Cobaia Setembro nº 116

16
No Jornalismo não há uma regra fixa 02 Especial Esporte Entretenimento 07 JORNAL LABORATÓRIO DO CURSO DE JORNALISMO DA UNIVALI Itajaí, setembro de 2012 Edição 116 Distribuição Gratuita Ombudsman Cobaia Jornal 04 Encontro traz jornalistas de renome Debate sobre a profissão marca a Semana de Jornalismo na UFSC Monike Furtado Márcia Regina Ferreira Superação e belas paisagens na travessia a nado entre ilha e continente 12 Desafio de natação em Bombinhas Série encena jornalismo utópico The Newsroom critica forma como os Estados Unidos encaram a sua soberania Divulgação Camila Laís OPA 2012 sem dúvidas Evento oferece palestras a mais de 20 mil estudantes do Ensino Médio das redes pública e privada 08

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Jornal Cobaia - jornal laboratório do Curso de Jornalismo da Univali, edição nº 116, mês de Setembro.

Transcript of Cobaia Setembro nº 116

No Jornalismo não há uma regra fixa 02

EspecialEsporte Entretenimento

07

JORNAL LABORATÓRIO DOCURSO DE JORNALISMODA UNIVALIItajaí, setembro de 2012Edição 116Distribuição Gratuita

Ombudsman

CobaiaJorn

al

04

Encontro traz jornalistas de renomeDebate sobre a profissão marca a Semana de Jornalismo na UFSC

Monike FurtadoMárcia Regina Ferreira

Superação e belas paisagens na travessia a nado entre ilha e continente

12

Desafio de natação em Bombinhas Série encena jornalismo utópicoThe Newsroom critica forma como os Estados Unidos encaram a sua soberania

Divulgação

Camila Laís

OPA 2012sem dúvidas

Evento oferece palestras a mais de 20 mil estudantes do Ensino Médio das redes pública e privada

08

autor de resenhas televisivas e cinematográficas aborda neste número a nova série da HBO – The Newsroom. Tudo a ver com a imprensa, os jornalistas e os aprendizes do jornalismo.

E por falar em aprendiza-do, lições de superação encon-tram-se estampadas nas pági-nas 12 e 13, espaço dedicado à maior travessia de natação em mar aberto da América Latina. A acadêmica Márcia Cristina Ferreira, outra frequentadora assídua das nossas edições, conta tudo sobre o desafio e a capacidade de resistência dos atletas.

Resistência tem a ver com saúde e bem estar, dois assun-tos que também fazem parte das nossas pautas em maté-rias sobre acupuntura e sexo. E tem mais: comportamento, internet, radiojornalismo, ...

Vá em frente. Tomara que você goste.

Jane Cardozo da Silveira*

Escolher uma profissão. Eis aí um momento de-cisivo e difícil na vida.

O que fazer para torná-lo menos angustiante e até – por que não – prazeroso? A Univali responde a essa pergunta com uma grande festa : a Opção Profissional por Área, ou OPA, como é conhecido o evento que uma vez ao ano reve-la os bastidores dos cursos de gra-duação a gente de todas as idades e interesses. Mas, principalmente, àqueles jovens em fase de defini-ção profissional.

Porque mobiliza os alunos, promove interação com a comu-nidade e dá um gás ao ambiente acadêmico, OPA é destaque nesta edição do Cobaia, em reportagem assinada por Monike Furtado. É ela quem assina também as ma-térias especiais sobre a Semana de Jornalismo da UFSC, atuando como uma espécie de enviada es-pecial. Monike se apresentou para um estágio voluntário em nosso jornal-laboratório e agora se junta

Criticar um jornal é tarefa difícil

Carlos Golembiewski*

IN - Agência Integrada de ComunicaçãoItajaí, setembro de 2012. Distribuição gratuita

EDIÇÃOJane Cardozo da Silveira Reg. Prof. SC 00187/JP

FOTO PRINCIPAL DE CAPA Camila LaísPROJETO GRÁFICO Raquel CruzDIAGRAMAÇÃO Gabriela Florêncio GRÁFICA GrafinorteTIRAGEM 2 mil exemplaresDISTRIBUIÇÃO Nacional

02 JORNAL COBAIA Itajaí, setembro de 2012

à estagiária Gabriela Florêncio na tarefa de elaborar cada edição. É um importante reforço porque vai atuar de maneira sistemática em vez de fazer participações even-tuais. Também se junta a equipe, como Ombudsman, o colega Car-los Golembiewski. Bem vindo!

Esperamos ter mais adesões, iguais a essa ou em forma de co-laborações fixas, como a que é feita por Rodrigo Ramos. Nosso

A professora Jane me convidou para fazer a crítica do jornal Cobaia de agosto – a edição de número 115 que tem como man-chete principal COSPLAY: UMA NOVA MANIA? Quero dizer que fiquei muito feliz com o convite, afinal, há 18 anos faço parte desse grupo chamado Curso de Jornalismo da Univali.

Ao longo desse tempo vivi muitas histórias, a maioria alegres e algumas tristes. Todas, entretanto, foram de muito aprendiza-do. O que mais me orgulha hoje é ver a quantidade de profis-sionais que legamos ao mercado profissional e acadêmico. São quase mil jornalistas que atuam nas mais diferentes funções e veículos de Comunicação em Santa Catarina e no Brasil. Fize-mos parte também da formação de pessoas que hoje são Mestres e Doutores, e lecionam em faculdades e universidades.

Em relação ao jornal Cobaia, considero a função de criticá-lo algo extremamente difícil. Isso porque um periódico nada mais é do que uma grande representação da realidade. E que por si só pode ser feita de várias maneiras. É como se fosse um desenho. Cada pessoa faria do seu jeito. Além do mais, no Jornalismo não existem regras fixas. As coisas mudam a cada momento. Além disso, cada pessoa que lê o jornal, o faz da sua maneira. A apro-priação de cada mensagem é única como nos alerta Dominique Wolton.

Dito isso, quero dizer que gostei muito dessa última edição, principalmente da foto de capa. Entretanto, acho que a foto não representa o que tem de mais importante no jornal. Talvez a foto principal e a manchete de destaque pudessem ser sobre o escri-tor Mario Prata. Afinal, ele ganhou cinco páginas no periódico, contra uma para a matéria do COSPLAY. E a foto do escritor po-deria ser maior e não do mesmo tamanho da de outras matérias.

Em relação à fonte usada nas submanchetes: todas poderiam ser maiores, dando mais destaque aos assuntos chamados. A li-nha de apoio da manchete principal também ficou pouco cha-mativa. Letras pequenas e de cor preta. Por enquanto era isso. Espero encontrá-los numa próxima edição.

Bom trabalho a todos!

*Carlos Golembiewski, jornalista formado há 24 anos pela Unisinos, Doutor em Comunicação Social pela PUC do Rio Grande do Sul.

*Editora - Reg. Prof. SC 00187/JP

Ombudsman

Expediente

Espaço do Leitor

JORNAL LABORATÓRIO DO CURSODE JORNALISMO DA UNIVALI

Fica esperto!

Leve o livro

Cine RI Encontro de Jornais-laboratório de SC

Música na Biblioteca

Sabe aquele livro que você já leu 3 vezes, e ago-ra está parado juntando poeira na estante da sala? Chegou a hora de passá-lo adiante e incentivar a democratização da leitura. Basta abandoná-lo em um local público para que ele corra o mundo. Esse é o esquema do bookcrossing (“cruzamento de livros” – sem tradução em português). Qualquer pessoa que se interessar pelo livro pode levá-lo, inclusive você. Mas, depois de lido ele tem que ser passado novamente adiante. Antes de largá-lo para outro leitor você cadastra a obra no site do bookcrossing para rastreá-la e põe uma dedicató-ria carinhosa para que quem pegue o livro tome conhecimento do projeto, possibilitando conhecer pessoas de todo o mundo.

No Brasil, o projeto existe desde 2003, mas ain-da tem poucos adeptos. A Univali apoia a ideia, você pode começar a participar doando o livro nos pontos de arrecadação espalhados por toda a uni-versidade.

Para incentivar a conversa entre Cinema e Re-lações Internacionais acontece toda quarta feira o Cine RI. As sessões tem início às 15 horas, na sala 309 do bloco de Direito. Os filmes veiculados envolvem temas políticos, sociais, internacionais e questionam sistemas de valores e tradições con-servadoras.

Com o professor Paulo Melo à frente do pro-jeto, neste ano os filmes são escolhidos conforme os países: um ciclo de filmes chineses, depois, do Oriente Médio, Espanha e Portugal, África, e as-sim sucessivamente.

Para Melo, “O Cine RI oferece aos estudantes elementos teórico-metodológicos que possibili-tem leituras de filmes a partir de determinados contextos internacionais”. Após a exibição do filme, o professor levanta questões e possibilita o debate e a troca de informações, fundamentais para a formação acadêmica e a extensão do co-nhecimento de mundo por meio do cinema.

A 6ª edição do Encontro de Jornais-labora-tório de SC se realiza na Universidade do Vale do Itajaí pela primeira vez. Na pauta está o pro-cesso de elaboração, produção e divulgação dos jornais-experimentais. O encontro será no dia 24 de outubro, na sala 201 do Bloco C2. Como todos os cursos de Jornalismo de Santa Catarina estão convidados a participar, a ideia é promover melho-rias através do diálogo. A troca de experiências entre alunos e professores é fundamental para o aperfeiçoamento da prática jornalística mediante reflexões e mudanças de atitude no modo de fazer jornalismo experimental.

Para fugir um pouco da correria da semana e relaxar, rola na bilbioteca, toda terça-feira, um sonzinho ambiente. Trata-se de uma parceria en-tre a Biblioteca Central Comunitária e o Setor de Música da Univali para promover a arte e a cultu-ra dentro do campus. As canções são de boa qua-lidade e executadas por acadêmicos do Curso de Música e demais participantes dos diversos gru-pos musicais da Univali.

Tem algum assunto que você gostariade ler nas próximas edições?Conte-nos! E-mail: [email protected]

Editorial

OPA revela os

bastidores dos cursos

de graduação a gente

de todas as idades e

interesses

OPA, colaboradores e outras histórias interessantes

Acervo do Setor de Arte e Cultura

03JORNAL COBAIAItajaí, setembro de 2012

Campus

Demis Pantoja, Jéssica Canez e Luiza Dutra Garcia*

“Surfar é ótimo!”. Essa frase é dita com muita frequência pelos praticantes deste esporte tão radical e de tanto contato com a natureza. Os

surfistas dizem que quando estão na água esquecem os pro-blemas, e relatam que o esporte é uma verdadeira terapia. Ainda de origem desconhecida, o surf tem seus primeiros relatos na literatura no século XVIII, quando o navegador James Cook descobriu que no arquipélago do Havaí já exis-tiam surfistas. O esporte ganhou fama no começo do século XX e foi trazido para o Brasil em meados de 1938, hoje o surf é praticado por crianças, jovens, adultos e até idosos! Sabe-se que o surf é um esporte que melhora as condições cardiovasculares, o equilíbrio motor, e a força muscular, além de proporcionar aos seus praticantes um ótimo contato com a natureza. Mas apesar de tantos benefícios o surf quando não praticado com as devidas precauções pode gerar grande desconforto para quem o pratica.

