Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia...

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Carpe Diem Edições e Produções, 2010, terceira tiragem, 2ª edição. Faz parte do PERNAMBUCANIDADE EM JOGO. Maratona Premiada do Conhecimento Literário. Uma parceria da 7a. Festa LIterária Internacional de Pernambuco, FLIPORTO 2011 e a Microsoft Innovation Center, MIC-PE. Curador: Antônio Campos. Coordenação: Lídia Freitas, MICPE; Cláudia Cordeiro, Fliporto Digital. Saiba mais. Acesse: http://www.pernambucoemantologias.com.br/

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Organizadores

Antônio Campos

Cláudia Cordeiro

Um painel da poesia pernambucana

dos séculos XVI ao XXI

2ª edição

Ampliada, revista e atualizada

Inclui índices onomástico e de títulos e primeiros versos

Recife, 2010

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Copyright dos textos© dos autores

Copyright da edição© 2010 Carpe Diem - Edições e Produções

Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta edição pode ser utilizada ou reproduzida, nem apropriada ou estocada em

sistema de banco de dados, sem a expressa autorização da Editora.

Organização

Antônio Campos | Cláudia Cordeiro

Editoria

Antônio Campos

Assessoria Técnico-Administrativa (IMC)

Kamila Nascimento | Leila Teixeira | Veronika Zydowicz

Auxiliar de pesquisa

Andréia Caroline Pereira de Oliveira

Projeto gráfico

Patrícia Lima

Revisão

Norma Baracho Araújo Revisão de texto* e atualização do Índice Onomástico**

* N.O. A ortografia dos poemas foi mantida de acordo com a 2ª tiragem impressa da obra (2006) e

os originais dos novos poetas desta edição.

** De: Apresentação, Prefácio, Poetas que participam desta antologia e Fortuna Crítica.

Cláudia Cordeiro Revisão de provas e atualização do Índice de Títulos e Primeiros Versos.. Revisão da 2ª. edição on line.

Fotos

Assis Lima

Impressão

Gráfica Santa Marta

P452 Pernambuco, terra da Poesia: um painel da poesia pernambucana dos sécu-

los XVI ao XXI./ organizadores: Antônio Campos, Cláudia Cordeiro.

2. ed. rev. e atual. - Recife: Carpe Diem Edições e Produções Ltda,

2010.

757 p.

ISBN 978-85-62648-09-0

Inclui índice onomástico.

1. Poesia brasileira - séculos XVI ao XXI 2. Poesia pernambucana .

I. Campos, Antônio (org.) II. Cordeiro, Claudia (org.) III. Título

CRB4/1544 CDU 821.134.3(81)-82

Impresso no Brasil

Printed in Brazil

Carpe Diem - Edições e Produções

Rua do Chacon, 335, Casa Forte, Recife, PE

55 81 32696134 | www.editoracarpediem.com.br

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Epígrafes

“Minha alma tem o peso da luz. Tem o peso

da música. Tem o peso da palavra nunca

dita, prestes quem sabe a ser dita. Tem o

peso de uma lembrança. Tem o peso de

uma saudade. Tem o peso de um olhar. Pesa

como pesa uma ausência. E a lágrima que

não se chorou. Tem o imaterial peso

da solidão no meio de outros.”

Clarice Lispector

(In Clarice fotobiografia, 2009)

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TECENDO A MANHÃ

Um galo sozinho não tece uma manhã:

ele precisará sempre de outros galos.

De um que apanhe esse grito que ele

e o lance a outro; de um outro galo

que apanhe o grito de um galo antes

e o lance a outro; e de outros galos

que com muitos outros galos se cruzem

os fios de sol de seus gritos de galo,

para que a manhã, desde uma teia tênue,

se vá tecendo, entre todos os galos.

2.

E se encorpando em tela, entre todos,

se erguendo tenda, onde entrem todos,

se entretendendo para todos, no toldo

(a manhã) que plana livre de armação.

A manhã, toldo de um tecido tão aéreo

que, tecido, se eleva por si: luz balão.

João Cabral de Melo Neto

(In A educação pela pedra, 1996)

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Orientações Prévias

1. Convenções

* Escritores(as) cujos dados e poemas foram enviados espe-

cialmente para esta antologia por eles(as) próprios(as) ou

seus espólios e outros contatos.

** Escritores(as) nascidos(as) em Pernambuco.

2. Referências bibliográficas

As referências bibliográficas completas encontram-se ao

final do volume. Tivemos acesso a obras raras do acervo

da Biblioteca Pública Estadual e destacamos a importância,

para este trabalho, das seguintes fontes:

LIMA, Joaquim Inácio de. Biografias de Joaquim Inácio de

Lima. Recife: Typ. de Manoel Figueirôa de Faria & Filho,

1895.

MELLO, Antonio Joaquim de. Biografias de alguns poetas e ho-

mens illustres da Província de Pernambuco. Recife: Typographia

Universal, 1856.

MELLO, Henrique Capitolino Pereira. Pernambucanas illus-

tres. Recife: Typographia Mercantil, 1879, 182 p.

Ao final dos poemas, registramos: o título da obra con-

sultada, o ano da edição e respectiva(s) página(s) e/ou a dis-

ponibilidade do texto na Internet, além de alguns outros

poucos dados que julgamos de absoluta importância.

Os principais sítios virtuais que serviram de referência

para nossas consultas foram:

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Academia Brasileira de Letras: <http://www.academia.org.br>

Biblioteca Nacional: <http://www.bn.br/>

Fundação Casa de Rui Barbosa: <http://www.casaruibarbosa.

gov.br>

Fundação Joaquim Nabuco. Coordenadoria de Documentos

Textuais:

<http://www.fundaj.gov.br/docs/indoc/dotex/doctex.html>

Instituto Maximiano Campos: <http://www.imcbr.org.br>

Interpoética: <http://www.interpoetica.com>

Itaú Cultural. Panorama Poesia e Crônica:

<http://www.itaucultural.org.br/>

Plataforma para Poesia. Sítio Virtual Pernambucano da Poesia

Contemporânea em Língua Portuguesa:

<http://www.plataforma.paraapoesia.nom.br/paglinks2.

htm>

Há casos em que escritores(as) ou seus espólios, editores

e outros contatos enviaram os poemas especialmente para

esta antologia. Entretanto, em alguns casos, não indicaram

suas fontes bibliográficas, razão por que nem sempre nos foi

possível citá-las.

Muitos(as) cederam poemas inéditos para esta antolo-

gia. Registramos essa informação ao final dos poemas, nos

casos em que fomos cientificados desse ineditismo.

Toda a documentação biobibliográfica e poemas, fontes

de cessão direta do(a) escritor(a) ao Instituto Maximiano

Campos (IMC) já fazem parte de seus arquivos.

3. Ortografia

A ortografia dos poemas foi mantida de acordo com a

2ª tiragem impressa da obra (2006) e os originais dos novos

poetas desta edição.

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SUMÁRIO

Apresentação de Antônio Campos, 33

Prefácio de Cláudia Cordeiro, 37

Bento Teixeira ( ± 1550-1600)

Descripção do Recife de Paranambuco, 45

Canto de Proteu, 47

Rita Joanna de Souza (1696-1718)**

[Fotos. Registro histórico de

Henrique Capitolino Pereira de Mello,

in Pernambucanas Ilustres, 1879], 48

Manuel de Souza Magalhães (1744- 1800)**

Soneto, 55

Outro, 56

Luiz Alves Pinto (± 1745 – ± 1815)**

O amor mal correspondido, 57

João Nepomuceno da Silva Portella (1766-1810)**

Encômio de repetição, 59

Frei Caneca (1779-1825)**

Décimas, 64

Entre Marília e a pátria, 66

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Francisco Ferreira Barreto (1790-1851)**

Anacreôntica, 67

Soneto, 69

Natividade Saldanha (1796-1830)**

Soneto, 70

Aos filhos da pátria, 71

Maciel Monteiro (1804-1869)**

Um sonho, 72

Inspiração súbita, 74

Tobias Barreto (1839-1889)

Eu amo o gênio, 76

A escravidão, 77

Vitoriano Palhares (1840-1890)**

Negro adeus, 78

Cantando, 79

Carneiro Vilela (1846-1913)**

Ninho de Condor, 80

Serenata, 82

Francisco Altino de Araújo (1849–)**

A uma menina, 84

Francisca Izidora Gonçalves da Rocha (1855-1918)**

Cena campestre, 85

Ilha de coral, 88

Anna Alexandrina Cavalcanti D‟Albuquerque (1860–)**

O negro, 90

O que mais queres?, 93

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Joanna Tiburtina da Silva Lins (±1860-1905)**

Meus sonhos, 94

A virtude, 95

Maria Heraclia de Azevedo (±1860–)**

Ceticismo, 96

Medeiros e Albuquerque (1867-1934)**

Artistas, 98

17 de Novembro de 1889, 99

Faria Neves Sobrinho (1872-1927)**

O rio, 101

Cego de amor, 102

Demóstenes de Olinda (1873-1900)**

Noiva mística, 103

Cromo, 104

Paulo de Arruda (1873-1900)**

Desespero, 105

Covardia, 106

Targélia Barreto de Meneses (1879-1909)**

Soneto, 107

Violetas, 108

Bastos Tigre (1882-1957)**

Sintaxe feminina, 109

Argumento de defesa, 110

Emília Leitão Guerra (1883-1966)**

Amo-te, 111

Se eu pudesse voar, 112

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Mario Melo (1884-1959)**

Sonhando, 114

Ausente, 115

Edwiges de Sá Pereira (1885-1959)**

Pela noite, 116

A uma estrela, 117

Manuel Bandeira (1886-1968)**

Arte de amar, 118

Profundamente, 119

Paulino de Andrade (1886–)**

Olinda, 121

A emoção, 122

Adelmar Tavares (1888-1963)**

A cidade de Recife, 123

Trovas, 124

Ulisses Lins de Albuquerque (1889-1979)**

A seriema, 125

Conceição, 126

Esdras Farias (1889-1955)**

Feliz de ti que ainda choras, 127

Para você mesmo, Esdras, 128

Olegário Mariano (1889-1958)**

Arrependimento, 129

As almas das cigarras, 130

Ascenso Ferreira (1895-1965)**

Noturno, 131

Trem de Alagoas, 133

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Joaquim Cardozo (1897-1978)**

Chuva de caju, 136

Canção para os que nunca irão nascer, 137

Múcio Leão (1898-1969)**

As luas, 140

Os países inexistentes, 141

Austro Costa (1899-1953)**

Capibaribe, meu rio, 143

O canto do cisne, 144

Vanildo Bezerra (1899-1989)**

Quixote morto, 145

Televisão, 146

Vicente do Rego Monteiro (1899-1970)**

Carnaval frevo, 147

Poema 100% nacional, 148

Gilberto Freyre (1900-1987)**

O outro Brasil que vem aí, 149

Silêncio em Apipucos, 152

Alcides Lopes de Siqueira (1901-1977)**

Pantaleão, 153

Teia de Penélope, 157

Pedro Xisto (1901-1987)**

Hai Ku & Tanka (Waka), 158

Eugênio Coimbra Jr. (1905-1972)**

Pobre amor, 160

Dois sonetos de abril, 161

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Solano Trindade (1908-1974)**

Foi assim..., 163

Tem gente com fome, 167

Helder Camara [Dom] (1909-1999)

No silêncio das árvores, 169

Até o fim, 170

Benedito Cunha Melo (1911-1981)* **

Maio, 171

Trovas, 172

Mauro Mota (1911-1984)* **

Humildade, 173

Morte sucessiva, 174

Waldemar Cordeiro (1911-1992)* **

Prólogo, 176

Soneto, 177

Waldemar Lopes (1911-2006)**

Lição antiga, 178

Soneto da vida e da morte, 179

Lourival Batista (1915-1992)**

Homenagem à Virgem Maria, 180

Pagando motes, 182

Odile Vital César Cantinho (1915)* **

Rio da saudade, 184

Axioma, 185

Celina de Holanda (1915-1999)* **

Viagens de Celina, 186

Aos que me querem como eles; Elogio da

mulher pobre, 186

Os amigos, 187

Elegias para o padre Romano Zufferey, 188

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Tomás Seixas (1916-1993)**

Colhidos da sombra: A bailarina, 190

Acontece, 191

Sonata à Lílian ou As sombras no espelho (exc.), 192

Carlos Moreira (1918)**

Açucena, 194

Soneto do tédio, 195

Deolindo Tavares (1918-1942)**

Ausência, 196

O poeta, 198

Homero do Rêgo Barros (1919)* **

Ver o Recife, 199

O sol, 200

Clélia Silveira (1920)**

A uma Maria qualquer, 201

Edifício apagado, 202

João Cabral de Melo Neto (1920-1999)**

O cão sem plumas (fragmentos: I / Paisagem

do Capibaribe, 203

IV / Discurso do Capibaribe), 207

Fábula de um arquiteto, 211

Potiguar Matos (1921-1996)**

Nem te sonhava mais, pássaro de fogo, 212

A relva macia..., 213

Zé Dantas – José de Sousa Dantas Filho (1921-1962)**

Acauã, 214

A volta da Asa Branca, 215

Edson Régis (1923-1966)**

Composições I e II, 216

Ausência, 218

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César Leal (1924)*

O sonâmbulo, 219

Cidade ou Cidadela?, 220

William Ferrer Coelho (1924-2006)*

Simun, 222

Proposta, 223

Maria do Carmo Barreto Campello de Melo (1924-2008)**

Depoimento, 224

Do ser expectante, 228

Waldimir Maia Leite (1925-2010)* **

Ofício do semeador, 231

Ofício da busca, 233

Geraldino Brasil (1926-1996)*

Sextina do gato bárbaro, 234

Desconversa, 236

Edmir Domingues (1927-2001)**

Sextina da vida breve, 237

Soneto, 239

Ariano Suassuna (1927)

A infância (com mote de Maximiano Campos), 240

A Acauhan – A malhada da Onça

(com mote de Janice Japiassu), 241

Deborah Brennand (1927)**

No bosque, 242

Maçãs negras, 243

Job Patriota (1929-1992)* **

Esses teus seios pulados..., 244

Na madrugada esquisita..., 244

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Carlos Pena Filho (1930-1960)**

A Solidão e sua porta, 245

Soneto do desmantelo azul, 246

Audálio Alves (1930-1999)**

O órfão de Belém, 247

Geografia do campo soberano, 249

Lúcio Ferreira (1930)* **

Dúvidas, 250

Construção, 251

Mauro Salles (1932)* **

Recife, 252

Mudança, 255

Olímpio Bonald Neto (1932)* **

Amor ultramilênio, 256

O poeta, quando jovem. (Lendo Augusto

dos Anjos), 257

Nelson Saldanha (1933)* **

Animula, 258

Tempo, instante, coração, 259

Montez Magno (1934)* **

A forma resplandente, 260

Os girassóis de Van Gogh, 261

Cyl Gallindo (1935)* **

Comícios íntimos, 262

Ser criança em noite de Natal, 264

Orley Mesquita (1935-2006)*

Café concerto, 265

Desejo, 266

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Sebastião Uchoa Leite (1935-2003)**

Corações insensíveis, 267

Drácula, 268

Francisco Bandeira de Mello (1936)* **

O equilibrista, 269

O advento da flor, 270

Esman Dias (1937)*

Fusão, 271

Aluvião, 272

Myriam Brindeiro (1937)* **

AMA (DOR) AS, 274

(H) INOCÊNCIA (poema pascal em sete dores), 275

Severino Filgueira (1937)

Passeio, 277

Seguro, 278

Jorge Wanderley (1938-1999)**

Matinê, 279

Poema, 281

Arnaldo Tobias (1939-2002)**

S.O.S. Brasil, 282

Sem título, 283

Eugênia Menezes (1939)*

Sonho de pedra, 284

Gênese, 286

Janice Japiassu (1939)*

A verdade e sua sombra, 288

Amor de águas de seda, 290

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Lenilde Freitas (1939)

Mulher, 292

Aquário, 293

Paulo Cardoso (1939-2002)**

Da viagem, 294

Recife antigo e novo, 295

Maria da Paz Ribeiro Dantas (1940)*

Visita, 296

Cigano do ar, 297

Maria de Lourdes Hortas (1940)*

Noturno, 298

Interpretação das ruínas, 299

Paulo Bandeira da Cruz (1940-1993)**

Soneto de Chang, 302

O Evangelho consoante João da

Silveira Severino (frag.), 303

Ana Maria César (1941)* **

Sem formalidade, 311

O rio da insensatez, 312

Chicão – Francisco José Trindade Barrêtto (1941)**

Pecador e justo, 313

Natal, 314

Maximiano Campos (1941-1998)**

O filho, 315

Apelo ao Quixote, 316

Tarcísio Meira César (1941-1988)

Soneto do entardecer, em Rússia, 317

Hiroschima meu amor, 318

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Suzana Brindeiro Geyerhahn (1942-1996)* **

Recife, 319

Mes rapports avec Rimbaud, 320

Alberto da Cunha Melo (1942-2007)* **

Canto dos emigrantes, 321

Dual, 322

Ângelo Monteiro (1942)*

Os pontos cardeais, 329

O vice Deus, 330

Sérgio Bernardo (1942)* **

Bernburg, amarga lembrança, 332

Apipucos, casa 77, 333

José Carlos Targino (1943)**

Uma voz, duas vozes, 334

A luz imóvel, 336

Marcus Accioly (1943)* **

A Terra – O Sertão, 337

Treino de sombra, 339

Orismar Rodrigues (1943-2007)**

Apelo, 342

Outono, 344

Cloves Marques (1944)*

Ponte em haicai, 345

Cruz em haicai, 346

Domingos Alexandre (1944)* **

Bruxelas, 347

Tarde em Itamaracá, 350

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Everardo Norões (1944)*

A música..., 351

A construção, 352

Jaci Bezerra (1944)

No rastro da verdade iniciada, 353

Um dia, capitão, contarei essa história, 354

Lourdes Sarmento (1944)* **

Canto de cristais, 355

Observação, 356

Marcelo Mário de Melo (1944)* **

Pó & Ema, 357

Macrolove, 358

Marcos Cordeiro (1944)* **

A Cabra do Moxotó, 360

Chore Bahia mísera!, 361

Sebastião Vila Nova (1944)

Clave oculta, 363

Anotações a oeste de Aldebarã, 364

Almir Castro Barros (1945)* **

Escorados na tarde, 365

Cinzas, 366

Ivanildo Vila Nova (1945)**

Mote em decassílabo, 367

Eu vejo tanta beleza..., 370

Jairo Lima (1945)**

as águas de tua hora, 371

o porto de tua hora, 373

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José Rodrigues de Paiva (1945)

Jardins suspensos, 374

Canção, 376

Paulo Caldas (1945)* **

Círculo amoroso, 378

O sol além da minha rua, 380

Vital Corrêa de Araújo (1945)* **

Opera aperta (Alvo pudico alvo), 381

Opera aperta (Licor ao luar), 382

Wilson Araújo de Sousa (WAS) (1945)*

O gênio da raça castanha, 383

Engenho d‟Uchoa, 384

Gladstone Vieira Belo (1946)* **

Postal romântico, 387

Latitude urbana, 388

Discurso semiótico, 389

Antonio de Campos (1946)**

Para nós um operário nasceu, 390

Outras juras, 391

José Almino (1946)* **

Recife, essa doença, 392

Para Maximiano Campos, 393

Sérgio Moacir de Albuquerque (1946-2008)* **

Cantos da definitiva primavera, 395

Então eles se perdiam naquele

amoroso delírio..., 398

Celso Mesquita (1947)* **

A seguir os passos das musas, 400

A velha metáfora, 401

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José Mário Rodrigues (1947)* **

A cidade, 402

Lamento, 403

Lourdes Nicácio (1947)* **

Canção da floresta, 404

O lavrador e o templo, 405

Luiz Carlos Duarte (1947)**

Poema amarelo, 406

Livro de Francisca, 407

Ésio Rafael (1948)* **

Cheio de vidas, 409

As mãos, 410

Marco Polo Guimarães (1948)* **

Duas paisagens, 411

Blue, 413

Pedro Américo de Farias (1948)* **

Impropérios, 414

Paralelepípedro, 415

Vernaide Wanderley (1948)*

Afagos de Pablo, 416

Em respeito aos que retornam, 417

Bartyra Soares (1949)* **

Desafio, 418

Persistência, 420

Dedé Monteiro – José Rufino da Costa Neto (1949)**

Sem mamãe, 421

Fim de feira, 422

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Fernando Monteiro (1949)* **

Grafito I, 425

Grafito II, 426

Maurício Motta (1949)* **

A hipnotizadora francesa, 427

Golpe de Estado, 428

Paulo Bruscky (1949)* **

[Poema visual], 429

[Poema visual], 430

Tereza Tenório (1949)* **

Face amada, 431

Amor, 432

Alvacir Raposo (1950)*

Há de vibrar teu corpo em claridade..., 433

É noite de São João. Toda cidade..., 434

Lucila Nogueira (1950)*

E se inda houver amor, 435

Sentimento súbito, 436

Elizabeth Hazin (1951)**

Recife, 440

soneto das tempestades, 441

Juhareiz Correya (1951)**

Passagem na ponte, 442

Canção para Victor Jara, 444

Márcia Maia (1951)* **

Dos caminhos de ir e voltar, 445

Decomposição, 447

Page 27: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

27

Cícero Melo (1952)*

A terceira pele, 448

Os mortos, 449

Marilena de Castro (1952)*

A roda da vida, 450

O silêncio das pedras, 453

Eduardo Diógenes (1954)* **

O não do sim, 454

E o depois eu conto, 455

Dione Barreto (1955)*

O Compromisso, 456

Assombração, 457

Walter Cabral de Moura (1955)*

De sempre, 458

Desejo no arrecife, 460

Tarcísio Regueira (1956)* **

Néon, 461

Maria, José, Jesus, 462

Zeto – José Antônio do Nascimento Filho (1956-2002)* **

Meu amigo, 466

No batente de pau do casarão, 467

Luiz Carlos Monteiro (1957)**

Poema-falácia, 468

Poema sertaniense ou nas ruas da velha cidade, 469

Paulo Gustavo (1957)* **

Soneto da transfiguração, 470

Mãe, 471

Page 28: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

28

Erickson Luna (1958-2007)* **

Epitáfio para um burocrata, 472

Do moço e do bêbado, 473

Flávio Chaves (1958)**

Uma canção de amor para Violeta, 475

A alma como testemunha, 477

Francisco Espinhara (1960-2007)* **

Natureza morta, 478

Black Sabbath, 479

Luis Manoel Siqueira (1960)* **

Bolsa de valores, 480

Planos de João Mauricio de Nassau-siegne ao

pisar em terra firme, 481

Eduardo Martins (1962)* **

O lado aberto, 482

Geografia do mal, 483

Isac Santos (1962)*

Cântico, 484

Reincidente, 485

Cida Pedrosa (1963)* **

a lágrima tatuada, 486

luaredo, 487

Tadeu Alencar (1963)*

Álbum de família, 463

Lord Jim, 464

Lápide, 465

Weydson Barros Leal (1963)* **

A ponte da Boa Vista, 488

Quadro, 490

Page 29: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

29

Marcelo Pereira (1964)* **

Demasiado humano, mas sem piedade, 491

Uma charada tropical, 492

Ivan Marinho (1965)*

Fragmento do acaso, 493

Alberto da Cunha Melo, 494

Poesia IV, 495

Mário Hélio (1965)*

Sinestesias, 496

Katorga, 498

Fátima Ferreira (1965)**

Caleidoscópio, 500

Fragmentos da Pátria, 501

Marcos D‟Morais (1966)* **

Antes das cidades existiam poetas, 502

Atracar, 503

Silvana Menezes (1967)*

Quero escrever meus versos..., 504

As andorinhas..., 505

Antônio Campos (1968)* **

Reino Verde, 506

O aniversário, 508

A espera, 509

S.R. Tuppan (1969)* **

Vida, 510

Caminhos misteriosos, 512

Múcio de Lima Góes (1969)* **

Poema em auto-relevo, 513

Insensação, 514

Naufrágio, 515

Page 30: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

30

Malungo – José Carlos Farias da Silva (1969)* **

Deuses sonoros, 517

Harpas, 518

Micheliny Verunschk (1972)* **

Esfinge, 519

Tróia, 520

Pietro Wagner (1972)* **

Aves, 521

Anuário 2. Logofania, 524

Delmo Montenegro (1974)* **

O cão lingüístico, 525

non-music: eyeliner, 526

Antonio Marinho (1987)* **

Tristeza Noturna, 533

Sem Palavras, 534

Notas Biobibliográficas, 535

Fortuna crítica e notas:

Cartografia poética de Pernambuco, Hildeberto Bar-

bosa Filho (Prefácio da primeira edição), 693

A Terra da Poesia, Gilberto Mendonça Teles

(orelha da primeira edição), 699

Notas da organizadora Cláudia Cordeiro

(primeira edição), 703

Bibliografia, 707

Agenda, 719

Índice de Títulos e Primeiros Versos, 732

Índice Onomástico, 749

Page 31: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

31

* Dados e poemas fornecidos ao Instituto Maximiano Campos (IMC), pelo(a) autor(a) ou seus espólios e contatos, especial- mente para esta antologia conforme documentação arquivada no acervo literário do Instituto, no anos de 2005 e 2010.

** Escritores(as) nascidos(as) em Pernambuco.

Page 32: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

32

Page 33: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

33

Apresentação

Pernambuco em Antologias

Antônio Campos*

O Instituto Maximiano Campos surgiu da necessidade

de preservar a memória do escritor Maximiano Campos,

meu pai. Memória não apenas dele, mas também da fa-

mília, do trabalho, dos seus amigos – na quase totalidade

escritores –, do seu Estado, da sua região Nordeste, enfim

do Brasil. Para ser fiel ao seu espírito plural e coletivo, o

IMC, além de conservar, promover e divulgar a obra de

Maximiano, realiza e apoia eventos culturais, como tam-

bém concursos literários.

Entre as atividades que o IMC vem desenvolvendo,

devo destacar a publicação de livros, a exemplo desta

coleção, Pernambuco em Antologias, que revela a literatura

pernambucana em verso e prosa. As obras, organizadas

por mim em parceria com grandes amigos, são um vasto

mural da produção literária pernambucana.

O livro Pernambuco, terra da poesia, idealizado por mim

e pela ensaísta Cláudia Cordeiro, é um painel da poesia

pernambucana entre os séculos XVI e XXI. Ao reunir 161

poetas em quase 600 páginas de poemas, tivemos como

resultado um registro magnífico de várias situações, paisa-

gens e sentimentos vivenciados, tanto por parte dos auto-

res quanto pelos leitores que “viajam” ao lerem a obra. É

um registro físico da literatura nacional, desde o marco da

Literatura Brasileira, com o poema Prosopopeia, de Ben-

to Teixeira, até produções locais da famosa Geração 65,

da qual o próprio Maximiano fez parte. A toda hora, em

toda parte, encontro um poeta, agradecido por participar

Page 34: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

34

da obra, ou escritores e críticos a comentá-la, citando des-

conhecer autores nela revelados. É uma forma de termos

conosco a história de Pernambuco de uma maneira mais

clara e sublime, através da Arte Poética.

Como em todos os escritos poéticos, esses trajetos não

se desenrolam de maneira uniforme. Cada poeta e cada

poema têm suas próprias características, assim como avalia-

ções, julgamentos e encantamentos singulares – reservados

aos leitores desta coletânea. Uma estética sucede-se à outra,

assim como um juízo a outro. A história da Arte Poética está

longe de formar um todo homogêneo e unânime. Assim,

acreditamos que a principal tarefa da poesia tem sido, atra-

vés dos séculos, falar das verdades que habitam em cada

homem, em cada escritor, de uma forma atemporal e que

possibilita ao próprio homem se reconhecer, independen-

temente da época. Concordo com Ferreira Gullar que diz:

“Pretendo que a poesia tenha a virtude de, em meio ao so-

frimento e ao desamparo, acender uma luz qualquer, uma

luz que não nos é dada, que não desce dos céus, mas que

nasce das mãos e do espírito dos homens.”, pois a poesia é

isso. É a verdade absoluta em cada um de nós.

O sucesso de Pernambuco, terra da poesia despertou em

mim o interesse de produzir outro livro. Desta vez, volta-

do à área da ficção. O outro volume da coleção é Panorâ-

mica do conto em Pernambuco, fruto da minha parceria com

o escritor Cyl Gallindo. A obra, cuja produção demandou

a leitura detalhada de mais de 500 textos em livros, re-

vistas, internet e até mesmo em acervos pessoais cedidos

pelos próprios autores, resultou em uma síntese do que

há de melhor na literatura de contos.

Nessa coletânea de contos, tivemos prazerosas des-

cobertas, desde a inédita Margarida Cantarelli até o ex-

governador de Pernambuco Barbosa Lima Sobrinho; na

extensão do conceito de pernambucanidade, incluímos

Page 35: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

35

Graciliano Ramos, visto que morou em Buíque durante

boa parte de sua infância, assim como a ucraniana Clarice

Lispector, que se dizia recifense por ter morado no Recife

quando criança e onde realizou os estudos primários. Essas

inserções são possíveis, porque, a partir da primeira obra,

adotamos o critério de “Domicílio Literário”, que trans-

cende ao do simples registro biográfico da naturalidade.

Histórias da infância, amizades, aventuras e grandes

amores são narrados por escritores como Amílcar Dória

Matos (recém-falecido), Benito Araújo, Fátima Quintas,

Gilberto Freyre, Luzilá Gonçalves, Raimundo Carrero e

tantos outros não menos importantes que estes antes ci-

tados. Como afirmou Gallindo, “as coletâneas são como

as publicações de obras completas de autores vivos: ficam

sempre incompletas”, mas acredito piamente que fizemos

um belo trabalho.

Lançada a antologia de contos, era chegado o momento

de voltar a atenção para a publicação de uma antologia de

crônicas. Desta feita, a parceria na organização seria com

o professor Luiz Carlos Monteiro. A antologia Cronistas de

Pernambuco reflete um esforço literário de forte expressivi-

dade cultural, no sentido de trazer a lume escritores de pe-

ríodos diferenciados da vida e da história pernambucanas.

São autores de variada origem e tendência profissional e

artística, do século XIX até os dias atuais. A importância

dessa contribuição cultural evidencia-se pelo registro lite-

rário que tais autores empreenderam na forma da crôni-

ca, reunindo pequenos ou grandes acontecimentos, fatos e

eventos cotidianos que a notícia de jornal não pode expri-

mir com a poesia e a sutilidade que a crônica requer.

O mundo, cada vez mais individualista e fragmentado,

precisa unir-se, e uma antologia é uma tentativa de união.

João Cabral de Melo Neto mostra que a reunião de diver-

sos cantos é a responsável por uma grande manhã:

Page 36: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

36

“Um galo sozinho não tece uma manhã

ele precisará sempre de outros galos.

(...) para que a manhã, desde uma teia tênue

se vá tecendo, entre todos os galos.”

O sociólogo Renato Carneiro Campos, em um ensaio

intitulado Joaquim Nabuco: um agitador de ideias, afirma que,

se tivesse que escolher um Estado, na Federação, para re-

presentar D. Quixote, este Estado seria Pernambuco, pois

“Não lhe faltam magreza, loucura e sonho para tanto”.

Realmente, Renato tinha razão. Pernambuco, com suas

revoluções falhadas e seus movimentos libertários abafados

a ferro e a fogo, é uma espécie de D. Quixote da Federação.

Em virtude dos seus ideais republicanos, manifestados em

1817, quando foi proclamada a República de Pernambuco,

e em 1824, quando se desenrolou a Confederação do Equa-

dor, o território da antiga Província de Pernambuco perdeu

as Comarcas das Alagoas e a do São Francisco. Contudo, Per-

nambuco resistiu e nunca deixou de sonhar e de fazer arte.

Certa vez, Alceu Amoroso Lima disse que, quando o

Brasil está em crise, se volta para cá, para a região cortada

pelo Rio São Francisco, que é conhecido como o “Rio da

Integração Nacional”.

Que o sol de Pernambuco e a força de sua poesia e

de seus ideais libertários, forjados na luta de gerações,

acendam uma luz no meio da escuridão e nos mostre o

verdadeiro caminho da nação brasileira. A série Pernam-

buco em Antologias é exatamente isso. É um meio de mos-

trar ao Brasil e ao mundo o valor desta terra iluminada,

tanto pelo sol estampado em nossa bandeira, quanto no

valor histórico, cultural e intelectual do nosso povo. Além

de ser uma homenagem sincera que prestamos ao nosso

Estado e a cada um dos pernambucanos.

*Advogado, Escritor, Presidente do

Instituto Maximiano Campos (IMC).

Page 37: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

37

Prefácio

Nova colheita da poesia da terra

“Um dos serviços importantes,

que à sua terra devem os brasileiros, é não

deixar perder-se toda a sua literatura

antiga, mesmo tal qual é, como na

máxima parte já se tem perdido, dando

esta perda causa a supor-se, que ela é

absolutamente nenhuma.”

Antonio Joaquim de Mello (in Biografias de Alguns Poetas e Homens Illustres da Província de Per-

nambuco, 1856, p. 4.)

“(...) e a „Terra da Poesia‟ se

desdobrará pelos quatro pontos cardeais

do mapa brasileiro.”

Gilberto Mendonça Teles (in Pernambuco, terra da poesia. Um painel da literatura pernambucana

dos séculos XVI ao XXI, 2005, orelha).

Pernambuco, terra da poesia. Um painel da poesia pernam-

bucana dos séculos XVI ao XXI, há cinco anos de sua pri-

meira edição (2005), desdobra seus horizontes e se projeta

no mundo literário como integrante da coleção Pernambuco

em Antologias, graças à iniciativa do Instituto Maximiano

Campos, IMC, através de seu presidente, o escritor, advoga-

do e poeta Antônio Campos, que se tem revelado um raro

empreendedor cultural em Pernambuco. É com ele, em par-

ceria com os escritores Cyl Gallindo e Luiz Carlos Monteiro,

que se compõem um painel mais abrangente da poesia e da

prosa da terra: Panorâmica do conto em Pernambuco, em se-

gunda edição, e Cronistas de Pernambuco, em primeira edição,

onde a literatura pernambucana emerge em sua singulari-

Page 38: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

38

dade de expressão na vitrina do tempo presente, para todos

que, por interesses de pesquisa, análise, estudo ou simples

prazer estético, se movam em direção à arte literária no Es-

tado. No entanto, é preciso observar que o Pernambuco, terra

da poesia preserva, nesta segunda edição, o seu caráter docu-

mental e histórico, mais inclusivo que seletivo, mais exposi-

ção que análise, imprimindo, na linha do tempo, o percurso

da poesia através de quatro séculos.

É fácil constatar que essa mesma identidade permite à

obra mais facilmente pontuar-se nas mais diversas áreas da

leitura e do conhecimento, seja enquanto fonte, nas páginas

de monografias, dissertações e teses – a exemplo, das teses

de douramento de Isabel de Andrade Moliterno, “Imagens,

reverberações na poesia de Alberto da Cunha Melo: uma lei-

tura estilística”, defendida em 2008, na Universidade de São

Paulo, e a de Marcos D‟Morais Cunha, “A poesia da Geração

65”, defendida neste ano de 2010, na Faculdade de Letras

da Universidade do Porto – seja em jornais, revistas e uma

variada gama de publicações também e especialmente do

mundo eletrônico, onde verbetes e poemas são largamente

utilizados numa teia que se amplia e se enriquece e ultrapas-

sa as fronteiras dos “quatro pontos cardeais do mapa brasi-

leiro”, conforme previsto por Gilberto Mendonça Teles.

Essa repercussão de caráter externo incide na construção

de uma história da própria obra que se adensa com os novos

fatos que constrói, como a inserção de novo item no volume

a sua Fortuna Crítica, guardando as presenças na primeira

edição de dois grandes representantes da literatura brasilei-

ra, os poetas e críticos literários Gilberto Mendonça Teles e

Hildeberto Barbosa Filho. No que se refere à sua tessitura,

abriga-se, aqui, o registro da participação do poeta, jorna-

lista e sociólogo Alberto da Cunha Melo, que se incumbiu,

na primeira edição, da difícil tarefa de resgatar a estrutura

de palavras, versos e estrofes de poemas coletados em obras

raras do setor de mesmo nome da Biblioteca Pública Es-

Page 39: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

39

tadual. O poeta morreu em 13 de outubro de 2007, mas,

além de sua presença poética, indispensável, resguarda-se

aqui o registro de sua participação na elaboração do volu-

me. É, em nome desse único ausente da nossa convivência,

que urge registrar e agradecer a todos que se somaram à

construção da obra na primeira edição, Raimundo Gade-

lha, editor; Helena M. Uchara, coordenação editorial; Leila

Teixeira, assessoria técnico-administrativa; Isabel de Andra-

de Moliterno, revisão; Ninon Tásia da Silva Alves, auxiliar

de pesquisa; Luiz Arrais, projeto gráfico; Elisa M. B. Torres,

editoração eletrônica; Assis Lima, fotos; Elisa M. B. Torres e

Nádia Reinig Moreira; nomes que fundam, neste parágrafo,

nossa diretriz de repercussão e exemplo.

Enriquecendo o caráter de abrangência, revelam-se, nes-

ta edição, mais 12 poetas, dois deles de grande representa-

ção para a história da literatura pernambucana: Ulisses Lins

de Albuquerque (1889-1979) e Alcides Lopes de Siqueira

(1901-1977), situados no início do século XX, além de inau-

gurar a homenagem ao poeta compositor e folclorista Zé

Dantas (1921-1962), em nome dos que se notabilizaram

através do cancioneiro popular. Eles se somam aos poetas

Job Patriota, Lourival Batista e Zeto, a linhagem poética in-

crustada no Sertão do Pajeú, que se projeta hoje na inclusão

de uma das maiores lideranças literárias do sertão, o poeta

Dedé Monteiro (primeiro lugar do 4º Prêmio Internacional

Poesia ao Vídeo 2010) e se estende para Ésio Rafael, com

sua relevante atuação na vida da poesia do repente, até o

ponto final da coletânea representada pelo poeta Antonio

Marinho. A tradição poética se eleva na presença da grande

poetisa pernambucana Maria do Carmo Campello de Melo,

contemporânea e amiga de Celina de Holanda Cavalcanti,

atuações inesquecíveis da vida cultural do Estado. A nova

presença de Suzana Brindeiro Geyerhahn resgata a convi-

vência distante com a poesia da Geração 65, que se alteia

aqui, graças ao contato do professor e poeta Luiz Carlos

Page 40: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

40

Monteiro, com a poesia de um de seus maiores incentivado-

res o poeta Galdstone Vieira Belo, citado em diversas fontes

sobre essa geração. Colheu-se também a poesia dos mais

contemporâneos, Tadeu Alencar, Ivan Marinho, Múcio de

Lima e Góes e Antônio Campos, o parceiro organizador

desta obra, que revela a poesia que o acompanha entre suas

diversas atuações na área literária, seja como articulista, en-

saísta e conferencista.

Enriquecem-se também os verbetes com atualizações,

mas se mantém a formatação original em nome do perfil

histórico, elo didático entre a exemplificação do texto poéti-

co e o compromisso informativo da obra. Há que se agrade-

cer a todos que colaboraram com o envio de suas atualiza-

ções e novas informações, especialmente aos poetas Marcos

Cordeiro e Myriam Brindeiro.

É preciso recordar que o critério de “domicílio literá-

rio”, legado pelo grande mestre, poeta e crítico César Leal,

utilizado desde a primeira edição, representa o suporte teó-

rico para a inserção de poetas que não nasceram em Per-

nambuco, mas cuja produção literária e atuação no mundo

cultural do Estado se revestem de significativa notoriedade.

Seguindo a objetividade de um “painel” e obedecendo ao

critério documental investido no caráter histórico, a obra

exibe o transcurso de diversos estilos e gerações, como a de

65, que, lançada por César Leal, recebeu dele o incentivo e

registra presença decisiva na literatura brasileira.

Amparados na natureza primeva da vida literária per-

nambucana, berço de nosso nativismo literário há 409 anos,

Prosopopeia (1601), esta edição homenageia a ficcionista Cla-

rice Lispector, que destinou a poesia que escreveria a suas

personagens, como em Joanna, de Perto do coração selvagem

(1943), numa verdadeira poética do narrar, como pontua Ná-

dia Batella Gotlib, em Clarice, uma vida que se conta (2009, p.

196), com anuência de críticos como Sérgio Milliet, Antonio

Candido e Massaud Moisés; lembrando a Geografia funda-

Page 41: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

41

dora da escritora Clarice, na nossa Terra da poesia, tão bem

fundamentada por Antônio Campos em seu artigo do livro

Diálogos contemporâneos (2010, p. 35). Foi em Pernambuco

que a menina Clarice definiria seu destino de escritora em

língua portuguesa e daria os primeiros passos em sua poéti-

ca de ficção. Portanto, a homenagem transcende ao caráter

cronológico dos 90 anos de seu nascimento, e registra a sua

definitiva presença em nossa literatura, devidamente inse-

rida nas páginas da edição 2010 da Panorâmica do conto em

Pernambuco, organizada por Antônio Campos e Cyl Gallin-

do. Pequeno fragmento de texto de Clarice Lispector é uma

das nossas epígrafes, que se une à permanência do poema

“Tecendo a manhã”, de João Cabral de Melo Neto, inseri-

do na primeira edição, em função de um dado histórico:

também comemoramos, neste ano de 2010, os 90 anos de

nascimento do poeta de Educação pela pedra.

Mais se alargam os horizontes, mais se conscientiza a na-

cionalidade da urgência de muitos outros painéis, panora-

mas e antologias da literatura brasileira, que precisam ser

editados, não apenas para a preservação do presente, mas

também, para o resgate e perpetuação do nosso passado

literário, conforme a lição de Antonio Joaquim de Mello, na

nossa epígrafe. Cultua-se, aqui, essa lição ao modo de outra

que estes versos de João Cabral de Melo Neto nos ensinam:

“(..) se encorpando em tela, entre todos,/ se erguendo tenda,

onde entrem todos,/ se entretendendo para todos, no toldo”

desta segunda edição do Pernambuco, terra da poesia, colheita

da poesia da terra, no celeiro dos nomes de todos poetas e

dos construtores desta segunda edição nesta homenagem:

Adelmar Tavares; Andréia Caroline Pereira de Oliveira;

Alberto da Cunha Melo; Alcides Lopes de Siqueira; Almir

Castro Barros; Alvacir Raposo; Ana Maria César; Ângelo

Monteiro; Anna Alexandrina Cavalcanti D‟Albuquerque;

Antônio Campos; Antonio de Campos; Antonio Marinho;

Ariano Suassuna; Arnaldo Tobias; Ascenso Ferreira; Assis

Page 42: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

42

Lima; Audálio Alves; Austro Costa; Bartyra Soares; Bastos

Tigre; Benedito Cunha Melo; Bento Teixeira; Carlos Morei-

ra; Carlos Pena Filho; Carneiro Vilela; Celina de Holanda;

Celso Mesquita; César Leal; Chicão – Francisco José Trin-

dade Barrêto; Cícero Melo; Cida Pedrosa; Clélia Silveira;

Cloves Marques; Cyl Gallindo; Deborah Brennand; Dedé

Monteiro – José Rufino da Costa Neto; Delmo Montenegro;

Demóstenes de Olinda; Deolindo Tavares; Dione Barreto;

Domingos Alexandre; Edmir Domingues; Edson Régis;

Eduardo Diógenes; Eduardo Martins; Edwiges de Sá Perei-

ra; Elizabeth Hazin; Emília Leitão Guerra; Erickson Luna;

Esdras Farias; Ésio Rafael; Esman Dias; Eugênia Menezes;

Eugênio Coimbra Jr.; Everardo Norões; Faria Neves Sobri-

nho; Fátima Ferreira; Fernando Monteiro; Flávio Chaves;

Francisca Izidora Gonçalves da Rocha; Francisco Altino de

Araújo; Francisco Bandeira de Mello; Francisco Espinhara;

Francisco Ferreira Barreto; Frei Caneca; Geraldino Brasil;

Gilberto Freyre; Gladstone Vieira Belo; Helder Camara

[Dom]; Homero do Rêgo Barros; Isac Santos; Ivan Mari-

nho; Ivanildo Vila Nova; Jaci Bezerra; Jairo Lima; Janice

Japiassu; Joanna Tiburtina da Silva Lins; João Cabral de

Melo Neto; João Nepomuceno da Silva Portella; Joaquim

Cardozo; Job Patriota; Jorge Wanderley; José Almino; José

Carlos Targino; José Mário Rodrigues; José Rodrigues de

Paiva; Juhareiz Correya; Leila Teixeira; Lenilde Freitas;

Lourdes Nicácio; Lourdes Sarmento; Lourival Batista; Luci-

la Nogueira; Lúcio Ferreira; Luis Manoel Siqueira; Luiz Al-

ves Pinto; Luiz Carlos Duarte; Luiz Carlos Monteiro; Maciel

Monteiro; Malungo – José Carlos Farias da Silva; Manuel

Bandeira; Manuel de Souza Magalhães; Marcelo Mário de

Melo; Marcelo Pereira; Márcia Maia; Marco Polo Guimarães;

Marcos Cordeiro; Marcos D‟Morais; Marcus Accioly; Maria

da Paz Ribeiro Dantas; Maria de Lourdes Hortas; Maria

do Carmo Barreto Campello de Melo; Maria Heraclia de

Azevedo; Marilena de Castro; Mário Hélio; Mario Melo;

Page 43: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

43

Maurício Motta; Mauro Mota; Mauro Salles; Maximiano

Campos; Medeiros e Albuquerque; Micheliny Verunschk;

Montez Magno; Múcio Leão; Múcio de Lima Góes; Myriam

Brindeiro; Natividade Saldanha; Nelson Saldanha; Nor-

ma Baracho Araújo; Odile Vital César Cantinho; Olegário

Mariano; Olímpio Bonald Neto; Orismar Rodrigues; Orley

Mesquita; Patrícia Lima; Paulino de Andrade; Paulo Ban-

deira da Cruz; Paulo Bruscky; Paulo Caldas; Paulo Cardoso;

Paulo de Arruda; Paulo Gustavo; Pedro Américo de Farias;

Pedro Xisto; Pietro Wagner; Potiguar Matos; Rita Joanna de

Souza; S.R. Tuppan; Sebastião Uchoa Leite; Sebastião Vila

Nova; Sérgio Moacir de Albuquerque; Sérgio Bernardo; Se-

verino Filgueira; Silvana Menezes; Solano Trindade; Suzana

Brindeiro Geyerhahn; Tadeu Alencar; Tarcísio Meira César;

Tarcísio Regueira; Targélia Barreto de Meneses; Tereza Te-

nório; Tobias Barreto; Tomás Seixas; Ulisses Lins de Albu-

querque; Vanildo Bezerra; Vernaide Wanderley; Vicente do

Rego Monteiro; Vital Corrêa de Araújo; Vitoriano Palhares;

Waldemar Cordeiro; Waldemar Lopes; Waldimir Maia Lei-

te; Walter Cabral de Moura; Weydson Barros Leal; William

Ferrer Coelho; Wilson Araújo; Zé Dantas – José de Souza

Dantas Filho; Zeto – José Antônio do Nascimento Filho.

Olinda, 10 outubro de 2010.

Cláudia Cordeiro Professora pós-graduada em

Literatura Brasileira, ensaísta e webdesigner

Page 44: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

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Page 45: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

45

Bento Teixeira

(± 1550-1600)

PROSOPOPÉIA

[fragmentos]

DESCRIP –

ção do Recife de Paranambuco.

XVII

PERA A parte do Sul, onde a pequena,

Vrsa, se vé de guardas rodeada,

Onde o Ceo luminoso, mais serena,

Tem sua influyção, & temperada.

Iunto da noua Lusitania ordena,

A natureza, mãy bem atentada,

Hum porto tam quieto, & tam seguro,

Que pera as curuas Naos serue de muro.

XVIII

He este porto tal, por esta posta,

Huma cinta de pedra, inculta, & viua,

Ao longo da soberba, & larga costa,

Onde quebra Neptuno a furia esquiua.

Antre a praya, & pedra descomposta,

O estanhado elemento se diriua,

Com tanta mansidão, que huma fateyxa,

Basta ter à fatal Argos anneyxa.

Page 46: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

46

XIX

Em o meyo desta obra alpestre, & dura,

Huma boca rompeo o Mar inchado,

Qua na lingoa dos barbaros escura,

Paranambuco, de todos he chamado.

De Para, na que he Mar, Puca rotura

Feyta com furia desse Mar Salgado,

Que sem no deriuar, commetter mingoa,

Coua do Mar se chama em nossa lingoa

XX

Pera entrada da barra, á parte esquerda,

Està huma lagem grande, & espaçosa,

Que de Pyratas fora total perda,

Se huma torre tiuera sumptuosa.

Mas quem por seus seruiços bõs não herda,

Desgosta de fazer cousa lustrosa,

Que a condição do Rey que não he franco,

O vassallo faz ser nas obras manco.

XXI

Sendo os Deoses á lagem já chegados,

Estando o vento em calma, o Mar quieto,

Depois de estarem todos sossegados,

Per mandado do Rey, & per decreto.

Proteu no Ceo, cos olhos enleuados,

Como que inuistigava alto secreto,

Com voz bem entoada, & bom meneyo,

Ao profundo silencio, larga o freyo.

(In Naufrágio & Prosopopéia.

Afonso Luiz Piloto e Bento Teyxeyra, 2001, p. 97-98)

Page 47: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

47

CANTO DE PROTEU

XXII

Pellos ares retumbe o graue accento,

De minha rouca voz, confusa, & lenta,

Qual toruão espantoso, & violento,

De repentina, & horrida tormenta.

Ao Rio de Acheronte turbulento,

Que em sulphureas burbulhas arrebenta,

Passe com tal vigor, que imprima espanto,

Em Minos riguroso, & Radamantho.

XXIII

De lanças, & descudos encantados,

Não tratarey em numerosa Rima,

Mas de Barões Ilustres afamados,

Mais que quantos a Musa nam sublima.

Seus heroycos feytos extremados,

Affinarão a dissoante prima,

Que não he muyto tam gentil subjeyto,

Supplir com seus quilates meu defeyto.

XXIV

Não quero no meu Canto alguma ajuda,

Das noue moradoras de Parnaso,

Nem material tam alta quer que alluda,

Nada ao essencial deste meu caso.

Porque dado que a forma se me muda,

Em falar a verdade, serey raso,

Que assim cõuem fazello, quem escreue

Se á justiça quer dar o que se deue.

(In Naufrágio & Prosopopéia.

Afonso Luiz Piloto e Bento Teyxeyra, 2001, p. 99)

Page 48: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

48

Rita Joanna de Souza

(1696-1718)**

(In Pernambucanas illustres, 1879, p. 95)

Page 49: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

49

(In Pernambucanas illustres, 1879, p. 96)

Page 50: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

50

(In Pernambucanas illustres, 1879, p. 97)

Page 51: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

51

(In Pernambucanas illustres, 1879, p. 98)

Page 52: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

52

(In Pernambucanas illustres, 1879, p. 99)

Page 53: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

53

(In Pernambucanas illustres, 1879, p. 100)

Page 54: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

54

(In Pernambucanas illustres, 1879, primeira capa)

Page 55: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

55

Manuel de Souza Magalhães

(1744-1800)**

SONETO (1)

Se eu não vivera tão empobrecido,

De ouro fino um cajado hoje vos dera.

Se eu do Cisne canoro a voz tivera,

Cantara o vosso ser enobrecido.

Sei que de vós, Prelado enriquecido,

A minha data a escusa merecera.

Que em louvar-vos vos não engrandecera,

Porque nascestes todo engrandecido.

Muitos farão melhor, mas por vaidade;

Por dádiva, e louvor sobra o que elejo:

De amor sobra a fiel sinceridade.

Feliz mil vezes eu hoje me vejo!

Não achando que dar, tenho vontade;

Não chegando a aplaudir, tenho desejo!

(1) Ao Bispo D. Diogo de Jesus Jardim

(In Biografias de alguns poetas e homens illustres da

Província de Pernambuco. 1856, p. 44)

Page 56: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

56

OUTRO (1)

O nosso Arão exulta de alegria!

Nosso Moisés tem gostos semelhantes!

Pelas núpcias dos ótimos infantes,

Pelos anos da ínclita Maria.

Exprime o gosto de uma Artilharia

Nas línguas, e clamores fulminantes;

Do outro o clero em cheiros fumegantes

Da goma de Sabá, que aos Céus envia.

César guerreiro os louros afiança,

Quando sobre os altares com ternura

Brota o jardim os frutos da Esperança.

Ambos gostam de ver tão firme, e pura

Nos esposos da paz a segurança

E nos anos da mãe nossa ventura.

(1) Por ocasião das festas dos casamentos dos Infantes de Portugal e

Espanha em 1784, as quais se celebraram em Pernambuco no mes-

mo ano, e no dia aniversário do natalício da Rainha D. Maria IV,

sendo Governador José César de Menezes, e Bispo D. Diogo.

(In Biografias de alguns poetas e homens illustres da

Província de Pernambuco, 1856, p. 45)

Page 57: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

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Luiz Alves Pinto

(± 1745 – ± 1815)**

O AMOR MAL CORRESPONDIDO

(excerto de comédia – ato I – cena 1 – clorinda)

“Fiéis vassalos, tenha hoje Albânia

A maior glória, que lograra nunca;

A nossa pátria hoje se renova

Com o domínio que se lhe divulga.

Floribelo e Celauro generosos

Príncipe este de Atenas sempre augusta,

Aquele dessa Epiro vencedora,

Meus fortes aliados o promulgam.

Breve no ar flutuantes e galhardas,

Tantos pendões vereis quantas as turmas,

Que em rápidos ginetes alentados

Acompanharam as guerreiras turbas.

Ver hoje espero os dois triunfadores

Do inimigo soberbo, que subjuga

As margens do Paciolo, e a quem a Grécia

Obsequiosa adorações faculta.

Dos domínios opimos de troante

Já sois dominadores. Com injúria

Das cortes ilíricas, indigno

Ele os nossos limites descompunha.

Mas já frio receio a nossos peitos

Deixara de assaltar, que com astúcia

Nos infundia o indômito contrário,

Page 58: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

58

De perfídia e ambição não vista fúria.

Por toda a Grécia as novas se espalharam,

Que impelidas à vergonhosa fuga,

Do rei Troante as tropas mais soberbas

Corriam derrotadas e confusas.

Soube que o Valeroso Florisbelo

O escudo embraça; a grande espada empunha

Vence e despoja dos vitais alentos

Dessa Grécia a fortíssima coluna.

Celauro rompe com a cavalaria

Todo o exército; mas com mais fortuna.

Eles repetiram as tristes ânsias

Em que o império desse Rei flutua.

Excelsa glória os coroa, e de mim longe

O apoucá-la em vozes diminutas;

Apenas em períodos mui breves

Minha idéia a catástrofe debuxa:

E havendo original, é desacerto

Fiar-se nas idéias da pintura.

(Vozes) Vivam os nossos generais, etc.

(In Biografias de Joaquim Inácio de Lima, 1895, p. 49-53)

Page 59: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

59

João Nepomuceno da Silva Portella

(1766-1810)**

ENCÔMIO DE REPETIÇÃO

Bendita sejas,

Ó doce Bárbara,

Ó virgem cândida,

Mártir fortíssima!

Destes louvores

Tu és mui digna;

Ouve benigna

Nossos clamores.

Cântico

Quando gravaste

No duro mármore

Do lenho Lenho sacro

O sinal místico

Ao Pai irado

Então confessas,

Que a lei professas

Do Deus chagado...

Ardendo em ira

O cego Idólatra,

Do peito exala

Furor terrífico

Page 60: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

60

A ser feroz

No seu delírio

Do teu martírio

Primeiro algoz.

Do Pai tirano

Fugindo tímida,

Que contra ti

Se lança pérfido

Para livrar-te,

Com mais brandura,

A pedra dura

Por si se parte

Ao Juiz fero

Da lei gentílica

Rival te acusa,

Cruel, indômito.

Já rio tormento

A aguda dor

Obra o rigor

Sanguinolento.

Às mãos entregue

De algozes ímpios,

Cruéis açoites

Te deram rígidos:

Mas tudo isto

Mais te declara

Esposa cara

De Jesus Cristo

Correndo o sangue

Das chagas horridas,

Da prisão triste

Nas trevas lançam-te.

Page 61: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

61

Para animar-te

Deus piedoso,

Divino Esposo,

Vem consolar-te.

Contigo sendo

De graça pródigo,

As tuas chagas

Cura benéfico.

Mas o tirano,

Com seu prestígio,

Nega o prodígio

Do Soberano

Rasgar teus lados

Decreta rábido

E que te arranquem

Os peitos cândidos.

Vão prosseguindo

Nos teus flagelos

Mortais cutelos

Chagas abrindo

Do teu pudor O

casto lírio, Que

da pureza

Rebenta florido,

Pretende a fúria

De Monstros duros

De olhos impuros

Sinta a injúria.

A Deus oraste

Com fervor íntimo:

As tuas súplicas

Page 62: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

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Atende provido.

De claridade

A estola pura

Cobre a candura

Da virgindade.

Da tua vida

Já vais, ó Bárbara,

Dar por Jesus

Os passos últimos.

O Juiz forte,

Sem mais detença,

Deu a sentença

Da tua morte.

Teu pai insano

De infernal cólera,

Se of ‟rece a dar-te

Golpe mortífero:

Do monte chega

Fera obstinada,

Levanta a espada,

E o golpe emprega.

Rebenta vivo

O sangue tépido!...

Da impiedade

Fenece a vítima.

Voas contente

Com Deos a estar,

E a descansar

Eternamente.

Lá de Deus Alto

Ao trono fúlgido

Page 63: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

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Dirige as nossas

Súplicas fervidas.

Pois de louvores

Tu és mui digno

Ouve, benigna

Nossos clamores.

(In Biografias de alguns poetas e homens illustres da

Província de Pernambuco, 1856, p. 16-19).

Page 64: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

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Frei Caneca

(1779-1825)**

DÉCIMAS

Se amor vive além da morte,

Eterno o meu há-de ser:

Se amor dura só na vida

Hei de amar-te até morrer.

GLOSA

Que um peito, Anália, sensível,

Desses teus olhos ferido

Não te caia aos pés rendido,

Me parece um impossível.

Antes só tenho por crível

Que todo a ti se transporte,

E te reste amor tão forte,

Em teu serviço jocundo,

Que te ame além do mundo

Se amor vive além da morte.

Por essa força atrativa

Que te pôs a natureza,

Minha alma antes ilesa

Já de si se vê cativa.

De amor numa chama viva

O peito sinto-me arder;

Page 65: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

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E se posso hoje prever

Os sucessos do futuro,

Entre os fogos de amor puro

Eterno o meu há de ser.

Mais forte que o gordiano,

É o nó que a ti me prende;

Fica certa que não fende

Da morte o ferro tirano;

Porque trazer-te-ei ufano

Num fundo d‟alma esculpida,

Ou ao nada reduzida

Deve ser a minha essência;

Que nego a sobrevivência

Se amor dura só na vida.

Em ambas suposições

Não és de mim separada;

Que me estás amalgamada

Da mente nas sensações;

E pois modificações

Só por si não pode ser,

Hás de eterna em mim vier,

Se eu tenho uma alma imortal;

Ou se ela é material,

Hei de amar-te até morrer.

(In Obras políticas e literárias de Frei Joaquim do

Amor Divino Caneca, 1876. II tomo, p. 11-12)

Page 66: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

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ENTRE MARÍLIA E A PÁTRIA

Entre Marília e a pátria

Coloquei meu coração:

A pátria roubou-me todo;

Marília que chore em vão.

Quem passa a vida que eu passo,

Não deve a morte temer;

Com a morte não se assusta

Quem está sempre a morrer.

A medonha catadura Da

morte fria e cruel, Do

rosto só muda a cor Da

pátria ao filho infiel.

Tem fim a vida daquele

Que à pátria não soube amar;

A vida do patriota

Não pode o tempo acabar.

O servil acaba inglório

Da existência a curta idade:

Mas não morre o liberal,

Vive toda a Eternidade!

(In Obras políticas e literárias de Frei Joaquim do

Amor Divino Caneca, 1876. II tomo, p 11-12)

Page 67: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

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Francisco Ferreira Barreto

(1790-1851)**

ANACREÔNTICA

Vem escutar-me

Oh! Lilia! Vem!

O amor, que eu tenho,

De amor provém.

Nize é formosa

Márcia também:

Tanta beleza

Não me entretém.

Outras contemplo,

Mil graças têm;

Mas eu às outras

Não quero bem.

Não tens tesouros

Que dês a alguém;

E até por isto

Te quero bem.

Jove tratou-te

Só com desdém.

Melhor, não deves

Nada a ninguém.

Page 68: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

68

Juntem-se todas,

Tudo me deem:

Desprezo tudo,

Que as outras têm.

Amor tão puro

Já viu alguém?

O amor, que eu tenho,

De amor provém.

Page 69: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

69

SONETO

Surge Capibaribe, que serpeja

Desencrespando a pálpebra rugosa:

Eis levanta a cabeça majestosa,

Que em torrentes de espuma lhe branqueja.

Reluz a espádua, a testa lhe goteja;

É verde musgo a barba respeitosa:

Traz negros musgos na madeixa idosa,

E a urna de cristal nas mãos lhe alveja.

Salve, ó Rego imortal! (bradou sorrindo)

Irá teu nome invicto, e celebrado

Ao Tejo, ao Sena, ao Ebro, ao Zaire, e ao Indo!

Três vezes mergulhou precipitado,

Não disse mais; e rápido fugindo,

Foi levar seu tributo ao Mar Salgado.

(In Biografias de alguns poetas e homens illustres da

Província de Pernambuco, 1856, pp. 51 e 56, II tomo)

Page 70: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

70

Natividade Saldanha

(1796-1830)**

SONETO

Se, no seio da pátria carinhosa,

Onde sempre é fagueira a sorte dura,

Inda lembras, e lembras com ternura,

Os meigos dias da união ditosa;

Se entre os doces encantos de que goza

Teu peito divinal, tua alma pura,

Suspiras por um triste sem ventura,

Que vive em solidão cruel, penosa;

Se lamentas, com mágoa, a minha sorte,

Recebe este meus aís, oh minha amante,

Talvez núncios fiéis da minha morte.

E se mais não nos virmos, e eu distante

Sofrer da parca dura o férreo corte:

Amou-me, dize, então morreu constante.

(In História geral da literatura pernambucana.

(Séculos XVI-XX), 1955, p. 35)

Page 71: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

71

AOS FILHOS DA PÁTRIA

Filhos da Pátria, jovens brasileiros

Que as bandeiras seguis do márcio nume

Lembrem-vos Guararapes, e esse cume,

Onde brilharam Dias e Negreiros!

Lembrem-vos esses golpes tão certeiros,

Que às mais cultas Nações deram ciúme,

Seu exemplo segui, segui seu lume,

Filhos da Pátria, jovens brasileiros.

Esses, que alvejam campos, níveos ossos,

Dando a vida por vós constante e forte,

Inda se prezam de chamar-se nossos.

Ao fiel cidadão prospera a sorte

Sejam iguais aos seus os feitos vossos

Imitai vossos pais até na morte.

(In História geral da literatura pernambucana.

(Séculos XVI-XX), 1955, p. 36)

Page 72: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

72

Maciel Monteiro

(1804-1869)**

UM SONHO

Ao embarque e partida de uma Senhora.

Ela foi-se! E com ela foi minh‟alma

n‟asa veloz da brisa sussurrante,

que ufana do tesouro que levava,

ia... corria... e como vai distante!

Voava a brisa e no atrevido rapto

frisava do Oceano a face lisa:

eu que a brisa acalmar tentava insano,

com meus suspiros alentava a brisa!

No horizonte esconder-se anuviado

eu a vi; e dois pontos luminosos

apenas onde ela ia me mostravam:

eram eles seus olhos lacrimosos!

Pouco e pouco empanou-se a luz confusa,

que me sorria lá dos olhos seus;

e dalém ondulando uma aura amiga

aos meus ouvidos repetiu adeus!

Nada mais via eu, nem mesmo um raio

fulgir a furto a esperança bela;

mas meus olhos ilusos descobriram

numa amável visão a imagem dela.

Page 73: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

73

Esvaiu-se a visão, qual nuvem áurea

ao bafejar da vespertina aragem;

se aos olhos eu perdia a imagem sua,

no meu peito eu achava a sua imagem.

Ela foi-se! ... E com ela foi minh‟alma

na asa veloz da brisa sussurrante,

que ufana do tesouro que levava,

ia... corria... e como vai distante!

Rio de Janeiro, 1851

(Disponível em: Maciel Monteiro: textos escolhidos, ABL:

<http://www.academia.org.br/imortais/cads/27/monteiro2.htm>)

Page 74: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

74

INSPIRAÇÃO SÚBITA

A Rosina Stoltz em uma representação da “Favorita”.

Gênio! Gênio!... inda mais! Supremo esforço

da mão de Deus no ardor do entusiasmo!

És anjo ou és mulher, tu que nos roubas

do culto o amor, o êxtase do pasmo?

Na pujança do vôo a águia soberba

tenta o céu devassar, exausta pára:

nas asas do lirismo, tu de Jeová

ao templo chegas, e te prostras n‟ara.

Aí, c‟roada de fulgente auréola,

no concerto dos anjos te misturas;

e se cantas na terra, são teus hinos

harmonias que ouviste nas alturas;

aí aspiras o lustral perfume,

que das urnas sagradas se evapora:

eis porque tua voz parece ungida

dos olores da flor, que orvalha a aurora.

Aí do coração na harpa animada,

as cordas descobriste de ouro estreme,

que se vibram de amor, ateiam n‟alma

paixão que goza e sofre e canta e geme.

Aí o idioma típico aprendeste,

que entendem todos e que tudo exprime:

é assim teu olhar o verbo vivo,

é teu gesto a linguagem mais sublime.

Page 75: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

75

Mistério augusto que do Eterno ao fiat

surgiste, qual visão que atrai, fascina;

se da mulher teu corpo veste a forma,

arde no gênio tua chama divina.

Mulher ou anjo! Cumpre a missão tua!

Seja a crença deleite, a fé doçura;

toda a terra ame ao céu nos seus prodígios,

adore o Criador na criatura.

Rio de Janeiro, 1852

(In Poesias, 1905. Disponível em:

Maciel Monteiro: textos escolhidos, ABL:

<http://www.academia.org.br/imortais/cads/27/monteiro.htm>)

Page 76: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

76

Tobias Barreto

(1839-1889)

EU AMO O GÊNIO

Eu amo o gênio, cujo raio esplêndido

Tirou-me o pranto no pungir da dor;

Há sempre um gozo no correr das lágrimas,

Há sempre um riso no murchar da flor...

Vê-se no templo se elevar o incenso

Puro, expressivo que se queima aí; E

Deus aspira o matinal perfume

D‟etéreas flores que espalhou em ti...

Quando, sublime de sofrer, m‟alma

Rompe dos prantos o sombrio véu,

São glórias tuas, virginais desmaios,

Quedas de rosas nos jardins do céu.

E quem não sente clarear o sonho,

A ideia santa dum viver melhor?

E as harmonias dum amor que torna

A fronte altiva, o coração maior?

Na voz dos mares, na expressão dos ventos

Há um mistério de fazer pensar...

Nas forças d‟alma, no poder do gênio

Há um segredo que me faz chorar...

(In Antologia de Antologias: 101 poetas brasileiros

“revisitados”, 1997. p. 238)

Page 77: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

77

A ESCRAVIDÃO

Se Deus é quem deixa o mundo

Sob o peso que o oprime,

Se ele consente esse crime,

Que se chama a escravidão,

Para fazer homens livres,

Para arrancá-los do abismo,

Existe um patriotismo

Maior que a religião.

Se não lhe importa o escravo

Que a seus pés queixas deponha,

Cobrindo assim de vergonha

A face dos anjos seus, Em

seu delírio inefável,

Praticando a caridade,

Nesta hora a mocidade

Corrige o erro de Deus!...

(In Dias e noites, 1868)

Page 78: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

78

Vitoriano Palhares

(1840-1890)**

NEGRO ADEUS

Adeus! Já nada tenho que dizer-te.

Minhas horas finais trêmulas correm.

Dá-me o último riso, pra que eu possa

Morrer cantando, como as aves morrem.

Ai daquele que fez do amor seu mundo!

Nem deuses nem demônios o socorrem.

Dá-me o último olhar, para que eu possa

Morrer sorrindo, como os anjos morrem.

Foste a serpente, e eu, vil, ainda te adoro!

Que vertigens meu cérebro percorrem!

Mente a última vez, para que eu possa

Morrer sonhando, como os doidos morrem.

(In História geral da literatura pernambucana, 1955, p. 57)

Page 79: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

79

CANTANDO

Ela cantava, sua voz dizia:

– Meu Deus, que gelo, que frieza aquela!…

Eu solitário, taciturno, ouvia…

Vozes de um anjo na cantiga dela.

Ela cantava no meu crânio ardente, Toda

minh‟alma estremecia louca! Quanta

harmonia a transbordar cadente, Dos

róseos lábios da purpúrea boca!

Ela cantava… no gelado peito,

Senti o sangue derreter-se em chamas,

E o coração a desprezar afeito,

Do puro anelo laborou nas flamas.

Ela cantava… me recordo ainda…

Ouço seu canto ressoa-me n‟alma!…

Ah o mistério dessa voz tão linda

Da doce vida perturbou-me a calma.

Ela cantava… Deus, porém não queira

Que eu escute, ainda, aquela voz tão terna!…

A alma que senta do sepulcro à beira

Só quer os cantos da harmonia eterna!…

(In História geral da literatura pernambucana, 1955, p. 58)

Page 80: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

80

Carneiro Vilela

(1846-1913)**

NINHO DE CONDOR

Sem seu ninho o condor nos cumes da montanha.

Até à luz do sol, que nasce ele se banha

E banha-se na luz do sol, quando descamba.

Na hora em que os cipós, qual rede frouxa e bamba,

Balouçam-se ao bolir do vento perfumado,

E abrem flores à luz o cálice orvalhado,

E elevam-se do rio os úmidos vapores

Como gaze sutil bordada de esplendores

Cercando de um noivado um leito em seus mistérios,

Ergue o condor o voo aos términos aéreos.

Dali, da atmosfera além das superfícies

Domina os alcantis e as úberes planícies,

E, fitando no azul olhar que não descora,

Bebe em haustos de fogo o ar que o revigora,

Em plena liberdade, ao gozo do que queira,

É rei de todo o espaço, é rei da terra inteira.

Nada pode causar-lhe ao ânimo pujante

Desânimo ou terror, quer perto, quer distante,

Ou suba até seus pés, nos gritos das panteras,

No rugido do mar, maior do que o das feras,

No sussurro da mata o silvo das serpentes,

No ronco atroador das úmidas torrentes

Rolando da montanha às pedras da bacia,

Todo o estranho rumor que aos céus a terra envia:

Page 81: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

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Ou desça sobre si das túrbidas alturas,

Ao embate feroz das nuvens em torturas,

Por entre o ribombar de rábidos trovões,

O raio que estaleja em lívidos clarões;

Nada, nada o perturba: em seu longo passeio

Sorri do vendaval surgindo-lhe do meio.

(In História geral da literatura pernambucana, 1955, p. 75)

Page 82: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

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SERENATA

Vem, não tardes, vem depressa,

Anjo belo entre os mais belos!

Pousa a pálida cabeça

No colchão de meus cabelos.

Sentes frio, tens receio Da

frieza desses lugares? Tens

o leito de meu seio, Tens o

sol de meus olhares!

Tens sede, queimam-te os lábios

Loucos, tímidos desejos?

Entre os perfumes arábios

Terás o mel de meus beijos.

Tens medo? crês ameaços? Da

vida roubar-te a calma? Tens o

escudo de meus braços, Tens a

força de minh‟alma.

Tens sono? fecha-te os cílios

Da sonolência o vapor?

Dos sonhos entre os idílios

Terás meu leito de amor

És pobre? Penúria extrema,

O orgulho te abate assim?

Com meus beijos por diadema,

Terás a riqueza em mim.

O que te falta? O que queres?

Amor da terra e do céu?

Mais do que às outras mulheres,

Tudo, tudo, dar-te-ei eu.

Page 83: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

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Mas não tardes! Vem depressa!

Já murcha do cálix a flor.

Pousa a pálida cabeça.

Dos meus seios no calor.

(In História geral da literatura pernambucana, 1955, p 77-78)

Page 84: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

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Francisco Altino de Araújo

(1849–)**

A UMA MENINA

Pergunta ao céu azul por que é tão belo,

Por que tão agitado e sonhador,

A face mostra limpa e suspirosa?

e ele te dirá: “por teu amor!...”

A nuvem rósea vem sonhar contigo,

E os crepúsculos beijaram-te esta boca,

Onde eu guardara as flores de minh‟alma,

E a autora os risos seus concentra louca!...

O pássaro nas selvas canta e cisma;

Balouça-se o vergel em seus enganos;

Prende-se o céu à terra!... oh! tudo vive,

E palpita no dia dos teus anos!

A noite diz à estrela de seu colo:

“Vem comigo pensar nessa criança.”

A tarde diz: e “vou dar-lhe os meus palores”

O dia diz: e “eu trago-lhe a esperança.”

Fazem-te mal; magoam-te a ternura,

Bolem-te d‟alma no celeste alvor!...

Mas vão caindo as penas alvas de anjo

E erguendo-se a mulher ainda em flor!...

(In Parnaso brasileiro, 1885, p. 548-549)

Page 85: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

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Francisca Izidora Gonçalves da Rocha

(1855-1918)**

CENA CAMPESTRE

Em dourados salões, ao som da orquestra,

Entre harmonias, perenal rumor,

Mortal veneno nos corrompe as crenças...

É só no campo que se encontra o amor!

Era ao cair da tarde. – Eu divagava

À margem de um riacho cristalino,

E as auras perpassando pelas balsas,

Vinham cheirosas, modulando um hino.

Gentil cabana divisei ao longe,

Como um berço florido dos amores...

E o cafeeiro, com seus frutos róseos,

Juncava a relva de alvacentas flores.

Além, a roça, o canavial espesso,

Como um verde lençol cobria o prado;

Uma planta de fumo no terreiro,

Parasitas azuis sobre o telhado.

Rosas, manjericão e bananeiras,

A par dos bem-me-queres vicejavam,

E à fresca sombra do ingazeiro curvo

Diamantinas cascatas borbulhavam.

Page 86: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

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Rosa habitava ali, por entre as selvas,

– Rosinha, a fada desses prados belos...

Saia de chita, cabeção de rendas

E um cravo branco oculto entre os cabelos.

Diríeis uma Dríade erradia,

Astro banhado em divinais fulgores;

Ossian talvez sonhara assim Malvina...

Riso nos lábios e no seio amores.

Rosa estava sentada no batente

E no seu colo uma criança ria,

Tinha ao lado um balaio de costuras

E aos pés um cachorrinho que dormia.

Em pé, na porta, prazenteiro e alegre,

Um camponês gentil, – o esposo dela;

Olhos negros e crespos os cabelos

Molduravam-Ihe a fronte altiva e bela.

Na campina – rosadas borboletas –

Duas lindas crianças que brincavam,

Riam-se, e o riso de seus lábios frescos

Repetiam-me as brisas que passavam.

Que cena bela! que mimoso quadro!

Rubens pintando a vida à luz do amor!

O rio e as selvas murmurando trenas,

Em festa o campo, a natureza em flor!

A casa era pequena e tão bonita,

Coberta de sapé e trepadeiras...

Crendo ser algum ninho em meio às flores,

Passavam nela as aves prazenteiras.

Page 87: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

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Sob os galhos flexíveis dos salgueiros

Cantava a juriti canções saudosas...

Juntava a voz ao murmurar da fonte

E ao ciciar d‟aragem sobre as rosas.

Meu Deus! quanta ventura neste quadro,

E como o coração fala de amores!

Que estrofes lindas de um poema d‟ouro!

Que lindo prisma de animadas cores!

(In Escritoras brasileiras do século XIX, p. 761)

Page 88: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

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ILHA DE CORAL

Lá nas plagas de flores e harmonias

No seio azul da Polinésia linda,

Aonde as auras embalando os sândalos

Sacodem ramos de fragrância infinda...

Onde as palmeiras no cetim das nuvens

Entrelaçam gentis frondes rendadas,

E à laranjeira os rouxinóis se aninham

Cantando idílios nas manhãs douradas.

Num quadro belo sobre o mar pacífico,

Como a gaivota em transparente lago,

A ilha de Otaiti surge graciosa

Sorrindo às vagas no amoroso afago...

– Vênus formada num frouxel d‟espumas

Da luz d‟aurora em divinais fulgores...

Orna-lhe o cinto de corais e pérolas...

No colo airoso desabrocham flores!...

Lá onde a natureza é um poema

E os céus estrofes cintilantes d‟oiro...

Um dia Eles chegaram com as aves,

Que voam ledas para um fruto loiro...

No declívio relvoso da floresta,

Entre murtas, ao pé da cachoeira,

Teceram de aloés uma cabana

Enastrada com folhas de amoeira.

À sombra dos bambus passava Arinda

No róseo lábio o narguilé cheiroso...

E entre as rendas da saia se mostrava

Indiscreto e faceiro o pé mimoso...

Page 89: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

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Soltas as tranças perfumando a brisa,

E o peito em ondas d‟infantil prazer,

Como a gazela do deserto Assírio

Inocente e gazil sempre a correr...

Depois cansada, vacilante, trêmula,

– Borboleta de amor – mole, indolente

Ia de amante descansar nos braços,

Bem como a estrela no sendal d‟Oriente!

Que floridas canções pela espessura

Entre risos e amor cingindo a vida!

Como era belo o pensativo poeta...

– Novo Rinaldo nos jardins de Armida!

....................................................................................

De tarde, nas canoas d‟insulares,

Com bandeiras de juncos e plumagens,

Corriam sobre as ondas do oceano

Às vezes a pescar como os selvagens.

Que transportes de amor em doce enlevo!

Que cena bela de risonhas cores!

Eram dois gênios que passavam rindo...

– na quadra festival mais dois cantores!

(In Pernambucanas illustres, 1879, p. 180-181)

Page 90: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

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Anna Alexandrina Cavalcanti D‟Albuquerque

(1860–)**

O NEGRO

Desce a noite sombria do horizonte

Enrolando o universo em negro véu,

Uma a uma as estrelas vão fulgindo,

Quais pirilampos, pelo azul do céu.

Do sacro bronze a voz inspiradora,

Pelo espaço ressoa molemente,

A brisa do crepúsculo pela relva

Travessa se espreguiça docemente.

O canário no ninho já pousado

Conchega-se à consorte pipilando,

E passando-lhe o bico n‟áurea pluma,

Vai endechas de amor lhe murmurando.

A viração da noite vai frisando

Do lago de safira a face lisa,

Além, sob o alpendre duma choça,

Um grupo de dois seres se divisa.

São vítimas da ambição e tirania,

Seres livres que os homens algemaram

No viço da existência, dois escravos

Que no mesmo regaço se embalaram.

Page 91: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

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O negro, qual carvalho secular, Levanta

o busto forte e vigoroso, Ampara a fraca

irmã no braço hercúleo,

Conchega-a ao peito com desvelo ansioso.

Senta-a nos joelhos lhe amimando a face.

Pousa-lhe os braços sobre o colo nu,

Contempla-a triste e lá no imo d‟alma

Diz: “pobrezinha, não rirás mais tu?”

Tão jovens! ...quando a aurora da existência

Resplende divinal na tua fronte!...

Quando ainda a virgínea adolescência

Perfuma os lírios de tu‟alma insone!...

Tão bela!... quem já teve do teu rosto

A doçura tocante, a placidez?...

Quem já teve a meiguice dos teus olhos,

Quem já teve o cetim da tua tez?

Quem já teve o langor dos teus olhares

Nos êxtases sublimes da oração?...

Quem na frase exprimiu tanta inocência,

Quem teve mais amor no coração?

Ninguém, e no entanto a tirania

Na fronte te imprimiu a marca infame:

O branco manda ao negro que não pense,

O branco manda ao negro que não ame.

Déspota!... ao coração e ao pensamento

Arremessa o grilhão negro, aviltante!

Eu vingança, porém, peço ao futuro,

Na expressão de Goethe agonizante!

Page 92: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

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E além, entre as brumas do horizonte,

Um ponto luminoso vai surgindo,

É a civilização, que altiva e ousada,

Nas trevas da ignorância avança rindo.

Caminha, avança, aurora redentora,

Da América nos turvos horizontes!

Que este século ainda possa ver a luz

Da remissão fulgir em vossas frontes!

E estreitando o negro o débil corpo

Da irmã querida, seu amor mais puro,

Fitou o céu de estrelas recamado,

Pendeu a fronte e murmurou: Futuro!

(In Escritoras brasileiras do século XIX, 2000, p. 907-908)

Page 93: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

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O QUE MAIS QUERES?

Dou-te o meu coração cheio de enlevos,

As es‟pranças repletas de fulgores,

Dum futuro sonhado cor-de-rosa,

O que mais posso dar-te, meus amores?!...

Ah! Dou-te os sentimentos de minh‟alma,

As minhas ilusões ainda em flores,

Um peito que transborda de ternura,

O que mais posso dar-te, meus amores?

Dou-te mais esta vida que só prezo

Se partilhas comigo os dissabores,

As glórias e venturas deste mundo,

O que mais posso dar-te, meus amores?!...

Dou-te tudo, oh! querido de minh‟alma

Pra merecer um só dos teus favores,

Alma e vida contente sacrifico,

O que mais posso dar-te, meus amores?!...

(In Escritoras brasileiras do século XIX, 2000, p. 905)

Page 94: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

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Joanna Tiburtina da Silva Lins

(± 1860-1905)**

MEUS SONHOS

“Se o futuro atirar-me algumas palmas

As palmas do cantor são todas tuas.”

Eis meus sonhos gentis, eis minhas horas

De doce inspiração!

Eis os sorrisos, os cruéis agrores

Dum triste coração!

Notas sem arte, que no ardor da cisma

Saltou meu peito um dia,

Não têm eles a luz dos grandes gênios,

Não têm maga harmonia.

Flores crestadas com o soprar do vento

De atroz contrariedade,

Exprimem as descrenças prematuras

De minha mocidade.

Transuntos de um viver que se alimenta

De tristes ilusões

São os idos e ternos companheiros

De minhas solidões.

Crestados como são com o sopro ardente

Do fatal impossível,

Mal podem exprimir um sentimento

Sublime, indefinível!

Page 95: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

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A VIRTUDE

Os prazeres da vida se extinguem,

Os sorrisos transformaram-se em prantos;

Só a santa virtude viceja

Lindas flores de gratos encantos.

Se as tormentas oprimem o peito,

Se a desgraça na vida ressurge,

Inda assim a virtude é mais bela,

Mais formoso seu brilho refulge

De que valem soberbos troféus, Se

a virtude não orna a nobreza!

Quando ausente essa deusa reside,

Fogem galas, brasões a riqueza.

Só é ela quem traz a ventura,

Quem resiste aos horrores da morte!

A virtude é o grato santelmo

Que nos livros dos transes da sorte!

(In Pernambucanas illustres, 1879, p. 163-165)

Page 96: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

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Maria Heraclia de Azevedo

(± 1860–)**

(Fragmentos)

CETICISMO

Qu‟importam lágrimas de saudade infinda,

Se o amor traz mágoas e amarguras tantas;

Qu‟importam juras, se mentidas todas,

Insultam, mancham nossas almas santas!

Tudo se acaba!... e se esvaece ávida

Como a florzinha que se esfolha ao vento;

Amor é menos que uma flor que murcha,

A vida é menos do que um sonho lento!

NOITES DA POETISA

Dormem! Sozinha e assustada e trêmula

Desfolho o livro do cruel destino!

Dormem! Eu choro suplicando à Virgem

Me cubra a fronte com seu véu divino!

Page 97: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

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CONFIDÊNCIAS

Astro brilhante, majestosa lua,

Que mil pesares me despertas n‟alma,

Oh não me deixes na tristeza imersa,

E do meu peito o sofrimento acalma!

(In Pernambucanas illustres, 1879, p. 166 a 168)

Page 98: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

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Medeiros e Albuquerque

(1867-1934)**

ARTISTAS

Senhora, eu não conheço a frase almiscarada

dos formosos galãs que vão aos teus salões

nem conheço também a trama complicada

que envolve, que seduz e prende os corações...

Sei que Talma dizia aos juvenis atores

que o Sentimento é mau, se é verdadeiro e são...

e quem menos sentir os ódios e os rancores

mais pode simular das almas a paixão.

E, por isto talvez, eu, que não sou artista,

nem nestes versos meus posso infundir calor,

desvio-me de ti, fujo de tua vista,

porque não sei dizer-te o meu imenso amor.

(In Pecados, 1889. Disponível em: Medeiros e

Albuquerque: textos escolhidos, ABL:

<http://www.academia.org.br/abl/cgi/cgilua.exe/sys/start.

htm?infoid=524&sid=235>)

Page 99: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

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17 DE NOVEMBRO DE 1889

(Por ocasião da partida de D. Pedro II)

Pobre rei a morrer, da velha raça

dos Braganças perjuros e assassinos,

hoje que o sopro frio da desgraça

leva os teus dias, leva os teus destinos

do duro exílio para o longe abrigo,

hoje, tu que mataste Pedro Ivo,

Nunes Machado e tantos mais valentes,

hoje, a bordo da nau, onde, cativo,

segues, deixando o trono hoje tu sentes

que enfim soou a hora do castigo!

Pobre rei a morrer, – de Sul a Norte,

a valorosa espada de Caxias

com quanta dor e quanta nobre morte

da nossa história não encheu os dias,

de sangue as suas páginas banhando!

Digam-no dos Farrapos as legendas!

Digam-no os bravos de 48!

Falem ainda as almas estupendas

de 17 e 24, afoito

grupo de heróis, que sucumbiu lutando.

Alma podre de rei, que, não podendo

ganhar amigos pelo teu heroísmo,

as outras almas ias corrompendo

pela baixeza, pelo servilismo,

por tudo quanto a consciência abate,

– alma podre de rei, procura em volta

do teu ruído trono desabado

que amigo te ficou, onde a revolta

Page 100: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

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possa encontrar indômito soldado

que lhe venha por ti dar-nos combate.

De tanta infâmia e tanta covardia –

só covardia e infâmia, eis o que resta!

A matilha, a teu mando, que investia

contra nós, – nesta hora tão funesta,

volta-se contra teu poder passado!

Rei, não se ilude a consciência humana...

Quem traidores buscou – acha traidores!

Os vendidos da fé republicana,

os desertores de ontem – desertores,

hoje voltam do teu pra o nosso lado!

Vai! Que as ondas te levem mansamente...

Por esse mar, que vais singrar agora,

– arrancado a um cadáver ainda quente –

anos há que partiu, oceano afora,

o coração do heróico Ratcliff.

A mesma vaga que, ao levá-lo, entoava

do livre mar eterno o livre canto,

como o não redirá, sublime e brava,

ao ver que passa no seu largo manto,

da monarquia o lutuoso esquife!

(Últimos versos, in Poesias, 1904.

Disponível em: Medeiros e Albuquerque: textos

escolhidos, ABL: <http://www.academia.org.br/abl/cgi/

cgilua.exe/sys/start.htm?infoid=524&sid=235>)

Page 101: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

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Faria Neves Sobrinho

(1872-1927)**

O RIO

É sempre o mesmo leito pedregoso

e, sobre o mesmo leito, o mesmo rio,

a soluçar queixoso

o mesmo murmúrio...

Tão só, no eterno marulhar das mágoas,

não são mesmas as águas...

E eu penso em mim, nas ilusões fanadas,

sempre desfeitas, sempre renovadas...

E comparo-me ao rio, tristemente...

E comparo-as às aguas da corrente.

(In Faria Neves Sobrinho. Poesias, 1949, p. 72)

Page 102: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

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CEGO DE AMOR

Minha ventura única na terra

tem sido o contemplar-te;

mas, se te ofende que, contrito, eu veja

o que de venustez em ti se encerra,

faze um sinal e, mínimo que seja,

compreenderei, e deixarei de olhar-te.

Tolher-me-á a cegueira, de repente...

mas não fiques tranquila

de que eu mais te não veja, estando cego:

Dentro da noite escura do meu pego,

clara, indelevelmente,

terei gravada a tua imagem bela

no fundo da pupila;

e, satisfeito, quando

me virem tateando

em passadas a esmo

e a causa me indagarem, sorridente,

vendo-te sempre dentro de mim mesmo,

feliz, responderei Ceguei por ela!

(Publicação póstuma. In Faria Neves Sobrinho.

Poesias, 1949, p. 265)

Page 103: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

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Demóstenes de Olinda

(1873-1900)**

NOIVA MÍSTICA

Pelas sarças de luz da imensa altura

Passas de estrelas fúlgidas cercada,

Noiva, cantando salmos de ventura

Pelos lábios de rosa da alvorada.

Assim vejo-te em sonhos. Doce e pura

Vejo-te agora do luar banhada Cheia

de graça, ungida de ternura, Para os

meus olhos, cândida, voltada.

Custe-me a dor, quero viver te amando!

E se um dia baixares sobre a terra,

Role aos teus pés meu coração cantando,

Role e morra sereno, ativo e forte

Como quem morre impávido na guerra

Sorrindo para a glória e para a morte!

(In História geral da literatura pernambucana, 1955, p. 71)

Page 104: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

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CROMO

Eu cismo: contemplo a aurora

Que estende o manto de prata

Por sobre a terra. Descora

A flor que um riso desata.

De um lago no regaço Serena

um cisne. As estrelas Dormem

no colo do espaço… Mimosas,

trêmulas, belas.

O sol desperta. Ao silvedo A

brisa em doce vertigem

Passa cantando um segredo;

Enquanto (oh! Vida ditosa!)

Duas crianças dirigem

Leve batel cor de rosa.

(In História geral da literatura pernambucana, 1955, p. 72)

Page 105: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

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Paulo de Arruda

(1873-1900)**

DESESPERO

Basta, Senhor! O bárbaro castigo

Que me infliges, não é castigo, é morte;

Não me parece de um Deus clemente e forte

Mas de um mortal e acérrimo inimigo!

Vês? Arquejo de dor, arquejo e sigo

Sem conforto, sem fé, triste e sem norte;

Sem, como tu, achar um braço amigo

Que essa cruz ao Calvário me transporte!

Basta! Ao menos suavizar a angústia intensa

Que eu levo a errar por essa estrada imensa

No desespero eterno de um precito;

Que não me arranque mais tão cruelmente

Pedaços da alma o látego candente

Desse amor infernal, atroz, maldito!

(In História geral da literatura pernambucana, 1955, p. 65)

Page 106: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

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COVARDIA

Sombra que adoro, e temo, e osculo, e odeio,

Fugir-te ao encanto embalde aspiro e tento…

Se bem longe és de mim, neste momento,

Toda escárnio sorris dentro em meu seio.

Quando te foste, eu te disse e até jurei-o

Eterno adeus de eterno esquecimento.

Mas bem longe és agora e é meu tormento

Maior, ver-me de ti somente cheio.

Quero esquecer-te e mais te anseio e vejo,

Sinto que me feriste cruelmente:

Resisto e sofro, luto e te desejo:

E a alma assim, nesta luta, se me exala:

Morro sorrindo, aos poucos, lentamente;

Morro beijando a mão que me apunhala!

(In História geral da literatura pernambucana, 1955, p. 67)

Page 107: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

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Targélia Barreto de Meneses

(1879-1909)**

SONETO

A Venâncio Filho

Em vão tentais nos ocultar a chama

Que o vosso peito alastra e que o devora,

Nós, as mulheres, fracas muito embora,

Sabemos ler no olhar do homem que ama.

No lábio que, agitando-se, descora,

Traduzimos a frase que se inflama!

E muita vez no gelo se derrama

Fogo que o peito de afeição vigora.

O homem é assim inconsciente,

Sempre ostentando aquilo que não sente:

Quando jura um afeto está fingindo;

Quando se diz liberto está cativo!

Ironia cruel! Por que motivo

Há de o homem viver sempre mentindo?

(In Escritoras brasileiras do século XIX, vol. II, p. 883)

Page 108: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

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VIOLETAS

Se um sentimento cada flor resume

E os destinos da flor não são vulgares,

É que as flores variam no perfume

Lírios, rosas, boninas, nenúfares.

Vem Musa! Aproveitemo-nos da hora

De mais viço nos campos. Amanhece.

Quero entre as flores descobrir agora

Com que flor a minh‟alma se parece.

Vendo ruínas quando às vezes sonha,

Eco talvez de glórias fugidias,

Minh‟alma é a violeta, flor tristonha

Com que se enfeitam mortas alegrias.

Quando, ao baixar ao túmulo profundo,

Tu doce amiga, visitar me fores,

Numa cruz de violetas mostra ao mundo

Que foi minh‟alma a alma dessas flores.

(In Escritoras brasileiras do século XIX, vol. II, p. 886-887)

Page 109: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

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Bastos Tigre

(1882-1957)**

SINTAXE FEMININA

Leio: “Meu bem não passa-se um só dia

Que de você não lembre-me”... Ora dá-se!

Mas que terrível idiossincrasia!

Este anjo tem as regras de sintaxe!

Continuo: “Em ti penso noite e dia... Se

como eu amo a ti, você me amasse!”

Não! É demais! Com bruta grosseria A

gramática insulta em plena face!

Respondo: “Sofres? Sofrerei contigo...

Por que razão te ralas e consomes?

Não vês em mim teu dedicado amigo?

Jamais, assim, por teu algoz me tomes!

Tu me colocas mal! Fazes comigo

O mesmo que fizeste com os pronomes!”...

Page 110: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

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ARGUMENTO DE DEFESA

Disse alguém, por maldade ou por intriga,

Que eu de Vossa Excelência mal dissera:

Que tinha amantes, que era “fácil”, que era

Da virtude doméstica, inimiga.

Maldito seja o cérebro que gera

Infâmias tais que em cólera maldigo!

Se eu disse tal, que tenha por castigo

O beijo de uma sogra ou de uma fera!

Senhora! pondo a mão sobre a consciência,

Minha palavra, impávida, protesta

Contra essa intriga da maledicência!

Indague a amigos meus; qualquer atesta

Que eu acho e sempre achei Vossa Excelência

Feia demais para não ser honesta...

(In Bastos Tigre. Disponível em:

<http://www.revista.agulha.nom.br/@bt.html#argumento>)

Page 111: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

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Emília Leitão Guerra

(1883-1966)**

AMO-TE

Quando os teus olhos fito e leio neles quanto

Sou amada por ti, meu doce e nobre amigo,

Minh‟alma, do prazer, veste o purpúreo manto

Como te adoro então e como te bendigo!

E me deixo embalar no mar sereno e quieto

Dos castos ideais, dos pensamentos sãos,

Pois é tão puro e bom, tão calmo o nosso afeto

Que eu penso ver em ti algum de meus irmãos.

Ponho os olhos nos teus e vejo aí tu‟alma,

Alma impoluta e boa, alma sincera e calma,

A sonhar, a sonhar, sempre a sonhar comigo...

de joelhos, então, ao Redentor do mundo

esta dita agradeço, em êxtase profundo,

Amo-te muito, muito, oh! meu sincero amigo.

(In Escritoras brasileiras do século XIX, vol. II, p. 1059-1060)

Page 112: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

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SE EU PUDESSE VOAR

Se Amor quisesse me emprestar as asas...

Se eu pudesse voar!...

Silêncio, coração! Em vão te abrasas

Neste desejo que te faz chorar.

