em 02 mar.2011

Muitos defendem redes sociais e internet usando o argumento da possibilidade de

interação, principalmente quando se trata do Twitter, que tem alinhado a isso o argumento da

instantaneidade. Contudo, é inusitado o fato de que a interação esteja sendo feita raramente no

microblog, parte do mundo digital que oferece chances de contatos entre interagentes diferente

dos espaços “offlines”. A interatividade que dá a dinâmica que movimenta a internet de forma

particular é como um jogo, como escrito no trecho abaixo:

(...) No mundo digital, o jogo só estabelece condição de interatividade,se em sua construção estivermos presentes como jogadores, já que,como espectadores, não sustentamos qualquer definição deinteratividade. As letras digitadas percorrem léguas e, ao mesmotempo, não saindo do lugar, negam qualquer definição detemporalidade. Die Spiel13. As palavras criadas por elas no máximo,são palavras hospedeiras (BAIRON, 2005, p. 74).

13 Termo alemão, em tradução livre: o jogo.

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No Twitter, a interatividade pode ser feita através da troca de textos curtos, devido

ao seu limite de caracteres, entre seus usuários. A pessoa que tem conta no Twitter pode

publicar textos para alguma pessoa diretamente ou apenas publicá-lo, sem um interagente

definido. O que a pesquisa mostra é a falta da participação no “jogo” - tal como definido por

Bairon - da interação. Não só uma mensagem com destinatário definido prova interação no

Twitter, contudo, é o que temos de mais concreto para identificarmos os atos interativos.

Quando pensamos nas ocasiões em que se misturam literatura e a dinâmica do

Twitter, é válido questionar como a interação se qualifica neste momento. Em um livro, por

exemplo, temos uma interação determinada entre autor e leitor, contudo, a internet permite

novas possibilidades que, dependendo do uso, garante instantaneidade e constante atualização.

Exposto essa reflexão, partiremos agora para um detalhamento do que tem sido chamado de

“twitteratura”.

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4 A “TWITTERATURA”

O termo “twitteratura” tem sido usado para definir todo e qualquer tipo de

manifestação literária dentro da plataforma em questão. Experiências do uso do espaço de 140

caracteres para publicação de “microcontos” e adaptações de narrativas já publicadas na forma

impressa para o sistema tem sido identificadas pelos próprios usuários. Por conseguinte,

mensagens retweetadas, comentadas e textos que, até então, estavam publicados apenas em

suportes impressos começaram a se tornar hábito dos usuários do Twitter.

Essa dinâmica coloca os usuários do microblog como um fio condutor que permite

um novo caminho dos conteúdos literários. Além do uso da ferramenta para citações de textos

já publicados de outras formas, começou-se a encarar a plataforma também como espaço para

publicações literárias, espaço que pode ser usado por qualquer pessoa, independente dela se

considerar ou não um escritor. Ao se tratar de produção escrita, costuma-se determinar

personagens e posições, como aquele que lê sendo entendido com o lado da recepção; aquele

que escreve como o produtor.

Tanto o livro como a pintura de cavalete, embora portáteis, transportamconsigo o lugar do outro como lugar fixo mas exterior, impondo aoleitor um fio condutor, a própria narrativa como dispositivoessencialmente unívoco, como a designa U. Eco, ou, no caso dapintura, a perspectiva determinando, no fora-do-quadro, o lugar doespectador (BABO, 2000, p 2).

Todavia, no Twitter, conforme já discutimos neste estudo, o usuário pode ser

classificado simultaneamente como produtor e como receptor. Portanto, justifica-se relacionar

a reflexão de Babo ao microblog, que serve como suporte para criações, recriações e deixa

qualquer indivíduo na posição de um potencial fio condutor do conteúdo que por ali passa.

Graças a essa diversidade de usos relacionados à literatura, o Twitter começa

também a receber atenção de profissionais da educação. Iniciativas voltadas à educação e

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leitura têm considerado o microblog como potencial espaço de aprendizagem, produção e

recepção literária. Dois exemplos praticados em sala de aula foram os de um professor de

português de São Paulo e de uma professora francesa que incentivaram seus alunos a

produzirem conteúdo no contexto literário dentro do universo de 140 caracteres14. O objetivo

de ambos era o mesmo: solicitar aos alunos produções que já seriam feitas, contudo,

envolvendo um novo suporte. Tais atividades geraram conteúdos que, pelos seus produtores,

são chamados de “twitteratura” e também têm aspectos colaborativos. Abaixo temos o

exemplo desse uso pedagógico do Twitter no aspecto literário, publicado no perfil

@hs_micro_contos15 .

FIGURA 4 - Alunos do 7º e 8º anos do colégio HUGO SARMENTO escrevem microcontos inspirados no twitter Sem Ruído.

Fonte: <http://twitter.com/hs_micro_contos> Acesso em: 27 mar. 2011

A imagem mostra publicações feitas pelos estudantes, sendo que estas eram parte

de um trabalho escolar, e os nomes dos alunos autores. Os alunos precisaram exercer o poder

14 Matéria sobre caso brasileiro, disponível em:<http://www.estadao.com.br/estadaodehoje/20101018/not_imp626165,0.php> Acesso em 21 mar. 2011; matériasobre o caso francês, disponível em : <http://www.cyberpresse.ca/le-soleil/actualites/education/201103/04/01-4376362-twitter-sur-les-bancs-decole.php?utm_categorieinterne=trafficdrivers&utm_contenuinterne=cyberpresse_meme_auteur_4376362_article_POS2> Acesso em 21 mar. 2011 .15 Perfil pode ser conhecido no link <http://twitter.com/hs_micro_contos> Acesso em 27 mar. 2011

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de concisão e aplicar conteúdos literários que foram estudados em sala de aula. Por fim, a

ideia do professor se tornou uma ação teórica e prática ao desenvolver estudos sobre

microcontos.

Percebe-se na imagem que os 140 caracteres não limitavam as possibilidades de se

criarem novas sentenças que pudessem expandir o campo textual em relação aos textos

motivadores. No entanto, faziam os alunos exercitarem a coesão e o poder de expressão em

um espaço de publicação menor que outros. Talvez, essa experiência se tenha constituído

numa nova lógica de escrita para muitos estudantes envolvidos no exercício.

Por outro lado, temos inúmeros casos de escritores já reconhecidos e também que

chegam ao mercado agora criando contas e fazendo uso do Twitter, podendo ser estes usos

especificamente para estabelecer comunicação com seus leitores, para divulgar sua obra ou até

mesmo usar o espaço como suporte para publicar o seu trabalho com adaptações baseadas nas

limitações da ferramenta.

Dessa forma, conseguimos visualizar a autonomia que qualquer usuário do Twitter

tem e do poder de escolher ser apenas um receptor, ou de também poder produzir conteúdo e

publicá-lo no microblog, deixando a produção disponível para inúmeras pessoas, podendo

estas ser usuárias ou não do site.

Da mesma maneira que os estudantes se tornaram escritores por um momento,

vários outros escritores já consagrados ou aqueles que nem mesmo se autodenominam

escritores num sentido stricto são capazes de ter espaço no microblog para publicarem textos e

outros tipos de linguagens. Este movimento de usar o Twitter como espaço para exposição da

obra gera o que os próprios usuários denominam como “twitteratura”. Não se trata

necessariamente de um gênero, e sim do ato de apropriação do espaço para divulgação de

obras já existentes e clássicas e até mesmo para a inserção de novos talentos.

Dessa maneira, todo usuário se transforma em um potencial autor. Ele pode ser um

usuário citador, que faz uso de citações de outros autores para criar um perfil com contexto

literário, mas sem obras próprias, como pode também exibir criações próprias. Sendo assim,

abrimos o próximo tópico do estudo para entender melhor o que é o autor e como ele pode ser

visto nesse contexto dos microblogs. O objetivo da discussão a seguir é também mostrar que,

mesmo sem criar, por exemplo, uma poesia de 140 caracteres e divulgá-la no Twitter, todos os

usuários têm um potencial lado autor na rede. Esse é o mote das discussões a seguir.

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5 O POTENCIAL DA AUTORIA

Com as novas mídias e a web 2.0 (O’Reilly) parece que todos os campos de estudo

tem recebido fortes potencializações e mudanças em suas metodologias e lógicas de produção

e recepção. Assim acontece com a literatura. Muitas vezes ela já não carrega consigo da

mesma forma que antes a fissura de “gêneros genuínos” e é capaz de afrontar a mistura

constante de gêneros não-literários e suportes de publicação inusitados sendo aplicados ao seu

contexto.

No fazer literário e no contexto sócio-político cultural, as discussões acerca da

autoria sempre estiveram presentes. O leitor é um sujeito pró-ativo, que tem a autonomia de

re-inventar sentidos e ritmos de leitura, e também assumir uma função como a de um "co-

autor", por poder recriar os sentidos, isto é, ressignificar um texto noutro tempo, espaço e

contexto. Assim, o leitor pode ser tratado como um agente ativo e modificador, capaz de

desconstruir e construir até mesmo novas narrativas partindo de uma que foi criada pelo autor

inicial. Dentre os vários intelectuais que dedicaram esforço a essa questão, cabe lembrar

Roland Barthes, Mikhail Bakhtin (2003) e Michel Foucault (1970). Nesse capítulo

envolveremos o que cada um deles diz a respeito do tema e trazê-lo à realidade de nosso

objeto de pesquisa e ocasionalmente demais autores que possam vir a contribuir com a

discussão serão também trazidos à tona. Comecemos por Foucault:

O autor é aquele que dá à inquietante linguagem da ficção suasunidades, seus nós de coerência, sua inserção no real (...). Seria absurdonegar, é claro, a existência do indivíduo que escreve e inventa. Maspenso que - ao mesmo desde uma certa época - o indivíduo que se põe aescrever um texto no horizonte do qual paira uma obra possível retomapor sua conta a função do autor: aquilo que ele escreve e o que nãoescreve, aquilo que desenha, mesmo a título de rascunho provisório,como esboço da obra, e o que deixa, vai cair em conversas cotidianas.Todo este jogo de diferenças é prescrito pela função do autor, tal comoa recebe de sua época ou tal como ele, por sua vez, a modifica. Poisembora possa modificar a imagem tradicional que se faz de um autor,será a partir de uma nova posição do autor que recortará, em tudo o quepoderia ter dito, em tudo o que diz todos os dias, a todo momento, operfil ainda trêmulo de sua obra" (FOUCAULT, 1970, p.28).

