Como Compreender as Profecias Do Tempo Do Fim - Hans K. LaRondelle

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Hans K. LaRondelle foi professor emérito de Teologia no Seminário Teológico da Universidade Andrews, Berrien Springs, Michigan (USA). Trabalhou como pastor evangelista e professor nos Países Baixos durante 14 anos, e como professor de teologia na Universidade Andrews durante 25 anos. Recebeu seu título doutoral em Teologia Sistemática e Ética do distinto teólogo holandês G. C. Berkouer na Reformed Free University, Amsterdã, em 1971. Sobre sua obra How to Understand the End-Time Prophecies of the Bible, ele afirma: "O propósito deste estudo da profecia bíblica é singelo: É meu testemunho como professor de Teologia, de alguém que ensinou Escatologia Bíblica e Interpretação Apocalíptica por mais de 25 anos no Seminário Teológico da Universidade Andrews, e em seminários de extensão ao redor do mundo. Este livro é o resultado de meus contínuos esforços por aprender com o passar do tempo".

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ÍNDICE 01 - A esperança apocalíptica dos Judeus do Século I 04 02 - A distinção entre profecia clássica e profecia apocalíptica 07 03 - A aplicação que Cristo fez da Bíblia Hebraica 11 04 - Como Cristo empregou os símbolos apocalípticos 15 05 - A interpretação que os Apóstolos fizeram do cumprimento da profecia 18 06 - A compreensão de Cristo das profecias de Daniel 22 07 - A compreensão de Paulo das profecias de Daniel 36 08 - Introdução ao Apocalipse 47 09 - O propósito do Apocalipse 50 10 - Chaves interpretativas dentro do Apocalipse 53 11 - A composição literária do Apocalipse 58 12 - A visão do trono do Criador - Apocalipse 4 64 13 - A entronização do Cordeiro de Deus - Apocalipse 5 67 14 - Compreendendo os sete selos - Apocalipse 6 71 15 - Segurança de liberação no tempo do fim - Apocalipse 7 84 16 - Compreendendo as trombetas em seus contextos - Apocalipse 8 e 9 94 17 - Uma aplicação histórica das trombetas 104 18 - O refletor profético sobre o povo de Deus do tempo do fim - Apocalipse 10 115 19 - A missão profética das testemunhas de Deus - Apocalipse 11 124 20 - Compreendendo os "1.260 DIAS" em Apocalipse 11-13 139 21 - A mensagem do tempo do fim na perspectiva histórica - Apocalipse 12-14 154 22 - O conflito final de lealdade do tempo do fim - Apocalipse 13 171 23 - Identificando o anticristo 184 24 - Os últimos companheiros do Cordeiro - Apocalipse 14:1-5 189 25 - A mensagem do primeiro anjo - Apocalipse 14:6, 7 194 26 - A mensagem do segundo anjo - Apocalipse 14:8 202 27 - A mensagem do terceiro anjo - Apocalipse 14:9-12 206 28 - A dupla ceifa da Terra - Apocalipse 14:14-20 212 29 - O significado das Sete Últimas Pragas - Apocalipse 15 e 16 220 30 - A Sétima Praga: A retribuição de Babilônia - Apocalipse 17 231 31 - O significado do veredicto de Deus sobre Babilônia - Apocalipse 18 245 32 - Compreendendo o Milênio - Apocalipse 19 e 20 256 33 - O significado da Nova Jerusalém - Apocalipse 21 e 22 274

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I - A ESPERANÇA APOCALÍPTICA DOS JUDEUS DO SÉCULO I

O Apocalipse de João está em marcado contraste com os vários escritos apocalípticos judeus que estiveram em atualidade no primeiro século de nossa era. Desde que o general romano Pompeu invadiu a Palestina em 63 a.C. e sujeitou à nação judia ao governo romano, intensificou-se a esperança judia em um Messias prometido. A maioria dos judeus esperava a vinda de um Rei-Messias poderoso, da casa de Davi, quem mataria ao dragão romano com seu poder militar ajudado pelo poder divino. Então o Messias restauraria a nação do Israel à suprema grandeza política como o reino messiânico sobre a terra. Esta esperança apocalíptica era vibrante entre os fariseus. Pode demonstrar-se pelos denominados Salmos de Salomão, um documento farisaico escrito pouco depois da morte do general Pompeu no 48 a.C. "Olha-o Senhor, e lhes suscite um rei o filho de Davi, no momento que tu escolhas, oh Deus, para que reine em Israel teu servo. Rodeia-o de força para quebrantar aos príncipes injustos, para purificar a Jerusalém dos gentios que a pisoteiam destruindo-a; expulsa em sabedoria e justiça aos pecadores da herança; para despedaçar a arrogância dos pecadores semelhante a um cântaro de oleiro; para quebrantar toda sua solidez com uma vara de ferro; para destruir as nações ilícitas com a palavra de tua boca; a sua advertência as nações fugirão de sua presença; e condenará aos pecadores pelos pensamentos de seus corações".[1] O Testamento do Moisés, um hino escrito pelos essênios ou pelos fariseus antes da queda de Jerusalém no 70 D.C., também expressava o desejo premente do pronto advento do reino de Deus: "Pois o Altíssimo Deus eterno se elevará sozinho, aparecerá para tomar vingança das nações e destruirá todos os seus ídolos. Então, tu, Israel, serás feliz. Montarás sobre pescoço e asas de águia. Sim, todas as coisas se cumprirão". [2] No Quarto livro do Esdras, conhecido também como o Apocalipse de Esdras, um documento escrito depois da queda de Jerusalém no 70 D.C., lemos que o Messias viria para liberar à remanescente do Israel da tirania de Roma e para estabelecer o reino messiânico por 400 anos (cap. 12).[3] A esperança dominante no Israel era a da libertação política, similar à forma como Deus os tinha libertado do Egito. Só que esta vez a expectativa era por uma redenção permanente dos males da história. A partida dos zelotes [fanáticos] tinha uma febre apocalíptica tal, que apoiou uma guerra de guerrilhas contra Roma na segurança de que Deus destruiria os opressores do Israel e criaria um mundo no qual Satanás e a dor não existiriam mais. Josefo, o historiador judeu do primeiro século, ordem que um certo Judas, galileo, originou um levantamento a princípios do século I. Sua filosofia era que o povo de Deus devia reconhecer só a Deus como seu soberano e Senhor, e recusar-se a pagar impostos a um amo pagão.4 O Novo Testamento registra que essa rebelião chegou a um fim desventurado (At. 5:37). Entre os rolos do Mar Morto, descobertos nas cavernas de Qumran, encontrou-se um denominado Regra de guerra (QM), escrito a começos da era cristã. Descreve um plano de

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batalha para que os pactuantes de Qumran travem a última guerra santa contra Roma (Quitim) e Belial. A esperança era de novo que Deus interviria com seu santos anjos e daria ao fiel remanescente de Israel uma vitória eterna por meio de um desdobramento do poder do Miguel como o guerreiro divino.[5] Esta esperança política de um futuro mais brilhante alcançou um tom tão febril no século I, que conduziu ao levantamento judeu contra Roma nos anos 66-72 e no 132. Em ambas as ocasiões os judeus começaram uma guerra militar contra o Império Romano confiando em que Deus os vindicaria com uma vitória sobrenatural. Salomão Schechter resume com quatro características os elementos essenciais da esperança apocalíptica no primeiro século: (1) o Messias, da casa de Davi, restaurará o reino do Israel e estenderá seu governo sobre toda a terra; (2) os inimigos de Deus lançarão um ataque maciço contra Israel, no qual o Messias destruirá a todos seus oponentes pagãos; (3) todas as nações sobreviventes aceitarão o Deus de Israel, reconhecerão seu reino e procurarão a instrução de seu Torah (lei); e (4) a era do reinado messiânico será uma era de prosperidade material e sorte espiritual; até a morte seria abolida por meio da ressurreição dos justos mortos. Este reino do Messias era, de acordo com algumas fontes, uma preparação para o tempo quando Deus mesmo reinaria.[6] Infelizmente, os judeus estavam tão dominados por seu ódio para Roma que enfatizaram unilateralmente a missão da vinda do Messias como o libertador do jugo romano e o restaurador do reino nacional a Israel. Por esta razão, os rabinos estudaram as profecias messiânicas das Escrituras Hebraicas com uma mente preconcebidas que lhes impediu de ver a revelação da plenitude da missão do Messias para salvar do pecado a todos os homens. Esperando um Messias político só para sua própria nação, passaram por cima das profecias e dos tipos que prediziam a morte expiatória do Messias em sua primeira vinda. Interpretando a profecia para encontrar evidências com o fim de sustentar sua ambição nacional, os judeus se prepararam para rechaçar o Salvador do mundo. Quando Cristo veio em uma maneira contrária a suas expectativas, ficaram completamente desapontados e não o receberam. Cristo tratou de lhes mostrar que tinham interpretado mal a promessa de Deus de conceder favor eterno a Israel. Tinham chegado a considerar sua descendência natural de Abraão como uma pretensão para essa promessa (João 8:33-40). Na verdade, em seu orgulho racial, os dirigentes judeus passaram por cima das condições prévias que Deus tinha especificado. O favor de Deus estava assegurado só a um Israel espiritual e em cujos corações ele tinha escrito sua lei: "Darei minha lei em sua mente, e a escreverei em seu coração; e eu serei a eles por Deus, e eles me serão por povo... Porque todos me conhecerão, do mais pequeno deles até o maior, diz o Senhor" (Jer. 31:31-34). As promessas divinas de salvação e bênção para o mundo estavam asseguradas a um Israel regenerado como o verdadeiro povo do pacto. O povo espiritual de Deus são constituídos pelos que estão "circuncidados" em seus corações (ver Deut. 10:16; 30:6; Jer. 4:4). Um povo assim não reclamará as promessas de Deus e renderá um serviço exterior a Deus meramente pelo puro prazer de alcançar grandeza nacional. O essencial da Bíblia Hebraica não é o Israel, e sim o Messias de Israel! As profecias messiânicas constituem o coração tanto da Escritura como dos sagrados serviços do santuário no Israel. Muitos rabinos e fariseus chegaram a acreditar que por meio de um conhecimento da Escritura e uma conformidade exterior a ela, possuíam vida eterna. A Mishná ensina: "Grande é a lei, porque lhe dá vida aos que a praticam tanto neste mundo como no vindouro".7 Mas Jesus assinalou uma falta fundamental de visão: "Vós perscrutais as Escrituras, porque julgais ter nelas a vida eterna; ora, são elas que dão testemunho de mim; vós, porém, não quereis vir a mim para terdes a vida" (João 5:39, 40, BJ). A vida está centrada no Messias, o Filho de Deus, e não na Escritura. Jesus afirmou: "As palavras que eu lhes falei são espírito e são vida" (João 6:63). Ao perder de vista a Cristo como o coração vivente das Escrituras, os judeus já não entenderam mais o significado espiritual do serviço ritual em seu templo. Começaram a confiar nos mesmos sacrifícios e cerimônias em vez de contemplá-lo a ele, a quem assinalavam os sacrifícios. De modo que perderam o significado espiritual de sua adoração no templo. Aferrando-se a fórmulas mortas, esses rituais chegaram a ser um mistério inexplicável.

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Até as restrições rabínicas quanto à observância do sábado revelam que os judeus já não percebiam que no sábado havia uma promessa divina do descanso messiânico. Os dirigentes judeus interpretaram mal o ato do Jesus ao curar milagrosamente a um paralítico no sábado como a evidência de uma atitude contra na sábado (João 5:16-18). Entretanto, o oposto era verdade. Jesus ensinou que as obras de misericórdia não só estavam permitidas, mas também eram obrigatórias no sábado para que as fizesse o Messias, e em perfeita harmonia com a vontade do Pai celestial. "Meu Pai, até o presente, continua trabalhando e eu também trabalho" (João 5:17, NBE). O erudito evangélico Leão Morris o explica desta maneira: "Ele [Jesus] não estava dizendo que não devia guardar-se o sábado... Estava dizendo que seus críticos não entendiam o que significava na sábado e por que tinha sido instituído".[8] Não surpreende que Jesus censurasse os judeus por sua falta de percepção espiritual, por não discernir quem era ele, o Enviado ao Israel pelo Pai. E desafiou-os perguntando: "Não vos deu Moisés a lei? Contudo, ninguém dentre vós a observa. Por que procurais matar-me?... Não julgueis segundo a aparência, e sim pela reta justiça" (João 7:19, 24). Enquanto desejavam a vinda do Messias, os judeus já não tinham o verdadeiro conceito de sua missão divina como Redentor do pecado e de Satanás. Cristo lhes disse: "Todo o que comete pecado é escravo do pecado... Se, pois, o Filho vos libertar, verdadeiramente sereis livres" (João 8:34, 36), mas eles afirmaram que eram livres porque, disseram, "jamais fomos escravos de ninguém" (v. 33). Não compreenderam o significado espiritual do pecado ou o significado da natureza da dignidade real de Cristo. O Messias devia vir como o verdadeiro intérprete dos profetas de Israel. Devia definir os princípios do reino e o plano de redenção. Isso foi o que fez Cristo, e seus ensinos estão registrados nos Evangelhos, os quais formam a chave essencial para entender corretamente o Antigo Testamento. Também formam a ponte teológica entre as profecias do Antigo Testamento e o livro do Apocalipse. Portanto, antes de podermos entender corretamente o último livro da Bíblia, é indispensável descobrir primeiro como Jesus interpretou a perspectiva profética dos profetas clássicos e o livro do Daniel. Referências 1. "Salmos de Salomão", 17:21-25, citado em J. H. Charlesworth, The Old Testament Pseudepigrapha, T. 2, p. 667. 2. "Testamento de Moisés", 10:7, 8, chamado em G. Aranda Pérez, F. García Martínez e M. Pérez Fernández, Literatura judía intertestamentaria (Estella, Navarra: Verbo Divino, 1996), p. 301. 3. "O Messias que o Altíssimo reservou para o final dos tempos: Ele surgirá da estirpe de Davi " (Ibid., p. 329). 4. Flavio Josefo, Obras completas de Flavio Josefo: Antigüedades judías (Buenos Aires: Acervo Cultural, 1961), XVIII, 1, 1-6 (t. 3, pp. 225-228); La guerra de los judíos, 11, 8 (t. 4, pp. 136-142). 5. 1 QM 6; 12-14. 6. Schechter, Salomão, Aspects of Rabbinic Theology (Nova York: Schocken Books, 1961), p. 102. 7. Abot [Pais] 6: 7. 8 Leão Morris, Reflections on the Gospel of John (Grand Rapids, Michigan: Baker Book House, 1987), T. 2, pp. 265, 266.

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II - A DISTINÇÃO ENTRE PROFECIA CLÁSSICA E PROFECIA APOCALÍPTICA

Os profetas do Antigo Testamento tais como Amós, Isaías, Sofonías, Ezequiel e Jeremias são chamados profetas clássicos. Suas mensagens foram em primeiro lugar pronunciados em voz alta, seja ao reino rebelde do Israel no norte (as 10 tribos) ou à apóstata Jerusalém e Judá (as 2 tribos). Com freqüência suas mensagens foram um clamor em favor da justiça social, econômica e política para as classes oprimidas. Os profetas convocaram Israel e Judá para que voltassem para a torah ou lei do pacto do Moisés, e para que servissem a Deus com arrependimento verdadeiro. Se os líderes políticos e religiosos do povo eleito originavam justiça social e uma renovação da adoração, o reino de Deus viria sobre a terra em sua história futura. Em realidade, o "dia do Senhor", ou o "dia do Jeová", não viria como Israel o tinha antecipado popularmente. Profecia Clássica Amós: Este profeta, como porta-voz de Deus, pronunciou em forma fulminante estas horríveis palavras às 10 tribos: "Ai de vós que desejais o Dia do Senhor! Para que desejais vós o Dia do Senhor? É dia de trevas e não de luz ...Não será, pois, o Dia do Senhor trevas e não luz? Não será completa escuridão, sem nenhuma claridade? "Por isso, vos desterrarei para além de Damasco, diz o Senhor, cujo nome é Deus dos Exércitos" (Amós 5:18, 20, 27). Amós deu a conhecer dois castigos sobre Israel: Em primeiro lugar, a nação infiel seria levada cativa ao exílio em Assíria ("além de Damasco") como resultado da maldição do pacto do Deus do Israel, em harmonia com suas ameaças do pacto pronunciadas mediante Moisés (Deut. 28; Lev. 26). Esta sentença teve lugar no ano 722 a.C., e se conhece como o desterro assírio das dez tribos. Em segundo lugar, o significado pleno deste juízo nacional chega a compreender-se só quando se vê este acontecimento como um tipo ou prefiguração do juízo cósmico de Deus ao fim da história sobre todas as nações que se rebelem contra Deus. Amós apontou ao juízo final de Deus quando se referiu aos sinais cósmicos: "Farei que fique o sol ao meio dia, e cobrirei de trevas a terra no dia claro" (Amós 8:9), e: "Não se estremecerá por isso a terra, e fará luto tudo o que nela habita? (v. 8, BJ). Escuridão repentina ao meio-dia ou um terremoto catastrófico podem ser mais que um desastre natural. O fogo apocalíptico consumirá a terra e o mar (7:4) e levará a seu fim a história de Israel! Na escatologia (a ordem dos acontecimentos finais) que apresenta Amós, o dia do Senhor seria um juízo iminente sobre Israel a mãos de seu inimigo nacional: Assíria (no 722 a.C.). Mas Amós anunciou uma catástrofe ulterior, na qual Deus julgará a uma sociedade mundial apóstata e libertará a seus fiéis em todas as nações. A esta relação do juízo local iminente e do juízo mundial do tempo do fim chamamos "conexão tipológica". Ambos os juízos procedem do mesmo Deus, mas o juízo sobre a nação é um tipo ou modelo profético que garante que Deus julgará finalmente a todo mundo pelos mesmos princípios morais. Só mediante sua retribuição final se cumprirá completamente o propósito redentor de Deus para esta terra. O tipo histórico pode ser local e incompleto, mas o antitipo escatológico será universal e completo em seus resultados. Sofonías: O duplo foco do juízo de Deus em Amós também o descrevem graficamente os outros profetas. Em geral se considera que Sofonías é o profeta mais grandioso que fala do juízo de Deus. Inclusive começa seu pequeno livro com uma admoestação da destruição universal vindoura: "De fato, consumirei todas as coisas sobre a face da terra, diz o Senhor. Consumirei os homens e os animais, consumirei as aves do céu, e os peixes do mar, e as ofensas com os perversos; e exterminarei os homens de sobre a face da terra, diz o Senhor" (Sof. 1:2, 3).

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Assim como Amós, Sofonías contempla o futuro histórico imediato contra o fundo do juízo final, porque é o mesmo Deus o que visita Israel e o mundo para juízo e salvação. A mensagem principal é que Deus atua, não a duração do período de tempo entre os juízos. Joel: O profeta Joel estruturou sua perspectiva profética de forma tal que uma praga histórica de lagostas (1:4-12) serve como um tipo profético do juízo escatológico de todo o mundo, que é seu antitipo (2:10, 11; 3:11-15). A história local e a escatologia do tempo do fim estão tão mescladas entre si que não podem ser completamente separadas na descrição profética. O presente corresponde ao futuro porque é o mesmo Deus quem vem agora e no futuro. Este é a mensagem principal do Antigo Testamento. O propósito moral de cada anúncio de um juízo de Deus é levar a seu povo a caminhar em harmonia com sua vontade redentora no presente. O objetivo final da profecia não é a catástrofe e a destruição, a não ser uma nova criação e a restauração do paraíso perdido na terra. Isaías: Um exemplo de como o juízo de Deus sobre um arquiinimigo histórico do Israel e seu juízo final do mundo estão intimamente misturas, como se ambos fossem um só dia do Senhor, encontra-se no Isaías 13. Isaías anuncia a iminente queda do Império Neobabilônico às mãos dos medos: " Uivai, pois está perto o Dia do SENHOR; vem do Todo-Poderoso... Eis que eu despertarei contra eles os medos" (Isa. 13:6, 17). Neste oráculo profético de guerra, Deus atuará logo como o guerreiro divino para liberar a seu povo oprimido: "O Senhor dos exércitos revista seu exército para o combate" (v. 4, NBE). O resultado será a destruição: "Babilônia, a jóia dos reinos, glória e orgulho dos caldeus, será como Sodoma e Gomorra, quando Deus as transtornou. Nunca jamais será habitada, ninguém morará nela de geração em geração" (vs. 19, 20). Depois, o profeta acrescenta a dimensão cósmica do dia apocalíptico do Senhor: "As estrelas dos céus e seus luzeiros não darão sua luz; e o sol se obscurecerá ao nascer, e a lua não dará seu resplendor" (V. 10). Deus castigará "ao mundo por sua maldade, e aos ímpios por sua iniqüidade" (V. 11). Deus fará "estremecer os céus, e a terra se moverá de seu lugar... no dia do ardor de sua ira" (V. 13). Esta é uma descrição de um juízo universal. Por isso, a profecia de Isaías de condenação sobre Babilônia contém a estrutura de uma perspectiva tipológica. É claro que o dia apocalíptico do Senhor, com seus sinais cósmicos e seu terremoto universal, não ocorreu durante a queda histórica de Babilônia ante os medo-persas no 539 a.C. Aquele juízo sobre Babilônia serve só como um tipo ou símbolo do juízo final da humanidade; por esta razão se descrevem os dois juízos como se fossem um só dia de retribuição divina. A natureza tipológica da queda de Babilônia da antiguidade não requer que cada rasgo da profecia se cumpra no tipo. Antes, o cumprimento parcial das antigas profecias de condenação e liberação indicam que ainda precisam encontrar sua consumação definitiva. O livro do Apocalipse nos assegura que todas as profecias antigas de condenação e liberação ocorrerão em escala mundial por ocasião da segunda vinda de Cristo. Por definição, o antitipo sempre é maior que o tipo. Por isso encontramos que a característica da profecia clássica é seu duplo foco, sobre o próximo e o longínquo, sem nenhuma diferenciação de tempo. Ensina-nos que o Deus do Israel é o Deus da história. É o rei que vem na história e ao fim da história da humanidade. Sua vinda traz o fim desta era maligna, para restaurar o reino de Deus sobre nosso planeta por meio do Jesus Cristo. Outra característica vital da profecia clássica são suas preocupações éticas, seu chamado ao arrependimento e a uma vida santificada. Os profetas de Israel não fizeram predições incondicionais mas sim desafiaram tanto ao Israel como aos gentios com a vontade imediata de Deus. De fato, as predições divinas satisfazem o propósito mais elevado de chamar o povo ao arrependimento e a obedecer a vontade de Deus e dessa forma, evitar o juízo vindouro. O resultado significativo desta preocupação ética dos profetas do Israel é a segurança de que só um remanescente do Israel, fiel e purificado, entrará no reino escatológico de Deus. Os profetas anunciaram que só um fragmento ou remanescente da nação como um tudo seria salva, assim como o "tronco" que fica de uma árvore (Amós 3:12; 5:14, 15; Ouse. 5:15; 6:1-3; Isa. 4:2-4; 6:13; Jer. 23:3-6). A razão é que só o remanescente restaurado se voltará para Senhor com arrependimento verdadeiro (Isa. 10:20-23; Zac. 12:10-13); só um Israel espiritual

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dentro do Israel nacional receberá um coração "circuncidado" (Deut. 10:15, 16; 30:6; Jer. 4:4). A distinção no Antigo Testamento entre um verdadeiro o Israel de Deus dentro da nação do Israel não se apóia na relação de raça ou de sangre com Abraão, e sim na fé e na obediência a Deus. O fator decisivo é possuir a relação espiritual de pacto com Deus. De acordo com esta teologia do remanescente do Antigo Testamento, o apóstolo Paulo chegou a esta conclusão: "Porque nem todos os que descendem de Israel são israelitas" (Rom. 9:6). Seu ensino apostólico enfatizou que só quando israelitas reconheçam que Jesus é o Messias da profecia, são os portadores de luz das promessas do novo pacto de Deus. E enquanto que os gentios são chamados para serem os herdeiros das mesmas promessas, Paulo insistiu: "Só o remanescente será salvo" (v. 27). Profecia Apocalíptica O livro do Daniel forma uma classe de profecia por si mesmo dentro do Antigo Testamento. Aqui nos encontramos com um fenômeno: Não se prediz um só evento ou juízo, e sim uma seqüência total de acontecimentos que começam nos próprios dias do Daniel e se estendem adiante sem interrupção até o estabelecimento do reino de glória de Deus. Um contínuo histórico ininterrupto em profecia, como apresenta Daniel, não tem precedentes na profecia clássica. Alguns profetas, como Joel e Ezequiel, revelaram o princípio de uma sucessão de dois períodos em seus esboços proféticos (Joel 2:28; Ezeq. 36-39), mas nenhum havia predito uma história contínua religiosa e política do povo do pacto de Deus terminando com o juízo final do dia do Senhor. Um panorama tão amplo da história da salvação adiantado é a característica específica da profecia apocalíptica. Este contínuo apocalíptico na história está em um marcado contraste com a profecia clássica, com seu dobro foco e sua perspectiva tipológica futura. O segundo aspecto único no livro apocalíptico do Daniel é que contém uma quantidade de esboços históricos e cada um culmina no juízo universal do Deus de Israel. Podem distinguir-se 4 séries proféticas principais (Dan. 2; 7; 8; 11). Cada uma reitera a mesma ordem básica de acontecimentos, mas todas acrescentam detalhes com respeito ao conflito do povo do pacto de Deus com as forças que se opõem a Deus. Estas visões paralelas mostram um interesse crescente em enfocar a era do Messias e seu conflito com o antimessias ou o anticristo (especialmente em Dan. 8 e 9). A idéia chave de cada série profética é o triunfo do governo de Deus sobre o mal. Portanto, precisamos compreender que a meta da apocalíptica bíblica não é predizer acontecimentos específicos da história secular do mundo em si. A apocalíptica bíblica não é um exibicionismo da presciência de Deus. Antes, o seu interesse é inspirar esperança entre o oprimido povo de Deus. Anima-os a perseverar até o fim, porque o Deus fiel do pacto estabeleceu ao anticristo limite de tempo e poder. Deus vindicará a seus fiéis na luta entre o bem e o mal. O foco definitivo da apocalíptica bíblica não é o primeiro advento do Messias e sua morte violenta (Dan. 9:26, 27), e sim seu segundo advento quando voltar como o vitorioso Miguel para resgatar o remanescente fiel (Dan. 12:1, 2). O que forma a culminação de toda a profecia apocalíptica do Antigo Testamento é este evento final da história da humanidade. É este "fim" o que está em vista na singular frase do Daniel: "o tempo do fim" (5 vezes em Dan. 8-12). Este foco notável do tempo do fim também é a razão de por que a profecia apocalíptica enfatiza mais o aspecto incondicional do plano determinado de Deus para a redenção da humanidade. Mas este aspecto distintivo de determinismo não deve ver-se como um contraste fundamental com as profecias clássicas do Israel com seu chamado ao arrependimento. As profecias apocalípticas de Daniel se centram ao redor da libertação final do fiel remanescente do Israel, o povo espiritual do pacto de Deus, em quem se realizarão finalmente as preocupações éticas de todos os profetas (Dan. 11:32-35; 12:3; Ezeq. 11:17-20; 18:23, 30-32; 33:11; Isa. 26:2, 3). Em Daniel, a preocupação fundamental, tanto dos capítulos históricos (caps. 1-6) como dos proféticos (caps. 7-12), parece ser a vindicação que Deus faz de seu santos acusados falsamente. Esta soberania de Deus como Rei e Juiz está expressa pelo foco centralizado no

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Messias que se apresenta em muitos capítulos (Dan. 2; 7; 8; 9; 10-12), e em suas divisões predeterminadas de tempo da história da redenção (Dan. 7:25 [3 ½ tempos]; 8:14, 17 [2.300 dias]; 9:24-27 [70 semanas de anos]; 12:4, 7, 11, 12 ["o tempo do fim", 1.290 e 1.335 dias]). Em todos os tempos, Deus proporciona um povo remanescente fiel, coloca os limites sobre a história pecaminosa deste mundo, permite tempos especificamente atribuídos para a apostasia e a perseguição, determina "o tempo do fim", ordena o mundo para a hora de seu juízo final e levará a cabo a libertação dos santos na segunda vinda. Estes característicos únicos pertencem à soberania de Deus e constituem a pedra angular da profecia do Daniel. Pode fazer-se uma observação adicional a respeito da parte histórica do livro de Daniel. Nos capítulos 3 (a liberação do forno de fogo) e 6 (a liberação do fosso dos leões), os relatos da intervenção divina e o resgate sobrenatural têm a finalidade de ser mais que simplesmente um pouco de interesse histórico. O autor do livro chama a atenção a sua inerente perspectiva tipológica, em vista da libertação futura do povo remanescente de Deus ao fim da história da redenção. Isto chega a ser evidente a partir da repetição enfática do verbo chave "libertar" ou "resgatar" que se encontra no Daniel 3:15 e 17 (e 5 vezes no capítulo 6), e que volta a aplicar-se na seção apocalíptica do Daniel 12:1, quando Miguel "libertará" o verdadeiro o Israel de Deus por meio de sua intervenção pessoal. Além desta conexão literária entre a seção histórica e a apocalíptica de Daniel, também existe uma correspondência temática fundamental entre as duas seções do livro. As narrações que Daniel faz da lealdade religiosa à sagrada lei de Deus por uns poucos fiéis, proporciona os tipos ou as prefigurações essenciais da natureza da crise final para o povo de Deus no tempo do fim. Estes acontecimentos históricos no livro de Daniel servem como o pano de fundo para a crise vindoura do tempo do fim e seu resultado providencial, tal como se descreve no livro de Apocalipse (caps. 13 e 14). Resumo O livro apocalíptico de Daniel revela ao menos quatro características únicas: (1) Uma repetição dos esboços apocalípticos que mostram um contínuo da história da redenção. Cada esboço culmina no estabelecimento do reino de glória (Dan. 2:44, 45; 7:27; 8:25; 12:1, 2); (2) O foco centrado no Messias de todos seus esboços (Dan. 2:44; 7:13, 14; 8:11, 25; 9:25-27; 10:5, 6; 12:1); (3) As divisões predeterminadas de tempo, que servem como o calendário sagrado da história progressiva da redenção de Deus (Dan. 7-12). Estas profecias de tempo únicas determinam o começo do famoso "tempo do fim", particularmente a terminação do período de tempo profético dos 2.300 "dias" na visão selada de Daniel 8 (vs. 14, 17, 19); (4) O aspecto incondicional da história da redenção, o qual recalca uma sessão predeterminada de juízo no céu e a vindicação dos santos fiéis por um Filho do Homem. Isto também está expresso pela imagem de um guerra santa final e o triunfo do Miguel como o guerreiro divino, e a ressurreição de todos os mortos para receber sua recompensa (Dan. 2:7-12). Em resumo, o livro apocalíptico de Daniel contém o fundamental da profecia clássica (o duplo foco de uma perspectiva tipológica na seção histórica do livro) e o esboço profético de um contínuo histórico em sua seção apocalíptica. A unidade orgânica da profecia clássica e da apocalíptica pode observar-se na harmoniosa combinação de sua perspectiva do tempo do fim: O juízo universal com a libertação cósmica de um povo remanescente fiel na última guerra entre o bem e o mal, e a restauração do reino de Deus em paz e justiça eternas.

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III - A APLICAÇÃO QUE CRISTO FEZ DA BÍBLIA HEBRAICA O propósito deste livro é triplo: (1) Descobrir como entendeu Cristo os livros de Moisés, os Profetas e os Salmos; (2) formular os princípios hermenêuticos de Cristo para interpretar as profecias da Bíblia; (3) aplicar esses princípios às profecias não cumpridas, especialmente às do Apocalipse. Como cristãos que acreditam na verdade do evangelho, que Jesus é o Messias prometido, precisamos saber como entendeu Cristo os livros de Moisés, os Profetas e os Salmos. Jesus é o verdadeiro intérprete das Santas Escrituras. Sua mensagem é nossa chave para descobrir o significado correto do Antigo Testamento. Se queremos compreender o Antigo Testamento, devemos compreendê-lo do ponto de vista de Deus. Portanto, nosso ponto de partida é a forma como Jesus explica o Antigo Testamento. A aplicação que Cristo fez das Escrituras de Israel é nosso modelo de interpretação bíblica. Nosso princípio guiador está apoiado sobre a convicção de que a atividade redentora de Deus na história do Israel alcançou seu cumprimento em Cristo. Portanto, trataremos de interpretar o Antigo Testamento à luz da vida e mensagem de Cristo como a Palavra encarnada de Deus, pois só dele se escreveu o seguinte: "No princípio era o Verbo, e o Verbo era com Deus, e o Verbo era Deus. Ele estava no princípio com Deus... E o Verbo foi feito carne, e habitou entre nós" (João 1:1, 2, 14). Jesus e a Palavra de Deus Deus enviou ao Jesus para revelar plenamente ao Deus do Israel em sua vida e ensino. Cristo afirmou que foi enviado com uma mensagem de Deus e que suas palavras procediam de Deus mesmo: "Porque eu não tenho falado por mim mesmo, mas o Pai, que me enviou, esse me tem prescrito o que dizer e o que anunciar. E sei que o seu mandamento é a vida eterna. As coisas, pois, que eu falo, como o Pai mo tem dito, assim falo" (João 12:49, 50). "Nada faço por mim mesmo; mas falo como o Pai me ensinou (João 8:28). Só Cristo pode revelar o significado e o sentido algumas vezes oculto da Escritura e da história do Israel. Tanto os judeus como os samaritanos esperavam que viesse o Messias, pois ele "nos explicará isso tudo" (João 4:25, NBE). Sem vacilação, Jesus declarou: "Eu sou, o que fala contigo" (v. 26). "Jesus lhes disse: De certo de certo lhes digo: Antes que Abraão existisse, eu sou" (8:58). O testemunho da autoridade de Jesus como o Messias se repete várias vezes no Novo Testamento (ver João 1; Col. 1 e 2; Heb. 1), e é de crucial importância para compreender as visões simbólicas do Apocalipse de João. No último livro da Bíblia, as imagens e os símbolos hebreus se aplicam consistentemente a Cristo e a sua nova comunidade do pacto como o novo Israel. É evidente a necessidade que existe de ter um enfoque correto do Apocalipse. Primeiro devemos conhecer a verdade do evangelho de Cristo como foi ensinada por Jesus antes que possamos compreender o Apocalipse. Em interpretação profética, freqüentemente se descuidou o método adequado. É indispensável reconhecer a natureza progressiva e desdobrada da revelação divina dentro da Bíblia. Deve permitir-se que os livros do Antigo Testamento nos contem sua própria mensagem, mas não como se fossem a última palavra de Deus. As Escrituras Hebraicas não são um cânon fechado da Escritura. Formam um registro incompleto da totalidade da revelação divina. Em sua major parte apresentam as promessas de Deus de um Messias vindouro como o maior dos profetas, o Rei supremo e o único Supremo Sacerdote. O Antigo Testamento termina com a promessa do Elias vindouro antes do dia de Jeová (Mal. 4:5, 6). Por outro lado, os escritos inspirados do Novo Testamento registram o começo dos cumprimentos das promessas messiânicas na vinda de Cristo (o Messias) Jesus, e em sua criação de uma nova comunidade messiânica: os cristãos (um nome que significa "povo do Messias"). O Apocalipse de João se concentra especialmente na gloriosa consumação de todas as realizações. Para receber uma compreensão mais profunda de Moisés, os Profetas e os Salmos, devemos aceitar o ensino de Cristo e seus apóstolos como a verdadeira interpretação

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das profecias e dos tipos hebraicos. O Novo Testamento funciona como a revelação final da verdade de Deus tal como se ensina nestas palavras apostólicas: "Deus, tendo falado muitas vezes e de muitas maneiras em outro tempo aos pais pelos profetas, nestes últimos dias nos falou pelo Filho, a quem constituiu herdeiro de tudo, e por quem deste modo fez o universo" (Heb. 1:1, 2). Assim como o Filho de Deus é imensamente maior que qualquer profeta de Israel, assim a palavra de Cristo é a norma para interpretar os escritos do Antigo Testamento. Jesus ensinou que as Escrituras Hebraicas estavam centradas na promessa messiânica. Sua especial preocupação foi ensinar aos judeus que a Escritura não é um fim em si mesma, que memorizar as palavras da Sagrada Escritura não produz méritos. O propósito da Escritura é levar a Cristo! "Vós perscrutais as Escrituras, porque julgais ter nelas a vida eterna; ora, são elas que dão testemunho de mim; vós, porém, não quereis vir a mim para terdes a vida" (João 5:39, 40, BJ). Segundo Jesus, a Bíblia Hebraica está centrada em Cristo. Portanto, é essencial para um cristão descobrir o novo método com o qual Cristo explicou o Antigo Testamento. Dois dos discípulos de Jesus foram privilegiados para ouvir o Cristo ressuscitado explicar-lhes todas as Escrituras que se referiam a ele (Luc. 24:25-27). Como resultado, seus corações começaram a arder com um novo entusiasmo. Cristo "abriu-lhes o entendimento para que compreendessem as Escrituras". Mostrou-lhes como "era necessário que se cumprisse tudo o que está escrito de mim, na lei de Moisés, nos profetas e nos salmos" (Luc. 24:44, 45). A pergunta provocadora para nós é: Podemos chegar a saber como interpretou Jesus o Antigo Testamento numa forma centrada em Cristo? Podemos descobrir a hermenêutica de seu enfoque cristocêntrico? Se podemos estabelecer os princípios hermenêuticos de Jesus para a profecia cumprida, saberemos como entender a profecia não cumprida, especificamente as profecias apocalípticas de Daniel e Apocalipse. A Nova Revelação de Jesus o Messias Para Jesus, as profecias messiânicas não eram predições isoladas, senão uma parte do extenso plano de Deus para a redenção do homem. Inclusive viu a história de Israel como uma série de eventos redentores que prefiguravam a grande salvação operada pelo Messias. Portanto, Cristo reconheceu que as promessas de Deus lhe foram dadas em dois níveis a Israel: tanto mediante predições verbais como mediante tipos históricos de libertação e juízo. Na Bíblia, um "tipo" é um acontecimento histórico, ou uma pessoa ou uma instituição, ordenado por Deus para prefigurar uma verdade redentora de Cristo. Jesus aplicou publicamente à sua pessoa a missão de Isaías de pregar as boas novas de Deus, de sarar as feridas de Israel e de pôr em liberdade aos oprimidos (Luc. 4:17-21 e Isa. 61:1, 2). Entretanto, o que pôde ter deixado ainda mais pasmados os judeus foi a surpreendente declaração de Jesus de que ele era o Antítipo prometido ou a consumação de todos os profetas, dos reis e da mediação sacerdotal de Israel: "E eis aqui está quem é maior do que Jonas" (Mat. 12:41). "E eis aqui está quem é maior do que Salomão" (Mat. 12:42). "Aqui está quem é maior que o templo" (Mat. 12:6). Jesus incluso declarou que sua morte abnegada proveria o "sangue do novo pacto, que por muitos é derramado" (Mar. 14:24). Por todas estas afirmações, Jesus introduziu no judaísmo a assombrosa idéia de que tinha chegado o tempo dos antítipos. Apresentou-se a si mesmo como a realidade à qual apontavam todos os símbolos das instituições redentoras do Israel. Por conseguinte, anunciou solenemente na sinagoga que nele tinha começado a idade messiânica ou o ano do jubileu (libertação). Tendo citado a promessa messiânica do Isaías 61:1, disse: "Hoje se cumpriu esta Escritura diante de vós" (Luc. 4:21). Apontou seu triunfo sobre os demônios como uma prova de que o governo de Deus agora estava presente em Israel: "Mas se eu pelo Espírito de Deus expulso os demônios, certamente chegou o reino de Deus" (Mat. 12:28). Onde se rechaça a Satanás, o reino de Deus se faz manifesto. Com Jesus entrou em operação o princípio salvífico soberano de Deus. Em outras palavras, com a primeira vinda de Cristo se

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inaugurou o tempo escatológico. "O tempo está cumprido", disse Jesus, "e o reino de Deus está próximo; arrependei-vos e crede no evangelho" (Mar. 1:15). Tinha terminado o tempo de espera para o reino de Deus, e tinha começado o tempo do reinado de Deus no ministério de Cristo. Jesus é o iniciador do reino da graça de Deus. Como o Rei-Messias, representa o reino de Deus; como o doador da misericórdia divina, é o Mediador sacerdotal do reino de Deus. Em qualquer lugar que Cristo está presente, o reino de Deus irradia seu poder. Jesus assegurou: "Eis que o reino de Deus está entre vós" (Luc. 17:21). A graça de Deus está dentro do alcance do homem onde quer que Jesus é proclamado como o Messias. Esta é a essência do evangelho. A verdade de que o Cristo ressuscitado é Senhor e está sentado à mão direita do trono de Deus, foi respaldado no dia de Pentecostes pelo derramamento do Espírito. O apóstolo Pedro anunciou então que os "últimos dias" tinham chegado, que tinham começado os dias do reinado espiritual de Cristo (At. 2:17; cf. Heb. 1:2). Cristo, o Representante do Novo Israel Que Jesus afirmasse ser o Messias da profecia não deve obscurecer o fato de que o Messias também foi designado para ser o perfeito representante de Israel. O pacto de Deus com Israel tem que realizar-se em obediência perfeita ao Messias. Como a personificação de Israel, o profeta descreve a Cristo como "o servo do Senhor" assim como Israel tinha sido designado o servo do Senhor (Isa. 42-53). Assim como Israel, Cristo também foi chamado "Filho" de Deus (Êxo. 4:22; Isa. 42:1; Mat. 3:17). Jesus foi enviado para suportar a mesma enxurrada de provas que teve Israel, para vencer onde Israel tinha fracassado. Depois de seu batismo, esteve durante 40 dias no deserto para ser tentado pelo diabo e assim igualar simbolicamente os 40 anos que Deus provou os israelitas no deserto (Deut. 8:2; Mat. 4:1). A maioria dos eruditos do Novo Testamento reconhecem que Jesus se viu a si mesmo, em um sentido tipológico, como o novo Israel. Este tinha falhado, mas Jesus cumpriu o pacto de Deus em favor de Israel e da humanidade. Desta forma, a história de Israel alcança um cumprimento feliz em Cristo. Portanto, de decisiva importância para o correto entendimento da profecia de Israel e do livro do Apocalipse é a verdade do Novo Testamento de que Jesus Cristo incorpora Israel e dessa maneira leva a missão de Israel a um fim em sua própria vida. O rechaço pela nação judaica dos sofrimentos, morte e ressurreição de Cristo não foram tragédias inesperadas que frustrassem o plano de salvação de Deus para a humanidade. Deus não depende dos judeus para o cumprimento de suas promessas. Depende do Messias. O profeta tinha assegurado: "A vontade do Senhor será em sua mão prosperada" (Isa. 53:10). Pedro disse que o que aconteceu com Jesus na cruz e em sua ressurreição, ocorreu "por conselho e antecipado conhecimento de Deus" (At. 2:23). Dois exemplos do livro de Salmos ilustram como Jesus soube o que tinha que esperar na providência de Deus. Cristo percebeu nas experiências do rei Davi uma prefiguração de suas próprias provas e rechaço por parte de Israel. Jesus recorreu especificamente a Salmos 41:9 para revelar sua intuição de que a traição de Davi por seu amigo em quem confiava era um tipo dos sofrimentos do Messias, que era maior que Davi (ver João 13:18-27). No momento de sua agonia mais profunda na cruz, Cristo clamou a grande voz: "Meu Deus, Meu deus, por que me desamparaste?" (Mat. 27:46; Mar. 15:34). Estava citando Salmos 22:1, que Davi tinha clamado em seu próprio desespero enquanto estava rodeado por seus inimigos sedentos de sangue. Como o salmo é uma unidade que consiste de uma lamentação prolongada sobre o sofrimento intenso (vs. 1-21), Cristo viu na experiência do Davi um tipo de sua própria agonia. Muitos comentadores não consideram a lamentação histórica de Davi no Salmo 22 como uma profecia diretamente messiânica, não obstante, Cristo e os escritores do Novo Testamento aplicam muitos aspectos do Salmo 22 à cruz e à glória que seguiu. Este modelo surpreendente de tipologia no livro de Salmos, que foi trazido à luz por Jesus Cristo, justifica que salmos como este se classifiquem como profecias messiânicas. O propósito de tais entrevistas do Novo Testamento não é simplesmente para mostrar de que maneira se cumpriram com toda exatidão na vida de Jesus as predições messiânicas ocultas, mas sim para proclamar a Jesus como a meta da história de Israel e como a realização do pacto que Deus tinha feito com eles.

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Os escritores dos Evangelhos declaram com freqüência que os eventos do passado de Israel se "cumpriram" na vida de Cristo. Mateus cita o profeta Oséias, "do Egito chamei a meu filho" (Ouse. 11:1), o que recordava a Israel seu êxodo histórico do Egito. Mateus aplica estas palavras à fuga do José e Maria para o Egito até a morte de Herodes: "Para que se cumprisse o que disse o Senhor por meio do profeta, quando disse: Do Egito chamei o meu Filho" (Mat. 2:15). O aspecto da entrevista de Mateus é que a Escritura de Oséias se "cumpriu" no menino Jesus. Entretanto, as palavras de Oséias não foram uma profecia, a não ser um recordativo significativo da experiência histórica de Israel como "filho" de Deus (cf. Êxo. 4:22). Então, como pôde declarar Mateus que Oséias 11:1 se "cumpriu" em Jesus? Pela mesma razão fundamental com que justificou a interpretação messiânica das experiências do Davi (ver Sal. 41:9 e 22:1). Como o Filho de Deus, Cristo não só representa o Israel ante Deus, mas também representa o destino de Israel em sua própria vida. Mateus ensina que o significado da história de Israel se revela completamente na vida de Jesus Cristo. Desta maneira, o Novo Testamento insinua com força que os acontecimentos na vida de Jesus – como seu nascimento em Belém, sua morte humilhante, sua ressurreição e exaltação à direita de Deus – não foram eventos imprevistos ou acidentais. Todos formaram parte do determinado conselho de Deus (ver At. 2:23; 4:28).

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IV - COMO CRISTO EMPREGOU OS SÍMBOLOS APOCALÍPTICOS Como observamos no primeiro capítulo, Jesus viveu em um tempo quando a esperança judia de uma pronta vinda de um Messias político se intensificou grandemente. Uma quantidade de escritos apocalípticos, sob nomes falsos ou pseudônimos, circulavam com grande profusão, e mantinham a esperança messiânica candente aplicando a mensagem do juízo de Daniel e de outras passagens proféticas a seu próprio tempo e situação. Os títulos de algumas destas obras pseudoepigráficas são: 4 Esdras, 1 Enoc, Apocalipse de Baruque, Livro dos Jubileus. Os termos "apocalíptico" e "apocalipticismo" foram usados mais tarde pelos eruditos para indicar as escatologias especulativas e contraditórias contidas nesses escritos do judaísmo tardio. As três características dominantes desse apocalipticismo judeu foram as seguintes: (1) O juízo cósmico-universal em torno do Israel nacional ou a um fiel remanescente judeu; (2) a substituição súbita da presente era pecaminosa pela criação de um mundo sem pecado e um novo cosmos; e (3) o fim predeterminado deste mundo pecaminoso e a vinda iminente do Messias. Esta urgência freqüentemente estava apoiada por cálculos contraditórios de períodos de tempo na história mundial. A maioria dos escritores apocalípticos acreditavam que o fim desta era pecaminosa estava perto, e que ocorreria em sua geração. Também acreditavam que eles eram os verdadeiros intérpretes dos profetas canônicos de Israel com respeito à sua própria crise. Um exemplo notável foi a comunidade de Qumran, cujo fundador e professor ensinou que a predição de Habacuque de um remanescente do povo de Deus que sobreviveria (Hab. 2:4) estava cumprindo-se em sua própria e única seita nas cavernas do Mar Morto. Contra o fundo desta esperança iminente comum do judaísmo do século I de nossa era, o emprego que Jesus fez de alguns símbolos apocalípticos bem conhecidos chega a ser mais significativo. Mostra o enfoque inovador da mensagem do evangelho que proclamou Jesus. Cristo deu novo significado a termos apocalípticos tão populares como: "Filho do Homem", "juízo", "vida eterna e ressurreição", "reino de Deus", "esta era e a era por vir". Todas estas expressões eram mais ou menos termos técnicos nos esquemas apocalípticos do judaísmo tardio. A mensagem de Jesus surpreendeu os judeus de seu tempo porque deu a cada símbolo apocalíptico um novo significado messiânico ou cristocêntrico que despedaçou seus sistemas escatológicos. Os odres velhos não podiam conter o espumoso vinho novo de sua mensagem de um cumprimento presente em si mesmo (ver Luc. 5:37, 38). A conexão mais dramática do Jesus com o livro do Daniel e os escritos judeus tardios foi sua autodesignação explícita como "o Filho do Homem" (65 vezes nos Evangelhos sinóticos e 12 vezes no quarto Evangelho). Ele se aplicou este titulo em forma consistente. Era a forma própria como Jesus se referia a si mesmo. O emprego extraordinário que Jesus fez deste símbolo convenceu em forma geral à erudição bíblica de nosso tempo de que Cristo adotou o termo apocalíptico "um como o filho de homem", da visão do Daniel 7:13 e 14, e o elevou a um título messiânico. As similitudes do livro 1 Enoc 37-71 e a sexta visão em 4 Esdras 13 (ambos os documentos pós-cristãos) refletem como alguns círculos apocalípticos judeus interpretavam o personagem daniélico "filho de homem": um Messias preexistente e celestial que viria à terra como o Juiz de toda a humanidade e governaria sobre um novo reino terrestre. A questão é: Como empregou Jesus o título e o que contido colocou nesta expressão apocalíptica, o "Filho do Homem"? Jesus explicou que seus milagres de cura ele os fez com um propósito mais elevado: "Para que saibam que o Filho do Homem tem potestade na terra para perdoar pecados" (Mar. 2:10). Mas, como pôde ser Jesus ao mesmo tempo o humilde Filho do Homem e o glorioso ser preexistente da visão de Daniel? O mistério se intensificou quando Jesus começou a dizer que o Filho do Homem celestial "devia" sofrer e ser morto, e que ressuscitaria depois de três dias (Mar. 8:31; 9:31; 10:33, 34). Entretanto, sua declaração mais profunda foi: "Porque o Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir, e para dar a sua vida em resgate por muitos" (Mar. 10:45). Aqui Jesus se identificou com o servo sofredor de Isaías 53, que morreria para o benefício de todos. Ao fazê-lo, Jesus fundiu o servo sofredor da profecia de Isaías com o Filho do Homem da visão do Daniel. Por assim dizê-lo, esvaziou o conteúdo do servo sofredor no personagem apocalíptico do Filho do Homem. Tal combinação de dois personagens messiânicos em profecia era desconhecido. Aos judeus parecia algo completamente paradoxal. Foi a idéia criadora de

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Jesus introduzir esta reinterpretação radical do Filho do Homem daniélico. Cristo viu sua missão como Messias em forma completamente diferente a todas as expectativas messiânicas no judaísmo. Colocou sua missão de um Messias sofredor e moribundo dentro da estrutura apocalíptica de Daniel. Entretanto, a maior surpresa dos judeus foi o escutar que este humilde filho de um carpinteiro afirmava ser o apocalíptico Filho do Homem, não só em seus dias, mas também no juízo final. Considere estas afirmações de Jesus (as ênfases são minhas): "Porque o que se envergonhar de mim e de minhas palavras nesta geração adúltera e pecadora, o Filho do Homem se envergonhará também dele, quando vier na glória de seu Pai com os santos anjos" (Mar. 8:38). "Então verão o Filho do Homem, vindo sobre as nuvens com grande poder e glória" (13:26). "Tornou a interrogá-lo o sumo sacerdote e lhe disse: És tu o Cristo, o Filho do Deus Bendito? Jesus respondeu: Eu sou, e vereis o Filho do Homem assentado à direita do Todo-Poderoso e vindo com as nuvens do céu" (14:61, 62). Nestas declarações dramáticas, Jesus afirmou que a profecia do Daniel 7 até esperava seu cumprimento futuro e apocalíptico quando Deus julgue a todos os homens, mas que o Filho do Homem daniélico já tinha aparecido com outro propósito: trazer salvação da escravidão do pecado. Cristo declarou claramente que ele, como o Filho do Homem, tinha descido "do céu" (João 3:13), e que "os anjos de Deus... sobem e descem sobre o Filho do Homem" (1:51). Dessa maneira Cristo ensinou que tinha estabelecido em Israel uma nova comunicação entre o céu e a terra por sua autoridade divina (3:31; 6:62). Isto também envolve sua missão para julgar ao Israel em nome de Deus: "E [Deus] também lhe deu autoridade de fazer juízo, porquanto é o Filho do Homem" (5:27), embora o propósito da primeira vinda do Jesus foi explicitamente salvação e não juízo no sentido de condenação (3:17; 12:47). Não obstante, João pôde também informar que Jesus veio ao mundo para um juízo presente: "Para juízo vim eu a este mundo; para que os que não vêem, vejam, e os que vêem, sejam cegados" (João 9:39). Esta classe de juízo ou processo de sacudidura era inerente ao oferecimento da salvação de Cristo, oferecimento que implica necessariamente juízo. Os que rechaçam o dom de Deus de Jesus o Messias, pronunciaram indevidamente seu próprio juízo. Escolheram ser condenados. O evangelho de Cristo separa aos que aceitam o oferecimento da graça daqueles que o rechaçam (ver João 3:18-21; 5:24). A presença de Cristo produz um tempo escatológico de decisão, e esse tempo é agora. Cada pessoa está compelida a rechaçá-lo ou a reconhecê-lo, e assim determina de antemão o veredicto do juízo final sobre si mesmo. Cristo considera como de importância decisiva o que o confessemos como o Filho do Homem. Por isso, ao cego a quem tinha sarado perguntou: "Crês tu no Filho do Homem?" (João 9:35). Desse modo Jesus deu a tal pessoa uma revelação mais elevada de si mesmo. Jesus revelou que era o Messias celestial de que se falava no livro de Daniel, que viria nas nuvens do céu ao "Ancião de dias" para receber a glória e o domínio e o reino sobre todos os povos (Dan. 7:14). Este conhecimento conduz a uma fé mais amadurecida em Jesus. O ponto importante nos quatro Evangelhos é a mensagem em que Cristo se referiu à missão do Filho do Homem em uma forma dupla: com respeito a um cumprimento presente e terreno, e também a uma consumação cósmica futura. Em outras palavras, Cristo explicou que o apocalíptico Filho do Homem de Daniel teve um cumprimento histórico em salvação e juízo desde seu humilde primeiro advento, enquanto que também olhou para o futuro, à consumação em salvação e juízo em seu segundo advento. Em resumo, o juízo de Deus, a vida eterna e a ressurreição por meio do Filho do Homem são tanto presente como futuras. Esta dupla aplicação está expressa no Evangelho de João por meio desta frase peculiar: "Vem a hora, e agora é, quando os mortos ouvirão a voz do Filho de Deus; e os que a ouvirem viverão. Porque como o Pai tem vida em si mesmo, assim também deu ao Filho o ter vida em si mesmo" (João 5:25, 26; ver também 4:23 e 16:32). Quão surpreendente é que Jesus ensinasse que não é suficiente crer que haverá uma ressurreição no último dia, como se promete em Daniel 12:2. Sua nova mensagem foi: "Eu sou a ressurreição e a vida; quem crê em mim, ainda que esteja morto, viverá. E todo o que vive e crê em mim, não morrerá eternamente" (João 11:25, 26). Em outras palavras, a vida futura no glorioso reino de Deus está à nossa disposição pela fé em Cristo agora como uma qualidade espiritual de vida.

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Um emprego duplo similar da terminologia apocalíptica pode ver-se na forma em que Jesus aplica os conceitos do reino de Deus e sua "era" (aion) correspondente. Ambas idéias estão combinadas na proclamação de Jesus: "O tempo está cumprido, e o reino de Deus está próximo; arrependei-vos e crede no evangelho" (Mar. 1:15; cf. Mat. 3:2; 4:17; 5:17). O chamado de Cristo parece estar motivado por uma urgência apocalíptica da vinda do reino de Deus, e muito bem pode estar inspirado na profecia de tempo messiânico das 70 semanas do Daniel 9. (Particularmente Daniel 2 e 7 prometem a vinda do reino de Deus; Dan. 2:44, 45; 7:27.) O conceito de Jesus do reino universal de Deus também era parte das Escrituras. Estas ensinavam que Jeová, o Deus de Israel, é agora Rei e chegará a ser Rei no futuro "sobre toda a terra" (Núm. 23:21; Deut. 33:5; Sal. 103:19; Isa. 6:5; Dan. 2:44; 4:3; Isa. 24:23; Zac. 14:9). Além disso, os profetas haviam predito que um filho de Davi chegaria a ser o Rei de Israel e que, como o Messias do mundo, representaria o governo régio de Jeová para sempre (2 Sam. 7:12-16; Sal. 2:7-9; 132:11-18; Isa. 9:7; 11 :1-5; Miq. 5:2; Dan. 7:14, 27). Como já indicamos no capítulo I, o judaísmo farisaico tinha desenvolvido a esperança de que nos últimos dias o Messias viria no tempo indicado por Deus, subiria ao trono de Israel e por seu poder quebrantaria aos príncipes injustos, purificaria a Jerusalém de gentios, quebrantaria toda sua solidez com vara de ferro e, por último, submeteria todas as nações da terra a seu governo. Na pregação de Cristo, o reino de Deus foi o conceito principal. Seu ensino do reino de Deus, sua proximidade, tal como está representada por sua própria vida, seu ministério de cura e seu domínio sobre os demônios, revolucionaram o apocalipticismo judeu que tinha perdido toda esperança de que Deus reinasse no presente histórico. O primeiro advento de Cristo não foi o fim do tempo a não ser o poder régio de Deus que pôde "atar" a Satanás e liberar os homens do poder do mal (ver Mat. 12:29). Jesus insistiu em afirmar que nele o reino dos céus se aproximou como uma soberania espiritual de Deus que agora estava ativa em seu oferecimento messiânico de graça e seu domínio sobre os demônios; uma realidade totalmente diferente do que esperavam os rabinos judeus e os escritores apocalípticos, pois seu reino não era deste mundo (João 18:36). Em resumo, a mensagem de Jesus é que em sua própria pessoa Deus invadiu a história humana e triunfou sobre o mal. Ao mesmo tempo, Cristo ensinou que a liberação final viria no fim do tempo, em sua segunda vinda (Mat. 6:10; 13:41-43; 16:27; 19:28; 25:31). A nova idéia que Jesus apresentou foi que tanto no presente como no futuro reino de Deus ele intervém como Filho do Homem, e em conexão com isto aplicou a terminologia apocalíptica de "as duas eras" à sua nova estrutura escatológica. Enquanto que os apocalipticistas conceberam um dualismo claro de duas eras ou períodos nos quais a futura era isenta de pecado substituiria por completo a esta era pecaminosa, Cristo ensinou que com seu ministério tinha começado a era messiânica e a salvação. Ao mesmo tempo reconheceu que "a era vindoura" começaria só com a ressurreição dos mortos (Luc. 20:34-36). A identificação por parte do Jesus da era messiânica com "esta era" (Mar. 10:29, 30) destruiu a idéia básica da doutrina das duas eras dos apocalipticistas. A ênfase de Cristo em sua mensagem foi chamar o arrependimento (metanoia) e aceitá-lo como Senhor e Messias (Mat. 4:17; 19:21), condição básica para entrar no reino de Deus no momento presente. Desta forma, a paz e o gozo messiânicos serão experimentados já agora na alma (João 15:11; 16:33). Esta tensão entre a escatologia inaugurada e a escatologia apocalíptica, entre o reino da graça e o reino da glória, entre o "já" e o "ainda não", é característica da mensagem do evangelho do Novo Testamento em sua totalidade. O evangelho não é simplesmente as boas novas a respeito da obra de Cristo no passado ou no futuro. Os poderes da era vindoura já invadiram esta era em forma dramática desde o Pentecostes, e agora os verdadeiros crentes "provam" dos poderes do século vindouro mediante Cristo (Heb. 6:5). Esta verdade do evangelho dissipa o desespero do apocalipticismo judeu. Os apóstolos afirmaram que a história da salvação entrou agora na era messiânica, ou os "últimos dias", no qual o poder libertador do Espírito de Deus está totalmente à disposição de todos os que se encontram em Cristo Jesus (Heb. 1:1, 2; At. 2:17-39).

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V - A INTERPRETAÇÃO QUE OS APÓSTOLOS FIZERAM DO CUMPRIMENTO DA PROFECIA

A aplicação que faz Pedro da profecia do Joel é altamente instrutiva. O apóstolo aplica a promessa do Espírito de Deus profetizada pelo Joel ao derramamento pentecostal do Espírito Santo sobre os judeus cristãos reunidos em Jerusalém. Pedro cita a predição do Joel de um futuro derramamento do Espírito (Joel 2:28) e ato seguido assinala a experiência presente como o cumprimento "nos últimos dias", declarando: "Isto é o dito pelo profeta Joel" (At. 2:16). Um olhar mais detalhado aos assuntos mencionados no esboço profético do Joel expõe o problema seguinte: por que anunciou Pedro o cumprimento histórico dos "últimos dias" no dia de Pentecostes? Pedro citou Joel 2:28-32 embora algumas dos sinais preditos ainda não se cumpriam visivelmente, incluindo as seguintes: (1) "Toda carne" incluso no tinha recebido o derramamento milagroso do Espírito, porque só 12 apóstolos, ou no máximo 120 crentes, tinham-no recebido (At. 1:15); (2) os sinais milagrosos de "sangre, fogo e colunas de fumaça" parecem incluir mais que as "línguas de fogo" assentadas sobre cada um dos discípulos, sacudidos por um vento robusto; e (3) os sinais cósmicos do sol e da lua, no melhor dos casos só se cumpriram parcialmente, até se se aceita o obscurecimento do sol por três horas durante a crucificação como um dos sinais (Mat. 27:45). Isto nos leva a um princípio básico de interpretação apocalíptica na mensagem apostólica: O cumprimento em Pentecostes constitui só uma escatologia parcialmente realizada. Do ponto de vista apostólico, o cumprimento dos "últimos dias" não requer um cumprimento imediato de cada detalhe. O cumprimento se enfoca na realização messiânica da promessa de Deus na história da salvação. O derramamento do Espírito demonstrou ser a indicação nesta terra da coroação do Jesus ressuscitado como o Rei-Sacerdote no céu (At. 2:33, 36). Em outras palavras, o cumprimento não requer a verificação de cada detalhe da profecia na história presente. O cumprimento está determinado pelo progresso da história da salvação no ministério de Cristo e seus apóstolos. Agora se tinha aberto um novo caminho de salvação para todo aquele que invocar o nome do Senhor Jesus (At. 2:21; ver também Rom. 10:9-13; 1 Cor. 1:2). Era-a escatológica do Joel tinha sido inaugurada pelo reinado do Jesus Cristo. O que podemos dizer das características universais ("toda carne") e cósmicas ("sol" e "lua") da perspectiva do futuro que anuncia Joel? Estas assinalam à consumação e ao fim da era cristã, quando Cristo volte pela segunda vez. Estes aspectos apocalípticos não se cumpriram nos dias do Pedro. Ao aplicar Joel 2, Pedro ressaltou que o Cristo ressuscitado era a fonte do derramamento do Espírito. Além disso assinalou que o Espírito é dado baixo a condição de ter fé no Jesus como o Messias: "Respondeu-lhes Pedro: Arrependei-vos, e cada um de vós seja batizado em nome de Jesus Cristo para remissão dos vossos pecados, e recebereis o dom do Espírito Santo. Pois para vós outros é a promessa, para vossos filhos e para todos os que ainda estão longe, isto é, para quantos o Senhor, nosso Deus, chamar" (At. 2:38, 39). A distribuição do Espírito sobre o Israel crente em Cristo pelo Senhor ressuscitado está no próprio coração da mensagem apostólica do evangelho. Isto ensina que o primeiro princípio de interpretação profética dos apóstolos está determinado por um cumprimento em Cristo (o cumprimento cristológico), e por extensão, na igreja de Cristo (o cumprimento eclesiológico). Isto nos leva a uma característica final da aplicação que Pedro fez da profecia do Joel: O derramamento do Espírito de Cristo sobre a terra iniciou os "últimos dias" (At. 2:16). O conceito de "os últimos (ou últimos) dias" é usado freqüentemente pelos profetas do Antigo Testamento, mas no Novo Testamento recebe uma qualidade messiânica ou cristológica, porque agora Cristo veio na plenitude do tempo (Gál. 4:4). Seu Espírito doador de vida começou a ser derramado sobre toda carne (ver João 7:37-39). A idéia dos "últimos dias" não se refere a uma quantidade de tempo, a não ser a uma qualidade no tempo, ao começo da era messiânica em contraste com o tempo dos profetas do Israel (cf Heb. l:1, 2). A verdade apostólica da chegada dos "últimos dias" implicava que tinha chegado "a consumação dos séculos" da era do velho pacto (Heb. 9:26; 1 Ped. 1:20; 1 Cor. 10:11). Este anúncio do fim da velha dispensa e do começo dos "últimos dias" messiânicos envolve um rechaço das divisões de tempo do apocalipticismo judeu e uma volta ao conceito profético que

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insígnia que Deus domina o tempo e a história. "Anjos, principados e autoridades", inclusive "todas as coisas", estão submetidas a Cristo (F. 1:20-22; 1 Ped. 3:22). Até às autoridades políticas as designa como servos de Deus para governar à humanidade (Rom. 13:4; diákonos; 13:6, leitourgós; ver também João 19:11). Com orações de petição, intercessão e agradecimento, a igreja está chamada a submeter-se "por causa do Senhor" aos protetores políticos da lei e a ordem na sociedade humana (Rom. 13:1; 1 Ped. 2:13-17; 1 Tim. 2:1-3). Esta atitude positiva para a história por parte da igreja apostólica está bem compendiada pelo R. Bauckham: "O significado da história presente foi garantido pelos escritores do Novo Testamento por meio de sua crença de que na morte e a ressurreição do Jesus, Deus já tinha atuado em uma forma escatológica; a nova era tinha invadido a velha; a nova criação estava em marcha, e o período intermédio da superposição das foi estava ocupado com a missão escatológica da igreja".[1] A Unidade Orgânica dos Cumprimentos Cristológicos e Eclesiológicos O sentido de missão dos apóstolos estava enraizado na convicção incomovível de que Cristo os tinha designado como os líderes de um novo o Israel para cumprir a vocação da nação judia: ser a luz da salvação divina para todo mundo (Mat. 21:43; Luc. 12:32; 1 Ped. 2:9, 10). Para sua comissão de pregar o evangelho, Paulo e Barnabé apelaram à profecia do Isaías, a qual comissionava ao Servo do Jeová: "Também te dava por luz das nações, para que seja minha salvação até o último da terra" (Isa. 49:6). Paulo citou esta chamada divina e sua missão aos judeus em seu sermão na sinagoga do Pisídia da Antioquia, e o aplicou diretamente a sua missão apostólica: "Porque assim nos mandou o Senhor" (At. 13:47; cf. 26:23). Isto significa que o cumprimento cristológico das profecias messiânicas se estende à igreja de Cristo e inclui o cumprimento eclesiológico. Isto é o que podemos chamar "a hermenêutica do evangelho". A igreja cristã é essencialmente o povo do Messias, os que se reúnem em seu nome e quem o segue como o Pastor messiânico (Mat. 18:30; João 10:14-16; 11:51, 52). Neste novo o Israel ficam eliminadas as antigas restrições étnicas e geográficas do Israel. Se reúne pelo evangelho do Cristo crucificado e ressuscitado. Cristo já o tinha anunciado: "E eu, se for levantado da terra, a todos atrairei para mim mesmo" (João 12:32). O livro de Atos descreve com mais detalhe a aplicação histórica desta hermenêutica do evangelho à igreja apostólica. Um exemplo revelador se encontra em Feitos 4, onde se aplica o Salmo 2 (com seu centro messiânico e sua perspectiva de juízo) à conspiração dos gentis e judeus contra Jesus e seus apóstolos (At. 4:18, 23-30). A interpretação evangélica do Salmo 2 não é uma reinterpretação que introduza elementos estranhos ao texto. Antes bem, o evangelho de Cristo expõe o significado intencional da profecia a respeito do Israel à luz de seu cumprimento em Cristo e em sua igreja. Por conseguinte, o Novo Testamento reconhece esse cumprimento na era da igreja como uma atividade atual do Espírito, que um dia chegará a sua consumação universal (ver Apoc. 18:1). O Apocalipse de João é uma contraparte complementar dos quatro Evangelhos, porque se concentra principalmente nos gozos e a herança dos que são fiéis até o fim e vencem ao mau pelo sangue do Cordeiro e a palavra de seu testemunho (Apoc. 12:11). O livro do Apocalipse está categoricamente centrado em Cristo e destinado para a igreja de todas as idades, especialmente para prepará-la para a crise do tempo do fim. Toda a escatologia do Novo Testamento está regulada pela verdade do evangelho. Este é o princípio apostólico de interpretação profética. O Princípio de Universalização das Promessas Territ oriais Feitas a Israel Os intérpretes cristãos da profecia algumas vezes estiveram confundidos em sua aplicação das promessas territoriais feitas ao antigo o Israel. Isto é especialmente verdade com as aplicações das profecias não cumpridas do Daniel, Ezequiel, Joel, Zacarias e o Apocalipse. Alguns supõem que o território do Oriente Médio chegará a ser o ponto focal dos cumprimentos

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das profecias do tempo do fim, o que requer um esforço sério para determinar o princípio básico que segue o Novo Testamento em sua aplicação das promessas territoriais feitas ao Israel. Neste assunto, Cristo também estabeleceu a norma para nós. Proclamou o princípio da ampliação mundial das promessas territoriais locais; fê-lo assim quando disse que a promessa do pacto com respeito à terra se cumpriria na terra feita nova. Isto pode ver-se ao observar como aplicou Jesus esta antiga promessa territorial:

Davi Jesus SALMOS 37:11, 29 Mateus 5:5

"Mas os mansos herdarão a terra e se deleitarão na abundância de paz" (v.11). "Bem-aventurados os mansos, porque

herdarão a terra". "Os justos herdarão a terra e nela habitarão para sempre" (v. 29). Cristo aplicou claramente o Salmo 37 em uma forma inovadora: (1) Esta "terra" seria maior do que pensou Davi; o cumprimento incluirá toda a terra em sua formosura criada de novo (ver também Isa. 11:6-9 e Apoc. 21 e 22); (2) a terra renovada será a herança de todos os mansos de todas as nações que aceitem a Cristo como Salvador. Cristo não está espiritualizando a promessa territorial feita a Israel. Pelo contrário, amplia o alcance de seu território futuro para incluir toda a terra. De igual modo, o apóstolo Paulo entendeu a promessa territorial do pacto assim como o entendeu Jesus, incluindo toda a terra: "Porque não pela lei foi dada a Abraão ou a sua descendência a promessa de que seria herdeiro do mundo, mas sim pela justiça da fé" (Rom. 4:13). Paulo declara que esta promessa territorial mundial era a substância do pacto abraâmico, a qual estaria garantida só pela justiça pela fé. A sugestão de Deus a Abraão de que olhasse ao "norte e ao sul, ao oriente e ao ocidente" (Gên. 13:14) na terra do Canaã não especificava limites: "Porque toda essa terra que vês, eu ta darei, a ti e à tua descendência, para sempre. Farei a tua descendência como o pó da terra; de maneira que, se alguém puder contar o pó da terra, então se contará também a tua descendência" (Gên. 13:15,16). Para compreender o princípio do evangelho, deve-se contemplar a terra da Palestina como uma antecipação ou uma garantia que assegurou ao Israel um território muito mais extenso, necessário para acomodar às inumeráveis multidões da descendência de Abraão. O pacto abraâmico continha a promessa de uma descendência incontável e de uma terra sem limites para dita descendência. Entretanto, Paulo considera Abraão como o pai de todos os crentes, de todos os que são justificados por meio da fé em Cristo entre as nações do mundo (Rom. 4:13, 16-24). Abraão "é pai de todos nós" (tão crentes judeus como crentes gentis). O apóstolo declara: "Como diz a Escritura: Constituí-te pai de muitas nações; nosso pai diante Daquele a quem acreditou" (Rom. 4:17, BJ). Isso não está de acordo com a hermenêutica do literalismo. É a exegese cristocêntrica do Paulo. A "terra" chega a ser o mundo; as "nações" chegam a ser quão crentes confiam no Deus do Israel e som justificados pela fé em Cristo. Abraão chegaria a ser o pai espiritual de uma multidão de gentis por meio de Cristo. O Inadequado da Hermenêutica do Literalismo A hermenêutica do literalismo étnico e geográfico em profecia se apóia na hipótese de que a profecia não é mais que história antes dos acontecimentos. Por conseguinte, atribui às descrições proféticas a exatidão de um quadro fotográfico feito com antecipação. Esta hipótese não deixa lugar para as coisas maiores e melhores que virão, coisas que "nem homem algum imaginou" a não ser Deus sozinho (1 Cor. 2:9, NBE; Isa. 64:4). O literalismo nega a estrutura bíblica inerente de uma tipologia intensificada. Cristo veio em humilhação; contudo, foi mais que Jonas, mais que Salomão, maior que o templo (Mat. 12:40, 42, 6). Levantou a esperança judia muito por cima de quem esperava um Messias que fora idêntico com um rei, um profeta ou um sacerdote no Israel. Como o Messias divino, elevou-se imensamente por cima desses protótipos antigos, tanto em sua humilde encarnação como em sua futura glorificação. Não

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devia esperar uma reprodução exata dos reis teocráticos do Israel. portanto, a gente também pode ver a terra prometida (Palestina) como "um mundo em miniatura no qual Deus ilustrou seu reino e sua forma de tratar com o pecado. A terra que Deus prometeu a Abraão e a sua descendência... era um tipo do mundo (Rom. 4:13)".[2] O alcance total do panorama profético do Israel não era nacionalista a não ser universal, com uma dimensão acrescentada que incluía tanto o céu como a terra (Isa. 65:17; 24:21-23). O princípio decisivo para a aplicação no tempo do fim da promessa territorial feita ao Israel é a forma como Cristo e o Novo Testamento como um tudo aplicam esta promessa do pacto. A passagem clássica que insígnia a ampliação universal do território restringido do Israel, encontra-se na conversação do Jesus com a mulher da Samaria. Quando a mulher lhe perguntou que monte era o sagrado, se o monte Gerizim ou o monte do Sião, Cristo respondeu: "Mulher, me acredite, que a hora vem quando nem neste monte nem em Jerusalém adorarão ao Pai" (João 4:21). Desde que veio o Messias, ele é o "lugar" santo em quem devem reunir-se o Israel e todos os gentis (Mat. 11:28; 23:37). "Porque onde estão dois ou três congregados em meu nome, ali estou eu em meio deles" (Mat. 18:20). um pouco mais tarde, acrescentou: "E eu, se for levantado da terra, a todos atrairei para mim mesmo" (João 12:32). Cristo não faz diferença entre a esperança para o futuro de um judeu cristão e de um gentil cristão. Os descendentes espirituais de Abraão entre todas as nações serão reunidos ou unidos em "um rebanho" baixo "um Pastor" (João 10:6; Mat. 8:11). O princípio implícito é claro. Cristo suprime todas as restrições étnicas no povo do novo pacto e, portanto, também suprime o centro geográfico do Oriente Médio para sua igreja. Onde quer esteja Cristo, ali está o lugar santo! Esta é uma parte essencial da hermenêutica do evangelho. O Novo Testamento substitui a santidade da presença de Deus do templo antigo (a shekinah) pela santidade do Senhor Jesus Cristo. A continuidade básica da esperança do Antigo Testamento e do Novo Testamento se representa na epístola aos Hebreus. Assegura aos cristãos de origem judia que, pela fé em Cristo, "aproximaste-lhes do monte do Sião, à cidade do Deus vivo, Jerusalém a celestial... à congregação [ekklesia] dos primogênitos que estão inscritos nos céus, a Deus... ao Jesus o Mediador do novo pacto" (Heb. 12:22-24). Por meio da fé no sangue expiatório da morte de Cristo, a igreja entra agora em forma constante no templo celestial e se aproxima do trono da graça para receber ajuda de Cristo (Heb. 4:16; 10:19-22). Esta linguagem simbólica da adoração cristã não tem o propósito de ser uma adoração paralela ao lado da do Israel, mas sim é o verdadeiro cumprimento dos tipos do Israel. O uso contínuo de nomes hebreus expressa a continuidade essencial da verdadeira adoração na revelação progressiva de Deus em Cristo (ver Heb. 12:1-3). As promessas do Israel agora se experimentam em Cristo como "os poderes do século vindouro" (Heb. 6:5), e serão cumpridas em uma maneira mais perfeita em sua consumação apocalíptica: "Porque não temos aqui cidade permanente, mas sim procuramos a por vir" (Heb. 13:14). "Porque esperava [Abraão] a cidade que tem fundamentos, cujo arquiteto e construtor é Deus" (Heb. 11:10). Referências 1. R. J. Bauckham, "The Rise of Apocalyptic" [O Surgimento do Apocalíptico, Themelios [Fundamento] 3:2 (1978), p. 22. 2. Louis F. Were, The Certainty of the Third Angel's Message [A Certeza da Mensagem do Terceiro Anjo] (Berrien Springs, Michigan: First Impressions, 1979), p. 86.

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VI - A COMPREENSÃO DE CRISTO DAS PROFECIAS DE DANIE L A aplicação que Jesus fez dos termos simbólicos tirados do livro do Daniel – tais como "reino", "Filho de Homem" e "abominação desoladora" – indicam que manifestou um profundo interesse nas profecias apocalípticas de Daniel. Aplicou as expressões daniélicas a sua própria missão messiânica. Por esse meio Cristo ensinou que a descrição das visões de Daniel eram de importância fundamental para sua igreja. Sua própria perspectiva segue o esboço da história da salvação de Daniel. É conhecido como Discurso do Monte das Oliveiras ou discurso escatológico de Jesus, porque o pronunciou enquanto estava sentado no monte das Oliveiras, ao oriente de Jerusalém (Mat. 24; Mar. 13; Luc. 21). O quadro que Cristo pintou dos acontecimentos futuros para Jerusalém e para seus seguidores em todo mundo é similar ao que foi esboçado primeiramente pelo profeta Daniel. O discurso do monte das Oliveiras foi chamado por alguns como "os comentários ou Midrash* de Jesus sobre o livro do Daniel". É amplamente reconhecido que as profecias de longo alcance de Daniel – com sua predição da apostasia, a perseguição, o juízo e a vindicação final dos fiéis – deram forma ao discurso escatológico de Cristo. Esta conexão pode ver-se sem dificuldades da seguinte lista comparativa:

Daniel Jesus "Quando se cumprirão estas maravilhas?" (Dan. 12:6) O anjo respondeu que quando acabe a dispersão do poder do povo santo, "estas coisas todas se cumprirão" [na LXX: suntelesthénai pánta táuta] (Dan. 12:7).

"Dize-nos quando sucederão estas coisas, e que sinal haverá quando todas elas estiverem para cumprir-se?" [méle táuta sunteleísthai pánta] (Mar. 13:4).

"O que há de ser nos últimos dias" [na LXX: ti dei genésthai metá táuta: O que deve suceder no futuro] (Dan. 2:28).

"É necessário assim acontecer" [dei genésthai] (Mar. 13:7).

"Mas o povo dos que conhecem o seu Deus se tornará forte e ativo … Alguns dos sábios cairão ... até ao tempo do fim, porque se dará ainda no tempo determinado. ... mas, naquele tempo, será salvo o teu povo" (Dan. 11:32, 35; 12:1).

"Sereis odiados de todos por causa do meu nome; aquele, porém, que perseverar até ao fim, esse será salvo" (Mar. 13:13; Mat. 24:13).

"Até quando durará a visão do sacrifício diário e da transgressão assoladora, visão na qual é entregue o santuário e o exército, a fim de serem pisados?" (Dan. 8:13).

"Quando virdes a abominação da desolação instalada onde não deve estar" (Mar. 13:14, BJ).

"Sobre a asa das abominações virá o assolador" (Dan. 9:27).

"Quando , portanto, virdes a abominação da desolação … instalada no lugar santo" (Mat. 24:15, BJ).

"tirarão o sacrifício diário, estabelecendo a abominação desoladora" (Dan. 11:31; cf. 12:11).

"E haverá tempo de angústia, qual nunca houve, desde que houve nação até àquele tempo" (Dan. 12:1).

"Porque aqueles dias serão de tamanha tribulação como nunca houve desde o princípio do mundo" (Mar. 13:19; Mat. 24:21).

"E eis que vinha com as nuvens do céu um como o Filho do Homem …Foi-lhe dado domínio, e glória, e o reino" (Dan. 7:13,14).

"Então, verão o Filho do Homem vir nas nuvens, com grande poder e glória" (Mar. 13:26; cf. Mat. 24:30).

Dos paralelos citados, chega a ser evidente que Jesus seguiu a seqüência dos eventos futuros de Daniel em seu próprio discurso. Cristo aplicou o esboço de Daniel ao futuro imediato de Israel e de seus discípulos. Portanto, cada uma das declarações de Cristo deve entender-se contra o transfundo da profecia de Daniel da história da salvação. Daniel apresentou o drama de um conflito religioso que se concentra em um que invade a terra santa, profana o templo de Israel estabelecendo sua própria "abominação" ou objeto de adoração falsa, em lugar da verdade de Deus, e persegue os santos, cuja "angústia" durará por "três tempos e meio". A reação de Deus chega na forma de "um semelhante a um filho de homem", a quem é ordenado

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no céu que execute o juízo de Deus sobre esse intruso maligno. Restaura a verdadeira adoração no templo de Deus e vindica os adoradores tratados injustamente. O tema de Daniel é descrito em 2 visões que formam um paralelismo progressivo e complementar (caps. 7 e 8). Os capítulos finais de Daniel (9 e 10-12) consistem em notas explicativas do anjo quanto às duas visões. Entretanto, o tema principal do livro de Daniel é a segurança da restauração da verdade do santuário de Deus e a libertação de seu povo fiel do pacto por meio do Filho do Homem, que vem nas nuvens do céu. Ele executa o juízo sobre o "chifre pequeno", o desolador que está na terra. Do mesmo modo, Jesus conecta o templo e sua profanação futura com uma "abominação da desolação" ou sacrilégio. Depois assegura a seus seguidores que voltará no poder e a glória do celestial Filho do Homem (de Dan. 7) para resgatar a seus fiéis e reuni-los no reino messiânico de Deus. Dessa forma, Cristo anula a sentença de morte tão injustamente imposta aos fiéis pelo anticristo. Segundo os Evangelhos sinóticos, Jesus adotou algumas frases-chave apocalípticas de Daniel e as aplicou a si mesmo como Messias, e outras frases aplicou a Jerusalém e a seus seguidores: Dan. 7:13 (Um filho de homem que vem nas nuvens do céu para vindicar os santos acusados) é aplicada a Cristo em Marcos 13:26. Dan. 8:13 (O santuário seria pisoteado) aplica-se a Jerusalém em Lucas 21:24. Dan. 9:27 (O desolador porá seu sacrilégio dentro do templo) aplica-se à área do templo de Jerusalém no Mateus 24:15. Dan. 11:31 (O sacrilégio profanará o templo) aplica-se a Roma imperial em Marcos 13:14. Dan. 11:45 (O monte glorioso e santo será assediado) aplica-se a Jerusalém no Mateus 24:15 ("o lugar santo" ). Dan. 12:1 (Seguirá um tempo de tribulação sem comparação) aplica-se aos seguidores de Jesus em Marcos 13:19. Jesus mencionou que a fonte literária de seu discurso era o livro de Daniel: "Quando, porém, virem a abominação da desolação, de que fala o profeta Daniel, instalada no lugar santo – que o leitor entenda!" (Mat. 24:15, BJ). Isto indica que o esboço apocalíptico de Daniel dos 4 impérios mundiais sucessivos (Babilônia, Medo-pérsia, Grécia e Roma) devem colocar-se como o marco histórico atrás da perspectiva do futuro apresentada por Cristo. Isto exige interpretar que o Império Romano que no tempo do Jesus governava Israel, cumpriu a profecia de Daniel. O general romano Pompeu sujeitou os judeus a Roma no ano 63 a.C. Os expositores judeus anteriores a Cristo, especificamente os macabeus, acreditaram que sua vitória militar sobre o opressor sírio Antíoco IV Epifânio, no ano 164 a.C., era a vitória de Deus sobre o profanador do templo descrita em Daniel 8-12 (ver 1 Macabeus 1:54-59; 6:7). Os fariseus viram na morte de Pompeu (48 a.C.) o triunfo de Deus sobre o profanador da cidade santa.1 Logo depois de Cristo, Josefo, o historiador judeu do século I, expressou sua convicção de que a profanação do templo levada a cabo pelos zelotes e a desolação de Jerusalém pelos exércitos romanos (no 70 d.C.) eram um cumprimento da predição de Daniel.2 Entretanto, poucos judeus pareceram ter entendido a razão real para a destruição de Jerusalém que se levou a cabo 40 anos depois da crucificação de Cristo. Os profetas anteriores, incluindo Jeremias (cap. 7) e Ezequiel (cap. 24), tinham anunciado a destruição iminente do templo e da cidade como a maldição divina do pacto sobre um povo rebelde ao pacto. Mas isto já ocorrera no próprio tempo de Daniel, quando Nabucodonosor, rei de Babilônia, destruiu Jerusalém em 586 a.C. (ver Dan. 9:17). Entretanto, a nova predição de Daniel foi a espantosa verdade de que o templo futuro que seria reedificado após o cativeiro babilônico também seria destruído, tudo como resultado do assassinato que Jerusalém faria do Messias (Dan. 9:26, 27)! Esta profecia é um novo desenvolvimento na tradição profética de Israel. Daniel 9 chegou a ser mais específico com respeito ao tempo do Messias que a predição anterior do servo sofredor de Isaías 53. Jesus aplica a predição de Daniel da destruição futura da "cidade e o santuário" (Dan. 9:26) ao tempo da geração de seus contemporâneos, quando declarou com toda solenidade: "De certo

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vos digo que tudo isto virá sobre esta geração" (Mat. 23:36; ver também o v. 35 e 24:34). A advertência adicional, "que lê, entenda" (Mar. 13:14), é o conselho de Cristo aos que podiam ler as Escrituras hebraicas para que estudassem cuidadosamente o livro de Daniel como o contexto de seu próprio discurso profético. O vocábulo "entendam" já era uma palavra-chave no livro de Daniel (Dan. 9:23; ver também 8:27; 9:2; 10:1; 12:8-10). Por esta razão, o conselho de Jesus aponta inequivocamente ao livro de Daniel para entender sua própria predição profética e a aplicação histórica da profecia de Daniel. Por muito tempo se deu por sentado que o Evangelho de Marcos foi escrito primeiro e que Mateus e Lucas o tomaram como sua pauta básica, produzindo cada um sua própria versão modificada de uma perspectiva teológica ligeiramente diferente. Entretanto, estudos recentes sugerem que os três escritores dos Evangelhos sinóticos extraíram de um documento comum anterior aos sinóticos que continha todos os elementos essenciais da tradição oral do discurso de Jesus no monte dos Oliveiras.3 O discurso de Jesus no monte dos Oliveiras também constituiu uma fonte vital para o conselho pastoral de Paulo com respeito ao futuro e para seu método ao aplicar o esboço apocalíptico a seu próprio tempo e ao futuro. Isto será tratado no capítulo seguinte. Tanto o discurso profético de Jesus como o esboço profético de Paulo constituem as cabeceiras de ponte mais importantes que conectam os livros de Daniel e Apocalipse. O discurso escatológico de Jesus nos Evangelhos sinóticos e o esboço profético de Paulo em 2 Tessalonicenses 2 nos ensinam autoritativamente como se devem aplicar as profecias de Daniel à era cristã. São a preparação necessária para entender o livro do Apocalipse. A Estrutura Cronológica do Discurso Profético de Je sus em Marcos 13 Alguns observaram um estilo literário em Marcos 13 que demarca os versículos 5-23 como uma unidade literária. Isto se insinua pela advertência contra a profecia falsa tanto ao começo como ao final: "Olhem [blépete]..." (vs. 5, 23). Esta seção descreve os acontecimentos que devem preceder ao fim, especificamente os dias de tribulação (vs. 19, 20). Assim forma também uma unidade temática. A seção seguinte, do 24 ao 27, apresenta a segunda vinda de Cristo como o próprio fim. Sugere uma progressão definida no tempo: "Mas naqueles dias, depois daquela tribulação..." (V. 24). Voltando para a primeira seção (vs. 5-23), pode notar-se um progresso cronológico dentro desta parte. A predição de guerras, fomes e terremotos não tem o propósito de anunciar sinais dos acontecimentos finais porque se diz que não devem ser causa de alarme: "É necessário que aconteça assim; mas ainda não é o fim..." Estes são princípios de dores (literalmente, dores de parto; Mar. 13:7, 8; cf. Mat. 24:8). Depois se mencionam os sofrimentos dos discípulos de Cristo e sua pregação mundial do evangelho: "E é necessário que o evangelho seja pregado antes a todas as nações" (Mar. 13:10, cf. Mat. 24:14). Esta porção da Escritura conclui com o conselho de Jesus: "Mas o que perseverar até o fim, este será salvo" (v. 13; Mat. 24:13). A demora da parousia (o advento) está claramente presente neste contexto. Quando Jesus disse que o evangelho "primeiro deve" ser pregado, enfatizou o fato de que o fim não viria até que o evangelho tenha sido levado a cada nação na terra (ver Mar. 13:10). Na subdivisão seguinte, Marcos 13:14-20, Cristo volta a atenção à geração de seus contemporâneos ao concentrar-se sobre a "abominação da desolação". Este fenômeno já não é parte "do princípio de dores". A predição de Cristo do "sacrilégio" como um indicador visível da imediata destruição de Jerusalém é o sinal decisivo que responde a pergunta dos discípulos: "Qual será o sinal de que está para acabar-se tudo?" (Mar. 13:1-4, NBE; Mat. 24:1-3). Mas Cristo não continua o relato com uma descrição de sua gloriosa vinda como os discípulos esperavam. Mas procede enfatizar que o sacrilégio trará um período de angústia sem igual, um período de tribulações para seus seguidores (Mar. 13:19-23; Mat. 24:16-21). Tudo isto, reitera Jesus, acontecerá antes que os sinais nos céus introduzam o Redentor que retorna (Mar. 13:24; Mat. 24:29). Em outras palavras, a desolação de Jerusalém está separada com toda claridade do segundo advento pelo intervalo de tempo conhecido como "dias de tribulação" [thlípsis] para os seguidores de Cristo em todo mundo. Este período de aflição é deixado em forma indefinida por Cristo, mas é uma alusão clara às

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predições de Daniel de um período de aflição e apostasia depois que se estabeleceu a abominação desoladora como se depreende de Daniel 7-12. O primeiro tempo de aflição no livro de Daniel dura "três tempos e meio" (Dan. 7:25), e deve entender-se como um símbolo apocalíptico para um longo período, mencionado em forma reiterada em Apocalipse 11-13 com respeito à era da igreja (ver nesta Segunda parte, o cap. XX). Mas Daniel antecipa, além dos 3 ½ tempos de aflição (em Dan. 7:25), um tempo posterior de angústia sem precedentes no tempo do fim (Dan. 11:40-45; 12:1), da qual Miguel libertará seu povo. Este tempo final de tribulação, diz Daniel, será "qual nunca houve desde que houve nação até então" (Dan. 12:1; LXX, thlípsis). Tanto Mateus como Marcos declaram que a angústia será tão severa que "ninguém escaparia com vida" se o Senhor não abreviasse esses dias por amor a seus "escolhidos" (Mar. 13:20; Mat. 24:22). Este anúncio sugere não uma crise local pequena em Jerusalém, e sim um período prolongado de angústia universal para o povo de Deus. A referência adicional a respeito dos falsos cristos e os falsos profetas (Mar. 13:21-23; Mat. 24:24) indica um período estendido de apostasia. Podemos concluir sem risco que Cristo previu um período extenso de desolação religiosa depois que o sacrilégio abominável predito nas profecias de Daniel tivesse aparecido entre seus seguidores. Cristo não ensinou que a queda de Jerusalém e o fim do mundo eram acontecimentos idênticos, mas sim que a queda de Jerusalém introduziria um período de apostasia e tribulação. Parece que Cristo combinou todos os períodos de angústia para seu povo em uma só declaração, tirada de Daniel 12:1. A chave para entender a perspectiva profética de Cristo é sua aplicação contínuo-histórica de Daniel: primeiro ao Império Romano e à geração de seus contemporâneos em Jerusalém, e depois aos períodos de crescente angústia mundial da qual libertará a seus seguidores em sua vinda. A Aplicação que Cristo Fez da Tipologia Qual foi a ocasião que levou Jesus a pronunciar sua profecia de condenação sobre Jerusalém e de perseguição para seus seguidores até Sua libertação em sua segunda vinda? Perto do fim de seu ministério terrestre, Jesus notou o repúdio decidido de cada evidência de seu messianismo por parte dos dirigentes judeus. Previu sua iminente morte violenta. Só então pronunciou a inevitável maldição do pacto: "Eis que vossa casa vai ficar deserta" (Mat. 23:38). O que Cristo quis dizer com esta predição sinistra? Declarou que o templo em Jerusalém séria privado da presença divina, e seria destruído, e acrescentou: "Não ficará pedra sobre pedra" (Mar. 13:2). Muito pouco tempo depois, enquanto estava sentado no monte das Oliveiras, alguns de seus discípulos lhe perguntaram em particular: "Diga-nos, quando serão estas coisas, e que sinal haverá de tua vinda e do fim do mundo?" (Mat. 24:3). Estas perguntas se relacionam com dois acontecimentos diferentes. Entretanto, na mente dos discípulos, isso não estava diferenciado no tempo como "a destruição de Jerusalém" por um lado e "a segunda vinda de Cristo" para julgar o mundo por outro. Entretanto, na opinião de Cristo, o juízo iminente sobre Jerusalém e o juízo final do mundo têm um característico básico em comum: ambos os juízos são realizados pelo mesmo Deus do pacto. Esta correspondência essencial de ambos os juízos implica tipologia, algo associado com os profetas clássicos (ver o cap. II desta obra). Isto significa que Jesus considerou o iminente dia do Senhor para Jerusalém como um tipo de aviso do juízo do mundo. Em harmonia com a profecia clássica de Israel, Cristo também combinou os dois juízos divinos em uma perspectiva profética bifocal:

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A predição de Jesus não oferece nenhuma classe de adivinhação de acontecimentos futuros, mas sim, ao contrário, convoca a todas as pessoas a preparar-se para encontrar-se com Deus. Assim como os profetas da antiguidade, Jesus projetou como iminente o juízo sobre Jerusalém ("não passará esta geração", Mar. 13:30; ver mais adiante o cap. X desta obra), uma vez que colocou o juízo do mundo no distante tempo do fim ("daquele dia e hora ninguém sabe", Mar. 13:32). Jesus recalcou que a razão para a catástrofe iminente de Jerusalém foi seu rechaço da visitação de Deus por meio do Messias: "E te derribarão ... porquanto não conheceste o tempo de tua visitação" (Luc. 19:44). Israel tinha rechaçado a seu verdadeiro Rei na pessoa de Cristo. Como resultado, Deus retirou sua presença, o que deixou só a justiça retributiva de Deus. Segundo o mesmo princípio, Jesus ordenou que "o evangelho seja pregado antes a todas as nações" (Mar. 13:10). Só então virá o juízo do mundo. Por essa razão, Cristo enviou a sua igreja com uma missão mundial: "E será pregado este evangelho do reino em todo mundo, para testemunho a todas as nações; e então virá o fim" (Mat. 24:14; cf. 28:18-20). Jesus também adotou o termo apocalíptico "o fim" do livro do Daniel. Em Daniel 9:26 e 27, "o fim" emprega-se como um sinônimo para uma "destruição" decretada divinamente sobre o horrível desolador. Isto faz pensar que o mundo será destruído pela mesma razão pela que foi devastada Jerusalém. Assim como Jerusalém foi destruída por rechaçar o Messias, assim o mundo será destruído por seu rechaço de Cristo como Salvador. Dessa maneira Cristo revelou a unidade da obra de Deus. Cristo, a Chave para Entender a Profecia A aproximação do inimigo à área do templo foi o sinal para que os seguidores de Cristo fugissem. Esse sinal serve como uma admoestação para todos os crentes, permitindo que escapassem de Jerusalém. "Quando virem 'a abominação da desolação' instalada onde não devia estar – que o leitor entenda! – então os que estiverem na Judéia fujam para as montanhas" (Mar. 13:14, BJ). "Quando, portanto, virdes a 'abominação da desolação', de que falou o profeta Daniel, instalada no lugar santo – que o leitor entenda! –então, os que estiverem na Judéia fujam para as montanhas" (Mat. 24:15, 16, BJ). "Quando, porém, virdes Jerusalém sitiada de exércitos, sabei que está próxima a sua devastação. Então, os que estiverem na Judéia, fujam para os montes; os que se encontrarem dentro da cidade, retirem-se; e os que estiverem nos campos, não entrem nela. Porque estes dias são de vingança, para se cumprir tudo o que está escrito" (Luc. 21:20-22). É importante reconhecer a função complementar dos três Evangelhos sinóticos no estudo do discurso profético do Jesus. As frases idênticas ao começo de cada relato indicam firmemente que Lucas interpreta a profecia de Marcos da "abominação desoladora" como sendo cumprida na desolação histórica de Jerusalém pelos exércitos de Roma em 70 d.C. Lucas acrescenta um esclarecimento importante dele próprio: que a terrível desolação deve entender-se como um "castigo" divino em cumprimento de tudo o que haviam predito os profetas de Israel. Mateus aponta explicitamente o profeta Daniel. Na verdade, Daniel contém a única profecia das 70

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semanas de anos que anuncia a morte violenta do Messias seguida pela destruição de Jerusalém: "E depois das sessenta e duas semanas se tirará a vida ao Messias, mas não por si; e o povo de um príncipe que virá destruirá a cidade e o santuário" (Dan. 9:26). Quando os exércitos de Roma estavam aproximando-se da "santa cidade", podiam ser vistos por todos os que estavam na Judéia. Enquanto que Mateus e Marcos tinham falado só de uma "abominação desoladora" que viria, Lucas explica a seus leitores gentios que esta desolação estava a ponto de vir sobre Jerusalém por meio dos exércitos romanos (ver Luc. 21:20). A data da publicação do Evangelho de Lucas é debatida, mas se crê que é cerca do ano 70 d.C. O anúncio de Lucas de que a condenação de Jerusalém eram os "dias de retribuição, para que se cumpram todas as coisas que estão escritas" (Luc. 21:22), confirma a interpretação de que a morte violenta de Cristo e a conseqüente destruição de Jerusalém por Roma imperial cumpriram a profecia de Daniel 9. A declaração de Lucas também confirma a predição de Jesus de que sua própria geração não passaria sem que se cumprissem suas palavras (Mat. 24:34; 23:36; Mar. 13:30, 31). Agora podemos tirar a conclusão de que a profecia messiânica de Daniel das 70 semanas (Dan. 9:24-27) teve seu cumprimento histórico na morte de Cristo. Deste modo, Cristo é a chave para entender a profecia de Daniel. Também deve ser nosso guia para entender o cumprimento da "abominação da desolação", ou, como traduz Cantero-Iglesias, "o sacrilégio devastador". O Anticristo Abominável O termo misterioso de Jesus – "a abominação da desolação" (BJ; RV 77), "o sacrilégio devastador" (CI) ou "a abominação que causa a desolação" (NIV) [bdélugma tes eremóseos] – é uma alusão direta à figura do antimessias que aparece na profecia de Daniel. Inclusive a visão do Daniel 8 foi denominada pelo anjo interpretador: "a visão da transgressão assoladora" (Dan. 8:13), "o pecado da desolação" (JS). Esta visão se centraliza no sacrilégio de pisar o templo de Deus e seus adoradores por parte de um poder jactancioso. Os capítulos posteriores em Daniel (caps. 9-12) aplicam a visão espantosa de Daniel 8 à era messiânica (9:24-27; 11:31-36; 12:11). Já na visão do Daniel 8 o próspero profanador desempenhou um papel proeminente como o adversário do Messias, o "príncipe dos exércitos" ou "Príncipe dos príncipes" (Dan. 8:11, 25). Isto significa que este desolador do santuário é apresentado no papel de um antimessias desde tempos tão antigos como quando Daniel escreveu seu livro! Pisoteia o santuário do Messias, o Príncipe dos exércitos: "O lugar de seu santuário foi lançado por terra" (Dan. 8:11). A explicação seguinte se estende sobre sua profanação e destruição: "Por sua astúcia nos seus empreendimentos, fará prosperar o engano, no seu coração se engrandecerá e destruirá a muitos que vivem despreocupadamente; levantar-se-á contra o Príncipe dos príncipes, mas será quebrado sem esforço de mãos humanas" (Dan. 8:25). Esse foi o conceito hebraico da natureza e a sorte do antimessias vindouro. Em seu discurso profético, Jesus fez mais que reproduzir tão somente a predição de Daniel. Como o Messias da profecia, alertou a seus discípulos e à igreja das idades futuras contra a chegada de seu rival que, portanto, pode ser chamado "o anticristo". Este anticristo não só se opõe ao verdadeiro culto de adoração, mas também profana o templo de Deus e engana e persegue os seguidores de Cristo. Dessa forma, o anticristo ocasiona a grande tribulação para o povo do novo pacto de Deus (Mar. 13:14-19; Mat. 24:15-21). Só a repentina aparição de Cristo em seu poder soberano como o Filho do Homem terminará bruscamente o reinado do anticristo. Cristo prometeu intervir pessoalmente e libertar o seu povo (Mar. 13:26, 27; Mat. 24:30, 31). Muitos expositores notaram um ponto interessante no fato de que Marcos se refere à "abominação" usando a forma masculina, como "posta (gr. estekóta, Mar. 13:14) onde não deve estar". Esta forma pessoal geralmente se interpreta como sugerindo que a ameaça não é uma apostasia impessoal, mas sim a origina uma pessoa específica.

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Cristo anunciou que depois de sua partida se levantariam muitos enganadores dizendo: "Eu sou o Cristo". Por outro lado, os verdadeiros seguidores de Cristo seriam odiados e perseguidos de morte em todo mundo "por causa de meu nome" (Mar. 13:12, 13; Mat. 24:9-11). O conflito se intensificaria até o grau em que os falsos cristos e os falsos profetas levariam a cabo milagres e sinais sobrenaturais para insistir em sua falsa adoração (Mar. 13:19-22; Mat. 24:21-24). Jesus aplica claramente o personagem antimessias de Daniel a mais de um anticristo individual, todos os quais desempenham o papel de falsos profetas até o fim do tempo. Por causa de sua aplicação ao tempo do fim, hoje merece nossa atenção um conselho específico de Jesus a seus discípulos em relação com a "abominação" que ia avançar contra a cidade apóstata de Jerusalém: "Então os que estejam na Judéia fujam para os montes" (Mat. 24:16; Mar. 13:14; Luc. 21:21). O conselho do Jesus foi um recordativo da ordem de Deus a Ló e sua família em Sodoma: "Escapa por tua vida... escapa ao monte, não seja que pereças" (Gên. 19:17). Tanto Sodoma como Jerusalém tinham incorrido no juízo. Ambas as cidades tinham sido pesadas nas balanças do céu e tinham sido achadas faltas. Para ambas, tinha terminado o tempo de prova. A destruição que caiu sobre ambas as cidades foi só uma prefiguração de seu juízo futuro. Jesus tinha admoestado antes a Capernaum: "Se em Sodoma se tivessem operado os milagres [do Messias] que em ti se fizeram, teria ela permanecido até ao dia de hoje. Digo-vos, porém, que menos rigor haverá, no Dia do Juízo, para com a terra de Sodoma do que para contigo" (Mat. 11:23, 24). O conselho premente de Jesus a seus discípulos a fugir de Jerusalém como o lugar de apostasia e condenação implicava, portanto, sua chamada a evitar também a condenação final do céu. Os crentes fugiram no ano 66 D.C. não aos montes literais, e sim à cidade de Pella, no vale ao outro lado do Jordão, a 25 quilômetros ao sul do Mar da Galiléia.4 No tempo indicado, os discípulos de Cristo tiveram que apartar-se da cidade condenada. Sua fuga foi uma fuga tanto da apostasia religiosa como de seu juízo. O livro do Apocalipse ratifica a aplicação do tempo do fim do conselho de Jesus de fugir de Jerusalém. Em Apocalipse 18 uma voz celestial anuncia no tempo do fim que "caiu a grande Babilônia", por causa de sua apostasia e posse demoníaca (Apoc. 18:2, 3). O divino ultimato será ativado então para os que permanecem em Babilônia: "Saiam dela, meu povo, para que não sejam partícipes de seus pecados, nem recebam parte de suas pragas; porque seus pecados chegaram até o céu, e Deus se lembro de suas maldades" (Apoc. 18:4, 5). Deste modo, o conselho de Jesus para fugir de Jerusalém no Mateus 24:16 encontra no tempo do fim sua aplicação universal. Sabemos pelas epístolas de Paulo aos Tessalonicenses (especialmente 2 Tes. 2) e pelas epístolas de João, que o conceito do anticristo era um tema familiar na igreja apostólica. Portanto, podemos deduzir que a advertência contra o anticristo foi considerada desde o começo como uma parte essencial da mensagem que Cristo mesmo comissionou à igreja. Cristo e os apóstolos Paulo e João já consideraram a identificação do anticristo como um assunto de legítima importância. Um erudito do Novo Testamento, Herman Ridderbos, comenta o seguinte sobre Mateus 24:15: "Alguns comentadores corretamente colocaram este versículo em relação com o anticristo do que se fala em 2 Tessalonicenses 2:4, quem 'senta-se no templo de Deus como Deus, fazendo-se passar por Deus'. Embora Jesus estava falando principalmente da queda de Jerusalém, o fim do mundo e as abominações que traria consigo tinham caído dentro da esfera de seu discurso do próprio começo (ver Mat. 24:3). Por assim dizer, descreveu o fim do mundo tal como aconteceu em Jerusalém e à maneira de Jerusalém. E disse que a aparição abominável e blasfema do anticristo seria na verdade um dos sinais dos últimos dias".5 O estudo da doutrina do anticristo nos Evangelhos e nas epístolas é uma preparação necessária para o estudo do livro do Apocalipse. O Apocalipse de João pode ser considerado como o desenvolvimento mais extenso do discurso de Cristo no monte das Oliveiras. Foi dito que João omitiu o discurso profético de Cristo de seu quarto Evangelho porque escreveu todo um livro sobre a revelação do Jesus Cristo (Apoc. 1:1). Seja como for, um estudo cuidadoso do

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livro do Apocalipse é uma parte indispensável de nossa fé cristã. O Anticristo Pós-Apostólico É notável que Marcos e Mateus não identificam o "sacrilégio abominável" explicitamente com o exército romano como o faz Lucas. Por conseguinte, a descrição simbólica em Mateus e Marcos está aberta a mais de uma aplicação, isto é, tanto ao Império Romano idólatra como a um futuro profanador religioso do templo de Deus. Para dizer de forma diferente, tanto o exército romano como o anticristo estão descritos em uma perspectiva do futuro que os inclui ambos. A aplicação local se amplia, de acordo com a tipologia bíblica, em um cumprimento cada vez mais universal. Jesus usou a perspectiva profética de combinar o cumprimento histórico iminente e o cumprimento futuro do tempo do fim sem deter-se em nenhum lapso de tempo intermediário. Contempla todos os messianismos políticos e religiosos essencialmente como uma abominação, mesmo que se pressentem em mais de uma manifestação histórica: primeiro dentro do judaísmo; depois, dentro do cristianismo. O novo Israel (a igreja) repetiria a história do antigo o Israel (ver Ezeq. 8 e 9) e desenvolveria outra apostasia religiosa em sua adoração que provocaria o juízo divino. A apostasia do cristianismo estaria encarnada no anticristo e em seu culto religioso sacrílego. Os pretendentes messiânicos judeus que afirmavam que Jerusalém e o templo nunca cairiam, foram só cumprimentos parciais ou tipos do falso messianismo que ia aparecer dentro da igreja. Toda vez que a um líder religioso de qualquer denominação cristã lhe concede excessiva reverência e a última autoridade, obscurece-se o único lugar e a glória do reinado de Cristo. Cristo advertiu a seu seguidores: "Então, se alguém vos disser: Eis aqui o Cristo! Ou: Ei-lo ali! Não acrediteis; porque surgirão falsos cristos e falsos profetas operando grandes sinais e prodígios para enganar, se possível, os próprios eleitos" (Mat. 24:23, 24; cf. Mar. 13:21, 22). Não é a realização de grandes sinais e milagres, e sim a autorizada Palavra de Deus e o testemunho do Jesus o que forma a norma final da verdade. Jesus alertou à igreja ao dever que tem para detectar o engano do anticristo. A advertência do Jesus contra o sacrilégio ou a abominação que viria se refere a muito mais que ao exército romano entrando em Jerusalém em 70 d.C. O sacrilégio do anticristo se desenvolveria mais tarde em uma forma mais completa dentro da igreja, como o explicou Paulo em 2 Tessalonicenses 2. Este cumprimento se estenderia através da Idade Média e encontraria uma manifestação renovada no tempo do fim. Em seu discurso profético, Cristo não explicou de uma maneira explícita como se manifestaria exatamente o "sacrilégio" de sua obra redentora na história da igreja. Esse é o tema de 2 Tessalonicenses 2 e do livro do Apocalipse. O Estilo Apocalíptico de Mateus 24 Não se pode reduzir a estrutura da profecia mestra de Cristo a uma perspectiva puramente tipológica. O discurso tem uma estrutura complexa no que se pode detectar a reiteração e a recapitulação. Entretanto, só uns poucos reconheceram que a estrutura da profecia de Jesus está modelada segundo o livro do Daniel, quer dizer, que há um paralelismo progressivo. A repetição e a ampliação são características tanto de Daniel como do Apocalipse. E como bem o notou LeRoy E. Froom, "tanto Daniel como João começam com a revelação de coisas que aconteceriam em seu próprio tempo, e levam o leitor a grandes passos através dos séculos, com a revelação de acontecimentos que chegam até o fim da era cristã".6 As visões do Daniel 2, 7 e 8 em essência são reiterativas, mas com todo cada uma acrescenta detalhes para esclarecer o tema básico. Jesus insistiu com seus seguidores a ler e entender as profecias apocalípticas de Daniel (Mat. 24:15). Mateus apresenta o discurso de Jesus para seu auditório judeu em uma forma que reflete o estilo do livro de Daniel. Em Mateus 24 podem distinguir-se duas predições paralelas, e cada uma conclui com o fim ou a segunda vinda de Cristo: a primeira nos versículos 1-14; a segunda nos versículos 15-31. O cumprimento universal de ambas as séries está declarado nas palavras seguintes:

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"E será pregado este evangelho do reino em todo o mundo, para testemunho a todas as nações; e então virá o fim" (Mat. 24:14). "Então aparecerá no céu o sinal do Filho do Homem; e então lamentarão todas as tribos da terra, e verão o Filho do Homem vindo sobre as nuvens do céu, com poder e grande glória" (v. 30; ver também o v. 44). A estrutura paralela das duas predições da era da igreja, culminando cada uma na segunda vinda de Cristo, é similar às profecias apocalípticas de Daniel. Além disso, Mateus 24 também revela algumas similitudes teológicas com o Daniel. A unidade cuidadosamente estruturada do Mateus 24:10-12, que se enfoca sobre o aumento da maldade [anomia] (v. 12), pode entender-se melhor como uma expansão da apostasia profetizada no livro de Daniel. A frase "o amor de muitos [tom polón] esfriará-se" (Mat. 24:12) é uma alusão a quão muitos apostatariam do pacto de Deus descrito em Daniel 11:32. Isto significa que o aumento estendido da maldade em Mateus 24:12 aumenta a iniqüidade idólatra da "abominação desoladora" de Daniel. Estamos de acordo com a conclusão de David Wenham de que a predição de Jesus em Mateus 24:10-12 descreve "um aumento escatológico da apostasia em termos daniélicos".7 Foi desta maneira como Daniel predisse a era cristã e sua decadência espiritual. A Ênfase de Lucas Sobre o Curso da História Enquanto que Mateus 24 e Marcos 13 apresentam a aplicação que Cristo faz do anticristo de Daniel em uma dupla perspectiva – na qual o cumprimento iminente e o do tempo do fim se relacionam como tipo e antítipo –, Lucas 21 enfatiza mais a ordem histórica dos acontecimentos na história da igreja. Como historiador (ver Luc. 1:1-4), Lucas estava mais interessado em um cumprimento contínuo-histórico da profecia do Daniel. Isto não quer dizer que Lucas busque descrever uma seqüência detalhada dos eventos, em que cada um se harmonize com algum símbolo apocalíptico das séries esboçadas por Daniel; esse enfoque é o que Paulo segue em 2 Tessalonicenses 2 e mais profundamente o Apocalipse de João. O interesse de Lucas é mais indicar que entre a queda de Jerusalém e o glorioso advento de Cristo transcorreria um período de tempo considerável. Esta realidade devia esfriar a febre apocalíptica de todos os que esperavam a volta iminente de Cristo conjuntamente com a destruição de Jerusalém. Por conseguinte, Lucas coloca o clamor: "O tempo está perto" (Luc. 21:8), nos lábios dos falsos profetas! Só Lucas aplica o sinal de Jesus da aproximação da "abominação da desolação" ao assédio de Jerusalém por forças militares (Luc. 21:20). Ao que Mateus e Marcos tão-somente fizeram alusão, Lucas o aplica explicitamente a um acontecimento histórico específico para Jerusalém, pode-se dizer que Lucas faz concreta para sua geração a admoestação de Jesus da vindoura "abominação da desolação", quando diz: "Quando virem Jerusalém rodeada de exércitos..." (Luc. 21:20). Muitos eruditos bíblicos admitem o relatório de Flavio Josefo, que disse que os exércitos romanos se distinguiam por sua reverência para as bandeiras militares com as insígnias imperiais.8 Além disso, Lucas declara que a destruição de Jerusalém foi o tempo do "cumprimento de tudo o que está escrito" (Luc. 21:22, JS), uma alusão a Daniel 8 e 9. Coloca a devastação de Jerusalém dentro da providência e reino soberano de Deus. Esta catástrofe histórica forma uma parte significativa da história da revelação divina à nação judia, Cristo até adicionou uma finalidade sem precedentes a esse juízo: "Vós também encheis a medida de seus pais!... De certo vos digo que tudo isto virá sobre esta geração" (Mat. 23:32, 36). Mateus e Marcos fazem alusão ao intervalo entre a queda de Jerusalém e a volta de Cristo, declarando que será um tempo de tribulação sem igual para os escolhidos (Mat. 24:21, 22; Mar. 13:19, 20). Esses "escolhidos" são qualificados depois por Cristo como "seus" escolhidos (Mat. 24:31). Por conseguinte, são crentes cristãos. Isto significa que os verdadeiros crentes em Cristo não serão arrebatados do mundo antes do tempo da tribulação, mas sim passarão por ela. Mateus acrescenta que esses dias serão abreviados por causa dos escolhidos (Mat.

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24:22). Com respeito ao período entre os dois adventos, Lucas faz uma declaração reveladora: "Até que os tempos dos gentios se completem, Jerusalém será pisada por eles" (Luc. 21:24). Aqui Lucas assinala que a segunda vinda de Cristo não deve esperar-se pouco depois da destruição de Jerusalém. Ao denominar a esse período intermediário "tempos de gentios" (sem artigo no original), em uma forma geral, Lucas os caracteriza como tempos de opressão para Jerusalém e para os judeus. Muitos expositores consideram que esses "tempos de gentios" começaram no ano 70 d.C. e terminarão só quando toda a dominação gentia sobre os judeus for esmagada pelo advento de Cristo (ver Dan. 2:34, 35, 44; Apoc. 19:11-21). Esta conclusão parece ser confirmada pela profecia de Daniel, que a "desolação" continuará até o fim (Dan. 9:26, 27). Enquanto Mateus e Marcos seguem a estrutura de uma perspectiva profética dupla ou bifocal, a descrição de Lucas do discurso de Jesus se caracteriza mais por uma sucessão direta de acontecimentos históricos. Mateus e Marcos representam a perspectiva tipológica da profecia clássica dos profetas de Israel com sua escala de tempo condensada. Entretanto, Lucas escolhe seguir o modelo contínuo-histórico inserindo a frase "tempos de gentios" depois da queda de Jerusalém. Ambos os enfoques são complementares e igualmente válidos, porque cada um continua uma tradição do Antigo Testamento: a profecia clássica e o tipo contínuo-histórico da apocalíptica de Daniel. A Teologia de Cristo dos Sinais Cósmicos Nos três Evangelhos sinóticos a aparição do Filho do Homem está anunciada por sinais cósmicos. Esses sinais acompanharão a vinda do Filho do Homem quando trouxer o reino de Deus aos santos (Mar. 13:24-27; Mat. 24:29-31; Luc. 21:25-28). Um breve exame da linguagem figurada cósmica na tradição profética mostrará sua significação teológica. Os profetas empregaram os sinais no céu como um idioma estereotipado para indicar um juízo retributivo de Jeová: 1. Contra Babilônia: "Olhem: Chega o dia do SENHOR... para fazer da terra uma desolação... Os astros do céu, as constelações, não cintilam sua luz; entreva-se o sol ao sair, a lua não irradia sua luz. Porque sacudirei o céu e se moverá a terra de seu lugar. Pela cólera do Senhor, o dia do incêndio de sua ira" (Isa. 13:9, o, 13, NBE). 2. Contra Egito: "E quando te tiver extinto cobrirei os céus, e farei escurecer suas estrelas; o sol cobrirei com nublado, e a lua não fará resplandecer sua luz. Farei escurecer todos os astros brilhantes do céu por ti, e porei trevas sobre sua terra, diz Jeová o SENHOR" (Ezeq. 32:7, 8). 3. Contra Jerusalém: "Diante dele [o exército de lagostas] tremerá a terra, estremecer-se-ão os céus; e o sol e a lua se obscurecerão, e as estrelas retrairão seu resplendor. O sol se converterá em trevas, e a lua em sangue, antes que venha o grande e espantoso dia de JEOVÁ... Porque está perto o dia de JEOVÁ no vale da decisão. O sol e a lua se obscurecerão, e as estrelas retrairão seu resplendor" (Joel 2:10, 31; 3:14, 15). 4. Contra Judá: "Porque assim diz JEOVÁ dos exércitos: Daqui a pouco eu farei tremer os céus e a terra, o mar e a terra seca; e farei tremer todas as nações, e virá o Desejado de todas as nações; e encherá de glória esta casa, disse JEOVÁ dos exércitos... Fala com Zorobabel governador de Judá, dizendo: Eu farei tremer os céus e a terra; e transtornarei o trono dos reinos, e destruirei a força dos reinos das nações; transtornarei os carros e os que neles sobem, e virão abaixo os cavalos e seus cavaleiros, cada qual pela espada de seu irmão" (Ag. 2:6, 7, 21, 22). 5. Na descrição poética que Habacuque faz do guerreiro divino contra Babilônia: "O sol e a lua se pararam em seu lugar; à luz de suas setas andaram, e ao resplendor de seu fulgente lança " (Hab. 3:11).

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6. Contra Israel (as o tribos em apostasia): "Acontecerá naquele dia, diz Jeová o SENHOR, que farei que fique o sol ao meio-dia, e cobrirei de trevas a terra no dia claro" (Amós 8:9; 9:5 [primeiras 2 linhas]; cf. Jer. 15:9 para Jerusalém). 7. Contra Edom: "E todo o exército dos céus se dissolverá, e se enrolarão os céus como um livro; e cairá todo seu exército, como cai a folha da parra, e como cai a da figueira" (Isa. 34:4). 8. Contra o mundo inteiro: "A terra será de todo quebrantada, ela totalmente se romperá, a terra violentamente se moverá... A lua se envergonhará e o sol se confundirá, quando JEOVÁ dos exércitos reinar no monte de Sião e em Jerusalém, e diante de seus anciões seja glorioso" (Isa. 24:19, 23). Em todas estas passagens, os sinais celestes servem só para introduzir o juízo do dia do Senhor, mesmo que se refiram cada vez a uma sentença iminente na história. Os sinais anormais no Sol, na Lua e nas estrelas eram parte da linguagem apocalíptica corrente dos profetas de Israel. A dimensão cósmica ensinou Israel a ver os juízos históricos de Deus como tipos de seu juízo final. Portanto, o propósito moral dessa linguagem figurada cósmico era uma advertência implícita a preparar-se para o juízo iminente do dia do Senhor. Jesus modificou o significado teológico desta linguagem figurada cósmica, mudando de ordem os sinais no céu para cerca de sua própria manifestação futura como o Filho do Homem: "O sol obscurecerá, e a lua não dará seu resplendor, e as estrelas cairão do céu, e as potências dos céus serão comovidas. Então aparecerá no céu o sinal do Filho do homem; e então todas as tribos da terra lamentarão, e verão o Filho do Homem vindo sobre as nuvens do céu, com poder e grande glória" (Mat. 24:29, 30; cf. Mar. 13:24-26). É evidente que Jesus emprega só a linguagem do Antigo Testamento para descrever sua segunda vinda. Cristo combina dois oráculos de juízo, um contra Babilônia (ver Isa. 13:10) e um contra Edom (ver Isa. 34:4). A fusão que faz Jesus das duas passagens proféticas de juízo ensina que estas profecias se cumpriram só de forma parcial na queda da antiga Babilônia e do Edom. Na teologia de Cristo, estes oráculos encontrarão sua consumação completa no juízo cósmico-universal em seu segundo advento. A mensagem surpreendente de Cristo é que o juízo do mundo não virá só de Jeová. Será executado por seu Filho, que é o Filho do Homem da profecia do Daniel: "Porque o Pai a ninguém julga, mas sim todo o juízo deu ao Filho... E também lhe deu autoridade de fazer juízo, por quanto é o Filho do Homem" (João 5:22, 27). Como resultado do discurso profético do Jesus, qualquer teofania (manifestação de Deus) no Antigo Testamento se reestrutura como uma gloriosa cristofania (manifestação de Cristo). Esta interpretação cristológica do dia do Senhor é uma verdade teológica assombrosa na aplicação que Jesus faz do livro de Daniel. Em sua nova teologia, Cristo transferiu os sinais cósmicos dos livros proféticos à sua própria manifestação futura, de tal modo que todas as profecias de Israel começam e terminam nele. Esta é a essência da teologia de Cristo dos sinais cósmicos. Esta conclusão se confirma na tese sobre Mateus 24:27-31 do Dr. Ki Kon Kim: "O vocabulário e os temas do Antigo Testamento, de seu ponto de vista profético e apocalíptico, proporcionam a estrutura da cena da parousia tal como a apresenta Mateus. Ele combina quase todo o vocabulário apocalíptico dos temas do Antigo Testamento em sua cena da parousia, e descreve que todos os termos proféticos e os símbolos apocalípticos do Antigo Testamento se encontram e se cumprem no Filho do Homem, quem virá nas nuvens do céu com poder e grande glória. Essa é a razão principal pela qual Mateus 24:29-31 mostra mais continuidade com o Antigo Testamento que nenhum outra passagem no Novo Testamento".9 Alguns eruditos consideram a linguagem figurada cósmica só como algo simbólico, como uma linguagem metafórica para dar a entender o começo da era messiânica (como se diz que fez Pedro no At. 2:19, 20). Nesse caso, os sinais no céu serviriam só como "efeitos cênicos apocalípticos" que não pertencem à substância da profecia e que, portanto, não requerem um

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cumprimento literal. Entretanto, outros estudantes da Bíblia mais conservadores advertiram que não se confundam as expressões poéticas com o alegorismo. Preferem chamar esta linguagem figurada cósmica como "linguagem semi poética", porque representa acontecimentos escatológicos que transcendem nossa experiência histórica limitada. Se a segunda vinda de Cristo é uma vinda literal, então também deve pensar-se nos sinais da parousia como eventos cósmicos literais. Os Evangelhos do Mateus e Marcos parecem indicar que os sinais cósmicos introduzem e acompanham o segundo advento de Cristo. Entretanto, o relatório do Lucas sugere que os "sinais no sol, na lua, e nas estrelas" podem também ser um prelúdio à vinda do Filho do Homem. Lucas associa os sinais no céu com desastres naturais sobre a terra, que juntos produzirão pavor nos corações de todos: "Haverá homens que desmaiarão de terror e pela expectativa das coisas que sobrevirão ao mundo; pois os poderes dos céus serão abalados" (Luc. 21:25, 26). A Universalização que Cristo Fez das Profecias do T empo do Fim A culminação final do discurso de Jesus se centra na vindicação de seus discípulos caluniados através dos séculos. O Filho do Homem virá com seus anjos para reunir a si "seus escolhidos" de todos os pontos cardeais do mundo (Mar. 13:27; Mat. 24:31). Mateus acrescenta que essa reunião será precedida "com grande voz de trombeta" (Mat. 24:31), uma alusão direta ao som da trombeta do jubileu no panorama apocalíptico de Isaías: "Acontecerá naquele dia... vós, filhos do Israel, sereis reunidos um a um. Acontecerá também naquele dia, que se tocará com grande trombeta" (Isa. 27:12, 13). Jesus declarou que todas as antigas promessas do pacto que anunciam que Israel seria reunido ou restaurado como povo de Deus, cumprir-se-ão em seus seguidores em sua segunda vinda. Serão "seus escolhidos" (ver também Luc. 21:28; cf. 1 Ped. l:1, 2; 2:9). Com o qual Cristo definiu o Israel de Deus em termos de seus próprios discípulos. Por conseguinte, constituiu o povo de Deus do novo pacto como o povo de Cristo. Além disso prometeu que a sua vinda "lamentarão todas as tribos [fulái] da terra" (Mat. 24:30). Esta frase é uma alusão à profecia de Zacarias que prediz que todas as tribos "na terra" [Palestina] se lamentarão porque olharão a Deus como "a quem transpassaram" (Zac. 12:10-14). Cristo aplicou de novo este oráculo de juízo nacional de Zacarias em uma escala mundial, para cumprir-se em "todas as tribos da terra" (Mat. 24:30). Todas estas tribos ou linhagens da raça humana verão "o Filho do Homem vindo sobre as nuvens do céu, com poder e grande glória" (V. 30). Esta aplicação universal das tribos de Israel forma também uma tônica no livro do Apocalipse: "Vejam, vem com as nuvens e todos os olhos o verão e até os que o transpassaram; e farão luto todas as tribos [fulái] da terra. Sim, assim seja" (Apoc. 1:7, JS; CI). Cristo mesmo introduziu este principio de universalizar os oráculos de juízos locais e nacionais de Israel. Não foi um literalista ou um racista em sua interpretação profética das Escrituras. Universalizou de uma maneira consistente as promessas do pacto de Israel, e o princípio de aplicação mundial das profecias hebraicas chegou a ser uma parte essencial da interpretação apostólica da Escritura. Resumo O discurso do monte das Oliveiras apresenta o comentário de Cristo sobre as profecias apocalípticas de Daniel. Jesus fez aplicações históricas todas as quais se centram ao redor de seu primeiro e segundo adventos. Com isso deu às predições do Daniel uma interpretação cristológica como a chave para decifrar a profecia apocalíptica. Explicou com franqueza que a profetizada queda de Jerusalém seria o resultado do rechaço final de seu messianismo por parte do Israel. Até seus próprios seguidores teriam que sofrer condenação à mãos de religiosos fanáticos falsos. Mas a vindicação final dos santos verdadeiros e a sentença definitiva de seus perseguidores será quando Cristo retorne como o Filho do Homem que Daniel apresenta, acompanhado por uma nuvem de anjos. Então, todas as tribos do mundo

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terão que fazer frente ao mesmo juízo do qual teve que fazer frente Jerusalém. Segundo os Evangelhos do Marcos e Mateus, Jesus colocou ambos os juízos em uma perspectiva tipológica, em harmonia com a estrutura da profecia clássica. O Evangelho de Lucas apresenta uma perspectiva complementar: a de uma aplicação contínuo-histórica da profecia apocalíptica de Daniel. Jesus não fundamentou suas expectativas proféticas em nenhuma das especulações ou programas apocalípticos judeus. Por isso se refere a isto, foi um antiapocalíptico. Falou do futuro só na linguagem dos profetas do Antigo Testamento. A novidade de sua opinião foi o princípio interpretativo de que as profecias de Israel se cumpririam só nele e por meio dele. Transformou toda a profecia apocalíptica em escatologia cristológica, quer dizer, em cumprimentos centrados em Cristo. Por conseguinte, as promessas do pacto de Deus com Israel se cumprirão só em quem esteja unido com Cristo. O propósito moral do discurso profético de Cristo é recalcar à sua igreja a necessidade de estar preparada para sua breve vinda: "Mas a respeito daquele dia ou da hora ninguém sabe; nem os anjos no céu, nem o Filho, senão o Pai. Estai de sobreaviso, vigiai e orai; porque não sabeis quando será o tempo" (Mar. 13:32, 33). A frase bíblica "os últimos dias" indica que a primeira e a segunda vinda de Cristo são uma unidade inseparável. Não importa quantos séculos possam passar entre a ressurreição de Cristo e sua volta, ambos os eventos messiânicos são um para o outro como dois momentos de um inquebrantável plano de Deus. Porque o Messias já veio, e agora é o Senhor exaltado de todos, o segundo advento sempre está "perto" para os olhos da fé e deve ser esperado com uma paciência rigorosa. Esta certeza é a mesma essência da esperança do evangelho. Contudo, Cristo também reconheceu a necessidade de sustentar esta esperança ao nos dar sinais no tempo histórico que indicariam, para o investigador perspicaz, a última fase da história da redenção. "Ao começarem estas coisas a suceder, exultai e erguei a vossa cabeça; porque a vossa redenção se aproxima" (Luc. 21:28). Todos os relatos dos Evangelhos sinóticos concluem com uma lição da figueira que brota: "Quando já seu ramo está tenro, e brotam as folhas, sabeis que o verão está perto" (Mat. 24:32; Mar. 13:28; cf. Luc. 21:29). Isto significa que embora não podemos conhecer "o dia nem a hora" não temos desculpa por ignorar os sinais dos tempos, particularmente o sinal a respeito da grande apostasia dentro da igreja cristã. Esperar a vinda de Cristo exige uma vigilância incessante e um conhecimento do cumprimento progressivo da profecia apocalíptica de Daniel. A escatologia bíblica chegará a ser relevante para o presente só quando os sinais do fim forem tomados em seu cumprimento histórico. Discernir os sinais enquanto mantemos nossa vista na vinda do Senhor, revitalizará nossa fidelidade ao Jesus. Referências 1. "Salmos de Salomão", 17, em Charlesworth, The Old Testament Pseudepigrapha, v. 2, p. 667. 2. Flavio Josefo, Obras completas... Antiguidades judias. X, 11, 7 (v. 2, pp. 213-215). 3. Ver o livro de Wenham, The Rediscovery of Jesus' Eschatological Discourse 4. Ver Eusébio de Cesárea, História Eclesiástica (Buenos Aires: Editorial Nova, 1950), III, 5, pp. 106, 107. 5. Herman Ridderbos, Matthew, [Mateus] (Grand Rapids: Zondervan, 1987), p. 444. 6. L. E. Froom, The Prophetic Faith of Our Fathers, v. 4, p. 1241. 7. Ver o artigo de Wenham a respeito de Mateus 24:10-12, N.° 31, p. 161. 8. William Whiston, trad., The Works of Josephus: Wars [As obras do Josefo: Guerras] (Peabody, Massachusetts: Hendrickson Publishers, 1987), VI, 6, 1 (p. 743). 9. K. K. Kim, The Signs of the Parousia: A Diachronic and Comparative Study of the Apocalyptic Vocabulary of Matthew 24:27-31, v. 2, p. 391.

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VII - A COMPREENSÃO DE PAULO DAS PROFECIAS DE DANIE L O esboço apocalíptico da história da igreja que Paulo apresenta em 2 Tessalonicenses 2 cumpre um propósito similar ao que cumpre Mateus 24 (e paralelos) nos Evangelhos. Não há uma predição mais explícita a respeito da era da igreja no Novo Testamento. É estranho, mas a maioria dos comentadores entende que este capítulo é uma passagem escura nos escritos paulinos. Em geral se reconhece que o apóstolo em 2 Tessalonicenses 2 tem como propósito dar conselho pastoral para seus dias, a mesma finalidade que teve Cristo ao pronunciar seu discurso profético. Por conseguinte, devemos supor que as frases que Paulo usa aqui não eram desconhecidas para os leitores cristãos a quem dirigiu sua carta ao redor de 50 d.C. Muitos acreditam que a segunda epístola do apóstolo aos Tessalonicenses foi escrita para rebater um mal-entendido que tiveram alguns membros da igreja com sua primeira carta: que o dia do Senhor viria em forma repentina "como ladrão de noite" (1 Tes. 5:2, 4), e que Paulo e outros poderiam estar "ainda vivos" quando retornasse o Senhor (4:15). Evidentemente, alguns tinham suposto que o dia do Senhor "já tinha chegado" ou que ia acontecer em qualquer momento (2 Tes. 2:2). Esta idéia injustificada de uma expectativa iminente tinha levado alguns membros a converter-se em ociosos ou a entusiasmar-se e desordenar-se excessivamente (2 Tes. 3:6-15). Paulo trata de corrigir o engano desta expectativa – que o dia do Senhor podia ocorrer em qualquer momento –, e deduz seu argumento do esboço apocalíptico do Daniel. Na opinião de Paulo, para fazer frente ao engano de uma esperança desencaminhada era essencial conhecer a ordem consecutiva de dois acontecimentos fundamentais na história da igreja, e esses dois eventos proféticos, em ordem cronológica, são: a vinda do anticristo e a vinda de Cristo. Primeiro, "a apostasia" [e apostasia] deve manifestar-se no "homem de iniqüidade" [o ánthropos tes anomias] até "sentar-se ele mesmo no templo de Deus" [éis ton naón tou theú kathísai], acompanhado por "sinais e prodígios de mentira" (2 Tes. 2:3, 4, 9, JS). Só então o Senhor se revelará e destruirá o iníquo (2 Tes. 2:8). A advertência de Paulo se enfoca no surgimento da apostasia dentro do templo de Deus durante a era da igreja, quer dizer, dentro da igreja como uma instituição (ver 2 Cor. 6:16-18; 1 Cor. 3:16; Ef. 2:19-21). Seu ponto de vista é que esta apostasia vindoura, profetizada por Daniel, não se tinha desenvolvido como um fenômeno público na igreja apostólica, mesmo que o mistério da iniqüidade "estava já em ação" (2 Tes. 2:7). Por conseguinte, o dia do Senhor não podia ter chegado nem podia esperar-se no futuro imediato. Paulo empregou seu conhecimento apocalíptico sobre o futuro da história da igreja para corrigir um apocalipticismo extremo na igreja apostólica. O uso que o apóstolo fez do livro de Daniel como a fonte de seu esboço profético de história da igreja, faz que 2 Tessalonicenses 2 seja outro elo indispensável entre os livros de Daniel e Apocalipse. O Enfoque Contínuo-Histórico em Daniel Daniel profetiza o reinado de 4 impérios mundiais sucessivos em duas ocasiões (caps. 2 e 7). O anjo interpretador os identifica como Babilônia, Medo-pérsia e Grécia (ver Dan. 2:38; 8:20, 21), e aponta Roma em Daniel 9:26 e 27. O ponto crítico na visão de Daniel, que necessita que se preste cuidadosa atenção, é a revelação de que a quarta besta (ou império) tem 10 chifres, dentre os quais surge lentamente um décimo primeiro "chifre pequeno" para converter-se no anticristo. O anjo interpretador explica isto de uma maneira mais precisa: "Os dez chifres correspondem a dez reis que se levantarão daquele mesmo reino; e, depois deles, se levantará outro, o qual será diferente dos primeiros, e abaterá a três reis. Proferirá palavras contra o Altíssimo, magoará os santos do Altíssimo e cuidará em mudar os tempos e a lei; e os santos lhe serão entregues nas mãos, por um tempo, dois tempos e metade de um tempo. Mas, depois, se assentará o tribunal para lhe tirar o domínio, para o destruir e o consumir até ao fim tempo, e tempos, e meio tempo" (Dan. 7:24-26).

