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Biotecnologia Ciência & Desenvolvimento - Encarte Especial 113

CLONAGEMHUMANAOPINIÃO

Aspectos científicos e éticos

Prof. Dr. Sérgio D.J. PenaDepartamento de Bioquímica e

Imunologia, Universidade Federal de MinasGerais e Núcleo de Genética Médica de Minas

Gerais (GENE), Belo Horizonte, [email protected]

I. Introdução

Desde a divulgação, em fevereiro de1997, do sucesso da clonagem de umaovelha a partir da glândula mamária deuma adulta, um amplo debate foi inici-ado envolvendo a comunidade científi-ca e a sociedade em geral. O fulcro dadiscussão obviamente era o fato de quea clonagem de ovelhas sinalizava que,em um futuro próximo, talvez pudesseser possível clonar seres humanos. Essapossibilidade gerou tanto entusiasmoquanto preocupação e discussões calo-rosas. A clonagem deveria ser regula-mentada? Se sim, como?

No grande esquema da sociedade, éprovável que o impacto da clonagemhumana como técnica reprodutiva sejabastante superficial. Permitir a clona-gem não significa que as pessoas neces-sariamente terão de usá-la. Clonar umser humano por meio da transferêncianuclear de células somáticas, por exem-plo, vai requerer envolvimento da pes-soa que será fonte de DNA, da pessoacujos ovócitos serão enucleados e entãofundidos com o núcleo da célula doado-ra, da mulher que engravidará e dará àluz a criança, e da pessoa ou do casalque criará a criança clonada. Diantedessa realidade complexa, é mais pro-vável que a clonagem seja procuradapor casais que, devido à infertilidade, aoalto risco de doença genética severa, oua outros fatores, não possam ou nãoqueiram conceber uma criança. Alémdisso, as técnicas de clonagem ainda sãomuito ineficientes. É provável que sem-pre seja o caso de que a viabilidade deembriões clonados seja menor do que adaqueles embriões formados diretamen-te de óvulos e de espermatozóides. Aexperiência de clínicas de fertilização invitro é a de que, mesmo em condições

ideais, a chance de sucesso de umaimplantação de um único embrião nãoé superior a 30 por cento. Assim, se alegislação forçar os indivíduos a assu-mirem os custos de suas próprias clona-gens, o preço por si só irá desencorajarseu uso.

Entretanto, às vezes, procedimentosdesenhados para um certo fim específi-co inesperadamente provam ser muitomais úteis em outras áreas. Desenvolvi-mentos científicos mais recentes permi-tiram vislumbrar uma área de aplicaçãomuito mais interessante e promissorapara a clonagem humana na área médi-ca: a produção de tecidos humanospara auto-transplantes. Esses avançosrecentes têm mesmo permitido a pro-messa de uma nova medicina: a medi-cina regenerativa, que será um dospontos focais deste artigo.

Muito tem sido escrito sobre a pos-sibilidade e o potencial da clonagemhumana, incluindo diversos livros. Se-ria presunçoso pensar que esta peque-na revisão possa constituir uma contri-buição significativa para a literatura.Todavia, esperamos que ela sirva comouma síntese e constitua uma plataformapara futuras discussões. Para isso, fize-mos uso de um número extenso depublicações. As principais estão listadasnas referências bibliográficas e devemser consultadas para informações maisdetalhadas.

II. Algumas Definições eConceitos Básicos

A palavra clone, do grego klon,significa �broto� e foi cunhada em 1903pelo botânico H.J. Webber (Safire, 1997).Seu significado é �qualquer grupo decélulas ou organismos produzidos asse-xuadamente de um único ancestral se-

xuadamente produzido.� Formal-mente, mamíferos podem ser clo-nados pela fissão de embriões(produção artificial de gêmeos) oupor transferência nuclear, isto é,transferência de núcleos de célulassomáticas (derivadas de qualquercélula diplóide de um embrião, feto,criança ou adulto) para ovócitossem núcleo para produzir embriõesreconstituídos que são capazes, apósa transferência para hospedeirosadequados, de se desenvolver emuma prole viável (Wolf et al., 1998).

Neste artigo discutiremos so-mente a clonagem por meio datransferência nuclear de células so-máticas. Esta pode ser subdivididaem clonagem que envolve um nú-cleo de célula adulta diferenciadaou clonagem derivada de uma célu-la embrionária ou fetal. Emborametodologicamente similares, es-ses dois procedimentos apresentamdiferenças práticas enormes. Somen-te ao clonar através de transferêncianuclear a partir de células de umadulto temos conhecimento sobre ofenótipo do doador para poder pre-ver, em amplos termos (pelo enten-dimento de que o genótipo seráidêntico àquele do indivíduo doa-dor), o fenótipo do clone. Em ma-míferos, proles vivas já foram pro-duzidas a partir de clonagem denúcleos embrionários em camun-dongos, ratos, coelhos, porcos, ove-lhas, vacas e macacos rhesus (Wolfet al., 1998). Entretanto, apenasovelhas (Wilmut et al., 1997), ca-mundongos (Katayama et al., 1998;Wakayama e Yanagimachi, 1999) ebovinos (Kato et al., 1998; Wells etal., 1999) já foram obtidos por trans-ferência nuclear de células adultas.

