Coleção Preservação e Desenvolvimento - 06 Festival de Poesia de Goyaz, GO
Coleção Preservação e Desenvolvimento - 05 Casa dos Objetos Mágicos, Salvador - BA
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CASA DOS OBJETOS MGICOSS A LV A D O R - B A | 5
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C r d i t o s
Presidente da Repblica do BrasilLuiz Incio Lula da Silva
Ministro de Estado da CulturaGilberto Passos Gil Moreira
Presidente do Instituto doPatrimnio Histrico e Artstico NacionalCoordenador Nacional do ProgramaMonumentaLuiz Fernando de Almeida
Coordenao editorialSylvia Maria Braga
EdioCaroline Soudant
Redao e PesquisaRogrio Furtado
Reviso e preparaoDenise Costa Felipe
Design grficoCristiane Dias
FotosArquivo do Monumenta /UEP
C334 Casa dos objetos mgicos: Salvador -Bahia. Braslia, DF: IPHAN/ProgramaMonumenta, 2007.72 p.: il.; 15 cm.(Preservao e Desenvolvimento; 5)
ISBN 978-85-7334-050-1
1. Educao Patrimonial. 2. Artesanato.3. Patrimnio Cultural. 4. Candombl Ornamentos Sagrados. 5. Instituto doPatrimnio Histrico e Artstico Nacional. II.Srie.
CDD 370.11
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A p r e s e n t a o
Este pequeno livro pertence srie Preservao e Desenvolvimento, uma
coleo de registro das experincias desenvolvidas pelo Programa
Monumenta na rea da promoo de atividades econmicas, de educao
patrimonial, de formao profissional e de capacitao.
Na qualidade de programa do Ministrio da Cultura para a recuperao
sustentvel do patrimnio histrico brasileiro, o Monumenta se prope a
atacar as causas da degradao de stios histricos e conjuntos urbanos
tombados e a elevar a qualidade de vida das comunidades envolvidas.
Assim, muitas das aes propostas no mbito do Programa, com apoio deestados e municpios, vm permitindo a essas comunidades descobrir o
patrimnio cultural como fonte de conhecimento e de rentabilidade
financeira, como meio, portanto, de incluso social.
Esse novo conceito de preservao transformou alguns dos stiosbeneficiados em plos de atividades culturais, tursticas e de gerao de
empregos, garantindo ao mesmo tempo a conservao sustentada de nosso
patrimnio e melhores condies de vida para quem trabalha ou vive ali.
uma dessas experincias que voc vai conhecer agora.
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I n t r o d u o
Salvador, na Bahia, dona de vrias fortificaes, herdadas do perodo
colonial. Uma delas, o Forte do Barbalho, monumento histrico que data da
primeira metade do sculo 17. Salvador tambm a terra do candombl e
de seus orixs. Essas entidades do culto afro-brasileiro puderam ocupar a
velha fortaleza do Barbalho entre maro e novembro de 2006, graas aoPrograma Monumenta, que patrocinou a instalao da Casa dos Objetos
Mgicos em um de seus pavilhes. Foi um curso de arte-educao, destinado
a ensinar jovens a fabricar grande variedade de ornamentos sagrados dos
rituais do candombl, conhecidos como ferramentas dos orixs. A iniciativa
tinha dois objetivos, alcanados em sua plenitude. De um lado, fez renascer,
com fora, uma antiga tradio: a produo das ferramentas por artesos
estreitamente vinculados ao culto. A tradio esteve ameaada nos ltimos
anos, na medida em que os mestres artfices mais velhos foram
desaparecendo, e outras pessoas ocuparam seu lugar, com uma produoem srie, distanciada do universo simblico original. De outro lado, ao formar
novos artesos, a Casa dos Objetos Mgicos lhes garantiu uma ocupao
remunerada, e a possibilidade de desenvolver seus dotes artsticos.
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O interesse pelos objetos de culto do candombl imenso. Embora no seja
possvel dimensionar o tamanho do mercado, sabe-se que, somente naBahia, h milhares de terreiros, freqentados por inmeros seguidores da
religio, que costumam comprar as ferramentas para ofert-las a seus orixs.
Alm disso, o candombl vem se expandindo pelo resto do Brasil e nos pases
vizinhos. Por fim, nos ltimos anos ficou claro que existe a possibilidade
concreta de exportao de ferramentas para os Estados Unidos, um enorme
territrio da santeria religio de origem africana que se desenvolveu no
Novo Mundo. Ao final de novembro de 2006, a Casa dos Objetos Mgicos
encerrou o curso com a diplomao de 19 alunos. E o Monumenta via, com
satisfao, em princpios de 2007, que um grupo deles j se orientava paraa fundao de uma cooperativa uma forma segura de organizar a produo
e desenvolver os negcios. Assim, o Programa tambm alcanou seus
objetivos institucionais: o de resgatar e preservar um item importantssimo do
patrimnio cultural da sociedade brasileira a arte de fabricar as ferramentas
de orixs , com gerao de renda.
