Como Fazer Um Projeto Memoria Oral

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Governador José Serra Diretor-presidente Hubert Alquéres IMPRENSA OFICIAL DO ESTADO DE SÃO PAULO Diretoria Grupo Gestor José Santos Matos Karen Worcman Márcia Ruiz Claudia Fonseca Erick Krulikowski Rosali Henriques Sônia Dória London MUSEU DA PESSOA Presidente do Conselho Regional Diretor do Departamento Regional Superintendente Técnico Social Superintendente de Comunicação Social Abram Szajman Danilo Santos de Miranda Joel Naimayer Padula Ivan Giannini SERVIÇO SOCIAL DO COMÉRCIO - SÃO PAULO GOVERNO D O E STADO DE S ÃO P AULO

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Como fazer um projeto de memória oral

Transcript of Como Fazer Um Projeto Memoria Oral

  • Governador Jos Serra

    Diretor-presidente Hubert Alqures

    IMPRENSA OFICIAL DO ESTADO DE SO PAULO

    Diretoria

    Grupo Gestor

    Jos Santos MatosKaren WorcmanMrcia RuizClaudia FonsecaErick KrulikowskiRosali HenriquesSnia Dria London

    MUSEU DA PESSOA

    Presidente do Conselho Regional Diretor do Departamento Regional

    Superintendente Tcnico Social Superintendente de Comunicao Social

    Abram SzajmanDanilo Santos de MirandaJoel Naimayer PadulaIvan Giannini

    SERVIO SOCIAL DO COMRCIO - SO PAULO

    GOVERNO DO ESTADODE SO PAULO

  • 02.Como Fazer um Projeto de Memria Oral

  • Cada vez mais pessoas, grupos e instituies descobrem o valorde contar sua histria. Este guia indica um caminho para quemquer registrar e compartilhar essa trajetria valorizando a narra-tiva das pessoas. Ele traz a essncia do trabalho do Museu daPessoa um museu virtual de histrias de vida aberto parti-cipao de todos que desejam registrar sua histria, bem comoconhecer histrias de outras pessoas.

    A viso do Museu, criado em 1991, contribuir com ademocratizao da memria social reconhecendo o valor dahistria de vida de toda e qualquer pessoa. Ao estimular que aspessoas, por si mesmas, contem e ouam suas histrias de vida,o Museu da Pessoa busca colaborar com o desenvolvimento deuma sociedade que reconhece e valoriza o outro. Acreditamosque toda histria de vida tem valor e deve fazer parte damemria social; de que ouvir o outro essencial para respeit-loe compreend-lo; e que toda pessoa tem um papel como agentede transformao da Histria.

    Constitudo como organizao da sociedade civil deinteresse pblico, sem fins lucrativos, o Museu da Pessoa temsua sede de trabalho na cidade de So Paulo. Em 1997estreou seu primeiro site e, em 2003, lanou o portal(www.museudapessoa.net), com ferramentas para pessoas ecomunidades criarem sua prpria coleo de histrias. Aexperincia brasileira do Museu da Pessoa j inspirou acriao de trs ncleos internacionais que hoje compem aRede de Ncleos do Museu da Pessoa: Braga, Portugal

    199

    O Museu da Pessoa

  • (www.museu-da-pessoa.net), Bloomington, Indiana, EUA,(www.bloomington.in.us/~mop-i) e Montreal, Quebec,Canad (www.museedelapersonne.ca)

    Ao longo de seu trabalho, o Museu da Pessoa desenvolveuuma metodologia para registro e difuso de narrativas pessoaisbaseada nas tcnicas da Histria Oral. Essa metodologia foi abase inicial da atuao de seus profissionais e j resultou numdiversificado acervo com cerca de 5.500 depoimentos e 1000fotos e documentos digitalizados. Durante este perodo oMuseu da Pessoa realizou tambm oitenta projetos de memrianas reas de memria institucional, desenvolvimentocomunitrio e educao. Tais projetos, que resultaram emlivros, publicaes didticas, museus temticos, exposies,documentrios, museus virtuais e base para aes pedaggicas eculturais confirmaram a riqueza de contedo e o poder dashistrias de vida.

    Com o objetivo de constituir uma ampla rede virtual dehistrias de vida, o Museu da Pessoa passou a empenhar-setambm em disseminar sua metodologia, estimulando escolas,sindicatos, empresas e organizaes sociais a construrem suasprprias histrias. Esse trabalho tem levado o Museu da Pessoa arever e renovar permanentemente sua metodologia de trabalho.

    Com este guia, buscamos compartilhar com novospblicos nosso jeito de pesquisar e compreender o fazer daHistria. Esperamos que seja til para o surgimento e fortaleci-mento de novas iniciativas, que certamente iro ampliar eaprofundar este aprendizado. O objetivo estimular que cadaum produza sua histria, sabendo que ela diz respeito a todos eganha nova dimenso ao ser conectada em rede.

    200

    O Museu da Pessoa

    Entrevistar no somente um

    mecanismo para reunir informaes. So

    necessrias habilidades humanas como

    pacincia, humildade, vontade de

    aprender com os outros e de respeitar seus

    pontos de vista e valores, mesmo que voc

    no compartilhe destes.

    SLIM, Hugo & THOMPSON, Paul

    (1993, p. 3 - traduo livre).

  • 201

    Memria, Histria e Histria de Vida

    MemriaPara comear, vale refletirmos sobre qual nossa compreenso dememria, histria e histria de vida. O conceito de memria estudado por reas do conhecimento to diversas quantoAntropologia ou Neurologia, passando pela Histria ePsicologia. Desses estudos, resultam variadas definies eabordagens: memria de curto prazo, de longo prazo, memriacorporal, cognitiva, e mesmo as memrias ancestrais, comomenciona Ailton Krenak (pgina 49).

    Se adotarmos uma simples definio do dicionrio Aurlio "do latim, memria: faculdade de reter as idias, impresses econhecimentos anteriormente adquiridos" podemos dizer quea memria pressupe registro; ainda que tal registro seja reali-zado em nosso prprio corpo. Mas no se trata de um registroincondicional, como se fossemos um papel em branco carim-bado por nossas experincias sucessivas. Guardamos aquiloque, por um motivo ou outro, tem ou teve algum significado emnossas vidas. Nesse sentido, nossa memria individual nica,pois mesmo tendo vivido as mesmas experincias que outraspessoas, cada um de ns seleciona e compe seu prprioconjunto de registros, uma espcie de patrimnio pessoal.

    Por outro lado, importante ressaltar que apesar denicos, somos sempre seres histricos, isto , nosso jeito de vero mundo, nossa linguagem, nosso jeito de vestir e finalmente deconsiderar o que significativo ou no resulta do espao e

    Cada pessoa nica: suas

    percepes so, em certa medida,

    criaes, e suas lembranas fazem

    parte de uma imaginao sempre em

    movimento. SACKS, Oliver (1994,

    p.15 traduo livre)

  • tempo em que vivemos. Somos sempre parte de uma teia social.Seria realmente surpreendente se um dia acordssemos falandouma outra lngua ou considerando natural formas de comporta-mento de cem anos atrs. Quantos filmes j no foram feitossobre este assunto: viagens no tempo e no espao que levam apessoa a sentir-se um ser de outro planeta.

    O conjunto de registros eleitos pelo grupo como significa-tivos termina por estabelecer sua identidade, seu jeito de ser eviver o mundo e decorrem dos seus parmetros histricos eculturais. A possibilidade de compartilhar desta memria como produtores e receptores que d, a cada um de ns, osenso de pertencimento e constitui o que chamamos dememria social. Trata-se de uma relao criativa e dinmicaentre o indivduo e o grupo. Nosso lembrar e as maneiras comolembramos se fazem a partir da experincia coletiva. Mas importante pontuar que o indivduo no necessariamente"representa" o coletivo e que este tampouco homogneo.Dentro de um mesmo grupo, podem existir mltiplas memrias.

