Como Estudar Elites- Renato Perissinotto
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Como estudar elites
Renato Perissinotto
Adriano Codato (orgs.)
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ReitorZaki Akel Sobrinho
Vice ReitorRogério Andrade Mulinari
Pró-Reitora de Extensão e CulturaDeise Cristina de Lima Picanço
Diretora da Editora UFPRSuzete de Paula Bornatto
Vice-Diretor da Editora UFPRCláudio de Sá Machado Júnior
Conselho EditorialCleverson Ribas Carneiro
Cristina Gonçalves MendonçaEdson Luiz Almeida Tizzot
Emerson JoucoskiEverton Passos
Ida Chapaval PimentelJane Mendes Ferreira
José Carlos Cifuentes VasquezJosé Eduardo Padilha de Souza
Marcia Santos de Menezes
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Como estudar elitesRenato Perissinotto
Adriano Codato (orgs.)
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® Renato Perissinotto e Adriano Codato (orgs.)
Como estudar elites
Coordenação Editorial
Lucas Massimo
Projeto Gráfco e Editoração Eletrônica
Indústria Inc.
Revisão
Lucas Massimo e Fernando Leite
Capa
Indústria Inc.
Foto de capaRenato Perissinotto
Série Pesquisa, n. 290Ref. 823
UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁSISTEMA DE BIBLIOTECAS – BIBLIOTECA CENTRAL
COORDENAÇÃO DE PROCESSOS TÉCNICOS
Direitos desta edição reservados àEditora UFPR
Rua João Negrão, 280 - CentroTel.: (41) 3360-748980010-200 - Curitiba - Paraná - Brasil
2015
Esta obra foi publicada com recursos do Programa Nacional deCooperação Acadêmica (Procad) referentes ao projeto “Compo-sição e recomposição de grupos dirigentes no Nordeste e no Suldo Brasil” desenvolvido em parceria entre UFPR, PUC-RS e UFS.
Como estudar elites / Renato Perissinotto, Adriano Codato (orgs.). –Curitiba : Ed. UFPR, 2015.
319 p. : il. – (Pesquisa; n. 290)
ISBN 978-85-8480-038-4Inclui referências ao nal de cada capítuloVários autores
1. Elites (Ciências sociais). 2. Metodologia. I. Perissinotto, Renato M.(Renato Monseff), 1964-. II. Codato, Adriano Nervo. III. Série.
CDD 305.5
Andrea Carolina Grohs CRB 9/1384
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"Toda pesquisa cientíica requer
paciência, autodisciplina e uma ines-
gotável capacidade de se aborrecer".
Terry Eagleton.
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Sumário
Introdução: como estudar elites? 9Renato Perissinotto e Adriano Codato
Apêndices metodológicos 279
Apêndice 1 | Como elaborar um survey 281Apêndice 2 | Como formar matrizes de dados biográcos 291Apêndice 3 | Como produzir uma cha prosopográca 301
Apêndice 4 | Como preparar um questionário com questões abertas 309
Sobre os autores 318
Metodologias para a identicação de elites:três exemplos clássicos | Adriano Codato
O uso do survey no estudo do recrutamento político:limites e vantagens | Bruno Bolognesi e Renato Perissinotto
O desenho e as fontes da pesquisa com elitesparlamentares brasileiras no século XX | Luiz DomingosCosta, Lucas Massimo, Paula Butture e Ana Paula Lopes
Análise de elites em perspectiva relacional: aoperacionalização da Análise de Redes Sociais (ARS)Emerson Urizzi Cervi
Viagem pela alta hierarquia: pesquisa de campoe interações com elites eclesiásticas | Ernesto Seidl
Pesquisando grupos prossionais: dilemas clássicose contribuições recentes | Fernanda Petrarca
Antropologia, política e etnograa: fronteiras disciplinarese trabalho de campo | Wilson José F. de Oliveira
Os empresários enquanto elite: a pesquisa empíricaPaulo Roberto Neves Costa
A prosopograa explicada para cientistas políticosFlavio Heinz e Adriano Codato
Capítulo 1 15
Capítulo 2 33
Capítulo 3 63
Capítulo 4 95
Capítulo 5 121
Capítulo 6 151
Capítulo 7 187
Capítulo 8 217
Capítulo 9 249
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Introdução:como estudar elites?
GUIAS DE METODOLOGIA de pesquisa dão dois signiicados ao termo
“método”: ora o entendem como a estratégia geral da investigação cien-
tíica (com ênfase na lógica do trabalho, nos padrões de análise ou no me-
canismo das explicações), ora como as técnicas de seleção, validação, pro-
cessamento e análise de dados. Este livro concentra-se nas técnicas, mais
exatamente nos procedimentos práticos para o estudo de um objeto emparticular: os grupos dominantes na hierarquia social.
Não há uma receita para abordar esse assunto. As estratégias empregadas
tendem a ser muito variadas e, em alguns casos, complementares. Essa di-
versidade de procedimentos é resultado natural tanto dos múltiplos propó-
sitos pretendidos pelos investigadores, quanto da variedade de evidências
fornecidas por estudos com elites. Além disso, um procedimento – análise
estatística inferencial com vinte mil candidatos a deputado ou etnograia
multinível com um único caso – pode funcionar melhor num determinado
estágio da pesquisa; outro procedimento, no estágio seguinte. Pesquisas
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como as de Donald Searing sobre as carreiras de políticos proissionais no
“universo de Westminster”, interessadas em entender a ambição política,podem apelar tanto para a análise dos efeitos das regras sobre a conigu-
ração dos vários papéis sociais na instituição (lobistas, líderes de partido,
ministros), quanto para as características pessoais daqueles que estão in-
vestidos dessas funções, características essas veriicadas em longas en-
trevistas face a face com todo tipo de representante (insiders, outsiders,
backbenchers, sindicalistas, empresários, etc.). O fundamental é saber que
técnica empregar para que tipo de fenômeno, se e quando um determina-
do artiício pode ou não ser bem aproveitado. Purismos metodológicos e a
adição a procedimentos ixos para tratamento de dados empíricos reforçamidentidades de grupos cientíicos, mas trazem prejuízo à ciência das coisas.
Quando se consulta a literatura já publicada sobre classes dirigentes, a
disparidade de abordagens dos objetos empíricos e o caráter idiossincrático
das questões de pesquisa nos faz perguntar se há qualquer sentido em reco-
mendar algum procedimento. Justamente por isso, este livro evita prescre-
ver receitas. Preferimos adotar o tom de “relato de campo” onde cada pes-
quisador ou grupo de pesquisadores narra a marcha da sua investigação, as
suas diiculdades e soluções práticas.
Todo trabalho de pesquisa vai da elaboração das questões a serem res-pondidas, passa pela deinição do objeto, pela escolha das variáveis, pela
identiicação das fontes disponíveis e das evidências que delas se podem
extrair, pela elaboração do instrumento de coleta de dados, pela coleta de
dados propriamente dita, pela sua sistematização e ordenação, para, só en-
tão, analisar todo o material e, enim, apresentar os resultados.
Contudo, esses procedimentos anteriores à publicação dos resultados
tendem a ser arquivados, ou, muitíssimo raramente, reutilizados em algu-
ma nova investigação por outro pesquisador. De uma maneira ou de outra,
ele quase sempre é mantido longe dos olhos do público. Assim, esse mesmopúblico se vê impedido de tomar contato com o longo percurso de apren-
dizado prático que toda pesquisa envolve, seus erros e acertos, suas hesi-
tações, os bloqueios sucessivos de caminhos e as más escolhas que sempre
fazemos. É uma pena que seja assim, pois é certo que muito empenho indi-
vidual poderia ser poupado se as experiências referentes aos procedimen-
tos habituais de construção de uma investigação cientíica viessem a pú-
blico com mais frequência. Com isso, tempo, energia e dinheiro poderiam
ser mais bem direcionados e a própria apresentação de resultados inais
poderia ser mais rápida. Enim, conhecer as grandes e pequenas medidas
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Introdução
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práticas tomadas por outros camaradas da mesma área de estudos pode
não apenas ajudar no desenvolvimento de mais trabalhos, como tambémrepresentar economia de escala em termos de recursos e tempo.
Em alguns países, a exposição das decisões tomadas no curso de uma
investigação é prática corrente. Há periódicos para veicular, ao invés dos
resultados, os procedimentos intermediários da pesquisa cientíica. No
Brasil, não há publicações dessa natureza em Ciência Política ou Sociologia
Política, de modo que os dados referentes aos labirintos do trabalho cientí-
ico raramente vêm à luz ou, quando vêm, aparecem na forma de relatórios
burocráticos de diícil acesso, destinados apenas a prestar contas à agência
de inanciamento. Esta é a contribuição que este livro pretende produzir.Não se pretende revelar os mecanismos de todo e qualquer tipo de pes-
quisa social. Seria de pouca ajuda uma obra que fosse uma reunião alea-
tória de pesquisas sobre “a política brasileira”, por exemplo, com pouco
ou nenhum contato entre si. Por essa razão, este livro tem uma unidade
temática. Todos os textos aqui reunidos trabalham com o problema das
elites ou dos grupos dirigentes em diversas dimensões da vida social: eli-
tes parlamentares, partidárias, eclesiásticas, econômicas, proissionais e
elites de movimentos sociais.