Luiz Fernando de AlmeidaCoordenador Nacional do Programa Monumenta
Presidente do Instituto do Patrimnio Histrico e Artstico Nacional
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F o r t a l e z a d o s o r i x s
Construdo na primeira metade do sculo 17, o Forte do Barbalho, um
monumento de Salvador, Bahia, completar quatro sculos de histria em
poucas dcadas. Nesse perodo, fora os usos militares, vrias vezes serviu de
hospital e priso. Inclusive aps o golpe de 1964, quando foi centro de
encarceramento e de tortura de presos polticos. Agora a velha fortificaocomea a dar lugar a ocupaes dignas, que prenunciam sua transformao
definitiva em centro cultural. A primeira delas ocorreu entre fins de maro e
novembro de 2006, quando o Barbalho tornou-se uma verdadeira fortaleza
dos orixs, pois ali se realizou o projeto Casa dos Objetos Mgicos. Um
curso de arte-educao destinado a ensinar jovens a fabricar espelhos,pulseiras, escudos, espadas, chapus e coroas dentre outros ornamentos
sagrados dos rituais do candombl , as chamadas ferramentas dos orixs.
Anos atrs, esses objetos eram produzidos apenas nas comunidades negras,
por artesos que observavam as normas e ensinamentos religiosos afro-
brasileiros. Porm, com o tempo, os mestres famosos desapareceram. Outras
pessoas ocuparam seu lugar, nem sempre tendo vnculos com o candombl.
Em geral, hoje a produo feita em srie, distanciada do universo simblico
original. Por isso, o resgate da tradio era um dos objetivos dos
formuladores do projeto. Em outra vertente, esperava-se que a formao dos
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aprendizes lhes garantisse uma profisso, e que tambm lhes desse uma
possibilidade de desenvolver suas potencialidades artsticas. Os resultadosalcanados superaram as expectativas, como se ver mais adiante.
A Casa dos Objetos Mgicos teve o patrocnio do Programa Monumenta,
do Ministrio da Cultura, com financiamento do Banco Interamericano de
Desenvolvimento, e apoio tcnico da Unesco. O Monumenta dedicado restaurao e conservao do patrimnio histrico brasileiro ncleos
histricos, monumentos arquitetnicos e manifestaes culturais de vrias
regies do pas , com a colaborao de entidades locais. Nesse projeto, em
Salvador, o Programa investiu 70% dos recursos necessrios. Os restantes
30% corresponderam contrapartida oferecida pela proponente, no caso aMaianga Produes Culturais Ltda.
Aps a aprovao do projeto em edital pblico, seguiram-se os preparativos
para o incio do curso. Embora houvesse vrios locais disponveis para sedi-lo
em Salvador, optou-se pelo Forte do Barbalho, tombado pelo IPHAN desde
1957, que se encontrava desativado. Uma de suas dependncias, bem
adequada para a montagem da oficina, foi cedida ao projeto pela Secretaria de
Cultura e Turismo do Estado da Bahia. Pouco depois, outros espaos do
monumento seriam ocupados pela prpria Secretaria e por dois grupos de
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capoeira. Convm lembrar que uma das metas do Programa Monumenta
fazer com que os conjuntos tombados pelo Patrimnio Histrico sejam
utilizados de diversas formas pelas comunidades onde se encontram, inclusive
para a gerao de renda, principalmente enquanto pontos de atrao turstica.Dessa forma, as comunidades aprendem a valoriz-los e a preserv-los.
Com o local definido, comeou uma ampla divulgao do projeto, por
meio de diversas instituies pblicas e privadas, organizaes no-
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governamentais e de muitos terreiros de candombl. Embora nunca tenha
havido discriminao, a preferncia era por candidatos engajados em
movimentos e atividades relacionadas manuteno da herana africana na
Bahia. De fato, a maioria dos inscritos compunha-se de adeptos docandombl. Para a inscrio, os candidatos deveriam ter entre 18 e 21 anos
e apresentar certificado de concluso do ensino fundamental. Mas houve
certa flexibilidade para que se admitissem pessoas fora da faixa etria
estipulada, alm de outras que estavam prestes a concluir a oitava srie.
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C a s a i n a u g u r a d a
A Casa dos Objetos Mgicos abriu suas portas em 29 de maro de 2006,
para 30 alunos selecionados entre os 83 inscritos. A equipe do projeto os
artistas plsticos Eneida Sanches e Gilmar Tavares, mais a educadora Ndya
Cruz lhes deu boas-vindas, acompanhados por Valdina Pinto, que makota
do Terreiro Tanuri Junara, de Salvador (Makota uma posio na hierarquiado candombl.). Makota Valdina, educadora e lder comunitria destacada,
estimulou a turma a refletir sobre a importncia da preservao dos variados
aspectos do legado africano, to relevante para o Brasil e para a populao
baiana, em particular.
