Coleção Preservação e Desenvolvimento - 07 Patrimônio Vivo, Pelotas, RS

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    PATRIMNIO VIVOPELOTAS - RS | 7

    SRIEPRESERVAO

    EDESENVOLVIMENTO

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    PATRIMNIO VIVOPELOTAS - RS | 7

    IPHAN | MONUMENTA

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    C r d i t o s

    Presidente da Repblica do BrasilLuiz Incio Lula da Silva

    Ministro de Estado da CulturaGilberto Passos Gil Moreira

    Presidente do Instituto doPatrimnio Histrico e Artstico NacionalCoordenador Nacional do ProgramaMonumentaLuiz Fernando de Almeida

    Coordenao editorialSylvia Maria Braga

    EdioCaroline Soudant

    Redao e pesquisaRogrio Furtado

    Reviso e preparaoDenise Costa Felipe

    Design grficoCristiane Dias

    FotosArquivo Monumenta/Arquivo Iphan

    P392 Patrimnio vivo.Braslia, DF : IPHAN / ProgramaMonumenta, 2007.116 p. : il. color ; 15 cm. (Preservao eDesenvolvimento ; 7)

    ISBN 978-85-7334-061-7

    1. Patrimnio Cultural Pelotas. 2.Pelotas RS. I. Instituto do PatrimnioHistrico e Artstico Nacional. II. ProgramaMonumenta. III. Srie.

    CDD 720.0288

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    A p r e s e n t a o

    Este pequeno livro pertence srie Preservao e Desenvolvimento, uma

    coleo de registro das experincias desenvolvidas pelo Programa

    Monumenta na rea da promoo de atividades econmicas, de educao

    patrimonial, de formao profissional e de capacitao.

    Na qualidade de programa do Ministrio da Cultura para a recuperao

    sustentvel do patrimnio histrico brasileiro, o Monumenta pretende atacar

    as causas da degradao de stios histricos e conjuntos urbanos tombados e

    a elevar a qualidade de vida das comunidades envolvidas.

    Assim, muitas das aes propostas no mbito do Programa, com apoio deestados e municpios, vm permitindo a essas comunidades descobrir o

    patrimnio cultural como fonte de conhecimento e de rentabilidade

    financeira, como meio, portanto, de incluso social.

    Esse novo conceito de preservao transformou alguns dos stios

    beneficiados em plos de atividades culturais, tursticas e de gerao de

    empregos, garantindo ao mesmo tempo a conservao sustentada de nosso

    patrimnio e melhores condies de vida para quem trabalha ou vive ali.

    uma dessas experincias que voc vai conhecer agora.

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    I n t r o d u o

    No final do sculo 18, o ciclo do ouro impulsionou a indstria do charque em

    Pelotas, no Rio Grande do Sul. O produto, consumido principalmente nas

    reas de minerao, tambm alimentava outros mercados, chegando

    Europa e ao Caribe. Os donos das charqueadas, tocadas com mo-de-obra

    escrava, acumularam fortunas durante dcadas. Para imitar a corte,investiram em construes suntuosas e gastaram com mercadorias de luxo.

    A fartura durou cerca de cem anos. No princpio do sculo 20, as

    charqueadas pelotenses agonizavam devido ao aumento da concorrncia, ao

    fim do escravismo e ao surgimento da indstria do frio. Com ela, a salga e

    secagem de carne bovina ao sol tornaram-se processos ultrapassados.

    A aristocracia do charque desapareceu, mas deixou herana significativa em

    termos de patrimnio arquitetnico e cultural, que Pelotas se esfora para

    conservar h alguns anos, com importante contribuio do Programa

    Monumenta. Assim, vrias construes histricas da cidade j foram

    restauradas, a exemplo do Grande Hotel, de alguns casares, prdios

    pblicos e da praa Coronel Pedro Osrio. Mas o Monumenta, em parceria

    com a prefeitura e outras entidades, tambm atuou no sentido de preservar

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    o patrimnio imaterial pelotense, com diversos projetos, desenvolvidos desde

    2005. A cidade sempre se destacou pela msica. O Theatro Sete de Abril,fundado em 1833, o mais antigo em funcionamento no pas. Nele foram

    montados grandes espetculos de pera por companhias europias, no

    decorrer do sculo 19, quando Pelotas se orgulhava de ver as apresentaes

    antes da grande rival, Buenos Aires.

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    As tentativas de criar, na cidade, uma orquestra para o repertrio clssico, no

    entanto, no vingaram. At que, em 2004, a Sociedade Pelotense Msica pelaMsica resolveu formar uma orquestra filarmnica. A iniciativa prosperou,

    ainda que tenha exigido muito empenho de todos os envolvidos, que foram

    apoiados pelo Programa Monumenta, por meio do projeto Msica,

    Patrimnio Vivo. Assim, em julho de 2007, Pelotas pde comemorar seu 195

    aniversrio com uma missa solene, cantada pelos 80 membros do coral da

    Sociedade Msica pela Msica, acompanhados pela orquestra de 60 msicos.

    Com outro projeto, o Monumenta apoiou a formao de mo-de-obra

    especializada em restauro, algo de extrema relevncia em uma cidade que

    tem cerca de mil edificaes protegidas. E levou espetculos artsticos para as

    ruas, procurando chamar a ateno da comunidade para a importncia do

    acervo arquitetnico pelotense e de suas tradies culturais. Uma delas a

    produo de doces finos de origem portuguesa, que tambm mereceu um

    projeto especial, destinado a inscrev-la no Inventrio Nacional deReferncias Culturais, do IPHAN.

    Luiz Fernando de AlmeidaCoordenador Nacional do Programa Monumenta

    Presidente do Instituto do Patrimnio Histrico e Artstico Nacional

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    Herana das charqueadas

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    H e r a n a d a s c h a r q u e a d a s

    H 400 anos, jesutas espanhis iniciaram a epopia das Misses na Amrica

    do Sul, a partir do territrio que hoje pertence ao Paraguai. De 1626 em

    diante, os padres entraram na regio que viria a ser o Rio Grande do Sul e

    reuniram diversos povos indgenas em aldeamentos. No tiveram paz. As

    misses pioneiras em solo gacho sofreram ataques devastadores das hordasde bandeirantes paulistas, preadores insaciveis de escravos. Com os

    indgenas remanescentes, os religiosos se refugiaram em terras que no futuro

    seriam da Argentina. Para trs deixaram ao menos parte de seu numeroso

    rebanho bovino. Livre, em meio favorvel, o gado multiplicou-se e cobriu as

    campinas da regio. Seria a base da economia rio-grandense por sculos.

    Primeiro como fonte de couro, durante perodo dilatado em que enorme

    quantidade de animais foi abatida apenas para a retirada da pele, pois no

    havia quem consumisse toda a carne. A demanda por alimentos no decorrer

    do ciclo do ouro diminuiu o desperdcio.

    Inicialmente, as manadas eram tangidas at Minas Gerais. Em seguida surgiu a

    indstria gacha do charque, suprida com gado bravio e boiadas dos latifndios

    unidades de produo imensas, mas rudimentares. A natureza impulsionou a

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    indstria sulina ao assolar o Nordeste com secas terrveis na segunda metade do

    sculo 18. O fenmeno aniquilou a pecuria nordestina, principal fornecedorade carne para as reas mineradoras e o litoral, e abriu caminho para a instalao

    da indstria saladeiril em Pelotas, no ano de 1780. A exportao inaugural

    ocorreu em 1788. Carga pequena, que coube em um barco. Em 1793, a

    produo exportada atingiu 13 mil arrobas. Logo aps, em princpios do sculo

    19, os embarques estavam na casa de 600 mil arrobas anuais. Nessa poca,

    Pelotas j conquistara hegemonia duradoura em um mercado importante, pois

    grande parte dos brasileiros consumia charque escravos, libertos, a populao

    pobre, sertanejos, soldados, as tripulaes de navios.

    Parte das remessas ia para o exterior. A carne-seca chegou a Portugal e por

    muito tempo alimentou escravos em outros pases. Cuba se destacou como

    cliente. Mas aqui o jab tambm alcanava as casas-grandes, servido com

    piro de farinha. Talvez no as mesas aristocrticas de Pelotas, onde ningum

    desconhecia as condies em que se dava a produo. Auguste de Saint-Hilaire, estudioso francs, passou por l em 1820, registrando suas

    impresses ao se aproximar de uma charqueada. Extensos campos,

    cuidadosamente cercados, so ocupados por linhas regulares de estacas

    horizontais, deitadas sobre outras a pique, altura de menos de dois metros

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    do cho. Pendem de tais estacas objetos lisos, que variam na cor do verde

    escuro ao anegrado [...]. Porm, muito antes de aparecerem os campos, j osnossos narizes nos tinham contado outra histria, e nuvens de urubus

    voavam suspeitamente junto tal coisa. Era a carne-seca, ou charque, em

    processo de preparao. O nariz de Saint-Hilaire apenas lhe antecipou a

    realidade: visto de perto, o espetculo das charqueadas era dantesco.

    Havia pressa na atividade sazonal, realizada no perodo de novembro a abril.

    Fora a carne, aproveitavam-se os ossos, o couro, a lngua, o sebo e o sangue

    dos animais. As vsceras, desprezadas, viravam atrativo para os urubus e as

    moscas. Nesse ambiente infecto, de calor e umidade elevadas, os escravos

    trabalhavam em jornadas extenuantes de 16 horas, cobertos de sangue e de

    sal. No restante do ano, a mo-de-obra cativa era empregada em mltiplos

    afazeres, na cidade e no campo. Assim foi construda a prosperidade da

    indstria do charque, que comeou a minguar s ao final do sculo 19. A

    instalao de charqueadas em outros pontos do estado citada como umdos fatores do declnio, ao lado da progressiva extino do escravismo. O

    golpe decisivo, pelo menos a longo prazo, acabou desfechado pelo avano

    da tecnologia do frio, que tornou a fabricao do jab anacrnica ao

    menos enquanto mtodo de conservao de carnes.

