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COMO ENTENDER E APLICAR OS ESCRITOS DE ELLEN WHITE

Traduzido do livro em francs Lire Ellen G. White. Primeira edio 1999, por ditions Vie et Sant, traduzido do original para o francs por Richard Lehmann. Traduo para o portugus: Ruth Maria Cavalcante Alencar

Para ver os princpios desse livro aplicados na prtica, leia tambm: rion e Os Eventos Finais Ellen White Era Contra a Bateria na Msica Sacra?

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Aos Leitores(pginas 9-10) Os escritos de Ellen White tm sido uma fonte de bnos para milhares de leitores que os tm percorrido durante um sculo e meio. Eles tm se mostrado um guia til e confivel em todas as etapas de suas vidas. Depois de algum tempo, uma necessidade se faz de uma introduo concisa quanto aos princpios de leitura de Ellen White. Fiz uma primeira abordagem no Myhs in Adventism: An Interpretative Study of Ellen White, Education, and Related Issues, Review and Herald 1985. Mesmo que este livro tenha abordado o assunto, seu objetivo principal era bem mais amplo que o problema dos princpios de interpretao. Havia muito ainda a fazer. Reading Ellen G. White, How to Understand and Apply Her Writings tem como nico objetivo examinar estes princpios. Ele procura tratar cada questo importante em relao ao assunto. Este livro se divide em trs partes. A primeira trata das consideraes gerais, como a inteno de seus escritos, suas relaes com a Bblia, o papel das compilaes e a necessidade de elaborar um plano de leitura. A segunda parte aborda os princpios de interpretao dos escritos de Ellen White. Cada captulo apresenta ao menos uma regra importante. A leitura e a interpretao dos escritos de Ellen White constituem, claro, apenas uma parte da tarefa. Um conselho ainda precisa ser posto em prtica. Em conseqncia, a terceira parte coloca em evidncia a aplicao dos ensinos de Ellen White. Este livro est acompanhado de um segundo volume, ainda no traduzido: Meeting Ellen White, Review and Herald, 1996. Este livro contem uma introduo concisa sobre a vida de Ellen White, trata de seus diversos escritos e examina seus temas comuns. Como tal, Meeting Ellen White oferece um complemento til esta obra. Juntos, eles constituem uma breve introduo da vida de uma crist influente e o emprego dos seus escritos. Diga-se que o presente volume mais uma introduo que uma anlise profunda sobre o assunto. Poderamos ainda desenvolver o tema tratado em cada captulo. Este livro no tem a inteno de abordar certas questes como o uso de assistentes de redao por Ellen White e o emprego de outros autores. Estes assuntos e muitos outros so examinados brevemente no segundo volume. Gostaria de expressar meus agradecimentos a Bonnie Beres, que cuidou da parte informatizada do meu manuscrito, Roger W. Coon, Tim Crosby, Paul A. Gordon, Jerry3

Moon, James R. Nix, Robert W. Olson, e Tim Poirier, que leram o texto e deram as sugestes para melhor-lo, a Gerald Wheeler et Tim Crosby pelo trabalho da publicao e administrao da Andrews University pelo apoio financeiro e pelo tempo que me foi concedido para a pesquisa e redao. Oro para que este livro seja uma fonte de beno para os que procuram alcanar uma compreenso mais profunda dos escritos de Ellen White. George R. Knight, Andrews University Berrien Springs, Michigan.

A Robert W. Olson cuja f e amor a Jesus marcaram minha vida.

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Primeira ParteConsideraes GeraisCaptulo 1

O Conselho Inspirado(pginas 13-15) Nos fim dos anos 1860, Ellen White escreveu: Os ovos no deveriam jamais se encontrar sobre vossa mesa. Eles representam uma ameaa para vossas crianas. (Testemunhos para a Igreja vol.2, p. 400) Sua declarao parece bem clara. Entretanto, o mesmo autor escreveu em 1901: Procure ovos provenientes de galinhas sadias e consuma-os crus ou cozidos. Misture-os crus, no melhor suco de uva que voc encontrar. Isto dar o que necessrio ao seu organismo. No creia, nem por um instante, que agindo assim voc no est na verdade. [...] Declaro que o leite e os ovos deveriam ser includos em seu regime. [...] Nos ovos se encontram propriedades que agem como antdotos. (Conselhos Sobre o Regime Alimentar 204) Assim, estes dois conselhos esto to distantes quanto possvel um do outro. No coma ovos! Coma ovos crus! Eles resumem o conjunto da problemtica. Entretanto, eles provm todos dois do mesmo autor. Como pode isto? Como a mesma pessoa pode dar recomendaes contrrias? A tais questes, seria difcil responder se fossem seus escritos ou os meus. As pessoas diriam que nos contradizemos. Mas o problema ampliado pelo fato de que Ellen White pretende receber os conselhos de Deus. Poderamos perguntar se ela no se confundiu. Ou ainda pensar que Deus mudou de opinio entre 1870 e 1901. Como ltima sada poderamos perguntar: Qual declarao inspirada? Por mais que a questo dos ovos parea insignificante na obra de um autor que tanto escreveu sobre os grandes temas centrais como o pecado e a salvao, a questo posta e as citaes sobre os ovos est longe de ser banal. Na verdade, est no centro da compreenso dos autores inspirados. O exemplo dos ovos coloca em evidncia que precisamos de princpios de interpretao se quisermos que nossa leitura seja coerente. Devemos reconhecer que cada leitor de Ellen White (e de todo autor) possui j um mtodo de interpretao. Mesmo aqueles que negam a necessidade de mecanismos de interpretao os escritores inspirados os empregam, apesar de ser quem so. Assim, quando lem na bblia: Feliz aquele que pegar teus filhos e esmag-los contra a pedra. (Salmo 137:9), eles comeam por situar a passagem no contexto imediato e segundo o que eles sabem sobre o amor de Deus e do mandamento divino que ordena ao Seu povo amar os inimigos (Mateus 5:43-48).

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impossvel ler o Salmo 137:9 e no o interpretar, a menos que exclua a metade do seu crebro. Estes versos dificilmente concordam com as bem-aventuranas do Novo Testamento que dizem: Bem-aventurados os misericordiosos, [...] Bem-aventurados os pacificadores. (Mateus 5:7-9). Nossa mente se empenha em harmonizar os sentimentos to diferentes presentes na Palavra inspirada de Deus. Compreendemos todos, de maneira igual, as palavras de Jesus em Mateus 5:27-29, que nos pede de arrancar o olho direito se somos incitados ao desejo por uma pessoa do sexo oposto. Mostre-me uma comunidade que no interprete este texto e eu indicarei uma onde os membros tm apenas um olho. Quando procuramos compreender nossa Bblia, desenvolvemos os princpios de interpretao dos documentos inspirados. Temos todos a mesma atitude, sejamos ou no conscientes. O objetivo deste livro estabelecer algumas regras de base que possamos aplicar na interpretao dos escritos de Ellen White, mas estes mesmos princpios se aplicam ao estudo das Escrituras. Conseqentemente, a maior parte das ilustraes ser da caneta de Ellen White, apesar de que eu tenha utilizado algumas imagens bblicas, que me pareceram apropriadas. Mas, voc talvez se pergunte: E quanto aos ovos? Qual declarao inspirada? A resposta a seguinte: as duas. Voc pergunta ento: Qual se aplica a mim? Isto depende de sua situao. Temos cada um de ns uma constituio fsica, necessidades e preocupaes diferentes. Assim, como um mdico prescreve diferentes terapias a pessoas diferentes que tm, portanto, o mesmo problema de sade, Deus d conselhos a uma pessoa que podem parece o contrrio do que disse a outras. por isto, que os leitores de Ellen White devem fazer muito mais que aplicar suas citaes sem refletir. No devem somente ler, mas faz-lo de uma maneira inteligente e responsvel. No devem se contentar somente em aplicar seus conselhos, mas de faz-lo com bom senso. Infelizmente, suas recomendaes (assim como as da Bblia) podem ser lidas e aplicadas sem discernimento e de maneira totalmente irresponsvel. Reading Ellen G. White, How to Understand and Apply Her Writings quer servir de guia, apoiando-se sobre ilustraes e princpios extrados dos escritos de Ellen White e, quando for possvel, mostrando como o autor interpretou seus prprios escritos. Mas, e os ovos? No esquente. Voltaremos ao assunto, assim como sobre outros assuntos de maior ou menor importncia, nas pginas seguintes. Antes, algumas observaes gerais serviro de base nossa leitura de Ellen White.

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Captulo 2

A Inteno dos Escritos de Ellen White(pginas 17- 21) Para compreender os escritos de algum, fundamental compreender suas intenes e objetivos. Os leitores que no conseguem discernir o alvo perseguido por um autor correm o risco de utilizar suas obras para fins contrrios suas intenes. ento importante compreender as idias que Ellen White tinha sobre seu papel no seio da Igreja adventista. Uma das coisas mais importantes que podamos dizer de seus escritos, que eles no tm, de forma alguma, que tomar o lugar da Bblia. Em Sua Palavra, escreveu ela no livro Grande Conflito, Deus conferiu aos homens o conhecimento necessrio salvao. As Santas Escrituras devem ser aceitas como autorizada e infalvel revelao de Sua vontade. Elas so a norma do carter, o revelador das doutrinas, a pedra de toque da experincia religiosa. [...] O Esprito no foi dado - nem nunca o poderia ser - a fim de sobrepor-Se Escritura; pois esta explicitamente declara ser ela mesma a norma pela qual todo ensino e experincia devem ser aferidos. (GrandeConflito pg.07)

Diferentemente dos que se apresentam como profetas modernos e cujos discpulos tratam os escritos como uma sorte de terceiro "Testamento", Ellen White explica que sua funo de exaltar a Palavra de Deus, e de direcionar para as Escrituras os pensamentos de todo afim de que a magnfica simplicidade da verdade faa impresso sobre eles (Testemunhos para a Igreja vol.5 pg. 665). Ela considerava como seu papel conduzir as pessoas Palavra de Deus, a qual elas tm negligenciado em seguir. (Testemunho para a Igreja vol.5 pg. 663) Os testemunhos, afirma ela, no tm por objetivo trazer nova luz, mas imprimir fortemente no corao as verdades inspiradas j reveladas na Bblia. (Testemunho para a Igreja vol.5 pg. 665). Talvez a ilustrao mais impressionante do papel de seus escritos foi este de v-los como uma pequena luz conduzindo homens e mulheres a uma luz maior [a Bblia], porque eles haviam dado pouca ateno a esta ltima. (Colporteur Ministry 125). Esta compreenso da razo de ser dos escritos de Ellen White fundamental. Mostrando constantemente aos seus leitores a Bblia como autoridade que deve reger suas vidas, ela nunca estimou que suas obras tivessem uma autoridade igual a das Escrituras ou mesmo uma autoridade independente das Escrituras. triste que alguns dem aos livros de Ellen White um lugar que ela jamais quis dar. Os que estimam que seus escritos tenham uma autoridade superior da Bblia ou que passam mais de tempo a l-los ao invs da Bblia, o fazem para se afastarem da Palavra de Deus. Os que verdadeiramente discernem a compreenso que Ellen White tinha de sua misso, no cometero jamais tal erro. Se estas pessoas lem realmente seus escritos, se sentiro levadas ao estudo e autoridade da Bblia.7