Frequentemente os surfistas reclamam de dores na colu-na lombar e cervical. Elas se devem ao tempo que o surfista fica deitado em cima da prancha, que recruta os músculos posteriores da coluna, gerando assim hiperlordoses cervical e lombar. Outra grande queixa dos praticantes do surf são as dores no ombro, que acontecem pelo movimento de rotação repetitivo da remada. Além destes problemas, os surfistas sentem fortes dores nos joelhos e no quadril, que são causa-das pela força de impacto gerada durante as manobras. Os joelhos sofrem repetidas rotações para que o surfista possa fazer esses movimentos, isso gera o que chamamos de joelho em valgo, ou seja o joelho “vira” para dentro.

Para melhorar o desempenho do surfista é recomenda-do aquecimento antes de entrar na água. O aquecimento aumenta o fluxo sanguíneo para os músculos, acelera a fre-quência cardíaca preparando o sistema cardiovascular para o exercício e melhora a velocidade de reação no exercício. Após a prática do surf, também é indicado alongamento de aproximadamente 20 segundos. Estes são importantes pois aumentam a flexibilidade muscular. Deve-se alongar a colu-na, pernas, pescoço e braços tomando cuidado para que o alongamento seja na direção contrária a do movimento que será feito durante o surf.

Não existe uma postura certa para a prática deste espor-te, mas os exercícios de alongamento podem ajudar muito o surfista a melhorar seu rendimento e ter uma vida mais saudável. Além destes cuidados, os praticantes deste espor-te devem se preocupar com a exposição ao sol. Com estas precauções não terá onda ruim.

*Acadêmicos de Fisioterapia

Artigo

“Apesar de tantos benefícios, o surf quando não praticado com as devidas precauções

pode gerar grande desconforto para quem o pratica

Entrando na onda do corpo

Você escreve e quer participar deste espaço?Entre em contato com a gente!E-mail: [email protected]

*Jornalismo, 6º período

*Jornalismo, 6º período

Cartão traz benefícios para a comunidade acadêmica

Convergência midiática é tema de debate

No mês de setembro foi implantado na Univali o cartão universitário.

A ferramenta faz parte do pro-grama de cooperação acadêmica firmado entre a Universidade e o Grupo Santander em 2002. O car-tão começou a ser projetado no ano passado, e visa à praticidade e segurança para a comunidade acadêmica, estendendo suas uti-lidades a acadêmicos, professo-res e funcionários. Este é um ser-viço global presente em 10 países e mais de 200 universidades.

O processo de implantação mudará aos poucos o dia a dia da Universidade, começando pelo atendimento na biblioteca.

A internet está mudando os hábitos e as formas de interação das pessoas

e, em decorrência disso, os meios de comunicação são obrigados a se adaptar à era digital. Cresce o questionamento acerca da sobre-vivência das mídias convencionais, sobretudo do rádio. Partindo des-sa temática, alunos do 4º período do curso de Jornalismo, orienta-dos pela professora Liza Lopes Corrêa, promoveram em setembro um Rádio Debate. Para a conver-sa, convidaram dois profissionais da área: a jornalista Liliane Peres, da Transamérica de Balneário Camboriú e Luiz Junnior, proprie-tário do portal Vip Social do muni-cípio de Tijucas. Acadêmicos do 6º período juntaram-se à plateia no laboratório de produção de áudio da Univali e também participaram da discussão.

O bate papo teve como ponto de partida a convergência do rádio para a internet. Durante muitas décadas, o rádio foi o meio mais utilizado como fonte de informa-ção e entretenimento. Como ou-vintes fiéis, as pessoas seguiam sua rotina sempre em companhia do radinho.

Agora, com a internet, o rádio se reinventa, como fez quando do surgimento da televisão. Afinal, a

Os serviços já podem ser utlizados para o estacionamento e a retirada de livros na biblioteca

Gabriela Florêncio*

Ana Maria Cordeiro e Marcia Peixe*

O usuário poderá liberar a saída de livros e renovar empréstimos. Futuramente possibiltará o pa-gamento na tesouraria, controle de frequência, integração com transporte, identificação em computadores, assinatura digital e funções financeiras.

Para o reitor da Univali, Ma-rio Cesar dos Santos, a universi-dade tem tomado decisões a fim de “reiterar a comunidade univa-liana, e essa parceria abre novas perspectivas, formando, cada vez mais, cidadãos capazes de mudar o mundo”. A universitária de Logistica, Ethieny do Amaral, lamenta não pegar a mudança completa, porque irá se formar

no próximo semestre. Mas acre-dita que a primeira mudança, de autoatendimento na biblioteca, irá agilizar o processo evitando as grandes filas que se formam nos balcões de retirada em horá-rios de pico. A acadêmica ainda ressalta que: “O cartão facilitará a vida daqueles que usam o es-tacionamento e, se bem usado, poderá ser uma boa ferramen-ta para as chamadas em sala de aula”.

A entrega do cartão continua sendo feita na Biblioteca Central Comunitária - Campus de Itajaí, no horário das 7h30 às 22h.

interação maior entre o comunica-dor e o público possibilitada pela rede mundial de computadores é ao mesmo tempo um ganho e um desafio. Liliane Peres defende a perspectiva de que o rádio não perdeu espaço e continua tendo sua relevância para a comunidade, agora aliado à internet. “O rádio nunca vai perder o charme, nem sua função”.

Liliane lembra que antes se usava a máquina de escrever e o te-lefone, hoje trocam-se ideias com o ouvinte o tempo todo. As web rádios fazem com que a programa-ção chegue a muito mais ouvintes e ampliam a área de abrangência do veículo. Assim, estreitam a rela-ção com o público. “A internet só veio acrescentar”, afirma Liliane.

Entretanto, essa interativida-de pode ser desfavorável, princi-palmente quando o assunto é a credibilidade e o aprofundamento da informação. Luiz Junior, que trabalha com a produção de no-tícias para um portal na internet, alerta para os riscos da participa-ção ativa da comunidade sem os devidos cuidados, principalmente quando se está ao vivo. “O proble-ma é que qualquer pessoa pode ser o repórter, sem embasamento, sem formação necessária.”

Além disso, a produção jorna-

lística pode se prender ao conteú-do veiculado na rede. O radiojor-nalismo vem sofrendo com essa interferência que leva locutores a se limitarem a repassar informa-ções da web – sem confirmá-las e, muitas vezes, lendo notícias sem dar crédito a quem produziu o conteúdo. “Nós sofremos mui-to com isso no Vip, muitas vezes as rádios dão as notícias como se fossem em primeira mão, mas não dizem que a notícia foi publicada primeiro no site, acrescenta Luiz.” Ele complementa dizendo que vê nas rádios uma oportunidade de investimento, por meio da ven-da de conteúdo informativo local para as emissoras, o que garante a qualidade da informação e o in-teresse dos ouvintes. “É um ni-cho de mercado para a produção de reportagens não factuais. As pessoas querem saber o que está acontecendo na sua cidade. Assim conseguimos a fidelidade do públi-co tanto para o rádio como para a internet.”

Ao fim do debate, o que se pode concluir é que o rádio mais uma vez sobreviverá, e se anos atrás foi em muitas casas substitu-ído pela televisão, hoje ele ganha uma aliada, a plataforma online.

04 JORNAL COBAIA Itajaí, setembro de 2012

Camaleão é aquele que se camufla

São exatamente 15 horas e três minutos, dia 20 de setembro. Ao meu lado

uma moça de uns 23 anos está debruçada sobre os braços. Ela ronca. O ronco tem uns 50 deci-béis. À minha frente está o audi-tório Henrique da Silva Fontes, da Universidade Federal de Santa Catarina, e mesmo com um telão de 15x20m, somente três pessoas assistem ao documentário lá exi-bido. Tenho a sensação de que só eu tenho interesse nas palestras que viriam a seguir. Há alguns mi-nutos havia pedido informações para um rapaz de óculos. Ele es-tava sentado no chão:

- Você estuda jornalismo?- Sim – O garoto não olha para

mim.- Você sabe onde vão ser as pa-

lestras da Semana de Jornalismo da UFSC?

- Ah... Então, a gente tá enca-minhando todo mundo pra per-guntar ali no xerox, sabe onde é o xerox? – Respondo que sim com a cabeça.

Ele volta a se deliciar com as atualizações de seu Facebook. E resolvo não encarar a fila do xe-rox, porque não quero nenhuma fotocópia. Limito-me a procurar um dos tantos bancos e continuo minha leitura, já iniciada no ôni-bus.

Sempre quando venho ao Centro de Comunicação e Ex-pressão da UFSC, chamado pe-los descontraídos acadêmicos de CCE, sinto-me como um morador da cidade grande que chega à sel-va. No meio das árvores dispostas pelo campus, dezenas de alunos deitam-se no gramado curtindo o vento sul. Não falta uma rodinha de música e violão. Há sempre a galera do shortinho curto e celu-lar na mão.

Uma garota de vestido com-prido e cabelos enrolados abre uma torneira atrás de mim. Eu nem sequer havia dado conta da existência da torneira, mas a moça eu já tinha avistado e tive-mos uma conversa minutos atrás:

- Oi, você sabe onde posso me informar sobre a Semana de Jor-nalismo?

- Ah, poxa... Foi mal, não sei não. Faço Artes. – Não sei direito se ela falou artes, mas das opções que existem suponho que tenha sido isso.

Ela agora lavava uma caixa de morangos com a água corren-te. Aqueles morangos deviam ter

Monike Furtado*

Na Semana de Jornalismo da UFSC, tem que entender o clima para se adaptar ao ambiente e curtir as palestras

Jornalismo

Os alunos organizam, produzem e divulgam a Semana de Jornalismo, que está na 12ª edição

Todos os anos, as mesas de discussão trazem jornalistas de renome para interagir com o público

Monike Furtado

Monike Furtado

muito agrotóxico. A garota ficou lavando as frutas por mais de dez minutos. Aproveito quando ela sai e me levanto. Mas aí presto atenção em uma senhora que re-colhe garrafinhas de refrigerante.

- Olha só! – Ela diz, contente. – Óculos de sol. – Finjo surpresa levantando as sobrancelhas. Ela continua: - Não tem nenhum ar-ranhão. E é bonitinho, não é filha?

- É sim. – Eu respondo. Eram uns óculos com lentes redondas lembrando a década de 1980.

- Vou ver se acho alguém para devolver, né?

- Pode ser. – Respondo en-quanto ela coloca os óculos no bolso.

Fecho o livro e decido-me a procurar o auditório. A palestra mais esperada por mim é a das 17h30.

Apáticos por naturezaO site da Semana de Jornalis-

mo dizia que Thales de Menezes, da Folha de São Paulo, e Lucio Ribeiro, do Popload, iriam con-duzir o debate sobre Crítica Cul-tural. A princípio a palestra seria às 20h. Mudaram e só fui enten-der o porquê depois. Meu relógio marcava 17h35. No auditório do CCE e contando comigo, 19 pes-soas ocupavam o grande salão. Ouço as meninas da organização saudando uma mulher:

- Olá! Desculpe ter te convi-dado assim em cima da hora.