Ai! Não irás dizer a teu Amado

Todo o carinho de teu grande amor;

Nem a saudade que te traz vergado,

Nem desta ausência a cruciante dor.

Que vale acalentar uma quimera?

Que vale aos quatro ventos segredar:

Quem me dera umas asas, quem me dera?!

Asas não tens, não poderás voar.

Não poderás transpor o imenso espaço

Que te separa de teu doce Bem.

Hoje não cingirás em terno abraço

Esse que é teu, só teu, de mais ninguém,

Sozinha e triste, a suspirar de mágoa.

Seu dia natalício hei de passar,

De fronte ao peito e de olhos rasos d‟água...

Quem me dera voar!

Em vão! Em vão! Baldado o meu anseio!

Quisera rir e em prantos me desfaço,

Mesmo assim, meu Amor, te aperto ao seio,

Num carinhoso, num sincero abraço.

Page 113: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

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Da ausência o vero amor frustrou o intento;

O espaço não nos pode separar,

Estou contigo pelo pensamento,

Mesmo sem asas, mesmo sem voar.

(In Escritoras brasileiras do século XIX, vol. II, p. 1062-1063)

Page 114: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

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Mario Melo

(1884-1959)**

SONHANDO

Se eu tivesse algum dia essa ventura

Que há tantos anos peço e ainda não vejo.

Porque não queres o que mais desejo,

Ou desejas trazer-me em desventura;

Se um dia tu dissesses – ó sim, jura

Satisfazer o que procuro e almejo –

Se tu dissesses, ao trocar dum beijo:

– Sou tua, é tua esta alma toda pura,

De meus braços nem Deus te arrancaria.

Que importa a morte, se morrer queria,

Para quem ama a lenitivo doce?

Que mais venturas desejar podia

Se a minha vida fosse a tua vida

Se o meu viver a tua vida fosse?

(In História geral da literatura pernambucana, 1955, p. 122)

Page 115: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

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AUSENTE

A vida é assim, querida: de hora em hora

Tudo, no mundo, pode ser mudado.

Para extinguir as trevas, fez-se a aurora.

Para toldar a aurora o céu nublado.

Quantos terão, pela existência afora

Nossos felizes dias invejados?

No entanto, hoje – distante – tua alma chora

E eu trago o peito em mágoas afogado.

Mas breve hei de transpor esses escolhos

Sangrando embora os pés por sobre espinhos

Para satisfazer nossos desejos,

Pois, meus olhos têm falta de teus olhos,

Os teus afetos, sede de carinhos

E os nossos lábios fome de mais beijos.

(In História geral da literatura pernambucana, 1955, p. 123)

Page 116: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

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Edwiges de Sá Pereira

(1885-1959)**

PELA NOITE

Anda o silêncio perturbando tudo:

Solerte e audaz as portas do passado

Abrindo, o seu olhar, curioso e agudo,

Entra os recessos desse lar sagrado...

– Na hipocrisia de um desígnio mudo

Que estranho Nume presidiu teu fado?

Só por escárnio tem o cetro e o escudo

Da quietação da paz, do sem-cuidado!

Da alma que muito sofre e já não sonha

Não sei de um só mais íntimo recanto

Que o teu passo não pise, não transponha

Para aguar a dor que não confortas,

Para arrancar sem compaixão mais pranto

Neste insano pavor das horas mortas!

(In História geral da literatura pernambucana, 1955, p. 131)

Page 117: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

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A UMA ESTRELA

À estrela que acompanha a lua

Eu, curiosa, perguntei um dia:

– Qual de vós vale mais, a que flutua

No céu azul da minha fantasia,

Ou tu que, no correr da noite fria,

Erras no céu, assim pálida e nua,

Das esferas ouvindo essa harmonia

Que, até de ouvi-la, o velho mar estua?

E a clara estrela disse-me: “Criança,

Quando fanada a última esperança,

A alma ficar-te de ilusões vazia,

Inda hás de ver-me fulgurar, divina;

Mas onde encontrará a que ilumina

O céu azul da tua fantasia”?

(In Seleta de autores pernambucanos I, 1987, p. 163)

Page 118: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

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Manuel Bandeira

(1886-1968)**

ARTE DE AMAR

Se queres sentir a felicidade de amar, esquece a tua alma.

A alma é que estraga o amor.

Só em Deus ela pode encontrar satisfação.

Não noutra alma.

Só em Deus – ou fora do mundo.

As almas são incomunicáveis.

Deixa o teu corpo entender-se com outro corpo.

Porque os corpos se entendem, mas as almas não.

(In Antologia poética, 1977, p. 142)

Page 119: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

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PROFUNDAMENTE

Quando ontem adormeci

Na noite de São João

Havia alegria e rumor

Estrondos de bombas luzes de Bengala

Vozes cantigas e risos

Ao pé das fogueiras acesas.

No meio da noite despertei

Não ouvi mais vozes e risos

Apenas balões

Passavam errantes

Silenciosamente

Apenas de vez em quando

O ruído de um bonde

Cortava o silêncio

Como um túnel.

Onde estavam os que há pouco

Dançavam

Cantavam

E riam

Ao pé das fogueiras acesas?

– Estavam todos dormindo

Estavam todos deitados

Dormindo

Profundamente

Quando eu tinha seis anos

Não pude ver o fim da festa de São João

Porque adormeci

Page 120: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

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Hoje não ouço mais as vozes daquele tempo

Minha avó

Meu avô

Totônio Rodrigues

Tomásia

Rosa

Onde estão todos eles?

– Estão todos dormindo

Estão todos deitados

Dormindo. Profundamente.

(In Presença poética do Recife, p. 204)

Page 121: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

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Paulino de Andrade

(1886–)**

OLINDA

No alto, a paisagem verde-escura e acidentada.

Em baixo, o ouro da praia e a saudade do mar…

Sugere lendas… reis magos… terra encantada…

Fidalgas castelãs… troveiros a cantar.

É bem de vela sob a tragédia sagrada

Do crepúsculo: é grande, heróica. É singular!…

Eu, quando a vejo assim, tenho a alma amplificada,

E uma dilatação de beleza no olhar.

E se, pela alterosa e lendária Palmira,

Longa e empolgada, a vista amplamente se estira,

Lembro o Nebo sob a ânsia imoral de Moisés!…

E um ninho azul coroa a epopeica cidade…

Rumina o coqueiral uma velha saudade

E a saudade do mar rumoreja-lhe aos pés.

(In História geral da literatura pernambucana, 1955, p. 173)

Page 122: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

122

A EMOÇÃO

Ela me vem assim: esquiva… dúbia… estranha…

– Vejo-a sem mesmo a ver… sinto-a não sei por quê…

Dá-me bem a impressão de uma coisa que arranha

O interior da alma… e só a alma sente, e a alma vê.

E o cabelo hirto, as mãos crispadas… Como que

Incendiada a pupila, eu sinto – é uma aranha

Pela teia dos meus nervos… E ninguém crê

Uma aranha capaz de tão alta façanha…

E é uma aranha no entanto – eu a sinto, eu a vejo,

Sem realmente a sentir, sem propriamente a ver,

– É bem como se vira, e sentira um lampejo...

Vibram-me os nervos… Crespa e fulva entra-me o ser,

Flui-me n‟alma um longínquo, um vago rumorejo…

– É ela, a aranha, na faina a tecer… a tecer…

(In História geral da literatura pernambucana, 1955, p. 175)

Page 123: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

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Adelmar Tavares

(1888-1963)**

A CIDADE DE RECIFE

Pátria do meu amor! Recife linda, como

te guarda o meu saudoso olhar! Velas ao

longe... Os coqueirais de Olinda, e uma

terra a nascer da água do mar...

Um céu de estrelas que entrevejo ainda.

Sob as pontes, o rio a se estirar...

Noites de lua... que saudade infinda...

brancas... que dão vontade de chorar...

Filho ingrato, parti... Mas nem um dia,

deixei de te lembrar, por mundo alheio,

onde me trouxe a glória fugidia.

Pátria, quando eu morrer, piedosa e boa,

dá que eu durma o meu sono no teu seio,

como um seio de Mãe que ama e perdoa...

(In Noite cheia de estrelas, 1925. Disponível em:

ABL – Adelmar Tavares. Textos

escolhidos: <http://www.academia.org.br/abl/cgi/cgilua.exe/

sys/start.htm?infoid=16&sid=156>)

Page 124: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

124

TROVAS

Trovas, – cantiga do povo,

alma ingênua dos caminhos,

de lavradores, cigarras,

mulheres, e passarinhos...

*

Para esquecer-te, outras amo,

mas vejo, por meu castigo,

que qualquer outra que eu ame,

parece sempre contigo...

*

Para definir o Poeta,

Só mesmo em versos defino.

– É um homem que fica velho,

com o coração de menino...

*

Minha Mãe, minha velhinha,

Deus te abençoe, e acompanhe,

porque uma Mãe neste mundo,

quanto mais velha, mais Mãe.

*

A morte não é tristeza,

é fim... É destinação...

Tristeza é ficar na vida

depois que os sonhos se vão...

(In Poesias completas, 1958. Disponível em:

ABL – Adelmar Tavares. Textos escolhidos:

<http://www.academia.org.br/abl/cgi/cgilua.exe/

sys/start.htm?infoid=16&sid=156>)

Page 125: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

125

Ulisses Lins de Albuquerque

(1889-1979)**

A SERIEMA

Andeja, airosa, arisca, ei-la, a seriema,

Em seus passeios diurnos pela estrada,

– Errante senhorita enamorada

Das seduções do azul da Borborema.

Vendo-a, à lembrança ocorre-me um problema:

Talvez que uma princesa desterrada

Viesse aos bosques assim transfigurada,

Curtir de atroz desgosto a angústia extrema...

Às vezes, por se ver tão solitária,

Estrangulando as próprias mágoas, canta.

E ei-la garbosa, assim, trauteando uma ária.

Mas, nesse canto é como que ela esteja

Traduzindo, aos soluços da garganta,

Os desalentos da alma sertaneja.

Page 126: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

126

CONCEIÇÃO

Selvática fazenda, hoje sagrada

Para mim, por ter sido no teu seio

Que a minha doce Inah, tão resignada,

Calma, a sorrir, cerrar os olhos veio!

No teu silêncio, casa abandonada,

Perdida aqui destes sertões em meio,

Vaga minha ´alma, trêmula, ajoelhada,

Vasando as dores de que vivo cheio.

Já não bastava aos vínculos primeiros

Sentir-me preso a ti, vendo, em lembrança,

Meu pai à sombra dos jatobazeiros!

Hoje, aqui em redor das sombras, erra

Minha`alma, enfim, que de evocar não cansa

Toda a ventura que eu perdi na terra!

Page 127: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

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Esdras Farias

(1889-1955)**

FELIZ DE TI QUE AINDA CHORAS

Eu te vejo chorar. Não imaginas

Que bem me faz te ver assim chorando!

Felizes os que choram quando e quando

E que as dores escoam das retinas.

E lágrimas e dores vão rolando

Amargas, dolorosas, assassinas,

Nessas duas turquesas pequeninas

Que são teus olhos quando estão chorando.

Feliz de ti, criatura, que ainda choras!

Pobre desta minh‟alma dolorida

Que nem pode chorar naquelas horas,

Que quisera chorar, calmo e profundo,

Todos os males que me fez a vida

Todas as coisas que me fez o mundo!

(In História geral da literatura pernambucana, 1955, p. 159)

Page 128: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

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PARA VOCÊ MESMO, ESDRAS

O que até hoje me tem dado a vida

Eu darei a quem queira; tantas são

as glórias tristes de uma situação

na poeira deste mundo conseguida.

Mas esses que, ainda assim, confiados vão

subindo, sem saber qual a descida,

bem podem ver que o sonho da subida

é mais ou menos como estar no chão...

O que o mundo, porém, me deu de puro, o

que o mundo, porém, me deu de nobre (não

sei se é uma desgraça ou se é um dom),

(digo-o por minha honra e o meu futuro)

Foi que eu me resignasse por ser pobre

E não me arrependesse de ser bom.

(In História geral da literatura pernambucana, 1955, p. 161)

Page 129: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

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Olegário Mariano

(1889-1958)**

ARREPENDIMENTO

Deste amor torturado e sem ventura

Resta-me o alívio do arrependimento.

O pouco que me deste de ternura

Não vale o que te dei de encantamento.

Abri para o teu sonho o firmamento,

Semeei de estrelas tua noite escura.

Dei-te alma, exaltação e sentimento.

Fiz de um bloco de pedra uma criatura.

Hoje, ambos à mercê de sorte avessa, Se

para te esquecer luto e me esforço,

Manda-me o coração que não te esqueça.

Padecemos idêntico suplício:

Tu – corroída de pena e de remorso,

Eu – com vergonha do meu sacrifício.

(In Cantigas de encurtar caminho, 1949. Disponível em:

ALB – Olegário Mariano.

Textos escolhidos: <http://www.academia.org.br/

abl/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?infoid=432&sid=228>)

Page 130: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

130

AS ALMAS DAS CIGARRAS

As cigarras morreram... Todavia

Sinto um leve rumor tranquilo e lento

Que vai, de ramaria em ramaria,

Lento e tranquilo como o pensamento.

As cigarras não são, porque, outro dia,

Vi que soltavam o último lamento...

E o vento? Deve ser a alma do vento

Que entre os ramos das árvores cicia...

Entretanto o rumor parece eterno...

Agora que as estrelas se acenderam,

Vibra num coro, em serenata, ao luar...

Contam os lavradores que, no inverno,

As almas das cigarras que morreram

Ressuscitam nas folhas a cantar.

(In Últimas cigarras, 1920. Disponível em:

ALB – Olegário Mariano. Textos

escolhidos: <http://www.academia.org.br/

abl/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?infoid=432&sid=228>)

Page 131: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

131

Ascenso Ferreira

(1895-1965)**

NOTURNO

Sozinho, de noite,

nas ruas desertas

do velho Recife

que atrás do arruado

moderno ficou...

criança de novo

eu sinto que sou:

– Que diabo tu vieste fazer aqui, Ascenso?

O rio soturno

tremendo de frio,

com os dentes batendo

nas pedras do cais,

tomado de susto

sem poder falar...

o rio tem coisas

para me contar:

– Corre, senão o Pai-do-Poço te pega, condenado!

Page 132: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

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Das casas fechadas e

mal-assombradas

com as caras tisnadas

que o incêndio queimou

pelas janelas esburacadas

eu sinto, tremendo,

que um olho de fogo

medonho me olhou:

– Olha que o Papa-Figo te agarra, desgraçado!

Dos brutos guindastes

de vultos enormes

ainda maiores

nessa escuridão...

os braços de ferro,

pesados e longos,

parece quererem

suster-me do chão!

– Ai! Eu tenho medo dos guindastes

por causa daquele bicão!

Sozinho, de noite,

nas ruas desertas

do velho Recife

que atrás do arruado

moderno ficou...

criança de novo

eu sinto que sou:

– Larga de ser vagabundo, Ascenso!

Page 133: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

133

TREM DE ALAGOAS

O sino bate,

o condutor apita o apito,

Solta o trem de ferro um grito,

põe-se logo a caminhar…

– Vou danado pra Catende,

vou danado pra Catende,

vou danado pra Catende

com vontade de chegar...

Mergulham mocambos,

nos mangues molhados,

moleques, mulatos,

vêm vê-lo passar.

– Adeus !

– Adeus !

Mangueiras, coqueiros,

cajueiros em flor,

cajueiros com frutos

já bons de chupar...

– Adeus morena do cabelo cacheado !

– Vou danado pra Catende,

vou danado pra Catende,

com vontade de chegar...

Mangabas maduras,

mamões amarelos,

mamões amarelos,

Page 134: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

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que amostram molengos

as mamas macias

pra a gente mamar

– Vou danado pra Catende,

vou danado pra Catende,

vou danado pra Catende

com vontade de chegar...

Na boca da mata

há furnas incríveis

que em coisas terríveis

nos fazem pensar:

– Ali dorme o Pai-da-Mata

– Ali é a casa das caiporas

– Vou danado pra Catende,

vou danado pra Catende

vou danado pra Catende

com vontade de chegar...

Meu Deus ! Já deixamos

a praia tão longe…

No entanto avistamos

bem perto outro mar...

Danou-se ! Se move, se

arqueia, faz onda... Que

nada ! É um partido já

bom de cortar...

Page 135: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

135

– Vou danado pra Catende,

vou danado pra Catende

vou danado pra Catende

com vontade de chegar...

Cana caiana,

cana roxa,

cana fita,

cada qual a mais bonita,

todas boas de chupar...

– Adeus morena do cabelo cacheado !

– Ali dorme o Pai-da-Mata !

– Ali é a casa das caiporas

– Vou danado pra Catende,

vou danado pra Catende

vou danado pra Catende

com vontade de chegar...

(In Voz poética, 1997, p. 13)

Page 136: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

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Joaquim Cardozo

(1897-1978)**

CHUVA DE CAJU

Como te chamas, pequena chuva inconstante e breve?

Como te chamas, dize, chuva simples e leve?

Tereza? Maria?

Entra, invade a casa, molha o chão,

Molha a mesa e os livros.

Sei de onde vens, sei por onde andaste.

Vens dos subúrbios distantes, dos sítios aromáticos

Onde as mangueiras florescem, onde há cajus

[e mangabas,

Onde os coqueiros se aprumam nos baldes

[dos viveiros

E em noites de lua cheia passam rondando

[os maruins:

Lama viva, espírito do ar noturno do mangue.

Invade a casa, molha o chão,

Muito me agrada a tua companhia,

Porque eu te quero muito bem, doce chuva,

Quer te chames Tereza ou Maria.

1936

(In Joaquim Cardozo. Poemas. Disponível em:

<http://www.joaquimcardozo.com/

paginas/joaquim/poemas/chuva.htm>)

Page 137: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

137

CANÇÃO PARA OS QUE NUNCA IRÃO NASCER

Na modulada canção que agora canto

Para aqueles que nunca irão nascer

Nunca irão receber uma presença

Pois do pré-nascimento voz nenhuma

Deles visitara no seu puro abandono,

E em seu isolamento.

Essa canção é única, é de puro silêncio

De julgamento próximo aos que nunca hão de nascer

Canção de um só para os que sós estarão

Nesse abandono total antes de nascer

Antes de ouvirem outras canções

E a espera na canção a voz de alguém.

Os que ficarão somente almas

Somente espíritos remotos

À espera de uma voz que se anuncie. Sobre

o silêncio do silêncio, inda silêncio;

Silêncio de decibéis até os nadas negativos.

Inversão da voz, inversão

Em ruídos profundamente fuscos.

Os que ficaram almas:

Crianças que não mais virão ao mundo

Talvez ficaram nos gases das esferas,

Invólucros das líquidas estrelas.

Para eles cantarei através do além

De todos os silêncios,

Para eles cantarei; para aqueles

Que estão entre quazais,

Pelas ondas de rádio a minha voz escutarão.

Page 138: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

138

No espaço reflexo e no tempo inverso – PT

É o operador que realiza:

A passagem do Eléctron ao Pósitron – C

O operador C atua em forma esférica.

Quando o espaço-tempo marcha para o futuro,

Seguindo a esfera, o espaço-tempo, por trás,

Pelo passado vem voltando.

P.C.T. P.C.T. P.C.T.

Oh! almas das regiões do P.C.T.

Crianças que nunca irão nascer

E a sua voz nunca se ouvirá

Através do silêncio do universo.

Nem mesmo do ventre das mulheres

Há um som surgido e abençoado

Que nunca se esperou.

Crianças que nunca irão nascer,

Tampouco, tampouco irão morrer.

Mas se noite e dia sem fôlego ficaram

Nunca lhes acenderá respiração

Mesmo porque não puderam vir a ser.

Não conseguiram a respiração;

Ficaram simples, soltas entre as estrelas.

Pois ficaram nas nebulosas e nas galáxias

Na sombra dos quazais e no pulsar

Das ondas hertzianas; em todo o mundo

Na solidão eterna das estrelas;

Que as Cefeides se iluminem

E que se estendam para mais ainda.

Page 139: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

139

Mesmo no esplendor de longínquos universos,

Través a voz do rádio, esta canção

Ouvirás; longínqua e inesperada;

Ouvirás através das ondas hertzianas

que irão além dos quazais.

Reflexo do espaço, noutro espaço

Inversão do tempo negativo em positivo;

Daqueles que ficarão na escuridão

De onde nasceram, de onde apareceram.

Eu canto a canção dos que nunca viveram

E ficarão na treva para sempre.

Canto com a voz das ondas hertzianas

Que longínquos irão se propagando.

Cujo som acompanham

Por espaços tão lúgubres e longos

Crianças que ficarão sem ser

No íntimo das negras nebulosas;

Nebulosas que estão na Via-Láctea.

Morreram as vossas vidas

Nasceram as vossas almas:

– Agora, ao mesmo tempo anima e animum.

– E os que nasceram e depois morreram.

Agora estão dormindo, deliciosamente

Dormindo no sono das almas.

(In Um livro aceso e nove canções sombrias, 1981, s.p.)

Page 140: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

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Múcio Leão

(1898-1969)**

AS LUAS

Sobre a população desta amarga cidade

Pairam, longínquas, as sombras de duas grandes luas.

Elas velam o sono de Deus.

Uma está posta sobre os olhos de Deus,

E é por seu intermédio que os divinos olhos

Penetram os pensamentos e as dores

Do coração aflitíssimo dos homens.

A outra lua está colocada sobre o cérebro de Deus;

– E é a música, e é o sonho, e é o maravilhamento

De novas artes puras e perfeitas,

Que os homens jamais hão de conhecer.

(In Poesias, 1949. Disponível em: ALB – Múcio Leão.

Textos escolhidos: <http://www.academia.org.br/

abl/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?infoid=473&sid=222)

Page 141: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

141

OS PAÍSES INEXISTENTES

– Queres partir comigo para países muito distantes,

Para países que dormem,

Embalados por oceanos que ninguém conhece?

Oh! Vamos juntos! Vamos partir para esses meus

mundos misteriosos!

Levar-te-ei a planícies brancas, cobertas de neve

como as do Alaska.

Verás que há na altura um sol gelado, envolto

[na poeira

nívea da neve.

E verás que um vento – um vento que uiva nos

[montes alvos –

Vem beijar teus cabelos cheirosos.

Levar-te-ei a montanhas encantadas, onde habitam

dragões de olhos de fogo.

Verás que no céu as estrelas se desfazem,

Mandando raios dourados coroarem tua

[fronte serena.

Levar-te-ei às ilhas paradisíacas,

Que estão dormindo no ritmo das ondas mansas.

Lá as árvores dormindo no ritmo das ondas mansas.

Lá as árvores cheias de sombras são feitas de

[humanas ternuras

E os pássaros que cantam têm uma voz límpida

[como violinos.

Levar-te-ei a esses mundos estranhos,

A esses mundos formosos que nunca ninguém viu.

Page 142: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

142

E tu hás de repousar a cabeça no meu peito,

Deslumbrada pelos meus países inexistentes.

(In Poesias, 1949. Disponível em:

ALB – Múcio Leão. Textos escolhidos:

<http://www.academia.org.br/abl/cgi/cgilua.exe/sys/start.

htm?infoid=473&sid=222)

Page 143: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

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Austro Costa

(1899-1953)**

CAPIBARIBE, MEU RIO

(fragmento)

Capibaribe, meu rio,

espelho do meu olhar,

quero fazer-te o elogio,

mas penso: se te elogio

é a mim que estou a elogiar...

Capibaribe, meu rio,

espelho do meu sonhar...

Meu velho Capibaribe,

Meu irmão de sonho e amor...

Capibaribe, meu rio,

que vida levamos nós!

Tu corres, eu rodopio...

E há quarenta anos a fio:

Sempre juntos e tão sós!

Capibaribe, meu rio,

vinhas de longe, a correr.

E olhando o meu desafio

Paraste para me ver.

(In Presença poética do Recife, p. 87)

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O CANTO DO CISNE

Mil amores cantei. Fáceis amores...

Vagas quimeras... leves utopias...

Vãos devaneios de que enchi meus dias

Nos vinte anos azuis dos sonhadores...

Mil amores cantei... mas, entre flores,

Beijos, risos, promessas, fantasias,

Vi-os bater as asas fugidias...

Não me deixaram lágrimas, nem dores.

Este, porém, que se aprimora em pranto

E renúncia em minh‟alma – estranho e santo

Amor, a que não trazes teu socorro,

Este, sim! vale o canto que te oferto.

Ouve-o, e guarda-o! Ele é teu. Será, decerto,

O meu canto de Cisne. Canto-o e morro!

(In História geral da literatura pernambucana, 1955, p. 263)

Page 145: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

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Vanildo Bezerra

(1899-1988)**

QUIXOTE MORTO

Os últimos passantes, como tudo,

Sumiram num cortejo sonolento

E o cavaleiro audaz corria ao vento,

Tendo na espada a cruz, no altar a escudo.

Lembrando figurinos de um entrudo,

As flores cirandavam no relento...

Para adornar, após fatal momento,

Deram os faunos verbenas e veludo.

Vestindo um balandrau, fogoso infante,

A noite, em vertical, cortou no meio...

Cantava a cotovia num mirante.

A luz bruxuleava homens pobres

Assim como se achava, estava alheio,

Aquele das feições guapas e nobres.

(In Aprendiz de bissexto, 1983, p. 12)

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TELEVISÃO

Tenho minha calma consumida

Pela imagem e a voz que vêm de fora.

A sala tão quieta, as cores calmas,

Destacadas dos quadros das paredes,

Das frutas na fruteira repousadas,

Nos pratos descansando em velha arca,

O silêncio envolvente, quase morno

De acolhedora cadeira, cujos braços,

Me apóiam, como outrora imagem santa

Me envolvia em som e vulto santo,

Na certeza da paz e segurança.

Mas a imagem e a voz que vêm de fora,

Abruptamente abalam minha calma

Com mensagens agourentas ou guerreiras

Parecendo que do vídeo escorre sangue

Que inunda minha sala de silêncio

E se serve dos pratos repousados

E vai manchar os quadros das paredes

E inutilizar as frutas não servidas

E sufocar a cadeira acolhedora

Ou o vulto santo que me protegia.

A música que me chaga de permeio

Viola o ninar e as cirandas

Do reclinado corpo que a escuta

Massacrado pela imagem e a voz monótona

Que vêm de fora para minha sala.

(In Aprendiz de bissexto, 1983, p. 46)

Page 147: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

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Vicente do Rego Monteiro

(1899-1970)**

CARNAVAL FREVO

Um guarda-chuva

Dois guarda-chuvas

Cem guarda-chuvas

Girando

como piões

se entrechocando

dançam

E os pés

gotas

ressaltantes

estalam

marulham

sobre o chão

(In Vicente do Rego Monteiro. Poeta, tipógrafo, pintor, 2004, p. 192)

Page 148: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

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POEMA 100% NACIONAL

(In Vicente do Rego Monteiro. Poeta, tipógrafo, pintor, 2004, p. 202)

Page 149: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

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Gilberto Freyre

(1900-1987)**

O OUTRO BRASIL QUE VEM AÍ

Eu ouço as vozes

eu vejo as cores

eu sinto os passos

de outro Brasil que vem aí

mais tropical

mais fraternal

mais brasileiro.

O mapa desse Brasil em vez das cores dos Estados

terá as cores das produções e dos trabalhos.

Os homens desse Brasil em vez das cores das

[três raças

terão as cores das profissões e regiões.

As mulheres do Brasil em vez das cores boreais

terão as cores variamente tropicais.

Todo brasileiro poderá dizer: é assim que eu quero

[o Brasil,

todo brasileiro e não apenas o bacharel ou o doutor

o preto, o pardo, o roxo e não apenas o branco e

[o semibranco.

Qualquer brasileiro poderá governar esse Brasil

lenhador

lavrador

pescador

vaqueiro

Page 150: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

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marinheiro

funileiro

carpinteiro

contanto que seja digno do governo do Brasil

que tenha olhos para ver pelo Brasil,

ouvidos para ouvir pelo Brasil

coragem de morrer pelo Brasil

ânimo de viver pelo Brasil

mãos para agir pelo Brasil

mãos de escultor que saibam lidar com o barro forte e

[novo dos Brasis

mãos de engenheiro que lidem com ingresias

[e tratores europeus e

norte-americanos a serviço do Brasil

mãos sem anéis (que os anéis não deixam o homem

[criar nem trabalhar).

mãos livres

mãos criadoras

mãos fraternais de todas as cores

mãos desiguais que trabalham por um Brasil

[sem Azeredos,

sem Irineus

sem Maurícios de Lacerda.

Sem mãos de jogadores

nem de especuladores nem de mistificadores.

Mãos todas de trabalhadores,

pretas, brancas, pardas, roxas, morenas,

de artistas

de escritores

de operários

de lavradores

de pastores

de mães criando filhos

de pais ensinando meninos

Page 151: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

151

de padres benzendo afilhados

de mestres guiando aprendizes

de irmãos ajudando irmãos mais moços

de lavadeiras lavando

de pedreiros edificando

de doutores curando

de cozinheiras cozinhando

de vaqueiros tirando leite de vacas chamadas

[comadres dos homens.

Mãos brasileiras

brancas, morenas, pretas, pardas, roxas

tropicais

sindicais

fraternais.

Eu ouço as vozes

eu vejo as cores

eu sinto os passos

desse Brasil que vem aí.

(In Gilberto Freyre. Poesia reunida, 1980)

Page 152: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

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SILÊNCIO EM APIPUCOS

As mangueiras

o telhado velho

o pátio branco

as sombras da tarde cansada

até o fantasma da judia rica

tudo esta à espera do romance começado

um dia sobre os tijolos soltos

a cadeira de balanço será o principal ruído

as mangueiras

o telhado

o pátio

as sombras

o fantasma da moça

tudo ouvirá em silêncio o ruído pequeno.

(In Voz poética, 1977)

Page 153: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

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Alcides Lopes de Siqueira

(1901-1977)**

PANTALEÃO

Fazenda velha querida,

velha mansão avoenga,

velho solar dos meus pais,

estou aqui vim te ver,

vim acabar com as saudades

que eu não suportava mais.

Há tempos que eu desejava

pisar teu solo sagrado

ó meu querido rincão.

E aqui estou a abraçar –te

aqui estou a beijar-te

com os olhos e o coração.

Quero rever um a um

os meus amigos de infância

e os sítios onde brinquei:

o pátio da casa grande,

lagoa, ilhas, cacimbas,

veredas por onde andei.

Page 154: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

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Queridos entes anônimos,

pequenos seres tão caros

ao vê-los quanta emoção...

É como se eu apanhasse

pedaços da minha vida

que andassem soltos no chão...

Pedaços da minha vida

que aqui ficaram dispersos e

eu nunca pude esquecer

pedaços da minha vida,

lembranças do meu passado

que eu vim agora rever

Quero rever tudo, tudo...

E quero me recordar

de tudo que se passou

primeiro quero saber

que é feito da casa grande

a casa do meu avô.

Aqui nesta casa grande

a minha avó costumava

as suas roupas tecer.

Quando eu fazia uma trela,

corria para o seu colo,

prá ela me defender.

Por este pátio tão grande,

eu já menino grandote,

mas travesso e brincalhão

passava o dia correndo

brincando de vaquejada,

brincando de apartação.

Page 155: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

155

De noite neste terreiro,

quando era noite de lua,

eu vinha me acomodar,

junto ao velho calumbi

e ouvia atento as histórias,

que ele sabia contar...

E quando o velho não vinha,

eu mais outros meninos,

brincava de coelho saí,

ou de cantiga de roda,

enquanto as pessoas grandes

conversavam com meu pai.

Nesta e na outra lagoa,

quando elas iam secando,

eu vinha passarinhar.

Armado de meu bodoque,

jogava pedra nas rolas

que vinham bebericar.

Nesta cacimba ... era aqui

onde eu pegava piaba,

traíra e curimatã.

E junto com a meninada

fazia galinha gorda,

nadava toda manhã.

Nesta barreira mais alta

a gente fazia lama

brincava de escorregar

de vez em quando um subia,

rolava prá beira d`água.

Tibungo. E toca a nadar.

Page 156: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

156

Fazenda velha querida,

ó como estás diferente

cadê o povo daqui?

Cadê os teus moradores?

Cadê os teus vaqueiros

do tempo em que aqui vivi?

Fazenda velha querida,

tudo mudou.foi o tempo

que tudo gasta e desfaz.

Aquele tempo saudoso

que aqui tão ditoso

passou para nunca mais...

Sertânia, 1954.

Page 157: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

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TEIA DE PENÉLOPE

A ilusão, trama fluídica, se tece

No tear sutil do nosso pensamento.

Brilha. Treme. Depois desaparece

Como a pluma tangida pelo vento.

Urde-se outra ilusão. Por um momento

Nos fascina. Em seguida, se destece.

E o tear, nesse incessante movimento,

Fia nova ilusão, se outra fenece...

Ilusões! Fios de ouro se esgarçando,

E após, se recompondo, – eis, resumida,

À urdidura que a ideia vai tramando.

E, por dias alegres ou tristonhos,

A existência, tecida e retecida,

É a Teia de Penélope dos Sonhos.

Page 158: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

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Pedro Xisto

(1901–)**

HAI KU & TANKA (WAKA)

no orvalho da face

agora um toque de sol

– instante do sangue

manga semi-aberta

de quimono: leque e mão

chamam primavera

brisa abril que brincas

(culto oh culto de bambus)

flâmulas e flautas

primavera volta

(só eu sou do sonho ao sol)

primavera em volta

chuvinhas viviam:

fios fibrilas vidrilhos

titilam tilintam

precoce abandono

de folhas ao sol e ao solo

recolhe-as o outono

Page 159: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

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venha astro magnânimo:

na terra as celestes eras

penhasco e crisântemo

as sós sepulturas

caídas: ai! descaem púrpuras:

as folhas caducas

cá jerusalém

(tem o pó que o tempo tem)

lá jesus: além…

invertido amor

de fogo vivo a mar morto

o castigo-mor

nada sobrenada

branco e branco sobre branco

nada sobra nada

a areia das horas

e o sangue minado em gotas

na terra dos homens

aves no ar se encantam?

e pelo espaço astronautas?

(anjos nos arcanos)

(In Seleta de autores pernambucanos, v. 1, 1987, p. 546)

Page 160: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

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Eugênio Coimbra Jr.

(1905-1972)**

POBRE AMOR

Senhora, vou contar-vos um segredo

que há muito tempo docemente embalo.

Se não vos contei já, não foi por medo

que avaro fui somente em conservá-lo.

Faz vinte anos que tendes um vassalo

(Vede que tudo começou bem cedo).

Desde então nem vos olho nem vos falo.

Feliz, muito feliz, com este segredo.

A vida separou nossos caminhos:

Tivestes rosas, eu só tive espinhos.

E ambos envelhecemos. Mas como arde

Aquele estranho afeto do passado!

– Mas, o segredo ficará guardado

que agora é tarde, amor. É muito tarde

(In Seleta de autores pernambucanos, 1967, p. 174)

Page 161: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

161

DOIS SONETOS DE ABRIL

I

Tépido sol de abril, céu azulado

Com nuvens brancas, natureza viva.

E o vento rodopiando na lasciva

Folhagem deste parque abandonado.

Hora do meio-dia. Enamorado

Gorjeio de ave alada, terna e esquiva

Desde como lembrança rediviva

Do meu pobre passado sem passado.

Busco a mim mesmo. A tarde tece cores

Novas na meia luz, entre a folhagem

O homem não está. Fugiu com seus amores

Ficou-lhe a sombra que se curva e chora

Lembrando a paisagem outra paisagem

Retocada de luz. Havia aurora.

II

Agora, neste abril, olhos fechados.

Mãos sobre o peito – derradeira imagem.

Foram-se outros abris na vã miragem

De outros abris felizes, sossegados.

Este abril te levou. Foi na paisagem

De um meio inverno e luares desolados

Que afinal nós nos vimos separados

E tu te foste na final viagem.

Page 162: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

162

Sempre voltaste quando no abandono

Te achavas só. Apagaram-se os círios

E agora não vens mais que eterno é o sono.

Não sei como viver o mês de maio.

Se é o mês das flores, mandar-te-ei dois lírios

Tão brancos quanto o teu último desmaio.

(Eugênio Coimbra Jr. que se fez passagens, 1983, p. 41-42)

Page 163: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

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Solano Trindade

(1908-1974)**

FOI ASSIM...

Recife

Rua Direita

fundo das Águas Verdes

das mulheres perdidas

aí eu nasci

Recife

“Pontos” de facão cumprido

piano tocando valsa

pregões de negros nas praças

operários cigarreiros

soldado do 49.

Recife

“Jacaré sessenta”

“Uma vez só”

“Minha velha”

“Ostra chegada agora”

Recife

“Chora menino

pra comprar pitomba”

“O homem da bassoura

vai simbora”.

Page 164: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

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Recife

Greve no porto

Conflito na rua do Imperador.

Foi assim...

Recife

Charanga fazendo retreta

festejando minha roupa nova

no pátio do Terço embandeirado

Recife

Presépio de avencas

cheiro de canela

pastorinhas leves

menino Deus de pernas para cima

puríssimas canções.

Recife

Natal em Afogados

com bumba-meu-boi

e chegança

Recife

Campina de Bode

procissão dos Martírios

senhor de lindos cachos

carregado por pretos

de capa preta

Recife

festa do Poço

música bandeira

primeiro amor

Page 165: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

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Foi assim...

Recife

mamãe fazendo manguzá

papai batendo sola

Recife

pamonha

cuscuz e

angu Recife

cachaça boa

com “Maria Rachada”

um doce caju.

Recife Xangô da Baiana

na praia do Pina

para seu Exu.

Recife

Capibaribe

“Chapéu de sol”

Toureiro de Santo Antônio

Recife

Negro Umbelino

rico pra burro

dono do bairro

de São José

Recife

frevo

serenata

melhor carnaval do mundo

Page 166: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

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melhor cidade da terra

melhor cantinho de céu

pra não perder a saudade.

(In Ritmo, amor e luta nos cantares de Solano Trindade, 1988)

Page 167: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

167

TEM GENTE COM FOME

Trem sujo da Leopoldina,

correndo correndo, parece

dizer:

tem gente com fome,

tem gente com fome,

tem gente com fome...

P i i i i i !

Estação de Caxias,

de novo a correr,

de novo a dizer:

tem gente com fome,

tem gente com fome,

tem gente com fome...

Vigário Geral,

Lucas, Cordovil,

Brás de Pina,

Penha Circular,

Estação da Penha,

Olaria,

Ramos

Bonsucesso,

Carlos Chagas,

Triagem, Mauá,

trem sujo da Leopoldina,

correndo correndo,

parece dizer:

tem gente com fome,

tem gente com fome,

tem gente com fome...

Page 168: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

168

Tantas caras tristes,

querendo chegar,

em algum destino,

em algum lugar...

Trem sujo da Leopoldina,

correndo correndo,

parece dizer:

tem gente com fome,

tem gente com fome,

tem gente com fome.

Só nas estações,

quando vai parando,

lentamente,

começa a dizer:

se tem gente com fome,

dai de comer...

se tem gente com fome,

dai de comer...

se tem gente com fome,

dai de comer...

Mas o freio de ar,

todo autoritário,

manda o trem calar:

P s i u u u u u u u u u....

(In Tem gente com fome e outros poemas. Antologia poética, p.7-8)

Page 169: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

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Helder Camara [Dom]

(1909-1999)

NO SILÊNCIO DAS ÁRVORES

ainda há

o agitar dos ramos,

movidos pelo vento...

No silêncio das águas

ainda há

o marulho das vagas

ou o cantar da correnteza

atravessando as pedras...

No silêncio dos céus,

ainda há

o palpitar das estrelas carregado

de mensagens. Aprende que não

basta falar para atingires o

silêncio... Enquanto os cuidados

te agitam ainda não penetraste

na área do grande silêncio.

E aí, somente aí,

se escuta a voz de Deus.

(In Um olhar sobre a cidade, 1976, p. 17)

Page 170: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

170

ATÉ O FIM

Não, não pares.

É graça divina

começar bem.

Graça maior,

persistir na caminhada certa

manter o ritmo...

mas a graça das graças

é não desistir.

Podendo ou não podendo,

caindo, embora,

aos pedaços,

chegar até o fim. . .

(In O deserto é fértil, 1983, p. 47)

Page 171: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

171

Benedito Cunha Melo

(1911-1981)* **

MAIO

Numa clara visão de céus escampos,

Voltas, enfim, mais pródigo em carinhos:

Ouço mais vozes, Maio, pelos ninhos,

Vejo mais flores, Maio, pelos campos...

Mais insetos reluzem como lampos, Ao

teu sol matinal pelos caminhos, Que os

dias vão encher de passarinhos E as

noites vão cobrir de pirilampos.

Ouve, Maio feliz, quando te fores,

Tu que és o mês dos noivos e das flores

E todo o coração da terra invades,

Abre-me o seio, as tuas mãos piedosas,

E deixa um pouco dessas tuas rosas,

Para a minha alma que só tem saudades.

(In Benedito Cunha Melo. Poesia seleta, 2009)

Page 172: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

172

TROVAS

Fez lembrar-me a voz do grilo,

Noite a dentro; aqui, ali,

A paz de um mundo tranquilo,

Em que já cri... cri... cri... cri...

*

– Lampião de luz apagada

Que vento mau te soprou?

– Não foi vento, não foi nada,

Meu tempo é que se apagou.

*

Já viste o que faz o orvalho, À

noite – no Campo Santo?

Chega às cruzes, como orvalho,

Cai das cruzes, como pranto.

*

Velho portão, já sem tranca,

Resto do que foi solar,

Somente o vento ficou

Para te abrir e fechar.

Page 173: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

173

Mauro Mota

(1911-1984)* **

HUMILDADE

Que a voz do poeta nunca se levante

para ter ressonâncias nas alturas.

Que o canto, das contidas amarguras,

somente seja a gota transbordante.

Que ele, através das solidões escuras

do ser, deslize no preciso instante.

Saia da avena do pastor errante,

sem aplausos buscar de outras criaturas.

Que o canto simples, natural, rebente,

água da fonte límpida, do fundo

da alma, de amor e de humildade cheio.

Que o canto glorificará somente

a origem, quando mais ninguém no mundo

saiba ele de quem foi ou de onde veio.

(In Mauro Mota. Poesia, 2001, p. 43)

Page 174: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

174

MORTE SUCESSIVA

Não tenhas medo.

Tudo já aconteceu. Agora

será menos do que a cena final.

Apenas o cair das cortinas,

os dedos fechando as pálpebras antepostas

à derradeira paisagem

longe, cada vez mais longe, diluída quase na

[incolor distância.

Sentes na boca

o sangue dos princípios e esse gosto

de fim nunca sentido antes.

Não tenhas medo,

tudo já aconteceu. Agora

será somente a conclusão.

Esquece as gravuras do catecismo da infância

nos claros domingos de sinos paroquiais.

O diabo de espeto furando os olhos dos pecadores,

e eles caindo nas caldeiras infernais.

Partiste suave

que nem sentiste quase, mais suave

ainda será daqui a pouco.

Não tenhas medo da viagem sem volta e

[sem saber para onde

pois várias vezes já habitas lá.

Talvez tenhas perdido a memória

da casa de alpendres da cidadezinha,

o menino debaixo dos cajueiros.

Foi ele quem te deu a primeira

noção de saída do mundo, o primeiro

conhecimento da morte sucessiva e múltipla.

O piano do sobrado de azulejo

e a moça tocando a valsa do mês de maio,

Page 175: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

175

a mãe, a mulher, as rosas

na jarra azul abrindo,

os ponteiros

como uma pinça

extraindo

as horas felizes do relógio da sala,

não se foram sós, foram levando a tua vida fugitiva.

Não tenhas medo

do instante derradeiro,

e que de ti encontrará bem pouco,

criatura dispersa tantas vezes

e tantas vezes morta.

Perdeste a integridade primitiva,

sombra do corpo ausente e do espírito distante,

não tenhas medo,

tudo já aconteceu.

(In Mauro Mota. Poesia, 2001, p. 59)

Page 176: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

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Waldemar Cordeiro

(1911-1992)* **

PRÓLOGO

Usaria ao falar de Sibonei

palavras refletidas nas estrelas,

todo o charme de sírio dentre aquelas

e o sol de fogo em que me incendiei.

Perdido em meio à imensidão do mar

– navegante indeciso quanto ao porto –

alongo o olhar às praias: vejo um horto,

folhas mortas que o vento vai levar.

Sibonei – vida minha e sumo bem!

Por não tê-la em meus braços é que eu

me sinto tão sem pátria qual judeu

que morresse sem ver Jerusalém.

Ela se foi... e eu já chegando ao fim...

Viva, se morta; eu morto, se ainda vivo.

Se da presença dela hoje me privo,

feito lembrança, ela estará em mim.

(In Salão de sombras, 1992, p.13)

Page 177: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

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SONETO

A meu pai

Sempre a espreitá-lo a morte que não cansa

veio ceifá-lo às horas matinais

de um domingo de julho. Um céu lilás

está chorando lágrimas de criança.

Farda de herói, inquebrantável lança,

peito coberto de brasões morais,

combatente de lutas desiguais,

como um crente meu pai enfim descansa.

De meu pai proliferam-se as ramagens

dos filhos que ele fez a sua imagem,

no seu prolongamento tão profundo.

Recebo de meu pai com dignidade

o dom conformativo da humildade,

a decisão de suportar o mundo.

(In Salão de sombras, 1992, p.126)

Page 178: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

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Waldemar Lopes

(1911-2006)**

LIÇÃO ANTIGA

Entre as filas de verde um homem vem e vai:

na moldura rural, o seu vulto pequeno

sob o capote escuro. Esse vulto é o do Pai,

a irrigar o pomar, no aclive do terreno.

Facho desfeito, o sol sobre a paisagem cai

e a água rebrilha, branca. O céu, azul-sereno,

faz-se um canto de luz que flutua e se esvai

na asa leve da brisa. O dia esplende, pleno.

E tudo o Pai esquece, a regar as raízes:

a vida quase ao fim, o corpo a definhar,

a insônia, a tosse rouca, a febre, as hemoptises.

Seu legado será esta lição perfeita:

se a morte se aproxima, é tempo de plantar;

outros farão depois a festa da colheita.

(In Cinza de estrelas, 2001, p. 47)

Page 179: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

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SONETO DA VIDA E DA MORTE

Cai o silêncio escuro. Em pólos da alma

apaga a mão da noite as mais radiosas

flores do céu. O eco do vivido

vem no choro das águas, à distância.

Espesso véu de treva a sombra espalma

sobre os caminhos mortos. Silenciosas

imagens do passado, ou do perdido

tempo, em que foi tão bela a flor da infância.

Tudo é pó e memória. Vem da essência

das coisas: a alegria é também triste.

No mar do acaso sempre falta um norte.

Isso resume a angústia da existência.

Mas o véu do mistério ainda resiste:

Que vem à vida pelas mãos da morte?

(In Escritores vivos de Pernambuco, 2001, p. 201)

Page 180: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

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Lourival Batista

(1915-1992)**

HOMENAGEM À VIRGEM MARIA

Tu, ó Virgem soberana,

és Rainha universal,

casta, meiga e divinal,

fruto de Joaquim e Ana,

imaculada e humana,

remédio de nosso pranto,

estrela que e todo canto

mostra o mais puro brilho

Filha do Pai, Mãe do Filho,

Esposa do Espírito Santo.

Pura tu és entre as puras,

grandes mistérios encerras,

exemplo de santas terras,

enviada das alturas,

consolo nas amarguras,

alegria de nosso canto,

a sombra que faz teu manto,

cobre príncipe e maltrapilho.

Filha do Pai, Mãe do Filho,

Esposa do Espírito Santo.

Page 181: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

181

Tu surgiste do primeiro

poder perfeito e profundo.

Pra seres mãe do segundo,

foste esposa do terceiro.

De Ti nasceu o Cordeiro

na gruta em pobre recanto,

e os animais por encanto

não te causaram empecilho.

Filha do Pai, Mãe do Filho,

Esposa do Espírito Santo.

(No livro Natal pernambucano, 1992, p. 9)

Page 182: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

182

PAGANDO MOTES

(fragmentos)

Do Gosto para o desgosto O

quadro é bem diferente Ser

moço é ser sol nascente Ser

velho é ser um sol posto

Pelas rugas do meu rosto

O que fui hoje não sou

Ontem estive hoje não estou.

Que o sol ao nascer fulgura

Mas ao se pôr deixa escura

A parte que iluminou

(Louro, “pagando” um antigo mote. Cf. Urbano Lima)

*

Senti das paixões abalos E

desesperos medonhos Sonhos,

sonhos e mais sonhos Sem

jamais realizá-los

Na fronte senti os halos

Das auras da juventude

Mas nunca tive a virtude

De dormir entre dois seios

Não tive amores sonhei-os

Mas possuí-los não pude.

(Louro “pagando” o mote do poeta Raimundo Asfora.

Cf. Urbano Lima)

*

Page 183: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

183

Sua vida inda está boa

A minha é que está ruim

A sua está no princípio

A minha está bem no fim

Estou perto de estar longe

De quem está perto de mim

(Louro respondendo a cantador novo, nos últimos anos.

Cf. Urbano Lima)

(In Um certo louro do Pajeú, 2001, p. 15, 40, 41)

Page 184: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

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Odile Vital César Cantinho

(1915)* **

RIO DA SAUDADE

O rio da minha infância

Dependia da chuva.

No verão, com a seca,

Ele sumia

E a minha alegria ansiava

À espera do inverno.

Inverno sem neve e sem neblina

Um fio d‟água, ocasional ribeiro

Que com a chuva surgia sorrateiro.

No mundo da criança tudo se transforma

Muda de cor, de luz e de volume

Transmuda em estrela um simples vaga-lume

Amo o rio que cai em bátegas dos telhados

E escorrega pelas bicas

Rio caudal, cristalino, doce e frio

Rio que eu bebia e me banhava.

Rio da saudade, rio da minha infância

No qual minha pureza naufragava.

Page 185: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

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AXIOMA

Sou a semente que se biparte

E se estufa

E cresce púbere para o devir

Sou a água que alimenta o grão

E se transforma em veículo do

Dar-se

Sou o sol que luta para chegar

E sopra o morno calor do aconchego

Sou o sinal de todos os tempos

Sou o sonho

Sou o reflexo

O grito

A fúria

O abandono

Sou o redemoinho que tudo recomeça

E tenta a luta e sabe que é

Nada.

Page 186: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

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Celina de Holanda

(1915-1999)* **

VIAGENS DE CELINA

AOS QUE ME QUEREM COMO ELES

Não serei de outro

mas daquele

que ordena a beleza

à vida

rege o amor

pelos ciclos da lua

faz crescer os ovários

dos ouriços do mar.

Se apago esta paixão

talvez me apague.

ELOGIO DA MULHER POBRE

Eu te respeito

pelo teu mundo aberto

e por saberes no corpo tudo que sabes.

Pelo difícil acordo

entre o possível

e a incerteza

que é teu filho.

Pela denúncia que és

e a utopia

Page 187: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

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(mal entendido sonho)

essa tensão

em teus olhos

tombados sobre a mesa.

OS AMIGOS

Os amigos chegam, ponho a mesa.

Branca, estendida a esperança.

Às sombras

rogo o ensejo do contraste

equilíbrio de opostos

necessário

ao claro, para a imagem.

Ó, a tristeza

de sermos o que somos e não

como queriam que fôssemos os que

amamos.

Os amigos chegam,

venham de onde vierem, ponho a mesa.

(In As viagens, 1995, p.112, 154, 205)

Page 188: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

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ELEGIAS PARA O PADRE ROMANO ZUFFEREY

PRIMEIRA ELEGIA

Um homem passou em minha vida

com a alegria de suas bem-aventuranças.

Seu nome era Romano Zufferey.

Sua luta em favor da vida marcou

de beleza o que era pequeno, delicado

e humilde. Quando nada podia conter

a nossa lágrima, sua presença afirmava:

vou, onde for a sua mágoa.

Um dia ele me disse: “A verdade

vale a vida, a justiça vale a vida”.

Para não esquecer fiz uma placa

e coloquei na parede de onde vivo.

Mas sei: Lutou para que eu a pusesse

na minha vida.

SEGUNDA ELEGIA

Esta lágrima é de outro,

rio vazante de enchentes,

poça d‟água

desviada do azul

e o sal das vagas.

É operária

e se mistura à minha

pobreza (desigual)

na casa, a terra,

o filho e o amado

que nos falta.

Cai sobre o corpo

estático, vazio

Page 189: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

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do amigo

que não se negava

a qualquer lágrima.

(In As viagens, 1995, p. 369-370)

Page 190: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

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Tomás Seixas

(1916-1993)**

COLHIDOS DA SOMBRA

A BAILARINA

O teu silêncio que procura distâncias,

E te apoias de leve – no chão como se o ar te faltasse

Que distâncias percorrestes?

E o teu suor, superfície de rosa

Quem te ensinou?

Tuas mãos e os saltimbancos

Quanto tempo em conúbio

Com eles vivestes

Alada.

O chão teclado e o teu esqueleto

Tua álgebra feita de pés e mãos

E o segredo de formas nunca vistas que revelas

Crias e num instante aniquilas

Tua criação.

Por que não voas

Irmã?

Page 191: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

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ACONTECE

A PANTERA

“A incessante notícia de uma luta

com as panteras bruscas do invisível.”

[Paulo Mendes Campos]

Tudo é assim

Acontece

Acontece uma coisa e depois outra

Acontece o dia primeiro da Criação

Acontece o primeiro homem e acontece

[a primeira mulher

Acontece depois Caim

Acontece o tempo

Acontece o medo e acontece a esperança

Acontece o que em ti, e em mim, é receio

Acontece uma lua nova, uma flor, um morto

[pela madrugada

Em cada fração de um segundo acontecem

[séculos, milênios

Acontece uma luta, permanente e invisível

[contra o invisível

Acontece.

Page 192: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

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SONATA À LÍLIAN OU AS SOMBRAS NO ESPELHO

(Fragmento)

HEI de lembrar-me sempre de ti,

ó meu irmão enfermo,

e da penumbra densa

que por muito tempo

envolveu o nosso quarto.

Nós vivíamos então

uma época remota.

Quando o médico chegava

com os seus graves circunlóquios.

E eram tantos

os nossos caminhos de brinquedo!

Através das frestas

das altas janelas,

envidraçadas de azul, ouvíamos os rumores da rua,

que representavam fragmentos

daquela outra vida, da qual,

com o maior pavor,

já suspeitávamos, e esse era um

dos nossos maiores segredos.

.............................................................

POUCO tempo depois chegou Natal

e houve lá em casa uma grande festa.

E a festa era lá em casa,

era na rua e era na Igreja.

E todas as portas foram abertas,

de par em par.

E pessoas estranhas vieram me visitar

e me deram muitos presentes.

E me tributaram honras como

as que nas antigas cortes eram

concedidas aos pajens

Page 193: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

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de grande importância.

E todas essas pessoas insistiam

em dizer que eu estava muito melhor.

E aquelas visitas e aquelas palavras

eram para mim um tormento.

E houve muitos risos e muitas palavras

alegres e tinidos de copos de cristal na

mesa da sala de jantar.

Mas no meio de tanta alegria

eu me sentia inexplicavelmente assustado

e me esquecia dos variados presentes que

haviam me dado.

E era como se tivesse vivido

já outra vida e houvesse conhecido também

outra morte.

E de antemão conhecia já todas as dores

e todos os disfarces.

(In Sonata à Lílian ou as sombras no espelho, 1984, p. 13, 35-37)

Page 194: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

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Carlos Moreira

(1918)

AÇUCENA

Essa tarde durou uma açucena,

Os teus lábios perderam-se entreabertos,

Nas arestas da pedra enegrecida

Estendi meu desejo incandescente.

Tuas mãos modulavam passarinhos,

Os teus peitos caminhos e guitarras,

Mas a tarde durou uma açucena

Deixando tuas faces pressentidas

Eu perdi essa tarde uma cantiga Todo

o ouro do mar fugiu da vista,

Contemplei-te no tempo e nas aragens

Entre mim e teu sexo – nevoeiro.

Muito leve teu corpo esmaecia

Nessa tarde flor e o teu silêncio.

(In Antologia didática de poetas pernambucanos, 1988, p. 71)

Page 195: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

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SONETO DO TÉDIO

Em teus olhos de pausa, tempo e espera

As imagens e as sombras refletidas.

Denso é o céu, densa a manhã e há formas

Submarinas pela rua antiga

Sobre o rio e nas pontes sonolentas

Vago cinzento, e entre os meus cabelos

Canta ligeiro um vento frio e fino

Que vai passar nas torres das igrejas,

Roçar, de leve, pelos velhos sinos

E voltar para o mar de onde proveio,

Levando esta canção, cantada a esmo.

Nesta manhã de tédio e bruma, quero

Quedar-me aqui junto ao teu corpo, mudo,

E ser imagem nos teus olhos ternos.

(In Antologia didática de poetas pernambucanos, 1988, p. 73)

Page 196: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

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Deolindo Tavares

(1918-1942)**

AUSÊNCIA

Para Eliza, minha mãe

Atravessarei o tempo, vencerei a distância

para que minhas mãos voltem a repousar nas tuas

e minha cabeça descanse no teu seio

onde minhas dores depositarei.

As palavras de tuas preces

serão um ímã que me fará regressar a ti.

Verás então como os dias e as noites

se impregnaram nas minhas faces

e como meu espírito não se libertou da

[angústia secular;

saberás pelas minhas palavras,

as palavras que pronunciei para outros ouvidos

sempre presente em teu espírito

pela mágica de meu pensamento.

E nas pupilas de meus olhos,

encontrarás paisagens e perspectivas multiformes;

e na poeira de meus sapatos,

os caminhos tortuosos que venceram os meus pés.

Tuas lágrimas serão a minha remissão,

a remissão dos meus erros e de meus desvios;

Page 197: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

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e teus lábios pronunciando palavras de júbilo,

e tua voz soando na minha voz,

e meu corpo, meu espírito e meus sentidos

se reintegrarão neste instante na tua memória para

[a eternidade.

E seremos dois astros gêmeos

aproximando faces esquecidas

e percorrendo trajetórias infinitas.

(In Poesias, 1989, p. 13)

Page 198: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

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O POETA

Sou mais pobre do que Job.

Sou mais rico do que Salomão.

Sou poeta. Sou o maior de todos os descobridores.

Sem navio, sem bússola e sem leme,

descubro istmos e estrelas.

Posso ser amado e odiado, condenado e insultado,

sem odiar, sem condenar, sem insultar.

Sei tão somente amar e perdoar.

Não tenho castelos, nem rosas, nem amores,

mas, em misterioso sonho,

ora passeio no carro de Salomão,

ora durmo sobre as cinzas de Job .

Alimento-me de céu, de flores e da beleza eterna

das paisagens de Deus;

adormeço num som,

desperto numa cor,

morro afogado no mar de uma inesperada estrela.

Para mim não há, nem ontem, nem amanhã,

[nem depois,

vida e morte, alegria nem dor.

Para mim o dia é uma eternidade.

A eternidade o menor tempo;

para mim o tempo não existe,

pois rasguei todos os calendários do mundo.

Um dia, tendo as mãos límpidas, a alma serena

e pureza em meu coração,

caminharei em firmes passos para o céu de Cristo ou

[de Maomé.

(In Poesias, 1989, p. 14)

Page 199: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

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Homero do Rêgo Barros

(1919)* **

VER O RECIFE

Ver o Recife, para mim, é como

Viajar a bordo, conhecer Paris.

Pois de satisfação igual me tomo

Ao que indo à Europa busca ser feliz...

Louvando a Capital, que eu sempre quis,

Em cujos céus, qual dilatado pomo,

Refulge a ebúrnea lua cor de giz,

É assim, ventura rara, que eu te domo!

Quanta beleza esta Cidade exige,

Ornamentada pelas suas pontes

E pelas águas do Capibaribe

Ver o Recife, neste meu País,

É dos mares galgar os horizontes,

Viajar a bordo, conhecer Paris.

(In Escritores vivos de Pernambuco, 1994, p. 22)

Page 200: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

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O SOL

O Sol é um grande artista, na verdade: À

tarde ele retrata o meu portão,

Transferindo os losangos que há na grade

Ao longo da parede, oh, perfeição!

Do sol invejo essa capacidade

Que enche minha‟alma de admiração.

Mas quando no horizonte ele se evade

Tira os painéis que fez com seu clarão.

É que no seu diário expediente

Ele pressente que tem compromisso

Inadiável, ou melhor, urgente...

E assim deixa de lado suas artes Ao

fim das tardes, para fazer isso:

Pintar de luz a terra noutras partes.

Recife, 21 de fevereiro de 1994.

(In As flores do bem, 1994)

Page 201: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

201

Clélia Silveira

(1920)**

A UMA MARIA QUALQUER

Maria,

voltei a fazer poesia.

Regressei ao país do sonho,

saí do pesadelo da realidade.

Regressei à juventude

certa da força do meu sangue

e da capacidade

de renascer das próprias cinzas.

(In Poemas crepusculares, 1998 p. 17)

Page 202: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

202

EDIFÍCIO APAGADO

O tempo passa

e, implacável, apaga

as luzes do corpo:

as pernas, trôpegas;

os olhos cegos;

órgãos retirados

nos blocos cirúrgicos.

Substituídos pelas próteses da angústia.

Os passantes apagaram as luzes

em todos os pavimentos

deixando na escuridão

o edifício do corpo.

(In Poemas crepusculares, 1998 p. 104)

Page 203: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

203

João Cabral de Melo Neto

(1920-1999)**

O CÃO SEM PLUMAS

(Fragmentos)

I / PAISAGEM DO CAPIBARIBE

§ A cidade é passada pelo rio

como uma rua

é passada por um cachorro;

uma fruta

por uma espada.

§ O rio ora lembrava

a língua mansa de um cão,

ora o ventre triste de um cão,

ora o outro rio

de aquoso pano sujo

dos olhos de um cão.

§ Aquele rio

era como um cão sem plumas.

Nada sabia da chuva azul,

da fonte cor-de-rosa,

da água do copo de água,

da água de cântaro,

dos peixes de água,

da brisa na água.

Page 204: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

204

§ Sabia dos caranguejos

de lodo e ferrugem.

Sabia da lama

como de uma mucosa.

Devia saber dos povos.

Sabia seguramente

da mulher febril que habita as ostras.

§ Aquele rio

jamais se abre aos peixes,

ao brilho,

à inquietação de faca

que há nos peixes.

Jamais se abre em peixes.

§ Abre-se em flores

pobres e negras

como negros.

Abre-se numa flora

suja e mais mendiga

como são os mendigos negros.

Abre-se em mangues

de folhas duras e crespos

como um negro.

§ Liso como o ventre

de uma cadela fecunda,

o rio cresce

sem nunca explodir.

Tem, o rio,

um parto fluente e invertebrado

como o de uma cadela.

Page 205: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

205

§ E jamais o vi ferver

(como ferve

o pão que fermenta).

Em silêncio,

o rio carrega sua fecundidade pobre,

grávido de terra negra.

§ Em silêncio se dá:

em capas de terra negra,

em botinas ou luvas de terra negra

para o pé ou a mão

que mergulha.

§ Como às vezes passa com

os cães, parecia o rio

estagnar-se.

§ Suas águas fluíam então

mais densas e mornas;

fluíam com as ondas

densas e mornas

de uma cobra.

§ Ele tinha algo, então,

da estagnação de um louco.

Algo da estagnação

do hospital, da penitenciária, dos asilos,

da vida suja e abafada

(de roupa suja e abafada)

por onde se veio arrastando.

Page 206: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

206

§ Algo da estagnação

dos palácios cariados,

comidos

de mofo e erva-de-passarinho.

Algo da estagnação

das árvores obesas

pingando os mil açúcares

das salas de jantar pernambucanas,

por onde se veio arrastando.

§ (É nelas,

mas de costas para o rio,

que “as grandes famílias espirituais” da cidade

chocam os ovos gordos

de sua prosa.

Na paz redonda das cozinhas,

ei-las a revolver viciosamente

seus caldeirões

de preguiça viscosa.)

§ Seria a água daquele rio

fruta de alguma árvore?

Por que parecia aquela

uma água madura?

Por que sobre ela, sempre,

como que iam pousar moscas?

§ Aquele rio

saltou alegre em alguma parte?

Foi canção ou fonte

em alguma parte?

Por que então seus olhos

vinham pintados de azul

nos mapas?

...........................................................................

Page 207: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

207

IV/DISCURSO DO CAPIBARIBE

§ Aquele rio

está na memória

como um cão vivo

dentro de uma sala.

Como um cão vivo

dentro de um bolso.

Como um cão vivo

debaixo dos lençóis,

debaixo da camisa,

da pele.

§ Um cão, porque vive,

é agudo.

O que vive

não entorpece.

O que vive fere.

O homem,

porque vive,

choca com o que vive.

Viver

é ir entre o que vive.

§ O que vive

incomoda de vida

o silêncio, o sono, o corpo

que sonhou cortar-se

roupas de nuvens.

O que vive choca,

tem dentes, arestas, é espesso.

O que vive é espesso

como um cão, um homem,

como aquele rio.

Page 208: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

208

§ Como todo o real

é espesso.

Aquele rio

é espesso e real.

Como uma maçã

é espessa.

Como um cachorro

é mais espesso do que uma maçã.

Como é mais espesso

o sangue do cachorro

do que o próprio cachorro.

Como é mais espesso

um homem

do que um sangue de um cachorro.

Como é muito mais espesso

o sangue de um homem

do que um sonho de um homem.

§ Espesso

como uma maçã é espessa.

Como uma maçã

é muito mais espessa

se um homem a come

do que se um homem a vê.

Como é ainda mais espessa

se a fome a come.

Como é ainda muito mais espessa

se não a pode comer

a fome que a vê.

Page 209: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

209

§ Aquele rio

é espesso

como o real mais espesso.

Espesso

por sua paisagem espessa,

onde a fome

estende seus batalhões de secretas

e íntimas formigas.

§ E espesso

por sua fábula espessa;

pelo fluir

de suas geleias de terra;

ao parir

suas ilhas negras de terra.

§ Porque é muito mais espessa

a vida que se desdobra

em mais vida,

como uma fruta

é mais espessa

que sua flor;

como a árvore

é mais espessa

que sua semente;

como a flor

é mais espessa

que sua árvore,

etc. etc.

Page 210: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

210

§ Espesso,

porque é mais espessa

a vida que se luta

cada dia,

o dia que se adquire

cada dia

(como uma ave que vai

segundo conquistando

seu voo).

(In Obra completa. O cão sem plumas,

1949-1950, p. 105-107; 114-116)

Page 211: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

211

FÁBULA DE UM ARQUITETO

A arquitetura como construir portas,

de abrir; ou como construir o aberto;

construir, não como ilhar e prender,

nem construir como fechar secretos;

construir portas abertas, em portas;

casas exclusivamente portas e teto.

O arquiteto: o que abre para o homem

(tudo se sanearia desde casas abertas)

portas por-onde, jamais portas-contra;

por onde, livres: ar luz razão certa.

2

Até que, tantos livres o amedrontando,

renegou dar a viver no claro e aberto.

Onde vãos de abrir, ele foi amurando

opacos de fechar; onde vidro, concreto;

até refechar o homem: na capela útero,

com confortos de matriz, outra vez feto.

(In João Cabral de Melo Neto. Obras completas, 1994, p. 345-346)

Page 212: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

212

Potiguar Matos

(1921)**

I

Nem te sonhava mais, pássaro de fogo

ardente luz de selva e morte.

Tuas asas translúcidas pousaram em minha dor

reacordam cem mitos

no coração dormindo.

Te amo, teu voo alto, belo

flecha disparada no infinito

tocaste minha face morta

foste deus

a vida renasceu em mar e rosa

milagre teu, pássaro ferido.

E me vou contigo na amplidão do espaço

forças não tenho para o voo

sigo teu rastro de angústia e sonho

morro e ressuscito, pássaro de fogo

em tua vertigem

de altitude e queda.

(In Poesia Sempre, 1985, p. 91)

Page 213: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

213

V

A relva macia

de suaves tons intemporais

verde de mar

castanhos e morenos tropicais

negros da noite

abissal e devorante…

Do fundo vale nascem

névoas de sonho

a relva é tapete oriental

mitos se renovam

em carne viva

cantam canções de amor e morte…

Nos seus mistérios azulescidos

e fatais

ser vegetal e puro estou perdido

criança regressando ao ventre mãe

a solidão e paz do mundo.

(In Poesia Sempre, 1985, p. 99)

Page 214: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

214

Zé Dantas – José de Sousa Dantas Filho

(1923-1966)**

ACAUÃ

Acauã, acauã

Vive cantando

Durante o tempo do verão

No silêncio das tarde agoirando

Chamando a seca pro sertão

Chamando a seca pro sertão

Acauã, acauã

Teu canto é penoso e faz medo

Te cala acauã

Que é pra chuva voltar cedo

Que é pra chuva voltar cedo

Toda noite no sertão

Canta o joão-corta-pau

A coruja, mãe da lua O

peitica e o bacurau Na

alegria do inverno

Canta sapo, jia e rã

Mas na tristeza da seca

Só se ouve acauã

Acauã, acauã...

Page 215: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

215

A VOLTA DA ASA BRANCA

Já faz três noites, que pro Norte relampeia,

A Asa Branca, ouvindo o ronco do trovão,

Já bateu asas, e voltou pro meu sertão,

Ai, ai, eu vou embora, vou cuidar da plantação,

Já bateu asas, e voltou pro meu sertão,

Ai, ai, eu vou embora, vou cuidar da plantação,

A seca tem de desertar da minha terra,

Mas felizmente, Deus agora se alembrou, De

mandar chuva, pra este sertão sofredor, Sertão

das mulhé séria, dos homens trabalhador, De

mandar chuva, pra este sertão sofredor, Sertão

das mulhé séria, dos homens trabalhador. Rios

correndo, as cachoeiras tão zuando,

Terra molhada, mato verde que riqueza, E

a Asa Branca, salva e canta que beleza,

Está o povo alegre, mais alegre a natureza,

E a Asa Branca, salva e canta que beleza,

Está o povo alegre, mais alegre a natureza.

Sentindo a chuva eu me recordo de Rosinha,

A linda flor do meu sertão Pernambucano,

E se a safra não atrapalhar meus plano,

Que que há, o Seu Vigário, vou casar no fim do ano!

Page 216: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

216

Edson Régis

(1923-1966)**

COMPOSIÇÕES

I

Não terei a pressa

que aniquila o verso.

Na manhã presente

a flor talvez não seja

como anunciaram.

Esta é a palavra de

límpida fonte, precisa

como o sábado, nítida

e leve

como pura lágrima,

lenta, rolando

pela face:

liga teu verso

a ti mesmo

que ao céu noturno

será mais puro,

embora um mistério.

Page 217: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

217

II

Agora que é noite

e resta apenas uma estrada

o silêncio é cultivado

até a aurora.

Na fria areia

o primitivo gesto

do poeta dorme

Asas lhe faltam,

à terra está preso.

Noite de ferro

pesa nos seus braços.

o poeta entrega-se

aos seus hábitos

e prepara uma fuga

– um novo reino

entre a vida e a morte.

(In As condições ambientes e O deserto e os números, 1971, p. 59-60)

Page 218: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

218

AUSÊNCIA

Fora melhor a ausência e não ter visto

A chama dos teus gestos na paisagem

E tuas mãos de fogo pela noite

– Morte da infância, amor e desespero!

No pomar te esperei e entre horizontes

Cultivamos as lindas esperanças!

Com sortilégios me trouxeram sombras

E te perdi mais longe do que eras.

Vi dançando no espaço os teus cabelos,

Quando aqui te encontrei e nos vencemos

– Frágeis barcos lançados contra as pedras.

Contudo te esperei por muitas luas,

Sabendo que o teu corpo era tão longe

E meu apenas foi por um só dia.

(In As condições ambientes e O deserto e os números, 1971, p. 40)

Page 219: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

219

César Leal

(1924)*

O SONÂMBULO

Os mistérios do céu

refletidos nas vagas

devolvem ao mar os nimbos

na luz dissolvidos,

a noite é um losango,

o sono é vertical,

a morte, a luz de um

sonho adormecido.

No seio da linguagem

por um astro

– vesti-lo em brumas

quando despertado,

ter sempre um ar de vivo,

se dormindo,

de morto, sempre um ar

quando acordado.

As sombras do ciclone

são árvores oblíquas,

vozes adormecidas

dentro de mim carrego,

na terra não há curvas

nem vulcões nem abismos:

– o círculo do horizonte é infinito e cego.

(In Tempo e vida na terra, 1998, p. 450)

Page 220: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

220

CIDADE OU CIDADELA?

A Luciano Siqueira

Rios e mar formam tuas ilhas de

águas salgadas águas doces os

tempos idos: a paz, as pontes a

negar o que exibes hoje.

Cinzas de heróis em solo estranho,

a dor do mundo: ei-la em teu rosto.

Se uma luz nova é o que tu buscas:

só mostra sombras o teu “novo”.

Um novo carente de amor:

tua grandeza é teu passado,

as multidões perderam as ruas:

sabem todos que estão cercados.

Poucos recordam Frei Caneca, Luz

da Nação, voz brasileira. Onde se

encontram Capistrano, herói na

Espanha, Hiram Pereira?

O porte altivo de Gregório,

águas do abismo a vida inteira.

As cinzas-luz de Abreu e Lima

pedem sombra a nossa Bandeira.

Um cinturão de armas ocultas

fez da cidade a cidadela,

as armas pesam sobre todos,

sentem todos o peso delas.

Page 221: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

221

A morte segue os nossos passos,

não escolhe a vida que rebenta,

chega veloz, nasce nas armas,

suprime a luz: morte violenta.

(In Literatura Portuguesa e Brasileira, Universidade do Porto, 2000.

Conforme referência enviada pelo próprio autor.)

Page 222: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

222

William Ferrer Coelho

(1924-2006)*

SIMUN

Sou a saudade

relembrando você,

nauta dos mares distantes

e dos silêncios atlânticos.

Sou a saudade dos festejos

do frenesi das ondas

e dos encantos das noites enluaradas.

Sou saudade, sim.

Sou o simun que sopra nas tardes

do sáfaro deserto.

Confesso –

sou apenas a saudade.

Page 223: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

223

PROPOSTA

Quisera ser o sol

para dourar teu corpo.

Quisera ser a lua

para brilhar nos teus olhos.

Quisera ser um pássaro

para pousar entre teus seios

e nidificar.

Quisera ser uma borboleta

para pousar na tua cabeça

e sugar o néctar do teu pensar.

Quisera ser um molde

para guardar sovinamente

o teu andar em busca do amor.

Quisera ser a primavera

para atapetar de flores teu caminho.

Quisera não ser outono

para encher de folhas secas teu caminhar.

Page 224: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

224

Maria do Carmo Barreto Campello de Melo

(1924-2008)*

DEPOIMENTO

I

Agora

devo só esperar que as coisas aconteçam

anti-ser anti-sendo

e surpreendendo o avesso das coisas:

o som silente do grito

estrangulado na garganta e

o anti-sol

desta manhã nasce/morrendo.

Difícil, amigo

é ser poeta nestes tempos

e nesta hora em que devo esperar

que as coisas aconteçam e

escrevo sobre a água um poema de amor

que não lerás.

Difícil é ser poeta

nestes tempos.

Difícil é ser.

Page 225: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

225

II

O tempo, amigo, está contaminado.

Estamos todos comprometidos numa traição

que não sabemos

heróis e cúmplices de alguma coisa prestes

[a acontecer

que não acontece.

Amigo, se eu te pudesse depor

como se depõe uma veste

que face (terrível ou heróica)

eu voltaria para estas manhãs que já

nascem mortas

que palavra silente me umedeceria a boca?

Amigo, se eu te pudesse depor

(como depor o caminho como as mãos

os braços como o sonho a luz esta

rosa e o seu vermelho?)

Se eu te/me pudesse depor

amigo, se eu te/me

que noite mais escura ainda

seria nossa guarida

do que estes tempos contaminados

em que as palavras morrem em minha boca?

Page 226: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

226

III

Meu espanto

e este som branco e mudo

que se evola de mim e me redime.

Mas que denúncia assumirei se me sustenho em

andaimes de vidro

e não sou senão o ressoar

do que sangra no mundo

e pede aos céus vingança?

Que fiz de minha carne? Me fiz voz?

E que voz

de raízes amargas nascidas em minha garganta

que voz

terrível ou aliciadora escolherei

para dizer-te a contaminação dos tempos em

[que vivemos

(ou morremos) anti-heróis de uma era

[que buscávamos?

Amigo,

somos combatentes derrotados de outras lutas

presos na armadilha fatal que nos armaram

e no entanto sabes

que o mel da ternura corre em nossa boca.

Mas sabes também

que o nosso desconsolo assombrará o mundo

e as estruturas serão abaladas pelo anti-grito

em que me tornarei

pois sou apenas uma voz

Page 227: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

227

plantada no chão de mim

que me fiz grito

para rasgar

as impurezas de um tempo que se esgarça.

(In Partitura sem som, 1983)

Page 228: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

228

DO SER EXPECTANTE

Percebes

de repente

uma estranheza

no convívio do teu cotidiano:

alguma coisa que antes não

– está sendo agora.

Chegas a duvidar de ti mesmo

e da tua própria existência

talvez do cenário onde cumpres um esdrúxulo papel

que não te havias reservado.

Se alguns sinais já te o anunciavam

(lembras? um dia os pássaros ficaram mudos)

estacas agora ante a descoberta de um estranho

anti-tempo que te desconcerta:

Arbustos obediente perfilam-se junto aos muros

no estreito espaço que os carros lhes concedem

enquanto a vida comprimida irrompe na

explosão amarela das acácias.

A máquina

Homem-do-Ano

senta-se à mesa da Vida servida por homens-robôs

com o anúncio da realizada profecia:

“E a máquina se fez

e habitou entre nós”.

Page 229: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

229

Percebes:

neste contexto és inviável

e só te resta depor o sonho e erguer como um mastro

um rosto lívido ante um mundo onde sempre

[serás minoria.

Nos teus olhos

semeados de esperança

nascem madressilvas

e tomado de arrebatamento dizes:

“– Alguém me salvará.

Pelo menos um certo alguém”.

E logo verificas que te traíram o tempo e a

cronologia das lembranças.

Inútil, pois, o coração em alvoroço.

O próprio amor (bem sabes) não permitiu

[que outra face

fosse o espelho da tua face.

Por vezes

um ramo verde se insinua no vão da tua porta

e dos teus pensamentos. Mas não te iludas

é um simples presente da vida

uma de suas misericórdias.

No ritual das coisas

por terminar ainda

(há uma canção de outrora a ser esquecida)

é preciso buscar

uma fé de antes

uma coragem antiga

agora que descobriste não ser verdadeiramente tua

a vida que viveste com todas estas coisas acontecendo

pois delas te tornaste

Page 230: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

230

alvo

reflexo

somatório

mítico expectador.

(In De adeus e borboletas, 1985)

Page 231: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

231

Waldimir Maia Leite

(1925-2010)* **

OFÍCIO DO SEMEADOR

Em sua tenda de cedar,

Esta noite o homem plantará

Uma semente na mulher.

Suas mãos regarão um alqueire

Da terra fértil do corpo,

Em campo horizontal,

Até que umedeça,

Como terra chovida.

Revolverá então a terra e sobre

Ela

Jogará liquida e tépida semente.

Ao revolver, com rudes

Mãos de lavrador,

O corpo da mulher,

O homem suará ao Sol forte

E ao mister do seu lavrar de amor.

E se ouvirá um dueto quando ambos,

Terra e lavrador,

Fruírem, ao mesmo e único instante,

O jorrar do líquido semear.

Page 232: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

232

Enquanto o fruto cresce,

Cuidará, o lavrador, de coibir

O também crescer de ervas

Daninhas, ao derredor.

Ao ciclo vegetativo de nove luas,

O homem colherá sonoro fruto,

Da semente que semeou,

Em terra fértil de corpo horizontal.

Um dia

(já cansado lavrador)

ao homem faltará, dentro da noite,

nova semente a semear;

enquanto terra fértil

a mulher não mais será,

ao declínio do sol de amar.

Page 233: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

233

OFÍCIO DA BUSCA

Carrego nos ombros meus instrumentos

De trabalho: a palavra e a alma.

Todos os dias saio para a tarefa.

Sob sol ou chuva, o ofício.

De manhã e à tarde, o uso

Dos instrumentos fundamentais.

Mãos calejadas já tenho,

No árduo ofício, duro

Labor da alma e da palavra.

À noite, recolho-me com

Os instrumentos, tendo à mão

A obra sempre inacabada:

a

busca

de

Deus.

(Nota enviada pelo autor em 2005: “Este poema está em monumen-

to, à avenida Caxangá, Recife/PE”)

Page 234: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

234

Geraldino Brasil

(1926-1996)*

SEXTINA DO GATO BÁRBARO

O leve pássaro

arisco e tímido

e sempre lírico,

tem morte trágica

no dente áspero

do gato bárbaro.

Já nasceu bárbaro,

o gato. O pássaro

tem seu fim áspero,

– ele que é tímido –

em morte trágica

que come o lírico.

Pássaro lírico

sempre é do bárbaro

gato de trágica

mente no pássaro.

Nunca foi tímido

seu dente áspero.

Page 235: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

235

Seu punhal áspero

gosta do lírico

sabor do tímido.

O gato bárbaro,

seu sonho: um pássaro

em morte trágica.

Vive da trágica

desgraça o áspero;

vive do lírico

tímido pássaro

o cruel bárbaro

que come o tímido.

Olhando o tímido

que voa, a trágica

língua do bárbaro

se molha e é áspero

o olhar ao lírico

passar do pássaro.

Page 236: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

236

DESCONVERSA

Queria ver o mar. Pediu que não chovesse

e não choveu. Foi ver o mar.

Temeu um dia que o vizinho viesse

conversar. Pediu para chover.

Do céu azul choveu. Era pedir, era alcançar.

Mas lhe faltava o que sempre quis.

O amor da mulher que o faria feliz.

E pensou em partir. O jeito era partir.

Outra cidade, outro caminho, o esquecimento.

Mas o problema era esquecer. Não sabia esquecer.

Foi quando se lembrou: – Eu vou pedir para esquecê-la

completamente, e que me seja indiferente vê-la.

E procurou o santo protetor. Ajoelhou-se e ia

pedir para esquecer. Foi quando estremeceu.

Foi quando se lembrou de que sempre ele atendeu.

E com receio de perder o amor de que sofria,

com reserva mental desconversou sua oração, tossiu,

olhou para o relógio, simulou espanto,

baixou o olhar ao chão, pra não fitar o santo,

fez um sinal da cruz mal feito e escapuliu.

Page 237: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

237

Edmir Domingues

(1927-2001)**

SEXTINA DA VIDA BREVE

Em dia destes dias (muito breve)

partirei sem remorso desta vida.

Quem sentir minha falta seja forte.

Sei que a terra em meu peito será leve

se pesada me soube a dura lida

e quem viveu no bem não teme a morte.

O que vida será? Que será morte?

Que haverá que eu não saiba muito em breve?

A ciência dos homens, por mais lida,

não decifrou sentido nesta vida.

Toda filosofia que se leve

do mundo vão, nada terá de forte.

Bandeiras coloridas nalgum forte

fremem sempre de vida. Mas a morte

há de vir mansamente, o passo leve,

lembrando o acidental da vida breve.

Pois só de brevidade vive a vida,

e de mágoa de dor, de dura lida.

Page 238: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

238

Quanto haverá de prêmio após a lida

A quem não se curvou, a quem foi forte?

Ou é pura ilusão do Mundo, a vida?

Ou o sono sem fim, nirvana, a morte?

Sonho a se esvanecer, fumaça breve

Que o vento mais sutil num sopro leve?

Possa eu seguir no barco de alma leve

Ganho o óbolo em suor, preço da lida.

(Não dure a travessia, seja breve).

Um copo cheio de bebida forte

ajudará a olhar de frente a Morte

como ajudou a olhar de frente a Vida.

Nunca houvesse rompido o ovo da vida

e não conheceria a dor. Mais leve

do que o ser é o não ser. A vida e a morte

são dois prismas iguais da humana lida.

Pois todo o que nasceu, ou fraco ou forte,

um só destino teve: a vida breve.

Tenha-o assim por leve a vida breve,

o espírito o mais forte em toda a lida,

e se viva na vida amando a morte.

(In O domador de palavras, 1987, p.35)

Page 239: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

239

SONETO

E eu galguei o alcantil tendo-a em meus braços

vestida não de sol, porém de lua,

e havia cavalgadas nos espaços,

seu suave suor, e estava nua.

Houve então cavalgadas sobre a terra,

o espanto do luar que tudo via,

a grande paz que habita nessa guerra

de corpos enlaçados em porfia.

Veio depois o estranho cataclismo

desse grande vazio de depois.

À margem desse negro mar, o abismo

do mar, ao pé da soma de nós dois.

A Mão do Orvalho, então, – sabe fazê-

lo pôs estrelas sem conta em seu

cabelo.

(In Universo fechado ou construtor de catedrais, 1996, p. 312)

Page 240: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

240

Ariano Suassuna

(1927)

A INFÂNCIA

(Com mote de Maximiano Campos)

Sem lei nem Rei, me vi arremessado

bem menino a um Planalto pedregoso.

Cambaleando, cego, ao Sol do Acaso,

vi o mundo rugir, Tigre maldoso.

O cantar do Sertão, Rifle apontado,

vinha malhar seu Corpo furioso.

Era o Canto demente, sufocado,

rugido nos Caminhos sem repouso.

E veio o Sonho: e foi despedaçado!

E veio o Sangue: o marco iluminado,

a luta extraviada e a minha grei!

Tudo apontava o Sol! Fiquei embaixo,

na Cadeia que estive e em que me acho,

a Sonhar e a cantar, sem lei nem Rei!

(In Poemas, 1999, p.191)

Page 241: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

241

A ACAUHAN – A MALHADA ONÇA

(Com mote de Janice Japiassu)

Aqui morava um Rei quando eu menino:

vestia ouro e Castanho no gibão.

Pedra da sorte o meu Destino

pulsava, junto ao meu, seu Coração.

Para mim, seu Cantar era divino,

quando, ao som da Viola e do bordão,

cantava, com voz rouca, o Desatino,

o sangue, o riso e as mortes do Sertão.

Mas mataram meu Pai. Desde esse dia

eu me vi como um Cego sem meu guia

que se foi para o Sol, transfigurado.

Sua Efígie me queima. Eu sou a Presa,

Ele a Brasa que impele ao fogo, acesa,

Espada de ouro em Pasto ensanguentado

(1980)

(In Poemas, 1999, p.191)

Page 242: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

242

Deborah Brennand

(1927)**

NO BOSQUE

Falo com lábios vermelhos

sem medo

da lei que impele o besouro

a devorar nas flores

o ouro real dos polens

e tu continuas alheio...

Falo, e dou alarme,

do veneno da serpente

nos lajedos

do lodo cegando

aqueles olhos d‟ água,

mas finges não ver.

Com a mão crestada

aponto a árvore

queimando-se no auge do verão,

e, nem sequer lamentas

o sangue iluminado da sombra.

Pisarás nas cinzas, sem doer?

(In Pomar de sombras, 1995, p. 105)

Page 243: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

243

MAÇÃS NEGRAS

Sonhei com o teu quintal

coberto de ramagens

ofertando maçãs negras

e de repente senti

o meu coração estrangeiro.

Longe do meu tempo

à revelia dos sonhos,

levei adiante o destino,

fui a Damasco e Chipre

„Sem chorar os mortos‟.

Depois voltei sozinha

num barco de quilha azul

sobre águas de marfim

só para ver no inverno

rios chegarem ao mar.

Enfim, no longe surgiu

uma casa de teto alto

com muros rastejando

entre flores douradas:

era o pouso do acaso.

Só não fui ao teu quintal... tive medo.

(In Maçãs negras, 2001, p.13)

Page 244: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

244

Job Patriota

(1929-1992)* **

Mote de Raimundo Asfora:

“Eu quero teus seios puros / Na concha das minhas mãos.”

Esses teus seios pulados

Nossos olhos insultando

São dois carvões faiscando

No fogão dos meus pecados

São dois punhais aguçados

Ameaçando os cristãos

Mas pra meus lábios pagãos

São dois sapotis maduros

“Eu quero teus seios puros

Na concha das minhas mãos”.

Mote de Raimundo Asfora:

“Frágeis, fragílimas danças / De leves flocos de espumas”

Na madrugada esquisita O

pescador se aproveita Vendo

a praia que se enfeita Vendo

o mar como se agita Ora

calmo, ora se irrita Como

panteras ou pumas Depois

se desfaz em brumas

Por sobre as duras quebranças

“Frágeis, fragílimas danças

De leves flocos de espumas”.

Page 245: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

245

Carlos Pena Filho

(1930-1960)**

A SOLIDÃO E SUA PORTA

A Francisco Brennand

Quando mais nada resistir que valha

a pena de viver e a dor de amar

e quando nada mais interessar

(nem o torpor do sono que se espalha).

Quando, pelo desuso da navalha,

a barba livremente caminhar

e até Deus em silêncio se afastar

deixando-te sozinho na batalha

a arquitetar na sombra a despedida

do mundo que te foi contraditório,

lembra-te que afinal te resta a vida

com tudo que é insolvente e provisório

e de que ainda tens uma saída:

entrar no acaso e amar o transitório.

(In Livro geral, 1999, p.58)

Page 246: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

246

SONETO DO DESMANTELO AZUL

Então pintei de azul os meus sapatos

por não poder de azul pintar as ruas,

depois, vesti meus gestos insensatos

e colori as minhas mãos e as tuas.

Para extinguir em nós o azul ausente e

aprisionar no azul as coisas gratas,

enfim, nós derramamos simplesmente

azul sobre os vestidos e as gravatas.

E afogados em nós, nem nos lembramos

que no excesso que havia em nosso espaço

pudesse haver de azul também cansaço.

E perdidos de azul nos contemplamos

e vimos que entre nós nascia um sul

vertiginosamente azul. Azul.

(In Livro geral, 1999, p.77)

Page 247: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

247

Audálio Alves

(1930-1999)**

O ÓRFÃO DE BELÉM

Movem-se os sinos

E se ergue o canto

– a voz do ferro

se une à do povo –:

Nasceste tanto,

morreste tanto,

e ainda pobre

nasces de novo.

Hoje renovas

o teu caminho

e eu já te espero

no ano que vem:

depois dos Magos,

do pão, do vinho,

– depois da morte,

depois do além.

Menino pobre,

Deus peregrino,

do homem ao céu

os ares cantam:

– Já quando eu velho,

serás menino

Page 248: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

248

de mãos vazias

que ao Céu levantam-se.

Movem-se os sinos

e se ergue o canto

– a voz de ferro

se une à do povo –:

Nasceste tanto,

morreste tanto,

e ainda pobre

nasces de novo.

(In Natal pernambucano, 1992, p. 17)

Page 249: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

249

GEOGRAFIA DO CAMPO SOBERANO

Venhas, por onde quer que venhas,

seguindo o mugir dos bois,

encontrarás o Nordeste

– inda Nordeste.

Depois

Recife, Tabocas, Rio

Formoso, Igarassu,

Cabedelo, Sirinhaém,

Porto Calvo

– seus ares calvos ainda:

os ventos de cabeleira

são do Nordeste, os de Olinda.

Aí já então preso aos lugares,

por guia tomes os mares

(não o ar que erra).

Logo,

terra verás

além

bastante acima da terra:

um arraial

construção de ar, conexão de alturas

– visão

do ar batido sob a luz mais pura:

Palmares.

Antes vontade e hoje imaginação

agora campo de bois, de incerto fumo e feijão

e outrora

cercos reais madurando

cereais da liberdade.

Venhas.

(In Antologia de didática de poetas pernambucanos, 1988, p. 61)

Page 250: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

250

Lúcio Ferreira

(1930)***

DÚVIDAS

O arco da imagem

num salto olímpico:

a graça

a goiva

a gravidade

Finado tempo

cobro da tarde

Pires de cinza em minha volta

Olhar

sem safra

Por isso eu sei

num adivinhar

medroso

de fogo

solto

Sei, sim

de minhas dúvidas

20 de abril de 2005

Page 251: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

251

CONSTRUÇÃO

Entre a napa e o espelho

permaneço esférico

Não cavalgo

as curvas

nem a vermelha luz

das estrelas velhas

Penetro a forma

conservo

o teto

Gero meu jeito

fujo das redes das fronteiras

salto no primeiro orvalho

E no espaço

de meus sólidos

meus verões

construo

Visto o sereno das sombras

bebo na bilha da lua.

Janeiro de 2005

Page 252: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

252

Mauro Salles

(1932)* **

RECIFE

O vento é do Pina

ou de Boa Viagem

a luz vem de longe

da velha cachoeira

Os rostos se explicam

Nassau ou Luanda

Mas de onde virá

a minha saudade?

Recife, cheguei

mas não me demoro

Não vou nem ter tempo para tomar sorvete

no Gemba

nem chupar manga no Espinheiro

ou apanhar cajus na Piedade

A cidade não esperou a minha volta

E não foi poupada nem a esquina do Bar Lafayete

onde meu avô falava mal da vida alheia

Dos galhos de velhas jaqueiras ainda pendem

longos balanços que já não me cabem

– pena que ninguém me possa de novo fazer menino

Page 253: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

253

Naquela casa de praia

de grande varanda aberta

armei soldados de chumbo

comi siri, caranguejo

cavalas e guaiamuns

e vi meu rio Tomé pegando fogo

querendo salvar Geni

tão bonita no meio do incêndio

Recife, perdoa

se não vou ter tempo de ver o peixe-boi

do Largo do Amorin

Será que ainda vive o peixe-boi?

E as tartarugas do Derby?

E o mercado noturno do Bacurau?

E o farol de Olinda?

O carro me leva

pela Imbiribeira

que já não tem mais viveiros de tainhas

mas ainda tem a Rua Motocolombó

que os cariocas não sabem dizer

Não vou às usinas

Tiúma ou Catende

Nem vou aos engenhos

Outeiro ou São Felix

Nem vou ver Dindinha

que não tenho tempo

Vim só trabalhar

só vim trabalhar

ouvir quem não quero

Recife, que pena...

Page 254: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

254

Tanta pena de voltar pra

minha casa no Rio tão

longe da minha terra

sem ter botado um calção

ido ao cinema

passeado em Caxangá

na Torre ou em Beberibe

Beberibe está cada vez

mais longe de Copacabana

o vento é do Pina

ou de Boa Viagem

Mas de onde virá

A minha saudade?

Page 255: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

255

MUDANÇA

Retire, um a um

cada tijolo

derrube o muro

remova os alicerces

da construção

Supere as amarras

do passado

lance o último olhar

ao que existia

e foi meta e conquista

na paisagem

Depois aplaine o campo

que restou

caleje as mãos antigas

no velho arado

refaça os canteiros

esquecidos

traga o regador dos

tempos antes plante a

nova semente da

esperança

E espere confiante

a volta das flores

Page 256: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

256

Olímpio Bonald Neto

(1932)* **

AMOR ULTRAMILÊNIO

Cantar o amor que passa além da vida

De Dante a Mauro Mota: a mesma empresa.

A tanto eu tentarei, por ti, querida

Gravar do nosso amor toda a grandeza.

Que esta aventura o século varou

Com a mesma chama iridescente acesa.

Qual raio laser estigmatizou

A humana lida, plena de incerteza.

E sobrepôs, ao Tempo e às cicatrizes

Dos embates da Vida, a beleza

De mil constelações de tungstênio.

Até fazer de instantes as matrizes

Da Eternidade, dando-me certeza

Que hei de te amar por todo o outro milênio!