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    Em Pelotas, os primeiros frigorficos surgiram no comeo do sculo 20.Ainda hoje a cidade depende muito das atividades agropecurias e da

    agroindstria. Mas tambm dona de acervo arquitetnico impressionante,

    herana do apogeu das charqueadas, quando a aristocracia da carne-seca

    habituou-se a gastar fortunas em construes suntuosas. Para isso

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    importava materiais, contratava arquitetos e artistas estrangeiros. Alguns

    desses edifcios foram tombados pelo IPHAN, a partir de 1972. Dez anos

    mais tarde, surgiu uma lei municipal de tombamento para preservar o

    restante do patrimnio edificado da cidade. Em 1986, aps o inventrio dos

    edifcios de valor histrico e arquitetnico, o ento prefeito, Bernardo de

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    Souza, utilizou os dispositivos da lei para tombar 300 construes em

    carter provisrio.

    Os proprietrios dos imveis torpedearam a iniciativa com medidas judiciais.

    A inteno bvia era garantir o direito de fazer o que quisessem com esses

    bens. Enquanto as aes tramitavam na Justia, muitos dentre os

    interessados descaracterizaram as edificaes tombadas, destruindoornamentos de fachadas e cornijas. Outros simplesmente derrubaram os

    prdios antigos. Foi assim que Pelotas ganhou quantidade aprecivel de

    estacionamentos para automveis e terrenos ociosos em cerca de 20

    quarteires do centro. Nos anos posteriores, a prpria lei de tombamento

    acabou desfigurada e inoperante devido a sucessivas emendas. Parecia que

    o progresso chegaria de forma inexorvel para eliminar velharias e dar

    lugar a novas construes, em terrenos valorizados. Mas nem todos os

    cidados pelotenses estavam de acordo com a devastao. Ncleos de

    resistncia surgiram, agregando pessoas lcidas, comprometidas com apreservao do patrimnio da cidade. Um desses grupos reunia professores

    da Universidade Federal de Pelotas e duas arquitetas dos quadros da

    prefeitura: Simone Delanoy e Carmem Vera Roig, parceiras em estudos e

    projetos desde 1989.

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    Por volta de 1992/93, elas receberam da prefeitura o encargo de revisar o

    inventrio patrimonial feito quase dez anos antes. Ao mesmo tempo,desencadearam um contra-ataque para dificultar o processo acelerado de

    destruio das construes antigas, com o apoio inestimvel do Ministrio

    Pblico, que passou a acatar todas as denncias, intimar os envolvidos e

    convidar especialistas das universidades e institutos de pesquisa para

    opinarem sobre a necessidade de preservar as edificaes ameaadas. A

    batalha, que teve bons resultados, s arrefeceu em 2000, quando o ex-

    prefeito Bernardo de Souza voltou carga. Como deputado estadual,

    apresentou projeto de lei para transformar Pelotas em patrimnio cultural do

    Rio Grande do Sul, com base na Constituio Federal de 1988, e na Estadual

    de 1989, que obrigam o estado a zelar pelo patrimnio material e imaterial

    da sociedade. Dessa vez foi tiro e queda. A Assemblia Legislativa gacha

    converteu o projeto em lei, por unanimidade.

    Embora ela no contenha penalidades, Bernardo conseguiu mexer com aauto-estima dos pelotenses. Isso teve papel muito importante no desfecho

    da longa disputa poltica travada na Cmara de Vereadores, que resultou na

    Lei Municipal 4.568, de 2000, que finalmente imps rdeas curtas

    especulao imobiliria. A nova legislao levou em conta um trabalho

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    realizado durante anos por Carmem Roig, Simone Delanoy e especialistas da

    Universidade Federal, para criar um sistema municipal de preservao. Neleestava previsto o tombamento, o reconhecimento do inventrio patrimonial

    e uma classificao para as construes. Em algumas seria permitido mexer

    na fachada, para a colocao de esquadrias, por exemplo, possibilitando o

    uso do imvel. As arquitetas afirmam que no queriam prdios fechados,

    porque manter um imvel ocioso o mesmo que assinar seu atestado de

    bito. Outras poderiam ter apenas sua volumetria conservada, e certas

    construes deveriam ser tombadas como relquias. Era o caso do Grande

    Hotel, da catedral e de residncias familiares que tm artes finas, como

    trabalhos em estuque, ferro e pinturas. Marcas da riqueza arquitetnica em

    estilo ecltico que diferenciam a cidade.

    A Lei 4.568 estabeleceu reas de preservao, com multas e restries

    urbansticas. O saldo foi cerca de mil edificaes protegidas, sem que

    houvesse tombamento. Por isso, Pelotas passou a ser referncia para muitascidades. O tombamento tem essa fama de que no permite mexer nas

    construes. Ou vend-las. Tudo isso pode. O que no pode destruir o

    prdio, comenta Carmem. Mais adiante, em 2001, Pelotas se integrou ao

    Programa Monumenta, do Ministrio da Cultura e do Banco

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    Interamericano de Desenvolvimento, com apoio da Unesco. E Carmem Roig

    foi designada pela prefeitura para gerenciar a Unidade de Execuo deProjeto (UEP) do Monumenta. Nos municpios em que atua, o Monumenta

    promove a restaurao do patrimnio arquitetnico, por meio de contratos

    com as prefeituras e outras entidades pblicas e privadas, que se obrigam

    tambm a investir nos projetos, como contrapartida. O Programa, da mesma

    maneira, financia iniciativas de carter cultural, de acordo com a filosofia de

    garantir a auto-sustentabilidade econmica do patrimnio fsico e imaterial

    que, restaurado ou recuperado, deve gerar renda, normalmente como

    atrativo turstico.

    O projeto de restauraes em Pelotas envolveu o Theatro Sete de Abril e trs

    casares da praa Coronel Pedro Osrio, no centro da cidade, que so

    monumentos tombados pelo IPHAN, alm de outras construes: o Grande

    Hotel, o Pao Municipal, o antigo prdio do Banco do Brasil, o Mercado

    Municipal, a Biblioteca Pblica e a prpria rea central da praa CoronelPedro Osrio. Fora as obras de recuperao e restaurao do patrimnio

    fsico, o Programa Monumenta patrocinou diversos projetos, com o objetivo

    de despertar o interesse da populao em geral pelo acervo arquitetnico e

    pelas tradies culturais do municpio e seu entorno. o que se ver a seguir.

    23Prmio e homenagem

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    Oportunidades com o restauro

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    O p o r t u n i d a d e s c o m o r e s t a u r o

    O acervo arquitetnico de Pelotas ainda constitui patrimnio invejvel,

    embora tenha sofrido baixas importantes no sculo passado. Alm dos

    monumentos tombados, dele faz parte grande nmero de imveis

    inventariados, cujas fachadas e coberturas devem ser mantidas com as

    caractersticas originais. Sendo assim, o conjunto de edificaes tende aoferecer oportunidades de trabalho para quem conhece tcnicas de

    restaurao. Pensando dessa forma, a arquiteta e professora Gisela Amaral

    Barbosa, que sempre foi atrada pela conservao e restauro de

    monumentos, considerou durante anos a possibilidade de formar operrios

    da construo civil para atuarem nessa rea. Em 2004, enquanto

    coordenadora do Curso de Edificaes do Centro Federal de Educao

    Tecnolgica (Cefet), decidiu que era hora de agir, e saiu em busca de

    parcerias para realizar o projeto. A chance de pleitear financiamento do

    Programa Monumenta surgiu logo depois, em 2005.

    Formou-se, ento, uma parceria entre o Cefet, a Secretaria Municipal de

    Cultura e o Sinduscon Sindicato da Construo e do Mobilirio de Pelotas,

    para quem o Centro Federal de Educao Tecnolgica j treinava mo-de-obra.

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    A partir disso, criou-se o Projeto Curso Bsico de Restauro com a inteno

    inicial de resgatar tcnicas especficas, perdidas ou esquecidas, da poca deconstruo dos prdios, com o auxlio de artfices que seria preciso localizar

    em outras regies do pas. Juntos, o saber emprico dos artesos e o

    conhecimento prtico e acadmico dos professores convidados seriam

    potencializados. Entretanto, medida que o planejamento avanava, as

    arquitetas esbarraram em dificuldades para trazer os artfices. Tambm viramque restries oramentrias imporiam limitaes execuo do projeto.

    Principalmente quanto carga horria. Na Itlia, por exemplo, a formao de

    pessoal qualificado para as obras de restaurao feita por meio de cursos

    que se estendem por vrios meses, com aulas tericas e prticas de seis a oito

    horas por dia. Mas, como esse modelo no poderia ser copiado, a alternativa

    foi montar um projeto mais modesto de introduo ao restauro, com um

    mdulo bsico e depois aulas sobre argamassas e ornatos, marcenaria e

    carpintaria, pintura, ferraria e cantaria.

    Mesmo tendo carter introdutrio, o Curso Bsico de Restauro terminou

    montado de forma a dar ao aluno conhecimentos suficientes para enfrentar

    imprevistos no decorrer de uma obra. E imprevistos no costumam faltar

    quando se trata de restaurao, atividade que desconhece receitas.

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    Cada caso nico. Como bem lembra Gisela Barbosa, uma das responsveis

    pela formatao do curso, em geral, as recuperaes e restauraes so dez

    vezes mais complicadas que uma reforma comum. S articulando

    conhecimento prtico com embasamento terico e discernimento, pode-se

    buscar solues especficas que determinada situao exige, pois ningum

    capaz de adivinhar as armadilhas que as velhas estruturas costumam

    esconder.

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    Para o curso, as empresas associadas ao Sindicato da Construo indicaram

    os operrios que deveriam participar. Mas no preencheram todas as vagas.Outras pessoas puderam se inscrever. A maioria relacionada com a

    construo civil: arquitetos, engenheiros, tcnicos em edificaes e

    estudantes. No total, 168 inscritos, com idade entre 18 e 60 anos, passaram

    pelos cursos. O mdulo bsico, de 20 horas, abordou a histria da cidade,

    histria da arquitetura, relaes humanas, segurana no trabalho, leitura einterpretao de projetos. Era obrigatrio para quem quisesse freqentar um

    ou mais mdulos especficos.

