Como Ler Livros

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Como Ler Livros: O guia clássico para a leitura inteligente ÚTIL O livro cumpre o que promete: é muito útil no sentido de nos ajudar a entender melhor o conteúdo dos livros que lemos. Como todo manual, é às vezes bastante didático, o que pode tornar a leitura um pouco tediosa. O resultado final é, mesmo assim, compensador. Um divisor de águas Com uma narrativa envolvente, Mortimer J. Adler me instigou a querer ler melhor. Defensor do estilo clássico da educação (e faz referências a vários clássicos), ele critica a maneira como é praticado o ensino atualmente. Diz que com a universalização da educação, perdeu-se muito em qualidade. Portanto “Como Ler Livros” é um "livro prático", um guia de leitura (ou como o autor prefere da “arte de ler bons livros com o objetivo de entende-los”), onde é identificado quatro níveis de leitura: Elementar, Inspecional, Analítica e Sintópica. Estes últimos são os objetivos principais do bom leitor. Recomendo a leitura àqueles que queiram aprender a escolher bons livros, que contribuirão para seu crescimento intelectual. "Bilhões de pessoas já viveram antes de você; você nunca terá um problema novo. Alguém escreveu a resposta em um livro, em algum lugar". Li esta frase há quase dois anos, creditada a Will Smith. Seja de sua autoria ou não, é um pensamento que julgo, se não totalmente verdadeiro, bastante válido, e que rege um pouco da minha vida desde então. E, se você pretende extrair resposta, adquirir conhecimento, experiência, aprendizado, enfim, evoluir como um todo (não apenas intelectualmente, acredite), você precisa saber não apenas quais livros ler. Mais importante do que isso, é saber COMO lê-los. 'Como Ler Livros' ('How to Read a Book', no título original) é exatamente um manual sobre como executar esta tarefa. Adler proporciona uma lição a muitos que notam que precisam (aquela impressão de quando se lê um livro, mas não se absorveu integralmente, de que há algo mais ali para ser compreendido) e também para um número maior ainda de pessoas que nem sabem que precisam (que leem sem entender completamente e nem ao menos se dão conta disto). É o tipo de leitura que poderia facilmente integrar o currículo estudantil de qualquer sistema educacional. O método é bastante didático e de fácil assimilação. Recomendado especialmente para quem já possui o hábito de ler regularmente e gostaria de melhorar sua capacidade nesta atividade.

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Livro o Guia Clássico para a leitura Inteligente.

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Como Ler Livros: O guia clássico para a leitura inteligenteÚTILO livro cumpre o que promete: é muito útil no sentido de nos ajudar a entender melhor o conteúdo dos livros que lemos. Como todo manual, é às vezes bastante didático, o que pode tornar a leitura um pouco tediosa. O resultado final é, mesmo assim, compensador.

Um divisor de águasCom uma narrativa envolvente, Mortimer J. Adler me instigou a querer ler melhor. Defensor do estilo clássico da educação (e faz referências a vários clássicos), ele critica a maneira como é praticado o ensino atualmente. Diz que com a universalização da educação, perdeu-se muito em qualidade.

Portanto “Como Ler Livros” é um "livro prático", um guia de leitura (ou como o autor prefere da “arte de ler bons livros com o objetivo de entende-los”), onde é identificado quatro níveis de leitura: Elementar, Inspecional, Analítica e Sintópica. Estes últimos são os objetivos principais do bom leitor.

Recomendo a leitura àqueles que queiram aprender a escolher bons livros, que contribuirão para seu crescimento intelectual.

"Bilhões de pessoas já viveram antes de você; você nunca terá um problema novo. Alguém escreveu a resposta em um livro, em algum lugar".

Li esta frase há quase dois anos, creditada a Will Smith. Seja de sua autoria ou não, é um pensamento que julgo, se não totalmente verdadeiro, bastante válido, e que rege um pouco da minha vida desde então. E, se você pretende extrair resposta, adquirir conhecimento, experiência, aprendizado, enfim, evoluir como um todo (não apenas intelectualmente, acredite), você precisa saber não apenas quais livros ler. Mais importante do que isso, é saber COMO lê-los.

'Como Ler Livros' ('How to Read a Book', no título original) é exatamente um manual sobre como executar esta tarefa. Adler proporciona uma lição a muitos que notam que precisam (aquela impressão de quando se lê um livro, mas não se absorveu integralmente, de que há algo mais ali para ser compreendido) e também para um número maior ainda de pessoas que nem sabem que precisam (que leem sem entender completamente e nem ao menos se dão conta disto).

É o tipo de leitura que poderia facilmente integrar o currículo estudantil de qualquer sistema educacional. O método é bastante didático e de fácil assimilação. Recomendado especialmente para quem já possui o hábito de ler regularmente e gostaria de melhorar sua capacidade nesta atividade.Ótimo livroMuito bom este livro, para os amantes da leitura, é um prato cheio, ele abrange os 4 tipos de leitura; Elementar, Inspecional, Analítica, Sintópica, com essa bagagem o leitor assíduo com certeza evoluirá na sua capacidade de entender e absorver cada vez mais da leitura em geral.

Livro Excelente- Ferramenta indispensavelE um livro excelente! Uma Ferramenta indispensavel pra qualquer leitor serio. Ele nos ensina basicamente as diferentes formas de leitura, como extrair o maximo de um livro, as velocidades de leitura que podem ser dadas pelos inumeros livros que existem, como criticar um livro, enfim, ele abarca praticamente todo o assunto de leitura. Ferramenta indispensavel pra todos os leitores, especialmente de leituras expositivas.Essa resenha é, na verdade, as respostas aos exercícios de leitura analítica, do apêndice B.Esse é um livro prático que trata da questão sobre como devemos ler livros, de forma geral: ou seja, um tratado hermenêutico.

O livro versa sobre como podemos fazer uma leitura relevante, inteligente, e que promova crescimento em nossa compreensão do mundo, bem como aumente nossa capacidade de interpretação e avaliação do que lemos/ouvimos.

