Clube do Livro

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1 Clube de Leitura EPV! São Roque e Lençóis 2012 Leituras Comentadas PROJETO EPV! - Iniciativa da Fundação Volkswagen em parceria com o Cenpec.

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Coletânea de resenhas escritas por professores de São Roque - SP

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Clube de LeituraEPV! São Roque e Lençóis 2012

Leituras Comentadas

PROJETO EPV! - Iniciativa da Fundação Volkswagen em parceria com o

Cenpec.

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SUMÁRIO

Apresentação................................................................................................... 2

Introdução.........................................................................................................5

Amor de Perdição............................................................................................12

Um Apólogo.....................................................................................................14

O Bestiário.......................................................................................................15

Conto de Escola...............................................................................................17

Dewey, Um Gato entre Livros........................................................................ 18

O Diário de Anne Frank.................................................................................. 19

Esaú e Jacó..................................................................................................... 21

Gabriela, Cravo e Canela................................................................................ 24

Grande Sertão: Veredas................................................................................. 27

O Guardião de Memórias............................................................................... 29

Jane Eyre........................................................................................................ 30

O Jardim Secreto............................................................................................ 34

O Menino do Pijama Listrado......................................................................... 36

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APRESENTAÇÃO

Como formadora da área de Língua Portuguesa do projeto Estudar

pra valer!, minha atuação junto aos professores da rede municipal de São

Roque e de Lençóis Paulista foi pautada por muitos objetivos. Talvez o

principal deles tenha sido o de que nossos encontros mensais pudessem se

tornar – em alguma medida e, pelo menos em alguns momentos, já que o

tempo disponível sempre era pequeno frente ao que nos propúnhamos fazer

– um espaço privilegiado para a troca de experiências de leituras literárias.

Nesse sentido, ao mesmo tempo em que líamos, discutíamos e

refletíamos, a partir de textos teóricos, oficinas e troca de experiências,

algumas questões relativas à leitura e à produção de textos – um dos focos do

EPV! – os participantes (professores e alguns coordenadores pedagógicos que

também frequentavam nosso grupo) foram aos poucos aderindo à proposta

que levei a eles no início de 2012: a de reservarmos um tempo de nossos

encontros - os primeiros 40 .minutos - para o que chamávamos

informalmente de “Clube de Leitura”. No decorrer do ano, o “Clube de

Leitura” foi ganhando adeptos. E como é gratificante ler hoje o relato dessa

experiência, registrado com tanta competência e autonomia, na introdução

desta publicação, pela Fátima e pela Diana, professoras entusiastas da ideia e

ativas participantes do grupo!

Inicialmente, nos pequenos grupos formados para comentar as

leituras feitas, os participantes que realmente davam conta do que se

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propuseram eram aqueles que conseguiam driblar a correria do cotidiano.

Aqueles que, entre um mês e outro, escolhiam uma obra literária e viajavam

para lugares distantes, viviam outras vidas e, ao voltarem para nossos

encontros achavam-se enriquecidos de ideias e novas experiências. Nem

todos tinham essa disponibilidade. Entretanto, nas rodas de leitura, os

comentários dos professores/leitores fizeram com muitos livros e autores

alcançassem futuros leitores. Assim, num clima descontraído e sempre

respeitoso, a maioria dos professores pouco a pouco começou a ter um lugar

em que podiam se colocar ora como leitores de literatura, ora como ouvintes

atentos, como comentadores, ou mesmo como mediadores de leitura em

relação aos colegas. E, sobretudo, todos foram verificando que nossa

experiência poderia frutificar se levada aos alunos com o mesmo entusiasmo,

sem cobranças e num espaço de liberdade.

Numa de nossas oficinas quando trabalhávamos o gênero resenha

crítica – de filmes e livros – examinávamos uma sequência de atividades que

culminava numa proposta de produção de resenhas, dirigida a alunos do

segundo ciclo do ensino fundamental. Os professores, então, foram

estimulados a se exercitar nesse gênero a partir de suas leituras do “Clube”.

Em dois ou três encontros, tivemos momentos muito produtivos destinados à

escrita e à reescrita das primeiras resenhas produzidas, num trabalho de

aprimoramento dos textos daqueles que, generosamente, haviam submetido

seus textos à análise dos pequenos grupos e do coletivo.

No último encontro da área, lembro-me da satisfação com que alguns

professores – individualmente, em duplas ou trios (a turma sempre se

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ajudando!) – digitavam e pesquisavam dados no laboratório de informática

para aperfeiçoar os seus textos. Enquanto isso, outros davam ainda seus

primeiros passos nessa aventura que é a de se tornar um autor. Foi quando

realmente resolvemos juntar os textos de quem se dispusesse a divulgá-los

numa pequena publicação, memória e registro dos nossos momentos no

Clube de Leitura.

Esta pequena coletânea reúne textos em diferentes fases de

produção – desde os mais elaborados, que passaram por pesquisa e

aprimoramento depois de uma ou duas versões, até aqueles que resolvemos

publicar em sua versão preliminar, e que seriam desenvolvidos e

aperfeiçoados caso tivéssemos outros encontros pela frente. Essas leituras

comentadas, fruto do entusiasmo e do esforço de

professores/leitores/autores iniciantes, nos sinalizam o quanto vale a pena

apostar e investir em ações de formação continuada dos professores,

estimulando e valorizando seu potencial. Esperamos que a semente lançada

aqui seja cultivada com carinho. Obrigada a todos, e especialmente àqueles

que participaram desse trabalho.