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IV. A Ciência e a Tecnologiada Transferência Nuclear

Resumidamente, os passos indivi-duais no procedimento de transfe-rência nuclear incluem:

1) Preparação de um ovócito enu-cleado (citoplasto).

2) Isolamento da célula doadoraou do núcleo doador.

3) Ativação do citoplasto.4) Fusão celular para produzir um

embrião reconstituído.5) Cultura do embrião.6) Transferência do embrião para

um útero hospedeiro.Os dois primeiros experimentos

que tiveram sucesso em produzirproles vivas da transferência nuclearde células somáticas adultas foram ode Wilmut et al. (1997) em ovelhas eo de Wakayama et al. (1998) emcamundongos. Os dois procedimen-tos diferem consideravelmente emdetalhes nos vários passos descritosacima.

Wilmut et al. (1997) usaram cultu-

ras de células de glândulas mamáriascomo doadoras de núcleo. Essas célu-las foram de ovelhas Finn Dorset, en-quanto os ovócitos foram de ovelhasescocesas do tipo Blackface. Um passochave parece ter sido a retirada de sorodas culturas de células de glândulasmamárias para induzir a parada dedivisão celular (quiescência; G0). Naverdade, Wilmut and Campbell (1998)acreditam que o sucesso da clonagemsomente pode ser obtido de célulasquiescentes. Obviamente que, para aclonagem, as células doadoras têm deestar em G0 ou G1, isto é, antes daduplicação do DNA. Em seguida, acélula doadora foi colocada no espaçoperivitelino do ovócito enucleado etanto a fusão da célula doadora aoovócito enucleado quanto a ativaçãodo ovócito foram induzidos por cor-rente elétrica. Esse procedimento re-sultou no ovócito tendo um genomanuclear da célula doadora, mas umgenoma quimérico do DNA mitocon-drial de citoplasmas fundidos. Dolly foia única ovelha nascida de 277 embri-

ões reconstituídos, criados seguindo atransferência nuclear de células mamá-rias adultas, um rendimento de 0,4%.Desses 277 embriões, 29 se desenvol-veram em mórulas ou em blastocistose foram transferidos para 13 recipien-tes, resultando em um único parto atermo (1/29; 3,4%). Atualmente, dadosde quatro laboratórios diferentes indi-cam que a taxa de sucesso total doprocedimento de transferência nuclearé relativamente baixa quando os resul-tados são expressos em nascimentosvivos por transferência de embriãoreconstituído, da ordem 1-2% (Wilmut,1998). O motivo para essa alta inefici-ência é desconhecido. Há uma perdafetal de 50% e uma taxa total de mortede ovelhas, ao nascimento, de 20%(Wilmut, 1998). Uma observação pe-culiar é o elevado peso ao nascer deovelhas criadas por transferência nu-clear. Esse fenômeno, que pode estarrelacionado com os mecanismos de�imprinting� gênico, não foi visto emcamundongos clonados pela transfe-rência nuclear (Wilmut, 1998).

JunhoGurdon e Uehlinger relatam que rãs adul-tas foram desenvolvidas a partir de trans-ferência nuclear de células intestinais degirino em ovos Xenopus enucleados.

1966 1975 1996

1998 1998 1998

AbrilWells et al., na Nova Zelândia, relatam onascimento de dez bezerras clonadas portransferência de células somáticas deuma vaca adulta de alta qualidade. Aeficiência da clonagem foi de 10% e todasas bezerras sobreviveram.

1999 1999MaioA empresa Geron Corporation, que financiou os estudos de culturas de células-troncohumanas anuncia a formação de uma parceria de 20 milhões de dólares com o InstitutoRoslyn da Escócia, onde foi clonada Dolly. A intenção da parceria é o desenvolvimentode técnicas de clonagem seguida de cultura de células-tronco para uso em terapiaregenerativa humana sem rejeição imunológica.

JulhoWakayama et al. descrevem a clonagem de22 camundongos fêmeas saudáveis. Emcada caso, a transferência nuclear foi feitade uma célula da granulosa (um tipodiferenciado de célula que cerca o óvulo).

MaioCibelli et al. relatam o nascimento de trêsbezerros transgênicos gerados a partir datransferência nuclear de fibroblastos fe-tais em divisão ativa, não quiescentes.

MarçoNasce na França, Marguerite, uma bezer-ra produzida por transferência nuclear deuma célula muscular embrionária.

MarçoCampbell et al. relatam que ovelhasforam clonadas com sucesso por transfe-rência nuclear a partir de células fetaiscultivadas.