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Aproveitando o alargamento da noção de autor, poderíamos supor aqui, no caso

dos escritores que se consagraram na modalidade impressa dos livros, que aquilo que eles

produzem nos meios digitais implica, por conseguinte, a extensão de suas criações. Por outro

lado, se aquilo que esse escritor, em sentido lato, “desenha” na variedade de matérias e

suportes constitui uma modificação dessa função, aquele que vem praticar a “twitteratura” não

constitui hoje uma forma de “autor in progress”? Atentemos, porém, às noções que concernem

a esse tema. Referimo-nos ao “autor” como o indivíduo que cria, e o termo de leitor como um

indivíduo que tem um papel de ressignificador, assumindo também indiretamente uma ação

autoral. Resguardando evidentemente os respectivos contextos, emergem dessa discussão

termos, como, por exemplo, o uso das expressões “escritor”, por Barthes (1984); “autor-

criador” por Bakhtin (2003) e “função-autor” por Foucault (1970).

Ao estudar Dostoiévski, Bakhtin elucida o problema da identificação da figura do

autor, questão tal que ainda assombra as obras. A divisão feita por ele de “autor-criador”, que

é apontado como a instância literária que coordena as vozes; e o “autor-social” que é o

individuo que, por tamanha subjetividade, se substitui pela articulação do autor-criador, foi

fruto da percepção do ato do autor. Este não dita ou fala, mas sim dialoga, troca, se relaciona e

se homogeniza com outras vozes. Uma obra de romance, por exemplo, não é necessariamente

a representação de algo vivido por seu autor. Portanto, essa coincidência de vozes não é uma

obrigação, e complexifica o entendimento da figura de autor. Bakhtin aponta Dostoiévski

como um articulador em seu fazer artístico, pois aqueles que lêem suas obras não são sua voz,

mas sim a articulação de sua voz (polifônica). Fazendo referência ao livro Problemas da

poética de Dostoiévski (2002), Bakhtin destaca a via de mão dupla que é o ato da leitura:

[...] depois do meu livro (mas independentemente dele), as ideias dapolifonia, do diálogo, do inacabamento, etc., tiveram umdesenvolvimento muito amplo. Isso se deve à crescente influência deDostoiévski, mas antes de tudo, é claro, àquelas mudanças na própriarealidade que Dostoiévski foi capaz de descobrir antes dos outros.(BAKHTIN, 2003, p. 339).

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Quer dizer, no entendimento desse autor, seu estudo sobre a polifonia realçou a

importância de Dostoiévski, mas esse estudo foi também a descoberta de algo que já estava lá,

latente, no texto do grande romancista russo.

Por seu turno, num breve mas profícuo ensaio, “A Morte do Autor” (1968),

Barthes traça uma reflexão a respeito do papel do autor. Esclarecendo que, quem fala em

algum texto é a linguagem e não o autor em si, o escritor nos traz a ideia do afastamento do

autor e a impossibilidade de atribuir uma específica identidade à obra. Para ele, não existe

mais entre escritor e texto uma relação como há entre obra e autor, pois

[...] o escritor moderno nasce ao mesmo tempo que o seu texto; nãoestá de modo algum provido de um ser que precederia ou excederia asua escrita, não é de modo algum o sujeito de que o seu livro seria opredicado; não existe outro tempo além do da enunciação, e todo textoé escrito eternamente 'aqui' e 'agora'. (BARTHES, 1984, p. 51).

Dessa forma, o autor e o leitor merecem espaços e interpretações distintas, apesar

de reconhecidamente terem, juntos, a idêntica posição de “produtores” de texto. Ambos são

capazes de produzir sentido e, tecendo e retecendo a malha textual, possibilitar novas

percepções tanto do texto quanto do mundo, com o apoio das tecnologias da escrita e da

leitura em seu tempo e espaço: “na produção de uma obra, o ato criativo é apenas um

momento incompleto e abstrato; se existisse só o autor, ele poderia escrever tanto quanto

quisesse – a obra nunca viria à luz como objeto e o autor pararia de escrever ou se

desesperaria” (SARTRE, 1958, p. 58). Na postura de leitor, o próprio ato de leitura já significa

uma ação de criação e produção, pelo fato de ali estar a registrar-se, talvez, um novo sentido,

ou seja, nem só o autor é o responsável em compor e criar, e como provoca o trecho de Sartre,

o autor é parte de um processo que seria fadado à frustração se existisse por si só.

Conforme Barthes escreve, com o crescente aumento de poder do leitor, podemos

ver tanto o autor como o leitor como indivíduos que compartilham o mesmo título, o de

“escritor”, contudo, para que consigamos atingir tal entendimento é fundamental antes

permitir que aconteça “A morte do Autor” (BARTHES, 1984, p. 53). Por sua vez, Foucault

trabalha o papel do autor considerando também uma reavaliação sobre a noção de sujeito e diz

que tal função chega para caracterizar o jeito de ser (que envolve circulação e funcionamento)

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de todos os discursos, considerando também o contexto em que ele acontece. Foucault

enxerga a "função autor" não apenas atribuindo um texto a alguém que, supostamente, o criou,

mas também considera isso como uma "característica de modo de existência" (FOUCAULT,

2002, p.46), que dita o funcionamento dos discursos em seus grupos sociais. Consequentemente,

a recepção de uma mensagem pode ser diferente dependendo da atribuição da "função autor".

Nesse caso, considerando o tema desta pesquisa, e compartilhando o argumento exposto,

tweets idênticos podem ser feitos por inúmeras pessoas. Contudo, se partem de emissores de

maior credibilidade e conhecimento público, ganharão outra repercussão, por mais que, talvez,

aquela não seja uma obra criada pelo autor do post.

Outro autor que carece referência nesse contexto por seus estudos sobre a

recepção e assuntos afins é Wolfgang Iser. Principalmente em O Ato da Leitura, Iser (1999,

p.27) fala sobre a importância do jogo que é feito entre autor e leitor na produção de uma obra

e chama isso de “ponto de vista em movimento”. Para ele, a multiplicidade das interpretações

é capaz de inspirar a criação de uma rede relacional, que dá sentido a algum texto a partir das

decisões feitas pelo receptor durante o processo de leitura.

Mais importante, contudo, é o fato de que o ponto de vista emmovimento possibilita ao leitor desenvolver a diversidade relacionaldas perspectivas textuais, as quais, como já observamos, se realçamcada vez que o ponto de vista salta de uma para outra (...). Amultiplicidade das interpretações de um texto indica que estas seleçõessubjetivas não são idênticas, mas passíveis de compreensãointersubjetiva, uma vez que representam tentativas de otimizar a mesmarede relacional. (ISER, 1999, p27).

Para melhor discutir o tema, lembramos que Eco (1990) frisa a importância de se

considerar quem são os personagens envolvidos processo, com destaque ao leitor. Para falar

de interpretação de textos, ele cria o tripé autor-obra-leitor. O semiólogo destaca a importância

de se conhecer aquele que é denominado como leitor-modelo, que seria o indivíduo idealizado

para a leitura da obra produzida, pois um texto pode ser interpretado de várias maneiras,

semanticamente ou criticamente. Alguns textos, em especial os de função estética, têm em si a

habilidade de ativar o leitor e, ao mesmo tempo, receber novos sentidos na leitura. Essa

cooperação do leitor com o texto permite que o mesmo funcione e assuma outros sentidos à

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medida que o leitor vai dialogando com autor e/ou narrador, mediados pelo texto. No texto

literário, os sentidos, muitas vezes, são múltiplos, diluídos na trama textual e vão se

transformando à medida que o leitor vai descobrindo novos ângulos de interpretação. Cada

leitura, portanto, vai ser sempre diferente de outra (ECO 1990, p.37). Para ele, cada texto tem

consigo algo fundamental que concretiza a interpretação da obra em seus leitores, e essa

“coincidência” da chegada de um certo texto a um certo leitor, envolve essa intencionalidade

projetada na obra. Contudo, isso pode ser facilmente quebrado, e para explicar o fato ele isola

casos em que isso não é tão comum e certo principalmente pela influência da mídia, como nos

casos dos livros impressos, pelo fato de ser um tipo de meio de comunicação de massa onde

um autor único se posiciona para falar para inúmeros leitores. Ou seja, nem sempre se trabalha

com nichos, e quando se envolve massa, um público menos específico, portanto, existe o risco

de um conteúdo chegar a um público que não seria exatamente o leitor que se interessaria.

Além disso, como em qualquer objeto que envolve texto, no Twitter temos os

mesmos elementos destacados por Eco e podemos encontrar autor-obra-leitor. Por estarmos

em um ambiente virtual em que interações podem ou não acontecer com base na limitação ou

na potencialização oferecida pela ferramenta e sua interface, surgem episódios que merecem

ser visualizados com perspectivas baseadas na discussão da pesquisa. Retweets mudam

consideravelmente o alcance de uma mensagem. Se o usuário publicou uma mensagem para o

público que o segue, ela tem um sentido diferente, pois quem acompanha aquele perfil tem

algum interesse específico. Contudo, com o poder do RT, aquela mensagem pode se propagar

para públicos com interesses por conteúdo diferentes.

A dinâmica encontrada no Twitter se fortalece com as “reapropriações” feitas

pelos usuários no sistema. Um retweet pode ser feito de duas formas: a primeira apenas pela

página oficial do serviço clicando em um botão específico para a ação. Dessa maneira, o

usuário não pode incluir sequer um caractere antes ou depois do texto que ele quer que seja

repassado aos seus seguidores. Essa forma de se retwittar foi inaugurada no segundo semestre

de 2010, pois até antes disso, o retwitte era feito de forma manual: era como copiar um tweet e

dar o crédito (geralmente com a sigla RT e o nome do usuário que enviou aquele texto). Como

se trata apenas de copiar e colar, dessa forma é possível em alguns casos incluir algum texto

antes ou depois do tweet original, quando sobram caracteres, e em muitas vezes esse recurso é

usado como espaço para uma opinião ou para alguma complementação da mensagem.

Contudo, essa facilidade de se dar créditos para alguém por um texto trouxe uma fragilidade

para a rede, pois se tornara fácil escrever qualquer mensagem e creditá-la a alguém, que de

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fato não escreveu aquilo. Tal fenômeno é muito frequentemente principalmente em emails,

por exemplo, quando o nome de escritores como Luis Fernando Veríssimo e Arnaldo Jabour

assinam textos que não são de sua autoria, entretanto, as crônicas seguidas de seus nomes já

foram tantas vezes encaminhadas que já se perdeu o controle da propagação, e torna-se tarefa

complexa corrigir a autoria.

Para evitar esse tipo de conflito, a equipe do Twitter optou em oferecer esse

recurso, que, ao invés de fazer com que o texto seja copiado e colado na página do usuário que

o retwitta, foi feita a inclusão de um “atalho”, ou link, do tweet original na página daquele que

deseja repassar a mensagem. Consequentemente fica impossível incluir algum comentário no

mesmo tweet, entretanto diminui-se a chance de se falsificar algum retweet.

