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AVALIAÇÃO DE ALTERAÇÕES EM REDES DE DRENAGEM DE MICROBACIAS COMO SUBSÍDIO AO ZONEAMENTO GEOAMBIENTAL DE BACIAS HIDROGRÁFICAS: APLICAÇÃO NA BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO CAPIVARI - SP VOLUME I Eduardo Goulart Collares Tese apresentada à Escola de Engenharia de São Carlos, da Universidade de São Paulo, como parte dos requisitos para obtenção do título de Doutor em Geotecnia ORIENTADOR: Prof. Dr. José Eduardo Rodrigues São Carlos 2000

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  • AVALIAO DE ALTERAES EM REDES DE DRENAGEM

    DE MICROBACIAS COMO SUBSDIO AO ZONEAMENTO

    GEOAMBIENTAL DE BACIAS HIDROGRFICAS: APLICAO

    NA BACIA HIDROGRFICA DO RIO CAPIVARI - SP

    VOLUME I

    Eduardo Goulart Collares

    Tese apresentada Escola de Engenharia

    de So Carlos, da Universidade de So

    Paulo, como parte dos requisitos para

    obteno do ttulo de Doutor em Geotecnia

    ORIENTADOR: Prof. Dr. Jos Eduardo Rodrigues

    So Carlos

    2000

  • SUMRIO

    VOLUME I

    LISTA DE FIGURAS............................................................................................ i

    LISTA DE TABELAS............................................................................................ vi

    LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS............................................................... vii

    LISTA DE SMBOLOS......................................................................................... ix

    RESUMO............................................................................................................. xi

    ABSTRACT.......................................................................................................... xii

    1 - INTRODUO ............................................................................................... 1

    1.1 - Objetivos............................................................................................ 3

    1.1.1 Objetivo geral........................................................................ 3

    1.1.2 Objetivos especficos............................................................ 3

    1.2 Localizao da rea de aplicao da proposta metodolgica .......... 4

    2 BACIA HIDROGRFICA COMO UNIDADE DE PLANEJAMENTO

    (UMA REVISO)........................................................................................... 5

    2.1 Evoluo da poltica ambiental brasileira.......................................... 5

    2.2 A bacia hidrogrfica como limite territorial para planejamento

    ambiental........................................................................................ 9

    2.3 Condicionantes das alteraes ambientais em bacias

    hidrogrficas..................................................................................... 12

    2.3.1 Conceituao de alterao ambiental................................... 12

    2.3.2 Atividades modificadoras do meio e impactos decorrentes.. 13

    2.3.2.1 Atividade agropecuria............................................. 15

    2.3.2.2 Ocupao urbana..................................................... 16

    2.3.2.3 Disposio de resduos urbanos.............................. 18

    2.3.2.4 Mineraes............................................................... 21

    2.3.2.5 Indstrias.................................................................. 22

    2.3.3 O planejamento como preveno s alteraes ambientais 23

    2.4 Tcnicas de geoprocessamento e anlises estatsticas utilizadas

    em bacias hidrogrficas.................................................................... 24

  • 3 CARACTERIZAO GERAL DA REA DE ESTUDO................................ 30

    3.1 Aspectos scio-econmicos.............................................................. 30

    3.2 Aspectos fisiogrficos e geolgicos.................................................. 33

    3.2.1 Clima..................................................................................... 33

    3.2.2 Geomorfologia....................................................................... 35

    3.2.3 Geologia................................................................................ 36

    3.2.4 Solos..................................................................................... 39

    3.2.5 Aspectos da qualidade das guas........................................ 41

    4 LEVANTAMENTO DE CARACTERSTICAS DE USO E OCUPAO DO

    TERRENO E ATIVIDADES ANTRPICAS .................................................. 47

    4.1 Consideraes iniciais....................................................................... 47

    4.2 Obteno do mapa de uso e ocupao............................................ 48

    4.2.1 Processamento de imagem de satlite................................. 48

    4.2.2 O programa ENVI 3.0.......................................................... 51

    4.2.3 Processamento das imagens da bacia do rio Capivari......... 52

    4.2.3.1 Georreferenciamento................................................ 53

    4.2.3.2 Aplicao de realce................................................... 55

    4.2.3.3 Classificao............................................................. 58

    4.2.3.4 Refinamento da classificao................................... 62

    4.2.3.5 Construo do mosaico e delimitao da bacia....... 66

    4.3 Levantamento das atividades modificadoras do meio fsico............. 67

    4.3.1 Levantamento dos dados existentes..................................... 67

    4.3.2 Levantamento de campo....................................................... 70

    4.3.3 Elaborao do banco de dados georreferenciado................ 71

    4.4 Anlise temporal de intervenes antrpicas.................................... 75

    4.5 Resultados........................................................................................ 76

    4.6 Concluses parciais.......................................................................... 82

    4.6.1 Quanto ao processamento das imagens de satlite e

    obteno do mapa de uso e ocupao................................. 82

    4.6.2 Quanto ao levantamento pontual das atividades

    modificadoras do meio fsico................................................ 83

    4.6.3 Avaliao das alteraes no meio fsico............................... 84

    5 ANLISE MORFOMTRICA DAS REDES DE DRENAGEM DAS

  • MICROBACIAS ............................................................................................. 85

    5.1 Consideraes iniciais....................................................................... 85

    5.2 Anlise morfomtrica de bacias hidrogrficas (uma reviso)............ 87

    5.3 Descrio das variveis morfomtricas............................................. 92

    5.4 Levantamento e processamento das informaes............................ 101

    5.4.1 Obteno das redes de drenagem........................................ 102

    5.3.2 Digitalizao e processamento dos dados............................ 105

    5.5 Anlise das alteraes nas microbacias........................................... 109

    5.5.1 Anlise estatstica multivariada............................................. 109

    5.5.1.1 Anlise discriminante................................................ 110

    5.5.1.2 Anlise de agrupamento........................................... 113

    5.5.2 Resultados e discusses...................................................... 113

    5.6 Concluses parciais.......................................................................... 121

    5.6.1 Quanto obteno e processamento da rede de drenagem 121

    5.6.2 Quanto anlise morfomtrica............................................. 122

    6 AVALIAES DOS PARMETROS MORFOMTRICOS E DAS

    MICROBACIAS ............................................................................................ 124

    6.1 Consideraes iniciais....................................................................... 124

    6.2 Definio de faixas de distribuio para as variveis morfomtricas 125

    6.2.1 ndice de circularidade (Ic).................................................... 126

    6.2.2 Relao de relevo (Rr).......................................................... 127

    6.2.3 ndice de sinuosidade (Si)..................................................... 128

    6.2.4 Densidade de drenagem (Dd)............................................... 129

    6.2.5 Densidade hidrogrfica (Dh)................................................. 130

    6.2.6 Coeficiente de manuteno (Cm)......................................... 131

    6.2.7 Extenso do percurso superficial (Eps)................................ 132

    6.2.8 Textura topogrfica (Tt)......................................................... 133

    6.2.9 Razo de bifurcao entre canais de primeira e Segunda

    ordens (Rb1-2)...................................................................... 134

    6.2.10 Razo de comprimento mdio entre canais de segunda e

    primeira ordens (Rlm2-1).................................................... 135

    6.3 Avaliao das variveis morfolgicas............................................... 136

    6.3.1 Relao entre variveis morfolgicas................................... 136

    6.3.2 Relaes entre as variveis morfolgicas e a litologia....... 139

  • 6.3.3 Influncia das variveis morfolgicas na avaliao das

    alteraes das microbacias.................................................. 142

    6.4 Avaliao das variveis da rede de drenagem................................. 143

    6.4.1 Relao entre as variveis da rede de drenagem e

    variveis morfolgicas.......................................................... 143

    6.4.2 Relao entre variveis da rede de drenagem e a litologia.. 146

    6.4.3 Relao entre variveis da rede de drenagem e suas taxas

    de variao (%) no perodo entre 1972 e 1995.................... 150

    6.4.4 Relaes entre taxas de variao de variveis da rede de

    drenagem e caractersticas de uso e ocupao................... 156

    6.4.5 Influncia das variveis da rede de drenagem na avaliao

    das alteraes das microbacias............................................ 161

    6.5 Avaliao das microbacias com base na configurao das redes

    de drenagem e caractersticas de uso e ocupao.......................... 163

    7 CONCLUSES............................................................................................. 170

    7.1 Quanto ao uso das tcnicas e aplicativos de geoprocessamento.... 170

    7.2 Quanto anlise temporal de alteraes em componentes da

    paisagem.......................................................................................... 171

    7.3 Quanto ao uso de variveis morfomtricas como indicadores de

    alteraes em bacias hidrogrficas.................................................. 171

    7.4 Quanto s alteraes verificadas na bacia hidrogrfica do rio

    Capivari e classificao de suas microbacias.................................. 173

    8 RECOMENDAES..................................................................................... 175

    9 REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS ............................................................. 178

    VOLUME II

    APNDICE 1: dados gerais das microbacias

    APNDICE 2: dados morfomtricos temporais das microbacias

    APNDICE 3: atividades modificadoras do meio fsico na bacia do rio Capivari

    APNDICE 4: dados estatsticos das variveis morfomtricas

  • iLISTA DE FIGURAS

    Figura 01: Localizao da bacia do rio Capivari................................................ 4

    Figura 02: Alteraes provocadas por atividades antrpicas em bacias

    hidrogrficas (modificado de Pires & Santos, 1995)......................... 14

    Figura 03: Esquema do mtodo de Hrkal & Trouillard (1994)............................ 28

    Figura 04: Mapa pluviomtrico da bacia do rio Capivari (adaptado de DAEE,

    1998)................................................................................................. 34

    Figura 05: Precipitaes mdias mensais na bacia do rio Capivari (adaptado

    de CBH-PCJ, 1996).......................................................................... 34

    Figura 06: Precipitao mdia acumulada na bacia do rio Capivari (adaptado

    de CBH-PCJ, 1996).......................................................................... 35

    Figura 07: Mapa geomorfolgico da bacia do rio Capivari - escala original

    1:500.000 (adaptado de Pires Neto, 1996)....................................... 36

    Figura 08: Mapa de substrato rochoso da bacia do rio Capivari (adaptado de

    Maniakas, 1986; IG, 1993; UNESP, 1986 e DNPM/CPRM, 1984)... 37

    Figura 09: Mapa pedolgico da bacia do rio Capivari escala original

    1:500.000 (adaptado de Kertzman et al, 1991)................................. 40

    Figura 10: Carta de susceptibilidade eroso da bacia do rio Capivari

    escala original 1:500.000 (adaptado de Kertzman et al, 1991)......... 41

    Figura 11: Carga poluidora orgnica na bacia do rio Capivari em 1995

    (adaptado de CBH-PCJ, 1996)......................................................... 42