A mulher é Daniele Pastinar-ti, editora do caderno Plural do jornal Notícias do Dia – ela é um dos palestrantes. Os outros são Marcos Espíndola, colunista da contracapa do Diário Catarinen-se (formado pela Univali), e Fifo Lima, ex repórter de jornais da RBS e agora conselheiro de cine-ma. Eles substituíram os nomes anunciados, que desmarcaram o compromisso por questões pes-soais, informou Samia Smith, da organização.

O trio de palestrantes faz uma breve apresentação, bem no estilo currículo falado e abre a sessão de perguntas. Daniele explica a situação do caderno Plural. São duas repórteres mais ela como editora, fotógrafo, dia-gramador para produzir oito pa-ginas diárias sobre cultura.

- Às vezes é inevitável colocar a agenda. Mas nós nos esforça-mos para tentar fazer algo que possa abranger do pop ao erudi-to, do brega ao Cult. Ainda não

é uma publicação exemplar, mas estamos trabalhando.

Marquinhos Espíndola fala da RBS, de como surgiu a colu-na regida por ele e um pouco da sua trajetória no Diário Catari-nense.

- Estou desde 2006 na colu-na. Antes eu era subeditor do caderno Variedade e do Donna DC. Agora posso dizer que 80 a 90% do material são do estado e 60% sobre Florianópolis.

- Alô!? – Tenta contato com o microfone o assessor Fifo Lima. – Olha, vou ser bem sincero. – E começa a elencar as faculda-

des em que havia ingressado e nunca terminado. – Estava tra-balhando há muito tempo n’A Notícia, no caderno de Varieda-des, até que fui demitido. Aí eu comecei a trabalhar em assesso-ria. Não sei se assessoria é uma coisa boa ou ruim. Só que como as redações estão encolhidas, não tem muito jeito. E agora sou conselheiro de cinema. – Fifo es-panta pela sinceridade escanca-rada: - Quando alguém falar que é conselheiro de alguma coisa, vocês podem dizer: ‘Tu não faz nada, tu não interfere em nada, tu não representa nada!’ A gen-

te só tem sorte quando algum chefe realmente se preocupa com a cultura. Se não...

Fifo, segundo os alunos da UFSC, é super famoso em Flo-ripa. Ele prossegue: – Godard [o cineasta franco-suíço] uma vez falou: ‘Cultura é regra, arte é exceção’. Gosto de olhar para os jornais e encontrar arte. – O assessor é crítico quanto ao jor-nalismo. – O DC e o Noticias do Dia são bons nisso. Mas é claro que eu tô falando isso porque a Daniele e o Marquinhos tão aqui, senão estaria falando mal, né?

O riso ecoa no auditório.

Iniciativa é dos alunos da graduação

A Semana de Jornalismo da UFSC começou em 2000. São os alunos da graduação em Jornalis-mo que realizam o evento - eles se encarregam de buscar parcerias, patrocínios e convidados. É de praxe que palestras, cursos e oficinas sejam organizados pelos acadêmicos dos sextos períodos.

Em edições anteriores eles já contaram com profissionais como Marcelo Tas, Ricardo Kotscho, Marcos Uchôa, Xico Sá, Ruy Castro, Rubens Valente, Marcos Sá Corrêa, Clóvis Rossi, Eliane Can-tanhêde, Marcelo Canellas, Sônia Bridi, Fred Melo Paiva, Cassiano Machado, Eliane Brum, entre outros.

Mais de 70 oficinas e 40 palestras foram registradas na história da Semana do Jornalismo da UFSC. Por causa de greves, em 2001 e 2005 a Semana foi cancelada. Em 2012, o movimento de para-lisação dos professores federais atingiu o evento, restringindo a programação. Mesmo assim houve espaço para muita gente boa como Frederico Vasconcelos, Vanessa Aguiar e André Trigueiro.

05JORNAL COBAIAItajaí, setembro de 2012

Em debate sobre a construção de perfis, estrelas da mídia revelam os recursos do jornalismo literário

“Vou embora, tá? Ai, tô achando um saco isso aqui!” –

Ana fica somente 20 minutos na palestra. Ela foi empurrada pela irmã para a Semana de Jornalismo da UFSC. – É que a gente mora aqui perto, né? Daí acabei vindo. – Ana Carolina de Oliveira Faria se formou em Jornalismo na Unisul em 2005, mas não atua na área.

Apesar de a mesa de discus-são trazer figurões do jornalis-mo literário, Ana não se con-tenta e sai apressada. A nossa frente, estão sentados – sim, são de carne e osso! - Dorrit Ha-razim e Sérgio Vilas-Boas. Ela, cofundadora da Revista Piauí, especializada em jornalismo li-terário e ele, pesquisador con-sagrado com premiações Brasil afora. Está na mesa também Adriana Negreiros, editora da Revista Cláudia.

- Quero agradecer a organi-zação do evento. Nunca tinha visto os próprios alunos irem atrás de tudo desse jeito. Para-béns. – Vindo de Dorrit o elogio tem mais amplitude, já que ela tem uma trajetória marcada pela crítica e pela seriedade em 50 anos de profissão. Depois do breve elogio, vêm as lições: - Fa-lar demais de um assunto não é bem o caso da Piauí, até porque dar um relato minucioso é mui-to chato. A dificuldade do jor-nalista é que temos montanhas de informação, demora até pe-gar a confiança da fonte e de-pois saber filtrar. No perfil, por exemplo, muitas vezes acabam ficando sem nexo. Até o cardá-pio do sujeito no restaurante é descrito quando não tem ne-cessidade.

O perfilUma voz rouca irrompe no

salão. Adriana Negreiros pega o microfone: - O perfil é mara-vilhoso de ser feito. Mas requer muito cuidado. O envolvimento com a fonte é complicado, é que abre muita possibilidade para ambivalência. E essa convivên-cia não pode ser promíscua, né? Tem de haver um respeito. E outra coisa que sempre pon-tuo é haver um certo precon-ceito com os entrevistados. Eu mesma, para dar exemplo, fui uma vez fazer um perfil da Ban-da Calipso. Quando cheguei na casa da Joelma e notei as pare-des coloridas, foi a primeira im-pressão colocada no texto. Eu achei que aquilo podia denotar o status social, descrito por

JornalismoComo se conta esta história?

Tom Wolfe. Mas aquilo era des-necessário naquele momento.

- É. E, além disso, existem muitos jeitos de se fazer perfis e reportagens. Temos que cuidar com as sobras quando quere-mos fazer jornalismo literário. E em como lidar com as fontes, o exemplo que acho plausível é o mais famoso. – Dorrit com-pleta a fala de Adriana e prefe-re a versão em inglês: - “Frank Sinatra has a cold” mostra que não há a obrigatoriedade da entrevista com o personagem central, mas que são raros os casos a dar certo como esse de Gay Talese.

Jornalista em 1º planoSérgio se pronuncia desta

vez: - Todos os perfis que fiz não vieram de minhas ideias. Eu não me interesso pela vida de ninguém. Talvez nem pela minha. É uma coisa louca. – Para, pensa e faz uma careta trazendo a boca para baixo. A expressão logo se desfaz e ele continua: - Eu comparo a pro-dução de um perfil com pin-tores de retrato, só temos que trabalhar para desenvolver isso melhor.

Os três declinam de falar sobre como fazer entrevistas e retornam ao entrevistador. – Eu prefiro assumir que sou um per-sonagem. – Diz Sérgio, enquan-to cita histórias envolvendo entrevistas feitas por ele para a produção de seus livros.

Dorrit e Adriana, contrarian-do a opinião do estudioso, con-cordam ao dizer que acham des-confortável o jornalista aparecer excessivamente. – Acho desne-cessário. Claro que às vezes isso pode acontecer de uma forma muito boa. Mas eu não costumo usar nem quando os aconteci-mentos pedem muito.

No golpe militar no Chile, em 11 de setembro de 1973, e na queda das torres gêmeas, em 11 de setembro de 2001, Dorrit op-tou por não intervir na notícia. - O jornalismo não precisa ser tão autoral. A notícia é mais impor-tante. - Ela defende que a credi-bilidade aparece mais desse jei-to e brinca: – Não andem comigo em dias 11 de setembro. Vocês viram os exemplos que dei.

- Acho que temos essa visão porque a maioria dos “eus” são ruins no Brasil. Meus alunos sempre me perguntam quanto a isso e, poxa, não tem obrigação ou regra. - Finaliza Sérgio.

Equipe da organização junto ao jornalista Frederico Vasconcelos da Folha de São Paulo

André Trigueiro, editor-chefe do programa Cidades e Soluções da Globo News, falando sobre Jornalismo Ambiental

Trazendo tecnologia para a Semana, Vanessa Aguiar ministra o minicurso de Mídias Socias

Divulgação

Divulgação

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*Jornalismo, 6º período

06 JORNAL COBAIA Itajaí, setembro de 2012

Benefício para uns, transtorno para outros, meios de transporte com tração animal são úteis para muita gente

Patrícia Dias*

Patrícia Dias

Banco de imagens

Carroça: um passado presente reclama espaço

Carroças e veículos automotores nem sempre têm uma convivência pacífica nas estradas brasileiras

O transporte de tração animal tem direito de ocupar o mesmo espaço que os carros, desde que tenha documento

Trânsito

Diariamente às 5h30, Pingo começa a rece-ber seus aparatos para

mais um dia de trabalho. Ele e João Carlos dos Santos são com-panheiros, pois juntos passam, no mínimo, 8 horas por dia a per-correr as ruas de Itajaí. João, 38, casado e com três filhos, é cata-dor de reciclável e realiza fretes pequenos, como transporte de areia, móvel e outros. Pingo, o ca-valo, é fundamental para o bom resultado financeiro que garante o alimento de cada dia no lar de seu dono.

Para a família, não há dúvi-da da importância do animal e do trabalho desempenhado por ele junto de João. “Eu não tenho estudo, por isso encontrei no re-ciclável e nos fretes o sustento. É um trabalho que nem todo dia ga-rante um bom dinheiro, mas, com o que ganho, consigo dar à minha esposa e aos meus filhos uma vida digna”, admite o carroceiro.

Carlinhos, 13, o filho mais ve-lho de João, enfrenta preconceito por causa do trabalho realizado pelo pai. Na escola, ele é conhe-cido como “o filho do carroceiro”. Porém, o que para muitos é mo-tivo de deboche, para o garoto é sinônimo de orgulho. “Eu não te-nho nenhuma vergonha. Pelo con-trário, sou orgulhoso da profissão do meu pai. Quando alguém de-

bocha de mim ou solta alguma gracinha, falo com muita firmeza: graças à carroça do meu pai e do cavalo, um trabalho honesto, não me falta alimento, estudo e rou-pa para vestir”. Carlinhos reforça que, sempre que pode, trabalha junto com o pai.