O primeiro capítulo tenta ser uma exposição didática de alguns dos mé-todos de pesquisa consagrados para identiicar grupos de elites. O segundo
capítulo mostra como uma investigação sobre o processo de recrutamento
e formação da nominata de candidatos dentro dos partidos políticos só po-
deria ser levada a termo por meio da aplicação presencial de um questioná-
rio. Uma vez tomada essa decisão, resta saber: qual seria o melhor forma-
to do questionário? O terceiro, sublinha que o estudo diacrônico da classe
política brasileira exige o uso intensivo de fontes documentais. Como são
apresentadas nessas fontes as evidências necessárias ao entendimento do
recrutamento e como se deve codiicá-las? O quarto capítulo revela como aanálise de redes pode captar padrões ideológicos nos processos de coaliza-
ção política. Mas como usá-la? Quais são seus requisitos técnicos? O quinto
capítulo discute os percalços para se ter acesso à elite de uma organização
tão hermética como a Igreja Católica. Que estratégias o pesquisador deve
adotar para facilitar o acesso à alta hierarquia e como comportar-se numa
entrevista em que pesquisador e pesquisado pertencem a mundos tão dife-
rentes? O sexto capítulo analisa as diiculdades para se deinir o que é “pro-
issão”. Que procedimentos teóricos e metodológicos um pesquisador deve
utilizar para delimitar um campo proissional? O capítulo seguinte relata os
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expedientes utilizados para o estudo de líderes de grupos que, normalmen-
te, não são tidos como “elites”, como é o caso nos movimentos em defesado meio ambiente. O oitavo capítulo analisa como é possível estudar a po-
sição política de elites econômicas. Essa elite deve ser deinida em termos
patrimoniais (o tamanho da empresa) ou em termos de atuação institucio-
nal em organizações de classe? Uma vez deinido o grupo, como acessá-lo
e que cuidados devemos ter ao formular questões sobre o que eles pensam
sobre a política? Por im, o capítulo nove apresenta um resumo do que é e
de como se pode fazer prosopograia.
Esses são os problemas que este livro procura responder. A enorme
diversidade de questões é resultado da multiplicidade de objetos e depreocupações teóricas e metodológicas que orientam as pesquisas aqui
relatadas. No entanto, a unidade da coletânea está garantida pelo io que
conduz todos os textos e que pode ser resumido na pergunta que dá título
ao livro: como estudar elites?
Essa integração entre autores, temáticas, propósitos e objetos não é ca-
sual. Por meio do Programa Nacional de Cooperação Acadêmica (Procad),
inanciado pela Comissão de Aperfeiçoamento de Pessoal de Ensino Supe-
rior (Capes), professores de três instituições diferentes (Universidade Fe-
deral do Paraná, Universidade Federal de Sergipe e Pontiícia UniversidadeCatólica do Rio Grande do Sul) trabalharam coletivamente, de 2011 a 2015,
em projetos de pesquisa que tinham os grupos de elite como foco principal.
Este livro é o resultado deste esforço de reflexão conjunta.
Curitiba, inverno de 2015.
Renato Perissinotto
Adriano Codato
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1 Para ilustrar, mencionamos aqui alguns trabalhos em cada domínio. Para backgrounds sociais, ver (GÖHLMANN; VAUBEL, 2007; MATTHEWS, 1962). Para estudo de padrões decarreira na política ver (BORCHERT; ZEISS, 2003; SCHLESINGER, 1966). Sobre valores deelites, ver (CZUDNOWSKI, 1983; POWER; ZUCCO, 2012; PUTNAM, 1973). Sobre conitos
intra-elite, ver (CODATO, 2015; HOFFMANN-LANGE; NEUMANN; STEINKEMPER, 1985).
ESTUDOS SOBRE ELITES políticas podem ser reunidos em torno de quatro
grandes temas: exame de backgrounds sociais, análise de padrões de carrei-
ra, surveys sobre valores e atitudes de grupos de elite diante de temas pre-
cisos e pesquisas sobre interações entre grupos e seus graus de competição
e integração (HOFFMANNLANGE, 2007, p. 911–912).
Seja qual for a temática investigada, duas questões se impõem antes detudo: de que artiício metodológico se lançar mão para identiicar a elite?; e
como estimar o seu poder diante da não elite?
Adriano Codato
1. Metodologias paraa identicação de elites:três exemplos clássicos
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Como estudar elites
O objetivo deste capítulo é expor e explicar, para aqueles muito inician-
tes, as metodologias empregadas nas pesquisas com elites políticas e sociais.Assim, sintetizo as fórmulas para identiicar posições de elite, já que uma
primeira diiculdade de todo o estudo nessa área é deinir a população a ser
analisada. Isso implica em circunscrever “quem manda” ou quem faz parte
do círculo íntimo do poder e consegue influenciar decisões chave. Cientis-
tas políticos desenvolveram, no século XX, métodos sistemáticos para fazer
isso sem que se precise improvisar ou inventar uma metodologia a cada nova
pesquisa. Na primeira seção há uma síntese dos três padrões de análise co-
nhecidos para mostrar como toda deinição de “quem manda” exige que se
pense três conceitos da teoria política: poder, influência e decisão. Na segun-da seção, apresento como o Departamento Intersindical de Assessoria Parla-
mentar (DIAP) elabora, todos os anos, uma listagem dos políticos brasileiros
mais influentes intitulada Os “Cabeças” do Congresso Nacional. Nas três se-
ções seguintes, exponho detalhadamente vantagens e limites operacionais
dos métodos “posicional”, “decisional” e “reputacional”, enfatizando os
procedimentos práticos para aplicá-los e apontando algumas armadilhas.
1. Os padrões de análise para identicar posições de elite
Há três métodos consagrados (PUTNAM, 1976) nesse domínio de conheci-mento para se deinir a população a ser analisada.
O método posicional enfatiza que os que decidem são aqueles indivíduos
ou grupos que preenchem as posições formais de mando em uma comu-
nidade (diretorias de grandes empresas, cúpulas do Executivo, posições
superiores nas organizações políticas e militares). Sua grande vantagem é
identiicar o maior número possível de indivíduos influentes com seguran-
ça. O livro mais representativo dessa abordagem é The Power Elite, de C.
Wright Mills (1956). Ele trata da solidariedade dos grupos dominantes dos
Estados Unidos em meados do século XX e do círculo de ferro formado pe-las elites corporativas, políticas e militares.
O método decisional sustenta, por sua vez, que as pessoas com poder
são aquelas capazes de tomar as decisões estratégicas para uma comu-
nidade (ou influenciar as suas decisões mais importantes) e nem sempre
se confundem com aquelas que ocupam as posições formalmente de-
signadas como as mais relevantes. O estudo clássico aqui é o de Robert
Dahl, Who Governs? (1961), sobre a cidade de New Haven, em Connecti-
cut. Seu objetivo foi determinar “quem governa” uma comunidade, isto
é, entre os vários grupos de pressão e de interesse (incluindo também os
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2 Dahl fornece uma descrição detalhada do método no apêndice do livro. É preciso calcu-lar o número de iniciativas ou vetos bem-sucedidos de cada participante em uma decisãoe o número de insucessos. Em seguida deve-se considerar como mais inuente o parti-cipante que tiver a mais alta taxa de sucessos ou tiver a mais alta relação entre os seussucessos e o total de suas tentativas. Ver Dahl (1961, p. 331–333).3 Hunter expõe minuciosamente o procedimento da pesquisa no apêndice. Ver Hunter
(1953 Apêndice).
políticos proissionais), qual ou quais detêm influência suiciente para
estabelecer suas preferências nas decisões públicas.O método reputacional foi o método usado em Community Power Struc-
ture por Floyd Hunter (1953), uma monograia sobre Atlanta e depois apli-
cado em nível nacional no livro Top Leadership U.S.A. (1959). Trata-se de
um procedimento em duas etapas complementares. A primeira consiste em
elaborar uma lista ampla de lideranças em uma comunidade a partir das
posições formais que elas controlam em diferentes arenas decisórias (mé-
todo posicional). A segunda etapa consiste em submeter essa lista a espe-
cialistas solicitando que indiquem um pequeno número daqueles que são,
dentre os listados, os mais reputados, isto é, aqueles considerados como osmais influentes ou os mais poderosos. O grupo de elite seria então formado
pelos que fossem mais vezes mencionados.
O quadro 1 a seguir resume como cada um desses métodos lida operacio-
nalmente com as noções de poder, influência e decisão.
Quadro 1. Poder, inuência e processo decisório conforme os métodos posicional, reputacional e decisional
Método posicional Método decisional Método reputacional
Recursos de podere inuência
Poder de decisãoformal cujas fontes sãoas posições ocupadas
nas organizações funda-mentais da comunidade
Recursos de poder con-tingentes, dependentes
das relações de forçacambiantes entre umapluralidade de grupos
Recursos de poderposicionais e inuência
política com baseno prestígio pessoal
socialmente reconhecido
Envolvimento ativono processo decisório
Somente decisorescom poder político Atores políticos inuen-
tes, independentementede sua autoridade formal
sobre o processo detomada de decisões
Indivíduos consideradoscomo inuentes cujas
preferências são levadasem conta na tomadade decisão política
Envolvimentoativo e inuênciapolítica indireta no
processo decisório
Decisores com mandatospolíticos e titulares de
posições de liderança em
organizações importantes
Fonte: Adaptado de Hoffmann-Lange (2007).
