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UNIVERSIDADE FEDERAL DO AMAZONAS PRÓ-REITORIA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO CENTRO DE CIÊNCIAS DO AMBIENTE PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS DO AMBIENTE E SUSTENTABILIDADE NA AMAZÔNIA PPG / CASA COLINAS DO TOCANTINS: DESENVOLVIMENTO E TRANSFORMAÇÕES AMBIENTAIS MARIA DO CARMO BARROS VINHAL MANAUS 2009

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO AMAZONAS

PRÓ-REITORIA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO

CENTRO DE CIÊNCIAS DO AMBIENTE –

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS DO

AMBIENTE E SUSTENTABILIDADE NA AMAZÔNIA PPG /

CASA

COLINAS DO TOCANTINS: DESENVOLVIMENTO E

TRANSFORMAÇÕES AMBIENTAIS

MARIA DO CARMO BARROS VINHAL

MANAUS

2009

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO AMAZONAS

PRÓ-REITORIA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO

CENTRO DE CIÊNCIAS DO AMBIENTE –

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS DO

AMBIENTE E SUSTENTABILIDADE NA AMAZÔNIA PPG /

CASA

MARIA DO CARMO BARROS VINHAL

COLINAS DO TOCANTINS: DESENVOLVIMENTO E

TRANSFORMAÇÕES AMBIENTAIS

Dissertação apresentada ao Programa de Mestrado em

Ciências do Ambiente e Sustentabilidade na Amazônia

da Universidade Federal do Amazonas, como requisito

parcial para a obtenção do titulo de Mestre em

Ciências do Ambiente; área de concentração Política e

Gestão Ambiental.

Orientadora: Dra. Sandra do Nascimento Noda

MANAUS

2009

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Ficha Catalográfica

(Catalogação realizada pela Biblioteca Central da UFAM)

V784c

Vinhal, Maria do Carmo Barros

Colinas do Tocantins: desenvolvimento e transformações

ambientais / Maria do Carmo Barros Vinhal. - Manaus: UFAM,

2009.

88 f.; il. color.

Dissertação (Mestrado em Ciências do Ambiente e

Sustentabilidade na Amazônia) –– Universidade Federal do

Amazonas, 2009.

Orientadora: Profª. Dra. Sandra do Nascimento Noda

1. Assentamentos urbanos 2. Transformações ambientais –

Colinas do Tocantins 3. Povoamento – Colinas do Tocantins I. Noda,

Sandra do Nascimento II. Universidade Federal do Amazonas III.

Título

CDU 911.375(811.3)(043.3)

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MARIA DO CARMO BARROS VINHAL

COLINAS DO TOCANTINS: DESENVOLVIMENTO E

TRANSFORMAÇÕES AMBIENTAIS

Dissertação apresentada ao Programa de Mestrado em

Ciências do Ambiente e Sustentabilidade na Amazônia

da Universidade Federal do Amazonas, como requisito

parcial para a obtenção do titulo de Mestre em

Ciências do Ambiente; área de concentração Política e

Gestão Ambiental

Aprovada em 26 de junho de 2009

BANCA EXAMINADORA

____________________________________________________

Prof. Drª Sandra do Nascimento Noda

UFAM

____________________________________________________

Prof. Drº Henrique dos Santos Pererira

UFAM

____________________________________________________

Prof. Dr. Hiroshi Noda

INPA

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DEDICATÓRIA

Aos meus pais, pelo amor incondicional. Ao meu

esposo pelo incentivo e aos meus filhos razão de

minha vida.

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AGRADECIMENTOS

A minha mãe Maria e ao meu pai Francisco, verdadeiros alicerces e fontes

inesgotáveis de apoio, incentivo e força em toda a jornada da vida.

Ao meu esposo Waldir Vinhal, pelo apoio e incentivo;

Aos meus filhos Adwardys, Déborah e Matheus pela imensa compreensão e afeto;

Aos amigos mestrandos pelo carinho e disponibilidade em ajudar;

Aos amigos Marcos Rafael e Iltami pelo apoio na elaboração deste trabalho;

Aos colégios João XXIII e Centro Educacional de Colinas pelo apoio sem o qual

seria impossível a realização deste sonho;

A Faculdade Integrada de Ensino Superior de Colinas FIESC e a Fundação

Municipal de Ensino Superior de Colinas do Tocantins -FECOLINAS- pela oportunidade

única de realização profissional.

A minha orientadora, Sandra Noda pela colaboração.

A Deus pela revelação de sua presença em minha vida.

A todos, simplesmente expresso minha reverencia e gratidão.

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“Deus nos concede, a cada dia, uma página nova no

livro do tempo. Aquilo que colocamos nela corre por

nossa conta.”

Chico Xavier

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RESUMO

O presente trabalho tem por objetivo analisar a implantação de projetos desenvolvimentista de

ocupação do território brasileiro nas décadas de 50 e 60, em especial a construção da BR 153

antiga Belém-Brasília, a partir do estudo do município de Colinas do Tocantins. Com a

utilização do Método Histórico e das fontes orais e não verbais não desprezando, portanto as

fontes documentais. Pretende-se preencher a lacuna histórica do município, pois, sabe-se que

é de suma importância que uma cidade de meio século de existência tenha sua história

preservada para gerações futuras contribuindo assim para a historiografia regional e local.

Dando ênfase à dinâmica de ocupação do espaço e as transformações ambientais decorrentes

desse modelo desenvolvimentista de ocupação e crescimento da região privilegiando a

História Ambiental. A cidade de Colinas do Tocantins e criada no contexto de construção da

BR 153. A rodovia Belém Brasília (BR 153) torna-se o principal fator de integração da região

Norte com o restante do país, porém causando sérios impactos ambientais. A cidade de

Colinas do Tocantins, assim como outras cidades que nasceram ou tiveram sua economia

reativada com o advento da rodovia, tem como características uma intensa urbanização e

ocupação desordenada do espaço. Isso resultou em transformações importantes na paisagem

natural. Essa ocupação do espaço de forma desordenada na região de Colinas do Tocantins

deixou graves problemas. Entre eles a transformação na paisagem natural, poluição dos

mananciais, poluição e o sobreuso dos mesmos, dos recursos hídricos superficiais e

subterrâneos. Faz-se necessário, portanto a implantação de políticas públicas que procurem

amenizar os impactos provenientes dos empreendimentos já realizados, evitando assim

impactos maiores que possam ocorrer de novos empreendimentos.

Palavras Chaves: desenvolvimentismo, povoamento, transformação das paisagens

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ABSTRACT

This paper aims to analyze the implementation of developmental projects occupation of Brazil

in the 50s and 60s, in particular the construction of the BR 153 old Belém-Brasília, from the

study of the city of Colinas do Tocantins. With the use of Method and history of oral sources

and non-verbal not disregard, so the documentary sources. We intend to fill the gap of the

historical city, because, you know that it is critical that a city of half a century of existence has

its history preserved for future generations, there by contributing to regional and local

historians. Emphasizing the dynamics of space occupation and environmental changes

resulting from this developmental model of settlement and growth of the region focusing on

Environmental History. The city of Colinas do Tocantins and raised in the context of

construction of the BR 153. The Belém Brasília highway (BR 153) becomes the main factor

of integration of the North with the rest of the country, but causing serious environmental

impacts. The city of Colinas do Tocantins, as well as other cities which were born or had

reactivated its economy with the advent of the highway, was characterized by intense

urbanization and occupation of the space. This resulted in major changes in the natural

landscape. This occupation of space in a disorderly fashion in the region of Colinas do

Tocantins no serious problems. Including changes in the landscape, pollution of water

sources, pollution and overuse of them, water surface and groundwater. It is necessary,

therefore the implementation of public policies that seek to minimize the impacts from the

developments already made, thus avoiding major impacts that may occur in new ventures.

Keywords: developmentalism, settlement, transformation of landscapes

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1 – Imagem documental de Juscelino Kubitschek e Senhora Sara em visita às obras da

rodovia Belém – Brasília

31

Figura 2 – Imagem de satélite do município de Colinas do Tocantins 45

Figura 3 – Localização Geográfica do estado do Tocantins no Brasil e na América do Sul, de

Colinas do Tocantins no estado do Tocantins e imagem ilustrativa do município de Colinas do

Tocantins

47

Figura 4 – Lei Nº 012/89 Dispôe sobre a mudança do nome do município 55

Figura 5 – Imagem documental (A) da Rua José Pereira de Lima na década de 70 e Imagem8

documental (B) da Avenida Tenente Siqueira Campos, década de 70

65

Figura 6 – Imagem documental (C) grupo de moradores em frente a casa típica de madeira 1970

e imagem documental (D) família em frente a sua casa construída com base de tijolos

67

Figura 7 –Imagem documental (E) Barracão para atividades festivas em construção, final da

década de 1960 e começo da década seguinte.

68

Figura 8 – Imagem documental (F) Avenida Bernardo Sayão na década de 70, imagem

documental (G), Avenida Bernardo Sayão na década de 90 e Imagem Documental (H) avenida

Bernardo Sayão no ano de 2008

69

Figura 9 – Imagem documental (I) Praça 21 de abril e imagem documental (J) Auto-falante na

praça 10 de abril, década de 70

71

Figura 10 – Imagem documental (L) da Vista parcial da Praça 21 de abril desfile em

comemoração ao dia 7 de setembro década de 1970 e imagem documental (M), em abril de 1960,

foi lançada a pedra fundamental da futura cidade.

72

Figura 11 - Imagem documental (N), da vista parcial da praça 21 de abril no ano de 2008 72

Figura 12 – Imagem documental (O), da vista parcial da praça 7 de setembro no ano 1968 e

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imagem documental (P) da praça 7 de setembro durante o desfile do aniversário de 15 nos de

Colinas

72

Figura 13 – Imagem documental (Q) e imagem documental (R) da vista parcial da praça 7 de

setembro ano de 2008

73

Figura 14 – Imagem documental (S) e imagem documental(T) da Rua do mercado municipal,

centro da cidade (década 70)

77

Figura 15 – Imagem documental (U) do Mercado Público Municipal no centro da cidade (década

70)

77

Figura 16 – Imagens documentais (V e X) do Mercado Público Municipal/ centro da cidade no

ano de 2008

78

Figura 17 – Lei Nº 017/75 Doação de terreno urbano para construção da SANEAGO

Figura 18 – Imagem documental (Z) da inauguração do sistema de captação de água no Córrego

Sinhá, 1976

81

Figura. 19 – Imagem documental (AA) do Centro de captação da Saneatins, abandonado e

imagem documental (AB) Nascente do córrego Sinhá com poluição acentuada

81

Figura. 20 – Imagem documental (AC) da ausência de mata ciliar às margens do córrego no

perímetro urbano e (AD) da Área próxima ao centro de captação em avançado processo de

assoreamento

82

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1 – As cinco maiores cidades tradicionais do Estado do Tocantins 40

Tabela 2 – As cinco maiores cidades da rodovia Belém – Brasília – Estado do

Tocantins

41

Tabela 3 – Técnicas e Instrumentos da Pesquisa 42

Tabela 4 – População da cidade de Colinas do Tocantins na década de 1970 56

Tabela 5 – População da cidade de Colinas na década de 1980 58

Tabela 6 – População da cidade de Colinas nas décadas de 1997 a 2007 59

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LISTA DE ABREVIATURAS

FIESC Faculdade Integrada de Ensino Superior de Colinas do Tocantins

FECOLINAS Fundação Municipal de Ensino Superior de Colinas do Tocantins

CANG Colônia Agrícola Nacional

UDN União Democrática Nacional

PTB Partido Trabalhista Brasileiro

PSD Partido Social Democrático

CACEX Carteira de Comercio Exterior

SUMOC Superintendência da Moeda e do Credito

BNDE Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico

GT Grupos de Trabalho

GE Grupos Executivos

CPA Conselho de Política Aduaneira

ISEB Instituto Superior de Estudos Brasileiros

CEPAL Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe

SEPLAN Secretaria de Planejamento do Estado do Tocantins

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ................................................................................................................. 14

1. O ANTIGO NORTE GOIANO: DINÂMICA DA OCUPAÇÃO HUMANA .......... 17

1.1. Juscelino Kubitschek: desenvolvimento e estabilidade política ............................. 23

2 A BELÉM-BRASILIA ................................................................................................... 31

2.1. Um Breve Olhar .......................................................................................................... 31

2.2. Urbanização e Impactos Ambientais ....................................................................... 34

3. O MUNICÍPIO DE COLINAS DO TOCANTINS ..................................................... 42

4. COLINAS DO TOCANTINS: CRIAÇÃO E DESENVOLVIMENTO ................... 48

4.1. Povoado de Colinas do Tocantins ............................................................................. 51

4.2. Fluxos Migratórios ..................................................................................................... 56

5. COLINAS: PAISAGEM EM TRANFORMAÇÃO ................................................... 60

CONCLUSÃO .................................................................................................................... 84

RECOMENDAÇÕES ........................................................................................................ 86

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ............................................................................ 87

ANEXOS ............................................................................................................................ 89

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INTRODUÇÃO

Atualmente, o clima mundial vem registrando alterações significativas e, despertou

acirradas discussões em torno de tomadas de decisões por parte das sociedades e dos

governantes em propor medidas que viessem a amenizar, entre outras coisas, a degradação

ambiental.

Essa preocupação tardia relaciona-se às estratégias de desenvolvimento adotadas,

que privilegiam o crescimento econômico em curto prazo, à custa dos recursos naturais vitais

para qualquer tipo de bioma, provocando verdadeira crise ambiental em escala nacional e

mundial.

Essa crise não é apenas ecológica e ambiental dado o esgotamento progressivo da

base de recursos naturais e a redução da capacidade de recuperação dos ecossistemas, mas

também político-institucional refletida pela má distribuição do poder, distribuição e uso dos

recursos da sociedade, ou seja, desequilíbrio socioecológico.

Desde a década de 1970, com o crescimento da preocupação com a questão

ambiental, as relações entre sociedade e ambiente passaram a preocupar um maior número de

estudos na área de historia. Neste contexto e necessário que nos voltemos, mesmo que

brevemente, a uma nova proposta da historiografia: a História Ambiental.

Esse termo, primeiramente cunhado por Roderick Nash, em seu ensaio intitulado

“The state of enveronmenta history” (A situação da história ambiental), surge em um

momento de reflexão acerca de como o homem percebe e relaciona-se com o ambiente. Nash

recomendava que encarássemos toda a paisagem ao nosso redor como um tipo de documento

histórico.

Para Drumond (1991) a forma mais provocativa de colocar o significado da historia

ambiental é considerar o fator tempo. O tempo no qual se movem as sociedades humanas é

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15

uma construção cultural consciente. Cada sociedade cria ou adota formas de contagem e

divisões do tempo em torno das quais se organizam as diversas atividades sociais.

Para o historiador, em especial, o tempo é um crucial fio condutor das mudanças e

continuidades que lhe propicia os seus objetos de estudo, quando não os seus conceitos. Lidar

com o tempo, por isso, é um instrumento básico de seu oficio.

WOSTER (1991) coloca que: “... os historiadores ambientais perceberam que não

podemos nos dar o luxo de sermos tão inocentes.”

A inocência ambiental acabou, percebemos com clareza os males que as atitudes e as

formas de relações entre homem, ambiente e desenvolvimento causaram ao planeta.

É preciso ir mais fundo ai descobriremos forças ainda mais fundamentais atuando

sobre o tempo. E para essas forças, devemos de vez em quando deixar os

parlamentos, as salas de parto e as fabricas, abrir as portas e vagar pelos campos e

florestas, ao ar livre. (WOSTER, 1991)

O Brasil na década de 50 e 60 vivia o seu auge desenvolvimentista, época em que

políticas públicas eram implantadas com o propósito de elevar a posição socioeconômica do

país. No entanto elas surgem num momento em que não havia preocupação ambiental, e isso

refletiu diretamente no processo de ocupação territorial, neste caso em função do crescimento

da cidade de Colinas do Tocantins.

Entre as estratégias desenvolvimentistas está a construção da BR-153, antiga Belém-

Brasília, que ocasionou impactos dentre estes o surgimento de várias cidades ao longo do

traçado da rodovia, como por exemplo, as cidades de Gurupi, Araguaína, Guaraí e Miranorte

no Norte do Estado do Tocantins. Neste contexto a cidade de Colinas do Tocantins que tem

sua história ligada a projetos governamentais do então Presidente da República Juscelino

Kubitschek de Oliveira, povoar e desenvolver a Região Norte.

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16

A origem de Colinas do Tocantins remonta a abril de 1960 e teve ligação direta com

o processo de construção da BR-153 que, quando concluída, permitiria o contato entre

Brasília, capital federal recém construída, e Belém capital do Estado do Pará.

Este trabalho tem como objetivo preencher a lacuna histórica sobre a cidade de

Colinas do Tocantins como também provocar a discussão de como se deu a ocupação do

espaço dessa região e as transformações no ambiente. Desta forma, para se ordenar o presente

estudo, ele foi dividido em quatro capítulos:

O primeiro capítulo busca descrever a origem do povoamento do antigo norte

Goiano, seus problemas de comunicação e o governo de Juscelino Kubitschek de Oliveira.

Primeiramente, será abordado o povoamento da região com o intuito de compreender a

dinâmica de ocupação humana;

O segundo capitulo busca analisar a construção da Belém – Brasília dentro de projeto

desenvolvimentista de crescimento, seus impactos para a região em estudo e o surgimento de

uma estreita malha urbana ao longo da rodovia.