    Figura 12: Esquema adotado no processamento das imagens de satlite........ 53

    Figura 13: Layout da janela de insero de pontos do ENVI 3.0 e o RMS

    Error.................................................................................................. 54

    Figura 14: Utilizao do recurso link do programa ENVI 3.0............................. 56

    Figura 15: Utilizao do recurso de contraste interativo do ENVI 3.0, atravs

    da manipulao dos histogramas de tons de cinza dos pixels em

    diferentes bandas espectrais............................................................ 57

    Figura 16: Diagramas de disperso n-dimensionais do programa ENVI 3.0..... 59

    Figura 17: Aparncia das amostras de treinamento das classes de uso e

    ocupao da bacia do rio Capivari na composio de bandas 4-5-

    3 (observar reas demarcadas com o quadrado vermelho)............. 61

    Figura 18: Layout do aplicativo Classedit mostrando a imagem de sattite ao

    fundo (bandas 4-5-3) e a classe Hortifruti sobreposta...................... 65

  • ii

    Figura 19: Delimitao da classe Centro Urbano com o uso do aplicativo

    classedit............................................................................................ 65

    Figura 20: Imagem de satlite Landsat-TM (bandas 4-5-3) da bacia do rio

    Capivari............................................................................................. 68

    Figura 21: Mapa de uso e ocupao da bacia hidrogrfica do rio Capivari....... 69

    Figura 22: Sequncia dos procedimentos adotados para a obteno do

    banco de dados georreferenciado com as atividades

    modificadoras do meio...................................................................... 70

    Figura 23: Mapa das atividades modificadoras do meio fsico da bacia do

    Capivari............................................................................................. 72

    Figura 24: Sequncia dos procedimentos adotada na anlise temporal das

    intervenes antrpicas.................................................................... 76

    Figura 25: Classificao das microbacias da bacia do rio Capivari por

    predominncia do tipo de uso e ocupao....................................... 78

    Figura 26: reas urbanizadas e rodovias na bacia do rio Capivari em 1972 e

    1995.................................................................................................. 79

    Figura 27: Represas e reas alteradas por mineraes e/ou disposio de

    resduos na bacia do rio Capivari em 1972....................................... 79

    Figura 28: Represas e reas alteradas por mineraes e/ou disposio de

    resduos na bacia do rio Capivari em 1995....................................... 80

    Figura 29: Microbacias da bacia do rio Capivari com as maiores reas

    ocupadas por atividades de minerao e disposio de resduos.... 80

    Figura 30: Microbacias com as maiores reas ocupadas por represas............. 81

    Figura 31: Esquema com a sequncia dos procedimentos adotados na

    anlise morfomtrica das microbacias.............................................. 101

    Figura 32: Redes de drenagens traadas para a microbacia B51 com base

    em fotografias areas nas escalas 1:60.000 e 1:25.000.................. 103

    Figura 33: Matriz de correlao entre variveis com dados das microbacias

    da bacia do rio Capivari das fotografias areas de 1972 e 1995...... 114

    Figura 34: Matriz de correlao considerando a taxa de variaes das

    variveis das microbacias da bacia do rio Capivari no perodo

    entre 1972 e 1995............................................................................. 115

    Figura 35: Histogramas de frequncia e testes grficos de normalidade para

    as variveis Dd e Dh, em 1972 e 1995 ............................................ 117

    Figura 36: Dendrograma obtido para as 65 microbacias da bacia do rio

  • iii

    Capivari considerando a taxa de variao das variveis Dr e Dh

    entre 1972 e 1995............................................................................. 119

    Figura 37: Mapa com a classificao das microbacias quanto ao grau de

    alterao entre 1972 e 1995 (anlise de agrupamento)................... 121

    Figura 38: Valores da varivel ndice de circularidade (Ic) das microbacias da

    bacia do rio Capivari......................................................................... 126

    Figura 39: Valores da varivel relao de relevo (Rr) das microbacias da

    bacia do rio Capivari ........................................................................ 127

    Figura 40: Valores da varivel ndice de sinuosidade (Si) das microbacias da

    bacia do rio Capivari......................................................................... 128

    Figura 41: Valores da varivel densidade de drenagem (Dd) das microbacias

    da bacia do rio Capivari.................................................................... 129

    Figura 42: Valores da varivel densidade hidrogrfica (Dh) das microbacias

    da bacia do rio Capivari.................................................................... 130

    Figura 43: Valores da varivel coeficiente de manuteno (Cm) das

    microbacias da bacia do rio Capivari................................................ 131

    Figura 44: Valores da varivel extenso do percurso superficial (Eps) das

    microbacias da bacia do rio Capivari................................................ 132

    Figura 45: Valores da varivel textura topogrfica (Tt) das microbacias da

    bacia do rio Capivari......................................................................... 133

    Figura 46: Valores da varivel razo de bifurcao entre os canais de

    primeira e segunda ordens (Rb1-2) das microbacias da bacia do

    rio Capivari....................................................................................... 134

    Figura 47: Valores da varivel razo de comprimento mdio entre os canais

    de segunda e de primeira ordens (Rlm2-1) das microbacias da

    bacia do rio Capivari......................................................................... 135

    Figura 48: Matriz grfica com dados morfolgicos das 64 microbacias da

    bacia do rio Capivari......................................................................... 136

    Figura 49: Relao entre rea e relao de relevo para as 64 microbacias da

    bacia do rio Capivari......................................................................... 137

    Figura 50: Relao entre comprimento do canal principal e ndice de

    sinuosidade para as 64 microbacias da bacia do rio Capivari.......... 138

    Figura 51: Relao entre ordem do canal principal e ndice de sinuosidade

    para as 64 microbacias da bacia do rio Capivari.............................. 138

    Figura 52: Matriz grfica com dados morfolgicos e do substrato rochoso das

  • iv

    64 microbacias da bacia do rio Capivari........................................... 139

    Figura 53: Relao entre microbacias arenticas e o ndice de circularidade.... 140

    Figura 54: Relao entre microbacias do Embasamento e a relao de relevo 141

    Figura 55: Relao entre microbacias arenticas e o ndice de sinuosidade..... 141

    Figura 56: Relao entre microbacias do Embasamento e o ndice de

    sinuosidade....................................................................................... 142

    Figura 57: Matriz grfica com dados morfolgicos e da rede de drenagem...... 144

    Figura 58: Relao entre rea e densidade de drenagem................................. 144

    Figura 59: Relao entre relao de relevo e densidade de drenagem............ 145

    Figura 60: Relao entre razo de bifurcao (Rb1-2) e razo de

    comprimento mdio (Rlm2-1) para as 64 microbacias da bacia do

    rio Capivari........................................................................................ 146

    Figura 61: Matriz grfica com dados da rede de drenagem e do substrato

    rochoso das 64 microbacias da bacia do rio Capivari....................... 147

    Figura 62: Relao entre microbacias arenticas e a densidade de drenagem. 147

    Figura 63: Relao entre microbacias do Embasamento e a densidade de

    drenagem.......................................................................................... 148

    Figura 64: Relao entre microbacias arenticas e a densidade Hidrogrfica.. 148

    Figura 65: Relao entre microbacias do Embasamento e a densidade

    Hidrogrfica....................................................................................... 149

    Figura 66: Relao entre microbacias do Embasamento e a razo de

    bifurcao.......................................................................................... 150

    Figura 67: Matriz grfica com variveis da rede de drenagem e taxas de

    variao das variveis morfomtricas no perodo entre 1972 e

    1995.................................................................................................. 151

    Figura 68: Relao entre densidade de drenagem e sua taxa de variao (%)

    no perodo entre 1972 e 1995........................................................... 152

    Figura 69: Relao entre densidade Hidrogrfica e sua taxa de variao (%)

    no perodo entre 1972 e 1995 ......................................................... 152

    Figura 70: Relao entre taxas de variao (%) de densidade de drenagem e

    densidade Hidrogrfica, no perodo entre 1972 e

    1995.................................................................................................. 153

    Figura 71: Relao entre rea da microbacia e taxa de variao de Rb1-2

    (%) no perodo entre 1972 e 1995.................................................... 154

    Figura 72: Relao entre ordem da microbacia e taxa de variao de Rb1-2

  • v(%) no perodo entre 1972 e 1995.................................................... 154

    Figura 73: Relao entre densidade de drenagem e taxa de variao de Rb1-

    2 (%) no perodo entre 1972 e 1995................................................. 155

    Figura 74: Relao entre densidade hidrogrfica e taxa de variao de Rb1-2

    (%) no perodo entre 1972 e 1995.................................................... 155

    Figura 75: Relao entre taxas de variao (%) de razo de bifurcao e

    razo de comprimento mdio, no perodo entre 1972 e 1995.......... 156

    Figura 76: Relao entre microbacias urbanas e taxa de variao de Dd (%)

    no perodo entre 1972 e 1995........................................................... 157

    Figura 77: Relao entre microbacias urbanas e taxa de variao de Dh (%)

    no perodo entre 1972 e 1995........................................................... 158

    Figura 78: Relao entre microbacias rurais (com predomnio de pastagem) e

    taxa de variao de Dd (%) no perodo entre 1972 e 1995.............. 159

    Figura 79: Relao entre microbacias rurais (com predomnio de pastagem) e

    taxa de variao de Dh (%) no perodo entre 1972 e 1995.............. 159

    Figura 80: Relao entre microbacias rurais (com predomnio de cana de

    acar) e taxa de variao de Dd (%) no perodo entre 1972 e

    1995.................................................................................................. 160

    Figura 81: Relao entre microbacias rurais (com predomnio de cana de

    acar) e taxa de variao de Dh (%) no perodo entre 1972 e

    1995.................................................................................................. 160

    Figura 82: Mapa com a classificao das microbacias da bacia do rio

    Capivari quanto s alteraes na rede de drenagem....................... 164

  • vi

    LISTA DE TABELAS

    Tabela 01: Efeitos ambientais devido s prticas agrcolas (modificado de

    Corson, 1993)...................................................................................... 16

    Tabela 02: Alteraes fsicas e qumicas decorrentes de intervenes

    antrpicas sobre o meio fsico (modificado de FAO, 1995)................ 17

    Tabela 03: Problemas gerados devido disposio inadequada de resduos

    (modificado de Cunha & Consoni, 1995)............................................ 20