Em 1871, ela viu em um sonho a Bblia rodeada de muitos de seus Testemunhos para a Igreja. Ela ouviu a mensagem: As Escrituras no vos so familiares. Se vocs tivessem feito da Palavra de Deus o objeto de vosso estudo, no desejo de satisfazer s suas exigncias e de alcanar a perfeio crist, no teria havido a necessidade dos Testemunhos. Porque vocs tm negligenciado aprofundar o conhecimento da Palavra de Deus que Deus tem procurado vos alcanar pelos testemunhos simples e diretos, dirigindo vossa ateno sobre as palavras inspiradas as quais vocs tm negligenciado obedecer, vos exortando a colocar vossa vida em harmonia com seus ensinamentos puros e elevados. (Testemunho para a Igreja vol. 2, pg. 605) Os testemunhos escritos, foi-lhe dito ainda no mesmo sonho, no tm por objetivo trazer nova luz, mas imprimir profundamente nos coraes as verdades j reveladas. O dever de todo homem em relao a Deus e seus companheiros tem sido claramente anunciado na Palavra de Deus. Entretanto, poucos entre vocs obedecem luz que foi dada. Os testemunhos no trazem nova luz, mas Deus simplificou por seu intermdio as grandes verdades j reveladas e, da maneira que Ele escolheu, Ele as apresenta ao povo para despertar e impressionar as mentes, afim de que ningum tenha desculpa.(Testemunho para a Igreja vol. 2 pg. 605)

Em outra ocasio, ela escreveu que a Palavra de Deus suficiente para esclarecer a mente mais escurecida e ela pode ser compreendida pelos que tm o menor desejo da compreend-la. Apesar disto, alguns destes vivem em contradio direta com seus ensinos mais claros. Deus lhes deu testemunhos claros e precisos, lhes conduzindo Palavra que eles tm negligenciado. (Testemunho para a Igreja vol. 2 pg.454-455) At aqui temos examinado duas razes destacadas por Ellen White a favor de seus escritos. A primeira de exaltar a Bblia e de conduzir at ela homens e mulheres, a segunda clarificar os grandes princpios da Bblia para a vida quotidiana, afim de que ningum tenha desculpas para no segui-los. Em tudo, entretanto, ela cuidou de dizer que seus escritos no eram necessrios para a compreenso dos grandes princpios da salvao. Sua misso no era fornecer verdades novas e suplementares, mas de simplificar e elevar as que esto j oferecidas pela Bblia. Ellen White disse mais ou menos a mesma coisa, quando escreveu que irmo J. semeia a confuso nas mentes procurando mostrar que a luz dada por Deus por meio dos Testemunhos um suplemento Sua Palavra. Fazendo isto, ele apresenta a questo de forma deturpada. Deus achou por bem conduzir por intermdio dos Testemunhos a mente de Seu povo Sua Palavra, a fim de lhes dar uma compreenso mais clara.(Testemunho para a Igreja vol. 4 pg. 246)

Ellen White viu na denncia do pecado e no apelo para seguir a Bblia, um terceiro objeto de seu ministrio. Este aqui, certamente, est estreitamente ligado aos dois primeiros. Se, diz ela, o povo que professa agora ser o povo particular de Deus obedecesse s Suas exigncias, tais como foram anunciadas em Sua Palavra, os testemunhos particulares no lhes seriam necessrios para lhes despertar para seus deveres, lhes fazer tomar conscincia de seu estado de pecado e do terrvel perigo que8

representa sua negligncia em obedecer a Palavra de Deus. As conscincias tm estado aborrecidas porque a luz foi colocada de lado, negligenciada e desprezada. (Testemunho para a Igreja vol. 5 pg. 667)

Ellen White procurou aplicar os princpios bblicos a um quadro moderno, alvo amplamente demonstrado pela quantidade de conselhos prticos para a vida quotidiana, contidos nos Testemunhos para a Igreja, nas numerosas compilaes temticas, assim como em todos seus livros e seus artigos tratando de temas bblicos. Seus escritos no elaboram uma teologia sistemtica tradicional, nem ela pretende interpretar o papel de um comentarista bblico infalvel. Ao contrrio, suas obras so essencialmente prticas. Denunciando o pecado, elas nos convidam a seguirmos uma melhor via e oferecem as instrues para a aplicao quotidiana dos princpios bblicos. Os escritos de EW no se contentam apenas de nos conduzir Bblia, de denunciar o pecado e de dar conselhos para a vida do dia a dia, eles evidenciam tambm a nica resposta ao problema do pecado do homem. Eles trazem conforto ao conduzir seus leitores a Jesus, ao amor de Deus e ao plano da salvao como a nica esperana para um mundo perdido. Eles chamam a ateno das inmeras promessas bblicas que findam na vida, ministrio, morte, ressurreio, no ministrio celeste e no retorno de Jesus, o Redentor. Assim ela os coloca em relao com a consolao e a esperana da Bblia. Livros como Caminho a Cristo tratam por excelncia deste tema. Mas, os encontramos tambm ao longo de sua obra literria. Exaltando a Bblia Ellen White coloca continuamente Jesus em primeiro plano e a f Nele como a nica esperana da humanidade. O ltimo ponto a ressaltar, que os escritos de EW nos foram dados por Deus para preparar um povo tendo em vista os ltimos dias da histria desse mundo. Livros como O Grande Conflito ressaltam os desafios com os quais o povo de Deus ser confrontado no fim dos tempos. Seu ministrio tende no somente a orientar em direo ao retorno de Jesus sobre as nuvens do cu, mas tambm aconselhar homens e mulheres sobre a preparao necessria. Neste caso, ela faz eco da misso do Cristo, que nos convida a estarmos preparados para o Seu prximo retorno. (Apocalipse 22:20; verMateus 24:36 25:46)

Mas, procurando convidar seus leitores a sentirem-se prontos para o retorno de Cristo, ela os conduz constantemente Bblia. Assim, lemos no Grande Conflito, que somente os que forem fortalecidos no estudo das Escrituras podero subsistir aos acontecimentos do ltimo conflito. (Grande Conflito 600-610.) Ela jamais deixou de exaltar a Palavra de Deus para atrair a ateno em sua direo. Neste captulo, temos notado que Ellen White definiu sem cessar seus escritos como subordinados Bblia, como um guia para conduzir os crentes a uma melhor compreenso da palavra e sua obedincia. Entretanto, por este papel no significa que ela considerava que seus escritos sofriam de falta de autoridade divina. Ao contrrio, ela repete que a autoridade divina repousa sobre seus conselhos. A todos quantos se tm colocado no caminho dos Testemunhos, eu quero dizer: "Deus deu uma9

mensagem a Seu povo, e Sua voz ser ouvida, quer ouais, quer no.[...] vs, porm, tendes de prestar contas ao Deus do Cu, que tem enviado essas advertncias e instrues para guardar Seu povo no caminho certo. (Mensagens Escolhidas vol.1, pg.43)

Ela diz mais: Podereis dizer que esta comunicao era apenas uma carta. Sim, era uma carta, mas sugerida pelo Esprito de Deus, para trazer perante vosso esprito coisas que me haviam sido mostradas. Nessas cartas que escrevi nos testemunhos de que sou portadora, apresento-vos aquilo que o Senhor me tem apresentado a mim.(Mensagens Escolhidas vol. 1 pg. 27)

Ellen White era profundamente consciente de sua vocao proftica e da misso que lhe foi confiada, de conduzir o povo de Deus por meio de seus discursos e de seus escritos. Ela cria firmemente que Deus falava com ela segundo a tradio dos profetas da Bblia.

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Captulo 3

Ellen White e a Bblia(pg. 23-32) Voc poderia pensar que o ttulo desse captulo se parece com o contedo do captulo precedente. Voc tem razo. Tratamos de um assunto extremamente importante que se encontra no centro de uma saudvel compreenso do conjunto dos escritos de Ellen White. Quando as pessoas divagam sobre a relao entre seu dom e a Bblia, elas cometem um dos erros fundamentais em relao aos seus escritos. Se elas esto erradas sobre este ponto, se enganam j sobre a razo de ser de sua contribuio sua vida pessoal e Igreja. Convm ento de empregar algumas pginas complementares para examinar as relaes de Ellen White com as Escrituras. O primeiro ponto, que senhora White no queria que seus leitores fizessem dela a autoridade maior de suas vidas. Nossa posio e nossa f so fundadas sobre a Bblia, escreveu ela em 1894. No queremos a nenhum preo que quem quer que seja coloque os Testemunhos acima da Bblia. (Evangelismo pg.256) No mesmo ano, ela tomou uma posio idntica em relao pregao pblica. No trabalho pblico no torneis proeminente nem citeis o que a Irm White tem escrito, como autoridade para apoiar vossas posies. Fazer isto no aumentar a f nos testemunhos. Apresentai vossas provas, claras e simples, da Palavra de Deus. Um "Assim diz o Senhor" o mais forte testemunho que podeis apresentar ao povo. Que ningum seja instruda a olhar para a Irm White, e, sim, ao poderoso Deus, que d instrues Irm White. (MensagensEscolhidas vol. 3 pg. 29-30)

Por ocasio de um encontro com os representantes da Conferncia Geral para discutir a organizao da Igreja, em 1901, Ellen White os exortou uma vez mais a fazer dos princpios da Bblia sua autoridade maior ao invs de suas exortaes e palavras. Dirigindo-se aos lderes da Igreja Adventista, ela declara: Ponde a irm White de lado. No citeis outra vez as minhas palavras enquanto viverdes, at que possais obedecer Bblia. Quando fizerdes da Bblia vosso alimento, vossa comida e vossa bebida, quando fizerdes de seus princpios os elementos de vosso carter, conhecereis melhor como receber conselho de Deus. Enalteo a preciosa Palavra diante de vs neste dia. No repitais o que eu declarei, afirmando: "A irm White disse isto" e a irm White disse aquilo". Descobri o que o Senhor Deus de Israel diz, e fazei ento o que Ele ordena.(Mensagens Escolhidas vol. 3 pg.33)

Por tais declaraes no significa que Ellen White no tenha dito nada sobre o assunto em questo. Tambm no implica que seja errado procurar o conselho em seus escritos ou que eles no tenham nenhuma autoridade. Este comentrio acima invoca, sobretudo, uma questo de prioridade. Em cada caso, certas pessoas, tm colocado Ellen White em um lugar que no seu trabalho. Sua misso era conduzir Bblia e no tomar o seu lugar. Os que compilam dezenas de citaes sobre um determinado assunto, mas11

negligenciam sua Bblia, no seguem Ellen White, por mais que fiis possam parecer aos seus olhos. Avanam numa direo oposta a esta da pessoa que eles consideram como sua guia. Ellen White, regularmente, orientou as pessoas em direo Bblia como a mais alta autoridade em cada domnio da vida crist. James White, seu marido, adotou a mesma posio, como os outros lderes Adventistas do Stimo Dia. Em sua primeira comunicao escrita sobre o assunto do dom de Ellen White, redigida em 1847, James declarou que: a Bblia uma revelao perfeita e completa. Ela nossa nica regra de f e de conduta. Mas, isto no uma razo para que Deus no possa mostrar nestes ltimos dias, por sonhos e vises, a realizao do passado, presente e futuro de Sua Palavra, segundo o testemunho de Pedro (ver Atos 2:17-20; Joel 2:28-31). Verdadeiras vises so dadas para nos conduzir Deus e Sua Palavra escrita, mas as que so como uma nova regra de f e de conduta distinta da Bblia, no podem vir de Deus e devem ser rejeitadas. (A Word to the Little Flock, 13) Vemos nesta declarao o equilbrio delicado procurado por vrios dos primeiros pensadores adventistas importantes. A idia central, que a Bblia constitui a autoridade suprema. Mas a Escritura declara que Deus enviar vises e dons espirituais ao longo dos ltimos dias da histria da terra, para conduzir Seu povo Bblia e lhe fazer atravessar os perigos da crise final. Assim James White mostra que o emprego de Joel 2:28-31 por Pedro, em seu sermo do Pentecoste, contado em Atos 2, no acaba a realizao desta profecia. Deus enviar de novo Seu Esprito Santo no fim dos tempos e vossos filhos e filhas profetizaro e tero vises antes do segundo advento. James White cita tambm1 Tessalonicenses 5:19-21, onde Paulo diz; No desprezeis as profecias; julgai todas as coisas, retende o que bom e Isaas 8:20, onde lemos: lei e ao testemunho! Se eles no falarem desta maneira, jamais vero a alva. (A Word tothe Little Flock, 14)