    Na fase inicial, houve surpresas de parte a parte. Engenheiros e arquitetos

    surpreenderam-se com as especificidades de um projeto de restauro, com a

    complexidade que o distingue de uma reforma corriqueira. E os professores

    descobriram que muitos operrios da construo civil nunca tinham visto

    uma planta. Como eles trabalham por tarefa, s vezes no tm noo do

    todo e geralmente no sabem a conformao final do prdio. Alguns se

    admiraram ao saber que as plantas apresentam todos os detalhes da obra. O

    curso despertou a curiosidade dos operrios e eles aprenderam com prazer a

    interpret-las.

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    Embora Pelotas conserve em algumas construes portadas de pedra vindas

    do estrangeiro, no segmento de cantaria o objetivo do curso era abordar otrabalho com pedras usadas em pavimentao. No passado, as ruas eram

    caladas com pedras, regulares ou no, e tinham meio-fio de granito. Mas

    aqui j no havia calceteiros capazes de fazer um servio irrepreensvel, diz

    Carmem. Que soubessem remover as pedras de um calamento quando se

    pretendia mexer no subsolo, e depois devolv-las ao seu lugar, em perfeitaordem. Alm disso, como as pedras so apenas colocadas ao lado das outras,

    sem argamassa, o pavimento permite melhor absoro da gua pelo solo. A

    tcnica pode ser usada sempre, e temos jazidas de granito na regio.

    Portanto, era importante resgatar a arte da calceteria, e tambm ensinar aos

    alunos como manter e limpar os monumentos feitos com pedras.

    No mdulo de marcenaria e carpintaria, os alunos aprenderam o emprego da

    madeira nos trabalhos de estrutura. E como recuperar esquadrias e forros

    antigos, tarefas mais complexas e refinadas. Nas aulas de pintura, fora a

    parte prtica, foram informados sobre a composio e como eram

    preparadas as tintas usadas no passado, feitas base de cal, com a adio

    de vrios tipos de leos at de baleia e pigmentos naturais, como o xido

    de ferro. O segmento de argamassas e ornatos foi dedicado feitura de

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    ornamentos e revestimentos base de diferentes materiais: cal, gesso, p de

    mrmore e escaiola tcnica de pintura que imita pedra. Em ferraria, foram

    realizados experimentos de fundio e tmpera de metais.

    O curso transcorreu em clima de cordialidade. Ao contrrio do que se v no

    cotidiano da construo civil, em que prevalece uma hierarquia rgida, no

    Cefet o tratamento era igual para arquitetos, engenheiros, mestres,

    pedreiros, pintores, marceneiros e serventes, que estavam ali na condio de

    alunos, ocupando as mesmas salas ou oficinas e executando as mesmas

    tarefas nas aulas prticas. Qualquer um tinha o direito de dar opinies e de

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    contar experincias. Engenheiros eram vistos trabalhando com ferramentas

    de pedreiro. E os pedreiros, por vezes corpulentos e de mos speras,pegavam instrumentos delicados para fazer detalhes de ornatos de forma

    competente. Ao mesmo tempo, serventes trocavam idias com engenheiros

    sobre a melhor maneira de executar determinados servios. A experincia foi

    muito gratificante sob vrios aspectos, diz Gisela Barbosa.

    Ainda na fase de inscrio foram observados alguns indcios animadores de

    que o curso seria produtivo, a partir das cartas de prprio punho com que os

    candidatos se apresentavam, explicando porque queriam participar. O que se

    confirmou na prtica: a maioria dos participantes mostrou-se interessada do

    princpio ao fim, fazendo julgamentos claros e objetivos do contedo dasaulas tambm por escrito. Do ponto de vista da tcnica, o curso foi bem-

    sucedido porque contou com a infra-estrutura do Cefet, que dispe do

    ferramental e equipamentos para todas as atividades. Nesse campo,

    considerada a melhor instituio de ensino da regio.

    De fato, pelo menos uma arquiteta, que freqentava o curso junto com

    operrios da empresa em que trabalhava, ouviu deles comentrios que

    mostravam o quanto estavam satisfeitos. Como haviam deixado de estudar

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    h anos, ficaram surpresos com as instalaes confortveis e os modernos

    recursos didticos utilizados no Cefet. No de admirar que aps jornadas

    de trabalho cansativas, ainda tivessem energia para comparecer escola.

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    O curso teve outro resultado importante: mudou de forma perceptvel a

    maneira como os operrios encaravam os monumentos da cidade. A seusolhos, eles deixaram de ser simples velharias que deveriam ser derrubadas.

    Para essa mudana de postura tambm contriburam as visitas guiadas

    Biblioteca Pblica Pelotense e ao Theatro Sete de Abril, entre outros prdios,

    onde a maioria nunca tinha entrado. Os trabalhadores passaram a valorizaresses edifcios no apenas pela importncia histrica, mas tambm porque

    nesses locais entraram em contato com as obras de pessoas dotadas de

    habilidades semelhantes as suas. Ainda que os nomes dos artfices no

    tenham sido registrados, as obras que realizaram esto ali. Verdadeiros

    marcos para a memria coletiva. Foi com essa nova mentalidade e com aauto-estima elevada que os trabalhadores se encaminharam para a festa de

    formatura, que aconteceu na primeira semana de 2006.

    Nesse sentido, foi particularmente comovente o discurso proferido por

    Jacinto Cavalheiro de Lima, que pedreiro de profisso. Por estar semprepresente e ser muito comunicativo, com boas histrias para contar, os

    colegas o elegeram representante da turma. De improviso, Jacinto falou com

    propriedade sobre a importncia da conservao dos monumentos, o

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    significado do curso para cada

    um dos formandos e o valordo trabalho dos operrios da

    construo. Concludo o projeto,

    eles retomaram o curso habitual

    em suas atividades. Sobreveio,

    ento, a idia de aglutin-los paraque pudessem aproveitar melhor

    a qualificao recm-conquistada.

    Reuniu-se um grupo grande

    de ex-alunos para assistir umapalestra sobre associativismo,

    numa incubadora de cooperativas

    da Universidade Catlica de

    Pelotas. Eles se interessaram,

    mas, ao terminar o primeiro

    semestre de 2007, ainda no

    tinham avanado. Continuavam

    desarticulados por dois motivos:

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    a necessidade de garantir a subsistncia e a falta de demanda constante

    por trabalho especializado. E tambm no estavam alcanando aremunerao merecida. Infelizmente, os prprios construtores no

    valorizam esses trabalhadores qualificados, embora o curso tenha

    modificado seu comportamento no dia-a-dia. Engenheiros e empresrios

    reconhecem que nossos ex-alunos se tornaram mais cuidadosos com

    ferramentas, equipamentos e materiais, por exemplo, comenta Gisela.

    Apesar dos obstculos, a idia de formar uma cooperativa no est

    morta, nem a de estabelecer cursos permanentes de restauro no Cefet.

    Nesse sentido, buscou-se contato com o Instituto talo Latino-Americano

    (IILA), entidade ligada ao governo da Itlia, para firmar uma parceria,confirmada em meados de 2007. Professores vieram da Itlia para

    ministrar o Curso de Restauro de Elementos Decorativos do Patrimnio

    Arquitetnico. Para Gisela, foi mais um passo no projeto de oferta

    regular de curso de qualificao profissional nessa rea. Estamos tendo

    a oportunidade de oferecer um curso com qualidade igual de similares

    europeus. E os alunos, na maioria artfices potenciais, ou pessoas que j

    atuam em obras de restauro, esto correspondendo plenamente ao

    nosso esforo.

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    Orquestra democrtica

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    Orquestra democrtica

    Com a fachada restaurada pelo Programa Monumenta, o prdio imponente

    do Grande Hotel sobressai na praa central de Pelotas. Inaugurado em 1928,

    o edifcio agora pertence prefeitura, e vem mostrando vocao tardia, mas

    bem-vinda, de se tornar centro cultural. Embora a estrutura interna necessite

    de ampla reforma, a construo j usada por um grupo de teatro e pelaOrquestra Filarmnica de Pelotas. Sobra muito espao para outras atividades,

    pois a orquestra ocupa apenas algumas dependncias, onde mantm

    arquivos, instrumentos e utilidades diversas. Ali os msicos se renem uma

    vez por semana para um ensaio aberto ao pblico. Essa deciso simptica foi

    tomada para aproximar a populao da filarmnica e da msica erudita.

    Assim, na quarta-feira, 27 de junho de 2007, por volta das 19h, cantores do

    coral da Sociedade Pelotense Msica pela Msica e os integrantes da

    orquestra convergiam para o Grande Hotel. Estavam apressados. O frio da

    noite tornava inspitas as ruas e praas, e o ensaio geral fora marcado paraas 20h. Os coralistas subiam ao andar superior para exerccios vocais de

    aquecimento. No trreo, os msicos, sozinhos ou em grupos, afinavam

    cordas, testavam os metais e a sonoridade de outros instrumentos de sopro

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    e percusso. Em meio balbrdia, o maestro Srgio Sisto finalizava os

    preparativos para reger a Missa Solene de Santa Ceclia, de Gounod, comque, dentro de alguns minutos, cerca de 150 pessoas solistas, coro e

    orquestra fariam rejuvenescer um dos velhos sales do Grande Hotel.

    Msicos em seus lugares, com algumas pancadas da batuta sobre a estante

    de partituras, o maestro ps fim cacofonia de notas desencontradas quebrotavam de vrios de instrumentos. E concluiu uma srie de observaes

    recomendando a Guilherme Soares que tivesse cuidado com Ana Elisa,

    a trompa reluzente que abriria o Gloria. A recomendao tinha razo de ser:

    embora seja um veterano trompetista, o msico experimentara o novo

    instrumento fazia pouco tempo. Em resposta ao regente, Soares executouuma frase lmpida e segura. Satisfeito, o maestro levantou os braos no gesto

    tradicional. Em seguida, a batuta desceu para o primeiro compasso. Como se

    fosse vara de condo, mergulhou o ambiente em mgica harmonia.