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A proposta de Schoepenhauer, no século XIX, de que a boa leitura é aquela em que digerimos o que é lido é perfeitamente alcançada seguindo as regras de Adler. Ele ensina a fazer o que eu já vinha fazendo há tempos: estudar os livros, ao invés de apenas lê-los. Isso demanda muito mais tempo, mas os resultados obtidos são formidáveis. Vale tanto a pena que tende a ser imperativo que leiamos como Adler e Van Doren nos ensinam.É um livro fantástico e que alcança seus objetivos principais. Como livro prático, segundo os próprios ensinos da obra, cabe a nós praticarmos as lições (o que foi feito no próprio livro) e verificarmos que os fins são alcançados e os meios são propícios e pertinentes.Há algumas ressalvas em questões bem particulares e periféricas, mas já as abordamos no resumo [que está no histórico].

Eu já me demorava nas leituras, e havia descoberto por mim mesmo várias dessas regras. Mas Adler acrescentou uma série de regras novas para me fazer demorar mais nas obras relevantes (e se possível, evitar - com dicas, orientações e recomendações - os livros que não merecem ser lidos) , e a aproveitá-las ainda mais!

O melhor livro que já li na vida!COMO LER LIVROS

Tomei conhecimento desse livro através de um dos blogs que existem na internet. Lembro que, nesse blog, seu dono fez uma resenha desse livro e, em suas palavras, considerava “How to read a book”(Como ler um livro) um marco em sua vida. Interessado, rapidamente procurei na internet pra ver se tinha alguma edição dele em português. Para minha grande satisfação, sim.

Meu interesse nesse livro partiu de um questionamento que fiz a mim mesmo sobre a qualidade do meu conhecimento. Desde 2005 pra cá, tenho tido o propósito de cultivar o hábito de ler vários livros por ano visando o aperfeiçoamento de minhas qualidades intelectuais. Por causa disso, cheguei a ler mais de 100 livros só nos últimos 10 anos. Geralmente, quem se aventura numa empreitada como essa, assim como eu, acaba lendo tanto livros bons como muita porcaria também devido à inexperiência de leitor de primeiras viagens para selecionar bons livros.

Pois é, apesar de ter lido bastante na vida até então, em meados de 2011, comecei a me perguntar o que realmente eu sabia. Eu percebi que não me sentia capaz o suficiente para discutir com outras pessoas aquilo que eu tinha lido. Em algumas conversas, meus comentários sobre os livros que eu tinha lido eram muito superficiais. Eu sentia que, para o tanto que eu já tinha lido, sabia muito pouco. Percebi que alguma coisa estava errada com minhas leituras. Foi a partir daí que comecei a buscar algum meio que me ajudasse a melhorar a qualidade daquilo que eu lia. Procurando na internet, encontrei esse livro fantástico.

“COMO LER LIVROS” foi escrito por Mortimer Jerome Adler (1902-2001), um professor de filosofia norte-americano que, em sua época, se notabilizou por, entre outras coisas, sua habilidade admirável de discutir temas filosóficos baseados em grandes clássicos da literatura ocidental, numa linguagem simples e acessível para o homem comum (esta é, aliás, uma das ótimas características desse livro: linguagem claríssima!). A experiência de Adler com a leitura dos clássicos o levou a escrever seu best-seller “How to read a books” (Como Ler Livros, Editora É Realizações).

A LEITURA ATIVA E OS NÍVEIS DE LEITURA

Nesse livro, é mostrado em primeiro lugar que um leitor possui basicamente três objetivos quando vai ler um livro. O primeiro deles é o entretenimento, o segundo é a informação e o terceiro é a elevação, o crescimento espiritual e intelectual. No primeiro objetivo, a leitura exige pouco do leitor, trata-se apenas de uma leitura relaxante. Já a leitura para a informação é mais exigente que a primeira, pois se trata de ler para aprender fatos importantes. Já o terceiro objetivo é mais exigente ainda, pois é o tipo de leitura onde se está em contato com grandes idéias.

O real propósito de “COMO LER LIVROS” é ensinar aos leitores fazer esse terceiro tipo de leitura para que possam ter condições de crescer intelectualmente enquanto lêem. Esse crescimento significa sair de um nível inferior de entendimento para um nível superior de entendimento. Para isso, devemos praticar o que ele chama de “leitura ativa”. Cada leitor pode ler um livro mais ou menos ativamente. No entanto, quanto mais ativa a leitura for, melhor será o entendimento do leitor.

As chaves da leitura ativa são fazer perguntas ao livro enquanto o lê e tentar respondê-las da melhor forma possível. Para isso, devemos fazer registros a lápis no livro, registros das perguntas, respostas, observações,

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palavras-chave, argumentos e problemas do livro. Aliás, este foi um dos preconceitos que abandonei: riscar o livro. Sempre tive pena de riscar meus livros. Achava que fazer isso era praticar uma espécie de violação. Hoje, graças a Adler, não tenho mais pena de riscar livros, desde que sejam meus, é claro.

Agora, quais são as perguntas que se deve fazer ao livro? Isso depende fundamentalmente de duas coisas: dos Níveis de Leitura e dos Tipos de Livros que se está lendo. Cada tipo e cada nível vão determinar o tipo de pergunta que se fará.

Com relação aos Níveis de Leitura, existem quatro níveis: Leitura Elementar, Leitura Inspecional, Leitura Analítica e Leitura Sintópica. Ele fala em “níveis” porque um determinado nível engloba um anterior e é pré-requisito para o posterior. Entendido dessa forma, a Leitura Elementar é aquela em que o indivíduo passou a ser alfabetizado. A Leitura Inspecional é aquela em que extraímos o máximo de informações de um livro num curto prazo de tempo. A Leitura Analítica é a leitura propriamente dia, a leitura por excelência. É por meio dela que o leitor vai crescer intelectualmente, segundo a proposta de Adler. Esse nível de leitura é mais exigente que os dois anteriores. Já a leitura Sintópica é a “leitura comparada”, nela o leitor vai fazer uma análise de um mesmo assunto usando livros distintos. Essa é a mais exigente de todas as leituras, porém, a mais recompensadora.