AgostoGurdon et al. relatam que a transferêncianuclear de células de pele de rãs adultaspara ovos Xenopus enucleados permite odesenvolvimento de girinos até o estágiode batimentos cardíacos, mas não até oestágio adulto.

III. Cronologia da Clonagem pela Transferência Nuclear

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Um procedimento diferente foi usa-do pelo grupo de Yanagimachi, emHonolulu, (Wakayama et al., 1998) paraclonar camundongos. Para realizar aclonagem, eles começaram com 3 tiposde células somáticas que já estavam emestado de quiescência: células de cúmu-lo ovariano, células de Sertoli (o equiva-lente masculino das células de cúmulo)e células cerebrais. Esses experimentossomente funcionaram bem com as célu-las de cúmulo, indicando que, por em-pecilhos biológicos ou técnicos, nemtodas as células adultas podem ser clo-nadas. Yanagimachi e seus colegas nãofundiram a célula doadora com o ovóci-to, mas, ao invés disso, microinjetaram onúcleo da célula de cúmulo em ovócitosenucleados de camundongos. Eles es-peraram seis horas para dar uma chanceao ovócito de reprogramar o DNA dacélula de cúmulo e depois, quimicamen-te, ativaram o ovócito para começar adivisão. Assim eles produziram 22 ca-mundongos, nascidos vivos, clonadospor transferência nuclear de célula gra-nulosa adulta (a primeira sobrevivente

nascida foi chamada �Cumulina�). Em-bora diversas séries de experimentoslevemente diferentes tenham sido reali-zadas, a produção de camundongos re-cém-nascidos clonados de embriõestransferidos foi da ordem de 2-3%, nãosignificativamente diferente da produ-ção em ovelhas. Entretanto, como sali-entado por Solter (1998), a importânciadeste relato é seminal � camundongostêm um curto período de gestação, umagenética bem caracterizada e seus em-briões são muito mais fáceis de seremmanipulados do que aqueles de mamífe-ros maiores, abrindo a possibilidade deuma ampla análise experimental de clo-nagem de mamíferos e de fatores quedeterminam seu resultado.

Em bovinos, Kato et al.(1998), noJapão, tiveram o nascimento de oitobezerras clonadas de células somáticas,mas, como mencionamos acima, quatromorreram no parto ou logo após onascimento. Entretanto, Wells et al.(1999),na Nova Zelândia, conseguiram melho-res resultados. Eles obtiveram dez bezer-ras clonadas por transferência de células

somáticas de uma vaca adulta de altaqualidade. A eficiência da clonagemfoi de 10% e todas as bezerras sobre-viveram. O próximo passo lógico étentar clonar primatas pela transfe-rência nuclear de células somáticas deadultos.

V. Questões Éticas, Legais eSociais da Clonagem Humana

A. Que benefícios individuaisou sociais podem advir da clona-gem humana?

O prospecto da clonagem huma-na levantou intensas discussões, inici-almente centradas nos aspectos re-produtivos. A controvérsia pressupõeque, se a clonagem humana fossesegura, confiável e permitida, haveriauma demanda para ela. Sem deman-da, por que se preocupar? Mais realis-ticamente: se a demanda provasse serinsignificante, ou limitada a situaçõesexcepcionais e justificadas, não have-ria razão para proibi-la (Posner &

1997 1997 1997

1998 19981998

1999 1999JulhoBrüstle et al., na Alemanha, descrevem o direcionamentoem cultura da diferenciação de células-tronco em célulasgliais, que produzem mielina. As células obtidas emcultura eram capazes de formar mielina in vivo em ratosque eram incapazes de fazê-lo por ter uma doençagenética neurológica.

JunhoWakayama e Yanagimachi, no Havaí, relatam a clonagem decamundongos a partir de células da cauda de camundongosmachos. Todas as clonagens anteriores haviam sido a partir decélulas do sistema reprodutivo feminino.

DezembroKato et al., no Japão, relatam o nascimentode oito bezerras clonadas de células somá-ticas (três de células de oviduto e cinco decélulas do cúmulo dos ovócitos) de umaúnica vaca adulta. Todas as bezerras eramnormais, mas quatro morreram no parto oulogo após o nascimento.

NovembroThomson et al., nos Estados Unidos,anunciam, pela primeira vez, sucesso nacultura de células-tronco a partir de em-briões humanos. Quando transplantadaspara camundongos essas células eramcapazes de se diferenciar nos tecidosmais variados, incluindo osso, cartila-gem, músculo, neurônios, etc.

JulhoCibelli et al. descrevem um método quefaz uso de transferência nuclear paraproduzir células transgênicas com carac-terísticas de células-tronco de fibroblas-tos bovinos fetais. Esses estudos abremnovas possibilidades estimulantes para aterapia celular humana.