    Um observador desavisado poderia considerar rotineiro esse exercciocoletivo de interpretar msica. Mas no os presentes. Instrumentistas,

    cantores e o maestro sabem que ainda escrevem um belo e enternecedor

    captulo da histria musical do Brasil. Para eles os ensaios fazem parte de

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    uma celebrao permanente: a da prpria constituio da orquestra e do

    coral, uma vitria da dedicao e do esforo de muita gente ao longo deanos. De imediato havia outra comemorao vista, tambm de grande

    valor simblico. A do 195 aniversrio da cidade, em princpios de julho,

    quando seria apresentada a Missa de Gounod, na Catedral de So Francisco.

    Dez anos antes, os pelotenses haviam assistido a uma rcita dessa mesma

    pea sacra, executada por msicos da Orquestra Sinfnica de Porto Alegre.Na ocasio, solistas convidados vieram se juntar a cantores lricos da cidade

    e ao coral. Agora, orgulhosa, Pelotas se preparava para rever o espetculo

    sinfnico com orquestra prpria.

    Em 1997, a regncia tambm esteve a cargo de Srgio Sisto, que viera prseu talento a servio da Sociedade Msica pela Msica dois anos antes. A

    Sociedade, declarada de utilidade pblica em 1996, tem grande prestgio

    enquanto herdeira da tradio musical de Pelotas, que remonta fase das

    charqueadas. Desde cedo, a aristocracia da carne-seca procurava imitar a

    corte, sediada no Rio de Janeiro. Alm de despejar dinheiro em construes,

    cultivava hbitos refinados e despachava os filhos para estudar na Europa. Na

    Frana, de preferncia. Os rapazes retornavam mestres em gestos afetados,

    vesturio e outros modismos de Paris, fazendo biquinho ao falar francs,

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    para espanto dos gachos rudes dos pampas. Desde ento, os pelotenses

    viraram motivo de zombaria injustificada por parte dos cultores irredutveis

    do machismo nacional.

    Felizmente, o legado dos charqueadores no se resumiu a isso. Eles deixaram

    ainda o Theatro Sete de Abril o mais antigo em funcionamento no pas e

    o Theatro Guarany. Era com grande satisfao que desviavam para Pelotasfamosas companhias europias de teatro e msica que ali apresentavam seus

    espetculos, antes da grande rival, Buenos Aires. Houve algumas tentativas

    de formar orquestras sinfnicas, que no prosperaram. Por fim, graas a seus

    preconceitos e de forma inconsciente, bvio, a velha elite estimulou o

    surgimento da mais antiga instituio cultural pelotense a BandaDemocrata, fundada em 7 de setembro de 1896.

    Na Democrata tocavam os msicos pobres e os negros, excludos dos sales

    dos coronis e bares. Por ironia do destino, mais de cem anos depois,

    quando a aristocracia da carne-seca no passa de lembrana, a Democratamostra vigor juvenil, tendo sido declarada oficialmente patrimnio cultural

    do municpio e do estado. Em favor dos aristocratas deve-se dizer que

    tambm deixaram para a posteridade o gosto pela msica clssica.

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    Tanto assim que Pelotas um celeiro de bons msicos, formados em

    conservatrio e nas universidades locais.

    Foi nesse meio de cultura que apareceu a Sociedade Msica pela Msica, em

    princpios da dcada de 1990. Na ocasio, um grupo de apaixonados pelas

    composies clssicas decidiu organizar um coral. Houve adeses e o grupo

    chegou a 1995 com cerca de 20 componentes, maduro o bastante paraencantar Srgio Sisto e convenc-lo de que a cidade era um campo aberto

    para realizaes gratificantes. quela altura, concluda sua formao em

    Hartford, Connecticut (EUA), o maestro de 30 anos j exibia currculo

    invejvel como instrumentista, cantor lrico e regente.

    Gacho de Porto Alegre, Sisto iniciou a carreira aos 12 anos, como violista, em

    uma orquestra de cmara de Maring (PR). A partir dos 15, ganhou o primeiro

    lugar por cinco anos consecutivos nos concursos promovidos pela escola de

    msica da Sinfnica de Porto Alegre, participando de sucessivas temporadas

    da orquestra. Nos anos subseqentes, atuou nos teatros mais importantes dopas, em diversas funes, ao lado de maestros consagrados como Isaac

    Karabtchevsky, Silvio Barbato, Eleazar de Carvalho e Eugene Khon. E

    contracenou com estrelas internacionais do canto lrico no Brasil e no exterior.

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    Sob a conduo de Sisto, o coral da Sociedade Msica pela Msica ganhou

    corpo. Desde ento, sua histria se confunde com a do maestro, que passou

    a organizar apresentaes convidando msicos e cantores de fora. Em

    2000, por exemplo, a Sociedade montou a pera Carmen, de Bizet, com

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    instrumentistas da Sinfnica de Porto Alegre. Comearam ento os ensaios

    da orquestra e dos solistas que vieram de Buenos Aires e So Paulo para se

    juntar ao destacado tenor pelotense Auildo Munhoz. Naquele momento,

    uma contradio se tornou evidente, de acordo com Ana Elisa Kratz, cantora

    amadora e uma das dirigentes da Sociedade Msica pela Msica: Tnhamos

    um coral sinfnico e no tnhamos a orquestra, que geralmente surge

    primeiro. Para eliminar essa contradio e realizar um antigo sonho dospelotenses, Srgio Sisto deu o passo essencial em 2004.

    Formou um pequeno grupo de cordas com msicos voluntrios para

    acompanhar o coro em algumas peas. Esse grupo agiu como um catalisador.

    De repente, comearam a aparecer msicos de todos os tipos de instrumentoquerendo participar. De Pelotas, Rio Grande, So Loureno, Piratini e Santa

    Vitria. Entre eles, professores experientes e militares de bandas do Exrcito

    e da Marinha. Alguns eram da Banda Democrata, como Guilherme Soares, o

    atual presidente, cujo av foi diretor da banda, e o pai, regente e professor

    durante 50 anos. A filarmnica, portanto, tambm democrata.

    Contudo, do ponto de vista tcnico, raras vezes se viu grupo to heterogneo.

    Havia msicos com formao slida adquirida em conservatrios.

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    d i li i i d d

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    Era o caso de violinistas e outros que tocavam instrumentos de corda,

    madeiras e metais que normalmente no so usados na msica popular.

    Tambm se apresentaram bons instrumentistas que tocavam de ouvido, sem

    saber ler partituras. Outros tinham apenas alguns rudimentos de teoria. Os

    ensaios principiaram com a Aleluia, de Hendel. A leitura da pea consumiu

    quatro meses, marcados por avanos milimtricos. Longe de desanimar, o

    maestro resolveu simplificar as partituras e fazer arranjos para cadainstrumento. Assim todos puderam tocar. Sisto j fazia algo parecido para os

    integrantes do coral sinfnico que no sabem ler msica. Como consegue

    reproduzir vozes de todos os naipes, grava fitas para que os cantores se

    exercitem nos momentos de folga.

    Os resultados no tardaram a aparecer, ainda que haja apenas um ensaio por

    semana. A orquestra tem garotos de 12, 13 anos, e pessoas de at 70. E

    um repertrio enorme de boas histrias individuais. Algumas tristes, outras

    felizes. Um trompetista promissor foi obrigado a parar para trabalhar na roa.

    Substituiu o trompete pela enxada. Nunca mais o vi. Da gurizada, diversos

    so oriundos de bandas de Pelotas e outras cidades do interior. Em geral

    esses meninos comeam sem nenhuma tcnica. Quando tm sorte,

    encontram algum maestro que comea a lhes ensinar teoria, solfejo e um

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    pouco mais sobre o instrumento de sua predileo. Integram grupos. Muitos

    vo tocar na noite. Vrios lembram esponjas, que absorvem tudo muito

    rpido. So bons de ouvido, intuitivos, se guiam pelo corao, diz o

    maestro. Agora meus arranjos costumam ser mais elaborados. Para minha

    satisfao, coloco a partitura na frente deles e saem tocando de primeira

    vista. fantstica a evoluo da gurizada. Imagino a maravilha que seria a

    beno de ter trs ensaios por semana.

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    Com a questo tcnica da leitura solucionada de forma satisfatria o

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    Com a questo tcnica da leitura solucionada de forma satisfatria, o

    maestro teve de praticar a arte de transformar msicos para cobrir

    algumas lacunas. Foi assim que trompetistas viraram trompistas, um

    saxofonista descobriu o obo, e um militar aceitou o desafio de trocar o

    flautim pelo fagote. No entanto, havia outra dificuldade: a falta de

    instrumentos, aguda no princpio. Nesse ponto, o maestro mostrou uma veia

    imbatvel de garimpeiro. Soube que a Universidade Federal de Pelotasguardava os pertences de uma das orquestras do passado, como fiel

    depositria, e pediu reitoria para socorrer a filarmnica. A Universidade

    acudiu. Infelizmente, parte do acervo estava em ms condies, devido

    ao do tempo. Mas vrios instrumentos foram restaurados. Assim, a

    filarmnica ficou bem prxima da conformao atual.

    O ltimo grande avano foi proporcionado pelo Programa Monumenta. A

    Secretaria Municipal de Cultura, sob o comando de Beatriz Arajo, que

    tambm produtora cultural, alertou a Sociedade Msica pela Msica para

    um edital do Programa e ofereceu-se como parceira. Da nasceria o Projeto

    Msica, Patrimnio Vivo, tambm em parceria com a Universidade Catlica

    de Pelotas. Carmem Roig, coordenadora da UEP local, observa: A Sociedade

    Msica pela Msica se encaixava com perfeio nos objetivos do Programa.