Olinda, 31 dezembro 2000

Page 257: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

257

Soneto RECICLADO de Olímpio Bonald Neto

(50 ANOS DEPOIS: Entre Fev 51 e Dez 04)

O POETA, QUANDO JOVEM.

(LENDO AUGUSTO DOS ANJOS)

Perto ou longe, num mar de Dor vagando,

Em vão, com a mente espadanando, tenta

E, rude, desespera-se buscando

Vencer a Solidão que o atormenta.

Num delírio de asceta o jovem empenha-se

Roubar da vida a Vida que mais ama

E abate-se, flagela-se, condena-se

A ver se da Esperança extingue a Chama.

O tempo passa. E as dores dão certeza

Da ingratidão – enzimas de arsênico –

Que, em busca a Perfeição, matam a Beleza.

E ao fim resta somente para uns poucos

O mundo cataléptico do astênico

Na Solidão asséptica dos loucos.

Page 258: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

258

Nelson Saldanha

(1933)* **

ANIMULA

Deitado agora como um som que cala,

recebo sobre o corpo a alma simultânea.

Percebo-a, breve e funda, e paciente,

a alma vertical e vigilante

que me habita por dentro e me perfila,

e me torna possível este sonho

breve também e vertical, um sonho

que é mais do que parece ou mais do que suponho.

E vejo em torno da alma um resto de paisagem

e cem anjos-da-guarda adormecidos.

Recife, 15 de fevereiro de 2004

Page 259: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

259

TEMPO, INSTANTE, CORAÇÃO

A cada instante passa um outro instante

que como o outro retorna, e se retrai.

O tempo, gota a gota, latejante,

mede o que menos fica, e o que mais vale.

O sono atrai o sono, mas o dia

dorme nos intervalos do compasso

que a pulsação da tarde, e do mormaço,

em seu constante ardor cria e recria.

O tempo, gota a gota, lento e forte,

se escoa entre as raízes escondidas

como um rastro que envolve vida e morte.

No coração refaz-se o ardor pulsante,

como o dia, que é novo em cada instante,

se renova nas lágrimas perdidas.

Recife, 2 de outubro de 2004

Page 260: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

260

Montez Magno

(1934)* **

A FORMA RESPLANDENTE

Todavia, um cérebro demente

comanda o caos do mundo, visto

que nada escapa ao negro sumidouro.

Um Sol sem luz é fonte reprimente

e no escuro nenhum olho atinge o alvo

salvo se um guia estender a mão alerta

evitando a queda e o abismo conseqüente

por onde já passou aquele que luzia

e se consumiu por êmulo fracasso.

Se dentro – no interior do negro báratro –

não escapa nem a luz forte dos astros,

o cone que faz a passagem para outro plano

consome o seu ouro na vertigem da viagem

aglomerando as almas soltas no espaço

em direção ao nirvana cheio de nada,

um compacto sistema anulador de ilusões.

A esfera que contém o núcleo ardente

surge então como forma resplandente.

15 de dezembro de 2002

Page 261: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

261

OS GIRASSÓIS DE VAN GOGH

O peso do sentir, a glória de viver,

a dupla mão percorrida

pelos campos contemplados

presos em molduras de madeira

os girassóis de Van Gogh

à venda em qualquer mercado.

À espera do vento em breve hora

dobrar os lírios brancos tardios,

anúncio e perda da forma

desgaste do musgo nas hastes

no entardecer longo e vazio.

Que ramo escolhe a flor no dia-a-dia?

Por onde anda o cheiro do seu pólen,

se vai além da sua medida,

ou se percorre a dimensão da sombra,

apenas um círculo que acende

o amarelo tingido em cada flor.

31 de março de 2002

Page 262: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

262

Cyl Gallindo

(1935)* **

COMÍCIOS ÍNTIMOS

Para Ênio Silveira

Olho e vejo a praça: é

um campo aberto

onde se plantam flores

e nasce Liberdade.

Mas acintosamente estão

plantados arames farpados

e placas:

“Não pise na relva”.

Plantam-se ainda

olhos e bocas

de fuzis

nas esquinas

e nasce o medo

e eu passo

cautelosamente

e vou fazer Comícios

dentro do meu quarto.

Olho e vejo a Casa: é

um lar inviolável

onde se planta amor

e nascem filhos.

Mas acintosamente estão

Page 263: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

263

plantados à porta soldados

e uma voz:

– Ordem superior!

Plantam-se ainda

vigília

com olhos e ouvidos

dos melhores amigos

e nasce o medo

e eu paro e

sigilosamente

vou fazer Comícios

dentro de mim mesmo.

Nota do autor: “Enviado a E. S. em 72, mas mantido inédito até

recentemente, quando foi incluído na Antologia Caliandra – Poesia

de Brasília, Org. Alan Viggiano – André Quicé Editor/95.

Vertido para o francês pela profesora Nilda Pessoa, da UFPE.”

Page 264: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

264

SER CRIANÇA EM NOITE DE NATAL

Tantas vezes a fadiga se desmancha

na mão que faz aurora e faz orvalho

e fez a vida fez o homem e faz verdade.

Tantas vezes a aurora se levanta

expondo as manhãs como crianças

nas peripécias sutis da claridade.

Tantas vezes a vida se acorda

e se joga a fazer a coisa feita

que para colhê-la ao homem bastaria

lançar o coração feito uma rede

a diluir entre nós essa parede

de indiferença erguida a cada dia.

Mas se os dias se vestem destes fatos

dada a colheita de frutos imediatos

tracemos novos rumos sem segredos

que a partir dum crepúsculo universal

igualitários na posse dos brinquedos

sejamos crianças em Noite de Natal.

Brasília, 1986

Page 265: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

265

Orley Mesquita

(1935-2006)*

CAFÉ CONCERTO

Onde dispor o silêncio ?

A asa em delta do guardanapo de papel

E o fosco do aço inoxidável

Entornam o café-com-leite no irreal.

O pão de geometria oblonga

Endurece entre a faca e o fruto.

À mesa posta,

Acendo o último cigarro.

De tudo estou farto.

Page 266: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

266

DESEJO

Um perfume qualquer

Oriental e noturno.

Uma lua vulgar

Antiga e sem história.

Ruínas a sangrar

Nos lençóis da aurora,

Teu corpo a refluir

Nas falésias do instinto.

O prazer de trincar

O teu fruto maduro

E saciar meu desejo

De sonho e eternidade.

Ser pássaro contigo,

Voar ansiedades

E depois,

Silente e contido,

Colher o mel dulcíssimo da tarde.

Page 267: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

267

Sebastião Uchoa Leite

(1935-2003)**

CORAÇÕES INSENSÍVEIS

Bate a porta da limusine

O vagabundo

Apanha a flor do chão

E entrega à florista

Brilhamos olhos

Da ceguinha

Bate a porta outra vez

Os olhos brilham

(Obras em dobras, 1960-1988, 1998, p. 47)

Page 268: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

268

DRÁCULA

esvoaço janela adentro

estou aqui ao lado

do teu pescoço longo e branco

com meus dentes pontiagudos

para esse coito tão vermelho

você desperta em transe

esvoaço outra vez

à meia-luz dos lampiões

de volta à minha máscara

quando entro na sala

com a cara distinta e lívida

de olheiras esverdeadas

a minha imagem em negativo

não se reflete no espelho

você solta um grito de horror

esvoaço janela a fora.

(Obras em dobras, 1961-1988, 1998, p. 126)

Page 269: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

269

Francisco Bandeira de Mello

(1936)* **

O EQUILIBRISTA

Tocávamos clarinete na corda bamba

subíamos às altas torres do Egito

passeávamos de pára-quedas

no sol sem fim dos dias de fogo

subíamos à capota do avião

por cima das nuvens

recitávamos poemas à lua

tocando nela

Andávamos nos parapeitos dos edifícios

de um pé só na balaustrada dos abismos

não caíamos dos fios metálicos do circo

andando de cabeça para baixo

nem do alto da torre Eiffel correndo sonâmbulo.

Só na vida é que não nos equilibrávamos.

Recife, 14 de janeiro de 1960

Page 270: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

270

O ADVENTO DA FLOR

Plana, no tempo as faces submersas,

ainda não é flor mas advento

de flor, perfumes e experimentos,

materiais de rosas no ar dispersas.

Profundas cores andam inconclusas

no que não é ainda, ou presas dentro

do chão azul do lago de confusas

ondas prontas para os nascimentos

Mecânica não é, é natural

a mão em que, dançando, sugerindo

vai também o aroma, a forma e a cor

da rosa. Do contato digital

nasce o desejo em ser e, prosseguindo,

as pétalas que se unem, formam a flor.

4 de abril de 1954

Page 271: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

271

Esman Dias

(1937)*

FUSÃO

A Carmen Brito

Santo Anjo do Senhor

Tyger! Tyger! burning bright

meu zeloso guardador

In the forests of the night

se a ti me confiou

What immortal hand or eye

a piedade divina

a divina piedade

a mão, o olho imortal

que deu forma e simetria

a ti, labareda clara,

Dá-me teu fogo claro e me incendeia!

Dá-me tua espada à noite e me defende

Sempre me rege e me ilumina a alma

Meu santo Anjo do Senhor, meu Tigre!

e minha espada, espada, espada, espada!

Page 272: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

272

ALUVIÃO

A Irma Chaves

Parlo in rime aspre, et di dolcezza ignude

com as mesmas vinte palavras

girando ao redor do sol

que as limpa do que não é faca

(Petrarca/João Cabral de Melo Neto)

Falo do que não falo quando falo:

falo do meu silêncio,

bem mais claro

que as vozes incessantes dos que falam.

Falo do que não falo: do que sou:

bicho da terra – surdo – e mau cantor.

Falo do que não falo: tão pequeno

a destilar à noite o seu veneno.

Falo, não para o mundo dos sentidos:

falo somente para o inteligível.

Falo do que percebo: coisas claras

aéreas superfícies, copos d´água.

Falo na muda fala da batuta,

clara e precisa, do maestro à música.

Falo da pedra dura, da aspereza

de pedra sobre a pedra desta mesa.

Falo de mim em tudo de que falo.

Falo dos meus espelhos quando calo.

Page 273: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

273

Falo como quem vai a julgamento

sem esperar o indulto do seu tempo.

Falo com a voz alheia que me toca.

Falo e regresso – ileso – à minha toca.

Page 274: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

274

Myriam Brindeiro

(1937)* **

AMA (DOR) AS

vejo esses olhos

rindo um chorar

p

r

o

f

u

n

d

o

nas artimanhas

a rasteira

para muitas quedas

e a ânsia

de sair

para o mundo sonhado

nos espelhos

os truques

da face e do pecado

enquanto a cama gira

e o som toca

Ave Maria

Page 275: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

275

(H) INOCÊNCIA (poema pascal em sete dores)

ah! (h) inocência ferida

ah! dores entrecortadas

ah! esta condição de vida

no painel / mural está

toda visão espelhada

toda missão escondida

toda canção não cantada

ah! (h) inocência ferida ...

a visão apocalíptica

no sol ficou encravada

a cada giro que dá

mostra a face apavorada

ah! (h) inocência ferida ...

caminho não percorrido

rio cheio abarreado

canoa de corredeira

peixe pulando assustado

ah! (h) inocência ferida ...

no pão o pó a semente

no vinho o sangue a uva

a benção santa consente

tantas graças como chuva

ah! (h) inocência ferida ...

Page 276: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

276

nenhuma flor aparece os

frutos estão no altar

incenso queima e aquece

fumaça solta no ar

ah! (h) inocência ferida ...

o solo recebe tudo

água clarão raio e fé

espera que num segundo

nada restará de pé

ah! (h) inocência ferida ...

a porta aberta à rua

na casa a solidão

numa e noutra não acerta

a caneca com o pão

ah! (h) inocência ferida ...

(Ao sofrimento do povo brasileiro pela morte de Tancredo Neves)

Page 277: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

277

Severino Filgueira

(1937)

PASSEIO

Muros e grades

nas cores em tecidos

sobre relva e ponte

orgânicas dos sentidos.

O tilintar dos cristais

e ágata pelas salas

para os que não ouvem

ou para o que não fala.

Sábado e domingo das

águas e do fogo pelas

terras e corações

terminados logo.

O barro das tigelas

no telefone por solstícios

fechados ao redor

dos mangues e sítios.

(In Antologia didática de poetas pernambucanos, 1988, p. 254)

Page 278: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

278

SEGURO

Não resta tinta sobre tinta

nas cápsulas dentro das paredes

das avenidas e dos mocambos

arrastados pelas grandes redes.

A coroa do santo e o pé do diabo

confundem as beatificações diversas

realizadas ou por se estudarem

nos tabuleiros dos mercados persas.

Não se distingue noite e dia

com novo dicionário a se fazer

conforme convento e bordel

nas suas temporadas de lazer.

Rola o universo no leilão

particular de cada um no jogo

de tênis ou dado na calçada

drenando água ou acendendo fogo.

(In Antologia didática de poetas pernambucanos, 1988, p. 255)

Page 279: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

279

Jorge Wanderley

(1938-1999)**

MATINÊ

Várias vezes ele e ela

às pressas

tiram a roupa e

se rasgam

de cima abaixo e se beijam

de cima abaixo e explodindo

na chuva na cama no armário

no carro

CORTA

a perna da vizinha a dois centímetros da minha perna

CORTA

o título devia ficar “ardentes de paixão”

e então os dois matam o marido dela

ou a mulher dele e

ficam ou não ficam com o dinheiro

e aí o detetive descobre tudo

(finais variados)

entre cores carros tiros coquetéis

apartamentos saias coxas long drinks

cerejas trigésimo andar

CORTA

mas parece que é o vizinho do outro lado que encosta

[a perna na

minha

vejam só

Page 280: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

280

CORTA

está ficando mais e mais difícil

coitados dos diretores

cotados dos roteiristas

das estrelas já não gravamos os nomes

CORTA

não era o vizinho fantasmal

só um toque ao acaso

nada além disso ainda

CORTA

uma barata

passeia no carpete pardo do cinema

indiferente ao som e à imagem

deve estar voltando das compras

gorda

automática

também já viu todos os filmes

CORTA PARA RUA

SOL E QUE FIZ DA MINHA VIDA

(In 41 Poetas do Rio, 1998, p. 321-322)

Page 281: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

281

POEMA

Para Rosalie e Carlos Lima

Se eu morrer amanhã, há de ter sido

ainda desta vez, só por aquele,

o movedor dos astros,

o que Dante

tratou bem, mas tratou mal, se andou distante,

perdido nas esferas e sem corpo:

não quero assim, fugido amante torpe,

entre fumos te ver, longínqua e pura,

que quero impuro o amor que me corrompe

e inscreve em ti o que não se ousaria,

mulher, flores não,

bosque sem fim, escuro e claro,

ó penedia

e primavera de guirlanda, o lume raro

que não redime

e amo rasgada, eu suicida, ó tudo,

ó nada, só meu sonhos, claro crime

(In 41 Poetas do Rio, 1998, p. 321-322)

Page 282: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

282

Arnaldo Tobias

(1939-2002)**

S.O.S./BRASIL 6

Quando não é chuva

grossa de céu fechado

é chuva de balas

de chumbo grosso

sob céu aberto

que fere e mata

como se mata

passarinho na mata

o tempo está escuro

e a previsão não muda –

entre o Plenário

e os meios classistas

são vários (os) papéis

e atos ex (tensos)

com muitos figurantes

e coadjuvantes

para tantas falhas

e falas pelos cotovelos

forrados de calos.

(Singular & Plural, 2003, p. 103)

Page 283: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

283

SEM TÍTULO

pelo que bem pareça

uma palafita

não é uma embarcação

segura

é uma canoa furada

(encalhada)

de porco na lama

não é uma arca

feito a de Noé

muito embora

embarque

a bordo (pro/lixo)

pessoas como bichos

em suma:

uma palafita

é o esqueleto

e o féretro

do seu arquiteto.

(In Singular & Plural, 2003, p. 120)

Page 284: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

284

Eugênia Menezes

(1939)*

SONHO DE PEDRA

Dos arcos da ponte te contemplo

com o temor de ver-te acordado pelo barulho

[da guerra.

Imaginava meu desterro no Pajeú

assustada por tua ira

que me faria perder o caminho

e os olhos verde-azulado de nice.

Antes ela se foi entre contorções e uivos

amarrada pela corrente que o cego cuidadosamente

[lhe atara.

Ao contemplar-te agora

percebo teu rosto oculto por galhos desprovidos

[de folhagem.

Parece sereno.

Abres os olhos, ainda deitado,

te encouras e abotoas as esporas. Ultrapassando a

cerca de pedra colhes umbus, depois de venceres em

quatro passos a distância que

[nos separa.

Lavo as mãos no rio que sob meus pés passeia

desajeitadamente te sorrio e as estendo

mas os umbus desaparecem.

E me vejo diante de ti sem medo

sem saber se devias continuar teu repouso indefinido.

Page 285: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

285

Pareces surpreso e assustado pelo despertar.

Trazes peixes tomados da barragem para que eu

[os prepare

o que fazemos juntos na copa do juazeiro do atalho.

Tuas mãos, agora vazias de ofertas, apenas tuas mãos

se multiplicam em quatro

e se pretendem, bravas,

fortalecidas pelos umbus e alumiadas pelos peixes.

Page 286: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

286

GÊNESE

te recebo em mim pela porta do mundo.

comecei a desejar-te aos poucos:

chegavas como se de leve batesses

em busca de abrigo.

chegaste tão ágil, tão manso,

que já não te soube em mim.

me invadias,

e eu me empinava

para alcançar-te.

meu corpo fulgurava:

te favoreceu e te pediu passagem.

uma passagem que já

nos tínhamos concedido além

muito além da carne.

depois que te foste me fiz nua

gostaria em mim teu toque invisível

mas a humana carne exigente

pôs-se a cobrar-me

toquei-me e sentia escorrer

das profundezas um caldo morno

que não sabia ser

a seiva do meu corpo

a lágrima dos famintos

ou o sangue dos assassinados.

não mais vieste nesta madrugada

tinhas já coberto tua fêmea

emprenhado com a tortura do mundo

Page 287: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

287

seu útero que não concebe

anjos ou demônios

mas povoa com a condição

do nada, nosso continente.

quero que voltes

não te quis não te soube não te chamei

e quero que voltes

a tempo de conhecer teu filho

a quem chamarei Pátria ou Dever.

(Poema inédito)

Page 288: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

288

Janice Japiassu

(1939)*

A VERDADE E SUA SOMBRA

A Verdade é como uma flor

Ou como um fruto maduro

Povoado de sementes

É simples e natural

Clara, fecunda, viçosa

Alimenta a vida

E é muito cheirosa

E, para os seus amantes,

Prazerosa

A Mentira é obscura

Gritante, repetitiva

E é também multimídia

Cheia de artefatos

De intrigas

Palavrosa

Redundante Sem

clareza

Só se constrói nos vazios E

se alimenta de medos

Jamais perceberá a beleza

De um arabesco

Ou de um algarismo

Page 289: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

289

Igual a si mesmo

Ou do riso

Quando é preciso

Ou do sexo

Sem ser explícito

Page 290: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

290

AMOR DE ÁGUAS DE SEDA

Ele é tão delicado!

Eu sou a sua princesa

Ele me ama calado

E eu também, muito em silêncio

Amo seu corpo de seda

Ele ama a minha alma

Guia meu corpo com os dedos

E eu me sinto tocada

Pela brisa dos segredos

Aí ardemos de encanto

Enquanto toca um violino

Tomamos dois copos d‟água

Como se fossem dois vinhos

Eu sou das uvas vermelhas

Ele é o ser das uvas verdes

Nosso vinho se entretece

De girassóis e beleza

Dentro de quatro paredes

Ele me ama e vai embora

Comigo no coração

Meu calor nos seus sentidos

Eu fico, faço uma poesia

Depois lavo com alfazema

O suor do meu vestido

E assim amamos a vida

Que nos uniu nesse enredo

Sem perguntar se a Alegria

Pudesse ser de outro jeito

Page 291: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

291

Eu sou o Sol, ele a Terra

Entre nós passeia a Lua

E um grande manto de estrelas

Protege da noite escura

Esse namoro encantado

De risos, rimas e sedas

E tanta delicadeza!

Page 292: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

292

Lenilde Freitas

(1939)

MULHER

Escolheram-me rainha e

com doçura de fada

puseram em minha cabeça

uma coroa – enferrujada

Depois sentaram-me em um trono de dor

daquela dor não dosada

mas tudo quase com amor

e com doçura de fada

Deram-me também um cetro

não dado, só emprestado

Vestiram-me então de preto

E por julgarem que me convinha

deixaram-me ali sozinha

rainha e soberana de um mundo

despovoado.

(In Corpo lunar, 2002, p. 42)

Page 293: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

293

AQUÁRIO

O amor em mim está maduro

como um peixe.

De tanta água repleto,

ela não nada. Pesado cochila sob pedras –

Completo

(Corpo lunar, 2002, p. 41)

Page 294: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

294

Paulo Cardoso

(1939-2002)**

DA VIAGEM

No vasto panorama que aprecio

de bruços na janela da lembrança,

dou rédeas ao corcel que a vista alcança

e ao meio da viagem me extravio.

Doideja a caravana no confuso

traçado das veredas. Tonto, sinto

e vejo bifurcar o labirinto

nas armadilhas do ar baço e difuso.

Sob o brilho das luzes destiladas

nas vias das estrelas escondidas

as musas cantam odes distraídas

e os deuses pisam uvas sazonadas.

O inconformismo d‟alma irrequieta,

o bálsamo da seiva; ele aviltava

os sonhos de um menino que sonhava

com sonhos ilusórios de poeta.

Perdido, fui ao máximo que pude

na escalada de abismos e de montes,

e me encontro, afinal, nos horizontes

em estado de paz e plenitude.

(In Vigília, 2000, p. 74)

Page 295: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

295

RECIFE ANTIGO E NOVO

Recife das serenatas

de pássaros boêmios;

de burgueses e favelados

unidos no carnaval;

de leilões e de quermesses

improvisados nos coretos

e calçadões das igrejas.

Recife das missões e

das missas celebradas por Frei Damião;

das retretas e das bandas

tocando nas procissões.

Recife de arranha-céus e pardieiros

– turístico e lendário –

vestido de coqueiros

levita sobre as águas do Capibaribe.

Recife se renova

e permanece antigo

coberto com o manto do mistérios

tecido pelos anjos

e bordado pelas ninfas.

De Olinda a Candeias

e do Cais do Porto aos canaviais

Recife antigo será sempre novo.

(In Cactos e corais, 2000, p. 43)

Page 296: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

296

Maria da Paz Ribeiro Dantas

(1940)*

VISITA

Os habitantes perderam-se

longínquos

num parque de águas.

No meio da noite

a casa

corrói-se em insônia:

espera.

Ausente a menina

brinca de esconde-esconde

atrás do banquinho.

(a máquina de brincar

fotografa a infância

impregnada nos móveis).

A casa

sozinha no meio da noite

corrói-se em insônia:

espera.

Page 297: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

297

CIGANO DO AR

Para João Cabral de Melo Neto

Não vim pra ficar

Chego de passagem

Sem teto

Sem terra

Sem ponto a marcar

Não sento poltrona

Não deito nem rolo

Na eternidade

– O Cigano do ar!

Sou o magro o fino

O concentrado puro

Nada mais que furo

Onde entro e saio

Neste ser-não-ser

Forma em que habito

A agulha do instante

O tempo agorante

O vivo de mim.

Page 298: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

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Maria de Lourdes Hortas

(1940)*

NOTURNO

Pediria ao poeta

Que trouxesse o vinho

E depois a doçura do instante antigo

Para lembrar que a vida pode ser

O farfalhar de folhas

Uma fuga de pássaro

Canto longínquo

Grito

Piscar de estrela

Soluço:

Esta chuva que escuto

Sobre o telhado.

(In Fonte de pássaros, 1999)

Page 299: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

299

INTERPRETAÇÃO DAS RUÍNAS

Houve passos nas pedras

Dentro da madrugada

Alvoroço de pássaros

Tropel de cavalgada.

Houve um cordão de estrelas

Nas janelas das casas

As luzes das candeias

Leve fremir de asas.

Houve salas e quartos

Cozinhas e latrinas

Houve átrios, cisternas

Oficinas, tabernas

Pátios, fontes, piscinas.

Houve cítaras e harpas

Beijos, dança

Fogueiras.

Houve medo, esperança

Flores, ritos, festins

Houve guerras e trégua

Tempo de sol ou névoa

Na relva

Dos jardins.

Houve mantos e túnicas

Seda, algodão e linho.

Houve sombras mirando

As sombras do caminho.

Entre verões acesos

E ardentes temporais

Page 300: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

300

Houve núpcias secretas

Rosas de lume abertas

No leito clandestino

Do feno ou dos trigais.

Alguém pintou murais

Alguém fez os mosaicos

Alguém na olaria

Riscou flores e falos

Sobre a face

Dos pratos.

Alguém armou os jogos

De água

Nos repuxos.

Alguém se sentiu deus.

Alguém se julgou bruxo.

Alguém bebendo vinho.

Outros comendo pão.

Alguns dizendo sim.

Outros dizendo não.

Longe uma voz chamando.

Outra que respondia.

Houve noite.

Houve dia. Infâncias,

solidões Amores e

traições Chegadas e

partidas: existências

cumpridas. Antes de

haver ruínas Houve os

jogos da vida.

Page 301: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

301

EPÍLOGO

O que haverá de urgente

Diante do repouso

Destas muralhas em ruínas

Séculos e séculos

De silêncio indiferente

Sobre a certeza do pó

De vidas

Que pisamos?

(In Dança das heras, 1995)

Page 302: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

302

Paulo Bandeira da Cruz

(1940-1993)**

SONETO DE CHANG

Gesto de sol e grega alvenaria

a luva de pelica do arquiduque

os pontos cardeais da alquimia

lençóis de claraboia a mão de truque.

Canários de plantão, terço de ervilhas,

subterrâneos de saguis e coelhos;

Alice no País das Maravilhas,

Mandrake se escondendo nos espelhos.

Cataratas do avô no olhar incrível

do neto que era eu, ser invisível,

no encanto magistral da flauta mágica.

E agora que sou mesmo a água e a fonte,

recolho a minha imagem no horizonte

e vejo que ela é de luz trágica.

(Na antologia Poetas da rua do Imperador, 1986, p. 64)

Page 303: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

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O EVANGELHO CONSOANTE

JOÃO DA SILVEIRA SEVERINO

(fragmento)

POEMA INTRODUÇÃO

1. Naquele tempo disse João

da Silveira Severino

aos homens feitos de barro

pelas mãos de Vitalino:

– Os raios de soda cáustica

do amargo sol nordestino

roeram os ossos de Deus

e as pernas do meu destino.

E andando léguas de sola

com alpercatas de rabicho

rezei as rezas da escola

com ter de carrapicho.

2. Foi assim que eu vim embora

com poemas na sacola

de fuga com Jesus Cristo,

que afinou a mão e a viola,

tocou com dedos de esmola

e desceu do crucifixo;

andando, como se anda,

coroa de espinho acesa

no socavão da aurora

sertaneja.

Page 304: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

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3. Ando a pé, mas a minhalma

continua galopando

no oculto cavalo baio;

preto na sua estrutura

de alcatrão e breu, nervura,

de alumínio e para-raios.

Cavalo, cavalo-baio,

De origem pernambucana,

feito de açúcar mascavo

corcel de cana-caiana.

POEMA EXPLICAÇÃO

4. Minha sombra em seu caminho

pratica um ser de verdade

e outro ser em desalinho.

Até que o sol feche a sombra

com sua chave de linho,

deixarei que a sombra fique

que um coxo parte é sozinho

Pincel de urtiga e cominho,

Saguão de roxo no pires,

escolho o ser e o caminho,

rastreando o passarinho

que alinhava o arco-íris.

Page 305: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

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SEQUÊNCIA

5. Entrarei ao Altar de Deus

sabendo que Cristo não

será mais pronunciado

nem julgado pelas cinzas,

rei que era – coroado –,

um Lampião, na Caatinga.

Porque

já existe um ser, no Nordeste,

posto no altar da restinga

crucificado, num cacto:

– Braços abertos à tarde,

mãos moldadas em Carpina,

pés atados em Correntes,

rosto pintado em Vertentes,

corpo entalhado em Olinda,

(no Alto da Sé, em Olinda).

6. Jesus Cristo Nazareno (mas

de Nazaré da Mata)

exposto ao céu e ao sereno

da noite com sua pata

de avenca e unha de lata.

Entrarei no Altar de Deus

comungando a Lua Cheia

branca hóstia consagrada

de trigo não fabricada

(nem de leite condensado)

porém do leite fervido

as expulsa vaca malhada.

Page 306: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

306

7. Entrarei no Altar de Deus

com a minhalma engomada

meu verso passado a limpo

minha palavra lavrada

meu silêncio construído

com o impuro branco do nada

com a solidão povoada

e a fé me foi testada.

8. Entrarei no Altar de Deus

com minha boca enfeitada

de Estrela D‟Alva o argumento

pois a boca de um poeta

não tem céu, tem firmamento

e atravessada na goela

a mesma Rosa Amarela que

o poeta Carlos Pena copiou

da Rosa dos Ventos.

GRADUAL

9. O domingo principia

onde o gado se inicia:

– Na roupagem do vaqueiro

no avental da ventania

no ferro em brasa ferrando

as cores da liturgia.

Page 307: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

307

10. Não há altar, laje ou mesa,

equacionada na ceia,

forrada de aparição;

sangue expurgado de Cristo

nas artéria da injeção,

mil baionetas caladas

nas faces do sacristão,

papel crepom, casimira,

aguapé, terebintina

e castiçais de agrião.

11. Não há altar, não há muro

de arrimo na salvação.

Fissuras de éter nas asas

semeadas para os anjos

por dedos de falsa mão;

de mãos em pó, decalcada,

para ao nervo da palavra

que se transforma em canção.

12. Não há faca nessa mesa

não há leque na audição.

Há ramalhete de peixes

visão de Nossa Senhora,

aleluias no alçapão.

13. Não há faca nessa mesa

nem punhal na refeição.

Apenas Jesus partindo

a nossa fome no pão:

– Fatias de Deus, caindo,

do abismo da solidão.

Page 308: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

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DA CONFISSÃO

14. Confesso que sou de barro

confesso que sou humano

confesso que no meu peito

bate um coração de pano.

Confesso que ponho o céu

na cabeça quando ando

pela vida sem chapéu.

Confesso que sou Arcanjo

primo de São Gabriel

(porém Arcanjo e Vaqueiro)

tocando fogo no gado pelos

campos de papel. Confesso

que tenho ovelhas

evangelho nas orelhas

curral de rosas de mel.

DA ORAÇÃO

15. Pai Nosso que estás vestido

com minha roupa de dor

fio de invisível tecido

ou a linha do Equador.

Utilizo Tuas luvas

(minhas mãos de lutador)

manipulo Teus milagres

de Anjo e prestidigitador.

Multiplico Tua imagem porque

sou teu criador soprando o

barro e a ferragem que te

sustentam o andor:

– Mas glorifico o Teu nome

Com minha fome (de amor).

Page 309: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

309

.......................................................

DA COMUNHÃO

19. Batata, inhame, cuscuz,

carne-de-sol, macaxeira,

louvado seja Jesus

repartido pela Feira.

Feira de Tracunhaém

Feira de Caruaru

feiras de barro – fronteiras –

da argila de cada um.

Cará, angu, jerimum,

de segunda à sexta-feira

minha morte se alimenta

minha vida fica em jejum.

.......................................................

CRUCIFICAÇÃO E RESSUREIÇÃO

41. Em vez de crucificado

entre o bom e o Mau ladrão

Cristo de Fazenda Nova

é só de imaginação.

Laranjas-cravo de gelo

coágulos de flor na mão,

Cristo de Fazenda Nova

é só a reencarnação.

Mas o Profeta acredita

que Deus morre e ressuscita

nesse Drama da Paixão.

Page 310: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

310

Com sua força inaudita,

Jesus explode, na cripta,

e sai voando do chão.

EPÍLOGO

42. No dia seguinte João

da Silveira Severino vê,

Jesus tomando cerveja

com o dinheiro do

cachê.

Mesmo assim ele acredita:

– A moça que tem na vista

só enxerga a um palmo do chão,

mas tem dois olhos na alma

abismos, como se fossem,

os próprios olhos de João.

Itamaracá, 15 de fevereiro de 1980.

(In O Evangelho consoante João da Silveira Severino

(e Outros Poemas Menores), p. 9-25)

Page 311: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

311

Ana Maria César

(1941)* **

SEM FORMALIDADE

Me despeço de mim

em noite esdrúxula.

Inúteis tacapes na soleira do tempo

impedem o retorno de caracóis visguentos.

Nas paredes circulares do poço

marcas de dores e orgias

vividas e consumidas

em tempo de vinha e de vinho.

A última colheita

se decompõe no terreiro

enquanto as sementes

no limo úmido do porão

desmentem previsões macabras

de um cataclismo final.

Me despeço de mim

em noite esdrúxula

e parto.

Page 312: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

312

O RIO DA INSENSATEZ

Parco rio da insensatez

desaguou em minha porta

lavou os degraus de ardósia

despediu-se e foi embora.

Mago rio da insensatez

desaguou em meu quintal

derrubou duas roseiras

deixou adubo pra mais.

Louco rio da insensatez

desaguou em minha vida

revirou todos meus sonhos

só deixou assombração.

Vasto rio da insensatez

desaguou em mar aberto

esticou as águas lentas

se perdeu na imensidão.

Page 313: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

313

Chicão

(1941)**

PECADOR E JUSTO

Pecador e justo

Noite e dia

Fantasia e realidade

Vida e morte

Em mim se unem

E não mais as distingo.

Permaneço

Onde estou Pelo

que sou: Anjo e

demônio. Se

tiver sede

Mitigarei minha sede

Na fonte mais próxima

E o meu suor darei

Pela comida que saciar minha fome

Pela camisa

Pelo agasalho

Pelo abraço

Pelo abrigo

Pelo amigo

Pela necessidade primeira

Que chegar em mim.

26 de junho de 1968.

(In Construção do dia. 1980, p. 38)

Page 314: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

314

NATAL

E frio ele contamina

Com calor o nosso gelo

E com a neve traz a chama

Que faz à alma um apelo

P‟ra sairmos da couraça

P‟ra suportar o degelo

Que exponha nosso ser

Aprisionado em não sê-lo

Pois, já não cabe na alma

A se estender p‟ra contê-lo.

(In Construção do dia. 1980, p. 51)

Page 315: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

315

Maximiano Campos

(1941-1998)**

O FILHO

A Eduardo e Antônio Campos

Que seja assim:

alegre sem desconhecer

a tristeza, capaz

e uma ilusão.

Forte sem apedrejar

derrotas, rebelde,

sem destruir a mansidão.

Servo apenas do ideal e sonho,

e rei de sua vontade.

Amando as pessoas sem

deixar que nenhum medo

o faça desconhecer a liberdade.

26 de junho de 1968

(In Lavrador do tempo, 1998, p. 27)

Page 316: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

316

APELO AO QUIXOTE

Não deixes que a tua

armadura enferruje.

Principalmente no peito

que é perto do coração.

Segura a espada

larga o escudo,

pois medo não é proteção.

Permite que o Sol bata na poeira

e o vento leve o sujo

do aço que te cobre.

Na loucura, só na loucura,

estarás liberto. O teu mito

é Sol, liberdade e céu aberto.

24 de abril de 1966.

(In Lavrador do tempo, 1988, p.29)

Page 317: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

317

Tarcísio Meira César

(1941-1988)

SONETO DO ENTARDECER, EM RÚSSIA

Por uma tarde, em Rússia, à fonte ia

a minha camponesa: blusa ao vento,

tão diferente da melancolia

que linha Rilke em seu olhar nevoento.

Entardecia em Rússia e um cavalo

pastava o sol, o tempo e o capinzal.

E o cabelo que a ninguém fez mal

Dormia entre o silêncio e o intervalo

que o sol fazia, ardente sem saber

das tecelãs que no Recife iam

às fontes da manhã, para aquecer

as fábricas do campo. E com os macios

cabelos de avelã, à tarde, vinham

baronesas tecer dentro dos rios.

(In Agenda Poética do Recife, 1968, p. 87)

Page 318: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

318

HIROSHIMA MEU AMOR

Nas ruas de Hiroshima ainda rodam

cantando a cirandinha nas calçadas

as crianças de luto. E mãos de fadas

as conduzem de perto e não as tocam.

com medo de magoá-las. Só as brisas

sonham devagarinho em seus cabelos

macios e lhes ofertam caramelos

feitos de tenros gnomos e corizes.

O luto que assim as veste ao meio-dia,

nas ruas incendiadas da cidade,

lembram o canto da morte que dizia:

“Era uma vez… Passou aqui um vento

louco varrido, e em plena claridade,

plantou-se a morte, como um sol nevoento”.

(In Agenda Poética do Recife, 1968, p. 89)

Page 319: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

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Suzana Brindeiro Geyerhahn

(1942-1996)* **

RECIFE

Adeus cabelo

cacheado Tardes

de chão molhado

Maresia

e Capibaribe.

Nunca mais Porque

alegria: fim Parque 13 de

maio: fim Volta de Dois

Irmãos: fim

Aurora: pôr-de-sol

Casa Forte: fraca

e amarela

Sítio sitiado Para

o mundo Pelo

mundo livre:

FIM.

(In Estações em segredo, p. 21)

Page 320: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

320

MÊS RAPPORTS AVEC RIMBAUD

Também me exilei

Numa Harrar mas doméstica

De cassarolas e

(mais uma vez a casa

com os poemas abertos

santuários como cruzes contra vampiros,

contra panelas e cobertores imundos.

Sugada por estas correntes

da nutrição e do eterno retorno

de panelas e trouxas de roupa

sujas/limpas, limpas/sujas,

estes pares de oposição

elementares e viscosos

dentro desta ordem inexorável

em que nascem e morrem

mães e avós

mais ou menos anedóticas

aí onde uma mulher opera

com duas simples mãos

o salto natura/cultura)

sujeiras.

Numa África de comércios,

e centavos e matrimônio.

(In Estações em segredo, p. 27)

Page 321: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

321

Alberto da Cunha Melo

(1942-2007)* **

CANTO DOS EMIGRANTES

Com seus pássaros

ou a lembrança de seus pássaros,

com seus filhos

ou a lembrança de seus filhos,

com seu povo

ou a lembrança de seu povo,

todos emigram.

De uma quadra a outra

do tempo,

de uma praia a outra

do Atlântico,

de uma serra a outra

das cordilheiras,

todos emigram.

Para o corpo de Berenice

ou o coração de Wall Street,

para o último templo

ou a primeira dose de tóxico,

para dentro de si

ou para todos, para sempre

todos emigram.

(Do livro Noticiário, 1979. In Os cem melhores poetas

brasileiros do século, 2001, p. 195)

Page 322: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

322

DUAL

Epígrafe um

“(...)portanto meus irmãos, temos uma obrigação,

que é a de não viver de acordo com a nossa

natureza humana”. (Romanos, 8:12).

Epígrafe dois

“O homem

que quisesse viver em sabedoria e paz deveria

adaptar-se à augusta ordem dos fenômenos da

natureza e viver na natureza com a natureza”.

(Lao-Tsé)

MORTO PELA SEGURANÇA

a hemorragia interna,

que enverniza por dentro,

inferniza por dentro

a palavra estado;

e pela insegurança

de comprar na esquina,

a estas horas da noite,

uma ampola de coramina;

MORTO POR ESPARTA

enquanto os negócios prosperam

e a terra enche-se de estranhos;

e por Atenas

a cometer o engano

de cantar tão longe

de seus arsenais;

MORTO PELO OCIDENTE

onde pôneis e jatos

só nos tomos da lei

Page 323: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

323

conseguem chegar juntos

ao Banco Mundial;

e, pelo Oriente,

onde os bancos já chegaram;

MORTO PELO MUITO

o mais, o mosto,

o gás de uma montanha

de laranjas apodrecidas;

e pelo pouco,

o bago disputado

em soluços nos calabouços;

MORTO PELA PAZ

um branca de merda com

seus sete canhões

apontando meus laranjais;

e pela guerra que,

para destruir-nos,

não precisa estourar mais;

MORTO PELA TRISTEZA

esse modo de as margaridas

me pedirem socorro;

e pela alegria, tão

fora-da-lei:

camponesa na sala

do General-Comandante;

MORTO PELO TEMPORAL

Page 324: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

324

ou seja: o “se Deus quiser”,

o “volto amanhã”,

o “cuide dos meninos”;

e pelo eterno,

que não data as cartas,

atravessa ileso as eleições de novembro

e não toma conhaques contra o inverno;

MORTO PELA UNIDADE

que reúne

todos os alvos em um céu

e dá precisão ao meu tiro;

e pela multiplicidade,

que me parte em pedaços

fáceis de controlar

pelos deuses descalços;

MORTO PELO ESPÍRITO

mero gás que retorna

à garrafa de coca

e procura explodi-la;

e, pela matéria,

tão órfã de síntese

quanto as moças de vinte

depilando seus pêlos

nos subúrbios da ordem;

MORTO PELO RACIONAL

sob as medalhas dos técnicos

e as migalhas do povo;

e pelo intuitivo,

Page 325: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

325

o imediato

e ingente sentir

não digital;

MORTO PELO SONHO

essa floresta afogada

nas folhas caídas;

e pela realidade,

onde os enfermos estouram

os tumores dos visitantes;

MORTO PELO NECESSÁRIO

a condenação à luz

que enlouquece uma estrela;

e pelo acaso,

o tropeçar nos alarmes

e o esmagar as rãs

que circundam o cárcere;

MORTO PELO APÓSTOLO SÃO PAULO

a esmurrar-se no banho

para não masturbar-se;

e por Zorba, cuja dança adensava

a quantidade de sangue

nas extremidades dos servos;

MORTO PELO MAL

algo parecido

com carne liberada

ou Santa Tereza anunciando

Page 326: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

326

maiôs Poésie na TV;

e, pelo bem,

algo mais metafísico,

mais Jesus de prata

escondido na blusa.

MORTO PELO LAR

que desaba todo dia

sem ninguém escutar;

e pelo bar,

onde o heroísmo se condensa

num laudo rotineiro

da polícia, ao passar;

MORTO PELA FÊMEA

que me pede um jantar

e uma boa lembrança

e talvez peça muito;

e, pela outra

que me pede a eternidade

e talvez peça nada;

MORTO PELA HONRA

quando as fezes dos pobres

ameaçam o fulgor

do brasão tumular;

e pela desonra

dos que mudam tarde,

quando os linchadores

ávidos não sabem

por onde começar;

Page 327: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

327

MORTO PELA SOBRIEDADE

este assistir a seco

à própria extinção; e

pela embriaguez, este

banhar-se à noite em

doce ureia

ou receber sob o lençol

o coice de medeia;

MORTO PELA FALA

escada que sai da boca

e deixa subir os demônios;

e pelo silêncio,

inseticida queimando

no fundo do quarto

para afastar um remorso;

MORTO PELA NORMA

abutre que aqueço

à temperatura do corpo;

e pelo instinto,

bomba de efeito retardado

sob o monte antigo

de brinquedos de barro;

MORTO PELA VIRTUDE

essa tanga de velha

e desgastada platina;

e pelo pecado,

a notícia da única

Page 328: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

328

e inexplicável

humildade de Deus;

MORTO PELO ÉTICO

mais Ártico pelos ursos

mais Antárticos

e pelo estético dos cursos

majestáticos;

MORTO PELOS MORTOS.

(In Carne de terceira, 1996, p. 221-233. Disponível em: Alberto da

Cunha Melo – páginas virtuais do poeta: <http://www.plataforma.

paraapoesia.nom.br/albertoduall.htm>)

Page 329: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

329

Ângelo Monteiro

(1942)

OS PONTOS CARDEAIS

Não conheço os pontos cardeais

nasci sem os pontos cardeais

vivo sem os pontos cardeais

e morro sem os pontos cardeais.

Meu astrolábio é o ser em agonia

e meu porto é além de todo cais.

(In As Armadilhas da luz, 1992. Disponível em: Ângelo Monteiro, en-

dereço virtual do poeta: <http://www.icones.com.br/angelo>)

Page 330: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

330

O VICE DEUS

Pisando a terra com garbo

Despontei

Quando já tinham desabado

Todos os tronos e altares

No coração dos homens.

E as últimas manchas do grande crepúsculo

Se desbotavam sobre os horizontes

Impermeáveis a todas as florações da luz.

Mesmo assim pisei com garbo

– Apesar de banhado pela luz escura da ironia –

O tapete das luas mortas,

Algumas vezes detendo-me diante das piras apagadas

No altar de todos os deuses

Dantes encravado no coração dos homens.

Frustrado padre de um culto sem adeptos

Ainda me vi sagrado Papa e Imperador

De um mundo por sonhar.

Mas apesar da desproporção de tantos sonhos

Só consegui ser poeta. Porque só com a poesia

É possível iludir ou contrariar a realidade.

E, como não pude escapar do destino de poeta,

Tentei ser Vice Deus.

Pois nasci num país em que a maioria

Dos homens públicos e das mulheres públicas

Aspiram sempre, uns mais, outros menos,

Se tornar vices de alguma coisa.

De vice-presidente a vice-lixeiro

O posto de vice nunca perdeu a serventia

Por restar a possibilidade

Perfeitamente em aberto

De alcançar-se a vaga do titular.

Como ser vice é ser pela metade

Page 331: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

331

Todos se julgam felizes

Porque a metade lhes exige menos que o todo.

Mas por não querer ser metade de nada

Resolvi me passar por Vice Deus.

Sim, por Vice Deus. De uma vez que ninguém

[até agora

Alcançou este título no mundo.

E como Deus não dorme, segundo o adágio,

Contento-me em ser apenas o seu vice

Embora saiba que não possa haver alguém

Que venha a atingir, em qualquer tempo,

[o seu poder.

Não importa! É uma forma que encontrei

De estar mais perto Dele.

Como sou inteiramente Vice Deus

Pelo menos não o serei pela metade.

E já que Deus não tem metade

Dou graças a Ele, que não é pela metade,

Por todos os séculos dos séculos,

Amém.

(In Os olhos da vigília, 2001, p. 85)

Page 332: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

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Sérgio Bernardo

(1942)* **

BERNBURG, AMARGA LEMBRANÇA

Em memória da guerrilheira Olga Benário

Ah, o La Caruña

por que carregaste por mares de ferro

e ancoradouros anêmicos

a ambição agrária?

E tu rio Elba

quantas vezes fizeste alvo o sonho guerrilheiro?

Por que não refletiste os olhos de seda escarlate

no homem do terceiro mundo?

América, América Latina

lembra-te do cristo das cordilheiras

dividindo a dor e o coração em Cachabamba

Por isso o rio Yuro ainda enxágua os canteiros

[púrpuros

de Olga.

Foi por tu, mais uma vez, América, América Latina

que o maçarico do carrasco Irmfried

marcou os céus de Bernburg

com o lamento da liberdade.

Olinda, abril de 1988

Page 333: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

333

APIPUCOS, CASA 77

Talvez existam olhos

que ainda guardam

os passeios matinais

entre perfumes

de corais

e imponentes bastões-do-imperador

Do primeiro andar

o ouro refletido

nas vidraças

pelos cachos do flamboyant

E quem foi girassol

de quase um século

não viu seu floral

lembrando

grandes desertos

Assim,

foi a floricultura

de Dolores Salgado.

Recife, 9 de abril de 1980

Page 334: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

334

José Carlos Targino

(1943)**

UMA VOZ, DUAS VOZES

Quando cessou a campanha, ela disse:

“Sou imaginária no tempo

que aspira à claridade, e sou céu

acima dos celeiros, iluminada.”

Reunia-se às andorinhas, em grutas,

esvoaçante sob a estiagem.

E nenhum repouso era igual àquele,

secreto e inelutável no reino da graça.

Tinha início o conselho das aves migradoras:

fim da discórdia, primícias do semblante sem elmo

cujo dono armara no ar sete raposas enfurecidas.

Mas alguma recompensa chegou tardia,

e eu digo que vi apenas sombras à minha frente

(consumadas numa galeria

enquanto um som reboa, e as crianças saem

na vaga promissão da luz).

Agora donzelas espreitam meus ofícios,

agraciadas na réstia

que irrompe pela estrada abandonada.

Guia da água inundadora, ela disse:

“Sou alfa na folhagem,

o ventre voltando para a rota dos planetas.

Também sou ameixa do amado

e serva do vento, maravilha da graça compartilhada.”

Page 335: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

335

Desço à hora da floração do mar,

sem ar, pelos sagrados domínios da madrugada.

Sempre andei errante e queixoso.

na escuridão, pouso das gralhas salteadoras

e do orvalho cantante.

E emudeceria se visse minha amada

no verde patamar,

como menina flamante coroada pelas nuvens,

como outrora

na sinagoga do rio, antigo domínio do eterno.

Mas hoje ando feliz, o dorso domado.

Então ela disse: “Sou imaginária agora

antes que a terra estremeça e morra,

ou eu mesma possa morrer na visão do amado”.

(In 46 Poetas, sempre, 2002, p. 68-69)

Page 336: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

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A LUZ IMÓVEL

Madre, não é assim que justificamos os mortos.

Percorri duas vezes aquele lugar:

eles estavam sobre a montanha,

um bando enorme, e recuei às pressas.

Venha, venham, disseram as crianças,

e nenhuma resposta irrompeu em seu mundo.

Madre, um espaço infinito

há de anular teu coração, o teu também.

Meu corpo então cederá silenciosamente,

e não sob o clamor de carvões

e pedras, como queria certo mestre.

Nem toda morte é igual.

(Lírica. Poemas de José Carlos Targino, 1968, p. 19)

Page 337: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

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Marcus Accioly

(1943)* **

A TERRA

O SERTÃO

A – O Sertão principia

Depois que acaba a terra,

Ou, sendo mais exato,

Onde começa a pedra.

E segue o Sertão-Alto:

Pajeú, Moxotó,

Onde termina o mundo

E então começa o sol.

Ou desce o Sertão-Baixo

Do rio São Francisco,

Que ostenta uma paisagem

De pássaros e bichos.

Embora o tempo durma

Os sonos da estiagem,

Nas curtas invernadas

O verde abre a folhagem.

Page 338: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

338

E quando as águas descem

Das cabeceiras curvas,

A pedra ressuscita

Lavrada pelas chuvas.

Poema integrante da série A pedra lavrada – Canto I.

(In Nordestinados, 1978, p.23. Disponível em: Panorama Poesia e

Crônica. Itaú Cultural: <http://www.itaucultural.org.br/aplicexter-

nas/enciclopedia/poesia/index.cfm?fuse

action=Detalhe&CD_Verbete=584&CFID=

2735827&CFTOKEN=69471385>)

NOTA: Poema composto de 6 partes: O Sertão, A Caatinga, O Agreste, A Mata-Seca,

A Mata-Úmida e O Litoral, todas elas compostas de 5 quadras

Page 339: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

339

TREINO DE SOMBRA

12

Há muito o que adorar (primeiro o fogo

que é um redondo deus vermelho) e após

os astros (deuses-luz que abrem um olho O

de dia e à noite acendem olhos-sóis) deus

há que adorar o deus chamado fôlego sem

que entra e sai das narinas em lençóis Deus

de vento (onde o deus-água e o deus-terra)

deuses que são sinais de Deus (América)

ó deuses-elementos (deuses fortes

como o trovão que nasce do relâmpago)

deuses das vidas (sim) deuses das mortes

(deuses dos animais e aves do campo)

deuses de azares (não) deuses das sortes

(o Pacífico-deus ou o deus-Atlântico

tinha que nome quando trouxe a nave

onde o deus-branco contra o deus-selvagem?)

é deus um rio (deus é jacaré)

deus é montanha (cada pedra é um deus)

deus (ó pantiteísmo) deus (ó fé)

é sombra sob sombras (sob véus)

sob aparências (deus às vezes é

o Deus Desconhecido que há nos Céus)

é Deus o tempo dentro dos espaços

(deus é pai na cabeça e mãe nos braços)

deus é onça ou jaguar (é deus a anta

ou tapir) deus é peixe e deus é pássaro

Page 340: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

340

(deus é o homem que almoça e depois janta

o próprio homem) deus é o menos fraco

(deus é a semente de onde vem a planta

e a planta de onde vem o doce bago

e o bago de onde vem outra semente)

deus é o que vem atrás e vem na frente

13

ó Verdadeiro Deus (ó Deus dos Homens)

ó Deus das Solidões Intermináveis

(Deus das Grandes Farturas) Deus das Fomes O

(ó Deus dos Alimárias) Deus das Árvores Deus-

(ó Deus de Um Só e Deus de Vários Nomes) Vivo

Deus das Palavras Duras e Suaves

(ó Deus dos Outros Povos e dos Meus)

Deus Pai e Filho e Espírito de Deus

(levanto a minha fé à Tua Porta

Batida no meu rosto) Deus de Tudo

(eu sou um cego e Tua Luz Conforta

a minha treva) sou também um mudo

e Tua Voz é todo Som que importa

mas já não posso Ouvi-la que estou surdo

(ó Deus dos meus Silêncios) Deus das Línguas

(Deus dos Sonos Rasgados por Vigílias)

Page 341: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

341

feito Caim eu fui um lavrador

por isso sei dos frutos que ofereço

com minhas mãos feridas (fui pastor

como Abel e por isso Te Mereço

nesta ovelha onde sofro a mesma dor

do sacrifício) busco o Teu Começo

onde o meu fim (meu meio) onde o meu pó

fechado em saco e dado à boca um nó

(ó Deus das Rodas) Deus dos Fogos Vivos

(Deus das Flechas e Lanças) Deus das Caças

e Pescas (Deus das Rochas) Deus dos Livros

Escritos pelos Tempos (Deus das Raças

do Mundo) Deus dos Livres e Cativos

(ó Deus das Alegrias e Desgraças)

Deus dos deuses (Jehovah) Senhor Meu Deus

que Estás na Terra como Estás nos Céus.

(As interrupções, X, do livro Latinomérica)

Page 342: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

342

Orismar Rodrigues

(1943-2007)**

APELO

Para Maria Teresa da Costa Lima

Ressuscita-me ainda

há tempo. Salva-me

do calvário que o

tempo

condenou-me a viver.

O sol trazido nos olhos

iluminando o caminho

de cercas verdes,

está sepultado no lago.

Negras serpentes

aprisionam luas e estrelas

que fugiram do céu

em solitários raios de luz.

Ressuscita-me

enquanto guardo

aquele sonho antigo

e essa clara manhã

que o vento deixou

depois de devastar-me a casa.

Page 343: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

343

Ressuscita-me, pois,

enquanto vela

ainda arde no castiçal de prata

e divido o leito

com velhos fantasmas.

Page 344: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

344

OUTONO

Barcos no Capibaribe,

sol branco num céu cinzento.

Os pescadores lançam as redes.

Os peixes que arrecadarem

iluminarão suas mesas.

Ao longo do Cais José Estelita

arremesso ao Capibaribe

meu olhar descrente e carente.

Não recolho peixes.

À mesa sento-me sozinho.

Bebo a angústia da solidão

e deslizo em águas turvas

dentro de um carro confortável.

Page 345: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

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Cloves Marques

(1944)*

PONTE EM HAICAI

Sombra pelo chão.

Na calçada, espera os pés

dos que vêm e vão.

Ramalhete à ponte.

Foram tantas travessias,

Que não há quem conte.

Na ponte vazia,

vai seguindo a solidão

de noite e de dia.

Page 346: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

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CRUZ EM HAICAI

As nuvens ao vento

seguem escapando à cruz

com muito talento.

Na tarde nublada,

um prédio crucificado

por não fazer nada.

Três cruzes em vão.

Evidente desafio:

onde está o ladrão?

Page 347: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

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Domingos Alexandre

(1944)* **

BRUXELAS

A Esman Dias

Escurecia e o dia era tão frio

que cada rua era um desvão sombrio

e nossos passos pelo calçamento

num compasso de mudo desalento

soavam como fuga para o Eterno

ante o cerco sem fim daquele inverno.

As pessoas envoltas em seus mantos

passavam numa profusão de espantos

perdendo-se, de vez, por trás dos muros

em busca de lugares mais seguros

e o céu baixava com indiferença

a nublada carranca. A noite imensa

sem coorte de estrelas e sem lua

caía bruscamente sobre a rua.

E eu seguia sem rumo e sem saída

na noite que inundava minha vida.

Sob os arcos de um velho monumento

gemia um vagabundo sonolento

e o vento uivando para todo lado

passava como um lobo esfomeado.

Naquela noite minha solidão

se arrastava ao meu lado como um cão

Page 348: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

348

que embora exposto à dor e ao abandono

se recusava a abandonar o dono.

E eu, desterrado e, ali, vagando a esmo,

carregando esse espectro de mim mesmo,

caminhava sob a garoa fria

que doía nos ossos e feria

com as pontas dos dedos o meu rosto

aumentando-me a chaga do desgosto

numa Bruxelas para sempre hostil,

a centenas de léguas do Brasil.

Há um momento em que, longe de casa,

o homem pensa em tudo que lhe abrasa

o coração, repensa toda a vida

e vê como cresceu sua ferida,

como tudo fugiu e quase nada

lhe resta do que amealhou na estrada,

vê como até o amor naquela hora

é só lembrança do que foi, outrora,

o verde imaculado da esperança;

é poeira dos passos de uma dança,

que há muito se acabou e no salão

deixou apenas ecos da canção.

Percebe, então, que em cima de tudo isso

a noite tomba no auge do seu viço

lançando um gosto amargo de derrota

nessa vida que aos poucos se desbota.

Mas não pode fugir: o tempo é escasso

(a morte nos espreita a cada passo)

e essa mesma Bruxelas que o assedia

é toda sua vida fugidia,

tudo que ele viveu ou não viveu

e para sempre, agora, se perdeu.

Vê que a dor é sem fim e que no mundo

Page 349: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

349

nos envolve segundo por segundo.

Mesmo assim ele arrosta a chuva fria

de uma cidade estúpida e sombria

desemborca seu barco, enfuna as velas

e se perde na noite de Bruxelas.

Poema inédito.

(Disponível em: Plataforma para a poesia: <http://

www.plataforma.paraapoesia.nom.br/domingos.htm>)

Page 350: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

350

TARDE EM ITAMARACÁ

As águas estão quietas

no mar em frente

e as aves repousadas

descrevem largos voos

nos limites dos ventos.

Aqui em terra,

desajeitadamente pai,

um homem executa para os filhos

os mesmos gestos

que um longínquo antepassado,

diante da caverna

legou aos seus netos vindouros.

Logo mais o sol,

como um bólido anônimo,

se lançará sobre as ondas

em direção a China,

onde um outro pai desajeitado

ensaiará noutra praia

os mesmos gestos para os filhos,

enquanto a vida passa

e a brisa marinha apaga

nossas pegadas nas areias.

(In A ordem no reino do caos, 1981)

Page 351: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

351

Everardo Norões

(1944)*

A MÚSICA...

Sem pedir licença,

insinua-se pelos cômodos,

invade os espelhos,

derrama suas jarras de luz.

Vejo-a

pelos canteiros da casa,

na nitidez dos bordados

de minha mãe,

no brilhar de tua íris

quando os deuses descem

para beber a insensatez

das águas.

Depois,

transforma-se em seios,

goiabas,

espigas.

E nua, adormece,

enquanto a lua brinca

entre meus dedos

e as lagartixas passeiam

pelas pedras do pátio...

Page 352: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

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A CONSTRUÇÃO

Por detrás da poeira, a solidão.

E os andaimes que descem na memória:

um espaço desnudo, sem história.

E as sombras do Mestre pelo chão.

O ferrolho a ranger, a porta aberta;

as pequenas lições de geometria.

Os passos das escadas. Sobre a pia,

a mão lavando o pó da descoberta.

Os planos que se cruzam. O batente

do portão a se abrir ao Oriente:

o fantasma de mim dentro da sala.

O reboco caiado dos abismos.

Sobre as plantas, segredos e algarismos.

E o som da tua voz na minha fala.

Page 353: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

353

Jaci Bezerra

(1944)

NO RASTRO DA VERDADE INICIADA A Jairo Bezerra

O meu país é a lembrança

de minha infância arruinada:

arde no tempo e me alcança,

dói no meu peito, renovada.

A minha voz não se exalta,

nem faz denúncias disfarçadas:

escorre, mansa, sobre as pautas

de uma canção desesperada.

O meu país é uma casa

só por meus sonhos habitada:

seus alicerces são as asas

da solidão atormentada.

Ao escrever, abro uma porta

pelo meu sonho arquitetada:

madeira de uma época morta

de angústia e sonho tatuada.

A minha voz é o murmúrio

de uma paixão transfigurada:

soluça e morre entre os antúrios

de uma varanda desolada.

(In Antologia didática de poetas pernambucanos, 1988, p. 162)

Page 354: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

354

UM DIA, CAPITÃO, CONTAREI ESSA HISTÓRIA

Um dia, Capitão, contarei essa história

a quem, distante ou perto, afagar minha mão.

E sempre nova será, nos cofres da memória,

porque uma certeza terei, e terás tu, então:

todos os portos podem ser saqueados,

só não pode ser saqueado o porto do coração.

Em que livro e em que língua será ela escrita?

Hoje, os que são mais céticos, de nós indagarão.

E o que responderei, se, além das coisas ditas,

uma certeza terás, e terei eu, então:

todos os portos podem ser saqueados,

só não pode ser saqueado o porto do coração.

Onde andarei? Onde andarás? Assim, nessa incerteza,

os que bem não nos conhecem nos interrogarão.

E o vento, só o vento, pelas praias acesas

soprará, como nós, as letras de um refrão:

todos os portos podem ser saqueados,

só não pode ser saqueado o porto do coração.

Um dia não serei mais o sonho que hoje sonho,

serei só um poema e uma impossível canção,

mas tudo quanto for de poesia ou sonho

continuará repetindo, meu velho Capitão:

todos os portos podem ser saqueados,

só não pode ser saqueado o porto do coração.

(In Poemas de Jaci Bezerra, p. 37-38)

Page 355: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

355

Lourdes Sarmento

(1944)* **

CANTO DE CRISTAIS

Onde as presas do tempo

rasgam meus pés

tingindo o chão

aporto no meu canto.

A palavra é o fogo

é o cio da vida

é o vômito da minha dor

submersa

é a memória do canto

que sopra brisa

e mandalas.

Se alguém perguntar

meu destino

entreguem meu canto

quem o entender

agoniza como eu.

Page 356: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

356

OBSERVAÇÃO

O retrato move-se

na sala

observa a paisagem

sob a lua azul

observa o azul

consumindo as hortênsias

dos jardins

O retrato move-se

na moldura de prata

observa as serpentes

e os demônios

observa a filha

despertando o azul do poema

O retrato imóvel

observa o pouso das estrelas

adormece nas mãos azuis

do Infinito

Page 357: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

357

Marcelo Mário de Melo

(1944)* **

PÓ & EMA

PÓ & EMA

A Wilson Araujo de Souza – WAS

Folha seca.

Aramado.

Só esquema.

Siso só

sem pó

nem ema

de ré

amarrado

a-amado

a cisão no

ensejo

travo

no desejo.

Pó e Ema:

porejando

sonho

marejando

saga.

Pó e Ema:

emanando luz

poemando

a vida.

Page 358: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

358

MACROLOVE

Não quero ser para você

apenas

arquivo sem nome

subdiretório

backup

ou resto na lixeira.

Nem pretendo só

inserir o meu disquete

no seu drive.

Desejo ser

janela

ajuda

documento mestre

atalho

ícone principal

entre os seus programas favoritos.

Espero que você

me salve no seu disco rígido

me feche sempre com cuidado

me proteja com anti-vírus

e nos garanta com upgrades.

Quero que você me deixe

entrar nos seus arquivos

visualizar as suas impressões

me recortar

me colar

me editar

e me configurar

na sua tela inteira.

Page 359: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

359

Mantenha sempre aberta

a sua caixa de entrada

que eu saberei clicar com jeito

o seu mouse

e penetrar nos seus periféricos

ajustando

a minha barra de ferramentas

aos contornos

da sua área de trabalho.

Por fim o apelo passional

de quem deseja com você

total integração em rede:

DELEITE-ME OU DELETE-ME!

Page 360: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

360

Marcos Cordeiro

(1944)* **

A CABRA DO MOXOTÓ

A cabra do Moxotó

quando berra é ela só.

Que pede a cabra no berro,

é chuva, fartura ou é sol?

Não será, talvez, o verde

que o sol quente abocanhou?

ou ainda a esperança

que a seca avara matou?

Será seu berro o lamento que

toda mãe pronuncia quando

pressente, de véspera, a seca

que se anuncia,

tocando fogo nas ramas

com sua mão assassina?

Então a cabra lamenta

ruminando a sua sina.

Vagando pelos lajedos

na seca terra do sol,

a cabra do Moxotó é

forte como ela só.

Reinando na Borborema

de branco e luto se veste,

sua armadura de couro

é dura como o Nordeste.

Page 361: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

361

CHORE BAHIA MÍSERA!

Chore Bahia mísera

pelo sangue de José Inácio!

Clame Bahia mísera

pelo coração de Miguel Joaquim!

Lamente Bahia mísera

pelo corpo de Domingos José!

Padeça Bahia mísera

pela dor de José Luiz!

Liberte Bahia mísera

a nossa terra ocupada.

À tua sorte mesquinha

tens ela acorrentada.

Cante Bahia mísera

a morte altiva de leões,

arcabuzados em teu solo

de torpes traições.

Não chores Pernambuco

a dor de tuas memórias.

Tua saga valorosa

dos teus filhos é História!

Não lamentes Pernambuco

teu caráter de Nação!

Na terra da liberdade!

teu sangue é redenção!

Page 362: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

362

Cante Pernambuco bravo

teu sangue, teu coração!

Cante Pernambuco altivo

teu nome – Libertação!

Page 363: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

363

Sebastião Vila Nova

(1944)

CLAVE OCULTA

Entre os sangues da guitarra

e entre as copas, meio-dia,

sete torres desabaram,

sete demônios sorriam

Os cílios roçaram nuvens

de adiadas profecias

e as tardes dos corredores

guardaram noves tardios.

Sete torres desabaram,

sete demônios sorriam.

Abriu-se a porta do mundo

à imperfeita geometria

do exercício dos disfarces,

da ponderação dos dias.

A tarde, nos corredores,

chegaram nomes tardios,

entre torres desabadas,

quando os demônios sorriam.

Entre o sangue incendiado das guitarras

e intervalos de sol das agonias.

Recife, abril de 1972

(In Teoria completa dos dias e das noites, 1979, p. 26)

Page 364: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

364

ANOTAÇÕES A OESTE DE ALDEBARÃ

Meia-noite e meia a lua

transborda alva das ameias.

Sobre a mesa o alvor do linho

se transborda em lua cheia

Lua cheia, lua cheia,

como demora a manhã!

Em Alvavida alva uma estrela:

a alvorada Aldeberã.

Em Alvador dourado lume

esquecido, ó via vã!

Meu Deus, que noite, que mundo!

como demora a manhã...

Recife, março de 1970

Page 365: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

365

Almir Castro Barros

(1945)* **

ESCORADOS NA TARDE

Rebuscavam os dias

Onde fosse o vento

Ou ensaiado jardim e extinto ninho

No ombro fraturado de esquecida estátua.

Alguns

Lembravam a solidão e sua brasa

Ou quando fartos de tudo

Se aventuravam

Em caminho de sustos sobre cordilheiras.

Do mais esquivo e mudo isto:

– Um til na voz

Ainda penso em vê-la

Numa tarde já em cinzas

Pouco feliz e sozinha –.

Poema do livro inédito Um beijo para crocodilos.

Page 366: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

366

CINZAS

Revolver cinza é não vexar

O que se quer além da lágrima

Ouvir de coração magoado

Por sulcos herdados de selins em voo

Então refaço o esmaecido

Alegre ou triste, passo a passo:

Em inclemente sol

Desperdiçando peregrinos;

Ou ouro ressurgido

De baça lâmpada sobre invernos

Para deixar salgueiros como faunos

Em festa.

Page 367: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

367

Ivanildo Vila Nova

(1945)**

MOTE EM DECASSÍLABO

Só com outro Zumbi O Quilombola

pode o negro alcançar a liberdade

Rebouças e José do Patrocínio

Tobias Barreto, Cruz e Souza

Todos eles deixaram antes da lousa

Versos, prosas, discursos e tirocínio

Mas nenhum pelejou contra o domínio

Que o branco implantou sem piedade

Somente o Zumbi serrou a grade

Que prendia os cativos de Angola

Só com outro Zumbi o Quilombola

Pode o negro alcançar a liberdade

O negro Zumbi no seu caminho

Enfrentou quase trinta expedições

Brancos, índios mulatos com canhões

Perseguindo essa águia no seu ninho

Ferro em brasa, chibata, pelourinho

Já não era cruel realidade

No quilombo existia a irmandade

Sem patrão, capataz e nem argola

Só com outro zumbi o Quilombola

Pode o negro alcançar a liberdade

Page 368: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

368

Palmares permaneceu indene

Em Osenga e Guaraiguaçu

Jundía, Subupira e Carapu

Tabocas, Macacos e Aqualtene

Andálaquituche, Acotirene

Cãfúxi e Curiva ninguém há de

Esquecer tanta força de vontade

De uma raça que escrava ainda rola

Só com outro Zumbi o Quilombola

Pode o negro alcançar a liberdade

Limoeiro, Magano, Salabanga

Canga Zumba, Muissa e Acaiuba

Tapira, Abate, Zambi, Satuba

Amaro, Barriga e Danbrabanga

Canhoto, Maioio, Camoanga

Escreveram heroísmo de verdade

Contra o saque, ambição, impunidade

Mortecínio, lesão, roubo e degola

Só com outro Zumbi o Quilombola

Pode o negro alcançar a liberdade

Pela grande coragem do Zumbi

Resistiu o quilombo muitos anos

Derrotando Holandeses, Lusitanos

E os senhores de engenhos conta

Jorge Velho chegou do Piauí

Com homens e armas em quantidade

E os negros em tal disparidade

Sucumbiram aos disparos da pistola

Só com outro Zumbi o Quilombola

Pode o negro alcançar a liberdade

Page 369: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

369

Mesmo após o decreto da Princesa

Há algemas correntes e grilhões

As mucamas, senzalas e porões

E o racismo ofendendo a natureza

Entre brancos e negros com certeza

Nunca houve nem há essa igualdade

Preconceitos ainda é realidade

No emprego, na rua, na escola

Só com outro Zumbi o Quilombola

Pode o negro alcançar a liberdade

Alguém acha que o negro é sem valor

Não merece gozar a vida branca

Ser artista, casar com mulher branca

Ter emprego, ter lar, paz e amor

Deve sempre ter cargo inferior

Ser gari ou chofer de autoridade

Pegar frete e biscate na cidade

Engraxar, bater bombo e jogar bola

Só com outro Zumbi o Quilombola

Pode o negro alcançar a liberdade

Ninguém deve discriminar a fé O

regime, o costume nem a raça

Moçambique, Macau, Rio e Mombaça

Nova Deli, Moscou, Roma e Guiné

São Paulo, Chicago e Daomé

Tudo é parte da nossa humanidade

Carne humana é da mesma qualidade

Africana, Francesa e Espanhola

Só com outro Zumbi o Quilombola

Pode o negro alcançar a liberdade

(In Antologia didática de poetas pernambucanos, 1988, p. 150-152)

Page 370: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

370

Eu vejo tanta beleza

Num pássaro tão pequenino

Vai ao mato catar talo

Abre o bico canto um hino

Penera as asas e voa

Deus é quem marca o destino

(In Antologia didática de poetas pernambucanos, 1988, p. 153)

Page 371: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

371

Jairo Lima

(1945)**

as águas de tua hora

clara senhora

atenta aos cristais que eriçam espumas

no torso oblíquo das marés encarnadas em lumbre

clara senhora

consorciados em sua rosa os ventos encenam

[clamarias

geométricos nadas

senhora clara

que das águas a faca aguda alumiada espia da

[amurada e circunda

os ferros da ampulheta crava nos temas que ainda

[não são palavras

senhora clara

ali onde as lobas bebem o rio e os ciganos afundam

[os seus cantis

ali é o longe e, depois dali, a planície dormente

[das dálias

ali a água arqueja o dorso e salta sobre telhados em

[febre que colhem,

Page 372: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

372

queimam e explodem as águas

névoas se fazem nuvens, que se fazem teto, que se

[fazem água

clara senhora os teus olhos a fria água navalha

lendas de água vivas afogam tua cintura – vaga

[após vaga –

(In Livro das árias e das horas & Pequeno livro das nuvens, 2000, p. 46)

Page 373: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

373

o porto da tua hora

em teu vértice se arrima mar de espuma rija

águas íntimas te espreitam do abismo – Olho mira –

peles de alga doce mansa desbastam a arquitetura

[do pó

a tarde, viva em suas brasas, deita tintas sobre a lã de

[planícies e colinas

já pode ser manhã

ensina a Luz às pedras ressentidas – o Calor abriga o

[Sono da loba

místicas mágicas tracejam a Dor – ainda hoje – a

[hora aflita

desejo convoca o Pássaro ao pátio das Nuvens –

vindo tão-somente de ti a Voz, não mais querer,

[somente Luna iminente,

canta em Timbales Sinos Corais Pandeiros plenas

[notas verdes – Agonia

diz ao Outro que se cale. A tua cor se esvai

[em sangue.

o porto da tua nave já não mais é ontem.

É luz. É dia.

Terra sem sombras. A Loba, exânime, fecha os olhos

[e faz de suas trevas

elegia.

Pandeiros, timbales, luzeiros, te consagram o Hoje.

Mar de cinzas. Maré morta. Maresia.

(In Livro das árias e das horas &

Pequeno livro das nuvens, 2000, p. 62)

Page 374: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

374

José Rodrigues de Paiva

(1945)

JARDINS SUSPENSOS

Caíram sobre o mar

os meus jardins suspensos,

e extinguiu-se a canção

que era a voz do silêncio.

A canção de ouro e névoa,

fumos brancos de incenso,

invisíveis pilares

desses jardins suspensos.

Mas no mar a canção

sobre as ondas vogou

e às vozes do mar

suas vozes juntou.

Do silêncio das águas

construiu-se a linguagem

que elabora o poema

em líquidas imagens.

E das algas, das ondas,

das pedras, dos corais,

floresceram canções

que não se ouviram mais.

Page 375: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

375

Canções de ouro e de névoa,

de águas passageiras,

como flores levadas

por correntes ligeiras.

Flores dos meus jardins

suspensos da canção,

que brotam do silêncio,

do mar, da solidão.

Emergiram das águas

os meus jardins suspensos,

renasceu a canção

das vozes do silêncio.

Música de ouro e névoa,

fumos brancos de incenso,

flores que são pilares

desses jardins suspensos.

(In 46 Poetas, sempre, 2002, p. 74-75)

Page 376: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

376

CANÇÃO

Violam os violões

a noite inviolável

ou vibram os violinos

à diurna luz vibrátil?

Quem sabe o que se passa

enquanto o poema nasce?

quem sabe se é o dia

ou a noite que bate

ao coração do poeta

ou à noite que o traduz

em versos claro-escuros

ou à nitidez da Luz?

Quem sabe o que se passa

ao florescer do poema,

se há risos ou se há prantos,

se há a angústia do tema,

da linguagem, da forma,

da vida que há de ter,

quem sabe o que se passa

para o poema nascer?

Quem sabe o que acontece

no interior do fruto

enquanto amadurece

minuto após minuto

até se abrir à luz

como acesa romã

e se entregar ao sol

e se fazer manhã?

Page 377: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

377

Violam os violões

a noite inviolável

e vibram os violinos

à diurna luz vibrátil...

(In 46 Poetas, sempre, 2002, p. 72-73)

Page 378: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

378

Paulo Caldas

(1945)* **

CÍRCULO AMOROSO

Vou estar em ti

E nos teus ouvidos, minha voz

Entoará todas as canções.

Ao teu sentimento, meus versos

Comporão todos os poemas, E

sentirás meu beijo no desejo

De todos os casais.

Os meus olhos te verão pelos de Vênus

Presentes no céu de tuas noites

E cada gota de neblina a te molhar

Serão meus dedos riscando tua pele,

Meus lábios tocando a tua face

Cada raio de sol dessas manhãs

Te dará o calor do meu abraço

E quando assim pouco jeitoso

O vento enroscar os teus cabelos

Ou afagar o teu rosto

Serei eu quem estará contigo

Vou estar em ti

E transpirando a ternura dos risos infantis

Vou te espreitar nas areias do litoral

Page 379: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

379

Te acordar ao apito das embarcações

Umedecer teus pés na grama dos parques

Vou estar em ti

Na indiferença do estranho que passa em tua rua

No incômodo das lâmpadas acesas

Na indiscrição dos homens que te olham

No balanço da folhagem tropical

No pingar intermitente da neblina

Na corola das flores mais comuns

No horizonte do mar em tua frente

Nos becos, nos copos, nos bêbados, nos bares

Nas bordas das piscinas, nos ônibus, nas fichas,

Nos orelhões, nos soldados, nos muros, nos vídeos.

Nos alimentos, nos líquidos, no asfalto, nos livros,

Nos quintais, nos hospitais e nos velórios

Na mão das crianças, no voo dos morcegos,

No suor da tua fronte

Vou estar em ti

Page 380: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

380

O SOL ALÉM DA MINHA RUA

O sol além da minha rua Espia

entre folhas escondido Conduz

com luz de olhos claros O amor

pelas sombras inibido

Ilumina inquieta incita

Se espalha pelo mundo refletido

Nave de voo incandescente

Nos leva ao céu de amor tingido

Quando noite envolto em mistérios

Tristonho sonha sonhos mal dormidos

Na agonia das horas, insone espera

Se entregar ao amor amanhecido

Page 381: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

381

Vital Corrêa de Araújo

(1945)* **

OPERA APERTA (ALVO PUDICO ALVO)

Ágil mármor das águas turbulento sêmen conturba

e vasta onda elabora entre volutas de espuma

(que o curvo vento não esgota nem abandona).

Rotas túnicas cinzas indiciam os estandartes em fuga

e trilhas lançam nos castos rostos desesperados.

Dois azuis fundos ou servos do nácar oceano

veio de brisas e assombro vem a harmonia do corpo

em forma de mulher e música ao som trêmulo

dos búzios de setembro a alma redobra.

Page 382: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

382

OPERA APERTA

(LICOR AO LUAR)

I

Nos luares que moram em teu olhar mergulho

das areias no meio-dia brusco procuro o suor

das vogais, os ossos do sim após e destinos

cruzados ou torres além de mim emoldurações

de muro, represas temporais pássaros

circunflexos amamentando o fim exótico das

últimas engrenagens de mim.

II

Licores de catástrofes bebes

no leito das últimas noites

entre náufragos semens o cais do gozo unges

com sais dissolutos e cálices sem culpa

próspera a retórica do intestino

à sombra de abutres escandes

sigilo de pedra para o pudico nome.

Page 383: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

383

Wilson Araújo (Was)

(1945)*

O GÊNIO DA RAÇA CASTANHA

humildade

cuja dignidade

mítica

e épica

habita uma américa

ibérica,

homérica e...

bíblica, recebe a

dura mas bela

missão de ser

ouvidor da rua

do brasil real

contra o brasil

oficial

da rua do ouvidor.

eis o sebastianista,

monarquista

e, ao modo de arraes, socialista.

Page 384: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

384

ENGENHO D‟UCHOA

o poema é um réptil

s.u.l.

dicção víbora

jiboia

no úmido

índice

do medo

e no semiárido da paranoia

dicção víbora

causa o primeiro

impacto

na ficção vida

ao emitir

a expressão

mais compacta

de veneno:

como DEUS

é bem servido!

ficção vida

em dicção

de obra

em dobra

de cobra

que vibra

em víbora

e pica

o cisne

de outrora

na aurora

da fonte

Page 385: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

385

sob a ponte

d‟uchoa.

uchoa:

sujeito

na espreita

do objeto

poético

estica

a língua-

víbora

e envenena

a língua

que vigora.

engenho

d‟uchoa:

nicho-obra

em obra

de cobra

criada

na espreita

e escuta com cicuta

para por

no que for

expor

a voz lírica

da exaltação

ao (do)

poeta

uchoa leite

não é (leit)

motivo

para deleite:

poeta-escorpião

Page 386: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

386

encalacrado

na espreita

do horóscopo

abre a tampa

(para o tempo)

sobre o nó

(cego?)

de víboras,

vibra

a lavra

o desassossego

no livro:

minha pátria

é minha língua

ofídica.

Page 387: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

387

Gladstone Vieira Belo

(1946)* **

POSTAL ROMÂNTICO

Diante de estrelas

e nebulosas, excitada, Meliena

descumpre regras. Declama

Rimbaud, em voz suave,

manipula dados

e desbarata cartas,

se contorcendo,

espécie de inevitável trapaça.

Delírio tremendo

das vogais liberto,

contidos soluços,

gozo infinito.

Page 388: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

388

LATITUDE URBANDA

Entre um casario e outro,

hirtos e sobrepostos sobrados,

espraia-se líquida

cartografia, o Recife.

Mistério e fermentação

nas águas fecundantes,

que circundam

tão límpido espaço,

aliciando a esperança

e os nautas.

Ígneas colunas

demarcam porto e abrigo,

limites de densas reverberações,

sutilíssimo bailado.

Legendas de muitos embates

fixados em imensas retinas,

que apreendem, num azul intenso,

essa fluida e envolvente

luz, em nuances diversas

e horizontais desdobramentos.

Transparente é a sua

arquitetura, que se ergue

entrelaçada pelas linhas

infinitas de esplêndido

crepúsculo, oceânica e

duradoura miragem.

Page 389: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

389

DISCURSO SEMIÓTICO

O signo, somente

o signo, nada mais

do que o signo.

Ele e os seus aparatos.

O signo múltiplo,

mas inviolável.

Somente o signo,

lâmina cortante,

enquanto diálogo e soma,

que se incrustam

em manuscritos velhos,

forma lapidar de segredos,

estranhas cintilações,

que se multiplicam

nesse lento contato

com o papel, lento

e torturante.

Irremediável sonata

amplificada por movimentos

que sufocam o interior

da exausta paisagem,

uma erma campina,

descrita em romances e bulas,

pergaminhos e cantos de ninar.

Mágico signo,

que prefigura e comove,

evocando em pausas

longas, quando reponta

estridente.

Page 390: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

390

Antonio de Campos

(1946)**

PARA NÓS UM OPERÁRIO NASCEU

Por mais divino o menino de Maria se guarde,

O seu desejo de tâmaras

É tão humano quanto as dores do parto

E da fome que ronda seu feminino querer.

Tempo de tâmaras, aquela época não era

E doutras frutas não tinha vontade sua boca.

Chamando José para mais perto de si,

Aos ouvidos segreda-lhe o coração.

Pela manhã saiu José aos campos de Belém

Acreditando, por milagre, achar a tâmara rebelde

Para colocar nos lábios de sua noiva.

Mas o Pai da criança doutra forma dispõe as safras.

Ao voltar da rua, abatido, após a peregrinação

Por entre terras e plantações, sítios distantes,

Tem a face iluminada como por mil candeeiros:

Com virgem do povo era nascido operário

[o filho de Deus.

(In Crítica da razão vivida e outros poemas, 1982, p. 19)

Page 391: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

391

OUTRAS JURAS

Não as juras de amor,

as de não mais te ver.

Mas se alça maior o desejo

que razão pra assim não ser.

Um raio ao chão me pusesse como

árvore morta, adormecido. Que

chama brotasse de meu tronco, e os

frutos verdes madurassem logo.

Em completo silêncio vegetal,

ao passares, quero estar sazonado,

e me caírem os frutos a teus pés

ao não me teres teu olhar lançado.

(In Feito no coração, 1995, p. 44)

Page 392: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

392

José Almino

(1946)**

RECIFE, ESSA DOENÇA

(Fragmento)

Como viver sob o impacto de uma dor permanente?

Tomás Seixas

E certamente já lhe falei em Posilipo, que é um lugar

Em grego quer dizer pausa da dor.

Clarice Lispector

O rosto dessa gente me esmaga

e no gesto dos amigos

vejo o lento repetir

das tardes

onde ainda tateio

a paisagem da infância

O copo de rum

afaga,

dentro de mim,

a timidez inquieta

dessa esperança

(In Maneira de dizer, 1991)

Page 393: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

393

PARA MAXIMIANO CAMPOS

Há nos homens daqui uma tristeza

quieta,

um lado em repouso, vaga fantasia,

um riso de sombra, a raiva discreta,

ternura hesitante,

vã teimosia.

Há nos homens de lá, manhãs

turbulenta,

jogos obscuros paixões violentas

e o gosto macabro

da pura alegria.

São fracos, são ásperos,

são cactos sozinhos.

Há nos homens daqui, um vento

ligeiro,

burrice malandra, preguiça mesquinha,

o lenço, o maneiro,

o mel da malícia.

Há nos homens de lá, bruscas

amizades

soldadas em choro, saídas do nada,

eivadas de medo,

medonhas, engraçadas,

na frente sorrisos,

por trás desalmados.

Há fúria e vingança,

traições calculadas.

Page 394: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

394

Há nos homens daqui, a franca risada,

o amor do desterro,

o medo adoidado,

a mágoa vazia, memória travada,

os olhos esquecidos

nos homens de lá.

Page 395: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

395

Sérgio Moacir de Albuquerque

(1946-2008)* **

CANTOS DA DEFINITIVA PRIMAVERA

( I I I)

Às vezes pegava minha flauta

como Anphion sobre o deserto

e acompanhava o canto matinal das aves

improvisando

entre as descargas dos automóveis

então um manto de areia

me envolvia

asas compunham um ritmo

quase africano de atabaques

e descobria riachos

nascendo por trás dos muros

ou no teto

onde não bricavam moscas

e me afastava

em cada som emitido

Page 396: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

396

sonorizado

aterrorizado

ante uma possível guerra

fugindo de uma morte mitológica

atento às mínimas palavras

de qualquer desconhecido

tentando decodificar

e analisar

mensagens esparsas

de conversas cotidianas

consultando nuvens

em busca de possíveis cogumelos

passando os dedos

em tuas coxas firmes

afastando a angústia

em teu sexo caliente

analisando teus sonhos

e gestos mais obscuros

profetizando futuras desgraças

devidas à besteira dos homens

que só pensam em dinheiro

mesmo que custe a vida

de todo o planeta

dos assassinos

da produção em massa

e do lucro

Page 397: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

397

dos destrutores

do equilíbrio das florestas

e dos peixes

dos homens – cifrões

desprovidos de qualquer sensibilidade

diante de coisas puramente humanas

sequiosos de poderio

de moedas que não sabem usar.

Então me tentavas acalmar

afirmavas teu amor

e a decadência inevitável do Sistema

provocada por suas próprias contradições

o renascimento do Homem sábio

e a inviabilidade de uma guerra nuclear

o alcance de uma consciência

cada vez mais ampla

sabotando todo o sistema destrutivo

gradativamente

e me recontavas

estórias de ursos frustrados

porque queriam tornar-se estrelas de cinema

em Hollywood.

(In Cantos da definitiva primavera, 1998)

Page 398: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

398

Então eles se perdiam naquele amoroso delírio sob a luz

inventiva dos candelabros. Estariam num pequeno restau-

rante. Canções eslavas violinadas percorriam o gostoso

murmúrio ambiente. Aos poucos floresciam sonhos acalen-

tados pelo vinho. Então ele desejava que fosse eterna aque-

la momentânea paz aquecida, cariciosa, acendendo olhos.

Colhiam flores sob vitrais enquanto o sol nascia sobre po-

vos orientais, longe do ruidoso trepidar ocidental. Mon-

ges manejando estrelas ao som de longas flautas caindo

sobre paisagens milenares. Seus cantos se misturavam aos

das aves, saudando o repouso de mais um dia.

(Então ela realmente me esperava naquele ajardinado

parque, risoaberta. Quando a abraçava ela se transfor-

mava numa princesinha azul poluída pelas máquinas e

indústrias. Procurávamos algum local escondido, lá ficá-

vamos sentados, cariciosos. Minha flauta improvisava ao

sabor dos ventos, árvores, águas. Jovens passeavam rou-

pas coloridas, olhares pacíficos. Ali faríamos outra leve

refeição sob trinados de pássaros, explosões de motores

vindos das avenidas. Era Primavera. Tudo renascia à ima-

gem e semelhança de nosso intenso amor.

Page 399: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

399

Atravessávamos iluminados arcos pontais, cantando e

dançando. Nosso caminhar noturno despertava novos re-

flexos, superfície de águas coloridas, sequencias de telas

abstratas em rápidas mutações.)

Vivia equilibrando sonhos na ponta dos dedos. Perseguia

o amor com densa avidez animal, cios prateados. Viver

era aquele eterno caminhar

e salto gasto nas pedras

...................................como um rio.

Entrar num qualquer bar

embebedar-se

recitar poemas

quebrar copos.

Page 400: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

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Celso Mesquita

(1947)* **

A SEGUIR OS PASSOS DAS MUSAS

O nada dizer sob os risos, os erros.

Ah! Multidão que faz emudecer,

Olho – me no espelho d‟água

E me vejo, quase que com os mesmos olhos.

Navego em mar alto, fora de mim,

A ver no escuro, a lembrar-me.

O que ficou está em chamas.

(Antes de partir...

Um novelo de lã me cai aos pés.)

Tenho o mar à altura da boca.

Não temo as sereias.

Surdo, cego e mudo, vivo.

Trabalho o pão e a caravela.

......................................................................................

Ilhas que desvendo

Sob a luz.

Cadência de ondas secas.

A nau é verdadeira

Como a ânsia do capitão.

Não há flores

Sob a tempestade.

Azul fora o céu

E a água que bebo.

Page 401: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

401

A VELHA METÁFORA

A rosa, encontro na florista,

E custa caro.

O perfume é antigo e bom

Para nós dois,

Salutar carmim na sala e quarto.

Que espécie de poeta sou?

Apenas dizer um sim

Ante o espelho.

A dama está no banheiro

E seus cabelos gritam pelo perdão

(Desventura)

Antes de serem beijados.

Onde estará amanhã,

Quando eu estiver no navio passageiro?

Page 402: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

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José Mário Rodrigues

(1947)* **

A CIDADE

A Ronildo Maia Leite

Uma cidade não morre de vez.

Vai morrendo nos que nascem quase mortos.

Vai morrendo na fome dos que matam e morrem

Num círculo de extrema impossibilidade.

Vai morrendo na mesquinhez

dos homens que deveriam morrer.

Uma cidade não morre de vez.

Morre com os mangues do rio morto

afogando uma solidão que mata.

Uma cidade não morre de vez.

Morre com a morte

dos que a sonharam viva.

Page 403: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

403

LAMENTO

Lá se foi Maria da Penha

subindo aos céus num trem de nuvens.

Lá se foi Margarida Alves

pelas veredas dos canaviais

na dança desnorteada dos ventos.

Não lamento as respirações interrompidas

sobre as pedras.

a morte é limpa e afirmativa

e suas vidas tiveram sentido.

Lamento os que ficam

sem sentido algum

e inúteis, covardes e impassíveis,

esperam apodrecer em seus domínios.

Page 404: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

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Lourdes Nicácio

(1947)* **

CANÇÃO DA FLORESTA

Abri urgente

o portal dos campos!

Contemplai águas,

pastos, sol, rebanhos;

escutai, do vento, a vida,

o verde canto,

porque no seio da floresta

há ritmo santo.

Acolhei , amigos,

o voo das andorinhas,

seiva dos lírios,

dádivas permanentes;

da oficina natural, a eternidade

ou estações que se elaboram

a todo instante.

Page 405: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

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O LAVRADOR E O TEMPLO

Sê como o templo natural,

este Universo,

de onde emana

a humildade;

onde um calendário

além dos olhos

tece as estações,

a eternidade.

Há tantas safras

de estrelas nesta vida;

tantos espaços

ou troncos da verdade.

Sê mais que um servo

desse plantio de luz:

lavra, em ti,

a mansidão, a paz.

Page 406: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

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Luiz Carlos Duarte

(1947)**

POEMA AMARELO

Este canário, estes cajás, a tarde

No linho dos lençóis quarando ao vento,

Preenchem a solidão que se anuncia

Em tuas mãos.

Nos infindáveis limites deste alpendre

Navega a minha sombra sem padrão,

Navega a claridade pressentida

No instante breve e mudo do canário

Pousado nas hastes desta tarde

Isenta e clara, amarelamente sã.

(In O inventário das horas, 1981, p. 72)

Page 407: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

407

LIVRO DE FRANCISCA

(Fragmento)

POEMA PREPARATÓRIO

Dormir, dormir profundamente e mais:

Da memória arrancar todos os sonhos:

(Os cactos de prata reluzentes,

Os vaqueiros-fantasmas-transparentes,

Os mangues e cajus vitrificados),

Tomar todos os vícios como o lodo

Que se acrescenta às pedras. E acordar.

Despedir-se dos versos trabalhados

Nas dez últimas noites. E falar.

Falar simplesmente tendo o espelho

Como pálido ouvinte, o derradeiro.

Sair pela rua e olhar, olhar, olhar,

Buscar a branca música da lua,

Na vidraça do tempo jogar pedras.

Escrever sem medida, na medida

Do vento, tão somente e, se possível,

Acordar despertando novamente,

Permanecer-se insônia do poema,

E navegar, liberto, os quatro cantos

Do firmamento-teto, laje, branco.

O cancioneiro calou-me por inteiro,

Escrevo-me na primeira pessoa.

Qual a forma perfeita? Esta linguagem

Nada tem de suor ou de saliva?

Vou-me canção assim sem personagem,

Nem angústia nem mágoa nem desejo.

Page 408: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

408

Por que fazer-me poema sem acaso?

Por que, então, arrancar-me da garganta

E atirar-me no branco deste espaço?

Nada vale o poema, não caminha,

Recluso jaz no livro e permanece.

Não revestem paredes suas cores,

Ninguém dança ao som da sua música.

Quanto tempo perdido, quanto tempo

Vendo ao som nascer novo momento.

Pelo poema recusei-me à vida, Postei-me

eternamente despedida, Reescrevendo-me

sempre, sempre, sempre.

Neste momento me recuso à morte,

No amor de Francisca ressuscito.

A noite das estrelas jaz no mar:

Belo instante marinho é a tormenta:

É pagão o poema – forma e rito,

Na folha-de-papel, o seu batismo:

Água e suor, em sacrifício,

O poema se faz, silente ofício.

Page 409: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

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Ésio Rafael

(1948)* **

CHEIO DE VIDAS...

Lúcido

Eu vi Erickson Luna

Exposto ao caos que lhe teme

Eis

O homem de Oriana Fallaci

Um mote Completo

atemporal Indecente

Visão máxima dos afagos sociais

Logo

Veio-me de chofre Israel somente

Mil vezes

No cenário externo do “Parque”

No teatro da rua do Hospício?

Eu vi

Tragando um cigarro amigo

Erickson Lunar...

Page 410: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

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AS MÃOS

A Lia de Itamaracá

As mãos do Mestre Vitalino

Tocaram pífanos e barro

As mãos de Drummond tecem no Cosmo

As mãos de Manoel Galdino pereceram para nós

Restam-nos ainda as mãos cirandeiras de

Lia de Itamaracá.