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Hoffmann-Lange chamou a atenção para uma coisa importante e quenormalmente tem passada despercebida: as diferenças entre essas metodo-
logias são substantivas. Enquanto a deinição da população a ser estudada
pelo método decisional e posicional tende a incluir um maior número de
indivíduos e/ou grupos, a abordagem reputacional tende a restringir o uni-
verso observável (2007, p. 914). Vejamos a seguir como uma pesquisa com a
elite parlamentar brasileira consegue combinar esses métodos.
2. Identicando e hierarquizando elites na prática
No Brasil, o DIAP publica todos os anos a relação dos que são conside-rados os parlamentares federais mais influentes (deputados e senado-
res). O propósito é “listar os operadores-chave do processo legislativo”.
A relação do DIAP é sempre composta por 100 nomes que “realmente
exercem influência no processo decisório do Poder Legislativo” (DIAP,
2014, p. 8). Como medir o poder desses agentes? Poder é entendido es-
sencialmente como habilidade, experiência, especialização ou posse de
recursos (“materiais, econômicos, organizacionais, humanos, técnicos,
partidários, ideológicos ou regionais”) passíveis de serem convertidos
em liderança política. Liderança ou influência política é, na deiniçãoadotada pelo DIAP, “uma relação entre parlamentares na qual as pre-
ferências, desejos ou intenções de um ou mais parlamentares afetam a
conduta ou a disposição de agir de outros” (DIAP, 2014, p. 11). A meto-
dologia empregada é uma ilustração do método de Hunter combinado
com os outros dois. Primeiro são selecionados os membros, presidentes
e relatores das Comissões legislativas, as lideranças dos partidos polí-
ticos e os integrantes as Mesas Diretoras da Câmara e do Senado. Essas
são as posições-chave das duas Casas tal como estipuladas formalmente
pela estrutura da organização (método posicional). Em seguida, a equipede técnicos do DIAP, com o concurso de outros experts, classiicam os
parlamentares em função das qualidades que reputam mais signiica-
tivas (método reputacional): debatedores, articuladores, formuladores,
negociadores e formadores de opinião (DIAP, 2014, p. 12–13). Todavia,
4 O DIAP faz entrevistas com os próprios deputados federais e senadores, e tambémcom os assessores da Câmara e do Senado, jornalistas, cientistas políticos e analistas
de conjuntura.
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5 Para um panorama desse debate, ver a entrada Community Power Debate na Encyclo-
pedia of Power (DOWDING, 2011, p. 122–126).
essas características e o poder de condicionar a opinião ou a ação de
outros parlamentares deve ser atestada na análise das decisões efetivastomadas na Câmara e no Senado (método decisional).
O trabalho de hierarquização e classiicação que o Departamento Inter-
sindical de Assessoria Parlamentar faz dos “Cabeças” do Congresso Nacio-
nal permite ressaltar alguns princípios metodológicos em estudos de elites.
Primeiro, é preciso eleger um ou uma combinação de métodos de identi-
icação do grupo de elite analisado (PAPPI, 1984). Cada um deles enfatiza o
aspecto fundamental que precisa ser levado em conta. No caso do método
posicional é indispensável conhecer a estrutura formal da organização, isto
é, o organograma, os aparelhos e os cargos, seus níveis de poder e as respec-tivas capacidades de exercer influência estando em um aparelho ou cargo.
No caso do método decisional, toda diiculdade está em selecionar “a” ou
“as” decisões mais importantes para uma comunidade, já que isso não é ób-
vio. Assim, é indispensável estudar uma série de políticas de governo. Além
disso, essas políticas – a resultante inal do processo decisório – têm de ser
geradoras de conflitos que oponham grupos distintos de elite. Doutra ma-
neira é impossível saber quem perde, quem ganha, quem tem, quem não
tem capacidade de tomar decisões públicas ou exercer sua influência sobre
elas. No caso do método reputacional, é preciso escolher uma e somenteuma arena sobre a qual um conjunto restrito de indivíduos tem a fama de
exercer seu poder/influência (não há grupo hegemônico que influencie to-
das as decisões executivas e legislativas durante todo o tempo).
Segundo princípio metodológico: é imprescindível explicitar a deinição
de “poder” com a qual se está lidando. Essa diiculdade passa, necessaria-
mente, pela discussão teórica sobre o conceito de poder, suas noções corre-
latas (“influência”, “autoridade” ou “liderança”, etc.) e suas implicações
no domínio empírico para o desenho do estudo. Passa ainda pela forma
como se concebe a distribuição do poder numa comunidade ou organiza-ção. Uma estrutura de poder pode ser competitiva (Dahl), hierarquizada
(Mills) ou altamente integrada (Hunter).
Terceiro e último princípio metodológico que o relato das pesquisas anu-
ais do DIAP com os líderes do Congresso sugerem: é preciso criar indica-
dores empiricamente observáveis, isto é, mensuráveis em termos de grau,
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de presença ou de ausência, distribuição ou concentração, etc. para tentar
hierarquizar os grupos de elite (ou os indivíduos) conforme o maior ou me-nor poder que eles enfeixam. Nesse sentido, um relatório de métodos em-
pregados e das variáveis utilizadas no estudo, como elas foram construídas,
com que inalidade e o que pretendem explicar é mais do que necessário.
Vejamos em detalhe como operar cada método para identiicar e hierar-
quizar elites empiricamente.
3. O método posicional
De acordo com Wright Mills (1956), os membros da elite são aqueles que
“ocupam as posições estratégicas de comando da estrutura social”. Essasposições, por sua vez, são estratégicas porque controlam “as principais hie-
rarquias e organizações da sociedade moderna”: o aparelho do Estado, as
forças armadas e as grandes empresas capitalistas.
Em que pese a tautologia embutida na deinição de quem é a elite, di-
zemos que esta é uma deinição “posicional”, uma vez que a elite é discri-
minada em função das posições de comando que ela ocupa. Essas posições
são “institucionais”, isto é, para fazer parte da elite não é suiciente ocu-
par posições informais de mando, mas formais, nas principais instituições
econômicas, políticas e militares de uma dada sociedade. Escreve Mills: “Ariqueza não se centraliza na pessoa do rico. A celebridade não é inerente
a toda e qualquer personalidade. Ser célebre, ser rico, ter poder, exige o
acesso às principais instituições, pois [são] as posições institucionais [que]
determinam em grande parte as oportunidades de ter e conservar essas ex-
periências a que se atribui tanto valor” (MILLS, 1956 capítulo 1).
Isso posto – a elite é aquele grupo social que ocupa, controla e comanda
as principais instituições de uma comunidade –, poderíamos formular, a
partir de Mills, seguindo os passos do seu livro, uma lista de procedimentos
“metodológicos” para os estudiosos dos grupos dirigentes.Em primeiro lugar, é preciso se perguntar: quais são as instituições mais
importantes de uma sociedade determinada? Sociedades são históricas,
isto é, suas características variam ao longo do tempo (e também geograica-
mente, frise-se). Assim, não há “a” instituição ou “a” organização que con-
centra desde sempre todos os meios de poder. Em segundo lugar, uma vez
determinada a ou as instituições principais, é preciso descrever seus traços
fundamentais: seu poder é abrangente ou não, ou seja, afeta muitas áreas
da vida em comum ou da vida de indivíduos?; essas instituições exercem o
poder em regime de monopólio, oligopólio ou são concorrentes?
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Em terceiro lugar, é preciso saber se as cúpulas dessas instituições,
seus ocupantes, estão ou não ligados entre si formando aquilo que Millschamou de uma “elite do poder”, e como é efetivamente essa ligação. As
questões aqui são do seguinte tipo: há evidências de conexões entre os
indivíduos que comandam as ordens institucionais principais?; qual é a
intensidade dessas conexões: forte, fraca?
Em quarto lugar, é preciso saber que tipo de recurso social confere poder
ao grupo ou aos grupos mais importantes. Aqueles que pertencem à elite
possuem, segundo Mills, “uma parte maior que os demais nas coisas e nas
experiências mais altamente valorizadas [pela sociedade]. Assim, a elite é
simplesmente o grupo que tem o máximo que se pode ter de [...] dinhei-ro, poder e prestígio” (MILLS, 1956 capítulo 1). De onde vêm esse prestígio,
esse poder e esse dinheiro? É precisamente devido à posição central “nas
grandes instituições, que são a base necessária do poder, da riqueza e do
prestígio, e ao mesmo tempo constituem os meios do exercício do poder,
de adquirir e conservar riqueza, e de desfrutar as principais vantagens do
prestígio” que a elite é, ainal, elite (MILLS, 1956 capítulo 1).
