COMO CRIAR SUA PRÓPRIA SALA DE AULA VIRTUAL · de rodagem no seu manejo. ... Ubuntu, disponível e...

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PROFISSÃO MESTRE ® junho 2011 22 Fabio Venturini FERRAMENTAS DA WEB N ormalmente demandando vulto- sos esforços financeiros e de co- nhecimento técnico, os sistemas virtuais de aprendizagem são aparente- mente possíveis de desenvolvimento ape- nas em estruturas públicas ou de corpora- ções privadas. Em uso especialmente nos ensinos técnico e superior, no qual as ins- tituições desenvolvem plataformas com programação robusta e complexa, são usa- dos na oferta de cursos a distância ou co- mo apoio a turmas presenciais. Contudo, com programas de uso livre e serviços gra- tuitos de hospedagem, qualquer um que tiver uma conexão à internet e um pou- co de conhecimento em navegação pode criar a sua própria sala de aula. Para uso individual pelo docente, o Moodle é uma opção de ambiente virtual de aprendiza- gem das mais amigáveis e com maior su- porte gratuito na página da comunidade ( www.moodle.org.br ). Desenvolvido pelo professor da Universidade de Tecnologia de Perth (Austrália), Martin Dougiamas, é baseado em código livre e abordagem só- cio-construtivista. As suas principais van- tagens são a completa gratuidade, uma ampla comunidade que desenvolve o pro- grama e a disponibilidade de recursos em módulos, os quais podem ser insta- lados ou removidos de acordo com a ne- cessidade do usuário, deixando o siste- ma mais enxuto e demandando recursos de hardware mais simples. Seu nome, Moodle, vem de Modular Object-Oriented Dynamic Learning Environment (Ambiente Dinâmico de Aprendizagem Orientado a Objetos Modulares, em tradução livre) e, tecnicamente, ele é um LMS ( Learning Management System ), ou seja, um sistema de gerenciamento de aprendizagem. Uso para iniciantes O grande obstáculo para usar um LMS é a necessidade de um servidor dedi- cado, equipamento caro e que resul- ta em serviços de hospedagem pagos. Mas no caso do Moodle, contudo, há opções gratuitas que permitem a qual- quer professor desenvolver sua pró- pria sala de aula pelo navegador (co- mo Internet Explorer, Mozilla Firefox, Google Chrome, entre outros). Um dos mais fáceis de usar é o Ninehub (www.ninehub.com), que é recomendado pela Secretaria de Educação do Estado de São Paulo para seus professores da rede pública. O seu inconveniente é ter espaço cativo para publicidade, sem controle do usuário. Polui a tela, mas não prejudica o uso. A principal vantagem, que é mais do Moodle do que da hospedagem, é a navegabilidade em qualquer browser , pois alguns LMS´s funcionam apenas no Internet Explorer, enquanto muitos alunos buscam opções mais resisten- tes a vírus e invasões, como o Mozilla Firefox. Para criar um ambiente virtual próprio no Ninehub basta: Entrar na página (www.ninehub.com); COMO CRIAR SUA PRÓPRIA SALA DE AULA VIRTUAL Conheça o Moodle e veja como utilizá-lo como complemento para o ensino presencial

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Fabio VenturiniFERRAMENTAS DA WEB

Normalmente demandando vulto-sos esforços financeiros e de co-nhecimento técnico, os sistemas

virtuais de aprendizagem são aparente-mente possíveis de desenvolvimento ape-nas em estruturas públicas ou de corpora-ções privadas. Em uso especialmente nos ensinos técnico e superior, no qual as ins-tituições desenvolvem plataformas com programação robusta e complexa, são usa-dos na oferta de cursos a distância ou co-mo apoio a turmas presenciais. Contudo, com programas de uso livre e serviços gra-tuitos de hospedagem, qualquer um que

tiver uma conexão à internet e um pou-co de conhecimento em navegação pode criar a sua própria sala de aula. Para uso individual pelo docente, o Moodle é uma opção de ambiente virtual de aprendiza-gem das mais amigáveis e com maior su-porte gratuito na página da comunidade (www.moodle.org.br).