A segunda forma de se fazer um retweet é a que já existia antes desse recurso do

Twitter. O copiar, colar, creditar e, se possível e desejável, complementar. Contudo, situações

inusitadas acontecem por isso. É comum um usuário querer retwittar um retwitte, ou seja,

reenviar uma mensagem que chegou a ele através de outras duas pessoas. Pelo fato de o

Twitter ter a limitação explícita de caracteres, isso proporciona uma séria complexificação de

créditos, e transforma a identificação do caminho de um tweet um mapa quase indecifrável.

A “validade” e durabilidade do enunciado publicado dependerão do âmbito e força

das associações produzidas. Em perspectiva genérica, as mensagens publicadas no microblog

têm durabilidade baixa por causa da velocidade de atualizações feitas pelos usuários. Para se

ter uma ideia da velocidade de publicações, entre as 22h30m e as 23h30m do dia 24 fev. 2010,

os usuários do Twitter que se identificam como residentes do Brasil fizeram aproximadamente

1,9 atualizações por segundo, sendo que estes foram feitos por 24.260 usuários. Abaixo

(Figura ) a imagem que cedeu os números citados acima.

FIGURA 5 - Estatísticas sobre atualizações do Twitter

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Fonte: < http://blablabra.net/> Acesso em 24 fev. 2010

Apesar de haver uma alta velocidade de atualizações, a “durabilidade” de uma

mensagem publicada não deve ser medida tão brevemente, uma vez que os enunciados

publicados estarão gravados na página de quem o fez e poderão também ser reapropriados por

outros usuários (bem como retwittados, termo que se refere à republicação de um mesmo

texto, dando créditos ao suposto autor original). Como mostra a Figura 5, uma mensagem

publicada por usuário X pode ser reproduzida por inúmeras vezes, a qualquer momento e por

diversos outros usuários. Este fenômeno de reapropriações torna-se incontrolável, tanto para

quem publicou o conteúdo, quando para quem o “retwitta”.

FIGURA 6 - Exemplo de "retweets"

Fonte: <http://search.twitter.com/> com busca feita por “@Millorfernandes”.Acesso em 25 fev. 2010

A Figura 6 mostra inúmeras mensagens publicadas por usuários que não têm

relações diretas um com outro, obrigatoriamente. Trata-se de uma busca feita por mensagens

republicadas a partir do perfil que leva o nome do autor Millôr Fernandes, que é identificado

na imagem como @millorfernandes. Percebe-se ainda que as mensagens contem créditos para

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um perfil que se autodenomina @melhoresfrases, fato que acontece constantemente no

Twitter, e que pode ser tratado como um “retweet de um retweet”. A mensagem original, que

foi reproduzida inúmeras vezes no fim da noite de 24 fev. 2010, no entanto foi publicada

originalmente três dias antes no perfil denominado Millorfernandes (que não necessariamente

pertence ao escritor), como nos mostra a figura 7.

FIGURA 7 - Imagem do perfil do Twitter que originou mensagens retweets

Fonte: <http://twitter.com/millorfernandes> Acesso em 25 fev 2010

Acima temos a imagem do Twitter de Millôr Fernandes, no qual aparecem à

esquerda as mensagens publicadas mais recentemente por ele, e ao lado informações como

número de pessoas que o seguem (123.905) e que ele segue (28), número total de publicações

(458) e os avatares (fotos do perfil) dos usuários que Millôr segue.

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O estabelecimento de contatos no Twitter é basicamente formado através dos

chamados “followers” e “follows” (em português, seguidores e seguidos). A rede que receberá

o conteúdo emitido pelo usuário dono da página é formada alheiamente à vontade do usuário,

a menos que ele torne sua conta uma página privada, fazendo com que apenas pessoas

autorizadas tenham acesso aos textos. Não é possível escolher quem vai seguir o seu perfil,

contudo, é permitido impedir que algum usuário o siga, usando o recurso de bloquear, sendo

que essa é a única maneira de se ter algum controle efetivo de sua lista de seguidores no caso

de se ter uma conta não-privada. Dessa forma, é possível observar que o fluxo de distribuição

e de formação de conversas no microblog é pulverizado e assimétrico.

Reafirmando que a “durabilidade” das mensagens publicadas é imprevisível, foi

possível encontrar perfis do Twitter no dia 28 de fevereiro de 2010, sete dias após a

publicação original em nome de Millôr, ainda sendo retwittada por usuários, como pode ser

visto na imagem abaixo.

FIGURA 8 - Imagem de perfil do Twitter que retwittou a mensagem de Millor Fernandes

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Fonte: <http://twitter.com/willzoco>. Acesso em 28 fev. 2010

Visto isto, podemos perceber que no Twitter, a todo instante, todos são potenciais

emissores de conteúdo, apesar de poder ser ao mesmo tempo um sujeito que “recebe”

mensagens. Atualmente, já é claro que o leitor não é um mero receptor. Hoje sabemos disso

graças às várias evoluções e provas que temos diariamente com uma comunicação de mão

dupla, onde todos “falam” e “escutam”.

Durante décadas acreditou-se que o leitor era apenas um indivíduo que deveria

decodificar um conteúdo de um determinado enunciado, sendo que o sentido deste seria de

autoria imutável do criador (enunciador, aquele que fala ou escreve). Presentemente sabemos

que conhecimentos gramaticais e linguísticos não bastam para chegarmos, de fato, ao real

sentido da mensagem enunciada (Maingueneau, 2004). Barthes (2004) fala do ato de leitura

como um momento mais participativo, no qual é chamado pelo texto para decifrá-lo, e para

definir melhor isso grafa o termo “Paradoxo do leitor”.

O leitor é aquela personagem que está no palco (mesmoclandestinamente) e que sozinha ouve o que cada um dos parceiros dodiálogo não ouve; sua escuta é dupla (e, portanto, virtualmentemúltipla). (...) Essa imaginação de um leitor total - quer dizer,totalmente múltiplo, programático - tem talvez uma coisa de útil:permite entrever o que se poderia chamar de Paradoxo do leitor;admite-se comumente que ler é decodificar: letras, palavras, sentidos,estruturas, e isso é incontestável; mas acumulando as decodificações, jáque a leitura é, de direito, infinita, tirando a trava do sentido, pondo aleitura em roda livre (o que é a sua vocação estrutural), o leitor étomado por uma inversão dialética: finalmente, ele não decodifica, elesobrecodifica; não decifra, produz, amontoa linguagens, deixa-seinfinita e incansavelmente atravessar por elas: ele é essa travessia.(BARTHES, 2004, p 41).

Foucault, ao tentar "localizar o espaço deixado vazio pelo desaparecimento do

autor, seguir de perto a repartição das lacunas e das fissuras e perscrutar os espaços, as

funções livres que esse desaparecimento deixa a descoberto" (FOUCAULT, 2002, p.41), acaba por

entender que tudo está diretamente relacionado ao modo de ser e ao contexto de cada discurso.

Portanto, no nosso contexto, a função-autor , conforme proposta por Foucault, existe como um

mecanismo de apropriação, e que devido a uma ordem já constituída socialmente é

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estabelecida de forma intimidadora. Pode-se ainda estabelecer essa função-autor como o

registro da origem de uma obra literária e também da autoridade que dá credibilidade a uma

informação. Por fim, Foucault ainda se refere à função-autor como sendo a capacidade de

separarmos e identificarmos as inúmeras identidades dos personagens que se apropriam na

obra.

Dessa forma, Foucault divide os temas de escrita em dois, sendo que essa divisão

reflete diretamente no comportamento do leitor perante a obra. Sua primeira abordagem

propõe o “tema da expressão”, refere-se ao fato de dar pouca relevância a quem escreveu, uma

vez que o texto diz tudo por si só. A segunda discute o “tema da morte”, em que se entrega a

responsabilidade ao leitor, uma vez que é ele quem diz e dá sentido a tudo sozinho. Com

metáforas, nesse segundo caso, Foucault destaca ainda que a escrita esteja diretamente

relacionada ao sofrer da vida do escritor, e por isso ele se afasta o máximo do que produz e se

anula diante da do que escreve, fazendo entender que:

[...] a obra que tinha o dever de conferir a imortalidade passou a ter odireito de matar, de ser a assassina do seu autor. Veja-se os casosde Flaubert, Proust, Kafka. Mas há ainda outra coisa: esta relação daescrita com a morte manifesta-se também no apagamento doscaracteres individuais do sujeito que escreve; por intermédio de todo oemaranhado que estabelece entre ele próprio e o que escreve, ele retiraa todos os signos a sua individualidade particular; a marca do escritornão é mais do que a singularidade da sua ausência (FOUCAULT, 1992,p.36).

Barthes afirma ainda que "um texto é um espaço de dimensões múltiplas, onde se

casam e se contestam escrituras variadas, das quais nenhuma é original" (1998, p.68). Essas

observações acerca do texto nos ajudam a conectar as reflexões sobre a “twitteratura”. No

microblog onde tweets e retweets se misturam, é de fato um desafio tentar separar mensagens,

autorias e demais nuances das publicações. É muito comum no Twitter hibridizar linguagens.

Um tweet, composto por letras apenas, pode ter em si um link que nos leve para uma música,

para um vídeo. Isso implica em uma junção não só de gêneros, mas também de obras de outra

natureza e autorias, uma vez que algo foi criado a partir de uma criação de outro. Há ainda a

possibilidade de que o receptor daquele conteúdo possa retwittá-lo com um comentário, com

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um link, ou somente retwittar, e assim adiante. A complexidade da rede de que as mensagens

fazem parte pode se tornar potencialmente maior. Isso depende apenas da reação dos leitores e

sua predisposição para fazê-lo.

Foucault nos faz refletir sobre o valor de um conteúdo a ponto de julgar-lhe ou não

como “obra”. Atualmente podemos ver perfis no Twitter se transformando em livros

impressos ou até mesmo criações sendo feitas a partir do site, apenas com pretensões de

acesso. É possível também encontrar perfis com mais de 10 mil tweets sobre cotidiano,

profissão e outros assuntos alheios com algumas atualizações específicas, de 140 caracteres,

sendo batizadas e identificadas como microcontos, haicais e outros termos. Seriam isso, então,

várias obras?

Ora, é preciso levantar de imediato um problema: "O que é uma obra?Em que consiste essa curiosa unidade que designamos por obra? Queelementos a compõem? Uma obra não é o que escreveu aquele que sedesigna por autor?" Vemos surgir as dificuldades. Se um indivíduo nãofosse um autor, o que ele escreveu ou disse, o que ele deixou nos seuspapéis, o que dele se herdou, poderia chamar-se "obra"? Se Sade nãofoi um autor, que então os seus papéis? Rolos de papel sobre os quais,durante os dias de prisão, ele inscrevia os seus fantasmas até aoinfinito. (FOUCAULT, 1996, .p 37 e 38).