O preconceito é fato na vida de João e de seus familiares, e vem das pessoas mais próximas até às mais distantes, de modo especial, dos que dividem o mesmo espa-ço urbano com um carroceiro. Quem já não passou, pelo menos uma vez, pela situação de estar no trânsito, e de repente, parar em uma filha provocada por uma car-roça? Situação como essa, muitas vezes, revolta os motoristas. Há inclusive pessoas que reclamam e insultam o trabalhador. Isso acontece porque a maioria da po-pulação não sabe que a carroça é um meio de transporte que tem o direito de ocupar o mesmo espaço de um carro. A diferença é que a carroça tem tração animal.

Em uma das avenidas mais movimentadas de Itajaí, popular-mente conhecida como Contorno Sul, alguns motoristas, após se-rem questionados sobre o tema, manifestam-se contra por ter de dividir espaço com o meio de transporte de tração animal. “É horrível! O trânsito de Itajaí já é ruim, ainda eles se metem para

piorar”, reclama Lucia Fernan-des. Já para Ronaldo Casas, o problema é a sujeira: “Eles catam os papelões, colocam na carroça e saem deixando rastro. Nem se dão o trabalho de parar e coletar novamente o que caiu. Sem con-tar a sujeira das fezes do cavalo que é algo insuportável”.

De acordo com Emerson Luís Gama, coordenador de Trânsito de Itajaí, o Código de Trânsito Brasileiro, em seu artigo 24, dei-xa claro que a carroça é um meio de transporte de tração animal e o documento dá direito a ocupar o mesmo espaço que os demais. Porém, também deve respeitar as regras de trânsito, está sujeita à multa e a outras penalidades. A dúvida é a seguinte: como autuar em caso de descumprimento da lei? Afinal, não possui placa ou outro tipo de controle.

Ainda de acordo com Gama, já existiu um projeto elaborado pela prefeitura, que visava ao cadastramento de todos os car-roceiros do município e à identi-ficação em suas respectivas car-roças. Ainda obrigava ao uso de fraldões nos cavalos para evitar sujeira nas vias. Seria um método diferente de controle, uma forma de, pelo menos, organizar. No en-

tanto, esse documento ficou ape-nas na intenção, e, por diferentes motivos, não pegou. Hoje até se pensa em reavaliar o projeto, mas nada está certo ainda.

Enquanto isso, conta-se ape-nas com a responsabilidade e a consciência de cada carroceiro, que depende do meio de trans-porte direta ou indiretamente. É importante que este saiba sua obrigação e dever como condu-tor. Respeitar as placas de trân-sito, como PARE; PROIBIDO VIRAR, é o mínimo. Precisa per-manecer na pista da direita (já que sua velocidade é bem inferior à dos demais); manter-se atento com o animal, que é imprevisí-vel e pode surpreender o dono e demais ocupantes da via. Enfim, necessita de bom senso.

Para motoristas e motociclis-tas, fica o alerta de cuidado re-dobrado com as carroças. Como diz o ditado, “a pressa é inimiga da perfeição”. Quando o trânsito embola por causa de uma carroça que tal lembrar que esta ocupa o mesmo lugar de um carro? Quem sabe a irritação diminua se você pensar que o carroceiro é mais um trabalhador tentando ganhar a vida com dignidade.

*Jornalismo, 7º período

07JORNAL COBAIAItajaí, setembro de 2012

EntretenimentoNova série da HBO contesta imprensa dos EUA

Resenha - A tragédia do World Trade Center, nos Estados Uni-dos, comoveu o mundo. No en-tanto, o ato terrorista serviu para outro propósito: dar desculpas para o governo estadunidense fa-zer o que bem entender em terri-tório muçulmano. The Newsroom, criada por Aaron Sorkin, vem para cutucar diversas feridas dos norte-americanos. Não há críti-cas ou ideias conspiratórias sobre o que houve no atentado, mas é evidente que a existência desta produção reflete a forma como os americanos resolveram se portar diante de diversas situações de-pois do atentado, já que o ataque moldou o estadunidense de forma irreversível.

Sorkin começa o seu próprio ataque nos primeiros minutos da série, quando um dos principais âncoras do jornalismo no país, Will McAvoy (Jeff Daniels), duran-te uma entrevista em um progra-ma de televisão, surta e responde a uma pergunta que resulta sem-pre em respostas a la Miss Univer-so: por que os Estados Unidos são o melhor país do mundo? Will ten-ta se esquivar, porém ele não se segura e dispara todos os motivos pelo quais o território em que vive não é mais a maior nação do glo-bo. Só o discurso já é o suficiente para se entender porque muitos críticos e jornalistas de lá desce-ram a lenha na série, sentindo-se ofendidos pelas afirmações do episódio piloto.

O discurso de Will é resultado dos anos em que ele se mantém como um jornalista que não cri-tica ninguém, ficando sempre em cima do muro. As coisas mudam quando o chefe de jornalismo da ACN, Charlie Skinner (Sam Wa-terston) resolve chamar para ser o produtor executivo do News Night (programa em que Will é o âncora) a ex-namorada de McA-voy, MacKenzie McHale (Emily Mortimer). Jornalista competen-te, sendo repórter de guerra nos últimos anos, MacKenzie surge para dar nova cara ao programa e transformar Will novamente no juiz da verdade. E o protagonista faz exatamente isso.

O jornalismo praticado em The Newsroom é como deveria ser, entretanto ele soa um tanto utó-pico. É como querer que o comu-nismo praticado em países como Cuba, por exemplo, fosse aquele idealizado por Marx e Engels. Contudo, isso não é um defeito da série. Afinal de contas, a polícia (especialmente a investigativa) é tão competente assim como mos-tram os filmes e séries? Cada pro-duto com a sua ideia de perfeição. The Newsroom, portanto, serve como um exemplo para os jorna-listas e estudantes de jornalismo.

The Newsroom mistura ficção e realidade para questionar a política e os modelos de jornalismo convencionais

Rodrigo Ramos*

*Jornalismo, 6º período

Divulgação

Divulgação

Divulgação

Will McAvoy (Jeff Daniels) como âncora em programa de TV: um soco no estômago dos conservadores

Dupla dinâmica: McAvoy (Daniels) e McHale (Emily Mortimer) lutam contra a corrupção e o sensacionalismo

Pose de galã, coragem de Paladino: Daniels encarna o jornalista destemido com que todos sonham

A série mostra a beleza que há por trás dessa profissão tão impor-tante no cotidiano e que, de fato, pode destruir vidas.

Will não perde tempo e está sempre batendo nos políticos e empresários. A equipe que tra-balha na produção do programa, formada por Jim Harper (John Gallagher Jr.), Maggie (Alison Pill), Sloan (Olivia Munn), Neal (Dev Patel), Don (Thomas Sa-doski), além de MacKenzie, busca todas as informações possíveis para achar furos nos discursos dos entrevistados e apontar a mentira, prezando sempre a ver-dade, por mais indigesta que ela possa ser. A principal crítica é em relação à forma como a política nos Estados Unidos é feita, sendo o principal golpe no Tea Party, um movimento social e político popu-lista, altamente conservador, de extrema-direita.

Além de jornalismo e políti-ca, The Newsroom também criti-ca outros setores, como é o caso dos interesses privados e das revistas de fofoca. Sorkin não poupa esforços ao destroçar es-sas revistas que vendem a vida alheia com sensacionalismo e até mesmo invenção. A forma como Will luta para desmoralizar os fal-sos moralistas acaba atingindo a proprietária do canal, Leona Lansing (Jane Fonda), que não fica nem um pouco feliz em saber que o apresentador está batendo nas pessoas que ajudam a finan-ciar a empresa dela. Interesses acima da notícia? Não em The Newsroom. Mas, infelizmente, sabemos que a realidade é outra. Quem costuma dizer a verdade, como no famoso caso da jornalis-ta Salete Lemos na TV Cultura, costuma ir pra rua.

A série também tem momen-tos mais leves, pautando relacio-namentos, mas o seriado é melhor quando não o faz. No entanto, lá pela metade da temporada, o elenco e o roteiro atingem o timing perfeito. Outra particu-laridade é a inserção de aconte-cimentos verídicos no roteiro. A trama se mistura com o real des-de o primeiro episódio, onde even-tos como o vazamento de óleo no Golfo do México e a captura de Osama Bin Laden estão presen-tes e são peças fundamentais no desenvolvimento da série, já que os personagens trabalham em cima desses fatos.

The Newsroom é uma das melhores séries da temporada. Imperdível, especialmente para quem pratica e admira o jornalis-mo. A série vai ao ar todo domin-go, às 21h, na HBO Brasil.

08 JORNAL COBAIA Itajaí, setembro de 2012

Para ela a pergunta “o que vou ser quando crescer?” nunca foi tão

abstrata. Ela simplesmente se dá por vencida na situação: – Eu não sei. Tô com medo. – Isadora Dick, estuda no segundo ano do Ensino Médio, é de Blumenau. Ela veio ao OPA procurar uma profissão. – Vou ver se me en-caixo. – Sua amiga, ao lado, tem o olhar decidido e nem presta atenção no que os apresenta-dores da palestra de jornalismo dizem. Ela tinha, apenas, uma pequena dúvida quanto à área de atuação, mas ao setor de jeito nenhum. – Quero ciências biológicas, com certeza. – De manhã, Anna Cecília Roncalho, também do segundo ano, fora a duas palestras: a de biologia e de biomedicina. – Agora me de-cidi de vez. Biomedicina. Quero estar em uma profissão em que eu possa salvar vidas. – Sorriu com um olhar tímido que anun-ciava a esperança de transfor-mação.

Muitos deles querem mesmo mudar o mundo. Outros têm aspirações mais singelas. Ser a Fátima Bernardes. Alguns não pensam muito no que querem. Bocejam durante a palestra e satirizaram alguma coisa. Ou-tros têm o olhar brilhante fixo na busca da profissão e tentam se espelhar em quem vem ali palestrar.

Na cenaEles o chamaram. De terno

e calça jeans sorriu olhando firme para o público. Pegou o microfone e não esperou a apre-sentadora perguntar. – Toda vez que eu venho aqui, conto uma história engraçada. Eu es-tava fazendo uma reportagem na Festa do Colono, em Cam-

Monike Furtado*

Rotas para quem procura caminhosEvento realizado pela Univali uma vez por ano oferece 50 opções de carreira e atraí milhares de jovens

OPA 2012

“Em um sábado

nublado as paredes de

tijolos laranja abrigam

sonhos e esperanças

sobre a futura

profissão

Sheila Gastardi

Sheila Gastardi

boriú, num link ao vivo para o Jornal do Meio-dia, no alto de um morro onde tinha uma pas-tagem de gado. O Graciliano (Rodrigues, apresentador do jornal) me chamou e quando eu ia começar a falar, um quero--quero passou na minha frente me desequilibrando. – A plateia riu. Douglas Marcio é repórter na Ric Record e está formado há um ano. Há três ele partici-pa das apresentações do OPA. E a história do quero-quero já é quase marca registrada do evento. – Isso ajuda a mostrar os percalços da profissão. O jor-nalismo com imprevistos...

Cada convidado contou suas experiências profissionais e explicaram superficialmen-te as diferenças entras as áre-as dentro do jornalismo. Mary Junkes, Patrícia Auth, Jéssica Feller e outros egressos fica-ram disponíveis às perguntas astutas dos espectadores. Com passagens de Tiago Scheuer, repórter do Jornal Bom Dia São Paulo, da Rede Globo, Luís Gustavo Garcia, redator do site Terra e Ivana Ebel, da empresa estatal de comunicação alemã Deutsche Welle.