Desenvolvido pelo professor da Universidade de Tecnologia de Perth (Austrália), Martin Dougiamas, é baseado em código livre e abordagem só-cio-construtivista. As suas principais van-tagens são a completa gratuidade, uma

ampla comunidade que desenvolve o pro-grama e a disponibilidade de recursos em módulos, os quais podem ser insta-lados ou removidos de acordo com a ne-cessidade do usuário, deixando o siste-ma mais enxuto e demandando recursos de hardware mais simples. Seu nome, Moodle, vem de Modular Object-Oriented Dynamic Learning Environment (Ambiente Dinâmico de Aprendizagem Orientado a Objetos Modulares, em tradução livre) e, tecnicamente, ele é um LMS (Learning Management System), ou seja, um sistema de gerenciamento de aprendizagem.

Uso para iniciantesO grande obstáculo para usar um LMS é a necessidade de um servidor dedi-cado, equipamento caro e que resul-ta em serviços de hospedagem pagos. Mas no caso do Moodle, contudo, há opções gratuitas que permitem a qual-quer professor desenvolver sua pró-pria sala de aula pelo navegador (co-mo Internet Explorer, Mozilla Firefox, Google Chrome, entre outros).

Um dos mais fáceis de usar é o Ninehub (www.ninehub.com), que é recomendado pela Secretaria de Educação do Estado de São Paulo para seus professores da rede pública. O seu inconveniente é ter espaço cativo para publicidade, sem controle do usuário. Polui a tela, mas não prejudica o uso.

A principal vantagem, que é mais do Moodle do que da hospedagem, é a navegabilidade em qualquer browser, pois alguns LMS s funcionam apenas no Internet Explorer, enquanto muitos alunos buscam opções mais resisten-tes a vírus e invasões, como o Mozilla Firefox.

Para criar um ambiente virtual próprio no Ninehub basta:•Entrar na página (www.ninehub.com);

COMO CRIAR SUA PRÓPRIA SALA DE AULA VIRTUALConheça o Moodle e veja como utilizá-lo como complemento para o ensino presencial

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FERRAMENTAS DA WEB

•Clicar em SignUp, no canto superior direito da página.

•Na página que foi aberta, digitar um endereço de e-mail para administra-ção do ambiente, escolher o nome de domínio e autenticar a solicitação.

•Uma mensagem é enviada automati-camente para o endereço especifica-do no registro. Deve-se, então, clicar no link fornecido nesse e-mail para criação da sala e fornecimento tan-to do nome de usuário quanto da se-nha (também são enviados para o e--mail cadastrado e ambos podem ser alterados no primeiro acesso).

•Em seguida, entre no endereço criado (“onomedasuasala.freewebclass.com”).

•Após clicar em “Acesso”, abre-se a página de autenticação. Entrar com nome de usuário e senha. Pronto, o ambiente virtual de aprendizagem já está criado e acessado.

A partir de então começam os ajus-tes, como a alteração do idioma no canto superior direito da tela. Para que a pre-ferência pelo português brasileiro fique registrada, essa mudança deve ser feita também em “Idioma>Configurações de idioma” (ícone no lado direito da pá-gina inicial).

Criando cursosA sala de aula está montada. Antes de criar o curso no sistema, porém, o con-teúdo deve estar pronto ou, pelo me-nos, com um planejamento muitíssi-mo bem encaminhado. O aluno não pode entrar no ambiente e encontrar “vazios”, pois isso fere a credibilidade da ferramenta. Além disso, o professor deve ter bem definido o que deseja: po-de ser um curso completo na internet que esteja ligado às suas aulas ou ativi-dades que complementem o conteúdo trabalhado presencialmente, ou ainda um curso totalmente distinto do de-senvolvido em sala física etc.

Além disso, no Ninehub/Free Web Class são permitidas inscrições de 35 usuários, com números superiores fa-zendo parte do serviço pago. Logo, a ati-vidade deve ser pensada de acordo com o tamanho da turma. Caso o número de alunos seja maior, há a possibilida-de de manter o curso aberto a visitan-

tes que possuem um código gerado pelo administrador, opção mais viável.

