Clodovis Boff - Como Trabalhar Com o Povo

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7/21/2019 Clodovis Boff - Como Trabalhar Com o Povo http://slidepdf.com/reader/full/clodovis-boff-como-trabalhar-com-o-povo 1/46 COMO TRABALHAR COM O POVO Metodologia do Trabalho Popular Clodovis Boff 1. INTRODU!O" A ART# DO TRABALHO POPULAR Podemos explicitar neste livreto as condições concretas que ajudam no trabalho popular.  Não se pretende ditar aqui os mandamentos ou receitas de como trabalhar com o povo de modo concreto. Tratase apenas de examinar como est! se dando hoje esse trabalho e expor as indicações ou tend"ncias mais fecundas que a pr#pria pr!tica est! su$erindo. % evidente que isso não vai sem an!lise e cr&tica. Tentaremos nessa parte or$ani'ar as  principais lições que se podem tirar das experi"ncias de trabalho junto ao povo. ( junto com a or$ani'ação) daremos al$uma justificação mais pr#xima das linhas ou orientações que forem sendo expostas.  Nada do que * dito aqui deve ser entendido de modo do$m!tico. +sso sobretudo porque o trabalho popular * uma arte e não uma ci"ncia. ( uma arte vaise aprendendo na pr!tica. Tanto mais que se trata aqui de uma das artes mais dif&ceis, a de lidar com $ente. Por isso * com toda despretensão que se colocam aqui indicações pr!ticas -mais que orientações de como fa'er trabalho popular. (las deverão ser completadas e corri$idas com outras experi"ncias e outras reflexões sobre essas experi"ncias. /#crates) um dos maiores educadores do 0cidente) tinha tal consci"ncia da dificuldade de educar que di'ia não pretender ser mestre de nin$u*m nem ter disc&pulos) mas antes ami$os. 1 2ironia socr!tica3 exprime a consci"ncia da pr#pria i$nor4ncia e * o princ&pio da sabedoria no trabalho junto ao povo. % a atitude mais ori$in!ria de todo a$ente  popular. A$$UMIR O RI$CO  Não existem propriamente re$ras fixas de trabalhar com o povo. 0 que existem são apenas bali'as) setas indicadoras. Cada um tem que assumir o risco) pois o risco fa' parte de todo aprendi'ado que se funda principalmente na experi"ncia. 1certase no trabalho  popular atrav*s de 2tentativas e erros3. % imposs&vel dar sempre certo. (m nenhum lu$ar talve' mais do que aqui vale o dito de que * fa'endo que se aprende. 5a& a import4ncia do processo como tal. 2% no chacoalhar da carroça que as ab#boras se acomodam3. 2/e hace camino al andar3 -1. 6achado. +sso não quer di'er que se deva proceder sem crit*rios ou precauções7 que se deva ir em frente simplesmente) de acordo com a conhecida afirmação, 2vaise 8 luta) depois se ver!3. Não. Não * permitido aqui nenhum tipo de pra$matismo fr&volo ou ativismo

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COMO TRABALHAR COM O POVOMetodologia do Trabalho Popular

Clodovis Boff 

1. INTRODU!O" A ART# DO TRABALHO POPULAR 

Podemos explicitar neste livreto as condições concretas que ajudam no trabalho popular. Não se pretende ditar aqui os mandamentos ou receitas de como trabalhar com o povo demodo concreto. Tratase apenas de examinar como est! se dando hoje esse trabalho eexpor as indicações ou tend"ncias mais fecundas que a pr#pria pr!tica est! su$erindo.

% evidente que isso não vai sem an!lise e cr&tica. Tentaremos nessa parte or$ani'ar as principais lições que se podem tirar das experi"ncias de trabalho junto ao povo. ( junto

com a or$ani'ação) daremos al$uma justificação mais pr#xima das linhas ou orientaçõesque forem sendo expostas.

 Nada do que * dito aqui deve ser entendido de modo do$m!tico. +sso sobretudo porque otrabalho popular * uma arte e não uma ci"ncia. ( uma arte vaise aprendendo na pr!tica.Tanto mais que se trata aqui de uma das artes mais dif&ceis, a de lidar com $ente. Por isso* com toda despretensão que se colocam aqui indicações pr!ticas -mais que orientaçõesde como fa'er trabalho popular. (las deverão ser completadas e corri$idas com outrasexperi"ncias e outras reflexões sobre essas experi"ncias.

/#crates) um dos maiores educadores do 0cidente) tinha tal consci"ncia da dificuldade de

educar que di'ia não pretender ser mestre de nin$u*m nem ter disc&pulos) mas antesami$os. 1 2ironia socr!tica3 exprime a consci"ncia da pr#pria i$nor4ncia e * o princ&pioda sabedoria no trabalho junto ao povo. % a atitude mais ori$in!ria de todo a$ente popular.

A$$UMIR O RI$CO

 Não existem propriamente re$ras fixas de trabalhar com o povo. 0 que existem sãoapenas bali'as) setas indicadoras. Cada um tem que assumir o risco) pois o risco fa' partede todo aprendi'ado que se funda principalmente na experi"ncia. 1certase no trabalho

 popular atrav*s de 2tentativas e erros3. % imposs&vel dar sempre certo. (m nenhum lu$ar talve' mais do que aqui vale o dito de que * fa'endo que se aprende. 5a& a import4nciado processo como tal. 2% no chacoalhar da carroça que as ab#boras se acomodam3. 2/ehace camino al andar3 -1. 6achado.

+sso não quer di'er que se deva proceder sem crit*rios ou precauções7 que se deva ir emfrente simplesmente) de acordo com a conhecida afirmação, 2vaise 8 luta) depois sever!3. Não. Não * permitido aqui nenhum tipo de pra$matismo fr&volo ou ativismo

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$rosseiro. Totalmente ao contr!rio, quanto mais delicada a tarefa) mais atenção)vi$il4ncia e seriedade se h! de ter) tanto na pr!tica quanto na compreensão da pr!tica.Pois) se 2a experi"ncia ensina3) importa ouvir e aprender as lições da experi"ncia. ( issonão * poss&vel sem reflexão cuidadosa da pr#pria experi"ncia. 1ssumir o risco) sim) maso risco calculado.

1crescentemos) nesse ponto) que h! correntes distintas de trabalho popular. 1l$umas privile$iam o papel do a$ente e outras) ao contr!rio) enfati'am a import4ncia das 2bases3ou dos $rupos populares. ( h! ainda as que tentam encontrar um 2justo equil&brio3 entreessas duas tend"ncias fundamentais.

5e nossa parte) referimonos de modo especial ao campo de nossa pr#pria experi"ncia)que * o da pastoral popular. 6as * preciso di'er que tal campo recobre frequentemente avasta !rea do trabalho popular em $eral. 5e fato) uma pastoral libertadora procurafavorecer toda forma de afirmação e promoção popular, educativa) sindical) partid!ria)etc.

A %U#M $# D#$TINA #$$# TRABALHO

5iri$imonos aqui ao a$ente de trabalho popular, educador) profissional liberal) t*cnico) pol&tico) sindicalista) padre) etc. Temos em mente principalmente o chamado 2a$enteexterno3 9 aquela pessoa ou a$"ncia que 2vai3 trabalhar junto ao povo. Contudo) o quese di' aqui vale tamb*m para o 2a$ente interno3) o 2a$ente popular mesmo3) isto *)aquele que sur$e do pr#prio povo e a& exerce um papel educativo ou pol&tico.

 Na verdade) a distinção entre 2a$ente externo3 e 2a$ente interno3 se enfraquece e quasedesaparece na medida em que o 2a$ente externo3 se insere no universo popular tornandose povo e na medida tamb*m em que o 2a$ente interno3 ou 2popular3 cresce emexperi"ncia e qualificação no seu trabalho. 1li!s) * a pr#pria din4mica do trabalho popular que leva a essa aproximação pro$ressiva.

1ssim) a partir de um certo momento da caminhada) * estreita a diferença que separa um2a$ente externo inserido3 ou 2populari'ado3 e um 2a$ente interno experimentado3 ou2popular3. Contudo) sempre sobre a diferença inapa$!vel do pr#prio passado ou ori$emde classe 9 coisa que no trabalho deixa de ser si$nificativa) at* pelo contrario.

/e aqui $uardamos a distinção entre 2a$ente externo3 e 2a$ente interno3 * para levar emconta os problemas espec&ficos que cada um deles tem) sobretudo o primeiro) em particular nos in&cios do trabalho com o povo.

 Notemos tamb*m que nesse texto falaremos normalmente em 2povo3) compreendendo por esse termo o conjunto das classes oprimidas ou subalternas. (ntenderemos sempre2povo3 não no sentido 2cl!ssico3 -de 2nação3) mas no sentido 2classista3 -de 2classes populares3. 5e resto) * como 2povo3 que o pessoal costuma se autodenominar nos$rupos de trabalho popular. Por ve'es) 2povo3 querer! di'er simplesmente a comunidade

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 popular com a qual se est! trabalhando.

 Nesse caso) embora o sentido -conceitual seja distinto) a si$nificação -objetiva * amesma, referimonos no fundo 8 mesma coisa.

CAI&A D# '#RRAM#NTA$ # N!O R#C#ITU(RIO

1s colocações e indicações aqui expressas querem ser claras e pr!ticas. % a pr#prianature'a do trabalho que exi$e isso) bem como os destinat!rios 9 todos a$entes) ou seja)$ente de ação. (stes) com efeito) buscam diretivas concretas e operativas) fundadas naação e reflexão) em vista de melhorar seu pr#prio trabalho.

(videntemente aqui não * poss&vel aprofundar as questões te#ricas que as proposições pr!ticas supõem. :efletiremos apenas na medida em que a teoria pode esclarecer) fundar ou justificar de modo imediato as indicações concretas aqui su$eridas. Num outro escrito

21$ente de Pastoral e Povo3 -in :(B) v. ;<) =>?<) p. @=A@;@ traçamos o pano te#ricode fundo que preside 8s colocações presentes.

(sse livrinho não deve ser usado como um receitu!rio ou cartilha) mas como uma caixade ferramentas. Nele se encontram instrumentos de toda sorte) uns mais teis outrosmenos. 0ra) de uma caixa de ferramentas tomase o que interessa ao pr#prio trabalho. 0importante aqui não * a ferramenta) mas seu uso7 e) mais que o uso) o importante * o pr#prio povo e sua libertação.

). CONV#R$!O D# CLA$$# DO A*#NT#

$ITUA!O INICIAL" $OCI#DAD# DIVIDIDA

(ste * o $rande dado de entrada a se levar sempre em conta no trabalho popular, a divisãosocial do trabalho em trabalho intelectual -decisão e trabalho manual -execução o seudesdobramento na divisão de classes em classes dominantes e classes dominadas. (stasituação real 9 aqui apenas indicada 9 h! de permanecer como pano de fundo em todoo trabalho popular. (ste) na verdade) arranca dela -quanto 8 sua forma de or$ani'ação evai na linha de sua superação -sociedade i$ualit!ria.

(sta constante elementar e $eral j! fornece a linha de base do trabalho popular, reforçar 

a posição do povo  -seu saber e poder. Pois não * verdade que a exist"ncia e aconsci"ncia do povo sejam simplesmente as de seus dominadores -alienação absoluta. Não) o povo tem uma exist"ncia e consci"ncia pr#prias) por*m dominadas) reprimidas)controladas de fora e de dentro -introjeção) justamente pelas classes dominantes.

A N#C#$$(RIA CONV#R$!O D# CLA$$#

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Tiremos a$ora as conseq"ncias da situação $lobal da divisão da sociedade -de trabalho ede classes quanto ao a$ente de trabalho popular.

(m primeiro lu$ar) o a$ente externo deve reconhecer sua situação de classe e o caráter 

de classe de seu pensar e agir.

( isso sem disfarce) com toda honestidade. /er de uma classe ou outra pertence aodestino hist#rico de cada um. Não depende de uma escolha volunt!ria. ( tal pertençamarca a consci"ncia e o modo de vida de cada um. % falso di'erse i$ual ao povo)identificado com ele) do momento que se * de outra classe. (ssa atitude mistifica arelação com o povo e leva 8 dominação sob pretexto de i$ualdade.

Por outro lado) esse reconhecimento deve ser feito sem masoquismo e m! consci"ncia)sem satani'ar a pr#pria situação social e nem canoni'ar a do povo. D! vanta$ens edesvanta$ens especificas em cada uma delas.

Por isso mesmo 9 e * o @

o

 ponto 9 o agente externo necessita de uma “conversão declasse”. 0 que importa sobretudo não * onde se est!) mas de que lado se luta. 0 queconta não * a ori$em de classe) e nem a situação de classe) mas a posição) opção e pr!ticade classe. Tratase aqui de 2passar para o povo3) de se situar a seu lado na luta por umasociedade nova.

Contudo) isso tem o seu preço. Pois implica) em primeiro lu$ar) em romper com osinteresses e a mentalidade da própria classe . ( implica tamb*m em  guardar certos

valores, desenvolvê-los e passá-los para o povo. 0 que $uardar e o que rejeitarE

O %U# $# D#V# D#I&AR" A ID#OLO*IA

Comecemos pelo que o a$ente externo deve rejeitar em sua relação com o povo. 5i$amosque o a$ente deve romper com a ideolo$ia t&pica de sua classe e com os interesses que elaexprime. (ntendemos aqui ideolo$ia tanto as id*ias como as atitudes e comportamentos pr#prios de uma classe.

Fiquemos no a$ente de 2classe m*dia3) que * de onde a maioria dos 2a$entes externos3 prov*m. Porque essa classe não constitui uma classe essencial em nossa sociedade e porque nem constitui uma classe definida) sua ideolo$ia 9 como seus interesses 9 não *i$ualmente definida. (la se define apenas a partir da ideolo$ia das outras classesfundamentais) com as quais coincide em determinados momentos ou se$undodeterminadas de suas frações. Por isso) a definição ideol#$ica da 2classe m*dia3 *essencialmente sua indefinição. (is al$uns traços 2caracter&sticos3 de sua ideolo$ia,

=. Posição em cima do muro) que pode ser expressa nas se$uintes atitudes, 9 oscilação ora 8 direita e ora 8 esquerda) de onde h! pouca firme'a nos compromissos7 9 oportunismo) que fa' tomar a posição mais conveniente ao momento7 9 pretensão ao neutralismo pol&tico7

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 9 crença nas soluções ne$ociadas a qualquer preço -colaboracionismo de classe.

@. Gosto por teorias astratas) que se exprime em, 9 bri$as de id*ias e não de pr!ticas -para fu$ir ao compromisso7 9 tend"ncia 8 intelectuali'ação dos problemas) a fu$ir para as nuvens) a adotar um

universalismo va'io) a desmateriali'ar as coisas7 9 revolucionarismo ret#rico) sem maiores conseq"ncias7 9 sectarismo pol&tico) com traços de fanatismo e ressentimento7 9 pretensão intelectualista de diri$ir o processo hist#rico e $uiar o povo7 9 moralismo na compreensão e solução das questões sociais.

G. !ndividualismo) manifesto em, 9 isolacionismo social e ideol#$ico -2quantas cabeças tantas sentenças37 9 e$o&smo de interesses -2cada um por si...37 9 falta de esp&rito de corpo) de classe -j! que não existe como classe definida7 9 privatismo na solução dos problemas -2depende de cada um37

 9 interiori'ação espiritualista dos conflitos na forma de 2crises existenciais3) etc.Pois bem) * de toda essa mentalidade) e dos interesses que ela escondeHmanifesta) que oa$enteclassem*dia deve se despojar se quer se aproximar das classes populares paraservilas. Na verdade) mais que de uma conversão) tratase de uma definição de classe. %claro) essa definição s# pode ser feita no pr#prio processo de relacionamento com o povo.Pois * a& que se podem identificar e superar as pr#prias alienações de classe.(videntemente) a disposição para isso deve ser pr*via enquanto representa uma aberturaao questionamento e 8 mudança. /em essa disposição de fundo) não existe trabalho popular que transforme a pessoa. Nesse n&vel não h! automatismo.