    Tabela 04: Formas de mineraes e impactos decorrentes no municpio de

    Campinas SP (modificado de IG, 1995)........................................... 22

    Tabela 05: Metas ambientais para o estudo de impactos em planejamento

    (adaptado de McDonald & Brown, 1995)............................................ 23

    Tabela 06: Dados demogrficos e de infra-estrutura urbana dos municpios

    integrantes da bacia do rio Capivari (IBGE, 1994).............................. 31

    Tabela 07: Dados agropecurios dos municpios que compem a bacia do rio

    Capivari (IBGE, 1994)......................................................................... 31

    Tabela 08: Licenas de implantao (LI) e de funcionamento (LF) de indstrias

    na bacia do rio Capivari emitidas pela CETESB em 1995 (CBH-

    PCJ, 1996)........................................................................................... 32

    Tabela 09: Carga poluidora orgnica dos municpios que compem a bacia do

    rio Capivari (adaptado de CBH-PCJ, 1996)........................................ 43

    Tabela 10: Cargas orgnicas e inorgnicas geradas nas indstrias instaladas

    na bacia do rio Capivari (CETESB, 1996)........................................... 43

    Tabela 11: Quantidade de resduos slidos, por classes, gerada na bacia do rio

    Capivari (adaptado de CETESB, 1993)............................................... 45

    Tabela 12: Quantidade de resduos slidos domsticos, por municpios,

    gerada na bacia do rio Capivari (adaptado de CETESB, 1993).......... 45

    Tabela 13: Imagens de satlite Landsat TM utilizadas para a obteno do

    mapa de uso e ocupao da bacia do rio Capivari............................. 52

    Tabela 14: Tipos de uso e ocupao levantados na bacia do rio Capivari para

    serem utilizados como amostras de treinamento na classificao

    supervisionada.................................................................................... 60

    Tabela 15: Dados referentes extenso das classes de uso e ocupao na

    bacia do rio Capivari............................................................................ 77

    Tabela 16: Dados da bacia do rio Capivari referentes anlise temporal

  • vii

    efetuada por meio do estudo comparativo de fotografias areas....... 78

    Tabela 17: reas ocupadas por mineraes e/ou disposio de resduos nas

    microbacias mais significativas........................................................... 81

    Tabela 18: reas ocupadas por represas nas microbacias mais significativas.... 82

    Tabela 19: Aspectos referentes fotointerpretao que influenciaram no

    traado das redes de drenagem.......................................................... 103

    Tabela 20: Dados morfomtricos da microbacia B51 adquiridos com base na

    interpretao das fotografias areas, nas escalas 1:60.000 e

    1:25.000............................................................................................... 104

    Tabela 21: Terminologia utilizada para arquivos e layers na digitalizao da

    microbacia B51.................................................................................... 108

    Tabela 22: Resultados do Passo 1 da anlise discriminante, considerando as

    variveis Dd, Dh, Rb1-2 e Rlm2-1....................................................... 118

    Tabela 23: Resultados do Passo 2 da anlise discriminante, considerando as

    variveis Dd e Dh................................................................................ 118

    Tabela 24: Classificao das microbacias por grau de alterao com base nos

    grupos obtidos com a anlise de agrupamento.................................. 120

    Tabela 25: Resultados da anlise discriminante obtidos no programa Statstica

    5.5 para grupos definidos na anlise de agrupamento..................... 120

    Tabela 26: Dados estatsticos bsicos e faixas de distribuio para os valores

    de Ic..................................................................................................... 126

    Tabela 27: Dados estatsticos bsicos e faixas de distribuio para Rr............... 127

    Tabela 28: Dados estatsticos bsicos e faixas de distribuio para os valores

    de Si.................................................................................................... 128

    Tabela 29: Dados estatsticos bsicos e faixas de distribuio para Dd.............. 129

    Tabela 30: Dados estatsticos bsicos e faixas de distribuio para Dh.............. 130

    Tabela 31: Dados estatsticos bsicos e faixas de distribuio para os valores

    de Cm.................................................................................................. 131

    Tabela 32: Dados estatsticos bsicos e faixas de distribuio para os valores

    de Eps................................................................................................. 132

    Tabela 33: Dados estatsticos bsicos e faixas de distribuio para Tt................ 133

    Tabela 34: Dados estatsticos bsicos e faixas de distribuio para os valores

    de Rb1-2.............................................................................................. 134

    Tabela 35: Dados estatsticos bsicos e faixas de distribuio para Rlm2-1....... 135

  • viii

    LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

    Basic Stats - Estatstica Bsica

    CBH-PCJ - Comit de Bacias Hidrogrficas dos rios Piracicaba, Capivari e

    Jundia

    CETESB - Companhia de Tecnologia e Saneamento Ambiental do Estado de

    So Paulo

    CONAMA - Conselho Nacional do Meio Ambiente

    CPRM - Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais

    DAEE - Departamento de gua e Energia Eltrica

    DNPM - Departamento Nacional de Produo Mineral

    EIA - Estudo de Impacto Ambiental

    ENVI - Environment for Visualizing Images

    FJP - Fundao Joo Pinheiro

    GPS - Geographic Position System

    IBAMA - Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos Naturais

    Renovveis

    IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica

    IDL - Interactive Data Linguage

    IG - Instituto Geolgico

    IPT - Instituto de Pesquisas Tecnolgicas do estado de So Paulo

    JUCESP - Junta Comercial do estado de So Paulo

    LF - Licena de Funcionamento

    LI - Licena de Implantao

    MDT - Modelo Digital do Terreno

    PCM - Prefeitura Municipal de Campinas

    PIB - Produto Interno Bruto

    RGB - Red Green Blue

    RMS - Root Mean Square

    SEMA - Secretaria Especial do Meio Ambiente

    SIG - Sistema de Informaes Geogrficas

    SISNAMA - Sistema Nacional do Meio Ambiente

    UNESP - Universidade Estadual Paulista

    UTM - Universal Transverse Mercator

  • ix

    LISTA DE SMBOLOS

    A - rea

    ARENITO% - porcentagem de rea ocupada em uma microbacia por rochas

    sedimentares arenticas

    Cd - Cdmio

    Cm - Coeficiente de Manuteno

    D2 - Distncia Generalizada Mahalanobis

    DBO - Demanda Bioqumica de Oxignio

    Dd - Densidade de Drenagem

    Dh - Densidade Hidrogrfica

    dm - Largura Mdia

    E - Leste

    EMBASAM% - porcentagem de rea ocupada em uma microbacia por litologias do

    Embasamento Cristalino

    Eps - Extenso do Percurso Superficial

    Ft - Fator Topogrfico

    H0 - Hiptese nula

    H1 - Hiptese alternativa

    hab - habitantes

    Hm - Amplitude Altimtrica Mxima

    Ic - ndice de Circularidade

    INTERC% - porcentagem de rea ocupada em uma microbacia por rochas

    sedimentares intercaladas

    kg - quilograma

    km - quilmetro

    Km2 - quilmetro quadrado

    L - Maior Comprimento

    Li - Comprimento Total de Canais por Ordem Hierrquica

    Lmi - Comprimento Mdio por Ordem Hierrquica

    Lrio - Comprimento do Rio Principal

    Lt - Comprimento Total da Rede de Drenagem

    Lvec - Comprimento Vetorial do Rio Principal

    m - metro

    mm - milmetro

  • xmodo Q - agrupamento entre casos

    modo R - agrupamento entre variveis

    N - Norte

    N/km2 - nmero de canais por quilmetro quadrado

    Ni - Nmero Total de Canais por Ordem Hierrquica

    P - Permetro

    Rb - Razo de Bifurcao

    Rlm - Razo de Comprimento Mdio

    Rr - Relao de Relevo

    S - Sul

    Si - ndice de Sinuosidade

    Tt - Textura Topogrfica

    v. limite - valor limite

    W - Oeste

    % - porcentagem

    a - grau de significncia

    mm - micrometros0C - graus Celsius

  • xi

    RESUMO

    Collares, E. G. (2000). Avaliao de alteraes em redes de drenagem de

    microbacias como subsdio ao zoneamento geoambiental de bacias

    hidrogrficas: aplicao na bacia hidrogrfica do rio Capivari - SP. So Carlos,

    2000. 2v. Tese (Doutorado) Escola de Engenharia de So Carlos,

    Universidade de So Paulo.

    A rede de drenagem se constitui em importante indicador de alteraes

    ocorridas na composio da paisagem de bacias hidrogrficas, seja por mudanas

    na sua estruturao, forma ou ento por ganho ou perda de canais. O objetivo

    deste trabalho apresentar e aplicar uma proposta metodolgica, com base em

    anlise morfomtrica temporal das redes de drenagem de microbacias, visando a

    avaliao das alteraes e o zoneamento regional de uma bacia hidrogrfica. A

    metodologia envolve o uso de imagens de sensoriamento remoto e tcnicas de

    geoprocessamento para a caracterizao das atividades antrpicas e levantamento

    das variveis morfomtricas em duas datas, com um intervalo de 23 anos. A

    avaliao das alteraes e a consequente classificao das microbacias so

    efetuadas com base em anlise estatstica multivariada. A proposta foi aplicada na

    bacia hidrogrfica do rio Capivari e os resultados comprovam que ocorreram

    alteraes significativas na composio da rede de drenagem no perodo de

    anlise. As variveis morfomtricas que mais contriburam para a avaliao das

    alteraes foram a Densidade de Drenagem e Densidade Hidrogrfica. Dentre as

    microbacias que mais se alteraram esto as urbanas ou em processo de

    urbanizao e, dentre aquelas onde as alteraes foram menos pronunciadas esto

    as microbacias rurais, com predomnio de pastagens e/ou cana de acar.

    Palavras-chave: anlise morfomtrica; sensoriamento remoto; fotointerpretao;

    geoprocessamento; anlise estatstica multivariada.

  • xii

    ABSTRACT

    Collares, E. G. (2000). Alteration evaluation in microbasin drainage systems as a

    subsidy to the geoenvironmental zoning of hydrographic basins: application in the

    Capivari river hydrographic basin. So Carlos, 2000. 2v. Tese (Doutorado)

    Escola de Engenharia de So Carlos, Universidade de So Paulo.