A LEITURA ANALÍTICA

Para todos os níveis de leitura, Adler dá dicas precisas e detalhadas de como proceder em cada um deles. Entretanto, no nível de leitura analítica ele dedica uma atenção especial. Esse nível é o mais extensamente discutido no decorrer do livro. Nele existem regras para descobrir, interpretar e criticar o conteúdo do livro. Resumidamente, podemos organizar as regras da leitura analítica da seguinte maneira:

- Descobrir que tipo de livro se está lendo.

- Descobrir quais os problemas que o autor levantou.

- Assinalar quais são as palavras-chave do autor e como ele as define.

- Aprender as proposições do autor mediante as frases-chave.

- Encontrar ou construir os argumentos do autor.

- Verificar quais problemas ele resolveu, quais ele não resolveu e quais ele pode ter criado.

- Expor para si mesmo as partes do livro, como elas estão divididas, do que trata cada uma delas e como elas estão integradas ao todo do livro.

- Saber explicar em poucas palavras do que trata o livro.

Para se criticar um livro, deve-se antes ter garantias de que você realmente o entendeu. Não adianta criticar um livro que não entendemos o conteúdo. Mas como podemos saber se realmente entendemos o livro? Basicamente, aplicando as regras acima. Segundo Adler, se executarmos corretamente essas regras, poderemos saber, com razoável certeza, que entendemos o livro. No livro, Adler ensina como executar essas regras de modo correto.

A parte mais interessante da leitura analítica, a meu ver, é como se faz a crítica. Muitos leitores acham (inclusive, eu achava) que a leitura de um livro termina depois que o entendemos. Adler afirma que isso é apenas parte do trabalho. Para ele, o leitor tem obrigação de dar a sua palavra a respeito do livro lido. Para isso, antes de explicar as regras para a crítica de um livro, ele dá e explica algumas sugestões de “etiqueta intelectual”. Essas sugestões são:

1) Não criticar o livro antes de entendê-lo realmente.

2) Não ler o livro com o objetivo predisposto de discordar do autor.

3) Reconhecer a diferença entre conhecimento e opinião, oferecendo razões, caso discorde do autor.

Depois de explicar cada um desses preceitos, ele expõe e explica as regras para uma boa crítica:

1) Mostre onde o autor está desinformado.

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2) Mostre onde o autor está mal informado.

3) Mostre onde o autor foi ilógico.

4) Mostre onde a análise do autor está incompleta.

Se não pudermos mostrar, com boas razões, onde o autor está desinformado, mal informado, onde ele foi ilógico, ou onde a análise está incompleta, então teremos necessariamente que concordar com o autor. É claro que pode haver o caso onde nós não gostemos das conclusões do autor. Nesse caso, se discordarmos dele sem razões, nossa discordância será meramente emocional e não racional.

Tendo isso em mente, Adler observa bem no início do livro que o ideal é que os alunos do ensino médio já saiam da escola dominando as regras da leitura analítica para poder praticar a leitura sintópica na faculdade, mas o que é ocorre é que os alunos vão para a universidade dominando apenas o nível elementar de leitura e os alunos universitários só vão dominar a leitura sintópica numa fase bem avançada da pós-graduação, geralmente no doutorado.

TIPOS DE LIVROS

Agora quais são os tipos de livros que se deve ler para o crescimento intelectual? Primeiramente devemos saber classificá-los. Adler facilita essa tarefa mostrando que existem Livros Imaginativos e Livros Expositivos. Os livros imaginativos são aqueles comumente chamados de ficção. Já os livros expositivos são os de não-ficção, cujo propósito é ensinar alguma coisa. Isso não quer dizer que não se possa aprender com livros imaginativos, nem que não se use a imaginação ao ler um livro expositivo. Adler deixa isso bem claro. O que está em jogo aqui é apenas a questão da classificação dos livros.

Quais são os livros imaginativos? São os romances, poemas, poesias, épicos etc. Os livros expositivos por sua vez dividem-se em livros práticos e livros teóricos. Exemplos de livros práticos: livros de oratória, manuais técnicos, livros que contem preceitos éticos, em suma, todo tipo de livro que ensina como fazer algo. O próprio livro de Adler é um exemplo de livro prático, pois ele ensina como fazer algo, no caso, como ler um livro.

Já os livros teóricos têm por objetivo transmitir um saber. Esses livros estão classicamente divididos no que conhecemos como História, Ciência e Filosofia, mas existem outros também. Como Adler era professor de filosofia, ele elaborou as regras da leitura analítica para se ler livros de Filosofia. No entanto, ele faz algumas adaptações necessárias e também explica regras mais específicas para se ler obras de consulta, livros práticos, livros imaginativos, livros de história, de ciência, de matemática, ciências sociais etc. Saber o tipo de livro que está lendo vai determinar o modo como deveremos lê-lo.

Ao final do livro, Adler relaciona uma lista com mais de cem autores e suas obras essenciais; autores que são universalmente reconhecidos como grandes expoentes da filosofia, ciência, história, literatura etc. São autores como Platão, Aristóteles, Locke, Rousseau, Kant, Sartre, Euclides, Newton, Darwin, Freud, Einstein, Homero, Virgilio, Dante, Shakespeare, Dostoievski, Tucídides, Tácito, Gibbon e outros. Adler recomenda esses autores devido à enorme influência de suas obras em nossa cultura. Logo, trata-se de obras cujo conhecimento vai ampliar nosso entendimento do mundo, pois estão acima da nossa compreensão e que, portanto, suas leituras vão nos ajudar a melhorar nossa percepção da realidade; são obras que não podem faltar na biblioteca de nossos lares, obras que devem ser lidas por todo aquele que pretende ter uma formação humanística de primeira linha.

Aqui, ao sugerir essa lista, o objetivo de Adler é mostrar que não basta apenas saber as regras da leitura analítica, é necessário também ter conhecimento de onde deveremos aplicar nossa leitura, pois nem todo livro vai merecer uma leitura analítica. Apenas os bons livros merecem esse tipo de leitura. Portanto, não basta apenas saber como ler, é preciso saber o que se deve ler também. É claro que a lista oferecida por ele não é exaustiva, ela é apenas sugestiva; existem muitos bons livros que não estão nessa lista e, no fim das contas, vai caber ao leitor decidir o que vai ler. Mas, pessoalmente falando, não deixa de ser uma boa idéia seguir as sugestões de Adler tendo em vista sua vasta experiência na leitura desses livros.