    Histria

    A forma como a pessoa ou o grupo organiza e narra o queguarda nos leva ao conceito de Histria. Cada cultura constrisua prpria maneira de apropriao e organizao do mundo e,certamente, a noo de histria varia de uma cultura paraoutra. Essa discusso to ampla que baseia toda uma disci-plina acadmica: a epistemologia da Histria. Ainda que nonos aprofundemos nesta questo, vale destacar que h muitomais por trs do "fazer histrico" do que simplesmente reunirfatos, documentos e fotografias em uma linha do tempo. Vamosenfocar aqui o aspecto narrativo da Histria.

    Independentemente de sua relao com o passado, toda histria sempre uma narrativa organizada por algum (seja umacomunidade, um historiador, um rgo oficial ou a prpriamdia), em determinado tempo e implica em uma seleo defatos e personagens. Toda histria tem um autor ou autores que

    202

    "O princpio de que a memria nos faz

    tambm o princpio de que ns fazemos a

    memria. As representaes da histria so

    prxis, e esto conectadas assim como

    formuladas de forma cumulativa. TONKIN,

    Elizabeth (1992, p.117 traduo livre).

    Nossas lembranas permanecem

    coletivas, e elas nos so lembradas pelos

    outros, mesmo que se trate de aconteci-

    mentos nos quais s ns estivemos

    envolvidos, e com objetos que s ns

    vimos. HALWBACHS, Maurice (1990, p.26).

    Os acontecimentos no so coisas,

    objetos consistentes, substncias; so um

    corte que operamos livremente na reali-

    dade, um agregado de processos onde agem

    e padecem substncias em interao,

    homens e coisas. VEYNE, Paul (1983, p.54).

    "Uma histria uma narrao, verda-

    deira ou falsa, com base na realidade

    histrica ou puramente imaginria.

    LE GOFF, Jacques (1996, p.158).

    Memria, Histria e Histria de Vida

  • selecionam e articulam os registros da memria. Neste sentido,ainda que todos concordemos que a histria fala do passado, aconstruo da narrativa histrica ocorre invariavelmente nopresente.

    Histria de Vida

    E quanto histria de vida? O que ela tem de especial? Ahistria de vida a narrativa construda a partir do que cadaum guarda seletivamente em sua memria e corresponde aocomo organizamos e traduzimos para o outro parte daquilo quevivemos e conhecemos. Mas o tipo de narrativa construdadepende do tipo de estmulo: a produo de um currculo, umasesso de psicanlise ou uma entrevista jornalstica certamentelevam a distintas narrativas. A narrativa muda tambm deacordo com a fase da vida. Por isso dizemos que a histria devida no conta apenas o "passado" de uma pessoa, mas revelamuito sobre seu presente e indica como ela vislumbra seufuturo. A reside, em grande parte, o impacto das histrias.Rev-las, explicit-las, organiz-las so, de incio, formas derepensar e reordenar padres e valores muitas vezes assumidoscomo absolutos. Por outro lado, as histrias de vida constituemfontes preciosas para a construo da Histria. Compreender eregistrar as vises, sentimentos e prticas de pessoas, famlias egrupos uma forma poderosas de construir fontes alternativaspara a compreenso e anlise dos processos histricos. Taisnarrativas, se no formalmente produzidas, se esvaem atravsdo tempo.

    Histria de vida x histria do grupo

    Assim como nossa histria pessoal uma organizao do queseletivamente guardamos em nossa memria, a histria de umgrupo tambm a organizao do que foi seletivamente demar-cado como significativo na memria social. O que um gruporegistra em sua memria aquilo que, no seu momento

    203

    COMO FAZER UM PROJETO DE MEMRIA ORAL

    "Nossas intenes para o futuro esto

    baseadas no passado, sem memria ns no

    conseguimos vislumbrar nada, pois como

    saberamos o que ver?".TONKIN, Elisabeth

    (1992, p.104).

    A memria um elemento consti-

    tuinte do sentimento de identidade, tanto

    individual como coletiva, na medida em que

    ela tambm um fator extremamente

    importante do sentimento de continuidade e

    de coerncia de uma pessoa ou de um grupo

    em sua reconstruo de si. POLLAK,

    Michael (1992, p.204)

  • presente, considera importante. Neste sentido, a estruturasocial vigente que determina o que da memria tem valor. E esta mesma estrutura social que subsidia a construo da narra-tiva histrica oficial (registrada e consolidada em documentos,em livros didticos, em filmes).

    Em um mesmo grupo podem conviver vrios tipos denarrativas histricas, mas certamente algumas narrativasdominam os principais meios de comunicao e transmisso devalores. Ampliar o nmero de autores da histria abre espaopara a construo de mltiplas narrativas histricas e cria apossibilidade de reviso de tais valores. Neste sentido, desta-camos o potencial que a histria oral tem como ferramenta deincluso social. Fortalecer o senso de pertencimento e deautoria de cada um, somado possibilidade de fazer-se ouvir o grande sentido social que um projeto de memria podeadquirir. Alm disto, produzir novas fontes para a compreensodos processos histricos fundamental para reviso das narra-tivas histricas em si.

    204

    "Mais do que atender s necessidades

    bsicas de cada um, a incluso social signi-

    fica a valorizao de cada qual como

    indivduo e cidado, seu acolhimento em

    coletivos que desenvolvam seu sentimento

    de pertencimento..." BAVA, Silvio Caccia

    (2004, p.116).

    Memria, Histria e Histria de Vida

  • Um projeto de histrias de vida pode focar diferentesobjetivos, temas, aes e produtos. No entanto, seja umprojeto pessoal, seja o projeto de memria de uma comuni-dade, construir uma histria implica em explicitar, selecionar,organizar e produzir narrativas.

    Para construir projetos que faam sentido nas institui-es, comunidades ou grupos, importante comeardiscutindo o mbito, as intenes e o sentido do projeto com ogrupo envolvido. Que histria o grupo quer contar? O grupo oua pessoa que produz a histria , em realidade, o autor quetransforma registros da memria em narrativa. Essemovimento tem sempre uma demanda inicial, animado porum por qu, que traduz qual o sentido da memria para estegrupo. Esta demanda est relacionada ao para qu?: Para ququeremos construir esta histria? Quais so os objetivos dogrupo? Dependendo dos objetivos, selecionam-se as fontes,que definem que tipo de material ser consultado e as pessoasque sero entrevistadas. Finalmente, importante estabelecero para quem, isto , quais so os pblicos aos quais sedestina tal iniciativa.

    Por qu? Para qu? Quem participa? Para quem? Estasrie de perguntas acaba por definir o tipo de histria que serconstruda. O conjunto das respostas estabelece as diretrizesdo projeto. O diagrama abaixo mostra a dinmica desteprocesso de raciocnio:

    205

    Desenhando um Projeto de Memria Oral

  • 206

    !"#$%&

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    /01!)%2*,

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    6708%9*

    Desenhando um Projeto de Memria Oral

    Constituio da narrativa

    Por que?

    Com que?

    Para quem?

    O conjunto de registros que sero organizados.

    A narrativa que ser produzida.

    Pessoas ou grupos que iro transformar a memria em histria.

    As demandas do grupo que levam realizao do projeto. A motivao.

    O que se espera do projeto, o que ele ir promover.