    The drainage system is an important indicator of the alterations occurred in

    the composition of the hydrographic basin environment, either due to changes in

    their structure and shape or due to channel loss and gain. The objective of this

    project is to present and apply a methodological proposal, based on time

    morphometric analysis of the microbasin drainage systems, aiming at the alteration

    evaluation and the regional zoning of a hydrographic basin. The methodology

    involves the use of remote images and geoprocessing techniques for the

    characterization of the anthropic activities and the determination of the morphometric

    variables on two dates, with a 23-year interval. The evaluation of the alterations and

    the consequent microbasin classification are carried out based on multivariate

    statistical analysis. The proposal was applied on Capivari river hydrographic basin,

    and the results prove that there were significative alterations in the drainage system

    composition in the analyzed period. The morphometric variables which most

    contributed to the alteration evaluation were the Drainage Density and the

    Hydrographic Density. Among the microbasins which were most altered there are

    the urban and under urbanization ones, and among those which had less

    significative alterations there are the rural microbasins, prevailing the pasture lands

    and sugar-cane raising.

    Keywords: morphometric analysis; remote sensing; photointerpretation;

    geoprocessing; multivariate statistical analysis.

  • 11 INTRODUO

    A adoo de bacia hidrogrfica como unidade de gesto ambiental e

    planejamento uma tendncia em muitos pases e vem ganhando fora no Brasil,

    com a regulamentao da Poltica Nacional dos Recursos Hdricos (Lei n0 9433, de

    1997), que estipula ainda uma atuao descentralizada e participativa nos

    processos de gesto.

    A nova legislao prev a criao de comits e agncias de bacias e a

    participao de organizaes civis no planejamento ambiental e na elaborao de

    planos diretores para as bacias hidrogrficas. Profissionais ligados s geocincias

    devem ter participao efetiva neste mbito, para o estabelecimento de diagnstico

    geoambiental e proposio de medidas corretivas.

    Os limites de atuao para uma unidade de gesto e planejamento

    ambiental, previstos na legislao, referem-se a bacias de mdio e grande portes.

    Desta forma, considerando-se as condies scio-econmicas e geoambientais do

    pas, torna-se necessrio estabelecer a melhor escala de trabalho para se atingir os

    objetivos pretendidos e disponibilizar sistemticas compatveis com esta escala.

    Atualmente, com raras excees, o diagnstico ambiental e da qualidade

    das guas nas bacias hidrogrficas efetuado por rgos governamentais

    estaduais, que se limitam anlise da qualidade das guas em um nmero muito

    limitado de estaes, geralmente no canal principal da bacia. Este procedimento,

    entretanto, s apropriado para indicar o enquadramento destes corpos dgua em

    classes de uso e no permite uma anlise das alteraes ocorridas no meio fsico.

    O estabelecimento de um programa de atuao nas unidades de gesto

    deve, em um primeiro momento, utilizar tcnicas de cunho regional, de carter

    restritivo, permitindo a discriminao dos setores mais crticos. Aes mais efetivas

  • 2e estudos em escalas maiores devero ser efetuados, preferencialmente, nestes

    setores; apenas nestes casos as anlises quantitativas, como o monitoramento da

    qualidade das guas, devero ser prioritrias.

    As anlises regionais devem ser encaminhadas visando estabelecer o

    zoneamento da bacia com base nas formas de uso e ocupao e no diagnstico

    das alteraes provocadas por intervenes antrpicas no meio fsico. Imagens de

    sensoriamento remoto e tcnicas de geoprocessamento tm sido utilizadas com

    propsitos semelhantes em alguns pases.

    Para o diagnstico das alteraes em escala regional, a rede de drenagem

    parece ser um bom indicador, uma vez que est vulnervel s diversas formas de

    atuao antrpica, tais como atividades urbanas, agrcolas, minerrias e obras de

    infra-estrutura. Mudanas na sua estruturao e forma ou devidas ainda perda ou

    surgimento de novos canais podem determinar uma nova dinmica para o

    escoamento superficial das guas.

    Diante dos novos desafios traados pelas mudanas na poltica ambiental e

    da necessidade de desenvolvimento de tecnologias aplicveis realidade

    brasileira, procurou-se estabelecer uma proposta metodolgica para subsidiar o

    zoneamento geoambiental de bacias hidrogrficas, em escala regional. O ponto

    fundamental foi o estabelecimento de um critrio para avaliar as alteraes

    ocorridas em componentes da paisagem e, desta forma, promover a

    compartimentao do terreno (em microbacias) e a identificao daquelas em

    situaes mais crticas.

    O trabalho foi estruturado de maneira que cada um dos temas que norteiam

    a proposta metodolgica pudessem ser consultados de forma independente, sem

    que seja necessrio um conhecimento global sobre a proposta para o entendimento

    e a aplicao das partes. Desta forma, os principais captulos (4, 5 e 6) foram

    escritos na forma de artigos tcnicos, envolvendo os conhecimentos fundamentais

    para a compreenso do tema, reviso bibliogrfica, metodologia, resultados e

    discusses.

  • 3No mbito geral o trabalho apresenta os seguintes tpicos: reviso sobre o

    uso de bacias hidrogrficas como unidade de planejamento (Captulo 2);

    caracterizao da rea de aplicao da metodologia (Captulo 3); Levantamento de

    caractersticas de uso e ocupao do terreno e atividades antrpicas, com uso de

    tcnicas de geoprocessamento (Captulo 4); anlise temporal de alteraes em

    redes de drenagem de microbacias com base em variveis morfomtricas (Captulo

    5) e avaliao das alteraes ocorridas nas microbacias da bacia hidrogrfica do rio

    Capivari e suas relaes com caractersticas do meio fsico e de uso e ocupao

    (Captulo 6). Nos apndices so apresentadas fichas descritivas das microbacias

    com as redes de drenagem em 1972 e 1995 e dados analticos referentes

    morfometria e caractersticas de uso e ocupao.

    1.1 Objetivos

    1.1.1 Objetivo geral

    Apresentar e aplicar uma proposta metodolgica, em escala regional, que

    permita avaliar alteraes em componentes da paisagem de bacias hidrogrficas e

    desta forma disponibilizar um instrumento de avaliao geoambiental aos orgos

    regionais responsveis pelo planejamento ambiental das bacias hidrogrficas

    brasileiras.

    1.1.2 Objetivos especficos

    - Avaliar o uso de tcnicas e aplicativos de geoprocessamento no levantamento

    de caractersticas de uso e ocupao do terreno e na obteno da rede de

    drenagem de bacias hidrogrficas;

    - Avaliar as alteraes em componentes da paisagem com base em anlise

    temporal de fotografias areas;

    - Avaliar o uso de variveis morfomtricas como indicadores de alteraes em

    bacias hidrogrficas;

    - Aplicar a proposta metodolgica na bacia hidrogrfica do rio Capivari e

    classificar suas microbacias quanto ao grau de alterao na rede de drenagem.

  • 41.2 Localizao da rea de aplicao da proposta metodolgica

    A bacia do rio Capivari possui uma rea de 1580 km2 e est localizada na

    regio centro-leste do estado de So Paulo, com os seguintes limites geogrficos

    aproximados: latitudes 22050 S e 23020 e longitudes 46040 W e 47050 W (Figura

    01). Possuem sede dos municpios dentro dos limites da bacia as cidades de

    Campinas, Monte Mor, Louveira, Capivari, Elias Fausto, Rafard e Mombuca. As

    principais rodovias que cortam a bacia so: Rodovia dos Bandeirantes (SP-348);

    Rodovia Anhanguera (SP-330) e Rodovia Santos Dumont (SP-300).

    Figura 01: Localizao da bacia do rio Capivari.

  • 52 BACIA HIDROGRFICA COMO UNIDADE DE

    PLANEJAMENTO (UMA REVISO)

    2.1 Evoluo da poltica ambiental brasileira

    O marco inicial da implantao da poltica ambiental no Brasil ocorreu no

    incio da dcada dos setenta, aps a Primeira Conferncia das Naes Unidas em

    Estocolmo, em 1972, e surgiu como resultado de uma presso exercida por

    organizaes internacionais insatisfeitas com a ausncia de poltica e de legislao

    de contedo especificamente ambiental no pas (FJP, 1998).

    Como resposta presso internacional, o governo brasileiro encaminhou a

    criao, em 1973, do SEMA - Secretaria Especial de Meio Ambiente (Decreto n0

    73.030). Vale ressaltar que, em termos de aparato legislativo, existem documentos

    legais mais antigos, tais como o Cdigo Florestal (editado em 1934 e reformulado

    em 1965), o Cdigo das guas (1934), o Cdigo de Pesca (1938), o Cdigo de

    Minas (1940), o Cdigo Nacional de Sade (1954) e a Poltica Nacional de

    Saneamento Bsico (1967).

    As primeiras medidas advindas com a criao do SEMA ocorreram em

    1975 (Decretos-lei 1.413 e 7.389) e se referem poluio industrial nos grandes

    centros urbanos e s medidas de preveno e controle de poluio industrial. Esta

    fase, entretanto, no se mostrou efetiva na resoluo dos problemas ambientais,

    posto que nesta poca o Brasil estava mais preocupado com o desenvolvimento

    econmico. Um reflexo deste quadro foi sentido com o Decreto 81.107, de 1977,

    que definiu o elenco de atividades consideradas de alto interesse para o

    desenvolvimento e a segurana nacional, onde, dentre elas, se destacou o

    incentivo a algumas indstrias altamente poluidoras.

  • 6A poltica ambiental comeou a tomar novos rumos em 1981, no governo

    Geisel, com a Lei Nacional do Meio Ambiente (Lei 6.938), que teve por objetivo a

    preservao, a melhoria e recuperao da qualidade ambiental propcia vida,

    visando assegurar, no pas, condies ao desenvolvimento scio-econmico, aos

    interesses da segurana nacional e proteo da dignidade da vida humana. Os

    princpios abordados na lei so os seguintes:

    - ao governamental na manuteno do equilbrio ecolgico, considerando o

    meio ambiente como um patrimnio pblico a ser necessariamente assegurado

    e protegido, tendo em vista o uso coletivo;

    - racionalizao do uso do solo, do subsolo, da gua e do ar;

    - planejamento e fiscalizao do uso dos recursos ambientais;

    - proteo dos ecossistemas, com a preservao de reas representativas;

    - controle e zoneamento das atividades potencial ou efetivamente poluidoras;

    - incentivos ao estudo e pesquisa de tecnologias orientadas para o uso racional

    e proteo dos recursos ambientais;

    - acompanhamento do estado da qualidade ambiental;

    - recuperao de reas degradadas;

    - proteo de reas ameaadas de degradao;

    - educao ambiental em todos os nveis de ensino, inclusive a educao da

    comunidade, objetivando capacit-la para participao ativa na defesa do meio

    ambiente.