Jaimes White e os outros pioneiros da Igreja Adventista no tinham nenhuma dvida. A Bblia ensina que Deus concederia o dom de profecia, durante os ltimos dias, e que cada um tem a responsabilidade de provar os que pretendem ser os profetas pelos critrios da Bblia contidos nos textos de Isaas 8:20 e Mateus 7:15-20. Os lderes adventistas no duvidavam tambm que tais dons devessem estar subordinados Bblia e que se no o fossem, seriam mal empregados. Assim, James White escreveu em 1851, que os dons do Esprito deveriam ter o lugar que lhes convinha. A Bblia uma rocha eterna. Ela nossa regra de f e de conduta. Ele chegou a afirmar que se todos os cristos fossem tanto diligentes como honestos como deveriam ser, eles estariam na condio de aprender todas as suas obrigaes da Bblia. Mas, afirma James, como o caso contrrio e como sempre foi, Deus em Sua bondade, teve piedade da fraqueza de Seu povo e colocou dons na Igreja para corrigir nossos erros e para nos conduzir Palavra. Paulo diz que eles esto para o aperfeioamento dos santos (...) at que todos cheguemos unidade da f (Efsios 4:1213). A extrema necessidade na qual se encontra a Igreja, em razo do seu estado de imperfeio, constitui para Deus ocasio para conceder os dons do Esprito.12

Todo cristo, em conseqncia, deve tomar a Bblia como regra perfeita de f e de conduta. Deve orar com fervor para ser socorrido pelo Esprito Santo em seu estudo das Escrituras, na busca de toda verdade e de todos os seus deveres. Ele no tem a liberdade de dela se desviar para descobrir seus deveres atravs de um dom de qualquer tipo. Dizemos que a partir do momento em que ele age assim, o cristo coloca os dons em um lugar errado e toma uma posio extremamente perigosa. A Palavra deve ser colocada em primeiro lugar e a Igreja deve fixar-se nela, como regra de conduta e fonte de sabedoria, a fim de aprender o que seu dever em toda boa obra. Mas se uma parte da Igreja se afasta para longe das verdades da Bblia e torna-se fraca, doente, e o rebanho se dispersa e parea necessrio a Deus empregar os dons do Esprito para corrigir, fortalecer e curar os afastados, devemos faz-lo. (Review andHerald, 21 abril 1851)

Na mesma linha, em 1868, James White advertiu aos crentes que eles devem deixar os dons no lugar que lhes devido na Igreja. Deus nunca os colocou em primeiro lugar, ao nos orientar de consider-los como um guia no caminho da verdade, como via para chegar ao cu. Sua Palavra que Ele exaltou. A lmpada, cuja luz clareia a marcha em direo ao reino formada do Antigo e Novo Testamento. Sigam o Antigo e o Novo Testamento. Mas se vocs se afastarem para longe das verdades bblicas e se vocs estiverem em perigo, possvel que Deus, em um momento de Sua escolha, vos corrija (por intermdio dos dons) e vos conduza Bblia. (Review and Herald, 25 de fevereiro 1868). Assim, vemos que James White estava de acordo com sua esposa sobre o lugar de seu dom espiritual em relao Bblia. Esta posio reflete tambm o consenso dos outros responsveis da Igreja adventista no seu comeo. Seria difcil ser mais claro sobre este assunto. Neste momento reconheamos que se Ellen White, seu marido e os outros responsveis adventistas cressem que seu dom de profecia estava subordinado a Bblia, isto no significava que eles estimassem que sua inspirao fosse de qualidade inferior aos dos escritores bblicos. Ao contrrio, eles pensavam que a mesma fonte de autoridade que falava aos profetas da Bblia se exprimia atravs dela. Encontramos aqui um bom equilbrio. Mesmo se os adventistas consideram sua inspirao de origem tambm divina como as dos autores bblicos, eles no lhe atribuiro o mesmo lugar. Ellen White e seus companheiros adventistas sustentaram que sua autoridade era derivada da autoridade da Bblia e no podia ento lhe ser igual. Resultando que sua influncia no tinha por objetivo transcender ou contradizer os limites da verdade revelada pela Bblia. Como o disse pertinentemente Ellen White: Os testemunhos escritos no visam trazer nova luz, mas imprimir vigorosamente sobre os coraes as verdades inspiradas j reveladas [na Bblia]. [...] Novas verdades no foram trazidas, mas Deus simplificou, por meio dos testemunhos, as grandes verdades j reveladas. (Testemunho para a Igreja vol. 5, pg. 665) Infelizmente, alguns no prestam ateno aos limites que Ellen White colocou em seus prprios escritos. Tais pessoas colocam em primeiro lugar suas idias de maneira errnea, alm do limite das Escrituras, por meio de mtodos de interpretao13

deficientes (que sero examinadas mais frente). Suas idias novas e progressistas contradizem s vezes no somente a Bblia, mas ultrapassam tambm os limites estabelecidos por Ellen White, quanto ao uso de seus escritos. Nossa nica segurana ler Ellen White dentro do quadro bblico. Devemos ter cuidado para no empregar seus escritos para salientar ensinos que no so claramente enunciados pelas Escrituras. Devemos tambm nos lembrar que o que necessrio para a salvao est j presente na Bblia. Antes de nos afastarmos do assunto sobre a relao de Ellen White com a Bblia, necessrio examinar ainda uma questo. Certos adventistas tm visto em Ellen White um comentarista infalvel da Bblia, no sentido de que deveramos empregar seus escritos para estabelecer o sentido das Escrituras. Assim, um dos mais importantes escritores adventistas escreveu na Review and Herald em 1946, que os escritos de Ellen White representavam um grande comentrio das Escrituras. Ele chegou a declarar que eles no eram comparveis a outros comentrios no sentido de que eles eram comentrios inspirados, suscitados pela ao do Esprito Santo e (que) isto lhe dava uma categoria particular, bem acima de qualquer outro comentrio. (Review and Herald, 9 de Junho 1946). Mesmo que Ellen White tenha afirmado escrever sob o ponto de vista privilegiado da luz do Esprito Santo, ela no pretendeu que deveramos tomar seus escritos como a ltima palavra do significado das Escrituras. A. T. Jones, ao contrrio, em um artigo publicado em 1894 sobre o objetivo das obras de Ellen White, os considera como um intrprete infalvel da Bblia. Ele alegou que o bom uso dos escritos de Ellen White, implicava em estudar a Bblia atravs deles. Tal abordagem, dizia ele, faria de ns grandes conhecedores das Escrituras (The Home Missionary Extra, dezembro 1894). A sugesto de Jones serviu de linha de conduta para numerosos adventistas do sc.XX. absolutamente essencial reconhecer que Ellen White rejeitou o emprego de suas obras como um comentrio infalvel. Suas respostas s disputas sobre a interpretao da lei na epstola de Glatas e a definio sobre a interpretao do "contnuo" em Daniel 8, so as melhores ilustraes. So combates teolgicos que dividiram os principais pensadores adventistas durante quase trs dcadas. O conflito girava em torno da compreenso suposta das passagens bblicas relativas a essas duas questes. Segundo alguns de seus leitores, em um testemunho escrito aproximadamente em 1850, ela havia definido a lei, nas epstolas aos Glatas, como a lei cerimonial. Para essas pessoas, era a prova irrefutvel da identificao da lei. Mas a soluo apontada conhecia uma dificuldade. O testemunho em questo tinha sido perdido e ento a prova estava longe de ser conclusiva. A resposta de Ellen White a esta crise teolgica instrutiva. No dia 24 de outubro de 1888, ela disse aos delegados divididos na sesso da Conferncia Geral de Minneapolis, que a perda do testemunho no qual ela havia alegadamente resolvido a questo de maneira definitiva, aproximadamente em 1850, era providencial. Deus, afirmou ela, tem aqui uma inteno. Ele quer que faamos referncia Bblia para obter o14

testemunho das Escrituras. (1888 Materials, 153). Em outras palavras, ela era mais interessada pelas afirmaes bblicas sobre o assunto do que pelas suas. Mas os delegados dispunham de seu livro Sketches From the Life of Paul (1883), que parecia fixar definitivamente seu selo de aprovao sobre a interpretao da lei cerimonial. Qual foi a reao de Ellen White ao emprego de seus escritos? No dia mesmo, antes que algum colocasse em primeiro lugar o argumento tirado do Sketch, ela declarou aos delegados: No posso tomar posio por uns ou por outros (sobre a questo de Glatas), antes de ter estudado a questo. (1888 Materials, 153) Em resumo, ela rejeitou a abordagem dos que quiseram se servir dela como um comentarista infalvel. A essncia da sua resposta global est em sua declarao aos delegados: Se vocs sondarem as Escrituras de joelho, ento, vocs conhecero e sero capazes de responder a quem quer que pergunte a vocs a razo da f que est em vocs. (Idem,152)

Ellen White manteve a mesma posio vinte anos mais tarde, por ocasio de uma controvrsia sobre a definio do contnuo, em Daniel 8. Nesta disputa, os que defendiam a antiga interpretao pretendiam que a nova derrubava a teologia adventista, em razo do fato de que uma declarao de Ellen White, nos Primeiros Escritos, sustentava a compreenso tradicional. O chefe da fila dos que defendiam a antiga interpretao afirmava que uma mudana em relao posio estabelecida minava a autoridade de Ellen White. Ele era muito explcito em seu ponto de vista sobre as relaes de seus escritos com a Bblia. Deveramos compreender tais expresses com a ajuda do Esprito de Profecia [manifestado nos escritos de Ellen White]. [...] neste sentido que o dom de profecia nos foi concedido. [...] todos os pontos devem ser resolvidos desta maneira. (S.N.Haskell W.W.Prescott, 15 de novembro 1907) Ellen White mostrou-se em desacordo com o argumento. Ela pediu que seus escritos no sejam tomados para resolver o problema. Rogo aos Pastores H, I, J, e outros de nossos principais irmos, que no faam referncia a meus escritos para apoiar seus pontos de vista quanto ao "contnuo". [...] No posso consentir que qualquer de meus escritos seja tomado como solucionando esse assunto.[...]pois no tive nenhuma instruo a respeito do ponto em discusso [...]. (Mensagens Escolhidas vol 1, 164) Assim nos dois debates sobre o cotidiano e sobre a lei em Glatas, Ellen White tomou posio para que seus escritos no sejam empregados para estabelecer o sentido da Bblia, como se ela fosse um comentarista infalvel. Willie C. White apresenta tambm uma interessante opinio sobre a relao entre os escritos de sua me e a Bblia. Alguns de nossos irmos, escreveu ele, esto muito surpresos e decepcionados porque mame no escreveu alguma coisa decisiva que pudesse fechar o debate sobre o que o cotidiano e coloque assim fim no presente desacordo. Durante um tempo, esperei por isto, mas quando vi que Deus no julgou bom resolver a questo atravs de uma revelao por intermdio de Sua mensageira, cheguei a crer que sua vontade era que um estudo srio da Bblia e da histria seja