Tem como objetivo caracterizar a região onde esta situada a cidade de Colinas do

Tocantins e apresentar os procedimentos metodológicos adotados na pesquisa, para tanto,

buscar-se-á caracterizar de maneira geral o município de Colinas do Tocantins, a partir de

dados geográficos.

O terceiro capítulo busca analisar a luz da história oral a trajetória de colinas do

Tocantins, sua criação, povoamento e fluxos migratórios. Esse capítulo analisa através do uso

de imagens fotográficas a transformação na paisagem urbana da cidade de Colinas do

Tocantins, decorrente do seu povoamento.

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17

1. O ANTIGO NORTE GOIANO: DINÂMICA DA OCUPAÇÃO

HUMANA

Constituído como exemplo típico de região de fronteira com 90,06% de área coberta

pelo cerrado e que atualmente se consolida como área moderna de produção agroindustrial o

antigo norte goiano, atual Estado do Tocantins, foi por um longo período caracterizado por

grandes vazios demográficos e sérios problemas em suas vias de comunicação. Como outras

regiões do Brasil o atual Estado do Tocantins vivenciou projetos que visavam ocupar e

desenvolver a região.

A tomada de posse das terras brasileiras pelos portugueses no século XV, dentro do

contexto da expansão marítima se da primeiramente no litoral brasileiro. De acordo com

Furtado (Apude, Apolinário, 2006, p.51) somente com o fim da guerra entre portugueses e

holandeses no século XVII, que se tem inicio do processo de interiorização do território

brasileiro intensificando a expansão da pecuária pelo sertão1 adentro.

O Brasil até então basicamente litorâneo se expande para o interior do território.

Taunay (Apude Silva, 1995, p. 26)

“... os portugueses, mais afeitos às longas navegações do que às jornadas terrestres,

preferiram guardar a costa (...) daí muitos cientistas sociais afirmarem que tivemos

uma colonização de caranguejo, ou seja, arraiais e vilas no litoral, e não nos

sertões.”

Como assegura Arruda (Apude, Apolinário, 2006, p. 46) desde os primeiros

conquistadores, os sertões são lugares de transformação de paisagens, de construção, de

reelaboração e representações sobre o território e populações.

1 Sertão no período colonial era um lugar alem do litoral, desconhecido e inóspito. Apolinario (2006, p.46)

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18

Para Apolinário (2006, p.159) nos séculos XVII e XVIII, o sertão do antigo norte da

Capitania de Goiás, atual Estado do Tocantins, foi devastado por sertanistas, missionários e

criadores de gado vindos do Nordeste, especialmente do Sul de Pernambuco, Bahia e Piauí, e

por fim pelas levas de aventureiros em busca de descobrirem minas auríferas.

Segundo a historiografia estudada o antigo Norte Goiano, atual Estado do Tocantins,

teve seu povoamento iniciado no século XVIII (1730 aproximadamente) com o ciclo do ouro.

O povoamento do Norte de Goiás foi marcado pela lentidão e por etapas distintas: período

aurífero (século XVIII), agropecuário tradicional (séculos XIX e XX), colonização

espontânea e oficial em zonas pioneiras (primeiras décadas do século XX), bem como os

garimpos de cristal, que deram origem a algumas cidades no Norte (primeira metade do

século XX): Cristalândia, Pium e Dueré Além destes, outros fatores contribuíram também

para o nascimento de algumas cidades, como: presídios2 militares (Araguacema) e

aldeamentos ( Dianópolis, Pedro Afonso, Itacajá e tocantinia (Gomes e Teixeira Neto apud

AQUINO, 1996, p. 30).

Para Silva (1996, p. 42) quando os arraiais de ouro surgiram no Tocantins, já existia

aqui a “picada da Bahia”, com seus arraiais de gado.

Ao contestar o inicio do povoamento do atual Estado do Tocantins Silva nos remete

a uma necessidade urgente: a de um estudo mais aprofundado sobre a região, pois, a

historiografia apresentada até o momento deixa clara a complexidade que envolve o processo

de colonização do atual Estado do Tocantins.

2 Presídios no século passado eram entendidos como conquista de território e expansão de fronteira, parte do

processo de povoamento, defesa e especialização agrícola, construído oficialmente e sob o controle do governo.

Carvalho (2006, p.30)

Page 20: "Colinas do Tocantins: Desenvolvimento e transformações ...

19

Giraldin (2002, p.110) assevera que antes da chegada dos povos não-indígenas, a

partir do século XVIII, a região entre os rios Araguaia e Tocantins, que hoje forma o Estado

do Tocantins, era povoada por diversos povos indígenas.

Dentre eles podemos citar os Akroá, Xacriabá, Xavante, Xerente, Javaé, Xambioá e

Karajá em sua maioria pertencentes ao grupo lingüísticos Macro-Jé. Somente os Avá-

Canoeiros, pertencem ao tronco lingüístico Tupi.

A população indígena do atual Estado do Tocantins sofreu os impactos de ocupação

dos não-indígenas que segundo Giraldin (2002, p.112) para garantir o desenvolvimento da

região o governo apelou por expedições armadas e construções de presídios o que levou a

dispersão e até mesmo a completa extinção de algumas tribos indígenas da região.

Para Carvalho (2006, p. 31) em Goiás e Tocantins, foram construídos 21 presídios às

margens dos dois principais rios, Araguaia e Tocantins. Esses presídios foram instalados,

transferidos e recriados desde os tempos da colonização.

Oliveira Viana (Apud Carvalho, 2006.p.26) afirma, que de forma generalizada, que o

objetivo das fundações de presídios era reunir os moradores dispersos, o que equivalia a dar

um centro religioso e administrativo e uma organização policial e judiciária aos bens e

pessoas pelas conspirações do aborígine amotinado.

A construção de presídios ocorre dentro de uma política de expansão e proteção do

território brasileiro pela coroa portuguesa que visava no momento proteger o território

brasileiro de uma possível invasão por parte do governo francês de Napoleão Bonaparte.

Atualmente, vivem no Estado do Tocantins nove representações étnicas formadas por

povos Akwe ( Xerente), povo Iny ( Karajá, Javaé e Karaja|Xambioá), Timbira ( Apinajé e

Krahô), Krahô-Canela, Ava-Canoeiro e Guaraní, com uma população de aproximadamente

9.000 indígenas.

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20

A partir do século XVIII com a descoberta das jazidas do antigo Norte Goiano

vieram para a região populações de toda a colônia e até mesmo da metrópole portuguesa. A

procura pelo metal da inicio ao surgimento dos arraiais e dinamiza o povoamento da região

que segundo Parente (2001, p.58):

Como as minas predominantes em Goiás eram do tipo aluvional, essa população ia-

se locomovendo às margens dos rios e riachos auríferos proporção que descobria o

ouro, formando um novo arraial que podia progredir ou ser abandonado,

dependendo da riqueza existente. Uma das características da sociedade mineradora

era a mobilidade populacional, assim, tanto o aparato administrativo como o

comercio acompanhava esses fluxos e afluxos.

O processo “mineratório” acelerado teve como conseqüência o surgimento de

arraiais e vilas, elas surgem primeiramente no sul e na medida em que iam sendo descobertas

novas jazidas em direção ao norte surgiam vários arraiais sob forma de “ilhas”, isoladas uma

das outras e que surgiam ou entravam em decadência conforme a presença do ouro. As casas e

o próprio mobiliário tinham aspectos provisórios, ou seja, a durabilidade da mina e que

determinava o tempo de fixação da população.

As minas de Goiás eram do tipo aluvional3, quem vinha para região em busca do

metal tornava-se praticamente um nômade locomovia-se às margens dos rios e riachos

auríferos na medida em que acabava ou descobriam-se novos filões de ouro. Temis Parente

(2002) coloca ainda que: “além dessas características, a população que para cá se dirigia tinha

como objetivos trabalhar, enriquecer e regressar ao seu lugar de origem”.

Com a decadência do ouro, no final do século XVIII e inicio do século XIX, a região

norte presencia uma profunda depressão. Esse período fica marcado pela decadência

3 “Em altura de cerca de 30 até 100 palmos acima do nível das águas dos rios, estende-se, ao pé das serras, uma

camada aluvionar (...) o ouro corre junto dos seixos em quantidade considerável”. Todos os arraiais goianos

originados da mineração são localizados ao pé de alguma serra às margens de rios e riachos; portanto, as

características das jazidas existentes em Goiás, são do tipo aluvional. Parente ( 2001, p. 800)

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21

econômica e pelo esvaziamento dos centros urbanos levando a população ao empobrecimento

e a ruralização.

A decadência do ouro suscitou um problema que durante o apogeu aurífero esteve

camuflado: a dificuldade nas comunicações. Segundo Palacim (1979, p. 140): “Ao acabar-se o

ouro, a inevitabilidade das distancias devia impor-se com sua realidade brutal. As populações

do interior ficam isoladas, quase como náufragos sem possível retorno”.

Concordando com Palácin (1979), Parente (2001, p. 83) expõe:

“... O ouro, que antes existia em grande quantidade, passou a fazer parte de um

passado, narrado pela população e comprovada pelas ruínas das jazidas abandonadas

pelos antigos mineiros (...). Gradualmente, a capitania, principalmente sua região

norte, entrou em estado de dormência, voltando-se para a produção agropecuária.”

A crise econômica após o esgotamento aurífero se fez sentir com mais intensidade na

região norte, onde a escassez populacional e a ausência de atividades econômicas fizeram

com que se tornasse necessário buscar alternativas para reativar a economia. Para Parente

(2001, p.24) “a crise econômica na região tornou-se crônica e sobreviveu ao período colonial.

A população teve que criar mecanismos de resistência para que pudesse, mesmo dentro de um

processo lento e inacabado, reordenar suas forças produtivas.”

Essa alternativa econômica encontrou resposta na agricultura e principalmente, na

pecuária, justamente as atividades que tinham importância secundária no contexto da

economia mineradora (SILVA e VINHAL, 2008 p. 13)

Tanto a pecuária quanto a agricultura, que nesse momento caminhava lentamente

rumo a um nível de produção esbarram na sua incapacidade de promover o desenvolvimento

econômico para a região: carência de meios e via de comunicação, escassez de mão-de-obra e

ausência de mercado consumidor.

Desta forma, colocam Silva e Vinhal (2008 p.)

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22

A região tinha sérios problemas de comunicação. Praticamente não existiam

estradas. No norte goiano um problema (da produção) se somava ao outro (da

comunicação) a ponto de não se saber por onde começar para solucioná-los. Se por

um lado a produção agrícola e pecuária fosse multiplicada certamente esbarraria no

velho problema de como escoá-la. Por outro lado é razoável imaginar, pelo menos

entre os agentes privados, que a visão corrente era a de que os custos para solucionar

os problemas de comunicação do norte goiano eram bem maiores do que a

expectativa de lucros. Essa situação fazia com que tudo continuasse como estava.

Com o declínio da mineração, as comunicações terrestres entram em estagnação

restava agora tanto para a população quanto para os órgãos governamentais reativar as vias

fluviais que durante um longo período estiveram desativadas em decorrência da mineração.

No século XVIII, praticamente inexistia a ligação fluvial via Araguaia e Tocantins,

visto que a Coroa portuguesa, objetivando assegurar seus lucros com a produção aurífera, por

intermédio do Alvará de 1733, ter proibido a utilização de quais quer outros caminhos não

reconhecidos oficialmente.

Para Cavalcante (1999, p. 38)

As atenções, por parte tanto do interesse privado quanto dos governos Imperial e

Provincial, se voltaram de certa forma para as tentativas de se estabelecer

comunicações comerciais entre o interior e o litoral norte, aproveitando-se os

caminhos naturais pelos rios Araguaia e Tocantins.

Voltar às atenções para essas vias de comunicação naquele momento se justificava

pelo fato de ser a mais viável ou se não uma das únicas alternativas para a população local.

De acordo com Silva e Vinhal (2008, p. 18):

“... Os grandes rios, especialmente o Tocantins, tornaram-se “um meio de vida” no

norte goiano porque era por meio deles que as populações ribeirinhas superavam os

problemas de comunicação, transportavam pessoas e efetivavam algumas ligações

comerciais. Essas rotas permitiam a “exportação” de produtos nativos como couro

de gado, arroz, mandioca entre outros e a “importação” de mercadorias não

encontradas nas redondezas como sal, açúcar, tecidos e outros produtos trazidos de

centros maiores como Carolina, no Maranhão, Marabá e mesmo de Belém do Pará.”

Page 24: "Colinas do Tocantins: Desenvolvimento e transformações ...

23

Os rios Araguaia e Tocantins representaram para as populações ribeirinhas toda a

dinâmica de vida não só comercial como social. Carvalho (2009, p. 24) deixa evidente quando

coloca que:

“O rio Araguaia é um capital natural, rico de representações culturais. Com

diferentes significados, suas águas podem representar para os visitantes e poetas,

símbolo de beleza, prazer, encantamento, mistério, mensagens, paisagem. Mas ele

representa muito mais às populações ribeirinhas. Ele brota da terra, alimenta e gera

vida.”

Apesar da importância para dinamização da vida econômica e social para a região do

antigo norte goiano atual Tocantins, os rios Araguaia e Tocantins permaneceram como última

alternativa para o desenvolvimento da região. Assim coloca Oliveira (1997, p.60) as

principais razões de os rios Araguaia e Tocantins não terem conseguido, como meio de

transporte, proporcionar maior progresso à região foram os obstáculos naturais, a fragilidade

econômica da província e o vazio demográfico as margens dos mesmos.

1.1 Juscelino Kubitschek: Desenvolvimento e Estabilidade Política

“A Nação toda se levanta e se prepara para esse surto de desenvolvimento que era

aguardado por varias gerações e que, culminando nos dias de hoje, propiciará às

futuras um Brasil mais forte e mais poderoso.” (Juscelino Kubitschek, 1958 p. 38)

Marcado pelos grandes vazios demográficos e por um relativo abandono em relação

a outras regiões do Brasil o Antigo Norte goiano permaneceria até os anos 50 do século XX,

sem grandes alterações no que diz respeito às comunicações. Essa realidade só viria mudar

com o advento da Belém-Brasília obra do então presidente da República Juscelino Kubitschek

de Oliveira. Sendo a rodovia Belém-Brasília a responsável pela dinamização nas

comunicações da região Norte e o surgimento de novos núcleos urbanos e a reativação de

Page 25: "Colinas do Tocantins: Desenvolvimento e transformações ...

24

tantos outros, se torna necessário mesmo que em linhas gerais expor as características desse

governo e a construção da Belém – Brasília.

O Brasil, em meados da década de 1950, passava por grande expectativa pela

chegada ao poder de um governo que acenava com a possibilidade de se alcançar, num curto

período de tempo, acelerado desenvolvimento para todo o país; o então presidente Juscelino

Kubitschek.

Ao assumir o poder em janeiro de 1955, à custa de um golpe militar que segundo

Bueno (2003, p. 348) “o único golpe legalista da história brasileira” Juscelino Kubitschek

revelou-se dinâmico e empreendedor o que contagiou a nação. Ele popularizou seu governo

com “o „slogan” de campanha 50 anos em cinco, ou seja, acelerar o crescimento do país, de

maneira a vencer uma distancia sócio – econômico - cultural que possivelmente levaria 50

anos.

O governo do presidente Juscelino Kubitschek teve como marca o

desenvolvimentismo, no qual políticas públicas são implantadas com o propósito de elevar a

posição socioeconômica do país, e que viria mais tarde, ser talvez um dos responsáveis pela

transformação do ambiente da região norte, de forma peculiar. Nesse sentido o presidente

sentenciava: “... Nenhuma política será legitima se não objetivar, como caráter prioritário, o

desenvolvimento. E esta é uma diretriz que nenhum governo deverá abandonar no Brasil...”

(KUBITSCHEK, 1960: 9-10)

Kubitschek assumia com um programa de governo que fora determinado em sua

campanha eleitoral e que havia sido centrada no planejamento e no desenvolvimento, e ficaria

marcado pelo peso de uma palavra: desenvolvimentismo.

Segundo Brum (1993, p. 102), o desenvolvimentismo pode ser conceituado como:

(...) Um modelo de desenvolvimento voltado centralmente para a realização de um

crescimento acelerado, acima dos padrões históricos tradicionais, com o objetivo de

encurtar a distancia em relação aos países considerados desenvolvidos, lançando

mão para tanto, em grau elevado, de recursos adicionais, extraídos

Page 26: "Colinas do Tocantins: Desenvolvimento e transformações ...

25

compulsioramente da sociedade ou buscado no exterior, e tendo o estado como

principal agente indutor e impulsionador do processo...

A temática do discurso de Kubitschek se concentra em torno do desenvolvimento.

Pretende-se propor uma política que permita deflagrar a aceleração do processo de

crescimento econômico, superando o atraso e alcançando a prosperidade. A base desse

desenvolvimento esta na industrialização do país, que segundo Juscelino Kubitschek levaria a

um crescimento econômico acelerado e conseqüentemente tiraria o país da condição de

subdesenvolvido. (CARDOSO, 1977 p.77).

O modelo desenvolvimentista brasileiro foi inaugurado por Vargas, e atingiu sua

plena expressão no governo de Juscelino Kubitschek. O governo Juscelino Kubitschek

representa no imaginário brasileiro uma Idade de Ouro. É visto como uma época marcante da

historia do Brasil, como o momento de um grande arranco desenvolvimentista, consolidado

através de políticas que estimularam a industrialização e resultaram em altas taxas de

crescimento.