Ao clicar em “Criar um novo cur-so”, aparecem as primeiras configura-ções, em um formulário com alguns campos obrigatórios. São decisões muito pessoais e dependem dos objeti-vos do curso. Há uma categoria padrão (“miscellanous”), mas outras podem ser criadas conforme outros cursos são publicados no ambiente virtual. Numa aula de Língua Portuguesa, por exem-plo, podem ser criadas redação, gramá-tica, literatura etc., e cada curso ser co-locado na mais adequada.

O formato do curso pode ser “so-cial” (fórum com debates entre pro-fessor e alunos), “tópicos” e “sema-nal” (estruturado temporalmente). O formato semanal é recomendável para quem já tem certa experiência e tempo de uso do Moodle, com es-truturação já bastante avançada. Para iniciantes, o formato tópicos é mais flexível e permite corrigir sutilmen-te os erros de aprendiz. Com a vanta-gem de poder reconfigurar o curso ou aproveitar seu conteúdo em um novo período letivo.

No item “disponibilidade” é impor-tante definir um código de inscrição e enviar aos alunos, que poderão acessar o ambiente como visitantes. Para melho-rar a segurança e reduzir as chances de algum desavisado tumultuar o ambien-te, ainda no item “disponibilidade”, esco-lha a opção “Permitir acesso aos visitan-tes que conhecem o código de inscrição”.

Após criar o curso, ele já apare-ce na página inicial. Uma vez co-nectado ao sistema e no curso em questão, clique em “Ativar edição” para postar atividades e propor ati-vidades (fóruns, questionários, li-ções, glossários, redação de páginas wiki e tarefas), com os diversos re-cursos (criação de páginas de texto simples, de páginas de web, inserção de links, etc.)

A partir de então, as atividades já anteriormente preparadas devem ser enquadradas nos recursos mais ade-quados. Na lição 1 do exemplo (ve-ja figura nesta página) foram criados um texto simples para a explicação dos tipos de redação, um material mais detalhado sobre o texto descri-tivo e sobre como escrevê-lo. Abaixo foi proposta uma atividade de reda-ção descritiva da imagem do pôr do sol, do arquivo postado na aula, e o aluno poderá postar essa tarefa após a realização. Depois de postar to-do conteúdo, clica-se em “Desativar edição” para visualizar a interface de como a aula aparecerá ao aluno.

Podem ser postados diversos ti-pos de arquivos, como documentos de texto, planilhas, apresentações, áudio, vídeo, etc. Toda e qualquer postagem, seja do professor ou dos alunos, ocupa espaço no servidor. No Ninehub, o limite do serviço gratuito é de 1GB, o que significa muito con-teúdo, mesmo com fotografias, áu-dio, vídeo e animações.

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Para aproveitar melhor os recursos O Moodle também possibilita criar grupos de discussão, salas de bate--papo, manter e atualizar calendário de eventos, alimentar listas de notí-cias e muitos outros recursos com-plementares enriquecedores na mon-tagem de uma aula virtual com alta qualidade. No uso institucional são realizados treinamentos para que o usuário retire o máximo possível do sistema. No uso isolado, o aproveita-mento da ferramenta melhora con-forme o docente aumenta a sua inte-ração com o sistema e adquire tempo de rodagem no seu manejo.

As dicas apresentadas nesta re-portagem são para o professor que quiser iniciar o uso de recursos online no aprimoramento das suas aulas. Contudo é possível desenvol-ver cursos inteiros pela internet. Por exemplo, há empresas especializadas em áreas específicas do conhecimen-to usando o Moodle para criar cursos e escolas livres. Algumas delas pos-suem módulos que possibilitam in-clusive a liberação de acesso ao con-teúdo somente após confirmação de pagamento eletrônico.