Em quinto lugar, o controle dos recursos sociais mais valorizados por de-
terminados indivíduos que circulam pelas diferentes posições de elite pro-
duz o que Wright Mills chama de o “tipo de pessoa” característico daquelesque dominam uma sociedade determinada. Essa noção é especialmente
útil: o tipo de pessoa de “elite” que uma organização social produz, traz ins-
crito nela aquilo que essa comunidade mais valoriza.
O sexto passo que podemos deduzir de A elite do poder é a necessidade
de delimitar ainal qual o tamanho da elite que realmente manda. Há uma
linha de corte acima da qual podemos dizer que um grupo de elite tem mais
poder do que outro? Para Mills, fazem parte das altas rodas executivos, po-
líticos e comandantes militares que tomam decisões de caráter nacional,
capazes de afetar toda a comunidade.Por último, o sétimo procedimento metodológico para circunscrever e
descrever “a elite do poder” exige que se delimite o tipo de unidade desse
grupo. Esse atributo é bem mais exigente do que o descrito no terceiro pas-
so (conexões eventuais entre os indivíduos da elite através das instituições
que comandam). Um grupo de elite pode estar fechado em si mesmo graças
à sua: i) unidade “psicológica”: nesse caso, o grupo partilha a mesma hie-
rarquia de valores, as mesmas concepções de mundo, os mesmos princí-
pios; ii) unidade com base em “interesses”: as relações entre os indivíduos
que comandam as instituições-chave de uma sociedade pode gerar uma co-
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munidade de interesses ains entre eles que devem ser perseguidos pelo gru-
po; e iii) unidade de “ação”: a proximidade entre os interesses perseguidospelas cúpulas das instituições centrais de uma comunidade pode produzir
uma ação coordenada entre elas a im de atingirem mais facilmente seus
ins (MILLS, 1956 capítulo 1).
Essas etapas aqui descritas resumidamente foram pensadas por Wright Mills
para analisar uma sociedade. Podemos, entretanto, adaptá-las para uma insti-
tuição em particular. Por exemplo, se estudamos o Parlamento de um deter-
minado país, as mesmas questões se colocam. De saída: quem manda?; ou por
outra, quem é a elite do Legislativo nacional? Devemos assim buscar nas insti-
tuições formalmente descritas como sedes do poder essa resposta. Poderíamosdizer: o presidente e todos os indivíduos que ocupam a mesa diretora da Casa.
A partir daí todos aqueles passos descritos acima precisariam ser dados: qual é
tipo de poder desse grupo e como ele é exercido; saber se esses indivíduos for-
mam um grupo coeso; que recursos eles conseguem mobilizar para chegarem
e se manterem nessa posição de “elite da elite” política; quais são as caracterís-
ticas desses indivíduos; qual o seu tamanho e o que os mantém unidos.
4. O método decisional
O método posicional para identiicar qual é o grupo de elite é bastante in-tuitivo e de fácil operacionalização. A elite é aquela que controla posições
formais de mando numa dada sociedade ou organização.
Mas o método posicional falha em três raciocínios básicos. Primeiro, as-
sume que quem controla as posições formais de mando possui, por isso,
a capacidade efetiva de tomar as decisões mais importantes para uma so-
ciedade ou organização, o que nem sempre é correto. Segundo, não leva
suicientemente em conta aqueles que têm o poder de impedir que certas
iniciativas de determinados grupos sejam transformadas em demandas; ou
impedir que essas demandas se tornem questões políticas e, a partir daí,objeto de deliberação pelos governos; ou que, uma vez deliberadas, cer-
tas decisões sejam implementadas. E, terceiro, que só é possível saber se
um grupo de elite é elite e manda de fato, tem poder, estudando o ciclo do
processo decisório. É, segundo Robert Dahl, através da análise de decisões
concretas de governo que se pode determinar quem, efetivamente, possui a
capacidade de influenciar as decisões públicas. Este é o método decisional.
Os princípios do método decisional foram sistematizado por Dahl num
célebre artigo publicado na American Political Science Review em ins dos
anos cinquenta (1958). De acordo com ele, para se determinar quem gover-
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6 Tradução: “através de um exame de uma série de casos concretos onde são tomadasdecisões importantes: decisões sobre tributação e gastos, subsídios, programas de bem-
-estar social, política militar, e assim por diante”.
na e quem é governado, quem tem poder de iniciativa, quem tem poder
de veto, só é possível responder de forma suiciente esses pontos “by anexamination of a series of concrete cases where key decisions are made:
decisions on taxation and expenditures, subsidies, welfare programs, mili-
tary policy, and so on” (DAHL, 1958, p. 469).
O artigo de Dahl desloca a pergunta fundamental colocada por Wright
Mills – quem é a elite numa comunidade – para uma questão ainda mais
ambiciosa e que está na base de toda a reflexão política: o que é o poder e
como podemos provar que um grupo tem, de fato, poder sobre outros.
Mas como medir isso? Testes nesse campo são problemáticos se não se
tem presente que é preciso diferenciar potencial de controle de um gruposobre uma questão-chave para a comunidade de controle efetivo sobre a
política em questão. Além disso, é preciso ter presente que uma ação polí-
tica efetiva é tanto mais provável se e somente se um grupo é capaz de agir
unido (é o que Dahl cama de potencial de unidade). Em seguida, não se deve
assumir que a ausência de igualdade política numa comunidade prova, por
si mesma, a existência de uma elite poderosa. Além disso, não é porque um
grupo tem um alto grau de influência numa área (educação, por exemplo)
que ele terá em todas (urbanismo, tributos, transportes, etc.), a menos que
isso seja constatado empiricamente (DAHL, 1958, p. 464–465).Alternativamente, Dahl propõe um teste de hipótese para saber se há,
numa dada comunidade, uma elite governante baseado em três condições:
i) a elite dirigente hipotética deve ser um grupo bem deinido empiricamen-
te, com contornos claros; ii) deve-se escolher uma quantidade razoável de
casos envolvendo decisões políticas chave, onde as preferências da suposta
elite dirigente estariam em confronto com as preferências de outros grupos
(a serem determinados); e iii) deve-se então provar, através do estudo dos
conflitos envolvendo as preferências da suposta elite dirigente contra as
preferência de outros grupos, que as primeiras prevalecem com uma boaregularidade (DAHL, 1958, p. 466). Por isso, para comparar o potencial de
influência sobre decisões de dois grupos distintos (que podem ser classes,
partidos, etc.), é preciso, antes de tudo, saber que objetivos cada um deles
persegue, que interesses defendem (1958, p. 463–464).
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Há dois pontos cegos nessa formulação. O estudo do processo decisó-
rio é feito sobre decisões efetivas e não sobre decisões frustradas (“nãodecisões”). Por isso, aqui também, como no caso do método posicional,
não se identiica quem impede decisões. O outro ponto, objeto de crítica
dos marxistas, é que as perspectivas elitistas ignoram quem se beneicia
das decisões públicas. Esses de fato são dois problemas dessas aborda-
gens, mas o raciocínio dos estudos marxistas é igualmente problemá-
tico, seja porque sua ênfase nos condicionantes das estruturas sociais
faz com que se desinteressem completamente por estudar quem decide,
quem governa (PERISSINOTTO; CODATO, 2009); seja porque assumem
que quem se beneicia de determinada política de Estado deve estar, ne-cessariamente, na origem dela.
5. O método reputacional
O método reputacional, como mencionamos mais acima, foi utilizado por
Floyd Hunter em Community Power Structure: A Study of Decision Makers
(1953). O livro conduziu os estudos sobre governo a um novo patamar ao
tentar compreender o jogo político olhando para grupos sociais especíicos
de uma comunidade especíica. Community Power Structure é uma pesquisa
monográica sobre Atlanta, uma cidade média, à época com 500 mil pessoas,no estado da Georgia, EUA. Hunter recupera e amplia os estudos políticos
de comunidades na tradição de Democracy in Jonesville (1949), de William
Lloyd Warner (STRONG, 1954). Trata-se de uma análise empírica sobre o que
é o poder, os tipos de poder que existem e como ele está distribuído entre os
grupos minoritários. Sua motivação é encontrar onde está, ou quem detém,
melhor dizendo, o “real power ” por detrás do “ formal power ”.
Community Power Structure mostrou que o poder nos Estados Unidos
nos anos 1950 numa “regional city” estava concentrado – e não disperso
em múltiplos grupos de interesse que concorriam entre si. Além disso,mostrou que se ele era gerido a partir da prefeitura municipal (adminis-
tration), não era ali que era produzido ( policy). Esse poder estava reuni-
do nas mãos de uma pequena elite – top leaders –, formada por homens,
brancos, na sua maioria empresários de negócios e bancos, que estavam
interconectados, e as decisões que realmente importavam eram tomadas
no Piedmont Country Club. Nesse sentido, as análises de Hunter irão evi-
denciar que onde se decidem as coisas fundamentais, raramente (ou qua-
se nunca) são os comitês burocráticos, escritórios políticos ou repartições
administrativas formalmente designadas para tanto.