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    Trata-se de entidade que por via da msica patrimnio imaterial atrai a

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    Trata se de entidade que, por via da msica, patrimnio imaterial, atrai a

    comunidade para os teatros e outros monumentos da cidade, com gerao

    de renda.

    Em contrapartida ao investimento do Monumenta, a Secretaria de Cultura

    ofereceu local para os ensaios, funcionrios de apoio, telefones, gua e

    energia eltrica. A Universidade Catlica de Pelotas contribuiu com

    publicaes, impressos e divulgao, por meio da assessoria de imprensa. O

    cacife da Msica pela Msica foi o trabalho voluntrio de uma equipe de

    associados. O maestro Srgio Sisto ficou como coordenador geral do projeto

    e Ana Elisa Kratz com a direo de produo.

    Do Monumenta, a sinfnica ganhou alguns instrumentos novos, 60 estantes

    de msica, partituras, e um suprimento indispensvel de componentes como

    palhetas e cordas. Os msicos de outras cidades passaram a receber ajuda de

    custo para comparecer aos ensaios semanais. O aumento da freqncia

    permitiu filarmnica dar um salto de qualidade. Para o aperfeioamentodos msicos, o projeto tambm proporcionou master classes, ministradas por

    professores da Universidade de Santa Maria, em 2006. Foi um sucesso,

    conforme relata Ana Elisa: Como produtora, tinha a preocupao de

    verificar a participao dos inscritos. Logo descobri que no havia

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    verificar a participao dos inscritos. Logo descobri que no havia

    necessidade de fazer isso. Ao contrrio. Todos vinham bem antes do horrio

    marcado, para ensaiar ou fazer perguntas aos professores. Difcil era

    conseguir separ-los dos alunos, para que pudessem almoar.

    A experincia somou de um lado, mas subtraiu de outro. A sinfnica

    pelotense perdeu vrios instrumentistas jovens para a orquestra de Santa

    Maria. Outros passaram para a escola da orquestra de Porto Alegre. Srgio

    Sisto lhes d razo. Eles tm de ir embora mesmo, pois gostam muito do

    que fazem. E merecem viver da msica. A perda de alguns instrumentistas

    no impediu que o saldo do projeto fosse amplamente positivo. Alm de

    ajudar a resolver problemas tcnicos e eliminar carncias materiais, o ProjetoMsica, Patrimnio Vivo tornou a orquestra ainda mais conhecida na regio,

    graas a uma campanha de divulgao.

    Tais aes esto alinhadas com uma das principais metas do Programa

    Monumenta, que a de impulsionar atividades culturais e econmicas at oponto em que possam seguir adiante por seus prprios meios. Como

    resultado da estratgia de divulgao, pessoas das cidades vizinhas j

    organizam excurses para vir a nossos espetculos, se apropriando do coral

    60

    e da filarmnica, comemora Ana Elisa. certo que as iniciativas da

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    , q

    Sociedade Msica pela Msica tm sido patrocinadas por instituies e

    empresas pelotenses, s vezes por meio da lei estadual de incentivo cultura.

    Tambm verdade que as apresentaes lotam regularmente os teatros.

    Porm, uma filarmnica de 60 msicos e um coro sinfnico de 80 cantores

    no se mantm s com o resultado das bilheterias, mais as mensalidades dos

    scios. Para sobreviver, temos de enfrentar um leo por dia, diz Ana Elisa.Nas condies brasileiras, a existncia da filarmnica quase um milagre,

    que s a msica pode operar.

    Assim, enquanto recorre a todas as fontes possveis de financiamento, a

    Sociedade Msica pela Msica espera criar uma rede de sustentao para aorquestra, admitindo a contribuio de pessoas, empresas e outras entidades

    pblicas e privadas. Mas uma coisa est fora de questo: a independncia da

    filarmnica que, at onde se sabe, a nica do Brasil que no pertence a

    alguma organizao. Queremos remunerar os msicos, que eles se

    profissionalizem. Mas tambm no queremos viver numa posio instvel emque, a qualquer momento, um prefeito, ou o reitor de uma universidade, nos

    diga que no quer mais a orquestra, que seus interesses so outros, explica

    Ana Elisa. Nesse caso, a Sociedade Msica pela Msica procura trilhar o

    61G o i s n o t e m p o

    caminho aberto por outra entidade independente que fundou e mantm: a

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    p p q

    Biblioteca Pblica de Pelotas.

    S uma ampla rede de apoio poder assegurar o fluxo contnuo de recursos

    que a Sociedade Msica pela Msica necessita para levar adiante outros

    projetos. Alm de profissionalizar os msicos, o que se pretende criar uma

    escola semelhante da Sinfnica de Porto Alegre. As duas coisas devem

    andar juntas. Alm de viver da msica, os professores teriam uma escola para

    lecionar. Com um mercado de trabalho estvel, Pelotas deixaria de exportar

    seus melhores talentos. E poderia tornar o centro histrico ainda mais

    atraente, por meio dos concertos de msica clssica. A comunidade, bem

    impressionada, mostra disposio para colaborar financeiramente. Algunsacontecimentos recentes no deixam margem a dvidas, ainda que as

    quantias envolvidas sejam modestas.

    O prprio Srgio Sisto, que hoje pelotense honorrio, deu o exemplo. A

    execuo da Missa de Gounod exige duas trompas, no mnimo. Sisto partiupara o maestrocnio, que o patrocnio do maestro, como ele diz,

    brincando. Comprou o instrumento batizado como Ana Elisa em maio de

    2007. Uma ao entre amigos, que arrecadou contribuies na faixa de 50

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    a 200 reais, garantiu a compra da segunda trompa Suzana, em

    homenagem a Suzana Zambrano, uma das herdeiras e administradora doTheatro Guarany, e tambm cantora do coral sinfnico. Suzana tem

    colaborado sempre com a Sociedade Msica pela Msica. Em 2003, por

    exemplo, atendendo um pedido do maestro, mandou abrir o fosso de

    orquestra do Guarany, coberto por assoalho havia 50 anos. Com o local

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    recuperado, a Sinfnica de Porto Alegre veio participar da montagem da

    pera La Traviata, com participao do Bal de Pelotas, de Diclia Souza,

    companhia que existe h 40 anos.

    Algum tempo antes da remoo do assoalho, o fosso deu origem a uma boa

    histria. Certo dia, algumas pessoas se arrepiaram ao ouvir msica no

    Guarany, vazio naquela hora, sem conseguir descobrir de onde provinha o

    som. A msica, um tanto desafinada, era de piano, com certeza. Mas como

    Pelotas no tem notcias da presena de fantasmas em seus monumentos,

    ningum arredou p, at que o ambiente silenciasse e Srgio Sisto emergisse

    de uma entrada lateral que d acesso ao poro, interditada na poca. Elehavia encontrado um piano no espao do fosso, em meio a peas de cenrios

    antigos e outros velhos guardados, cobertos pelo p de dcadas. O

    instrumento era um Uebel & Lechleiter de meia-cauda, alemo. Suzana

    Zambrano nem desconfiava de sua existncia e prontamente concordou em

    vend-lo para a filarmnica, por um preo bem camarada.

    O maestro chamou um especialista para avaliar o trofu. Feito o exame, o

    profissional recomendou a restaurao, servio do qual se encarregou,

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    cobrando tambm um valor baixo. Para pagar o piano e o restauro, a

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    Sociedade Msica pela Msica fez a campanha Compre uma tecla,

    vendendo a unidade por 200 reais. Pessoas e empresas contriburam e,

    meses depois, a Sociedade recebia o piano em timas condies. Mais

    adiante, o maestro descobriu um violino no Museu da Casa da Baronesa.

    Instrumento de boa cepa, fabricado por luthierde uma escola francesa do

    sculo 19 que imitava os Stradivarius. O violino pertencera a Olga Fossati,grande instrumentista pelotense, j falecida.

    Preocupado com o estado de conservao da pea, Sisto convenceu a

    direo do museu a ced-la para uso da orquestra, aps os trabalhos de

    restaurao. Em junho de 2007, dias antes do ensaio descrito na aberturadeste texto, o instrumento j estava com o restaurador, e alguns violinistas

    da sinfnica, junto com o maestro, experimentavam o arco de Olga Fossati.

    Exemplar magnfico, perfeitamente equilibrado, com acabamento

    primoroso. Os violinistas disseram que ficaram maravilhados com suas

    qualidades. Apesar da estao, o dia estava quente e mido, sem vento.Mesmo assim, garantem os msicos, quando algum comeou a tocar,

    vrias portas do Grande Hotel se fecharam sozinhas. Teria sido mais um

    milagre da msica?

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    Espetculos na rua

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    E s p e t c u l o s n a r u a

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    O inverno no extremo sul do Brasil costuma ser frio e chuvoso. Mas no osuficiente para congelar a cordialidade dos pelotenses mais velhos, nem seu

    entusiasmo pela terra natal. O professor Samir Curi Hallal um daqueles que

    os rigores do clima no intimidam. Madrugador, quando decide ciceronear

    algum visitante, sai ainda bem cedo. Protegido por guarda-chuva e

    sobretudo, percorre as ruas do centro com surpreendente rapidez para um

    homem de 70 anos. No trajeto, pra em caf tradicional. Rotina de todos os

    dias: ali cumprimenta e troca informaes com os amigos e conhecidos que

    esto prestes a iniciar a jornada de trabalho.

    Depois, enquanto caminha, aponta os edifcios mais importantes e discorre

    com animao sobre cada um, citando pormenores das construes e o

    contexto em que foram realizadas. O veterano professor de economia no

    o nico capaz de estender uma ponte at o passado, para torn-lo inteligvel

    e atraente. Mas o ideal que muitas pessoas, principalmente das novasgeraes, compreendam que a cidade e sua cultura tambm lhes pertencem.

    Trata-se de condio essencial para que o patrimnio histrico possa resistir

    sem sobressaltos passagem do tempo.