Podemos ver que a literatura hoje perpassa por grandes dilemas, e a discutida

relação entre autor e leitor cede espaço ao entrelaçamento de ambas as instâncias, criando um

objeto muito mais complexo a ser estudado. A transmissão, produção, recepção e manuseio da

literatura hoje participam de um momento de modificações, já que os processos comunicativos

e cognitivos têm ganhado a cada dia novos procedimentos e velocidade. Embora isso esteja

ficando cada dia mais claro, o que vem acontecendo não é tão recente, vem do fim do século

XIX, como aponta Perrone-Moises.

[...] algo aconteceu ao homem e à literatura desde o fim do século XIX,algo suficientemente importante para abalar essa relação já quasetranquila à força de ser rotineira. O que aconteceu foi o questionamentodo sujeito-criador, a flutuação da Verdade, a queda das hierarquias em

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consequência de um descentramento ontolológico e ético. (PERRONE-MOISÉS, 1978, p. 20).

O Twitter, quando usado para a literatura, pode colocar em prática essas questões

teóricas, pois deixa ao alcance de todos o poder de estar de todos os lados, o de receptor, o de

produtor e ainda ganha um poder diferenciado de ter a chance de usar o conteúdo recém-

recebido para criar algo.

O microblog em questão é uma ferramenta cada dia mais popular, como vimos ao

longo desse trabalho. Por sua vez, essa tamanha popularização implica um repensar de suas

técnicas e alcances por parte dos envolvidos no processo de criação de conteúdos, pois

encontramos agora novos ritmos e fluxos de informação. Por exemplo, afinal, o que é melhor

fazer no Twitter, quando se está trabalhando com literatura, afinal? No microblog também,

assim como em outros suportes, o potencial da autoria é claro e explícito, devido ao fácil

acesso para publicar e também por causa das chances de ter usuários da ferramenta (que ora

produzem, ora recebem, sem sair do mesmo lugar) como interatores em diversas situações,

sendo leitores e até mesmo possíveis receptores capazes de fazer intervenções na obra.

Portanto, ao pensar especificamente no ambiente da plataforma Twitter, podemos ver essas

intervenções acontecendo principalmente nos chamados retweets, nos vários exemplos

comentados. Sendo assim, cumpriremos a seguir a tarefa de entender melhor o uso do Twitter

e seus recursos.

5.1 Tautismo cibernético

O filósofo francês Lucien Sfez, em sua obra “Crítica da Comunicação”, cita o

termo “tautismo” para abordar o papel que a tecnologia ganhou diante do mundo de hoje,

principalmente, tratando-se de tópicos como os da linguagem e comunicação. O termo em

questão é um

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[...] neologismo formado pela contração de ‘tautologia’(o ‘repito, logoprovo ’tão atuante na mídia) e ‘autismo’ (o sistema de comunicaçãotorna-me surdo-mudo, isolado dos outros, quase autista), neologismoque evoca um objetivo totalizante, na verdade totalitário (SFEZ, 2000,p. 13).

A autonomia que cada indivíduo tem na internet, principalmente nas mídias

sociais, é capaz de formar uma esfera de autoreferencialidade para cada um deles. O próprio

Sfez relembra o modelo 5W de comunicação de Lasswell em que seu lema é o pensamento

“quem diz o que a quem através de que canal com qual efeito”.

Com essa nova lógica de divisão de papéis (receptores e emissores) podemos

identificar o que Baudrillard falara sobre a comunicação, encarando-a como a busca do duplo

e o pressentimento, descrito no livro O Crime Perfeito (BAUDRILLARD, 1996), de que a

ampliação e a ansiedade dessa comunicação resultariam no engolir desse próprio duplo tão

buscado, devido a uma “overdose” de simulacros. Já em outra obra, Simulacros e Simulações,

Baudrillard desperta os efeitos da internet no deslumbramento que a sociedade passa a viver

pelo excesso de informações ali vivido

[...] vídeo, tela interativa, Internet, realidade virtual: a interatividadenos ameaça de toda parte. Por tudo, mistura-se o que era separado; portudo, a distância é abolida, entre os sexos, entre os pólos opostos, entrepalco e platéia, entre os protagonistas da ação, entre sujeito e objeto,entre o real e seu duplo. Essa confusão dos termos e essa colisão dospólos fazem com que em mais nenhum lugar haja a possibilidade dojuízo de valor: nem em arte, nem em moral, nem em política. Pelaabolição da distância do ‘pathos da distância’, tudo se torna irrefutável(BAURDRILLARD, 1997, p.145).

As discussões dos teóricos sobre os conceitos de tautismo e simulacro, por fim,

alcançam o que vivemos hoje no que diz respeito às definições de papéis que poderiam ser

feitas na era em que as trocas de informações tinham personagens mais definidos e ambientes

mais controlados. Com as possibilidades da internet, as mídias ganham mais potência na vida

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de cada indivíduo e fazem valer ainda mais o que McLuhan (1964) diz a respeito das

“extensões do homem”:

Estamos nos aproximando da fase final das extensões do homem: asimulação tecnológica da consciência, pela qual o processo criativo doconhecimento se estenderá coletiva e corporativamente a toda asociedade humana, tal como já se fez com nossos sentidos e nossosnervos através dos diversos meios e veículos. (MCLUHAN, 1964,p.17).

Sfez (1994) também traz a metáfora do Frankstein, pois acredita que ali está o

conceito do tautismo, pela força do “confundir” como essência.

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Sociedade de comunicação e sociedade Frankstein não se opõem.Frankstein é a comunicação levada à sua completude. Comunicação dohomem com o seu duplo. A própria teoria da informação regula os doisdomínios. Tanto mais que o par falsamente em querela faz parte de umacultura única: a tecnologia. A questão de uma crítica da comunicaçãodesloca-se, para uma questão próxima, a crítica das tecnologias dacomunicação. (SFEZ, 1994, p. 20).

A contribuição de Sfez para este estudo está em demonstrar a necessária

preponderância da comunicação sobre a tecnologia. Levados por seu raciocínio, percebemos

que, ao ser tomada no campo da expressão, e não necessariamente como máquina, valoriza-se

os papeis do sujeito, isto é, tanto do produtor quanto do receptor. O que é chamado de

tautologia é capaz de prender o sujeito ao silêncio, limitado ao seu espaço interior, e assim

chegamos ao autismo tautológico, onde essa ampla hierarquia de todos desordena a ordem

antes presente.

A escolha de Sfez (1994) para discutir criticamente essa questão é de fato

meticulosa, uma vez que o autor é conhecido por manter uma descrença no olhar que alguns

mantêm a respeito das novas tecnologias, colocando nelas um potencial demasiado

esperançoso. Não é intenção desta pesquisa ser pessimista e sim de manter o equilíbrio entre

pontos de vistas teóricos a respeito dos adventos comunicacionais e cibernéticos.

Considerando as questões trazidas pelos novos contextos cibernéticos, podemos

encontrar realmente o tautismo presente em nosso tempo e perceber que a complexidade de

toda a estrutura da comunicação aumenta e tende a crescer ainda mais, graças à maturidade

que os sujeitos têm aprendido a ganhar usando as TICS. Lévy (1999) relembra que, o que era

antes algo exclusivo de uma casta de letrados, agora o prisma da escrita é real e traz uma nova

visão de mundo para muitos.

Podemos citar a facilidade de se produzir colaborativamente hoje. Esse fluxo

reconfigura vários conceitos e provoca a necessidade de repensar valores, créditos, dentre

outras questões. Vivaldo da Silva16 acredita que “Tecnologias colaborativas são as que

consentem a otimização do trabalho em equipe. Explicitando, as novas tecnologias de

informação e de comunicação podem ser utilizadas para se alcançar objetivos individuais

isoladamente“. Essa dinâmica chamada de fluxo pode ser entendida como

16 VIVALDO DA SILVA, Leonardo. “Educação e as novas linguagens tecnológicas digitais: uma aprendizagemconstante”. Revista Virtual Partes. Disponível em:<http://www.partes.com.br/educacao/novas_linguagens.asp>. Acesso em 09 jun. 2011

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[...] uma sucessão de eventos, de um processo de mediação entre ageração da informação por uma fonte emissora e a aceitação dainformação pela entidade receptora realiza uma das bases conceituaisque se acredita ser o cerne da ciência da informação: a geração deconhecimento no indivíduo e no seu espaço de convivência.(BARRETO, 1998, p.1).

O Twitter, objeto de estudo da presente pesquisa, não tem cunho colaborativo, pois

não permite edição de publicações e não parte desta proposta, entretanto, sua dinâmica pode

ser conectada à filosofia colaborativista devido à possibilidade de cada conteúdo publicado

por um indivíduo específico poder ser acoplado a outro e, em sucessão, formar uma obra.

Conteúdos individuais podem ser trabalhados em conjunto e, dessa maneira, se transformar

em um bem comum, como um mosaico de peças de vários autores, o que daria ao produto

final a possibilidade de ser visto como um trabalho colaborativo.

Pode-se interpretar toda a dinâmica vivida neste tempo como a era da existência

de um “eu individual distribuído”. Esse é um conceito de Edmond Couchot (2003) que se

refere ao deslizamento do “eu” fora do corpo e da descentralização do mesmo. Couchot afirma

que o artista Roy Acott teria introduzido as discussões a respeito da

[...] ideia de uma 'presença virtualizada' de um 'eu individualdistribuído' através da malha de redes e de seus nós, não maislocalizados pontualmente, como havia sido o olho nos sistemas defiguração fundados na representação ótica (COUCHOT, 2003, p. 272).

Todavia, esse deslocamento e desordenamento de identidade não implicam a ideia

de adoção de vários tipos de identidade, e sim a de um papel que pode ser comparado ao do

poder do homem em criar ficções e fantasias. Afinal, o homem é capaz de criar histórias e de

viver outras histórias desdobrando-se.

Sendo assim, quando uma obra está aberta à construção colaborativa, pode-se

identificar um indivíduo específico como, por exemplo, autor e também receptor do processo,

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em um processo que ele pode atuar de forma ubíqua. Não só em obras colaborativas, mas

também em redes sociais em que usuários têm seus espaços livres para fazer deles o que

quiserem, como, inclusive, ambientes para publicações literárias (como visto anteriormente), o

mesmo processo acontece. Tal movimento chega com violência e força uma redefinição do

sujeito em todo o processo.