Page 411: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

411

Marco Polo Guimarães

(1948)* **

DUAS PAISAGENS

Esta cidade que se alarga

em leque azul de seda e laca,

em girassóis de ouro e brasa,

em ventanias desatadas;

esta cidade que se alarga

em mangue cinza e praia acesa,

em manga aberta sobre a mesa,

em moça aberta sobre a cama;

esta cidade que se expande

em praça, várzea e avenida,

em superfícies, cromo e vidro,

em rios de sombra em margens nítidas;

esta cidade que se dilata

em cores rubras quaisquer que sejam,

em flexíveis linhas de frutas,

em rijas tramas de sal e fibra;

esta cidade que se amplia

em rol de roupa branca corando,

em vila branca no horizonte,

em asa branca cortando a tarde;

esta cidade que se alaga

de sol, se espicha, se espreguiça,

se vira ativa, brinca e grita,

quando chove muda, fica muda;

Page 412: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

412

esta cidade se limita;

a chuva a prende em barras finas

e intransponíveis, em barras michas

e frias; prisão que a descolore

toda; esta cidade na chuva

torna-se contrátil, ostra viva

fechada; pequena, cubículo,

o homem a habita aos pedaços e

por etapas, tateando cego,

temendo abismos, correndo riscos

na rua riscada de finitos;

esta cidade que empaca, fica

implástica, imóvel, impossível;

submersa, mantém o homem

entre paredes, galochas e capas

contido; se cessa, se cerra,

se cerca, se caça, se embaça

numa dura cerração líquida

que a liquida, ínfima; caracol

sem saída; paralelepípedo

derretido; vento oleoso;

serpenteante serpente de pano

enlameado; em farrapos, a

cidade nem mais é; é só

uma caricatura anônima grafada a

carvão no muro de um terreno

baldio, onde ratazanas escondem

restos de sombras manchadas de giz.

(Poema inédito. Disponível em: Plataforma para a Poesia: <http://

www.plataforma.paraapoesia.nom.br/2005mpolo.htm>)

Page 413: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

413

BLUE

A Cida Pedrosa

Com Eric Clapton, um branco,

aprendi um pouco de blue;

o toque mínimo da guitarra,

a busca de perfeição.

Aprendi que música não tem pressa

e o tempo

é uma coisa a ser tecida.

Com Robert Johnson, um preto,

aprendi um pouco de blue;

que música é outra maneira de dizer silêncio.

Aprendi que só valem a pena as palavras

que mudem a cor do dia.

(In A superfície do silêncio, 2002, p. 27)

Page 414: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

414

Pedro Américo de Farias

(1948)* **

IMPROPÉRIOS

não sou poeta de pátrias e pátios

devagar com o andor da poesia,

poeta, a musa pode ser de barro

palavra, ave que voa e vai à toa

toada que vai e vem numa boa

espalho minha alegria e minha dor

grito e berro as palavras proibidas

impropérios que a opressão impõe

debochando nos pés do deus censor

sou um bruxo em meta de mestrados

vou em busca do meu proust perdido

Page 415: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

415

PARALELEPÍPEDRO

canto pedregoso

em terça rima

nasci pedro, assim me encaixo

pedregulho entre pedreiras

rolando penhasco abaixo

cresci pedra por ladeiras

açudes, roças e rios

fui trempe para fogueiras

sofri febres, calafrios senti

no couro chibatas meus

ais viraram assobios

sonhei sonhos em cascatas

neles cacei capivaras

vivi com nefelibatas

habitando nuvens raras

caí que nem bendengó

amassando algumas caras

mas hoje sou pedra-mó

Page 416: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

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Vernaide Wanderley

(1948)*

AFAGOS DE PABLO

Pablo tentou fugir ao chamado da graça

– castigo venal derrubando o destino.

Ele se desfez do paletó de nuvem,

carregado de música e retalhos de terra,

símbolo de sua missão no mundo

– peregrino do canto rouco das serras.

Vestiu-se de algodão e prata,

ornou a fronte com a tiara ruiva das caatingas,

pendurou nos dedos sua mais nova composição

e afiou a viola de sete cordas sobre a amada.

Page 417: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

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EM RESPEITO AOS QUE RETORNAM

Voltar,

quando o portão é rosto amigo,

as avencas um tempo que cresceu

ou quando mangas já derramaram

resinas nas rosa que ficou.

Voltar,

sempre poder voltar,

por mais que essa distância

seja um sol de muitas léguas

ou espinhos que brotaram.

Voltar,

presa apenas no mormaço

de árvores abertas em leques,

voltar para reconstruir lugares

com o brilho que se trouxe.

Page 418: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

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Bartyra Soares

(1949)* **

DESAFIO

Quem se atreverá a ferir as begônias

e as avencas quando até os ventos

acautelam-se e reprimem a ânsia

de destruí-las?

Quem ousará cerrar as janelas guardando

no recato dos salões um ricto de solidão

quando nas ruas um canto fraterno une-se

à voz das folhas secas?

A quem caberá o direito de fechar

as comportas se salta do íntimo das águas

o constante aceno de quem está

sempre partindo?

Quem impedirá que na vastidão dos pastos

de inverno o tempo rumine o verde

e os pardais persigam os horizontes

molhados?

Quem tentará apagar as velas que se equilibram

nos candelabros se além das soleiras

a noite continua espessa e as estrelas mal tocam

o cimo dos montes?

Page 419: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

419

Quem se julgará no direito de dissipar o silêncio

que sempre vem depois das grandes revelações?

E quando tudo for aquiescência quem ousará

dizer não?

Page 420: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

420

PERSISTÊNCIA

O fio de cobre de tua voz

estaca oscilante sob o umbral

de minhas incertezas. Veem

de ti ou dos pardais este frêmito

este alarido, esta indecisão de cor?

Recolho tua face de olhos mínimos

e lado a lado contemplamos a dança

das mariposas que das perplexidades

acercam-se tontas. No jardim

a chuva liquefaz as margaridas.

Em ti o medo e o vento rodopiam

desordenados – girassóis sem hastes

fragmentando-se na queda louca.

Com insistência teu pulso desfia

a vida no compasso de repetida canção.

De descaso é o latir do cão

na viela esconsa. Pouco a pouco

tua voz se extingue. Sob o umbral

só as indagações das minhas incertezas

mantêm-se em alerta e persistem.

Page 421: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

421

Dedé Monteiro – José Rufino da Costa Neto

(1949)* **

SEM MAMÃE

Hoje é o dia em que o filho, a toda hora,

Presenteia e festeja a mãe querida,

Como eu fiz tantos anos... mas, agora,

Já não tenho o “luar” da minha vida.

Ó mamãe, nesta data colorida,

O universo respira eterna aurora!

E eu respiro do ocaso a dor pungida

Da saudade infinita da senhora.

Não há nada tão belo e comovente

Como um filho entregando o seu presente

E abraçando a razão de sua paz,

Nem mais triste que um órfão como eu,

Procurando essa JÓIA que perdeu,

Sem poder abraçá-la nunca mais.

Dedé Monteiro, 1994

Page 422: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

422

FIM DE FEIRA

o lixo atapeta o chão

um caminhão se balança

quem vem de fora se lança

em cima do caminhão

um ébrio esmurra o balcão

no botequim da esquina

o gari faz a faxina

um cego ensaca a sanfona

e um vendedor dobra a lona

depois que a feira termina.

miçanga, fruta, verdura,

milho feijão e farinha,

bode, suíno, galinha,

miudeza, rapadura.

é esta a imagem pura

de uma feira nordestina

que começa pequenina,

dez horas não cabe o povo.

e só diminui de novo

depois que a feira termina

na matriz que nunca fecha

muito apressado entra alguém

mas sai vexado também

se não o carro lhe deixa

o padre gordo se queixa

do calor que lhe domina

e agita tanto a batina

quem que vê fica com pena

toca o sino pra novena

depois que a feira termina.

Page 423: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

423

a filhinha do mendigo

sentada a seus pés, num beco,

comendo um pão doce seco

diz: papai, coma comigo.

e o velho pensa consigo

meu deus, mudai sua sina

pra que minha pequenina

não sofra o que eu sofro agora

ria a filha, o velho chora

depois que a feira termina.

um pedinte se levanta

da beira de uma calçada

chupando uma manga espada

pra servir de almoço e janta

um boi de carro se espanta

se o motorista buzina

um velho fecha a cantina

um cachorro arrasta um osso

e o pobre “assavessa” o bolso

depois que a feira termina

um camponês se engana

chega atrasado na feira

não compra mais macaxeira,

nem batata, nem banana

empurra a cara na cana

pra esquecer a ruína,

arroz, feijão, margarina,

açúcar, óleo, salada,

regressa e não leva nada

depois que a feira termina

Page 424: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

424

no açougue da cidade

das cinco e meia em diante

não tem um pé de marchante

mas mosca tem com vontade

um faxineiro abre a grade

tira uma mangueira fina

rodo, pano, creolina,

deixa tudo uma beleza

mas só começa a limpeza

depois que a feira termina

e o dono da miudeza

já tendo fechado a mala

escuta o rapaz que fala

do outro lado da mesa:

– meu senhor, por gentileza,

o senhor tem brilhantina?

ele diz com voz ferina:

– aqui na mala ainda tem

mas eu não vendo a ninguém

depois que a feira termina

um jumento estropiado,

magro que só a desgraça,

quando vê que a feira passa

vai pra frente do mercado

o endereço ao danado

eu não sei quem diabo ensina

eu só sei que baixa a crina

entre as cinco e as cinco e meia

lancha, almoço, janta e ceia

depois que a feira termina.

Page 425: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

425

Fernando Monteiro

(1949)* **

GRAFITO I

Erúpvias vias dúbias de

piedade e prazer,

luxúria e múltiplo luto

por pena e pomba fúnebre,

subterfúgio e súbita

dúvida oculta

sob a prece purpúrea

ao fogoso deus da chuva

de cinzas e fúrias,

que cuspiu sobre Estábias

e ensinou Herculano a descrer.

[In Poesia pernambucana moderna. Breve Antologia, 1999, p. 165]

Page 426: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

426

GRAFITO II

Herculamum e Pompeii

sob lava em onda

e pó de pedra-pome,

após uma noite

e tudo acabar: cidades

do sono, gêmeas do

abandono, irmãs que

visitamos com receio

de sermos nós a

acordar.

[In Poesia pernambucana moderna. Breve Antologia, 1999, p. 166]

Page 427: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

427

Maurício Motta

(1949)* **

A HIPNOTIZADORA FRANCESA

Paço do cume dos olhos

ativa íris “Globo da Morte”.

Espelho traiçoeiro

Golpe à vista Do sono

ileso prospecto de

sonho raios...

eletricidades...

Corre o Sena, corre o carro

no transcurso do corpo

da boca doce,

calma telúrica

febre de tua imagem

exposta na minha rubra

alma de desejo.

Page 428: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

428

GOLPE DE ESTADO

Berço profundo

de desejosos céus

e sonhos ascéticos

notícias de golpe

guerrilhas ao norte

árvores, braços, balas

articulações ao leste

e o sentimento

crucificado de Deus.

Page 429: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

429

Paulo Bruscky

(1949)* **

Page 430: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

430

Page 431: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

431

Tereza Tenório

(1949)* **

FACE AMADA

Era a Face Amada. A amargura

entretecera espinhos e arames

em torno da fronte assinalada

e álamos cindiram-se em mil ramos.

Signos diluíram-se no éter

em gotas de lava. Longe, em Patmos

era noite: o fogo de Sant`Elmo

rompia a trava em intervalos raros.

Ciclones varreram as praias calvas,

sismógrafos oscilaram lívidos

que o eixo da Terra vacilava.

O ódio adormecera nas entranhas

de Pandora, e o inquieto Espírito

nos recessos do Éden se ocultura.

Page 432: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

432

AMOR

Disse-me que amava em mim a estrela

nua que cintila em minha fronte.

Disse-me que eu era sol e o dia.

e todas as aves do horizonte.

Ele que se deu a mim inteiro

transformou-se em sangue e maresia.

Demônios lunares o levaram

e afoguei-me lúcida e sombria.

Page 433: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

433

Alvacir Raposo

(1950)*

XLI

Há de vibrar teu corpo em claridade,

nos extremos de um dia amanhecido;

e entre a luz e o perfil, a ambiguidade

de um vulto que se faz indefinido.

E voa a flama em cor na amenidade do

silêncio completo e sucumbido, entre

sonhos e gestos, que em verdade, são

asas de algum pássaro perdido.

No entanto, eu sei, é tua imagem lúcida

no turbilhão de cores deslumbrantes,

no amanhecer sem mácula, sem vício.

E aflora da neblina a flor translúcida,

a rosa dos teus seios delirantes,

feito o clarão de fogos de artifício.

(In Sonetos, 1999, p. 87)

Page 434: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

434

XLII

É noite de São João. Toda a cidade

mergulha na fumaça das fogueiras.

E em mim, revendo antigas brincadeiras,

atiça-se este fogo de saudade.

Na rua, a meninada em liberdade,

atrás dos busca-pés... quantas carreiras!

O estrondo dos rojões e das ronqueiras,

girândolas girando em claridade.

Uma voz de repente se incendeia

Nas canções, que a sanfona mais brejeira,

espalha nos salões. Como esquecê-las?

Vaza em luz o balão da luz cheia.

O céu parece um pano de bandeira,

furado pelas brasas das estrelas.

(In Sonetos, 1999, p. 87)

Page 435: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

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Lucila Nogueira

(1950)*

E SE INDA HOUVER AMOR

E se inda houver amor eu me apresento.

E me entrego ao princípio do oceano.

E se me atinge a onda, úmida eu tremo

esquecida de insones desenganos.

E se inda houver amor eu me arrebento

feliz, atravessada de esperança

e mesmo lacerada inda assim tento

quebrar com meu amor todas as lanças.

E se inda houver amor terei alento

para aguentar o inútil destes anos.

e não me matarei, sonhando o tempo

em que me afogarei no seu encanto

E se inda houver amor, ah, me consente

ser pasto de tua chama, astro medonho.

E se inda houver amor, eu simplesmente

apago esta ferida do meu sono.

(In A dama de Alicante, 1990)

Page 436: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

436

SENTIMENTO SÚBITO

A Cícero Belmar, Marina Nogueira e Eduardo Diógenes

porque você nada sabe da insônia

não venha assim desavisado com esse universo de

[frases protocolares

e toda uma higiene pasteurizada de ternura

cuidado e não se aproxime demais

existe uma parte de mim onde ninguém chegou ainda

e o desespero sempre faz com que a gente precise

[acreditar em tudo

estou ficando cada vez mais com medo desse

[sentimento súbito

a água que lavou as letras da biblioteca

é um sinal de que o amor e a palavra exigem renovação

que tanto estudo não resolve o desamparo

e que continua desabitada a casa que sou

finjo-me autobiográfica e renasço como personagem

espasmo de eletrochoque eu sirvo o meu senhor

ducha de eletricidade eu sirvo o meu senhor

e basta o seu tom de voz ser um pouco menos terno

que eu já sinto dor

como quem escolhe uma salada de rúcula

em um cardápio de veludo escuro

você está sentado numa poltrona de aço

que já começa a ser engolida

pelo mar vulcânico da minha loucura

não sei porque tudo vinha tão vagarosamente de

[modo calmo

e de repente foi aquele estalo aquele sobressalto

Page 437: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

437

e você não entendeu nos intervalos de linguagem

o meu jeito pelo avesso de cantar um blue

você não entendeu nada

você não percebeu que eu sou um fósforo apagado

esquecido na fuligem com memória do passado

que a vida cai pesadamente em meu cabelo azulado

e para a tela grande perder o colorido basta uma pilha

[se gastar

por isso eu chego a ti numa bolha de sabão gigante

soprada no canudo de mamoeiro do quintal da infância

onde aprendi a noite o sol os cristais coloridos e

[as músicas ciganas

daí que basta você me tocar e eu retorno à vida

quebra-se o encanto e o feitiço

e saio para a realidade carne que se desprende

[das páginas do livro

escrevo sobre a vida como um exorcismo

não tenho remorso do que vivo

o meu poema é o sinônimo da minha pele exposta

na implosão do muro de Berlim dos sentimentos físicos

sinal vermelho

rostos vazios

caminhei coberta de sargaços na avenida

como um insignificante alfinete atraído por um ímã

e perdi o sono perambulando nos telhados

à procura das palavras mais precisas

quando finalmente descobri que o que importa mesmo

[sempre está implícito

Page 438: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

438

e agora

eu só quero que você ouça minha voz subterrânea

ecoando muito além de toda superfície

mesmo que em mim nada esteja a salvo

quero que observe com perplexidade como eu

[tenho estilo

e a melancolia dos meus olhos claros

atravessa nervosamente o cosmos como um neutrino

argila submarina de abalos sísmicos na manhã de uma

[rua vazia de domingo

hoje falta-me companhia para sair e beber um vinho

nada acontece e eu não sei como faça para

[manter-me viva

nada acontece e eu fico inerte sem regresso

[nem partida

devo mudar uma vida que já não me serve

mas ando muito cansada de ser sempre eu a tomar

[todas as iniciativas

você não entendeu nada

e eu estava dizendo apenas na verdade

que subitamente eu fui ficando perturbada

você me lê somente para encontrar suas palavras

mas eu venho de uma raça de saltimbancos e acrobatas

e brilham relâmpagos da tempestade nos meus

[gestos delicados

o meu corpo flutua como sílabas de imagens congeladas

e nessa opressão desarticulada decido

[desesperadamente ficar calada

mas não esqueço o convite para ver as estrelas

[num deserto do

Marrocos

Page 439: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

439

nem a minha estranha fuga automática daquele mun

[do cor-de-rosa entre penhascos

para voltar aqui e ficar sempre à espera do destino e

[do acaso

sentinela do nada

e a vida passa como as nuvens na janela

da próxima vez eu vou ter mais cuidado

porque das outras sei que estraguei tudo só por ter

[medo de encarar

a realidade

eu vou telefonar

depois a gente se fala

agora eu não posso acordar

entenda que eu carrego a saudade das aves migratórias

que sobrevoam os alpinistas do círculo polar

porque você nada sabe da insônia

e existe uma parte de mim onde ninguém chegou ainda

e o desespero sempre faz com que a gente precise

[acreditar em tudo

estou ficando cada vez mais com medo desse

[sentimento súbito

(Na antologia Retratos, 2004, p. 138-139)

Page 440: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

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Elizabeth Hazin

(1951)**

RECIFE

Uma cidade

mais-que-perfeita

nasce de onde

(de que é feita)?

de rio e tempo

(ou de memória)

de chuva e sal

(alguma lágrima)

de luz e bares

(tristeza clara)

de seus poetas

(uns tantos versos) :

Há que tempo que não te vejo

Noiva da revolução

Ó (minha) cidade noturna

Aflorada no mar

(In Poesia viva do Recife, 1996, p. 57)

Page 441: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

441

soneto das tempestades

sou neto das tempestades

que sopram pelos desertos

um destino de saudades.

com seus nós quase desfeitos

eu trago a garganta aberta

escancarada vazando uma

voz suja de terra

que filtra os dias e as noites.

na ponta da minha língua o

tempo acaba ou começa?

brota em mim o som da flauta

brota mais – a flor do sangue –

ao sol que queima sem pena

neste deserto tão grande.

(In Agenda 84, Livro 7, 1984)

Page 442: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

442

Juhareiz Correya

(1951)**

PASSAGEM NA PONTE

estou aqui, no meio da ponte

no raio do dia (ou no açoite da noite)

no vão desta vida, no passo das águas

amanhecendo de tarde sem hora de anoitecer desperto

com a mesma sede afogada na garganta

despejando as enchentes da fala nos rios.

estou aqui, em cima da ponte

não sou boi nem voarei além do Equador,

não vou correr da polícia,

não tenho argumentos nem malícia,

não vou pular frevo ou maracatu,

não sou punguista nem sou camelô.

dentro da ponte é onde estou

e não me interessa se você para ou passa

se você pensa qualquer coisa ou se acha graça

e desconversa direto antes de chegar na esquina.

não me interessa se você é macho ou fêmea,

ou se investe porrilhões e tantos na Bolsa de Valores.

interessa é que eu estou aqui

na ponte,

sem pregão, sem comício,

sem liquidação, sem manifesto, sem saber direito

como lhes fala de encontros e entregas e dores

e vocês têm uma pressa infernal que atrapalha

Page 443: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

443

com os instantes contados por um sistema canalha,

dando graças ao seguro de todos os dias,

estúpida promessa,

para que os porcos não lhes cortem as cabeças.

Vocês têm famílias, posses e silêncios horríveis

para cultivar e multiplicar a vida inteira.

(e nada como palavras, só palavras, que tão

[aéreas soam,

como as que eu te ofereço, irmão,

dispara jato mais veloz no sangue do coração).

vocês não ouvem nada, eu sei,

e nada têm para dizes também.

igualmente motorizados dentro da cidade das horas

vocês não dispõem de tempo,

vocês pensam que aceleram sua própria sorte,

vocês sabem apenas que nós somos inúteis,

[jamais necessários.

no passeio da ponte sou eu quem falo

e aqui me acendo, me dou e me escangalho

aqui sou poeta, oferta, passagem.

(In Poesia viva do Recife, 1996, p. 90)

Page 444: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

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CANÇÃO PARA VICTOR JARA

“o canto tem sentidos

quando palpita nas velas

de quem morrerá cantando

as verdades verdadeiras”

(Victor Jara)

morrerei cantando, Victor Jara.

depois dos dedos cortados

as mãos sangrarão ritmos e cordas

e a canção elevará minha voz.

e me cortarão os pulsos

e os tocos dos meus braços

sem instrumentos sustentar

rubros vão balançar

sem minha canção parar.

meus dentes serão quebrados

na minha garganta prensados

na garganta entulhados

no meu canto sufocado.

meu rosto disforme de insultos

virado na sanha dos brutos

vai minha vontade cantando

na cara do povo mostrar.

além da loucura e dos urros

da soldadesca assassina

além de chutes e murros

e da bala que elimina

– nesta praça sem esportes

onde nos jogam com a morte –

meu povo não calará,

minha voz vai mais cantar, meu

canto não morrerá. morrerei

cantando, Victor Jara

(In América indignada, 1986, p. 10)

Page 445: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

445

Márcia Maia

(1951)* **

dos caminhos de ir e voltar

tijolo cimento e brita?

asfalto concreto e aço?

talvez um laço de fita

talvez a fita sem laço.

que vede. sei como faço.

que guarde além da desdita

silêncio que não limita

grito que diz de embaraço

:

seja a palavra não dita.

que seja aquém deste espaço.

da cana que reste o bagaço.

da casa nem palafita.

à beira-mar o mormaço

à beira-rio suscita

tardes que a dor premedita

fadadas sempre ao fracasso

por crê-las longe do abraço

que a vida lhes requisita

:

não seja aquém deste espaço

não seja a palavra não dita.

o dia ainda dormita

da noite resta um pedaço

Page 446: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

446

todos dormem e eu aflita

me debruço no terraço

buscando abandono lasso

que a saudade ressuscita

na lembrança inaudita

que fere qual estilhaço

:

seja a palavra enfim dita

aquém e além deste espaço.

Page 447: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

447

decomposição

o amor apodrece como fruta

sobre a mesa.

as moscas zunem.

o sol se põe azul, no vidro

da fruteira.

no mais, além de solidão e

pasmaceira,

um cheiro acre-adocicado

de decomposição.

Page 448: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

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Cícero Melo

(1952)*

A TERCEIRA PELE

Procuro a carne da palavra adusta,

Aquela que insorvida se consome,

Aquela cujo selo cai à fronte

Das palavras irmãs e se incrusta

Nas pedras da razão, no verbo nômade,

No dedilhar de febres e de angústias,

No delírio senil da sombra rústica,

Longa noite de sal e medo insone.

Procuro a carne da palavra augusta,

Aquela que se eleve e se prolongue

Em mistério sutil, sedosa e onde

Repouse mar, celebração e bússola.

Procuro a carne da palavra morta

Que se aviva, me bate e me conforta.

Page 449: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

449

OS MORTOS

Agora todos mortos vão dormindo,

Diretamente para minha cama.

Deitam-se com seu sono terno, infindo.

Escondem a carcaça em meu pijama.

Dão-me todos os sonhos, sonhos idos.

Os sonhos que teceram sua trama.

Os meus sonhos dos mortos esquecidos

Dormem profundamente em minha cama,

Que não sei se estou vivo. Quero a vida!

Quando outros mortos tentam dar conforto,

Jogo o tempo na mente distraída,

Mas, uma voz me diz: o mundo é morto!

Afogados me ofertam água e vento;

Suicidas me dão armas e outra asa.

Alado, em sonho, mudo o pensamento,

Num turbilhão soergo a minha casa,

Mas esta casa não descarta um morto.

Os mortos nunca dormem, são serenos.

Levanto-me da cama – sem um porto.

Os mortos aos seus mortos cederemos.

Retorno ao quarto: abrindo a porta, atino

Intimidade pura e tão discreta:

Cantava meu avô para um menino

A canção de morrer sendo poeta.

Page 450: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

450

Marilena de Castro

(1952)*

A RODA DA VIDA

Folhas

Bonecas

Velocípedes

Céu azul e sombras de mangueiras.

A casa com jardim de rosas

Meu avô na cadeira de balanço

Cheiro de comida, mamãe na cozinha No

quintal, eu chorei quando encontrei o

pintinho que eu cuidava morto.

Enterrei-o aos pés da mangueira.

Jurei nunca mais comer galinha.

Queria ser curandeira.

Nas tardes de domingo, sessão de cinema,

Lago dos Cisnes.

Sonho de ser bailarina.

Na rua uma mulher morta, olhos abertos

para o infinito

Minha mãe tapava os meus olhos para que

eu não enxergasse a morte.

Page 451: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

451

Corria no sítio, sentia-me um passarinho

Desejava abraçar raios de sol

E pisar nas sombras dos meus passos

E na brincadeira de roda

“o pinhão entrou na roda, ó pinhão.

Roda pinhão, bambeia pinhão”

A vida girou, rodou e mudou.

Olho para o céu através da minha janela,

vejo poucas estrelas

ofuscadas pela luz do neon. Penso em meu

avô, tão companheiro na minha infância, morreu quan-

do entrei na Escola

de Medicina.

Meu pai marinheiro, só, desbravava os mares

enquanto na sua terra os seguidores

de Dr. Che Guevara eram mártires.

Vida e a morte se confundem em paredes

brancas.

Dor e nascimento com minha própria vida.

“O primeiro vagido é um hino ao sofrimento”

O pinhão entrou na roda, ó pinhão

o pinhão entrou na roda, ó pinhão

roda pinhão, bamboleia pinhão.

A roda do pinhão

pinhão da roda

A vida roda

Page 452: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

452

Bamboleia

Cai

Roda outra vez nos versos do cotidiano.

(In Retratos, a poesia feminina contemporânea

em Pernambuco, 2004, p. 169)

Page 453: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

453

O SILÊNCIO DAS PEDRAS

Minh‟alma se feriu na rocha nua

queimando as impurezas no fogo das

entranhas.

Profanei as terras do sentir

farejei

a sabedoria das entrelinhas

empunhei a arma da loucura

servi a escravidão da liberdade.

Fiz justiça em silêncio

no céu da boca.

Meus passos falaram

mais que as palavras que nunca disse.

E a rocha que se transformou em água

Lavou minhas mãos manchadas e vazias.

(In Retratos, a poesia feminina contemporânea

em Pernambuco, 2004, p. 170)

Page 454: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

454

Eduardo Diógenes

(1954)* **

O NÃO DO SIM

de onde assisto aqui

ao movimento dos autos na rua

a alma imóvel,

mas, não intacta

com as notas desafinadas

de sua harpa,

insiste, e assiste tonta

ao burburinho de fora,

mas, por dentro sim

está seu tremor maior,

o mistério infindo da palavra

o poço mais recôndito

o não do sim.

Page 455: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

455

E O DEPOIS EU CONTO

que instante

a poesia

aqui esteve

sentada à mesa?

tão rápida foi

sua passagem

que a tornou

mais paisagem

de letras e palavras

que outra qualquer

pintura

maior de alma.

quantos elmos

em metal,

a espada do verso

feriu,

antes dos Quixotes,

pois o verbo mente

mas, Cervantes e Quevedo

não se forjam

em bigorna

de ferro comum.

é dor maior

de alegrias incomuns

é tão nascer

como ser um,

tal o meu filho

olhar para mim

e saber ;

sem poesia

este aqui é um morto.

E o depois

eu conto.

Page 456: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

456

Dione Barreto

(1955)*

O COMPROMISSO

Para Cida Nogueira

poucas coisas são de valia neste mundo:

a solidão ancestral

alguma delicadíssima tristeza

este gesto contínuo de perder-se

e a tua ausência

que faz de mim uma saudade necessária

tudo o que sou, trago comigo

e dou-te.

este poder de consagrar o mundo

torná-lo meu

e pertencê-lo

esta alegria de saber ser pássaro

um jeito de colorir palavras

e o meu olhar dentro do teu, configurado

não é muito

mas este é o meu compromisso com a felicidade.

(In Retratos, a poesia feminina contemporânea

em Pernambuco, 2004, p. 78)

Page 457: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

457

ASSOMBRAÇÃO

para a minha avó Vitorina Barreto de Oliveira

aos 6 anos

tinha medo das almas do outro mundo

aos 10

as almas eram tão familiares

que temê-las de fato

era uma obrigação hierárquica

aos 14

já não acreditava em almas

mas, à falta de medo mais digno

conservei-as

aos 20

vi a primeira e única assombração da minha vida

e não era assombração

pior: era alma de fato

aos 30

convivo razoavelmente

com todas as coisas deste mundo

ou quase

agora

as almas que assombram

já não são as mesmas

– vestem-se melhor em seus disfarces-

e dentro de mim

ai de mim!

esta esquecida inocência

(In Retratos, a poesia feminina contemporânea

em Pernambuco, 2004, p. 77)

Page 458: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

458

Walter Cabral de Moura

(1955)*

DE SEMPRE

Foi quando morri. Apareceu-me um anjo.

Grande, sereno, imperturbável.

– Que fizeste lá?, perguntou-me.

– Nada. Alguma poesia.

– Isso muitos fazem, retrucou. Que mais?

– Respirei.

– Isso, mais ainda. Algo mais?

– Dormi, sonhei, o de sempre.

Olhou-me sem paixão. Era um anjo

(não havia como enganar-me,

embora não mo tivesse dito).

Fez menção de ir-se. Perguntei-lhe:

– E agora?

– Nada. É aguardar.

– Ele?

– Quem mais?

– É verdade que usa barbas? Sempre achei esse fato

extraordinário.

Quase riu. Mas era um anjo,

estava a serviço.

Voltou-me as costas, mas antes de ir

Page 459: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

459

disse-me:

– Toma. Vou emprestar-te.

– ?

– A antologia poética organizada aqui.

– ! !

E tirou, não sei de onde,

um grosso volume, que passou-me.

Grande, sereno, impassível.

Interpretei esse gesto como um ato de simpatia

(embora não mo tivesse dito).

Após o que, foi embora caminhando,

nunca mais o vi.

Ainda não sei se Ele tem barbas.

Enquanto isso, tenho ocupado meu tempo

a ler o volume, a respirar

dormir, sonhar, o de sempre.

(Disponível em: <http://www.plataforma.paraapoesia.nom.

br/2005walter2.htm>)

Page 460: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

460

DESEJO NO ARRECIFE

A Jomard Muniz de Britto

“A modelo negra é mais barato”

por isso é escuro o desejo

no arrecife do jogral Jomard.

Kafkianas baratas d‟água

procuram sombras nas pedras.

A modelo negra é mais baraço,

pregão, garrote, pelourinho

(que não é Pelô), antiquário atual.

A escrava que não é Isaura

nos decifra e nos devora.

a modelo negra nega (néga)

égalité, ordem e progresso,

o pacto social e o papo sindical.

(Iluminismos em luz negra,

negativos em câmara escura.)

A modelo modela o modelo

“moro num país tropical”

e demora a senzala habitual.

Page 461: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

461

Tarcísio Regueira

(1956)* **

NÉON

Eles piscam

Como nos chamassem para a cumplicidade.

Engana nossos olhos

Em um ritual de loucura e falso prazer

Neles, cabem tudo:

Vida, morte, tudo e ilusão.

Page 462: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

462

MARIA, JOSÉ, JESUS

A esquina estava lotada,

era véspera de Natal.

Uma mulher maltrapilha

pedia com a mão estendida.

Seu nome era Maria.

Junto, um homem dormia

alheio ao barulho impiedoso do mundo.

Seu nome era José.

Ouve-se um grito: Ladrão!

Uma criança corre com um relógio na mão.

De repente um freio.

Um menino morto.

Seu nome era Jesus.

A mulher olhava

para aquela triste manjedoura.

Não havia vacas,

só ratos.

Não havia estrelas,

só a luz giratória da polícia.

Não havia reis,

só homem alheios a tudo.

Page 463: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

463

Tadeu Alencar

(1963)*

ÁLBUM DE FAMÍLIA

Farejo em meu passado um momento perdido,

Em que minha perna cruzada – calças curtas,

[meia colorida –

Toca suave na perna do homem jovem,

Recostado no banco da praça:

Missão cumprida no dia cheio,

Filhos em volta,

Em foto para o futuro.

Pelas narinas da memória aspiro a esta imagem

Como um cheiro bom,

Jaca madura,

Capaz de enternecer o brutal açoite do tempo

E de levar-me, saudoso, como agora,

Por aqueles dias em que pensava

Pudesse ter um pai para sempre;

Para sempre poder sentir-lhe o calor da

[perna indolente,

Colada na mão aflita da minha deslumbrada infância

Page 464: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

464

LORDE JIM

Em meio ao turbilhão,

Ao naufrágio sem remédio

Da infância e do degredo,

Um velho marujo

Tateia o convés do horizonte –

Último pedido de sua alma aflita –

Vislumbrando nas revoltas nuvens

O imperecível olhar de um amigo.

Desde então passou a alimentar a certeza

De que raiaria a aurora polar –

Que amaina os ventos, que adoça os mares -.

E a apressá-la, correu o marujo a enfunar as velas,

A enrijecer as cordas, a lançar carvão na caldeira.

Estava tão certo do amigo quanto da aurora.

E a borrasca, como cruel atrativo, cedeu ao sono,

E o leme, desgovernado, enlouquecido,

Roubou ao sono um cardume de estrelas,

Que comandaria, dos céus, a penosa e

[contrafeita travessia.

Page 465: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

465

LÁPIDE

Quero um túmulo de águas,

Um lago, mínimo que seja,

Onde possa descansar

Das insidiosas dores deste mundo.

As borboletas solitárias,

Voando rente à superfície,

Comporão o epitáfio do meu molhado repouso

E terei os peixes como vermes.

Os mares, os regatos, as poças d‟água

Mais escondidas,

Sepultam tantos olhares, confissões às pedras,

Miudezas da minha vida,

no desgoverno das manhãs!

Quero as águas na morte,

Porque delas me sirvo em vida,

Mergulhando com sofreguidão,

Língua e corpo,

Entre goles e banhos que me fazem planta,

Planta que sou.

Page 466: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

466

ZETO – José Antônio do Nascimento Filho

(1956-2002)* **

MEU AMIGO

Certo dia encontrei-me com um amigo

Que deixou-me contar minhas tristezas

Vendo nele ternura e sutilezas

Nos abraços que dele fiz abrigo

Mesmo hoje depois de tantos anos

Nosso amor continua assim perene

Eu querendo que ele me envenene

E ele sendo o veneno dos meus planos

Amizade igual nunca encontrei Pois

às vezes que eu o procurei Estendeu

o seu braço em minha mão

O amigo que falo não é gente

É divino e pra mim foi um presente

Que o tempo me deu, meu violão

Page 467: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

467

NO BATENTE DE PAU DO CASARÃO

(Tema de Dedé Monteiro)

De braúna foi feito este batente

Bem sentado no chão por um pedreiro

Cada marca em seu corpo é um janeiro

Que lhe deixa prum lado mais pendente

Mesmo assim rijo, forte e resistente

Se escalda nos dias do sertão

E o passado lhe traz recordação

Do barulho de esporas e chocalhos

Que fizeram com o tempo esses mil talhos

No batente de pau de casarão

No batente da casa da fazenda

Tropecei quando ainda era bem moço

Esperei mãe trazer o meu almoço

Vi Maria sentada fazer renda

Muita gente deixava uma encomenda

Um menino batia o seu pião

Pra ficar mais macio em sua mão

Dava toques profundos na madeira

Tem até um buraco de pingueira

No batente de pau do casarão

Eu conheço a história de um batente

Que por mais de cem anos foi pisado

Quando a casa caiu foi retirado

Pra uma sombra que tinha assim na frente

E de assento serviu pra muita gente

Esperar com família o caminhão

Quantos anos ficou ali no chão

Esperando o amanhã com paciência

Acho até que existe consciência

No batente de pau do casarão

Page 468: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

468

Luiz Carlos Monteiro

(1957)**

POEMA-FALÁCIA

Encontrei-a de súbito

ontem

na rua em que mora

e nesse instante abrupto

que a vi

a que vi era outra

nesse instante de ontem

onde foi

perfeito, meu equilíbrio

de imaginário navio

à deriva

ininterrupto, alado

sem sobressaltos, couraça

e não-brusco:

Falácia

– Que vem

e que passa.

(In Poemas, 2003, p. 61)

Page 469: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

469

POEMA SERTANIENSE

OU NAS RUAS DA VELHA CIDADE

Nas ruas da velha cidade

batidas de sinos vibrando

Vai lentamente um cortejo

silencioso avançando

Procissão missa ou enterro

os sem-aviso sondando

Se procissão – Muito bem

Se funeral – Isso é mau

Rua Velha

velha igreja

última bênção

Final

(In Poemas, 2003, p. 41)

Page 470: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

470

Paulo Gustavo

(1957)* **

SONETO DA TRANSFIGURAÇÃO

Num canto de jardim fez o seu bosque

Aquele sem morada nem sossego.

À noite, quando a lua era o seu norte,

Seu riso era uma flor que dava medo.

Nunca falou de si, nunca chorava...

Era feito de argila e de silêncio

E mesmo sem ter Deus tinha uma alma

Cujo nome infinito era segredo...

Diz a lenda que as horas mais furtivas

Passava a espantar-se de estar vivo

E a falar de ninguém estranhas línguas...

Um dia amanheceu transfigurado:

No seu semblante ardente um fogo extinto

Boiava como a luz dos afogados!...

Page 471: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

471

MÃE

Mãe – dicionário de afeto

E de serviços,

Jardim do Éden

E oceano íntimo.

Quando a noite sobrevém, surgem de ti

[velhos caminhos.

Mãe – o primeiro vinho.

Page 472: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

472

Erickson Luna

(1958-2007)* **

EPITÁFIO PARA UM BUROCRATA

Faz da gravata

a força

a fina veste

á tua mortalha

e teu birô

o teu esquife

Do gabinete ao túmulo

vade retro burocrata!

Page 473: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

473

DO MOÇO E DO BÊBADO

A Fernando Pessoa

I

Por vezes vejo-me

em todo e a olho nu

na intimidade

do estar a sós comigo

e assim sem ter com quem

não fazer nada

tudo ao redor

parece retardante

II

É quando um moço

que há em mim levanta

me torna em parte

e brada apaixonando:

“não vês que a história

abre pernas à tua frente

toma-a que é fêmea

e lha fecunda co‟algum sangue

seu ventre é fértil

e ela amante insaciável

vive nos povos

a partir revoluções”

III

já outro o escuta

em rir indisfarçado

não se levanta

a embriagues não lho permite

a voz que é rouca

Page 474: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

474

entrecortada por soluços

chega aos ouvidos

do poeta que reflete:

“vai

abraça-a firme

e sorve o vinho do seu romance

esconde o rosto

entre os seus seios rijos

e enlouquece

ao sabor das suas ancas

morrendo em êxtase

talvez me compreendas

e ao perigo das paixões

em quantos leitos

tem deitado a vil rameira

a quanta cria abandonando

gerações

e no entanto

seu cantar é se sereia”

IV

e já ouço passos

abro os olhos pro redor

alguém por perto

quem estava dentro

lá se esconde

e já sou eu

que não querendo conversar

lembro O Poeta

“sempre uma coisa

tão inútil quanto a outra”

talvez por isso

e é mesmo

eu não me desespere

embora saiba toda espera vã

Page 475: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

475

Flávio Chaves

(1958)**

UMA CANÇÃO DE AMOR PARA VIOLETA

Na terra não existiu semelhante canto

tecido das maravilhas do tempo

quando circula aroma no pulsar das horas e

o ritmo do coração corre nas lembranças

do corredor da infância abrigada nos quintais

braços presos na geometria da luz dos

[castiçais

A música do teu amor em mim é meu solfejo

no exercício noturno do abraço escandido em lança

da caverna de fúria com que te devoro na

[cálida noite

onde te guardo no meu fôlego e a humanidade não

[te reconhece

Lá fora o açoite do jardim sopra lascivo e sôfrego

[nos aquece

Aspiro a fragrância dos teus sagrados gritos

e atônito me guio pelos giros de teu

[olhar-borboleta

que demarca a acrobacia de teus quadris no

[meu corpo

a flutuar na odisséia do labirinto

Canto loas na noite de ventania

amo o siroco e a lua de areia

e abelha pousas fêmea na carne de meus impulsos

Page 476: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

476

enchendo de melodia as paredes cegas da paisagem

[excitada

onde geme côncava labareda de meu corpo e

[não adormeces

Um terço de favos conduz o orgasmo de nossa prece

habito hóstia e vinho na litúrgica viagem

e o espelho afoito espalha fascínio na passarela

onde a pupila aflita dilata em frenesi o sol

[e a lua

Arcanjos imaginários desfilam no sono das ruas

bailando no vértice do ar enfurecido

que o meu corpo ao penetrar no teu e tu em mim

desenha notas e claves no átrio da partitura

[ensandecida

flamejante por um anjo que reza:

um canto de amor assim nunca se viu

[na terra

(In Memorial da distância, 2002, p. 31-32. Disponível em: Plataforma

para a Poesia: <http://www.plataforma.paraapoesia.nom.br/

flaviocancao.htm>)

Page 477: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

477

A ALMA COMO TESTEMUNHA

Em silêncio galopo nos braços de Deus

lendo um quintal de cartas e madrugadas

Fevereiro traz amor na fábula da sonata

e o céu, o calendário, o brinquedo: são só teus

Onde reina a infância de alfenim no almanaque

da ausência ancorada no relógio da algibeira

rebanhos de fadas ensaiam o riso no parque

como quem escreve amor no lenho da oliveira

Pastores conduzem a linguagem no rebanho do coração

o mistério soletra castelos de vinho do porto

a afagar nos teus olhos a luz viva da mão

Repicando cantigas de cristal em sino de aquarela

que o amor-verão arruma a alma e esconde o tempo

pautando metáforas agudas no horizonte da janela.

(In Memorial da distância, 2002, p. 49)

Page 478: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

478

Francisco Espinhara

(1960-2007)* **

NATUREZA MORTA

A Francisco Espinhara

Aquele velho emoldurado pela janela gasta. Aquele

velho gasto.

Aquela janela de reboco áspero, sem luz que penetre.

Aquele olhar fixo, sem brilho que o alcance.

As rugas, as rugas, o retrato na penumbra, sem brisa

que o suavize.

Aquele velho sou eu.

Page 479: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

479

BLACK SABBATH

Quero as manhãs incendiadas.

O resto do dia diabo aceso

As cabeças das mães degoladas

O monge da paz num poço preso.

Que despenquem das varandas

Flores de bálsamo perfumadas.

Venham ungidas de lavanda

As faces das crianças maceradas.

Que o golpe destro do punhal

Esfrie o sabor da língua.

As vísceras deixemos ao chacal

Ou morram mesmo à míngua.

Que o ódio atropele o amor

Não se dê à paz morada.

O mundo seja um barril de dor

A rolar incessantemente pela escada.

Page 480: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

480

Luis Manoel Siqueira

(1960)* **

BOLSA DE VALORES

Um caminho no sertão

vale uma avenida

e um cavalo, mesmo velho,

um caminhão.

Um banho de enxurrada

vale, assim, a própria vida

num açude ou corredeira pelo chão.

Um aboio de vaqueiro vale um hino,

e o pião de um menino

um avião.

Um chocalho de ovelha

vale um sino

e uma casa, mesmo velha,

a solidão.

Contemplar a natureza vale a pena

um poema vale igual a uma oração.

E o valor daquela estrela imorredoura?

que igreja se compara à manjedoura?

Page 481: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

481

PLANOS DE JOÃO MAURICIO DE

NASSAU-SIEGEN AO PISAR EM TERRA FIRME

Com pouco faço meu sonho

da espuma do mangue, manjar

a paz eu retiro e reponho

depois num feitiço medonho

ordeno um boi voar.

Nos mangues farei meu castelo

com conchas e água do mar

depois a cidade modelo

construo uma ponte no meio

e deixo a vida passar.

Um forte cercado de dentes

com mil caranguejos armados

depois um jardim replantado

com frutas de cor tropical

jamais terá Portugal

composto tão belo fado.

Então ponho fogo em Olinda

e num afago de seio

mais pontes, castelos e ainda

o canavial pelo meio:

( Recife é o umbigo da índia

e a concha que surge no meio.)

O espaço que o sonho precisa

é a rota de cem caravelas

da Ilha de Antônio Vaz

aos morros de Casa Amarela

– Talvez seja tarde demais

já não terei tempo de vê-la...

Page 482: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

482

Eduardo Martins

(1962)* **

O LADO ABERTO

O lado aberto te esconde

Em tua parte palavra

Neste lado quase ponte

Que se estende para o nada

Que quase mundo some

Do outro lado da fala

Para espelhar o indizível

Em outro espelho-muralha

Em teu silêncio-livro

O lado aberto se espalha

Em lados de mil ladrilhos

De sítios de mudas caras

De seu espaço infinito

Em desenho que se cala

O lado aberto te esconde

Em lado que nunca fala.

(Disponível em: Plataforma para a Poesia:

<http://www.plataforma.paraapoesia.nom.br/2004eduardom.htm>)

Page 483: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

483

GEOGRAFIA DO MAL

Recife, diluidora

Dos meus sonhos

Tens água suficiente

Para afogar-me.

Tuas lâminas de vento

Ensaiam o corte

De minhas pontes

Respiratórias.

Em ti, sou ilha,

Cercado de males

Por todos os lados.

Page 484: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

484

Isac Santos

(1962)*

CÂNTICO

Rosa se foi

com seu canto.

Rosa e a rede,

rosa e a casa,

rosa e a graça.

Rosa filha

rosa terra,

rosa mãe.

Mãe de todas as rosas.

Mãe.

(In Entre uma tarde e outra, 1996, p. 34)

Page 485: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

485

REINCIDENTE

Mais uma vez, bato a sua porta,

mais uma vez, choro.

Não por medo, não por mim.

É o vento que não sossega,

é a lua que me rouba o sono,

é a cama que não me cabe

e os lençóis.

Mais uma vez, volto

menos aflito e mais desesperado.

Não por medo, não por mim.

São as aves que não conseguem dormir,

são as crianças que não conseguem

brincar

e me fatigam, me desnudam

e fogem.

Entre uma tarde e outra, 1996, p. 46

Page 486: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

486

Cida Pedrosa

(1963)* **

a lágrima tatuada

como desenhar a lágrima

que ao rosto desce

curva a curva

tragédia a tragédia

dutos canais galerias

arquitetura de dor

como desenhar a lágrima

que ao rosto desce

rio de sombra

destroços noturnos

cicatrizes encharcadas

erosões do tempo

como desenhar a lágrima

que embaça as cores

pinga o verso e tatua o poema

Page 487: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

487

luaredo

a cidade

morre aos meus pés

o mar

e as sereias carpideiras

entoam canções de despedida

o sol

coadjuvante agora

desta trama proibida

abandona a cena e não vê a atriz

que no camarim espera

vestida de amaranto

ela vem

esvoaçante e lúdica

tal qual princesa de muralhas

a terra

é picadeiro

e os homens se desarmam

em seus segredos de coxias

a urbe

se rende ao luar

e uma palheta de sonhos

muda o rosa do mar

e devolve prata a cidade

Page 488: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

488

Weydson Barros Leal

(1963)* **

A PONTE DA BOA VISTA

I – O Rio

No Recife,

desde criança aprende-se o rio

olhando-o nos olhos,

vencendo-o sobre seu dorso,

tocando-o das varandas de suas pontes.

No Recife,

cada ponte é um rito,

uma música, uma bandeira,

é a costura que seca

os seus úmidos tecidos.

No Recife,

uma ponte não é só um caminho,

um alcançar a outra margem.

Seu corpo é o abraço que damos no rio,

é a volta do laço sobre a dança do rio,

é a batalha que vence

a fronteira da água.

Page 489: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

489

II – A Ponte

Esta ponte não se curva

ante o império do rio:

são braços de ferro

que se erguem como incêndios

Grade que guarda o passeio,

gaiola aberta

peneirando a paisagem,

da Rua Nova à Imperatriz,

a menor distância é a sua passagem.

De longe,

a ausência do arco

une um lado a outro lado:

trança de espelhos

que no espaço se inscreve.

Page 490: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

490

QUADRO

Os pés, as mãos,

as pernas, os braços,

a inflexão dos passos,

a boca – o beijo – as curvas dos lábios,

o nariz, as orelhas, os arcos

das sobrancelhas,

a nuca, as costas, o pescoço,

cada milímetro do rosto,

o colo, os dedos, as unhas,

o cabelo, as coxas, o pêlo,

os cílios, os olhos em que me vejo,

as reentrâncias da pele – as dunas

do que descrevem

o riso, os dentes, a língua,

a voz – os sons – a saliva,

a palavra que seduz,

os ombros, o tronco, os joelhos,

o desenho contra a luz,

a altura, o perfil, a cintura

da mais bela criatura

que Deus, para provar a beleza, criou.

Mulher ou pintura – quem sabe –, mas carne

[do mesmo amor.

Page 491: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

491

Marcelo Pereira

(1964)* **

DEMASIADO HUMANO, MAS SEM PIEDADE

Para Raimundo Carrero e José Castello

Um pecador sem vaidade

escreve sobre o destino.

A pena de espinhos

sangra a página em branco

e enfrenta a dor e a traição da palavra

para nos libertar.

Toda esperança é inútil mesmo a quem ama

Os músculos da existência se esgarçam

em câimbras, em espasmos, em contorções.

O pecado é sagrado: sangue e esperma

Rogamos compaixão, mas estamos nus

e cegos diante do eterno

A queda do homem diante de Deus.

(In Tatuagem, 2006, p. 118)

Page 492: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

492

UMA CHARADA TROPICAL

Por dentro

sem porta de entrada

como quem guarda

um mistério

líquido, mineral

traz vida no ventre

feto, placenta

que ao outro

alimenta

e se estende

como cabelos de palha canavial

sobre o corpo

em cachos de brinco

fantasias de carnaval

de baixo

do alto a queda

é mais intensa

que o mergulho

um meteoro

(– e não a maçã de newton – embora as duas tragam

[a semente)

Fruto

Page 493: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

493

Ivan Marinho

(1965)*

FRAGMENTO DO ACASO

Sem gravidade flutuam

Estilhaços de um espelho

E cada parte reflete

Um fragmento do acaso.

Giram dando a impressão

De serem um universo

E são, de certo, mil vezes,

A expressão original

De uma parte perdida

A se olhar eternamente

Ali, imagem pra sempre,

Como se fosse real.

E menos se vê no mundo

E no mundo só se vê.

Entérica alegria

Buscando a rima vazia

De não ser, só parecer.

Poema selecionado para a coletânea do Sintep e para Scortecci

Page 494: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

494

ALBERTO DA CUNHA MELO

Condenação e sacerdócio

Fazem de alguns homens Deus,

Onipresentes nas veias

Do universo ateu.

E nas plagas da ausência

Descortinam intenções

Nunca, jamais percebidas,

Incrustadas nas ações.

Santificam heresias

Em planos da divindade

E apesar de altos voos

Só do chão cavam verdade.

E até parecem gratos

Da condenação de ver,

Assim como a assumir

Um sacerdotal dever De

levar fogo ao trono

Fazendo acordar do sono

As colônias do poder.

Page 495: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

495

POESIA IV

E se me disponho entre o azul e o tempo

É porque não a tenho e ainda procuro,

Contando dias, horas e minutos

Como quem marca a vida na parede.

Com braços abertos tu me aguardas

E seus olhos me fitam piedosos

E, no instante, dás-me a eternidade

E a certeza de que estás à frente.

Flores que te vestem de perfume.

Águas que derramam teus cabelos.

Passos incontáveis e a distância

Dos lábios abertos para mim.

Quanto mais desejo, menos quero:

Antinomia entre se ter ou ser

Pois, se tenho a ti, o voo toma as asas

Mas, se sou teu, tu pousarás em mim

Tornando cinzas o que eram brasas.

Page 496: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

496

Mário Hélio

(1965)*

SINESTESIAS

I – CANÇÃO INVERTIDA PARA MARIANA

(Para ser lida ao espelho, ou olhando pelo vidro

[do carro numa noite

Iluminada de muita chuva)

tudo o que digo a ela é o oposto

e ainda assim contrario o que digo.

não sei dizer de outro jeito o castigo

e repito o não dito, com desgosto.

como foi fácil de esquecer o rosto

de mariana, e tudo o mais, nem ligo

que ela se importe de correr perigo,

quero pra ela um ano só de agosto,

aliás, nem tempo quero mais que exista.

refletindo melhor: espaço nem.

que ela troque de mar, ou nada a vista

de se perder ou desistir de quem

não quer saber mais dela: não insista,

mariana, que eu não lhe quero bem.

Page 497: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

497

II – PRIMEIRA CANÇÃO SINESTÉSICA PARA MARIANA

mariana, quem foi, que vaga-lume, que

salamandra ou borboleta inserta em

todas as manhas que a luz desperta te

ensinou o milagre do perfume

que acendes na palavra, que resumes

de amarelos e azuis a cor mais certa

da tua voz tão sol janela aberta

aroma que inventaste de ter lume?

agora, mariana, aurora chama,

flores têm febre, mas não são estrelas

nem pirilampos quando a luz se enrama

como se fosse um sono simples velas,

são do jeito que és: aroma e chama

no mistério de cada coisa bela.

Page 498: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

498

KATORGA

há uma hora exata a morte esguia

passou nesta rua e deixou um recado:

para desocuparmos o sobrado,

sem reação, nenhuma valentia.

éramos em seis. um que obedecia

sempre a ordens severas – o ordenado

da vida – fugiu logo, bom criado

em meio ao temor do meio que temia.

há uma hora enfim? não sei, havia

o caminho que nunca é palmilhado. me

ponho no centro calado e cansado

medonho e sem rumo, eu choro agonia.

seis c+r+u+z+e+s+ na estrada a morte que+ria.

a morte é o ocaso ou acaso aguardado.

um outro que não queria ser herói,

queria ser só seu, com liberdade,

segundo as informações da verdade

igualmente outrossim também se foi.

transhistória que corres e corróis,

este era gêmeo meu. que crueldade

há em cada um que a vida invade

que quando não cega nem nos mata, dói?

fechou todas as frestas um terceiro

e misteriosamente sumiu.

perdemos mais um nosso companheiro

quando uma das vigas da casa ruiu.

o que ficou comigo era um cordeiro.

lendo um pouco pra mim me distraiu

com os versos de um poeta ligeiro.

este era da morte o mensageiro.

bebeu (que lhe dei) algo caseiro,

fechou olhos e sonhos e dormiu.

Page 499: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

499

só eu fiquei com a minha sombra dura+

como a pedra que sobrou, como os duros

comungam com os concretos puros+

como? em segredo, co+a+gula a amargura+

como posso ser feliz à procura

dos mortos amontoados nos monturos

onde dormem paliúros, tisanuros

que a vida sem piedade enclausura?

o medo é o que me restou de ternura+

a vida acre+dita seus rumos e muros

e nós (os mais sós) sonhamos no escuro.

(In Poesia pernambucana moderna, 1999, p. 238-239)

Page 500: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

500

Fátima Ferreira

(1965)**

CALEIDOSCÓPIO

Sofri que só Foi

tanta dor Que

desmontei.

Depois, juntei os cacos coloridos

Os vidrilhos, os brilhos

E fiz um caleidoscópio

Desses, belos que sol

E toda tarde em meio ao jardim

Assisto as flores azuis, laranja e

Verde esperança, que brotaram em mim

(In Retratos. A poesia feminina contemporânea

em Pernambuco, 2004, p. 97)

Page 501: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

501

FRAGMENTOS DA PÁTRIA

Minha terra tem palmeiras

Onde cantou o sabiá Gonçalves Dias

Mas depenou, tísica, amarelou e desbotou

Tem canteiros onde passeia Cecília Meireles

E grandes sertões, as veredas de Guimarães

Rosa do amor de Diadorim

Tem sacis, Lobatos e Monteiros

E pedras no meio do caminho de Drummond

Mas também tem mortes e vidas secas

Minha terra agoniza

Sob o sol de Ipanema

E mete bala no peito de Iracema, mulher

de Alencar

que mora no Leblon

Minha terra é superego de um anjo esquálido

Que toca trombeta no Zumbi

E mete banzo e bromato no pão

E enche o peito de formal

Quando diz, pátria amada!

(In Retratos. A poesia feminina contemporânea

em Pernambuco, 2004, p. 98)

Page 502: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

502

Marcos D‟Morais

(1966)* **

ANTES DAS CIDADES EXISTIAM POETAS

Antes destes teus símbolos submersos

Dos teus palácios, pontes e aquedutos

Dos afrescos, vitrais, trilhos transversos

E da matéria cinza dos viadutos

Antes das ruínas, fortes e dos arcos

Das arenas, passeios e academias

Do sol refrigerado e dos teus marcos

Como as veias de aço destas ferrovias

Quando a taverna ardia em dor perdida

E amar a biblioteca atava a vida

Do teu porto secreto uma utopia

Fazer poesia e declamar ao nada

Sem viagens colossais, vê-la florada

Neste corpo meu, a tua geografia.

Page 503: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

503

ATRACAR A César Leal

Empresta-me o teu éter

A tua bomba de elisão à dor

Empresta-me o teu sangue

Infectado de poemas bons

O teu terno sujo de luxo

Ao menos na fotografia

Empresta-me o teu sol

Para um novo rei melhor

As tuas cordas e teus metais

Empresta-me as palavras

Os ácidos e os sais

Empresta-me o teu mar

Os teus sonhos de corsário

Teu objeto de trabalho

Empresta-me o teu chá

E chocolate

Empresta-me o mercúrio

O chumbo e a prata

A data de aniversário

Os parabéns

Empresta-me tua agenda

O teu mapa, tua senha

E os memorandos também

Empresta-me a tua espada

O canhão, a artilharia

O vinho e as especiarias

Empresta-me tuas mãos e anéis

Tuas linhas do futuro

Tua família, teu único cão

Empresta-me a tua alma

A tua fé. Amém.

Page 504: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

504

Silvana Menezes

(1967)*

Quero escrever meus versos

No teu corpo nu

Que minhas mãos façam

Sonetos em ti

Que minha boca declame

Beijos na hora exata

Da entrega dos amantes

Que o desejo ultrapasse o frevo

De uma noite de carnaval em Olinda

E os confetes e serpentinas

Sejam os nossos poros abertos

No calor dos sussurros

Quero que você componha

Sua música em mim

E assim, nos tornaremos

Belos, simplesmente

Não quero mais saber

De escrever poemas em frios papéis

Quero sim, que minha palavra

Seja apenas esse ato de amor!

Page 505: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

505

as andorinhas sobrevoam o mar dos Milagres num

[fim de tarde de

abril, meu coração em dia de agonia

Pelas correrias da vida, sem seguranças de chegada,

Preso, saltitando em mim, se acalma

Olhando a paisagem consagrada, sagrada,

Aquele balé me encanta

Saio caminhando fascinada pela imagem sublime

Atravesso a praça em construção. E paro o dia.

Observo as aves de arribação

Enquanto o vento divino sopra as águas

Olhando a minha direita vejo o sol me sorrindo

[numa tela de

encantadora beleza de cores

A desejar-me um até amanhã imponente, certeiro

Inebriada, olho para o mar e uma andorinha solta

Voa rente as ondas finas. Senti inspiração intraduzível

Como se entre ela e o mar, estivesse eu

Leve como o vento

aquecida de amor e calmaria.

Page 506: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

506

Antônio Campos

(1968)* **

REINO DO VERDE

O trono da minha terra é verde,

folhagem forte. Música, canto de canário,

galo de campina, cigarra estourando os peitos.

Não é de ouro, metal ou argamassa, é trono vivo

de cor, cheiro e graça. Vestindo o manto verde,

salpicado do branco das casas.

Trono que se banha ao sol e corre nos rios,

coberto de papoulas, jasmins, girassol.

o trono da minha terra é verde, folhagem forte.

Lavadas manhãs pousam nos pastos, flores e frutos

se abrem. E as mulheres e os seus vestidos são a sua

cor também feita de pano e carne.

As canas são punhais

fincados no massapé da Mata,

que juncado das flores dos cajás

e flamboyants, tanto cobre-se de ouro

como abre-se em chagas.

Page 507: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

507

Em cada passada, uma poça d‟água.

A terra querendo prender o homem:

guarda o rastro da sua caminhada.

O cheiro dos bogaris

nas verdes campinas molhadas.

O rio corre lento, maior que

o terraço que rodeia a casa.

Noites de escuro, candeeiros acesos,

bandos de vaga-lumes imóveis de pavio,

cobertos de lata.

A casa é branca e o rio castanho

como o mel e as crinas dos cavalos.

O jardim não tem tamanho, dura toda

a Mata sem intervalos.

O rio se alonga, se alonga

como um enorme braço que tudo

quisesse trazer de volta.

O trono da minha terra é verde,

um verde vivo, verde mais que verde

o verde cor e sumo de todos os verdes.

(In Portal de sonhos, poesias, 2008, p. 73)

Page 508: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

508

O ANIVERSÁRIO

Neste dia de aniversário,

recordo e lembro no embalo

das velhas amizades o peso

da gasta palavra saudade.

Carrego além do corpo

a danada mania das lembranças,

na busca de salvar do tempo

reinos e sonhos da infância.

Por isso, triste,

busco as fugidias alegrias,

insisto e teimo na teimosia

de querer viver antes e além dos dias.

Modifico, transformo e faço

o meu próprio calendário,

que o tempo também se inventa

apesar do seu indomável itinerário.

(In Portal de sonhos, poesias, 2008, p. 46)

Page 509: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

509

A ESPERA

Esta espera é pássaro ferido,

inerte desejo de voo e altura,

acima: o céu azul e limpo,

ao lado: o sangue a escorrer puro.

Esta espera é prolongado sono,

tempo dado ao momento de partida.

É instante de decisão entre o vôo, mesmo ferido,

ou o chão sangrento, o resto de vida.

Esta espera é consciência do tempo,

hora e momento, aprendizado com a terra:

as suas estações, tempo de sol e escura noite,

verão áspero e inverno desmanchando-se em águas.

Esta espera é o coração quem destina, momento

[além das horas,

antes e depois das marcas, é tempo

aprisionado, mas tempo nosso,

certeza e engano, nosso sonho imperturbável.

(In Portal de sonhos, poesias, 2008, p.32)

Page 510: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

510

S.R. Tuppan

(1969)* **

VIDA

Eu pego da curva do sossego

Imagino uma lágrima alegre

Destes campos invento harmonia

Pois o dia é a luz do meu suor

A saudade é a lâmina certeira

A distância é a dúvida maior

Corta os campos e vivo nas veredas

Alamedas e praças todo encanto

Invadindo as casas e as narinas

O menino sozinho nas colinas

Onde o vento é viril e gemedor

Canta o povo um canto sofredor

Não me espanto ante vícios ou virtudes

A visão alarmante das cidades

Construindo com tal capacidade

A desgraça e o terror das atitudes

Mas o medo e o gemido são segredos

Conhecidos antigos da coragem

A viagem é curta ou se alonga

Nestes versos amigos da verdade

Page 511: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

511

Vou contar a história sem delonga

Que é pro olho abrir ao Universo

O brilhar o brinquedo a bondade

E viver com tal fraternidade

Acabando o desprezo pelas gentes

Dos que não e que só e nunca irmãos

A beleza é um livro de veludo

Tomo tudo em uma aguardente

Quero corpo areia incandescente

O amor é o fogo que incendeia

Sem calor não se chega ao céu sensato

É um fato o mistério das sereias

Só não vê quem não quer ou nunca pôde

Só pode quem quer tendo vontade

Vou abrindo a idade a idéia

A cadeia é a brutalidade

A aranha sempre tece a sua teia

Salve o germe com mais fertilidade

A poesia nos salva da burrice

A tolice e a mesmice não impedem

Que o País seja um sonho e que Alice

Numa rede acorde qual donzela

Ela é bela ela é flor eu sou carinho

Vôo sóbrio de ave sobre o ninho

Quem me sabe me chama passarinho

Mas eu não sou assim tão evidente

Gente bicho minério ar planta

O espírito mau não se levanta

O juízo final já se apronta

Dou-lhe uma dou-lhe duas dou-lhe três

Mas eu vou sempre em frente

E vocês?!

Page 512: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

512

CAMINHOS MISTERIOSOS

Como uma lâmina percorro teu pescoço fino

Descendo, perco-me no vale de mel acre

Dizendo-me sim, encontro teu sorriso árido

Volto a perder-me, então suspiro

Teu sexo sobre meu juízo – massacre

Do vinho da paixão do anjo imberbe

Num giro/sorvo lavas de teu vulcão dorsal

Deixo-me solto em teu fulgor total

Teus seios sugo e o leite é doce

Já teus escarros, faminto absorvo

Tal néctar bom. Se abelha fosse,

Pousaria em tua flor. Mas, sendo corvo,

Como teus milhos e a ti devolvo

Em mijo e vômito: amor, me regozijo!

Page 513: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

513

Múcio de Lima Góes

(1969)* **

POEMA EM AUTO RELEVO

sou como Deus,

sendo às avessas:

escrevo torto

por linhas certas.

Page 514: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

514

INSENSAÇÃO

Incenso aceso;

meu peso, penso,

não vem de agora.

Ontens de mim

carregados de tempo

voam por aí vidafora.

O que vejo quando me invejo,

não grito, murmuro.

Futuro? Adeus.

Pertenço a outro momento,

onde invisível transfiguro.

Page 515: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

515

NAU FRÁGIL

quando amar

não tem siso

n

a

u

f

r

a

g

a

r

é preciso

perca

a noção

do perigo,

faça

do relento

o seu abrigo:

kamicase-se

comigo.

de que

me adianta

saber

se há vida

em marte

quando

já tive

Page 516: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

516

a sorte de

saber que

há vida em

morte

Page 517: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

517

Malungo

(1969)* **

DEUSES SONOROS

Emboladores envenenados

tiram fogo do chão.

Coqueiros digitais,

caboclos fumegantes.

Antenas azougadas,

quilombos, lama:

caótica cidade.

Maracatus ao molho:

garçons e alfaias surdas.

Ganzás em oitavas:

tenores em canto livre.

Dj’s se conectando

com a frequência do céu.

Leões encantados

introduzem o groove.

Cânticos de guitarras:

cangaceiros ao pôr do sol.

02/12/2004

Page 518: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

518

HARPAS

Nas esquinas,

trombetas e clarins.

Frevos e maracatus

deslizando no aroma do som.

Infernos e primaveras:

urubus cantarolam nos jardins.

Dragões insossos

brilham dentro do freezer.

Sereias soçaites:

de tamanco e ganzá.

Serpentes mergulham

em nuvens azuis.

Jesus aterrissa leve

no Campo do Jiquiá.

05/05/2004

Page 519: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

519

Micheliny Verunschk

(1972)* **

ESFINGE

Traz teu encanto

De cidade perdida

Junto ao meu peito

Pois nos meus mapas e manuscritos

Não te encontro.

E talvez só no teu corpo

Exista a chave

Que te decifre

Ou me devore.

Page 520: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

520

TRÓIA

Toda saudade

Repousa nas palavras,

Tem cheiro de pinho

E ossos muito brancos.

Todas as saudades

São velas arreadas

Dos mastros dos batéis,

Última visão da chama apagando,

Canção de helenas nuas

Perdidas nos lábios de ílion.

Em tudo,

O teu nome de pedra,

Saudade,

Cadela morta.

Page 521: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

521

Pietro Wagner

(1972)**

AVES

assim que foram feitas as horas um

pássaro voou pela eternidade voou

pelos ares tal pássaro que era

voaram com ele todas as esferas

erguendo os arcos

além das colunas, além das estrelas

erguendo o lume já visto

o lume, as eras

voava tal pássaro, ave que era,

voava tal pássaro e os verões

levava nas garras, tão garras que eram,

levava numa tempestade de nãos às mãos e às guerras

às guerras de pássaros, guerras,

e os infernos e as primaveras

e todas as cores de uma calmaria

continham-se continham-se

como não se contêm as alegrias

e era o pássaro um pássaro

e era a terra a terra

pássaro e terra, astros

naves navegadas

Page 522: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

522

pedras de dias claros, pedras

levaram seus nomes aos profetas

levaram seus dias ao acaso

e pedras e astros,

que eram, tão sangue são as terras,

tão barcos os barcos,

tão poucos os metais e as estrelas,

que pássaro e terra pousaram

pousaram num prado vasto

um vasto solo sagrado

um só um solo sol de mastros

um só um sol de mar e astros

mas se faz na tempestade o metal que sim

o metal e a lástima desse sim

esse timbre de mortalha que se ouve quando os

[sóis pintam

as águas que se vão, as águas que se nuvenficam

verões sem pássaros

e desde estas tem tempestades

destes pássaros, destes nãos

desde a primeira matéria à primeira carne

da primeira lua, os primevos lumes

as primeiras horas dos rios

viu-se voar por sobre as pedras, estes ares

um ritmo de asas várias

ritmo de aves despertadas

que por todas as nervuras do eterno

fez cair a tarde

lágrima e minério de tempo

que fez do sol a estrela o dia

e dos pássaros a manhã de todos os nomes

Page 523: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

523

para deixar a noite cobrei todas as casas com a cor e

[as horas da

eternidade.

(In Poesia pernambucana moderna, 1999, p. 244-245)

Page 524: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

524

ANUÁRIO 2

LOGOFANIA

depois do teu nome já todos os nomes te dizem

e as aves que te levaram no inverno

calam e esperam

agora já tens todos os nomes

agora já és em todas as terras

e os mastros e as esferas

e todos os meses do ano te esperam

agora já tens teu dia

que ergues pelas eras a dividir os ares

a dizer que sal e terra

o mar e as tempestades,

temperam teu sangue

porque já é tempo das gaivotas

e levas na mão o vento

que estas aves esperam

que estas aves te deram

agora já tens os nomes

como bússolas fiéis – nelas confia –

agora já és os nomes

como mastro de pedra – eles te adiam –

agora já vês que os nomes

são ondas de terra

os montes e as cercanias

que vês quando vens sobre as ondas macias

(In Poesia pernambucana moderna, 1999, p. 246-247)

Page 525: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

525

Delmo Montenegro

(1974)* **

O CÃO LINGÜÍSTICO

o cão lingüístico ou

a fundição de pelos S/A

socado pelos marchands

ou o grande espartilho cósmico

interagindo com as assemblages

do teu focinho de romance a óleo

que jorra dinheiro verdes

como um girassol

no plexo-sutra-em-si de 100 seios

de Shiva sonhando na madrugada cármica

o cão algébrico ou

música barroca na histeria de Newton

poemas com microtons

entre acadêmicos de frottage outro

crayon ou néon neolítico entre nós

as obras-primas do acaso

(In Poesia pernambucana moderna, 1999, p. 216)

Page 526: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

526

non-music: eyeliner

: estilhaços

yes

Goodbye XXth Century

no

Page 527: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

527

o que resta

sol-scelsi: rigor-nada

I-Ching

: paráfrase-vento

mutations

Page 528: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

528

olho-cárdio-prenome

: fossa abissal

silêncio

construto-carne

que sator-opera-rotas

olho-

ilíaco

-tempestade

: casa do homem

I-Ching

: paráfrase-vento

Page 529: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

529

metástase-ichbinlicht

-vômito

-dies irae

fragmenta

sol-scelsi: rigor-nada

Page 530: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

530

geografia

: não-lugar

apartamento-deus-caos

Page 531: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

531

homem-húmus

músculo-délfico

: via-láctea

músculo-artrópode-estrela

: liber vulgata

músculo-flor:

carcicoma-ouvido

nada

Page 532: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

532

non-music: eyeliner

cadáver-homem-ouvido

pós-som

acaso

Page 533: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

533

Antonio Marinho

(1987)* **

TRISTEZA NOTURNA

Em meio às paredes de um quarto sombrio

Já quase cinzentas de tanto escutar

Lamentos de dor, eu sinto o vazio

Brotando das telhas negras de amparar

O nada me invade me faz contemplar

Eu rezo tentando por a culpa em deus

Mas logo o perdoo ao sentir brotar

O pranto que banha estes lábios meus

Os lábios que um dia dormiram nos teus

Que já te cantaram, fizeram-te açoite

Tornaram-se tristes, qual lábios ateus,

Contando as estrelas vigias da noite

E em horas amargas a noite se esvai E

junto com ela também me desfaço Pois

sei que o sol nascendo ele vai Trazer

claridade calcada em mormaço

E fecho a janela antes que a beleza

Invada meu quarto, clareie o meu cenho,

Pois temo que a luz me leve à tristeza

Que é o que tenho, somente o que tenho

Recife, agosto de 2005

Page 534: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

534

SEM PALAVRAS

Escrevi mil e uma fantasias

Pra falar-te do meu imenso amor

Que és o sol para todos os meus dias

E és o mel que adocica o meu ardor

Que és o mais belo e puro beija-flor

Sugando o néctar da minha poesia

Que me fazes voar como um condor

E que és para mim estrela-guia

Ao terminar pedi ao coração Que

escolhesse uma declaração Mas

me perdi no imenso labirinto

Achei por bem calar e concluí

Mesmo dizendo tudo que escrevi

Eu não diria a ti tudo que sinto

Page 535: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

535

Notas Biobibliográficas

Convenções: *dados e poemas fornecidos ao Ins-

tituto Maximiano Campos (IMC) pelo(a) autor(a) ou

seus espólios e contatos especialmente para esta anto-

logia, conforme documentação arquivada no acervo

literário do Instituto, no ano de 2005; **nascidos em

Pernambuco.

Observação: Procuramos listar todas as obras dos

autores encontradas por nossa pesquisa, em verso e

em prosa. As de poesia não receberam observações

após as datas, ao contrário das demais. Mesmo quando

não nos foi possível localizar o gênero literário a que

pertencem os títulos indicados, optamos por citá-los,

para facilitar estudos posteriores de aprofundamento

biobibliográfico sobre cada autor. Excepcionalmente

citamos dentro do texto as obras poéticas de autores

cuja bibliografia muito extensa tirava a evidência de

suas poucas obras poéticas publicadas.

ADELMAR TAVARES da Silva Cavalcanti (1888-

1963)**

Advogado, professor, jurista, magistrado e poeta, nas-

ceu no Recife, PE, em 16 de fevereiro de 1888 e faleceu

no Rio de Janeiro, RJ, em 20 de junho de 1963. Em

1909, concluiu o Curso de Direito, na Faculdade de

Direito do Recife. Foi redator do Jornal Pequeno e, em

1907, com o livro Descantes, obteve a consagração poé-

tica. Em 1926, ingressou na Academia Brasileira de

Letras, ocupando a Cadeira nº 11. É popularmente co-

nhecido como “Príncipe dos Trovadores Brasileiros”

Page 536: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

536

Obras do autor: Descantes (1907); Trovas de trovadores

(1910); Luz dos meus olhos, Miriam (1912); A poesia das

violas (1921); Noite cheia de estrelas (1925); A linda men-

tira (1926); Poesias (1929); Trovas (coleção dos poemas

de amor) (1931); O caminho enluarado (1932); A luz

do altar (1934); Poesias escolhidas (1946); Um ramo de

cantigas (1955).

José ALBERTO Tavares DA CUNHA MELO (1942-

2007)* **

Poeta, jornalista e sociólogo, nasceu em Jaboatão, PE,

em 8 de abril de 1942 e faleceu em 13 de outubro

de 2007. Filho e neto de poetas, fez parte do Grupo

de Jaboatão que, conforme o historiador Tadeu Rocha,

constitui a nascente da Geração 65 de escritores per-

nambucanos. Seu primeiro livro de poesia, Círculo Cós-

mico, foi editado em separata da revista Estudos Uni-

versitários, em 1966, por iniciativa do poeta e crítico

César Leal. O último livro publicado em vida foi tam-

bém de poesia: O Cão de Olhos Amarelos & Outros poemas

inéditos (2006), e foi publicado pela A Girafa Editora,

nas comemorações dos 40 anos (1966-2006) de poesia

do autor. Essa obra consagrou-o definitivamente pois

obteve com ela o “Prêmio de Poesia da Academia Bra-

sileira de Letras” de 2007, anunciado dois meses antes

de sua morte. Dentre os fatos que marcaram a sua in-

tensa atividade cultural, destacam-se a sua atuação nas

Edições Pirata (1979 a 1984), movimento editorial al-

ternativo que publicou mais de 300 títulos de autores

novos e consagrados, a criação e organização do Prêmio

Anual de Poesia Carlos Pena Filho (1982 e 1983) e a edi-

toria das páginas do Commercio Cultural, do Jornal do

Commercio (1982 a 1985), bem como da coluna “Marco

Zero”, na revista Continente Multicultural. Na área ofi-

cial, exerceu vários cargos públicos, destacando-se o

de Gerente de Bem-Estar Social do SESC – Delegacia

do Estado do Acre (1980 – 1981) –, o de diretor de

Page 537: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

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Assuntos Culturais da Fundarpe – Fundação do Patri-

mônio Histórico e Artístico de Pernambuco (1979 a

1980 e l987 a l989) – e o cargo de Diretor do Arquivo

Público Estadual de Pernambuco (1988). Na virada do

século, foi incluído nas antologias de edição nacional,

Os cem melhores poetas brasileiros do século (2001) e 100

Anos de poesia – Um panorama da poesia brasileira no sécu-

lo XX. Mesmo avesso aos prêmios de poesia, nos quais

nunca se inscreveu, sua obra Meditação sob os Lajedos

(2002) obteve o quarto lugar da primeira versão do

“Prêmio Portugal Telecom de Literatura Brasileira”,

em vista da metodologia desse prêmio, cujos títulos

são votados por júri nacional. O mesmo ocorrendo

com o Prêmio de Poesia da Academia Brasileira de

Letras, em 2007, cuja inscrição não é feita pelo autor.

No livro Yacala (1999), Alfredo Bosi coloca a sua obra

à altura das dos poetas, Jorge de Lima, Carlos Pena

Filho e João Cabral de Melo Neto. No posfácio da

mesma obra, Bruno Tolentino informa que “Alberto

da Cunha Melo não só confirma sua reconhecida es-

tatura de poeta maior em nosso idioma, mas inscreve-

se definitivamente entre os grandes, os maiores vates

de nosso tempo em qualquer língua que eu conheça”.

Em 1968, na antologia Agenda poética do Recife, orga-

nizada por Cyl Gallindo, Joaquim Cardozo assim já o

apresentava: “há uma dor no poema, há uma carta,

uma comunicação para os outros, quaisquer outros;

nele a poesia existe como um „para sempre‟”. Grande

admirador da poesia do repente, publicou duas re-

portagens biográficas sobre os dois nomes definitivos

desse gênero: Jó Patriota e Louro do Pajeú. O espólio

do poeta encontra-se sob os cuidados da inventariante

Cláudia Cordeiro Tavares da Cunha Melo, a viúva do

poeta, a quem ele dedicou o livro Clau (1992) que foi

relançado em Braille pela Biblioteca Pública Estadual

de Pernambuco, na primeira homenagem que o es-

critor recebeu após sua morte, durante as atividades

Page 538: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

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da IV Festa Literária Internacional de Pernambuco.

Em 2009, a Companhia Editora de Pernambuco pu-

blicou Marco Zero, uma seleta de crônicas da coluna

(2000-2007) de mesmo nome, editada pelo poeta e

publicada na revista Continente Multicultural, da mes-

ma editora. O poeta não viveu o suficiente para ver

realizado o seu grande sonho: a publicação de Benedi-

to Cunha Melo, Poesia seleta (2009), coletânea da poesia

do pai, organizada por ele. A edição foi viabilizada

pelo amigo, poeta e ficcionista da Geração 65, José

Luiz de Almeida Melo. Alberto da Cunha Melo é de-

tentor de uma fortuna crítica considerável e, na área

acadêmica, já possui vários trabalhos monográficos,

destacando-se Faces da Resistência na Poesia de Alberto da

Cunha Melo (Fafire, 2002), de Cláudia Cordeiro, a dis-

sertação Metapoesia e profecia em Alberto da Cunha Melo

(UFPB,2005), mestrado de Norma Maria Godoy Fa-

ria, e a tese Imagens, reverberações na poesia de Alberto da

Cunha Melo: uma abordagem estilística do texto (USP,

2007), de Isabel de Andrade Moliterno. No endereço

virtual do poeta – www.albertocmelo.com – é possível ob-

ter informações mais detalhadas.

Obras do autor: Círculo cósmico (1966); Oração pelo

poema (1967); Publicação do corpo (1974); Dez poemas

políticos (1979): Noticiário (1979); Poemas à mão Livre

(1981); Soma dos sumos (1983); Poemas anteriores (1989);

Clau (1992); Carne de terceira com poemas à mão livre

(1996); Yacala (1999); Yacala (com prefácio de Alfredo

Bosi, 2000); Um certo Louro do Pajeú (2001, reporta-

gem biográfica); Um certo Jó (2002, reportagem bio-

gráfica); Meditação sob os lajedos (2002); Dois caminhos

e uma oração (2003), O cão de olhos amarelos & Outros

poemas inéditos (2006); Marco zero (2009, prosa).

ALCIDES LOPES DE SIQUEIRA (1901-1977)**

Médico e poeta, nasceu em Sertânia, em 1901, e fa-

leceu no Recife, PE, em 1997. Após terminar o Curso

Page 539: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

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primário em Sertânia continuou os seus estudos no

Ginásio Pernambucano do Recife. Seguindo para a

Bahia, formou-se em Medicina pela tradicional Es-

cola de Medicina da Bahia, em 1927. Exímio sone-

tista, dominava com mestria e competência a arte da

poesia. Com apurado domínio técnico das formas de

versos fixos ou livres, legou-nos uma notável obra. Foi

prefeito de Sertânia em 1937 e deputado estadual em

diversas legislaturas. Escritor dos mais profícuos, fez

parte da Sobrames – secção de Pernambuco. Fez parte

do Movimento Armorial, liderado pelo escritor Aria-

no Suassuna. Alcides Lopes de Siqueira é antologiado

no Dicionário do Folclore Nacional de Luís da Câmara

Cascudo, no Roteiro de Velhos e Grandes Cantadores de

Luiz Wilson, no Dicionário biobibliográfico de poetas per-

nambucanos (1993) de Lamartine Morais e no Novo

dicionário de Aurélio Buarque de Holanda (2009). Este

verbete deve-se à sugestão e envio de dados de Mar-

cos Cordeiro, poeta pernambucano que também faz

parte desta coletânea.

Obras do autor: Abelhas e rosas (1934); No tempo de

abadá (1961); Espelho de três faces (1985); O mundo per-

dido e outras histórias sertanejas (s.d.).

ALMIR CASTRO BARROS (1945)* **

Poeta e bacharel em Direito, é natural da cidade de

Maraial, PE, onde nasceu a 13 de agosto de 1945. For-

mou-se pela Unicap e exerce a função de assessor jurí-

dico da Fundarpe, desde agosto de 1987. É integrante

da Geração 65 de escritores pernambucanos. Por duas

vezes foi conduzido ao cargo de vice-presidente da

União Brasileira de Escritores (1989/90 – 1995). Em

2002, organizou a antologia 46 Poetas, sempre, uma

referência também para este nosso trabalho. Confor-

me afirma o autor, especialmente para esta antologia:

“Sua luta e vontade é alcançar uma poesia de mais

compreensão. No entanto, não dispensa em seu tra-

Page 540: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

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balho literário – o quase abstrato e assimétrico – para

atingir um verso de estranha ressonância e, por conse-

quência, contemporâneo de qualquer época”. César

Leal (1999) afirma: “Sua poesia apresenta influências

que o aproximam dos poetas espanhóis e italianos da

modernidade: G. Ungaretti, Eugenio Montale, Salva-

tores Quasimodo, Juan Ramon Jimenez.”

Obras do autor: Estações da viagem (1975); Os cães

da sina (1979); Ritmo dos nus (1992); O lugar da alma

(1998).

ALVACIR RAPOSO (1950)*

Nascido em Teresina, PI, em 1950, vive no Recife des-

de 1960. Formado em Medicina pela UFPE, 1974, é

oftalmologista, com pós-graduação (mestrado e dou-

torado). Atua, ainda, como docente na Universidade

Federal de Pernambuco e na Universidade de Per-

nambuco (UPE). É membro da Academia de Letras e

Artes do Nordeste, Cadeira nº 34; da Sociedade Bra-

sileira de Médicos Escritores (Sobrames-PE); da Aca-

demia Recifense de Letras e da Academia Piauiense

de Letras (membro honorário). Recebeu os seguintes

prêmios literários: Prêmio Mauro Mota – Fundarpe,

1992 e 1993; Prêmio de Poesia da APL, 1993; Prêmio

Ladjane Bandeira – Diario de Pernambuco, 1994; Prêmio

Eugênio Coimbra Jr. – Conselho Municipal de Cultura

do Recife, 1995; Prêmio de Poesia da APL, 1996.

Obras do autor: A resistência e a natividade (1994); A casa

do vinho (1994); O galo de metal (1995); Rua dos Arcos

(1996); O discurso do rei (1966); Sonetos, (1999); O territó-

rio (1999); Os tambores (2000); O pássaro e a arca (2001);

Ensaio das lâminas (2003); A chama intacta (2008).

ANA MARIA CÉSAR [Anna Maria Ventura de Lyra

e César] (1941)***

Poeta, bacharelada em Letras (Unicap) e em Direito

(UFPE), nasceu no Recife, PE, em 17 de abril de1941.

Page 541: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

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Realizou estudos da língua francesa na Alliance Fran-

çaise du Brésil. É membro efetivo da Academia de

Letras e Artes do Nordeste Brasileiro (ALANB) e da

União Brasileira de Escritores (UBE-PE). É sócia ho-

norária da Sociedade Brasileira de Médicos Escritores

(Sobrames). Foi outorgada com as medalhas:

Centená- rio da Academia Pernambucana de Letras;

Sesquicentená- rio da Biblioteca Pública do Estado de

Pernambuco. E rece- beu os prêmios literários: Vânia

Souto Carvalho – APL,

1994; Dulce Chacon – APL, 1997; Amaro Quintas de

História de Pernambuco, da Academia Pernambuca-

na de Letras, pelo seu livro A faculdade sitiada (2009).

Obras da autora: Lira e César. Juiz de Caruaru (1981,

ensaio biográfico); Gênesis (1984, crônicas); A bala e

a mitra (1994, ensaio histórico); 50 Anos do Senac em

Pernambuco (1996, história); O tom azul (1997, roman-

ce); Versos voláteis (1998); Habemus Panem. Memórias

de uma época (2000, prosa); No limiar do tempo (2005);

A faculdade sitiada (2009).

ÂNGELO José MONTEIRO (1942)*

Poeta, ensaísta, jornalista, professor de Estética e Filo-

sofia da Arte (UFPE), nasceu em Penedo, AL, em 21

de junho de 1942, filho do cirurgião-dentista Tomé

Rios Monteiro e de Maria de Lourdes Casado Mon-

teiro, operária de uma indústria têxtil. Com a morte

de sua mãe, em 1947, mudou-se com a família para

Pernambuco, residindo em várias cidades do interior,

principalmente Gravatá. Em 1982, foi aprovado com

distinção no Mestrado em Filosofia da UFPE, com a

dissertação: O conhecimento do poético em Jorge de Lima.

Pertence à Geração 65 de escritores pernambucanos.

No site pessoal do poeta, é possível obter informa-

ções mais detalhadas sobre ele.

Obras do autor: Proclamação do verde (1969); Didática da

esfinge (1971); Armorial de um caçador de nuvens (1972);

O inquisidor (1975): O ignorado (1980); O rapto das noites

Page 542: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

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ou o Sol como medida (1983); Tratado da lavação da burra

ou Introdução à transcendência brasileira (1986, ensaio); O

exílio de Babel (1990); As armadilhas da luz (1992); Reci-

tação da espera (1992); Poemas de Ângelo Monteiro (1995);

Os olhos da vigília (2002); O conhecimento do poético em

Jorge de Lima (2003, ensaio); Escolha e sobrevivência: En-

saios de educação estética (2004, ensaios).

ANNA ALEXANDRINA CAVALCANTI D’ALBU-

QUERQUE (± 1860–)**

Uma das primeiras poetisas de destaque em nosso

Estado, nasceu no Engenho Tamataúpe de Flores, na

comarca de Nazareth, Zona da Mata pernambucana,

em 1860. Era filha do tenente-coronel Joaquim Ca-

valcanti de Albuquerque, integrante da aristocracia

canavieira do Estado. Com a decadência do engenho,

Anna e sua família vieram morar no Recife. Não exis-

te data precisa de sua morte, mas se sabe que ainda

vivia em 1927. Conforme Henrique Capitolino, autor

de Pernambucanas illustres (1879), onde encontramos

seus poemas, “recebeu educação rudimentar, a única

que em geral recebem as senhoras brasileiras”. No

entanto, já aos quinze anos, escreveu “O que mais

queres!”, seu primeiro poema. Era leitora de Goethe

e de Balzac e estudiosa de História. Em seus pronun-

ciamentos, sempre lamentou as limitações impostas

à mulher em seu tempo. No Recife, colaborou com

poemas para os jornais O Ensaio, A Lucta e Correio da

Noite. Publicou igualmente versos no Almanaque de

lembranças luzo-brasileiro e no Jornal de Aracaju.

ANTÔNIO Ricardo Accioly CAMPOS (1968)**

Poeta, escritor, advogado, editor e empresário, nas-

ceu no Recife, PE, em 25 de julho de 1968, filho de

Maximiano Campos, ficcionista, poeta e advogado, e

de Ana Lúcia Arraes de Alencar, advogada e deputa-

da federal. Diplomado em Direito, pela UFPE, é es-

Page 543: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

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pecialista em Direito Empresarial, Eleitoral, Público

e do Entretenimento. É sócio partner da Campos Ad-

vogados empresa associada à Noronha Advogados,

com atuação em diversos países. Maximiano Campos

e seu tio Renato Carneiro Campos exerceram gran-

de influência na sua vida literária e possibilitaram,

desde a infância, a sua incursão no mundo dos livros

e a convivência com autores pernambucanos de di-

versas tendências, do grande mestre Gilberto Freyre,

então já consagrado internacionalmente, aos das ge-

rações emergentes à época, especialmente a Geração

65, à qual pertencia seu pai. À densidade desse lega-

do cultural somou-se a sua vocação nata pelo mundo

literário especialmente a arte poética que sempre o

acompanhou em seu intenso convívio social. Antes de

lançar o seu primeiro livro exclusivamente de poe-

sia, Portal de sonhos (2008), uma bela e bem cuidada

edição, Antônio Campos já lançara cinco livros seus

e mais a primeira edição desta coletânea Pernambu-

co, terra da poesia. Um painel da poesia pernambu-

cana dos séculos XVI ao XXI (2005), organizada em

parceria com Cláudia Cordeiro. Essa iniciativa veio

a consagrá-lo como um dos mais argutos pensadores

da literatura no Estado, pois há mais de três déca-

das não se reunia, em um único exemplar, um painel

de cinco séculos. A seguir, investe na edição do Pa-

norâmica do conto em Pernambuco (2007), em parceria

com Cyl Gallindo, que agora aparece em 2ª edição.

Antônio Campos faz parte de diversas organizações

sociais. À pertinência desta coletânea, destacamos:

Academia Pernambucana de Letras (posse em 2008)

e Academia de Artes e Letras de Pernambuco (posse

em 2007). É articulista do Jornal do Brasil, RJ, cola-

borador de jornais pernambucanos e conferencista.

Em 16 de março deste 2010, concluiu seu discurso na

Academia Sueca de Letras com a síntese da causa que

advoga: “Diálogo é a palavra-chave do mundo con-

Page 544: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

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temporâneo: entre artes, etnias, religiões, culturas”.

Impossível, no entanto, separar o poeta e escritor de

um dos mais atuantes empresários culturais brasilei-

ros, seja como editor ou como produtor internacional

de eventos, a exemplo da Fliporto – Festa Literária In-

ternacional de Pernambuco. A intensidade das ações

voltadas para a valorização da cultura brasileira, com

ênfase na literatura, tem raízes muito fundas: Com a

morte prematura do pai (1998), passou a editar todas

as obras dele, inclusive as inéditas, e o Instituto Ma-

ximiano Campos (IMC) – fundado em 2002 – passa

a ser o depositário do acervo literário e artístico do

escritor Maximiano Campos. Surge, assim, o editor

Antônio Campos, atualmente à frente da Carpe Diem

Edições e Produções e sócio de diversas editoras de

circuito nacional. Concomitantemente, Antônio trata

de intensificar o produto literário fomentando a vei-

culação das obras através do meio digital: em 2003,

Antônio lança a primeira versão do IMC na Internet

www.imcbr.org.br, com edição de Cláudia Cordeiro;

em 2008, veicula através da Fliporto Digital o projeto

MIX LEITOR D, primeiro leitor eletrônico de livros

com tecnologia de software 100% nacional e patente

requerida no segmento de e-readers no Brasil, que,

neste 2010, já é um produto lançado com absoluto

êxito no mercado nacional. Vale ressaltar que o Ins-

tituto Maximiano Campos (IMC) é uma sociedade

civil voltada para a valorização da cultura brasilei-

ra, especialmente dos valores literários, com ampla

atuação em Pernambuco e na região nordestina. Já

apoiou a publicação de mais de 100 livros de diversos

autores, e revigora a literatura emergente no Estado

através de concursos, apoio a lançamentos de livros e

outras atividades culturais. Antônio Campos é cofun-

dador do Instituto de Direito Privado da Faculdade

de Direito do Recife; Membro e Sócio Benemérito da

UBE-PE; Conselheiro da AIP; Palestrante Honorário

Page 545: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

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da Escola Ruy Antunes da OAB-PE, na cadeira de Di-

reito Eleitoral; foi Conselheiro Titular da 1ª Câmara

do 2º Conselho de Contribuintes da Receita Federal;

autor de artigos jurídicos e literários publicados em

periódicos, revistas e jornais; detentor da comenda

“Dom Quixote” da revista Cidadania e Justiça. “A ex-

pansão internacional das empresas nacionais tem de

estar acompanhada por uma diplomacia cultural, que

deve mostrar o melhor da arte e da produção inte-

lectual brasileiras”, a frase não representa apenas um

recorte de um discurso (Academia Sueca, 2010), mas

uma práxis que pode ser exemplificada por toda a

atuação cultural de Antônio Campos, mas principal-

mente enquanto curador da Festa Literária Interna-

cional de Pernambuco, um evento que já se inseriu

definitivamente no calendário cultural do país. A tra-

jetória desse empreendedorismo cultural remete-nos

às fontes da atuação de uma das personalidades mais

fortes da história política brasileira, o seu avô Miguel

Arraes, cujo vigor está implícito na atuação também

de seu irmão Eduardo Campos, governador de Per-

nambuco, e de sua mãe, Ana Lúcia Arraes de Alencar.

A poesia não está longe desse contexto, ela está ínsita

no ser, na inquietude, é princípio, Antônio Campos é

poeta. A principal fonte deste verbete é a Panorâmica

do conto em Pernambuco, que Cyl Gallindo redigiu para

a segunda edição, 2010.