CONCLUSÃO

Posso dizer com toda a convicção que esse é o melhor livro que já li na vida. É através dele que resolvi, teoricamente, meu problema de como ler eficientemente e que, o mais importante não é a quantidade que se lê, mas a qualidade aplicada na leitura e que tipo de coisa vale a pena ser lida; além disso, me senti mais confiante para ler qualquer tipo de texto. Esse é o tipo de livro que a gente lamenta por não ter conhecido antes, mas me

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contento com o fato de que ainda não é tarde, para mim, aprender a ler corretamente. Recomendo-o de modo veemente a todos os estudantes de filosofia ou todos aqueles que simplesmente querem saber como educar-se por meio de livros. 

Quando eu gosto de um livro, sempre me vem um desejo de poder dar um exemplar dele para cada conhecido meu. Se eu tivesse condições, faria isso, mas como não tenho, recomendo a todos sua aquisição. E nem adianta vir até mim porque eu não vou emprestar o meu exemplar. rs... Só espero que com esta resenha eu tenha conseguido chamar a atenção de todos sobre a importância dessa obra para se adquirir uma educação de verdade, no seu sentido mais elevado.

Para concluir, quero ressaltar que além de saber como ler corretamente e o que se deve ler, é necessário estar sempre praticando a leitura nos termos da proposta desse livro. Para crescer-mos intelectualmente, devemos aplicar as regras da leitura analítica sempre que formos ler; e fazer isso não é uma coisa fácil. O domínio dessas regras requer tempo, paciência e se adquire apenas com a prática constante. Portanto, conhecer essas regras é apenas o começo da vida 

Eu me considero alguém que lê bastante. Só nesse ano, já li 11 livros, oque é mais que muitas pessoas lêem num ano inteiro. Já devo ter deixadoclaro aqui que ler é uma paixão profunda minha.

Porém, admito que não sou um bom leitor. Às vezes, fico tão ansiosopara terminar o livro que acabo correndo para terminar logo e começaroutro. Não raramente fica a impressão de não ter ficado nada gravado nacabeça. E isso é desesperador; é uma sensação de tempo perdido.

Depois de ler Como Ler Livros, de Mortimer Adler e Charles VanDoren, é possível entender por quê. Ler é uma atividade complexa queexige técnicas. Ler um livro é muito mais que virar páginas e ouviruma voz recitando as palavras.

A ideia da obra é bastante direta. É possível ler de diversas maneiras,mas quando se quer realmente entender um livro é preciso ler da maneiracerta. É o que os autores chamam de “níveis de leitura”.

O primeiro nível é o da leitura elementar. É a simples decodificaçãoda linguagem, acompanhada da interpretação mais básica. É ler letra apósletra, palavra após palavra, parágrafo após parágrafo. É ler algo como“as gaivotas voavam sobre o mar azul” e ser capaz de realmentevisualizar gaivotas voando, imaginar um mar azul (talvez uma praia que oleitor já tenha frequentado) e juntar as duas coisas. É aqui que acaba aleitura ensinada nas escolas e é aqui que a maioria das pessoas para.

O segundo nível é a leitura é o da leitura inspecional. Ela tenta vero livro como um todo. Leia o prefácio (não consigo imaginar como alguémpode pular o prefácio, a propósito): qual a intenção do autor? Leia osumário e veja como o escritor estruturou a sua ideia. Leia o livro

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rapidamente, parando em apenas alguns trechos para ler com mais atenção.A leitura inspecional é responder à pergunta: “esse livro é sobre oquê?”. É um romance, um livro sobre política, ou sobre matemática, ousobre a História do Brasil? Quais são os principais ideias? Embora semse dar conta, muitas pessoas conseguem ler num nível inspecional.Terminam o livro e sabem que não é apenas um amontoado de frases; existeuma ideia básica que o autor apresentou sob algumas formas. Talvez oleitor não seja capaz de escrever uma resenha, mas consegue formular umresumo básico.

O terceiro nível é o da leitura analítica. Certo, o livro é sobre aHistória do Brasil; mas qual a posição do autor? Ele está priorizando osmomentos do Império ou da República? Toma partido a favor ou contra aescravidão? Dá mais destaque à esquerda ou à direita? Ou então talvez olivro seja sobre ciências. O autor está sendo claro? Os exemplos que elepassa parecem plausíveis? O autor usa a matemática para confundir oupara esclarecer?

O leitor que lê analiticamente consegue aprender o que o livro querensinar. Ele consegue criticar o que o autor quer dizer. Na verdade,essa é a técnica fundamental da leitura analítica. Só consegue ler demaneira analítica a pessoa que, depois de ter feito leitura inspecional,sabe as principais perguntas a serem feitas ao livro (notem como euexpliquei a leitura analítica apenas com perguntas); agora a tarefa éencontrar as respostas. Ler bem um livro significa questionar o autor atodo momento. O verdadeiro leitor jamais falaria algo como “não sei bempor que, mas não concordo com isso”; ele primeiro entende, e depoisjulga.

Na verdade, praticamente 80% de Como Ler Livros é sobre leituraanalítica. Os autores põem muita ênfase em se preocupar em procurar aspalavras-chave, depois os termos principais, em seguida as proposiçõesmais importantes.

O quarto nível é o da leitura sintópica. Significa transcender o livroe ler vários livros sobre o mesmo assunto e apontar diferenças esemelhanças. É aplicar a leitura analítica diversas vezes. É assumiralgo como “quero aprender a mecânica clássica” e ler Newton, Laplace,Galileu e d’Alembert, comparando-os. Claramente, é tarefa deespecialistas.

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Como Ler Livros é daqueles exemplos que não trazem nenhuma ideiarevolucionária mas apontam alguns conceitos do senso comum dos quais nosesquecemos:

Você está lendo para quê? Quer apenas dar uma olhada no livro ouaprender sociologia? Diferentes objetivos demandam diferentes modosde se ler.

Dê uma lida rápida e só depois volte nos pontos em que há dúvidas,não necessariamente na ordem do livro.