    A Lei apresenta ainda uma srie de instrumentos que visa contribuir para

    que se alcance o objetivo proposto. Alguns destes instrumentos, entretanto, at

    hoje no foram implementados e outros necessitam de ajustes para que atendam,

    satisfatoriamente, ao objetivo ao qual esto destinados. Os instrumentos so:

    - o estabelecimento de padres de qualidade ambiental;

    - o zoneamento ambiental;

    - a avaliao de impactos ambientais;

    - o licenciamento e a reviso de atividades efetiva ou potencialmente poluidoras;

    - os incentivos produo e instalao de equipamentos e criao ou absoro

    de tecnologia, voltados para melhoria da qualidade ambiental;

    - a criao de espaos territoriais especialmente protegidos pelo poder pblico

    federal, estadual e municipal, tais como reas de proteo ambiental, de

    relevante interesse ecolgico e reservas extrativistas;

  • 7- o sistema nacional de informaes sobre o meio ambiente;

    - o cadastro tcnico federal de atividades e instrumentos de defesa ambiental;

    - as penalidades disciplinares ou compensatrias ao no cumprimento das

    medidas necessrias preservao ou correo da degradao ambiental;

    - a instituio do relatrio de qualidade do meio ambiente a ser divulgado

    anualmente pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Naturais

    Renovveis (IBAMA);

    - a garantia da prestao de informaes relativas ao meio ambiente, obrigando-

    se o poder pblico a produz-las quando inexistentes;

    - o cadastro tcnico federal de atividades potencialmente poluidoras e/ou

    utilizadoras dos recursos ambientais.

    A promulgao da lei resultou na criao do CONAMA (Conselho Nacional

    do Meio Ambiente) e na formao do SISNAMA (Sistema Nacional do Meio

    Ambiente), sendo o primeiro destinado formulao de diretrizes para a Poltica

    Nacional do Meio Ambiente e o outro, constitudo por rgos da Unio, dos

    estados, do Distrito Federal e dos municpios e por fundaes institudas pelo poder

    pblico, responsvel pela proteo e melhoria da qualidade ambiental.

    Um ponto fundamental na Lei 6.938, radicalmente contrria posio da

    Unio at ento, com respeito s questes ambientais, foi a descentralizao da

    execuo da poltica de controle ambiental, motivando a ao dos estados e

    municpios e reservando a ela a superviso e edio de normas gerais da poltica

    ambiental, endossando, assim, a idia da internalizao da gesto ambiental pelos

    governos locais. Com a nova legislao, os estados podem elaborar normas,

    quando delegado pela Unio (competncia privativa) ou ento complementar as

    normas gerais elaboradas pela Unio, desde que sejam de carter mais restritivo.

    Os municpios, assim como os estados, podem tambm legislar complementando

    as normas estabelecidas pelos estados e pela Unio.

    Um importante instrumento em defesa do meio ambiente foi institudo em

    1985 (Lei 7.347), autorizando a Ao Civil Pblica. At ento, o nico meio de ao

    legal em defesa do meio ambiente era a Ao Popular, que aquela onde qualquer

    cidado pode ser parte legtima para prop-la, desde que assistido por um

  • 8advogado. Os custos processuais e com advogado, entretanto, sempre dificultaram

    a utilizao deste instrumento pelo cidado comum.

    Com o advento da Ao Civil Pblica, o Ministrio Pblico apresenta-se

    como curador do meio ambiente e tem a incumbncia de apresentar-se como autor

    em aes referentes a atos que provoquem a degradao do meio ambiente, e

    desta forma tornou-se um aliado do cidado comum preocupado com os danos

    causados ao meio ambiente.

    Em 1988, a Constituio Nacional dedicou um captulo ao meio ambiente e,

    pela primeira vez na histria do pas, fez referncia explcita ao direito coletivo a um

    meio ambiente protegido, atribuindo responsabilidade administrativa, civil ou

    criminal em relao aos danos a ele causados.

    No final da dcada dos 80 at os dias atuais ocorreram vrias mudanas

    administrativas nos organismos responsveis por ditar as regras relacionadas ao

    meio ambiente, provocadas pelos diferentes governos. Em 1989 o presidente Jos

    Sarney extinguiu a SEMA e criou o Instituto Brasileiro do Meio ambiente e dos

    Recursos Naturais Renovveis IBAMA (Lei 7.735). Em 1990 o presidente

    Fernando Collor criou a Secretaria Nacional do Meio Ambiente e alterou as

    estruturas e atribuies do SISNAMA e do CONAMA (Decreto 99.274). Em 1992 o

    governo Itamar franco elevou a Secretaria Nacional do Meio Ambiente categoria

    de Ministrio do Meio Ambiente e em 1993 a Ministrio do Meio Ambiente e da

    Amaznia Legal e o presidente Fernando Henrique Cardoso, em 1995, o trasformou

    em Ministrio do Meio Ambiente, Recursos Hdricos e da Amaznia Legal.

    Em 1998 a legislao ambiental tomou novo impulso com a promulgao da

    Lei de Crimes Ambientais (Lei 9.605), onde os princpios assegurados pela

    Constituio Federal passaram a ser disciplinados e regulamentados. A Lei versa

    sobre condutas e atividades consideradas lesivas ao meio ambiente que passam a

    ser punidas civil, administrativa e criminalmente, obrigando o autor da conduta a

    promover a recuperao do dano e a responder com o pagamento de multa,

    prestao pecuniria e processo criminal.

  • 9No tocante a medidas que priorizassem o planejamento ambiental, foi

    sancionada em Janeiro de 1997 a Poltica Nacional de Recursos Hdricos (Lei

    9.433), com base no modelo francs de gesto ambiental. Como princpios bsicos

    da nova Lei esto:

    - Adoo da bacia hidrogrfica como unidade de planejamento;

    - Usos mltiplos da gua (todos os setores usurios tm igual acesso ao uso dos

    recursos hdricos);

    - Reconhecimento da gua como um bem finito e vulnervel;

    - Reconhecimento do valor econmico da gua;

    - Gesto descentralizada e participativa.

    2.2 A bacia hidrogrfica como limite territorial para planejamento ambiental

    Lanna (1995) prope a adoo da unidade territorial bacia hidrogrfica

    como uma das alternativas para o planejamento e gerenciamento ambiental,

    destacando algumas vantagens e desvantagens. Dentre as vantagens argumenta

    que a rede de drenagem de uma bacia pode ser capaz de indicar relaes de

    causa-efeito, particularmente aquelas que envolvem o meio hdrico. Dentre as

    desvantagens argumenta que nem sempre os limites municipais e estaduais

    respeitam os divisores da bacia.

    Ross & Del Prette (1998) ressaltam que a gesto ambiental caminha

    progressivamente para tomar as bacias hidrogrficas como unidades de

    planejamento regional, mas com uma clara nfase nos recursos hdricos. Advertem,

    entretanto, sobre a necessidade de uma poltica que contemple os outros

    componentes dos recursos naturais (solos, relevo, atmosfera, substrato rochoso,

    flora e fauna) e os componentes sociais e econmicos, no em termos de bacias

    hidrogrficas, mas tambm considerando sua insero regional e sua articulao

    com os problemas nacionais.

    A adoo da bacia hidrogrfica como unidade de planejamento no uma

    unanimidade entre os pases. Segundo Bourlon & Berthon (1993) vrios pases da

    Europa, como por exemplo, Alemanha, ustria, Blgica, Dinamarca e Sucia,

    adotam limites administrativos. Dentre os pases que adotam os limites definidos

  • 10

    por bacias hidrogrficas esto Frana, Espanha, Grcia, Portugal, Reino Unido e os

    Estados Unidos.

    Nos Estados Unidos, apesar haver deste 1965 uma lei que determina a

    utilizao de bacias hidrogrficas no planejamento ambiental e dos recursos

    hdricos, a grande autonomia dos estados, conforme Setti (1996), faz com que

    ocorram algumas dificuldades para a implantao e execuo deste sistema.

    Na Frana, a legislao que instituiu a adoo da bacia hidrogrfica como

    unidade bsica de planejamento e gerenciamento data de 1964. Trata-se de um

    sistema descentralizado, com a participao da comunidade e que prev a

    cobrana pelo uso da gua. A organizao do sistema se estabelece pela atuao

    de trs entidades, conforme Lanna (1995) e Setti (1996): o Comit de Bacia, que

    funciona como um parlamento das guas, sendo responsvel pelas aes

    normativas; a Agncia de Bacia, que um organismo pblico com personalidade

    civil e autonomia financeira, responsvel pela cobrana do uso da gua, atribuio

    de subsdios e emprstimos para realizao de obras de interesse comum e

    contribuio na execuo de estudos e pesquisa; e as Comunas e Departamentos,

    que estabelecem os objetivos de qualidade para os cursos dgua e executam as

    obras pblicas na bacia. Acima destas trs entidades est o Estado, por meio de

    uma coordenao interministerial, que monitora as fontes poluidoras e/ou

    consumidoras e exerce a tutela sobre as agncias e comits.

    O sistema que vem sendo implementado no Brasil desde 1976 por meio de

    projetos-piloto e que foi posteriormente incorporado pela Poltica Nacional de

    Recursos Hdricos (Lei 9.433), tem por base o modelo francs. A primeira

    experincia, segundo Assis (1996), foi implantada nas bacias do Alto Tiet e

    Cubato, no estado de So Paulo.

    Assis (1996) e Ross & Del Prette (1998) destacam outras experincias a

    partir de 1979, com a participao dos governos federal e estaduais por meio de

    Comits Executivos de Estudos Integrados de Bacias de Rios Federais,

    destacando-se as bacias dos rios Paraba do Sul (So Paulo, Minas Gerais e Rio

    de Janeiro), Paranapanema (So Paulo, Paran), Grande (So Paulo e Minas

    Gerais), Ribeira do Iguape (So Paulo e Paran), Jaguari-Piracicaba (So Paulo e

  • 11

    Minas Gerais), Iguau (Paran e Santa Catarina) e So Francisco (Minas Gerais,

    Bahia, Sergipe e Pernambuco).

    Segundo Assis (1996) estes comits logo se desgastaram pela ineficincia

    de suas proposies, devido, principalmente, falta de poder deliberativo e de

    recursos financeiros. Entretanto, conforme Ross & Del Prette (1998), a iniciativa foi

    importante por estabelecer um modelo de macrozoneamento para as bacias

    hidrogrficas brasileiras.

