Como a estética pode influenciar o usuário na facilidade em se usar algo
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Como a estética pode influenciar o usuário na facilidade em se usar algo?Por Babi Tubelo17 de janeiro de
Como poderia a estética de um produto influenciar na facilidade em usá-
lo? Essa pergunta feita pelo autor do livro Design Emocional, Donald
Norman, prova que a forma visual de certos produtos influencia a reação
das pessoas em função dos objetos de consumo.
Em outras palavras, produtos de formas atraentes geram apego
emocional em seus usuários. Mas por quê? O que há nesses
produtos, quais características possuem para que despertem esse tipo
de reação nas pessoas? No decorrer do texto irá se abordar atributos
que possivelmente comprovem essa teoria.
A estética como fator de influencia na facilidade de uso do produto industrial
Segundo Milton Ribeiro (2000, p.149) “as melhores formas, as que mais
impressionam, melhor se notam e de que mais facilmente nos
recordamos, são as formas matematicamente determinadas como
triângulo, quadrado, retângulo e eclipse“.
Pensando na estética do produto, Norman (2008, p.75), relata “quer você
admita ou não, aprove ou desprovê, os produtos que você compra e seu
estilo de vida ao mesmo tempo refletem e determinam sua auto-
imagem, bem como as imagens que os outros têm de você”.
A cultura material faz parte da sociedade e é um valor humano, a meu ver. Assim
como a cultura, educação, de cada individuo, interfere inevitavelmente na sua
escolha por certos artefatos, aos quais são determinados não somente pelo seu
poder aquisitivo, mas também, por sua cultura em geral.
O escritor Bernsen (1995, p.10) autor de “Design: Defina Primeiro o
Problema“, delimita design como sendo significativo em se
traduzir um propósito em uma forma física ou ferramenta. Este
cita exemplos dos desenhos da natureza, cujas formas constituem-se ao mesmo
tempo numa expressão de propósito, economia e beleza, e que tem uma relação
viva com o mundo o seu redor.
Entretanto os desenhadores industriais utilizam os mesmos termos para o
desenho industrial: propósito. Bem como economia de manufatura e
construção, beleza e interação com o usuário e relacionamento com o ambiente.
O fato de que os desenhos projetados pelo homem e os concebidos pela
natureza, analisados em conjunto comum seguem algo semelhante em que
ambos são soluções para um problema. Ambos são imaginados de maneira
semelhante, como um processo de tentativa-e-erro. Portanto o autor define
design como a integração de seis aspectos relevantes, tais
como: Propósito, produção, construção, função, beleza e
ambiente.
No design de produtos a forma coerente e harmônica atrai olhares e curiosos.
Segundo Norman (2008, p. 39) “objetos atraentes fazem as pessoas se
sentirem bem, o que por sua vez faz com que pensem de maneira mais
criativa”. Como isso faz com que alguma coisa se torne mais fácil de usar.
Lobach (2001) define estética como significante de algo da percepção sensorial.
Define como sendo a “ciência das aparências perceptíveis pelos sentidos
(por exemplo, a estética do objeto), de sua percepção pelos homens
(percepção estética) e sua importância para os homens como parte de
um sistema sociocultural (estética de valor)“.
Já o dicionário da língua portuguesa define estética como a ciência do
belo, a filosofia das belas-artes, bem como a harmonia das
formas, seus contornos e coloridos, etc. A estética nos produtos
industriais é considerada fator importante para agradar os olhos dos
usuários. Porém o que faz de um produto ser belo aos olhos dos
observadores? Princípios de desenho e coerência formal são base para estudo
do desenhador industrial. Este possui essa ferramenta de percepção visual, ao
qual o diferencia de um simples inventor de qualquer coisa.
Um estudo realizado no inicio dos anos 90, por pesquisadores japoneses afirmam
que de fato, objetos atraentes devem ter preferência em relação
aos objetos feios e isso faz com que funcionem melhor aos olhos
dos usuários. Mas por quê? Um exemplo claro, é que estes pesquisadores
haviam estudado inúmeros leiautes diferentes de painéis de controle de caixas
eletrônicos de banco, sendo que todas essas versões eram exatamente iguais em
questões de função no numero de botões e na maneira como operavam.
Alguns, porém tinham botões e telas dispostos de maneiras diferentes, uns mais
coerentes visualmente, outros não, simplesmente eram dispostos de maneira
aleatória. O resultado dessa pesquisa revelou que os usuários achavam que os
aparelhos considerados mais atraentes eram mais fáceis de usar, de compreender
como este funciona. Estes estudos feitos em relação à percepção dos usuários
para com a estética dos objetos de uso sugerem o papel da estética no design de
produto. A resposta é que está ligado com o estado de espírito de cada
um. Pessoas consideradas mais felizes, geralmente demonstram
mais tranqüilidade em solucionar problemas, o que por sua vez,
possuem mais paciência para conhecer os produtos e usá-los da
maneira adequada.