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    Foi com esse propsito educativo que o Projeto Cultura Aberta deslanchou

    id d t d t l d t t i d i

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    na cidade, montando espetculos de teatro, msica, dana e cinema em

    reas pblicas, onde h monumentos. Por isso as caravanas do projeto se

    deslocavam de um bairro a outro com oslogan Revitalizando o Patrimnio

    Cultural de Pelotas. As apresentaes se deram em fins de semana, das 15h

    s 20h, aproximadamente, em datas bem espaadas no tempo. Os locais

    escolhidos so freqentados pela populao nos momentos de lazer. Mas oobjetivo no era organizar eventos em lugares movimentados. E sim chamar

    a ateno dos cidados para os monumentos e seus vnculos com a histria

    do municpio, por vezes esquecidos ou ignorados.

    O projeto, patrocinado pelo Programa Monumenta, ficou sob aresponsabilidade da Fundao Cultural Princesa do Sul, em parceria com a

    Universidade Catlica de Pelotas e a Secretaria Municipal de Cultura.

    Inscreveram-se 72 grupos e artistas individuais, com 51 propostas musicais,

    11 de dana e 10 de teatro, mostrando a vitalidade incomum de Pelotas

    nessa rea.

    Contudo, quase a metade dos inscritos no conseguiu passar pelo crivo das

    comisses de triagem e seleo. Entre amadores e profissionais, foram

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    aprovados 26 grupos de msica, oito grupos de dana e oito de teatro, num

    total de 103 pessoas Alguns quesitos bsicos tiveram de ser atendidos Por

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    total de 103 pessoas. Alguns quesitos bsicos tiveram de ser atendidos. Por

    exemplo: as esquetes teatrais no poderiam ir alm de 20 minutos, assim

    como os nmeros de dana. O tempo reservado aos msicos foi mais

    generoso 40 minutos.

    O pblico fez seu primeiro contato com o Cultura Aberta em 19 de agosto

    de 2006, no Museu Municipal Parque da Baronesa, que tem rea de sete

    hectares e uma residncia senhorial, erguida no sculo 19. Nessa casa so

    expostos objetos que pertenceram a uma das famlias de charqueadores

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    expostos objetos que pertenceram a uma das famlias de charqueadores,

    alm de outras colees. Durante as apresentaes, a platia foi convidada a

    olhar ao redor e redescobrir os atrativos do parque.

    Os espetculos se caracterizaram pelo ecletismo. Assim, logo nessa primeira

    edio, subiram ao palco msicos eruditos, uma banda de rock, um

    instrumentista e compositor de msica popular brasileira e um coral de

    tradio alem. Seguiram-se apresentaes de teatro e dana. Para encerrar,

    a exibio de um curta-metragem realizado na cidade. Essa estrutura bsica

    foi mantida nos eventos subseqentes do projeto.

    Alm de aproximar a populao do patrimnio histrico edificado, o Cultura

    Aberta tinha outros objetivos. Fazer circular a cultura, por exemplo. Pelotas

    orgulha-se de ser um dos plos de produo artstica do estado. No entanto,

    medida que crescem, as cidades do origem a manifestaes culturais

    localizadas, por meio de grupos que surgem de forma espontnea no interiordas comunidades. Parte deles desaparece. Dos que sobrevivem, a maioria

    segue mais ou menos confinada onde nasceu, num processo de segregao

    determinado pela renda de seus integrantes e outros fatores sociais.

    Pelotas no fugiu desse modelo. Mas, com o Cultura Aberta, o municpio

    decidiu ao menos dar a grande nmero de interessados uma oportunidade

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    decidiu ao menos dar a grande nmero de interessados uma oportunidade

    de mostrar suas criaes a um pblico maior, em ambiente organizado, com

    boas condies tcnicas de palco, som e iluminao. Isso nem sempre

    possvel em cidades interioranas, onde so escassos os incentivos produo

    artstica. Despesas e riscos ficam por conta de quem tem algo para mostrar.

    Pode ser uma pea de teatro. Nesse caso, preciso gastar com cenrios,figurinos e aluguel do recinto apropriado. E muitas vezes no se cobram

    ingressos. Esse trabalho social acaba asfixiando ou desanimando os grupos

    desprovidos de recursos.

    Ao atrair milhares de pessoas, de todos os bairros e estratos de renda, oCultura Aberta rompeu barreiras geogrficas e deu aos artistas um canal de

    expresso. E beneficiou, sobretudo, os pelotenses que tm pouco ou nenhum

    acesso a produes culturais dessa natureza. Muita gente pde ver pela

    primeira vez espetculos de companhias que, pouco conhecidas na cidade, j

    esto conseguindo projeo at mesmo fora do estado. O Grupo Anjos eQuerubins se enquadra nessa categoria. Formado por jovens da periferia, atua

    com teatro e msica e acabara de ganhar prmio em festival de msica

    patrocinado pelo Servio Social da Indstria (Sesi), em Porto Alegre.

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    Por sua vez, o Grupo de Dana Trem do Sul fora classificado para a etapa final

    do Festival de Dana de Curitiba.

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    Exibies de curtas-metragens, em tela montada no palco, encerraram os

    eventos. As pessoas ficaram um tanto surpresas com o cinema na rua, e mais

    ainda quando viram produes locais, em geral com roteiros dos prprios

    realizadores, abordando temas urbanos. Os filmes policiais e as comdias

    predominaram. Algumas das produes tambm j haviam sido

    apresentadas em mostras de cinema. Ao divulgar os artistas locais, o Cultura

    Aberta tambm deu-lhes a oportunidade de se firmarem no mercado,

    melhorando suas perspectivas em relao ao aumento da renda com as

    atividades profissionais. Os benefcios do projeto no se esgotaram a.

    Fizemos uma boa radiografia da produo pelotense. Ela nos mostrou que

    fora do eixo central da cidade existem obras de qualidade em qualquer

    linguagem artstica. Mas a experincia foi de extrema relevncia para todos os

    envolvidos, que tiveram a oportunidade de trocar impresses sobre seusrespectivos trabalhos e a forma de apresent-los. Afinal, reunimos gente de

    todos os segmentos, num mesmo espao, que foi o palco montado ao ar livre.

    Todos os grupos, claro, tiveram de se enquadrar na estrutura oferecida.

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    O pessoal de teatro, sabendo que se tratava de espetculos de rua, procurou

    melhorar sua projeo de voz. Todos os detalhes como esse foram motivos

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    p j

    de discusso, diz o jornalista e produtor cultural Alex Ramirez, diretor-

    executivo do Cultura Aberta.

    O projeto tambm foi didtico para alguns que no passaram da fase de

    classificao, ainda que tivessem trabalhos de qualidade. Falharam na

    entrega de documentos, por exemplo. Ramirez comenta: comum oartista se iludir, pensando que basta criar. No assim. Qualquer grupo

    deve preparar um currculo, registrar-se, ter um nvel mnimo de

    organizao para participar de projetos srios. Redigir uma sinopse para

    explicar o porqu da obra que pretende apresentar. Como os

    organizadores de eventos podero pagar algum que no entrega cpias

    de documentos essenciais como identidade e CPF? Um grupo que queira

    se manter vivo deve ter tudo isso, alm de boa produo. Em vista dos

    resultados, Ramirez se declara confiante, acreditando que o Cultura Aberta

    ter continuidade. Um projeto assim vem para impulsionar, estimularessas atividades. A partir do patamar que alcanamos, creio que no ser

    difcil reedit-lo, com novos e antigos parceiros, tendo o apoio do

    municpio ou de alguma instituio local.

    77

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    O patrimnio como palco

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    O p a t r i m n i o c o m o p a l c o

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    No comeo dos anos 1990, em Pelotas, as plantas de um edifcio mistosaram do escritrio dos projetistas para o canteiro de obras. Seria um prdio

    de apartamentos com shopping center, mais algumas dependncias

    autnomas destinadas a usos diversos. O espigo elevou-se nas proximidades

    da praa Coronel Pedro Osrio at a construtora falir e o trabalho parar, a

    meio caminho da materializao dos sonhos do grupo de investidores. A

    cidade foi obrigada a incorporar o esqueleto de concreto paisagem, e o

    judicirio ganhou a embrulhada para destrinchar. Por envolver interesses de

    mltiplos credores, a pendenga falimentar se arrasta no frum, como de

    hbito: em meados de 2007 ainda no havia soluo vista. Pouca coisa foi

    concluda no prdio. Assim, exceto a afluncia dos clientes de uma agncia

    bancria, localizada no trreo, e o vaivm de automveis nas garagens

    subterrneas, nenhum movimento digno de nota ocorreu ali durante 12

    anos, a partir de 1994. At a noite de 25 de outubro de 2006, quando a

    estrutura se iluminou, lembrando um farol desses que orientam navios.

    Do ltimo pavimento, lmpadas potentes, semelhantes a holofotes,

    lanavam jatos de luz em todas as direes, atravs do vazio das paredes.

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    Como a cidade muito plana, o espetculo podia ser visto desde pontos bem

    distantes, atraindo seus moradores para o centro. Era a inaugurao da

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    mostra Intervenes Artsticas no Entorno da praa Coronel Pedro Osrio ou,

    simplesmente, Interaes Urbanas. Os curiosos, vindos dos bairros

    perifricos, engrossaram a multido que j caminhava pelas ruas em festa.

    Na praa havia coquetel para o pblico, alm de dana e msica, em meio

    s obras de restaurao conduzidas pelo Programa Monumenta e instalaes

    da feira do livro, evento tradicional. Barraquinhas distribuam cachorro-

    quente, pipoca, churros e outros comestveis. O Grande Hotel, iluminado por

    uma cascata de luzes, se animava com um ensaio da Orquestra Filarmnica.