Alm das aulas prticas e expositivas, durante o curso houve vrias palestrasde especialistas convidados. A primeira, sobre a presena iorub na dispora
africana, foi proferida por Daniel Dawson, um nova-iorquino com vasto
currculo de estudos de artes, cinema e religio africana. Dawson, que ocupa
cargos importantes em trs instituies estadunidenses dedicadas cultura
negra, esteve na Casa dos Objetos Mgicos acompanhado por um grupo deconcidados. Alguns deles, sacerdotes da santeria o equivalente do
candombl nos EUA , vieram Bahia pesquisar os frutos da herana
africana. Na condio de religiosos, podero se tornar futuros clientes dos
artesos formados pela Casa.
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Ritos e artes no candombl foi a palestra de Ordep Serra, doutor em
Antropologia Social pela Universidade de So Paulo e chefe doDepartamento de Antropologia da Universidade da Bahia, que esteve
frente do Projeto Egb, entre 1997 e 2003, em defesa da preservao dos
terreiros de candombl em Salvador. Ordep autor de vrios livros
relacionados temtica dos ritos afro-brasileiros. Dentre elesguas do Rei,
Dois estudos afro-brasileiros e O mundo das folhas. Alm de acadmico,
Ordep Serra og do Terreiro da Casa Branca, com larga vivncia nos rituais
do candombl. Na Casa dos Objetos Mgicos, o professor situou a
construo das ferramentas, que j estavam sendo produzidas pelos alunos,
no contexto das antigas civilizaes africanas.
Mais adiante, o professor Jaime Sodr esteve na Casa dos Objetos Mgicos
para falar sobreA criatividade africana. Jaime Sodr escritor, historiador,
poeta e artista plstico, graduado pela Escola de Belas Artes da
Universidade Federal da Bahia, onde tambm fez mestrado em Teoria e
Histria da Arte. Outra palestra Barroco na Bahia ficou a cargo do
antroplogo Raul Lody. Formado pela Universidade Federal do Rio de
Janeiro, Raul Lody curador da Fundao Gilberto Freyre, em Recife, e da
Fundao Pierre Verger, em Salvador.
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A Casa dos Objetos Mgicos recebeu ainda o escritor angolano Jos Eduardo
Agualusa para uma palestra cujo ttulo foi Panorama histrico dos laos de
irmandade entre Brasil e Angola. Na ocasio, o escritor falou sobre Angolana atualidade, e sobre a contribuio do pas para o Brasil, ainda que essa
influncia cultural seja pouco conhecida pela maioria dos brasileiros.
Agualusa se tornou conhecido no Brasil aps sua participao na Festa
Literria Internacional de Paraty, em 2004.
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Guiados pelos professores, durante o curso os jovens tambm
compareceram a mostras e eventos importantes. Como por ocasio daSegunda Conferncia de Intelectuais Africanos e da Dispora, quando
estiveram nos estandes de pases africanos e visitaram exposies na Praa
da S, centro histrico de Salvador. Em 30 Anos de Blocos Afro, viram
imagens e textos que contavam a histria do surgimento dos blocos afro no
carnaval. Por sua vez, a mostra Negros: Passado e Presente lhes deu imagens
da presena dos negros organizados no s no carnaval, nas rodas de
samba, ou como trabalhadores informais, mas como sujeitos que participam
da construo histrica do Brasil.
Em outra visita, os alunos aprenderam sobre a trajetria do Museu Afro-Brasileiro e examinaram o acervo da instituio, composto de objetos da
cultura material de origem ou inspirao africana, representativos da vida
cotidiana, dos processos tecnolgicos, do sistema de crenas, das
manifestaes artsticas e da tradio oral na frica. So esculturas,
mscaras, tecidos, cermicas, adornos, instrumentos musicais, jogos e
tapearias provenientes do continente africano. H tambm objetos
produzidos no Brasil, relacionados religio afro-brasileira na Bahia, suas
divindades e sacerdotes: representaes iconogrficas e adornos dos
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principais orixs; roupas de mes e de pais-de-santo
de alguns terreiros de Salvador. Ali os alunostiveram acesso a ferramentas antigas, observando
diferenas de material e formas de execuo.