Obras do autor: Mensagens (2002); Pense S.A. (2002);

O grande portal (2003); Direito eleitoral – Eleições 2004

(2004); A arte de advogar (2004); Viver é resistir (2005);

Pernambuco, terra da poesia, Coletânea, em parceria

com Cláudia Cordeiro, (2005); Território da palavra

(2006); Panorâmica do conto em Pernambuco, em parce-

ria com Cyl Gallindo, (2007); Portal de sonhos, poesias,

(2008). [Em]Canto – A voz do poema – leitura de Antônio

Campos, poesia CD, (s.d.); Diálogos culturais no mundo

pós-moderno, realizado em Estocolmo, março, 2010,

Page 546: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

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(2010); Clarice Lispector – uma geografia fundadora,

palestra proferida na APL, quando da comemoração

do Dia Internacional da Mulher, 25.03.2010; (2010);

A reinvenção do livro, conferência proferida na UBE-

PE, em comemoração do Dia Internacional do Livro,

23.04.2010, (2010); Diálogos contemporâneos (2010).

ANTONIO DE CAMPOS (1946)**

Poeta e tradutor, nasceu no município de Pedra, PE,

em 1946. Tem poemas seus traduzidos e publicados

na imprensa pernambucana e outros premiados, em

1982, pelo III Concurso de Poesia do Mackenzie, SP, e

I Prêmio Anual de Poesia Carlos Pena Filho, PE. Tradu-

ziu e prefaciou as Canções da Inocência e da Experiência

(1987), do poeta inglês William Blake. Em 1992, or-

ganizou a antologia Natal pernambucano, editada pe-

las Edições Bagaço, uma seleção de qualidade pouco

comum sobre esse tema.

Obras do autor: Mais forte que o mal (1979); Crítica da

razão vivida e outros poemas (1982); 20 Tiranas de amor

mais 10 canções de amor às avessas (1985); Feito no cora-

ção (1999).

ANTONIO MARINHO do Nascimento (1987)* **

Poeta, declamador e estudante de Direito, é natural

de São José do Egito, terra de poesia. Fruto de uma

família de tradição poética, é filho de Zeto e de Bia

Marinho, neto de Lourival Batista, bisneto de Antô-

nio Marinho, sobrinho de Otacílio e Dimas Batista,

de Graça Nascimento e de Job Patriota (por emoção).

Declamando desde os três e escrevendo desde os seis

anos, lançou aos dezesseis, seu primeiro livro: Nasci-

mento, pela Edições Bagaço, em 2003. Junto com ar-

tistas como Francis Hime, Olívia Byton e Bete Faria,

foi Piloto do projeto “Arca das Letras” (2006), uma

parceria do Ministério do Desenvolvimento Agrário

com o Ministério da Cultura. Em 2009, no lançamen-

Page 547: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

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to da Fliporto em Brasília, encantou uma plateia sele-

ta, que o aplaudiu com entusiasmo. Além de ter sido

publicado por jornais e revistas locais, foi também

divulgado pela imprensa nacional e internacional. É

estudante de Direito. Reside no Recife e faz recitais

por todo o Brasil. Na Internet, vê-se que Marinho se

prepara para investir no mundo virtual, seu endere-

ço, http://www.antoniomarinho.com/ (2010), anuncia

seu sítio virtual em desenvolvimento.

Obras do autor: Nascimento (2003).

ARIANO Vilar SUASSUNA (1927)

Dramaturgo, ficcionista, poeta, advogado, professor

de Estética, natural de João Pessoa, capital da Paraí-

ba, nasceu em 16 de junho de 1927, filho de Cássia

Vilar Suassuna e de João Suassuna. No ano seguinte,

seu pai deixa o governo da Paraíba e a família pas-

sa a morar no sertão, na fazenda Acauhan. Com a

revolução de 30, seu pai foi assassinado por motivos

políticos no Rio de Janeiro e a família mudou-se para

Taperoá, onde morou de 1933 a 1937. A partir de

1942, passou a viver no Recife, onde terminou, em

1945, os estudos secundários no Ginásio Pernambu-

cano e no Colégio Oswaldo Cruz. Em 1950, bachare-

lou-se em Direito pela Faculdade de Direito do Reci-

fe, onde conheceu Hermílio Borba Filho. Com ele,

fundou o Teatro do Estudante de Pernambuco. Em

1947, escreveu sua primeira peça, Uma mulher vestida

de sol. Em 1956, abandonou a advocacia para tornar-

se professor de Estética na Universidade Federal de

Pernambuco. Mas nunca abandonou suas atividades

teatrais. Em 1959, em companhia de Hermílio Borba

Filho, fundou o Teatro Popular do Nordeste. No iní-

cio dos anos 60, interrompeu sua carreira de drama-

turgo para dedicar-se às aulas de Estética na UFPE.

Ali, em 1976, defende a tese de livre-docência, A onça

castanha e a ilha Brasil: uma reflexão sobre a cultura

Page 548: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

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brasileira. Aposenta-se como professor em 1994. Em

1970, lança, no Recife, o concerto “Três Séculos de

Música Nordestina – do Barroco ao Armorial”, com

uma exposição de gravura, pintura e escultura. Foi

Secretário de Cultura do Estado de Pernambuco, no

Governo Miguel Arraes (1994-1998). Em 2000, tor-

nou-se Membro da Academia Paraibana de Letras e

Doutor Honoris Causa da Universidade Federal do

Rio Grande do Norte (2000). Foi eleito para a Aca-

demia Brasileira de Letras em 3 de agosto de 1989 e

recebido em 9 de agosto de 1990. Em 1999, a Editora

Universitária da UFPE publica seu livro de poesia,

Poemas, com seleção e notas de Carlos Newton Júnior,

que, no prefácio, esclarece: “Encontra-se reunida,

neste volume, a parte mais significativa da produção

poética de Ariano Suassuna. Do ponto de vista quan-

titativo, a edição corresponde a mais da metade dos

originais datilografados aos quais tivemos acesso –

que representam, segundo o autor, quase todo o seu

trabalho em poesia”.

Obras do autor: Teatro: Uma mulher vestida de sol

(1947); Cantam as harpas de Sião (ou o Desertor de prin-

cesa) (1948); Os homens de barro (1949); Auto de João da

Cruz (1950); Torturas de um coração (1951): O arco deso-

lado (1952); O castigo da soberba (1953); O rico avaren-

to (1954); O auto da Compadecida (1955); O casamento

suspeitoso (1957); O santo e a porca (1957); O homem da

vaca e o poder da fortuna (1958); A pena e a lei (1959);

A farsa da boa preguiça (1960); A caseira e a Catarina

(1962). Romance d’A pedra do reino (1971); Príncipe

do sangue do vai-e-volta (1971), O movimento armorial

(1974). Iniciação à estética, teoria literária (1975, ensaio

didático). Poemas (1999).

ARNALDO TOBIAS (1939-2002)**

Poeta, ficcionista, editor, artista gráfico, nasceu em

Bonito, PE, em 15 de novembro de 1939. Pertence

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à Geração 65 e atuou intensamente na vida literá-

ria do Recife, onde morreu em 2002. Seu livro Po-

mar (1979) foi a fonte de criação das Edições Pirata,

editora alternativa que publicou mais de 300 títulos

de autores locais e nacionais. A iniciativa foi lidera-

da por intelectuais que, como ele, trabalhavam na

Fundação Joaquim Nabuco. Entre eles, destacam-se:

Alberto da Cunha Melo, Eugênia Menezes, Jaci Be-

zerra e Myriam Brindeiro. Editou, de 1981 a 1995,

o jornal alternativo Pró-Texto. Publicou, na impren-

sa pernambucana, vários poemas dentro da linha do

“Poema Processo”, alguns reunidos no livro póstumo

Singular e plural (2003), pelas Edições Mauritexstadt,

numa iniciativa do Instituto Maximiano Campos, que

financiou a edição. Pertenceu à União Brasileira de

Escritores (UBE-PE). E exerceu grande influência li-

terária sobre a geração de Escritores Independentes.

Obras do autor: Pomar (1979); Passaporte (1981); Nu

relato (1983); Tenda proibida (1987); O ditador e outros

contos (1981, contos); Quem sou eu? (1981, prosa); O

gavião e a coruja e o ratinho órfão (2002, prosa); Singu-

lar e plural (2003).

ASCENSO FERREIRA Carneiro Gonçalves (1895-

1965)**

Nasceu na rua dos Tocos, em Palmares, PE, na madru-

gada do dia 9 de maio de 1895 e faleceu no dia 5 de

maio de 1965, no Recife. Seu pai era o comerciante

Antônio Carneiro Torres e sua mãe a professora Maria

Luísa Gonçalves Ferreira, cujo apelido era Dona Maro-

cas. Em 1917, decidiu mudar o seu nome de registro,

Aníbal Torres, para Ascenso Carneiro Gonçalves Fer-

reira. No mesmo ano, fundou, com Antonio de Barros

Carvalho, Antonio Freire e Artur Griz, entre outros,

a sociedade Hora Literária de Palmares. Em 1922,

tornou-se colaborador nos jornais recifenses Diario de

Pernambuco e A Província. Dois anos depois, passou a

Page 550: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

550

escrever para os periódicos Mauriceia, Revista do Nor-

te, Revista de Pernambuco, A Pilhéria, Revista da Cidade

e Revista de Antropofagia. Nessa mesma época, passa a

frequentar o “cenáculo” do Café Lafayette e se une a

um grupo de intelectuais que influenciaria sua obra

definitivamente. Nesse grupo, destacam-se: Benedito

Monteiro, Joaquim Cardozo, Osório Borba e Luís Jar-

dim. Participou, em 1926, do I Congresso Regionalista

do Nordeste e, em 1934, do Congresso Afro-Brasileiro,

ambos realizados no Recife. Seu primeiro livro de poe-

sia, Catimbó, foi lançado em 1927. Na década de 1940,

realizou conferências e estudos sobre divertimentos

populares do Nordeste. Participou da campanha pre-

sidencial de Juscelino Kubitschek, em 1955. Em 1959,

lançou no Recife o álbum duplo de discos 64 Poemas

escolhidos e 3 historietas pernambucanas. Foram publica-

dos postumamente, em 1986, O maracatu, presépios e

pastoris e O bumba meu boi: ensaios folclóricos, em livro

organizado por Roberto Benjamin. A poesia de Ascen-

so Ferreira filia-se à primeira geração do Modernismo.

Manuel Bandeira, em Apresentação da poesia brasileira

(1954, p. 162), registra: “os poemas de Ascenso são ver-

dadeiras rapsódias do Nordeste, nas quais se espelha

amoravelmente a alma ora brincalhona, ora pungen-

temente nostálgica das populações dos engenhos”.

Obras do autor: Catimbó (1918); Cana Caiana (1939);

Poesias (com prefácio de Manuel Bandeira, 1951);

Poemas, 1922/1953 (1953); Xenhenhém (1953); Catimbó

e outros poemas (1963); Eu voltarei ao sol de primavera

(1985); O maracatu, presépios e pastoris (1986, ensaios);

O bumba meu boi: ensaios folclóricos (1986, ensaios).

AUDÁLIO ALVES Pereira (1930-1999)**

Nasceu no município de Pesqueira, PE, a 2 de junho

de 1930, e faleceu em 8 de abril de 1999, com 69

anos, na cidade do Recife. Ocupou a Cadeira nº 8,

da Academia Pernambucana de Letras, a partir de

Page 551: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

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1972. Fez o curso médio, no Ginásio Pernambucano.

Em 1955, bacharelou-se pela Faculdade de Direito

do Recife e em Línguas Neolatinas pela Universida-

de Católica de Pernambuco. Exerceu o magistério e

a advocacia, sendo assistente Jurídico do Ministério

do Trabalho. Pertenceu à Geração de 50, da poesia

pernambucana, com os poetas Mauro Mota, Carlos

Pena Filho, Edmir Domingues, Geraldo Valença e ou-

tros não menos importantes. Estreou na vida literária

em 1954 com o livro de poemas Caminhos do silên-

cio. O seu segundo livro, Alicerces da solidão (1959), já

merecia boa acolhida da crítica. E Canto agrário, de

1962, que contou com comentários do crítico francês

Armand Guilbert. Iniciou o Movimento Espectralista,

designação atribuída pelo poeta pernambucano Joa-

quim Cardozo ao sincretismo poético integral, movi-

mento de repercussão nacional. Na vida profissional,

exerceu vários cargos de direção em entidades cultu-

rais, tendo sido o idealizador e primeiro supervisor

do “Espaço Pasárgada” (1986) e diretor de Assuntos

Culturais da Fundarpe. Prefaciando o livro Canto por

enquanto (1982), Joaquim Cardozo afirma: “O que

sinto e vejo, porém, nos magníficos poemas de Audá-

lio Alves, poeta pernambucano, nascido no baixo ser-

tão de Pesqueira, é a comunicação deslumbrada desse

halo poético que envolve certas coisas do Nordeste,

do litoral sobretudo.”

Obras do autor: Caminhos do silêncio (1954); Alicerces da

solidão (1959); Olhar dá sede (1961); Canto agrário (1962);

Romanceiro do canto soberano (1966); Canto da matéria

viva (1971); Espaço migrante (1982); Canto por enquanto

(1982); O dia amanhece em minhas mãos (1987).

AUSTRO COSTA [Austriclínio Ferreira Quirino]

(1899-1953)**

Poeta, funcionário público do Estado, nasceu em Li-

moeiro, município da Zona da Mata pernambucana,

Page 552: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

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e morreu num desastre de ônibus, a 29 de outubro

de 1953, aos 54 anos. Adotou o pseudônimo literário

de Austro Costa. Foi um dos poetas mais lidos e ad-

mirados do seu tempo. Ingressou na Academia Per-

nambucana de Letras em 1949, tendo como patrono

Natividade Saldanha e fundada por Gervásio Fiora-

vanti, em 1901.

Obras do autor: Mulheres e rosas (1922); Vida e sonho

(1945); O monóculo (1950).

Maria BARTYRA SOARES da Silva (1949)* **

Poetisa e ficcionista, nasceu no município de Catende,

da Zona da Mata pernambucana. É a terceira e última

filha do contista Pelópidas Soares e de Teresinha Soa-

res. Na sua cidade natal, passou sua infância e adoles-

cência. Em 1984, transferiu-se definitivamente para o

Recife. Fez seu primeiro poema aos 6 anos de idade, na

época publicado no suplemento infantil do Diario de

Pernambuco. Estreou em livro em 1976 com a publica-

ção de Enigma, obra que segue a linha estético-filosófica

do movimento concretista. Em 1980, publicou Sombras

consolidadas, que imprime à sua poesia uma nova for-

ma de expressão marcadamente intimista, confessio-

nal e telúrica. Nos anos subsequentes, publicou mais

cinco livros – quatro de poesia. Participou de dezesseis

antologias, entre elas, Poésie du Brésil, editada em Pa-

ris, França. O livro Oratório da paixão, extenso poema

dramático escrito em parceria com a poetisa Maria do

Carmo Barreto Campello de Melo, mereceu encenação

nos mais diversos locais da capital pernambucana e do

interior do Estado. Como contista e poeta, é detentora

de vários prêmios literários. Com Arquitetura da luz, foi

uma das premiadas em 2001 no concurso “Prêmios Li-

terários Cidade do Recife”, promovido pela Fundação

de Cultura da Prefeitura do Recife. Pertence à Acade-

mia de Letras e Artes do Nordeste Brasileiro e à União

Brasileira de Escritores (UBE/PE).

Page 553: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

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Obras da autora: Enigma (1976); Sombras consolidadas

(1980); O primeiro quadrante (1985); No rosto do tempo

(1987); Da permanência e da temporalidade. Um tempo

de Catende (1987, ensaio); Veredictos (1995), Estrela em

trânsito (1997); Arquitetura da luz (2004); Oferendas

(2007); Silêncio das velas vivas (2009, contos).

Manuel BASTOS TIGRE (1882-1957)**

De múltiplos talentos, o poeta também foi compositor

e teatrólogo. Atuou com êxito no jornalismo, no tea-

tro, na engenharia e na publicidade especialmente. É

dele a letra do primeiro jingle publicitário brasileiro,

“Chopp em garrafa”, feito em parceria com Ary Bar-

roso, em 1934. Nasceu no Recife, PE, a 12 de março

de 1882, filho de Delfino da Silva Tigre e de Maria

Leontina Bastos Tigre. Faleceu no Rio de Janeiro, a 2

de agosto de 1957. Estudou no Colégio Diocesano de

Olinda, PE, onde compôs os primeiros versos e criou

o jornalzinho humorístico O Vigia. Diplomou-se pela

Escola Politécnica, em 1906. Prestou concurso para

Bibliotecário do Museu Nacional (1915) com tese so-

bre a Classificação Decimal. Mais tarde, transferiu-se

para a Biblioteca Central da Universidade do Brasil,

onde serviu por mais de 20 anos. Exerceu a profissão

de bibliotecário por 40 anos, e é considerado o pri-

meiro bibliotecário por concurso, no Brasil.

Obras do autor: Saguão da posteridade (1902); Versos per-

versos (1905): O maxixe (1906); Moinhos de vento (1913);

O rapadura (1915); Grão de bico (1915); Bolhas de sabão

(1919); Arlequim (1922); Fonte da carioca (1922); Ver e

amar (1922); Penso, logo... eis isto (1923); A ceia dos coro-

néis (1924); Meu bebê (1924); Poemas da primeira infância

(1925); Brinquedos de Natal (1925); Chantez Clair (1926);

Zig-Zag (1926); Carnaval: poemas em louvor ao Momo

(1932); Poesias humorísticas (1933); Entardecer (1935); As

parábolas de Cristo (1937); Getúlio Vargas (1937); Uma

coisa e outra (1937); Li-Vi-Ouvi (1938); Senhorita vitami-

Page 554: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

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na (1942, teatro); Recitália (1943); Aconteceu ou podia ter

acontecido (1944); Cancionário (1946); Conceitos e precei-

tos (1946); Musa gaiata (1949); Sol de inverno (1955).

BENEDITO Tavares da CUNHA MELO (1911-

1981)* **

Poeta, professor e jornalista, nasceu no município

pernambucano de Goiana, a 25 de março de 1911,

filho do tabelião e poeta Alberto Tavares da Cunha

Melo e de Virgínia Tavares de Miranda Lins. Faleceu

em Jaboatão, no dia 6 de outubro de 1981, aos 70

anos de idade. Pelo seu pendor poético sempre ligado

à sua região, recebeu o título de Cidadão Jaboatonen-

se, através de Projeto de Lei elaborado pela Câmara

Municipal de Jaboatão. Além da poesia, cultivava o

jornalismo, sendo fundador e redator-chefe do Jaboa-

tão Jornal, periódico mensal criado em 1950, em que,

por mais de 20 anos, manteve uma coluna de trovas

intitulada “Trovas e Trovoadas”, com textos predomi-

nantemente satíricos. Foi o autor do Hino de Jaboatão,

que recebeu música de Nina de Oliveira, e autor do

Hino do Padroeiro Santo Amaro, com música do padre

Chromácio Leão. No bairro jaboatonense de Barra de

Jangada, há um colégio estadual com o seu nome, ho-

menagem sugerida por requerimento parlamentar do

então deputado José Luiz de Almeida Melo. Por se tra-

tar de um homem ligado à cultura literária, a Biblio-

teca Municipal também possui o seu nome. Embora

nascido fora daquele município, fixou residência em

Jaboatão em 1924, onde conquistou fortes amizades.

Seu filho, o poeta Alberto da Cunha Melo não viveu o

suficiente para ver publicada a antologia que organi-

zou de seu pai, Benedito Cunha Melo. Poesia seleta. Ela

foi publicada dois anos após a sua morte, graças à ini-

ciativa do escritor e poeta José Luiz de Almeida Melo,

com lançamento no Instituto Histórico de Jaboatão

dos Guararapes (IHJ), em dezembro de 2009.

Page 555: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

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Obras do autor: Folhas secas (1939, trovas); Versos diver-

sos (1948, sonetos e trovas); Nuvens de pó (1949, sone-

tos e trovas); Da morte, folhas secas e outras trovas (1954);

Perfis (1954, trovas satíricas); Canto de cisne (1980, tro-

vas); Benedito Cunha Melo. Poesia seleta (2009).

BENTO TEIXEIRA (± 1550-1600)

Professor, advogado e nosso primeiro poeta. Foram

muitas as discussões sobre a procedência, nome com-

pleto (Bento Teixeira Pinto?), data de nascimento e

autoria de vários textos atribuídos a Bento Teixeira.

Algumas questões estão resolvidas, outras ainda susci-

tam controvérsias, como o ano de nascimento: 1540,

1550, 1561 ou 1565? Mas a maioria dos historiadores

considera como certo o seu nascimento no Porto, o

fato de ser cristão-novo, e de ter chegado ao Brasil,

em companhia da família, por volta de 1567. Tam-

bém é constante a referência à sua formação: Bento

Teixeira chegou a formar-se pelo Colégio Jesuítico da

Bahia. O magistério, a advocacia e o comércio foram

suas fontes de sobrevivência. Em 1594, denunciou-se

perante o Visitador do Santo Ofício, e assassinou a

esposa por adultério. Em 1595, foi preso em Olinda

e embarcado para Lisboa, onde abjurou o judaísmo e

obteve liberdade condicional. No entanto não chegou

a ver publicado o seu poema épico Prosopopeia (1601),

escrito provavelmente entre 1584 e 1587, porque

morreu na prisão antes de ser libertado. Bento Tei-

xeira é considerado, cronologicamente, o primeiro

poeta da Literatura Brasileira, graças a Prosopopeia,

poema épico, com 94 estâncias em oitava-rima e de-

cassílabos heroicos, segundo o modelo camoniano,

em torno de Jorge Albuquerque Coelho, donatário

da Capitania de Pernambuco, e de seu irmão, Duar-

te, cujos feitos militares o poeta desejava exaltar. A

crítica literária, quase em uníssono, discute o valor

estético dessa obra, mas não o seu valor histórico, que

Page 556: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

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é indiscutível. Pernambuco orgulha-se de ter sido o

motivo do primeiro canto da Literatura Brasileira. É

esse fato que nos fez publicar, na grafia original da

época, os fragmentos dessa obra, firmando assim o

registro histórico e seu caráter documental, funda-

mento primeiro deste nosso trabalho.

Obra do autor: Prosopopeia (1601).

CARLOS Martins MOREIRA (1918-1993)

Poeta, advogado, escritor, nasceu em Alagoas Gran-

de, PB, em 16 de novembro de 1918. Filho do comer-

ciante Rodolpho Martins Moreira e Evangelina Torres

Moreira, chegou a Pernambuco com um ano de idade.

Carlos Moreira pertence cronologicamente à Geração

de 45 e é membro da Academia Pernambucana de Le-

tras, ocupando a Cadeira nº 26, desde 1972, tendo

por patrono Regueira Costa. É considerado um dos

maiores renovadores do soneto, desde a publicação,

em 1953, do seu primeiro livro, intitulado Os sonetos.

Versos como “Punhais perfuram gritos no telhado”

impressionaram alguns grandes nomes de nossa poe-

sia, como Carlos Pena Filho, prefaciador daquele livro.

Apesar do arrojo imagético de Os sonetos, a obra por

inteiro de Carlos Moreira foi marcada por uma gran-

de identificação com a sua terra, através de poemas de

extrema simplicidade e força evocativa, a exemplo dos

que compõem o livro O município. Assim inicia Carlos

Pena Filho o prefácio de Os sonetos: “Carlos Moreira,

que só agora estreia em livro, está cronologicamente

instalado na Geração de 45 (...), A sua renovação, se

não é numerosa, é muito nítida, quando se apresenta

e funda-se, principalmente, no divórcio de substan-

tivos e adjetivos milenarmente juntos. Antes, mesmo

no modernismo brasileiro, não havia a utilização do

adjetivo imprevisto, novo, renovado”.

Obras do autor: Os sonetos (1953); O município (1953);

Consolidação de vozes e cantos (poemas, s.d.).

Page 557: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

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CARLOS Souto PENA FILHO (1930-1960)**

Poeta, jornalista, crítico literário e bacharel em Di-

reito, nasceu no Recife, a 17 de maio de 1929, e fa-

leceu em um desastre automobilístico em 1 de julho

de 1960, aos 31 anos de idade. Filho dos portugueses

Carlos Souto Pena (comerciante) e de Laurinda Souto

Pena (do Lar), fez o curso primário em Portugal e se-

cundário no Colégio Nóbrega do Recife. A Faculdade

de Direito do Recife, onde concluiu seu bacharelado,

ostenta, em seus jardins, um busto do poeta. Alber-

to da Cunha Melo, no verbete da Antologia didática

de poetas pernambucanos (1988, v. 1, p. 79), esclarece

sobre a poética do autor do “Soneto do desmantelo

azul”: “Há quem acredite que Carlos Pena Filho, por

ter morrido tão moço, não teve tempo para criar a

obra importante a que estaria destinado, por talento

e capacidade de trabalho. Mas essa é uma posição re-

lativista que, hoje, com a consagração do público e da

crítica, perde muito de sua capacidade de argumen-

tação. O certo é que Carlos Pena deixou uma obra

de surpreendente atualidade, dando continuidade

à renovação do soneto, iniciada por Carlos Moreira,

e enriquecendo a poesia pernambucana e brasileira

com imagens estranhamente líricas, sem esquecer

homens, terras e mares pernambucanos. A Geração

de 65, além da influência nítida de João Cabral de

Melo Neto, revela a sombra leve e delicada da poesia

de Carlos Pena Filho, na obra de alguns de seus me-

lhores nomes. No prefácio que escreveu para o Livro

geral, última obra (reunião dos livros anteriores) de

Pena, informa o escritor Ariano Suassuna: “Literaria-

mente, seu maior dom talvez fosse, segundo ressaltou,

certa vez, César Leal, a elegância e a pureza do verso.

Quanto à poesia, segundo declarou certa vez o pró-

prio poeta, em conferência na Faculdade de Filosofia

de Pernambuco, sentia-se ele um tanto perplexo en-

tre duas linhas mestras de sua poesia, a formalista e a

Page 558: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

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regionalista. A síntese dar-se-ia inevitavelmente, não

interrompesse a morte, de modo tão brutal e prema-

turo, o leve e puro som de sua voz”.

Obras do autor: O tempo da busca (1952); Memórias do

boi Serapião (1956); Livro geral [incluindo Cinco aparições,

Dez sonetos escuros, A vertigem lúcida, Poemas sem data, O

tempo da busca e Guia prático da cidade do Recife] (1959).

Joaquim Maria CARNEIRO VILELA (1846-1913)**

Romancista, poeta, dramaturgo e jornalista, nasceu

no Recife em 9 de abril de 1846 e faleceu nos Afoga-

dos, subúrbio da mesma cidade, a 1 de julho de 1913.

Formou-se em Direito em 1866. Principal fundador

da Academia Pernambucana de Letras. Lúcia Miguel

Pereira, biógrafa desse escritor, informa que era em-

penhado em explorar as informações sobre a vida no

Recife, no século XIX, em suas produções literárias.

O romance, A emparedada da rua Nova (1936-1938),

foi motivo de um grande ensaio fotográfico do jorna-

lista pernambucano Marcus Prado.

Obras do autor: Margaridas (versos). Romances: A

emparedada da rua Nova (1936-1938); lná (1879); lara

(in Revista Brasileira, 1880); Noêmia (1894); Menina

de luto (s.d.); Noivados originais (s.d.); O esqueleto (s.d.);

Três crônicas (s.d.); Os mistérios da rua Aurora (s.d.);

A gandaia (s.d.); Um drama íntimo (s.d.); Era maldita

(s.d.); Eterno tema (s.d.); Os filhos do governador (s.d.).

CELINA DE HOLANDA Cavalcanti de Albuquer-

que (1915-1999)* **

Nasceu e cresceu nos engenhos Ypiranga e Pantorra,

no município do Cabo, PE. Foi na cidade do Recife

que viveu os melhores momentos de sua vida literá-

ria. Sempre atuante e fraterna, foi amiga de Roma-

no Zufferey, suíço, padre, assistente e líder da Ação

Católica Operária (Recife), movimento comprometi-

do com a liberdade e a dignidade do homem. As ele-

Page 559: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

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gias ao padre Romano Zufferey, que Celina publicou em

1985, celebrizam a poetisa que sempre será. Entre os

anos de 1979 a 1984, atuou intensamente nas Edições

Pirata, movimento editorial pernambucano. Celina

morreu no Recife, PE, em 3 de junho de 1999, mas

sua poesia continua a encantar as novas gerações, ela

é a sua presença eternizada em todos que contaram

com o privilégio de sua convivência. O livro Viagens

gerais, lançado em 1995, é sua obra mais completa,

reunindo todos os livros publicados até aquele ano e

ainda os inéditos Afago e faca e Tarefas de Nigiam.

Obras da autora: O espelho e a rosa (1970); A mão extre-

ma (1976); Sobre esta cidade de rios (1979); Roda d’água

(1981); As viagens (1984); Pantorra, o engenho (1990);

Viagens gerais (1995).

CELSO MESQUITA do Nascimento (1947)* **

Poeta e médico psiquiatra, faz parte da Geração 65 de

poetas pernambucanos. Nasceu no Recife, PE, em 7

de novembro de 1947.

Obras do autor: Programa do sonho (1980); Poemas de

Celso Mesquita (1997).

Francisco CÉSAR LEAL (1924)*

Professor, poeta e crítico de poesia, nasceu a 20 de

março de 1924, em Saboeiro, CE, C.L. é uma das

mais atuantes personalidades do mundo literário

pernambucano. Iniciou sua carreira literária em Belo

Horizonte, na revista Vocação. Em Minas Gerais, tor-

nou-se amigo de Emílio Moura, Cristiano Martins e

dos jovens Fábio Lucas, Rui Mourão e Edmir Fonseca.

Por motivos políticos, foi transferido para vários Es-

tados, chegando ao Recife em 1952, onde ingressou

no Diario de Pernambuco, como repórter, sendo mais

tarde assistente da direção durante o período em que

Mauro Mota foi diretor do jornal. O Recife é hoje seu

domicílio literário. Professor Emérito da Universida-

Page 560: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

560

de Federal de Pernambuco, onde fundou o Progra-

ma de Pós-Graduação (Mestrado e Doutorado) em

Letras. Antes de implantar os cursos pós-graduados,

visitou várias Universidades norte-americanas, sendo

o primeiro poeta da língua portuguesa a gravar seus

poemas, ao vivo, para a Biblioteca de Poesia da Uni-

versidade de Harvard. Conselheiro titular da Fundaj

(1980-1988), como representante do MinC. Por in-

dicação de Celso Furtado, o presidente José Sarney

nomeou-o para o Conselho Federal de Cultura e, em

seguida, para o Conselho Superior de Liberdade de

Criação e Expressão do Ministério da Justiça. Inte-

grou, no governo de Itamar Franco, o Grupo dos 17,

da Comissão Nacional do Cinema (1993-1994). Pu-

blicou, em 2004, o capítulo sobre o Recife em História

da literatura da América Latina (“Recife as Cultural Cen-

ter”), obra monumental: três volumes, escrita por 209

scholars do mundo inteiro. No Diario de Pernambuco

e em Estudos Universitários lançou o Grupo chamado

Geração 65, além de outras gerações, por isso é pos-

sível ver seu nome inserido entre os dessas gerações,

mas, conforme o próprio César, sua poesia não se en-

caixa nos parâmetros de nenhuma delas, nem na de

65 nem nas anteriores. Tem vinte e um livros publica-

dos, entre os quais Tempo e vida na terra (1998), Dimen-

sões temporais na poesia e outros ensaios, em dois volumes

(2004), ambos pela Imago, do Rio de Janeiro. É “Ca-

valiere” da Ordem do Mérito da República da Itália.

De 2000 até agora, participou de dez antologias, sen-

do três no exterior: Literatura portuguesa e brasileira

contemporânea (editada pela Faculdade de Letras da

Universidade do Porto, 2000); Literatura brasileira

(Editora Universitária, Lisboa, 2000); Antologia de la

poesia brasileña (Ediciónes Laiovento, Espanha, 2001,

509p.); 100 Anos de poesia – um panorama da poesia bra-

sileira no século XX (2002). Tem cerca de 220 ensaios

publicados no Brasil e no exterior em suplementos

Page 561: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

561

literários e revistas de cultura. Foi sob a orientação de

César Leal que imprimimos, neste painel, o conceito

de “domicílio literário”, o fundamento teórico da in-

serção de poetas nascidos em outros Estados, como

ele, mas profundamente vinculados à literatura e à

vida cultural pernambucana.

Obras do autor: Invenções da noite menor (1957); Ro-

mance do Pantaju (1962); O triunfo das águas (1968); Os

cavaleiros de Júpiter (1968, crítica de poesia e teoria da li-

teratura); Introdução ao estudo da poesia de Camões (1975,

ensaio); Literatura: a palavra como forma de ação (1978,

ensaio); Jornal do verão (1969); Ursa Maior (1969); A

quinta estação (1972); Tambor cósmico (1978); Os heróis

(1983/1997); Constelações (1986); Entre o leão e o tigre

(1987, ensaios); A oriental safira (1992); O arranha-céu

(1994); Alturas (1997); Invenções da noite menor (Ed. co-

memorativa dos 40 anos de estreia, 1997); Quatro poe-

mas e quatro estudos (1998); Tempo e vida na terra (1998).

Dimensões temporais na poesia e outros ensaios (2005).

CHICÃO [Francisco José Trindade Barrêtto]

(1941)**

Médico e poeta, Francisco Trindade, carinhosamen-

te chamado de Chicão, escreveu seu primeiro poema

com 14 anos: um soneto em uma prova de português,

quando aluno do Ginásio Pernambucano. Resolveu

publicar seu primeiro livro – (Construção do Dia (1980)

– a pedido da poeta Celina de Holanda, um dos nomes

mais expressivos da Geração 65. O livro foi organizado

pelo escritor Cyl Gallindo, prefaciado por Ariano Suas-

suna e tem poemas musicados por Zezinho Franca. É

membro da Associação dos Médicos Escritores, embo-

ra não tenha muito tempo para a militância literária.

O seu exercício da poesia mereceu de Ariano Suassuna

a seguinte observação: “E, como acontece sempre com

os verdadeiros poetas, o verdadeiro assunto de Chicão

é o enigma do homem em suas relações com a trans-

Page 562: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

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cendência, qualquer que seja o nome que se dê a ela ou

o conceito que dela se tenha.”

Obra do autor: Construção do dia (1980); Vide-versos

(1980); Liberdade, Vide Versos. Fragmentos, Disfarces,

Diagnósticos, (1988); A casa e o mundo (2009).

CÍCERO MELO do Nascimento (1952)*

Poeta. Nasceu em União dos Palmares, AL, em 1952.

Mora no Recife desde 1980, onde publicou seus dois

primeiros livros, ambos pelas Edições Bagaço, com boa

recepção da crítica e do público. Seus poemas são fre-

quentemente publicados em jornais, revistas e suple-

mentos literários, tanto no Brasil como em alguns paí-

ses do Exterior. Encontra-se no prelo, Poema da danação,

“com 60 Cantos sobre a miséria e decadência do Ho-

mem sobre a Terra”, conforme ele próprio anuncia.

Obras do autor: O verbo sitiado (1986); Poemas da escu-

ridão (2001).

CIDA PEDROSA [Maria Aparecida Pedrosa Bezer-

ra] (1963)***

Nasceu em 1963, em Bodocó, Sertão do Araripe per-

nambucano, foi registrada como Maria Aparecida Pe-

drosa Bezerra, é poeta e advogada de direitos huma-

nos. Chegou ao Recife em 1978 e começou a participar

dos movimentos políticos, estudantis e literários da

cidade. Tem empreendido esforços para que a cena

literária pernambucana ganhe espaços coletivos de

produção, edição e criação. Para tanto, com o webmas-

ter Sennor Ramos e o jornalista e poeta Raimundo de

Moraes edita, desde 2005, a página literária

Interpoé- tica (www.inerpoetica.com) e é uma das

colaboradoras do site Escritoras Suicidas. Na década

de 80, coorde- nou e militou no Movimento de

Escritores Indepen- dentes de Pernambuco,

contribuindo para a mobiliza- ção e a animação da

cena literária local com recitais de rua, performance e

publicações alternativas. Partici-

Page 563: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

563

pou do processo de reabertura da União Brasileira de

Escritores – seção Pernambuco, da qual é sócia desde

então. Faz parte das Antologias: Natal pernambucano

(2001); Corpo lunar (2002); Marginal Recife I (2003);

Retratos: a poesia feminina contemporânea em Per-

nambuco (2004); Cantos e contos de Natal (2006); Recife

Nantes: um olhar transatlântico (2007); Dedo de moça

(2009). Contribuiu na organização das publicações de

poesia: Marginal Recife, I, II e III e Coletânea Ladjane

Bandeira de poesia, I e II, editadas pela Prefeitura do

Recife. Foi uma das organizadoras das quatro primei-

ras edições da Recitata – Concurso de Recitação do

Festival Recifense de Literatura.

Obras da autora: Restos do fim (1982); O cavaleiro da

epifania (1986); Cântaro (2000); Gume (2005) e As filhas

de lilith (2009).

CLÁUDIA CORDEIRO Tavares da Cunha Melo

(1951)**

Professora de literatura brasileira, ensaísta, palestran-

te e webdesigner, nasceu no Recife em 1951. Concluiu

o primeiro grau na Academia Santa Gertrudes (1965),

em Olinda, e o magistério no Colégio Eucarístico Co-

ração de Jesus (1969), no Recife. É graduada com láu-

rea em Letras (1985), pela Faculdade Frassinetti do

Recife, Fafire, e pós-graduou-se em Literatura Brasi-

leira pela mesma Faculdade, em 2003. Foi professora

do ensino fundamental e lecionou, durante 28 anos,

as disciplinas de Língua Portuguesa e Literatura

Brasileira no ensino médio da rede pública estadual

de Pernambuco e, intermitentemente, de diversas es-

colas particulares – Marista, Salesiano – e também na

Fafire. É viúva do poeta Alberto da Cunha Melo, com

quem viveu durante 26 anos, partilhando sua obra

com o público a seu alcance, seja através de ensaios,

artigos e prefácios, a exemplo de “O imagismo e a

fabulação na poética de Alberto da Cunha Melo” do

Page 564: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

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livro Poema anteriores (1981), e “Uma estranha bele-

za: entrevista com o poeta Alberto da Cunha Melo”,

publicado na Cronos: Revista de Pós-Graduação em

Ciências Sociais da UFRN (2004/2005), seja pela in-

ternet, através da edição, entre outros, do sítio virtual

oficial do autor – www.albertocmelo.com. Em outubro

de 2003, lançou, na USP, seu ensaio Faces da resistência

na poesia de Alberto da Cunha Melo. Obteve, em 1985,

o primeiro lugar do Prêmio de Ensaio Mauro Mota

(UBE-PE), juntamente com a professora Sônia Prieto,

pelo ensaio “Mauro Mota: uma poética da recorda-

ção”. Algumas vezes, aventura-se na arte poética e

tem alguns poemas inéditos. No ano de 2005, foi

selecionada para a antologia Marcas do tempo VII, p.

37-38, como resultado da classificação do seu poema

“Assalto à alegria”, no concurso literário da Biblioteca

Pública Municipal “Prof. Gerson Alfio De Marco”, SP.

Organizou, com Antônio Campos, a coletânea Per-

nambuco, terra da poesia. Um painel da poesia pernam-

bucana dos séculos XVI ao XXI (2005), lançada no

dia 1º de dezembro, na Livraria Cultura, PE. Dentre

as várias palestras que já realizou, destacam-se as dez

realizadas – oito delas em universidades do Estado

de S. Paulo – pelo seu projeto Vozes Pernambucanas

(2006), que obteve patrocínio do Instituto Maximiano

Campos (IMC), e ainda na Fafire, entidade de ensino

superior comprometida com o estudo e a divulgação

da arte literária pernambucana. Como artista plásti-

ca, realizou várias exposições e dirigiu a Escolinha de

Arte Garibaldi Brasil no Sesc/AC – 1980/1981, quan-

do manteve intercâmbio cultural com a Escolinha de

Arte de Varsóvia. Foi coordenadora de planejamen-

to da Diretoria de Assuntos Culturais da Fundarpe

(1987/1988), enquanto Técnica em Atividades Cul-

turais daquele órgão (1987/2000). Foi revisora, mídia

e tráfego da agência Gruponove. Em 2004, organizou

e editou o CD Plataforma para a Poesia, vol. 0, “Poe-

Page 565: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

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mas Indispensáveis”, com apresentação de Deonísio

da Silva. É editora do sítio virtual Plataforma para a

Poesia e Trilhas Literárias, on-line há 10 anos, que é, na

verdade, o núcleo virtual de um projeto maior de sen-

sibilização de leitores para a arte poética, através de

sua veiculação em diversas mídias. Em 2007, criou e

organizou o I Prêmio Internacional Poesia ao Vídeo,

patrocinado pela Fliporto, que se encontra em sua

quarta edição. É coordenadora da Fliporto Digital há

quatro anos. Sua parceria em diversos projetos com

o escritor, advogado e poeta Antônio Campos – que

se firma hoje como um raro mecenas da cultura per-

nambucana – é fruto da afinidade com a arte poética

e com o empenho em divulgar e valorizar a cultura

pernambucana. Cláudia Cordeiro é inventariante do

espólio de Alberto da Cunha Melo (1942-2007), que

deixou sua vontade expressa em testamento para ela

e empenha-se, atualmente, em compilar toda a obra

editada e inédita do poeta.

Obras da organizadora: Faces da resistência na poesia de

Alberto da Cunha Melo (2003); Pernambuco, terra da poe-

sia. Um painel da poesia pernambucana dos séculos

XVI ao XXI (2005 e, segunda tiragem, 2006).

CLÉLIA da SILVEIRA Martins Ribeiro (1920)**

Poetisa e advogada, nasceu em 1920, no município do

Cabo, PE, onde ficava a antiga Usina Santo Inácio.

Filha de Estefânia Martins Ribeiro da Silveira (profes-

sora) e de Antônio Carlos da Silveira Filho (gerente da

usina), bacharelou-se em Direito, em 1978, pela Facul-

dade de Direito do Recife, e fez cursos extensivos de

jornalismo em Curitiba. Seu primeiro livro, Taça des-

prezada, foi publicado em 1956, mas já colaborava com

artigos, crônicas, sueltos e reportagens para jornais de

João Pessoa (1950-1961) e do Recife (1936-1947).

Obras da autora: Taça desprezada (1956) e Poemas cre-

pusculares (1998).

Page 566: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

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CLOVES MARQUES da Silva (1944)*

Poeta e engenheiro, nasceu em Delmiro Gouveia, AL,

em 10 de setembro de 1944. Reside no Recife desde

1966 e faz parte da Academia de Letras e Artes do

Nordeste Brasileiro; Academia Recifense de Letras;

União Brasileira de Escritores – Seção Pernambuco,

Academia de Artes e Letras de Pernambuco. Ressalta-

se em sua literatura a poesia do haicai.

Obras do autor: Pra não morrer de amor (1990); É eter-

no, mas é preciso (1992, poemas); Crônicas do encontro

(1994); Umaremu, instantâneos do Natal (2001); Haicai

ao Recife (2002); Máscara em Haicai (2005); 365 Hai-

cais de sol e chuva (2006).

CYL GALLINDO [Cícero Amorim Gallindo] (1935)*

**

Poeta, escritor, jornalista e conferencista, é diplomado

em Ciências Sociais pela UFPE, nasceu em Buíque,

PE, em 1935. Morou no Rio de Janeiro onde partici-

pou intensamente dos movimentos políticos da década

de 60. E também em Brasília de 1986 a 1998. Em sua

atuação como jornalista, foi assessor de Comunicação

do Senado Federal e de outras repartições públicas.

Atualmente é representante no Brasil de Francachela

– Revista Internacional de Literatura e Arte, editada

no Chile, com circulação em 35 países. Pertence à Ge-

ração 65 de poetas pernambucanos. Em 1968, orga-

nizou a antologia Agenda poética do Recife – Antologia

dos novíssimos, prefaciada por Joaquim Cardozo, um

referencial para todos que querem se empenhar nos

estudos da poesia pernambucana. Oito dos dez poetas

selecionados por ele se encontram nesta antologia: Al-

berto da Cunha Melo, Arnaldo Tobias, o próprio Cyl

Gallindo, Jaci Bezerra, Marcos Santânder [hoje Marco

Polo], Maurício Motta, Sérgio Moacir de Albuquerque

e Tarcísio Meira César. Entre as inúmeras antologias

que organizou, a mais recente e Panorâmica do conto em

Page 567: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

567

Pernambuco (2007), em parceria com Antônio Campos.

Já participou de 29 antologias e tem vários textos seus

traduzidos para o alemão, francês e espanhol. Perten-

ce à Academia de Letras do Brasil, Academia de Le-

tras e Arte do Nordeste Brasileiro, União Brasileira de

Escritores (UBE-PE) e, em 2009, foi eleito membro da

Academia Pernambucana de Letras. Seu mais recente

livro, Intimidade da palavra (2010), reúne seus ensaios

e revelam a convivência e a familiaridade com a obra

e a vida de grandes nomes de nossa literatura a exem-

plo de Manuel Bandeira e Euclides da Cunha e com a

vida cultural e literária de Pernambuco.

Obras do autor: A conservação do grito-gesto (1971); Os

movimentos (1996); Poemas escolhidos (1999). Contos:

As galinhas do coronel (1974); Um morto coberto de razão

(1985); Quanto pesa a alma de um homem. Quanto pesa

a alma de uma mulher (1994); Cadeira de Dinah (1999);

Milagre no jardim da casa-grande (2003), A intimidade da

palavra (2010, ensaios).

DEBORAH Vasconcelos BRENNAND (1927)**

Nascida em 12 de fevereiro de 1927, no Engenho La-

goa do Ramo, Nazaré da Mata, PE, é filha única do

médico Antônio Vieira de Vasconcelos e de Helena

de Moura Vasconcelos. É uma das poetisas pernam-

bucanas mais importantes de sua geração. Sobre ela,

Ariano Suassuna deu este depoimento: “A poesia de

Deborah Brennand é profundamente feminina, o

que significa que é, ao mesmo tempo, suave e selva-

gem, possuindo uma estranha ligação com a corrente

subterrânea da vida”. Ao completar 80 anos, assumiu

uma cadeira na Academia Pernambucana de Letras.

Obras da autora: O punhal tingido ou O livro das horas

de D. Rosa de Aragão (1965); Noites de sol ou As viagens

do sonho (1966); O cadeado negro (1971); Pomar de som-

bras (1995); Maçãs negras (2001); Letras verdes (2002);

Tantas e tantas cartas (2003); Poesia reunida (2007).

Page 568: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

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DEDÉ MONTEIRO [José Rufino da Costa Neto]

(1949)**

Poeta e professor, José Rufino da Costa Neto adotou

o pseudônimo literário de Dedé Monteiro. Nasceu no

Sítio Barro Branco da Tabira (Tabira, PE), a 13 de se-

tembro de 1949. Em 1969, Dedé Monteiro concluiu

o curso de contabilidade na Escola Monsenhor Pinto

de Campos, em Afogados da Ingazeira, PE. Em 1974,

concluiu o curso de Letras na Faculdade de Forma-

ção de Professores, em Arcoverde, PE, e o curso supe-

rior de Educação Física, no Recife, dedicando-se ao

magistério desde 1972. No Dicionário biobibliográfico

de poetas pernambucanos (1993, p. 93), o organizador

Lamartine Moraes anota: “Dedé Monteiro dedicou-

se à poesia e, como matuto autêntico, explorou com

maestria a literatura de cordel, desafiando motes. Diz

o professor José Rabelo Vasconcelos: “Realizava-se

a prova de Português do vestibular na Faculdade de

Formação de Professores de Arcoverde. Fazia eu parte

da equipe de professores que aplicava a prova e que

deveria corrigir a redação. O tema sorteado fora “A

Paz”. Poucos minutos depois de distribuídos os tes-

tes, um dos candidatos se levanta e faz a entrega da

redação. Surpreende-me a rapidez com que o traba-

lho fora feito. A surpresa foi maior porque ele fora

redigido em versos. E não era para menos, pois é sa-

bida, nos tempos em que vivemos, a dificuldade que

a redação oferece aos vestibulandos, mesmo quando

feita em prosa. O candidato a fizera com incrível ra-

pidez e em versos. O futuro professor José Rufino da

Costa Neto não era senão, o poeta Dedé Monteiro”.

Lamartine anota ainda que até aquela data (1993)

Dedé Monteiro só publicara o livro Retalhos do Pajeú,

mas nossas pesquisas levaram-se ao Meu quarto baú de

rimas, lançado em 2010, com 250 poemas inéditos,

conforme registra Marcello Patriota no sítio virtual

“www.itapetim.net - O Ventre Imortal da Poesia”.

Page 569: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

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Obras do autor: Retalhos do Pajeú (s.d.); Meu quarto baú

de rimas (2010).

DELMO MONTENEGRO (1974)* **

Poeta, tradutor e ensaísta, nasceu no Recife, PE, em

1974. Estreou recentemente em livro com Les joueurs

de cartes. Os jogadores de carta, pelas Edições Bagaço,

2003. Tem trabalhos publicados em diversas revis-

tas, jornais e sites literários, como Amálgama, Capitu,

Cronópios, Jornal de Poesia, Zunái, Dimensão, MG; Su-

plemento Literário de Minas Gerais, MG; Et Cetera, PR;

Continente Multicultural, PE; Estudos Universitários,

PE; Suplemento Cultural, PE; Correio das Artes, PB;

e O Galo, RN. É um dos participantes da coletânea

Poesia pernambucana moderna. Breve antologia (1999),

organizada pelo poeta e crítico César Leal, e do livro

de ensaios A linha que nunca termina. Pensando Paulo

Leminski (2004), organizado pelos escritores André

Dick e Fabiano Calixto. No campo da Poesia Visual e

Experimental, além de diversas pesquisas, realizou a

Mostra de Poesia Visual Brasileira (1994) e participou de

inúmeras exposições no Brasil e no Exterior.

Obra do autor: Les joueurs de cartes. Os jogadores de car-

tas (2003).

DEMÓSTENES DE OLINDA Almeida Cavalcanti

(1873-1900)**

Poeta e bacharel em Direito, nasceu na cidade de Vi-

tória de Santo Antão, PE, a 20 de outubro de 1973,

e morreu em 15 de agosto de 1900, aos 27 anos de

idade, na cidade de Queluz. Formou-se na Faculdade

de Direito do Recife e chegou a ser Juiz de Direito no

Estado de Minas Gerais. Dedicou-se à poesia muito

cedo e é o patrono da Cadeira nº 20, da Academia

Pernambucana de Letras.

Obra do autor: Ortivos (1894).

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DEOLINDO TAVARES (1918-1942)**

Poeta, jornalista, músico e desenhista, nasceu no Reci-

fe, a 21 de dezembro de 1918, e morreu precocemen-

te, aos 24 anos de idade, no dia 6 de maio de 1942.

Estudou no Ginásio Pernambucano e chegou a cursar

o primeiro ano da Faculdade de Direito do Recife. De-

dicando-se à imprensa, desempenhou a função de re-

dator do Diario de Pernambuco. Colaborou com os jor-

nais: Diário da Manhã, Renovação e Caderno Acadêmico.

Sua obra poética foi publicada postumamente na an-

tologia Autores e livros (1945) e em uma edição crítica

de Fausto Cunha, em 1955, com o título de Poesias de

Deolindo Tavares, reeditada pela Fundação do Patrimô-

nio Histórico e Artístico de Pernambuco (Fundarpe),

em 1988, na gestão do secretário de Cultura Maximia-

no Campos, com prefácio de Alberto da Cunha Melo,

que registra: “Sua pessoa e sua obra, após relermos os

depoimentos dos seus contemporâneos, em especial

Gilberto Freyre e João Cabral de Melo Neto, pare-

ceram-nos impregnadas daquela „sabedoria da inse-

gurança‟ de que nos fala Allan Watts, em memorável

livro do mesmo título”. Fausto Cunha atestou: “Deo-

lindo era poeta porque não podia ser outra coisa, é o

testemunho dos amigos. Eu diria em outras palavras:

era poeta porque em seu mundo só havia poesia”.

Obra do autor: Poesias de Deolindo Tavares (1955).

DIONE BARRETO (1955)*

Poetisa e psicóloga, é natural de Campina Grande, PB,

mas passou a residir no Recife em 1977. Participou ati-

vamente das Edições Pirata e de vários movimentos cul-

turais e foi editora do jornal alternativo Contágil. Tra-

balha na Fundação Joaquim Nabuco, onde ingressou

por indicação de Paulo Cavalcanti. Participou de várias

antologias, a primeira, em 1983, Nova literatura brasilei-

ra, e a mais recente, em 2004, Retratos. A poesia femini-

na contemporânea em Pernambuco. Ligada a movimentos

Page 571: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

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alternativos de divulgação da poesia, fez sua primeira

exposição de pôster-poema, no Recife, no ano de 1983,

sob o título Poesia, uma paixão que se expõe.

Obras publicadas: Círculo vazio (1973); Feitiço do silên-

cio (1984); Do amor e suas perversidades

(1990); Desiguais (1995).

Gediael DOMINGOS ALEXANDRE (1944)***

Poeta, advogado, tradutor, nasceu em Jaboatão, PE,

em 2 de agosto de 1944. Filho de Joaquim Domin-

gos Alexandre (pequeno comerciante) e de Carlinda

Figueira Alexandre, fez parte do Grupo de Jaboatão,

que, conforme Tadeu Rocha, representa a nascente

da Geração 65. Para o poeta e crítico Laurênio Lima,

Domingos Alexandre é “um alquimista do verso (...),

que além de trabalhar com as palavras (função de to-

dos os escritores) participa das angústias do seu mun-

do”. Avesso a publicações, Domingos Alexandre ainda

não revelou a sua produção satírica que só apresenta

a amigos. Mas o cordel O dia em que Michael Jackson fez

Ariano Suassuna dançar rock na cidade de Taperoá, pu-

blicado pelas Edições Bagaço, em 2003, exemplifica,

um pouco, o que pode vir a ser a produção satírica do

autor. Seus poemas foram recentemente publicados

no CD: Plataforma para a poesia. Poemas indispensáveis.

Um desses poemas, “Bruxelas”, encontra-se também

publicado nesta edição.

Obras do autor: Sonâmbulos (1979); A ordem no reino

do caos (1981); O avesso do avesso (1987).

EDMIR DOMINGUES da Silva (1927-2001)**

Poeta, doutor em Direito, nasceu no Recife, a 8 de

junho de 1927 e morreu em 2001. Bacharelou-se

pela Faculdade de Direito do Recife, doutorando-se

em Direito e em Filosofia, em 1954, quando publicou

seu primeiro livro Rua do vento norte. Foi um dos mais

conhecidos advogados de Pernambuco e um poeta de

Page 572: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

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destaque entre os de sua geração. Os livros que se se-

guiram ao de estreia: Corcel de espumas, Cidade submer-

sa e O domador de palavras, foram premiados por ór-

gãos ou entidades de cultura estaduais ou municipais.

Além da advocacia, Edmir Domingues foi juiz do Tri-

bunal Regional Eleitoral, de que fora, antes, um dos

seus diretores. Entre os prêmios que obteve, citam-se

o “Prêmio Mário de Andrade”, SP, 1954; “Prêmio Vâ-

nia Lobo de Carvalho”, Recife, 1954; e “Prêmio Oton

Bezerra”, da Academia Pernambucana de Letras.

Obras do autor: A rua do vento norte (1952); Corcel de

espumas (1960); Cidade submersa e outros poemas (1972);

O domador de palavras (1987); Universo fechado ou O

construtor de catedrais (1996, poemas reunidos).

EDSON RÉGIS de Carvalho (1923-1966)**

Poeta, jornalista especializado na crônica política e

bacharel em Direito, nasceu em Tímbaúba, PE, em

29 de abril de 1923. Faleceu no Recife, a 25 de julho

de 1966, aos 43 anos de idade, vítima de um atentado

a bomba, no Aeroporto dos Guararapes, ao ir receber,

por indicação do governador Paulo Guerra, o então

Presidente da República, General Costa e Silva. No

jornalismo, dirigiu a revista Região e organizou, na

cidade de João Pessoa, “O Correio das Artes”, Suple-

mento Literário, no biênio 1949-1950, quando publi-

cou a Antologia de Novos, com orientação de Ferreira

de Holanda. Pertence à Geração 45 e seu primeiro

livro de poemas, O deserto e os números (1949), foi su-

cesso de público e de crítica, colocando-o entre os

grandes de sua geração. Mas, só em 1971, a Imprensa

Universitária da UFPE publicaria As condições ambien-

tes, reeditando no mesmo exemplar seu primeiro li-

vro. No prefácio, o crítico e também poeta, Laurênio

Lima assinala: “Edson Régis foi um poeta de sua ge-

ração, a de quarenta e cinco, e não a traiu. Foi mesmo

dos mais ativos participantes desse movimento que

Page 573: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

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marcou a sua posição na história da Literatura Brasi-

leira, e pouquíssimos, nas suas respectivas cidades ou

Estados, terão tido a influência que teve este homem

prático e objetivo na vida comum.”

Obras do autor: O deserto e os números (1949); As condi-

ções ambientes e O deserto e os números (1971).

EDUARDO DIÓGENES (1954)* **

Nascido no Recife, PE, em 1954, publicou seu pri-

meiro livro Brincadeiras no 27. No ano de 1986, seu

livro Malabarismo crônico passou a fazer parte do acer-

vo de escritores brasileiros na Fundação Casa de las

Americas em Havana, Cuba. Em 1993, foi incluído

na Antologia da nova poesia brasileira, editada pela Rio

Arte/Funarte, organizada e selecionada pela escritora,

tradutora e poeta Olga Savary. Incluído na revista Po-

esia Sempre (nº 12, 2000) da Biblioteca Nacional. Par-

ticipou, como narrador, do filme Joaquim Nabuco: um

vencido da grande causa, de Taciana Portela (1º lugar

no Margarida de Prata, 2000, em Brasília). Mantém

inéditos – aguardando editores – os livros Ilha do Reci-

fe dos Navios (com apresentação de Jorge Wanderley e

prefácio de Olga Savary) e Ficções. Vive intensamente

a cena cultural pernambucana.

Obras do autor: Brincadeiras no 27 (1954); Malabaris-

mo crônico (1980); A barlavento (2000).

José EDUARDO MARTINS de Barros Melo (1962)*

**

Poeta e professor de Literatura Brasileira na Univer-

sidade Federal de Rondônia e Mestre em Teoria Li-

terária pela Universidade Estadual Paulista (Unesp).

Participou ativamente do Movimento dos Escritores

Independentes de Pernambuco na década de 80, e vi-

veu intensamente a cena cultural pernambucana até

1987, quando passou a residir no estado de Rondô-

nia, mas mantém-se antenado com a cena cultural do

Page 574: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

574

Recife através da internet. Atualmente está estudan-

do a obra do poeta Alberto da Cunha Melo, que será

tema da sua dissertação de doutorado e organiza o

seu livro de poesia A palavra falta. Participou das co-

letâneas: Poesia viva do Recife (1996); Marginal Recife:

coletânea poética III (2004); Pernambuco, terra da poesia

(2005) e Iluminuras (2006). No ano de 1985, em par-

ceria com Cida Pedrosa, publicou seu primeiro livro,

Restos do fim (Poeira dos gozos). Atualmente prepara a

edição do livro A palavra falta.

Obras do autor: Restos do fim (1985); Procissão da pala-

vra (1986), Bandeira: uma poética de múltiplos espa-

ços (2003, ensaio) e O lado aberto (2004).

EDWIGES DE SÁ PEREIRA (1885-1959)*

Poetisa, professora, oradora, jornalista, líder feminis-

ta, nasceu na cidade de Barreiro, PE, a 25 de outubro

de 1885 e faleceu em 1959. Foi talvez a primeira mu-

lher a ocupar uma Cadeira (nº 7) na Academia Per-

nambucana de Letras (1920) e uma das fundadoras

da revista literária O Lírio, exclusivamente feminina.

Lecionou Português e História, nos colégios Euca-

rístico e Nossa Senhora do Carmo, respectivamente,

ambos no Recife, e foi superintendente de ensino em

grupos escolares da capital pernambucana, cargo no

qual se aposentou. Sua atuação na educação e na lite-

ratura a fez ser lembrada como uma das pioneiras do

Movimento Feminista no Brasil.

Obras da autora: Campesinas. Poemas (1901); Impres-

sões e notas (questões de ensino) (s.d.); Pela mulher. Para

a mulher (tese ao Congresso Feminista do Brasil) (s.d.);

Horas inúteis. Poesia (1960).

ELIZABETH de Andrade Lima HAZIN (1951)**

Poetisa, professora, nasceu no Recife, PE, em 18 de ju-

lho de 1951, atualmente radicada no Distrito Federal.

Na década de 80, teve seus poemas publicados em vá-

Page 575: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

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rios jornais do país a exemplo do Suplemento Cultura

de O Estado de São Paulo e do Caderno de Cultura do

Jornal do Commercio. Nesse período, publica seus traba-

lhos na revista Pórtico, do Departamento de Letras da

Universidade Federal Pernambuco, 1985; na Encontro,

do Gabinete Português de Leitura, Recife (1987); e na

Flegeton, revista da Academia de Letras da Bahia, Sal-

vador (1988). Seus poemas também são publicados em

revistas no exterior a exemplo de: “Os rios infernais” (5

poemas) in Cadernos de Literatura, nº 14, Coimbra, 1983;

“Regresso” e “Helesponto”, in Plaza, nº 13, Revista de

Literatura do Department of Romance Languages and

Literatures, Massachusetts: Harvard University, 1987,

e, posteriormente, “Quatro Poemas” (traduzidos para

o dinamarquês) in Banana Split, 6, Copenhagen, Dina-

marca, 1993. Na década de 1990, representa o Brasil

ao lado de José Paulo Paes, Sebastião Uchoa Leite e

Haroldo de Campos, no Festival Internacional de Poe-

sia (Copenhagen, Dinamarca, 1997) e, no mesmo ano,

participa, em Salvador, do programa Com a Palavra, o

Escritor – criado pela Universidade Federal da Bahia

e Fundação Casa de Jorge Amado – em que o escritor

é apresentado por um crítico, e responde às perguntas

da plateia. Em 2007, Elizabeth participou, em Brasí-

lia, da Bric-a-Brac, Exposição Coletiva de Poemas, na

Caixa Cultural, e no ano seguinte veio ao Recife para,

em conjunto com o poeta Davino Sena, na sala Calous-

te Gulbenkian, da Fundação Joaquim Nabuco, recitar

os poemas do livro Lêgo & Davinovich – escrito pelos

dois e que é um canto e uma declaração de amor à sua

cidade natal. É autora também de literatura infantil.

Foi diplomada em Letras em 1977 e recebeu Menção

Honrosa do Prêmio Fernando Chináglia (1977); Cre-

fisul, Jornal de Letras (1981), e o Prêmio Nacional de

Poesia Jorge de Lima (1981). Foi professora de Litera-

tura da Universidade Federal da Bahia. Atualmente, é

professora da Unversidade de Brasília UnB.

Page 576: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

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Obras da autora: Poesias (1974); Verso e reverso (1980);

Casa de vidro (1982); Arco-íris (1983); Espelho meu

(1985); O arqueiro e a lua (1994); Martu (2. ed. aumen-

tada, 2006); Lêgo & Davinovich (2006); Poesia para

crianças (2009).

EMÍLIA LEITÃO GUERRA (1883-1966)**

Poetisa, nasceu em 18 de novembro de 1883, na cida-

de Sant‟Águeda de Pesqueira, no interior de Pernam-

buco, e faleceu no dia 23 de novembro de 1966, na

Mouraria, em Salvador, BA. Filha do português José

Martins Leitão e de Emília Magalhães da Silva Porto.

Sua família mudou-se para Salvador, quando a poetisa

contava com cinco anos de idade, mas já ensaiava os

primeiros versos. Sua formação intelectual, conforme

as limitações impostas à mulher da época, não se deu

em colégios, mas através do irmão mais velho, com

quem adquiriu conhecimentos em História, Ciências,

e Vernáculo, além de várias línguas estrangeiras (ver

Escritoras brasileiras do século XIX, vol. II, p. 1045). Aos

24 anos, já casada com o médico ginecologista Adol-

fo Guerra, com quem teve onze filho, publicou seu

primeiro livro, Lyrios da juventude (1909), que foi bem

recebido pela imprensa. Compôs também peças tea-

trais e hinos.

Obras da autora: Lyrios da juventude (1909, prefácio

de Carlos Arthur da Silva Leitão); Evocações (1957);

Poemas escolhidos (2000).

ERICKSON LUNA (1958-2007)* **

Poeta e compositor de música popular, nasceu no Re-

cife, PE, em 1958, e morreu em 2007. Faz parte do

Movimento de Escritores Independentes. Seus poe-

mas circulavam entre jovens do mundo boêmio do Re-

cife, com grande receptividade nessa área até que, em

2002, alguns foram inseridos na coletânea Marginal

Recife, da Prefeitura do Recife. Somente em 2004, pu-

Page 577: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

577

blicou seus poemas em livro, que hoje se encontram

em inúmeras páginas da Internet. Participou das se-

guintes antologias: Movimento de escritores independen-

tes de Pernambuco – 1980/1988 (2000); Marginal Recife:

coletânea poética (2001); Pernambuco, terra da poesia.

Um painel da poesia pernambucana dos séculos XVI

ao XXI (2005); Recife/Nantes: um olhar transatlântico

(2007). Em 2006, com o poeta Francisco Espinhara,

também falecido em 2007, publicou o livro de poemas

Claros desígnios. Sobre ele, o artista plástico, poeta e

cronista, Ivan Marinho, anota no sítio virtual Interpoé-

tica: “Resguardado pelo senso de humor e presença

de espírito, bem como pelo prazer de manter-se lú-

cido e “sociável”, mesmo depois de homéricas farras,

o amigo-irmão – como se expressou para comigo no

posfácio do Anti-horário – revelava em seus poemas

a dor da convivência contemporânea, assumindo os

paliativos viciosos, mas sem desistir dos Claros desíg-

nios de quem se põe para além do “poder que se es-

tabelece sobre a ignorância”, como dizia em tom de

indignação: “(...) A tal sorte a mim me cabe lamentar

o pouco-a-pouco/ A morte tarda dos longevos/ Sorrir

da vida e a que ela se presta/ Tão mais intenso quanto

perto o fim// Os vícios tragam-me depressa/ À parte a

rebeldia que me torna em jovem”.

Obra do autor: Do moço e do bêbado (2004); Claros de-

sígnios (2006).

ESDRAS Leonam Alves de FARIAS (1889-1955)**

Poeta, jornalista, funcionário público, nasceu no Re-

cife, a 20 de novembro de 1889, e faleceu no dia 29

de abril de 1955. Dedicou-se ao jornalismo, tendo

sido redator do jornal O Intransigente e do Jornal do

Recife, órgãos políticos da imprensa pernambucana.

Foi membro da Academia Pernambucana de Letras

(1946). Notabilizou-se como grande sonetista. Entre

os seus sonetos mais conhecidos, destacam-se “Feliz

Page 578: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

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de ti que ainda choras”, “De conformidade comigo”,

“Para você mesmo. Esdras” (uma auto-advertência),

entre outros. Viveu humildemente e humildemente

morreu. No trigésimo aniversário do seu falecimen-

to, o jornalista Leduar de Assis Rocha escreveu: “No

Jornal do Recife, conheci Esdras Farias, magro, alto,

anguloso, com uma bizarra de Quixote nordestino a

investir contra os moinhos de vento da própria fan-

tasia de poeta, que foi dos que bem podiam ser lidos

e sentidos”. Muito de sua obra ficou disperso em jor-

nais, revistas e almanaque.

Obra do autor: Caderno de um descrente (1950, sonetos).

ÉSIO RAFAEL (1948)* **

Professor, poeta e pesquisador da poesia dos violei-

ros, nasceu no dia 23 de julho de 1948, em Sertânia,

PE. Ésio Rafael é pós-graduado em Literatura Bra-

sileira, pela Universidade Federal de Pernambuco;

bacharel em Ciências Biológicas pela Universidade

Federal Rural de Pernambuco; Licenciatura Plena

na Faculdade de Filosofia do Recife (Fafire). Como

pesquisador da poesia dos violeiros, publicou vários

trabalhos em livros, revistas e jornais, entre eles, o

ensaio Cantoria de viola hoje, em parceria com Luís

Carlos Monteiro; o Livro dos repentes, em parceria com

Jaci Bezerra; Antologia didática I de poetas pernambuca-

nos e Autores e títulos de teatro (Secretaria de Educação

/ Departamento de Cultura). A matéria “Ivanildo Vila

Nova, um divisor de águas”, publicada no Jornal da

Paraíba, em 17 de maio de 2005, obteve repercussão

internacional. Manteve a coluna “Recanto dos violei-

ros” no Commercio Cultural, do Jornal do Commercio,

quando da editoria de Alberto da Cunha Melo. Tem

no prelo o livro Mourão, escrito em parceria com Wil-

son Freire. Ésio Rafael é membro da União Brasileira

de Escritores (UBE-PE), da Comissão Pernambucana

de Folclore, e foi organizador de seis congressos de

Page 579: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

579

cantadores no Recife, pela Fundarpe. Sempre atuante

no universo da poesia pernambucana, em sua mais

representativa tradição, foi agraciado com Título de

Cidadão da Cidade de São José do Egito, pelos servi-

ços prestados à cidade, através da cultura popular, e

o Título Adido Cultural do Sertão (Petrolina, PE), no

Governo Fernando Bezerra Coelho.

ESMAN Rodrigues DIAS de Oliveira (1937)*

Poeta, tradutor e professor de Literatura de expressão

inglesa e teoria e técnicas da tradução da Universida-

de Federal de Pernambuco. Nasceu na Paraíba, em 10

de maio de 1937, mas reside em Pernambuco desde

1940. Filho de sertanejos que migraram para o litoral,

passou infância e adolescência à beira-mar no Bairro

da Santa Cruz dos Milagres, em Olinda. Desde meni-

no, lê e escreve em duas línguas que lhe são afetiva-

mente mais próximas. Permanece fiel aos heróis do

seu tempo de menino: o Spirit de Will Eisner, o Tarzan

vivido por Johnny Weissmuller, um moleque chamado

Huck Finn – e os amigos que veio a conhecer no livro

Carlos Magno e seus cavaleiros, que recebeu do pai aos

sete anos de idade. Estudou na escola de Dona Edé

(o Instituto Nossa Senhora dos Milagres) e no Grupo

Escolar Sigismundo Gonçalves. Ensinou em Birmin-

gham, Alabama, e em Urbana-Champaign, Illinois.

Seus primeiros poemas foram republicados em mea-

dos dos anos 60 – no Diario de Pernambuco e no Jornal

do Commercio do Recife. Neste último, chega a assinar,

em parceria com Orley Mesquita, a coluna “Poesia e

Tempo”, que estamparia em 1965 um dos primeiros

poemas de José Almino Arraes de Alencar. Com Or-

ley Mesquita e Everardo Norões, integra, em 1965, a

coletânea CLAVE, composta de dezoito poemas, ilus-

trados pelos artistas Anchises Azevedo, José Cláudio,

João Câmara e Reynaldo Fonseca. Poemas seus apa-

recem em 46 Poetas, sempre (2002/2003), organizado

Page 580: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

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por Almir Castro Barros; Poesia pernambucana moderna

(1999), organizado por César Leal; Estação Recife – co-

letânea poética 1 (2003), organizado por Everardo No-

rões, José Carlos Targino e Pedro Américo de Farias;

Imagem passa palavra (Porto: Identidades, 2004); tem-

se empenhado em traduzir para o inglês certa parce-

la da nossa poesia contemporânea, representada por,

dentre outros, poemas de Alberto da Cunha Melo, Cé-

sar Leal e Everardo Norões. Coordena o Colóquio Cecí-

lia Meireles, conclave anual de caráter interdisciplinar

voltado para o estudo da criação poética.

EUGÊNIA Maria Simões Cézar MENEZES (1939)*

Contista, poeta, ensaísta, nasceu em Taperoá, Paraí-

ba, mas passou a morar no Recife, a partir de 1952.

É socióloga e trabalhou como pesquisadora social

durante trinta anos na Fundação Joaquim Nabuco

(Fundaj). Começou a escrever aos quarenta anos,

publicando os livros de contos pelas Edições Pirata,

movimento editorial do qual fez parte. Publicou, em

parceria com Vernaide Wanderley: em livro, Viagem

ao sertão brasileiro. Uma interpretação geo-sócio-antropoló-

gica (1997), Prêmio Casa-Grande & Senzala da Fun-

daj, 1998; “Religiosidade em Canudos: interpretação

da visão euclidiana” (1992, revista O olho na história);

“Do espaço ao lugar. Uma viagem ao sertão brasilei-

ro” (1996, revista Percepção Ambiental). Há vários

ensaios seus publicados individualmente, como “A

unidualidade em Osman Lins” (1995, revista Inves-

tigações, da UFPE) e “Trabalho e poder no processo

migratório”, uma análise do romance Essa terra, de

Antônio Torres (1995, Cadernos populares, da Fundar-

pe). Publica regularmente ensaios e contos em jornais

e revistas especializados. A partir de 1966, ingressou

no Traço Freudiano, instituição psicanalítica do Reci-

fe, redirecionando seus trabalhos com essa perspecti-

va. Tem poemas e prosa-poética incluídos em várias

Page 581: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

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antologias, sendo as mais recentes: 46 Poetas, sempre

(2002) e Corpo lunar (2002). Ainda na área literária,

publicou: Cartas Marianas (1999, em parceria com

Maria Pereira de Albuquerque) e Histórias do meio do

mundo (2003, em parceria com Vileni Garcia, Mila

Cerqueira e Maria Pereira de Albuquerque). Obras

da autora em prosa poética: Terra arada (1980); Re-

construção da lembrança (1981); O canto da minha memó-

ria (1990, ilustrações de Romero de Andrade Lima,

Menção Honrosa do Prêmio Vânia Souto Carvalho,

da Academia Pernambucana de Letras 1991); Equívo-

cos do cotidiano (1992).

EUGÊNIO COIMBRA Jr. (1905-1972)**

Poeta, jornalista, funcionário público, nasceu no Reci-

fe, a 15 fevereiro de 1905, e faleceu na mesma cidade,

no dia 21 de março de 1972. Foi redator do Jornal

do Recife, do Diário da Manhã, do Diário da Tarde, do

Jornal Pequeno e do Jornal do Commercio. Foi colabora-

dor ou redator de diferentes revistas e periódicos do

Recife e de Olinda e membro da Academia Pernam-

bucana de Letras. Deixou inédito um livro de poesia,

Céu e mar. E um livro em prosa inconcluso, Memórias,

trabalho que vinha realizando desde o início da déca-

da de 1950, mas que, infelizmente, teve os originais

desaparecidos de sua mesa de trabalho, no Jornal do

Commercio, após a sua morte, conforme depõe a famí-

lia à jornalista Fernanda D‟Oliveira.

Obras do autor: Poemas de abril e outros meses (1965).

EVERARDO NORÕES [José Everardo Arraes de

Alencar] (1944)*

Poeta, dramaturgo, ensaísta, antologista e economis-

ta, nasceu no Crato, Estado do Ceará, em 1944. Viveu

na França, na Argélia e em Moçambique. É coautor da

peça de teatro Auto das portas do céu (2002) e do livro

de crônicas Nas entrelinhas do mundo (2002). Publicou

Page 582: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

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poemas no jornal argelino EI Moudjahid, na revista

Poesia Sempre, da Fundação da Biblioteca Nacional,

Rio de Janeiro; no jornal Correio das Artes, de João

Pessoa, PE, na antologia de poetas pernambucanos 46

Poetas, sempre, na página da internet Nave da Palavra,

no livro Imagem passa palavra (Edição Identidades,

Porto, Portugal, 2004). Publica regularmente artigos

e ensaios em jornais e revistas especializadas: Diario de

Pernambuco, Jornal do Commercio, Gazeta Mercantil, Fo-

lha de S.Paulo, revista Continente Multicultural. Obteve

o Prêmio Literário Cidade do Recife (1998). É editor

da Obra poética de Mauro Mota (Recife, Ensol, 2004)

e organizador da Obra completa de Joaquim Cardozo

(Rio de Janeiro, Nova Aguilar, 2009). Na área teatral,

é coautor das peças Auto das portas do céu e Nascimento

da bandeira, de Ronaldo Correia de Brito. Foi tradutor

(português – francês) da coletânea Nantes Recife. Um

olhar transatlântico (2007), na qual também se encon-

tram seus poemas.

Obras do autor: Poemas argelinos (1981) e Poemas

(1999); Nas entrelinhas do mundo (2002); A rua do Padre

Inglês (2006); Retábulo de Jerônimo Bosch (2008).

José Joaquim FARIA NEVES SOBRINHO (1872-

1927)**

Poeta, jornalista, professor, político militante, nasceu

no Recife, a 2 de abril de 1872, e faleceu a 4 de ja-

neiro de 1927, aos 55 anos de idade. Ainda bastan-

te jovem, dedicou-se às letras, cultivando a poesia.

Bacharelou-se em Direito pela Faculdade do Recife

e tomou posse, em 1901, na Academia Pernambuca-

na de Letras. Seu grande biógrafo, o crítico literário

Vamireh Chacon, anota: “É no Faria Neves Sobrinho

poeta que surge sua mais completa imagem, dele que

se iniciara pelos versos de „Chimeras‟ e que termina-

ria os dias publicando outro volume no mesmo gêne-

ro, “Crepúsculo”. Com exceção de „Estatuaria‟, 1903,

Page 583: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

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e „Estrophes‟, 1911, nos seis títulos impessoais muito

ao gosto parnasiano, os demais indicam a tendência,

já referida, à melancolia e mesmo à hipocondria.”

Obras do autor: Quimeras (1890, poemas); O hidrófobo

(1896, contos); Morbus (1898, romance); Estrophes (1911,

poemas); Pôr do sol (1920, poemas); Sol posto (1923, poe-

mas); Crepúsculo (1924, poemas); Poesias (1925); Noite

(1935, poemas); Poesias (1949, obra póstuma).

Conceição de FÁTIMA Felix FERREIRA (1965)*

Poetisa e bacharel em Direito, nasceu em Olinda, no

ano de 1965. Participou ativamente do Movimento

de Escritores Independentes, e foi editora dos jornais

alternativos Americanto e Cântaro. Teve, recentemente,

seus poemas incluídos nas antologias Marginal Recife.

Coletânea poética 2 (2003); Retratos. A poesia feminina

contemporânea em Pernambuco (2004). Inéditos: O

pássaro dourado (teatro); Submundo (teatro); Dinastia

dos perdidos (contos). Todos os seus livros publicados

são de poesia.

Obras da autora: Decomposição (1981); Dedetização.

Dia de festa (1981); Asas de sangue (1982).

FERNANDO Antônio de Barros MONTEIRO

(1949)* **

Ficcionista, poeta, crítico de arte e cineasta, nasceu no

Recife, PE, em 1949. É bacharel em Ciências Sociais

e estudou Cinema em Roma (Itália), no Centro Spe-

rimentale de Cinematografia. Conquistou diversos

prêmios nacionais e internacionais como poeta, ro-

mancista e diretor de filmes documentários (no Mé-

xico, na Alemanha e na Polônia). Produziu e dirigiu

cerca de 15 documentários de curta-metragem (35

mm); todos distinguidos com a Classificação Especial

do Concine, na época, entre os quais: Visão apocalípti-

ca do radinho de pilha (1972), representante do Brasil

no Festival de Guadalajara; Filme de percussão merca-

Page 584: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

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do adentro (1974), representante do Brasil no Festival

de Karlov-Vary (RDA); Saideira (1980), representante

do Brasil no Festival de Varsóvia, Cultura Marginal

Brasileira; Leilão sem pena – Prêmio de Melhor Ro-

teiro no Festival de Cinema de Aracaju (1981), entre

outros. Prêmios literários: O rei póstumo (1975), Prê-

mio Othon Bezerra de Mello da Academia Pernam-

bucana de Letras, em 1976; Brennand (ensaio crítico),

Prêmio Santa Rosa, da Funarte (1987); Ecométrica,

Prêmio Nacional da UBERJ; Aspades, ETs Etc (1997,

romance), considerada a “melhor obra de ficção, em

língua portuguesa”, daquele ano. A cabeça no fundo

do entulho (1998), Prêmio Bravo! De Literatura, em

1999. Armada América (1993), um dos cinco finalistas,

na segunda edição do Prêmio Brasil-Telecom (2004).

O jornal Rascunho, de Curitiba, iniciou, no mês de

julho de 2005, a publicação, em capítulos mensais, do

romance inédito de Fernando Monteiro intitulado O

inglês do Cemitério dos Ingleses. Como crítico de arte, foi

curador de várias galerias, além de apresentador da

“Exposição Francisco Brennand”, na Staatliche Kuns-

thalle, em Berlim (1993). Tem colaborado nas revis-

tas Bravo, Colóquio das Letras (Portugal), Continente

Multicultural, Estudos Universitários (UFPE), Encontro

(GPL - PE), revista Etcetera, de Curitiba; e nos jornais

Diario de Pernambuco e Jornal do Commercio, PE; e O

Tempo, MG. Tem uma coluna fixa (intitulada “Fora de

Sequência”), como articulista, no jornal Rascunho, de

Curitiba, desde o ano de 2000.

Obras do autor: O rei póstumo (1975); Leilão sem pena

(1980); Aspades, ETs Etc (1997, romance); Ecométrica

(1982); A cabeça no fundo do entulho (1998; A múmia do

rosto dourado do Rio de Janeiro (2001, romance); O grau

Graumann (2002, romance); Armada América (2003,

contos), As confissões de Lúcio (2006, romance), O nome

de um hamster (2008, literatura infantil), Vi uma foto de

Anna Akhmátova (2009, poesia).

Page 585: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

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FLÁVIO Ricardo CHAVES Gomes (1958)**

Escritor, poeta, produtor cultural, publicitário e jor-

nalista, é pernambucano de Carpina, filho de José

Gomes Júnior e de Maria de Lourdes Chaves Gomes.

Sua carreira literária foi marcada pelo seu primeiro

livro de poesia, Digitais de um coração, de 1983, ao

qual se seguiriam mais cinco títulos no mesmo gêne-

ro. Criou e executou vários projetos culturais com o

objetivo de difundir e incentivar a arte pernambuca-

na, entre eles, destaca-se a Caminhada Poética Brasi-

leira, por três anos consecutivos, movimento que reu-

niu pelas ruas históricas do Recife os maiores nomes

da poesia nacional. É filiado à União Brasileira de

Escritores (UBE-PE), onde exerceu o cargo de presi-

dente nos biênios 1995-1996, 1997-1998, 1999-2000

e 2001-2002. Em sua gestão, dinamizou as atividades

da UBE, tendo como principais realizações: cons-

trução da sede da Entidade, hoje instalada na rua

de Santana, 202; criação da biblioteca, que já con-

ta com acervo de mais de 4.000 volumes; realização

do I Congresso Nacional de Escritores; promoção de

concursos literários em âmbito local e nacional, entre

outras. Pertence às Academias: de Letras e Artes do

Nordeste Brasileiro; de Artes e Letras de Pernambu-

co, Cadeira nº 34; Recifense de Letras, Cadeira nº 36;

Pernambucana de Letras, Cadeira nº 13. Participou

de várias antologias, entre elas, destacam-se: Álbum

do Recife. 450 anos de Fundação da Cidade do Recife

(1987); Poésie du Brésil, edição bilingue da Vericuetos,

Chemins, Paris, 1997, tendo proferido a palestra “O

tempo e a filosofia da alma no universo da poética”,

na ocasião do lançamento, na Casa da América Lati-

na, Paris, em 1º de janeiro de 1997. Obteve diversos

prêmios, entre eles, destacam-se os concedidos pela

Academia Pernambucana de Letras: Prêmio Nanie de

Siqueira Santos, 1992 e 1994, Prêmio Lira e César,

1998, e o Prêmio de Poesia Cidade do Recife, 1998.

Page 586: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

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Obras do autor: Digitais de um coração (1983); Ofício de

existir (1985); Vocabulário das sombras (1990); Alvoroço

do invisível (1992); Aragem do subterrâneo (1994).; Terri-

tório da lembrança (1999); Memorial da distância (2002);

Canção de vento e mar (2005); Porto dos vitrais (2006).

FRANCISCA IZIDORA GONÇALVES DA ROCHA

(1855-1918)**

Conferencista, poetisa, cronista, romancista e tradu-

tora. Conforme Henrique Capitolino, em Pernambu-

canas illustres (1879), “Nasceu no engenho S. André,

da comarca de Jaboatão. É autora de um drama líri-

co, em três atos, e de duas traduções de Byron, ain-

da não publicados [à época do autor], assim como de

diversas produções em prosa e verso, que muito nos

honram.” Luzilá Gonçalves Ferreira atualiza a biogra-

fia dessa escritora num verbete inserido em Escritoras

brasileiras do século XIX (2000, p. 758-760), onde se re-

gistram dados como a data de seu nascimento, em 24

de janeiro de 1855, e de seu falecimento, na cidade

de Vitória, onde exercia o magistério, em 22 de janei-

ro de 1918. E revela: “Durante anos foi colaboradora

de muitos jornais pernambucanos, entre os quais, o

Phanal (de Jaboatão), o Commercio (do Cabo), A Pro-

víncia, o Diario de Pernambuco (do Recife) e foi uma das

principais redatoras da revista O Lyrio, editada por

senhoras, no Recife, entre os anos de 1902 e 1904.

Foi membro da Officina Litterária Martins Junior, do

Grêmio Jaboatonense Seis de Março, e sócia corres-

pondente da Academia Pernambucana de Letras. A

revista da APL publicou Elnar, seu drama lírico em

três atos. Segundo H. Capitolino, em seu livro Per-

nambucanas ilustres, ela escreveu o drama A filha dos

tupys, e o romance O sítio de Lysandra. O Lyrio come-

çara a editar sua novela Predestinação, dois números

antes de deixar de ser editado. Consta que publicou

também um livro de versos, Açucenas e um volume de

Page 587: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

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textos em prosa, Distrações e lembranças. Tradutora exí-

mia, Francisca Izidora traduziu poemas de Ossian, La

chaumiêre indienne, de B. de Saint-Pierre, poemas de

Byron, inclusive o Matifred, e de Campoamor, entre

outros. Durante anos, manteve no jornal A Victoria, de

propriedade de seu irmão, o deputado Gonçalves da

Rocha, uma coluna de crônicas, „Ao Correr da Pena‟.

[...] Uma fotografia conservada no acervo da Funda-

ção Joaquim Nabuco mostra-nos uma jovem de belos

traços e olhar sonhador.” Artigos vários nos jornais

citados, entre os anos de 1879 e 1918, nas cidades de

Vitória e do Recife.

Obras da autora: Ursula Garcia (1905), folheto publi-

cado e depositado na Seção de Obras Raras da Biblio-

teca Pública Estadual, no Recife).

FRANCISCO ALTINO DE ARAÚJO (1849–)**

Poeta. “Nasceu em Pernambuco em 1949.” É essa a

única referência encontrada sobre o autor, na obra

rara Parnaso brazileiro. Século XVI-XIX (1885), de Mello

Moraes Filho, na secção Biographia Geral (p. 15).

FRANCISCO Austerliano BANDEIRA DE MELLO

(1936)* **

Poeta, contista, advogado e jornalista, nasceu no Reci-

fe, a 24 de abril de 1936. Filho de Francisco José Ban-

deira de Mello (engenheiro) e de Nadir Bandeira de

Mello. Bacharelou-se em Direito pela UFPE. Exerceu

várias funções públicas, tendo sido presidente da Em-

presa Pernambucana de Turismo e, depois, secretário

de Turismo, Cultura e Esportes do Estado de Pernam-

buco, em dois governos consecutivos. Foi colunista po-

lítico e colunista literário em jornais do Recife. Publi-

ca, desde 1991, um artigo semanal no Jornal do Com-

mercio do Recife. Conforme Alberto da Cunha Melo,

“Procurou inteligentemente aliar a ânsia de expressão

à necessidade de comunicação. Tudo isso resultando

Page 588: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

588

numa poesia muito inventiva, equilibrada sobre um

feixe de tensões. Escasso em obras (publicadas), mas

denso em toda a sua produção, é Bandeira de Mello

um dos mais representativos poetas pernambucanos.

Une o desprezo ao meramente ornamental à eficácia

expressiva, e a recusa ao experimento inconsequen-

te e gratuito a uma espécie de dialética morfológico-

sintática (...)”. Participou de várias antologias, entre

elas, A novíssima poesia brasileira (1962); Urbanismo na

literatura (1987); Álbum do Recife (1987); Poésie do Brésil

(1997), edição bilíngue; Poemas de sal e sol. Antologia

de poetas nordestinos e contemporâneos (1999); e Amor nos

trópicos (2000). Recebeu os prêmios de poesia da revis-

ta A Cigarra, RJ, em 1954 e 1955; do Jornal de Letras,

RJ, 1955, e do Estado de Pernambuco, 1955. É presi-

dente do Conselho Deliberativo do Instituto Frei Ca-

neca. Membro da UBE-PE. Em 1998, foi eleito para a

Academia Pernambucana de Letras.

Obras do autor: O pássaro Narciso (1959), Prêmio

de Poesia do Estado de Pernambuco; A máquina de

Orfeu e o Sol amargo (1961); Poemas didáticos (1968);

Convergências. Cadernos de Procura I (1994, crônicas

e ensaios); Através da vidraça. Cadernos de Procura II

(1997, crônicas e ensaios); Livro de sonetos (1999); Baú

de espelhos (2000).

FRANCISCO ESPINHARA [Francisco de Assis Sil-

va] (1960)* **

Poeta, professor de Língua Portuguesa e Literatura

Brasileira, nasceu em 1960 em Arcoverde, e morreu

em 2007, no Recife. É integrante de primeira linha

(década de 80) do Movimento de Escritores Inde-

pendentes de Pernambuco e publicou um livro com o

mesmo nome do movimento, com perfil documental

e histórico, no ano de 2000. Produziu o CD Vários

poemas vários. 25 Poetas contemporâneos (1999), divul-

gando a poesia pernambucana em viva voz. Editou os

Page 589: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

589

jornais alternativos Arrebeat, O Meretriz e edita o Líte-

ro Pessimista. Do Interpoética, www.interpoetica.com,

núcelo virtual de base da sua geração, as informações

pertinentes a sua vivência cultural: “Espinhara, ape-

sar do pessimismo que lhe era peculiar, era afeito a

mobilizações, reuniões e movimentos para edição

e divulgação da arte. Foi o organizador, durante 10

anos do Natal dos Poetas Pernambucanos, festa que

aglutinava toda a cena alternativa do Recife que se

confraternizava em espaços populares, com grandes

recitais e música. Em julho de 2006, lançou o livro

Bacantes, organizado pelo Interpoética, firmando um

etilo próprio de escrever pequenos contos, já inicia-

do no livro Sangue ruim. Junto com Luna, foi o poeta

homenageado do V Festival Recifense de Literatura.

Deixou um acervo inédito de poesia e um livro in-

fantil intitulado A menina e o cururu. Chico Espinhara

era um romântico por natureza, teve musas reais e

imaginárias. Morreu como viveu: poeta, apenas poe-

ta, produzindo e divulgando Poesia”. Participou das

seguintes coletâneas: Revista Arrecifes (1985); Poesia

viva do Recife (1996); Marginal Recife: coletânea poética

I (2001); Pernambuco, terra da poesia (2005).

Obras do autor: Vida transparente (1981); A batalha

pelo poema (1984); Teje preso, seu rapaz! (1987); Dose

dupla (1994); Movimento de escritores independentes de

Pernambuco. 1980/1988 (2000, história). Sangue ruim

(2005); Bacantes (2006); Claros desígnios (2006).

Francisco FERREIRA BARRETO (1790-1851)**

Poeta, pregador e jornalista, nasceu no Recife, PE, em

1790, e faleceu em Vila de Flores, PE, em 25 de feve-

reiro de 1851. Pe. Barreto, como era mais conhecido,

foi ordenado pela Companhia de Jesus. Fez parte da

Assembleia Constituinte e Legislativa do Império. Es-

timulou muitos sacerdotes para o engajamento na Re-

volução de 1917, mas não participou dela. Escreveu

Page 590: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

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o periódico “Relator Verdadeiro” de breve duração.

Esteve algum tempo fora do Brasil, em face de algu-

mas decepções políticas. Conforme Massaud Moisés:

“Sua poesia, formal e tematicamente, pertence ao

Arcadismo, mas traz certas notas como a melancolia,

que prenunciam o Romantismo (...).”

Obras do autor: Obras profanas e religiosas (1874), co-

lecionadas por Antonio Joaquim de Mello, com pre-

fácio crítico.

FREI Joaquim do Amor Divino CANECA (1779-

1825)**

Poeta, historiador, cientista político, gramático, la-

tinista, filósofo, nasceu no Recife em 1779 e morreu

fuzilado, em 1825, quando do malogro da Confedera-

ção do Equador (1824) da qual era um dos principais

líderes. Foi considerado o maior erudito brasileiro do

seu tempo. Tornou-se grande escritor, conhecedor

profundo da Mitologia, da Astronomia e das Ciências

Naturais, polemista e jornalista combatente. Também

cultivou a poesia, ficando seus poemas bastante espar-

sos, entre os quais, notabilizou-se o “Entre Marília e

a Pátria”, transcrito neste painel. Seu nome de batis-

mo era Joaquim do Amor Divino Rabelo. O cognome

“Caneca” se deu porque seu pai Domingos da Silva

Rabelo era fabricante de barris e canecos. Professou

na Ordem do Carmo, no Recife (1796). Editava o

jornal Typhis Pernambucano, o alicerce de sua política

de combate à autocracia de Pedro I. Destacadamente

erudito, seus escritos, cartas, poemas, sermões, obras

didáticas e discursos políticos, foram compilados em

As obras políticas e literárias de Frei Joaquim do Amor Di-

vino Caneca, por Antonio Joaquim de Mello, em dois

volumes (1875-1876). É uma das personalidades mais

marcantes da tradição revolucionária pernambucana.

Obras do autor: A Portugal (1822); Breve gramática por-

tuguesa (1823), escrita no cárcere, na Bahia, para ensi-

Page 591: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

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nar a uma freira; Tratado de Eloquência (1823), em três

partes; Sermão sobre a oração (1823); Sermão na Socieda-

de de Aclamação de D. Pedro de Alcântara (1823); Polêmica

partidária (1823); Cartas de Pítia a Damião (1823); Typhis

Pernambucano (1823-1824, jornal, 28 números).