    No prdio inacabado, faixas traziam inscries pitorescas e instigantes: a

    morde me, vendo a vista, duplex com tv, aceito passe, priva

    cidade, exija o impossvel e muitas mais. A maior de todas pendia de alto

    a baixo numa das fachadas. Em letras garrafais, nela se lia ocupao. O

    conjunto de luzes e faixas, denominado Parasitas, era criao do BijaRi, grupo

    formado por arquitetos, engenheiros e designers paulistas, participante damostra Interaes Urbanas. Apresentar a obra deu trabalho: os artistas

    usaram at equipamento de rapel para escalar o prdio. E esperavam que o

    edifcio conservasse a decorao at 25 de novembro, data de

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    encerramento do projeto. Contudo, a palavra ocupao soou fatdica para

    o sndico da massa falida, que levou um susto quando viu o prdio destacar-

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    se na escurido da noite. Mas logo se recomps: na manh seguinte tomoumedidas judiciais contra a invaso.

    Ningum precisou intervir. Os responsveis pelo projeto, Fundao de Apoio

    Universitrio, Universidade Federal de Pelotas e Prefeitura Municipal,

    retiraram equipamentos de iluminao e faixas dois dias mais tarde.

    Estudantes protestaram contra a remoo. Mas as pessoas diretamente

    ligadas ao evento se declararam satisfeitas com o desfecho do caso.

    Sobretudo as do BijaRi, que alcanaram seu objetivo de forma plena, em

    tempo recorde. Com ampla cobertura dos meios de comunicao, o grupo

    levou a populao a reconhecer e a debater a presena incmoda do

    espantalho de concreto. Sabemos que esse empreendimento frustrado

    uma dor de cabea para quem investiu no conjunto residencial ou no

    shopping. Mas a idia era projetar a discusso para alm dos aspectos

    financeiros e dos direitos de propriedade. Como possvel que essaconstruo fique parada durante tantos anos? O pior a passividade das

    pessoas diante da realidade. Ningum questiona, ningum olha, ningum v.

    assim que o caos urbano se instala, diz a artista plstica e produtora

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    cultural Luciana Dias da Costa Vianna, uma das organizadoras do projeto.

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    Carmem Roig, coordenadora da unidade local do Monumenta, observa:O Programa Monumenta queria que os projetos para a cidade dessem

    relevo preservao do patrimnio do municpio, chamando a ateno dos

    cidados de Pelotas para a praa e o entorno, espao urbano de arquitetura

    diferenciada, que contrasta com as edificaes modernas. Porm, o plano

    diretor da cidade, que de 1980, permite construes de qualquer altura nos

    limites do centro histrico. Despertar reflexes sobre os vnculos que

    existem entre arte, cidade e patrimnio histrico o que foi, o que deveria

    ser e o que Pelotas na atualidade , era exatamente o propsito do projeto

    Interaes Urbanas. Alguns especialistas foram convidados para debateresses temas com os artistas da mostra, representantes da comunidade,

    intelectuais das universidades, dirigentes de museus, grupos de teatro e de

    msica, artesos e produtores que atuam no cenrio cultural da cidade.

    O seminrio aconteceu nos dias 26 e 27 de outubro, no Centro de Integraodo Mercosul. Quem ficou de fora por falta de espao tambm pde

    participar, graas a um telo e equipamento de videoconferncia colocados

    na praa. Ainda no Centro de Integrao do Mercosul, foi aberta uma

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    exposio documental. Por

    meio de DVDs, contendo

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    imagens e entrevistas, os

    visitantes se informavam

    sobre a trajetria dos

    artistas que fizeram a

    mostra Interaes Urbanas.Era o ponto de partida ideal

    para um contato direto com

    a mostra. Na praa, a artista

    paulista Laura Vinci, alm

    de iluminar as fachadas doGrande Hotel e do Theatro

    Sete de Abril, colocou

    lmpadas no pavimento

    superior da Biblioteca

    Pblica pelotense, de onde

    forte luminosidade saa

    pelas janelas abertas.

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    Lauer, coordenador do Curso de Artes Visuais, ministrava a disciplina Prtica

    Profissional. Por exigncia do curso, os alunos fazem projetos fictcios. Ao

    i t id d d i l t i lid d t d

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    surgir a oportunidade de criar algo que se tornaria realidade, todos seenvolveram como assistentes, cerca de 70 pessoas. Mesmo com tanta

    gente, diz Lauer, foi uma correria. Mas valeu a pena. Meses depois

    comemorvamos a aprovao da proposta. Ento, Luciana Vianna, que

    trabalhava na Secretaria de Cultura, resolveu sair da prefeitura e se dedicar

    inteiramente ao projeto.

    Outra deciso importante foi tomada: Resolvemos procurar uma curadora

    que no vivesse em Pelotas, para que tivssemos um olhar diferente sobre a

    cidade. Pois ns j estamos acostumados com os prdios, com sua

    visibilidade, ou invisibilidade, ela comenta. A convidada foi Solange Lisboa,

    especialista em Histria da Arte, que veio de So Paulo para trabalhar

    intensivamente com os alunos durante trs meses. Para realizar o projeto, ela

    convidou artistas que tinham uma trajetria destacada na arte

    contempornea. E eles comearam a pensar, tendo por base o entorno dapraa Coronel Pedro Osrio. Os de fora vieram mais de uma vez,

    conversaram com as pessoas, entenderam o que significava o Monumenta.

    A Universidade e os alunos se movimentaram muito, fazendo pesquisas e

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    uma prtica profissional muito interessante. Tambm houve seminrios

    internos com os artistas. A partir da comeou a construo da mostra.

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    Lauer acrescenta: A curadora, experiente, fez questo de chamar

    representantes de diversos segmentos da sociedade para o ciclo de palestras.

    E elas reagiram de forma muito positiva. O momento tambm foi adequado,

    porque as obras de restaurao estavam sendo realizadas no centro, em

    lugares que de certa forma haviam sido esquecidos O evento conseguiu

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    lugares que, de certa forma, haviam sido esquecidos. O evento conseguiutocar, balanar as pessoas dos mais diversos segmentos, pois deu novo

    significado quilo que faz parte de nosso cotidiano. Coisas que a gente no

    consegue enxergar mais. Os artistas desenvolveram projetos com linguagens

    variadas, lanando olhares diferentes sobre a cidade. Portanto, a combinao

    de arte contempornea e patrimnio histrico foi muito feliz.

    At hoje h quem nos procure para pedir informaes sobre o evento,

    algumas para fazer trabalhos acadmicos que discutem questes relativas

    subjetividade e ao imaginrio, usando a cidade como ponto de partida. As

    pessoas nos dizem que devemos trabalhar sempre com o foco ajustado no

    patrimnio. Porque esse o diferencial de Pelotas. Por tudo isso, embora no

    saibamos ainda com que periodicidade, pretendemos reeditar esse projeto-

    piloto, porque ele permanece vivo na memria das pessoas. Alm de

    despertar o interesse de gente de fora, que quer conhecer a cidade, bastantecitada na mdia nacional durante o evento. Tambm estratgico continuar

    trazendo artistas de outras partes do pas, porque isso vai firmando a imagem

    de Pelotas como centro produtor de cultura.

    91

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    Douras de Pelotas

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    D o u r a s d e P e l o t a s

    Pelotas tem na produo de doces finos de origem portuguesa uma de suasi di A l d f i l i l

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    p g p gmais caras tradies. A arte pelotense de fazer tais guloseimas talvez no

    encontre rival no pas. Portanto, justo que a cidade se auto-denomine

    capital nacional do doce. Para ttulos assim no h reconhecimento oficial.

    No importa. A doaria pelotense em breve dever ser reconhecida como

    patrimnio imaterial do Brasil e inscrita no Inventrio Nacional de RefernciasCulturais, do IPHAN, graas a um projeto de pesquisa apoiado pelo Programa

    Monumenta. Isso acontece em boa hora, pois a tradio doceira do

    municpio, alm de apresentar caractersticas singulares, longeva. No se

    pode determinar a data exata em que comeou. Contudo, mesmo sem a

    certido de nascimento, pode-se afirmar que sua existncia ultrapassa com

    folga os 150 anos: j na dcada de 1840, irmandades de mulheres catlicas

    costumavam ofertar bandejas de doces preparadas com esmero para

    algumas comemoraes religiosas.

    razovel supor que a doaria pelotense tenha amadurecido em poca mais

    recuada: no prudente levar produtos dessa natureza para a esfera pblica

    sem antes experiment-los no ambiente domstico. Ainda mais que naquele

    95

    tempo o consumo de doces era sinal de distino. Fora as festividades

    religiosas, os amanteigados, camafeus, ninhos, bem-casados, olhos-de-

    sogra, quindins, babas-de-moa, fatias de Braga, trouxas de amndoas,

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    g q gpastis de Santa Clara e outras delcias s poderiam ser encontradas nos

    saraus, festas, banquetes e reunies da aristocracia. Esse privilgio marcou o

    sculo 19 pelotense, enquanto a carne-seca e o trabalho escravo

    caracterizavam a economia. As exportaes de charque davam aos

    potentados locais a capacidade de importar um sem-nmero de artigos de

    luxo. Inclusive o acar, que h muito j no valia seu peso em ouro, mas

    ainda estava longe de ser mercadoria ao alcance de todos.

    Quando a indstria do charque passou a manquitolar, os doces finos ou

    de bandeja romperam o circuito fechado por onde transitavam apenas

    os ricos e, pouco a pouco, caram na boca do povo, literalmente. Desde

    ento, at hoje, a produo tornou-se fonte de renda perene para muita

    gente vendedores ambulantes, donos de confeitarias, banqueteiras

    profissionais e professoras de culinria. Tambm houve mudanas nasreceitas, em metamorfoses tpicas das tradies duradouras. E os doces, num

    processo dinmico, alcanaram todos os interstcios da sociedade. Faz

    tempo, por exemplo, que se incorporaram como oferendas aos rituais do

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    batuque, religio afro-brasileira, semelhante ao candombl. No entanto, noforam os doces de bandeja que projetaram Pelotas no mercado. Mas, sim, os

    chamados doces coloniais, ou de tacho, cujas origem e difuso esto

    relacionadas com o declnio da indstria saladeiril. Essa reviravolta histrica

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    no rumo dos negcios, ocorrida em fins do sculo 19, forou os

    charqueadores a vender ou arrendar propriedades no municpio.