De todas as hibridações em direção das quais o numérico se inclina, amais violenta e decisiva é a hibridação do sujeito e da máquina, atravésda interface. Violenta porque ela projeta o sujeito – tanto o autor daobra quanto o espectador, o artista quanto o amador de arte – em umasituação nova, em que ele é intimado insistentemente a se redefinir;decisiva, porque a emergência do que poderíamos chamar de uma arteda hibridação depende dela. (COUCHOT, 2003, p.271-272)

Portanto, a interseção que vem sendo criada aos poucos em nossa sociedade é, de

certa forma, uma imposição inconsciente, parte de um processo que damos força para crescer,

entretanto, não teríamos condições de fazê-lo regredir devido à profunda hibridização que

fazemos parte hoje e que nos criam uma subliminar dependência. Isso afeta diretamente as

produções midiáticas e culturais atualmente, pois despertam as confusões e fusões citadas ao

longo deste capítulo, e, por fim, nos recolocam em novos lugares e papéis da sociedade.

5.2 O nome do autor nas obras

Parece natural o uso do nome real ou fictício do autor de uma obra ao assiná-la,

entretanto práticas como anonimato, onimato e pseudonimato foram comuns. Historicamente

podemos identificar que quando publicações passavam por processos manuscritos, durante

vários séculos, os livros não tinham um espaço específico para a inserção da autoria e da

titulação. Como alternativa, o nome do autor podia ser colocado de forma integrada à obra,

sem diagramação ou tipografia específica, como pode ser encontrado atualmente.

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Chegam até nós, por exemplo, os nomes de Hesíodo (Teogonia, v.22),de Heródoto (primeira palavra de História), de Tucídides (mesmolocal), de Plauto (prólogo do Pseudolus), de Virgílio (últimos vesos dasGeórgicas), do romancista Chariton d’Aphrodise (no início de Chéréase Callirhoé), de Chrétien de Troyes (na frente de Perceval) e deGeoffroy de Langny, que continuou seu Lancelot, de Guillaume deLorris e de Jean de Meuing, cujos nomes se inscrevem na junção desuas duas obras, no verso 4059 de Roman de La Rose, de JeanFroissard, tesoureiro e cônego de Chimay e, é claro, de Dante, no cantoXXX, v.55, do Purgatório. (GENETTE, 2009, p.39).

Iluminando o cenário atual com essas observações, não poderíamos deixar de

constatar que, não só no Twitter, mas em todo âmbito da internet, um sujeito tem a chance de

assumir vários papéis de forma quase simultânea. Ele pode ser o produtor, o editor, o leitor e o

autor, de forma que a subjetividade de cada momento é estabelecida de acordo com o contexto

e a função exercida. Como destaca BEIGUELMAN (2011) “a questão da autoria e da

subjetividade se apresenta de maneira diferente em cada uma dessas esferas. Esse aspecto

multifuncional é um dos dados da especificidade do ciberespaço”. Embora haja essa

especificidade no agir como cada “personagem”, alguns costumes permanecem ainda, mesmo

se tratando do universo digital. Por exemplo, o valor dado ao nome do autor ainda se faz

presente e tratada como critério de credibilidade de uma obra.

O nome não é mais uma simples declinação de identidade (‘o autor se chamaFulano’), é o meio de colocar a serviço do livro uma identidade, ou , melhor, uma‘personalidade’, como bem diz o uso midiático: ‘este livro é obra do ilustre Fulano deTal ‘. Ou, pelo menos, a paternidade deste livro é reivindicada pelo ilustre Fulano deTal, mesmo que alguns iniciados saibam que ele não o escreveu realmente sozinho eque talvez não o tenha lido inteiro. (GENETTE, 2009, p.41).

No Twitter, especificamente, é complexo o processo de escolha de títulos, uma vez

que considerar a literatura no microblog é algo igualmente complexo. Temos casos de perfis

criados especificamente para publicações ditas literárias, mas temos também perfis de

escritores que produzem obras fora do contexto do microblog ou ainda pessoas que usam o

site para diversos fins, dentre eles, publicar textos que acompanham hasthags como

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#microconto ou #”twitteratura”. Sendo assim, tão diferenciados os tipos de publicações que

podem ser vistos no contexto literário, como identificar um título? Não há padrão. Alguns

casos, como o @SD8, conseguem ter uma conexão interpretativa a partir do título, pois esse

exemplo é uma adaptação de uma publicação impressa para o Twitter, e conseguiu ter o seu

mesmo título original aproveitado na versão de pílulas de 140 caracteres. Entretanto, que falta

faz um título a esse tipo de produção?. “Um título, infelizmente, é uma chave interpretativa"

(ECO, 1985, p. 8), portanto, talvez possamos rever a consequencia de sua existência, e o

Twitter enquanto espaço para a literatura pode provocar a reflexão.

O pesquisador André Lemos publicou em 2010 uma história criada

especificamente para o suporte microblog. Seu título, “Reviravolta”, quando mencionado por

usuários deveria ser tratado como @re_vira_volta17, estratégia usada para uma nova leitura da

palavra. No caso do Twitter, vezes temos o título, vezes não, e de fato a sua ausência pode ser

considerada não um prejuízo, mas sim uma característica de sua essência (e também, algumas

vezes, reflexo de sua limitação “técnica” e de caracteres). Sendo assim, ao usar algum

conteúdo desta obra, o usuário dá créditos usando diretamente o nome do perfil, que por sua

vez é o nome da obra, devido às características técnicas do suporte.

No Twitter eventualmente se tornam uma só coisa ou se confundem o autor e o

título, por isso este capítulo. Isso potencializa, na maior parte das vezes, a ideia de que se tem

do indivíduo por trás da obra. O nome atribuído à conta que envolve o contexto literário,

conforme escolhemos especificar nesse estudo, pode ser aquele que estaria na capa de um

livro impresso, se assim o fosse, ou o nome do indivíduo que assinaria a obra com um

autógrafo em sua noite de lançamento, caso um comprador pedisse. “O nome do autor não

está situada no estado civil dos homens nem na ficção da obra, mas sim na ruptura que

instaura um certo grupo de discursos e o seu modo de ser singular” (FOUCAULT, 1992, p. 46).

Portanto, quando se absorve sem critério específico e no mesmo lugar nome de obra ou de

autor, cria-se uma nova perspectiva ou possível interpretação no imaginário do leitor.

Foucault afirma que “os textos, os livros, os discursos começaram efectivamente a

ter autores [...] na medida em que o autor se tornou passível de ser punido, isto é, na medida

em que os discursos se tornaram transgressores” (ibid, p. 47). Portanto, talvez o ato de se ter

escancarado o nome do criador da obra pode ter sido encarado no passado como algo

17 Perfil pode ser acessado no link <http://twitter.com/re_vira_volta> Acesso em 20 ago. 2011

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negativo, pesado e uma abertura para potenciais problemas. O que temos hoje é, na maior

parte das vezes, a agregação do nome do autor à obra como um prêmio, com ares de altivez. É

importante frisar que, obviamente, antes o discurso não era encarado como um produto, e sim

um mero ato que envolvia inúmeros valores morais. Foucault relembra ainda que, num

passado não remoto, textos que seriam caracterizados como “literários” (podendo ser

tragédias, epopéias, contos, narrativas, dentre outros) eram recebidos e postos em circulação

facilmente sem a necessidade da autoria.

Pelo contrário, os textos que hoje chamaríamos científicos, versando acosmologia e o céu, a medicina e as doenças [...] eram recebidos naIdade Média como portadores do valor de verdade apenas na condição deserem assinalados com o nome do autor. ‘Hipócrates disse’, ‘Plínioconta’ não eram, em rigor, fórmulas de um argumento de autoridade;eram indícios que assinalavam os discursos destinados a ser recebidoscomo provados (FOUCAULT, 1992, p. 49).

Hoje, no contexto das redes online, torna-se possível receber uma obra assim, com

a lacuna limpa do nome do autor. Ao se deparar com um acontecimento dessa natureza,

imediatamente desperta-se no interator a curiosidade e a busca de traços textuais e estilísticos

em busca da decifração do nome de quem deu vida ao texto.

Na literatura, especificamente, é dado muito valor ao nome da pessoa que assume

a autoria de determinada obra. Em outros casos, como na área de estudos matemáticos, temos

nomes associados às suas “invenções”, aos seus teoremas, e assim se faz a valorização do

autor nesse campo de conhecimento. A atribuição de um nome de criador a uma obra criada

não é, claramente, uma ordem, instituída por leis e por defesa de diretos (apenas), mas

podemos, sim, observar um movimento espontâneo das pessoas que têm a necessidade de se

ter essa informação para ter uma absorção mais intensa do conteúdo. Pensando nessa questão,

adentraremos no principal foco do trabalho, que é como essa autoria é atribuída no Twitter,

principalmente no ato do retweet.

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6. A ATRIBUIÇÃO DE AUTORIA NO TWITTER: A RELAÇÃO ENTRE

AUTOR E OBRA

6.1 Microssintaxe do Twitter

Da criação do Twitter até a ferramenta usada para o estudo, muito de sua estrutura

mudou. Além de arranjos estéticos e técnicos (no que se refere à linguagem de programação,

servidores, liberação de uso de seus códigos para criação de aplicativos, etc), novos recursos

foram criados. Como na maioria das redes sociais (que é uma das facetas do Twitter), sua

maior força são os seus usuários. O microblog, quando foi criado, era basicamente uma

ferramenta vista como um particular quadro negro de salas de aula, em branco, pronto para

serem escritos e lidos por várias pessoas, que poderiam se conectar, ou como diz a metáfora

do próprio site, “seguirem” umas as outras.

Os “laços sociais” (WELLMAN, 1997) criados ali dão forma à interação social

gerada na ferramenta. Assim como é conceituado esse termo, a proximidade, os fluxos de

informações, a proximidade dos indivíduos e os conflitos adicionados aos suportes emocionais

dão forma à sua dinâmica. Essas características podem existir também em vários tipos de

relações, sendo elas mais íntimas e próximas ou mais fracas e esparsas (GRANOVETTER, 1973).

Potencializadas pelas ferramentas digitais, as chances desses “laços sociais” serem criados e

mantidos geram adaptações em grupos e também nessas ferramentas. Chegamos então ao

exemplo do que aconteceu com o Twitter, que seria mais um exemplo da “revolução

permanente da linguagem” (BARTHES, 2004, p.13). Quando novo, o site não ofereceria os

recursos de linguagens citados já nesse trabalho, com o @, # e RT. A esses símbolos,

chamemos “microssintaxes” (SANTAELLA & LEMOS, 2010, p.107), pois têm um sentido e

indicam ação e intenção no uso do microblog pelos usuários. Detalhemos aqui cada ponto

desta microssintaxe específica do Twitter.