Um grande abraço,

Regina

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INTRODUÇÃO

TRABALHANDO A LEITURA E A PRODUÇÃO TEXTUAIS NO EPV1:

O professor como leitor e escritor

Diana Siqueira Liberatti2

Fátima Pereira3

Para compreender melhor o mundo no qual vivemos, é necessário

ampliar competências e habilidades envolvidas no uso da palavra, isto é,

dominar o discurso nas diversas situações comunicativas, para entender a

lógica de organização que rege a sociedade. Nesse contexto, leitura e escrita

são ferramentas básicas para interação em diferentes áreas do

conhecimento. Pelo uso da linguagem os indivíduos se comunicam, trocam

opiniões, têm acesso às informações, protestam, fazem cultura, exercem sua

cidadania, inserindo-se criticamente na sociedade. Sendo assim, a leitura de

mundo é tão ou mais importante que a leitura da palavra. Para isto não basta

decodificar o texto, é preciso entender as relações entre o que se lê e o

1 Curso EPV! – Estudar pra valer!: Projeto desenvolvido com os professores da Rede de

Educação da Prefeitura da Estância Turística de São Roque – SP, em parceria com o CENPEC;

2 Professora da rede de educação pública da Prefeitura da Estância Turística de São Roque – SP,

com sede na EMEF Sonia Mª de Abreu Ghilardi, e participante do projeto EPV!;

3 Professora da rede de educação pública da Prefeitura da Estância Turística de São Roque – SP,

com sede na EMEF Prof. Tibério Justo da Silva, e participante do projeto.

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contexto no qual se insere, de acordo com a própria visão de mundo, como já

defendia Paulo Freire (FREIRE, 1999).

A publicação dos PCNs - Parâmetros Curriculares Nacionais (BRASIL,

1998) trouxe um novo olhar no que se refere ao ensino da Língua Portuguesa.

Este deixa de ser um reduto da gramática e passa a valorizar a comunicação

como um processo de construção de sentidos, baseado na interação social da

língua, possibilitando ao aluno aprender a linguagem a partir da diversidade

textual que circula na sociedade. Assim, mais importante que aprender os

mecanismos da língua, é aprender a usar a linguagem e dominá-la em

diferentes esferas, uma vez que sua apropriação tem vínculo direto com a

realidade.

Nessa concepção, os gêneros textuais nas práticas sócio discursivas

dos sujeitos têm norteado as discussões sobre a produção, interpretação e

análise de textos. Os estudos linguísticos, a partir das teorias de Bakhtin e de

outros linguistas, trouxeram um avanço para a educação. Com a transposição

dos gêneros do discurso para a didática, o trabalho com os gêneros em sala

de aula mostrou-se uma estratégia eficiente para o desenvolvimento de

leitores autônomos e escritores competentes e assim, para a construção do

sujeito e da cidadania. Quanto maior for o contato do aluno com os

diferentes textos, ao trabalhar a leitura e a escrita de maneira integrada,

independente da disciplina de estudo, maior será seu domínio sobre a

linguagem.

O professor, nesse novo contexto, precisa de uma postura crítica,

olhar sob outro prisma, buscar um novo caminho, informações, reaprender.

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Cabe a este profissional (em qualquer área de atuação) se apropriar desse

conhecimento e criar condições para o desenvolvimento da capacidade plena

do uso da linguagem dos seus educandos, para que possam usá-la nas

práticas da vida diária, seja na transmissão ou busca de informação, no

exercício da reflexão, na profissão, no desenvolvimento das formas de

pensamento, nas manifestações culturais e artísticas, enfim, na sua efetiva

cidadania.

Em 2011, nós, professores da Rede Pública de São Roque (juntamente

com gestores e técnicos do Departamento de Educação), começamos a

participar do Projeto Estudar pra valer!, que tem como foco o

desenvolvimento da leitura e da produção de textos. Professores de todas as

áreas foram convidados a discutir a concepção de leitura, escrita e oralidade

em sua disciplina, já que em qualquer disciplina, os alunos precisam

compreender, interpretar e produzir textos, sejam eles verbais (orais,

escritos) ou não verbais. Os encontros realizados em 2011, por área e por

escola, tiveram como foco a leitura no espaço escolar. Já em 2012, o enfoque

foi a produção de texto.

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Resenha Crítica: gênero textual a ser trabalhado

Para nós, professores de Língua Portuguesa, a palavra é nossa

principal ferramenta. Dessa maneira, estamos habituados a diferentes

formas de leitura, a criar estratégias para conquistar o aluno para o

prazer de ler, as discussões sobre gêneros textuais, as socializações

com o grupo. Neste sentido, as reflexões dos encontros de formação

do EPV vieram acrescentar, e muitas vezes, trazer um novo olhar para

a questão da leitura e produção de textos no espaço escolar e fora

dele.

Uma das primeiras discussões do grupo de Língua Portuguesa

(março/abril de 2011) foi a leitura entre os professores, já que se

presume que todo professor é leitor. No entanto, há que se refletir

sobre a questão “qual era sua principal leitura?”. A partir das

respostas, ficou claro que o professor lê muito, mas as leituras

pedagógicas e teóricas ocupam espaço maior na sua vida do que as

leituras literárias, principalmente aquelas feitas por prazer.

Partindo desse pressuposto e considerando que toda atividade

de produção textual precisa ter um objetivo, e ir mais além das

paredes da sala de aula, atingindo outros destinatários, em 2012 nos

encontros de LP, a proposta da formadora Maria Regina foi um Clube

de Leitura. Neste, os professores formaram pequenos grupos e

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escolheram autores ou livros que seriam lidos para posteriormente

produzirem resenhas críticas. Além de estudar o gênero (leitura de

resenhas de filmes e livros, de vários estilos e de diferentes veículos),

ao produzir o texto, os professores usam seu conhecimento de mundo,

aliam as novas informações com aquelas que já possuem, e projetam

uma nova ideia à escrita, usando as competências comunicativas de

forma eficaz.

Além disso, estabelecemos uma analogia com nosso educando,

enquanto produtor textual, principalmente no gênero resenha. Neste

processo, alguns questionamentos foram elaborados e trabalhados:

como trabalhar resenha com nossos alunos? Como estimular a

capacidade crítica dos jovens? Levá-los a pesquisas e leituras diversas?

Ao melhoramento contínuo do texto? E consequentemente, estas

questões produziam em nós mesmos apropriações diversas de

sentidos.

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A experiência: reflexões de uma cursista

Embora o professor seja um profissional com uma grande intimidade

com a leitura, seja por fruição ou necessidade, nem sempre ele tem nas suas

práticas diárias o hábito ou a necessidade de produzir determinados gêneros

textuais. Assim, para muitos, a resenha crítica (mais comum na esfera

jornalística) trazia alguns desafios. Dos primeiros rascunhos aos textos finais,

é possível perceber a importância do processo de produção: leitura (da obra

escolhida), planejamento, pesquisa, execução, refacção.