A política nacional desenvolvimentista do governo de Juscelino Kubitschek se

justifica em razão da nova dinâmica mundial do mundo pós-guerra. Ela trás no bojo das

mudanças um novo conceito de nacionalismo, afastando-se daquele que foi herança do século

XIX, ou seja, o fim de uma dependência político-administrativa.

O conceito de nacionalismo do século XX toma outra forma trata-se em sua essência

não mais de uma liberdade política, e sim na superação do estágio de consumidor de produtos

industrializados e de fornecedores de matéria-prima.

Essa nova concepção de nacionalismo se propaga, invadindo todos os países que de

uma forma ou de outra se sentiam marginalizados do processo histórico. A partir desse

momento não só os países dominados diretamente prezam pela libertação econômica, mas

também, todos aqueles que desejavam sair do subdesenvolvimento.

Page 27: "Colinas do Tocantins: Desenvolvimento e transformações ...

26

A política econômica desenvolvimentista de JK apresentou pontos positivos e

negativos para o nosso país. A entrada de multinacionais gerou empregos, porém deixou

nosso país mais dependente do capital externo. O investimento na industrialização deixou de

lado a zona rural, prejudicando o trabalhador do campo e a produção agrícola. O país ganhou

uma nova capital, porém a divida externa contraída para esta obra aumentou

significativamente. A migração e o êxodo rural descontrolados fizeram aumentar a pobreza, a

miséria e a violência nas grandes capitais do país.

O ideal desenvolvimentista de Juscelino Kubitschek foi consolidado num conjunto

de metas, conhecido como Programa de Metas ou Plano de Metas. Valendo-se de projetos

anteriores e principalmente dos estudos da Comissão Mista Brasil – Estados Unidos (desde

1951) e do grupo (CEPAL e BNDE) desde 1952, de maneira mais ampla e sistemática o

governo de Juscelino Kubitschek pode executar sua mais séria experiência de planejamento

integrado.

O Plano de Metas tinha como objetivo principal acelerar o crescimento do país,

recuperar o atraso em que o mesmo se encontrava. Para Mendonça (1986, p. 59) Os objetivos

do Plano de Metas podem ser resumidos em dois níveis: em curto prazo, acelerar o processo

de acumulação capitalista, ampliando a produtividade dos investimentos realizados e por

realizar; em médio prazo, buscava-se atingir a elevação do nível de vida da população,

superando a miséria pela abertura de novas frentes de emprego e pelo estabelecimento de um

novo modo de vida.

As metas estabelecidas eram em número de 31, elas voltava-se para quatro setores-

chave da economia: energia, transportes, alimentação e indústrias de base. Das 31 metas, a

construção de Brasília seria a “meta síntese” o símbolo de um Brasil novo.

È importante destacar que no primeiro momento Brasília não estava inserida no

Plano de Metas ela só passa a fazer parte segundo Oliveira (2008, p. 1) a partir de 04 de abril

Page 28: "Colinas do Tocantins: Desenvolvimento e transformações ...

27

de 1955, em um comício na cidade Jataí em Goiás quando Juscelino foi interpelado por um de

seus eleitores, lhe questionando se estava em seu plano à mudança da capital federal para o

Planalto Central. A partir desta data o Plano de Metas, que constituía 30 metas incorpora mais

uma.

Implícita ou explicita, a meta síntese torna-se o carro chefe do plano de Metas, onde

através de um discurso que propunha o desenvolvimento, a modernização e interligação do

país, Kubitschek conseguiu contagiar a população principalmente das médias e grandes

cidades brasileiras a um sonho de modernização de um novo e promissor “Brasil way of life”

(Mendonça, 1986, p. 60)

Para Aquino (1996 p 68.):

Kubitschek teve que adotar métodos politicamente estratégicos, para viabilizar seu

governo, enfim, levar a termo um conjunto de obras vultosas onde se incluem, por

exemplo, a construção da nova capital e da própria rodovia Belém-Brasília, obras

previstas no seu Plano de Metas. Juscelino conseguiu manter o equilíbrio

contraditório entre uma ideologia nacional-desenvolvimentista e a efetivação de uma

política de abertura ao capital monopolista estrangeiro.

Kubitschek soube muito bem trabalhar sua imagem, construindo-a historicamente de

maneira a garantir sólida penetração no imaginário, não apenas do universo político, mas

também no popular. No campo ideológico para a difusão e elaboração da ideologia “nacional

desenvolvimentista” Kubitschek contou com o Instituto Superior de Estudos Brasileiros

(ISEB).

O ISEB tinha por objetivo pensar o desenvolvimento do país para Mendonça (1986,

p. 71) “O ISEB é um centro permanente de altos estudos políticos e sociais de nível pós-

universitário que tem por finalidade o estudo, o ensino e a divulgação das ciências sociais (...)

a fim de aplicar as categorias e os dados dessas ciências a analise e a compreensão critica da

realidade brasileira visando à elaboração de instrumentos teóricos que permitam o incentivo e

a promoção do desenvolvimento nacional”.

Page 29: "Colinas do Tocantins: Desenvolvimento e transformações ...

28

Liderado por intelectuais o ISEB torna-se legitimadora das transformações

econômicas do governo Kubitschek. O ISEB torna-se uma verdadeira “fabrica de ideologias”.

Administrativamente Kubitschek conta com a administração paralela considerada de

grande importância na implantação do Programa de Metas. Ela tinha como função dinamizar

a máquina pública que influenciada pelo clientelismo se mostra morosa e pouco eficaz. A

administração paralela compreende: CACEX, A SUMOC e o BNDE.4 Os grupos de trabalho

estavam assim distribuídos: GT (grupos de trabalho), GE (grupos executivos) e o Conselho de

Política Aduaneira (CPA).

A administração paralela ampliava sensivelmente os poderes do Executivo em

detrimento do Legislativo que fica em parte marginalizado das decisões o que explica em

parte o sucesso na aprovação de projetos ligados ao Plano de Metas.

Para Mendonça (1986, p. 61) outro fator essencial foi o reforço e a eficácia da

aliança PSD-PTB no legislativo, como forma de garantir a aprovação dos gastos públicos.

Tanto PSD quanto o PTB tinham interesses vinculados ao Plano de Metas, portanto não seria

interessante tornarem-se oposição à efetivação do mesmo.

Isso fica claro na fala de Cardoso (1977, p.117, 118) “O Programa de Metas

confundia-se em partes, com as metas fundamentais do PTB, ou seja, os objetivos vinculados

ao desenvolvimento econômico social (...) mas é evidente que o PSD também tinha interesse

no Programa de Metas. O partido não era apenas um reduto de oligarquia rural, mas da

burguesia “progressista”, devidamente beneficiada com o aumento do parque industrial”.

Kubitschek soube mais do ninguém neutralizar a oposição naquele momento

representada pela UDN como também cooptar lideranças e conquistar apoio. Assim Juscelino

Kubitschek pode colocar em prática seu projeto desenvolvimentista de crescimento. Juscelino

4 CACEX (carteira de comercio exterior) e a SUMOC ( superintendência da moeda e do credito) órgãos do

Banco do Brasil, com finalidades especificas. O BNDE (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico)

banco de fomento destinado a financiar projetos de expansão na área econômica ou infra-estrutura.

Page 30: "Colinas do Tocantins: Desenvolvimento e transformações ...

29

pretendia através de uma política desenvolvimentista levar o Brasil a ultrapassar os limites do

litoral. Para Aquino (1996, p. 72) “dessa maneira, romper-se-ia com uma tendência que se

manteve presente desde os tempos coloniais, para voltar-se em direção ao seu centro

geográfico”

Deste modo as ações do governo deveriam voltar-se prioritariamente para as obras de

integração tendo as rodovias como principal elo. Dentro dessa conjuntura a construção de

Brasília surge como prioridade, seguindo-se a abertura de estradas para ligar a nova capital a

todas as regiões do país, entre elas esta a construção da Belém-Brasília.

Segundo Carvalho (1979. p.34 in Souza p. 353).

Devido essa conjuntura, surge como solução imediata à construção da rodovia

Belém-Brasília, que iria quebrar o isolamento da Amazônia em sua porção oriental.

A rodovia Belém-Brasília é conseqüência imediata da criação de Brasília e do seu

planejamento dentro da Região Amazônica. Também, planeja-se a construção, em

ritmo mais lento, de outras rodovias: Brasília-Fortaleza, Brasília Acre.

O que aconteceu no Brasil nesse período é o reflexo das transformações ocorridas

nos grandes países, na conjuntura do pós-guerra, ou seja, todos tentavam se reestruturar para

vencer os desafios dessa realidade moderna. Para se ajustar diante dessa nova conjuntura, o

Brasil procurava soluções para setores básicos da infra-estrutura brasileira. Surgiram assim às

grandes usinas, os açudes, as numerosas indústrias, a Superintendência de Desenvolvimento

para o Nordeste (SUDENE).

Para esse processo de desenvolvimento brasileiro não ficar contido somente no

litoral, construiu-se Brasília nova capital do país, no centro do Brasil, para vinculá-la a todos

os quadrantes do território através das rodovias chamadas de “rodovias da integração

nacional.”

Page 31: "Colinas do Tocantins: Desenvolvimento e transformações ...

30

Para Souza:

Um dos objetivos dessa política de integração esta a preocupação do governo em

solucionar problemas relacionados à ocupação do território para deslocar o

excedente populacional dos grandes centros, favorecendo uma expansão da

produção de alimentos e efetivando a integração nacional. (SOUZA, 2002, apud

GIRALDIN, 2002, p.365-366).

No Programa de Metas, o setor de transportes dá destaque para as rodovias, pois

naquele período, o desenvolvimento econômico do Brasil estava alicerçado no crescimento da

indústria automobilística. A construção de novas estradas e a melhoria da qualidade das já

existentes se colocavam como pontos-chaves na política do governo.

Para Cavalcante (1999, p. 44)... “A opção desse setor de transporte no papel de

integração nacional e regional apenas favoreceu o propósito político-econômico do centro

hegemônico nacional - a região Sudeste e os interesses das potencias do mundo capitalista.” A

expansão da indústria automobilística enfraqueceu o transporte fluvial e ferroviário brasileiro.

“Essa opção segundo Aquino (1996, p. 85) escancara as portas do país às indústrias

automobilísticas internacionais, embarcando o Brasil rumo à modernidade, porém sem

atenuar seus laços de dependência”.

Fica claro que a opção pelo transporte rodoviário nada mais foi do que um pretexto

para tornar o Brasil consumidor de todo um aparato industrial automobilístico. Estavam ai

delineados os princípios de uma política governamental em que, enfim, a construção da

Belém-Brasília, agora já como uma imposição do desenvolvimentismo Juscelinista, passaria

do sonho à realidade. Segundo Aquino (2002, apud Giraldin. p.320) esta obra motivaria o

próprio Juscelino Kubitschek a se expressar da seguinte maneira: “Entre as novas rodovias,

algumas, como a Belém-Brasília, podem ser consideradas uma autentica epopéia do século

XX.”

Page 32: "Colinas do Tocantins: Desenvolvimento e transformações ...

31

2 A BELÉM-BRASÍLIA

2.1 Um Breve Olhar

Figura 1- Imagem documental 1 Juscelino Kubitschek (4º da dir.) e a Senhora Sara (ao centro das senhoras) em

visita às obras da rodovia Belém-Brasília. (CPDOC/FGV/Arquivo Nelson de Melo/2ª rem.).

FONTE: http://www.cpdoc.fgv.br/nav_jk/htm/album/ainda_nas_mg.asp

“Sentia-me orgulhoso da tarefa que me fora reservada. Dera a ordem para derrubar a

primeira árvore do traçado da rodovia, e eu próprio iria fazer tombar a última.”

Juscelino Kubitschek

A construção da Belém-Brasília5 embora creditada ao governo de Juscelino

Kubitschek ela remonta segundo Souza (apud Giraldin, 2002, p. 335) ao período colonial.

“... A construção dessa estrada já esteve na intenção das pessoas que se inteiraram da

necessidade de conquista da Amazônia, ou seja, essa estrada sempre esteve nas

cogitações dos que governaram as colônias e dos que estiveram à frente da ligação

do Norte com o Sul.”

5 A rodovia recebeu vários nomes: Rodovia Transbrasiliana, Anápolis-Belém, Rodovia Bernardo Sayao, Br-14.

E finalmente foi denominada BR-153 ou Belém-Brasília .AQUINO, Napoleão Araújo. A Construção da Belém-

Brasília e a Modernidade no Tocantins. Goiânia, 1996. p 97.

Page 33: "Colinas do Tocantins: Desenvolvimento e transformações ...

32

Por conta de empecilhos políticos, econômicos e até naturais a construção dessa

rodovia permanece até a segunda metade do século XX no terreno da teoria e do ideal.

Para Aquino (1996, p. 56) Esse empreendimento se liga de alguma forma, a

programas que estavam em curso desde o chamado “Estado Novo” (ditadura Vargas) (...)

assim, as origens desta rodovia se ligam àquilo que se tornou uma marca da era Vargas, que

foi a “Marcha para o Oeste”.

A “Marcha para o Oeste” teve como traço mais marcante a instalação das colônias

agrícolas nacionais (1941). Em Goiás seria denominada de Colônia Agrícola nacional

(CANG). A “Marcha para o Oeste” tinha como característica principal a distribuição gratuita

de pequenos lotes a trabalhadores rurais, ou seja, recriava-se um campesinato na fronteira, por

iniciativa do Estado e sob sua tutela.

Porém foi no governo de Kubitschek que a construção da rodovia Belém-Brasília

ganha impulso aproveitando os primeiros pedaços de estradas abertas antes mesmo do inicio

desse governo.

O próprio Juscelino afirma que quando assumiu o governo a rodovia Transbrasiliana

já contava com vários trechos abertos, porém sem nenhuma perspectiva de chegar a Belém,

mesmo porque “tornaria muito remota a possibilidade de que fosse cruzada a área

amazônica”. (KUBITSCHEK, 1975 Apud AQUINO, p. 78)

O engenheiro Jefferson Bueno, que trabalhou na construção da rodovia esclarece que

foi a partir da localidade denominada Cercadinho (atual Barrolândia-To) que Juscelino

Kubitschek inicia seu grande projeto: a construção da Belém-Brasília. “... Enfim, torna-se

claro o local que as maquinas do governo Jk entram em cena na construção da estrada.”

(AQUINO, 1996 p. 79).

Ali mesmo em cercadinho, após reunir toda a população local e na presença dos

representantes estrangeiros, Juscelino da partida numa maquina (trator) e anuncia o

inicio das obras que ligariam Brasília a Belém do Pará (...) desta maneira a

construção da Belém-Brasília foi decidida em pleno território tocantinense numa

Page 34: "Colinas do Tocantins: Desenvolvimento e transformações ...

33

festa que mostrou originalidades do grande sertão goiano, mormente aves e caças da

região. (BUENO, apud AQUINO, 1996, p.82)

Consciente da dimensão do empreendimento Juscelino divide a obra em duas frentes

de trabalho: uma partindo do sul em direção ao Norte tendo como responsável o engenheiro

agrônomo Bernardo Sayao, e partindo do Norte em direção ao Sul o médico sanitarista Valdir

Bouhid. A Belém-Brasília teria a extensão de quase 2.200 quilômetros, dividida em três

setores distintos: Goiás: 1439 quilômetros; Pará: 487 quilômetros; e Maranhão: 274

quilômetros.

De acordo com Silva e Vinhal (2008, p.40-41), apenas após o trabalho inicial, de

abertura das picadas, é que as máquinas pesadas entravam em cena rasgando a floresta num

rumo já determinado pelos trabalhadores de frente. Para sua construção essa rodovia

mobilizou em torno de 3.400 trabalhadores, distribuída entre 11 construtoras e levou mais de

2 anos para sua completa abertura. (para entrada de maquinas).

A construção da rodovia Belém-Brasília tinha prazo para ser concluída, ou seja, a

ligação entre Norte e Sul deveria acontecer em quatro anos, fato que gerou enorme impacto

não só entre os que não acreditam em sua viabilidade como dos próprios envolvidos

diretamente em sua construção.

Segundo Souza (2002, p. 362). Pelo fato da rodovia ter 500 quilômetros do seu

traçado em plena selva amazônica, onde o sol não penetrava. Também não se saberia o que

seria encontrado pela frente, pois a flora e a fauna existente não eram conhecidas pelo

homem, alem disso havia a presença de varias tribos indígenas. As dificuldades se mostravam

em todas as etapas, para manter as frentes de trabalho era necessária uma verdadeira

operação. Enquanto as pistas de pouso não eram abertas os mantimentos eram jogados de

avião e helicóptero sobre as copas das árvores.

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34

A BR-153 percorre mais de 2 mil quilômetros de extensão em terras de quatro

Estados. A Belém - Brasília corta os Estados de Goiás, Tocantins, Maranhão, Pará e ainda o

Distrito Federal, embora seus maiores trechos estejam em terras goianas e tocantinenses.

A abertura dessa rodovia provocou profundas mudanças em Goiás, sendo maior sua

repercussão na região Norte do Estado, sobre o qual influenciou significativamente em dois

aspectos, historicamente problemático e interligado: a baixa ocupação populacional e as

precárias vias de comunicação do Norte em relação ao Sul de Goiás e demais regiões do país

(SILVA E VINHAL, 2008, p. 35).