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7 Hunter também entrevistou 34 líderes da comunidade negra e 14 assistentes sociais eplanejadores urbanos. Fez a eles a maioria das perguntas que ele tinha feito aos princi-pais líderes da comunidade. A partir desse grupo de controle, ele foi capaz de precisaras informações que possuía sobre as relações econômicas, políticas e pessoais entre ospoderosos (DOMHOFF, 2005).8
. Acesso em: 2 set. 2015.
Hunter pediu a quatorze cidadãos, em geral proissionais liberais de alta
classe média, que tinham um bom conhecimento sobre como as coisasfuncionavam em Atlanta, que escolhessem apenas dez nomes de uma lista das
175 pessoas importantes. Hunter compilou essa lista de 175 notáveis a partir
das posições formais eles que ocupavam na cidade, isto é, na Chamber of
Commerce, na League of Women Voters, no Community Council, no comando
dos jornais locais e entre os líderes comunitários. Ele indagou então a cada
um daqueles 14 cidadãos bem informados mais ou menos o seguinte: “se
houvesse um projeto na cidade que devesse ser decidido por um grupo de
super-líderes, reconhecidos por quase todos como tais, você poderia escolher
dez dentre eles nessa lista de 175 que elaborei?” Após checar as indicaçõesrepetidas com mais frequência, surgiram quarenta indivíduos reputados,
considerados pelos quatorze como os influentes de Atlanta. Vinte e sete deles
foram então entrevistados. Nova rodada de questões foram então feitas a esse
subgrupo. Hunter pediu que eles indicassem os líderes mais importantes da
cidade, dissessem o quão bem conheciam aquelas pessoas e quais eram os dois
principais problemas de Atlanta. Esses vinte e sete indicaram mais cinco líderes
que não estavam naquela relação original dos quarenta, mas concordaram
que aqueles quarenta eram os mais poderosos. Essa relação, que ao inal
somava 45 nomes, e que poderíamos chamar de a “elite da elite”, não é umaamostra probabilística, no sentido estatístico, mas pretendia ser representativa
dessa população que transitava pelo restrito círculo do poder (HUNTER, 1953).
A estratégia de pesquisa empregada por Hunter, que supõe acesso aos
maiorais de uma comunidade, dezenas de entrevistas sistemáticas e obser-
vação direta, o que nem sempre é possível para pesquisadores iniciantes,
foi grandemente facilitada pelo seu conhecimento prévio do terreno. Hun-
ter cheiou, de 1946 a 1948, o Atlanta Community Council. Essa experiência
pessoal no segundo escalão da burocracia do serviço social da cidade lhe
valeu o embasamento que mais tarde seria utilizado para desenvolver seuesquema analítico e escrever sua tese de doutorado em Sociologia e Antro-
pologia em 1951 sobre a estrutura de poder numa comunidade.
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Existem, entretanto, algumas diiculdades apontadas por vários críti-
cos ao método reputacional. A primeira é sustentar (e não supor como hi-pótese) que haja um conjunto de pessoas altamente influentes e que isso
possa, além de tudo, ser identiicado. A segunda é concentrar-se apenas
na face pública, na face mais visível do poder, ignorando outras arenas.
A terceira diiculdade é assumir o pressuposto de que são os indivíduos
os sujeitos do poder numa sociedade cada vez mais organizada em tor-
no de instituições (governos, partidos, igrejas, sindicatos, etc.). Em tal
ordem social, os indivíduos que comandam essas instituições são inter-
cambiáveis e podem ser invisíveis aos olhos do público, mesmo do mais
informado. Um quarto problema da abordagem reputacional é assumirque “poder” é aquilo que as pessoas acham que ele é, sem que se orien-
te o respondente sobre que tipo de poder a pesquisa procura (CLEGG,
1989, p. 49–50).
Teoricamente, nada garante que, ao se repetir o mesmo estudo no
mesmo lugar, mas em momentos distintos, se chegará a encontrar o
mesmo grupo de pessoas influentes ou a mesma “estrutura de poder”.
Todavia, os achados de Floyd Hunter se mostraram poderosos. Jennings
(1964) encontrará 57 dos 59 nomes identiicados no estudo piloto e,
entre os top leaders, 23 dos 27 entrevistados por Hunter uma décadaantes e concluirá que a técnica empregada em Community Power Structure
“measures more than simply respect, popularity, or social status. It
serves to locate people of consequence in community decision making”
(JENNINGS, 1964, p. 164 apud Domhoff 2005). Stone (1976), que analisou
o programa de renovação urbana de Atlanta entre 1950 e 1970, conseguiu
mostrar que os conflitos de interesse em torno do redesenho da cidades,
seus personagens e suas forças relativas faziam de Atlanta uma cidade
mais próxima daquela descrita por Hunter do que a New Haven de Dahl
(DOMHOFF, 2005).De toda forma, caso se decida utilizar a metodologia reputacional, de-
ve-se observar algumas indicações. Eleger bem os especialistas que irão
reduzir, graças ao conceito gozado na comunidade, o grupo maior no
grupo menor (ou seja, aqueles 14 que indicaram 40 dos 175 da relação
original de Hunter), é uma recomendação importante para, em seguida,
se perguntar diretamente aos poderosos quem, dentre eles, são os mais
poderosos. Assumir que toda seleção tem um viés e que as indicações
dos mais influentes são subjetivas e dependem tanto das preferências
como do nível de conhecimento que um indivíduo tem da elite e de
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9 Ver sobre esse ponto a crítica de Dahl (1960) ao livro de Hunter (1959) sobre os EUA.O método reputacional se assemelha com a técnica de construção de amostragens
snowball (“cadeia de informantes”). Ela consiste em descobrir, para o caso de popula-ções pouco acessíveis, quem são os seus integrantes a partir de indicações sucessivasdos seus membros (‘Discovering new inuential individuals by asking others’). Ver para
mais detalhes Goodman (1961).
como a política de fato funciona. Por im, esse método é operacionali-
zável em pequenas ou em médias comunidades e com um universo bemdelimitado, passível de ser entrevistado. A partir de certo tamanho, há
muitos atores, muitas variáveis, muitos tipos de políticas, muitas arenas
com as quais se deve trabalhar.
Conclusões
Todos esses três métodos não se diferenciam entre si em um postulado. O
“poder” é sempre entendido aqui como “capacidade de tomar decisões”
(ou como a competência para influenciar aqueles que têm, formalmen-
te, a função política de tomá-las: prefeitos, burocratas, gestores, etc.). Oobjetivo essencial desses três autores foi estabelecer um método onde se
pode provar que um grupo tem poder ou tem mais poder do que outros,
já que essa é uma medida relacional. Nesse sentido, toda a discussão se
concentra em torno da deinição dos indicadores empíricos que serão
utilizados para testar se um determinado grupo – que pode ser político,
econômico, social, etc. – detém ou não poder e o quanto poder ele de-
tém. Mas esses procedimentos não permitem identiicar quem impede
que decisões públicas sejam tomadas (embora os procedimentos descri-
tos por Floyd Hunter tenham um bom potencial para isso); nem quemse beneicia das decisões dos governos. Assim, não devemos pedir mais
do que eles podem nos oferecer, por exemplo uma teoria política sobre o
mundo social. No entanto, há uma diiculdade maior e mais importante:
o que esses métodos não discutem é o que poderíamos chamar de os fun-
damentos estruturais do poder.
As condições de acesso a postos de elite, isto é, as colocações privile-
giadas numa comunidade, o controle desigual de recursos (econômicos,
políticos, ideológicos), e o grau variável de influência de certos grupos
sociais estão, conforme o postulado dos marxistas, condicionados funda-mentalmente, ainda que não exclusivamente, por seu lugar na estrutura
social (OFFE; WIESENTHAL, 1984). Grupos – frações de classe, camadas
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ou categorias sociais – podem estar em posições mais altas ou mais baixas
na estrutura de classes, mais próximos ou mais distantes dos centros depoder político, dentro ou fora dos sistemas de propriedade econômica,
etc. Isso determina de antemão a estrutura de oportunidades políticas
de cada um e qualiica, de saída, quem pode e quem não pode ascender a
posições de mando numa comunidade.
Nesse sentido, essas são metodologias para veriicar, empiricamente,
se, quando e de que maneira um determinado grupo de elite atua para
influir ou impor uma decisão política. Elas não servem, ainda que Wri-
ght Mills tenha pretendido, para compreender o universo sociopolítico de
uma era ou de uma civilização. O termo “estrutura de poder”, de FloydHunter, é para ser empregado de maneira descritiva e não como um sinô-
nimo de sistema de dominação social, algo muito mais amplo. E as indica-
ções práticas de Dahl são um princípio para se começar a medir o grau de
participação que um dado sistema político permite. Mas não uma medida
completa de democracia.
10
Para a expressão, ver Tarrow (1994).
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2. O uso do survey noestudo do recrutamentopolítico: limites e vantagens
Bruno Bolognesi
Renato Perissinotto
NA CIÊNCIA POLÍTICA o survey tem sido usado predominantemente em
estudos e levantamentos que buscam captar as preferências de eleitores,
suas posições político-ideológicas, seus valores em relação à democracia,
suas intenções de voto etc. Foi durante as décadas de 1970 e 1980 que o uso
dessa ferramenta se destacou, especialmente nas pesquisas de opinião e de
comportamento eleitoral, principalmente frente à onda mundial de rede-mocratização ocorrida nessas décadas (SIMÕES & PEREIRA, 2009, p. 241).