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O anjo não diz que o 4° império (Roma) estaria regi do por 10 reis contemporâneos, porque isso estaria contra a história de Roma. Antes, a declaração do anjo é que "deste" império mundial sairiam 10 reis que reinariam em forma contemporânea. Esta ordem de eventos, a substituição do Império Romano pelos reinos divididos da Europa, também foi profetizado pelo sonho da estátua de Nabucodonosor: "O que viste dos pés e os dedos, em parte de barro cozido de oleiro e em parte de ferro, será um reino dividido" (Dan. 2:41). Os reino dos 10 reis substituíram gradualmente o Império Romano e durarão até que o reino da glória os substitua no dia do juízo (Dan. 2:44, 45; 7:26, 27). Dessa forma, Daniel 2 e 7 incluem todo o espectro da infeliz Idade Média dentro de sua esfera profética. Ignorar esse intervalo de tempo de tantos séculos na perspectiva profética de Daniel é o descuido fundamental de dois sistemas dogmáticos de interpretação: o preterismo e o futurismo. Ambas as escolas de interpretação criam um intervalo injustificado de mais de 1.500 anos na história profética de Daniel, como se a Idade Média, caracterizada pelo surgimento do reino papal entre os dez reis da Europa, não fora pertinente na perspectiva que Deus tem da história. Os símbolos do Daniel devem interpretar-se em harmonia com a história, em particular com a história eclesiástica. A profecia fica confirmada por seu cumprimento (João 14:29). Em seu discurso profético, Cristo aparentemente tomou a futura história da igreja com uma seriedade inconfundível. É essencial para a escatologia cristã reconhecer que Cristo interpretou a destruição de Jerusalém por parte dos exércitos romanos como o cumprimento das profecias do Daniel (ver Mat. 24:15; Luc. 21:20-24). Isto confirma a opinião que diz que a quarta besta de Daniel 7 representa a Roma imperial (cf. Dan. 9:26, 27). O ponto decisivo é que Cristo tomou o esboço profético de Daniel como a pauta para seu próprio panorama do futuro, e depois identificou uma certa característica profética em Daniel como cumprindo-se em sua própria geração. Este método de interpretar o esboço apocalíptico do Daniel também foi seguido pelo apóstolo Paulo em 2 Tessalonicenses 2, essa vez para demonstrar que o dia do Senhor não era algo iminente. Como resultado, o esboço de Paulo e o discurso de Cristo têm paralelos notáveis em suas aplicações históricas. Paralelos Entre os Esboços Apocalípticos de Jesus e Paulo Muitos se deram conta de que o esboço profético de Paulo em 2 Tessalonicenses exibe um paralelo estrutural notável com o discurso de Jesus no monte das Oliveiras. Ambos os esboços apocalípticos contêm termos idênticos e similares, tais como o advento, o dia do Senhor, a reunião dos santos, o engano do anticristo, e sinais e milagres. Inclusive alguns comentadores inferiram que o discurso profético de Cristo foi a fonte primária do ensino do Paulo (cf. 1 Tes. 4:15). Estabeleceu-se uma semelhança muito surpreendente de expressões entre esses dois capítulos. Portanto, podem-se estudar ambos os esboços apocalípticos juntos com muito proveito. Ao mesmo tempo, precisamos compreender que tanto Jesus como Paulo fundamentam seu panorama do futuro sobre o esboço apocalíptico de Daniel. E cada um tem o propósito de aplicar o ponto de vista de Daniel da história contínua da salvação a sua época contemporânea. Esta fonte daniélica comum explica por que Jesus e Paulo usam frases e esboços similares. Como já observamos antes, Paulo insiste com os Tessalonicenses a não ser enganados ao acreditar que o dia do Senhor já veio. Seu argumento principal é que "a rebelião" representada pelo "homem de iniqüidade" ainda não se revelou publicamente no cenário da história (2 Tes. 2:3). Do mesmo modo, Jesus indicou que durante a era da igreja, "muitos se desviariam da fé" (literalmente, "tropeçarão") e se entregariam e aborreceriam uns aos outros, e se levantariam muitos falsos profetas e enganariam a muitos (Mat. 24:10, 11 ). Até o próprio fim, insistiu Cristo, "se levantarão falsos Cristos e falsos profetas, e farão grandes sinais e prodígios, de tal maneira que enganarão, se for possível, até os escolhidos" (Mat. 24:24). Parece que, de acordo com Jesus, os Messias falsos são os que afirmariam ser Cristo em sua segunda vinda; e os falsos profetas são os que falsamente afirmam falar em nome de Cristo. Jesus começou seu discurso profético com a advertência: "Vede que ninguém vos engane" (Mat. 24:4). Paulo adota o mesmo começo: "Ninguém vos engane de maneira nenhuma" (2

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Tes. 2:3). Com seus esboços proféticos, ambos tratam de esfriar uma expectativa prematura e exagerada da volta de Cristo. Cada um enfatiza que se desenvolverá uma apostasia horrível, o que precipita e faz necessário a execução do juízo da vinda de Cristo. Cristo descreve a natureza da apostasia vindoura como "a abominação da desolação... instalada no lugar santo" (Mat. 24:15, BJ), uma alusão evidente à profanação blasfema do templo que se prediz em Daniel 8 e 9. Paulo personifica a apostasia religiosa em "o homem do pecado", que se faz passar por Deus, um ser humano blasfemo que é "o filho de perdição" (2 Tes. 2:3, JS). Paulo também localiza a apostasia vindoura no templo de Deus: "O qual se opõe e se levanta contra tudo que se chama Deus ou é objeto de culto, a ponto de assentar-se no templo de Deus, fazendo-se passar por Deus" (2 Tes. 2:4). Esta harmonia de Jesus e Paulo com respeito ao lugar onde se encontra a apostasia – no templo de Deus – está enraizada diretamente no apocalipse de Daniel. Em particular, o anjo interpretador resumiu a visão do Daniel 8 como "a visão do contínuo sacrifício, e a prevaricação [pesha'] assoladora" (Dan. 8:13). A explicação adicional do anjo é importante: "Dele sairão forças que profanarão o santuário, a fortaleza nossa, e tirarão o sacrifício diário, estabelecendo a abominação desoladora. Aos violadores da aliança, ele, com lisonjas, perverterá, mas o povo que conhece ao seu Deus se tornará forte e ativo" (Dan. 11:31, 32). Parece evidente que Daniel é a fonte para o ensino do Novo Testamento de que um anticristo blasfemo apareceria durante a era da igreja. Tanto Cristo como Paulo mencionam que este apóstata sacrílego estaria acompanhado com "sinais e prodígios". Cristo conecta estes com "falsos cristos e falsos profetas" (Mat. 24:24); Paulo os associa com o advento do "iníquo", a quem descreve como o anticristo escatológico (2 Tes. 2:9). Sobre a base deste paralelismo global, muitos chegaram à conclusão de que o ensino apocalíptico de Paulo em 2 Tessalonicenses 2:1-12, tanto em sua estrutura como em sua teologia, é paralela ao discurso profético de Cristo (Mat. 24; Mar. 13; Luc. 21). Ambos se iluminam mutuamente. Portanto, a conclusão principal é que "a abominação desoladora" no lugar santo da profecia de Cristo, e o anticristo pessoal sentado no templo de Deus na profecia do Paulo, são o mesmo fenômeno. Pode-se dizer que enquanto Mateus se centra sobre o futuro sacrilégio do templo de Deus, Paulo põe a ênfase no perpetrador do sacrilégio. Entretanto, o Evangelho de Marcos já tinha indicado que o sacrilégio escatológico seria perpetrado por um anticristo pessoal, ereto [hestekóta] "onde não deve" (Mar. 13:14), ou "usurpando um lugar que não é dele" (NBE). A Ênfase de Paulo Sobre a Apostasia Religiosa É digno de atenção que a frase de Paulo "hei apostasia" (2 Tes. 2:3), traduzido como "apostasia" em quase todas as versões brasileiras (RA, RC; BJ; NVI; e como "revolta" na versão BLH), sempre significa uma rebelião religiosa tanto no Antigo Testamento como no Novo, quer dizer, um esquecimento do Senhor e de sua verdade (cf. Jos. 22:22; 2 Crôn. 29:19; Jer. 2:19; At. 21:21).* Esta rebelião é mais que uma transgressão fortuita da lei divina. Esta "iniqüidade" [anomia] representa uma rebelião fundamental e sustentada contra Deus. Embora já estava ativa em uma forma oculta no tempo do Paulo, a apostasia se desenvolveria finalmente em uma rebelião mundial, uma forma idolátrica de adoração que desafiaria a autoridade da Palavra de Deus. O apóstolo não insinua que está revelando alguma verdade nova e assombrosa. Paulo recorda a seus leitores o fato de que já lhes ensinou este segredo apocalíptico enquanto ainda estava com eles (2 Tes. 2:5). A instrução de Paulo aos novos conversos ao cristianismo incluiu aparentemente os pontos essenciais do discurso profético de Cristo e do anticristo de Daniel (cf. At. 20:27-30; 1 Tim. 4:1, 2; 2 Tim. 3:1-5). Paulo não recorda aos Tessalonicenses de uma apostasia geral vindoura, a não ser especificamente de "a rebelião" que estava descrita em forma tão dramática como a falsificação do Messias no livro de Daniel. Para entender o apóstolo devemos compreender que "o homem da iniqüidade" que se opõe a todo deus – quem por exaltar-se a si mesmo no templo de Deus está condenado à destruição (2 Tes. 2:3, 4) – é a descrição condensada de Paulo do anticristo que se faz passar por Deus em Daniel 7 a 11 (especificamente em 7:25, 26; 8:11-13; 11 :31, 36-39, 45). A natureza essencial do anticristo de Daniel é sua vontade jactanciosa de "mudar" a lei de

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Deus e os tempos sagrados (Dan. 7:25), e trocar a adoração redentora no templo de Deus por seu próprio culto idólatra de adoração (Dan. 8:11-13, 25). Portanto, a perspectiva de Daniel representa uma apostasia dupla: uma, da lei divina (Dan. 7) e outra, do evangelho e o santuário (Dan. 8). É decisivo compreender que o objetivo do mal não é estabelecer o ateísmo, e sim impor uma religião falsificada com um sistema falso de adoração e salvação. Paulo destaca a natureza religiosa do anticristo que virá, quem tratará de autenticar seu culto idolátrico por meio de sinais e milagres sobrenaturais (2 Tes. 2:4, 9). O anticristo se sentará solenemente no templo de Deus com uma obsessão compulsiva para demandar autoridade divina e usurpar as prerrogativas que pertencem só a Cristo. Por este engano, forçará todos os homens a aceitá-lo como o Messias e o Senhor. Como Paulo Emprega a Frase "o Templo de Deus" O apóstolo nunca emprega o termo grego naós (templo) para o edifício do templo em Jerusalém. Visto que Paulo cria que Deus já não morava mais no velho santuário, a não ser entre a comunidade dos cristãos, considerou a igreja de Deus como o novo templo de Deus: "Não sabeis vós que sois o templo de Deus e que o Espírito de Deus habita em vós? Se alguém destruir o templo de Deus, Deus o destruirá; porque o templo de Deus, que sois vós, é santo" (1 Cor. 3:16, 17). "Ou não sabeis que o nosso corpo é o templo do Espírito Santo, que habita em vós, proveniente de Deus, e que não sois de vós mesmos?" (l Cor. 6:19). "E que consenso tem o templo de Deus com os ídolos? Porque vós sois o templo do Deus vivente, como Deus disse: Neles habitarei e entre eles andarei; e eu serei o seu Deus, e eles serão o meu povo" (2 Cor. 6:16, citando Ezeq. 37:27). "Assim que já não sois estrangeiros, nem forasteiros, mas concidadãos dos santos e da família de Deus; edificados sobre o fundamento dos apóstolos e dos profetas, de que Jesus Cristo é a principal pedra da esquina; no qual todo o edifício, bem ajustado, cresce para templo santo no Senhor" (Ef. 2:19-21). Além de referir-se ao crente individual como o templo de Deus, Paulo viu tanto na igreja local como na igreja universal de Cristo o cumprimento da promessa escatológica feita pelo profeta Ezequiel de que Deus criaria um novo templo no tempo do Messias (Ezeq. 37:24-28). Paulo declara solenemente que qualquer que destrua a santidade e a unidade espiritual deste novo templo (por ensinos falsos ou idolatria), "Deus o destruirá " (1 Cor. 3:17). Por esta evidencia nos escritos do Paulo, podemos concluir que seu emprego normal do termo "templo" [naós] é uma referência não ao judaísmo e sim à igreja cristã. Esta conclusão fica confirmada adicionalmente quando consideramos como avaliou Paulo "a cidade atual de Jerusalém" representando o judaísmo: como um pacto de obras que escraviza (Gál. 4:25). Para o Paulo, "a Jerusalém de cima, a qual é mãe de todos nós, é livre" (Gál. 4:26). À luz destas referências, parece extremamente improvável que o apóstolo Paulo pensasse que a frase "o templo de Deus" referia-se ao edifício do templo em Jerusalém. O contexto mais amplo do emprego que Paulo faz da linguagem figurada para o templo apóia a idéia de que seu emprego do "templo de Deus" em 2 Tessalonicenses 2:4 se refere à comunidade da igreja cristã do futuro. A declaração do Paulo de que o homem de pecado "se senta" [kathísai] no "templo de Deus" é de profundo significado. Este conceito audaz reflete a visão de Daniel, em que o Ancião de dias "sentou-se" para levar à justiça o poder arrogante e endeusado. À luz deste antecedente daniélico do tribunal, a descrição do Paulo do adversário "sentando-se" indica que o anticristo se estabeleceria a si mesmo como mestre e juiz dentro da igreja! Aqui Paulo está oferecendo mais que uma "admoestação pastoral". A predição de Paulo segue a revelação de Daniel do desenvolvimento futuro da história da salvação. Paulo interpreta o esboço de Daniel de acordo com o princípio do evangelho: o cumprimento é em Cristo e a igreja de Cristo.

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A apostasia predita em Daniel 7, 8 e 11 surgiria dentro do povo do novo pacto, em um falso mestre, em um Messias falso. Por outro lado, Jesus prometeu que as portas do hades [inferno] nunca prevaleceriam contra sua igreja (Mat. 16:19), e que seus escolhidos não seriam enganados se permanecessem alerta (Mar. 13:22, 23). A tensão entre a igreja como instituição e a igreja como uma comunidade espiritual se reflete também na admoestação pastoral de Paulo em 1 Coríntios 11:19, e em sua predição profética aos anciões de Éfeso em Atos 20:28-31: "E de vós mesmos se levantarão homens que falarão coisas perversas para arrastar após si os discípulos" (v. 30). Isto chegou a ser uma ameaça séria em algumas igrejas apostólicas na província romana da Ásia (Apoc. 2:19-29; 1 João 2:18-27). Finalmente, o que se desenvolve como tema central no Apocalipse de João é o simbolismo das duas mulheres em Apocalipse 12 e 17. Aqui se descreve a igreja cristã e à apóstata não só em termos de diferenças dogmáticas ou doutrinais, mas também como duas comunidades adoradoras diferentes. Como Paulo Emprega os Tipos de Adoração Falsa no An tigo Testamento A admoestação de Paulo se centra na chegada da apostasia religiosa – o "homem da iniqüidade" dentro do templo de Deus na terra –, uma apostasia que permanecerá até a gloriosa vinda de Cristo: "Ninguém, de maneira alguma, vos engane, porque não será assim sem que antes venha a apostasia e se manifeste o homem do pecado, o filho da perdição, o qual se opõe e se levanta contra tudo o que se chama Deus ou se adora; de sorte que se assentará, como Deus, no templo de Deus, querendo parecer Deus" (2 Tes. 2:3, 4). "Então, será, de fato, revelado o iníquo, a quem o Senhor Jesus matará com o sopro de sua boca e o destruirá pela manifestação de sua vinda" (2 Tes. 2:8). Dois pontos caracterizam o esboço do Paulo da futura história da igreja: Primeiro, o tempo histórico do surgimento do "homem do pecado" dentro da história da igreja; segundo, a natureza religiosa de suas afirmações messiânicas. Chega a ser evidente, ao compará-lo intimamente com o Antigo Testamento, que Paulo compôs sua descrição do anticristo combinando 3 revelações proféticas a respeito dos poderes antiDeus: (1) A época do tempo histórico do surgimento do antimessias em Daniel 7, 8 e 11; (2) a blasfêmia religiosa de auto-endeusamento pelos reis de Tiro e de Babilônia em Ezequiel 28 e Isaías 14; (3) a destruição final do "iníquo" pela aparição do Messias em Isaías 11. No seguinte estudo poderemos notar algumas alusões literárias e religiosas em 2 Tessalonicenses 2:4 com as profecias do Antigo Testamento:

2 Tessalonicenses Passagens do Antigo Testamento 2:4a "o qual se opõe e se levanta contra tudo que se chama Deus…"

Dan. 11:36 "... e se levantará, e se engrandecerá sobre todo deus ..."

2:4b "… a ponto de assentar-se no santuário de Deus, ostentando-se como se fosse o próprio Deus".

Eze. 28:2 "... e dizes: Eu sou Deus, sobre a cadeira de Deus me assento".

2:8 "então, será, de fato, revelado o iníquo, a quem o Senhor Jesus matará com o sopro de sua boca…"

Isa. 11:4 "[o Messias] ferirá a terra com a vara de sua boca e com o sopro dos seus lábios matará o perverso".

Paulo funde estas 3 alusões aos soberanos que estão contra Deus para informar os santos

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como identificar o anticristo quando surgir na era da igreja, até dentro do cristianismo, como o "templo de Deus" sobre a terra (ver também At. 20:29-31). Paulo usa o princípio da tipologia cristã quando aplica à era da igreja as promessas e as ameaças de Deus a Israel (ver 1 Cor. 10:1-11; Gál. 4:21-31). A relação de um tipo do Antigo Testamento com um antítipo do Novo Testamento se determina teologicamente por sua conexão com o Jeová antes da cruz, e sua conexão com Cristo na era da igreja. Na perspectiva profética, a distância temporária entre o tipo e o antitipo não tem importância. Sua ênfase está no fato que o mesmo Deus que atua no cumprimento histórico iminente, também atuará no juízo e a salvação finais. Dessa forma, Paulo contempla os reis de Tiro e de Babilônia que se idolatram a si mesmos (no Ezeq. 28:2 e Isa. 14:13, 14), como tipos proféticos da essência religiosa do anticristo (2 Tes. 2:4). O adversário de Cristo na era cristã ensinará e julgará como se fora Deus, com autoridade divina e infalibilidade. A Aplicação que Paulo Faz do Antimessias Predito po r Daniel Como em Daniel 8 e 11, Paulo localiza a apostasia blasfema do inimigo escatológico de Deus "no templo de Deus" (2 Tes. 2:4). Sem o princípio apostólico do cumprimento cristológico, são inevitáveis os perigos do literalismo ou o alegorismo ao interpretar a frase "templo de Deus" em 2 Tessalonicenses 2 como um templo literal e reedificado em Jerusalém no qual o anticristo se estabelecerá para exigir a adoração dos judeus depois do rapto da igreja. Uma interpretação mais popular é tomar o "templo" neste capítulo como um símbolo do trono de Deus no céu, recorrendo a Isaías 14:13, 14 e 66:1. Em outras palavras, entendem o "templo de Deus" como uma metáfora para indicar que o iníquo tratará de usurpar o lugar de Deus e exigirá honras divinas e obediência. Isto se aplica depois a qualquer sistema totalitário de governo, a deificação do Estado, quando se derrubarem a lei e a ordem e a violência demoníaca explore em perseguição da igreja. Em outras palavras, a frase "o homem da iniqüidade" aplica-se aos governos totalitários ateus. As interpretações precedentes de 2 Tessalonicenses 2:4 podem parecer atrativas e convencer a alguns. Mas a questão vital é: deu-se a consideração apropriada ao contexto fundamental do Antigo Testamento no qual Paulo apóia sua descrição apocalíptica? A alusão de Paulo a Daniel 11:36 deve nos levar em primeiro lugar a considerar a profanação religiosa do templo por parte do "rei do norte" em Daniel 11:31-45 e em Daniel 8:9-13. Ele originará a corrupção ou apostasia entre o povo do pacto. A origem da apostasia profetizada por Paulo está em Daniel 11:32. Os expositores protestantes dos dias do Lutero e Calvino interpretaram tradicionalmente que este rei que se exalta a si mesmo de Daniel 11:36 e o homem de iniqüidade de 2 Tessalonicenses 2:4 são um mesmo indivíduo que se engrandecerá por cima de todos os deuses (Dan. 11:37). Não pode ser um ideólogo ateu, porque o homem da iniqüidade pretende ser Deus. Captamos a essência teológica da abominação de Daniel quando observamos que o desolador porá no templo de Deus uma adoração falsificada que ensina um falso sistema de expiação (ver Dan. 8:11-13; 11:31; 12:11). Isto define a "rebelião" como uma apostasia religiosa da adoração ordenada no templo de Deus. Na aplicação que Cristo faz da "abominação desoladora" de Daniel ao exército romano (Mat. 24:15; Mar. 13:14) vê-se um cumprimento parcial, um tipo que assinala mais à frente do ano 70 a seu antítipo universal, a abominação maior dentro da igreja. Paulo explica que a manifestação histórica do culto religioso apóstata deve acontecer antes da vinda de Cristo. O contexto mais amplo do Novo Testamento relaciona a verdadeira adoração de Deus na terra com a intercessão de Cristo no templo celestial (Heb. 4:14-16; 7:25; 8:1, 2). É absolutamente essencial não separar o templo terrestre do celestial. Profanar o "templo" ou a igreja na terra significa também a profanação do ministério de Cristo no templo celestial (Apoc. 13:6). Assim como o antimessias de Daniel 8 é destruído repentinamente "não por mão humana" (v. 25), e assim como "o rei do norte" é destruído repentinamente sem que ninguém lhe ajude (Dan. 11:45), assim o anticristo na descrição do Paulo será destruído pela aparição de Cristo, "com o espírito de sua boca" (2 Tes. 2:8; ver Isa. 11:4).

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O Momento Histórico Exato do Anticristo Segundo Pau lo A carga pastoral de Paulo em 2 Tessalonicenses 2 é corrigir entre os cristãos da Tessalônica a opinião falsa de que já tinha começado o dia do Senhor (2 Tes. 2:2). Recorda-lhes o que lhes havia dito verbalmente, que primeiro [próton] deve surgir a rebelião [hei apostasia] (2 Tes. 2:3) dentro do templo de Deus. Só então virá o dia do Senhor e destruirá o "iníquo" com "o resplendor de sua vinda" (2 Tes. 2:3-8). Na opinião de Paulo, um conhecimento da seqüência dos eventos é essencial para acautelar uma expectativa iminente injustificada. Introduz a idéia de um atraso prolongado do surgimento do anticristo por causa da existência de um poder que refreia: "E agora vós sabeis o que o detém" (2 Tes. 2:6). A igreja apostólica aparentemente não tinha problemas a respeito da identidade desse poder que "retinha". Sabiam qual era. É interessante que a maioria dos primeiros Pais na igreja pós-apostólica (igreja primitiva) ensinaram que a ordem civil do Império Romano, com o imperador à sua cabeça, era o poder que impedia, ao qual Paulo se referiu em 2 Tessalonicenses 2:6 e 7. Apesar de várias teorias novas a respeito (por exemplo que o Espírito Santo ou a missão de Paulo poderiam ser esse poder), vários eruditos de primeira linha de nossos dias sustentam que a interpretação clássica é a que mais satisfaz. O Império Romano governou o mundo desde ano 168 a.C. até 476 d.C. Depois veio a divisão da Europa Ocidental em vários reinos mais pequenos. Em Daniel 7, o poder blasfemo, o "chifre pequeno", saiu dentre estes reino que existiam simultaneamente (7:7, 8, 24). Esta sucessão histórica no esboço de Daniel – quer dizer, primeiro a "besta" e depois o surgimento do "chifre" anticristão – se encontra na base do esboço histórico de Paulo em 2 Tessalonicenses 2. Só essa perspectiva histórica de Daniel 7 pode decifrar o enigma do misterioso "agente retardador do desenvolvimento" que estava atrasando o desenvolvimento do anticristo. É obvio, mais importante que esse "agente retardador" é o que escreve Paulo a respeito da vinda do "homem da iniqüidade" (ánthropos tes anomias) ou, de acordo com manuscritos de menor autoridade, "o homem do pecado" (amartias). O apóstolo declara que a manifestação pública do "iníquo" (ho ánomos, v. 8) ocorrerá só depois de um desenvolvimento histórico prolongado de forças ocultas que já estavam ativas no próprio tempo de Paulo (v. 7). Paulo coloca a revelação efetiva do iníquo imediatamente depois que o Império Romano (como "o que o detém") tenha sido "tirado do meio" (2 Tes. 2:7), e indica firmemente que o próprio trono ocupado pelo que o detém seria ocupado pelo homem da iniqüidade. A inferência da mensagem de Paulo em 2 Tessalonicenses 2 é inconfundível: Quando o Império Romano tenha caído, o surgimento do anticristo já não será restringido ou retido em Roma. Portanto, o anticristo será revelado sem demora na era seguinte, usualmente denominada a Idade Média. Este período prolongado foi descrito por Daniel como os 3 ½ tempos de opressão política dos santos (Dan. 7:25; 12:7). Nesta era cristã é onde Paulo localiza a apostasia. O bispo anglicano Christopher Wordsworth, extraiu uma conclusão convincente: "Posto que Paulo também descreve aqui ao homem do pecado como continuando no mundo do tempo da eliminação do poder que o impede, inclusive até o segundo advento de Cristo (2 Tes. 2:8), o poder que aqui se personifica no 'homem do pecado' deve ser por conseguinte um que continuou no mundo por muitos séculos, e continua até o tempo atual. Também, sendo que lhe atribuiu esta longa permanência na profecia, uma permanência que excede em muito a vida de qualquer indivíduo, devido a isso o 'homem de pecado' não pode ser uma só pessoa".[1] O propósito de Apocalipse de João é animar a igreja universal até o próprio fim, para resistir ao poder enganador e perseguidor da besta-anticristo e de seu aliado, o falso profeta, e triunfar sobre a marca escatológica da besta quando for imposta nas nações. A carta de Paulo aos Tessalonicenses reconhece a presença do 4.º império de Daniel 7. Ensinou à igreja que o "chifre pequeno" de Daniel não se levantaria durante o Império Romano. Entretanto, o Apocalipse de João põe de sobreaviso a igreja universal sobre o momento exato quando apareceria a besta depois do desaparecimento do Império Romano, e João descreve

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este poder, o anticristo, com os característicos do chifre pequeno de Daniel que governaria as nações por 42 meses (Apoc. 13:5), uma variante dos 3 ½ tempos (Dan. 7:25). Por conseguinte, este tempo simbólico em Daniel e no Apocalipse deve aplicar-se ao período depois da queda de Roma em 476 d.C. Isto leva a Idade Média a situar-se dentro da esfera da profecia bíblica, Em resumo, a aplicação histórica que Paulo faz de Daniel 7 em 2 Tessalonicenses 2, favorece o enfoque contínuo-histórico antes que a exclusiva estrutura contemporânea ou a futurista. O esboço de Paulo da futura história da igreja em períodos sucessivos com respeito à apostasia e ao poder que o retém, demonstra que o apóstolo não cria em uma expectativa do fim de um momento ao outro. De fato, 2 Tessalonicenses 2 propõe-se a refutar esta mesma idéia sobre a base da perspectiva histórica do Daniel. O Anticristo de Paulo como uma Paródia de Cristo Deveria dar-se atenção especial ao fato de que Paulo descreve a apostasia do vindouro "homem de iniqüidade" como uma que nega tanto a verdadeira adoração cristã como toda a adoração pagã; "opõe-se... contra tudo o que se chama Deus ou é objeto de culto" (2 Tes. 2:4). Exaltar-se-á até o ponto do auto-endeusamento dentro do templo de Deus, "tanto que se senta no templo de Deus, fazendo-se passar por Deus" (V. 4). Paulo adota esta caracterização específica de adoração religiosa do anticristo, do antimessias predito por Daniel (Dan. 7:25; 8:11-13; 11:31; 12:11). Nas profecias de Daniel, o chifre pequeno ou o rei que se ensoberbece, invade a terra santa, e se mete pela força no santuário de Deus e de seu Messias. Profana o culto religioso divino do santuário não só mudando a lei divina e os tempos sagrados (por exemplo, o sábado; ver Dan. 7:25), mas também por sua própria "abominação": a adoração falsificada de si mesmo como o "deus das fortalezas" (ou poder) desconhecido para o povo do pacto (Dan. 11:31, 36-38). Parece que Paulo molda intencionalmente o anticristo à imagem de um Cristo falso, porque o descreve na necessidade de que seja "revelado" em seu "vinda" (2 Tes. 2:3, 8, 9), termos que aplica igualmente a Cristo (ambos têm uma revelação pessoal [apokálupsis] e sua vinda [parousia; cf. 2 Tes. 1:7; 2:8]). Isto sugere que Paulo considera o anticristo como um rival do Messias, cuja "vinda" é uma paródia da vinda de Cristo. Assim como a revelação de Deus culminou em Cristo, assim a manifestação do mal encontrará sua culminação no anticristo, cuja aparição é a caricatura satânica de Cristo. Já Irineu tinha declarado que o anticristo de 2 Tessalonicenses 2 seria um "apóstata" religioso, que desencaminhará os que o adorem "como se fora Cristo".[2] É significativa a descrição de Paulo de que o "iníquo" virá "por obra de Satanás" [kat enérgeian tou sataná], quem energizará e dará poder ao anticristo através de "toda classe de milagres, sinais, prodígios enganosos" (2 Tes. 2:9, BJ). Uma vez mais Paulo parece indicar por meio desta tríplice frase (milagres, sinais e prodígios) que o anticristo tentará imitar o ministério de Cristo (ver Mat. 24:24; At. 2:22). O livro do Apocalipse descreve mais plenamente a maneira como Satanás dará energia à besta do mar ou anticristo: "E o dragão lhe deu seu poder e seu trono, e grande autoridade" (Apoc. 13:2). O Mistério da Iniqüidade Paulo se refere à atividade satânica do mal nesta frase significativa: "...porque já está em ação o mistério da iniqüidade" (2 Tim. 2:7); ou, literalmente, "o mistério da impiedade já está atuando" (BJ). Aqui o apóstolo reconhece que uma força malvada já estava operando em uma forma secreta, além da atividade humana, decidida a conseguir a supremacia sobre a igreja de Cristo. A princípio, o poder político imperante no tempo do Paulo impediu que se levasse a cabo este plano anticristão (v. 6). Não obstante, quando o que retinha foi tirado, as forças da apostasia surgiram imediatamente e chegaram a ser conhecidas publicamente durante a Idade Média. Nos escritos de Paulo o termo "mistério" leva em si o conceito básico de verdade salvadora, mantido anteriormente oculto por Deus mas agora manifestado no evangelho (ver Rom. 16:25, 26; Ef. 1:9, 10; Col. 1:26, 27; 1 Cor. 2:7). O conteúdo deste mistério é o plano redentor de Deus

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para salvar a humanidade por meio da união com Cristo. Este "mistério" divino esteve personificado em Cristo como o grande "mistério da piedade: Deus foi manifestado em carne" (1 Tim. 3:16). Por outro lado, quando Paulo falou do "mistério da iniqüidade", muito bem pôde ter tido em mente exatamente o contrário da verdade salvadora de Deus em Cristo: o mistério caracterizado pelo anticristo: (1) Este mistério nunca será inoperante, mas sim atua continuamente do tempo do Paulo até o fim. Por conseguinte, a incessante atividade satânica não nos permite localizar "o mistério da iniqüidade" exclusivamente em algum período histórico isolado no passado ou no futuro, como postulam as teorias do preterismo e do futurismo. Exatamente o oposto é o que ensina Paulo: depois da queda de Roma, este mistério de rebelião estará ativo e prosperará sem limitações (2 Tes. 2:7). (2) Entretanto, este segredo satânico o conhecem os verdadeiros escolhidos de Cristo, pois "não ignoramos suas maquinações" (2 Cor. 2:11). Iluminados pela sabedoria divina que vem do livro de Daniel (ver Dan. 11:33; 12:10), sabem que o ataque de Satanás está dirigido contra o reino de Deus e seu plano de redenção, centrado este no santuário com sua santa lei e o evangelho. (3) Por analogia com o "mistério da piedade" – o plano de Deus para revelar o Messias e seu evangelho de salvação –, o "mistério da iniqüidade" indica o maligno propósito de Satanás de opor-se ao plano de Deus por meio de um plano contrário diabólico e um culto religioso contrário que exalta o falso rei-sacerdote. Um erudito bíblico define esta frase paulina com profundo discernimento: "Em um estilo paralelo, o mistério da iniqüidade, o plano contrário de Satanás, é um propósito diabólico fixo, um ardil contínuo, para opor-se à realização do decreto divino (de redenção)".[3] Paulo conclui declarando que existe um antagonismo fundamental entre a verdade do evangelho de Cristo e a decepção do homem de iniqüidade: "Perecem, porque não receberam o amor da verdade para se salvarem. E, por isso, Deus lhes enviará a operação do erro, para que creiam a mentira, para que sejam julgados todos os que não creram a verdade; antes, tiveram prazer na iniqüidade" (2 Tes. 2:10-12). A apostasia anticristã está apoiada em uma hostilidade profundamente arraigada contra o evangelho de Deus e de seu Cristo. Neste encontro, a humanidade deve fazer suas decisões finais em favor ou contra Cristo. Segundo o apóstolo, a decisão que alguém faça por Cristo agora, revela em princípio a eleição que todos terão que fazer no tempo do fim entre Cristo e o anticristo. Toda a história está governada pelo conflito espiritual entre Deus e Satanás, e a era da igreja se caracteriza pelo conflito entre a verdade do evangelho de Cristo e a mentira do anticristo. Devido a isto, o apóstolo Paulo alerta a igreja a estar em guarda contra o engano de um mestre poderoso do cristianismo que sustentará que fala em lugar de Cristo e que insiste em que só sua vontade é lei divina. Paulo nos admoesta não simplesmente contra um evangelho falsificado e adoração falsa no futuro, mas sim por cima de tudo assinala a origem cósmica deste engano mestre: é o artifício e o engano de Satanás (2 Tes. 2:9). Para esta dimensão sobrenatural Paulo encontrou apoio nas Escrituras. Daniel tinha revelado uma batalha cósmica entre Deus e Satanás como o poder motivador por trás dos conflitos religiosos na terra (ver Dan. 10). Isaías tinha apontado a Lúcifer, ou a estrela da manhã no céu, como quem quis ser como Deus e trabalha por meio dos governantes da terra (Isa. 14:12-14). O Ato que Coroará o Drama do Engano A perspectiva profética do Paulo em 2 Tessalonicenses 2 indica que o fim do tempo trará consigo cada vez mais sinais sobrenaturais, que apoiarão o "homem da iniqüidade", "o filho da perdição" (2 Tes. 2:3). Estas designações últimas do anticristo sugerem que aparecerá como um indivíduo que está em um definido contraste com "o Filho do Homem". Isto dá lugar para um engano quase irresistível para o homem: a personificação que Satanás fará de Cristo e de sua vinda à terra. Deliberadamente, Paulo faz um paralelo entre as aparições do homem da iniqüidade e as de Cristo, tendo cada uma sua própria parousia; seus próprios sinais e milagres, e exigindo cada uma adoração. Em todas as aparições, Satanás se disfarça "como

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um anjo de luz" (ver 2 Cor. 11:14). Seu objetivo supremo sempre foi exigir a dignidade e as prerrogativas de Deus (2 Tes. 2:4); por conseguinte, seu último pecado é a idolatria que exige para que o adorem. Paulo recalca que o rechaço universal da verdade do evangelho preparará a humanidade para o último engano e rebelião (2 Tes. 2:10, 11; 1:7, 8). Nesse ponto de maturação do mal, Deus retira seu Espírito de todos os que rechacem "o amor da verdade". Como resultado já não haverá mais nenhuma limitação ao "poder enganoso para que creiam a mentira" (2 Tes. 2:11 ). Desta forma, Paulo aponta ao fim do tempo de prova da humanidade, quando começa o ato final de Satanás. Esta cena aparece ampliada em Apocalipse 16:13-16, onde os espíritos de demônios levam os habitantes do mundo a unir-se em rebelião contra Deus, enganando até os governantes civis. Um erudito resume a situação nas seguintes palavras: "Com o rechaço final dos rogos do Espírito de Deus virá a dissolução da lei civil, e então as promulgações do 'homem do iniqüidade' levarão aos homens a guerrear contra o santo".[4] Além disso, até ameaça a humanidade um ato capital de engano: a personificação de Cristo e sua vinda. Estas palavras de discernimento espiritual nos põem em guarda: "Assim, o grande enganador fará parecer que Cristo veio. Em várias partes da Terra, Satanás se manifestará entre os homens como um ser majestoso, com brilho deslumbrante, assemelhando-se à descrição do Filho de Deus dada por João no Apocalipse (cap. 1:13-15). ... O povo se prostra em adoração diante dele, enquanto este ergue as mãos e sobre eles pronuncia uma bênção, assim como Cristo abençoava Seus discípulos quando aqui na Terra esteve".[5] Resumo A aplicação histórica de Paulo das visões do anticristo de Daniel formam um elo interpretativo indispensável entre Daniel e Apocalipse. O esboço estrutural de Paulo em 2 Tessalonicenses 2 funciona como o respaldo apostólico do enfoque contínuo-histórico das profecias de Daniel. Paulo caracteriza a futura apostasia cristã como um culto de adoração espúrio, autorizado por um rival do Messias, que se levantaria dentro do templo cristão de Deus muito pouco depois da queda da Roma pagã. O livro do Apocalipse (nos caps. 13 aos 19) desenvolve o tema teológico do anticristo com maiores detalhes como a besta e seu falso profeta. Referências Para a Bibliografia, ver as páginas 107-108. 1. Ch. Wordsworth, Is the Papacy predicted by St. Paul? An Inquiry, p. 15. 2. Irineu de Lyon, Contra hereges, 25, ANF, T. 1, P. 554. 3. P. H. Furfey, "The Mystery of Lawlessness", CBQ 8 (1946), p. 190. 4. D. Ford, The Abomination of the Desolation…, p. 225. 5. Ellen White, GC 624. FONTES BIBLIOGRÁFICAS DO CAPÍTULO Bacchiocchi, S. The Advent Hope for Human Hopelessness [A Esperança Adventista para a Desesperança Humana]. Berrien Springs, MI: Biblical Perspectives, 1986. Biblical Perspectives [Perspectivas Bíblicas] 6, pp. 151-161. Barnes, A. Note on the New Testament. Thessalonians... [Nota sobre o Novo Testamento: Tessalonicenses...]. Grand Rapids, MI: Baker Book House, 1955. Bruce, F. F. 1 and 2 Thessalonians [1 e 2 Tessalonicenses]. Waco, Texas: Word Books Publishers, 1982. Word Biblical Commentary [Comentário Bíblico da Palavra] 45. Ford, Desmond. The Abomination of the Desolation… Cap. 5. Froom, LeRoy E. The Prophetic Faith of Our Fathers. 4 ts. Ladd, George E. A Theology of the New Testament [Uma teologia do Novo Testamento]. Grand Rapids, MI: Wm. B. Eerdmans, 1974. Ridderbos, Herman. El Pensamiento del apóstol Paulo. Buenos Aires: La Aurora, 1987. T. 2,

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pp. 243-271. Vos, G. The Pauline Eschatology [A Escatologia Paulina]. Grand Rapids, MI: Wm. B. Eerdmans, 1972. Cap. 5: "The Man of Sin" [O homem do pecado]. Wenham, David. Paul and the Synoptic Apocalypse [Paulo e o Apocalipse dos Sinóticos]. Tomo 2 da Coleção Perspectivas do Evangelho (R. T. France e D. Wenham, eds.). Sheffield: JSOT, 1981. Pp. 345, 375. Wordsworth, Christopher. Is the Papacy predicted by St. Paul? An Inquiry [Predisse São Paulo o Papado? Uma investigação]. Cambridge: The Harrison Trust, 1985, 3a ed. Artigos Furfey, P. H. "The Mystery of Lawlessness" [O Mistério da Iniqüidade], CBQ 8 (1946), pp. 179-191. LaRondelle, Hans K. "Paul's Prophetic Outline in 2 Thessalonians 2" [O Esboço Profético de Paulo em 2 Tessalonicenses 2], AUSS 21:1 (1983), pp. 61-69. _________, "The Middle Ages Within the Scope of Apocalyptic Prophecy" [A Idade Média Dentro da Esfera da Profecia Apocalíptica], JETS 32:3 (1989), pp. 345-354. Waterman, G. "The Sources of Paul's Teaching on the 2nd Coming of Christ in 1 and 2 Thessalonians" [As Fontes do Ensino de Paulo sobre a Segunda Vinda de Cristo em 1 e 2 Tessalonicenses], JETS 18:2 (1975), pp. 105-113.

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VIII - INTRODUÇÃO AO APOCALIPSE O último livro da Bíblia é completamente diferente em estilo e composição a qualquer outro escrito do Novo Testamento. Está estruturado engenhosamente, com um equilíbrio excepcional em seu desenho literário. Sua disposição indica a unidade do livro. Uma composição tal nos proíbe isolar qualquer versículo ou seção da totalidade do livro. O Apocalipse foi destinado para lê-lo como um tudo, de maneira que seu movimento do começo até o fim possa produzir seu impacto pleno sobre nossas mentes e corações. Embora se enfoca sobre suas profecias do tempo do fim, precisamos estar inteirados de que podemos apreciar seu significado só quando recuperamos o movimento interno e a perspectiva completa de todo o Apocalipse. Devido ao fato de que seu arranjo literário e sua mensagem teológica estão entretecidas, o possuir um conhecimento de seu plano arquitetônico contribui substancialmente à nossa compreensão de sua mensagem. João transmite sua unidade por sua construção de um modelo simétrico, um paralelismo inverso chamado quiasmo. Isto se faz evidente em primeiro lugar no fato de que o começo (prólogo; Apoc. 1:1-8) e o final (epílogo; Apoc. 22:6-21) correspondem-se mutuamente. E as sete promessas às igrejas nos capítulos 2 e 3 encontram seu contraparte nas sete visões do tempo do fim (cada uma começando com as palavras "então vi") em Apocalipse 19:11 aos 22:21. A primeira e a última séries de setes se relacionam entre si como a promessa e o cumprimento divinos, a igreja militante e a igreja triunfante. Ambas as unidades começam com uma cristofania (aparição de Cristo) esplêndida: Apocalipse 1:12-18; 19:11-16. O modelo simétrico se estende a outros duetos, que se concentram em uma seção central. Tal ensambladura literária, "uma arquitetura verdadeiramente monumental",[1] foi reconhecido por numerosos eruditos e chegou a ser um requisito indispensável para a compreensão do Apocalipse. Essa forma serve para esclarecer o significado da mensagem do Apocalipse. Uma lição que se aprendeu de um consenso cada vez major de estudos críticos é a convicção de que o Apocalipse como um tudo é uma carta apostólico-profética, dirigida às igrejas do Senhor Jesus Cristo, em qualquer tempo e em qualquer lugar. Portanto, não é legítimo separar as sete cartas de Apocalipse 2 e 3 das visões seguintes (Apoc. 4-22). Esta unidade interna do Apocalipse é reconhecida amplamente, como afirma K. A. Strand: "A maioria dos expositores reconhece que a descrição da Nova Jerusalém e a nova terra nos capítulos finais do Apocalipse, recordam (como cumprimento) as promessas feitas aos vencedores nas mensagens às sete igrejas nos capítulos iniciais".[2] O Apocalipse promete a Nova Jerusalém sobre a nova terra a todos os seguidores de Cristo em todas as igrejas. É especialmente digno de menção o movimento da igreja no tempo de João (Apoc. 1-3) através da era cristã tão cheia de acontecimentos (Apoc. 12 e 13), até que entra sem perigo na Cidade de Deus no paraíso restaurado sobre a terra (Apoc. 21 e 22). Primeiro, o Cristo ressuscitado apresenta sua avaliação da condição da igreja apostólica nas sete cartas às sete igrejas (Apoc. 2 e 3). Mas estas mensagens não foram destinadas só para a igreja primitiva, como se o Senhor da história estivesse interessado só naquele período de tempo. As promessas de Cristo nessas cartas mostram uma progressão significativa, que assinala cada vez mais a sua segunda vinda. As mensagens das cartas de Cristo devem entender-se em mais de um nível. Primeiro, como dirigidas às igrejas do primeiro século, depois a cada membro individual da igreja em qualquer tempo durante a era da igreja, e finalmente, às diversas condições da igreja durante a era cristã. Os intérpretes historicistas ressaltaram em forma crescente este aspecto preditivo das sete cartas.[3] Hoje em dia, estes três aspectos são reconhecidos pelos expositores adventistas.[4] Esta breve declaração é representativa: "As sete igrejas, estudadas em sua ordem, concordam com a experiência predominante da igreja cristã durante sete eras sucessivas".[5] As cartas estão vinculadas com as visões seguintes e se iluminam mutuamente com uma urgência crescente enquanto avança a história. Esta progressão está recalcada pelas visões sucessivas que João teve do templo, que seguem a seqüência dos festivais anuais do antigo tabernáculo de Israel. As primeiras visões do templo em Apocalipse 1:12-16 e nos capítulos 4 e 5 descrevem graficamente o Senhor ressuscitado como tendo completo as festas da primavera da Páscoa (Apoc. 1:5, 17, 18) e o Pentecostes (5:6-10). Depois o Apocalipse continua na visão do templo de Apocalipse 8:2-6 para revelar o ministério a longo prazo de Cristo na série das

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"sete trombetas" (Apoc. 8, 9 e 11 ) que levam à Festa das Trombetas de Israel, a primeira de todas as festas do ano religioso judeu. A seqüência dos festivais do outono é significativo: Festa das Trombetas, Dia da Expiação e Festa dos Tabernáculos (Lev. 23; Núm. 29). Richard M. Davidson assinala que... "...assim como a Festa das Trombetas (também chamada Rosh Hashana) convocava ao antigo o Israel a preparar-se para o vindouro dia do juízo, o Yom Kippur, assim também as trombetas do Apocalipse põem especialmente de relevo a aproximação do Yom Kippur antitípico".[6] A Festa das Trombetas ocorre como a culminação dos sete festivais lunares. Formam a ponte entre os festivais da primavera e o solene Dia da Expiação e a Festa dos Tabernáculos. No Apocalipse o ponto central de atração muda gradualmente ao dia do juízo final e à terra restaurada quando Jesus morará com seu povo. A sétima trombeta apresenta uma cena do templo que se centra no "arca de seu pacto" (Apoc. 11:15, 19). No tabernáculo de Israel o "arca" estava no lugar santíssimo do santuário e só era vista durante o ritual de purificação final, no Dia da Expiação (Lev. 16:15). Nesse dia, Israel era julgado e se limpavam os pecados que contaminavam o povo por meio do bode emissário (Lev. 16:19, 22; 23:29, 30). De igual maneira, Apocalipse 10 anuncia que não haverá mais tempo ou demora quando o sétimo anjo esteja a ponto de tocar a trombeta. Então, "o mistério de Deus se consumará" (Apoc. 10:6, 7). Em Apocalipse 15 observamos a terminação da obra mediadora de Cristo no templo celestial, seguindo-se o juízo retributivo das sete últimas pragas (Apoc. 16 e 17). Em Apocalipse 19:1-10 ouvimos que "chegaram as bodas do Cordeiro e sua esposa preparou-se" (v. 7). Apocalipse 20 e 21 introduzem o milênio de triunfo para todos os que morreram no Senhor (20:4-6). A Nova Jerusalém descende sobre uma terra renovada: "Eis aqui o tabernáculo de Deus com os homens, e ele morará com eles" (21:3). Isto aponta ao glorioso cumprimento da festa dos tabernáculos, quando Israel celebrava sua liberação e se regozijava diante do Senhor com o ondulação dos ramos de palmeira (Lev. 23:40, 43). Este simbolismo descreve a salvação futura da igreja de Cristo, formada de todos os povos da terra (Apoc. 7:9, 10; 15:24). Devemos relacionar a estrutura do livro com seu movimento progressivo se é que vamos compreender o significado do Apocalipse. O significado deliberado do Apocalipse não é simplesmente documentar um momento histórico da igreja no Ásia Menor ou proporcionar um estímulo apostólico para a igreja em crise nos dias da Roma imperial. Acima de tudo, coloca a cada igreja na luz examinadora dos olhos do Senhor, de maneira que cada igreja possa saber o que é que Cristo espera de seu povo. Dessa maneira, Cristo coloca tanto suas expectativas como suas responsabilidades diante de todas as igrejas. Isto desperta nossa consciência para contemplar a relação íntima que existe entre Cristo e seu povo em todos os tempos. Jacques Ellul o expressa desta maneira: "O Senhor da igreja, quem ao mesmo tempo é o Senhor da história, não é um Deus distante, inacessível e incompreensível; é o que fala com sua igreja, é o que vive na história por meio de seu povo".[7] Os diferentes septenários (séries de setes) – tais como as cartas, os selos, as trombetas e as taças com as últimas pragas – contêm uma luz que se projeta sobre os acontecimentos do tempo do fim. Este fenômeno reiterativo indica que o Apocalipse coloca uma ênfase particular sobre o período do tempo do fim da igreja e do mundo. Ellen White expressa esta visão mais ampla quando diz: " Esta revelação foi dada para guia e conforto da igreja através da dispensação cristã. ... Suas verdades são dirigidas aos que vivem nos últimos dias da história da Terra, como o foram aos que viviam nos dias de João".[8] Referências 1. J. Ellul, Apocalypse, The Book of Revelation, p. 36. 2. F. B. Holbrook, ed., Symposium on Revelation – Book 1 [Simpósio sobre o Apocalipse – Livro 1] (Silver Spring, Maryland: Biblical Research Institute, 1992), p. 31.

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3. Ver Froom, The Prophetic Faith of Our Fathers, v. 4, pp. 848, 1118. 4. Ver D. Ford, Crisis! A Commentary on the Book of Revelation [Crise! Um Comentário sobre o Livro do Apocalipse] (Newcastle, Califórnia: Desmond Ford Publications, 1982; 2 ts.), T. 2, pp. 264-308; C. Mervyn Maxwell, Apocalipsis: sus revelaciones (Florida, Buenos Aires: Asociación Casa Editora Sudamericana, 1991), pp. 89-145; R. C. Naden, The Lamb Among the Beasts. Finding Jesus in the Book of Revelation [O Cordeiro Entre as Bestas. Encontrando a Jesus no Livro do Apocalipse] (Hagerstown, Maryland: Review and Herald, 1996), caps. 4 e 5. 5. Maxwell, Apocalipsis: sus revelaciones, p. 94. 6. Richard M. Davidson, Simpósio sobre o Apocalipse, T. 1, p. 123. 7. Ellul, Apocalypse, The Book of Revelation, p. 51. 8. Ellen White, AA 583, 584.

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IX - O PROPÓSITO DO APOCALIPSE "Revelação de Jesus Cristo" (Apoc. 1:1) enuncia claramente seu propósito ao princípio: "Para manifestar a seus servos as coisas que em breve devem acontecer"...."as que são e as que têm que ser depois destas" (vs. 1, 19). Isto significa que a perspectiva histórica do livro não é nem o presente imediato nem o futuro distante, e sim toda a história da igreja do tempo do autor até o segundo advento. Isto faz com que o Apocalipse seja um guia único para a igreja em qualquer tempo. Constitui uma continuação dos quatro Evangelhos que se concentram especificamente no primeiro advento. Em sua filosofia da história, o Apocalipse está enfaticamente centrado em Cristo, chamando Cristo de "o Alfa e o Ômega, o Princípio e o Fim" (22:13). Sua mensagem profética não é meramente vaticinar o curso futuro da história da igreja. Sua maior preocupação é pastoral: guiar e aconselhar aos crentes em Cristo Jesus em tempos de perseguição, animá-los a perseverar até o fim na verdadeira fé, e admoestá-los e alertá-los contra o engano e as crenças falsas. O Apocalipse assegura aos "servos" de Cristo que seu Redentor está em seu meio em todo momento, porque caminha entre os sete "castiçais" celestiais, que representam "as sete igrejas" (1:13, 20). Aparentemente, estas "sete igrejas" não podem limitar-se ao número literal de sete congregações locais na província romana da Ásia Menor. Cristo é o Senhor de todas as igrejas em toda a história. Estas "sete igrejas" representam suas igrejas, as comunidades que o adoram entre todas as nações, do tempo de João até ele voltar. Este Apocalipse ou revelação do Jesus Cristo tampouco se dirigiu aos judeus ou aos gentios, e sim a seus "servos" (1:1). Precisam da segurança de que o Senhor ressuscitado permanece intimamente conectado com seu novo povo do novo pacto e que os preparará para a prova final e o triunfo da fé. O reino de Deus será realizado completamente neste mundo como seu ato final, para o qual se dirige toda a criação (11:15; 21:1-5). Sete vezes Cristo promete ao "vencedor" em cada igreja uma recompensa específica de salvação ao fim do tempo: "Ao vencedor, dar-lhe-ei que se alimente da árvore da vida que se encontra no paraíso de Deus" (2:7). "O vencedor de nenhum modo sofrerá dano da segunda morte" (v. 11). "Ao vencedor, dar-lhe-ei do maná escondido, bem como lhe darei uma pedrinha branca, e sobre essa pedrinha escrito um nome novo, o qual ninguém conhece, exceto aquele que o recebe" (v. 17). "Ao vencedor, que guardar até ao fim as minhas obras, eu lhe darei autoridade sobre as nações... dar-lhe-ei ainda a estrela da manhã" (vs. 26,28). "O vencedor será assim vestido de vestiduras brancas, e de modo nenhum apagarei o seu nome do Livro da Vida; pelo contrário, confessarei o seu nome diante de meu Pai e diante dos seus anjo " (3:5). "Ao vencedor, fá-lo-ei coluna no santuário do meu Deus, e daí jamais sairá" (v. 12). "Ao vencedor, dar-lhe-ei sentar-se comigo no meu trono, assim como também eu venci e me sentei com meu Pai no seu trono" (v. 21). Além destas promessas, o Apocalipse proporciona sete bem-aventuranças para esta era presente, com o fim de motivar a cada crente a ser perseverante (1:3; 14:13; 16:15; 19:9; 20:6; 22:7, 14). Desse modo, o Apocalipse é o livro de esperança, consolo e inspiração para sua igreja durante sua viagem cheia de acontecimentos através das idades. Deus não nos prometeu uma navegação tranqüila, a não ser uma chegada segura! Ele está conosco até o fim do tempo. Cada coisa depende de quem é nosso Rei. Nossa segurança eterna descansa em sua fidelidade. O Apocalipse é principalmente uma revelação do próprio Cristo e de sua fidelidade ao pacto; é "a testemunha fiel" (1:5). Cristo Como Nosso Juiz Divino Nenhum livro no novo Testamento enfatiza a glória e a soberania do Cristo ressuscitado como o Apocalipse faz. A visão inaugural de João (1:12-20) apresenta a Cristo como o Messias

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celestial ao designá-lo como "um semelhante ao Filho do Homem" (1:13), uma expressão apocalíptica adotada da visão do Daniel do Juiz-Rei messiânico (Dan. 7:13, 14). O Messias glorificado não só é o doador da revelação, mas também é seu tema central (Apoc. 1:7). Como o mediador exclusivo de nossa salvação, pode dizer com verdade: "Eu sou... o que vivo, e estive morto; mais eis aqui que vivo pelos séculos dos séculos" (vs. 17, 18). Tem em sua mão direita as "sete estrelas", que são os "anjos das sete igrejas" (Apoc. 1:16, 20). Como Cabeça da igreja, "esquadrinha a mente e o coração" em cada etapa da história da igreja. Ele "recompensará" a todos os crentes conforme as suas obras (2:23; 22:12). A ele foi entregue o juízo messiânico de todos os habitantes do mundo (1:7; 14:14-20; 19:11-21). Ele é o guerreiro divino que vindicará a seu povo remanescente fiel. Como Rei de reis e Senhor de senhores, esmagará a todos os poderes anticristãos no fim do tempo (12:5; 17:14; 19:11-16). Os títulos distintivos e as prerrogativas divinas que no Antigo Testamento estavam reservados só para Deus, agora no Apocalipse se aplicam a Cristo. Descreve o Cristo glorificado em Apocalipse 1:14 e 15 com característicos tirados da aparição de Deus em Daniel 7:9. Assim como Daniel apresenta em suas visões o Ancião de dias, assim também Cristo tem sua cabeça e seus cabelos "brancos... como a neve" e seus olhos como chama de fogo (Dan. 7:9; 10:6; Apoc. 1:14). Assim como os olhos de Yahveh, que no Antigo Testamento percorrem toda a terra (Zac. 4:10), assim os "sete olhos" de Cristo ou o séptuple Espírito se envia "por toda a terra" (Apoc. 5:6). Como Deus esquadrinha a mente e prova o coração de seu povo do pacto (Jer. 17:10; Sal. 7:9), assim agora Cristo examina e avalia a sua igreja (Apoc. 2:23). Enquanto se diz o que os vestidos do Yahveh estão salpicados com o sangue de seus inimigos declarados (Isa. 63:1, 2), esta mesma descrição se aplica à vinda de Cristo como Rei-Juiz em Apocalipse 19:13. Como Moisés chamou o Deus de Israel "Senhor de senhores" (Deut. 10:7), isto agora se aplica a Cristo (Apoc. 17:14; 19:16). Em síntese, o Apocalipse transforma de uma maneira consistente a teofania ou aparição do Yahveh do Antigo Testamento em uma cristofania ou sublime aparição de Cristo. O Senhor Jesus ressuscitado assumiu a autoridade e o poder executivo do Todo-poderoso (Apoc. 19:15, 16; 22:1; cf. Mat. 28:18). Ele é um com o Pai e o executor da vontade do Pai. O Apocalipse descreve a Cristo com mais de 30 alusões à visão do juízo de Daniel 7. Esta visão central de Daniel se desempenha como a fonte imediata da descrição da missão final de Cristo como "um como um filho de homem" (Dan. 7:13, 14) em Apocalipse 14:14-16. Dessa maneira expressa João em uma linguagem pictórica o cumprimento messiânico do dia do juízo de Deus. Apocalipse 14 confirma o que Cristo tinha declarado antes aos dirigentes judeus em Jerusalém: "E também o Pai a ninguém julga, mas deu ao Filho todo o juízo... E deu-lhe o poder de exercer o juízo, porque é o Filho do Homem" (João 5:22, 27). Cristo, o Único Sumo Sacerdote do homem João contempla a seu exaltado Senhor estando entre os sete castiçais celestiais, "vestido até aos pés de uma veste comprida e cingido pelo peito com um cinto de ouro" (Apoc. 1:13). Esta veste comprida sugere seu papel atual como nosso Mediador (ver Êxo. 28:4, 5; 39:5). A faixa ou o cinto "de ouro" ao redor de seu peito é também parte da visão do Daniel de um mensageiro messiânico que lhe fez entender a mensagem de Deus (Dan. 10:5, 6). A descrição apocalíptica de Cristo em Apocalipse 1 ensina a igreja que seu Senhor agora está cumprindo em realidade o que tinha prefigurado o sacerdócio de Israel. O Cristo vivente ouve nossas confissões e perdoa nossos pecados com segurança absoluta. Cristo substituiu todos os sacerdócios terrestres ao estabelecer a validez de seu presente sacerdócio (ver Heb. 10:9). Portanto, Cristo é até maior que Melquisedeque, o rei-sacerdote, a quem Abraão lhe deu o dízimo de tudo (7:1-10). O sacerdócio de Cristo é eficaz, devido a seu "poder de uma vida indestrutível" confirmado por um solene juramento de Deus (7:16-21; Sal. 110:4). E devido a este juramento divino, "Jesus é feito fiador de um melhor pacto" (Heb. 7:22). O Cristo ressuscitado agora "pode também salvar perpetuamente aos que por ele se aproximam de Deus, vivendo sempre para interceder por eles" (V. 25). Esta mensagem apostólica de consolação está confirmada dramaticamente pela visão inaugural de João em Apocalipse 1. Aqui Cristo começa a falar com sua igreja em termos mais específicos por meio das sete cartas

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que dita a João (ver Apoc. 2 e 3). Não é João, e sim Cristo, que fala do céu para animar e admoestar as sete igrejas começando com Éfeso, e através delas a todas suas igrejas onde quer estejam em qualquer tempo. Obviamente Cristo considera sete igrejas específicas ao fim do primeiro século como representativas de sete estados ou condições da igreja que existem em sua igreja que se estende até o fim. Em outras palavras, Cristo considera estas sete comunidades originais eclesiásticas como protótipos do futuro desenvolvimento da igreja em todo mundo. Nas sete cartas de Apocalipse 2 e 3, Cristo fala hoje com as igrejas cristãs. O fato de que Cristo termina cada carta com a mesma súplica, é importante: "Quem tem ouvidos, ouça o que o Espírito diz às igrejas" (2:7, 11, 17, 29; 3:6, 13, 22). Esta sétupla súplica a todas as igrejas prova que Cristo inclui a cada igreja. Desta forma, Cristo até pastoreia a seus seguidores. Sua preocupação é salvar e santificar a suas congregações pecadoras. Ele não rechaça imediatamente a nenhuma delas, mas sim lhes dá tempo para corrigir seus caminhos, doutrinas e sacramentos. Cristo conhece perfeitamente o coração e a mente de cada um (At. 1:24; 15:8; Mar. 2:8; João 21:17). Revela a seus servos que a única maneira como podem estar seguros, acha-se em permanecer unidos a ele por meio da fé. Podem ser a luz do mundo unicamente ao refletir sua luz e a pureza de sua verdade. A segurança do Senhor ressuscitado é que seu povo estará preparado para sua vinda e que iluminarão toda a terra com a luz de seu poder pentecostal (ver Apoc. 18:1).

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X - CHAVES INTERPRETATIVAS DENTRO DO APOCALIPSE O livro do Apocalipse é datado por volta do ano 96 de nossa era, quando já estavam escritos os Evangelhos do Novo Testamento. Os quatro Evangelhos – Mateus, Marcos, Lucas e João –, todos falam a respeito da primeira vinda do Messias Jesus e se concentram em sua vida, sua missão e morte, sua ressurreição e sua ascensão. Aí terminam os quatro Evangelhos. Mas o livro do Apocalipse começa depois de sua ressurreição, com Cristo exaltado à mão direita do Pai, levando a cabo sua obra de intercessão em preparação para sua volta. Desse modo, o Apocalipse se concentra sobre sua mediação em favor da igreja durante a era cristã e em sua obra final de juízo e libertação como a introdução para seu segundo advento. O Apocalipse é o complemento dos quatro Evangelhos. É o único livro revelado por Cristo diretamente do céu. Ele o chama seu próprio "testemunho destas coisas nas igrejas" (Apoc. 22:16). Em sentido especial, o livro do Apocalipse é o testemunho de Jesus e o testemunho do Espírito (V. 17; 2:7, 11 ). A primeira chave Que chaves temos para decifrar seu simbolismo apocalíptico? A primeira chave interpretativa se apresenta virtualmente em cada versículo do livro. A edição grega do Novo Testamento indica que o Apocalipse contém mais de 600 alusões aos escritos do Antigo Testamento. A Bíblia Hebraica continua sendo o fundamento e a raiz do Novo Testamento, e só quando mantemos juntos ambos os Testamentos temos uma Bíblia completa. Em grande parte, o Antigo Testamento é profecia e o Novo Testamento proclama seu cumprimento em Cristo e em seu povo. Não podemos entender completamente um sem o outro. O fato de que o Apocalipse se refira mais de 600 vezes à história do Antigo Testamento e a seus conceitos hebraico, sugere que o Antigo Testamento é a primeira chave para decifrar o livro do Apocalipse. Em seu livro Atos dos Apóstolos, Ellen White declara que "no Apocalipse todos os livros da Bíblia se encontram e se cumprem" (p. 585). Essa é uma declaração teológica profunda e fascinante! Todos os outros livros da Bíblia, 65 em total, encontram seu significado recôndito e sua consumação no Apocalipse. Isto quer dizer que os livros de Moisés, os profetas, e também os Salmos, encontram sua aplicação final no livro do Apocalipse. Significa que todos os atos históricos de Deus em salvação e juízo voltarão a acontecer em uma escala mundial. O fato de que o Antigo Testamento seja a chave para o Apocalipse tem sido reconhecido hoje em dia como um descobrimento importante na história dos estudos apocalípticos. Não obstante, alguns intérpretes até tratam de explicar o livro do Apocalipse por si mesmo, literalizando suas palavras e imagens como se fossem fotografias atuais de eventos futuros. Por conseguinte, o centro de atenção muda imediatamente para longe de Cristo ao povo judeu no Oriente Médio e a outros eventos políticos. O monte Sião em Apocalipse 14 se aplica a um monte literal em Jerusalém. Este enfoque se chama literalismo. Outros foram ao extremo oposto segundo o qual cada símbolo se explica especulativamente, sem nenhuma norma bíblica. Esse enfoque se chama alegorismo. Tanto o literalismo como o alegorismo são especulações injustificadas. A única chave que decifra o significado recôndito do Apocalipse é a chave que o mesmo livro indica. Seus conceitos simbólicos e seus termos estão tirados do Antigo Testamento. Ali encontramos o significado dos símbolos apocalípticos em seu marco do pacto original e da história da salvação. No Antigo Testamento encontramos os protótipos na história do que Deus vai fazer no futuro. Deus revela o futuro mostrando-nos como atuou no passado. Diz ao povo de Cristo que têm um sublime chamado e um grande futuro, devido ao que Deus prometeu no passado. O Apocalipse destaca a autoridade de Cristo ao declarar que é "a revelação do Jesus Cristo, que Deus lhe deu" (1:1). O que é que quer dizer por Deus"? O Deus do pacto, o Deus de Israel, o Deus de Abraão, Isaque e Jacó. O Deus do pacto está falando agora "para manifestar a seus servos as coisas que devem acontecer logo" (v. 1). Estas palavras: "que devem acontecer logo", com exceção da palavra "logo", todas estão citadas de Daniel. Estando perante Nabucodonosor, o rei de Babilônia, disse Daniel: "Mas há um Deus nos céus, o qual revela os mistérios, e ele tem feito saber ao rei Nabucodonosor o que tem que acontecer nos últimos

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dias" (Dan. 2:28). Estas palavras se repetem como o tema do Apocalipse. Entretanto, João acrescenta a palavra "logo" (Apoc. 1:1). Isto nos diz que a primeira vinda de Cristo levou a expectativa da esperança de Daniel muito mais perto de sua realização histórica. Para apreciar o cumprimento da profecia do Daniel, devemos saber em que tempo recebeu a visão. Daniel viveu durante o Império Neobabilônico (604-539 a.C.). No capítulo 2, Daniel revela uma visão que Deus deu ao rei Nabucodonosor. Consistia de uma estátua metálica feita de quatro metais: uma cabeça de ouro; seu peito e seus braços de prata; seu ventre e suas coxas de bronze; suas pernas de ferro; seus pés, em parte de ferro e em parte de barro cozido, um fundamento muito frágil para uma estátua tão pesada. Esta é uma revelação de como Deus vê o curso da história do mundo, com a humanidade erguida sobre pés de barro. Entretanto, no quadro vivo de Daniel, Deus tem uma parte. Duas vezes se destaca que uma pedra foi cortada "sem intervenção humana" (Dan. 2:34, 45, NBE), indicando que o homem não tem nada que ver com o destino final do mundo. No tempo indicado por Deus, descerá uma rocha do céu, dirigindo-se para o planeta terra. A estátua simboliza nosso mundo em sua história política do tempo do profeta Daniel. Começando com Babilônia, apresenta os impérios sucessivos de Medo-pérsia, Grécia- Macedônia, para ser seguidos pela autoridade de ferro do Império Romano que durou desde ano 164 a.C. até 476 d.C. Depois disso viria um mundo "dividido" (v. 41). Hoje em dia não existe um governo mundial, embora alguns tentaram fazê-lo pela força durante os últimos séculos, incluindo Carlos Magno, Napoleão e Hitler. Nossa situação mundial presente está surpreendentemente representada pelos pés da estátua da profecia. Somos testemunhas da época avançada na história do mundo, tal como se esboça em Daniel 2. Deus é o Senhor da história, e por meio de Cristo a levará a sua conclusão decretada. Quando Cristo venha pela segunda vez, terminará com todas as estruturas políticas de poder, tal como se prediz em Daniel 2:44 e 45. Deus não é um espectador da história mundial; ele guia e dirige ativamente o fluir da história para seu destino, seja que lhe ajudemos ou não. Em Apocalipse nos volta a assegurar que tudo será novo: "Eis aqui eu faço novas todas as coisas" (Apoc. 21:5). Nenhuma comunidade pode restaurar o paraíso. O Apocalipse começa com a garantia de que a predição de Daniel acontecerá "logo"! Há uma nova oportunidade em Apocalipse que não está presente em Daniel. Uma indicação adicional desta urgência do fim do tempo é o fato de que o rolo do Daniel estava "selado" até o tempo do fim (Dan. 12:4). Daniel 8 foi selado explicitamente para "um futuro remoto" (8:26, NBE). Daniel não escreveu para seu próprio tempo. Suas visões ficaram seladas porque eram para as gerações futuras. Por outro lado, o livro do Apocalipse termina com esta ordem direta: "Não sele as palavras da profecia deste livro, porque o tempo está perto" (Apoc. 22:10). Portanto, o livro selado de Daniel fica aberto gradualmente no Apocalipse. Isto significa que um não pode entender o livro do Apocalipse sem entender suas raízes em Daniel. Isto se confirma pela primeira declaração que faz João do tema fundamental do Apocalipse: "Eis que vem com as nuvens, e todo olho o verá, até quantos o traspassaram. E todas as tribos da terra se lamentarão sobre ele. Certamente. Amém!" (Apoc. 1:7). Esta linguagem figurada por si mesma não dá a conhecer todo seu profundo significado. A chave para entender seu significado se encontra na Bíblia Hebraica! A raiz central primária do Antigo Testamento de Apocalipse 1:7 é Daniel 7. Este capítulo de Daniel constitui a visão apocalíptica principal para o livro do Apocalipse. Daniel mesmo ficou profundamente comovido pelo que ouviu e viu. Sua nova visão ampliou sua predição profética anterior do capítulo 2. Agora se descrevem os quatro metais da estátua em Daniel 2 como quatro bestas insólitas que surgem do mar das nações como impérios mundiais, em forma sucessiva. Depois segue uma nova revelação que desenvolve o significado da pedra que cai do céu e esmiúça a estátua. A segunda chave Escreve Daniel: "Eu estava olhando nas minhas visões da noite, e eis que vinha com as

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nuvens do céu um como o Filho do Homem" (Dan. 7:13). Esta representação específica forma a fonte da proclamação de João em Apocalipse 1: "Eis que vem com as nuvens, e todo olho o verá" (v.7). Na visão de Daniel, o semelhante a um filho de homem, o ser celestial, foi até o "Ancião de Dias" (Dan. 7:13). "Foi-lhe dado domínio, e glória, e o reino, para que os povos, nações e homens de todas as línguas o servissem; o seu domínio é domínio eterno, que não passará, e o seu reino jamais será destruído" (Dan. 7:14). Esta coroação celestial do Messias celestial em Daniel 7 desenvolve o centro culminante em Daniel 2 onde a rocha cortada "sem intervenção humana" investe contra a estátua, pulveriza-a e é levada pelo vento de maneira que não fica nada a não ser a rocha, que chega a ser o paraíso restaurado. Dessa forma, tanto no capítulo 2 como no 7, o profeta nos assegura que o reino de Deus será restaurado sobre a terra. Há algo muito importante que se desenvolve entre o Daniel 2 e 7. A pedra de Daniel 2 chega a ser o Messias, representado como "um como um filho de homem", em contraste com as "bestas" ímpias do capítulo 7. Esta revelação assombrosa revela que no céu há outro personagem celestial além de Deus o Pai, um de aparência divina, que aparece sobre um carro de nuvens celestial: "Com as nuvens!" Estas devem representar as nuvens de anjos celestiais. A linguagem figurada de "nuvens" indica uma aparência divina (ver Êxo. 13:21; 14:19; 19:16; 40:34; Lev. 16:2; Núm. 9:15-23; Sal. 104:3; Isa. 19:1; Deut. 33:26). O Messias divino virá para julgar e restaurar (Dan. 7:22). O Pai lhe dá todo o domínio sobre a terra. Este Messias governará nosso mundo de parte de Deus. Declara Daniel: "O reino, e o domínio, e a majestade dos reinos debaixo de todo o céu serão dados ao povo dos santos do Altíssimo" (Dan. 7:27). Aqui lemos que os santos receberão o reino de Deus. Esse "reino será reino eterno, e todos os domínios o servirão e lhe obedecerão" ao divino Filho de Homem (7:27). Dessa maneira Deus transfere no céu ao Messias divino toda a autoridade e o poder soberano sobre nosso planeta. O Filho de Homem celestial deve provir do céu e dirigir-se à Terra. Nesse ponto, Apocalipse 1 continua e supera Daniel 7. Apocalipse 1 anuncia: "Eis que vem com as nuvens". Virá "logo" a nossa terra: "E todo olho o verá" (v. 7). Esta não é uma vinda espiritual, invisível, porque até os incrédulos em todo mundo verão sua vinda. Significa o glorioso reaparecimento do Senhor Jesus Cristo ressuscitado (ver também At. 1:9-11; Heb. 9:28). Para os judeus, o Messias era primordialmente um personagem político e militar. Jesus não desejava confirmar estas expectativas messiânicas (João 6:15). Distanciou-se da imagem messiânica prevalecente em seus dias e escolheu um símbolo do Antigo Testamento que não estava carregado com essa interpretação errônea. Jesus se chamou a si mesmo "o Filho do Homem". Mudou a expressão de Daniel de "um como um filho de homem" a um termo messiânico mais explícito. Cristo se chamou a si mesmo em repetidas ocasiões "o Filho do Homem". De fato aparece assim 77 vezes nos quatro Evangelhos. A frase "o Filho do Homem" não quer dizer que Jesus foi meramente um homem. Cristo explica seu autodesignação da visão de Daniel 7: "Pois para que saibam que o Filho do Homem tem poder na terra para perdoar pecados, te digo: levante-te" (Mar. 2:10, 11). Aqui Cristo se chamou a si mesmo "o Filho do Homem". Como o filho de homem daniélico, tem o poder para perdoar pecados. Nenhum sacerdote Levítico disse nunca: "Perdôo teus pecados". Não há nenhum pastor protestante que afirme: "Perdôo seus pecados". Só o sacerdote católico romano afirma: "Perdôo seus pecados" ("Ego te absolvo"). Segundo a Sagrada Escritura só Deus pode perdoar nossos pecados (Sal. 32:5; Isa. 43:25). Por isso, quando o "filho de homem" de Daniel 7 vem para perdoar pecados, a frase "Filho do Homem" significa o Messias celestial ou "Filho de Deus" (ver João 5:27). Só à luz do Daniel 7 podemos entender que o Filho do Homem é um Messias divino com autoridade igual a de Deus o Pai. Quando o Apocalipse enfatiza que Cristo logo voltará, isto são boas novas para os seguidores de Jesus. Virá para executar seu juízo sobre os ímpios. Se pela fé "estamos em Cristo" não temos nada a temer, porque Cristo já nos livrou que a condenação divina (Rom. 8:1). Em realidade, devemos recebê-lo com satisfação e desejar juiz divino, como insígnia o livro de

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Salmos. No Salmo 96 todas as árvores do bosque "transbordam de contente", porque Deus deve julgar o mundo com justiça (vs. 11-13). O Apocalipse proclama que todos os que estão sobre a terra serão testemunhas de sua segunda vinda, até aqueles que o "transpassaram". Esta expressão se refere claramente à morte de Jesus. Jesus foi transpassado pela lança de um soldado romano. Do corpo de Jesus fluiu água e sangue (João 19:34, 37). Mas em um sentido especial todos os oponentes principais de Cristo Jesus na história estão incluídos em "os que o transpassaram" por meio das "lanças" de suas palavras e ações. Esta frase também tem sua raiz principal no Antigo Testamento. O profeta Zacarias havia predito antes que Jerusalém "transpassaria" a seu próprio Messias Pastor e então todas as tribos do Israel se afligiriam por ele (Zac. 12:10-14; cf. 9:9; 13:7). O cumprimento das predições de Zacarias começou quando Cristo apareceu pela primeira vez, durante sua entrada triunfal em Jerusalém como seu Messias Rei (ver Mat. 21:4, 5). Uma semana mais tarde Jesus anunciou que agora todas as suas ovelhas seriam dispersas, como havia predito Zacarias (ver Mat. 26:31). Zacarias predisse que Jerusalém rechaçaria e "transpassaria" a seu Messias: "E olharão para mim, a quem traspassaram; e o prantearão como quem pranteia por um unigênito; e chorarão amargamente por ele, como se chora amargamente pelo primogênito" (Zac. 12:10). Jesus recalcou que as doze tribos de Israel "se lamentariam" (Zac. 12:12-14). Este pranto nacional incluso ainda não se realizou na nação judaica. Apocalipse 1 faz esta aplicação ampliada: "Eis que vem com as nuvens, e todo olho o verá, até quantos o traspassaram. E todas as tribos da terra se lamentarão sobre ele. Certamente. Amém!" (Apoc. 1:7). Isto significa que todos os povos da terra se lamentarão com desespero quando vier pela segunda vez, "por causa dele". O Apocalipse desenvolve esta cena com mais dramatismo em suas visões seguintes (ver 6:15-17; 14:14-20; 19:11-21). A importância deste ponto culminante no Apocalipse fica sublinhado pelas palavras proféticas de Jesus no Evangelho de Mateus: "Então, aparecerá no céu o sinal do Filho do Homem; todos os povos da terra se lamentarão e verão o Filho do Homem vindo sobre as nuvens do céu, com poder e muita glória" (Mat. 24:30). Porque "todo olho" o verá e "todas as tribos" ou povos da terra farão lamentação por ele; ninguém que rechace a Cristo na geração final será capaz de esconder-se deste glorioso Rei-Juiz no último dia. Resumo Sintetizando os descobrimentos desta investigação, o Apocalipse revela duas chaves específicas de interpretação para decifrar seus conceitos simbólicos: A primeira chave é que seu simbolismo está copiado do Testamento mais antigo, a Bíblia Hebraica. Isto mantém a continuidade do Deus do pacto com seu verdadeiro Israel. A palavra de Deus não foi anulada devido à rebelião de Israel. O Messias de Deus apareceu em Israel e cumpriu sua missão (ver Mar. 10:45 e João 19:30). A segunda chave é a verdade evangélica que se encontra nos quatro Evangelhos do Novo Testamento: o crucificado e ressuscitado Jesus de Nazaré é o Messias da profecia. Isto significa que todos os termos e as imagens do antigo pacto estão agora refundidas na linguagem figurada do novo pacto que está centrado em Cristo. Um erudito católico romano ficou tão impressionado pela "releitura cristã do Antigo Testamento" feita por João, que concluiu: "Agora perece que este uso deliberado do Antigo Testamento que faz o autor do Apocalipse deveria estudar-se mais cuidadosamente do que foi estudado até agora".[1] Devem estudar-se múltiplas conexões do Apocalipse com o Antigo Testamento, não para mostrar a maneira como João engenhosamente adaptou os símbolos e as profecias hebraicas,

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a não ser para entender de que maneira o Deus de Israel consumará suas promessas que fez no antigo pacto por meio de Cristo e seu povo do novo pacto. Referência 1. André Feuillet, The Apocalypse [O Apocalipse] (Staten Island, Nova York: Alvorada House, 1965; da ed. francesa [Paris: Desclée deo Brouwer, 1962]), p. 79.

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XI - A COMPOSIÇÃO LITERÁRIA DO APOCALIPSE O Apocalipse contém um plano arquitetônico detalhado em sua estrutura literária que até recentemente foi passado por cima. Um erudito moderno declara que "a chave para entender uma obra é sua forma literária".[1] Enquanto que o Apocalipse é apreciado como uma obra de poesia e é considerado como um poema artisticamente engenhoso, João não compôs seu livro por amor à arte. O propósito foi "sublinhar os diferentes aspectos da mensagem teológica do livro".[2] Isto implica que o plano literário é uma parte essencial do ensino de João. Até C. Mervyn Maxwell conclui dizendo que o desenho simétrico do Apocalipse proporciona "uma das chaves mais valiosas para abrir o significado do livro".[3] A correlação da forma literária e o conteúdo teológico requer que o leitor preste atenção cuidadosa à estrutura do livro. Revela algumas pautas inerentes para interpretar o Apocalipse. O Apocalipse de João está construído de acordo com o modelo de um paralelismo inverso, comparável aos braços correspondentes de um candelabro ou menorá, no qual os braços da parte esquerda são paralelos aos da direita. Este modelo simétrico divide o Apocalipse em duas divisões principais, sugiriendo um tema duplo no livro: a presença continuada de Cristo e sua gloriosa segunda vinda (Apoc. 1:7, 8, 17, 18; 22:12, 13). Conclui Kenneth Strand dizendo que: "A primeira parte maior do livro (caps. 1-14) trata com a era na qual o Alfa e o Ômega é o protetor e sustentador de seu povo apesar das provas e perseguições que possam surgir em seu caminho. A segunda parte maior do livro, começando com o capítulo 15, trata com os juízos escatológicos que se agrupam e se centram na consumação da era: a segunda vinda de Cristo".[4] O Apocalipse pode dividir-se de uma maneira diferente se se aplicarem outros pontos de vista que não sejam o do fim do tempo de graça. A gente pode ver as visões do tempo do fim começando já no capítulo 10, com referência à chamada final do céu para ter um povo que pode subsistir firme contra o império anticristiano. Mas é um fato ineludível que o livro está arrumado em duas grandes divisões que se correspondem mutuamente. Vamos vê-lo em cinco aspectos bem marcados: 1. A primeira indicação deste modelo literário é a natureza paralela do prólogo (Apoc. 1:1-8) e do epílogo (22:6-21). Em ambas as seções se fala de um anjo enviado por Deus para mostrar a seus servos "as coisas que devem acontecer logo" (1:1 e 22:6). Ambas as partes contêm a mesma bem-aventurança para os que ouvem a profecia de João (1:3 e 22:7). Além disso, Apocalipse 1:2 explica que o livro contém "a palavra de Deus e o testemunho de Jesus Cristo", e o epílogo conclui: "Eu Jesus, enviei meu anjo para lhes dar testemunho destas coisas nas igrejas" (22:16). Ambas as seções mencionam o tema dominante da volta de Cristo (1:7 e 22:7, 12, 20). As duas vezes lêem que "o tempo está perto" (1:3 e 22:10). No prólogo, Deus é chamado o Alfa e o Ômega (1:8), enquanto que o epílogo descreve a Cristo como o Alfa e o Ômega (22:13). Além de tudo isto, ambas as seções mencionam o Espírito como parte da Deidade (1:4, 5 e 22:6, 9, 16, 17). Estas correspondências revelam que o prólogo e o epílogo formam um modelo deliberado de complementos ou paralelos. Esta é a indicação inicial de um paralelismo intencional dentro do Apocalipse. 2. O segundo conjunto de contrapartes surpreendentes se encontra nos capítulos 2, 3, 21 e 22 do livro. As sete cartas que aparecem em Apocalipse 2 e 3 contêm promessas específicas para a igreja militante. Estas promessas retornam em Apocalipse 21 e 22 como sendo cumpridas na visão que João teve da Nova Jerusalém no paraíso restaurado. Por exemplo, Cristo promete a "árvore da vida" no paraíso (2:7), enquanto que Apocalipse 22:2 mostra seu cumprimento. A promessa de "não sofrer dano da segunda morte" (2:11), cumpre-se em Apocalipse 20:6, 14 e 21:4, 8. A promessa de receber a "estrela da manhã" (2:28) aparece em Apocalipse 22:16 como cumprida em Cristo. O "livro da vida" (3:5) reaparece em Apocalipse 21:27 como o livro da vida do Cordeiro. A promessa de chegar a ser "coluna no templo de Deus" com a inscrição dos nomes de Deus e de Cristo e da Nova Jerusalém (3:12), realiza-se em Apocalipse 21:7, 10, 22 e 22:4. A promessa de ter um lugar com Cristo em seu trono (3:21) vê-se cumprida em

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Apocalipse 20:4 e 22:3-5. Estas promessas à igreja nos capítulos 2 e 3 do livro reaparecem em Apocalipse 21 e 22 como promessas cumpridas na igreja triunfante. Estas correspondências intencionais mostram que para ter a compreensão total de uma parte se requer a integração de seu contraparte ou complemento. Portanto, as sete cartas de Cristo em Apocalipse 2 e 3 não podem divorciar-se legitimamente do resto do livro. Essas cartas tratam com a igreja militante, enquanto que Apocalipse 21 e 22 nos asseguram de sua chegada a salvo à Nova Jerusalém. Todas as partes da primeira divisão do livro (caps. 1-14) antecipam a segunda visão. Como se mencionou na introdução, há uma progressão sensível de tempo entre as duas divisões principais do Apocalipse. 3. O terceiro paralelismo principal pode observar-se entre as visões do trono de Apocalipse 4 aos 6 e 19 e 20. Ambas as seções começam com um céu aberto no qual 24 anciões e 4 seres viventes adoram a Deus sentado em seu trono (ver 4:1, 4, 9; 5:13, 14; 19:1, 4). Ambas as unidades descrevem a um cavaleiro sobre um cavalo branco; explicam assim reciprocamente o começo e a terminação da missão evangélica (6:2; 19:11), e descrevem graficamente o progresso no tempo, cuja dimensão está descrita com grandiosidade por meio das almas dos mártires nos capítulos 6, 19 e 20. Durante o quinto selo, João ouve que os mártires clamam: "Até quando, Senhor, santo e verdadeiro, não julgas e vingas nosso sangue nos que moram na terra?" (6:10). Em Apocalipse 19 escuta o canto de vitória: "Aleluia!... porque teus juízos [os de Deus] são verdadeiros e justos... vingou o sangue de seus servos da mão dela [a grande meretriz]" (vs. 1, 2). Apocalipse 20:4 mostra a vindicação dos mártires. Esta é uma evidência adicional da progressão contínua da história da salvação entre Apocalipse 4 a 6 e 19 e 20. A justiça que se solicita em Apocalipse 6 chega a ser a que se outorga em Apocalipse 19 e 20. 4. Pode detectar um quarto paralelismo simétrico nas duas séries que falam de juízo: a seqüência das sete trombetas nos capítulos 8 e 9 mostra correspondências surpreendentes com a seqüência das sete taças (ou pragas) em Apocalipse 16. Ambas as séries proféticas descrevem juízos de Deus e usam símbolos idênticos. Ambas as seções adotam o motivo do êxodo hebreu com suas pragas-juízos que revelam a majestade do Deus de Israel. Entretanto, chega a ser patente que as pragas de Apocalipse 16 são mais intensas e extensas que as pragas das trombetas, que afetam só uma terça parte do mundo. As taças com as pragas representam os juízos finais de Deus sobre a última geração de um mundo rebelde. Seu cenário é depois que terminou o tempo de graça (Apoc. 15:7, 8). Isto confirma a composição literária do livro no qual as trombetas estão colocadas na parte histórica, enquanto que as taças com as 7 pragas últimas estão estritamente na divisão do juízo final. A progressão clara de tempo que se dá a entender entre os juízos das trombetas e das pragas mostra o caráter misericordioso de Deus, que é "tardio para a ira" (Êxo. 34:6), no aumento gradual da intensidade dos juízos. As trombetas de Apocalipse 8 e 9 formam os tipos de admoestação durante a era cristã, dos juízos sem misericórdia nas últimas pragas de Apocalipse 16, que se derramarão ao fim da história. 5. Finalmente, a visão profética de Apocalipse 12 mostra alguns paralelos chamativos com os últimass sobre Babilônia que aparecem no capítulo 17. Ambas as visões descrevem uma "mulher" simbólica (12:1; 17:1) e uma besta de 7 cabeças e 10 chifres (13:1; 17:3). Uma vez mais notamos o avanço no tempo nestas seqüências proféticas. As "coroas" do dragão mudam das 7 cabeças aos 10 chifres entre Apocalipse 12 e 13. Em Apocalipse 17:10 ouvimos que 5 dos 7 poderes ímpios "caíram, um existe, e o outro ainda não chegou". Desta maneira se declara enfaticamente o desenvolvimento no tempo. A linha de demarcação entre a era histórica e o juízo apocalíptico pode ver-se no fim de Apocalipse 14. O capítulo 15 começa com o anúncio da terminação da mediação celestial no templo de Deus. Por conseguinte, Apocalipse 1-14 abrange a era cristã por meio de vários ciclos progressivos de seqüências proféticas. Entender-se-á melhor cada seqüência profética no Apocalipse se se levar em conta seu complemento correspondente na outra divisão do livro. Por exemplo, o significado do misterioso capítulo 17 (com seu juízo sobre a besta com 7 cabeças) pode entender-se

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adequadamente só na perspectiva do cumprimento gradual de Apocalipse 12 e 13, onde esta besta aparece descrita em seu surgimento histórico e desenvolvimento como o anticristo. Estes exemplos de correspondência literária entre as duas divisões principais do Apocalipse implicam um princípio inerente de interpretação: Cada unidade profética deve relacionar-se com sua própria divisão e tema teológico, já seja com a era histórica da igreja (Apoc. 1-14) ou com o juízo futuro, depois que tenha terminado o tempo de graça (Apoc. 15-22). A progressão entre as duas divisões nos leva a interpretar as trombetas e os selos como seqüências proféticas que cobrem a história da igreja, enquanto que as pragas se descrevem como juízos específicos do tempo do fim. Podem encontrar-se ocasionalmente algumas exortações morais dentro da divisão onde aparece o juízo (17:9-12; 16:15; 18:1, 4; 20:6; 19:9). Isto coloca ao milênio de Apocalipse 20 na era futura, depois que terminar o tempo de graça (cap. 15). Entender toda a intenção da profecia e do cumprimento requer uma relação cuidadosa das partes correspondentes em ambas as divisões. Este procedimento segue o plano arquitetônico do Apocalipse. Desse modo, ao vincular a teologia e a composição, o Apocalipse revela a chave para sua compreensão. Portanto, não é válido isolar do arranjo total do livro qualquer versículo ou seção. Análise Estrutural Muitos expositores apresentaram um esboço detalhado da estrutura do livro. Dividem o livro em 5, 6 ou 7 séries de visões. Alguns dividem cada uma destas ulteriormente em 7 unidades ou septenários, segundo o exemplo das 7 igrejas, os 7 selos, as 7 trombetas e as 7 pragas. Merril C. Tenney e outros distinguem dentro das séries independentes de Apocalipse 12 a 14, 7 personagens simbólicos (a mulher, o dragão, o menino, Miguel, a besta do mar, a besta da terra, o cordeiro) e dentro de Apocalipse 21 e 22, 7 "coisas novas". Entretanto, parece melhor concentrar-se no significado dos explícitos septenários que apresenta João das igrejas (caps. 2 e 3), os selos (cap. 6), as trombetas (caps. 8 e 9) e as pragas (cap. 16). Cada série de setes contém uma seqüência completa que lhe é própria. Entretanto, em forma notável, depois do sexto selo, depois da sexta trombeta e depois da sexta praga, há um intervalo especial com uma visão concentrada, que trata de explicar com mais detalhe os eventos precedentes em cada série, com assuntos pastorais para o povo de Deus do tempo do fim. Maxwell denomina a estes parêntese nas visões: "… cenas de obrigações ou encargos para o tempo do fim, e de segurança".[5] Estes intervalos pastorais pertencem às visões mais significativas e consoladoras de Apocalipse (Apoc. 7; 10, 11; 16:15). Estas passagens do tempo do fim requerem nossa atenção especial. Os 3 últimos septenários terminam com a dramática vinda de Cristo em juízo (6:12-17) ou com os sinais de sua guerra santa contra os ímpios (11:19; 16:17-21). Estas terminações apocalípticas de cada cadeia indicam que as 3 séries não são 3 seqüências cronológicas, que cada uma segue à outra. Pelo contrário, repetem a mesma seqüência histórica vista sob perspectivas diferentes. Cada vez o septenário seguinte intensifica o foco sobre os eventos finais, como em uma escada em caracol. Isto cria uma urgência cada vez maior no Apocalipse. Como explicou Robert H. Mounce: "Cada nova visão, intensifica a realização do juízo vindouro. Assim como uma tormenta que se arma no mar, cada nova crista da onda conduz a história mais perto de seu destino final".[6] Precisamos reconhecer o estilo literário de recapitulação no Apocalipse. O princípio de repetição e ampliação já está presente nos esboços proféticos de Daniel (Dan. 2, 7, 8, 11 ). Dessa forma, o estilo de recapitulação e intensificação que usa João, adotou-o do estilo literário do livro apocalíptico de Daniel. Tanto no prólogo (Apoc. 1:2) como no epílogo (22:6), João anuncia que o tema do Apocalipse é: "As coisas que logo devem acontecer". Isto é tomado diretamente do livro de Daniel (Dan. 2:28, 29, 45, nas versões gregas), com a exceção do termo "logo" ou "breve" que agora é acrescentado pelo próprio João. O livro do Daniel também serve como modelo para o tema teológico de João: o grande conflito entre Cristo e sua igreja por um lado, e Satanás e os poderes de seu anticristo pelo outro. Assim como Daniel, a ênfase de João está sobre o

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resultado do conflito, o juízo universal-cósmico e a ulterior restauração do reino de Deus na terra. Como assinalou George K. Beale, "a idéia de um juízo cósmico, escatológico, não é um tema principal de nenhum dos livros do Antigo Testamento exceto no de Daniel".[7] Pode-se inferir que o Apocalipse representa o desenvolvimento cristocéntrico das profecias do Daniel. André Feuillet até chamou o Apocalipse "o livro do Daniel do cristianismo".[8] As repetidas alusões a Daniel 2 neste livro, sugerem que o Apocalipse de João tem o propósito de ser a continuação e o desenvolvimento ulterior das profecias de Daniel. Observamos que os ciclos proféticos dos selos (Apoc. 4-7), das trombetas (caps. 8-11) e das pragas (caps. 15 e 16) rodeiam a parte central do livro, que se encontra nos capítulos 12 a 14. Esta unidade, dentro de si mesmo, descreve o desenvolvimento principal da história da igreja. Começa com o primeiro advento de Cristo durante o Império Romano (12:1-5), continua com a igreja no deserto por 1.260 dias proféticos ou 3 ½ tempos proféticos (12:6, 14) e finaliza com a igreja remanescente do tempo do fim (12:17). Apocalipse 13 desenvolve o tema do anticristo e seu falso profeta. Apocalipse 14 revela o ultimato de Deus para um mundo que está unido em uma rebelião contra Deus. Esta chamada final para a restauração da verdadeira adoração produz um povo de Deus fiel antes que chegue o juízo (ver 14:6-12). Dessa forma, o tema da igreja como a comunidade da salvação nos últimos dias não só se acha no começo e no fim do livro, mas sim também constitui o núcleo do Apocalipse. Este arranjo literário confirma a convicção de que o Apocalipse não contém simplesmente 7 cartas a 7 igrejas (caps. 2 e 3). Todo o Apocalipse como um tudo indivisível está dirigido como uma carta profética apostólica à igreja universal. Através do arranjo simétrico do livro, João enfatiza que a comunidade cristã é o ponto focal do Apocalipse. Todos os termos e as imagens simbólicas devem relacionar-se com Cristo e com seu povo como o verdadeiro Israel de Deus. Nos capítulos restantes do livro, João usa o estilo de um paralelismo contrastante entre Babilônia como "a grande meretriz" (17:1) e a Nova Jerusalém como "a esposa do Cordeiro" (21:9), e por essa razão ensina a relação destas duas seções finais (17:1-19:10 e 19:11-22:5). Juntas descrevem dramaticamente o duplo tema de retribuição e recompensa. O fato de que ambas as cenas – a queda de Babilônia e o triunfo da Nova Jerusalém – seja introduzida pelo próprio anjo das pragas (cap. 16; ver 17:1; 21:9), sugere que toda a seção de Apocalipse 17-22 é o desenvolvimento ulterior da dupla colheita do mundo que se apresenta em Apocalipse 14:14-20. Permanecemos admirados ante a engenhosa concepção do Apocalipse de João e o aceitamos como a habilidade artística da inspiração divina. Concordamos com C. Mervyn Maxwell quando afirma que... "… o Apocalipse é um livro que põe de manifesto uma arte interior inspirada por Deus e escrito com amante e inteligente devoção. Inclusive a forma em que Deus e São João nos fizeram chegar, confirma nossa convicção de que o Senhor se preocupa conosco porque nos ama".[9] Esboços Simétricos O esboço mais singelo do Apocalipse que mostra a composição literária de um paralelismo inverso é o seguinte acerto: A - A igreja militante Caps. 1-3 B - Cristo começa a guerra Caps. 4:1-8:1 C - Chamado de trombeta para arrepender-se Caps. 8:2-11:19 D - Panorama da era cristã Caps. 12-14 C1 - Termina o tempo de prova: juízos retributivos Caps. 15 e 16 B1 - Cristo termina a guerra Caps. 17-20 A1 - A igreja triunfante Caps. 21 e 22 Um esboço mais detalhado da composição literária do Apocalipse é apresentado por Elisabeth Schüssler Fiorenza da seguinte maneira: A - Prólogo, 1:1-8 B - A comunidade sob juízo, 1:9-3:22 (7 mensagens) C - O reino de Deus e de Cristo, 4:1-9:21; 11:14-19 (7 selos e 7 trombetas) D - A comunidade e seus opressores, 10:1-11:13; 12:1-15:4

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A comissão profética, 10:1-11:13 Inimigos da comunidade, 12:1-14:5 Colheitas escatológicas, 14:6-20; 15:2-4.

C1 - O juízo de Babilônia / Roma, 15:1, 5-19:10 As sete pragas, 15:5-16:21 Roma e seu poder, 17:1-18 Juízo sobre Roma, 18:1-19:10

B1 - O juízo final e a salvação, 19:11-22:9 A1 - Epílogo, 22:10-21. O esboço mais detalhado da estrutura quiástica do Apocalipse é apresentado por Kenneth A. Strand em seu estudo: "The Eight Basic Visions" [As oito visões básicas]. Também coloca Apocalipse 11:19 a 14:20 como a cúpula das visões históricas.11 Em todos os esboços, a mensagem básica do livro se destaca claramente no centro: Apocalipse 12-14 (ampliado pelo parêntese do Apoc. 10 e 11). Esta parte principal do livro enfoca a igreja do Senhor Jesus como a comunidade adoradora durante a era cristã. Dentro desta estrutura, o farol de luz da profecia muda da igreja apostólica à igreja no deserto e finalmente se estende à comunidade remanescente no tempo do fim (caps. 12-14). Não se pode fazer um estudo responsável pelas profecias do tempo do fim se se divorciarem algumas porções seletas da Escritura de seus contextos inalienáveis. O Apocalipse reiteradamente dirige seu feixe de luz sobre a conclusão dos ciclos proféticos dos selos e das trombetas, de maneira que é necessária a perspectiva de cada ciclo para entender uma visão específica do tempo do fim e sua mensagem de consolo. Isto é o mais imperioso já que os apóstolos aplicam as profecias do tempo do fim do Antigo Testamento a todo o período entre os adventos de Cristo e não meramente a algum segmento específico da história da salvação. Por exemplo, tanto Pedro como Paulo vêem a profecia do tempo do fim de Joel 2:32 como já em processo de cumprimento na igreja apostólica e em seu alcance missionário mundial do Pentecostes (ver Hech. 2:16-21; Rom. 10:9-13). Mas o Apocalipse de João aplica Joel 2:32 em sua consumação final à última geração dos seguidores de Cristo (ver Apoc. 7 e 14:1-5; 17:12-14; 18:1-4; 19:11-21). Este modelo de cumprimentos do Novo Testamento aponta à dinâmica de um cumprimento progressivo das profecias do Israel do tempo do fim. O Apocalipse constitui a pedra fundamental de todas as revelações proféticas desde Moisés. As dimensões apocalípticas de todos os outros livros da Bíblia encontram sua consumação no Apocalipse de João. Referências Para a Bibliografia 1. A. Y. Collins, The Apocalypse. New Testament Message, t. 22, p. x. 2. K. A. Strand, "The Eight Basic Visions" [As Oito Visões Básicas], Simpósio sobre o Apocalipse. t. 1, p. 35. 3. Maxwell, Apocalipsis: sus revelaciones, 54. 4. Strand, Simpósio sobre o Apocalipse. t. 1, p. 30. 5. Maxwell, Apocalipsis: sus revelaciones, p. 61. 6. Mounce, The Book of Revelation, p. 46. 7. Beale, The Use of Daniel in Jewish Apocalyptic Literature and in the Revelation of St. John, p. 414. 8. Feuillet, The Apocalypse, p. 65. 9. Maxwell, Apocalipsis: sus revelaciones, p. 62. 10. Schüssler Fiorenza, Apêndice. 11. Strand, "The Eight Basic Visions" [As Oito Visões Básicas], Simpósio sobre o Apocalipse, t. 1, pp. 36, 37. FONTES BIBLIOGRÁFICAS Collins, Adela Y. The Apocalypse. New Testament Message [O Apocalipse. Mensagem do Novo Testamento]. Wilmington, Michael Glazier, 1979. Feuillet, André The Apocalypse [O Apocalipse] (Staten Island, Nova York: Alvorada House,

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1965; da ed. francesa [Paris: Desclée de Brouwer, 1962]). Maxwell, Mervyn. Apocalipsis: sus revelaciones (Florida, Buenos Aires: Asociación Casa Editora Sudamericana, 1991). Mounce, Robert H. The Book of Revelation [O livro do Apocalipse]. The New International Commentary on the New Testament [O novo comentário internacional sobre o Novo Testamento]. Grand Rapids, MI: Wm. B. Eerdmans, 1977. Schüssler Fiorenza, Elisabeth. Invitation to the Book of Revelation [Convite ao livro do Apocalipse]. Garden City, Nova York: Doubleday 1986. Tenney, Merril C. Interpreting Revelation [Interpretando o Apocalipse]. Grand Rapids, MI: Wm. B. Eerdmans, 1973. Artigos Beale, George K. "The Influence of Daniel upon the Structure and Theology of John's Apocalypse" [A influência de Daniel sobre a estrutura e a teologia do Apocalipse de João], JETS 27 (1984), pp. 413-423. Strand, Kenneth A. "The Eight Basic Visions" [As Oito Visões Básicas], Simpósio sobre o Apocalipse. t. 1, cap. 2.

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XII - A VISÃO DO TRONO DO CRIADOR - Apocalipse 4 O Cristo ressuscitado chama agora a João para que suba no Espírito para ter uma nova visão e um olhar dentro do céu (Apoc. 4:1). O Espírito lhe permite ver através de "uma porta aberta" na sala do trono do Todo-poderoso. Tal privilégio foi concedido só a poucos servos de Deus, tais como Miquéias (1 Reis 22:19-22), Isaías, Ezequiel e Daniel. Enquanto Isaías estava adorando no templo de Jerusalém tinha visto Deus sentado em um trono no céu, rodeado por serafins e anjos. Esses guardiões do trono estavam louvando a Deus cantando: "Santo, santo, santo, Jeová dos exércitos; toda a terra está cheia de sua glória" (Isa. 6:3). Enquanto estava cativo em Babilônia, também foi permitido ao profeta e sacerdote Ezequiel ver os céus abertos. Conta que viu a semelhança de 4 criaturas viventes sustentando o trono de Deus. Esses seres levavam o trono semelhante a uma carruagem para Jerusalém para convocar a cidade apóstata diante do divino Juiz. Descreve os 4 seres como tendo 4 asas e 4 rostos que se pareciam com os rostos de um homem, um leão, um boi e uma águia (Ezeq. 1:5, 6, 10). Sobre as cabeças dos 4 portadores do trono, Ezequiel viu "uma expansão a maneira de cristal maravilhoso" (v. 22) e ainda por cima daquele firmamento, "a figura de um trono" com alguém sentado sobre ele que tinha "a forma de homem" (v. 26). Ao redor do trono viu um arco íris (v. 28). O impacto dessa visão do trono foi tão entristecedora que Ezequiel diz que ao contemplá-la "caí com o rosto em terra" (v. 28, NBE). Quando João estando em Patmos descreve sua visão do trono, usa palavras que fundem as duas visões anteriores de Isaías e Ezequiel. Embora contemple a majestade do Deus de Israel, só descreve a Deus por sua aparência de brilho que resplandecia como o "jaspe" e a vermelha "cornalina" [BJ]. Além disso, vê um halo em forma de um arco-íris, semelhante em aspecto à esmeralda, ao redor do trono (Apoc. 4:3), como se queria significar que a graça divina rodeia a justiça onipotente. João também vê 4 criaturas viventes ao redor do trono que se parecem com os que Ezequiel havia descrito (vs. 6, 7). Entretanto, João os combina com os serafins da visão de Isaías, porque diz que cada ser tinha 6 asas em vez de 4 (Apoc. 4:9) e tinha um rosto em vez de 4 (ver Ezeq. 1:6). Também diz que os seres estavam "cheios de olhos pela frente e por trás" (Apoc. 4:6), um detalhe tirado das rodas do trono de Deus que aparece no Ezequiel 1:18. O Apocalipse mostra uma fluidez com o simbolismo hebreu que desafia nossa exigência de exatidão fotográfica. Uma característica importante na visão que João teve do trono, que não se vê nos profetas anteriores nem nas visões apocalípticas judaicas, é a de 24 pequenos tronos ao redor do trono de Deus sobre os quais estão sentados 24 anciões [presbúteros] "vestidos de roupas brancas, com coroas de ouro em suas cabeças" (Apoc. 4:4). Estes anciões, que se mencionam 12 vezes no Apocalipse (4:4, 10; 5:8, 11, 14; 7:11-13; 11:16; 14:3; 19:4), são aparentemente o cumprimento da predição apocalíptica de Isaías, de que Jeová manifestaria seu reino glorioso "diante de seus anciões" (Isa. 24:23). Com freqüência o número 24 se entendeu como a soma de 12 e 12, sugerindo 12 representantes de Israel e da igreja respectivamente, mas seria arbitrário partir o grupo de anciões em duas unidades. Jesus havia dito que seus apóstolos se sentariam "em tronos para julgar as doze tribos de Israel" (Luc. 22:30; Mat. 19:28). João vê seu cumprimento em sua visão do milênio em Apocalipse 20:4. Entretanto, as visões do trono com os anciões em Apocalipse 4 e 5 têm o propósito de descrever uma atividade celestial nos dias de João. Isso significa que João mesmo não pode ser um dos 24 anciões que estão no céu. Além disso, os 24 anciões não se desempenham como juizes, mas sim como sacerdotes reais que adoram a Deus com cânticos de louvor e lançam suas coroas diante do trono (Apoc. 4:10), têm harpas em suas mãos e apresentam a Deus as orações de seu povo em suas taças de ouro cheias de incenso (5:8). No Israel da antiguidade ficaram à parte 24 ordens sacerdotais da tribo do Levi para atender a ordem do culto sagrado e também 24 ordens para o ministério de profetizar, com o acompanhamento de liras, harpas e címbalos (1 Crôn. 24:3, 4; 25:1, 6, 9-31). Isto indica que João viu no céu os representantes do povo de Deus do velho pacto. No Apocalipse se faz uma distinção entre os "anciões" e os anjos de Deus (Apoc. 5:11; 7:11 ) e

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constitui um grupo novo e sem par ante o trono de Deus. Formam um característico importante da visão do capítulo 4. Podem ver-se como homens glorificados que saíram vitoriosos sobre o pecado e a tentação. Todos morreram como vencedores. Têm três características que cumprem as promessas de Cristo aos fiéis em Apocalipse 2 e 3: os tronos, os vestidos brancas e as coroas [stéfanos] de vitória (ver 3:5, 11, 21). L. W. Furtado comenta: "Estando [Apoc. 4] precisamente depois destas promessas [de Apoc. 3], a visão dos 24 anciões parece ser a segurança da realidade celestial das promessas".1 Que os anciões estejam sentados sobre tronos que rodeiam o trono de Deus, é de grande significado: "A estes personagens lhes dá uma posição e honra que nega aos anjos mais elevados, até às criaturas viventes; mas sua condição e honra correspondem perfeitamente às promessas feitas precisamente um pouquinho antes no Apocalipse aos escolhidos".2 Assim podem ser identificados com os santos gloriosos que foram levantados dos mortos pouco depois da própria ressurreição de Jesus (ver Mat. 27:52, 53; Ef. 4:8). Ellen White o explica assim: "Aqueles favorecidos santos ressurgidos saíram glorificados. Eram escolhidos e santos de todos os tempos, desde a criação até os dias de Cristo... Davam testemunho de que fora pelo Seu grande poder que tinham sido chamados de suas sepulturas".3 "Ascenderam com Ele, como troféus de Sua vitória sobre a morte e o sepulcro".4 A presença dos anciões no céu expressa a convicção de que de fato tinha tido lugar a exaltação de Cristo. Como assistentes sacerdotais de Cristo, representam o Israel espiritual e confirmam a realidade gloriosa da esperança de Israel no reino messiânico de Deus. Um dos anciões assegura a João em termos hebreus que o "Leão da tribo do Judá, a raiz do Davi, venceu" (Apoc. 5:5). Seu ministério na sala do trono de Deus é uma segurança para que as igrejas permaneçam fiéis até o fim. Sobre isto comenta Feuillet: "A idéia de que os santos do Antigo Testamento estão presentes durante todo o desenvolvimento da história, e que têm um vivo interesse no destino dos cristãos, não é nada escasso de magnificência. Dificilmente se pode ser mais eloqüente ao expressar a unidade interna que governa toda a história da salvação e o elo essencial que une a ambos os testamentos".5 Além disso, João descreve a presença dinâmica do Espírito de Deus ao declarar: "E, diante do trono, ardem sete tochas de fogo, que são os sete Espíritos de Deus" (Apoc. 4:5; ver 1:4). O profeta Zacarias tinha explicado as sete luzes sobre a menorá do templo como "os olhos do Senhor, que se passeiam por toda a terra" (Zac. 4:10, NBE). Na visão do trono de Apocalipse 5, João conecta este sétuplo Espírito com Cristo como o Soberano de sua igreja (v. 6), ressaltado dessa maneira que o Espírito é o Espírito de Cristo. A Liturgia Celestial Depois de João descrever o que viu no céu, começa a dizer o que escutou: a adoração de Deus em uma liturgia celestial. Ouviu os cantos antifonais de adoração dos diferentes coros. Os quatro seres angélicos ou serafins dirigiam em uma doxologia jubilosa, derivada do canto de adoração dos serafins do Isaías 6: "Santo, santo, santo é o Senhor Deus Todo-poderoso, que era, que é, e que há de vir" (Apoc. 4:8). O aspecto novo desta doxologia é o louvor acrescentado de Deus como o Senhor da história: "que era, que é, e que há de vir". Esta seqüência de passado, presente e futuro está formulada intencionalmente para distingui-la das descrições que aparecem em Apocalipse 1:4 e 8, com o fim de proclamar a soberania de Deus na história, desde o começo até o juízo final (ver Apoc. 21:5). Esta caracterização do Deus de Israel garante o destino prometido da humanidade. O Criador não abandonará as obras de suas mãos (Sal. 138:8). Sua "vinda" determina o futuro do mundo. Deus nunca é simplesmente um espectador dos assuntos humanos, mas sim está ativamente envolto em lhes dar forma. Os serafins já louvam ao Deus Todo-poderoso porque é a fonte e a causa de toda a realidade criada, especialmente, de seu povo eleito, o novo Israel de Deus. Todas as vezes que os serafins entoam sua doxologia de dar "glória, honra e ações de graças"

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ao Soberano do universo, os 24 anciões respondem prostrando-se ante a majestade que está sobre o trono. Lançam suas coroas ante o trono e adoram a Deus com uma aclamação significativa de louvor: "Senhor, digno é de receber a glória e a honra e o poder; porque você criou todas as coisas, e por sua vontade existem e foram criadas" (Apoc. 4:11 ). Os anciões exaltam a dignidade de Deus, fundamentalmente porque foi sua vontade planejar todas as coisas por sua sabedoria infinita (ver Gên. 1), e produzir toda a realidade por seu poder criador. Esta fé hebraica permaneceu como algo básico para a adoração de Deus na igreja apostólica (ver At. 4:24; 14:15; 1 Ped. 4:19). Merece uma atenção especial a forma em que os 24 anciões se dirigem ao Criador, como "Senhor e nosso Deus" (Apoc. 4:11, NBE). Assim como seus predecessores, o imperador Domiciano insistiu em que todo mundo devia adorá-lo como o "Dominus et Deus noster" ("Senhor e nosso Deus"). A adoração ao imperador ficou em vigor por meio do sacerdócio pagão em um ritual anual na província romana da Ásia Menor. Ao fazer frente a essa ameaça de totalitarismo, João anima a igreja a permanecer firme (ver Apoc. 2:10). A descrição de um "arco-íris" ao redor do trono de Deus (Apoc. 4:2) expressa a fidelidade do Criador a suas promessas. Ele é Deus fiel, que guarda o pacto (Deut. 7:9), o "fiel Criador" (1 Ped. 4:19). A visão do trono celestial busca evocar nossa adoração de Deus em espírito e em verdade de maneira que a igreja sobre a terra possa ser uma com a igreja no céu. A visão de João do trono de Deus continua com a cena do capítulo 5. Referências 1 Hurtado, "Revelation 4-5 in the Light of Jewish Apocalyptic Analogies", JSNT 25 (1985), p. 113. 2 Ibid. 3 Ellen White, PE 184. 4 Ellen White, DTN 786. 5 Feuillet, The Apocalypse, p. 211.

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XIII - A ENTRONIZAÇÃO DO CORDEIRO DE DEUS - Apocali pse 5 O propósito do Apocalipse de João é revelar as coisas que "devem acontecer" (Apoc. 1:1, 19; 4:1). De modo surpreendente, o que João vê agora em visão, não trata a respeito do que ia passar na terra e sim o que estava acontecendo no céu! A razão para este notável ponto central de atividade em Apocalipse 4 e 5 pode encontrar-se na revelação de que as decisões na sala do trono celestial determinam o curso da história humana, tal como o surgimento e a queda dos governos humanos, mas acima de tudo, o destino final do mundo. Daniel tinha assinalado a soberania de Deus sobre a humanidade: "Ele muda os tempos e as idades; tira reis e põe reis" (Dan. 2:21; ver também 4:17; 5:18, 26-28). Depois da devastação de Jerusalém, Jeremias assegurou aos judeus: "Mas tu, Jeová, permanecerás para sempre; teu trono de geração em geração" (Lam. 5:19). Jesus se submeteu ao poder brutal do governador romano Pilatos, mas declarou: "Nenhuma autoridade teriam contra mim, se não fosse dada de acima" (João 19:11). Agora o Soberano no céu revela a João um esboço da era da igreja, com ênfase especial sobre o resultado final como está determinado por sua vontade soberana. Este futuro se centra em Cristo e em seu povo do pacto, e se revela por meio da visão do "livro" de Apocalipse 5 a 7. O livro divino [biblíon] em Apocalipse 5 está selado com 7 selos que ninguém nem no céu nem na terra é digno de abrir. Isto é altamente significativo. Nenhum ser criado, seja anjo ou santo, tem a dignidade de Jesus exaltado. Só Cristo pode dar a conhecer os juízos de Deus, abrindo os selos (Apoc. 6 e 7), e pelas visões seguintes e esclarecedoras do Apocalipse. Dessa maneira Cristo dá sentido à história mundial. Ele colocou a humanidade em direção a uma meta que Deus predeterminou em sua sala do trono no céu. Por isso as visões do trono de João são fundamentais para todo o livro. G. R. Beasley-Murray percebeu isto e disse: "Neste particular, estes capítulos [Apoc. 4 e 5] constituem o fator fundamental da estrutura que mantém unido o livro, porque o resto das visões são montadas nesta estrutura principal".1 A ênfase sobre o livro divino na mão direita de Deus amplia o foco de Deus como o Criador em Apocalipse 4 para Deus como o Redentor de sua criação. A visão do trono no capítulo 5 revela a maneira na qual Deus "tem que vir" (Apoc. 4:8) na história da humanidade para cumprir seu propósito. A Majestade sobre o trono tem em sua mão direita um livro escrito em ambos os lados, e selado com 7 selos (5:1). Alguns viram aqui uma similitude com o rolo do livro desdobrado que Ezequiel recebeu de Deus, no qual estavam escritas por diante e por trás "lamentos e lamentações e ais" (Ezeq. 2:9, 10). Outros vêem um paralelo mais adequado com o rolo de Deuteronômio, o qual, como o livro do pacto, devia dar-se a um recém-coroado rei em Israel (ver Deut. 17:18-20; 2 Reis 11:12). Em sua tese, Ranko Stefanovic tira esta ampla conclusão: "Ao tomar o livro, a Cristo lhe encomendou a soberania do mundo (cf. 1 Ped. 3:22; Fil. 2:9-11); o livro significaria então a legítima transferência do reino. Em tal contexto, também tem um caráter de testamento, e pode chamar-se também o livro da herança de Cristo. Desde que a transferência do reino se refere à recuperação da posse do direito que se perdeu pelo pecado, o livro tem todas as características do livro da redenção ou a escritura da venda. Ao tomar o livro, todo o destino da humanidade se coloca nas mãos do Cristo entronizado; por isso é na verdade o livro celestial do destino. Ele julgará sobre a base de seu conteúdo, por isso é o livro de juízo".2 O conteúdo deste livro selado, descrevendo os juízos de Deus sobre um mundo hostil, como aparece pelos capítulos que seguem, coloca-se nas mãos do Senhor ressuscitado, o Cristo todo-poderoso e onisciente (ver Apoc. 5:6). Apocalipse 5 assegura que por meio da vitória de Cristo na terra, será restaurado o reino de Deus (ver Apoc. 21:5). "Todavia, um dos anciãos me disse: Não chores; eis que o Leão da tribo de Judá, a Raiz de Davi, venceu para abrir o livro e os seus sete selos. Então, vi, no meio do trono e dos quatro seres viventes e entre os anciãos, de pé, um Cordeiro como tendo sido morto. Ele tinha sete chifres, bem como sete olhos, que são os sete Espíritos de Deus enviados por toda a terra. Veio, pois, e tomou o livro da mão direita daquele que estava sentado no trono" (Apoc. 5:5-7). Um dos santos glorificados no céu explica que as promessas de Deus a Israel encontraram seu

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cumprimento no Senhor ressuscitado, e se refere a três profecias essencialmente messiânicas e as combina em uma proclamação de cumprimento: Gênese 49:9, 10; Isaías 11:1-10 e 53:7. "Em nenhum outro lugar no Novo Testamento estão agrupados os termos reais mais significativos em relação com Cristo e seu ministério posterior a sua ressurreição assim como no sentar-se à direita sobre o trono do Pai".3 Mas, por que Cristo Jesus foi o único considerado digno? Por que o plano de Deus para a restauração de todas as coisas se faz depender da dignidade moral do Messias davídico e de sua missão como o Cordeiro de Deus (Apoc. 5:6)? W. C. Van Unnik explicou bem isto: "Ele foi provado em seus sofrimentos e ganhou a vitória. A grandeza de sua obra se descreve no v. 9: de todas as nações redimiu escravos e fez, a estes que antes eram escravos de todos os povos, inclusive os pagãos (!), ser o povo santo de Deus, sacerdotes e reis, a prerrogativa típica de Israel (Êxo. 19:5 e seguintes)".4 João vê o Cristo crucificado e ressuscitado sendo exaltado e entronizado na sala do trono celestial como o Soberano da história. A transferência do livro selado do Pai a Cristo o faz Senhor sobre o desenvolvimento da história do planeta, dado que sua tarefa é abrir os selos do livro do destino do homem. Cristo começa a executar os decretos para o mundo e a igreja. A história humana com seu juízo final se coloca nas mãos do Senhor ressuscitado. Sem Cristo, a história do mundo é um enigma e não tem finalidade. Portanto, todo o céu estala em louvor quando Cristo é declarado digno de receber o livro divino do destino. "E, quando tomou o livro, os quatro seres viventes e os vinte e quatro anciãos prostraram-se diante do Cordeiro, tendo cada um deles uma harpa e taças de ouro cheias de incenso, que são as orações dos santos" (Apoc. 5:8). Em resposta à coroação de Cristo no céu, todos os serafins e os anciões cantam com adoração um "novo cântico" ao Cordeiro de Deus: "Cantavam um cântico novo: Tu mereces receber o rolo e soltar seus selos, porque foste morto e com teu sangue adquiriste para Deus homens de toda raça e língua, povo e nação; fizeste deles linhagem real e sacerdotes para nosso Deus e serão reis na terra" (Apoc. 5:9, 10, NBE). Este cântico é "novo" porque agora foi entronizado o Rei legítimo. Seu triunfo sobre o pecado, Satanás e a morte sobre a terra é considerado no céu como de importância decisiva (ver também Fil. 2:9-11). George Ladd declara: "Se não tivesse vindo em humildade, como Salvador sofredor, não teria vindo como Messias conquistador".5 Este cântico é novo porque está apoiado no fato de que o Cordeiro foi morto, e demonstrou ser digno de abrir os selos do livro como se fora seu próprio testamento. Em outro sentido, o cântico dos serafins e dos anciões é novo porque está apoiado não só sobre acontecimentos passados, mas também olha para o futuro da humanidade redimida: "E serão reis na terra" (Apoc. 5:10). Isso significa que aos fiéis se outorgará o privilégio de compartilhar o reino com Cristo (Luc. 22:29, 30; Apoc. 3:21). João vê o coro celestial aumentando cada vez mais, até que milhões de anjos se unem com sua doxologia de séptuple louvor ao Cordeiro: "Proclamando em grande voz: Digno é o Cordeiro que foi morto de receber o poder, e riqueza, e sabedoria, e força, e honra, e glória, e louvor" (Apoc. 5:12; cf. l Crôn. 29:11-13, para Jeová). O coro continua aumentando até que finalmente João vê todas as criaturas no céu, na terra e debaixo da terra (os mortos) somar suas vozes aos coros celestiais na exaltação tanto do Pai como do Cordeiro: "Então, ouvi que toda criatura que há no céu e sobre a terra, debaixo da terra e sobre o mar, e tudo o que neles há, estava dizendo..." (Apoc. 5:13; ver também Fil. 2:10, 11 ). Aqui Cristo recebe o reconhecimento cósmico-universal de sua deidade porque "toda criatura" adora a Deus e ao Cordeiro. Na visão de João, o círculo de adoradores foi em constante aumento. Primeiro, o círculo íntimo dos 4 serafins, depois se acrescentaram os 24 anciões seguidos pelos milhões de milhões de anjos. Finalmente, o círculo mais exterior de todos os seres criados no universo se unem na adoração e louvor da majestade de Deus. Este é o objetivo final para o qual avança a história e que se cumprirá no fim. O céu antecipa esta celebração do reino de Deus e do Cordeiro na Nova Jerusalém (Apoc. 21:22-27; 22:1-5). Hoje a igreja pode tomar fôlego com esta segurança. Seus melhores dias

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estão no futuro. O reino de Deus será restaurado. Bruce M. Metzger faz esta aplicação: "O propósito primitivo do autor não é tanto descrever a liturgia do céu, como o é o dar esperança e um sentido de vitória a seu povo sobre a terra na luta que lhe espera no futuro".6 Beasley-Murray assinala corretamente que "o característico importante do rolo selado não são os juízos que acompanham a abertura dos selos [Apoc. 6-9], e sim o acontecimento supremo ao qual conduzem".7 A Abertura dos Selos A visão do trono de Apocalipse 5 não descreve a cena do juízo de Daniel 7, como alguns sustentam. As diferenças entre ambas as visões são muito assinaladas. Primeiro, a intenção da visão do trono que teve João é revelar o começo do ministério e reinado celestial de Cristo devido a sua entronização como o Senhor ressuscitado, a iniciação de uma nova era de salvação, a era messiânica. A visão de Daniel descreve um juízo no céu que inaugura o ministério final de Cristo quando o anticristo governou a terra durante 3½ tempos proféticos (Dan. 7:8-11, 25, 26). Jon Paulien declara: "O juízo não tem lugar nos capítulos 4 e 5 quando os selos ainda têm que ser abertos".8 Apocalipse 5 descreve o gozo de êxtase que há no céu pela abnegação, ressurreição e entronização de Cristo como Rei-Sacerdote no céu, que o capacita a restaurar o reino de Deus sobre a terra. As ações de Cristo de abrir os 7 selos do livro se parecem com o ritual da abertura de um testamento, que na cultura romana estava fechado com 7 selos.9 Quando se abria um testamento, lia-se em voz alta ante as testemunhas originais e depois, executava-se. Th. Zahn declara: "O documento assegurado com sete selos é um símbolo facilmente compreendido da promessa e segurança dada por Deus a sua igreja do futuro reino [basiléia]. Esta disposição irrevogável de seus bens ocorreu faz muito tempo, foi documentada e selada, mas incluso no foi levada a cabo. A herança ainda está guardada no céu (1 Ped. 1:4), e portanto o testamento incluso no foi aberto nem levado a cabo".10 Esta comparação ilustra o significado da abertura do divino livro: pode ler-se e realizar-se como um testamento por Cristo só depois de sua morte como sacrifício. A abertura de um selo por Cristo revela uma nova fase da história da igreja, até que o sexto selo apresente o terrível dia do juízo para todos os que rechaçaram o reino do Cordeiro. Referências 1 Beasley-Murray, Revelation, p. 108. 2 Stefanovic, The Background and Meaning of the Sealed Book of Revelation 5, p. 322. 3 Ibid., p. 318. 4 Van Unnik, " 'Worthy is the Lamb'. The Background of Apoc 5", p. 460. 5 Ladd, El Apocalipsis de Juan: Un comentario, p. 55. 6 Metzger, Breaking the Code. Understanding the Book of Revelation, p. 54. 7 Beasley-Murray, Revelation, p. 123. 8 Paulien, em Simposio sobre el Apocalipsis, T. 1, P. 187. 9 Zahn, Introduction to the New Testament, t. 3, p. 394. 10 Ibid. FONTES BIBLIOGRÁFICAS Livros Beasley-Murray George R. Revelation [O Apocalipse]. New Century Bible Commentary [Comentário da Bíblia do Novo Século]. Grand Rapids, MI: Wm. B. Eerdmans, 1983. Feuillet, André. Johannine Studies [Estudos Joaninos]. Staten Island, Nova York: Alvorada House, 1966. Cap. I: "The Twenty-Four Elders of the Apocalypse" [Os 24 Anciões do Apocalipse]. Ladd, George E. El Apocalipsis de Juan: Un comentario. Trad. A. Canclini. Miami, Florida: Editorial Caribe, 1978.

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Metzger, Bruce M. Breaking the Code. Understanding the Book of Revelation [Decifrando o Código: Entendendo o Livro do Apocalipse]. Nashville, TN: Abingdon Press, 1993. Stefanovic, Ranko The Background and Meaning of the Sealed Book of Revelation 5 [O Antecedente e o Significado do Livro Selado de Apocalipse 5]. Tese doutoral inédita, Universidade Andrews. Berrien Springs, MI: Andrews University Press, 1995. White, Ellen G. O Desejado de Todas as Nações. ___________. Primeiros Escritos. Tatuí, S. Paulo: Casa Publicadora Brasileira. Zahn, Th. Introduction to the New Testament [Introdução ao Novo Testamento]. Grand Rapids, MI: Kregel Publications, ET 1953. 3 ts. Artigos Hurtado, L. W. "Revelation 4-5 in the Light of Jewish Apocalyptic Analogies" [Apocalipse 4 e 5 à Luz de Analogias Apocalípticas Judaicas], JSNT 25 (1985), pp. 105-124. Müller, H. P. "Die Himmlische Ratsversammlung. Motivgeschichtliches zu Apc 5.1-5" [O concílio celestial. Antecedente do motivo histórico de Apocalipse 5:1-5], Zeitschrift für die Neutestamentliche Wissenschaft [Revista para a Ciência do Novo Testamento] 54 (1963), pp. 254-267. Paulien, Jon. "Seals and Trumpets: Some Current Discussions" [Os Selos e as Trombetas: Algumas Discussões Atuais], Simpósio sobre o Apocalipse. T. 1, cap. 10. Van Unnik, W. C. " 'Worthy is the Lamb'. The Background of Apoc 5" ["Digno é o Cordeiro". O Antecedente de Apoc. 5], Mélanges Bibliques [Miscelâneas Bíblicas]. Ensaios em honra de R. Béda Rigaux. A. Descamps e R. A. do Hallaux, eds. Duculot, 1970, pp. 445-461.

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XIV - COMPREENDENDO OS SETE SELOS - Apocalipse 6 Os comentadores da Bíblia com freqüência equiparam a estrutura paralela dos 7 selos em Apocalipse 6 com o discurso profético de Jesus nos Evangelhos sinóticos. Beasley-Murray fala por muitos quando diz: "Nenhuma passagem no Novo Testamento está mais intimamente relacionado a este elemento [os selos] dentro do livro do Apocalipse que o discurso escatológico dos Evangelhos, Marcos 13 e as passagens paralelos (Mat. 24 e Luc. 21)".1 Colocando as duas seqüências proféticas em forma paralela, elas mostram que os 7 selos apresentam as mesmas características e a mesma ordem consecutiva do o discurso do Monte das Oliveiras.

Marcos 13 (E PARALELOS) APOCALIPSE 6 1. Guerras verso 7 e Mat. 24:6 Guerra verso 2 2. Luta internacional verso 8 e Mat. 24:7 Luta verso 4 3. Terremotos verso 8 e Mat. 24:7 Fome versos 5,6 4. Fomes verso 8 e Mat. 24:7 Pestilência verso 8 5. Perseguição verso 9,10 e Mat. 24:9 Perseguições versos

9,10 6. Pregação do evangelho

Versos 10,13; Mat. 24:14 Tempo De Espera verso 11

7. Eclipses, queda de estrelas

versos 24,25; Mat. 24:29

Eclipses, queda de estrelas

versos 12,13

8. Temor pela vinda de Cristo

versos 19; Luc. 21:25,26; Mat. 24:30

Temor pela ira do Cordeiro

versos 15-17

Esta comparação mostra que devemos considerar os selos consecutivos em Apocalipse 6 como a exposição ulterior de Cristo de seu discurso anterior no que tinha resumido a seus discípulos o que lhes aconteceria durante sua missão no mundo. Isto significa que os selos predizem não só os juízos do tempo do fim mas também os juízos messiânicos durante toda a época da igreja. Em Mateus 24 Jesus adotou o estilo apocalíptico de Daniel de repetição e ampliação. Duas vezes Jesus começou seu esboço com sua própria geração e depois passou rapidamente adiante na história até o fim da era da igreja, como se pode ver por Mateus 24:1-4 e 24:15-31. Jesus anunciou que as guerras que viriam, as fomes, as perseguições e a apostasia não precederiam imediatamente a sua volta: "Quando ouvirdes falar de guerras e revoluções, não vos assusteis; pois é necessário que primeiro aconteçam estas coisas... E cairão a fio de espada e para todas as nações serão levados cativos; e Jerusalém será pisada pelos gentios, até que os tempos dos gentios se completem" (Luc. 21:9, 24). Jesus lhes advertiu especificamente contra uma expectativa iminente: "Respondeu ele: Vede que não sejais enganados; porque muitos virão em meu nome, dizendo: Sou eu! E também: Chegou a hora! Não os sigais" (Luc. 21:8). Se os selos desenvolvem em forma adicional Mateus 24, então os selos igualmente se estendem sobre os séculos do período da era cristã. Esta perspectiva histórica dos selos expressa o fluxo estrutural do livro do Apocalipse da época histórica até o juízo final. O Significado da Era Cristã É instrutivo refletir sobre o significado das predições de Cristo de guerras, desastres na natureza, perseguições dos santos e uma crescente apostasia da verdade, o amor e a moral. Os selos de Apocalipse 6 assinalam o significado de toda a história ao colocá-los em uma perspectiva do tempo do fim, isto é, à luz dos destinos eternos. Tanto a igreja como a história mundial recebem seu significado transcendental da soberania e os juízos de Cristo (cap. 5). Ele coloca a história do homem no contexto mais amplo do conflito espiritual entre Deus e Satanás e seus respectivos princípios de governo. O apóstolo Paulo reconheceu isto: "Porque a mim me parece que Deus nos pôs a nós, os apóstolos, em último lugar, como se fôssemos condenados à morte; porque nos tornamos espetáculo ao mundo, tanto a anjos, como a homens" (1 Cor. 4:9).

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O crisol da história humana é o meio pelo qual Cristo santifica os que aceitam seu senhorio e testemunho de verdade sob as circunstâncias mais adversas. Por outro lado, demonstra sobre a terra os amargos frutos da rebelião contra ele, perdoando as vistas de seus inimigos, desde Caim para frente. Ellen White oferece esta profunda revelação: "Satanás está constantemente em atividade, com intensa energia e sob mil disfarces para representar falsamente o caráter e governo de Deus. Com planos extensos e bem organizados, e com poder maravilhoso está ele a agir para conservar sob seus enganos os habitantes do mundo. Deus, o Ser infinito e todo sabedoria, vê o fim desde o princípio, e, ao tratar com o mal, Seus planos foram de grande alcance e compreensivos. Foi o Seu intuito não somente abater a rebelião, mas demonstrar a todo o Universo a natureza da mesma. O plano de Deus estava a desdobrar-se, mostrando tanto Sua justiça como Sua misericórdia, e amplamente reivindicando Sua sabedoria e justiça em Seu trato com o mal".2 Cada calamidade proporciona uma nova oportunidade para que o homem caído se volte para Deus. Cristo ensinou esta lição a partir dos acontecimentos de seu próprio tempo (ver Luc. 13:1-5; também João 9:2, 3). No passado do Israel, Deus tinha enviado quatro juízos sobre seu povo do pacto, que era rebelde: guerra, praga, fome e morte (ver Lev. 26:23-26; Deut. 32:23-25, 42 ["minhas setas"]; Ezeq. 14:12-14, 21). Mas esses juízos nunca foram o juízo final de Deus. Serviram como juízos preliminares, para motivar seu povo rebelde a voltar-se para Deus (ver Osé. 5:14, 15; 6:1-3). Quanto a isto também o Antigo Testamento é um livro de lições para a igreja (1 Cor. 10:11 ). Cristo deseja que a igreja compreenda que os juízos vindouros ainda estão limitados por sua vontade. Deus ainda está no comando mesmo que seus filhos morram como mártires. Também coloca limites ao cavaleiro amarelo sob o quarto selo (Apoc. 6:8). De igual maneira, Apocalipse 12 e 13 afirmam que o anticristo recebe não mais de 3 ½ tempos proféticos, enquanto que à última rebelião é concedida apenas "uma hora" (Apoc. 17:12). Apocalipse 5 ensina que a responsabilidade pelos juízos de Deus foi transferida a Cristo. Os selos apocalípticos, e por extensão as trombetas e as pragas, todos devem entender-se como juízos messiânicos. O Cristo entronizado é o Senhor da história, ou como Leão de Israel ou como o Cordeiro de Deus (Apoc. 5:5, 6). Isto significa que os que rechaçam o sangue do Cordeiro terão que enfrentar a "ira do Cordeiro" (Apoc. 6:16, 17). Pela fé em Cristo os homens podem confiar que a era cristã tem significado, porque leva a humanidade adiante, a seu destino glorioso. Desenrolando o Livro da Providência Em Apocalipse 6, os selos desenvolvem a visão da coroação de Cristo como o Cordeiro imolado que aparece no capítulo 5. O Cordeiro só abre os selos do rolo da escritura da providência. Sempre que Cristo abre um dos 4 primeiros selos, um dos 4 serafins diz "como com voz de trovão": "Vem e vê!" Em resposta aparecem 4 cavalos em forma consecutiva, cada um com uma cor diferente: branco, vermelho, preto e amarelo. Estes cavalos levam cavaleiros diferentes. São enviados à terra um depois que o outro cumpriu sua missão atribuída. Entendemos que cada cavalo se une aos prévios já enviados, de maneira que finalmente os 4 cavalos cavalgam juntos sobre a terra até o fim da era cristã. Isto quer dizer que os primeiros 4 selos ainda não estão completos, inclusive no tempo do fim. João está em dívida com o Antigo Testamento para esta linguagem figurada de cavalaria celestial. Em suas visões, Zacarias descreve 4 cavalos com cores diferentes (Zac. 1:8-17 e 6:1-8). Isto indica que devemos considerar o significado dos 4 cavalos simbólicos do Zacarias antes de interpretar os 4 cavaleiros apocalípticos. Em Zacarias 1 atribuiu-se aos cavaleiros o dever de inspecionar o mundo gentio com o fim de observar qualquer movimento para restaurar Jerusalém e Judá (1:10). Este relatório foi frustrante: nada estava acontecendo (v. 11). Entretanto, Deus assegura ao profeta que apesar das aparências contrárias, ele estava trabalhando por Jerusalém e Sião com grande zelo (v.

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14), enquanto que ao mesmo tempo estava irado contra as nações (v. 15). O Deus do Israel voltaria para Sião, e seu templo e sua cidade seriam reconstruídos. Seriam estabelecidas paz e prosperidade permanentes (8:12). No capítulo 6, o profeta apresenta o complemento de sua primeira visão. Esta vez vê 4 cavalos diferentes com carros de guerra [merkaba], cada um enviado pelo Deus do céu em todas as direções da terra, para levar a cabo o plano redentor de Deus para Jerusalém. O anjo que interpreta, explica que os 4 carros significam "os quatro ventos dos céus" que são enviados como ministros do Senhor para cumprir a vontade redentora de Deus em todo mundo hostil (Zac. 6:5; cf. Sal. 104:3, 4; Jer. 49:36; Isa. 66:15). A "terra do norte", ou Babilônia, é escolhida como um lugar exemplar onde o Deus de Israel deseja governar e estabelecer seu descanso (Zac. 6:8). Isto significa que os 4 carros de guerra da visão foram enviados ao mundo com uma missão dupla: (1) submeter todos os poderes políticos do mundo à vontade do Deus de Israel (ver Ag. 2:7-10, 20-23); (2) reunir a todos os crentes israelitas e gentios em Jerusalém e no monte Sião (Zac. 8:8, 20-23). O propósito fundamental é a realização do plano de redenção de Deus e a restauração da verdadeira adoração (vs. 22, 23). No Apocalipse, Cristo envia seus cavaleiros apocalípticos à terra, desta vez com uma missão do novo pacto (Apoc. 6:2-8): para conquistar os corações humanos a Cristo com o arco e as flechas do evangelho, e para levar a humanidade à reflexão por meio de alguns juízos limitados como antecipações do castigo final de Deus por sua rebelião contra Cristo. 1 - O Primeiro Selo "Vi, então, e eis um cavalo branco e o seu cavaleiro com um arco; e foi-lhe dada uma coroa; e ele saiu vencendo e para vencer" (Apoc. 6:2). O cavalo branco leva um cavaleiro com um arco e uma coroa de vencedor, saindo como "vencendo e para vencer". Alguns expositores modernos interpretam este cavaleiro apocalíptico como símbolo da avidez do homem para conseguir poder e domínio mundial. O argumento é que os 4 cavaleiros de Apocalipse 6 iniciam juízos, de modo que parece "inapropriado ao contexto" ver aqui a conquista de Cristo por meio do evangelho. Os cavalos se usavam para liberar a guerra. Entretanto, cada símbolo deve receber seu significado de seu próprio contexto e nele podemos descobrir a natureza dessa guerra. Os selos desenvolvem mais amplamente a visão do trono de Apocalipse 5, onde Cristo é descrito como o Senhor ressuscitado, simbolizado pelo Leão que tinha triunfado (Apoc. 5:5). Estabeleceu sua vitória por sua morte na cruz, simbolizado pelo Cordeiro imolado (V. 6). Depois enviou os discípulos, dando-lhes autoridade, para ir a todas as nações e fazer discípulos (Mat. 28:19). Deu-lhes o poder do Espírito Santo para conquistar para ele, até os fins da terra (At. 1:8), assim como conquistou a seu "inimigo" Saulo perto da porta de Damasco (cap. 9). Continua conquistando através do poder do evangelho e a "espada de dois fios" de sua Palavra (Heb. 4:12), com o fim de ganhar para seu reino os corações sinceros de homens e mulheres até o fim do tempo de prova. Além disso, a estrutura quiástica do Apocalipse coloca a Cristo como o Guerreiro em Apocalipse 19:11-16, como a contraparte significativa e como a consumação do tempo do fim de Apocalipse 6:2. As profecias messiânicas do Antigo Testamento representavam ao Rei davídico como conquistando com arco e flechas (ver Sal. 45:4, 5; Deut. 32:23; Hab. 3:8-11; Sal. 7:12; 21:12). Cristo anunciou que veio trazer a "espada" para todos os que rechaçam sua paz (Mat. 10:34; Luc. 12:51-53). Portanto podemos interpretar o cavalo branco do primeiro selo como o cavalo do evangelho que oferece a todos os homens a justiça perfeita de Cristo. Este cavaleiro evangélico ainda conquista homens e mulheres ao redor do globo (1 João 5:4, 5). A última confissão de fé de Paulo ilustra o poder do cavaleiro do cavalo branco: " Combati o bom combate, completei a carreira, guardei a fé" (2 Tim. 4:7).