O %U# H( D# MANT#R" VALOR#$ UNIV#R$AI$

Iimos o que o a$ente deve deixar. ( o que deve $uardar para repassar ao povoE

5eve $uardar todos os valores humanos e culturais que são teis para a luta e a libertaçãodo povo. Na verdade) nem tudo o que * da classe m*dia * de classe m*dia. +sto *, nemtudo o que a classe m*dia vive ou adota * caracter&stico dela. Não se pode confundir anature"a de certos valores) que por si mesmo são universais) embora monopoli'adosinjustamente por uma classe) e seu uso ou função ideol#$ica. Temos) pois) que distin$uir o que * pr#prio da classe -classista e o que * humano e universal) e que foi apropriadoile$itimamente por ela. 1contece aqui) na ordem dos valores e habilidades v!rias) o quesucede com os meios de produção, estes são propriedade privada) mas sua destinação *coletiva. 1 questão não * pois) destru&los mas se apropriar deles) não sem antesreor$ani'!los profundamente.

0ra) entre os valores da classe -sem serem de classe que o a$ente de classe media deve$uardar podemse contar,

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 9 habilidades t*cnicas teis a todo o povo, ler) escrever) contar) curar) bater a m!quina)encaminhar um processo) etc.7 9 informações de car!ter hist#rico e de atualidade7 9 capacidade te#rica para analisar a realidade e sistemati'ar conhecimentos7 9 valores de car!ter humano) como o cultivo da subjetividade -que na classe media s#

tem de viciado seu lado exclusivo e excludente) etc.Todos esses valores representam rique'as que não se h! de abandonar) sob pena de deixar o pr#prio povo privado de al$o a que tem direito e que precisa conquistar. Portanto) essesvalores devem ser repassados) comunicados ao povo e de certo modo democrati'ados ousociali'ados.

COMO PA$$AR AO POVO VALOR#$ D# ORI*#M N!O+POPULAR 

 Naturalmente) a sociali'ação desses valores não se d! sem mais. (la supõe) em primeiro

lu$ar) uma relação pedagógica correta) que prescreve o momento) a medida e o modo desua comunicação. Nada) pois de ir despejando em cima do povo 2nossas3 rique'as) assimsem mais nem menos) a pretexto de que o povo foi por muito tempo privado delas e quea$ora che$ou o momento de receb"las.

(m se$undo lu$ar) importa refundir  esses valores) que v"m sempre revestidos de umaforma de classe -2pequenobur$uesa3. Por isso precisam ser purificados e mesmoconvertidos para poderem ser assimilados com proveito pelas classes populares. +sso *evidente) por exemplo) com respeito 8 ci"ncia) que) embora tenha vocação universalista)foi criada e elaborada pela bur$uesia e carre$a) em sua expressão cultural -lin$ua$em)instrumentos de produção cient&fica) etc. as marcas de nascença -inclusive a teolo$ia e omarxismo.

 Na verdade) 2tudo o que se recebe) se recebe pelo modo de quem recebe3 9 di'iam osmestres medievais. 1ssim) valores universais) vividos at* então por uma classe) s# podemenriquecer uma outra quando recebidos e assimilados se$undo os esquemas dessa outraclasse. Ialores universais) de que foram portadoras e fruidoras as classes dominantes) s# podem ser vividos corretamente pelo povo ao modo deste) isto *)  popularmente. ( issovale tanto para o ter) tanto para o poder) o saber e mesmo o crer. 5e onde se v" que não *s# o a$ente que deve se converter) mas tamb*m devese converter a rique'a que elecarre$a consi$o em seu trabalho popular.

CONV#R$!O DO A*#NT# INT#RNO,

1 questão da mudança ideol#$ica e pol&tica -conversão ou definição de classe foi aquireferida ao a$ente externo) mas o a$ente interno tamb*m pode ser chamado 8 conversão) justamente na medida em que tem o opressor intro#etado dentro de si e que por isso pensa e a$e se$undo modelos alienados. 0ra) tal situação não * rara entre os diri$entesdas associações populares -pele$os) etc..

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 Nesse caso) o pr#prio a$ente oprimido necessita de conversão, conversão 8 pr#pria classee 8 sua libertação coletiva. (videntemente o processo de conversão aqui obedece a umadin4mica pr#pria. % a din4mica do pr#prio trabalho popular de que estamos aqui tratando.0u seja, * no processo da reflexãoHação que o a$ente popular alienado pode se converter 

-sobretudo se for apenas in$"nuo ou então se revelar e desmascarar -se for malintencionado. 6as tudo isso se ver! melhor mais adiante.

-. O PAP#L PARTICULAR DO A*#NT#

0 a$ente não * s# diferente do povo por sua extração eHou situação de classe) mastamb*m por sua posição no processo ou caminhada de libertação. Na verdade) ele * uma$ente e como tal tem um papel) mais que especial) espec&fico. ( isso vale tamb*m para oa$ente popular.

(sse papel pode ser pol&tico) t*cnico) pastoral) educativo. Na falta de um termo melhor emais apropriado) poder&amos talve' falar em  função pedagógica) para en$lobar todas asfunções de crescimento inte$ral da comunidade ou do povo -cf. a paid$ia $re$a.

+mporta que o a$ente) al*m de reconhecer seu car!ter de classe) reconheça e assuma sua posição espec&fica junto ao povo. Tal posição pode ser desi$nada como alteridade  oudiferença pedagógica.

5e fato) * uma ilusão se di'er ou se pretender 2i$ual ao povo3. 0 i$ualitarismo) comotentativa e mesmo como apar"ncia ou imprecisão de puro achatamento entre o a$ente e o povo) deve ser desmascarado como uma farsa.

1 i$ualdade entre o a$ente e o povo se d! num outro n&vel) mais profundo que o da merac#pia ou macaqueação. Como veremos ainda) a i$ualdade consiste na identificação numamesma causa ou projeto fundamental) numa mesma pr!tica ou luta e) por fim e o quanto poss&vel) num mesmo universo cultural.

/e al$u*m * ou se torna a$ente * porque tem al$o a oferecer ao povo) em umacontribuição particular a dar 8 sua caminhada. 0 a$ente * a$ente porque * diferente. %isto que precisa ser visto e assumido.

1$ora) o fato de ser diferente não coloca de per si o a$ente fora ou acima do povo. Tratase antes a& de um serviço que deve ser prestado sem arro$4ncia e quase por imposiçãohist#rica. 1ntes de isso ser um t&tulo de $l#ria ou m*rito) * uma obri$ação *tica e umamissão social objetiva. 21i de mim se não trabalhar com o povo3 9 poderia di'er oa$ente imitando /. Paulo.

Por isso) s# quem não entende sua posição real no processo de crescimento popular pode pretender seja diri$ir o povo ou ser absolutamente i$ual a ele. 1parecer acima do povo oudesaparecer no meio do povo não interessa finalmente ao povo. +sso * desajud!lo. Trata

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se) sim de estar ao lado ou no meio do povo) sendo o que se *) sem fantasias ou m!scaras)e fa'endo de sua diferença um serviço.

COMO CARACT#RIAR O A*#NT#

Poder&amos aqui) mais que definir) descrever ou caracteri'ar essa função pr#pria doa$ente em sua diferença peda$#$ica -sempre no sentido amplo da  paid$ia $re$a) comoformação inte$ral do homem inte$ral. Iamos caracteri'ar a função do a$ente atrav*s deum esquema que falar! por si mesmo.

) Modo/ de Age0te ou #duador

 Modelo do agente (animador) Contramodelo do agente (paternalista)

=. % como um parteiro -maieuta, auxilia amãe a dar a lu'. % como um  genitor   ou pai, en$endrarealmente o filho.@. % como um agricultor , cuida da terra para que produ'a bons frutos.

% como um artesão  ou  faricante,manipula as coisas para produ'ir outras.

G. % como um m$dico, trata do corpo paraque conserve ou recupere a sade.

% como um general , d! ordens para avançar ou recuar) etc.

#2pre//3e/ de /ua 'u045o #/pe67ia

1tivar ener$ias internas) despertar) suscitar)

estimular.

+nfluir atrav*s de uma força de fora e de

cima) infundir lu' e saber.+ndu'ir) animar) fa'errefa'er. Condu'ir) levar) fa'ersemmais./ervir) ajudar) reforçar) contribuir)secundar) assessorar.

Fa'er no lu$ar) servirse de) arrastar) presidir.

5ar condições) propiciar) facilitar) dar lu$ar) fa'er espaço.

Criar) produ'ir) causar) instaurar) construir.

Coordenar forças em presença) articular)a$enciar.

0rdenar -e condenar) mandar) liderar)administrar.

(star no meio) animando. (star 8 frente ou acima) puxando.

Atitude/ ou %ualidade/ T6pia/

1tenção) ausculta) abertura. +ntervenção) iniciativa.Cuidado) respeito) paci"ncia. Cora$em) a$ressividade.Fine'a) tato. (sperte'a) 2t!ticas3.

0bservemos aqui que as fi$uras do a$ente ou educador como parteiro) a$ricultor e

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m*dico nos vieram) entre outras menos feli'es -oleiro) domador) da tradição $re$a eforam utili'adas especialmente por Platão) em $eral na boca de /#crates. +mporta notar que são simples comparações que) como tais) sempre claudicam por uma ou v!rias partes)em particular aqui a do m*dico.

(ssas fi$uras podem evidenciar uma alteridade peda$#$ica exa$erada se as tomarmoscomo profissões. 6as indicam corretamente a especificidade da ação peda$#$ica 9 trabalho a partir de dentro 9 se nos fixarmos na função ou pr!tica concreta desses tr"s persona$ens. Tratase a&) na verdade) de uma distinção de funç%es e não de uma divisãode categorias ou  pessoas.

5e fato) ser a$ente não * uma qualidade li$ada 8 pessoa) mas 8 sua função. 5a& porque oque * outro ou diferente não * tal ou tal pessoa mas) sim) o lu$ar que al$u*m ocupa no$rupo -animador) coordenador) etc.. 1li!s) o a$ente não * s# a$ente e nem sempre. %) na base de tudo) pessoa humana. 0 a$ente * tamb*m a$ido. /eu lu$ar ou função diferencial* uma exi$"ncia do $rupo e não um predicado se sua pessoa.

Por isso) a função peda$#$ica -como tamb*m a pol&tica * absolutamente relativa. 5eresto) o a$ente verdadeiro atua) sim) e com todo o seu vi$or pr#prio) mas sempre nam!xima discrição e fa'endose notar o menos poss&vel) seja pelos t&tulos) seja pela publicidade. % porque a mod*stia * intr&nseca ao car$o de a$ente) assim com aintermit"ncia -a$enteHa$ido e evanesc"ncia de seu trabalho) como se ver! lo$o emse$uida.

1ssim) a alteridade que o a$ente deve reconhecer e assumir * a alteridade de uma função pr#pria dentro e a serviço do $rupo e não uma alteridade de dist4ncia ou de superioridade.

AUTONOMIA DO POVO" OB8#TIVO DO TRABALHO POPULAR 

/im) porque o processo educativo tem como objetivo essencial a autonomia do educando.1utonomia como autodeterminação ou autodireção) e não propriamente comoindepend"ncia absoluta) pois o homem vive necessariamente em situação de depend"nciamtua devido ao seu car!ter social.

+sso si$nifica que o a$ente) como fi$ura educativa) est! fadado a ir desaparecendo) at* setornar de todo dispens!vel. Pois importa que o povo che$ue a 2caminhar com as pr#prias pernas3) livre de qualquer tutela.

(videntemente) o trabalho de um a$ente no processo popular leva inicialmente o povo auma certa depend"ncia do a$ente. Tal depend"ncia se d! precisamente naquilo que oa$ente tra' de novo, uma compet"ncia) uma capacidade de convocação) uma contribuiçãot*cnica ou cultural) etc. Tal depend"ncia inicial * absolutamente natural e pertence 8dial*tica do processo educativo. 1 verdadeira questão * o processo, para onde levaE

Com efeito) a realidade * que o povo vive numa situação objetiva de opressão e

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alienação) ou seja) de depend"ncia e sujeição frente 8s classes dominantes. Certo) o povoresiste) luta e ataca. 6as) sem o 2salto3 da consci"ncia cr&tica) para o qual a presença deuma mediação educativa * indispens!vel) a reação popular permanece no n&vel elementar)fra$ment!rio e desor$ani'ado.

1 valori'ação do povo e de seu potencial cultural e pol&tico não deve fa'er esquecer asituação dominante que ele vive e sofre e que * justamente a dominação de classe. Nãofosse isso) o povo j! estaria no poder e não teria maiores problemas. /em dvida) aqui eali o povo conse$ue se impor) mas no conjunto est! oprimido -at* que 2classes populares3si$nificarem 2classes subalternas3.

Por isso mesmo) todo o esforço do a$ente * reforçar o poder do povo at* que este atinjasua autonomia ou auto$estão entendida como o controle de suas pr#prias condições devida. 5a& que a $rande questão do a$ente educador * se sua ação leva o povo aocrescimento e 8 liberdade cada ve' maior ou ao contr!rio. +sso supõe que a interfer"nciado a$ente externo v! diminuindo em proporção inversa) at* que o povo possa se aprumar 

so'inho.

#TAPA$ D# CR#$CIM#NTO D# UMA COMUNIDAD#

Poderseia di'er que essa caminhada rumo 8 autonomia passa por tr"s fases,

= +nicialmente) o a$ente trabalha para o povo. % como se o carregasse.@ 5epois) o a$ente trabalha com o povo. % como se o amparasse para que tente caminhar com as pr#prias pernas.G Finalmente) o a$ente trabalha como o povo. % como se o povo j! pudesse caminhar por  pr#pria conta.

 Nesse ponto) o a$ente não sai do cen!rio7 muda apenas de papel. (le continua parte vivada caminhada) mas sem mais a função do in&cio) pois esta j! foi incorporada pelo povoou por $ente do povo. % nesse sentido que o educador desaparece como educador) nãonaturalmente como pessoa.

(videntemente) para que tal processo de autonomi'ação aconteça) * preciso que o pr#prioa$ente faça o caminho inverso, o de sua identificação e educação pro$ressiva a partir do povo. Na verdade) o processo peda$#$ico * duplo, consiste no encontro rec&proco  doa$ente e seu saber com o povo e seu saber. ( isso acontece em contexto de reciprocidade)dialo$o e partilha vital. % s# no interc4mbio de saberes que o processo educativo sedesenvolve) seja do lado do a$ente como do lado do povo.

+sso tudo vale para o a$ente na medida em que * educador  e não na medida em que *dirigente. Pois aquela função * por nature'a passa$eira -embora haja sempre uma2educação permanente3) se$uindo) contudo) outra din4mica) enquanto que esta ltima * permanente. Juanto 8 função de direção) ela tamb*m dever! ser incorporada de modocrescente pelo povo) at* que este produ'a seus pr#prios diri$entes. (sse * um elemento

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fundamental para a autonomia popular) para o que diremos al$uma coisa mais 8 frente.

9. IN$#R!O" CONDI!O PR:VIA INDI$P#N$(V#LP#N$A+$# A PARTIR DO$ P:$ # DA$ M!O$

Iimos que a situação de partida do trabalho popular * a divisão social do trabalho e declasse. Iimos tamb*m que a função fundamental do a$ente * se situar no meio do povo para contribuir) de dentro) 8 sua autoliberação. 5issemos) outrossim) que isso tudo supõeuma conversão de classe) conversão essa que se exprime no compromisso ouen$ajamento com as classes populares.

1$ora) para que isso tudo possa se reali'ar) * absolutamente necess!rio que o a$ente seinsira no meio popular. Juando se fala aqui em inserção) entendese por esse conceitouma presença ou contato  f&sico  com o universo popular. Tratase a& de participar concretamente da vida do povo) de conviver com ele) de estabelecer com ele um laço

or$4nico./em esta inserção real o a$ente, 9 não ter! condições objetivas de se desfa'er de suas taras de classe7 9 não poder! evitar o autoritarismo ou as relações de dominação no exerc&cio de seu papel peda$#$ico7 9 e tamb*m não ter! condições de assumir uma m&stica e uma metodolo$ia realmentelibertadoras 9 como ainda veremos mais adiante.