    As pessoas que sero entrevistadas, alm de outros contedos, como documentos e imagens.

    Pessoas, grupos ou instituies que queremos que conheam nossa histria. Definem, em grande parte, o formato da pesquisa e os produtos.

    Memria

    Histria

    Autor

    Sentidos damemria

    Objetivos

    Fontes

    Pblico

    Qual questo O que

  • Um exemplo: a histria dos pipoqueirosVamos tentar com um exemplo simples mostrar como diferentesrespostas s questes do diagrama geram diferentes projetos dememria.

    Projeto 1

    Digamos que sou lder de um grupo de pipoqueiros de ruaaposentados. Percebo que nossa profisso est em extino,pois estamos sendo substitudos pelos balces de pipoca doscinemas nos shopping centers. O grupo est com a auto-estima fragilizada, pouco se reconhece na sociedade atual ev sua atividade sumir do dia-a-dia das cidades sem deixarrastro. Muitos esto doentes e tristes. Decido entopromover um projeto sobre a histria dos pipoqueiros!

    O sentido maior da memria, neste caso, a valorizao dogrupo. O objetivo do projeto tambm claro: mobilizar ospipoqueiros e ressaltar seu papel na comunidade, pois oscarrinhos de pipoca foram, e continuam sendo, um espaoafetivo importante na memria urbana.

    As fontes? Sero certamente os prprios pipoqueiros, almde pessoas que se lembram como era brincar nas praas ecomer pipoca antes de entrar em um cinema de rua.

    O pblico? O prprio grupo de aposentados, suas famlias etambm as novas geraes. A partir da fica mais fcil pensarnos produtos finais: pode ser uma exposio, um livro, umlbum para os prprios pipoqueiros.

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    COMO FAZER UM PROJETO DE MEMRIA ORAL

  • Projeto 2

    Desta vez, sou um empreendedor e percebo a oportunidadede montar uma fbrica de pipocas com o "gosto de antiga-mente". Parto ento para meu projeto de pesquisa e fao damemria uma de suas ferramentas, pois quero identificarquais os elementos faziam parte da produo de pipoca dedcadas atrs.

    O sentido de memria? Por que fazer o projeto? Queroaprender, resgatar esses saberes, pois identifico que amaneira de se fazer pipoca mudou e as prticas que garan-tiam aquele gostinho to especial esto desaparecendo.

    O objetivo? Pode-se dizer que conhecimento, pois encon-trarei informaes que iro subsidiar desde minhas receitasat minhas aes de marketing.

    Minhas fontes? Desta vez, alm dos pipoqueiros, vou utilizarrelatos dos fornecedores de insumo e dos consumidores de ento.

    O pblico prioritrio? Meus tcnicos, minha equipe detrabalho. E o produto ser basicamente um manual.

    Projeto 3

    Mas digamos que o objetivo do projeto a mobilizao dejovens para ajudar a construir uma cidade mais solidria.Trata-se de um projeto para aproximar as geraes, cujosentido permitir a transmisso de valores. As fontes seroos "velhos" pipoqueiros, os antigos moradores do bairro, osguardas de praa... Neste caso, o pblico ser compostopelos prprios autores do projeto: os jovens que iro perceberquanta riqueza h na histria de vida de um pipoqueiro. Oproduto poder ser uma pea de teatro ou uma roda decontao de histrias

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    Desenhando um Projeto de Memria Oral

  • 209

    Definidas as diretrizes gerais do projeto, hora de comear aplanejar e realizar o trabalho. Seja qual for o perfil ou contextoda proposta, podemos reconhecer trs etapas essenciais: Coleta;Processamento; Integrao, difuso e uso.

    1. ColetaA pesquisa e produo de contedo inclui: definio de tema;levantamento de informaes; escolha de entrevistados; prepa-rao de roteiros de perguntas; registro de entrevistas;identificao de fotos, objetos e documentos.

    Preparar a entrevista

    Num projeto de histrias de vida, a entrevista a principal ferra-menta para produo de contedo e precisa ser bem preparada.Uma pesquisa preliminar (seja em jornais, teses, livros ouInternet) pode ajudar o entrevistador a compreender a poca e otema a ser explorado. A construo de uma linha do tempocostuma ser uma boa maneira de organizar as informaes eperceber o contexto histrico do entrevistado. O levantamentoprvio de alguns dados da trajetria da pessoa tambm facilita aelaborao das perguntas e a conduo do depoimento.

    Vale ressaltar que a escolha dos entrevistados passa poruma discusso dos perfis necessrios para garantir a diversidade ea profundidade do acervo de histrias.

    Desenvolvimento do Projeto

  • Construir o roteiro

    A construo do roteiro quase que um "ensaio" para o entrevis-tador. Ele no deve ser entendido como um questionrio rgido,mas como um guia que o ajude a "puxar o fio da memria" doentrevistado.

    O roteiro deve ser elaborado de modo a permitir que apessoa se sinta vontade para responder as perguntas,encadeando pensamentos e organizando a narrativa de seu prpriojeito. De qualquer forma importante assinalar que a definio ea seqncia das perguntas sejam ou no as previstas no roteirosero decisivas para o tipo de histria que ser contada.

    > Confira algumas dicas para elaborao das perguntas (pgina

    219) e o exemplo de roteiro de Lauro Gilberto Pereira ( pgina

    221), entrevistado pelo Museu da Pessoa, em 2004, durante o

    projeto Memrias do Comrcio do Vale do Paraba, realizado

    pelo SESC-SP. Alm de cobrir vrias cidades da regio, o projeto

    buscou contemplar diferentes modalidades e ramos do comrcio,

    bem como aspectos variados da atividade comercial. Morador da

    cidade de So Jos dos Campos, ligado ao ramo de alimentao,

    Lauro trabalhava, desde os 14 anos, na mercearia que pertenceu

    a seu pai: a mais antiga do tradicional mercado da cidade.

    A entrevista

    Diferente de uma entrevista jornalstica ou teraputica, entretantos outros tipos, a entrevista de histria de vida tem comoessncia o registro da narrativa tal qual articulada pelo entrevis-tado. Busca-se sua vivncia pessoal e no uma verdade histricaabsoluta. To importante quanto o contedo narrado o ritmo eo jeito de contar. Cabe, portanto, ao entrevistador auxiliar apessoa a organizar as lembranas que vem tona em uma narra-tiva prpria.

    Esse sentido da entrevista deve ser explicitado para o entre-vistado, bem como os objetivos do projeto, o formato dodepoimento e os usos previstos para o contedo.

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    Desenvolvimento do Projeto

  • A entrevista pode ser feita por um ou mais entrevistadores.Recomenda-se que sejam pelo menos dois, sendo que umassume a dianteira da conversa e o outro ajuda a complementaras perguntas e a garantir a fluncia da entrevista. Uma entre-vista de histria de vida dura, no mnimo, uma hora e meia,podendo chegar a dez horas (em vrias sesses).

    A principal condio para que a entrevista flua bem oreal interesse e respeito do entrevistador pela histria do outro.Isto se traduz em algumas posturas essenciais.

    > Confira o Os 10 Mandamentos do Entrevistador napgina 224.

    Gravao

    A entrevista deve ser registrada em udio ou vdeo. O ideal faz-lo em formato digital de melhor qualidade e maiordurao. Se no h equipamentos disponveis, vale pensar emparcerias com universidades, organizaes sociais ou emissorasde rdio e TV que possam disponibilizar a estrutura. Mesmoque transcrita, importante que a gravao seja preservada nantegra, pois ela , de fato, a fonte histrica.

    > Confira algumas dicas para realizar a gravao na pgina 225.