No entanto, nos estudos acadêmicos brasileiros observa-se ainda um uso
parcimonioso dessa técnica (AGUIAR, 2001, p. 3) e surpreende o fato de que
pesquisas de survey ocorram apenas pontualmente. Ainda mais escasso é o
uso do survey para tentar captar processos em curso – como em estudos de
1
São os chamados estudos de aproximação longitudinal (Babbie, 2005).
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Como estudar elites
2 Para os impactos do recrutamento político sobre o funcionamento da Câmara dos De-putados, ver Power e Mochel (2009) e Marenco dos Santos (1997); para um estudo sobreltros seletivos no processo de recrutamento para a mesma instituição, ver Perissinotto eBolognesi (2010) e Perissinotto e Miríade (2009); para o problema das motivações subjeti-vas e sua relação com a prossionalização política, ver Perissinotto e Veiga (2014).3 Existe um debate sobre em que medida surveys conseguem ou não captar opiniões. Cf.Johnston, 2009. Nossa intenção aqui, porém, é focar o problema do uso do survey para oestudo de processos. Ou seja, não estamos preocupados em captar a percepção dos in-divíduos acerca dos principais problemas sociais de um país ou medir a taxa de intençãode votos em determinado candidato nas eleições. Interessa-nos operar a reconstruçãomental pelo qual o entrevistado passou ao longo de um processo político.4
O questionário foi elaborado para a pesquisa Como se faz um Deputado: a seleção
painel – ou processos que ocorreram no passado, quando a memória do en-
trevistado é fundamental para o pesquisador entender determinados fenô-menos políticos, como, por exemplo, os processos de socialização política
na inância, na adolescência ou no início da vida adulta.
Neste capítulo faremos uma discussão metodológica sobre a aplicação
de survey ao estudo de processos de recrutamento político. Para que um
estudo de recrutamento político seja feito, é preciso ir além dos estudos
sociográicos sobre as elites políticas, que, em geral, limitam-se a descrever
de maneira estática os atributos (econômicos, sociais, escolares, institucio-
nais) possuídos por determinados indivíduos (as “elites políticas”) e que
facilitam seu acesso aos postos de mando (para mais detalhes a esse respei-to ver a discussão realizada no primeiro capítulo desta coletânea). Avançar
nesses estudos, ao contrário, implica identiicar os caminhos e iltros pelos
quais esses indivíduos devem passar ao longo do tempo para chegarem a
posições de cheia ou representação. No entanto, no Brasil, mesmo nesses
casos, em que se procura captar a “dinâmica” do recrutamento, as entre-
vistas realizadas pelos pesquisadores raramente discutem por que os ca-
minhos a serem percorridos devem ser esses e não outros, para não falar na
quase absoluta ausência de discussões sobre os aspectos motivacionais que
levam os indivíduos a se lançarem na atividade política.Para suprir essa lacuna, elaboramos um questionário para estudar o
processo de seleção de candidatos a deputados federais nas eleições de
2010. Não pretendíamos apenas identiicar as posições contextuais (so-
ciais, econômicas) e/ou institucionais dos entrevistados e formular expli-
cações causais a partir delas. Nosso objetivo foi estudar o processo pelo
qual tais indivíduos chegam à antessala da Câmara dos Deputados no Bra-
sil, que é a presença na lista de candidatos dos partidos políticos.
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O uso do survey no estudo do recrutamento político
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dos candidatos a deputado federal nas eleições de 2010. Essa pesquisa é fruto da co-operação entre a Universidade Federal do Paraná (UFPR), Universidade Federal de SãoCarlos (UFSCar), Universidade Federal do Pará (UFPA), Universidade Federal de Sergipe(UFS) e Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS). A pesquisa foicoordenada pelos professores Renato Monseff Perissinotto e Luciana Veiga, no Paraná,Maria do Socorro Sousa Braga e Bruno Bolognesi, em São Paulo, Maria Luzia Álvares, noPará, Wilson Oliveira, em Sergipe e Flávio Heinz no Rio Grande do Sul. A discussão sobrea amostra será retomada em momento oportuno. Por hora, basta saber que foram aplica-
dos 120 questionários distribuídos igualmente entre PT, PMDB, PSDB e DEM.
Tendo em vista a discussão do nosso instrumento de coleta de dados,
organizamos este capítulo da seguinte maneira: na primeira parte discu-timos as vantagens e desvantagens do uso do survey, listando da manei-
ra mais sistemática possível o que a literatura aponta como os principais
ganhos cientíicos e empíricos propiciados pelo uso dessa técnica assim
como seus limites mais signiicativos. A segunda seção apresenta a for-
ma como montamos o questionário à luz da teoria sobre recrutamento
e seleção de candidatos. Com exemplos oriundos de pesquisas sobre o
tema, encontrados na literatura internacional, ilustramos como constru-
ímos nossas questões de pesquisa e como procuramos contornar alguns
problemas importantes para chegar a uma ferramenta de coleta de dadoscujo conteúdo é bastante similar àquilo que a literatura sobre o tema con-
sidera relevante. Na terceira parte trazemos uma discussão mais prática
sobre o campo de pesquisa, relatando a experiência de condução de sur-
vey durante as eleições. Por im, nas considerações inais, resumimos os
ganhos analíticos ao mobilizar o survey para estudos de processos de re-
crutamento político.
1. Vantagens e limites do uso do survey
As pesquisas de survey (ou de “levantamento”, como o termo é traduzi-do de forma despreocupada em algumas publicações brasileiras, como
Fowler Jr. (2011) e Rosenberg (1976)) passaram por diversas fases ao lon-
go de seu uso cientíico. Se, no início dos levantamentos de opinião, a
técnica mais utilizada eram as aplicações face à face, hoje em dia é cres-
cente a mobilização de web-based surveys e de técnicas mistas que mobi-
lizam, ao mesmo tempo, entrevistas face à face, por telefone, websurvey
e IVR (sigla em inglês para Interactive Voice Response, onde o entrevis-
tado responde a perguntas pré-gravadas) (MARTIN, 2011, p. 6). As pes-
quisas sobre processo de recrutamento das elites políticas têm mostrado
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Como estudar elites
5 Spada e Guimarães (2013), é um exemplo desse problema.6 Como sugere Simões e Pereira (2009) ou Babbie (2005). A sugestão é no sentido de quetemas não explorados ou que contam com parcas fontes possam ter, no uso de survey ,uma ferramenta útil para o acesso aos dados. É o caso, por exemplo, da pesquisa de sele-ção de candidatos, sempre tratada de modo formalista no Brasil, exigindo de nossa parte
uma ida ao campo para vericar as hipóteses formais dadas pela literatura.
que a aplicação do survey face à face produz um melhor rendimento do
que as outras modalidades (SIMSEK, 1999, p. 82). De fato, a vida diáriaintensa e marcada por uma agenda sem espaço para improvisos torna o
internet-based survey ou o envio de questionário por correios alternati-
vas temerárias. Tanto num caso como no outro, há grandes chances de
que, na ausência de um aplicador, nossos políticos peçam ao seu staff
para responder ao questionário ou simplesmente não dispensem tempo
e atenção para fazê-lo.
É preciso ainda avaliar o impacto de variáveis contextuais na aplica-
ção de surveys (JOHNSTON, 2009, p. 386). Esses impactos podem gerar
erros sistemáticos, como viés de seleção ( selection bias), ou ainda errosde coniabilidade (reliability), caso os indivíduos passem por diferentes
experiências ao longo do período da coleta. Por exemplo: durante uma
campanha eleitoral, a queda do candidato nas pesquisas de intenção de
voto e o eventual desânimo que isso pode gerar dentro do partido podem
mudar radicalmente a percepção do mesmo quanto ao modo como ele foi
tratado por sua organização ou quanto à natureza do seu processo seleti-
vo. O inverso, é claro, pode acarretar numa postura muito mais otimista
pelo entrevistado. Nos dois casos, essas experiências contextuais afeta-
riam o conteúdo da resposta.Contudo, mesmo com esses problemas, a coleta de campo, se bem
coordenada, pode trazer resultados válidos e inéditos, já que ao menos
teoricamente o survey permite ao pesquisador formular perguntas sobre
assuntos pouco trabalhados na literatura e trabalhar com hipóteses ainda
não testadas. Nesse sentido, pensamos que, se estivermos atentos às dii-
culdades da coleta, a pesquisa de survey tem algumas importantes vanta-
gens em relação a outros instrumentos de pesquisa. A seguir listamos as
que consideramos as mais importantes.
A possibilidade de produzir bons dados quando a pesquisa é
bem desenhada.
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7 Outros instrumentos de coleta de dados, é claro, permitem a participação direta do pes-quisador em sua elaboração, mas são quase sempre muito mais suscetíveis às limitações
das fontes ou do campo do que o survey .