/e a consci"ncia se nutre das experi"ncias concretas -como o viram os fil#sofos) dos$re$os at* 6arx) passando pelos escol!sticos7 se se pensa a partir dos p*s -lu$ar social edas mãos -pr!ticas) * indispens!vel que se entre em contato vivo e participante com avida do povo caso se queira entend"la e trabalh!la.

% evidente que a inserção f&sica) local mesmo) não basta. 6as * uma condiçãoindispens!vel e fundamental.

A LI!O D# UMA #&P#RI;NCIA IMPORTANT#

Foi no campo da pastoral popular que se andou mais lon$e nesse sentido. Não h! a$"nciaeducativa na sociedade brasileira que levou mais a s*rio a necessidade da inserção eencarnação concreta nos meios populares que a +$reja. Foi todo um movimento quea$itou o corpo inteiro da +nstituição eclesial numa linha de 2passar para o povo3) 2moverse para a periferia3) 2inserirse nos bairros populares3) etc. (ssa tend"ncia levou bispos adeixarem seus pal!cios para se instalarem em casas populares nas re$iões pobres dacidade7 condu'iu padres a percorrerem as favelas e as !reas rurais) antes abandonadas7arrastou lei$os cristãos a se lançarem no meio dos pobres em frentes de opressão e crise particulares7 envolveu sobretudo as Con$re$ações reli$iosas no sentido de deixarem as2$randes obras3 e irem morar nos bairros pobres para a& trabalharem com o povo7 obri$ou

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mesmo te#lo$os e outros intelectuais cristãos a assumirem compromissos concretos com$rupos populares.

K diferença do que se passou em outras instituições e correntes) inclusive partid!rias)esse movimento $eral e crescente de inserção foi favorecido pela mobili'ação de toda a

instituição eclesial) que $arantiu assim continuidade e or$anicidade ao movimento7 etamb*m e sobretudo por uma m&stica de conversão) encarnação e Lenose -despojamentoque lança suas ra&'es no mais profundo da pr#pria f* cristã.

(st! experi"ncia levou 8 convicção -e est! pode servir de lição $eral para o trabalho popular de que sem inserção concreta não pode haver um trabalho popular correto. %) portanto) uma pr*condição b!sica) indispens!vel) embora insuficiente) que o a$ente seidentifique o mais poss&vel com o povo mediante um contato vivo com este. 1fecundidade pastoral e pol&tica desta experi"ncia representa uma convicção j! hojeindiscut&vel e um $anho definitivo do trabalho popular.

Tipo/ de i0/er45oContudo) as formas objetivas ou expressões concretas de inserção podem ser maiores oumenores. (las admitem $raduações distintas. Podemos aqui identificar esses $raus ouformas crescentes de inserção,

= 'ontatos vivos. % a forma mais elementar de sentir a realidade do povo. Tratase a& deuma presença passa$eira e descont&nua com o mundo da pobre'a e opressão. (sse * on&vel m&nimo necess!rio para se poder assumir realmente a causa do povo e reali'ar o pr#prio en$ajamento por sua libertação. Pois mesmo vivendo num lu$ar social não popular) qual seja o da pr#pria classe) * poss&vel colocarse politicamente ao lado do povo. 6as esse compromisso s# pode ser mantido de forma correta e continuada somente8 condição de existir uma vinculação or$4nica m&nima do a$ente com o povo. Por outrolado) o limite desse m&nimo) expresso por contatos saltu!rios) * esse, não permitir um realencharcamento cultural no mundo popular) com o peri$o de se tornar apenas uma esp*ciede turismo.

@  (articipação regular . Temos aqui j! um modo de inserção mais avançado. Neste)escolhese uma comunidade de refer"ncia ou de incardinação) cuja vida se acompanha deforma constante ou em cujas pr!ticas concretas -pastoral) sindical) etc. se toma parte demodo cont&nuo.

G  )oradia. 6orar num bairro popular * uma forma de mer$ulhar mais a fundo nascondições de vida dos oprimidos. 1 vanta$em desse n&vel de inserção * a assimilação douniverso social) sobretudo cultural) dos oprimidos por efeito de impre$nação que ele permite. 1li!s) * a esta forma particular que se fa' alusão hoje quando se fala em inserçãonos meios populares.

; *raalho. (is a& um modo exi$ente de partilhar da experi"ncia de vida das classes populares. Tratase aqui de uma inserção no seu mundo de trabalho -produtivo) que

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marca toda a sua exist"ncia de modo determinante. 1 inserção aqui * tanto mais fecundaquanto mais decisiva e rica a esfera em que se d!.

M 'ultura. 1 inserção supõe) nesse n&vel) que se incorpore o estilo de vida de povo nalinha do morar) falar) vestir) comer) pensar e at* do orar e crer.

(sses são os diferentes graus de inserção. 6as) podem se constituir tamb*m em formas

diversas) não necessariamente escalonadas) de se identificar com o povo. 1dotase estaou aquela forma em função das condiç%es o#etivas e das disposiç%es su#etivas de cadaum. Não h! dvida) o pr#prio processo do trabalho popular compreende uma din4micaque leva o a$ente a se aproximar de forma crescente do povo e de suas condições deexist"ncia.

+#etivamente nem todas as formas se equivalem, elas oferecem) umas mais e outrasmenos) condições de reali'ar um trabalho popular libertador. Contudo) do ponto de vista su#etivo) uma forma produ' mais ou menos frutos tamb*m em função da intensidade

 pessoal com que * assumida. 1ssim) pode acontecer que uma comunidade de a$entes)ainda que more e trabalhe no mundo do povo) venha concretamente a fa'er bem menosque uma outra) que s# possui com ele relações funcionais em torno de um projetoconcreto) mas que nisso se empenha mais a fundo. 6as casos assim não são) em verdade)os normais.

IN$#RIR+$# PARA PARTILHAR # 'INALM#NT# LIB#RTAR 

% preciso tamb*m di'er que a inserção não * tudo. % apenas o ponto de arranque paraal$o que vem e que ela possibilita. Por isso) a inserção não pode ser ideali'ada como a panac*ia do trabalho popular. (la não * fim, * meio. (la visa 8 aliança concreta e pr!ticado a$ente com o povo e do povo com o a$ente) sempre em favor do povo. (la temsentido na medida em que permite a partilha e o interc4mbio das rique'as e serviçosmtuos com vistas 8 libertação. Pois * a partir da inserção que o a$ente poder! descobrir seu pr#prio car!ter de classe e se converter) compreender realmente as condições deexist"ncia e consci"ncia do povo e contribuir afetivamente para seu crescimento. Por outro lado) * tamb*m a partir da inserção do a$ente no povo que este poder! elevar seun&vel de consci"ncia) or$ani'ação e luta.

 Na verdade) o objetivo concreto mais alto tanto na inserção quanto na partilha * reali'ar o pro#eto comum de uma sociedade libertada e i$ualit!ria) na qual a assimetria estruturala$entepovo seja enfim superada. Tal * o  pro#eto  e ao mesmo tempo o  processo  darelação a$entepovo.

1ssim) a inserção s# pode se entender proximamente dentro da perspectiva da aliança oudi!lo$o a$entepovo e) mais lon$inquamente) dentro da perspectiva maior da libertaçãosocial.

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O A*#NT# POPULAR D#V# TAMB:M $# IN$#RIR,

Como para a questão da conversão ou definição de classe) a problem!tica da inserção serefere aqui naturalmente ao a$ente externo) pois esse problema 9 como o outro 9 * principalmente dele.

Contudo) para o a$ente popular) a questão se coloca tamb*m) mas de modo distinto. 1necessidade de inserção corresponde para ele 8 participação nas lutas do povo. % a partir da& que o a$ente se qualifica como tal e não a partir de desi$nações exteriores.

0utra questão do a$ente popular *) uma ve' em função) não se desli$ar da base) mascontinuar enrai'ado e inserido nela. Pois como estamos vendo) tal * a condição pr*via para um correto trabalho popular. 6as esse j! * o objetivo mesmo do trabalho popular deque estamos aqui tratando.

<. A M=$TICA DO TRABALHO POPULAR  Na rai' do trabalho popular e da pr#pria inserção encontramos um conjunto deconvicções e motivações fundamentais que fundam e animam o compromisso do a$entecom o povo.

Tocamos aqui numa 'ona de profundidade que raramente * explicitada) mas que subja'na rai' da pr!tica de todo a$ente. Como chamar esse n&vel profundo) obscuro e terroso)em que a pr!tica hist#rica deita suas ra&'esE Na falta de outra palavra melhor)chamaremos isso de m&stica. +deolo$ia) filosofia de trabalho) *tica ou concepção de vidaseriam outras desi$nações) mas menos adequadas para o que queremos aqui explicitar.

/em m&stica) qualquer m*todo de trabalho popular se torna facilmente t*cnica demanipulação e as re$ras metodol#$icas acabam se transformando em f#rmulas r&$idas esem alma.

1. A>or ao po?o

Povo tem aqui um contedo concreto de conjunto de pessoas. % o pessoal) a $ente) acomunidade. Não * um conjunto de entidades abstratas e annimas que) naturalmente)seria imposs&vel amar.

/em amor ao povo) sem simpatia e bem querer para com as pessoas do povo) não * poss&vel um trabalho libertador. Para isso importa um contato vivo com o povo. /# a partir da& pode se estabelecer com ele uma 2conexão sentimental3 -Oramsci que sejafecunda.

 Não raro se encontram a$entes) mesmo reli$iosos) que alimentam muitas ve'esinconscientemente um profundo despre'o pelos oprimidos) mesmo quando os ajudamcom $rande dedicação. 6as fa'emno por comiseração) vendo no outro um simples

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o#eto de sua $enerosidade.

/# a compaixão, como sentimento de identificação afetiva e efetiva profunda) no sentidoetimol#$ico do termo) v" no outro o su#eito de um direito) de que foi injustamente lesado)e reivindica o outro como i$ual a si. 1 comiseração d! com arro$4ncia) enquanto a

compaixão oferece quase pedindo perdão. Não * muito dif&cil perceber quando um a$ente quer realmente bem ao povo e *) por suave') querido por ele, * quando as relações entre um e outro são de i$ualdade fundamental.0 sinal mais evidente disso se encontra na lierdade de palavra que o povo tem diante doa$ente. 0 falar franco e mesmo cr&tico * &ndice de uma relação fraterna e madura.

Passemos por cima do a$ente autoritário, que odeia e despre'a o povo -at* seu 2cheiro3.(videntemente) diante dele o povo tem a palavra  presa. 6as com o a$ente paternalista)que parece amar o povo e ser querido por ele) as coisas não se passam de modo muitodiferente. 1 atitude do povo diante dele * de expectativa) de $ratidão servil e de

depend"ncia. ( o sinal mais claro desta depend"ncia * a palavraeco) a palavrareflexo, o povo di' o que o a$ente espera que ele di$a e não aquilo que ele mesmo realmente pensa.

1mar o pr#ximo * amar o povo-su#eito e jamais o povoobjeto. % am!lo em ra'ão de fime nunca de meio -ant) ainda que seja para a 2revolução3 ou a 2sociedade nova3.

Juerer bem ao povo * querer o seu bem. % lutar por sua i$ualdade -opta aeualem1$ostinho. %) em suma) buscar sua autonomia. 6ais que uma re$ra) tal * o crit*rio doamor verdadeiro, se ele autonomi'a ou escravi'a) se liberta ou submete.

Juando falamos aqui em amor ao povo) inclu&mos nessa atitude de fundo uma car$ainclusive afetiva. Na verdade) se na base da relação peda$#$ica -sempre no sentido da (aid$ia não h! essa rai' de afeição e ternura) não se vai muito lon$e. 2DaQ queendurecerse) pero sin perder la ternura jam!s3 -Che.

0 trabalho popular h! de ser um 2ato amoroso3 -P. Freire. 0u melhor) h! de sedesenvolver dentro de um 2espaço amoroso3. /em essa atitude espiritual) todametodolo$ia cai no behaviorismo) transformandose em tecnolo$ia da estimulação.

). Co07ia04a 0o po?o

(sta motivação fundamental * decorr"ncia da anterior. Pois amar o outro como sujeito *amar suas possibilidades e seu futuro. % amar o que ele *) para que venha a ser o que pode e deve ser.

0 a$ente não ama o povo porque este * oprimido. +sso seria pietismo. 0 a$ente o ama porque) sendo livre) est! oprimido. 1mao porque deveria ser reconhecido e se encontrahumilhado.

 Na verdade) a pobre'a do povo * empobrecimento. /ua fraque'a * emfraquecimento.

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/ua i$nor4ncia * desconhecimento. Não que o povo tenha sido j! uma ve' rico) forte es!bio. Não. 0 que h! * que ele foi proibido de se desenvolver) impedido de crescer)reprimido em suas potencialidades e coibido em suas aspirações.

Por isso mesmo) todo trabalho popular * um trabalho de liertação) a$ora no sentido

material do termo, desobstrução) desimpedimento do que lhe tolhe a vida e odesenvolvimento.

0ra) acreditar nas potencialidades do povo e em seu destino hist#rico fa' parte dasconvicções mais profundas do a$ente realmente popular. ( se a essa convicção v"m seacrescentar motivações de ordem reli$iosa -o povo como Povo de 5eus então ela se potencia ao extremo.

Por isso) ao p* do trabalho popular deve haver essa confiança b!sica no povo. Confiançaem sua sabedoria e capacidade de compreensão. Confiança em sua $enerosidade ecapacidade de luta. Confiança em sua palavra.

(videntemente) a confiança no povo não * in$enuidade e irresponsabilidade. (xistem as preparações e precauções necess!rias. 6as todas essas provid"ncias peda$#$icas tomamlu$ar no seio dessa atitude primeira, confiar no povo como sujeito principal da hist#ria. 0contr!rio disso * o medo. ( medo do povo s# o t"m os d*spotas) por sua força) e osdiri$entes paternalistas) por sua pretensa fraque'a.

Portanto) mais que uma força atual) o povo det*m um potencial) uma força em reserva) 8espera de sua ativação e pronta para seu desdobramento. Tratase de um 2potencial pol&tico3. ( tamb*m de um 2potencial evan$eli'ador3 -Puebla ==;R.

(sta confiança b!sica na força -potencial do povo d! ao trabalho popular um tom deesperança e mesmo de ale$ria fundamentais.

-. Apre4o ao @ue do po?o

1preciar as coisas do povo tem aqui o sentido) por sinal popular) de observar comsimpatia) e olhar de$ustando o que se est! vendo.

 Não se trata aqui de uma observação curiosa e interesseira) mas de uma atenção afetiva einteressada 8s coisas da vida do povo. % perceber e valori'ar as manifestações positivasda cultura popular.

5e antemão) o popular merece que seja considerado com simpatia. Ssar aquisistematicamente a presunção da alienação * falsear todo o relacionamento do a$ente comos modos de vida do povo.

/abemos que o discurso do povo * o discurso da pr#pria vida e que * mais $estual queverbal. Por isso mesmo) importa sobretudo observar. ( tamb*m escutar. 6as escutar comum terceiro ouvido) tentando perceber sob o discurso manifesto o discurso latente. 0 que

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o povo di' interessa menos do que aquilo que ele uer di'er.

5e fato) o car!ter metaf#rico ou transferencial * caracter&stico da lin$ua$em popular, o povo di' uma coisa para si$nificar outra. 5e resto) isso fa' parte de sua manha ou t!ticaastuciosa. +n$"nuo seria o a$ente que interpreta tudo literalmente) declarando então) do

alto de sua c!tedra pretensiosamente 2cr&tica3) que o povo est! mesmo totalmentealienado...

% preciso) pois) observar com cuidado os jeitos e $estos do povo. 6ais, * precisoconhecer a hist#ria das lutas da comunidade no seio da qual se trabalha. 5e fato) aintervenção do a$ente se d! dentro de um processo de luta que j! foi desde sempreiniciado pelo povo. 0 a$ente não * um inau$urador) mas um continuador. Não umfundador) mas um se$uidor. Não um pai) mas um irmão. Não um senhor) mas umcompanheiro.