Das atividades externas tambm constou uma
visita ao terreiro Il Ax Op Afonj. Fundada em1910, essa casa de candombl foi comandada por
vrias ialorixs, imortalizadas nas obras do escritor
Jorge Amado. Recm-tombado pelo IPHAN,
atualmente o Afonj liderado por Me Stella de
Oxssi, considerada a ialorix mais politizada daBahia: ela lanou, em 1983, uma campanha contra
o sincretismo religioso. Hoje, luta para manter
firme a estrutura do candombl e suas tradies
orais e escritas. No museu do Afonj, os alunos
ouviram a histria do terreiro e tambm puderam
ver ferramentas produzidas por artesos do
passado, alm de objetos que pertenceram s
antigas lderes da casa.
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A a r t e n o m e t a l
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A a r t e n o m e t a l
No forte do Barbalho, a formao terica dos aprendizes se completou com
aulas de introduo ao candombl, alm de exposies sobre o conceito de
naes orixs, com a descrio dessas entidades e da simbologia das
ferramentas. No comeo de abril de 2006 iniciaram-se as atividades
prticas. Algumas das ferramentas de orixs so feitas de matrias-primas
de origem orgnica, palha ou tecido, por exemplo. Mas a maioria
metlica, construda a partir de chapas de cobre e lato. Para fabric-las,
saber desenhar essencial.
Isso porque, primeiro, croquis dos objetos produzidos so desenhados em
papel manteiga. Em seguida, com o papel manteiga sobreposto a uma folhade carbono, transferem-se as imagens para as chapas metlicas. Um lpis
basta para percorrer as linhas do esboo e alcanar o efeito desejado. O
prximo passo consiste em martelar o metal com o auxlio de punes, de
forma a deixar o desenho gravado na superfcie das chapas. No processo de
seleo ficou evidente que, salvo algumas excees, os alunos teriam deprogredir muito na arte de desenhar. Assim, as primeiras atividades prticas
do curso foram aulas de desenho criativo, para que aperfeioassem a tcnica
do desenho livre. Em geral, a turma avanou de maneira notvel nesse item.
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Ainda na etapa inicial, os alunos aprenderam a fabricar alguns dos
instrumentos de trabalho, partindo em seguida para a confeco das
ferramentas mais simples de orixs. Depois de marcadas no metal, as peas so
destacadas das chapas, com tesouras ou serras, recebendo polimento. Uma
coroa, por exemplo, um objeto mais complexo, composto de vrias partes.
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A montagem requer o emprego de solda, processo que exige pacincia.
A liga para soldar, antes de ser derretida com maarico a gs, cortada em
pequenos pedaos, que devem ser reduzidos a filamentos, por meio de um
constante martelar. Os alunos mais adiantados aprenderam a tcnica j no
final de julho. quela altura, poucos meses depois da abertura da Casa dos
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que todos expusessem seus anseios e queixas de forma aberta e corajosa.
Foram feitas ainda avaliaes por escrito do desempenho individual deaprendizes e mestres, e dos aspectos positivos e negativos do projeto.
O ambiente favorvel ao aprendizado revelou, sobretudo, a qualificao dos
professores e seus vnculos com a cultura do candombl algo que tambm
caracterizava o perfil de grande parte dos aprendizes. Alana de Carvalho, por
exemplo, conta que sua me entrou em trabalho de parto durante uma festa
de Oxssi, em um terreiro de Salvador, e que ela por pouco no nasceu ali,
numa noite de abril de 1981.
O nome Casa dos Objetos Mgicos chamou sua ateno, e, quando soube
que se tratava de objetos de culto da religio que pratica, o apelo tornou-se irresistvel. Mas outros motivos tambm influenciaram sua deciso de
fazer o curso. Primeiro, o desejo de preservar a tradio e a possibilidade de
fazer ferramentas para sua comunidade. E, depois, ganhar a vida com isso.
Alana mergulhou no curso com dedicao exemplar, como Jailton de
Almeida e Iracema Neves Silva os trs fizeram parte de um grupo que sedestacou pela assiduidade.
Jailton, que tambm afirma ter srios compromissos com o candombl desde
a infncia, comemorou sua primeira encomenda em princpios de novembro.
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Membros da comunidade que freqenta, influenciados por fotos de
objetos confeccionados por Gilmar Tavares, concluram que j era hora de
fazer encomendas a Jailton. E lhe pediram para produzir um conjunto
completo de ferramentas. Para ele, que chegou Casa dos Objetos
Mgicos desconhecendo por completo as tcnicas de desenho e detrabalho com os metais, a caminhada foi altamente compensadora. Jailton
tambm valoriza as informaes recebidas sobre a cultura afro-brasileira ao
longo do curso, assim como o desenvolvimento do senso crtico que
alcanou, estimulado pelos professores.