Nossa experiência foi pautada por diversas reações. Primeiro a

resistência, uma vez que nosso tempo já é escasso, e o comprometimento

com a leitura literária exige um espaço na rotina. Depois, aqueles que a

desenvolveram começaram a apresentar uma grata surpresa, seja pela

satisfação do ato de ler, pela obra em si, ou pelo resgate da ação, antes

esquecida.

Num momento posterior, a produção das resenhas críticas ocupou

um lugar controverso. Habituados a uma resenha mais simples, aquela que

adaptamos aos alunos do ensino fundamental II, nós professores

apresentamos algumas dificuldades durante a realização. Trabalhando de

maneira individual ou em grupo, fomos nos adaptando ao gênero e

melhorando nossas produções por meio da leitura oral e apontamento dos

colegas.

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Neste segundo ano de formação, tivemos a participação de

professores da rede pública de Lençóis Paulista, de outras áreas de formação.

Este intercâmbio de experiências foi muito interessante, visto que os colegas

tiveram um despertar para a leitura por fruição distinta dos professores de

LP. A reação, alheia a dos professores de Língua Portuguesa, nos fez ver como

o outro vê a leitura e produção de textos, assim como, nos possibilitou

efetivar uma permuta no papel do outro.

Enquanto gênero textual, a resenha crítica foi explanada em um

encontro, e explorada em todos os encontros do ano corrente. Muitos

participantes melhoraram sobremaneira seu produto final, por meio da

reescrita, pesquisa, discussão e troca de experiências. De acordo com

Severino (2002, p.132) “a resenha deve expor as ideias daquele que a

escreve, sendo elas concernentes ou não com aquelas expostas pelo veículo

que está sendo analisado (livro, evento, filme etc.). Dessa maneira,

pressupõe-se que seu autor deve pesquisar, refletir, amadurecer as

informações das quais dispõe. Ela é um gênero que demonstra

amadurecimento intelectual, domínio das técnicas de investigação daquilo

que se estuda, e sobretudo, conhecimento do seu público, visto que seu

vocabulário deve estar adequado a ele.

_____________________________

BAKHTIN, M. Os gêneros do discurso. In: BAKHTIN, M. Estética da criação verbal. São Paulo:

Martins Fontes, 2003. pp. 261-306.BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros

Curriculares nacionais: língua portuguesa. Brasília: MEC/SEF, 1998.

FREIRE, Paulo. A Importância do Ato de Ler: em três artigos que se completam. 22ª ed. São

Paulo: Cortez, 1988.

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Amor de Perdição – Camilo Castelo Branco

A inconsequência do amor - Um amor que ultrapassa os limites da

sanidade

Professora Michelle Thaís Moreschi

EMEIF José Luiz Pinto – São Roque

Por muito tempo, o amor serviu aos interesses de famílias abastadas

que casavam seus filhos a fim de unir seus bens. Nesta história, os direitos do

coração, ou seja, os sentimentos dos jovens são mais importantes do que

qualquer convenção social.

O livro Amor de Perdição é uma obra-prima escrita com maestria pelo

escritor português Camilo Castelo Branco, nascido em Lisboa, em 1825. Este

livro, publicado em 1861, foi um marco dentro da escola literária

Romantismo. Nele, o escritor mescla realidade (vivida quando foi preso por

adultério) e fantasia (inspirada na obra Romeu e Julieta, de Shakespeare),

onde dois apaixonados são impedidos de se amar por conta da rivalidade

entre as famílias. Como típico romântico, Camilo Castelo Branco era boêmio e

ressalta em sua obra valores como o heroísmo e a passionalidade, que se

refletem em suas personagens.

A ação da história se passa em Portugal, no século XIX, abordando as

relações entre as famílias rivais, os Botelho e os Albuquerque. O ódio surge

quando o juiz Domingos Botelho não dá uma sentença favorável aos

Albuquerque. Porém, o acaso une os seus filhos, Simão e Teresa, que numa

súbita paixão avassaladora, já sonham contrair matrimônio. E assim, sem

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pensar no que os aguardava, o destino lhes reserva caminhos distintos: ele

vai para a prisão e ela para um convento.

Este romance levanta uma questão: “Será que o amor deve ser levado

às últimas consequências?” Por outro lado, sabemos que não há nenhum

sentimento tão elevado quanto este; por isto mesmo é digno de ser

vivenciado, independente de qualquer obstáculo.

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Um Apólogo – Machado de Assis

Professora Cátia Aparecida Justo dos Santos

EMEF Sônia Maria de Abreu Ghilardi – São Roque

Um Apólogo, publicado em 1896, é um dos grandes contos de

Machado de Assis, um escritor revolucionário, caracterizado por sua obra

narrativa.

Com linguagem irônica, sua obra observa os indivíduos da sociedade

a partir da visão radicalmente crítica do escritor O conto Um Apólogo foi

baseado na prática de profissões e de valores humanos, como: sentimentos,

superioridade, interioridade e humor. Uma visão metafísica, relacionada aos

valores e à moral dos seres humanos.

Essa história é relacionada ao novelo de linha e a agulha, em que a

agulha se acha superior ao novelo de linha. A agulha persiste com sua ironia e

arrogância em discutir com o novelo de linha; vem um sábio alfinete com sua

grande experiência e diz à agulha: “Cansas-te em abrir caminho para ela e ela é

que vai gozar da vida, enquanto aí ficas na caixinha de costura. Faze como eu,

que não abro caminho para ninguém. Onde me espetam, fico”.

É mostrada a importância e a função que cada um executa, de valia e

significância em que ambas as partes precisam um do outro. História que

passa uma lição de moral sábia ao mostrar a importância da função e

execução.

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O Bestiário - Moacyr Scliar

Professor João Luiz Xavier Castaldi

EMEF Professor Joaquim da Silveira Santos – São Roque

Em 1968, o então desconhecido porto-alegrense Moacyr Scliar faz sua

estreia literária com o livro de contos O Carnaval dos Animais. Como fábulas

modernas, os contos presentes na coletânea ensejam, através de

personagens oriundos da fauna, a reflexão sobre os homens, seus anseios e

suas relações.