Portanto) * a partir) na base e no prolon$amento da caminhada do povo) desde sempre j!

em curso) que se coloca o contributo pr#prio do a$ente. 5esconhecer a luta dacomunidade * muitas ve'es en$anchar a pr#pria contribuição no a*reo dos pr#prios projetos abstratos. 1 hist#ria não começa com o a$ente) mas sim com o povo. Com oa$ente pode dar um passo a frente) por ve'es decisivo) mas sempre a partir de etapasanteriores.

Certo) * necess!rio ter um conhecimento cr&tico e $lobal do sistema social em que umacomunidade se insere. 6as tal saber permanece abstrato se não serve para interpretar corretamente o sofrimento e a luta do povo em questão.

(sse entendimento cr&tico da realidade popular permite tamb*m discernir entre) de umlado) o que * próprio do povo ou apropriado por ele e usado em função de seus interessese) do outro) o que * antipopular ) disfuncional e alienante. 6as tal discernimento se fa' a partir da valori'ação anterior de fundo pelo que * do povo.

(m suma) um trabalho popular s# * radicalmente libertador quando arranca dessa rai',uma atitude acolhedora e positiva por toda manifestação do esp&rito do povo, modos defalar) de educar os filhos) de vestir) de co'inhar) de comer) de ajeitar a casa) de se divertir)de trabalhar) de amar) de cuidar de sade) de tratar dos velhos) de se relacionar com os poderosos) de ima$inar 5eus e os /antos) de re'ar) etc.

Pois * apoiado em sua cultura e no seio de seu hori'onte maior que o povo busca suaafirmação social e hist#rica.

9. $er?i4o ao po?o

0 a$ente que vai ao povo s# pode ir movido por um esp&rito de serviço) no sentido de secolocar disposição do povo e de seus interesses verdadeiros.

(ssa atitude implica em assumir uma posição h*terocentrada) ou seja) voltada para o

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outro e para sua libertação. /ervir si$nifica assumir um papel subalterno) colocandosenão 8 frente) mas ao lado ou no meio do povo. /em uma atitude pessoal e profunda deserviço não h! lei ou mecanismo que impeça a manipulação do povo pelo a$ente.

/ervir jamais pode si$nificar uma relação de condescend"ncia) a qual muitas ve'es

esconde um despre'o sutil e inconsciente para com o povo. /ervir * mais trabalhar com o povo do que para o povo.

 Na verdade) entre a disposição subjetiva) $enerosa e s*ria) de servir e a reali'açãoobjetiva da mesma h! mil armadilhas. /ervir  ao povo facilmente toma a forma de  servir-

 se do povo. Iiver pelo povo muitas ve'es não passa de um viver do povo. ( aqui apareceo v&cio do paternalismo.

Contudo) h! um crit*rio infal&vel para desfa'er todos os equ&vocos do serviço, se com elese cria mais autonomia ou mais depend"ncia7 se ele se liberta ou se amarra.

(xiste) sim) uma aut"ntica troca de serviços -no saber) poder e ter entre o a$ente e acomunidade. 6as esta troca e isso * importante notar não se d! entre dois termoshomo$"neos. Pois a$ente e povo não são entidades com a mesma posição e) portanto)com o mesmo peso hist#rico. Tratase) por conse$uinte) de uma troca desigual . 0 a$entecoloca suas capacidades a serviço de um projeto maior) que não * o do povo. 0 todomaior não * o a$ente) mas sim o povo. 0 povo não foi feito para o a$ente mas sim oa$ente para o povo.

Com a disposição *tica e espiritual do serviço) o a$ente coloca o povo no centro de suasatenções. 6as tratase) mais uma ve') do  povo-su#eito e não do povo objeto. ( colocar o povo sujeito no centro * consider!lo dono de seu destino e art&fice de sua caminhada. %)em suma) levar a s*rio sua liberdade e sua autonomia) sua potencialidade e sua esperança.

 Não que se exija aqui a entre$a da personalidade do a$ente 0sacrificium personae1) mas justamente sua incorporação no processo de libertação a t&tulo de membro vivo e atuante)que serve se afirmando e se afirma servindo.

<. Re/peito liberdade do po?o

Considerar o povo como sujeito) confiar nele e em seu potencial hist#rico implica emrespeitar o povo quanto 8 sua palavra) sua caminhada e sua iniciativa.

(m primeiro lu$ar) o povo deve ser respeitado em sua  palavra. /eja l! o que di$a) mesmode alienado ou conservador) o povo deve ser ouvido com atenção e respeito.

 Nada mais deseducativo do que) com palavras ou $estos) exprimir desd*m) aborrecimentoou aversão a respeito da opinião qualquer que seja de al$u*m do povo. Tal atitudeinibe a pessoa) redu'la ao mutismo e a afasta do trabalho comum.

 Não que esse respeito implique automaticamente aprovação. 6as qualquer cr&tica que se

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 possa ou deva fa'er a uma palavra do povo s# se mostra construtiva na base e a partir deuma atitude fundamental de respeito e escuta anteriores.

5e fato) a conscienti'ação * um processo de autoconscienti'ação) ou melhor) deinterconscienti'ação. Não * inculcação doutrin!ria ou matraca$em ideol#$ica. (la se d!

no di!lo$o entre todos) a$enciado pelo a$ente. Por isso mesmo a palavra do povo deveser dita e ouvida em plena liberdade.

(m se$undo lu$ar) respeito pela história do povo e por sua pr!tica em curso.

/abemos que o povo não * um espaço vir$em) mas um terreno bati'ado por ações passadas e presentes. Pois bem) * da maior import4ncia reconhecer e valori'ar ao m!ximoesse capital de lutas e de saber -inclusive reli$ioso acumulado pelo povo. /# assim * poss&vel eventualmente reinvestir esse capital em cima de pr!ticas e de propostas queavancem para a libertação ou de reforçar sua caminhada com a contribuição pr#pria doa$ente.

(m terceiro lu$ar) respeito pela iniciativa  do povo. 1ludese aqui 8s propostas ousu$estões do povo -da base e 8 sua ação criativa e espont4nea.

0ra) o povo *) em ltima inst4ncia -não em primeira) jui' de seus interesses e ele *tamb*m o a$ente principal -não nico de sua execução.

 Não que o a$ente não deva problemati'ar e mesmo pessoalmente desaprovar iniciativas populares) mas) para ter esse direito) ele deve começar por respeitar a liberdade deiniciativa do povo e sua decisão final.

(videntemente) junto com o respeito) e mais na base ainda) importa nutrir uma atitude deescuta) uma disposição ao aprendi'ado 8 cr&tica e a correção por parte do a$ente. +ssotudo si$nifica humildade) 2enose -esva'iamento e abertura 8 metanóia -conversão. Pois* nesse chão profundo que lançam suas ra&'es e rad&culas 8s pr!ticas e as estruturas dedominação do homem pelo homem. ( aqui * preciso ser radical. ( a rai' do homem * seucoração) ou seja) sua liberdade.

M=$TICA DA LIB#RTA!O INT#*RAL

(is a& al$umas atitudes fundamentais que estão por tr!s do trabalho popular e queconfi$uram uma esp*cie de m&stica desse trabalho. 5amonos conta de que) no fundo nofundo) tratase aqui de uma espiritualidade) embora sob traços seculares. (fetivamenteaqui) * o esp&rito que est! em questão.

( tal questionamento atin$e sua radicalidade m!xima quando reveste a forma reli$iosa)como pudemos intuir ao lon$o da exposição acima) em particular no ltimo ponto. Por isso a m&stica acima. Por isso) a m&stica acima s# atin$e sua expressão plena comom&stica reli$iosa) especialmente como m&stica evan$*lica.

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5e resto) a pr#pria m&stica do trabalho popular se funda numa visão $eral do mundo e dahist#ria. 1 visão pressuposta aqui * a de um mundo e uma hist#ria abertos aotranscendente. % a de um humanismo radical) por outras) a de uma libertação inte$ral. Por isso) o trabalho popular) para ser verdadeiramente pol&tico) tem que ser mais que

simplesmente pol&tico, tem que ser radicalmente humano e por isso tamb*m reli$ioso. Tal* a pressuposição fundamental de tudo o que aqui se di' quanto ao trabalho popular decontedo prevalentemente -embora não exclusivamente pol&tico.

. A!OR#'L#&!O" M:TODO DO TRABALHO POPULAR 

Tomamos aqui m*todo como o conjunto de re$ras ou diretri'es pr!ticas que servem paraorientar uma ação concreta) no caso o trabalho do povo.

(ssa intenção *) talve') por demais pretensiosa. Por isso) seria melhor falar em linhas de

ação) pistas ou simplesmente de indicações ou de bali'as pr!ticas para a ação concreta.0 que vai aqui se expor prov*m da experi"ncia e reflexão do trabalho popular. % estamesma experi"ncia refletida que sustenta as ações que aqui vão se dar.

 Nosso esforço ser! apenas de recolher estas lições da pr!tica) de explicit!las e or$ani'!las.

% preciso tamb*m di'er que o trabalho popular tem aqui um car!ter decididamente pol&tico. Falando mais claramente) ele visa a transformação da sociedade. Não que a pol&tica seja tudo) mas tal * mais premente desafio hist#rico -não certamente o nico nemo principal em si que o povo oprimido est! vivendo hoje.

Trataremos a se$uir do trabalho popular em $eral) deixando a questão da pastoral popular  para mais tarde.

Como se d! o trabalho popularE (le se d! dentro deste quadro $eral, a combinação entreação e reflexão. Falase tamb*m na dial*tica pr!xisHteoria. 5e fato) as questões sociais seresolvem atrav*s da prática e da compreensão da pr!tica. -cf. da tese I+++ de 6arx sobreFeuerbach.

Portanto) * nesta articulação entre as mãos -a$ir e a cabeça -pensar que se d! o trabalhocom o povo no sentido de mudar as relações sociais. (sta * a 2junta3 que puxa o carro dahist#ria. 1 união da pr!tica e da teoria * a relação motora do trabalho popular. Sma pr!tica sem teoria * uma pr!tica ce$a ou) no m!ximo) m&ope. Não enxer$a bem e nãoenxer$a lon$e. (nfia os p*s pelas mãos e não vai 8 rai' dos problemas. +sto *, de$radaseem ativismo e) na melhor das hip#teses) em reformismo -muda as coisas do sistema) masnão muda o pr#prio sistema.

 Não se resolvem os problemas apenas com a luta) o esforço e o compromisso)

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2enfrentando3) 2botando pra quebrar3) 2na marra3. % preciso ainda a inteli$"ncia dasituação para ver as possibilidades de ação. Caso contr!rio) o que se fa' * 2dar murros em ponta de faca3. % o que se chama 2voluntarismo3. 0ra) nem tudo depende da boa vontadeou da força de vontade.

% evidente, * menos poss&vel ainda resolver os problemas ficando em discussões infindase propostas 2radicais3. Pois nada substitui a ação direta e concreta. 5e fato) uma teoriasem pr!tica * inefica' para mudar o mundo. % como ter olhos e não ter mãos. ( s# a pr!tica) como ação concreta) que transforma o mundo. ( a teoria existe em função da pr!tica. (sta deve ter sempre a prima'ia sobre toda reflexão. Portanto) todo o trabalho popular necessita dessas duas coisas) li$adas entre si, teoria -reflexão) estudo) an!lise)compreensão e pr!xis -pr!tica) ação) compromisso) luta.

Tratase mais exatamente de dois momentos de um mesmo processo ou de dois temposde uma mesma caminhada libertadora. +mportante * que esses dois momentos estejamsempre articulados ou interli$ados entre si. 1ssim) a ação deve estar sempre iluminada e

orientada pela reflexão e a reflexão) vinculada e referida 8 ação -feita ou a se fa'er.(m resumo) podese di'er que todo o trabalho popular) como todo o trabalho pol&tico) se processa dentro da dial*tica teoriapr!xis. (le compreende a formação da consci"ncia e aformação da experi"ncia ou ação. 1ção lcida e lucide' ativa.

E. COMO INICIAR UM TRABALHO COM O POVO

(is a& uma per$unta concreta e freqente. 1qui vão al$umas su$estões indicadas pela pr!tica.

1. Partiipar da a>i0hada

1ntes de qualquer trabalho com o povo) importa e * bom aqui repetilo estar) deal$uma forma ou de outra) inserido no meio do povo. % preciso estar participando de suavida) nem que seja apenas por contatos e visitas. % s# a participação na vida e na luta do povo que d! base a uma pessoa ou a$"ncia começar um trabalho junto a ele. Pois * s#dessa maneira que uma pessoa ou a$"ncia $anha a confiança do povo e adquire poder deconvocação e mobili'ação popular.

(sse * o primeiro momento do trabalho popular, tomar p* na realidade) banharse noambiente em que vai trabalhar. (sse passo pode tomar a forma mais elaborada de umasonda$em em torno de al$um problema -sade) reli$ião) etc. sentido pela comunidadeem questão. Conv*m) contudo) que tal empresa envolva) o quanto poss&vel e desde oin&cio) a participação de $ente da pr#pria comunidade.

% evidente que as coisas são mais f!ceis quando al$u*m entra num trabalho j! iniciado por outros) pois a& basta acompanhar por um tempo os que j! estão a& envolvidos.

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). Partir do/ proble>a/ reai/

0s problemas sentidos pela comunidade aparecem como particularmente reais quandotomam a forma de um conflito) de uma necessidade premente) de um anseio ou demanda)de um interesse concreto. % da terra da realidade) especialmente da realidade

contradit#ria) que pode nascer um trabalho popular promissor. Pois * em torno denecessidades ou interesses vitais que o povo pode se mexer) e não a partir de esquemas e propostas de cima ou de fora) por melhores que sejam.

-. #0ai2ar+/e o @ua0to po//6?el 0a a>i0hada do po?o

1 ação do a$ente busca se enxertar sobre as iniciativas) lutas e mesmo açõesembrion!rias j! em curso. 5a& a import4ncia de descobrir) j! desde o primeiro passo) omodo como o povo est! rea$indo aos problemas que tem. Não se trata) pois) de criar coisas paralelas 8s do povo ou de começar tudo do 'ero absoluto) quando j! existemrespostas ou elementos de resposta para o problema em pauta. 0 quanto poss&vel) importa

aproveitar o que j! existe e) a partir de dentro) desdobrar esse primeiro embrião. Podetratarse de uma ação dita espont4nea porque não ou pouco or$ani'ada. Pode ser um$rupo j! existente) uma associação determinada) com seus diri$entes populares pr#prios.

% evidente que) com respeito a este ou aquele trabalho) * poss&vel que não haja realmentenada numa comunidade definida -alfabeti'ação) creche) sindicato) comunidade eclesial de base) etc.. (ntão) * preciso começar) mas sempre a partir de al$um ponto de inserção)sobre o qual se enxerta a pr#pria proposta.

9. Co0?oar a o>u0idade

% preciso) finalmente) tomar a iniciativa e chamar o povo para um encontro. Nadadispensa o chamado 8 reunião. % a experi"ncia que o di'. 1l$u*m deve começar alevantar a vo'. ( isso pode fa'"lo s# quem v" o problema em questão e conse$ueexprimir claramente o que um $rupo sente indistintamente. % esse o animador e nãoquem se d! por tal -por isso) essa compet"ncia se $anha no processo.

:eunidas essas condições e reunido enfim o $rupo em torno de um problema definido)est! deslanchado o trabalho popular. % preciso ainda ver como prosse$uir!. % o assuntodos pontos se$uintes.

F. GI M#TODOLO*IA DA #DUCA!O POPULAR" CONDI#$ INT#RNA$

5issemos que o trabalho popular se processa em dois momentos, reflexão e ação. 0 primeiro momento -reflexão tem um cunho essencialmente educativo. Consiste) emverdade) numa atividade te#rica) visando o entendimento da realidade) a conscienti'ação.% essencialmente um 2ato de conhecimento3. Tratase aqui da educação popular . 6ais 8frente) abordaremos o se$undo momento a da ação direta de cunho essencialmente pr!tico e 8s ve'es pol&tico -2ato pol&tico3.