Não faz sentido começar a procurar as palavras no dicionário se vocênão faz nem ideia do assunto do livro. Mas quando precisar fazê-lo,saiba o que e por que você está consultando-o.

Ler não é uma atividade passiva. Se você para para interpretar umafrase que seja, já está interagindo com o autor (os autores usam umexemplo muito interessante do beisebol, que pode ser melhorentendido com uma analogia do futebol. Um goleiro, apesar de“apenas” agarrar a bola, não joga passivamente. Ele precisa prestaratenção em muitos jogadores, calcular a velocidade da bola,movimentar-se para o lado certo).

Livros difíceis merecem ser lidos muitas vezes O tipo de atitude que você tem ao ler um livro de filosofia tem de

ser totalmente diferente da atitude de ler uma peça de teatro. Não é porque se trata de um romance que não existe nenhuma mensagem

a ser captada.

O livro tem seus defeitos. Os autores se enlongam demais em algunstrechos, são bastante repetitivos (a maneira que eles enfatizam oquestionamento do autor é cansativo), dedicam pouco tempo à leiturasintópica e quase completamente ignoram as obras de ficção (embora euconcorde com eles quando dizem que ler um romance ou poema é algo muitosubjetivo e dependente das experiências do leitor).

Como Ler Livros, no geral, é um monumento de exaltação aos livros e aoato de leitura, e suas reflexões já estão mudando completamente amaneira como encaro os livros. Faça-se um favor e leia.

A resenha abaixo é baseado nas idéias expostas por Mortimer Adler e Charles Van Doren na excelente obra Como Ler Livros: O guia clássico para a leitura inteligente, traduzido por Edward Horst Wolff e Pedro Sette-Câmara e publicado no Brasil pela editora É Realizações em junho de 2010 com 432 páginas. Como

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Ler Livros, publicado originalmente em 1940, tornou-se fenômeno raro: “um clássico vivo”. Trata-se do melhor e mais bem-sucedido guia de compreensão de leitura para o leitor comum.

Ele retorna em versão completamente reescrita e atualizada. O livro aborda os vários níveis de leitura e mostra como atingi-los – da leitura elementar à leitura rápida, passando pelo folheio sistemático e pela leitura inspecional. Aprende-se a classificar determinado livro, a “radiografá-lo”, aisolar a mensagem do autor, a criticar.

Estudam-se as diferentes técnicas para ler livros práticos, literatura imaginativa, peças teatrais, poesia, história, ciências e matemática, filosofia e ciências sociais. Por fim, os autores oferecem lista de leituras recomendadas, bem comotestes de leitura para que você possa medir seu progresso em compreensão, velocidade e capacidade de leitura.

Você sabe ler?

Se você chegou até aqui, eu espero sinceramente que a resposta seja “Sim”. É até provável que você não só tenha dado essa resposta mentalmente, como a tenha feito acompanhar de um sorriso desdenhoso e uma exclamação como “É claro!”. No entanto, saiba que boa parte das pessoas que responde a tal pergunta com um sonoro “Sim”, na verdade deveriam simplesmente dizer, “Não como poderia”. E isso não tem nada a ver com o alfabeto.

Praticamente, todos os internautas são alfabetizados.

1. São capazes de reconhecer palavras e frases, apreender-lhes o significado e pronunciá-las em voz alta.

2. Uma parte expressiva deles pode até se dar ao luxo de identificar e corrigir erros gramaticais ou ortográficos daquilo que lêem.

3. Uma parte menor ainda é habilitada para sintetizar o conteúdo do que lê, mesmo quando se trata de assuntos fora de alguma especialização que por acaso possuam.

4. Finalmente, uma pequena minoria não só é capaz de discutir, mas também de fazê-lo com competência, identificando idéias principais e secundárias, a linha

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de argumentação usada para expô-las, os pontos fracos e fortes de cada argumentos, e, se for o caso, compará-los com os de outras fontes e assim chegar a uma conclusão.

Este último grupo não apenas assimila informação, mas a processa, avalia e a transforma em conhecimento.

A que grupo você pertence?

Se é a essa pequena elite de iluminados, esse texto não é para você. Ao invés de lê-lo sem proveito, sugiro que escreva outro dividindo com os menos favorecidos as suas técnicas de leitura. Se elas estiverem tão assimiladas que você nunca sequer se deu conta delas, você pode seguir o mesmo método do nosso texto de Falácias e Erros de Raciocínio e usar o método inverso: mostrar como não se deve ler. Em ambos os casos, estará aplicando melhor o seu tempo do que lendo texto que só vai dizer o que você já sabe.

Agora, se você é do tipo que:

»   chega ao fim de livro sem conseguir lembrar do início;

»   freqüentemente cochila durante leitura mais longa, mesmo quando o assunto interessa;

»   várias vezes compra livro aparentemente bom para descobrir, depois de quinze páginas, que ele não vale meia pataca;

»   tem dificuldade para resumir as idéias principais do autor, e quando tenta acaba sempre produzindo resumos muito maiores que o desejável;

»   está sempre tendo de queimar os neurônios com livros difíceis de entender, mas obrigatórios para um curso, trabalho ou aula;

»   toda vez que escuta colega falar sobre uma leitura que você também fez, acaba se perguntando, “Como é que eu não li isso?“…

Este texto foi escrito pensando em você.

1 – Informação X Esclarecimento

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1.1 – Diagnóstico triste

A maior parte das pessoas lê mal. Em país como o Brasil, em que a grande massa da população não chega sequer a completar o Ensino Fundamental, isso soa como truísmo, mas aqui estamos nos referindo também aos felizardos que conseguiram chegar não apenas ao fim do Ensino Médio, mas até mesmo, e principalmente, ao Ensino Superior. Infelizmente, a posse de diploma não é garantia de capacidade de leitura eficaz.

Nossa estrutura educacional é falha, muito aquém do que seria preciso para realmente formar um cidadão, e isso vale tanto para o ensino público quanto para grande parte do particular. Além disso, em nossa cultura, ler ainda não é prioridade, o que se reflete no mercado editorial: a maioria dos livros têm baixas tiragens (o padrão de edição é 3.000 exemplares, em país com mais de 190 milhões de pessoas) e demoram a vender, salvo um ou outro best-seller, geralmente de ficção. E como se não bastasse, o fato de alguém comprar determinado livro não significa que vá lê-lo de fato, e mesmo que o leia, não significa que vá entendê-lo tanto quanto a obra merece.