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2 - O Segundo Selo "Quando abriu o segundo selo, ouvi o segundo ser vivente dizendo: Vem! E saiu outro cavalo, vermelho; e ao seu cavaleiro, foi-lhe dado tirar a paz da terra para que os homens se matassem uns aos outros; também lhe foi dada uma grande espada" (Apoc. 6:3, 4). Os três seguintes cavaleiros apocalípticos têm autoridade para trazer consigo juízos severos sobre a terra. Não devemos considerar estas incursões que produzem morte, fome e praga como os resultados das guerras seculares. Durante séculos houve paz no Império Romano, a "pax romana", desde Armênia até a Espanha. O cavalo vermelho representa o espírito de oposição ao cavaleiro do evangelho, ou guerra contra o povo de Cristo. Jesus tinha advertido que o testemunho de seus seguidores causaria uma oposição encarniçada: "Não pensem que vim trazer paz à terra; não vim trazer paz, senão espada" (Mat. 10:34; ver a conexão com os vs. 32 e 33 e Luc. 12:51-53). Isto foi o que experimentou a igreja apostólica, como pode ver-se nas cartas de Cristo às igrejas em Esmirna e Pérgamo (Apoc. 2:10, 13). Por outro lado, só Cristo traz a paz do coração: "Deixo-vos a paz, a minha paz vos dou; não vo-la dou como a dá o mundo" (João 14:27); "E a paz de Deus, que ultrapassa todo entendimento, guardará os vossos corações e as vossas mentes em Cristo Jesus" (Filip. 4:7). Os césares romanos não toleravam nenhum pensamento de Cristo como o supremo Rei e Senhor. Tentaram erradicar todas as testemunhas públicas cristãs até o tempo da conversão do Constantino no século IV. A interpretação de que o cavalo vermelho significa a perseguição religiosa-política por causa de Cristo fica confirmado pela carta de Cristo à igreja da Esmirna (Apoc. 2:8-11 ) e o clamor dos mártires degolados sob o quinto selo (6:9). Em qualquer lugar que se rechaça o Príncipe da paz, os resultados são luta e violência, não só dentro da igreja mas também na sociedade. O derramamento de sangue nos selos se cumpre em dois níveis: primeiro, dentro da igreja de Cristo e segundo, contra a igreja ao executar os seguidores de Cristo durante toda a época da igreja. 3 - O Terceiro Selo "Quando abriu o terceiro selo, ouvi o terceiro ser vivente dizendo: Vem! Então, vi, e eis um cavalo preto e o seu cavaleiro com uma balança na mão. E ouvi uma como que voz no meio dos quatro seres viventes dizendo: Uma medida de trigo por um denário; três medidas de cevada por um denário; e não danifiques o azeite e o vinho" (Apoc. 6:5, 6). A cor "preta" do terceiro cavalo apocalíptico é o contrário exato do primeiro cavalo. Isto sugere que agora se rechaça ou se desconhece a justiça de Cristo. Uma situação assim resulta em fome espiritual, o que nos recorda do juízo predito por Amós (8:11). A palavra de Deus e o testemunho de Jesus chegaram a ser tão escassos que podem simbolizar-se pelo fato de pesar o principal alimento do homem em uma balança (Apoc. 6:5, 6). Este símbolo está tomado de Levítico 26:26, onde primeiro se refere ao juízo de Deus sobre um povo rebelde que sofreria uma fome literal (ver também Ezeq. 4:16). A Escritura também usa a balança para simbolizar um veredicto celestial (Dan. 5:27). O terceiro cavaleiro apocalíptico anuncia uma fome da Palavra e o Espírito de Deus na igreja pós-apostólica, sugerindo que chegará a ser fraco na verdade do evangelho, substituindo-a por um sistema de crenças doutrinais chamado ortodoxia. Mas as doutrinas e cerimônias não podem alimentar a alma, tal como Cristo admoestou em sua carta à igreja de Pérgamo (Apoc. 2:14-16). O terceiro selo se aplica especialmente a esse período da história da igreja quando a Igreja e o Estado se uniram e começaram a impor a ortodoxia sobre a consciência humana. A ordem: "Não danifiques o azeite e o vinho" (6:6), sugere um juízo limitado de Deus, que Deus protege seu evangelho em um tempo de escassez espiritual. Revela que Deus cuida ternamente de seu povo. 4 - O Quarto Selo "Quando o Cordeiro abriu o quarto selo, ouvi a voz do quarto ser vivente dizendo: Vem! E olhei, e eis um cavalo amarelo e o seu cavaleiro, sendo este chamado Morte; e o Inferno o estava

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seguindo, e foi-lhes dada autoridade sobre a quarta parte da terra para matar à espada, pela fome, com a mortandade e por meio das feras da terra" (Apoc. 6:7, 8). O cavaleiro do cavalo amarelo é chamado Morte, seguido pelo Hades (a tumba). Os quatro juízos foram enviados antes pelo Deus de Israel a seu povo do antigo pacto (ver Ezeq. 14:21). A cor de um pálido mortal sugere um estado contínuo de decadência espiritual e de um endurecimento maior do coração. O resultado é a apostasia da alma. Podemos pensar nas heresias e enganos como uma conseqüência de rechaçar a verdade do evangelho (ver Apoc. 2:20-23). É o caminho à morte eterna. Então, as "feras da terra" são uma antecipação simbólica das bestas perseguidoras de Apocalipse 13, as quais também receberam permissão de "fazer guerra contra os santos e vencê-los" (vs. 7, 14, 15). O quarto cavaleiro concentra os resultados do trabalho dos cavaleiros anteriores: morte e condenação. Representa a situação prolongada da igreja medieval. Os primeiros 4 selos seguem o esboço do discurso profético do Jesus em Mateus 24:6-8. A diferença entre Mateus 24 e os selos apocalípticos está no fato de que no Apocalipse pode detectar-se um significado mais profundo porque o primeiro cavaleiro é o evangelho de Cristo. Os selos 2 a 4 mostram um endurecimento crescente da incredulidade dos habitantes da terra, ao rechaçar a mensagem do evangelho do cavaleiro do cavalo branco. Sua morte espiritual será selada finalmente na morte eterna quando receberem a "ira do Cordeiro" durante o sexto selo (Apoc. 6:15-17). Embora haja uma progressão histórica, os selos refletem a experiência de todos os que aceitam ou rechaçam o evangelho de Cristo. Isso significa que a história pode repetir-se e que o passado outra vez pode chegar a ser o futuro. Ellen White faz esta aplicação pastoral do terceiro e quarto selos: "Hoje se vê o mesmo espírito que o que está representado em Apocalipse 6:6-8. A história se repetirá. O que foi, voltará a ser. Este espírito trabalha para confundir e desconcertar. Ver-se-á dissensão em cada nação, tribo, língua, e povo; e os que não tiveram um espírito para seguir a luz que Deus deu por meio de seus oráculos viventes, através de suas agências assinaladas, chegarão a confundir-se. Seu juízo revelará debilidade. Na igreja se verão a desordem, a luta e a confusão".3 Em resumo, os cavaleiros apocalípticos dos selos 2 a 4 encontraram seu cumprimento da igreja pós-apostólica que se corrompeu, mas a apostasia e a perseguição não estão limitadas à história passada. Como declara Roy C. Naden: "Uma vez solto, cada cavalo contínua até a segunda vinda".4 5 - O Quinto Selo "Quando ele abriu o quinto selo, vi, debaixo do altar, as almas daqueles que tinham sido mortos por causa da palavra de Deus e por causa do testemunho que sustentavam. Clamaram em grande voz, dizendo: Até quando, ó Soberano Senhor, santo e verdadeiro, não julgas, nem vingas o nosso sangue dos que habitam sobre a terra? Então, a cada um deles foi dada uma vestidura branca, e lhes disseram que repousassem ainda por pouco tempo, até que também se completasse o número dos seus conservos e seus irmãos que iam ser mortos como igualmente eles foram" (Apoc. 6:9-11 ). Esta imagem simbólica deve interpretar-se pela Escritura. Jesus tinha anunciado que depois das revoltas políticas e os cataclismos naturais, seus discípulos seriam perseguidos (ver Mat. 24:9-11, 21). Depois de abrir o quinto selo, escuta-se o clamor para que se faça justiça divina de todos os que morreram uma morte violenta "por causa da palavra de Deus e por causa do testemunho que sustentavam" (Apoc. 6:9). Este clamor não sai de crentes vivos, e sim simbolicamente de suas "almas" depois de ter sido derramado seu sangue, assim como no caso de Abel, o primeiro mártir. Deus pediu contas a seu assassino com estas palavras: "Que fizeste? A voz do sangue de teu irmão clama da terra a mim" (Gên. 4:10). Isto nos ensina que o Criador nunca esquecerá seus filhos fiéis e faz responsáveis a seus assassinos! Considera o lugar onde suas

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testemunhas morreram como um "altar" onde foi derramado o sangue de seu sacrifício (cf. Lev. 4:7). De igual maneira, Paulo considerou que sua iminente decapitação pela ordem do imperador Nero, era uma morte como sacrifício a Deus (2 Tim. 4:6). A visão do quinto selo serve como um paralelo esclarecedor de pisotear e pisar os santos que aparece nas visões do Daniel (Dan. 7-12). A visão do Daniel 7 se estende dos impérios mundiais sucessivos, através da divisão de Roma, até o surgimento do chifre pequeno e a perseguição dos santos durante a Idade Média, até o tempo do fim com a cena de seu juízo majestoso na sala do trono de Deus. Naquele tempo, o "Ancião de dias" pronunciará seu veredicto em favor dos santos (v. 22). O significado do quinto selo deve ser aberto com a chave de Daniel. Especialmente a visão de Daniel da prevaricação assoladora e do pisar dos verdadeiros adoradores aparece no antecedente do quinto selo. O clamor dos mártires: "Até quando... não julgas, nem vingas o nosso sangue" (Apoc. 6:10), corresponde ao mesmo clamor em Daniel 8: "Até quando durará a visão...entregando o santuário e o exército para serem pisoteados?" (v. 13). O quinto selo revela que o momento para a vindicação deve esperar "um pouco de tempo", porque incluso não chegou a perseguição do tempo do fim. A resposta de Deus à pergunta das testemunhas assassinadas em Apocalipse 6 é: "Então, a cada um deles foi dada uma vestidura branca, e lhes disseram que repousassem ainda por pouco tempo..." (v. 11). As vestimentas brancas dadas aos mártires expressam o cumprimento da predição de Daniel de uma vindicação forense dos santos caluniados (ver Dan. 7:22, 25). Isto dá segurança ao povo de Deus de que ele cuida deles, ouve seu clamor por justiça divina e os vindicará publicamente. Esta consideração leva à conclusão de que o quinto selo alcança até o fim da era cristã, quando Deus executará seus juízos com respeito aos santos e seus perseguidores (Apoc. 11:15, 18). O clamor dos mártires cristãos evoca "a ira do Cordeiro" sobre os que mataram os seguidores de Cristo. A Palavra de Deus e o Testemunho de Jesus Antes de passar ao sexto selo, devemos prestar atenção à causa declarada pela qual morreram todos os verdadeiros mártires. O quinto selo diz que morreram "por causa da palavra de Deus e por causa testemunho que sustentavam" (Apoc. 6:9). À primeira vista, podemos pensar que o "testemunho" que tinham se refere ao testemunho pessoal de sua fé em Cristo e na palavra de Deus. Isto certamente é verdade. Mas uma comparação com as referências cruzadas que há no Apocalipse indica que "o testemunho" pelo qual deram sua vida foi o testemunho da própria revelação de Jesus, transmitida pelo Espírito de profecia através dos apóstolos (ver 19:10). João usa usualmente o termo "testemunho" para referir-se ao testemunho dado pelo próprio Jesus. O próprio livro do Apocalipse é chamado "o testemunho destas coisas [de Jesus] nas igrejas" (Apoc. 22:16). João escreve que estava na ilha de Patmos "por causa da palavra de Deus e o testemunho de Jesus Cristo" (1:9). Isto indica que o sentido mais amplo da frase "o testemunho de Jesus Cristo" é "o evangelho como a revelação da vida e obra de Cristo".5 Isto significa que os Evangelhos do Novo Testamento estão incluídos no testemunho de Jesus. O Apocalipse se abre com a declaração que continua a revelação que Deus deu a Jesus para a igreja (Apoc. 1:1). Portanto, no Apocalipse, João dá testemunho sobre "a palavra de Deus e o testemunho de Jesus Cristo" (v. 2). O Apocalipse como um todo, junto com a proclamação do evangelho do Novo Testamento é parte do testemunho de Jesus. Identifica a igreja remanescente que aparece na profecia do capítulo 12 por esta dupla característica: "Os que guardam os mandamentos de Deus e têm o testemunho de Jesus Cristo" (v. 17). O Apocalipse chama à igreja a ser fiel a esta dupla norma da verdade. Esta expressão repetida no livro do Apocalipse serve como uma linha de demarcação entre a adoração verdadeira e falsa de Deus durante toda a era cristã (ver 20:4). Dentro deste amplo contexto chega a ser claro que os mártires durante a era cristã sofreram uma morte violenta por causa de ter mantido a palavra de Deus e do testemunho do Jesus (6:9). Os mártires se aferraram [éijon] ao testemunho que tinham recebido de Jesus e dessa forma foram testemunhas fiéis. "Aceitaram-no, recusaram renunciar a ele, e por conseguinte foram executados. O 'testemunho' não menos que a 'palavra' era uma posse objetiva dos mártires".6 Para um estudo mais amplo do termo apocalíptico "o

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testemunho de Jesus", ver mais adiante, no capítulo XXI desta obra, sobre Apocalipse 12:17. 6 - O Sexto Selo "Vi quando o Cordeiro abriu o sexto selo, e sobreveio grande terremoto. O sol se tornou negro como saco de crina, a lua toda, como sangue, as estrelas do céu caíram pela terra, como a figueira, quando abalada por vento forte, deixa cair os seus figos verdes, e o céu recolheu-se como um pergaminho quando se enrola. Então, todos os montes e ilhas foram movidos do seu lugar. Os reis da terra, os grandes, os comandantes, os ricos, os poderosos e todo escravo e todo livre se esconderam nas cavernas e nos penhascos dos montes e disseram aos montes e aos rochedos: Caí sobre nós e escondei-nos da face daquele que se assenta no trono e da ira do Cordeiro, porque chegou o grande Dia da ira deles; e quem é que pode suster-se?" (Apoc. 6:12-17). A abertura do sexto selo descreve a resposta final de Cristo ao clamor das almas "debaixo do altar" (Apoc. 6:10). Anuncia sua chegada como o Guerreiro divino com os mesmos sinais cósmicos no céu e na terra como as que fez Deus quando apareceu como o Rei de Israel. Moisés descreveu a manifestação do Jeová no monte Sinai dizendo: "Houve trovões, e relâmpagos, e uma espessa nuvem sobre o monte, e mui forte clangor de trombeta, de maneira que todo o povo que estava no arraial se estremeceu. ... Todo o monte Sinai fumegava, porque o Senhor descera sobre ele em fogo; a sua fumaça subiu como fumaça de uma fornalha, e todo o monte tremia grandemente. E o clangor da trombeta ia aumentando cada vez mais" (Êxo. 19:16,18, 19). Esta vinda de Deus sobre o monte Sinai esteve acompanhada por um terremoto violento, o escurecimento do sol com uma nuvem espessa e fumaça, e um som forte de trombeta. Fez com que todo o povo tremesse com temor (Êxo. 20:18, 19). Esta descrição de Moisés foi adotada pelos profetas de Israel como o arquétipo de todas as teofanias seguintes. Descreveram cada visitação do Senhor em favor de seu povo com sinais cósmicos similares às da teofania do monte Sinai. Além do terremoto e dos trovões, acrescentaram granizo, uma forte chuva, o secamento repentino de um rio, um pânico aterrador entre os inimigos de Deus e seu povo, e até o sol, a lua e as estrelas como participando da guerra santa de Deus a favor de seu povo do pacto (ver Jos. 3:13; 4:22-24; 5:1; Qui. 5:20, 21; 1 Sam. 7:10; 14:15, 20; Jos. 10:11-14). Este aspecto cósmico proveu uma prova dramática de que o Deus do pacto também era o Criador do céu e da terra. Fez com que as nações pagãs reconhecessem que o Deus vivente estava do lado do Israel (Êxo. 14:25). Raabe de Jericó disse: "Ouvindo isto, desmaiou-nos o coração, e em ninguém mais há ânimo algum, por causa da vossa presença; porque o Senhor, vosso Deus, é Deus em cima nos céus e embaixo na terra" (Jos. 2:11 ). Um grande terremoto, chuva e tormenta de granizo e o obscurecimento do sol e das estrelas chegaram a ser parte dos anúncios da aparição de Deus nas predições do "dia de Jeová" (Yom Yahveh) como o dia do juízo (ver Ezeq. 38:19-23; Joel 2:30, 31; Isa. 24:1-4, 13, 18-23; Jer. 4:23-28). A Teologia Hebraica dos Sinais Cósmicos A predição de sinais cósmicos no céu e na terra não tinha o propósito de ser uma predição de alguns fenômenos isolados e intermitentes. Os sinais cósmicos têm um significado teológico na teologia hebraica porque foram descritas como manifestações do Criador vindo como Rei e Guerreiro santo em favor de seu povo do pacto (ver o estudo de 8 exemplos no cap. VI, sob o subtítulo: "A teologia de Cristo dos sinais cósmicos"). Joel declara que o obscurecimento do sol ocorrerá "antes que venha o dia grande e espantoso de Jeová" (Joel 2:31). Entretanto, em suas outras duas predições Joel não indica nenhuma perspectiva dos sinais celestes fora do ponto de vista padrão profético: que os sinais introduzem e acompanham a manifestação do dia do juízo (2:10, 11; 3:15, 16). Os profetas nunca sugeriram que podemos esperar para ver algum sinal insólito no céu ou na

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primeiro terra, antes de nos converter ao Senhor. Seu simbolismo cósmico tinha o propósito de motivar o povo de Deus a arrepender-se agora (ver Joel 1:15; 2:1, 10-17). Os profetas nunca estiveram preocupados em ensinar uma ordem determinada de sinais cósmicos. De fato, sentiram-se livres para mudar o modelo dos sinais, algumas vezes deixando que o terremoto precedesse aos cataclismos celestes e outras vezes que o seguisse (Joel 2:10 e 3:15, 16; também Isa. 13:10-13 e 24:18-23; além disso, Jer. 4:23-28). O profeta Ageu inclusive menciona um terremoto apocalíptico como um sinal cósmico: "Porque assim diz Jeová dos exércitos: daqui a pouco eu farei tremer os céus e a terra, o mar e a terra seca; e farei tremer a todas as nações..." (Ag. 2:6, 7). Este futuro terremoto universal não se apresenta como um desastre isolado para informar o mundo da presciência de Deus a respeito de um terremoto vindouro. Ageu apresenta sua predição de uma maneira similar a que houve no Monte Sinai para anunciar a visitação final de Deus sobre a terra, para julgar o mundo e para estabelecer sua glória messiânica sobre a terra (v. 7). A carta aos hebreus aplica a predição do Ageu ao terremoto cósmico ao fim da era cristã: "Agora, porém, ele promete, dizendo: Ainda uma vez por todas, farei abalar não só a terra, mas também o céu. Ora, esta palavra: Ainda uma vez por todas significa a remoção dessas coisas abaladas, como tinham sido feitas, para que as coisas que não são abaladas permaneçam. Por isso, recebendo nós um reino inabalável, retenhamos a graça, pela qual sirvamos a Deus de modo agradável, com reverência e santo temor; porque o nosso Deus é fogo consumidor" (Heb. 12:26-29). Esta aplicação do terremoto profetizado por Ageu mostra que o Novo Testamento toma sua linguagem descritiva literalmente para falar de um terremoto cósmico de todas as "coisas criadas" que ocorrerá no fim da era cristã. Isto corresponde exatamente com a abertura do sexto selo em Apocalipse 6:12: "Houve um grande terremoto..." Não será alguma sinal de advertência que proporcionará lugar para um período de arrependimento. Simplesmente introduzirá a era vindoura de glória messiânica (ver Ag. 2:7-9). O propósito moral tanto de Ageu como da carta aos Hebreus é claramente levar a um compromisso para adorar a Deus agora, não quando ocorrer o terremoto cósmico! Além disso, aprendemos a lição importante de que o terremoto apocalíptico não se apresenta como um precursor isolado do dia do juízo, mas sim como a mesma manifestação desse dia. A Predição de Cristo de Grande Aflição para seus Es colhidos O discurso profético de Jesus está apoiado no livro apocalíptico do Daniel (ver Mat. 24:15). Indicou a seus discípulos onde estavam no esboço profético da história da salvação. Naquele tempo Jerusalém e seu templo estavam a ponto de ser destruídos pelo inimigo de Israel que se aproximava (Luc. 21:21-24), em cumprimento da profecia de Daniel (Luc. 21:22; Dan. 9:26, 27). Além disso, Jesus ressaltou uma preocupação ulterior para seus discípulos que ficariam depois da destruição de Jerusalém. "Porque nesse tempo haverá grande tribulação [thlípsis], como desde o princípio do mundo não tem havido até agora e nem haverá jamais" (Mat. 24:21). Esta maneira de expressar também se deriva da profecia de Daniel e exige um olhar mais detido: Existe um consenso comum de que Cristo em sua predição da "grande tribulação" referiu-se à tribulação do tempo do fim do povo de Deus em Daniel 12:1, a que será abreviada pelo levantamento de Miguel como o Guerreiro divino. Entretanto, Jesus aplicou essa tribulação vindoura a seus próprios seguidores durante toda a era cristã (ver Mat. 24:21, 22, 29). Jesus não restringiu sua aplicação da tribulação do tempo do fim de que fala Daniel a um período determinado dentro da época da igreja. O contexto imediato em Mateus 24 (e em Mar. 13) conecta a "tribulação" diretamente com a destruição de Jerusalém (Mat. 24:21; ver Mar. 13:18, 19). Jesus cobre todos os períodos de angústia para seus verdadeiros seguidores, começando com a tribulação sob o judaísmo e Roma imperial (ver Mar. 13:9; Apoc. 2:10), e depois com a morte de seus discípulos "por todas as nações" (Mat. 24:9, CI) durante os séculos da Idade Média aos quais tinha indicado Daniel 7:25. Mas agora Jesus usou a frase "grande tribulação" (Mat. 24:21, 22) não de Daniel 7 mas sim de Daniel 12:1 (ver o gráfico anterior). Assim como em Daniel 12:1, Jesus enfatizou também a natureza sem precedentes da tribulação na história humana (Mat. 24:21). Anunciou

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que a tribulação seria "abreviada” por causa dos escolhidos naqueles dias ou nenhum sobreviveria àquela aflição (Mat. 24:22; Mar. 13:20). Este "abreviar" os dias corresponde exatamente com a promessa que apresenta Daniel, que Miguel se levantaria "naquele tempo” (o "tempo do fim", Dan. 11:40-45) para liberar a seu povo por meio de sua intervenção sobrenatural (Dan. 12:1). A libertação de Miguel abrevia a última aflição, ou não sobreviveria nenhum do povo de Deus. A divina "interrupção" da aflição global para prevenir a aniquilação completa dos escolhidos dos quais Jesus fala no Mateus 24:22, pode aplicar-se como um cumprimento parcial do surgimento do protestantismo e do seguinte período do Iluminismo ou o "século das luzes", que obteve gradualmente a liberdade religiosa e o fim da perseguição. Em resumo, Jesus predisse dias de "aflição" para seus seguidores não singularizando um tempo particular de perseguição sob o judaísmo, sob Roma imperial, sob Roma papal ou sob a cristandade apóstata. Abrange todo o período entre os dois adventos, com uma ênfase especial sobre a aflição universal e intensiva no fim da história, a qual assinala em Mateus 24:21 com palavras derivadas de Daniel 12:1. Este alcance exaustivo dos dias de aflição é também o alcance do quinto selo em Apocalipse 6:9-11. O clamor dos mártires mortos não provém exclusivamente de um período de perseguição, mas sim de todo o tempo da era cristã "até que se completasse o número de seus conservos, que também tinham que ser mortos como eles" (Apoc. 6:11). A aflição final para os seguidores de Cristo será abreviada pela intervenção e a libertação divinas. Os Sinais Cósmicos Seguem-se à Aflição Final Jesus terminou sua predição profética com esta promessa: "Logo em seguida à tribulação daqueles dias, o sol escurecerá, a lua não dará a sua claridade, as estrelas cairão do firmamento, e os poderes dos céus serão abalados. Então, aparecerá no céu o sinal do Filho do Homem..." (Mat. 24:29, 30). Nesta metáfora cósmica, Jesus também usa as palavras dos profetas. Inclusive combina em uma imagem o que Isaías descreveu em dois conceitos sobre o dia do Senhor (Isa. 13:10 e 34:4). Como a perspectiva de Isaías não se enfocava nos sinais astronômicos em si, a não ser sobre a aparição do Jeová como o Santo guerreiro, assim a mensagem central do Jesus no Mateus 24 não se centra sobre os sinais celestiais como tais, a não ser no "sinal" de que virá como o designado "filho de homem" da profecia do Daniel (Mat. 24:30), e que ele juntará não a nação escolhida, a não ser seus próprios escolhidos de todas as tribos da terra (V. 31; Mar. 13:27; cf. Mat. 8:11, 12). A frase, "logo em seguida à tribulação daqueles dias" (Mat. 24:29), ou "naqueles dias, após a referida tribulação" (Mar. 13:24), encaixa no tempo do fim de Daniel 12:1, o qual também assinalava ao quinto selo de Apocalipse 6:11. Essa "tribulação" seria abreviada por causa dos escolhidos de Cristo mediante o resgate imediato de Miguel (Dan. 12:1), quem aparece com os sinais cósmicos como o Filho do Homem em seu carro de nuvens (Mat. 24:30; Mar. 13:27). Toda a idéia-chave do discurso profético de Jesus é a nova reinterpretação cristológica do dia de Jeová, e esta foi uma notícia espantosa para o judaísmo. O dia do Senhor chegou a ser o dia do Senhor Jesus. Esta verdade fundamental chegou a ser uma parte essencial do evangelho apocalíptico (ver 1 Cor. 1:8; 2 Cor. 1:14; 2 Tes. 2:2; Filip. 1:10). O simbolismo cósmico padrão de Israel, centrado na teofania de Jeová, é reconstituído por Jesus como apoiando-se em sua própria cristofania gloriosa. O segundo advento de Cristo revelará a todas as nações sua glória messiânica como o Filho de Deus. Exegese Literal do Sexto Selo Seguimos o método reconhecido para fazer uma exegese responsável quando examinamos o uso anterior da linguagem e o tema do sexto selo nos outros livros da Bíblia. Nenhum texto no Apocalipse deve ser interpretado isolado de seu contexto imediato e de seu contexto mais amplo. O procedimento contextual é nosso amparo contra qualquer exegese especulativa ou forçada. Permite lançar um olhar novo a nossas interpretações correntes com a possibilidade de descobrir uma compreensão mais adequada. Temos descoberto uma teologia consistente dos sinais cósmicos nas profecias e teofanías do

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Antigo Testamento que estão enraizadas na narração da criação de Gênesis 1. O fato de que o Deus do pacto de Israel é ao mesmo tempo o Criador do céu e da terra proporciona a razão fundamental teológica para os fenômenos naturais excepcionais que ocorrem à aparição do Criador. Tais transtornos, literais e dramáticos, nas leis da natureza sobressaltam tanto a crentes como a incrédulos com um esmagador sentido de insegurança de enfrentar o Criador como o Juiz de toda a terra. Virtualmente, todas as profecias de condenação inclui a linguagem figurada cósmica como a introdução ao dia final da guerra santa a favor do Israel de Deus. Aprendemos do discurso profético de Jesus (Mat. 24 e paralelos) que sua volta como o "filho de homem" de Daniel 7 foi o "sinal" designado (Mat. 24:30) para o qual olhar. Os sinais celestiais sobrenaturais introduzirão e acompanharão imediatamente sua vinda. Então se lamentarão todas as linhagens da terra, quer dizer, estarão cheios de um remorso amargo por causa dele (Mat. 24:30; Apoc. 1:7). Não há nenhuma sugestão em Mateus 24, Marcos 13 e Lucas 21 de que os sinais celestiais são sinais de admoestação para arrepender-se e preparar-se para sua vinda. Só o Evangelho de Lucas nos diz que quando acontecerem os cataclismos finais sobre a terra e nos céus, "exultai e erguei a vossa cabeça; porque a vossa redenção se aproxima" (Luc. 21:28). Esse não será o tempo para que os que não se prepararam recebam outro apelo ao arrependimento. George R. Knight o recapitula adequadamente: "Dessa maneira, o modelo do Mateus 24 parece ser que os sinais reais não são sinais da proximidade e sim sinais da vinda. Os sinais menos precisos são para animar os crentes a manter-se vigiando, esperando e trabalhando".7 No Apocalipse, Cristo reiteradamente coloca o evento de sua volta no centro, inclusive como a medula de todo o livro (Apoc. 1:7; 6:12-17; 14:14-20; 17:14; 19:11-21). O sexto selo começa com um estremecimento cósmico que sacode tanto a terra como os céus (6:12-14). Descreve o efeito universal sobre os moradores da terra que não têm refúgio contra a "ira do Cordeiro" (vs. 15-17). O sexto selo nos deixa com a impressão de que haverá uma ruína universal de toda a humanidade. Todos exclamam: "Quem poderá ficar de pé?" (Apoc. 6:17, BJ). A resposta a esta pergunta cheia de ansiedade se apresenta em forma extensa no capítulo 7, um dos capítulos mais consoladores no livro do Apocalipse. Ali encontramos a verdadeira motivação para o arrependimento em preparação para sua vinda: precisamos ser selados com o selo do Deus vivo antes que se soltem os ventos finais de juízo (7:1-3). O Terremoto Apocalíptico O sexto selo se abre com: "E sobreveio grande terremoto" (Apoc. 6:12). Este característico requer uma atenção cuidadosa olhando as referências recíprocas em outros livros da Bíblia. No Antigo Testamento, um "terremoto" tem um significado teológico. Constitui uma característica regular da aparição de Deus a Israel (uma teofania), do tempo quando desceu sobre o monte Sinai com um terremoto (Êxo. 19:18; Sal. 68:7, 8; ver também Sal. 144:5; Isa. 64:1, 3). Enquanto o Antigo Testamento fala freqüentemente de terremotos locais como manifestações das visitações de Jeová como Santo Guerreiro em favor de Israel, os profetas descrevem o último terremoto na história da salvação como um estremecimento cósmico que sacudirá a terra e todos os corpos celestiais (ver Joel 2:10, 11; Isa. 2:19-21; 13:10, 11, 13; Sof. 1:2, 3). Este estremecimento global do céu e da terra como a introdução à glória messiânica de uma nova terra se apresenta na perspectiva apocalíptica de Ageu: "Porque assim diz o Senhor dos Exércitos: Ainda uma vez, daqui a pouco, e farei tremer os céus, e a terra, e o mar, e a terra seca; e farei tremer todas as nações, e virá o Desejado de todas as nações, e encherei esta casa de glória, diz o Senhor dos Exércitos " (Ag. 2:6, 7). A predição de Ageu se aplica a um tremor literal cósmico que introduz a segunda vinda de Cristo em Hebreus 12:26 e 27. Este terremoto apocalíptico se distingue claramente de todos os terremotos locais anteriores que Jesus tinha anunciado como o "princípio de dores" (Mat. 24:7, 8; Mar. 13:8). Todos os terremotos locais podem ser interpretados como chamados a despertar para preparar-se para a vinda de Cristo; como fortes motivações para arrepender-se antes que

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seja muito tarde (ver Luc. 13:4, 5). A qual das duas categorias pertence o "grande terremoto" do sexto selo (Apoc. 6:12), à cósmica ou a local? Não todos os terremotos que aparecem no Apocalipse se descrevem com o tremor cósmico que sacode tanto o mundo como os corpos celestiais. Por exemplo, o "grande terremoto" em Apocalipse 11:13 está caracterizado por sua colocação em "o segundo ai", durante a sexta trombeta, como um sinal preliminar de advertência, com o propósito de levar ao arrependimento. Além disso o descreve como um tremor local, porque "a décima parte da cidade se derrubou, e pelo terremoto morreram em número de sete mil homens; e todos outros se aterrorizaram e deram glória ao Deus do céu" (Apoc. 11:13). Este tremor local se distingue do terremoto universal que ocorrerá durante a sétima trombeta ou o "terceiro ai" em Apocalipse 11:19, que ulteriormente se amplia na sétima praga (16:17-21). O Grande Terremoto do Sexto Selo (Apoc. 6:11-14) Menciona o sexto selo dois terremotos diferentes, um local (Apoc. 6:12) e um cósmico (v. 14)? Nem a sétima trombeta nem a sétima praga mencionam dois terremotos. Em Mateus 24, Jesus não se referiu a nenhum terremoto particular no tempo do fim. Entretanto, a resposta a nossa pergunta pode encontrar-se no mesmo contexto do sexto selo. O estilo literário de Apocalipse 6:12-14 e 15-17 assinala a seu significado. A primeira unidade dos versículos 12-14 mostra o modelo do ABB1A1, a estrutura típica do paralelismo inverso: A - Há um grande terremoto. B - O sol, a lua e as estrelas funcionam mau. B1 - O céu se desvanece como um pergaminho que se enrola. A1 - Todo monte e toda ilha se remove de seu lugar. O argumento literário descreve uma sacudida do céu e da terra, exatamente como haviam predito Ageu (2:6) e Hebreus (12:26, 27). "Porque assim diz Jeová dos exércitos: daqui a pouco eu farei tremer os céus e a terra, o mar e a terra seca". Nenhum terremoto local pode igualar a finalidade e as dimensões universais das descrições de Ageu, de Hebreus e a do sexto selo. Apocalipse 6:12-14 descreve em primeiro lugar os sinais cósmicos na terra e no céu (A e B); depois continua descrevendo os efeitos destes sinais na ordem inversa: no céu (B1) e na terra (Ao terremoto mencionado em "A" é a origem dos efeitos universais mencionados em "A1: o desaparecimento dos montes e das ilhas. Uma descrição similar de causa e efeito pode ver-se na sétima praga, onde se menciona primeiro um terremoto tremendo e universal (ver Apoc. 16:18), seguido por seu efeito sobre Babilônia e sobre os montes e as ilhas (vs. 19, 20). A descrição da sétima praga é um paralelo literário surpreendente com a do sexto selo! Precisamos entender ambos da mesma maneira. Este paralelo indica que o sexto selo não projeta dois terremotos diferentes, com centenas de anos entre eles (em Apoc. 6:12-14). Para entender a composição literária que João apresenta dos cataclismos no céu durante o sexto selo, é instrutivo observar sua adoção da descrição que faz Isaías do juízo mundial devastador de Deus: "Todo o exército dos céus se dissolverá, e os céus se enrolarão como um pergaminho; todo o seu exército cairá, como cai a folha da vide e a folha da figueira" (Isa. 34:4). "Porque as estrelas dos céus e os astros não deixarão brilhar a sua luz; o sol se escurecerá ao nascer, e a lua não fará resplandecer a sua luz... Pelo que farei estremecer os céus; e a terra se moverá do seu lugar, por causa do furor do Senhor dos Exércitos e por causa do dia da sua ardente ira" (Isa. 13:10, 13). Nesta linguagem figurada tão vívida que formula os aspectos espantosos do dia do Senhor, não temos à vista uma ordem de acontecimentos e tampouco há indicação bíblica de que o sexto selo tenha o propósito de ensinar uma ordem específica de eventos (ver no cap. VI a seção "A teologia de Cristo dos sinais cósmicos"). Na unidade seguinte (Apoc. 6:15-17), João descreve o impacto universal do estremecimento cósmico sobre o mundo político, militar, econômico e social. Em vão tratam de procurar refúgio

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ante o Juiz da terra. Dessa maneira o sexto selo descreve a ordem progressiva de causa e efeito. Se compararmos as descrições do terremoto apocalíptico do Apocalipse, observamos uma ampliação gradual do mesmo na sétima trombeta e na sétima praga:

APOC. 6:12-14 APOC. 8:5 APOC. 11:19 APOC. 16:18,20,21

"E sobreveio grande terremoto. O sol se tornou negro como saco de crina, a lua toda, como sangue, as estrelas do céu caíram pela terra, como a figueira, quando abalada por vento forte, deixa cair os seus figos verdes, e o céu recolheu-se como um pergaminho quando se enrola. Então, todos os montes e ilhas foram movidos do seu lugar".

"E houve trovões, vozes, relâmpagos e terremoto".

"e sobrevieram relâmpagos, vozes, trovões, terremoto e grande saraivada."

"E sobrevieram relâmpagos, vozes e trovões, e ocorreu grande terremoto, como nunca houve igual desde que há gente sobre a terra; tal foi o terremoto, forte e grande ... Todas as ilhas fugiram, e os montes não foram achados; também desabou do céu sobre os homens grande saraivada".

Este desenvolvimento progressivo do terremoto cósmico não é, obviamente, a predição de dois ou mais terremotos. A composição literária do Apocalipse ensina um terremoto final e cósmico, que se amplia na descrição de cada série seguinte, em harmonia com a crescente severidade dos juízos das trombetas e as pragas à medida que se aproxima o fim. É significativo que João se apropria em forma consistente das antigas profecias do dia do Senhor para sua descrição do sexto selo. Isto é especialmente verdade de sua adoção dos sinais cósmicos de Isaías (13:10, 13; 24:18, 19, 23; 34:4, 8) e do Joel (2:10, 11, 30, 31; 3:14-16). João não encontrou nos profetas uma lista uniforme de sinais cósmicos! Inclusive troca o arranjo de sua fonte principal, Isaías 34:4, em sua própria descrição em Apocalipse 6:12-14. A preocupação dominante de João não é criar uma ordem cronológica determinada de sinais cósmicos, a não ser colocá-as ao redor de Cristo como o novo centro e meta dos cataclismos finais no universo, em harmonia com o próprio entendimento de Jesus em Mateus 24:29-31. Este empréstimo penetrante do Antigo Testamento destaca a unidade teológica de ambos os Testamentos e seu panorama apocalíptico comum. Ambos os Testamentos revelam um Criador-Redentor e um dia de juízo (ver Heb. 1:1, 2; Apoc. 6:17). Em conclusão, o sexto selo não pode ser entendido corretamente por si mesmo, divorciado dos cinco selos anteriores. O sexto selo é a consumação dos selos anteriores. O clamor dos mártires por vindicação foi respondido só em um sentido preliminar com a vindicação celestial ("as vestimentas brancas") sob o quinto selo. Têm que "esperar um pouco de tempo", até que se complete a tribulação do tempo do fim para o povo de Deus (Apoc. 6:11). O sexto selo não se abre com outro período de espera para os santos mortos e vivos, a não ser com a chegada do dia de ajuste de contas, o dia de justiça e vindicação. 7 - O Sétimo Selo O sétimo selo não acrescenta nenhum evento adicional, só "silêncio no céu como por meia hora" (Apoc. 8:1). Este silêncio sugere que a justiça de Deus foi plenamente apoiada sobre as expectativas de Israel (Isa. 62:1; 65:6, 7; Sal. 50:3-6). É interessante notar que o 4° livro de Esdras, escrito na última parte do século I de nossa era, relata uma crença judaica que menciona que o fim da história trará um "silêncio" correspondendo ao silêncio antes da criação do mundo: "E o mundo voltará para silêncio primitivo por sete dias, como foi no primeiro princípio; de maneira que ninguém ficará".8 O sétimo selo parece declarar um "silencio no céu" como o fim da "grande voz" dos mártires

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por justiça divina. Dessa forma, o ciclo profético dos selos ressegura à igreja que Cristo é o Senhor da história e um fiel guardador do pacto. As bênçãos do pacto prometidas à igreja em Apocalipse 2 e 3 serão outorgadas aos que perseveram na fé ou no testemunho de Jesus até o fim! Este tema de cumprimento chega a ser o enfoque principal de consolo na visão de João de Apocalipse 7. Referências 1. Beasley-Murray, Revelation, p. 129. 2. Ellen White, PP 78. 3. Ellen White, Carta 65, 1898; citado em Simpósio sobre o Apocalipse, t. 1, pp. 371, 372. 4. Naden, The Lamb Among the Beasts. Finding Jesus in the Book of Revelation, p. 110. 5. Pfandl, Simpósio sobre o Apocalipse, t. 2, P. 310. 6. Ibid., p. 313. 7. Knight, Matthew. Bible Amplifier, p. 237. 8. Charlesworth, The Old Testament Pseudepigrapha, t. 1, p. 537 (4 Esdras 7:30). FONTES BIBLIOGRÁFICAS PARA APOCALIPSE 6 Livros Beasley-Murray, George R. Revelation [O Apocalipse]. New Century Bible Commentary [Comentário da Bíblia do Novo Século]. Grand Rapids, MI: Wm. B. Eerdmans, 1983. Charlesworth, J. H., ed., The Old Testament Pseudepigrapha [Os Livros Pseudoepigráficos do Antigo Testamento]. Garden City, New York: Doubleday, 1983-1985. 2 ts.. Ellul, Jacques. Apocalypse. The Book of Revelation [Apocalipse: O livro da Revelação]. Nova York: Seabury Press, ET 1977. Knight, George R. Matthew [Mateus]. Bible Amplifier [A Bíblia Amplificada]. Boise, Idaho: Pacific Press. Pub. Assn., 1994. Naden. Roy C. The Lamb Among the Beasts. Finding Jesus in the Book of Revelation. Tenney, Merril C. Interpreting Revelation [Interpretando o Apocalipse]. Grand Rapids, MI: Wm. B. Eerdmans, 1973. Cap. 6: "The Process of World Judgment" [O processo de juízo do mundo]. Artigos Bauckham, Richard J. "The Eschatological Earthquake in the Apocalypse of John" [O terremoto Escatológico no Apocalipse de João], Novum Testamentun [Novo Testamento] XIX (1977), pp. 224233. Pfandl, Gerhard. "The Remnant Church and the Spirit of Prophecy" [A Igreja Remanescente e o Espírito de Profecia], Simpósio sobre o Apocalipse. t. 2, cap. 10. Paulien, Jon. "Seals and Trumpets: Some Current Discussions" [Os Selos e as Trombetas: Algumas Discussões Atuais], Simpósio sobre o Apocalipse. ______ "The Seven Seals" [Os Sete Selos], Ibid. T. 1, cap. 11. Schlier, H. "Thlipsis" [Thlípsis], Theological Dictionary of the New Testament [Dicionário Teológico do Novo Testamento], Gerhard Kittel, ed. Grand Rapids, MI: Wm. B. Eerdmans, 1966. T. 3, pp. 139-148. Strand, Kenneth A. "The Two Witnesses of Rev. 11:3-12" [As Duas Testemunhas de Apocalipse 11:2-12], AUSS 19:2 (1981), pp. 127-135. Thomas, R. L. "The Spiritual Gift of Prophecy in Revelation 22:18" [O Dom Espiritual de Profecia em Apocalipse 22:18], JETS 32:2 (1989), pp. 201-216.

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XV - SEGURANÇA DE LIBERAÇÃO NO TEMPO DO FIM - Apoca lipse 7 Apocalipse 7 contém um interlúdio ou parêntese no ciclo dos selos. Neste capítulo João tira partido de sua teologia do povo remanescente. Apocalipse 7 mostra um foco específico do tempo do fim que complementa o quinto selo (Apoc. 6:9-11 ). Tanto este selo como Apocalipse 7 tratam do mesmo tema: a grande tribulação para o povo de Cristo. O raio de luz da profecia põe de relevo a tribulação final com sua crise universal. Não só os poderes perseguidores do mundo causam a crise, mas também em um sentido mais elevado, a crise causa a ira do Cordeiro manifestada nas sete últimas pragas (Apoc. 6:16, 17; 15:1). O amparo divino é essencial se a última geração do povo de Deus vai passar incólume durante o derramamento da ira de Deus. Apocalipse 7 está planejado para assegurar a todas as gerações do povo de Deus, especialmente à última, a provisão que tem feito para resgatar a cada seguidor de Cristo nesse tempo de emergência. Esta crise de proporções mundiais imposta pelo céu se descreve no sexto selo, onde os sinais cósmicos introduzem o dia do juízo. Por conseguinte, a pergunta existencial "e quem poderá ficar de pé?" chega a ser crítica (Apoc. 6:17). Esta pergunta fundamental tinha sido feita antes por três profetas: Joel (2:11), Naum (1:6) e Malaquias (3:2). Cada vez o profeta respondeu sua pergunta dizendo que a única maneira de permanecer em pé no dia da ira é tendo um arrependimento verdadeiro (Joel 2:12-27; Naum. 1:7; Mau. 3:3, 4). Naum recalcou que só Jeová é "fortaleça no dia da angústia; e conhece os que nele confiam" (Naum. 1:7). Portanto, podemos esperar encontrar a resposta a esta pergunta de Apocalipse 6:17 no capítulo 7. O propósito de Apocalipse 7 é mostrar os que ficarão de pé no dia da retribuição. A pergunta: "Quem poderá ficar de pé?", é totalmente essencial para os que estiverem vivos quando terminar repentinamente o tempo de graça e se derramarem do céu as 7 pragas. Apocalipse 7 é para alentar o povo de Deus a perseverar até o fim em sua fé em Cristo. É um dos capítulos mais tranqüilizadores para a fé cristã. Pela primeira vez encontramos aqui a um grupo denominado os "144.000" israelitas verdadeiros. Estes podem permanecer firmes no dia do Senhor sem temor, porque têm um refúgio contra a ira do Cordeiro. Seu lugar especial na história da salvação é no fim do tempo. Sairão triunfantes da grande tribulação. Este é o marco do fim do tempo de Apocalipse 7 em seu contexto imediato do sexto selo. "Depois disto, vi quatro anjos em pé nos quatro cantos da terra, conservando seguros os quatro ventos da terra, para que nenhum vento soprasse sobre a terra, nem sobre o mar, nem sobre árvore alguma. Vi outro anjo que subia do nascente do sol, tendo o selo do Deus vivo, e clamou em grande voz aos quatro anjos, aqueles aos quais fora dado fazer dano à terra e ao mar, dizendo: Não danifiqueis nem a terra, nem o mar, nem as árvores, até selarmos na fronte os servos do nosso Deus. Então, ouvi o número dos que foram selados, que era cento e quarenta e quatro mil, de todas as tribos dos filhos de Israel" (Apoc. 7:1-4). Com esta descrição de libertação divina, o Senhor ressuscitado assegura a seus seguidores que as pragas não destruirão toda a humanidade. Primeiro Cristo colocará um sinal de proteção sobre seus "servos". "Conhece o Senhor aos que são seus" (2 Tim. 2:19). Malaquias tinha prometido uma proteção especial para o povo de Deus ao final da história. "Então, os que temiam ao Senhor falavam uns aos outros; o Senhor atentava e ouvia; havia um memorial escrito diante dele para os que temem ao Senhor e para os que se lembram do seu nome. Eles serão para mim particular tesouro, naquele dia que prepararei, diz o Senhor dos Exércitos; poupá-los-ei como um homem poupa a seu filho que o serve. Então, vereis outra vez a diferença entre o justo e o perverso, entre o que serve a Deus e o que não o serve" (Mau. 3:16-18). Isto expressa a teologia hebraica de que haverá um povo remanescente final de Deus. Isto implica a separação de um Israel que adora a Deus de um Israel nominal. Daniel também apontou o remanescente de Israel desta maneira: "Mas, naquele tempo, será salvo o teu povo, todo aquele que for achado inscrito no livro" (Dan. 12:1). Daniel distingue entre um Israel nacional e um Israel espiritual. Só os que estão registrados no céu como cidadãos do reino de Deus, serão sacados da tribulação final no fim dos dias (vs. 1, 2). O anjo assegurou a Daniel: "Muitos serão purificados, embranquecidos e provados; mas os perversos procederão perversamente, e nenhum deles entenderá, mas os sábios entenderão" (v. 10).

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Isaías também predisse que um remanescente santo sobreviveria ao juízo do Deus de Israel: "Será que os restantes de Sião e os que ficarem em Jerusalém serão chamados santos; todos os que estão inscritos em Jerusalém, para a vida, quando o Senhor lavar a imundícia das filhas de Sião e limpar Jerusalém da culpa do sangue do meio dela, com o Espírito de justiça e com o Espírito purificador. Criará o Senhor, sobre todo o monte de Sião e sobre todas as suas assembléias, uma nuvem de dia e fumaça e resplendor de fogo chamejante de noite; porque sobre toda a glória se estenderá um dossel e um pavilhão, os quais serão para sombra contra o calor do dia e para refúgio e esconderijo contra a tempestade e a chuva" (Isa. 4:3-6). Em Apocalipse 7, Deus assegura à sua igreja que sua ira não se derramará até que tenha selado seu verdadeiro Israel. Esse selo os protegerá, não só da morte física, mas também de todos os poderes sobrenaturais de destruição, tanto demoníacos (Apoc. 9:4) como divinos (cap. 16). Só dessa maneira podem permanecer em pé no último dia. Desta maneira Cristo cumpre sua promessa: "Porque guardaste a palavra da minha perseverança, também eu te guardarei da hora da provação que há de vir sobre o mundo inteiro, para experimentar os que habitam sobre a terra" (Apoc. 3:10). O "selo do Deus vivo", que os anjos do céu porão sobre a "fronte dos servos de nosso Deus" (Apoc. 7:2, 3), está em agudo contraste com a "marca da besta", uma batalha estritamente do tempo do fim contra os santos (ver 13:15-17). Ambos os sinais de identificação operam em forma simultânea no tempo do fim como o cenário final de separação definitiva. Alguns identificaram este selo apocalíptico com o selo do evangelho do qual Paulo fala no Efésios 1:13; 4:30 e 2 Coríntios 1:21 e 22. Paulo disse que a segurança da salvação do crente estava selada no coração pelo Espírito Santo. Cristo nos "ungiu" e portanto, "também nos selou, e nos deu os penhor do Espírito em nossos corações" (2 Cor. 1:22). Mas este selo do evangelho colocado pelo Espírito no coração não deve identificar-se completamente com o único selo apocalíptico que os anjos colocarão sobre a fronte dos servos de Deus (Apoc. 7:1-3). O selo do tempo do fim tem um propósito diferente que o de assegurar a salvação pessoal. É um sinal externo acrescentado ao selamento interno do Espírito, como o sinal da aprovação divina durante a última prova de fé, imposta ao povo de Deus pela besta de Apocalipse 13. É também o sinal de proteção contra as sete últimas pragas da ira de Deus (ver Apoc. 16). Depois da descrição do selamento dos 144.000, João viu no céu a uma "grande multidão" de gente redimida e glorificada que havia saído "da grande tribulação" (Apoc. 7:9, 14). Isto expõe o seguinte problema: Como se relacionam entre si estas duas cenas de Apocalipse 7? Apresentam dois grupos diferentes de redimidos, como foi a conclusão tradicional de muitos? Descrevem a 144.000 judeus e uma inumerável multidão de gentios? Primeiro observemos algumas distinções entre estas duas cenas: Em primeiro lugar, há uma progressão histórica clara em Apocalipse 7, porque o selamento dos 144.000 está situado na terra, com antecedência à crise final de fé, enquanto que a grande multidão está em pé "diante do trono e na presença do Cordeiro" (Apoc. 7:9). Estes "vêm da grande tribulação" (v. 14). Dessa maneira, as duas cenas descrevem um desenvolvimento na história da salvação. Em segundo lugar, outra diferença tem que ver com a linguagem figurada das duas cenas deste capítulo. À primeira vista, parece descrever dois grupos diferentes, um que consiste de 144.000 judeus de 12 tribos específicas, e uma grande multidão de todas as nações da terra que não pode contar-se. Mas se se considera o contexto do Apocalipse como um tudo, podemos ver que estas distinções aparentes não descrevem duas classes diferentes de redimidos. O livro começa anunciando que a igreja é a que realiza a eleição de Israel: "E nos fez reis e sacerdotes para Deus e seu Pai" (Apoc. 1:6; cf. Êxo. 19:4, 5). Esta verdade do evangelho se amplia no canto dos anciões: "Com seu sangue adquiriu para Deus homens de toda raça e língua, e povo e nação; fez deles linhagem real e sacerdotes para nosso Deus, e serão reis na terra" (Apoc. 5:9,10, NBE). Esta verdade do novo pacto, quer dizer, que os 12 apóstolos continuam a chamada teológica

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das 12 tribos do Israel, foi o resultado da proclamação de que Jesus é o Messias de Israel. Todos os crentes em Cristo Jesus são chamados cristãos, quer dizer, o povo do Messias. Seu batismo em Cristo os selou como filhos de Abraão, o pai de todos os crentes (ver Rom. 4:12). As promessas do Deus de Israel estão garantidas por Cristo "para toda sua descendência; não somente para a que é da lei, mas também para a que é da fé de Abraão, o qual é pai de todos nós" (v. 16). O apóstolo Paulo não reconheceu já a diferença teológica entre os judeus e os gentis com respeito às promessas do pacto de Deus: "Pois todos vós sois filhos de Deus mediante a fé em Cristo Jesus; porque todos quantos fostes batizados em Cristo de Cristo vos revestistes. Destarte, não pode haver judeu nem grego; nem escravo nem liberto; nem homem nem mulher; porque todos vós sois um em Cristo Jesus. E, se sois de Cristo, também sois descendentes de Abraão e herdeiros segundo a promessa" (Gál. 3:26-29). Sobre esta base, Paulo inclusive pôde chamar a igreja: "o Israel de Deus" (Gál. 6:16).1 Para Tiago, os cristãos são "as doze tribos que estão na dispersão" (Tia. 1:1; ver também 1 Ped. 1:1; 2:9). Esta verdade fundamental do evangelho é a razão pela qual o Apocalipse assegura à igreja que passa pela aflição que sua meta é a Nova Jerusalém (Apoc. 21, 22), e que tanto os nomes das 12 tribos do Israel como os dos 12 apóstolos estão escritos na mesma santa cidade (21:2, 10-14). Voltando a Apocalipse 7, reconhecemos que João contempla o remanescente de Israel em promessa e em cumprimento. Primeiro descreve o Israel de Deus em forma simbólica, na grande aflição do tempo do fim na terra. Depois procede a explicar seu tamanho real como um povo inumerável que permanece fiel durante a "grande tribulação" e portanto desfrutará da paz eterna do céu. Pode-se expressar isto dizendo que a primeira cena de Apocalipse 7 representa a igreja militante, e a segunda a igreja triunfante. A última cena (Apoc. 7:9-17) é proléptica, antecipando os gozos futuros da nova terra que estão ampliados em termos similares em Apocalipse 21:1-4 e 22:1-5. É importante observar que João não declara que viu 144.000 israelitas como os selados. Só declara: "E ouvi o número" (Apoc. 7:4). Quando João deu a volta para ver os selados, só viu uma grande multidão de vencedores. Esta descrição vívida confirma a verdade do evangelho de que as promessas de Deus a Israel não falharão, mas sim se cumprirão em Cristo e em seu povo. O modelo de ouvir e depois voltar-se para ver, usou-o João em Apocalipse 1:12 e 13. O que João ouviu ficou ulteriormente esclarecido pelo que em realidade viu. Em Apocalipse 5 encontramos outro exemplo. Ouviu que um dos anciões disse "o Leão da tribo de Judá... venceu" (Apoc. 5:5). Mas quando olhou para ver o Leão, viu "no meio do trono... um Cordeiro como imolado" (Apoc. 5:6). O que João viu foi uma elucidação do que primeiro só tinha ouvido. Este estilo de revelação também é usado por João no capítulo 7. Depois de ter ouvido o número de israelitas que foram selados, João diz que: "Vi, e eis grande multidão que ninguém podia enumerar, de todas as nações, tribos, povos e línguas, em pé diante do trono e diante do Cordeiro" (Apoc. 7:9). Em uma visão ulterior, João vê os 144.000 também "diante do trono" (14:3) enquanto "seguem o Cordeiro aonde quer que vá" (v. 4). Dessa maneira João identifica os 144.000 israelitas espirituais como os inumeráveis crentes em Cristo, o Cordeiro de Deus. Enquanto Abraão foi gentio, Deus lhe prometeu que sua descendência seria incontável como as estrelas (Gên. 15:5; 32:12). As promessas de Deus de abençoar a Abraão e aos outros patriarcas de Israel se cumprirão por meio de Cristo em uma forma que superará todas as expectativas (ver Gál. 3:29; 6:16). Apocalipse 7 contém a chave para abrir seu próprio simbolismo hebraico: o verdadeiro Israel de Deus não está limitado a 144.000 judeus literais, mas sim é um símbolo da totalidade do Israel espiritual entre toda a raça humana. No dia final, todos receberão o selo de proteção e não só um pequeno número de crentes judeus, deixando os cristãos de origem gentil desprotegida. Esta é a segurança que apresenta Apocalipse 7 para a igreja do tempo do fim. Alguns eruditos bíblicos destacam com toda razão a idéia de que "o selamento deve ser coextensivo com o perigo, e portanto, deve incluir a toda a comunidade cristã, judeus e gentios por igual".2 Outros declaram que "as duas visões,

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descrevem o mesmo corpo, sob condições totalmente diferentes".3 Esta conclusão também está confirmada em Apocalipse 14:1-5, onde se descreve a fé cristã dos 144.000 na linguagem simbólica do Joel 2:32 e Sofonías 3:13. João decompõe o número 144.000 em 12 por 12.000, pelo qual mostra que o número 12 é o número chave, que deve entender-se em seu significado no sistema do pacto como representando o povo do pacto ou o reino de Deus. A multiplicação expressa a totalidade do povo de Deus no tempo do fim. Douglas Ezell o explica desta maneira: "Como João usou o título do Antigo Testamento ('um reino de sacerdotes') reservado para os israelitas para referir-se aos cristãos, assim agora emprega as doze (tribos) multiplicadas por doze (os apóstolos) multiplicado por dez (o número do completo) elevado à terceira potência (o número da deidade), para descrever simbolicamente a todos os redimidos (note também que as portas e os fundamentos da Nova Jerusalém têm os nomes das doze tribos do Israel e os doze apóstolos, Apocalipse 21:12-13)... O número redondo de 12.000 representa simbolicamente uma quota completa".4 Colocado no contexto do tempo do fim de Apocalipse 7, entendemos que o número 144.000 representa o povo do pacto de Deus em todo mundo durante a crise final da era cristã. Esta lista das 12 tribos de Apocalipse 7 é única em toda a Escritura e assinala a um simbolismo cristão, porque coloca primeiro na lista a Judá, aparentemente para enfatizar que Cristo é a cabeça do novo Israel (Apoc. 5:5, 6; 7:5). O fato de que se omite a tribo de Dã e se acrescenta a de Manassés embora já está incluído José (Apoc. 7:6, 8), de novo dá a entender seu significado não literal. Poder-se-ia concluir nas palavras de Beatrice S. Neall que... "…o número 144.000 deve entender-se como um símbolo da unidade, a perfeição e a consumação da igreja de Deus, completa porque se completou o número dos escolhidos (Apoc. 6:11)".5 O significado de Apocalipse 7 chega a ser claro se for visto em sua conexão imediata com os selos do capítulo 6, que termina com a inquietante pergunta: "Porque é vindo o grande dia; e quem poderá ficar de pé?" (Apoc. 6:17). Apocalipse 7 responde com uma resposta dupla: primeiro, visualiza o remanescente santo como vitorioso no juízo de Deus (Apoc. 7:1-8), e depois o descreve como glorificado no reino de Deus (vs. 9-17). O Anjo do Oriente ou do Nascimento do Sol "Depois disto, vi quatro anjos em pé nos quatro cantos da terra, conservando seguros os quatro ventos da terra, para que nenhum vento soprasse sobre a terra, nem sobre o mar, nem sobre árvore alguma. Vi outro anjo que subia do nascente do sol, tendo o selo do Deus vivo, e clamou em grande voz aos quatro anjos, aqueles aos quais fora dado fazer dano à terra e ao mar, dizendo: Não danifiqueis nem a terra, nem o mar, nem as árvores, até selarmos na fronte os servos do nosso Deus" (Apoc. 7:1-3). Esta passagem sugere uma certa "demora" do fim, similar à do quinto selo (Apoc. 6:11 ). Os quatro ventos de luta de guerra (ver Jer. 49:36-39; Dan. 7:2) e destruição são refreados por intervenção divina. É a vontade de Deus a que determina o curso da história humana. Realizar-se-á o propósito mais elevado do Deus que guarda o pacto. Deus enviará uma mensagem especial de seu trono (o oriente cósmico) para proteger a um povo que permanecerá fiel a Deus durante "a hora da prova que tem que vir sobre o mundo inteiro, para provar aos que moram na terra" (Apoc. 3:10). A missão deste anjo antecipa a do anjo de Apocalipse 10, que se desenvolve mais na triplo mensagem de Apocalipse 14:6-12. Com respeito a isto, Uriah Smith concluiu: "O anjo que tem o selo do Deus vivo é, pois, o mesmo que o terceiro de Apocalipse 14".6 O anjo com o selo do Deus vivo vem de "onde nasce o sol". Esta frase particular anunciou na profecia de Isaías a chegada da libertação de Israel do cativeiro babilônico (ver Isa. 41:2, 25). Ezequiel também viu a glória de Deus "que vinha do oriente" (Ezeq. 43:2). E Malaquias predisse que para os que temem o nome do Deus de Israel, "nascerá o Sol de justiça, e em suas asas trará salvação" (Mau. 4:2). Heinrich Kraft comenta sobre Apocalipse 7:2 o seguinte:

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"Este anjo, por sua origem do nascimento do sol, representa a Cristo como o sol de justiça... o anjo aqui representa o poder salvífico e preservador de Cristo".7 O Selamento no Tipo e no Antítipo O propósito do "selo do Deus vivo" pode entender-se melhor na perspectiva de seus antecedentes na história de Israel. Dois momentos críticos para Israel, um no Egito e outro em Jerusalém, proporcionam os tipos históricos para entender o significado teológico do selamento do povo de Deus no tempo do fim. Para salvaguardar a seu povo do pacto do anjo da morte, Deus tinha ordenado a Israel que colocasse o sangue de um cordeiro nos batentes de suas casas: "O sangue vos será por sinal nas casas em que estiverdes; quando eu vir o sangue, passarei por vós, e não haverá entre vós praga destruidora, quando eu ferir a terra do Egito" (Êxo. 12:13). Aqui notamos a essência do selamento do tempo do fim. Deus designou um sinal determinado, o sangue do cordeiro pascal, como a expressão exterior de sua confiança em Jeová, como o sinal de que pertenciam ao Deus do pacto de Israel. Israel precisava aceitar e aplicar pela fé este selo da proteção de Deus, para sobreviver ao juízo de Deus sobre o Egito. Não menos significativa é a visão de Ezequiel, onde 6 anjos são enviados a Jerusalém para executar a maldição que estava no pacto de Deus. O Senhor ordenou aos anjos que matassem a todos os idólatras que havia no templo e na cidade. Não obstante, a graça de Deus se manifestou ao enviar a um anjo especial com um tinteiro de tabelião na frente dos verdugos: "Passa pelo meio da cidade, pelo meio de Jerusalém, e marca com um sinal a testa dos homens que suspiram e gemem por causa de todas as abominações que se cometem no meio dela" (Ezeq. 9:4). Deus mostrou sua misericórdia ao separar o remanescente arrependido e espiritual de um Israel apóstata. Aqueles identificados pelo sinal do anjo encontraram proteção do "derramamento" da ira divina. Deus ordenou: "Não toquem a nenhum dos marcados. Comecem por meu santuário" (Ezeq. 9:6, NBE). Executou-se a justiça de Deus sobre os impenitentes só depois que o anjo da misericórdia teve completado sua tarefa de assinalar (ver o V. 10; Ezeq. 8). Tanto em Êxodo 12 como em Ezequiel 9 notamos a mesma seqüência: primeiro o selamento; depois segue a maldição do pacto sobre os que não receberam a marca de proteção. O propósito do selamento nos tipos históricos, que era proporcionar uma proteção sobrenatural contra o derramamento iminente da ira de Deus, constitui a essência do selamento do tempo do fim em Apocalipse 7. O selamento apocalíptico será o prelúdio ao derramamento da ira de Deus nas 7 últimas pragas de Apocalipse 16 (ver Apoc. 15:1). Apocalipse 7 deve entender-se como o antítipo mundial dos tipos históricos de Êxodo 12 e Ezequiel 9. Por conseguinte, não se descreve os 144.000 selados como missionários que trazem uma multidão de salvos de todas as nações. Em nenhum lugar indica Apocalipse 7 que a multidão inumerável deve sua salvação à pregação dos 144.000 como afirmaram alguns escritores dispensacionalistas. Ao contrário, este capítulo descreve os 144.000 como o remanescente de Deus, o único que pode permanecer no dia da ira. Só os selados sobreviverão ao Armagedom (Apoc. 16). Todos os outros, os "moradores da terra", receberão a "marca da besta" (13:15-17). Se toda pessoa receber ou o selo de Deus ou a marca da besta, então ninguém pode permanecer moralmente neutro ou sem comprometer-se na prova final de fé. Esta última separação da humanidade se expressa no Apocalipse da seguinte maneira: "Que o injusto continue sendo injusto; e o sujo continue manchando-se; o justo continue fazendo justiça, e o santo continue santificando-se" (Apoc. 22:11, CI; ver também Dan. 12:10). Esta declaração implica que o selamento apocalíptico significa a fixação definitiva do caráter. R. H. Charles apresenta esta explicação profunda:

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"Em seu sentido mais profundo, este selamento significa a manifestação exterior do caráter. A bondade oculta dos servos de Deus é no fim proclamada exteriormente, e o nome divino que foi escrito em segredo pelo Espírito de Deus em seus corações se grava agora abertamente sobre suas frontes pelo mesmo anel de selar do Deus vivo... No reinado do anticristo, a bondade e o mal, a justiça e o pecado, vêm em sua manifestação e antagonismo mais completos. O caráter entra, em última instância, na etapa da finalidade".8 Este momento final ocorre durante a prova final de lealdade, como explicou Ellen White: "Ao passo que uma classe, aceitando o sinal de submissão aos poderes terrestres, recebe o sinal da besta, a outra, preferindo o sinal da obediência à autoridade divina, recebe o selo de Deus".9 A outorga simultânea do selo de Deus e da marca da besta implica que este evento apocalíptico ainda está no futuro. João expõe o significado dessa hora de prova mais amplamente em Apocalipse 12-14. É evidente que só os que tenham recebido o selamento do evangelho do Espírito de Cristo em seus corações e experimentem dessa maneira o poder santificador de Deus, são candidatos para o selo apocalíptico. Os anjos de Deus colocarão esse selo sobre a fronte dos que já são os "servos de nosso Deus" (Apoc. 7:3). A Segurança da Vitória dos 144.000 Todos os redimidos estão vestidos de "roupas brancas" e têm "palmas em suas mãos" (Apoc. 7:9). E clamam a grande voz: "A salvação pertence a nosso Deus que está sentado no trono, e ao Cordeiro" (v. 10). Não atribuem a salvação à sua própria justiça, a suas boas obras ou méritos, nem sequer a seu arrependimento, a não ser exclusivamente à graça salvífica de Deus. Esse povo é verdadeiramente espiritual, porque louvam a Deus e a Cristo. Desviam seus olhos de sua própria vida de sacrifício para concentrar sua vista no sacrifício expiatório do Cordeiro. Essa é a adoração que precisamos cultivar agora se esperamos nos unir aos santos de todos os tempos na doxologia: "Digno... é o Cordeiro!" (Apoc. 5:12). Apocalipse 7 apresenta outra característica importante dos 144.000. Um ancião no céu pergunta: "Estes, que se vestem de vestiduras brancas, quem são e donde vieram?" (Apoc. 7:13). João responde: "Meu Senhor, tu o sabes. Ele, então, me disse: São estes os que vêm da grande tribulação, lavaram suas vestiduras e as alvejaram no sangue do Cordeiro" (v. 14). Aqui falha todo literalismo. Ninguém pode lavar nunca um vestido branco em sangue literal. Temos que compreender seu significado espiritual, quer dizer, que lavaram as roupas de seu caráter pela fé e confiança na morte expiatória do Cordeiro de Deus. Esta imagem descreve graficamente a eficácia da cruz de Cristo. Pedro assinalou a mesma realidade da graça redentora quando declarou que os crentes foram salvos de uma "vã maneira de viver" por meio do "sangue precioso de Cristo" (1 Ped. 1:18, 19). Deste modo João escreveu: "O sangue do Jesus Cristo seu Filho nos limpa de tudo pecado" (1 João 1:7). A vitória da fé se assegura de um modo especial à última geração. A Grande Tribulação do Tempo do Fim Diz-se que os 144.000 israelitas espirituais saíram da "grande tribulação". É obvio, esse tempo de aflição para o povo de Deus em Apocalipse 7 está determinado por seu tempo na história da salvação. O Novo Testamento assinala vários períodos principais de aflição para o povo fiel de Cristo: 1. O tempo de perseguição por meio dos concílios e sinagogas judias: Marcos 13:9-13; Mateus 10:17; João 16:2; Lucas 21:12; Feitos 4:1-3; 5:17, 18, 40; 1 Tessalonicenses 2:14-16; 3:3, 4. 2. O tempo de perseguição por parte do Império Romano: Mateus 24:15-21; Marcos 13:14-19; Apocalipse 2:10. 3. O tempo de perseguição durante o domínio papal na Idade Média: Apocalipse 12:6, 14 (ampliando Dan. 7:25 e 8:11-13).

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4. A perseguição do tempo do fim, pelo anticristo revivido ou Babilônia: Mateus 24:22; Apocalipse 12:17; 13:15-17 (ampliando Dan. 12:1). Jesus não especificou 4 períodos diferentes de perseguição, mas sim se referiu às perseguições vindouras de uma maneira geral: "No mundo tereis aflições [thlípsis]" (João 16:33). Disse Jesus: "Se me perseguiram, também vos perseguirão" (15:20). Paulo também disse, em termos gerais, que "é necessário que através de muitas tribulações [thlípseon] entremos no reino de Deus" (At. 14:22). Mais adiante explicou: "E também todos os que querem viver piedosamente em Cristo Jesus padecerão perseguição" (2 Tim. 3:12). Mas estas declarações de oposição e de sofrimento esperados pelos seguidores de Cristo, não anulam as predições de Daniel e do Apocalipse a respeito de períodos específicos de grande tribulação para o povo de Cristo. A tribulação mais severa virá no tempo do fim, especificamente para a última geração do povo de Deus. Daniel assinalou explicitamente uma perseguição intensificada (Dan. 12:1), a qual também se referiu Jesus em sua profecia de Mateus 24:21 e 22 (e Mar. 13:19, 20) e que seria "abreviada" por intervenção divina. Esta guerra do tempo do fim contra os santos está ampliada ainda mais em Apocalipse 12:17 e 13:15-17. Pheme Perkins apresenta este comentário perspicaz: "Esta promessa [de abreviar] mostra que os sofrimentos do tempo do fim são qualitativamente diferentes das perseguições que os discípulos podem esperar sofrer durante seu testemunho habitual do evangelho. A última pode suportar-se até o fim (Mar. 13:13b), mas para que os escolhidos perseverem até o fim do tempo, Deus deve abreviar esse tempo (Mar. 13:20)".10 No meio da proscrição universal dos seguidores do Cordeiro, esta profecia assegura seu resgate repentino por parte do Guerreiro divino (ver Apoc. 17:14; 19:11-21). Finalmente se levantará Miguel para liberar sua guerra santa e todas as perseguições no mundo inteiro serão abreviadas (Dan. 12:1; Mat. 24:22; Mar. 13:20). Podemos reconsiderar o amplo alcance dos períodos principais de perseguição no diagrama seguinte:

A interrogante é: A que "grande tribulação" refere-se Apocalipse 7 quando declara da grande multidão: "Estes são os que saíram [ou 'estão chegando', G. Caird] da grande tribulação (v. 14)?"11 Esta "grande tribulação" é o tempo de prova para o qual Cristo prepara a sua igreja: "Também eu te guardarei da hora da provação que há de vir sobre o mundo inteiro, para provar os que habitam sobre a terra" (Apoc. 3:10). Esta "hora da prova" cumpre essa perseguição final pela qual os mártires anteriores tiveram que esperar durante o sexto selo (6:11). Mounce

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comenta o seguinte sobre Apocalipse 7:14: "A intensidade do conflito final da justiça e do mal se elevará a um tom tal como para chegar a ser a grande tribulação".12 João ainda não explicou a natureza da "hora da prova" que virá sobre a geração do fim da história. Apocalipse 7 prevê esse tempo final de prova e suas promessas da proteção de Deus. João antecipa em frases curtas o que mais tarde desenvolverá em forma mais extensa. Revela "o grande conflito de lealdades" detalhadamente em Apocalipse 12 a 14. João coloca a recompensa dos 144.000 israelitas à luz de todos os redimidos que serão salvos no reino de Deus. Sua recompensa será a de todos os redimidos: "Vestidos de roupas brancas, e com palmas em suas mãos", enquanto estão diante do trono e na presença do Cordeiro (Apoc. 7:9). Requeriam-se "ramos de palma" em Israel para celebrar a festa dos Tabernáculos, quando tinham que regozijar-se "diante de Jeová seu Deus por sete dias" (Lev. 23:40). O significado desta festividade anual era recordar sua liberação milagrosa do Egito e sua viagem segura à terra prometida (v. 43). Nestes termos, Apocalipse 7 assegura que a consumação da festa dos Tabernáculos na casa do Pai é algo indubitável. No judaísmo tardio, o ondulação dos ramos de palma chegou a significar as boas-vindas do Messias que vinha em nome de Jeová: "Bendito o que vem em nome do Senhor, o Rei do Israel!" (João 12:12, 13; Sal. 118:25, 26). Este aspecto messiânico se cumpre no cântico da grande multidão: "Ao nosso Deus, que se assenta no trono, e ao Cordeiro, pertence a salvação" (Apoc. 7:10). João explica que o companheirismo com o Cordeiro de Deus é a razão ("por isso", 7:15) pela qual estão diante do trono de Deus e o servem. Servir a Deus é adorá-lo com louvores (ver Luc. 2:37; Rom. 12:1). Em última instância, o gozo da salvação é a experiência da contínua presença de Deus. "E aquele que se assenta no trono estenderá sobre eles o seu tabernáculo" (Apoc. 7:15). A glória da shekinah, ou seja o resplendor da presença de Deus, estará entre eles (ver 22:3-5). Esta promessa foi a esperança de todos os santos. Isaías o expressou maravilhosamente: "Criará o Senhor, sobre todo o monte de Sião e sobre todas as suas assembléias, uma nuvem de dia e fumaça e resplendor de fogo chamejante de noite; porque sobre toda a glória se estenderá um dossel e um pavilhão, os quais serão para sombra contra o calor do dia e para refúgio e esconderijo contra a tempestade e a chuva" (Isa. 4:5, 6). Esta promessa messiânica foi repetida pelos profetas Ezequiel (37:27) e Zacarias (2:10). As promessas da segurança eterna em Apocalipse 7:16 e 17 também estão tiradas do Antigo Testamento, principalmente das promessas de Isaías a respeito da restauração de Israel (ver Isa. 25:8; 35:10; 49:10; 51:11; 65:19). O cumprimento destas promessas de restauração será imensamente mais esplêndido do que foi concebido por Israel. A fome e a sede de justiça será satisfeita amplamente pelo próprio Messias, como assegurou Jesus: "O que vem a mim jamais terá fome; e o que crê em mim jamais terá sede" (João 6:35; ver também 7:37). Dessa maneira, os desejos mais profundos do coração humano serão gratificados para sempre. Que promessa emocionante! Apocalipse 7 culmina com a declaração de que "o Cordeiro que está no meio do trono" será o divino "Pastor" (Apoc. 7:16, 17; cf. Isa. 49:10). Isto também cumprirá a promessa messiânica de Ezequiel: "Suscitarei para elas um só pastor, e ele as apascentará; o meu servo Davi é que as apascentará; ele lhes servirá de pastor" (Eze. 34:23). O Deus de Israel também guiará seu novo povo do pacto ao futuro eterno. No Apocalipse se repete duas vezes uma promessa particular de Deus ao Isaías: "Tragará a morte para sempre, e, assim, enxugará o Senhor Deus as lágrimas de todos os rostos, e tirará de toda a terra o opróbrio do seu povo, porque o Senhor falou" (Isa. 25:8 ). A promessa que assegura que "o Senhor enxugará as lágrima de todos os rostos" agora se faz duplamente segura por Cristo para os seguidores do Cordeiro (ver Apoc. 7:17 e 21:4). Comentando a promessa de Apocalipse 7:16 e 17, diz Bruce M. Metzger: "O capítulo [Apoc. 7] termina com palavras que levaram alívio e consolação a milhões. Não há palavras mais consoladoras nos ouvidos dos que estiveram angustiados que a promessa final:

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'Jamais terão fome, nunca mais terão sede, não cairá sobre eles o sol, nem ardor algum, pois o Cordeiro que se encontra no meio do trono os apascentará e os guiará para as fontes da água da vida. E Deus lhes enxugará dos olhos toda lágrima' (Apoc. 7:16, 17)".13 Referências 1. Para um estudo em profundidade, ver o livro de LaRondelle, O Israel de Deus na profecia. 2. Ver Charles, The Revelation of St. John, T. 1, P. 200. 3. Swete, Commentary on Revelation, p. 99; I. T. Beckwith, quem afirma: "Eles [os 144.000] são todo o corpo da igreja, judeus e gentis por igual" The Apocalypse of John, p. 535. 4. Ezell. Revelations on REVELATION, p. 60. 5. Neall, "Sealed Saints and the Tribulation", Simpósio sobre o Apocalipse, T. 1, p. 262. 6. Smith, Las profecías de Daniel y el Apocalipsis; t. 2: El Apocalipsis, p. 116. 7. Kraft, Die Offenbarung des Johannes, p. 125. 8. Charles, The Revelation of St. John , T. 1, pp. 205, 206. 9. Ellen White, GC 605. 10. Perkins, Commentary on Mark, T. 8, p. 690. 11. Caird, The Revelation of St. John the Divine, p. 102. 12. Mounce, The Book of Revelation, p. 173. 13. Metzger, p. 62. FONTES BIBLIOGRÁFICAS PARA APOCALIPSE 7 Livros Caird, George B. The Revelation of St. John the Divine [O Apocalipse de São João o teólogo]. Grand Rapids, MI: Wm. B. Eerdmans, 1977. Charles, R. H. The Revelation of St. John [O Apocalipse de São João], 2 ts. ICC. Edimburgo: T & T Clark. T. 1 (1920, 1975), pp. 188-218. Damsteegt, P. G. Foundations of S.D.A. Message and Mission [Fundamentos da Mensagem e Missão dos Adventistas do Sétimo Dia]. Grand Rapids, MI: Wm. B. Eerdmans, 1981. Ford, Desmond. Crisis! A Commentary on the Book of Revelation. T. 2, pp. 381-395. Ezell, Douglas. Revelations on REVELATION [Revelações sobre o APOCALIPSE]. Waco, Texas: Word Books, 1977. Kraft, Heinrich. Die Offenbarung des Johannes [O Apocalipse de João]. Handbuch z. NT 16a. Tübingen: J. C. B. Mohr, 1974. LaRondelle, H. K. Chariots of Salvation. The Biblical Drama of Armageddon [Carruagens de Salvação. O Drama Bíblico do Armagedom]. Hagerstown, MD: Review and Herald Pub. Ass., 1987. Cap. X. ________. O Israel de Deus na Profecia. Princípios de Interpretação Profética. Metzger, Bruce M. Breaking the Code. Understanding the Book of Revelation [Decifrando o Código: Entendendo o Livro do Apocalipse]. Nashville, TN: Abingdon Press, 1993. Moore, Marvin. The Refiner's Fire [O Fogo do Refinador]. Boise, ID: Pacific Press Pub. Ass., 1990. Cap. 13. _______. La crisis del tiempo final. Florida, Buenos Aires: Asociación Casa Editora Sul-Americana, 1993. Caps. 13 e 14. Mounce, Robert H. The Book of Revelation [O Livro do Apocalipse]. The New International Commentary on the New Testament [O novo comentário internacional sobre o Novo Testamento]. Grand Rapids, MI: Wm. B. Eerdmans, 1977. Neall, Beatrice S. The Concept of Character in the Apocalypse with Implications for Character Education [O Conceito de Caráter no Apocalipse com Implicações para a Educação do Caráter]. Washington: University of America Press, 1983. Pp. 145-167. Perkins, Pheme. Commentary on Mark [Comentário sobre Marcos], The New Interpreter's Bible [A Bíblia do Novo Intérprete]. 12 ts. Nashville, TN: Abingdon Press, 1995. T. 8. Swete, Henry B. Commentary on Revelation [Comentário sobre o Apocalipse]. Grand Rapids, MI: Kregel Publications, 1980 (reimpressão de 1977). Were, Louis F. 144.000 SEALED! When? Why? [144.000 Selados! Quando? Por que?]. East Malvern, Vitória, Austrália: A. F. Blackman, 1960.

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Artigo Neall, Beatrice S. "Sealed Saints and the Tribulation" [Os Santos Selados e a Tribulação], Simpósio sobre o Apocalipse. T. l, cap. 12.

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XVI - COMPREENDENDO AS TROMBETAS EM SEUS CONTEXTOS - Apocalipse 8 e 9

O problema fundamental que os intérpretes futuristas têm com o livro do Apocalipse é sua hipótese de que João descreve os eventos do tempo do fim com uma exatidão fotográfica e com absoluta literalidade. Entretanto, o Apocalipse descreve o que Deus "comunicou" por meio de um anjo a João (Apoc. 1:1). Portanto, tomar com literalidade absoluta as imagens que João apresenta dos eventos futuros é um mal-entendido básico do Apocalipse que conduz a um quadro especulativo do tempo do fim. João apresenta o futuro em uma linguagem figurada e simbolismo complexos. Uma chave para entender o estilo literário de João é seu modelo de antecipação e ampliação. Por exemplo, as promessas de Cristo aos vencedores nos capítulos 2 e 3 voltam como tendo sido cumpridas nos capítulos 21 e 22. O anúncio da queda de Babilônia no capítulo 14 se explica mais tarde nos capítulos 16 aos 19. A besta perseguidora no capítulo 11:7 se descreve mais completamente nos capítulos 13 e 17. João usa a técnica de entrelaçar suas visões antecipadoras na primeira metade do livro com a narração orientada ao fim na segunda metade. O Apocalipse é um corpo coerente, um todo orgânico que mostra uma formosa concepção arquitetônica. O maior desafio é como entender as reiterações manifestas que há no livro. Várias vezes se descreve o fim desta era (Apoc. 1:7; 6:12-17; 11:15-19; 14:14-20; 19:11-21; 20:11-15). Estas visões reiterativas do fim são parte do propósito do autor. Excluem a hipótese de que João descreve a era da igreja em uma seqüência de linha reta. Antes, apresenta perspectivas diferentes do fim. João descreve os 7 selos (caps. 6 e 7), as 7 trombetas (caps. 8-11) e as 7 pragas (caps. 16 e 17), como ciclos paralelos que se complementam entre si e que cada vez mais se centram sobre os eventos finais. O livro do Apocalipse como um todo avança da promessa ao cumprimento. Este movimento se parece com um movimento para cima de uma escada em espiral. As séries de selos, trombetas e pragas, cada uma se constrói sobre a outra. Juntas expressam de uma maneira mais adequada a complexidade da era da igreja que qualquer desses ciclos por si só. Cada ciclo revela sua própria ênfase sobre a apostasia, o juízo e a liberação. Este modelo intensificado reforça a mensagem de esperança para a acossada igreja de Cristo. Também rebate uma aceitação fatalista de todas as hostilidades. A igreja perseguida deve recordar que o Cristo glorificado é descrito como um Cordeiro todo-poderoso com "sete chifres" (Apoc. 5:6). No Antigo Testamento, um "chifre" é o símbolo de poder militar e político (Deut. 33:17; Dan. 7:24). A linguagem figurada pouco realista de um cordeiro com 7 chifres, assegura ao povo de Deus que o Cordeiro de Deus, aparentemente derrotado, agora tem poder onipotente para julgar e libertar. Tem esta capacidade porque triunfou sobre Satanás no céu e na terra por meio de seu testemunho e de sua morte (Apoc. 5:5, 9). Agora lhes volta a assegurar a seus verdadeiros seguidores que eles também "reinassem sobre a terra" (v. 10). João apresenta a história da apostasia, a perseguição e a libertação, primeiro nos 7 selos e depois nas 7 trombetas (Apoc. 6-9). Como Jesus foi duas vezes através da era da igreja em Mateus 24 (a: vs. 4-14; b: vs. 15-31), assim também observamos como o Cristo ressuscitado repete os temas básicos de Mateus 24 nos selos e nas trombetas. Enquanto os selos informam o leitor a respeito dos sofrimentos da igreja, as trombetas tratam com os juízos preliminares de Deus sobre os inimigos de seu povo fiel. A Visão Preliminar das Trombetas Em Apocalipse 8:2-6, João apresenta uma visão preliminar em que mostra a origem e o propósito das 7 trombetas. Começa e termina com o anúncio de que há 7 anjos diante de Deus que receberam 7 trombetas (8:2, 6). Este artifício literário, uma inclusão-introdução, marca a visão preliminar como uma unidade independente. Descreve o ministério intercessor de Cristo e sua terminação.

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Esta cena do trono celestial em Apocalipse 8 funciona em uma forma similar à visão preliminar aos 7 selos em Apocalipse 5. Como os 24 anciões tinham "taças de ouro cheias de incenso, que são as orações dos santos" (5:8), assim João vê em Apocalipse 8 a um anjo que tinha "um incensário de ouro", de pé ante o altar, "e lhe deu muito incenso para acrescentá-lo às orações de todos os santos sobre o altar de ouro que estava diante do trono" (8:3). A petição das orações dos santos martirizados "sob o altar" mencionou-se nos selos em Apocalipse 6:9 e 10. Clamam por vingança divina por causa da injustiça que lhes fez, assim como pelo pacto que Deus tem com eles. Pedem a Deus que seja "fiel" a seu pacto. Dessa maneira, a visão de Apocalipse 8:3 e 4 iguala o período de tempo dos selos em Apocalipse 6. A visão se refere ao contínuo ministério intercessor de Cristo no céu, porque recorda a oferta diária de incenso no serviço do santuário israelita (Êxo. 30:1, 7, 8). O principal tema desta visão preliminar das trombetas é a segurança de que Cristo ouve as orações suplicantes de seu povo oprimido como se declara diretamente em Hebreus 4:14-16. Embora as orações de todos os santos se elevam diretamente a Deus, necessitam o "incenso" essencial do próprio altar de Deus. Este incenso representa a propiciação divina por nossos pecados. Disse João a respeito de Cristo: "E ele é a propiciação [hilasmos] por nossos pecados" (1 João 2:2; também 4:10). Ellen White oferece esta aplicação prática: "O universo celestial contempla de amanhã e de tarde cada família que ora, e o anjo com o incenso, que representa o sangue da expiação, acha acesso diante de Deus".1 A visão preliminar termina com uma cena que descreve a finalização do ministério do anjo com o incenso seguido pelo fato de enchê-lo com fogo do altar e lançá-lo na terra, acompanhado pelos trovões, os relâmpagos e um terremoto: "E o anjo tomou o incensário, encheu-o do fogo do altar e o atirou à terra. E houve trovões, vozes, relâmpagos e um terremoto" (Apoc. 8:5). Em seu ato final, o anjo usa o incensário não mais para a intercessão e sim para o juízo: fogo sem incenso. Isto indica que as orações dos santos (Apoc. 6:9-11 ) serão respondidas por meio dos juízos sobre a terra, seguidos pela aparição do Juiz de toda a terra em conexão com um terremoto cósmico. Um protótipo surpreendente se encontra em Ezequiel, quem descreve uma visão da maldição de Jeová sobre a Jerusalém impenitente: "E falou [Jeová] ao homem vestido de linho, dizendo: Vai por entre as rodas, até debaixo dos querubins, e enche as mãos de brasas acesas dentre os querubins, e espalha-as sobre a cidade" (Ezeq. 10:2). O contexto histórico assinala que justamente antes do fatídico ano 586 a.C., o Deus de Israel estava abandonando o templo de Jerusalém com um estrondo poderoso (Ezeq. 10:4, 5, 18). O arrojar as brasas acesas simbolizava a execução do juízo de Deus sobre Jerusalém por meio da guerra e do exílio (Ezeq. 11:8-10). Este juízo foi a manifestação da maldição do pacto se eram desobedientes predita em Levítico 26, o que incluía a destruição de Jerusalém, de seu templo e a dispersão de Israel por meio das guerras (Lev. 26:31-34). A maldição do pacto implicava que Deus faria guerra contra seu povo apóstata: "Eu também procederei contra vós, e vos ferirei ainda sete vezes por seus pecados" (26:24). Não obstante, o Deus do pacto proporcionaria misericórdia para os que se arrependessem e confessassem seus pecados (vs. 40-45; Ezeq. 11:16-21). No marco histórico de Ezequiel, o pulverizar as brasas acesas do trono de Deus sobre a terra não simbolizava o juízo final mas ser um juízo punitivo sobre Israel, com o propósito de levá-los a arrependimento (ver Ezeq. 11:18-20). A visão preliminar de João às 7 trombetas em Apocalipse 8:2-6 deve entender-se contra este transfundo de Ezequiel. A visão de João inclui tanto o tempo de graça como a ira de Deus. A série das trombetas não anuncia meramente a ira final de Deus (esta chega só sob a sétima trombeta), mas também a seqüência de juízos restringidos, os quais "só" danificarão um terço da terra (11 vezes em Apoc. 8 e 9). Estes juízos parciais das 6 primeiras trombetas são juízos de admoestação preliminares. Admoestam ao mundo quanto às últimas pragas que virão e a ira de Deus sem mistura de misericórdia à conclusão do Dia da Expiação, quando ninguém pode entrar no templo do céu (Apoc. 15:1, 5-8).

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As 6 primeiras trombetas ainda saem do altar de ouro de incenso que estão diante de Deus (Apoc. 9:13). Isto sugere que o tempo de graça ainda não terminou durante essas 6 trombetas. O ato simbólico de arrojar fogo do altar sobre a terra indica a iniciação dos juízos de Deus em resposta às orações de súplica dos santos. A seqüência das 6 trombetas (caps. 8 e 9) que culminam na sétima trombeta ou as 7 últimas pragas (caps. 15 e 16), ensinam que os atos simbólicos do anjo diante do altar terão um duplo cumprimento: 1. Calamidades de extensão limitada durante a era da igreja; 2. As últimas pragas, sem misericórdia, sobre os inimigos universais de Cristo e de seu povo. A Relação Entre os Selos e as Trombetas Uma pergunta provocadora é esta: Quando começam as trombetas em relação com os selos que as precedem? São totalmente paralelos estas séries e portanto simultâneas, ou consecutivas, ou só parcialmente paralelas? Não há uma opinião unânime entre os eruditos bíblicos sobre este ponto. O Comentário bíblico adventista informa que a interpretação que favorecem os adventistas vê que as "trombetas correspondem cronologicamente, em grande medida, com o período de história cristã que abrangem as sete igrejas (caps. 2 e 3) e os sete selos (6; 8:1), os quais destacam os acontecimentos políticos e militares sobressalentes deste período".2 Também se menciona o ponto de vista "seqüencial" de acordo com o qual os 7 juízos das trombetas se derramam sobre a terra depois da terminação do tempo de graça. Mas este ponto de vista não encontra respaldo no contexto bíblico por parte da "Comissão Adventista sobre Daniel e Apocalipse". Assinala que os eventos da proclamação do evangelho do tempo do fim em Apocalipse 10 e 11:1-14 pertencem à sexta trombeta. Portanto, tira-se a seguinte conclusão: "Os acontecimentos das trombetas ocorrem no tempo de graça, no tempo histórico... Se a sétima trombeta está unida à terminação da obra do evangelho, a dispensa evangélica, então as 6 trombetas precedentes devem necessariamente soar durante o tempo de graça".3 A opinião que mantém que as trombetas soam depois do tempo de graça se apóia sobre a hipótese de que as trombetas começam só depois da finalização da visão preliminar de Apocalipse 8:2-6. Este ponto de vista supõe que a cena do santuário e as trombetas em Apocalipse 8 estão descritas em uma seqüência cronológica. Mas esta hipótese não está justificada em vista do fato de que as outras visões preliminares do santuário não expiraram antes que comece cada série: a que precede as 7 igrejas (Apoc. 1), a que precede os 7 selos (Apoc. 5), e a que precede as 7 pragas (Apoc. 15). Todas as visões preliminares seguem ativas durante cada série. De fato, cada carta às 7 igrejas se refere a Cristo como aparece na visão inaugural de Apocalipse 1; cada abertura dos selos é o resultado da obra de Cristo na visão de introdução de Apocalipse 5; cada uma das 7 pragas são derramadas enquanto ninguém pode entrar no templo (Apoc. 15:8). Por conseguinte, é uma hipótese mais adequada ver a visão do trono de Apocalipse 8:2-6 como a fonte ativa permanente das 7 trombetas. Jon Paulien conclui dizendo: "É mais provável que João tinha a intenção de que o leitor visse a intercessão ante o altar de ouro como estando disponível até o instante quando soasse a sétima trombeta, que leva à consumação do 'mistério de Deus' (Apoc. 10:7), quer dizer, a terminação do evangelho (Rom. 16:25-27; Ef. 3:2-7; 6:19)".4 O fato de que a quinta trombeta se refira ao "selo de Deus" sobre as frontes do povo de Deus (Apoc. 9:4), e que por isso parece coincidir com o selamento do tempo do fim dos servos de Deus em Apocalipse 7, é uma característica significativa. A referência ao selo de Deus sobre "a fronte" indica que a obra do selamento de Apocalipse 7 e a quinta trombeta estão intimamente conectadas. Ambos os eventos podem ser vistos como contrapartes históricas que acontecem até durante o tempo de graça. Também se reconheceu que a sexta trombeta tem um forte paralelo com o selamento de Apocalipse 7 porque esta trombeta descreve graficamente os equivalentes demoníacos dos 144.000 em uma quantidade assombrosa de tropas (Apoc. 9:13-18).5

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É importante observar que a ordem de Deus para o tempo do selamento, "não danifiqueis nem a terra, nem o mar, nem as árvores, até selarmos na fronte os servos do nosso Deus" (Apoc. 7:3), ainda segue em efeito durante a quinta trombeta (9:4), apesar de que as trombetas anteriores causaram um dano parcial à terra, ao mar e às árvores ("uma terça" parte foi afetada, 8:7-9). A revelação de que o juízo da sexta trombeta vem de parte do anjo que está entre os "quatro ângulos do altar de ouro que se encontra na presença de Deus" (Apoc. 9:13), indica que as 6 primeiras trombetas abrangem todo o tempo de graça da era da igreja. O que cada trombeta descreve com referência à história humana real, deve determinar-se por uma aplicação cuidadosa de cada trombeta à história política e religiosa da igreja cristã do Império Romano até nossos dias. As trombetas não devem ser consideradas por si mesmas, isoladas do amplo contexto do Apocalipse se queremos evitar conclusões especulativos. A Opinião de que as Últimas Pragas Caem Depois do T empo de Graça O conteúdo da sétima trombeta se revela nas 7 pragas do juízo final de Deus (Apoc. 15, 16). Isto se dá a entender ao contar explicitamente as 3 últimas trombetas como três "ais" sobre os moradores da terra (8:13). A quinta e a sexta trombetas se caracterizam como o primeiro e segundo "ai" (Apoc. 9:12; 11:14), como o anúncio de que o "terceiro ai vem logo" (11:14). Entretanto, a sétima trombeta não inclui nenhum ai, exceto a declaração de que chegou "o tempo de julgar aos mortos, e de dar o galardão a seus servos... e de destruir os que destroem a terra" (11:18). Portanto, alguns intérpretes deduziram que a sétima trombeta não está de todo incluída no terceiro ai. Mas outros assinalam corretamente à revelação posterior de João de que as 7 pragas serão o "último ai", porque nelas "está consumada a ira de Deus" (15:1). Isbon T. Beckwith comenta a respeito: "A admissão das taças com as pragas como o terceiro ai tem uma relação importante sobre a questão da composição do Apocalipse".6 A série das trombetas está inextricavelmente entretecida com as 7 últimas pragas por meio do desenho dos três ais de João. De modo que, a porção maior do Apocalipse, os capítulos 8 a 19 constituem uma unidade que desdobra uma ordem sucessiva dos juízos de Deus. O ponto crítico nesta seqüência cronológica é o começo das 7 últimas pragas, descritas como que nelas "está consumada a ira de Deus" (Apoc. 15:1; 14:10). O termo "puro" [akrátou, sem diluir] indica que a ira de Deus se manifestará em "sua força total" nas 7 últimas pragas (14:10, NBE). Isto significa que a justiça já não está unida com a graça em "o cálice de sua ira". João recalca a advertência de que o que rechace a mensagem final de Deus será "atormentado com fogo e enxofre, diante dos santos anjos e do Cordeiro" (Apoc. 14:10). Isto nos recorda o juízo de Deus sobre Sodoma e Gomorra (ver Gên. 19:24, 25), e confirma o conceito de que as pragas chegam depois que terminou o tempo de graça. A declaração, "e a fumaça de seu tormento sobe pelos séculos dos séculos" (Apoc. 14:11), recorda-nos a destruição divina de Edom como uma "retribuição no pleito de Sião" (Isa. 34:8-10). Alude-se em forma patente a estes juízos do Antigo Testamento como tipos do derramamento final da ira de Deus nas 7 últimas pragas. Uma indicação específica do momento decisivo da história da salvação com as últimas pragas é a revelação de que ninguém pode entrar no templo celestial durante esse tempo: "A fumaça da glória de Deus e de sua potência encheu o santuário; ninguém podia entrar nele até que não se terminassem as sete pragas dos sete anjos" (Apoc. 15:8, NBE). Este texto ensina que quando tiver chegado o tempo de Deus, as pragas não podem ser demoradas mais pelas orações de intercessão. A "fumaça da glória de Deus" recorda-nos a nuvem da shekinah que se manifestava no templo do Israel como a presença visível de Deus (ver 2 Crôn. 5:13, 14; 7:1, 2; Ezeq. 10:2-4). Quando Isaías viu o Senhor sentado sobre um trono enquanto o templo "encheu-se de fumaça" (Isa. 6:1, 4), recebeu mensagens de condenação para o Israel apóstata (vs. 9-13). De modo parecido, João vê a fumaça vindo das taças de ouro "cheias da ira de Deus" (Apoc. 15:7). O significado é evidente: "O tempo para a intercessão terminou. Deus, em sua majestade e poder inacessíveis, declarou que o fim chegou. Já não permanece chamando: entra para atuar em juízo soberano".7

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Se as 7 últimas pragas constituírem os ais da sétima trombeta, isto dá a entender que as 6 trombetas prévias simbolizam os juízos preliminares de Deus que têm lugar durante a época da igreja. Se os juízos das pragas assinalam o começo do tempo em que já não há graça, então os juízos das trombetas caem dentro do tempo de graça e abrangem a época da igreja. Este entrelaçamento das trombetas e as pragas apresenta um panorama telescópico que João condensou em sua visão preliminar do trono de Apocalipse 8:2-5. Comparação das Visões Preliminares das Trombetas e das Pragas É significativo que as série das trombetas e das pragas estão arraigadas em uma visão específica do santuário: Apocalipse 8:2-5 e 15:1, 5-8. Tanto suas distinções como suas características comuns estão cheias de significado. A visão que João teve do altar em Apocalipse 8 revela dois cenários sucessivos, um de oração intercessora com incenso ante o altar (Apoc. 8:3, 4), seguida por uma em que se arroja fogo à terra por meio do incensário (v. 5). Deste modo, esta visão une o serviço mediador de Cristo no altar do incenso com sua obra final de juízo por fogo. A visão termina com uma descrição da vinda de Deus à terra: "E houve trovões, e vozes, e relâmpagos, e um terremoto" (v. 5). Jon Paulien sintetiza ambos os cenários: "As [advertências das trombetas] simbolizam os juízos atuais de Deus que constituem uma advertência de juízos maiores que têm que vir".8 As trombetas e as pragas se relacionam entre si como tipos históricos locais ao antítipo mundial. A sétima trombeta termina com uma visão do templo que mostra uma assinalada progressão com a de Apocalipse 8. João vê o templo de Deus no céu outra vez aberto, mas agora contempla "o arca de seu pacto" seguida por "trovões, relâmpagos, um terremoto e grande granizo" (Apoc. 11:19). A seqüência é evidente. O foco de atenção mudou do altar celestial de incenso em Apocalipse 8 até o arca do pacto de Deus, que no templo de Israel estava colocada no lugar santíssimo. Esta seqüência progressiva aponta ao Dia da Expiação nos serviços do tabernáculo do Israel (ver Lev. 16). No último dia, Deus separava o arrependido do impenitente: "Porque toda pessoa que não se afligir neste mesmo dia, será eliminada de seu povo" (Lev. 23:29). A visão do templo onde aparece o arca em Apocalipse 11:19 se amplia adicionalmente em Apocalipse 15:5-8, onde se descreve o ministério de juízo dos 7 anjos. Quando esses anjos derramaram suas taças da ira de Deus sobre a terra, a voz de Deus exclama desde seu trono: "Feito está. Então houve relâmpagos e vozes e trovões, e um grande tremor de terra... E caiu do céu sobre os homens um enorme granizo" (Apoc. 16:17, 18, 21). Esta descrição final se compara com a de Apocalipse 11:19, dando à sétima trombeta a mesma terminação como a que tem a sétima praga. Dessa maneira as trombetas continuam nas últimas pragas. E tanto as trombetas como as pragas estão implantadas na visão do trono de Apocalipse 8:2-5. Jon Paulien o declara bem em sua recapitulação: "O livro do Apocalipse flui em forma natural... de um panorama da cruz a um panorama da inauguração do ministério de Cristo à luz da cruz (Apoc. 5), até um quadro do ministério intercessor que resulta disso (Apoc. 8:3, 4), e em última instância ao juízo que antecede o fim (Apoc. 11:18, 19). Esta ordem de eventos é característico de todo o Novo Testamento".9 As descrições da teofania final em Apocalipse 11:19 e 16:17-21 mostram o característico adicional de uma enorme tormenta de granizo não incluída em Apocalipse 8:5. O significado deste acréscimo pode ver-se no fato de que o "granizo" era uma parte essencial das guerras santas de Deus contra seus inimigos (Jó 38:22, 23): contra Egito (Êxo. 9:18, 22-26), contra os amorreus (Jos. 10:11), contra os inimigos do Davi (Sal. 18:12-14), contra um Israel apóstata e rebelde (Isa. 28:2, 17) e contra Judá (Ezeq. 13:11, 13). Especialmente, a predição de Ezequiel de que Deus lutará contra Gogue e suas nações aliadas, por sua ardente ira com "um grande tremor sobre a terra" junto com "impetuosa chuva, e pedras de granizo, fogo e enxofre" (Ezeq. 38:19, 22), é significativo. O cumprimento da última guerra santa que Ezequiel apresenta, e que o Apocalipse explica como "Armagedom" (Apoc. 16:13-16), não terá lugar durante as 6 primeiras trombetas, e sim durante as últimas pragas. Richard Bauckham interpretou a ampliação gradual do terremoto escatológico e do granizo em

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Apocalipse 8:5, 11:19, 15:5 e 16:17-21 da seguinte maneira: "O desenvolvimento progressivo da fórmula harmoniza com a severidade cada vez major de cada série de juízos, quando as visões se enfocam mais estreitamente sobre o próprio Fim e as advertências limitadas dos juízos das trombetas dão lugar às sete últimas pragas da ira de Deus sobre os que finalmente são impenitentes".10 Os juízos das trombetas revelam algo da paciência angustiosa de Deus com seus inimigos. O aumento gradual da intensidade dos juízos de Deus mostra a reticência divina para pôr fim ao tempo de graça. Aqui se aplicam as palavras do Pedro: "O Senhor não retarda sua promessa, segundo alguns a têm por tardança, mas sim é paciente para conosco, não querendo que nenhum pereça, mas que todos procedam ao arrependimento" (2 Ped. 3:9). Uma Teologia dos Selos e das Trombetas Qual é o significado teológico dos selos e das trombetas? O conteúdo de cada série mostra que está dirigido a diferentes classes de pessoas. Os selos se centram sobre os mártires que foram mortos por causa de seu testemunho à Palavra de Deus e o testemunho de Jesus durante a era da igreja (Apoc. 6:9-11). Seu clamor, "Até quando...?", indica que a perseguição contra os cristãos continuou por um tempo prolongado. Os primeiros 4 selos predizem as perseguições dos cristãos devidas à sinagoga (2:9; 3:9) e a Roma pagã (1:9; 2:10, 13). O quinto selo estende a perseguição dos santos além da Roma imperial até que termine a tribulação final (Apoc. 6:11; 7:14). A frase do anjo: "Que descansassem ainda um pouco de tempo", corresponde ao "pouco tempo" atribuído ao diabo em Apocalipse 12:12, e também se estende até a segunda vinda de Cristo. Os selos ensinam que o discipulado de Cristo inclui sofrer por Cristo (ver Apoc. 1:9). Leão Morris expressou bem esta lição: "As palavras de João [em Apoc. 6:9] são um recordativo de que através da história houve uma hostilidade persistente por parte dos que exercem o poder para os cristãos profundamente comprometidos. Manifesta-se hoje, como em outros períodos, e será assim até o fim do tempo".11 Mas o Cordeiro que abre cada selo do livro é ao mesmo tempo o Leão vencedor da tribo do Judá (Apoc. 5:5; 6:1). Ele está em pé ao fim dos selos para julgar a todos os homens (6:15-17; cf. Mat. 25:31-46). O reino da glória vem só depois da grande tribulação (Apoc. 7:9-17). A existência cristã é viver com a tensão do sofrimento e a esperança do reino de Cristo. Graeme Goldsworthy observa com perspicácia: "Reflete o sofrimento do Cordeiro e antecipa a consumação do reino por meio da vitória do Leão".12 O quinto selo consola os que se sacrificam a si mesmos por causa de Cristo. O clamor dos mártires não é por uma vingança encarniçada mas sim pela vindicação de sua fé em Deus e na causa de Cristo pela qual foram mortos. Os mártires esperam a execução da justiça sobre "os que moram na terra". Os juízos descritos nos selos não devem entender-se como juízos diretos de Deus, mas sim como as ações malvadas dos perseguidores, "os moradores da terra", um termo usado no Apocalipse como um termo técnico para designar a todos os que sucumbiram à adoração idolátrica (Apoc. 13:8, 12; 17:2, 8). O clamor dos santos não se dirige a alguns juízos preliminares a não ser ao pronunciamento final do juízo de Deus em seu favor. Solicitam o cumprimento disposto da cena do juízo de Daniel: "Eu olhava e eis que este chifre fazia guerra contra os santos e prevalecia contra eles, até que veio o Ancião de Dias e fez justiça aos santos do Altíssimo; e veio o tempo em que os santos possuíram o reino" (Dan. 7:21, 22; ver também Deut. 34:23). Os mártires assassinados até estão clamando hoje a Deus para que cumpra suas promessas. Tais orações persistentes reclamando justiça dão por sentado a fidelidade de Deus, "o Senhor santo e verdadeiro" (Apoc. 6:10). A mensagem dos selos denota que Cristo decide quem são os herdeiros legítimos do reino de Deus, quais a sua vista constituem o verdadeiro "povo dos santos do Altíssimo", e a quem "o reino e o domínio e a majestade debaixo de todo o céu" será dado (Dan. 7:27). Este assunto fundamental é a preocupação pastoral de todo o Apocalipse.

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Na visão introdutória das trombetas, João viu como "as orações de todos os santos" sobre a terra subiam diante de Deus com a fumaça do incenso celestial (Apoc. 8:3, 4). O céu responderá a essas orações dos santos que sofrem arrojando "fogo" do altar à terra. Isto representa juízos específicos que limitam ou incapacitam os poderes perseguidores do mundo até que os juízos universais trazem a destruição final. Daniel disse ao rei de Babilônia que o Deus de Israel "muda os tempos e as estações; tira reis e põe reis" (Dan. 2:21). Esta soberania ativa de Deus se declara simbolicamente por meio das 7 trombetas da época da igreja. As apresentações das trombetas recordam especialmente as pragas do Egito. Deus enviou as 10 pragas em resposta ao clamor de seu povo: "ouvi seu clamor..." (Êxo. 3:7), o que nos recorda que os juízos de Deus se derramam em defesa de seu povo do pacto. Isto é patente especialmente se compararmos a quinta trombeta com o quinto selo. Enquanto o quinto selo (Apoc. 6:9-11) centra-se sobre a petição dos santos martirizados, a quinta trombeta descreve os juízos sobre o mundo incrédulo, só sobre os que não têm "o selo de Deus em suas frontes" (9:4). As 3 últimas trombetas inclusive se caracterizam como "ais" para "os habitantes da terra", a população ímpia do mundo (11 :10; 13:8, 12; 17:2, 8). Este contraste básico entre os selos e as trombetas indica que as duas seqüências proféticas se enfocam sobre diferentes pessoas, enquanto que se comparam mutuamente. Ambas as séries são complementares. Juntas formam um quadro mais completo da era da igreja. Enquanto que os selos levantam a questão inquietante do por que Deus parece ser tão passivo a respeito da sorte de seu povo açoitado, as trombetas asseguram que Cristo está comprometido ativamente no mundo. Alcança a seus inimigos até que se termina sua paciência. Seu juízo chega a ser definitivo com a sétima trombeta, quer dizer, com as 7 pragas. As trombetas apontam para trás à liberação de Israel do Egito. O propósito das pragas do Egito era convencer a Faraó que significavam "o dedo de Deus" (Êxo. 8:19) e que devia deixar ir a Israel para que adorassem a seu Deus (10:7). De igual maneira, o propósito dos juízos das trombetas é convencer ao mundo ímpio que Cristo está a favor de seu povo e chama todos os homens a que se arrependam. Michael Willcock assinalou este aspecto das trombetas: "Os selos mostraram à igreja sofredora suplicando para que se faça justiça. Mas as trombetas mostram que se oferece misericórdia ao mundo ímpio. A oferta não é aceita, e de fato, o mundo não se arrependerá (Apoc. 9:20 e seguintes); mas nunca poderá dizer-se que Deus não fez tudo o que estava em suas mãos, inclusive até a devastação de sua terra uma vez perfeita, para fazer entrar em razão aos homens".13 Esta exortação ao arrependimento sobre os inimigos do povo de Cristo é o significado teológico dos selos e das trombetas. As Trombetas como Juízos Divinos de Fogo O símbolo de lançar fogo do altar celestial à terra em Apocalipse 8:5 é desafiante. O simbolismo se repete em Apocalipse 14, onde "saiu do altar outro anjo, que tinha poder sobre o fogo" e anunciou que as uvas da terra seriam arrojadas "no grande lagar da ira de Deus" (Apoc. 14:18, 19). Esta conexão com Apocalipse 14 indica que a visão preliminar das trombetas em Apocalipse 8 prevê que todas as trombetas chegam até a segunda vinda de Cristo. Apocalipse 14 mostra que a ira de Deus permanece "fora da cidade" (V. 20), quer dizer, fora do "monte Sião", sobre o qual estão em pé o Cordeiro com os 144.000 selados (v. 1). Portanto, o fogo do altar celestial não vem como uma destruição indiscriminada, mas sim como um juízo severo para rechaçar os indignos e proteger os fiéis. Tais experiências terríveis por fogo já tinham ocorrido antes, quando Deus fez chover fogo sobre a Sodoma e Gomorra, enquanto que a família de Ló foi vindicada (Gên. 19:24-29), e de novo quando "saiu fogo de diante do Jeová" e consumiu os 250 homens que ofereciam o incenso deixando ilesos os outros israelitas (Núm. 16:35). Também Sadraque, Mesaque e Abede-Nego sofreram uma dura prova de fogo, durante a qual foram protegidos dentro do forno de fogo ardendo, enquanto que o fogo matou os soldados os arrojaram dentro (Dan. 3:19-23). O incêndio da cidade de Jerusalém no ano 70 foi uma dura prova de fogo (ver Mat. 22:7), na qual os que rechaçaram a Cristo experimentaram calamidades terríveis enquanto que os crentes cristãos escaparam ao castigo (Luc. 21:20-23). Paulo também descreve o juízo final como uma tremenda prova por meio de fogo com respeito à obra de cada um, "pois pelo fogo

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será revelada; e a obra de cada um qual seja, o fogo a provará" (1 Cor. 3:13). Para os que rechaçam a Cristo, os apóstolos esperavam só um horrendo juízo e um "fervor de fogo que tem que devorar os adversários" (Heb. 10:26-29), porque "nosso Deus é fogo consumidor" (Heb. 12:29; ver também 2 Tes. 1:5-8). Então podemos entender o ato de arrojar fogo do céu à terra em Apocalipse 8:5 como representando as duras provas enviadas pelo céu que discriminam entre o justo e o malvado. O propósito final destes juízos sucessivos é desqualificar os que quebrantam o pacto e definir os herdeiros legítimos do reino de Deus. Esta descrição simbólica dos juízos das trombetas toma o motivo do êxodo do Israel e sua viagem pelo deserto rumo à terra prometida. Em particular, os 7 toques de trombeta em Apocalipse 8 e 9 nos recorda da conquista do Jericó por parte dos israelitas. Então o assunto era: Quais são os herdeiros legítimos da terra prometida? Ellen White explicou que "Deus estava para estabelecer Israel em Canaã, desenvolver entre eles uma nação e governo que fossem uma manifestação de Seu reino na Terra".14 De acordo com o mandato divino, "consumiram com fogo a cidade e tudo o que nela havia" (Jos. 6:24). Mas Raabe e sua família foram perdoados por causa de sua fé no Deus de Israel. Desta maneira, Israel herdou o "reino" de Jericó, enquanto os condenados foram despojados da terra. Da mesma maneira, quando os inimigos de Deus forem derrotados durante as trombetas apocalípticas (Apoc. 8 e 9), a última trombeta anuncia: "O reino do mundo se tornou de nosso Senhor e do seu Cristo, e ele reinará pelos séculos dos séculos" (Apoc. 11:15). Esta proclamação triunfante revela o motivo subjacente de toda a série das trombetas: Quem é digno de herdar o reino do mundo? O grito cósmico de vitória significa o cumprimento do reino do Messias de Deus, como é prometido nos salmos messiânicos (por exemplo, os Sal. 2 e 110). Antes que se realize esta meta da história, os "moradores da terra" devem ser primeiro desqualificados pelas repetidas quedas de seus reinos por meio dos terríveis juízos divinos. As trombetas apresentam estes juízos como terríveis prova históricas. As Trombetas como Pragas Preliminares sobre um Mund o Hostil As trombetas descrevem os juízos de Deus fazendo alusões às antigas pragas do Egito: O primeiro toque de trombeta envia "granizo e fogo misturados com sangue, que foram lançados sobre a terra" (Apoc. 8:7). Isto se refere à sétima praga do Egito (Êxo. 9:22-26) que foi enviada por motivo da libertação de Israel. A segundo trombeta joga uma grande montanha no mar, de modo que "a terça parte do mar se converteu em sangue, e morreu a terça parte dos seres viventes que estavam no mar" (Apoc. 8:8, 9). Isto é uma alusão à primeira praga do Egito, quando Moisés feriu o rio Nilo com sua vara e "todas as águas que havia no rio se converteram em sangue" (Êxo. 7:20, 21). O toque da terceira trombeta envia uma estrela ardendo sobre "a terça parte dos rios, e sobre as fontes das águas" de maneira que as águas se fizeram absinto, matando a muitos homens (Apoc. 8:10, 11 ). Isto tem alguma semelhança com o fato de que os egípcios não podiam beber a água do Nilo (Êxo. 7:21). A quarta trombeta faz que uma teça parte do sol, da lua e das estrelas se escureçam na terça parte do dia e da noite (Apoc. 8:12). Este fenômeno nos recorda da nona praga, que causou densas trevas sobre toda a terra do Egito por três dias (Êxo. 10:21-23). A quinta trombeta faz que lagostas diabólicas torturem as pessoas por 5 meses (Apoc. 9:1-11). Isto alude à oitava praga do Egito, quando as lagostas devoraram "toda a erva da terra, e todo o fruto das árvores" (Êxo. 10:13-15). A sexta trombeta envia uma cavalaria monstruosa do rio Eufrates que mata a "a terça parte dos homens" (Apoc. 9:13-19). Um juízo assim corresponde à décima praga, quando o anjo da morte enviado por Deus causou a morte de todos os primogênitos do Egito, "para que saibam que Jeová faz diferença entre os egípcios e os israelitas" (Êxo. 11:7). Ao mesmo tempo que lemos que a cada praga que caiu sobre o Egito Faraó endureceu seu coração para não deixar ir a Israel, assim também lemos depois da sexta trombeta: "Os outros homens, aqueles que não foram mortos por esses flagelos, não se arrependeram das obras das suas mãos, deixando de adorar os demônios e os ídolos de ouro, de prata, de cobre, de pedra e de pau... nem ainda se arrependeram dos seus assassínios, nem das suas feitiçarias,

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nem da sua prostituição, nem dos seus furtos" (Apoc. 9:20, 21). A semelhança literária das trombetas com as pragas do Egito nos diz que as trombetas não são fundamentalmente desastres naturais ou calamidades gerais, e sim as maldições do Deus do pacto sobre seus inimigos. Da vitória de Cristo sobre Satanás, o príncipe deste mundo (João 12:31; 14:30; 16:11; 2 Cor. 4:4), Cristo esteve atuando para voltar a estabelecer o reino de Deus na terra: "Porque preciso é que ele reine até que tenha posto a todos seus inimigos debaixo de seus pés" (1Cor. 15:25). O ministério intercessor de Cristo no céu inclui sua paciência redentora para com seus inimigos. As trombetas anunciam os limites de sua paciência e a contínua derrocada dos reinos malignos antes de sua vinda. As trombetas revelam a incapacidade dos reinos humanos e os incapacita. Depois, a sétima trombeta declara: "O reino do mundo se tornou de nosso Senhor e do seu Cristo, e ele reinará pelos séculos dos séculos" (Apoc. 11:15). O Criador Continua Sendo o Governante da Terra As trombetas sugerem a ruína gradual da obra da criação. O juízo de cada trombeta se refere a um característico que corresponde a um dia da semana da criação: (1) a terra; (2) o mar; (3) os rios e as fontes das águas; (4) o Sol, a Lua e as estrelas; (5) as lagostas; (6) o homem; (7) o reino. Desde esta perspectiva os juízos das trombetas tocam todos os 6 dias da criação. A destruição progressiva da criação de Deus pode entender-se como uma desqualificação dos atuais habitantes do mundo: "O significado destas referências à criação [em Apoc. 8-9], sem dúvida alguma indicam que Cristo está estabelecendo seu reino sobre cada aspecto da criação, e que todos os herdeiros falsos, embora exerçam temporalmente o domínio, serão despojados".15 Entretanto, Cristo não destrói sua própria criação. Só proporciona oportunidade a Satanás, cujo nome tanto em hebraico como em grego é "destruidor" (Apoc. 9:11 ). Satanás destrói o que Deus criou. Nenhuma passagem no Apocalipse descreve mais graficamente este caráter demoníaco que a quinta e a sexta trombetas (cap. 9). Podemos esperar que aconteça isto cada vez mais no curso da história, especialmente no tempo do fim. João não espera que apliquemos em forma literal esta descrição de lagostas e cavalos que atormentam. Deseja que compreendamos que Deus usa inclusive os poderes do mal e de Satanás como seus instrumentos de juízo para expor o mal oculto de seus adversários. As trombetas mostram que a igreja não deve esperar que o evangelho vá criar paz no mundo e vá dissipar a idolatria (ver Apoc. 9:20, 21). De fato, a segunda metade do Apocalipse revela que o evangelho será cada vez mais escurecido pelos espíritos malignos que procedem da boca do dragão, da boca da besta e da boca do falso profeta (16:13). O propósito da atividade dos espíritos de demônios é enganar a humanidade por meio de sinais milagrosos e dessa maneira unir ao mundo em uma rebelião contra seu Criador. Tanto Jesus como Paulo predisseram que o tempo do fim estaria marcado por uma manifestação crescente de engano demoníaco por meio de sinais e milagres (ver Mat. 24:24; 2 Tes. 2:9-12). Esta atividade intensificada dos espíritos de demônios é colocada no Apocalipse como a contraparte do reavivamento da obra do Espírito Santo, tal como se descreve em Apocalipse 18:1-4. Em contraste com o escurecimento do céu "pela fumaça do poço" do abismo (9:2), aparece o anjo do Senhor que tem grande autoridade para iluminar a terra com sua glória (18:1). Este contraste nos leva a considerar as últimas trombetas de Apocalipse 9 dentro do grande plano de Deus, tal como se desenvolve nas visões do tempo do fim em Apocalipse 12 a 20. Estas visões revelam o objetivo oculto dos espíritos demoníacos, que consiste em conduzir a todo mundo a seu último ataque contra os seguidores do Cordeiro de Deus (13:15-17; 20:7-9). Nesse desenvolvimento final do grande conflito entre Deus e Satanás, "tudo o que não esteja ocupado pelo Espírito de Deus, chegará a estar ocupado pelos espíritos de demônios".16 Referências 1. Ellen White, 7 CBA 982 (T. 7-A, P. 412).

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2. 7 CBA 804. 3. Holbrook, Symposium on Revelation – Book 1, p. 181. 4. Paulien, "Seals and Trumpets: Some Current Discussions", Simpósio sobre o Apocalipse, T. 1, p. 195. 5. Ver Paulien, Ibid., p. 196. 6. Beckwith, Isbon T. The Apocalypse of John. p. 671. 7. Mounce, The Book of Revelation, p. 290. 8. Paulien, Decoding Revelation's Trumpets. Literary Allusions and Interpretation of Revelation 8:7-12, p. 208. 9 Paulien, "Seals and Trumpets: Some Current Discussions", Simpósio sobre o Apocalipse, t. 1, p. 197. 10. Bauckham, The Climax of Prophecy. Studies on the Book of Revelation, p. 204. 11. Morris, The Revelation of St. John, p. 108. 12. Graeme Goldsworthy, The Lamb and the Lion. The Gospel in Revelation [O Cordeiro e o Leão. O Evangelho no Apocalipse] (Nashville: T. Nelson Publishers, 1984), p. 33. 13. Michael Wilcock, I Saw Heaven Opened [Vi o céu aberto] (Downers Grove, IL: Intervarsity Press, 1975), p. 95. 14. Ellen White, PP 492. 15. Rusten, A Critical Evaluation of Dispensational Interpretations of the Book of Revelation, t. 2, p. 370. 16. D. Ford, Crisis! A Commentary on the Book of Revelation, t. 2, p. 417.

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XVII - UMA APLICAÇÃO HISTÓRICA DAS TROMBETAS Para começar, desejo enfatizar a natureza simbólica das visões que Deus deu a João, "para mostrar aos seus servos as coisas que em breve devem acontecer" (Apoc. 1:1; também 4:1; 17:1; 21:9; 22:1, 6, 8). A linguagem apocalíptica não deve ser pressionado nas descrições literais de nossa moderna sociedade tecnocrata. Antes esta linguagem exige que determinemos o que simboliza. Tomar as descrições visionárias como realidades literais, da mesma maneira que os livros de Gênesis e Êxodo descrevem história, é um mal-entendido básico da intenção de João. Não obstante, os comentadores que apóiam o sistema futurista de interpretação, supõem simplesmente que as 4 primeiras trombetas descrevem colisões repetidas de meteoros ou asteróides com a terra. As visões de João nos exigem que perguntemos: Onde e como usa o Antigo Testamento estes quadros em sua perspectiva profética? Rechaçamos tanto os princípios do literalismo como os do alegorismo para a linguagem apocalíptica do livro porque são enfoques especulativos. Está mais em harmonia com o pensamento bíblico, ver as trombetas como juízos do pacto sobre os que quebrantam o pacto. João usa a linguagem e os símbolos do pacto, não descrições seculares e de adivinhação. Na era da igreja, Cristo executa seus juízos preliminares sobre as fortalezas do reino das trevas. O som de trombeta era um símbolo familiar de guerra santa (ver Núm. 10:9; Sof. 1:16; Jer. 4:5, 19, 21; Ezeq. 7:14). As trombetas descrevem como Cristo, como o Leão da tribo do Judá (Apoc. 5:5) ou o Guerreiro santo, começa a enviar seus juízos preliminares. Usa os agentes tradicionais da guerra santa, tais como o fogo, o granizo, a espada, as pragas, o escurecimento dos céus, as lagostas e os escorpiões, um terremoto, e até anjos caídos, porque tudo permanece sob seu domínio soberano. Nas trombetas, Cristo põe em atividade uma série de juízos limitados de admoestação. A aplicação histórica das trombetas é notoriamente difícil e discutível. A maioria dos comentadores se abstém de fazer qualquer aplicação concreta à história. Não obstante, estamos obrigados a identificar as realidades históricas às quais se referem as trombetas de guerra. Nosso guia mais seguro é a profecia mestra de Jesus em Mateus 24, que está apoiada no esboço apocalíptico do Daniel (ver Mat. 24:15). Jesus se referiu especificamente aos juízos messiânicos sobre Jerusalém e Judéia por meio do exército romano entre os anos 66 e 135 d.C. (ver Mat. 24:15-21; Luc. 21:20-24). Paulo aplicou as profecias de Daniel concernentes ao quarto império mundial a Roma imperial, a que seria removida como "o que impede" ou "o que o freia" antes do surgimento do anticristo (ver 2 Tes. 2:7). Paulo esperava que o anticristo se revelasse posteriormente dentro do templo de Deus, só para ser julgado e destruído na vinda de Cristo (2 Tes. 2:4, 8; para uma análise detalhada de 2 Tes. 2, ver o cap. VII desta obra). Tanto Jesus como Paulo indicaram os juízos vindouros de Deus na era cristã. Como o Senhor soberano da história, Cristo usa os governantes terrestres como seus instrumentos de castigo, assim como Deus tinha usado antes os reis de Assíria (Isa. 10:5, 6), de Babilônia (Jer. 25:8-11) e da Pérsia (Isa. 44:28; 45:1) como seus instrumentos. Ao mesmo tempo, os profetas anunciaram que Deus também julgaria e castigaria as nações que tinha usado porque tinham excedido os limites assinalados por Deus com crueldades e vangloria idólatras (Isa. 10:5-7, 12; Jer. 25:15-26; 51:47-49, 55, 56; Dan. 5:24-28). O estilo de Deus para executar justiça deve começar com seu próprio povo do pacto ("começarão por meu santuário", Ezeq. 9:6). Jeremias declarou que a taça da ira divina seria derramada primeiro sobre o Israel rebelde: "Porque se na cidade que leva meu nome comecei o castigo, vós ides ficar impunes? [as nações gentias inimigas]. Não ficareis impunes, porque eu reclamo a espada contra todos os habitantes do mundo, oráculo do Senhor dos exércitos" (Jer. 25:29, NBE; ver também Amós 3:2 e Miq. 3:12).