DezembroSchnieke et al. relatam o nascimento deovelhas produzidas pela transferêncianuclear de fibroblastos fetais primáriosovinos transgênicos para o fator IX decoagulação humano.

AgostoMeng et al. relatam a clonagem de maca-cos rhesus pela transferência nuclear decélulas fetais.

FevereiroWilmut et al. relatam que a clonagem decélulas derivadas de um úbere adultoresultou no nascimento de Dolly.

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Posner, 1998). De fato, do ponto devista reprodutivo, a clonagem parecenão ser a única resposta a nenhumagrande ou urgente necessidade hu-mana e seus benefícios parecem, emgrande parte, ser limitados. Por outrolado, novas e fantasticamente interes-santes perspectivas foram abertas comrelação à utilização da técnica declonagem para obtenção de células-tronco embrionárias para a medicinaregenerativa humana.

Clonagem humana paraproduzir tecidos para

auto-transplante

Células-tronco embrionárias têma capacidade de se diferenciar emqualquer tipo celular e podem serproduzidas a partir de blastocistoshumanos (embriões em um estágiomuito inicial de desenvolvimento).De fato, esse procedimento tem sidofeito rotineiramente em camundon-gos. Isso significa que as pessoaspoderiam fornecer suas próprias cé-lulas e, ao usá-las para substituir osnúcleos de seus próprios ovócitos ouovócitos de doadores, criar embriõesclonados e obter células-tronco emcultura. Há mesmo a possibilidadeque ovócitos bovinos possam ser uti-lizados neste processo (Lanza et al.,1999). De qualquer maneira, essascélulas poderiam, então, ser induzi-das a se diferenciarem em cultura,permitindo o implante de células etecidos individualmente desenhadossem os problemas atuais de rejeição,que afetam o transplante. Este proto-colo constitui a "clonagem terapêuti-ca" e a medicina baseada nele temsido chamada de "medicina regenera-tiva". Esse procedimento já teve su-cesso em gado, embora se usandotransferência nuclear de células so-máticas fetais (Cibelli et al., 1998b).

Os primórdios desta idéia vieramprincipalmente de estudos com a do-ença de Parkinson (revisado em Du-nnett and Björklund, 1999). Esta éuma doença degenerativa humanaem que os neurônios de uma determi-nada região do sistema nervoso cen-tral param de produzir um neuro-transmissor muito importante chama-do dopamina e isto causa uma varie-dade de sinais e sintomas neurológi-cos, principalmente tremores. Umasérie de estudos clínicos mostrou queneurônios dopaminérgicos obtidos deembriões humanos transplantados nocérebro de pacientes com doença de

Parkinson podem sobreviver, fazer co-nexões funcionais e corrigir, pelo me-nos parcialmente, os sintomas da doen-ça. Entretanto, para obter resultadossignificativos, um número muito grandede neurônios tem de ser transplantado,da ordem de 100.000-150.000 em cadalado do cérebro. Para se obter essaquantidade de neurônios são necessári-os pelo menos 3-4 embriões humanos!Felizmente alternativas estão emergin-do. McKay et al. (1998) mostraram queé possível dirigir in vitro o desenvolvi-mento de células-tronco neuronais derato para produção de neurônios dopa-minérgicos que podiam, então, ser usa-dos para terapia de ratos com doença deParkinson. Tratamentos similares estãosendo desenvolvidos para humanos (Fri-cker, 1999).

Teoricamente, o mesmo princípiodesse tratamento da doença de Parkin-son poderia ser aplicado para uma gran-de variedade de outras doenças degene-rativas humanas, tais como diabetes,distrofias musculares, etc. Na verdade,muito recentemente foi demonstradoque, em camundongos com distrofiamuscular (causada por defeitos genéti-cos da proteína distrofina), a injeção decélulas-tronco normais resulta na incor-poração de células doadoras no múscu-lo e restauração parcial da expressão dogene da distrofina (Gussoni et al., 1999).Entretanto, na aplicação desses trata-mentos em humanos emerge um grandeproblema: a rejeição imunológica. Nocaso da doença de Parkinson, a rejeiçãoimunológica das células transplantadasnão é um problema, porque o cérebro éum sítio imunologicamente privilegia-do, onde rejeições não ocorrem. Poroutro lado, no caso dos transplantes decélulas-tronco em camundongos, osdoadores e receptores eram imunologi-camente compatíveis. Entretanto, se for-mos usar o transplante de células-troncopara tratamento de doenças humanascomuns, poderemos esperar rejeiçãoimediata levando ao fracasso do trata-mento. Como evitar isto? A clonagemfornece a resposta. Se fizermos a clona-gem de um indivíduo até o estágio deembrião, poderemos ter uma rica fontede células-tronco imunologicamentecompatíveis para a medicina regenerati-va.