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Ao contrrio dos colegas, Iracema Neves s descobriu o candombl por volta
dos 18 anos: vem de uma famlia em que predominam os evanglicos. Logose deu conta da importncia da cultura de seus ancestrais africanos, e sentiu-
se atrada pelos objetos do culto. Mas chegou Casa dos Objetos Mgicos
por acaso. Como funcionria do Gapa Grupo de Apoio e Preveno Aids
da Bahia, participava de uma exposio sobre o tema num centro de
compras local, cuidando de um estande. Ali se encontrou com GilmarTavares. Conversaram, e ela terminou convidada para participar da seleo
para o curso, inscrevendo-se na ltima hora. Embora soubesse apenas
cortar papel, no teve maiores dificuldades no aprendizado.
E estava entre os 19 alunos que festejaram a entrega dos diplomas em
novembro, quando a Casa dos Objetos Mgicos encerrou suas atividades
educativas com duas exposies. Uma na Casa do Benin, de 17 a 24 daquele
ms. A outra integrou a programao do VII Mercado Cultural, de 29 de
novembro a 4 de dezembro de 2006. Na Casa do Benin, os grupos de
ferramentas de cada aluno foram dispostos sobre uma mesa em forma de
U, que permitia aos visitantes observar os objetos de perto. Cada conjunto
de ferramentas trazia o nome do aluno-arteso responsvel, alm de seu
telefone e endereo. Para a satisfao de todos, muitos visitantes anotaram
esses dados. Espera-se que venham a fazer encomendas.
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M g i c a d o e n c o n t r o
A histria da Casa dos Objetos Mgicos no pode ser entendida fora do
contexto da vida de seus arquitetos e construtores, envolvidos no projeto
com maior ou menor grau de religiosidade, mas sempre ligados cultura
popular e s tradies afro-brasileiras na Bahia. Essas motivaes,
principalmente as de natureza tica, reuniram as pessoas certas e garantiram
sucesso ao empreendimento. O artista plstico Gilmar Tavares lanou a pedra
fundamental do projeto, aps dcadas de iniciao no candombl. Religioso,
desde a infncia freqentou um terreiro, em companhia de uma das avs.
Mais que isso: com dez, doze anos, fazia alguns adereos para ela, de
materiais no-metlicos. Anos depois, adulto, Gilmar se tornou um og no
candombl, encarregado de cantar e tocar tambores rituais nos cultos.
Hoje ele vive da produo de ferramentas de orixs, para cerimnias
religiosas ou como peas de decorao. O despertar para a futura profisso
ocorreu quando examinava uma das ferramentas da av, indagando a seus
botes: Como ser que se faz isso? No tardaria a descobrir. Pouco depois,ao caminhar pelas ruas, viu placas de metal adequadas no comrcio e
comprou uma, por impulso, deixando na loja metade do salrio de bancrio.
Em casa, de forma acidental, derrubou uma pedra sobre a placa, que ficou
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marcada: Ento assim! A partir desse incidente, passou a fabricar seus
instrumentos de trabalho, com sucata encontrada em qualquer lugar
pregos e pedaos de ferro ou de ao. Cortava um prego e, com uma lima,
deixava a ponta com o desenho de meia-lua, por exemplo. Em outro,
esculpia o formato de uma folha. Sucessivas pancadas num instrumento
como esse imprimem uma flor na chapa metlica. E assim por diante.
Mas no sabia desenhar. Seu pai-pequeno (uma espcie de padrinho, nocandombl) desenhava para ele os detalhes a serem impressos nas
ferramentas dos santos. Gilmar aplicava o desenho sobre as chapas e batia
para reproduzir as imagens. Isso durou at que o pai-pequeno abrisse mo
da tarefa, e ele descobrisse que tambm era um bom desenhista, intuitivo.
Para se aperfeioar na tcnica, procurou seu Mimito e seu Mrio Proena,dois famosos artesos, j falecidos, produtores de objetos de culto do
candombl. Mrio Proena, muito reticente, se negou a lhe dar informaes.
De seu Mimito recebeu orientao e um instrumento de ao forjado, que
guardado ciosamente at hoje, assim como a pedra com que marcou a
primeira chapa de metal.
Ainda como bancrio, em 1989, foi visitado por Eneida Sanches, ento
namorada de seu irmo, Gilberto. Ela, encantada com as ferramentas, virou
sua aluna e, at onde se sabe, a primeira mulher a fabricar tais objetos de
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culto na Bahia. Gilmar
dificilmente encontraria
outra discpula to apta e
aplicada. Na infncia,
matriculada numa escola
de arte para crianas,
Eneida teve entre outros
cursos, aulas de pintura,
escultura, capoeira e
dana moderna.