Daí se deduz a pobreza do nosso país no campo da leitura. Mas problemas nessa área não são exclusividade do Brasil, tampouco de países pobres. Já na década de 70, Mortimer Adler — cujas idéias fundamentam este textos — já denunciava que a capacidade de leitura dos norte-americanos que não passava do nível do sexto ano letivo, ou seja, mais ou menos o do nosso primário ou 5.ª série. O autor cita artigo que o professor James Mursell, da Escola de Professores da Universidade de Columbia, escreveu para a revista Atlantic Monthly, em 1939:

“Os estudantes aprendem a ler de forma efetiva em sua língua materna? Sim e não. Até o quinto e o sexto ano, a leitura é de fato ensinada e bem aprendida. Neste nível nos deparamos com um progresso constante, mas a partir daí caminha-se para a estagnação. Não porque o indivíduo tenha chegado ao seu limite natural de eficiência quando ele chega ao sexto ano, porque já está mais do que provado que estudantes mais velhos, e até mesmo adultos, podem continuar fazendo enormes progressos com a orientação adequada. Tampouco isso quer dizer que todos os estudantes do sexto ano lêem suficientemente bem

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para todos os objetivos práticos. Um número considerável de alunos fracassa no curso secundário simplesmente porque não se mostram aptos a apreender o sentido de uma página impressa. Eles podem melhorar; eles precisam melhorar; mas não melhoram.

O aluno médio das escolas secundários já leu um bocado, e se ele entrar numa universidade vai ler mais ainda; mas provavelmente ele ainda é um leitor fraco e incompetente (observem que isso vale para o estudante médio, não para aquele que recebeu um tratamento especial). Ele pode ler e apreciar um texto simples de ficção. Mas coloque-o diante de um ensaio escrito com rigor, diante de um argumento exposto de forma concisa e cuidadosa, ou uma passagem que exige alguma reflexão crítica, e ele estará perdido. Já foi demonstrado, por exemplo, que o estudante médio revela uma incapacidade surpreendente de indicar qual é o ponto central de um texto, ou os níveis de ênfase e subordinação num texto argumentativo. Para todos os efeitos, ele continua sendo um leitor da sexta série ao longo da universidade.”

Isso era verdade nos EUA em 1939. Em 1972, quando Adler citou esse artigo, ainda era. Alguém tem dúvidas de que seja também no Brasil de hoje? Pergunte a si mesmo quantos livros você já leu este ano. Melhor ainda, experimente fazer uma pesquisa informal entre seus conhecidos: quantos livros já lidos nos últimos 12 meses?

1.2 – Leitura ativa

Para entendermos o que significa dizer que alguém tem nível de “sexta série”, como diz o texto citado, precisamos estabelecer algumasdistinções fundamentais. A primeira dela diz respeito à natureza da leitura. Segundo Adler, toda leitura exige certo grau de atividade por parte do leitor, mas que pode variar tanto, que podemos falar, para fins didáticos, em leitura ativa e leitura passiva.

A leitura passiva seria aquela em que predomina a mera recepção de informações. Você decodifica o texto, não pensa sobre ele. É ler com a postura com que geralmente costumamos ver televisão. Um caso extremo é quando lemos texto de maneira superficial, “passando os olhos”, sem realmente nos

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interessarmos por ele. O resultado é apenas uma memorização mais ou menos superficial do que se leu.

Já a leitura ativa digna desse nome é aquela em que o leitor se esforça ao máximo para captar a mensagem que o autor tenta lhe transmitir. Ele dialoga com o texto que tem diante dos olhos, tenta determinar suas idéias centrais e a ligação entre elas. Enfim, o leitor verdadeiramente ativo é aquele que “está presente” na leitura, alerta, empenhado em compreender a mensagem do autor. Quanto mais ele é, mais eficaz será sua leitura.

1.3 – Finalidades da leitura

Todo o mundo alguma vez já aprendeu algo que mudou sua maneira de entender o mundo, ou algum aspecto dele. Pode ter sido por meio de palestra, de aula, de filme, conversa com amigo ou — o que nos interessa aqui — texto escrito ou livro. É quando, mais do que informação nova, nos damos conta de que captamos algo mais essencial, uma forma de compreensão, uma espécie de ferramenta mental — a lógica por trás de alguma coisa. Nessas ocasiões, nós não apenas aprendemos o “quê“, mas também e principalmente o “como” e o “porquê“. É nossa compreensão que se alarga.

Trazendo isso para o mundo da leitura de livros (e deixando de fora aqueles voltados para o mero entretenimento), Adler dá exemplo muito simples. Suponhamos que você tenha livro que deseje ler. Ora, esse livro consiste de amontoado de palavras escrito por alguma pessoa com a intenção de comunicar algo a você. Portanto, seu sucesso na leitura vai depender do quanto você conseguirá captar da mensagem que o autor tentou comunicar.

Óbvio, não? Porém, a sua relação com o livro, continua ele, pode assumir duas formas. Se você entende perfeitamente o que autor quis passar, então vocês dois têm mentes afins e você pode ter assimilado informação, mas não necessariamente compreensão. A leitura pode simplesmente ter expressado compreensão comum que ambos já tinham antes de se encontrarem.

Agora, pode acontecer de você perceber que não está conseguindo entender tudo que o livro oferece. Algumas coisas fazem sentido, outras não. O livro tem mais a dizer do que aquilo que foi possível captar, de certa maneira ele excede o

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seu nível de compreensão ao lê-lo. Logo, para conseguir dar conta de tudo que o autor quis comunicar, é preciso alargar sua capacidade compreensiva. Como fazer isso?

Pode-se pedir ajuda a outra pessoa, consultar outros livros. Entretanto, Adler propõe que, de maneira geral, isso pode ser feito, antes de mais nada, trabalhando no livro. Por “livro” nos referimos, naturalmente, a obras voltadas para o leitor em geral, por difíceis que sejam.