O termo survey, em inglês, designa, em linhas gerais, “coleta sistemá-
tica de dados”. Se, por um lado, dados de pesquisa podem ser coletadosde várias outras formas, como etnograias, observações participantes,
prosopograias, entrevistas em profundidade e análise de conteúdo, por
outro lado, o survey parece ser o que mais confere controle ao pesquisador
na determinação do desenho de pesquisa, visto que provém dele a maior
parte da responsabilidade pela produção dos dados. Não se trata apenas
de dizer que o survey permite ao pesquisador elaborar suas próprias ques-
tões, o que outras técnicas também o fazem. Mais do que isso, o survey
permite conduzir o entrevistado a um conjunto de alternativas previa-
mente selecionadas, reduzindo o caráter aleatório e vago das respostas(algo muito signiicativo em entrevistas em profundidade) e a possibili-
dade de obter informações não desejadas.
O survey é talvez o instrumento de pesquisa de cuja elabora-
ção o pesquisador participa mais diretamente e sobre o qual
tem mais controle, o que lhe permite formular questões es-
pecíicas para seu objeto de estudo e que não foram ainda
pensadas pela literatura.
Essa vantagem pode ser obtida também com outros métodos, como
entrevistas em profundidade ou grupos focais. No entanto, o uso do
survey traz a vantagem da precisão e clareza das perguntas elaboradas,
assim como das alternativas de respostas apresentadas ao entrevista-
do. Por exemplo, nas pesquisas sobre seleção de candidatos, o tema da
“motivação política”, como variável que determina a disposição do in-
divíduo a se lançar como candidato, é tratado quase sempre de forma
acessória, quando sequer é tratado. Durante a elaboração do questio-
nário, pudemos incluir questões referentes a esse tópico, apontado porCzudnowski (1975) como um dos pilares para o pleno entendimento do
processo pelo qual alguns indivíduos se candidatam a cargos políticos
e outros não. Assim, para além dos dados sociográicos e institucionais
com os quais a literatura trabalha, pudemos incluir perguntas sobre mo-
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8 Por exemplo, o uso de amostras complexas como uma técnica que reduz custos mone-tários e de tempo e ainda assim permite uma generalização segura. Outras vantagenssão colocadas quando se aliam teoria e desenho amostral, como no caso de processospuramente locais (como, por exemplo, as eleições primárias americanas) onde se optapela realização de amostras com n reduzido em diversos clusters em contraposição a
uma grande amostra aleatória nacional com grande n.
tivações que contribuíram para uma visão mais complexa do processo
de seleção de candidatos (BOLOGNESI; MEDEIROS, 2014).
O survey conta também com a grande vantagem de poder lançar
mão de amostras a im de produzir extrapolações estatísticas.
O uso de amostras geralmente conduz a conclusões sobre uma popu-
lação em geral, o que dá margem para generalizações sobre comporta-
mentos sociais ou teses cientíicas sobre determinados fenômenos com
custo operacional e material relativamente baixo – proposição da qual
partilham Halperin e Heath (2012, p. 230). Mesmo contando com amos-tras reduzidas e experimentais, como o foi aqui, a utilização do ques-
tionário pode representar uma contribuição como estudo de caso sobre
um objeto pouco pesquisado, dando margem para que estudos futuros
possam ampliar os resultados. Além disso, a mobilização de diferentes
técnicas de amostragem permite generalizações seguras acerca da po-
pulação analisada.
A pesquisa de survey permite captar a lógica dos comporta-
mentos sociais, veriicá-la e quantiicá-la.
Mais do que isso, é possível, por meio do questionário, elaborar ques-
tões que levem em consideração a lógica dos respondentes, respeitando-
-se assim os termos e categorias mentais por eles utilizados ao tratar do
tema discutido pela pesquisa. De nada adiantaria formular questões com
um conjunto de termos desprovidos de sentido para o entrevistado ou,
pior, dotados de sentido radicalmente distinto daquele utilizado pelo pes-
quisador. Não nos adiantaria perguntar aos candidatos, por exemplo, qual
foi o “ selectorate” responsável por sua nominação. Por outro lado, tam- bém de nada adiantariam perguntas genéricas sobre quais os processos
partidários que o levaram até as listas. Nesse sentido, o meio-termo foi
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9 Outro bom exemplo deste tipo de publicação pode ser encontrado em Freire, Viegas
e Seiceira (2009).
perguntar quais foram as pessoas ou grupos no interior do seu partido res-
ponsáveis pela candidatura do entrevistado. Isso fez com que a perguntafosse compreendida, possibilitando-nos mensurar o conceito desejado.
Por meio do survey é possível estabelecer correlações entre va-
riáveis e relações causais a partir da coleta de dados e da teoria.
Com esse instrumento de coleta de dados e de posse de uma boa teo-
ria, pode-se ir até mesmo além daquilo que os dados revelam imediata-
mente, buscando o que King, Keohane e Verba (2000) classiicam como
inferência cientíica. Por exemplo, podemos imaginar a princípio, comofaz certo senso comum progressista sobre o processo de recrutamento
de candidatos, que a ausência de candidatas nessa fase de confecção das
listas partidárias se deve ao caráter sexista dos selecionadores, sempre
dispostos a privilegiar homens. O survey pode (e de fato o fez, no nos-
so caso) revelar que as mulheres não se candidatam não porque são re-
jeitadas pelo partido, mas sim porque não possuem condições sociais,
familiares e de tempo para entrar na vida política, todas elas condições
para chegar até o partido. Uma boa teoria, portanto, poderia nos levar a
indagar sobre a natureza das relações de gênero que caracterizam a so-ciedade brasileira como parte fundamental da explicação desses dados
revelados pelo questionário.
As pesquisas dessa natureza cumprem uma exigência funda-
mental da cientiicidade: a replicabilidade (idem).
O mesmo questionário pode ser utilizado para diferentes populações,
em diferentes pontos do tempo e do espaço. A publicação da forma com
que o questionário foi montado e aplicado (além do próprio questioná-rio), como é o caso deste capítulo, é fundamental para que esse critério se
cumpra. O questionário ao qual nos referimos neste capítulo está publi-
cado integralmente no apêndice 1 deste livro (p.281).
A pesquisa de survey é especíica.
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Podemos investigar temas muito especíicos ou relações entre temas que
antes não haviam sido elaboradas pela literatura. Por exemplo, a seleçãode candidatos sempre foi retratada na literatura como o “jardim secreto”
dos partidos políticos (GALLAGHER; MARSH, 1988), um processo de dií-
cil acesso e realizado a portas fechadas no interior das legendas. Somado
a isso, sabemos que nos processos de seleção de candidatos na América
Latina predominam procedimentos informais em que fontes oiciais –
como estatutos ou programas de partido – pouco revelam sobre esse objeto
(FREIDENBERG; LEVITSKY, 2008). Desse modo, técnicas como a do survey
tornam viável acessar diretamente os atores do processo e indagá-los acer-
ca do “jardim secreto” do processo seletivo nos seus partidos.
O survey é capaz de coletar uma grande quantidade de dados,
mais do que a maioria das outras técnicas, como observação
participante, entrevista em profundidade e análise histórica.
É o que se denomina “range of applicability”. Isto é, com ele somos
capazes de criar perguntas pertinentes sem depender das limitações das
fontes. Isso permite aprofundar o vínculo com a teoria (linkage to the-
ory), o diálogo entre ela e os dados e, por conseguinte, desenvolver novosconceitos (conceptual richness). Por exemplo, pesquisas em fontes frias
– como arquivos, jornais, livros – não conseguem ir além das informações
disponíveis na fonte escrita. Através de questionários conseguimos abor-
dar todos os pontos que o pesquisador julga pertinente para validar um
conceito, atenuando em alguma medida a condição de refém das fontes
produzidas por outros.
Temos então um conjunto de vantagens que fazem da aplicação do sur-
vey uma técnica de pesquisa bastante coniável, com forte presença nas
Ciências Sociais e que conta já com grande tradição de discussão meto-dológica sobre as suas características (ALMEIDA, 2009; ONUKI; MAGA-
LHÃES; OLIVEIRA, 2012; RODRIGUES, 2006). Em nosso caso, procuramos
apontar como suas principais vantagens (i) o papel ativo do pesquisador
na elaboração do seu desenho de pesquisa; (ii) seu papel ativo na elabo-
ração do conteúdo das questões; (iii) a possibilidade de trabalhar com
amostras e inferências estatísticas; (iv) o respeito à lógica mental do en-
trevistado; (v) a possibilidade de estabelecer relações de causalidade ou
correlações estatísticas a partir dos dados; (vi) sua replicabilidade; (vii)
sua capacidade de especiicação e (viii) a riqueza empírica e teórica.
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10 Um dos modos mais acertados para uma exploração prévia à realização de uma pes-quisa de survey é fazer entrevistas em profundidade com uma amostra não representati-va da população, de modo a ter mais clareza sobre os pontos a serem abordados, sobrea maneira de formular questões, sobre que tipo de linguagem é a mais adequada parao contexto em questão etc. A partir de então, pode-se dar início à elaboração de um
questionário de maneira bem mais segura.
Essas vantagens, no entanto, são acompanhadas por alguns limites im-
portantes. A seguir, apontamos os que consideramos os mais relevantes.