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 Não h! dvida, o primeiro momento inclui tamb*m uma dimensão pr!tica -e mesmo pol&tica e o se$undo) por sua ve') compreende uma si$nificação educativa. Contudo)cada um possui sua especificidade) que não * bom confundir. 5e fato) refletir não * a$ir)mesmo quando se reflete a partir e em função da ação. +$ualmente) a$ir não * refletir)

mesmo quando se a$e a partir da reflexão e se a$e pensando.1l$uns elementos compõem o contexto da parte propriamente educativa do trabalho popular. /ão as condições que acompanham e enquadram o processo da educação popular.

1. DiJlogo

Toda educação se passa numa din4mica de di!lo$o. Não * preciso aqui retomar todoPaulo Freire) mas lembrar al$uns pontos importantes.

(m primeiro lu$ar) importa evitar todo endoutrinamento) que * o de enfiar na cabeça do povo sistemas de id*ias ou esquemas de ação j! montados. (ducar não * endoutrinar.(vitar) pois) todo autoritarismo peda$#$ico. (ssa forma de educação) que consiste emtransferir o conhecimento do a$ente para o povo) foi chamada de 2concepção banc!ria3da educação. (sta 2condu' forçosamente a divisão da sociedade em duas partes) uma dasquais est! acima da sociedade3 -Tese +++ de 6arx sobre Feuerbach. %) portanto) umaforma autorit!ria de educação) pois supõe que uma parte saiba) fale e ensine e a outrai$nore) escute e aprenda.

0 papel do a$ente aqui * animar o debate e estimular a participação de todos no mesmo.% facilitar que a palavra corra livre e solta) como a bola num futebol bem entrosado.

0 di!lo$o se aprende. (le est! situado entre a conversa informal -como a que se passanuma fam&lia ou num botequim e um discurso -de um pol&tico ou de um professor. 0di!lo$o exi$e uma certa disciplina, a de escutar e falar -sem acavalamentos e a decentrar o debate em torno de um problema definido -sem fa'er di$ressões. 5a& aimport4ncia do papel do animador ou coordenador.

 Notese que o di!lo$o  se fa" em torno da prática. 1 pr!tica * a refer"ncia constante dodi!lo$o e não id*ias ou ideais. Juando di'emos pr!tica estamos di'endo 2realidade3 ou2vida3 do povo. 21 vida social * essencialmente pr!tica3 -Tese I+++ de 6arx sobreFeuerbach.

1 pr!tica * mediação pedagógica. 0 povo aprende fa'endo. +mporta) pois) tirar as liçõesda vida. Para a maioria do povo) o aprendi'ado não passa pelos livros) mas pela realidadeviva. 1 mediação não * cultural -escola) biblioteca) leituras) etc.) mas pr!tica. Não *tanto pelo 2Capital3 de 6arx que o trabalhador saber! o que * exploração) mas sobretudo por sua pr#pria experi"ncia de f!brica e sua luta no sindicato. Não * simplesmente por ar$umentos que o povo se convencer! de que tem força e pode se libertar) mas antes por uma ação concreta e efetiva -uma $reve) uma manifestação de rua) etc.. 2% na pr!tica

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que o homem tem que demonstrar a verdade) isto *) a realidade) o poder) a concretude deseu pensamento3 -Tese ++ de 6arx sobre Feuerbach.

(ducar não * convencer. % pensar a pr#pria pr!xis. Não * com ra'ões que se poder! provar ao povo quem são os opressores mas com ações concretas e reflexões sobre elas.

Claro) a ação por si s#) sem reflexão) não educa. Para ser educativa) a ação precisa ser di$erida) assimilada. ( essa * a função da reflexão. 6as de uma reflexão em 2mutirão3)ou seja, dialo$ada.

(sse laço da reflexão com a ação não deve ser entendido de modo r&$ido. (ssa relaçãovale em geral ) de modo que a refer"ncia em ação deve ser pr!tica peda$#$ica normal como povo. 6as não h! dvida, o povo pode tamb*m aprender com a experi"ncia hist#rica esocial dos outros -e não s# da pr#pria) projetar uma pr!tica -e não s# pens!la a posteriori) fa'er deduções l#$icas -e não s# induções) etc.

/eja como for) uma id*ia s# se fixa na alma do povo quando se enra&'a no chão de sua pr#pria vida. /e este chão não est! preparado) pouco adianta semear.

5i$amos tamb*m) para evitar toda confusão) que quando falamos aqui de pr!xis comomediação peda$#$ica tratase de uma falada e refletida. Não se trata desse momento da pr!xis concreta como tal. Pois uma coisa * a pr!xis como objeto de reflexão e a outra * a pr!xis como ação direta. % nessa ambi$idade que cai a expressão, 21 educação se d! na pr!xis3. Pois no momento educativo) que * o da reflexão) a pr!xis aparece evidentementecomo assunto de conversa. +sso supõe necessariamente um distanciamento da pr!xisdireta como tal. Nesse primeiro momento) falase em torno da pr!xis) mas não se2pratica3 ainda concretamente. Contudo) essa * a fala sobre a pr!xis que permite dar a pr!xis direta um contedo e uma direção conscientes.

). Partiipa45o

 Nunca se enfati'ar! demais a participação da participação viva de todos na reflexão.Iiver em comunidade ou sociedade * participar. Pol&tica * basicamente participação.

Tudo começa com a participação na palavra) nos di!lo$os) nas decisões. Numa reflexãonão h! apenas um treino ou preparação 8 vida pol&tica. U! se d! a& vida pol&tica na medidaem que acontece a partilha do saber) do pensamento e dos projetos.

+ndependentemente dos contedos -se são diretamente pol&ticos ou não) uma reuniãodeve mostrar) por sua din4mica participat#ria) que se trata de democracia) do poder  popular. ( isso) mesmo quando se cuida de pro$ramar uma procissão) ou um piquenique.

5e fato) a luta não * apenas contra os agentes da opressão) externos ao povo) mastamb*m contra as relaç%es de opressão) internas ao povo) 8 sua consci"ncia) e 8 sua pr!tica quotidiana. Pol&tica * participar) * lutar contra toda opressão) seja encarnada ema$entes concretos) seja em comportamentos determinados. Por isso) a pol&tica se d!

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tamb*m na vida quotidiana) desde a conversa 8 arrumação de uma sala.

5esse ponto de vista) * preciso prestar muita atenção na contradição que ocorrefreqentemente entre a  proposta  libertadora e um  processo autorit!rio que visaimplement!la7 entre uma meta democr!tica e um m$todo impositivo.

0ra) deve haver homo$eneidade ou coer"ncia entre uma coisa e outra7 entre contedos eformas7 projetos e processos) metas e m*todos. +mposs&vel fa'er a democracia)2prendendo e arrebentando3. 1 libertação acontece no caminho ou não * libertação. 1i$ualdade começa j! ou nunca vai acontecer.

5onde se v" que a pol&tica como participação * uma dimensão interna de toda pr!ticacoletiva, familiar) reli$iosa) etc. Contudo) isso não elimina) antes completa) a questão da pr!tica pol&tica espec&fica) com contedos) formas e objetivos pr#prios. Pois essa * a$rande questão e a causa principal da educação de hoje.

-. Co>u0idade1 educação se d! no contexto da comunidade. (sta * o espaço do di!lo$o. (spaço esujeito. 1 comunidade * como um 2intelectual coletivo3. % junto que o povo se educa.Sm * professor do outro. Sm * aluno do outro. No $rupo se d! a partilha das experi"nciase das lições que a vida ensinou. Como o povo * 2sujeito hist#rico3 do poder) assim *tamb*m o 2sujeito coletivo do saber3.

0 $rupo de reflexão * como uma 2escola popular3 em que a $ente do povo * ao mesmotempo educador e educando. 0 texto do aprendi'ado * o livro da vida. Por isso) o di!lo$ose d! em torno da vida) -problemas e lutas.

0 a$ente a& * parte do processo) mas parte espec&fica. (le tem o papel particular defacilitar a partilha ou a sociali'ação do saber popular. 0 a$ente * um agenciador   da palavra coletiva. (le * um articulador, coordena as pessoas entre si e as pessoas com oassunto da vida -ou da pr!xis.

/em dvida) o a$ente pode provocar a comunidade a dar um santo em frente. Fa'endo parte do $rupo e de sua caminhada) ele pode e deve contribuir para o crescimento dacomunidade atrav*s do que ele mesmo v" e sabe. (ssa função se exerce especialmente nomomento da decodificação ou compreensão cr&tica e sistem!tica da realidade) comoveremos mais adiante.

1 comunidade aparece) portanto) para o trabalho popular como a $rande mediação peda$#$ica mediação como espaço e como instrumento. 5e fato) ela * mediação,

de conscienti"ação, nela e por ela se $anha uma consci"ncia cada ve' maior emais cr&tica da realidade7

de participação, nela e por ela aprendese a entrar no jo$o do dar e receber) dofalar e escutar) do a$ir e ser a$ido) enfim assumir o pr#prio lu$ar e papel natransformação coletiva da realidade7

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de solidariedade, nela e por ela adquirese consci"ncia de classe e se constr#i aunião em torno de um mesmo projeto de base7

de moili"ação, nela e por ela descobremse) assumemse e enfrentamse osdesafios comuns) etc.

5onde se pode aprender a import4ncia do $rupo como unidade peda$#$ica) ao mesmotempo palco e ator da pr#pria consci"ncia) como h! de s"lo da pr#pria exist"ncia.

K. M:TODO D# R#'L#&!O COM O POVO PRIM#IRO T#MPO" V#R 

Ssamos aqui os tr"s tempos do m*todo da reflexão, ver) jul$ar e a$ir. (sse m*todocomeçou com a 1ção Cat#lica) mas a$ora * usado mais ou menos sistematicamente nosdocumentos episcopais latinoamericanos) na 2Teolo$ia da Vibertação3 e na pastoral popular -C(Bs) e etc..

Tratase de um m*todo simples) pr!tico e j! lar$amente difundido. Na verdade) paraal$u*m de seu uso pastoral ou cat#lico) ele exprime o movimento mesmo daconscienti'ação. 1l*m disso) ele tradu' convenientemente os $anhos concretos dareflexão sobre a educação popular e tem a virtude de disciplinar) sem forçar) o di!lo$o popular no $rupo.

0 primeiro tempo da reflexão em $rupo -ver corresponde justamente 8 necessidade de2partir da realidade. 1 reflexão en$ancha exatamente a&, no concreto da vida.

0 di!lo$o arranca) portanto) das 2questões3) 2problemas3) 2desafios3) enfim da 2vidaconcreta3 do povo. (sta *) ali!s) a pr!tica da educação popular. Partese sempre daquestão, 2Jual * o problemaE3) 2Juais são os maiores desafios sentidos pelo povo dolu$arE3) 2Juais as lutas3) etc.

0 m*todo aqui parte 2de baixo3) 2das bases3. Falase tamb*m em 2m*todo indutivo3) por deslanchar antes de fatos que doutrinas.

(ssa prioridade dos 2problemas3) 2fatos3 ou 2vida3 * uma prioridade puramentemetodol#$ica e não axiol#$ica -moral ou reli$iosa. 0 primeiro da reflexão ou na açãonão * necessariamente o primeiro na intenção ou no desejo.

R#ALIDAD#" N#M OB8#TIVI$MO N#M $UB8#TIVI$MO

2Partir da realidade3 parece mais claro do que *. Jue * essa 2realidade3 de que se deve partir e em torno da qual se vai dialo$arE % a realidade do povo) isto *) a realidade talcomo o povo a vive e sente.

Portanto) não se trata) em primeiro lu$ar) de uma realidade bruta e externa) tal como umanalista fora pudesse apreend"la ou tal como o a$ente externo o entenderia. Não) tratase

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da realidade que envolve o povo e na qual o povo est! envolvido. 1qui) conv*m evitar ailusão do o#etivismo) que entende a realidade como al$o de meramente objetivo) deexterior ao povo.

 Não se trata tamb*m da realidade tal como se exprime nos desejos expressos) nas

expectativas manifestas e nos interesses imediatos do povo. 1 questão donde arranca o processo da reflexão conscienti'adora não *, 20 que * que voc"s queremE3 /e se entra a&)caise no su#etivismo) onde se movem as id*ias alienadas do povo) seus sonhos ut#picose seus desejos falseados.

% claro) se o $rupo manifesta um desejo ou expectativa determinada deve ser respeitado elevado a s*rio. 6as o a$ente tem o dever de questionar tal desejo) de prolemati"ar tal 

expectativa. D! que partir evidentemente da& enquanto ponto de partida t!tico ou did!tico.% poss&vel que) na discussão questionadora) tal expectativa se mostre insistente econsistente. (ntão) h! que tomar aquele ponto como ponto de arranco metodol#$ico.

R#ALIDAD#" PROBL#MA$ # LUTA$ DO POVO

2Partir da realidade3 *) em primeiro lu$ar) partir de situações que afetam a vida do povo.Tratase aqui de problemas que são sentidos como 2desafios3 e que pedem solução.Tratase particularmente de 2conflitos3 que atin$em a vida do povo e exi$em umatornada de posição.

2Partir da realidade3 *) tamb*m) partir das respostas que o povo est! dando aos problemase conflitos. /ão suas lutas, de fu$a) resist"ncia ou avanço. 1qui se levam em conta as pr!ticas concretas do povo. Tratase aqui de perceber o aspecto positivo da realidade, asreações do povo 8s suas dificuldades reais.

Pela reflexão das pr!ticas e lutas do povo que pode captar tanto o n&vel de consci"nciacomo o estado da exist"ncia em que se acha uma comunidade determinada. Pois * na pr!tica que se revela e se d! a união entre o aspecto subjetivo -intenção) saber)si$nificação e o aspecto objetivo -circunst4ncia) condições) situação da 2realidadeconcreta3 em que vive o povo.

% preciso) portanto) não esquecer de incluir na 2realidade do povo3 a componenteimportante que * a sua pr!tica, reações) respostas e lutas do povo. Não se fixar) pois)apenas nas situações objetivas. 1li!s) para um $rupo que j! tem certa caminhada) as pr!ticas j! fa'em parte inte$rante e mesmo principal da pr#pria situação. Pois a&) asituação não * mais tanto a opressão sofrida -2problemas3) mas a reação ativa 8 opressão-2lutas3.

( isso * tanto mais importante quando se quer caminhar em linha de continuidade com oque j! existe mesmo $erminalmente) na caminhada do povo.

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R#VI$!O D# UM TRABALHO

2Partir da realidade3 pode ser) em certos casos) partir de uma ação determinada emtermos de revisão ou avaliação. Nesta se toma uma operação bem definida para ser submetida 8 cr&tica e ao discernimento.

1 import4ncia de avaliar um trabalho e situ!lo dentro de uma trajet#ria ou de um projetomais amplo. Pois * a& dentro que ele adquire um sentido7 se si$nifica um avanço) umdesvio) ou) quem sabe) um recuo. /em isso) o trabalho arrisca de se perder como al$o deisolado e aned#tico.

1 revisão deve evidentemente ser feita em conjunto) com todos os envolvidos) inclusive para se perceber como se deu o envolvimento de cada parte -comissões v!rias) etc. notodo.

1l*m disso) a avaliação tem a virtude de res$atar retroativamente erros cometidos na

execução. Pois um erro reconhecido e corri$ido * um acerto. Sm fracasso assumido j! *um passo em frente. Nada h! de irrevers&vel e definitivamente perdido em termos de processo hist#rico.

 Naturalmente) os erros não bastos assumilos moralmente. % preciso ainda e sobre tudodescobrir racionalmente suas causas. /# assim se poderão deles tirar lições para evit!losno futuro.

 Na verdade) o erro não deve ser entendido como o contr!rio da caminhada) mas como parte inte$rante e inevit!vel da mesma. +mposs&vel haver percurso sem acidentes ouobst!culos. 0 realismo manda contar com eles e não se decepcionar ou desesperar quando acontecem.

(ssa concepção do erro vale) sobretudo para o a$ente externo) especialmente reli$ioso.5e falto) o a$ente externo custa se habituar com este fato, que o povo vive na opressão7que * continuamente reprimido e vencido7 que sua condição dominante * a de ser constantemente derrubado no chão) embora se levante sempre7 que vive sendo derrotado)ainda que não destru&do.