2.2 Urbanização e Impactos Ambientais

Construída dentro de projeto desenvolvimentista de crescimento a construção

rodovia Belém-Brasília, ocorreu dentro de um contexto em que a preocupação ambiental6 não

fazia parte dos programas governamentais e nem mesmo da sociedade em geral. As

estratégias de desenvolvimento adotadas pelos governos em décadas atrás, privilegiavam o

crescimento econômico a curto prazo, à custa dos recursos naturais vitais, provocando

verdadeira crise ambiental em escala mundial.

Essa crise não é apenas ecológica e ambiental dado o esgotamento progressivo da

base de recursos naturais e a redução da capacidade de recuperação dos ecossistemas, mas

também político-institucional, refletida pela má distribuição e uso dos recursos da sociedade.

6 Os primeiros movimentos em defesa do meio ambiente surgiram com os preservacionistas (1958). No Brasil

em 1965 e instituído o Código Florestal, e em âmbito mundial e realizada a Conferencia de Estocolmo (1972).

Em resposta a esta conferencia o governo brasileiro criou a SEMA- Secretaria do Meio Ambiente (1973).

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35

Cabe ainda ressaltar que durante séculos o “desenvolvimento” foi promovido em

todas as instancias: urbano e rural de forma insustentável atendendo geralmente medidas em

nome do “progresso”, sem a visão de gerar desenvolvimento econômico de forma sustentável.

Mas do que nunca estamos colocados frente ao desafio de atribuir sentido, talvez

mais de um sentido, à noção de desenvolvimento quando aplicada aos processos sociais, em

particular ao se tratar do desenvolvimento econômico.

No que se refere especificamente à chamada economia do desenvolvimento, várias

controvérsias acompanharam-na desde o seu aparecimento no imediato pós-guerra, a começar

pela reivindicação feita por alguns dos seus integrantes dela constituir um campo analítico

especifico da teoria econômica.

Mas foi a partir da segunda metade de 1970, com o crescente reconhecimento dos

limites das políticas e projetos de desenvolvimento enquanto instrumento de “emancipação”

econômica e social das nações, que ganhou vulto a identificação dos impasses teóricos e

práticos da promoção do desenvolvimento sustentável.

O norte de Goiás atual Estado do Tocantins, como toda a Amazônia Legal sofreu os

impactos de políticas desenvolvimentistas de ocupação e povoamento da região. Quanto aos

impactos da rodovia Belém-Brasília em território tocantinense, Aquino (1996, p. 87) afirma:

Quanto aos impactos provocados com a abertura da rodovia, vale destacar o aspecto

da especulação das terras, dada a perspectiva de sua valorização. Com a expectativa

da valorização das terras tornam-se freqüente a grilagem das terras. Principalmente,

nas áreas de influencia da estrada. A questão se agravou de tal forma que ganhou os

meios de comunicação.

A repercussão do fato levou autoridades locais e regionais a propor medidas que

viesse sanar o problema. Aquino (1996, p. 88) esclarece:

Neste período é presidida uma reunião que contou com a participação do Arcebispo,

Dom Helder Câmara e Dom Alano, bispo de Porto Nacional, bem como dos

governadores dos Estados de Goiás, Pará e Maranhão que tinha como objetivo

elaborar um “Plano de Colonização da Estrada Belém-Brasília”.

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36

Outro fator segundo Padre Alano (Aquino, 1996, p. 89) foi o êxodo rural: “... o

homem do campo que tem pequena propriedade (posse), às vezes iludido pelo gosto da cidade

atraído pela escola (...), ele vende por qualquer coisa sua terrinha, compra uma casa na cidade

e vai viver de biscates...” Ao ter a possibilidade de sair do isolamento, os pequenos

proprietários de terras da região desfazem-se daquilo que geralmente era seu único bem

(terras) e partem em busca do novo. E vão aventurar-se a viver do que a cidade pudesse lhe

proporcionar.

Outra proposta de colonização e relatado por George Yunes, o gaúcho (dono da

empreiteira responsável pela construção do trecho goiano-tocantinense da rodovia) em

depoimento a Aquino (1996, p. 90) “ao longo da estrada eram reservados 6 quilômetros de

cada lado, para serem distribuídos entre colonos. Esta proposta não vingou, os grandes

latifundiários acabavam comprando os terrenos dos colonos e transformando às margens da

rodovia em latifúndios.

A estrada representava também um empecilho no que diz respeito à permanência dos

colonos nos pequenos lotes de terra. Segundo Gaúcho: “é raro você achar uma casa na beira

da estrada porque o pessoal já está fugindo (...), porque na beira da estrada passa bandido

passa tudo.”. Morar a beira da estrada representava estar exposto a todos os tipos de perigo.

(AQUINO, 1996, p.90).

Aquino (1996, p. 91):

Classifica essa proposta de colonizar as margens da rodovia como uma atitude

demagógica do governo, que através dessa proposta, iludir a população de que

estaria desenvolvendo um programa de cunho social, paralelo a construção da

estrada, o que resultou em mais uma enganação dirigida aos homens que sonham em

possuir terra. Há que se interrogar: que representariam 6 KM de largura para uma

proposta de colonização?

Page 38: "Colinas do Tocantins: Desenvolvimento e transformações ...

37

Em um país caracterizado por grandes latifúndios, essa proposta seria no mínimo

mesquinha, visto que a extensão de terras na região em estudo era marcada por quilômetros de

terras sem “dono” e grandes vazios demográficos.

Quanto aos impactos da rodovia a imprensa teve papel fundamental no que diz

respeito à legitimação desse empreendimento. Ela garantia através de matérias

sensacionalistas o impacto positivo na sociedade. Aquino (1996, p. 94) neste caso, a imprensa

desempenha o papel de propagandista oficial dos eventos, colocando-se a serviço do estado e

da economia privada em geral, a fim de obscurecer as contradições que permeiam a

implantação de uma obra do porte da referida estrada.

Aquino (1996, p. 94):

Mesmo reconhecendo-se a importância desta rodovia para romper a apatia das

regiões por ela atingidas, isto é, oportunizar novas possibilidades de progresso, sabe-

se também que as populações e o meio ambiente das áreas atingidas pagaram um

preço alto. Um exemplo disso foi a impossibilidade da população pobre de

conservar suas terras (posses), à medida que elas prometiam sua valorização. Isto é

um dos preços que se paga pelo progresso. Um outro preço é pago pelo meio

ambiente.

A construção da Belém-Brasília foi sem dúvida o principal fator de integração da

região Norte com o restante do país. Porém, sua construção, como foi afirmado anteriormente

ocorreu dentro de um contexto em que as florestas, por exemplo, eram vistas como um

entrave ao progresso. Para Bueno (2003, p. 351) “o surto desenvolvimentista do governo JK

foi acompanhado por uma devastação ecológica sem par na história do Brasil”.

Apesar de naquele momento a questão ambiental não ser vista com preocupação esse

empreendimento deixa seqüelas no ambiente que só atualmente tem se voltado para sua

analise. Isso fica claro na fala do engenheiro Jéferson Bueno, que trabalhou na construção da

rodovia em entrevista cedida a Aquino (1996, p. 95), que relata sobre a inexistência de

medidas que atenuassem os impactos ambientais em decorrência da construção da rodovia.

Page 39: "Colinas do Tocantins: Desenvolvimento e transformações ...

38

“... naquela época não se via assim com clareza que se vê hoje, não só o perigo da

internacionalização da Amazônia, como também não se via o perigo do meio ambiente ser

profundamente atingido”.

Outro fator que pode ser apontado no que diz respeito aos impactos da construção da

rodovia este ligado ao processo de urbanização da região Norte de Goiás. Aquino (1996, p.

108) esse processo de urbanização ocorreu de maneira desequilibrada, pois, apenas uma

estreita faixa de terras cortada pela estrada beneficia-se direta e imediatamente dos resultados

da construção da rodovia. A vida urbana que existia nas margens do rio Tocantins, com o

advento da rodovia apenas transplantou-a das margens do rio para a estrada.

Isso não significa que essas populações ribeirinhas tenham vindo em massa para as

cidades que margeavam a estrada. Muitas delas migravam não apenas para as novas cidades,

mais também para os centros mais desenvolvidos como: Anápolis, Goiânia, Brasília e ate

mesmo São Paulo.

Para Aquino (1996, p. 109): “assim, ao mesmo tempo em que a estrada representou

um canal para viabilizar a ocupação da região, representou também uma válvula de escape

para aqueles que sonhavam em sair do “atraso”, para viver em grandes centros...”.

Mesmo com a abertura da estrada, o surgimento de novas cidades e a reativação de

outras a região Norte de Goiás durante algum tempo permanece ainda carente de infra-

estrutura o que leva muitas pessoas a deixar a região em busca, por exemplo, de educação.

Essa realidade só veria mudar com a divisão e criação do Estado do Tocantins em 1988.

Quanto aos impactos da rodovia nas cidades localizadas a margem direita do rio

Tocantins Prudente (1984 apud AQUINO, 1996, p.110)) afirma:

Localizados à margem direita do rio Tocantins, muitos dos centros iriam

desaparecer, em importância e função quando da abertura da BR-153. Isto porque,

em primeiro lugar, o transporte fluvial perdeu importância e não pode concorrer com

o transporte rodoviário (...), em segundo lugar, não tendo ainda sido construídas

pontes sobre o rio, as cidades ficaram isoladas (...) e parte das funções que exerciam

passaram a ser executadas pelos novos centros.

Page 40: "Colinas do Tocantins: Desenvolvimento e transformações ...

39

E Ainda em relação ao isolamento das cidades que margeavam o rio Tocantins

Cavalcante (1999, p. 43) coloca que: “Há ainda a considerar como insuficiente o próprio

traçado da BR-153, tanto em nível de extensão quanto do ponto de vista geográfico, a qual

por estar situada à margem esquerda do Tocantins deixou praticamente isoladas, todas as

povoações situadas do lado direito desse rio.”

Esse fenômeno não ocorreu somente no norte de Goiás, ele é característico de toda a

Amazônia Legal inclusive do Estado do Amazonas como coloca Witkoski (2007, p. 103):

A partir dos anos 1950 e, principalmente, 1960, a Amazônia passa a ter uma nova

dinâmica, no interior do território nacional, fortemente influenciada pela ação do

Estado, o que acaba rearticulando, obviamente, suas relações com o mundo. Se até

então podíamos afirmar, evocando Leandro Tocantins, que o rio comandava a vida,

no seu novo momento histórico, a vida da Amazônia e do Estado do Amazonas

começará a ser comandada pela estrada.

Em relação à construção da rodovia Belém-Brasília em solo goiano nota-se que

apesar do isolamento em que foi submetida às cidades que estavam à margem direita do rio, a

construção da rodovia Belém-Brasília de fato gerou impulso urbanizador e isso, pode ser

constatado no aumento populacional significativo nas décadas que seguiram da abertura e

pavimentação asfáltica da rodovia.

Para Aquino (1996, p. 111) a rodovia teve sua construção iniciada no final dos anos

50, foi inaugurada em 1960 e teve a pavimentação concluída na metade da década de 70.

Pegando-se o censo de 1950 e o de 1980, percebe-se que a população quase quadruplicou nas

três décadas, passando de 204. 041 habitantes (1950) para 738.668 em (1980).

No período verifica-se o aumento da população urbana em detrimento da população

rural, ou seja, a população urbana torna-se preponderante em relação a rural. Salles (1981

apud, AQUINO, 1996. p.102)) esclarece que os fatores impulsionadores desse incremento

regional, dentre outros, a construção de Brasília no planalto goiano, bem como a abertura de

Page 41: "Colinas do Tocantins: Desenvolvimento e transformações ...

40

estradas. È este último caso representado exatamente pela BR-153 que vai favorecer

diretamente o então Norte de Goiás.

Outro fator importante na guinada da população urbana sobre a rural e verificada na

passagem dos anos 70 e 80. Neste período a população rural e reduzida de 75,3% (1970) para

60,3% em (1980), enquanto a população urbana, no mesmo período, apresentou um vigoroso

crescimento-cerca de 126%, se comparado ao calculo para a população rural. (AJARA,

1991,apud AQUINO, 1996. p 113).

Nos períodos de 1980 a1991 a população manteve um crescimento normal, alterando

apenas com a criação do Estado do Tocantins e a construção de Palmas. Onde a população

passou de 738.668 habitantes (1980) para 920.116 habitantes em (1991).

Outro fator que confirma a Belém-Brasília como uma obra urbanizadora da região é

a comparação feita por Aquino (1996, p. 114) entre as cidades chamadas tradicionais e as

cidades da rodovia.

Número de habitantes do estado do Tocantins em ordem decrescente

Cidades Nº de

Habitantes

População

Rural

População

Urbana

Percentual

rural

Percentual

Urbano

Dianópolis 14.020 5.611 8.409 40,03 % 59,97 %

Arraias 12.899 7.373 5.526 57,16 % 42,84 %

Peixe 12.878 10.387 2.491 80,66 % 19,34 %

Paraná 10.887 8.947 1.940 82,18 % 17,89 %

Natividade 10.339 5.742 4.597 55,54 % 44,46 %

Totais 61.023 38.060 22.936 62,37 % 37,63 %

Tabela 1 - As cinco maiores cidades tradicionais do Estado do Tocantins

FONTE: IBGE. Censo de 1991 (Sinopse)

Page 42: "Colinas do Tocantins: Desenvolvimento e transformações ...

41

Número de habitantes do estado do Tocantins em ordem decrescente

Cidades Nº de

Habitantes

População

Rural

População

Urbana

Percentual

rural

Percentual

Urbano

Araguaína 103.396 18.699 84.697 18,08 % 81,29 %

Gurupi 56.741 4.232 52.509 7,45 % 92,55 %

Paraíso (TO) 28.840 4.552 24.288 15,78 % 84,22 %

Colinas 21.022 1.957 19.065 9,30 % 90,70 %

Guarai 20.829 6.249 14.580 30,01 % 69,99 %

Totais 230.828 35.689 195.139 15,46 % 84,54 %

Tabela 2 - As cinco maiores cidades da rodovia Belém-Brasília no Estado do Tocantins

FONTE: IBGE. Censo de 1991 (Sinopse)

De acordo com a tabela as cidades tradicionais, analisando as cinco maiores

(Dianópolis, Arraias, Peixe, Paranã Natividade) juntas somam um total de 61.023 pessoas,

sendo que deste total. 38.060 (62,37%) a maioria, vive na zona rural, contra apenas 22.963

(37,63%) residentes na zona urbana.

Enquanto as cinco maiores cidades da rodovia, somam juntas 230.828 habitantes.

Uma população quatro vezes maior que as das cidades tradicionais. Neste último grupo

(Araguaína, Gurupi, Paraíso do Tocantins Colinas e Guarai) a relação rural-urbano se inverte.

Aqui a população urbana soma 195.139 habitantes (84,54%) contra apenas 35.689 habitantes

da zona rural, ou seja, apenas (15,46%). A amostragem segundo Aquino (1996, p. 118) leva a

concluir que “a população tocantinense hoje (1996) é folgadamente uma população urbana.”.

Enfim, a construção da rodovia Belém-Brasília não só tirou do isolamento a região

do Antigo Norte Goiano, como também foi responsável pela urbanização da região. Entre os

principais núcleos urbanos que surgiram com a construção da rodovia está Colinas do

Tocantins, que teve sua origem diretamente ligada ao advento da rodovia. Assunto que iremos

tratar com mais ênfase nos próximos capítulos.

Page 43: "Colinas do Tocantins: Desenvolvimento e transformações ...

42

3. O MUNICÍPIO DE COLINAS DO TOCANTINS

Neste capítulo será caracterizada a região onde se localiza a cidade de Colinas do

Tocantins. Para enriquecimento das informações pesquisadas procedeu-se à aplicação de

questionários, registros fotográficos, e entrevista oral , bem como utilização das fontes

bibliográficas para o levantamento da produção teórica, e ainda análise de dados oriundos de

levantamentos realizados na cidade de Colinas do Tocantins. A história oral ou historia de

vida foi utilizada nesta pesquisa como recurso para o resgate da memória dos grupos de

moradores pioneiros.

Técnica de Pesquisa Instrumentos de Coletas de Dados População- Alvo

.Entrevista semi-

estruturada

História Oral

Formulário com questões

abertas e fechadas

Registro fonográfico

Coleta de fotografias

Moradores

pioneiros.

Comunidade

Tabela 3 - Técnica e Instrumentos de Pesquisa

Segundo Lakatos (2007, p. 107), as atuais formas de vida social, as instituições e os

costumes têm origem no passado, é importante pesquisar suas raízes, para compreender sua

natureza e função. Assim, o método histórico consiste em investigar acontecimentos,

processos e instituições do passado para verificar a sua influência na sociedade de hoje. O

método histórico possibilita a relação do historiador e a sua ferramenta de trabalho, o

documento histórico.

Ainda para Lakatos (2007), o método histórico preenche os vazios dos fatos e

acontecimentos, apoiando-se em um tempo, mesmo que artificialmente reconstruído, que

assegura a percepção da continuidade e do entrelaçamento dos fenômenos.

Page 44: "Colinas do Tocantins: Desenvolvimento e transformações ...

43

“... Ao olharmos as encostas vazias, com profundas voçorocas, das velhas regiões

cafeeiras; os campos arredondados da Bretanha, com suas elipses em torno de um

castelo com caminhos que vão dar no bosque; as vastas florestas de castanheiras da

Amazônia; o fantástico perfil das megalópoles ou os campos de cereais do Meio-

Oeste norte- americano pontilhado de granjas vê sempre o resultado da ação do

homem.” (FLAMARION e VAINFAS, 2003. p 203).