São muitos os potenciais desse pro-grama. Porém, o seu domínio depende de muita dedicação e um bom tempo em tutoriais e pesquisas nos motores de busca. Uma boa alternativa para início bem consistente é o livro Moodle – Como criar um curso usando a plata-forma de Ensino à Distância, do jorna-lista e professor universitário Rodolfo Nakamura, publicado em 2008 pe-la Farol do Forte. A versão eletrônica é distribuída gratuitamente na página da loja virtual da editora (www.farol-digital.com.br/loja).

O ensino e a aprendizagem online também têm suas peculiarida-des, com teorias, em muitos aspectos, próprias. Na parte teórica, o docente pode buscar mais conhecimento sobre essa modalidade de educação, como cenário, circunstâncias normalmen-te encontradas, como usar os LMS’s, aprendizagem colaborativa, didáti-ca, metodologia de ensino e avalia-ção. O livro Educação Online – Cenário, Formação e questões didático-metodológi-

cas, lançado no ano passado pela Wak Editora, é bastante abrangente no te-ma e pode orientar bem o docente na concepção do seu curso considerando o ambiente virtual como integrante do seu fazer pedagógico.

Quando optar pela instalação localNo que se refere à parte técnica do LMS, para usar recursos mais com-plexos, a ponto de criar uma “escola virtual própria”, o ambiente deverá ser desenvolvido localmente e depois “subido” para um servidor remoto. Embora funcione de forma estável em MS Windows e Mac OS, o Moodle demanda a instalação de programas de servidor web, banco de dados e linguagem PHP, que não são específi-cos desses sistemas operacionais pro-prietários. Outro inconveniente é a necessidade de conhecimentos mais sólidos em programação para fazer o upload após terminar o ambiente.

Todo o trabalho pode ser facilitado se o professor-programador usar siste-ma operacional Linux (uma distribuição bastante amigável para iniciantes é o Ubuntu, disponível e explicado na pági-na www.ubuntu-br.org), cujos recursos necessários para o Moodle (linguagem PHP, servidor Apache ou equivalente e banco de dados MySQL ou equivalente) são próprios desse sistema operacional. Caso já não estejam na estrutura básica, a instalação é feita de forma rápida, fá-cil, com configuração praticamente au-tomática e com maior facilidade para “subir” o ambiente virtual para um ser-vidor remoto sem perda de informações.

Outra vantagem de instalar local-mente é que a comunidade Moodle publica regularmente versões mais recentes, com mais módulos e recur-sos. Quando a opção é feita por um pacote pronto disponível num servi-ço de hospedagem, inclusive os pa-gos, a versão disponível certamente é menos atual, embora também bas-tante útil e cheia de recursos interes-santes.

FERRAMENTAS DA WEB

“O Moodle foi o primeiro LMS (learning management system) que testei, e percebi nele um enor-me potencial. Há três anos, come-cei a usá-lo de forma mais intera-tiva com a adição de enquetes e questionários, bem como a dis-ponibilização de vídeos das mi-nhas aulas editados no programa Camtasia e fóruns para discussão de dúvidas.

Os alunos estão dispostos em dois cursos separados por série e diferencio as escolas por um campo informado no cadastro do aluno. Hoje, parte da nota formativa de-les tem origem na página, resulta-do de questionários e participação nos fóruns. Tenho obtido uma par-ticipação expressiva e percebi um aumento do interesse dos alunos.

Percebo também que parte dos alunos se diverte respondendo os questionários e, após alguns me-ses, eles usam o espaço como ponto de encontro para discutir, acredite, Matemática. Creio que atualmente consigo aumentar o interesse nessa disciplina de pelo menos um aluno, o que pra mim já fez a utilização do Moodle valer a pena!”

O que achou desta reportagem? Mande elogios, críticas e sugestões para [email protected]

Arquivo pessoal

Eu testei

Lenílton Braga, professor de Matemática, de Brasília (DF), que usa o Moodle com turmas de 2º e 3º anos do ensino médio. Ele montou seus cursos diretamente na web e hospeda num servidor pago, on-de já possuía um domínio registrado e ge-renciado pela empresa de hospedagem.