Em Os Leões, presente nessa antologia, Scliar – descendente de

judeus – explora a vocação do homem para o genocídio, para o extermínio

irracional do outro, do desconhecido, do temido. A extinção dos temidos

felinos mediante a ação de tropas de choque e bombas nucleares, no

entanto, não extingue a necessidade, essencialmente humana, da guerra,

como se vê no final do conto.

Já no conto A Vaca, o autor explora, ao narrar a relação do

protagonista com a dócil vaca Carola, os limites a que pode chegar a

crueldade do homem, capaz de sugar até a última gota de sangue do animal

que passivamente lhe oferece ajuda – metáfora da relação histórica entre os

povos e a Terra, uma história de prodigalidade, e também da relação histórica

do homem consigo mesmo, uma história de crimes e violência.

Para citarmos um último exemplo, Cão, talvez o mais conhecido

conto desse ciclo, segue na mesma linha: com a narrativa dos atos

prodigiosos do minúsculo cão de guarda, fruto da mais alta tecnologia, somos

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levados a refletir não apenas sobre a nossa capacidade de intervenção na

natureza, ao cruzar espécies no sentido de “aprimorá-las”, mas

principalmente sobre os motivos que nos levam a fazê-lo – principalmente

numa sociedade em que todos são “marginais” em potencial, dependendo de

quem nos aponta o dedo.

Assim, os pequenos e densos contos de O Carnaval dos Animais

revelam-se bastante atuais para o leitor de quarenta anos depois, visto que a

essência de nossas relações permanece a mesma – predadores de nós

mesmos. Com a leitura dessa obra, onde o trágico aparece por detrás do

cômico, somos levados a concluir, com um sorriso amargo, que as bestas

somos nós mesmos.

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Conto de Escola - Machado de Assis

Professora Isaura Raffaeli

EMEF Doutor Rabindranath Tagore dos Santos Pires – São Roque

Conto de Escola, publicado em 1884, foi incluído posteriormente pelo

autor no livro Várias Histórias. Machado de Assis (1839-1908) é conhecido

como um “mestre da observação psicológica” e neste conto apresenta as

primeiras experiências de “corrupção e delação” de Pilar, um pré-adolescente

que faz suas escolhas com insegurança.

O Conto de Escola relata o dia de Pilar. Pela manhã fica em dúvida se

deve ir brincar ou ir à escola; escolhe a escola por que seu pai havia lhe

castigado por outras faltas. Durante a aula, olhando pela janela o azul do céu,

arrepende-se da escolha que fez. Enquanto os alunos realizavam um

trabalho, o professor envolvido com a leitura do jornal torna-se ausente. Isso

proporcionou que ocorresse uma situação desleal entre dois alunos e um

terceiro os denunciou. O professor resolve com a palmatória.

É promovida uma reflexão que nos faz pensar como e quando o

protagonista conheceu a corrupção e a delação. “Foram eles que me deram o

primeiro conhecimento, um da corrupção, outro da delação”. Tem-se a

impressão de que Pilar sentiu um mal-estar pela ação que foi

envolvido, porém não se percebe mudança, Pilar continua com sua

postura indefinida.

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Dewey, um Gato entre Livros - Vicki Myron, com Bret Witter

Um gato simplesmente

Professora Suzi Harsani Paz

EMEF Professora Iracema Villaça – São Roque

Para quem gosta de animais, principalmente de gatos, é uma história

real, imperdível. Como um gato vira-lata abandonado numa biblioteca, numa

noite gelada, poderia mudar a vida de uma cidade?

"Dewey,um gato entre livros" é uma história que encanta pelo

carinho e companheirismo de um gatinho que se tornou um mascote de uma

cidade inteira e ajudou a superar a maior crise econômica enfrentada na

região (Spencer, estado de Iowa, EUA) nos anos 80.

É uma leitura fácil e envolvente que descreve a vida nas fazendas e

paisagens locais aliada à vida das pessoas que frequentavam a biblioteca

onde o gatinho distribuía sua amizade e encanto dando alento a tantas almas

sofridas.

Este livro desmistifica a personalidade egoísta e traiçoeira que é

atribuída aos felinos.

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O Diário de Anne Frank – Anne Frank

Edma Maciel Tavares Mazini

EMEIF Professora Rutte Rodrigues de Carvalho – São Roque

O Diário de Anne Frank é um documentário da Segunda Guerra

Mundial, onde a autora é a própria protagonista da história e relata com

detalhes o massacre dos judeus.

Anne era uma jovem e, como toda a jovem, sonhava com um futuro

brilhante. Em seu décimo terceiro aniversário ganhou de presente um diário

onde começou escrever sobre sua vida, dos parentes e amigos. Descreve

também sua vida escolar. Contava com seu diário para desabafar suas

alegrias e tristezas. Mais tristezas do que alegrias, e para isso conta também

com sua amiga imaginária Kitty.

Anne era filha de Otto e Edith e tinha uma irmã, Margot. De acordo

com Anne, seu relacionamento não era muito amável e tolerante com sua

mãe. Havia um desentendimento constante entre as duas. Ela achava que a

mãe amava e protegia mais a irmã, Margot. Já com o pai, Otto, era diferente,

tinha na figura paterna um companheiro e amigo nas horas difíceis e

complicadas de sua vida. O pai tratava as duas filhas igualmente, sem

preferências.

Em seu diário Anne relata de forma clara o sofrimento e a

perseguição dos judeus na guerra. Uma guerra liderada por Hitler, um

nazista, sem alma e sem coração. E por causa deste homem Anne e sua

família se viu obrigada a sair do país.

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Anne e seus familiares ficaram escondidos no Anexo Secreto, um

esconderijo onde eles não viam nem o pôr-do-sol. Neste esconderijo,

conheceram outras pessoas que também estavam escondidos. E Anne

perguntava que crime havia cometido para estar naquela prisão.