    Fotos, documentos e objetos

    Alm da narrativa, outros contedos como fotos, documentose objetos pessoais ajudam a contar a histria do entrevistado.Mais do que ilustrar o que foi dito, esse material costumaenriquecer e completar o depoimento. Uma foto de casamentoou um passaporte, por exemplo, tornam-se bom pretexto pararevelar novos episdios e personagens.

    Esse acervo pessoal pode ser trazido na ocasio da entre-vista ou em outro momento combinado. No Museu da Pessoa, osoriginais so apenas emprestados para serem digitalizados e logodevolvidos pessoa. Objetos so fotografados. Cada imagemtorna-se uma fonte histrica, sendo identificada e catalogada.

    > Algumas dicas de digitalizao de imagens esto na pgina 231.

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    COMO FAZER UM PROJETO DE MEMRIA ORAL

  • 2. ProcessamentoO tratamento e preservao do contedo inclui: transcrio eedio de entrevistas; digitalizao de imagens; catalogao dematerial; insero em banco de dados.

    Transcrever: do oral ao textual

    Para ampliar o acesso e os usos das entrevistas, seja em livroscomemorativos, reportagens, pesquisas acadmicas, publica-es didticas ou outras aes culturais e sociais, essencialtranscrever a gravao.

    Transcrever significa passar o contedo oral para textoescrito. Cada pergunta e resposta redigida a partir da escutapaciente da gravao. Nesse processo, devem ser resolvidasdvidas em relao a nomes citados, grafia de palavras etc. um trabalho rduo e muitas vezes requer a contratao deprofissionais ou parceria com voluntrios preparados.

    > Confira a transcrio de alguns trechos da entrevista deSebastio Rocha nas pginas 228-231. Tio, como conhecido,foi entrevistado pelo Museu da Pessoa, em 2004, durante oprojeto Todo Mundo Pode Mudar o Mundo, uma campanha daAshoka Empreendedores Sociais. Formado em Antropologia,Tio fundou o Centro Popular de Cultura e Desenvolvimento,espao inovador de aprendizagem.

    Editar: preocupao com o leitor

    A edio da entrevista consiste em transformar o texto trans-crito em um texto fcil e atrativo de se ler. Pode-se optar poruma edio com mais ou com menos interferncias, massempre haver a marca e a responsabilidade do editor.

    Minimamente, num processo de edio, so retirados oscacoetes de linguagem e as repeties excessivas, mantendo-seo tom coloquial e o ritmo da narrativa. Numa intervenomaior, as perguntas podem ser eliminadas ou trechos reorde-

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    Desenvolvimento do Projeto

  • nados. Em nenhum caso, no entanto, devem-se criar novoscontedos, incluindo palavras ou falas. Terminada a edio,convm preservar ambas verses, a transcrita e a editada.

    > Compare os trechos editados e transcritos do depoimento de Tio Rocha nas pginas 228-231

    Catalogar: informaes mnimas

    Catalogar significa sistematizar informaes sobre o contedoregistrado e o processo de registro, permitindo sua identificaoe localizao de forma gil. Todo contedo registrado (seja umaentrevista gravada ou uma imagem digitalizada) precisa sercatalogado para permitir sua consulta e uso por outras pessoas.

    No Museu da Pessoa, trabalhamos com o formato defichas: ficha de cadastro pessoal, ficha de imagem, ficha dedepoimento, entre outras. A quantidade de informao solici-tada pode variar, mas o ideal que seja o mnimo necessrio,evitando desperdcio de tempo e trabalho.

    Em geral, as fichas possuem dois tipos de informao:

    Sobre o contedo: o que , quem, quando, onde. Pode haverdois grupos de informaes: as essenciais para todo tipo deprojeto, e as complementares, que variam de acordo com oescopo e o perfil da iniciativa. Numa ficha cadastral, porexemplo, o nome, sexo, data e local de nascimento da pessoa sodados essenciais. Se for um projeto sobre imigrantes, passa a serimportante tambm o nome dos pais, seu local de nascimento edata de chegada ao pas.

    Sobre a coleta: qual suporte do registro, informaes tcnicas,trajetria do suporte. No caso da entrevista, por exemplo, valesaber o tipo de registro (udio ou vdeo). Alm disso, impor-tante saber o nome dos entrevistadores, a data e o local daentrevista ao catalogar um depoimento.

    > Confira exemplo de fichas preenchidas nas pginas 232-236

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    COMO FAZER UM PROJETO DE MEMRIA ORAL

  • 3. Integrao, difuso e usoParte do pressuposto de que as histrias produzidas

    devem, de alguma maneira, retornar aos narradores e aosgrupos das quais foram coletadas assim como devem serintegradas memria da sociedade. Inclui: publicao (emvrias mdias) dos depoimentos; elaborao de produtos (sites,livros, exposies, lbuns...); uso na rea de educao, comuni-cao, desenvolvimento social, gesto de conhecimento etc.

    Garantir carter pblico

    Devemos nos preocupar para que o projeto de memria trans-cenda os limites de quem o produziu. Primeiramente, todos quecontriburam para sua realizao, em especial os entrevistados,devem ter um retorno sobre o projeto. Valorizar a histria daspessoas representa tambm garantir o acesso ao seu depoi-mento e aos produtos elaborados.

    Indo alm dos envolvidos, podemos entender que o acervoproduzido tambm diz respeito sociedade como um todo. Toimportante quanto registrar e preservar histrias tornar essecontedo acessvel e til de forma ampla. O contedo pode serorganizado e disponibilizado para o pblico em um espao fsicoou virtual. No mundo fsico, vale integrar-se a ambientes quetenham visitao e atividades. Ao invs de criar uma salaisolada, pense em somar-se, por exemplo, a uma biblioteca oucentro cultural. Na Internet, a limitao de horrios e distn-cias superada, apesar de o desafio da incluso digital ainda serenorme no pas.

    Cesso de direitos

    imprescindvel que o entrevistado formalize uma autorizaopara que seu depoimento possa ser socializado. O procedimentomais comum a assinatura de uma cesso de direitos autoraislogo aps a entrevista. Nesse momento, o entrevistado tem o

    214

    Desenvolvimento do Projeto

  • direito de pedir que algum trecho de seu depoimento no sejadivulgado. Lembre-se que deve ficar registrado o que o narradordeseja. A entrevista de histria de vida no uma investigao sua revelia.

    > Veja um modelo de cesso de direitos na pgina 237.

    Articular: narrativas em rede

    A histria de uma pessoa, famlia, escola ou empresa ganhanova dimenso se articulada com narrativas produzidas poroutras pessoas, grupos e instituies. Desta forma, vises eexperincias podem se complementar ou contrapor, e inicia-tivas locais so fortalecidas. Na cidade do Rio de Janeiro, porexemplo, diferentes projetos tm se dedicado a registrar ahistria das comunidades dos morros e favelas. Juntas, certa-mente, esto compondo um acervo bastante representativosobre a cidade.

    A integrao das narrativas pode ocorrer na elaborao deprodutos, como tambm na construo e difuso do acervo emsi. Vale destacar o potencial da Internet para que contedossejam construdos de forma descentralizada e colaborativa.

    Portal Museu da Pessoa.Net: Foi criado para preservar earticular narrativas das mais diferentes pessoas e grupos. Hduas formas principais de participao. A primeira delas aferramenta Conte Sua Histria, por meio da qual toda pessoapode se cadastrar no portal e enviar textos, imagens e gravaesdigitalizadas sobre sua prpria histria de vida. O contedo moderado pela equipe do Museu e publicado no portal. Asegunda ferramenta de participao, chamada Monte SuaColeo, destinada a projetos de memria. Em ambos os casos,o contedo enviado passa a integrar o acervo do Portal como umtodo, podendo ser consultado em diferentes buscas e navegaesfeitas pelo internauta (www.museudapessoa.net).