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TABELA 1

“Microsintaxe” do Twitter

Símbolo Nomes Função Aplicação

@ Arroba

Citar um perfil. É usada antes do nome deum usuário para fazer menção a ele. O tweetaparece na coluna de menções para o usuário

destinatário.

há um século o @dgasparetti tuitouisso aqui http://bit.ly/qbnJEa. depois

nunca mais achei, until today :)(http://twitter.com/#!/thaispontes/stat

us/90894034851213313)

# Hashtag

O símbolo #, em inglês, é chamado de hash.A palavra tag é usada fazendo referência ao

ato de classificar, de dar etiquetas àdeterminado conteúdo. A hashtag é usadapara indicar o assunto do tweet. Quando

símbolo é inserido, a palavra seguida dele setransforma em um link que direciona para a

página de busca com todas citações domesmo.

Com menor volume de carros, ofluxo de veículos é bom nas

principais avenidas de Vitória,segundo Guarda de

Trânsito. #trânsito(http://twitter.com/#!/cbnvitoria/status/9089374161063

5264)

RT RetweetQuando um tweet é reproduzido, insere-seRT e o @nomedousuário para dar créditos

pela autoria.

RT @kustela: RT: @GoogleMobile:Introducing a new Android Market

for phones, with books andmovies. http://t.co/WK08R8D

(http://twitter.com/#!/flavio_raimundo/status/90889362547548160)

D ou DM

Direct,mensagem

direta,mensagem

privada

Quando se insere D o nome do usuário, amensagem escrita é enviada de forma

privada para o destinatário. Contudo, orecurso só funciona se o usuário destinatário

for seguidor do remetente.

Sem exemplos públicos por se tratarde uma mensagem vista

especificamente pelo destinatário eremetente.

Fonte: Quadro proposto pela autora a partir desta Pesquisa.

Com exceção do recurso para envio de mensagens privadas, esses recursos foram

criados pelos usuários e, por uma convenção inconsciente, foi adotado pelo próprio sistema e

a equipe criadora do Twitter oficializou os recursos. Santaella & Lemos (2010) discutem no

final do livro Redes sociais digitais: a cognição conectiva do Twitter a importância dessas

microssintaxes criadas pelos usuários, na maior parte das vezes, e como a restrição de 140

caracteres por publicação influencia na arquitetura informacional da ferramenta.

Chris Messina (2009), já adicionaria neste quadro outros elementos dessa

microssintaxe, porém, aqui estes foram separados por se tratarem de linguagens já usadas

antes em outras ferramentas, como o email. Messina (2009) chama esses termos de

“slashtags”, pelo fato de geralmente serem usados com uma barra “/” (slash, em inglês) antes

do termo. Contudo, costuma-se encontrar tais sintaxes sendo aplicadas sem esse caractere, por

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isso incluiu-se na tabela abaixo os novos usos, já que é possível encontrá-los entre parênteses,

após hífens ou no meio da frase sem alguma identificação visual diferente. São eles:

TABELA 2Formas de atribuição de autoria no Twitter

Símbolo Nomes Função Aplicação

Via ViaÉ usado como o RT, para informar a origem do tweet.

Muitas vezes, diferente do retweet, contém algumainformação adicional, como comentário, do reprodutor.

O Orkut não para decrescer ou teima em cair? -

-> "O Orkut não para decrescer": http://t.co/qdS4Eh6 (via @raquelcamargo)

(http://twitter.com/#!/GiseleJota/status/908741871236

54656)

By By (por)Termo em inglês também com função de atribuição de

autoria de conteúdo twittado.

Heartbreak by @Grafh (prod by ceaser p starr) of"war music" out july

18th http://tweetmysong.com/cow2wn Download &

Retweet this 1(http://twitter.com/#!/tweetmysongcom/status/908921

44331595776)

CCCC (cópia,

cópia carbono)

É usado para chamar a atenção de algum usuário. Seusentido é o mesmo do usado em emails, cópia para alguém

que pode se interessar no assunto, mas que não énecessariamente o único destinatário interessado.

No velocímetro doUno/Mille onde está

200km/h deveria ter umTroll Face.

(cc: @romanoaugusto88)(http://twitter.com/#!/lucasfranco/status/90846176135

491586)

Fonte: Quadro proposto pela autora a partir desta Pesquisa.

Especificamente, o ato do “retweet” chama a atenção pelo fato de haver nascido

por uma necessidade de o usuário repetir algo que foi publicado por outro e com a necessidade

de atribuição da autoria. Isso aparece espontaneamente, sem a necessidade de discutir a

importância de dar créditos ou forçá-los a isso. Contudo, mesmo com a face positiva do fato,

a atribuição de uma frase a outra pessoa com o uso da microssintaxe RT começou a se tornar

também um recurso usado de forma maliciosa, uma vez que era algo facilmente manipulável.

Para contornar o aspecto negativo do ato e também facilitar e oficializar o “ato de retweetar”,

o Twitter assumiu como oficial o recurso e incluiu no sistema isso como função.

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A função RT foi atualizada em novembro de 2009, em virtude de umasérie de problemas de alteração do conteúdo original do tweet que, aoser atribuído ao autor, falseava o envio da foto do perfil do autor, assimcomo também permite que todos saibam quais são os usuários queredirecionam esse RT para seus streams18. Essa funcionalidade seutexto. A resposta do Twitter a esse problema foi criar uma novafuncionalidade de RT que permite a conservação e distribuição dotweet original, e também permite que a autoria do tweet original do RTseja preservada e ressaltada. (SANTAELLA & LEMOS, 2010, p.107).

Além dessa situação de uso do RT, também é possível encontrar exemplos em que

o usuário reproduz um conteúdo e dá os créditos de forma mais pessoal e personalizada, como

é o caso do exemplo abaixo. O perfil @naosalvo corresponde a um famoso blog de humor, e

além de conversações também publica os posts mais recentes, como foi feito com o post

abaixo:

FIGURA 9 - Tweet divulgando post de blog

Fonte: <http://twitter.com/#!/naosalvo/status/66135880695418880> Acesso em 05mai. 2011

Em duas horas este link informado no tweet já havia sido repassado mais de 53

vezes e recebido 2078 cliques, segundo informações do site Migre.me19. Nesse caso, usamos o

18 Nesse sentido “streams” faz referência aos seus seguidores, àqueles que recebem as publicações dedeterminado seguidor do Twitter.19 O http://migre.me é um site brasileiro própria para compactar links. É muito usado por usuários do Twitter.Além de economizar caracteres de links, ele ainda informa quantos cliques e retweets aquele endereço gerado porele recebeu.

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termo “repassado” e não “retwittado” (como o site informa) pelo fato que será apresentado

agora. Muitas vezes o usuário usa o mesmo link de origem, contudo, reescreve todo o texto

que acompanha o endereço, o que descaracteriza um RT. Em alguns casos o crédito do link é

dado no próprio tweet, outras vezes não, já que ao clicar no endereço o interator chegará à

página do criador do link.

FIGURA 10 - Interatora usa o link, menciona a fonte, mas recria o texto

Fonte: <http://twitter.com/#!/jully_nanda/status/66136860631633920> Acesso em 05mai. 2010

Frequentemente, vários dos termos citados anteriormente fazem referência à outra

publicação, misturam-se em uma só mensagem, e cada um deles não tem sua importância

diferenciada por causa dessa junção, uma vez que a função de cada um é única. São essas

combinações que potencializam o poder do microblog e, pelo fato de o Twitter ser “uma rede

social de acesso predominantemente aberto, na qual o perfil da maioria dos usuários é

disponível a toda a rede” (SANTAELLA & LEMOS, 2010, p.107) permite-se o redirecionamento e a

livre apropriação dos conteúdos que ali circulam.

Portanto, a relação da sintaxe específica do Twitter pode ser relacionada à autoria

na dinâmica do Twitter pelo fato de ser um indicativo de créditos, de referência da gênese da

mensagem publicada e da própria ferramenta. Muitas vezes perde-se a autoria por causa das

limitações técnicas do microblog, por outro lado o usuário tem encontrado outras formas de

registrar a autoria ou o nome de quem o fez receber aquele conteúdo, conforme visto nos

exemplos acima.

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6.1 A citação e a análise quantitativa

Essa parte do trabalho é, de certa forma, um recurso de metalinguagem, pois o

objetivo é discutir própria técnica, foco dessa discussão. Na citação a seguir, que dá abertura

ao tema, refletimos a respeito da própria, e tomamos consciência de que, pela linguagem,

somos parte de um contínuo processo de citação:

Escrever, pois, é sempre reescrever, não difere de citar. A citação,graças à confusão metonímica a que preside, é leitura e escrita, une oato de leitura ao de escrita. Ler ou escrever é realizar um ato de citação.A citação representa a prática primeira do texto, o fundamento daleitura e da escrita: citar é repetir o gesto arcaico do recortar-colar, aexperiência original do papel, antes que ele seja a superfície deinscrição da letra, o suporte do texto manuscrito ou impresso, umaforma da significação e da comunicação linguística. (COMPAGNON,2007, p.41).

Como vimos até agora, da mesma maneira que o sentido de autoria na internet se

altera, a obra que circula na internet e nas redes sociais também recebe interferências e ganha

novos contextos e “experiências”.

Para aplicarmos a reflexão acima na prática, trazemos à tona o exemplo do nome

de Clarice Lispector no Twitter. São muito frequentes citações de frases, trechos de livros e

outras produções de escritos no Twitter. Alguns autores presentes no Twitter parecem haver

criado frases aforísticas, compactadas, apenas para se adequar às exigências do microblog.

Nesse caso, a apropriação dos textos de Clarice Lispector talvez se justifique justamente pela

natureza aforística de muitas de suas frases Dentro dessas estratégias de compactação de

mensagem está a noção de limite de caracteres do Twitter, que é de 140, contudo, alguns

usuários mais experientes e com intenções de fazer um conteúdo que possa se propagar na

rede, deixa seu texto com bem menos o limite para que o retweet possa ser feito sem prejuízos

no conteúdo. Concisos e com estratégias linguísticas próprias para essa aplicação, muitas

vezes trechos de poesias aparecem com lições morais, fazendo-o lembrar tal gênero de texto.

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Estes são muito frequentes no Twitter, pois seguem a ideia da ferramenta: têm objetividade e

concisão.

No dia 28 de março de 2011 um “meme” se iniciou no Twitter. Um usuário do

microblog de perfil @crentassos20 publicou a seguinte frase:

FIGURA 11 - Tweet que originou o “meme”Fonte: <http://twitter.com/#!/crentassos/statuses/52455718535696384> Acesso em29 mar. 2011

A partir desse tweet, inúmeras frases começaram a ser, falsamente, atribuídas ao

nome da escritora. A mensagem da Figura 11 é uma provocação às frequentes citações de

“aforismo” de Lispector, comuns não só no Twitter. Em resposta a esse tweet, usuários

seguidores do perfil @crentassos ironizaram, produzindo inúmeras respostas e atribuindo

frases famosas (provenientes de filmes, programas de TV, livros, etc) à Clarice Lispector. O

sucesso do meme21 colocou o nome da escritora nos Trending Topics22 nacional e mundial do

Twitter, como mostra a Figura 12.