Tinha dias no Anexo Secreto em que eles não podiam usar o banheiro

e suas necessidades fisiológicas tinham que ser feitas em uma lata. Um

detalhe, era uma lata para todos. Confinada ela conta intrigas e as desilusões

de todos que ali estão. Ela também se apaixona e se pergunta se sobreviverá

a este terrível massacre.

O Diário de Anne Frank traz uma linguagem simples e de fácil

compreensão. É uma narrativa que revela a crueldade e o poder de liderança

de um homem, Hitler, para com um povo humilde e sofredor.

É um livro para todos os públicos, pois nos leva a refletir sobre as

atitudes e comportamentos do ser humano e nos conta com detalhes fatos

históricos que aterrorizaram o mundo. É a voz de uma protagonista que fala

pelos seis milhões de judeus que foram mortos.

Quando você está lendo o livro parece que você está escutando o

choro e o lamento dessas pessoas. Que sofrimento! Meu Deus! Um

sofrimento que poderia ter sido evitado, se houvesse mais união e Deus no

coração dos homens.

Aproveito o ensejo para dizer: “Temos tudo e mesmo assim somos

egoístas e insatisfeitos com tudo, seria melhor agradecer do que reclamar”.

“Deus não lhe dá o que você pede e sim o que você precisa”.

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Esaú e Jacó – Machado de Assis

Uma alegoria das disputas políticas

Professora Fátima Pereira

EMEF Professor Tibério Justo – São Roque

Mais uma vez Machado de Assis inventa uma nova forma de narrar.

Esaú e Jacó, seu penúltimo livro, escrito em 1904, pode não ter a mesma

reputação de Dom Casmurro ou Memórias Póstumas de Brás Cubas, mas não

deixará o leitor desapontado.

A “Advertência”, que abre o livro, apresenta o autor hipotético da

narrativa: “Quando o conselheiro Aires faleceu, acharam-se-lhe na secretária

sete cadernos manuscritos, rijamente encapados em papelão [...] Tal foi a razão

de se publicar somente a narrativa. Quanto ao título, foram lembrados vários, em

que o assunto se pudesse resumir, Ab ovo, por exemplo, apesar do latim; venceu,

porém, a ideia de lhe dar estes dois nomes que o próprio Aires citou uma vez:

Esaú e Jacó”, mas em muitas passagens o foco narrativo muda, o narrador

deixa transparecer suas opiniões, utilizando da primeira pessoa e até chega a

descrever Aires com um pouco de desdém, ao referir-se às suas posições

sempre dúbias, concordando com todos, mesmo que suas opiniões sejam

contraditórias.

Outro fator interessante nessa obra é o diálogo com o leitor, ou

melhor, leitora, já que o “leitor incluso” na narrativa é apresentado em geral

como uma mulher: “O que a senhora deseja, amiga minha, é chegar já ao

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capítulo do amor ou dos amores, que é o seu interesse particular nos livros [...]”

Aqui, talvez Machado brinque com o fato que as mulheres é que formavam a

maioria do público leitor de romances daquela época.

O título do livro remete ao mito bíblico de Esaú e Jacó, filhos de

Rebeca, que já brigavam desde o ventre, e de acordo com a profecia, seriam

líderes de duas grandes nações. Os filhos gêmeos de Natividade, assim como

os do mito bíblico, brigam desde o ventre e à medida que crescem, suas

personalidades se mostram avessas: Paulo é impulsivo e arrebatado; Pedro é

dissimulado e conservador. A disputa entre os dois se passa até nas questões

amorosas, ambos se interessam por Flora, filha de um casal de amigos de

seus pais.

Embora Machado ficasse distante das questões políticas, já que era

funcionário público, estando o Rio de Janeiro fervilhando de divergências

políticas, por época da Proclamação da República, ele apresenta, através da

rivalidade dos irmãos, uma alegoria das disputas políticas brasileiras daquele

tempo, já que, quando adultos, a causa principal de suas divergências são

políticas, Paulo é republicano e Pedro, monarquista. Nesse contexto, pode-se

dizer que o Conselheiro Aires é um alter-ego de Machado de Assis, de quem o

autor se vale para emitir opiniões e posicionamentos, acerca da política e

sociedade da época.

De menino pobre e de pouco estudo a um gênio da literatura

brasileira, Machado de Assis (1839-1908) é, sem dúvida alguma, um dos

maiores escritores brasileiros, aliás, da literatura universal. Seus enredos bem

articulados, sua inventividade narrativa, as questões humanas dissecadas

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através de personagens tão bem construídos, fazem de seus livros obras-

primas, principalmente do período realista. Para quem ainda não leu, Esaú e

Jacó será uma excelente oportunidade de entrar no universo machadiano.

_____________________________

ASSIS, Machado de Assis. Esaú e Jacó. São Paulo: Globo, 1997

http://bdm.bce.unb.br/bitstream/10483/2819/1/2011_GenarioVianaFilho.pdf

http://www.alvinews.com.br/coluna/Literatura/Vanderlei/O_Genio_que_nasceu_no_morro.html

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Gabriela, Cravo e Canela – Jorge Amado

Tão explosiva na sua originalidade quanto nas suas adaptações1

Professora Diana Siqueira Liberatti2

EMEF Professora Sonia Maria de Abreu Ghilardi – São Roque

Escrita por Walcir Carrasco, a adaptação de Gabriela, Cravo e Canela,

de Jorge Amado, volta às telas globais depois de trinta e sete anos. Tão

intensa e polêmica quanto o foi sua personagem no romance, assim é

Gabriela neste novo veículo, embora por motivos diferentes. Interpretada

inicialmente por Sônia Braga, a mulata agora foi vivida por Juliana Paes. Este

fato, por si só, já foi motivo de contenda para os fieis à trama de 1975 e que

revisitaram a história atualmente. Carrasco, no entanto, argumentou que “A

história de Gabriela é um clássico contemporâneo. E, por ser um clássico, assim

como uma obra de Shakespeare, pode ser contada de diversas maneiras”3.

Embora alguns gostem mais da Gabriela original nas telinhas,

enquanto outros a admiraram na pele de Juliana Paes, o que deve ficar claro

é que ambas são releituras do romance. Este sim traz a personagem aos olhos

do grande Jorge Amado.