Ainda para os autores, desde o final do século XVIII há uma sólida tendência em se

pensar a natureza em oposição ao homem ou à “cultura”. O idealismo e o romantismo alemão,

no século XIX, forçaram uma distância absoluta entre Natur e Kultur. Tal visão contaminou

fortemente a história, como as demais ciências sociais, de forma a estabelecer uma

periodização em que ambos os termos aparecem como pontas opostas de um processo.

É necessário, pois, analisar as transformações sofridas pela paisagem como resultado

da ação humana para que possamos superar a visão tradicional das ciências humanas de

considerar as forças naturais como fator externo ao processo histórico.

A proposta de se trabalhar fontes históricas não-verbais não é recente remonta ao

século XIX, onde o historiador francês Fustel de Coulanges (1985) afirmava que “onde o

homem passou deixou marca de sua vida e inteligência, ai está a História.” (apud

FLAMARION e VAINFAS, 2003. p 401)

Dessa forma a noção de documento histórico ampliou todos os vestígios do passado,

e assim, são agora considerados fontes para o historiador a pintura, cinema, fotografia etc.

Partindo deste principio, o presente trabalho se embasara no Método Histórico tendo

como fonte os registros fotográficos, documentos, entrevista com os pioneiros e comunidade

local, bem como utilização das fontes bibliográficas para o levantamento da produção teórica

acerca dos assuntos pertinentes a nossa linha de pesquisa.

Para a realização da pesquisa foi utilizada no primeiro momento a pesquisa

bibliográfica com autores relacionados ao assunto. Na década de 60 tem inicio a construção

da rodovia que visava ligar o norte do país ao sul/sudoeste. Com o advento da rodovia, as

Page 45: "Colinas do Tocantins: Desenvolvimento e transformações ...

44

populações pobres da região fixaram-se às margens da rodovia. Essa população, oriunda de

diversas partes da região norte e nordeste, formam o grupo considerado pioneiros, pois foram

aqueles que fundaram a cidade de Colinas do Tocantins, dando inicio ao processo de

urbanização da cidade (SILVA e VINHAL, 2008). Este grupo será objeto de entrevista oral

considerando o ambiente natural, ou seja, o espaço de vivencia do sujeito da pesquisa.

A partir da década de 70 tem inicio o segundo ciclo de migração humana para a

região, que forma, segundo a história oral observada pela pesquisadora, o grupo de moradores

locais que contribuirão respondendo ao questionário proposto.

Observando o processo de evolução urbana verifica-se um terceiro ciclo de migração

para a região da cidade de Colinas do Tocantins, já na década de 80 e 90, mas que não será

objeto desta pesquisa, uma vez que o processo de ocupação do espaço e a construção da

rodovia já se consolidaram. Este grupo é formado pelos moradores da cidade que chegaram

no último decênio do século XX.

Dessa forma, SILVA e VINHAL (2008) observam a separação dos grupos que

formaram o núcleo urbano da cidade “antiga”, ou seja, as populações que originaram a cidade

enquanto aglomerado urbano e aquelas que possibilitaram sua emergência como cidade. Para

esta pesquisa aqueles são os pioneiros enquanto este serão os moradores locais.

O Brasil possui 67% da totalidade da Floresta Amazônica, cujas características

gerais são a vasta bacia hidrográfica e a densa cobertura florestal. Politicamente conhecida

como Amazônia Legal, esta região ocupa os territórios dos estados da região Norte do país

(Acre, Amapá, Amazonas, Pará, Rondônia, Roraima e Tocantins), além dos estados do

Maranhão e Mato-Grosso.

O Estado do Tocantins possui área de 277.620,9 km². Sua população é de

1.332.441(2006), com uma densidade de 4,8 hab./km². O clima predominante é o tropical. O

Page 46: "Colinas do Tocantins: Desenvolvimento e transformações ...

45

ecossistema original do estado do Tocantins e de florestas pluviais, floresta estacional e

cerrados.

Figura 2 – Área urbana do município de Colinas do Tocantins.

FONTE: www.google.com.br. 7

O município de Colinas do Tocantins, localizado na Amazônia Legal, foi criado por

força da lei n° 7.707/63, aprovada pela Assembléia Legislativa de Goiás e sancionada pelo

então governador Mauro Borges Teixeira.

O município de Colinas do Tocantins8, com 843,84 km² e densidade demográfica de

30 hab/km², situam-se na Mesoregião Ocidental do Tocantins, Micro-região de Araguaína, de

acordo com a regionalização do Brasil realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e

Estatística – IBGE (2006). Seu território está localizado entre os paralelos 7º S e 9º S. Limita-

7 A imagem documental mostra à cidade de Colinas do Tocantins dando ênfase a rodovia 153. A construção da

rodovia 153 deu origem ao município de Colinas do Tocantins. 8 Dados colhidos do Plano Diretor da Cidade de Colinas do Tocantins, 2007.

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46

se ao norte com os municípios de Nova Olinda e Bandeirantes do Tocantins; a leste com o

município de Palmeirantes; ao sul com Brasilândia e, a oeste, com o município de

Bandeirantes do Tocantins.

“A sede municipal está localizada nas coordenadas geográficas de 8º03‟33” de

latitude sul e 48º28‟30” de longitude oeste, a uma altitude de 227m acima do nível do mar. A

distância rodoviária até Palmas, capital do Estado, é de 274 km.

O acesso ao Município mais utilizado, a partir de Palmas, é feito pelas rodovias TO-

010 até Lajeado, atravessando o rio Tocantins por balsa, seguindo até Miracema do Tocantins,

daí até Miranorte pela TO-342 e prosseguindo pela BR-153 até Colinas do Tocantins,

passando por Rio dos Bois, Fortaleza do Tabocão, Guaraí, Presidente Kennedy e Brasilândia

do Tocantins. Outro acesso é possível, mas com percurso um pouco mais longo, mas sem

atravessar por balsa o rio Tocantins, através da TO-080 até Paraíso do Tocantins e daí até

Colinas do Tocantins pela BR-153. A imagem seguinte (figura 3) pode ilustrar a localização

geográfica do município de Colinas do Tocantins.

Page 48: "Colinas do Tocantins: Desenvolvimento e transformações ...

47

Figura 3 – Localização geográfica do estado do Tocantins no Brasil e na América do Sul, de Colinas do

Tocantins no estado de Tocantins e imagem ilustrativa do município.

A região de Colinas do Tocantins possui uma densidade demográfica maior do que a

média estadual, 5,30 hab/km² e 4,70 hab/km², respectivamente. A densidade demográfica do

município, 33,16 hab/km², é maior do que as médias regionais e do Estado.

Fonte: SEPLAN – TO, 2005 Fonte: IBGE, 2002

Page 49: "Colinas do Tocantins: Desenvolvimento e transformações ...

48

Segundo classificação de Seplan (2005), o município de Colinas do Tocantins está

inserido em domínio de clima semi-úmido com moderada deficiência hídrica. A precipitação

média anual situa-se entre 1800 e 1900 mm, registrando leve decréscimo na extremidade

oriental do município, onde varia de 1700 e 1800 mm (Mapa – Pré cipitação Média Anual).

O período chuvoso, de novembro a abril, concentra mais de 80% das precipitações

ocorridas durante todo o ano e período seco e entre junho e agosto . A temperatura média

anual situa-se em torno de 30°C, sendo a mínima de 18°C em junho/julho e a máxima

atingindo os 35°C, entre agosto e dezembro.

A vegetação e predominantemente de cerrado com ocorrência de matas secas em

solos de media fertilidade, com arvores das espécies jatobá, sucupira, ipê, angico etc. Os solos

predominam os latossolos vermelho-amarelos possuem textura media e argilosa, relevo plano

e suavemente ondulado como ocorrem nos cerrados e cerradões. Ligeiramente ácidos, com

pH entre 5,2 e 5,8, geralmente deficiente em cálcio, magnésio e fósforo, exigindo corretivos e

nutrientes.

Recursos Hídricos- o município encontra-se na margem direita do rio Capivara, entre

os seus afluentes os ribeirões Capivarinha e Marajá ao sul e o Gameleira ao norte. O rio

capivara, afluente do rio Tocantins pela margem esquerda, tem seu nível de água reduzido nos

períodos seco (julho /agosto).

Page 50: "Colinas do Tocantins: Desenvolvimento e transformações ...

49

4. COLINAS DO TOCANTINS: CRIAÇÃO E DESENVOLVIMENTO

“... Colinas surgiu com a criação da Belém-Brasília.Toda cidade que nasce ao lado,

à margem de uma estrada tem aquela influência . Pessoal fala, vai atravessar uma

estrada, vai ser criada uma pequena cidade, um povoado, aí o pessoal vai, todo

mundo quer vir, né... Eu acho que não fosse a estrada nada tinha acontecido, porque

quem vinha fazer uma cidade num lugar desses, sem estrada.

Então, a mãe, a cabeça de tudo foi a estrada. Porque quando abria a estrada já

passava os carros. A pessoa já viajava para Araguaína, com a estrada muito ruim,

mas já ia... ”(Neusa Rodrigues de Miranda, moradora pioneira em entrevista a Silva

e Vinhal).

No contexto da abertura da BR-153, nasce a cidade de Colinas do Tocantins em 21

de abril de1960, recebendo migrantes das regiões vizinhas, oriundos de diferentes regiões do

Brasil, acentuadamente das regiões periféricas da região norte do estado de Goiás,

posteriormente, Estado do Tocantins.

Esse processo migratório tem raízes no processo de expansão das frentes agrícolas do

final do século XIX e inicio do século XX, mas somente agora se pode constatar os efeitos

danosos desse processo de interiorização preconizados pelo poder público federal que tinha

como pano de fundo a ocupação do interior do pais.

De acordo com Silva e Vinhal (2008, p. 45) falar sobre a origem de Colinas implica,

mesmo que brevemente tecermos algumas considerações sobre o município de Tupiratins e

sobre o garimpo Deserto. Colinas foi município de Tupiratins até o inicio dos anos 60, quando

alcança sua autonomia administrativa. A evidencia dado ao garimpo Deserto dar-se pelo fato

de ter sido dessa localidade que vieram os primeiros moradores de colinas do Tocantins.

Tupiratins surgiu no inicio dos anos 50 às margens do rio Tocantins. Nesse período

como a maioria dos povoados do Antigo Norte Goiano que margeavam os rios, servia como

ponto de passagem no rio Tocantins, que segundo Silva e Vinhal (2008,46) “... era utilizado

por viajantes que se dirigiam à cidade de Balsas, no Maranhão, para aquisição de sal,

Page 51: "Colinas do Tocantins: Desenvolvimento e transformações ...

50

necessário ao abastecimento de uma vasta área no norte de Goiás e parada obrigatória de

embarcações que navegavam pelo Tocantins.”

Elevada à condição de município Tupiratins torna-se referência para a maioria da

população que residia nas áreas rurais do município, como se observa no depoimento de

Neusa Rodrigues de Miranda, pioneira da cidade em entrevista cedida a Silva e Vinhal (2008,

p. 47):

“... Tudo era Tupiratins. Era onde se fazia um registro, um título de eleitor. Era a

cidadezinha que tinha mais perto, a melhor que tinha. Era a referência. Mesmo que

não tivesse banco, banco mão tinha, mais pelo menos a escola, tirar documentos,

tudo era lá, em Tupiratins...”

Outros fatores contribuíram para que Tupiratins se tornasse referência para a

população da região. Entre eles já citado anteriormente se da pelo fato da cidade estar ligada a

um porto, às margens do rio Tocantins, ou seja local de escoamento de produtos e, uma das

únicas via de comunicação da população local com outras regiões.

As dificuldades nas comunicações não era característica apenas da região, mas de

todo o antigo norte goiano a via fluvial era o meio mais importante visto que as vias terrestres

quando existiam, eram picadas que permitiam o trafego apenas de animais.

O Garimpo Deserto compartilhava da mesma realidade, mas por estar distante do rio

sofria com mais intensidade os problemas de contato com centros mais próximos. Deserto

estava localizado a uma distancia razoável da cidade de Tupiratins, cerca de 70

quilômetros.(esse garimpo estava localizado a pequena distancia do local onde hoje seta

localizada a cidade de Colinas do Tocantins) Que segundo Silva e Vinhal (2008, p. 51): “...

essa distancia era vencida sempre com a ajuda de cavalos e mulas. Meio de transportes por

excelência, esses animais eram responsáveis tanto pelo transporte de pessoas como de cargas,

entre leves e pesadas .”

A população do Deserto não tinha que lidar somente com as dificuldades nas

comunicações e isolamento, convivia ainda com possibilidade do esgotamento do garimpo,

Page 52: "Colinas do Tocantins: Desenvolvimento e transformações ...

51

que os deixavam sem alternativas de sobrevivência, uma vez que as terras da região não eram

propícias à agricultura.

O que levava a população estar a procura de novas alternativas. Mesmo porque as

pessoas que moravam no local eram em sua maioria garimpeiros, que estavam sempre à

procura de outro lugar para se estabelecer.

4.1 O povoado de Colinas do Tocantins

Desenhar a cidades dos sonhos é fácil, reconstruir vida requer imaginação.

Jane Jacobs

A rodovia Belém-Brasília anunciava através de suas picadas sua chegada à região

Norte do Estado. O impacto da noticia gera especulações em torno de seu traçado, nada mais

natural para uma região marcada pelo isolamento e dificuldades nas vias de comunicações.

No primeiro momento a rodovia passaria na região do Deserto, mais por fatores naturais o

traçado da estrada foi alterado. Como esclarece o senhor Chico Chaves, morador pioneiro de

Colinas, em entrevista cedida a Silva e Vinhal (2008, p. 54-55):

“... No primeiro plano ela não vinha passar aqui não (Colinas), ela ia ou mais pela

beirada dos rios ou mais beirando a serra...”

“... nós (moradores do povoado do Deserto) esperava que a estrada fosse passar lá

(no Deserto) (...) De fato, a primeira picada passou lá mais tinha muita areia e o

engenheiro veio e tirou...”

A mudança no traçado da rodovia levou os moradores do Deserto em especial seu

Martinho Pereira Rodrigues a buscar ajuda para fundar às margens da estrada um povoado.

A fundação do novo povoado às margens da rodovia, recebe de imediato apoio das

lideranças políticas de Tupiratins. O senhor Martinho é recebido pelo senhor Elias Lopes,

Page 53: "Colinas do Tocantins: Desenvolvimento e transformações ...

52

liderança política local que de imediato relata ao então prefeito do município o senhor José

Cirilo de Araújo a intenção do senhor Martinho.

Silva e Vinhal (2008, p. 56-57) esclarecem: “... acertada a idéia no sentido de fundar

um povoado às margens da rodovia Belém-Brasília, o passo seguinte era oficializar a medida

e obter apoio das populações que viviam nas áreas próximas ao local (...) os moradores do

Deserto foram os primeiros a “avaliar” a decisão tomada por aquelas lideranças...”

Após a frustração da mudança no traçado da rodovia, a população do Deserto recebe

de bom grado a notícia do novo povoado. Alguns fatores contribuíram para que eles

aceitassem sem muito questionar a proposta de criação do novo povoado.

Primeiramente, o garimpo do deserto estava completamente esgotado, segundo, as

terras em volta do povoado não eram de boa qualidade, fator que não animava os que tinham

interesse em viver da agricultura e, finalmente, com a mudança no traçado da rodovia, que

tirava da localidade do Deserto qualquer possibilidade de crescimento.

O senhor Chico Chaves deixa isso claro quando coloca que: “Com a estrada passar

pra cá (na direção de Colinas) dizíamos: O que vamos fazer agora? Agora vamos pra beira da

estrada, lá e que vamos arranjar algo melhor.”

Tanto as lideranças políticas de Tupiratins quanto a população do Deserto percebiam

a importância da rodovia para a região. Pautada pelas dificuldades nas comunicações e pelo

relativo abandono em relação a outras regiões, a rodovia representava naquele momento o fim

do isolamento e a reativação da economia local.

Em abril de 1960, parte uma caravana de Tupuratins que após articulação do então

prefeito José Cirilo segue em direção ao local onde se daria a fundação do novo povoado.

Araújo (1975): “A caravana deixou Tupiratins em 20 de Abril de 1960, cavalgou o dia inteiro

e, como planejado, acabou pernoitando no povoado do Deserto”. (Apud,Silva e Vinhal, 2008,

p. 57).

Page 54: "Colinas do Tocantins: Desenvolvimento e transformações ...

53

Na madrugada de 21 de abril, agora a caravana que já contava com mais de 30

pessoas (após adesão de alguns moradores do Deserto) seguem em direção ao local que

segundo o senhor Martinho Rodrigues havia indicado que na época classificou o lugar como:

“Muito bonito, muito alto, provavelmente uma nova colina.”

Segundo Araújo (apud, Silva e Vinhal, p.58) “... Definido o local foi lançada a pedra

fundamental do povoado, que foi batizada de Colinas de Goiás, às oito horas da manha”.

Ao amanhecer de 21 de abril de1960, como havia sido planejado, surge Colinas de

Goiás. Cidade idealizada por aqueles que buscavam as margens da rodovia, construir uma

vida nova. Carregada de simbolismo, Colinas dá seus primeiros passos na constituição de um

povoado.

Para Silva e Vinhal (2008, p.59) O lançamento da pedra fundamental do povoado de

colinas ter ocorrido no dia 21 de abril de 1960, o mesmo no qual o presidente Juscelino

Kubitschek inaugurava Brasília, “não foi obra do acaso e muito menos uma coincidência.