20 Acesso ao link <http://www.twitter.com/crentassos> em 29 mar. 2011

21 A origem do conceito” meme” é de Richard Dawkins (1976) em seu livro "O Gene Egoísta". No contexto dosestudos de genética, o termo é considerado uma unidade de evolução que pode se auto-propagar, seja de cérebroem cérebro ou outros locais onde registram-se informações (tais como livros). Atualmente a expressão tem sidomuito usado ao se referir à internet, e nesse sentido significa uma espécie de "tratado coletivo" perante algumacontecimento. Funciona como uma corrente em que inúmeras pessoas dão continuidade ao processo que podeser uma piada ou até mesmo um protesto. Cf. em DAWKINS, Richard. O Gene Egoísta. Belo Horizonte: EditoraItatiaia, 1976.22 Trending topics são as palavras e expressões mais citadas no Twitter. É possível acompanhar os termos maisusados pelos usuários com filtros regionais: cidade ou país. Além da quantidade de usos das palavras outroscritérios também são usados pelo sistema do Twitter para dar o destaque, entretanto, estes nunca foram revelados.Quando um termo está sendo citado intensamente no microblog ele aparece em destaque na página inicial domicroblog e, em alguns casos, nos aplicativos usados pelos usuários. (Definição nossa).

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FIGURA 12 - Inúmeras frases sendo atribuídas erroneamente à Clarice Lispector devidoao “meme”

Fonte: <http://search.twitter.com/> Acesso em 28 mar. 2011

Pelo fato de, em poucas horas, o nome de Clarice chamar atenção nos Trending

Topics, outros usuários criaram um perfil dedicado especificamente ao ”meme” que atribuiu à

escritora frases aleatórias. E ainda com ironia expressa na grafia incorreta de seu nome, o

perfil batizado @clarisselispector criou e reproduziu (twitta e retwita) frases que compõe o

“meme”.

Esse episódio pode ser entendido como um remix. A literatura já sente as

consequências do remix, assim como diversas outras áreas, e disso já se falava há tempos,

como Bakhtin, que discutiu e teorizou sobre a polifonia textual.

Remix, nesse sentido, é entendido como apresenta Manovich (2003), que

posiciona o termo como o rearranjo sistemático de um signo. Como exemplo, podemos

considerar um texto ao qual a citação irá se referir, através da inserção de fragmentos de um

texto para outro, ou ainda de signo para outro. O autor fala ainda que a Word Wide Web tem a

força de levar essa nova dinâmica de criação para um outro nível, pois encoraja a criação de

conteúdos textuais que sejam totalmente compostos por links que direcionam o leitor para

outros textos já existentes, pois “agora qualquer um pode se tornar um criador, simplesmente

fornecendo um novo menu, ou seja fazendo uma nova seleção do corpus total disponível”,(MANOVICH, 2003, p. 127).

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Essa chance de remixagem de conteúdos, enfim, cria um novo tipo de autoria,

como já foi discutido anteriormente neste estudo. Para isso, Manovich usa o termo "autoria

por seleção" para especificar o tipo de dinâmica usada para a criação de algo. O pesquisador

usa o termo para se referir aos casos em que os autores estabelecem elementos específicos e se

dedicam a selecionar fragmentos e ordená-los. Toda a discussão conecta, por fim, no que

refletimos a respeito da autoria usando, inclusive Barthes (1984, p. 50), que trata o texto como

"um tecido de citações, saídas dos mil focos da cultura".

Embora o exemplo da Clarice Lispector seja despretensioso no sentido de não ter

foco mercadológico e editorial, ele pode ser visto como um remix pelo fato de se aprimorado

aos poucos à cada “toque” feito por um indivíduo diferente. Inúmeras pessoas desvirtuaram o

sentido tradicional da citação e desconstruíram a atribuição de autoria, ironizando o

tradicional hábito de elaborar aforismos e agregar nomes de célebres escritores, mesmo que

apocrifamente em algumas vezes. Por fim, podemos visualizar neste exemplo a autonomia que

aquele que poderia ser visto apenas como um leitor receptor em outrora, contudo, atualmente

ganha liberdade para fazer colagens e criações a partir de outras criações, registrando assim a

dinâmica do remix também na literatura.

Além disso, foi feita uma experiência quantitativa para entender mais a respeito do

uso do nome de autores no Twitter. Essa avaliação quantitativa tinha outras pretensões, como

a de estabelecer maior relevância a partir de um estudo quantitativo e qualitativo, porém,

devido a fatores técnicos, tivemos de abandonar essa intenção de análise. No entanto, temos a

seguir uma avaliação não tão aprofundada, mas que, se acredita, válida, pelo menos para se

dar a conhecer do que pôde ser coletado e percebido ao longo dessa pesquisa. É importante

frisar também que o Twitter passou por inúmeras mudanças desde que essa pesquisa teve

início no âmbito do mestrado de Estudos de Linguagens, isto é, desde 2009, considerando-se,

obviamente, a evolução da ferramenta e as mudanças de comportamento do usuário para com

ela.

Com apoio do professor do Departamento de Computação do CEFET/MG (Centro

Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais), Adriano César Machado Pereira, foram

coletados 6.695.681 (seis milhões, seiscentos e noventa e cinco mil seiscentos e oitenta e um)

tweets. As mensagens coletadas correspondem ao mês de maio de 2009. A coleta é composta

por mensagens publicadas por perfis com horário local configurado com o de Brasília, para

que pudéssemos coletar dados de brasileiros. É importante frisar que muitos usuários têm esse

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tipo de informação inserida de forma errônea, portanto, não significa que foram coletados

todos os dados publicados do Brasil.

No momento da coleta, o sistema do Twitter referente ao modo de se fazer retweet

ainda não havia mudado, portanto, só se fazia um RT inserindo as duas letras antes do

conteúdo, pois a API do microblog ainda não havia sido atualizada para o uso do atalho.

O segundo momento de coletas aconteceu entre os dias 24 de maio de 2011 a 03

de junho de 2011, todavia, foi possível apenas gravar a coleta com critérios de busca, diferente

de 2009, quando podíamos capturar qualquer mensagem publicada, sem distinção de palavras

chaves. Devido a essa nova regra do Twitter, escolheu-se coletar tweets com nomes que eram

citados com maior frequencia no microblog, sendo eles: Millor Fernandes, Clarice Lispector,

Carpinejar e Paulo Coelho.

Antes de partirmos para uma análise mais detalhada, é importante também frisar

que a média de tweets por dia entre os dados de 2009 e de 2011 são diferentes e, talvez,

contrárias às sinalizações de crescimento do Twitter, pelo fato de a busca ter sido feita com

critérios diferentes, em razão da mudança da API do Twitter, conforme já dito. Os números de

2009 correspondem a todos os tweets feitos por usuários que tinham contas configuradas com

horário de Brasília, e os números de 2011 apenas tweets com nomes específicos.

Essa mudança da API provocou uma mudança de planos, pois não teríamos mais

dados equilibrados para fazer equiparações conforme planejado, por exemplo, comparando o

número de links e RTs feitos especificamente usando o nome de algum escritor. Considerando

tal incoveniente, conseguimos coletar dados que nos deu informações interessantes para

análise.

Conseguimos coletar tweets desde o início da conta de determinados escritores, e a

partir de todos os textos publicados fizemos estatísticas para entender melhor seus

comportamentos de publicação. Por exemplo, muitos usam o recurso de retwittar? Quantos

inserem links em seus tweets? Abaixo estáo os números coletados com base nesse tipo de

curiosidade.

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TABELA 3Relação de comportamento de escritores no Twitter em 2011

PerfilTweets publicados

pelo perfil

Retweets

(RTs)

Quantidade de links

(URL)Quantidade de menções (@)

Millor Fernandes 551 384 3 430

Carpinejar 6996 2914 41 4801

Paulo Coelho 30697 16106 119 18973

Fonte: Tweets recolhidos durante os dias 24 mai. e 03 de jun. 2011

Tais números nos mostram que cada escritor tem uma característica própria em

seus tweets. Isso acontece, inclusive, pelo fato de cada um deles ter uma proposta em seu

Twitter. Carpinejar e Paulo Coelho dedicam seus espaços para publicação de frases suas e,

eventualmente, Carpinejar divulga matérias que têm entrevistas suas ou divulgações acerca de

seu trabalho. Paulo Coelho costuma também dialogar de forma informal com outros usuários

do Twitter, além de publicar aforismos em vários idiomas. Por sua vez, Millor é mais pontual,

faz tweets de seus aforismos e também publica alguma divulgação relacionada ao seu site, por

exemplo.

Tais números provoca a reflexão a respeito da exploração do potencial da

ferramenta. Se o escritor que já tem livros publicados de forma impressa cria um Twitter com

objetivo de divulgar suas criações, por qual motivo ele não interage de maneira direta com os

usuários do microblog? Diferente dos livros, no Twitter existe a chance de conversa direta,

publicamente ou privada, como foi visto já anteriormente. Considerando esse diferencial do

Twitter, se analisado em relação aos outros meios de publicação, por qual motivo tais

ferramentas são tão pouco utilizadas? Se um escritor usa o Twitter apenas para colar suas

frases, qual seria, portanto, a diferença entre ele assim proceder com grafites em muros,

colunas em jornais e revistas ou em textos de um livro, por exemplo?

Diferenças entre esses exemplos existem, certamente, pois cada meio produz um

efeito, cada suporte é usado de determinada maneira e em um contexto. Um usuário pode

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conferir de forma rápida e discreta em seu celular atualizações do Twitter enquanto, por

exemplo, está em uma reunião de amigos. Abrir um livro e começar a lê-lo ostensivamente

durante esta mesma reunião poderia ser um fato desagradável. Todavia, este mesmo hábito de

conferir tweets não poderia ser praticado durante um voo, ou quando a bateria do celular ou

notebook estivesse com sua carga esgotada. Já o tradicional livro impresso poderia ser usado

com mais facilidade em tais momentos.

A publicação de links associada à publicações literárias também potencializam a

“twitteratura”, pois podem complementar a experiência daquele que recebe o conteúdo. Por

exemplo, um microconto acompanhado de um link para o Youtube com uma música,

acrescenta um novo componente à narrativa, sem deixá-la dependente do conteúdo. O usuário

pode ou não clicar no link, pode ou não ler; enfim, ele pode traçar novos caminhos com o

hipertexto aplicado neste momento.

