Coesão
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FICHA INFORMATIVA DE PORTUGUÊS
COESÃO
Damos o nome de coesão a todos aqueles processos que permitem, no texto,
retomar explicitamente a informação anterior e articulá-la com a que se segue.
Temos vários mecanismos de coesão:
1. Coesão gramatical 1.1. Coesão frásica: envolve os mecanismos que unem os diversos constituintes
de uma frase simples, de modo torná-la coesa:
- ordenação das palavras e das funções sintáticas na frase;
- concordância em género e número das palavras;
- observância das regências de nomes, verbos, …
- presença dos complementos exigidos pelo verbo ou pelo nome.
Ex.
A adoção de políticas educativas conducentes ao sucesso dos alunos é a
principal preocupação da Escola.
(Note-se a correta ordenação das palavras na frase, tendo em conta as funções que
elas desempenham; o respeito pelas regras de concordância em número entre o sujeito
e o verbo e em género e número entre nomes e adjetivos/ determinantes; o respeito
pela regência do nome adoção (preposição de), do adjetivo conducente (preposição a))
Coesão gramatical Coesão lexical
Coesão interfrásica
Coesão temporo-
aspetual
Coesão referencial:
cadeia de referência
Coesão frásica
COESÃO
1.2. Coesão interfrásica: designa os mecanismos de sequencialização que
marcam diversos tipos de interdependência semântica entre as frases que ocorrem
num texto. Basicamente, a conexão interfrásica é assegurada pelos conectores, que
podem ser conjunções ou advérbios conectivos, ou pela pontuação.
Exemplo:
a) Madalena estava pensativa, quer dizer, meditava profundamente sobre os
versos de Camões. (quer dizer – articulador explicativo)
b) Resumidamente, a coesão é fundamental à construção do texto.
(resumidamente – articulador ou conector de confirmação/ resumo)
1.3. Coesão temporoaspetual: designa os processos que asseguram
compatibilidade semântica ao nível da localização temporal e da ordenação temporal
relativa das situações textualmente representadas.
A utilização correlativa dos tempos verbais é um dos mecanismos que
garante a coesão temporal: se se pretende representar uma situação passada que se
sobrepõe temporalmente a uma outra, também ela pertencente à esfera do passado, é
necessário recorrer a uma forma de Imperfeito do Indicativo e a uma forma de Pretérito
Perfeito Simples:
a) Quando o João nasceu, a Ana tinha cinco anos.
a’)*Quando o João nasceu, a Ana teve cinco anos. (inaceitável)
Os advérbios adjuntos de tempo devem igualmente ser compatíveis com os
tempos verbais selecionados:
a) Amanhã, vou ao cinema.
a’) *Amanhã, fui ao cinema. (inaceitável)
Para que a coesão temporal seja assegurada, é ainda necessário
compatibilizar os valores aspectuais das expressões predicativas com o valor
semântico dos conectores de valor temporal utilizados.
a) Enquanto o João arrumava a cozinha, a irmã atendeu cinco telefonemas.
a’) *Enquanto o João atingiu a meta, a irmã desmaiou. (inaceitável)
Saliente-se, por fim, que a ordenação textual linear dos eventos
representados deve corresponder à ordem pela qual ocorreram no mundo, ou seja, a
descrição de eventos anteriores deve preceder a descrição de eventos posteriores:
a) Entrou na livraria e comprou o último Saramago.
a’)* Comprou o último Saramago e entrou na livraria. (inaceitável)
1.4. Coesão referencial: cadeia de referência: quando num texto há um ou
mais fragmentos textuais sem referência autónoma, cuja interpretação depende do
valor referencial de uma expressão presente no discurso anterior (anáfora) ou
subsequente (catáfora) estamos perante uma cadeia de referência.
Exemplo:
a) O Pedro lidera a turma. Os colegas apoiam-no incondicionalmente e
estão do lado dele em todas as situações.
(Aqui, a expressão nominal O Pedro e os pronomes pessoais o e ele formam
uma cadeia de referência, dado que o referente das formas pronominais é estabelecido
pela expressão nominal, presente no contexto verbal. As três estruturas sublinhadas
reenviam para o mesmo referente, ou seja, para a mesma entidade do mundo, logo,
são correferentes.)
➥ Coesão com recurso à anáfora
Fala-se de anáfora quando a interpretação de uma expressão (habitualmente
designada por termo anafórico) depende da interpretação de uma outra expressão
presente no contexto verbal (o antecedente) - mais concretamente, o termo anafórico
retoma, total ou parcialmente, o valor referencial do antecedente.
Ex.
O Pedro lidera a turma. Os colegas apoiam-no incondicionalmente e estão do
lado dele em todas as situações.
➥ Coesão com recurso à catáfora
Processo semelhante à anáfora, mas em que os termos correferentes aparecem
antes do elemento linguístico que indica o referente do discurso
Ex.
Quando o começamos a ler, encontramos algumas dificuldades, mas depois
prendemo-nos ao Sermão de Santo António aos Peixes.
➥ Elipse
Numa cadeia de referência, o termo anafórico pode não estar lexicalmente
realizado. Fala-se de elipse para designar essa categoria vazia referencialmente
dependente, cuja interpretação convoca necessariamente um antecedente.
a) Maria chegou junto da mãe e [ ]deu-lhe um beijo.
(Verifica-se, aqui, a elipse do sujeito da segunda frase, mas esse sujeito
continua a ser interpretado anaforicamente, por retoma do valor referencial do
antecedente Maria.)
➥ Correferência não anafórica: quando duas expressões remetem para a
mesma referência, sem que uma fique dependente da outra do ponto de vista
referencial.
Ex.
O Padre António Vieira escreveu muitos e belos sermões, mas a Inquisição
conseguiu calar este “Imperador da Língua Portuguesa”. (Embora os dois
segmentos sublinhados sejam correferentes, porque designam a mesma
entidade, são autónomos no sentido que assumem.)
2. Coesão lexical
Mecanismo de coesão textual que envolve:
a repetição da mesma unidade lexical ao longo do texto - repetição/ reiteração
Ex.
“…e falei muito de responsabilidade. Falei da responsabilidade dos vossos
professores de vos motivarem. Falei da responsabilidade dos vossos pais de
vos manterem no bom caminho… Falei da responsabilidade do vosso
governo… na responsabilidade de cada um de vocês…”
a substituição de uma unidade lexical por outras que com ela mantém relações
semânticas de:
1. hierarquia (hiponímia, hiperonímia)
Ex.
A escola, a autarquia, o governo, as famílias são instituições responsáveis
pela educação.
2. inclusão (holonímia, meronímia)
Ex.
A escola é um espaço de aprendizagem; as salas de aula estão bem
equipadas.
3. equivalência (sinonímia)
Ex.
Os alunos participaram ativamente na campanha para a Associação de
Estudantes, o que mostra a capacidade de entrega dos discentes.
4. oposição (antonímia)
Ex.
O sucesso de cada um depende da sua capacidade de assumir as suas
responsabilidades, caso contrário, será condenado ao fracasso.