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feito, at que uma clara compreenso da verdade seja alcanada. (Willie C. White P.T.Magan, 31 de julho de 1910). Sua recusa de funcionar como um comentarista infalvel da Bblia no deveria surpreender a ningum. Ela nunca assumiu este papel, mas chamava a ateno das pessoas sobre a necessidade de estudar a Bblia por elas mesmas. Nunca ela declarou: Deixe-me dizer o que a Bblia quer verdadeiramente dizer. A ltima coisa que ela quis foi se colocar entre as pessoas e a Bblia. Fritz Guy ilustra assim este ponto: Se aponto meu dedo em direo ao teto e digo: Olhem! No quero que olhem meu dedo. Desejo que sigam a direo para a qual ele aponta. evidente que se voc insiste em olhar meu dedo porque voc no compreendeu. (Fritz Guy, Ms no publicado, 18 de janeiro 1986) Assim falou ele sobre Ellen White. Ela sempre conduziu seus leitores em direo Bblia e ela nunca pretendeu ter a ltima palavra sobre o sentido das Escrituras. Na verdade, em seus prprios escritos, ela nunca tirava as mesmas lies ou interpretaes das mesmas passagens bblicas. Os que querem fazer de Ellen White um comentarista infalvel da Bblia vo de encontro aos seus prprios conselhos e lanam por terra praticamente suas palavras. Eles fazem dela a luz maior para explicar a luz menor que seria a Bblia. Robert W. Olson, diretor aposentado do White Estate* (Centro White) explica bem as dificuldades inerentes a abordagem que consiste em se apoiar sobre um comentarista infalvel, quando ele escreve que: dar a um indivduo um controle absoluto sobre a interpretao da Bblia consistiria, praticamente, a elevar esta pessoa acima dela. Seria um erro permitir, mesmo ao apstolo Paulo, de exercer um controle sobre a explicao de todos os outros autores bblicos. Em um caso parecido Paulo, e no a Bblia inteira, representaria a autoridade final. (One Hundred and One Questions, p.41). Nossa nica segurana autorizar os autores da Bblia a falar por eles mesmos. O mesmo acontece para Ellen White. Leia cada autor por sua prpria mensagem, em seu contexto. Olson aponta uma questo importante quando ele nota que os escritos de Ellen White so geralmente de natureza homiltica ou so orientados em direo evangelizao. Eles no so de natureza estritamente exegtica. (idem). Howard Marshall nos ajuda a discernir um pouco mais esta idia, quando ele ressalta que a exegese, o estudo da Bblia [...] para determinar com preciso o que diversos autores tm procurado dizer quem se destinava suas mensagens, enquanto que o comentrio o estudo da Bblia para determinar o que ela quer nos dizer. (Biblical Inspiration, p. 95,96) Voc pode se perguntar: Como isto se aplica s relaes de Ellen White com a Bblia? Simplesmente da seguinte maneira: Ellen White sempre direcionou seus leitores Bblia para que eles estudassem e descobrissem o que seus autores tinham a dizer (exegese). Mas, alm disso, ela sempre aplicava os princpios das Escrituras ao seu tempo e ao seu lugar (comentrio). Nos dois casos ela serviu, como ela dizia, como "uma luz menor para guiar homens e mulheres luz maior." (O Colportor Evangelista 125).

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Ela no queria dizer que ela tinha um grau de inspirao menos importante que os dos escritores bblicos, mas que a funo de seus escritos era de conduzir as pessoas Bblia. Tendo examinado o importante conselho de no fazer de EW um comentarista infalvel do significado das Escrituras e tendo reconhecido que ela se manifestou "geralmente" na ordem da homlia (sermo) mais do que na exegese, importante notar que de tempos em tempos, ela se manifestou sobre a exegese de um texto. Devemos determinar quais comentrios so de natureza exegtica, lendo estes comentrios relacionados ao contexto especfico de passagens da Bblia em questo. Olson foi muito feliz ao escrever: "Antes de afirmar que Ellen White interpreta um texto para seus leitores de um ponto de vista exegtico, deve-se estar previamente seguro de como ela utiliza o texto dado."(One Hundred and One Questions, p. 42)

______*Em seu testamento, Ellen White estabeleceu um centro que seria encarregado da gesto de suas obras literrias, chamado Ellen G. White Estate. Seus escritrios so situados no prdio da sede mundial da Conferncia Geral dos Adventistas do Stimo Dia, em Silver Spring, em Maryland.

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Captulo 4

Compilaes Oficiais e No oficiais(pginas 33-38) Cometemos um erro agrupando em livros os pensamentos de Ellen White sobre diversos assuntos? Uma frmula que ressalta uma citao aps outra sem seu contexto no traz prejuzos aos princpios e a viso do conjunto? Notemos primeiramente que as compilaes foram elaboradas no seio mesmo do ministrio de redao de Ellen White. Muitas compilaes por temas, como Conselhos aos Professores, Pais e Estudantes e Obreiros Evanglicos foram concludos quando Ellen White ainda estava viva. Mais ainda, os nove volumes dos Testemunhos para a Igreja foram agrupados a partir de cartas e de seus manuscritos. Mas isto no tudo. Mesmo livros como Caminho a Cristo e O Desejado de Todas as Naes so em parte compilaes. Por exemplo, por ocasio da preparao do livro Caminho a Cristo, Ellen White pediu a sua secretria para percorrer seus artigos precedentes, cartas e manuscritos para que pudesse coletar os assuntos que ela poderia unir em um novo livro. Claro, ela estava presente pessoalmente para provar a seleo e a ordenao. Ela podia assim tambm acrescentar novos elementos, se necessrio, e modificar os documentos existentes para que resultasse em um livro uniforme. importante reconhecer que Ellen White no esperava que o trabalho de compilao parasse com sua morte. Envelhecendo, ela compreendeu que no poderia organizar toda sua documentao em livros antes de morrer. Seu testamento estabelece de maneira clara que o comit da Fundao White teria a responsabilidade da edio da compilao dos seus manuscritos. Abundante luz tem sido comunicada a nosso povo nestes ltimos dias, escreve ela. Seja ou no poupada a minha vida, meus escritos falaro sem cessar, e sua obra ir avante enquanto o tempo durar. Meus escritos so conservados em arquivo no escritrio, e mesmo que eu no deva viver, essas palavras que me tm sido dadas pelo Senhor tero vida ainda e falaro ao povo. ( Mensagens Escolhidas vol 3, 76) Antes de prosseguirmos em nosso estudo sobre compilaes, necessrio definirmos alguns termos. Os livros de Ellen White que chamamos normalmente de compilaes consistem em um grande nmero de citaes curtas sobre um determinado assunto, colocados em uma ordem lgica e agrupadas em captulos pelo compilador (geralmente a equipe da Fundao White para as compilaes oficiais). Livros como Orientao da Criana e Conselhos Sobre o Regime Alimentar pertencem a esta categoria. Para sermos claros, chamaremos tais obras de compilaes temticas.

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Estas compilaes tm um grande valor, porque elas tendem a ser enciclopdicas. Isto , elas procuram apresentar em um s volume todas as declaraes importantes de Ellen White sobre um tema. Assim, eles podem ser visualizados por qualquer pessoa que pretenda conhecer todas as idias de Ellen White sobre temas to diversos como a escolha de um companheiro, o controle do apetite, ou o da Escola Sabatina instrumento missionrio. Uma desvantagem potencial das compilaes temticas que elas extraem a maioria das declaraes de seu contexto literrio e histrico. Isto importante uma vez que o contexto ajuda o leitor a compreender mais facilmente a inteno do autor e a significao profunda do texto. Para vencer este inconveniente e dar acesso ao contexto, as fontes de cada declarao so indicadas em todas as publicaes oficiais editadas depois da morte de EW. Os captulos seguintes ajudaro o leitor a compreender certas questes de interpretao levantadas pelas compilaes temticas. Em oposio s compilaes temticas, com suas breves citaes alinhadas de maneira enciclopdicas, encontramos o que a maioria das pessoas considera como livros de Ellen White. Patriarcas e Profetas e Parbolas de Jesus pertencem a esta categoria. Como vimos antes, eles so tambm publicaes anteriores. Mas oferecem a vantagem de terem tido a ateno pessoal de Ellen White. Ela estava em condies de acrescentar elementos suplementares, segundo as necessidades e de modificar antigas declaraes para dar um equilbrio ao conjunto. O privilgio dos livros de expandir o contexto. No meio do caminho entre as compilaes temticas e os livros redigidos em contnuo, se encontram as obras como Testemunhos para a Igreja, Mensagens Escolhidas, e Fundamentos da Educao Crist. So geralmente selees de captulos que do uma idia mais precisa do quadro que as compilaes temticas. Ellen White comeou a publicar compilaes do tipo Testemunhos para a Igreja quando se deu conta que os conselhos que Deus lhe havia dado para certos indivduos ou para situaes particulares poderiam tambm ser aplicados a outras pessoas ou em outras circunstncias. Ela escreveu em 1868: Como as advertncias e as instrues dadas sob forma de testemunhos, em casos particulares, podem se aplicar com a mesma fora a muitos outros que no foram colocados em evidncia desta maneira, senti-me no dever de publicar os testemunhos pessoais para benefcio da Igreja.(Testemunhos para a Igreja vol. 5 pg. 658,659; cf. 1 Testemunhos para a Igreja vol.1 631,632)

A criao das compilaes temticas de certa forma uma extenso deste procedimento. Assim, deveramos considerar a publicao de outras compilaes, depois da morte de Ellen White, como uma continuao de algo que comeou enquanto estava viva. Entretanto, as compilaes surgidas depois de 1915 tm limites que no tm as que foram publicadas anteriormente, afinal Ellen White no estava mais aqui para dar o seu retoque final. por isso, que se tornou imperativo para a Fundao White, elaborar um

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regulamento preciso e um processo de publicao que permita assegurar que cada livro mostre seus conselhos e exprima fielmente sua inteno e seu pensamento original. triste que as pessoas e grupos de interesses particulares apegados a um ponto ou a outro e que queriam se servir da autoridade de Ellen White para apoiar suas concluses, no tomem geralmente, o mesmo cuidado. Durante sua vida, senhora White muito se preocupou com os que produziam compilaes prprias de suas declaraes. Ela era prudente com relao aos seus assistentes, mesmo aqueles que tinham as melhores motivaes credenciais. Em 1894, ela escreveu: Muitos dentre nosso prprio povo me escrevem pedindo com ansiosa determinao o privilgio de usarem meus escritos para dar fora a certos assuntos que desejam apresentar ao povo de modo a deixar sobre eles profunda impresso. verdade que h razo para que alguns desses assuntos devam ser apresentados; mas no me arriscaria a dar minha aprovao ao uso dos testemunhos dessa maneira, ou a sancionar que ponham matria, em si mesma boa, pela maneira por que eles propem. As pessoas que fazem essas propostas, quanto eu saiba, podem ser capazes de conduzir o empreendimento acerca do qual escrevem com prudncia; no obstante, no ouso dar a mnima permisso para usarem meus escritos na maneira que elas propem. Tomando em considerao tal empreendimento, h muitas coisas a serem levadas em conta; pois se servindo dos testemunhos para apoiar algum assunto que possa impressionar a mente do autor, os extratos podero dar uma impresso diferente daquela que dariam, fossem eles lidos em sua relao original. (Mensagens Escolhidasvol 1, 58)