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O Antigo Testamento descreve quão terrivelmente sofreram Jerusalém e todo o Israel quando o exército de Babilônia destruiu finalmente Jerusalém e seu templo no ano 586 a.C. (2 Crôn. 36:15-19; Lam. 4:11). O mesmo juízo foi predito por Daniel para o templo reconstruído de Jerusalém, esta vez pelo pecado supremo de expor o Messias a uma morte violenta (Dan. 9:26, 27). Isto se cumpriu, de acordo com a aplicação do Jesus, quando o exército romano destruiu a cidade e o templo no ano 70 d.C. e continuou devastando a terra do Israel até que a rebelião de Bar-Koba foi sufocada em 135 (Mat. 23:32, 37-39; 24:1, 2, 15-21; Luc. 19:41-44; 21:20-24). Jesus tomou uma imagem de juízo de Ezequiel que também forma parte do simbolismo da trombeta: "Porque se à árvore verde fazem isso, que se fará à árvore verde?" (Luc. 23:31). Ezequiel anunciou que o Deus do Israel acenderia um fogo [em Jerusalém] "o qual consumirá em ti toda árvore verde e toda árvore seca" (Ezeq. 20:47). Jesus usou este simbolismo da árvore para anunciar o juízo iminente sobre Jerusalém. A metáfora das "árvores" representa claramente o povo, e se aplica em particular aos israelitas (tanto no Ezeq. 20 como no Luc. 23:31). David Aune o explica assim: "Se Jesus, que é inocente, está a ponto de ser executado, quanto mais aqueles que são culpados (os judeus que rechaçaram a Jesus) pagam essa penalidade".1 1 - A Primeira Trombeta Aplicada à História A primeira trombeta anuncia "saraiva e fogo misturados com sangue" que foram lançados sobre a terra e queimaram uma terça parte das árvores e de erva verde (Apoc. 8:7). Esta combinação irreal de sangre com granizo do céu, assinala uma descrição simbólica dos juízos de Deus sobre os primeiros perseguidores do Israel messiânico. Em seu discurso profético, Primeiro Jesus começou a informar a seus discípulos a respeito de "guerras e rumores de guerras" (Mat. 24:6), mas na seção paralela descreveu a queda de Jerusalém e as aflições do povo judeu (vs. 15-19), junto com a aflição do povo messiânico de Deus (vs. 20, 21). Quando João escreveu o Apocalipse, ainda não tinha terminado a guerra de Roma contra os judeus. O exército romano às ordens do Trajano e Adriano continuaram desolando a Judéia até o ano 135, quando 50 cidades e 985 povos foram destruídos e despovoados. João Wesley comenta sobre a primeira trombeta o seguinte: "Dessa forma, a vingança começou com os inimigos judeus do reino de Cristo".2 Jesus tinha declarado: "Eu vim para lançar fogo sobre a terra" (Luc. 12:49). Para ele, uma figueira estéril que estava no caminho a Jerusalém representava a nação judia. Seu ato simbólico de lhe jogar uma maldição (Mat. 21:19) funciona como um tipo do simbolismo da árvore na primeira trombeta. Tanto os dirigentes como seus seguidores foram tidos como responsáveis por sua incredulidade no Cordeiro que Deus tinha enviado a Israel. Cristo advertiu: "E te derribarão, a ti e a teus filhos que dentro de ti estiverem, e não deixarão em ti pedra sobre pedra, pois que não conheceste o tempo da tua visitação" (Luc. 19:44). 2 - A Segunda Trombeta Aplicada à História A segunda trombeta descreve como "[algo] como um grande monte envolto em fogo foi arrojado ao mar", causando que uma terceira parte do mar se convertesse em "sangue", destruindo os seres vivos que estavam no mar e as naves (Apoc. 8:8, CI). Esta representação simbólica ("algo parecido") toma suas imagens da queda de Babilônia descrita em Jeremias 51; Deus julgou à antiga Babilônia por "todo o mal que eles fizeram a Sião" (Jer. 51:24). "Eis que sou contra ti, ó monte que destróis, diz o Senhor, que destróis toda a terra; estenderei a mão contra ti, e te revolverei das rochas, e farei de ti um monte em chamas" (Jer. 51:25). Assim o "destruidor" (Babilônia) seria destruído pelo Deus de Israel, ao ser arrojado no mar. Os "montes" foram usados no Antigo Testamento como símbolos de nações (ver Isa. 2:2, 3; 11:9; 13:4; 41:15; Dan. 2:35, 44, 45; Ezeq. 35:2, 7, 8; Zac. 4:7). Jon Paulien observou o seguinte: "Em passagens que se referem a juízo, montes que representam nações sempre são o objeto dos juízos de Deus, nunca os agentes de seus juízos (Isa. 41:15; 42:15; Ezeq. 35:2-7; 38:20; Zac. 4:7)".3

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Depois do ano 70, tanto judeus como cristãos viram em Roma imperial uma nova "Babilônia", porque Roma, como Babilônia, tinha destruído o templo e Jerusalém (4 Esdras 3; 2 Baruque 10-11; 1 Enoc 18). Pedro inclusive menciona "Babilônia" como um nome misterioso para Roma (1 Ped. 5:13). O segundo toque de trombeta anuncia o juízo de Cristo sobre o monte ardente ou império de Roma. Depois da queda de Jerusalém veio a queda de Roma. João descreve a queda de Babilônia do tempo do fim com uma imagem similar: "Então, um anjo forte levantou uma pedra como grande pedra de moinho e arrojou-a para dentro do mar, dizendo: Assim, com ímpeto, será arrojada Babilônia, a grande cidade, e nunca jamais será achada. ... E nela se achou sangue de profetas, de santos e de todos os que foram mortos sobre a terra" (Apoc. 18:21, 24). Este paralelo notável entre a segunda trombeta e Apocalipse 18 assinala o mesmo motivo dos juízos: o clamor dos santos martirizados! Diz Paulien: "O mar que se converte em sangre na segunda trombeta representa provavelmente uma completa mudança proléptica da perseguição do povo de Deus pelos ímpios mencionados em Apocalipse 16:4-6 (cf. 18:24). Recebem isso em pago pelo que têm feito".4 A segunda trombeta indica que tanto o monte como o mar são julgados, "converteram-se em sangue". O "mar" era um símbolo corrente para os povos da terra (Isa. 57:20; 17:12, 13; Jer. 51:41, 42; Dan. 7:2, 3, 17). Dessa maneira, a segunda trombeta anuncia não só a queda de Roma mas também a devastação de sua ordem social e econômica: "E morreu a terça parte da criação que tinha vida, existente no mar, e foi destruída a terça parte das embarcações" (Apoc. 8:9). 3 - A Terceira Trombeta Aplicada à História A terceira trombeta anuncia que "uma grande estrela" chamada "Absinto" cairia do céu ardendo como uma tocha sobre a terça parte dos rios e sobre as fontes das águas, convertendo-as em absinto, de maneira que "muitos homens morreram" (Apoc. 8:10, 11). O Apocalipse começa com a visão inaugural de Cristo tendo em sua mão direita as "sete estrelas" (1:16). Estas estrelas se interpretaram como símbolos dos "anjos das sete igrejas" (v. 20). Este simbolismo de "estrelas" tem uma raiz em Daniel: "Os que forem sábios, pois, resplandecerão como o fulgor do firmamento; e os que a muitos conduzirem à justiça, como as estrelas, sempre e eternamente" (Dan. 12:3). Jesus aplicou o simbolismo das estrelas a todos os justos no reino vindouro do Pai (Mat. 13:43). Apocalipse 12 usa "estrelas" como um símbolo dos dirigentes do povo de Deus (Apoc. 12:1). Então, o ato de uma estrela que cai representa a maneira como a liderança da igreja cairia coletivamente da verdade na escuridão do engano e a apostasia. Moisés usou o venenoso e amargo "absinto" como um símbolo de idolatria (Deut. 29:17, 18), e Jeremias o empregou como uma maldição do pacto pela idolatria: "Eis que alimentarei este povo com absinto e lhe darei a beber água venenosa" (Jer. 9:15). O Novo Testamento dá um exemplo prático dos falsos professores como "estrelas errantes", que são pastores que "apascentam-se a si mesmos", e portanto caem sob o juízo de Cristo (Jud. 12, 13). Então podemos compreender que a terceira trombeta prediz a apostasia na igreja cristã depois da queda de Roma, quando a liderança espiritual apostataria de Cristo como a fonte de luz e de águas vivas (João 4:14; 7:37-39). Como resultado, os ensinos doutrinais e a forma religiosa de vida chegaria a ser um veneno amargo e mortal para as almas dos homens: "E a terça parte das águas se tornou em absinto, e muitos dos homens morreram por causa dessas águas, porque se tornaram amargosas" (Apoc. 8:11 ). Tanto Jesus como Paulo tinham advertido à igreja apostólica contra a chegada de falsos profetas e seus ensinos enganosos que apartariam os crentes de Cristo "de vós mesmos" (Mat. 24:4, 5, 24; At. 20:26-31). O paralelo mais surpreendente com a 3ª trombeta é o esboço apocalíptico que Paulo apresenta da era da igreja em 2 Tessalonicenses 2! Neste capítulo apresenta a era da igreja em dois períodos sucessivos: primeiro a fase do agente que o detém, que demora a apostasia predita, seguido pelo surgimento desenfreado do anticristo dentro da igreja ou o templo de Deus (2 Tes. 2:7, 8, 4). Esta ordem de acontecimentos se cumpriu na

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história quando Roma imperial (o agente que o freia) caiu e aconteceu a Roma papal e a união medieval da Igreja e o Estado. Tanto 2 Tessalonicenses 2 como as trombetas predizem que a queda de Roma dispôs o cenário para a grande apostasia. Essa apostasia traria a morte de "muitos homens". Disse Paulo: "perecem, porque não acolheram o amor da verdade para serem salvos. É por este motivo, pois, que Deus lhes manda a operação do erro, para darem crédito à mentira, a fim de serem julgados todos quantos não deram crédito à verdade; antes, pelo contrário, deleitaram-se com a injustiça" (2 Tes. 2:10-12). A perversão do evangelho apostólico traz indevidamente a decadência e a morte espirituais. Entretanto, tanto os líderes como seus seguidores são tidos por responsáveis pelas heresias e idolatrias que prevaleceram no mundo cristão. 4 - A Quarta Trombeta Aplicada à História A quarta trombeta fere os corpos celestiais, com o resultado de que o sol, a lua e as estrelas se "escurecem" uma terça parte do tempo (Apoc. 8:12). O assunto de se isso significa um terço da intensidade do brilho ou um terço do tempo do brilho, é problemático. Paulien conclui dizendo que "há uma escuridão total durante uma terça parte do tempo".5 Esta indicação matemática (1/3) aponta de novo ao controle divino dos juízos limitados da trombeta. Em harmonia com as trombetas anteriores, também devemos ver a quarta como uma representação simbólica de um juízo que afeta a humanidade e adverte contra um grande juízo vindouro. De novo o significado simbólico assinala a uma realidade mais séria que um escurecimento do céu por uma terça parte do dia e da noite. O uso simbólico de "escuridão" no Antigo Testamento nos mostra a forma para entender adequadamente isto. Isaías usa a "escuridão" como uma metáfora para "desastre" na guerra santa do Israel de Deus (Isa. 45:7; também Amós 5:20). Também usa a "escuridão" como um símbolo para a ignorância ou a cegueira com respeito à verdade salvífica do Deus de Israel. Israel é chamado a ser "luz para os gentios; para abrires os olhos aos cegos, para tirares da prisão o cativo e do cárcere, os que jazem em trevas" (Isa. 42:6, 7; também Sal. 107:10, 11). É especialmente importante a identificação do profeta de "luz" com a revelação de Deus em "a lei e o testemunho" (Isa. 8:20). Todos os falsos professores que não falam de acordo com esta palavra, "jamais verão a alva" ("é porque não há luz neles", NKJV). Seu destino é ser "sumidos em trevas" (v. 22). Miquéias explica o juízo de Deus sobre Jerusalém em termos de escuridão espiritual: "Por isso chegará uma noite sem visão, escuridão sem oráculo; ficará o sol para os profetas obscurecendo o dia... porque Deus não responde" (Miq. 3:6, 7, NBE). Chegará o tempo quando todo mundo estará coberto de "escuridão" (Isa. 60:2), incluindo uma parte da terra de Israel (9:1, 2). O Novo Testamento proclama que Jesus começou a pregar sua mensagem de luz salvadora na Galiléia para cumprir o que Isaías tinha prometido: "O povo situado em trevas viu grande luz; e aos assentados em região de sombra de morte, resplandeceu-lhes a Luz" (Mat. 4:16; Isa. 9:1, 2; ver também Luc. 1:79). Isto mostra que no Novo Testamento, a luz e a escuridão estão determinados pelo evangelho de Cristo. Inclusive Paulo espiritualiza o ato de Deus de criar a luz em Gênese 1: "Porque Deus, que mandou que das trevas resplandecesse a luz, é o que resplandeceu em nossos corações, para iluminação do conhecimento da glória de Deus na face do Jesus Cristo" (2 Cor. 4:6). No evangelho, Deus em realidade repete sua obra de criar luz. Isto cria o marco para o aspecto demoníaco de ocultar esta luz das pessoas que se assentam em trevas: "O deus deste século cegou o entendimento dos incrédulos, para que não lhes resplandeça a luz de evangelho da glória de Cristo, o qual é a imagem de Deus" (2 Cor. 4:4). A idolatria é uma expressão do "escurecimento" do insensato coração do homem (Rom. 1:21), da perversão do verdadeiro conhecimento de Deus, das "trevas" dos gentios (2:19). Mas pela fé em Cristo, "livrou-nos do império das trevas, e nos transladou ao reino de seu amado Filho, em quem temos redenção por seu sangue, o perdão dos pecados" (Col. 1:13, 14; também 1 Ped. 2:9). A compreensão apostólica de "luz e trevas" é o motivo fundamental nos escritos de João, que

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nos informam dos ditos de Jesus: "Eu sou a luz do mundo; quem me segue, não andará em trevas, mas terá a luz da vida" (João 8:12). "Eu, a luz, vim ao mundo, para que todo aquele que crê em mim não permaneça em trevas" (João 12:46; também os vs. 35, 36). O reino das trevas chega a ser visível na perseguição e aprisionamento de Cristo (Luc. 22:53). Isto foi simbolizado por um escurecimento literal cósmico do sol por 3 horas durante a crucificação de Jesus (Mat. 27:45). Em harmonia com este simbolismo apostólico de luz/escuridão, a quarta trombeta prediz que durante a era da igreja viria sobre uma grande parte do mundo um escurecimento temporário de toda luz. A gravidade deste juízo pode entender-se melhor se este "escurecimento" for visto como o decidido encobrimento do evangelho de Cristo. Paulien explica: "A quarta trombeta resulta no cancelamento destas bênçãos evangélicas [da terceira trombeta]. A verdade que proporciona vida espiritual já não é visível... a mesma presença destas fontes doadoras de vida é retirada em parte".6 Que tempo e situação igualam uma escuridão assim da luz do evangelho no mundo? A quarta trombeta traz uma intensificação do juízo da terceira trombeta. A "Idade Média" dos mil anos de supremacia do Estado-Igreja do período medieval terminou com o surgimento dos grandes reformadores no século XVI. Mas a onda de outros movimentos reacionários – tais como o racionalismo, o humanismo e o liberalismo teológico – começaram a escurecer a luz do evangelho na cristandade. Nasceu o homem renascentista, a pessoa obstinada que rechaça cada norma externa de restrição e que põe em tela de juízo toda tradição e autoridade. O tratado da paz da Westfália, em 1648, "terminou com o reino da teologia na mente européia, e deixou o caminho escurecido, mas aceitável para a tentativa da razão".7 Charles D. Alexander descreveu o surgimento do racionalismo moderno como "a última praga da igreja, a negação sistemática da Bíblia, o desprezo de todas as idéias de uma revelação inspirada por Deus, e a aceitação total da ciência atéia para dar razão da criação", assim como a morte do protestantismo.8 Durante as trombetas seguintes se fariam mais evidentes as conseqüências espantosas de ignorar e negar a palavra de Deus. A Introdução de João às 3 Últimas Trombetas "Na visão, ouvi uma águia que voava por metade do céu clamando: Ai, ai, ai dos habitantes da terra pelos restantes toques de trombeta, pelos três anjos que vão tocar" (Apoc. 8:13, NBE ). João faz um corte na série das trombetas depois da quarta, semelhante ao que tinha feito na série dos selos. As 3 últimas trombetas são caracterizadas como 3 "ais" que se sucedem um após o outro, só depois de existir notáveis pausas entre cada trombeta (ver Apoc. 8:13; 9:12; 11:14). Com estes ais ou maldições do pacto, Deus permite um incremento da manifestação demoníaca e da escuridão sobre a terra, mas não sem assegurar a seus adoradores que não lhes ocorrerá nenhum dano. Eles estão sob seu selo de aprovação e proteção (9:4). A repetida frase em voz passiva, "lhe deu" (vs. 1, 3, 5), indica que Cristo está no controle dos poderes sobrenaturais do mal que são desatados, de modo que sua obra espantosa permaneça restringida a uma terça parte da humanidade (v. 18). As descrições extensas da quinta e a sexta trombetas são confusas tanto em sua forma gráfica como em sua aplicação histórica. D. Ford percebe seu propósito da seguinte maneira: "Representam a tortura e a morte espirituais que ocorrem aos que persistem em resistir o convite divino a arrepender-se".9 A descrição de João pode entender-se melhor à luz do oráculo de juízo de Oséias sobre um Israel idólatra: "Põe a trombeta à tua boca. Ele vem como águia contra a casa do Senhor, porque traspassaram o meu concerto e se rebelaram contra a minha lei" (Osé. 8:1). 5 - A Quinta Trombeta Aplicada à História "O quinto anjo tocou a trombeta, e vi uma estrela caída do céu na terra. E foi-lhe dada a chave do poço do abismo. Ela abriu o poço do abismo, e subiu fumaça do poço como fumaça de grande fornalha, e, com a fumaceira saída do poço, escureceu-se o sol e o ar. Também da fumaça saíram gafanhotos para a terra; e foi-lhes dado poder como o que têm os escorpiões

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da terra, e foi-lhes dito que não causassem dano à erva da terra, nem a qualquer coisa verde, nem a árvore alguma e tão-somente aos homens que não têm o selo de Deus sobre a fronte" (Apoc. 9:1-4). A visão de João descreve uma estrela que caiu do céu à terra. Isto conecta a quinta trombeta com a terceira, em que João tinha visto "uma grande estrela" chamada "absinto" que caía do céu e que tinha envenenado uma terceira parte dos rios e das fontes das águas (Apoc. 8:10, 11). A esta estrela agora "foi-lhe dada" a chave do poço do abismo, que representa a região de Satanás e seus anjos (Luc. 8:31; Jud. 6; Apoc. 20:1, 3). Esta estrela caída é como um símbolo de Satanás, "o anjo do abismo", cujo nome representa sua obra e caráter: "Abadón" (em hebreu) ou "Apolión" (em grego), que quer dizer o Destruidor (Apoc. 9:11). Esta chega a ser agora sua missão atribuída ("foi-lhe dada") e autoridade ("rei", Apoc. 9:9, 11), da parte de que tem "as chaves da morte e do Hades" (1:18). Dessa maneira Cristo permanece como o governante soberano sobre todos os demônios. Contra o Criador aparece o destruidor ou anticriador, o próprio inimigo de Cristo. A primeira tarefa que o destruidor leva a cabo é abrir o abismo, de modo que o sol e todo o céu escureça por meio de uma fumaça gigantesca que sai do abismo. Este obscurecimento do céu pela fumaça que sai do reino dos demônios está no coração do ai desta trombeta. Enquanto que as trombetas anteriores anunciavam a perversão e o escurecimento parcial da luz do evangelho, a quinta trombeta mostra um grande eclipse do evangelho por meio da propagação triunfante de enganos e heresias satânicos. Agora se oculta publicamente a luz de Cristo. A mentira triunfa sobre a verdade. João vê como "da fumaça saíram gafanhotos para a terra; e foi-lhes dado poder como o que têm os escorpiões da terra" (Apoc. 9:3). Descreve-os como "cavalos preparados para a guerra" que serão vitoriosos ("coroas de ouro"), e entretanto suas caras eram como caras humanas, com cabelo de mulher, dentes de leões, e caudas e aguilhões como de escorpiões (vs. 7-10). A descrição gráfica que João faz destes gafanhotos extravagantes está tirada da descrição poética que Joel faz de uma praga de gafanhotos (Joel 1, 2), como se reconhece geralmente. Joel usou uma praga literal de gafanhotos, que tinha devastado a terra de Judá ao comer toda a vegetação (1:4), como um símbolo do vindouro exército babilônico e sua cavalaria vitoriosa (2:1-9). Aquele vindouro dia do juízo seria "dia de trevas e de escuridão, dia de nuvem e de sombra". Devia advertir-se a Jerusalém tocando a trombeta em Sião (Joel 2:1, 2). Portanto, os gafanhotos de Joel "a sua aparência é como a de cavalos; e, como cavaleiros, assim correm. Estrondeando como carros, vêm, saltando ... como um povo poderoso posto em ordem de combate" (vs. 4, 5; cf. Apoc. 9:7, 9). Também têm "dentes de leão" (Joel 1:6; cf. Apoc. 9:8). Enquanto que Joel descreveu o exército inimigo de Babilônia, João representa as forças hostis de Satanás que invadirão o mundo com filosofias que destroem a alma e que fazem com que as pessoas percam toda a esperança e significado da vida. João sobretudo assinala à natureza psicológica da praga de gafanhotos apocalípticos, declarando que "foi-lhes também dado, não que os matassem, e sim que os atormentassem durante cinco meses" (Apoc. 9:5). A tortura é causada pelo aguilhão venenoso das caudas como de escorpiões dos gafanhotos. J. Ellul sugere que o característico dominante destes gafanhotos é a mistura de diferentes espécies de natureza: "O mal que causam, causam-no por trás, como o escorpião. O que significa que atuam pelo poder da mentira".10 As principais ferramentas de operação de Satanás são na verdade as mentiras, o engano e a perseguição (Mat. 24; 2 Tes. 2). Jesus usou serpentes e escorpiões como metáforas para os demônios, mas assegurou a seus discípulos: "Eis aí vos dei autoridade para pisardes serpentes e escorpiões e sobre todo o poder do inimigo, e nada, absolutamente, vos causará dano. Não obstante, alegrai-vos, não porque os espíritos se vos submetem, e sim porque o vosso nome está arrolado nos céus" (Luc. 10:19, 20). De igual maneira, a quinta trombeta assegura ao povo de Cristo que os gafanhotos demoníacos receberam autoridade só para fazer mal aos que não têm o selo protetor de Deus (Apoc. 9:4). Sobre isto, comenta Metzger: "Assim como os israelitas ficaram isentos das pragas do Egito, assim agora os cristãos que têm

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o selo de Deus sobre suas frontes não serão absolutamente danificados por estas horríveis criaturas de juízo divino".11 Os que estejam sem Cristo receberão o aguilhão venenoso das mentiras mortíferas, causando-lhes um agonia mental insuportável e uma angústia suicida (Apoc. 9:5, 6). O período de tortura dado de "cinco meses" (vs. 5, 10), talvez o explicou melhor Ch. Wordsworth: "Como os gafanhotos naturais têm seu tempo de cinco meses prescrito e limitado por Deus, assim também estes gafanhotos espirituais não poderão exercer seu poder para machucar os homens mais além do período que Deus lhes determinou".12 De novo a mensagem aqui é que Cristo é o governante soberano que só permite um tempo para esta maldição do destruidor. Nesta severa prova, os impenitentes são declarados culpados de quebrantar o pacto, enquanto que os que estão selados são vindicados. A que tempo e a que filosofias destrutivas assinala esta trombeta? Enquanto que qualquer aplicação deve permanecer como tentativa, pode-se fazer uma aplicação pertinente ao tempo quando as filosofias atéias do Renascimento ou do Iluminismo varreram a civilização ocidental e causaram a agonia da vacuidade desta vida e da desesperança para o futuro. A teologia tradicional centrada em Deus foi substituída pela filosofia centrada no homem, na qual o homem é responsável só ante si mesmo. Nas diversas formas de humanismo contemporâneo, somos testemunhas de uma religião sem Deus, na qual o homem mesmo é a medida de todas as coisas. Seu arrogante slogan é: "Nenhuma deidade nos salvará; devemos nos salvar a nós mesmos".13 Nesta mentira fundamental estão arraigadas todas as agonias mentais e os desejos suicidas. Joel perguntou: "Quem pode suportá-lo?" (2:11), mas também apresenta o caminho de liberação de Deus: "Convertei-vos a mim de todo o vosso coração; e isso com jejuns, com choro e com pranto... convertei-vos ao Senhor, vosso Deus, porque ele é misericordioso, e compassivo, e tardio em irar-se, e grande em benignidade, e se arrepende do mal" (vs. 12, 13). 6 - A Sexta Trombeta Aplicada ao Tempo do Fim Pelo fato de não se prever arrependimento, a sexta trombeta segue num segundo ai. Agora dá a Satanás mais liberdade para revelar seu verdadeiro caráter e para levar a cabo seu objetivo diabólico de destruir a terra e todos os seus moradores. Entretanto, Deus desata as forças do mal só à hora exata que escolheu (ver Apoc. 9:15). Então, o ai desta trombeta dirige à confrontação definitiva final entre Satanás e seus exércitos por um lado, e Cristo e seus exércitos pelo outro: "O sexto anjo tocou a trombeta, e ouvi uma voz procedente dos quatro ângulos do altar de ouro que se encontra na presença de Deus, dizendo ao sexto anjo, o mesmo que tem a trombeta: Solta os quatro anjos que se encontram atados junto ao grande rio Eufrates. Foram, então, soltos os quatro anjos que se achavam preparados para a hora, o dia, o mês e o ano, para que matassem a terça parte dos homens. O número dos exércitos da cavalaria era de vinte mil vezes dez milhares; eu ouvi o seu número" (Apoc. 9:13-16). Esta trombeta de guerra recorda primeiro à igreja o propósito misericordioso deste juízo, assinalando a sua origem do "altar de ouro que estava diante de Deus", em forma específica seus "chifres". Estes chifres representam o lugar onde o sacerdócio Levítico orvalhava o sangue da expiação para Israel (Lev. 4:7, 18, 25). A voz celestial é a resposta divina às orações dos santos oprimidos (Apoc. 6:9). A resposta chega na ordem: "Solta aos quatro anjos que estão atados junto ao grande rio Eufrates" (9:14). Como resultado, se solta a uma cavalaria incrivelmente enorme de 200 milhões que sai para matar "a terça parte dos homens". Estes 4 anjos são claramente anjos maus, os líderes de uma multidão de demônios. O Eufrates é um símbolo importante, porque no Antigo Testamento representava os arquiinimigos de Israel que invadiram sua terra como uma inundação transbordante (ver Isa. 8:8, 9; Jer. 46:2, 10). Soltar "os quatro anjos" no Eufrates no tempo do fim significa um conflito mundial contra o povo de Deus. O número "quatro" simboliza todas as direções da bússola (Apoc. 7:2; 20:7). De novo João descreve os cavalos e seus cavaleiros como havia descrito as lagostas na trombeta anterior: como poderes demoníacos inumeráveis (Apoc. 9:17-19). Ao mesmo tempo

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são os instrumentos do juízo divino sobre um mundo unido em rebelião contra Deus. Matam uma terça parte da humanidade (vs. 15, 18) por meio de "fogo, fumaça e enxofre'" que sai das "bocas" dos cavalos" (vs. 18, 19). A qualidade demoníaca destas três pragas está indicada pela frase repetida de que estas pragas infernais "saíam de sua boca" (vs. 18, 19; ver 16:13, 14). Em essência, o significado deste juízo se desdobra posteriormente na segunda metade do Apocalipse, onde o rio Eufrates está de novo descrito como os seguidores mundiais da meretriz "Babilônia" (Apoc. 17:1, 15). Essas multidões se voltam finalmente contra Babilônia e a queimam com "fogo" (V. 16) para cumprir o propósito divino (V. 17). O ponto de atividade da sexta trombeta está estritamente sobre a multidão esmagadora (João só "ouviu" seu número) de forças demoníacas que matam uma grande parte da humanidade. Essas pessoas estavam presumivelmente desprotegida contra as doutrinas e poderes demoníacos. Estavam sem o selo protetor de Deus, sendo adoradores de demônios e de ídolos (Apoc. 9:20). D. Ford o explicou assim: "As multidões que rechaçaram o sangue da expiação, o incenso da justiça de Cristo, o refrigério dos rios e das fontes divinas, e a luz dos corpos celestiais, não tem amparo contra as doutrinas de demônios, e finalmente, não tem amparo contra os próprios demônios".14 É esclarecedora a observação de que a sexta trombeta apresenta uma contraparte surpreendente ao selamento dos 144.000 servos de Deus em Apocalipse 7. Jon Paulien apresenta um sumário de seus paralelos importantes: "Em ambas as seções [Apoc. 7:1-4 e 9:14-16], atar e desatar estão relacionados com os quatro anjos. Em ambas as seções, está-se contando um povo: em Apocalipse 7 ao povo de Deus; em Apocalipse 9 a seus equivalentes demoníacos. E estes são os dois únicos lugares no Apocalipse que contêm as palavras misteriosas: 'Ouvi o número' [ékusa ton arithmón]'. Se o tempo de graça segue durante a sexta trombeta e termina com o toque da sétima trombeta, a sexta trombeta é o equivalente histórico exato de Apocalipse 7:18. É a última oportunidade para a salvação, exatamente antes do fim".15 Chega a ser evidente que Deus desenhou um plano básico de acordo com o qual a história humana seguirá seu curso e alcançará seu objetivo indicado. Quando Deus tirar o freio de Satanás, este adversário poderá unir todas suas forças terrestres e demoníacas. Por outro lado, Cristo concederá o poder do Espírito Santo em sua plenitude a seus seguidores, o remanescente fiel (Apoc. 18:1). Apesar de tudo, os 200 milhões de cavaleiros ímpios não poderão destruir aos 144.000 servos de Cristo porque possuem o selo da proteção divina. Estes movimentos notavelmente paralelos se desenvolvem em forma adicional em Apocalipse 16:13-16. Ali Cristo anima a seus fiéis a estar alerta e a estar vestidos com a armadura de sua justiça para que suas bênçãos permaneçam sobre eles (v. 15), enquanto que os seguidores do dragão, a besta e o falso profeta em todo mundo se encaminham para seu "Armagedom" (vs. 13-16). Enquanto que a sexta trombeta mostra uma destruição e decepção demoníacas em aumento, ainda trata com o tempo anterior ao fim (Apoc. 10:6). Como ensinam de maneira impressionante as visões subseqüentes de Apocalipse 10 e 11, a sexta trombeta também inclui o período da oportunidade final para todas as pessoas, com o fim de que respondam ao testemunho do tempo do fim do evangelho eterno de Cristo (ver Apoc. 10:11; 11 :7). A respeito, assinala Metzger: "Embora as imagens são horrendas, a intenção total do toque das sete trombetas não é infligir vingança e sim levar as pessoas ao arrependimento. Embora não se faz nada para minimizar a gravidade do pecado e da rebelião contra Deus, há uma ênfase tremenda na paciência e misericórdia de Deus. Em vez de uma destruição total, só é afetado um terço (9:18) ou alguma outra fração do total. A fração é simbólica da misericórdia de Deus".16 O simbolismo do tempo que se usa em Apocalipse 9:15 indicando que se soltam os 4 anjos de destruição "para aquela hora, dia, mês e ano" (CI; cf. BJ, NBE, JS, RC, BLH) é significativo e merece uma atenção especial. O original tem o artigo definido [ten, o] antes de toda esta frase

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fazendo de todas suas partes uma unidade sintática, sem considerar cada parte em forma separada. A idéia tradicional de que Apocalipse 9:15 indica quatro períodos de tempo separados ou independentes, não pode dar-se por sentado desta frase bíblica. Também pode legitimamente entender-se como um momento no tempo divinamente indicado. Se o virmos dessa forma, a sexta trombeta assinala para frente, ao fim do tempo de graça, quando começa a sétima trombeta com suas 7 últimas pragas. Esse momento de tempo pavoroso pode identificar-se com a declaração profética de Apocalipse 22:11: "quem é injusto continue sendo injusto... o justo continue fazendo justiça" (CI). Portanto, a sexta trombeta ensina que Deus domina os tempos de Satanás e lhe determinou um tempo limite absoluto. Em forma parecida, Roy Naden comenta Apocalipse 9:15: "A sexta trombeta termina na hora assinalada, em um dia, em um mês, em um ano (note a quádrupla descrição indicando o significado 'universal' do momento). Quando soar essa hora, terminará o tempo de graça e não haverá mais oportunidade para que nenhuma pessoa mude sua lealdade... O Pai baixará o pano de fundo do tempo de graça da história na mesma hora já determinada".17 Antes que chegue esse momento, Deus remove gradualmente sua proteção e seu poder restritivo, mostrando aos homens os frutos amargos de suas próprias idolatrias e seu ódio contra o Criador e contra seus fiéis seguidores. Estes juízos das 6 trombetas não representam a Deus como o executor dos decretos divinos. Antes demonstram o "poder vingador de Satanás sobre os que se rendem ao seu controle".18 Satanás se oporá em forma persistente a Deus e à proclamação do evangelho até a hora final do tempo de graça. Enfoque Especial sobre os Acontecimentos do Tempo d o Fim As trombetas acentuam seu enfoque crescente no tempo do fim por meio da declaração de uma voz celestial: "Ai! Ai! Ai dos que moram na terra, por causa das restantes vozes da trombeta dos três anjos que ainda têm de tocar!" (Apoc. 8:13). Dessa maneira, as visões das 3 últimas trombetas são juízos intensificados ou "ais", e formam a transição das advertências divinas aos ais demoníacos. Paulien declara com acuidade: "Nestes ais, Deus, para seus próprios propósitos, permite que as forças do mal se incrementem até que alcancem virtualmente o domínio do cenário da terra".19 Como é típico no Apocalipse, o lado escuro está equilibrado por uma visão brilhante para o tempo do fim. Assim como João inseriu uma visão de israelitas vitoriosos em Apocalipse 7 entre o sexto selo e o sétimo, assim agora insere algumas visões animadoras para o povo de Deus do tempo do fim entre a sexta e a sétima trombeta, ou seja: Apocalipse 10 e 11:1-13. O plano literário particular de um parêntese entre o sexto e o sétimo selo e de novo entre as trombetas correspondentes tem um propósito específico. Estes interlúdios são refletores que se ampliam sobre os acontecimentos do tempo do fim em conexão com o sexto episódio de cada série profética. Dessa forma, Apocalipse 7 apresenta o selamento dos 144.000 israelitas espirituais como o equivalente da cena espantosa de juízo do sexto selo (Apoc. 6:12-17). Nas visões de Apocalipse 10 e 11, João introduz o equivalente positivo das ameaças e ais demoníacos das últimas trombetas. Isto significa que as visões de Apocalipse 7, 10 e 11 transladam o leitor ao tempo do fim, quer dizer, aos acontecimentos finais da era da igreja. Estas visões que iluminam estão designadas para consolar e animar o povo de Deus do tempo do fim. Os seguidores de Cristo recebem seu cuidado especial e são chamados por um mandato específico a cumprir sua missão apesar da oposição cruel e do sofrimento (Apoc. 7:14; 10:1-11). Receberão um poder extraordinário para dar seu testemunho quando se intensificar a luta entre o anticristo e a igreja remanescente. Deus vindicará no fim a suas testemunhas verdadeiras, que dão a ele toda a honra e a glória (Apoc. 11:1-13). Referências 1 Aune, Prophecy in Early Christianity, p. 177. 2 Wesley, Explanatory Note Upon the New Testament, p. 975. 3 Paulien, Decoding Revelation's Trumpets. Literary Allusions and Interpretation of Revelation 8:7-12, p. 388.

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4 Ibid., p 383. 5 Ibid., P. 414. 6 Ibid., P. 415. 7 Durant, The Age of Reason Begins, P. 572. 8 Alexander, The Mystery of the First Four Trumpets, p. 166. 9 D. Ford, Crisis! A Commentary on the Book of Revelation, t. 2, p. 442. 10 Ellul, Apocalypse, The Book of Revelation, p. 75. 11 Metzger, Breaking the Code. Understanding the Book of Revelation, p. 65. 12 Ch. Wordsworth, The New Testament in the Original Greek, t. II, p. 207). 13 "Humanist Manifesto II", Humanist Manifestos I & II [Manifesto humanista II, em Manifestos Humanistas I e II]. P. Kurtz, ed. (Buffalo: Prometheus, 1973, P. 183). ver também N. L. Geisler. 14 D. Ford, Crisis! A Commentary on the Book of Revelation, t. 2, p. 458. 15 Paulien. "Seals and Trumpets: Some Current Discussions" [Os Selos e as Trombetas: Algumas Discussões Atuais], Simpósio sobre o Apocalipse, T. 1, p. 196. 16 Metzger, Breaking the Code. Understanding the Book of Revelation, p. 66. 17 Naden, P. 152. 18 Ellen White, GC 36. 19 Paulien, Decoding Revelation's Trumpets. Literary Allusions and Interpretation of Revelation 8:7-12, p. 417. FONTES BIBLIOGRÁFICAS PARA ENTENDER AS TROMBETAS EM SEUS CONTEXTOS Livros Alexander, Charles D. The Mystery of the First Four Trumpets [O mistério das quatro primeiras trombetas]. "Rev. Spiritually Understood" [Apocalipse, entendido espiritualmente]. Parte 9. Liverpool, Inglaterra: The Bible Exposition Fellowship, sem data. Aune, David E. Prophecy in Early Christianity [A profecia no cristianismo primitivo]. Grand Rapids, MI: Wm. B. Eerdmans, 1983. Beckwith, Isbon T. The Apocalypse of John [O Apocalipse de João]. Grand Rapids, MI: Baker, 1979 (reimpressão de 1919). Durant, W. & A. The Age of Reason Begins [Começa a Era da Razão]. Nova York: Simon and Schuster, 1961. Ford, Desmond. Crisis! A Commentary on the Book of Revelation. Geisler, N. L. Is Man the Measure? An Evaluation of Contemporary Humanism [É o homem a medida? Uma avaliação do humanismo contemporâneo]. Grand Rapids, MI: Baker Book House, 1983. Holbrook, F. B. ed., Symposium on Revelation – Book 1 [Simpósio sobre o Apocalipse – Livro 1] (Silver Spring, Maryland: Biblical Research Institute, 1992). Gibson, R. R. The Meaning and the Chronology of the Trumpets of Revelation [O significado e a cronologia das trombetas do Apocalipse]. Tese doutoral inédita. Indiana: Grace Theological Seminary 1980. Metzger, Bruce M. Breaking the Code. Understanding the Book of Revelation [Decifrando o Código: Entendendo o Livro do Apocalipse]. Nashville, TN: Abingdon Press, 1993. Naden, R. C. The Lamb Among the Beasts. Finding Jesus in the Book of Revelation [O Cordeiro Entre as Bestas. Encontrando a Jesus no Livro do Apocalipse] (Hagerstown, Maryland: Review and Herald, 1996). Cap. 9: "Trumpet Fanfares" [As fanfarras das trombetas]. Paulien, Jon. Decoding Revelation's Trumpets. Literary Allusions and Interpretation of Revelation 8:7-12 [Decifrando as trombetas do Apocalipse. Alusões literárias e interpretação de Apocalipse 8:7-12]. Andrews University Doctoral Dissertation Series, T. XI. Berrien Springs, MEU: Andrews University Press, 1988. Rusten, Elmer M. A Critical Evaluation of Dispensational Interpretations of the Book of Revelation [Uma avaliação crítica das interpretações dispensacionalistas do livro do Apocalipse]. Tese doutoral, Universidade de Nova York, 1977. Ann Arbor: University Microfilms International 1980. 2 ts. Wesley, João. Explanatory Note Upon the New Testament [Notas explicativas sobre o Novo Testamento]. Naperville, IL: A. R. Allenson Inc., 1966. Wordsworth, Christopher. The New Testament in the Original Greek [O Novo Testamento no Grego Original]. Londres, Rivingtons, 1872. 2 ts.

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Artigos Davis, D. R. "The Relationship Between The Seals, Trumpets, and Bowls in the Book of Revelation" [A relação entre os selos, as trombetas e as pragas no livro do Apocalipse], JETS 16:3 (1973), pp. 149-158. Paulien, Jon. "Seals and Trumpets: Some Current Discussions" [Os Selos e as Trombetas: Algumas Discussões Atuais], Simpósio sobre o Apocalipse. t. 1, pp. 183-198.

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XVIII - O REFLETOR PROFÉTICO SOBRE O POVO DE DEUS DO TEMPO DO FIM - Apocalipse 10

Apocalipse 10 e 11:1-13 apresentam visões vinculadas à sexta trombeta por meio de um interlúdio. Dirigem a luz da profecia à igreja cristã do tempo do fim antes que soe a sétima trombeta. Este enfoque de Apocalipse 10 está recalcado pelo juramento solene do anjo poderoso que proclama: "Já não haverá demora! [kronos, "tempo"] mas sim nos dias [em que se ouça] a voz do sétimo anjo, quando for dar o toque de trombeta, cumpriu-se o mistério de Deus, como o anunciou a seus servos os profetas" (Apoc. 10:6, 7, Cl; cf. BJ). Esta proclamação trata com o som da sétima trombeta. Declara que agora não haverá mais demora ou, mais exatamente, "não haverá mais tempo!" Surge então a pergunta: O tempo que o anjo menciona aqui [kronos], refere-se ao tempo em geral ou a um período de tempo específico mencionado no livro apocalíptico de Daniel (Dan. 7:25; 8:14; 12:7)? Não pode ser tempo em geral, porque o tempo se estende com uma nova ordem para pregar em uma medida universal (ver Apoc. 10:11). A descrição do anjo em Apocalipse 10, que levanta sua mão ao céu para jurar (Apoc. 10:5, 6), tem um paralelo surpreendente em Daniel 12:7. Daniel profetizou que seria permitido ao anticristo perseguir os santos por três tempos e meio (Dan. 7:25; 12:7). O juramento do mensageiro divino em Daniel 12 foi a resposta do céu à pergunta: "Quando será o fim destas maravilhas?" (V. 6). No Apocalipse de João ouvimos o clamor constante dos santos martirizados: "Até quando, ó Soberano Senhor, santo e verdadeiro, não julgas, nem vingas o nosso sangue dos que habitam sobre a terra?" (Apoc. 6:10). Enquanto que em Daniel 12 a resposta a esta pergunta foi esperar até que os "três tempos e meio" de perseguição tivessem expirado, e em Apocalipse 6 a resposta foi esperar "por pouco tempo" (V. 11), em Apocalipse 10 a resposta é ao fim as boas novas: "Já não haverá demora!" (v. 6). Portanto, devemos entender o "tempo" deste anjo como referindo-se aos períodos de tempo proféticos de Daniel. Estes expirarão antes que toque a sétima trombeta. Nesse tempo pode dizer-se que não ficaram já mais períodos de tempo proféticos. Agora fica em marcha de maneira irrevogável o tempo do fim. Neste sentido, não haverá mais demora! André Feuillet expressou esta idéia básica: "Por esta passagem [Apoc. 10:6, 7] do Apocalipse, sentimo-nos constrangidos a concluir que a história da salvação está em sua última etapa, a que precede imediatamente ao toque da [sétima] trombeta".1 O anjo forte é descrito com características messiânicas: "Envolto em nuvem, com o arco-íris por cima de sua cabeça; o rosto era como o sol, e as pernas, como colunas de fogo (Apoc. 10:1). Como declarou uma comentadora: "Pode ver-se como o Príncipe da luz em contraste com o príncipe das trevas [no Apoc. 9:1, 2]".2 Refletindo o caráter de Deus, aparece como o antigo Anjo do Pacto. Portando, alguns o denominam "o anjo do pacto". Desce como Deus desceu ao Sinai: em uma nuvem, com trovões e raios (Êxo. 19:16), indo diante de seu povo em uma coluna de nuvem e de fogo (13:21, 22). O arco-íris sobre a cabeça deste anjo do pacto nos recorda o arco-íris que rodeia o trono de Deus (Apoc. 4:3). A voz do anjo ressonou como se fossem "sete trovões" (Apoc. 10:3). As vozes destes trovões em Apocalipse 10 inclusive não ia ser revelada, e sim selada (v. 4). A ordem para "selar" o conteúdo dos 7 trovões pode indicar que já não haverá juízos de advertência, em vista da presciência de que tais juízos não levarão as pessoas ao arrependimento (ver Apoc. 9:20, 21). Os juízos finais vêm somente depois que tenha terminado o tempo de graça, na forma das 7 últimas pragas.3 O "anjo forte" de Apocalipse 10:1 corresponde ao "anjo forte" de Apocalipse 5:2. Ambos os anjos poderosos assinalam os rolos celestiais que contêm os decretos de Deus para a humanidade: o primeiro para o mundo (Apoc. 5), o último para a igreja (Apoc. 10). Enquanto que o anjo do capítulo 5 anuncia dessa forma o começo dos juízos messiânicos, tal como estão revelados nos selos e nas trombetas, o anjo do capítulo 10 revela o plano de Cristo para a missão final de sua igreja (Apoc. 10:6) em preparação para o segundo advento (v. 7). O

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significado especial de Apocalipse 10 é que vai introduzir as visões do tempo do fim dos capítulos 11 a 22. Anuncia ao mundo que se alcançou uma nova época de tempo, o período que Daniel chamou "o tempo do fim" (Dan. 8:14, 17, 19). O anjo de Apocalipse 10 abre o selo das profecias de Daniel para o tempo do fim (Dan. 8-12). Estando sobre o mar e sobre a terra, "tinha em sua mão um livrinho aberto" (Apoc. 10:2). Dentro do marco da sexta trombeta, toda esta descrição simboliza a comissão de Cristo à igreja do tempo do fim para receber uma missão final para levar a todas as nações. Sua ordem a João como representante da igreja é: "Toma [o livrinho] e come-o; e te amargará o ventre, mas em tua boca será doce como o mel" (Apoc. 10:9). Esta mesma linguagem figurada foi usada os profetas de Israel para simbolizar sua chamada celestial à missão profética (Jer. 15:16, 17; Ezeq. 3:1-3). Por conseguinte, os seguidores de Cristo devem fazer da mensagem deste livrinho aberto sua própria missão. A nova época de tempo traz consigo uma urgência, motivada por um aumento do conhecimento das profecias do Daniel do tempo do fim. O que quer dizer pelo "livrinho" [biblarídion], também chamado "livro" [biblíon](!), que tinha aberto em sua mão (Apoc. 10:2, 8)? Este livrinho, é o mesmo livro [biblíon] que antes estava selado em Apocalipse 5? Alguns estudos novos argumentam em forma persuasiva que os livros celestiais em Apocalipse 5 e 10 devem considerar-se idênticos.4 Um "anjo forte" apresenta ambos os livros (Apoc. 5:2; 10:1). Isto sugere um paralelo estreito entre ambas as visões nas que aparece um livro celestial. Além disso, ambas as visões (caps. 5 e 10) estão desenhadas sobre a mesma visão do trono de Ezequiel, que o comissionou para entregar uma mensagem profética ao Israel (Ezeq. 2:9-3:3). Diz Bauckham: "É muito importante notar que, quando João faz eco fielmente de Ezequiel 3:1-3 em Apocalipse 10:8-10, tem em mente de uma maneira clara a descrição do rolo de Ezequiel 2:10, do que se faz eco em Apocalipse 5:1. Isto sugere enfaticamente que quer referir--se ao mesmo rolo em ambos os lugares: ele o vê na mão de Deus em 5:1, mas não o recebe para assimilá-lo como o conteúdo de sua profecia até 10:8-10... O ponto decisivo aqui é que o modelo de alusão à comissão profética de Ezequiel em Ezequiel 2:8-3:3 mostra que João tem o propósito de que Apocalipse 5 e 10 apresentem um relato único de sua própria recepção de uma revelação profética que está simbolizada pelo rolo".5 Este ponto de vista faz ainda mais importante a identificação do livro celestial. Sem dúvida contém o plano divino de como Deus estabelecerá seu reino sobre a terra. Se o rolo pode ser desdobrado só depois que forem abertos todos os selos, os juízos dos selos e das trombetas (Apoc. 6:1-9:21) devem considerar-se como acontecimentos preliminares que acompanham a abertura gradual do livro mas que não são seu conteúdo. O conteúdo real segue depois de Apocalipse 10. O livro selado de Apocalipse 5 e 10 também deve conectar-se com o livro selado de Daniel, que revela algo que foi escrito no "livro da verdade" (Dan. 10:21). O livro de Daniel foi o único livro das Escrituras que ficou selado para a compreensão do homem até "o tempo do fim" (Dan. 8:26; 12:4, 9). Também o juramento do anjo forte em Apocalipse 10:5-7 aponta diretamente ao juramento do anjo em Daniel 12:7. O livro "aberto" de Apocalipse 10 comunica à igreja do tempo do fim uma compreensão mais completa do que estava predito em Daniel. Apocalipse 10 revela o que Daniel mesmo não pôde entender (Dan. 12:8). Isto significa que o livro de Apocalipse 5 e 10 se refere à porção do livro do Daniel que ficou selada para o tempo do fim, e pertence ao estabelecimento do reino de Deus na terra. Outra vez explica Bauckham: "A combinação do Ezequiel e Daniel capacita a João para caracterizar o livro tanto como uma revelação profética do propósito divino que lhe deu para que o comunicasse em profecia, como também, de maneira mais específica, como uma revelação do propósito de Deus para o período final da história mundial, na qual Deus estabelecerá seu reino sobre a terra, uma revelação que complementa e esclarece o que permaneceu escuro nas profecias dos últimos dias que fizeram os profetas anteriores, especialmente Daniel".6 Apocalipse 10 destaca que o livrinho será aberto durante a sexta trombeta e permanecerá aberto (vs. 2, 8) para que seja eficaz para toda a humanidade que já esteja sobre o mar ou sobre a terra (vs. 2, 8-11). É de importância essencial para a igreja entender o conteúdo deste

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livro aberto. Responde a pergunta decisiva: "Qual é a tarefa da igreja nesses tempos turbulentos?"7 A resposta está desdobrada nas duas visões ampliadas em Apocalipse 10 e 11, "pelas quais se instrui a igreja com respeito a seu papel durante o período final da história do mundo".8 Como tanto Apocalipse 10 e 11:1-13 pertencem ao mesmo interlúdio ou parêntese (vinculados à sexta trombeta), devemos considerar ambas as visões como complementares. Ambas as visões do tempo do fim comissionam a igreja para que "profetize" tendo em conta toda a população mundial (Apoc. 10:11; 11:6) e atestem do testemunho de Cristo com um poder adicional, até que o mundo hostil sossegue seu testemunho por meio da pena capital (11:1-10). Isto deveria motivar a igreja a procurar sua missão específica do tempo do fim nas visões de Daniel e nas do Apocalipse de João. G. B. Caird chamou corretamente a atenção a esta conexão fundamental ao declarar: "João acreditou que a profecia de Daniel, junto com outras profecias do Antigo Testamento, teriam um cumprimento novo e mais magnífico".9 O Significado do Juramento O ato central do anjo forte de Apocalipse 10 é seu juramento, enquanto levantava sua mão direita ao céu, presumivelmente sustentando o livro aberto em sua mão esquerda. Pelo visto, o juramento está relacionado com o conteúdo do livro. Este cerimonial de afirmar sob juramento mostra uma ênfase distinta e diferente do ato de jurar em Daniel 12. Enquanto que Daniel declarou: "E o ouvi jurar pelo que vive eternamente..." (v. 7, NBE), a visão de João informa o juramento por Deus como Criador dos céus, a terra e o mar: "E jurou pelo que vive pelos séculos dos séculos, que criou o céu e as coisas que estão nele, e a terra e as coisas que estão nela, e o mar e as coisas que estão nele..." (Apoc. 10:6). Esta ênfase elaborada sobre Deus como Criador do céu, da terra, do mar e de todas as coisas que neles há, é uma indicação destacada para as testemunhas da igreja do tempo do fim. Esta ênfase se repete na mensagem do tempo do fim, ampliado em Apocalipse 14, mensagem que chama a todo mundo a adorar a Deus como o Criador: "E adorai aquele que fez o céu e a terra, o mar e as fontes das águas" (Apoc. 14:7). Dessa maneira se define o problema religioso final na história humana como uma questão de adorar ao Criador em Espírito e em verdade. Tal adoração foi o assunto crítico para o povo do velho pacto em relação com a adoração pagã. Israel se caracterizou por louvar a Jeová como Redentor e Criador dos céus e a terra (Gên. 1, 2; Sal. 8, 19, 136, 146; Nee. 9:6, 7; Isa. 40:28; Jer. 10:10-12). Também Paulo enfatizou a diferença fundamental entre o Criador e toda a realidade criada (Rom. 1:20-25; At. 14:15; 1 Tes. 1:9). O Criador decidiu que toda rebelião, idolatria e violência humana chegará a seu fim nos dias quando o sétimo anjo faça soar seu trombeta. Ainda é dado tempo para responder com a adoração ao Criador. A adoração a Deus como Criador e Redentor por parte de Israel, ainda é o caminho indicado para dar honra e glória a Deus. J. M. Ford notou claramente que o juramento sagrado em Apocalipse 10:6 contém "um eco dos mandamentos; Êxo. 20:11".10 Uma comparação conscienciosa da fórmula do juramento com o quarto mandamento mostra que ambos mencionam os 3 elementos: o céu, a terra e o mar. Entretanto, o juramento de Apocalipse coloca uma ênfase insólita sobre a natureza de grande alcance da obra criada por Deus, repetindo 3 vezes a frase: "as coisas que estão neles". Isto nos obriga a reconhecer um indicador intencional no juramento do Anjo do pacto em torno do quarto mandamento. Isso indica onde estão as preocupações do céu para a igreja universal de Cristo e para sua adoração de Deus no tempo do fim. Contém a motivação para um verdadeiro reavivamento e uma reforma. O Mistério de Deus a Ponto de Consumar-se "Mas nos dias da voz do sétimo anjo, quando ele estiver para tocar a trombeta, cumprir-se-á, então, o mistério de Deus, segundo ele anunciou aos seus servos, os profetas" (Apoc. 10:7).

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Agora o anjo dirige nossa atenção à certeza do cumprimento de todas as profecias do tempo do fim, como foram declaradas pelos profetas do Antigo Testamento, em particular por Daniel. J. M. Ford faz este comentário sobre Apocalipse 10:7: "A palavra hebraica raz, 'mistério', é freqüente em Daniel e nos rolos de Qumran e se refere principalmente ao secreto dos tempos, à seqüência dos acontecimentos e a consumação".11 O exemplo principal é a resposta de Daniel ao rei de Babilônia: "Mas há um Deus nos céus, o qual revela os mistérios [mustéria, LXX], e ele tem feito saber ao rei Nabucodonosor o que deve acontecer nos últimos dias ['nos últimos dias', Teodósio]" (Dan. 2:28). Como o esboço das profecias de Daniel se enfoca cada vez mais no tempo do fim (ver 2:44, 45; 7:27; 8:14, 17, 19; 11:40-12:2), devemos conectar "o mistério de Deus" especificamente com os acontecimentos históricos do tempo do fim e a terminação do plano de redenção como está esboçado em Daniel e no Apocalipse. Raymond E. Brown explica o "mistério" em Apocalipse 10:7 como "a vontade misteriosa de Deus para o fim do tempo... o estabelecimento definitivo do reino de Deus".12 As palavras do anjo em Apocalipse o apontam adiante, à sétima trombeta, como o tempo definitivo para a realização ou consumação do "mistério de Deus". Os acontecimentos da sétima trombeta em Apocalipse 11:15-19 são: (1) o triunfo do governo e reino visível de Deus (v. 15); (2) a abertura do templo de Deus no céu e o derramamento da ira de Deus nas 7 últimas pragas (vs. 18, 19; 15:1, 5); (3) a ressurreição dos santos mortos e a recompensa de todos os fiéis (11:18). Os segredos do plano de redenção serão revelados finalmente em uma realidade histórica quando soar a sétima trombeta. Paulo já tinha revelado antes o "mistério" que "a final trombeta" Deus mudará a condição de todos os santos em um abrir e fechar de olhos, ressuscitando aos fiéis e imortalizando os santos vivos (ver 1 Cor. 15:51, 52; também 1 Tes. 4:16, 17). Entretanto, Apocalipse apresenta um ponto de vista mais completo do reino divino. W. H. Shea declara a respeito: "Três coisas específicas sobre o reino de Deus serão reveladas nesse tempo: o grande governante divino do reino, os cidadãos que viverão nele e os que serão excluídos dele".13 O Triunfo Garantido do Evangelho Eterno "O mistério de Deus se consumará, como ele o anunciou a seus servos os profetas" (Apoc. 10:7; "conforme o tinha anunciado como boa nova" [BJ]; "segundo a boa nova que ele anunciou" [JS] ).* Aqui é notável o uso do verbo euanguelízo para descrever o cumprimento do tempo do fim "do mistério de Deus". Este verbo denota mais que uma declaração abstrata ou formal. Aparentemente dá a entender as "boas novas" dos juízos de Deus dentro do mistério de Deus, como está testemunhado pelos profetas do Antigo Testamento (ver Amós 3:7). Paulo explicou que "o mistério de Cristo" no evangelho apostólico revela que "os gentios são co-herdeiros e membros do mesmo corpo, e co-participantes da promessa em Cristo Jesus por meio do evangelho" (Ef. 3:6). Este é o "mistério que desde tempos eternos esteve oculto, mas que se manifestou agora e se notificou pelas Escrituras dos profetas, segundo o mandamento do Deus eterno, a todas as nações para obediência da fé" (Rom. 16:25, 26). O mistério de Deus é pois decididamente cristocêntrico, e significa o evangelho inalterável de Deus quanto a seu Filho (Rom. 1:1, 3) em favor de todos os povos da terra. O fato de que durante a sétima este trombeta "mistério de Deus" será "consumado" ou "realizado" expressa a consumação mundial desta proclamação. O marco do tempo do fim de Apocalipse 10 está reforçado pelas conexões literárias e temáticas com o anjo de Apocalipse 14, que tem "o evangelho eterno para pregá-lo [euanguelízai] aos moradores da terra" (v. 6). A expressão "outro anjo" sugere uma conexão com um anjo anterior, que é o anjo do pacto de Apocalipse 10. Esta relação aparece também no uso comum do verbo euanguelízo (Apoc. 10:7; 14:6). Portanto, apreciamos a declaração do André Feuillet: "Estamos completamente seguros de que essas duas cenas se correspondem entre si. É difícil entender o começo de XIV:6: 'E vi outro anjo', porque este anjo é o primeiro de uma série. Isto pode explicar-se melhor se este "outro anjo, tendo um evangelho eterno", fora considerado ser

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idêntico com o "outro anjo" que tem o livrinho aberto em X:1, 2".14 Esta conexão substancial de Apocalipse 10 e 14 confirma a natureza proléptica da visão do livro de Apocalipse 10, que está mais amplamente desenvolvida na tríplice mensagem de Apocalipse 14. Por sua colocação na sexta trombeta, Apocalipse 10 estabelece também o marco do tempo do fim de Apocalipse 14. Nessa época do tempo, começará o período final da igreja. A consumação final do evangelho está garantida pelo Filho de Deus, a quem o Pai entregou todas as coisas em suas mãos (João 3:35; 5:27-29). Cristo declarou em sua última oração: "Pai, a minha vontade é que onde eu estou, estejam também comigo os que me deste, para que vejam a minha glória que me conferiste, porque me amaste antes da fundação do mundo" (João 17:24). Nada pode frustrar este propósito divino do Cristo ressuscitado. Este plano para o povo de Deus é o propósito do juramento do anjo do pacto. A carta aos Hebreus esclarece o propósito do juramento sagrado de Deus: "Pelo qual, querendo Deus mostrar mais abundantemente aos herdeiros da promessa a imutabilidade de seu conselho, interpôs juramento" (Heb. 6:17). A igreja sempre precisa lembrar-se desta garantia divina, especialmente quando as profecias apocalípticas de tempo terminaram e está para começar a sacudidura da crise do tempo do fim. A Comissão Final à Igreja (Apoc. 10:8-11) Fundamental à experiência de João em Apocalipse 10 é o livro novamente aberto, que uma voz do céu lhe ordenou tomá-lo e comê-lo. Com respeito a isto, F. D. Mazzaferri declara o seguinte: "Não pode haver dúvida de que este é o ponto culminante de toda a seqüência do livro que começou em 5:1. O livro profético primitivo de Deus foi passado progressivamente a Cristo, depois ao anjo resplandecente, e finalmente ao profeta que é o agente decisivo de Deus sobre a terra para levar a cabo sua vontade".15 Depois lhe disse com respeito a todo mundo: "Tem que voltar a profetizar" (Apoc. 10:8-11, CI). Tudo isto acontece antes que o sétimo anjo faça soar sua trombeta. Portanto, um tempo bastante longo está reservado para o cumprimento desta visão. João é chamado para atuar simbolicamente em nome da igreja do tempo do fim, que vive antes do fim do tempo de graça. Já se cumpriram 6 trombetas. Dessa maneira, a visão de Apocalipse 10 avança adiante ao "tempo do fim" indicado, predito em Daniel 8-12. Surge uma questão importante: Qual é o significado da iniciativa celestial em levar o livro aberto à igreja do tempo do fim? Dois exemplos do Antigo Testamento – a chamada de Jeremias e o de Ezequiel – mostram que seu ato simbólico de "comer" o rolo do livro da palavra de Deus lhes comunicou a comissão celestial de assimilar a mensagem contida no livro e de proclamar sua mensagem publicamente. Para eles a experiência foi primeiro doce e logo amarga. Saborearam a palavra de Deus com gozo e delícia, mas depois sentiram uma dor aguda quando sua mensagem foi rechaçada e quando fizeram frente aos falsos profetas. Jeremias foi separado desde antes de seu nascimento como "um profeta às nações" (Jer. 1:5). Diz que quando as palavras de Deus lhe chegaram, "logo as comi; as tuas palavras me foram gozo e alegria para o coração" (15:16). Mas quando Jeremias foi açoitado pelo rei Joaquim (ver o cap. 36), e quando Judá sofreu o juízo, sua aflição saiu a cântaros em grandes lamentações: "Os meus olhos derramem lágrimas, de noite e de dia, e não cessem; porque a virgem, filha do meu povo, está profundamente golpeada, de ferida mui dolorosa" (Jer. 14:17). O profeta descreve a triste situação de Judá depois da queda de Jerusalém. Culpou especialmente aos profetas falsos e aos sacerdotes corruptos, e portanto, todos iriam ao desterro (v. 18). Não obstante, Deus prometeu ao Jeremias a vindicação contra seus inimigos e um poder sobrenatural para seu ministério profético (15:11). De maneira similar, Ezequiel foi chamado ao ministério profético dentre um povo rebelde no cativeiro babilônico (Ezeq. 2:1-8). Fazendo frente à sua difícil tarefa, Ezequiel é instruído a assimilar completamente a mensagem de Deus antes que fale claro como o porta-voz de Deus.

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"Abre a boca e come o que eu te dou. Então, vi, e eis que certa mão se estendia para mim, e nela se achava o rolo de um livro. Estendeu-o diante de mim, e estava escrito por dentro e por fora; nele, estavam escritas lamentações, suspiros e ais" (2:8-10). Entretanto, quando Ezequiel comeu esse rolo (Ezeq. 3:1-3), "na boca me era doce como o mel" (v. 3). Assim o profeta experimentou primeiro a doçura das palavras de Deus, mas mais tarde uma decepção amarga quando um Israel obstinado recusou aceitar a mensagem de advertência (vs. 3-11). Usualmente se passa por cima o fato de que Ezequiel experimento um sabor amargo: "Eu fui amargurado na excitação do meu espírito; mas a mão do Senhor se fez muito forte sobre mim" (v. 14). Levou 7 dias para voltar em si enquanto refletia no horror do que tinha experimentado em sua visão (v. 15). Além disso foi-lhe dito que sua missão lhe traria uma violenta oposição. Espinhos iriam rasgar suas carnes e se sentaria com escorpiões (2:6). Mas apesar disso, Ezequiel foi chamado a continuar sua missão com visões renovadas de esperança (caps. 11; 16:59-63; 37). Não pode haver dúvida que a experiência visionária de João de comer o livrinho aberto em Apocalipse 10 está modelada sobre o mesmo ato simbólico do profeta Ezequiel e deve ser interpretada à luz deste protótipo bíblico. Este princípio interpretativo deve nos guiar em nosso esforço por entender a experiência agridoce do povo de Deus do tempo do fim em Apocalipse 10. Assim como Ezequiel, João recebe do céu um livro aberto para comê-lo. E de novo, como Ezequiel, escuta a comissão para proclamar sua mensagem a todas as nações. Desta vez a mensagem é a última advertência de Deus, a consumação de todas as promessas e maldições do pacto, "como ele o anunciou a seus servos os profetas" (Apoc. 10:7). Isto aponta ao livro aberto de Daniel (Dan. 12:4). As seções do tempo do fim do livro de Daniel (caps. 7-12) contêm não só as doces promessas do reino de Deus restaurado, o resgate e a vindicação das testemunhas fiéis, a ressurreição dos santos martirizados, mas também o juízo final dos falsos profetas e dos perseguidores do povo de Deus. Desta maneira Daniel prediz tanto as experiências doces como as amargas na crise do tempo do fim. Mas junto com este conteúdo consolador do livro, também haverá um rechaço da mensagem de advertência de Deus, de maneira que a aflição, a perseguição e a desilusão serão parte da proclamação renovada do evangelho (ver Apoc. 11:7; 12:17; 13:15-17; 17:6, 14; 20:4). A visão paralela em Apocalipse 11:1-13 mostra quão amarga será a oposição às testemunhas de Deus do tempo do fim. Podemos esperar uma elucidação mais ampla sobre esta experiência "agridoce" da igreja do tempo do fim que se descreve em Apocalipse 11. O ato simbólico de João em nome da igreja do tempo do fim está explicado pela comissão que recebe do céu: "É necessário que profetizes outra vez sobre muitos povos, nações, línguas e reis" (Apoc. 10:11). O alcance desta comissão conecta Apocalipse 10 com as outras visões do tempo do fim no Apocalipse. A quádruplo fórmula que expressa a extensão universal ocorre de novo em Apocalipse 11:9, 13:7, 14:6 e 17:15. A única variação em Apocalipse 10:11 é a substituição de "tribos" ou "multidões" por "reis". A quádrupla fórmula é uma expansão da tríplice frase que Daniel apresenta como um estereótipo (Dan. 3:4, 7, 29; 5:19; 6:25; 7:14). João recebe a ordem de profetizar não só "a respeito de muitos povos, nações, línguas e reis", e sim o que é mais importante, "a todos esses grupos e classes étnicas" (epí é ambíguo: "com respeito a", Apoc. 12:17 e 18:20; "a", Apoc. 14:6 e 22:16). O conteúdo de sua profecia não está revelado em Apocalipse 10, e se expõe gradualmente, primeiro em forma resumida em Apocalipse 11 e depois com mais detalhe em Apocalipse 12-19. O termo "reis" em Apocalipse 10:11 apresenta novamente em Apocalipse 16:13-16 e 17:12-15, onde se desdobra seu significado no marco da crise do tempo do fim conhecida como "Armagedom". A conexão entre o ato simbólico de João de comer o livrinho e a ordem para voltar a profetizar referente às nações do mundo, é significativa. A ordem explica o ato de João de comer o livrinho. Esta relação entre o ato profético de João e a explicação continua a de seus tipos do Antigo Testamento.

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O ato de Jeremias de comer as palavras de Deus foi explicado em termos inequívocos: para derrubar e para edificar nações (Jer. 15:16; 1:10). O ato do Ezequiel de comer o rolo (Ezeq. 2:9; 3:1-3), também foi explicado em seu significado e propósito, de maneira que não ficou lugar para conjeturas (3:4). O paralelo chega a ser evidente quando ficam lado a lado a situação de Ezequiel e João:

O CHAMADO DE EZEQUIEL (Ezeq. 3:3, 4)

O CHAMADO DE JOÃO (Apoc. 10:9-11)

"E me disse: Filho do homem, dá de comer ao teu ventre e enche as tuas entranhas deste rolo que eu te dou. Eu o comi, e na boca me era doce como o mel. Disse-me ainda: Filho do homem, vai, entra na casa de Israel e dize-lhe as minhas palavras"

"E ele disse-me: Toma-o e come-o, e ele fará amargo o teu ventre, mas na tua boca será doce como mel. E tomei o livrinho da mão do anjo e comi-o; e na minha boca era doce como mel; e, havendo-o comido, o meu ventre ficou amargo. E ele disse-me: Importa que profetizes outra vez a muitos povos, e nações, e línguas, e reis".

Da situação de Ezequiel aprendemos que o ato de comer o livro aberto (Ezeq. 2:9, 10) não foi algo que se explicava por si mesmo. O "comer" necessitava uma elucidação verbal e uma direção especial para seu público indicado. As palavras do Senhor a Ezequiel: "E me disse..." (3:4), têm o propósito de explicar o ato simbólico do profeta. O conteúdo da mensagem para Israel se desdobra gradualmente nos capítulos seguintes de Ezequiel como um ministério duplo: de predizer juízos e novas promessas. Ezequiel também experimentou tanto a doçura como a amargura. Disse: "Eu fui amargurado na excitação do meu espírito; mas a mão do Senhor se fez muito forte sobre mim" (3:14). Se a situação de Ezequiel é clara com respeito a seu ato simbólico e a seu esclarecimento divino, então não há razão para especular sobre o ato profético de João e seu esclarecimento divino em Apocalipse 10. Não se supõe que João entendeu mal ou aplicou mal a mensagem de Deus do tempo do fim. A ordem do céu a João de profetizar "outra vez" sobre muitos povos e nações (Apoc. 10:11) significa, com toda probabilidade, que depois da chamada inicial de João para transmitir as mensagens de Cristo às igrejas (ver 1:11), agora recebe a comissão para proclamar o evangelho eterno no marco das profecias do tempo do fim. João deve profetizar outra vez, mas com uma direção nova, a respeito dos acontecimentos do tempo do fim do plano divino da redenção. A expressão "outra vez" na comissão de João a profetizar significa que a igreja do tempo do fim receberá um aumento do conhecimento das profecias do Daniel (Dan. 12:4), de maneira que agora possa proclamar o evangelho em sua estrutura assinalada do tempo do fim. Isto se amplifica posteriormente na tríplice mensagem de Apocalipse 14. Quando João comeu e digeriu o livrinho aberto, foi-lhe dito que "devia" voltar a profetizar (Apoc. 10:11). O conhecimento novo das profecias de Daniel, confirmado pelos cumprimentos em marcha na história da cristandade e do mundo, obrigam a igreja a anunciar novas percepções e advertir ao mundo sobre o perigo dos juízos finais que logo virão, e em particular das 7 últimas pragas de Apocalipse 15 e 16. Esta proclamação é uma "obrigação!" divina. Mounce explicou o profundo significado de Apocalipse 10 nestas palavras: "A missão de João é pôr a descoberto as forças do mundo sobrenatural que estão trabalhando por trás das atividades de homens e nações. Sua profecia é a culminação de todas as profecias prévias porque conduz à destruição final do mal e na inauguração do estado eterno".16 Agora a pergunta pertinente é a seguinte: Esta ordem de restaurar o evangelho de Deus, foi cumprida em nosso tempo?

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Realização Histórica A história da igreja registra uma expectativa fervente da segunda vinda de Cristo, desenvolvida durante a primeira metade do século XIX tanto na Europa como na América. Uma época de um reavivamento dos estudos proféticos e da pregação começou por volta do ano 1780 e durou até a primeira metade do século XIX, e foi chamado o "segundo grande despertar". O teólogo histórico LeRoy E. Froom declara: "Tanto no Velho Mundo como no Novo houve uma onda marcada de interpretação profética simultânea mas independente, e apesar de tudo de significado similar e com conclusões correspondentes surpreendentes, que culminaram no grande movimento e mensagem do segundo advento".17 Nada é mais poderoso que uma verdade cujo tempo chegou. As convulsões políticas e sociais da Revolução Francesa em 1789 levaram a muitos a estudar as profecias do tempo do fim de Daniel e Apocalipse. A maioria dos evangelistas eram pós-milenistas, acreditavam que logo ia começar o milênio de paz perfeita. Em essência eram reformadores sociais. Quando a papa Pio VI foi destronado pelo governo revolucionário francês em 1798, muitos expositores bíblicos aplicaram este acontecimento à profecia dos 1.260 dias de Daniel 7 e Apocalipse 12 e 13. Depois do ano 1798 o foco de atenção mudou de Daniel 7 a Daniel 8 e de Apocalipse 13 a Apocalipse 14, e se concentrou sobre a profecia dos 2.300 dias de Daniel. Assim surgiu o movimento milerita, começado por um pregador leigo batista, Guilherme Miller (1782-1849). Miller desafiou a visão e a esperança de um milênio de paz da maior parte dos habitantes da América do Norte, destacando que só o segundo advento de Cristo traria o fim do mal e estabeleceria o reino de Deus. O pico do Grande Despertar aconteceu no movimento de Miller. Estava convencido de que o segundo advento seria "ao redor do ano 1843" para resgatar a seu povo e para purificar a terra com fogo. Esta convicção, escreveu ele em 1832, encheu seu coração com "gozo" mas também pôs sobre sua consciência o dever de advertir o mundo do juízo vindouro. Quando a data fixada de 22 de outubro de 1844 passou em amarga desilusão, uns poucos mileritas receberam novo ânimo ao aplicar a chamada a "profetizar outra vez" em Apocalipse 10:11 a uma melhor compreensão das profecias bíblicas. Seu mal-entendido da natureza da purificação do santuário predito por Daniel (8:14) não tinha sido em vão. Serve para o propósito de restaurar o evangelho em sua plenitude e para preparar a um povo para encontrar-se com seu Deus. O mandato profético do anjo forte de Apocalipse 10 é dado a conhecer na tríplice mensagem de Apocalipse 14, o que indica que estes dois capítulos estão intimamente relacionados. Antes que se revele a mensagem do tempo do fim em Apocalipse 12 a 22, devemos prestar atenção à visão de João em Apocalipse 11:1-13. Referências 1 Feuillet, Johannine Studies, p. 220. 2 J. M. Ford, Josephine Massyngberde. Revelation, p. 16. 3 Ver Shea, "The Mighty Angel and his Message". Simpósio sobre o Apocalipse, T. 1, pp. 294-298, 325. 4 Ver os estudos nas obras de Bauckham e Mazzaferri. 5 Bauckham, The Climax of Prophecy. Studies on the Book of Revelation, p. 247. 6 Ibid., pp. 252, 253. 7 Beasley-Murray, Revelation, p. 168. 8 Mounce, The Book of Revelation, p 205. 9 Caird, The Revelation of St. John the Divine, p. 127. 10 J. M. Ford, Revelation, p. 160. 11 Ibid., p. 163. 12 Brown, The Semitic Background of the Term "Mystery" in the New Testament, p. 38. 13 Shea, "The Mighty Angel and his Message". Simpósio sobre o Apocalipse, T. 1, p. 315. 14 Feuillet, Johannine Studies, p. 227.

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15 Mazzaferri, The Genre of the Book of Revelation from a Source Critical Perspective, p. 339. 16 Mounce, The Book of Revelation, p. 217. 17 Froom, Movement of Destiny, p. 47. FONTES BIBLIOGRÁFICAS PARA APOCALIPSE 10 Livros Bauckham, Richard J. The Climax of Prophecy. Studies on the Book of Revelation [O Clímax da Profecia. Estudos no Livro do Apocalipse]. Edimburgo: T&T Clark 1993. Ver as pp. 243-273. Beasley-Murray, George R. Revelation [O Apocalipse]. New Century Bible Commentary [Comentário da Bíblia do Novo Século]. Grand Rapids, MI: Wm. B. Eerdmans, 1983. Brown, Raymond E. The Semitic Background of the Term "Mystery" in the New Testament [O Fundo Semítico do Termo "Mistério" no Novo Testamento]. Facet Books, Bib. Ser. 21. Filadélfia: Fortress Press, 1968. Caird, George B. The Revelation of St. John the Divine [O Apocalipse de São João o Teólogo]. Grand Rapids, MI: Wm. B. Eerdmans, 1977. Charles, R. H. The Revelation of St. John [O Apocalipse de São João], 2 ts. ICC. Edimburgo: T & T Clark. T. 1 (1920, 1975), pp. 188-218. Feuillet, André. Johannine Studies [Estudos Joaninos]. Staten Island, Nova York: Alvorada House, 1966. Parte 2, cap. 2. Ford, Josephine Massyngberde. Revelation [O Apocalipse]. Anchor Bible, T. 38. Garden City, Nova York: Doubleday, 1978. Froom, LeRoy E. The Prophetic Faith of Our Fathers. _____________. Movement of Destiny [O Movimento do Destino]. Washington, D.C.: Review and Herald, 1971. Gaustad, E. S., ed. The Rise of Adventism [O Surgimento do Adventismo]. Nova York: Harper & Row, 1974. Knight, George R. Millennial Fever and the End of the World [A Febre do Milênio e o Fim do Mundo]. Boise, ID: Pacific Press, 1993. Land, G., ed. Adventism in America [O Adventismo na América]. Grand Rapids, MI: Wm. B. Eerdmans, 1986. Mazzaferri, Frederick D. The Genre of the Book of Revelation from a Source Critical Perspective [O Gênero do Livro do Apocalipse de uma Perspectiva da Crítica das Fontes]. BZNT 54. Nova York: de Gruyter, 1989. Pp. 265-279. Mounce Robert H. The Book of Revelation [O Livro do Apocalipse]. The New International Commentary on the New Testament [O novo comentário internacional sobre o Novo Testamento]. Grand Rapids, MI: Wm. B. Eerdmans, 1977. Artigo Shea, William H. "The Mighty Angel and his Message" [O anjo forte e sua mensagem]. Simpósio sobre o Apocalipse. T. 1.

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XIX - A MISSÃO PROFÉTICA DAS TESTEMUNHAS DE DEUS - Apocalipse 11

Apocalipse 11 pode entender-se como a extensão adicional do capítulo 10 e não como uma visão desconexa, já que nesta visão das duas testemunhas se revela o que João experimentou simbolicamente ao comer o livrinho. Muitos comentadores bíblicos consideram a visão a respeito das duas testemunhas de Deus em Apocalipse 11:1-13 como o desenvolvimento adicional da visão do livrinho aberto de Apocalipse 10. Mounce conclui dizendo que "[Apoc. 11:1-13] forma o conteúdo do 'livrinho' do capítulo que foi doce ao paladar e amargo ao ventre (Apoc. 10:9, 10)".1 Uma opinião assim se apóia no fato de que ambas as visões são parte do mesmo interlúdio do tempo do fim entre a sexta e a sétima trombeta. Mas também existe o mesmo desenvolvimento temático entre Apocalipse 10 e 11. A proclamação do livrinho aberto é denominada "profetizar" (Apoc. 10:11), o que se descreve como a mesma missão das duas testemunhas em Apocalipse 11:3, 6 e 10. Além disso, a mensagem do livrinho e o das duas testemunhas se dirige aos mesmos ouvintes no mundo (Apoc. 10:11; 11:9). Apocalipse 10 está ampliado na visão seguinte do capítulo 11, e separar o capítulo 11 de sua introdução no capítulo 10 é separar o que Deus uniu. Nosso primeiro assunto é ver de que maneira Apocalipse 11 desenvolve o tema de Apocalipse 10. A Natureza Simbólica da Visão de Apocalipse 11 Assim como a visão preliminar de Apocalipse 10 é simbólica em suas apresentações, também o é a visão do capítulo 11. Este capítulo aponta diretamente a sua descrição simbólica quando declara que a grande cidade é "simbolicamente" (CI, BJ [pneumatikós, "espiritualmente", RA]; "alegoricamente", JS; "linguagem figurada", DHH) "Sodoma e Egito" (Apoc. 11:8). A descrição do capítulo 11 é distintivamente hebraica em caráter. Toma sua linguagem e imagens de Daniel, Ezequiel, Zacarias, e também das vidas de Moisés e Elias. Entretanto, a descrição da morte das duas testemunhas, sua ressurreição e sua ascensão visível está obviamente tirada da vida de Jesus narrada nos Evangelhos. Os apóstolos usaram em forma consistente termos e imagens hebraicas como linguagem simbólica para descrever a missão de Jesus e de sua igreja (ver Primeira parte, caps. III e IV desta obra). Um exemplo revelador está em Hebreus 12:22-24, onde se menciona o "monte Sião" para representar a igreja, porque o mediador do novo pacto de Deus agora é Cristo Jesus. A visão de João dos 144.000 israelitas em Apocalipse 7 deve ser interpretado igualmente de acordo com a hermenêutica do evangelho (ver o cap. VIII desta obra). Uma aplicação literal dos símbolos hebraicos em Apocalipse 11 nega o evangelho e ignora que o Apocalipse está centrado em Cristo. A Natureza Proléptica de Apocalipse 11:1-13 João usa com freqüência o estilo literário da prolepse, quer dizer, antecipar um acontecimento futuro introduzindo um símbolo novo que se explica mais tarde. Em Apocalipse 1 antecipa o evento culminante de todo o livro: "Eis que vem com as nuvens..." (Apoc. 1:7), tema que João desenvolverá em Apocalipse 6:12-17, 14:14-20 e 19:11-21. Todas as promessas divinas nos capítulos 2 e 3 são descrições prolépticas breves do que se desenvolve extensamente nos capítulos 21 e 22. Outro exemplo está em Apocalipse 14:8, onde apresenta pela primeira vez a "Babilônia" por meio de uma prolepse e desenvolve seu significado completo nos capítulos 16 a 18. As 7 últimas pragas se mencionam brevemente primeiro em Apocalipse 15, e depois se desenvolvem detidamente em Apocalipse 16. Todo o Apocalipse é uma revelação coerente, indivisível e progressiva, e nele estão intimamente relacionadas todas as visões. Sempre que seccionamos um capítulo da unidade total e tratamos de aplicá-lo ao mundo ou à história da igreja, estamos destinados a interpretar mal seu significado. Portanto, uma exegese responsável pelo Apocalipse respeitará a conexão estrutural de todas as suas visões. Com respeito ao capítulo 11, muitos consideram que é um

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dos capítulos mais difíceis de interpretar do livro; outros o vêem como um resumo proléptico dos capítulos 12 a 22. Joseph S. Considine concluiu em seu estudo instrutivo sobre Apocalipse 11, que os capítulos 10 e 11 "narram um relato contínuo, no qual o capítulo 10 forma uma introdução solene para o capítulo 11", de maneira que o 11 antecipa prolepticamente os acontecimentos de Apocalipse 12 e 13. Também se deu conta dos interlúdios paralelos dentro dos selos (cap. 7) e das trombetas (caps. 10 e 11 ), e por isso declarou: "Mas é mais que um paralelo; completa o que nos disse no episódio entre o sexto e o sétimo selo, já que o que não se diz em um, diz-se no outro. Estas visões interpostas nos dão um quadro da vida interior da igreja de Cristo durante a luta... as visões interpostas apontam à obra e à fé dos verdadeiros filhos de Deus... Os acontecimento preditos nos capítulos 7 e 10-11:1-13 são necessários como prelúdios do fim".2 Se reconhecermos estas relações estruturais, não podemos tratar mais estas seções como digressões desnecessárias, mas sim antes como partes essenciais que encaixam exatamente na estrutura total do livro. Nenhuma perícope pode separar-se ou dividir-se do que a rodeia. Toda a linguagem figurada de Apocalipse 11 fica esclarecida pela própria Bíblia, o que significa que Apocalipse 11 deve interpretar-se por seu contexto imediato (quer dizer, dos capítulos circundantes que tratam com o tempo do fim) e por seu contexto mais amplo no Antigo Testamento, antes que se possa empreender a tarefa de fazer qualquer aplicação à história. Apocalipse 11 oferece uma antecipação da última crise de fé para os crentes verdadeiros que vivem no mundo; será uma crise universal (menciona-se 4 vezes a palavra "terra" ) causada pelo testemunho corajoso das testemunhas de Deus entre uma população hostil descrita pela frase estereotipada "os moradores da terra" (v. 10). Para João, "os moradores da terra" definem-se teologicamente como os que são enganados pela adoração idolátrica da besta (ver Apoc. 13:8, 12, 14; 17:2) e cujos nomes não estão escritos no livro da vida (17:8). São inimigos do povo de Deus e culpados do sangue dos santos (6:10). Entretanto, a aparente derrota dos que adoram no templo de Deus será finalmente mudada pelo ato de Deus. Serão vindicados por sua ressurreição dos mortos e por sua ascensão visível ao céu "em uma nuvem" (11:11, 12), o mesmo que seu Senhor experimentou durante sua vida na terra. Nesse momento, a recompensa dos justos está acompanhada por um grande terremoto que obriga muitos a darem "glória ao Deus do céu" (v. 13). É evidente que Apocalipse 11:1-13 não é uma profecia isolada sobre o povo judeu ou de acontecimentos seculares da história do mundo, mas sim está inextricavelmente tecida na malha do Apocalipse de João, estabelecendo uma relação clara com Apocalipse 12 e 13 ao introduzir em forma proléptica as unidades de tempo proféticas de "42 meses" e "1.260 dias" em Apocalipse 11:2 e 3 (ver Apoc. 12:6, 14; 13:5). Apocalipse 11:7 introduz em forma abrupta "a besta que sobe do abismo" sem nenhuma explicação adicional de sua identidade até que Apocalipse 13 desenvolve suas conexões históricas e teológicas com Daniel 7. A recompensa dos mártires que aparece em Apocalipse 11:11 e 12 se volta a mencionar sob a sétima trombeta (11:16-18) e se amplia em Apocalipse 14:1-5, 20:4-6 e 22:1-5. Em resumo, a visão simbólica de Apocalipse 11:1-13 é uma sinopse breve e uma antecipação da revelação progressiva dos capítulos 12 aos 22. Símbolos da Igreja Verdadeira "E foi-me dada uma cana semelhante a uma vara; e chegou o anjo e disse: Levanta-te e mede o templo de Deus, e o altar, e os que nele adoram. E deixa o átrio que está fora do templo e não o meças; porque foi dado às nações, e pisarão a Cidade Santa por quarenta e dois meses. E darei poder às minhas duas testemunhas, e profetizarão por mil duzentos e sessenta dias, vestidas de pano de saco" (Apoc. 11:1-3). É conveniente recordar que João tinha representado a igreja cristã como um "reino de

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sacerdotes" para servir a Deus (Apoc. 1:6) e como "sete castiçais" (vs. 12, 20) que se mantêm acesos pelo Cristo ressuscitado (2:1, 5). Apocalipse 1 nos dá a chave para a aplicação dos símbolos do santuário de Israel ao novo pacto, hermenêutica evangélica que está fundamentada em Jesus como o Cordeiro expiatório e o Sacerdote de Deus (1:5). Representa-se a igreja apostólica como o novo Israel de Deus, como o povo do novo pacto, enquanto que a comunidade judia perseguidora é caracterizada como a "sinagoga de Satanás" (Apoc. 2:9; 3:9). Cristo permanece como o sustentador de sua igreja e não tolera sua corrupção. Desmascara os ensinos enganosos dessa "mulher Jezabel" na igreja de Tiatira (2:20), e anuncia seu juízo quando diz: "Matarei os seus filhos, e todas as igrejas conhecerão que eu sou aquele que sonda mentes e corações, e vos darei a cada um segundo as vossas obras" (2:23). Por outro lado, Cristo faz esta promessa à igreja da Filadélfia: "Ao vencedor, fá-lo-ei coluna no santuário do meu Deus, e daí jamais sairá; gravarei também sobre ele o nome do meu Deus, o nome da cidade do meu Deus, a nova Jerusalém que desce do céu, vinda da parte do meu Deus, e o meu novo nome" (Apoc. 3:12). O Cristo ressuscitado considera seus seguidores como "colunas" espirituais no templo de Deus, os que levam o nome "nova Jerusalém". Além disso aparecem representados como os 144.000 israelitas espirituais que servem a Deus "dia e noite em seu templo" (Apoc. 7:15). Com esta valorização da igreja de Cristo, estamos preparados para compreender a descrição simbólica da igreja e os gentios em Apocalipse 11. Do céu é dado a João um caniço que serve como "uma vara de medir", com a qual deve "medir" o templo [naós] de Deus e o altar [thusiastérion] e os que adoram nele [NVI interpreta, "e conte os adoradores que lá estiverem"] (Apoc. 11:1). A questão fundamental é: O que significa a ordem para "medir" o templo de Deus, o altar e seus adoradores? Há alguma descrição similar no Antigo Testamento? Tanto Ezequiel como Zacarias descrevem visões nas que se medem o novo templo prometido e a cidade de Deus. Zacarias esclarece o ato de medir por meio da promessa que diz que Deus escolheu a Jerusalém e que voltará para Sião depois do cativeiro babilônico para proteger o seu povo (ver Zac. 1:16; 2:1-5). Para ele, "o ato de medir" significou a promessa de restauração e amparo do fiel remanescente do Israel. Ezequiel vê um mensageiro divino que mede com um caniço de medir o templo prometido e a santa cidade (caps. 40-48). Esta visão também comunica uma promessa de restauração da adoração pura de Deus para Israel que volta do cativeiro (44:15, 16, 24) e tem o propósito de motivar os israelitas no cativeiro a arrepender-se de seus pecados e a que sejam outra vez fiéis (43:10, 11 ). Ezequiel destaca a pureza ritual e a santidade espiritual da adoração no novo templo (44:9), e dessa forma separar "o sacro do profano" (42:20; 44:23, NBE). O nome da cidade capital, com suas doze portas, chamar-se-á: "O Senhor está ali" (48:35, NBE). Debaixo do templo correrá um rio de águas vivificantes com árvores frutíferas em ambas as margens (cap. 47). Reconhece-se geralmente que a visão que Ezequiel teve do templo e de suas medidas está exposta como a Nova Jerusalém por João em Apocalipse 21 e 22. Em Apocalipse 11 é dito a João para medir "o templo de Deus, e o altar, e aos que nele adoram" (v. 1). Na perspectiva de seus protótipos do Antigo Testamento, este "medir" indica a responsabilidade de João de separar a comunidade santa da contaminação da adoração falsa e de restaurar sua verdadeira adoração no "templo de Deus". Dentro do Apocalipse, o "templo de Deus" é fundamentalmente o templo celestial onde Cristo ministra ante o trono de Deus (5:6-10; 7:14-17; 11:19). Os santos na terra entram agora pela fé e a oração neste santuário celestial, e portanto são parte do templo de Deus no céu (ver Apoc. 8:3, 4; Heb. 10:19). Como seus nomes estão escritos no livro da vida do Cordeiro, já não são mais parte dos (idólatras) "moradores da terra", e embora fisicamente vivem sobre a terra, seu "cidadania está nos céus" (Filip. 3:20). Estão "em Cristo" e, portanto, já estão sentados com ele "nos lugares celestiais" (Ef. 2:6). A igreja do tempo do fim deve restaurar esta adoração dos santos dentro do templo celestial, e esta adoração restaurada deve incluir "o altar" que estava dentro "do pátio dos sacerdotes" (um dos pátios interiores do templo do Herodes) e que representa o sacrifício expiatório de Cristo e sua intercessão por nós. A diferença fundamental entre a adoração no santuário de Israel e a

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dos pagãos, era o conhecimento de que Deus lhes tinha dado o "sangue" do sacrifício "para fazer expiação sobre o altar por vossas almas" (Lev. 17:11 ). O evangelho do Novo Testamento ensina que Deus "enviou a seu Filho como propiciação por nossos pecados" (1 João 4:10; ver 2:2). A obra expiatória de Cristo foi o propósito máximo da encarnação e do amor de Deus, e só os verdadeiros crentes em Cristo podem participar deste "altar" que representa a cruz da expiação (Heb. 13:10). João também deve "medir" os adoradores. Isto significa separar os verdadeiros adoradores da apostasia universal no tempo do fim, e esta interpretação se confirma pela ordem de "deixar à parte" [literalmente, "jogar fora"] o pátio que está fora, "e não o meças, porque foi entregue aos gentios" (Apoc. 11:2). Este "pátio que está fora" representa o território dos moradores da terra, onde os gentios estabeleceram seu culto idolátrico. O mesmo que se instruiu a Ezequiel para que se proibisse a qualquer estrangeiro que fora "incircunciso de coração e incircunciso de carne" a entrar no templo (Ezeq. 44:9), assim agora João deve excluir ou expulsar (ver João 9:34) a todos os adoradores que estão no "pátio que está fora", quer dizer, os que não estão em Cristo, que não entram no pátio interior mas sim antes adoram a besta. Jesus fazia frente aos judeus com a afirmação absoluta de seu messianismo: "Eu sou a videira verdadeira, e meu Pai é o agricultor. ... Se alguém não permanecer em mim, será lançado fora, à semelhança do ramo [literalmente, ebléthe êxo, 'é jogado fora']" (João 15:1, 6). O Apocalipse amplia esta separação de todas as pessoas em uma escala universal (Apoc. 22:14, 15). João tinha indicado que ainda nas igrejas locais havia alguns que eram meramente cristãos nominais ou que tinham sido enganados pelos falsos profetas (Apoc. 2:14-16, 20-25; 3:1-5, 16). Se persistissem em sua mornidão ou incredulidade, seriam rechaçados por Deus (2:23; 3:16). Evidentemente, Deus tinha o propósito de restaurar e pôr à parte a adoração verdadeira no tempo do fim da era cristã. Para uma elucidação adicional de Apocalipse 11, precisamos considerar o contexto do Apocalipse. É proveitoso comparar as visões do tempo do fim dos selos e das trombetas. O selamento dos 144.000 israelitas espirituais em Apocalipse 7 deve colocar-se lado a lado com a medição dos adoradores do templo da cidade santa, comparação que provoca a surpresa da unidade essencial de ambas as visões do tempo do fim. A respeito, uma erudita assinala que "medir os santos e excluir os profanos precede à sétima trombeta assim como o selamento dos escolhidos precede o sétimo selo".3 Praticamente todos os comentadores bíblicos relacionam a "medição" dos santos em Apocalipse 11 com o "selamento" de um número determinado de santos em Apocalipse 7, e interpretam ambos os fatos como a promessa especial de Deus de proteger e preservar a seus filhos durante a crise de fé do tempo do fim. Roy Naden conclui dizendo: "Dessa forma, a medição do templo pode entender-se como uma forma simbólica de dizer que Deus preserva ou 'sela' a sua igreja durante os juízos finais derramados sobre os ímpios antes que Jesus retorne".4 Deus deseja, obviamente, assinalar os verdadeiros adoradores como seu povo especial e os põe à parte para que levem a cabo um serviço especial no mundo. A ordem de Deus a João para medir o templo (Apoc. 11:1, 2) é o resultado de comer e digerir o livrinho aberto de Apocalipse 10. Terá que ter em conta que o possuir novo conhecimento produz uma prova de fé e compromisso. O Pisar da Cidade Santa "E eles [os gentios] pisarão a cidade santa por quarenta e dois meses" (Apoc. 11:2). Esta predição da opressão une duas visões no livro de Daniel: as que aparecem nos capítulos 7 e 8. Daniel tinha esboçado todo o desenvolvimento da história da salvação desde seus dias até o juízo final (Dan. 7). Desde os dias de Babilônia tinha previsto os grandes impérios mundiais, o último dos quais seria o duradouro império romano que "pisaria" a todas as suas vítimas (Dan. 7:7, 19, 23). Mas Daniel foi além da Roma imperial quando viu como se esmiuçaria em pequenos reinos (os "dez chifres"). Seu interesse principal foi o conseguinte "chifre pequeno" (Dan. 7:24) que se

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impunha com exigências políticas e religiosas e com uma "boca que falava grandes coisas" (v. 8). O anjo interpretador assinala as características específicas desse poder que exerceria um reino de terror sobre os santos. "Proferirá palavras contra o Altíssimo, magoará os santos do Altíssimo e cuidará em mudar os tempos e a lei; e os santos lhe serão entregues nas mãos, por um tempo, dois tempos e metade de um tempo" (Dan. 7:25). Este poder antiDeus (o "chifre pequeno") lutaria com os santos durante 3 ½ tempos proféticos (ou "anos"), o que faz 42 meses proféticos e dessa forma estabelece um elo específico entre Daniel 7 e Apocalipse 11. Em Daniel 8 o próprio "chifre pequeno" é descrito como o arquiinimigo de Israel, que invade a "terra gloriosa" e depois pisoteia o lugar santo e os seus adoradores (8:9-13). Aqui temos um vínculo patente entre o Daniel 8 e Apocalipse 11. Enquanto que os santos adoram a Deus e a Cristo ao entrar no templo celestial por meio da fé, ainda permanecem em forma física na terra. Com respeito a sua existência terrestre, descreve-se aos santos como "a cidade santa" que não pode ser pisoteada pelos poderes hostis dos "gentios". O desgaste dos santos só é permitido ["serão entregues"] por um período de tempo limitado, por "42 meses". Esta unidade de tempo também é usada para o tempo que concedido à besta do mar em Apocalipse 13 que blasfema o nome de Deus, "de seu tabernáculo, e dos que moram no céu" (Apoc. 13:5, 6). Por isso o pisar da cidade santa em Apocalipse 11 se explica em Apocalipse 13:1-8 como o tempo de perseguição dos adoradores por parte do anticristo, conexão que confirma a interpretação de que Apocalipse 11 descreve os santos de Deus como a "cidade santa" (cf. 20:9). Tudo isto indica que Apocalipse 11 é uma prolepse ou antecipação dos capítulos que seguem, enquanto que o livro do Daniel constitui a principal raiz primária de Apocalipse 11-13. O Apocalipse transforma por meio do evangelho a linguagem profética de Daniel, quer dizer, desenvolve as predições de Daniel em termos de Cristo e seus seguidores como os santos e adoradores verdadeiros de Deus. As unidades de tempo de Daniel 7:25 e Apocalipse 11:2 e 3 se caracterizam pela opressão e a perseguição espirituais. Com respeito a isso, há uma correspondência com os 3 ½ anos do testemunho de Elias durante a perseguição do rei apóstata de Israel, Acabe e sua esposa pagã, Jezabel (ver Luc. 4:25; Sant. 5:17). Aplica-se Apocalipse 11 ao Povo Judeu? André Feuillet representa os que afirmam que os capítulos 5 a 11 tratam especificamente sobre "os judeus incrédulos" (incluindo as duas séries dos selos e das trombetas) e em forma específica do juízo divino manifestado na destruição de Jerusalém no ano 70. Portanto conclui que as palavras de Apocalipse 11:8: "...onde também nosso Senhor foi crucificado", não se referem a Roma e sim à "Jerusalém incrédula".5 Esta hipótese determina também sua interpretação de Apocalipse 11:2 e 3 e sua aplicação histórica ao povo judeu. Feuillet escolhe o anúncio de Lucas 21, que "Jerusalém será pisada pelos gentios, até que os tempos dos gentios se cumpram" (v. 24), como sua norma guiadora para interpretar Apocalipse 11, e sua conclusão é a seguinte: "Assim como Jesus deseja indicar por estas palavras [em Luc. 21:24] o castigo futuro dos judeus culpados, assim também a parte do templo que seria 'pisada' deve representar os judeus apontados para o castigo".6 A princípio este raciocínio de uma analogia ou correspondência entre Apocalipse 11:2 e Lucas 21:24 parece lógico, mas contém um defeito oculto da exegese do Apocalipse. De acordo com o Feuillet, o Apocalipse é uma "releitura cristã maciça do Antigo Testamento". Entretanto, falha em relacionar Apocalipse 11:2 com as visões do templo em Daniel 7 e 8. A correspondência requer que devamos situar o "pisoteio do lugar santo" (e dos adoradores em Apoc. 11) dentro do curso do esboço profético de Daniel. Esta correlação com Daniel 7 e 8 é indispensável para uma compreensão adequada de Apocalipse 11, porque Daniel 7 é a raiz principal do Apocalipse de João.

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Daniel apresenta os poderes mundiais sucessivos que perseguirão o povo do pacto de Deus. Esta ordem, em seqüência, é de suprema importância para identificar o anticristo no Apocalipse e para se localizar sua unidade de tempo característica de "42 meses" ou "1.260 dias" dentro da era da igreja, e só da perspectiva da cronologia sagrada de Daniel podemos evitar a armadilha de tomar as unidades de tempo profético em Apocalipse 11 a 13 como totalmente alegóricas e significando algum tempo indefinido de perseguição. Os "42 meses" ou "1.260 dias" não são elásticos ou atemporais, já que se originam na visão de Daniel 7, onde determinam o período de tempo para o reino despótico do "chifre pequeno" depois do desmoronamento do Império Romano no ano 476 de nossa era (ver Dan. 7:8, 23-25). Isolar o Apocalipse do livro de Daniel é igual a cortar a raiz (Daniel) de seu fruto (o Apocalipse). Só Daniel atribui cada símbolo apocalíptico a acontecimentos concretos da história. Por conseguinte, ignorar o modelo cronológico da profecia de Daniel na interpretação do Apocalipse pode considerar-se como um engano fundamental. Como resultado desta falha em apreciar a relação entre Daniel e o Apocalipse, Feuillet escolhe Lucas 21:24 como seu modelo para explicar que Apocalipse 11:2 descreve os culpados "judeus assinalados para o castigo". A conseqüência da equivalência de Apocalipse 11:2 e Lucas 21:24 é que os adoradores "no templo de Deus" (do Apoc. 11) são judeus que crêem em Cristo, e que a "cidade santa" e o "pátio que está fora" representa os judeus que rechaçam a Cristo, o "judaísmo incrédulo". Feuillet apóia esta conclusão referindo-se a Lucas 13:25-28 como "a passagem paralela legítima".7 Entretanto, o Apocalipse não se concentra sobre os cristãos de origem judaica em nenhuma de suas visões ou interpretações angélicas. O "templo de Deus" é consistente com o templo celestial onde o Cristo ressuscitado ministra ante o trono de Deus (Apoc. 11:19; 15:5, 8). Suas "colunas" espirituais são todos os crentes da igreja cristã (3:12). Por meio de Cristo os adoradores verdadeiros de todas as nações chegaram a ser "um reino, sacerdotes para seu Deus e Pai" (1:6; também 5:10, CI). Todos os crentes cristãos entram pela fé no templo celestial (5:8; 8:3, 4); constituem o "reino" de Deus sobre a terra (1:6; 5:10) ou a "cidade santa" (11:2; cf. 20:9). A teologia da adoração no Apocalipse não permite a nenhum expositor restringir "os que nele adoram [no templo de Deus]" aos judeus ou limitar "a cidade santa" aos judeus que crêem em Cristo, já que estes termos hebraicos são os símbolos apocalípticos para o povo do novo pacto do Messias Jesus, como se descreve nas 7 igrejas de Apocalipse 2 e 3. Se usarmos as "chaves" inspiradas da Escritura para resolver o significado do Apocalipse de João, ou seja o Antigo Testamento e o evangelho de Cristo (ver o cap. X desta obra), devemos rechaçar o literalismo especulativo que reduz a mensagem de Apocalipse 11 ao castigo de judeus culpados como em Lucas 21:24. A fonte hebraica de "pisar a cidade santa" em Apocalipse 11 é o pisoteio do lugar santo e de seu exército em Daniel 7 e 8. Daniel descreve como o templo de Deus e seus adoradores verdadeiros seriam pisoteados, não pelo Império Romano mas sim por uma adoração rebelde e idólatra que causa a prevaricação assoladora (ver Dan. 7:21, 25; 8:11-13; 11:31-35; 12:11). João reserva a frase "a cidade santa" para a Nova Jerusalém, a morada eterna dos santos (Apoc. 21:2, 10), para "a cidade amada [de Deus]" (20:9). João equipara profeticamente a Jerusalém com a Sodoma e Egito (11:8). Assim o explica R. H. Charles: "A segurança inviolável que os judeus concediam ao templo é reinterpretado por nosso autor como significando a segurança espiritual da comunidade cristã, apesar dos ataques de Satanás e do anticristo. Mas essa segurança espiritual não exclui o martírio, como Apocalipse 11:3-13 o esclarece".8 As Duas Testemunhas Enquanto Deus entrega o pátio que está fora aos gentios perseguidores, diz: "E darei poder às minhas duas testemunhas, e profetizarão por mil duzentos e sessenta dias, vestidas de pano de saco" (Apoc. 11:3). A conjunção copulativa "e" aponta ao desenvolvimento do versículo 2. O período do ministério dos "duas testemunhas" de Deus (v. 3) é o mesmo que o período no qual se acha "a cidade santa" (v. 3). Isto pressupõe que "sua designação em dias antes que em

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meses não é mais que uma variação literária (os meses solares têm 30 dias)".9 Também nos ajuda a referência do tempo para o cuidado protetor que Deus tem da "mulher" simbólica em Apocalipse 12, conforme o veremos na seguinte comparação: APOCALIPSE 11:3 "E darei poder às minhas duas testemunhas, e profetizarão por mil duzentos e sessenta dias, vestidas de pano de saco". APOCALIPSE 12:6 "A mulher, porém, fugiu para o deserto, onde lhe havia Deus preparado lugar para que nele a sustentem durante mil duzentos e sessenta dias". Esta comparação de ambas as profecias ilumina o caráter dos "1.260 dias" e intercambia os "duas testemunhas" de Deus com a "mulher" de Deus. Deus preserva o testemunho de suas próprias testemunhas e sustenta seu ânimo no deserto de um mundo escuro. Dessa forma, os "duas testemunhas" funcionam como um símbolo paralelo para a igreja que testifica. O Apocalipse começa com uma visão de Cristo ministrando em meio dos 7 candelabros que se diz representarem a igreja, estendendo-se desde sua ressurreição até sua volta (Apoc. 1:12-16, 20; 2:1). Cristo também pode "remover" qualquer castiçal de um povo impenitente (2:5). Portanto, a verdadeira sucessão apostólica não se determina pela antiguidade, mas sim pela fidelidade à palavra de Deus e ao testemunho de Cristo. A luz de Cristo e seu testemunho a respeito da obra redentora de Deus, nunca cessará até que termine o tempo de graça. Cristo sempre alimentará a sua igreja com alimento espiritual de maneira que possam permanecer como a luz do mundo e o sal da terra (ver Mat. 5:13, 14). Suas testemunhas espirituais autorizadas a dar testemunho não se manterão quietos. Quando os discípulos louvaram a Deus "em alta voz" enquanto Jesus fazia sua entrada triunfal em Jerusalém, alguns dos fariseus lhe disseram: "Mestre, repreende os teus discípulos! Mas ele lhes respondeu: Asseguro-vos que, se eles se calarem, as próprias pedras clamarão" (Luc. 19:39, 40). Quando a profecia do tempo do fim se cumpra na história, as testemunhas de Deus darão testemunho dela sob juramento nos tribunais durante a perseguição, como Jesus fez ante Pilatos (ver 1 Tim. 6:13). Durante o reinado do anticristo e o pisoteio da "cidade santa" pelos gentios, Deus comissiona a suas duas testemunhas para que profetizem "vestidas de pano de saco" (Apoc. 11:3). Cristo comissionou a seus apóstolos, e por extensão a seus seguidores, para que dêem testemunho de sua obra redentora até o fim do tempo: "Mas recebereis poder, ao descer sobre vós o Espírito Santo, e sereis minhas testemunhas tanto em Jerusalém como em toda a Judéia e Samaria e até aos confins da terra" (At. 1:8; ver também Mat. 28:18-20; Luc. 24:48). Por que João descreve a "duas testemunhas" de Deus nesta representação simbólica? Alguns expositores aplicam as duas testemunhas, ou os dois castiçais, aos mártires das 7 igrejas, quer dizer, aos cristãos que testificaram intrepidamente do evangelho no mundo como verdadeiros profetas de Deus, e que morreram pelo evangelho. Outros sugerem a dois personagens distintos, como Enoc e Elias, ou Pedro e Paulo (que foram martirizados por Nero em Roma), ou outros dois personagens. Robert Mounce faz este comentário: "Alegoricamente, podem ser a lei e os profetas, a lei e o evangelho, o Antigo Testamento e o Novo Testamento, Israel e a igreja, Israel e a Palavra de Deus, as igrejas de Esmirna e Filadélfia".10 Kenneth A. Strand apresentou o tratamento mais proveitoso a respeito em seu artigo sobre as duas testemunhas de Apocalipse 11:3-12. Dá devida consideração ao marco contextual das duas testemunhas em Apocalipse 11 e o aplica à sexta trombeta na era da igreja. Além disso observa que as duas testemunhas funcionam como uma unidade inquebrantável, que experimentam juntos cada coisa. A característica básica de sua missão é sua proclamação da obra de advertência de Deus. Sobretudo, Strand assinala à teologia das duas testemunhas que satura o livro do Apocalipse, como se expressa em Apocalipse 1:2, 9; 6:9; 12:17; 14:12 e 20:4. Explica esta característica que passou muito por alto:

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"O acima expresso deixa claro que a 'palavra de Deus' e o 'testemunho de Jesus' proporcionam um conceito ou um tema que impregna, aponta e é a razão fundamental do livro do Apocalipse, e se diz que o mesmo Apocalipse proclama esta dupla mensagem divina (1:2)"11 Isto significa que o duplo testemunho de Deus consiste do Antigo Testamento e do Novo Testamento como uma unidade inquebrantável, o que também foi afirmado pelo anjo de Apocalipse 10:7, que une a corroboração profética no Antigo Testamento com o evangelho cristão do Novo Testamento. A ênfase em ambos os testamentos assinala a um reavivamento da Bíblia como a autoridade para a adoração verdadeira no tempo do fim. O Apocalipse explica que o testemunho de Jesus às igrejas está inspirado pelo Espírito de profecia, que inspirou os profetas de Israel (Apoc. 19:10; ver 2:7, 11, 17, 29, etc.; também 1 Ped. 1:10, 11). O testemunho histórico professado por Jesus, tal como registrado no Novo Testamento, vem ao mundo com a mesma autoridade divina como o do Antigo Testamento e será a norma no juízo filial, como Jesus declarou: "Quem me rejeita e não recebe as minhas palavras tem quem o julgue; a própria palavra que tenho proferido, essa o julgará no último dia. Porque eu não tenho falado por mim mesmo, mas o Pai, que me enviou, esse me tem prescrito o que dizer e o que anunciar" (João 12:48, 49). Strand explica a importância da teologia destas duas testemunhas da seguinte maneira: "No livro do Apocalipse, a fidelidade à 'palavra de Deus' e ao 'testemunho de Jesus Cristo' separa ao fiel do infiel, e causa perseguição que inclui o próprio desterro de João e o martírio de outros crentes (ver outra vez Apoc. 1:9; 6:9; 12:17; 20:4, etc. )".12 Nesta perspectiva, as duas testemunhas são em primeiro lugar a Palavra de Deus e o testemunho histórico de Jesus, "ou o que hoje chamamos a mensagem profética do Antigo Testamento e o testemunho apostólico do Novo Testamento... mesmo que em segundo lugar pode ser uma referência, também, à igreja em um sentido derivado como o proclamador da mensagem divina".13 Entretanto, precisamos nos dar conta de que não se pode separar a Bíblia e a verdadeira igreja de Cristo. A Bíblia que consiste de "a palavra de Deus e o testemunho de Jesus" constitui o fundamento firme e a legitimação da igreja. Só o testemunho bíblico autentica a igreja verdadeira e sua sucessão apostólica. A fidelidade à mensagem do evangelho apostólico também identifica a mulher fiel de Apocalipse 12, em contraste com a mulher infiel do capítulo 17. A igreja fiel é o meio indicado por Cristo para dar testemunho ao mundo (ver At. 1:8; Luc. 24:48; Apoc. 22:17). Jesus recalcou que seu testemunho do evangelho deve ser pregado por testemunhas viventes antes que o evangelho possa ser uma testemunha legal no juízo: "E será pregado este evangelho do reino em todo mundo, para testemunho [eís martúrion, "por testemunha"] a todas as nações; e então virá o fim" (Mat. 24:14). O rechaçar as testemunhas de Deus, indica que tanto a Escritura como a igreja fiel são rechaçadas e perseguidas. A igreja de Deus se caracterizará por sua renovada atitude em favor da Bíblia como as testemunhas unidas dos dois testamentos para cumprir sua missão e mandato no tempo do fim. As duas testemunhas de Apocalipse 11 não são o Antigo Testamento e o Novo Testamento isolados das testemunhas vivas de Deus, que são os proclamadores da mensagem divina de ambos os testamentos. A união essencial de ambas as testemunhas se ilustra em Apocalipse 10, onde o livrinho aberto ia ser digerido e proclamado por João como o representante do povo de Deus! Os "duas testemunhas" de Deus em Apocalipse 11 pregarão "vestidos de saco" (Apoc. 11:3), o que no Antigo Testamento significava a expressão de aflição ou arrependimento do pecado (Gên. 37:34; 1 Reis 21:27; Nee. 9:1; Est. 4:1; Dan. 9:3; Joel 1:13; Jon. 3:8; Mat. 11:21). Também era considerado como um vestido distintivo do profeta (Zac. 13:4), especialmente desde que Elias tinha caminhado com um "vestido de pêlos" (2 Reis 1:8) e também mais tarde João Batista (Mat. 3:4). As testemunhas de Deus proclamam a necessidade urgente de arrepender-se, porque "a grande cidade" (Apoc. 11:8, chamada mais tarde "Babilônia") será destruída logo pelos juízos divinos (caps. 16-18). Por isso profetizam as testemunhas. Entretanto, isso causará um rechaço universal e "tormento" (11:10). Pelo visto, os moradores

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da terra não encontrarão descanso das acusações de suas consciências turvadas enquanto as testemunhas de Deus lhes dêem testemunho. Bênçãos e Maldições das Duas Testemunhas Apesar da oposição universal, a missão das testemunhas de Deus será realizada depois de "1.260 dias". Entretanto, Deus reabilitará a seus "profetas" fiéis ressuscitando-os dos mortos e recompensando-os com uma ascensão visível ao céu em uma nuvem, similar à nuvem de seu Senhor. Uma descrição tão vívida é a que inspira a todos os fiéis quando têm que fazer frente a um inimigo irresistível. Alan F. Johnson faz este comentário: "Isto assegura ao povo de Deus que não importa quantos de seu santos escolhidos sejam oprimidos e mortos, as testemunhas de Deus continuarão atestando de Cristo até que se cumpram os propósitos de Deus".14 A linguagem que João usa em Apocalipse 11:4-12 é tirada de várias passagens do Antigo Testamento e mostra seu estilo de simbolismo combinado. Toma-se a liberdade para adaptar as descrições hebraicas. Descreve as "duas testemunhas" como "as duas oliveiras e os dois candeeiros que se acham em pé diante do Senhor da terra" (Apoc. 11:4), e descreve seus poderes divinos em termos dos de Elias, Jeremias e Moisés (vs. 5, 6). Uma confluência como esta de imagens hebraicas tende a ressaltar a continuidade básica do pacto de Deus com seus escolhidos até o fim. Garante a fidelidade de Deus ao novo Israel, as testemunhas de Cristo, os "castiçais" em um mundo escuro. João tira seu seguinte quadro simbólico de Zacarias 4, profeta que usou duas oliveiras para representar aos dois israelitas "ungidos" de seus dias que serviam "diante do Senhor de toda a terra", quer dizer, o rei Zorobabel e o supremo sacerdote Josué (Zac. 4:11-14). Estas oliveiras proporcionavam "azeite como ouro" para o candelabro com 7 abajures (vs. 2, 3, 12). A mensagem ilustrada de Zacarias aos israelitas que retornavam do cativeiro babilônico era clara: Deus proveria seu Espírito à liderança religiosa e política de Israel, de maneira que pudessem terminar a edificação de seu templo (vs. 6-9). João descreve um quadro similar para a igreja do tempo do fim, já que vê as duas testemunhas como dois castiçais e como dois oliveiras que "estão em pé diante do Senhor da terra" (Apoc. 11:4). É obvio, deve entender-se que seu significado simbólico está em uma continuidade básica com o de Zacarias 4. A igreja, como sacerdotes reais (1:6; 5:10), deve ir adiante no poder do Espírito Santo para terminar de edificar o templo espiritual do povo de Deus na terra, apesar da cruel oposição. A palavra "terra" é usada 4 vezes em Apocalipse 11:4-10, enfatizando a missão universal da igreja. Depois João manifesta a autoridade judicial das duas testemunhas de Deus (Apoc. 11:5, 6). O conceito hebraico de represália fica revalidado agora. Como as duas testemunhas estão autorizadas diretamente por Deus, ratifica-se seu testemunho que não pode ser resistido sem conseqüências graves. Jeremias descreveu figuradamente um juízo anterior de Deus sobre um Judá impenitente: "Eis que converterei em fogo as minhas palavras na tua boca e a este povo, em lenha, e eles serão consumidos" (Jer. 5:14). Um exemplo literal de semelhante poder foi a sentença de Elias sobre dois regimentos reais que vieram para prendê-lo e morreram instantaneamente, consumidos por fogo (2 Reis 1:10-12). Elias pronunciou uma maldição do pacto sobre a terra, fechando o céu para que não chovesse. Como Moisés tornou as águas em sangue, assim as testemunhas do tempo do fim receberão poder sobrenatural do mesmo Deus do pacto (Apoc. 11:5, 6). Segundo parece, o propósito de tais castigos é levar os inimigos Deus a reconhecer a suas testemunhas e a aproveitar a necessidade de arrepender-se. Aqui observamos uma correspondência essencial com os castigos das trombetas que foram enviados do céu em resposta às orações dos santos perseguidos (Apoc. 8:3-5). Antecipação da Perseguição do Tempo do Fim As advertências das duas testemunhas experimentam a mesma oposição que a que Cristo e seus apóstolos experimentaram em Jerusalém. João prediz:

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"E, quando acabarem o seu testemunho, a besta que sobe do abismo lhes fará guerra, e as vencerá, e as matará" (Apoc. 11:7). Este texto é a primeira referência sobre "a besta" [theríon, "animal selvagem"] no Apocalipse. Tem sua raiz central na quarta "besta" de Daniel 7, que faz guerra contra os santos. Mas agora a besta "sobe do abismo". G. B. Caird nota um princípio fundamental: "Sempre que os homens reclamam poder despótico, recusando reconhecer que são responsáveis ante Deus pelo uso que lhe dão, ali o monstro sobe do abismo".15 Apocalipse 11 se concentra sobre os santos martirizados que não se sepultam "na praça da grande cidade que, espiritualmente, se chama Sodoma e Egito, onde também o seu Senhor foi crucificado" (v. 8). João se refere manifestamente à cidade de Jerusalém, onde Cristo foi crucificado "fora da porta" (Heb. 13:12), e onde os seguidores de Cristo também foram perseguidos por seu testemunho do Cristo crucificado (At. 4-7). João agora descreve Jerusalém como uma cidade que chegou a estar, aos olhos de Deus, tão degradada moralmente como Sodoma, opressora como o Egito (ver também Isa. 1:9; Ezeq. 16:26; Jer. 23:14) e culpada da crucificação de Cristo (Apoc. 11:8). João a chama "a grande cidade", uma frase que se usa 7 vezes exclusivamente para "Babilônia" em todo o resto do livro (16:19; 17:18; 18:10, 16, 18, 19, 21). A "grande cidade" está colocada em notório contraste com a "cidade santa" (Apoc. 11:2). A esfera de ação de ambas as cidades é universal no tempo do fim. Paul S. Minear interpreta o conflito constante entre as duas cidades, "a cidade santa" e "a grande cidade" em Apocalipse 11:2 e 8, à luz da morte e ressurreição de Cristo. "Este acontecimento [de Cristo] revela... a presença de 'a grande cidade' em qualquer lugar que os homem rechacem a 'palavra de Deus e o testemunho de Jesus', e a presença de 'a cidade santa' em qualquer lugar que os homens são fiéis a essa palavra e testemunho... descreve-se a cidade santa como o templo de Deus, seu altar, e os que adoram nele (xi.1). Descreve-se à outra como o lugar onde os moradores da terra servem e adoram à besta (xi.7). É a inimizade entre os dois senhores que revela a natureza de ambas as cidades... O 'testemunho do Jesus' capacita João a discernir os limites entre as duas cidades, assim como a discernir o término verdadeiro de uma e o término enganoso da outra".16 Esta interação dinâmica da cidade santa (Jerusalém) e da cidade corrompida (Babilônia) em Apocalipse 11 é só uma antecipação das visões ampliadas da mulher pura e a meretriz em Apocalipse 12 e 17. A Imitação de Cristo das Duas Testemunhas É notável que Deus permita que suas duas testemunhas sejam mortos depois que terminaram sua missão, quer dizer, depois dos 1.260 dias proféticos. Aqui observamos uma correspondência essencial com a missão e a morte do Filho de Deus que foi crucificado só depois de ter completado sua missão (João 12:23; 13:1; 17:1). Este modelo messiânico se amplia posteriormente à ressurreição das testemunhas e sua ascensão celestial em uma nuvem de glória (Apoc. 11:11, 12). Sua missão está unida intimamente com a de seu Senhor, a quem João chama "a testemunha fiel, o primogênito dos mortos" (Apoc. 1:5; também 3:14). Estamos justificados em aplicar esta descrição simbólica tanto às Escrituras como à igreja que proclama fielmente as Escrituras no tempo do fim. Entretanto, devemos compreender que muitas aplicações históricas no passado demonstraram ser só cumprimentos parciais, de maneira que devemos estar alerta ao cumprimento completo nos acontecimentos finais do tempo do fim. João tinha anunciado antes que muitos fiéis seriam "guardados" da hora final de prova (Apoc. 3:10). Contudo, muitos santos que dão testemunho serão mortos no tempo do fim e seu testemunho universal será emudecido pelo ódio fanático dos "moradores da terra". Então se cumprirão em todo o globo as palavras do Jesus: "E matarão a alguns de vós; e serão aborrecidos de todos por causa de meu nome" (Luc. 21:16, 17). Por outro lado, todo mundo se regozijará e enviarão presentes uns aos outros quando se sentirem aliviados da voz de repreensão. Uma situação similar ocorreu no Egito quando Israel tinha saído (Sal. 105:38). Mas seu gozo terá uma vida efêmera, só "três dias e meio" (Apoc. 11:9, 11 ). Este período de tempo está em

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contraste chamativo com os 1.260 dias do ministério das testemunhas de Deus, quem honrará logo a suas testemunhas com uma vindicação espetacular do céu. João agora toma da maravilhosa visão de Ezequiel para descrever a ressurreição das testemunhas executadas. "E, depois daqueles três dias e meio, o espírito de vida, vindo de Deus, entrou neles; e puseram-se sobre os pés, e caiu grande temor sobre os que os viram. E ouviram uma grande voz do céu, que lhes dizia: Subi cá. E subiram ao céu em uma nuvem; e os seus inimigos os viram" (Apoc. 11:11,12). Chama-nos a atenção a reinterpretação criativa que João faz da visão de Ezequiel a respeito da restauração do Israel como uma teocracia depois da cativeiro babilônico (Ezeq. 37). João vê a visão de Israel finalmente realizada nas testemunhas de Cristo no fim do tempo: EZEQUIEL 37:10 "Profetizei como ele me ordenara, e o espírito entrou neles, e viveram e se puseram em pé, um exército sobremodo numeroso". APOCALIPSE 11:11 "Mas, depois dos três dias e meio, um espírito de vida, vindo da parte de Deus, neles penetrou, e eles se ergueram sobre os pés, e àqueles que os viram sobreveio grande medo". Como no "vale dos ossos secos" de Ezequiel 37, onde os corpos permaneceram insepultos, assim os corpos das testemunhas de Cristo jazerão sobre a terra insepultos (Apoc. 11:9). A visão de Ezequiel prometeu que Israel e sua adoração de Deus seriam restaurados depois de seu cativeiro em Babilônia, e João também promete que as testemunhas fiéis de Cristo, mortos por Babilônia na época da igreja, serão restaurados à vida no reino de glória. João acrescenta sua ascensão milagrosa ao céu em uma nuvem, assim como Cristo tinha subido ao céu em uma nuvem (At. 1:9). Portanto, não se trata de um rapto dos cristãos, invisível e secreto! Esta ressurreição e o arrebatamento visível será antes uma comoção universal que causa terror nos corações dos moradores da terra (Apoc. 11:11, 12). Todas serão testemunhas da mudança de papéis que Deus fará de seu santos desprezados. "Naquela hora", um grande terremoto causará o desmoronamento da décima parte da cidade, matando a "sete mil homens" (Apoc. 11:13). Isto aterroriza os sobreviventes até o ponto que se sentem constrangidos a dar "glória ao Deus do céu" (v. 13). Os 7.000 idólatras mortos pelo terremoto parecem funcionar como a contraparte dos 7.000 adoradores fiéis de Jeová que foram preservados por Deus no tempo do profeta Elias (ver 1 Reis 19:18; Rom. 11:4), o que sugere que o castigo de Deus está limitado em proporção à população total, permitindo ainda tempo para o arrependimento e para que reconheçam sua glória. Como parte da sexta trombeta, o terremoto de Apocalipse 11:13 é um precursor limitado do último terremoto (o de Apoc. 6:12-14; 11:19; 16:17-21). Bauckham comenta a este respeito: "O versículo 13 [de Apoc. 11] significa certamente que todos os sobreviventes se arrependerão sinceramente e reconhecerão o único Deus verdadeiro. A descrição de sua resposta corresponde ao convite do anjo que em Apocalipse 14:6 e 7 chama as nações a reconhecer a Deus. Também está em contraste com 9:20 e 21 (cf. 16:9-11)... Não a minoria fiel, e sim a maioria infiel é a que é perdoada, com o fim de que possam chegar ao arrependimento e a fé. Graças ao testemunho das testemunhas, o castigo é em realidade salvífico".17 Esta interpretação de Apocalipse 11:13 considera o testemunho dos mártires como eficaz entre as nações, especialmente pela forma como fazem frente à morte, com a mesma vitória como a que Cristo manifestou. O testemunho dos mártires mortos não terá sido em vão. Seu sangue chegará a ser a semente de novos crentes, de maneira que se realizará a esperança dos profetas de Israel para o tempo do fim: "Todas as nações que fizeste virão, prostrar-se-ão diante de ti, Senhor, e glorificarão o teu nome" (Sal. 86:9). " Abençoe-nos Deus, e todos os confins da terra o temerão" (Sal. 67:7). "Diante de mim se dobrará todo joelho, e jurará toda língua" (Isa. 45:23). A Aplicação Historicista Os intérpretes protestantes aplicaram os "duas testemunhas" de Apocalipse 11 a todos os que

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pregaram intrepidamente o evangelho bíblico da salvação e que desmascararam a apostasia da igreja medieval. Viram-nos como a contraparte positiva do anticristo, a besta que sobe do abismo em Apocalipse 11:7. Dessa maneira estabeleceram sua missão e sua autocompreensão protestante. Rodney L. Pedersen apresenta um relatório instrutivo da história da exegese de Apocalipse 11:3-13.18 Entre as testemunhas simbólicas se contaram Savonarola, Wycliffe, Huss, Jerônimo de Praga, Lutero, Zuínglio, Melanchton, Calvino e muitos outros. A todos estes os considerou inspirados pelo Espírito, como foi o profeta Elias, para proclamar "as claras afirmações da Escritura Sagrada – doutrinas que tinham sido relutantes em apresentar".19 Todos foram acusados falsamente e perseguidos "pela palavra de Deus e pelo testemunho de Jesus Cristo".20 A fins do século XVII alguns expositores de influência como Pierre Jurieu (em 1687) e Drue Cressener (em 1689) aplicaram a profecia das duas testemunhas aos protestantes franceses que foram assassinados em 1686 (depois da revogação do decreto do Nantes em 1685, mas que foi restaurado de novo em 1890).21 Outros como Jonathan Edwards (1703-1758) viram a Reforma predita na ressurreição e ascensão das testemunhas de Apocalipse 11:11 e 12, porque os reformadores vieram com o poder da Palavra de Deus, um poder que pode converter ou destruir.22 Intérpretes historicistas posteriores aplicaram a morte das duas testemunhas à proscrição temporária da religião cristã na França durante a Revolução Francesa. Por quase 4 semanas, desde 10 de novembro até 6 de dezembro de 1793, o Concílio Nacional da França foi dominado pelas exigências excessivas de alguns ultra revolucionários que rechaçaram publicamente o Deus do cristianismo, puseram a um lado a Bíblia e inclusive aboliram o ciclo semanal de 7 dias. Neste ato de desafio, a França manifestou um espírito de ateísmo e portanto, muitos intérpretes proféticos começaram a aplicar Apocalipse 11:7 e 8 à guerra contra a Bíblia durante o reinado do terror da Revolução Francesa, mais ainda porque isto ocorreu perto do fim dos 1.260 dias calculados de 538 até 1798. Ellen White, no Grande Conflito (1888, 1911), dedicou um capítulo especial, o 16, à aplicação histórica de Apocalipse 11. Enquanto que a descrição profética de Apocalipse 11 pode aplicar-se a uma fase da Revolução Francesa se se restringirem as duas testemunhas às Escrituras do Antigo Testamento e do Novo, uma quantidade de característicos distintivos de Apocalipse 11 não se cumpriram completamente, tais como a extensão mundial do testemunho dos mártires (vs. 9, 10); o período de tempo dos "3 ½ dias" de rechaço de enterrar os corpos das duas testemunhas (v. 9); e a declaração de que matará as testemunhas, "quando tiverem acabado seu testemunho" (v. 7). Resumo de Apocalipse 10 e 11 As visões de Apocalipse 10 e 11 dirigem seu feixe de luz ao novo mandato da igreja no tempo do fim. Concentram-se sobre o tempo da sexta trombeta, a fase final da era cristã, antes que termine o tempo de graça com a sétima trombeta. A predição dos acontecimentos do tempo do fim em Apocalipse 10 e 11 está em um contraste notável com o quadro sombrio das visões das trombetas (Apoc. 8 e 9), com o qual forma uma contraparte dramática. As visões de Apocalipse 10 e 11 correspondem-se com a visão do capítulo 7, que também descreve os acontecimentos do tempo do fim dentro da série dos selos. Ambos os centros de atenção (Apoc. 7, 10 e 11) são visões para animar os santos a perseverar até o fim. Enquanto que as trombetas representam castigos de Deus cada vez maiores sobre os perseguidores, começando com a destruição de Jerusalém e continuando durante a era cristã, Apocalipse 10 e 11 se centram na missão da reavivada igreja de Cristo, iluminada por uma nova visão do livro de Daniel (Dan. 12:4) e habilitada com o Espírito de Deus (Apoc. 11:4-6), o que implica que o conflito entre a vontade revelada de Deus e os poderes da religião apóstata se intensificarão à medida que transcorra o tempo. A sexta trombeta (Apoc. 9:14-19) descreve a confrontação final entre os adoradores inspirados pelo demônio e as testemunhas de Cristo cheios do Espírito. O conflito final leva a uma perseguição legal, prisão e execução de todos os que se aderem ao testemunho de Jesus. A guerra atroz que se trava entre a besta e as testemunhas de Cristo em Apocalipse 11 se

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amplia em Apocalipse 12 a 17. Estas ampliações se caracterizam por repetições deliberadas dos símbolos chave (tais como unidades de tempo, o testemunho, a besta, os moradores da terra), que servem como elos deliberados entre Apocalipse 11 e os capítulos seguintes. Enquanto que as imagens simbólicas de Apocalipse 10 e 11 são tiradas do Antigo Testamento, todas são adaptadas ao evangelho de Cristo e a suas testemunhas. Portanto, estes capítulos têm um caráter fortemente antecipatório. Suas mensagens visionárias funcionam como uma perspectiva proléptica das visões do tempo do fim de Apocalipse 12 a 22. Entretanto, João deseja completar primeiro a série das trombetas com uma breve descrição da sétima trombeta. 7 - A Sétima Trombeta "O sétimo anjo tocou a trombeta, e houve no céu grandes vozes, dizendo: O reino do mundo se tornou de nosso Senhor e do seu Cristo, e ele reinará pelos séculos dos séculos" (Apoc. 11:15). Nossa primeira impressão é que esta trombeta final não contém nenhum "ai" porque anuncia só o começo do governo de Deus sobre a terra. Não obstante, a sétima trombeta compreende um complexo cheio de cenas para consumar o "mistério" de Deus (Apoc. 10:7), que mencionam os 24 anciões em Apocalipse 11:16-18. Seu cântico de louvor anuncia a execução do juízo de Deus sobre os mortos e os vivos como a manifestação de seu reino: "Graças te damos, Senhor, Deus Todo-poderoso, que és, e que eras, e que hás de vir, que tomaste o teu grande poder e reinaste. E iraram-se as nações, e veio a tua ira, e o tempo dos mortos, para que sejam julgados, e o tempo de dares o galardão aos profetas, teus servos, e aos santos, e aos que temem o teu nome, a pequenos e a grandes, e o tempo de destruíres os que destroem a terra" (Apoc. 11:17, 18). A expressão, "e iraram-se as nações, e veio a tua ira", resume o tema do Salmo 2 e deve entender-se à luz deste salmo messiânico. Neste salmo não se fala de guerras seculares, mas sim da ira das nações contra o Deus de Israel e contra seu Messias (ver Sal. 2:6-9). Para compreender o significado religioso dos acontecimentos finais, devemos procurar suas descrições ampliadas nas visões dos capítulos 12 a 22. George Beasley-Murray expressou esta infra-estrutura literária do Apocalipse nas seguintes palavras: "Não nos equivocaremos muito se virmos o terceiro ai refletido na primeira parte do versículo 18a, ao que se refere de forma mais explícita o capítulo 16:17 (a sétima taça) e em maior plenitude o capítulo 17:12-18, que é cantado no lamento do capítulo 18 e nos hinos de júbilo em 19:1-10, e descritos em 19:11-16 (especialmente em 19:15)".23 Por Apocalipse 12 a 19 sabemos que a "ira" de Deus se manifestará nas 7 últimas pragas (ver Apoc. 15:1). A sétima trombeta inclui os ais das últimas pragas de Apocalipse 16. O canto litúrgico dos anciões no céu apresenta uma sinopse de Apocalipse 12 a 22. Os capítulos 12 a 14 descrevem os esforços demoníacos do príncipe deste mundo, Satanás, para destruir os seguidores de Cristo. O canto profético dos anciões em Apocalipse 11 consola o povo de Cristo, ameaçado pelas hostes do inimigo, que chegou o tempo [kronos] para três acontecimentos finais: (1) para julgar aos mortos; (2) para recompensar a todos os santos, e (3) para destruir os que destroem a terra (Apoc. 11:18). A referência ao "destruidor" universal indica que o oráculo de condenação contra a Babilônia antiga (ver Jer. 51:25) encontrará uma consumação final. O tema de gratidão em Apocalipse 18 e 19 é o juízo contra Babilônia, o destruidor do povo de Deus. "Exultai sobre ela, ó céus, e vós, santos, apóstolos e profetas, porque Deus contra ela julgou a vossa causa" (Apoc. 18:20; ver também 19:2). O ato divino da destruição de Babilônia expõe um ato do reinado de Cristo. Seu propósito é essencialmente construtivo, a restauração de sua criação. Provê a seu povo com a herança prometida, a nova terra. A segurança do juízo e da recompensa dos santos nos recorda a visão fundamental do Daniel na qual "até que veio o Ancião de Dias e fez justiça aos santos do Altíssimo; e veio o tempo em que os santos possuíram o reino" (Dan. 7:22; ver também o V.

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27). Esta tônica do Daniel também é o tema dominante no livro do Apocalipse. A declaração feita sob a sétima trombeta de que veio o tempo "para destruir os que destroem a terra" (11:18), confirma a visão de Daniel de que o reino de Deus "esmiuçará e consumirá a todos estes reino, mas ele permanecerá para sempre" (Dan. 2:44; também o v. 45). Apocalipse 11 conclui com uma nova visão: "E abriu-se no céu o templo de Deus, e a arca do seu concerto foi vista no seu templo; e houve relâmpagos, e vozes, e trovões, e terremotos, e grande saraiva" (Apoc. 11:19). Quem se volte a ver o arca do pacto de Deus, combinado com os instrumentos de guerra divina (terremoto, saraiva, trovão, etc.), assegura de uma maneira dramática à igreja que Cristo se levantará para cumprir as promessas do pacto de Deus. As descrições apocalípticas representam juízos históricos para a humanidade rebelde. O Deus do pacto também é o Senhor da história. Seu reino de justiça e misericórdia será estabelecido sobre a terra. A segurança fundamental de Apocalipse 11 pode resumir-se nestas palavras: "garantiram-se tanto o juízo sobre os inimigos de Deus como a vindicação para a igreja. Esta é a grande mensagem de Apocalipse 11".24 Referências 1 Mounce, The Book of Revelation, p. 218. 2 Considine, "The Two Witnesses: Rev. 11:3-13" (1946), pp. 378, 379. 3 J. M. Ford, Revelation, p. 177. 4 Naden, The Lamb Among the Beasts, p. 172. 5 Feuillet, The Apocalypse, p. 61. 6 Feuillet, Johannine Studies, p. 236. 7 Feuillet, Ibid., pp. 236, 237. 8 Charles, The Revelation of St. John, t. 1, p. xc. 9 Mounce, The Book of Revelation, p. 223. 10 Mounce, Ibid. 11 Strand, "The Two Witnesses of Rev. 11:2-12", p. 132. 12 Ibid., p. 133. 13 Ibid., pp. 134, 135. 14 Johnson, Revelation, p. 111. 15 Caird, The Revelation of St. John the Divine, p. 137. 16 Minear, "Ontology and Ecclesiology in the Apocalypse", pp. 98-100. 17 Bauckham, The Theology of the Book of Revelation, pp. 86, 87. 18 Ver o livro de R. L. Petersen. 19 Ellen White, GC 608. 20 Ibid., p. 271. 21 Ver Petersen, Preaching in the Last Days. The Theme of the 'Two Witnesses' in the Sixteenth and Seventeenth Centuries, pp. 229, 250. 22 Ibid., pp. 230-232. 23 Beasley-Murray, Revelation, p. 188. 24 Naden, The Lamb Among the Beasts, p. 179. FONTES BIBLIOGRÁFICAS PARA APOCALIPSE 11 Livros Bauckham, Richard J. The Theology of the Book of Revelation [A teologia do livro do Apocalipse]. Cambridge, Nova York: Cambridge University Press, 1994. ________. The Climax of Prophecy. Studies on the Book of Revelation [O Clímax da Profecia. Estudos no Livro do Apocalipse]. Edimburgo: T&T Clark 1993. Beasley-Murray, George R. Revelation [O Apocalipse]. New Century Bible Commentary [Comentário da Bíblia do Novo Século]. Grand Rapids, MI: Wm. B. Eerdmans, 1983. Beckwith, Isbon T. The Apocalypse of John [O Apocalipse de João]. Grand Rapids, MI: Baker, 1979 (reimpressão de 1919). Caird, George B. The Revelation of St. John the Divine [O Apocalipse de São João o Teólogo]. Grand Rapids, MI: Wm. B. Eerdmans, 1977. Charles, R. H. The Revelation of St. John [O Apocalipse de São João], 2 ts. ICC. Edimburgo: T

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& T Clark. T. 1 (1920, 1975). Ford, Desmond. Daniel [Daniel]. Nashville, TN: Southern Publ. Ass., 1978. Apêndice F: "The Year-Day Principle" [O princípio dia-ano]. Ford, Josephine Massyngberde. Revelation [O Apocalipse]. Anchor Bible, T. 38. Garden City, Nova York: Doubleday, 1978. Ezell, D. Revelations on REVELATION [Revelações sobre o APOCALIPSE]. Waco, Texas: Word Books, 1977. Cap. 5: "Time, and Time, and Half a Time (Apoc. 11:1-3)" [Tempo e tempos e metade de um tempo (Apoc. 11:1-3)]. Feuillet, André. The Apocalypse [O Apocalipse] (Staten Island, Nova York: Alvorada House, 1965; da ed. francesa [Paris: Desclée de Brouwer, 1962]). __________. Johannine Studies [Estudos Joaninos]. Staten Island, Nova York: Alvorada House, 1966. Parte 2, cap. 3: "Interpretation of Chapter XI of the Apocalypse" [Interpretação do capítulo 11 do Apocalipse]. Fredericks, R. A Sequential Study of Revelation 1-14 Emphasizing the Judgment Motif [Um Estudo Consecutivo de Apocalipse 1-14 Enfatizando o Motivo do Juízo]. Tese doutoral inédita, Universidade Andrews. Berrien Springs, MI: Andrews University, 1987. Hofmann, H. U. Luther una die Johannes-Apokaiypse [Lutero e o Apocalipse de João]. Tübingen: Mohr, 1982. Pp. 656-661. Johnson, Alan F. Revelation [O Apocalipse]. Grand Rapids, MI: Zondervan, 1983. Kempson, W. R. Theology in the Revelation of John [Teologia no Apocalipse de João]. Tese doutoral, Southern Baptist Theological Seminary, 1982. Ann Arbor, MI: UMI, 1985. Mounce, Robert H. The Book of Revelation [O Livro do Apocalipse]. The New International Commentary on the New Testament [O novo comentário internacional sobre o Novo Testamento]. Grand Rapids, MI: Wm. B. Eerdmans, 1977. Müller, E. Microstructural Analysis of Revelation 4-11 [Análise da microestrutura de Apocalipse 4 aos 11]. Tese doutoral inédita, Seminário Teológico da Universidade Andrews, Berrien Springs, MI: Andrews University, 1994. Naden, Roy C. The Lamb Among the Beasts. Finding Jesus in the Book of Revelation [O Cordeiro Entre as Bestas. Encontrando a Jesus no Livro do Apocalipse] (Hagerstown, Maryland: Review and Herald, 1996). Petersen, Rodney L. Preaching in the Last Days. The Theme of the 'Two Witnesses' in the Sixteenth and Seventeenth Centuries [Pregando nos Últimos Dias. O Tema de 'As Duas Testemunhas' nos Séculos XVI e XVII]. Nova York: Oxford University Press, 1993. Shea, William H. Estudios selectos sobre interpretación profética. Aldo D. Orrego, trad. Florida, Buenos Aires: Edições SALT, 1990. Trites, A. A. The New Covenant Concept of Witness [O Conceito Neotestamentário de Testemunha]. Cambridge, Nova York: Cambridge University Press, 1977. Pp. 164-170: "The Two Witnesses" [As Duas Testemunhas]. Vários. Los adventistas del séptimo día contestan preguntas sobre doctrinas. Edição castelhana: SALT. Vila Libertador San Martín, Entre Rios: Publicações CAP 1986 (inglês, 1957; pp. 330-337). Artigos Considine, Joseph S. "The Two Witnesses: Rev. 11:3-13" [As duas testemunhas: Apoc. 11:3-13], CBQ 8 (1946), pp. 377-392. McNicol, A. "Revelation 11:1-14 and the Structure of the Apocalypse" [Apocalipse 11:1-14 e a estrutura do Apocalipse], Restoration Quarterly [Revista Trimestral: Restauração] 22:4 (1979), pp. 193-202. Minear, Paul S. "Ontology and Ecclesiology in the Apocalypse" [Ontologia e Eclesiologia no Apocalipse], NTS 13 (1966), pp. 89-105. Strand, Kenneth A. "The Two Witnesses of Rev. 11:2-12" [As Duas Testemunhas de Apocalipse 11:2-12], AUSS 19:2 (1981), pp. 127-135. Obra de referência Zondervan Pictorial Encyclopedia of the Bible [Enciclopédia Pictórica da Bíblia Zondervan]. 5 ts. M. C. Tenney ed. general. Grand Rapids, MI: Zondervan, 1976. T. V: "Temple" [Templo], pp. 622656; "Herod's Temple" [Templo do Herodes], pp. 645-656.

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XX - COMPREENDENDO OS "1.260 DIAS" EM APOCALIPSE 11 -13 João usa 3 símbolos de tempo ("dias", "meses", "tempos" ) em Apocalipse 11-13 para designar o período quando seria pisada a cidade santa, o tempo das duas testemunhas, da mulher no deserto, e do domínio da besta. Usa a frase "42 meses", "1.260 dias" e "um tempo, e tempos e metade de um tempo", como termos sinônimos que servem como elos vitais entre Apocalipse 11, 12 e 13. É útil fazer uma comparação de dois versículos paralelos de Apocalipse 12:

APOCALIPSE 12:6 APOCALIPSE 12:14 "A mulher, porém, fugiu para o deserto, onde lhe havia Deus preparado lugar para que nele a sustentem durante mil duzentos e sessenta dias".

"E foram dadas à mulher as duas asas da grande águia, para que voasse até ao deserto, ao seu lugar, aí onde ésustentada durante um tempo, tempos e metade de um tempo".

Apocalipse 12:6 e 14 descrevem ao que parece a mesma mulher e o mesmo tempo de perseguição, com símbolos ligeiramente diferentes. Estas diferenças estilísticas são significativas, porque proporcionam a oportunidade de combinar uma gama mais ampla de modelos do Antigo Testamento, o que não só enriquece o significado teológico da igreja cristã, mas também proclama a continuidade da fidelidade de Deus a seu povo do novo pacto. Da mesma maneira que Jeová tinha "levado" a Israel sobre "asas de águia" do Egito e os trouxe a ele (Êxo. 19:4), assim Deus dá à sua igreja "as duas asas da grande águia" para voar a um lugar seguro (Apoc. 12:14). O fato de que o símbolo de tempo de "1.260 dias" e seus equivalentes nos são dados 7 vezes (2 em Dan. e 5 no Apoc.) indica que é um período de importância crucial. A pergunta é a seguinte: De onde vem este símbolo apocalíptico? A frase "um tempo, e tempos e metade de um tempo" em Apocalipse 12:14 é tomada diretamente de Daniel 7:25 e 12:7, como geralmente se reconhece. Mas poucos comentadores conectam Apocalipse 12 à sua raiz principal em Daniel 7. Porém, aqui jaz a chave secreta para descobrir os 3 ½ tempos proféticos em sua relação com o "chifre pequeno" da quarta besta de Daniel. O Erro de Separar o Símbolo de Tempo de seu Context o Alguns expositores apelam à tradição judia que usa o termo "3 anos e meio" como um modismo para um "longo tempo" indefinido ou para "muitos dias".1 O termo aparece ali para expressar "a metade de um septênio" ou, como dizem outros, "a metade de uma década" sem nenhuma outra precisão. As passagens do Lucas 4:25 e Tiago 5:17 são interessantes, porque neles a frase "três anos e meio" usa-se para o tempo da seca nos dias de Elias, enquanto que em 1 Reis 18:1 só declara que durou "muitos dias" e que a seca terminaria "no terceiro ano". Esta designação de tempo pode significar um mínimo de 14 ou 18 meses, segundo a tradição rabínica,2 ou possivelmente 3 anos. O fato de que tanto Jesus (Luc. 4:25) como Tiago (5:17) falam deste período como "três anos e meio" poderia ser uma adaptação do modismo popular em seu tempo. Entretanto, um documento rabínico dá a leitura de "três anos e meio".3 Enquanto que se pode reconhecer a tensão dentro do conteúdo do Antigo Testamento e do Novo Testamento com respeito ao tempo de prova real da seca profetizada por Elias, tudo isto se distingue da designação do tempo nas profecias de Daniel e Apocalipse. Aqui o princípio guiador não é o modismo, a não ser o contexto imediato e o contexto remoto da profecia. O livro de Daniel proporciona a fonte e a localização dos "3 ½ tempos" dentro da história das salvação. O falhar em situar os 3 ½ tempos proféticos adequadamente dentro do tempo contínuo de Daniel 7, ignora a convocação ordenada deste período de tempo na história. Como Daniel 7 aplica a quarta besta simbólica ao quarto império mundial, ou Roma Imperial, o "chifre pequeno" que cresceu desta besta não pode representar ao rei selêucida Antíoco IV que perseguiu os judeus e profanou o templo desde dezembro do ano 167 a.C. até dezembro do 164 a.C. (1 Macabeus 1:41-61; 2 Mac. 10:5). Induz a engano afirmar que o tempo simbólico de Daniel de 3 ½ tempos "levantou-se durante a abominação do Antíoco Epifanes" conforme afirma Ezell,4 já que a profanação do templo durou exatamente 3 anos (2 Mac. 10:5) e não "quase exatamente 3 ½ anos". Semelhantes conjeturas com respeito à frase de tempo que

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Daniel emprega falham porque separam o símbolo do tempo de seu marco original dentro de Daniel 7. Aplicações Futuristas dos 1.260 dias G. Ch. Aalders, um erudito holandês do Antigo Testamento, estava convencido de que os 3 ½ tempos de Daniel 7 devem conectar-se com o reinado do anticristo, que ele viu levantar-se da quarta besta como o Império Romano. Rechaçou os "esforços" de alguns que aplicavam a designação de anticristo ao papado ou à lei romana (como formas de continuação do Império Romano) como "cerâmica sem valor".5 Aalders também considerou intranscendente esperar algum "reaparecimento reavivado" do Império Romano no tempo do fim. O anticristo, afirmou Aalders, obterá um desdobramento espantoso de poder político no mundo cultural do futuro. Tratará de assumir a soberania do mundo da própria mão de Deus ao mudar os "tempos e a lei" (Dan. 7:25; cf. 2:21). Isto significa que o anticristo tem o propósito de proscrever todos os fundamentos cristãos e "tirar todo elemento religioso" do mundo cultural, "no espírito que motivou a Revolução Francesa" ou os governos comunistas ateus.6 Dessa maneira Aalders identificou o anticristo com algum governante político ateu do futuro. Com respeito ao "tempo, e tempos e meio tempo" de Daniel 7:25, Aalders interpretou esta frase para dizer que a opressão dos crentes cristãos ocorrerá em 3 etapas: (1) Primeiro um período de perseguição em aumento; (2) depois, um período de opressão mais longo e intensificado; e (3) finalmente, um breve período de perseguição que será abreviado abruptamente por Deus por causa de seus escolhidos (referindo-se ao Mat. 24:22). Projetou esses "tempos" do anticristo, que não são exatos, ao futuro distante, atribuindo um intervalo surpreendente de tempo de mais de 1.500 anos (da queda de Roma até nossos dias) na era da igreja. Por outro lado, reconheceu que o futuro reino do anticristo está ampliado adicionalmente por Paulo em 2 Tessalonicenses 2:4 e também em Apocalipse 13:5 e 6.7 O erudito norte-americano do Antigo Testamento, Edward J. Young, explicou Daniel 7 em uma forma similar a de Aalders. Resumiu dizendo: "Dessa forma, em um quadro notável, dá-se todo o curso da história da aparição do Império Romano histórico até o fim do governo humano".8 Interpretou os "10 chifres" da quarta besta de Daniel 7 como os reinos (10 é "o número da totalidade") que "surgem historicamente do antigo Império Romano... A Europa moderna pode, em um sentido muito legítimo, ter surgido de Roma".9 Mas Young projeta o anticristo (o décimo primeiro chifre) ao futuro indefinido, quando "tratará de desgastar (consumir, afligir, humilhar) os santos do Altíssimo". "Essa tirania durará um período definido, um tempo e tempos e a metade de um tempo".10 Young rechaça a crença dispensacionalista de que os 3 ½ anos ou 1.260 dias devem equiparar-se com a última meia semana das 70 semanas de Daniel, o período da grande tribulação. Declara que a frase de tempo do Daniel "é em si mesmo uma expressão cronológica indefinida".11 Conclui dizendo: "Este período, 'um tempo, e tempos, e a metade de um tempo', aparentemente representa um período de prova e juízo que será abreviado por causa dos escolhidos de Deus (cf. Mat. 24:22)".12 Tanto Young como Aalders projetam o anticristo exclusivamente na fase final do futuro da era da igreja. É curioso observar que o reformador João Calvino em suas populares Conferencias sobre Daniel de 1561,13 sugeriu que essa frase de tempo do Daniel 7:25 indicava 3 fases: Primeiro, um período de um tempo "algo assim como 10 anos"; depois tempos, "algo semelhante a 50 ou 100 anos", e finalmente "meio tempo", como uma indicação de que Deus coloca um limite repentino à grande aflição. Refere-se a Jesus, que havia predito um encurtamento da tribulação em Mateus 24:22. Entretanto, Calvino aplicou todos os chifres da besta do Daniel 7 a vários imperadores do Império Romano (como Júlio César, Nero e Trajano). Em seu Commentary on Daniel, o dispensacionalista Leão J. Wood declara que "o fato de que esta besta tinha 10 chifres significa que antes desta indicação deve reconhecer-se a existência de um grande intervalo de tempo".14 Wood apóia este intervalo de tempo tão tremendo sobre a hipótese errônea de que os 10 chifres ("10 reis contemporâneos") devem ser parte de um Império Romano reavivado do futuro, "pode ser uma confederação de estados europeus", com Roma como sua cidade principal.15 Só então, diz Wood, o décimo primeiro chifre, como "a

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falsificação de Satanás do soberano mundial", começará a perseguir os judeus (que são os santos de Deus) por 3 ½ anos literais,16 período de tribulação que é idêntico à metade do período de 7 anos da tribulação final de Daniel 9:26 e 27. Esta opinião apenas repete a que aparece na New Scofield Reference Bible [A Nova Bíblia de referência Scofield], páginas 909 e 1362. O ponto de vista dispensacionalista está determinado por um literalismo estrito de todos os símbolos de tempo proféticos a pesar do fato de que estes símbolos estão unidos a imagens simbólicas (Dan. 7; Apoc. 11-13). Também, a teoria do intervalo do futurismo está em conflito com o contínuo-histórico descrito em Daniel 2 e 7. Abrangem os 1.260 dias Toda a Era Cristã? Nas últimas décadas, ganhou apoio uma nova interpretação dos "1.260 dias". Afirma que por meio desta frase de tempo, João pretendeu "representar a 'experiência do deserto espiritual' da igreja durante o período entre a ressurreição e a volta de Cristo".17 Este erudito batista sustenta que João escolheu dar uma forma nova à designação do tempo de Daniel como 42 meses e 1.260 dias para simbolizar o tempo que os filhos de Israel estiveram no deserto durante 42 anos. "Os novos filhos de Israel experimentarão sua peregrinação como peregrinos por um período pitorescamente simbolizado como 42 meses".18 Ele se refere a Apocalipse 12:6 e 14. Mas o Antigo Testamento nunca menciona 42 anos para a experiência de Israel no deserto; só fala de 40 anos. Lemos que desde o segundo mês de sua partida do Egito, "comeram os filhos de Israel maná quarenta anos, até que chegaram a terra habitada; maná comeram até que chegaram aos limites da terra de Canaã" (Êxo. 16:35; cf. Deut. 2:7; 8:2-4; 29:5; Nee. 9:21; Sal. 95:10; At. 7:36). Em nenhum lugar da Bíblia se estiram estes 40 anos a 42. Além disso, Daniel e Apocalipse não conectam os 3 ½ tempos proféticos com a idade messiânica ou com a era da igreja como tal, e sim somente com o reinado de terror do anticristo (Dan. 7:24, 25; Apoc. 13:5-8), conexão exegética que foi reconhecida pelo expositor batista George R. Beasley-Murray. Raciocina que as frases de tempo em Apocalipse 12 não devem ser separadas de seu contexto em Apocalipse 13, porque... "...faz violência à intenção de João. Os três anos e meio são o tempo da cólera do anticristo (13:5), e portanto da exposição da igreja a seus intentos de esmagar sua existência (11:1 e seguintes; 3-13). Isto não caracteriza o período da igreja- entre a ascensão e a parousia de Cristo".19 Como se mostrou antes, o apóstolo Paulo em 2 Tessalonicenses 2 colocou o anticristo profetizado no futuro, de fato, depois do desaparecimento do Império Romano (ver o cap. VII desta obra). Por conseguinte, os 3 ½ anos não podem aplicar-se às perseguições de alguns imperadores romanos como Nero, Domiciano, Décio e Diocleciano. Os tempos daniélicos de perseguição estão entrelaçados exclusivamente com o reinado do anticristo (Dan. 7:24, 25). E enquanto que os perseguidores históricos do povo de Deus, como Nabucodonosor, Antíoco IV, Nero e outros, podem ser considerados como representantes dos tempos opressores dos gentios, podem considerar-se só como protótipos ou precursores do anticristo predito na profecia. O que se denomina "tempos dos gentios" (em Luc. 21:24) pode ser considerado como se abrangesse todo o período da supremacia hostil sobre o povo do pacto de Deus que termina só com a libertação por ocasião da segunda vinda de Cristo. Mas os 3 ½ anos do Daniel ou os 1.260 dias de João constituem uma parte restringida desses tempos gerais de sujeição política, o período específico da supremacia do anticristo bíblico sobre os santos de Deus. E porque o reinado do anticristo não se estende sobre toda a era cristã, de igual maneira os 1.260 dias não compreendem toda a era cristã. Os "3 ½ tempos" Dentro de seu Contexto de Daniel 7 Em Daniel 7 os 3 ½ tempos estão conectados exclusivamente ao "chifre pequeno", quer dizer, o décimo primeiro chifre que surgiu gradualmente da quarta besta. O Apocalipse continua aplicando os 3 ½ tempos proféticos e seus símbolos equivalentes de "42 meses" e "1.260 dias" ao anticristo, representado como a besta que sobe do mar de Apocalipse 13:1-8.