Como isso seria feito? Imaginemosum cenário hipotético futurista (Peder-sen, 1999). João tem um enorme enfartedo miocárdio, de tal maneira que apenas30% do seu músculo cardíaco sobrevive.As chances são de que ele vá desenvol-ver insuficiência cardíaca e, se sobrevi-

ver, sofrerá importante comprometimen-to funcional. No hospital é retirado umpequeno pedaço de sua pele cujas célu-las vão crescer em cultura. Os núcleos dealgumas dessas células são retirados einjetados em ovócitos (humanos ou mes-mo bovinos) dos quais o núcleo foiremovido. Esses óvulos geneticamentemodificados são crescidos por uma se-mana no laboratório, quando, então, sedesenvolvem em embriões com mais oumenos 100 células. As células dessesembriões são dissociadas e células-tron-co são obtidas em cultura. Essas culturasrecebem tratamentos especiais com fato-res de crescimento e diferenciam-se emcélulas musculares cardíacas. Estas célu-las são então implantadas no coração deJoão e regeneram seu músculo cardíaco.João, mais um caso de sucesso da medi-cina regenerativa, vai para casa em boasaúde. As culturas de células-tronco deJoão são congeladas, para o caso de elevir a precisar delas mais tarde para pro-duzirem neurônios para tratamento dadoença de Parkinson, ou ilhotas pancre-áticas para tratamento de diabetes oumesmo linfócitos para o tratamento daAIDS.

Esse procedimento ainda apresentadificuldades práticas porque ainda nãoconhecemos os fatores de crescimentonecessários para induzir a diferenciaçãodas células-tronco em cada um dos cen-tenas de tecidos do corpo humano. Alémdisso, há possíveis óbices éticos e sociais,pois o procedimento envolve o sacrifíciode blastocistos clonados para obter aslinhagens de células-tronco em cultura.Alguns certamente vão argumentar queesses blastocistos representam seres hu-manos em potencial, mesmo que saiba-mos que uma grande percentagem (tal-vez 4-50%) de todos os embriões huma-nos são perdidos durante a gravidez enunca se tornam recém-nascidos. Dequalquer maneira, não resta nenhumadúvida de que o valor potencial da medi-cina regenerativa para a humanidade éenorme e não pode ser desperdiçado porargumentações de cunho teórico porparte de pequenos segmentos da socie-dade.

Clonagem humana comotécnica reprodutiva

Como salientado por Silver (1997), de9 a 15 por cento dos casais são inférteis.Isso significa que, só nos Estados Unidos,há mais de dois milhões de casais quequerem conceber e não conseguem. Mui-tos desses casais enfrentariam qualquerobstáculo para conseguir uma gravidez.

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Ao invés de usar espermatozóides, ovóci-tos ou embriões de doadores anônimos,alguns casais inférteis poderiam optar porclonar um dos parceiros. Se o maridofosse a fonte de DNA e a esposa forneces-se o ovócito para receber a transferêncianuclear e depois gerar o feto, eles teriamum filho biologicamente relacionado acada um deles e não precisariam contarcom um gameta anônimo ou um embriãode doador. Evidentemente, a grande mai-oria dos casais inférteis ainda prefeririama doação de gametas ou embriões ou aadoção.

Uma questão que deve ser levantadaaqui é se a clonagem é suficientementeparecida com a atual reprodução assistidapara ser tratada de modo similar, ou seja,como um exercício da liberdade de re-produção de cada casal. Casais que re-querem a clonagem não estariam procu-rando criar filhos saudáveis, com os quaistivessem um laço genético ou biológico,assim como os casais que concebem seusfilhos sexuadamente o fazem? Quer des-crito como �cópia�, quer descrito como�reprodução�, o recurso da clonagemparece similar o suficiente, em propósitoe efeitos, às outras práticas de reproduçãoe pode ser tratado da mesma forma.Assim, um casal teria liberdade de optarpela clonagem, a menos que houvesserazões para se achar que isso criariadanos que outros procedimentos nãocausariam (ver abaixo). Por outro lado, asdiferenças entre a clonagem e as práticasatuais não deveriam ser esquecidas. Oobjetivo da maioria das outras formas dereprodução assistida é o nascimento deuma criança que seja descendente de,pelo menos, um membro do casal, e nãoum gêmeo idêntico com um intervalo donascimento do primeiro.

No tocante a esse ponto, consideraçõessobre a natureza e a criação são relevantes.O comportamento humano é uma funçãotanto do genoma quanto do ambiente. Di-ferenças no ambiente uterino (que certa-mente existirão entre um indivíduo e seuclone) seguramente ocorrerão e serão sufi-cientes para causar grandes diferenças depersonalidade e de comportamento. Outrasdiferenças em dieta e cuidados, em modase costumes, em ocupação e educação, paranão mencionar o intervalo temporal, serãosuficientes para impossibilitar qualquer du-plicação perfeita de um indivíduo e assegu-rarão a individualidade do clone.