Ellen White no tratou somente com pessoas aparentemente equilibradas que podiam cometer, inadvertidamente, uma m impresso atravs das compilaes de sua obra, ela tambm enfrentou personalidades excessivas que empregavam, de uma maneira ou de outra, textos de seus escritos para dizer o contrrio do que ela queria dizer. Eu sei, escreveu ela, que muitos homens tomam os testemunhos que o Senhor tem dado, e aplicam-nos como lhes parece que deviam ser aplicados, pegando uma sentena aqui e ali, tirando-a de sua devida ligao, e aplicando-a segundo sua idia. Assim ficam pobres almas perplexas quando, pudessem elas ler em ordem tudo quanto foi dado, veriam a verdadeira aplicao, e no ficariam confundidas. Muita coisa que pretende ser mensagem da irm White serve ao desgnio de representar mal a irm White, fazendo-a testificar em favor de coisas que no esto em harmonia com seu esprito ou juzo. (Mensagens Escolhidas vol. 1, 45) Outros, citando Ellen White misturam suas prprias palavras com as dela e do a impresso que suas idias so as dela. (ver Testemunhos para a Igreja vol. 6, pg. 122, 123). Enfim, tem os que, querem reforar suas posies, colocam a princpio textos dos

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testemunhos os quais eles pensam apoiar seus pontos de vista e elaboram sobre eles a mais slida construo possvel (Testemunhos para a Igreja vol. 5, 688). A ltima frustrao que conheceu Ellen White proveio destes que deturparam seus escritos para apoiar sua prpria opinio, seja em declaraes isoladas, seja atravs de suas prprias compilaes. Escutem o grito de seu corao: O que eu disse em conversaes particulares repetido de tal maneira que signifique exatamente o oposto ao que eu queria dizer, caso os ouvintes fossem santificados na mente e esprito. Tenho receio de falar at com os meus amigos; pois depois eu ouo: A irm White disse isto; ou: A irm White disse aquilo. Minhas palavras so to torcidas e desvirtuadas que estou chegando concluso de que o Senhor deseja que me afaste das grandes reunies e rejeite as entrevistas particulares. Aquilo que eu digo relatado de um modo to deturpado que se torna novo e estranho para mim. mesclado com palavras proferidas por homens para apoiar suas prprias teorias. (Mensagens Escolhidas vol.3 82,83) Ellen White no podia, com certeza, controlar estes que empregavam mal seus escritos, mas ela advertiu que Deus julgar estes que tomam de liberdades injustificadas e empregam de meios desonrosos para dar fora e influncia ao que consideram como verdade. (Testem. Ministros e Obreiros Evanglicos 32-33) E qual seu conselho com relao a estes que tm um forte desejo de empregar seus escritos para apoiar suas idias? Isto ntido e claro: que os testemunhos falem por si mesmos. No apanhem os indivduos as declaraes mais fortes, feitas a pessoas e famlias, impondo essas coisas porque desejam usar o aoite e ter algo para impor.(Mensagens Escolhidas vol. 3 pg. 286-287).

Sua prpria soluo para compartilhar seus conselhos sobre os assuntos que ela no teve tempo de desenvolver plenamente em seus livros, antes de sua morte, foi de dar ao comit encarregado de seus bens a autoridade de fazer compilaes pstumas. Ela suspeitava que tais obras teriam limites, mas ela sentia-se vontade com um sistema que ela utilizou antes de sua morte para publicar suas obras. Ela sabia tambm que tal sistema, com toda vigilncia, equilbrio e precauo que comporta, garantiria a transmisso de suas idias da maneira mais fiel possvel. Em concluso, em toda a sua vida, Ellen White se manteve a distncia de toda compilao independente e fez o necessrio para o desenvolvimento organizado de obras oficiais aps a sua morte. Neste captulo, reconhecemos a necessidade de um desenvolvimento das compilaes pela Fundao White. Mas, mesmo se o maior cuidado foi tomado, tais documentos podem ser mal empregados. O prximo captulo prope um plano de leitura dos escritos de Ellen White e os captulos seguintes estabelecem os princpios de interpretao e de aplicao de seus conselhos. Numerosas idias figuradas neste livro ajudaro os leitores a abordar mais facilmente os problemas temticos.21

Captulo 5

Siga um plano de leitura(pginas 39-43) Todo cristo deveria adotar um plano de leitura. Como um alimento material alimenta o corpo, o lado espiritual da vida alimentado quando comemos (ver Jeremias 15:16) os conselhos e as promessas de Deus. Uma f alimentada se fundamenta no conhecimento da maneira como Deus conduziu Seu povo no curso da histria, no reconhecimento do cuidado dirio que Ele tem por ns e na compreenso de Suas promessas. A fonte de tais informaes se encontra nos conselhos que Deus deu aos Seus profetas ao longo da histria judaico-crist. Mas, voc pensa, h tanta coisa para lermos. Como fazer? Por onde devo comear minha leitura? Se compreendemos bem Ellen White, deveramos comear pela Bblia e no por suas obras. No entanto, mesmo pela Bblia, temos necessidade de um plano de leitura. Alis, se algum comear sua leitura no meio do livro de Levticos ou do Deuteronmio, se perde na massa de sacrifcios ou das leis cerimoniais. Outros, mesmo, se amparam de sua Bblia e se engajam a ler um certo nmero de pginas cada dia, depois do Gnesis at o Apocalipse. Isto pode funcionar para alguns debutantes (ou mesmo veteranos), mas a maioria (aps ter percorrido alegremente o Gnesis e a metade do xodo) so desencorajados quando encontram, na segunda metade do xodo, as descries meticulosas do mobilirio do santurio terrestre e as vestimentas do sacerdote. Oh! Como terrvel ler a Bblia inteira, concluem fechando a capa. A melhor maneira de comear a leitura da Bblia sem duvida comear pelos quatro evangelhos. Afinal de contas, o tema central da Bblia no Jesus, Sua vida e Sua morte por nossos pecados? Assim, minha primeira sugesto que elabore um programa seguido da leitura dos quatro evangelhos, de Mateus a Joo. Aprenda a conhecer a Jesus. Remarque a maneira como ele entra em contato com as pessoas de todas as classes, retenha a essncia de Seu ensinamento e de Seus sermes (em particular o sermo da montanha) e conhea Suas promessas. No se inquiete se no compreender tudo o que l. Os que passam toda a sua vida a estudar os evangelhos descobrem novas idias a cada leitura. Leia para si as bnos que Deus reserva, no seu nvel de compreenso. Posso acrescentar que uma boa traduo moderna contribui muito para tornar a leitura mais proveitosa. Quando tiver percorrido um pouco os evangelhos, abordem a histria da Igreja primitiva registrada em Atos dos apstolos. Aps Atos, voc tirar vantagem da leitura dos grandes histrias narradas no Antigo Testamento (Gnesis, xodo 1-20, textos de22

Nmeros, e todos os livros de Josu Esther). Uma vez mais, voc no precisa compreender tudo para estar enriquecido. At aqui, voc percorreu a Bblia como uma histria. Agora tente as cartas do Novo testamento e a poesia, a profecia e a lei no Antigo testamento. medida em que voc explorar as sees mais complexas da Bblia, procure ligar seu novo conhecimento s narrativas que leu anteriormente. Aps isto, estar apto a ler a Bblia, do comeo ao fim. Estudar a Palavra de Deus fonte de graa. O plano que propus tem sido enriquecedor para muitos. Mas, se ele no satisfaz suas necessidades, ento o encorajo a elaborar outro programa de leitura. Mas leia! Isto essencial para sua sade espiritual. Aps a Bblia, voc encontrar mais gozo na leitura de outros livros cristos, inclusive nos de Ellen White. No entanto, ela escreveu muitos! Por onde comear? Sugiro no comear com as compilaes temticas como o Lar Adventista, ou Conselhos Sobre o Regime Alimentar. Praticar assim seria comparvel a uma leitura da Bblia a partir de Levticos. Seria muito fcil perder-se nos detalhes. Como para a leitura da Bblia, prefervel comear por uma viso geral. Nos livros de Ellen White, comece pela srie do grande conflito. Seus cinco volumes cobrem todo o perodo do conflito csmico entre o bem e o mal, entre Cristo e Satans. E como Cristo essencial, o livro intitulado O Desejado de todas as Naes constitui um bom ponto de partida. Voc ver na primeira pgina, da maioria dos captulos, referncias bblicas no rodap das pginas. Elas indicam as passagens bblicas relacionadas ao assunto tratado por Ellen White neste captulo. Muitos leitores sentiram-se enriquecidos lendo os textos bblicos antes mesmo de ler os captulos. Aps este livro podemos ler, na ordem Patriarcas e Profetas, Profetas e Reis, Atos dos Apstolos e o Grande Conflito. Caminho a Cristo (um clssico da meditao crist que poderia ser lido antes de todos os outros e ser uma grande beno), As Parbolas de Jesus e O Maior Discurso de Cristo, so outras obras de Ellen White que colocaria no topo da minha lista de livros de iniciao. Aps ter alcanado uma ampla viso dos escritos de Ellen White e uma impresso do seu estilo, de suas preocupaes e do contexto, podemos ento abordar as obras mais detalhadas, que ressaltam sobre a aplicao dos princpios cristos em situaes especficas. Nesta etapa da leitura, podemos escolher entre os nove volumes dos Testemunhos para a Igreja ou um dos livros sobre um assunto que nos interessa. Ler os Testemunhos muito benfico. Eles tratam de quase todos os acontecimentos e problemas da histria dos sessenta primeiros anos do movimento adventista. O leitor dos Testemunhos ter vantagem de ter em suas mos um livro sobre a histria do movimento adventista, tal como meu livro Anticipating the Advent: A Brief History of Seventh-Day Adventists ou o de Richard Schwarz, mais amplo, intitulado Light Bearers to the Remnant, e os seis volumes biogrficos sobre Ellen White escritos por Arthur23

White, para conhecer os antecedentes e o contexto. O The Seventh-day Adventist Encyclopedia constitui outra fonte de informao histrica. Aos que esto prontos a ler livros de conselhos adquirindo uma viso geral recomendo fortemente uma obra temtica antes de se lanar em uma compilao enciclopdica. Assim, uma pessoa interessada por uma vida consagrada deveria ler Cincia do Bom Viver antes de ler Conselhos Sobre o Regime Alimentar. Da mesma forma, os que esto envolvidos com a educao deveriam ler Educao antes de examinar Fundamentos da Educao Crist. Praticar nesta ordem d ocasio de ter uma viso ampla antes de entrar num domnio mais especfico. Tal abordagem permite ao leitor de colocar as peas que ele encontra nas compilaes temticas em um conjunto equilibrado. Para a leitura de compilaes, dou uma advertncia. Ellen White deu seus conselhos para diversas pessoas, em circunstncias muito diferentes. Em nenhum momento, um leitor pode ter vivido todas estas situaes de uma vez. Assim deve estar consciente que o objetivo de uma compilao temtica juntar todas as situaes sobre um assunto em um s volume. Em concluso, prefervel, portanto, desenvolver um plano de leitura que avance progressivamente, a partir de uma viso geral para examinar os detalhes. Os leitores encontraro tambm algumas utilidades nos quatro volumes do Comprehensive Index to the Writings of Ellen G. White e no CD-Rom da Fundao White (White estate), que contem todas as obras de Ellen White publicadas em ingls, para estudar diversos assuntos interessantes de seus escritos. Um ltimo conselho: tenha sua disposio uma caneta, quando estiver lendo. Numerosos so os que acham til sublinhar as idias ou os pensamentos centrais de cada pargrafo ou de cada pgina. Enfim, para terminar este captulo, aqui vai um bom conselho de F.E.J.Harder: Seja honesto com voc mesmo e com o autor. No limite sua leitura (de Ellen White) procura de textos-prova, de declaraes chocantes, de conselhos isolados ou de pargrafos esclarecedores, mas leia os livros como ela os escreveu. Claro, as compilaes so excelentes para encontrar referncias. No entanto, para se tornar um autntico conhecedor de Ellen White, para saber o que realmente ensinou, para avaliar o impacto de seus pensamentos sobre sua compreenso e experincia para estimular a sua vida, algumas atividades podem valer a pena o esforo da leitura dos escritos em um momento inspirados e inspiradores de Ellen White, no contexto literrio e editorial, que so emitidos a partir de sua pena. (What Ellen White Has Meantto Me, H.E.Douglass, Edit. p. 117.)