Na adolescncia, de-
monstrou perigosa inclinao para as artes visuais. Explica-se: ostempos de ditadura foram durssimos para muitos artistas, e seus pais
temiam que ela se desviasse. Como desenhava muito bem, foi
estimulada a estudar arquitetura. Comportada, no incio Eneida
freqentou a Universidade Federal da Bahia. Mas no demorou para ficar
inquieta. Ento, fechou a matrcula na universidade e, com o dinheiro da
venda de um carrinho, viajou pelos EUA e pela Europa, em 1982/83, onde
trabalhou e visitou centros de arte e arquitetura, contando com a ajuda
espordica da famlia.
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De volta ao Brasil,
recebeu o ultimato:
ou conclua arquite-
tura ou teria de pagar
suas contas. Eneida
escolheu ambas as
alternativas. Voltou
para a faculdade e
montou escritrio de
arquitetura com duas
amigas, terminando o
curso nove anos aps
a matrcula. Ento conheceu o futuro marido, e Gilmar. Fascinada pelos
metais e instrumentos de trabalho, despediu-se do escritrio da noite para
o dia. A sbita mudana de rumos assustou a famlia, mas dessa vez no
houve retorno. Eneida passou a ler sobre o candombl e a entrevistar mes-
de-santo e adeptos do culto. Logo comeou a receber encomendas e a fazer
ferramentas. Completava a renda como intrprete de portugus e ingls.
Em 1992, fazendo traduo simultnea numa conferncia, recebeu um
grupo de afro-descendentes, vindos dos EUA, interessados em conhecer a
Bahia e a herana religiosa de razes africanas.
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O i i fi i i d f f b i
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Os visitantes ficaram impressionados com as ferramentas que fabricava e a
estimularam a expor uma coleo no Centro de Cultura Caribenha, em Nova
York, uma instituio que promove cursos, palestras e outros eventos
relacionados com a cultura negra. Ali, Eneida vendeu imediatamente 32
peas, e inaugurou um ciclo de repetidas viagens aos EUA, onde daria
palestras e apresentaria suas criaes, convidada por galerias, museus e
outras instituies. Depois enveredaria pelo territrio das gravuras, sempre
com a simbologia dos orixs. E tem feito muitos outros experimentos no
campo das artes plsticas.
Nesse intervalo, Gilmar tambm se profissionalizou, realizou exposies,
viajou ao estrangeiro e vendeu colees de ferramentas para museus. A
primeira foi despachada para o Museu de Antropologia de Frankfurt,Alemanha, onde ilustrou a capa do catlogo da exposio de 1997. Seguiram-
se outras vendas, para diversos pases, inclusive os EUA. quela altura, o
projeto que viria a ser a Casa dos Objetos Mgicos comeava a apresentar
alguns contornos. Gilmar props a Eneida a criao de uma escola, com o
objetivo de ensinar suas tcnicas a alguns jovens e garantir a sobrevivncia dastradies. Queria fazer algo que lhe desse prazer no ambiente do candombl
e, ao mesmo tempo, servir aos orixs. Tudo com um p na realidade: se fosse
possvel, gostaria tambm de ganhar algum dinheiro com a escola.
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C d bl tili d i d d d bj t l id
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Como o candombl utiliza grande variedade de objetos alguidares,
moringas, gamelas entalhadas, tranados de fibras , Eneida lhe props
tambm a organizao de cursos de cermica e entalhe em madeira, dentre
outros. A idia no prosperou. O pai de Gilmar adoeceu e exigiu a ateno
de todos durante dois anos, at morrer. Pouco depois, a educadora Ndya
Cruz entraria em cena, convidada por Eneida. E o projeto, bem estruturado
do ponto de vista da educao para a cidadania, finalmente ganharia
consistncia, em fins de 2001.
Isso porque uma turista estadunidense, em viagem Bahia, props a Eneida
e a Gilmar que produzissem ferramentas de santos, que ela pretendia vender
em uma loja que estava abrindo nos EUA. Eneida desconversou. J no fazia
as ferramentas dos orixs, e a perspectiva de fabricar objetos em srie lhepareceu insuportvel. Gilmar tambm no estaria disposto a atender o
pedido. Recebe encomendas, mas procura personalizar a produo de
acordo com a liturgia do candombl: cada adepto do culto tem seus orixs,
numa relao complexa onde cada um deles precisa ser satisfeito.
A visitante ento sugeriu que treinassem aprendizes, que mais tarde
poderiam se encarregar da produo das ferramentas. Como trabalhava para
uma poderosa fundao que apia aes culturais em vrios pases, se
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props a ajud los a levantar recursos Ento Ndya Cruz e Eneida
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props a ajud-los a levantar recursos. Ento Ndya Cruz e Eneida
formataram o projeto, com ajuda de Vernica Aquino, produtora cultural.
Ndya dona de currculo aprecivel. Graduada em Filosofia pela
Universidade Federal da Bahia, fez especializao em Educao esttica,
semitica e cultura. Depois dedicou-se psicanlise, aps acumular anos e
anos de atividades teatrais, de dana e capoeira, com participaes no
Grupo de Capoeira Angola Pelourinho e na Fundao Internacional de
Capoeira Angola. Mas foi do Projeto Ax que trouxe uma experincia
realmente marcante.