Pode-se também examinar essa ques-tão sob uma perspectiva evolutiva. Mui-tas espécies têm mecanismos reproduti-vos alternativos, sexual e assexual, queadotam para maximizar sua eficiênciaevolucionária. Por exemplo, afídeos e

rotíferos monognatos podem reprodu-zir-se tanto assexuadamente quanto se-xuadamente, mas somente usam a se-gunda opção quando as condições ambi-entais não são favoráveis. A espéciehumana evoluiu biologicamente a partirde precursores primatas até que seucérebro alcançou o tamanho e a comple-xidade necessários para permitir o surgi-mento da cultura, juntamente com suasmanifestações e veículos, a linguagem.Daí em diante, o Homo sapiens tornou-secapaz de adaptar-se, transformando ati-vamente o ambiente e propagando essaadaptação através de transmissão cultu-ral. A agricultura, a criação de animais ea medicina são produtos dessa evolução

cultural. Assim também é a clonagemque agora abre a possibilidade de umareprodução assexual como uma estraté-gia adaptativa para os seres humanos.

Um detalhe adicional é que, presu-mivelmente, casais que optam pela re-produção por meio da clonagem, geral-mente vão querer ter somente um filhoou no máximo dois (um com a cargagenética do pai e outro com a da mãe?).A partir daí, qualquer filho seria geneti-camente idêntico a um dos dois primei-ros. Também, uma mistura de clones ecrianças sexuadamente produzidas podecriar sérias tensões. Portanto, é possívelque a clonagem como uma estratégia

reprodutiva possa produzir menos cri-anças do que a média de casais pro-duziria sexuadamente.

B. Que danos individuais ousociais a clonagem humana

pode produzir?

Como indicado por Epstein (1998),a clonagem, como técnica reproduti-va, não apresenta nenhuma das for-mas usuais de danos que têm sidoalvo de ações legais. A clonagem nãopertence a uma lista que inclui estu-pro, incesto, ilegitimidade, deprava-ção ou negligência. O que temos naclonagem humana é a criação de uma

nova pessoa cujo componente gené-tico é idêntico ao de outro ser huma-no, vivo ou morto. Qual o dano queisso pode causar? A resposta simplesseria: nenhum. Entretanto, um cardá-pio de malefícios, reais ou imaginári-os, tem sido apresentado e não podeser ignorado. Eles serão discutidosabaixo.

1. Danos aos Indivíduos

A clonagem humana acarretariariscos inaceitáveis para o clone?

Essa é uma preocupação real e

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talvez constitua o únicoponto no qual haja um con-senso universal. A clona-gem, tanto em ovelhas (Wil-mut et al., 1997; Wilmut,1998), quanto em camun-dongos (Wakayama et al.,1998) e bovinos (Kato et al.,1998), tem sido associada aníveis significativamente al-tos de perdas fetais e mor-tes neonatais. O aumentodo peso ao nascer, obser-vado nas ovelhas clonadaspor Wilmut (1998), tambémpoderia ser um fator com-plicador para humanos. ANational Bioethics AdvisoryCommission (�ComissãoConsultiva Nacional sobreBioética�) da Presidênciados Estados Unidos, con-sultada pelo Presidente Clin-ton, concluiu que: �Nestahora é moralmente inacei-tável para qualquer pessoa do setorpúblico ou privado, seja em um cenárioclínico ou de pesquisa, tentar criar umacriança usando a clonagem de transfe-rência nuclear de células somáticas. En-tramos em consenso neste ponto porquea informação científica atual indica queesta técnica não é segura para ser usadaem humanos agora.� (NBAC, 1997).

Temos de discutir qual nível de riscoé aceitável para a criança clonada. Brock(1998) destaca o ponto relevante de quea política pública e a lei atualmentepermitem que prováveis pais conce-bam, ou possam levar uma concepçãoaté o fim, quando há um risco significa-tivo ou mesmo uma certeza de que acriança sofrerá de uma doença genéticagrave. Mesmo quando outros acham queo risco ou a certeza da doença genéticatorna moralmente errado conceber oucarregar um feto até o fim, o direito dospais à liberdade de reprodução permitea eles fazer isto. De fato, o aconselha-mento genético tem sido praticado tradi-cionalmente de uma forma não-diretiva.O objetivo não é dizer ao casal com riscode produzir uma criança anormal, quecurso tomar, mas sim ajudá-los a tomaruma decisão autônoma e apoiá-los nes-sa decisão. Está claro que a maioria dosmalefícios possíveis à criança clonadaseriam menos sérios do que os danosgenéticos com os quais os pais podemagora permitir que sua prole seja conce-bida ou nasça.

A clonagem humana negaria aoindivíduo o direito de ter uma

identidade única e o direito aignorar o seu futuro?

Como indicado por Johnson (1998),a clonagem envolve apenas genes. Nãose clonam indivíduos, mas sim geno-mas. A clonagem não abole as intera-ções complexas do genótipo com oambiente na produção contínua do fe-nótipo (Dobzhansky, 1957). Como já foidiscutido acima, independente de seusgenótipos idênticos, os clones serãoúnicos fenotipicamente, porque cadaum vivenciará sua própria sucessão deambientes diferentes.