GERALDINO BRASIL [Geraldo Lopes Ferreira]

(1926-1996)*

Poeta, bacharel em Direito, nasceu no Engenho Boa

Alegria em Atalaia, AL, em 27 de fevereiro de 1926,

mas passou a residir no Recife, PE, em 1951, onde

faleceu. Exerceu o cargo de Procurador Federal da

República. Sua obra é composta apenas do gênero

poético, nunca editou livros em prosa. A seguir, o

verbete redigido pela sua filha Beatriz Brenner, uma

jovem escritora, especialmente para este nosso painel

literário. “Ele é mais conhecido na Colômbia do que

no Brasil. O livro Poemas insólitos e desesperados caiu

nas mãos do poeta colombiano Jaime Jaramillo Esco-

bar que o traduziu e, em 1979, o publicou. Em 1991,

Geraldino escreveu a sua primeira sextina. Um ano

após, pensou ter escrito a última, a de número 52, que

dedicou a Arnaud Daniel, inventor do gênero. Igual

número alcançou o poeta Antonio Agostinho Torti,

da primeira metade do século XVI. Mas Geraldino

não conseguiu parar nas 52. Ele foi bem além. Assim,

tornou-se o maior fazedor de sextinas do mundo e a

sua paixão por essa forma de escrever poema é assim

expressa: “Há duas coisas no mundo que excitam e

levam ao êxtase de um indizível eriçamento, o Amor

e uma Sextina. Como no amor, esse êxtase poderá

multiplicar-se. O tumulto da festa da sextina única

poderá repetir-se às vezes, até à exaustão, como na

amorosa relação.” A exclusiva obra poética de Geral-

dino se traduz como ele mesmo dizia: „A minha poe-

sia é profundamente a vida de cada um de nós.‟ A

preocupação do poeta com o ser humano o fez pedir

Page 592: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

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a Deus, através do poema “Pequeno pedido em noite

de Natal”, um dia propício para morrer. Assim, não

seria o „desmancha-prazeres das quintas e das sextas-

feiras dos casamentos das minhas netas‟; da parada

de 7 de Setembro; das noites dos festejos de São João;

dos amantes dos sábados, as terças de Carnaval. Ge-

raldino saiu pedindo e pedindo. E, finalmente, supli-

ca: „Nem nos dias da ilusão/ do Ano Novo, nas festas

dos congraçamentos, pelo menos/ até Reis. Não gos-

taria que o Ano Novo dos companheiros/ recomeças-

se com mágoas, não por mim seja.‟ Geraldino Brasil

morreu no dia 7 de janeiro no Recife em um domingo

ensolarado. Partiu feliz e grato a Deus por seu pedido

ter sido plenamente atendido.” Neste ano de 2010,

a obra de Geraldino projeta novas luzes no cenário

literário pernambucano com o lançamento dos livros

Antologia Poética, Geraldino Brasil (Prêmio concedido

pelo Sistema de Incentivo à Cultura da Prefeitura do

Recife, organizada por Beatriz Brenner); A intocável

beleza do fogo (publicação concedida pela CEPE).

Obras do autor: Alvorada (1947); Presença da ausência

(1952); Coração (1956); Poemas insólitos e desesperados

(1972); Cidade do não (1979); Sonetos de sol (1979); Poe-

mas (1982), traduzido na Colômbia; Todos os dias, todas

as horas (1972); Bem súbito (1986); Todos os dias, todas as

horas e novos poemas (1989); O fazedor de manhãs (1990);

Não haverá anoitecer (1991); Livro de sextinas (1992); 52

Sextinas (1993); Praça dos namorados (1993); Sextinas

múltiplas (1994); Um soneto de sol para Cézanne (1994);

Rosas no ar (1994); Sextinas de sol (1995); 15 Poemas de

Walt Whitman (s.d.); Poemas desentranhados das prosas de

Dostoiévski, Euclides da Cunha, Guimarães Rosa e Fernan-

do Monteiro (s.d.); Poemas útiles (2003); Poemas de ler sem

tempo (2003); Antologia poética, Geraldino Brasil (2010);

A intocável beleza do fogo (2010).

Page 593: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

593

GILBERTO de Melo FREYRE (1900-1987)**

Cientista social, ensaísta, conferencista, ficcionista,

pintor e poeta, Gilberto Freyre nasceu no Recife, PE,

em 15 de março de 1900, e faleceu nessa capital per-

nambucana em 18 de julho de 1987. Era filho de Al-

fredo Freyre, educador, juiz de Direito e catedrático de

Economia Política na Faculdade de Direito do Recife,

e de Francisca de Mello Freyre. Sua formação iniciou-

se no Colégio Americano Gilreath, no Recife, ao oito

anos de idade, onde conclui, em 1917, o bacharelado

em Ciências e Letras. Viaja para os Estados Unidos

onde conclui o bacharelado em Artes, na Universida-

de de Baylor, em 1920. Em 1922, defende tese para o

grau de M.A. (Magister Artium ou Master of Arts) na

Universidade de Colúmbia intitulada Social life in Bra-

zil in the middle of the 19th Century, publicada em Bal-

timore pela Hispanic American Historical Review. Segue

para a Europa, onde convive com personalidades hoje

celebrizadas do mundo das Artes, e conhece os movi-

mentos de vanguarda: o Expressionismo alemão e o

Imagismo inglês. Retorna ao Brasil em 1923. Organi-

za, em 1925, o livro comemorativo do primeiro cen-

tenário de fundação do Diario de Pernambuco: Livro do

Nordeste, onde foi publicado pela primeira vez o poema

modernista de Manuel Bandeira “Evocação do Reci-

fe”, escrito a seu pedido. Em 1926, lança o “Manifesto

Regionalista”, lido no Primeiro Congresso Brasileiro

de Regionalismo, no Recife, representando, conforme

Gilberto Mendonça Teles (ver Vanguardas europeias e

modernismo brasileiro, 1983, p. 344), o primeiro do gê-

nero. Foi publicado em vários jornais, mas, na íntegra,

só em1952, pela editora Região, no Recife. Em 1948,

o então deputado federal Gilberto Freyre defende em

discurso na Câmara dos Deputados a criação de um

instituto de pesquisas com o nome de Joaquim Na-

buco. A ideia obteve pleno êxito e, em 1949, é criado

o Instituto Joaquim Nabuco, hoje Fundação Joaquim

Page 594: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

594

Nabuco. Foi nessa instituição que um grupo de inte-

lectuais, formado, entre outros, por Alberto da Cunha

Melo, Eugênia Menezes, Jaci Bezerra e Myrian Brin-

deiro, criou a editora alternativa Pirata, pela qual Gil-

berto Freyre publicaria, em 1980, Poesia reunida, sua

mais completa obra poética, onde se incluem poemas

do Talvez poesia (1962) e outros inéditos. Mas o “Mes-

tre de Apipucos”, como carinhosamente se costuma

chamá-lo, por ter fixado residência no bairro de Api-

pucos, no Recife, internacionalizou-se definitivamen-

te, nas páginas das Letras mundiais, com a obra Casa-

grande & senzala: formação da família brasileira sob o regi-

me de economia patriarcal (1933) que, juntamente com

Sobrados e mucambos (1936) e Ordem e progresso (1959),

a consagrada trilogia sobre o patriarcado brasileiro,

redefiniu diversos conceitos sobre a formação da nos-

sa sociedade, conta hoje com numerosas edições em

diversos idiomas. Publicou apenas três livros de poe-

mas: Talvez poesia (1962); Gilberto poeta: algumas con-

fissões (1980); Poesia reunida (1980), e os citamos aqui

para destacá-los das demais obras científicas ou em

prosa de ficção, que constituem a maioria da obra do

autor. O seu biógrafo Edson Nery da Fonseca, estudio-

so e analista da obra gilbertiana, afirma: “Em seus tra-

balhos científicos, Gilberto Freyre nunca se limitou a

descrever ou reproduzir passivamente o conhecimen-

to conquistado em outros saberes. Sempre foi movido

pelo ânimo criador ou recriador do escritor, buscando

a evocação, a sugestão, a alusão e a epifania. [...] o

talento do escritor Gilberto Freyre, implícito em sua

obra ensaística, transitando entre o erotismo, o liris-

mo e o amor pelas formas e cores brasileiras.” Estas e

mais declarações e informações encontram-se no sítio

virtual editado pela Fundação Gilberto Freyre, criada

e administrada pelo seu filho, Fernando Freyre, que

faleceu no Recife, PE, em 2005. Neste ano de 2010,

registram-se os 110 de nascimento de Gilberto Freyre,

Page 595: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

595

e foi ele o escritor homenageado da Festa Literária de

Paraty, quando foi lançada a coletânea Em torno de Joa-

quim Nabuco, pela A Girafa Editora. Trata-se de uma

reunião de seus artigos sobre outro grande nome da

vida brasileira, Joaquim Nabuco. O prefaciador Edson

Nery da Fonseca informa: “como estudioso da socie-

dade patriarcal no Brasil – sua formação, seu apogeu

e sua desintegração – Gilberto Freyre estava prepara-

do como poucos para entender o drama pessoal de

Joaquim Nabuco, adversário da instituição dentro da

qual nascera e fora criado e figura de transição entre a

Monarquia e a República”.

Obras do autor (livros publicados no Brasil): Casa-

grande & senzala: formação da família brasileira sob o

regime de economia patriarcal (1933); Artigos de jor-

nal (1934); Guia prático, histórico e sentimental da cidade

do Recife. Ilustrado por Luís Jardim (1934); Nordeste:

aspectos da influência da cana sobre a vida e a paisa-

gem do nordeste do Brasil (1937); Conferências na Eu-

ropa (1938); Assucar: algumas receitas de doces e bo-

los dos engenhos do Nordeste (1939); Olinda: 2º Guia

prático, histórico e sentimental de cidade brasileira.

Ilustrado por Manuel Bandeira (1939); O mundo que o

português criou: aspectos das relações sociaes e de cul-

tura do Brasil com Portugal e as colônias portuguesas

(1940); Um engenheiro francês no Brasil (1940); Região

e tradição (1941); Ingleses (1942); Problemas brasileiros

de antropologia (1943); Na Bahia em 1943 (1944); Perfil

de Euclydes e outros perfis (1944); Sociologia: introdu-

ção ao estudo dos seus princípios (1945); Interpreta-

ção do Brasil: aspectos da formação social brasileira

como processo de amalgamento de raças e culturas

(1947); Ingleses no Brasil: aspectos da influência bri-

tânica sobre a vida, a paisagem e a cultura do Bra-

sil (1948); Quase política: 9 discursos e 1conferência

mandados publicar por um grupo de amigos (1950);

Aventura e rotina: sugestões de uma viagem a procura

Page 596: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

596

das constantes portuguêsas de caráter e ação (1953);

Ordem e progresso: processo de desintegração das so-

ciedades patriarcal e semipatriarcal no Brasil sob o

regime de trabalho livre, aspectos de um quase meio

século de transição do trabalho escravo para o traba-

lho livre e da monarquia para a república (1959); A

propósito de frades: sugestões em torno da influência de

religiosos de São Francisco e de outras ordens sobre

o desenvolvimento de modernas civilizações cristãs,

especialmente das hispânicas nos trópicos (1959); O

velho Félix e suas “memórias de um Cavalcanti” (1959);

Uma política transnacional de cultura para o Brasil de

hoje (1960); Arte, ciência e trópico: em torno de alguns

problemas de sociologia da arte (1962); Talvez poesia

(1962); Vida, forma e cor (1962); O escravo nos anúncios

de jornais brasileiros do século XIX: tentativa de interpre-

tação antropológica, através de anúncios de jornais,

de característicos de personalidade e de deformações

de corpo de negros ou mestiços, fugidos ou expostos

à venda, como escravos, no Brasil do século passado

(1963); Dona Sinhá e o filho padre: seminovela (1964);

Retalhos de jornais velhos (1964); Vida social no Brasil nos

meados do século XIX (1964); 6 Conferências em busca de

um leitor (1965); O Recife, sim! Recife, não! (1967); Bra-

sis, Brasil e Brasília: sugestões em torno de problemas

brasileiros de unidade e diversidade e das relações

de alguns deles com problemas gerais de pluralismo

étnico e cultural (1968); Como e porque sou e não sou so-

ciólogo (1968); Oliveira Lima, Don Quixote gordo (1968);

Nós e a Europa germânica: em torno de alguns aspec-

tos das relações do Brasil com a cultura germânica

no decorrer do século XIX (1971); Novo mundo nos

trópicos (1971); Seleta para jovens (1971); A condição hu-

mana e outros temas (1972); Além do apenas moderno: su-

gestões em torno de possíveis futuros do homem, em

geral, e do homem brasileiro, em particular (1973);

O brasileiro entre os outros hispanos: afinidades e possí-

Page 597: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

597

veis futuros nas suas interrelações (1975); A presença

do açúcar na formação brasileira (1975); Tempo morto e

outros tempos: trechos de um diário de adolescência e

primeira mocidade, 1915-1930 (1975); Obra escolhida:

Casa-grande & senzala, Nordeste e Novo mundo nos

trópicos (1977); O outro amor do Dr. Paulo: seminovela,

continuação de Dona Sinhá e o filho padre (1977);

Alhos e bugalhos: ensaios sobre temas contraditórios,

de Joyce a cachaça (1978); Arte & Ferro: em torno de

portões, varandas e grades do Recife Velho (1978);

Cartas do próprio punho sobre pessoas e coisas do Brasil e do

estrangeiro (1978); Contribuição para uma sociologia da

biografia: o exemplo de Luís de Albuquerque, gover-

nador de Mato Grosso, no fim do século XVII (1978);

Prefácios desgarrados (1978); Heróis e vilões no romance

brasileiro: em torno das projeções de tipos socioantro-

pológicos em personagens de romances nacionais do

século XIX e do atual (1979); Oh de casa! Em torno da

casa brasileira e de sua projeção sobre um tipo nacional de

homem (1979); Pessoas, coisas & animais (1979); Tempo

de aprendiz: artigos publicados em jornais na adoles-

cência e na primeira mocidade do autor, 1918 a 1926

(1979); Gilberto poeta: algumas confissões (1980); Poe-

sia reunida (1980); Casa-grande & senzala em quadrinhos

(1981) Desenhos (1981); Rurbanização: que é? (1982);

Apipucos: que há num nome? (1983); Médicos, doentes

e contextos sociais: uma abordagem sociológica (1983);

Homens, engenharias e rumos sociais: em torno das rela-

ções entre homens de hoje, sobretudo os brasileiros,

e as três engenharias indispensáveis a políticas de de-

senvolvimento e segurança, por um lado, e por outro

lado, a ajustamentos a espaços e a tempos, a enge-

nharia física, a humana e a social, considerando-se,

inclusive, o desafio, a essas engenharias, das selvas do

Brasil, em particular, das amazônicas (1987); Modos

de homem & modas de mulher (1987); Ferro e civilização

no Brasil (1988); Bahia e baianos (1990); Discursos par-

Page 598: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

598

lamentares (1994); Novas conferências em busca de leitores

(1995); Antecipações (2001); Casa-grande & senzala: for-

mação da família brasileira sob o regime de economia

patriarcal (2002), edição crítica; Americanidade e latini-

dade da América Latina e outros temas afins (2003); China

tropical e outros escritos sobre a influência do Oriente na

cultura luso-tropical (2003); Palavras repatriadas (2003);

Três histórias mais ou menos inventadas (2003). Em torno

de Joaquim Nabuco (2010).

GLADSTONE VIEIRA BELO (1946)* **

Escritor, jornalista e poeta, Gladstone Vieira Belo

nasceu em Bom Conselho, PE, residiu por dez anos

em Garanhuns, realizando nessa cidade as suas pri-

meiras experiências no campo da literatura. É vice-

presidente do Diario de Pernambuco, onde exerceu ini-

cialmente as funções de repórter e colunista literário,

a partir de 1967. Antes dessa data, ele já colaborava

no seu Suplemento Literário, editado pelo poeta Cé-

sar Leal. Era notado aí pelos seus textos de crítica

literária. Com os estímulos de César Leal, surge, nas

páginas do Diario, um grupo de novíssimos escritores,

base do que Tadeu Rocha denominou de Geração 65.

Gladstone foi ativo integrante dessa Geração, con-

vivendo com Jaci Bezerra, Alberto da Cunha Melo,

Ângelo Monteiro, Marco Polo Guimarães, Sérgio

Moacir de Albuquerque, Laércio Vasconcelos, Rai-

mundo Carrero, Maximiano Campos, Marcus Pra-

do, Tarcísio Meira César, Arnaldo Tobias, Cláudio

Aguiar, José Mário Rodrigues, Marcus Accioly, José

Carlos Targino, Almir Castro Barros, entre outros jo-

vens autores que começavam a marcar presença na

vida intelectual da província. Alguns desses poetas e

romancistas habitualmente frequentavam, para tertú-

lias, o extinto bar Savoy, celebrizado por Carlos Pena

Filho, num poema em que se refere, através de versos

antológicos, ao outrora concorrido botequim da Ave-

Page 599: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

599

nida Guararapes. Publicou livro de poemas quando

ainda morava em Garanhuns, A face despida, com pre-

fácio de Erasmo Vilela. Seu nome está entre os poe-

tas participantes da Lírica (1967), histórica coletânea

lançada no Recife por Eloi-Editor. Exerceu também

o cargo de assessor de imprensa do antigo Institu-

to Joaquim Nabuco de Pesquisas Sociais, na época

em que Mauro Mota dirigia aquele órgão, posterior-

mente transformado em Fundação. É hoje um dos

membros da diretoria da Sociedade Eça de Queiroz,

presidida pelo escritor Dagoberto Carvalho Junior.

Faz parte do Condomínio Acionário dos Diários e

Emissoras Associados, instituído pelo jornalista Assis

Chateaubriand, tendo viajado, em missão jornalísti-

ca, aos Estados Unidos, Inglaterra, França, Venezuela

e Portugal, acompanhando, em várias idas a Lisboa,

o desenrolar do processo revolucionário que eclodiu

em abril de 1974.

Obra do autor: A face despida (1965).

HELDER CAMARA [Dom] (1909-1999)

Sacerdote, escritor, poeta, Dom Helder Camara nas-

ceu em Fortaleza, CE, em 7 de fevereiro de 1909, dé-

cimo primeiro filho de João Câmara Filho, guarda-

livros de um firma comercial, e de Adelaide Pessoa

Câmara, professora primária. Em 1923, ingressa num

seminário da sua cidade natal e é ordenado sacerdote

aos 22 anos, no dia 15 de agosto de 1931. Nomeado

em março, toma posse como Arcebispo de Olinda e

Recife em 12 de abril de 1964, estabelecendo no Re-

cife claro foco de resistência ao golpe militar, pela sua

visão social. Faleceu no Recife, PE, em 27 de agosto

de 1999. Obteve 31 títulos de Doctor Honoris Cau-

sa, o primeiro, em 1969, pela Universidade de Saint

Louis, USA, e o último, em 1991, pela Pontifícia Uni-

versidade Católica do Rio de Janeiro. Dom Helder

não tem publicados livros exclusivamente de poesia,

Page 600: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

600

os poemas são encontrados em meio a suas medita-

ções em prosa. Sua obra foi traduzida para inúmeros

idiomas e sobre ele existem mais de 352 títulos publi-

cados em vários países.

Obras do autor: Revolução dentro da paz (1968); Um

olhar sobre a cidade (1976); Mil razões para viver (1978);

Nossa Senhora no meu caminho (1981); Em tuas mãos, Se-

nhor (1986); Quem não precisa de conversão? (1987); Uto-

pias peregrinas (1993); Palavras e reflexões (1995); Rosas

para meu Deus (1996); Família, missão de amor (1996).

HOMERO DO RÊGO BARROS (1919)* **

Poeta e funcionário público, nasceu em Olinda, PE, a

4 de outubro de 1919. Dedicou-se à poesia e começou

a publicar seus poemas em 1948, totalizando 18 obras,

entre livros e opúsculos. Sempre bem acolhido pela

crítica literária, muitos intelectuais já se pronunciaram

sobre ele, a exemplo de Célio Meira, Austro Costa,

Amaro Wanderley, Carlyle Martins e Inocêncio Can-

delária, este de Mogi das Cruzes, São Paulo. Seu livro,

Fragmentos, foi premiado pela Academia Pernambuca-

na de Letras, em 1957. É filiado à UBE-PE, à Associa-

ção da Imprensa de Pernambuco (AIP); à Academia

Petropolitana de Poesia; à Academia de Artes, Ciên-

cia e Letras Castro Alves (Porto Alegre); à Associação

dos Poetas e Artistas Populares do Nordeste (Olinda),

à Ordem Brasileira dos Poetas da Literatura de Cordel

(Salvador) e ao Clube Baiano de Trovas (CBT). O poe-

ta também cultivou a poesia popular, tendo publicado

uma centena de cordéis de variados temas.

Obras do autor: Estreia (1948); Vozes d’alma (1951);

Caminho estrelado (1954); Rastros de luz (1956); Frag-

mentos (1957); Ritmos íntimos (1958); Elogio às ciências,

letras, artes e profissões (1963, opúsculo); Sob a luz da

inspiração (1968); Temas em trovas (1974, opúsculo); De

parceria com Deus (1979); Caminhos percorridos (1983,

autobiografia em versos populares); Cantos pernam-

Page 601: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

601

bucanos (1987); Mensagens para um mundo em conflito

(1986); Nova colheita de trovas (1987); Nas asas do tempo

(1989); Gilberto Freyre, agora e sempre (1987); Caderno

de pensamentos (1990, prosa); Seleções poéticas (1991).

ISAC SANTOS (1962)*

Jornalista, publicitário, poeta e sindicalista, nasceu

no Piauí, em 9 de dezembro de 1962, e passou a resi-

dir no Recife, PE, em 1979. Figura atuante do mun-

do cultural pernambucano, Isac tem inéditos vários

livros de poesia.

Obra do autor: Entre uma tarde e outra (1996).

IVAN MARINHO de Barros Filho (1965)*

Professor, poeta e artista plástico, nasceu em Ma-

ceió, AL, em 1965. Chegou à capital pernambucana

em 1981 e radicou-se no Cabo de Santo Agostinho,

Região Metropolitana do Recife. Hoje, é cidadão ho-

norário e membro da Academia Cabense de Letras

(Cabo de Stº Agostinho) e representante de literatura

no Conselho de Pontos de Cultura de Pernambuco. In-

gressou no curso de Educação Física na UFPE com 16

anos, de onde, por seus poemas satíricos, foi suspen-

so, ainda na ditadura militar. Manteve-se engajado na

militância política e literária participando de recitais

junto ao Diretório Central dos Estudantes. Especiali-

zou-se em Economia da Cultura pela UFRGS. Criou

o Encontro Celina de Holanda de Poetas Recitadores

e o Encontro Pernambucano de Coco quando diretor

do Departamento de Cultura do Cabo (1998/2000);

coordenou o Recitata – Concurso de Poesia Oral

(2006-2009) – participa do CD Vários poemas vários,

25 Poetas Contemporâneos (1965-1999). Criou a re-

vista O Poeteiro (1998) e foi um de seus editores. Está

inserido nas coletâneas Poesias e prosas de uma terra de

500 anos (1999); Marginal Recife (2003), e foi selecio-

nado para outras: Solano Trindade do Sintepe (2009)

Page 602: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

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e Amigos do Livro Scortecci/Flipoços (2010). Foi ven-

cedor do Festival Jaci Bezerra de Poesia do Centro de

Estudo Superiores de Maceió (2007) e obteve Menção

Honrosa no Prêmio Bandepe – Valor Pernambucano.

Seu livro Anti-horário (2000) – prefácio de Alberto da

Cunha Melo e posfácio de Erickson Luna foi Prêmio

revelação no Festival Nacional de Arte Alternativa

(1993). Dono de uma linguagem clara, rara e de uma

ironia inteligente, acrescentou às informações que

enviou para esta coletânea: “Mais profícuo na vida

que nas artes, é pai de Ivan, Gabriela, Ruan, Gabriel,

Rafael e aguarda o nascimento de Luíza ou Miguel”.

Obra do autor: Anti-horário (2000).

IVANILDO VILA NOVA (1945)**

Poeta repentista, nasceu em Caruaru, PE, em 1945,

filho do poeta-repentista José Faustino Vilanova. Co-

meçou a cantar aos 12 anos de idade, tendo o seu pai

como grande mestre e companheiro de dupla de 1957

a 1964. Sua formação literária foi favorecida por ter

sido, durante alguns anos, proprietário de uma banca

de revistas. É conhecido como um dos mais bem infor-

mados dentre os violeiros repentistas. Já participou de

180 congressos, torneios, festivais, conseguindo 150

primeiros lugares em dupla e participação individual.

Fez várias gravações, mas sua projeção nacional, no

entanto, deve-se muito à composição “Nordeste in-

dependente” gravada pela cantora Elba Ramalho. É

autor de vários folhetos, entre eles, Missa do vaqueiro e

Futebol através dos tempos e história da guerra.

José JACI de Lima BEZERRA (1944)

Poeta, ficcionista, dramaturgo e sociólogo, nasceu no

município de Murici, Alagoas, em 1944. Reside no

Recife desde 1959. Faz parte da Geração 65 de es-

critores pernambucanos, desde as suas nascentes, o

Grupo de Jaboatão, conforme diz o historiador Tadeu

Page 603: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

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Rocha. Graduou-se em Ciências Sociais pela Univer-

sidade Federal de Pernambuco. Publicou os seus pri-

meiros poemas no Diario de Pernambuco, em 1966, por

intermédio do poeta e crítico César Leal. Foi um dos

líderes do grupo que criou as Edições Pirata. A peça

teatral, O galo, faz parte da Coleção Prêmios, do XIII

Concurso Nacional de Dramaturgia 81/82, do Minis-

tério da Cultura/Instituto Nacional de Artes Cênicas,

RJ. Organizou as antologias Álbum do Recife, poesias e

artes plásticas, com Sylvia Pontual (Recife, Prefeitura

da Cidade do Recife, 1987), e o Livro dos repentes. Con-

gressos de Cantadores do Recife (Fundação do Patrimônio

Histórico e Artístico de Pernambuco, 1990).

Obras do autor: Romances. Poesia. (1968); Lavradouro

(1973); A onda construída (1973); Inventário do fundo do

poço (1979); Os pastos da minha lembrança (1980, contos);

Signo de estrelas (1981); Emílío Madeira, o Galo (1982, no-

vela); Livro de Olinda (1982); Auto da renovação (1983, tea-

tro); Livro das incandescências (1985); O galo (1982, tea-

tro); Comarca da memória (1994); Linha d’água (2007).

JAIRO LIMA (1945)**

Publicitário, dramaturgo, poeta, nasceu no municí-

pio de Arcoverde, PE, em 2 de julho de 1945. Como

dramaturgo, teve peças montadas em todo o país, a

exemplo de Lampião no inferno, que estreou no Rio

de Janeiro, no Teatro Miguel Lemos, em 1997. Prin-

cipais premiações: Prêmio Recife de Humanidades,

Prêmio Hermilo Borba Filho e Prêmio do Serviço Na-

cional de Teatro.

Obras do autor: Canção de fogo (1977, teatro); Ilustrís-

simos senhores (1979, teatro); Livro das árias e das horas;

Pequeno livro das nuvens (2000).

JANICE Silva JAPIASSU (1939)*

Poetisa e técnica em educação, nasceu em Monteiro,

PB, em 23 de agosto de 1939, filha de João Rafael Ja-

Page 604: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

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piassu e Jacira Silva Japiassu, mas reside neste Estado

desde 1941. Faz parte da Geração 65 de escritores

pernambucanos e participou de várias antologias. Na

mais recente, Retratos. A poesia feminina contemporânea

em Pernambuco (2004) informa: “Atualmente escrevo

poemas, faço ilustrações e edito meus próprios poe-

mas”. Sobre ela, Ariano Suassuna pronuncia-se assim:

“Sinto-me de tal modo identificado com ela, que, fa-

lar sobre o seu trabalho criador em Poesia é quase

como falar sobre o meu. Já cheguei a dizer-lhe um

dia, afetuosamente, meio sério e meio brincando, que

o que ela tinha feito era me liquidar como Poeta. Ela

está realizando, de tal forma, a Poesia com que eu

sonhava, que excedeu meus sonhos e eu nada mais

tenho a dizer nesse campo.” [ver Antologia didática de

poetas pernambucanos, vol. 1, 1988, p. 167]. Janice tem

inéditos: O dardo e pasto; As andanças do divino. Partici-

pa da Estação Recife. Coletânea poética 1 (2003).

Obras da autora: Canto amargo (1970); Sete cadernos

de amor e de guerra (1970); As veredas da alegria (1970);

As quatro estações da lua nova (1985); O circo dos astros

(1995); Com todas as letras (1997); Tarô (2000); A paixão

segundo Madalena (2001); ContraCanto (2001).

JOANNA TIBURTINA DA SILVA LINS (1860-

1905)**

Poetisa e professora primária, não há data precisa em

relação ao seu nascimento, mas o jornal A Província,

de 10 de fevereiro de 1906, registra o primeiro ani-

versário do seu falecimento. É citada pelo biógrafo

Henrique Capitolino Pereira de Mello, na obra rara,

Pernambucanas illustres (Recife: Typographia Mercan-

til, 1879, 182 p.), depositada na Biblioteca Pública

do Estado de Pernambuco, uma referência obrigató-

ria para pesquisadores que queiram levar adiante as

pesquisas sobre essa escritora. As informações encon-

tradas no volume com caráter mais objetivo: “nasceu

Page 605: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

605

em Pernambuco, filha de um pobre e honrado artista

(...). Dotada pela natureza de inteligência, de imagi-

nação e de sentimentalismo, (...) quase sempre se nota

em suas poesias uma queixa contra o impossível que

lhe privava de cultivar os gênios, contra a sorte que a

obrigava a permanecer em uma esfera, bem diferente

da que desejara. Para prova do que dissemos, leiamos

a seguinte poesia, que intitulou – “Meus Sonhos” –

nome que deu a um belíssimo volume de versos, pu-

blicado em 1870. É ela dedicada a seu pai”. Colaborou

no jornal recifense Madressilva, entre os anos de 1869

a 1870, onde foi editado seu livro de poemas, Meus

sonhos, ao qual se refere Henrique Capitolino Pereira.

Obra da autora: Meus sonhos (1870).

JOÃO CABRAL DE MELO NETO (1920-1999)**

Poeta e diplomata, nasceu no Recife, PE, em 6 de ja-

neiro de 1920, e faleceu no Rio de Janeiro, em 12 de

outubro de 1999. Filho de Luiz Cabral de Melo e de

Carmem Carneiro Leão Cabral de Melo, ambos de

tradicionais famílias pernambucanas. Viveu a infân-

cia em engenhos de cana-de-açúcar até 1930, quando

passa a residir no Recife. Em 1943, foi nomeado por

concurso público para o DASP. No corpo diplomáti-

co, exerceu funções na Espanha, Inglaterra, França

e Senegal. Em 1968, foi eleito membro da Academia

Brasileira de Letras e tomou posse em 6 de maio de

1969. Costumam incluí-lo na Geração 45, mas dela se

destaca por uma poética especial, fundada na depu-

ração do verso, na concisão e na precisão da lingua-

gem, em uma nítida desmistificação da linguagem

poética e de seus temas, introduzindo a crítica social,

mas sem concessões ao sentimentalismo; assim, em

Morte vida severina, em O cão sem plumas, por exem-

plo, quando da abordagem da vida do homem das

camadas populares do Nordeste e de suas paisagens.

João Cabral de Melo Neto tem seu nome incrustado,

Page 606: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

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definitivamente, nas páginas da literatura brasileira.

Obras do autor: Poesia: Considerações sobre o poeta dor-

mindo (1941, prosa); Pedra do sono (1942); Os três mala-

mados (1943); O engenheiro (1945); Psicologia da compo-

sição com a fábula de Anfion e Antiode (1947); O cão sem

plumas (1950); Juan Miró (1952, prosa); A Geração de

45 (1952, depoimento); Poemas reunidos (1954); O Rio

ou Relação da viagem que faz o Capibaribe de sua nascente

à cidade do Recife (1954); Pregão turístico (1955); Poesia

e composição / A inspiração e o trabalho de arte (1956,

prosa); Duas águas (1956); Da função moderna da poesia

(1957); Aniki Bobó (1958); Quaderna (1960); Dois par-

lamentos (1961); Terceira feira (1961); Poemas escolhidos

(1963); Antologia poética (1965); Morte e vida severi-

na (1965); Morte e vida severina e outros poemas em voz

alta (1966); A educação pela pedra (1966); Funeral de um

lavrador (1967); Poesias completas 1940-1965 (1968);

Museu de tudo (1975); A escola das facas (1980); Poesia

crítica (1982, antologia); Auto do frade (1983); Agrestes

(1985); Poesia completa (1986); Crime na Calle Relator

(1987); Museu de tudo e depois (1988); Sevilha andando

(1989); Primeiros poemas (1990); J.C.M.N.: os melhores

poemas (1994, org. Antonio Carlos Secchin); Obra com-

pleta (1995, organizada por Marly de Oliveira); Entre

o sertão e Sevilha (1997); Serial e antes (1997); A educa-

ção pela pedra e depois (1997); Prosa (1998).

JOÃO NEPOMUCENO DA SILVA PORTELLA

(1766-1810)**

Poeta, citado pelo biógrafo Antônio Joaquim de Mello,

na obra rara, Biografias de alguns poetas, e homens ilustres

da província de Pernambuco (Recife, Typographia Uni-

versal, 1856, p. 5-19), depositada na Biblioteca Públi-

ca do Estado de Pernambuco, uma referência obriga-

tória para pesquisadores que queiram levar adiante

os estudos sobre esse escritor. São estas as informa-

ções mais objetivas encontradas no volume: “(...) nas-

Page 607: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

607

ceu na cidade do Recife, em 1756 e foram seus pais

Antonio da Silva Portella, e sua mulher D. Manoela

do Rosário. (...). Sentou pra voluntário de soldado no

Regimento de Infantaria da cidade de Olinda, em 18

de julho de 1782, declarando ter 16 anos). Faleceu

em 19 de maio de 1810, atuando como funcionário

na Secretária do Governo, no expediente das ordens,

e detalhes do serviço militar. Era João Nepomuceno

da Silva Portella, de pequena estatura, e seco, mais

alvo que moreno, vivo e expressivo em seus discursos,

e movimentos; homem de costumes irrepreensíveis,

querido, e respeitado geralmente. As Musas lhe em-

balaram o berço, mas infelizmente as suas numerosas

poesias, entre as quais alguns dramas, e elogios exce-

lentes, todas se perderam. Só podemos recolher há

muitos anos os seguintes versos à Santa Bárbara, que

lhe pediram para serem cantados, como o foram, em

uma novena na Igreja de São Pedro.”

JOAQUIM Maria Moreira CARDOZO (1897-

1978)**

Poeta, tradutor, crítico de arte, e engenheiro, nasceu

no Recife, PE, em 1897, e faleceu em Olinda, PE, em

1978. Antes mesmo de se formar em engenharia civil,

em 1930, pela Faculdade de Engenharia do Recife,

colaborava com a Revista do Norte, daquela cidade, e

suplementos literários da época. Manuel Bandeira,

em 1946, organizou a Antologia de poetas brasileiros bis-

sextos contemporâneos, da qual constaram oito poemas

de Cardozo. Seu primeiro livro, Poemas, publicado em

1947 por iniciativa de João Cabral de Melo Neto, con-

tém toda a sua obra desde 1925. Calculista do arquite-

to Oscar Niemeyer, participou da construção de Brasí-

lia, além de outras obras de grande porte no país, sem

que isso o afastasse da literatura, onde continuou atu-

ando como tradutor e crítico de arte. Ocupou a Cadei-

ra nº 39, da Academia Pernambucana de Letras.

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Obras do autor: Prelúdio e elegia de uma despedida

(1952); De uma noite de festa (1971); Poesias completas

(1971); Os anjos e os demônios de Deus (1973); Antônio

Conselheiro (1975); Um livro aceso e nove canções sombrias

(1981); Obra completa (2009).

JOB PATRIOTA de Lima (1929-1992)* **

Poeta repentista, nasceu em Umburanas, Município

de São José do Egito, hoje Itapetim, PE, no dia 10

de setembro de 1929, e faleceu em 1992. Filho de

Giminiano Joaquim de Lima e de Rita Neves da Sil-

va. Começou a improvisar em 1950 e fez sua primei-

ra cantoria com José Soares do Nascimento; depois,

com José Vicente da Paraíba, Elísio Félix e outros. Jó

é conhecido como um poeta lírico a exemplo de Do-

mingos Fonseca do Piauí, Canhotinho da Paraíba e

Manoel Xudu. Fez apresentações nas principais cida-

des do Brasil, tais como São Paulo, Rio de Janeiro,

Brasília e Porto Alegre. O poeta foi casado com Das

Neves, a filha mais nova do grande poeta Antônio

Marinho. Pertenceu à União Brasileira de Escritores

– secção de Pernambuco (UBE-PE). Conviveu inten-

samente com poetas, principalmente da Geração 65,

artistas e intelectuais pernambucanos. A reportagem

biográfica, Um certo Jó (2002), de Alberto da Cunha

Melo, dá conta de uma das personalidades mais ter-

nas e queridas da poesia pernambucana. A publica-

ção de Na senda do lirismo, seu único livro, deve-se à

Imprensa Universitária da UFRPE.

Obra do autor: Na senda do lirismo (s.d.).

JORGE WANDERLEY (1938-1999)**

Médico, poeta, tradutor, professor de literatura, nas-

ceu em 1938, no Recife, e faleceu nessa mesma ca-

pital, em 1999. Nunca abandonou a neurocirurgia,

mesmo depois do doutorado em Letras concluído no

Rio de Janeiro. Foi professor adjunto de Literatura

Page 609: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

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Brasileira na DERJ, e traduziu na íntegra os Sonetos,

O rei Lear e, para a montagem de Àmir Haddad, em

1997, Noite de reis, de Shakespeare. Publicou também

tradução integral da Lírica, de Dante. Entre os textos

de tradução de poesia publicados, há duas antologias

de poesia de língua inglesa, poemas de Lawrence

Durrell e Jorge Luís Borges. Por muito tempo, fez do

Rio de Janeiro seu domicílio literário, o que o fez ser

incluído na antologia 41 Poetas do Rio (1998), orga-

nizada por Moacyr Félix. Mas foi no Recife, quando

vinculado ao grupo O Gráfico Amador, que estreou

com o livro, Gesta e outros poemas, em 1960, e, a seguir,

publicou Adiamentos, em 1970, pela UFPE.

Obras do autor: Gesta e outros poemas (1960); Adiamen-

tos (1974); A casa navega (1975); Coração à parte (1979);

Mesa/musa (1980-1985); A foto fatal e poemas anteriores

(1986); Anjo novo (1987); Homenagem (1992); Manias

de agora (1995); Antologia poética (2001).

JOSÉ ALMINO de Alencar e Silva Neto (1946)* **

Poeta, tradudor, sociólogo e escritor, nasceu no Recife,

PE, em 1946. É graduado (license e maitrise) pela Facul-

té des Lettres et Sciences Humaines de Nanterre, Uni-

versité de Paris, França, “Master of Arts” em Economia

pela Vanderbilt University e Ph.D em Sociologia, pela

University of Chicago, com a tese “The Emergence of

Controlled Immigration in France”. Durante sete anos,

foi “economic affairs officer” do Secretariado da Or-

ganização das Nações Unidas (Nova York, EEUU). De

volta ao Brasil, ocupou, de 1985 a 1989, cargo de secre-

tário-geral adjunto do Ministério de Ciência e Tecno-

logia e de secretário de Assistência Social do Ministério

da Previdência e Assistência Social. Integrou a equipe

do Laboratório Nacional de Computação Científica de

1985 a 1995, quando publicou vários trabalhos cientí-

ficos, e passou a dirigir, até 1999, o Centro de Pesqui-

sas da Fundação Casa de Rui Barbosa. Em janeiro de

Page 610: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

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2003, foi nomeado presidente da Casa. É membro do

Conselho Consultivo do projeto “Poetas na Biblioteca”,

do Memorial da América Latina. Vem colaborando no

teatro e no cinema. Para o teatro, ele traduziu Le bour-

geois gentilhomme and l’impromptu de Versailles, de Molière,

Closer, de Patrick Marber, Who’s afraid of Virginia Woolf?,

de Edward Albee, e Wit, peça de Margaret Edson, sen-

do que as duas últimas lhe valeram o Prêmio IBEU de

Teatro para a categoria tradutor relativo à temporada

teatral carioca de 2000. Suas mais recentes traduções

para o teatro, Doll’s house, de Ibsen, The proof, de David

Auburn, I love you, you’re perfect, now change!, de Joe Di

Pietro (texto e letras) e Jimmy Roberts (música), estrea-

das em 2002, e Noises off, de Michael Frayn, em 2003.

Compôs, com Caetano Veloso, a música-tema da peça

Lisbela e o prisioneiro, dirigida por Guel Arraes. Para o

cinema, colaborou na adaptação de Bella Donna, diri-

gido por Fábio Barreto. Desde 1985, vem colaborando

com artigos, contos e poemas nos principais jornais e

revistas do país; publicou três livros de poesia, o pri-

meiro, no Recife: De viva voz (1982); Maneira de dizer

(1991); em São Paulo, indicado para o prêmio Jabuti

1991, Bolsa Vitae de Literatura 1992, e o terceiro, A

estrela fria, foi publicado pela Companhia das Letras,

neste ano de 2010. Em colaboração com Ana Pessoa,

publicou o estudo Meu caro Rui, meu caro Nabuco (1999).

Em 2002, organizou Melhores poemas de Ribeiro Couto.

Traduziu Os pecados dos pais, de Lawrence Block (2002),

e publicou, com Ana Pessoa, Joaquim Nabuco: o dever

da política (2002).

Obras do autor: De viva voz (1982); Maneira de dizer

(1991); O motor da luz (1994, novela); O Baixo Gávea,

diário de um morador (1996, novela), A estrela fria (2010).

JOSÉ CARLOS TARGINO (1943)**

Poeta e professor universitário, nasceu em Vitória de

Santo Antão, PE, em 1943, faz parte do Grupo de

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Jaboatão que, conforme o historiador Tadeu Rocha,

representou o impulso definitivo para a formação da

Geração 65 de escritores pernambucanos. Seu primei-

ro livro, Lírica, foi publicado em 1968, por Elói Editor.

Participou de várias antologias, a mais recente, 46 Poe-

tas, sempre (2002), organizada por Almir Castro Barros,

também poeta dessa Geração. Mais recentemente, or-

ganizou, como Everardo Norões e Pedro Américo de

Farias, a Estação Recife. Coletânea poética 1 (2003).

Obras do autor: Lírica (1968); Sortilégios (1973); Êx-

tase (1983).

JOSÉ MÁRIO RODRIGUES (1947)* **

Poeta, advogado e jornalista, nasceu na cidade de

Flores, PE, em 23 de julho de 1947. Filho de José Ben

Rodrigues (comerciante) e de Noemia de Queiroz Ro-

drigues (funcionária pública). Faz parte da Geração

65 de escritores pernambucanos. Sobre o livro Moti-

vos (1975), assim se pronuncionou Joaquim Cardozo:

“A poesia de José Mário Rodrigues dá a impressão de

um jogo de laços topológicos; nela existe o conteú-

do de formas verbais que se entrelaçam, que se ade-

quam. Daí se chega à desnecessidade de símiles, de

imagens, de metáforas, e outras figuras de linguística

retórica”. José Mário Rodrigues criou, com alguns ar-

tistas recifenses, o Grupo de Poesia Falada do Recife,

que divulgou durante alguns anos a produção poética

brasileira e pernambucana, através de encenação de

poemas. Dedicou-se também ao magistério e à im-

prensa. Lecionou na Faculdade de Direito de Carua-

ru, PE, foi diretor-cultural da Associação de Imprensa

de Pernambuco, redator do Suplemento Cultural do

Jornal do Commercio e colunista do suplemento cultu-

ral do Diário Oficial do Estado de Pernambuco. Parti-

cipou de inúmeras coletâneas, entre as mais recentes:

Estação Recife, coletânea poética III (2004); Pernambu-

co, terra da poesia (2005).

Page 612: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

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Obras do autor: A estação dos ventos (1973); Os moti-

vos (1975); Declaração da eterna brevidade (1979); Para

exorcizar a ilusão (1979); Respiração do absoluto ou Ar da

solidão (1983); O eterno de todo dia (1987); Os motivos da

eterna brevidade (1990); Trem de nuvens (1997); As réde-

as da solidão (1993); Alicerces de ventania (2003).

JOSÉ RODRIGUES DE PAIVA (1945)

Poeta, contista, ensaísta, professor universitário, nas-

ceu em Coimbra, Portugal, em 30 de outubro de

1945, mas se estabeleceu no Estado de Pernambuco

a partir de 1951. É diplomado em Direito (1969) e

mestre em Teoria da Literatura (1981). Fez do Recife

seu domicílio literário e faz parte da Geração 65 de

escritores pernambucanos. É professor de Literatura

Portuguesa da Universidade Federal de Pernambuco

e publicou diversos ensaios sobre autores portugueses

e brasileiros. Foi diretor da revista, Estudos Portugueses,

editada pela Associação de Estudos Portugueses Jor-

dão Emerenciano.

Obras do autor: Três noites no sobrado (1969, conto); O

círculo do tempo (1972); Memórias do navegante (1972);

Poesia portuguesa contemporânea (1978, ensaio); Vozes da

infância (1979); Os frutos do silêncio (1980); Mudança:

romance-limite (1981, tese); Eros no verão (1983).

JUHAREIZ Barbosa CORREYA (1951)**

Poeta e editor, nasceu em Palmares, PE, a 19 de se-

tembro de 1951. No biênio 1970-1971, foi redator de

arte do jornal Diário do Grande ABC, em Santo André,

SP. Fundou as editoras pernambucanas Palmares e

Nordestal. É presidente da Fundação Casa da Cul-

tura Hermilo Borba Filho, em Palmares, instituição

municipal criada com base em projeto de sua autoria.

Em 1971, em São Paulo, publicou uma coletânea de

poemas sem título. Elaborou várias antologias, entre

elas, Poetas dos Palmares, que mereceu a seguinte nota

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de Hermilo Borba Filho: “Recebe-o agora: Poetas dos

Palmares. No primeiro instante, parece-me que sou

fulminado por um raio: revejo-me todo ali, no pre-

fácio de Juhareiz. E eu, que realizei ou pensei reali-

zar uma enorme catarse em Um cavalheiro da segunda

decadência, esgotando Palmares, verifico, ao mesmo

tempo com uma grande dor, que Palmares é a minha

marca para toda a vida”. Fundou, no Recife, PE, em

1980, a revista Poesia, que circulou até o número 10

(1983). Organizou e publicou as antologias poéticas

Poetas dos Palmares (1973/1987/2002) e Poesia viva do

Recife (1996). Em parceria com o poeta Hector Pelli-

zzi, publicou o livro América indignada. Em 2007, pu-

blicou, em parceria com seu filho José Terra, Poesia

do mesmo sangue (2007). Seus poemas fazem parte

de diversas coletâneas, entre elas: Poetas de Palmares

(1973/1987/2002); Poesia viva do Recife (1996/2009);

Pernambuco, terra da poesia (2005). É autor do cordel

Um doido e a maldição da lucidez (1975).

Obras do autor: Coletânea de poemas sem títulos

(1971); Americanto amar América (1975): O amor é uma

canção proibida (1979); A clara história de Preta, o futu-

ro presidente do Brasil (1982, novela); Coração Portátil

(1984 – 1999); Poesia do mesmo sangue (2007).

LENILDE FREITAS (1939)

Poetisa, nasceu em Campina Grande, PB, em 1939.

Filha de pernambucanos, residiu no Recife até 1978.

Morou em São Paulo, Madison e Nashville (Estados

Unidos), tendo voltado ao Recife em 1996. Na Van-

derbilt University, frequentou os seguintes cursos: The

judgement of poetry (prof. Donald Davie) e Poetry

writing (prof. Mark Jarman). Formada em Letras, é

especialista em Literatura Brasileira e mestre em Teo-

ria Literária, pela Universidade Federal de Pernam-

buco. Na área da literatura infantil, publicou A casa

encantada (2009). Morou em São Paulo dezoito anos.

Page 614: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

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Atualmente, reside no Recife. É sócia das seguintes

entidades: União Brasileira de Escritores (SP); Clube

de Poesia (SP); União Brasileira de Escritores (PE).

Conquistou os seguintes prêmios: Emílio Moura de

Poesia (MG); Augusto dos Anjos (PB); Jorge de Lima

(AL); Arriete Vilela (AL); Nestlé de Poesia. Morou nos

Estados Unidos de 1986 a 1987.

Obras da autora: Desvios (1987); Esboço de Eva (1987);

Cercanias (1988); Espaço neutro (1991); Tributos (1994);

Grãos na eira (2001) e A corsa no campo (2010).

Maria de LOURDES NICÁCIO da SILVA (1947)* **

Poetisa e professora, nasceu a 13 de setembro de

1947, na fazenda Canabrava, município de Belém do

São Francisco Pernambuco, onde terminou os seus

primeiros estudos. Fez curso de Letras na Paraíba e

Pós-Graduação em Pernambuco. Lecionou na Facul-

dade de Formação de Professores de Belém do São

Francisco; Escola Superior de Relações Públicas; Fun-

dação de Ensino Superior de Olinda (Funeso); Giná-

sio Pernambucano, entre outros. Coordenou o pro-

jeto “Academia/Escolas” da Academia Pernambucana

de Letras; “Ginásio Pernambucano: Seus Autores e

Suas Obras”. Foi vice-coordenadora geral do “Pri-

meiro Encontro de Cultura Recifense” (Universidade

Federal de Pernambuco e Academia Recifense de Le-

tras). Quando à disposição da Fundação do Patrimô-

nio Histórico e Artístico de Pernambuco (Fundarpe),

atuou em projetos educativos e culturais da Casa de

Manuel Bandeira, Espaço Pasárgada. Seu primeiro

poema publicado foi “Oxalá de um vaqueiro desespe-

rado”, no Diario de Pernambuco, em 1976, quando ain-

da residia no sertão. Participou de diversas antologias

e foi homenageada por instituições culturais desta e

de outras cidades. É membro da Academia Recifen-

se de Letras e da União Brasileira de Escritores. Seu

livro O lavrador e o templo foi agraciado com Menção

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Honrosa no concurso de poesia Edmir Domingues da

Academia Pernambucana de Letras, em 2007.

Obras da autora: Cantos da ordem do Sol (1985); Rit-

mo das águas vivas (1992); O Rio, Canabrava e os homens

(1994, contos); Almeida Cunha (1996, ensaio); Ocultos

na paisagem (1998); Os dois mundos de Madalena (1999,

romance): João Suassuna de Melo Sobrinho. Um educador

exemplar (1999, biografia); O lavrador e o templo (2009).

LOURDES Maria Mendonça SARMENTO (1944)*

**

Poeta, ficcionista, escritora, pesquisadora, biógrafa e

jornalista, nasceu no Recife, PE, em 1944, e faz parte

da Geração 65 de escritores pernambucanos. Possui

23 livros publicados em português, inglês, francês e

espanhol, participação em 98 antologias nacionais e

internacionais, tendo trabalhos literários e jornalísti-

cos apresentados em Miami e Washington (USA); em

Lima (Peru); no México; em Lisboa (Portugal); Bue-

nos Aires (Argentina). É editada por Vericuetos/Che-

mins Scabreux, em Paris. Seu livro 25 Poemas da paixão

foi editado pela Bagaço e divulgado pela Unesco, em

Paris, sob o título: Vingt-Cinq Poèmes de Passion (1994).

Sua pesquisa publicada, Primórdios da comunicação, foi

traduzida para o inglês: Early stages in communication

(1981), e é adotada em escolas de Comunicação em

todo o Brasil. Organizou a antologia Poésie du Brésil

publicada em Paris, em 1997. Segundo a professora,

Anne Marie Quint, da Sorbonne, foi o primeiro livro

sobre poesia brasileira publicado naquele país, após

trinta anos de silêncio e está catalogado pela Funda-

ção Calouste Gulbenkian. Encontra-se também dispo-

nível no meio eletrônico, através das páginas virtuais

da Embaixada do Brasil. Lourdes Sarmento é membro

de várias Academias de Letras em Pernambuco, no Rio

de Janeiro e em Goiás. Escritora premiada, idealizou e

organizou o Projeto Literatura dos Trópicos, reunindo

Page 616: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

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205 poetas de todo o Norte e Nordeste do Brasil, em

parceria com Beatriz Alcântara. Sobre Lourdes Sar-

mento, encontram-se verbetes na Enciclopédia de litera-

tura brasileira (2001); no Dicionário bibliográfico de poetas

pernambucanos (1993); no Dicionário crítico de escritoras

brasileiras (2002); Peuples et poèmes (2003, França/Por-

tugal). Seu livro El tiempo de las ofrendas (2007) foi edi-

tado pela Alejo, em Lima. A edição de “50 Poemas

Escolhidos pelo Autor”, da Coleção Nacional, nº 43,

foi publicada no Rio de Janeiro, em 2009.

Obras da autora: Poemas do despertar (1965); Explosão

das manhãs (1973); Pequena história da telefonia em Per-

nambuco (1980, pesquisa); Primórdios da comunicação

(1981, pesquisa); Janela (1984); A palavra e as circuns-

tâncias (1985, ensaio); Tatuagens da solidão (1991); Se-

dução da arte em Vera Bastos (1993, ensaio biográfico);

Alcides Lopes: nas estações do tempo (1994, biografia);

José de Souza Alencar. Alex: o artesão de palavras (1998,

biografia); Amor nos trópicos (2000, org.); Águas dos tró-

picos (2000, org.); Olhos de tigre (2001), Fauna e flora

nos trópicos (2002, org.); Guardiã das horas (2003); A

poesia é eterna (2003); 7 Cartas e uma confissão de amor

(2004, prosa e verso); El tiempo de las ofrendas (2007).

LOURIVAL BATISTA Patriota (1915-1992)**

Poeta repentista, conhecido como “Louro do Pajeú”, ou

ainda o “Rei dos Trocadilhos”, nasceu no povoado de

Umburanas, então município de São José do Egito, PE,

em 6 de janeiro de 1915. Filho de Raimundo Patriota e

de Severina Guedes Patriota, Louro vem de uma famí-

lia de mais de cem poetas, desde Nicrandro Nunes da

Costa; conforme verbete da Antologia didática de poetas

pernambucanos (1988, p. 205), “fato inédito na história

dos poetas populares do Nordeste, tal descendência de

um só tronco”. Nesse mesmo verbete, acrescentam-se

as seguintes informações: “Os irmãos Batista, Louro,

Otacílio e Dimas (falecido em 86) são conhecidos em

Page 617: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

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todo o país. Louro foi casado com Helena Marinho, fi-

lha do violeiro Antônio Marinho, também de São José

do Egito. Publicou vários folhetos que versam sobre a

vida de Juscelino Kubitschek e Tancredo Neves, entre

outros. Foi objeto de estudo através de uma monogra-

fia feita pelo professor e poeta Aleixo Leite Filho, cujo

título é Louro do Pajeú, o rei dos trocadilhos. Louro é o au-

têntico representante da cultura nordestina, que teve

a sua origem marcada remotamente pelos árabes que

dominaram a Península Ibérica. A resposta na ponta

da língua, a presença de espírito, o raciocínio rápido,

tudo lembra os árabes que improvisavam versos no de-

serto. Lourival Batista é nome obrigatório em todos

os estudos sobre os violeiros repentistas do nordeste

brasileiro”. A reportagem biográfica, Um certo Louro do

Pajeú (2002), de Alberto da Cunha Melo, faz jus a esse

ícone da poesia repente.

LUCILA NOGUEIRA (1950)*

Poetisa, contista, ensaísta, crítica, tradutora e professora

de várias disciplinas do Curso de Letras na Graduação

e Pós-Graduação da Universidade Federal de Pernam-

buco, nasceu em 1950, no Rio de Janeiro. Tem ao todo

32 livros publicados, sendo 22 de poesia, 3 de ensaio,

havendo organizado 7 didáticos e tem 3 no prelo para

o ano de 2010. Membro da Academia Pernambucana

de Letras, desde 1992, pertence também à Academia

Brasileira de Filologia como sócia-correspondente.

Obteve o Prêmio Manuel Bandeira do Governo do Es-

tado de Pernambuco pelos livros Almenara, em 1978, e

Quasar, em 1986. Participante ativa em recitais no Bra-

sil e exterior, seus poemas e contos estão publicados

na França, na Espanha, no México, na Colômbia, no

Panamá e em Portugal. Recebeu em 2009 a Medalha

Euclides da Cunha da Academia Brasileira de Letras.

Seu livro Ilaiana teve lançamento no Centro de Estudos

Brasileiros de Barcelona, em 1998; Zinganares, na Em-

Page 618: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

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baixada do Brasil em Lisboa, também em março desse

ano. Sobre este último, foi defendida a dissertação A

moderna lírica mitológica de Lucila Nogueira por Adriane

Ester Hoffmann, na PUC-RS. Imilce encontra-se tra-

duzido para o francês por Claire Benedetti, tradutora

de Florbela Espanca, Teixeira de Pascoaes e Antero de

Quental. Está incluída na Antologia de Poetas Brasileños

editada em Madrid, em 2007, pela Huerga y Fierro

Editores e na Anthologie Poétique Nantes Recife, édi-

tion de la Maison de la Poésie de Nantes com a Prefei-

tura do Recife, no mesmo ano. Seu poema Rua do Lima

está publicado na Colômbia e no Panamá, antologia

Las palabras pueden: los escritores y la infancia (2007);

publicado, na mesma altura, o conto Luz vermelha na

calle Paraguai, no México, nº 105, revista Blanco Mó-

vil. Seu livro Saudade de Inês de Castro foi publicado em

2008 pelas Éditions Lusophone, Paris. Como ensaís-

ta, tem publicados A lenda de Fernando Pessoa, premia-

do pelo Gabinete Português de Leitura do Recife, em

1985, e Ideologia e forma literária em Carlos Drummond

de Andrade, sua dissertação de mestrado já em quarta

edição. Em 2010, publicou sua tese de doutorado, O

cordão encarnado, sobre os livros O cão sem plumas e Morte

e vida severina, de João Cabral de Melo Neto. Publicou

vários verbetes na Biblos enciclopédia verbo das literaturas

de língua portuguesa, além de artigos nas revistas Coló-

quio/Letras (Lisboa), Cadernos de Literatura (Coimbra) e

Poesia e Crítica (Brasília). Escreve sistematicamente pa-

lestras e artigos sobre literatura brasileira, portuguesa,

africana, francesa, de língua espanhola e de língua in-

glesa, que publica em revistas impressas e on-line, além

de blogues e outras páginas da web.

Obras da autora: Almenara (1979); Peito aberto (1983);

Quasar (1987); A dama de Alicante (1990); Livro do desen-

canto (1991); Ainadamar (1996); Ilaiana (1997-2000, 2.

ed.); Zinganares (1998, Lisboa); Imilce (1999-2000 2.

ed.); Amaya (2001); Ideologia e forma literária em Carlos

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Drummond de Andrade (2002, ensaio, 3. ed.); A quarta

forma do delírio (2002, 1. ed e 2. ed.); Refletores (2002);

Bastidores (2002); Desespero blue (2003); A lenda de Fer-

nando Pessoa (2003, ensaio); Estocolmo (2004-2005, 2.

ed.); Mar camoniano (2005); Saudade de Inês de Castro

(2005, poema e antologia de ensaios); Poesia em Me-

dellin (2006); Poesia em Caracas (2007); Poesia em Hava-

na (2007); Mundo mágico: Colômbia (2007, tradução);

A musa roubada (2007, org. e tradução); Poesia reunida

de Deborah Brennand (2007, org.); Legado (2007, org.);

Trilhas da diáspora (2008, org.); Casta Maladiva (2009);

Tabasco (2009); A geração Orpheu (2009, org.); O cor-

dão encarnado (2010, ensaio); e tem no prelo O livro

dos trinta anos (Poesia), Os melhores poemas de Mário de

Sá-Carneiro (Editora Global) e Pseudonímia e literatura

(Editora Universitária da UFPE, ensaios).

LÚCIO Roberto FERREIRA (1930)* **

Poeta, contista, nasceu no Recife, PE, no dia 29 de

abril de 1930. É bacharel em Ciências Econômicas

pela Universidade Federal de Pernambuco e funcio-

nário aposentado do Banco do Brasil. É membro das

seguintes instituições: União Brasileira de Escritores

(UBE-PE), Academia de Artes e Letras do Nordeste

Brasileiro, ALAMB, Academia de Artes e Letras de

Olinda, Academia Recifense de Letras e Sociedade

dos Poetas Vivos. Adotou o estilo construtivista e tem

oito livros publicados. Conquistou o Prêmio Edmir

Domingues, da Academia Pernambucana de Letras,

2004, pelo livro Essas coisas cá de dentro.

Obras do autor: Um olhar para cada coisa (1999); Exer-

cício do sentir (2000); As duas extremidades da luz (2001);

Reescrevendo contos de fadas (2001, coautor); Linhas do

tempo (Hai-Kais) (2002); Uma porta para dentro da pedra

(2003); As reticências dos sonhos (2003); Estas coisas cá de

dentro (2004); Um pouco antes da chuva (2006); Às mar-

gens de um rio cereal (2006); Um corte além do fio (2008).

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LUIS MANOEL Paes SIQUEIRA (1960)* **

Ficcionista e poeta, nasceu em Garanhuns, PE, em

1960 e começou a publicar pequenos contos no su-

plemento infantil do Diario de Pernambuco, em 1968.

É geólogo, com mestrado em Geociências. Em 1992,

conquistou Menção Honrosa do Prêmio Othon Be-

zerra de Mello da Academia Pernambucana de Letras

pelo seu romance O leão e a baronesa.

Obras do autor: A cidade da luz azul (1979, romance);

A última valsa (1980); A cidade da luz azul (1979); A

última valsa (1980); Jamais houve trevas (1981, novela);

Miguel, o gato (1982); Adeus (1984, romance); O leão e

a baronesa (1992); A estória do cavaleiro perdido (2003);

A idade da pedra (2004).

LUIZ ALVES PINTO (± 1745 – ± 1815)**

Nasceu no Recife, PE, e não se pode precisar o dia de

seu nascimento nem de sua morte, embora o biógrafo

Joaquim Inácio de Lima, no livro raro Biografias de

Joaquim Inácio de Lima (p. 47-53), impresso no Reci-

fe, na tipografia de Manoel Figueirôa de Faria & Fi-

lho, 1895, informe que “Faleceu há perto de 80 anos,

aos 70 anos de idade, mais ou menos, e sepultou-se

na Igreja de N. S. do Livramento, Recife”. Informa,

ainda, “não é um nome só na história da música da

Província de Pernambuco e do Brasil, também o é de

nossa literatura”. Compôs sonetos inclusos no seu Di-

cionário pueril, onde estão também inseridos “dísticos

e epigramas latinos, algumas glosas de quadras suas e

alheias, para uso de suas aulas” e compôs, em verso,

a comédia intitulada Amor mal correspondido, represen-

tada no Teatro Público da cidade do Recife de 1780

a 1783. “É a primeira comédia composta por brasi-

leiro, que se representou em teatro público do Brasil,

toda em versos”, acrescenta o referido biógrafo.

Page 621: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

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LUIZ CARLOS DUARTE (1947)* **

Poeta pernambucano do Recife, onde nasceu no dia

3 de janeiro de 1947. Pertence à Geração 65 de escri-

tores pernambucanos e publicou seus primeiros poe-

mas no Suplemento Literário do Diario de Pernambu-

co, quando contava com apenas 18 anos de idade. Em

1972, publicou seu primeiro livro de poemas, Árvore

urbana e com ele conquistou o Prêmio Fernando Chi-

naglia, da União Brasileira de Escritores, secção do

Rio de Janeiro.

Obras do autor: Árvore urbana (1972); Inventário das ho-

ras (1981); Roteiro da Febre Minotauro e Outros Poemas &

Memorial da Luz e do Mormaço; Livro de Francisca (s.d.)

LUIZ CARLOS MONTEIRO (1957)**

Poeta, professor e crítico literário, nasceu em Sertâ-

nia, PE, em 24 de outubro de 1957. Em 1972, radi-

cou-se no Recife, onde vive até hoje. Iniciou o curso

de Engenharia de Minas em 1976, na UFPE, inter-

rompendo-o posteriormente. É formado em Pedago-

gia e mestre em Teoria da Literatura pela mesma uni-

versidade. Entre as décadas de 70 e 80, fez parte do

movimento estudantil e do movimento dos escrito-

res independentes de Pernambuco. De 1987 a 1992,

passou a residir na Mata Sul do Estado, dedicando-se

ao ensino médio e participando, como militante, de

movimentos políticos e sindicais no município de Rio

Formoso e circunvizinhanças. Publicou cerca de 200

artigos e ensaios de crítica literária em revistas, jor-

nais, sites e blogs de Pernambuco e de outros estados.

Seus poemas vêm aparecendo com maior frequência

em antologias e jornais alternativos. Tem participado

de eventos e encontros literários diversos, entre eles,

a Bienal do Livro de Pernambuco e a Fliporto, e de

colóquios acadêmicos na UFPE.

Obras do autor: Na solidão do néon (1983); Vigílias

(1990); Poemas (1999); O impossível dizer e outros poemas

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(2005); Para ler Maximiano Campos (2008); Prêmio Ma-

ximiano Campos nas suas versões 2, 3 e 4 (2008); Musa

fragmentada, a poética de Carlos Pena Filho (2009).

Antônio Peregrino MACIEL MONTEIRO (1804-

1868)**

Médico, jornalista, diplomata, político, orador e poe-

ta, o 2º Barão de Itamaracá, Maciel Monteiro, nasceu

no Recife, PE, em 30 de abril de 1804, e faleceu em

Lisboa, Portugal, em 5 de janeiro de 1868. Filho do

Dr. Manuel Francisco Maciel Monteiro e de Manue-

la Lins de Melo. É o patrono da Cadeira nº 27, da

Academia Brasileira de Letras, por escolha do funda-

dor Joaquim Nabuco. “A própria ABL disponibiliza,

em seu endereço virtual: http://www.academia.org.

br/imortais/frame8, verbete esclarecedor sobre esse

poeta de transição para o Romantismo: “Fez estudos

preparatórios em Olinda, seguindo, em 1823, para

a França. Ingressou na Universidade de Paris, onde

recebeu o grau de bacharel em Letras (1824), em

Ciências (1826) e doutorou-se em Medicina (1829).

Regressou em 1829 ao Recife, onde exerceu alguns

cargos médicos, mas logo abandonou a profissão pela

política e pela diplomacia, carreira mais de acordo

com sua índole mundana e social. Foi eleito deputado

provincial (1833) e geral (1834-1844 e 1850-1853),

ministro dos Negócios Estrangeiros de 1837 e 1839 e,

deste ano a 1844, diretor da Faculdade de Direito de

Olinda. Nomeado membro do Conselho do Impera-

dor em julho de 1841 e diretor-geral da Instrução Pú-

blica em Pernambuco, em 1852. Foi redator e colabo-

rador de: O Lidador, órgão do Partido Republicano

(Recife, 1845-1848); A Carranca, periódico político-

moral-satírico-cômico (Recife, 1846); A União, órgão

do Partido Conservador (Recife, 1848-1851). Aban-

donando a política, foi para Lisboa em 1853, como

enviado extraordinário e ministro plenipotenciário

Page 623: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

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do Brasil. Teve boa atuação diplomática e tornou-se

notório pelos serviços contra os moedeiros falsos de

Lisboa no Brasil, o que lhe valeu o título de 2º Barão

de Itamaracá. Estava a serviço do Brasil quando ali fa-

leceu. Seus restos mortais foram trasladados para Per-

nambuco em 1870 e encerrados em 1872 no mauso-

léu que a Câmara Municipal do Recife mandou erigir

no cemitério do Senhor Bom Jesus da Redenção em

Santo Amaro.” Ainda nas páginas da ABL, registra-se

a “feição romântica de sua obra antes mesmo de se

achar definido no Brasil o Romantismo”. E mais: “O

poeta original caracterizou-se por ser quase um im-

provisador. Deixava poesias em álbuns de senhoras,

em mãos de amigos, esparsas. A sua melhor produção

literária é representada pelas poesias lírico-amorosas,

mas nada publicou além da tese de medicina, em

francês, e algumas poesias e discursos parlamenta-

res, entre os quais se destaca o que pronunciou em

10 de junho de 1851 acerca da abolição do tráfico ne-

gro, e isso revela duplo aspecto pouco conhecido de

Maciel Monteiro: o orador e o abolicionista. Palavras

suas: “sempre detestei a escravidão; a minha nature-

za como que se revolta à sombra de qualquer jugo”;

“sempre me reputei abolicionista”. A fortuna crítica

de Maciel Monteiro tem sofrido altos e baixos. Para

Sílvio Romero, é um importante poeta de transição e

um dos predecessores do lirismo hugoano; para José

Veríssimo, uma simples lenda. Foi reabilitado na sua

justa medida por José Aderaldo Castelo.”

Obras do autor: Dissertation sur la nature, les symptô-

mes de l’inflammation de l’arachnoïde et son rapport avec

l’encephalite (1829); Poesias, sob a direção de João Ba-

tista Regueira Costa e Alfredo de Carvalho (1905);

Discurso por ocasião da fundação da Sociedade de

Medicina Pernambucana (4.4.1841), in: Anais de me-

dicina pernambucana. Anais do parlamento brasileiro, de

1834 a 1853; Poesias (1962).

Page 624: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

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MALUNGO [José Carlos Farias da Silva] (1969)* **

Poeta alternativo e recitador, nasceu no Recife em 10

de maio de 1969. Escreve desde 1985 e obteve o pri-

meiro lugar do Concurso de Poesia de Jardim Atlânti-

co, em 1997, e o primeiro lugar do Concurso de Poesia

da Biblioteca Popular de Afogados, em 2000. Publica

o fanzine De cara com a poesia, em parceria com o poeta

Bruno Candéas. Participa intensamente da cena cultu-

ral pernambucana e seus poemas foram inseridos nas

seguintes antologias: Marginal Recife: coletânea poética

(2001); Pernambuco, terra da poesia (2005). Através dos

fanzines, seja como colaborador ou editor tem reali-

zado um significativo trabalho de divulgação poética:

Boca Suja (SP); Panorama da Palavra (RJ); Escrevo o

que Quero (RJ); A Goiaba (RJ); O Capital (SE), Meya

Palavra (CE); O Patusco (CE), Portas Para Poesia e Pro-

sa (MG); Lítero Pessimista (PE); Chalopa (PE); Frente

e Verso(PE); Caos(PE); Poesia Descalça (PE).

Obras do autor: O terceiro olho usa lente de contato

(2000), Filé 1,99 (em parceria) (2003).

MANUEL Carneiro de Sousa BANDEIRA Filho

(1886-1968)**

Poeta, professor, cronista, crítico e historiador literá-

rio, nasceu no Recife, PE, em 19 de abril de 1886,

e faleceu no Rio de Janeiro, RJ, em 13 de outubro

de 1968. Filho do engenheiro civil Manuel Carneiro

de Sousa Bandeira e de Francelina Ribeiro de Sousa

Bandeira. Membro da Academia Brasileira de Letras,

Cadeira nº 24. Passou a residir no Rio de Janeiro aos

10 anos, onde cursou o secundário no Externato do

Ginásio Nacional, hoje Colégio Pedro II, de 1897 a

1902, bacharelando-se em Letras. Ingressou na Escola

Politécnica de São Paulo, em 1903, para fazer o curso

de engenheiro-arquiteto, mas abandonou os estudos

por motivo de doença. Fez estações de cura da tuber-

culose em Campanha, MG, Teresópolis e Petrópolis,

Page 625: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

625

RJ, e por fim Clavadel, Suíça, onde se demorou de

junho de 1913 a outubro de 1914. Em Clavadel, teve

como companheiro de sanatório o poeta Paul Eluard.

Sua vida poderia ter sido breve, face às lesões que tinha

nos pulmões, mas viveu até os 82 anos, deixando um

legado definitivo para a Literatura Brasileira, princi-

palmente em sua fase renovadora como pioneiro da

revolução modernista, depois da sua fase Simbolista.

Nas páginas virtuais da ABL, estas anotações são fun-

damentais para compreensão da sua obra: “Ao lado

de „sonetos que não passam de pastiches parnasianos‟,

segundo o próprio Bandeira, nele figura o famoso

poema “Os sapos”, sátira ao Parnasianismo, que veio

a ser declamado, três anos depois, durante a Semana

de Arte Moderna, pela voz de Ronald de Carvalho.

Antecipador de um novo espírito na poesia brasileira,

Bandeira foi cognominado, por Mário de Andrade,

de „São João Batista do Modernismo‟.” Sua participa-

ção no movimento modernista de 1922 se deu através

das revistas Klaxon, Antropofagia, Lanterna Verde, Terra

Roxa e A Revista e não através dos eventos da Sema-

na de Arte Moderna, dos quais não participou. Ainda

nas páginas da ABL, encontramos: “Em 1927, viajou

ao Norte do Brasil, até Belém, parando em Salvador,

Recife, Paraíba, Natal, Fortaleza e São Luís do Mara-

nhão. De 1928 a 1929, permaneceu no Recife como

fiscal de bancas examinadora de preparatórios. Em

1935, foi nomeado inspetor de ensino secundário; em

1938, professor de Literatura Universal no Externato

do Colégio Pedro II; em 1942, professor de Litera-

turas Hispano-Americanas na Faculdade Nacional de

Filosofia, sendo aposentado por lei especial do Con-

gresso em 1956. A partir de 1938, tornou-se membro

do Conselho Consultivo do Departamento do Patri-

mônio Histórico e Artístico Nacional e, em 1942, foi

eleito membro da Sociedade Felipe d‟Oliveira. Rece-

beu o prêmio da Sociedade Felipe d‟Oliveira por con-

Page 626: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

626

junto de obra (1937) e o prêmio de poesia do Instituto

Brasileiro de Educação e Cultura, também por con-

junto de obra (1946). (...) Como crítico de literatura

e historiador literário, revelou sempre uma paixão de

humanista. Consagrou-se pelo estudo sobre as Cartas

chilenas, de Tomás Antônio Gonzaga, pelo esboço bio-

gráfico de Gonçalves Dias, além de ter organizado vá-

rias antologias de poetas brasileiros e publicado o es-

tudo Apresentação da poesia brasileira (1946). Em 1954,

publicou o Itinerário de Pasárgada, onde, além de suas

memórias, expõe todo o seu conhecimento sobre for-

mas e técnicas de poesia, o processo da sua aprendi-

zagem literária e as sutilezas da criação poética. Sua

obra foi reunida nos volumes Poesia e prosa, Aguilar

(1958), contendo numerosos estudos críticos e biográ-

ficos.” A obra de Manuel Bandeira compreende livros

em verso em prosa e didáticos com destaque para as

suas antologias críticas. Neste ano de 2005, o Institu-

to Maximiano Campos editou o CD A vida que valeu

“a pena e a dor de ser vivida”, com poemas de Manuel

Bandeira interpretados por um dos especialistas bra-

sileiros em sua obra, Edson Nery da Fonseca.

Obras do autor: Poesias, reunindo A cinza das horas,

Carnaval, O ritmo dissoluto (1924); Libertinagem (1930);

Estrela da manhã (1936); Crônicas da província do Brasil

(1936, prosa); Poesias escolhidas (1937); Antologia dos

poetas brasileiros da fase romântica (1937, antologia);

Guia de Ouro Preto (1938, prosa); Antologia dos poetas

brasileiros da fase parnasiana (1938, antologia); Poesias

completas, reunindo as obras anteriores e mais Lira

dos cinquent’anos (1940); Noções de história das literatu-

ras (1940, prosa); Autoria das Cartas chilenas, separata

da Revista do Brasil (1940, prosa); Obras poéticas de

Gonçalves Dias (1944, antologia); Apresentação da poesia

brasileira (1946, prosa); Antologia dos poetas brasileiros

bissextos contemporâneos (1946, antologia); Poesias com-

pletas, 4ª edição, acrescida de Belo belo (1948); Rimas

Page 627: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

627

de José Albano (1948, antologia); Literatura hispano-

americana (1949, prosa); Poesias completas, 6ª edição,

acrescida de Opus 10 (1954); Poemas traduzidos (1945);

Mafuá do malungo, versos de circunstância (1948);

Gonçalves Dias, biografia (1952, prosa); Itinerário de

Pasárgada (1954, prosa); De poetas e de poesia (1954,

prosa); 50 Poemas escolhidos pelo autor (1955); Obras

poéticas (1956); A flauta de papel (1957, prosa); Prosa,

reunindo obras anteriores e mais Ensaios literários, crí-

tica de artes e epistolário (1958, prosa); Mário de Andra-

de, cartas a Manuel Bandeira (1958, antologia). Alum-

bramentos (1960); Estrela da tarde (1960); Andorinha,

andorinha, crônicas (1966, prosa); Os reis vagabundos e

mais 50 crônicas (1966, prosa); Colóquio unilateralmen-

te sentimental, crônica (1968, prosa).

MANUEL DE SOUZA MAGALHÃES (1744-1800)**

Poeta, latinista, orador sacro, nasceu em Olinda, PE,

em 19 de novembro de 1744. Era filho de Antônio de

Souza Magalhães e de Maria José de Jesus. Residiu

na cidade de Pau d‟Alho, PE, de 1766 a 1771, onde

lecionou Latim. Regressou a Olinda, onde continuou

exercendo o magistério durante mais de sete anos. Or-

denou-se sacerdote em 1778 e passou a cultivar a poe-

sia sacra. Antonio Joaquim de Mello, em Biografias de

alguns poetas e homens ilustres da província de Pernambuco

(1856), anota: “Vamos salvar de um perpétuo esqueci-

mento o nome do antigo poeta pernambucano o Pa-

dre Manoel de Souza Magalhães. (...) Foi poeta desde

a puberdade. Das poesias do padre Manoel de Souza

Magalhães existem algumas totalmente estragadas e

várias lhe são atribuídas enganadamente”. É possível

registrar fragmentos da obra do autor: “Três cânticos

a Nossa Senhora da Penha; Hino de Nossa Senhora

do Carmo” (letra e música); “Ao governador D. Tomás

José de Melo” (quatro sonetos, 2 glosas, 17 décimas);

“Soneto ao natalício da Rainha D. Maria I” (inserido

Page 628: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

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na Memória do Clero Pernambucano, do Pe. Lino do

Monte Carmelo), “Noites clementinas” (tradução) e a

obra póstuma O monte de Mirra.

MARCELO MÁRIO DE MELO (1944)* **

Poeta e jornalista, nasceu em Caruaru, PE, em 1944

e veio para o Recife, PE, em 1953. Redigiu para este

painel as seguintes notas: “Escreve poemas, histórias

infantis, minicontos e textos de humor. Vê a elabora-

ção poética como o olhar que mergulha e voa, o es-

pirarco-íris de portas abertas e andantes, sintetizando

o pensentir humano nos mergulhos introspectivos e

nas viagens cósmicas. Poeta materialírico, entende que

o exercício poético não deve ser transformado numa

nova modalidade de culto. Em ótica, ética e estética é

adepto do Realismo Pus e Seiva: o real tal qual viceja

ou apodrece. Plebeu, republicano, democrata, cidadão

de esquerda e socialista, politicamente segue o precei-

to: sempre à esquerda, não ultrapasse pela direita.”

Exerceu vários cargos de administração cultural, entre

eles, o de presidente da Fundação de Cultura Cida-

de do Recife. Atualmente, é diretor de Jornalismo da

Fundação Joaquim Nabuco. Conviveu intensamente

com os poetas da Geração 65, mas sua atuação cultural

se destaca em movimentos literários alternativos.

Obras do autor: Os quatro pés da mesa posta (1980);

Manifesto masculinista (1993, humor); Entre teias e to-

caias/David Capistrano (2001, perfil parlamentar).

MARCELO PEREIRA (1964)* **

Jornalista, poeta e ensaísta, nasceu no Recife, PE, em

março de 1964. Fez especialização em Jornalismo

Cultural, pela Universidade Católica, Unicap, onde

também concluiu sua graduação. Foi repórter do Glo-

bo Esporte, da Rede Globo (1987-1990), colaborou

com as revistas Reclamo, Veja 28 Graus e Manchete. Está

no Jornal do Commercio desde 1990, onde é editor do

Page 629: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

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Caderno C. Começou a militar na poesia na déca-

da de 1980 participando ao lado dos poetas Manoel

Constantino e Henrique Amaral de recitais em bares

do Recife como Depois do Escuro, De Vento em Popa,

Moreno Vídeo Bar, Sushi. Fez parte dos varais de poe-

sia no Centro de Artes e Comunicação da UFPE. Pro-

duziu o projeto de requalificação do Mural Batalha

dos Guararapes, de Francisco Brennand, localizado

na Rua das Flores, no Recife/PE, e o vídeo Raimun-

do Carrero – Caçador de Assombrações, dirigido por

Clara Angélica. É autor do roteiro da minissérie Sol

a pino (inédito), que serviu de argumento para a mi-

nissérie Cruzamentos urbanos, veiculada na TV Jornal,

SBT, em 2007. Organizou o livro O delicado abismo da

loucura, de Raimundo Carrero, em 2005, e é ideali-

zador e curador do projeto Círculo de Leituras, que

tem como objetivo levar escritores para conversarem

diretamente com o público e que foi realizado duran-

te o Festival de Inverno de Garanhuns/PE (2006) e

na Festa da Renascença de Pesqueira/PE (2008). Tem

inéditos os ensaios: O Sísifo pernambucano – Raimundo

Carrero na imprensa brasileira, A guerrilha pop da Mundo

Livre S/A na trincheira da Indústria Cultural e A batalha

nacionalista de Francisco Brennand em terras da Várzea do

Capibaribe, a partir de um longo depoimento inédito

do artista sobre o mural da Rua das Flores. É autor

do frevo “La Bombonilha”, em parceria com Cláu-

dio Almeida, que musicou também o poema “Allegro

Flutuante”, de seu primeiro livro de poesia: Tatuagem

(2006), publicado pela Edições Bagaço, com apoio do

Instituto Maximiano Campos. Participa das seguintes

coletâneas: Invenção Recife, Coletânea poética I (2004);

Pernambuco, terra da poesia (2005); Antologia das águas

em verso e prosa (2007).

Obras do autor: As aventuras de Aua-u-zitô (2003, in-

fantil); Tatuagem (2006).

Page 630: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

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MARCIA de Souza Leão MAIA (1951)* **

Médica, escritora, poeta, vive no Recife, onde nasceu.

“Durante algum tempo dediquei-me à medicina e

aos três filhos, enquanto minha poesia, secretamen-

te, hibernava. E incomodava. Não resistindo aos seus

apelos, voltei à lida poética, fazendo parte de alguns

grupos de literatura da internet.” – registrou a poeta

em nota para a primeira edição desta coletânea. Foi

publicada na revista Poesia Sempre, nº 15, da Fundação

Biblioteca Nacional, em novembro de 2001, e no Li-

vro da Tribo (2004 e 2005). Em 2002, seu livro Espelhos

foi premiado no 3º Concurso Blocos de Poesia. Par-

ticipou das antologias Poetrix (2002), Escritas (2004)

e Dedo de moça – uma antologia das escritoras suicidas

(2009). Seu livro Cotidiana e virtual geometria (2008) foi

vencedor do Prêmio Violeta Branca Menescal (Ma-

naus, 2007). Seu livro Onde a Minha Rolleyflex?, ainda

inédito, obteve o Prêmio Eugênio Coimbra (Recife,

2008). Edita os blogues Tábua de Marés e Mudança de

Ventos. É presença marcante no mundo virtual.

Obras da autora: Espelhos (2003); Um tolo desejo de azul

(2003); Olhares/Miradas (2004); Em queda livre (2005);

Cotidiana e virtual geometria (2008).

MARCO POLO GUIMARÃES Martins (1948)* **

Poeta e jornalista, nasceu no Recife, PE, em 31 de mar-

ço de 1948. Pertence à Geração 65 desde o seu início.

Através do escritor Ariano Suassuna, a quem mostra-

ra, aos quinze anos de idade, 400 textos manuscritos,

foi apresentado ao crítico João Alexandre Barbosa,

que publicou seus primeiros poemas no Suplemen-

to Literário do Jornal do Commercio. A seguir, como a

maioria dos poetas daquela Geração, passou a publi-

car no Suplemento Literário do Diario de Pernambuco,

editado por César Leal. Participou da antologia Lírica

(1967), de Elói Editor, ainda com o pseudônimo de

Marcos Santânder. Também compositor, no início da

Page 631: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

631

década de 1970 fez parte do grupo Ave Sangria, que

misturava rock com ritmos regionais. Em 1999, César

Leal, na antologia, Poesia pernambucana moderna, re-

gistra: “o fato de ser compositor e autor de letras de

música não o impede de escrever uma poesia clara,

moderna, sem concessões aos velhos metros român-

ticos, que tanto agradam aos admiradores de Víctor

Hugo e seus seguidores no Brasil. (...) Seu último li-

vro, Palavra clara, é um dos mais fortes no âmbito da

poesia neste final de século.” Foi editor do Caderno

de Cultura do Jornal do Commercio e um dos diretores

da revista Continente Multicultural. Atualmente é Su-

perintendente de Produção Editorial da Companhia

Editora de Pernambuco, CEPE.

Obras do autor: Vôo subterrâneo (1986); Narrativas

(1992, contos); Memorial (1996, memórias); Brilho

(1996); Palavra clara (1998); A superfície do silêncio

(2002); Caligrafias (2003); Sax áspero (2007); Corpoin-

teiro (2008).

MARCOS Flávio Gomes CORDEIRO (1944)* **

Poeta, dramaturgo e artista plástico, nasceu em Sertânia,

PE, no dia 1º de janeiro de 1944. Pertence à Geração

65 e participou ativamente das edições Pirata, mo-

vimento editorial alternativo através do qual editou o

seu primeiro livro de poemas, Vesperal da solidão (1980).

Por três vezes mereceu o Prêmio Elpídio Câmara de

dramaturgia dos Concursos Literários do Conselho

Municipal de Cultura do Recife, em 1995, 2003 e 2005,

com os Autos: Nação Paranambuco, Capibaribe do sol e

Orfeu em África. Em 2009, o seu poema épico Romançal

Paranambuco recebeu o Prêmio Edmir Domingues de

Poesia da Academia Pernambucana de Letras. Marcos

colaborou com sugestões e dados para esta segunda

edição do Pernambuco, terra da poesia.

Obras do autor: Vesperal da solidão (1980); Naufrá-

gio lúcido (1981); Hai-khais para Pernambuco, Rafaella

Page 632: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

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(1989); Onde o coração! (1987, contos); Romançal Pa-

ranambuco (1995); Nação Paranambuco (1996, teatro);

Capibaribe do sol (2003, teatro); O lamento das acauãs

(2005, teatro).

MARCOS D’MORAIS (1966)* **

Poeta e músico, nasceu no Recife, PE, em 25 de abril

de 1996. É licenciado em Letras, bacharel em Ciências

Jurídicas pela Universidade Católica de Pernambuco,

mestre em Teoria da Literatura pela Universidade Fe-

deral de Pernambuco e atualmente faz doutoramen-

to em Literatura Comparada pela Universidade do

Porto, com pesquisa inédita sobre a Geração 65 de

poetas pernambucanos.

Obras do autor: Poesia expoente (1984); Flores do Brasil

(1993); Recife Porto (2004); A poesia dos acordes (2002,

crítica literária); Da destruição do poema (2007).

MARCUS Morais ACCIOLY (1943)* **

Poeta, bacharel em Direito, nasceu em Aliança, PE, a

21 de janeiro de 1943. Pertence à Geração 65 e, como

a maioria dos poetas dessa Geração, também publi-

cou seus primeiros poemas no Suplemento Literário

do Diario de Pernambuco, pelo então editor, poeta e crí-

tico César Leal. Conforme as páginas virtuais do Itaú

Cultural, publicou seu primeiro livro de poesia, Can-

cioneiro, em 1968. No ano seguinte, concluiu o curso

de Direito na Universidade Católica de Pernambuco,

no Recife. Em 1972, recebeu o Prêmio Recife de Hu-

manidades pelo livro Nordestinados (1971). Publicou,

em 1974, Xilografia e, em 1980, Guriatã, que ganhou

o Prêmio Fernando Chinaglia, concedido pela União

Brasileira de Escritores. Guriatã também recebeu a

Láurea Altamente Recomendável para o Jovem, con-

cedida pela Fundação Nacional do Livro Infantil e Ju-

venil. Em 1985, recebeu o Prêmio de Poesia, pelo li-

vro Narciso (1984), concedido pela Associação Paulista

Page 633: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

633

dos Críticos de Artes, e o Prêmio Olavo Bilac, con-

cedido pela Academia Brasileira de Letras, também

por Narciso. A crítica Nelly Novaes Coelho afirmou

sobre o poeta: “Pertencendo ao grupo de escritores

e artistas nordestinos que, dos anos 60 para cá, tem

mergulhado nas raízes populares, de origem ibero-

lusitana, latentes nos Romanceiros e Cancioneiros,

na Literatura de Cordel e nas Cantorias, na Música,

nas Gravuras e Esculturas primitivas, Marcus Accioly

é dos poetas que hoje tentam recuperar a poesia em

sua natureza primitiva: a palavra que nasceu do canto

e se perpetua na voz popular”. Exerceu vários cargos

públicos e é presidente do Conselho Estadual de Cul-

tura do Estado de Pernambuco.

Obras do autor: Cancioneiro (1968); Nordestinados

(1971); Xilografia (1974, poema gravado por José

Costa Leite); Sísifo (1976); Poética. Pré-Manifesto ou

Anteprojeto do Realismo-Épico (1977); Íxion (1978);

Ó(de) Itabira (1980); Guriatã: um cordel para meni-

no (1980); Narciso (1984); Para(ti)nação (1986); Érato

(1990); O jogo dos bichos (1990); Latinomérica (2001).

MARIA DA PAZ RIBEIRO DANTAS (1940)*

Poeta e ensaísta, nasceu em Esperança, na Paraíba.

Reside no Recife desde 1963. É autora de três livros

sobre o poeta, teatrólogo e engenheiro de cálculos

Joaquim Cardozo, cuja obra vem estudando desde a

década de 1970: “Joaquim Cardozo ensaio biográfico”

(Prêmio Jordão Emerenciano 1984, editado pela Fun-

dação de Cultura Cidade do Recife, em 1984); O mito

e a ciência na poesia de Joaquim Cardozo, texto transfor-

mado em ensaio, originalmente defendido como tese,

na conclusão do mestrado em Teoria da Literatura,

pela UFPE, em 1983, e Joaquim Cardozo contemporâneo

do futuro, editado no Recife, em 2004. Além destes,

publicou também Luiz Jardim: ficção e vida (Prêmio de

monografia lançado pela Fundarpe, em 1988, sobre o

Page 634: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

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pintor e ficcionista pernambucano). Mantém e edita

o <www.joaquimcardozo.com>. Seus primeiros livros

de poesia foram publicados pelas Edições Pirata, mo-

vimento editorial pernambucano do qual participou

ativamente. Tem poemas e textos em prosa publica-

dos em vários jornais e revistas de cultura do Recife

e de outros Estados. Participa das coletâneas: Palavra

de mulher (1979); Álbum do Recife (1976); A cor da onda

por dentro (198l); Poesia viva do Recife. (1996); Vericuetos:

chemins scabreux – Revue litteraire bilingue (1997);

Corpo lunar; Antologia poética (2002); Estação Recife

III, (2004); Pernambuco, terra da poesia (2005).

Obras da autora: Sol de fretas (1979); Ilusão em pedra

(1981); O mito e a ciência na poesia de Joaquim Cardozo

(1984, ensaio); Luiz Jardim: ficção e vida (1988, ensaio).

MARIA DE LOURDES Mateus HORTAS (1940)*

Poetisa e ensaísta, nasceu em São Vicente da Beira,

Beira Baixa, Portugal. Com 10 anos, acompanhan-

do a família, veio para o Recife, onde vive até hoje.

Escritora, está representada em antologias nacionais

e estrangeiras. Participou do Movimento das Edi-

ções Pirata, Recife (1980 a 1986). Fez parte do con-

selho editorial do jornal literário Cultura & Tempo

(1981/1983), e da revista Pirata Edições (1983/1984).

Durante dez anos, foi editora da revista Encontro, do

Gabinete Português de Leitura de Pernambuco. No

ano em curso (2005), retoma a coordenação da mes-

ma, regressando à diretoria cultural da referida ins-

tituição. Organizou as antologias Palavra de mulher

(1979); Poetas portugueses contemporâneos (1985) e A cor

da onda por dentro (1981, poesia para crianças).

Obras da autora: Aromas da infância (1965); Fio de lã

(1979); Giestas (1980); Flauta e gesto (1983); Outro corpo

(1989); Recado de Eva (1990); Adeus aldeia (1990, prosa);

Dança das heras (1995); Diário das chuvas (1995, ficção);

Fonte de pássaros (1999); Caixa de retratos (2003, ficção).

Page 635: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

635

MARIA DO CARMO BARRETO CAMPELLO DE

MELO (1924-2008)

Nasceu no Recife, PE, em 21 de julho de 1924, e fa-

leceu no dia 23 de julho de 2008, também no Recife.

Figura entre as mais importantes poetisas pernambu-

canas contemporâneas. Passou a infância no engenho

da Torre, cujo terreno deu origem ao atual bairro da

Torre, no Recife. Filha do jurista e professor Francisco

Barreto Campelo e de Lilia Araújo Barreto Campello.

Bacharel em Letras Clássicas e Licenciada em Didática

de Letras Clássicas pela Faculdade de Filosofia do Re-

cife, e pós-graduada com os Cursos de Especialização e

de Aperfeiçoamento em Literatura e Língua Portugue-

sa, pela UFPE. Na década de 60, trabalhou no Jornal

do Commercio, onde era responsável por uma coluna de

página inteira, intitulada “Nossa Página”, dedicada à

arte e a temas gerais. Foi professora de Língua Portu-

guesa e Língua Latina e funcionária da antiga Sude-

ne, onde se aposentou. Integrou a Academia Pernam-

bucana de Letras, onde ocupou a Cadeira nº 29, que

tem como patrono Padre Gomes Pacheco, e acadêmica

emérita da Academia Pernambucana de Artes e Le-

tras. Sempre atuante na vida literária pernambucana,

aos 80 anos, a poetisa mantinha uma vida intelectual

ativa e participava de projetos como o da Associação

Arte Vida e fazia parte da Comissão de Linguística da

Academia Pernambucana de Letras. Em 2003, afirmou

que não mais escreveria, mas, no Natal de 2007, Maria

do Carmo Barreto Campello de Melo compôs um po-

ema especialmente para essa data.

Obras da autora: Música do silêncio - 1º Momento: Os

símbolos; 2º Momento: Os sobreviventes (1968); Mú-

sica do silêncio - 3º Momento: Ciclo da solidão (1971);

Música do silêncio - 4º Momento: O tempo reinventado

(1972); VerdeVida: o tempo simultâneo; Música do si-

lêncio - 5º Momento: As circunstâncias (1976); Ser em

trânsito (1979); Miradouro (1982); Partitura sem som

Page 636: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

636

(1983); De adeus e borboletas (1985); Retrato abstrato

(1990); Solidão compartilhada (1994); Visitação da vida

(2000); A consoada (2003).

MARIA HERACLIA DE AZEVEDO (± 1860 –)**

Poetisa, nasceu no Recife, PE, mas não se encontram

registradas as datas de seu nascimento e morte. Em

Pernambucanas illustres (1879, p. 166-168), Henrique

Capitolino Pereira registra: “Nasceu na cidade do Re-

cife. Sua instrução foi simples, pois os meios de que

dispunha seu pai não lhe permitiam dar outra. Perma-

neceu por algum tempo na obscuridade, mas do apelo

nobre de alguns moços que criaram o jornal Madressil-

va, consagrado às senhoras, D. Maria Heraclia apare-

ceu na imprensa e ensaiou os seus primeiros voos.”

MARILENA DE CASTRO (1952)

Marilena de Castro é natural do Rio de Janeiro, ra-

dicada no Recife desde 1957. É médica pela Univer-

sidade Estadual de Pernambuco (UPE). Participou

de oficinas literárias de Lucila Nogueira, de poesia

e texto; e de Raimundo Carrero, de ficção. Membro

da Sociedade de Médicos Escritores (Sobrames-PE).