    O primeiro grande passo para instituir uma poltica efetiva de recursos

    hdricos utilizando-se de bacias hidrogrficas como unidade de planejamento surgiu

    no estado de So Paulo em 1987, quando comeou a ser formulado o Plano

    Estadual de Recursos Hdricos, promulgado como lei em 1991. Pela nova lei

    ficaram estabelecidos os seguintes pontos: adoo da bacia hidrogrfica como

    unidade fsico-territorial de planejamento e gerenciamento; gerenciamento

    descentralizado, participativo e integrado dos recursos hdricos; e cobrana pelo

    uso da gua. Para servir de experincia piloto em suas disposies transitrias

    estabeleceu-se dois Comits de Bacias em regies diferenciadas e crticas: um

    para as bacias do Alto Tiet e Baixada Santista e outro para as bacias dos rios

    Piracicaba, Capivari e Jundia (Assis, 1996).

    O comit das bacias dos rios Piracicaba, Capivari e Jundia teve como ponto

    de apoio a Consrcio Intermunicipal da Bacia do Piracicaba-Capivari, estabelecido

    em 1989. Segundo Ross & Del Prette (1998) a criao deste consrcio foi um

    exemplo pioneiro no Brasil, mas j prtica comum no gerenciamento de bacias

    hidrogrficas na Europa, Japo e Estados Unidos. O consrcio foi criado com os

    seguintes objetivos: representar o conjunto de municpios em assuntos de interesse

    comum; melhorar e controlar as condies de saneamento e uso das guas;

    promover formas articuladas de planejamento do desenvolvimento regional;

    desenvolver servios e atividades de interesse dos municpios consorciados.

    Com base no modelo francs e na experincia j consumada pela

    legislao paulista, o governo brasileiro sancionou, em Janeiro de 1997, a Poltica

    Nacional de Recurso Hdricos, que prev o estabelecimento de bacias hidrogrficas

    como unidades de planejamento e gerenciamento e a criao dos seguintes

  • 12

    organismos: Conselho Nacional de Recursos Hdricos; Comits de Bacias

    Hidrogrficas; Agncias de Bacias e Organizaes Civis de Recursos Hdricos.

    Neste sistema, vale destacar o princpio da gesto descentralizada e participativa,

    onde as discusses sobre a melhor maneira de lidar com o meio ambiente devem

    ser geradas pelas prprias localidades.

    As experincias de planejamento ambiental j consumadas no Brasil por

    meio dos comits de bacias priorizam o desenvolvimento regional e o

    estabelecimento de macrozoneamentos. Partindo desta constatao, Lanna (1995)

    questiona sobre qual escala de atuao deveria ser a mais adequada para atender

    aos objetivos e metas pretendidos. Desta maneira, sugere a adoo de, no mnimo,

    duas escalas: a primeira destinada a tratar da complexidade das inter-relaes

    entre o todo e suas partes, envolvendo toda a superfcie territorial da bacia e outra

    que deve tratar especificamente das partes, considerando as restries, limitaes

    e demandas impostas pelo todo, devendo ser aplicada em microbacias.

    Uma proposta de gesto envolvendo microbacias hidrogrficas foi

    apresentada por Christofoletti (1996) utilizando como reas-piloto as microbacias do

    Ribeiro das Furnas e do Ribeiro Claro, localizadas, respectivamente, nos

    municpios de Araras SP e Rio Claro SP. Os procedimentos metodolgicos

    envolvem: a descrio e anlise das caractersticas morfolgicas; a anlise dos

    fluxos de matria e energia e da dinmica dos processos atuantes; e a anlise da

    integrao entre as caractersticas morfolgicas e a dinmica processual.

    2.3 Condicionantes das alteraes ambientais em bacias hidrogrficas

    2.3.1 Conceituao de alterao ambiental

    So os processos do meio fsico e/ ou tecnolgicos que promovem

    dinamismo ao meio ambiente, e que provocam mudanas no mesmo. Segundo

    Fornasari Filho (1992) os processos, de maneira geral, so descritos por intermdio

    da anlise de fluxos de energia e de matria que resultam de interaes entre seus

    diversos componentes.

  • 13

    Os processos do meio fsico, decorrem de interaes com predominncia de

    componentes abiticos. Para Bitar (1995) e Fornasari Filho (1992), a caracterizao

    destes processos, em termos qualitativos e/ou quantitativos, constitui um alicerce

    nos planos de estudos ambientais. Os processos tecnolgicos esto ligados

    interferncia do homem no meio ambiente e so acionados pelas atividades

    modificadoras do meio, tais como ocupaes urbanas, implantao de indstrias,

    cultivo agrcola, obras virias e mineraes.

    s mudanas no meio ambiente decorrentes dos processos, d-se o nome

    de alteraes ambientais. Dentre estas alteraes, aquelas consideradas

    significativas sero denominadas impactos. Na determinao da significncia das

    alteraes, Duinker & Beanlands (1986) incluem os seguintes aspectos:

    - a importncia dos atributos ambientais passveis de serem alterados;

    - a distribuio das alteraes no tempo e no espao;

    - a magnitude das alteraes;

    - o grau de confiana nas medies e previses das alteraes.

    Alguns autores, como Leopold et al (1971) e Tommasi (1994), incluem no

    conceito de impacto ambiental um fator de julgamento, qualificando-o em positivo

    ou negativo. O impacto positivo, ou benfico, resulta de uma melhoria da qualidade

    de uma caracterstica ambiental, enquanto o impacto negativo, ou adverso, resulta

    de um dano qualidade de uma varivel ambiental.

    2.3.2 Atividades modificadoras do meio e impactos decorrentes

    Dentre as atividades que podem provocar alteraes na paisagem ou em

    caractersticas fsicas ou qumicas das guas em uma bacia hidrogrfica, pode-se

    citar como mais importantes aquelas advindas da agropecuria, da urbanizao, da

    minerao e de indstrias. Estas atividades, bem como algumas das principais

    alteraes delas decorrentes sero descritas neste sub-captulo.

    Pires & Santos (1995) procuraram esquematizar e montar a cadeia de

    alteraes geradas em decorrncia destas atividades, culminando com as

  • 14

    alteraes dos recursos hdricos. Este esquema apresentado no organograma da

    Figura 02.

    AGRICULTURA - URBANIZAO - MINERAO - INDSTRIAS

    retirada da coberturavegetal

    impermeabilizao e/oucompactao dos solos

    captao de gua para abastecimento

    utilizao da gua paraescoamento de resduo

    diminuio daprecipitao local

    aumento doescoamento superficial

    diminuio da guano sistema por evaporao

    e derivao

    aumento de substnciasorgnicas e/ou txicas no

    ambiente aqutico

    diminuio da infiltrao aumento da erosodos solosdiminuio da

    evapo-transpiraoprejuzo

    biota aqutica

    diminuio do estoquede gua subterrnea

    aumento doassoreamento decrregos e rios

    alterao da funoambiental de ciclagem dos

    materiais e despoluio

    alterao nos padresde vazo dos crregos e

    rios

    alterao da qualidadeda gua

    cheias e secaspronunciadas

    problemas dequalidade da gua para

    abastecimento

    Figura 02: Alteraes provocadas por atividades antrpicas em bacias hidrogrficas

    (modificado de Pires & Santos, 1995).

  • 15

    2.3.2.1 Atividade agropecuria

    O uso de mtodos insustentveis na agricultura est causando srias

    degradaes e eroso nas terras de cultivo. Segundo Doyle (1991), no incio dos

    anos 80, estimou-se que 6 toneladas de solo foram perdidos para cada tonelada de

    gros produzidos. No mundo so gastos U$ 24 bilhes, anualmente, na tentativa de

    controlar a eroso nas plantaes.

    O crescente uso de fertilizantes qumicos, pesticidas e herbicidas est

    poluindo os aquferos e ameaando pessoas e animais. A cada ano h centenas de

    milhares de acidentes com envenenamento por pesticidas em todo o mundo.

    Segundo Seager et al (1992), s na Inglaterra e Pas de Gales foram 2889 s em

    1989; em 1988 foram 4141.

    Alm destes, h outros efeitos secundrios relacionados s atividades

    agroindustriais:

    - a irrigao das terras de cultivo responde a 73% do consumo total de gua em

    todo o mundo; deste total, segundo Corson (1993),apenas 43% realmente

    utilizado, os outros 57% so perdidos no estoque ou transporte. Este

    desperdcio comea a esgotar o suprimento de gua subterrnea e de

    superfcie, e ainda, o uso excessivo elimina os nutrientes do solo e pode fazer

    com que a terra fique alagada ou demasiamamente salinizada ou alcalinizada.

    - o lanamento de estrume de animais, segundo Seager et al (1992), o principal

    causador de incidentes em fazendas na Inglaterra e Pas de Gales.

    - a abertura de clareiras para a criao de animais e cultivo uma causa

    importante das perdas de florestas. Cerca de 16 milhes de hectares de

    florestas so desmatados a cada ano para o cultivo ou criao de gado

    (Corson, 1993).

    Os principais efeitos ambientais no solo, gua, seres vivos ou outros

    componentes do meio ambiente, devido s diversas prticas agrcolas podem ser

    observados na Tabela 01.

  • 16

    Tabela 01: Efeitos ambientais devido s prticas agrcolas (modificado de Corson,

    1993).

    PRTICASAGRCOLAS

    SOLO GUASUBTERRNEA

    GUA DESUPERFCIE

    FLORA E FAUNA

    OUTROS:ar, barulho,paisagem,produtosagrcolas

    Desenvolvi-mento da terra:programas deconsolidaoda terra

    direoinadequadalevando degradaodo solo

    outra direo daguainfluenciando olenol subterrneode gua

    perda de espciePerda doecossistema,perda dadiversidadebiolgica,

    irrigao,drenagem

    sais emexcesso,represamentode gua

    perda daqualidade (maissais),fornecimento degua potvelafetado

    degradao dosolo,sedimentao,poluio da guacom partculas dosolo

    ressecamento deelementos naturaisafetando osecossistemas nosrios

    degradao daterra se aatividade nofor apropriada localidade

    lavoura erosocausada pelovento e/oupela gua

    mecanizao:equipamentosgrandes oupesados

    compactaodo solo,eroso dosolo

    gases com acombusto,barulho

    uso defertilizante:- nitrognio

    lixiviao donitrato afetando agua

    - fosfato acmulo demetaispesados (Cd)

    escoamento,lixiviao oudescarga diretalevando eutrof icao

    efeito sobre amicroflora do solo

    - esterco,adubo deorigem animal

    excesso:acmulo defosfato decobre(esterco deporco)

    nitrato, fosfato(atravs do usoexcessivo deesterco comoadubo)

    eutrofizao leva: aexcesso de alga eplantas aquticas ediminuio dooxignio, afetandoos peixes

    mau cheiro,amnia

    - adubo commatria deesgoto,composto

    acmulo demetaispesados,contaminado-res

    resduos

    aplicao depesticidas

    acmulo depesticidas eprodutosdegradantes

    lixiviao deresduos depesticidas mveise de produtosdegradantes

    afeta a microflorado solo; resistnciade algumas ervasdaninhas;envenenamento:resistncia

    evaporao;acmulo pelavaporizao,resduos

    2.3.2.2 Ocupao urbana

    O xodo rural e o consequente crescimento acelerado das cidades tem

    provocado, alm de uma situao de insalubridade nas reas marginais, tais como,

  • 17

    falta de saneamento, gua tratada, coleta de lixo, dentre outros fatores essenciais

    para uma vida aceitvel, um alto ndice de vulnerabilidade dos terrenos frente s

    eroses, assoreamentos e acidentes naturais, como escorregamentos.