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Segunda PartePrincpios de InterpretaoCaptulo 6

Comece com boas Intenes(pginas 47-49) Nossas disposies de esprito influenciam nossa vida quotidiana muito mais que pensamos. Aqueles que passam a vida acreditando que todo mundo est contra eles acabam conhecendo pessoas que sintam isto. E os que permanecem no lado negativo da vida no tm dificuldades de encontr-lo. Nossas intenes de esprito so tambm importantes em nossa leitura dos escritos de Ellen White. Este captulo prope algumas sugestes que podem tornar sua abordagem mais produtiva. Primeiro, comece sua leitura orando para receber sabedoria e compreenso. O Esprito Santo, que inspirou a obra dos profetas ao longo dos sculos, o nico a estar apto para desvendar o sentido de seus escritos. Seu pedido no introduz apenas a realidade objetiva do Esprito em seu estudo, ele tambm tem uma dimenso subjetiva. Nossa atitude em orao nos sensibiliza e abre nossa mente, nosso corao e nossas vidas a um sincero desejo de conhecer a vontade de Deus para coloc-la em prtica em nosso viver. Segundo, aborde seu estudo com um esprito aberto. Ningum est livre de preconceitos ou parcialidade. Reconhecemos tambm que as opinies preconcebidas concernem todos os domnios de nossa vida. Mas isto no significa que devamos nos deixar dominar. Ao contrrio, temos necessidade de tomar conscincia de nossas parcialidades e de seus efeitos sobre o que lemos e nossas reaes em nossas leituras. Neste domnio, deveramos reconhecer que os preconceitos existem sob duas formas: Os preconceitos a favor e os contra. Os que sofrem de um saber a priori favorvel tm a tendncia a ter argumentos a favor de seu assunto, mesmo onde eles no existem. Este processo vem, de um lado por seu engajamento e de outro pelo que deturpam dos fatos de maneira inconsciente (ou no). A mesma dinmica se estabelece com os preconceitos desfavorveis a uma idia. Embora jamais possamos superar nossas inclinaes naturais de ter preconceitos, certamente podemos reconhec-los pelo que so e alter-los. Assim, uma parte de nossa

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orao consistir a pedir ao Esprito Santo para nos ajudar a manter a mente aberta e equilibrada. Poderamos definir uma mente aberta como estando capaz de mudar frente a uma prova fundamentada. importante no utilizar os escritos de Ellen White para encontrar citaes ou argumentos para apoiar uma posio que tenhamos j aceitado. Tal estado de esprito nos tornaria incapazes de ver os fatos. A nica maneira eficaz de ler seus escritos (ou de outros autores) de faz-lo com um esprito de pesquisa da verdade. Cada um de ns deve estar disposto a mudar de opinio e de conduta quando visamos chegar a um acordo com os elementos de prova plena. Ellen White escreveu: Se examinais as Escrituras para justificar opinies prprias, nunca alcanareis a verdade. Pesquisai para aprender o que o Senhor diz. (Parbolas de Jesus, pg. 112). Ela teria dito a mesma coisa em relao aos seus escritos. A leitura de Ellen White, com f ao invs de ceticismo uma terceira boa atitude. Como Ellen White declarou: Alguns que no esto dispostos a receber a luz, mas que preferem andar nos caminhos de sua prpria escolha pesquisaro os testemunhos para neles buscar alguma coisa que anime o esprito de incredulidade e desobedincia. (Mensagens Escolhidas vol. 1, p 48). Ela acrescenta: Satans tem a habilidade de colocar a dvida e de apresentar objees em relao aos testemunhos precisos que Deus envia e muitos consideram como uma virtude, um sinal de inteligncia ser incrdulo, questionar e buscar escapatrias. Os que quiserem duvidar encontraro amplamente ocasio. Deus no se prope remover qualquer razo para duvidar. Ele d provas que devem ser estudadas com cuidado, com um esprito humilde e de escuta e cada um deveria decidir em funo do peso da evidncia.(Testemunhos para a Igreja vol. 3, pg. 255)

Deus d elementos suficientes para a mente imparcial alcanar a f, mas aqueles que seqestram essas manifestaes, porque existem alguns elementos que a sua mente limitada no pode compreender, permanecero na atmosfera fria e reservada da descrena e da dvida e sua f naufragar. (Testemunhos para a Igreja vol. 4, pg. 233) Se algum espera que todas as possibilidades de dvidas sejam removidas, nunca conseguir acreditar. Isto to verdade para a Bblia como para os escritos de Ellen White. Nossa aceitao repousa mais sobre a f que sobre uma demonstrao racional. Ellen White escreveu: Os que mais tm a dizer contra os testemunhos so em geral os que no os leram, da mesma maneira que os que se gabam de sua incredulidade na Bblia so os que tm pouco conhecimento de seus ensinos. (Mensagens Escolhidas vol. 1,pg 45-46)

Os trs fatores que falamos para uma boa abordagem esto estreitamente ligados uns aos outros. Um ardente desejo de ser conduzido pelo Esprito Santo na verdade conduzir naturalmente a uma abertura da mente e a uma atitude de f. De igual modo, uma atmosfera de dvida conduzir a uma estreiteza da mente e a uma reticncia a pedir a ajuda do Esprito de Deus. Em grande medida, os frutos de nossas leituras dependem do estado de esprito com o qual abordamos essas leituras.26

Captulo 7

Concentre-se no Essencial(pginas 51-55) Uma pessoa pode ler documentos inspirados pelo menos de duas maneiras: Uma consiste em examinar os temas principais tratados pelo autor, outra procura de coisas que so novidades e particulares. A primeira conduz ao que podemos chamar de teologia do centro, a outra a uma teologia perifrica. Durante muitos anos, segui a segunda via em minhas leituras de Ellen White e da Bblia. Sem pensar nas conseqncias do que fazia, comecei a colecionar as citaes da Bblia e de Ellen White que me pareciam fora do comum, estas que traziam idias novas que ningum havia descoberto ou assinalado. No meu ardor, procurei sempre declaraes as mais extremas sobre os assuntos novos e diferentes que me interessavam, lhes extraindo do seu contexto e constitua minhas prprias compilaes. Aps estar mais ou menos satisfeito, pela descoberta, sentia-me na misso de convencer meus amigos crentes do valor das idias avanadas o que havia recolhido em Ellen White e na Bblia. Infelizmente, este mtodo de estudo produziu uma teologia que o prprio Deus no reconhecia. Uma tcnica que findava em distores e a insistncias que no se encontravam originalmente nos escritos inspirados. Tal procedimento conduziu os fundadores de uma das Igrejas ao crescimento mais rpido do mundo a batizar os vivos em favor dos seus ancestrais mortos. Observando que em 1 Corntios 15:29 alguns Corintianos se batizavam em nome de alguns que estavam mortos, este movimento moderno fez deste conceito um elemento fundamental de sua f, embora tal prtica contradiga o sentido profundo do batismo que encontramos no restante do Novo testamento, e que uma resposta da f em conseqncia do arrependimento. Este assunto tocado apenas em um lugar no Novo testamento. algo marginal, que contradiz o claro ensinamento do apstolo Paulo sobre a salvao. Esta contradio deveria ter servido de advertncia. Tomar um texto obscuro como fundamento de uma doutrina no sai de graa. O captulo 15 de 1 Corntios trata de um assunto decisivo para a teologia crist, a saber, a realidade da ressurreio corporal de Cristo e a ressurreio, no fim dos tempos, dos que crem Nele. Esta doutrina essencial est no centro do Novo Testamento. Entretanto, alguns em Corinto, duvidavam da ressurreio de Cristo e da futura ressurreio dos santos. Aos que descriam, Paulo respondeu, que a f deles era v se no havia ressurreio e que eles eram os mais infelizes dos homens. (cf. v. 12-19) Esta confuso ia, para alguns dentre eles, at a prtica do batismo pelos mortos. Se seguirmos a argumentao do captulo, evidente que Paulo no defende a prtica do27

batismo pelos mortos, mas que ele pergunta aos corntios porque eles agem assim se eles no crem de forma alguma na ressurreio dos corpos. Paulo coloca em evidncia a contradio deles e sugere que a lgica deles deveria lhes conduzir a uma concluso razovel. Para concluir, dizemos que alguns corntios no tinham clareza com relao ressurreio e o batismo. No entanto, algumas pessoas dos tempos modernos descobriram em 1 Corntios 15:19 o que eles consideraram como luz nova e tm empregado este texto isolado e obscuro como fundamento de uma de suas maiores doutrinas. Uma abordagem da leitura que d nfase sobre o que diferente e novo conduz teologia perifrica. E tal teologia est sempre longe de ser bblica. Uma outra leitura de 1 Corntios 15 exige um estudo do tema central que marca todo o captulo. Paulo comea dizendo a seus leitores que o centro do Evangelho (ou boas novas) o Cristo morto por nossos pecados e ressuscitado dos mortos (v.1-4). Ele conclui com a promessa da ressurreio no fim dos tempos dos que aceitaram as boas novas da morte e da ressurreio do Cristo em seu favor. (v.51-56). O tema central do captulo a ressurreio, no o batismo dos mortos. Este ltimo forneceu a Paulo somente uma ilustrao de pano de fundo, com a ajuda desta ilustrao Paulo coloca em evidncia a incoerncia dos Corntios em relao ao assunto tratado. Utilizar uma ilustrao para dela fazer uma doutrina um erro. Elaborar uma teologia perifrica pode permitir a qualquer um chegar a novas luzes, mas finalmente esta luz pode parecer trevas quando colocada no contexto do ensinamento central e slido da Bblia. trgico que numerosos vidos leitores de Ellen White colocam evidncia sobre uma leitura que conduz a uma teologia perifrica. Ellen White tomou posio firme contra tal uso de seus escritos. Ela pediu a seus leitores para tomarem cuidado com as questes secundrias cuja tendncia desviar a mente da verdade. (Counsels to Writers andEditors, 47)