Colaboradora das revistas Oficina de Letras, da So-

ciedade de Médicos Escritores, e de Encontro, do Ga-

binete Português de Leitura. Participou das antolo-

gias: Antologia de contos e crônicas; Ábaco; I Antologia de

poetas nordestinos; Mormaços e sargaços; Fauna e flora nos

trópicos e Retratos.

Obra da autora: A outra face (s.d.)

MÁRIO HÉLIO Gomes de Lima (1965)*

Poeta, jornalista, historiador e crítico literário, nasceu

em Sapé, PB, no dia 16 de abril de 1965. Mas, a par-

tir dos anos 80, convive intensamente com o mundo

cultural recifense e fez de Pernambuco seu domicílio

literário. É graduado em Jornalismo pela Univer-

Page 637: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

637

sidade Católica de Pernambuco, mestre em Histó-

ria pela Universidade Federal de Pernambuco, com

dissertação sobre a obra de Gilberto Freyre (1994) e

doutor em História pela Universidade de Salamanca

(2005). Editou pela Record os famosos Relatórios que

revelaram Graciliano Ramos como escritor, quando

era Prefeito de Palmeira dos Índios, em Alagoas. Em

1984, ganhou o primeiro lugar no Concurso Nacio-

nal de Poesia Carlos Pena Filho, promovido pelo Bar

Savoy, com “As oito faces do poema”, e a esse se su-

cederam outros prêmios pelos seus trabalhos mono-

gráficos. A partir de 1983, passa a colaborar, no Jornal

do Commercio, do Recife, e mantém a coluna Rodapé,

de crítica literária, nas páginas do Commercio Cultu-

ral, editadas pelo poeta e jornalista Alberto da Cunha

Melo. Foi editor do Suplemento Cultural do Diário

Oficial (1995-2000). Foi também editor das revistas

Pasárgada e Continente Multicultural, criadas a partir

de seus projetos editoriais. Em 2003, assumiu o cargo

de diretor da Editora Massangana, da Fundação Joa-

quim Nabuco, que exerce até hoje.

Obras do autor: Livrório/Opuszero (1985); Recife me-

lhor do que Paris; João Carlos Paes Mendonça; vida, ideias

e negócios (2004); Cícero Dias – uma vida pela pintura

(2002); No Planalto, com a Imprensa (2010).

MARIO Carneiro Rego MELO (1884-1959)**

Poeta, professor, decano dos jornalistas de Pernam-

buco, nasceu no Recife a 5 de fevereiro de 1884.

Bacharelou-se em Direito pela Faculdade do Recife,

exerceu o magistério em vários colégios dessa cidade,

como professor de Língua Portuguesa. Membro da

Academia Pernambucana de Letras, foi seu secretário

perpétuo como também do Instituto Arqueológico e

Geográfico Pernambucano. Membro do Instituto His-

tórico Brasileiro. Autor de vários livros sobre história,

geografia e etnografia.

Page 638: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

638

Obras do autor: Aspectos da história (1933, ensaio);

Síntese cronológica de Pernambuco (1934, história); Den-

tro da história (1935, ensaio); Como vi Portugal (1937,

ensaio); Guerra dos Mascates (1940, ensaio).

MAURÍCIO Cavalcanti de Arruda MOTTA (1949)*

**

Poeta, nasceu no Recife, PE, em 1949, filho do poe-

ta Mauro Mota e da artista plástica Marly Mota. Per-

tence à Geração 65 de escritores pernambucanos e

publicou seus primeiros poemas no jornal recifense

Diário da Noite e, a seguir, nos suplementos culturais

do Diario de Pernambuco e do Jornal do Commercio dessa

mesma cidade. Estreou em livro no ano de 1975, com

publicação da revista Estudos Universitários. Seu nome

está inserido em diversas antologias brasileiras, entre

elas, a Agenda poética do Recife, editada por Cyl Gallin-

do, em 1968, e Fauna e flora nos trópicos (2002).

Obras do autor: Viagem (1974); Trilogia (1980); Tudo

em família (1981); Curral da fala (2003).

MAURO Ramos da MOTA e Albuquerque (1911-

1984)* **

Poeta, jornalista, professor, cronista, ensaísta e me-

morialista, nasceu no Recife, PE, em 16 de agosto de

1911, e faleceu na mesma cidade em 22 de novembro

de 1984. Membro da Academia Pernambucana de

Letras e da Academia Brasileira de Letras, Cadeira nº

26, é um dos poetas brasileiros mais representativos

da Geração 45. Filho de José Feliciano da Mota e Al-

buquerque e de Aline Ramos da Mota e Albuquerque,

estudou na Escola Dom Vieira, em Nazaré da Mata,

no Colégio Salesiano e no Ginásio do Recife. Diplo-

mou-se na Faculdade de Direito do Recife, em 1937.

Tornou-se professor de História do Ginásio do Recife

e em várias escolas particulares; catedrático de Geo-

grafia do Brasil, por concurso público, do Instituto de

Page 639: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

639

Educação de Pernambuco. Desde os anos universitá-

rios colaborava na imprensa. Foi secretário, redator-

chefe e diretor do Diario de Pernambuco; colaborador

literário do Correio da Manhã, do Diário de Notícias e

do Jornal de Letras do Rio de Janeiro. De 1956 a 1971,

foi diretor executivo do Instituto Joaquim Nabuco de

Pesquisas Sociais; diretor do Arquivo Público de Per-

nambuco, de 1973 até 1983; membro do Seminário

de Tropicologia da Universidade Federal de Pernam-

buco e da Fundação Joaquim Nabuco. Foi membro

do Conselho Federal de Cultura de Pernambuco e do

Conselho Federal de Cultura. Recebeu o Prêmio Ola-

vo Bilac da Academia Brasileira de Letras e o Prêmio

da Academia Pernambucana de Letras por suas Ele-

gias (1952); o Prêmio Jabuti, da Câmara Brasileira do

Livro, e o Prêmio PEN Clube do Brasil, pelo livro de

poesias Itinerário (1975). Há três antologias publica-

das com sua obra: Antologia poética (1968); Antologia em

verso e prosa (1982) e, em 2001, a edição mais comple-

ta de sua obra poética: Mauro Mota, poesia, organizada

por Everardo Norões e Sônia Lessa Norões. Solidário

e fraterno, marcou sua presença em todos que com

ele conviveram e já tem seu nome definitivamente in-

crustado nas páginas da Literatura Brasileira.

Obras do autor: Elegias (1952); A tecelã (1956); Os epi-

táfios (1959); Capitão de fandango (1960, crônica); O

galo e o cata-vento (1962); Canto ao meio (1964); O pátio

vermelho: crônica de uma pensão de estudantes (1968,

crônica); Poemas inéditos (1970); Itinerário (1975); Per-

nambucânia ou cantos da comarca e da memória (1979); Pe-

mambucânia dois (1980); Mauro Mota, poesia (2001). An-

tologia poética (1968); Antologia em verso e prosa (1982).

MAURO Bento Dias SALLES (1932)* **

Jornalista, advogado, publicitário e poeta. Fez carrei-

ra no Rio, onde começou como repórter e fotógrafo

e chegou a diretor de Redação de O Globo. Participou

Page 640: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

640

como diretor de Jornalismo e diretor de Programa-

ção, do planejamento da inauguração e dos primeiros

tempos da TV Globo. Trabalhou 12 anos com Rober-

to Marinho. Na política, foi fiel à herança de seu pai,

Apolônio Salles, duas vezes ministro da Agricultura

de Getúlio Vargas e iniciador do primeiro grande

projeto brasileiro de energia hidrelétrica, a Usina de

Paulo Afonso, no rio São Francisco: em 1961-1962,

foi Secretário do Conselho de Ministro presidido pelo

primeiro-ministro Tancredo Neves, que foi colega de

seu pai, como ministro da Justiça, no segundo gover-

no de Getúlio Vargas; e em 1984-1985 coordenou a

campanha de Tancredo Neves como candidato à pre-

sidência da República. Atualmente Mauro Salles diri-

ge sua empresa Interamericana Ltda. – Engenharia

de Negócio, especializada em fusões, incorporações e

projetos especiais de empresas, e é vice-presidente do

Conselho da Publics Salles Norton, a terceira agência

de propaganda no mercado brasileiro, sucessora da

Mauro Salles Publicidade, que ele fundou em 1966.

MAXIMIANO Accioly CAMPOS (1941-1998)**

Ficcionista e poeta, nasceu no Recife, PE, em 19 de

novembro de 1941, e faleceu nessa mesma cidade em

1998. Pertence à Geração 65 de escritores pernam-

bucanos. Passou sua infância num engenho da Zona

da Mata de Pernambuco. No Recife, bacharelou-se

em Direito. Foi superintendente do Instituto de Do-

cumentação da Fundação Joaquim Nabuco; cronista

do Diario de Pernambuco e secretário de Turismo, Cul-

tura e Esportes entre o período de janeiro de 1987 a

dezembro de 1998, na gestão do governador Miguel

Arraes, quando marcou sua atuação e de sua equipe

por intensa atividade cultural, desenvolvendo inúme-

ros projetos, como o Trem da Cultura para a interio-

rização das atividades culturais; recriação do históri-

co Festival de Cantadores Populares e de concursos

Page 641: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

641

literários em diversas categorias. Deu novo impulso

à publicação de obras de relevância cultural com a

publicação, dentre outras, da poesia de Deolindo Ta-

vares e de Ascenso Ferreira, além de outras iniciativas

em diversas áreas. O Instituto Maximiano Campos,

criado em 2002, pelo escritor e advogado, Antônio

Campos, seu filho, com a finalidade primeira de pre-

servar a memória desse autor e sua obra, tem publica-

do várias reedições de seus livros e também originais

inéditos, destacando-se a novela Os cassacos (2003) e

toda a sua obra poética que o autor não publicou em

vida; “compondo, na área da ficção, um expressivo

mural da vida nordestina, ou melhor, da vida huma-

na, através deste pedaço de Brasil que é o Nordeste”,

como registra Antônio Campos, nas páginas virtuais

do IMC: <www.imcbr.org.br>. E prossegue com es-

tas referências: “Admirado e respeitado por intelec-

tuais do porte de Gilberto Freyre, Ariano Suassuna,

José Cândido de Carvalho, César Leal, Mauro Mota,

Raimundo Carrero, Ângelo Monteiro, dentre outros,

Maximiano legou à sua terra um precioso acervo

cultural (sua obra e sua biblioteca – que são os em-

briões formadores do próprio IMC) e uma memória

(os testemunhos dos seus companheiros de geração)

capazes, por si, de solidificarem toda uma história de

vida dedicada ao amor pelas artes e, em especial, pela

literatura. Detentor da Medalha do Mérito da Funda-

ção Joaquim Nabuco por „relevantes serviços presta-

dos à Cultura Brasileira‟ e da Medalha Rodrigo Melo

Franco de Andrade „por relevantes serviços prestados

ao Patrimônio Artístico e Histórico Brasileiro‟.” O

Pernambuco, terra da poesia é fruto de um homem que

se renova constantemente na memória dos pernam-

bucanos, portanto, “de um escritor devotado inteira-

mente ao seu ofício, de um legítimo defensor da sua

classe, do advogado e do homem público que jamais

sucumbiu aos convites nocivos e mesquinhos, enfim,

Page 642: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

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do poeta que, certa vez, escreveu que „tudo é velho

e novo e só o tempo não tem idade. O homem car-

regará as lembranças do seu passado mas será sem-

pre novo mesmo contra a sua vontade‟. Livre em sua

angústia e fiel à sua vocação valeu-se da pena para

conjugar a loucura imaginosa e, graças a ela, tornou-

se imortal.”, conforme conclui Antônio Campos. A

quarta edição de seu primeiro romance Sem lei nem

rei, foi publicada em 2008, pela Escrituras, SP.

Obras do autor: Sem lei nem rei (1968 - 2008, roman-

ce); As emboscadas da sorte (1971, contos); As sentenças

do tempo (1972, contos); As feras mortas (1975, contos);

O major Façanha (1975, novela); A loucura imaginosa

(1985, novela); A memória revoltada (1994, novela); O la-

vrador do tempo (2002, poesia); Cartas aos amigos (2002,

ensaios); Do amor e outras loucuras (2003, poesia); Os

cassacos (2003, novela); Na estrada (2004, contos).

José Joaquim de Campos da Costa de MEDEIROS E

ALBUQUERQUE (1867-1934)**

Jornalista, professor, político, contista, poeta, orador,

romancista, teatrólogo, ensaísta e memorialista, nas-

ceu no Recife, PE, em 4 de setembro de 1867, e fa-

leceu no Rio de Janeiro, RJ, em 9 de junho de 1934.

Em 1896 e 1897, compareceu às sessões preliminares

de instalação da Academia Brasileira de Letras. É o

fundador da Cadeira nº 22, que tem como patrono

José Bonifácio, o Moço. Foi um dos primeiros poetas

a revelar conhecimento da estética simbolista, pois vi-

veu em Paris de 1912 a 1916. Nas páginas virtuais da

Academia Brasileira de Letras, http://www.academia.

org.br/imortais/cads/22/medeiros.htm, encontram-se

as informações mais completas sobre o autor: “Autor

do Hino da República, ocupou vários cargos públicos.

Era filho do dr. José Joaquim de Campos de Medei-

ros e Albuquerque. Depois de aprender as primeiras

letras com sua mãe, cursou o Colégio Pedro II. Em

Page 643: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

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1880, acompanhou o pai em viagem para a Europa.

Em Lisboa, foi matriculado na Escola Acadêmica, e

ali permaneceu até 1884. De volta ao Rio de Janeiro,

fez um curso de História Natural com Emílio Goeldi e

foi aluno particular de Sílvio Romero. Trabalhou ini-

cialmente como professor primário adjunto, entran-

do em contato com os escritores e poetas da época,

como Paula Ney e Pardal Mallet. Estreou na literatura

em 1889 com os livros de poesia Pecados e canções da

decadência, em que revelou conhecimento da estéti-

ca simbolista, como testemunha a sua “Proclamação

decadente”. Em 1888, estava no jornal Novidades, ao

lado de Alcindo Guanabara. Embora tivesse entu-

siasmo pela ideia abolicionista, não tomou parte na

propaganda. Fazia parte do grupo republicano. Nas

vésperas da proclamação da República, foi a São Pau-

lo em missão junto a Glicério e Campos Sales. Com

a vitória da República, foi nomeado, pelo ministro

Aristides Lobo, secretário do Ministério do Interior

e, em 1892, por Benjamin Constant, vice-diretor do

Ginásio Nacional. Foi professor da Escola de Belas

Artes (desde 1890), vogal e presidente do Conserva-

tório Dramático (1890-1892) e professor das escolas

de 2º grau (1890-1897). Simultaneamente às ativida-

des de funcionário público, exercia as de jornalista.

Durante o período florianista, dirigiu O Fígaro. Foi

nesse jornal que teve ocasião de denunciar a deposi-

ção que se tramava em Pernambuco do governador

Barbosa Lima. Em 1894, foi eleito deputado federal

por Pernambuco. Medeiros estreou na Câmara con-

seguindo a votação para lei dos direitos autorais. Em

1897, foi nomeado diretor-geral da Instrução Pública

do Distrito Federal. Estando na oposição a Prudente

de Moraes, foi forçado a pedir asilo à Embaixada do

Chile. Demitido do cargo, foi aos tribunais defender

seus direitos e obteve a reintegração. Voltou também

à Câmara dos Deputados, formando nas fileiras de

Page 644: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

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oposição a Hermes da Fonseca. Durante o quatriênio

militar (1912-1916), foi viver em Paris. De volta ao

Brasil, defendeu a entrada do Brasil na guerra que

devastava a Europa, em campanha que contribuiu

para o rompimento de relações do Brasil com a Ale-

manha. Suas conferências se tornaram famosas no

Rio de Janeiro. Ocupou a secretaria-geral da ABL de

1899 a 1917. Foi autor da primeira reforma ortográ-

fica ali promovida. Foi quem respondeu a Graça Ara-

nha, quando do rompimento deste com a Academia.

Por ocasião da campanha da Aliança Liberal, esteve

ao lado do governo Washington Luís. Vitoriosa a re-

volução de 30, refugiou-se na Embaixada do Peru. De

1930 a 1934, dedicou-se às atividades de colaborador

diário da Gazeta de São Paulo e de outros jornais do

Rio de Janeiro e às suas múltiplas atividades na Aca-

demia, onde fazia parte da Comissão do Dicionário e

era redator da Revista. Empenhou-se nos debates en-

tão travados em torno da simplificação da ortografia.

Era um grande defensor da ideia da simplificação, e

seu último artigo na Gazeta de São Paulo, publicado

no dia de sua morte, versou sobre esse assunto. Na

imprensa, escreveu também sob os pseudônimos Ar-

mando Quevedo, Atásius Noll, J. dos Santos, Max,

Rifiúfio Singapura.”

Obras do autor: Pecados (1889); Canções da decadência

(1889); Um homem prático (1898, contos); Mãe tapuia

(1900, contos); Poesias 1893-1901 (1904); Contos esco-

lhidos (1907); Em voz alta (1909, ensaios); O escânda-

lo (1910, teatro); O silêncio é de ouro (1912, ensaios);

Pontos de vista (1913, ensaios); Literatura alheia (1914,

ensaios); O regime presidencial no Brasil (1914, políti-

ca); Marta (1920, romance); Páginas de crítica (1920,

ensaios); Mistério, em colaboração (1921, romance); O

hipnotismo (1921, ensaio); Fim (1922); Graves e fúteis

(1922, ensaios); Teatro meu... e dos outros (1923); O as-

sassinato do general (1926, contos); Poemas sem versos

Page 645: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

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(1924); Por alheias terras... (1931, memória); O umbigo

de Adão (1932, contos); Parlamentarismo e presidencialis-

mo (1932, política); Se eu fosse Sherlock Holmes (1932,

contos); Laura (1933, romance); Quando eu falava de

amor (1933); Minha vida da infância à mocidade 1867-

1893 (1933, memória); Minha vida da mocidade à ve-

lhice 1893-1934 (1934, memória); Surpresas (1934,

contos); Homens e coisas da Academia (1934, ensaios);

Quando eu era vivo... Memórias 1867 a 1934 (1942, edi-

ção póstuma).

MICHELINY VERUNSCHK Pinto Machado

(1972)* **

Poetisa, nasceu no Recife, PE, em 1972. Estreou em

livro em 2003. Ficou entre os 10 finalistas da edição

2004 do Prêmio Portugal Telecom de Literatura.

Obras da autora: Geografia íntima do deserto (2003); O

observador e o nada (2003).

MONTEZ MAGNO de Oliveira (1934)* **

Poeta, artista plástico, tradutor, conferencista, en-

saísta, contista, nasceu em Timbaúba, PE, em 1934.

Começou a escrever poesias aos 16 anos de idade e,

quatro anos depois, passou a publicá-las no Jornal do

Commercio. Posteriormente, escreveu artigos para esse

mesmo jornal e, ainda, para o Diário da Noite, PE, e

Jornal do Brasil, RJ. Em 1962, muda-se para São Paulo,

onde ganha bolsa de estudos do Instituto de Cultura

Hispânica e vai para Madri cursar História da Arte,

ministrada por José Almagro. Transfere-se para Mi-

lão, Itália, estuda com Gianni Brusamolino e faz ami-

zade com os poetas Murilo Mendes e Vinicius de Mo-

raes. Em Paris, visita os ateliês de Cícero Dias e Di Ca-

valcanti. De volta ao Brasil, é convidado pela UFPB,

para lecionar Arte. Escreveu vários contos e pequenos

ensaios sobre artes, publicados em jornais e revistas.

Parte dessas anotações foram transcritas da segunda

Page 646: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

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edição da Panorâmica do conto em Pernambuco (2010),

integrante da coleção Pernambuco em antologias.

Obras do autor: Floemas (1978); Narkosis (1979, 1981);

Pequenos sucessos (1981); Dentro da caixa, cinza (1980);

As estações visionárias (1962-1970); Diwân de Casa Forte

(1992).

MÚCIO Carneiro LEÃO (1898-1969)**

Jornalista, poeta, contista, crítico, romancista, ensaís-

ta e orador, nasceu no Recife, PE, em 17 de fevereiro

de 1898, e faleceu no Rio de Janeiro, RJ, em 12 de

agosto de 1969. Foi membro da Academia Brasilei-

ra de Letras, Cadeira nº 20. Nas páginas virtuais da

ABL <http://www.academia.org.br/imortais/cads/20/

mucio.htm>, encontram-se os seguintes registros:

“Foram seus pais o dr. Laurindo Leão e Maria Feli-

císsima Carneiro Leão. Fez os estudos secundários

no Recife, no Instituto Ginasial Pernambucano, de

Cândido Duarte. Bacharelou-se em Direito, em 1949,

e logo a seguir transferiu-se para o Rio de Janeiro,

vindo a ser redator do Correio da Manhã. Logo depois

era colaborador da primeira coluna daquela folha,

publicando ali seus primeiros artigos de apreciações

críticas. Em 1923, deixou o Correio da Manhã, transfe-

rindo-se para o Jornal do Brasil. Na coluna de crítica

do Correio da Manhã foi substituído por Humberto de

Campos a quem ele, por sua vez, haveria de substi-

tuir em 1931. Em 1934, por morte de João Ribeiro,

substituiu-o na coluna de crítica do Jornal do Brasil.

Em 1941, fundou, com Cassiano Ricardo e Ribeiro

Couto, o matutino A Manhã, onde criou o suplemento

literário Autores e Livros, que dirigiu desde então, e

que se transformou numa vasta história da literatura

brasileira (11 volumes de 1941 a 1950). Múcio Leão

exerceu os seguintes cargos públicos ou comissões:

oficial de gabinete do Ministro da Fazenda (1925);

fiscal geral das Loterias (1926); agente fiscal do Im-

Page 647: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

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posto de Consumo (1926); presidente da Comissão

do Teatro do Ministério da Educação (1939); profes-

sor do curso de Jornalismo da Faculdade de Filosofia

da Universidade do Brasil. Na Academia Brasileira

de Letras, foi segundo-secretário (1936); primeiro-

secretário (1937, 1938); secretário-geral (1942, 1943,

1946 e 1948) e presidente (1944). Organizou inúme-

ras publicações, notadamente a obra crítica de João

Ribeiro: Estudos críticos, 1º vol. (1934); Crítica, vol. I

Clássicos e românticos brasileiros (1952); vol. IX Os mo-

dernos (1952); vol. II Poetas. Parnasianismo e simbolismo

(1957); vol. III Autores de ficção (1959); vol. IV Críticos e

ensaístas (1959); vol. V Filólogos (1961); vol. VI Historia-

dores (1961); João Ribeiro, 2º vol. da obra que começou

a ser publicada em 1934 (1962). Em 1960, proferiu

uma série de três conferências no Instituto Histórico

e Geográfico Brasileiro, sob o título O pensamento de

João Ribeiro (publicadas na Revista do Instituto, vol.

248, julho-setembro de 1961).”

Obras do autor: Ensaios contemporâneos (1923, en-

saios); Tesouro recôndito (1926); A promessa inútil e outros

contos (1928, contos); No fim do caminho (1930, roman-

ce); Prêmio de pureza (1931, contos); Castigada (1934,

romance); Os países inexistentes (1941); Poesias (1949);

Emoção e harmonia (1952 ensaios); Salvador de Mendon-

ça (1952, ensaio biobibliográfico); João Ribeiro (1954,

ensaio biobibliográfico); José de Alencar (1955; ensaio

biobibliográfico).

MÚCIO DE LIMA GÓES (1969)* **

Poeta e escritor, é natural da cidade de Palmares, PE,

onde nasceu a 2 de fevereiro de 1969. Conhecida

como a “Terra dos Poetas”, sua cidade foi berço do

poeta Ascenso Ferreira, um dos ícones do Movimento

Modernista (1922), assim como do escritor Hermilo

Borba Filho, e do também poeta Juhareiz Correya.

Múcio começou a escrever ainda nos tempos de co-

Page 648: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

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légio, fazendo uso de um tom satírico que arrancava

sempre um sorriso dos leitores. Com o surgimento da

internet, montou um blog onde passou a postar sua

poesia e cativar leitores. Em 2008, conseguiu lançar

seu primeiro livro pela editora pernambucana Nossa

Livraria, chamado O avesso e o verso. Embalado pela

boa aceitação do primeiro trabalho, em 2009, lançou

Grãos ao alto! a convite da editora mineira A Árvore dos

Poemas. Seu terceiro livro, Incensos, insônias, silêncios e

outros sons, será também editado pela Nossa Livraria.

Obras do autor: O avesso e o verso (2008); Grãos ao alto

(2009); Incensos, insônias, silêncios e outros sons (2010).

MYRIAM BRINDEIRO de Moraes Vasconcelos

(1937)* **

Poetisa, compositora, pesquisadora, nasceu no Reci-

fe, PE, em 26 de junho de 1937. Faz parte da Gera-

ção 65 e foi uma liderança definitiva nas atividades

das Edições Pirata (1979/1983), pois fez do primeiro

andar de sua residência em Apipucos o local onde

eram encadernados os livros desse movimento edito-

rial e onde se reuniam os que nela trabalhavam. Foi

bacharelada em Ciências Sociais pela Fafire, em 1959,

e pertence à União Brasileira de Escritores (UBE-PE).

Pesquisadora aposentada da Fundação Joaquim Na-

buco (Fundaj), (1994), tem vários relatórios de pes-

quisa, estudos e artigos publicados. Criou 200 com-

posições próprias e poesias musicadas de vários au-

tores. Participou da antologia: A cor da onda por dentro

(1981); Poesia viva do Recife (1996); Saciedade dos poetas

vivos (1995); Poesia viva do Recife (1996); A obra em tem-

pos vários – Gilberto Freyre (1999); Música e músicos em

Pernambuco (2006); Cantos e contos de Natal (2006); O

fim da velhice (2006/2008); 100 Anos de frevo (2007);

Cordel do Menino Jesus (2007, org.); Seleções do século

XXI (2007); O planeta feito quintal (2009); Agendas do

poeta (2006, 2007, 2008, 2009, 2010).

Page 649: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

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Obras da autora: Clave provisória (1979 / 1983, poe-

sias e partituras); Coceira no ouvido (1982); Cisco no olho

(1983); Caixinha com os dois livros (2003); Capelinha de

melão (1993).

José da NATIVIDADE SALDANHA (1796-1830)**

Poeta, advogado, nasceu em Santo Amaro do Jaboa-

tão, PE, em 8 de setembro de 1796, e morreu tragi-

camente em Bogotá, Colômbia, afogado numa vala

de esgoto, em 30 de março de 1830, aos 34 anos

de idade. Era filho ilegítimo do Padre João José de

Saldanha Marinho e de Lourença da Cruz. É patro-

no da Cadeira nº 5 da Academia Pernambucana de

Letras. Em 1819, matriculou-se na Universidade de

Coimbra, onde se bacharelou em Direito em 1823.

Mestiço, participou da Confederação do Equador

no Recife, fugiu para a Inglaterra e foi para a Fran-

ça, de onde foi expulso como subversivo. Teve vida

agitada. Viveu na Venezuela, pobre, em dificuldades,

onde chegou a advogar, dar aulas particulares e, em

Bogotá, foi professor de humanidades. No Dicionário

biobibliográfico de poetas pernambucanos (1993), Lamar-

tine Morais transcreve estas notas de seu maior bió-

grafo, Sílvio Romero: “Este poeta era um homem de

talento e de coração; era um resto daqueles espíritos

ativos que tivemos e que nos prepararam a emancipa-

ção política. Em Portugal, como estudante, de 1819 a

1823, em vez de se ocupar em seus cantos dos rebo-

talhos assuntos da poesia reinol, decantou as velhas

glórias da história pernambucana. Por este lado, ele

é singular em seu tempo e merece um posto especial

na literatura. Em seus hinos patrióticos, há uma vida,

um calor, um entusiasmo que, só cinquenta anos mais

tarde, acharam um equivalente na alma do poeta dos

Voluntários Pernambucanos. Recomendo-os à leitura

de todos aqueles que amam o Brasil. Para tudo dizer

sem rodeios, Saldanha tinha uma grande inteligência,

Page 650: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

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cheia de entusiasmo pela pátria e repleta de desalen-

tos por sua posicão e por sua origem; era quase negro

e filho de um padre. Os preconceitos do seu tempo

fizeram-no sofrer por isso e por suas ideias liberais”.

Obras do autor: Poemas oferecidos aos amigos e amantes

do Brasil (1822); Discurso sobre tolerância (1826); Poesias

(1875).

NELSON Nogueira SALDANHA (1933)* **

Poeta, ensaísta, bacharel em Direito e em Filosofia,

nasceu no Recife, PE, em 1933. É membro da Acade-

mia Pernambucana de Letras, Cadeira nº 12, e pro-

fessor universitário. Publicou várias obras em prosa

com temas sociais e políticos e textos literários.

Obras do autor: História das ideias políticas no Brasil

(1968, ensaio); Temas de história e política (1969); Sociolo-

gia do Direito (1970, ensaio); Velha e nova ciência do Direi-

to (1974, ensaio); Poesia (1977); Livro de sonetos (1983);

Humanismo e história (1983); A relva e o calendário (1990);

Pela preservação do humano (1992, ensaio); Na tarde inde-

finida (1995); Tempo, metais, zodíaco (2000).

ODILE VITAL CÉSAR CANTINHO (1915)* **

Poetisa, cronista, ensaísta e artista plástica, nasceu em

26 de fevereiro de 1915, na cidade do Recife, PE. Es-

tudou no Colégio Pritaneu e fez o Curso Normal no

Colégio Nossa Senhora do Carmo. Redigiu programa

semanal na PRA-8 (1948/1952) sob o pseudônimo de

Liane. Colaborou com o Suplemento Feminino do

Diario de Pernambuco com crônicas, por alguns anos.

Participou de diversas antologias entre 1993 e 2004,

dentre elas, Corpo astral, presença poética e Retratos. Foi

premiada com o terceiro lugar no Concurso de Contos

de Araçatuba (São Paulo, 1989), com O sonar; Menção

Honrosa, com O muro, em Paranavaí, PR, em 1991. É

sócia da União Brasileira de Escritores UBE-PE, da

Academia de Letras e Artes do Nordeste Brasileiro,

Page 651: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

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da Academia Recifense de Letras, da União Brasilei-

ra de Trovadores. Sócia honorária da Sociedade de

Médicos Escritores (Sobrames), Grupo Literário Ce-

lina de Holanda e artista plástica cadastrada na Arte

Maior desde 1996.

Obras da autora: Poemas (1979); Poemas (1980); Horas

extras (1982, contos); O máximo de amor possível (1986,

contos); Hecatombe da vitória (1988, ensaios); Louvação

a Hermilo Borba Filho (1994, ensaio); Reflexões (1995,

pensamentos filosóficos); Thargélia Barreto de Mene-

zes (1996, panegírico); Histórias da carochinha em sete

versões diferentes (1996, contos); Vila Cantinho (1996,

ensaio); Madrugada (1997, crônicas); O rio que sonha

ser lago (1998); A lapinha e outras fábulas (2001, fábu-

las); Crônica brincantes (2004, crônicas); Shalom Miriam

(2004, ensaio).

OLEGÁRIO MARIANO Carneiro da Cunha (1889-

1958)**

Poeta, político e diplomata, nasceu no Recife, PE, em

24 de março de 1889, e faleceu no Rio de Janeiro, RJ,

em 28 de novembro de 1958. Membro da Academia

Brasileira de Letras, Cadeira nº 21, tomou posse em

1926. Era filho de José Mariano Carneiro da Cunha,

herói pernambucano da Abolição e da República, e

de Olegária Carneiro da Cunha. Fez o primário e o

secundário no Colégio Pestalozzi, na cidade natal, e

cedo se transferiu para o Rio de Janeiro. Nas páginas

virtuais da ABL <http://www.academia.org.br/imor-

tais/cads/21/mariano3.htm>, encontram-se estas

informações: “Frequentou a roda literária de Olavo

Bilac, Guimarães Passos, Emílio de Meneses, Coelho

Neto, Martins Fontes e outros. Estreou na vida literá-

ria aos 22 anos com o volume Angelus, em 1911. Sua

poesia falava de neblinas, de cismas e de sofrimen-

tos, perfeitamente identificada com os preceitos do

Simbolismo, já em declínio. Foi inspetor do ensino

Page 652: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

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secundário e censor de teatro. Representou o Brasil,

em 1918, como secretário de embaixada, na Missão

Melo Franco. Foi deputado e participou da Assem-

bleia Constituinte que elaborou a Carta de 1934. Em

1937, ocupou uma cadeira na Câmara dos Deputa-

dos. Foi ministro plenipotenciário nos Centenários

de Portugal, em 1940; delegado da Academia Brasi-

leira na Conferência Interacadêmica de Lisboa para

o Acordo Ortográfico de 1945; embaixador do Brasil

em Portugal em 1953-1954. Exerceu o cargo de ofi-

cial do 4º Ofício de Registro de Imóveis, no Rio de

Janeiro, tendo sido antes tabelião de Notas. Em con-

curso promovido pela revista Fon-Fon, em 1938, Ole-

gário Mariano foi eleito, pelos intelectuais de todo o

Brasil, Príncipe dos Poetas Brasileiros, em substitui-

ção a Alberto de Oliveira, detentor do título depois

da morte de Olavo Bilac o primeiro a obtê-lo. Além

da obra poética iniciada em livro em 1911, e enfeixa-

da nos dois volumes de Toda uma vida de poesia (1957),

publicados pela José Olympio, Olegário Mariano pu-

blicou durante anos, nas revistas Careta e Para Todos,

sob o pseudônimo de João da Avenida, uma seção

de crônicas mundanas em versos humorísticos, mais

tarde reunidas em dois livros: Bataclan e Vida caixa de

brinquedos. Sua poesia lírica é simples, de fundo ro-

mântico, pertinente à fase do sincretismo parnasia-

no-simbolista de transição para o Modernismo. Ficou

conhecido como o „poeta das cigarras‟, por causa de

um de seus temas prediletos”.

Obras do autor: Angelus (1911); Sonetos (1921); Evan-

gelho da sombra e do silêncio (1913); Água corrente, com

uma carta prefácio de Olavo Bilac (1917); Últimas ci-

garras (1920); Castelos na areia (1922); Cidade maravi-

lhosa (1923, prosa); Bataclan (1927, crônicas em verso);

Canto da minha terra (1931); Destino (1931); Poemas de

amor e de saudade (1932); Teatro (1932); Antologia de tra-

dutores (1932); Poesias escolhidas (1932); O amor na poesia

Page 653: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

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brasileira (1933); Vida caixa de brinquedos, crônicas em

verso (1933); O enamorado da vida, com prefácio de Jú-

lio Dantas (1937); Abolição da escravatura e os homens do

norte, conferência (1939); Em louvor da língua portugue-

sa (1940, ensaio); A vida que já vivi (1945, memórias):

Quando vem baixando o crepúsculo (1945); Cantigas de

encurtar caminho (1949); Tangará conta histórias (1953,

poesia infantil); Toda uma vida de poesia (1957).

OLÍMPIO BONALD da Cunha Pedrosa NETO

(1932)* **

Poeta, advogado, professor universitário e artista

plástico, nasceu em Olinda, PE, a 17 de outubro de

1932. Filho do poeta e advogado Alcindo Pedrosa e

Octávia Barreto Pedrosa. Graduado em Ciências Ju-

rídicas e Sociais pela Faculdade de Direito do Recife,

em 1955. Entre outros, fez o curso de Artes Plásticas

na “Escola Livre da Ribeira”, na década de 1960, o de

Planejamento do Desenvolvimento Turístico (Cicatur

/ OEA / México, em 1974) e o de pós-graduação em

Jornalismo Político na Unicap, em 1982. É membro

da Academia Pernambucana de Letras (APL) desde

1981, Cadeira nº 1, do Instituto Histórico de Olinda

e da entidade congênere de Goiana, da União Bra-

sileira de Escritores, UBE/ PE, da Sociedade de Poe-

tas Vivos de Olinda, da Comissão Pernambucana de

Folclore, da Academia de Letras e Artes do Nordeste

Brasileiro, do Centro de Estudos de História Munici-

pal, da FIAM, da Academia Olindense de Letras e da

congênere do Recife. Advogado Trabalhista e Civil e

Procurador Federal aposentado, foi membro do Con-

selho de Cultura do Estado e de órgãos congêneres

de Olinda e do Recife; deu consultoria de Cultura

e Turismo na Empetur, desde a sua fundação até a

década de 1980. Fez parte do Conselho de Preser-

vação dos Sítios Históricos de Olinda, do Conselho

Editorial da Fundarpe, da “Comissão Internacional

Page 654: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

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das Organizações de Festivais Folclóricos” da Unesco,

foi presidente da Fundação de Cultura da Cidade do

Recife, entre 1994-1995, e representou as instituições

literárias de Pernambuco no Conselho da Lei de In-

centivo à Cultura do Governo do Estado de Pernam-

buco, de 1995 a 1996; vice-presidente da Comissão

Nacional de Folclore. É professor universitário, fun-

dador da Funeso e do Curso de Turismo da Unicap.

De 1997 a 2000, foi consultor de cultura da cidade

de Olinda. É pintor com várias exposições e obras

em coleções particulares. É detentor da Comenda da

Ordem dos Guararapes, do Estado de Pernambuco e

de vários prêmios literários, entre os quais o de Con-

tos, conferido pela Secretaria de Educação e Cultura

do Estado de Pernambuco, em 1957; o de Poesia, da

União Brasileira de Escritores, UBE-PE, em 1966; o

de Ensaio, da Academia Pernambucana de Letras, em

1976, e o de Antropologia Cultural, da Fundação Joa-

quim Nabuco, em 1990. Participou de 11 antologias

poéticas, entre elas: Violão de rua II (1963); Poética olin-

dense (1981); Presença poética do Recife (1983); Poetas da

rua do Imperador (1986); Álbum do Recife (1987); Poésie

du Brésil (bilíngue, Paris), (1997); Mormaço e sargaço. I

Antologia de poetas nordestinos e contemporâneos (1998);

Poemas de sal e sol. II Antologia de poetas nordestinos e

contemporâneos (1999) e Antologia de poetas nordestinos.

Ano 2000, estas três últimas organizadas e editadas

por Benito Araújo (ED-micro).

Obras do autor: Um negro volta ao mangue (1957, con-

tos); Dura e breve história da Ilha do Maruim (1961);

Palco e palanque (1963 e 1988, antropologia cultural);

Tríptico (1965); Os bacamarteiros (1965, antropologia

cultural); O homem que devia ter morrido há três anos

(1966, contos); Que é turismo? (1973, ensaio); Hinapino

(1974); Estudo de cor na zona da Mata Sul pernambucana

(1975); Introdução ao estudo do turismo (1975, ensaio);

Bacamarte, pólvora e povo (1976, antropologia cultu-

Page 655: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

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ral), Cantoria (1980); Balada bacamarteira no alto do

Bom Jesus (1983); Cultura, turismo e tempo: a fruição do

intangível (1983, ensaio); Praxis Amandi (1984); Uma

noite no castelo (1985, contos); O livro da poesia (1990);

A loba e os faisões (1992, contos); Seresta em tempo de caju

(1996, contos); Gigantes e foliões de Pernambuco (1992,

antropologia cultural); Modernismo e integralismo. A

Ideologia dos anos trinta (1996, antropologia cultural).

ORISMAR RODRIGUES Martins (1943-2007)**

Poeta, jornalista, nasceu em Gravatá, PE, em 1943,

e morreu no Recife, em 2007. Em seu livro mais re-

cente, Ritual de sonhos, 1997, p. 171, encontramos a

seguinte biografia: “Toda sua formação escolar foi

feita no Recife, onde estudou no Colégio Americano

Batista e Universidade Católica de Pernambuco (Uni-

cap). Formado em Jornalismo na turma de 1972, foi

repórter do Diario de Pernambuco entre abril de 79 e

fevereiro de 97. Desde então atua no Jornal do Com-

mercio. Em 1987, publicou Destino das águas (poemas),

que ganhou o Prêmio Othon Bezerra de Mello, da

Academia Pernambucana de Letras (APL). Em 1993,

lançou Navegador do tempo (poemas). Integrou a an-

tologia poética Nus, organizada pelo jornalista, poe-

ta e crítico literário Paulo Azevedo Chaves. Coorde-

nou a antologia poética dos jornalistas e estudantes

de Jornalismo, lançada pela Associação de Imprensa

de Pernambuco (AIP), de onde foi diretor. Integra o

Conselho Editorial da Fundação do Patrimônio His-

tórico e Artístico de Pernambuco (Fundarpe). Destino

das águas foi espetáculo com a encenação de Visão Cê-

nica e Dramatização, no Teatro Barreto Júnior, pelos

atores Rubem Rocha Filho, Pedro Dias e Alba Lúcia

Bradley, coordenadora do evento. O poema “Des-

caminhos”, do livro Destino das águas, adaptado por

Lupicínio Rodrigues Filho e Eron Vianna, integra o

disco “Flor Humana”. Inspirada nos versos de Destino

Page 656: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

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das águas, a designer carioca Suzette Kischinev lançou

uma coleção de joias, no Rio de Janeiro. O Serviço

Social do Comércio (Sesc), Departamento Regional

em Pernambuco, como parte do seu projeto Poetas

em Casa, apresentou no seu teatro, em Santo Amaro,

o espetáculo dramatizado com poemas do Navegador

do tempo, sob a direção de Célio Pontes. O maestro e

professor de Música da Universidade Federal de Per-

nambuco (UFPE) Henrique Lins compôs Canções de

Câmara com os poemas dos livros Navegador do tempo

e Ritual de sonhos. Algumas dessas canções fazem parte

do programa curricular exigido no Curso de Bacha-

relado em Canto, da UFPE. Foi diretor do Sindicato

dos Jornalistas Profissionais de Pernambuco. “César

Leal, na quarta capa do livro referido, registra: Oris-

mar Rodrigues é um poeta que o Recife devia conhe-

cer melhor. Um acentuado lirismo reflete-se em seus

poemas através de imagens, alegorias e símbolos,

onde podemos identificar uma honradez própria de

quem leva a sério a difícil arte de escrever poemas”.

Sua morte, em 20 de outubro de 2007, comoveu o

mundo cultural pernambucano e teve grande reper-

cussão na imprensa local.

Obras do autor: Destino das águas (1987); Navegador

do tempo (1993); Ritual dos sonhos (1997); Poemas do

oriente e outros reinos (2002); Antologia poética (2004).

ORLEY MESQUITA (1935-2006)*

Poeta, nasceu em Alagoa Grande, município do Es-

tado da Paraíba, em 1935, e morreu no Recife, PE,

em fevereiro de 2006. Conviveu intensamente com

o mundo cultural pernambucano, inclusive com os

escritores da Geração 65, como revela a antologia

Clave, Caderno de poesia, publicada em 1965, onde se

encontram seus poemas. Publicou seus primeiros tra-

balhos no Correio das Artes, de João Pessoa, e no Diario

de Pernambuco. Exerceu vários cargos públicos e fez

Page 657: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

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parte do Conselho Cultura do Estado. Anco Márcio,

no Interpoética, informa: “E seus versos tinham, assim

como sua prosa falada, a capacidade de nos paralisar.

Poucos foram seus poemas publicados. Nos anos 60,

publicou no primeiro e único número da revista Cla-

ve. Ainda nesta mesma década, em 1967, lançou um

livro intitulado Orley, que trazia “Oito fragmentos do

livro da fera”. Em 1979, saiu um volume que escreve-

ra também nos anos 60: O vocábulo das horas. Por fim,

em 1981, Poemas em preto e branco. Afora esses quatro

pequenos volumes, teve alguns versos publicados em

antologias, revistas literárias e jornais da terra”.

Obras do autor: Orley (1967); Vocábulo das horas (1979);

Poemas em preto e branco (1981).

PAULINO [Paulo] Batista DE ANDRADE (1886

–)**

Nasceu a 11 de maio de 1886, na cidade de Olinda,

PE. Dedicou-se ao magistério e, durante muitos anos,

foi diretor do Colégio Porto Carreiro. Um dos funda-

dores da revista literária Heliópolis. Ocupou a Cadeira

nº 18, da Academia Pernambucana de Letras.

PAULO BANDEIRA DA CRUZ (1940-1993)**

Poeta, artista plástico e advogado, nasceu nos Qua-

tro Cantos, em Olinda, PE, em 1940 e morreu em

1993. Bacharel em Direito pela Universidade Federal

de Pernambuco, começou a escrever em 1959, publi-

cando seus primeiros trabalhos no Jornal do Commer-

cio, do Recife, com o apoio do jornalista Esmaragd

Marroquim e, posteriormente, no Diario de Pernam-

buco, quando seu suplemento era dirigido por Ariano

Suassuna. Fez parte do grupo de escritores Poetas da

Rua do Imperador, tendo publicado seus poemas na

antologia de mesmo nome, publicada em 1986, com

sua apresentação sob o título “Biografia da rua”, p.

11. Seus trabalhos foram publicados no sul do país

Page 658: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

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(Tempo Brasileiro) e no exterior (Revista Colóquio/

Letras. Portugal; La Burbuja, Espanha). Fez incursões

no desenho e na pintura. Participou do 21º Salão de

Pintura do Museu do Estado de Pernambuco (Recife,

setembro de 1962). Prêmios: Othon Bezerra de Melo

(Academia Pernambucana de Letras-Poesia, 1975);

Menção Honrosa do Prêmio Manuel Bandeira, do

Governo do Estado de Pernambuco Poesia (1978); I

Concurso Fontana de Poesia (Rio de Janeiro. 1982);

1º Prêmio do I Concurso Interno de Contos do Cete-

pe (Recife, 1982); 4º lugar do II Prêmio Scortecci de

Poesia (São Paulo. 1983).

Obras publicadas: Ato de desesperança (1960); Sonetos

(1964); Itinerário do boi além do campo (1975); O evange-

lho consoante João da Silveira Severino (1981).

PAULO Roberto Barbosa BRUSCKY (1949)* **

Poeta visual e artista multimídia, nasceu no Recife,

PE, em 1949. Faz parte da Geração 65 de escritores

pernambucanos. Publicou em 1969 os seus primeiros

“poemas-processo”. Em 1981, obteve o Prêmio Inter-

nacional de Artes Visuais da Fundação Guggenheim

de Nova Iorque. A partir de 1973, entrou no Movi-

mento Internacional da Arte Correio, sendo pioneiro

no Brasil da xerografia artística (1970) e da fax arte

(1980). Citação na Enciclopédia britânica do Brasil “A

Década de 70/Literatura” (1980) e Enciclopédia de lite-

ratura brasileira, Afrânio Coutinho e J. Galante e Sousa

(1990). Participação em exposições de poesia visual e

sonora em diversos países: Small Press Festival (Bélgica,

1976); Poéticas Visuais (Brasil, 1977); Visual & Sound

Poetry (Itália, 1979), Poesia Visiva (Itália, 1980); Salon de

la Lettre et du Signe (França, 1980); The Visual and Con-

crete Poetry in Latin America (Polônia, 1980); Poesia Ex-

perimental Hoy (Espanha, 1982); 1ª Bienal Internacional

de Poesia Visual (México, 1975); 1° Festival Internacional

de Poesia – Viva (Portugal, 1987); IV Bienal de Poesia

Page 659: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

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Visual (Espanha, 1992), entre outras. Organizou várias

exposições, entre as quais: Poesia Viva (Brasil, 1977);

1º (Ra(u)dio Arte Show, Brasil, 1979); 1ª e 2ª Exposição

Internacional de Poemas Visuais em Outdoor-Artdoor (Bra-

sil, 1981-1982). Alguns dos seus trabalhos foram pu-

blicados em: lnternational Poetry (E.U.A.), Oggi Poesia

Domani (Itália), Ville (E.UA.), Março (México, El Mago

(Espanha); Apsiom (Alemanha); Kaldron (E.U.A.); Qua-

derni di Nuovo Ruolo (Itália), Ovum (Uruguai); lnter-

media (E.U.A.), Doc(k)s (França), Soft Art Press (Suíça),

Ephemera (Holanda); Cisoria Arte (Venezuela); Art Con-

temporary (Canadá.); A Point of View Visual Poetry: the

90’s Anthology, Edition D. Bulatov (Rússia, 1998); Poe-

sia Totale: 1897-1997, Org. Sarenco e E. Mascelloni,

Adriano Parise Editare (Itália, 1998).

Obras do autor: Alto retrato (1981); Teste poético (1982);

A comunicação nas estradas (1986); Abelardo de todas

as horas (1988, ensaio biográfico); Voz poética (1997,

antologia); Vida, arte, palavra: perfis de Luís Jardim

(1998, ensaio biográfico); Marchas de procissão (1998,

pesquisa); Espetáculos populares de Pernambuco (1998,

livro/CD, pesquisa); Vicente do Rego Monteiro: poeta.

tipógrafo, pintor (2004, ensaio biobibliográfico).

PAULO Fernando Lins CALDAS (1945)* **

Poeta e ficcionista, nasceu em Pernambuco, em 15

de dezembro de 1945. Dedica-se à literatura infan-

to-juvenil, desde 1980, publicou vários livros neste

segmento, entre eles, Asas pra que te quero, As faces do

escorpião, Flores para Cecília, A cor da pele e O sol além

da minha rua, com o selo da Edições Bagaço e Esses bi-

chos maravilhosos e suas incríveis aventuras, pela Editora

Atual. No gênero poesia, participou de várias antolo-

gias publicadas no Recife e em Fortaleza, entre elas,

Flora e fauna nos trópicos (2002). Foi vencedor nos con-

cursos: 25 Anos da Celpe e 50 Anos da AABB.

Page 660: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

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PAULO CARDOSO Dias (1939-2002)**

Poeta nascido em São José do Egito, sertão de per-

nambuco, radicou-se no Recife, desde adolescente e

faleceu em 2002. Foi membro da Academia de Le-

tras e Artes do Nordeste Brasileiro e da Academia

Recifense de Letras da qual foi presidente. Sócio da

União Brasileira de Escritores UBE-PE, fez parte de

sua diretoria. Tem onze livros publicados. Obteve os

seguintes prêmios: Prêmio Nanie Siqueira Campos,

da APL-1995, com o livro As veias da noite (1993); com

A pedra dos oráculos (1996) obteve Menção Honrosa no

Prêmio Lira e César, da APL (1997). Participou de di-

versas antologias poéticas nacionais e internacionais

e teve poemas publicados em revistas e jornais de vá-

rios pontos do território nacional. Foi homenageado

pelo Governo do Estado de Pernambuco (Secretaria

de Educação e Esportes e Biblioteca Pública Estadual

Presidente Castello Branco) através do Projeto Escri-

tores Vivos de Pernambuco, vol. 4.

Obras do autor: Árvores sem sol (1964); Poemas e salva

de versos (1992); As veias da noite (1993); Fronteira de

dois chãos (1995); A pedra dos oráculos (1996).

PAULO Gonçalves DE ARRUDA (1873-1900)**

Poeta e jornalista, nasceu no Recife a 5 de janeiro de

1873. Faleceu a 8 de maio de 1900. É patrono da Aca-

demia Pernambucana de Letras, Cadeira nº 19. Foi

considerado um grande sonetista. Com França Pe-

reira e Teotônio Freire, organizou a revista Contempo-

rânea. Deixou inédito um livro de poemas intitulado

Nelumbos.

PAULO GUSTAVO de Oliveira (1957)* **

Poeta e professor de Literatura Brasileira, nasceu no

Recife em 25 de janeiro de 1957. É bacharel em Le-

tras e mestre em Teoria da Literatura pela Universi-

dade Federal de Pernambuco, servidor concursado da

Page 661: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

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Fundação Joaquim Nabuco e sócio da Consultexto.

Organizou a antologia Meio-dia eterno, do poeta per-

nambucano Austro Costa, editada pela Fundação do

Patrimônio Histórico e Artístico de Pernambuco. Par-

ticipa de várias antologias poéticas pernambucanas.

Obras do autor: Queda para o alto (1979); Quando tudo

era brinquedo (1981, poesia infantil); Pausa para o invi-

sível (1982, contos); A redenção do acaso (1984); O que te

trai, o que te cala (1992); Aleluia no caos (1995); O poder

da noite (2004).

PEDRO AMÉRICO DE FARIAS (1948)* **

Poeta, ensaísta, ficcionista, nasceu em Ouricuri, no

sertão do Araripe pernambucano, em 10 de abril de

1948. Apologista da poesia regional, coordenou vá-

rios seminários, destacando-se os cursos do Festival de

Inverno da Unicap, onde promoveu cursos de litera-

tura moderna, tropicalismo, literatura dos anos 70 e

literatura de cordel. Conforme verbete enviado por

esse autor: não faz parte de qualquer movimento li-

terário, considera-se, lato sensu, um experimentalista

das formas poéticas, usando a métrica ou o verso li-

vre. Escreve poesia, ensaio e prosa crítica, mas prefere

alimentar-se na leitura da prosa de ficção. É licencia-

do em Letras, pós-graduado em Educação de Adultos.

Concebe, coordena projetos editoriais e faz revisão de

textos na Fundação de Cultura Cidade do Recife, da

qual é servidor desde 1986. No ano de 2005, fez parte

da direção do 3º Festival Recifense de Literatura.

Obras do autor: Livro sem título (1973); Conversas de

pedra (1981); Picardia (1994). Pernambuco: século e

meio de ficção (2001, ensaio).

PEDRO Pereira de Carvalho XISTO (1901-1987)**

Poeta, prosador, advogado, nasceu em Limoeiro, PE,

a 6 de agosto de 1901. Bacharelou-se pela Faculdade

de Direito de Recife, em 1920, e, pela primeira classi-

Page 662: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

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ficação em sua turma, recebeu como prêmio uma via-

gem à Europa. Fez outros cursos superiores no estran-

geiro. Foi brilhante advogado, chegou a assessorar

Secretarias de Estado, em São Paulo. Foi encarregado

do Serviço Especial de ligação cultural do Governo

do Estado com o Ministério das Relações Exteriores

e com o Corpo Diplomático Estrangeiro. Participou

de várias comissões culturais. Sendo adido cultural de

diversos países, lecionou Língua e Literatura Brasilei-

ra na Universidade de Toronto. Tornou-se ativo inte-

grante da literatura de vanguarda, escrevendo para

antologias e revistas. Publicou vários poemas que

serviram de tema para apresentações artísticas, bem

como espetáculos de “total environment”: computa-

dores e outros meios eletrônicos, leitura coral, coreo-

grafia, artes plásticas, luz e som, não só no Brasil, mas

ainda no Canadá e nos Estados Unidos.

Obras do autor: Haikais & concretos (1960); Oito hai-

kais de Pedro Xisto (1960); Poesia em situação (1960);

Acht haikais de Pedro Xisto (1962, com música de‟ H.

J. Koellreutter); Caderno de aplicação (1966); Bahia

vogaláxia (1966, poema semiótico); Bahia logogramas

(1966, poemas visuais); Guimarães Rosa em três dimen-

sões (1970, teoria e crítica).

PIETRO WAGNER (1972)* **

Poeta e publicitário, nasceu no Recife, em 1972. É ba-

charel em Letras, pela Universidade Federal de Per-

nambuco, e foi proprietário, por dois anos, da Livra-

ria Kriterion. Vencedor do Prêmio Eugênio Coimbra

Jr. de Poesia, 1997, promovido pela Prefeitura do Re-

cife, com o livro Liturgia dos nomes. Menção Honrosa

em concurso de poesia promovido pela UBE-RJ. Tem

poemas e artigos publicados pelo Jornal do Commercio

e pelo Suplemento Cultural do Diário Oficial de Per-

nambuco. Participou da antologia Poesia pernambuca-

na moderna (1999), elaborada pelo poeta e crítico Cé-

Page 663: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

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sar Leal, encarte da Revista Estudos Universitários.

É organizador, juntamente com Delmo Montenegro,

dos três volumes da antologia de poesia Invenção Re-

cife (2004). Tem inédito o livro Vozes da ilha, ao qual

pertencem os poemas aqui publicados.

Obras do autor: Liturgia dos nomes (1988).

POTIGUAR MATOS (1921-1996)**

Poeta, geógrafo, historiador e professor, nasceu em

Pesqueira, PE, em 1921, e morreu no Recife, PE, em

19 de fevereiro de 1996. Bacharel e licenciado em

Geo-História pela Universidade Católica de Pernam-

buco (1945-1946). Bacharel em Ciências Jurídicas e

Sociais pela Faculdade de Direito da Universidade Fe-

deral de Pernambuco. Dedicou-se ao magistério, ten-

do lecionado a Cadeira de História em vários colégios

recifenses e na UFPE. Publicou obras didáticas e se

destaca também como conferencista. Homem ligado

às letras, publicou várias obras em prosa e em versos.

A sua obra poética mereceu o Prêmio de Poesia Othon

Bezerra de Melo, da Academia Pernambucana de Le-

tras, em 1982. No Dicionário biobibliográfico de poetas

pernambucanos (1993, p. 268-269), cita-se a seguinte

nota de Gilberto Freyre sobre esse autor: “Aconteci-

mento que coincide com o aparecimento de outra

obra-prima: o livro em que o magistral historiador

Potiguar Matos conta a história do Clube Internacio-

nal do Recife, tão ligado à cidade”. E do poeta Mauro

Mota: “Já estive aqui no „Diario‟ três vezes sem ter a

sorte de encontrá-Io. Agora não posso mais retardar

os meus agradecimentos pelo que você escreveu so-

bre Pernambucância. Foi uma das coisas mais belas que

até hoje recebi. Que finura crítica de apreensão bem

mais do que os versos dizem: o que eles queriam di-

zer! Que talento de expressão essencial e plural!”

Obras do autor: Exercícios de História (s.d., didático);

Clube Internacional do Recife (s.d., prosa); A face do tem-

Page 664: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

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po. 12 Poemas de outubro (s.d.); Da história americana

(prosa, s.d.); Considerações à margem de um humanismo

(ensaio, s.d.); História: o problema da natureza (en-

saio, s.d.); Gilberto Freyre, historiador (ensaio, s.d.); Cul-

tura luso-brasileira e ecumenismo (ensaio, s.d.); Atuali-

dade dos estudos históricos (ensaio s.d); Em torno de uma

teoria do simbolismo (ensaio, s.d); O diário, uma aventura

da liberdade (ensaio s.d); Gente pernambucana (ensaio,

s.d); Gilberto Freyre: presença definitiva (1998).

RITA JOANNA DE SOUZA (1696-1718)**

Pintora, poetisa, filósofa, historiadora e estudiosa de

várias ciências, nasceu em Olinda no ano de 1696 e

morreu em 1718. Essas informações e outras encon-

tram-se na obra rara: Pernambucanas illustres (1879), do

pernambucano Henrique Capitolino Pereira Mello,

página 95 a 100, fotografadas e inseridas neste li-

vro, mas também se transcreve aqui um excerto: “Em

1696, alguns anos apenas depois de Bento Teixeira

Pinto, surgia no seio de Olinda a poetisa e pintora

Rita Joanna de Souza, e só depois dela apareceram no

Brasil Ângela do Amaral, Delphina da Cunha, Violan-

te, Nísia Floresta Brasileira, Emília Gomide e outras

muitas outras. (...) Dedicou-se aos estudos da Geogra-

fia e da História fazendo rápidos progressos e escre-

vendo sobre estas ciências algumas apostilhas que se

sumiram nas trevas do passado, mas de que conserva-

mos memória, graças aos nossos cronistas. Aplicou-se

também à pintura e à poesia, e constante cultivo das

artes e das letras viu escoarem-se os mais belos dias de

sua vida! Neste belo viver de crenças e de esperanças,

de ilusões e de sonhos, em que sua alma tão jovem e

tão entusiasta se embevecia e se deleitava, chegou o

ano de 1718 e com ele a morte que pôs termo à sua

vida, ainda no arrebol!” E, em nota de pé de página,

acrescenta- se: “Dr. Antonio de V. M. de Drummond

em seu artigo – Apologia ao bello sexo – publicado no jor-

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nal Aurora em 1849, diz o seguinte, acerca desta poe-

tisa: „Nasceu em Olinda da província de Pernambuco,

filha do Dr. João Mendes Teixeira. Tornou-se insigne

em literatura, filosofia racional, história e belas artes.

Publicou obras interessantes, que recomendaram seu

nome à posteridade, e morreu em 1719 com 24 anos

incompletos.” No entanto, a pesquisadora Eliane

Vasconcellos, em verbete do livro Escritoras brasileiras

do século XIX (2000, p. 45), abre o volume com essa

poetisa do século XVII, discutindo as 18 obras pes-

quisadas: “Chega a ser inquietante o que lemos em

obras realmente importantes como as de Ferdinand

Denis, Varnhagen e Joaquim Norberto, para citar os

estudiosos mais ilustres, numa lista de 18 autores que

trataram de Rita Joana de Sousa. Cada um procurou

passar adiante os mesmos dados lidos nas obras pre-

cedentes, as quais, por sua vez, nada documentaram,

além da notícia de uma „„jovem escritora” sem obra.

Portanto, depois de lançado o primeiro grão de uma

lenda em solo fértil, passou-se, a partir daí, à pará-

frase, à imaginação de dados para suprir lacunas das

fontes iniciais, como acontece com Joaquim Manuel

de Macedo e Inês Sabino.”. É interessante ler as no-

tas pertinentes e toda a discussão que Rita Joanna de

Souza consegue despertar. A pesquisadora chegou a

1734, com a obra Portugal ilustrado pelo sexo feminino,

do português Diogo Manuel Alves de Azevedo e daí

traça o percurso de todo o seu estudo pelas obras raras

pesquisadas. Tudo para finalmente concluir e anuir

com uma citação de Domingos Carvalho da Silva, en-

contrada no livro Vozes femininas da poesia brasileira, de

1959: “é um nome apenas, mas pode simbolizar o de

muitas poetisas ignoradas cuja voz alegrou os salões

coloniais das casas grandes.” No Pernambuco, terra

da poesia, com sua “visão panorâmica”, ou, para usar

uma definição mais técnica, com uma pesquisa mais

extensiva que compreensiva, concede a essa polêmica

Page 666: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

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sete páginas fotografadas do livro de Henrique Capi-

tolino Pereira de Mello, no setor de Obras Raras da

Biblioteca Pública Estadual de Pernambuco, neste ano

de 2005, por três motivos básicos: o primeiro para ex-

por a questão e lembrar que a pesquisadora Eliane

Vasconcellos não esgotou a sua busca, uma vez que

não localizou a obra Teatro heroíno, de Damião Fróis

Pereira, citado, conforme ela própria, “pela maioria

dos biógrafos consultados”. O segundo motivo é para

anuir, em parte, com a homenagem de Domingos

Carvalho da Silva, que, através da poetisa em questão,

lembra todas aquelas ignoradas em face das contin-

gências históricas brasileiras; a terceira, para home-

nagear todos os pesquisadores que se dedicam a revi-

talizar o passado das nossas Letras. Motivos bastantes

para acreditarmos que fazendo parte apenas do ima-

ginário ou tendo existido com todas as qualidades a

ela atribuídas, Rita Joanna de Souza merece a nota, a

anotação e o interesse de todos nós.

S.R. TUPPAN [Sílvio Romero Costa Lima] (1969)* **

Poeta, educador e editor, nasceu em Garanhuns, PE, a

18 de junho de 1969. Filho de Honório Davi de Lima,

bacharel em Direito e funcionário público, e de Maria

Aparecida Costa Lima, servidora pública, educadora,

artesã e artista plástica. É editor da revista Poética XXI

e do sítio virtual www.poetica.art.br. Publicou o demo

book Atinguaçu Poesia, em 1995. Realizou a Exposição

de Poemas em Quadros, em homenagem ao sesquicen-

tenário de Castro Alves, em 1997. Tem poemas seus

em jornais, revistas, fanzines, banners, na internet e no

livro-catálogo da exposição Nordestes (Fundaj/SESC,

São Paulo, 1999). Participante de movimentos artís-

ticos e sociais, tem recitado nos mais diversos eventos

e locais, em vários Estados brasileiros, além de pro-

gramas de rádio e de televisão, só ou acompanhado

de outros poetas, músicos e artistas visuais. Ministrou

Page 667: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

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oficinas Lítero-Corporais no Recife e Região Metro-

politana e no Interior de Pernambuco e da Paraíba.

Aparece em vídeos e documentários televisivos. Possui

inéditos os livros de poemas Atinguassu e Burusssu.

SEBASTIÃO UCHOA LEITE (1935-2003)**

Poeta, ensaísta e tradutor, nasceu em Timbaúba, PE,

em 1935 e faleceu no Rio de Janeiro, em 2003. Criou-

se e formou-se no Recife, considerando-se recifense,

mas fez do Rio de Janeiro seu domicílio literário,

sendo incluído em antologias como 41 Poetas do Rio

(1998). Cursou Direito e Filosofia na Universidade

Federal de Pernambuco. Em 1979, ganhou o Prêmio

Jabuti de poesia, com o livro Antilogia. Em 2003, an-

tes de sua morte, obteve o segundo lugar do Prêmio

Portugal Telecom de Literatura Brasileira, em sua

primeira versão. Traduziu: Stendhal, Lewis Carol,

Julio Cortazar, François Villon e Octavio Paz, entre

outros autores da literatura universal.

Obras do autor: 10 Sonetos sem matéria (1960); Anti-

logia (1979); Isso não é aquilo (1982); Obra em dobras

1960-1988 (1989, poesia reunida); A uma incógnita

(1991); A ficção vida (1993).

SEBASTIÃO VILA NOVA (1944)*

Sociólogo, ensaísta e poeta, nasceu em Rio Largo, AL,

em 17 de janeiro de 1944. Foi professor da Univer-

sidade Católica de Pernambuco e pesquisador titular

da Fundação Joaquim Nabuco. Pertence à Geração 65

de escritores pernambucanos. Em 1974, foi laureado

com o Prêmio Recife de Humanidades, pelo ensaio A

realidade social da ficção: uma sociologia paralela (Re-

cife: Instituto Joaquim Nabuco, 1975), relançado em

2005 pela Fundaj. Visiting Scholar da Universidade de

Chicago (1989-1990), onde realizou, com o apoio da

Comissão Fulbright, pesquisas avançadas na área da

sociologia reflexiva; professor visitante da Universida-

Page 668: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

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de Internacional e da Universidade Lusófona, ambas

em Lisboa. Em 1988, nomeado pelo então Ministro

da Cultura, Celso Furtado, foi o delegado oficial do

Brasil no I Congresso Internacional de Arte e Cultura

Popular, realizado em Gorizia, Itália. É como soció-

logo que vem publicando livros e artigos acadêmicos

no Brasil, nos Estados Unidos, na Áustria, Inglaterra

e Suíça. É autor de vários livros de Sociologia, abran-

gendo a Arte e a Cultura. Sua obra Introdução à so-

ciologia transformou-se num sucesso editorial. Como

poeta, estreou em livro, com Teoria completa dos dias e

das noites (1979).

SÉRGIO MOACIR DE ALBUQUERQUE (1946-

2008)* **

Poeta, crítico literário, romancista, pintor, contista,

nasceu em 21 de abril de 1946 no Recife e faleceu na

mesma cidade em 31 de agosto de 2008. Diplomou-

se em Ciências Sociais, UFPE. Começou a escrever

na imprensa artigos com estrutura de ensaios, sobre

grandes nomes da literatura, aos 15 anos de idade.

Trabalhou no IJNPS, sob a direção de Mauro Mota,

ao lado de Arnaldo Tobias, Maximiano Campos, Síl-

vio Soares, Cyl Gallindo, de quem também era con-

discípulo na Fafipe/UFPE. Nessa época, participou da

Agenda poética do Recife: antologia dos novíssimos, que

mereceu o prefácio de Joaquim Cardozo, 1986, e o

tornou participante da Geração 65. Escreveu o prefá-

cio da 4ª edição do Manifesto regionalista modernista do

Recife, lançado por Gilberto Freyre, mas que perma-

necia inédito, em livro, 1967. Após concluir o curso

na Faculdade, para fugir da repressão e da censura do

golpe militar de 1964, mudou-se para a França, onde

fez mestrado na área de Sociologia da Literatura, sob

orientação de Jacques Leenhardt, e doutorado, ten-

do com mestre Rolland Barthes, do qual se tornou

amigo, na Ecole Pratique des Hautes Etudes de Paris.

Page 669: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

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Os poemas de Murais da morte integram a bibliografia

de sua Pós-Graduação em Religião da Universidade

Federal de Juiz de Fora, MG. Como pintor, realiza

individual na Galeria de Tiago Amorim, e foi assessor

de artes plásticas da Fundarpe. De volta ao Brasil, ca-

sou-se com a também escritora Lucila Nogueira, com

quem viveu quase trinta anos. Da união, tiveram três

filhas. A Fliporto de 2008 homenageou Sérgio com

Painel, do qual participaram, além de Lucila e as fi-

lhas Marina, Natália e Almenara, os escritores Lucilo

Varejão Neto, José Mário Rodrigues, Ângelo Montei-

ro e Cyl Gallindo. Este verbete faz parte da segunda

edição da Panorâmica do conto em Pernambuco (2010),

integrante da coleção Pernambuco em antologias.

Obras do autor: Murais da morte (1968, poesia, ilustra-

do por Vicente do Rego Monteiro); Irene (1975, roman-

ce); Sinfonia (1990, poesia); Cantos da definitiva primave-

ra (1998, poesia). Deixou inéditos romances, novelas e

poemas e uma monografia sobre Osman Lins.

SÉRGIO BERNARDO da Silva (1942)* **

Poeta, nasceu em Pernambuco a 21 de janeiro de

1942. Faz parte da Geração 65 de escritores pernam-

bucanos e participou do movimento editorial das

Edições Pirata. Nascente de punhos é um dos seus livros

publicados.

SEVERINO FILGUEIRA de Menezes (1937)

Poeta, novelista e teatrólogo, nasceu em Aracaju, SE,

em 21 de agosto de 1937. Mas passou a residir no

Recife, desde a infância. Possui os seguintes livros

inéditos: O inventário (romance); Joanna e Jogo Duro

(peças teatrais). A referência seguinte é de Alberto

da Cunha Melo: “Severino Filgueira escreve exclu-

sivamente para si mesmo. Tanto isso é verdade que

ele sequer assina seus poemas. Uma grande parte de

sua obra está dispersa, em escritórios de seus raros

Page 670: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

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amigos (não os tem mais porque não quer, pois é um

sujeito bom e verdadeiro), outra parte está irreme-

diavelmente perdida nos botequins de beira de estra-

das, nos caminhos da praia de Pau Amarelo. Há um

absoluto desleixo pelo que faz. É um perdulário da

poesia, como se tivesse consciência de que ela dele

transborda, imensa e numerosa. Como se nenhum

poema fizesse falta à sua obra, e esta não precisasse

ser assinada e, muito menos, publicada. Concorre aos

concursos de poesia, não para ganhar nome, e sim di-

nheiro, porque não tem qualquer fonte de renda. São

seus amigos que batem à máquina os seus poemas,

reunindo-os em livros e, às vezes, como já aconteceu

comigo, levam-no para inscrevê-la”.

Obras do autor: Aposentos do sonho, in Quíntuplo (1974),

Iniciação à fábula (1979), Qualquerum (1998).

SILVANA MENEZES de Souza (1967)*

Atriz, poeta e estudante de Letras, nasceu em Umbu-

zeiro, PB, em 1967, mas reside em Olinda, PE, desde

1979. Coordena no Centro de Cultura Luiz Freire, as

Quartas Literárias. Participou da coletânea poética

Marginal Recife III (2004).

Francisco SOLANO TRINDADE (1908-1974)**

Poeta, comerciante, autodidata nas Letras, nasceu a

24 de julho de 1908, na cidade do Recife, PE, filho

de Manoel Abílio, sapateiro de profissão, e de Me-

renciana Quituteira, também conhecida como Dona

Merença, doméstica, ambos pretos humildes residen-

tes na rua Nogueira. Fez incursões na poesia, no tea-

tro e no folclore. Na antologia poética, Tem gente com

fome e outros poemas, 1988, publicado após sua morte

(1974), Uelinton Farias Alves registra: “Ligado desde

cedo às atividades folclóricas e culturais de sua cida-

de natal, Solano Trindade ali participou de inúmeras

manifestações artísticas, literárias e políticas, sempre

Page 671: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

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voltadas para a problemática social, em particular

a integração do negro à sociedade. Fundou a Fren-

te Negra Pernambucana, com Barros Mulato, pintor

primitivista de grande significação na vida do poeta

e o escritor Vicente Lima. Antes de se transferir para

o Rio de Janeiro, onde fixou residência no Município

de Duque de Caxias, o poeta negro esteve na Bahia,

no Rio Grande do Sul, em Belo Horizonte e São Pau-

lo. Nesta última cidade implantou um polo do Teatro

Popular Brasileiro, cuja fundação ocorreu no Rio, em

1950, juntamente com Edison Carneiro e sua esposa

Margarida Trindade. Solano Trindade publicou seus

primeiros trabalhos no Recife, por volta de 1930. O

livro Poemas de uma vida simples, publicado em 1944,

foi a sua primeira obra. Voltou a editar em 1958, em

comemoração dos seus 50 anos, quando lançou Seis

tempos de poesia. Em 1961, foi a vez de Cantares ao meu

povo, seu último trabalho publicado em vida. Tal livro

mereceu uma segunda edição em 1981, pela Editora

Brasiliense. Em 2008, a Fliporto reverenciou os 100

anos de nascimento do poeta com um painel especial

liderado pela sua filha Raquel Trindade. O livro Poe-

mas antológicos de Solano Trindade (2008) é uma das

mais recentes coletâneas da poesia do autor.

Obras do autor: Poemas de uma vida simples (1944); Seis

tempos de poesia (1958); Cantares do meu povo (1961);

Tem gente com fome e outros poemas (1988).

SUZANA BRINDEIRO GEYERHAHN (1942-1996)*

**

Poeta, nasceu no Recife, em 4 de março de 1942, e

morreu na capital pernambucana no dia 31 de ju-

lho de 1996. Viveu em Paris, São Paulo e Rio de Ja-

neiro, frequentou o Institut de Hantes Études pour

l‟Amerique Latine, Paris (1963). Diplomou-se em Fi-

losofia pela Faculdade de Filosofia do Recife, Fafire

(1962), e em Linguística pela Unicap (1979). Publi-

Page 672: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

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cou Estações do segredo em 1980, pelas Edições Pirata,

Recife, e o reeditou, em 1989, pelas Edições Taurus-

Timbre, Rio de Janeiro, com o título Estações em se-

gredo. Sobre sua poesia, escreveu Mauro Gama “(...)

o novo destes poemas não é o postiço, não vem de

segunda mão, pela Penguin Books ou pela Varig. A

autora trabalha com importações ou contrabando de

imagens, sabores, tintas, tendências. Se sente no seu

texto, isso sim, uma busca do novo ao mesmo tempo

dela própria e da nossa vasta realidade.”

Francisco TADEU Barbosa de ALENCAR ( 1963)**

Poeta brasileiro, nasceu em 8 de abril de 1963, na

cidade de Juazeiro do Norte, no cariri cearense, à

sombra da Chapada do Araripe, na divisa com Per-

nambuco. Veio morar na cidade de braços líquidos,

tendo estudado na Faculdade de Direito do Recife,

ocasião em que desenvolveu intensa atividade polí-

tica, no movimento estudantil e bancário. Tocado

pela exuberância da floresta do lugar onde nasceu

e pelo encanto da cidade escolhida, especialmente a

vocação libertária de Pernambuco, escreve poesia e

prosa poética desde o início da década de 80, sem

que, todavia, tenha ainda publicado. Costuma dizer

“que os poemas estão ardendo em suas mãos “. Em

vias de publicação As ordenações cotidianas. Como pre-

sidente da Associação dos Funcionários do Tribunal

de Contas do Estado, criou, em 1992, a Semana de

Arte daquele Órgão, tendo participado, como poeta,

desta e de outras iniciativas, como a exposição “Cores

do Sertão”, da fotógrafa Renata Vaz, em que criou os

textos que ilustram as fotos, em 1999, no Gabinete

Português de Leitura. Autor de discursos com forte

carga poética e histórica, sempre tendo o Recife e

Pernambuco como motes. Um dos mais conhecidos,

o que publicado com o título de „Ode ao Recife‟, Dis-

cursos Brasileiros – Pernambuco, Ensol, Ltda, 2005.

Page 673: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

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Autor de artigos em jornais do Estado. Procurador da

Fazenda Nacional, desde 1993, ex-Procurador Geral

Adjunto da Fazenda Nacional, em Brasília, e desde

2007, com o início do Governo Eduardo Campos,

Procurador Geral do Estado. Membro do Instituto

Cultural do Vale do Cariri, no Crato, no qual irá to-

mar posse na recém-criada cadeira Miguel Arraes de

Alencar. Tem grande interesse em genealogia, através

do qual desenvolveu pesquisa sobre os seus ancestrais,

como Bárbara Pereira de Alencar, heroína da Revo-

lução Pernambucana de 1817 e da Confederação do

Equador, em 1824.

TARCÍSIO MEIRA CÉSAR (1941-1988)

Poeta, cientista social, nasceu em Patos, PB, em 1941.

Aos 15 anos, transferiu-se para o Recife, onde se for-

mou em Ciências Sociais pela Faculdade de Filosofia

do Recife. Logo cedo ingressou na imprensa como

profissional e colaborou com inúmeros jornais e revis-

tas de todo o país e do exterior, para alguns dos quais

continua escrevendo. Em 1967, mudou-se para o Rio

de Janeiro, onde publicou seu primeiro livro, Poemas

da terra estranha, do qual diz que se arrependeu, exce-

to por alguns poemas, alguns aliás publicados em O

espelho em que terminas.

Obras do autor: Poemas da terra estranha (1967); O es-

pelho em que terminas (1986).

TARCÍSIO Miguel REGUEIRA Costa Xavier

(1956)* **

Poeta e produtor cultural, seu nome está ligado a

eventos importantes de Pernambuco. Publicou o livro

de poemas, Pão de vidro de onde foram selecionados

os poemas deste painel literário.

Page 674: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

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TARGÉLIA BARRETO DE MENESES (1879-

1909)**

Poetisa, contista e musicista, nasceu no Barro, Reci-

fe, PE, em 1879, e morreu aos 30 anos no seu sexto

parto, deixando cinco filhos. Filha do filósofo, advo-

gado, professor e orador sergipano, Tobias Barreto.

Sua obra se encontra dispersa em jornais recifenses

e de Aracaju, para onde migraram dois de seus ir-

mãos, após a morte do pai. Essa referência e outras

importantes se encontram no verbete redigido pela

escritora e biógrafa pernambucana Luzilá Gonçalves

Ferreira, no livro Escritores brasileiros do século XIX,

volume II (2004). Na página 882, registra-se: “Com

exceção de um conto, de feição moderna, publicado,

postumamente, num jornal de Recife, em 1910, a

maior parte do legado acessível da escritora são sone-

tos compostos à moda parnasiana. Estes poemas, por

um lado, atestam uma preocupação séria, quer pela

feição poética delicada e sensível, quer pelo cuidado

constante com a temática, a forma e o vocabulário,

uma demonstração da cultura literária que a poetisa

soube herdar do pai; e, por outro lado, denunciam

um espírito levemente irônico, às vezes zombeteiro,

de uma mulher que se dirige aos homens com um

olhar lúcido e bem-humorado. Targélia Barreto de

Meneses se revela uma observadora da natureza e do

coração humano, que se coloca inteira nos poemas

que compôs.”

Francisca TEREZA TENÓRIO de Albuquerque

(1949)* **

Nasceu no Recife, PE, em 20 de dezembro de 1949.

Pertence à Geração 65 de escritores pernambucanos e

teve participação importante nas comemorações dos

30 anos dessa Geração, em 1995, quando, além de

outras atividades, organizou a antologia, Treze poetas

da Geração 65, com o poeta Jaci Bezerra. Faz parte da

Page 675: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

675

União Brasileira de Escritores (UBE-PE). Detentora

do Prêmio de Poesia Dramatizada da Fundação de

Cultura Cidade do Recife em 1992, foi considerada

Autora do Ano de 1999 pela Editora Universum de

Trento, Itália. Foi colaboradora de jornais e revistas

oficiais e alternativos, nacionais e estrangeiros, par-

ticipa de antologias poéticas na França, Itália e Por-

tugal, esta última comemorativa dos quinhentos anos

de descoberta do Brasil da Revista Semestral de Cultu-

ra ANTO, nº 3, Primavera, Edições Tâmega, 1998,

Amarante. Foi homenageada pelo Projeto Poesia 96

da Secretaria de Cultura de São Paulo. Foi diretora de

Cultura e Eventos da União Brasileira de Escritores de

Pernambuco, e é sócia das seções do Rio de Janeiro e

de São Paulo da UBE, além do Sindicato de Escritores

do Rio de Janeiro, da IWA - International Writers and

Artists Association de Bluffton, USA, da Academia de

Letras e Artes do Nordeste, onde ocupa a Cadeira nº

21, e da Internacional de Literatura e Artes e Socie-

dade dos Poetas Vivos. Foi advogada e integrante de

movimentos contra a violência. Atualmente, devido a

problemas de saúde, encontra-se afastada do meio li-

terário. A musa roubada (2007), coletânea de seus poe-

mas organizada por Lucila Nogueira e Wellington de

Melo, é o seu mais recente livro publicado pela Com-

panhia Editora de Pernambuco, CEPE.

Obras da autora: Parábola (1970); O círculo e a pirâmi-

de (1976); Mandala (1980); Poemaceso (1985); Noturno

selvagem (1991); Corpo da terra (1994); Fábula do abismo

(1996); A casa que dorme (2002); A musa roubada (2007).

TOBIAS BARRETO de Meneses (1839-1889)

Poeta, advogado, filósofo, nasceu na vila sergipana de

Campos, a 7 de junho de 1839 e faleceu no Recife,

PE, em 27 de junho de 1889. Filho de Pedro Barreto

de Meneses, escrivão de órfãos e ausentes da loca-

lidade. É o patrono da Cadeira nº 38 da Academia

Page 676: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

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Brasileira de Letras e pai de Targélia Barreto de Me-

neses, pernambucana, também incluída neste painel.

Nas páginas virtuais da ABL, <http://www.academia.

org.br/imortais/cads/38/tobias.htm>, citam-se anota-

ções do excelente biógrafo de Tobias Barreto, Ermes

Lima, que, em parte, transcrevemos aqui: “Aprendeu

as primeiras letras com o professor Manuel Joaquim

de Oliveira Campos. Estudou latim com o padre Do-

mingos Quirino, dedicando-se com tal aproveitamen-

to que, em breve, iria ensinar a matéria em Itabaia-

na. Em 1861 seguiu para a Bahia com a intenção de

frequentar um seminário mas, sem vocação firme,

desistiu de imediato. Sem ter prestado exames pre-

paratórios voltou à sua vila donde sairá com desti-

no a Pernambuco. Em 1854 e 1865 o jovem Tobias,

para sobreviver, deu aulas particulares de diversas

matérias. Na ocasião prestou concurso para a cadeira

de latim no Ginásio Pernambucano, sem conseguir,

contudo, a desejada nomeação. Em 1867 disputou a

vaga de Filosofia no referido estabelecimento. Ven-

ceu o prélio em primeiro lugar, mas é preterido mais

uma vez por outro candidato. Para ocupar o tempo,

entrega-se com afinco à leitura dos evolucionistas es-

trangeiros, sobretudo o alemão Ernest Haeckel que

se tornaria um dos mais famosos cientistas da época

com seus livros Os Enigmas do Universo e As Ma-

ravilhas da Vida. No campo das produções poéticas

passou Tobias a competir com o poeta baiano Antô-

nio de Castro Alves, a quem superava, contudo, no

lastro cultural. O fato de ser mestiço prejudicou-lhe

a vida amorosa numa época cheia de preconceitos,

conforme testemunho de Sílvio Romero. Na oratória

Tobias se revelava um mestre, qualquer que fosse o

tema escolhido para debate. O estudo da Filosofia

empolgava o sergipano que nos jornais universitários

publicou “Tomás de Aquino”, “Teologia e Teodiceia

não são ciências”, “Jules Simon”, etc. Ainda antes de

Page 677: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

677

concluir o curso de Direito casou-se com a filha de

um coronel do interior, proprietário de engenhos no

município de Escada. Eleito para a Assembleia Pro-

vincial não conseguiu progredir na política local. De-

dicou vários anos a aprofundar-se no estudo do ale-

mão, para poder ler no original alguns dos ensaístas

germânicos, à frente deles Ernest Haeckel e Ludwig

Büchner”. Conta Hermes Lima, em sua magnífica

biografia de Tobias, que ele “para irritar o burguês,

com uma nota mais ostensiva de superioridade, abria

frequentemente seu luminoso leque de pavão: o ger-

manismo”. Foi em alemão que Tobias redigiu o jor-

nal Deutscher kampfer (O lutador alemão). Mais tarde

sairiam de sua pena os Estudos alemães. A residência

em Escada durou cerca de dez anos. Ao voltar ao Re-

cife, aos escassos proventos que recebia juntaram-se

os problemas de saúde que acabaram por impedi-lo

de sair de casa. Tentou uma viagem à Europa para

restabelecer-se fisicamente. Faltavam-lhe os recursos

financeiros para isso. No Recife, abriram-se subs-

crições para ajudá-lo a custear-lhe as despesas. Em

1889, estava praticamente desesperado. Uma semana

antes de morrer, enviou uma carta a Sílvio Romero

solicitando, angustiosamente, que lhe enviasse o di-

nheiro das contribuições que haviam sido feitas até

19 de junho daquele ano. Dias mais tarde falecia, em

27 de junho de 1889, hospedado na casa de um ami-

go. A obra de Tobias é de significativo valor, levan-

do em conta que o professor sergipano não chegou

a conhecer a capital do Império. Hermes Lima, ao

comentar o refúgio de Tobias Barreto em Escada, es-

clareceu: “Em Escada, além de publicar o Fundamento

do direito de punir, erige o germanismo em caminho de

cultura. É onde aprofunda seu Haeckel, onde elabora

sua posição filosófica, onde traça as coordenadas da

revolução espiritual que viria a deflagrar-se no país”.

Suas Obras completas, editadas pelo Instituto Nacional

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do Livro em 1926-1927, incluem os seguintes títulos:

Ensaios e estudos de filosofia e crítica; Brasilien, wie es ist;

Ensaio de pré-história da literatura alemã, Filosofia e crí-

tica, Estudos alemães; Dias e noites, Polêmicas; Discursos;

Menores e loucos; Questões vigentes, Vários escritos.

TOMÁS SEIXAS (1916-1993)**

Poeta pernambucano, nasceu em 1916 e morreu em

1993. Possui um único livro de poesia editado: Sonata

à Lílian ou as sombras no espelho, de 1984, com ilustra-

ção de Francisco Brennand. O exemplar é apresentado

pelo poeta e crítico César Leal (p. 13) que anota: “Aria-

no Suassuna costuma dizer que é algo de maravilhoso

ouvir Tomás Seixas falar sobre a arte e a literatura de

qualquer época. Embora nunca haja ensinado em uma

Universidade, ele fala sobre Cervantes e Shakespeare

com elegância, força e segurança, somente comparável

a poetas com Oscar Wilde, um Pound e um Montale”.

ULISSES LINS DE ALBUQUERQUE (1889-1979)**

Poeta, memorialista, historiador e ficcionista, Ulisses

Lins de Albuquerque nasceu no dia 9 de maio de 1889

na Fazenda Pantaleão em Alagoa de Baixo, hoje, ci-

dade de Sertânia. Bacharel em Direito pela faculdade

de Direito do Recife em 1927, exerceu o cargo de In-

spetor de Consumo em Pernambuco, Alagoas e São

Paulo. Deputado Federal à Constituinte de 1945, foi

reeleito mais duas vezes à Câmara Federal por Per-

nambuco. Senhor de régua, compasso e aguda sensi-

bilidade no seu ofício de escritor nascido e criado ou-

vindo cantadores e violeiros no alpendre do Pantaleão

e nas feiras livres de Alagoa de Baixo, Ulisses Lins cul-

tivou diversas formas fixas da arte da poesia. De sua

pena saíram sonetos (veja-se O livro de Inah), quadras,

quadrões, sextilhas, tercetos, decassílabos e alexan-

drinos, entre outras formas consagradas pela maio-

ria dos poetas. De formação acadêmica simbolista e

Page 679: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

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parnasiana, como a maioria dos poetas da sua época,

logo se filiou a uma estética própria, cuja prosódia e

sintaxe se encontravam no falar e pensar do “homem

do nordeste”, porém livre de qualquer traço caricatu-

ral tão comum à maioria dos poetas ditos “matutos”.

Apesar de sua origem sertaneja, sua poesia é erudita e

mesmo refletindo um profundo traço telúrico e fami-

liar, alcança a reflexão e emoção da poética universal.

Sobre a obra de Ulisses Lins, muitos escritores e críti-

cos deram os depoimentos que enriquecem sobrema-

neira a sua fortuna crítica. Entre eles, podemos citar:

Luís Jardim, Adonias Filho, Eneida, Samuel Duarte,

José Condé, Geraldo de Freitas, Franklin de Sales,

J.C.Oliveira Torres, Alcântara Silveira, Manuel Dié-

gues Júnior, Aloysio da Carvalho Filho, Mauro Mota,

Sérgio Millet, Múcio Leão, Joaquim Pimenta, Edna

Savaget, Francisco de Assis Barbosa, Odilon Nestor,

Paulo Ronai, Mario Melo, Menotti Del Picchia, Esdras

Farias, Antônio Carlos Vilaça, José Américo de Almei-

da, entre outros. Eleito em 1938 para a Academia Per-

nambucana de Letras, o sertaniense Ulisses Lins de

Albuquerque ocupou a Cadeira nº 1, cujo patrono é

Bento Teixeira Pinto. Antes de Ulisses Lins a Cadeira

nº 1 foi ocupada por Barbosa Viana em 1901 e Zeferi-

no Galvão em 1920. O atual ocupante da Cadeira nº

1 é o escritor olindense Olímpio Bonald Neto. Ulisses

Lins de Albuquerque, historiador, memorialista, poe-

ta, “contador de estórias” e romancista.

Obras do autor: Pedúculos – versos (1910); Ao sol do sertão

(1922); Mestres e discípulos – Sonetos e perfis (1927, org.);

Fogo e cinza (1938); Exaltação à poesia sertaneja (1938.

Discurso de posse na Academia Pernambucana de Le-

tras.); Um sertanejo e o sertão (s.d., memórias); Moxotó

brabo (1938, ensaio histórico, sociológico e folclórico);

Sol poente (s.d.); E a noite vem (s.d.); Três ribeiras (s.d.,

memórias); Chico Dandin (s.d., romance); O boi de ouro

e outras estórias (s.d.); Quadras de outras quadras (s.d.).

Page 680: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

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VANILDO Campos BEZERRA Cavalcanti (1899-

1989)**

Poeta, ficcionista e dramaturgo, nasceu no Recife, PE,

a 12 de agosto de 1919. Bacharelou-se em advoca-

cia pela Faculdade de Direito do Recife. Pertenceu à

Academia Pernambucana de Letras, Cadeira nº 36, e

à Academia Olindense de Letras, além do Instituto

Histórico de Olinda e do Instituto Arqueológico, His-

tórico e Geográfico Pernambucano. Faleceu no Reci-

fe em 1989, aos 70 anos de idade. Iniciou sua vida

literária escrevendo em prosa e em versos. Escreveu

poemas, contos e peças teatrais. Seus contos ficaram

esparsos em antologias e revistas literárias. Dedicou-

se profissionalmente ao jornalismo.

Obras do autor: O violino encantado (s.d.); Aprendiz bis-

sexto (s.d.); Recife do Corpo Santo (s.d.); Olinda do salva-

dor do mundo (s.d., ensaio histórico).

VERNAIDE Medeiros WANDERLEY (1948)*

Poetisa, geógrafa, ensaísta, nasceu em Patos, PB, em

1948. Radicada no Recife desde a década de 60, fez

dessa capital pernambucana seu domicílio literário.

Pertence à Geração 65 e participou do movimento

editorial das Edições Pirata. Foi pesquisadora social

da Fundação Joaquim Nabuco e, atualmente, é pro-

fessora universitária (Fafire). É coautora do ensaio,

Viagem ao sertão brasileiro, publicado em 1997. Colabo-

ra em vários jornais e antologias poéticas.

Obras da autora: Tatuagem (1980); Litorgia (1984);

Rota dos inocentes (1992).

VICENTE DO REGO MONTEIRO (1899-1970)**

Poeta, tipógrafo e pintor pernambucano, nascido na

cidade do Recife, residiu vários anos em Paris. Suas

publicações literárias, de pequenas tiragens, muitas

publicadas em francês, estavam esparsas até 2005,

quando então Paulo Bruscky, Edmond Dansot, Job-

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son Figueiredo e Sylvia Pontual organizaram o exem-

plar Vicente do Rego Monteiro. Poeta, tipógrafo, pintor,

inclusive com obras inéditas. Participou ativamente

da Escola de Paris e era notável tradutor, além de lhe

ser auferido o crédito de primeiro poeta gráfico bra-

sileiro. Excepcionalmente citamos também as obras

publicadas em língua estrangeira.

Obras do autor: Quelques visages de Paris (1925); Poe-

mas de bolso (1941); Mobiliário interior da poesia (1941);

A chacum as marotte (1943); Litanies à la France com-

battante (1944); Canevas (1946); Le petit cirque (1948);

Chants de fer (1950); Beau sexe (1950); Complainte

dês Tisserands (1950); Concrétion (1952); Cartomancie

(1952); Vers sur verre (Seghers Editor, 1953); Mon onde

était trop courte pour toi (1956); Broussais – La charité

(1960); Chiromancie (1961); Vicente do Rego Monteiro.

Poeta, tipógrafo, pintor (2005).

VITAL CORRÊA ARAÚJO (1945)* **

Escritor, jornalista, auditor do Tesouro, bacharel em

Direito (advogado); com curso de História e Filosofia,

professor de curso médio, conferencista, tradutor, es-

pecialista em Jorge Luís Borges, é atual presidente da

União Brasileira de Escritores em Pernambuco. Nas-

ceu em Vertentes, PE, em 1945. Foi criador de movi-

mentos literários, como Poetas da Rua do Imperador

e Geração do Pátio. É jornalista, tesoureiro da Asso-

ciação de Imprensa de Pernambuco (AIP) e participa

de vários conselhos culturais. Foi coordenador-geral

dos Congressos Brasileiros de Escritores, realizados

pela UBE-PE. Tem cursos de Direito e Filosofia. De-

tém vários prêmios literários concedidos a livros de

poemas, entre os quais: Jornal da Cidade de Bauru

(SP, 1975), Otoniel Menezes (RN, 1976), Escrita de

Poesia Falada (SP, 1983), Prêmio Nacional de Poesia

e Poeta Chagas Freitas (SP, 1983), Bandepe Valor Per-

nambucano, em 2002; Otoniel Menezes, RN; Eugênio

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Coimbra Júnior-PE; Escrita, SP; Academia Pernam-

bucana de Letras, Édson Régis, do Pen Clube, PE. Pu-

blicou 6 livros e tem inéditas várias coletâneas: Flauta

de pássaro; Escuras; Oiatribe; Simulacro; Falo; Palpo a

quimera e o tremor, Frases da lua e Lance de búzios, além

de uma de ensaios e conferências literários. Está re-

presentado em cerca de 50 antologias poéticas, entre

as quais, Recife Recity (1977), Scortecci de Poesia (SP,

1982), International Poetry (Universidade do Colora-

do, USA, 1982), 50 Poetas do Recife (1982), Agenda

84/85, Recife, Guia Poético da Cidade do Natal, RN,

Revista Poesia (1983). O poeta da Rua do Imperador,

Vital Corrêa, fundou o jornal O Fandango, com o seu

amigo e poeta Iran Gama. Vários dos seus poemas

foram publicados em revistas nacionais e internacio-

nais, destacando-se La Burbuja, Pliego de Murmurios

y Nirvana Populi, Espanha; The Poetry, USA; Inéditos,

MG; Encontro, Recife; Presença e Correio das Artes, PB;

Nação Cariri, CE e Contexto, RN.