_____________________________

1 Resenha desenvolvida para o curso EPV – Estudar pra valer!: Projeto desenvolvido com os professores da

Rede de Educação da Prefeitura da Estância Turística de São Roque – SP, em parceria com o CENPEC.

2 Professora da rede de educação pública da Prefeitura da Estância Turística de São Roque – SP, e

participante do projeto EPV.

3 http://revistaepoca.globo.com/cultura/noticia/2012/05/gabriela-ganha-sua-segunda-versao-para-

televisao.html

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Nascido na Bahia, o autor dispensa apresentações mais profundas. É

o literato brasileiro mais traduzido pelos quatro cantos do mundo, e este

romance inaugura “uma nova fase na obra dele”4, de acordo com O Globo.

Intitulado Gabriela, Cravo e Canela, o livro conta a história de uma menina-

mulher que saiu do sertão com seu tio em busca da vida melhor vinda do

progresso da região do cacau. Chegando a Ilhéus, ela se deixa estar na feira, o

lugar onde os moradores locais procuravam funcionários. E é aí que Nacib, o

árabe, a encontra, suja e maltrapilha, contratando-a para cozinheira.

Inicialmente, não nota sua beleza, mas após um banho ela se revela

aos olhos dele, e de toda a cidade. Conquistando em primeiro lugar sua

cozinha, logo chega a sua cama, e com o passar do tempo, leva-o ao

casamento.

Retratando a década de 1925, Gabriela, Cravo e Canela nos mostra a

estrutura político-social que imperava, ou seja, os grandes coronéis do cacau,

as mulheres submissas, a política a mercê do coronelismo e seus jagunços. E

em contraponto às tradições, a mudança que chega na pele do forasteiro, no

ímpeto do jovem, na coragem do destemido.

Estas transformações refletem o próprio espírito de Jorge Amado à

época de sua escrita. O Globo afirma que “a partir deste romance, o autor

atenua o conteúdo político que marcou seus primeiros livros para dar ênfase à

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4 http://oglobo.globo.com/revista-da-tv/juliana-paes-da-nova-vida-gabriela-em-novela-da-globo-

4936140#ixzz272k6c8c6

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mistura racial, ao erotismo e a uma percepção do mundo”5, com destaque para

grandes figuras femininas. Gabriela surge retratando as mulheres como

“agentes do seu próprio desejo” (ibidem), donas de seu próprio destino. Tal

qual o autor se sentia em relação a si mesmo e sua trajetória militante

naquele momento, seu primeiro livro após deixar o Partido Comunista. A

publicação da obra rendeu ao grande literato os prêmios Machado de Assis e

Jabuti, e posteriormente seu sucesso lhe encaminhou para a Academia

Brasileira de Letras (1961).

Embora “a moral e os bons costumes” imperasse na Ilhéus de

Gabriela, lhe imputando uma vida cheia de regras, ela não é suscetível ao tão

“sonhado modelo de senhora da sociedade”. Antes, sua liberdade lhe permite

amar de maneiras diferentes, e várias pessoas, pois compreende sentimento

como algo não excludente. Isto a leva a uma vida considerada adúltera, o que

coloca em conflito seu casamento com Nacib. Descasados, Nacib tenta se

encontrar sem Gabriela e entender sua conduta. Ela, por sua vez, sozinha,

tenta entender e/ou compreender as regras morais que permeiam as

relações. Ou melhor, a voz do narrador, por meio destas reflexões dos

personagens nos leva a estas tentativas.

A liberdade da mulher, tão ousada frente aos costumes da época, e

ao mesmo tempo o fazendo tão instintivamente por meio de Gabriela,

fizeram desta obra algo inesquecível. Ela ainda traz a pujança da mudança,

tão arrebatadora quando promove transformação.

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5 Idem.

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Grande Sertão: Veredas – Guimarães Rosa

Uma grande aventura na companhia de jagunços pelas veredas do sertão

EMEF Prof.ª Maria José Ferraz Schoenacker

Professor Francisco de Assis Fernandes

“Mire e veja” como é esse caminhar pelo grande sertão. Veredas

tocaiadas, caminhos ermos, silêncios perturbadores, porvir eminentes que se

alargam por detrás de cada arbusto. É o Grande Sertão: Veredas, do escritor

mineiro João Guimarães Rosa. Um romance permeado de mistérios que

inflamam ou aguçam um quê de suspense que se desvenda, lentamente, a

cada colóquio de Riobaldo em sua narrativa carregada de estampidos secos,

voos repentinos de aves noturnas e ilustradas por reflexões de um

protagonista intrigante.

O mestre das Minas Gerais conduz o leitor quase que pela mão,

mostrando-lhe os detalhes da geografia do lugar e nela situando personagens

perturbados e acontecimentos inesperados de forma meticulosa. É um texto

tênue em que se sequencia a condição humana em seu meio. Riobaldo é

talvez a tradução da aspereza da vida sertaneja da época naqueles rincões,

sob o domínio de contumazes seres que faziam valer a qualquer custo suas

próprias leis. Apesar de chocante, a violência não chega a ser “um-sem-

razão”. A luta é do ser com sua natureza, numa busca de sentido para nortear

a convivência.

Uma narrativa rica de personagens como Riobaldo, um jagunço

meticuloso e “filósofo” de si mesmo, que procura entendimento das coisas da

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vida; Joca Ramiro, Hermógenes, Zé Bebelo, entre outros. E Diadorim, o

indecifrável, mistério em pessoa, só esclarecido no término da narrativa. Um

grande desafio, pelo qual vale ler essa obra universal.

O foco narrativo é em primeira pessoa e os diálogos são travados

entre Riobaldo e um interlocutor por trás das entrelinhas, que se caracteriza

somente pelos comentários do próprio protagonista, Riobaldo, o narrador

que alimenta uma certa (e profunda) paixão pelo “ente” Diadorim.

Ler essa história é uma grande e prazerosa descoberta. Descoberta

dos mistérios dos rincões mineiros, dos falares e costumes dessa região de

rica e exuberante cultura. É um passeio que vale por si e pela forma de

escrever desse gênio universal da nossa literatura.