“Sem nada além do poder de sua própria mente, você manipula os símbolos à sua frente de tal forma que passe de um estado de compreender menos para um estado de compreender mais. Esse avanço, conquistado pela mente que trabalha num livro, corresponde a uma leitura de alto nível, o tipo de leitura que um livro que desafia sua compreensão merece.”

Nem sempre a distinção entre um tipo de leitura e outra é clara. Muitas vezes ela é muito tênue. Porém, grosso modo, podemos dizer que textos plenamente compreensíveis, como jornais, revistas, são essencialmente informativos. Não nos atordoam com a complexidade peculiar de quando ultrapassamos nossos limites. Por outro lado, sempre que lemos algum texto que nos deixa, ao fim de leitura atenta, a sensação de que não entendemos tudo, ele merece ser tratado como leitura compreensiva.

“Quais são as condições sob as quais esse tipo de leitura — leitura para compreensão — ocorre? Existem duas: primeira, há uma desigualdade inicial de compreensão. O autor deve ser ‘superior’ ao leitor em compreensão, e seu livro deve transmitir de uma maneira legível os conhecimentos que ele possui e que faltam aos seus leitores em potencial. Segunda, o leitor tem que estar habilitado a superar essa desigualdade em alguma medida, se não completamente, aproximando-se sempre do escritor. Na medida em que a igualdade é alcançada, a clareza na comunicação é atingida.

Em resumo, só podemos aprender com nossos ‘superiores’. Devemos saberquem eles são e como aprender com eles. Quem possui esse conhecimento domina a arte da leitura no sentido que nos interessa neste livro. Qualquer pessoa que saiba ler provavelmente terá habilidade para, em alguma

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medida, ler desta forma.Mas todos nós, sem exceção, podemos aprender a ler melhor e, gradualmente, ganhar mais pelos nossos esforços, direcionando-os para textos mais recompensadores.”

Podemos resumir o que vimos até agora em uma única frase:

»   A qualidade de uma leitura depende do esforço investido nela, pelo menos em se tratando de livros inicialmente acima de nossa capacidade e que por isso são capazes de nos levar à transição de estado de entender menos para estado de entender mais.

2 – Níveis de leitura

Para Adler, existem quatro níveis de leitura. Repare que são “níveis” e não “tipos”, porque os níveis mais altos absorvem os mais baixos. São eles, do mais baixo para o mais alto:

1.      Leitura Elementar – corresponde ao nível ensinado na escola primária. A preocupação de quem lê nesse nível é com a linguagem em si, a decodificação da escrita, que com qualquer outra coisa. A pergunta que norteia esse nível é: “O que a frase diz?“.

2.      Leitura Averiguativa (também chamada de “pré-leitura” ou “garimpagem“) – este nível é voltado para a melhor avaliação possível de um texto ou livro num período curto de tempo. Por exemplo, quando estamos de passagem por alguma livraria, vemos um livro que parece interessante e precisamos saber se ele é bom antes de decidirmos se vamos comprá-lo. Existem alguns bons macetes para isso, dos quais trataremos mais adiante. Por ora, basta saber que a pergunta básica deste nível é: “Este livro é sobre o quê?“.

3.   Leitura Analítica – é a leitura completa, a melhor que se pode fazer,ativa por excelência. No dizer de Adler, “se a leitura averiguativa é a melhor que se pode fazer num determinado período de tempo, então aleitura analítica é a melhor leitura possível quando não existe limite de tempo”. É nível de leitura voltado basicamente para a compreensão, de modo que, se seu objetivo é apenas informação ou entretenimento, ele pode não ser necessário.

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4.   Leitura Sintópica ou Comparativa – implica a leitura de muitos livros sobre certo tema, pondo-os em relação uns com os outros e com o tema. Estudantes de Ciências Humanas são obrigados a se familiarizar com ela. É o nível mais difícil de se alcançar, e não há pleno acordo sobre suas regras. Porém, é também o mais recompensador de todos os níveis.

Por questões de espaço, aqui trataremos apenas da leitura averiguativa e de algumas sugestões para a leitura analítica.

2.1 – Leitura averiguativa

Conforme já foi dito, este nível é, na verdade, pré-leitura, inspeção mais ou menos rápida de material de que, por limitações de tempo, você não pode dar conta por inteiro ainda. Isso não significa que seja pouco útil, muito pelo contrário. Pessoas que têm uma grande carga de leitura, sejam profissionais ou estudantes, podem se beneficiar muito com o conhecimento de técnicas simples de leitura averiguativa. Afinal, mais que qualquer outra coisa, ela foi feita para poupar tempo e nem todo livro merece uma leitura analítica. Saber separar o joio do trigo é necessidade cada vez mais premente no mundo de hoje.

Aqui vai lista de sugestões para boa garimpagem, divididas em duas fases para fins didáticos. A primeira tem como finalidade saber se o livro merece leitura mais atenta; a segunda, facilitar a leitura de livro difícil:

A) Pré-leitura propriamente dita:

»   Comece pela capa e pela folha de rosto. Muitos livros hoje têm títulos comerciais que não dizem nada sobre seu conteúdo, mas deixam uma pista no subtítulo. Veja o que ele diz, se houver um. Livros expositivos, de não-ficção, normalmente têm um. Também preste atenção ao nome do autor. Soa familiar? Existe alguma referência extra? Livros de autores de algum renome freqüentemente mostram ao lado do seu nome uma indicação do tipo “Autor de [nome de obra mais conhecida]”. Também verifique a edição do livro; uma obra com várias edições e/ou reimpressões certamente é bem-sucedida e pode dar uma idéia da sua popularidade.