A clonagem humana causariasofrimento psicológico

e danos à prole?

Assumindo que algumas pessoasqueiram ser clonadas, cabe aos oposito-res produzirem argumentos significati-vos para mostrar que a clonagem preju-dicaria alguém ou a sociedade. Umargumento relevante refere-se ao fato deque o simples conhecimento de ter sidoproduzido pela clonagem poderia preju-dicar psicologicamente a prole da clona-gem. Como salientado por Dawkins(1998), tais argumentos em defesa dojovem clone equivalem a atribuir aojovem clone o sentimento: �Eu gostariade nunca ter nascido porque...� Emoutras palavras, mesmo que os fardospsicológicos não pudessem ser evitadospara a prole da clonagem, eles nãoconstituiriam danos, e por isso não po-

dem ser motivos para impe-dir a clonagem. Isto ocorreporque a única forma da pro-le evitar os possíveis danospsicológicos é que a clona-gem não tivesse sido feita,mas aí a pessoa não existiria.Esses �danos potenciais� sãotão nefastos que possam fa-zer com que uma vida nãovalha a pena ser vivida? Defato, não há motivo irrefutá-vel que faça com que a clona-gem possa ser mais estres-sante que, por exemplo, aadoção, etc.

2.Danos à sociedade

A clonagem humanadesvalorizaria os

indivíduos e diminuiria orespeito à vida humana?

Não há motivo para acharque a habilidade de clonar

humanos fará com que muitas pessoasse voltem para a clonagem quando ou-tros métodos de reprodução possibilita-riam que eles tivessem filhos de maneiraconvencional. A clonagem de um serhumano pela transferência nuclear decélulas somáticas é um procedimentomuito complexo e ineficiente, que, maisprovavelmente, seria procurado apenaspor casais que, devido ao alto risco deuma doença genética severa ou a outrosfatores, não podem ou não queremconceber uma criança.

Posner & Posner (1998) levantam oponto interessante de que a demandapela clonagem como um método repro-dutivo seria desproporcionalmente con-centrada em pessoas cujo narcisismoexceda os limites normais e, mais geral-mente, em pessoas que hoje são impe-didas de se reproduzirem por seremincapacitadas para o casamento, geral-mente por causa de distúrbios de perso-nalidade. Obviamente, homens deses-perançados em relação ao casamento ouque rejeitam o casamento e que quises-sem ser clonados ainda teriam de �alu-gar� um útero, o que criaria dificuldadesainda maiores; mulheres seriam auto-suficientes.

Certamente, muitas pessoas farãoobjeção à clonagem humana por moti-vos religiosos. Nós devemos nos lem-brar de que existe uma grande variedadede religiões com diferentes tradições ecredos. Como resultado, não há nenhu-ma visão �religiosa� uniforme sobre aclonagem humana, não mais do que em

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qualquer outra questão moral em bio-medicina. Como enunciado claramenteno já citado relatório da National Bioe-thics Advisory Commission (�Relatório eRecomendações da Comissão Consulti-va Nacional sobre Bioética�), diferentesreligiões divergem em premissas funda-mentais, modos de raciocínio e conclu-sões sobre a clonagem humana. Especi-ficamente com relação à clonagem hu-mana como técnica reprodutiva, pensa-dores de algumas religiões acreditamque essa tecnologia poderia ter usoslegítimos e assim poderia ser justificadaem certas circunstâncias, se aperfeiçoa-da. Outros pensadores religiosos negamque a clonagem tenha qualquer usolegítimo, argumentando que ela sempreviola normas morais fundamentais, taiscomo a dignidade humana (NBAC, 1997).

Governos ou outros grupospodem usar a clonagem humana

para propósitos imoraisou de exploração?

Em Admirável Mundo Novo, AldousHuxley imaginou a clonagem de indiví-duos projetados com habilidades limita-das e condicionados a fazer trabalhosservis para a sociedade. Nesse contexto,a seleção e o controle na criação dessaspessoas eram pautados nos interessesda sociedade e às custas das pessoascriadas. É óbvio que, no mundo real,qualquer uso da clonagem humana paratais propósitos seria totalmente inadmis-sível por violar o respeito moral e adignidade que eles possuem como sereshumanos. Todavia, os usosmais prováveis da clonagemhumana estariam muito afas-tados desses cenários bizarrose espantosos que inicialmentedominaram a cobertura do as-sunto na mídia internacional.Como salientado por Silver(1997), são indivíduos e casaisque querem se reproduzir comsua própria imagem. São indi-víduos que querem que seusfilhos sejam felizes e tenhamsucesso. E são indivíduos ecasais, e não governos, quecontrolarão as novas tec-nologias de reprodução.