Obras do autor: Título provisório (1978); Poemas com

endereço (1980); A cimitarra e o lume (1981); Burocracial

(1983); Cesta pernambucana (1986); Coração de areia

(1994); 50 Poemas escolhidos pelo autor (2004).

VITORIANO José Marinho PALHARES (1840-

1890)**

Poeta, nasceu no Recife a 8 de dezembro de 1840.

Faleceu no bairro recifense da Várzea, a 5 de fevereiro

de 1890, aos 50 anos de idade. Passou por situações

difíceis na vida, não chegando a concluir o seu curso

secundário. Apesar de bastante pobre e desprotegi-

do, não perdeu o gosto pelas letras e dominava os

versos com maestria. No Recife, Vitoriano Palhares

foi contemporâneo e muito amigo de Tobias Barre-

to e Castro Alves, de quem recebeu forte influência

literária, chegando a cultivar o condoreirismo. Foi

ainda seu grande amigo e contemporâneo o poeta

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fluminense Fagundes Varela. Diz Sílvio Romero que

“A contribuição de Vitoriano Palhares para a poesia

romântica brasileira é desdenhável”, mas conseguiu

conquistar, com a sua poesia, grande popularidade,

embora e lamentavelmente seja esquecido nos dias

atuais. Vitoriano Palhares é o Patrono da Cadeira nº

16, da Academia Pernambucana de Letras.

Obras do autor: Mocidade e tristeza (1867); Centelhas

(1870); Peregrinas (1870); As vítimas (1868, drama);

Drama do século (1867, drama em 4 atos).

WALDEMAR de Sousa CORDEIRO (1911-1992)*

**

Poeta pernambucano, nasceu em Sertânia, em 1911,

e faleceu tragicamente, em 1992, ao atravessar uma

rua do Recife, quando se dirigia aos trabalhos de re-

visão de seu livro Salão de sombras, em 1992. O poeta

não chegou a ver sua obra editada. Sobre Waldemar

Cordeiro, Alberto da Cunha Melo registra no prefá-

cio desse livro: “Embora meu contato com a obra de

Waldemar Cordeiro só se tenha tornado pleno com

a leitura dos originais de Salão de sombras, o valor do

poeta já chegara há muito tempo até mim, através da

leitura de fragmentos do seu grande poema de amor

para Sibonei, que é mais uma musa incorporada à

mitologia poética do Nordeste. Ainda bem que ele

incluiu no livro aquele belo texto, dando oportunida-

de ao restrito número de leitores que ainda abre um

livro de poesias neste país a conhecer um criador de

primeira grandeza.”

WALDEMAR Freire LOPES (1911)**

Poeta, jornalista, natural de Quipapá, PE, nasceu no

dia 1º de fevereiro de 1911. Reside atualmente no Re-

cife. Tem formação em Jornalismo e Administração.

É sócio efetivo da Academia de Letras e Artes do Nor-

deste Brasileiro, Cadeira nº 7, membro da Academia

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Pernambucana de Letras, da Associação de Imprensa

de Pernambuco, da Academia Brasiliense de Letras e

sócio da UBE-PE. Participou de diversas antologias:

Antologia dos poetas pernambucanos. Fernando de Oli-

veira Mata, Recife, 1945; na Coletânea de poetas per-

nambucanos. Oliveira e Silva, Rio de Janeiro, 1951; e

na Antologia dos poetas bissextos contemporâneos. Manuel

Bandeira, Rio de Janeiro, 1965 (segunda edição) e

1967 (terceira edição). Poemas seus também figuram

em várias outras coletâneas publicadas em Pernam-

buco e noutros pontos do País. O “Soneto da vida e

da morte” inserido neste painel literário surpreendeu

o próprio autor que dele não se recordava. Encon-

tramo-lo em Escritores vivos de Pernambuco (2001), na

página 201, em meio à “Saudação de José Nivaldo”

para Waldemar Lopes, da qual transcrevemos o se-

guinte excerto: “Há poucos meses, com o olho direito

tamponado, após intervenção cirúrgica, e sem quase

nada enxergar pelo olho esquerdo, ainda na antes-

sala do Centro Cirúrgico, Waldemar pediu papel e

caneta para, com a luz da inteligência, tocada pelo

sentimento que os homens guardam no seu segredo,

escrever mais um belo soneto que intitulou “Soneto

da vida e da morte (..)”.

Obras do autor: Legenda (1929); Sonetos do tempo per-

dido (1971, Prêmio do PENClube do Brasil); Inventá-

rio do tempo (1974); Os pássaros da noite (1974); Sonetos

de despedida (1976); Sonetos do natal (1977); Elegia para

Joaquim Cardozo (1979); O jogo inocente (1979); Memó-

ria do tempo (1981); Sonetos de Portugal (1993, 1994,

1995); Amado Fontes: A linha da vida, o perfil da obra

(1995, prosa); Ruben Gueiros, O São João Batista da

“Mística Ibgeana” (1995, prosa); Bandeira-Estrela Per-

manente no céu de Pasárgada (1996, prosa); As dádivas

do crepúsculo (1996); A flor medieval (1996); Sombras da

tarde (1999); Cinza de estrelas (2001).

Page 685: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

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WALDIMIR MAIA LEITE (1925-2010)* **

Poeta e jornalista, nasceu em Garanhuns, PE, em

1925 e faleceu no Recife em 1 de julho de 2010. Foi

redator do Diario de Pernambuco desde 15 de janeiro

de 1949, onde exerceu os cargos de subsecretário e

chefe de reportagem. Foi também colunista semanal,

na página “Opinião”. Iniciou atividades jornalísticas

em 1943, no Diário de Garanhuns. No jornal O Ginásio,

do Colégio Diocesano de Garanhuns, publicou, em

1942, tradução que fez de poemas de Victor Hugo.

No Recife, foi repórter do Diário da Manhã e Jornal Pe-

queno. A partir do ano de 1946, torna-se membro da

Academia Pernambucana de Letras, Cadeira nº 38, e

de outras instituições culturais congêneres do Brasil.

Em 1979, recebeu o Prêmio Recife Humanidades, de

contos. Publicou os livros Ofício da busca (e outros ofí-

cios), poesia, capa de Francisco Brennand; Terra mo-

lhada, crônicas líricas; e Quatro poemas de outono, poe-

sia, inspirados em visitas Europeias. Sua poesia, além

de musicada, foi vertida para o inglês, francês alemão

e coreano. Na Alemanha, versão produzida por Curt

Meyer, o maior tradutor e introdutor de obras brasi-

leiras, naquele país. Participou, como convidado, de

encontros culturais internacionais. Gravou o LP Wal-

dimir Maia Leite: a voz da poesia (crônicas e poemas li-

dos pelo autor, com fundo musical de baladas de Cho-

pin e sonatas de Beethoven) lançado pela Fundação

Joaquim Nabuco, dentro do Projeto Memória Fono-

gráfica. Poemas em monumentos públicos do Recife e

Garanhuns. O da “Gaivota Karina”, na orla marítima

de Candeias (Jaboatão dos Guararapes) esculpido em

12 metros de altura, hoje atração turística. Comendas

de reconhecimento cultural de Portugal e Fundação

Joaquim Nabuco. Títulos de Cidadão do Recife, Ja-

boatão dos Guararapes e Saloá. Outros livros publi-

cados: O viajante das palavras (crônicas líricas); Meio

século na pracinha do Diario (crônicas e relatos de seus

Page 686: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

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50 anos no Diario de Pernambuco). Estas informações

constam nos originais enviados pelo escritor direta-

mente para a primeira edição (2005) deste painel.

WALTER CABRAL DE MOURA (1955)*

Poeta, biólogo e analista ambiental federal, nasceu no

Rio de Janeiro, em 8 de agosto de 1955. A família,

que era pernambucana, regressou à terra dois anos

após seu nascimento. Publicou por conta própria:

Brilha, cosmos (1975) e Livro dos silêncios (2000), ambos

de poesia. Tem inédito É lenta a palavra tempo. Partici-

pou das coletâneas Fauna e flora nos trópicos (Fortaleza,

2003); Pernambuco, terra da poesia (São Paulo, 2005);

Antologia de Escritas n° 4 (Lisboa, 2008); Antologia de

Escritas n° 7 (Lisboa, 2010). É membro da União Bra-

sileira de Escritores – seção Pernambuco. Não se vê

vinculado a nenhum movimento literário, a não ser

que assim se considerem os que começaram a escre-

ver poesia entre o Recife e Olinda, na primeira meta-

de da década de 70.

Obras do autor: Brilha, Cosmos (1975); Livro dos silên-

cios (2000).

WEYDSON Oliveira de BARROS LEAL (1963)* **

Poeta e crítico de arte, nasceu no Recife, PE, em 8 de

dezembro de 1963. Teve suas primeiras publicações

de poemas e ensaios em jornais da cidade (Diário da

Manhã, Diario de Pernambuco e Jornal do Commercio) a

partir de 1983. Em 1988, recebeu o Prêmio Mauro

Mota de Poesia, através do Concurso Literário Go-

verno do Estado de Pernambuco, com o livro O aedo,

publicado pela Fundarpe/Cepe. Este prêmio lhe foi

entregue pelo escritor Maximiano Campos, então

presidente da Fundarpe. Em 1989, O aedo recebeu o

Prêmio Othon Bezerra de MeIo, da Academia Per-

nambucana de Letras. Em 1990, com o livro O ópio e

o sal, ganhou pela 3ª vez o Concurso Literário Estado

Page 687: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

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de Pernambuco, recebendo o Prêmio Mauro Mota,

publicado pela Fundarpe/Cepe. Em 1991, O ópio e o

sal recebeu o Prêmio Jorge de Lima no Concurso Li-

terário da União Brasileira de Escritores/Rio de Ja-

neiro. Em 1994, publicou, através de Massao Ohno

Editor, em São Paulo, Os círculos imprecisos. Em maio

de 1997, publicou, a convite da Editora Bagaço, o li-

vro de poemas A música da luz, lançado na 13ª Feira

Internacional do Livro de Pernambuco. Participou,

em junho de 1997, como poeta convidado, ao lado

de Ferreira Gullar, do VII Festival Internacional de

Poesia em Medellin, na Colômbia, com 60 poetas de

38 países. Ainda em 1997, escreveu a biografia do ar-

tista plástico Francisco Brennand, publicada através

do Ministério da Cultura do Brasil, no livro Brennand.

Tem inúmeros poemas e ensaios sobre literatura e ar-

tes plásticas publicados em jornais, revistas, livros e

catálogos de exposições no Brasil. É colaborador da

revista Poesia Sempre, da Biblioteca Nacional, e da re-

vista Continente Multicultural. Em 1999, lançou pela

editora Topbooks, do Rio de Janeiro, o livro de poe-

mas Os ritmos do fogo, apresentações de Ivan Junquei-

ra e Ferreira Gullar. Em 2003, produziu, escreveu e

publicou o livro Brennand, desenhos, analisando a obra

em desenho do artista pernambucano. Em 2005, es-

creveu a biografia do escultor Abelardo da Hora.

Obras do autor: O aedo (1989); O ópio e o sal (1990);

Os císculos imprecisos (1994); A música da luz (1997); Os

ritmos do fogo (1999).

WILLIAM FERRER Coelho (1924-2006)*

Poeta e contista, é paraibano radicado no Recife des-

de 1965 onde faleceu em 10 de outubro de 2006. Foi

presidente por quatro mandatos da Câmara Pernam-

bucana do Livro, presidente por dois mandatos da

Academia de Letras e Artes do Nordeste Brasileiro,

vice-presidente em dois mandatos da União Brasilei-

Page 688: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

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ra de Escritores (UBE-PE). É sócio correspondente

da Academia Norte-Rio-Grandense de Letras, sócio

honorário da Sociedade Brasileira de Médicos Escri-

tores-PE, Presidente Emérito da Academia de Letras

e Artes do Nordeste Brasileiro e da União Brasileira

de Escritores (UBE-PE). Participou da antologia bi-

língue, Poésie du Brésil, publicada em 1997.

Obras do autor: Poemas na noite (1986); Poemas verti-

cais (1995); 10 Contos - um real (1996); Histórias que me

contaram (2000); Poemas outonais (2002).

WILSON ARAÚJO DE SOUSA (WAS) (1945)*

Poeta, economista, ex-funcionário público, autodefi-

ne-se “Tropicalista periférico de segunda geração”.

Nasceu em São João dos Patos, MA, em 13 de dezem-

bro de 1945. Sobre o seu trabalho literário registra:

“Poesia coloquial com elementos experimentais ex-

perimentando letras de música, jornalismo, política,

humor”. Com Pedro Américo, publicou Uma sanfona

de oito textos (1975).

Obras do autor: pauBrasília (1979, um samba-enre-

do); Signos involuntários (2003, livro e CD).

ZÉ DANTAS [José de Sousa Dantas Filho] (1921-

1962)**

Compositor e poeta, nasceu em Carnaíba, PE, em 17

de fevereiro de 1921, e faleceu no Rio de Janeiro em

11 de março de 1962. Há muitas referências sobre Zé

Dantas, mas, além da discografia vastamente divul-

gada, não encontramos uma bibliografia do poeta. O

suporte que encontramos para este registro veio do li-

vro Baião dos dois: Zedantas e Luiz Gonzaga, de Mundi-

carmo Ferretti, publicado no Recife, pela Cia. Editora

de Pernambuco, CEPE, em 2007, além do exemplar

Dicionário Cravo Albin da música popular brasileira, dis-

ponibilizado em http://www.dicionariompb.com.br/

zedantas/dados-artisticos, de onde transcrevemos as

Page 689: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

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seguintes informações: “Em 1938, ensaiava suas pri-

meiras composições e escrevia crônicas sobre folclore

para a Revista Formação, do Colégio Americano Ba-

tista, do Recife. Cerca de nove anos depois conheceu

Luiz Gonzaga, de quem se tornou parceiro. Em 1949,

formou-se em Medicina no Recife e no ano seguinte

foi para o Rio de Janeiro especializar-se em obstetrí-

cia. Já formado em Medicina, reunia-se com poetas

populares nos bares dos bairros da Boa Viagem e no

Morro da Conceição, levando um gravador para re-

gistrar a produção musical e literária daqueles artistas

desconhecidos. Sua carreira de compositor teve im-

pulso a partir de 1947, quando conheceu no Grande

Hotel, no Recife, o cantor e compositor Luiz Gonzaga,

que se encontrava em temporada”. De Baião dos dois:

Zedantas e Luiz Gonzaga (2007) anota-se: “Sua primei-

ra gravação „Vem Morena‟ saiu em janeiro de 1950, e

Zé Dantas pôde assim sentir a emoção de uma música

sua em disco. Na época fazia o programa No Mundo

do Baião juntamente com Luiz Gonzaga e Humberto

Teixeira, onde contavam estórias e cantavam músicas

sertanejas.” Essas duas fontes são unânimes quanto

pontuam os grandes sucessos do compositor e poeta.

Pernambuco, terra da poesia procura, através desta refe-

rência, homenagear todos os poetas que rumaram da

letra para a canção popular.

ZETO [José Antônio do Nascimento Filho] (1956-

2002)* **

Poeta, compositor, violonista, destacou-se por ser óti-

mo declamador e intérprete, foi presença marcante

em cantorias do repente e em quaisquer eventos cul-

turais, especialmente os de poesia. Nasceu em Ca-

nhotinho, PE, em 1956, e faleceu em 2002.

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Fortuna Crítica

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Prefácio à primeira edição

Cartografia poética de Pernambuco

Hildeberto Barbosa Filho

Pernambuco, terra da poesia. Um painel da poesia per-

nambucana dos séculos XVI ao XXI impõe-se, desde já,

como um dos mais ousados projetos de organização da

cultura, em especial da cultura literária no segmento da

poesia, realizado, entre tantos outros, pelo Instituto Ma-

ximiano Campos, a cargo de Antônio Campos e Cláudia

Cordeiro, ora publicado em convênio com a editora Escri-

turas, de São Paulo. O subtítulo me parece esclarecedor:

não se trata evidentemente de uma antologia, e sim de

uma coletânea, de uma reunião, de um mapeamento, de

um panorama, enfim, de um “painel” como se registra.

Numa antologia os textos constituem, por assim dizer,

a finalidade primeira e germinal da seleção, submetida, a

seu turno, pela regência de rigoroso critério de excelência

estética. O que importa, aqui, é sobretudo o peso da repre-

sentatividade literária, independentemente dos fatores te-

máticos, genéricos, cronológicos, geracionais, cognitivos e

artísticos que possam dar sustentabilidade ao labor de sua

elaboração. A bem dizer, para lembrarmos a figura emble-

mática de Ezra Pound, a antologia se prefigura como uma

espécie de paideuma onde a singularidade estética repre-

senta a norma fundamental. A antologia, portanto, possui

um caráter exclusivo, em que pesem suas diversas modali-

dades e a relevância específica de cada uma delas, conforme

sinaliza T. S. Eliot em texto fundante, Que é poesia menor?

Numa coletânea, ao contrário, os textos não se perfi-

lam como fim, mas como meios que se podem prestar a

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diversos objetivos em função da perspectiva do projeto.

Seja didática, seja histórica, seja meramente documental,

a coletânea é inclusiva e firma no registro de dados e na

presença deste ou daquele autor o seu compromisso infor-

mativo, a sua razão ontológica. Seu campo de cobertura

descortina-se, assim, bem mais elástico, bem mais flexível,

podendo, por isto mesmo, tocar em variados ângulos do

fenômeno cultural e literário.

Pernambuco, terra da poesia enquadra-se perfeitamente

dentro desta classificação. A epígrafe, com os versos cabra-

linos, como que antecipa a tessitura solidária do todo, se

erguendo toldo e tenda onde caibam todos se entretenden-

do na configuração do canto sinfônico e plural da poesia

e da terra. Por outro lado, o título, embora aparentemente

não possa sugerir, encaixa-se coesa e coerentemente com

esta ideia. Pernambuco, terra da poesia não deve ser lido no

que pode remeter para a noção de exclusivismo poético

ou de ufanismo literário, mas, principalmente, pela clave

da força poética que contamina, em todos as geografias

(litoral, agreste, sertão, caatinga, mata seca e mata úmi-

da, como diria Marcus Accioly) a alma da terra e do povo.

O próprio Manuel Bandeira, um dos ícones que integra

esta reunião, afirma que “a poesia está em tudo”. Se está

em tudo, está em todos, e está em todos como experiên-

cia seminal da vida. Está nos maiores, nos medianos, nos

menores, com toda sua surpreendente maleabilidade de

caminhos e de dicções. É preciso, portanto, ler o “terra da

poesia” na sua acepção descritiva, inclusiva, e não naquele

sentido cartográfico e seletivo ou como tola exclusividade

soberba. Não existe, quero crer, sentido axiológico no títu-

lo com suas múltiplas implicações catafóricas.

Atento a este apelo epistemológico, o espectro poético

procura ser o mais vasto e o mais diferenciado possível,

pois vai do século XVI, com a figura histórica e pioneira

de Bento Teixeira, aliás presente em grafia original num

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breve recorte de seu épico, passando pelas vozes barrocas,

árcades, românticas, parnasianas, simbolistas, modernis-

tas até as vanguardas mais emergentes e os investimentos

pós-modernos. O vigor da forma fixa se confronta com

as linhagens alternativas de uma poesia experimental ao

mesmo tempo em que a tradição oral e popular cerra

fileira ao lado da modernidade e erudição de uma alta

percussão lírica. O critério diacrônico, que se distende do

mais antigo ao mais atual, costura, noutro sentido, a plu-

ralidade de expressão verbal e espelha – diria quase dida-

ticamente – todas as vertentes poéticas que se cristaliza-

ram em Pernambuco. Se o leitor pode deparar os nomes

mais conhecidos, pois que sua práxis poética transcende

os limites provincianos (Manuel Bandeira, Joaquim Car-

dozo, Mauro Mota, Carlos Pena Filho), encontra também

figuras esquecidas e quase desconhecidas (Rita Joana

de Souza e Targélia Barreto de Meneses, filha de Tobias

Barreto) assim como autores ainda em pleno processo de

criação (Mário Hélio, Micheliny Verunschk, Delmo Mon-

tenegro e Pietro Wagner).

O exemplo notável da chamada “Geração 65” marca

presença decisiva nesta obra, ratificando, em certo senti-

do, a capacidade de reinvenção da melhor tradição poéti-

ca de Pernambuco, com nomes de reputação consolidada,

a começar com César Leal, que, embora não pertença a

essa geração, tem o nome a ela vinculado, uma vez que

foi ele quem a lançou e seu maior incentivador, durante

muitos anos. Somam-se: Alberto da Cunha Melo (obser-

ve-se o antológico poema “Dual”), Jaci Bezerra, Marcus

Accioly, Ângelo Monteiro, Lucila Nogueira, Almir Castro

Barros, José Carlos Targino, Marco Polo Guimarães, Jani-

ce Japiassu, Eugênia Menezes, Myriam Brindeiro, Tereza

Tenório, Sebastião Vila Nova e tantos outros.

Como se vê, o objetivo do “painel” é rigorosamente

documental. A obra, em suas linhas gerais, fornece uma

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visão das posturas estéticas, tanto no que concerne à suces-

sividade das gerações, com toda sua tipologia, quanto no

que diz respeito às tonalidades do lirismo e suas implica-

ções técnico-literárias, estilísticas e temático-ideológicas.

Utilizássemos o quadro proposto por Pedro Lyra, em

Sincretismo: a poesia da geração 60, assim como seus pa-

radigmas líricos, poderíamos estabelecer algumas curio-

sas correlações de ordem analítica, exegética e apreciati-

va. Excluindo os que já se foram e que, de um modo ou de

outro, acham-se relativamente contextualizados no âmbito

da história literária, por exemplo, um Olegário Mariano,

um Medeiros e Albuquerque, um Ascenso Ferreira, um

Mauro Mota, um Deolindo Tavares, um Austro Costa, um

Solano Trindade, um Audálio Alves, entre outros, diria

que determinados poetas, sobretudo os que nascem nos

anos 70/80, como Pietro Wagner, Delmo Montenegro e

Antonio Marinho, transitam entre o emergente e o novo,

tendo na rebeldia estética o foco central de motivação.

Percebe-se, noutra latitude estética, a maturidade domi-

nante em fase de plena confirmação naqueles que fazem

a já referida “Geração 65”, assim como posso pensar num

clássico como César Leal e num canônico como Waldemar

Lopes, este, um artífice inigualável do soneto.

A linha discursiva predomina, sobremaneira com a he-

rança lírica, sedimentada na temática amorosa, erótica,

telúrica, existencial, cotidiana e metafísica, numa mostra

polifônica que noticia, na unidade do sentimento poéti-

co, a diversidade de realizações. A velada sensualidade de

uns sabe coexistir com a sensualidade palpável de outros

assim como a nota filosófica e mítica de certas expressões

não chegam a abafar a sintaxe lúdica e despachada que al-

guns poetas trilham sem preconceitos. Pensássemos numa

caracterização de estilos, teríamos o que Erich Auerbach

denomina de estilo mesclado, pois aparece de tudo um

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pouco: o grave, o leve, o formal, o popular, o erudito, o

coloquial, o fragmentário, o alternativo etc. Outra nota

forte reside na pesquisa metalinguística muito peculiar ao

gosto de certas vozes modernas que, para além de contor-

nar as virtualidades estésicas do real, transformam o poe-

ma em matéria de pura reflexão poética. O sopro épico e a

vertente social e participante comparecem na linguagem

de alguns autores, da mesma maneira que a excepcionali-

dade de um discurso verbivocovisual, comprometido em

primeira instância com os artefatos do significante, tam-

bém é contemplada nas páginas deste mosaico literário.

O fluxo cronológico faz convergir, portanto, para a

vastidão do seu estuário, as diferenças dos seus afluentes

estéticos. E com isto ganham a cultura e a literatura per-

nambucanas. Ganham principalmente os historiadores e

os críticos literários que, na tarefa de pensarem sistemati-

camente sobre a produção literária de uma região e sobre

obras e autores individuais, podem ter, neste “painel”, um

ponto de partida referencial.

Para o historiador há como que um sinal sistêmico

a preanunciar uma possível ordem cronológica e, nesta

ordem cronológica, a composição material de certas ten-

dências, de certas características, de certas posições. A

personalidade do inventor, do mestre e do diluidor, ainda

para me valer das categorias de Pound, assim como dos

ícones e dos epígonos, maiores e menores, medianos e

modelares são perfeitamente relacionais, inclusivas, com-

plementares dentro da organização histórica. E esta reu-

nião, como já dei a atender, é muito mais de fundo histó-

rico do que propriamente de natureza crítica. É obra de

referência, enciclopédica, propedêutica.

Ao crítico literário será de extrema utilidade, pois nela

se apresentam, com pequenas mostras – é verdade – as

poéticas individuais, com seu registro estilístico particu-

Page 698: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

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lar, uma que outra eleição temática e, de certa maneira,

algo da índole e da visão que permeiam a sensibilidade e

a percepção poéticas. Dois poemas podem parecer muito

pouco, mas não se deve esquecer que a marca do poeta,

isto é, suas raízes ideativas, imagéticas e melódicas, não

raro se inscreve nos limites de um só verso. Isto sem que

se faça alusão aos tópicos mínimos, porém essenciais, dos

verbetes relacionados, que funcionam como uma espécie

de banco de dados indispensáveis ao pesquisador.

Mas não somente aos estudiosos da fenomenologia

literária um trabalho deste porte pode interessar. Penso

ainda nas instituições, bibliotecas, arquivos, acervos, en-

fim, em todo espaço de guarida pública do patrimônio

cultural e da memória poética. Penso também no profes-

sor, no estudante, no leitor comum e no público em ge-

ral que frequenta as páginas estéticas sem o compromisso

mais urgente com as instâncias cognitivas e pedagógicas,

porém com aquele sentimento de que a poesia é sobre-

tudo experiência de mundo, emoção da vida, descoberta

e revelação existenciais, epifania cotidiana. Ora, um pa-

norama como este também pode servir como iniciação.

Como rito de iniciação à poesia da terra e também inicia-

ção ritual à terra da poesia.

Hildeberto Barbosa Filho é poeta e crítico literário paraibano.

Mestre e Doutor em literatura brasileira pela UFPB e autor de

diversas obras no campo do ensaio e da poesia.

Page 699: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

699

A Terra da Poesia

Gilberto Mendonça Teles

É muito bom para o primeiro contato com um livro

que seu título e subtítulo se mostrem estruturados por

claras significações, de modo a oferecer de imediato ao

leitor a transparência do sentido inscrito no conjunto –

no panorama, na antologia ou, como se quer, no painel

– vale dizer, em um retábulo, num baixo ou alto-relevo ou

em uma pintura, em que essas formas artísticas se fazem

metafóricas para a expressão maior da poesia que se fez

ao longo do tempo em uma região especial.

É o que vejo no forte e concreto título Pernambuco, terra

da poesia, elegante e analiticamente reduplicado no sub-

título Um painel da poesia pernambucana dos séculos XVI ao

XXI. Está aí o sentido emblemático de um livro que se

oferece ao mesmo tempo como escrita e como pintura,

como antologia e painel – forma de arte que se junta e

se desenrola ao longo de quinhentos anos de história da

cultura brasileira. Não é coincidência que a pintura e a

poesia do Brasil tenham surgido e se desenvolvido mes-

mo ali, nesse panneau que é o estado de Pernambuco, que

se foi desenrolando do mar para o sertão, a jogar aqui

com alguma imagem às avessas de João Cabral ou com a

filosofia pertinente de Gilberto Freyre.

Em Estudos de poesia brasileira (Coimbra, 1985), escre-

vemos algumas observações sobre o sentido e a função de

livros desta natureza – panorâmica e/ou antológica – cha-

mando a atenção, primeiro, para rica sinonímia posta em

voga pelos estudiosos do início do século XIX, quando a

Page 700: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

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forma de textos selecionados dominou a nossa pré-histó-

ria literária. Era a moda crítica de termos como parnaso,

florilégio, crestomatia, tesouro, relíquia, panorama, seleta, painel

e antologia. A crítica da época está cheia desses termos que

dão bem a ideia da importância do tipo de livro necessá-

rio no momento em que o Brasil, recém-independente,

não dispunha ainda das obras de seus primeiros escrito-

res, mas precisava urgentemente falar deles, divulgá-los.

A antologia foi o recurso metonímico apropriado para

a representação: para uma amostragem, uma seleção de

textos que, na opinião do crítico e do incipiente histo-

riador, havia de melhor em cada escritor que passava a

compor o quadro da cultura nacional. E tinha, além do

propósito da divulgação, uma finalidade particularmente

didática: por intermédio dela ensinava-se a ler e a escre-

ver e, algumas vezes, difundiam-se noções de cultura e de

composição literária. Foi por aí que se fez grande parte

do nosso ensino e se formaram as primeiras gerações de

nossos escritores. A antologia chega aos nossos dias para

oferecer o que há de melhor ou de mais significativo nas

obras de uma literatura – nacional ou regional, de época

ou de geração e, até, de um único escritor, como se tem

verificado atualmente nas principais editoras do país.

Entre os vários aspectos relevantes de um painel literá-

rio como este, competentemente estruturado por Antônio

Campos e Cláudia Cordeiro, é preciso dar realce a dois:

um interno, de linguagem; e outro externo, de repercus-

são e exemplo. É preciso chamar a atenção, em primei-

ro lugar, para o critério que norteou o caráter censitário

da coletânea, para a filosofia (explicita ou não), para o

perfil lógico, da cronologia ou da agrupação temática.

Percebe-se, para além disso, a interferência de critérios

sutis, psicológicos e analógicos, de gosto, de estilo e de

conhecimento estético-literário. Enfim, tudo isso que faz

Page 701: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

701

desses textos organizados desta ou daquela forma a mais

preciosa representação da produção cultural de uma re-

gião do Brasil.

E, em segundo lugar (na direção do que fizemos em

1964 com o volume A poesia em Goiás), é fora de dúvida o

belo exemplo de emulação que este livro dará à investi-

gação literária regional, estimulando-a na direção de um

futuro painel da literatura brasileira, onde serão vistos,

num mesmo nível de observação, todas as formas e va-

lores genuinamente regionais, evitando-se, deste modo,

a visão estrábica dos historiadores e críticos literários do

Rio de Janeiro e São Paulo. Neste sentido, Pernambuco

fala para o Brasil e a “Terra da Poesia” se desdobrará pe-

los quatro pontos cardeais do mapa brasileiros.

Rio de janeiro, 30 de agosto de 2005.

Page 702: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

702

Page 703: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

703

NOTAS DA ORGANIZADORA CLÁUDIA CORDEIRO

(1ª edição)

Pernambuco, terra da poesia: Um painel da poesia per-

nambucana dos séculos XVI ao XXI traz em seu título

uma palavra-chave: “painel”, que, em sua acepção de “vi-

são panorâmica”, se torna o vocábulo mais apropriado

para este trabalho, em face de seu caráter essencialmente

documental e censitário, sem propósitos críticos e seleti-

vos, no que se refere a critérios de valor estético. E só essa

concepção de “visão panorâmica” levou-nos a aceitar o

honroso convite do Instituto Maximiano Campos, no mês

de abril deste ano de 2005, a fim de realizar a pesquisa,

compilação de dados, organização e redação desta obra.

Contra o tempo exíguo, contamos com as ferramentas

do meio eletrônico, através do qual já mantínhamos con-

tato com muitos poetas que se encontram nestas páginas,

além dos mestres Gilberto Mendonça Teles e Hildeberto

Barbosa Filho, que nos honram com suas presenças aqui

e são nossos hóspedes, nas páginas do domínio Platafor-

ma para a poesia: sítio virtual pernambucano da poesia

contemporânea em língua portuguesa, que editamos e

administramos há três anos, e mais especialmente com

suas presenças permanentes na nossa formação literária.

Contamos com nosso próprio acervo bibliográfico e o de

amigos como Inez Fornari e Pedro Vicente Costa Sobri-

nho, que nos cederam prontamente obras essenciais para

esta edição. Com a gentileza de escritores como Lourdes

Sarmento e Cyl Gallindo, que nos enviaram dados impor-

tantes para enriquecer nosso trabalho.

Page 704: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

704

Contamos ainda com o Setor de Obras Raras, da Bi-

blioteca Pública do Estado de Pernambuco, onde tivemos

o privilégio de fazer nossas pesquisas em busca de poetas e

poetisas escondidos pela poeira do tempo. Contamos com

a juventude e entusiasmo, competência e disposição para

a empreitada de duas jovens, Leila Teixeira e Ninon Tásia

da Silva Alves, cuja convivência nos ensina a acreditar, cada

dia mais, no futuro das nossas Letras. Com amigos muito

especiais, como Rui Ribeiro, Divaldo Pereira Franco e Er-

melinda Ferreira, que não nos faltaram com o melhor dos

incentivos, e José Nêumanne, que abriu caminhos para a

editoração desta obra. Contamos com o empenho seguro

da mestra em Filologia e doutoranda da Universidade de

São Paulo (USP), Isabel de Andrade Moliterno, na revisão

e atualização ortográfica de muitas destas páginas. Com

Alberto da Cunha Melo e suas informações decisivas em

muitos momentos desta nossa empreitada. Com o profis-

sional das Artes Gráficas, Luiz Arrais, editor de Arte de

uma das melhores revistas pernambucanas de cultura do

país, a Continente Multicultural. Contamos também com a

gentileza dos poetas e poetisas participantes, ou seus es-

pólios, que cederam os direitos autorais de seus poemas

para este trabalho. E, finalmente, com a determinação do

Instituto Maximiano Campos, na pessoa de Antônio Cam-

pos, seu Presidente, que resolutamente vem acendendo,

nas páginas da Literatura Brasileira, as luzes da grande

obra do ficcionista e poeta Maximiano Campos e de mui-

tos outros, firmando, agora, através deste trabalho, todos

os propósitos de divulgação e promoção da cultura per-

nambucana, especialmente a literária. Nesta obra, portan-

to, pomos em prática a lição cabralina: “Um galo sozinho

não tece uma manhã”. A todos, muito obrigados.

Para facilitar a consulta aos textos, nomes e dados,

deste livro, é importante observar:

Page 705: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

705

1. Além do sumário, em ordem cronológica, encontram-se,

após a transcrição dos textos, o índice onomástico e o de

títulos ou primeiros versos. Estes últimos referem-se apenas

àqueles poemas que não traziam título, e não os primeiros

versos de todos os poemas aqui transcritos.

2. 75 Poetas ou seus respectivos espólios enviaram a seleção de

seus próprios poemas e dados biobibliográficos, diretamen-

te para o IMC. Essa documentação, em CD ou disquete e

impressa, se encontra à disposição dos pesquisadores, nos

arquivos do IMC. Esse fato levou-nos a, em muitos momen-

tos, prescindir das indicações das obras, abaixo de cada poe-

ma, muitos deles inéditos, passando aquela documentação,

cedida pelo(a) próprio(a) autor(a), a ser referência bastante

para este trabalho. Quando os poetas fizeram as indicações

bibliográficas, elas foram transcritas no todo ou em parte.

3. Para facilitar pesquisas futuras, convencionamos colocar um

asterisco após nome e data de cada autor, indicando o envio

daquela documentação para o IMC. Os dois asteriscos se-

guintes referem-se à naturalidade pernambucana.

4. Nas notas biobibliográficas, optamos por listar todas as obras

(livros) e não apenas as de poesia, com título e data. Após a

data (entre parênteses) de cada obra, fizemos o registro de

gênero, apenas quando a obra não era de poesia. No entan-

to, quando as obras, em sua extensa maioria, não eram de

poesia, optamos por registrá-las, antecipadamente, no cor-

po do verbete, a fim de destacá-las, como no caso do escri-

tor Gilberto Freyre. Quanto à participação em antologias ou

em livros editados em conjunto, só foram feitos registros, no

corpo do verbete, e, apenas, quando a relevância e a clareza

da informação assim permitiram.

5. Do meio eletrônico foram referências importantes para este

trabalho os seguintes sítios virtuais:

Academia Brasileira de Letras <http://www.academia.org.br/

Biblioteca Nacional<http://www.bn.br/fbn/bibsemfronteiras/

Fundação Casa de Rui Barbosa <http://www.casaruibarbosa.gov.br/

Fundação Joaquim Nabuco. Coordenadoria de Documentos Textuais

<http://ww.fundaj.gov.br/docs/indoc/dotex/doctex.html

Instituto Maximiano Campos <http://www.institutomaxcampos.org.br/

Itaú Cultural. Panorama Poesia e Crônica

http://www.itaucultural.org.br/aplicexternas/enciclopedia/poesia/home/

Page 706: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

706

Quando redigíamos estas notas, pelo correio eletrônico,

notícias contínuas do universo poético pernambucano e na-

cional faziam-nos crer, mais ainda, que muito há que se fa-

zer, que muitos outros painéis, panoramas, antologias e ou-

tras pesquisas históricas precisam ser editados, não apenas

para a preservação do presente, mas também para o resgate

e perpetuação do passado literário brasileiro, conforme a

lição de Antonio Joaquim de Mello, na nossa epígrafe.

O Instituto Maximiano Campos, Antônio Campos e sua

equipe, contratada especialmente para este trabalho, fize-

ram a sua parte, reunindo nesta “visão panorâmica” 161

poetas, 128 nascidos neste Estado e 33 que fizeram dele seu

domicílio literário, neste ano de 2005, em que a Literatura

Brasileira comemora os 40 anos da Geração 65, e os 50

anos do primeiro título de poesia, Alvorada (1955), do gran-

de poeta e mestre Gilberto Mendonça Teles; tudo a exatos

404 anos da primeira expressão de nosso nativismo literá-

rio, Prosopopeia (1601), poema épico de Bento Teixeira.

Olinda, setembro de 2005.

Cláudia Cordeiro

Professora pós-graduada em Literatura Brasileira,

ensaísta e webmaster

www.plataforma.paraapoesia.nom.br

[email protected]

Page 707: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

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718

Page 719: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

719

AGENDA

Endereços e telefones disponibilizados por alguns(umas)

escritores(as) ou seus respectivos espólios e contatos

Alberto da Cunha Melo

Contato: Cláudia Cordeiro Tavares da Cunha Melo

Endereço Postal: Av. Governador Carlos de Lima Cavalcanti,

2234, ap. 102, Casa Caiada, 53130-530 - Olinda/PE

Celular: 81 - 91958852

E-mail: [email protected]

Almir Castro Barros

Endereço Postal: Rua Comendador Sá Barreto, 365, ap. 1002,

Piedade, 54420-331 - Jaboatão dos Guararapes/PE

E-mail: [email protected]

Alvacir Raposo

Endereço Postal: Rua Cel. João Batista do Rego Barros, 195,

Apipucos, 52071-350 - Recife/PE

Fone residencial: 81 - 34412388

E-mail: [email protected]

Ana Maria César

Endereço Postal: Av. Apipucos, 235, Apipucos, 52071-000 -

Recife/PE

Fone residencial: 81 - 32680058

E-mail: [email protected]

Ângelo Monteiro

Endereço Postal: Rua José Bonifácio, 1356, ap. 1004, Torre,

50710-000 - Recife/PE

Fone residencial: 81 - 32260274

E-mail: [email protected]

Page 720: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

720

Antônio Campos

Endereço Postal: Rua do Chacon, 335, Casa Forte,

52061-400 - Recife/PE

Fone: 81 - 32675787

E-mail: [email protected]

Antonio Marinho

Endereço Postal: Rua Diógenes Sampaio, 80, Várzea

509080-250 - Recie/PE

Fone: 81 - 32696866 - 96622137

E-mail: [email protected]

Ariano Suassuna

Endereço Postal: Rua do Chacon, 328, Casa Forte,

52061-400 - Recife/PE

Fone residencial: 81 - 32684057

E-mail: [email protected]

Bartyra Soares

Endereço Postal: Rua Dr. Arlindo Santos Maciel, 137, ap. 101,

Piedade, 54400-015 - Recife/PE

Fone residencial: 81 - 33416779

E-mail: [email protected]

Celina de Holanda

Contato: Ana Regina Cavalcanti Sobreira / Andréa Mota

Endereço Postal: Rua Betânia, 10, ap. 102, Derby,

52010-170 - Recife/PE

Fone residencial: 81 - 32233002 / 34636662

E-mail: [email protected] / [email protected]

Celso Mesquita

Endereço Postal: Rua dos Palmares, 79, ap. 1502, Santo Amaro,

50100-060 - Recife/PE

Fone residencial: 81 - 32234609

César Leal

Endereço Postal: Rua das Pernambucanas, 194, ap. 803, Graças,

52011-010 - Recife/PE

Fone residencial: 81 - 34219817 / 32219187

E-mail: [email protected]

Page 721: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

721

Chicão - Francisco José Trindade Barrêtto

Endereço Postal: Rua dos Navegantes, 2409, ap. 2301,

Boa Viagem, 51020-011 - Recife/PE

Fone: 81 - 99487240

Cícero Melo

Endereço Postal: Rua Princesa Isabel, 83, ap. 1101, Boa Vista,

50050-450 - Recife/PE

Fone residencial: 81 - 32224572

E-mail: [email protected]

Cida Pedrosa

Endereço Postal: Rua da Hora, 593, ap. 33, bloco “B”,

Espinheiro, 52020-010 - Recife/PE

Fone residencial: 81 - 32214556 / 32328137

E-mail: [email protected]

Cloves Marques

Endereço Postal: Rua Conde de Irajá, 520, ap. 402,

Torre, 50710-310 - Recife/PE

Fone residencial: 81 - 32276848 / 32279714

E-mail: [email protected]

Cyl Gallindo

Endereço Postal: Av. Boa Viagem, 5858, ap. 602, Boa Viagem,

51030-000 - Recife/PE

Fone residencial: 81 - 34621975

Deborah Brennand

Endereço Postal: Propriedade Santos Cosme e Damião, s/n,

Várzea, 50740-970 - Recife/PE

Fone residencial: 81 - 32712466 / (fax) 32714814

E-mail: [email protected]

Delmo Montenegro

Endereço Postal: Rua Napoleão Teixeira de Macedo, 45,

ap. 101, Afogados, 50770-540 - Recife/PE

E-mail: [email protected]

Page 722: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

722

Dione Barreto

Endereço Postal: Rua Henrique Dias, 609, Derby, 50010-100 -

Recife/PE

Fone residencial: 81 - 34213266

E-mail: [email protected]

Domingos Alexandre

Endereço Postal: Pça. Domingos Geovanete, 51, ap. 1301,

Torre, 50710-440 - Recife/PE

Fone residencial: 81 - 34466161

Eduardo Martins

Endereço Postal: Av. Sete de setembro, 2095,

ap. 201, bloco “H”, Nova Porto Velho, 78900-000 -

Porto Velho/RO

Fone residencial: 61 - 2120710

E-mail: [email protected] / [email protected]

Ésio Alves Rafael

R. Capitão Braz de Barros, 22, Areias

50870-230 - Recife /PE

Fone: 81 - 34552314 - 85528081

Esman Dias

Endereço Postal: Rua Gonçalves Maia, 1000, ap. 202, Boa Vista,

50070-000 - Recife/PE

Fone residencial: 81 - 32216831

Fone comercial: 81 - 21268785 (Depto. de Letras, UFPE)

Fone celular: 81 - 88236505

E-mail: [email protected]

Eugênia Menezes

Endereço Postal: Rua Luís Guimarães, 565, Casa Forte,

52061-160 - Recife/PE

Fone residencial: 81 - 32680903

Everardo Norões

Endereço Postal: Rua do Afeto, 50, Florestas Verdes, 52171-140

Recife/PE

Fone residencial: 81 - 34425479

E-mail: [email protected]

Page 723: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

723

Fátima Ferreira

Endereço Postal: Rua Frei Afonso Maria, 319, Amaro Branco,

53120-170 - Olinda/PE

Fone celular: 81 - 92629265

Fernando Monteiro

Endereço Postal: Rua Pe. Carapuceiro, 537, ap. 202-A,

Boa Vista, 51020-280 - Recife/PE

Fone residencial: 81 - 33252655

E-mail: [email protected]

Flávio Chaves

Endereço Postal: Av. Boa Viagem, 4530, ap. 2101, Boa Viagem,

51021-000 - Recife/PE

Fone: 81 - 91521017

E-mail: [email protected]

Francisco Bandeira de Mello

Endereço Postal: Av. Boa Viagem, 6688, ap 701, Boa Viagem,

51130-000 - Recife/PE

Fone residencial: 81 - 33413941

Geraldino Brasil

Contato: Beatriz Brenner

Endereço Postal: Rua Elvira Carreira de Oliveira, 20,

Ilha do Leite, 50070-470 - Recife/PE

Fone residencial: 81 - 3535.0354

E-mail: [email protected]

Gilberto Freyre

Contato: Gilberto Freyre Neto

Endereço Postal: Rua Dois Irmãos, 414, Apipucos, 52171-010 -

Recife/PE

Fone residencial: 81 - 32686807

Endereço Virtual: www.fgf.org,br

E-mail: [email protected]

Isac Santos

Endereço Postal: Rua Hildelfonso Marinho de Araújo, 45,

ap. 104, Casa Caiada, 53130-680 - Olinda/PE

Fone residencial: 81 - 34327190 / 99617054

Page 724: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

724

Ivanildo Vila Nova

Endereço Postal: Rua Rodrigues Alves, 1400, Bela Vista,

58101-290 - Campina Grande/PB

Fone residencial: 81 - 37221166 (Caruaru) / 99592365

Jaci Bezerra

Endereço Postal: Rua Amapá, 51, ap. 1001,

Espinheiro, 52050-390 - Recife/PE

Fone residencial: 81 - 32412638

Janice Japiassu

Endereço Postal: Rua Guaporanga, 30, ap. 401, Ilha do Recife,

50750-570 - Recife/PE

Fone residencial: 81 - 32282862

E-mail: [email protected]

José Almino

E-mail: [email protected]

José Mário Rodrigues

Endereço Postal: Av. Conde da Boa Vista, 247, ap. 502,

Boa Vista, 50060-002 - Recife/PE

Fone residencial: 81 - 32220095 / 21022297

E-mail: [email protected]

Lourdes Nicácio

Endereço Postal: Rua Conde D,eu, 64, ap. 501,

Boa Vista, 50050-470 - Recife/PE

Fone residencial: 81 - 32224469 / 30823570

E-mail: [email protected]

Lourdes Sarmento

Endereço Postal: Rua dos Navegantes, 2563, ap. 602,

Boa Viagem, 51020-011 - Recife/PE

Fone residencial: 81 - 33261629 / 33261265

E-mail: [email protected]

Lourival Batista

Contato: Bia Marinho

Endereço Postal: Rua Diógenes Sampaio, 80, Várzea

509080-250 - Recie/PE

Fone: 81 - 32696866

Page 725: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

725

Lucila Nogueira

Endereço Postal: Rua Professor Júlio Ferreira de Melo, 474,

ap. 601, Boa Viagem, 51020-230 - Recife/PE

E-mail: [email protected]

Lúcio Ferreira

Endereço Postal: Rua Ambrósio Machado, 111,

Iputinga, 50670-010 - Recife/PE

Fone residencial: 81 - 32713656

E-mail: nú[email protected] / [email protected]

Luis Manoel Siqueira

Endereço Postal: Rua Jornalista Alfredo Vieira, 01,

Condomínio Dois Irmãos, Sítio dos Pintos,

52171-100 - Recife/PE

Fone residencial: 81 - 34423871

E-mail: [email protected]

Malungo

Endereço Postal: Rua 86, quadra 64, bloco 07, ap. 206,

Maranguape I, 53441-320 - Paulista/PE

Fone celular: 81 - 91090204

E-mail: [email protected]

[email protected]

Marcelo Mário de Melo

Endereço Postal: Rua Capitão José da Luz, 104, ap. 401,

Coelhos, 50070-540 - Recife/PE

Fone/fax: 81 - 32216848

E-mail: [email protected]

Márcia Maia

Endereço Postal: Rua Desembargador Martins Pereira, 24,

ap. 202, Aflitos, 52050-220 - Recife/PE

Fone residencial: 81 - 34272015

E-mail: [email protected]

Blogs: http://www.tabuademares.blogger.com.br /

http://www.mudancadeventos.blogger.com.br

Page 726: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

726

Marco Polo Guimarães

Endereço Postal: Rua Professora Eneida Rabelo, 215, ap. 304

Candeias - 54440-310 - Jaboatão dos Guararapes/PE

Fone residencial: 81 - 4106.0348

E-mail: [email protected]

Marcos Cordeiro

Endereço Postal: Rua Prudente de Morais, 231, Carmo,

53020-140 - Olinda/PE

Fone residencial: 81 - 34290995 -92152003

E-mail: [email protected]

Marcos D‟Morais

E-mail: [email protected]

Marcus Accioly

Endereço Postal: Rua Elesbão de Castro, 157, cobertura,

Bairro Novo, 53030-210 - Olinda/PE

Fone residencial: 81 - 34237658

Maria da Paz Ribeiro Dantas

Endereço Postal: Rua Regueira Costa, 267, Rosarinho,

52041-050 - Recife/PE

Fone residencial: 81 - 32412524 / 30885229

E-mail: [email protected]

Maria de Lourdes Hortas

Endereço Postal: Rua do Imperador Pedro II, 290,

Bairro do Recife, 50010-240 - Recife/PE

(Gabinete Português de Leitura de PE)

E-mail: [email protected]

Marilena de Castro

Endereço Postal: Rua Engenheiro Sampaio, 255, ap. 301,

Rosarinho, 52040-020 - Recife/PE

Fone residencial: 81 - 32432561

E-mail: [email protected]

Mário Hélio

Endereço Postal: Rua Santos Elias, 109, ap. 1102, Espinheiro,

52020-090 - Recife/ PE

Fone comercial: 81 - 34415900

E-mail: [email protected]

Page 727: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

727

Maurício Motta

Endereço Postal: Av. Dezessete de Agosto, 1869, Casa Forte,

52061-900 - Recife/PE

Fone residencial: 81 - 32680211

Mauro Mota

Contato: Marly Mota

Endereço Postal: Av. Dezessete de Agosto, 1869, ap. 1002-A,

Casa Forte, 52061-900 - Recife/PE

E-mail: [email protected]

Maximiano Campos

Contato: Antônio Campos

Endereço Postal: Rua do Chacon, 335, Casa Forte, 52061-400 -

Recife/PE (Instituto Maximiano Campos - IMC)

Fone: 81 - 32675787

E-mail: [email protected]

Micheliny Verunschk

E-mail: [email protected]

Montez Magno

Endereço Postal: Av. Dezessete de Agosto, 1991, Casa Forte,

52061-540 - Recife/PE

Fone residencial: 81 - 32685967

Myriam Brindeiro

Endereço Postal: Rua Capitão Sampaio Xavier, 253, ap. 1401,

Rosarinho, 52050-210 - Recife/PE

Fone residencial: 81 - 34264565

E-mail: [email protected]

Nelson Saldanha

Endereço Postal: Rua Pe. Anchieta, 473, ap. 602, Madalena,

50710-310 - Recife/PE

Fone residencial: 81 - 32285307

E-mail: [email protected]

Page 728: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

728

Odile Vital César Cantinho

Endereço Postal: Rua do Espinheiro, 201, ap. 402, Espinheiro,

52020-020 - Recife/PE

Fone residencial: 81 - 34262958

E-mail: [email protected]

[email protected]

Olimpio Bonald Neto

Endereço Postal: Rua Manoel de Almeida Belo, 1063,

Bairro Novo, 53030-030 - Olinda/PE

Fone residencial e fax: 81 - 34293846

Paulo Bruscky

Endereço Postal: Rua do Sossego, 246, ap. 22,

Boa Vista, 50050-080 - Recife/PE

Fone residencial: 81 - 32314960

E-mail: [email protected]

Paulo Caldas

Endereço Postal: Rua Guedes Pereira, 77, ap. 901, Parnamirim,

52060-150 - Recife/PE

Fone residencial: 81 - 32673320 / 32664167

Pedro Américo de Farias

Endereço Postal: Rua da Aurora, 1035, ap. 142, Santo Amaro,

50040-090 - Recife/PE

Fone residencial: 81 - 32224722

E-mail: [email protected]

Pietro Wagner

Endereço Postal: Rua Gomes Pacheco, 465, ap. 1003,

Espinheiro, 52021-060 - Recife/PE

Fone comercial: 81 - 34299723

Fone celular: 81 - 99353931

E-mail: [email protected]

S.R. Tuppan

E-mail: [email protected]

Sergio Albuquerque

Endereço Postal: Rua Professor Júlio Ferreira de Melo, 474,

ap. 601, Boa Viagem, 51020-230 - Recife/PE

E-mail: [email protected]

Page 729: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

729

Sérgio Bernardo

Endereço Postal: Rua Papa Capim, 96, 3º Etapa, Rio Doce,

53070-140 - Olinda/PE

Severino Filgueira

Endereço Postal: Rua Ágata, 135, Pau Amarelo,

53429-620 - Paulista/PE

Fone residencial: 81 - 34365872

Silvana Menezes

Endereço Postal: Rua 4 de Outubro, 481, Ouro Preto - Jatobá,

53370-001 - Olinda/PE

Fone residencial: 81 - 34294729

E-mail: [email protected]

Tarcisio Regueira

Endereço Postal: Av. Mario Melo, 165, ap. 306, Santo Amaro,

50040-010 - Recife/PE

Fone residencial: 81 - 32322949

E-mail: [email protected]

Tereza Tenório

Endereço Postal: Rua Rui Calaça, 85, ap. 1001, Espinheiro,

52000-020 - Recife/PE

E-mail: [email protected]

Vernaide Wanderley

Endereço Postal: Rua Esmeraldino Bandeira, 375, ap. 701,

Graças, 52011-090 - Recife/PE

Fone residencial: 81 - 32416920

E-mail: [email protected]

Vital Corrêa de Araújo

Endereço Postal: Rua Santana, 202, Casa Forte, 52060-460 -

Recife/PE

Fone residencial: 81 - 33413110

E-mail: [email protected]

Page 730: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

730

Waldemar Cordeiro

Contato: Marcos Cordeiro

Endereço Postal: Rua Prudente de Morais, 231, Carmo,

53020-140 - Olinda/PE

Fone residencial: 81 – 34290995 -92152003

E-mail: [email protected]

Walter Cabral de Moura

Endereço Postal: Rua Sebastião Alves, 243, ap. 502,

Tamarineira, 52060-110 - Recife/PE

Fone residencial: 81 - 32685118

E-mail: [email protected]

Weydson Barros Leal

Endereço Postal: Rua Pedro Bérgamo, 273, ap. 302,

Boa Viagem, 51021-320 - Recife/PE

Fone residencial: 81 - 33278801

E-mail: [email protected]

Wilson Araújo (Was)

Endereço Postal: Rua Dom José Lopes, 665, ap. 1103,

Boa Viagem, 51021-370 - Recife/PE

Fone residencial: 81 - 33261558

Zeto – José Antônio do Nascimento Filho (1956-2002)* **

Contato: Bia Marinho

Endereço Postal: Rua Diógenes Sampaio, 80, Várzea

509080-250 - Recie/PE

Fone: 81 - 32696866 - 96622137

E-mail: [email protected]

Page 731: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

731

Índice de Títulos e Primeiros Versos

A Acauhan - A malhada da Onça, 241

A alma como testemunha, 477

A arquitetura como construir portas, 211

A bailarina, 190

A Cabra do Moxotó, 360

A cada instante passa um outro instante, 259

A cidade de Recife, 123

A cidade é passada pelo rio, 203

A cidade, 402

A construção, 352

A emoção, 122

A escravidão, 77

A espera, 509

À estrela que acompanhada a lua, 117

A forma resplandente, 260

A hipnotizadora francesa, 427

A ilusão, trama fluídica, se tece, 157

A infância (com mote de Maximiano Campos), 240

a lágrima tatuada, 486

A luz imóvel, 336

“A modelo negra é mais barato,” 460

A música, 351

A ponte da Boa Vista, 488

A relva macia, 213

A roda da vida, 450

A rosa, encontro na florista, 401

A seguir os passos das musas, 400

A seriema, 125

A solidão e sua porta, 245

A terceira pele, 448

Page 732: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

732

A Terra - O Sertão, 337

A Terra da Poesia, 699

A uma estrela, 117

A uma Maria qualquer, 201

A uma menina, 84

A velha metáfora, 401

A Verdade é como uma flor, 288

A verdade e sua sombra, 288

A vida é assim, querida: de hora em hora, 115

A virtude, 95

A volta da Asa Branca, 215

Abri urgente, 404

Acauã, 214

Acauã, acauã, 214

Acontece, 191

Açucena, 194

Adeus cabelo, 319

Adeus! Já nada tenho que dizer-te, 78

Afagos de Pablo, 416

Ágil mármor das águas turbulento sêmen conturba, 381

Agora todos mortos vão dormindo, 449

Agora/ devo só esperar que as coisas aconteçam, 224

Ah, o La Caruña, 332

ainda há, 169

Alberto da Cunha Melo, 494

Álbum de família, 463

Aluvião, 272

AMA (DOR) AS, 274

Amor de águas de seda, 290

Amor ultramilênio, 256

Amor, 432

Amo-te, 111

Anacreôntica, 67

Anda o silêncio perturbando tudo, 116

Andeja, airosa, arisca, ei-la, a seriema, 125

Animula, 258

Anotações a oeste de Aldebarã, 364

Antes das cidades existiam poetas, 502

Antes destes teus símbolos submersos, 502

Page 733: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

733

Anuário 2 Logofania, 524

aos 6 anos, 457

Aos filhos da pátria, 71

Aos que me querem como eles; Elogio da mulher pobre;, 186

Apelo ao Quixote, 316

Apelo, 342

Apipucos, casa 77, 333

Aquário, 293

Aquele rio, 207

Aqui morava um Rei quando eu menino, 241

Argumento de defesa, 110

Arrependimento, 129

Arte de amar, 118

Artistas, 98

as águas de tua hora, 371

As águas estão quietas, 350

As almas das cigarras, 130

As andorinhas, 505

As cigarras morreram... Todavia, 130

As luas, 140

As mãos, 410

As mãos do Mestre Vitalino, 410

Às vezes pegava minha flauta, 395

assim que foram feitas as horas, 521

Assombração, 457

Astro brihante, majestosa lua, 97

Até o fim, 170

Atracar, 503

Atravessarei o tempo, vencerei a distância, 196

Ausência, 196

Ausência, 218

Ausente, 115

Aves, 521

Axioma, 185

Barcos no Capibaribe, 344

Basta, Senhor! O bárbaro castigo, 105

Bate a porta da limusine, 267

Bendita sejas, 59

Berço profundo, 428

Page 734: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

734

Bernburg, amarga lembrança, 332

Black Sabbath, 479

Blue, 413

Bolsa de valores, 480

Bruxelas, 347

Café concerto, 265

Cai o silêncio escuro. Em pólos da alma, 179

Caíram sobre o mar, 374

Caleidoscópio, 500

Caminhos misteriosos, 512

Canção invertida para Mariana, 496

Canção da floresta, 404

Canção para os que nunca irão nascer, 137

Canção para Victor Jara, 444

Canção, 376

Cantando, 79

Cantar o amor que passa além da vida, 256

Cântico, 484

Canto de cristais, 355

Canto de Proteu, 47

Canto dos emigrantes, 321

Cantos da definitiva primavera, 395

Capibaribe, meu rio, 143

Capibaribe, meu rio/espelho do meu olhar, 143

Carnaval frevo, 147

Carrego nos ombros meus instrumentos, 233

Cartografia poética de Pernambuco, 693

Cego de amor, 102

Cena campestre, 85

Ceticismo, 96

Cheio de vidas, 409

Chore Bahia mísera!, 361

Chore Bahia mísera/pelo sangue de José Inácio!, 361

Chuva de caju, 136

Cidade ou cidadela?, 220

Cigano do ar, 297

Cinzas, 366

Círculo amoroso, 378

Clave oculta, 363

Page 735: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

735

Colhidos da sombra: A bailarina; Acontece, 190

Com Eric Clapton, um branco, 413

Com pouco faço meu sonho, 481

Com seus pássaros, 321

Comícios íntimos, 262

como desenhar a lágrima, 486

Como te chamas, pequena chuva inconstante e breve, 136

Como uma lâmina percorro teu pescoço fino, 512

Composições I e II, 216

Conceição, 126

Confidências, 97

Construção, 251

Corações insensíveis, 267

Covardia, 106

Cromo, 104

Cruz em haicai, 346

D Rita Joanna de Souza - Pernambucanas Ilustres, 48

Da viagem, 294

De braúna foi feito este batente, 467

17 de Novembro de 1889, 99

de onde assisto aqui, 454

De sempre, 458

Décimas, 64

Decomposição, 447

Deitado agora como um som que cala, 258

Demasiado humano, mas sem piedade, 491

Depoimento, 224

depois do teu nome já todos os nomes te dizem, 524

Desafio, 418

Desce a noite sombria do horizonte, 90

Desconversa, 236

Descripção do Recife de Paranambuco, 45

Desejo, 266

Desejo no arrecife, 460

Desespero, 105

Deste amor torturado e sem ventura, 129

Deuses sonoros, 517

Diante de estrelas, 387

dicção víbora, 384

Page 736: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

736

Discurso do Capibaribe, 207

Discurso semiótico, 389

Disse alguém, por maldade ou por intriga, 110

Disse-me que amava em mim a estrela, 432

Do Gosto para o desgosto, 182

Do moço e do bêbado, 473

Do ser expectante, 228

Dois sonetos de abril, 161

Dormem! Sozinha e assustada e trêmula, 96

Dormir, dormir profundamente e mais, 407

Dos arcos da ponte te contemplo, 284

Dos caminhos de ir e voltar, 445

Dou-te o meu coração cheio de enlevos, 93

Drácula, 268

Dual, 322

Duas paisagens, 411

Dúvidas, 250

E eu galguei o alcantil tendo-a em meus braços, 239

E frio ele contamina, 314

É noite de São João Toda cidade, 434

E o depois eu conto, 455

E se inda houver amor, 435

E se inda houver amor eu me apresento, 435

É sempre o mesmo leito pedregoso, 101

Edifício apagado, 202

Eis meus sonhos gentis, eis minhas horas, 94

Ela cantava, sua voz dizia, 79

Ela foi-se! E com ela foi minh‟alma, 72

Ela me vem assim: esquiva… dúbia… estranha…, 122

Ele é tão delicado!, 290

Ele se desfez do paletó de nuvem, 416

Elegias para o padre Romano Zufferey, 188

Eles piscam, 461

Elogio da mulher pobre, 186

Em dia destes (muito breve), 237

Em dourados salões, ao som da orquestra, 85

Em meio ao turbilhão, 464

Em meio às paredes de um quarto sombrio, 533

Em respeito aos que retornam, 417

Page 737: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

737

Em sua tenda de cedar, 231

Em teus olhos de pausa, tempo e espera, 195

Em vão tentais nos ocultar a chama, 107

Emboladores envenenados, 517

Empresta-me o teu éter, 503

Encômio de repetição, 59

Encontrei-a de súbito, 468

Engenho d‟Uchoa, 384

Então eles se perdiam naquele amoroso delírio, 398

Então pintei de azul os meus sapatos, 246

Entre a napa e o espelho, 251

Entre as filas de verde um homem vem e vai, 178

Entre Marília e a pátria, 66

Entre Marília e a pátria/Coloquei meu coração, 66

Entre os sangues da guitarra, 363

Entre um casario e outro, 388

Epílogo, 301

Epitáfio para um burocrata, 472

Era a Face Amada A amargura, 431

Erúpvias vias dúbias, 425

Escolheram-me rainha, 292

Escorados na tarde, 365

Escrevi mil e uma fantasias, 534

Escurecia e o dia era tão frio, 347

Esfinge, 519

Essa tarde durou uma açucena, 194

Esses teus seios pulados, 244

Esta cidade que se alarga, 411

Esta lágrima é de outro, 188

Esta espera é pássaro ferido, 509

Este canário, estes cajás, a tarde, 406

estou aqui, no meio da ponte, 442

esvoaço janela adentro, 268

Eu amo o gênio, 76

Eu amo o gênio, cujo raio esplêndido, 76

Eu cismo: contemplo a aurora, 104

Eu ouço as vozes, 149

Eu pego da curva do sossego, 510

Page 738: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

738

Eu te respeito, 186

Eu te vejo chorar Não imaginas, 127

Eu vejo tanta beleza, 370

Fábula de um arquiteto, 211

Face amada, 431

Falo com lábios vermelhos, 242

Falo do que não falo quando falo, 272

Farejo em meu passado um momento perdido, 463

Faz da gravata, 472

Fazenda velha querida, 153

Feliz de ti que ainda choras, 127

Fez lembrar-me a voz do grilo, 172

Fiéis vassalos, tenha hoje Albânia, 52

Filhos da Pátria, jovens brasileiros, 71

Fim de feira, 422

Foi assim, 163

Foi quando morri Apareceu-me um anjo, 458

Folha seca, 357

Folhas/Bonecas/Velocípedes, 450

Fora melhor a ausência e não ter visto, 218

Fragmento do acaso, 493

Fragmentos da Pátria, 501

Fusão, 271

Gênese, 286

Gênio! Gênio! inda mais! Supremo esforço, 74

Geografia do campo soberano, 249

Geografia do mal, 483

Gesto de sol e grega alvenaria, 302

Golpe de Estado, 428

Grafito I, 425

Grafito II, 426

Há de vibrar teu corpo em claridade, 433

Há muito o que adorar, 339

Há nos homens daqui uma tristeza, 393

há uma hora exata a morte esguia, 498

Hai Ku & Tanka (Waka), 158

Harpas, 518

HEI de lembrar-me sempre de ti, 192

Herculamum e Pompeii, 426

Page 739: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

739

(H) INOCÊNCIA (poema pascal em sete dores), 275

Hiroschima meu amor, 318

Hoje é o dia em que o filho, a toda hora, 421

Homenagem à Virgem Maria, 180

Houve passos nas pedras, 299

Humildade, 173

Humildade, 383

Ilha de coral, 88

Impropérios, 414

Incenso aceso, 514

Insensação, 514

Inspiração súbita, 74

Interpretação das ruínas, 299

Jardins suspensos, 374

Katorga, 498

Lá nas plagas de flores e harmonias, 88

Lá se foi Maria da Penha, 403

Lamento, 403

Lápide, 465

Latitude urbana, 388

Leio: “Meu bem não passa-se um só dia, 109

Lição antiga, 178

Livro de Francisca, 407

Lord Jim, 464

luaredo, 487

Lúcido, 409

Maçãs negras, 243

Macrolove, 358

Madre, não é assim que justificamos os mortos, 336

Mãe – dicionário de afeto, 471

Mãe, 471

Maio, 171

Mais uma vez, bato a sua porta, 485

Maria, 201

Maria, José, Jesus, 462

Mariana, quem foi, que vaga-lume, 497

Matinê, 279

Me despeço de mim, 311

Page 740: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

740

Meia-noite e meia a lua, 364

Mes rapports avec Rimbaud, 320

Meu amigo, 460

Meus sonhos, 94

Mil amores cantei Fáceis amores, 144

Minha terra tem palmeiras, 501

Minha ventura única na terra, 102

Minh‟alma se feriu na rocha nua, 453

morrerei cantando, Victor Jara, 444

Morte sucessiva, 174

MORTO PELA SEGURANÇA, 322

Mote em decassílabo, 367

Movem-se os sinos, 247

Mudança, 255

Mulher, 292

Muros e grades, 277

Na madrugada esquisita, 244

Na modulada canção que agora canto, 137

Na terra não existiu semelhante canto, 475

Não as juras de amor, 391

Não conheço os pontos cardeais, 329

Não deixes que a tua, 316

Não quero ser para você, 358

Não resta tinta sobre tinta, 278

Não serei de outro, 186

não sou poeta de pátrias e pátios, 414

Não tenhas medo, 174

Não terei a pressa, 216

Não vim pra ficar, 297

Não, não pares, 170

Naquele tempo disse João, 303

Nas esquinas, 518

Nas ruas da velha cidade, 469

Nas ruas de Hiroshima ainda rodam, 318

nasci pedro, assim me encaixo, 415

Natal, 314

Natureza morta, 478

Naufrágio, 515

Negro adeus, 78

Page 741: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

741

Nem te sonhava mais, pássaro de fogo, 212

Néon, 461

Neste dia de aniversário, 508

Ninho de Condor, 80

No alto, a paisagem verde-escura e acidentada, 121

No batente de pau do casarão, 467

No bosque, 242

no orvalho da face, 158

No rastro da verdade iniciada, 353

No Recife, 488

No silêncio das árvores, 169

No vasto panorama que aprecio, 294

Noites da poetisa, 96

Noiva mística, 103

non-music: eyeliner, 526

Nos luares que moram em teu olhar, 382

Noturno, 131

Noturno, 298

Nova colheita da poesia da terra, 37

Num canto de jardim fez o seu bosque, 470

Numa clara visão de céus escampos, 171

O advento da flor, 270

O amor em mim está maduro, 293

O amor mal correspondido, 57

O aniversário, 508

O arco da imagem, 250

O canto do cisne, 144

O cão lingüístico, 525

O cão sem plumas, 203

O compromisso, 456

O equilibrista, 269

O Evangelho consoante João da Silveira Severino, 303

O filho, 315

O fio de cobre de tua voz, 420

O gênio da raça castanha, 383

O lado aberto, 482

O lado aberto te esconde, 482

O lavrador e o templo, 405

O leve pássaro, 234

Page 742: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

742

o lixo atapeta o chão, 422

O meu país é a lembrança, 353

O nada dizer sob os risos, os erros, 400

O não do sim, 454

O negro, 90

O nosso Arão exulta de alegria!, 56

O órfão de Belém, 247

O outro Brasil que vem aí, 149

O peso do sentir, a glória de viver, 261

O poeta, quando jovem (Lendo Augusto dos Anjos), 257

O poeta, 198

o porto de tua hora, 373

O que até hoje me tem dado a vida, 128

O que haverá de urgente?, 301

O que mais queres?, 93

O retrato move-se, 356

O rio, 101

O rio da insensatez, 312

O rio da minha infância, 184

O rosto dessa gente me esmaga, 392

O Sertão principia, 337

O signo, somente, 389

O silêncio das pedras, 453

O sino bate, 133

O sol, 200

O sol além da minha rua, 380

O Sol é um grande artista, na verdade, 200

O sonâmbulo, 219

O tempo passa, 202

O teu silêncio que procura distâncias, 190

O trono da minha terra é verde, 506

O vento é do Pina, 252

O vice Deus, 330

Observação, 356

Ofício da busca, 233

Ofício do semeador, 231

Olho e vejo a praça:, 262

Olinda, 121

Onde as presas do tempo, 355

Page 743: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

743

Onde dispor o silêncio, 265

Opera aperta (Alvo pudico alvo), 381

Opera aperta (Licor ao luar), 382

Os amigos chegam, ponho a mesa, 187

Os amigos, 187

Os girassóis de Van Gogh, 261

Os habitantes perderam-se, 296

Os mistérios do céu, 219

Os mortos, 449

Os países inexistentes, 141

Os pés, as mãos, 490

Os pontos cardeais, 329

Os prazeres da vida se extinguem, 95

Os últimos passantes, como tudo, 145

Outono, 344

Outras juras, 391

Outro, 56

Paço do cume dos olhos, 427

Pagando motes, 182

Paisagem do Capibaribe, 203

Pantaleão, 153

Para Ênio Silveira, 262

Para Maximiano Campos, 393

Para nós um operário nasceu, 390

Para você mesmo, Esdras, 128

Paralelepípedro, 415

Parco rio da insensatez, 312

Passagem na ponte, 442

Passeio, 277

Pátria do meu amor! Recife linda, 123

Pecador e justo, 313

Pediria ao poeta, 298

Pela noite, 116

Pelas sarças de luz da imensa altura, 103

Pellos ares retumbe o grave accento, 47

Pelo que bem pareça, 283

Percebes, 228

PERA A parte do Sul, onde a pequena, 45

Pergunta ao céu azul por que é tão belo, 84

Page 744: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

744

Pernambuco em antologias, 33

Persistência, 420

Pisando a terra com garbo, 330

Perto ou longe no mar de Dor vagando, 257

Plana, no tempo as faces submersas, 270

Planos de João Mauricio de Nassau-siegne, 481

Pó & Ema, 357

Pobre amor, 160

Pobre rei a morrer, da velha raça, 99

Poema, 281

Poema 100% nacional, 148

Poema amarelo, 406

Poema-falácia, 468

Poema em auto-relevo, 513

Poema sertaniense ou nas ruas da velha cidade, 469

Poesia IV, 495

Ponte em haicai, 345

Por dentro, 492

Por detrás da poeira, a solidão, 352

Por mais divino o menino de Maria se guarde, 390

Por uma tarde, em Rússia, à fonte ia, 317

porque você nada sabe da insônia, 436

Postal romântico, 387

poucas coisas são de valia neste mundo:, 456

Primeira elegia, 188

Primeira cancão para Mariana, 497

Procuro a carne da palavra adusta, 448

Profundamente, 119

Prólogo, 176

Proposta, 223

Qu‟importam lágrimas de saudade infinda, 96

Quadro, 490

quando amar, 515

Quando cessou a campanha, ela disse, 334

Quando mais nada resistir que valha, 245

Quando não é chuva, 282

Quando ontem adormeci, 119

Quando os teus olhos fito e leio neles quanto, 111

Que a voz do poeta nunca se levante, 173

Page 745: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

745

que instante, 455

Que seja assim, 315

Quem se atreverá a ferir as begônias, 418

Queres partir comigo para países muito distantes, 141

Queria ver o mar Pediu que não chovesse, 236

Quero escrever meus versos, 504

Quisera ser o sol, 223

Quixote morto, 145

Rebouças e José do Patrocínio, 367

Rebuscavam os dias, 365

Recife, 163

Recife, 252

Recife, 319

Recife, 440

Recife antigo e novo, 295

Recife das serenatas, 295

Recife, diluidora, 483

Recife, essa doença, 392

Reincidente, 485

Reino do verde, 506

Ressuscita-me, 342

Retire, um a um, 255

Revolver cinza é não vexar, 366

Rio da saudade, 184

Rios e mar formam tuas ilhas, 220

Rosa se foi, 484

SOS Brasil, 282

Santo Anjo do Senhor, 271

Se Amor quisesse me emprestar as asas, 112

Se amor vive além da morte, 64

Sê como o templo natural, 405

Se Deus é quem deixa o mundo, 77

Se eu morrer amanhã, há de ter sido, 281

Se eu não vivera tão empobrecido, 55

Se eu pudesse voar, 112

Se eu tivesse algum dia essa ventura, 114

Se queres sentir a felicidade de amar, esquece a tua alma, 118

Se um sentimento cada flor resume, 108

Se, no seio da pátria carinhosa, 70

Page 746: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

746

Segunda elegia, 188

Seguro, 278

Selvática fazenda, hoje sagrada, 126

Sem formalidade, 311

Sem lei nem Rei, me vi arremessado, 240

Sem mamãe, 421

Sem palavras, 534

Sem pedir licença, 351

Sem seu ninho o condor nos cumes da montanha, 80

Sem título, 283

Sempre a espreitá-lo a morte que não cansa, 177

Senhora, eu não conheço a frase almiscarada, 98

Senhora, vou contar-vos um segredo, 160

Sentimento súbito, 436

Ser criança em noite de Natal, 264

Serenata, 82

Sextina da vida breve, 237

Sextina do gato bárbaro, 234

Silêncio em Apipucos, 152

Simun, 222

Sinestesias, 496

Sintaxe feminina, 109

Sobre a população desta amarga cidade, 140

Sofri que só Foi, 500

Sombra que adoro, e temo, e osculo, e odeio, 106

Sonata à Lílian ou As sombras no espelho, 192

Soneto da vida e da Morte, 179

Soneto das tempestades, 441

Soneto da transfiguração, 470

Soneto de Chang, 302

Soneto do desmantelo azul, 246

Soneto do entardecer, em Rússia, 317

Soneto do tédio, 195

Soneto reciclado de Olímpio Bonald Neto, 257

Soneto, 55

Soneto, 69

Soneto, 70

Soneto, 107

Soneto, 177

Page 747: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

747

Soneto, 239

Sonhando, 114

Sonhei com o teu quintal, 243

Sonho de pedra, 284

Sou a saudade, 222

Sou a semente que se biparte, 185

sou como Deus, 513

Sou mais pobre do que Job, 198

Sou neto das tempestades, 441

Sozinho, de noite, 131

Surge Capibaribe, que serpeja, 69

Talvez existam olhos, 333

Também me exilei, 320

Tantas vezes a fadiga se desmancha, 264

Tarde em Itamaracá, 350

te recebo em mim pela porta do mundo, 286

Teia de Penélope, 157

Televisão, 146

Tem gente com fome, 167

Tempo, instante, coração, 259

Tenho minha calma consumida, 146

Tépido sol de abril, céu azulado, 161

Tocávamos clarinete na corda bamba, 269

Toda saudade, 520

Todavia, um cérebro demente, 260

Traz teu encanto, 519

Treino de sombra, 339

Trem de Alagoas, 133

Trem sujo da Leopoldina, 167

Tristeza Noturna, 533

Tróia, 520

Trovas, – cantiga do povo, 124

Trovas, 124

Trovas, 172

Tu, ó Virgem soberana, 180

Tudo é assim, 191

Tudo o que digo a ela é o oposto, 496

Um caminho no sertão, 480

Um dia, Capitão, contarei essa história, 354

Page 748: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

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Um guarda-chuva, 147

Um homem passou em minha vida, 188

Um pecador sem vaidade, 491

Um perfume qualquer, 266

Um sonho, 72

Uma canção de amor para Violeta, 475

Uma charada tropical, 492

Uma cidade, 440

Uma cidade não morre de vez, 402

Uma voz, duas vozes, 334

Usaria ao falar de Sibonei, 176

Várias vezes ele e ela, 279

vejo esses olhos, 274

Vem escutar-me, 67

Vem, não tardes, vem depressa, 82

Venhas, por onde quer que venhas, 249

Ver o Recife, para mim, é como, 199

Ver o Recife, 199

Viagens de Celina, 186

Vida, 510

Violam os violões, 376

Violetas, 108

Visita, 296

Visual poema, 429

Voltar, 417

Vou estar em ti, 378

Page 749: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

749

Índice Onomástico

A

Adelmar Tavares (1888-

1963)** 14, 41, 123,

124, 535

Alberto da Cunha Melo

(1942-2007)* ** 22,

38, 41, 321, 328, 494,

536, 537, 538, 549,

554, 557, 563, 564,

565, 566, 570, 574,

578, 580, 587, 594,

598, 602, 608, 617,

637, 669, 683, 695,

704

Alcides Lopes de Siqueira

(1901-1977)** 15, 39,

41, 153, 538, 539, 616

Almir Castro Barros (1945)*

** 23, 41, 365, 539,

580, 598, 611, 695

Alvacir Raposo (1950)* 26,

41, 433, 540

Ana Maria César (1941)* **

21, 41, 311, 540

Ângelo Monteiro (1942)*

22, 41, 329, 541, 542,

598, 641, 669, 695

Anna Alexandrina Caval-

canti D‟Albuquerque

(1860–)** 12, 41, 90,

542

Antônio Campos 33

Antônio Campos (1968)*

** 11, 29, 37, 41, 315,

506, 542, 543, 544,

545, 564, 565, 567,

641, 642, 693, 700,

704, 706

Antonio Candido 40

Antonio de Campos

(1946)** 24, 41, 390,

546

Antonio Joaquim de Mello

37, 41, 706

Antonio Marinho (1987)* **

30, 41, 533, 546, 696

Ariano Suassuna (1927) 18,

41, 240, 539, 547, 548,

557, 561, 567, 571,

604, 630, 641, 657,

678

Arnaldo Tobias (1939-

2002)** 20, 41, 282,

548, 566, 598, 668

Page 750: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

750

Ascenso Ferreira (1895-

1965)** 14, 41, 131,

132, 549, 550, 641,

647, 696

Assis Lima 39, 42

Audálio Alves (1930-1999)**

19, 42, 247, 550, 551,

696

Austro Costa (1899-1953)**

15, 42, 143, 551, 552,

600, 661, 696

B

Bartyra Soares (1949)* **

25, 42, 418, 552

Bastos Tigre (1882-1957)**

13, 42, 109, 110, 553

Benedito Cunha Melo

(1911-1981)* ** 16,

42, 171, 538, 554, 555

Bento Teixeira ( ± 1550-

1600) 11, 42, 45, 555,

664, 679, 694, 706

C

Carlos Moreira (1918)** 17,

42, 194, 556, 557

Carlos Pena Filho (1930-

1960)** 19, 42, 245,

536, 537, 546, 551,

556, 557, 598, 622,

637, 695

Carneiro Vilela (1846-

1913)** 12, 42, 80,

558

Celina de Holanda (1915-

1999)* ** 16, 42, 186,

558, 559, 561, 601,

651

Celso Mesquita (1947)* **

24, 42, 400, 559

César Leal (1924)* 18, 40,

42, 219, 503, 536, 540,

557, 559, 561, 569,

580, 598, 603, 630,

631, 632, 641, 656,

663, 678, 695, 696

Chicão – Francisco José Trin-

dade Barrêtto (1941)**

21, 42, 313, 561

Cícero Melo (1952)* 27, 42,

448, 562

Cida Pedrosa (1963)* ** 28,

42, 413, 486, 562, 574

Clarice Lispector 40, 41

Cláudia Cordeiro 11, 30,

43, 537, 538, 543, 544,

545, 563, 565, 693,

700, 703, 706

Clélia Silveira (1920)** 17,

42, 201, 565

Cloves Marques (1944)* 22,

42, 345, 566

Cyl Gallindo (1935)* ** 19,

37, 41, 42, 262, 537,

543, 545, 561, 566,

638, 668, 669, 703

Page 751: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

751

D

Deborah Brennand (1927)**

18, 42, 242, 567, 619

Dedé Monteiro – José Ru-

fino da Costa Neto

(1949)** 25, 42, 421,

467, 568

Delmo Montenegro (1974)*

** 30, 42, 525, 569,

663, 695, 696

Demóstenes de Olinda

(1873-1900)** 13, 42,

103, 569

Deolindo Tavares (1918-

1942)** 17, 42, 196,

570, 641, 696

Dione Barreto (1955)* 27,

42, 456, 570

Divaldo Pereira Franco 704

Domingos Alexandre

(1944)* ** 22, 42,

347, 571

E

Edmir Domingues (1927-

2001)** 18, 42, 237,

551, 571, 572, 615,

619, 631

Edson Régis (1923-1966)**

17, 42, 216, 572, 682

Eduardo Diógenes (1954)*

** 27, 42, 436, 454,

573

Eduardo Martins (1962)* **

28, 42, 482, 573

Edwiges de Sá Pereira (1885-

1959)** 14, 42, 116,

574

Elisa M. B. Torres 39

Elizabeth Hazin (1951)**

26, 42, 440, 574

Emília Leitão Guerra (1883-

1966)** 13, 42, 111,

576

Erich Auerbach 696

Erickson Luna (1958-2007)*

** 28, 42, 409, 472,

576, 589, 602

Ermelinda Ferreira 704

Esdras Farias (1889-1955)**

14, 42, 127, 128, 577,

578, 679

Ésio Rafael (1948)* ** 25,

42, 409, 578

Esman Dias (1937)* 20, 42,

271, 347, 579

Eugênia Menezes (1939)*

20, 42, 284, 549, 580,

594, 695

Eugênio Coimbra Jr. (1905-

1972)** 15, 42, 160,

162, 540, 581, 630,

662, 682

Everardo Norões (1944)*

23, 42, 351, 579, 580,

581, 611, 639

Ezra Pound 693, 697

Page 752: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

752

F

Faria Neves Sobrinho (1872-

1927)** 13, 42, 101,

102, 582

Fátima Ferreira (1965)**

29, 42, 500, 583

Fernando Monteiro (1949)*

** 26, 42, 425, 583,

584, 592

Flávio Chaves (1958)** 28,

42, 475, 585

Francisca Izidora Gonçalves

da Rocha (1855-

1918)** 12, 42, 85,

586, 587

Francisco Altino de Araújo

(1849–)** 12, 42, 84,

587

Francisco Bandeira de Mello

(1936)* ** 20, 42,

269, 587, 588

Francisco Espinhara (1960-

2007)* ** 28, 42, 478,

577, 588, 589

Francisco Ferreira Barreto

(1790-1851)** 12, 42,

67, 589

Frei Caneca (1779-1825)**

11, 42, 64, 65, 66, 220,

588, 590

G

Geraldino Brasil (1926-

1996)* 18, 42, 234,

591, 592

Gilberto Freyre (1900-

1987)** 15, 42, 149,

151, 543, 570, 593,

594, 595, 601, 637,

641, 648, 663, 664,

668, 699, 705

Gilberto Mendonça Teles

30, 37, 38, 593, 699,

703, 706

Gladstone Vieira Belo

(1946)* ** 24, 42,

387, 598

H

Helder Camara [Dom]

(1909-1999) 16, 42,

169, 599

Helena M. Uchara 39

Hildeberto Barbosa Filho

30, 38, 693, 698, 703

Homero do Rêgo Barros

(1919)* ** 17, 42,

199, 600

I

Inez Fornari 703

Isabel de Andrade Moliterno

38, 39, 704

Isac Santos (1962)* 28, 42,

484, 601

Ivanildo Vila Nova (1945)**

23, 42, 367, 578, 602

Ivan Marinho (1965)* 29,

42, 493, 577, 601

Page 753: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

753

J

Jaci Bezerra (1944) 23, 42,

353, 354, 549, 566,

578, 594, 598, 602,

674, 695

Jairo Lima (1945)** 23, 42,

371, 603

Janice Japiassu (1939)* 18,

20, 42, 241, 288, 603,

604, 695

Joanna Tiburtina da Silva

Lins (±1860-1905)**

13, 42, 94, 604

João Cabral de Melo Neto

(1920-1999)** 7, 17,

41, 42, 203, 211, 272,

297, 537, 557, 570,

605, 607, 618

João Nepomuceno da Silva

Portella (1766-1810)**

11, 42, 59, 606, 607

Joaquim Cardozo (1897-

1978)** 15, 42, 136,

537, 550, 551, 566,

582, 611, 633, 634,

668, 684, 695

Job Patriota (1929-1992)* **

18, 42, 198, 244, 546,

608

Jorge Wanderley (1938-

1999)** 20, 42, 279,

573, 608

José Almino (1946)* ** 24,

42, 392, 579, 609

José Carlos Targino (1943)**

22, 42, 334, 336, 580,

598, 610, 695

José Mário Rodrigues

(1947)* ** 25, 42,

402, 598, 611, 669

José Rodrigues de Paiva

(1945) 24, 42, 374,

612

José Rufino da Costa Neto

42

Juhareiz Correya (1951)**

26, 42, 442, 612, 613,

647

L

Leila Teixeira 39, 42, 704

Lenilde Freitas (1939) 21,

42, 292, 613

Lourdes Nicácio (1947)* **

25, 42, 404, 614

Lourdes Sarmento (1944)*

** 23, 42, 355, 615,

616, 703

Lourival Batista (1915-

1992)** 16, 42, 180,

546, 616, 617

Lucila Nogueira (1950)* 26,

42, 435, 617, 618, 636,

669, 675, 695

Lúcio Ferreira (1930)* **

19, 42, 250, 619

Luis Manoel Siqueira

(1960)* ** 28, 42, 480

Luiz Alves Pinto (± 1745 –

± 1815)** 11, 42, 57,

620

Luiz Arrais 39

Page 754: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

754

Luiz Carlos Duarte (1947)**

25, 42, 406, 621

Luiz Carlos Monteiro

(1957)** 27, 37, 42,

468, 621

M

Maciel Monteiro (1804-

1869)** 12, 42, 72,

73, 75, 622, 623

Malungo – José Carlos

Farias da Silva (1969)*

** 30, 42, 517, 624

Manuel Bandeira (1886-

1968)** 14, 42, 118,

550, 567, 593, 595,

607, 614, 617, 624,

626, 627, 658, 684,

694, 695

Manuel de Souza Magalhães

(1744- 1800)** 11,

42, 55, 627

Marcelo Mário de Melo

(1944)* ** 23, 42,

357, 628

Marcelo Pereira (1964)* **

29, 42, 491, 628

Márcia Maia (1951)* ** 26,

42, 445, 630

Marco Polo Guimarães

(1948)* ** 25, 42,

411, 598, 630, 695

Marcos Cordeiro (1944)* **

23, 40, 42, 360, 539,

631

Marcos D‟Morais (1966)* **

29, 38, 42, 502, 632

Marcus Accioly (1943)* **

22, 42, 337, 598, 632,

633, 694, 695

Maria da Paz Ribeiro Dantas

(1940)* 21, 42, 296,

633

Maria de Lourdes Hortas

(1940)* 21, 42, 298,

634

Maria do Carmo Barreto

Campello de Melo

(1924-2008)** 18, 42,

224, 552, 635

Maria Heraclia de Azevedo

(±1860–)** 13, 42,

96, 636

Marilena de Castro (1952)*

27, 42, 450, 636

Mário Hélio (1965)* 29, 42,

496, 636, 695

Mario Melo (1884-1959)**

14, 42, 114, 637, 679

Massaud Moisés 40

Maurício Motta (1949)* **

26, 43, 427, 566, 638

Mauro Mota (1911-1984)* **

16, 43, 173, 175, 256,

540, 551, 559, 564,

582, 599, 638, 639,

641, 663, 668, 679,

686, 687, 695, 696

Mauro Salles (1932)* ** 19,

43, 252, 639, 640

Page 755: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

755

Maximiano Campos (1941-

1998)** 18, 21, 24,

43, 240, 315, 393, 542,

543, 544, 570, 598,

622, 640, 668, 686, 704

Medeiros e Albuquerque

(1867-1934)** 13, 43,

98, 100, 642, 696

Micheliny Verunschk (1972)*

** 30, 43, 519, 645,

695

Montez Magno (1934)* **

19, 43, 260, 645

Múcio de Lima Góes (1969)*

** 29, 43, 513, 647

Múcio Leão (1898-1969)**

15, 43, 140, 142, 646,

679

Myriam Brindeiro (1937)* **

20, 40, 43, 274, 549,

648, 695

N

Nádia Batella Gotlib 40

Nádia Reinig Moreira 39

Natividade Saldanha (1796-

1830)** 12, 43, 70,

552, 649

Nelson Saldanha (1933)* **

19, 43, 258, 650

Ninon Tásia da Silva Alves

39, 704

Norma Baracho Araújo 43

O

Odile Vital César Cantinho

(1915)* ** 16, 43,

184, 650

Olegário Mariano (1889-

1958)** 14, 43, 129,

130, 651, 652, 696

Olímpio Bonald Neto

(1932)* ** 19, 43,

256, 257, 653, 679

Orismar Rodrigues (1943-

2007)** 22, 43, 342,

655, 656

Orley Mesquita (1935-

2006)* 19, 43, 265,

579, 656

P

Patrícia Lima 43

Paulino de Andrade

(1886–)** 14, 43,

121, 657

Paulo Bandeira da Cruz

(1940-1993)** 21, 43,

302, 657

Paulo Bruscky (1949)* **

26, 43, 429, 658, 680

Paulo Caldas (1945)* ** 24,

43, 378, 659

Paulo Cardoso (1939-

2002)** 21, 43, 294,

660

Paulo de Arruda (1873-

1900)** 13, 43, 105,

660

Page 756: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

756

Paulo Gustavo (1957)* **

28, 43, 470, 660

Pedro Américo de Farias

(1948)* ** 25, 43,

414, 580, 611, 661

Pedro Vicente Costa Sobrin-

ho 703

Pedro Xisto (1901-1987)**

15, 43, 158, 661, 662

Pietro Wagner (1972)* **

30, 43, 521, 662, 695,

696

Potiguar Matos (1921-

1996)** 17, 43, 212,

663

R

Raimundo Gadelha 39

Rita Joana de Souza 695

Rita Joanna de Souza (1696-

1718)** 11, 43, 48,

664, 665, 666

Rui Ribeiro 704

S

Sebastião Uchoa Leite

(1935-2003)** 20, 43,

267, 575, 667

Sebastião Vila Nova (1944)

23, 43, 363, 667, 695

Sérgio Bernardo (1942)* **

22, 43, 332, 669

Sérgio Milliet 40

Sérgio Moacir de Albuquer-

que (1946-2008)* **

24, 43, 395, 566, 598,

668

Severino Filgueira (1937)

20, 43, 277, 669

Silvana Menezes (1967)*

29, 43, 504, 670

Solano Trindade (1908-

1974)** 16, 43, 163,

166, 601, 670, 671,

696

S.R. Tuppan (1969)* ** 29,

43, 510, 666

Suzana Brindeiro Geyer-

hahn (1942-1996)* **

22, 43, 319, 671

T

Tadeu Alencar (1963)* 27,

43, 463, 672

Tarcísio Meira César (1941-

1988) 21, 43, 317,

566, 598, 673

Tarcísio Regueira (1956)* **

27, 43, 461, 673

Targélia Barreto de Meneses

(1879-1909)** 13, 43,

107, 674, 676, 695

Tereza Tenório (1949)* **

26, 43, 431, 674, 695

Tobias Barreto (1839-1889)

12, 43, 76, 367, 674,

675, 676, 677, 682,

695

Page 757: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

757

Tomás Seixas (1916-1993)**

17, 43, 190, 392, 678

T. S. Eliot 693

U

Ulisses Lins de Albuquerque

(1889-1979)** 14, 39,

43, 125, 678, 679

Urbano Lima 182, 183

V

Vanildo Bezerra (1899-

1989)** 15, 43, 145,

680

Vernaide Wanderley (1948)*

25, 43, 416, 580, 680

Vicente do Rego Monteiro

(1899-1970)** 15, 43,

147, 148, 659, 669, 680,

681

Vital Corrêa de Araújo

(1945)* ** 24, 43, 381,

681

Vitoriano Palhares (1840-

1890)** 12, 43, 78,

682, 683

W

Waldemar Cordeiro (1911-

1992)* ** 16, 43, 176,

683

Waldemar Lopes (1911-

2006)** 16, 43, 178,

683, 684, 696

Waldimir Maia Leite (1925-

2010)* ** 18, 43,

231, 685

Walter Cabral de Moura

(1955)* 27, 43, 458,

686

Weydson Barros Leal

(1963)* ** 28, 43,

488, 686

William Ferrer Coelho

(1924-2006)* 18, 43,

222, 687

Wilson Araújo de Souza

(WAS) (1945)* 24,

43, 383, 688, 730

Z

Zé Dantas – José de Sousa

Dantas Filho (1921-

1962)** 17, 39, 43,

214, 688, 689

Zeto – José Antônio do

Nascimento Filho

(1956-2002)* ** 27,

43, 466, 546, 689

Page 758: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

Este livro foi composto e editado eletronicamente na fonte New Baskerville,

com tiragem de 1.500 exemplares.

Impressão em papel Chamois Fine Dunas, 67g/m², para o miolo e

Triplex, 250g/m², para a capa.

Produzido pela Gráfica Santa Marta.

João Pessoa, Brasil, outubro de 2010.

Page 759: Coleção Pernambuco em Antologias: "Pernambuco, Terra da Poesia". Antônio Campos e Cláudia Cordeiro , 2ª edição.

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