Apresentadores incitam os alunos a escolher a profissão. E, em um sábado nublado, as pare-des de tijolos laranja abrigaram sonhos e esperanças sobre a fu-tura profissão. - Eu fico muito ligado em notícias, gosto de ser bem informado. E tenho vontade de fazer minhas próprias notícias, minhas críticas. – Joelson Smith está saindo do Ensino Médio. O terceiro ano tem essa mania de deixar os adolescentes desespe-rados. – Só que eu ainda não con-segui escolher. Tô meio louco, na dúvida entre jornalismo, psicolo-gia e filosofia.

Um espetáculoDúvidas, que no julgamento

dos alunos de Ensino Médio são cruciais, se diluem aos poucos quando procuram mais informa-ções. O OPA, Opção Profissio-nal por Área, evento organizado pela Universidade do Vale do Itajaí (Univali) promete orien-tar estudantes sobre as profis-sões e cursos.

– Este ano o OPA me sur-

preendeu bastante, porque em cima da hora o muita gente se mobilizou. – Carlos Praxedes, o coordenador do curso de Jorna-lismo, gerencia há três anos o curso. Ele comemora o sucesso das palestras: – Sempre lotam as apresentações de Jornalis-mo. Acho que é por causa do formato, que procuramos fazer diferente: não é o coordenador

ministrando as palestras. São os alunos que chamam os egres-sos e tem essa coisa da notícia, de ser tudo bem imediato e au-diovisual. – Os alunos acostu-mados com a web à vivacidade das horas no computador supli-cam por palestras dinâmicas. Eles avaliam as palestras de jornalismo como ‘ótimas’, refle-xo de que o show dá resultado. O próprio OPA tem a frase do ano mencionando a interação, a internet e, assim, esta nova geração: “O melhor da universi-dade para você compartilhar”.

- Ah, eu adorei e me decidi realmente. Eu quis isto desde criança, mas agora tenho cer-teza absoluta. – Irradiava um sorriso de emoção Mayara Ma-estre. A estudante do segundo ano do Ensino Médio assistiu à palestra do Curso de Jornalis-mo.

Atrás das cochias– O meu primeiro contato

verdadeiro com o jornalismo foi aqui no OPA. Eu estava no segundo ano, tinha muitas dú-vidas e a palestra me ajudou a tirar o estereótipo da profissão. – Jonas Augusto da Rosa está no fim da graduação de Jorna-lismo. Ele foi um dos convida-dos especiais na apresentação do OPA do curso deste ano. Ele acaba de voltar de intercâmbio de estudos na Espanha, viabili-zado pela universidade. Como exemplo Jonas foi uma peça do mosaico que pode ser a gradu-ação. Cada convidado dos cur-sos tem a intenção de ilustrar um ponto importante daquela profissão.

Em quase 20.000 inscrições e 50 cursos oferecidos, alguns deles sempre chamam mais atenção. Seja pelo campo de

atuação ou aptidões. – Esta é a oportunidade de abrir as por-tas para quem quiser conhe-cer a universidade, os cursos, as profissões. E, de os alunos verem a prática e a teoria nas profissões. – Carlos Tomelin, o diretor do Centro de Ciências ..... (Cesiesa) considera o even-to como uma das principais causas de ingresso na Unvali. Nesta edição Administração, Engenharia Civil, Psicologia e Medicina foram as mais procu-radas. Na palestra de futuros médicos, Fernando Chong, do 7º período, apresentou o curso juntamente com coordenador. Ele tentou deixar um curso de aparência dura, de título de ciências exatas, com uma cara mais descontraída. – Eu falei das minhas experiências, do jornalzinho acadêmico que os alunos da medicina fazem, quais as opções para depois da graduação.

Por trás das cores alegres que preenchem o slogan do OPA está o suor de muito tra-balho voluntário. Uma semana antes do sábado oficial de ex-posição no OPA, os grupos de alunos já se reuniam para pro-gramar as apresentações e pen-sar nos enfeites para o grande dia. As reuniões de voluntários exigiam minutos retirados das aulas e algumas horas de sono perdido na noite de sexta-fei-ra. Mas o bicho pegou mesmo no sábado de manhã. – Vamos galera! Daqui a pouco a pales-tra vai começar. – As palavras de Marcia Ferreira soaram por cada segundo dos preparativos do evento e, no sábado, com a ansiedade do tic-tac do relógio, equipe de organização do OPA de Jornalismo terminava os acertos nos corredores.

Sheila Gastardi

09JORNAL COBAIAItajaí, setembro de 2012

Quem só conhece o OPA recentemente, como quase todos os alunos

da graduação, talvez nem ima-gine que o evento começou com um propósito bem diferenciado: abrir as portas para a comunida-de conhecer a universidade, sem foco nos futuros acadêmicos. Tinha uma data especial para isso, mas era num dia de sema-na, enquanto os funcionários e acadêmicos realizavam suas fun-ções normalmente. - Não havia uma paralisação para o “Dia da Visita”. - Diz Lígia Najdzion, pro-fessora de Relações Públicas na Univali, que participou do even-to.

- Apesar de o “Dia da Visita” ter o objetivo de abrir as portas da universidade para a comuni-dade, as escolas avaliavam que

OPA: uma trajetória de sucesso iniciada com o Dia da Visita

Camila Laís

*Jornalismo, 6º período

Sheila GastardiCamila Laís

o evento era muito geral para os alunos que estavam no Ensino Médio. Eles tinham necessidades mais específicas de interagir com os cursos de graduação no pro-cesso de escolha da profissão. – A psicóloga Claudia Schiessl traba-lha no setor de Processo Seletivo e ajudou a pensar na construção do OPA. – Eu trabalhava na Pró Reitoria de Ensino, com projetos de informação profissional e pre-cisava pensar em algo que com-plementasse as diversas ações, algo como uma “grande feira das profissões”.

11 anos de históriasE aí o OPA começou a ganhar

forma. Em paralelo às reinvindi-cações da comunidade, o Colégio de Aplicação da Univali (CAU) começou a pensar em algo que

suprisse a falta de informação so-bre carreiras. – Na época, eu per-guntei à diretora do CAU se ela encarava comigo um desafio na área de orientação profissional. Na busca de parceiros chegamos, então, à seção de Processo Sele-tivo. A partir daí a ideia chegou ao conhecimento da Reitoria e da Pró-reitoria, que incentivaram a iniciativa. – As metas iniciais da diretora do CAU, professora Ar-lete Steil Kumm, eram ousadas para um primeiro teste: - Que-ríamos 500 jovens no primeiro sábado de realização do even-to. Lembro que, após fixarmos os painéis indicativos dos locais das palestras, feitos manualmen-te, nossas dúvidas apareceram: ‘Será que esses jovens virão?’, ‘Meu Deus, se eles não virem nós estamos “fritos”’. ‘Caso eles não

apareçam, os coordenadores da graduação vão ficar “uma fera”’.

Um anseio e o friozinho na barriga vieram e logo foram substituídos quando as salas começaram a se encher. - Após alguns encontros, entre ideias e sonhos, estruturou-se um “Mini OPA” com objetivo de unir um workshop à feira das profissões. Foi então que em outubro de 2001 nasceu o OPA. – Claudia e os outros organizadores se espanta-ram com a primeira edição: - Nós contamos com mais de mil inscri-tos! O evento ainda era pequeno, divulgado apenas entre as esco-las de Itajaí e Balneário Cambo-riú, e era muito difícil mostrar ao corpo administrativo e docente da universidade a importância de eventos como o OPA para a ins-tituição.

A cada ano, a partir de 2001, uma nova característica foi atri-buída a programação e mais pessoas aderiram às palestras. Em 2003, passou a fazer parte da agenda anual da universidade, que tinha interesse na manuten-ção e no crescimento do evento. Foi nesse ano que as atividades se expandiram para os campi de Biguaçu e São José. Depois foi decidido que somente Itajaí se-guiria na organização e realiza-ção do evento para centralizar o OPA.

Quando já conseguia chamar um público significativo na re-gião, o OPA começou a fazer par-cerias com meios de comunica-ção e a incluir atrativos culturais como peças de teatro e shows de bandas.

Sheila Gastardi

Sheila Gastardi

Sheila Gastardi

Sheila Gastardi

Rappers agitam o O

PA de Jornal

Recursos multimídia nas apresentações

Estúdio de TV lota

do durante

as palestras

Alunos decidem seu futuro profissional

10 JORNAL COBAIA Itajaí, setembro de 2012

Saúde

Segmento vê ser humano na íntegra, prescreve tratamento individualizado e altera a proposta da medicina tradicional

Luciano Pinheiro da Silva Neto*

*Jornalismo, 4º período

Banco de Imagens

Luciano Pinheiro da Silva Neto

Medicina ampliada oferece terapias alternativas

Foi a última alternati-va para quem já ha-via tentado diversos

tratamentos mal sucedidos. A aposentada Odília Franso-zi, 65, apresentava um quadro de obesidade que extravaza as questões estéticas. Visitou nu-tricionista, nutrólogos e endo-crinologista, porém, a dieta e o tratamento prescritos por eles tiveram resultados irrisórios. Foi aí que a dona de casa resol-veu experimentar uma terapia que uma nora havia recebido e lhe recomendara: a acupuntura.

Depois de quatro sessões da terapia das agulhas em uma clínica particular, a aposentada relata que já começou a sentir os primeiros resultados. Porém, sem condições financeiras de prosseguir com o tratamento, interrompeu as sessões. Mas, o que fez a acupuntura ser mais eficiente que os tratamentos tradicionais neste caso? A res-posta está na natureza dessa prática.

A acupuntura, técnica tera-pêutica da medicina chinesa, está no rol de terapias ligadas à chamada Medicina Alternativa. Incluem-se nesse ramo a home-opatia, a fitoterapia, a aromate-rapia entre outras. Essas prá-ticas medicinais consideradas alternativas buscam soluções de tratamentos complementares aos da medicina tradicional ou,

em alguns casos, são a terapia principal do paciente. Entretan-to, a nomenclatura “alternativa” que popularizou esse segmento já é considerada obsoleta. Se-gundo Juarez Furtado, médico especialista em Medicina Antro-posófica e Homeopatia, o termo “alternativa” vem da forma pe-culiar que essas práticas médi-cas têm de ver e tratar os seres humanos. Atualmente, o seg-mento recebe uma classificação mais adequada à sua proposta: Medicina Ampliada. “A medici-na tradicional vê os órgãos e as doenças de maneira setorizada.