Por um outro lado, nãodevemos nos esquecer de quea ficção sobrecarregou a soci-edade com usos bastante per-turbadores e bizarros da ciên-cia da reprodução humana. Afigura do monstro criado peloDr. Frankenstein aparece fre-

quentemente no imaginário do público(Turney, 1998). Pode-se também citar,entre outros, o livro de Ira Levin (e ofilme) Os meninos do Brasil, o filme deFritz Lang Metropolis, e o filme de ficçãocientífica contemporâneo Caçador deAndróides. Esses cenários de pesadelopodem ser bastante improváveis e atémesmo impossíveis, mas eles têm umimpacto importante na percepção e narelação do público com tecnologias re-volucionárias, tais como a clonagemhumana.

C. Legislação sobre aTransferência Nuclear Humana

Como indicado por Epstein (1998),Berg & Singer (1998) e muitos outroscientistas, a espera vigilante é decidida-mente preferível à legislação impensadaou mal-concebida, cujas conseqüênciasnão antecipadas podem provocar maismalefícios que benefícios. Primum nonnocere (primeiro não cause mal), o su-premo princípio da medicina, se aplicaigualmente bem para a área da jurispru-dência e da política. Além disso, o cum-primento de proibições legislativas teriacustos consideráveis. Entretanto, umaespera vigilante deixa os políticos emposições secundárias, onde eles prova-velmente deveriam estar em relação àquestões científicas, mas onde eles nãogostariam de estar, pois muitos preferemo destaque na mídia.

No Brasil, imediatamente após a pu-blicação da clonagem da Dolly, o Minis-tro da Ciência e Tecnologia, José Israel

Vargas, publicou uma opinião de que aclonagem de mamíferos envolvia a mo-dificação genética de organismos vivos eassim, automaticamente, se enquadravana Lei de Biossegurança (Lei nº. 8.974/95) e seu decreto (nº. 1.752/95). Maisespecificamente, o Ministro citou o arti-go 8 da lei que proíbe �a manipulaçãogenética de células germinais humanas�.Mais tarde, a Comissão Técnica Nacionalde Biossegurança (CTNBio) publicou,em julho de 1997, a instrução normativanº. 8, que reafirmou a posição do Minis-tro e ainda publicou uma proibição dequalquer manipulação genética de célu-las humanas germinais ou células-troncoe também de qualquer experimento declonagem humana (CTNBio, 1997). Avantagem dessa situação é que ela nãoé irreversível. Com novos desenvolvi-mentos científicos, a CTNBio pode libe-ralizar a sua posição. A despeito disso,estamos cientes de que existem algunsprojetos de lei proibindo a clonagemtramitando no Congresso brasileiro. Es-peramos que esses projetos não sejamnunca aprovados, pois podem se cons-tituir em importante empecilho ao de-senvolvimento da pesquisa no Brasil.

VI. Conclusões

Está claro que as questões que cer-cam a clonagem humana por meio detransferência nuclear são muito espi-nhosas e que será difícil chegar a umconsenso. O único aspecto negativo daclonagem sobre o qual parece haver umamplo acordo é que não seria seguro

tentar clonar um ser huma-no agora. Por outro lado,com relação à clonagempara obtenção de células-tronco embrionárias paratratamento médico, acre-ditamos não haver nenhumóbice maior do ponto devista prático ou ético. As-sim, somos definitivamen-te a favor da liberalizaçãodas pesquisas nessa área.Acreditamos que uma am-pla discussão deva conti-nuar para estudar a ques-tão da clonagem humanacom todas as suas implica-ções: científicas, tecnoló-gicas, legais e éticas, masrespeitando-se as distin-ções dos usos da clona-gem.

Terminamos este arti-go citando, em traduçãonossa, o cientista evolutivo

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Richard Dawkins, que foi capaz de ex-pressar cogentemente alguns dos nossossentimentos:

�A ciência, repito, não pode nosdizer o que é certo ou errado. Nãopodemos achar regras para viver umavida boa ou regras para uma boa ori-entação da sociedade, escritas no li-vro da natureza. Mas isto não signifi-ca que qualquer outro livro ou qual-quer outra disciplina possa servircomo substituto. Há uma tendênciailusória de acreditar que quando aciência não pode responder um certotipo de questão, a religião o possa.Onde a moral e os valores estão en-volvidos, não há respostas certas aserem encontradas em livros. Temosque crescer, decidir em que tipo desociedade queremos viver e meditarsobre os problemas pragmáticos difí-ceis de serem resolvidos. Se decidi-mos que uma sociedade livre e demo-crática é o que queremos, parece lógi-co que os desejos das pessoas só deve-rão ser obstruídos se houver bonsmotivos para isso. No caso da clona-gem humana, se algumas pessoasquerem fazê-la, o ônus de explicarque mal ela faria e a quem, é daquelesque gostariam de proibi-la�.

(Dawkins, 1998)

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