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    COMO FAZER UM PROJETO DE MEMRIA ORAL

  • Produtos

    Livros, lbuns, exposies, bas de memria, contao de hist-rias, sites, agendas, calendrios, vdeos, programas de rdio, somuitos os produtos que podem divulgar a histria que o projetoquer contar. Eles dependem dos recursos disponveis, bemcomo dos objetivos do projeto e seu pblico final. A seguirexemplos simples de serem concretizados:

    Crie um lbum: Um produto artesanal bastante interessante um lbum ilustrado, contendo cpias de fotos, desenhos,legendas, trechos de depoimentos, mini-biografias... Cada entre-vistado pode se transformar em tema de um lbum, organizadoem ordem cronolgica. Tambm podem ser montados lbunstemticos (infncia, famlia, cidades, profisses...), misturandoas histrias de vrios personagens.

    Roda de histrias: Organize uma roda de histrias na sua insti-tuio ou comunidade para compartilhar o contedo registradopelo projeto. Pode ser uma atividade para o pblico em geral.Selecione episdios saborosos narrados pelos entrevistados econvide contadores de histria para recont-los. Ou aindapodem ser chamados os prprios entrevistados que se destacaramcomo narradores.

    Crie um blog: Voc pode aproveitar as ferramentas de blog,bastante difundidas na Internet, e publicar a sua histria devida, a da sua famlia ou comunidade. H alguns sites de usogratuito, o mais conhecido o www.blogger.com . O usuriose cadastra, batiza seu blog, escolhe um modelo visual e, a partirda, pode continuamente inserir textos e fotos, alm de recebercomentrios dos internautas.

    Monte sua coleo virtual: O portal Museu da Pessoa.Net(www.museudapessoa.net) oferece a ferramenta Montesua Coleo para projetos interessados em fazer parte de seuacervo virtual de histrias de vida. A pessoa responsvel peloprojeto recebe uma senha para inserir em banco de dadosdepoimentos e imagens digitalizadas. Em seguida, eleencontra um passo a passo para reunir e publicar o contedonum site, incluindo informaes sobre o projeto, comometodologia, histrico, crditos.

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    Desenvolvimento do Projeto

  • Outros usos e aplicaes

    Alm de produtos concretos, o projeto pode ter outros usos eaplicaes, como contribuir com processos educativos, aprimorarmetodologias de interveno social, subsidiar polticas pblicas,inspirar obras artsticas ou trabalhos acadmicos.

    A seguir, alguns exemplos de projetos, que tm a participao

    do Museu da Pessoa, e resultam em aplicaes diferentes.

    Memria, leitura e escrita: "Nosso maior problema leitura e

    escrita, e a memria faz com que todos queiram participar. Todos

    querem escrever sobre si e suas histrias." Antnia Aparecida M.

    de Oliveira, professora da 4a. srie da EMEF Elisa Duboc

    Garcia, Ribeiro Preto (SP).

    Desde 2002, professores da rede pblica tm usado a entrevista e

    o registro de histrias para desenvolver a leitura e a escrita de

    seus alunos de ensino fundamental. So formados pelo Museu da

    Pessoa, em parceria com o Instituto Avisa L, na metodologia da

    histria oral. E passam a us-la como ferramenta diferenciada

    para estimular os alunos a fazer pesquisas e leituras, produzir

    textos e desenhos.

    > Ler mais na pgina 260.

    Memria para mobilizao comunitria: "O projeto de

    memria conseguiu resgatar potncias, talentos e auto-estima

    sem tocar nas dores e dissabores das meninas. Com certeza a

    histria oral j faz parte da nossa metodologia." Raquel Barros,

    fundadora da Associao Lua Nova.

    A Associao Lua Nova (www.luanova.org.br) dedica-se ao

    atendimento de jovens mes no interior de So Paulo e, em 2004,

    participou de um processo de formao na metodologia do Museu

    da Pessoa. Desde ento, passou a utilizar as tcnicas de entrevista

    para valorizar a histria de vida das meninas atendidas pela insti-

    tuio. A experincia levou as jovens a ampliarem a proposta

    inicial: levaram a idia do projeto de memria para a comunidade

    com o objetivo de promover o desenvolvimento local a partir da

    cooperao e articulao em rede.

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    COMO FAZER UM PROJETO DE MEMRIA ORAL

  • Histria de vida como fonte diferenciada: Desde 1995, umaparceria entre o SESC-SP e o Museu da Pessoa tem resgatado ahistria do comrcio no Estado de So Paulo por meio de depoi-mentos de personagens annimos comerciantes e comercirios do comrcio paulista. O projeto Memrias do Comrcio organizado por mdulos e j aconteceu em quatro regies doestado, gravando 129 histrias de vida. Constitui um acervo totalmente disponvel pela Internet (www.sescsp.org.br ouwww.museudapessoa.net) sobre o desenvolvimento da ativi-dade comercial e de servios, temas pouco pesquisadas nahistoriografia brasileira. Alm do site, quatro livros, dois vdeos equatro exposies itinerantes foram produzidas para divulgar ocontedo.

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    Desenvolvimento do Projeto

  • 219

    Como produzir e conduzir a entrevista

    1. Elaborao de roteiro

    IncioComece com perguntas fceis de se responder como nome,local e data de nascimento. Alm de contextualizar a fonte,essas perguntas tm a funo de esquentar a entrevista. como o comeo delicado de um relacionamento, e nada comoperguntas simples e objetivas para deixar o entrevistado vontade e ajud-lo a mergulhar em suas memrias.

    EncadeamentoA ordem cronolgica costuma ser um bom fio condutor daconversa, mas no necessariamente o nico. Se a comunidadeou grupo tiver outra lgica de organizao de suas histrias, oroteiro deve ser reorganizado. Se optarmos para seguir o desen-rolar cronolgico, podemos dividir o roteiro em trs grandesblocos de pergunta:

    Introduo: origem da pessoa, pais, avs, infncia.

    Desenvolvimento: fases e acontecimentos da sua trajetria,incluindo, se for o caso, o tema especfico do projeto.

    Finalizao: ponte para o presente e futuro, sonhos e avaliao aexperincia de contar sua histria.

  • Tamanho do roteiro

    O entrevistado no pode se sentir exaurido, portanto bompassar pelos trs blocos, sem a preocupao de esgotar cadaassunto. Um bom exerccio comear construindo 10perguntas (trs de incio, quatro de desenvolvimento e trs definal) e depois subdividir cada uma em sub-blocos temticos.

    Tipos de pergunta

    Diferentes tipos de pergunta provocam diferentes tipos deresposta. Se o objetivo da entrevista for registrar histrias, importante que as perguntas sejam feitas neste sentido.Portanto melhor optar por:

    Perguntas descritivas: Uma pergunta do tipo Como era a casade sua infncia? Leva o entrevistado a recuperar detalhes emsua memria e a fazer descries interessantes e envolventes:

    Perguntas que evocam movimento: Uma pergunta do tipo Oque voc fez depois que voc saiu de sua casa? Ajuda o entrevis-tado a continuar sua histria.

    Perguntas avaliativas: Toda histria inclui momentos deavaliao e comentrio, assim perguntas do tipo O que vocmudaria na sua histria de vida? Levam o entrevistado a fazeruma reflexo conclusiva sobre sua trajetria.