Aspectos espirituaisA proposta do tratamento

alopático (o tradicional) é tra-tar as doenças isoladamente en-quanto na Medicina Ampliada, o paciente é entendido e estuda-do na sua íntegra considerando inclusive aspectos espirituais. Portanto, nos propomos a tratar doentes e não doenças”, expli-ca Juarez Furtado. Um exemplo disso é o paciente que procura um tratamento tradicional para dores estomacais. Em uma tera-pia alopática, seriam prescritos a ele medicamentos que alivias-sem especificamente os sinto-mas no estômago. Na medicina antroposófica, um segmento em ascensão da medicina ampliada, o terapeuta investigaria toda a vida do paciente já que a dor do

estômago pode ter ligação com outros aspectos físicos, psíqui-cos e espirituais da pessoa e aí traçaria um tratamento persona-lizado baseado em medicações naturais que reequilibrassem completamente o organismo do paciente e resultasse assim na cura do estômago e de quais-quer outras disfunções que o indivíduo pudesse apresentar. O médico explica ainda que como a homeopatia, terapia médica re-conhecida pela OMS que se uti-liza dessa leitura antroposófica do paciente, não tem contrain-dicações e apresenta raríssimos efeitos colaterais, obtêm-se su-cesso especial em tratamentos psiquiátricos, endocrinológicos e pediátricos os quais costumam gerar reações adversas quando tratados alopaticamente.

Homepatia e acupunturaA cidade de Itajaí conta

com uma vasta gama de opções de tratamentos de Medicina Ampliada na rede particular, porém, muitas delas não são cobertas por planos de saúde. Entretanto, os itajaienses têm uma opção que destaca o mu-nicípio na região: o SUS oferece tratamentos gratuitos e ilimita-dos de homeopatia e acupun-tura aos moradores da cidade. A enfermeira Suzana Cordeiro, coordenadora do CRESCEM (unidade de saúde que apli-

cas as técnicas alternativas) explica que para ter acesso ao tratamento homeopático ou acupuntura, o paciente precisa apresentar um encaminhamen-to de qualquer profissional de saúde da rede pública ou par-ticular, o cartão do SUS e um comprovante de residência no município de Itajaí. A partir daí, entra na fila de espera, que para a acupuntura pode chegar a três meses e para a homeopatia, a vinte dias. Também há uma fila de pacientes preferenciais de acupuntura que acolhe idosos, gestantes, crianças e pessoas com pedido de urgência em seu encaminhamento. Para estes, o tempo de espera máximo é de trinta dias. Suzana garante que não há qualquer restrição ao ní-vel social do paciente nem limi-te de sessões ou consultas. No caso da acupuntura, a cada dez sessões é necessário um novo encaminhamento.

Redutor de ansiedadeAndreia Tribeck Ferreira,

médica acupunturista do SUS em Itajaí, relata que o pacien-te que chega até ela passa por uma avaliação inicial para de-terminar qual técnica de acu-puntura será aplicada nele. Nos casos em que se verifica a impertinência do tratamento com as agulhas, a médica o en-caminha ao especialista da área afetada. Os pacientes, que têm o pedido para terapia das agu-

lhas deferido pela médica, cos-tumam apresentar algum receio pelo desconhecimento da técni-ca. Porém, logo após a primeira sessão, as pessoas normalmente se adaptam às agulhadas por perceberem a ausência de dor e constatarem que as agulhas são descartáveis. Andreia con-ta que nos três anos que atende pela rede pública, houve apenas dois casos de pacientes que não se adaptaram ao tratamento e o abandonaram. A terapeuta revela que dores nos ombros e coluna estão entre as queixas mais frequentes. Outra área de grande procura é a psiquiátrica, já que as agulhas têm um consi-derável efeito redutor de ansie-dade. Ainda há na cidade uma clínica particular que atende pacientes do SUS encaminha-dos pelo CRESCEM.

No caso da homeopatia, o principal obstáculo que os profis-sionais enfrentam com os pacien-tes do SUS é o fato de eles não revelarem detalhes de sua vida que seriam essenciais para traçar o tratamento.

Os profissionais de homeo-patia e acupuntura lamentam que, embora sendo reconheci-das pela OMS, essas práticas ainda sofram com o preconceito e o desconhecimento no próprio meio médico e isso explica a fal-ta de indicação das terapias da Medicina Ampliada a grande parte da sociedade.

CRESCEM–Unidade de Saúde do estado que funciona no centro de Itajaí

O tratamento com acupuntura exige agulhas esterilizadas para segurança do paciente

11JORNAL COBAIAItajaí, setembro de 2012

Saúde

Letícia Gonçalves e Cristóvão Vieira*

Sexo, saúde e bem-estar formam um trio vital

Relaxada e bem humora-da. É assim que se sen-te Angelita Poffo, de 45

anos, após uma relação sexual. Ela gosta de ser acordada com beijos, e de receber mensagens de carinho. Para Angelita, é im-portante que o marido a conquis-te a cada dia, logo pela manhã. “Se não, de noite não ganha”, brinca.

De acordo com Jair Ferracio-li, psicanalista Mestre em Psico-logia Social e da Personalidade, é necessário preservar o compa-nheirismo e a cumplicidade para que haja saúde em um relacio-namento. “Uma relação sexual saudável é construída ao longo do dia. Já começa no amanhecer com um bom dia, um almoço di-ferente, uma mensagem durante a tarde”, afirma.

Angelita tem uma vida sexu-al ativa e, segundo ela, satisfató-ria. “A cabeça do homem é sexo 24 horas por dia. A mulher que souber lidar com isso, tem ele nas mãos”, diz. Ela acredita que a preocupação com a família e a participação do homem na vida da companheira são fatores fun-damentais para que a vida sexu-al do casal seja ativa. “Quando o homem critica demais a mulher, ela começa a se fechar sexual-mente”, opina.

Segundo a psicóloga Caroline da Costa, outros motivos podem explicar um bloqueio sexual. É o caso de mulheres agredidas

Estudos comprovam que manter uma vida sexual ativa e saudável traz benefícios para o corpo e para a mente

Falar com os filhos sobre sexo é essencial para que preservem seu corpo e tratem naturalmente o assunto

ou molestadas sexualmente na infância, por exemplo. A ques-tão cultural dos tabus, para ela, também influencia no receio da mulher em se entregar ao compa-nheiro. Caroline é especialista em psicologia sistêmica, conhecida como psicoterapia familiar e de casal. De acordo com ela, o sexo funciona como o termômetro da relação.

Intimidade e emoçãoPara Angelita, o sexo pode

ser dividido entre “sexo da pai-xão”, no início da relação, e “sexo do conhecimento”. “Quando é paixão, é só encostar que pega fogo! Não importa se está com dor de cabeça”, exemplifica. “De-pois tem o sexo do conhecimen-to, quando você tem um envol-vimento emocional e ele passa a ser um momento de intimidade”, complementa. Ela conta que o marido percebe quando não está num bom momento para o sexo, e respeita sua vontade. “Ele nem chega perto quando sabe que não estou bem”, afirma. Esse tipo de atitude é fundamental para o equilíbrio em um relacionamen-to. Segundo o psicanalista Jair, existem três pilares que constro-em uma relação sólida: o apelo (amor, compaixão, paixão), tesão (sexo) e diálogo. Jair diz que o casal precisa ser uma “dupla fér-til”. Ou seja: quando o homem e a mulher são desencontrados psi-quicamente, o sexo não é impor-

tante para a relação. A psicóloga Caroline explica

que o sexo libera serotonina, e quem não libera essa substância de forma periódica tem caracte-rísticas de depressão e estresse. “Se você não está com o nível adequado, nem terá vontade de transar. É uma das nossas neces-sidades fisiológicas. Não há como ser feliz sem sexo”, enfatiza.

Falar sobre sexo em casaAngelita tem consciência so-

bre os benefícios que o sexo traz para a saúde, e sempre procurou conversar com seus filhos sobre o assunto. “Foram orientados des-de a própria sexualidade, pra ter entendimento sobre o crescimen-to do corpo e tudo que ia aconte-cer com eles. Quanto à atividade sexual, sobre o que a mulher gos-ta, e sobre os cuidados que pre-cisam”.

Para a psicóloga Caroline, é fundamental educar os filhos para que preservem seu corpo, e consigam falar naturalmente sobre o tema. “Crianças pergun-tam como nasceram, e os pais precisam contar que foi num ato de amor”. O ideal, de acordo com ela, é liberar informações confor-me a maturidade dos filhos. As-sim, é possível também alertá-los sobre os riscos de uma relação sexual desprotegida quando já estiverem preparados para com-preender o assunto.

A preocupação de Angelita

no que se refere à vida sexual de seus filhos é baseada na rela-ção entre precaução, confiança e amor. Isto porque sexo pode ser sinônimo de saúde, mas também um meio de contração de graves doenças. No início de um namo-ro, segundo Angelita, os casais têm a preocupação de usar cami-sinha. Mas se a menina toma an-ticoncepcional, o envolvimento amoroso traz à tona a questão da confiança. “Aí acaba a precaução da camisinha”, lamenta.

DST’s em jovensA questão problemática, para

Angelita, é que não só a gravidez deve ser evitada. “É difícil colocar na cabeça do jovem a necessida-de da prevenção constante”, afir-ma. No consultório de Alexandra de Souza, ginecologista e obste-tra, as pacientes mais novas são maioria entre as que contraem doenças sexualmente transmissí-veis. Esse tipo de patologia pode ser causado por diferentes tipos de germes, incluindo bactérias, vírus, parasitas e protozoários. Entre as DSTs mais comuns, estão cancro mole (cancroide), chato (pediculose pubiana), clamídia, gonorreia, hepatite B, hepatite C, herpes genital, HIV (AIDS), HPV, sífilis e tricomoní-ase.

Angelita busca alertar seus filhos sobre os riscos de doenças sexualmente transmissíveis. E apesar de falar a respeito de sexo com tanta naturalidade com eles,

nem sempre foi fácil para ela falar sobre o assunto. Angelita saiu de casa com apenas 17 anos, e sua mãe temia que a filha fosse en-gravidar cedo. “Eu tinha medo de ter uma relação sexual por causa disso”, lembra. “Perdi a virgin-dade quando já estava noiva do meu ex-marido. Não foi plane-jado porque eu queria casar vir-gem”, conta.

Elas também queremApesar dos tabus, segundo

a psicóloga Caroline, sexo é um assunto igualmente importan-te para homens e mulheres. De acordo com ela, é comum que se diga que homens precisam de sexo, mas mulheres não. “Sexo é uma necessidade fisiológica para ambos”, afirma.

Sexo saudável ajuda a regular o sono, e evita problemas como a depressão. Ele melhora a circula-ção, alivia o estresse e pode quei-mar até 300 calorias em uma hora. Além disso, estimula o organismo a produzir substâncias que aju-dam a melhorar a aparência. O aumento do nível de estrógenio no sangue no momento da rela-ção deixa a pele mais bonita e os cabelos mais brilhantes. Ape-sar dos tabus, portanto, o sexo é uma atividade importante para o bem estar físico e para a saúde da mente. Uma vida sexual sau-dável aumenta a probabilidade de vida longa para o casal, e de prosperidade na família.

*Jornalismo, 4º período

Quer saber mais?

Altos papos sobre sexo

Um caso de histéria. Três ensaios sobre sexualidade e outros trabalhos

Laura Muller

Sigmund Freud

Quando o assunto é sexo, falta informação e sobram interrogações, seja para homens ou mulheres.

