Clara e a garota do espelho

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A menina que reside no espelho de Clara carrega muitos sonhos dentro do coração – como a de uma bailarina em um conto de fadas, esperando um grande amor –, mas a insegurança a faz se sentir cada vez mais triste, e nada que ela faça parece ser o suficiente para vê-la feliz. Esta emocionante narrativa, repleta de fantasias, nos conduz a um conflito que pode ocorrer com qualquer um: a insatisfação que nos leva a trilhar caminhos como o da anorexia e o da bulimia. De forma secreta e silenciosa, nossa imagem passa a não ser mais refletida de forma íntegra, e sim distorcida, e os sonhos parecem se esvair. O que acontecerá quando Clara reconhecer a própria imagem?

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São Paulo, 2014

Parla de Paula

TALENTOS DA LITERATURA BRASILEIRA

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2014IMPRESSO NO BRASILPRINTED IN BRAZIL

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Índices para catálogo sistemático:1. Ficção : Literatura brasileira 869.93

Copyright © 2014 by Parla de Paula

Texto adequado às normas do Novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa (Decreto Legislativo nº 54, de 1995)

Coordenadora EditorialDiagramação

CapaPreparação

Revisão

Nair FerrazLuís PereiraRenato KlismanAndré DickLuiz Alberto Galdini

Paula, Parla deClara e a garota do espelho / Parla de Paula. -- Barueri, SP : Novo Século Editora, 2014. -- ( Talentos da literatura brasileira)

1. Ficção brasileira I. Título. II. Série.

13-12330 DD-869.93

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Muito se passou até aqui, não foi uma jornada fácil, mas com certeza foi encantadora. Todos os contos de fadas precisam de uma dificuldade para fazer sua história interessante. Hoje pos-so dizer que faço parte de uma minoria que viveu aventuras até conquistar seu esperado final feliz. Mas esse livro que fecha com chave de ouro o meu conto de fadas não existiria sem ajuda de amigos verdadeiros, de uma família maravilhosa e de um herói: meu avô, que é a quem dedico esta obra.

Agradeço primeiramente a Deus e depois a Marcolino de Paula (Nenzinho Barbosa), o grande e verdadeiro herói dessa eterna princesa. Obrigada, vovô, por tudo. Esse sonho não seria realidade hoje sem o senhor!

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Prefácio

Um certo dia recebo uma mensagem em meu Facebook, de uma garota com um nome incomum e muito boni-to: Parla. Logo penso: “Nossa, que diferente, parece mais

nome de princesa”. E realmente eu não estava errada. Parla me acionou para uma nova amizade, me contou de

suas aspirações e projetos e como havia se identificado com mi-nha história de vida, ao não dar vazão às críticas e seguir o pró-prio sonho. A partir de uma conversa inicial, logo veio o convite à mim, para fazer o prefácio do livro que ela acabara de escrever e já havia sido aceito por uma editora. Mais uma grata surpresa, a minha editora. Essa moça linda e doce, com um nome de prince-sa, seria minha mais nova colega.

Mesmo sem saber do que se tratava o livro ou o potencial dele, aceitei prontamente o convite e Parla me mandou o manus-crito. Comecei a ler despretensiosamente, porém já com minha visão crítica de autora. E novamente mais uma enorme surpresa. Clara e a Garota do Espelho me acertou em cheio, me prendeu numa leitura deliciosa como tenho certeza que prenderá à todos.

Neste romance juvenil que aborda temas sérios e contempo-râneos como gravidez na adolescência, importância da família, autoestima, dramas psicológicos, bulimia, bullying e a verdadeira amizade, o leitor será convidado a exercitar todas essas reflexões de um modo gostoso, bem-humorado e não impositivo.

Mesmo porque, junto aos temas deveras pertinentes, a obra engloba também uma áurea mágica dos castelos, príncipes e

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princesas; se tornando um verdadeiro e encantador conto de fa-das moderno.

Este é um livro que fará quem o ler se divertir por horas sonhando acordado, torcendo e suspirando pelo doce romance entre a protagonista e Phelipe, ou então gargalhando com os diá-logos de Clara e Rafaela. Uma amizade que nos faz pensar em como é importante estarmos rodeados das pessoas que gostam do jeito que somos.

Conhecendo sobre a vida de Clara e suas decisões, muitas vezes o leitor terá vontade de entrar literalmente na obra para aconselhá-la, abraçá-la, chorar com ela ou dar-lhe uma bronca; tamanha realidade com que a personagem foi criada. Clara é uma menina normal, cheia de defeitos, qualidades e autocrítica, como nós, mulheres, somos ou fomos. Ela comete os erros e acertos que um dia também cometemos, porque ela é, muitas vezes, um retra-to fiel de nós mesmos. O que me faz pensar que no nome da obra, a garota do espelho remeta-se ao leitor, que enxerga no reflexo da Clara, sua própria face.