Como ser recorda, o Ax, fundado em Salvador pelo italiano Cesare de Florio
La Rocca, no princpio dos anos 90, uma das ONGs mais famosas do pas.
Seu trabalho com crianas e adolescentes excludos tambm lhe deureconhecimento internacional. Ndya Cruz participou da ONG durante anos,
primeiro como educadora de rua. Depois, assumiu outras funes no Ax.
At que resolveu sair, considerando sua formao e o desejo de criar um
projeto social prprio. Tambm queria mudar de ares, ter tempo para estudar
e viajar. A vontade de deixar o Ax estava madura, mas ela ainda no sabiaexatamente o que fazer, at que Eneida lhe apresentasse a idia da escola,
que ento j tinha a promessa de apoio externo.
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Ndya trouxe Vernica Aquino que as ajudou a
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Ndya trouxe Vernica Aquino, que as ajudou a
rematar o projeto. Vernica, formada em Anlise de
Sistemas, trabalhou numa estatal baiana at 1997,
quando decidiu mudar de vida, dado seu interesse por
msica, literatura, cinema e artes plsticas. Para atuar
na rea cultural, fez ps-graduao em Poltica, gesto
e produo cultural na Universidade Federal da Bahia.Desligada da estatal, ingressou numa produtora,
responsvel por grandes eventos culturais na Bahia.
Participou da formulao da Casa dos Objetos Mgicos
porque Ndya e Eneida precisavam de algum capaz de
coordenar todo o projeto: sonhavam com algunsdesdobramentos possveis da iniciativa, como um grande
evento que reunisse vrias linguagens artsticas, e que
fosse tambm um frum de discusso das questes
relacionadas herana africana.
Com tudo pronto, Eneida e Ndya embarcaram para os
EUA, levando os planos do empreendimento. Porm, a
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mulher que lhes havia acenado com a possibilidade de
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mulher que lhes havia acenado com a possibilidade de
financiamento no cumpriu a promessa. A equipe se
dispersou. E a Casa dos Objetos Mgicos continuou
encantada por mais algum tempo, embora nunca
esquecida. Assim, em 2005, Vernica, j como
funcionria da Maianga Produes Culturais, soube do
edital do Programa Monumenta para a seleo deprojetos de interesse cultural, vinculados ao patrimnio
histrico. E se lembrou da Casa dos Objetos Mgicos.
Ento apresentou o projeto direo da empresa, que
resolveu apoi-lo imediatamente, pois os objetivos da
Casa estavam afinados com a produo da Maianga, quedesenvolve vrias iniciativas no sentido de criar uma ponte
cultural entre o Brasil e a frica. Vernica comunicou a
novidade s amigas. Com as adequaes necessrias, o
projeto foi submetido ao crivo do Monumenta e obteve boa
classificao entre dezenas de outros, de natureza
semelhante. Logo sairia do papel.
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M e r c a d o v i s t a
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M e r c a d o v i s t a
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Ao deixar o Forte do Barbalho em fins de 2006, a equipe de professoresfechou o balano das atividades da Casa dos Objetos Mgicos com um
saldo que considera altamente positivo, ainda que tenha havido onze
desistncias ao longo do curso. Apenas um dos aprendizes, que era
catlico, alegou incompatibilidade religiosa para abandonar as aulas.
Alguns deles se desinteressaram, e os demais se afastaram por outrasrazes. Mesmo assim, terminar com 19 alunos foi uma vitria para Eneida
Sanches: o nmero de formandos superou suas expectativas.
Ela e Gilmar Tavares tambm se declaram maravilhados com os progressos
feitos por vrios dos jovens artesos. No fossem as entrevistas e testesque antecederam as aulas, assim como o desempenho inicial da turma,
tenderiam a pensar que esses alunos j conheciam as tcnicas de
produo das ferramentas. Avanar ao mesmo tempo em matria de
tcnica e esttica muito difcil. Reunir a construo imagtica da
ferramenta e fazer com que ela fique harmoniosa, com boa tcnica, demais! Fiquei impressionada.
Ao mesmo tempo, os professores sabem que alguns dos novos artesos
provavelmente buscaro caminhos alternativos no universo das artes.
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agrad-lo, o iniciado pode oferecer-
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lhe um novo conjunto de
adereos. Se esses objetos
forem bem feitos, de
acordo com as tradies,
trazendo em si o estilo
caracterstico de cada
arteso, sero ainda mais
valorizados.