Nesse livro, Laura concretiza a possibilidade de organizar o conhe-cimento de tal forma que dê conta da heterogeneidade de interesses do público.

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O livro traz os métodos psica-naliticos de Freud para exemplicar a sexualidade e suas relações com outras questões da natureza huma-na.

*R$29,90, em média

Fonte: Livrarias Cultura e Catarinense

Ricardo de Oliveira

12 JORNAL COBAIA Itajaí, setembro de 2012

Superação, treinamento e vivência fazem a diferença na maior travessia de natação em mar aberto da América Latina

Márcia Cristina Ferreira*

Na madrugada fria de domingo, 23 de se-tembro, apesar de ser

o segundo dia da primavera de 2012, o vento sul cortava a pele e embaraçava os cabelos no tra-piche da Prainha, no Centro de Bombinhas. Vinte e seis embar-cações, a maioria barcos de pes-ca coloridos e algumas lanchas, aguardavam sua vez de embar-car os participantes do “Desafio Ilha do Arvoredo”, uma traves-sia de 25 quilômetros a nado entre o Arvoredo e a praia de Bombinhas. Cada barco levou pelo menos um salva vidas e um fiscal de prova, naturalmente a exceção foi a equipe Admira-dores do Seu Vital, formada por salva vidas. Ainda acompanha-ram a competição um barco dos Bombeiros e dois da Marinha. A partir das 4 horas da manhã começaram a viagem de, apro-ximadamente, duas horas até a ilha do Arvoredo.

Todo mundo ria, brincava e tremia. Salvo alguns corajo-

Desafio Ilha do Arvoredo agita BombinhasEsporte

sos como o Capitão da Polícia Militar Éder Jaciel de Souza Oliveira, que ostentava uma bermuda floral, uma malha de surf fininha e chinelos nos pés, e ainda zombava do povo que reclamava do frio no trapi-che. Ele não nadou os 25 qui-lômetros, mas acompanhou de Stand Up Paddle Surf (surf praticado em pé e com o uso de remos) uma boa parte do per-curso com a equipe Admirado-res do Seu Vital, única prata da casa na competição. Ao todo, participaram 60 atletas com idade variando entre 15 e 70 anos, nesta que é a 3ª edição da travessia. Do total que largou, 57 completaram a prova.

Um pouco da históriaQuando começou, em 2009,

tinha poucos nadadores para cumprir o percurso, da ilha do Arvoredo, na reserva ambiental que fica no território de Floria-nópolis, até a praia de Bombi-nhas. Cássio Ricci, de Curiti-

ba, foi o pioneiro. Num desafio pessoal, ele reuniu uma equipe e mais o amigo Carlão, o Car-los Trautwein Bergamaschi, de Joinville - Santa Catarina, para realizar a prova e conquistar o

título pela primeira vez. Ano passado, cumpriu o objetivo de chegar à praia de Bombinhas em 7 horas e 52 minutos. Este ano superou a si mesmo e mais, testemunhou a consolidação de uma prova que entra para a his-tória e o calendário das gran-des competições de natação de todo o mundo.

O maior desafio A Travessia de Natação Ilha

do Arvoredo/Bombinhas é a maior de mar aberto das Amé-ricas. Perde em grau de dificul-dade, mundialmente falando, apenas para o Canal da Mancha, cuja travessia é de 32 quilôme-tros. É considerada por parti-cipantes e organizadores como o maior desafio de natação do Brasil.

Desta 3ª edição da prova participaram atletas de todo o país nas categorias individual, duplas e revezamento de três, quatro e cinco nadadores. A or-ganização é de responsabilida-

“Participaram 60

atletas de 15

a 70 anos e 57

completaram a

prova de 25 Km

de de Doutel de Oliveira, o Tio Teco, nadador que desde 2009 está envolvido na organização de competições de natação e surf. Ao ver o desafio proposto pelo amigo Cássio Ricci e tam-bém acostumado a conviver com uma nadadora brasileira fa-mosa já falecida, Dailza Damas, ele puxou para si a responsabili-dade de encabeçar essa história.

A premiação abrange os três primeiros colocados em to-das as categorias, que recebem troféus. Independentemente da ordem de chegada, todos os nadadores que completam a prova recebem medalhas de participação e um certificado de conclusão do percurso. Os tem-pos conquistados não constam como oficiais para as competi-ções de natação mundo afora, pois segundo o Tio Teco, não existem competições com essa metragem. “Essa prova é um desafio”, diz ele, lembrando que se trata de uma competição de caráter amador.

Marcia Regina Ferreira

13JORNAL COBAIAItajaí, setembro de 2012

A competição na voz dos campeões

No fim da tarde de sá-bado, início da noite anterior ao desafio, to-

dos os competidores foram reu-nidos em um restaurante à beira mar para que fosse explicado o regulamento, além de cuidados específicos numa disputa como esta. Além do próprio Tio Teco, que explicou as regras, também Cássio Ricci, veterano na com-petição e na vida, fez seu depoi-mento sobre o percurso. E ain-da um jovem nadador da Puc de Curitiba, doutorando em medi-cina, deu algumas dicas quanto à preservação do organismo no mar. Foi dele o lembrete de que em competições assim, faz-se necessário que as equipes te-nham vinagre a bordo dos bar-cos, para uso em caso de quei-maduras por águas vivas.

E justamente este jovem nadador, Matheus Andraus, 20 anos, e os companheiros Gio-vanni Vertematti, 19, Cesar Kra-mas, 15 e Victor Cardoso, 20, sagraram-se campeões no reve-

Os vitoriosos no individualDos 16 atletas do individual,

apenas um era mulher, mas, por problemas técnicos, ela não com-pletou a prova. Os demais foram até o fim. A prova reuniu nomes famosos e vitoriosos no contex-to nacional. Um dos nomes mais festejados e comentados foi o de André Roger Henri Boutique, com 73 anos, do Lira Tênis Clube de Florianópolis.

O mais veloz foi um jovem de Campinas/SP, da equipe Elo Con-sultoria I e II, Samir Botelho Ba-rel, com o tempo de 5 horas e 02 minutos. Barel é um dos nadado-res mais vitoriosos do país e ain-da encontra tempo para treinar a equipe Elo Consultoria, formada por nadadores de renome. Além do primeiro colocado no indivi-dual, levaram também a segunda colocação individual com o atleta Flavio Minoru Toi chegando em 5

Surfistas de Bombinhas apoiaram a prova com stand up paddle

O nadador de Florianópolis André Roger Henri Boutique, aos 73 anos, foi destaque entre os veteranos

Esporte

zamento quatro atletas, com o tempo de 5 horas e 24 minutos. Eles são treinados por Jeferson Matias.

A equipe está junta profis-sionalmente há quatro anos e apesar da pouca idade são na-dadores experientes, acostuma-dos a provas difíceis e a vencer. Já participaram da travessia dos Fortes, do circuito Merco-sul e de Bombinhas, portanto já conheciam o mar daqui des-tes lados. Giovanni Vertematti conta que a prova realmente é uma das mais difíceis que já na-daram, além de muito emocio-nante. Ele nada desde os quatro anos de idade e como a equi-pe está junta há muito tempo, existe uma harmonia fácil de ser observada no grupo.”Não pode-mos dizer que sempre vence-mos, mas estamos sempre trei-nando para buscar o melhor.”

Outra equipe a chegar entre os primeiros no revezamento quatro atletas foi a WQL Multis-ports de Brasília/DF, com o tem-

po de 6 horas e 50 minutos. Já no seminário da noite de sábado eles estavam confiantes, mesmo reclamando do frio intenso que fazia na beira da praia. Um fato interessante é que muitas equi-pes eram mistas, justamente o caso da WQL com os atletas Marcel Huthmacher, nadador e técnico, Marcos Bauch, Alejan-dro Barrios e Marília Cristina dos Santos. Eles chegaram em terceiro lugar . Antes da compe-tição, falaram que o objetivo era se divertir, aproveitar ao máxi-mo o desafio em grupo e, natu-ralmente, sofrer um pouquinho.

Também são nadadores ex-perientes, acostumados a nadar pelo mundo afora e com muita superação no currículo. Quan-do chegaram, abraçados e can-sados, Huthmacher quase sem fôlego, mais de emoção que pro-priamente de fadiga, disse que foi uma experiência maravilhosa e paradisíaca. “Aconselho a par-ticipar e ano que vem estamos aqui de novo”.

Marcia Regina Ferreira

Marcia Regina Ferreirahoras e 36 minutos. E o segundo e terceiro lugar no revezamen-to 3 nadadores, com o tempo de 5 horas e 41 minutos e 5 horas e 58 minutos respectivamente. Vieram com 11 nadadores para a competição.

Barel é professor de educação física. Com humildade e expres-são serena, sem deixar trans-parecer o tamanho do esforço efetuado, relatou que a prova foi fantástica e agradeceu a orga-nização, parabenizando-a pelo trabalho realizado. Disse que no início da prova pegaram muito vento, mas que isso é normal em provas de mar aberto. Depois o tempo ajudou e fez um dia mara-vilhoso de sol. “A vitória é geral, de todos que participaram. De todas as equipes. Não apenas dos primeiros colocados. Mas todos que completaram a prova são vencedores”.

ResultadosIndividual1º Samir Botelho Barel (Campinas) - Tempo 5:022º Flavio Minoru Toi (Campinas) - Tempo 5:363º Norton Fremse Nicolazzi Jr. (Curitiba) - Tempo 5:56

Revezamento de 5 nadadores1º Equipe Umidade 10 / Abasc (Brasilia) - Tempo: 5:292º Equipe Gladiadores do Luiz Lima (Rio de Janeiro) - Tempo 5:583º Bombeiros Bombinhas (Bombinhas) - Tempo 6:14

Revezamento de 4 nadadores1º Equipe PUC Maratonas Aquáticas MAN (Curitiba) - Tempo 5:242º Equipe Cassio Ricci Gowyll (Curitiba) - Tempo 5:583º Equipe WQL Multisports (Brasilia) - Tempo 6:50

Revezamento de 3 nadadores1º Equipe Cassio Sá / Paula Ramos (Florianópolis) - Tempo 5:122º Equipe Trio Elo 1 (Campinas) - Tempo 5:413º Equipe Trio Elo 2 (Campinas) - Tempo 5:58

Revezamento de 2 nadadores1º Equipe Dupla Mista (Florianópolis) - Tempo 5:43

14 JORNAL COBAIA Itajaí, setembro de 2012

Esporte

A paixão começou há mais de 30 anos. Pelo rádio, sem sequer saber

como era o uniforme do time do coração. Hoje, porém, está es-cancarada. Nas roupas, na fala e, principalmente, na casa. Da-venir Henkel, morador do bairro Monte Alegre, em Camboriú, não se contentou em mostrar sua paixão pelo Vasco da Gama, clu-be de futebol do Rio de Janeiro, através de cartazes ou camisetas. Construiu uma casa em homena-gem ao time.

Ao chegar à casa de Davenir, conhecida como “a casa do Vas-co”, é fácil se impressionar. Já de fora, é possível perceber as várias cópias da Cruz de Malta espa-lhadas pela parede, e uma janela no formato do escudo do clube. No entanto, são os detalhes que mais chamam a atenção. Até o portão tem os ferros soldados em forma de cruz. Nem o ventilador de teto escapa. A ideia da casa, porém, veio muito depois do iní-cio da relação de amor com o Vas-co da Gama.