    Assim como algumas perguntas contribuem para a construoda narrativa, outras tm o efeito inverso. Assim, vale evitar:

    Perguntas genricas: Uma pergunta do tipo "Como foi suainfncia?" Estimula que o entrevistado d uma respostagenrica, como "boa", "ruim", "muito difcil", "muito feliz", semcontar histrias sobre essa poca.

    Perguntas com pressupostos: Uma pergunta do tipo "O quevoc acha da situao atual do Brasil?" ou Quais situaes deexcluso que o senhor vivenciou como idoso?" posiciona o entre-vistado como representante de um segmento social, propiciandorespostas meramente opinativas.

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    Como produzir e conduzir a entrevista

  • Perguntas puramente informativas: O principal objetivo daentrevista a articulao que o entrevistado faz de sua prpriahistria. Ele no deve ser encarado como "informante" ouportador da verdade. Assim, perguntas como Qual era exata-mente o nome da praa? ou Em que ano realmente foi estarevoluo? podem desconcertar o entrevistado e interromper suanarrativa. Tais dados, se importantes, devem ser pesquisados pelogrupo antes ou depois da entrevista.

    Perguntas controversas ou com julgamento de valor:Questes como "Voc no acha que a mulher na sua pocadeveria...?" ou Por que o senhor no reagiu ditadura?"atendem muito mais a hipteses e anseios do entrevistador doque aos objetivos de construo de uma narrativa pessoal doentrevistado.

    2. Exemplo de roteiroA seguir, exemplo de um roteiro utilizado na entrevista deLauro Gilberto Pereira, entrevistado em 2004, durante oprojeto Memrias do Comrcio do Vale do Paraba, do SESC-SP. Morador da cidade de So Jos dos Campos, ligado aoramo de alimentao, Lauro trabalhava, desde os 14 anos, namercearia que pertenceu a seu pai: a mais antiga do tradicionalmercado da cidade.

    Como o roteiro apenas um orientador da entrevistas, outrasperguntas surgiro durante o desenrolar da narrativa. Assim, aofalar da infncia, o depoente poder falar mais sobre sua escola,sua famlia, amigos ou problemas que teve na infncia . Em relaoao tema especfico da entrevista neste caso, o comrcio, podem seracrescentadas vrias outras perguntas sobre embalagens, tipos decontrole de estoque, formas de venda e pagamento. Finalmente, odepoente pode ser levado a comentar sua vida atual: atividades delazer, sobre a famlia e sobre suas prprias lies de vida. O impor-tante perceber oportunidades para novas questes sem ficar presoao roteiro e dar espao para que o entrevistado construa suaprpria narrativa. As melhores perguntas, em geral, so baseadasnas falas do prprio entrevistado.

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    COMO FAZER UM PROJETO DE MEMRIA ORAL

  • INTRODUO

    Identificao:1. Para comear, gostaria que o senhor dissesse seu nomecompleto, data e local de nascimento.2. Qual o nome de seu pai e de sua me? E de seus avs?3. O senhor tem irmos? Quantos?

    Famlia4. O que o senhor sabe sobre a origem de sua famlia?5. O que faziam seus pais?6. O senhor sabe como eles se conheceram e se casaram?7. Como o senhor descreveria seu pai? E sua me?

    Infncia8. E, quando o senhor nasceu, onde a famlia estavamorando?9. O que o senhor se lembra dessa casa?10. Poderia descrever um pouco a rua e o bairro quemarcou mais a sua infncia?11. Quais eram suas brincadeiras favoritas?12. E, dentro de casa, como era a rotina?

    Escola13. O senhor estudou? At qual srie?14. O que o senhor se lembra de sua primeira escola? Osenhor poderia descrever o prdio, o ptio, a sala de aula.15. E os professores? Algum foi mais marcante para osenhor? Por que?

    Juventude16. O senhor passou sua juventude na mesma cidade?17. Qual era a principal diverso da poca?18. O senhor quer contar da primeira namorada?19. E sua esposa, como a conheceu?20. O senhor se lembra como foi o noivado e o dia docasamento? 21. O senhor teve filhos? Quantos?

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    Como produzir e conduzir a entrevista

  • DESENVOLVIMENTO

    Trabalho/comrcio22. Qual foi seu primeiro trabalho?23. Como o senhor comeou no comrcio? O que exata-mente o senhor fazia?24. Quais foram as principais dificuldades no incio?25. Como era a loja nessa poca? E os clientes?26. A famlia participava da rotina da loja? Como era arotina de funcionamento?27. E os produtos, da onde vinham? Como eram trans-portados? E preservados? Como eram pesados eembrulhados?28. Como a loja atraa os clientes? Havia promoes,brindes?29. E como eram feitos os pagamentos? Havia o sistemade caderneta?30. Quais foram as maiores dificuldades?31. Houve alguma grande crise? O que aconteceu?32. O que mudou depois disso?33. O senhor se envolveu com outras atividades? Quais?

    FINALIZAO

    Atualidade34. Muita coisa mudou na atividade do comrcio? Osenhor poderia dar alguns exemplos?35. E na cidade? Quais foram as principais mudanas?36. Como est a famlia do senhor atualmente? Comquem o senhor mora?37. O senhor continua trabalhando? E, alm do trabalho,o que o senhor gosta de fazer?

    Futuro/avaliao38. Qual hoje seu maior sonho?39. Se o senhor pudesse mudar alguma coisa em suavida, o que seria?40. O que o senhor achou de contar um pouco da suahistria?

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    COMO FAZER UM PROJETO DE MEMRIA ORAL

  • 3. Os 10 Mandamentos do Entrevistador

    AutoriaA entrevista surge da interao entre entrevistado e entrevis-tador. Cabe ao entrevistador um papel ativo para a produoda histria do entrevistado. Ambos so co-responsveis pelocontedo gerado.

    AtitudeO corpo, os olhos, os movimentos fazem parte do dilogo einfluenciam a construo da narrativa. Seja curioso. Escute.As melhores perguntas so aquelas que surgem da prpriahistria que est sendo contada.

    FocoO entrevistador deve priorizar a narrativa, as histrias. No devedeixar o entrevistado perder-se em comentrios e opinies genricas.

    HumildadeA referncia simblica do dilogo baseada no entrevistado. Oentrevistador no deve pressupor que o entrevistado possui osmesmos valores e conceitos que ele.

    OrganizaoTodo o material e equipamento necessrio para realizao daentrevista deve ser ordenado e testado antes da entrevista.

    PosturaO papel do entrevistador estimular e auxiliar o entrevistadona construo da histria que ele quer contar e deixar regis-trada. O entrevistador no um psiclogo. No deve procurarsubentendidos, no ditos. Porm, no evite a emoo.

    PacinciaNo interrompa a linha de raciocnio do entrevistado, mesmoque parea que ele esteja saindo fora do tema. Apenas interfiraquando for realmente necessrio, seja para retomar o fio dameada, seja para ajud-lo a seguir adiante.

    ReceptividadeO roteiro apenas um estmulo. Se o entrevistado fizer suanarrativa sem perguntas, deixe-o seguir sem interromp-lo. necessrio estar totalmente disponvel.

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    Como produzir e conduzir a entrevista

  • RespeitoA entrevista um momento solene, no qual o entrevistado esteternizando sua histria e o entrevistador participa daconstruo de um documento histrico. Deve ser tratada comoinviolvel. importante preparar um ambiente acolhedor, bemcomo garantir que o entrevistado se sinta tranqilo.

    SabedoriaO entrevistador nunca deve julgar o entrevistado. Exigiratitudes, discutir opinies ou cobrar verdade e preciso hist-rica. O objetivo da entrevista a viso pessoal que oentrevistado tem dos acontecimentos. Os dados obtidos noprecisam ser absolutos. Se o entrevistado no se lembra denomes ou datas, tente ajud-lo, mas no insista. As perguntasso apenas para suscitar sua vivncia pessoal e compreendersua viso de mundo.