Uma boa leitura à todos e que a Clara e a Garota do Espelho lhe faça ver que por trás dos defeitos que você faz questão de en-xergar em si mesmo ou em sua vida, há uma princesa – ou um príncipe – pronta para se mostrar ao mundo e vencer. Seja feliz e siga sempre seus sonhos, assim como a Parla, eu e a protagonista do livro, Clara, sendo fiel aos desejos de seu coração!

Mirella FerrazAutora de Sereias – O Segredo das Águas e Quando as Se-reias Choram, ambos lançados pela Editora Novo Século.

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Princesa Aneliese

Maio de 1862

Era Lua cheia, única noite do mês que poderia encontrá-lo. Estava esperando por ele debaixo do carvalho branco para nos despedir.

Graças a Estevão, guarda do castelo e amigo, pude escapar da reunião com a nobreza do reino, quando o castelo se enche e os olhos de águia do meu pai conseguem se distanciar de mim. Nes-sas noites, fujo do palácio e me encontro com Marcos Antônio, às vezes por poucos minutos, que sempre valem a pena; embora cada vez mais esteja difícil de escapar.

Esta noite, porém, era especial. O rei Victor, de um reino vi-zinho, estava acertando com o meu pai, rei Heraldo, os últimos detalhes do nosso casamento, marcado para dali a dois dias.

Muitas Luas iluminavam o céu; contava as Luas para sair do castelo, no qual cada vez mais me parecia difícil de viver. Eu sou uma princesa; Marcos é um forasteiro que por acaso me co-nheceu em uma tarde em que quase fui raptada. Ele me salvou bravamente e desde aquele dia não pude mais esquecê-lo. Passei dias e noites pensando em quando iria reencontrá-lo e então des-cobri que ele também havia se apaixonado por mim. Deixando bilhetes, pequenos rabiscos com alguns versos, conseguimos nos comunicar por semanas, graças a Estevão. Até que marcamos um encontro, e, fugindo de todos, vi outra vez meu grande amor.

Dias e noites se passaram, e eu só conseguia pensar em vê-lo novamente. Durante muitas Luas cheias, fui feliz ao passar alguns

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minutos em sua companhia, contudo meu pai descobriu e passou a dificultar cada vez mais os nossos encontros. Marcos tentou to-mar a minha mão em casamento, mas já estava prometida ao rei Victor, e além do mais, meu pai nunca permitiria que me casasse com um plebeu.

Diversas vezes pensei em fugir, mas, em uma conversa curta e desagradável, Victor, que já estava a par do meu namoro secreto, me propôs um acordo em que eu me casaria com ele e Marcos e sua família estariam a salvo, caso contrário, ele acabaria com todos um a um. Tentei resistir, mas o medo de que algo ruim acontecesse àquele que amo falou mais alto e então aceitei o acordo. Marcos jurou lutar por mim, porém, com a morte de um dos seus irmãos pelas mãos de um dos guardas do rei Victor, ele recuou.

A Lua brilhava tão forte como nunca havia visto antes, o céu estava coberto de estrelas e a leve brisa jogava o meu longo cabelo castanho para o alto. Comportem-se, pensava.

– Aneliese! – ouvi gritos; era ele.– Marcos, estou aqui!Avistei de longe o seu cavalo marrom. Meu coração dispa-

rou, como em cada vez que o encontrava, minhas pernas come-çaram a tremer e, a cada instante em que ele se aproximava, mais forte o meu coração batia, parecendo desejar explodir de tanta emoção. Um misto de ansiedade, medo… Uma sensação impos-sível de descrever, essa que só se sente quando está apaixonada.

– Desculpe o atraso, estava à procura de algo para lhe dar – disse ele, descendo do cavalo.

Seu cabelo negro à altura dos ombros balançavam lentamen-te, seus olhos castanhos estavam brilhantes. Ele ainda não sabia que aquela seria a nossa última noite.

– Contei todas as noites a espera deste encontro – disse, com ternura.

Ele sorriu. Os lábios finos se fecharam, e ele então se apro-ximou de mim e me beijou suavemente. Envolveu minha cintura em um abraço, segurando-me de forma segura. Quando ele me

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beija, o mundo parece se transformar em um vasto céu cheio de estrelas. Eu não me importo com mais nada, apenas rezo para que aquela sensação dure para sempre.

– Estive pensando, a minha família deseja cavalgar para o sul, onde dizem haver mais ouro. Poderia partir conosco; o rei dificil-mente descobriria para onde fomos – disse ele, cheio de esperança.