Davenir conta que a paixão pelo Vasco começou nos anos 70, na sua cidade natal, Rio do Cam-po (SC). “Meu pai era palmeiren-se, mas a gente não tinha eletrici-dade e eu escutava no rádio que um tal de Roberto Dinamite es-tava começando, fazendo gols”, lembra ele. Logo, decidiu que torceria por aquele clube do qual, até então, “não sabia nem como era a camisa”. Mais tarde, o pai tentou convencê-lo a torcer pelo

Vascaíno fanático constrói casa em homenagem ao time em Camboriú e vira atração na cidade

Lucas Coppi*

Lucas Coppi

Lucas Coppi

Lucas Coppi

Casa customizada do torcedor chama atenção de moradores e visitantes

Devanir homenageia seu time do coração e ganha fama *Jornalismo, 6º período

Palmeiras, mas não dava mais tempo. “O Vasco foi Campeão Brasileiro em cima do Cruzeiro, em 74. Não adiantou ele forçar”, diz Davenir.

Em 1977, a família se mudou para Balneário Camboriú. No litoral, o vascaíno, então com 11 anos, alimentava sua paixão vendendo picolés para poder comprar revistas que falassem do clube. “Também comprei um radinho para poder ouvir os jogos”, conta. Foi o rádio, inclu-sive, o maior influenciador no crescimento do amor pelo clu-be. No final dos anos 70, Dave-nir anotou, durante cinco anos, todos os resultados, escalações, arbitragens e públicos dos jogos do Vasco. “Teve um jogo contra o Rio Branco-AC, que por cau-sa do horário diferente era às 11 da noite aqui. Acabou a luz lá e, quando o jogo começou, já era uma da manhã. Fiquei até as 3 horas escutando rádio. O jogo foi 1x1, gol do Pedrinho, lateral es-querdo”, lembra o torcedor, im-pressionando com sua memória.

Davenir, aliás, não perde um jogo do Vasco há muito tempo. “Desde 1978 eu não perco ne-nhum jogo. Seja pelo rádio ou pela Tv”. A paixão pelo cruzmal-tino não terminou, mas outra apareceu na vida do torcedor. A mulher, Alessandra, com quem vive há 12 anos, já aprendeu a conviver com o outro amor do marido. “A gente sempre acom-panha. Não sou de torcer, mas nem penso em ir contra. Acabo

querendo o bem do time”.Customizar a casa com os

símbolos do time carioca foi uma vontade recente. “Faz uns seis anos. O Vasco estava passando por uma fase ruim, aí pensei: ‘Vou fazer algo para melhorar a imagem do time’”, conta o apai-xonado. Uma provocação tam-bém o impulsionou a construir a “casa do Vasco”. “Eu já tinha uma Cruz de Malta no muro, aí passou um flamenguista e disse ‘Não acredito’. E eu respondi: ‘Não acredita? Agora você vai ver’”, relembra Davenir.

Há dois anos, a casa ganhou uma piscina, também customi-zada, com um mosaico em for-mato de Cruz de Malta no fundo. O próximo passo, “talvez”, será uma nova sala. Também cus-tomizada? “Quero colocar uma estátua do Dinamite”, brinca o torcedor. Tanto trabalho elimina qualquer possibilidade de venda da casa. “Já veio um vascaíno de Joinville querer comprar. Mas não tem dinheiro que pague. Da-ria muito trabalho para fazer ou-tra”, afirma.

Feliz com a casa, o vascaíno agora desfruta da “fama” que ela trás. Já foi assunto no Lance!, jornal carioca, e até na página oficial do Vasco na internet. Para ele, no entanto, isso não muda nada. “O pessoal vem ver a casa. Eu deixo entrar, sei que é algo di-ferente, mas para mim não muda nada. Continuo o mesmo”, finali-za o torcedor.

Paixão edificada

15JORNAL COBAIAItajaí, setembro de 2012

Comportamento

Mariana Feitosa e Pietra Paola Garcia*

Ciência, desejos reprimidos e vidas passadas. A psicologia existencial explica o que os sonhos revelam sobre você

Feche os olhos, abra a mente e descubra-se

*Jornalismo, 4º período

*O nome do personagem foi alterado

A madrugada estava si-lenciosa quando o cho-ro desesperado tomou

conta do cenário. Joãozinho* havia tido um pesadelo amedron-tador demais para os seus 4 anos de vida. O menino sonhou que se vira com o rosto deformado e sem boca em uma foto, e isso, é claro, causou pânico o bastante para uma noite em claro e um desejo de não dormir nunca mais. Mas afinal, porque um sonho impres-siona tanto? Na verdade, o que é um sonho?

A neurociência explica o sono como um momento de descanso que o corpo e a mente têm para repor as energias de um dia. O neurologista e neuropediatra Léo Ricardo Honnicke esclarece que o sono é dividido em cinco estágios. O primeiro é um sono bem leve e fácil de acordar, como aqueles cochilos ao assistir a um filme, que apesar de durar segun-dos, parece ser uma eternidade. O segundo estágio é um inter-mediário, e os estágios 3 e 4 re-presentam o sono mais profundo. Nos últimos, a atividade cerebral é reduzida e são realizadas fun-ções metabólicas, como a produ-ção do hormônio do crescimento.

O quinto estágio é chamado de REM, do inglês “Rapid Eyes Moviment”. O sono REM é atin-gido 90 minutos depois do pri-meiro estágio. Nele a atividade cerebral é extremamente lenta e os movimentos oculares são rá-pidos; neste momento acontece também a maior parte dos so-nhos. Durante a noite este ciclo se repete várias vezes, em média 25% do tempo em sono REM e o restante em sono NREM (qual-quer um dos outros estágios), e isso é importante para o descan-so efetivo.

A região do cérebro respon-sável pela formação dos sonhos é chamada de Tronco Cerebral, e fica na parte de trás, acima da medula espinhal. Para que o so-nho aconteça entra em ação o mecanismo “Formação Reticular Ativador Ascendente”, que in-fluencia no sistema nervoso cen-tral fazendo a regulação do sono para que o ciclo (NREM e REM) se complete, e assim as lem-branças dão origem aos sonhos. Honnicke diz que os sonhos fun-cionam como uma válvula de es-cape para o cérebro, ajudando a se livrar de coisas que não foram resolvidas e memórias inúteis.

Várias faces de um sonhoPara a psicologia existencial,

o sonho é fenomenologia, algo que é vivido e sentido somente pela pessoa envolvida, e cuja re-alidade é incontestável. Ele se es-tabelece então como uma lingua-

gem que só pode ter significados e sentidos no contexto de vida do “sonhador”, por isso qualquer um dos “manuais prontos” não pas-sam de ilusão.

Aurino Ramos Filho, Mestre em Psicologia Social e da Perso-nalidade, define o humano como um ser quaternário. Ele diz que ao mesmo tempo o homem é Bio (pela existência do corpo físico), Psico (um conjunto de pensa-mentos, memórias, e emoção), Sócio (pela necessidade de in-teragir) e Noético (espiritual). O lado noético pergunta cons-tantemente “Para que existir?”, e a busca por esta resposta é o desejo nomeado autotranscen-dência. Neste processo, o sonho é então a experiência espiritual

inconsciente que vem ajudar o indivíduo a responder esta dúvi-da existencial.

Sobre o sonho (quase pesade-lo) do personagem desta história, Aurino diz que a boca é sempre o primeiro contato que se tem com as novas descobertas do mundo, a alimentação e a comunicação; por isso o sonho de estar sem boca pode representar um medo de não se revelar por meio da pa-lavra, ou de ter suas necessida-des básicas reprimidas.

Psicanálise, psica, quem?“O sonho é a estrada real que

conduz ao inconsciente”, esta é a frase chave escrita pelo pai da psicanálise Sigmund Freud em sua obra “A Interpretação

dos Sonhos”. Foi neste livro que Freud edificou os principais fun-damentos da teoria psicanalítica, constituindo o ponto de apoio para todo o desenvolvimento posterior. A conclusão é: a essên-cia do sonho é a realização de um desejo reprimido.

O psicanalista e professor Jair Ferracioli usa uma metáfora inte-ressante: “Assim como o estôma-go faz a digestão dos alimentos, a mente faz a digestão das emo-ções; e os sonhos são uma ma-neira de a mente digerir o que foi vivido”. Daí vem a explicação para os “desejos reprimidos” de Freud. Quando queremos viver uma situ-ação e não podemos, projetamos em nosso subconsciente um re-calque, uma repressão, e como no

sono o estado “comandante” é o subconsciente, é natural que so-nhemos com estas vontades.

“O sonho é um divã gratuito, ele organiza todo o sistema emo-cional durante a noite e o prepara para o próximo dia. Tanto é que um sono barulhento e agitado te faz acordar de mau-humor, e com aquela sensação de ser atropela-do por um caminhão”, completa Ferracioli.

EspiritismoPara esta filosofia todo ser

humano é composto de corpo fí-sico e espírito. O mesmo espírito reencarna na Terra várias vezes, em vários corpos diferentes, mas apesar de formar várias almas, o espírito nunca morre. O espiritis-mo crê que nós temos missões a cumprir e lições para aprender, até nos tornarmos espíritos de-senvolvidos; e por isso, recebemos a orientação de mestres e das ex-periências nas vidas passadas.

Quando o corpo repousa, o espírito tem mais condições de exercer seus dons, do que quan-do estamos acordados, em vigília. E neste estado de pseudo morte é possível conversar com guias e mestres superiores, assim como com outros espíritos. Pedro Fer-rari, trabalhador do centro espí-rita Alan Kardec, explica que os sonhos são momentos de integra-ção entre mente e espírito e tra-zem mensagens de nossas vidas passadas, em geral, para mostrar o que somos ou os caminhos por onde não devemos mais seguir.

Para Pedro, o significado de um sonho não é uma “matemáti-ca exata”, isto porque nenhuma mensagem é fechada. Sempre ha-verá ligação com o estado do espí-rito naquele dia, e principalmente com as vivências humanas. Ele completa dizendo que todos os problemas da combinação “vidas passadas + encarnação atual + futuro” podem sim ser resolvidos nos sonhos, basta estudar e estar atento.

E a mitologia?Segundo a mitologia gre-

ga, Morfeu era o deus do sonho. O nome “Morfeu” quer dizer “a forma” e representa o dom des-se deus: viajar ao redor da Terra para assumir feições humanas e, dessa maneira, se apresentar aos adormecidos durante os seus so-nhos. Segundo o mito, Morfeu usava uma papoula - a flor - para acariciar quem dormia, a fim de lhe propiciar sonhos. É por isso que se costuma dizer que quem cai nos braços de Morfeu tem um sono tranquilo e revigorante.

Wiliam Koester

Sonhos são válvulas de escape para o cérebro e ajudam a eliminar memórias inúteis

Fotos de Camila Laís

Ensaio Fotográfico

Bastidores

do OPA

16 JORNAL COBAIA Itajaí, setembro de 2012