Tudo indica que houve intencionalidade, por parte das lideranças políticas que fundaram o

povoado”.

A intencionalidade do fato fica clara, anos depois, quando José Cirilo (1975) afirma:

“há (...) fatores de suma importância: (...) foi o dia da morte de nosso grande herói

“Tiradentes”, para nossa emancipação e (...) porque foi o dia da inauguração de

Brasília, capital federal de nosso país.” (Apud, Silva e Vinhal, 2008.p. 60).

Silva e Vinhal (2008, p. 61) esclarecem: “entre os idealizadores do povoado, era

forte a idéia da importância para Colinas de uma referencia, de ter no que se inspirar, se

espelhar como cidade. A capital federal cumpriu então, em relação à Colinas, o papel de

“musa inspiradora”. O simbolismo não esta restrito apenas na escolha da data de fundação do

povoado, no local de fundação foi construída uma praça que leva a denominação de 21 de

Page 55: "Colinas do Tocantins: Desenvolvimento e transformações ...

54

abril. Outro exemplo está entre a população mais antiga que costuma chamar a cidade de

“irmã gêmea de Brasília”.

Em 02 de abril de 1962, a Lei Municipal nº 26, da mesma data do município de

Tupiratins, Estado de Goiás, o povoado de Nova Colina foi elevado à categoria de

Vila/Distrito, com o nome de Colinas de Goiás, por força de Lei nº 4.707, de 23 de outubro de

1963, Colinas de Goiás é elevada a município autônomo, com o mesmo topônimo, sendo

solenemente instalado em 1º de Janeiro de 1964. Com a criação do Estado do Tocantins, a

Assembléia Legislativa, por Disposição do Decreto Legislativo nº 01/89, no Artigo 4º, o

município de Colinas de Goiás, recebe a modificação no topônimo para Colinas do Tocantins.

Page 56: "Colinas do Tocantins: Desenvolvimento e transformações ...

55

Figura 4 – Lei Nº 012/89 Dispõe sobre a mudança do nome do município

FONTE: Câmara Municipal de Colinas do Tocantins

Page 57: "Colinas do Tocantins: Desenvolvimento e transformações ...

56

4.2 Fluxos Migratórios

O fluxo migratório para a região onde hoje se encontra a cidade de Colinas do

Tocantins deu-se após o lançamento da pedra fundamental em 21 de abril de 1960.

Inicialmente o povoado recebe populações que vinham de regiões vizinhas, principalmente da

cidade de Tupiratins bem como das áreas rurais do município e do garimpo Deserto. Eram

atraídos pela abertura da rodovia Belém-Brasília e pelas facilidades na distribuição de lotes,

que se configurou como uma estratégia do governo municipal de Tupiratins no sentido de

povoar o novo Distrito.

Essas populações deixam suas localidades para desenvolver pequenas atividades

comerciais ligadas ao movimento de trabalhadores envolvidos com a abertura da rodovia.

Esse primeiro fluxo tem inicio em 1960 e dura até 1965 aproximadamente. Dados do IBGE

dão conta que a população da cidade de Colinas na década de 1960 era no total de 1200

habitantes. Esses dados não fazem referencia a população rural e nem a porcentagem entre

homens e mulheres.

Esse processo de migração leva a estagnação à cidade de Tupiratins e ao completo

desaparecimento do povoado Deserto. Esse fenômeno acontece em quase todos os núcleos

urbanos do norte goiano que se encontravam a margem direita dos rios. Conforme a tabela 3.

Densidade Demográfica do município de Colinas - 10.72 Hab./Km2

População Urbana População Rural:

Homens: 2.246 Homens: 2.083

Mulheres: 2.272 Mulheres: 1.817

Total: 53.67% Total: 46.33%

Tabela 4 - População da cidade de Colinas na década de 1970.

FONTE: IBGE. Censo 1970.

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57

A partir de 1965, o fluxo migratório para a cidade de Colinas do Tocantins conhece

um aumento significativo, que pode ser percebido pela análise da tabela acima. Esta mostra

que a população da cidade de Colinas alcança em 1970 o total de 8.418 Hab. Em comparação

com a população residente em Colinas em 1960, que era de 1.200 Hab.

Esse aumento populacional considerável está relacionado com alguns fatores como a

emancipação do povoado de Colinas em 23 de outubro de 1963, fato que repercutiu numa

certa melhoria da infra-estrutura da cidade e, consequentemente, a oferta de trabalho e novas

oportunidades comerciais em detrimento das cidades localizadas as margens dos rios. A

procura por educação também se mostra como dado relevante para o aumento populacional

nesse período.

Para Silva e Vinhal (2008, p. 75) outro fator que pode ser mencionado como

elemento de migração neste período foi à busca pelas terras da região de Colinas, que se

caracterizava como terras devolutas, de boa qualidade e quase sempre adquiridas a baixo

preço. Isso atraiu migrante tanto da região norte quanto do sul de Goiás.

A presença de migrantes de outras regiões do país só pode ser identificada a partir do

estabelecimento do 1º Cartório de Registro Civil, em abril de 1965. Deslocou-se para cá gente

do sul de Goiás e de estados do nordeste brasileiro como Maranhão, Piauí, Bahia entre outros.

Dados colhidos no 1º Cartório de Registro Civil mostram que na década de 1960 a

migração para a região ocorreu com maior intensidade. O Estado Maranhão com 30% seguido

por Goiás com 25%, Piauí com 20%, Minas Gerais com 15% e Bahia com 10%. A partir da

década de 1980 pode-se verificar a chegada de migrantes de outras regiões do Brasil como:

São Paulo, Pernambuco e recentemente do Paraná. Esse último caracteriza-se pela abertura da

nova fronteira agrícola relacionada ao cultivo da soja.

Segundo Madruga (2009, p.15) o avanço da fronteira agrícola brasileira sobre áreas

da Amazônia de florestas e de cerrado, foi intensificada a partir dos anos oitenta, este rico

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58

ecossistema esta sendo descaracterizado pelo desflorestamento, para dar lugar à exploração

intensiva iniciada com a pecuária, seguido da agricultura.

1980 – CENSO DEMOGRÁFICO

População Urbana População rural

Homens: 6.931 Homens: 2.189

Mulheres: 7.191 Mulheres: 1.861

Total: 77.71% Total: 22.29%

Tabela 5 - População da cidade de Colinas na década de 1980

FONTE: IBGE – CENSO 1980

Na década de 1980, o crescimento populacional e menor em relação à década de

1970, porém nesse período a relação entre urbano e rural se inverteu completamente. Segundo

Silva e Vinhal (2008, p. 79-78) nos censos seguintes, 1991, 1996 e 2000, a tendência se

manteve e até se aprofundou. Na virada do século XX, a população urbana do município de

Colinas alcançava a impressionante marca de 95% da população local.

Esse fato se explica Segundo Silva e Vinhal (2008, p. 80) pelo fato de Colinas ter

vivido um intenso processo de urbanização onde o urbano supera o rural. Esse processo não

foi isolado, toda a região do antigo norte de Goiás conheceu esse impulso urbano em

decorrência da abertura da rodovia Belém-Brasília.

Page 60: "Colinas do Tocantins: Desenvolvimento e transformações ...

59

1991-2007 – CENSO DEMOGRÁFICO

Ano População % Crescimento

1991 21.022 -

1996 24.474 16,42%

2000 25.307 3,40%

2001 25.834 2,08%

2002 26.202 1,42%

2003 26.620 1,60%

2004 27.207 2,21%

2005 27.984 2,86%

2007 30.000 7,20%

Tabela 6 - População da cidade de Colinas nas décadas de 1991 a 2007.

FONTE: IBGE –CENSO 2006

O crescimento populacional da cidade de Colinas apresenta a partir da década de

1990 um crescimento menor em relação a décadas anteriores, porém ele se mantém constante.

Apresentando a continuidade do urbano sobre o rural, características de praticamente todas as

cidades que surgiram com a construção da rodovia Belém-Brasília.

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60

5 COLINAS: PAISAGEMS EM TRANSFORMAÇÃO

Este capítulo é analisado por imagens fotográficas a transformação na paisagem da

cidade de Colinas do Tocantins, decorrente do seu povoamento.

“... Materialização da experiência vivida, doce lembrança do passado, memórias de

uma trajetória de vida, flagrantes sensacionais, ou ainda, mensagem codificada em

signos. Tudo isso ou nada disso a fotografia pode ser”. Ana Mauad

A proposta de se trabalhar fontes históricas não-verbais não é recente remonta ao

século XIX, onde o historiador francês Fustel de Coulanges (1985) afirmava que “onde o

homem passou deixou marca de sua vida e inteligência, ai está a História.” (apud

FLAMARION e VAINFAS, 2003. p 401).

Durante um longo período as fontes não-verbais não demonstraram seu peso como

um instrumento para o estudo do homem e o meio ambiente. Diante de uma máxima: “a

história se faz com textos” as fontes não verbais só passaram a ter peso a partir do surgimento

das escolas do annales e de seus fundadores Bloch e Febvre, os mesmos conclamam os

historiadores a saírem dos gabinetes e farejarem, tal como o ogre da lenda,” a carne humana.”

Para Flamarion e Mauad (apud FLAMARION e VAINFAS, p. 402) “de lá para cá,

tanto a noção de documento quanto a de texto continuaram a ampliar-se”. Agora, todos os

vestígios do passado são considerados matéria para o historiador. Dessa forma, novos textos,

tais como a pintura, o cinema, a fotografia etc., foram incluídos no elenco de fontes dignas de

fazer parte e passíveis de leitura por parte do historiador.

Os sistemas de signos não verbais são todos aqueles que se serve de códigos

fundados sobre objetos independentes da existência de sons articulados. Portanto, são

definidos em primeira instância pela falta de linguagem verbal e por uma independência

Page 62: "Colinas do Tocantins: Desenvolvimento e transformações ...

61

comunicativa em relação a ela, como explica Rossi-Landi: “Não-linguísticos são os

comportamentos significantes ou os códigos constituídos por objetos produzidos pelo homem,

ou códigos que de um modo ou de outro existem na natureza”. (MAUAD, apud

FLAMARION e VAINFAS, p. 402,).

É indiscutível a importância da fotografia como marca cultural de uma época não só

pelo passado ao qual ela nos remete, mas também, e principalmente, pelo passado que ela traz

à tona. Um passado que revela, através do olhar fotográfico, um tempo e um espaço que

fazem sentido. Um sentido individual que envolve a escolha efetivamente realizada e um

coletivo que remete o sujeito a sua época. A fotografia, assim compreendida, deixa de ser uma

imagem retida no tempo para se tornar uma mensagem que se processa através do tempo.

(MAUAD, 1990, p.).

A imagem fotográfica enquanto documento revela sinais do passado que as fontes

verbais jamais dariam conta. Segundo Mauad (MAUAD, apud FLAMARION e VAINFAS, p.

402,) “... Neste sentido, a imagem fotográfica seria tomada como índice de uma época,

revelando riquezas de detalhes, aspectos da arquitetura, indumentária, formas de trabalho,

locais de produção, elementos de infra-estrutura urbana tais como tipo de iluminação,

fornecimento de água, obras públicas, redes viárias etc.; ou ainda, se a imagem for rural, tipo

de mão-de-obra, meios de produção, instalações diversas...”.

A fotografia enquanto documento histórico é uma ferramenta de suma importância

para o historiador. Ela pode nos revelar momentos únicos de uma sociedade, seus valores, sua

relação com o ambiente enfim, toda sua dinâmica.

A cidade de Colinas do Tocantins como a maioria das cidades tocantinenses que

nasceram às margens da BR 153, apresenta uma significativa transformação no ambiente em

decorrência da ocupação do espaço dentro de um projeto desenvolvimentista de ocupação.

Essa ocupação dada às características do projeto se apresenta de forma desordenada que

Page 63: "Colinas do Tocantins: Desenvolvimento e transformações ...

62

atualmente se coloca como um problema para o município em questão. Diante do fato

analisaremos tais problemas através da transformação da paisagem pela ação humana.

A disciplina de História das paisagens e considerada como um campo de estudo

ainda novo e frágil. Que coloca o historiador diante de um dilema comum: como usar novos

métodos? Porem de acordo com Teixeira Silva (2003, p. 203). “... a história das paisagens e

um campo antigo, mais antigo ao menos do que a história social ou a historia demográfica.”

Para Flamarion e Vainfas ( 2003, p. 204). Desde o final do século XVIII há uma

sólida tendência em se pensar a natureza em oposição ao homem ou à “cultura”. O idealismo

e o romantismo alemão, no século XIX, forçaram uma distancia absoluta entre Natur e Kultur.

Tal visão contaminou fortemente a historia, como as demais ciências sociais, de

forma a estabelecer uma periodização em que ambos os termos aparecem como pontas

opostas de um processo. Porém e necessário, pois, analisar as transformações sofridas pela

paisagem, como resultado da ação humana para que seja possível superar a visão tradicional

das ciências humanas de considerar as forças naturais como fator externo ao processo

histórico.

Silva e Vinhal (2008) explicam que a área na qual foi lançada a pedra fundamental

do povoado de Colinas de Goiás, (atual Colinas do Tocantins) em abril de 1960, não era

completamente desabitada. Apontam à presença, desde o início dos anos 50, em áreas

próximas, de alguns fazendeiros e suas famílias, como era o caso dos senhores Manoel e

Lourival Camilo (SILVA e VINHAL, 2008. p. 58-59).

Anterior a ocupação de povos não-indígenas a região próxima onde hoje esta

localizada a cidade de Colinas do Tocantins era habitada pelos Xavantes que de acordo com

Giraldin (2002, p. 115):

“... Entre os rios Araguaia e Tocantins, na região dos atuais municípios de Aliança,

Crixás, Fátima, Cristalândia, Paraíso, Guaraí, estendendo-se até próximo à atual

cidade de Colinas do Tocantins, habitavam os Xavante. Este é um povo também

Page 64: "Colinas do Tocantins: Desenvolvimento e transformações ...

63

falante de uma variação dialetal (o Xavante) da língua Akwen, tronco lingüístico

Macro-Jê.

Com base nessas informações é possível dizer que a paisagem do local que

futuramente se tornaria a cidade de Colinas não era intocada, e justificada a presença de povos

indígenas e posteriormente de povos não-indígenas que para garantir a sobrevivência se

valiam da agricultura de produtos essenciais e da criação de gado. Embora fossem praticadas

visando à subsistência, essas práticas resultavam em impactos sobre o meio ambiente e,

consequentemente, sobre a paisagem original da região.

Santos (2006, p. 103) define paisagem como sendo “... um conjunto de forma que,

num dado momento, exprime as heranças que representam as sucessivas relações localizadas

entre homem e natureza.”. a paisagem é uma pequena parte da configuração territorial ou

configuração geográfica, exatamente a parte que pode ser apreendida com um olhar. Existem

varias formas de paisagem, como cada um observa e percebe a paisagem e que vai dar a ela

sua caracterização.

A região onde hoje esta localizada a cidade de Colinas tem como vegetação

predominante o cerrado com ocorrência de matas secas em solos de media fertilidade, com

arvores das espécies jatobá, sucupira, ipê, angico e outras espécies.

O município encontra-se na margem direita do rio Capivara, entre os seus afluentes

os ribeirões Capivarinha e Marajá ao sul e o Gameleira ao norte. Estes fatores certamente

contribuíram para a fixação não só dos povos indígenas que se estabeleceram nas

proximidades da região como dos primeiros moradores que ali se estabeleceram.

A relação do homem com o ambiente remonta ao surgimento da humanidade onde o

espaço físico foi determinante para a fixação das primeiras comunidades e conseqüentemente

a transformação do mesmo.

Page 65: "Colinas do Tocantins: Desenvolvimento e transformações ...

64

O senhor Amadeus Sousa morador pioneiro e componente da caravana, em entrevista

cedida a Silva e Vinhal (2008, p. 58) caracteriza o local como:

“(...) o lugar muito, muito bonito. Mas resolvemos atravessar o (córrego) Marajá,

mais à frente, ai nos veio. Quando nos chega aqui, bem ali onde é a Praça 21 de

abril, o planalto era muito bonito. Você olhava assim e via um lugar plano e limpo

(...) ai decidiu-se: é aqui que nos vamos fazer...”

Porem Sene (2004, p.120) adverte, „... a observação da paisagem é insuficiente para

explicar a relação homem natureza. “Temos de ir alem da aparência e apreender a essência

dessa relação: o espaço geográfico.”

A paisagem da cidade de Colinas do Tocantins, só conhecerá mudanças

significativas com a fundação do povoado e a intensa migração de pessoas para a cidade esse

fato será percebido com maior intensidade a partir da década 1970. A década de 1960 será

caracterizada por um período de abertura do espaço e incentivo ao povoamento da região.

Para incentivar a ocupação do novo município eram doados terrenos para a construção de

moradias e pequenas chácaras.

As primeiras medidas tomadas pelas autoridades de Tupiratins, município ao qual o

povoado pertencia, tinha como objetivo facilitar a ocupação da área: a abertura de ruas e a

doação de lotes para construção de casas isso explica a falta de outros atrativos que não fosse

ligado diretamente à construção da estrada.

Essas medidas provocaram as primeiras mudanças na paisagem do povoado. A

abertura de ruas, por exemplo, que visavam facilitar o acesso às casas, resultava sempre na

remoção da vegetação original, muito embora ela ainda permanecesse visível em alguns

casos. Na maioria deles os proprietários mantinham algumas espécies nativas com o objetivo

de amenizar, por exemplo, o calor.