Baseado nesses aspectos da biologia e emoção humanas, um estudo feito pelo
Departamento de Psicologia na Northwestern
University, propõem a existência de três diferentes níveis de estruturas do cérebro: a camada automática, pré-programada chamada de nível visceral; a parte que contém os processos cerebrais que controlam o comportamento quotidiano, conhecida como nível comportamental e também a parte contemplativa do cérebro, ounível reflexivo. Cada nível desempenha um papel diferente no funcionamento integral das pessoas, sabendo que cada pessoa possui uma maneira diferente de percepção das coisas que o cercam.
Segundo esse estudo cada projeto em si diferem de exigências diferentes entre os
níveis. Por exemplo, o nível visceral é pré-consciente, anterior ao pensamento, é
onde a aparência importa e se formam as primeiras impressões. Este nível é
veloz, ele faz julgamentos rápidos do que é bom ou ruim, seguro ou perigoso, e
envia os sinais apropriados para os músculos (o sistema motor) e alerta o resto do
cérebro. Este é o fundamento do processamento afetivo.
Já no nível comportamental é onde se localiza a maior parte do
comportamento humano. Suas ações podem ser aprimoradas ou inibidas pela
camada reflexiva e, portanto, ela pode aperfeiçoar ou inibir a camada visceral.
Odesign visceral diz respeito ao impacto inicial de um produto, à sua aparência,
toque e sensação. Já no nível comportamental diz respeito ao uso, é sobre a
experiência com um produto, porém a própria experiência tem muitas facetas, tais
como função, desempenho e usabilidade.
De acordo com o autor um produto deve sim ser atraente. Ele também deve ser
prazeroso e divertido. Contudo também tem de ser eficiente e inteligível e também
ter um preço apropriado. Em outras palavras, deve buscar equilíbrio entre os três
níveis de design. Vamos citar alguns exemplos vividos no dia-a-dia para
exemplificar esses níveis: andar numa montanha-russa, picar e cortar carne com
uma faca extremamente afiada numa tábua de madeira ou contemplar uma obra
de arte. Essas três atividades causam impactos diferentes em nós. A primeira é
mais primitiva, origina-se do comportamento visceral, já a segunda está no prazer
em usar uma ferramenta eficiente, ao qual se referem aos sentimentos de
realização de tarefas especializadas e atuam no nível comportamental. O último
se origina do nível reflexivo, ao qual exige estudo e interpretação para contemplar
uma obra de arte.
Os três níveis interagem eternamente entre si, cada um modula o outro. São um
conjunto. O fato é que, tudo o que fazemos possui componentes de cognição e
componentes de afeto. O cognitivo serve para atribuir significado a algo, já o
afetivo atribui valor as coisas. O afeto está sempre presente, mas fato consumado
é que o sentimento de afeição quer seja positivo ou negativo, interfere na maneira
como pensamos. Estudos provam quando se está em estado de
afeto positivo, se tem muito mais probabilidade de ser receptivo
a novas idéias ou acontecimentos. O cérebro está relaxado. Este estado
desperta a curiosidade, envolve a criatividade e torna o cérebro um organismo
eficiente de aprendizado. Por outro lado o estado negativo reflete a atitudes
ansiosas e nervosas.
Mas de que maneira esses níveis tem ligação com o design? Segundo Norman
(2008, p.46) quando alguém está relaxado, em bom humor, é mais
criativo, está mais capacitado em lidar com problemas de um
equipamento qualquer, em especial se for divertido de usar.
Segundo o mesmo autor “os objetos feitos para serem usados em situações
estressantes exigem muito mais cuidado, e muito mais atenção ao
detalhe”. Caso que acontece quando se está em estado negativo. O usuário
reage de maneira estressada, impaciente para com o objeto. Isso torna seu uso
complicado e desinteressante.
Mas o que faz desses produtos serem atraentes ou não? Além de sabermos que
boa parte dessa percepção está relacionada com o afeto que o usuário tem do
produto, existem outros fatores de desenho industrial ao quais influencia cada
observador perante o produto.
Para se projetar um produto industrial é necessário conhecer uma série de
elementos de configuração formal. Norman (2008, p.57) fala que “a usabilidade
descreve a facilidade com que o usuário do produto pode compreender
como ele funciona e como fazê-lo funcionar. Mas se o produto fizer o que
é necessário, se for divertido de usar e com ele for fácil satisfazer as
metas, então o resultado é afeto positivo e caloroso”.
O que conclui que, existem inúmeros aspectos que são percebidos pelos usuários,
desde afetos emocionais até aspectos de percepção formal, que muitas vezes são
inconscientes para o observador. Estes fundamentos do desenho é que são de
conhecimento imprescindível para o desenhador, e é disso que precisamos saber
fundamentalmente.
FONTE - http://design.blog.br/design-grafico/como-a-estetica-pode-influenciar-o-usuario-na-facilidade-em-se-usar-algo-2