Segundo seu conselho, deveramos estar atentos maneira como recebemos tudo o que chamado de novas verdades. Devemos ser cuidadosos, por receio de sob a cobertura de uma pesquisa por novas verdades, Satans no desvie nossa mente de Cristo e das verdades particulares para o nosso tempo. Foi me mostrado que o inimigo usa de estratgias que consiste em conduzir os pensamentos a se preocuparem com qualquer ponto obscuro e sem importncia, qualquer coisa que no plenamente revelada ou que no essencial para nossa salvao. Ele o transforma em algo que sufoca a verdade presente. (Counsels to Writers and Editors, 49) Os anjos de Satans, alis, escreve ela, so inteligentes para fazer o mal e criam o que alguns chamam de uma nova luz de vanguarda e proclamam como coisas novas e maravilhosas. Na verdade, pregam questes secundrias. (Testemunho para Ministros eObreiros Evanglicos, 229) 28

O que que torna o ensinamento de numerosos apstolos da nova luz to impressionante em sua evidente sinceridade e faz com que muito do que eles tm a dizer possa parecer uma verdade necessria? Como podemos dizer que estamos no foco ou que nos afastamos para alm do que verdadeiramente importante? Escutemos o que Ellen White d como resposta a essas questes. No livro Educao se encontra uma passagem significativa. Ela escreveu: A Bblia explica-se por si mesma. Textos devem ser comparados com textos. O estudante deve aprender a ver a Palavra como um todo, e bem assim a relao de suas partes. Deve obter conhecimento de seu grandioso tema central, do propsito original de Deus em relao a este mundo, da origem do grande conflito, e da obra da redeno. Deve compreender a natureza dos dois princpios que contendem pela supremacia, e aprender a delinear sua operao atravs dos relatos da Histria e da profecia, at grande consumao. Deve enxergar como este conflito penetra em todos os aspectos da experincia humana; como em cada ato de sua vida ele prprio revela um ou outro daqueles dois princpios antagnicos; e como, quer queira quer no, ele est mesmo agora a decidir de que lado do conflito estar. (Educao 190) Uma passagem similar sobre o grande tema central da Bblia a define mais precisamente: O tema central da Bblia, o tema em redor do qual giram todos os outros no livro, o plano da redeno, a restaurao da imagem de Deus no ser humano. [...] Se consideramos [os textos bblicos] em relao ao grande pensamento central, seu valor e alcance tornam-se imensos. Cada assunto ganha ento um novo sentido. (Educao, 125) Tais passagens nos indicam o caminho a seguir para a leitura da Bblia e dos escritos de Ellen White. Leiam para ter uma viso geral. Leiam para descobrir os grandes temas centrais. O alvo da revelao de Deus para a humanidade a salvao. Esta salvao orientada em direo a cruz de Cristo e nossa relao com Deus. Toda nossa leitura se situa neste contexto e as questes que so prximas do tema central so evidentemente maiores que as perifricas. nosso dever como cristos nos preocuparmos mais com as questes centrais da Bblia e dos escritos de Ellen White do que com as questes marginais. Se agirmos assim, as questes secundrias ficaro em seus lugares no contexto do grande tema central da revelao de Deus ao Seu povo. Por outro lado, concentrar-se em primeiro lugar nos assuntos secundrios do cristianismo conduz no somente a compreenses deturpadas, mas cria tambm problemas na aplicao dos conselhos de Deus para a vida. Manter-se constantemente no limite de casos leva ao desequilbrio e fanatismo. Por outro lado, ler a partir dos grandes temas principais da Escritura nos ajuda a colocar tudo em sua prpria perspectiva. a via da sade espiritual. o ponto essencial que Jesus colocou em evidncia, segundo os evangelhos, quando Ele procurava conduzir os Judeus de Seu tempo compreenso do que era a verdadeira religio.

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Jesus visava elaborar uma teologia do centro e no uma perifrica. Ele deseja que faamos o mesmo. Deveramos no somente ler tudo o que Ellen White escreveu do ponto de vista do grande tema central do cristianismo, mas ainda, ler cada livro particular ou cada captulo, por sua contribuio maior nossa compreenso deste tema. Ler de forma crist ler sob o ngulo do grande conflito entre o bem e o mal, sob o ngulo da cruz de Cristo.

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Captulo 08

Sublinhar o Importante(pginas 57-63) Nossa comunidade est quase dividida a propsito do uso das toalhas longas ou curtas no servio da Santa Ceia. Pessoalmente, sou de acordo com o uso das toalhas curtas, mas alguns novos membros acham que existe desorganizao quando empregamos as outras. Gostaria de saber quais toalhas irm White usava. Existe alguma coisa sobre este assunto em seus escritos? (Uma mulher acredita que h algo relacionado no livro Primeiros Escritos.) Finalmente, o uso de toalhas longas era comum no incio da mensagem? Assim escreveu R.Shaffer Arthur L. White em novembro de 1933. Esta carta mereceria estar classificada entre os clssicos do uso abusivo dos escritos de Ellen White. Primeiro, faz de um assunto sem importncia bblica uma ma da discrdia. Depois, tenta resolver o problema fazendo apelo ao exemplo pessoal de Ellen White e tradio adventista. Talvez o mais impressionante desta carta, seja que tal congregao tenha novos membros como testemunhas de tal desordem. Para mim, pessoas com o mnimo de bom senso no entraria em tal igreja. E, no entanto, um nmero decepcionante de reunies adventistas faz regularmente esse estado de "feiras de espetculos". A resposta de Willie White carta coloca o problema na sua justa perspectiva. Ele ressalta que todas as vezes que sua me participou da lavagem dos ps, ela utilizou as toalhas colocadas disposio pelas diaconisas da igreja sem comentrio ou crtica. minha opinio que ela considerava tal questo como de importncia secundria. (Willie C. White R. Shaffer, 15 de dezembro de 1933). Trata-se de uma teologia de perifricos. A carta sobre o tamanho das toalhas da comunho um exemplo tpico da maneira como podemos colocar a nfase sobre a nova luz do secundrio. No entanto, para esta comunidade, tornou-se um problema central. O que teria acontecido se Ellen White tivesse preferido uma toalha outra? O que isto poderia significar para a Igreja? Nada! No mximo teramos conhecido sua preferncia pessoal. Um grande nmero de adventistas tem tido tendncia a colocar Ellen White no lugar de Jesus. Ele nosso modelo, no ela. Colocar a vida de Ellen White em primeiro plano de nossa religio idolatria e no cristianismo. Ellen White experimentou isto que digo. Assim, quando alguns lderes da igreja quiseram que seu exemplo fosse autoridade em matria de reforma sanitria, ela declarou que se era assim, ela no daria um tosto por sua reforma sanitria.31

(Manuscrit 43, 1901). Ela afirma que as convices deles deveriam ser postas sobre qualquer coisa mais slida que sua vida pessoal. O nmero de candidatos a levantar importncia de ninharias da Bblia sem limites. A questo da barba outro exemplo de argumentao adventista. Um documento de meus arquivos porta por ttulo: Quarenta [sic] e uma razes bblicas pelas quais os homens devem deixar a barba crescer. Uma das mais impressionantes que, segundo Mateus 10:30, Deus contou o nmero de cabelos de nossa cabea. Por que seramos to arrogantes para cortar o que Deus toma conta ao ponto de contar? Outro argumento adianta que Deus criou o homem barbudo e ento um ato culpvel apagar a imagem de Deus ao se barbear. Ou ainda, um homem no deve portar o que porta uma mulher (Deuteronmio 22:5) e as mulheres so imberbes. No mesmo sentido, o artigo salienta que os efeminados no entraro no reino de Deus. O ponto decisivo da argumentao no manuscrito, que o Cristo, nosso exemplo, tinha uma barba. Outros adventistas ampliaram o assunto a tal ponto que eles colocaram sob o mesmo plano a marca da besta e o barbear. O barbear, escreveu um advogado abstmio em um documento intitulado O ano de 1940: outra chamada para a Igreja do resto um dos deuses deste mundo de hoje [...] Quando vocs se barbeiam, no esto adorando a Deus, mas ao diabo. Ele tentou mudar o quarto mandamento. Agora, tenta modificar o primeiro. [...] Quando voc tenta progredir sob o poder da mo de Deus, e se barbeia, voc faz uma grande confuso e ter que responder no futuro. James White tentou, a partir de 1857, desvendar o vu da fascinao pela qual os adventistas abordavam a questo do barbear. Ele escreveu: Devemos pedir desculpas por ter mostrado um interesse qualquer pela questo ou ter discutido os mritos ou os demritos na Review, pois no podemos considerar que se trata de uma questo bblica. [...] Recomendamos permanecer neutro (sobre a questo da barba) e a neutralidade na matria hoje, o silncio. (Review and Herald, 25 de Junho de 1857) Mais impossvel ganhar com aqueles que esto preocupados com qualquer rea da teologia dos perifricos. Um desses santos pretendeu mais tarde que James teria sido infeliz por ter permanecido neutro sobre a questo. Portanto, uma das barbas mais espinhosas, evidentemente votou contra o barbear. Tais argumentos especiais so um dos traos comuns dos que elaboram as teologias dos perifricos selecionando citaes tendenciosas sobre um assunto ou outro e aplicando sua razo a cortar os cabelos em quatro do que eles respigaram. Como era de se esperar, Ellen White estava de acordo com a posio do seu marido. Willie White escreveu em 1907 que, quando os irmos vieram falar com ela expressando suas graves preocupaes sobre o assunto (a barba), ela declarou que seria melhor para eles que empregassem seu tempo e inteligncia em questes mais importantes. (Willie C. White M. Hirst, 24 de fevereiro de 1907). Por vrias vezes, Ellen White reconduziu s questes maiores da Escritura os que aumentavam pontos32

menores, em particular ao plano da salvao e misso do povo de Deus. E foi tambm por questes doutrinrias. Por exemplo, a discusso sobre a identidade do contnuo em Daniel 8, dividiu os lderes adventistas durante mais de dez anos. Embora alguns agitadores tenham se servido de suas declaraes para sustentar seus pontos de vista, ela afirmou categoricamente que eles haviam se enganado de rota. O inimigo de nossa obra se agrada quando um assunto de menor importncia pode ser usado para desviar a mente de nossos irmos, das grandes questes que devem constituir a preocupao de nossa mensagem. Uma vez que no seja uma questo capital, exorto meus irmos a no dar a vitria ao inimigo fazendo disto um caso de conscincia. (Mensagens Escolhidasvol.1, 164-165)