Outros números identificados também que nos desperta curiosidade são os de

citações sem a referência do símbolo “@” no tweet. Várias vezes os interagentes publicam

tweets falando de escritores, mas por inúmeros fatores, não os citam como eles aparecem no

Twitter, contudo, citam seus nomes sem adaptar à microsintaxe do microblog. Esta pesquisa

foi possível ser feita com os dados de 2009 e de 2011, contudo, pela diferença do número

total, torna-se perigosa a comparação. Devido a isso, discute-se abaixo os números.

Das 6.695.681 mensagens coletadas em 2009, 964 delas citavam Clarice

Lispector, 62 citavam Carpinejar, 659 usavam o nome de Paulo Coelho e 81 usavam o nome

“Millor Fernandes”. Já em 2011, considerando um universo de mensagens menor,

correspondente à 1.168.531 tweets referentes à pouco mais de uma semana de coleta, foram

identificados 41.338 tweets fazendo referência ao nome de Clarisse Lispector, 6.996 falando

de Carpinejar, 30.697 falando de Paulo Coelho e 551 mensagens usando o nome de “Millor

Fernandes”. É curioso perceber o aumento considerável de uso desses nomes, embora, não

seja possível afirmar que todo o conteúdo que envolve o nome de determinado escritor seja

específicamente uma citação, uma vez que pode também ser um comentário sobre, uma

dúvida a respeito de algum livro, etc. Para fazer tal tipo de afirmação seria necessária uma

pesquisa qualitativa e pontual sobre cada tweet, contudo, esta não é a proposta desta pesquisa.

Estes números estão vindo à tona agora para explicar os planos anteriores, as mudanças

técnicas da ferramenta (fator importante para quem deseja envolver suas obras em redes

sociais, pois elas modificam sempre alguma característica de seu sistema) e também para

despertar alguns questionamentos que não são o centro do trabalho, mas podem ajudar a

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entender melhor o contexto e a relevância, graças ao alto número de mensagens enviadas com

este tipo de nome, envolvendo alguma referência literária.

Tendo visto tais detalhes, é importante refletir como o Twitter tem sido usado, em

formas genéricas, para publicar literatura em se tratando de autores já consagrados. Se as

novas tecnologias oferecem recursos diferenciados, por quê não usá-los já? Estes usos

prejudicariam ou modificariam positivamente as experiências das pessoas que acompanham

os escritores no Twitter?

O momento em que se tem o contato com alguma obra, certamente, é um

diferencial que deve ser levado em conta, independente da forma de linguagem e adaptações

que estão sendo feitas considerando conteúdo – suporte. Entretanto, percebemos que o

potencial do Twitter pode ser mais utilizado durante sua aplicação também na literratura.

Considerando essa conclusão despertada com base nos números, portanto, a próxima etapa do

estudo é dedicado às considerações finais da presente pesquisa.

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7 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A metáfora usada por Compagnon (2007) no início do livro O Trabalho da

Citação é a melhor forma encontrada para se concluir a reflexão proposta nesta pesquisa.

Trata-se de uma metáfora feita sobre uma tesoura e uma cola e o ato de se recortar e fazer

montagens, colagens, e o prazer que o autor encontrava, enquanto criança, no passear pela

complexidade do papel e encaixes exemplifica o “criar textos”. Falando de “ablação”,

Compagnon afirma que, ao citarmos, estamos mutilando, tirando as raízes. Ao discutir o

“grifo”, o autor o compara à preliminar de uma citação, e esta, por sua vez, seria uma espécie

de lugar onde o texto se acomoda pela integração com outros textos. A escrita, enfim, é

sempre uma reescrita.

A internet continua a transformar modos de produzir, receber e consumir qualquer

tipo de bem, de obra, de contexto. Seu poder de multiplicar, pulverizar e dar poder de falar a

várias vozes transforma as criações (mesmo aquelas que já haviam sido criadas, pois agora

podem ser remixadas) e isso afeta a todos, inclusive, o conteúdo que preenche qualquer

objeto.

Por sua vez, o Twitter, criação baseada na internet, mas compreendendo ações não

necessariamente dependentes desta (ou seja, de conversações, citações, dentre outras

manifestações), acaba por ganhar uma percepção de espaço também para publicações

literárias. A arte invade todos os espaços e, assim, o microblog passa a ser palco para

publicações inéditas, adaptações (seja de impresso para online ou o contrário), citações,

discussões e quaisquer outras possibilidades. Assim, a “twitteratura”, vem sendo criada de

forma livre, sem rótulos ou pretensões de se tornar um gênero textual, mas apenas como a

manifestação da arte literária ali naquele ambiente virtual.

Cita-se, “retwitta-se”, cria-se e menciona-se. Todos os verbos cabem no fazer

literário neste ambiente que limita os 140 caracteres, mas dá espaço indefinido para as

aplicações e formas de uso. Percebe-se que tudo que se cria, não é algo diferente de citações, o

que nos remete quase ao sentido de simulacro. Esse eterno e cíclico trabalho de reescrita que

compomos constrói as nossas criações da atualidade, sendo isso dentro ou fora do Twitter, e

até mesmo da literatura.

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Ainda no meta-texto, uma citação cabe como encerramento deste estudo, que tem

como cerne a proposta de reflexão, sendo quase uma epígrafe desobediente que insiste em se

encaixar nestas considerações finais:

A citação trabalha o texto, o texto trabalha a citação. Aqui surge osentido, de que ainda não se tratou. Isso não significa que o texto sedistinga das outras práticas com o papel que não teriam sentido: o jogodo recorte e da colagem faz sentido, e não é indiferente para o sentidoque eu coloque um vestido sobre uma silhueta masculina ou feminina.Mas era preciso começar a falar da citação sem se deter no sentido: osentido vem por acréscimo, ele é o suplemento do trabalho; era precisodistingui-lo do ato e da produção para não ignorar estes últimos, paranão confundir o sentido da citação (do enunciado) com o ator de citar (aenunciação). (...) A leitura (solicitação e excitação) e a escrita(reescrita) não trabalham com o sentido: são manobras e manipulações,recortes e colagens. E se, ao final da manobra, reconhece-se nela umsentido, tanto melhor, ou tanto pior, mas já é outro problema. ‘O leitornão deve perceber o trabalho’: a paixão, o desejo e o prazer(COMPAGNON, 2006, p. 46).

Das aspas aos RTs, a citação ajuda a acontecer a dinâmica de produção e

recepção, e ainda oferta a seu usuário o poder de recriar, reapropriar, enfim, de criar novos

elos para uma infinita cadeia de citar a citação da citação. Uma aforização de um escritor

consagrado, por exemplo, publicada no Twitter pode alcançar novos rumos por causa de

retweets, e ainda passa pela hipótese de ter seu conteúdo alterado com algum comentário ou

alteração textual, como foi visto no estudo.

O Twitter confirma que o leitor tem autonomia e pode ter papel ativo diante de

conteúdos de terceiros. No microblog ele também é um receptor ativo, e quando quer, vira um

co-autor. Ao longo dessa dissertação, fomos recuperando discussões de como é a relação

entre leitor e obra, sempre enfatizando que a hipertextualidade e poder de interpretação foram

e ainda são características comuns a qualquer forma de produção literária, independente do

suporte.

Desenvolveu-se aqui a ideia de que, antes mesmo de termos hiperlinks, já era

possível fazer leituras sem ritmo preciso, e que aquele que tem um livro em mãos sempre pôde

interagir com o conteúdo. O que temos, neste momento em que usa-se um microblog para

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publicar literatura, é a potencialização de todas essas possibilidades, devido ao poder da

internet. As redes sociais online oferecem a qualquer pessoa a possibilidade de publicar, de

reapropriar e de interagir com formas de diferentes conteúdos literários.

Vimos exemplos, nesta dissertação, de interagentes fazendo uso de sintaxes que só

fazem sentido especificamente no próprio Twitter, apropriando-se de nomes e textos de

escritores já conhecidos, ou a eles atribuindo falsamente a autoria de textos. Também

discutimos ideias que envolvem a liberdade de criação e o espaço democrático para

publicação de obras. Graças ao amadurecimento que começa a ser conquistado a partir dessa

ideia, professores já conseguem envolver a prática de microcontos nas salas de aula, um fato

que pode aumentar a relevância e a própria prática da literatura nas redes sociais.

Sendo assim, podemos afirmar que cada nova fase de uma tecnologia que emerge,

surgem também novas ideias e novos questionamentos acerca da linguagem. E assim, ao

serem vistas como produções inovadoras, ainda assim não costumam ser mais do que parte de

um desdobramento de técnicas e processos anteriores. Um exemplo é a possibilidade de se

publicar literatura em suportes variados, desde uma pedra, um papel ou um celular, e assim

ampliar o espaço de sua divulgação. Por sua vez, todas essas questões que se renovam diante

das novas tecnologias do momento, alimentam novas discussões e observações sobre os

impactos por elas trazidos.

Por fim, vemos que a “twitteratura” é mais uma reapropriação de suporte, que

mistura novas linguagens, novos costumes que são criados por um sistema de publicação e

textos. Esses textos podem ser novos e/ou renovados por interagentes que transitam entre as

definições de autor e de receptor o tempo todo. Assim como outros suportes de publicação, a

atribuição de autoria é frágil e pode ser usada de má fé. Contudo, no Twitter, isso parece se

tornar mais delicado pelo fato de não haver, ainda, um mercado controlador, editores e

análises prévias de publicações. Entretanto, essa liberdade de circulação que, para alguns,

constitui fator que coloca em perigo a credibilidade das informações, pode também ser

encarada como um potencial para releituras, incentivo para circulação de novas e consagradas

obras e autores. O Twitter, ou qualquer outra rede social ou ferramenta da internet, não é

necessariamente mais ou menos seguros que meios impressos, o que diferencia esse mito é a

idade de prática e a criação de metodologias mercadológicas que controlam ou não o

lançamento de obras, portanto, supostamente filtram. Na internet, o interagente tem o poder de

fazer seu próprio filtro e, por exemplo, escolher se querem ou não receber as atualizações de

um perfil do Twitter.

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Por fim, a “twitteratura” não é, de fato, algo com conceito inédito. É uma colagem,

uma adaptação, uma mistura de literatura em uma plataforma com princípios de blogs.

Literatura pode ser feita em inúmeros suportes, como visto neste trabalho, portanto, o Twitter,

assim como outros espaços de publicação, tem suas características particulares que

potencializam a recriação e a liberdade em publicar e reapropriar conteúdos, enquanto, outras

características dificultam o acompanhamento das publicações devido ao formato de exposição

textual e dinâmica da ferramenta. Sendo assim, a “twitteratura” acrescenta mais um tópico na

história das publicações literárias, com suas características ambivalentes.

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(Lembre-se de conferir se estão incluídos aqui todos os livros ou artigos citados no

texto)

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