    Os novos ocupantes vieram da Europa Alemes pomeranos italianos e

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    Os novos ocupantes vieram da Europa. Alemes, pomeranos, italianos e

    franceses formaram ncleos mais populosos de agricultura familiar. Em sua

    bagagem cultural, os recm-chegados trouxeram uma tradio doceira,

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    desenvolvida nos pases de origem, para aproveitar os excedentes de frutas

    que estavam habituados a produzir h muitas geraes. Aqui a brasileirssima

    goiaba logo fez companhia s mas, pssegos, uvas e morangos. E tambml fi l j j d f i i d

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    ao marmelo, ao figo e s laranjas. Esse conjunto de frutas matria-prima de

    doces em calda, em massa para cortar e cristalizados; passas, gelias e sucos.

    Pequenas agroindstrias familiares no tardaram a surgir, ao lado da

    produo artesanal para consumo domstico. Essa vertente doceira,

    estabelecida no meio rural, saiu na frente para conquistar consumidores de

    localidades mais distantes. Assim, Pelotas e arredores ficaram conhecidos

    como plo produtor.

    As formas artesanais de produzir doces de frutas sobrevivem na zona rural,

    onde se preservam mtodos e utenslios antigos: tachos de cobre, colheres

    de pau e foges a lenha. A produo para o mercado realizada tambm

    por empresas de porte, que operam no distrito industrial de Pelotas. Para a

    cidade, em que h anos acontece a Feira Nacional do Doce, a doaria possui

    valor inestimvel do ponto de vista da cultura e da economia. Segundomapeamento feito pelo Sebrae, em Pelotas, o setor conta com 140 doceiros

    empresas e pessoas fsicas , entre fabricantes e comerciantes de doces

    coloniais e doces de confeitaria, tambm identificados como doces finos.

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    Alm de diferenciar Pelotas, esses produtos so um elemento importante na

    composio da memria social e da identidade cultural patrimnio que

    merece o reconhecimento de todo o pas.

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    Para caracterizar e inscrever a tradio doceira da regio na categoria de

    patrimnio imaterial brasileiro, o Programa Monumenta patrocinou um

    projeto de pesquisa abrangente, que ficou sob a responsabilidade da Cmara

    dos Dirigentes Lojistas, apoiada pela Secretaria Municipal de Cultura e pelaUniversidade Federal de Pelotas. A Universidade foi a entidade executora, por

    meio do Laboratrio de Ensino e Pesquisa em Antropologia e Arqueologia,

    onde se formou a equipe de pesquisa, coordenada pela professora Flvia

    Maria Silva Rieth. O trabalho, realizado em trs etapas, seguiu a metodologia

    recomendada pelo IPHAN. Na primeira fase, a equipe definiu os bens a serem

    inventariados doces finos e coloniais , a partir de registros histricos, alm

    de catalogar livros que fizessem referncias doaria pelotense. Em seguida,

    delimitou a rea da pesquisa: o atual municpio e Pelotas Antiga. Isso

    porque, no sculo 19, o territrio pelotense era muito maior, tendo sidorecortado com o tempo para dar origem a So Loureno (1884), Capo do

    Leo (1982), Morro Redondo (1988), Turuu (1995) e Arroio do Padre (1996),

    localidades onde tambm se desenvolveu a doaria.

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    No decorrer das atividades de campo, os pesquisadores entrevistaram 40

    conhecedores da tradio doceira e pessoas envolvidas com a produo em

    qualquer um dos seus ramos artesanal, manufaturada ou industrial.

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    A pesquisa revelou que os doces pelotenses so citados em 101 obras. Um

    dos livros especficos mais importantes Doces de Pelotas, lanado em

    1959 pela antiga Editora Globo, de Porto Alegre. Uma reedio, de 1970,

    teve o ttulo mudado para Receitas de Doces. Em 1997, surgiu Doce

    Pelotas: preciosas doceiras, organizado por Elizete Jeske, seguido de Doces

    de Pelotas: tradio e histria, de Mrio Osrio Magalhes, em 2001.

    Finalmente, em 2003, o Senac Nacional publicou Doaria tradicional de

    Pelotas, com receitas de doces finos, contendo um ensaio do antroplogoRaul Lody sobre a histria do doce no Brasil, e um ensaio de Mrio Osrio

    Magalhes. Referncias indiretas doaria pelotense foram encontradas

    em livros de literatura, em narrativas de viagens, memrias, ensaios

    sociolgicos, reportagens e entrevistas em jornais. Os pesquisadores

    fizeram filmes em vdeo e cerca de 2 mil fotografias de doces, utenslios,livros de receitas e documentos para a etapa final do projeto a

    documentao em fichas e material audiovisual.

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    Das pesquisas sobre a histria e a produo dos doces

    tradicionais pelotenses derivou um atraente trabalho

    acadmico. A monografia de concluso de curso deCincias Sociais intitulada Aqui ns cultuamos todas

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    Cincias Sociais intituladaAqui ns cultuamos todas

    as douras, assinada por Marlia Flor Kosby.

    Orientada por Flvia Rieth, Marlia mergulhou no

    universo do batuque para revelar, com

    sensibilidade, a contribuio dos afro-

    descendentes para a perpetuao e atualizao da

    doceria pelotense. Segundo a professora Flvia Rieth, o estudo

    etnogrfico realizado por Marlia Kosby analisa os significados atribudos

    aos doces e doura nos rituais de nao, como tambm conhecido obatuque. As comidas so elementos litrgicos fundamentais nas cerimnias

    dessa religio. Os doces so oferecidos aos orixs nos quartos-de-santo e nas

    bandejas de oferendas. Alm deles, o

    uso de mel e azeite de dend em

    diversos procedimentos ritualsticosmostra como o povo-de-santo se vale

    de categorias como doura e amargura

    na elaborao de suas prticas.

    Os negros, desde o princpio, aprenderam a fazer os

    doces de bandeja, que mais tarde usariam no culto

    aos orixs deuses que criaram e regem o mundo, avida social dos humanos e aspectos da vida natural,

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    vida social dos humanos e aspectos da vida natural,

    de acordo com as crenas do batuque ou nao,

    religio afro-rio-grandense da mesma matriz que

    o candombl da Bahia. O quindim um exemplo

    de doce tradicional apropriado pelos seguidores

    da nao. Trata-se da oferenda predileta de

    Oxum. No panteo do batuque, Oxum uma orix que,

    enquanto me, protege as gestantes, sendo tambm patrona da fertilidade

    e deusa das grandes guas doces e das riquezas. Quem lhe oferece quindins

    doces pequenos, feitos de gemas de ovo, acar e coco , em bandejas

    enfeitadas, alm de agradar a deusa, tambm pede que zele por suas

    relaes afetivas e riquezas materiais.

    Com os doces e demais projetos desenvolvidos na cidade, o ProgramaMonumenta deu um poderoso impulso recuperao do patrimnio material

    e imaterial de Pelotas, alcanando o objetivo estratgico de conjugar a

    preservao desses bens culturais com o desenvolvimento econmico e social.

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    Investimentos nas Aes Concorrentes do ProgramaMonumenta em Pelotas

    ProjetoQualificao Profissional de Nvel Bsico para Ofcios do Restauro e da Conservaod P t i i Hi t i A it t i d P l t RS

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    do Patrimnio Histrico Arquitetnico de Pelotas - RS

    FinanciadorPrograma Monumenta/MinC

    RealizadorSINDUSCON-Pelotas/CEFET-RS

    ObjetivoPromover curso de capacitao na rea de restauro, em duas edies e composto porcinco mdulos especficos e um de carter geral, voltado para trabalhadores daconstruo civil e tcnicos de nvel mdio, perfazendo um total de 200 vagas.

    AtividadesElaborao do planejamento, projeto pedaggico e programa dos cursos.

    Divulgao, inscrio, processo de seleo dos alunos e elaborao de certificados.

    Elaborao de apostilas.

    Contratao de professores e artfices.

    ValorMonumenta Contrapartida Total

    R$ 133.342,00 R$ 75.841,31 R$ 209.183,31

    Perodo de Execuo01/06/2006 a 27/11/2006

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    ProjetoMsica, Patrimnio Vivo

    FinanciadorPrograma Monumenta/MinC

    R li d

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    RealizadorSociedade Pelotense Msica pela Msica SPMM

    ObjetivoRealizar o projeto Msica, Patrimnio Vivo, utilizando os espaos do Centro

    Histrico para divulgar e valorizar a msica orquestral sinfnica, camerstica e coral.AtividadesAquisio de novos instrumentos musicais.

    Formao da Orquestra Sinfnica do Sul.

    Realizao de Ensaios Abertos no Theatro Sete de Abril.

    Realizao da Mostra de Coros.

    Criao da Escolinha da Orquestra Sinfnica do Sul.

    Montagem dos cursos Master Classes.

    Valor

    Monumenta Contrapartida TotalR$ 134.717,62 R$ 135.645,21 R$ 270.362,83

    Perodo de execuo15/05/2005 a 04/12/2005

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    ProjetoCultura Aberta

    FinanciadorPrograma Monumenta/MinC

    Realizador

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    RealizadorFundao Cultural Princesa do Sul

    ObjetivoPromover atividades culturais que valorizem os artistas trabalhadores da cultura popular

    de diferentes classes sociais e bairros da cidade, ampliando as oportunidades de geraode renda e valorizando os espaos da cidade considerados patrimnio histrico cultural.

    AtividadesSeleo de artistas, por meio das entidades representativas das comunidades debairro, que indicaram grupos e artistas com trabalhos na rea de cultura popular e dereferncia em sua comunidade.

    Realizao deshows com apresentaes de msicos, danarinos e atores teat