( isso vale mais ainda para o a$ente pastoral. Pois este parece ter mais dificuldade emadmitir o risco -por excesso de 2prud"ncia3 e em absorver o erro -por 'elo exa$erado de2pure'a3.

6as esta parte ne$ativa * apenas um aspecto da revisão. +mporta perceber tamb*m e maisainda aos pontos da lu') os sinas de vida e as forças de esperança) por menores que sejam)dentro da caminhada maior.

5e resto) tal * a descoberta ulterior que fa' o a$ente externo quando convive com o povo./uperando o choque inicial 8 vista da opressão permanente do povo) ele se d! conta que o povo oprimido tem uma intensidade de vida impressionante. +sso ele pode not!lo na

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capacidade de sofrer) na $enerosidade em lutar) nas ami'ades) nas relações familiares eamorosas) nas festas e devoções) etc. ver! então que tudo isso revela uma força e umvi$or que deixam pra tr!s) de anoslu') a vacuidade) frivolidade e balofo da vida bur$uesae de suas manifestações.

Sma condição importante quanto 8s revisões * o a$ente -mas isso vale a pena para todosmanter a solidariedade a todo preço com o povo ) tamb*m e sobretudo nos momentos defracasso. 6esmo no erro) a presença do a$ente * fundamental) não certamente parasolidari'ar com o erro) mas para ajudar a comunidade a assumilo e res$at!lo. % s# nessesentido e com essa intenção que vale o dito, 2% prefer&vel errar com o povo que acertar sem ele3.

 Nesse contexto tem lu$ar tamb*m a autocr&tica) na medida em que * sincera e livre) e ah*terocr&tica) na medida em que * fraterna e respeitosa.

1. $#*UNDO T#MPO" 8UL*AR 0 que dissemos h! pouco sobre a avaliação de um trabalho j! tinha se antecipado a estese$undo tempo, o jul$ar. 6as nisso não h! problema. 0 ritmo em tr"s tempos, ver) jul$ar e a$ir não deve ser aplicado de modo r&$ido. 0 mais das ve'es esses tr"s momentos sesuperpõem nas diferentes intervenções. ( isso sem inconveniente) antes oportunamente.1 import4ncia da distinção não est! na sua sucessividade -que pode ter uma utili'ação pr!tica) ou melhor) pra$m!tica) tal como or$ani'ar e disciplinar o desenvolvimento de umencontro mas em indicar) se não os tempos) pelo menos os elementos ou n&veisessenciais de uma reflexão, os dados ou descrição de uma situação -ver) sua an!lise-jul$ar e a ação que se impõe em conseq"ncia.

2Uul$ar3) nesse se$undo momento -ou elemento) tem valor de analisar) examinar) refletir o que h! 2por tr!s3 do que aparece) o que tem 2por baixo3 do que est! acontecendo.

(sta tentativa de superar as apar"ncias * que define a 2consci"ncia cr&tica3. Tratase dever e captar as causas ou 2ra&'es3 da situação.

+sso * necess!rio) porque a realidade social) a partir da qual se arranca) não * simples etransparente. (la * complexa) contradit#ria e opaca.

(sta tarefa * reali'ada) como sempre) em conjunto. 6as não * simplesmente 8 força derefletir que se che$a 8s ra'ões dos problemas. 1l*m do di!lo$o * preciso dial*tica. 0 passo 2transitivo3 da 2consci"ncia in$"nua3 8 2consci"ncia cr&tica3 não se d!espontaneamente. 5onde o papel indispens!vel do a$ente. Pois sem teoria cr&tica não h! pr!xis transformadora.

(ste tem uma função particularmente importante o momento exato da explicação oucompreensão do assunto em pauta, uma situação ou uma luta. 1qui não basta 2trocar id*ias3. Precisase estudar e aprender.

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O *ANHO D# CON$CI;NCIA PO$$=V#L

(m termos metodol#$icos) tratase de passar da 2consci"ncia real3 para a 2consci"ncia

 poss&vel3. 0u seja, o que importa * ver qual * o passo que a comunidade deve dar emfrente para ver melhor e mais claramente poss&vel. Falase aqui tamb*m em 2elevar on&vel de consci"ncia3 do povo.

1 noção de 2consci"ncia poss&vel3) ou do 2novo passo3 ou 2nova lu'3 no processo deconscienti'ação * importante para se fa'er frente a toda tentativa de doutrinarismo quequer enfiar na cabeça do povo todo de um sistema te#rico) uma ideolo$ia pr*fabricada.Sma teoria social $lobal -tal a an!lise dial*tica se transforma em do$matismo quando *usada assim) de modo catequ*tico e do$m!tico.

% claro que o a$ente tem por obri$ação oferecer ao povo ou colocar 8 sua disposição

instrumentos te#ricos de interpretação social. 6as isso deve ser feito peda$o$icamente)isto *, se$undo o interesse do povo e ao modo dele. 1ssim) a populari'ação da an!lisecr&tica da realidade social deve se$uir os interesses) o ritmo e a cultura -ou modo de ser e pensar do povo. No fundo) a questão da teoria cr&tica da sociedade não est! sendoatualmente o que) mas o como. Não * tanto questão de ci"ncia quanto de peda$o$ia emetodolo$ia.

% evidente que o 2$rau de consci"ncia3 vai junto com o 2$rau de ação poss&vel3. % preciso) pois) proporcionar o $rau de consci"ncia 8s exi$"ncias da pr#pria realidade e pr!tica.

1$ora) se o a$ente acelerou artificialmente a formação da consci"ncia com relação ao processo da pr!tica concreta) criase ai um descompasso peri$oso) uma esp*cie decontradição entre a cabeça e as mãos) entre a teoria e a pr!tica. (ssa defasa$em leva 8sformas) est*reis de radicalismo, revolucionarismo) conspiracion&smo) revolta) utop&smo)etc.

P#RC#P!O CR=TICA DO $I$T#MA COMO UM TODO

(m termos de m*todo) talve' se deva aqui levar mais em conta a diferença entre as duasfases fundamentais da consci"ncia, a in$"nua e a cr&tica) com suas respectivas din4micas.

Pois * de se notar que 2nosso passo3 não si$nifica apenas saber mais alguma coisa acercada pr#pria realidade. +sso vale numa primeira fase) at* que se d" o salto qualitativo da2consci"ncia cr&tica3. (sta) j! de posse a uma visão $eral da sociedade) passa a questionar o sistema todo. 1 partir de então) 2novo passo3 * uma nova lu' e uma compreensão maior do mesmo sistema em sua $lobalidade.

Por isso mesmo nada impede que possa haver um estudo mais sistem!tico e or$4nico da

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sociedade) especialmente para $ente do povo j! mais experimentada e num contexto maislivre de formação te#rica.

1li!s) cursos assim se revelam necess!rios a partir de certo momento da caminhada popular) em função mesmo da pr!tica que se vai assumindo. 6as aqui a teoria cr&tica ou

dial*tica da an!lise social precisa ainda ser redefinida dentro do universo da cultura elin$ua$em do povo e) mais ainda) ser redescoberta e recriada a partir de sua pr#priaexperi"ncia e pr!tica. /# assim ela mant*m sua vitalidade e seu car!ter instrumental. 0useja, s# assim ela poder! ser controlada pelo povo e submetida a seus interesses maisaltos.

O 8UL*AR R#LI*IO$O DA PA$TORAL POPULAR 

1crescentemos ainda que) nos meios cristãos -pastoral popular) o mesmo do 2jul$ar3coincide normalmente com a iluminação de f* sobre o problema de questão. Tratase de

um 2jul$ar3 reli$ioso) que * ou pode ser moral) b&blico) teol#$ico) etc.(sse momento) que * o da Palavra de 5eus) * essencial para a peda$o$ia da f* e a pastoral. (le não se coloca no lu$ar e nem ao lado do que j! veio antes, o 2ver3 e o2jul$ar3 anal&tico. (le apenas situa tudo isso dentro de um hori'onte maior justamente oda f* onde a realidade) vista e jul$ada teoricamente) $anha uma profundidade e pesoabsolutamente pr#prios e nicos sua sanção radical e ltima.

5este modo) no campo da metodolo$ia pastora) o 2ver3 deve j! incluir o 2jul$ar3anal&tico. % então um 2ver”  cr&tico) que em epistemolo$ia teol#$ica) se convencionouchamar de 2mediação s#cioanal&tica3. U! o 2jul$ar3 representa então um momentoespecial e pr#prio) que não encontra correspondente adequado na metodolo$ia dareflexão popular comum. 6as voltaremos ainda 8s questões espec&ficas que coloca om*todo da pastoral popular.

Basta aqui notar a diferença de terminolo$ia e mesmo de momentos -ou elementos nosdiferentes trabalhos populares. 0 que) contudo) não vem quebrar a din4micametodol#$ica como tal, esta se verifica aqui e l! sob formas distintas) mas dentro de ummovimento s#.

11. T#RC#IRO T#MPO" A*IR 

0 di!lo$o h! de levar para o compromisso) para a ação de transformação. Não)evidentemente) que tal deva ocorrer em cada encontro) mas no processo $eral da reflexão.

Juando se fala aqui em 2a$ir3) tratase naturalmente de propostas de ação e não ainda daação concreta como tal.

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O PA$$O PO$$=V#L

Para o a$ir) * da maior import4ncia aterse 8 re$ra da 2ação poss&vel3) ou do 2passo poss&vel3. Por outras) h! que perceber qual * o 2hist#rico vi!vel3. Não o que se 2$ostaria3de fa'er. Nem o que se 2deveria3 fa'er. 6as o que se 2pode3 efetivamente fa'er.

Juerer fa'er mais que o poss&vel * como querer 2dar o passo maior que a perna3. %queimar as etapas. 0ra) * nesse peri$o que pode cair o a$ente) mais tentado de idealismo-ou irrealismo que o povo) em $eral.

Juerer 2forçar a barra3 pode ser contraproducente e resultar em recuo. 1qui orevolucionarismo tem o mesmo efeito que o reacionarismo, os extremos se tocam. +ssoacontece quando não se analisam corretamente as possibilidades da situação) ou seja, ascondições concretas da luta.

0s dois erros nesse sentido são conhecidos,

a o voluntarismo) quando s# se conta com a disposição subjetiva do povo) sem levar em conta as condições reais da ação e a correlação das forças em presença7 b o espontane&smo) quando se confia que o processo vai por si s# levar a luta de modo

determin&stico.

Para encontrar o caminho certo da ação não se pode nem superestimar e nem subestimar as dificuldades do povo e a força de seus advers!rios. 1 apreciação concreta das relaçõesde força em jo$o deve ser obra dos que estão em questão. Por isso) nesse terceiro tempo)o trabalho do a$ente externo deve ficar mais recuado.

(m particular) numa situação em que a correlação de forças * extremamente desi$ual oudesfavor!vel tomar a ofensiva e atacar * temeridade. /i$nifica buscar o fracasso. (empurrar o povo pra l! * uma irresponsabilidade. Nessas condições) sustentar as posições j! conquistadas) resistir) não ceder ou) na pior das hip#teses) recuar um pouco para nãoceder de todo) ou seja, adotar uma posição de conservar o quanto poss&vel os passosdados) si$nifica j! uma vit#ria. Jualificar tudo isso de tradicionalismo ouconservadorismo * fruto de uma cabeça idealista) que toma seus sonhos pela realidade.

Jual seja o passo poss&vel isso não se sabe apenas por an!lise) mas tamb*m por experi"ncia e por tato pol&tico. Por isso) nada dispensa o risco. (m ocasiões que parecemoportunas) * preciso tentar. D! chances que se perdem e não voltam mais. 5e resto) h! possibilidades hist#ricas que s# se tornam tais a partir da confiança e ousadia dos quenelas se empenham. % o sentido do 2fa'er a hora) sem esperar acontecer3.

PARA DAR UM PA$$O #M 'R#NT#

1 caminhada do povo pode ser acelerada) em primeiro lu$ar) por essas chances ouoportunidades hist#ricas -Lair#s. Tratase de conjunturas ricas) em que se d! uma esp*ciede condensação histórica. % uma crise) um fato marcante) uma eleição) uma perse$uição)

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etc. /e aproveitados) esses momentos podem ser uma ocasião prop&cia par a comunidadedar um salto qualitativo.

(xiste um se$undo elemento que favorece a aceleração da consci"ncia e or$ani'ação do povo. % o contato com a experi"ncia ou pr!tica viva de outros $rupos mais avançados. Tal

contato pode se dar na pr#pria pr!tica ou mesmo em encontros de reflexão. (stes marcam para muitos um ponto de arranco ou um salto decisivo. Na verdade) povo não * apenas o povo com quem se trabalha. % uma entidade social maior com o qual se mant*m laçoshist#ricos.

(m terceiro lu$ar) o que favorece ainda a marcha do povo * o ambiente social que se criae que impre$na de certo modo a todos. % o que sucede nas !reas j! mais trabalhadas por todo um processo de luta e em al$umas i$rejas que t"m uma pastoral de conjuntoassumida) de corte popular.

5e todos os modos) importa guardar  o ritmo da caminhada) sem queimar etapas e sem

tamb*m ficar patinando. (sta questão toca sobretudo o a$ente) pela facilidade e tend"nciaque tem em totali'ar o processo hist#rico na pr#pria cabeça. 1o contr!rio do povo) quereali'a sua totali'ação a partir das experi"ncias e das projeções que elas permitem. 0useja, a partir das mãos e do que elas plasmam.

Forçar o passo s# pode levar a iniciativas sect!rias e 8 divisão no meio do povo. Naverdade) a precipitação artificial e sect!ria da luta s# pode ser assumida por poucos)resistindo a $rande maioria por questões de simples bom senso.

1ssim) pretender) desde o primeiro encontro) que um $rupo se comprometa na pol&ticadireta *) o mais das ve'es) por o $rupo a perder. 2% melhor dar um passo com mil do quedar mil passos com um3. Por isso) importa sobretudo que a discussão che$ue a umconsenso fundamental) senão a unanimidade) quando se trata de comprometer todo o$rupo numa ação vital.

#TAPA$ # TIPO$ D# A!O

% claro) para or$ani'ar concretamente um trabalho) para sua preparação imediata *conveniente distribuir as v!rias tarefas e tirar uma comissão ou $rupo especial paraviabili'ar as decisões coletivas.

(m termos das etapas da caminhada) a experi"ncia mostra que um $rupo vainormalmente das tarefas de n&vel comunit!rio -entreajuda) passando pelas lutas de bairro-melhorias) che$ando 8s do sindicato at* a questão do sistema pol&tico $lobal -partido)etc..

Juanto aos tipos de ação concreta) sabese que existem,a ações aut3nomas do povo -mutirões) etc.7 b ações reivindicativas -abaixoassinados) manifestações) etc.7

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c e ações de organi"ação) seja para fundar ou para recuperar al$um #r$ão popular -sindicatos) associações) etc.7

% s# o discernimento coletivo que poder! decidir se tal ou tal melhoria deve ser exi$idadas autoridades competentes ou se deve ser assumida pela comunidade. 1 re$ra) contudo)

 parece ser, o que um #r$ão pblico pode e deve dar) seja dele exi$ido) assumindo o povos# o que não h! condições de obter de outro modo.

Juanto 8s ações de or$ani'ação) elas t"m a virtude de permitir a continuidade e a coesãoda caminhada do povo. Pois elas di'em respeito justamente aos instrumentos de luta do povo e não a lutas parciais. (stas) uma ve' findas) podem fa'er recair o processo. Com aor$ani'ação não se tem apenas ovos) mas uma $alinha poedeira de ovos. 1ssim) mediantea or$ani'ação) sempre somada 8 reflexão permanente) podese manter a continuidade e ocrescimento do trabalho. 5a& sua import4ncia fundamental.

1). GIIM#TODOLO*IA DA A!O DIR#TA"1°) Agir Corretamente

1qui colocaremos al$umas indicações concretas para o momento da pr!tica direta. /ãoal$umas su$estões soltas) que a experi"ncia mesmo ensina.