Ela fez uma declarao parecida com relao ao debate sobre a natureza da lei na epstola aos Glatas, que dividiu a Igreja nos anos 1880 e 1890. No era para ela um problema importante, embora alguns lderes tenham se servido de seus escritos para dar amplitude questo. Ela tomou uma posio parecida em uma das controvrsias teolgicas mais decisivas do adventismo contemporneo, esta da natureza humana de Cristo (uma vez mais, largamente apoiada por citaes dos seus escritos). No fim da sua anlise mais longa sobre o assunto, no somente ela advertiu sobre o perigo de querer tudo provar, mas foi at a dizer Que existem questes que no so necessrias ao aperfeioamento da f (Lettre dEllen White, 8, 1895) Em sua opinio, tem numerosas coisas claramente reveladas que esto no centro da f e do ponto de salvao. em direo a estes pontos que ela constantemente enviou seus leitores. Ela os aconselhava, sem cessar, para que se apegassem ao que importante. Assim, embora pudesse fazer comentrios ao longo se seus conselhos Igreja, sobre questes tais como as toalhas da santa ceia, a barba, ou a lei em Glatas, para ela, estas questes no eram essenciais. Da mesma maneira, quando Jesus disse a seus ouvintes que todos os seus cabelos so contados (Mateus 10:30), sua inteno no era denunciar ou encorajar a barba, mas de exaltar o amor de Deus e o valor infinito de cada ser humano aos seus olhos. Jesus colocou constantemente a nfase sobre as questes maiores da vida e procurou conduzir os Judeus de seu tempo a se ocuparem das coisas verdadeiramente essenciais da religio. Tomado em seu contexto mais amplo, Ellen White fez o mesmo. Antes de concluir este assunto, devemos examinar outra questo. Saber se tudo o que Ellen White escreveu era inspirado. O que isso? Poderiam perguntar alguns, se uma idia ou um fato no inspirado encontra espao em seus escritos? Essa questo de uma importncia particular, na medida em que Ellen White declarou ser conduzida por Deus em suas cartas e suas entrevistas, assim como no desenvolvimento de seus livros e de seus artigos. (ver Mensagens Escolhidas vol. 1, 50-51) A resposta clssica a esta questo, que Ellen White tratou de assuntos comuns e de assuntos sagrados. Ela no somente escreveu cartas familiares sobre os assuntos33

comuns de todos os dias (ver cartas 201, 202, 1903), como falou tambm de coisas banais em seus escritos endereados a outras pessoas. Por exemplo, em 1909, ela lembra uma experincia que ela fez com E.S. Ballenger, ancio responsvel pelo sanatrio de Paradise Valley, a propsito do nmero de quartos do estabelecimento. Ele declarou ter perdido a confiana nela porque ela havia dito que o sanatrio continha 40 quartos, quando ele tinha apenas 38. Quando Ellen White exps o caso de Ballenger, ela fez uma distino entre o sagrado e o profano. A informao quanto ao nmero de quartos no Sanatrio Vale do Paraso foi dada, no como uma revelao vinda do Senhor, mas simplesmente como uma opinio humana. Nunca me foi revelado o nmero exato dos quartos de qualquer de nossos hospitais; e o conhecimento que tenho obtido dessas coisas, tive indagando dos que se esperava que soubessem. [...] H vezes, porm, em que devem ser declaradas coisas comuns, pensamentos comuns precisam ocupar a mente, cartas comuns precisam ser escritas e informaes dadas, as quais passaram de um a outro dos obreiros. Tais palavras, tais informaes, no so dadas sob a inspirao especial do Esprito de Deus. So por vezes feitas perguntas que no dizem respeito absolutamente a assuntos religiosos, e estas perguntas precisam ser respondidas. Conversamos acerca de casas e terras, negcios a serem feitos, locais para nossas instituies, suas vantagens e desvantagens. Recebo cartas solicitando conselhos acerca de assuntos estranhos, e aconselho segundo a luz que me tem sido comunicada. (Mensagens escolhidas vol.1, 38-39) Embora a distino entre o sagrado e o profano tenha sido a posio tradicional sobre a questo de saber se tudo o que Ellen White escreveu inspirado, alguns tm sugerido que Ellen White nunca foi capaz de fazer comunicaes particulares ou pessoais sobre assuntos religiosos ou de assuntos com implicaes religiosas. Esta sugesto levanta um importante debate com relao Ellen White e os profetas da bblia. Estavam eles totalmente invadidos por Deus a ponto de perder sua individualidade religiosa? Esta questo nos traz mente o caso do profeta Nat. Aps ele haver dito a Davi que ele era o homem que construiria o templo, um mensageiro do Senhor o informa que no seria Davi, mas seu filho que o faria. (2 Samuel 7; 1 Crnicas 17:1-15) Aqui est um caso particular no qual um profeta tomava uma posio sobre um ponto de vista religioso muito importante que provou ser nada mais que apenas a sua opinio. Tendo isto na mente, poderamos nos perguntar se no era possvel a Ellen White ter um ponto de vista pessoal sobre assuntos religiosos, que se tornaram conhecidos em suas cartas particulares a membros da famlia ou aos amigos. Dependendo de como as compilaes temticas so feitas, o que acontece se essa opinio finalmente encontrada em um livro? Tal situao no seria problemtica ou mesmo enganosa? Talvez sim, talvez no. Depende da maneira como lemos Ellen White. Esta a razo pela qual tenho dado tanto34

espao nos dois ltimos captulos para a necessidade de dar maior nfase sobre os grandes temas principais na leitura de documentos inspirados, e sobre o que verdadeiramente importante do que sobre as declaraes perifricas do pensamento dos porta-vozes de Deus. Quem ler regularmente Ellen White percebe rapidamente que ela freqentemente tratou numerosos assuntos em contextos variados. Assim ela abordou em vrias oportunidades, sob numerosas perspectivas os temas que a preocupavam. Tais repeties, que encontramos ao longo dos seus escritos, exprimem o centro de sua mensagem, diferentemente dos comentrios obscuros e ocasionais que parecem estar distantes de suas preocupaes. Se algum se interessa pelo centro de sua mensagem e no pela periferia, as questes levantadas pela fina linha de demarcao entre o sagrado e o comum perdem sua importncia. Jamais tais leitores estaro preocupados pelo que poderia ter sido pensado na zona intermediria que envolve tanto o sagrado como o comum. Em resumo, a distino tradicional entre o sagrado e o comum til. Mas me parece que alm dessa distino, importante sublinhar os temas centrais e sempre repetidos do ministrio redacional de Ellen White. Esta segunda regra nos impede de supervalorizar o que marginal e nos ajuda a nos concentrarmos sobre o essencial de sua mensagem Igreja.

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Captulo 09

Problemas de Comunicao(pginas 65-70) O processo de comunicao no assim to simples como parece primeira vista. Permita-me contar um exemplo tirado de uma experincia pessoal. Durante muitos anos, fui professor de uma escola primria, amava meu trabalho, mas as crianas podem se comportar como crianas e se mostrar barulhentas e indisciplinadas. No comeo de minha experincia, observei certas maneiras de funcionamento. A classe tornava-se cada vez mais ativa, eu abandonava a aplicao do regulamento, as coisas se acalmavam por um momento, depois o problema tomava uma dimenso que exigia uma interveno. Finalmente, eu deveria falar com firmeza e restaurar a lei. s vezes devia enfrentar a classe inteira. noite antes do grande acontecimento, eu elaborava um plano preciso sobre a maneira como ia comunicar minhas frustraes e meus desejos. O problema que eu encontrava em tais situaes provinham das sensibilidades variadas de meus alunos. Em cada sala de aula, existiam crianas extremamente sensveis. Tudo o que eu podia fazer com eles era cerrar as sobrancelhas e eles derretiam como manteiga ao sol. Alm disso, alguns estavam endurecidos. Falando de maneira metafrica, eu poderia lhes bater na cabea com um taco de baseball e isto no teria causado nenhum efeito. As coisas iam mal. Alguma coisa deveria ser feita. Toda a classe tinha necessidade de meus ensinos. Era evidente que, se eu falasse doce e calmamente para proteger os mais sensveis, eu no ajudaria os que precisavam de um tratamento mais enrgico. A nica soluo era dar a minha linguagem fora o suficiente para que mesmos os endurecidos pudessem entend-la. Resultado? Os fracos sentiram-se agredidos por minha desaprovao, enquanto que os mais difceis continuaram a agir como se eu no tivesse dito nada. Conclui que a comunicao mais difcil que eu podia imaginar. Deus tem o mesmo problema com seus filhos. Eles variam entre os hipersensveis e os mais endurecidos ao Evangelho. Voc j pensou o quanto isto afeta a sua capacidade de comunicar-se atravs dos seus profetas? O assunto estava certamente no centro das preocupaes de James White quando ele via as dificuldades de sua esposa em conduzir os primeiros adventistas no caminho da reforma. Em 1868, ele escreveu que sua esposa estava precisando de ajuda de todos os que pudessem trazer seu apoio causa da verdade e da reforma. As pessoas so lentas para mudar ou ento, no mudam. Alguns evoluem com precauo como lhe convm, outros vo muito rpido. Aquele que v a necessidade da reforma, prossegue J. White, e se mostra muito rigoroso em todos os casos, no se permitindo nenhuma exceo, conduzindo as coisas mo de ferro certo de fracassar na reforma, de ferir sua prpria alma e de ofender36

a dos outros. Agir assim no ajuda Ellen, mas acentua a carga de sua rdua obra. [...] Ela enfrentou esta deficincia da seguinte maneira: ela direcionou fortes apelos, comoveu profundamente alguns que haviam tomado posies firmes, indo at ao extremo. Depois, para salvar a causa da runa, provocada por estes extremos, ela foi obrigada a fazer crticas pblicas aos extremistas. Foi melhor fazer isto do que ver as coisas carem em runa, mas a influncia de um ou outro, os extremos e censura, terrvel para a causa e traz sobre Ellen uma tripla carga. Veja a dificuldade: o que ela podia dizer sobre os indiferentes era tomado pelos cheios de zelo como um apelo para ultrapassar os limites. E o que ela podia dizer para advertir aos preparados, os zelosos, e os imprudentes, era tomado pelos indiferentes como uma desculpa para ficar para trs. (Review and Herald, 17 mars de 1868) Aqui est um caso ilustrando a dificuldade evocada por James White: No dia 21 de maro de 1895, Ellen White escreveu um longo artigo, que portava o ttulo Uma rpida preparao para a obra. Ele visava claramente certas atitudes ou excessos cometidos pela escola de Beatle Creek (ver Fundamentos da Educao Crist 334-367). O artigo contm algumas declaraes fortes porque ela combatia concepes erradas, profundamente ancoradas e queria falar em um tom muito forte para ser entendida. Ela estava convencida de que alguns professores mantinham os alunos durante muito tempo na escola e aprofundavam certos assuntos mais que o necessrio. Procurando compartilhar sua preocupao, ela escreveu: Se houvesse mil anos nossa frente, tal profundeza de conhecimento no seria solicitada, (...) (Fundamentos da Educao Crist334)

Mas alguns de seus leitores reformistas tomaram suas intenes como significando que seria necessrio ir ao extremo oposto. Em 22 de abril, ela escreveu ento dois testemunhos para fazer contrapeso e tentar trazer os reformistas ao que era a essncia. (Fundamentos da Educao Crist 368-380) No deve ser feito nenhum movimento, escreveu ela, para baixar a norma de educao em nossa escola de Battle Creek. Os estudantes devem exercitar as faculdades mentais; toda faculdade deve atingir o mximo desenvolvimento possvel. [...] Espero que ningum tenha a impresso diante de quaisquer palavras que escrevi, de que a norma da escola deva ser baixada de qualquer maneira. Deve haver em nossa escola uma educao mais diligente e completa [...]. (Fundamentos da Educao Crist 373) O que Ellen White queria realmente dizer administrao e ao corpo de professores da escola, que eles precisavam compreender os princpios fundamentais do que faz com que uma educao seja crist no contexto de uma educao de qualidade. Mas, como sempre, os extremistas coletaram todas as citaes mais fortes, enquanto que os que queriam manter o status quo deram sem dvida ateno s declaraes moderadas que ela fez para corrigir os que pendiam para o fanatismo. As duas tendncias no puderam compreender a inteno de Ellen White em razo da fraqueza da comunicao humana. Aqui est uma ilustrao do uso, por Ellen White, de uma linguagem extrema para atrair a ateno de algum. Ela referi-se a Dr. John Harvery Kellogg, diretor do sanatrio de Battle Creek. Em 1901, ela declarou a um grupo de lderes da Igreja que ela estava37

preocupada, j h algum