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Durante a idade apostólica, o anticristo não se desenvolveu plenamente como declarou o apóstolo Paulo em 2 Tessalonicenses 2. Até o ancião apóstolo João declarou que o anticristo profetizado ainda estava no futuro (em 1 João 2:18). Por outro lado, advertiram a igreja a respeito da certeza de sua vinda durante a era da igreja (At. 20:29, 30; 2 Tes. 2:3-8; Apoc. 13). É notável que o pai da igreja, Tertuliano (por volta de 200 d.C.) ensinou que o anticristo predito (de Daniel) não era o Império Romano mas sim se levantaria depois do desaparecimento de Roma pagã e depois se sentaria na igreja. Tertuliano interpretou 2 Tessalonicenses 2 afirmando que a existência presente do Império Romano retardava o surgimento do anticristo. Escreveu com respeito ao que "o freia" (2 Tes. 2:7, 8, NBE): "Qual é o obstáculo aqui, a não ser o Estado romano, a queda do qual, ao ser dividido no reino introduzirá ao anticristo sobre (ruínas próprias)?"20 Também o respeitado comentário de Daniel por Jerônimo (347-420 D.C.) ratificou a posição corrente na igreja cristã, de que em Daniel 7 se descreve o anticristo como o décimo primeiro rei, que se levantará só quando o Império Romano seja destruído e 10 reinos se repartirem entre eles o mundo romano.21 Inclusive Agostinho no ano 413 recomendou o comentário "erudito" sobre Daniel de Jerônimo para a compreensão de Daniel 7.22 Tertuliano e Jerônimo chegaram a esta interpretação só porque foram a Daniel 7 como a raiz principal de todas as profecias do anticristo. O método fundamental de decifrar os símbolos apocalípticos do Apocalipse, rastreando sua origem nas profecias esboçadas no Daniel, deve ser também respeitado para decifrar os símbolos de tempo de Apocalipse 11 a 13. Se se consultar Daniel 7 como a raiz principal do Apocalipse, saberemos que o "chifre" anticristão surgiria para perseguir os santos de Deus por 3 ½ tempos só depois que os "10 chifres" dividissem o Império Romano do Ocidente. Esta divisão histórica se levou a cabo durante 100 anos, até que no ano 476 o último imperador do Império Romano Ocidental, Rômulo Augústulo, foi destronado. Pelo esboço apocalíptico de Paulo em 2 Tessalonicenses 2 sabemos que não deve dar-se por sentado nenhum intervalo interminável de tempo para que ocorresse o livre desenvolvimento do anticristo e seu reino (ver seu estudo no cap. VII desta obra, a seção "O momento histórico exato do anticristo segundo Paulo"). A besta simbólica que sobe do mar de Apocalipse 13 incorpora em si mesmo as 4 bestas do Daniel 7. Além disso, os nomes de blasfêmia sobre suas cabeças (Apoc. 13:1) correspondem-se com as marcas do chifre pequeno de Daniel 7. Também os tempos de sua autoridade, "quarenta e dois meses" (Apoc. 13:5), correspondem-se com os 3 ½ tempos do chifre pequeno de Daniel (Dan. 7:25), símbolo de tempo profético que desta maneira está unido ao anticristo que se levantaria no cenário mundial quando Roma Imperial chegasse a seu fim no Ocidente, quer dizer, depois do ano 476 d.C. Entretanto, o anticristo ainda representa o Império Romano e seu espírito de perseguição. Ronald S. Wallace, um erudito bíblico em Escócia, reconheceu que, se a quarta besta de Daniel 7 representa o Império Romano, "o chifre pequeno se refere então a algum grande perseguidor anticristão da igreja verdadeira que se levanta na era cristã e dentro da civilização criada pelo Império Romano. Isto encaixaria primorosamente com a interpretação dada pelo apóstolo Paulo e o livro do Apocalipse (cf. Apoc. 13)".23 O Surgimento da Igreja-Estado Durante o Império Rom ano Durante os primeiros 300 anos de cristianismo, os cristãos foram proscritos porque os imperadores romanos em seu ofício como Pontifex Maximus (supremo pontífice) protegiam a religião do Estado por causa da unidade civil na sociedade romana. "Calcula-se que três milhões de cristãos pereceram durante os três primeiros séculos da era cristã".24 Essas perseguições chegaram em duas grandes etapas: sob Décio e sob Diocleciano. Após terminar a última grande perseguição (303-312), repentinamente o imperador Constantino inverteu toda a situação com seu famoso Decreto Imperial do ano 313, que permitia que a religião cristã existisse legalmente lado a lado com a religião tradicional. No ano 321 impôs sobre todos os povos a observância civil do domingo como o Dies Solis ("dia do Sol"). Como patrocinador da igreja (ele mesmo se chamou "o bispo dos bispos"), Constantino convocou o primeiro concílio ecumênico na Nicéia no ano 325, e depois introduziu a prática de assinar-se os artigos de um credo escrito que estipulava castigos se não o aceitava. É a primeira ocorrência de um castigo da autoridade civil pelo cargo de heresia. Este imperador romano elevou assim à hierarquia católica e sua ortodoxia exclusiva como a religião do Estado do

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império Romano. Todas as ofensas contra a igreja agora se consideravam como delitos contra o Estado. O historiador Edward Gibbon declarou que Constantino "sentou a cristandade sobre o trono do mundo romano".25 Do tempo de Constantino, a igreja chegou a ser a Igreja-Estado. Declarou-se Roma a corte suprema de justiça dentro da igreja para honrar a memória do apóstolo Pedro (cânon 4). O imperador também enriqueceu à igreja ao doar-lhe todos os templos pagãos e suas grandes propriedades, assim como as propriedades dos hereges. Em breve a igreja era proprietária de uma décima parte de todos os bens raízes no Império Romano. O resultado da aliança da Igreja e o Estado foi uma igreja cada vez mais secularizada e uma sociedade nominalmente cristã. Segundo o historiador eclesiástico Ph. Schaff, "isto produziu o conflito entre a luz e as trevas, a verdade e a falsidade, Cristo e o anticristo, no próprio seio da cristandade".26 O tempo de Constantino foi testemunha do começo da luta interminável na Europa entre a hierarquia da Igreja e o Estado, cada um tratando de subjugar e dominar o outro. Esta rivalidade "seguiu durante todo o conflito medieval entre o imperador e o Papa, entre o episcopado imperial e hierárquico, e se repete em forma modificada em cada igreja protestante estabelecida".27 Os imperadores "cristãos" romanos convocaram os concílios gerais da igreja, impuseram os novos credos por meio da lei sobre todos os cidadãos no império, protegeram a "ortodoxia" e castigaram a "heresia" com o braço do poder secular, o que foi considerado por alguns (como Eusébio de Cesaréia) como a restauração da teocracia davídica sobre terreno cristão. Mas outros, como o professor francês de direito, Jacques Ellul, consideram a legislação e a imposição política da unidade dogmática da igreja pelos imperadores cristãos como o começo da subversão do cristianismo e a forma principal de anticristianismo.28 A imposição política das leis humanas para estabelecer a igreja ou o reino espiritual de Cristo revela um espírito que está em conflito fundamental com o espírito de Cristo (ver João 18:36). O lado sombrio desta aliança histórica da Igreja e o Estado dos dias de Constantino foi constituído pela perseguição dos "hereges", porque suas separações da fé da Igreja-Estado (o catolicismo trinitário) não se consideravam simplesmente como enganos religiosos, mas sim como delitos contra o Estado (cristão). Esses hereges foram castigados com o desterro, confisco de seus bens e, dos dias do imperador Teodósio (380), inclusive com a morte.29 Declara Schaff: "Por conseguinte, desde Teodósio se pode datar a teoria da perseguição de hereges pela Igreja-Estado, e sua inclusão na legislação".30 Em 385 o imperador "cristão" Máximo ordenou a execução do bispo espanhol Prisciliano, e de 5 crentes de sua seita parecida com a dos maniqueus, na cidade do Treveris.31 Até Agostinho chegou a convencer-se depois do ano 400 que os hereges que persistissem deviam ser castigados por seus enganos religiosos. Inclusive apelou às palavras de Jesus em uma parábola que dizem: "Força-os a entrar" (Luc. 14:23). Em sua obra clássica, A cidade de Deus, Agostinho expõe o ideal católico de uma igreja universal, ou sociedade dos fiéis, que domine a sociedade universal dos infiéis. Quando a cidade de Roma foi capturada e saqueada pelo rei godo Alarico em 410, sobreviveu a igreja como o corpo dos fiéis. Agostinho afirmou que o milênio de Apocalipse 20 se estava cumprindo agora no reinado da igreja, cujos bispos devem julgar a outros, em nome de Cristo (20:9), o que proporcionou a base teórica para o Igreja-Estado do papado medieval.32 A hierarquia da igreja chegou a ser cada vez mais romana depois que Constantino transladou a capital de Roma a Constantinopla em 330. "O bispo de Roma, no assento dos césares, era agora o homem de maior influencia no Ocidente, e logo se viu constrangido a chegar a ser a cabeça tanto política como espiritual".33 Leão I ("o Grande"; 440-461) foi o primeiro papa que publicamente sustentou um papado universal. Estabeleceu sua primazia no direito divino, o direito de estar na sede apostólica em Roma. Para ele, a cristandade e o domínio universal da igreja romana eram coisas idênticas.34 Schaff o considera como "o primeiro papa no sentido próprio da palavra", isto é, com respeito a suas exigências de supremacia.35 Durante o concílio de Calcedônia, em 451, leu-se a carta dogmática do papa Leão I, e os bispos (só estiveram presentes bispos da Europa Oriental) exclamaram: "Esta é a fé dos pais... e dos apóstolos! Desta maneira Pedro falou por meio de Leão!"36

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Desta exclamação histórica, Leão I e outros papas posteriores derivaram um direito a sua autoridade dogmática sobre todos os cristãos. Mas os mesmos pais do concílio atribuíram ao patriarca de Constantinopla uma autoridade igual para exercer na parte oriental do império, como a que o papa possuía no Ocidente. "O papa Leão I confirmou a confissão doutrinal do concílio, mas protestou contra o cânon 28 que colocava o patriarca de Constantinopla em um pé de igualdade com ele".37 O papa Leão enfatizou cada vez mais que os papas eram os sucessores do apóstolo Pedro e dessa maneira possuíam a sedes apostólica (sede apostólica), para estabelecer sua supremacia eclesiástica sobre o patriarca de Constantinopla. Daí em diante, cada papa alegou ser o vigário de Pedro e, portanto, ao mesmo tempo também o vigário de Cristo para toda a igreja. O papa Leão I foi o primeiro papa que pediu às autoridades seculares que suprimissem pela força todas as igrejas cristãs heréticas na cidade de Roma. Embora toda a igreja sustentou a autoridade dos papas, este pedido só pôde levar-se a cabo em algumas partes da Itália. A igreja oriental rechaçou a reclamação de Leão I à primazia na igreja, e ainda hoje rechaça a primazia papal. Da queda do Império Ocidental em 476, os bispos de Roma se apropriaram da função do imperador do ocidente como Pontifex Maximus, sacerdote e governante temporário, com os bispos como senadores e dirigentes do exército. O renomado historiador eclesiástico alemão, Adolfo von Harnack viu a igreja romana como "a continuação real" do Império Ocidental. Henri Pirenne, o eminente historiador belga, escreveu: "Em resumo, não foi porque era cristã, mas sim porque era romana que a igreja adquiriu e manteve durante séculos seu domínio sobre a sociedade".38 O papa Gelásio I (492-496) desenvolveu o princípio papal um passo a mais ao declarar em 494 que o imperador estava sujeito ao papa e tinha a obrigação de obedecer à disciplina da Igreja Católica. O bispo de Roma era a "autoridade suprema". Este papa começou a defender a política de "não interferência" entre a Igreja e o Estado. Seu propósito foi fazer do papa um governante religioso-político independente, com direito a mandar sobre os soberanos civis. O Reconhecimento da Primazia Papal por Parte de Jus tiniano A política do Justiniano I, imperador do Império Romano Oriental (527-565 ) procurou reviver um Império Romano cristão governado pelo imperador de Bizâncio (Constantinopla). Como chefe verdadeiro da igreja cristã, Justiniano promulgou decretos com manifestos obrigatórios, inclusive em teologia. Seu principal problema doutrinal foi o conflito entre o ponto de vista ortodoxo do concílio da Calcedônia (451), a opinião de que em Cristo coexistem a natureza humana e a divina, e o ensino monofisista que enfatizava a natureza divina de Cristo. Esta última opinião era a que preferia sua esposa, a imperatriz Teodora, que era muito popular no Oriente. Por outro lado, o arianismo que rechaçava a deidade eterna de Cristo era a crença cristã comum entre os povos germânicos (exceto entre os francos) que povoaram o Império Romano ocidental, incluindo o norte da África. Justiniano decidiu restaurar a unidade política e religiosa em todo o território do antigo Império Romano. Procurou a cooperação do papa para estabelecer a unidade religiosa no império bizantino. Primeiro escreveu sua carta famosa o papa João II, em 533, em que solicitava o apoio do papa para sua decisão imperial contra a heresia dos nestorianos. Em sua carta imperial o papa declarava o seguinte: "Portanto, esforçamo-nos para unir a todos os sacerdotes do Oriente e submetê-los à sede de Sua Santidade... Porque não toleramos que nada que se refira ao estado da Igreja... seja discutido sem que antes se traga ao conhecimento de Sua Santidade, porque vós sois a cabeça de todas as santas igrejas, e porque nos esforçaremos em tudo o que possamos... para acrescentar a honra e a autoridade de vossa sede".39 Depois o imperador solicitou uma resposta do papa que condenasse aos nestorianos como ele o tinha decretado. Froom faz a seguinte avaliação deste pedido. Diz que "isto revela a compreensão plena que tinha o bispo de Roma do reconhecimento imperial da primazia da sede de Roma".40 A admissão da primazia dos papas se referia à sua autoridade e a que era

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"o corretor de hereges" (na carta do Justiniano ao arcebispo Epifânio, no ano 533). Entretanto, entranhava muito mais. Em sua carta imperial o papa João II, o imperador tinha reconhecido formalmente a prioridade do bispo de Roma sobre o de Constantinopla, o que foi promulgado só 12 anos mais tarde, no ano 545, no Código Civil do Justiniano.41 Froom faz este resumo: "Desta maneira, não só codificou Justiniano as leis religiosas de seus predecessores, mas também designou especificamente o bispo de Roma como cabeça da igreja e corretor de hereges, e fez que a lei canônica da igreja até o ano 451 formasse parte da lei civil do império, consumando assim a união da Igreja e o Estado".42 O reconhecimento imperial da supremacia eclesiástica do papa, codificada no ano 545, foi posta em tela de juízo pelo patriarca de Constantinopla, que assumiu o título de "Bispo universal" em 587. Enquanto que o Código Civil do Justiniano, com suas novas leis ou novellae (534-545), pode tomar-se como o começo do poder legalizado do papado sobre toda a igreja (como está em Novella 131), nunca ficou em vigência no Império Romano do Oriente. Houve uma vasta brecha entre a lei e a prática! A autoridade eclesiástica dos papas se limitou ao antigo Império Ocidental. Além disso, o Código Civil ainda reservava o domínio de toda a igreja não para o papa, e sim para o imperador!, quem era responsável pelo extermínio dos hereges (Novella 132) assim como da manutenção da fé e disciplina de toda a igreja (Novella 6). Em 606, o imperador Focas resolveu a disputa por meio de seu decreto imperial no qual afirmava que o bispo de Roma era a cabeça apostólica da cristandade. Mas mesmo assim, a supremacia eclesiástica do papado não se fez efetiva na igreja universal. O decreto de Focas foi um intento infrutífero para pôr em vigor a lei de Justiniano (Novella 131). A ineficácia prática do reconhecimento legal de Justiniano da primazia papal na igreja cristã não se deveu fundamentalmente a alguns reis cristãos arianos, e sim ao próprio imperador Justiniano e a seu governo autocrático. O historiador eclesiástico italiano Paolo Brezzi descreveu assim a obstrução imperial às exigências da primazia papal: "A subordinação do Papa a Bizâncio permaneceu como uma realidade, até depois de aceder ao cargo eclesiástico mais elevado, o que implicava obrigações e laços que tinham o efeito de obstruir por completo a função papal... É certo que quanto ao que se refere aos bizantinos, a cabeça verdadeira e única da sociedade ainda era o imperador, de quem se buscavam todas as soluções finais, incluídas as que tinham que ver com a religião".43 Só quando o rei dos francos, Pepino, doou Roma e partes da Itália à "sede sagrada do bem-aventurado Pedro" em 756, o papado ficou liberado do jugo do governo e controle bizantinos. Por conseguinte, a metade do século VIII assinala o começo da era do poder temporário do papado. Daí em adiante o papado começou a lutar por conseguir a realização de outro princípio papal: o domínio do governo papal sobre todos os poderes do Estado. Este objetivo se realizaria só com o papa Gregório VII (1073-1085) e seus sucessores. Depois começaram os séculos da Inquisição, de torturas violentas e perseguição para todos os dissidentes. Do lento desenvolvimento do papado é evidente que "o crescimento do poder papal demonstra que este foi um processo gradual que abrangeu muitos séculos... e que continuou desde aproximadamente o ano 100 até 756"." O Comentário bíblico adventista extrai esta conclusão significativa: "Fica pois em claro que não se podem dar datas que assinalem uma transição precisa entre a insignificância e a supremacia ou entre a supremacia e a relativa debilidade".45 Isto denota que só se podem apresentar datas ou momentos cruciais aproximados para o surgimento e a decadência da primazia papal dentro da igreja e da supremacia papal sobre o Estado. Os intérpretes historicistas escolheram diferentes anos como sinalizadores do surgimento do poder papal, tais como 396, 455, 533, 538, 606 e 756.46 O Comentário bíblico adventista conclui dizendo: "Entretanto, pelo ano 538 o papado estava completamente formado, e operava em todos seus aspectos essenciais, e em 1798 – 1.260 anos mais tarde – tinha perdido virtualmente todo o poder que tinha acumulado durante séculos".47 As Caracterizações Bíblicas dos 3 ½ Tempos Para compreender a intenção divina deste período de tempo simbólico em Daniel e no Apocalipse, devemos considerar todas as referências bíblicas. É obvio, o símbolo de tempo

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profético deve interpretar-se de acordo com o contexto bíblico. A frase relativa ao tempo está conectado com a igreja perseguida e com o perseguidor dos santos. Ao determinar a qualidade teológica dos 1.260 dias ou 3 ½ tempos, precisamos reconhecer que Daniel caracteriza este período como o tempo de opressão ou de "quebrantamento" dos santos (Dan. 7:25; 12:7). O Apocalipse de João explica adicionalmente a frase de tempo do Daniel. Será um tempo de pisar "a cidade santa quarenta e dois meses" (Apoc. 11:2), e adiciona que as testemunhas de Cristo perseverarão em testificar por 1.260 dias (Apoc. 11:3). Apocalipse 12 menciona que os santos receberão a proteção divina durante os 1.260 dias ou 3 ½ tempos cheios de tensões (Apoc. 12:6, 14). Apocalipse 13 revela que o "dragão" perseguidor transferirá "seu poder e seu trono e grande autoridade" à besta-anticristo que surge do mar (vs. 1, 2), o que dará como resultado a vanglória da besta que pronunciará "blasfêmias" e atuará com uma atitude arrogante durante 42 meses (v. 5). E como foi dito do chifre pequeno em Daniel 7, assim Apocalipse 13 reitera da besta que sobe do mar: "E foi-lhe permitido fazer guerra aos santos e vencê-los; e deu-se-lhe poder sobre toda tribo, e língua, e nação" (Apoc. 13:7). Se as perseguições da mulher por parte do dragão representa as do Império Romano (Apoc. 12), então a besta-anticristo seguinte dominará com o mesmo espírito despótico como o que teve Roma pagã sobre os santos de Deus. Além disso, Apocalipse 13 anuncia que o anticristo receberá uma "ferida mortal" com uma espada, da qual se recuperará em forma inesperada e todo mundo se maravilhará (vs. 3, 10-14). As conseqüências desta recuperação por uma breve "hora" no tempo do fim se revelam em Apocalipse 17, o que requererá nossa atenção especial um pouco mais adiante. Nosso interesse atual é determinar o significado bíblico da "ferida mortal" do anticristo em Apocalipse 13. Este ato que incapacita a besta supõe claramente a conclusão dos 1.260 dias de opressão! Além disso, Apocalipse 13 apresenta tanto o começo como o fim do tempo daniélico da guerra do anticristo contra os santos. O tempo de perseguição começa depois do transpasse da sede de poder e autoridade do Império Romano à cabeça da igreja católica romana, e termina com o castigo da ferida mortal com uma "espada" à Igreja-Estado medieval. (Para a aplicação histórica da "ferida mortal" à besta no Apoc. 13, ver o cap. XXII desta obra.) A Natureza Simbólica dos 1.260 dias Enquanto que os intérpretes futuristas e preteristas tomam o elemento tempo em Daniel e no Apocalipse como tempo literal, os intérpretes historicistas da Reforma do século XVI estiveram de acordo em aceitar as referências ao tempo como símbolos de que um dia profético representa um ano. Isto se conhece como o "principio dia-ano". Para nosso propósito atual, limitaremos aos 1.260 dias ou 3 ½ tempos. Observemos, em primeiro lugar, que estas referências de tempo funcionam como elementos constitutivos nas profecias de longo alcance dos dois livros apocalípticos. Indicam o progresso do tempo histórico durante a era da igreja, e dessa maneira valem, até certo ponto, para identificar a proximidade do segundo advento de Cristo. Como escreveu Thomas R. Birks, um professor que viveu em Cambridge, Inglaterra, e defensor do princípio dia-ano: "Sem as profecias de tempo nos perguntaríamos se ao mundo não ficam ainda por suportar um ou dois milênios cansativos antes que Cristo apareça para desterrar o pecado e a dor".48 As profecias de longo alcance de Daniel chegam até "o tempo do fim" (Dan. 8:14, 17, 19), e este período de tempo predeterminado designa um período particular no qual devem ter lugar uma quantidade de acontecimentos finais (ver Dan. 11:40-45; 12:1-4). Os períodos de tempo proféticos dos 3 ½ tempos em Daniel 7 e o dos 2.300 dias em Daniel 8 não determinam o fim do tempo e sim o começo do "tempo do fim". Se os 3 ½ tempos não se separam de seu contexto, mas sim se vêem como formando parte de uma descrição simbólica, também possuem uma natureza simbólica. Os 3 ½ tempos formam parte de um personagem simbólico chamado o "chifre pequeno". W. H. Shea o explica assim: "Os 3 ½ tempos do Daniel 7:25 pertencem originalmente a um corno simbólico, não a uma pessoa (ou pessoas) descrita primariamente como tal. Também se pode estabelecer o mesmo

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ponto a respeito dos contextos simbólicos dos períodos de tempo mencionados no Apocalipse. Estes contextos simbólicos extremamente complexos sugerem poderosamente que também deveríamos tratar suas unidades de tempo como simbólicas".49 A natureza simbólica dos 3 ½ tempos já está sugerida pela forma pouco comum de contar o tempo: "Um tempo, e tempos e metade de um tempo" (Dan. 7:25; 12:7; Apoc. 12:14). Além disso, se as bestas simbólicas de Daniel 7 representam impérios que duram muito tempo, cada um abrangendo séculos, "o mais natural é que os tempos mencionados estão também apresentados em escala com uma unidade pequena de tempo representando um tempo mais extenso".50 Ampliação Adicional dos 3 ½ Tempos em Daniel e Apoc alipse Os 3 ½ tempos do chifre pequeno de Daniel 7 são colocados novamente na história da salvação por parte do anjo interpretador de Daniel 11 e 12. Não se pode separar Daniel 12 de Daniel 7-11 porque o anjo do capítulo 12 esclarece além disso a perseguição dos santos descrita em Daniel 11:32-35 e 7:25. Conecta os 3 ½ tempos de perseguição em Daniel 12:7 com a perseguição dos santos em Daniel 11:32-35, o que proporciona a nova informação de que os 3 ½ tempos ocorrerão antes do "tempo do fim" (ver Dan. 11:32-35), e portanto não pertencem nem ao predeterminado tempo do fim nem depois do tempo do fim.51

TEMPOS CORRESPONDENTES DE PERSEGUIÇÃO Daniel 7:25 "Proferirá palavras contra o Altíssimo, magoará os santos do Altíssimo e cuidará em mudar os tempos e a lei; e os santos lhe serão entregues nas mãos, por um tempo, dois tempos e metade de um tempo"

Daniel 11:32-35 "Aos violadores da aliança, ele, com lisonjas, perverterá, mas o povo que conhece ao seu Deus se tornará forte e ativo" (v. 32) " Os sábios entre o povo ensinarão a muitos; todavia, cairão pela espada e pelo fogo, pelo cativeiro e pelo roubo, por algum tempo" (v. 33). "Alguns dos sábios cairão para serem provados, purificados e embranquecidos, até ao tempo do fim, porque se dará ainda no tempo determinado". (v. 35).

Daniel 12:7-10 "Seria depois de um tempo, dois tempos e metade de um tempo" (v. 7). "E, quando se acabar a destruição do poder do povo santo, estas coisas todas se cumprirão" (v. 7). "Muitos serão purifica-dos, embranquecidos e provados; mas os perversos procederão perversamente, e nenhum deles entenderá, mas os sábios entenderão" (v. 10). "estas palavras estão encerradas e seladas até ao tempo do fim" (v. 9).

Os 3 ½ tempos do Daniel da perseguição dos santos (Dan. 7:25; 12:7) João os aplica no Apocalipse à era cristã, depois da crucificação e exaltação de Cristo (ver Apoc. 12:13, 14). O Apocalipse então iguala os "3 ½ tempos" do Daniel com os "1.260 dias" (Apoc. 12:6), durante os quais a mulher simbólica deve esconder-se no deserto. Com respeito a isto, comentou Edward Heppenstall: "Como o Apocalipse tem o propósito de ser uma continuação das visões de Daniel, o cumprimento do chifre e o poder apóstata em Daniel, e o dragão e a besta no Apocalipse, devem buscar-se na era cristã".52 Se reconhecermos as três fases principais da história da igreja em Apocalipse 12 (vs. 1-5; vs. 6, 14; V. 17) reconheceremos que Apocalipse 12:6 e 14 descrevem o segmento médio da história da igreja, que indica a Idade Média. Estamos completamente de acordo com a avaliação de Shea a respeito de Apocalipse 12: "É clara a evidência de que esta narração apresenta um movimento histórico contínuo durante

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a era cristã; portanto, é mais compatível em sua perspectiva com o ponto de vista historicista ou histórico contínuo".53 É geralmente aceito pelos expositores que os 1.260 dias proféticos representam a essência da perseguição dos santos, o que levou a muitos a aplicar os 1.260 dias como uma expressão simbólica para toda a era cristã, durante a qual são perseguidos os santos verdadeiros. Até alguns comentadores adventistas começam a ver mais de um nível de significado dos 1.260 dias: um concernente à qualidade essencial dos dias e outro quanto à quantidade numérica dos dias. Roy Naden declara com respeito aos 1.260 dias proféticos ou 3 ½ tempos : "De acordo com nossa hermenêutica, supomos que estas cifras têm em primeiro lugar um significado qualitativo para interpretar a visão, e só em segundo lugar uma aplicação quantitativa possível".54 A interpretação "qualitativa" dos 1.260 dias ou 42 meses se determina ao ter em conta a experiência da igreja no deserto como o antítipo da peregrinação de Israel pelo deserto durante 40 anos e os 42 lugares diferentes onde acamparam (segundo Núm. 33). A igreja terá que sofrer penúrias no "deserto" do mundo durante a era da igreja, mas também receberá o "sustento e o amparo de Deus durante toda sua peregrinação terrestre, assim como os 42 acampamentos do Israel, até que entre na terra prometida".55 Embora esta interpretação "qualitativa" da experiência da igreja no deserto seja enriquecedora e tenha algum poder de convicção, deixa sem explicar por que a cifra de 1.260 dias tem também um cumprimento quantitativo na história da igreja. Para compreender esta aplicação, voltamos para estudo do princípio dia-ano. A Equação Dia-Ano A lei mosaica introduziu o princípio de que um dia pode representar um ano. O primeiro exemplo está em Levítico 25, que prescreve que o sétimo dia, sábado, ia ser celebrado também como um "ano sabático" para a terra, quer dizer, cada sétimo ano: "Mas no sétimo ano a terra terá seu repouso sabático, um sábado para o Iahweh: não semearás o teu campo nem podarás a tua vinha... Será para a terra um ano de repouso" (Lev. 25:4, 5, BJ). Aqui a lei levítica estende a qualidade do sábado semanal a um ano inteiro. Shea o resume assim: "Desta maneira, existe uma relação direta entre "dia" e "ano", dado que para ambos se aplicou a mesma terminologia, e o ano sabático posterior foi modelado conforme o dia sabático anterior".56 A lei de Israel do ano sabático introduz assim o princípio dia-ano. O mesmo princípio está reforçado na lei do ano do jubileu: "Contarás sete semanas de anos, sete vezes sete anos, de maneira que os dias das sete semanas de anos te serão quarenta e nove anos" (Lev. 25:8). Esta lei pressupõe que depois de sete semanas de anos sabáticos chegava o ano do jubileu. De novo o sábado semanal permanece como o modelo para um ano inteiro de descanso e liberdade no ciclo do jubileu. Os anos sabáticos em seus ciclos de sete anos eram proféticos do ano do jubileu. Desta forma o princípio de dia-ano chegou a ser uma predição prática da redenção nos rituais de adoração do Israel. Na perspectiva profética de Israel se aplicou de formas diferentes o princípio dia-ano. Lemos em Números 14:34: "Segundo o número dos dias em que espiastes a terra, quarenta dias, cada dia representando um ano, levareis sobre vós as vossas iniqüidades quarenta anos e tereis experiência do meu desagrado". Neste caso, dias que já tinham passado (40) usam-se para predizer outros tantos anos de castigo para um Israel rebelde. Em Ezequiel 4:6, 7 os anos de rebelião que já tinham acontecido estão representados por 40 dias. Em ambos os casos se aplica o mesmo princípio dia-ano, mas em maneiras diferentes. Entretanto, o testemunho essencial do princípio dia-ano está no livro apocalíptico de Daniel. As "setenta semanas" proféticas em Daniel 9:24-27, pelo consenso unânime dos intérpretes judeus e cristãos, designam setenta semanas de anos (ver Dan. 9:24), ou 490 anos reais, o que é igual a 70 anos sabáticos (70 x 7 anos) ou a 10 ciclos de jubileu (10 x 49 anos). Se com a frase "setenta semanas" Daniel pensou em semanas de anos sabáticos, então não se

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necessita a conversão dia por ano, porque 70 semanas de anos perfazem 490 anos. Só se as "setenta semanas" do Daniel 9:24 se tomam como setenta semanas literais (70 x 7 dias) necessitar-se-ia a aplicação da conversão de dia em ano para dar o resultado de 490 anos reais. Entretanto, o contexto em Daniel 9 assinala a que compreendamos anos sabáticos, porque o profeta estava refletindo sobre o significado dos 70 anos do cativeiro do povo em Babilônia, como tinha sido profetizado por Jeremias (ver Dan. 9:2). Esses 70 anos se entendiam como anos de castigo porque Israel tinha passado por cima os anos sabáticos para a terra (ver 2 Crôn. 36:21; Dan. 9:10-14). O anjo interpretador prediz uma multiplicação desses anos sabáticos (70 vezes) como o tempo que ia passar antes que o segundo templo fosse destruído. D. Ford fez o seguinte comentário sobre o Daniel 9:24: " 'Setenta semanas de anos estão determinados'. Como isto é parte da explicação literal de Daniel 8:1-14, não precisamos invocar o princípio dia-ano, embora seja verdade que os 'anos' em hebraico estão melhor subentendidos que declarados explicitamente".57 Freqüentemente é passado por alto o fato de que enquanto que Daniel 8 apresenta uma profecia simbólica, Daniel 9:24-27 não representa uma profecia simbólica e sim uma interpretação por parte do anjo dos símbolos de Daniel 8, sem voltar a usar os símbolos. Portanto, não devemos esperar que as "setenta semanas" sejam um símbolo mas sim uma referência clara a 70 semanas de anos (TA; BLH: "setenta anos vezes sete"). Jean Zurcher relacionou as "setenta semanas" de Daniel 9 com seu contexto, e concluiu: "Tudo o que está no texto e no contexto se refere à mensagem dos anos sabáticos e de jubileu. A tradição judia, os talmudistas, o autor do Seder 'Olam, e os intérpretes judeus em geral, julgaram que as semanas na profecia de Daniel podem ser só semanas de anos. Há evidência que mostra que os pais da igreja usaram a mesma base para interpretar as 70 semanas".58 Precisamos recordar que o conceito de um "ano sabático" está estabelecido em Levítico 25:1-7 e que já é o resultado de uma conversão de dia-ano. A esse respeito, W. H. Shea declara que "Levítico 25:1-7 é a primeira passagem bíblica onde se aplica a equação dia-ano".59 Mas é mais provável que as "setenta semanas" do Daniel 9:24 tenham sua origem no conceito dos ciclos do jubileu de 49 anos cada um, porque um período de jubileu também se media em termos de "semanas de anos" (Lev 25:8). Daniel reconheceu o princípio dia-ano ao fazer dos 490 anos reais de Daniel 9 uma parte dos 2.300 dias de Daniel 8, ao declarar que as 70 semanas estavam decretadas – ou, literalmente, "cortadas" – para a nação de Israel e para a cidade santa! Esta correlação de Daniel 8 e 9 contém a necessidade lógica da equação de um dia por um ano para os 2.300 dias. Além disso, Daniel descreve a interpretação que o anjo lhe dá de Daniel 8 em um detalhe muito maior em Daniel 11! Os "dias" de Daniel 8 são interpretados em termos de "anos" em Daniel 11:6, 8 e 13 como parte do tempo paralelo com o do capítulo 8. Resumo O livro de Daniel ensina o princípio dia-ano duas vezes: (1) Na correlação dos capítulos 8 e 9; e (2) na correlação paralela dos capítulos 8 e 11. Esta conclusão nos leva a aplicar os 3 ½ tempos ou 1.260 dias de Daniel e Apocalipse a 1.260 anos reais, sem ser dogmáticos a respeito de fixar datas precisas na história da igreja. Froom nos informa de um fato interessante: "Na verdade, os protestantes historicistas diferiam grandemente quanto a quando começar e terminar o período dos 1.260 dias do anticristo, mas todos estavam de acordo na convicção de que lhe tinha atribuído um período de 1.260 anos, e que esse período se aproximava de sua terminação".60 As profecias apocalípticas se cumprirão e gradualmente se entenderão à medida que avança a história. Um cumprimento progressivo permite uma interpretação progressiva. Referências 1 Ver Strack-Billerbeck, Kommentar zum Neuen Testament aus Talmud und Midrasch, t. 3, p. 761. 2 Ver Ibid., t. 3, p. 760.

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3 Ibid., t. 3, p. 761. 4 Ezell, Revelations on REVELATION, p. 71. 5 Aalders, Commentary on the Old Testament, p. 165. 6 Ibid., pp. 164, 167. 7 Ibid., p. 163. 8 Young, The Prophecy of Daniel, p. 150. 9 Ibid., p. 149. 10 Ibid., p. 161. 11 Ibid. 12 Ibid., p. 162. 13 João Calvino, Corpus Reformatorum, ts. 40 e 41. 14 Wood, Commentary on Daniel, p. 94. 15 Ibid., p. 95. 16 Ibid., p. 98. 17 Ezell, Revelations on REVELATION, p. 70. 18 Ibid. 19 Beasley-Murray, Revelation, p. 201. 20 Tertuliano, On the Resurrection of the Flesh [Tratado sobre a ressurreição da carne], cap. 24, ANF 3, p. 563; citado em Froom, The Prophetic Faith of Our Fathers, t. 1, p. 258. 21 Comentário sobre Daniel realizado por Jerônimo, p. 77. 22 La ciudad de Dios, libro XX, cap. 23; citado en José Morán, ed., Obras de S. Agustín: La ciudad de Dios, t. XVI-XVII. Madrid: BAC, 1958, pp. 1508-1511. 23 Wallace, The Lord is King. The Message of Daniel, p. 129. 24 Smith, Las profecías de Daniel y el Apocalipsis. T. 1: Daniel, p. 106. 26 Gibbon, The History of the Decline and Fall of the Roman Empire, 2, p. 330. 26 Schaff, History of the Christian Church, t. 3, p. 126. 27 Schaff, t. 3, p. 134. 28 Ellul, The Subversion of Christianity, cap. 2. 29 Theodosian Code, 16.1.2. ver SDA Bible Student's Source Book [O livro fonte dos estudantes adventistas da Bíblia], entrada 1202. 30 Schaff, History of the Christian Church, t. 3, P. 142. 31 Ibid. 32 San Agustín, La ciudad de Dios, libro XX, cap. IX.2, en Morán, Ibíd., pp. 1465- 1466. 33 Flick, The Rise of the Medieval Church, p. 169. 34 Schaff, History of the Christian Church, t. 3, P. 317. 35 Ibid., p. 319. 36 Ibid., p. 744. 37 Ibid., p. 747. 38 Pirenne, A History of Europe. From the Invasions to the XVI Century, p. 59. 39 Ver o documento em Froom, The Prophetic Faith of Our Fathers, t. 1, p. 931 (o itálico é meu) 40 Ibid., t, 1, p. 932. 41 Novella 131. ver Froom, The Prophetic Faith of Our Fathers, t. 1, pp. 513, 933. 42 Froom, The Prophetic Faith of Our Fathers, t. 1, p. 935. 43 Brezzi, The Papacy, Its Origins and Historical Evolution, pp. 65, 66. 44 4 CBA 864. 45 Ibid. 46 Ver Froom, The Prophetic Faith of Our Fathers, t. 2, pp. 531, 787; t. 3, pp. 252, 744; t. 4, pp. 390, 394, 395, 846, 847, 849, 850. 47 4 CBA 864. 48 Birks, First Elements of Sacred Prophecy, p. 416, citado em D. Ford, Daniel 8:14, p. A-125. 49 Shea, Estudios selectos..., pp. 62, 63. 50 D. Ford, Daniel 8:14. The Day of Atonement and the Investigative Judgment, p. A-121. 51 Para uma análise mais detalhada, incluindo os vínculos lingüísticos entre Daniel 11 e 12, ver Shea, "Time Prophecies...". 52 Heppenstall, "The Year-Day Principle in Prophecy", Ministry, outubro de 1981, p. 18. 53 Shea, "Time Prophecies of Daniel 12 and Revelation 12-13", p. 350. 54 Naden, The Lamb Among the Beasts. Finding Jesus in the Book of Revelation, p. 170. 55 Fredericks, A Sequential Study of Revelation 1-14 Emphasizing the Judgment Motif, p. 264. 56 Shea, Estudios selectos sobre interpretación profética, p. 72.

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57 D. Ford, Daniel, p. 225. 58 Zurcher, "The Year-Day Principle", Adventist Review, 5 de fevereiro de 1981, p. 9. 59 Shea, Estudios selectos..., p. 87. 60 Froom, The Prophetic Faith of Our Fathers, t. 2, p. 794. FONTES BIBLIOGRÁFICAS PARA ENTENDER OS "1.260 DIAS" Livros Aalders, G. Ch. Daniel. Commentary on the Old Testament [Daniel. Comentário do Antigo Testamento]. Kampen: J. H. Kok, 1962. Beasley-Murray, George R. Revelation [O Apocalipse]. New Century Bible Commentary [Comentário da Bíblia do Novo Século]. Grand Rapids, MI: Wm. B. Eerdmans, 1983. Birks, Thomas R. First Elements of Sacred Prophecy [Primeiros Elementos de Profecia Sagrada]. Londres: W. Painter, 1843. . Brezzi, Paolo. The Papacy, Its Origins and Historical Evolution [O Papado. Suas Origens e sua Evolução Histórica]. Westminster, MD: The Newman Press, 1958. Browning R. Justinian and Theodora [Justiniano e Teodora]. Londres: Thames e Hudson Ltd., 1987, edição revisada. Calvino, J. Auslegung des propheten Daniel [Interpretação do profeta Daniel]. Traduzido da edição em latim de 1561 por E. Kochs. Neukirchen, Moers: O. Weber, 1938. De Rosa, P. Vicars of Christ. The Dark Side of the Papacy [Vigários de Cristo. O Lado Escuro do papado]. Nova York: Crown Publishers Inc., 1988. Deschner, Karlheinz H. Opus Diaboli [La obra del diablo]. Reineck bei Hamburg: Rowohlt Verlag, 1990. Ellul, Jacques. The Subversion of Christianity [A Subversão da Cristandade]. Grand Rapids, MI: Wm. B. Eerdmans, 1986. Ezell, Douglas. Revelations on REVELATION [Revelações sobre o APOCALIPSE]. Waco, Texas: Word Books, 1977. Flick, A. C. The Rise of the Medieval Church [O Surgimento da Igreja Medieval]. Nova York: Putnam, 1909. Ford, Desmond. Daniel. Apêndice F: "The Year-Day Principle" [O Princípio Dia-Ano], pp. 300-305. __________. Daniel 8:14. The Day of Atonement and the Investigative Judgment [Daniel 8:14. O Dia da Expiação e o Juízo Investigativo]. Casselberry, FL: Euangelion Press, 1980. Apêndice 21: "The Day-Year Principle" [O Princípio Dia-Ano], pp. A-118-126. Fredericks, R. A Sequential Study of Revelation 1-14 Emphasizing the Judgment Motif [Um Estudo Consecutivo de Apocalipse 1-14 Enfatizando o Motivo do Juízo]. Tese doutoral inédita, Universidade Andrews. Berrien Springs, MI: Andrews University, 1987. Froom, LeRoy E. The Prophetic Faith of Our Fathers [A Fé Profética de Nossos Pais]. 4 ts. Washington, D.C.: Review and Herald, 1946-1954. Gibbon, E. The History of the Decline and Fall of the Roman Empire [História do Declínio e Queda do Império Romano]. 7 ts. Editada por J. B. Burry. Londres: Methuen, 1909. Edição da AMS, 1974. Gosselin, M. The Power of the Pope During the Middle Ages [O Poder do Papa Durante a Idade Média]. 2 ts. Baltimore: Murphy, 1853. Haendler, G. Die Rolle des Papsttums in der Kirchengeschichte bis 1200 [O Papel do Papado na História da Igreja até o Ano 1200]. Göttingen: Vandenhoeck, 1993. Maxwell, C. Mervyn. An Exegetical and Historical Examination of the Beginning and Ending of the 1.260 Days of Prophecy. With Special Attention Given to A.D. 538 and 1798 as Initial and Terminal Date [Uma análise exegética e histórica do começo e a terminação dos 1.260 dias da profecia. dá-se atenção especial aos anos 538 e 1798 como as datas de iniciação e terminação]. Tese de Mestrado inédita, Seminário Teológico dos Adventistas. Washington D.C., 1951. ________. Apocalipsis: sus revelaciones (Florida, Buenos Aires: Asociación Casa Editora Sudamericana, 1991). ________. El misterio del futuro revelado (Florida, Buenos Aires: Asociación Casa Editora Sudamericana, 1991). McManners, J. The French Revolution and the Church [A Revolução Francesa e a Igreja]. Westport, CT: Greenwood Press, 1982.

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XXI - A MENSAGEM DO TEMPO DO FIM NA PERSPECTIVA HIS TÓRICA - Apocalipse 12-14

Há gozo no descobrimento do desenho estrutural do Apocalipse de João. Este desenho oculto não pode discernir-se através do enfoque usual que disseca virtualmente o livro e o divide em partes separadas ou capítulos. O Apocalipse é uma unidade orgânica e indivisível e uma engenhosa e equilibrada composição. A beleza de suas partes e contrapartes chega a ser visível só à luz de sua estrutura total. As primeiras seções do Apocalipse, em geral, desenvolvem-se mais completamente nas últimas. Um exemplo básico disto é a sétima trombeta de Apocalipse 11, que se reconhece amplamente como uma antecipação ou sinopse de subseqüentes visões dos capítulos 12 a 20. Não se pode entender a profecia da sétima trombeta (11:15-19) adequadamente, exceto à luz das visões mais abarcantes que seguem (caps. 12-20). Portanto, nenhum capítulo do Apocalipse deve isolar-se de seu contexto como se fora uma revelação independente. Análise Literária A unidade central de Apocalipse 12 a 14 deve compreender-se à luz dos capítulos seguintes que esclarecem as descrições simbólicas anteriores. Por exemplo, o termo "Babilônia" ocorre pela primeira vez em Apocalipse 14:8 [na "mensagem do segundo anjo"), sem nenhuma explicação ou referência explicativa. Entretanto, os capítulos que seguem, do 16 ao 19, elaboram um pouco mais o significado de "Babilônia". Outros exemplos são as visões do dragão vermelho com 7 cabeças e 10 chifres em Apocalipse 12 e o da besta que sobe do mar com 7 cabeças e 10 chifres em Apocalipse 13. Uma interpretação bem fundada destes símbolos requer o concurso da visão da besta escarlate com 7 cabeças e 10 chifres do capítulo 17. Em síntese, o enfoque adequado para compreender Apocalipse 12 a 14 exige uma interpretação contextual. Para captar seu significado se necessita o contexto maior no qual se descrevem os mesmos símbolos. Este panorama mais amplo nos leva à conclusão que Apocalipse 12 a 20 constitui uma unidade estrutural que se caracteriza por uma revelação progressiva do próprio conflito entre o bem e o mal. De uma maneira similar, o juízo de Deus sobre os perseguidores de seu povo se desenvolve gradualmente nas descrições da ira de Deus em Apocalipse 14-19. Enquanto que a mensagem do terceiro anjo nos adverte contra o derramamento vindouro da ira de Deus "sem mistura" (Apoc. 14:10, ákraton: "sem mistura, sem diluir", CI), os capítulos seguintes revelam que este derramamento final da ira de Deus consistirá nas 7 últimas pragas, "porque nelas é consumada a ira de Deus" (Apoc. 15:1; ver também 16:1-21). Este enfoque contextual e estrutural de Apocalipse 12 a 14 é crucial para o descobrimento do significado bíblico do conceito "Armagedom" como a culminação das últimas pragas. Este método se constitui no corretor das interpretações populares, mas errôneas. A Perspectiva Teológica Além desta análise literária, uma compreensão da mensagem de Apocalipse 12 a 14 requer também uma perspectiva teológica. Esta investigação indaga para encontrar a conexão de cada termo e nome apocalíptico com o Antigo Testamento e com suas promessas e maldições incluídas no pacto. Mais que qualquer outro escritor do Novo Testamento, João adota palavras e conceitos hebraicos para descrever o significado teológico da igreja de Cristo. Hoje se reconhece universalmente o estilo hebraico do Apocalipse de João. R. H. Charles demonstrou que João não usou a versão grega do Antigo Testamento (a Septuaginta ou LXX), mas sim usou o texto hebraico do Antigo Testamento para centenas de alusões que faz a Moisés e os profetas.1 O fato de que João use também passagens do Antigo Testamento em Apocalipse 12 aos 14 é essencial para a interpretação adequada desta seção chave. A frase apocalíptica: "Caiu, caiu a grande Babilônia" (Apoc. 14:8), está tirada de duas passagens proféticas fundidas que

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predisseram a queda do Império Neobabilônico (Isa. 21 e Jer. 51). Tal correspondência literária demonstra que é um indicador de uma conexão tipológica entre a história de Israel e a história da igreja. Com freqüência se passam por alto as conseqüências da tipologia bíblica, e no entanto são de uma importância decisiva. Tal relação teológica prediz não só o elevado chamado mas também o fracasso da igreja cristã. Os princípios que devem guiar o intérprete cristão estão determinados pelo evangelho de Cristo.2 Uma característica teológica adicional do Apocalipse é seu fenômeno repetido dos contrastes. João esclarece características da verdade ao contrastá-las com a falsidade. Situa o remanescente fiel do povo de Deus acima e contra seus opositores babilônicos. Babilônia aparece em completo contraste com a Nova Jerusalém, o Cordeiro está em oposição à besta, e a mulher gloriosa que aparece no céu (Apoc. 12) é contrastada com a meretriz que se senta sobre muitas águas (Apoc. 17). Nesta linguagem figurada de contraste muitos discerniram uma paródia irônica ou imitação burlesca da obra de Cristo. Este estilo serve ao propósito de criar uma antítese teológica, um método útil para definir a verdade e o engano. Revelação Progressiva em Apocalipse 12-14 Apocalipse 12 a 14 é considerado com razão por muitos como a pedra angular ou a visão fundamental do Apocalipse. Leão Morris percebe "sete sinais significativos" em Apocalipse 12 a 14 que denomina "outra série de visões" no Apocalipse.3 Outros encontraram diferentes subdivisões ou cenas, enquanto sustentam a unidade destes capítulos, e a idéia de uma unidade fundamental nestes capítulos se fortalece se se considera nesta narração a infra-estrutura e a progressão gradual do Apocalipse para o tempo do fim. Apocalipse 12 abrange a história total do pacto da igreja cristã. O propósito de Apocalipse 12 vai advertir os crentes cristãos contra a perseguição, encorajando-os a perseverar até o fim. Este capítulo apresenta como sua visão primitiva a aclamação celestial de vitória sobre Satanás, combinada com a celebração da tomada de posse de Cristo como o rei legítimo do céu e da terra (vs. 7-12). Só à luz da morte vitoriosa de Cristo na cruz declaram os céus que a guerra foi ganha e que o acusador do povo de Cristo "foi expulso" (v. 10). A este respeito, Naden enfatiza corretamente o seguinte: "Os versículos 10 e 11... constituem as palavras fundamentais do Apocalipse. No quiasmo que João apresenta, tudo o que precede vai se ampliando para esta certeza primordial, e tudo o que segue enfatiza sua veracidade e detalha como terminarão as últimas cenas do drama. Foi ganha a guerra!"4 A digressão de Apocalipse 12:7-12 contempla além da história terrestre: à origem de todo o ódio e crueldade contra a mulher que representa o povo de Deus. Revela a dimensão profunda de todas as perseguições contra os filhos de Deus, assinalando ao inimigo verdadeiro da igreja e de Cristo. Na narração vemos como uma guerra que começou no céu instiga as guerras na terra contra o povo de Deus (Apoc. 12:7-9). Satanás iniciou uma guerra em termos judiciais no tribunal celestial contra Deus e contra seu arcanjo Miguel, o anjo guardião de Israel (Dan. 10:13, 21; 12:1; Zac. 3:1; Jud. 9). A guerra no céu contra Miguel era um tema familiar nos escritos apocalípticos judeus do tempo de João.5 Esperava-se que Miguel venceria o Belial no futuro, na batalha final pelo mundo (assim aparece na Regra de Guerra [QM 17] de Qumran). Deste ponto de vista chega a ser muito significativo que João vê a vitória de Miguel no céu já no tempo presente, de maneira que Satanás "foi atirado para a terra, e, com ele, os seus anjos" (Apoc. 12:9). A vitória de Miguel é celebrada e atribuída agora a Cristo no hino celestial de louvor e júbilo (vs. 10-12), o que dá por sentado a identidade de Cristo e Miguel.6 Desta maneira, Apocalipse 12 prepara o cenário para o resto do livro, que em forma progressiva amplia o conflito entre Satanás e os seguidores de Cristo sobre a terra (Apoc, 13-19) até que se restaure a paz eterna do paraíso (Apoc. 20-22). Apocalipse 13 descreve em forma gráfica os triunfos temporários do antigo dragão por meio

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das atividades de seus dois aliados ou agentes terrestres: a besta que sobe do mar com 10 chifres e a besta que sobe da terra, com dois chifres, o que suscita a urgente pergunta: Como se relaciona Apocalipse 13 com Apocalipse 12? A resposta é de crucial importância para entender os acontecimentos finais no livro do Apocalipse. Um autor recente sustenta que "os eventos no capítulo 13 seguem aos do capítulo 12 em ordem cronológica".7 Por conseguinte, projeta as visões de Apocalipse 13 ao futuro, conceito inovador que requer um preciso e cuidadoso exame. A afirmação de que Apocalipse 13 segue cronologicamente depois de Apocalipse 12 se apóia sobre a hipótese de que "a história que começou no capítulo 12 continua sem interrupção no capítulo 13".8 Mas esta hipótese não está justificada. Tanto em Daniel como no Apocalipse, a seqüência das visões não tenta apresentar uma ordem cronológica. A estrutura literária de ambos os livros apocalípticos revela uma pauta persistente de panoramas paralelos na história do povo do pacto. As visões de Daniel 2, 7, 8 e 11 devem entender-se como visões paralelas e progressivas, o que se confirma ao comparar as explicações de cada visão que dá o anjo interpretador. O estilo paralelo das visões de Daniel é igualmente aparente no Apocalipse de João. A série dos selos (Apoc. 6) termina com o juízo final de Deus. A seguinte série de trombetas (Apoc. 8, 9, 11 ) abrange a era da igreja com uma ênfase progressiva sobre o tempo do fim (ver o cap. IX desta obra). A visão de Apocalipse 12, onde Cristo recebe toda a autoridade em virtude de seu sacrifício abnegado (vs. 10, 11) não pode seguir cronologicamente depois da visão da sétima trombeta em Apocalipse 11:15-18, onde se afirma que Cristo já começou a reinar. O que faz Apocalipse 12 é apresentar uma sinopse de toda a era da igreja, começando com o primeiro advento de Cristo. As três visões dentro de Apocalipse 14 não ensinam, ao que parece, uma ordem cronológica de cumprimento. É evidente que a tríplice mensagem de Apocalipse 14:6-12 deve proclamar-se com antecedência à visão do Cordeiro com seus 144.000 seguidores vitoriosos (Apoc. 14:1-5). Por conseguinte, a visão dos 144.000 vencedores foi chamada um interlúdio, uma "cena de obrigações e certezas do tempo do fim".9 As visões de castigo em Apocalipse 15 e 16 só ampliam a visão da ceifa do mundo em Apocalipse 14:14-20, onde os justos são redimidos e os ímpios destruídos. Do mesmo modo, Apocalipse 17, que explica com mais detalhe o castigo de Babilônia (ver o v. 1), não segue cronologicamente depois de Apocalipse 16, onde Babilônia já foi destruída. Estes exemplos devem nos alertar contra a hipótese de que Apocalipse 13 segue a Apocalipse 12 "sem interrupção". Acima de tudo, há dois indicadores de uma interrupção entre estes dois capítulos. Apocalipse 12 conclui com a declaração de João: "E se pôs em pé sobre a areia do mar" (RA; BLH: "E o dragão ficou de pé na praia" [12:18]). A NBE traduz: "E o dragão se deteve sobre a areia do mar" (12:18). A declaração de João a respeito desta nova colocação sobre a borda do mar (cf. Apoc. 12:4) explica por que o dragão podia jogar de sua boca "água como um rio" para arrastar a mulher (12:15). A visão seguinte (Apoc. 13:1-10) revela os meios dramáticos pelos quais o dragão perseguirá os santos e blasfemará o nome de Deus. A declaração final de Apocalipse 12 também olha ao futuro a Apocalipse 13, capítulo que começa com uma nova visão: "E vi", o que revela algumas conexões importantes com a vista panorâmica que apresenta Apocalipse 12. O primeiro elo é a frase de tempo para o período de perseguição: quarenta e dois meses (Apoc. 13:5; cf. 12:6, 14). O mesmo símbolo de tempo que já se usou em Apocalipse 11 para referir-se aos períodos predeterminados de "pisar a cidade santa" (Apoc. 11:2; cf. o v. 3). Não existe nenhuma razão legítima para assumir que os símbolos de tempo equivalentes são diferentes períodos de tempo. Uma nova visão não sugere em forma automática uma seqüência cronológica com a visão prévia. O contexto imediato indica se uma nova visão amplia a anterior ou continua a narração histórica. Portanto, devemos rechaçar a hipótese de que a visão de Apocalipse 13 continua a narrativa do capítulo 12 "sem interrupção". A Guerra Contra os Santos Um segundo indicador de que Apocalipse 12 se amplia em forma adicional em Apocalipse 13 é a correspondente guerra contra os santos que aparece em ambos os capítulos. Apocalipse 12

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prediz duas guerras consecutivas contra o povo de Deus: a primeira nos versículos 6 e 14-16, e a segunda no versículo 17. A primeira guerra se caracteriza pelo período simbólico de 1.260 dias e 3 ½ tempos (vs. 6, 14), o qual estabelece uma conexão definida com Daniel 7:25. Esta conexão daniélica requer a tela de fundo da visão de longo alcance de Daniel 7. Revela que os 3 ½ tempos ou 1.260 dias de Apocalipse 12 devem reconhecer-se como um período de supremacia do chifre pequeno de Daniel 7 e não da Roma pagã. Portanto, esses 1.260 dias se referem aos séculos de escuridão da Idade Média, quando muitos milhares de pessoas foram perseguidas e martirizados pelo suposto crime de "heresia". Apocalipse 13 começa com a visão da besta que sobe do mar, com 10 chifres, que conecta esta visão sem lugar a dúvidas com a descrição de Daniel 7. A besta do mar incorpora as 4 bestas de Daniel (Apoc. 13:1, 2), indicando com isso o progresso do tempo até as visões de João. A besta do mar exerce sua autoridade contra os santos durante "42 meses" (vs. 5-7). Estes dois característicos distintivos (a guerra contra os santos e o período de tempo) correspondem exatamente com os que aparecem em Daniel 7 e em Apocalipse 12. Portanto, devem identificar-se mutuamente. Em Apocalipse 12, a guerra final contra os santos é denominada a guerra do dragão contra "os restantes da sua descendência, os que guardam os mandamentos de Deus e têm o testemunho de Jesus" (Apoc. 12:17). O significado desta breve declaração de guerra se amplia adicionalmente na última visão de Apocalipse 13, visão que mostra como uma besta de dois chifres subiu da terra como o segundo aliado do dragão. Esta besta terrestre exercerá sua autoridade para impor pela força a adoração da besta rediviva em todo o mundo (13:12-14). Esta visão amplia assim a guerra final contra o fiel povo remanescente de Deus (12:17). Prediz a imposição universal de uma marca especial, que é "o nome da besta ou o número de seu nome" (13:17). A guerra final contra a igreja remanescente que apresenta Apocalipse 13:11-17 não é outra coisa senão a amplificação de Apocalipse 12:17. Esta perseguição dos seguidores de Cristo é, no momento, uma profecia não cumprida, mas sua extensão universal e seu lugar culminante na história humana coloca esta guerra religiosa como o centro da mensagem de Deus para os últimos dias tal como se acha em Apocalipse 14. O Último Convite de Deus A tríplice mensagem de Apocalipse 14:6-12 representa o chamado final de Deus a um mundo que se rebelou contra seu Criador, mensagem que constitui a carga central de todo o livro do Apocalipse e transmite um sinal de alerta à geração que vive no tempo do fim. Ao mesmo tempo, Apocalipse 14 contém a maldição mais espantosa que jamais se pronunciou contra os seres mortais: a ira de Deus sem mistura alguma de misericórdia (14:9-11), e a tranqüilizadora segurança da presença de Cristo para os vencedores (vs. 1-5). É importante notar que a mensagem de Apocalipse 14:9-12 corresponde precisamente com a perseguição que levará a cabo a besta do mar em Apocalipse 13:15-17. Uma comparação de ambas as passagens mostra o paralelismo histórico:

APOCALIPSE 13:15 -17 APOCALIPSE 14:9 -11 "E lhe foi dado comunicar fôlego à imagem da besta, para que não só a imagem falasse, como ainda fizesse morrer quantos não adorassem a imagem da besta. 16 A todos, os pequenos e os grandes, os ricos e os pobres, os livres e os escravos, faz que lhes seja dada certa marca sobre a mão direita ou sobre a fronte, para que ninguém possa comprar ou vender, senão aquele que tem a marca, o nome da besta ou o número do seu nome".

"Seguiu-se a estes outro anjo, o terceiro, dizendo, em grande voz: Se alguém adora a besta e a sua imagem e recebe a sua marca na fronte ou sobre a mão, também esse beberá do vinho da cólera de Deus, preparado, sem mistura, do cálice da sua ira, e será atormentado com fogo e enxofre, diante dos santos anjos e na presença do Cordeiro. A fumaça do seu tormento sobe pelos séculos dos séculos, e não têm descanso algum, nem de dia nem de noite, os adoradores da besta e da sua imagem e quem quer que receba amarca do seu nome".

Estas passagens paralelas demonstram que a tríplice mensagem de Apocalipse 14:6-12 não

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segue cronologicamente depois de Apocalipse 13, mas sim se refere ao mesmo período. Deus responde imediatamente para fazer frente ao desafio final de Satanás. De fato, adverte a igreja da prova final de sua fé. A visão da colheita e a colheita de uvas da terra em Apocalipse 14:14-20 segue em ordem cronológica depois do tempo da tríplice mensagem de Apocalipse 14:6-12. A visão dos 144.000 santos vitoriosos que estão de pé com o Cordeiro sobre o monte Sião encaixa na conclusão do conflito final. A composição literária dos capítulos 12 a 14 mostra duas estruturas paralelas, como pode ver-se no diagrama seguinte:

O PARALELISMO PROGRESSIVO DE APOCALIPSE 12 -14 APOCALIPSE 12 O DRAGÃO faz guerra contra a mulher (vs. 1-5)

A mulher foge ao deserto por 1.260 dias (V. 6).

APOCALIPSE 13 O dragão usa a BESTA DO MAR coroada com 10 chifres para fazer guerra contra os santos durante 42 meses (vs. 1-10).

No céu: Louvor pela entronização de Cristo (vs. 7-12).

A mulher está no deserto por 3 ½ tempos (vs. 13-16).

APOCALIPSE 14 VISÃO PRÉVIA dos santos vitoriosos sobre o monte Sião (vs. 1-5).

O dragão faz guerra contra o REMANESCENTEda descendência da mulher, os que "guardam os mandamentos de Deus e têm o testemunho de Jesus"(V. 17)

Finalmente, uma BESTA DA TERRA com dois chifres semelhantes aos de um cordeiro impõe a MARCA DA BESTA em uma escala global (vs. 13-18)

A ADVERTÊNCIA DO TEMPO DO FIM dá como resultado que haja vencedores sobre aMARCA DA BESTA. São os que "guardam os mandamentos de Deus e têm a fé de Jesus" (vs. 6-12).

A dupla colheita do mundo por ocasião da segunda vinda (vs. 14-20)

Olhando retrospectivamente as sete visões de Apocalipse 12 a 14, concluímos que estes três capítulos estão inextricavelmente unidos e mostram uma ênfase progressiva sobre os acontecimentos do tempo do fim. As correspondências temáticas que há nestes três capítulos mostram conexões intencionais que repetem e ampliam as visões prévias. Apocalipse 13 não inclui o panorama total do capítulo 12, mas começa e amplia a seção da perseguição religiosa dos 1.260 dias de Apocalipse 12:6 e 14, e depois avança até o conflito final do versículo 17, ampliando-o com a marca da besta (Apoc. 13:13-18). Apocalipse 14 apresenta a resposta codificada de Deus ao conflito do tempo do fim de Apocalipse 12 e 13, insistindo com os santos a ser vencedores sobre a besta e sobre sua imagem (cf. Apoc. 13:15-17 e 14:9-11). O resumo de Apocalipse 14:12 mostra uma correspondência surpreendente com Apocalipse 12:17. Ambas as passagens que se enfocam no tempo do fim, identificam os santos que são fiéis a Deus como os que guardam os mandamentos de Deus e perseveram na fé de Jesus (Apoc. 12:17; 14:12). Estas conexões indicam que o propósito dos capítulos 12 a 14 não é apresentá-los como seqüências ininterruptas, mas sim como composições paralelas cada uma das quais se concentra mais de perto sobre os acontecimentos finais da era da igreja. Só quando se afirma a infra-estrutura de Apocalipse 12 a 14, podemos proceder com confiança em relacionar estas descrições apocalípticas com o contexto mais amplo do Apocalipse (especialmente com Apoc. 15-19) e com o contexto maior do Antigo Testamento e do Novo

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Testamento, metodologia que pode nos proteger contra algumas das tergiversações que tanto abundam hoje. Estamos de acordo com a conclusão do William G. Johnsson: "A interpretação de Apocalipse 12 a 14 estará determinada em grande medida pelas decisões que tenhamos alcançado a respeito da natureza e a estrutura do livro, antes de examinar estes capítulos".10 Visão Divina da Era da Igreja: Apocalipse 12 As descrições simbólicas de Apocalipse 12 apresentam uma sinopse ou sumário de todo o curso da igreja de Cristo até o próprio fim. Os conceitos criadores das visões de João devem compreender-se sobre o pano de fundo da história do pacto do Israel. A igreja de Cristo é um novo Israel, o povo messiânico de Deus, por isso o conflito entre o Israel e seus inimigos se aplica agora ao povo do Messias. A visão central em Apocalipse 12:7-12 transcende incluso a esfera política e as hostilidades. Explica as perseguições dos governos políticos contra os cristãos como instigadas pelo ódio que Satanás tem contra Cristo e Deus, sendo assim o reflexo terrestre de um conflito celestial. Desta maneira, a opressão do povo messiânico se coloca dentro do contexto de uma guerra cósmica entre o céu e a terra. Como símbolo do mal, identifica-se imediatamente ao grande dragão vermelho como a "antiga serpente, chamada o diabo e Satanás, que engana todo o mundo ['que extravia a terra inteira', NBE]" (Apoc. 12:9). A referência à "antiga serpente" alude diretamente ao relato de Gênesis 3, onde Eva foi enganada pela serpente no paraíso. Por conseguinte, a inimizade feroz do dragão-serpente contra a mulher e sua descendência em Apocalipse 12 deve entender-se como a aplicação avançada de Gênese 3:15, que se refere à hostilidade sobrenatural contra o Messias e o Israel messiânico. Além disso, João combina Moisés e os profetas em seu simbolismo criador. Progride desde a única mulher, Eva, até uma mulher que simboliza Israel como o povo do pacto de Deus, em harmonia com a tradição profética. Isaías descreveu em forma consistente a Israel "como a mulher grávida próxima a dar a luz" (Isa. 26:17, CI; ver também 54:1, 6, 13). Por conseguinte, João não se concentra sobre Maria, a mãe de Jesus, e sim sobre o povo do pacto de Deus. Em particular, João se alonga sobre o Messias de Israel e sobre o povo do novo pacto do Messias: a igreja de Cristo. É essencial a verdade de Jesus de Nazaré como o Messias de Israel enviado por Deus, já que se ele for o Messias da profecia, então a igreja de Cristo é o verdadeiro Israel de Deus, verdade que é o ponto essencial de todo este capítulo e a premissa sobre a qual está apoiada o livro do Apocalipse (ver Apoc. 1:1, 2, 9; 5:5, 6, 9, 10). João também considera o inimigo sobrenatural de Cristo e de sua igreja à luz da tradição profética. Estava bem relacionado com esta visão apocalíptica de Isaías: "Naquele dia, o Senhor castigará com a sua dura espada, grande e forte, o leviatã, a serpente veloz, e o leviatã, a serpente tortuosa, e matará o dragão que está no mar" (Isa. 27:1). As visões do Apocalipse projetam esta tradição profética de Israel à fé cristã e a aplicam ao fim da era cristã. O fim de Satanás virá só no fim do milênio que está predito em Apocalipse 20 (v. 10). Embora Satanás pode infligir muito mal ao mundo e em particular à igreja de Cristo, a segurança de sua derrota definitiva e a de seus aliados sempre animou aos cristãos perseguidos. Cristo prometeu que "as portas do Hades [inferno] não prevalecerão contra ela [sua igreja]" (Mat. 16:18). Portanto a igreja deve contemplar sua própria história à luz da história de Israel, já que a igreja representa o remanescente fiel de Israel. Seu Messias ressuscitado voltará para matar ao dragão-serpente. Entretanto, Apocalipse 12 nos dá a grande surpresa de que a vitória de Cristo sobre o dragão já foi obtida! Como? Por sua vida vitoriosa, sua morte expiatória, sua ressurreição e sua ascensão ao trono que está nos céus. Este evento de Cristo constitui a razão para a expulsão de Satanás da presença de Deus e o motivo do canto de vitória no céu (Apoc. 12:7-12). William G. Johnsson chama o interlúdio de Apocalipse 12:7-12, "a contraparte celestial da vitória de Cristo na cruz... Desempenha a função de explicar a natureza do conflito entre o dragão e a mulher descrito [em Apoc. 12]".11 Precisamos conectar as duas passagens seguintes:

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JOÃO: "Agora veio a salvação, o poder, e o reino de nosso Deus, e a autoridade de seu Cristo; porque foi arrojado fora [ebléthe: 'foi expulso'] o acusador de nossos irmãos, que os acusava diante de nosso Deus dia e noite" (Apoc. 12:10). JESUS "Agora é juízo deste mundo; agora, será expulso [exblethésetai: 'expulso fora'] o príncipe deste mundo" (João 12:31). À luz da explicação que Jesus dá de sua morte, podemos entender que Apocalipse 12:7-12 anuncia a derrota irrevogável de Satanás por meio da vitória de Cristo na cruz. Diante de Deus, no sentido legal, Satanás já foi "esmagado". Por isso Apocalipse 12 se centra na morte, na ressurreição e na entronização de Cristo. Deste ponto de vista é como João situa a batalha cósmica pela soberania do mundo entre Deus e Satanás, um conflito que começou no jardim do Éden (Apoc. 12:7) e continua até a segunda vinda (14:14-20). O papel que desempenha a igreja se vê fundamentalmente como uma luta espiritual contra as derrotadas forças do mal. Sua aparente derrota pelo martírio é à vista de Deus a verdadeira participação na vitória de Cristo na cruz do Calvário: "Eles, pois, o venceram por causa do sangue do Cordeiro e por causa da palavra do testemunho que deram e, mesmo em face da morte, não amaram a própria vida" (Apoc. 12:11). Inclusive se apresenta à igreja do tempo do fim como o exército do Cordeiro, o conquistador messiânico do mal (14:1-5). A igreja triunfa sobre a besta por meio do martírio e do testemunho fiel. A Contínua História da Salvação em Apocalipse 12 Embora possamos subdividir Apocalipse 12 em formas diferentes, no contínuo-histórico do capítulo discernimos três seções distintas: (1) vs. 1-5; (2) vs. 6 e 13-16; (3) v. 17. O tema comum destas três seções é a guerra do dragão contra a mulher que permanece fiel a Deus: "Viu-se grande sinal no céu, a saber, uma mulher vestida do sol com a lua debaixo dos pés e uma coroa de doze estrelas na cabeça, que, achando-se grávida, grita com as dores de parto, sofrendo tormentos para dar à luz... Nasceu-lhe, pois, um filho varão, que há de reger todas as nações com cetro de ferro. E o seu filho foi arrebatado para Deus até ao seu trono" (Apoc. 12:1, 2, 5). O dinamismo propulsor de Apocalipse 12 é a progressão contínuo-histórica das três seções. Primeiro aparece a descrição dramática do antigo povo do pacto de Deus, Israel, sob o clássico símbolo hebraico de uma mulher que dá à luz muitos filhos e eventualmente dá à luz o Messias (ver Isa. 54; 66:7-11 ). A mulher simbólica de Isaías está vestida com a luz da glória de Jeová (Isa. 60:1, 2, 19, 20; ver Sal. 104:2). Apocalipse 12 continua e desenvolve este símbolo do pacto com os sinais cósmicos do Sol, a Lua e as doze estrelas, de maneira que a mulher radiante de Apocalipse 12 "parece ser o complemento terrestre do anjo de Apocalipse 10".12 Embora a tradição da igreja católica romana vê a mulher de Apocalipse 12 como um símbolo de Maria, a mãe de Jesus, influentes eruditos católicos do Novo Testamento admitem já que a mulher de Apocalipse 12 é "acima de tudo uma personificação do povo de Deus".13 Também Josefina Massyngberde Ford reconhece: "Embora a mulher pode ser uma pessoa, um estudo do antecedente do Antigo Testamento sugere que é um personagem coletivo, semelhante às duas testemunhas. No Antigo Testamento a imagem de uma mulher é um símbolo clássico para Sião, Jerusalém, e para Israel, quer dizer, Sião cujo marido é Jeová (Isa. 54:1, 5, 6; Jer. 3:20; Ezeq. 16:8-14; Ouse. 2:19, 20)".14 Assim chega a ser patente que as imagens simbólicas de João não devem entender-se como tiradas da mitologia pagã mas sim do Antigo Testamento. Nesta adoção das imagens hebraicas, Deus transformou criativamente o marco do antigo pacto em um marco do novo pacto no qual todos os participantes do pacto e seus inimigos estão condicionados religiosamente por Jesus e o Messias. Esta progressão da salvação histórica de Israel para a igreja de Cristo procede do próprio Deus do pacto (ver Heb. 1:1, 2; Apoc. 1:1). A unidade essencial do Israel de Deus e da igreja de Cristo é a hipótese fundamental para a interpretação cristã do livro do Apocalipse. Jesus previu só "um rebanho" pelo qual ele, como seu pastor, poria sua vida (João 10:14-16), e só um banquete final (Mat. 8:11). Paulo previu só uma oliveira

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cultivada, na que todos os israelitas espirituais e os cristãos estão unidos (Rom. 11:17-24). Descreveu a igreja como uma "virgem pura" que quer apresentar a seu "marido, Cristo" (2 Cor. 11:2). A visão de Apocalipse 12 alerta à igreja sobre o fato de que é em todo momento o objeto da fúria de Satanás, o qual é aqui descrito como um dragão vermelho, com "sete cabeças e dez chifres, e em suas cabeças sete diademas" (v. 3). Esta imagem monstruosa, que aparece em Apocalipse 12 e que se repete nos capítulos 13 e 17, é um desenvolvimento da quarta besta de Daniel 7, o que implica que Daniel 7 é uma das raízes principais de Apocalipse 12, 13 e 17. Daniel 7 é gradualmente desdobrado e ampliado em Apocalipse 12, 13 e 17 para a era da igreja. Sobre a base de Apocalipse 17:9 e 10, chega a ser claro que as sete cabeças do dragão "representam reinos por meio dos quais Satanás agiu através dos séculos para oprimir o povo de Deus".15 Daí o dualismo radical que se desenvolve no Apocalipse de João, entre a adoração verdadeira e a falsa por um lado, e a ênfase sobre o duplo sinal do povo fiel de Deus que se apega à palavra de Deus e o testemunho do Jesus Cristo por outro (1:2, 9; 6:9; 12:17; 14:12; 20:4). Portanto, João coloca a mulher fiel de Apocalipse 12 em notório contraste com a mulher caída e sedenta de sangue de Apocalipse 17. O significado completo tanto de Apocalipse 12 como 17 chega a ser claro só se, por meio de um estudo meticuloso, comparam-se estas visões de contraste, I. O Messias prometido chegou a Israel A primeira seção de Apocalipse 12 leva a história de Israel até o primeiro advento do Messias-Rei (v. 5). O ponto central muda imediatamente de seu nascimento à sua entronização como rei no céu. João alude em forma específica à promessa messiânica do Salmo 2, declarando: "Nasceu-lhe, pois, um filho varão, que há de reger todas as nações com cetro de ferro" (Apoc. 12:5; cf. Sal. 2:9). Neste momento, João aponta para adiante, à consumação final desta promessa messiânica no segundo advento de Cristo que de novo volta a descrever em Apocalipse 19:15. Antes o apóstolo Paulo tinha explicado que a ascensão de Jesus ao trono de Deus foi de posse de seu reino espiritual como Messias. Assim o proclamou aos judeus no Antioquia do Pisídia: "Que a promessa que Deus fez a nossos pais cumpriu-a a nós, ressuscitando a Jesus. Assim estava escrito no salmo segundo: Tu és meu filho, eu hoje te gerei" (At. 13:33, NBE; cita Sal. 2:7). Esta verdade fundamental da fé apostólica a respeito da soberania suprema de Cristo está exposta novamente em Apocalipse 12:5 como garantia do vindouro cumprimento do tempo do fim do Salmo 2 em Apocalipse 19. A narração de Apocalipse 12 continua descrevendo, em termos simbólicos, o tempo que a igreja deve estar no deserto. II. A perseguição da igreja de Cristo "A mulher, porém, fugiu para o deserto, onde lhe havia Deus preparado lugar para que nele a sustentem durante mil duzentos e sessenta dias" (Apoc. 12:6). Enquanto que Apocalipse 12 tem em vista toda a extensão do período entre os dois adventos, os "1.260 dias" proféticos ou "3 ½ tempos" (Apoc. 12:6, 14) concentram-se especificamente sobre os tempos de perseguição. São tempos quando a igreja fiel tem que fugir da vista do público ao "deserto" ou às regiões despovoadas do mundo. Embora alguns têm proposto que os 1.260 dias representam toda a era cristã entre os dois adventos de Cristo, outros assinalaram que Apocalipse 13 usa o símbolo de tempo equivalente de "42 meses" como os tempos da ira do anticristo (Apoc. 13:5). Por conseguinte, G. R. Beasley-Murray conclui dizendo: "Isto não caracteriza o período da igreja entre a ascensão e a parousia de Cristo".16 Esta conclusão fica confirmada quando damos uma olhada mais precisa ao lugar onde aparece a mesma frase em Daniel 7. O "chifre pequeno" que perseguiria os santos por "3 ½ tempos" surgiria só depois da desintegração do Império Romano, e depois que se estabelecessem os "10 chifres" (ver Dan. 7:8, 24, 25). A divisão do Império Romano não ocorreu até 476 d.C. Por conseguinte, o tempo do anticristo começou depois de 476 e seus 3 ½ tempos ou 1.260 dias

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não se estendem sobre toda a era cristã. O período dos 3½ tempos não começa nos dias da igreja apostólica nem sequer durante a época do Império Romano. Começa depois que Roma papal sucedeu Roma imperial e seu regime totalitário começou a dominar as nações. A igreja verdadeira em Apocalipse 12 se caracteriza não por catedrais esplêndidas com obras de arte primorosas ou por uma sucessão contínua de bispos ordenados. A verdadeira sucessão apostólica se distingue pela fidelidade à fé, quer dizer, aos ensinos de Cristo e de seus apóstolos (Apoc. 12:17; 14:12). Ellen White explicou este conceito com uma profunda simplicidade: "Assim a sucessão apostólica não se baseia na transmissão de autoridade eclesiástica, mas nas relações espirituais. Uma vida influenciada pelo espírito dos apóstolos, a crença e ensino da verdade por eles ensinada, eis a verdadeira prova da sucessão apostólica".17 A adoração aceitável a Deus pode encontrar-se na casa de adoração mais singela. Deus olhe primordialmente o coração do homem. Procura os que o adoram no Espírito Santo e na verdade de sua palavra (ver João 4:23). Apocalipse 12 nos diz que o que mais importa é seguir a palavra de Deus e saborear o companheirismo santificador e salvífico de Cristo dia após dia, algo que se experimenta quando dois ou três estão reunidos no nome de Cristo e se submetem a sua obediência (Mat. 18:20; 28:18-20). Paulo assegura que "o Senhor conhece os que lhe pertencem" (2 Tim. 2:19). A essência dos 1.260 dias simbólicos é evidente além de qualquer dúvida: perdeu-se de vista o evangelho de Cristo devido às demandas políticas e religiosas do papado. Assim foi descrita a escuridão cada vez maior que houve na Europa: "De Cristo, o verdadeiro fundamento, transferiu-se a fé para o papa de Roma. Em vez de confiar no Filho de Deus para o perdão dos pecados e para a salvação eterna, o povo olhava para o papa e para os sacerdotes e prelados a quem delegava autoridade. Ensinava-se-lhe ser o papa seu mediador terrestre, e que ninguém poderia aproximar-se de Deus senão por seu intermédio; e mais ainda, que ele ficava para eles em lugar de Deus e deveria, portanto, ser implicitamente obedecido. Esquivar-se de suas disposições era motivo suficiente para se infligir a mais severa punição ao corpo e alma dos delinqüentes".18 Notavelmente, a ênfase profética de Apocalipse 12 não está na perseguição da mulher e sua descendência mas sim em sua lealdade permanente e sua fé constante em Deus. O Pastor celestial nunca estará sem seu rebanho; o Rei nunca estará sem seus servos leais. Em cada crise, Cristo proporcionará um remanescente fiel de seu povo do pacto, assim como os 12 apóstolos foram o núcleo do verdadeiro remanescente de Israel (ver Rom. 11:5). Deus proveu uma ajuda especial quando o dragão serpente arrojou "água como um rio, a fim de fazer com que ela [a mulher] fosse arrebatada pelo rio" (Apoc. 12:15). A ameaça das forças hostis e mortais sob a imagem de correntes de água, ou de um rio transbordado ou uma inundação, foi uma parte essencial do simbolismo profético de Israel (ver Isa. 8:5-8; Dan. 11:40; Naum. 1:8; Jer. 47:1, 2). Entretanto, deu-se a promessa: "A terra, porém, socorreu a mulher; e a terra abriu a boca e engoliu o rio que o dragão tinha arrojado de sua boca" (Apoc. 12:16). Não é possível recuperar o quadro completo dos crentes em Cristo e em seu evangelho que sobreviveram durante a Idade Média devido à destruição premeditada dos registros por parte dos poderes inimigos de plantão. Publicou-se um esboço histórico valioso das seitas populares e dos movimentos dissidentes na Europa Ocidental entre os séculos XI e XIII.19 Também os livros sobre a Inquisição publicados pelo quáquero Henry Charles Lea são uma fonte confiável de informação a respeito da história da intolerância e perseguição da igreja católica romana.20 Devido à sua emancipação da dominação da igreja, a sociedade moderna pôs um fim à perseguição e execução de pessoas por causa de sua fé ou religião pessoal. As leis seculares de vários países "engoliram" de maneira geral a intolerância religiosa e as excomunhões da sociedade medieval. Na verdade, a "terra" veio em resgate dos crentes que seguiam a Cristo. A profecia começou a cumprir-se pelo tempo depois da época de escuridão da Idade Média. Mas Apocalipse 12 prediz mais que tolerância. Uma perseguição renovada e feroz da igreja de Cristo do tempo do fim é o tema com o que conclui Apocalipse 12.

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III. Visão prévia da igreja do tempo do fim "E o dragão irou-se contra a mulher e foi fazer guerra ao resto da sua semente, os que guardam os mandamentos de Deus e têm o testemunho de Jesus Cristo" (Apoc. 12:17). Esta passagem final da perspectiva geral da história da igreja em Apocalipse 12 é de importância decisiva para o povo de Deus do tempo do fim. Informa-lhes que Satanás os escolheu como alvo de seu objeto especial de ódio e lhes recorda as verdades básicas que são a pedra de toque de sua fé, às que devem apegar-se e salvaguardar. Qual é então a interpretação responsável pela frase "o resto [tom loipón] da sua semente?" A maioria dos exegetas concluem que "o resto" define a todos os crentes em Cristo. Esta opinião indica que em Apocalipse 12:17 não se apresenta um enfoque sobre o povo remanescente final na era cristã. O termo "resto" [loipós] é usado no Apocalipse verdadeiramente no sentido mais amplo dos "outros" ou os "que ficam" (8:13; 9:20; 11:13), mas também no sentido eloqüente de um fiel remanescente que suporta a prova do céu (2:24, 25; também cf. 3:4, 5). Não pode haver dúvida de que a frase "o resto da sua semente" em Apocalipse 12:17 encaixa precisamente na categoria de um fiel remanescente de Deus, porque estão definidos pela prova padrão dos que são fiéis no Apocalipse: "Os que guardam os mandamentos de Deus e têm o testemunho de Jesus Cristo" (Apoc. 12:17; cf. 1:2, 9). Além disso, a guerra final de Satanás contra estes fiéis se amplia em Apocalipse 13 e 14. O desenvolvimento de Apocalipse 12 nos capítulos 13 e 14 revela que os cristãos do tempo de fim terão que enfrentar a prova final do anticristo (Apoc. 13:15-17) e que um remanescente mundial permanecerá firme, os que de novo são caracterizados como os que "guardam os mandamentos de Deus e a fé de Jesus" (14:12). O "resto" da descendência da mulher em Apocalipse 12:17 está em correspondência com o povo remanescente de Deus no fim dos tempos que se descreve em Apocalipse 14:12. Este paralelo de Apocalipse 12:17 e 14:12 situa Apocalipse 12:17 dentro do contexto imediato do marco do tempo do fim descrito nos capítulos 12 a 14. Proporciona o argumento decisivo para a interpretação de Apocalipse 12 com um enfoque no último remanescente dos fiéis de Deus nesta idade, precisamente antes que Cristo retorne em glória (em 14:14-20). Uma questão importante é saber se o último remanescente do povo de Deus será um povo remanescente institucionalizado ou simplesmente um grupo invisível, esparso ao longo das igrejas cristãs nominais. Ou é uma combinação de ambos? A chamada celestial a Babilônia em Apocalipse 18, "sai dela, povo meu..." (v. 4), sugere que os filhos de Deus estão esparramados em todas partes da Babilônia mundial (vs. 1-4). Entretanto, esta chamada indica ao mesmo tempo a uma voz distinta e comissionada pelo céu que reúne no monte Sião, o símbolo tradicional da comunidade da fé, o povo de Deus que está esparso em Babilônia (Apoc. 14:1-5). Esta comunidade do tempo do fim está representada especificamente pelos três anjos de Apocalipse 14:6-12. O alcance mundial desta voz de reavivamento e reforma requer um corpo de crentes unidos que iniciem e sustentem uma missão universal sobre a base de uma plataforma comum de crenças fundamentais, tal como se resumem em Apocalipse 12:17 e 14:12. Por conseguinte, o povo remanescente de Deus é ao mesmo tempo um povo espiritual e uma comunidade de igreja organizada. Entretanto, o aspecto institucional nunca foi garantia para que a igreja seja espiritual, como pode ver-se nas cartas de Cristo às sete igrejas de Apocalipse 2 e 3. As atitudes não espirituais das igrejas em Tiatira e Laodicéia em particular, dão sobradas razões como para não confiar em ser paroquiano de qualquer igreja só por sê-lo. Em última análise, o povo remanescente de Deus se caracteriza por sua união espiritual com o Cordeiro de Deus (Apoc. 14:1-4). Tal espiritualidade centrada em Cristo não exclui mas sim inclui a formação de uma comunidade do pacto entre todas as nações. Cristo incluso orou para que todos os que acreditassem nele fossem um e procurassem a unidade perfeita entre eles (João 17:20-23). Cristo reúne a todos seus seguidores na comunidade da fé, em "um rebanho" baixo "um pastor" (10:16). Cristo sancionou a natureza institucional de sua igreja desde o começo, outorgando-lhe uma missão comunal e dando-lhe

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autoridade para que exerça certa disciplina entre seus membros (ver Mat. 18:15-20; 28:18-20). Mas o interesse final de Cristo é que cada membro individual da igreja reflita sua semelhança (Apoc. 3:14-22). Uma igreja assim pode ser conhecida, não por suas afirmações vangloriosas de santidade ou autoridade, mas sim por dois sinais apostólicos da verdadeira adoração: por sua obediência aos mandamentos de Deus e por apegar-se ao testemunho do Jesus (Apoc. 12:17; 14:12). O povo que adora a Deus com estas duas características está em uma plataforma comum e adora em harmonia básica com a igreja dos apóstolos. A igreja remanescente está segura de parecer-se com a igreja apostólica em suas crenças fundamentais e em sua adoração espiritual de Deus. As Duas Características Permanentes da Igreja Verda deira O Apocalipse de João menciona repetidamente que a igreja verdadeira de Cristo persevera em duas doutrinas básicas de fé e moralidade, que estão descritas seis vezes, com ligeiras variações, em Apocalipse 1:2, 9; 6:9; 12:17; 14:12 e 20:4. Esta dupla descrição da adoração verdadeira desempenha-se como a norma divina para definir a diferença entre a adoração verdadeira e a apóstata. A esfera de ação histórica destes textos compreende toda a era cristã, não um segmento exclusivo de tempo. Um paralelo surpreendente desta dupla característica distintiva da igreja pode ver-se na prova de Isaías para detectar a verdade e o engano: "À lei e ao testemunho! Se eles não falarem desta maneira, jamais verão a alva" (Isa. 8:20). Esta dupla frase indica que a autoridade final dentro do Israel era a união de Moisés e os profetas (ver 2 Reis 17:13). Em Mateus 5:17, Jesus se referiu a esta dupla autoridade em Israel, ("Não pensem que vim para anular a lei ou os profetas"), e outra vez em sua parábola do homem rico e Lázaro: "Respondeu Abraão: Eles têm Moisés e os Profetas; ouçam-nos" (Luc. 16:29; ver também 24:27). Cristo anunciou que o cânon de autoridade de Israel chegava até João Batista (Luc. 16:16). Filipe e Paulo igualmente resumiram o Antigo Testamento como "a lei e os profetas" (João 1:45; Rom. 3:21). Estas duas partes constitutivas da Bíblia Hebraica formavam a norma canônica para distinguir entre a verdade e o engano no antigo Israel. A unidade das Escrituras hebraicas até pode resumir-se em um termo: a Lei, como pode ver-se na declaração do Jesus: "Não está escrito na vossa lei: Eu disse: sois deuses?" (João 10:34, que cita Sal. 82:6). Entretanto, o testemunho pessoal de Jesus a Israel ampliou o antigo cânon de autoridade divina: "Havendo Deus, outrora, falado, muitas vezes e de muitas maneiras, aos pais, pelos profetas, nestes últimos dias, nos falou pelo Filho, a quem constituiu herdeiro de todas as coisas, pelo qual também fez o universo" (Heb. 11:1, 2). Como o Filho de Deus é imensamente maior que qualquer profeta, assim o testemunho de Cristo se desempenha como a autoridade final para interpretar a lei e os profetas do Israel. Jesus declarou de si mesmo: "Quem vem das alturas certamente está acima de todos... e testifica o que tem visto e ouvido; contudo, ninguém aceita o seu testemunho" (João 3:31, 32). O testemunho do Jesus é a palavra de Deus, porque Deus deu a Cristo o Espírito "sem medida" (v. 34, CI; BJ; ver Isa. 42:1). Jesus possuiu o Espírito de profecia na plenitude divina. Portanto, o testemunho de Jesus colocou a Israel ante a prova final da fé na revelação progressiva da Palavra de Deus, testemunho que foi codificado nos quatro Evangelhos do Novo Testamento. Também as cartas apostólicas contêm a interpretação normativa do evangelho, porque estão centradas em Cristo e cheias do Espírito. Paulo foi o apóstolo que deu a esta frase, "o testemunho [to martúrion] de Cristo", seu conteúdo e significado definitivamente evangélico. Escreveu à igreja de Corinto que em vós "confirmou-se o testemunho de Cristo" devido a seus muitos dons do Espírito (1 Cor. 1:6, CI). Paulo emprega aqui a frase "no sentido de evangelho, de proclamação da mensagem de salvação de Cristo".21 Paulo identificou o "testemunho de Cristo" completamente com "o testemunho de

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Deus" (2:1). Foi o testemunho apostólico que tinha que acreditar-se diante de Deus (2 Tes. 1:10). Paulo não se envergonhava de morrer pelo "testemunho de nosso Senhor" (2 Tim. 1:8). João escreveu que estava na ilha chamada Patmos "por causa da palavra de Deus e do testemunho de Jesus Cristo" (Apoc. 1:9). Os eruditos em exegese tais como I. T. Beckwith, H. B. Swete, L. A. Vos, R. H. Mounce, G. B. Caird, A. A. Trites e G. R. Beasley-Murray entenderam as expressões genitivas "de Deus" e "de Jesus" em Apocalipse 1:2 e 9 como genitivos subjetivos, quer dizer, como auto-revelações de Deus e de Jesus à igreja. O testemunho ampliado de Deus coloca a igreja ante a autoridade do Filho de Deus (Heb. 1:1, 2; 2:1-4; 10:26-31; 12:22-29). O livro do Apocalipse confronta a igreja com a perspectiva de severas perseguições (ver Apoc. 11). Um grande número de crentes foram levados diante dos tribunais dos homens e foram condenados, alguns inclusive condenados à morte. Por esta razão, Paulo e Cristo os animam a manter firme o "testemunho de Jesus", assim como Cristo deu testemunho da boa profissão diante de Pôncio Pilatos (1 Tim. 6:12-14; Apoc. 1:5, 9; 2:25; 3:11; 5:9; 12:11, 17). Toda a "revelação de Jesus Cristo" (Apoc. 1:1) é em si mesmo uma parte constitutiva do testemunho de Cristo às igrejas; em particular, é seu "testemunho para as igrejas" (Apoc. 22:16; 1:2). É obvio que aqui estamos tratando com os testemunhos canônicos do Espírito dentro das Escrituras do Novo Testamento e seu evangelho de Jesus Cristo. João sofreu em Patmos por este testemunho de Jesus (Apoc. 1:9), e inumeráveis mártires sacrificaram suas vidas por este testemunho no curso da história (Apoc. 6:9). É "este" testemunho de Jesus o que a igreja remanescente sustentará ou manterá com fidelidade durante a luta final contra o anticristo (Apoc. 12:17) mesmo que sejam ameaçados com o decreto de morte (Apoc. 13:15-17). Tal é a seriedade da prova final de verdade de "o testemunho do Jesus" para a igreja universal. O Apocalipse mostra que "ter" o testemunho do Jesus não se restringe à igreja do tempo do fim, mas sim é a característica essencial dos fiéis seguidores de Cristo durante toda a era cristã. Uma comparação das passagens pertinentes demonstra este ponto essencial: APOCALIPSE 1:9 APOCALIPSE 6:9 APOCALIPSE 12:7

"Eu, João, … achei-me na ilha chamada Patmos, por causa da palavra de Deus e do testemunho de Jesus".

"Quando ele abriu o quinto selo, vi, debaixo do altar, as almas daqueles que tinham sido mortos por causa da palavra de Deus e por causa do teste-munho que susten-tavam [éijon: 'tinham, mantinham, preservavam']''.

"Irou-se o dragão contra a mulher e foi pelejar com os restantes da sua descendência, os queguardam os mandamentos de Deus e têm [ejónton: 'têm, mantêm, , preservam'] o testemunho de Jesus".

As descrições que o Apocalipse faz do povo de Deus do começo até o fim da era da igreja indicam que cada vez se menciona a mesma norma autorizada da fé cristã. As passagens surpreendentemente paralelas do "testemunho de Jesus", testemunho que preservaram os apóstolos e mártires como encontramos em Apocalipse 1 e 6, funcionam como a pauta adequada para a exegese de Apocalipse 12:17. O testemunho de Deus e Jesus, confiado à igreja de Cristo, foi pervertido pelo anticristo e substituído por sua própria norma de adoração e moralidade. Na luta final dos séculos, a igreja de Deus é chamada a permanecer firme sobre o evangelho eterno e a lei de Deus, em continuidade com a igreja dos apóstolos e os mártires. A igreja do tempo do fim de novo será conhecida por sua fidelidade aos mandamentos de Deus e ao canônico testemunho de Jesus (Apoc. 12:17). Só dessa maneira o povo de Deus do tempo do fim permanecerá na linha da verdadeira sucessão apostólica. O Apocalipse faz insistência no exemplo de Cristo como "a testemunha fiel" (1:5), "a testemunha fiel e verdadeira" (3:14) que, ao que parece, serve como o arquétipo para seus seguidores fiéis. Devem manter o mesmo testemunho de Jesus, até ao preço do sacrifício de suas vidas. O "testemunho" que os mártires tinham ou mantinham em Apocalipse 6:9 se iguala com "o

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testemunho de Jesus" que tem o povo remanescente de Deus em Apocalipse 12:17. O verbo "ter" [éjo] em Apocalipse 6:9 e 12:17 inclui o significado de "guardar, preservar".22 Beckwith, Swete, Caird e Mounce, todos demonstram em forma persuasiva que o testemunho que tinham os mártires (em Apoc. 6:9) é idêntico a "o testemunho de Jesus" que aparece em Apocalipse 1:9, 12:17 e 20:4. Gerhard Pfandl explica Apocalipse 6:9 da mesma maneira: "Estamos de acordo com Mounce que diz que o testemunho dos mártires não foi fundamentalmente seu testemunho a respeito de Jesus, e sim o testemunho que tinham recebido dele (cf. Apoc. 12:17; 20:4). Tinham-no aceito, recusaram abandoná-lo, e por conseguinte foram executados. O 'testemunho' não menos que a 'palavra' foi uma posse objetiva dos mártires".23 A pergunta é: Por que tipo de "testemunho" objetivo de Jesus estiveram dispostos a entregar suas vidas os fiéis na história da vida da igreja? Louis A. Vos descreve-o como "o depósito de doutrinas do Senhor, mandamentos e ensinos que têm uma forma e conteúdo específicos de maneira que podem ser guardados e mantidos!"24 Por isso, os mártires em Apocalipse 6:9 e 20:4 morreram acima de tudo por causa do próprio testemunho de Cristo, e em um sentido subordinado, por atestar do testemunho de Jesus. Em Apocalipse 12:17 se preanuncia a mesma perseverança no testemunho de Jesus para a geração final do povo de Deus. Beatrice S. Neall confirma esta exegese: " 'A palavra de Deus e o testemunho de Jesus Cristo' devem entender-se como o evangelho da morte e ressurreição de Jesus (Apoc. 1:18), seu poder para salvar do pecado (1:5; 12:10, 11) e homens transformados à sua semelhança (14:1) mediante o sangue do Cordeiro (7:14; 12:11)".25 Inclusive Apocalipse 20:4 menciona "o testemunho do Jesus" como a característica fundamental de fidelidade: "Vi ainda as almas dos decapitados por causa do testemunho de Jesus [literalmente: 'por causa do testemunho de Jesus'], bem como por causa da palavra de Deus, tantos quantos não adoraram a besta, nem tampouco a sua imagem, e não receberam a marca na fronte e na mão". A igreja remanescente é fiel ao "Cordeiro" em sua luta heróica contra a "besta". Esta situação de crise não é essencialmente diferente das crises anteriores mencionadas em Apocalipse 6 e 12. O ponto em questão é esclarecido por Kenneth A. Strand, quando diz: "No livro do Apocalipse a fidelidade à 'palavra de Deus' e ao 'testemunho de Jesus Cristo' separa o fiel do infiel, e conduz à perseguição que inclui o próprio desterro de João e o martírio de outros crentes (ver de novo 1:9; 6:9; 12:7; 20:4; etc.)".26 Também ele explica em outro lugar: "As testemunhas do Antigo Testamento e o testemunho apostólico... tinham uma mensagem que proporcionou consolo e esperança abundantes aos cristãos do primeiro século, e também o seguiram proporcionando para todos os seguidores de Cristo desde então".27 Podemos esperar que a apresentação antecipada do povo remanescente e sua lealdade a Deus e a Cristo em Apocalipse 12:17 se desenvolverá mais plenamente, o que ocorre em Apocalipse 14, onde se apresenta um quadro mais completo da igreja remanescente e do testemunho de Jesus. A declaração concisa de Apocalipse 14:12 funciona como um paralelo perfeito à declaração de Apocalipse 12:17, como pode ver-se no quadro seguinte:

APOCALIPSE 12:17 APOCALIPSE 14:12 "Irou-se o dragão contra a mulher e foi pelejar com os restantes da sua descendência, os que guardam os mandamentos de Deus e têm o testemunho de Jesus".

"Aqui está a perseverança dos santos,os que guardam os mandamentos de Deus e a fé em Jesus".

O povo remanescente de Deus não só guarda os mandamentos de Deus mas também guarda a "fé de Jesus" (Apoc. 14:12). A "fé de Jesus" que "guardam" seus seguidores não é

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simplesmente sua fé subjetiva em Jesus, e sim a fé objetiva ou os ensinos de Jesus que formaram a mesma substância da "doutrina dos apóstolos" (At. 2:42). Judas, o irmão de Tiago, insistiu à igreja a disputar "ardentemente pela fé que foi dada uma vez aos santos" (Jud. 3; também o v. 20). É útil o comentário do William G. Johnsson a respeito de Apocalipse 14:12: " 'Guardam a fé de Jesus'. Esta expressão não significa que o povo de Deus não tem fé em Jesus (embora é obvio a têm), porque a fé de Jesus é algo que guardam. 'A fé' refere-se provavelmente à tradição cristã, ao corpo de doutrinas que se centralizam em Jesus. Judas 3 pode nos proporcionar um paralelo: 'A fé que foi dada uma vez aos santos'. Quando os seguidores leais de Deus guardam a fé de Jesus, permanecem fiéis ao cristianismo básico: 'Guardam a fé' ".28 A expressão "a fé de Jesus" em Apocalipse 14:12 serve como um equivalente esclarecedor ao "testemunho de Jesus" em Apocalipse 12:17, e não necessariamente como uma terceira característica da igreja remanescente. Guardar a fé de Jesus envolve dar testemunho ao testemunho do Jesus. Merece mencionar-se que um pequeno grupo de antigos mileritas em Battle Creek, Michigan, resolveram em 1861 associar-se entre eles em uma nova denominação eclesiástica, "tomando o nome de adventistas do sétimo dia, e comprometendo-se a guardar os mandamentos de Deus e a fé de Jesus Cristo".29 A Elucidação do Anjo Quanto ao "Testemunho de Jesus " em Apocalipse 19:10 "E eu lancei-me a seus pés para o adorar, mas ele disse-me: Olha, não faças tal; sou teu conservo e de teus irmãos que têm o testemunho de Jesus; adora a Deus; porque o testemunho de Jesus é o espírito de profecia" (Apoc, 19:10). . Cada texto deve ser interpretado por seu contexto. O enfoque contextual serve como uma proteção contra a manipulação não intencional de um texto ou uma frase. Como a expressão "o testemunho de Jesus" ocorre duas vezes em Apocalipse 19:10, este texto recebeu um exame rigoroso e uma exegese minuciosa por Louis Vos, David Hill e Richard Bauckham. Surge um problema quando a última frase de Apocalipse 19:10 é dissecada ou separada de seu contexto e lhe é dado um significado que substitui o testemunho de Jesus, como se registra no Novo Testamento, pelo permanente dom de profecia. Uma interpretação assim fará com que o testemunho de Jesus em Apocalipse 12:17 seja exclusivamente um dom de visões dadas a alguns crentes seletos no tempo do fim. Este conceito é uma restrição perigosa do significado do testemunho de Jesus no livro do Apocalipse. O anjo não tem o propósito de substituir o testemunho histórico de Jesus pelo Espírito de profecia. Sua última declaração em Apocalipse 19:10 "não é tanto uma definição, como uma explicação. Explica como o anjo, João e seus irmãos (os profetas) podem estar no mesmo nível, como conservos. Isto é possível em tanto que todos compartilham o testemunho de Jesus que inclusive possuem os profetas, porque o testemunho de Jesus é o espírito de profecia".30 Bauckham o explica desta maneira: "O Espírito divino que dá a João a experiência visionária em que pode receber a revelação, não comunica a doutrina de um anjo mas sim o testemunho que tem Jesus... O equivalente da referência 'o testemunho de Jesus' em 19:10 se encontra agora nas palavras do epílogo, nas que o anjo desaparece da vista e Jesus atesta diretamente: 'Eu Jesus enviei meu anjo para dar testemunho destas coisas nas igrejas' [22:16]".31 Cristo explicou que o Espírito de verdade "não falará por si mesmo... Ele me glorificará, porque há de receber do que é meu e vo-lo há de anunciar" (João 16:13, 14; ver também 14:26). Isto foi realizado pelo Espírito de profecia nas Escrituras do Novo Testamento, especialmente no Apocalipse, que por conseguinte transmite à igreja o testemunho de Jesus com autoridade divina. O que o Espírito diz, é o que Cristo diz. Isto ocorre sete vezes nas cartas de Cristo que cada vez concluem com estas palavras: "Quem tem ouvidos, ouça o que o Espírito diz às igrejas" (Apoc. 2:7, 11, etc.). O anjo explica a João que quando o Espírito inspira a profecia, seu conteúdo e autoridade vêm do próprio Jesus (Apoc. 19:10). Dessa maneira o Espírito de profecia revela o testemunho de Jesus. Todos os profetas verdadeiros são os "que têm o testemunho de Jesus" (Apoc. 19:10; cf. 22:9). O anjo instrui a João para que não adore a nenhum anjo, e, se formos ao caso, tampouco a nenhum conservo de Deus, porque são meramente os instrumentos de Deus e de

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Cristo. O livro do Apocalipse é um livro orientado para a adoração. O grande propósito "adorem a Deus!" é o tema central de todo o Apocalipse. Especialmente, suas profecias do tempo do fim exigem a distinção entre a verdadeira adoração e a idolatria (Apoc. 14:6-12). O anjo faz duas súplicas a João para que adore a Deus (Apoc. 19:10 e 22:9), uma à conclusão da visão a respeito da meretriz: Babilônia (Apoc. 17:1-19:10), e a outra à conclusão da visão a respeito da noiva: Jerusalém (Apoc. 21:9-22:9 ). Cada vez o anjo reforça o ponto: Não adorem à besta, nem sequer aos servos de Deus, os anjos; adorem a Deus! O versículo paralelo de Apocalipse 22:9 amplia o grupo dos que têm o testemunho de Jesus, até incluir a todos os membros de igreja: "Eu sou conservo teu, de seus irmãos os profetas, e dos que guardam as palavras deste livro". Este círculo aumentado de todos os cristãos fiéis que "têm" o testemunho de Jesus também é visível em Apocalipse 6:9 e 12:17. Bauckham tira esta conclusão prática: "Isto [Apoc. 19:10 e 22:9] é um reconhecimento de que o papel ao qual o Apocalipse chama a todos os cristãos é em essência o mesmo que o dos profetas: dar testemunho de Jesus, permanecendo fiéis em palavra e obra ao único Deus verdadeiro e à sua justiça".32 Esta responsabilidade compartilhada da igreja não nega a liberdade do Espírito de conceder a indivíduos escolhidos o dom espiritual da profecia (ver 1 Cor. 12:7-11) para a edificação da igreja (1 Cor. 14:1, 4). Entretanto, o anjo ensina que o "testemunho de Jesus" que já se deu, é a prova da verdade para João, para seus conservos os profetas, para a igreja e para os anjos de Deus (ver também Apoc. 22:9). David Hill esclarece que o "testemunho de Jesus" consiste nas expressões de Jesus nas visões do Apocalipse assim como "no testemunho de sua vida e morte". "Os que mais tarde são descritos como tendo o marturía Iesú [testemunho de Jesus] (6:9; 12:17; 19:10) são os que, assim como João, defendem e preservam o testemunho de Jesus que foi lhes confiado e o anunciam: e o que anunciam (e sofrem por declará-lo) não é outra coisa senão o que Jesus revela a seus servos e se confirma (22:16, 20) neste livro, ou seja, os juízos e a autoridade soberana do único, o Deus eterno que é o soberano de todos e o autor da salvação, cujo propósito triunfará finalmente sobre todas as forças opositoras".33 O testemunho de Jesus no Apocalipse é a norma final para toda a adoração cristã e para as manifestações do dom de profecia.34 Sustentar e manter fielmente este "testemunho de Jesus" que é canônico é o dever sagrado dos profetas e dos anjos; é o ensino do anjo interpretador em Apocalipse 19:10. Num tempo quando João estava lutando contra uma onda crescente de profecia falsa nas igrejas da Ásia (Apoc. 2:20; 1 João 4:1), alguns dos quais estavam enganando aos crentes em Tiatira com "profundos mistérios" (Apoc. 2:24, CI), recorda a João que o Espírito de profecia transmite "o testemunho de Jesus Cristo". "Portanto, a carga da profecia é o testemunho que levou Jesus".35 Todas as mensagens inspiradas dos profetas pós-apostólicos devem ser provados pelo testemunho canônico de Jesus (ver Apoc. 22:18, 19; 1 Tes. 5:19-21; 2 Pedro 3:2, 15, 16; Mat. 24:24). O cânon do Novo Testamento com sua autoridade apostólica nunca deve ser escurecido pelo permanente dom de profecia na igreja pós-apostólica. O ponto em questão do anjo em Apocalipse 19:10 é singelo e claro: O testemunho de Jesus é e permanece sendo a mensagem do Espírito de Deus e a prova do dom de profecia (ver também no Apoc. 22:16). O testemunho de Jesus recebeu sua coroação no mesmo livro do Apocalipse: "Eu, Jesus, enviei o meu anjo para vos testificar estas coisas às igrejas. Eu sou a Raiz e a Geração de Davi, a brilhante Estrela da manhã" (Apoc. 22:16). O testemunho de Jesus será o instrumento para desmascarar as afirmações enganosas "do falso profeta" do tempo do fim (ver Apoc. 16:13, 19:20 e 20:10). Vista sob esta luz, a igreja remanescente em Apocalipse 12:17 e 14:12 se caracteriza pela restauração dos mandamentos históricos de Jesus e pelo testemunho histórico de Jesus, quer dizer, o evangelho eterno. Estas duas características foram as marcas que identificaram a igreja apostólica (Apoc. 1:9) e as

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marcas dos santos pós-apostólicos (Apoc. 6:9). Constituem as marcas distintivas permanentes da igreja verdadeira de todas as épocas. No livro do Apocalipse, estas características traçam uma linha entre o fiel e o infiel. Em vista do fato reconhecido de que o Apocalipse está unido por sua estrutura distintiva de uma teologia de duas testemunhas, afirmamos com Kenneth A. Strand que "a palavra de Deus" e "o testemunho do Jesus" são o Antigo Testamento e o Novo Testamento.36 Referências 1 Charles, Studies in the Apocalypse, p. 88. 2 Ver de LaRondelle, The Israel of God in Prophecy. Principles of Prophetic Interpretation e Chariots of Salvation. 3 Morris, The Revelation of St. John, p. 155. 4 Naden, The Lamb Among the Beasts. Finding Jesus in the Book of Revelation, p. 187. 5 Ver Charlesworth, The Old Testament Pseudepigrapha, t. 2, pp. 977, 978, também 7 CBA 824. 6 Assim também diz Satake, em seu artigo sobre Apocalipse 12: "Sieg Christi–Heil der Christen. Eiene Betrachtungs von Apocalypse XII" [A Vitória de Cristo – A Vitória dos Cristãos. Uma Consideração de Apocalipse 12]. 7 Wilson, The Revelation of Jesus, p. 230. 8 Ibid. 9 Maxwell, Apocalipsis: sus revelaciones, pp. 189, 349. 10 Johnsson, "The Saints' End-Time Victory Over the Forces of Evil", Simpósio sobre o Apocalipse, t. 2, p. 7. 11 Johnsson, Ibid., t. 2, p. 19. 12 J. M. Ford., Revelation, p. 195. 13 Feuillet, Johannine Studies, p. 276. 14 J. M. Ford, Revelation, p. 195. 15 Johnsson, "The Saints' End-Time Victory Over the Forces of Evil", Simpósio sobre o Apocalipse, t. 2, p. 17. 16 Beasley-Murray, Highlights of the Book of Revelation, p. 201. 17 Ellen White, DTN 467. 18 Ellen White, GC 55. 19 Ver Walter L. Wakefield e Austin P. Evans, Heresies of the High Middle Ages [Heresias da Alta Idade Média] (Nova York: Columbia University Press, 1991). 20 Henry Charles Lea, Die Inquisition [A Inquisição]. 21 L. Coenen, "Testimonio", Diccionario teológico del Nuevo Testamento (Salamanca: Sígueme, 1990; 4 ts.), t. 4, p. 257. 22 Ver Arndt e Gingrich, A Greek-English Lexicon of the New Testament and Other Early Christian Literature [Um Léxico Grego-Inglês do Novo Testamento e de Outra Literatura Cristã Primitiva] (Chicago: The University of Chicago Press, 1952, 4ª ed. revisão e aumentada), p. 332. 23 Pfandl, "The Remnant Church and the Spirit of Prophecy", Simpósio sobre o Apocalipse, t. 2, p. 313. 24 Vos, The Synoptic Traditions in the Apocalypse, p. 203. 25 Neall, The Concept of Character in the Apocalypse with Implications for Character Education, p. 158. 26 Strand, "The Two Witnesses of Rev. 11:3-12", AUSS 19:2 (1981), pp. 127-135. 27 Strand, "The Seven Heads: Dou They Represent Roman Emperors?", Simpósio sobre o Apocalipse, t. 2, p. 206. 28 Johnsson, "The Saints' End-Time Victory Over the Forces of Evil", Simpósio sobre o Apocalipse, t. 2, pp. 38, 39. 29 J. White, ed., The Review and Herald [A Revista e Arauto], 8 de outubro de 1861. 30 Vos, The Synoptic Traditions in the Apocalypse, p. 204. 31 Bauckham, The Climax of Prophecy. Studies on the Book of Revelation, p. 134. 32 Bauckham, The Theology of the Book of Revelation, p. 121. 33 Hill, New Testament Prophecy, p. 80. 34 Ver J. D. G. Dunn, "Spirit" [Espírito], New International Dictionary of New Testament Theology [Novo dicionário internacional de teologia do Novo Testamento] (Grand Rapids, MI:

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Zondervan, 1979; 3 ts.), T. 3, p. 706. 35 Beasley-Murray, Highlights of the Book of Revelation, p. 182. 36 Strand, "The Two Witnesses of Rev. 11:3-12", AUSS 19:2 (1981), pp. 127-135.

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XXII - O CONFLITO FINAL DE LEALDADE DO TEMPO DO FIM - Apocalipse 13

A visão das duas bestas simbólicas em Apocalipse 13 deve relacionar-se em primeiro lugar com o fluxo da história da igreja em Apocalipse 12, união que determina o lugar e a situação que cada besta ocupa na história. Como estudamos no capítulo anterior, Apocalipse 13 esboça em detalhe dois períodos de tempo que aparecem em Apocalipse 12 por meio de um paralelismo progressivo. Esta classe de recapitulação se assemelha ao estilo do livro do Daniel. Apocalipse 13 amplia em grande detalhe a guerra do dragão contra a mulher de Apocalipse 12. Vários elos entre os dois capítulos mostram sua estrutura paralela. Apocalipse 13 mostra como o dragão trava guerra contra os santos. Empregará dois poderes mundiais religiosos como agentes a seu serviço: uma besta marítima e uma besta terrestre. Dessa forma, o dragão forma sua própria trindade, ou trindade satânica. Existe uma união especial entre o dragão e a besta do mar, porque ambos possuem as mesmas sete cabeças e dez chifres (Apoc. 12:3; 13:1). O fato de que o dragão delegue seu poder e trono à besta do mar é uma imitação deliberada de como Deus delegou seu poder e seu trono a seu Filho, Jesus Cristo (ver 5:12, 13; 13:2). Este paralelo extraordinário caracteriza a besta marítima como o anticristo. Portanto, algumas vezes se denominou a Apocalipse 13 "o capítulo do anticristo". A fórmula de autorização que declara que a besta recebe autoridade "sobre toda tribo, povo, língua e nação" (13:4, 7, 8), pode ver-se como uma cópia irônica da autorização do Filho do Homem que recebe autoridade sobre "todos os povos, nações e línguas" em Daniel 7:14. O objetivo de ambas as investiduras de poder é receber a adoração e a lealdade de toda a humanidade (Dan. 7:14, 27; Apoc. 13:4, 8). Descreve-se a imitação dramática da morte e ressurreição do Messias pela própria morte da besta por causa de uma "ferida mortal" e sua ressurreição e ascensão milagrosa a um domínio universal e totalitário (Apoc. 13:2, 12, 14; cf. 5:6, 9, 12; 13:8). Esta imitação de Cristo sugere a idéia de que a besta opera como uma falsificação do Cordeiro, como um falso Cristo. Sugeriu-se que os 1.260 dias de blasfêmia e perseguição por parte da besta são uma paródia irônica do ministério de bênção e salvação de Cristo que também durou 3 ½ anos* ou 1.260 dias.1 A nova revelação surpreendente no capítulo 13 é a predição de um terceiro agente na conspiração satânica contra a Santa Trindade: "Vi subir da terra outra besta, e tinha dois chifres semelhantes aos de um cordeiro; e falava como o dragão" (v. 11). Depois, esta besta terrestre é denominada apenas "o falso profeta" (16:13; 19:20; 20:4). Sua tarefa consiste em servir à besta do mar enganando os moradores da terra com seus sinais e milagres (13:14, 15). Portanto, W. G. Johnsson deduz que "o terceiro membro desta trilogia satânica arremeda a obra do Espírito Santo".2 Em resumo, Apocalipse 13 faz soar o sino de alarme para a igreja de Cristo. Será enganada cada vez mais por uma conspiração genial de uma religião cristã falsificada, respaldada por milagres sobrenaturais. Podem distinguir-se duas cenas das ameaças. A primeira fase do domínio do anticristo se caracteriza pela supremacia política e pela intolerância religiosa. A segunda fase segue depois que foi "curada" a "ferida mortal" da besta. Só então pode o "falso profeta" começar suas atividades para ajudar a recuperar para a besta sua supremacia anterior e a união da Igreja com o Estado, desta vez em uma escala universal. A enigmática "marca da besta" chegará a ser no tempo final a prova decisiva de lealdade suprema ao anticristo, em oposição aparente ao "selo do Deus vivo" que assinala a submissão voluntária aos mandamentos de Deus (ver 13:15-17; 14:1, 12). Dessa maneira, Apocalipse 13 forma o complemente necessário da mensagem final de admoestação de Apocalipse 14. Ambos os capítulos constituem uma unidade indestrutível, e cada capítulo só pode entender-se em conexão com seu complemento. Laços Entre Apocalipse 13 e Daniel 7 Como Jesus fez em seu discurso profético (Mar. 13; Mat. 24), assim também João esboça o futuro da igreja com os símbolos de Daniel. João segue o estilo apocalíptico dos esboços proféticos de Daniel voltando para periodizar a história por meio de poderes mundiais

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sucessivos. Como nas visões de Daniel, assim também o Apocalipse avança na história dos dias de João até o próprio fim da era da igreja. Tanto Daniel como João descrevem o mesmo arquiinimigo de Deus e de seu povo do pacto. Enquanto que Daniel representou o "chifre pequeno" como um antimessias (Dan. 7, 8), João agora o define como o anticristo (Apoc. 13). Os eruditos bíblicos reconhecem hoje em dia "que Apocalipse 13 está modelado sobre o Daniel 7".3 No seguinte quadro podem ver-se dois exemplos disto: APOCALIPSE 13 "Foi-lhe dado, também, que pelejasse contra os santos e os vencesse" (v. 7). "Foi-lhe dada uma boca que proferia arrogâncias e blasfêmias e autoridade para agir quarenta e dois meses" (v. 5). DANIEL 7 "Eu olhava e eis que este chifre fazia guerra contra os santos e prevalecia contra eles" (v. 11). "E os santos lhe serão entregues nas mãos, por um tempo, dois tempos e metade de um tempo" (v. 25). Contemplado do lugar de João na história, Apocalipse 13 ultrapassa Daniel 7 até a era da igreja por meio de uma aplicação cristocêntrica e eclesiocêntrica. O exemplo fundamental deste avanço contínuo-histórico é a constituição que forma a besta do mar em Apocalipse 13:2, a que combina característicos das quatro bestas ou impérios mundiais de Daniel 7. Este monstro composto de Apocalipse 13 indica sem lugar a equivocar-se que desde Daniel o tempo avançou. O fato de que a besta do mar leva simultaneamente dez coroas reais sobre seus dez chifres, alude aos dez reis ou reinos que surgiriam do quarto império mundial (Roma) segundo Daniel 7:7 e 24. Essas dez diademas são o sinal deliberado que se apresenta em Apocalipse 13 para indicar que a besta do mar com seus dez reis soberanos seguiram seu curso na história além da divisão do Império Romano em 476 d.C. Tanto a visão de Daniel 7 como a de Apocalipse 13 avançam além da Roma pagã, e o fazem para a Idade Média do cristianismo ocidental. O ponto característico da besta do mar de Apocalipse 13 é uma boca que fala "grandes coisas" [megála] e blasfêmias (Apoc. 13:5, 6), e confirma assim a conclusão de que o que está em vista é o "chifre pequeno" de Daniel 7. Este chifre igualmente fala "grandes palavras" [megála] (Dan. 7:8, 11 ) contra Deus (Apoc. 13:6; Dan. 7:25). Uma comparação estreita entre Apocalipse 13 e Daniel 7 mostra que Apocalipse 13 avançou mais à frente do Império Romano antes de sua divisão. Esta progressão histórica se prediz na declaração profética: "O dragão deu- lhe [à besta] seu poder e seu trono e grande autoridade" (Apoc. 13:2). Em Apocalipse 12 o dragão representa não só a Satanás mas também, em um sentido secundário, a Roma pagã que perseguiu o Messias e a seu povo (Apoc. 12:3-6). Em Apocalipse 13 o dragão transfere seu poder perseguidor ao sucessor da Roma pagã: Roma eclesiástica. Nesse momento na era da igreja, a besta do mar começa a desempenhar o papel do chifre pequeno de Daniel 7. Apocalipse 13 começa com a transferência do poder e de seu trono (a capital) e autoridade de Roma pagã a Roma papal (v. 2). O outro vínculo entre o anticristo de Apocalipse 13 e o chifre jactancioso de Daniel 7 é o mesmo período de tempo profético atribuído ao domínio despótico de ambos: 3 ½ tempos são idênticos a 1.260 dias. Estes 1.260 dias equivalem a 42 meses (42 x 30 dias). Em resumo, para identificar a besta-anticristo e seu lugar na história da igreja, é essencial colocar a profecia de tempo de longo alcance de Daniel 7 na base de Apocalipse 13. Vínculos entre Apocalipse 13, Mateus 24 e 2 Tessalo nicenses 2 Observemos alguns desenvolvimentos importantes entre Apocalipse 13 e as predições de Jesus e de Paulo. Jesus aplicou as profecias de Daniel à destruição de Jerusalém e seu templo pelos exércitos de Roma (Mat. 24:15, 16; Mar. 13:14; Luc. 21:20-24). Também alertou seus seguidores a respeito das perseguições vindouras, e a uma "grande aflição" que seria "abreviada" por meio de um ato da providência divina (Mat. 24:21, 22; Dan. 12:1). De uma maneira especial advertiu a seu povo contra os enganadores religiosos que afirmariam

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falsamente ser seus porta-vozes. "Porque surgirão falsos cristos e falsos profetas operando grandes sinais e prodígios para enganar, se possível, os próprios eleitos" (Mat. 24:24). É obvio, a advertência profética de Cristo requer a interpretação correta de Daniel, interpretação que se especializa no tema da apostasia e da perseguição e do conhecimento das profecias messiânicas. Paulo expõe sua compreensão do livro de Daniel com claridade suficiente em 2 Tessalonicenses 2. Afirmou que a apostasia futura do "homem da iniqüidade" tinha que preceder a volta de Cristo em glória (ver 2 Tes. 2:3, CI [em gr., prótos]). Paulo caracterizou esta "apostasia" vindoura em termos de um culto religioso falso dentro do templo de Deus como tinha sido descrito em Daniel 8 e 11. Desta forma, Paulo preveniu especificamente contra a vinda do anticristo eclesiástico. Situou este enganador religioso depois do desaparecimento do Império Romano (2 Tes. 2:7, 8). E esta foi a interpretação historicista por muitos séculos. Paulo ensinou ademais que o poder apóstata duraria até a segunda vinda de Cristo em juízo (2 Tes. 2:8). Recalcou de uma maneira especial que o anticristo enganaria as pessoas por meio de sinais sobrenaturais, que denominou adequadamente "sinais e prodígios mentirosos" (v. 9). É totalmente evidente que Apocalipse 13 é a expansão ulterior de 2 Tessalonicenses 2, já que estes capítulos apocalípticos são complementares. Quando são estudados juntos, pode identificar-se com clareza o surgimento histórico do anticristo e seu culto pseudocristão. A Natureza Romana da Roma Eclesiástica O sistema de Igreja-Estado medieval tratou de estabelecer o reino de Cristo por meio da imposição legal e da coerção física. Quanto a isto, a Igreja Católica Romana continuou claramente com o regime totalitário de Roma imperial. Jacques Ellul, um professor francês de Direito, expôs eficazmente a união funesta da Igreja e o Estado dos dias do imperador Constantino como a "subversão do cristianismo".4 Enquanto que os dirigentes da igreja afirmavam atuar em lugar de Cristo, as "guerras santas" de sua Inquisição derramou mais sangre que a que derramou qualquer outra religião no mundo. W. E. H. Lecky, um erudito em História, fez esta denúncia: "Não pode ser absolutamente nenhum exagero dizer que a Igreja de Roma causou uma quantidade de sofrimento imerecido maior que qualquer outra religião que alguma vez tenha existido".5 Inclusive alguns teólogos católicos que chegaram a ser conscientes da natureza e extensão da perseguição por parte do Estado-Igreja medieval, estão escandalizados pela paródia das doutrinas de Cristo praticadas pelo cristianismo romano. Thomas e Gertrude Sartory passam este juízo: "Nenhuma religião no mundo (nenhuma só na história da humanidade) tem sobre sua consciência tantos milhões de pessoas que pensam de maneira diferente e acreditam em forma diferente. O cristianismo é a religião mais assassina que alguma vez tenha existido".6 O ex-jesuíta Karlheinz Deschner da Alemanha, sobre a base de material de primeira fonte, publicou vários tomos sobre a sangrenta história da igreja e o intitulou: Kriminalgeschichte des Christentums [A história criminal do cristianismo].7 Os quatro primeiros volumes demonstram a política espantosa dos governantes políticos cristãos que massacraram a seus oponentes. Mais de mil anos de alianças e opressão ilícitas entre a Igreja e o Estado não se podem passar totalmente por alto nos prognósticos proféticos de Daniel e Apocalipse. O cumprimento contínuo-histórico das profecias de longo alcance aponta de maneira irrevogável ao cristianismo romano por ter derramado o sangue de incontáveis mártires. Entretanto, o juízo final do céu lavrará sua condenação humana na vindicação divina: "Mas, depois, se assentará o tribunal para lhe tirar o domínio, para o destruir e o consumir até ao fim... até que veio o Ancião de Dias e fez justiça aos santos do Altíssimo; e veio o tempo em que os santos possuíram o reino" (Dan. 7:26, 22). A Estrutura Literária de Apocalipse 13:1-10 Determi na a Data da "Ferida Mortal" O não distinguir adequadamente o estilo literário do Apocalipse levará a interpretações equivocadas, o que se vê de maneira especial quando se trata de estabelecer o momento da

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ferida moral da besta em conexão com os 42 meses de domínio da besta. A ferida mortal se menciona três vezes em Apocalipse 13 (vs. 3, 12, 14). A pergunta que vem ao caso é: Essa ferida mortal, ser-lhe-ia infligida antes ou depois dos 42 meses? Defenderam-se diferentes pontos de vista até dentro da escola histórica de interpretação. Uma opinião lê Apocalipse 13 como uma descrição contínua e ininterrupta de eventos futuros. Então a ordem dos acontecimentos seria assim: Primeiro: a ferida mortal (v. 3), seguida pelos 42 meses (v. 5). Essa seqüência levou a alguns historicistas a aplicar a ferida mortal à queda do Império Romano Ocidental em 476. Vê-se a "cura" da ferida como o surgimento da Roma papal e seu reinado medieval. Outro critério, que toma em conta a estrutura literária de Apocalipse 13:1-10, conclui que esta unidade consiste de duas seções paralelas distintas: (1) uma descrição resumida que culmina na adoração universal do dragão e da besta (vs. 1-4), e (2) uma explicação que termina com a mesma adoração universal da besta (vs. 5-8). Este ponto de vista foi exposto em forma convincente por W. H. Shea. Resume suas conclusões da seguinte maneira: "Na seção descritiva (vs. 1-4) a ferida da besta se encontra no fim da passagem (v. 3). Na seção explicativa (vs. 5- 10) também se alude a esta ferida no fim da passagem ('se alguém matar à espada, à espada deve ser morto', v. 10; cf. o v. 14: 'a besta que tem a ferida de espada'). Em ambos os casos, a estrutura literária e as relações envoltas indicam que a autoridade que exerce a besta é anterior à ferida... "Isto significa que os 42 meses do tempo da profecia culminam no tempo da ferida de morte, não depois".8 A ferida mortal da besta (Apoc. 13:3) explica-se no fim da unidade (v. 10) por "cativeiro" e "espada", e dessa maneira as duas seções formam um todo. Este ponto de vista sustenta que o anticristo sofreria uma ferida de morte depois de haver-se encolerizado 42 meses contra os santos. A "ferida de morte" significa um congelamento temporário da perseguição do anticristo. Se o começo do tempo de opressão está marcado pela união da Igreja e o Estado, então seu final deve entender-se como a dissolução da união da Igreja e o Estado. Allan F. Johnson se refere ao uso apocalíptico da palavra "espada" como um "símbolo de juízo divino" em Apocalipse (1:16; 2:12, 16; 19:15, 21), e por conseguinte vê a ferida mortal como um "golpe de morte à autoridade da besta" que foi assestado por Deus.9 Considera que seu cumprimento se realizou na morte e ressurreição de Cristo, e por isso foi um cumprimento de Gênesis 3:15 (como Irineu). Entretanto, a besta-anticristo em Apocalipse 13 se levanta depois da Roma pagã, muito tempo depois da ressurreição de Cristo. Portanto, a ferida mortal requer uma aplicação histórica à união Igreja-Estado que perseguiu durante a Idade Média. A aplicação popular da ferida ao suicídio do imperador Nero em 68 é um esforço para fazer com que a profecia encaixe no Império Romano, e para aplicar a cura da ferida à perseguição renovada pelo imperador Domiciano ao fim do século I. Não há dúvida de que o dragão usou ao Império Romano para fazer guerra contra a "mulher" e seu "Messias" (Apoc. 12:1-4). Mas a "besta do mar" à qual o dragão ou Roma transfere seu poder representa o sucessor da Roma imperial. Isto chega a ser evidente se se conectar Apocalipse 7 com sua raiz principal em Daniel 7. Por Daniel sabemos que a quarta besta passaria seu domínio sobre a terra ao chifre pequeno. A Ferida Mortal ao Estado-Igreja Totalitário Falando historicamente, a união medieval do Estado e a Igreja recebeu vários golpes que reduziram seu poder de perseguir de uma maneira gradual. H. Grattan Guinness, que aplicou o método histórico de interpretação profética, menciona três "golpes fatais" para o romanismo: (1) a Reforma do século XVI; (2) a Revolução Francesa de 1789-1799; e (3) a unificação política da Itália em 1870, que outra vez lhe tirou o papado seu reinado temporário sobre os estados papais.10 L. E. Froom menciona em primeiro lugar a Reforma, depois a dissolução por parte do Papa da Companhia do Jesus (os jesuítas) em 1773, uma organização sancionada pelo Papa para fazer guerra contra os protestantes.11 Considera que o desterro forçado do Papa e a abolição do

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papado pelo governo da França revolucionária em 1798 constituiu o maior golpe contra o papado. Como em 1791 o Papa Pio VI tinha denunciado a Revolução Francesa e sua Constituição Civil Clerical (1790), e também tinha participado da primeira coalizão de poderes europeus para ajudar a destruir a Revolução Francesa, o Diretório francês tomou represálias e se anexou os territórios papais no sul da França, capturou os Estados papais na Itália e estabeleceu uma república em Roma. O Diretório disse a Napoleão, em uma carta 1797, que "a religião romana sempre seria o inimigo irreconciliável da República. Terá que atirar um golpe na França e terá que atirar outro em Roma". A República Francesa tem que "destruir, se for possível, o centro de unidade da igreja romana".12 Postas assim as coisas, em 1798 as tropas francesas às ordens do general Berthier invadiram o Vaticano e levaram prisioneiro o Papa Pio VI. Com a aprovação dos italianos, França estabeleceu uma república romana independente "sob o amparo especial do exército francês".13 O objetivo do Diretório francês era destruir o papado e "libertar a Europa da supremacia papal".14 C. M. Maxwell descreve o significado único do ano 1798 nestas palavras: "Embora durante os 1.260 anos o Papa foi freqüentemente derrotado e várias vezes encarcerado, a forma como foi tratado em 1798 foi qualitativamente diferente. Em 1798 foi dominado e encarcerado com o propósito de terminar seu significado religioso".15 A Inquisição também foi abolida na França em 1798. Não é maravilha que o impacto da Revolução Francesa fez com que muitos protestantes acreditassem que o reinado do papado tinha chegado a seu fim em 1798 com o golpe mortal que lhe deu o governo revolucionário francês. Muitos acreditaram que estes acontecimentos cumpriam as profecias dos capítulos 11 a 13 do Apocalipse.16 O famoso historiador Leopoldo von Ranke declarou: "Parecia como se tivesse acabado para sempre o poder papal".17 A New Catholic Encyclopedia [Nova Enciclopédia Católica] declara: "Depois de despojar o Papa Pio VI de seu poder temporário, os franceses o privaram de sua liberdade. Sua morte enquanto estava na prisão marcou um ponto muito baixo na prosperidade papal que não havia tocado fundo por séculos, e deu origem a uma profecia de que a sucessão apostólica tinha chegado a seu fim com o falecimento de 'o último Pio' ".18 E o colaborador do artigo "The French Revolution" [A Revolução Francesa] dá esta informação: "Nesse dia [quando Pio VI morreu como prisioneiro] parecia que se obteve a destruição total da Santa Sede".19 Estes são testemunhos notáveis que falam de uma ferida mortal histórica do papado! "Em realidade, a metade da Europa pensou que 'o papado estava morto' ".20 O Diretório francês tinha ordenado que não se escolhesse um sucessor de Pio VI à cadeira papal.21 Entretanto, Napoleão começou a reviver o papado com a Concordata de 1801, porque sentiu que o Papa sustentava a chave para restaurar a paz religiosa na França, concordata que "permitiu um exercício sem precedentes do poder papal".22 De fato, "muitos historiadores sustentam que a Concordata de 1801 foi tão decisiva para a história moderna da igreja como foi a conversão de Constantino para a história antiga da igreja".23 Em 1814 o Papa Pio VII restaurou a Companhia de Jesus (os jesuítas), e o Congresso de Viena (1814-1815) devolveu oficialmente ao Papa os Estados da igreja, exceto a terra que possuía na França. Esta restituição formou a base para a recuperação da Igreja Católica Romana durante o século XIX. Em resumo, 1798 foi reconhecido em forma unânime por historiadores eclesiásticos católicos e protestantes como o tempo da "suprema humilhação" do papado na história moderna.24 * Esta abolição histórica e sem precedentes do papado em Roma por meio da "espada" do governo da França revolucionária pode interpretar-se como o cumprimento correto da "ferida mortal" predita da igreja papal (no Apoc. 13). A "Cura" da Ferida Mortal Ainda Está no Futuro Enquanto que os intérpretes adventistas mencionaram diferentes datas no passado como cumprimento da "cura" predita da ferida mortal que lhe infligiu o papado – tais como 1800,