Page 66: "Colinas do Tocantins: Desenvolvimento e transformações ...

65

E impossível analisar a paisagem isoladamente, desligada da sociedade que a

constituiu. As transformações sofridas pela paisagem são reflexos da interação do homem

com a natureza. É nas paisagens que se acumulam tempos diferentes, daí a importância da

analise do processo histórico para a compreensão do espaço.

O processo de ocupação do espaço urbano de Colinas do Tocantins ocorreu de forma

irregular, com uma dinâmica própria, sem obedecer a qualquer critério de planejamento. As

pessoas se fixavam em locais com pouca ou nenhuma infra-estrutura, seja relativo à

disponibilidade de água ou de iluminação.

A marca desse momento é a existência, entre uma residência e outra, de espaços

vazios, sem ocupação. As casas ou barracões, como eram chamados pelos primeiros

moradores, nos primeiros momentos de vida do povoado, em sua maioria eram construídas

utilizando folhas de coco babaçu, palmeira abundantes na região.

Observa-se as características da urbanização da cidade de Colinas do Tocantins em

seus primeiros dez anos de existência, Como foi analisado na pagina 56 a cidade presenciou

um significativo aumento populacional entre os anos de 1965 a 1970.

Em primeiro plano observa-se a rua de terra e, e em segundo plano, as casas de

adobe ou de madeira marcada pela ocupação irregular.

Figura 5 – (A): Rua José Pereira de Lima, área central de Colinas na década de 70. (B): Avenida Tenente

Siqueira Campos, Final da década de 1970.

FONTE: Acervo Câmara Municipal de Colinas

A

C D

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66

As construções logo evoluíram para o sistema de adobe, uma mistura de madeira e

barro, que se constituíam em moradias mais confortáveis e menos sujeitas ao perigo de fogo.

As casas de madeira, melhores e mais seguras que as de adobe (figura 6) era uma alternativa

para aqueles que não tinham condições de construir se utilizando de tijolos queimados, um

produto inicialmente raro e bastante caro. Segundo o depoimento da moradora pioneira Neusa

Rodrigues de Miranda em entrevista a Silva e Vinhal (agosto de 2006):

“... não tinha energia, não tinha nada. Nós chegamos aqui era com lamparina com

querosene. Não tinha nada mesmo cada um abria cisterna no seu quintal para tirar

água (...) num lugarzinho precário, não tinha assim um prédio, não tinha nada, tudo

coisinha de começo mesmo (...) aí foi melhorando, fazendo uma casa melhor. Já

veio o uso da alvenaria, o uso da telha. Aí foi começando, até chegar essas

cerâmicas, as casas eram feitas de barro mesmo.” ( SILVA e VINHAL, 2008 p. 68)

As casas de alvenaria, ou seja, tijolo e telha demoraram um pouco a surgirem, sendo,

portanto, raras (figura 7). Isso, inclusive pode ser visto como um sinal das grandes

dificuldades financeiras vividas pela maior parte da população. A esse tipo de moradia, eram

poucos os que tinham acesso. Os quintais em sua maioria eram grandes e não tinham cerca,

quando as tinham eram de arame ou madeira, todos tinham uma cisterna, e as plantas

geralmente eram frutíferas. Isso pode ser observado ainda atualmente, principalmente nos

bairros mais afastados. Segundo Reboratti (1993, apud SANTOS, p. 104) “a paisagem

humana é uma combinação de vários tempos presentes”. Na verdade, paisagem e espaço é

sempre uma espécie de palimpsesto onde, mediante acumulações e substituições, a ação das

diferentes gerações se superpõe. A paisagem humana esta em constante transformação, ou

seja, a ação humana constantemente constrói e reconstroem o espaço onde vive.

Para Ferrara (1992 apud PESAVENTO, 2002 p. 15) As transformações econômico-

sociais deixam na cidade marcas e sinais que contam uma história não verbal pontilhada de

imagens, de mascaras, que tem como significado o conjunto de valores, usos e hábitos,

desejos e crenças que misturam, através do tempo, o cotidiano do homem.

Page 68: "Colinas do Tocantins: Desenvolvimento e transformações ...

67

Os moradores de Colinas do Tocantins passaram de uma classe social para outra e,

portanto modificando também condições de habitação.

Figura 6 - (C) grupo de moradores em frente uma casa típica de madeira na década de 1970. (D) Família em

frente sua casa, já construída com base no sistema de tijolos

FONTE: Acervo pessoal da família Castro

Nos primeiros anos de sua existência o então povoado, e depois da emancipação, a

cidade de Colinas conviveu com sérias dificuldades em relação à infra-estrutura. Ocupação do

espaço sem critérios definidos, ruas de chão, casas de adobe e madeira. Porém, a paisagem

não deixava de mudar.

A Figura 7E mostra o início da construção de um barracão para atividades festivas.

Construído no mesmo local em que a pedra fundamental do povoado foi lançada, esse

barracão cumpria um papel local por excelências das atividades culturais como festejos,

batizados, casamentos, etc.

A presença de casas de madeiras ao fundo e as próprias estacas que dariam origem

ao barracão mostram a utilização de madeira e palhas de babaçu como matérias-primas

fundamentais dessas primeiras construções. Percebe-se que no primeiro momento o espaço e

totalmente limpo para a abertura de ruas e casas toda a vegetação natural e retirada. No

entanto nota-se que essa vegetação e substituída e reinicia-se a arborização do espaço.

C

C D

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68

Figura 7 - (E) Barracão para atividades festivas em construção, final da década de 1960 e começo da década

seguinte.

FONTE: Acervo Câmara Municipal de Colinas

A paisagem artificial é a paisagem transformada pelo homem, enquanto

grosseiramente podemos dizer que a paisagem natural é aquela ainda não mudada pelo

esforço humano. Se no passado havia a paisagem natural, hoje essa modalidade de paisagem

praticamente não existe mais. Se um lugar não é fisicamente tocado pela mão do homem, ele,

todavia, é objeto de preocupações e de intenções econômicas ou políticas. Tudo hoje se situa

no campo de interesse da história, sendo, desse modo, social. (SANTOS, 1994, p.64 apud

WITKOSKI, 2007, p. 38).

A figura 8 (F, G e H) ilustram as transformações da paisagem da Avenida Bernardo

Sayão em Colinas do Tocantins, nas décadas de 70, 90 e 2000. Inicialmente, essa avenida era

a própria Belém-Brasília. Na época em que a rodovia recebeu capeamento asfáltico o eixo foi

desviado para fora da cidade.

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69

Figura 8 - (F): Avenida Bernardo Sayão na década 70 , (G): Avenida Bernardo Sayão na década de 1990 e (H):

Avenida Bernardo Sayão no ano de 2008.

Fonte (F): Acervo Câmara Municipal de Colinas

Fonte (G): Juarez Soares

Fonte (H): Acervo pessoal Iltami Rodrigues Vieira

Nos anos 70 a avenida/rodovia apresenta inicio de arborização nas áreas laterais,

ainda sem capeamento asfáltico e várias casas, principalmente do lado esquerdo. Havia ainda

certo espaço, capaz de circular veículos, entre grandes e pequenos entre a avenida/rodovia e

as residências, como se fossem uma espécie de marginal.

Mais o que mais caracterizava essa avenida/rodovia era o papel que ela

desempenhava como espaço para a prática de modestas atividades comerciais, quase sempre

ligadas ao atendimento de pessoas em circulação pela grande rodovia. Na figura 8F pode

observar a propaganda de um estabelecimento conhecido por Churrascaria do Sul, que vendia

refeições especialmente para aqueles que trafegavam pela rodovia.

Grandes mudanças se processaram e marcaram a paisagem urbana de Colinas,

especificamente no que diz respeito a uma de suas principais vias de comunicação interna. De

rodovia federal, ela passa a figurar – pela insistência de políticos locais preocupados com o

F F

H

F G

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70

trânsito intenso que teria lugar em pleno coração da cidade – como uma avenida da cidade

ainda nos anos 70, com a plena aceitação de autoridades federais, (SILVA e VINHAL, 2008.

p. 89).

A mudança mais significativa está ligada à construção de um canteiro central que

ocupou praticamente todo o espaço que antes pertencia à avenida e a transformação dos

espaços laterais como vias de circulação nos dois sentidos. Além disso, o capeamento das ruas

merece também ser mencionado.

Construído nos sistema de broquete – pedras esculpidas no formato de losango, que

são encaixadas uma à outra e depois pressionadas para que consigam fixar-se – amenizou

problemas de poeira, na época da seca, e de lamas, na época de chuvas.

Em 2008 a Avenida tem outro aspecto, as árvores maiores em quase toda a avenida

foram derrubadas e substituídas por uma vegetação menor em detrimento da construção de

estacionamento. Este estacionamento (Figura 8H) foi construído para atender a demanda

comercial em torno da avenida que na atualidade se constitui num dos maiores centros

comerciais da cidade.

A figura 9 (imagem documental J) retrata a inauguração do alto-falante na Praça 21

de abril na década de 1670. O alto-falante teve papel relevante nas comunicações da cidade e,

isso pode ser notado na forma como as pessoas estavam vestidas para a ocasião.

Alguns de terno outros usavam sua melhor roupa. Naquele momento esse meio de

comunicação passa a representar para a cidade a forma mais pratica da comunidade se inteirar

dos assuntos locais políticos, econômicos e sociais.

Enquanto os grandes centros brasileiros contavam com televisão, jornais impressos, a

comunidade de Colinas estreitava suas relações sociais e econômicas através dos avisos que

eram anunciados pela manha e pela tarde e em horários extraordinários em caso de

falecimento de alguém da comunidade.

Page 72: "Colinas do Tocantins: Desenvolvimento e transformações ...

71

Figura 9 – (I): Praça 21 de abril, (J) do Auto-falante instalado na Praça 21 de abril, década de 70

FONTE: Acervo Câmara Municipal de Colinas

Aos sábados e domingos o alto-falante fazia o papel completo de uma emissora de

radio, era nos fins de semana que a comunidade podia oferecer canções para os amigos e para

a pessoa amada. A figura retrata também a proximidade do mundo urbano com mundo rural

onde se vê perfeitamente a presença de amimais a circular livremente no meio das pessoas.

A importância de tal meio de comunicação para a população da cidade de Colinas

fica evidente na fala de Maria Vieira da Silva moradora pioneira (entrevista concedida em 20

de novembro de 2008)

“... Naquele tempo era o único meio do povo ficar sabendo do que acontecia na

cidade, não tinha televisão, não tinha nada, só o alto-falante mesmo (...) anunciava

quem tinha morrido, mandava recado. No fim de semana a gente mandava passar

musica para os amigos, as pessoas da gente (...) a gente ficava ali sentada na porta

da casa escutando os recados e as músicas.”

Para Querrian (1989, apud Pesavento, 2002, p.15) “as imagens se fabricam em

diferentes níveis, por deferentes técnicas: todas mobilizam a memória, o passado, mas o

declinam a sua maneira. O dialogo com os habitantes se ancora sempre na memória, único

monumento popular, à disposição de todos”.

I

J I

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72

Figura 10 – (L) da Vista parcial da Praça 21 de abril desfile em comemoração ao dia 7 de setembro década de

1970 (M), em abril de 1960, foi lançada a pedra fundamental da futura cidade. Em destaque, monumento em

homenagem aos fundadores do município inaugurado em 21 de abril de 1991.

Fonte (L): Acervo pessoal Maria do Carmo Barros Vinhal

Fonte (M): Acervo pessoal Soneliz Borges

Figura 11 – (N) da Vista parcial da Praça 21 de abril no mesmo ângulo das imagens L e M, ano de 2008

Fonte (N): Acervo pessoal Maria do Carmo Barros Vinhal

Figura 12 – (O) da Vista parcial da Praça 7 de setembro no ano 1968 e (P) da Praça 7 de setembro durante o

desfile do Aniversário de 15 anos de Colinas – 21 de abril de 1975

Fonte (O): Acervo particular da família Castro.

Fonte (P): Acervo do Colégio João XXIII

O

P O

L M

N

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73

Figura 13 – (Q) e (R) da Vista parcial da Praça 7 de setembro ano de 2008.

FONTE: Acervo pessoal Maria do Carmo Barros Vinhal.

As figura 12 (O e P) e figura 13 (Q e R) retratam a Praça 21 de abril e a Praça 7 de

setembro em momentos de comemorações de 7 de setembro. As praças representavam para a

população, o local de encontro onde se comemoravam as datas mais importantes não só da

cidade como de todo o país.

Era na praça que as pessoas se encontravam, ali estava toda a dinâmica social da

cidade. Para Neusa Rodrigues de Miranda moradora pioneira em entrevista cedida a Silva e

Vinhal (2006):

“... Naquela época, por ser uma cidade pequena, era muito mais bonito, dava mais

incentivo, dava assim uma emoção, principalmente as pessoas que tinham filhos, a

gente levantava de madrugada para ajeitar os filhos (...) era assim, cada colégio

preparavam (para os desfiles) o pessoal (...) ornamentavam aquilo tudo muito

bonito. Aquelas meninas, tudo com aquelas roupas bonitas, ficava tudo muito bonito

(...) as bandeiras, tinha as porta- bandeiras na frente. Tinha muita coisa assim que

hoje não tem.”

As datas comemorativas tinham uma grande importância para população local. Era

um evento, talvez um dos únicos na cidade e, que envolvia toda a comunidade. Elas

manifestavam uma vida social e política compartilhada no cotidiano. Para Silva e Vinhal

(2008, p. 78):

Não é difícil entender essas práticas. A partir de 1964 o país mergulharia num

período de culto à pátria com o estabelecimento dos governos militares, cuja disciplina e

Q R

Page 75: "Colinas do Tocantins: Desenvolvimento e transformações ...

74

obediência eram elementos fundamentais da nova. Celebrações e demonstrações de amor à

pátria como dês files em datas especificas se tornaram elemento corrente das atividades

escolares.

Ainda sobre a figura 12 podemos ver a Praça 21 de abril em épocas diferentes.

Obedecendo ao mesmo anglo elas apresentam diferenças importantes. Na figura 12, observa-

se que a praça não havia sido construída, existia somente o espaço vazio com algumas arvores

que demarcavam o lugar. Não havia calçamento, o entorno da praça era de chão. Ao seu redor

estava o centro comercial da cidade, que neste período concentrava-se basicamente no local.

Isto se justifica pelo fato da praça estar ligada a Avenida Bernardo Sayão a mais importante

até então e, por estar ali à pedra fundamental da cidade.

Na imagem documental M, a praça já havia sido construída onde se pode observar a

presença de árvores em maior quantidade e canteiros de plantas diversas bem como a

organização urbanística da mesma.

Neste período o comercio havia se deslocado para outros pontos da cidade como, por

exemplo, a Avenida Pedro Ludovico Teixeira e Avenida Tenente Siqueira Campos. As

construções seguem um padrão moderno em comparação à figura 12. O seu entorno já

contava com calçamento tipo broquete. A preocupação com a arborização é visível não só nas

praças como em toda a cidade.

A figura 13 mostra a Praça 21 de abril no ano de 2008. A transformação na

paisagem é visível, está mais arborizada e mantém ainda, embora de forma menos intensa,

uma característica comercial em todo o seu entorno.

Na atualidade a praça já não cumpre como antigamente seu papel de ponto de

encontro e comemorações. A maioria dos eventos deslocou-se para a Praça 07 de setembro e

outras localidades. Observa-se que alguns fatores podem ter contribuído para esse abandono.

Page 76: "Colinas do Tocantins: Desenvolvimento e transformações ...

75

A Praça não oferece elementos de atração como bares, restaurantes, sorveterias,

muito embora a sua estrutura seja razoável. A praça perdeu sua importância na socialização da

comunidade de Colinas do Tocantins.

A modernidade trouxe com ela o fim do uso dos lugares públicos como espaço de

encontro entre a comunidade seja para o lazer, seja para discutir as questões políticas da

cidade. Para Ferrara (1999, p.152) “... o espaço moderno caracterizado pela produção

industrial, novas estruturas de consumo, outra rede de serviços disponíveis, novos meios de

transporte em que à inovação tecnológica garante rapidez e eficiência, outro tipo de habitação,

o acesso aos veículos de comunicação de massa e, sobretudo, outras possibilidades

associativas justificam aprendizado e comportamento que se manifestam em uso e hábitos

diferenciados.”.

A figura 16 através das imagens documental S e T mostra o mercado municipal da

cidade construído em 1978, que tinha como objetivo organizar a feira livre. O surgimento da

primeira Feira Livre, que inicialmente era realizada na área onde hoje é a Praça da Bíblia

(espaço próxima à Câmara Municipal) em um barracão de Palha, também constitui o

nascedouro do crescimento comercial de Colinas do Tocantins.

No ano de 1978, em local onde já existia o comércio de carnes foi implantado o

Mercado Público Municipal de Colinas, inaugurado pelo então Governador do Estado de

Goiás Senhor Irapuan Costa Junior. (Plano Diretor da cidade de Colinas do Tocantins, 2006 p.

15)

Este espaço e entorno foi por muitos anos o centro comercial mais importante da

cidade e tornou-se um meio de estimular os pequenos e médios produtores rurais para a

comercialização de seus produtos era nesse espaço que a comunidade se reunia para

comercializar seus produtos.

Page 77: "Colinas do Tocantins: Desenvolvimento e transformações ...