(ssas indicações são normalmente levadas em conta do momento anterior o dareflexão) particularmente na hora do 2a$ir3) ou seja) da elaboração das propostas de ação.Por isso poderiam ter sido colocadas l!) pois * l! que elas hão de ser ajui'adas. 6as porque devem ser levadas em conta particularmente no processo mesmo da ação) vamoscoloc!las nessa seção.

(sta parte a da ação direta depende muito mais do tato) da habilidade -a m$tis $re$ae por isso da experi"ncia que de estudos e reflexões. /e a educação j! * uma arte -umsaber fa'er a pol&tica -entendida aqui como toda forma de ação coletiva o * mais ainda.

% evidente que a experi"ncia hist#rica oferece lições para todos. 6as a experi"ncia dosoutros não dispensa que) em nome pr#prio) cada um faça a sua. 1 experi"ncia como tal *intransmiss&vel) embora não o sejam seu relato e seus ensinamentos.

Age0te" agir u0to

(videntemente a primeira qualidade de uma ação coletiva * sua coesão ou entrosamentointerno. 0 imperativo da união vale para todos) mas mais ainda para o a$ente. Nomomento da ação -do 2pe$a3 o a$ente) mesmo e sobretudo externo) h! que estar juntocom o povo.

/e a reflexão se fa' junto) em termos de di!lo$o ou partilha da palavra) a ação tamb*mdeve ser executada conjuntamente. Portanto) importa acompanhar o povo em sua

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caminhada.

Com efeito) o a$ente) embora venha de fora) fa' parte do processo e do povo. (leassumiu a causa dos oprimidos e sua caminhada. Por isso deve acompanh!los e assumir com eles.

6as qual * o lu$ar do a$ente no processo vivo da açãoE % claro) o a$ente não podesubstituir o povo) adiantarse e se tomar como o representante do povo. +sso s# * poss&velao a$ente interno) realmente popular) ou ao a$ente externo que est! f&sica eor$anicamente inserido no povo) seja pela moradia) seja pelo trabalho.

Vu$ar da direção na ação direta

0 a$ente externo não deve normalmente ter a liderança da ação popular. 6as isso nãoquer di'er que não possa e não deva ir junto) participar) acompanhar) enfim) marcar  presença. Claro) tratase sempre de uma presença qualificada o povo o sabe) bem como

todos os que estão eventualmente confrontados com a dita ação) como os opressores.Por seu lado) a direção ou coordenação de uma iniciativa popular deve) ela tamb*m) estar  bem posicionada. Uamais a$indo s#. Tamb*m não se trata de estar necessariamente 8frente) no prosc"nio do teatro. Sma visibilidade ostensiva pode prejudicar a açãocoletiva. Primeiro) porque revela o car!ter diri$ista de uma ação, esta se mostrar! comocontrolada por cpulas. /e$undo) porque expõe a direção 8 mira dos ataques advers!rios)comprometendo assim toda a ação. 0 povo caminha como tartaru$a, com a cabeça prote$ida.

1ssim) a ação popular deve ser) e por isso mesmo) parecer uma ação coletiva) assumida por todos. Por isso o lu$ar normal da direção não * atr!s) prote$ida das balas) mastamb*m nem 8 frente) exposta facilmente ao ataque) por*m) no meio do povo. Claro) não para se defender) mas para animar a luta.

1-. M#TODOLO*IA DA A!O DIR#TA"

)Q VALORIAR CADA PA$$O DADO

1s id*ias de 2pol&tica3) 2revolução3) 2hist#ria3 e 2pr!xis3) suscitam ima$ens de $rande'ae excel"ncia inatin$&veis. (las carre$am uma tal conotação de sonho e utopia quecondensam todo o desejo de plenitude de uma exist"ncia alienada. 0 a$ente) por ser umintelectual) * particularmente vulner!vel a essa sedução idealista. % que se d! a& maisimport4ncia ao pro#eto que ao processo. /im) mudança do sistema, * o que se uer ) mas *mais ainda o que se fa" .

 Não h! dvidas, h! momentos de ruptura) de saltos em frente. 6as estes s# acontecemap#s um lar$o per&odo de 2acumulação pol&tica3. (sta * que cria as condições de uma2revolução3.

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Por isso mesmo) * preciso começar e se$uir em frente. ( se começa sempre como asemente. Todos os começos verdadeiros são começos de humildade. Sma comunidadecresce a partir dos pequenos problemas que sente e tem possibilidade de solucionar -2passo poss&vel3.

0ra) os 2pequenos problemas3 não se opõem aos 2$randes problemas3. Na dial*ticasocial) os 2pequenos problemas3 não são tanto parte dos $randes os nicos di$nos deatenção. /ão antes reflexo e tradução dos $randes.

5e fato) para poder entender corretamente qualquer problema) por menor que seja) * preciso situ!lo dentro do seu contexto social mais amplo. Por exemplo) quando se toma aquestão da fam&lia) da escola ou da sade) acabase sempre levantando o problema dosistema social vi$ente. /eja l! qual for a porta de entrada) che$ase sempre ao ncleo daquestão) que * o modo de or$ani'ação social. Juer di'er que um problema particular *caminho do universal.

Claro) esta vinculação -que d! a si$nificação pol&tica de um problema determinado podeser maior ou menor. Certamente ela não es$ota o sentido daquele problema -a pol&ticanão * tudo) mas ela indica hoje seu sentido dominante.

Por tudo isso) o a$ente h! de estar extremamente atento a cada passo) a cada pequena lutado povo) desde uma reunião participada) at* uma marcha) passando por uma ação deentreajuda ou a reali'ação de um projeto de promoção social.

Basta que aqui se si$am dois crit*rios b!sicos,=W que aquela ação v! na oa direção) isto *) que si$nifique um passo em frente na linhada mudança do sistema7@W que a ação seja assumida pelo povo  como sujeito possivelmente prota$nico damesma.

Ialori'ar as pequenas lutas não * nelas se compra'er) mas consider!las dinamicamentecomo de$raus necess!rios para uma ascensão maior. % justamente porque a caminhada *lon$a e o termo luminoso que cada passo) por menor que seja) possui seu valor pr#prio.

19. M#TODOLO*IA DA A!O DIR#TA"

-Q ARTICULAR O$ PA$$O$ COM O OB8#TIVO 'INAL

N=V#I$ DA A!O

(m toda ação popular importa levar em conta esses tr"s n&veis,

=W o o#etivo final ) que * concretamente a transformação da sociedade) o sur$imento deuma nova sociedade. (sse objetivo pode ser mais ou menos definido. Pode ter traços

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ainda ut#picos -ideal de uma sociedade reconciliada ou j! pol&ticos -como o projeto2socialista3. 1 definição do objetivo ou ideal hist#rico depende do pr#prio processo decrescimento da consci"ncia e das lutas de um povo7@W as estrat$gias) que constituem as $randes linhas de ação) ou seja) que traçam ocaminho para che$ar ao objetivo final7

GW as t!ticas) que são os passos concretos dados dentro das estrat*$ias para se che$ar 8meta ou objetivo. +mporta) neste sentido) valori'ar as 2astcias3 que o povo adota parasobreviver e ludibriar seus opressores. (sta 2arte dos fracos3 espera ainda um maior reconhecimento e aproveitamento peda$#$ico e pol&tico.

0 quanto poss&vel) * preciso ser  claro nos objetivos) firme nas estrat*$ias e flex&vel nast!ticas. Flex&vel nas t!ticas si$nifica que se pode e deve 8s ve'es alterar a t!tica e at*recuar quando as circunst4ncias o exijam. (m particular) * preciso ter uma $randesensibilidade no sentido de acompanhar e respeitar a din4mica viva da ação popular nomomento em que ela se processa -numa manifestação) por ex.. 1& os diri$entes t"m que juntar habilmente a firme'a da estrat*$ia com a elasticidade das t!ticas) para não quebrar 

o movimento em curso e permitir assim que o povo se afirme e avance.0 passo vale por sua orientação

0 importante * que qualquer ação se mantenha orientada na direção de seu objetivo final.6as orientada dialeticamente) como um caminho de montanha que) apesar de todas assuas voltas -t!ticas) vai fundamentalmente -estrat*$ia para o cume -objetivo. 0u comoo rio) que contornando montanhas ou saltando em cachoeira -t!tica) se$ue firme-estrat*$ia na direção do mar -meta final.

(ntão) o que conta não * o passo como tal) mas sua orientação) isto *) sua articulação como projeto $lobal da ação. 0 peso de uma ação lhe * dado por seu rumo ou direção.

 Nesse sentido) * falsa a disjuntiva sum!ria, reforma ou revolução. Pois uma reforma podeter contedo revolucion!rio. ( quando assume orientação revolucion!ria) isto *) quandosi$nifica um passo a mais na linha da transformação social. 1 disjuntiva real *,reformismo versus revolução) pois a& a reforma não coloca mais em perspectiva a criaçãode uma nova sociedade) mas a simples continuidade -melhorada desta.

Para que a luta não esmoreça depois de uma vit#ria

1 articulação passoobjetivo não * ainda entre ações) como veremos no pr#ximo ponto)mas entre uma ação material e seu objetivo ideal ) que aquela ação vai encarnando. 1relação *) pois) entre uma inst4ncia real e uma inst4ncia de representação -um projeto) umhori'onte) etc.. 5onde a import4ncia do ideol#$ico -teoria e projeto para o pr!tico.

1 articulação passoobjetivo * uma s&ntese pr!ticote#rica, * um ato  prático porque se d!na ação) mas * tamb*m al$o de teórico porque essa ação deve se situar dentro de um projeto) o que somente * poss&vel dentro da reflexão.

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Por isso) para se manter a continuidade de um trabalho) que arrisca sempre de sesatisfa'er com suas conquistas parciais) * preciso,=W um pro#eto histórico) que v! se definindo de forma crescente e que constitua a metada caminhada) como o destino da via$em para o viajante7@W uma reflexão) que v! medindo continuamente a dist4ncia entre o que est! a& e o

destino final7GW por fim uma organi"ação) que leve 8 frente de modo constante a caminhada) a$indo erefletindo.

Faltando um desses tr"s elementos) a luta 2cai3.

1 inst4ncia ut#pica

0 projeto hist#rico adquire um perfil concreto no seio da utopia) do ideal ou do sonho.(ntão) a 2sociedade justa3 $anha os traços de um 2socialismo3 bem determinado.

Contudo) a inst4ncia ut#pica ou escatol#$ica não desaparece. (la inspira a criação de projetos hist#ricos e alimenta a esperança dentro da caminhada concreta. 21i dasrevoluções que não sonhamX3 -P. Freire

1 condição que seja uma via$em ao futuro a partir do presente e em função dele) o sonhout#pico da sade e vi$or 8 pr!tica. 5a& a import4ncia de a comunidade viver momentosde poesia e celebração do futuro absoluto. Para isso a reli$ião oferece recursos sem i$uale uma 2esperança contra toda esperança3.

6otor da hist#ria * a luta pela justiça) sim) mas animada pelo desejo) pela fantasia e pelocantoX

1<. M#TODOLO*IA DA A!O DIR#TA"

9Q $OMAR 'ORA$

Para uma comunidade avançar) al*m de unir as forças dentro) * preciso se unir com outrasforças fora dela. +sso se d! em v!rias direções.

=  )ultiplicar os grupos  que t"m o mesmo objetivo) seja ele reli$ioso) sindical) partid!rio) cultural) etc. Orupos homo$"neos t"m mais facilidade de se unir e lutar por objetivos comuns. 1ssim acontece com uma rede de C(Bs) uma Federação sindical) etc7@  4igar-se a outros grupos  populares, associações de moradores) clubes de mães)sindicatos) C(Bs) etc. Claro) tal união s# pode se dar em torno de objetivos bemconcretos) tal uma luta de interesse comum7G  5nvolver todo o airro) ou mesmo o munic&pio rural em al$uma ação coletiva deinteresse comum7; +ncorporar no pr#prio $rupo ou movimento fraç%es do povo que ficaram fora) assim,as mulheres no movimento sindical) os homens nas atividades reli$iosas) partes da $rande

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massa dos esquecidos e annimos no movimento popular) etc.M (nvolver pessoas ou frações de outras classes no pr#prio movimento) seja em termosde incorporação plena) seja em termos de aliança ou acordo.

Sma questão delicada * quem articula quem) ou seja, a direção dessas forças conjuntas.

(videntemente) * preciso que a coordenação seja representativa das forças em questão.0ra) a direção se determina a partir da pr#pria ação) bem como da escolha por todos osenvolvidos.

(m particular) nos acordos com outras classes ou com o $overno) importa ao povo 2sair $anhando3. Para isso * preciso ser forte e poder discutir) ne$ociar e controlar a propostaem questão para o proveito pr#prio.

1. M#TODOLO*IA DA A!O DIR#TA"

<Q 'ORMAR ANIMADOR#$No?o tipo de dirige0te Gpopular

 Nos trabalhos que hoje se processam dentro do 6ovimento Popular) est! sur$indo umnovo tipo de 2diri$ente3. % o 2coordenador3 e não o 2ordenador37 * o 2animador3 e não o2l&der3. (ssa nova fi$ura executa seu papel como serviço e não como dominação ou paternalismo. Tratase de um diri$ente não diri$ista) que trabalha mais com o povo e não para o povo.

 No trabalho popular) a prioridade cabe 8 formação não de 2quadros3 mas da comunidade.Tratase de criar comunidades participantes) corespons!veis) autocoordenadas. % s# emse$uida) no seio delas e em função das mesmas) que h! de se ter tamb*m a preocupaçãode formar os 2quadros3 ou 2os animadores3.

5ar prioridade 8s 2lideranças3 sobre as comunidades * cair no cupulismo ou diri$ismo.Tal * outra tentação dos a$entes externos -sendo a primeira o doutrinarismo a deantepor a teoria 8 pr!tica.

Para evitar o cupulismo como prima'ia dos 2l&deres3 sobre a 2base3 são necess!riasal$umas precauções,= % preciso que os animadores emerjam e se formem na pr#pria pr!tica. % na medida desua formação que al$u*m mostra que tem qualidade de 2animador3. (ssa não * umafunção administrativa que possa se fundar em base burocr!tica. % nas lutas que al$u*m$anha tal compet"ncia. Nesse sentido * importante reconhecer as 2lideranças populares3 j! existentes no seio do povo. :espeit!las) valori'!las e reforç!las.

@ +mporta tamb*m que o 2animador3 nunca venha a se desenrai'ar de seu chão de classee de suas bases. Para isso * preciso que sua função seja renov!vel ou rotativa. 1quiimporta mais a função de 2animação3 do que o portador da mesma. Pois o que o interesse

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aqui não * tanto a pessoa individual do 2animador3 quanto seu trabalho em favor do povo.

PARA PR#PARAR UM ANIMADOR 

Por outro lado) exercendo uma função espec&fica -e não especial) o 2animador3 tamb*m precisa de formação i$ualmente espec&fica -mas não especial. Como se d! a formação deum 2animador3E

0 processo de formação de um 2animador3 pode ser descrito assim,=Y fa'er) primeiramente) o novo 2animador3 trabalhar com os animadores maisexperimentados. 1ssim vai aprendendo) a partir da pr!tica) a assumir sua função pr#pria7@Y deixar) em se$uida) o 2animador3 assumir a dianteira) mas acompanh!lo de perto)trabalhando e refletindo com ele sua pr!tica dentro do pr#prio processo7GY finalmente) propiciar al$um treinamento particular a partir da experi"ncia anterior e

da nova tarefa que ir! assumir.D! sempre o peri$o de o 2animador3 se desli$ar da base. +sso * devido a seu preparot*cnico e te#rico maior) ao crescimento e complexidade das tarefas do $rupo e aarticulação desse com outras inst4ncias -$overno) etc.. 6as) para fa'er frente a isso) * preciso cuidar para que a comunidade toda cresça em consci"ncia) participação e esp&ritocr&tico.

Controlar o exerc&cio do poder 

0 poder tende naturalmente a se concentrar. Contra isso * preciso,= Sma $tica pessoal de serviço) autocr&tica e autocontrole7@  )ecanismos institu&dos consensualmente para o controle coletivo do poder, eleições)submissão a um re$ulamento escrito) divisão das tarefas) prestação de contas) h*terocr&tica) reconhecimento de contrapoderes) rotatividade dos car$os) proibição de privil*$ios) honras e mordomias) etc.