    4. Gravao da entrevista

    ClaqueteAntes da entrevista, grave um pequeno cabealho informandonome completo do entrevistado, entrevistadores, data e localdo encontro. Afinal est sendo constituda uma nova fonte depesquisa.

    Local da gravaoSempre que possvel faa uma vistoria do local da gravao,observando o espao disponvel, o nmero e voltagem detomadas, as condies de luz e som do ambiente.

    Back-upTodo registro, seja em udio ou vdeo, deve ser copiado (emoutra fita, em CD ou no computador). Lembre-se que a entre-vista uma fonte indita e, se perdida ou danificada, no hforma de recuper-la.

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    COMO FAZER UM PROJETO DE MEMRIA ORAL

  • 5. Transcrio da entrevista

    IntegridadeA transcrio um documento histrico e como tal devepreservar, ao mximo, a fala do entrevistado. Revises ortogr-ficas sero feitas na edio e de acordo com o uso que sepretende do texto da entrevista realizada.

    OralidadeNo texto transcrito, a oralidade da narrativa deve ser valori-zada. Manter as onomatopias, vcios de linguagem,neologismos ou at mesmo as concordncias verbais inade-quadas uma maneira de preservar o ritmo e jeito de contar doentrevistado, tornando a leitura da histria mais interessante.

    Grafia das palavrasEm princpio, a grafia das palavras deve ser corrigida desdeque no sejam eliminados regionalismos no modo de falar doentrevistado. Vale conferir a grafia dos nomes prprios.Consulte dicionrios, guias de cidades, enciclopdias,Internet, bem como o prprio entrevistado.

    PontuaoA pontuao da transcrio deve respeitar o ritmo da fala doentrevistado, mas no pode agredir as regras bsicas da lnguaformal. As pequenas demoras, recorrentes na fala, devem serignoradas. Utilize reticncias para hesitaes efetivas, situa-es de ironia, para sugerir continuao de assunto ou emoutras situaes previstas na gramtica. Indique quandoocorrer uma pausa longa durante a entrevista da seguintemaneira: (PAUSA).

    Trechos inaudveisProcure resolver os trechos de difcil compreenso, seja pelaqualidade do som ou pela complexidade de determinadaspalavras. Quando um determinado trecho for inaudvel ouincompreensvel, deve ser indicado com um trao do tamanhoaproximado do trecho em questo: _________.

    Dvida de compreensoQuando houver dvida sobre determinada palavra ou frase,coloque-a entre parnteses juntamente com uma interrogao.

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    Como produzir e conduzir a entrevista

  • No arrisque a grafia de nomes prprios. Toda vez queaparecer a mesma palavra use sempre a mesma grafia. No finaldo texto liste as palavras que provocam dvidas para facilitar acorreo pelos pesquisadores.

    EmooQuando houver choro, riso ou outra demonstrao de emoodurante a entrevista, identifique com observao entre parn-teses. Ex: (riso)

    Padronizao importante adotar um padro para grafia de palavras estran-geiras, nmeros, siglas, entre outros. H diferentes manuais deredao que podem ser seguidos.

    6. Edio da entrevistaCacoetes de linguagemSe prestarmos ateno na fala, iremos perceber quantos vciosde linguagem temos (como uso exagerado de t, n, hein,ento, viu). No texto escrito, essas repeties tornam a leituracansativa. Os excessos devem ser eliminados sem prejudicar anarrativa.

    PontuaoMesmo que o entrevistado fale por perodos muito longos, sempausas, no momento da edio, opte por pontuar corretamentea fala do entrevistado. Tome cuidado com o uso de reticnciase de vrgulas, que indicam pausas no ritmo da fala.

    InversesNa fala, muitas vezes no estruturamos a frase de forma direta,pois falamos o que nos ocorre primeiro e s depois comple-tamos. No texto, essa inverso pode confundir o leitor e deveser reordenada.

    Correo gramaticalNa edio devero ser revistos todos os erros gramaticais,principalmente, os de concordncia verbal. No entanto, seentrevistarmos migrantes e quisermos utilizar modospeculiares da fala regional, esse conceito deve ser incorporado.

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    COMO FAZER UM PROJETO DE MEMRIA ORAL

  • 7. Exemplo transcrio/edioA seguir exemplos de trechos transcritos e editados do

    depoimento de Sebastio Rocha, entrevistado pelo Museu daPessoa, em 2004, durante o projeto Todo Mundo Pode Mudar oMundo, uma campanha da Ashoka Empreendedores Sociais.

    Trecho 1 transcrito

    P Tio, bom dia. Vou comear a entrevista perguntando seunome completo, data e local de nascimento.

    R O meu nome Tio Rocha, o apelido Sebastio. Eu nasciem Belo Horizonte, Minas Gerais, e tenho 56 anos.

    P Tio, voc podia colocar algum momento marcante da suainfncia? Voc passou a infncia em Belo Horizonte?

    R Passei em Belo Horizonte. Bom, eu falo que eu tenho umacoisa que talvez foi marcante pra minha vida, porque eu sousobrinho de uma rainha, e tenho muito orgulho disso. E quandoeu fui pra escola, aos sete anos, pela primeira vez, no primeirodia de aula a professora nos recebeu na biblioteca, nos sentou nocho, abriu o livro das Mais Belas Histrias e comeou a ler:Era uma vez, num lugar muito distante, havia um rei e umarainha... Eu levantei a mo e falei: Professora, eu tenho umatia que uma rainha. Ela falou assim: Fica quieto, meu filho.Isto histria da carochinha. Fica quietinho, presta ateno nahistria. E continuou com a histria dela. Cada vez que elafalava em rainha l na histria eu levantava a mo. L pelaterceira vez que eu levantei a mo, eu falei que eu tinha uma tiaque era rainha, ela ficou brava: Menino, isso no existe. Isso de mentirinha. No final da aula eu fui levado pra sala dadiretora, e a diretora me passou logo um sabo: O que isso,menino? Presta ateno. Quer ir embora desta escola? Quer serexpulso? Quer que chame a sua me? Eu calei a minha boca.

    Trecho 1 editado

    Meu nome Tio Rocha, o apelido Sebastio. Eu nasci emBelo Horizonte, Minas Gerais, e tenho 56 anos. Eu sou

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    Como produzir e conduzir a entrevista

  • sobrinho de uma rainha, e tenho muito orgulho disso.Quando eu fui pra escola pela primeira vez, aos sete anos, noprimeiro dia de aula, a professora nos recebeu na biblioteca,nos sentou no cho, abriu o livro das Mais Belas Histrias ecomeou a ler: Era uma vez, num lugar muito distante,havia um rei e uma rainha... Eu levantei a mo e falei:Professora, eu tenho uma tia que rainha. Ela falou assim:Fica quieto, meu filho. Isto histria da carochinha. Ficaquietinho, presta ateno na histria. E continuou. Cada vezque ela falava em rainha l na histria, eu levantava a mo.L pela terceira vez que eu levantei a mo e falei que eu tinhauma tia que era rainha, ela ficou brava: Menino, isso noexiste. No final da aula eu fui levado pra sala da diretora, e adiretora logo me passou um sabo: O que isso, menino?Quer ir embora desta escola? Quer ser expulso? Quer quechame a sua me? Eu calei a minha boca.