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1815, 1929 e outros anos –, o Comentário bíblico adventista declara mais prudentemente: "O profeta... viu a ferida completamente curada, como insinua o texto grego... [mas isso] ainda se acha no futuro".25 A interpretação de George McCready Price, que em forma apropriada uniu as perspectivas proféticas de Apocalipse 13 e 17, é significativa. Identificou o período da "ferida mortal" (Apoc. 13) com a fase "não é" da besta em Apocalipse 17:8. Destacou a distinção entre a "mulher" e a "besta", quer dizer, entre a Igreja Católica Romana e o poder do estado em sua aplicação da ferida mortal e seu cura. Não foi a mulher quem recebeu a ferida de morte, mas sim a besta! "Obviamente, a ferida significa que lhe tirou o poder bestial de dominar o mundo e tratar com os 'hereges'. Esta ferida mortal não será curada até que lhe restaure o antigo poder de perseguição".26 Dessa maneira Price aplicou a ferida mortal da besta não à Igreja Católica como tal, mas sim à dissolução da união da Igreja e o Estado, que não foi levado a cabo simplesmente pelo destronamento do Papa Pio VI em 1798, mas sim pela ideologia poderosa que está por trás da revolução da América do Norte e da Revolução Francesa: "Os dois princípios fundamentais de liberdade civil e religiosa, características do verdadeiro cristianismo".27 Price viu estas idéias destas duas liberdades, a civil e a religiosa, como a "causa real da ferida mortal, e o motivo pelo qual ainda não foi curada".28 Embora reconheceu alguns sinais de "atitudes cambiantes" na cristandade em favor da Igreja de Roma, por si mesmos "estas atitudes cambiantes distam muito de ser a cura profetizada. Não será até que Roma tenha novamente o poder de fazer cumprir sua vontade e doutrinas por meio de decretos legislativos e judiciais que os imponham que estará curada a ferida".29 Esta análise perspicaz muda a direção do enfoque da profecia além de qualquer intento especulativo de fixar a data de um acontecimento local, à ideologia que está por trás da perseguição dos santos. Price raciocinou que "um quarto de século antes de 1798 'a perseguição tinha cessado quase inteiramente' (GC 308), é boa prova de que a causa primitiva da ferida mortal era algo que precedeu a Revolução Francesa e bastante mais importante que ela".30 Para Price, o tempo da Revolução Francesa é idêntico ao "tempo do fim" profético no livro de Daniel. É o tempo quando "não se viu durante dois séculos a perseguição em escala mundial".31 Entretanto, a ferida será curada "quando ocorrer esta restauração do poder para tratar com os 'hereges' ".32 Ellen White o declarou de uma maneira similar. Disse ela: "A profecia prevê uma restauração de seu poder [o do papado]... Roma está visando a restabelecer o seu poder, para recuperar a supremacia perdida... Sorrateiramente, e sem despertar suspeitas, está aumentando suas forças".33 As opiniões de Ellen White e de Price sustentam que a "ferida" papal será curada só quando Roma tenha alcançado de novo a supremacia da Igreja no sentido de que promova leis estatais religiosas que acarretem perseguição. Uma expectativa assim ainda não se cumpriu e desacredita qualquer esforço de fixar datas. Luis F. Were assinalou que a "parte de capital importância" de Apocalipse 13 e 17 "ocupa-se da cura da 'ferida mortal' e com aquelas coisas que seguirão devido ao fato de que a ferida foi curada. O revelador, tendo apontado à ferida de uma das cabeças da besta, passa imediatamente à cura de sua ferida... dizendo: 'E toda a terra se maravilhou após a besta' ".34 Este panorama do tempo do fim é o centro de atenção de Apocalipse 17. O Aparecimento da Besta de Dois Chifres "Depois vi outra besta que subia da terra; e tinha dois chifres semelhantes aos de um cordeiro, mas falava como dragão" (Apoc. 13:11). Não pode entender-se corretamente a besta da terra se a isolarmos da besta do mar. De fato, a besta da terra deve considerar-se como a última em uma série de três poderes mundiais hostis, a terceira das quais se une às duas primeiras. É surpreendente que a esfera de influência dos três monstros abrangem todo o cosmos: o dragão era do céu, a primeira besta veio do mar e a segunda da terra. João usa reiteradamente uma divisão do cosmos em três partes (Apoc. 5:3, 13; 9:1; 10:6; 12:12; 21:1). A associação íntima dos três monstros

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apocalípticos (ver 16:13, 14) une-os em seu castigo divino: o lago de fogo ardente (Apoc. 19:20; 20:10). Mas dentro de sua união e oposição à a Santa Trindade, cada sócio permanece distinto dos outros, cada um desempenhando um papel específico. No Apocalipse, a "terra" se caracteriza em forma específica como o lugar das abominações de Babilônia (Apoc. 17:5). Da "terra" devem ser redimidos os 144.000 (14:3; cf. Heb. 11:13). Depois de tudo, a terra como a criação caída, foi colocada sob a maldição de Deus (Gên. 3:17). Entretanto, a designação de que a besta de dois chifres "subia da terra" (Apoc. 13:11) chegou a ser uma ocasião para várias interpretações especulativas. Alguns expositores não vêem um significado particular nesta frase senão a forma de João de distinguir as duas bestas do começo (I. Beckwith e A. Johnson). Estes autores assinalam ao fato de que inclusive em Daniel 7 se diz que as bestas saem não somente do mar mas também "da terra" (Dan. 7:3, 17). Uns poucos tomam "a terra" como símbolo da inspiração satânica, "de baixo", do inferno (por exemplo, J. A. Seiss e W. Hendricksen). Outros tomam "a terra" em um sentido geográfico restringido, por exemplo: (1) Palestina (J. M. Ford); (2) Ásia Menor (R. H. Charles, H. B. Swete; Jerome Bible Commentary [Comentário Bíblico Jerônimo]; ou (3) os Estados Unidos da América (os adventistas guardadores do sábado desde 1851).35 Mas tais restrições geográficas são conjeturas. Admite-se que até a inferência geral de que "a terra" em Apocalipse 13:11 se refere a "uma região de escassa população" em contraste com a multidão de povos ("o mar") não é mais que "uma razoável" consideração.36 Entretanto, o contexto imediato de Apocalipse 13 usa o termo "terra" em um sentido mundial, para todos os adoradores do anticristo (Apoc. 13:3, 8), e coloca a "terra" em contraste com "os que moram" ou "o tabernáculo" no céu (v. 6). Este contraste religioso também se apresenta em Apocalipse 12: "Pelo que alegrai-vos, ó céus, e vós que neles habitais. Ai dos que habitam na terra e no mar! Porque o diabo desceu a vós" (v. 12). Aqui se coloca a terra como o complemento do mar, sem nenhuma restrição geográfica (veja-se também Apoc. 10:2). Tanto a "terra" como o "mar" têm um alcance mundial. A descrição de que "a terra ajudou à mulher pois a terra abriu sua boca e engoliu o rio que o dragão tinha jogado de sua boca" (Apoc. 12:16) é interessante. Aqui se pode fazer uma aplicação histórica às regiões de refúgio seguras nas montanhas meridionais da Europa, onde os valdenses sobreviveram às perseguições medievais de Roma. Por extensão, pode-se incluir a América do Norte como o santuário maior para os refugiados de uma Europa intolerante. Portanto, é compreensível que os adventistas norte-americanos desde 1851 vissem esta parte da América que parecia pacífica como o cumprimento da besta com os chifres "semelhantes aos de um cordeiro" de Apocalipse 13. Inclusive interpretaram seus dois chifres como indicando o poder republicano civil e o poder eclesiástico protestante, quer dizer, uma democracia e liberdade religiosa.37 Esta interpretação foi a expressão de sua opinião de que a democracia contemporânea da América do Norte e seu caráter protestante encaixava na primeira fase da perspectiva apocalíptica de Apocalipse 13:11-17. Esta aplicação inovadora de aplicar aos Estados Unidos o símbolo da besta de dois chifres teve conseqüências transcendentais para a compreensão adventista sobre "a marca da besta" e seu prognóstico da leis dominicais universais. Se avaliarmos todos estes esforços para fazer que Apocalipse 13:11 fosse relevante para a igreja universal, necessitamos acima de tudo compreender que o ponto crucial de Apocalipse 13:11-17 está claramente não em que região da terra se levanta a segunda besta (ou "o falso profeta"), já que o texto só declara que a besta "subia da terra", só em que momento se levantará e como se relaciona com a primeira besta (o anticristo), e por que características pode ser reconhecido no tempo do fim. Como a atividade do falso profeta é enganar a "os moradores da terra" (Apoc. 13:14), o que evidentemente é algo universal, coincidimos com a opinião do W. G. Johnsson: "Uma lei dominical aplicável só aos Estados Unidos é claramente inadequada... Reconheçamos francamente que até nos aguarda a compreensão plena do cumprimento desta

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profecia da besta que sobe da terra... Entretanto, ainda não são claras as características significativas dos enganos da segunda besta, especialmente os milagres que farão que muitos se desencaminhem, e a 'imagem' à besta que sobe do mar. Além disso, a visão indica um cenário de ação que abrange todo mundo... E à presente, não é manifesto como a multidão inteira da humanidade será atraída ao torvelinho do engano".38 Precisamos nos dar conta de que só a história proporciona a interpretação final da profecia. Os cumprimentos da profecia bíblica geralmente se realizaram em formas surpreendentes e insuspeitadas. A Besta da Terra como Apologista do Anticristo "E vi subir da terra outra besta, e tinha dois chifres semelhantes aos de um cordeiro; e falava como o dragão. E exerce todo o poder da primeira besta na sua presença e faz que a terra e os que nela habitam adorem a primeira besta, cuja chaga mortal fora curada. E faz grandes sinais, de maneira que até fogo faz descer do céu à terra, à vista dos homens. E engana os que habitam na terra com sinais que lhe foi permitido que fizesse em presença da besta, dizendo aos que habitam na terra que fizessem uma imagem à besta que recebera a ferida de espada e viveu" (Apoc. 13:11-14). Esta descrição também mostra uma progressão na história. No tempo do fim a apostasia irá de mal a pior, como já o indicou Paulo: "Mas os homens meus e enganadores irão de mal a pior, enganando e sendo enganados" (2 Tim. 3:13). O desenvolvimento das duas bestas de Apocalipse 13 significa que a ameaça do engano se incrementará dramaticamente, não somente para os que não são cristãos, mas sim de uma maneira especial para os crentes cristãos e para as igrejas cristãs em todas as partes do mundo. A besta da terra aparecia com "dois chifres semelhantes aos de um cordeiro, mas falava como o dragão". Este contraste acentua seu caráter sedutor. O "cordeiro" é o símbolo por excelência no Apocalipse. Vinte e oito vezes representa a Cristo como o Cordeiro de Deus, e faz dele o símbolo principal e o princípio coordenador de todo o livro. A aparência como cordeiro da besta da terra indica a natureza da última fraude na prova final de fé. A besta da terra deseja ser tomada como semelhante a Cristo, mas suas palavras revelam as mentiras, as heresias, e os planos assassinos do dragão e da besta anticristo. Pode-se detectar na forma que esta besta "fala como o dragão" (ou serpente no Apoc. 12:9), uma referência "ao caráter sedutor e fraudulento da serpente no jardim do Éden"39 assim como uma referência ao dragão como um destruidor. Tal contraste de aparência e a natureza essencial já foi o tema da advertência anterior de Jesus: "Acautelai-vos, porém, dos falsos profetas, que vêm até vós vestidos como ovelhas, mas interiormente são lobos devoradores" (Mat. 7:15). Cristo brindou esta notícia adiantada a todas as gerações futuras: "Porque surgirão falsos cristos e falsos profetas operando grandes sinais e prodígios para enganar, se possível, os próprios eleitos" (24:24). Esta advertência antecipada de Jesus que apresenta Mateus 24, está elaborada em Apocalipse 13. A besta da terra realizará "grandes sinais" (Apoc. 13:13) e é caracterizada como "o falso profeta" (16:13; 19:20; 20:10). Dessa maneira o Apocalipse revela que a era cristã desenvolverá dois personagens anticristo, que atuarão em uma união íntima. Apocalipse 13 descreve uma trama do tempo do fim com um Cristo falso e com um falso profeta diferente, cada um com um próprio papel para desempenhar, com o fim de alcançar um alvo comum: unir o mundo inteiro em rebelião contra Deus (ver Apoc. 16:13, 14). O falso profeta de Apocalipse 13:11-17 afirma ser o último porta-voz de Deus. Aparece no panorama da história só depois que a besta da terra dominou por 42 meses e recebeu sua ferida mortal (Apoc. 13:12). Esta sincronização na história do falso profeta é de importância histórica para a igreja. Sua atividade significa o começo do ato final no drama dos séculos que conduz ao último enfrentamento entre Cristo e o anticristo: "o Armagedom". O Espírito de Deus se manifestou em sinais milagrosos depois que Cristo completou sua missão, com o propósito de glorificar mais a Cristo (João 16:13, 14; Heb. 2:3, 4). Seu contraparte aparece no falso profeta, inspirado pelo espírito de demônios para levar a cabo "sinais" (Apoc. 19:20). Seu propósito é seduzir o mundo e induzir todas as nações a adorar ao anticristo, "a besta cuja ferida mortal foi curada" (Apoc. 13:12-14). Para realizar isto, o falso

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profeta "mandará" aos moradores da terra "que façam uma imagem à besta, àquela que, ferida à espada, sobreviveu" (Apoc. 13:14). Muitos intérpretes reconheceram neste quadro de Apocalipse 13 uma correspondência essencial com a história dos três jovens hebreus em Daniel 3. Assim como nos dias de Daniel o levantamento de uma estátua literal em honra do rei de Babilônia foi seguida imediatamente por um decreto legislativo para adorar a imagem (Dan. 3), assim também se repetirá este procedimento em uma escala universal no tempo do fim: "E lhe foi dado comunicar fôlego à imagem da besta, para que não só a imagem falasse, como ainda fizesse morrer quantos não adorassem a imagem da besta" (Apoc. 13:15). É importante reconhecer a tipologia essencial entre Daniel 3 e Apocalipse 13! Com este paralelismo histórico referido a Daniel 3, Apocalipse 13 revela a formação básica do conflito final na era da igreja (ver Apoc. 13:16, 17). As duas facções voltarão a estar determinadas por rituais de adoração que contrastam, ou pela fé dos seguidores de Cristo ou pelo culto estatal idólatra do anticristo. Ambos os grupos religiosos empregarão "fogo" do céu para convencer ao mundo de suas afirmações. O "fogo do céu" anticristão (Apoc. 13:13) evidentemente funciona como "a contraparte satânica dos sinais realizados pelas duas testemunhas".40 Um erudito evangélico faz este comentário perspicaz: "A besta da terra é a antítese dos dois profetas de Cristo simbolizados pelas duas testemunhas no capítulo 11".41 Se o sinal do "fogo" das duas testemunhas de Deus se refere a seus dons do Espírito Santo (ver At. 2:3, 4; Heb. 2:4), então o uso do "fogo" pelo falso profeta "seria uma referência aos dons pseudocarismáticos que criam uma comunidade eclesiástica falsa que rende lealdade ao anticristo".42 Pelos sinais sobrenaturais do falso profeta podemos inferir que enfrentará as verdadeiras testemunhas de Cristo. Esta confrontação vindoura deve despertar nossa consciência ao feito de que muito do que se expõe como cristianismo verdadeiro, no fundo é falso. Paul Minear fez soar corretamente o alarme: "Chama-se os leitores a que discirnam o critério que os capacitará para que separem a besta corderiforme (Apoc. 13:11) do próprio Cordeiro (14:1)".43 Para ser "vencedores" como se requer em cada carta de Cristo às igrejas, os crentes devem ser testemunhas fiéis e verdadeiras, e estar dispostos a entregar suas vidas para sustentar e preservar "o testemunho de Jesus", até ante os tribunais do anticristo (ver Apoc. 11:7; 12:11; 20:4). Enquanto todo o mundo adorar com uma devoção máxima à besta aparentemente invencível (Apoc. 13:4), o Apocalipse de João assegura à igreja: "O Cordeiro os vencerá, porque é o Senhor dos senhores e o Rei dos reis; vencerão os que estão com ele, chamados, eleitos e fiéis" (Apoc. 17:14). O título cristológico neste versículo, "Senhor de senhores e Rei de reis", aplica o próprio título de Deus no Antigo Testamento (Deut. 10:17; Sal. 136:2, 3; Dan. 2:37, 47; 4:37 na versão grega) a Cristo em sua segunda vinda (ver também Apoc. 19:16). A Função da Marca da Besta Os que recebam a marca (em gr., járagma) são os "habitantes da terra" (os que moram na terra), que em forma consistente são descritos como os seguidores da besta anticristo e como os que se regozijam na morte das duas testemunhas (Apoc. 6:10; 11:10; 13:8, 12, 14; 17:2, 8). A fórmula apocalíptica ("os que moram na terra") não descreve o mundo em um sentido neutro, mas sim designa os que seguem o anticristo. Estes moradores da terra não estão localizados em uma região ou em um continente da terra. Representam a hostilidade universal da terra contra Deus. Está incluída toda classe de pessoas: "A todos, os pequenos e os grandes, os ricos e os pobres, os livres e os escravos, faz que lhes seja dada certa marca sobre a mão direita ou sobre a fronte" (Apoc, 13:16). Este estilo de grupos sociais que estão em contraste assinala à universalidade (também no Apoc. 6:15; 19:18). João adverte a seus leitores que os eventos finais não serão de um alcance provincial ou nacional, mas sim de proporção universal. A jurisdição das bestas é segundo parece toda a população do mundo. O papel que desempenha a marca da besta está em notório contraste com o que desempenha

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o selo de Deus. O papel básico de ambos é simbolizar um compromisso religioso: a Cristo ou ao anticristo. Tanto o selo como a marca contêm os motivos intrínsecos de pertinência e proteção (Ezeq. 9:4; Apoc. 7:2, 3; 9:4; 13:16, 17; 1 Ped. 2:9; Mau. 3:17, 18).44 A marca é a paródia demoníaca do selo de Deus. Em um nível mais profundo, ambos os sinais representam o caráter que corresponde com a mente de Cristo ou a do anticristo. Ambos os símbolos representam os nomes ou a reputação de quem o leva (ver Apoc. 14:1; 22:4; 13:17; 17:5). Dessa forma João pensou em um contraste de mentalidades e lealdades, uma percepção ignorada com freqüência nos comentários. Ambos são sinais religiosos de lealdade, o que se indica pelo lugar onde se coloca: "na fronte" (o lugar de assentimento e convicção mental) ou "na mão" (o lugar da conformidade externa). O "selo" sobre a fronte dos fiéis é um sinal religioso de lealdade, porque João o explica como o nome do Cordeiro e o do Pai escritos em suas frontes (Apoc. 14:1). Claramente, refletem o caráter de Deus e de seu Filho (ver João 15:10). Em comparação, podemos entender a "marca" da besta como um sinal religioso que representa a mente e o caráter do anticristo rebelde. A marca representa "o nome da besta ou o número de seu nome" (Apoc. 13:17), o que simboliza o caráter jactancioso e o espírito autônomo do anticristo. O ponto crucial de Apocalipse 13 é que cada pessoa está obrigada a prometer sua lealdade e a revelar seu caráter de uma maneira ou de outra sem a possibilidade de permanecer neutro. Todos devem decidir-se e identificar-se ou com a verdade de Deus em Cristo ou com o credo do anticristo. Entretanto, o significado completo da marca da besta chega a ser evidente só em Apocalipse 14. João enfatiza que assim como o Cordeiro é a encarnação de Deus que se fez homem, assim a besta é a encarnação do dragão-serpente na humanidade. Este é o antecedente espiritual da confrontação final entre o céu e a terra em Apocalipse 13. Quando Apocalipse 13 se entende dentro de seu contexto inalienável dos capítulos 12 aos 14, notamos que "os mandamentos de Deus e o testemunho de Jesus Cristo" são a norma explícita de lealdade ao céu (Apoc. 12:17; 14:12), o que envolve que a lei do pacto de Deus, o Decálogo, será interiorizado nos corações dos santos por meio do Espírito de Deus. Transformados pelo evangelho de Cristo, seus caracteres refletirão a Cristo e estarão em harmonia com a vontade de Deus. Os santos de Deus são os seguidores do Cordeiro (Apoc. 14:1-5). A marca da besta está em flagrante oposição tanto aos mandamentos de Deus como ao testemunho de Jesus na Escritura Sagrada, o que implica que os seguidores da besta obedecem uma lei moral falsificada e seguem a um pseudomessias. Refletirão o fanatismo intolerante do anticristo. A linha de demarcação não é meramente um acatamento externo a uma lei moral ou civil, mas sim a união do coração e da mente com Cristo ou com o anticristo. Enquanto que os verdadeiros seguidores de Cristo estão dispostos a dar suas vidas por causa do testemunho de Jesus como a Palavra final de Deus, os seguidores do anticristo imporão um boicote aos crentes na Bíblia que não aceitem a marca da besta "e que nenhum pudesse comprar nem vender, a não ser o que tivesse a marca ou o nome da besta, ou o número de seu nome" (Apoc. 13:17). Os santos terão seus direitos civis negados e chegarão a estar sujeitos a ser processados e sentenciados pela lei (v. 15). Entretanto, os santos encontrarão consolo na oferta de Cristo de "comprar" dele "ouro refinado no fogo", "vestes brancas" e "colírio para que vejam" (v. 18), oferecimento que nunca pode ser bloqueado pela legislação humana ou pelo boicoto social. Interpretando o Número 666 "Aqui há sabedoria. Aquele que tem entendimento calcule o número da besta, porque é número de homem; e o seu número é seiscentos e sessenta e seis" (Apoc. 13:18). A grande variedade de esforços para decifrar o número misterioso 666 pode dividir-se em duas categorias principais. Um grupo utiliza o método da gematria, que atribui um valor numérico a cada letra em uma linguagem selecionada, somando dessa maneira as letras de uma palavra. A frase Nero Caesar foi aceito amplamente como o significado de 666, aplicação histórica que, em todo caso, encaixaria só no tempo do apóstolo Paulo. Não obstante, as possibilidades do método de gematria são quase ilimitadas enquanto que frases como Italika Ecclesia (Igreja italiana), Hei Letana Basileia (O reino latino) ou Vicarius Filii Dei encaixam no número 666,

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também acontece o mesmo com as palavras para Lutero (Loutherana Saxoneios), Maomé (Maometis), Napoleão (Nabonaparti) ou Hitler. Um erudito reparou no seguinte: "Olhando para trás, foi possível... identificar o número 666 com os nomes da maioria dos tiranos que no curso da história perseguiram a igreja".45 Irineu, um pai da igreja primitiva (morreu por volta de 202), já tinha advertido que só o cumprimento da profecia daria segurança, porque "podem encontrar-se muitos nomes que possuem o mencionado número".46 Os que aceitam o papado ou a hierarquia católica romana como o cumprimento histórico de Apocalipse 13, vêem no número 666 uma confirmação de sua interpretação da besta e do número de seu nome: "Vicarius Filii Dei", que é a pretensão a ser o vigário de Cristo. Pelo fato de que João nunca usa no Apocalipse a gematria como método, a maioria dos eruditos bíblicos preferem a interpretação simbólica do número 666, assim como João usa o número 144.000 e em 1.600 em Apocalipse 14. Em geral acredita-se que João deu a certas cifras um caráter simbólico, que era algo familiar na forma de pensar hebraica. Assim como o número 4 representa ou simboliza a universalidade ou totalidade, o 7 o descanso e a perfeição, e o 12 o povo do pacto de Deus ou a igreja, assim também o 6 pôde haver-se percebido como um símbolo para o homem sem Deus e sem o descanso que Deus lhe dá. O número 6 aponta ao dia da criação do homem (Gên. 1:27, 31). O rei de Babilônia fez uma estátua de ouro que media 60 côvados de altura e 6 de largura (Dan. 3:1) para que a adorassem quando desse a ordem. Deste ponto de vista, o número 666 sugeriria o esforço do anticristo de exaltar o homem no lugar de Deus e de Cristo. João declara em forma específica que o número 666 "é número de homem" (Apoc. 13:18). Ao ser multiplicado o número 6, dá a entender uma repetição dos esforços da besta para "fazer-se passar por Deus",47 e contudo falhar persistentemente. A informação de que os santos alcançaram a vitória "sobre a besta e sua imagem, e sua marca e o número de seu nome" (Apoc. 15:2) é valiosa. A vitória sobre o número 666 não indica uma vitória em ingenuidade matemática mas sim a vitória sobre o nome ou o caráter de autoendeusamento da besta. A besta leva muitos "nomes de blasfêmia" (Apoc. 13:1; 17:3). Isto quer dizer que à besta "são adjudicados nomes e títulos honoríficos que só correspondem a Deus ou a Cristo".48 Isto requer a sabedoria do discernimento divino mais que uma perspicácia intelectual; exige conhecimento bíblico espiritual mais que filosofia humana. João assinala a seu significado profundo quando declara: "Aqui é preciso discernimento! Que o inteligente..." (Apoc. 13:18, BJ). A respeito, diz Alan Johnson: "Os crentes precisam penetrar o engano da besta. A referência de João a este número os ajudará a reconhecer seu verdadeiro caráter e identidade".49 Atualmente, os eruditos bíblicos adventistas preferem esta interpretação. Beatrice S. Neall explica que o número de homem, o 6, é legítimo só quando leva a 7, à glória e soberania de Deus: "Entretanto, seiscentos e sessenta e seis representa a negativa do homem de proceder rumo ao sete, de dar glória a Deus como Criador e Redentor. Representa a fixação do homem consigo mesmo, o homem procurando a glória em si mesmo e em seus próprios poderes criadores sem Deus: a prática de prescindir de Deus. Demonstra que o homem impenitente é mau em forma persistente. A besta de Apocalipse 13 representa o homem exercendo sua soberania à parte de Deus, o homem conformado à imagem da besta em lugar da imagem de Deus. O homem à parte de Deus chega a ser bestial, demoníaco".50 William G. Johnsson declara igualmente que 666 "aponta à paródia da perfeição: imperfeição sobre imperfeição, apesar das monstruosas pretensões da besta".51 Roy C. Naden oferece uma interpretação completamente evangélica: "Ser identificado com o 6 é experimentar luta sem o descanso do Cordeiro. A besta e sua imagem têm o número que identifica a luta incessante modelada por sua líder que é Satanás. Assim o 6 é o símbolo numérico da inquietação do perdido. Sem o Cordeiro, nunca podem encontrar descanso".52

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Precisamos dar-nos conta de que Apocalipse 13:11-17 descreve simbolicamente o engano final do mundo no futuro. A formação da "imagem" da besta ainda é uma realização incompleta. Também, a marca da besta ainda não foi imposta à humanidade. Dar-nos conta disto deve impedir que qualquer intérprete seja dogmático quanto ao futuro cumprimento de Apocalipse 13:11-17. Referências 1 D. Ford, Crisis! A Commentary on the Book of Revelation, t. 2, p. 582. 2 Johnsson, "The Saints' End-Time Victory Over the Forces of Evil", Simpósio sobre o Apocalipse, t. 2, p. 21. 3 Como por exemplo, Beale, The Use of Daniel in Jewish Apocalyptic Literature and in the Revelation of St. John, p. 247. 4 Ellul, The Subversion of Christianity, cap. 2. 5 Lecky, History of the Rise and Influence of the Spirit of Rationalism in Europe, t. 2, p. 45. Também está no SDA Bible Students' Source Book (O livro fonte adventista do sétimo dia dos estudantes da Bíblia], p. 740. 6 Thomas e Gertrude Sartory, In der Hölle Brennt Kein Feuer [Nenhum fogo queima no inferno] (Munich, 1968), pp. 88, 89. Citado por H. Küng, Eternal Life? [Vida eterna?] (Garden City, Nova York, 1984), p. 132. 7 Publicado em Hamburgo pela Editora Rowohlt Reinbeck, 5 ts. (até o século X), 1986-1997. 8 Shea, "Time Prophecies of Daniel 12 and Revelation 12-13", Simpósio sobre o Apocalipse, t. 1, pp. 353-359; as duas entrevistas pertencem às pp. 358, 359. 9 A. F. Johnson, Revelation, p. 129. 10 Guinness, Romanism and the Reformation, p. 234. 11 Froom, The Prophetic Faith of Our Fathers, t. 2, p. 731. 12 Ver a documentação em Aulard, Christianity and the French Revolution, p. 151. 13 Ver a documentação em Froom, The Prophetic Faith of Our Fathers, t. 2, p. 756. 14 Ibid., p. 750. 15 Maxwell, "The Mark of the Beast", Simpósio sobre o Apocalipse, t. 2, p. 125. 16 Ver Froom, The Prophetic Faith of Our Fathers, t. 2, pp. 741-748. 17 Von Ranke, Historia de los papas en la época moderna. Trad. Eugenio Imaz (México: Fondo de Cultura Económica, 1943), p. 724. 18 J. F. Broderick, "Papacy" [O papado], New Catholic Encyclopedia [A Nova Enciclopédia Católica] (Washington, D-C-: Catholic University of America; 17 ts.), t. 10 (1967), p. 965. 19 A. LaTreille, "A Revolução Francesa", New Catholic Encyclopedia, t. 6, p. 191. 20 Ver Froom, The Prophetic Faith of Our Fathers, t. 2, p. 763. 21 Ibid., p. 750. 22 Broderick, "O papado", New Catholic Encyclopedia, t. 10, p. 966. 23 The New Encyclopedia Britannica [Nova Enciclopédia Britânica] (Chicago: University of Chicago Press, 1992, 15a ed.), T. 26, p. 892. 24 Ibid. 25 7 CBA 832. 26 McCready Price, El tiempo del fin, p. 43. 27 Ibid., p. 41 (o itálico é meu). 28 Ibid. 29 Ibid., p. 43. 30 Ibid, p. 42. 31 Ibid., p. 69. 32 Ibid., p. 44. 33 Ellen White, GC 579, 581. 34 Were, The Woman and the Beast in the Book of Revelation, p. 59. 35 Ver Froom, The Prophetic Faith of Our Fathers, t. 4, p. 1118. 36 CBA 834. 37 Ver Froom, The Prophetic Faith of Our Fathers, t. 4, p. 1118. 38 Johnsson, "The Saints' End-Time Victory Over the Forces of Evil", Simpósio sobre o Apocalipse, t. 2, p. 29. 39 Charles, The Revelation of St. John, t. 1, p. 358. 40 Johnsson, "The Saints' End-Time Victory Over the Forces of Evil", Simpósio sobre o Apocalipse, t. 2, p. 28.

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41 A. F. Johnson, Revelation, p. 133. 42 Ibid., p. 134. 43 Minear, I Saw a New Earth, p. 119. 44 Ver Fitzer, "Sfragís", Theological Dictionary of the New Testament [Dicionário teológico do Novo Testamento] (Grand Rapids, MI: Wm. B. Eerdmans, 1964-1976; Gerhard Kittel, ed.; 10 ts.; trad. do alemão por G. W. Bromiley), T. 7, pp. 939-953. 45 J. J. von Allmen, em Brady, The Contribution of British Writers between 1560 and 1830 to the Interpretation of Revelation 13:16-18, p. 301. 46 Irineu, Contra hereges, livro V, cap. 30, parágrafo 3. 47 Ellul, The Subversion of Christianity, p. 98. 48 H. Bietenhard, "Nome", Diccionario teológico del Nuevo Testamento (L. Coenen, ed.), t. III, p. 175. 49 Alan Johnson, "Revelation" [Apocalipse], The Expositor's Bible Commentary [O Comentário Bíblico do Expositor] (F. Gabelein, ed. Grand Rapids, MI: Zondervan, 1981; 12 ts.), T. 12, p. 534. 50 Neall, The Concept of Character in the Apocalypse with Implications for Character Education, p. 154. . 51 Johnsson, "The Saints' End-Time Victory Over the Forces of Evil", Simpósio sobre o Apocalipse, t. 2, p. 31; ver também Strand, ibid., p. 222. 52 Naden, The Lamb Among the Beasts. Finding Jesus in the Book of Revelation, p. 200.

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XXIII - IDENTIFICANDO O ANTICRISTO A interpretação popular da escola preterista identifica a besta do mar como o Império Romano. As "sete cabeças" da besta se aplicam a sete imperadores sucessivos (dos onze) que houve durante o primeiro século da era cristã. Esta opinião depende fortemente de uma interpretação particular das sete cabeças da besta escarlate de Apocalipse 17. Desta besta determinada disse o anjo interpretador: "Aqui está o sentido, que tem sabedoria: as sete cabeças são sete montes, nos quais a mulher está sentada. São também sete reis, dos quais caíram cinco, um existe, e o outro ainda não chegou..." (Apoc. 17:9, 10). Kenneth A. Strand examinou recentemente a evidência para esta aplicação preterista de Apocalipse 13 e 17 a Roma pagã.1 O método que Strand usa é o contextual, pelo qual refuta eficazmente a identificação da besta que sobe do mar com Roma imperial. Primeiro relaciona Apocalipse 13 com seu contexto literário, quer dizer, com a estrutura maior de Apocalipse 12. Esta esfera maior contém uma seqüência histórica de três passos: "O dragão primeiro se opõe ao menino-homem (Cristo), depois à mulher, e finalmente ao resto da descendência dela".2 A conexão dos períodos de tempo específicos em Apocalipse 12 (vs. 6, 14) e no capítulo 13 (v. 5) indicam que a besta de Apocalipse 13 persegue os santos durante a segunda fase de Apocalipse 12, quer dizer, durante a era pós-apostólica. Os pais da igreja Irineu, Tertuliano e Jerônimo esperavam o surgimento do anticristo só depois do desmoronamento de Roma pagã. Nem sequer mencionam a Nero como cumprindo alguma profecia no Apocalipse! Strand também avalia a asseveração que diz que as sete cabeças da besta representam as sete colinas de Roma. Assinala que a tradução apropriada de óros não é "colinas" e sim "montes", assim como em qualquer outro lugar do Apocalipse (ver Apoc. 6:14-16; 14:1; 16:20; 21:10). Como símbolo, "um monte" nunca representa um soberano particular, mas sim a uma nação ou um império (veja-se Dan. 2:34, 35, 44, 45; Jer. 51:25). O segundo termo em Apocalipse 17:9 e 10: "reis", representa igualmente reino ou impérios (ver Dan. 2:38-40). Tanto Daniel como o Apocalipse não fazem uma separação abstrata entre reino e seus reis. Strand explica que as sete cabeças da besta se diz que são impérios mundiais sucessivos, sendo os executores do plano de Satanás em todas os séculos. As cabeças não são sete colinas neutras e estáticas. Por conseguinte, conclui assim: "A referência nesse texto [Apoc. 17:9] a "sete montes" alertou imediatamente aos paroquianos asiáticos de João ao fato de que o símbolo representava uma série de impérios mundiais sucessivos".3 Mas as "sete colinas" de cidade de Roma, é obvio, não são cronologicamente sucessivas. Entretanto, o Império Romano foi claramente uma das sete cabeças da besta. Os dez chifres com diademas da besta indicam que essa cabeça particular representa um poder mundial que sucederia Roma pagã e que reinaria simultaneamente sobre dez reinos. A aplicação preterista da "ferida mortal" da besta a Nero e seu ressurgimento aplicado a Domiciano (o tradicional mito de "Nero revividus" [Nero revivido]) foi examinado e refutado totalmente por Paul S. Minear e também por K. A. Strand.4 Portanto, concluímos que até as perseguições dos cristãos por Roma pagã não foram as do anticristo em Apocalipse 13. Até mais decisivo é o fato de que Apocalipse 16:13-16 indica que a besta-anticristo desempenhará um papel principal nos acontecimentos finais que preparam o terreno para os juízos das sete últimas pragas e o Armagedom. Por conseguinte, não pode restringir a besta à antiga Roma e a seu culto imperial. Este conhecimento levou a alguns expositores católicos e futuristas a projetar um Império Romano pagão revivido no futuro.5 George E. Ladd representa aos que combinam as aplicações preterista e futurista e portanto aceita um amplo espaço de muitos séculos de história da igreja.6 Ladd considera Roma pagã como o precursor histórico do anticristo. Mas este futurismo moderado ignora o estilo apocalíptico de um contínuo-histórico nos livros de Daniel e Apocalipse e mantém a era cristã em grande parte fora do foco da profecia.

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O Enfoque Historicista O problema da interpretação do Apocalipse é basicamente o problema da aplicação à história da igreja. Um erudito bíblico batista assinala que "o legado do tempo é a parte mais difícil do livro. A que tempo se referem os símbolos? E é obvio aqui é onde ocorre a batalha. Refere-se o símbolo ao passado? Refere-se ao presente? Refere-se ao futuro, e se for assim, quando?"7 Com respeito à data escolhida, precisamos recordar que o Apocalipse de João está edificado sobre o fundamento já estabelecido no livro de Daniel. Em concreto, Apocalipse 13 é a ampliação de Daniel 7, como o confirmam vários vínculos únicos entre os dois capítulos. Um erudito evangélico demonstrou inclusive o mesmo modelo estrutural em ambos os capítulos e concluiu que "Apocalipse 13 foi modelado fundamentalmente segundo Daniel 7... Apocalipse 13 está inspirado em Daniel 7".8 Os expositores preteristas não reconhecem este ponto essencial. O Império Romano não esgota o profundo simbolismo e o conflito universal de Apocalipse 13. Por outro lado, os expositores futuristas ou dispensacionalistas ignoram completamente a relevância do Apocalipse para a igreja de todos os tempos, porque aplicam Apocalipse 13 exclusivamente a um futuro governo mundial e à cabeça de uma futura igreja apóstata. Se Daniel apresentar a perspectiva de uma seqüência histórica, então o enfoque mais apropriado é o cumprimento contínuo-histórico, que a escola historicista de interpretação procurou seguir. Prova para Definir a Verdade e a Heresia A igreja entendeu a heresia como uma contradição e separação fundamental da fé. Caracterizou-se como uma obra do diabo, que se devia exterminar por todos os meios possíveis. Segundo Tomás de Aquino, sua exterminação era um dever sagrado.9 Os papas a partir de Leão I (440-461) em diante justificaram a pena capital para a heresia e alguns insistiram em promulgar decretos imperiais para anular os direitos civis dos hereges, até que o concílio do Toulouse (1229) introduziu o castigo de queimar vivos aos bogomilos ou albigenses na França. As leis canônicas da Igreja Católica Romana ressaltam o dever dos governantes seculares para erradicar a heresia e para obedecer as leis da igreja, sob a ameaça de excomunhão. Por conseguinte, os governantes viram como seu dever cumprir os requerimentos da Igreja, especialmente do século XIII até o XVII. Uma cifra incontável de crentes cristãos dissidentes foram massacrados como proscritos pela Inquisição papal em vários países da Europa, tais como os albigenses, os valdenses e os huguenotes. Foi especialmente horrível a matança no dia de São Bartolomeu em 24 de agosto de 1572 em Paris e em outras cidades da França, quando perto de 70.000 protestantes foram assassinados sanguinariamente em um lapso de dois meses, com a aprovação do papa Gregório XIII. Todos eles sacrificaram suas vidas "pela palavra de Deus e pelo testemunho de Jesus Cristo".10 Vozes tanto de fora como de dentro da Igreja Católica começaram a acusar o papado mundano de comportar-se de uma maneira semelhante ao anticristo predito (dos arcebispos Arnoldo de Orleans no ano 991, e Eberhard II do Salzburgo no ano 1241; também Dante, o Petrarca, Savonarola, Wycliffe).11 Entretanto, não senão até os dias do Lutero e Calvino que a convicção de que a hierarquia romana era o anticristo ou Babilônia alcançou proporções maciças e se expressou em várias confissões dos credos das igrejas protestantes.12 Tanto Lutero como Calvino descobriram primeiro a Cristo e seu evangelho de graça imerecida. Só então, depois que se defrontaram com o autoritarismo dos papas que negaram sua liberdade para pregar o evangelho e condenaram a essência de sua mensagem evangélica, é que reconheceram que o Papa era o anticristo. Calvino explicou isto detalhadamente em seu livro Institución de la religión cristiana. Em 1543 declarou o seguinte: "Será vigário de Cristo o que, perseguindo com seus furiosos esforços ao evangelho, claramente se dá a conhecer como o anticristo?... Consta que o pontífice romano se apropriou desavergonhadamente do que é próprio e exclusivo de Deus e de Cristo".13

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Para ambos os reformadores o anticristo não era um personagem distante do passado ou um indivíduo no futuro remoto, mas sim uma diabólica imitação de Cristo em seus próprios dias. Declararam que a apostasia religiosa e eclesiástica contemporânea era o cumprimento das profecias bíblicas, especialmente da profecia de Daniel 11:36-39 e 2 Tessalonicenses 2:4. Para eles o ponto essencial era que o anticristo era uma realidade presente. Isto criou para os protestantes uma ameaça existencial como se enfrentassem a prova última da fé. G. C. Berkouwer reconheceu "que a concepção intuitiva dos reformadores de um anticristo real e ativa é uma ênfase do Novo Testamento"!14 João identificou os "muitos anticristos" em seu tempo por sua separação essencial tanto doutrinal como moralmente do evangelho apostólico original (ver 1 João 2:18, 19, 22; 4:2, 3). A norma específica de João foi o ensino apostólico a respeito de Jesus como o Messias e sua morte expiatória, cristologia que formou a pedra angular do evangelho apostólico de salvação (ver também Rom. 1:1-14; At. 17:2, 3). João enfatizou a diferença entre a fé apostólica que era "desde o começo" e os enganos dos inovadores que alegavam ter um conhecimento maior de Deus e de Cristo (1 João 2:22; 4:2, 3; 2 João 7). A preocupação exclusiva das cartas pastorais de João foi a crise contemporânea da igreja em sua região. Não vacilou em chamar a qualquer que ensinasse um evangelho diferente "falsos profetas" e "anticristos". Apelou aos membros de igreja e lhes disse: "Provem os espíritos se procedem de Deus" (1 João 4:1). Esta chamada é a responsabilidade de cada membro de igreja, o que supõe não só um conhecimento básico do evangelho apostólico mas também a unção do Espírito. João assegurou a seus membros e lhes escreveu: "Mas vós tendes a unção do Santo, e conheceis todas as coisas" (1 João 2:20; ver também o v. 27). Da aplicação que João fez do anticristo predito, recebemos uma nova apreciação pelos esforços dos reformadores protestantes para identificar o anticristo da profecia em seus dias. Os reformadores aplicaram o mesmo teste que João tinha usado em sua primeira epístola: a mensagem evangélica apostólica e original do Novo Testamento. Sobre esta base os reformadores tanto pastores como exegetas identificaram o papado medieval como o anticristo da profecia: por sua exaltação própria acima de todos outros na Igreja e no Estado, e por seu dogma de um caminho diferente de salvação (por um novo sacerdócio com sete sacramentos). A reação da Igreja Católica ao evangelho da Reforma protestante chegou a solidificar-se no concílio do Trento (1545-1563) e no Catecismo romano de 1566, publicado pelo papa Pio V.15 Os reformadores protestantes cumpriram com sua responsabilidade ao alertar os cristãos dos ensinos do falso evangelho de sua Igreja-Estado contemporâneo. Fizeram-no com a mesma seriedade como a que se evidencia nas epístolas de João. Seus credos extensos quanto a Cristo, o pecado, a salvação e a igreja apóstata, ainda convence a milhões de seres humanos de que a interpretação protestante é uma restauração do evangelho original. Surge então a premente pergunta: Está completa a reforma do século XVI, reforma da igreja e da doutrina, ou chegou a estancar-se em credos e tradições? O teólogo luterano Paulo Althaus propôs que cada geração de cristãos esteja alerta para identificar as atuais corrupções do evangelho e para confessar o senhorio de Cristo em cada polarização religiosa. As confrontações históricas do passado servem como tipos de ameaças reiterativas, assim como o Apocalipse de João viu a antiga Babilônia, Edom e Tiro como protótipos dos inimigos da era da igreja (ver Apoc. 18, que aplica as profecias da Isa. 13, 34 e Ezeq. 27). "A expectativa do anticristo tem uma atualidade imediata... A igreja sempre deve procurar o anticristo como uma realidade em sua situação presente ou considerá-lo como uma possibilidade ameaçadora no futuro imediato".16 Segundo Althaus, a identificação que Lutero fez do papado como o anticristo não foi um "engano" ou algo incorreto, porque o papado representava nesse tempo uma ameaça ao evangelho. As ordens protestantes de sola Scriptura, sola fide, sola gratia, solo Christo [só Escritura, só fé, só graça, só Cristo] funcionaram como gritos de guerra na luta entre a fé e a incredulidade no

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evangelho. Althaus não aprova que se dogmatize a identificação do anticristo em um credo, porque o reconhecimento do anticristo deve relacionar-se a um anticristo real no presente, não a um no passado ou no futuro. "O reconhecimento do anticristo sempre é mortalmente sério".17 Tem pouco valor reconhecer ao anticristo no passado ou no futuro, porque isso não requer um compromisso pessoal. Althaus adverte a igreja, a qualquer igreja protestante, que está em um perigo constante de chegar a ser ela o anticristo. Qualquer igreja que suplante a Cristo ou usurpe sua autoridade ou procure o poder mundano, "é toda anticristianismo, quer dizer, competição com Cristo, a vontade de suceder ou substituir a Cristo: oposição a Cristo na forma de similitude com ele, de 'tomar o lugar de Cristo' ".18 O conceito de Althaus de reconhecer a essência de um anticristo como um poder cristão que usurpa a autoridade de Cristo e substitui a Cristo e a seu evangelho sempre é válido. Reconhece que a identificação que Lutero fez do papado medieval como o anticristo esteve em harmonia com o método da primeira epístola de João: reconhecer o anticristo como um falso mestre do evangelho e como uma falsificação da comunidade cristã. Não obstante, o enfoque protestante também necessita uma prova contínua com a realidade histórica. Requer tanto a prova do evangelho como a prova da perspectiva do tempo do fim da Escritura. Só da perspectiva de um desenvolvimento contínuo-histórico pode localizar-se no curso da história o anticristo de Daniel, 2 Tessalonicenses e Apocalipse. Freqüentemente os teólogos e exegetas modernos ignoram este enfoque. Para eles, qualquer sistema totalitário ou ateu pode ser o anticristo. Mas enquanto que há muitos poderes anticristãos no mundo, há um só anticristo em Daniel 7 a 12, 2 Tessalonicenses 2 e Apocalipse 13. Fica como uma realidade que o anticristo medieval alterou e até se opõe à lei do pacto de Deus e ao evangelho apostólico de salvação: a Palavra de Deus e o testemunho de Jesus. Se hoje o anticristo é impedido de perseguir os santos, isto não muda a presença e a natureza do anticristo. A profecia indica repetidamente que o anticristo medieval e suas perseguições serão reavivadas na última geração em uma escala universal (em Dan. 11:40-45; 12:1; Apoc. 13:15-17). Essa supremacia recuperada será abreviada pela volta de Cristo (Dan. 12:1, 2; Mat. 24:22; 2 Tes. 2:8; Apoc. 17:12-14; 19:11-21). Apocalipse 13 "enfatiza a revivificação e o rejuvenescimento da besta".19 Isto deve pôr a cada igreja em estado de alerta, especialmente no tempo do fim. Apocalipse 12 a 14, em sua composição como uma unidade estreitamente enlaçada, requer séria atenção. Nesta parte central do Apocalipse nos encontramos face a face com a prova histórica do discipulado: fidelidade a Jesus Cristo e a seu testemunho. Por causa do testemunho de Jesus, Paulo foi decapitado em Roma e João foi banido à ilha de Patmos. Pelo testemunho de Jesus os mártires sacrificaram suas vidas (Apoc. 6:9; 20:4). A prova apontada por Deus se enfoca sobre as palavras de Cristo como se afirma no Novo Testamento, o que é de um significado primitivo à luz das tendências reiterativas de substituir o testemunho de Deus com os credos e fórmulas doutrinais das igrejas. Referências 1 Strand, "The Seven Heads: Dou They Represent Roman Emperors?", Simpósio sobre o Apocalipse. t. 2, cap. 5. 2 Ibid., p. 183. 3 Ibid., p. 191. 4 Ver Ibid., pp. 191-200; Minear, "The Wounded Beast". 5 Ver Froom, The Prophetic Faith of Our Fathers, t. 2, pp. 486-505; T. 3, pp. 733-737 (para ver desde Francisco de Ribeira até Manning). 6 Ladd, El Apocalipsis de Juan: Un comentario, pp. 15, 16. 7 Robbins, Revelation: Three Viewpoints, p. 154. 8 Beale, The Use of Daniel in Jewish Apocalyptic Literature and in the Revelation of St. John, p. 247. 9 Tomás de Aquino, Summa Theologica, II-II, pergunta 11, A. 3. 10 Ver Ellen White, GC 271. 11 Ver Froom, The Prophetic Faith of Our Fathers, t. 2, pp. 21-31 e caps. 2 e 6; t. 1, pp. 796-806.

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12 Ver T. G. Tappert, ed. Bock of Concord. Confessions of the Evangelical Lutheran Church [Livro da Concórdia. Confissões da Igreja Evangélica Luterana] (Philadelphia: Fortress Press, 19S9); El catecismo de Heidelberg (Barcelona: ACELR, 1973 [da ed. de 1563]), pergunta 80. 13 João Calvino, Institución de la religión cristiana, trad. Eusebio Goicoechea (Grand Rapids: Eerdmans-Nueva Creación, 1988), livro IV, cap. 7, parágrafos 24, 25 (P. 886). Neste livro IV, no cap. 7: "Origem e crescimento do papado até que se elevou à grandeza atual, com o que a liberdade da igreja foi oprimida e toda eqüidade confundida", apresenta-se o relativo ao anticristo papal (ver, especialmente, os pontos 24 e 25). 14 Berkouwer, The Return of Christ, p. 264. 15 Ver Catecismo romano del concilio de Trento (Madrid: BAC, 19S6; trad. por Pedro Martín Hernández). 16 Althaus, Die Letzten Dinge [Os Eventos Finais], p. 283. 17 Ibid., P. 285. 18 Ibid., P. 284. 19 Berkouwer, The Return of Christ, p. 273.

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XXIV - OS ÚLTIMOS COMPANHEIROS DO CORDEIRO - Apocal ipse 14:1-5 Apocalipse 14 cumpre a função de ser a contraparte positiva do capítulo 13. Aqui os santos que resistem o impacto dos poderes do anticristo recebem uma recompensa gloriosa por sua fidelidade. Vemos o Cordeiro de Deus em pé entre seus seguidores (Apoc. 14:1), em um contraste evidente com a besta e seus seguidores que se apresenta em Apocalipse 13. Enquanto que os que adorem a besta levam a marca do anticristo, os companheiros do Cordeiro levam o selo do Deus vivo em suas frentes (Apoc. 14:1). Apocalipse 13 prediz a maturação da apostasia com seu número 666. Apocalipse 14 nos assegura do juízo de Babilônia e da recompensa do povo de Deus com seu número 144.000. Evidentemente, Apocalipse 14 funciona como o complemento do capítulo 13. Um erudito crítico alemão ficou tão impressionado por Apocalipse 14, que o chamou "o ponto mais elevado formal e substancial do Apocalipse".1 Enquanto que os reformadores protestantes e os movimentos de reforma modernos apelam a Apocalipse 14 para demonstrar sua chamada divina, Ellen White reconhece que ainda não se alcançou seu significado completo: "O capítulo 14 do Apocalipse é do mais profundo interesse. Logo será compreendido em todos seus alcances, e as mensagens dadas a João o revelador serão repetidas com clareza".2 A Visão da Igreja Triunfante "E olhei, e eis que estava o Cordeiro sobre o monte Sião, e com ele cento e quarenta e quatro mil, que em sua testa tinham escrito o nome dele e o de seu Pai. E ouvi uma voz do céu como a voz de muitas águas e como a voz de um grande trovão; e uma voz de harpistas, que tocavam com a sua harpa. E cantavam um como cântico novo diante do trono e diante dos quatro animais e dos anciãos; e ninguém podia aprender aquele cântico, senão os cento e quarenta e quatro mil que foram comprados da terra. Estes são os que não estão contaminados com mulheres, porque são virgens. Estes são os que seguem o Cordeiro para onde quer que vai. Estes são os que dentre os homens foram comprados como primícias para Deus e para o Cordeiro" (Apoc. 14:1-5). A visão da igreja triunfante dá a conhecer a última geração de crentes cristãos que sobrevivem às ameaças finais do anticristo. Os 144.000 seguidores do Cordeiro são vitoriosos porque perseveram em sua lealdade a Cristo Jesus. Por seu rechaço a submeter-se à idolatria, venceram a besta. Demonstram que o anticristo não teve êxito em seu objetivo de estabelecer o domínio universal. Mas o céu intervirá dramaticamente no fim da era. O Cordeiro poderoso conquistará a besta em favor de seu povo do pacto. Esta segurança foi dada explicitamente pelo anjo interpretador: "Estes [a besta e os reis da terra] combaterão contra o Cordeiro, e o Cordeiro os vencerá, porque é o Senhor dos senhores e o Rei dos reis; vencerão os que estão com ele, chamados, eleitos e fiéis" (Apoc. 17:14). Seu cumprimento se descreve em um quadro simbólico de surpreendente resgate divino: "E vi o céu aberto, e eis um cavalo branco. O que estava assentado sobre ele chama-se Fiel e Verdadeiro e julga e peleja com justiça" (Apoc. 19:11). Esta visão majestosa constitui o cumprimento cristocêntrico da libertação do tempo do fim de que fala Daniel: "Nesse tempo, se levantará Miguel, o grande príncipe, o defensor dos filhos do teu povo, e haverá tempo de angústia, qual nunca houve, desde que houve nação até àquele tempo; mas, naquele tempo, será salvo o teu povo, todo aquele que for achado inscrito no livro" (Dan. 12:1). Tanto Daniel como Apocalipse centralizam a libertação final do povo do pacto de Deus sobre o monte Sião, "o monte glorioso e santo" (Dan. 11:45; Apoc. 14:1). O mesmo monte de ataque e de salvação se apresenta na profecia do Joel: "E acontecerá que todo aquele que invocar o nome do Senhor será salvo; porque, no monte Sião e em Jerusalém, estarão os que forem salvos, como o Senhor prometeu; e, entre os

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sobreviventes, aqueles que o Senhor chamar" (Joel 2:32). Desde que o rei Davi colocou o arca de Jeová, símbolo da presença e do trono de Deus, no monte Sião, este monte foi chamado "santo". Chegou a ser o lugar simbólico de libertação na tradição profética (ver Sal. 2; 46; 48; 110). É muito significativo que o Apocalipse de João representa os 144.000 seguidores do Cordeiro em pé com o Cordeiro sobre o monte Sião: "Olhei, e eis o Cordeiro em pé sobre o monte Sião, e com ele cento e quarenta e quatro mil, tendo na fronte escrito o seu nome e o nome de seu Pai" (Apoc. 14:1). O monte Sião ou a cidade santa (Jerusalém) estão colocados em contraposição a Babilônia, mencionada em Apocalipse 14:8, 16:19 e 17:1-6. Sião e seu santuário, seu culto religioso e seus seguidores constituem a norma da verdade salvadora pela qual Babilônia, seu culto religioso e seus seguidores são medidos no tribunal do céu. Tanto Sião como Babilônia são nomes que estão enraizados profundamente na história da salvação de Israel. Representam os arquiinimigos religiosos envoltos em um combate mortal (Jer. 50; 51; Dan. l ). O Antecedente Veterotestamentário de Sião Nas profecias de Israel, "Sião" é o símbolo da cidade de Deus, o lugar da presença e proteção de Deus, especialmente para os tempos messiânicos (Isa. 40-66; Zac. 1-9). O ponto em questão não é um lugar "santo" geográfico, mas sim a presença de Deus entre seu fiel povo do pacto. Sião foi o símbolo de bênção e libertação (ver Isa. 37). Esta teologia de Sião foi tornada proeminente por Isaías em seu conflito com um sacerdócio e um reinado corrompido que reclamavam o amparo de Deus como pertencendo incondicionalmente a Sião e Jerusalém literal (Isa. 28-31). Para Isaías, "Sião" representou um povo espiritual: os que procuram o Senhor e têm a lei de Deus em seus corações (Isa. 51:1, 7). Deus disse a essa Sião: "Tu és o meu povo" (v. 16). Isaías empregou o casamento como um símbolo da fidelidade de Deus para com Sião, apesar de havê-la abandonado temporalmente "por um breve momento" quando se comportou mais como uma "meretriz" em suas relações com outras nações (31:1-3). Este significado dual de Sião foi expresso por Isaías nestas palavras: "Porque o teu Criador é o teu marido; o SENHOR dos Exércitos é o seu nome; e o Santo de Israel é o teu Redentor; ele é chamado o Deus de toda a terra" (Isa. 54:5). "Como se fez prostituta a cidade fiel! Ela, que estava cheia de justiça! Nela, habitava a retidão, mas, agora, homicidas" (Isa. 1:21). Esta dupla caracterização do Sião tanto como esposa fiel e como meretriz, em momentos diferentes, forma o antecedente teológico para compreender as duas mulheres simbólicas no Apocalipse de João. O Apocalipse descreve a igreja fiel como um esposa radiante (Apoc. 12:1), e a igreja apóstata como a grande meretriz: "Babilônia" (17:1-5). Quais São os 144.000? Na perspectiva profética de Joel, o povo remanescente o constitui os que estão cheios com o Espírito de Deus (Joel 2:28) e adoram ao Senhor (2:32). A criação deste povo do novo pacto só pode ocorrer depois que o Messias receba a plenitude de sua unção (Isa. 11:1, 2; 61:1-6; ver Mat. 3:16, 17). A igreja apostólica recebeu este batismo do Espírito Santo no dia de Pentecostes, conforme consta em Atos 2. Mas a perspectiva de Joel 2:28-32 evidentemente avança para adiante, ao tempo do fim, quando se efetue a separação final dos fiéis no monte Sião: "E há de ser que todo aquele que invocar o nome do Senhor será salvo; porque no monte Sião e em Jerusalém haverá livramento, assim como o Senhor tem dito, e nos restantes que o Senhor chamar" (Joel 2:32). O Apocalipse descreveu a era da primeiro igreja nos capítulos 2 e 3 nas cartas de Cristo, mas os santos do tempo do fim estão representados em Apocalipse 7 como os 144.000 verdadeiros "israelitas" de todas as tribos (12 x 12.000). Esta é linguagem em clave do pacto de redenção de Deus. Seu "selamento" como "servos" de Deus por parte dos anjos os assinala como os que

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suportaram a prova do anticristo ao rechaçar sua "marca". Entretanto, são vitoriosos só porque confiaram "no sangue do Cordeiro" (Apoc. 7:14). Seus caracteres estão centrados em Cristo e são semelhantes a Cristo. Estão em um contraste direto com os que têm o número da besta, o 666, "um número misterioso que significa paródia e imperfeição".3 Protótipos dos 144.000 no Antigo Testamento Dois protótipos no Antigo Testamento iluminam nossa compreensão dos 144.000. Pelo profeta Ezequiel sabemos a verdade tantas vezes passada por alto, que só o povo do pacto, o povo de Deus que é selado, permanecerá protegido no dia do juízo. Os que estejam sem o selo de Deus estão marcados para a condenação (ver Ezeq. 9:5, 6). Na última análise de Deus não haverá povo "indeciso". Apocalipse 14 mostra que está chegando o tempo quando toda a terra será levada à "maturação" ou decisão, seja para o bem ou para o mal, e depois do anjo anunciará: "A colheita da terra está amadurecida" (Apoc. 14:15). O catalisador desta maturação coletiva forma o ponto culminante de Apocalipse 14: as mensagens dos três anjos dos versículos 6-12, que se tratam nos capítulos seguintes. Outra conexão vital entre os 144.000 em Apocalipse 14 e a profecia de Israel é a predição do Sofonías. Entre os anos 630-625 a.C., Sofonias proclamou os juízos de Deus sobre Judá e Jerusalém devido a seus compromissos com a adoração de Baal (Sof. 1:4-6). Anunciou a iminência do juízo de Deus, o dia do Senhor (vs. 7, 14), mas também incluiu a esperança surpreendente de que um remanescente fiel permaneceria leal a Deus. Seriam protegidos no "dia da ira do Senhor" (2:3, 7, NBE). Chamou-os "os humildes da terra" (v. 3), os que adoram a Deus com lábios puros e invocam o nome do Jeová para servi-lo em seu santo monte (3:9, 11). Sofonias descreve os adoradores verdadeiros com estas palavras: "O remanescente de Israel não cometerá iniqüidade, nem proferirá mentira, e na sua boca não se achará língua enganosa; porque serão apascentados, deitar-se-ão, e não haverá quem os espante" (Sof. 3:13). O remanescente de Sofonías 3:13 e os 144.000 do Apocalipse são idênticos: "E não se achou mentira na sua boca; não têm mácula" (Apoc. 14:5). Para entender adequadamente esta caracterização dos 144.000 devemos primeiro esquadrinhar seu significado em Sofonías3. Este profeta do Antigo Testamento não aplica a "irrepreensibilidade" e a "perfeição" de Israel de uma maneira abstrata, mas sim as aplica à sua adoração do Senhor por meio da obediência à lei do pacto que está livre das mentiras do culto aos ídolos, milagres falsos e profecia falsa (ver também Deut. 18:9-13). Paulo também caracterizou a apostasia do homem de iniqüidade como "mentira" (2 Tes. 2:11). Em Apocalipse 14 se contrasta intencionalmente os 144.000 com os adoradores da besta e seu culto religioso. Esta interpretação corresponde com a outra descrição de João: "Estes são os que não estão contaminados com mulheres, porque são virgens. Estes são os que seguem o Cordeiro para onde quer que vá" (Apoc. 14:4). Ambas as orações gramaticais formam uma unidade e se explicam por si mesmas. Os 144.000 simbólicos (tanto homens como mulheres) não seguem à "mulher" caída ou às comunidades de adoração apóstata, chamada mais tarde Babilônia ou "mãe das meretrizes" (Apoc. 17:5). Seguem exclusivamente o Cordeiro de Deus. O termo "virgem" era o título hebraico para Sião e Jerusalém em sua relação do pacto com Deus (2 Reis 19:21; Isa. 37:22; Jer. 14:17; 18:13; 31:4; Lam. 1:15; 2:13; Amós 5:2). Os termos "adultério" e "cometer adultério ou fornicação" usam-se tanto no Antigo Testamento como no Apocalipse como símbolos de idolatria ou de culto falso (ver Êxo. 34:15; Juí. 2:17; 1 Crôn. 5:25; Apoc. 14:8; 17:2, 4;18:3, 9; 19:2). O símbolo "virgem" [parthénos] em Apocalipse 14:4 está em contraste com o termo "meretriz" [porné], e por conseguinte está de igual maneira determinado religiosamente.4 J. Massyngberde Ford oferece este útil comentário sobre os 144.000: "À luz do significado metafórico do termo virgem, parece que Apocalipse 14:4 se refere aos anciões fiéis de Jerusalém ou a todos quão fiéis não se poluíram com a idolatria, a sensualidade (gr. thumós) da prostituição de Babilônia como no v. 8. O não estar poluídos com mulheres pode olhar atrás ao monstro feminino do capítulo 13, mas muito mais provavelmente

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olhe para frente à meretriz em Apocalipse 17 e 18".5 Não há justificação para interpretar literalmente um símbolo apocalíptico isolado e caracterizar os 144.000 como celibatários. O apóstolo Paulo já tinha usado o termo "virgem" [parthénos] de uma maneira simbólica para a igreja apostólica que pertencia a "um marido, a Cristo", quando escreveu: "Para lhes apresentar como uma virgem pura a Cristo" (2 Cor. 11:2). Para Paulo, a igreja desempenhava o papel de ser a noiva e esposa do Senhor ressuscitado (ver Ef. 5:31, 32; também Apoc. 19:7). O Apocalipse mostra os 144.000 como saindo de seu conflito final com o anticristo, no que demonstraram sua lealdade suprema a Cristo. Reconhecem só a Cristo, como ovelhas que seguem a seu pastor no qual confiam (João 10:4; Apoc. 7:17). Não seguem o poder da besta. Em sua luta final com Deus recebem uma experiência mais profunda da intimidade com Cristo, a que expressam em um "cântico novo" que cantam diante do trono de Deus. "E ninguém pôde aprender o cântico, senão os cento e quarenta e quatro mil que foram comprados da terra" (Apoc. 14:3). O "cântico novo" em Apocalipse 14 nos recorda do "novo cântico" que os 24 anciões cantam diante de Deus em Apocalipse 5:9 e 10. Louvam ao Cordeiro por sua morte como sacrifício por meio da qual "redimiu para Deus, de toda linhagem e língua e povo e nação". Este louvor de Cristo como o Cordeiro redentor de Deus será sem dúvida alguma o tema do cântico dos 144.000 depois que tenham experimentado uma libertação maior do que a que Israel experimentou sob Moisés (ver Êxo. 15). Então, podemos identificar seu novo cântico com "o cântico de Moisés, e o cântico do Cordeiro" de Apocalipse 15 que celebra sua vitória sobre a besta, sua imagem e sobre o número de seu nome: "E cantavam o cântico de Moisés, servo de Deus, e o cântico do Cordeiro, dizendo: Grandes e maravilhosas são as tuas obras, Senhor, Deus Todo-poderoso! Justos e verdadeiros são os teus caminhos, ó Rei dos santos! Quem te não temerá, ó Senhor, e não magnificará o teu nome? Porque só tu és santo; por isso, todas as nações virão e se prostrarão diante de ti, porque os teus juízos são manifestos" (Apoc. 15:3, 4). João descreve ademais os 144.000 de outra maneira simbólica: "Estes foram redimidos de entre os homens [e oferecidos] como primícias [aparjé] para Deus e para o Cordeiro" (Apoc. 14:4). A lei agrícola de Israel exigia que os primeiros frutos da colheita se dedicassem ao Senhor em seu templo (Lev. 23:9-14; Êxo. 23:19). Estas primícias eram também por definição as primeiras em qualidade, "o mais escolhido" da colheita (Núm. 18:12, 13; Ezeq. 44:30). Jeremias tinha chamado ao Israel uma "noiva" santa, "primícias de seus novos frutos" (Jer. 2:3). Assim considerava Deus o Israel fiel: como as primícias de sua colheita do mundo. De uma maneira similar podemos ver os 144.000 israelitas espirituais contados como as primícias da colheita da humanidade no fim da era da história. A qualidade de sua devoção ou santidade se manifesta em seu constante seguir a Cristo durante a prova final de fé (ver Apoc. 14:4, 5). Estão "com" Jesus (Apoc. 14:1; 17:14). Paulo tinha chamado a Cristo "as primícias dos que dormiram" (1 Cor. 15:20, 23), indicando que a ressurreição de Cristo é uma garantia da ressurreição dos crentes. Como os últimos companheiros do Cordeiro na era da igreja, os 144.000 israelitas espirituais estão selados para a eternidade (Apoc. 7:1-4). São os Enoques do tempo do fim porque também "caminham com Deus" e serão "trasladados" sem experimentar a morte (Gên. 5:24; Heb. 11:5). São os Elias do tempo do fim porque combatem corajosamente contra os poderosos baalins do tempo do fim, e serão "tomados" por carros de fogo de salvação e transladados à glória (2 Reis 2:10, 11; Apoc. 19:14), o que dá a entender que os 144.000, ao ser selados como as primícias do tempo do fim, são "comprados dentre os da terra" como o começo da colheita do mundo descrita em Apocalipse 14:14-16.6 A ordem dos acontecimentos em Apocalipse 13 e 14 corresponde com a de Mateus 24: primeiro a abominação desoladora em Jerusalém, depois a aflição dos santos, seguido por seu resgate por meio de Cristo e seus anjos. É aqui onde podemos fazemos a pergunta pertinente: O que é o que produz estes 144.000 israelitas verdadeiros? Como aparecem no cenário do tempo do fim?

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A primeira resposta está na visão de Apocalipse 10, onde João viu "descer do céu outro anjo forte" comissionado para entregar uma mensagem especial do tempo do fim ao mundo durante o período da sexta trombeta (ver o cap. XVIII desta obra). É esta mensagem do tempo do fim de Apocalipse 10 que se desenvolve ulteriormente nas três mensagens angélicas de Apocalipse 14:6-12. Referências 1 E. Lohmeyer, Die Offenbarung des Johannes [O Apocalipse de João], HzNT 16 (Tübingen: J. C. B. Mohr, 1953), p. 119. 2 Ellen White, Review and Herald [Revista e Arauto], 13 de outubro de 1904. Ver em 7 CBA 989 (T. 7-A, P. 419). 3 Johnsson, "The Saints' End-Time Victory Over the Forces of Evil", Simpósio sobre o Apocalipse, t 2, p. 32. 4 Ver G. Delling, "Parthénos", Diccionario teológico del Nuevo Testamento (ed. por G. Kittel), T. 5, P. 836. 5 J. M Ford, Revelation, pp. 242, 243. 6 Neall, "Sealed Saints and the Tribulation", Simpósio sobre o Apocalipse, t. 1, cap. 12.

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XXV - A MENSAGEM DO PRIMEIRO ANJO - Apocalipse 14:6 , 7 É significativo o lugar onde está colocado a última mensagem de admoestação de Apocalipse 14:6-12. encontra-se entre as ameaças do anticristo no capítulo 13 e a cena do juízo do capítulo 14:14-20. A tríplice mensagem transmite o ultimato de Deus a um mundo unido em rebelião contra ele. "Vi outro anjo voando pelo meio do céu, tendo um evangelho eterno para pregar aos que se assentam sobre a terra, e a cada nação, e tribo, e língua, e povo, dizendo, em grande voz: Temei a Deus e dai-lhe glória, pois é chegada a hora do seu juízo; e adorai aquele que fez o céu, e a terra, e o mar, e as fontes das águas" (Apoc. 14:6, 7). A expressão "outro anjo" (v. 6) conecta este mensageiro com o anjo anterior que aparece no Apocalipse, o "anjo forte" do capítulo 10. A tríplice mensagem de Apocalipse 14 ao que parece funciona como a expansão da missão do "anjo forte" durante a sexta trombeta (Apoc. 10:5-7). Em ambos os capítulos, o 10 e o 14, a advertência do tempo do fim do céu tem o propósito de alcançar toda a terra. O anjo "voando pelo meio do céu" (o zênite do céu) em Apocalipse 14 simboliza o alcance universal de sua mensagem, assim como o anjo forte tinha posto seu pé tanto sobre o mar como sobre a terra. Esta esfera de ação universal se recalca pela ênfase: "Tendo o evangelho eterno para pregar aos moradores [literalmente, 'se sentam'] da terra, a toda nação, tribo, língua e povo" (v. 6). Esta proclamação do "evangelho eterno" de Deus é a verdadeira mensagem de reavivamento para o fim. Desenvolve a promessa anterior de Cristo: "E este evangelho do reino será pregado em todo mundo, para testemunho a todas as nações; e então virá o fim" (Mat. 24:14). O adjetivo "eterno " [em gr., aiónion] aplicado ao "evangelho" em Apocalipse 14:6 leva consigo um significado especial. Afirma que o evangelho do tempo do fim é o evangelho inalterado dos apóstolos de Jesus. O evangelho do tempo do fim não é um evangelho diferente, mas sim o evangelho como foi exposto por Paulo em suas cartas aos romanos e a outras igrejas. A estrutura delicada do evangelho da soberana graça de Deus (ver Ef. 2:4-10) não pode ser alterado nunca, nem sequer por um anjo ou por um apóstolo. Uma inovação tal cairia sob a maldição de Deus (ver Gál. 1:6-9). O evangelho eterno chega a ser cada vez mais relevante quando é contemplado em seu marco de Apocalipse 13, onde o anticristo demanda a lealdade à sua falsificação ou "evangelho diferente" (cf. 2 Cor. 11:4). Referindo-se aos decretos do concílio do Trento (1545-1563), o bispo Chr. Wordsworth comentou: "Porém, apesar desse anátema apostólico repetido duas vezes [no Gál. 1:6-9], os que aderem à besta pronunciaram seu anátema sobre todos os que não recebem as novas doutrinas que acrescentaram ao evangelho de Deus".1 Alguns comentadores modernos tomaram a posição de que a frase "evangelho eterno" de Apocalipse 14:6 não quer dizer o evangelho apostólico mas sim as novas de que o juízo final é iminente (v. 7). Outros assinalaram que o juízo foi uma parte essencial do evangelho desde sua iniciação (veja-se Mat. 7:22, 23; 16:27; 25:41; Rom. 2:15, 16). A vinda do justo juízo de Deus sempre significa boas novas de resgate e vindicação para seu povo do pacto (ver Sal. 96) e um dia de ajuste de contas para seus perseguidores (Jer. 50, 51). Jesus predisse que o evangelho do reino seria pregado como testemunho (legal) a todos os que moram na terra até o próprio fim (Mat. 24:14; Mar. 13:10). Portanto, podemos aceitar Apocalipse 10 e 14:6-12 como a aplicação para o tempo do fim da predição de Jesus em Mateus 24. Como Jesus fez em Mateus 24, o Apocalipse faz da proclamação mundial do evangelho o sinal preeminente dos tempos. G. C. Berkouwer assinalou um engano popular quanto a isto: "Com muita freqüência, a reflexão sobre os sinais foi separar-se do reino, que é seu ponto de concentração. Os resultados sempre são desconcertantes. Mas o assunto fundamental é a propagação universal do evangelho de Jesus Cristo (Mar. 13:10)... Geralmente os que

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catalogaram os sinais dos tempos incluíram isto, mas com freqüência se viu simplesmente como outro elemento no 'relatório da narração'... Nos últimos dias a pregação do evangelho é o ponto focal de todos os sinais. Nela podem e devem ser entendidos todos os sinais".2 Deve respeitar-se o significado fundamental do evangelho eterno. Não é um exagero deduzir que uma compreensão nova do evangelho apostólico em seu marco do tempo do fim de Apocalipse 10 e 14, cria um novo povo remanescente! Estão comissionados como mensageiros a pregar o evangelho em seu marco apocalíptico de Apocalipse 13 e 14. Devido a este convite final à humanidade antes do juízo, todo mundo estará amadurecido para esse juízo. Isso não quer dizer que se possa calcular a data do fim que se aproxima. O reavivamento do evangelho sem adulteração é básico para o plano determinado de Deus (Mar. 13:10). É uma "parte do atuar de Deus no tempo do fim".3 Proclamar a tríplice mensagem de Apocalipse 14 é a missão final da igreja! O cumprimento desta missão é o maior sinal de todos os que indicam que começou o tempo do fim! A Escritura não estabelece que a segunda vinda de Cristo está condicionada ao êxito da pregação do evangelho, mas sim está condicionada à realidade da pregação mundial. A tríplice mensagem de Apocalipse 14 intensifica o apelo anterior de Jesus: "Arrependei-vos, porque está próximo o reino dos céus" (Mat. 4:17). O Conteúdo do Evangelho Eterno Jesus mesmo andou "pregando e anunciando o evangelho do reino de Deus" (Luc. 8:1), o que indicava a chegada do Messias prometido. Incluía seu nascimento (Luc. 2:10, 11, "novas de grande gozo"), sua vida (Mat. 11:5), sua morte expiatória (Mar. 10:45; Ef. 2:14-17; At. 10:36), e sua ressurreição e entronização no céu (At. 2:30-33). "Sua aparição, não simplesmente sua pregação, toda sua obra está indicada por 'pregando as boas novas [euanguelízesthai]' ".4 Portanto o evangelho apostólico se centralizava nas boas novas de que Jesus de Nazaré era o Messias da profecia (At. 5:42; 8:35; 17:3, 18). Por conseguinte, o evangelho também inclui as profecias messiânicas do Antigo Testamento (ver 1 Ped. 1:10, 11; Rom. 1:2; 16:25, 26). Como rei de Israel, Cristo personifica o reino de Deus. Pregar o evangelho de Cristo significa uma proclamação eficaz no poder e a autoridade do Espírito Santo (ver Heb. 2:4). Tal pregação transmite salvação e cria paz e gozo (At. 8:8, 39). Paulo recebeu o evangelho por meio de uma revelação direta de Jesus Cristo (Gál. 1:12). Explicou o conteúdo do evangelho de uma maneira sistemática em Romanos 1 aos 8. centra-se na verdade de que Jesus é o Cristo (Rom. 1:1-4) e que a salvação é nossa por meio da justificação por graça, só por meio da fé em Cristo (Rom. 3:28; 4:25; 5:1; 8:1, 33, 34). Paulo resumiu sua compreensão do evangelho em 1 Coríntios 15:3-5, onde menciona a morte expiatória de Cristo, sua sepultura, ressurreição e as aparições do Cristo ressuscitado. Em síntese, a essência do evangelho de Paulo pode compendiar-se na confissão: Jesus é o Cristo (Messias), o Senhor ressuscitado (ver Rom. 10:9, 10). Paulo também reconheceu o dia do juízo como parte do evangelho (ver Rom. 2:16; At. 17:30, 31). Este é seu amplo panorama do evangelho. A proclamação do juízo e das boas novas estão inextricavelmente unidas, como o arrependimento e o novo nascimento (Mar. 1:15; Isa. 57:15). O juízo de Deus é essencialmente boas novas para o crente, porque Cristo é tanto Juiz como Salvador (João 5:22). Gerhard Friedrich reconheceu que o evangelho e o juízo estão conectados indissoluvelmente: "Desde que o evangelho é a chamada de Deus... aos homens, demanda decisão e impõe obediência (Rom. 10:16; 2 Cor. 9:13). A atitude para com o evangelho será a base da decisão no juízo final (2 Tes. 1:8; cf. 1 Ped. 4:17)".5 A proclamação do evangelho oferece o gozo da salvação presente aos que o aceitam por fé (Ef. 1:13; 1 Cor. 15:2; Rom. 1:16; 8:15-17). Diz Ivan T. Blazen: "Em termos da informação real da Escritura, é uma ficção acreditar que a justificação não nos relaciona com a soberania de Cristo como Senhor ou que o juízo não nos relaciona com a obra de Cristo como Salvador... Quando chegar o fim, o juízo avalia e atesta da realidade da justificação evidenciada pelas testemunhas fiéis do povo de Deus. Neste fluxo, a justificação e o juízo não estão na relação de tensão ou contradição mas sim na de inauguração e

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consumação".6 A Mensagem do Primeiro Anjo "Dizendo, em grande voz: Temei a Deus e dai-lhe glória, pois é chegada a hora do seu juízo; e adorai aquele que fez o céu, e a terra, e o mar, e as fontes das águas" (Apoc. 14:7). Este mensageiro celestial fala com "grande voz", o que indica que todos os moradores da terra devem ouvir sua mensagem. As palavras nas quais está expressa a mensagem estão tomadas do Antigo Testamento, e repetem a demanda do pacto de Deus sobre Israel para adorar somente a ele como Criador do céu e da terra. De fato, pode ouvir-se um eco específico do quarto mandamento da lei do pacto de Israel na motivação para adorar a Deus como Criador: APOCALIPSE 14:7 "Adorai aquele que fez o céu, e a terra, e o mar, e as fontes das águas". ÊXODO 20:11 "Porque, em seis dias, fez o Senhor os céus e a terra, o mar e tudo o que neles há e, ao sétimo dia, descansou; por isso, o Senhor abençoou o dia de sábado e o santificou". A resposta à pergunta: "Como devem as pessoas adorar a Deus como Criador?", é indicada na continuidade do pacto de Deus entre Israel e a igreja: honrando o sétimo dia sábado como o "bendito" monumento comemorativo da obra criadora e redentora do Deus do pacto de Israel (ver Êxo. 20:8-11 e Deut. 5:12-15). A celebração do sábado do Criador-Redentor identifica o único Deus verdadeiro. O sábado não foi feito só para a raça hebréia, mas sim para a humanidade do começo até o fim do tempo. Corrigindo um engano legalista fariseu, Cristo declarou: " O sábado foi estabelecido por causa do homem, e não o homem por causa do sábado; de sorte que o Filho do Homem é senhor também do sábado" (Mar. 2:27, 28). A importância universal do sábado foi expressa por Isaías, o profeta evangélico: "Aos estrangeiros que se chegam ao Senhor, para o servirem e para amarem o nome do Senhor, sendo deste modo servos seus, sim, todos os que guardam o sábado, não o profanando, e abraçam a minha aliança, também os levarei ao meu santo monte e os alegrarei na minha Casa de Oração; os seus holocaustos e os seus sacrifícios serão aceitos no meu altar, porque a minha casa será chamada Casa de Oração para todos os povos" (Isa. 56:6, 7). Isaías previu como Deus convidaria os gentios para adorar em seu templo no monte Sião nos sábados. Isaías estendeu esta perspectiva aos novos céus e a nova terra: "Porque, como os novos céus e a nova terra, que hei de fazer, estarão diante de mim, diz o Senhor, assim há de estar a vossa posteridade e o vosso nome. E será que, de uma Festa da Lua Nova à outra e de um sábado a outro, virá toda a carne a adorar perante mim, diz o Senhor" (Isa. 66:22, 23). O Apocalipse compara a chamada do céu para reavivar a adoração verdadeira com a adoração da besta imposta pelo falso profeta (Apoc. 13:12, 15). A chamada para a adoração verdadeira em Apocalipse 14 chega a ser uma prova de lealdade ao Fazedor do céu e da terra: "Temei a Deus e dai-lhe glória..." (Apoc. 14:7). Esta exortação está tomada do apelo feito por Moisés a Israel exatamente antes de entrarem na terra prometida: "O Senhor, teu Deus, temerás, a ele servirás... Não seguirás outros deuses, Diligentemente, guardarás os mandamentos do Senhor, teu Deus" (Deut. 6:13, 14, 17; ver também 10:12, 20; 13:4). Muitos entre as nações responderiam a este convite final proclamado pelos instrumentos de Deus, como ouvimos no cântico de Moisés e do Cordeiro: "Quem não temerá e não glorificará o teu nome, ó Senhor? Pois só tu és santo; por isso, todas as nações virão e adorarão diante de ti, porque os teus atos de justiça se fizeram manifestos " (Apoc. 15:4). Durante a crise religiosa nos dias do Acabe e Elias, os verdadeiros seguidores do Jeová se

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descreveram a si mesmos como "temerosos de Jeová" (1 Reis 18:3, 12; 2 Reis 4:1), em contraste com os que seguiam aos baalins. Esta raiz principal do Antigo Testamento de uma confrontação futura mostra que o "temor de Deus" pressupõe a obediência à vontade de Deus. Em todo o Antigo Testamento há indicações de que o "temor de Deus" está unido inseparavelmente à obediência voluntária aos mandamentos de Deus (ver Gên. 22:1, 12; Êxo. 20:20; Deut. 6:13-17; 10:12; Sal. 112:1; 119:63; 128:1). Esta correspondência é expressa no livro do Eclesiastes: "De tudo o que se tem ouvido, o fim é: Teme a Deus e guarda os seus mandamentos; porque este é o dever de todo homem" (Ecl. 12:13). A religião do homem se coloca sob a lupa do juízo de Deus (Ecl. 12:14). Os eruditos contemporâneos do Antigo Testamento admitem que avançaram para uma compreensão diferente da lei ou a "torah", e que já não consideram a verdadeira devoção à torah como um legalismo que procura méritos.7 Chegou a ser claro que o livro de Deuteronômio foi a resposta agradecida de Israel à liberação do êxodo. A prioridade da graça redentora de Deus estava escrita no preâmbulo do decálogo: "Eu sou Jeová teu Deus, que te tirei da terra do Egito, da casa da servidão" (Êxo. 20:1). A graça redentora é o núcleo da Torah. O Decálogo está engastado na graça de Deus e é um dom de Deus. O evangelho apostólico também conhece que o temor do Senhor é a evidência de gratidão por uma salvação tão grande (ver At. 9:31; Fil. 2:12). A mensagem do primeiro anjo trata de restaurar a essência da adoração verdadeira como foi experimentada pelos profetas e apóstolos. Pode-se escutar o som do apelo de Elias para voltar para Deus com o coração e a alma: "Se Jeová é Deus, segui-o, e se Baal, segui-o" (1 Reis 18:21)! Josephine M. Ford captou esta continuidade da religião verdadeira. Disse ela: "O anjo porta-voz em 14:6 e 7 anuncia a reafirmação do Decálogo e da adoração de um só Deus, em oposição à adoração da imagem (13:15) que viola os mandamentos. A referência a Deus como Criador é compreensível à luz da referência ao céu, à terra e às águas debaixo da terra em Êxodo 20:4. Além disso, a referência à hora do juízo de Deus (v. 7) tem afinidade com Êxodo 20:5, a declaração de zelo e vingança de Deus sobre todos os que o aborrecem".8 O Criador, Também o Juiz de Todos os Homens O primeiro anjo adiciona como uma motivação especial deste convite para adorar a Deus o anúncio: "Porque vida é a hora do seu juízo" (Apoc. 14:7). A associação da adoração e juízo não é nova. Com freqüência se ensina no Antigo Testamento que o Criador é também o Juiz. É significativa a confissão de fé de Abraão: "Não fará justiça o Juiz de toda a terra?" (Gên. 18:25). O Decálogo contém a relação entre Deus como Criador e Juiz (Êxo. 20:4-6, 11 ). A libertação do êxodo se explica como o juízo de Deus sobre o Egito e Babilônia (Êxo. 7:4; 15:8-12; Deut. 4:32-34; Isa. 11:10-16). O juízo de Deus se manifesta como a redenção de seu povo do pacto através do perdão divino (Isa. 43:25; 51:9-16; Miq. 7:18; Sal. 89:9-14; 103; 136). Os juízos de Deus na história mostram duas motivações: a punitiva e a redentora (Êxo. 6:5, 6; Isa. 33:22). Os cantos de adoração de Israel expressam o pensamento de que Deus é o Juiz porque é o Criador de todas as coisas: "Porque todos os deuses dos povos são coisas vãs; mas o Senhor fez os céus... Dizei entre as nações: O Senhor reina! O mundo também se firmará para que se não abale. Ele julgará os povos com retidão.... Ante a face do Senhor, porque vem, porque vem a julgar a terra; julgará o mundo com justiça e os povos, com a sua verdade" (Sal. 96:5, 10, 13). "O que fez o ouvido, acaso, não ouvirá? E o que formou os olhos será que não enxerga? Porventura, quem repreende as nações não há de punir?" (Sal. 94:9, 10). Esta verdade da religião de Israel – que o Criador é o Juiz de todos os homens – também se aplica ao próprio povo do pacto. Tinham que confrontar o dia de acerto de contas durante o Dia da Expiação anual, o décimo dia do sétimo mês, que se anunciava por meio da festa das Trombetas dez dias antes (Lev. 23:23-32). Ao mesmo tempo que o supremo sacerdote purificava o santuário da culpa do Israel (Lev. 16), era um assunto de vida ou morte para cada

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israelita. "Nesse dia se proclamava que Jeová e o pecado não tinham nada em comum. Depois o pecado era transferido à sua fonte, quer dizer, a Azazel".9 É interessante saber que a Mishnah considera a festa das trombetas como um tempo de juízo: "No dia de Ano Novo tudo o que vem ao mundo passa ante ele como se fossem legiões de soldados (ou rebanhos de ovelhas), porque está escrito: Ele formou o coração de todos eles; está atento a todas as suas obras".10 A Jewish Encyclopedia [Enciclopédia Judaica] informa sobre o desenvolvimento de um juízo investigativo no céu: "A sorte dos que são completamente ímpios e dos que são completamente pios se determina imediatamente [no dia de Ano Novo]; o destino da classe intermediária fica suspensa até o Dia da Expiação, quando se sela a sorte de cada homem".11 Significativa é a declaração rabínica: "No Dia da Expiação criarei a ti uma nova criação".12 Como o Dia da Expiação do Israel conectava ao Criador com sua obra de juízo, Jacques Doukhan considera o Dia da Expiação como um "antecedente específico em contraste com o qual está esboçado a mensagem de Apocalipse 14".13 Esta perspectiva é fascinante e abre um nível mais profundo de compreensão do chamado de Deus para adorá-lo "com temor e tremor" no tempo do fim. lhe dar glorifica como o Criador (Apoc. 14:6, 7) é um recordativo adequado da adoração do Israel em seu Dia da Expiação, e deve recordar à igreja a verdade de que a salvação não está apoiada em raça ou paróquia, a não ser em estar "em Cristo" por meio da fé pessoal (Rom. 5:1; 8:1). Os pecadores impenitentes no Israel ou no cristianismo não são reconhecidos pelo Deus do pacto (Amós 5:18-24; Ezeq. 9; Mat. 7:21-23). O escritor evangélico Leão Morris assinalou que: "...é digno de notar que a gente que se surpreenderá naquele dia não são os forasteiros, a não ser os que se acreditam salvos na igreja".14 "Pois É Chegada a Hora do Seu Juízo" (Apoc. 14:6, 7 ) O anúncio do primeiro anjo, de que chegou "a hora" do juízo de Deus, serve de resposta do céu à perseguição da besta. No plano de Deus chegou o tempo do dia do acerto de contas, e este juízo pode entender-se de duas formas que se complementam. A frase "é chegada a hora do seu juízo" pode aplicar-se ao juízo executivo de Deus, tal como se descreve em Apocalipse 14:14-20. O tempo gramatical perfeito "chegou" exerce então a função de um "perfeito profético" (um tempo passado para descrever um evento futuro, usado com freqüência pelos profetas de Israel) para enfatizar a certeza absoluta de seu cumprimento (ver, por ex., Jud. 14, RA, BJ; CI; JS). João também usou o perfeito profético ("adoraram o dragão") duas vezes em Apocalipse 13:4.15 Desta perspectiva, o primeiro anjo anuncia o juízo vindouro na segunda vinda de Cristo que descreve na visão seguinte (14:14-20), perspectiva que interpreta "a hora do juízo de Deus" como a execução do juízo da segunda vinda de Cristo. Ellen White reconheceu esta aplicação quando conectou a "colheita da terra" com a mensagem do primeiro anjo: "A mensagem do primeiro anjo de Apocalipse 14 [em Apoc. 14:6, 7], anunciando a hora do juízo...".16 A segunda forma considera primeiro a conexão com Daniel 7. Joyce G. Baldwin nos recorda que "o marco de Daniel 7 é juízo".17 Daniel tinha contemplado a sessão do tribunal na sala do trono celestial (Dan. 7:9, 10), depois que o "chifre pequeno" completou sua perseguição dos santos (vs. 25, 26). Só quando terminou este juízo celestial, "um como um filho de homem" veio "com as nuvens do céu" para receber o domínio sobre este mundo (vs. 13, 14). Até a frase "sentado sobre a nuvem, um semelhante ao Filho do Homem" em Apocalipse 14:14 está adotada diretamente do Daniel 7:13 e não dos Evangelhos, o que indica que João tinha a Daniel 7 especificamente em mente quando escreveu as visões de juízo de Apocalipse 14. Uma comparação estreita indica que a proclamação do anjo, "é chegada a hora de seu juízo ", é paralela à cena do juízo no céu da visão de Daniel, quando "assentou-se o juízo, e abriram-se os livros" (Dan. 7:9, 10). Ambas as visões de juízo formam a cena preliminar antes que venha o Filho do Homem. Por conseguinte, coincidimos com a observação de Doukhan com

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respeito a este ponto: "A visão do Daniel 7 e as mensagens dos três anjos de Apocalipse 14 estão situados ao mesmo nível na linha profética. Coincidem o juízo no céu predito em Daniel 7 e a proclamação dos três mensageiros de Apocalipse 14".18 A forma como se desloca o foco central de atividade em Daniel 7:8-14 (da terra ao céu, outra vez à terra, e de volta ao céu) indica que a sessão de juízo no céu "começa enquanto o chifre pequeno está ainda ativo e, portanto, precede o fim".19 Em resumo, Daniel prediz um juízo denominado pré-advento (anterior ao advento) em um tribunal celestial de justiça onde se colocam os tronos e se abrem os livros. O propósito deste tribunal celestial também é claro pelo contexto daniélico. Pronuncia-se o veredicto "não só com respeito à força perseguidora mas também com respeito aos santos".20 Os santos, caluniados e condenados pelo iníquo chifre pequeno, entram no juízo para obter vindicação: "Até que veio o Ancião de Dias e fez justiça aos santos do Altíssimo; e veio o tempo em que os santos possuíram o reino" (Dan. 7:22). Que tranqüilizador é para os santos que sofrem a perspectiva deste juízo de vindicação! Quando a mensagem do tempo do fim de Apocalipse 14:6-12 ficou ativada na história da igreja, começou a época final do tempo, "a hora de seu juízo veio [em gr., élthen]". Se se tomar o juízo para referir-se ao tribunal celestial do Daniel 7:9 e 10, então o tempo passado, "chegou", encaixa bem em seu sentido literal. Anuncia que Deus começou a fase final da história da salvação, que começou a sessão do tribunal no céu. O significado literal da frase "vinda é a hora do juízo", em Apocalipse 14:7, anuncia a iniciação do juízo de Deus anterior ao advento na sala do trono celestial. Este acontecimento novo no céu deve ser proclamado na terra, o que encontra uma analogia com o dia de Pentecostes em Atos 2. Desde esse dia os apóstolos anunciaram com valentia que Jesus de Nazaré tinha sido entronizado nas cortes celestiais como Rei e Sacerdote (At. 2:33, 36). Como evidência convincente desta entronização celestial de Cristo, apontaram a evidência inegável do derramamento do Espírito de Deus sobre os israelitas crentes em Cristo (v. 33, "isto que vedes e ouvis"). Essa manifestação dramática sobre a terra era a evidência da obra de Cristo no céu. Iniciou a missão apostólica com poder sobrenatural. Este modelo de causa celestial e efeito terrestre no começo da era da igreja, repetir-se-á em uma proporção mundial no tempo do fim (Apoc. 10; 14; 18:1-8). As visões de Apocalipse 12 a 14 mudam seu foco em forma regular entre o céu e a terra, como é o caso em Daniel 7. Doukhan observou quatro passos ou movimentos alternados entre o céu e a terra em Apocalipse 12 a 14,21 o que significa que a história da terra está associada com movimentos correspondentes no céu. A tríplice mensagem de Apocalipse 14 coincide com a sessão do tribunal celestial de Daniel 7, que conclui com a vinda de "um como um filho de homem... com as nuvens" para receber o domínio eterno sobre a terra (Dan. 7:13, 14). À terminação da missão da mensagem dos três anjos aparece o daniélico "um semelhante a filho de homem", sentado sobre "uma nuvem branca", para segar a terra e executar a sentença do juízo de Deus (Apoc, 14:14-20). Este paralelismo surpreendente entre Daniel 7 e Apocalipse 14 não foi levado a sério em muitos estudos apocalípticos modernos. Entretanto, esta correlação é a chave para descobrir a mensagem e o mandato do tempo do fim. O anúncio do primeiro anjo que diz que "vinda é a hora" do juízo de Deus, deve relacionar-se com a sessão do tribunal de Daniel 7. Este é o ponto decisivo para entender a urgência da tríplice mensagem. A proclamação final do evangelho eterno está irrevogavelmente conectada com o começo do juízo de Deus anterior ao advento tal como se descreve em Daniel 7. Estas são más notícias só para os perseguidores dos santos. Entretanto, como o explica W. G. Johnsson, "para o crente, o conhecimento de que estamos no tempo do juízo comunica esperança e a perspectiva de nosso lar eterno. Apocalipse 14:6 e 7 são boas novas para nós, porque mostra a Deus atuando como o árbitro moral do universo".22 A verdade presente não é por mais tempo simplesmente a perspectiva do dia vindouro do juízo, como pregou Paulo (ver At. 24:24, 25;17:31). O primeiro anjo anuncia que a "hora" da reunião celestial precede a hora da ceifa do mundo (Apoc. 14:15). Ambas as "horas" em

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Apocalipse 14:7 e 15 designam diferentes e sucessivos períodos de tempo no juízo de Deus; primeiro vem a fase preliminar do juízo no céu (Apoc. 14:7; Dan. 7:9, 10), seguido pelo juízo executivo na vinda do Filho do Homem (Apoc. 14:15; Dan. 7:13, 14). Assim que a transladação dos justos vivos à glória e a ressurreição dos que morreram em Cristo segue ao veredicto do juízo que acaba de preceder. Esta ordem consecutiva volta a ser apresentada por Daniel em sua conclusão: " E, naquele tempo, se levantará Miguel, o grande príncipe, que se levanta pelos filhos do teu povo, e haverá um tempo de angústia, qual nunca houve, desde que houve nação até àquele tempo; mas, naquele tempo, livrar-se-á o teu povo, todo aquele que se achar escrito no livro. E muitos dos que dormem no pó da terra ressuscitarão, uns para a vida eterna e outros para vergonha e desprezo eterno" (Dan. 12:1, 2). A perspectiva de Daniel se estende além da sessão de juízo como o dia de acerto de contas: leva-o à grande restauração do Reino por meio da ressurreição dos mortos. Disse Gerhard F. Hasel: "Por conseguinte, a grande culminação do livro de Daniel não é o juízo, tão importante como é para os propósitos redentores do povo de Deus. Antes, tudo leva à ressurreição e à nova era com o reino eterno já em existência. No plano de Deus, o juízo anterior à vinda da nova era está designado para levar salvação aos que são verdadeiramente seus".23 Dessa forma, Daniel 12:1-3 procede em descrever o juízo final (os mesmos livros de registro em Dan. 12:1 e em 7:9, 10) até a vindicação final dos santos, sua ressurreição à vida eterna e o gozo no reino dos céus. A Confirmação do Novo Testamento de um Juízo Pré-Ad vento A ordem consecutiva: avaliação e execução no juízo de Deus, está também contida na promessa de Jesus a respeito da ressurreição dos mortos: "E os que fizeram o bem sairão para a ressurreição da vida; e os que fizeram o mal, para a ressurreição da condenação" (João 5:29). Por este meio Jesus indicou que as pessoas serão ressuscitadas não para ser julgadas mas sim como resultado do veredicto do juízo de Deus. A ressurreição à vida e a ressurreição à condenação são claramente duas ressurreições diferentes, representando os que foram separados previamente pelo juízo avaliador de Deus. Jesus apontou a esta seqüência quando explicou que os que participem da ressurreição dos mortos, primeiro foram "tidos por dignos" (Luc. 20:35). A ressurreição à vida ou à morte é a execução da consideração judicial anterior de Deus. Quando Cristo retorne na glória divina, vem "para recompensar a cada um segundo as suas obras" (Apoc. 22:12; ver Mat. 16:27), "para fazer juízo contra todos" (Jud. 15). As descrições paulinas dos acontecimentos durante a segunda vinda de Cristo em 1 Tessalonicenses 4:16 e 17 e 2 Tessalonicenses 1:7-10 não sugerem nenhum processo judicial. Samuele Bacchiocchi fez esta inferência que é válida: "A vinda de Cristo é seguida imediatamente, não por um processo de juízo mas sim pelo ato executivo de Cristo de ressuscitar e transformar os crentes e de destruir os incrédulos. Qualquer processo de avaliação e determinação de cada destino humano já tomou lugar".24 O motivo principal para um juízo pré-advento se encontra no fato que os mortos foram julgados "pelas coisas que estavam escritas nos livros" (Apoc. 20:12). Os mortos não precisam estar presentes em pessoa para ser julgados no tribunal do céu. Na compreensão adventista, o juízo pré-advento ou juízo investigativo de Daniel 7:9-11, 13 e 14 está identificado com a profetizada "purificação" ou justificação do santuário celestial durante o tempo do fim (Dan. 8:14, 17, 19). Esta conexão provê o registro temporário do juízo pré-advento, de maneira que a última geração que será julgada durante sua vida possa estar advertida de antemão!25 O que é de importância fundamental para a igreja hoje não é possuir um conhecimento abstrato do juízo final de Deus ou de seu momento exato na história da salvação, mas sim a

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convicção de que uma fé salvífica em Cristo será ratificada no juízo final. Paulo expressou este discernimento evangélico do juízo final quando disse: "Agora pois, nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus... Quem acusará aos escolhidos de Deus? Deus é o que justifica" (Rom. 8:1, 33). Só os que estão sem Cristo serão condenados. O pensamento deste juízo divino é o pensamento mais solene da mente humana. Felizmente, o anjo de Apocalipse 14 centra primeiro nossa atenção no evangelho eterno porque só isto garante a justificação do homem no tribunal celestial. Referências 1 Chr. Wordsworth, Is the Papacy predicted by St. Paul? An Inquiry, p. 238. 2 Berkouwer, The Return of Christ, pp. 250, 251 3 Bosch, Die Heidenlnission in der Zukunftsschau Jesu [A Missão aos Gentios no Panorama Profético de Jesus], p. 167. 4 G. Kittel, Diccionario teológico del Nuevo Testamento, t. 2, p. 718. 5 Ibid., p. 731. 6 Blazen, "Justification and Judgment", 70 Weeks, Leviticus, Nature of Prophecy, pp. 343, 344. 7 Ver H. F. Fuhs, "Yir' at [Temor]", Theological Dictionary of the Old Testament [Dicionário teológico do Antigo Testamento] (Grand Rapids, Ml: Wm. B. Eerdmans, 1990), T. 6, p. 314. 8 J. M. Ford, Revelation, p. 248. 9 Rodríguez, Substitution in the Hebrew Cultus, p. 307. 10 The Mishnah [A Mishná] (H. Danby), p. 188. 11 Max. L. Margolis, "Day of Atonement", Jewish Encyclopedia [Enciclopédia judaica] (New York: Ktav Publishing House, 1901), T. II, P. 286. 12 Schechter, Aspects of Rabbinic Theology, p. 304. 13 Doukhan, p. 64. 14 Morris, The Biblical Doctrine of Judgment, p. 64. 15 Ver Shea, "Time Prophecies of Daniel 12 and Revelation 12-13" [As Profecias de Tempo em Daniel 12 e Apocalipse 12 e 13], Simpósio sobre o Apocalipse, t. 1, p. 358. 16 Ellen White, GC 379. 17 Baldwin, Daniel. Tyndale OT Commentaries, p. 149. 18 Doukhan, Daniel: The Vision of the End, p. 60. 19 Ferch, The Son of Man in Daniel Seven, p. 152. 20 Ibid., p. 177. 21 Doukhan, Daniel: The Vision of the End, pp. 57-59. 22 Johnsson, "The Saints' End-Time Victory Over the Forces of Evil", Simpósio sobre o Apocalipse, t. 2, p. 38. 23 Hasel, "A Study of Daniel 8:9-14" [Um Estudo de Daniel 8:9-14], Symposium on Daniel, pp. 460, 461. 24 S. Bacchiocchi, "The Pre-Advent Judgment in the New Testament", Adventists Affirm, p. 36. 25 Para um estudo adicional deste aspecto particular da finalização do ministério de Cristo no templo celestial, ver Creencias de los adventistas del séptimo día (Florida, Buenos Aires: ACES, 1989; 2 ts.), t. 2, cap. 23.

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XXVI - A MENSAGEM DO SEGUNDO ANJO - Apocalipse 14:8 "E outro anjo seguiu, dizendo: Caiu! Caiu Babilônia, aquela grande cidade que a todas as nações deu a beber do vinho da ira da sua prostituição!" (Apoc. 14:8). Este anjo "seguiu" o primeiro, não no sentido de substituí-lo, mas sim no sentido de acompanhá-lo (como em Apoc. 14:4). A mensagem adicional menciona a "Babilônia" pela primeira vez em Apocalipse, e a descreve como a grande adúltera que seduziu as nações com seu vinho intoxicante. A mensagem do segundo anjo não pode entender-se adequadamente se se isola Apocalipse 14 do contexto que lhe seguir nos capítulos 16 a 18, nos quais é dada mais informação a respeito de Babilônia. O outro enfoque para entender "Babilônia" é recuperar suas conexões com o Antigo Testamento. O nome "Babilônia" está escolhido de maneira intencional para revelar a relação teológica de tipo e antítipo com o arquiinimigo de Israel durante o velho pacto. A queda histórica do império neobabilônico, tal como Isaías, Daniel e Jeremias a predisseram, está decretado que seja o protótipo da queda de Babilônia do tempo do fim. Esta correspondência tipológica esclarece a interpretação da Babilônia do tempo do fim e de sua queda. Quando se estabeleceu a continuidade dos fundamentos teológicos de ambas as Babilônias, o Apocalipse proporciona a aplicação para o tempo do fim. Apocalipse 17 chama babilônia de "mistério" (V. 5), o que indica que a Babilônia do tempo do fim é a renovação apocalíptica da antiga cidade que se sentava sobre as "muitas águas" do Eufrates (Jer. 51:13). Uma comparação minuciosa revela a correspondência intencional:

BABILÔNIA DO TEMPO DO FIM: Apocalipse 17:1

BABILÔNIA HISTÓRICA: Jeremias 51:13

"Vem, mostrar-te-ei o julgamento da grande meretriz que se acha sentada sobre muitas águas".

"Ó tu que habitas sobre muitas águas, rica de tesouros! Chegou o teu fim, a medida da tua avareza".

Esta correspondência essencial das duas Babilônias está descrito pelo CBA nesta forma: "A antiga cidade de Babilônia estava situada junto às águas do rio Eufrates (ver com. Jer. 50:12, 38), morava simbolicamente 'entre muitas águas' ou povos (Jer. 51:12, 13; cf. Isa. 8:7, 8; 14:6; Jer. 50:23), assim também a Babilônia moderna é apresentada sentada ou vivendo sobre os povos da terra, ou oprimindo-os (cf. com. Apoc. 16:12)".1 A frase "Babilônia a Grande" (mencionada 5 vezes: 14:8; 16:19; 17:5; 18:2, 21) é uma alusão direta à egolatria de Nabucodonosor em Daniel 4:30 (ver também Apoc. 18:7). As frases a respeito da queda de Babilônia e de seu vinho intoxicante em Apocalipse 14:8 estão tomadas dos oráculos de condenação do Antigo Testamento contra Babilônia (Isa. 21:9; Jer. 51:7):

A QUEDA DA BABILÔNIA DO TEMPO DO FIM

A QUEDA DA BABILÔNIA HISTÓRICA

"Caiu, caiu a grande Babilônia "Caiu, caiu Babilônia; e todas as imagens de escultura dos seus deuses jazem despedaçadas por terra" (Isa. 21:9).

que tem dado a beber a todas as nações do vinho da fúria da sua prostituição" (Apoc. 14:8).

"A Babilônia era um copo de ouro na mão do SENHOR, o qual embriagava a toda a terra; do seu vinho beberam as nações; por isso, enlouqueceram" (Jer. 51:7).

Assim como a antiga Babilônia foi a perseguidora de Israel, assim também "Babilônia" no Apocalipse é a perseguidora do Israel de Deus no tempo do fim. Louis F. Were recalcou o caráter teológico de Babilônia: "Menciona-se Babilônia nas profecias do Apocalipse só devido a sua oposição à Jerusalém".2 Também A. Farrar comentou de maneira similar: "Babilônia é a paródia de Jerusalém".3 O contraste entre "Israel" e "Babilônia" que se descreve como duas mulheres, chega a ser

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ainda mais surpreendente quando se presta atenção a suas descrições detalhadas. Enquanto que a mulher de Deus no capítulo 12 aparece "no céu" iluminada com o sol e as estrelas, a mulher infiel do capítulo 17, adornada com as invenções do homem, "está sentada sobre muitas águas" e "sobre uma besta escarlate" (Apoc. 17:1-3). Enquanto que a mulher do capítulo 12 leva um menino em seu seio a quem vai dar a luz, a mulher do capítulo 17 tem em sua mão um cálice cheio do sangue dos descendentes da outra mulher. A primeira mulher é protegida; a segunda pe destruída. Não pode identificar-se Babilônia com Roma imperial. A grande "meretriz" que se senta "sobre uma besta escarlate" (Apoc. 17:3) é um símbolo que distingue Babilônia (a mulher) do poder político (a "besta"). Desde o começo, a característica essencial de Babel (literalmente, "porta dos deuses") foi elevar-se aos céus para usurpar o lugar e o poder soberano de Deus (ver Gên. 11:4; Isa. 14:13, 14; Jer. 51:53). A intenção básica de Babilônia de representar a Deus sobre a terra segundo "sua vontade" (Dan. 11:36) é o mal mais fundamental. Esta aspiração demoníaca se enfatiza na profecia do "chifre pequeno" do profeta Daniel (caps. 7 e 8) e do "rei do norte" (11:36-45). O objetivo perigoso de substituir tanto a Deus como a sua redenção messiânica fica desmascarado na guerra que faz o chifre contra o "Príncipe dos príncipes", o verdadeiro Sumo Sacerdote de Deus, e contra seu sacrifício todo suficiente (8:11, 25). Doukhan captou esta relação de Babilônia com o livro de Daniel com uma percepção aguda. Diz Doukhan: "A ambição de Babel é idêntica à do chifre pequeno. Tem uma natureza religiosa e está dirigida à posição do Sumo Sacerdote em relação com a purificação e o juízo. Dessa maneira, luta por conseguir tanto o poder para perdoar pecados como o fim último para decidir a respeito da salvação (ver Lev. 16:19, 32)".4 O segundo anjo anuncia que Deus julgou a Babilônia e suas reivindicações religiosas de representar a Deus na terra. A queda repentina de Babilônia é o veredicto judicial de Deus. Sua proclamação tenta admoestar os seguidores da besta e os adoradores de sua imagem para saírem de Babilônia. Isto se repete na mensagem do anjo de Apocalipse 18:1-5. Babilônia deve definir-se teologicamente por sua oposição a Israel, o verdadeiro povo de Deus, o que dá a entender que a mensagem do primeiro anjo é o que dá origem ao Israel do tempo do fim (14:6, 7). As mensagens proféticas de Apocalipse 14 antecipam um conflito renovado entre "Israel" e "Babilônia" para o tempo do fim, com o entendimento básico de que tanto os adoradores verdadeiros como os falsos são identificados teologicamente por sua relação com o evangelho eterno. O cativeiro de Israel levada a cabo pela Babilônia da antiguidade, a repentina queda de Babilônia seguida pelo êxodo do Israel de Babilônia e sua volta a Sião para restaurar a verdadeira adoração em um templo novo, tudo isto será repetido em princípio em uma escala universal. No tempo do fim Deus chamará a seu povo que está disperso em Babilônia: "Sai dela, povo meu, para que não sejas participante dos seus pecados e para que não incorras nas suas pragas. Porque já os seus pecados se acumularam até ao céu, e Deus se lembrou das iniqüidades dela." (Apoc. 18:4, 5). Esta chamada é a iniciativa de Deus para restaurar sua igreja remanescente, o povo mencionado em Apocalipse 12:17 e 14:12. Os verdadeiros adoradores devem abandonar "Babilônia", a igreja infiel que usa os "reis" ou poderes políticos para perseguir os "testemunhas de Jesus" (ver Apoc. 17:3-6; 18:24). Os santos devem fugir de Babilônia antes que chegue a hora de sua destruição, quer dizer, antes que o juízo de Deus asseste um golpe a todos os que tenham a marca da besta (16:1, 2). Esta chamada a "fugir" de Babilônia é paralela com o conselho anterior que Jesus deu a seus discípulos a "fugir" da cidade condenada de Jerusalém (Mat. 24:15, 16). A Babilônia a iguala explicitamente com a adoração idólatra no fim da era da igreja (ver Apoc. 16:1, 2, 19; 18:4, 8). A destruição de Babilônia se descreve como um juízo retributivo, por causa de seu crime de perseguir e executar os santos de Deus: "Exultai sobre ela, ó céus, e vós, santos, apóstolos e profetas, porque Deus contra ela julgou a vossa causa" (Apoc. 18:20). "Aleluia! A salvação, e a glória, e o poder são do nosso Deus, porquanto verdadeiros e justos

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são os seus juízos, pois julgou a grande meretriz que corrompia a terra com a sua prostituição e das mãos dela vingou o sangue dos seus servos" (Apoc. 19:1, 2). O anúncio profético do segundo anjo, "Caiu, Babilônia, a grande cidade" (Apoc. 14:8), está tomado da profecia de Isaías contra a antiga Babilônia: "Caiu, caiu Babilônia; e todas as imagens de escultura dos seus deuses jazem despedaçadas por terra" (Isa. 21:9). A queda de Babilônia foi o juízo de Deus por sua usurpação da soberania divina e a perseguição cruel do povo do pacto (ver Isa. 14:12-15; 13:11, 19; 14:3). As profecias de condenação de Isaías foram ampliadas pelo profeta Jeremias, quem declarou os cargos legais de Deus contra Babilônia (Jer. 50, 51). Isaías e Jeremias predisseram a queda de Babilônia como uma verdade profética. Entretanto, seu anúncio do veredicto de Deus chegou a ser a verdade presente para Israel no cativeiro. De igual maneira Daniel explicou a escritura na parede do palácio de Babilônia: "TEKEL: Pesado foste na balança e achado em falta" (Dan. 5:27). Este veredicto judicial foi uma realidade presente para Daniel e para Babilônia! O profeta experimentou o que tinha anunciado: o desaparecimento de Babilônia (v. 30; ver 2:38, 39). O veredicto de Deus no céu foi a causa verdadeira da queda subseqüente de Babilônia. Jeremias tinha mencionado que a condenação de Babilônia por parte de Deus estava motivada por sua fidelidade ao pacto com Israel, ainda que seu povo também era culpado: "Porque Israel e Judá não enviuvaram do seu Deus, do Senhor dos Exércitos; mas a terra dos caldeus está cheia de culpas perante o Santo de Israel... "Assim diz o Senhor dos Exércitos: Os filhos de Israel e os filhos de Judá sofrem opressão juntamente; todos os que os levaram cativos os retêm; recusam deixá-los ir; mas o seu Redentor é forte, Senhor dos Exércitos é o seu nome; certamente, pleiteará a causa deles, para aquietar a terra e inquietar os moradores da Babilônia" (Jer. 51:5; 50:33, 34). O veredicto de Deus sobre a antiga Babilônia, um ato de sua fidelidade ao pacto, encontra um paralelo na mensagem do tempo do fim de Apocalipse 14:8. João acrescenta à declaração: "Caiu Babilônia", uma chamada profética para escapar à condenação de Babilônia (ver Apoc. 18:4, 5). O período intermediário entre a proclamação e a destruição de Babilônia do tempo do fim é o tempo para que Israel fuja de Babilônia. Desse modo, a história antiga de Israel proporciona a fonte e o antecedente das mensagens do tempo do fim do Apocalipse. A mensagem cifrada que anuncia que Babilônia a Grande caiu, só será ativado depois que o evangelho apostólico tenha sido reavivado no tempo do fim (Apoc. 14:6). A interação entre as mensagens dos dois primeiros anjos de Apocalipse 14 se estende em forma gradual a todas as nações. Estes anjos traçam a linha de batalha entre Israel e Babilônia. Babilônia é identificada por sua oposição à mensagem do primeiro anjo, quer dizer, por sua oposição tanto ao evangelho eterno como à lei sagrada do Criador. A queda de Babilônia pode entender-se em dois níveis. Primeiro, como o veredicto judicial pronunciado no céu, e segundo, como sua condenação na história. A Babilônia do tempo do fim falha moralmente quando rechaça o evangelho eterno. Este ato a converterá em "habitação de demônios" (Apoc. 18:2). Nesse momento, seus pecados "chegarão até o céu" e alcançará o limite da graça divina (v. 5; Jer. 51:9). Então o tribunal celestial decidirá o castigo de Babilônia (ver Dan. 7:9-12). Enquanto que a mensagem do segundo anjo chama a atenção ao veredicto pronunciado no céu com respeito à culpabilidade de Babilônia, ainda se retarda a terminação do tempo de graça. O "vinho" de Babilônia, por meio do qual se intoxicaram todas as nações da terra, refere-se ao que parece aos ensinos doutrinais de Babilônia, com os quais corrompeu o evangelho eterno e os mandamentos de Deus (ver Apoc. 14:12). É útil considerar por meio de que causa imediata caiu a Babilônia da antiguidade. O rei Belsazar tinha ordenado o uso dos copos sagrados de ouro do templo de Israel para beber vinho em seu banquete imperial (Dan. 5:2, 3, 23). Nesse ato de profanação, os governantes de Babilônia "deram louvores aos deuses de ouro, de prata, de bronze, de ferro, de madeira e de pedra" (v. 4). Este ato idolátrico de provocação ao Deus de Israel marcou o fim do tempo de

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graça para Babilônia e trouxe o veredicto de sua condenação (v. 24). O Apocalipse mostra que a Babilônia do tempo do fim tem um cálice de ouro em sua mão, "cheio de abominações e da imundície de sua fornicação" (Apoc. 17:4). E porque finalmente tem levado "a beber a todas as nações do vinho da fúria da sua prostituição", cairá da graça protetora de Deus (Apoc. 14:8). Quando se bebe esse "vinho", a distinção fundamental entre o Criador e a criação, entre o santo e o profano, chega a ficar impreciso na mente das pessoas. Os adoradores da besta honrarão as criaturas mais que o Criador, o que é a essência da idolatria (ver Rom. 1:25; 1 Tes. 1:9). Em sua confusão a respeito da distinção estabelecida pelo Criador, os homens são levados a confiar em tradições humanas e no poder político para assegurar a paz. O juízo retributivo das sete últimas pragas ainda é um juízo futuro para Babilônia. A advertência da mensagem do segundo anjo (Apoc. 14:8; 18:1-5) tem sua relevância final para a geração que viva quando descerem as pragas sobre Babilônia (ver Apoc, 18:4, 5). Deste modo, as mensagens dos três anjos estão em um marco explícito do tempo do fim. Referências 1. 7 CBA 863. Ver também a "nota adicional" sobre Babilônia em 7 CBA 879-882. 2 Were, The Fall of Babylon in Type and Antitype, p. 14. 3 Farrar, A Rebirth of Images, p. 213. 4 Doukhan, Daniel: The Vision of the End, p. 66.

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XXVII - A MENSAGEM DO TERCEIRO ANJO - Apocalipse 14 :9-12 "Seguiu-se a estes outro anjo, o terceiro, dizendo, em grande voz: Se alguém adora a besta e a sua imagem e recebe a sua marca na fronte ou sobre a mão, também esse beberá do vinho da cólera de Deus, preparado, sem mistura, do cálice da sua ira, e será atormentado com fogo e enxofre, diante dos santos anjos e na presença do Cordeiro. A fumaça do seu tormento sobe pelos séculos dos séculos, e não têm descanso algum, nem de dia nem de noite, os adoradores da besta e da sua imagem e quem quer que receba a marca do seu nome. Aqui está a perseverança dos santos, os que guardam os mandamentos de Deus e a fé em Jesus" (Apoc. 14:9-12). Esta advertência solene é dirigida a cada crente. Convoca a cada um a permanecer firme contra as ameaças de morte do anticristo, e desenvolve a mensagem do segundo anjo de que todas as nações se viram compelidas a "beber o vinho" de Babilônia (Apoc. 14:8): "Se alguém beber o vinho da ira de Babilônia, também terá que beber o vinho da ira de Deus!" O "cálice" simbólico da ira de Deus (Apoc. 14:10; 16:19) era um conceito tradicional nas profecias de juízo de Israel. O "cálice de vinho" na mão de Deus servia como o símbolo de sua justiça punitiva. Até Israel que quebrantou o pacto teve que beber o vinho de sua ira (Jer. 25:15, 16, 17; 49:12; Ezeq. 23:31-34; Isa. 51:17, 22; Sal. 60:3; 75:8). Mas Israel experimentou a taça da ira de Deus só em forma temporária (ver Sal. 60:3; Isa. 51:22). Entretanto, alguns inimigos de Israel tiveram que beber a taça da ira até sua extinção: "Beberão, e engolirão, e serão como se não tivessem sido" (Ob. 16). "Bebei, embebedai-vos e vomitai; caí e não torneis a levantar-vos..." (Jer. 25:27; também o v. 33). A aceitação por parte de Jesus da taça da ira divina da mão de Deus no Getsêmani pertence à essência do evangelho (Mat. 20:22; 26:39, 42). Declara E. W. Fudge: "Porque ele aceitou aquela taça, seu povo não tem que bebê-la. A taça que nos deixa [a taça da comunhão] é um recordativo constante de que ele ocupou nosso lugar (Mat. 26:27-29)".1 Os adoradores da besta têm que beber a ira de Deus "pura" [em gr., akrátu; "sem diluir", NBE; "sem mistura", CI). Este cálice da ira já não está misturado com misericórdia. Derramar-se-á com as 7 últimas pragas (Apoc. 15:1). Isto significa que todas as pragas de Apocalipse 16 constituem uma parte integral da mensagem do terceiro anjo. Uma expressão hebraica nestes versículos tem desafiado os intérpretes: "Será atormentado com fogo e enxofre, diante dos santos anjos e na presença do Cordeiro. A fumaça do seu tormento sobe pelos séculos dos séculos, e não têm descanso algum, nem de dia nem de noite, os adoradores da besta e da sua imagem e quem quer que receba a marca do seu nome" (Apoc. 14:10, 11). A frase "fogo e enxofre" é parte da maldição do pacto, maldição que inclui extinção ou aniquilação (Deut. 29:23; Sal. 11:6). O juízo sobre Sodoma e Gomorra resultou em que "subia da terra fumo como fumaça de um forno" (Gên. 19:23, 28, CI). Também foi o juízo de Deus sobre Edom, um dos arquiinimigos de Israel (Isa. 30:27-33; Ezeq. 38:22): "Os ribeiros de Edom se transformarão em piche, e o seu pó, em enxofre; a sua terra se tornará em piche ardente. Nem de noite nem de dia se apagará; subirá para sempre a sua fumaça; de geração em geração será assolada, e para todo o sempre ninguém passará por ela" (Isa. 34:9, 10). É evidente que a mensagem do terceiro anjo em Apocalipse 14 toma sua fórmula de maldição especificamente de Isaías 34. A desolação e a extinção histórica de Edom é o modelo ou o tipo da sorte de Babilônia (ver Jud. 6, 7). A natureza deste castigo não reside em um tormento eterno como pode ver-se hoje em dia de Edom, a não ser na conseqüência eterna do fogo: "Subirá para sempre a sua fumaça" (ver Isa. 34:10 e 66:24). O fogo é inextinguível até que tenha completado sua obra. Nas palavras do E. W. Fudge: "Os ímpios morrem uma morte atormentadora; a fumaça recorda a todos os espectadores que o Deus soberano tem a última palavra. Que a fumaça sobe perpetuamente no ar significa que as mensagens de juízo nunca chegarão a ser antiquadas".2

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A maldição que diz que os que adorem à besta não terão "repouso de dia nem de noite" está tirada de uma maldição específica do pacto sobre um Israel rebelde: "Por isso, jurei na minha ira: não entrarão no meu descanso" (Sal. 95:11). Enquanto que o significado original se referia ao repouso de Israel na terra prometida, o Novo Testamento aplica o repouso prometido ao repouso da graça de Deus no qual cada crente deve entrar agora (Heb. 4:3). Este repouso divino esteve disponível desde que Deus descansou no sétimo dia da semana da criação! (Gên. 2:2, 3). "Portanto, ainda fica um descanso sabático para o povo de Deus. Porque o que 'entra em seu repouso' descansa ele também de suas obras, como Deus das suas" (Heb. 4:9, 10, JS; CI; BJ). O castigo final será o rechaço de Deus de dar repouso aos adoradores da besta. Por outro lado, uma voz celestial anuncia que os "mortos que, desde agora, morrem no Senhor.... que descansem das suas fadigas, pois as suas obras os acompanham" (Apoc. 14:13). Esta bem-aventurança se refere aos que morrem em Cristo durante as perseguições do anticristo do tempo do fim. Sua perseverança será recompensada. A mensagem do terceiro anjo pronuncia a resposta de Deus à ameaça feita pela besta, como mostra a seguinte comparação. APOCALIPSE 13:16 "A todos, os pequenos e os grandes, os ricos e os pobres, os livres e os escravos, faz que lhes seja dada certa marca sobre a mão direita ou sobre a fronte". APOCALIPSE 14:9, 11 "Se alguém adora a besta e a sua imagem e recebe a sua marca na fronte ou sobre a mão ... e não têm descanso algum, nem de dia nem de noite, os adoradores da besta e da sua imagem e quem quer que receba a marca do seu nome". Estas correspondências temáticas e verbais entre Apocalipse 13 e 14 indicam que a tríplice mensagem de Apocalipse 14 depende de uma correta compreensão de Apocalipse 13. Entretanto, toda a informação a respeito da besta está exposta na visão do juízo de Apocalipse 17, o que significa que Apocalipse 17 constitui igualmente uma parte interpretativa essencial da mensagem de advertência de Apocalipse 14. A Marca da Besta Nosso tema agora é compreender o significado teológico de "a marca da besta". É a marca identificadora do culto de adoração que se rende à besta. "Não se pode ter a marca sem o ato de adoração".3 A ambição da besta-anticristo de receber adoração divina é a mentalidade de Babilônia. Seu endeusamento próprio entra em conflito com a chamada de Israel a adorar o Criador e Juiz da humanidade (Apoc. 14:7). A mensagem do terceiro anjo é o rogo do céu à humanidade para que se volte para o Criador, ao Deus do pacto do Israel, tal como está revelado nas Escrituras. O assunto fundamental não é identificar a marca de uma maneira isolada, mas sim vê-la como um ato de adoração da besta e por isso, como uma atitude de idolatria. O terceiro anjo "indica a natureza da usurpação: a besta se apropria das prerrogativas do Deus Criador, e é adorada".4 A usurpação das prerrogativas divinas pela besta é seguida por sua demanda para que a reconheçam por meio da "marca em sua fronte ou em sua mão" (Apoc. 14:9). Seu significado chega a ser claro quando se considera à luz do dever de Israel de atar os mandamentos e as palavras de Deus: "Ata-as à tua mão como um sinal, como um aviso ante teus olhos" (Deut. 6:8; cf. 11:18, BJ). Para Israel, seu significado espiritual era evidente: atuar e pensar em harmonia com a vontade de Deus e recordar diariamente a redenção do êxodo (ver Deut. 6:5; Êxo. 13:8, 9).* Gerhard von Rad faz este comentário sobre o Deuteronômio 6:8: "Provavelmente temos que tratar ainda aqui com uma forma figurada de expressão que mais tarde foi entendida literalmente e levou ao uso dos chamados filactérios".5 De fato, Moisés mesmo explicou o propósito moral de atar os mandamentos de Deus a suas mãos e a suas frentes: "O Senhor, teu Deus, temerás, a ele servirás, e, pelo seu nome, jurarás. Não seguirás outros deuses, nenhum dos deuses dos povos que houver à roda de ti, porque o Senhor, teu Deus, é

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Deus zeloso no meio de ti, para que a ira do Senhor, teu Deus, se não acenda contra ti e te destrua de sobre a face da terra... Diligentemente, guardarás os mandamentos do Senhor, teu Deus, e os seus testemunhos, e os seus estatutos que te ordenou" (Deut. 6:13-15, 17). O mandamento do Senhor incluía também a observância ritual da Páscoa e o comer pães sem levedura para comemorar a libertação do êxodo: "E será como sinal na tua mão e por memorial entre teus olhos; para que a lei do Senhor esteja na tua boca; pois com mão forte o Senhor te tirou do Egito. Portanto, guardarás esta ordenança no determinado tempo, de ano em ano" (Êxo. 13:9, 10). Este histórico da adoração de Israel esclarece o propósito da marca da besta "na fronte e na mão" (Apoc. 20:4). A marca evoca a antítese intencional da adoração de Israel. Representa a essência de um culto falsificado como usurpação e substituição. A besta ameaça com a morte se suas ordens totalitárias são desobedecidas (Apoc. 13:15-17). Promete vida, mas só temporal, a todos os que levem sua marca. R. H. Charles comentou a respeito: "Ambos [o selo e a marca] estavam destinados a mostrar que os que levam as marcas estão sob a proteção sobrenatural: os primeiros sob a proteção de Deus; os últimos, sob a de Satanás".6 Beatrice S. Neall explica mais isto quando diz: "No Apocalipse, o selo de Deus protege da ira de Deus (Apoc. 15:2, 3; 16:2) mas não da ira da besta (13:15, 17). De maneira similar, a marca da besta protege das sanções econômicas (v. 17) e do decreto de morte (v. 15) da besta, embora faça a seus possuidores elegíveis para receber a ira de Deus (14:9-11 )".7 Tanto Cristo como o anticristo desejam a lealdade indivisa de seus adoradores, a devoção completa de seu pensamento (a "fronte") e de seu atuar (a "mão"). O anticristo pode satisfazer-se com a marca ou na mão ou sobre a fronte, como sugere Apocalipse 13:16 e 14:9 (entretanto, ver Apoc. 20:4). Uma diferença básica entre os sistemas rivais de adoração é que a besta emprega a coerção, enquanto que o Cordeiro emprega a persuasão. A prova final da adoração verdadeira não é crer porque há milagres, os quais podem ser enganosos (Apoc. 13:14; 19:20; Mat. 24:24), e sim crer na "Palavra de Deus e no testemunho de Jesus" (Apoc. 1:9; 6:9; 12:17; 20:4). A verdade tanto do Antigo como do Novo Testamento é a revelação de que o Deus de Israel é o Criador Todo-poderoso e que ele ordenou o sétimo dia, no sábado, como um monumento recordativo de sua obra criadora (Gên. 2:2, 3; Êxo. 20:8-11; 31:12-17). Este mandamento da criação foi enriquecido como o sinal da redenção de Israel da escravidão (ver Deut. 5:12-15). A celebração do sábado identifica o Criador vivente que permanece fiel à sua criação (1 Ped. 4:19). Igualmente oferece a participação em sua graça redentora (ver Ezeq. 20:12, 20). Esta verdade chega a ser relevante de uma maneira especial no tempo do fim, quando o dogma da evolução veio a ser a hipótese da ciência (desde 1859). Por isso a tríplice mensagem de Apocalipse 14 assume cada vez mais relevância. Requer a celebração do sábado restaurado como "a expressão concreta da fé na criação, o sinal da dependência de um do céu... o sinal de que a salvação vem só de cima".8 O Surgimento do Povo Remanescente de Deus (Apoc. 14 :12) No conflito entre as adorações rivais, Deus preserva os que se apegam a ele com lealdade. A mensagem do terceiro anjo conclui com uma chamada especial a perseverar na fé: "Aqui está a paciência dos santos, os que guardam os mandamentos de Deus e a fé de Jesus" (Apoc. 14:12). Este texto levou J. M. Ford a fazer o seguinte comentário: "Parece que não há caminho intermediário; ou se adora a besta e está condenado, ou se aceita com paciente resistência a perseguição da besta, obedece os mandamentos de Deus, morre nele e recebe a recompensa por suas boas obras (v. 13)".9 Autores dispensacionalistas tomam aos santos de Apocalipse 14:12 como crentes judeus cuja parte não está no corpo de Cristo simplesmente porque "guardam os mandamentos de Deus". Mas isto mostra como um dogma preconcebido influi na exegese. Uma comparação de

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Apocalipse 14:12 com 12:17 e 1:9 demonstra que as características dos santos no capítulo 14:12 são as da igreja apostólica e as mesmas de João. A primeira epístola de João define o pecado como a transgressão da lei, como anomia ou ilegalidade (1 João 3:4). Exorta a todos os crentes cristãos a obedecer os mandamentos de Deus, incluindo o mandamento de crer em seu Filho Jesus Cristo e o mandamento de Cristo de amar-se uns aos outros (1 João 2:3-6; 3:21-24). A ameaça final contra a vida dos santos requer uma perseverança [em gr., upomoné]. Jesus tinha mencionado esta característica como sendo essencial para o tempo do fim: "Mas o que perseverar [upomeínas] até o fim, este será salvo" (Mat. 24:13). Mas "perseverar" é o fruto da fidelidade à vontade de Deus, tanto ao evangelho como à lei de Deus. A advertência da epístola aos Hebreus também é a ter "perseverança [upomoné] para que, depois de fazer a vontade de Deus, consigam a promessa" (Heb. 10:36, CI; ver 12:1-3). A epístola aos Hebreus assinala os exemplos dos santos que viveram "por fé" [em hebreu, 'emunáh, "fidelidade"] em uma crise anterior (Heb. 10:37, 38; Hab. 2:3, 4). Tiago explica que "a prova de sua fé produz paciência" e a maturidade da estabilidade (Sant. 1:3-8). Por isso anima a todos os santos dizendo: "Feliz o homem que suporta a prova! Superada a prova receberá a coroa da vida que o Senhor prometeu aos que o amam" (v. 12). Um exemplo evidente é Jó, que seguiu confiando em que Deus o vindicaria contra seus falsos acusadores (Tia. 5:11). Não entendendo por que tinha que sofrer tanto sendo inocente, Jó ainda expressou sua fé: "Eu sei que meu Redentor [ou "defensor", BJ; ou "reivindicador", CI] vive, e no fim se levantará sobre a terra" (Jó 19:25). A última geração de crentes cristãos pode ter que suportar uma prova de fé similar a do Jó. A fé perseverante se expressa em guardar "os mandamentos de Deus e a fé de Jesus" (Apoc. 14:12, RC). Obedecem tanto à lei como à fé de Jesus em suas vidas (ver mais acima sobre Apoc. 12:17 e 19:10). O Significado Bíblico do Sábado do Senhor Muitos teólogos negam que o sábado seja uma ordem da criação. Insistem em que o sábado foi feito por Moisés só para a nação de Israel (Êxo. 16; Deut. 5:12-15). O assunto mais profundo que está em jogo neste debate teológico é a credibilidade do registro da criação em Gênesis 1 e 2 e seu reflexo no quarto mandamento em Êxodo 20. Um teólogo americano apresentou esta avaliação válida da origem do sábado: "De acordo com o cânon da Escritura, a 'interpretação da criação' do sábado se afirma como teologicamente anterior à 'interpretação da redenção'. Entretanto, isto significa que o mandamento do sábado sempre é obrigatório para todos os homens, obedeçam-no ou não! Na redenção de Israel da terra do Egito não se estabeleceu o sábado pela primeira vez, mas sim se restaurou; a lei moral não foi primeiro proclamada no Sinai, mas sim ali se voltou a proclamá-la. Em conseqüência, porque a lei do sábado está fundada na ordem da mesma criação e pertence a todas as criaturas, a interpretação tradicional cristã do sábado como uma cerimônia abolida por Jesus Cristo, é incorreta".10 O motivo básico da tríplice mensagem de Apocalipse 14 é o da restauração! Desempenha o mesmo propósito que a chamada de Isaías a um Israel extraviado: "Clama a plenos pulmões, não te detenhas, ergue a voz como a trombeta e anuncia ao meu povo a sua transgressão e à casa de Jacó, os seus pecados" (Isa. 58:1). "Os teus filhos edificarão as antigas ruínas; levantarás os fundamentos de muitas gerações e serás chamado reparador de brechas e restaurador de veredas para que o país se torne habitável" (Isa. 58:12). Para Isaías, a prova da verdadeira adoração era a restauração da justiça do pacto entre o povo de Deus. Isto significava ter amor pelos fracos (Isa. 58:6, 7) e obediência em louvar a Deus em seu "santo dia" (vs. 13, 14).

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No tempo do fim, o céu suplica mais uma vez a seu povo extraviado para que faça frente ao desafio de usurpação e substituição com a chamada pela restauração e a restituição. Requer o reavivamento dos mandamentos de Deus e do evangelho de Jesus Cristo (Apoc. 14:12). Esta é a chamada final para um retorno à verdade e autoridade da Bíblia. A Escritura deve ter a última palavra para determinar a vontade de Deus. Toda certeza da verdade religiosa depende de se se aceitarem as Escrituras como a revelação autorizada da vontade de Deus. "Elas são a norma do caráter, o revelador das doutrinas, a pedra de toque da experiência religiosa".11 A Mensagem de Preparação para o Segundo Advento As mensagens de Apocalipse 14 insistem a todos os adoradores a escutar atentamente a voz de Deus e a procurar uma compreensão melhor do evangelho e do testemunho de Jesus. Esta súplica assinala a diferença fundamental entre a Bíblia e a tradição da igreja. Insiste-nos a aceitar a responsabilidade pessoal para distinguir entre a autoridade bíblica e a autoridade da igreja, e a subordinar todos os profetas extrabíblicos à autoridade suprema da Escritura. O assunto essencial da tríplice mensagem de Apocalipse 14 é a questão do que em última instância ata a consciência humana ante Deus! A súplica do céu em Apocalipse 14 nos recorda que a criação e a redenção não podem ser separadas, que o Redentor é o Sustentador da criação. O sábado do Senhor nunca pode ser anulado ou mudado porque é o mandamento da criação do Criador e Redentor. É o monumento comemorativo de uma criação perfeita por parte de um Criador digno de confiança, Criador que nunca abandonará a obra de suas mãos (Sal. 138:8). Entretanto, suplica-nos que lhe respondamos como o "fiel Criador" (ver 1 Ped. 4:19). "Bem-aventurado aquele que tem o Deus de Jacó por seu auxílio, cuja esperança está no Senhor, seu Deus, que fez os céus e a terra, o mar e tudo o que neles há" (Sal. 146:5, 6). O Convite do Último Elias A relação da tríplice mensagem de Apocalipse 14 com a promessa de Malaquias de que Deus enviará o "profeta Elias, antes que venha o grande e terrível dia do Senhor" (Mal. 4:5, 6), é de um significado dramático. É evidente que o último profeta do Antigo Testamento prediz uma chamada final para o reavivamento e a reforma entre o povo do pacto de Deus antes do dia do juízo apocalíptico (ver os vs. 1, 2). Este convite corresponde em essência ao que Elias fez ao Israel: "Se Jeová é Deus, sigam-no; e se Baal, sigam-no" (1 Reis 18:21). O último convite de Deus no Apocalipse se apresenta em sua súplica a "adorar" a Deus como o Criador e a não adorar a besta nem a sua imagem (Apoc. 14:6-9). Para compreender melhor o significado do Elias do tempo do fim, precisamos ler a narração da missão de Elias em 1 Reis 17 e 18. Malaquias exaltou a missão histórica de Elias, com sua confrontação dramática em combate com Baal no Monte Carmelo, como um tipo ou símbolo teológico para o tempo do fim. Uma análise detalhada desta correspondência tipo-antítipo da promessa de Elias em Malaquias 4 se oferece em outro lugar.12 A medula deste tipo histórico pode compendiar-se em três pontos: (1) Elias foi enviado por Deus em um tempo de apostasia moral e religiosa em Israel (1 Reis 16:30-33; 18:18; 21:25); (2) Elias foi enviado com uma mensagem de restauração do Deus do pacto, que significava um compromisso novo de Israel com seu Deus e uma restauração de seu sagrado culto de adoração e de seus mandamentos morais (18:18, 21, 30, 31); e (3) a aceitação ou o rechaço da mensagem de Elias significava vida ou morte e, portanto, era um assunto de conseqüências eternas (ver 18:39-44). A chave para a aplicação do tempo do fim nós a encontramos na mensagem de João Batista, porque sua mensagem em preparar o caminho para a vinda do Messias continha os fundamentos da mensagem de Elias (ver Luc. 1:11-17). Jesus reconheceu que João era o Elias da profecia mesmo que o judaísmo contemporâneo não o reconheceu (Mat. 17:10-13).