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O Guardião de Memórias – Kim Edwards

Mistério, amor, medo, traição! Que sentimentos são esses?

Professora Letizia Aparecida Cecconi Pedroso

EMEF Professor Tibério Justo – São Roque

Nunca se ouviu falar tanto em inclusão social como nos dias atuais. A

sociedade, a mídia, as escolas e as empresas a cada dia mais se envolvem em

projetos ligados a este assunto. Portanto, que mistério traz o livro O Guardião

de Memórias, que relata a história de David, um médico muito bem sucedido

e respeitado por seu profissionalismo e humanismo?

David, ao fazer o parto de sua esposa, percebe que um de seus filhos

gêmeos, a menina Phoebe, nasce com Síndrome de Down. Desconfortado

com aquela situação e sem pensar nas terríveis consequências que esse ato

traria a sua família, pede que sua enfermeira Caroline leve sua pequena filha

e entregue-a a um orfanato em uma pequena cidade distante dali,

separando-a definitivamente do seio familiar. Pouco depois, conta à mãe que

sua filha havia falecido após o parto, sobrevivendo o outro filho, Paul.

A autora, Kim Edwards, escreveu uma coleção de contos intitulados

The Secrets of the Fire King e foi indicada para o Prêmio Pen/Hemingway de

1998. Pós-graduada no Seminário de Escritores de lowa, ela é professora-

assistente de inglês na Universidade de Kentuck. Seu livro O Guardião de

Memórias é uma fascinante história de vidas paralelas que vai emocionar o

leitor com sua trama surpreendente.

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Jane Eyre – Charlotte Brontë

Amor, sofrimento e superação

Coordenadora Pedagógica Daniela Cristina Coneglian

EMEF Professora Lina Bosi Canova – Lençóis Paulista

Jane Eyre tem autoria de Charlotte Brontë, escritora inglesa cuja

reputação foi reconhecida através desta obra como uma das grandes

escritoras de ficção da época. De todas as irmãs Brontë, Charlotte foi a que

teve vida mais longa e atingiu maior fama. Entre seus livros podemos citar O

Professor e Villette. Em Jane Eyre, Charlotte introduziu a primeira heroína feia

da ficção e alcançou sucesso imediatamente. A autora é irmã de Emily

Brontë, escritora de O Morro dos Ventos Uivantes. Na personagem “Jane

Eyre” a autora encontrou um escoadouro para os tormentos de sua natureza,

tornando o livro autobiográfico.

Jane Eyre foi publicado pela primeira vez em 1847, na Inglaterra, e

tornou-se uma das obras mais lidas do século XIX. Hoje este romance é

considerado um dos grandes clássicos da literatura inglesa de todos os

tempos. A obra trata da narração da própria personagem Jane Eyre, que

conta sua história de vida de forma muito emocionante, desde a infância até

os seus 30 anos de idade, aproximadamente.

Filha de um pastor missionário com a herdeira de uma das maiores

fortunas da Inglaterra do século XIX, Jane Eyre fica órfã com menos de um

ano de idade. Como na ocasião do casamento de seus pais, seus avós

maternos haviam deserdado sua mãe por serem contra o matrimônio com

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um pobre missionário, a menina fica abandonada. A caridade a recolhe e a

encaminha aos cuidados de seu tio materno, homem muito rico, com família

constituída (esposa e filhos), mas que também morre ainda muito jovem. O

cuidado com a criança fica sob a responsabilidade de sua esposa, que a

rejeita completamente e se nega a dar qualquer manifestação de carinho à

pequena órfã. Se não bastasse o contexto a que é submetida, a menina ainda

teve que suportar os maus tratos dos primos, que a ignoravam e a

espancavam frequentemente.

Quando completa a idade de dez anos, a pobre garota, que a esta

altura já desenvolveu um gênio bastante difícil, impulsivo e agressivo, é

mandada para um colégio, uma espécie de internato para meninas órfãs,

onde sofreu muito com o frio, a fome pela escassez de comida, e as duras

regras pregadas pelo local. A personagem ficou ali por oito anos (seis como

aluna e dois como professora, pois se destacou muito nos estudos). Lá ela

conheceu pessoas que a auxiliaram a abrandar seus sentimentos, controlar

sua ira, ser mais tolerante; enfim, conheceu o sentimento de amizade que

tornou seu coração um pouco mais acolhedor.

Ao final destes oito anos, depois de já ter perdido algumas de suas

referências no colégio, tanto pela morte causada pela tuberculose que ali

havia se instalado, quanto pela partida de pessoas queridas que tomaram

outro rumo para suas vidas, Jane resolve trabalhar em outro local. Consegue,

então, emprego como professora de uma menina, Adéle, uma francesinha de

dez anos que é criada por um benfeitor na Inglaterra.

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Tal benfeitor, Mr. Rochester, é um homem muito afortunado, de boa

educação, porém feio e solitário. Não tardou muito para que Jane se

apaixonasse por seu patrão. O amor é correspondido, mas há um terrível

mistério no terceiro andar da mansão, de onde se ouvem vozes, gritos, risos

demoníacos e, certa vez, partiu de lá um incêndio no quarto de seu patrão e

uma tentativa de assassinato. Tudo isso deixou Jane com muito medo e

aflição por não conseguir uma explicação plausível para o caso.

No dia do casamento com seu patrão, Jane finalmente descobre qual

o mistério que cerca o terceiro andar da mansão, que a impede de contrair o

matrimônio com Mr. Rochester e a faz fugir da casa no meio da noite.

A personagem, então, passa três dias e três noites ao relento,

molhada da chuva e faminta, sem conseguir a ajuda de ninguém, em terras

muito distantes quando, já quase morrendo pela fome e pela fraqueza,

encontra acolhimento e ajuda na casa de três pessoas (duas irmãs e um

irmão), que mais tarde descobre serem seus parentes e, como que por ironia

do destino, Jane vê sua vida ser transformada completamente, alcançando

patamares nunca antes sonhados.

Porém, em seu coração ainda há a mesma inquietude já antes

conhecida, seu amor por Mr. Rochester ainda a atormenta no mais profundo

de sua alma. Resolve, então, passado um ano de sua fuga desesperada,

procurar notícias de seu amado.