    Segundo Prandini et al (1995), os principais fatores do meio fsico que, para

    um dado clima, condicionam os problemas decorrentes da ocupao so:

    - as caractersticas geomorfolgicas: formas e dinmica do relevo;

    - as caractersticas geolgicas: tipos litolgicos, estruturas, processos geodinmicos

    internos e externos;

    - as caractersticas geotcnicas: caractersticas dos terrenos, propriedades dos

    solos e rochas.

    FAO (1995) discorre sobre a influncia de intervenes antrpicas no meio

    fsico e as potenciais alteraes decorrentes. A Tabela 02 apresenta as alteraes

    fsicas e qumicas a que so submetidos os constituintes do terreno, em funo das

    diferentes intervenes antrpicas.

    Tabela 02: Alteraes fsicas e qumicas decorrentes de intervenes antrpicas

    sobre o meio fsico (modificado de FAO, 1995).

    Atividade Alteraes fsicas Alteraes qumicas

    relevo cobertura

    vegetal

    solo densidade de

    drenagem

    ar solo gua

    Urbanizao x x x x x x

    Indstria x x x x

    Agricultura x x x x x x

    Manejo de floresta x x

    Turismo x x x

    A ocupao humana, iniciada pelo desmatamento e seguida pelo cultivo da

    terra, construo de estradas, criao e expanso das vilas e cidades, sobretudo

    quando efetuada de modo inadequado, constitui, conforme Salomo & Iwasa

    (1995), o fator decisivo da origem e acelerao dos processos erosivos. Uma vez

    ativada, a eroso passa a ser comandada por fatores naturais, tais como, chuva,

    relevo, solo e cobertura vegetal.

  • 18

    Kertzman et al (1991), ao estudar as eroses na bacia do mdio Tiet,

    indicam as atividades scio-econmicas como principais potencializadoras das

    eroses aceleradas. Os desmatamentos generalizados e as atuaes antrpicas no

    sentido de concentrar o fluxo da gua, tais como obras de drenagem, arruamentos

    e construo de cercas atuam diretamente na proliferao de ravinas e boorocas.

    Um dos problemas mais srios na deflagrao de processos erosivos a expanso

    de loteamentos em reas imprprias ao uso do solo.

    Uma das maiores consequncias da eroso, alm das grandes perdas de

    terrenos, o assoreamento que provoca nos cursos dgua e reservatrios. O

    principal impacto provocado pelos assoreamentos o desequilbrio das condies

    hidrulicas, o qual gera, por sua vez:

    - enchentes;

    - perdas da capacidade de armazenamento dgua;

    - incremento de poluentes;

    - prejuzos para o abastecimento e produo de energia.

    Os escorregamentos, responsveis por milhares de mortes e prejuzos de

    dezenas de bilhes de dlares a cada ano no mundo, constituem-se em um dos

    processos mais importantes associados dinmica superficial, tanto pelas elevadas

    frequncias com que ocorrem, como pela grande extenso de reas com risco

    potencial de ocorrncia.

    2.3.2.3 Disposio de resduos urbanos

    A disposio de resduos um problema que vem sendo encarado com

    muita seriedade pelos ambientalistas, principalmente pelo alto potencial de cargas

    txicas que lana no meio ambiente. S nos Estados Unidos estima-se que cada

    cidado descarta 1,5 kg de lixo slido municipal por dia e no Canad, 1,9 kg.

    Segundo dados da Organizao Panamericana de Sade (Philippi Jr, 1999) na

    America Latina e Caribe a quantidade de resduos domiciliares gerados varia entre

    0,3 a 0,6 kg/hab/dia, enquanto a quantidade bruta gerada em mdia de 0,7

    kg/hab/dia.

  • 19

    A destinao de todo este lixo pode ser a reciclagem, a incinerao ou os

    depsitos de resduos. Quando opta-se pelos depsitos, a disposio deve ser feita

    de maneira controlada de forma a evitar a contaminao das guas subterrneas e

    de superfcie. Zuquette (1991) indica como causas principais da disposio

    inadequada de resduos os seguintes pontos:

    - falta de conhecimento regional das caractersticas do meio fsico e do meio

    ambiente como um todo;

    - no caracterizao e separao dos tipos de resduos;

    - falta de bases mais reais das normas existentes no Brasil para a escolha dos

    locais;

    - baixo ndice de estudos em aterros existentes ou experimentais;

    - falta de fiscalizao pelos orgos pblicos e punio aos responsveis pela

    disposio inadequada dos resduos.

    Segundo Bisordi (1999), a disposio direta no solo a forma de destinao

    final de resduos slidos mais difundida e utilizada em todo o mundo e em especial

    em pases menos desenvolvidos. No Estado de So Paulo, 56,4 % dos municpios

    dispem lixos domiciliares inadequadamente, 25,4 % de forma controlada e apenas

    18,2 % de forma adequada.

    A disposio inadequada pode gerar tanto problemas de contaminao,

    quanto acelerao nos processos do meio fsico (Tabela 03). Os principais fatores

    que conduzem a estes problemas, segundo Cunha & Consoni (1995), so os

    seguintes:

    - imperfeito conhecimento das caractersticas do meio fsico (rocha, solo, gua,

    etc.) e dos resduos al dispostos, resultando em projeto inadequado;

    - negligncia no monitoramento das condies ambientais e operacionais do

    aterro;

    - sobrecarga da capacidade inicial do projeto, no intento de prolongar sua

    utilizao.

    Alm dos problemas construtivos e de localizao, os depsitos esto

    sempre sujeitos aos vrios processos fsicos, qumicos e biolgicos que ocorrem

    entre os resduos e o meio ambiente. Dentre estes, Campbell (1993) coloca como

  • 20

    um dos mais importantes os processos anaerbicos acionados pela matria

    orgnica contida nos resduos. Como consequncia destes processos, so

    produzidos percolantes ricos em amnia e com alto contedo orgnico e gases

    ricos em metano e dixido de carbono. Tais emisses so poluentes potenciais ou

    perigosos, se no adequadamente controlados.

    Tabela 03: Problemas gerados devido disposio inadequada de resduos

    (modificado de Cunha & Consoni, 1995).

    TIPO ORIGEM CAUSAS

    -falha naimpermeab ilizao debase (aterro /lagoa detratamento dechorume

    - impermeabilizao (solo/manta) incompatvel com ospercolados- m compactao

    Contaminaodas guas

    subterrneas-recalques(aterro/lagoa detratamento dechorume)

    - solo natural com propriedade inadequada- recalques devido s alteraes (carga, aumento daumidade, agresso ao solo, etc.)

    -elevao do nveldgua acima da basedo aterro

    - dados insuficientes (nvel piezomtrico, pluviometria,vazes, etc.)- mal dimensionamento do sistema de drenagem

    Potencializaode processos do

    meio fsico

    -escorregamentos eeroso

    - cortes em altos ngulos nas encostas- cortes contra a foliao ou fraturamentos- alteraes na vegetao marginal- deficincias de compactao dos aterros e resduosdispostos

    -assoreamentos -eroso dos cortes (solo de fcilalterao/instabilizao)- carreamentos devido deficincia na drenagemsuperficial- desvegetao/alteraes nas reas marginais

    Embora o risco de contaminao seja o principal problema na disposio de

    resduos, existem outros fatores que tambm contribuem para a degradao

    ambiental. Dentre eles se incluem:

    - impacto visual e esttico;

    - danos fauna e flora;

    - doenas em animais e populao carente;

    - acmulo de produtos no biodegradveis no ambiente;

    - mal cheiro.

  • 21

    2.3.2.4 Mineraes

    Mascarenhas (1989) classifica as fontes de impacto em atividades

    minerrias conforme o tipo de lavra e o tipo de minrio:

    A) conforme o tipo de lavra:

    - Cu aberto: o tipo de lavra que gera maior impacto: produz grande quantidade

    de estril, alm de poeira, ruido, vibraes e poluio das guas.

    - Subterrnea: o impacto menor: o estril pode ser jogado nas prprias galerias

    abandonadas, os efluentes lquidos surgentes so pontuais, o mesmo ocorre

    com a poeira, os ruidos e a vibrao.

    - Dragagem: potencialmente poluidora: o revolvimento do leito dos rios e reas

    vizinhas provoca turbidez e slidos em suspenso. H tambm poluio

    qumica devido utilizao de produtos qumicos no beneficiamento (ex:

    mercrio e cianeto na minerao de ouro).

    B) conforme o tipo de minrio:

    - Minrios utilizados na construo civil: So geralmente pedreiras localizadas

    prximas aos centros urbanos: causam problemas principalmente na ocasio

    das detonaes e britagem, acarretando poluio devido ao p, vibrao e

    ruido.

    - Metlicos: geralmente, para obteno do concentrado, mais de 90% do run of

    mine liberado como rejeito em forma de lama fina, contaminada com

    reagentes qumicos e orgnicos. Muitas vezes liberam tambm SO2

    atmosfrico, o que provoca chuvas cidas.

    - Ferrosos: libera, geralmente, grande quantidade de estril, devido ao

    decapeamento. O minrio submetido a diversos processos de beneficiamento

    que geram poluio (p, ruidos, vibraes, etc). O rejeito lanado na fase

    lquida em barragens de decantao.

    - Carvo: quando a cu aberto, abrange grandes reas e causa poluio no ar e

    gua. Quando subterrnea pode liberar efluentes cidos, gerar combusto e

    tambm estar sujeita subsidncia.