    Trecho 2 transcrito

    R E se eu estou aqui hoje talvez seja por culpa dela, de euestar perseguindo um pouco dessa minha histria. Essa tia foiRainha Perptua do Congado. E durante trs meses, de agosto aoutubro, todos os domingos os ternos de congado, catops,caboclinhos, marujo iam casa dela. Ela saia com um mantovermelho, a coroa, o cetro debaixo de uma sombrinha, daumbrela, e saia para os festejos de Nossa Senhora do Rosrio. Eaquilo me dava muito orgulho de poder furar fila, entrar echegar perto dela, ir pro colo. Era sobrinho, n, criana. E foimuito marcante pra mim, porque era muito verdadeiro. Nuncafoi histria da carochinha. Sempre foi muito real. E eu acho que por causa dela que eu segui a trilha que eu estou seguindo deestar correndo o mundo a, querendo descobrir um pouco dedinastias e realezas nos meninos, nas crianas que no tiverampossibilidade de mostrar a sua realeza nesse pas a.

    Trecho 2 editado

    Essa tia foi Rainha Perptua do Congado. Durante trsmeses, de agosto a outubro, todos os domingos os ternos de

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    COMO FAZER UM PROJETO DE MEMRIA ORAL

  • congado, catops, caboclinhos, marujo iam casa dela. Comum manto vermelho, a coroa, o cetro debaixo de umasombrinha, da umbrela, ela saia para os festejos de NossaSenhora do Rosrio. E aquilo me dava muito orgulho: poderfurar fila, entrar e chegar perto dela, ir pro colo. Erasobrinho, n, criana. E foi muito marcante pra mim, porqueera muito verdadeiro. Nunca foi histria da carochinha. Eacho que por causa dela que eu segui essa trilha de correr omundo, querendo descobrir um pouco de dinastias e realezasnos meninos, nas crianas que no tiveram possibilidade demostrar a sua realeza nesse pas.

    Trecho 3 transcrito

    R Eu fui trabalhar em Curvelo, Minas Gerais, que a capitalda literatura do Guimares Rosa, a entrada do serto, no ? Edali que ns comeamos a experincia de aprender a fazer umaescola debaixo do p de manga.

    P Quer dizer, voc comea a botar a idia em prtica ali?

    R Ali.

    P Em Curvelo?

    R Em Curvelo.

    P Voc se lembra desse primeiro momento?

    R Lembro.

    P Era p de manga mesmo?

    R Era. Na realidade tinha de tudo, n? P de manga, tinhatudo quanto, muita rvore. Mas tinha muita mangueira, n, nacidade. E eram uns meninos muito soltos. Ento eu fui trabalharali e levantei essa questo. Como havia interlocuo, eu fui prardio da cidade, Rdio Clube de Curvelo. Eu falei: "Olha, oseguinte, vai ter uma reunio das pessoas interessadas pradiscutir uma educao sem escola, uma escola de baixo do p demanga. Os candidatos que compaream tal dia na secretaria, nodepartamento de educao". No primeiro dia que foi anunciado,no dia seguinte apareceram 26 pessoas.

    Trecho 3 editado

    Fui trabalhar em Curvelo, Minas Gerais, que a capital

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    Como produzir e conduzir a entrevista

  • da literatura do Guimares Rosa, a entrada do serto.Ali comeamos a experincia de aprender a fazer umaescola debaixo do p de manga. Eram uns meninosmuito soltos. Eu fui trabalhar e levantei essa questo.Fui pra rdio da cidade, Rdio Clube de Curvelo, efalei: "Vai ter uma reunio das pessoas interessadas emdiscutir uma educao sem escola, uma escola de baixodo p de manga. Os candidatos que compaream tal diana secretaria, no departamento de educao". No diaseguinte, apareceram 26 pessoas.

    8. Digitalizao de imagensDigitalizaoDependendo da finalidade, a imagem pode ser digitali-zada com mais ou menos qualidade:

    72 DPI para impresso em impressora caseira oupublicao em sites ou envio por e-mail.

    300 DPI para impresso grfica (livros, calendrios,folhetos).

    600 DPI para impresso em grandes formatos (faixas,cartazes, painis).

    DPI = Abreviatura de dots per inch (pontos porpolegada), que indica a resoluo das imagens. Quantomaior o nmero de pontos, maior ser a resoluo emaior ter que ser a capacidade de processamento earmazenagem do computador.

    FormatoAs imagens digitalizadas em 300 ou 600 DPI ficam noformato, no compactado, TIFF (Tagged Image FileFormat). As imagens digitalizadas em 100 DPI so salvasno formato TIFF primeiro e depois de otimizadas eretocadas passam para o formato JPEG (JointPhotographic Experts Group).

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    COMO FAZER UM PROJETO DE MEMRIA ORAL

  • Armazenagem

    Lembre-se que para armazenar uma grande quantidade defotos, em alta resoluo, necessrio um grande espao em seucomputador. Uma imagem em 600 DPI ocupa de 40 a 60MBytes em disco. Imagens em 300 DPIs ocupam de 20 a 30MBytes. Para no ocupar espao em disco do computador, bemcomo permitir o deslocamento do material, convm armazenaras imagens em CD ou DVD. seguro preparar mais de umacpia do mesmo disco.

    Processamento de imagem

    Para processar imagens em alta resoluo, necessrio umcomputador com grande capacidade de processamento superiora 1Ghz e com memria RAM mnima de 256Mb.

    9. Fichas de catalogaoA seguir, exemplos das principais fichas usadas pelo Museu daPessoa. Dependendo do contedo do trabalho pelo projeto,tambm podem ser elaboradas fichas de objeto, desenho ouainda de trajetria profissional.

    Ficha de cadastro: Organiza dados objetivos sobre o entrevistado,que no necessariamente so respondidos durante a entrevista.MODELO 1

    Ficha de depoimento: Organiza informaes bsicas sobre odepoimento, permitindo que seja acessado com agilidade mesmoquando no transcrito. MODELO 2

    Fichas de fotos e documentos: Organiza informaes sobrefotos e documentos do entrevistado. Vale destacar que bastante diferente catalogar imagens de um acervo pessoal doque institucional. As fotos e documentos de uma pessoatambm funcionam como estmulo para que novas histriassejam registradas. MODELOS 3 e 4

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    MODELO DE CESSO DE DIREITOSAutorizao de uso de imagem, som de voz, nome e dados biogrficos

    em obras de preservao histrica.

    Eu, abaixo assinado e identificado, autorizo o uso de minha imagem, som da minha voz,nome e dados biogrficos por mim revelados em depoimento pessoal concedido, alm de todo equalquer material entre fotos e documentos por mim apresentados, para compor obras diversasde preservao histrica que venham a ser planejadas, criadas e/ou produzidas pela (nome dainstituio), com sede Rua ____________, inscrita no CGC/MF sob o no. ____________sejam essas destinadas divulgao ao pblico em geral e/ou para formao de acervo histrico.

    A presente autorizao abrange os usos acima indicados tanto em mdia impressa (livros,catlogos, revista, jornal, out-door, entre outros) como tambm em mdia eletrnica (vdeo-tapes, filmes para televiso aberta e/ou fechada, cinema, documentrios para cinema outeleviso, programas para rdio, entre outros), Internet, Banco de Dados InformatizadoMultimdia, CD ROM, CD-I (compact-disc interativo), home video, DAT (digital audiotape), DVD (digital video disc), suportes de computao grfica em geral e/ou divulgaocientfica de pesquisas e relatrios para arquivamento e formao de acervo histrico, semqualquer nus (nome da instituio) ou terceiros por essa expressamente autorizados, quepodero utiliz-los em todo e qualquer projeto e/ou obra de natureza scio-cultural voltada apreservao da memria histrica, em todo territrio nacional e no exterior.

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