Emocionante em seu enredo, rico em detalhes do início ao fim e de

um contexto envolvente pelo romantismo e mistério, trata-se de uma leitura

que sobrevive de forma muito contagiante apesar da passagem do tempo.

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O livro traz em sua linguagem um vocabulário um pouco ultrapassado

e com palavras um tanto difíceis para o nosso tempo, mas o amor sempre é

atual e compreensível a todos, portanto, este detalhe torna-se superável com

o passar dos acontecimentos narrados.

É uma leitura que vale a pena, pois nos faz refletir sobre a vida, sobre

as mudanças que nos podem ocorrer a qualquer momento e sobre a maneira

que vamos nos colocar diante das novas situações apresentadas pela vida

sem perdermos a nossa própria essência humana e religiosa.

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O Jardim Secreto – Frances Hodgson Burnett

Natureza, superação e sentimento

Coordenadora Pedagógica Daniela Cristina Coneghian

EMEF Professora Lina Bosi Canova – Lençóis Paulista

Escrito por Frances Hodgson Burnett, nascida em Cheetham Hill,

Manchester, Inglaterra, no dia 24 de novembro de 1849 e que emigrou para

os Estados Unidos em 1865, O Jardim Secreto é uma de suas mais conhecidas

obras, ao lado de O Pequeno Lord e A Princesinha, os quais consolidaram

prestígio à escritora em literatura infanto-juvenil.

Esta obra, assim como A Princesinha, foram mais tarde transformados

em filmes. O Jardim Secreto foi originalmente publicado em 1912, editado no

Brasil e traduzido de forma muito bela por Ana Maria Machado.

Trata-se da história da menina Mary Lennox, garota nascida na Índia

de origem inglesa, filha de um oficial com sua belíssima esposa que só se

preocupava com festas e eventos sociais e deixava os cuidados com a

pequena a cargo dos empregados da família. Uma tragédia acontece e a vida

desta garota desagradável, malcriada, cheia de vontades e muito feia, toma

outro rumo bruscamente. Órfã, é levada para a Inglaterra para viver com o

tio, homem muito abastado que vive em um casarão de cem quartos e com

uma profunda tristeza em seu coração, ficando a pequena sob os cuidados da

governanta pouco interessada nela.

Apesar de ser uma criança de difícil trato, Mary preserva uma

característica comum à infância: é muito curiosa. A curiosidade a fez

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bisbilhotar todo o casarão, todo o seu entorno e alguns empregados da casa,

até descobrir segredos nunca antes revelados. Descobriu que em um dos cem

quartos havia um menino, seu primo, muito doente, solitário e de mau-

humor feito ela. Descobriu também a existência de um jardim (que dá título

ao livro), cujas portas ficavam trancadas e ao qual ninguém tinha acesso.

O efeito causado pela paisagem do local, a amizade entre os dois e o

menino Dickon (irmão de uma criada da casa) e os segredos sobre o jardim

secreto fizeram florescer em ambos uma mudança de cunho social, físico e

psicológico, metaforizado pelas mudanças ocorridas no jardim secreto, do

inverno para a primavera, tornando-se o tema central do livro que, a cada

página, surpreende pela riqueza e doçura demonstrada nos detalhes e nas

falas.

Uma história realmente emocionante e que nos faz refletir sobre

nossas atitudes, escolhas, sobre a maneira como nos comportamos diante

das mudanças; enfim, um livro que nos faz contemplar o belo, os detalhes, a

natureza, e cuja qualidade sobrevive apesar da passagem do tempo.

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O Menino do Pijama Listrado – John Boyne

Inocência, amizade e tragédia - O nazismo provando de seu próprio veneno

Professora Ana Clara Ranzani

EMEF Professora Guiomar Fortunata Coneglian Borcat – Lençóis Paulista

O Menino do Pijama Listrado, John Boyne, Companhia das Letras,

2008, é uma versão infantil e inocente de um período histórico trágico: o

Holocausto, durante a Segunda Guerra Mundial.

Bruno é uma criança alemã de nove anos que vive em sua luxuosa

residência em um belo bairro de Berlim, com seus pais e sua irmã mais velha,

Gretel.

Depois de um jantar especial com o “Fúria”, título atribuído pelo

menino a Adolf Hitler, todos são informados de que irão se mudar para longe

de Berlim, pois seu pai, um alto oficial do exército nazista, fora transferido de

posto.

Contrariado por deixar seu lar e seus amigos, Bruno e sua família

chegam a um campo de trabalho longínquo, rodeado por uma paisagem nada

agradável e bem diferente dos belos jardins de Berlim.

Todos sofrem no início com a adaptação, mas o garoto logo percebe

que, da janela de seu quarto, era possível observar uma cerca que separava

sua atual residência de um local em que várias pessoas com expressões bem

infelizes trabalhavam o dia todo e curiosamente vestiam-se da mesma forma:

com um pijama listrado.

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Tentado por sua curiosidade aliada ao tédio, Bruno decide explorar as

redondezas de “Haja Vista”, nome que todos atribuíam àquele lugar em

segredo, e encontra outro garoto da mesma idade e nascido no mesmo dia

em que ele: o judeu Shmuel. Os dois começam uma grande e secreta

amizade, que culmina quando Bruno decide explorar o outro lado da cerca.

Apesar de tratar de um tema muito complexo, a obra possui uma

linguagem muito despreocupada e até excessivamente simples, já que reflete

a visão de uma criança que permaneceu alheia à realidade em que estava

inserida. Um menino que procurava explicações para si mesmo, de acordo

com as relações lógicas que formava a partir do que observava e ouvia dos

adultos.

Por outro lado, é interessante observar os mecanismos que o

tradutor utiliza para transmitir a ideia de que o garoto desconhecia tudo o

que o cercava: o título de Hitler (Fúria, ao invés de Führer) e do lugar onde

vivia (Haja Vista, ao invés de Auschwitz).

Uma história de ficção emocionante, que trata dos verdadeiros

valores do ser humano e mostra o sofrimento da família de um oficial de

Hitler destruída pelo próprio nazismo.