Sorri, mas era visível através do meu olhar a minha infelicidade.– Tem algo para me contar? – perguntou ele. Mordi o lábio, o que faço sempre que preciso dizer algo que

possa magoá-lo.– O que houve, Aneliese? – questionou ele, seriamente.– Meu casamento é daqui a dois dias.Ele ficou parado, sério, não disse uma só palavra, mas pude

ver a tristeza em uma lágrima que deslizou pelo seu rosto áspero.Acariciei-o, tentando me conter para não cair em prantos.– Eu sabia que este dia chegaria mas não imaginei que pudes-

se ser tão cedo – disse, abaixando a cabeça para ver as folhas que caíam da árvore.

– Não há mais nada que possamos fazer – disse, tristemente.– Vamos fugir! – pediu ele, cheio de angústia, enquanto se-

gurava com força as minhas mãos. – Iremos para tão longe que ele não conseguirá encontrá-la.

– Mas e os seus? – perguntei, aflita.– Meus irmãos e meus pais poderão cuidar uns dos outros. – Não posso pensar no que aconteceria se ele nos encontras-

se. No que ele faria a você!– Não posso te perder! – desabafou ele, aflito.– Não vai! – respondi, enquanto tentava conter a tristeza das

palavras. – Onde eu estiver, sempre será você que irei amar. Não importa se nunca mais nos veremos, apenas espero que seja feliz. Espero que encontre outra moça e seja feliz com ela.

– Não quero outra moça, eu quero você! – gritou.

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– Não podemos ficar juntos! – falei, com muita dor, enquanto segurava as suas mãos. – Sei que serei infeliz ao lado dele, mas, cada vez que me sentir no inferno, pensarei em você… – paralisei-me.

– … Porque você é o meu céu – completou ele. Abraçamo-nos, e então ele tirou do bolso do casaco uma

flor, uma tulipa rosa, amassada e um pouco murcha.– Minha flor favorita! – comentei, com um sorriso.– Fui até o alto da montanha buscá-la; algo me dizia que esta

noite seria especial.Peguei a flor das suas mãos e senti seu aroma.– Irei guardá-la para sempre – disse, com um sorriso tímido.Ele fechou os olhos e mordeu os lábios; parecia não acreditar

no que estava acontecendo.– Não posso acreditar que irei te perder para sempre – sus-

surrou ele, entre lágrimas.Abracei-o forte.– Não irá – respondi, enquanto passava a mãos pelo seu ros-

to, olhando no fundo dos seus olhos. – Eu poderei estar ao lado dele, mas meu coração sempre será seu.

– Como iremos nos encontrar? – perguntou ele.– Não poderemos mais nos ver, sairei do reino logo após a

lua de mel – falou, tristemente. Ficamos nos olhando por alguns segundos em silêncio.

Queria guardar bem aquele rosto, lábios finos, olhos pequenos, sobrancelhas grossas, barba rala, sorriso perfeito, cada detalhe.

– Aneliese.– Sim.– Eu amo você! – disse ele, pela primeira vez em todas

aquelas Luas.– Também amo você! – respondi, e ainda, ao ouvir aquelas pala-

vras, um sorriso enorme apareceu involuntariamente no meu rosto.– Aneliese, é tarde. Preciso levá-la antes que a reunião termi-

ne! – gritou Estevão do alto da ponte a alguns metros do carvalho.

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Olhei para Marcos com tristeza. A angústia de saber que iríamos nos despedir para sempre tomou conta de mim e as lá-grimas começaram a deslizar pelo meu rosto como uma forte chuva de verão.

– Não a deixarei partir! – disse Marcos, decidido, enquanto segurava a minha mão, impedindo-me de partir.

– Não adianta lutar, Marcos. Eu irei, mas tenha certeza que rezarei todas as noites para que encontre novamente o amor.

– Não conseguirei ter paz sabendo que estará sozinha com ele.– Vamos, princesa, não quero me encrencar! – gritou Estevão.– Não é o fim, Aneliese, irei lutar por você até a morte! –

gritou Marcos.Beijamo-nos, e me afastei. Ao soltar sua mão, senti meu co-

ração em pedaços e me virei andando em direção à ponte onde Estevão me esperava com a carruagem.

Para trás, deixei o meu grande amor em pedaços, apenas me observando partir. Senti como se estivesse caminhando para o meu fim, pois sabia que a partir dali estava destinada a viver uma vida sem amor. Confortava-me saber que ele estaria livre para viver e ainda poderia encontrar alguém.

– Adeus, Marcos – disse, antes de entrar na carruagem.– Não é o fim, Aneliese! – repetiu ele, e então montou no seu

cavalo e partiu, quase voando como o vento.Para trás, ficara o grande amor da minha vida, o que me regia

em uma vida longe de qualquer alegria. Antes vivia para encon-trá-lo, mas dali em diante viveria para suplicar aos céus pela sua felicidade. Bons dias se foram e à frente estava um futuro onde só conseguia ver a escuridão. Contudo, dentro de mim sentia que ainda não havia acabado. Mesmo negando, meu coração só en-tendia aquelas palavras se repetindo milhões de vezes: não é o fim, não é o fim…

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