O primeiro deles diz respeito à diiculdade de criar medi-
das para variáveis de percepção ou comportamento, tarefa
complexa tanto na montagem do questionário quanto em
sua aplicação e análise dos dados coletados, podendo ge-
rar o que a literatura chama de speciication error (LEEUW;
HOX; DILMANN, 2008, p. 4).
É sempre um problema saber se nosso questionário permite medir exata-mente aquilo que pretendemos. Como mensurar a posição ideológica de um
determinado indivíduo quando a percepção de tal postura pode ser afetada
pelo contexto político-social em que o mesmo está inserido? Como saber se o
entrevistado reconhece os termos da questão, se ele pensa com as categorias
ou em função das categorias de “direita” e “esquerda”, por exemplo? Para
evitar esse problema, é preciso conhecer, nem que seja um pouco, aqueles
que queremos entrevistar. Ou seja, ter um conhecimento do contexto em
que vivem os entrevistados é fundamental para evitar a imposição de termos
não reconhecidos por eles e essa é uma tarefa sempre complicada, pois nemsempre há informações prévias e disponíveis sobre isso. Uma alternativa ao
uso arbitrário de termos e expressões é produzir uma proxy, isto é, uma vari-
ável que seja “uma aproximação coniável da visão de mundo do entrevista-
do” (ALMEIDA, 2009, p. 113). Essa aproximação pode ser feita através de per-
guntas sobre situações a serem hipoteticamente enfrentadas pelo candidato
de modo a tentar captar a sua reação, também hipotética, a elas.
Por exemplo, queríamos determinar se os indivíduos eram ou não dis-
ciplinados em relação ao partido político ao qual estavam iliados. Em vez
de perguntarmos “O(a) senhor(a) poderia nos dizer se é disciplinado(a)em relação ao partido a que pertence?”, o que implicaria pressupor que o
entrevistado teria sobre o termo “disciplinado” o mesmo entendimento
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que nós (i.e., estritamente iel às determinações do partido), optamos por
perguntar: “Numa situação hipotética em que o(a) senhor(a) tenha umaposição pessoal e seu partido uma posição divergente, o(a) senhor(a): 1.
Adota a posição do partido ou 2. Mantém sua posição pessoal?”. A dis-
ciplina continuou sendo o foco de nossa indagação, sem que a questão
fosse formulada diretamente nesses termos.
Uma segunda desvantagem consiste em elaborar escalas que
representam pouco a realidade das atividades em que os res-
pondentes estão envolvidos.
Seguindo o modelo de análise de Hazan e Rahat (2010), interessava-nos
saber em que medida o processo de seleção de candidatos era mais ou
menos inclusivo. Segundo os autores, é possível pensar num continuum
onde os processos totalmente inclusivos têm na escolha dos candidatos
toda a população habilitada eleitoralmente, como no caso das primárias
norte-americanas. No polo oposto, apenas um único líder do partido esco-
lhe quem serão os candidatos que igurarão na lista eleitoral. O problema
é que as escalas de inclusividade não correspondem ao que os candidatos
vivenciam nos processos em que são escolhidos. É possível que o mesmocandidato, ou o mesmo grupo de candidatos, passe por diferentes níveis
de inclusão durante a seleção; pode ser que seja inicialmente escolhido
por iliados do partido ou que uma nova seleção seja conduzida por um
colégio intermediário de delegados e a decisão inal da composição da lis-
ta ique a cargo de um líder único; ou então diferentes grupos de candida-
tos podem ser escolhidos por diferentes métodos de seleção. Esse é o caso
mais típico no Brasil, onde um método misto de seleção ocorre para com-
por listas (BOLOGNESI, 2013). Parte dos indicados é escolhida por votação
de iliados, uma segunda parte da lista pode ser escolhida por colégio delíderes e ainda podemos ter cotas para lideranças políticas. Assim, temos
processos de seleção onde um método pode ou não ser predominante em
relação aos demais. Esse misto de métodos de escolha leva a uma elabo-
ração de uma escala de inclusividade mais segmentada, em que temos
zonas cinzentas que partilham métodos de seleção de candidatos combi-
nados e que não podem ser captadas por uma escala simples. Ou seja, esse
tipo de aplicação direta e descontextualizada de uma escala produzida
para outra situação pode acarretar imprecisão empírica ou alto risco de
erro de especiicação, para icarmos na terminologia técnica.
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O problema que enfrentamos aqui, portanto, é o da produção de me-
didas válidas e coniáveis de conceitos ou fenômenos. Segundo Almei-da (2009, p. 172), medidas válidas são aquelas que “medem exatamente
o que deve ser medido”. Como aponta Fowler Jr. (2011), o problema da
validade dos dados coletados é o principal responsável por criar viés na
pesquisa. A validade refere-se à capacidade de uma pergunta captar a
resposta verdadeira de um entrevistado. Contudo, isso apenas ocorre em
teoria. Metodólogos sempre contam com uma estimativa de erro entre a
interpretação da pergunta e a resposta dada a ela.
Ou seja, não podemos querer coletar dados sobre um fenômeno for-
mulando questões sobre temas distintos ou, pelo menos, percebidoscomo distintos pelos entrevistados. Uma medida válida, ademais de me-
dir exatamente o que se pretende medir, é aquela que, se replicada, “ofe-
rece resultados semelhantes quando mobilizada a mesma metodologia,
mas por diferentes pesquisadores” (FOWLER JR., 2011). Isso, como ve-
remos adiante, tem implicações tanto para a elaboração do questionário
quanto para a condução da entrevista. Em resumo, é preciso ter plena
consciência da “régua” que estamos utilizando em nossas medidas. E
isso não é simples.
Após a coleta e tabulação dos dados, a associação entre va-
riáveis não é sempre perfeita. O uso de indicadores para re-
sumir os achados sempre será parcial, não correspondendo à
interação real entre duas ou mais variáveis (KING; KEOHANE;
VERBA, 2000, p. 21).
No caso especíico de nosso trabalho, a associação entre seleção de
candidatos e inclusividade, como vimos acima, pode não ser linear. A i-
xação em um ponto da escala artiicializa os parâmetros encontrados naamostra. Na verdade, o que se pode encontrar não são associações dadas,
mas sim possíveis associações entre as variáveis a partir da pergunta que o
pesquisador quer responder.
Para sermos mais claros: a representação de um ponto numa escala a
partir de uma percepção subjetiva de um processo nem sempre represen-
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Para um exemplo, ver a questão V.31 do Apêndice 1, ao fnal deste livro (p. 287).
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12 Aparecer para uma entrevista com pessoas de uma posição socioeconômica mais baixavestindo, por exemplo, um terno, aumenta muito a probabilidade de intimidação do respon-dente; usar gírias para entrevistar desembargadores gera uma rejeição imediata e visível aoentrevistador; o uso de palavras carregadas de sentido para o entrevistado pode produzirrejeição ou empatia, dependendo das circunstâncias. Por exemplo, ao entrevistarmos, emoutra ocasião, uma série de pessoas de entidades lantrópicas que atuavam em conselhosde assistência social, percebemos que não podíamos utilizar as palavras “política” e “partido”,pois ambas consubstanciavam a ameaça de “partidarização” e “politização” da função essen-cialmente caritativa da assistência social, apesar de todos os representantes das entidadeslantrópicas apoiarem o partido do governo e sua política. Ter um conhecimento prévio einicial do objeto de estudo ajuda a evitar esses problemas.13
A barra de probes é uma referência que o aplicador do questionário tem junto às per-
ta deinitivamente aquilo que queremos medir. Psicometristas alertam que
qualquer que seja a pergunta sempre haverá um “erro médio” (CORTADA DE KOHAN, 2006, p. 74) que se refere à diferença na interpretação que cada res-
pondente faz da pergunta e sua formulação lógica de resposta. Ao pergun-
tarmos para um de nossos entrevistados acerca da inclusividade da seleção
de candidatos – como expomos no ponto anterior – é possível que alguns
entendam terem sido selecionados por vários grupos presentes em nossa
escala (iliados, delegados, líder único). Contudo, o indivíduo sente, subje-
tivamente, que os iliados tiveram um papel fundamental para sua seleção,
respondendo assim que foram esses os responsáveis pelo procedimento.
Por im, a maior diiculdade do uso de survey é a ida ao campo.
O treinamento dos aplicadores/pesquisadores deve ser extremamente
qualiicado, a im de evitar vieses de várias ordens. A simples presença
do entrevistador junto do entrevistado pode ser encarada como um ele-
mento que interfere na resposta obtida, assim como uma série de outros
elementos, como as vestimentas dos entrevistadores, a entonação da per-
gunta, a ênfase em determinada frase etc.
Várias podem ser as fontes de erros que normalmente são desprezadosnas pesquisas desse tipo. O mais importante aqui é que os aplicadores sai-
bam de todos os detalhes de suas tarefas e que todos se comportem da
mesma forma durante a aplicação do questionário. Isso só é obtido com
o treinamento intensivo de aplicadores, o conhecimento por parte destes
do questionário, o uso de cartões de resposta, barras de probes e outras
medidas que podem auxiliar na obtenção de uma conduta de procedi-
mentos universalizada nas entrevistas.
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