    IG (1993), ao estudar o meio fsico como subsdio ao planejamento territorial do

    municpio de Campinas SP, apresenta os principais tipos e formas de mineraes

    ocorrentes na regio bem como os principais impactos gerados (Tabela 04).

  • 22

    Tabela 04: Formas de mineraes e impactos decorrentes no municpio de

    Campinas SP (modificado de IG, 1995)

    Bem mineral Forma de lavra Principais impactos gerados

    Argila para cermica

    cava seca Retirada do solo superficial; desmatamentos; processos

    erosivos; assoreamento das drenagens; formao de

    cavas abandonadas

    Cava submersa

    (plancies de inundao)

    Comprometimento da vegetao na plancie de inundao

    ou mata ciliar; formao de lagoas; alterao do perfil

    hdrico; assoreamento

    Dragagem no leito do rio Aumento da turbidez das guas; eroso nas margens;

    comprometimento da mata ciliar devido disposio dos

    estoques de areia

    Areia para construo

    civil

    Dragagem nas plancies

    de inundao

    Comprometimento da vegetao na plancie de inundao

    ou mata ciliar; formao de lagoas; alterao do perfil

    hdrico; assoreamento

    Explorao com p em

    aluvies de pequenas

    drenagens

    Referem-se s atividades precedentes (normalmente

    loteamentos) que ocasionam processos erosivos e

    assoreamentos nas drenagens

    Brita Desmonte em bancadas

    com explosivo

    Alterao da paisagem devido desfigurao topogrfica e

    desmatamento; emisso de p; vibraes e rudos devidos

    s detonaes; praas de lavras abandonadas

    Pedra ornamental Desmonte com marretas

    ou similares

    Comprometimento do patrimnio paisagstico;

    desmatamento; processos erosivos; disposio irregular de

    rejeitos nas encostas

    gua mineral Captao superficial Sem impactos associados

    Saibro ou cascalho Trator ou

    retroescavadeira em

    encostas ou cortes de

    estradas

    Alterao da paisagem; desmatamento; instabilizao de

    encostas e taludes; processos erosivos e assoreamento

    das drenagens no entorno; reas de extrao

    abandonadas

    2.3.2.5 - Indstrias

    As indstrias, como atividades produtoras e de transformao, tm a

    capacidade de lanar na gua poluentes que podem ser nocivos sade humana

    ou sobrevivncia de outros seres vivos. Lana desde poluentes orgnicos, como

    derivados de petrleo, fenis e detergentes, passando pelos derivados de

    fertilizantes e agrotxicos, chegando at os metais pesados. Estes ltimos,

    constituem uma classe de destaque dentre os poluentes, tanto pelo grau de

  • 23

    periculosidade de alguns dos seus elementos, como o caso do chumbo, do

    cromo, do cdmio e do mercrio, quanto pela sua mobilidade.

    2.3.3 O planejamento como preveno s alteraes ambientais

    McDonald & Brown (1995) defendem a utilizao do estudo de impacto

    ambiental (EIA) em termos de planejamento e no apenas na avaliao de impacto

    ambiental para empreendimentos especficos. Um trabalho com este intuito dever

    permitir avaliar o grau de degradao que existe em uma determinada rea, devido

    s atividades existentes e ainda avaliar as suas limitaes ambientais no sentido de

    acomodar novas atividades. Para a efetivao do processo de impacto ambiental

    no planejamento, os autores definem algumas metas que devem ser incorporadas

    aos planos. Estas metas esto expostas na Tabela 05.

    Tabela 05: Metas ambientais para o estudo de impactos em planejamento

    (adaptado de McDonald & Brown, 1995).

    Metas quanto aos recursos ambientais

    i controlar a intensidade do uso de recursos ambientaisi conservar o habitat dos animais selvagens e manter a biodiversidadei estimular a eficincia do uso de energia em transporte, indstria e setores residenciaisi assegurar que a ocupao no utilize reas destinadas para outros finsi assegurar que a ocupao no ocorra em terrenos imprprios

    Metas quanto queda da qualidade ambiental

    i assegurar que a capacidade de assimilao de resduos dos corpos aquticos e do ar possa conviver com o terreno planejadoi coleta e disposio dos resduos slidos e lquidos sem causar a longo prazo contaminao do terreno e da guai promover mobilidade nas reas urbanas, mas minimizar os efeitos ambientais adversos da intruso da infra-estrutura de transporte e movimento do trfego sobre pessoasi previnir problemas de poluio em gerali proteger a sade humana

    Maglio (1991), defende a utilizao do estudo de impacto ambiental (EIA)

    como instrumento de planejamento ambiental no Brasil, aplicando-o na avaliao

  • 24

    de planos e programas regionais e locais, visando promover o desenvolvimento

    sustentvel. Para que esta questo torne-se realidade, algumas necessidades

    devero ser supridas:

    - retomada do planejamento fsico-territorial urbano, regional e local,

    considerando a varivel ambiental;

    - desenvolvimento do zoneamento dos diferentes espaos;

    - promoo do planejamento ambiental das bacias hidrogrficas.

    Pires & Santos (1995) utilizam uma sistemtica de trabalho para o

    planejamento e gerenciamento de bacias hidrogrficas, verificando causas e efeitos

    das intervenes humanas e traando diretrizes de desenvolvimento adequadas ao

    ambiente fsico e biolgico. A sistemtica envolve as seguintes etapas:

    - diagnstico ambiental;

    - prognstico ambiental;

    - integrao das anlises ambiental, poltica e econmica;

    - zoneamento ambiental.

    2.4 Tcnicas de geoprocessamento e anlises estatsticas utilizadas em

    bacias hidrogrficas

    Civco et al (1995) destacam que embora a caracterizao de bacias

    hidrogrficas no seja uma novidade para cientistas e planejadores, suas

    possibilidades e aplicaes tornaram-se exponencialmente maiores com a evoluo

    dos sistemas de geoprocessamento.

    A gerao, digitalizao e manipulao de dados georeferenciados em

    sistemas informatizados vm sendo utilizadas desde a dcada dos 70, com o

    desenvolvimento dos sistemas de informaes geogrficas (Aronoff, 1989). Na

    dcada dos 80, Burrough (1986) estimou que, s nos Estados Unidos haviam,

    aproximadamente, mil diferentes sistemas de informaes geogrficas com funes

    especficas e destinados s mais diversas aplicaes cartogrficas.

    Na dcada dos 90, alguns sistemas se despontaram dos demais por

    atenderem a aplicaes mais generalizadas. Cmara (1994) comparou a

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    funcionalidade de alguns dos sistemas mais utilizados no mercado brasileiro e

    mundial, com base nos seguintes instrumentos de geoprocessamento: anlise

    geogrfica, processamento digital de imagens, modelagem numrica de terreno,

    modelagem de redes e produo cartogrfica. O autor constatou que a grande

    maioria apresentava deficincias em pelo menos um dos instrumentos.

    Sheng et al (1997) propem o uso de Sistemas de Informaes Geogrficas

    (SIGs) na classificao e avaliao de bacias hidrogrficas em pases em

    desenvolvimento e destacam a importncia de ferramentas como o Modelo Digital

    do Terreno (MDT) na obteno de parmetros como borda da bacia, elevaes e

    caractersticas das encostas e em combinao com outros fatores, como mapa

    geolgico e de solos, para derivar cartas interpretativas. Civco et al (1995) tambm

    consideram o MDT importante para a caracterizao de bacias e complementam

    que a sua combinao com outros dados fornece grandes oportunidades para

    identificar novos parmetros descritivos.

    Muitos autores desenvolveram algortimos com base em MDT para a

    extrao de redes de drenagem de bacias hidrogrficas. Meisels et al (1995)

    agrupam os procedimentos at ento desenvolvidos em trs grupos: algortimos de

    passo simples; algortimos de passo duplo e clculos automticos da rede de

    drenagem. Destes, os primeiros a serem desenvolvidos e tambm os mais

    deficientes foram os de passo simples, porque alm de produzirem canais

    descontnuos, no so capazes de locar canais onde as concavidades do relevo

    no esto bem definidas.

    Band (1986) desenvolve um algortimo de passo duplo adicionando

    operadores para conectar fragmentos de canais separados que permite a extrao

    das redes em sub-bacias de bacias hidrogrficas. Band (1989) aprimora esta

    tcnica com o objetivo de produzir mais detalhes e a associa a um SIG, melhorando

    as funes de armazenamento, manejo e recuperao de atributos da rea de

    drenagem.

    Meisels et al (1995) discutem sobre os vrios procedimentos utilizados para

    a extrao de redes de drenagem com o uso de MDT e destacam a ocorrncia de

    deficincias tcnicas nos mais simplificados e deficincias operacionais nos mais

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    complexos. Os autores propem um mtodo composto por um algortimo principal,

    complementado por procedimentos de pr e ps-processamento.

    Ferreira (1997) utiliza MDT, em escala regional, para a estimativa de

    enchentes em bacias hidrogrficas onde h escassez de dados hidrolgicos. No

    mtodo apresentado, alguns parmetros morfomtricos so extrados do MDT e

    correlacionados com dados fluviomtricos. Dentre os parmetros analisados, a

    amplitude altimtrica e o desvio padro das altitudes mostraram-se mais adequados

    para o estudo das cheias.

    Ferreira (1999) utiliza-se de uma tcnica de geoprocessamento denominada

    Modelo Digital das Distncias Mnimas (MDI), por meio da funo de vizinhana

    extensiva presente em SIGs, para interpretar a variabilidade espacial de parmetros

    morfomtricos dentro de uma bacia hidrogrfica.

    Sousa (2000) utiliza tcnicas de realce em fotografias areas digitalizadas,

    para testar a viabilidade de se traar a rede de drenagem de bacias hidrogrficas a

    partir da tela do computador, em detrimento ao processo manual com uso de

    estereoscpio. Os resultados no produziram o efeito desejado. O autor s

    recomenda a tcnica para bacias com rede de drenagem muito bem definida,

    preferencialmente com ocorrncia sistemtica de matas ciliares.

    A anlise de terreno, com auxlio de sensoriamento remoto e sistemas de

    informaes geogrficas, vem se tornando cada dia mais usual, tanto nos rgos

    administrativos quantos em empresas privadas e de pesquisa. Saito et al (1994),

    fizeram um levantamento em 200 agncias americanas envolvidas com a qualidade

    das guas e constataram que mais de um tero destas utilizam algum tipo de SIG.

    Ferreira (1996) apresenta aspectos conceituais relacionados modelagem

    cartogrfica em SIG e suas aplicaes