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A missão de João era preparar a Israel para a vinda do Messias (João 1:23) e para "restaurar todas as coisas" (Mat. 17:11). Sua presença era o sinal visível do advento iminente do Messias (ver João 1:29; Mat. 3:10-12). João negou que ele fora uma reencarnação do Elias (João 1:21), mas afirmou que ele era a mensagem de Elias "com o fim de preparar ao Senhor um povo bem disposto" (Luc. 1:17; ver João 1:23). João foi enviado no momento correto, com uma mensagem urgente de arrependimento para despertar Israel à vontade de Deus e a sua visitação iminente. Sua mensagem criou um povo remanescente novo dentro da nação de Israel. Jesus aceitou o batismo de João e chegou a ser parte deste remanescente. Escolheu a seus primeiros apóstolos dentre os seguidores de João Batista. A mensagem de Apocalipse 14 é a mensagem de preparação para o tempo do fim. Sua ativação cria um povo que está preparado para encontrar-se com seu Criador. Assim como Elias, são fiéis à lei do pacto original de Deus. Escolheram estar ao lado de Deus, o Criador. Tornaram seus corações ao Deus de seus ascendentes espirituais e mantêm uma continuidade com o Israel do Antigo Testamento (Mal. 4:6). A mensagem de Elias para o tempo do fim está desenvolvido pelo Espírito de profecia em Apocalipse 14:6-12. Sua proclamação mundial será seguida pela segunda vinda de Cristo como o Rei e Juiz (ver os vs. 14-20), o que define a tríplice mensagem como a chamada a despertar com o fim de preparar um povo para a segunda vinda de Cristo. Leva à hora da decisão, da mesma maneira que Elias e João Batista levaram ao Israel apóstata a um compromisso novo com seu Senhor. Hoje a mensagem de Elias convoca a todas as pessoas para que deixem de idolatrar a criação e que adorem o Criador (Apoc. 14:7). Uma mensagem assim é oportuna considerando o surgimento da hipótese da evolução e o triunfo da filosofia materialista. Esta chamada de Deus tem aplicações de longo alcance: "Na exaltação do humano sobre o divino, no louvor aos líderes populares, no culto a Mamom, e na exaltação dos ensinos da ciência sobre as verdades da Revelação, multidões hoje estão seguindo a Baal".13 Necessita-se cada vez mais a voz de Elias em nossa civilização decadente. Reverberará por toda a sociedade e está refletida no movimento mundial de cristãos guardadores do sábado. Fizeram um compromisso com o Deus de Israel e com seu Cristo neste tempo do fim. Aceitam como seu credo a Bíblia e a Bíblia só. Referências 1 Fudge, The Fire That Consumes, p. 296. 2 Ibid., p. 298. 3 R. H. Charles, The Revelation of St. John, t. 1, p. 360. 4 Doukhan, Daniel: The Vision of the End, p. 69. 5 Von Rad, Deuteronomy, p. 64. 6 Charles, The Revelation of St. John, t. 1, p. 363. 7 Neall, The Concept of Character in the Apocalypse with Implications for Character Education, p. 151. 8 Doukhan, Daniel: The Vision of the End, p. 71. 9 J. M. Ford, Revelation, p. 249. 10 Richardson, Toward an American Theology, p. 115. 11 Ellen White, GC 7. 12 Ver LaRondelle, Chariots of Salvation, cap. 11. 13 Ellen White, PR 170.

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XXVIII - A DUPLA CEIFA DA TERRA - Apocalipse 14:14- 20 "Olhei, e eis uma nuvem branca, e sentado sobre a nuvem um semelhante a filho de homem, tendo na cabeça uma coroa de ouro e na mão uma foice afiada. Outro anjo saiu do santuário, gritando em grande voz para aquele que se achava sentado sobre a nuvem: Toma a tua foice e ceifa, pois chegou a hora de ceifar, visto que a seara da terra já amadureceu! E aquele que estava sentado sobre a nuvem passou a sua foice sobre a terra, e a terra foi ceifada." (Apoc. 14:14-16). Esta representação simbólica da segunda vinda de Cristo como Rei e Juiz da terra une duas cenas separadas de juízo no Antigo Testamento. As frases, "nuvem branca" sobre a qual está sentado "um semelhante ao Filho do Homem", são frases adotadas da cena de juízo de Daniel 7. O chamado para segar a terra com uma "foice aguda" está tomada diretamente da cena de juízo de Joel 3. A ordem que dá um anjo, "toma a tua foice e ceifa, pois chegou a hora de ceifar, visto que a seara da terra já amadureceu!" (Apoc. 14:15), é uma expansão deliberada de Joel 3:13. A fusão das profecias anteriores de juízo demonstra que João considerava estas predições hebraicas como complementares uma da outra. Com engenho criador em Apocalipse 14, João estrutura o conceito do juízo em torno de Cristo como Juiz de toda a humanidade, que é uma reinterpretação cristocêntrica do juízo que primeiro foi introduzido por Jesus: "Então, verão o Filho do Homem vir nas nuvens, com grande poder e glória. E ele enviará os anjos e reunirá os seus escolhidos dos quatro ventos, da extremidade da terra até à extremidade do céu" (Mar. 13:26, 27; cf. Mat. 24:30, 31). Durante a audiência no tribunal diante do sumo sacerdote Caifás, Jesus declarou sob juramento que ele era na verdade o Messias e por conseguinte o Juiz final: "Desde agora, vereis o Filho do Homem assentado à direita do Todo-Poderoso e vindo sobre as nuvens do céu" (Mat. 26:64). O que Jesus predisse está descrito visualmente em Apocalipse 14:14. A frase "um como Filho de homem" (BJ) não é tirada dos Evangelhos, e sim diretamente de Daniel 7:13, o que indica claramente que a visão do juízo de Daniel 7 é o antecedente imediato de Apocalipse 14:14. É um descobrimento de um significado fundamental entender que Daniel 7 e Apocalipse 14 se relacionam entre si como verdade profética e verdade presente! O assunto essencial nesta revelação progressiva é o cumprimento cristológico da profecia messiânica de Daniel (Dan. 7:13, 14; Apoc. 14:14; também 1:7, 13). Esta declaração de Jesus foi uma afirmação chocante para o sumo sacerdote (Mat. 26:64) e inclusive para os próprios apóstolos de Jesus (24:30, 31). A visão do juízo de João em Apocalipse 14 confirma a nova revelação de Jesus como uma verdade sempre presente para a igreja de todos os tempos. A seqüência de Daniel dos acontecimentos históricos em capítulo 7 também se repete em Apocalipse 13 e 14: perseguição, juízo, reino messiânico. Assim como o reino de Deus incluía seu direito a julgar a todos os homens, assim também o reino de Cristo (a "coroa de ouro" real) está unida com o juízo final (a "foice aguda"). João Batista descreveu a vinda do Messias de Israel como uma colheita que separa o trigo da palha: "Em sua mão tem a pá, e limpará a sua eira, e recolherá no celeiro o seu trigo, e queimará a palha com fogo que nunca se apagará" (Mat. 3:12). Esta linguagem figurada indica que o juízo messiânico proporciona redenção aos santos. Serão reunidos como o trigo no celeiro eterno de Deus. J. M. Ford explica a colheita de Apocalipse 14 de acordo com isto: "Portanto, esta colheita [a de Apoc. 14:14-16] é uma colheita de proteção em lugar de destruição e por conseguinte, segue naturalmente depois da exortação dos santos (vs. 12, 13)".1 Apocalipse 14 começou com os 144.000 companheiros do Cordeiro como as "primícias" para

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Deus (Apoc, 14:4). O capítulo conclui com uma visão da colheita total da humanidade. O anjo indica que "a seara da terra já amadureceu" (v. 15). Uma questão muito importante é: O que foi que causou a maturação mundial de maneira que toda a terra está pronta para a colheita? A resposta pode encontrar-se na proclamação eficaz da tríplice mensagem, habilitado pelo Espírito Santo que iluminará toda a terra, tal como se descreve em Apocalipse 18:1-5. Uma pregação universal do evangelho assim, com a voz de Elias, converterá toda a terra em um "Monte Carmelo", em um "vale de Josafá" ou "vale da decisão" (Joel 3:12, 15). Em sua parábola do joio (Mat. 13:36-43), Jesus ampliou o campo até lhe dar uma extensão universal: "O campo é o mundo, a boa semente são os filhos do Reino, e o joio são os filhos do Maligno. O inimigo que o semeou é o diabo; e a ceifa é o fim do mundo; e os ceifeiros são os anjos" (vs. 38, 39). Depois Jesus enfatizou a separação final entre os ímpios e os justos com respeito a seu destino eterno: "Mandará o Filho do Homem os seus anjos, e eles colherão do seu Reino tudo o que causa escândalo e os que cometem iniqüidade. E os lançarão na fornalha de fogo; ali, haverá pranto e ranger de dentes" (vs. 41-43). A visão do juízo de Apocalipse 14:14-20 serve como a confirmação dramática da parábola do joio de Jesus. A visão da grande colheita de uvas em Apocalipse 14:17-20 amplia a descrição da colheita de uvas em Joel 3:13 e a volta a definir como um juízo que está centrado em Cristo. "Então, saiu do santuário, que se encontra no céu, outro anjo, tendo ele mesmo também uma foice afiada. Saiu ainda do altar outro anjo, aquele que tem autoridade sobre o fogo, e falou em grande voz ao que tinha a foice afiada, dizendo: Toma a tua foice afiada e ajunta os cachos da videira da terra, porquanto as suas uvas estão amadurecidas! Então, o anjo passou a sua foice na terra, e vindimou a videira da terra, e lançou-a no grande lagar da cólera de Deus. E o lagar foi pisado fora da cidade, e correu sangue do lagar até aos freios dos cavalos, numa extensão de mil e seiscentos estádios"

A CONVOCATÓRIA DIVINA EM JOEL 3 EM APOCALIPSE 14

"Congregarei todas as nações e as farei descer ao vale de Josafá; e ali entrarei em juízo contra elas por causa do meu povo e da minha herança, Israel ... (3:2).

"A cada nação, e tribo, e língua, e povo, dizendo, em grande voz: Temei a Deus e dai-lhe glória, pois é chegada a hora do seu juízo..." (14:6, 7).

AS ACUSAÇÕES "a quem [a meu povo] elas espalharam por entre os povos, repartindo a minha terra entre si" (3:2; ver também os vs. 5, 6).

"Caiu, caiu a grande Babilônia que tem dado a beber a todas as nações do vinho da fúria da sua prostituição" (14:8; ver também 17:5, 6).

LIBERTAÇÃO DOS SANTOS "todo aquele que invocar o nome do Senhor será salvo; porque, no monte Sião e em Jerusalém, estarão os que forem salvos..." (2:32; ver também 3:16). "Lançai a foice, porque está madura a seara" (3:13).

"Olhei, e eis o Cordeiro em pé sobre o monte Sião, e com ele 144.000, tendo na fronte escrito o seu nome e o nome de seu Pai" (14:1; cf. o v. 11). "Toma a tua foice e ceifa, pois chegou a hora de ceifar, visto que a seara da terra já amadureceu!" (14:15; também o v. 16).

CONDENAÇÃO DOS PERSEGUIDORES "Vinde, pisai, porque o lagar está cheio, os seus compartimentos transbordam, porquanto a sua malícia é grande" (3:13).

"Então, o anjo passou a sua foice na terra, e vindimou a videira da terra, e lançou-a no grande lagar da cólera de Deus..." 14:19;

também el v. 20). A chave para revelar esta visão em clave é recuperar os antigos oráculos. A seguinte tabela revela um paralelo surpreendente de temas e imagens entre Joel 3 e Apocalipse 14. Ambas as profecias contêm uma convocação divina a todas as nações para aparecer ante o tribunal de Deus (Joel 3:9-12; Apoc. 14:6, 7). Ambas apresentam as acusações legais no pleito de Deus (Joel 3:2-6; Apoc. 14:8). Ambas descrevem a liberação do povo do remanescente fiel sobre o

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monte Sião (Joel 2:32; 3:16; Apoc. 14:1-5, 12). Ambas predizem a condenação dos inimigos perseguidores nos vales ao redor do monte Sião (Joel 3:2, 12; Apoc. 14:20). Podemos aprender três lições importantes deste progressivo desdobramento de Joel 3 em Apocalipse 14, lições que nos ensinam de que maneira o evangelho de Cristo estabelece o cumprimento do tempo do fim que Joel profetizou. A) Primeiro, notamos que o Juiz já não é Jeová e sim o Messias Jesus. Como o Filho do Homem de Daniel 7:13 e 14, Cristo é o Rei ("coroa") e o Juiz (a "foice"), quem executa os veredictos do tribunal celestial. Apocalipse 14:14 mostra o cumprimento cristológico do tempo do fim de Joel 3. O segundo advento de Cristo introduz o tempo da ceifa da terra. B) Segundo, o remanescente fiel de Israel, reunido no monte Sião na cidade santa (Joel 2:32; 3:16), é redefinido pelos apóstolos como crentes no Senhor Jesus (ver At. 2:21; 9:14, 21; Rom. 10:13) e em Apocalipse 14:1-5 como os seguidores do Cordeiro, a igreja fiel do tempo do fim, o que na ciência teológica se chama o cumprimento eclesiológico (de "igreja", gr. ekklesia). O evangelho de Cristo tirou as restrições nacionais do povo do antigo pacto. A igreja de Jesus é uma comunidade de fé universal, a que Paulo chama "linhagem de Abraão" (Gál. 3:26-29) e "o Israel de Deus" (6:16; cf. Heb. 12:22-24). C) Terceiro, o vale de Josafá ao redor do monte Sião em Joel 3:2, 12 e 14, em Apocalipse 14 se amplia a toda a terra. Esta extensão em escala mundial se mostra de modo inconfundível pela repetição intencional (6 vezes) do termo "a terra" (3 vezes para a ceifa da colheita e 3 vezes para a colheita de uvas, Apoc. 14:15, 16, 18, 19). Este aumento mundial do vale local de Joel se chama o cumprimento universal. João retém no Apocalipse a velha linguagem figurada da cidade de Sião do Oriente Médio (como em Heb. 12:22-24), mas pelo evangelho desaparecem as restrições geográficas e étnicas. Tal é o efeito transformador do evangelho do novo pacto.2 O "grande lagar da ira de Deus" está situado explicitamente "fora da cidade" (Apoc. 14:19, 20). Só pelo antecedente da descrição de Joel podemos saber, com certeza, que esta "cidade" de refúgio é a cidade santa onde o Deus de Israel libera a seus verdadeiros adoradores (ver Joel 2:32 e Apoc. 14:1). O lagar apocalíptico de Apocalipse 14 corresponde com o lagar de Joel 3 que o descreveu como "cheio, os seus compartimentos transbordam, porquanto a sua malícia é grande" (Joel 3:13). Joel já tinha dado ao lagar uma aplicação moral com respeito aos ímpios perseguidores que estavam sob o processo de acusação do Deus do pacto de Israel (3:2-6). Declarou-os amadurecidos para o juízo de Deus, e Joel apresenta a Jeová como o executor de seu veredicto: "Congregarei todas as nações e as farei descer ao vale de Josafá [o nome significa "Jeová julga"]; e ali entrarei em juízo contra elas por causa do meu povo e da minha herança, Israel, a quem elas espalharam por entre os povos, repartindo a minha terra entre si" (Joel 3:2). A acusação de Deus contra as nações foi a crueldade com que trataram a seu povo do pacto (Joel 3:3, 6). Não obstante, o objetivo final do juízo sobre os ímpios foi mais que uma exibição de justiça. Hans Walter Wolff comenta sobre Joel 3:17 "O reconhecimento de Jeová como o Deus do pacto de Israel é o objetivo final dos atos de Jeová com respeito ao mundo das nações".3 A mesma alegação de crueldade contra o povo de Deus que aparece em Joel, renova-se no Apocalipse contra Babilônia (Apoc. 16:5, 6; 17:6; 18:20, 24; 19:2), mas desta vez os santos são os seguidores do Cordeiro, e Cristo será seu vindicador e libertador (17:14; 19:11-21). O pisar do lagar era um símbolo profético para ilustrar o juízo de condenação de Deus (ver Isa. 63:2-6; Jer. 25:30, 33). Isaías comparou Edom e Israel a uma vinha que seria pisoteada pelo juízo de Deus (Isa. 5:1-7; ver também Sal. 80:8, 12, 13, 16). A visão de Apocalipse 14:14-20 está mais ampliada na visão da segunda vinda de Cristo em Apocalipse 19:11-21. Esta visão ampliada mostra como o Messias real pisará "o lagar do vinho do furor e da ira do Deus Todo-poderoso" (Apoc. 19:15). Esta missão final de juízo que leva a cabo Cristo se descreve

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simbolicamente por sua roupa "tinta em sangue" (Apoc. 19:13; cf. Isa. 63:3). É instrutivo comparar as duas visões da segunda vinda de Cristo em Apocalipse 14:14-16 (sobre uma nuvem) e em 19:11-21 (sobre um cavalo branco). Evidentemente o ponto em questão destas visões não é apresentar um quadro fotográfico da segunda vinda a não ser ensinar uma verdade fundamental sobre o juízo: Cristo retornará para cumprir todas as profecias hebréias do juízo final e para separar aos que são seus filhos dos que têm que perecer. Apocalipse 14 termina com a assombrosa declaração de que o sangue que sai do lagar "fora da cidade" chega "até os freios dos cavalos, por mil e seiscentos estádios" (Apoc. 14:20). De novo, esta é uma linguagem simbólica hebraica com uma mensagem clara. A sabedoria requer uma compreensão do significado básico dos números apocalípticos. Assim como Apocalipse 14 começa com uma cifra (144.000), assim também termina com outra cifra (1.600). Ambas as passagens (vs. 1, 20) formam contrapartes simbólicas que descrevem destinos opostos para os justos e para os ímpios. O verdadeiro Israel está com o Cordeiro sobre o Monte Sião dentro da cidade de Deus, e os perseguidores ímpios estão reunidos fora da cidade. Dessa maneira, Apocalipse 14:1 e 20 amplia a linguagem figurada de Joel 2:32 e 3:1-16. Assim como a cifra 144.000 para o Israel espiritual revela seu significado teológico por meio de seu número chave, o 12, assim a cifra simbólica 1.600 revela seu significado por meio do número chave 4. "Quatro" simboliza os quatro ângulos da terra (ver Apoc. 7:1; 20:8), os quatro limites da terra (Isa. 11:12), ou os quatro ventos ou direções da bússola (Mat. 24:31). A multiplicação do número 4 em Apocalipse 14:20 aponta exaustivamente ao território universal do campo de batalha, em harmonia com a predição do Jeremias: "E serão os mortos do Senhor, naquele dia, desde uma extremidade da terra até à outra" (Jer. 25:33). A importância primitiva da segunda vinda de Cristo, como a culminação da guerra mundial contra seus servos fiéis, amplifica-se nas visões ulteriores de Apocalipse 15 a 19. O desenvolvimento progressivo do "Armagedom" nos capítulos 16:13-16, 17:12-14 e 19:11-21, amplia a importância decisiva do poder salvífico e do poder consumidor da segunda vinda de Jesus Cristo. Voltando a extrair seus conceitos das descrições vívidas do idioma profético hebraico, a última visão que João teve do segundo advento descreve a Cristo vindo com um exército invencível do céu: "E seguiam-no os exércitos que há no céu, montando cavalos brancos, com vestiduras de linho finíssimo, branco e puro. Sai da sua boca uma espada afiada, para com ela ferir as nações; e ele mesmo as regerá com cetro de ferro e, pessoalmente, pisa o lagar do vinho do furor da ira do Deus Todo-Poderoso. Tem no seu manto e na sua coxa um nome inscrito: REI DOS REIS E SENHOR DOS SENHORES" (Apoc. 19:14-16). Referências 1 J. M. Ford, Revelation, p. 250. 2 Para um estudo mais profundo do cumprimento territorial das promessas feitas ao Israel, ver LaRondelle, O Israel de Deus na Profecia, cap. 9. 3 Wolff, Joel and Amos, p. 81 (o itálico é meu). FONTES BIBLIOGRÁFICAS PARA APOCALIPSE 12-14 Livros Aulard, A. Christianity and the French Revolution [O Cristianismo e a Revolução Francesa]. Londres: Bouverie House, 1927. Althaus, P. Die Letzten Dinge [Os Eventos Finais]. Gütersloh: C. Bertelsmann, 1957, V impressão. Andrews, John N. Three Messages of Revelation 14 [As Três Mensagens de Apocalipse 14]. Heritage Library. Nashville, TN: Southern Publ. Assn., 1970 (reimpressão de 1892). Bacchiocchi, Samuele. From Sabbath to Sunday. A Historical investigation of the Rise of Sunday Observance in Early Christianity [Do Sábado para o Domingo. Uma investigação histórica do surgimento da observância do domingo no cristianismo primitivo]. Roma: The

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XXIX - O SIGNIFICADO DAS SETE ÚLTIMAS PRAGAS - Apoc alipse 15 e 16 Nossa primeira tarefa para interpretar as sete últimas pragas é considerá-las dentro de seu contexto imediato e de seu contexto mais amplo. A visão do santuário de Apocalipse 15 explica sua origem sobrenatural: são enviadas da sala do trono no céu e expressam a fidelidade de Deus. As pragas não são forças cegas ou catástrofes naturais. Sua importância crucial chega a ser evidente quando sabemos que constituem a "ira de Deus" na advertência da mensagem do terceiro anjo. "Seguiu-se a estes outro anjo, o terceiro, dizendo, em grande voz: Se alguém adora a besta e a sua imagem e recebe a sua marca na fronte ou sobre a mão, também esse beberá do vinho da cólera de Deus, preparado, sem mistura, do cálice da sua ira, e será atormentado com fogo e enxofre, diante dos santos anjos e na presença do Cordeiro" (Apoc. 14:9, 10). O Enfoque Contextual A mensagem de admoestação identifica a ira de Deus com a ira do Cordeiro. Sua manifestação aterrorizará os ímpios quando terminar o tempo de graça (Apoc. 6:16, 17). Apocalipse 16 desdobra a ira do Cordeiro como as sete últimas pragas. Estas pragas também são o cumprimento do pisar simbólico da "vinha da terra" em "o grande lagar da ira de Deus" de Apocalipse 14:19 e 20. Por conseguinte, ao denominar-se "últimas pragas" (15:1) devem comparar-se com os outros juízos anteriores de Deus nos selos e nas trombetas (caps. 6, 8 e 9). A dramática intensificação sobre os juízos preliminares aparece em sua globalização. Entretanto, a diferença teológica é a natureza e o propósito das últimas pragas. Enquanto que os selos e as trombetas objetivam o despertar ao arrependimento em uma igreja apóstata e no mundo, e dessa maneira cumprem um propósito misericordioso, as últimas pragas caem sobre um mundo impenitente depois do fim do tempo de graça, quando o destino eterno de cada um foi selado no santuário celestial (Apoc. 15:8; 16:1; 22:11). O propósito das últimas pragas é executar o veredicto de Deus sobre seus inimigos, para resgatar os seguidores de Cristo das mãos de seus opressores. Um comentário alemão declara: "Em certo momento indicado, Deus termina sua demora e intervém rapidamente e com caráter concludente. É o objetivo dos juízos das pragas. Quando terminam se anuncia: 'Feito está' (vs. 16, 17)".1 As últimas pragas servem como a substância da sétima trombeta. Isto requer uma breve recapitulação da origem de todos os juízos messiânicos no Apocalipse. Origem Celestial dos Juízos Messiânicos Os selos, as trombetas e as últimas pragas todas são enviadas do santuário celestial (Apoc. 5; 8:3-5; 15:5-8). Estes três septenários estão precedidos por uma visão dos santos vitoriosos no reino dos céus (5:9, 10; 7:9-17; 15:2-4). Este arranjo literário mostra que o interesse primário dos juízos de Deus é a salvação de seu povo. Ao mesmo tempo, ele é o Deus de justiça que "não se deixa escarnecer" (Gál. 6:7). Este duplo aspecto do caráter santo de Deus: sua justiça salvífica e sua justiça punitiva, já tinha sido revelado o Moisés (ver Êxo. 34:6, 7). Suas ameaças são tão confiáveis e reais como suas promessas (ver Apoc. 22:18, 19). Ambas as manifestações da justiça divina se originam no Senhor ressuscitado (cap. 5). A composição literária do Apocalipse mostra que as pragas seguem depois do último chamado ao arrependimento (Apoc. 14:6-12) e depois do selamento dos santos (7:1-4). Os juízos culminam na batalha do "Armagedom" quer dizer, na destruição de Babilônia (16:13-19). Os capítulos 17 a 19 constituem a explicação detalhada da queda de Babilônia (ver o cap. XXX desta obra). Os Tipos do Antigo Testamento Prefiguram a Proteção Divina Alguns comentadores assumem que os seguidores de Cristo serão arrebatados ao céu antes que comecem a derramar-se as pragas, de maneira que não serão afetados pela ira de Deus. Mas a hipótese de um arrebatamento não está apoiado por uma exegese bem feita. A analogia das pragas com as pragas que caíram antes sobre o Egito mostra que Israel permaneceu na

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terra de Gósen de maneira que Faraó pudesse ver a "diferencia entre os egípcios e os israelitas" (Êxo. 11:7; 8:22, 23). Israel inclusive participou desta distinção colocando o sangue do cordeiro pascal como "um sinal" sobre os batentes de suas casas: "Quando eu vir o sangue, passarei por vós, e não haverá entre vós praga destruidora, quando eu ferir a terra do Egito" (Êxo. 12:13). Também o povo de Deus do tempo do fim é chamado a separar-se de "Babilônia" e unir-se a Cristo, "para que não sejam partícipes de seus pecados, nem recebam parte de suas pragas" (Apoc. 18:4; 14:1). Assim como o Israel da antiguidade foi protegido pelo "sinal" do sangue, assim o Israel do tempo do fim será protegido por um selo especial do Deus vivente, que os anjos de Deus colocarão na fronte de cada um dos escolhidos (Apoc. 7:3; 14:1). Outro paralelo está na visão do Ezequiel, sobre o selamento do remanescente fiel de Jerusalém. O selo de Deus garantia sua preservação. Assim acontecerá com o antítipo!2 As Pragas Dão Começo ao Dia do Senhor A teologia popular identifica o "dia do Senhor" com o segundo advento de Cristo. O Apocalipse inclui a guerra do Armagedom em "aquele grande dia do Deus Todo-poderoso" (Apoc. 16:14). A esse "grande dia" ele o chama o dia de sua ira ou o dia da vingança de Deus (Isa. 34:8; Sof. 2:2; Apoc. 6:17). O dia da ira de Deus começa com as sete últimas pragas (ver Apoc. 15:1; 6:17). Quando as sete taças de ouro estejam cheias da ira de Deus, "ninguém podia entrar no templo até que fossem cumpridas as sete pragas dos sete anjos" (15:7, 8). Como o tempo de graça termina ao iniciar-se as sete últimas pragas, o fim do tempo de graça pode identificar-se com o tempo no qual "se levantará Miguel, o grande príncipe, o defensor dos filhos do teu povo". Depois que se levante, "haverá tempo de angústia, qual nunca houve, desde que houve nação até àquele temp" (Dan. 12:1). O dia do Senhor terminará quando os céus e a terra sejam purificados por fogo e quando se estabelecer um novo céu e uma nova terra como a morada dos justos (ver 2 Ped. 3:10-13), promessa que se realizará no fim do milênio (ver Apoc. 21:1-5). A extensão completa do dia do Senhor pode representar-se no seguinte diagrama:3

O TEMPO DO FIM O DIA DO SENHOR

O DIA DO SENHOR

Fim do tempo de graça depois da tríplice mensagem

As 7 últimas pragas Segunda vinda e milênio

Apoc. 14:6-12 Apoc. 15 e 16 Apoc. 19 e 20 O Motivo do Êxodo das Pragas Parece que existe um consenso universal de que o motivo básico do Apocalipse é o motivo do êxodo. A descrição de Cristo como o cordeiro pascal, prepara o cenário para a igreja como o povo do novo êxodo. Quando os anciões cantam, "com o teu sangue compraste para Deus homens" (Apoc. 5:9), unem o motivo do cordeiro pascal com o tema do êxodo. Desde o começo, o Apocalipse chama a igreja de Cristo um "reino de sacerdotes" (1:5, 6). O "novo cântico" dos anciões espera com interesse um êxodo mais espetacular no futuro, o da igreja triunfante, "e reinarão sobre a terra" (5:10). Este panorama futuro se desenvolve na visão da nova terra e da Nova Jerusalém (caps. 21 e 22). A sétima trombeta declara: "O reino do mundo se tornou de nosso Senhor e do seu Cristo, e ele reinará pelos séculos dos séculos" (Apoc. 11:15). Esse reino futuro de Deus e de Cristo será precedido pelas sete pragas últimas, porque a terra ainda está dominada por um opressor "o Egito" ou "Babilônia". A realidade histórica das pragas e do êxodo conseguinte da igreja depende do poder do Messias e do mérito de sua morte como Cordeiro pascal. Só ele é digno de "abrir o livro e desatar seus sete selos" (Apoc. 5:5) e realizar a bem-aventurada esperança. Em nenhum lugar

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do Apocalipse se usa a tipologia do êxodo em forma mais explícita e sistemática que nas sete pragas. O propósito das últimas pragas corresponde essencialmente ao das 10 pragas que caíram sobre o Egito nos tempos dd Moisés: revelar a justiça de Deus ao subjugar e eliminar o perseguidor. Ambas as libertações do povo de Deus, a passada e a futura, são manifestações da fidelidade do mesmo Deus do pacto. Já Apocalipse 15 começa a conectar ambas as séries de pragas. João vê os que tinham alcançado a vitória sobre a besta e sua imagem estar em pé "no mar" ["junto ao mar", RC; "sobre o mar", BJ; "na margem", NBE] de vidro que parecia de cor vermelha ("misturado com fogo", RC), em outras palavras, estavam em pé ao lado de um "mar vermelho" (Apoc. 15:2). Em segundo lugar, tinham harpas e cantavam "o cântico de Moisés, servo de Deus, e o cântico do Cordeiro..." (vs. 2, 3). O cantar "o cântico de Moisés" volta a representar o tema da libertação do cântico de Moisés em Êxodo 15. O cântico de Moisés louva a intervenção dramática de Deus como uma manifestação de seu reino: "O Senhor reinará por todo o sempre" (Êxo. 15:18, 11 ). Este ato histórico de liberação por parte do Deus de Israel constitui o tipo de todas as seguintes guerras santas do Senhor. Cantou Moisés: "Jeová é varão de guerra; Jeová é seu nome" (v. 3). João exalta a Cristo como o único que trará uma libertação maior que a que trouxe Moisés. O Israel do tempo do fim cantará "o cântico de Moisés servo de Deus, e o cântico do Cordeiro" (Apoc. 15:3). Cristo levará a cabo uma libertação eterna e universal para o remanescente fiel no fim da era cristã. Serão sacados de uma forma sobrenatural do anticristo atacante, do qual Faraó foi só uma pálida antecipação. Uma referência adicional aos dias de Moisés é a nota deliberada de João com respeito ao templo no céu, que é "o templo do tabernáculo do testemunho" (Apoc. 15:5; cf. Êxo. 38:21). Esta expressão centra a atenção sobre o "testemunho" ou a santa lei de Deus, que se guardava no "arca do testemunho" (ver Êxo. 40:3, 20, 21; Deut, 10:2; 1 Reis 8:9; cf. Heb. 9:4). Este foco de atenção apocalíptico sobre a lei de Deus dentro de seu templo celestial é apropriado em vista do conflito final do povo de Deus com o anticristo idólatra (ver acima, sobre o Apoc. 13:15-17). Em Apocalipse 15:5 se volta a enfatizar a fidelidade aos "mandamentos de Deus" (ver também Apoc. 11:19). Os "mandamentos de Deus" em Apocalipse 12:17 e 14:12 estão identificados como o Decálogo dentro do "tabernáculo do testemunho" de Israel, o que é de importância suprema para a última geração do povo de Deus. Finalmente, o anúncio de que o templo no céu "encheu-se de fumaça pela glória de Deus, e por seu poder", de maneira que ninguém podia entrar (Apoc. 15:8), aponta para trás à vinda da presença de Deus como Redentor e Juiz (Êxo. 40:34, 35; 1 Reis 8:10, 11 ). Beasley-Murray aponta a este duplo significado: "A dualidade do êxodo como juízo e redenção se mantém nos capítulos 15 e 16 [do Apocalipse], e para assegurar que o leitor entende isto, coloca-se primeiro o elemento positivo da redenção".4 João não inverte a ordem histórica em Apocalipse 15 e 16 como se colocasse as pragas (cap. 16) depois da libertação de Israel (cap. 15). João coloca a certeza da redenção do êxodo frente a Apocalipse 15 como o propósito de sua mensagem apocalíptica. Está impressionado pela segurança de que o povo de Deus do tempo do fim cantará porque foi livrado de seus opressores por meio do poder de Cristo: "E entoavam o cântico de Moisés, servo de Deus, e o cântico do Cordeiro, dizendo: Grandes e admiráveis são as tuas obras, Senhor Deus, Todo-Poderoso! Justos e verdadeiros são os teus caminhos, ó Rei das nações! Quem não temerá e não glorificará o teu nome, ó Senhor? Pois só tu és santo; por isso, todas as nações virão e adorarão diante de ti, porque os teus atos de justiça se fizeram manifestos" (Apoc. 15:3, 4). João revela esta manifestação final da justiça de Deus em Apocalipse 16. Elmer M. Rusten tirou este paralelo: "Assim como o exército do Egito foi culpado no aquoso juízo de Deus e foi afogado (Êxo. 14:26-30 ), assim o anticristo e seus seguidores em Apocalipse 15 estão a ponto de ser

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culpados no juízo final da ira de Deus (Apoc. 16)".5 Cristo assegura a seus seguidores que sua fidelidade a ele, quer dizer, fidelidade aos mandamentos de Deus e ao testemunho de Jesus, será honrada ao resgatá-los na hora de sua necessidade suprema. O cântico de vitória em Apocalipse 15 será cantado depois que as pragas hajam dissolvido o "Império Babilônico". Apocalipse 15 não garante a expectativa popular de que cada mártir cantará o cântico da vitória no céu, isolado dos outros, porque todos os vencedores cantarão juntos ao mesmo tempo, assim como Israel cantou o cântico de Moisés depois de sua libertação como povo. Em realidade, todos os mártires da era cristã triunfarão juntos (ver Apoc. 6:9-11; 7:9-17). O fato de que o cântico de Moisés e do Cordeiro está composto de citações de Moisés (Êxo. 15; Deut. 32:4), dos salmos (Sal. 86:9; 110:2; 145:17) e dos profetas (Amós 4:13; Jer. 10:7), demonstra que o cântico futuro do povo de Cristo é a "revelação genuína de um Deus e de um Espírito, e o testemunho de uma fé".6 O cântico não enumera suas próprias virtudes. Louva a santidade, a justiça e a soberania de Deus, louvor que é o propósito final do plano de redenção e da história da salvação. Semelhante exaltação de Cristo é significativa, especialmente em vista da aparente vitória da besta sobre todos os que moram na terra e que se dobraram e adoraram o anticristo (Apoc. 13:4, 8, 12). Quando a igreja fizer frente à ameaça de morte dos poderes de plantão, deve recordar o cântico futuro sobre o mar de vidro diante do trono de Deus. O Propósito Moral da Ira de Deus A expressão apocalíptica "a ira [orgué] de Deus" necessita uma atenção cuidadosa, porque foi mal-entendida por intérpretes bem intencionados. A frase é usada 375 vezes no Antigo Testamento,7 e permanece como uma característica essencial no evangelho no Novo Testamento e em sua perspectiva profética (Mat. 3:7; João 3:36; Rom. 1:18; 2:5-8; 5:8-11; Apoc. 6:16, 17). Moisés revelou que o Deus de Israel era "tardio para a ira, e grande em misericórdia" mas que "ao culpado não tem por inocente" (Êxo. 34:6, 7; Núm. 14:18). Moisés interpretou a ira de Deus como uma ira santa, livre de qualquer imperfeição humana. Só despertava sua ira para opor-se ao pecado e se irava em grande maneira para castigar a rebelião contra a vontade soberana de Deus (2 Reis 17:16-18; 2 Crôn. 36:16; Dan. 9:4-16). A proclamação da ira de Deus e sua justiça retributiva não está em conflito com seu amor. Aos contrário, o reconhecimento da santa ira de Deus contra o pecado cria uma nova apreciação de sua misericórdia para todos os objetos de sua ira (Ef. 2:3; 5:6; Rom. 5:8-10). A ira de Deus é tão real como o é o amor de Deus. Os 7 juízos punitivos de Apocalipse 16 não são explosões vingativas de um Deus ofendido, e sim a demonstração bem ordenada das maldições finais do pacto, destinadas para um povo do pacto que persiste na apostasia. Já em Levítico 26, Deus tinha admoestado a Israel que sua idolatria ininterrupta e o rechaço voluntário de sua Torah suscitaria um castigo séptuple, até mesmo uma guerra santa de Jeová contra o povo rebelde (Lev. 26:18, 21, 24, 28-33)! J. M. Ford inclusive conta exatamente sete castigos em Levítico 26:18-34.8 Mas, qual é a intenção do derramamento de sua ira "sem diluir" durante as últimas pragas se já não provocam mais arrependimento? Em primeiro lugar, as pragas objetivam despertar o reconhecimento de que Babilônia se tem oposto ao Criador com sua imposição da marca da besta, sua adoração da imagem da besta e sua proscrição dos que rechaçam a marca. Entretanto, a reação de Babilônia é o oposto: amaldiçoa a Deus e rechaça arrepender-se e glorificá-lo (Apoc. 16:9, 11, 21). Esta reação demonstra a hostilidade de Babilônia contra Deus e seu povo. Esta tríplice repetição enfatiza o misterioso endurecimento do coração, até mais obstinado que o de Faraó da antiguidade, o que revela a incapacidade espantosa do homem para chegar ao arrependimento por si mesmo. Heinrich Kraf assinalou que "a continuação obstinada do pecado se castiga a si mesmo, porque obstrui seu próprio caminho ao arrependimento".9 Os ímpios imputam a Deus o mal que lhes sobrevém, e o amaldiçoam como se fosse um tirano (Apoc.

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16:9, 11). Nessa forma, mostram seu rechaço do amor de Deus e de seu sacrifício expiatório. Por este ato, Babilônia se condenará a si mesmo e se declarará perdida. As pragas têm o propósito de revelar os corações e as obras do homem em sua atitude para com Cristo. Os juízos correspondem à perseguição que Babilônia mesma escolheu. Babilônia sofrerá as conseqüências do que tem feito. É julgada de acordo com suas obras. O Apropriado dos Sete Juízos das Pragas Vestidos como Cristo o Sumo Sacerdote (Apoc. 15:6), os sete anjos têm as sete taças de ouro que já não estão cheios de incenso, como as que tinham levado antes os 24 anciões "cheias de incenso, que são as orações dos santos" (5:8). Agora os anjos usam as taças para derramar "a ira de Deus" (15:7). E. Schüssler Fiorenza assinala o apropriado desta resposta divina, e diz: "As taças com as pragas são uma resposta à oração e o protesto dos cristãos por justiça. Também são uma advertência para os cristãos e os não cristãos por igual, para que não cheguem a ser membros da comunidade do culto imperial".10 Assim como as pragas das quatro primeiras trombetas em Apocalipse 8:7-12, as primeiras pragas se derramam igualmente sobre a terra (16:2), sobre o mar (v. 3), sobre os rios e as fontes das águas (v. 4) e sobre o sol (v. 8). Entretanto, os castigos finais seguem com uma severidade e um ritmo mais rápido. Toda a terra chega a ser como o antigo "Egito", quer dizer, o opressor do Israel de Deus. 1 - A primeira praga de "úlceras malignas e perniciosas" afeta a todos os "portadores da marca da besta e adoradores da sua imagem" (Apoc. 16:2). Isto demonstra que o povo de Deus não sofrerá esta praga nem nenhuma seguinte! Alguns vêem o apropriado desta praga em uma marca externa com úlceras malignas sobre os que têm a marca da besta, 2 - A segunda praga converte o mar "em sangue como de morto" (Apoc. 16:3), o que causa a destruição de uma grande porção da criação para a humanidade e mostra indubitavelmente "o dedo" de um Criador ofendido. O "sangue" das pragas apocalípticas mostra a condenação divina pelo derramamento de sangue dos mártires. O anjo explica: "Porquanto derramaram sangue de santos e de profetas, também sangue lhes tens dado a beber; são dignos disso" (v. 6). 3 - A terceira praga converte os rios e as fontes das águas em sangue (Apoc. 16:4). Agora a água para os homens beberem se converte em uma maldição. De acordo com a última mensagem de admoestação de Deus, os moradores da terra recusaram reconhecer ao Criador do mar e das fontes das águas (14:7). A terceira praga é uma resposta adequada para os que têm feito caso omisso de Deus como a fonte e o sustentador da vida humana. Os anjos "das águas" e o do "altar" no céu, respondem com louvores ao santo, e dizem: "Tu és justo, oh Senhor" (16:5, 7). É evidente que estas pragas seguem-se uma à outra em rápida sucessão e em um tempo muito curto, porque do contrário ninguém sobreviveria às três primeiras pragas. 4 - A quarta praga compara-se com a quarta trombeta em que afeta o sol, embora já não a "terça parte do sol" (Apoc. 8:12). Um calor que chamusca fará que os homens amaldiçoem o nome de Deus, porque "nem se arrependeram para lhe darem glória" (16:9). O contraste chega a ser evidente. Enquanto que vozes celestiais louvam a Deus por seus juízos finais (vs. 5-7), vozes terrestres o amaldiçoam por seus juízos. Esta reação indica quão obstinados e endurecidos chegaram a ser os adoradores da besta contra aquele que "tem poder sobre estas pragas" (v. 9). É uma atitude similar à que mostrou o Egito da antiguidade durante as pragas nos dias de Moisés. Quando as pessoas recusam persistentemente arrepender-se, chega o momento quando já não podem arrepender-se! 5 - A quinta praga é derramada "sobre o trono da besta, cujo reino se tornou em trevas" (Apoc. 16:10). Esta praga é similar à nona praga de Moisés, quando o Egito ficou coberto por uma escuridão total durante três dias. "Não viram uns aos outros, e ninguém se levantou do seu lugar por três dias; porém todos os filhos de Israel tinham luz nas suas habitações" (Êxo. 10:23). Durante a quinta praga, o "reino" da besta será paralisado por uma escuridão sobrenatural e impenetrável, um veredicto celestial apropriado para os que rechaçaram a Cristo como a luz do mundo e "amaram mais as trevas do que a luz" (João 3:19). O reino da besta será mundial, porque se estende a todos os povos e nações (Apoc. 13:8; 14:8). Em vez de reconhecer seu pecado, amaldiçoam a Deus "por causa das angústias e das úlceras que sofriam" (16:11). Evidentemente as pragas finais caem rapidamente sobre a

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mesma geração, porque as úlceras que se produzem durante a primeira praga continuam sob a quinta. Ouvimos o estribilho: "Não se arrependeram de suas obras" (v. 11). Beasley-Murray explica isto de uma maneira perspicaz: "Por conseguinte, os que amaldiçoam a Deus por seus juízos são os obstinados. A marca da besta em seus corpos penetrou suas almas, instilando neles a hostilidade para com Deus e sua santidade, que é característico da própria besta".11 Razão Básica para Aplicar a Descrição das Pragas Existe confusão com respeito à hermenêutica de aplicar as pragas de Apocalipse 15 e 16 a realidades históricas futuras. Devem aplicar-se literalmente ou em forma figurada? Alguns têm tratado de uma ou outra maneira, sem ter verdadeira satisfação. A chave para decifrar o Apocalipse não é a aplicação rígida do literalismo ou do alegorismo. Do começo até o fim, este livro apocalíptico tece juntas a linguagem simbólica e a literal numa tela (ver Apoc. 1:16; 22:14, 17). Em Apocalipse 12, a "mulher" de Deus dá à luz "um filho varão, que regerá com vara de ferro a todas as nações" (v. 5). Aqui a linguagem figurada e a literal se mesclam para transmitir a mensagem com suficiente clareza. Esta clareza chega ao considerar o grande contexto da Escritura e a aplicação da história da salvação no idioma dos profetas. A "mulher" em Apocalipse 12 é simbólica porque esse símbolo foi empregado por Isaías, Ezequiel e outros para designar ao povo do Deus do pacto (ver o cap. XXI desta obra, sobre o Apoc. 12). O "filho varão" é uma clara referência ao Messias prometido (ver Isa. 9:6). Este exemplo mostra que não se deve criar sua própria pauta simplesmente por deliberação em conseguir uma consistência abstrata. A Escritura deve dirigir o caminho para as aplicações de sua linguagem apocalíptica. Com respeito às últimas pragas devemos falar tentativamente, porque ainda não se cumpriram. Entretanto, é prudente dizer que as 7 pragas são todas literais ou juízos históricos de Deus, embora sua descrição está mais ou menos em imagens simbólicas. A primeira e a quinta descrevem os objetos da ira de Deus em termos simbólicos, como os que tinham "a marca da besta e adoravam sua imagem" ou "sobre o trono da besta" (Apoc. 16:2, 10). A sexta e a sétima pragas descrevem seus objetos como "o grande rio Eufrates" e "a grande Babilônia" (vs. 12, 19). De novo o contexto da Escritura indica um uso simbólico da história da salvação de Israel, para cumprir-se em um antítipo histórico maior no tempo do fim. A questão é determinar se os efeitos históricos das pragas se descrevem em linguagem alegórica ou literal. É interessante que Uriah Smith insistiu que sua interpretação das duas últimas pragas também reconheciam juízos "literais": "Estas pragas, de acordo com a mesma natureza do caso, devem ser manifestações de ira e juízos contra os homens... Tudo o que recalcamos é que os castigos resultantes de cada taça tem caráter literal. No caso da sexta isto praga é assim como com todas as demais, embora as organizações que sofrem estes juízos podem ser apresentadas em forma simbólica".12 Entretanto, a base lógica decisiva para a aplicação das pragas é seu significado teológico. Roy Naden aplica seu ponto de vista cristológico das últimas pragas para os que rechaçam a Cristo como o Cordeiro de Deus: "Os que rechaçam a Cristo experimentarão as conseqüências inevitáveis do pecado, e ao lhes faltar um substituto, experimentarão pessoalmente a ira de Deus nas sete últimas pragas. Este é o significado primário de Apocalipse 16".13 O Motivo do Êxodo nas Últimas Pragas É essencial entender o caráter pactual de todas as pragas. O motivo do êxodo que une todos os juízos das pragas, serve ao propósito elevado da libertação do Israel oprimido. O caráter das pragas como maldições do pacto chega a ser evidente quando se reconhece a relação tipológica das pragas finais com as dez pragas do Egito. Não menos importante foi o ato de Deus da "guerra santa" para libertar o seu povo do exército perseguidor do Egito: o repentino secamento do Mar Vermelho. Faraó e seus oficiais reconheceram as pragas do Egito como o "dedo de Deus" (Êxo. 8:19), devido a que eram os opressores dos israelitas (10:7). As últimas pragas agitam a consciência do mundo para o seu mau trato dos seguidores de Cristo, o que finalmente é obtido pela sexta e a sétima pragas.

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Estas últimas pragas proporcionam a libertação do êxodo do Israel de Deus. Surpreendentemente, as sete pragas, as últimas, não estão modeladas segundo as pragas egípcias e sim segundo a queda histórica do Império Babilônico. Os Juízos da Sexta e da Sétima Taças 6 - A sexta taça é derramada sobre "o grande rio Eufrates; e a sua água secou-se, para que se preparasse o caminho dos reis do Oriente" (Apoc. 16:12). Durante o juízo da sétima praga, "a grande Babilônia" é destruída (vs. 17-19). Obviamente, o Eufrates é o rio de Babilônia (ver Jer. 51:63, 64). Seu "secamento" súbito aponta para trás, à seqüência histórica na história de Israel: o repentino secamento do Eufrates, seguido pela queda de Babilônia e a chegada dos reis do oriente. Isto requer uma reconstrução cuidadosa da queda do Império Neobabilônico como foi predita por Isaías (caps. 44-47) e Jeremias (caps. 50 e 51). Isaías já tinha empregado o êxodo de Israel do Egito como um tipo do êxodo de Israel de Babilônia. Assegurou-lhes que Deus voltaria a secar uma vez mais as águas que formavam um obstáculo para a volta de Israel à terra prometida: "O Senhor destruirá totalmente o braço do mar do Egito, e com a força do seu vento moverá a mão contra o Eufrates, e, ferindo-o, dividi-lo-á em sete canais, de sorte que qualquer o atravessará de sandálias" (Isa. 11:15; ver o v. 16). O secamento do Eufrates demonstra o juízo de Deus sobre Babilônia! Resultou em sua queda repentina e assim "preparou o caminho" para a libertação de Israel do cativeiro de Babilônia.14 O Apocalipse transforma a história antiga da queda de Babilônia, por meio do secamento das águas do Eufrates, em um tipo profético para a era da igreja. Assim como Jeová e seu povo do pacto estavam situados no centro da queda de Babilônia, assim Cristo e seu povo do novo pacto estarão situados no centro da queda da Babilônia moderna. A história de salvação de Israel será cumprida pela igreja de Cristo como seu antítipo. Para compreender esta grandiosa tipologia, devemos explicar a função que desempenhou cada parte: 1. Babilônia se desempenhou como o opressor de Israel. 2. O Eufrates era uma parte integral de Babilônia, que a protegia e por isso era hostil para com Israel. 3. O secamento do Eufrates indicava o juízo de Deus sobre Babilônia, causando sua queda súbita. Cumpriu o papel de preparar a libertação de Israel. 4. Ciro e seus reis aliados de Média e Pérsia (Jer. 50:41; 51:11, 28) chegaram a Babilônia como os "reis do oriente" profetizados para cumprir o propósito de Deus. Foram os inimigos de Babilônia e os libertadores de Israel. Ciro foi "ungido" pelo Senhor para derrotar Babilônia e para libertar Israel (Isa. 45:1). 5. Daniel e o Israel de Deus constituíam o povo do pacto de Deus, fiel e arrependido, dentro de Babilônia (ver Dan. 9). Estas caracterizações teológicas são os elementos essenciais da queda de Babilônia. No livro do Apocalipse, Babilônia representa ao arquiinimigo de Cristo e de sua igreja. No tempo do fim, tanto Babilônia como Israel serão universais; o campo de ação territorial de cada um será mundial. O evangelho se prega explicitamente "a toda nação, tribo, língua e povo" (Apoc. 14:6). Esta quádrupla ênfase acentua sua extensão universal. O anúncio seguinte na mensagem do segundo anjo, "caiu, caiu a grande Babilônia", apóia-se no fato de que "tem dado a beber a todas as nações do vinho da fúria da sua prostituição" (v. 8). Finalmente, todo mundo chegou a estar sob seu feitiço, Em harmonia com este alcance mundial de Babilônia, o anjo de Apocalipse 17 aplica ao rio de Babilônia, o Eufrates, uma extensão mundial: "Povos, multidões, nações e línguas" (v. 15). Os que insistem em que o Eufrates apocalíptico representa só as pessoas que vivem na localização geográfica do Eufrates, estão obrigados a seguir a mesma interpretação com Babilônia, Israel, o monte Sião, etc. Estes intérpretes falham em captar o caráter cristocêntrico da tipologia bíblica. O evangelho de Jesus Cristo nos liberta das restrições do literalismo étnico e geográfico durante a era cristã. O Papel Explicativo de Apocalipse 17 A aplicação universal do Eufrates que o anjo faz em Apocalipse 17 serve-nos para evitar que demos ao rio de Babilônia uma conotação com o Oriente Médio. Onde quer que Deus secou

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um corpo de água literal ou um "dilúvio" de inimigos na história de Israel como o Mar Vermelho, ou o rio Jordão, ou a inundação dos invasores dos povos do Eufrates (Isa. 8:7, 8) –, sempre indicou um juízo providencial sobre os inimigos do povo de Deus. O secamento do grande rio de Babilônia durante a sexta futura praga (Apoc. 16:12) –, não será uma exceção! Este juízo divino põe-se em marcha quando os governantes políticos e as multidões de todas as nações se dêem conta de repente da condenação de Deus sobre Babilônia e retirem o apoio que davam a Babilônia. Darão a volta e converterão seu apoio leal a Babilônia em um ódio ativo que a destruirá: "E os dez chifres que viste na besta são os que aborrecerão a prostituta, e a porão desolada e nua, e comerão a sua carne, e a queimarão no fogo" (Apoc. 17:16). Isto dá como resultado a repentina dissolução de Babilônia que na providência de Deus destruirá Babilônia. Apocalipse 17 nos proporciona uma explicação dramática da sexta e a sétima pragas de Apocalipse 16. A Visão do Armagedom: Apocalipse 16:13-16 "Então, vi sair da boca do dragão, da boca da besta e da boca do falso profeta três espíritos imundos semelhantes a rãs; porque eles são espíritos de demônios, operadores de sinais, e se dirigem aos reis do mundo inteiro com o fim de ajuntá-los para a peleja do grande Dia do Deus Todo-Poderoso... Então, os ajuntaram no lugar que em hebraico se chama Armagedom" (Apoc. 16:13, 14, 16). A visão intermediária não é uma parte da sexta praga. Mas bem explica as forças que operam no transfundo das sete últimas pragas. Alguns tiraram precipitadamente a conclusão de que estas palavras predizem uma guerra mundial entre os blocos de nações do Oriente e Ocidente. Uma especulação assim surge só quando separamos as palavras da Escritura de suas raízes e contextos bíblicos. Não se apresenta aqui nenhuma guerra entre as nações. A culminação do Apocalipse de João trata com um mal muito mais sério à vista de Deus: as forças religiosas apóstatas conduzirão a todos os poderes da terra a unir-se em uma causa comum, fazendo guerra contra o povo de Deus! Aqui está a trama assassina da última guerra demoníaca no Apocalipse. Aqui está a causa do mal que desencadeará a participação dramática de Deus, o juízo de sua guerra santa contra Babilônia. Guerrear contra Deus é fazer guerra contra o povo de Deus, o que foi a experiência de Israel na Escritura e a razão pela qual Deus interveio para libertar o seu povo. O fato de que o povo de Cristo se encontre no centro da batalha apocalíptica pode inferir-se já da advertência de Cristo: "Eis que venho como ladrão. Bem-aventurado aquele que vigia e guarda as suas vestes, para que não ande nu, e não se vejam as suas vergonhas" (Apoc. 16:15). Este conselho do Messias é uma verdade sempre presente para a igreja, e entretanto tem uma urgência especial para o povo remanescente. Deve caminhar na armadura de sua justiça por meio de uma fé viva (ver 3:18). Ao que parece, os santos inclusive não foram arrebatados ao céu durante as sete pragas. O contrário é a verdade. Desempenharão um papel ativo no conflito final, porque a guerra universal contra Deus toma a forma de uma guerra contra os seguidores do Cordeiro! Precisam estar alerta à tríplice mensagem de Apocalipse 14, com seu evangelho eterno e o testemunho de Jesus. A igreja de Sardes foi despertada com estas palavras: "Pois se não velar, virei sobre ti como ladrão, e não saberás a que hora sobre ti virei " (Apoc. 3:3). Beasley-Murray coloca o conselho de Cristo em sua perspectiva adequada quando diz: "É precisamente porque os seguidores do anticristo não estão alertas a Deus e a seu evangelho, que para eles o dia de Deus é um dia de condenação em vez de ser um dia de redenção".15 Em resumo, o panorama profético das últimas pragas em Apocalipse 15 e 16 tem o propósito de revelar o plano ordenado de antemão por Deus para o triunfo de seus fiéis. O Deus de Israel intervirá mediante sua libertação messiânica mais espetacular em toda a história. Anulará a determinação de Babilônia de exterminar o Israel de Deus por meio de sua intervenção

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dramática na quinta praga. Este juízo envolverá repentinamente a todas as multidões atacantes com uma escuridão sobrenatural impenetrável (Apoc. 16:10). Este sinal não só deterá instantaneamente os perseguidores, mas também despertará as multidões enganadas a dar-se conta de sua rebelião contra seu próprio Criador! Como conseqüência, deixam de apoiar Babilônia. Uma retirada tão abrupta da lealdade a Babilônia por parte de todos os povos e nações é o que está representado na sexta praga pelo repentino "secamento das águas" de Babilônia, o Eufrates (v. 12). Esta mudança abrupta de sua lealdade a Babilônia, a sua destruição, é o que o anjo explica nos capítulos seguintes, do 17 ao 19. 7 - A Sétima Praga em sua Recapitulação Preliminar: Apocalipse 16:17-21 "Então, derramou o sétimo anjo a sua taça pelo ar, e saiu grande voz do santuário, do lado do trono, dizendo: Feito está! E sobrevieram relâmpagos, vozes e trovões, e ocorreu grande terremoto, como nunca houve igual desde que há gente sobre a terra; tal foi o terremoto, forte e grande. E a grande cidade se dividiu em três partes, e caíram as cidades das nações. E lembrou-se Deus da grande Babilônia para dar-lhe o cálice do vinho do furor da sua ira. Todas as ilhas fugiram, e os montes não foram achados; também desabou do céu sobre os homens grande saraivada, com pedras que pesavam cerca de um talento; e, por causa do flagelo da chuva de pedras, os homens blasfemaram de Deus, porquanto o seu flagelo era sobremodo grande" (Apoc. 16:17-21). O derramamento da sétima praga "no ar" é ordenada por uma "grande voz" que sai do trono no templo no céu, declarando: Feito está! (Apoc. 16:17). Isto significa que Deus mesmo completa esta praga de juízo como a culminação de uma ação litúrgica celestial, que corresponde com a predição da retribuição divina do templo celestial anunciada por Isaías: "Voz de Jeová que dá o pagamento a seus inimigos" (66:6). A sétima praga é de uma importância e um impacto tão dramáticos que os capítulos 17 a 19 desenvolvem adicionalmente esta taça de juízo sobre Babilônia (ver Apoc. 16:19; 18:6; 19:2, 17-21). A última das pragas se introduz por meio dos sinais cósmicos que acompanham tradicionalmente a guerra santa de Jeová contra os opressores de seu povo: relâmpagos, trovões e um "grande terremoto" (16:18). O "terremoto" desempenhava um papel distintivo nas teofanias do Antigo Testamento e no panorama apocalíptico do dia do Senhor (ver Êxo. 19:18; Sal. 68:8; 77:17, 18; 114; Isa. 64:3; Hab. 3). Um terremoto universal é parte da guerra santa de Deus (Isa. 13:13; 24:18-23; 34:4; Joel 2:10). Em seu artigo pioneiro, "O terremoto escatológico", Richard Bauckhan declara: "A identificação da teofania escatológica como uma nova teofania do Sinai pertence à interpretação da história da salvação dos apocalipticistas, segundo o qual os atos redentores de Deus no futuro se descrevem sobre o modelo de seus atos passados".16 O terremoto sem precedentes da sétima praga não é um sinal preliminar do dia do juízo e sim uma parte do juízo de Deus sobre a própria Babilônia (ver Apoc. 16:18). A voz de Deus que fez estremecer o Sinai, de novo fará estremecer os céus e a terra quando vier para julgar (ver Heb. 12:25-29). João tinha mencionado este terremoto cósmico em seu sexto selo (Apoc. 6:12) e na sétima trombeta (11:19). Enquanto que João acrescentou "grande saraivada" na sétima trombeta (Apoc. 11:19), agora dá mais explicações sobre o "grande saraivada, com pedras que pesavam cerca de um talento" [uns 40 quilos] (Apoc. 16:21). Esta característica final conecta a sétima praga com o juízo de Gogue no tempo do fim, de que falou Ezequiel, quando Gogue ataque o Israel de Deus. Deste modo Ezequiel declarou que o juízo de Deus sobre Gogue será uma manifestação da "ira" divina (Ezeq. 38:18). Também descreveu a guerra de Jeová com característicos de uma teofania tormentosa, terremoto e saraiva, tudo o que se corresponde com Apocalipse 16:17-21.

EZEQUIEL 38:18, 19, 22 APOCALIPSE 16:18, 21 "Naquele dia, quando vier Gogue contra a terra de Israel, diz o Senhor Deus, a minha indignação será mui grande. Pois, no meu zelo, no brasume do meu furor, disse que, naquele dia, será fortemente sacudida a terra de Israel... Contenderei com ele por meio da peste e do sangue; chuva inundante, grandes pedras de saraiva, fogo e enxofre farei cair sobre ele".

"E sobrevieram relâmpagos, vozes e trovões, e ocorreu grande terremoto, como nunca houve igual desde que há gente sobre a terra... Também desabou do céu sobre os homens grande saraivada, com pedras que pesavam cerca de um talento; e, por causa do flagelo da chuva de pedras, os homens blasfemaram de Deus, porquanto o seu flagelo era sobremodo grande".

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O apóstolo João escreveu de maneira explícita: "E a grande cidade se dividiu em três partes, e caíram as cidades das nações. E lembrou-se Deus da grande Babilônia para dar-lhe o cálice do vinho do furor da sua ira" (Apoc. 16:19). O cálice "do vinho do furor de sua ira" é uma metáfora distintiva em Apocalipse 14:8-10; 16:19; 17:2, 4, 6 e 18:3 e 6, e está apoiada na linguagem profética dos oráculos hebraicos contra os arquiinimigos de Israel (ver Jer. 25:15, 16; 51:7) e inclusive contra uma rebelde Jerusalém (Isa. 51:17)! Por isso, o "cálice" ou a taça do vinho da ira de Deus significa juízo divino sobre uma Jerusalém apóstata. Jean Pierre Ruiz captou o significado básico desta metáfora e o expressa nestas palavras: "Ao usar a metáfora profética da taça, João mostra que foi virado o omelete sobre a grande Babilônia. É-lhe dado a beber da mesma taça que ela mesma tinha preparado (18:6), a taça de ouro cheia das abominações e da imundície de sua fornicação (17:4) com a qual embriagou as nações e a seus reis (14:8; 17:2; 18:3). Por isso, ela deve beber a taça do vinho da vingança da ira de Deus".17 Enquanto que Babilônia, como uma Jerusalém apóstata, é obrigada a "beber" do "cálice" que contém a santa vingança de Deus pelo sangue de seus servos (Apoc. 19:2), os santos, ao contrário, são convidados à "ceia das bodas do Cordeiro!" (V. 9). O propósito mais elevado do plano de Deus de eliminar a velha criação (Apoc. 16:20) pode ver-se no movimento progressivo do Apocalipse: do colapso de Babilônia até a descida da Nova Jerusalém, o pináculo da nova criação (21:1, 2). Dessa maneira, todos os olhos estão cada vez mais cravados na cidade de Deus em contraste com "as cidades das nações" (16:19). Referências 1 Pohl, Die Offenbarung des Johannes [O Apocalipse de João], p. 148. 2 Para um estudo mais detalhado das últimas pragas, ver LaRondelle, "Contextual Approach to the Seven Last Plagues" [Enfoque contextual às sete últimas pragas], Simpósio sobre o Apocalipse, T. 2, cap. 3. 3 Para um estudo do "dia do Senhor" e das "últimas pragas" na Escritura e nos escritos da Ellen White, ver W. E. Read, "The Great Controversy" [O grande conflito], Our Firm Foundation [Nosso Firme Fundamento] (Washington D. C., Review and Herald, 1953; 2 ts.), t-II, pp. 239-319 (especialmente as pp. 265-268). 4 Beasley-Murray, Revelation, p. 233. 5 Rusten, A Critical Evaluation of Dispensational Interpretations of the Book of Revelation, t. 2, p. 531. 6 Pohl, Die Offenbarung des Johannes [O Apocalipse de João], p. 150. 7 G. Kittel, Diccionario teológico del Nuevo Testamento, t. 5, p. 395. 8 J. M. Ford, Revelation, p. 255. 9 Kraft, Die Offenbarung des Johannes [O Apocalipse de João], p. 207. 10 Schüssler Fiorenza, Invitation to the Book of Revelation, p. 157. 11 Beasley-Murray, Revelation, p. 243. 12 Smith, Las profecías de Daniel y el Apocalipsis, t.2: El Apocalipsis., pp. 692, 694. 13 Naden, The Lamb Among the Beasts. Finding Jesus in the Book of Revelation, p. 234. 14 Para uma análise em profundidade, ver LaRondelle, "Armageddon: Sixth and Seventh Plagues" [Armagedom: A sexta e a sétima pragas], Simpósio sobre o Apocalipse, t 2 cap. 12 ver também seu livro Chariots of Salvation. The Biblical Drama of Armageddon. 15 Beasley-Murray, Revelation, 245. 16 Bauckham, The Climax of Prophecy. Studies on the Book of Revelation, p. 201. 17 Ruiz, Ezekiel in the Apocalypse: The Transformation of Prophetic Language in Apocalypsis 16, 17-19:10, p. 276. FONTES BIBLIOGRÁFICAS PARA APOCALIPSE 15 E 16 Livros Bauckham, R. J. The Climax of Prophecy. Studies on the Book of Revelation [O Clímax da

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Profecia. Estudos no Livro do Apocalipse]. Edimburgo: T&T Clark 1993. Beasley-Murray, George R. Revelation [O Apocalipse]. New Century Bible Commentary [Comentário da Bíblia do Novo Século]. Grand Rapids, MI: Wm. B. Eerdmans, 1983. Ellul, Jacques. Apocalypse, The Book of Revelation [Apocalipse, o Livro da Revelação]. Grand Rapids, MI: Wm. B. Eerdmans, 1986. Ford, Desmond. Crisis! A Commentary on the Book of Revelation [Crise! Um Comentário sobre o Livro do Apocalipse]. T. 2. Ford, Josephine Massyngberde. Revelation [O Apocalipse]. Anchor Bible, T. 38. Garden City, Nova York: Doubleday, 1978. Johnson, Alan F. Revelation [O Apocalipse]. Grand Rapids, MI: Zondervan, 1983. Kraft, Heinrich. Die Offenbarung des Johannes [O Apocalipse de João]. Handbuch z. NT 16a. Tübingen: J. C. B. Mohr, 1974. LaRondelle, Hans K. Chariots of Salvation. The Biblical Drama of Armageddon [Carruagens de Salvação. O Drama Bíblico do Armagedom]. Hagerstown, MD: Review and Herald Pub. Ass., 1987. _________. The Good News About Armageddon [As Boas Novas sobre o Armagedom]. Washington, D.C.: Review and Herald, 1990. Maxwell, Mervyn. Apocalipsis: sus revelaciones (Florida, Buenos Aires: Asociación Casa Editora Sudamericana, 1991). Minear, Paul S, I Saw a New Earth [Vi uma Nova Terra]. Washington, D.C.: Corpus Books, 1968. Naden, R. C. The Lamb Among the Beasts. Finding Jesus in the Book of Revelation [O Cordeiro Entre as Bestas. Encontrando a Jesus no Livro do Apocalipse] (Hagerstown, Maryland: Review and Herald, 1996). Pohl, A. Die Offenbarung des Johannes [O Apocalipse de João]. 2 Teil. Wuppertaler Studienbibel von F. Rienecker y W. de Boor. Berlin: Evang. Haupt-Bibelgesellschaft, 1974. Caps. 8-22. Ruiz, Jean-Pierre. Ezekiel in the Apocalypse: The Transformation of Prophetic Language in Apocalypsis 16, 17-19:10 [Ezequiel no Apocalipse: A Transformação da Linguagem Profética em Apocalipse 16, 17-19:10]. European Universitary Studies XXIII. Nova York: P. Lang, T. 376, 1989. Rusten, Elmer M. A Critical Evaluation of Dispensational Interpretations of the Book of Revelation [Uma Avaliação Crítica das Interpretações Dispensacionalistas do Livro do Apocalipse]. Tese doutoral, Universidade de Nova York, 1977. Ann Arbor: University Microfilms International 1980. 2 ts. Schüssler Fiorenza, Elisabeth. Invitation to the Book of Revelation [Convite ao Livro do Apocalipse]. Garden City, Nova York: Doubleday 1986. Smith, Uriah. Las profecías de Daniel y el Apocalipsis. T. 1: Daniel; t.2: El Apocalipsis. Mountain View, Pacific Press, 1949. Were, Louis F. The Certainty of the Third Angel's Message [A Certeza da Mensagem do Terceiro Anjo] (Berrien Springs, Michigan: First Impressions, 1979). Cap. 25. Artigos Davis, D. R. "The Relationship Between the Seals, Trumpets, and Bowls in the Book of Revelation" [A Relação entre os Selos, as Trombetas e as Pragas no Livro do Apocalipse], JETS 16:3 (1973), pp. 149-158. Giblin, Charles H. "Structural and Thematic Correlations in the Theology of Revelation 16-22" [Correlações Estruturais e Temáticas na Teologia de Apocalipse 16-22], Biblica [Revista Bíblica] 55 (1974), pp. 487-504. LaRondelle, Hans K. "Armageddon. Sixth and Seventh Plagues" [Armagedom: A Sexta e a Sétima Pragas], Simpósio sobre o Apocalipse. T. 2, cap. 12. _________. "Contextual Approach to the Seven Last Plagues" [Enfoque Contextual das Sete Últimas Pragas], Ibid. Cap. 3. _________. "Babylon: Antichristian Empire" [Babilônia: O Império Anticristão], Ibid. Cap. 4. _________. "Armageddon: History of Adventist Interpretations" [Armagedom: História das Interpretações Adventistas], Ibid. Apêndice B. _________. "Die Bedeutung der Sieben Letzten Plagen" [O Significado das Sete Últimas Pragas], Studien zur Offenbarung [Estudos sobre o Apocalipse]. Band 2. Euro-Africa Division der STA. J, Mager, ed. Hamburgo, 1989. Pp. 169-211.

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XXX - A SÉTIMA PRAGA: A RETRIBUIÇÃO DE BABILÔNIA - Apocalipse 17 Hoje em dia, um número cada vez major de eruditos em literatura apocalíptica reconhecem o plano arquitetônico do último livro da Bíblia. Apreciando esta nova visão, e com respeito às últimas pragas do Apocalipse, C. M. Maxwell faz esta promessa: "Uma vez mais nosso conhecimento da estrutura literária vai ajudar-nos grandemente a compreender a mensagem".1 Maxwell percebe o seguinte arranjo de paralelismo contrastante:2 A - Descrição: as pragas (Apoc. 15, 16). B - Narração: circunstâncias relacionadas com as pragas (Apoc. 17:1-19:10). B1 - Narração: circunstâncias relacionadas com a Cidade Santa (Apoc. 19:11-21:8). A1 - Descrição: a Cidade Santa (Apoc. 21:9-22:9). Esta estrutura de paralelismo inverso significa que os capítulos 15:1 a 19:10 tratam com o castigo divino, e que os capítulos 19:11 a 22:9 tratam com a libertação e a recompensa divinas. Surpreendentemente, tanto a seção a respeito de Babilônia (Apoc. 17:1-19:10) como a seção a respeito da Nova Jerusalém (Apoc. 21:9-22:9) são introduzidas pelo mesmo anjo das pragas. Cada divisão principal começa com o convite que o anjo faz: "Vem, mostrar-te-ei...":

APOCALIPSE 17:1 APOCALIPSE 21 :9 "Veio um dos sete anjos que têm as sete taças e falou comigo, dizendo: Vem, mostrar-te-ei o julgamento da grande meretriz que se acha sentada sobre muitas águas".

"Então, veio um dos sete anjos que têm as sete taças cheias dos últimos sete flagelos e falou comigo, dizendo: Vem, mostrar-te-ei a noiva, a esposa do Cordeiro".

Depois de cada uma destas visões principais, João se sentiu deprimido e se prostrou aos pés do anjo interpretador para adorá-lo, e recebeu a mesma repreensão:

APOCALIPSE 19:10 APOCALIPSE 22:8, 9 "Prostrei-me ante os seus pés para adorá-lo. Ele, porém, me disse: Vê, não faças isso; sou conservo teu e dos teus irmãos que mantêm o testemunho de Jesus; adora a Deus. Pois o testemunho de Jesus é o espírito da profecia".

"Eu, João, sou quem ouviu e viu estas coisas. E, quando as ouvi e vi, prostrei-me ante os pés do anjo que me mostrou essas coisas, para adorá-lo. Então, ele me disse: Vê, não faças isso; eu sou conservo teu, dos teus irmãos, os profetas, e dos que guardam as palavras deste livro. Adora a Deus".

Com este arranjo literário João põe em correlação a destruição de Babilônia e a descida da nova Jerusalém, com os eventos culminantes da sétima praga. O alcance completo de Apocalipse 16 a 22 não permite manter por mais tempo nenhuma opinião que divida Apocalipse 17 do tempo do fim, e de sua conexão indestrutível com as últimas pragas de Apocalipse 16. As visões de Apocalipse 17 a 19 constituem uma unidade coerente que ampliam adicionalmente a sétima praga (Apoc. 16:17-21). Portanto, a compreensão adequada da sétima praga deve relacionar-se com a interpretação angélica nos capítulos 17 a 19. Este estilo literário foi chamado "entrelaçamento"3 ou "urdidura".4 O que Apocalipse 17 a 19 explicam está todo incluído dentro da ação da sétima praga! Dessa maneira, João fixou cuidadosamente os capítulos 17 a 19 às últimas pragas. O tema básico da guerra santa de libertação de Cristo continua desenvolvendo-se em Apocalipse 16:13-16, 17:12-14 e 19:11-21. O tema da "guerra santa" não só estrutura a unidade inteira dos capítulos 15 a 19, mas também segue adiante, à posse da "terra prometida" nos capítulos 20 a 22. Este é o objetivo positivo da guerra santa de Cristo. Desta maneira o Apocalipse contém sua própria hermenêutica implícita.

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A Relação de Apocalipse 16 e 17-19 A sétima praga (Apoc. 16:17-21) amplia-se nos capítulos seguintes (17-19). A sétima praga contém esta declaração sumária: "E lembrou-se Deus da grande Babilônia para dar-lhe o cálice do vinho do furor da sua ira" (16:19). O tema de Apocalipse 17 a 19 é o juízo sobre Babilônia e nestas visões se dá uma ampliação detalhada da sétima praga. Dessa maneira, a taça com a praga do sétimo anjo cumpre a função de introdução aos capítulos 17 a 19. Por conseguinte, alguns eruditos chamam o Apocalipse 17 a 19 "apêndice" ou "tomada de primeiro plano" dos juízos desta praga. Charles Giblin se refere à seção de Apocalipse 17:1 a 19:10 como a "interpretação angélica da queda de Babilônia".5 Precisamos reconhecer o indicador na introdução de Apocalipse 17:1: "Veio um dos sete anjos que têm as sete taças e falou comigo, dizendo: Vem, mostrar-te-ei o julgamento da grande meretriz que se acha sentada sobre muitas águas". Portanto, o anjo de Apocalipse 17 está conectado com os juízos das taças das pragas de Apocalipse 16. Jean-Pierre Ruiz descreve isto nas seguintes palavras: "Não há indicação literária de distância entre [Apoc.] 16:17 e 17:1, uma indicação que indique que o que segue está compreendido, por dizê-lo assim, dentro da ação da sétima taça. A especificação do guia angélico em 17:1 como um dos anjos das pragas reforça este vínculo".6 A correlação da última praga em Apocalipse 16 com a interpretação do anjo em Apocalipse 17 a 19 também é de uma natureza substancial. A retribuição divina sobre a Babilônia do tempo do fim permanece em primeiro plano (ver Apoc. 16:19; 17:1, 5; 18:1-6, 21; 19:1-3). A breve declaração em Apocalipse 16 de que "lembrou-se Deus da grande Babilônia" (v. 19) amplia-se ulteriormente por um anjo que clama que tem cansado a grande Babilônia, "porque os seus pecados se acumularam até ao céu, e Deus se lembrou dos atos iníquos que ela praticou" (18:2, 5). Apocalipse 17 e 18 explicam como se realizará o juízo de Deus sobre Babilônia. Estes capítulos tão notáveis mostram duas etapas. Na primeira, Deus emprega a besta e seus chifres como instrumentos para dissolver a unidade de Babilônia, o que causa sua ruína. Disse o anjo interpretador: "Os dez chifres que viste e a besta, esses odiarão a meretriz, e a farão devastada e despojada, e lhe comerão as carnes, e a consumirão no fogo" (Apoc. 17:16). Deste modo a meretriz, descrita como o último poder apóstata, é a primeira a ser julgada e em receber a lamentação do mundo (Apoc. 18:9-19). Na segunda etapa da retribuição divina se pinta um quadro do segundo advento de Cristo no símbolo de um cavaleiro vencedor cujo nome é a Palavra de Deus, que vence a besta, o falso profeta e seus exércitos (Apoc. 19:11-21). Essa descrição de Cristo como "Rei dos reis e Senhor dos senhores" (Apoc. 19:16) apresenta a visão ampliada do "Armagedom" tal como foi antecipada na sexta e na sétima pragas de Apocalipse 16:13-16. As pragas de Apocalipse 16 estão ampliadas nos capítulos 17 a 19. A Meretriz: A Característica Principal de Apocalips e 17 Primeiro devemos prestar atenção à visão e à reação que teve João (Apoc. 17:1-6), e depois considerar a interpretação do anjo (vs. 8-18). "Veio um dos sete anjos que têm as sete taças e falou comigo, dizendo: Vem, mostrar-te-ei o julgamento da grande meretriz que se acha sentada sobre muitas águas, com quem se prostituíram os reis da terra; e, com o vinho de sua devassidão, foi que se embebedaram os que habitam na terra. Transportou-me o anjo, em espírito, a um deserto e vi uma mulher montada numa besta escarlate, besta repleta de nomes de blasfêmia, com sete cabeças e dez

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chifres. Achava-se a mulher vestida de púrpura e de escarlata, adornada de ouro, de pedras preciosas e de pérolas, tendo na mão um cálice de ouro transbordante de abominações e com as imundícias da sua prostituição. Na sua fronte, achava-se escrito um nome, um mistério: BABILÔNIA, A GRANDE, A MÃE DAS MERETRIZES E DAS ABOMINAÇÕES DA TERRA" (Ap. 17:1-6). Percebemos três temas principais na visão de João: a prostituta, a besta e Babilônia. Enquanto que a besta e Babilônia já se mencionaram em Apocalipse 13 a 16, a meretriz ou prostituta é o tema novo e central de Apocalipse 17. O interrogante é: Que realidade histórica corresponde a esta meretriz sedenta de sangre durante a era da igreja? É a Roma imperial, a hostil Jerusalém, o poder perseguidor Estado-Igreja da Idade Média, ou é alguma realidade temível que está no futuro? O enfoque contextual pode abrir uma perspectiva nova sobre este capítulo misterioso do Apocalipse. Ao considerar o contexto dos capítulos 12 e 13, notamos que há uma mulher grávida e uma besta de sete cabeças. Isto requer uma avaliação das duas mulheres simbólicas em Apocalipse 12 e 17 que estão em um contraste intencional entre si. Como vimos antes (cap. XXI desta obra), a mulher pura do capítulo 12 representa o povo fiel do antigo e do novo pacto. Esta "mulher" deu à luz o Messias de Israel (Apoc. 12:1-5), depois foi perseguida e fugiu ao deserto para ocultar-se da vida pública e da sociedade por 1.260 dias simbólicos (vs. 6, 14). Se se contemplar à meretriz do capítulo 17 como a contraparte da mulher pura de Apocalipse 12, devemos concluir que a meretriz representa a igreja infiel que entrou em uma relação ilícita com os governantes políticos do mundo, "os reis da terra" (ver Apoc. 17:2). Isto esclarece o fato de que a prostituta é capaz de perseguir a todos os dissidentes. João a vê "ébria do sangue dos santos, e do sangue dos mártires de Jesus" (v. 6; ver também 16:6; 18:24). A igreja medieval não executou a nenhum herege, mas sim entregou os condenados pela Inquisição da igreja, que já tinham sido torturados, aos governantes do mundo para que executassem as sentenças de morte dadas pela igreja. É espantoso chegar à conclusão de que a prostituta simbólica representa a igreja apóstata. Requer confirmação do contexto bíblico. Tal confirmação vem em essência dos profetas do Antigo Testamento, que descreveu a Israel ou a Judá como uma "prostituta", como a esposa infiel de Jeová. Protótipos do Antigo Testamento da Prostituta Apoca líptica Oséias começou a acusar às dez tribos do reino do Norte, o reino do Israel, declarando: "Um espírito de prostituição está no meio deles, e não conhecem ao Senhor" (Osé. 5:4). Meu povo "consulta o seu pedaço de madeira, e a sua vara lhe dá resposta; porque um espírito de prostituição os enganou, eles, prostituindo-se, abandonaram o seu Deus" (4:12). Jeremias adotou este mesmo simbolismo para falar de Judá e de Jerusalém: "Tu te prostituíste com muitos amantes" (Jer. 3:1); "Embora te vista de escarlata, embora te adornes com atavios de ouro, embora pintes com antimônio teus olhos, em vão te engalanas; te desprezarão seus amantes, procurarão tua vida" (4:30). Não há dúvida que Jezabel, a mulher pagã do Acabe simbolizava algo assim como um modelo para o quadro do Jeremias de uma Jerusalém apóstata (ver 2 Reis 9:30). Isaías incluso exclamou com horror a respeito de Jerusalém: " Como se fez prostituta a cidade fiel! Ela, que estava cheia de justiça! Nela, habitava a retidão, mas, agora, homicidas" (Isa. 1:21). Ezequiel transmitiu a denúncia mais elaborada de Jerusalém, que serve como a chicote principal do simbolismo da prostituta em Apocalipse 17. As descrições que Ezequiel e João fazem da prostituta merecem uma comparação séria.

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A Prostituta Apocalíptica: Antítipo do Israel Apóst ata Os principais eruditos em apocalipticismo atuais – tais como A. Vanhoye, J. M. Vogelgesang, J-P. Ruiz e outros – mostraram que maneira convincente que a linguagem figurada da prostituta de Apocalipse 17 tem dependência de Ezequiel 16, 20 e 23. Mais que qualquer outro profeta, Ezequiel descreveu a Israel (incluindo Judá e Jerusalém) como a companheira do pacto de Jeová que era infiel, uma prostituta sedenta de sangue que se exaltava a si mesma. O protótipo bíblico está carregado de significado para compreender a seu antítipo em Apocalipse 17 durante o período da igreja. Uma análise cuidadosa de Ezequiel 16, 20 e 23 é essencial para a interpretação de Apocalipse 17, com seu enfoque no tempo do fim. Tanto Ezequiel como João usam o símbolo da meretriz para acusar a infiel companheira do pacto com Deus das seguintes acusações: imoralidade sexual ou idolatria, opressão e assassinato de seus próprios filhos. Depois que se apresentam as acusações legais, tanto Ezequiel como João procedem a apresentar o mesmo castigo da impenitente. É útil colocar as passagens pertinentes lado a lado embora não há substituto para uma leitura pessoal destes capítulos em toda sua extensão. A correspondência das descrições do Ezequiel e o Apocalipse é tão evidente que Josephine M. Ford declarou: "O texto que influiu mais sobre o autor do Apocalipse é Ezequiel 16, que é um ataque profético sobre Jerusalém... Sua descrição é tão gráfica como em Apocalipse 17 e 18".7 Pode-se preferir aqui falar não de um "ataque" mas sim de retribuição divina. Agora comparemos:

EZEQUIEL 16 e 20 O JUÍZO DA PROSTITUTA

APOCALIPSE 17 e 18 O JUÍZO DA PROSTITUTA

"Eu te cobri de enfeites..." (16:11, BJ). "Assim te tornavas cada vez mais bela, até assumires ares de realeza" (16:13, BJ).

"O quanto a si mesma se glorificou e viveu em luxúria, dai-lhe em igual medida tormento e pranto, porque diz consigo mesma: Estou sentada como rainha. Viúva, não sou. Pranto, nunca hei de ver!" (18:7).

"Puseste a tua confiança na tua beleza e, segura de tua fama, te prostituíste, prodigalizando as tuas prostituições a todos os que apareciam. Tomaste dentre os teus vestidos e com eles fizeste lugares altos e de várias cores e aí te prostituíste" (16:15, 16, B]). "Tomaste os teus filhos e as tuas filhas que me tinhas dado à luz e os imolaste a elas, a fim de que as comessem. Seria isso menos grave do que as tuas prostituições? Mataste os meus filhos e os fizeste passar pelo fogo, oferecendo-os a elas" (16:20, 21, BJ).

"Vi a mulher embriagada com o sangue dos santos e com o sangue das testemunhas de Jesus; e, quando a vi, admirei-me com grande espanto" (17:6). "E nela se achou sangue de profetas, de santos e de todos os que foram mortos sobre a terra" (18:24).

"A mulher adúltera acolhe estranhos em lugar do marido" (16:32).

"Com a qual se prostituíram os reis da terra; e os que habitam na terra se embebedaram com o vinho da sua prostituição" (17:2).

"Por tudo isso hei de reunir todos os teus amantes, aos quais agradaste...reuni-los-ei a todos e descobrirei a tua nudez, para que a vejam toda... Entregar-te-ei às suas mãos e eles deitarão por terra a tua colina, arrasarão os teus lugares altos, despir-te-ão dos teus vestidos, tomarão os teus adornos e te deixarão totalmente nua. Porão fogo às tuas casas e executarão juízo contra ti"(16:37-41, BJ).

"Os dez chifres que viste e a besta, esses odiarão a meretriz, e a farão devastada e despojada, e lhe comerão as carnes, e a consumirão no fogo" (17:16).

Albert Vanhoye demonstrou que Apocalipse 17:15-18 reflete uma utilização do Ezequiel 16 e

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23.8 R. H. Charles vá ao Ezequiel 23:25-29 reproduzido "em essência" em cada uma das ações levadas a cabo pela besta e seus chifres contra a prostituta.9 Jeffrey Vogelgesang também vá a João tomando diretamente do Ezequiel 16 e 23 nas visões a respeito de Babilônia de Apocalipse 17 e 18. Declara o seguinte: "O sentido geral de Apocalipse 17 corresponde ao Ezequiel 16 e 23, onde se consideram as obras más da meretriz, depois se pronuncia o veredicto e se proclama o castigo".10 Um ponto que geralmente os exegetas profissionais ignoram é a questão de como se relacionam teologicamente entre si Ezequiel 16 e Apocalipse 17, quer dizer, como é que esta correspondência que se reconhece entre estes dois capítulos indica que existe uma tipologia bíblica. Para a interpretação de Apocalipse 17 é crucial definir a estrutura tipológica entre as silhuetas destas duas prostitutas e os juízos que Deus envia. Não há dúvida de que existe uma analogia estrutural entre as acusações legais e o castigo retributivo das prostitutas em Ezequiel 16 e Apocalipse 17. É inevitável a conclusão de que Apocalipse 17 depende de Ezequiel 16, porque ambas as passagens tratam com o professo mas apóstata povo da aliança! Esta conclusão dolorosa foi evitada sistematicamente pela maioria dos teólogos cristãos e os eruditos em exegese, assim como pelos eruditos rabínicos que ficaram tão escandalizados pela linguagem severa de Ezequiel que proibiram a leitura de Ezequiel 16 na sinagoga.11 As acusações divinas em Ezequiel 16 são de uma natureza moral: idolatria e infidelidade conjugal. Ambos estão conectados entre si porque o adultério metafórico de Jerusalém com o Egito, Assíria e Babilônia compreendia a adoração dos deuses estranhos desses reis (2 Reis 17:13-20; Isa. 30:1-5; 31:1). A apostasia de Jerusalém na adoração se revela de maneira especial em Ezequiel 23: "Porque adulteraram, e nas suas mãos há culpa de sangue; com seus ídolos adulteraram, e até os seus filhos, que me geraram, ofereceram a eles para serem consumidos pelo fogo. Ainda isto me fizeram: no mesmo dia contaminaram o meu santuário e profanaram os meus sábados.... e assim o fizeram no meio da minha casa" (Ezeq. 23:37-39; ver também 20:21, BJ). Jeremias, um contemporâneo de Ezequiel, pôs a descoberto as mesmas práticas de sacrificar os filhos aos ídolos (Jer. 7:10, 30-34). Quando anunciou a destruição do templo de Salomão, "lançaram mão dele os sacerdotes, os profetas e todo o povo, dizendo: Serás morto: De certo morrerá" (26:8). A meretriz do tempo do fim de Apocalipse 17 é acusada dos mesmos crimes de apostasia no culto, infidelidade sexual e idolatria sedenta de sangue (Apoc. 17:2, 4, 6, 14). Assim como a antiga Jerusalém se tornou inimiga de Jeová, assim a igreja institucional seria infiel a Cristo, apóstata em seu culto de adoração, e sedenta de sangue com todos os que recusassem prostrar-se ante ela e sua "marca" de adoração. O castigo da prostituta em Ezequiel 16 e 23 assim como em Apocalipse 17, em essência é o mesmo: Deus chama os antigos amantes para que levem a cabo o castigo da prostituta (Ezeq. 16:37, 39; 23:22; Apoc. 17:16, 17). Walter Zimmerli resumiu nestas palavras o castigo que aparece em Ezequiel 16: "Os mesmos poderes de quem a comunidade de Deus parece aproveitar-se, tomarão represálias e executarão o juízo de Deus sobre ela... como um juízo que começa pela casa de Deus (9:6)".12 Por conseguinte, J-P. Ruiz concluiu dizendo: "O que encontramos em Apocalipse 17:16 é uma relocação nova e consciente da linguagem de Ezequiel 16 e 23, e uma transformação real da linguagem profética".13 O anjo interpretador destaca que a ação destruidora da besta e seus chifres contra a prostituta em Apocalipse 17:16 é o cumprimento da vontade de Deus "Porque Deus tem posto em seu coração que cumpram o seu intento, e tenham uma mesma idéia, e que dêem à besta o seu reino, até que se cumpram as palavras de Deus" (Apoc. 17:17).

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Um olhar mais detido aos oráculos de juízo da antiga e a nova prostituta, revela uma correspondência literária e temática:

EZEQUIEL 16:39 APOCALIPSE 17:16 "Entregar-te-ei nas suas mãos, e derribarão o teu prostíbulo de culto e os teus elevados altares; despir-te-ão de teus vestidos, tomarão as tuas finas jóias e te deixarão nua e descoberta".

"Os dez chifres que viste e a besta, esses odiarão a meretriz, e a farão devastada e despojada, e lhe comerão as carnes, e a consumirão no fogo".

A relação teológica entre os castigos das duas prostitutas, a antiga e a nova, é manifestamente uma relação de tipo e antítipo. Esta tipologia inspirada contém a chave para decifrar a visão desconcertante do tempo do fim que João apresenta: a meretriz do tempo do fim representa a igreja infiel e mundana que voltará a ter a supremacia por um tempo breve sobre os governantes políticos. J-P. Ruiz chamou nossa atenção a algumas relações notáveis do castigo da meretriz em Apocalipse 17: "… devorarão suas carnes" (v. 16). Aqui vê "uma similitude verbal estreita" entre esta frase de Apocalipse e a de 2 Reis 9 que descreve a predição que Elias faz da morte de Jezabel, a rainha de Israel: "No campo de Jezreel, os cães comerão a carne de Jezabel" (2 Reis 9:36). Ruiz declara o seguinte: "O contexto de 2 Reis 9:36 também corresponde ao de Apocalipse 17:16".14 A correspondência básica da Jezabel histórica e seu antítipo profético dentro da igreja, já estava indicado na carta de Cristo à igreja do Tiatira: "Tenho, porém, contra ti o tolerares que essa mulher, Jezabel, que a si mesma se declara profetisa, não somente ensine, mas ainda seduza os meus servos a praticarem a prostituição e a comerem coisas sacrificadas aos ídolos" (Apoc. 2:20). A igreja de Cristo ia permitir dentro de seu seio a uma nova Jezabel, com suas exigências falsas como profetisa de Deus e com seu culto religioso falso (Apoc. 2:20, 23). Os resultados amargos são os mesmos na antiga e na nova Jezabel: o assassinato legalizado e político dos santos de Deus. Assim como a Jezabel da antiguidade usou a seu marido o rei Acabe para perseguir Elias e os seguidores de Jeová, assim também a Jezabel apocalíptica usa os governantes políticos para perseguir os seguidores de Cristo. O cristianismo apóstata receberá o mesmo juízo condenador de Cristo como o que recebeu Jezabel: "Pois julgou a grande meretriz... e vingou o sangue de seus servos" (Apoc. 19:2; cf. 2 Reis 9:7). Este é o contexto mais amplo da frase do anjo, "devorarão suas carnes", em Apocalipse 17:16. A maldição final do pacto sobre a prostituta apocalíptica se formula como "os dez chifres... a consumirão no fogo" (17:16; ver também 18:8). Na lei de Moisés, este castigo estava reservado para a imoralidade sexual da filha de um sacerdote: "Se a filha de um sacerdote se desonra, prostituindo-se, profana a seu pai; será queimada" (Lev. 21:9). Enquanto que o castigo tradicional para o adultério de uma mulher casada era o apedrejamento (Deut. 22:23, 24; João 8:5), no caso de prostituição praticada pela filha de um sacerdote, o castigo era queimá-la. Este castigo apocalíptico da prostituta do tempo do fim assinala uma vez mais à natureza sacerdotal desta "mulher" caída. João informa sua reação à visão de Apocalipse 17:1-6, quando diz: "E, quando a vi, admirei-me com grande espanto" (V. 6). Em realidade, ficou "mudo de assombro" ou "grandemente perplexo", o que é difícil de entender se João tivesse visto só os imperadores romanos perseguidores ou uma Jerusalém hostil. Isso era algo familiar para sua própria experiência. Entretanto, se contemplou a mudança que se levaria a cabo na igreja institucional de Cristo, que a mulher pura chegaria a ser intolerante e a estar sedenta de sangue, isso teria sido verdadeiramente assombroso.

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Admoestações Apostólicas Contra a Apostasia Predita A igreja de Cristo ia repetir a história do Israel antigo, que em general foi uma história de apostasia. O apóstolo Paulo advertiu contra a repetição da apostasia do Israel na igreja institucional. Disse Paulo: "Ora, estas coisas se tornaram exemplos para nós, a fim de que não cobicemos as coisas más, como eles cobiçaram. Não vos façais, pois, idólatras, como alguns deles... Aquele, pois, que pensa estar em pé veja que não caia" (1 Cor. 10:6, 7, 12). Paulo também empregou a metáfora profética de uma mulher para descrever à igreja quando escreveu: "Pois lhes hei desposado com um só marido, para lhes apresentar como uma virgem pura a Cristo. Mas temo que como a serpente com sua astúcia enganou a Eva, seus sentidos sejam de algum jeito extraviados da sincera fidelidade a Cristo" (2 Cor. 11:2, 3). Expressou seu temor justificado nesta predição sinistra quando se dirigiu aos anciões da igreja de Éfeso: "Eu sei que, depois da minha partida, entre vós penetrarão lobos vorazes, que não pouparão o rebanho. E que, dentre vós mesmos, se levantarão homens falando coisas pervertidas para arrastar os discípulos atrás deles. Portanto, vigiai" (At. 20:29-31). Inclusive caracterizou esta apostasia vindoura (em gr., apostasia] dentro da igreja como uma rebelião do "homem do pecado" (em gr., anomías] (2 Tes. 2:3), que continuaria e permaneceria todo o tempo, até a segunda vinda de Cristo (V. 8). Entretanto, o Apocalipse de João desenvolve o tema da apostasia sistematicamente em Apocalipse 12 a 19. Aqui a igreja pós-apostólica institucional é descrita como uma "meretriz", porque sendo a "mulher" de Cristo, unir-se-ia ilegalmente com os reis da terra: "Com quem se prostituíram os reis da terra; e, com o vinho de sua devassidão, foi que se embebedaram os que habitam na terra" (Apoc. 17:2). Um intérprete da escola histórica de interpretação comentou: "O fato de que Babilônia é distinta dos reis da terra, embora esteja ilegalmente unida a eles, é uma prova positiva que Babilônia não é o poder civil. O fato de que o povo de Deus está em seu meio precisamente antes de sua derrocada, demonstra que é um professo corpo religioso. Portanto, pensamos que deve ser evidente que a Babilônia de Apocalipse 17 simboliza à igreja professa que está ilegalmente unida ao mundo".15 O Imperativo da Hermenêutica do Evangelho Alguns reconhecem que a meretriz de Apocalipse 17 representa ao professo povo do pacto de Deus e sua infidelidade ao Deus do pacto. J. M. Ford o explica assim: "É o pacto o que a faz noiva, a ruptura do qual a converte em adúltera".16 O ler o Apocalipse à luz do antecedente do Antigo Testamento foi um adiantamento fundamental no enfoque do livro do Apocalipse, e muitos até falham em apreciar a importância deste fato. Não obstante, esta chave do Antigo Testamento não é uma garantia da aplicação histórica de Apocalipse 17. Necessita-se também estar consciente da tipologia cristã que o Novo Testamento revela em sua aplicação do idioma do pacto hebraico.17 Rechaçando a aplicação popular de que a meretriz se refere a Roma imperial, esta erudita católica literaliza sua aplicação da meretriz de Apocalipse 17 à "Jerusalém infiel" e a seu sacerdócio. Diz J. M. Ford: "Estes textos [dos rolos de Qumran], juntos com os do Antigo Testamento, assinalam que a meretriz em Apocalipse 17 é Jerusalém, não Roma".18 Por conseguinte, considera a "a antiga Jerusalém, manchada" em vez de Roma como a verdadeira contraparte da Nova Jerusalém".19 Mas este princípio de aplicação literal é uma violação

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fundamental da hermenêutica do evangelho, porque não está orientada a Cristo e a seu povo do novo pacto (ver a Primeira parte, o cap. V desta obra). O Apocalipse está construído quase completamente com termos e imagens hebraicas, como o reconhecem todos os exegetas. Portanto, para evitar as interpretações especulativas, é essencial aplicar a hermenêutica do evangelho a toda a linguagem hebraica do pacto que aparece no Apocalipse. O idioma e o simbolismo no Apocalipse continuam sendo os do pacto, mas em termos do novo pacto de Jesus Cristo. Este idioma pactual cristocêntrico está firmemente estabelecido em Apocalipse (vejam-se os caps. II e III desta obra). O MISTÉRIO DE BABILÔNIA, A GRANDE A meretriz tem um título escrito sobre sua frente: "Mistério: Babilônia, a grande" (Apoc. 17:5). Este "mistério" não está restringido à identidade da prostituta. Disse explicitamente o anjo: "Eu te direi o mistério da mulher, e da besta que a traz, a qual tem as sete cabeças e dez chifres" (v. 7). Com respeito a isto, declara J-P. Ruiz: "Tudo o que aparece no capítulo 17:7 e 8, e não precisamente os vs. 15-18, têm que ver com a mulher, a cujo juízo se convida como testemunha a João. A repetição de guné nos vs. 7, 9 e 18 serve como o recordativo literário de que a prostituta e a besta pertencem ao mesmo mustérion".20 Isto significa que o "mistério" de Babilônia a grande inclui a visão de João como um tudo, a compreensão do qual requer "a mente que tenha sabedoria" (Apoc. 17:9). Necessitou-se sabedoria já antes para entender o "número da besta" (13:18). Requer a atividade intelectual de calcular o número da besta (v. 18). A mesma atividade mental se necessita em Apocalipse 17, porque indica a aplicação histórica das sete cabeças da besta escarlate e de seus dez chifres: "Aqui é necessário a inteligência que tem discernimento: as sete cabeças são sete montes (em gr., óre: 'montes'] sobre os quais a mulher está sentada. São também sete reis, dos quais cinco já caíram, um existe e o outro ainda não veio, mas quando vier deverá permanecer por pouco tempo" (Apoc. 17:9 e 10, BJ; ver RA, RC, que também traduzem "montes"). "E os dez chifres que viste são dez reis, que ainda não receberam o reino, mas receberão o poder como reis por uma hora, juntamente com a besta" (Apoc. 17:12). Toda a linguagem figurada é parte do "mistério" de Babilônia, a Grande. A sabedoria sugere que façamos remontar toda esta linguagem figurada à linguagem profética hebraica antes que busquemos aplicar os símbolos à era da igreja. Ao mesmo tempo que detectamos uma correspondência inegável da prostituta apocalíptica com a prostituta dos oráculos de condenação de Ezequiel (caps. 16 e 23), observamos que a besta com as cabeças e os chifres em Apocalipse 17 depende essencialmente da besta com dez chifres do Daniel 7. Portanto, devemos relacionar Apocalipse 17 com Daniel 7. Ambas as visões apocalípticas estão conectadas de maneira indissolúvel. Ruiz reconheceu isto em sua análise de Apocalipse 17: "Entretanto é uma mensagem unificada oferecida em termos do Antigo Testamento, porque o tema da besta está extraída de Daniel, enquanto que o tema da prostituta, sua atividade e seu destino, é tomada de Ezequiel".21 O Momento Histórico Exato da Besta Ressuscitada O segundo tema de Apocalipse 17 é a besta escarlate sobre a qual está sentada uma prostituta. João é levado "em Espírito ao deserto". Ali viu "uma mulher montada numa besta escarlate, besta repleta de nomes de blasfêmia, com sete cabeças e dez chifres" (Apoc. 17:3). Neste ponto recordamos que o dragão (Apoc. 12:3) e a besta do mar (13:1) têm igualmente sete cabeças e dez chifres. Entretanto, cada um dos três animais têm alguns característicos únicos que diferem dos outros. O dragão tem sete coroas em suas cabeças (12:3), enquanto que a besta do mar tem dez coroas sobre seus chifres (13:1). A besta escarlate não tem

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coroas, mas leva a prostituta. Por conseguinte, a besta escarlate do capítulo 17 não é idêntica à besta que sobe do mar no capítulo 13 ou com o dragão do 12. Por outro lado, as sete cabeças e os dez chifres da besta escarlate estabelecem uma conexão definida entre a besta que sobe do mar e o dragão. O anjo interpretador solicita que se exerça sabedoria especial para entender as sete cabeças da besta revivida (Apoc. 17:9). Ao que parece, o momento exato das duas últimas cabeças, a sexta e a sétima, é um momento crucial na era da igreja para manter um conhecimento exato do plano de Deus para nosso tempo. De nossa análise de Apocalipse 12 a 14 aprendemos que estes capítulos revelam progressivamente todo o alcance da era da igreja. Enquanto que Apocalipse 12 se enfoca principalmente no começo da era da igreja (o nascimento e a coroação do Messias, vs. 1-5), e nos séculos pós-apostólicos (a mulher se oculta no deserto por 1.260 dias simbólicos, vs. 6, 14), Apocalipse 13 e 17 mudam o foco principal da profecia cada vez mais no tempo do fim da era da igreja (em Ap. 13:15-17; 17:12-14), ampliando cada vez mais o conflito final de Apocalipse 12:17. As sete cabeças se descrevem explicitamente como "reis" sucessivos ou poderes mundiais, dos quais "dos quais caíram cinco, um existe, e o outro ainda não chegou" (Apoc. 17:10). É claro que a besta demoníaca exerce seu governo opressor por meio de uma cabeça de uma vez no curso da história. As sete cabeças pertencem igualmente ao dragão (cap. 12), à besta que sobe do mar (cap. 13) e à besta escarlate que sobe do abismo (cap. 17). Não podemos dar por sentado que há 21 cabeças, mas só sete são as que representam todo o lapso de tempo da luta de Satanás contra o povo de Deus.22 Isto significa que o dragão, a besta do mar e a besta escarlate, cada uma representa uma cabeça particular ou poder mundial. Relacionando cada animal ao período de tempo central dos "1.260" dias (12:6) ou "42 meses" (13:5), estamos de acordo com John N. Andrews, que afirmou: "O período próprio de cada um parece ser este: o dragão antes dos 1.260 anos, a besta do capítulo 13 durante esse período, e a besta do capítulo 17 do tempo da ferida mortal e a cativeiro no fim daquele período".23 As sete cabeças de cada uma das três bestas de Apocalipse 12, 13 e 17 expressam a continuidade da perseguição por parte destes poderes mundiais ímpios. Todas estão relacionadas essencialmente pelo mesmo espírito de ódio contra Jesus Cristo e estão decididas a proscrever e executar os companheiros do Cordeiro de Deus. Cada "cabeça" dos poderes estatais governantes na era da igreja está motivada pelo mesmo dragão, ou Satanás (Apoc. 12:9). As Sete Cabeças da Besta Escarlate As sete cabeças foram o assunto de muita discussão nos comentários. Recentemente, Kenneth A. Strand examinou os argumentos do ponto de vista popular preterista, que aplica as sete cabeças a sete imperadores romanos específicos.24 Louis Were examinou a antiga opinião protestante que aplicava as cabeças a sete formas diferentes de governo em Roma, a sétima das quais era o Exarcado da Ravena.25 C. M. Maxwell apresentou uma interpretação clara e exaustiva desta seção de Apocalipse 17.26 Todos estes investigadores chegam à conclusão de que as sete cabeças não se referem a reis ou formas específicas do governo de Roma através dos séculos. Todos interpretam os termos "reis" como reinos personificados ou impérios, não como indivíduos isolados (ver Dan. 2:37-39; 7:17, 18, 23). De igual maneira, os "montes" se vêem como símbolos de reinos, como era costume na linguagem profética (Dan. 2:44, 45; Jer. 51:25). Com respeito às "sete cabeças" da besta, Louis Were comentou o seguinte: "O número 7 se empregou com referência às cabeças em um sentido simbólico e por isso não nos incumbe encontrar um número exato de 7 inimigos do povo de Deus. O número 7 se emprega no Apocalipse em um sentido simbólico para perfeição ou integridade".27

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Depois de examinar as diferentes propostas para identificar as sete cabeças, o Comentário bíblico adventista conclui: "A evidência é insuficiente para garantir uma identificação dogmática delas".28 Há uma indicação que dá que pensar em Apocalipse 17 e que nos convida a identificar em forma tentativa os reinos principais: "Dos quais caíram cinco, um existe, e o outro ainda não chegou; e, quando chegar, tem de durar pouco" (V. 10). Se se reconhecerem que as cinco primeiras cabeças ou reinos hostis estavam no passado nos dias de João, devemos começar com: Egito, Assíria, Babilônia, Medo-Pérsia e Grécia, para ter cinco reinos que tinham caído nos dias de João. A "cabeça" que "é" seria então Roma imperial. A "cabeça" ainda por vir, apontaria a Roma papal durante a Idade Média. Mas existe um problema com esta posição. Passou por cima sua coordenação com as três fases da besta: "A besta que era, e não é..." (Apoc. 17:11 ). Isto significa que a identificação da sexta cabeça ("que é") com a Roma imperial não quadra com a explicação do anjo de que a besta "não é!" Portanto, parece mais sábio adotar o ponto de vista escatológico apresentado pelo mesmo anjo que traz a praga. Declara K. A. Strand: "A mesma visão [Apoc. 17:1-6] está dada da perspectiva do juízo escatológico quando a besta 'não é ' ".29 O quadro simbólico de que a sexta cabeça está viva enquanto que a besta "não é", requer alguma explicação. A expressão "não é" com respeito à besta indica com toda certeza que a natureza perseguidora ou bestial da besta não está ativa durante a sexta cabeça. O período da sexta cabeça se aplicaria então ao tempo das democracias modernas da Revolução Francesa (1798), quando começaram a separar o Estado e a Igreja. C. M. Maxwell vê também a visão da besta escarlate "do ponto de vista do tempo do fim em lugar de localizar-se nos dias de São João". Explica-o assim: "Entende que as cinco cabeças 'caídas' seriam Babilônia, Pérsia, Grécia, o Império Romano e a Roma cristã. A sexta cabeça (no tempo do fim) 'é' a Roma cristã ferida de morte, que seria seguida muito em breve pela sétima cabeça que 'ainda não chegou', quer dizer, a Roma cristã com sua ferida curada. A 'hora' quando os dez reis reinam com a besta é um breve período no próprio fim do tempo quando com zelo ditatorial a besta for ajudada no reavivamento de sua dura perseguição".30 Podemos imaginar a coordenação da besta escarlate com suas sete cabeças no diagrama seguinte. Toma a visão de Apocalipse 17 como olhando para trás na história da igreja, do tempo do fim, quando a sexta cabeça está presente.

APOCALIPS E 17

PASSADO PRESENTE FUTURO CABEÇAS CINCO CAÍRAM: Babilônia; M-Pérsia; Grécia; Roma pagã; ROMA PAPAL.

A SEXTA ESTÁ PRESENTE: Durante o tempo do fim.

A SÉTIMA AINDA NÃO VEIO

CHIFRES Coroados: Monarquias medievais.

Destronados: As de-mocracias desde a Revolução Francesa.

Coroados por una hora: Unem-se com a besta ressuscitada.

BESTA ERA: Quando perseguiu.

NÃO É: Não persegue, porque sofre una ferida mortal.

E SERÁ: Fará guerra contra o Cordeiro e seus seguidores ( l 7:12-14). MUDANÇA REPENTINA: A besta e os 10 chifres destroem a meretriz (17:16).

A revelação nova de Apocalipse 17 tem que ver com a declaração que nos deixa perplexos de que o anticristo (a besta que sobe do mar) de Apocalipse 13, depois que sua ferida mortal tenha sido curada, se levantará mais uma vez ao poder para orquestrar um assalto extremo

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sobre os santos no tempo do fim. Esta perseguição final toma a natureza de uma guerra político-religiosa da besta, em aliança com os dez chifres, contra o Cordeiro e seus seguidores: "Os dez chifres que viste são dez reis, os quais ainda não receberam reino, mas recebem autoridade como reis, com a besta, durante uma hora. Têm estes um só pensamento e oferecem à besta o poder e a autoridade que possuem. Pelejarão eles contra o Cordeiro, e o Cordeiro os vencerá, pois é o Senhor dos senhores e o Rei dos reis; vencerão também os chamados, eleitos e fiéis que se acham com ele" (Apoc. 17:12-14). A mensagem consoladora de Apocalipse 17 é o breve tempo do terror final e a repentina libertação da última tirania para o Israel de Deus. A ênfase notável sobre o tempo do fim de Apocalipse 17 requer uma atenção especial. Os repetidos indicadores de tempo do passado, presente e futuro em Apocalipse 17 precisam relacionar-se adequadamente à história das três etapas da besta em Apocalipse 13. Apocalipse 17 deve ser considerado como uma das visões de fôlego mais importantes para o povo de Deus no tempo do fim. A Progressão de Tempo Entre Apocalipse 13 e 17 Embora Apocalipse 17 foi considerado por alguns como nada mais que uma repetição de Apocalipse 13, uma comparação estreita da besta das sete cabeças em ambos os capítulos mostra que Apocalipse 17 não é precisamente um duplicado de Apocalipse 13. Três característicos distintivos indicam uma progressão histórica entre a besta que sobe do mar em Apocalipse 13 e a besta escarlate de Apocalipse 17. 1. Os nomes de blasfêmia, limitados às cabeças da besta em Apocalipse 13:1, agora cobrem todo o corpo da besta escarlate (Apoc. 17:3), o que indica o incremento contínuo das demandas jactanciosas do anticristo com o passar do tempo. 2. Os dez chifres da besta escarlate já não levam diademas reais (como em Apoc. 13:1), mas voltarão outra vez a reinar como reis com a besta "por uma hora" (17:12). 3. A besta escarlate não sobe do mar (como em Apoc. 13), mas sim do abismo ou o reino da morte (17:8; ver Rom. 10:7). Isto indica uma ressurreição do reinado da besta. Este renascimento ou reencarnação do anticristo em escala universal é a revelação única em seu gênero de Apocalipse 17. As Três Etapas da Existência do Anticristo João percebe três fases sucessivas da besta-anticristo. Primeiro, a besta ia fazer guerra contra os santos durante 42 meses (Apoc. 13:5). Depois assestam uma ferida mortal à besta (V. 3). Finalmente, João viu a besta revivida reassumir sua guerra contra os santos só por "uma hora" ou "um pouco de tempo", e imediatamente partir à sua destruição (17:8, 10, 11 ). O anjo interpretador descreve as três etapas sucessivas da besta em forma repetida (três vezes): "A besta que viste, era e não é, está para emergir do abismo e caminha para a destruição. E aqueles que habitam sobre a terra ...se admirarão, vendo a besta que era e não é, mas aparecerá" (Apoc. 17:8). "E a besta, que era e não é, é ela também o oitavo, e é dos sete, e vai à perdição" (Apoc. 17:11). Dessa maneira o anjo enfatiza três vezes que a visão de João pertence ao período quando a besta "não é", quer dizer, quando não está reinando como perseguidora dos santos, enquanto a besta está "para subir [mélei anabáinein] do abismo" (Apoc. 17:8). Esta descrição determina o ponto de vista do tempo da visão de Apocalipse 17, quando a besta "não é", quer dizer, quando recebeu sua "ferida mortal". A respeito, G. McCready Price declarou: "Não parece haver possibilidade de negar que esta época de 'não é' da besta deve corresponder à época da ferida de morte de Apocalipse 13:3".31 No entanto, Apocalipse 17 revela que a ferida mortal não foi infligida à mulher perseguidora. A igreja apóstata ficaria, seria só como "uma viúva" porque a besta já não estaria disponível para executar seus mandatos. Durante o período de sua ferida mortal, a besta "não é" (17:8; 18:7), o que significa que não persegue.

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Para sintetizar os pontos de vista do tempo em Apocalipse 12, 13 e 17 digamos: o dragão fez guerra contra os santos durante o tempo da Roma pagã (12:1-5), a besta do mar continuou esta guerra durante a Idade Média (13:1-10), enquanto que a besta escarlate de Apocalipse 17 descreve a ameaça aos santos vista do tempo da Revolução Francesa. Esta conclusão denota que Apocalipse 17 não aponta à Roma imperial ou à Idade Média, e sim ao tempo dos acontecimentos finais. Por conseguinte, estamos de acordo com a conclusão do Kenneth Strand; "Procurar na história um cumprimento, por exemplo, da fase "não é" da besta do capítulo 17, quando esta fase é obviamente uma vista de juízo, é ilógico. Ou tratar todo o capítulo 17 como tendo cumprimento histórico antes que escatológico é não compreender o verdadeiro sentido do capítulo e de toda a segunda parte do livro do Apocalipse em que aparece".32 A Futura Sétima Cabeça Parece completamente claro que a declaração do anjo: "Dos quais caíram cinco, um existe, e o outro ainda não chegou" (Apoc. 17:10), indica poderes mundiais consecutivos. A ênfase do anjo não está nas cinco primeiras cabeças que caíram, nem na cabeça que "é" contemplada do ponto de vista do anjo da praga. O interesse do anjo se centra especificamente na última, ou seja na sétima cabeça. Procede dando à besta ressuscitada o número oito! "E a besta, que era e não é, é ela também o oitavo, e é dos sete, e vai à perdição" (Apoc. 17:11, RC). A designação numérica da besta revivida é muito significativa. É "o oitavo" embora pertença às sete cabeças (Apoc. 17:11)! Como é uma das sete, não se deve assumir que repentinamente a besta acrescenta uma oitava cabeça. O dragão de Apocalipse 12, a besta de Apocalipse 13 e a besta revivida de Apocalipse 17, todas estão descritas só com sete cabeças. O anjo faz três declarações paralelas concernentes à besta revivida: "Está para emergir do abismo" (17:8a). "Mas reaparecerá" (17:8c). "É ela também o oitavo" (17:11). Combinando estas declarações, vemos que o que é contado como "oitavo" se aplica à ascensão da besta do abismo, quer dizer, a sua ressurreição. Vários eruditos do Novo Testamento vêem uma paródia irônica na atribuição do número "oito" à besta restaurada. Vêem o dia da ressurreição de Cristo como "o oitavo dia" porque veio depois de seu descanso na tumba no sétimo dia sábado. Declara Alan Johnson: "O oitavo era o dia do Messias, o dia da nova era e o sinal da vitória sobre as forças do mal".33 Mas Satanás desafia esta vitória de Cristo pela ressurreição de seu próprio reino a um novo poder mundial: "Para recrutar tantos como lhe é possível para sua parte na guerra, a besta imita a ressurreição de Cristo (ele 'é um oitavo rei' [V. 11]) e dará a aparência de estar vivo e de dominar o mundo (cf. Luc. 4:5-7)".34 O contar como "oito" à sétima e final cabeça da besta indica não só que é uma besta ressuscitada, mas também alerta a igreja às demandas enganosas de um poderoso Messias falso. Imitará a morte e ressurreição do Jesus como "o oitavo" (Apoc. 17:11). O contraste fundamental não escapará à mente penetrante. Louis F. Were concluiu sua análise profunda de Apocalipse 17 com este comentário perspicaz: "Ao saber que o número 8 é o símbolo na Bíblia da ressurreição e do triunfo do Senhor sobre seus inimigos, podemos captar o significado de Apocalipse 17:11... Como Jesus triunfou sobre seus inimigos e se levantou em poder glorioso para usá-lo na salvação de seu povo, assim se levantará esta besta de seu lugar de morte à posição de um poder ainda maior, que tratará de empregar para a destruição do povo de Deus".35 Mas a sétima cabeça permanecerá no poder só por "breve tempo" (Apoc. 17:10). Depois, irá repentinamente "à destruição" em sua luta contra o Cordeiro e seus seguidores (vs. 11, 14), o

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que ocorrerá por meio do impacto do glorioso advento de Cristo: "Mas a besta foi aprisionada, e com ela o falso profeta... Os dois foram lançados vivos dentro do lago de fogo que arde com enxofre. Os restantes foram mortos com a espada que saía da boca daquele que estava montado no cavalo. E todas as aves se fartaram das suas carnes" (Apoc. 19:20, 21). Albert Vanhoye em seu estudo clássico sobre o uso de Ezequiel no Apocalipse, concluiu dizendo: "Em realidade, o que é importante observar não é só que o sentido geral da passagem [Apoc. 17:1-6, 15-18] mas sim todo seu vocabulário corresponde ao de Ezequiel 16 e 23. Daí vem a idéia do juízo da prostituta; também, tanto Ezequiel 16 como 23 estão construídos na forma de um juízo".36 Esta correspondência entre o Ezequiel 16 (e 23) e Apocalipse 17 estabelece uma tipologia cristã entre a Jerusalém apóstata e a igreja apóstata. A Babilônia do tempo do fim é uma cristandade apóstata que adotou as formas pagãs de culto cristão, mudou a lei do Deus do pacto e estabeleceu alianças com os poderes políticos. Toda esta infidelidade da igreja para com Cristo está condenada à autodestruição em Apocalipse 17:16. As autoridades civis e políticas exporão em última instância a vergonha ou culpa de Babilônia e atuarão em conseqüência como os agentes da retribuição divina (17:16, 17). Desta forma, Apocalipse 17 funciona como o cumprimento eclesiológico de Ezequiel 16 e 23. A Vitoriosa Igreja Remanescente de Cristo O propósito mais elevado do Apocalipse é insistir com o povo de Deus a sair de Babilônia e seguir a Cristo. Isto está de maneira explícita em Apocalipse 18. Os companheiros do Cordeiro são descritos como "chamados, eleitos e fiéis", que "se acham com ele" (Apoc. 17:14). Esta descrição indica que os cristãos vitoriosos não só são chamados e escolhidos por Deus (Mat. 22:14), mas sim também permanecem leais a Jesus (Apoc. 14:12). Retêm "o testemunho do Jesus" e de seu senhorio na prova final da fé (12:17; 14:12). Em meio das nuvens sombrias do juízo de Babilônia podemos discernir a luz brilhante dos que permanecem fiéis a Cristo até o próprio fim, ainda até o ponto do martírio (ver 2:10). No Apocalipse, o mártir, como testemunha de Cristo, é o genuíno vencedor! Os seguidores de Cristo sabem que sua luta é mais que uma batalha física. Não são rebeldes políticos; respondem à ameaça de morte da besta com "paciência e fé" (Apoc. 13:10). É assim como conquistam a besta. "Vencer" no livro do Apocalipse significa fundamentalmente confessar o senhorio de Jesus Cristo em meio da perseguição; quer dizer, ser "fiel ao meu nome (2:13, NVI). A possibilidade de fracassar é real, e os que fracassam em guardar o testemunho do Jesus e escolhem ao anticristo deverão fazer frente ao juízo de Deus. Seus nomes serão apagados do livro da vida (3:5; 22:19) e perderão sua parte na árvore da vida e na santa cidade (2:23; 22:19). Esta é a solene advertência de João para os crentes cristãos. Tanto em Apocalipse 13:8 como em 17:8 se faz referência ao "livro da vida" para assinalar a certeza da vida eterna para o vencedor. As profecias de Daniel concluem de igual maneira com a segurança de que "será libertado seu povo, todos os que se achem escritos no livro" (Dan. 12:1). Referências 1 Maxwell, Apocalipsis: sus revelaciones, p. 423. 2 Ibid. 3 Collins, The Apocalypse. New Testament Message, pp. 55, 80. 4 Giblin, "Structural and Thematic Correlations in the Theology of Revelation 16-22", Biblica 55 (1974), p. 500. 5 Giblin, The Book of Revelation. The Open Book of Prophecy, p. 159. 6 Ruiz, Ezekiel in the Apocalypse: The Transformation of Prophetic Language in Apocalypsis 16, 17-19:10, p. 247.

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7 J. M. Ford, Revelation, p. 283. 8 "L'Utilisation du livre d'Ézéquiel dans l'Apocalypse", Biblica 43 (1962), especialmente as pp. 440-442. 9 Charles, The Revelation of St. John, t. 2, p. 73. 10 Vogelgesang, The Interpretation of Ezekiel in the Book of Revelation, p. 30. 11 Ver Megillah 4:10 na Mishnah [Mishná] (H. Danby), p. 207. 12 Zimmerli, Ezekiel y, t. 1, p. 349. 13 Ruiz, Ezekiel in the Apocalypse: The Transformation of Prophetic Language in Apocalypsis 16, 17-19:10, p. 377. 14 Ibid., p. 367. 15 Andrews, Three Messages of Revelation, p. 48. 16 J. M. Ford, Revelation, p. 285. 17 Ver LaRondelle, The Israel of God in Prophecy. Principles of Prophetic Interpretation, cap. 4. 18 J. M. Ford, Revelation, p. 285. 19 Ibid., p. 286 20 Ruiz, Ezekiel in the Apocalypse: The Transformation of Prophetic Language in Apocalypsis 16, 17-19:10, p. 349. 21 Ibid., p. 359. 22 Satanás é a mente mestra que está por trás das 7 cabeças da besta. Manifestou seu poder mundial como o dragão pagão por meio de todos os impérios pagãos que oprimiram a Israel: Babilônia, Medo-Pérsia, Grécia e o Império Romano, que correspondem às 4 primeiras cabeças. Cada vez a cabeça de plantão identifica-se com o próprio dragão. E assim acontece com as cabeças 5 e 7. A cabeça 6 é a cabeça ferida quando a besta "não é" (Apoc. 17:8, 11), que é o tempo entre a Revolução Francesa e nossos dias. 23 Andrews, Three Messages of Revelation, p. 78. 24 Strand, "The Seven Heads: Dou They Represent Roman Emperors?", Simpósio sobre o Apocalipse. t. 2, pp. 177-206. 25 Were, The Woman and the Beast in the Book of Revelation, cap. 21. 26 Ver Maxwell, Apocalipsis: sus revelaciones, pp. 471-479. 27 Were, The Woman and the Beast in the Book of Revelation, p. 188. 28 7 CBA 868. 29 Strand, Interpreting the Book of Revelation, p. 55. 30 Maxwell, Apocalipsis: sus revelaciones, p. 472. 31 McCready Price, El tiempo del fin, p. 60. 32 Strand, Interpretando el libro del Apocalipsis, p. 54. 33 Johnson, Expositor's Bible Commentary, t. 12, Revelation, p. 561. 34 Ibid. 35 Were, The Woman and the Beast in the Book of Revelation, pp. 113, 114. 36 Vanhoye, "L'Utilisation du livre d'Ézéquiel dans l'Apocalypse", Biblica 43 (1962), p. 441.

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XXXI - O SIGNIFICADO DO VEREDICTO DE DEUS SOBRE BAB ILÔNIA - Apocalipse 18

A visão de João em Apocalipse 18 amplia adicionalmente o juízo de Babilônia ao deter-se sobre seu significado para a igreja do tempo do fim. Contém uma mensagem especial do céu para o povo de Deus. Esta visão é notável por sua estrutura concêntrica que se enfoca na mensagem central: a execução do juízo de Deus. As seções do começo e do final se enfocam, primeiro, sobre as acusações e o veredicto do céu sobre Babilônia (vs. 1-3), e depois sobre o futuro desaparecimento de Babilônia (vs. 21-24). Dentro deste círculo exterior, duas vozes do céu proclamam mensagens de suprema importância para os santos e os estimulam à ação. A primeira mensagem tem uma relevância imediata: insiste com o povo de Deus a fugir de Babilônia (vs. 4-8); a segunda voz chama os santos no céu e na terra a regocijar-se por causa do veredicto do céu sobre Babilônia (v. 20). A parte central (vs. 9-19) descreve o momento da execução do juízo, "em uma hora" (vs. 10, 17, 19). Kenneth Strand observou uma estrutura quiástica "bem equilibrada" em Apocalipse 18: A. Introdução (Pronuncia-se a condenação de Babilônia; descreve-se sua condição interna; resumem-se suas atividades e relações pecaminosas), vs. 1-3. B. Parêntese (Chamada a "sair de Babilônia"; declaração do juízo sobre Babilônia), vs. 4-8. C. A litania propriamente dita (O lamento dos reis, os mercados, os marinhos, ao ver babilônia em chamas), vs. 9-19. B1. Parêntese (Chamado a regozijar-se; declaração de juízo sobre Babilônia), V. 20. A1. Conclusão (Expressa-se graficamente a condenação de Babilônia; descreve-se sua condição interna; resumem-se suas atividades e relações pecaminosas), vs. 21-24.1 Strand apresenta um quiasmo mais detalhado de Apocalipse 18 em um diagrama útil na página 46 do mesmo artigo. Além disso, observa o seguinte: "Todo o capítulo 18 do Apocalipse representa um mescla ampla e uma fusão do antecedente do Antigo Testamento".2 As fontes de Apocalipse 18 são os oráculos de condenação contra Babilônia (Isa. 47; Jer. 50, 51) e contra Tiro (Ezeq. 26-28), e inclusive contra Jerusalém (Jer. 25:10). Nestes empréstimos do Antigo Testamento podemos ver mais que a adoção de linguagem antiga. Em Apocalipse 18 fazemos frente ao antítipo dos velhos inimigos do Israel: o colapso no tempo do fim do império do anticristo. O Mensageiro Celestial e Sua Mensagem "E, depois destas coisas, vi descer do céu outro anjo, que tinha grande poder, e a terra foi iluminada com a sua glória" (Apoc. 18:1). A descida deste anjo do céu à terra tem um efeito visível e imediato: "A terra foi iluminada com a sua glória (em gr., doxa: 'glória']". O antecedente desta manifestação da glória divina é a promessa de Ezequiel 43:2 feita a Israel no cativeiro de que Deus voltaria para seu novo templo do oriente. Em Apocalipse 18 a "glória" se refere à qualidade da presença de Deus por meio dos enviados de Cristo; uma qualidade que corresponde ao anjo que vem do oriente com o selo do Deus vivo durante o sexto selo em Apocalipse 7:2 e ao anjo do capítulo 10. Esta manifestação de esplendor do céu está conectado com a mensagem do tempo do fim que demanda fidelidade à Palavra de Deus e ao testemunho de Jesus, e sobre essa base a chamada para separar-se de Babilônia. O anjo de Apocalipse 18:1 está comissionado com "grande poder" e é particularmente importante para o mundo cristão. Sua "voz potente" deve alcançar a toda o povo sobre a terra. A essência de sua mensagem é mais que a condenação iminente de Babilônia que está expresso pelo anúncio "caiu, caiu a grande Babilônia" (v. 2). Esta mensagem repete a mensagem do segundo anjo de Apocalipse 14:8. Por isso Apocalipse 14 e 18 estão intimamente ligados, o que indica a identificação da "voz potente" de Apocalipse 18:1 e 2 com o povo que guarda os mandamentos de Deus e a fé de Jesus em Apocalipse 14:12. O veredicto judicial do tribunal celestial dá urgência à mensagem. Conecta a declaração da queda de Babilônia com a sessão do tribunal de Daniel 7:9 e 10, onde se declara em termos

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positivos o propósito do juízo celestial: "Até que veio o Ancião de Dias e fez justiça aos santos do Altíssimo; e veio o tempo em que os santos possuíram o reino" (Dan. 7:22). Já a expressão "a grande Babilônia" está adotada de Daniel 4:30. Este pano de fundo daniélico esclarece o marco do pacto da condenação de Babilônia em Apocalipse 18. Referindo-se a isto, disse George Caird: "Apesar do assombro de sua proclamação, este anjo é um anjo do evangelho. Vem não para regozijar-se triunfalmente sobre os caídos, e sim para anunciar o triunfo dos propósitos de Deus e a libertação final do povo de Deus de toda opressão".3 Quanto a isto, é instrutivo perceber como Apocalipse 18 complementa o capítulo 17. As visões são duas caras da mesma moeda. Enquanto que o capítulo 17 mostra o controle final de Satanás pelo domínio mundial por meio da besta que "está para subir do abismo" (17:8), no capítulo 18 Deus atua por meio do anjo que desce do céu com grande poder (18:1). Só ao unir Apocalipse 17 e 18 chegamos a nos dar conta da urgência e a oportunidade da mensagem final de admoestação. O comentário do Louis F. Were assinala às ações combinadas em ambas as visões: "Representa-se o poder do mal, particularmente o poder da perseguição religiosa, que aumenta em intensidade até que todo mundo cai na armadilha; o outro representa o poder especial que o céu derramará sobre a igreja remanescente para fazer frente ao crescente poder do mal".4 Este argumento do tempo do fim nos recorda do começo da igreja em Pentecostes, quando recebeu poder para fazer frente à primeira onda de perseguição. Podemos ver uma situação paralela no tempo do fim, tal como esclareceu Ellen White: "A grande obra do evangelho não deverá encerrar-se com menor manifestação do poder de Deus do que a que assinalou o seu início. As profecias que se cumpriram no derramamento da chuva temporã no início do evangelho, devem novamente cumprir-se na chuva serôdia".5 É significativo recordar que as palavras do anjo, "caiu, caiu a grande Babilônia", foi primeiro pronunciada por Isaías quando anunciou a Jerusalém que Babilônia tinha caído nas mãos de Ciro, o rei do oriente (Isa. 21:9). Essa foi uma boa nova para o povo de Deus daquele tempo; é a mesma boa nova para a igreja de Deus agora. Aqui está a conexão tipológica de Apocalipse 18 com Israel. A situação antiga em uma escala nacional é o tipo profético da situação mundial com respeito à igreja de Cristo. Agora o anjo se detém sobre a desolação da Babilônia do tempo do fim: "e se tornou morada de demônios, covil de toda espécie de espírito imundo e esconderijo de todo gênero de ave imunda e detestável" (Apoc. 18:2). Esta linguagem profética está tomada das predições de Isaías a respeito da sorte de dois arquiinimigos de Israel: Babilônia e Edom (ver Isa. 13:21, 22 e 34:11-14). Ao que parece, João percebeu uma unidade básica entre oráculos proféticos de condenação contra Israel e seus inimigos. João estende todas as antigas maldições de Deus ao poder do tempo do fim que é inimigo de Deus e de seu povo. Entretanto, o conceito "imundo" que se reitera João o acrescenta para ressaltar seu contraste com a futura cidade nova de Jerusalém, a cidade santa na qual não entrará "nada imundo" (ver Apoc. 21:27). O anjo continua detalhando a razão para a condenação de Babilônia: "Pois todas as nações têm bebido do vinho do furor da sua prostituição. Com ela se prostituíram os reis da terra. Também os mercadores da terra se enriqueceram à custa da sua luxúria" (Apoc. 18:3). Podemos distinguir três grupos como os sócios de Babilônia: as nações, os reis da terra e os mercadores da terra. As acusações contra eles são fundamentalmente as seguintes: o ter bebido do vinho do furor da fornicação de Babilônia e o enriquecimento econômico excessivo, a "adoração idolátrica de Mamom".6 Estas acusações dão a entender que a Babilônia eclesiástica é tido como responsável não só por seus próprios pecados mas também pelo crime de corromper a outros no mundo civil. A Chamada Final do Êxodo ao Povo de Deus "E ouvi outra voz do céu que dizia: Sai dela, povo meu..." (Apoc. 18:4). Alguns comentadores

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atribuem a Cristo esta voz celestial, porque se dirige aos santos como "povo meu". Seja como for, esta voz repete a antiga chamada para sair que fez a Israel, aos seguidores de Cristo do tempo do fim, como o explica a comparação seguinte:

JEREMIAS 51:6 -9 APOCALIPSE 18:4, 5 "Fugi do meio da Babilônia, e cada um salve a sua vida; não pereçais na sua maldade; porque é tempo da vingança do Senhor: ele lhe dará a sua paga. A Babilônia era um copo de ouro na mão do Senhor, o qual embriagava a toda a terra; do seu vinho beberam as nações; por isso, enlouqueceram" (vs. 6, 7). "Queríamos ... porque o seu juízo chega até ao céu e se eleva até às mais altas nuvens" (v. 9).

"Retirai-vos dela, povo meu, para não serdes cúmplices em seus pecados e para não participardes dos seus flagelos; porque os seus pecados se acumularam até ao céu, e Deus se lembrou dos atos iníquos que ela praticou".

Esta correspondência entre a antiga chamada de Deus para sair e da chamada final de Deus para fugir de Babilônia mostra a forma como Deus dirige a seu povo rebelde para sair de uma sociedade corrupta, amadurecida para o juízo, e o convida a avançar para a terra prometida. Esta chamada a despertar tem o propósito de estimular os filhos de Deus à urgência da situação e a separá-los da adoração falsificada. Alguns eruditos se dão conta da seriedade da chamada de Apocalipse 18. Leão Morris declara que "em um sentido, esta chamada é a chave para todo o capítulo. João não se está recreando pela queda da cidade. Apela aos cristãos para que vejam a realidade da situação e para que atuem de acordo com isso".7 E J-P. Ruiz comenta o seguinte: "Insta-se aos crentes a que se distanciem de 'Babilônia' para que não se associem com os pecados pelos quais vai ser castigada".8 Os "pecados" da Babilônia do tempo do fim estão enumerados em Apocalipse 18:3, 23, 24 e 17:2-6. Consistem nas relações adúlteras com os reis da terra; de embriagar os habitantes da terra com o vinho de sua fornicação; de enganar as nações por seu "encantamento mágico" ou feitiçarias; da perseguição dos profetas e dos santos "que têm o testemunho do Jesus"; e de glorificar-se com arrogância em sua riqueza, fausto e auto-suficiência. Juntos, todos estes pecados se acumularam até que chegaram "ao céu", dando a entender o limite da graça e a paciência divinas, o qual entranha a noção bíblica de que o céu guarda um registro dos crimes de Babilônia (ver Apoc. 20:12). Depois chega o momento quando Deus "lembra-se" de seu pacto e toma medidas! Este "recordar" divino tem lugar durante a sétima praga: "Deus se lembrou então de Babilônia, a Grande, para lhe dar a taça do vinho do furor da sua ira" (16:19, BJ). O ato de recordar-se expressa-se em termos de um veredicto judicial no céu e da iniciação da mensagem final de admoestação na terra. Há uma correspondência temática entre o estado final de Babilônia e Jerusalém da antiguidade. Em seu último discurso aos rabinos e aos fariseus, Jesus mostrou que Jerusalém tinha passado por cima da linha da paciência divina quando rechaçou seu messianismo: "Enchei vós, pois, a medida de vossos pais... Eis que a vossa casa vos ficará deserta" (Mat. 23:32, 38; ver também o V. 35). Entretanto, a sentença de Jesus sobre Jerusalém foi executada só depois que a cidade rechaçou as chamadas pentecostais de Cristo, dados por meio de seus mensageiros apostólicos cheios do Espírito Santo. Da mesma maneira, a Babilônia do tempo do fim receberá seu juízo depois da última chamada de Cristo por meio de seus mensageiros (Apoc. 14:6-12; 18:1-4). O assunto final não será um mandamento divino ou uma adoração no culto independente de Jesus e de seu testemunho canônico. A verdade que prova, sempre é "a verdade que está em Jesus" (Ef. 4:21, NVI). No conflito final entre os seguidores do Cordeiro e os seguidores da besta, Cristo voltará a ser exaltado com poder pentecostal (Apoc. 18:1). Então todos os povos e as tribos ouvirão a verdade como está em Jesus. Então ninguém poderá permanecer neutro por mais tempo aos rogos de Cristo, assim como aconteceu em Jerusalém da antiguidade. Por conseguinte, aceitamos a declaração do Stephen M. Travis, quando declara: "Em realidade, cada pessoa enfrentada por Cristo tem feito uma escolha fundamental. Cada

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uma entrou em uma relação com ele ou a rechaçou. A direção de sua vida, e por conseguinte de seu destino, está selada. E em definitiva só há duas direções possíveis, e dois destinos possíveis, e cada um deles se escolhe em relação com a revelação que Cristo traz. Mas é obvio, também deve enfatizar-se que o propósito das admoestações a respeito da condenação sempre é para causar o arrependimento. Não é senão até o juízo final quando a condenação de cada um é definitiva".9 A Teologia do Juízo em Apocalipse 18 Ambos os intervalos em Apocalipse 18 transmitem uma teologia de juízo para Babilônia que merece atenção: "Dai-lhe em retribuição como também ela retribuiu, pagai-lhe em dobro segundo as suas obras e, no cálice em que ela misturou bebidas, misturai dobrado para ela." (Apoc. 18:6). "Exultai sobre ela, ó céus, e vós, santos, apóstolos e profetas, porque Deus contra ela julgou a vossa causa" (Apoc. 18:20). Muitos comentadores sustentam que Apocalipse 18 não expressa espírito de vingança ou uma ética subcristã, mas sim gozo no triunfo da causa de Deus e do reino de Cristo. A nota tônica do coro celestial em Apocalipse 19:1-8 é a justiça, a glória e o reino de Deus. As orações dos mártires pela justiça divina durante o quinto selo (6:9-11) serão finalmente respondidas. A resposta dos santos no céu e na terra é uma doxologia profética: "Depois destas coisas, ouvi no céu uma como grande voz de numerosa multidão, dizendo: Aleluia! A salvação, e a glória, e o poder são do nosso Deus, porquanto verdadeiros e justos são os seus juízos, pois julgou a grande meretriz que corrompia a terra com a sua prostituição e das mãos dela vingou o sangue dos seus servos" (Apoc. 19:1, 2). Jacques Ellul o resume bem: "Não é vingança contra outros homens, mas sim a destruição dos poderes que alienam a todos os homens, cujo caráter maligno se revela na massacre dos santos!"10 Kenneth Strand nota que o juízo de Deus sobre a antiga Judá equivaleu a um castigo duplicado: "Que já recebeu em dobro das mãos do Senhor por todos os seus pecados" (Isa. 40:2; ver também Jer. 16:18; 17:18). Este castigo dobrado se destina agora a Babilônia: "Pagai-lhe em dobro do que merecem suas obras" (Apoc. 18:6, CI). Strand tira esta conclusão: "Então, o que parece que temos em Apocalipse 18:6b-c é uma alusão a um tipo de inversão de papéis onde agora é Babilônia, não Judá, a que recebe uma duplicada medida de castigo".11 O significado teológico desta "inversão de papéis" em Apocalipse 18 pode explicar-se ao considerar que a Babilônia apocalíptica é duplamente culpada porque atua como a companheira rebelde do pacto de Deus. A meretriz Babilônia corresponde essencialmente à antiga Jerusalém que merecia um castigo dobrado. A meretriz foi chamada originalmente a ser a luz das pessoas por meio do conhecimento salvífico do pacto de Deus (Isa. 42:6; 49:6; Mat. 5:14). O hino de gozo de Apocalipse 18:20 desempenha o papel de ser o equivalente da sentença judicial pronunciada nos versículos 6 e 7: "Deus julgou seu juízo [gr., kríma] por ela [ex autés])" Que ato judicial divino [kríma] está visível aqui? O verbo krínein (julgar) refere-se à justiça celestial, não à vingança humana, o que por conseguinte prevê um tribunal celestial ou um marco forense. Morris o explica desta maneira: "Foram feitas injustiças aos santos que agora são postas em ordem".12 O aspecto mais significativo é que Deus em seu tribunal de justiça (Dan. 7:9, 10) revogará as sentenças de Babilônia contra os santos. Caird faz o seguinte comentário: " 'Seu juízo' deve ser a sentença ditada contra os mártires nos tribunais romanos".13 Entretanto, o divino Juiz sentenciará que a perseguição dos santos por parte de Babilônia estava apoiada sobre acusações falsas. Por conseguinte, o Juiz celestial pode aplicar as leis do pacto no que respeita ao assassinato (Gên. 9:5, 6) e às testemunhas falsas (Deut. 19:16-19). A Nova Bíblia espanhola (NEB) captou o significado essencial: "Porque, condenando-a, Deus reivindicou sua causa" (Apoc. 18:20). Caird o traduz assim: "Porque Deus impôs sobre ela a sentença que ditou sobre vós!" Explica-o melhor quando declara:

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"Babilônia apresentou uma acusação malévola contra os mártires, o que deu como resultado sua execução. Mas o caso foi levado 'ante o Senhor', ao tribunal de apelação final, onde os juízos são verdadeiros e justos. Nesse tribunal encontrou-a culpada de perjúrio e, por conseguinte, Deus requereu dela a vida de suas vítimas, exigindo dela o castigo que Babilônia exigiu deles".14 Talvez isto seja o estímulo mais poderoso para que os santos permaneçam firmes até o fim. Assim como Jó, podem estar seguros desta magnífica verdade: "Eu sei que meu Redentor [Reivindicador, CI; Defensor, BJ; Vingador, NBE] vive, e por fim se levantará sobre a terra" (Jó 19:25). A New English Bible [Nova Bíblia Inglesa] traduz este testemunho de Jó assim: "Mas em meu coração sei que meu Reivindicador vive e por fim se levantará para falar no tribunal; e eu...verei meu conselho defensor, sim, a Deus mesmo, a quem verei com meus próprios olhos" (Jó. 19:2527; ver NBE). Esta segurança sustentará a cada fiel seguidor de Cristo ao passar pela aflição do tempo do fim. Strand assinalou que a frase fora do comum de que Deus infligirá seu juízo "de em meio dela", é uma alusão ao oráculo de Ezequiel contra Tiro, o colaborador comercial de Israel: "Eu, pois, fiz sair do meio de ti um fogo, que te consumiu" (Ezeq. 28:18).15 A conexão da condenação de Tiro e da Babilônia do tempo do fim se fortalece pelo fato de que Apocalipse 18 alude treze vezes a Ezequiel 26 a 28. Protótipos do Antigo Testamento do Juízo de Babilôn ia em Apocalipse 18 O propósito do elo literário com Ezequiel 28 chega a ser evidente se lermos toda a profecia contra Tiro e seu rei. A razão para esta profecia foi vanglória própria e a autodivinização do príncipe de Tiro, que disse em seu coração: "Eu sou Deus, sobre a cadeira de Deus me assento no coração dos mares" (Ezeq. 28:2). "Assim como Israel, a menina abandonada em Ezequiel 16, Babilônia se afunda em sua beleza da qual esteve orgulhosa".16 Mas a injustiça da atividade comercial de Tiro em relação com seu santuário se apresenta como uma acusação legal (Ezeq. 28:18). A execução real do juízo contra Tiro ocorre como "espetáculo para os reis" (v. 17, NBE). Será um fogo que "estala do mesmo lugar do pecado e o destrói".17 Tudo isto revela uma correspondência essencial entre Tiro e a Babilônia do tempo do fim (no Apoc. 17 e 18). Também contém lições que são válidas para cada indivíduo. O espírito de Babilônia ou de Tiro é exatamente oposto ao que Cristo revelou em seu renunciamento em favor de outros, como Filipenses 2:5-11 o apresenta. Zimmerli também chamou a atenção ao mesmo motivo da vanglória própria e da conseguinte queda no abismo com referência ao rei de Babilônia como se expõe em Isaías 14:4-21. A queda de Babilônia se expõe com grande detalhe em Isaías 47. O paralelo entre Apocalipse 18 e Isaías 47 chega a ser evidente nas atitudes correspondentes da vanglória, arrogância e jactância das duas Babilônias:

ISAÍAS 47 APOCALIPSE 18 "E disseste: Eu serei senhora para sempre!" (v. 7) "... Eu só, e além de mim não há outra; não ficarei viúva, nem conhecerei a perda de filhos" (v. 8).