76

Mas com o desenvolvimento e grande vocação do uso comercial das Avenidas

Bernardo Sayão e Pedro Ludovico Teixeira, esta área vem sofrendo constante degradação.

Atualmente o local passou por um processo de revitalização e reforma o que contribuiu de

forma relevante para amenizar as condições higiênicas e tornar o local um ponto de encontro

da comunidade.

Apesar do avanço de construções modernas as casas comerciais que circundam o

mercado apresentam ainda características antigas que contrasta com a construção moderna do

mesmo.

O Mercado Municipal de Colinas do Tocantins ilustrado através da figura 14 é

analisado em anglos e épocas diferentes. A análise da figura 14 (imagem documental S e T) e

figura 15 (imagem documental U) ambas da década de 1970 observa que as ruas que

circundam o mercado, há presença de algumas árvores, veículos e carroças, sendo na imagem

documental S e T mostram o número de carroças superior ao de veículos.

As ruas não têm calçamento são de chão e as construções são antigas. Observa-se

também que o local era um ponto de encontro onde as pessoas negociavam, vendendo ou

comprando produtos.

A figura 16 mostra o Mercado Municipal atualmente (2008). As figuras 14, 15 e 16

possuem o mesmo ângulo: angulo frontal, onde se pode observar as diferenças entre as

figuras. Ainda em relação ao mercado a figura 17 retrata o mercado na década de 1970 logo

após sua construção.

A figura 16 mostra o mercado atual, após reforma e revitalização, apresentando uma

arquitetura moderna em relação à figura 15, com cores fortes e percebemos ainda a

identificação das lojas o que não se percebe na figura 15.

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77

As imagens S e T na figura 14 também mostram o Mercado Municipal tendo o

mesmo angulo lateral. Na figura 14 observa-se que as construções obedecem ao mesmo

padrão. Há presença de árvores e a rua não tem calçamento.

A figura 16 mostra o contraste entre a construção moderna do mercado e a

permanência das construções antigas em seu entorno. No entanto as construções antigas

apresentam certo ar de modernidade no que diz respeito as suas fachadas. As árvores foram

retiradas e não há mais a forte presença de pessoas e carroças.

Figura 14 – Imagem documental S e imagem documental T da Rua do mercado municipal, centro da cidade

(década 70)

FONTE: Acervo Prefeitura Municipal de Colinas

Figura 15 – Imagem do Mercado Público Municipal no centro da cidade (década 70).

FONTE: Acervo Prefeitura Municipal de Colinas

S

S

U

T

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78

Figura 16 – Imagem documental do Mercado Público Municipal/ centro da cidade (ano 2008)

FONTE: Acervo pessoal Maria do Carmo Barros Vinhal.

A cidade de Colinas recebeu água tratada 16 anos após sua criação. Tendo o córrego

Sinhá como a primeira fonte de captação de água tratada. O córrego Sinhá durante muitos

anos foi uma espécie de lavanderia, ou seja, era no córrego Sinhá que as mulheres iam lavar

roupas. A cidade não dispunha de um sistema de rede de água tratada, toda casa tinha seu

poço ou cisterna como era mais conhecido.

Por alguns motivos como: o sistema usado para retirar a água era baseado em uma

carretilha, que era amarrada em uma corda e tinha um balde amarrado em sua ponta com o

qual se retirava a água o que exigia muita força, a escassez de água no período do verão,

enfim todas essas dificuldades faziam à população procurar os córregos para praticar

atividades como a que foi citada.

V X

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79

Figura 17 – Lei Nº 017/75 Doação de terreno urbano para construção da SANEAGO

FONTE: Câmara Municipal de Colinas do Tocantins

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80

As mulheres geralmente em grupos e levando os filhos menores passavam o dia no

córrego Sinhá. Elas passavam o dia a beira do Sinhá, ao som das cantorias e das conversas de

comadre, lavavam, quaravam e secavam sua roupas, retornavam ao cair da tarde. O córrego

Sinhá era também o local de diversão da garotada que passavam o dia a nadar em suas águas

Para Carvalho (2006, p. 23):

O córrego Sinhá além de sua importância ambiental teve uma grande participação no

âmbito social e econômico, pois o mesmo foi utilizado durante vários anos no

consumo doméstico, como lazer (balneário) e pesca, já que ali existiam diversas

espécies que poderiam ser consumidas. No setor econômico, foi utilizado pela

Companhia de Saneamento de Goiás (SANEAGO) hoje Companhia de Saneamento

do Tocantins (SANEATINS), para o abastecimento da cidade durante quase 20 anos

(de 1977 a 1995), quando passaram a fazer uso de águas de poços artesianos para o

abastecimento da população, deixando com isso, abandonada a área onde funcionava

o centro de captação no córrego em questão.

As figuras 18 e 19 mostram o centro de captação de água do córrego Sinhá em

momentos distintos. Enquanto que a figura 19 retrata a inauguração do centro de capitação em

1975, pode-se observar que apesar da construção do centro o entorno do córrego ainda

mantém algumas de suas plantas nativas. Mantém ainda uma característica rural, observando

apenas uma pequena propriedade.

A figura 19 retrata o centro de captação abandonado, observa-se que a expansão

urbana chegou até seu entorno. A proximidade do espaço urbano contribuiu para a degradação

local, pois é comum se jogar lixo nesta área.

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81

Figura 18. Imagem documental (Z) da inauguração do sistema de captação de água no Córrego Sinhá, 1976

FONTE: Arquivo Câmara Municipal de Colinas

Figura. 19 – Imagem documental (AA) do Centro de captação da Saneatins, abandonado e imagem documental

(AB) Nascente do córrego Sinhá com poluição acentuada.

FONTE: Acervo pessoal: Carvalho, Antonio Wagner de (jun/2007)

Observando a figura 19 (imagem documental AA e AB), percebe-se que a nascente

do córrego Sinhá encontra-se em avançado processo de degradação devido à ocupação

predatória nas ultimas décadas. Segundo Carvalho (2007, p. 23) “culminando assim na perda

da biodiversidade, erosão do solo, escasseamento e contaminação dos recursos hídricos.”

Carvalho (2007, p. 25) cita ainda que:

Dentre as principais fontes de degradação pode-se cita o lixão do município que,

instalado em local inadequado, ou seja, na parte alta do relevo próximo às nascentes

do córrego, direcionando assim o churume para dentro das mesmas, poluindo o

corpo d´gua resultando na contaminação dos peixes, impossibilitando com isso o

consumo, por parte da população ribeirinha das poucas espécies que ainda existem.

Page 83: "Colinas do Tocantins: Desenvolvimento e transformações ...

82

Outros fatores que contribuíram para a poluição e degradação do córrego Sinhá

segundo Carvalho (2007, p. 29) foi à expansão da atividade agropecuária do município,

plantio de subsistência bem como o crescimento urbano desordenado contribuiu para esse

processo de degradação ambiental na medida em que o núcleo urbano se aproxima do recurso

hídrico neste caso o córrego Sinhá.

Citando Coutinho e Bonizzato:

O crescimento acentuado das cidades brasileiras, acompanhado de perto pelo

aumento de uma serie de problemas no ambiente urbano, já há longa data clama por

soluções eficazes e desassociadas do populismo político e da preservação de regalias

e da lucratividade a todo custo. Não há dúvida de que, atualmente, nos principais

centros urbanos brasileiros colhem os frutos do que inadequadamente se plantou ao

longo dos tempos. (2007. 02)

As políticas públicas dos países em desenvolvimento como o Brasil, fazem-se ainda

pautada em interesses políticos, econômicos, nas no interesse e necessidade da sociedade. Em

que os assentamentos urbanos, por exemplo, são desordenados e privilegiam as classes mais

abastadas criando assim, a chamada “segregação residencial”.

Figura. 20 – Imagem documental (AC) da ausência de mata ciliar às margens do córrego no perímetro urbano e

(AD) da Área próxima ao centro de captação em avançado processo de assoreamento

FONTE: Acervo pessoal Carvalho, Antonio W. de (jun/2007)

Entretanto, como ocorre em todas as cidades, a população carente e empurrada para

as regiões periféricas que geralmente se estabelecem às margens dos recursos hídricos, que

mesmo tendo conhecimento sobre os riscos de contaminação por parte da água desses

Page 84: "Colinas do Tocantins: Desenvolvimento e transformações ...

83

recursos ainda assim fazem uso do mesmo em algumas atividades, pois é possível presenciar

com freqüência crianças tomando banho e pescando no recurso hídrico em questão.

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84

CONCLUSÃO

A região norte de Goiás atual Estado do Tocantins permaneceu durante muito tempo

carente de infra-estrutura. Com a construção da Belém – Brasília surge uma estreita malha

urbana com vários núcleos urbanos entre eles Guaraí, Paraíso e Colinas do Tocantins. Porem

essa realidade só viria a mudar com a divisão e criação do Estado do Tocantins em 1988.

A cidade de Colinas do Tocantins teve sua criação diretamente ligada à construção

da rodovia Belém – Brasília (BR153) empreendimento realizado no governo do então

presidente da República Juscelino Kubitschek. Idealizada pelos moradores da região que

sofriam com o isolamento e buscavam melhores condições de vida, a cidade de Colinas foi

fundada em 21 de abril de 1960. A escolha do local onde foi fundada a cidade de Colinas do

Tocantins se deu mediante o fato do traçado da rodovia passar na localidade onde hoje se

encontra a cidade de Colinas.

A área na qual a cidade de Colinas foi instalada pertencia ao município de Tupiratins.

Era praticamente desabitada, possuindo apenas alguns moradores em áreas próximas. A

principal comunidade era o deserto, um garimpo de diamantes que surgiu em 1954. Formada

por garimpeiros, os moradores do Deserto tiveram participação fundamental na criação do

povoado de Colinas.

Ela cumpriu com seu objetivo principal: tirar do isolamento a população que vivia

em suas imediações e dar oportunidade de uma vida nova não só a população da redondeza

como de outras regiões do Brasil.

O fluxo migratório para região deu-se no primeiro momento das regiões próximas e

posteriormente de outras regiões brasileiras. O que a caracteriza como uma cidade heterogenia

em relação à origem de seus habitantes. O primeiro fluxo migratório ocorreu entre os anos de

1960 a 1965.

Page 86: "Colinas do Tocantins: Desenvolvimento e transformações ...

85

O maior número de pessoas nesse momento veio de áreas próximas e,

principalmente do Estado do maranhão seguido de Goiás, Piauí, Minas Gerais e Bahia. A

partir da década de 1980, verifica-se a chegada de migrantes vindos de outras regiões do

Brasil.

A população da cidade de Colinas, na década de 1960, era de 1200 habitantes,

passando na década de 1970, para 8.418 habitantes um vertiginoso crescimento em apenas

seis anos como município autônomo. Os anos posteriores apresentam números bem mais

modestos, mais ainda altos ultrapassando os 100%.

A cidade de Colinas do Tocantins, assim como outras regiões que nasceram ou

tiveram sua economia reativada com o advento da rodovia, tem como características uma

intensa urbanização e ocupação desordenada do espaço.

Isso resultou em transformações importantes na paisagem natural. Essa ocupação do

espaço de forma desordenada na região de Colinas do Tocantins deixou graves problemas.

Entre eles a transformação na paisagem natural, poluição dos mananciais, poluição e o

sobreuso dos mesmos, dos recursos hídricos superficiais e subterrâneos.

Page 87: "Colinas do Tocantins: Desenvolvimento e transformações ...

86

RECOMENDAÇÕES

Durante o desenvolvimento desse trabalho foi possível perceber que as seqüelas

sócio-ambientais desse tipo de empreendimento são visíveis, ou seja, rápida urbanização,

desordenada ocupação do espaço, degradação ambiental, entre outras questões. Recomenda-se

a implantação de políticas públicas que procurem amenizar os impactos provenientes dos

empreendimentos já realizados com, por exemplo, a revitalização dos mananciais.

Recomenda-se ainda a implantação de projetos ligados à preservação e conservação

do patrimônio histórico da cidade, seja de ordem material ou imaterial. Investimentos

educacionais que visem à produção e conhecimento da historia local e regional também se

fazem necessários. Nesse sentido é fundamental a instituição, na grade curricular do

município, de disciplinas como educação ambiental e história local para que as próximas

gerações tenham consciência e condições de preservar não só o ambiente como a história de

sua comunidade.

Recomenda-se ações que visem a revitalização dos mananciais da cidade de Colinas

do Tocantins.

Page 88: "Colinas do Tocantins: Desenvolvimento e transformações ...

87

REFERENCIAL BIBLIOGRÁFICO

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Page 90: "Colinas do Tocantins: Desenvolvimento e transformações ...

ANEXOS

Page 91: "Colinas do Tocantins: Desenvolvimento e transformações ...

ANEXO A – QUESTIONÁRIO DE PESQUISA

Trabalho de pesquisa sob a orientação da Professora Drª Sandra do Nascimento Noda

da Universidade Federal do Amazonas – Centro de Ciências Ambientais UFAM/PPG/CASA.

Este questionário de pesquisa tem como objetivo levantar informações a respeito da

origem do povoado de Colinas do Tocantins na década de 1960 com o propósito de analisar as

transformações no ambiente em decorrência da ocupação. .

O questionário é parte integrante do trabalho de dissertação do Mestrado Profissional

em Ciências do Ambiente e Sustentabilidade na Amazônia, na linha de pesquisa Políticas e

Gestão Ambiental.

I - Perfil do entrevistado

1. Nome : ___________________________________________________________

2. Data da entrevista: ____/____/____

3. Endereço: _________________________________________________________

5 - Idade: _________ anos.

6 - Sexo: ( ) Masculino ( ) Feminino

7 - Naturalidade: ___________________________________

8 - Há quanto tempo reside nesta cidade? ___________ ano(s).

9 - Grau de Escolaridade:

( ) 1°grau incompleto ( ) 1° grau completo

( ) 2° grau incompleto ( ) 2° grau completo

( ) Nível superior incompleto ( ) nível superior completo

( ) Pós-graduação ( ) Sem instrução

10 - Profissão: ___________________________________________________________

II - Percepção Ambiental

1 – Por que você veio morar na cidade?

2 - Você gosta da cidade onde mora?

Sim Não

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3 - O que você mais gosta?

___________________________________________________________________________

4 – O que você menos gosta?

_____________________________________________________________________

5– O que você acha que falta na cidade?

____________________________________________________________________

6 – Você pensa em mudar de cidade algum dia?

Sim Não

7 – Quando você veio para colinas veio em busca de que?

___________________________________________________________________________

8 – como era a cidade quando você chegou:

_______________________________________________________________________

9 – Você percebeu mudanças no ambiente? Quais?

___________________________________________________________________

12 – Sobre a cidade de Colinas do Tocantins:

( ) É uma cidade acolhedora

( ) É uma cidade com preocupação ambiental

( ) É uma cidade violenta

13 – Você conhece a história do surgimento da cidade de Colinas do Tocantins?

Sim, conheço toda a história. Já ouvi falar, mas não sei contar.

Não conheço.

14- Você percebe algum problema ambiental na cidade? Qual?

Sim Não

________________________________________________________________________

16. Existem políticas públicas direcionadas para o ambiente?

_____________________________________________________________________

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO AMAZONAS

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIENCIAS DO AMBIENTE E

SUSTENTABILIDADE DA AMAZÔNIA –PPG/CASA

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

Convidamos o Sr.(Srª)__________________________ para participar da pesquisa intitulada Colinas

do Tocantins: Desenvolvimento e Transformações Ambientais , que será realizada na

Universidade Federal do Amazonas (UFAM) e pretende analisar a formação do povoado de Colinas

do Tocantins dentro de um projeto desenvolvimentista de ocupação e as transformações no ambiente.

O Brasil na década de 50 e 60 vivia o seu auge desenvolvimentista, no qual políticas públicas são

implantadas com o propósito de elevar a posição socioeconômica do país, elas surgem num momento

em que não havia preocupação ambiental, e isso refletiu diretamente no processo de ocupação

territorial, neste caso em função do crescimento da cidade de Colinas do Tocantins.

É de nosso interesse saber sobre a criação do povoado de Colinas e as transformações no

ambiente( paisagem ) e as políticas publicas atuais.

Sua participação nesta pesquisa é completamente voluntária. É sua escolha participar ou não.

Esta pesquisa envolverá sua participação em entrevistas. Portanto, estes procedimentos serão

realizados no local e hora que o Sr. definir como mais conveniente. A pesquisadora Maria do Carmo

Barros Vinhal, responsável pelo projeto, pede então autorização para a realização desta entrevista bem

como a aplicação de questionários a fim de esclarecer dados já obtidos anteriormente.

Informo ainda que as entrevistas serão gravadas, transcritas e depois registradas em cartório

para fins de comprovação posterior.

Os resultados da pesquisa serão analisados e publicados, mas sua identidade não será

divulgada, sendo guardada em segredo para sempre. Para qualquer outra informação, o(a) Sr.(a)

poderá entrar em contato com o(a) pesquisador(a) pelo telefone (63)3476 18 55 ou pelo celular 9999

86 34

Consentimento Pós–Informação

Eu,___________________________________________________________, fui informado

sobre o que a pesquisadora quer fazer e porque precisa da minha colaboração, e entendi a explicação.

Por isso, eu concordo em participar do projeto, sabendo que não vou ganhar nada e que posso

sair quando quiser. Estou recebendo uma cópia deste documento, assinada, que vou guardar.

_________________________________ ou _______-______-______

Assinatura do participante

Data: ________________________________________________

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