Mas isso no tudo. As religies
de origem africana expandem-se
com rapidez pelo Brasil, e esto conquistando grande nmero de adeptosnos pases vizinhos. O prprio Gilmar Tavares se viu arrastado por esse
movimento. Ao realizar uma exposio em Curitiba, conheceu uma ialorix
que estava abrindo uma casa de candombl, com numerosos adeptos. Mas
o pessoal no sabia cantar, danar e tocar os instrumentos do culto. Gilmar
acabou contratado para ensin-los. E a curta estada de um ms no Paran,
que havia planejado, estendeu-se por quatro anos.
Tambm cresce vigorosamente o turismo cultural na Bahia. Merece destaque
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o fluxo de turistas estadunidenses, descendentes de africanos, que vm a
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Salvador em busca de suas razes negras. Turistas compram ferramentas,
mesmo que as procurem apenas como suvenires. As perspectivas so ainda
mais alentadoras quando se considera a existncia de grande nmero de
compradores em potencial nos EUA, territrio da santeria, religio
semelhante ao candombl, que se desenvolveu a partir de Cuba. Portanto, a
questo do mercado no problema que possa tirar o sono de qualquer
pessoa envolvida com a produo dos objetos de culto.
At porque as ferramentas de orixs no custam propriamente uma fortuna,
levando-se em conta o tempo e os materiais despendidos na produo. Na
Casa dos Objetos Mgicos, os mestres fizeram uma tabela de preos mnimos
para auxiliar os alunos. Sugeriram que cobrassem 12 reais por uma daspulseiras mais simples. E de 100 a 120 reais por uma coroa das mais
complexas (para Xang ou Oxal, por exemplo), que exige do jovem arteso
pelo menos uma semana de trabalho um perodo que s poder ser
encurtado para dois a trs dias com a prtica constante do ofcio.
Aps a diplomao, dois alunos encontraram colocao imediata. Jadson dos
Santos foi trabalhar no ateli de Eneida Sanches, enquanto Gilmar Tavares
contratava Luciano Rosrio Santos. Eneida, preocupada com os demais, no
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baixou a guarda, procurando alternativas para ajud-los a dar o passo
essencial, da fase de aprendizado para o exerccio da profisso.
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O associativismo lhe pareceu a melhor sada. Ento procurou o Centro de
Ed A bi t l P t i J il P ONG f d d h
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Educao Ambiental e Protagonismo Juvenil Pangea, uma ONG fundada h
20 anos, em Salvador.
O Centro de Educao Ambiental atua em diversas reas, j tendo formadas
duas cooperativas para jovens. E mostrou-se interessado em integrar os
alunos da Casa dos Objetos Mgicos em uma nova entidade associativa. De
acordo com Rachel Marchi, gerente do centro, o novo projeto se encaixa comperfeio nos objetivos da ONG que, nessa vertente cooperativista, se dedica
a apoiar afro-descendentes que vivem em comunidades carentes. Depois, o
Centro Pangea recebeu de diversas pessoas informaes muito positivas
sobre a qualidade das ferramentas feitas pelos artesos recm-formados. E
sabe que no haver dificuldades para colocar a produo.
O Centro pode acomodar at 15 alunos. E se dispe a auxili-los na
organizao e superviso da cooperativa. Eneida est satisfeita. Sabe que se
os antigos alunos tentassem fundar uma entidade assim, sem orientao,
encontrariam enormes dificuldades. No apenas por causa da burocracia,mas tambm pela inexperincia dos jovens em gerenciar qualquer tipo de
negcio. Os acertos preliminares esto prontos. Agora s falta reunir os
interessados e realizar mais um curso: o de formao em cooperativismo.
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P r o j e t oCasa dos Objetos Mgicos
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F i n a n c i a d o rPrograma MONUMENTA / MinC
R e a l i z a d o rMaianga Produes Culturais Ltda
O b j e t i v oRealizar oficinas culturais e pedaggicas para o desenvolvimento e a confeco deobjetos usados nos rituais do Candombl, estimulando o engajamento eprofissionalizao de jovens, por meio da promoo da cultura afro-descendente naBahia.
A t i v i d a d e s
Oficinas tericas sobre a cultura Yorub e as origens do Candombl as naes e osorixs. Aulas de desenho. Oficinas prticas para aprendizagem de tcnicas de punoe ciselamento em chapas de lato, de martelagem e soldagem.
Visitas guiadas II Conferncia de Intelectuais Africanos e da Dispora, ao MuseuAfro-Brasileiro e casa de Candombl Il Ax Op Afonj.
Realizao de documentrio sobre o projeto, com depoimentos dos alunos e mostrados objetos confeccionados por eles.
V a l o rMonumenta | Contrapartida | TOTALR$ 103.781,75 | R$ 45.330,00 | R$ 149.111,75
P e r o d o d e e x e c u o
01/02/2006 a 01/04/2007
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