"Estou sentada como rainha. Viúva, não sou. Pranto, nunca hei de ver!" (v. 7).

Ao que parece, a história tem uma tendência a repetir-se. Durante a história da salvação, o coração humano rebelde sucumbe às mesmas tentações de vanglória própria. Jesus desmascarou toda justiça própria quando disse aos fariseus: "Vós sois os que vos justificais a vós mesmos diante dos homens, mas Deus conhece o vosso coração; pois aquilo que é elevado entre homens é abominação (em gr., bdélugma] diante de Deus" (Luc. 16:15). O Apocalipse chama babilônia a "mãe das abominações [bdelugmáton] da terra" (Apoc. 17:5). Quando todo mundo "valorizar grandemente" as declarações jactanciosas de Babilônia e suas enganosas "feitiçarias" e "fortes encantamentos", chegará repentinamente seu fim por decreto

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divino:

ISAÍAS 47:9 APOCALIPSE 18:8 "Mas ambas estas coisas virão sobre ti num momento, no mesmo dia, perda de filhos e viuvez; virão em cheio sobre ti, apesar da multidão das tuas feitiçarias e da abundância dos teus muitos encantamentos".

"Por isso, em um só dia, sobrevirão os seus flagelos: morte, pranto e fome; e será consumida no fogo, porque poderoso é o Senhor Deus, que a julgou".

No fim, Deus demonstra ser "forte" [isjurós], mais forte que Babilônia, "a cidade forte" [isjurá] (Apoc. 18:9, 10). "Deus é forte", declara A. Pohl, "por meio de seus argumentos potentes na luta pela justiça; e porque ele é reto, também estabelece justiça de modo irresistível (ver Apoc. 12:8)".18 O Cumprimento Real do Juízo contra Babilônia Podemos observar nas três mensagens dos anjos de Apocalipse 18:1, 4 e 21 um desenvolvimento ulterior mais amplo da mensagem dos três anjos de Apocalipse 14:6-11. O anjo de Apocalipse 18:1 ilumina finalmente todo mundo com seu esplendor; a voz do céu em Apocalipse 18:4-8 proclama o convite final para sair de Babilônia; o anjo poderoso de Apocalipse 18:21-24 destrói realmente Babilônia para sempre. O que a tríplice mensagem de Apocalipse 14 anuncia como acontecendo logo, Apocalipse 18 o apresenta como uma realidade atual! Quando a "meretriz" for julgada, os consortes da prostituta ainda estão vivos e expõem seus lamentos (Apoc. 18:9). Aqui se cumprirão as palavras de Jesus: "Ai de vós, os que agora rides, porque vos lamentareis e chorareis!" (Luc. 6:25). Os lamentos funerais de Apocalipse 18:9-19 indicam que os três grupos: reis, mercadores e marinheiros da terra estão comovidos profundamente pela condenação de Babilônia. O Comentário bíblico adventista sugere que este "lamento" pode indicar que "eles logo terão que compartilhar a sorte de Babilônia (cf. Isa. 47:13-15)".19 Cada um dos três grupos recita seu próprio lamento. No verso 20 se convoca a outros três grupos – "santos, apóstolos e profetas" – para que se regozijem pela queda de Babilônia; é como o complemento dos três cantos lúgubres. O que constitui uma causa de lamentação para os primeiros três grupos é uma causa para regozijar-se para os três últimos. O primeiro grupo se lamenta por interesse próprio (Apoc. 18:11), porque "enriqueceram-se à custa dela" (vs. 15, 19). Este grupo compreende toda a extensão da influência da prostituta. É descrita como morando "sobre muitas águas", o que se interpreta como "povos, multidões, nações e línguas" (17:1, 15). Os três cantos lúgubres cumprem a função de anúncios do juízo que chegou inesperadamente. Cada lamento intensifica o momento da devastação de Babilônia em uma hora (Apoc. 18:10, 17, 19), em vez de "um dia" que foi o que se predisse (Apoc. 18:8; Isa. 47:9). Os três lamentos terminam com o clamor "Ai, ai!" (Apoc. 18:10, 16, 19). Josephine M. Ford sugeriu que a lista das importações de Babilônia em Apocalipse 18:12 e 13, que descrevem sua imensa pompa (v. 17), representam os artigos que se usavam na adoração no templo de Jerusalém.20 Diz ela: "Dessa maneira, os mercados em Apocalipse 18:11-17 podem muito bem ter sido os que estavam em associação com Jerusalém, e o luxo que se descreve pode ter sido o luxo de que gozava a cidade santa".21 Devemos reconhecer que a lista dos materiais aparecem em Apocalipse 18:12 e 13 está desenhada segundo o modelo das riquezas de Tiro em Ezequiel 27:12-25. O artigo mais surpreendente é o que se refere às "almas humanas" (Apoc. 18:13), que se menciona na lista de Ezequiel 27:13 (LXX) como que "comercializavam... com homens". Em Apocalipse 18:6 João aplicou cinco artigos diferentes à prostituta Babilônia que aparece em Apocalipse 17:4. J-P. Ruiz faz o seguinte comentário: "Entre os artigos que formam as jóias de Babilônia, as pedras preciosas e as pérolas aparecem

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na visão da Nova Jerusalém (Apoc. 21:11, 19, 21). Isto intensifica o paralelismo contrastante entre as duas cidades: Babilônia, a Grande e a Nova Jerusalém".22 Roy Naden faz esta aplicação, para refletir, do catálogo de materiais requeridos para edificar um templo em Apocalipse 18:9-19: "O símbolo mostra que enquanto que os que estão em Cristo estão olhando ao templo celestial, onde ele se senta em seu trono, Babilônia está empenhada em edificar e manter sua oposição ao templo, onde os homens e as mulheres virão para adorar ao dragão que deseja ser Deus".23 É notável que o Comentário bíblico adventista favorece uma interpretação figurada dos mercadores e da mercadoria de Babilônia, em Apocalipse 18, como sendo descritiva de "os que venderam suas doutrinas e mandamentos aos reis e moradores da terra".24 Os 28 artigos de comércio em Apocalipse 18:12 e 13 se usam "para destacar o abrangente de suas doutrinas e mandamentos corruptos".25 Esta aplicação faz que os artigos de comércio sejam um sinônimo do "vinho" de Babilônia com que se embriagaram "os habitantes da terra" (Apoc. 17:2). A devastação de Babilônia se descreve finalmente com um ato simbólico de conseqüências eternas: "Então, um anjo forte levantou uma pedra como grande pedra de moinho e arrojou-a para dentro do mar, dizendo: Assim, com ímpeto, será arrojada Babilônia, a grande cidade, e nunca jamais será achada" (Apoc. 18:21). Não há dúvida de que este ato espetacular do anjo poderoso está modelado sobre o pedido de Jeremias a Seraías, oficial do Estado Maior do rei Zedequias, para arrojar o rolo escrito com os oráculos de condenação contra Babilônia, pacote com uma pedra, no rio Eufrates (ver Jer. 51:61-64). Em ambas as situações o arrojar uma pedra à água simboliza a devastação eterna de Babilônia. Mas contudo, a diferença entre os dois atos também é significativa. Que se mencione duas vezes uma "pedra de moinho" em Apocalipse 18:21 e 22 é significativo. A última frase ressona várias vezes mais nos versículos 22 e 23. Ruiz assinalou que a relocação do ato simbólico de Jeremias 51:63 e 64 reflete a influência contínua de Ezequiel 26.26 A seguinte tabela comparativa esclarece isto:

EZEQUIEL 26:12, 13 APOCALIPSE 18:22 "As tuas pedras, as tuas madeiras e o teu pó lançarão no meio das águas. Farei cessar o arruído das tuas cantigas, e já não se ouvirá o som das tuas harpas".

"E voz de harpistas, de músicos, de tocadores de flautas e de clarins jamais em ti se ouvirá, nem artífice algum de qualquer arte jamais em ti se achará, e nunca jamais em ti se ouvirá o ruído de pedra de moinho".

Ruiz declara acertadamente que "o mar que era a fonte da prosperidade de Tiro também é o caos aquoso no que fica arruinada (Ezeq. 26:12; 27:3, 4, 26, 27)".27 Ezequiel 26 conclui desta maneira: "Farei de ti um grande espanto, e já não serás; quando te buscarem, jamais serás achada, diz o Senhor Deus" (v. 21), o que apresenta uma correspondência clara com Apocalipse 18:21, onde o anjo declara que Babilônia, a grande cidade "nunca mais será achada". É evidente que João uniu o modelo de Jeremias com Ezequiel 26 a 28. Mas também se alude a outros oráculos proféticos de condenação em Apocalipse 18:22 e 23, como o mostra a seguinte comparação:

JEREMIAS 25:10 APOCALIPSE 18:23 "Farei cessar entre eles a voz de folguedo e a de alegria, e a voz do noivo, e a da noiva, e o som das mós, e a luz do candeeiro".

"Também jamais em ti brilhará luz de candeia; nem voz de noivo ou de noiva jamais em ti se ouvirá, pois os teus mercadores foram os grandes da terra, porque todas as nações foram seduzidas pela tua feitiçaria".

Surpreendentemente, esta maldição de Deus em Jeremias 25:10 foi dirigida contra Judá e Jerusalém por meio da mão do rei de Babilônia. A justiça de Deus é imparcial. Apocalipse 18

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conclui com a própria explicação do anjo de seu ato simbólico no versículo 21. Menciona as acusações de que Babilônia foi encontrada culpada: "Teus mercadores foram os grandes da terra, porque todas as nações foram seduzidas pela tua feitiçaria. E nela se achou sangue de profetas, de santos e de todos os que foram mortos sobre a terra" (Apoc. 18:23b, 24). Esta terminologia mostra uma alusão à profecia de Isaías a respeito de Tiro em Isaías 23:8 e 9, e dá a conhecer a resposta à pergunta: Quem foi o responsável pela ruína de Tiro? "O Senhor dos Exércitos formou este desígnio para denegrir a soberba de toda beleza e envilecer os mais nobres da terra" (Isa. 23:9). Assim Deus é responsável pela queda de Babilônia (ver Apoc. 16:19; 18:6-8). A referência aos enganos de Babilônia por meio de suas "feitiçarias" (Apoc. 18:23) é um eco da acusação que Naum fez de Nínive (ver Naum 3:4). A mensagem de Jonas ainda implicava que haveria misericórdia divina depois do arrependimento. Mas o anúncio do juízo de Naum indica que a cidade tinha cruzado a soleira da paciência divina. Esta será a situação da Babilônia do tempo do fim em Apocalipse 17 e 18. A referência ao "sangue de profetas, de santos e de todos os que foram mortos sobre a terra" (Apoc. 18:24) é uma alusão à profecia de condenação de Babilônia que Jeremias pronunciou: "Como Babilônia fez cair traspassados os de Israel, assim, em Babilônia, cairão traspassados os de toda a terra" (Jer. 51:49). Jesus fez uma acusação similar contra Jerusalém quando disse: "Para que desta geração se peçam contas do sangue dos profetas, derramado desde a fundação do mundo" (Luc. 11:50; cf. Mat. 23:35). Louis A. Vos fez este comentário: "O que profetizou Jesus com respeito a Jerusalém e seus habitantes (Mat. 23:35; Luc. 11:50), João o aplica à desolação simbólica da grande cidade de seus dias".28 Enquanto que Vos encontra "difícil determinar" por que João alude ao dito de Jesus antes citado, sugerimos que o Apocalipse distingue uma correspondência essencial entre a antiga Jerusalém que rechaçou a Cristo e seu testemunho, e a igreja apóstata que é infiel a Cristo e a seu testemunho (ver Apoc. 17:6; 18:24). Devemos recordar que Apocalipse 18 conclui suas canções de condenação com um grito de triunfo: "Exultai sobre ela, ó céus, e vós, santos, apóstolos e profetas, porque Deus contra ela julgou a vossa causa" (Apoc. 18:20). Esta chamada a regozijar-se encontra uma resposta entusiasta nos hinos de Apocalipse 19:1-8. Estes hinos celebram o juízo de Deus sobre Babilônia, o que prepara o caminho para a ceia das bodas do Cordeiro e de sua noiva: "Então, me falou o anjo: Escreve: Bem-aventurados aqueles que são chamados à ceia das bodas do Cordeiro. E acrescentou: São estas as verdadeiras palavras de Deus" (Apoc. 19:9). As quatro "aleluias" [literalmente, "louvam a Jeová!"] e o "amém" dos coros antifonais no céu (Apoc. 19:1-4) e na terra (Apoc. 19:6-8) celebram o cumprimento progressivo do plano de salvação de Deus e da justiça da sentença de Deus sobre os perseguidores de seu povo. As orações dos mártires (Apoc. 6:10) são finalmente respondidas (19:2). Por conseguinte, Deus é louvado com regozijo por todos os santos (ver 18:20). Toda a visão de Apocalipse 17 e 18 deve entender-se à luz das "bodas do Cordeiro" (19:7) vindouras. Esta certeza é tão absoluta que o céu celebra já a realidade futura do reino de Deus sobre o mal. Ouvimos depois no céu algo que recordava o vozerio de uma grande multidão; cantavam: "Aleluia. A vitória, a glória e o poder pertencem a nosso Deus, porque suas sentenças são legítimas e justas! Ele condenou a grande prostituta que corrompia a terra com sua fornicação e lhe pediu conta do sangue de seus servos". E repetiram:

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"Aleluia. A fumaça de seu incêndio sobe pelos séculos dos séculos" (Apoc. 19:1-3, NBE). Estes "Aleluias!" projetam-se para trás, a Apocalipse 17 e 18, para preparar o caminho para uma nova Mulher e uma nova Cidade: a Esposa e a Nova Jerusalém (19:7; 21:2, 10). Ruiz o resumiu bem: "Desta maneira, a doxologia de Apocalipse 19:1-8 faz possível ler a terminologia profética de Apocalipse 17 e 18 como uma reafirmação do propósito de Deus e uma segurança da vitória de Deus".29 O ponto mais elevado da doxologia vem com o quarto "Aleluia!", quando o coro celestial anuncia as bodas do Cordeiro como a evidência do triunfo do reino de Deus: "Aleluia! Pois reina o Senhor, nosso Deus, o Todo-Poderoso. Alegremo-nos, exultemos e demos-lhe a glória, porque são chegadas as bodas do Cordeiro, cuja esposa a si mesma já se ataviou" (Apoc. 19:6, 7). A liturgia celestial começa com o recordativo do castigo da "grande prostituta" (Apoc. 19:2), mas termina com a recompensa da "esposa": "Pois lhe foi dado vestir-se de linho finíssimo, resplandecente e puro. Porque o linho finíssimo são os atos de justiça dos santos" (Apoc. 19:8). O vestido nupcial está em agudo contraste com o da prostituta (Apoc. 17:4; 18:16). É um dom do Cordeiro, porque "concederam-lhe vestir-se" (19:8, BJ). Lembramo-nos da parábola do Jesus do "banquete de bodas" em Mateus 22, no qual oferece a cada convidado um vestido de bodas especial (V. 11). Cristo oferece especialmente à igreja do Laodicéia "vestiduras brancas para te vestires, a fim de que não seja manifesta a vergonha da tua nudez" (Apoc. 3:18). Em Apocalipse 6:11 se afirma de novo o dom do caráter das vestimentas brancas para os mártires. João vê os santos vitoriosos em Apocalipse 7 e todos "vestidos de vestiduras brancas" (v. 9) com esta explicação adicional: "lavaram suas vestiduras e as alvejaram no sangue do Cordeiro" (V. 14). Aqui estamos frente ao privilégio e dever de cada pessoa de ir diariamente ao Senhor ressuscitado para procurar a purificação do coração (ver 1 João 1:7). Na verdade, A. Pohl comentou a respeito: "Sua graça hoje consiste não só em boas obras, mas também no poder para fazer boas obras".30 Também deste ponto de vista podemos entender a frase, "o linho fino são as ações justas dos santos" (Apoc. 19:8). Refere-se ao caráter mudado dos seguidores de Cristo que foram transformados de um modo de pensar egocêntrico a uma mente centralizada em Cristo por meio de sua união de coração e alma com Cristo. As "ações justas [dikaiómata] dos santos" mencionam-se como a contraparte das "ações injustas [adikémata]" da prostituta (ver Apoc. 18:5). A esposa "preparou-se" (Apoc. 19:7; ver também 14:13). Tanto a esposa como a prostituta estão vestidas com suas obras e caráter. Dessa maneira se apresentam em um paralelo contrastante. O anúncio das bodas do Cordeiro em Apocalipse 19:7 antecipa o desenvolvimento dos temas da Esposa-Cordeiro-Nova Jerusalém em Apocalipse 21 e 22. O reino de Deus está centralizado para sempre em Cristo. Referências 1 Strand, "The Two Witnesses of Rev. 11:3-12", AUSS 19:2 (1981), p. 38. 2 Ibid., p. 44. 3 Caird, The Revelation of St. John the Divine, p. 222. 4 Were, The Woman and the Beast in the Book of Revelation, p. 151. 5 Ellen White, CS 611, 612. 6 Caird, The Revelation of St. John the Divine, p. 223. 7 Morris, The Revelation of St. John, p. 216. 8 Ruiz, Ezekiel in the Apocalypse: The Transformation of Prophetic Language in Apocalypsis

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16, 17-19:10, p. 399. 9 Travis, Christ and the Judgment of God. Divine Retribution in the NT, p. 171. 10 Ellul, Apocalypse, The Book of Revelation, p. 199. 11 Strand, "The Two Witnesses of Rev. 11:3-12", AUSS 19:2 (1981), p. 41. 12 Morris, The Revelation of St. John, p. 222. 13 Caird, The Revelation of St. John the Divine, p. 229. 14 Ibid., p. 230. 15 Strand, "The Two Witnesses of Rev. 11:3-12", AUSS 19:2 (1981), pp. 43-45. 16 Zimmerli, Ezekiel, t. 2, p. 94. 17 Ibid. 18 Pohl, Die Offenbarung des Johannes [O Apocalipse de João], p. 197. 19 7 CBA 876 20 J. M. Ford, Revelation, p. 304. 21 Ibid., p. 305. 22 Ruiz, Ezekiel in the Apocalypse: The Transformation of Prophetic Language in Apocalypsis 16, 17-19:10, p. 435. 23 Naden, The Lamb Among the Beasts. Finding Jesus in the Book of Revelation, p. 254. 24 7 CBA 877. 25 Ibid. 26 Ver Ruiz, Ezekiel in the Apocalypse: The Transformation of Prophetic Language in Apocalypsis 16, 17-19:10, p. 469. 27 Ibid. 28 Vos, The Synoptic Traditions in the Apocalypse, p. 163. 29 Ruiz, Ezekiel in the Apocalypse: The Transformation of Prophetic Language in Apocalypsis 16, 17-19:10, p. 493. 30 Pohl, Die Offenbarung des Johannes [O Apocalipse de João], p. 216. FONTES BIBLIOGRÁFICAS PARA APOCALIPSE 17 E 18 Livros Andrews, John N. Three Messages of Revelation 14 [As Três Mensagens de Apocalipse 14]. Heritage Library. Nashville, TN: Southern Publ. Assn., 1970 (reimpressão de 1892). Aune, David E. Prophecy in Early Christianity [A Profecia no Cristianismo Primitivo]. Grand Rapids, MI: Wm. B. Eerdmans, 1983. Bauckham, R. J. The Climax of Prophecy. Studies on the Book of Revelation [O Clímax da Profecia. Estudos no Livro do Apocalipse]. Edimburgo: T&T Clark 1993. Beale, G. K. The Use of Daniel in Jewish Apocalyptic Literature and in the Revelation of St. John [O Uso de Daniel na Literatura Apocalíptica Judaica e no Apocalipse de S. Juan]. Lanham, MD: University Press of America, 1984. Böcher, O. Die Johannes-Apokalypse [O Apocalipse de João]. Erträge der Forschung, Bd. 41. Darmstag: Wisschenschaftl. Buchges., 1988. Caird, George B. The Revelation of St. John the Divine [O Apocalipse de São João o Teólogo]. Grand Rapids, MI: Wm. B. Eerdmans, 1977. Charles, R. H. The Revelation of St. John [O Apocalipse de São João], 2 ts. ICC. Edimburgo: T & T Clark. Collins, Adela Y. The Apocalypse. New Testament Message [O Apocalipse. Mensagem do Novo Testamento]. Wilmington, Michael Glazier, 1979. Danby, H. The Mishnah [A Mishná]. Londres: Oxford University Press, 1967. Ellul, Jacques. Apocalypse, The Book of Revelation. Grand Rapids, MI: Wm. B. Eerdmans, 1986. Ford, Josephine Massyngberde. Revelation [O Apocalipse]. Anchor Bible, T. 38. Garden City, Nova York: Doubleday, 1978. Giblin, Charles H. The Book of Revelation. The Oven Book of Prophecy [O Livro do Apocalipse. O Livro Aberto da Profecia]. Good News Studies 34. Collegeville, MN: The Liturgical Press, 1991. Johnson, Alan F. Expositor's Bible Commentary, t. 12, Revelation [O Apocalipse]. Grand Rapids, MI: Zondervan, 1983. LaRondelle, Hans K. The Israel of God in Prophecy. Principles of Prophetic Interpretation [O Israel de Deus na Profecia. Princípios de Interpretação Profética]. Estudos monográficos em

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XXXII - COMPREENDENDO O MILÊNIO - Apocalipse 19 e 2 0 Primeiro devemos determinar as relações entre a visão de João a respeito dos "mil anos" e o contexto imediato do Apocalipse, ou seja os capítulos 19 e 21, antes de que possamos compreender o significado do capítulo 20. Também devemos averiguar que conexões possíveis existem entre Apocalipse 20 e as profecias do Antigo Testamento. Devem responder-se estas perguntas de exegese antes de estabelecer qualquer opinião dogmática de Apocalipse 20, uma das passagens mais problemáticas que há na Bíblia. O enfoque contextual deve preceder sempre o dogmático ao fazer uma exegese responsável das Sagradas Escrituras. O Contexto de Apocalipse 19 "Então, vi descer do céu um anjo; tinha na mão a chave do abismo e uma grande corrente. Ele segurou o dragão, a antiga serpente, que é o diabo, Satanás, e o prendeu por mil anos; lançou-o no abismo, fechou-o e pôs selo sobre ele, para que não mais enganasse as nações até se completarem os mil anos. Depois disto, é necessário que ele seja solto pouco tempo" (Apoc. 20:1-3). O termo "milênio" significa literalmente "mil anos", e o período dos anos a que se alude como o milênio só se menciona em Apocalipse 20. A relação desta passagem com a visão precedente de Apocalipse 19:11-21 é clara e amplamente reconhecida pelos eruditos. A visão do Armagedom de Apocalipse 19 constitui tanto a expansão final de Apocalipse 16 a 18 como a introdução a Apocalipse 20. Dessa maneira, Apocalipse 19 forma uma parte essencial da visão do milênio. Os inimigos de Cristo do tempo do fim são a besta, os reis da terra com seus exércitos e o falso profeta (Apoc. 19:19, 20). Na volta de Cristo como o Rei e Juiz de toda a terra, "Os dois [a besta e o falso profeta] foram lançados vivos dentro do lago de fogo que arde com enxofre" (v. 20). E "outros", ao parecer "os reis da terra e seus exércitos" (v. 19), foram mortos pelo impacto da vinda de Cristo (v. 21). Apocalipse 20 revela que Satanás, o gênio criador de toda rebelião será "preso", encerrado e selado por um anjo de Cristo (vs. 1-3). Depois do milênio será "lançado no lago de fogo e de enxofre, onde já se achavam a besta e o falso profeta" (v. 10, BJ). A continuidade de Apocalipse 19 e 20 chega a ser até mais evidente se se observar que a seqüência na qual são julgados os inimigos de Cristo acontece em uma ordem inversa à ordem em que aparecem pela primeira vez no livro do Apocalipse. Em Apocalipse 12 foi primeiro mencionado o dragão, depois vem a besta e o falso profeta no capítulo 13, e finalmente Babilônia no capítulo 14. Seu destino final se descreve em uma seqüência oposta: primeiro vem a queda de Babilônia em Apocalipse 16 a 18; depois são destruídos a besta e o falso profeta em Apocalipse 19, e finalmente, no 20, depois de mil anos, o dragão é executado. Esta composição literária do surgimento e queda dos principais inimigos de Cristo manifesta a ordem progressiva de Apocalipse 12 a 20 e sua unidade estrutural. Estes capítulos mostram um "desenvolvimento magistral" de pensamento e de tema que avança firmemente para a culminação, a consumação da guerra cósmica entre o céu e a terra. Dessa maneira, a progressão avança da queda de Babilônia até o castigo dos agentes de Satanás, e termina com a eliminação do pecado e do próprio Satanás. A Seqüência Cronológica de Apocalipse 19 e 20 Evidentemente, os acontecimentos descritos em Apocalipse 19:11-20:10 seguem uma ordem cronológica. Isto está claro da seqüência das visões nas que as aves de rapina são convidadas a ir à grande ceia de Deus (Apoc. 19:17, 18), seguida pela visão em que todas as aves "saciaram-se das carnes deles" (vs. 19-21). Há uma notável progressão de eventos nestas duas visões. A declaração de Apocalipse 20:10 proporciona a evidência direta da ordem cronológica das visões de Apocalipse 19 e 20, quer dizer, "o diabo que os enganava, foi arrojado no lago de fogo e enxofre, onde estavam a besta e o falso profeta" (20:10). Esta última referência ao juízo da besta e de seu profeta se descreve em 19:20 como acontecendo antes, na segunda vinda (19:19).

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Outra indicação de uma seqüência cronológica é a observação de que os eventos descritos em Apocalipse 19:11 a 20:6 são análogos à ordem dos eventos em Daniel 7. Tanto em Daniel como no Apocalipse o anticristo é consumido por meio de fogo quando o Messias vem em sua glória do céu (Dan. 7:11-14, 25; Apoc. 19:20). Em ambos os livros, imediatamente depois da destruição do anticristo, o reino é dado aos santos (Dan. 7:22, 27; Apoc. 20:4-6). Portanto, como o juízo do anticristo na segunda vinda ainda está no futuro, o reino milenário dos santos que segue à destruição do anticristo também deve ser futuro. Estamos de acordo com a conclusão do Jack S. Deere: "Dessa maneira, sobre a base de Daniel 7, é mais natural ler Apocalipse 20:4-6 como parte de uma progressão cronológica em seu contexto mais amplo (19:11-20:15), do que como uma recapitulação".1 Inclusive o erudito católico do Novo Testamento, Rudolf Schnackenburg reconheceu que "um salto atrás ao tempo da parousia em Apocalipse 20:1-3 é altamente inverossímil".2 Enquanto que reconhecemos o papel geral da recapitulação na estrutura do Apocalipse como um tudo, a seção de Apocalipse 19:11 a 20:15 apresenta claramente uma ordem lógica e cronológica. Além disso, Ezequiel apresenta uma série consecutiva de visões nas quais o reino messiânico (caps. 36 e 37) é seguido por uma guerra encabeçada por Gogue de Magogue (caps. 38 e 39). Depois da guerra chega o reino eterno centralizado em uma Nova Jerusalém (caps. 40-48). George Ladd concluiu dizendo que "a profecia do Ezequiel tem a mesma estrutura básica que a de Apocalipse 20".3 O erudito apocalíptico Jeffrey Vogelgesang declarou: "João [em sua ordem de Apoc. 19:11 a 21:8] segue o modelo do Ezequiel 34 a 48".4 Isto significa que uma análise básica da ordem dos eventos futuros tal como aparecem em Ezequiel (caps. 37-40) é essencial para um enfoque correto de Apocalipse 19 a 21. Esta comparação é obrigatória se se reconhecer que "João, o profeta cristão banido, modelou sua obra sobre o livro do Ezequiel, o grande profeta do desterro babilônico".5 A estrutura paralela do Apocalipse com Ezequiel levou a Vogelgesang à seguinte conclusão: "Esta é uma prova conclusiva de que Daniel utilizou diretamente a Ezequiel".6 Em resumo, um estudo do milênio de Apocalipse 20 requer uma análise não só de seu contexto imediato, mas também do amplo contexto dos livros proféticos de Israel no Antigo Testamento. Desta dupla perspectiva, o contexto imediato e o mais amplo, discernimos a intenção de João de colocar o reino messiânico do milênio depois da segunda vinda de Cristo. A Visão do Armagedom: O Fim da Humanidade Pecadora "Vi o céu aberto, e eis um cavalo branco. O seu cavaleiro se chama Fiel e Verdadeiro e julga e peleja com justiça. Os seus olhos são chama de fogo; na sua cabeça, há muitos diademas; tem um nome escrito que ninguém conhece, senão ele mesmo. Está vestido com um manto tinto de sangue, e o seu nome se chama o Verbo de Deus; e seguiam-no os exércitos que há no céu, montando cavalos brancos, com vestiduras de linho finíssimo, branco e puro. Sai da sua boca uma espada afiada, para com ela ferir as nações; e ele mesmo as regerá com cetro de ferro e, pessoalmente, pisa o lagar do vinho do furor da ira do Deus Todo-Poderoso. Tem no seu manto e na sua coxa um nome inscrito: REI DOS REIS E SENHOR DOS SENHORES" (Apoc. 19:11-16). Apocalipse 19 apresenta uma representação muito vívida da vinda de Cristo e da batalha do Armagedom, antecipada brevemente em Apocalipse 16:13-16 e 17:12-14. Cristo é descrito como o Guerreiro vitorioso que desce do céu sobre um cavalo de batalha dirigindo um exército imenso de anjos (Apoc. 19:11, 19; cf. Mat. 24:31; 25:31). Como o Messias-Rei (ver Apoc: 5:5), vem para reclamar este planeta como seu domínio legítimo. Em sua cabeça há "muitos diademas" (19:12). Nem o dragão com suas sete cabeças (12:3) nem a besta com seus dez chifres (13:1) receberam a autoridade do Criador para reinar sobre a humanidade. Cristo volta como o legítimo "Rei dos reis e Senhor dos senhores" (19:16). Ele sozinho está autorizado pelo Pai a governar sobre a terra. Ele sozinho executará a vontade de Deus porque é "o Verbo de Deus" (v. 13), a manifestação da vontade de Deus para a humanidade. Em quatro descrições simbólicas, todas tiradas dos profetas, Cristo é descrito como o Rei-Juiz de toda a terra. A revelação de que o Senhor ressuscitado executará as predições do juízo hebraico constitui uma mensagem assombrosa.

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A. "Está vestido com um manto tinto de sangue" (Apoc. 19:13). B. "Sai da sua boca uma espada afiada, para com ela ferir as nações" (Apoc. 19:15). C. "Ele mesmo as regerá com cetro de ferro" (Apoc. 19:15). D. "E, pessoalmente, pisa o lagar do vinho do furor da ira do Deus Todo-Poderoso" (Apoc. 19:15). Estas quatro descrições de juízo indicam como se levará a cabo o fim da era da igreja a justiça retributiva de Deus, tal como aparece em Isaías 11, 34, 63, Joel 3 e Salmo 2.7 João usa as metáforas dos profetas para expressar o juízo de Deus sobre o Império Babilônico, um juízo que desdobra a "ira de Deus" na segunda vinda. Apocalipse 19 enfatiza o fim de toda a vida sobre o planeta. "Então, vi um anjo posto em pé no sol, e clamou com grande voz, falando a todas as aves que voam pelo meio do céu: Vinde, reuni-vos para a grande ceia de Deus, para que comais carnes de reis, carnes de comandantes, carnes de poderosos, carnes de cavalos e seus cavaleiros, carnes de todos, quer livres, quer escravos, tanto pequenos como grandes" (Apoc. 19:17, 18). O convite do céu às aves de rapina para assistir à grande ceia de Deus está em contraste deliberado com o convite anterior: "Bem-aventurados aqueles que são chamados à ceia das bodas do Cordeiro!" (Apoc. 19:9). Evidentemente, Deus proporcionará ambos os banquetes: um para Babilônia por ocasião do Armagedom, e outro para Israel no monte Sião (18:4; 14:1). As ceias representam destinos opostos: o gozo mais elevado do companheirismo com Cristo no céu e a angústia inexprimível da separação total de Deus na terra. Esta divisão da humanidade em duas classes foi apresentada durante o sexto selo (6:15-17; 7:1-7). Em outras palavras, Deus proporcionará ou vida eterna ou morte eterna. A responsabilidade iniludível do homem é escolher entre o Cordeiro e a besta, entre Cristo e o anticristo. Qual é o significado de um anjo de Deus "posto em pé no sol" convidando a todas as aves de rapina "que voam pelo meio do céu" à ceia de Deus? Sugere uma proclamação universal tão importante como a dos três anjos de Apocalipse 14:6-12 que também voam "pelo meio do céu". Agora a convocação celestial se dirige a todos os que fizeram caso omisso do rogo anterior de Apocalipse 14 e que rechaçaram o convite de Deus para estar na caia de bodas do Cordeiro. Esta chamada ao Armagedom segue o antigo estilo oriental de entrar em combate: "Vem a mim, e darei a tua carne às aves do céu e às bestas-feras do campo (1 Sam. 17:44). Inclusive Moisés advertiu ao Israel infiel: "O teu cadáver servirá de pasto a todas as aves dos céus e aos animais da terra; e ninguém haverá que os espante" (Deut. 28:26). Uma advertência similar se aplica a todos os que se aliam aos poderes anticristãos. Entretanto, a principal raiz hebraica da visão que João teve do juízo de Cristo sobre o mundo apóstata, é a de Ezequiel 38 e 39. Este profeta descreveu o assalto de Gogue e de seus aliados sobre o Israel de Deus em seu solo pátrio no tempo do fim nas seguintes palavras: "Virás, pois, do teu lugar, das bandas do Norte, tu e muitos povos contigo, montados todos a cavalo, grande ajuntamento e exército numeroso; e subirás contra o meu povo de Israel, como uma nuvem, para cobrir a terra; no fim dos dias, sucederá que hei de trazer-te contra a minha terra, para que as nações me conheçam a mim, quando eu me houver santificado em ti os seus olhos, ó Gogue... Porque disse no meu zelo, no fogo do meu furor, que, naquele dia, haverá grande tremor sobre a terra de Israel... Porque chamarei contra Gogue a espada, sobre todos os meus montes, diz o Senhor JEOVÁ; a espada de cada um se voltará contra seu irmão. E contenderei com ele por meio da peste e do sangue; e uma chuva inundante, e grandes pedras de saraiva, fogo e enxofre farei cair sobre ele, e sobre as suas tropas, e sobre os muitos povos que estiverem com ele" (Ezeq. 38:15-22, RC). "Nos montes de Israel, cairás, tu, e todas as tuas tropas, e os povos que estão contigo; a toda espécie de aves de rapina e aos animais do campo eu te darei, para que te devorem" (Ezeq. 39:4, RA). "Tu, pois, ó filho do homem, assim diz o Senhor Jeová: Dize às aves de toda espécie e a todos os animais do campo: Ajuntai-vos, e vinde, vinde de toda parte para o meu sacrifício, que eu sacrifiquei por vós, sacrifício grande nos montes de Israel, e comei carne, e bebei sangue...E

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vos fartareis, à minha mesa, de cavalos, e de carros, e de valentes, e de todos os homens de guerra, diz o Senhor Jeová" (Ezeq. 39:17-20, RC). O Apocalipse de João estende agora a descrição dos mortos pelo Messias além da lista de nações que aparecem em Ezequiel 39. No Armagedom, os abutres se alimentarão com "carne de todos, livres e escravos, pequenos e grandes" (Apoc. 19:18). João descreve a matança das multidões de Babilônia, reunidas para fazer guerra contra Deus e seu Messias, como algo universal e total. O mundo inteiro será um "monte de matança", um Har Magedon.8 O Apocalipse intencionalmente aumenta o campo de batalha da predição de Ezequiel a uma escala universal. Finalmente, "todas as pessoas" sobre a terra estarão envoltas. Chama-se às aves "que voam pelo meio do céu" para que se fartem da carne de todos os guerreiros que foram mortos, que lutaram contra o Governante divino. Muitos observaram que Apocalipse 19 não descreve uma batalha real entre o céu e a terra. Como podem seres mortais oferecer resistência contra o Guerreiro divino quando descer da parte oriental do céu? O Apocalipse revela que quando se abrir o céu e a terra tremer por causa de um terremoto universal, o temor paralisará a todo o mundo. "Os reis da terra, os grandes, os comandantes, os ricos, os poderosos e todo escravo e todo livre se esconderam nas cavernas e nos penhascos dos montes e disseram aos montes e aos rochedos: Caí sobre nós e escondei-nos da face daquele que se assenta no trono e da ira do Cordeiro, porque chegou o grande Dia da ira deles; e quem é que pode suster-se?" (Apoc. 6:15-17). Sem dúvida a impressão é que não sobreviverá nenhum ser humano rebelde naquele dia. João enfatiza em Apocalipse 19 que "outros" foram mortos com a espada que saía da boca do que montava o cavalo (v. 21). A profecia de Daniel da pedra que caiu do céu já expressa que o reino messiânico esmiuçará a imagem metálica do mundo e converterá a todos os habitantes em pó: "E o vento os levou, e deles não se viram mais vestígios" (Dan. 2:35; também os vs. 44, 45). A Unidade Maior de Apocalipse 19-21 As palavras "Fiel e Verdadeiro" [pistós kay alezinós] com respeito a Cristo (Apoc. 19:11), e ao que estava no trono no capítulo 21:5, expressam a continuidade entre Apocalipse 19 e 21. Charles H. Giblin observou três unidades correlacionadas dentro da narração de Apocalipse 19:11-21:8.9 A. A vitória do Rei de reis sobre a besta, o falso profeta e os reis da terra (19:11 -21); B. A vitória sobre Satanás na culminação do milênio (20:1-10); C. O juízo do trono, com a conquista da morte e o sepulcro e o advento da Nova Jerusalém (20:11-21:8). O centro focal destas divisões é (A) o Armagedom; (B) o reino milenial; e (C) o juízo final em forma sucessiva. O tema que forma um arco com estas três seções é o Juízo, que revela o resultado final tanto dos fiéis como dos ímpios (ver Apoc. 19:11; 20:4, 12, 13; 21:7, 8). Este arranjo literário de Apocalipse 19 a 21 revela quão perigoso é desconectar as visões do milênio de seu contexto imediato e depois manifestar uma opinião dogmática do milênio de Apocalipse 20. Pelo contexto sabemos que o juízo de Cristo sobre o dragão, ou Satanás, terá lugar só depois que ele tenha destruído a besta, o falso profeta e as multidões às quais levaram por mau caminho (ver Apoc. 19:19-21; 20:1, 2, 10). Isto significa que a vinda de Cristo será seguida pela prisão de Satanás no abismo no começo do milênio. O ponto crítico aqui é a questão seguinte: O milênio de Apocalipse 20, apresenta uma recapitulação de toda a história da igreja ou é só a conclusão do plano de redenção? Para responder esta pergunta vamos comparar Apocalipse 20 com o capítulo 12, porque o capítulo 12 apresenta uma narração direta da era da igreja. Comparação de Apocalipse 12 e 20 As narrações destes dois capítulos tratam com o dragão e a igreja de Cristo. Enquanto que o

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capítulo 12 mostra como atacou o dragão a esposa de Deus [a igreja], como buscou destruir o Messias, como continuou guerreando contra os anjos no céu, e finalmente como assalta os santos na terra, o capítulo 20 inverte completamente este quadro. William H. Shea resume brevemente este contraste: "Por outro lado, em Apocalipse 20 se inverte o quadro [de Apoc. 12]. O capítulo começa com um quadro de uma derrota inicial do diabo, e termina com um quadro de sua derrota final. Mas entre estes dois pólos encontramos aos membros vitoriosos da igreja, especialmente os mártires, a quem o dragão tinha derrotado previamente em um sentido físico limitado. Agora viveram na ressurreição e estão reinando com Cristo como sacerdotes para Deus".10 Joel Badina oferece uma comparação mais detalhada: "Primeiro, no capítulo 12, Satanás é arrojado do céu à terra, enquanto que no capítulo 20 é pacote e arrojado no abismo (20:3). Segundo, no capítulo 12 Satanás é "o enganador de todo o mundo" (12:9), enquanto que no capítulo 20 "não pode enganar mais as nações" (20:3). Terceiro, o capítulo 12 descreve os cristãos como mártires expostos à morte (12:11), enquanto que no capítulo 20 está o tempo de sua ressurreição (20:4, 6). O capítulo 12 é um tempo de maldição (12:12), enquanto que o capítulo 20 é um tempo de bênção (20:6). Por conseguinte é evidente que os capítulos 12 e 20 não descrevem o mesmo período de tempo, e 20:1 não se projeta para trás, ao século I, como o faz o capítulo 12:1. Antes, o capítulo 20:1-10 deve situar-se em forma imediatamente seguinte à era cristã".11 Esta avaliação comparativa de Apocalipse 12 e 20 leva à conclusão de que o milênio de Apocalipse 20 não recapitula a era da igreja que aparece em Apocalipse 12. O milênio segue à era cristã. Shea e outros assinalaram que Apocalipse 12 está colocado dentro das séries históricas do livro (caps. 1-14), enquanto que Apocalipse 20 está colocado dentro do final das séries escatológicas de juízo (caps. 15-22). Dessa forma, Apocalipse 12 revela a atividade do diabo na história da igreja, enquanto que Apocalipse 20 revela o juízo que Deus faz do diabo na consumação final. Esta comparação confirma a conclusão anterior do contexto imediato de que o milênio segue a parousia em Apocalipse 19. Outra indicação da ordem cronológica de Apocalipse 19 e 20 se encontra na evidência interna da mesma visão do milênio. Durante os "mil anos" os mártires que rechaçaram aceitar a marca da besta do tempo do fim e que perderam sua vida (ver Apoc. 13:15-17; 19:20), voltam de novo para viver e reinam com Cristo como sacerdotes de Deus: "Vi também tronos, e nestes sentaram-se aqueles aos quais foi dada autoridade de julgar. Vi ainda as almas dos decapitados por causa do testemunho de Jesus, bem como por causa da palavra de Deus, tantos quantos não adoraram a besta, nem tampouco a sua imagem, e não receberam a marca na fronte e na mão; e viveram e reinaram com Cristo durante mil anos.... Esta é a primeira ressurreição. Bem-aventurado e santo é aquele que tem parte na primeira ressurreição" (Apoc. 20:4-6). Esta ressurreição dos santos fiéis tem lugar na segunda vinda de Cristo (Apoc. 19:11-16). Paulo tinha ensinado que o segundo advento e a ressurreição dos santos ocorrerão simultaneamente: "Porque o mesmo Senhor descerá do céu com alarido, e com voz de arcanjo, e com a trombeta de Deus; e os que morreram em Cristo ressuscitarão primeiro" (1 Tes. 4:16). O enfoque contextual referente a Apocalipse 20 aponta claramente a um milênio futuro, porque a ressurreição dos santos terá lugar na segunda vinda, quando os santos ressuscitados sejam feitos imortais. Paulo e o Milênio Paulo não considerou a ressurreição física de Jesus Cristo como um acontecimento isolado mas sim como a garantia da ressurreição dos mortos: "Mas, de fato, Cristo ressuscitou dentre os mortos, sendo ele as primícias dos que dormem.

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Visto que a morte veio por um homem, também por um homem veio a ressurreição dos mortos. Porque, assim como, em Adão, todos morrem, assim também todos serão vivificados em Cristo" (1Cor. 15:20-22). O apóstolo continua ensinando que nem todos os mortos ressuscitarão ao mesmo tempo, mas sim haverá uma certa seqüência cronológica no cumprimento das promessas de Deus a respeito da ressurreição: "Cada um, porém, por sua própria ordem: Cristo, as primícias; depois, os que são de Cristo, na sua vinda. E, então, virá o fim, quando ele entregar o reino ao Deus e Pai, quando houver destruído todo principado, bem como toda potestade e poder" (1 Cor. 15:23, 24). As palavras "cada um por sua própria ordem" [tágma: grupo, classe] indicam que estão incluídas diferentes classes de pessoas: Cristo, as "primícias", já ressuscitado; depois [épeita: depois] "os que são de Cristo" serão ressuscitados na vinda de Cristo (cf. 1 Tes. 4:16, 17; Mat. 24:30, 31). A distância temporária entre a ressurreição de Cristo e a de seu povo em seu segundo advento, digamos 2.000 anos mais tarde, não se mencionam, mas está claramente subentendido. Em outra parte Paulo declara que os santos vivos serão "transformados" e receberão a imortalidade ao mesmo tempo que os santos ressuscitados, quer dizer, na parousia (1 Tes. 4:17; 1 Cor. 15:51, 52). Depois o apóstolo declara que só logo [éita] da ressurreição dos santos virá o fim [to télos]. Alguns interpretam isto como "o resto da humanidade",12 porque abrange a todos os que não pertencem a Cristo. Cristo não entregará o reino a Deus o Pai até depois que tenha destruído a "todos os seus inimigos" incluindo o último inimigo, a "morte": "Porque convém que ele reine até que haja posto todos os inimigos debaixo dos pés. O último inimigo a ser destruído é a morte" (1 Cor. 15:25, 26). Paulo não menciona um intervalo de tempo entre a ressurreição dos santos na parousia e o fim quando será destruída a morte. Entretanto, vários intérpretes reconhecem que "um segundo intervalo indefinido vai entre a parousia e o fim".13 Paulo declara que a terceira classe [tágma] de pessoas ressuscitadas, aparentemente os que não pertencem a Cristo, seguem logo ao segundo grupo. O transpasse do reino de Cristo ao Pai não terá lugar no segundo advento, e sim depois da destruição da morte. Quanto a isto, é legítimo conectar 1 Coríntios 15:23-28 com Apocalipse 20. Ambas as passagens são parte do cânon das Escrituras e tratam dos mesmos eventos depois do segundo advento. As visões de João dos mil anos ampliam o ensino do Paulo em 1 Coríntios 15. O Apocalipse revela que o último inimigo do homem, a morte será vencida só depois da destruição de Satanás no lago de fogo e enxofre no fim do milênio: "E a morte e o Hades foram lançados ao lago de fogo. Esta é a segunda morte" (Apoc. 20:14). A destruição da morte e do Hades é o ato final do reino de Cristo sobre todos os seus inimigos. Paulo viu este mesmo ato como a culminação de "o fim" (1 Cor. 15:24, 26). Nas visões de João, a morte será vencida só depois do milênio, quando tiver sido destruído Satanás (Apoc. 20:10, 14). Em resumo, concluímos que enquanto que Paulo não ensina explicitamente um reinado milenário de Cristo depois de seu parousia, abre espaço para uma futura "cristocracia" assim em 1 Coríntios 15:24. A Suposta Duração do Reino Messiânico no Judaísmo Alguns escritos judaicos apocalípticos anteriores à era cristã contêm a expectativa de um reino de Deus temporário antes do juízo final e a criação de um mundo novo. Este período intermediário pacífico não está conectado com o Messias e sua duração não está especificada claramente nestes escritos pré-cristãos: "O Apocalipse das semanas" em I Enoc 91:12-17; 93:1-10; Jubileus 23:26-31; Os oráculos sibilinos, livro 3:46-62, 781-784. II Enoc 32 e 33 (ao

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redor do ano 50 de nossa era) contêm a passagem mais antiga da literatura judia que indica que o período intermédio de paz sobre a terra durará mil anos. 14 Durante a segunda metade do primeiro século de nossa era se fez uma distinção nos escritos rabínicos entre a era messiânica e a era por vir. Alguns escritos apocalípticos judeus de perto do fim do século I declaram que o reino messiânico é temporário e que está conectado com a iminente queda de Roma, por exemplo, o Apocalipse de Baruc (ou II Baruc 30) e o Apocalipse de IV Esdras. O Quarto Livro de Esdras contém a passagem mais concludente de que o Messias morrerá depois de 400 anos junto com todos os outros seres humanos. Depois dessa era messiânica, ocorrerão os seguintes eventos: "O mundo (presente) voltará ao silêncio primitivo durante sete dias, tal como tinha estado em sua primeira origem; deste modo ninguém sobreviverá. depois de (esses) sete dias, o mundo novo que não foi suscitado ainda despertará e o que é corruptível será aniquilado. A terra devolverá os que dormem nela, o pó aos que descansam em seu silêncio; os sepulcros às almas que lhes foram confiadas. O Altíssimo se revelará (sentado) em seu trono de juízo (Quarto livro do Esdras 7:30-33)".15 Durante a era cristã os primitivos rabinos judeus discutiram a idade da era messiânica, concordando só no ponto de que seria um período limitado entre a era presente e a era por vir. A lista destes períodos de tempo propostos flutua de 40 ou 70 anos, de 400 ou 600 anos a 1.000 ou 2.000 anos e até a 7.000 mil anos.16 Aparentemente, não havia uma forma ortodoxa de opinião. Entretanto, alguns apocalipticistas insistiram em que a história era uma recapitulação da semana da criação. Assim como Deus tinha trabalhado seis dias e descansado no sétimo (Gên. 1, 2), assim a história duraria seis "dias" de mil anos cada um, para ser seguida pelo sábado do reinado do Messias de mil anos, depois do qual viria um "oitavo dia" sem fim, o reino eterno (II Enoc 32, 33). Esta idéia anterior ao cristianismo se repete no cristão de começos do século II, a Epístola de Barnabé 15, e em outros escritos cristãos posteriores. Especialmente digna de menção é a declaração do rabino Eliézer (90 d.C.), quem representou uma tradição que ensinou que o Messias reinaria por mil anos.17 Esta é a autoridade rabínica mais antiga que reconhece o período messiânico com uma duração de 1.000 anos. Por conseguinte, alguns eruditos modernos insistem em que João quis dizer mil anos literais em Apocalipse 20, porque isto encaixa bem dentro do pensamento judeu contemporâneo. Entretanto, Beasley-Murray declara que João desejou indicar primeiramente o caráter teológico do milênio, "quer dizer, como o sábado da história".18 Embora seja profundamente significativo interpretar "o sábado de descanso de Deus como um tipo do reino" e que a "criação prefigura uma nova criação",19 esta interpretação não deve ofuscar a nova revelação do Apocalipse de João de que o milênio é uma cristocracia. Portanto, ainda permanece a pergunta básica: Como se relaciona Apocalipse 20 com os escritos do Antigo Testamento? Os Antecedentes do Milênio no Antigo Testamento Algumas raízes veterotestamentárias do milênio iluminam nosso entendimento. A primeira conexão literária com a Bíblia Hebraica é a palavra "abismo", que se usa duas vezes (Apoc. 20:1, 3) para referir-se à "prisão" (v. 7) em que o dragão estará encerrado por mil anos. Como um termo por si mesmo, o termo abismo funciona no Apocalipse (9:1, 2, 11 [cf. Sal. 88:11]; 11:7; 17:8) e em outros lugares do Novo Testamento (Luc. 8:31; Rom. 10:7) como sinônimo de tumba, morte e destruição, e do cárcere da "besta" e dos demônios. Quando Cristo expulsou a alguns espíritos malignos do homem diabólico da Galiléia, "rogavam-lhe que não os mandasse para o abismo" (Luc. 8:31), ou ao reino dos mortos. Na versão grega do Antigo Testamento (a LXX) usa-se abismo em Gênesis 1:2 para descrever a terra desabitada antes da semana da criação: "A terra estava desordenada e vazia, e as

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trevas estavam sobre a face do abismo [abussos]". Parece que o Novo Testamento tomou esta descrição pré-histórica de uma terra vazia e caótica, como seu protótipo para o conceito de abismo como um poço escuro e como o lugar da prisão dos demônios. Luz adicional sobre o abismo em Apocalipse 20 provém da perspectiva profética do Jeremias. "Olhei para a terra, e ei-la sem forma e vazia; para os céus, e não tinham luz.... Olhei, e eis que não havia homem nenhum, e todas as aves dos céus haviam fugido. Olhei ainda, e eis que a terra fértil era um deserto, e todas as suas cidades estavam derribadas diante do Senhor, diante do furor da sua ira" (Jer. 4:23-26). Na profecia do Antigo Testamento, o dia do juízo está caracterizado em geral por uma perspectiva dupla: o dia de Jeová histórico para uma nação em particular, e o dia de Jeová do juízo final para todo o mundo. Este ponto de vista tipológico do reino futuro de Deus que não se preocupa com as distâncias cronológicas nem pelas distinções étnicas ou geográficas, apresenta o juízo nacional como um modelo muito pequeno para o juízo do mundo do tempo do fim. O foco está no mesmo Deus que, tanto no presente como no futuro, atuará na mesma forma para o juízo e a salvação. George Ladd resumiu desta maneira esta dupla perspectiva do panorama profético: "O dia do Senhor histórico está descrito em contraste com a tela de fundo do dia escatológico do Senhor".20 A visão de Jeremias da futura devastação da "terra" tem uma dimensão apocalíptica para o juízo final, quando a devastação da terra e do céu alcançará seu alcance universal. Naquele dia apocalíptico do juízo, toda a terra voltará a seu estado primitivo e de novo chegará a ser um abismo: escuro, desordenado e vazio (ver Jer. 4:23, 28; cf. Gên. 1:2). Esse dia apocalíptico, como o Novo Testamento torna claro, é o segundo advento de Cristo (ver 2 Tes. 1:6-9; Apoc. 6:12-17; 19:11-21). Então toda a terra chegará a ser um grande abismo, a condição da terra por um milênio, um cárcere exclusivamente para Satanás e seus espíritos demoníacos. De acordo com a escatologia paulina, o juízo da segunda vinda de Cristo não deixa pessoa viva sobre a terra. Os santos, seja por ressurreição ou translação, todos serão levados à casa do Pai (ver João 14:1-3; 1 Tes. 4:16, 17); todos os ímpios jazerão no pó pela glória consumidora da aparição de Cristo (ver Heb. 10:26, 27; 2 Tes. 1:6-10; 2:8; Apoc. 6:15-17; 16:17-21; 19:21). Se nenhum ser humano permanecer vivo sobre a terra, é evidente que Satanás, detido no abismo desta terra convertida em ruínas, está atado por uma "grande cadeia" de circunstâncias que Cristo mesmo ocasionou com seu segundo advento. Durante o milênio, Satanás estará guardado "para que não engane mais as nações" (Apoc. 20:3, CI), porque já não pode influir nem nos justos que estão no céu ou nos ímpios que estão mortos. Diferença Entre a Experiência do Evangelho e a Real idade Apocalíptica A linguagem figurada de Apocalipse 20:1-3 não deve confundir-se com a realidade da vitória de Cristo sobre Satanás durante seu ministério terrestre. Parece injustificado identificar a prisão apocalíptica de Satanás em Apocalipse 20 como o poder do evangelho para "atar" a Satanás onde quer que o Espírito de Cristo liberta as pessoas de seu domínio (ver Mat. 12:28, 29). Se a "atadura" de Satanás se levou a cabo quando Cristo morreu na cruz, como pode Satanás ser solto de sua prisão como se anuncia em Apocalipse 20:7? Devemos ser muito cuidadosos para não confundir a obra de Cristo em seu segundo advento com a obra que fez em seu primeiro advento. O propósito do Apocalipse de João não é repetir os quatro Evangelhos que se centram no primeiro advento de Cristo, mas sim transmitir uma revelação progressiva do reinado de Cristo que culmina em seu segundo advento. Em Apocalipse 20, o tempo da atadura de Satanás não só é diferente da dos Evangelhos, mas também que é diferente sua natureza. Anthony Hoekema declarou que a atadura de Satanás em Apocalipse 20 significa que a influência de Satanás "está pelo menos controlada de tal forma que não pode evitar a propagação do evangelho a todas as nações da terra", e que "as nações não podem conquistar a igreja, mas sim a igreja está conquistando às nações".21 Mas esta opinião não respeita a natureza radical da atadura apocalíptica de Satanás, seu confinamento no abismo de um mundo em ruínas, "para que não engane mais às nações"

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(Apoc. 20:3, CI). Mas minimizar a atadura de Satanás até o ponto de dizer que o milênio é uma era de desenvolvimento próspero da igreja, não toma a sério a natureza ilimitada da atadura de Satanás no Apocalipse. G. C. Berkouwer rechaçou qualquer relativização da atadura de Satanás em Apocalipse 20.22 Igualmente Robert Mounce vê subentendida "a cessação completa de sua influência na terra" antes que uma restrição das atividades de Satanás.23 Permanece o fato inegável que séculos depois da cruz, Satanás e seus falsos apóstolos ainda são capazes de enganar o mundo ao cegar as mentes dos incrédulos ao evangelho (ver 2 Cor. 4:4; 11:13, 14). O diabo ainda "rodeia como leão a rugir" (ver 1 Ped. 5:8, BJ) e "agora opera nos filhos de desobediência" (Ef. 2:2). Ainda depois de sua derrota moral na cruz (ver Col. 2:15) Satanás ainda está enganando com êxito o mundo (ver 2 Tes. 2:9, o), e está "enganando o mundo inteiro" (ver Apoc. 12:9; 13:14; 19:20). João inclusive escreveu que "o mundo inteiro está no maligno" (1 João 5:19). A cruz despojou a Satanás de todos os seus direitos perante Deus, mas não de seu poder para enganar a humanidade. Só o segundo advento o despojará desse poder, como descrevem as visões de Apocalipse 19 e 20. O Milênio Indicado com Antecipação em Duas Profecia s Hebraicas Duas passagens do Antigo Testamento arrojam luz sobre o significado apocalíptico do milênio: Isaías 24:21-23 (dentro do apocalipse de Isaías, caps. 24-27) e Ezequiel 36 a 39. Isaías descreve o juízo final como abrangendo todo o cosmos e toda a terra: "Naquele dia, o Senhor castigará, no céu, as hostes celestes, e os reis da terra, na terra. Serão ajuntados como presos em masmorra, e encerrados num cárcere, e castigados depois de muitos dias. A lua se envergonhará, e o sol se confundirá quando o Senhor dos Exércitos reinar no monte Sião e em Jerusalém; perante os seus anciãos haverá glória" (Isa. 24:21-23). Nesta passagem apocalíptica podem observar-se vários característicos: (1) o profeta vê o juízo de Deus que dita sentença não só sobre os homens mas também sobre os anjos, o "no céu, as hostes celestes" (cf. Dan. 10:13, 20; Sal. 82; Ef. 6:12); (2) todos esses poderes rebeldes do céu e da terra serão "amontoados como presos em masmorra" ("poço", BJ); (3) serão "amontoados... num cárcere", serão castigados "depois de muitos dias", quer dizer, depois de um período longo não especificado de encarceramento. Nestes três aspectos do apocalipse de Isaías não se pode falhar em observar o conceito germinal do milênio com sua atadura de Satanás no abismo por mil anos. G. R. Beasley-Murray reconhece que "a idéia essencial de Apocalipse 19:19-21:3 apresenta breve extensão em Isaías 24:21 e os versos seguintes".24 Esta conexão de Isaías 24 com o milênio é amplamente reconhecida pelos comentadores. Isaías declara que enquanto que os poderes malignos estão presos, toda a terra jaz em um estado de desolação. "A terra será de todo devastada e totalmente saqueada, porque o Senhor é quem proferiu esta palavra" (Isa. 24:3; cf. os vs. 19, 20). Aqui temos de novo o quadro de um abismo universal. Na visão de Isaías, o juízo final de Deus compreende várias fases: primeiro os poderes malignos serão capturados mas não serão castigados imediatamente; ficarão na prisão "muitos dias". Este juízo preliminar será seguido pelo juízo final levado a cabo pelo próprio Deus. Os poderes que estão contra Deus estão simbolizados por uma serpente-dragão de muitas cabeças (ver Isa. 27:1; na LXX, drákon; cf. Sal. 74:13, 14), descobrindo outro elo com o simbolismo de Apocalipse 20:2. O apocalipse de Isaías revela que o juízo cósmico causa a ressurreição dos mortos do fiel povo do pacto de Deus: "Os vossos mortos e também o meu cadáver viverão e ressuscitarão... e a terra dará à luz os seus mortos" (Isa. 26:19). Com o toque de uma "grande trombeta" Deus reunirá "um por um" os fiéis, para que possam participar do banquete apocalíptico de Jeová "para todos os povos" sobre o monte santo (ver Isa. 27:12, 13; 25:6-9; 24:23). No Apocalipse de João, este banquete se transforma em "a ceia de bodas do Cordeiro" (Apoc. 19:6-9), quando a noiva, a igreja de todas os tempos, unir-se-á para sempre com seu Salvador. Esta festa de bodas é o característico central do reino milenial de Deus no céu, que tem lugar depois que os santos mártires voltem à vida na primeira ressurreição (Apoc. 20:4, 5). O profeta Ezequiel também fala dos eventos do tempo do fim na terminologia apocalíptica de períodos sucessivos. No esquema profético de Ezequiel, Jeová começa a ressuscitar o povo

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do novo pacto que está em Babilônia e a restaurar este novo Israel à terra prometida (ver Ezeq. 36:24-32; 37:1-14). Este fiel Israel de Deus será governado para sempre pelo Rei messiânico: "Meu servo Davi será rei sobre eles, e todos eles terão um só pastor" (37:24, 25). A glória da shekinah estará entre eles para sempre: "Estará em meio deles meu tabernáculo, e serei a eles por Deus, e eles me serão por povo" (v. 27). Entretanto, "depois de muitos dias" (Ezeq. 38:8) de existência pacífica desta teocracia messiânica, Gogue, o rei de Magogue, o líder das nações confederadas do mundo, atacará a terra de Israel. O Israel de Deus de maneira nenhuma entrará em combate. Não precisa fazê-lo porque Jeová será o guerreiro divino que pelejará nesta guerra santa só com armas de seus depósitos. "Contenderei com ele por meio da peste e do sangue; chuva inundante, grandes pedras de saraiva, fogo e enxofre farei cair sobre ele, sobre as suas tropas e sobre os muitos povos que estiverem com ele. Assim, eu me engrandecerei, vindicarei a minha santidade e me darei a conhecer aos olhos de muitas nações; e saberão que eu sou o Senhor" (Ezeq. 38:22, 23; também 39:6). Ezequiel colocou a rebelião final de Gogue depois do reino messiânico que aparece nos capítulos 36 a 39. Só depois que esta rebelião das forças do mal tenha sido esmagada pela intervenção divina, será purificada a terra e estará pronta para a Nova Jerusalém (Ezeq. 40-48). Não é maravilha que G. Ernest Wright declarasse: "O livro que apresenta o esboço mais claro dos eventos escatológicos é o de Ezequiel".25 O Apocalipse de João Mostra a Consumação As sete visões de juízo de João que se encontram em Apocalipse 19:11 a 21:8 constituem uma unidade independente, modelada segundo o esboço dos eventos escatológicos de Ezequiel 36-48. A perspectiva apocalíptica de João descreve o juízo de Deus sobre Babilônia durante a sétima praga (Apoc. 16-18), que introduz a vinda do Messias como o Guerreiro divino do céu que destruirá os perseguidores de sua igreja, a "besta", o "falso profeta" e os "reis de todo o mundo" (Apoc. 19:19-21; também 16:12-21). Então Cristo traz a seus fiéis a libertação e a ressurreição dos mortos (ver Apoc. 20:4), o regozijo da ceia de bodas na Nova Jerusalém no céu (Apoc. 19:6-9; 21:2, 7), e a autoridade de julgar sobre tronos celestiais em seu reino durante mil anos (20:4). Este reinado milenial terminará com o descida da Nova Jerusalém do céu à terra. Satanás será solto de seu abismo, porque agora, ao fim dos mil anos, terá lugar a ressurreição do resto da humanidade (20:5, 7; cf. João 5:28, 29; 1 Cor. 15:24). Este acontecimento prepara o cenário para a obra final de engano de Satanás e o ataque universal dos inimigos de Deus à Nova Jerusalém, "o acampamento dos santos", de acordo com Apocalipse 20:7-10. Para indicar a continuidade básica desta guerra apocalíptica com a da visão de Ezequiel, João identifica os agentes de Satanás com Gogue e Magogue (Apoc. 20:8). Os paralelos seguintes mostram como se correspondem os esboços de Ezequiel e João: 1. A ressurreição de um Israel espiritualmente morto da tumba de Babilônia para ser um povo do novo pacto (ver Ezeq. 36:24-28; 37:1-14). João vê a ressurreição das testemunhas decapitadas de Cristo que recusaram adorar a "besta" babilônica e a sua "imagem" (Apoc. 20:4). 2. Como a nova teocracia, Israel vive pacificamente na terra prometida sob o governo do novo Davi, o Messias (ver Ezeq. 37:1528). João vá os santos ressuscitados reinar com Cristo por mil anos (Apoc. 20:4-6). 3. Depois de "muitos dias" o ataque final do norte contra Israel pelos exércitos de Gogue, rei de Magogue, recebe uma derrota esmagadora por meio do fogo que desce do céu (Ezeq. 38, 39). João vê que depois do reinado de mil anos dos santos, os exércitos de "Gogue e Magogue" atacam o acampamento do povo de Deus, a santa cidade, desde todas as direções, mas são aniquilados pelo fogo que desce do céu (Apoc. 20:7-9). 4. Ezequiel viu a teofania de Jeová em uma Nova Jerusalém, que tinha o nome: "O Senhor está ali" (Ezeq. 48:35, NBE). João vê a Nova Jerusalém descender do céu à terra como a esposa do Cordeiro (Apoc. 21:1, 2). Então se realizará plenamente a promessa: "Eis o tabernáculo de Deus com os homens, e com eles habitará..." (v. 3).

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Enquanto que o objetivo anticristão da guerra apocalíptica é em essência o mesmo tanto em Ezequiel como em João, podem observar-se modificações que ensinam um princípio importante de interpretação apocalíptica. As restrições étnicas e geográficas da linguagem figurada do velho pacto de Ezequiel ("meu povo Israel", "minha terra", Gogue atacará "a terra do Israel", a teofania estremecedora de Jeová, etc.), tudo isto está transformado pelo Apocalipse de João em um conflito completamente cristocêntrico. O Apocalipse de João é um apocalipse cristão caracterizado pela integração do evangelho nas escatologias do Antigo Testamento. Essa integração coloca firmemente a Cristo e a seus verdadeiros seguidores no centro de todas as profecias do Antigo Testamento. Esta é a novidade essencial dos Evangelhos cristãos e da escatologia do Novo Testamento. A perspectiva do tempo do fim do Antigo Testamento é básica para entender o triunfo do Deus do pacto no conflito entre Deus e Satanás. As profecias de Israel sobre o castigo divino de todos os poderes rebeldes recebem seu cumprimento cristológico no Apocalipse de João. O rei de Israel, "meu servo Davi" (Ezeq. 37:34), chega a ser Cristo, o "Rei dos reis" (Apoc. 19:16; 22:16). O Israel messiânico escatológico (Ezeq. 37:26-28; 38:11, 12) chega a ser a igreja triunfante de Cristo no reino de Cristo (Apoc. 20:4). Gogue, o rei de Magogue e seus aliados políticos (Ezeq. 38:2, 3) chegam a ser o próprio Satanás e seus aliados terrestres, quer dizer, o resto da humanidade levantada na segunda ressurreição mas enganada por Satanás para uni-los em uma rebelião universal contra Cristo (Apoc. 20:7-9; 21:2). Como a profecia de Ezequiel tem a mesma ordem de acontecimentos que os capítulos 20 a 22 do Apocalipse, inferimos que o Apocalipse revela a interpretação cristã da consumação de Ezequiel 36 a 48, começando com o segundo advento e a ressurreição dos santos fiéis. Portanto, a visão do milênio de João transmite uma mensagem para o presente: aos judeus, que Jesus é o Messias verdadeiro e que sua igreja é a semente verdadeira de Abraão e o Israel messiânico; aos gentios, que Cristo é o Juiz do mundo; à igreja, que Jesus vindicará a seus seguidores e os recompensará em seu reino; e a Satanás e seus anjos, que sua execução é inapelável. O Significado Teológico do Milênio João descreve sua visão principal do milênio em três versículos: "Vi também tronos, e nestes sentaram-se aqueles aos quais foi dada autoridade de julgar. Vi ainda as almas dos decapitados por causa do testemunho de Jesus, bem como por causa da palavra de Deus, tantos quantos não adoraram a besta, nem tampouco a sua imagem, e não receberam a marca na fronte e na mão; e viveram e reinaram com Cristo durante mil anos. Os restantes dos mortos não reviveram até que se completassem os mil anos. Esta é a primeira ressurreição. Bem-aventurado e santo é aquele que tem parte na primeira ressurreição; sobre esses a segunda morte não tem autoridade; pelo contrário, serão sacerdotes de Deus e de Cristo e reinarão com ele os mil anos" (Apoc. 20:4-6). É perigosa a tentação a ler muita teologia preconcebida nesta passagem. Precisamos estar em guarda contra uma exegese dogmática que encontra um texto que está procurando. Em primeiro lugar, devemos reconhecer que não há indicação neste texto de que João está descrevendo um reino sobre os sobreviventes terráqueos da batalha do Armagedom ou de seus descendentes que supostamente nasceram durante o milênio. Em realidade, como alguns notaram, "a passagem [Apoc. 20:1-6] não diz nada a respeito de um reinado terrestre de Cristo sobre um reino principalmente judeu".26 O cenário da visão que João teve do reinado milenial dos santos ressuscitados parece estar no céu antes que na terra como geralmente se supõe. João viu "tronos" sobre os que estavam sentados aqueles que "receberam autoridade de julgar"; "concedeu-lhes autoridade para julgar" (CI); "encarregado-os de pronunciar sentença" (NBE). Leão Morris faz este comentário importante sobre Apocalipse 20:4: "Ele [João] usa a palavra 'trono' 47 vezes em total, e exceto para o trono de Satanás (Apoc. 2:13) e para o trono da besta (Apoc. 13:2; 16:10), todos parecem estar no céu. Estaria de acordo com isto se ele aqui entendeu um reino no céu".27 Anthony Hoekema reconhece que "o cenário da visão de João agora se mudou para o céu... os versículos 4-6 representam o que acontece no céu".28

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Hoekema menciona uma característica importante da estrutura de Apocalipse 20: concretamente, a mudança de cenário da terra ao céu, que é tão comum nas visões apocalípticas. William Shea, em um artigo instrutivo, mostrou como a alternância das dimensões horizontais e verticais ocorre tanto em Apocalipse 12 como no 20.29 Para ser específicos, o centro focal de Apocalipse 12 muda da terra (vs. 1-6) ao céu (vs. 7-12), e depois outra vez à terra (vs. 13-17). Esta pauta "A-B-A" de cenas consecutivas começa de maneira similar com a terra (20:1-3), depois muda ao céu (vs. 4-6), e finalmente volta para a terra (vs. 7-10). Este ponto de vista de um reino milenial celestial é uma opinião minoritária entre os intérpretes pré-milenistas e está incorporada nas crenças fundamentais dos adventistas do sétimo dia.30 Em uma visão anterior João viu deus no trono no céu, e "ao redor do trono havia vinte e quatro tronos; e vi sentados nos tronos a vinte e quatro anciões, vestidos de roupas brancas, com coroas de ouro em suas cabeças" (Apoc. 4:4). Esta visão intrigante de Apocalipse 4 parece sugerir que Deus como presidente do tribunal comissionou a 24 representantes dentre os santos da terra para reinar e julgar junto com ele agora (vejam-se os caps. XII e XIII desta obra). Mas em Apocalipse 20, João vê sentados sobre tronos celestiais os que sacrificaram suas vidas por causa de sua fidelidade ao "testemunho do Jesus" e a "a palavra de Deus" (V. 4), especialmente durante a prova final de fé com respeito à marca da besta (V. 4). Aqui há uma diferença fundamental entre as duas visões do trono de Apocalipse 4 e 20. Os tronos de juízo de Apocalipse 20 estão conectados de algum modo à vindicação dos mártires e seu direito a governar o planeta terra. Mounce relaciona a cena do trono em Apocalipse 20 ao trono celestial da visão de Daniel 7:13 e 14. Portanto, sugere que os tronos de Apocalipse 20 representam "um tribunal celestial".31 O elo que une Apocalipse 20 e Daniel 7 é o tema da vindicação divina dos santos do Altíssimo que foram oprimidos, e sua recompensa para governar ao mundo. A diferença fundamental entre as duas cenas de juízo é que na visão de Daniel, os santos perseguidos são julgados e vindicados pelo juiz divino: "Até que veio o Ancião de Dias e fez justiça aos santos do Altíssimo; e veio o tempo em que os santos possuíram o reino" (Dan. 7:22). Entretanto, em Apocalipse 20, estes santos estão sentados com Cristo sobre tronos celestiais e recebem autoridade para julgar: "E viveram e reinaram com Cristo mil anos" (Apoc. 20:4). Aqui há uma clara progressão na história, e indica que as sessões do tribunal celestial em Daniel 7 e Apocalipse 20 se sucedem uma à outra. Também é evidente o progresso no tempo ao comparar as "almas" dos que foram decapitados "por causa da palavra de Deus e o testemunho (do Jesus)" durante o quinto selo (6:9), e que clamavam pelo santo juízo e a vingança de Deus (v. 10), e as "almas" dos mesmos mártires que viveram e reinaram com Cristo mil anos em Apocalipse 20:4. Estes mártires participaram da primeira ressurreição! Não podemos imaginar uma vindicação maior. A honra que Deus dá de reinar com Cristo é para os vencedores. Cristo já tinha prometido que voltaria e levaria a seus discípulos à casa de seu Pai no céu (João 14:1-3). Também prometeu que todos os vencedores se sentariam com ele em seu trono no céu (ver Apoc. 3:21; 15:1-4). Estas promessas sugerem com força que durante o milênio os santos não estarão situados em um mundo desolado. Ao contrário, seu reino inclui a responsabilidade de ter uma parte no reino de Deus e em sua avaliação do pecado. Esta segurança renovada em Apocalipse 20:4-6 proporciona o consolo aos santos caluniados de que sua "derrota" e "vergonha" serão logo invertidas completamente em triunfo pelo tribunal de Deus. Em realidade, os santos executados ("decapitados") chegarão a ser os juizes de seus perseguidores. É significativo que o Apocalipse, com seu apaixonado desejo de justiça, assegura aos santos que Deus os ressuscitará à vida eterna e os exaltará durante o milênio como sacerdotes e reis para atuar como juízes e assessores junto com Cristo. Todo o consolo para os santos perseguidos se concentra na bem-aventurança mais significativa do Apocalipse: "Bem-aventurado e santo é aquele que tem parte na primeira ressurreição" (Apoc. 20:6). Não voltarão a morrer nunca mais: "A segunda morte não tem poder sobre estes" (V. 6). Deve Aplicar-se Isaías 65 e 66 a um Milênio Sobre a Terra?

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Chegou a ser uma tradição no dispensacionalismo designar Isaías 65 e 66 como o tempo das "bênçãos mileniais" durante as quais a maldição sobre a terra "suprime-se só parcialmente, como se indica pela continuidade da morte".32 Também afirmam que os que nasçam no milênio "não nascerão isentos de pecado, de maneira que a salvação será necessária",33 enquanto que os que tenham chegado a ser "abertamente rebeldes serão executados (Isa. 66:20, 24; Zac. 14:16-19)".34 A pressuposição de que Isaías 65 e 66 e promessas similares do reino de Deus devam aplicar-se ao milênio de Apocalipse 20 fica como uma inferência que não é indispensável e que não está garantida se se permite que o Novo Testamento defina as promessas do reino. Isaías deve entender-se à luz do evangelho de Cristo. O novo pacto tem feito que o antigo seja obsoleto e posto a um lado (ver Heb. 10:9; 8:13). Esta é uma verdade comprovada de fé cristã! Declarar que os santos no milênio já não celebrarão mais a ceia do Senhor mas sim voltarão a oferecer sacrifícios animais em "comemoração" da cruz de Cristo, não só é o "maior obstáculo",35 e sim um rechaço para aceitar o testemunho claro da Escritura em Hebreus 8 a 10 com o propósito de defender um dogma problemático.36 Vistos na perspectiva do Novo Testamento, os capítulos 65 e 66 de Isaías devem aceitar-se como a vislumbre antecipada do plano de Deus expressa no idioma e as limitações do antigo pacto – o culto de sacrifícios de sangue e oferendas de animais e as leis levíticas –, o que não é a última palavra de Deus na história da salvação, e que não se deve isolar do novo pacto de Cristo e da revelação progressiva da vontade de Deus. Apocalipse 21 e 22 ensinam como se cumprirá Isaías 65 e 66: seu cumprimento será maior que qualquer expectativa judaica do antigo pacto. Apocalipse 21 e 22 transformam as predições de Isaías, e as aplicam ao estado eterno na terra em uma forma melhor que o que se entendeu antes. Os profetas e o Apocalipse não representam duas perspectivas diferentes que devem ajustar-se lado a lado. São uma e a mesma. O Senhor ressuscitado adianta a velha perspectiva a uma promessa melhor e mais perfeita em que a morte e o pecado já não são uma parte do reino de Deus e Cristo sobre a terra feita nova. O cumprimento será maior que uma leitura literal das velhas promessas: "E do primeiro não haverá memória, nem mais virá ao pensamento" (Isa. 65:17; também 1 Cor. 2:9). Não existe requisito para forçar Isaías 65 e 66 em uma forma literalista no milênio de Apocalipse 20. Para uma exposição adicional do Isaías 65 e 66, ver o APÊNDICE B, primeira parte. O Juízo Pós-Milênio Antes que o diabo e suas hostes sejam aniquilados no "lago de fogo", Deus vindica seu nome caluniado em uma forma majestosa diante do universo: por meio das bocas dos ímpios. Chega a sessão final do tribunal para Satanás e seus seguidores, humanos e angélicos. Agora se declara a justiça em termos forenses, reconhecem-se o bem e o mal e se estabelecem para sempre a origem, a natureza e as conseqüências do pecado. "Vi um grande trono branco e aquele que nele se assenta, de cuja presença fugiram a terra e o céu, e não se achou lugar para eles. Vi também os mortos, os grandes e os pequenos, postos em pé diante do trono. Então, se abriram livros. Ainda outro livro, o Livro da Vida, foi aberto. E os mortos foram julgados, segundo as suas obras, conforme o que se achava escrito nos livros. Deu o mar os mortos que nele estavam. A morte e o além entregaram os mortos que neles havia. E foram julgados, um por um, segundo as suas obras. Então, a morte e o inferno foram lançados para dentro do lago de fogo. Esta é a segunda morte, o lago de fogo. E, se alguém não foi achado inscrito no Livro da Vida, esse foi lançado para dentro do lago de fogo" (Apoc. 20:11-15). Esta cena do tribunal em que o Criador é Juiz, vai além de todas as demais descrições do juízo final tanto no Antigo Testamento como no Novo Testamento. Os redimidos que ressuscitaram na primeira ressurreição no começo do milênio (Apoc. 20:6) ficam isentos deste juízo final do mundo. A passagem aplica em sua extensão total o que insígnia o Evangelho de João: "Quem nele crê não é julgado; o que não crê já está julgado, porquanto não crê no nome do unigênito Filho de Deus" (João 3:18). "Não vos maravilheis disto, porque vem a hora em que todos os que se acham nos túmulos ouvirão a sua voz e sairão: os que tiverem feito o bem, para a ressurreição da vida; e os que tiverem praticado o mal, para a ressurreição do juízo" (João 5:28, 29).

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O juízo pós-milênio trata exclusivamente com os que rechaçaram definitivamente a Jesus Cristo. Embora são chamados para dar conta de suas vidas "pelas coisas que estavam escritas nos livros" (Apoc. 20:12; cf. Isa. 65:6), João esclarece que o assunto decisivo é sua relação com Cristo. Diz João: "E o que não se achou inscrito no livro da vida foi arrojado ao lago de fogo" (Apoc. 20:15; ver também 13:8). João "indica que o único critério de salvação é o fato de que nosso nome esteja escrito no livro da vida. O critério decisivo no juízo universal é o de pertencer a Cristo... portanto, o juízo não pode ser a não ser a revelação universal das decisões que já foram feitas".37 Ellen White comentou o seguinte: "O mundo ímpio todo acha-se em julgamento perante o tribunal de Deus, acusado de alta traição contra o governo do Céu. Ninguém há para pleitear sua causa; estão sem desculpa; e a sentença de morte eterna é pronunciada contra eles".38 A sabedoria de Deus, sua justiça e bondade estão colocadas além de toda dúvida. O caráter de Deus fica vindicado diante do universo. Todas as criaturas no céu e na terra, justos ou ímpios, inclinam seus joelhos ante o nome do Jesus e "confessam que Jesus Cristo é o Senhor, para glória de Deus Pai" (Fil. 2:10, 11). Isto significa a coroação final do Filho de Deus, que o exalta "sobre todo nome" (v. 9). Todos os seres vivos no céu e na terra reiteram a doxologia: "O Cordeiro que foi imolado é digno de tomar o poder, as riquezas, a sabedoria, a fortaleza, a honra, a glória e o louvor" (Apoc. 5:12). Todos estão satisfeitos porque "seus juízos são verdadeiros e justos" (Apoc. 19:2). Na lei de Israel, uma testemunha maliciosa que acusava falsamente a um irmão de um delito era depois "indagado minuciosamente" (Deut. 19:18, BJ), e sentenciado a receber o castigo que tinha procurado para seu irmão (ver os vs. 19, 20). Uma "investigação completa" tomará lugar no juízo em que atuarão os santos durante o milênio (ver Apoc. 20:4; 1 Cor. 6:2, 3). Não mais somente pela fé, mas sim por convicções arraigadas, todos os homens se unirão ao coro dos anjos: "Certamente, Senhor Deus Todo-poderoso, teus juízos são verdadeiros e justos" (Apoc. 16:7; também 19:1, 2; 15:3, 4). Esta opinião "coloca a ênfase não sobre um reino terrestre de glória para os redimidos, e sim sobre a vindicação de Deus, a exoneração e a honra de seu nome em toda sua relação com o problema do pecado".39 O milênio de Apocalipse 20 oferece a última teodicéia do Criador. Por meio do dom de seu Filho e pelo sacrifício abnegado de Cristo, o amor e a justiça de Deus permanecem para sempre como uma união inexpugnável ante toda a criação. Todas as acusações de Satanás contra o caráter e o governo de Deus ficam enterradas para sempre. O reino de Cristo sobre os inimigos de Deus alcançará este ponto culminante na conclusão do milênio. Esmagará a cabeça da serpente sob seus pés (Gên. 3:15; Rom. 16:20). Como o arquimentiroso e arquiassassino (João 8:44), Satanás será "arrojado no lago de fogo e enxofre" (Apoc. 20:10). Cristo extirpará todo o mal do universo, de maneira que "não deixará nem raiz nem ramo" (Mau. 4.1). Todos os que se identificaram com o pecado encontrarão seu lugar no "fogo eterno preparado para o diabo e seus anjos" (Mat. 25:41). "E o que não se achou inscrito no livro da vida foi arrojado ao lago de fogo". Esta é a segunda morte" (Apoc. 20:15, 14). O assunto final da salvação ou condenação é se se está "inscrito no livro da vida do Cordeiro" (Apoc. 21:27). Os que nasceram de cima podem estar absolutamente seguros de ter este registro divino (ver Luc. 10:20; Filip. 4:2, 3; 3:20; Heb. 12:22, 24). A salvação é um dom de Deus que não está apoiada sobre obras santificadas a e sim somente sobre a obra de Cristo (ver João 3:16; 5:24). Nossas obras só nos servem como evidência de nossa união com o Cordeiro. "A fé sem obras é morta" (Tiago 2:26). Nesse tempo, depois do milênio, realizar-se-á plenamente a perspectiva apocalíptica do Paulo: "E, então, virá o fim, quando ele entregar o reino ao Deus e Pai, quando houver destruído todo principado, bem como toda potestade e poder. Porque convém que ele reine até que haja posto todos os inimigos debaixo dos pés. O último inimigo a ser destruído é a morte... Quando, porém, todas as coisas lhe estiverem sujeitas, então, o próprio Filho também se sujeitará àquele que todas as coisas lhe sujeitou, para que Deus seja tudo em todos" (1 Cor. 15:24-26, 28).

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Então pode começar a eternidade: "Novos céus e nova terra, nos quais habita a justiça" (2 Ped. 3:13; também Apoc. 21:1; Sal. 115:16). A salvação cristã inclui o paraíso restaurado sobre a terra como uma realidade universal, social e política. Referências 1 Jack S. Deere, "Premillennialism in Revelation 20:4-6" [Premilenialismo em Apocalipse 20:4-6], Bibliotheca Sacra (Biblioteca Sagrada] 135 (1978), p. 61. 2 Schnackenburg, Rudolf. Gottes Herrschaft und Reich [A Soberania e o Reino de Deus], p. 241. 3 Ladd, El Apocalipsis de Juan: Un comentario, p. 269. 4 Vogelgesang, The Interpretation of Ezekiel in the Book of Revelation, p. 65. 5 Ibid., p. 72. 6 Ibid., P. 69 (ver sua lista comparativa na p. 68). 7 Para uma análise detalhada, ver LaRondelle, Chariots of Salvation. The Biblical Drama of Armageddon, cap. 8. 8 Ver LaRondelle, "The Etymology of HAR-MAGEDON (Rev. 16:16)", AUSS 27 (1989), pp. 69-73. 9 Giblin, The Book of Revelation. The Open Book of Prophecy, p. 177. 10 Shea, Estudios selectos sobre interpretación profética, pp. 46, 47. 11 Badina, "The Millennium", Simpósio sobre o Apocalipse, t. 2, p. 236. 12 Ver Arndt e Gingrich, A Greek-English Lexicon of the New Testament and Other Early Christian Literature, p. 810. 13 Ladd, Una teología del Nuevo Testamento, p. 559; também a nota 37. 14 Ver Charlesworth, The Old Testament Pseudepigrapha, t. 1, p. 156. 15 Ver Aranda Pérez-García Martínez-Pérez Fernández, Literatura judía intertestamentaria, p. 330. 16 Strack-Billerbeck, Comentario del Nuevo Testamento con el Talmud y la Midrás, t. 3, pp. 823-827. Resumido em G. Beasley-Murray, Revelation, pp. 288 e 289, e no J. M. Ford, Revelation, pp. 352 e 353. 17 Strack-Billerbeck, Comentario del Nuevo Testamento con el Talmud y la Midrás, p. 3, P. 827. 18 Beasley-Murray, Revelation, p. 289. 19 Ibid. 20 Ladd, The Presence of the Future, p. 67. 21 Hoekema, The Meaning or the Millennium: Four Views, p. 164. 22 Berkouwer, The Return of Christ, p. 305. 23 Mounce, The Book of Revelation, p. 353. 24 Beasley-Murray, Revelation, p. 286. 25 G. Ernest Wright, Interpreter's Bible Commentary, t. I, p. 372. 26 Hoekema, The Meaning or the Millennium: Four Views, p. 172. 27 Morris, The Revelation of St. John, p. 236. 28 Hoekema, The Bible and the Future, p. 230. 29 Shea, "The Parallel Literary Structure of Revelation 12 and 20", AUSS 23 (1985), pp. 37-54. 30 Ver Creencias de los adventistas del séptimo día, t. 2, cap. 26. 31 Mounce, The Book of Revelation, p. 355. 32 Walvoord, The Millennial Kingdom, pp. 317, 318. 33 J. Dwight Pentecost, Eventos del porvenir (Maracaibo, Venezuela: Editorial Libertador, 1977; trad. de Luis G. Galdona), p. 371. 34 Walvoord, The Millennial Kingdom, p. 302. 35 Ibid., p. 311. 36 Para uma avaliação e critica extensa, ver LaRondelle, The Israel of God in Prophecy. Principles of Prophetic Interpretation. 37 Rissi, The Future of the World: An Exegetical Study of Revelation 19:11-22:15, pp. 36, 37. 38 Ellen White, GC 668. 39 Badina, em "The Millennium" Simpósio sobre o Apocalipse, t. 2, p. 242.

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Wikenhauser, A. "Die Herkunft der Idee des tausendjärigen Reiches in der Johanes Apocalypse" [A Origem da Idéia do Reinado Milenial no Apocalipse de João], Römisches Quartalschrift [Revista Trimestral Romana] 45 (1937), pp. 1-24.

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XXXIII - O SIGNIFICADO DA NOVA JERUSALÉM - Apocalip se 21 e 22 "Vi novo céu e nova terra, pois o primeiro céu e a primeira terra passaram, e o mar já não existe. Vi também a cidade santa, a nova Jerusalém, que descia do céu, da parte de Deus, ataviada como noiva adornada para o seu esposo. Então, ouvi grande voz vinda do trono, dizendo: Eis o tabernáculo de Deus com os homens. Deus habitará com eles. Eles serão povos de Deus, e Deus mesmo estará com eles. E lhes enxugará dos olhos toda lágrima, e a morte já não existirá, já não haverá luto, nem pranto, nem dor, porque as primeiras coisas passaram. E aquele que está assentado no trono disse: Eis que faço novas todas as coisas. E acrescentou: Escreve, porque estas palavras são fiéis e verdadeiras. Disse-me ainda: Tudo está feito. Eu sou o Alfa e o Ômega, o Princípio e o Fim. Eu, a quem tem sede, darei de graça da fonte da água da vida. O vencedor herdará estas coisas, e eu lhe serei Deus, e ele me será filho. Quanto, porém, aos covardes, aos incrédulos, aos abomináveis, aos assassinos, aos impuros, aos feiticeiros, aos idólatras e a todos os mentirosos, a parte que lhes cabe será no lago que arde com fogo e enxofre, a saber, a segunda morte" (Apoc. 21:1-8). Esta visão de João continua a série de visões ("Vi") que começaram com a do segundo advento em Apocalipse 19:11. Alguns inclusive consideram Apocalipse 21:1-8 como "a parte mais importante de seu livro".1 Apocalipse 20 e 21 estão unidos por muitos elos. Ambos falam de "céu e terra" (20:11; 21:1), do "mar" (20:13; 21:1), do "livro da vida" (20:12; 21:17), do "trono" de Deus (20:11; 21:3), da "segunda morte" (20:14; 21:8) e do "lago de fogo" (20:15; 21:8). Estas conexões confirmam que a visão da Nova Jerusalém é a culminação da longa cadeia de visões que aparecem em Apocalipse 19:11 a 21:8. Em outras palavras, a visão de "um novo céu e uma terra nova" (21:1) segue à segunda vinda de Cristo (19:11-16) e ao milênio. A descida da presença constante de Deus sobre a terra renovada é o propósito do plano de Deus e de seus juízos sobre a humanidade pecadora. Por conseguinte, a visão de Deus morando com os homens em Apocalipse 21:1-8 forma o ponto culminante de todas as visões anteriores de João, e a consumação da esperança dos mártires. Roy Naden diz bem. "Sob a inspiração do Espírito Santo, os dois últimos capítulos de seu livro [o de João] formam o cântico mais sublime".2 Agora João recebe visões repetidas da Nova Jerusalém (Apoc. 21:1-8, 10-27; 22:1-6), que revelam progressivamente o esplendor da cidade de Deus. O fato de que João volta a ouvir a voz de Deus desde seu trono ordenando que escrevesse palavras que são "fiéis e verdadeiras" (21:5) é significativo. Desta maneira Deus autentica a veracidade do que João viu. As palavras de Deus estão formuladas nas promessas do Antigo Testamento que eram familiares ao povo de Israel. João usa estas alusões para enfatizar a continuidade do pacto de Deus. Destaca seu cumprimento repetindo sete vezes que Deus e o Cordeiro estão unidos inseparavelmente com a Nova Jerusalém (21:9, 14, 22, 23, 27; 22:1, 3). Dessa maneira João informa à igreja que suas visões da Nova Jerusalém são em essência diferentes das esperanças nacionais judaicas de seu tempo. Sua esperança futura se centraliza em Cristo Jesus e em seu povo universal. Ao adotar a linguagem gráfica de Isaías e Ezequiel, João descreve "a realidade indescritível do céu... o quadro mais detalhado que alguma vez se deu na Escritura da realidade incomparável que Deus preparou para seus filhos".3 O Significado Religioso de Jerusalém no Antigo Test amento Os nomes de Jerusalém e o monte Sião são usados em forma sinônima no Antigo Testamento (ver Miq. 3:12; 4:8; Isa. 10:12). Jerusalém devia sua santidade ao traslado que fez Davi da arca de Jeová, o símbolo do trono de Deus ao monte Sião (2 Sam. 6; Sal. 132:13-16). Sião funcionou como o centro da inspiração, salvação e adoração divinas (vejam-se os salmos 46, 48, 76). O Salmo 46 não glorifica a Jerusalém em si, exceto como o lugar onde Deus mora: "Deus é o nosso refúgio e fortaleza, socorro bem presente nas tribulações... Há um rio, cujas correntes alegram a cidade de Deus, o santuário das moradas do Altíssimo. Deus está no meio dela; jamais será abalada; Deus a ajudará desde antemanhã" (Sal. 46:1, 4, 5).

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O Salmo 46 termina com uma perspectiva escatológica da majestade de Deus: "Aquietai-vos e sabei que eu sou Deus; sou exaltado entre as nações, sou exaltado na terra" (Sal. 46:10). Espraiando-se sobre esta esperança paradisíaca, o salmista descreve a Jerusalém em termos ideais: "Há um rio, cujas correntes alegram a cidade de Deus, o santuário das moradas do Altíssimo" (Sal. 46:4). Como pôde o salmista dizer que Jerusalém tinha um "rio" quando não possui nenhum arroio, exceto um pequeno manancial perto de Giom? (ver 1 Reis 1:33, 38). Sua visão percebeu o tempo de salvação messiânico. Vários profetas também descreveram a Jerusalém escatológica como possuindo uma correnteza no marco do paraíso restaurado (ver Isa. 33:21; 35:6, 7; Joel 3:18; Ezeq. 47:1-12; Zac. 14:8). Dessa maneira, a cidade histórica de Davi chegou a ser na "teologia de Sião" de Jerusalém um símbolo da esperança escatológica, um tipo profético do reino messiânico. Dois profetas fizeram de Jerusalém a parte central de seu panorama futuro e portanto merecem nossa atenção. Ezequiel mostrou que Deus não estava atado incondicionalmente a Jerusalém, mas sim a julgaria por sua apostasia religiosa, moral e social (Ezeq. 8-11). Deus abandonaria o templo e voltaria só para um Israel renovado moralmente (36:24-28; 37:26, 27), promessa que se amplia na descrição do novo templo em Ezequiel 40 a 48. Esse templo da visão de Ezequiel é de origem divina. É "uma realidade celestial criada pelo próprio Jeová e transplantada para permanecer na terra".4 Virá à terra só quando o Israel de Deus seja purificado e quando o Messias tenha vindo a Israel (37:24, 25). A característica do novo templo será um rio doador de vida fluindo debaixo do templo (47:1-12). Este característico forma um elo com o jardim do Éden (ver Gên. 2:8-14). Isaías viu, em sua perspectiva profética, como os gentios irão à Nova Jerusalém com a confissão religiosa: "Só contigo está Deus, e não há outro que seja Deus" (Isa. 45:14; cf. 1 Cor. 14:25). Tudo estará unido por sua fé messiânica antes que por laços étnicos ou políticos. Isaías emprega os símbolos das pedras preciosas e jóias resplandecentes para descrever a beleza de seus muros e portas (Isa. 54:12), desenho que evoca a volta da opulência paradisíaca (ver Ezeq. 28:11-15; Isa. 51:3). Embora isto assinala a uma qualidade transcendente da Nova Jerusalém, não há indicação em Isaías de que esta cidade tem uma origem extraterrestre. Sua glória sobrenatural emana da presença de Deus. A essência de seu atrativo único não é tanto sua beleza externa como a promessa de que Jeová voltará e de novo estará unido com seu povo (Isa. 60:1, 2, 19; 62:11 ). Portanto, a cidade recebe um nome novo (Isa. 62:2). Já não necessitará mais a luz do sol ou a da lua, porque "o Senhor será a tua luz perpétua, e o teu Deus, a tua glória" (60:19; cf. Apoc. 21:23; 22:5). Isaías mescla seu conceito da Sião do tempo do fim com seu motivo de uma nova criação usando as cores realistas de um paraíso terrestre (Isa. 65:17-25). Embora tenha anunciado mais explicitamente que nenhum outro profeta a criação de "novos céus e terra nova" (v. 17), esta descrição poética da Jerusalém renovada permanece em continuidade com o contexto histórico (v. 20). Permanece como uma realidade terrestre embora transformada. Sua bênção mais rica não será a longevidade ou a prosperidade, a não ser a presença de Jeová para responder suas orações (v. 24). Mas também estará presente o Messias, porque terá chegado o jubileu messiânico (61:1-3, 10; cf. Luc. 4:17-21). Por esta análise breve do panorama profético de Jerusalém que temos nos salmos, no Isaías e no Ezequiel, sabemos que a cidade de Jerusalém desempenha o papel de tipo de uma Jerusalém futura e mais gloriosa. No Apocalipse de João vemos como se cumprirá esta promessa, muito além das expectativas dos profetas hebreus, na Nova Jerusalém de Apocalipse 21 e 22. Roberto Badenas o resumiu bem nestas palavras: "Como uma recapitulação mestra da história humana e da história da salvação, a Nova Jerusalém chega a ser a realização da teocracia ideal de Deus, o símbolo perfeito da reunião do povo de Deus, o lugar da comunicação perfeita entre o Criador/Redentor e suas criaturas redimidas. A Nova Jerusalém será para os novos céus e nova terra o que a antiga Jerusalém nunca conseguiu ser para o Israel e o mundo".5

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Depois de tudo, a Nova Jerusalém desce de cima, como uma criação nova de Deus, e por conseguinte será completamente diferente da velha Jerusalém. Esperanças Judaicas Durante o Período Intertestamen tário Muito pouco tempo depois da revolta macabéia (168-164 a.C.), os "sonhos-visão" do Apocalipse Etiópico de Enoc, escrito por volta dos anos 165-161 a.C., predisseram que com a aparição do Messias e a ressurreição dos justos mortos se construiria uma Nova Jerusalém, "uma casa nova, maior e mais alta que a primeira, e a pôs no lugar da que tinha sido recolhida" (1 Enoc 90:29).6 Alguns escritos apocalípticos judeus depois de 70 d.C. expressaram a esperança de uma Nova Jerusalém "preparada antes", quando Deus decidiu criar o paraíso (2 Baruc 4:3).7 "Aparecerá a esposa como uma cidade e se verá a terra que está atualmente oculta... Com efeito, se manifestará meu Filho o Messias com os que estão com ele, e encherá de gozo os (justos) que sobrevivam durante quatrocentos anos" (4 Esdras 7:26-28).8 Aparentemente, alguns conciliábulos de judeus piedosos contavam com que Deus havia "preparado e edificado" (4 Esdras 13:36) uma Sião ou Nova Jerusalém no céu que desceria à terra com o amanhecer do novo mundo. O autor do livro Apocalipse Eslavônico de Enoc (2 Enoc 55:2), também afirmou que a Nova Jerusalém estava situada no céu. A literatura rabínica não continuou com estas expectativas judaicas, exceto na época posterior dos Midrash.9 Os rabinos em general acreditavam que imediatamente depois do juízo dos ímpios, Deus ou o Messias edificariam uma Nova Jerusalém sobre a terra.10 Eduard Lohse declara que "nenhum rabino diz que a Jerusalém celestial descerá à terra".11 As portas e as muralhas da Nova Jerusalém seriam construídas com safiras e com pedras preciosas e suas ruas com puro mármore branco (Tobias 13:16, 17). A cidade seria tão grande, que sua grande muralha se estenderia tão longe como Jope ou Damasco para albergar a "a raça celestial dos judeus bem-aventurados" no futuro (Oráculos sibilinos 5:250-252).12 Deus viveria na cidade que levaria o nome de Deus.13 A característica central desta Jerusalém reconstruída seria o novo templo.14 Comentam Strack-Billerbeck: "Para o pensamento judeu, era completamente patente que a Nova Jerusalém não careceria de templo. A declaração do vidente cristão, 'e não vi nela templo' (Apoc. 21:22) teria sido inconcebível na velha sinagoga".15 Esta recapitulação das diversas esperanças no judaísmo tardio indica que a esperança apocalíptica de João em uma Nova Jerusalém sem um templo é uma esperança distintivamente cristã, que se centraliza na presença de Cristo. A Teologia de Paulo de uma Jerusalém Celestial Paulo continuou o ensino de Cristo, de que Jerusalém e seu templo já não eram o lugar onde Deus habitava (ver Mat. 23:38; Gál. 4:25; também Heb. 12:22). Paulo escreveu que a igreja apostólica tinha chegado a ser o templo terrestre onde Deus estava presente: "Porque nós somos santuário do Deus vivente, como ele próprio disse: Habitarei e andarei entre eles; serei o seu Deus, e eles serão o meu povo" (2 Cor. 6:16; cf. Lev. 26:12; Jer. 32:38; Ezeq. 37:27; também Ef. 2:19-21). Esta verdade do evangelho não compete com a eficácia do templo do novo pacto no céu, onde Cristo ministra como nosso Sumo Sacerdote e intercessor e de onde envia seu Espírito vivificante (Heb. 7:25; 8:1, 2; 10:19; Rom. 8:34; 1 João 2:1). Paulo cria que a Jerusalém "de cima" é a "mãe" de todos os crentes cristãos, porque todos são renascidos por seu Espírito (Gál. 4:26, 29). Enquanto que no judaísmo rabínico a idéia de uma Jerusalém celestial se concebia em termos de um equivalente da Jerusalém terrestre em topografia e mobiliário, Paulo contempla a Jerusalém celestial como isenta de todas as noções geográficas, étnicas e nacionais. A Jerusalém celestial é a pátria dos cristãos, onde Cristo está e em que todos os cristãos têm sua cidadania (políteuma) registrada no livro da vida do Cordeiro (Filip. 3:20; 4:3; também Heb. 12:22, 23; Apoc. 21:27). Por Apocalipse 21:27 chega a ser evidente que o livro da vida do

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Cordeiro é a lista dos que estão inscritos como cidadãos da Jerusalém celestial. A cidade celestial não é uma estrutura vazia; é a comunidade adoradora da igreja na terra com os anjos e os redimidos no céu (Heb. 12:22). Alguns identificaram a Nova Jerusalém com a igreja. Entretanto, deve conservar-se a distinção entre a cidade celestial e a igreja na terra, da mesma maneira que Hebreus 12 declara que a igreja se aproximou hoje a Cristo e à Jerusalém celestial (vs. 22-24). Como Cristo está ao mesmo tempo no céu e (por meio de seu Espírito) na terra, assim também existe uma relação espiritual íntima entre a Jerusalém celestial e a igreja sobre a terra. Assim como Cristo, que descerá fisicamente do céu à terra (Filip. 3:20), assim também a Jerusalém celestial descerá do céu à terra (Apoc. 21:2)! O objeto da esperança cristã não é meramente o "céu" e sim a cidade celestial: a Nova Jerusalém. Nossa cidadania atual nesta santa cidade representa mais que a segurança da salvação presente. Também nos dá a certeza de nossa entrada na cidade de descanso e gozo eternos (ver Heb. 4:9; 11:13-16). Assim como Abraão, os cristãos têm confiança absoluta procurando a "cidade... por vir" (Heb. 13:14). Virá depois do juízo final. É chamativo que a esperança de uma Jerusalém celestial se descreva no contexto de uma polêmica antijudaica, não só no Gálatas 4:26 e 27 e em Hebreus 12:18-24, mas também em Apocalipse 3:9 e 12. João destaca a verdade evangélica de que só o Cristo ressuscitado "tem a chave de Davi, que abre e ninguém fecha, e fecha e ninguém abre" (Apoc. 3:7). À luz de seu significado original em Isaías 22:22, esta declaração ensina "que a Cristo pertence toda a autoridade com respeito à admissão ou exclusão da cidade de Davi, a Nova Jerusalém".17 Cristo é a fonte de segurança para os crentes fiéis de que herdarão a cidade celestial. Diz Jesus: "Ao vencedor, fá-lo-ei coluna no santuário do meu Deus, e daí jamais sairá; gravarei também sobre ele o nome do meu Deus, o nome da cidade do meu Deus, a nova Jerusalém que desce do céu, vinda da parte do meu Deus, e o meu novo nome" (Apoc. 3:12). A Nova Jerusalém em Contraste com Babilônia A Nova Jerusalém de Apocalipse 21 e 22 se descreve com a mesma imagem simbólica de uma "mulher" ou "esposa" como se tem descrito a igreja no Novo Testamento (ver 2 Cor. 11:2; Ef. 5:25-27). A visão que teve João da Jerusalém celestial como a "a noiva, a esposa do Cordeiro" (Apoc. 21:9), conecta a Jerusalém vindoura com a formosa "mulher" que aparece em Apocalipse 12:1 e 2. Na Nova Jerusalém a igreja já não sofrerá por causa da perseguição ou da adoração apóstata. Por isso Apocalipse 12 e 21 representam duas eras consecutivas: a era atual da igreja e a era por vir. A Nova Jerusalém está colocada em contraste com Babilônia, a cidade prostituta. A prostituta tem gravado sobre sua fronte as palavras "mistério: Babilônia, a grande" (Apoc. 17:5), e está representada em Apocalipse 18 como a cidade condenada. "A mulher que viste é a grande cidade que domina sobre os reis da terra" (v. 18). Este simbolismo duplo de Babilônia (Apoc. 17, 18) contrapõe-se com o da Nova Jerusalém em Apocalipse 21 e 22 por meio de uma antítese perfeita. Todos os habitantes da terra que não procurem refúgio no monte Sião (Apoc. 14:1), pertencem a Babilônia; seus nomes não estão escritos no livro da vida do Cordeiro (13:8). Estão obrigados a beber não só do cálice do vinho de Babilônia mas também do cálice do vinho da ira de Deus sem mescla de misericórdia (14:10). Esta ira divina a descreve simbolicamente com a imagem da condenação de Sodoma e Gomorra ("com fogo e enxofre") (14:1; cf. Gên. 19:24), e a de Edom ("a fumaça de sua tortura sobe pelos séculos dos séculos", Apoc. 14:11; cf. Isa. 34:9, 10). Esta linguagem figurada expressa a finalidade do juízo de Deus. Os impenitentes nunca entrarão no descanso de Deus (Apoc. 14:11 ; cf. Sal. 95:11 ). O Apocalipse de João põe em contraste a Jerusalém como a cidade do Cordeiro (Apoc. 21:2, 9) com Babilônia como a cidade da besta (caps. 17 e 18). É significativa a forma idêntica como as introduz o anjo do juízo:

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APOCALIPSE 17:1 "Veio um dos sete anjos que têm as sete taças e falou comigo, dizendo: Vem, mostrar-te-ei o julgamento da grande meretriz que se acha sentada sobre muitas águas". APOCALIPSE 21:9 "Então, veio um dos sete anjos que têm as sete taças cheias dos últimos sete flagelos e falou comigo, dizendo: Vem, mostrar-te-ei a noiva, a esposa do Cordeiro". Este arranjo literário ensina que a Nova Jerusalém é a única alternativa para Babilônia. Ambas as visões desenvolvem mais correspondências opostas (ver Apoc. 17:3-5 e 21:10-14). Ambas as seções literárias sobre Babilônia (17:1-19:10) e a Nova Jerusalém (21:9-22:6) concluem com a mesma segurança de que estas revelações descansam não meramente sobre a autoridade de um anjo e sim sobre Deus mesmo e, portanto, são "fiéis e verdadeiras": APOCALIPSE 19:9 "Então, me falou o anjo: Escreve: ...São estas as verdadeiras palavras de Deus". APOCALIPSE 22:6 "Disse-me [o anjo] ainda: Estas palavras são fiéis e verdadeiras". A reação de João de adorar ao anjo depois de cada visão recebe a mesma exortação: "Adora a Deus!" (Apoc. 19:10; 22:8, 9). Enquanto que tanto as seções sobre Babilônia e sobre Jerusalém começam e terminam da mesma forma, seus contextos ampliam os contrastes entre a cidade prostituta e a cidade santa. A Segurança e Consolo Final do Apocalipse Em Apocalipse 21 e 22 João revela "o último das últimas coisas", o ponto culminante de todas suas visões e de toda a Bíblia. A revelação principal é a aparição de uma nova criação e o descida da Nova Jerusalém (21:1, 2), que será a consumação do propósito eterno de Deus para o planeta terra. Deus garante de uma maneira explícita a confiabilidade de suas promessas (v. 5). Uma voz que sai do trono de Deus explica seu significado para a humanidade: "Então, ouvi grande voz vinda do trono, dizendo: Eis o tabernáculo de Deus com os homens. Deus habitará com eles. Eles serão povos de Deus, e Deus mesmo estará com eles. E lhes enxugará dos olhos toda lágrima, e a morte já não existirá, já não haverá luto, nem pranto, nem dor, porque as primeiras coisas passaram" (vs. 3, 4). Estas palavras resumem a essência da esperança de todos os profetas e santos. Disse um comentador a respeito desta passagem: "Na verdade, é gozo inefável, porque aqui se descreve o propósito final da igreja sofredora e a única recompensa que desejam realmente os mártires de Cristo, quer dizer, o próprio Deus na companhia de todos os que o amam".18 As palavras de João, "Vi novo céu e nova terra; porque o primeiro céu e a primeira terra passaram, e o mar já não existe" (Apoc. 21:1), apontam ao novo ato criador de Deus que está confirmado por sua declaração: "Eis que faço novas [kainá] todas as coisas!" (v. 5). O termo grego kainós ("novo"), que se emprega 4 vezes nos versículos 1-5, significa algo fundamentalmente novo, e enfatiza com mais vigor que o termo néos o caráter de cumprimento escatológico. Em sua visão anterior do grande trono branco, João declarou: "Vi um grande trono branco e aquele que nele se assenta, de cuja presença fugiram a terra e o céu, e não se achou lugar para eles" (Apoc. 20:11). João já declara que a velha terra e seus céus atmosféricos serão substituídos por uma nova criação. A nova característica dominante será a cidade santa, a Nova Jerusalém. Sua perspectiva está afiançada sobre este centro de existência para os redimidos. Vê a cidade Nova Jerusalém "que descia do céu, da parte de Deus" (21:2). Portanto, não é uma velha Jerusalém reconstruída na Palestina, e sim uma nova criação. Cumprirá a esperança de Abraão, "que esperava a cidade que tem fundamentos, cujo arquiteto e construtor é Deus" (Heb. 11:10). Pedro acrescenta a esperança de uma sociedade transformada: "Atendo-nos a sua promessa, aguardamos um céu novo e uma terra nova nos

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que habite a justiça" (2 Ped. 3:13, NBE). Tanto Pedro como João fundamentam suas expectativas nas predições de Isaías (ver Isa. 65:17-19; 66:22, 23). A promessa do pacto de Deus será levada a cabo na Nova Jerusalém sobre a terra feita nova: "Eis o tabernáculo [skené] de Deus com os homens [anthrópon]. Deus habitará [literalmente, 'tabernaculará'] com eles. Eles serão povos de Deus [literalmente 'povos'], e Deus mesmo estará com eles" (Apoc. 21:3). A expressão que diz que Deus "habitará" com os "homens" é profunda, porque recorda a presença redentora de Deus no antigo tabernáculo [skené] de Israel: "E me farão um santuário, e habitarei no meio deles" (Êxo. 25:8). Em segundo lugar, o verbo "habitar, fazer morada" recorda João 1:14, onde se expressa a encarnação do Verbo de Deus com as palavras: "Habitou [literalmente, 'acampou', 'pôs seu tabernáculo'] entre nós". Dessa maneira a promessa da Nova Jerusalém conecta a glória de Deus com a glória de Cristo e assegura à igreja que Deus deverá habitar entre os "homens" em cumprimento de sua promessa do pacto, o que significa que o primeiro advento de Cristo é a garantia da futura vinda de Deus com os seres humanos. As expressões "homens" e "seus povos" (em plural no texto original) indicam a inclusão de todos os crentes em Cristo na sociedade do futuro. Inclusive serão abolidos os limites da igreja e de todas as denominações religiosas. A raça humana sobre a terra nova será o povo de Deus porque todos são "seus povos" (Apoc. 21:3). E ele estará "com eles" sempre como o "Deus-com-eles" (v. 3, BJ). O resultado desta comunhão com Deus é: "E lhes enxugará dos olhos toda lágrima" (Apoc. 21:4). Aqui se repetem as promessas divinas de Isaías 25:8, 35:10 e 65:19 para indicar seu cumprimento dramático na Nova Jerusalém. Então se cumprirá a esperança mais elevada de todos os santos: "Verão seu rosto..." (Apoc. 22:4). Este ver a Deus dos seres humanos foi a esperança dos crentes hebreus: "Quanto a mim, contemplarei a tua face na justiça; eu me satisfarei da tua semelhança quando acordar" (Sal. 17:15). "Depois que me arranquem a pele, já sem carne, verei deus; eu mesmo o verei, e não outro, meus próprios olhos o verão. O coração me desfaz no peito!" (Jó. 19:26, 27, NBE). Esta foi a promessa explícita de Cristo: "Bem-aventurados os limpos de coração, porque eles verão a Deus" (Mat. 5:8). Esta foi a segurança do Paulo: "Então veremos face a face" (1 Cor. 13:12). E a de João: "Haveremos de vê-lo como ele é" (1 João 3:2). A confiabilidade desta promessa está recalcada por Deus: "Tudo está feito. Eu sou o Alfa e o Ômega, o Princípio e o Fim... " (Apoc. 21:6). Só o Criador pode pronunciar palavras que criarão uma realidade nova (ver Gên. 1). Disse Cristo na cruz: "Está consumado!" (João 19:30), e sua missão de oferecer sua vida em expiação pela raça humana ficou consumada. No fim das 7 últimas pragas a voz de Deus voltará a dizer: "Feito está!" (Apoc. 16:17), e então se consumará o juízo de Babilônia. Quando a Nova Jerusalém descenda sobre a terra e Deus morre com os redimidos, voltará a dizer: "Feito está!" (21:6). Então se cumprirá a oração do Pai nosso: "Venha o teu reino; faça-se a tua vontade, assim na terra como no céu" (Mat. 6:10). Como "o Alfa e o Ômega", Deus é o iniciador e aperfeiçoador da criação. Apenas Ele dá à história humana seu começo e seu objetivo. O objetivo se realizará tão certamente como seu começo. Outras duas promessas de Deus também nos afetam hoje em dia: "Ao que tiver sede, eu lhe darei gratuitamente [doreán] da fonte da água da vida. Quem vencer herdará todas as coisas, e eu serei seu Deus, e ele será meu filho" (Apoc. 21:6, 7). A linguagem figurada de "estar sedento" era familiar para os santos hebreus (ver Isa. 55:1). Para eles significava gozar de comunhão com Deus. Colocaram um valor mais elevado neste companheirismo com Deus que no da própria vida física. Davi descarregou seu coração neste

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cântico poético: "Ó Deus, tu és meu Deus, eu te procuro. Minha alma tem sede de ti, minha carne te deseja com ardor, como terra seca, esgotada, sem água... Valendo teu amor mais que a vida, meus lábios te glorificarão" (Sal. 63:1, 3, BJ). "Como suspira a corça pelas correntes das águas, assim, por ti, ó Deus, suspira a minha alma. A minha alma tem sede de Deus, do Deus vivo; quando irei e me verei perante a face de Deus?" (Sal. 42:1, 2). Esta experiência da alma foi realizada só de maneira intermitente e parcial. Pela fé em Cristo está à nossa disposição uma nova comunhão com Deus para todos os que a busquem: "Se alguém tem sede, venha a mim e beba. Quem crer em mim, como diz a Escritura, do seu interior fluirão rios de água viva. Isto ele disse com respeito ao Espírito que haviam de receber os que nele cressem" (João 7:37-39). Quando Deus promete no Apocalipse de João que nos dará "gratuitamente da fonte da água" (Apoc. 21:6), oferece-nos o Espírito de Cristo, quem pagou o preço definitivo por nós. Esta comunhão também oferece aos vencedores "gratuitamente" [doreán: "livremente" ], um termo muito importante em Paulo (ver Rom. 3:24). O paraíso, como a presença de Deus, é oferecido a todos os vencedores pela graça de Deus. Este caráter-de-graça volta-se a recalcar na segurança de que o vencedor "herdará todas as coisas" (Apoc. 21:7). Uma herança nunca se pode ganhar, só pode receber-se pela vontade do testador. Paulo explicou esta condição de herdeiro ao conectar a herança futura de uma forma indissolúvel com Cristo como o dom maior de Deus. "Ora, se somos filhos, somos também herdeiros, herdeiros de Deus e co-herdeiros com Cristo... Aquele que não poupou o seu próprio Filho, antes, por todos nós o entregou, porventura, não nos dará graciosamente com ele todas as coisas?" (Rom. 8:17, 32). A. Pohl observou o seguinte: "O Apocalipse não é menos cristocêntrico que Paulo".19 Isto é evidente pelas sete vezes que o Cordeiro é mencionado em Apocalipse 21 e 22. A entrada na Nova Jerusalém é dada só a "os que estão inscritos no livro da vida do Cordeiro" (21:27). Este é o propósito pastoral que João também indicou em seu contraste entre as duas mulheres simbólicas: a meretriz (Apoc. 17:1-19:5) e a esposa de Cristo (19:6-10; 21:1-22:17). O interesse pastoral de João para a era atual é alertar a cada crente a permanecer fiel no Senhor. Elmer M. Rusten o explica assim: . "A razão pela qual dedica tanta ênfase à meretriz e à noiva é que nas sete cartas escritas às sete igrejas (Apoc. 1:4, 11) a alternativa básica a que tinham que fazer frente [os membros] era se iriam formar parte da verdadeira igreja, a noiva, ou da falsa igreja, a meretriz ".20 É nosso privilégio escutar o testemunho final de Cristo às igrejas: "Eis que venho sem demora. Bem-aventurado aquele que guarda as palavras da profecia deste livro" (Apoc. 22:7). "Bem-aventurados aqueles que lavam as suas vestiduras no sangue do Cordeiro, para que lhes assista o direito à árvore da vida, e entrem na cidade pelas portas" (Apoc. 22:14). O Interesse Pastoral de João para com a Igreja da A tualidade João usa um estilo interessante para descrever a novidade da era futura. Define a nova criação em termos negativos. Badenas nota-o como 7 vezes: (1) não haverá mais mar (21:1); (2) não haverá mais morte, lágrimas, pranto, clamor ou dor (v. 4); (3) não haverá mais templo (v. 22); (4) não haverá mais necessidade do Sol ou da Lua (21:23; 22:5); (5) não haverá noite, nem as portas nunca serão fechadas (21:25; 22:5); (6) não haverá mais pecado (21:27); e (7) não haverá mais maldição (22:3).21 Este estribilho de coisas que na última visão de João "não serão mais", indica quanto relaciona suas visões às necessidades presentes de seus membros de igreja. Escreve com um profundo interesse pastoral para seus leitores que estavam sofrendo perseguição e estavam ameaçados pelos poderes anticristãos do mar, João não escreve simplesmente para nos informar a respeito dos acontecimento futuros ou

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para satisfazer nossa curiosidade a respeito de realidades futuras. Seu propósito prático é respirar os crentes que deviam passar por provas a perseverar na Palavra de Deus e no testemunho de Jesus apesar da cruel oposição. Insiste com cada crente para que faça sua decisão final entre a fidelidade ou a deslealdade a Cristo Jesus. Este requerimento se apresentou primeiro nas sete cartas de Cristo às igrejas (Apoc. 2, 3). A promessa da recompensa descreveu-a na visão dos selos (6:9-11; 7) e na das trombetas (cap. 11). João assume constantemente que a causa de Cristo triunfará porque o Cordeiro de Deus é "o Rei dos reis e Senhor dos senhores" (17:14; 19:16). A hora da restauração do reino de Deus virá no próprio tempo de Deus durante a última trombeta: "E o sétimo anjo tocou a trombeta, e houve grandes vozes no céu, que diziam: Os reino do mundo veio a ser de nosso Senhor e de seu Cristo; e ele reinará pelos séculos dos séculos" (Apoc. 11:15). O propósito de João é animar a cada cristão a fazer um compromisso total com Cristo. João trata de obter este objetivo colocando em contraste o Cordeiro e a besta, a esposa e a prostituta, e a Nova Jerusalém e Babilônia. Este dilema de pertencer a uma comunidade ou à outra, insiste conosco a fazer agora uma eleição existencial porque nela estão envoltos destinos eternos. Badenas fez uma lista dos surpreendentes contrastes entre Babilônia e a Nova Jerusalém no marco das visões onde aparecem, sua descrição e seu destino.22 Conclui dizendo: "Estes paralelos mostram que a relação humana para com Deus e o Cordeiro pode ser só de fidelidade (a noiva) ou de infidelidade (a meretriz). Como Deus é ao mesmo tempo justo e misericordioso, a salvação ou a condenação são os dois resultados possíveis da decisão humana, ou a cidade celestial ou a cidade terrestre, a Nova Jerusalém ou Babilônia".23 João não proporciona informação abstrata para as predições especulativas. Apresenta claramente sua preocupação pastoral quando destaca que há só duas classes de pessoas: os salvos ou os perdidos, os vencedores e os perdedores (ver Apoc. 21:7, 8; 22:11, 14, 15), os que "têm sede" da água de vida e os que não a têm (21:6; 22:17). Esta última distinção aponta à necessidade espiritual das pessoas antes que à sua conduta moral. Os que procuram a Deus em primeiro lugar para satisfazer sua sede espiritual comparam-se com os vencedores: "Ao que tiver sede, eu lhe darei gratuitamente da fonte da água da vida. Quem vencer herdará todas as coisas, e eu serei seu Deus, e ele será meu filho" (Apoc. 21:6, 7). É iluminador descobrir que as características dos que são excluídos da Nova Jerusalém são as mesmas com as que se define a Babilônia e a seus habitantes: imundos (Apoc. 21:27; 18:2); abomináveis, que faz abominação, abominações (21:8, 27; 17:4, 5); homicidas (17:6; 18:24; 21:8); fornicários (17:1, 2, 5, 15, 16; 18:3, 9; 21:8); feiticeiros, feitiçarias (18:23; 21:8); idólatras (19:20; 21:8); e mentirosos (19:20; 21:8). Badenas vê estas listas de vícios (Apoc. 21:8 e 22:15) como uma admoestação pastoral "contra os que preferem outras relações à relação com Deus. Isto é o que os exclui da santa cidade (cf. 21:27)".24 Em outras palavras, João não se está referindo a feitos isolados de pecado a não ser à atitude de maldade e idolatria que separa o pecador de Deus. Não deveria escapar à nossa atenção o fato de que João começa a lista com "os covardes" (Apoc. 21:8). Os "covardes" são os que fogem de confessar a Cristo na hora de prova e por isso falham em perseverar na fé (ver Heb. 10:36-39). Quando Paulo se referiu à ameaça de "covardia" [deilías], admoestou imediatamente a Timóteo dizendo: "Não te envergonhes, portanto, do testemunho de nosso Senhor..." (2 Tim. 1:7, 8), e lhe assinalou o dom do "espírito... de poder". Em Apocalipse 21:8, João menciona pelo menos sete classes de pessoas que serão excluídas da santa cidade. Como uma oitava classe menciona a "todos os mentirosos", Pohl considera que se refere a uma recapitulação das sete anteriores. A lista dos perdedores que João menciona, cumpre a função da contraparte dramática das sete classes de vencedores mencionados nas cartas às igrejas nos capítulos 2 e 3. A designação dos "mentirosos" é significativa, porque assinala a mentira religiosa que perverte a verdade a respeito de Deus e

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do Cordeiro. Giblin denomina a esta mentira "a mentira definitiva", porque "a mentira é a negação da verdade, preeminentemente como a falsificação de Deus e do que deve a ele".25 Os mentirosos estão em notório contraste com os 144.000 israelitas que seguem ao Cordeiro, de tal maneira que "em suas bocas não foi achada mentira" (Apoc. 14:5). Desde a primeira característica (a covardia) até a última (a mentira), o interesse de João aponta à elevada vocação do crente de atestar de Cristo, de seguir ao Cordeiro e de confessar seu senhorio. A lista mais pequena dos vícios em Apocalipse 22 conclui outra vez com "todo aquele que ama e pratica a mentira" (v. 15), o que indica que tais pessoas vivem a "mentira" como uma filosofia de vida, de caráter e de adoração. A mentira como a contraparte da verdade foi também a recapitulação que faz Paulo da apostasia final em 2 Tessalonicenses 2:9-12. O Significado do Esplendor da Nova Jerusalém Apocalipse 21:9 a 22:5 contêm uma descrição da Jerusalém celestial. O anjo a compara com sua interpretação da condenação de Babilônia em Apocalipse 17:1 a 19:10. Reconhece-se que as duas seções são contrapartes intencionais. Felizmente, a visão que João teve da Nova Jerusalém é a mais longa e elaborada do Apocalipse. Amplia as profecias gráficas de uma Nova Jerusalém que apresenta Isaías 54 a 60 e Ezequiel 40 a 48. Assim como Ezequiel, João vê sua visão em "um monte muito alto" (Ezeq. 40:2; Apoc. 21:10). A glória de Deus na Nova Jerusalém (Apoc. 21:11) corresponde à glória do Jeová que vem do oriente no novo templo da visão do Ezequiel (Ezeq. 43:1, 2). A diferença é que agora Deus mesmo é a glória constante da santa cidade (Apoc. 21:11). Ezequiel se concentra sobre o novo templo, mas João descreve uma cidade imensamente maior sem um templo particular (Apoc. 21:22). João dedica uma atenção especial a suas amplas muralhas e a suas doze portas. Usa o número "doze" doze vezes em Apocalipse 21, cifra que está carregada de significado. O anjo tem uma vara de medir, de ouro, "para medir a cidade, suas portas e seu muro" (Apoc. 21:15). A cidade é descrita como um cubo perfeito medindo cada lado doze mil estádios, que literalmente seriam 2.400 quilômetros em cada direção, até para cima, muito além da estratosfera! Não é maravilha que os intérpretes responsáveis tenham advertido contra um dogmático literalismo com respeito às visões de Apocalipse 21 e Ezequiel 40 a 48. Nestas profecias tão gráficas, "o grau de identificação segue sendo um problema que deverá ainda ser interpretado".26 Giblin declara que João "tenta evocar a imagem de um gigantesco 'lugar muito santo' que era um cubo perfeito, recoberto de ouro (1 Reis 6:20)".27 As dimensões de cubo da cidade sugerem claramente que toda a "santa cidade" é o lugar santíssimo sobre a terra, o trono de Deus. Isto transcende a necessidade de ter qualquer templo local. O apóstolo o explica assim: "E nela não vi templo, porque o seu templo é o Senhor, Deus Todo-poderoso, e o Cordeiro... "E tinha a glória de Deus. A sua luz era semelhante a uma pedra preciosíssima, como a pedra de jaspe, como o cristal resplandecente" (Apoc. 21:22, 11). Não pode haver dúvida de que o propósito de João em Apocalipse 17 e 18 é colocar esta cidade de Jerusalém em contraste direto com a cidade de Babilônia. A beleza sobressalente da Nova Jerusalém consiste na presença de Deus e a dos redimidos. As incríveis dimensões dos doze mil estádios têm um claro significado simbólico: a cidade contém o Israel de Deus de toda a história da salvação. Badenas o explica assim: "Eclipsando Babilônia e Roma, a Nova Jerusalém é a cidade verdadeira, e a única cidade universal".28 Os muros da cidade têm uma altura de 144 côvados (Apoc. 21:17), literalmente 66 metros, destacando outra vez o número 12 (12 x 12 = 144). Por definição, uma muralha não só significa segurança, mas também separação do "exterior" (Apoc. 22:15), o que se refere basicamente ao lugar do "lago de fogo" (21:8). Este símbolo pode entender-se melhor como uma referência ao juízo pós-milenial de Apocalipse 20:7-15. A muralha é feita de jaspe cristalino (21:18) e brilha como um diamante. Está assentada sobre doze fundamentos de pedras preciosas, cada

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uma das quais é uma gema enorme (vs. 19, 20), cada uma com um nome escrito com um nome de "os doze apóstolos do Cordeiro" (v. 14). Entretanto, sobre as doze portas estão os nomes das "doze tribos dos filhos do Israel" (v. 12). Tudo em seu conjunto significa que o Israel profético de Deus inclui a todos os seguidores do Cristo, o que constitui a mensagem fundamental da visão de João a respeito da vida na Nova Jerusalém. As características das doze pedras preciosas e das doze portas de pérola complementam a mensagem básica de que Deus unirá a todos os seus filhos em um rebanho enquanto reconhece que também permanecem diversificados em seus caracteres individuais. Cada tipo de caráter refletirá a natureza divina, assim como cada pedra preciosa refletirá a glória de Deus em sua própria forma. Entretanto, a investigação mostra que "as pedras do Apocalipse não podem correlacionar-se com tribos específicas, apóstolos, signos do zodíaco ou direções geográficas".29 As doze pedras preciosas da Nova Jerusalém simbolizam basicamente "a presença de Deus, a origem divina da cidade, e o novo povo de Deus".30 As doze pedras preciosas também cumprem a função de ser contrapartes das pedras preciosas que adornam a Babilônia a prostituta (Apoc. 17:4; 18:12, 16). Desde esta perspectiva, as pedras preciosas da santa cidade são "um emblema para sustentar a fé na vitória final de Deus".31 O esplendor da Nova Jerusalém, com o trono de Deus e a árvore da vida, transmite esta mensagem: O paraíso será restaurado com uma glória maior que a do jardim do Éden porque o Criador estabelecerá sua presença e seu trono ali para sempre. Cada crente pode cobrar ânimo e saber que as promessas do pacto que Deus fez com o Israel se cumprirão em uma manifestação gloriosa inimaginável no futuro. A profecia categórica que diz que "as nações caminharão à sua luz, e até ela os reis da terra levarão seu esplendor... E levarão até ela o esplendor e a honra das nações" (Apoc. 21:24, 26, CI), é provocadora, já que esta predição usa a descrição de Isaías 60 mas a adapta ao estado eterno. Agora os reis da terra já não desfilarão como conquistadores (Isa. 60:10, 11) ou como trazendo tributo (vs. 5-7). Virão antes como gentios redimidos para contribuir com sua glória em sua adoração a Deus e ao Cordeiro durante o festival de louvor e ação de graças na Nova Jerusalém. Ellul explica que "tudo o que foi a obra cultural, científica, técnica, estética e intelectual; toda a música e a escultura; toda a poesia e a matemática; toda a filosofia e o conhecimento em todos as ordens, todos entrarão nesta Jerusalém, e serão empregados por Deus para estabelecer esta obra perfeita final".32 Que conceito emocionante! Quem não desejará ser parte desta educação superior na vida futura do povo de Deus? Cristo e a Nova Jerusalém convidam a cada pessoa que procura Deus a formar parte do estado eterno onde reinará a felicidade: "E o Espírito e a esposa dizem: Vem! E quem ouve diga: Vem! E quem tem sede venha; e quem quiser tome de graça da água da vida" (Apoc. 22:17). Referências 1 Caird, The Revelation of St. John the Divine, p. 261. 2 Naden, The Lamb Among the Beasts. Finding Jesus in the Book of Revelation, p. 289. 3 Badenas, "New Jerusalem - The Holy City", Simpósio sobre o Apocalipse, t. 2, p. 244. 4 Eichrodt, Ezekiel, p. 542. 5 Badenas, Ibid., t. 2, p. 252. 6 Aranda Pérez-García Martínez-Pérez Fernández, Literatura judía intertestamentaria, p. 288. 7 Ibid., p. 319. 8 Ibid., p. 330. 9 Toda esta documentação está no Strack-Billerbeck, Comentario del Nuevo Testamento con el Talmud y la Midrás, t. 3, p. 796. 10 Ibid., v. 3, p. 573. 11 Lohse, "Sión - Jerusalem" [Sião - Jerusalém], Dicionário teológico do Novo Testamento, t. 7, p. 326, nota 204. 12 Ver Ibid. 13 Strack-Billerbeck, Comentario del Nuevo Testamento con el Talmud y la Midrás, t. 4, pp.

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922, 923. 14 Ibid., v. 4, pp. 932, 933. 15 Ibid., v. 4, p. 884. 16 Ibid., v. 3, p. 573. 17 Charles, The Revelation of St. John, t. 1, p. 86. 18 Beasley-Murray, Revelation, p. 305. 19 Pohl, Die Offenbarung des Johannes [O Apocalipse de João], p. 275. 20 Rusten, A Critical Evaluation of Dispensational Interpretations of the Book of Revelation, t. 2, pp. 620, 621. 21 Badenas, "New Jerusalem - The Holy City", Simpósio sobre o Apocalipse, t. 2, p. 249. 22 Ibid., v. 2, p. 256. 23 Ibid., v. 2, pp. 255, 257. 24 Ibid., v. 2, p. 263. 25 Giblin, The Book of Revelation. The Open Book of Prophecy, p. 196. 26 4 CBA 744. Ver também 7 CBA 904, 905. 27 Giblin, The Book of Revelation. The Open Book of Prophecy, p. 205. 28 Badenas, "New Jerusalem - The Holy City", Simpósio sobre o Apocalipse, t. 2, p. 259. 29 Reader, "The Twelve Jewels of Revelation 21:19, 20: Tradition History and Modern Interpretation", JBL 100 (1981), p. 455. 30 Ibid., p. 456. 31 Ibid., p. 457. 32 Ellul, . Apocalypse, The Book of Revelation, p. 225. FONTES BIBLIOGRÁFICAS PARA APOCALIPSE 21 E 22 Livros Beasley-Murray, George R. Revelation [O Apocalipse]. New Century Bible Commentary [Comentário da Bíblia do Novo Século]. Grand Rapids, MI: Wm. B. Eerdmans, 1983. Beckwith, Isbon T. The Apocalypse of John [O Apocalipse de João]. Grand Rapids, MI: Baker, 1979 (reimpressão de 1919). Böcher, O. Die Johannes-Apokalypse [O Apocalipse de João]. Erträge der Forschung, Bd. 41. Darmstag: Wisschenschaftl. Buchges., 1988. Bratcher, R. G. A Translator's Guide to the Revelation of John [Guia do Tradutor para o Apocalipse de João]. Nova York: United Bible Societies, 1944. Caird, George B. The Revelation of St. John the Divine [O Apocalipse de São João o Teólogo]. Grand Rapids, MI: Wm. B. Eerdmans, 1977. Charles, R. H. The Revelation of St. John [O Apocalipse de São João], 2 ts. ICC. Edimburgo: T & T Clark. Eichrodt, W. Ezekiel [Ezequiel]. The O.T. Library. Filadélfia: The Westminster Press, ET, 1970. Ellul, Jacques. Apocalypse, The Book of Revelation [Apocalipse, o Livro da Revelação]. Grand Rapids, MI: Wm. B. Eerdmans, 1986. Giblin, Charles H. The Book of Revelation. The Open Book of Prophecy [O Livro do Apocalipse. O Livro Aberto da Profecia]. Good News Studies 34. Collegeville, MN: The Liturgical Press, 1991. Kraft, Heinrich. Die Offenbarung des Johannes [O Apocalipse de João]. Handbuch z. NT 16a. Tübingen: J. C. B. Mohr, 1974. Lohse, Eduard. "Sión - Jerusalem" [Sião - Jerusalém], Dicionário teológico do Novo Testamento. Ed. por G. Kittel. T. 7, pp. 319-338. Naden, R. C. The Lamb Among the Beasts. Finding Jesus in the Book of Revelation [O Cordeiro Entre as Bestas. Encontrando a Jesus no Livro do Apocalipse] (Hagerstown, Maryland: Review and Herald, 1996). Nichol, Francis D., ed. Comentario bíblico adventista. vs. 4 a 7. Pohl, A. Die Offenbarung des Johannes [O Apocalipse de João]. 2 Teil. Wuppertaler Studienbibel von F. Rienecker y W. de Boor. Berlin: Evang. Haupt-Bibelgesellschaft, 1974. Rusten, Elmer M. A Critical Evaluation of Dispensational Interpretations of the Book of Revelation [Uma Avaliação Crítica das Interpretações Dispensacionalistas do Livro do Apocalipse]. Tese doutoral, Universidade de Nova York, 1977. Ann Arbor: University Microfilms International 1980. 2 ts. Strack, H. L. y Billerbeck, P., eds. Comentario del Nuevo Testamento con el Talmud y la

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