Tratase) enfim) de criar uma mentalidade nova no exerc&cio do poder e tamb*mcomunidades novas que saibam tanto se auto$erir como resistir) criticar e mudar osrespons!veis do poder -mesmo entendido como coordenação.

1 formação de 2animadores3 populares * um dos aspectos mais importantes paraautonomia do povo. Pois at* que os não são populares -ou pelo menos populari'ados) o povo sempre ser! mal representado) acaba sendo primeiro substitu&do) depois preterido efinalmente subju$ado por seus pretensos 2l&deres3.

1E. PA$TORAL POPULAR" CON'RONTO R#LI*I!OVIDA

1 f#rmula $eral teoriaHpr!xis se tradu' em termos pastorais na f#rmula f*H!$ape. Na

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2pastoral social3 falase mais comumente em evan$elhoHvida ou reli$iãoHcompromisso.

(m particular) em nosso contexto latinoamericano de hoje) essa f#rmula $eral seconcreti'a em f*Hpol&tica. ( para desi$nar o m*todo de unir esses dois termos falase em2comparação3) 2interpelação3) 2confronto3) 2correlação3 e at* 2dial*tica3.

Jual * o ponto de partida da pastoral popularE % o ponto de partida comum a todotrabalho popular, a realidade do povo. +sso se pode ver na pr!tica peda$#$ica de Uesus-par!bolas) mila$res) etc. como tamb*m na melhor tradição pastoral da +$reja.

Contudo) a realidade do povo * a realidade do povo e não necessariamente a do a$ente.0ra) do ponto de vista pastoral) a realidade do povo pode ser tanto um problema material-doença) empre$o) etc. como uma questão reli$iosa -um batismo) uma benção) etc.. +ssodepende do tipo de comunidade e do seu $rau de consci"ncia.

5e todos os modos) seja que se entre pelo reli$ioso ou então pelo social) o importante *

que se li$ue sempre uma coisa com a outra, que o reli$ioso leve at* o social e que osocial passe pelo reli$ioso. % nessa dial*tica que se desenvolve a pastoral popular.

6as porque a pr!tica) nesse campo) levanta al$umas questões particulares e su$ereal$umas orientações) queremos aqui nos deter em al$uns pontos.

(fetivamente) at* a$ora explicitamos a metodolo$ia do trabalho popular em $eral)independentemente de seus contedos espec&ficos, sindical) partid!rio) sanit!rio) pastoral)etc. 1$ora temos que nos deter um pouco na metodolo$ia da pastoral popular em funçãode seu contedo pr#prio, a viv"ncia da f* pelo povo.

1F. COMO LI*AR ': # POL=TICA

O POVO $#MPR# LI*A ': # VIDA,

Por um lado colocase freqentemente a questão, como levar um $rupo) que 2s# fica nare'a3) a se en$ajar ativamente nas questões sociaisE ( esta *) na verdade) uma per$untaobjetiva.

Por outro lado) di'se que a li$ação f*Hpol&tica * um problema de a$entes -e intelectuais)sendo que o povo) ao contr!rio) sempre li$a f* e vida.

D! nesta ltima posição um equ&voco. Com efeito a f* est! sempre assim) li$ada a vida.6as a questão *, comoE 5e fato) o mais das ve'es) na reli$ião popular) a li$ação f*Hvida *mais conservadora que transformadora. Numa visão mais positiva) tratase de umali$ação de resistência mais que de mobili'ação. ( isso) sem dvida) se explica pelas pr#prias condições de vida -oprimida do povo./u$estões para li$ar ativamente f* e vida.

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Para levar um $rupo a se comprometer ativamente na problem!tica social * preciso fa'er uma reflexão da f* em cima dos problemas da vida -conflitos e pr!ticas. Juer di'er) * a partir de dentro da f* que a dimensão pol&tica) que lhe * conatural) vai se desenvolvendo.(is aqui al$umas su$estões sa&das da pr!tica,a  (artir da 6&lia) sobretudo em al$uns textos que tem um poder de indução pol&tica

maior, o Zxodo) os Profetas) os (van$elhos) o 1pocalipse7 b Convidar os participantes a tra'er fatos da vida relacionados com o texto b&blico7c 1proveitar ocasi%es  prop&cias -casos) acontecimentos na comunidade) situações problem!ticas) testemunhos de participantes) etc. para refletir em torno e projetar sobreelas a lu' da Palavra7d 7e"ar a prop#sito de problemas e lutas do povo7e Fa'er dramati"aç%es desses problemas e lutas) relacionandoos com al$uma passa$em b&blica ou com a visão $eral da f*7f 'elerar   -em missa) vi$&lia) etc. os eventos comunit!rios que t"m maior contedosocial e pol&tico) etc.

0 importante em tudo isso * que não se perca a relação entre a f* -palavra) oração)celebração) etc. e vida -problemas) conflitos) lutas) etc.) seja qual for o ponto de partida  a f* ou a vida.

(videntemente) 8 medida em que uma comunidade vai se en$ajando nas questões sociais)mais f!cil se torna a s&ntese transformadora entre f*Hpol&tica ou evan$elhoHvida.

CONTRA O RI$CO OPO$TO D# D#$LI*AR A VIDA DA ':

Contudo) h! sempre o risco de a pr!tica social e pol&tica ser de tal modo envolvente queleve um $rupo a enfraquecer e mesmo a perder sua relação com o p#lo 2f*3 e com acomunidade da f* a +$reja. 1 pastoral popular deve estar atenta a isso. 1ssim) mesmoquando se arranca) de entrada) das questões sociais concretas * preciso que se che$uesempre ao momento do 2jul$ar3 essas questões 28 lu' da f*3.

 Nessa hora) importa que a refer"ncia indispensável palavra de 8eus  -por umaaborda$em b&blica ou teol#$ica seja or$4nica e não superficial. Para isso exi$eseseriedade e o tempo necess!rio) a fim de que haja uma verdadeira impregnação  dacomunidade nas fontes da f*.

0 descuido nesse ponto leva a descaracteri'ar a pastoral como pr!tica espec&fica)diminuir a confiança do povo nos a$entes de +$reja e a privarse o a$ente e o povo deuma fonte de inspiração e animação privile$iada que consiste a pr#pria f*.

1K. COMO R#LACIONAR OR*ANIA!O #CL#$IAL # OR*ANI$MO$OCIAL DO POVO

Juando se fala em 2pr!tica3 se entende normalmente a pr!tica concreta -social ou

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 pol&tica. Nesse caso) di'emos que a f* se desdora -não se transforma em pr!tica socialou pol&tica. ( isso sem rupturas.

Contudo) al*m das pr!ticas sociais em que a f* se desenvolve) existem as pr!ticasreli$iosas ou eclesiais. (stas são espec&ficas. Tratase das pr!ticas de culto -missa)

 batismo) procissão) terço) etc.) de ensino -catequese) etc. e de or$ani'ação -C(Bs) etc..D!) pois) essas duas esferas distintas, a esfera eclesial e a esfera social) ambas com suas pr!ticas pr#prias) embora relacionadas entre si. Por isso) a questão) nesse n&vel) não *desdobrar) mas antes cominar  as duas esferas) ou seja, a comunidade eclesial e as outrasassociações do povo.

 Nesse sentido) a pastoral popular deve atentar para al$uns pontos importantes se quer or$ani'ar o povo tanto eclesial como socialmente,

= % preciso) em primeiro lu$ar) garantir a reprodução da esfera eclesial . ( isso nos seus

tr"s n&veis, de doutrina -catequese) cultura b&blica e teol#$ica) etc.) da celebração-pr!ticas sacramentais e devocionais e da or$ani'ação -comunidades) minist*rios) etc..

1ssim) 2partir da realidade3 pode si$nificar) por ex.) partir da realidade de celebraçõesmortas. 2Partir da realidade3 pode ser partir da pr!tica batismal) etc. % preciso levar as*rio essa realidade espec&fica -problemas ou pr!ticas como parte essencial da pastoral popular. Considerar tudo isso como mera ocasião de passar para a 2realidade3 que nica erealmente interessaria -a social si$nifica manipular a comunidade e sua f*.

@ % preciso) por outro lado) adeuar convenientemente o modo de estruturação da esferaeclesial -sua doutrina) suas pr!ticas reli$iosas e sua or$ani'ação comunit!ria 8 suamissão) ou seja) 8s exi$"ncias aut"nticas da esfera social.

1ssim) em termos de metodolo$ia da pastoral popular) * necess!rio, que a comunidade participe ativa e criativamente das atividades intraeclesiais-dimensão de uma 2pol&tica democr!tica3 interna 8 i$reja7 que a comunidade se abra para o compromisso social) etc.

G Por fim) importa desenvolver de modo simult9neo e cominado a esfera reli$iosa e aesfera social.

Com efeito) acontece muitas ve'es que a or$ani'ação social do povo seja mais avançadaque sua or$ani'ação reli$iosa. (sse descompasso pode se verificar tamb*m no n&vel daconsci"ncia e das pr!ticas.

Por isso) ao mesmo tempo em que cresce o compromisso pol&tico) deve crescer tamb*m ocompromisso eclesial. ( isso em todos os n&veis,

a 5e consciência, o conhecimento b&blico e teol#$ico deve ir de par com umaconsci"ncia social e pol&tica mais avançada7

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 b 5e  prática as pr!ticas de culto) tais as sacramentais) hão de combinar com assindicais) pol&ticas) etc.7c 5e organi"ação  comunit!ria, a participação na vida eclesial) especialmente pelosminist*rios) deve acompanhar a participação na vida social) at* nos postos de direção.

/em essa adequação ou harmonia estrutural entre or$ani'ação eclesial e or$ani'açãosocial do povo) haver!) na melhor das hip#teses) com o peri$o constante de contradição eruptura) para preju&'o do pr#prio povo) seja em n&vel reli$ioso como pol&tico.

). T:CNICA$ DO TRABALHO POPULAR 

1s diversas t*cnicas s# funcionam bem quando tradu'em uma metodolo$ia. ( estai$ualmente s# * bem aplicada quando inspirada por uma m&stica e por uma concepção$eral pr*via da realidade.

Juanto 8s t*cnicas do trabalho popular) observemse principalmente os dois crit*riosse$uintes,= /e o povo  participa de sua elaboração e aplicação) e isso de modo crescente -naconfecção dos boletins) das celebrações) etc.7

@ /e levam a comunidade 8 autonomia, ou seja) se aproveitam ao crescimento do $rupo)donde a necessidade de sua revisão) sempre junto com os interessados o povo.

Iamos a$ora expor brevemente os principais tipos de recursos) mecanismos e açõesdiretas.

A. R#CUR$O$

= 7oteiros. /ão instrumentos ou subs&dios para a reflexão. Dão de ser flex&veis e abertos) bem como adequados ao $rau de desenvolvimento do $rupo. 1 lin$ua$em deve ser naturalmente popular.

@ 'artilhas. Não são receitu!rios) mas caixas de ferramenta. Procuram ouvir de formamais ou menos or$4nica um patrimnio de conhecimento e cultura -sade popular) pol&tica partid!ria) leis trabalhistas) etc.

G  6oletins. Podem incluir um contedo muito variado) desde material de reflexão at*cartas e outras informações. % bom que sejam feitos a duas mãos, $ente do povo ea$entes7 e com material de 2mão dupla3, transmitindo al$o de novo e repercutindo areação das bases.

; 'antos. 1proveitar o cabedal da cultura popular -folclore) inclusive nos m*todos decriação -cord*is) repentes) improvisos) etc. (videntemente o povo pode tornar pr#prioscantos feitos por outros. 6as tamb*m * preciso que sejam compreens&veis e tenham umcontedo aut"ntico ou verdadeiro. (m arte) nada pior que o mau $osto) o moralismo e o

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didatismo.

M 'arta"es. T"m a virtude de ser 2sinteti'adores3 e inspiradores de id*ias ou propostas.Por eles o povo tem oportunidade de manifestar sua criatividade tanto nos desenhoscomo nos di'eres.

A  )aterial audiovisual . Cujo principal proveito est! na reflexão coletiva que pode permitir em se$uida.

B. M#CANI$MO$

= 8in9mica de grupo.  Naturalmente) no processo da educação popular usamse as maisvariadas din4micas) como o cochicho) a reflexão em c&rculos) a discussão em plen!rio) adramati'ação) o painel) etc. 0 que mais importa em tudo isso * a participação de todos) arelação dessas din4micas com a vida -problemas e pr!ticas e a reflexão dialo$ada eaprofundadora que elas provocam. 1ssinalemos o valor peda$#$ico popular das

dramati'ações.@ :isitas. /ão teis para iniciar um trabalho e tamb*m para manter a coesão do $rupo e acontinuidade da caminhada. 1s visitas entre $rupos para troca de experi"ncias favorecemo aprendi'ado coletivo) elevando o n&vel de consci"ncia do povo a partir da partilha das pr#prias lutas. 6as para serem frutuosas) as visitas precisam ser pro$ramadas e visar umobjetivo -o que não impede evidentemente as visitas $ratuitas) de pura ami'ade ousolidariedade humana.

G *reinamentos. (ncontros de estudo e preparação de mais dias rendem na medida emque estão li$ados a uma pr!tica -pelo menos projetada. 1qui tamb*m * importante a participação dos presentes na elaboração e direção do treinamento ou curso. D! quanto aisso um saber acumulado. -uma 2arte3 que * aqui imposs&vel explicitar mas apenaslembrar.

; 'eleraç%es. Jue podem ser reli$iosas -vi$&lia) procissão) etc. ou da cultura popular -festa de casamento) anivers!rio) etc.. /ão momentos onde a exaltação $ratuita prevalece) realimentando assim a esperança e con$raçando psicossocialmente o povo. Não devem ser) fora de prop#sito) instrumentali'adas para fins did!ticos ou pol&ticosimediatistas.

M  6rincadeiras.  Nem se h! de esquecer no trabalho popular o poder desinibidor einte$rador das brincadeiras. (las preparam um ambiente prop&cio para a reflexão e ocompromisso comuns) quando j! não veiculam contedos peda$#$icos expl&citos.

C. A#$ DIR#TA$

Contentemonos aqui em elencar al$umas ações populares concretas, abaixo assinados) manifestos de solidariedade) etc.7 caminhadas) marchas)passeatas7

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$reves) paralisações) etc.7 com&cios) concentrações e outras manifestações pblicas7 celebrações de protesto) reivindicação ou vit#ria7 ocupação de espaços -ruas) praças) edif&cios) f!bricas) etc.7 boicotes -de reuniões) produtos) ações7

mutirões e outras ações de entreajuda) etc.:elembremos sempre que a qualidade dessas ações deve ser jul$ada pelos crit*rios principais j! citados, o $rau de participação ou envolvimento do povo e o efeito deautonomi'ação produ'ido.

#P=LO*O

1o encerrar esse trabalho) queremos evocar a mem#ria daquele que) dentre todos) melhor soube se relacionar com o povo oprimido e que mais quis e buscou neste mundo a vinda

do 6undo Uusto) que chamou de :eino. (le adotou como projeto de vida e como m*todode trabalho uma anti$a profecia) onde se fala da missão) do serviço) do anncio da justiçaao povo) da discrição no trabalho) do res$ate da menor centelha de vida) da perseverançana lon$a caminhada e da esperança do triunfo no 5ireito -6t =@) =?@= [ +s ;@) =;. (sse pro$rama) que continua sendo o 2espelho de vida3 de todo a$ente do povo ele ocumpriu de modo insuper!vel e paradi$m!tico,

2(is aqui o servo que escolhi)6eu bem amado) de quem minha alma se afeiçoou.Farei repousar sobre ele meu (sp&rito)( ele anunciar! o 5ireito aos povos. Não discutir! nem $ritar!) Nem se ouvir! tua vo' nas praças pblicas. Não quebrar! o caniço apenas rachado) Nem apa$ar! o pavio ainda fume$ante)1t* levar o 5ireito ao triunfo.( em seu nome os povos depositarão sua esperançaX3

Ra edição(ditora Io'esPetr#polis=>?A