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»   No verso da folha de rosto costuma ficar a ficha catalográfica do livro, com a notação bibliográfica e os tópicos que ele aborda. Isso é muito importante, especialmente quando se trata de livros de caráter mais acadêmicos. Por exemplo, na ficha catalográfica do excelente “A Educação dos Sentidos”, de Peter Gay, editado pela Companhia das Letras, ficamos sabendo que o livro trata de:

1. Classe média – História – século 19. 2. Sexo (Psicologia) – Aspectos sociais – século 19.

Ou seja, em uma ou duas linhas, ficamos sabendo que o livro trata da história dos aspectos sociais e da psicologia do sexo das classes médias no século 19. E ainda nem lemos uma única frase que realmente tenha sido escrita pelo autor

»   Agora que você já sabe de o que trata o livro, em linhas gerais, podemos passar aos detalhes — o índice. É o mapa da estrutura do livro e há autores que se esmeram na sua confecção, especialmente quando se trata de ensaios e trabalhos acadêmicos. Obras antigas eram extremamente minuciosas nos seus índices, com títulos que chegavam a ser verdadeirassinopses. Porém, hoje em dia, esse é hábito que caiu em desuso, e os velhosíndices analíticos muitas vezes dão lugar a índices com títulos misteriosos que mais parecem peças publicitárias. Ainda assim, você só vai saber se o índice é bom conferindo-o, então convém fazê-lo.

»   Além do índice tradicional, algumas obras contêm índices onomásticos ou remissivos nas suas últimas páginas. Ali estarão listados nomes e temáticas de forma específica, bem como as páginas onde são citados. É uma boa fonte para ter um panorama dos assuntos tratados pelo autor e pode ser útil usá-lo para identificar passagens potencialmente interessantes e fazer uma leitura rápida. Naturalmente, a importância de algum assunto pode ser avaliada pelo número de vezes em que é citado e se isso acontece muitas vezes é possível que ele seja um dos pontos centrais do livro.

»  Leia a contracapa do livro. Algumas vezes contém trechos da introdução, em outras, como em livros americanos, referências elogiosas publicadas na

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imprensa. O mais provável, em se tratando de obra brasileira, é que você encontre sinopse do livro feita pela editora.

»  Leia a orelha. Livros mais recentes costumam trazer breve resenha da obra, assinada por alguém importante na área temática em questão, ou uma sinopse mais aprofundada que a da contracapa. Também é comum encontrarmos uma nota biográfica do autor: onde nasceu, suas credenciais acadêmicas e/ou profissionais, outras obras que tenha escrito. Isso é especialmente útil em obras de não-ficção.

»   Dê uma olhada na bibliografia, se houver. Ali você pode ter idéia da erudição da obra que tem em mãos, bem como ter referências sobre o mesmo assunto ou outros a ele relacionados. É até possível que encontre indicação que seja mais importante para o tema que o livro que tem ora em mãos. Cruzando os autores ali indicados com o índice onomástico, pode-se ter idéia de quais das obras listadas foram mais importantes para o autor do livro que você está examinando.

»   O livro contém apêndices? Obras históricas ou jornalísticas, por exemplo, costumam deixar a reprodução mais extensa de fontes documentais ou iconográficas para essa parte do livro. Também é freqüente encontrar estatísticas, tabelas, e outros dados que podem ser muito pesados para serem transcritos no corpo da obra. Às vezes, trata-se de uma abordagem mais profunda de subtemáticas muito específicas. Em todo o caso, se há apêndices, dar uma olhada neles pode ser crucial para sua decisão sobre o livro valer ou não a pena.

»   Folheie o livro. Leia alguns parágrafos, talvez duas ou três páginas, se o tempo permitir. Os últimos parágrafos de um capítulo muitas vezes contêm síntese do que foi abordado nos anteriores,e os do último capítulo — não necessariamente o epílogo, quando existe — podem conter síntese das idéias centrais do livro todo.

»   E, por último mas não menos importante, ao folhear o livro, veja se a estética o agrada. Isso pode ser irrelevante para obras recentes, com apenas uma edição disponível, mas pode fazer muita diferença para aquelas mais antigas ou clássicas, disponíveis em várias edições, por várias editores ou, no caso de

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autores estrangeiros, em várias traduções. A fonte utilizada torna a leitura agradável? A impressão é boa ou há falhas? A paginação está correta? A diagramação (organização dos blocos de textos na página) é bem feita? A encadernação é de boa qualidade ou o livro parece estar prester a soltar páginas?

No caso da tradução, em se tratando de obras literárias ou mais técnicas, pode ser conveniente procurar alguma referência antes. Se toda tradução é uma traição, como dizia Voltaire, algumas traições são particularmente sórdidas e podem distorcer o pensamento do autor. Obras de filosofia e psicanálise vertidas do alemão, repletas de neologismos difíceis de traduzir para o português, por exemplo, costumam esbarrar nesse problema, como os leitores de Freud e Kant devem saber. A escolha da edição, nesse caso, se torna particularmente importante, especialmente quando algumas obras não são traduzidas do original, mas de outra tradução, geralmente inglesa ou francesa, e não raro antigas e “ajustadas” ao gosto da época.

B) Leitura superficial

Findas essas etapas, que constituem tipo muito ativo de leitura, você já será capaz de dizer bastante coisa sobre o livro que tem em mãos, e se ele vale leitura analítica. Se não valer, nem por isso deixará de saber as idéias principais do autor, que tipo de obra escreveu e ampliar sua cultura geral, quem sabe deixando o livro para uma consulta futura.

Mas suponhamos que o livro valha a pena e você opte por lê-lo de fato, ou, o que é bem possível, simplesmente tenha de lê-lo por obrigação. Ao fim de algumas páginas atentas, você descobre que a obra é complexa. Muito complexa. Você chega à página 15 e se dá conta de que não está entendendo as coisas como deveria, e torna a ler do começo. Esbarra em algumas palavras ou frases obscuras, tenta decifrá-las e descobre que está perdendo muito mais tempo do que gostaria empacado nas primeiras páginas. E a leitura se torna fonte de angústias.

Os leitores de primeira viagem de literatura clássica talvez se identifiquem com essa situação. Qualquer curioso mediano que, na adolescência, tenha tentado

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ler Shakespeare ou Camões, ou simplesmente um poema nas aulas de Literatura, foi sério candidato a esse tipo de frustração. Para alguns, entender a Teoria da Relatividade pode ser muito mais simples que o primeiro ato de “Romeu e Julieta“. Nas palavras de Adler (grifos meus):

“O enorme prazer que vem de ler Shakespeare, por exemplo, foi estragado para gerações de estudantes secundários que eram forçados a avançar em ‘Júlio César‘, ‘Como gostais‘ ou ‘Hamlet‘ cena a cena, decifrando todas as palavras estranhas num glossário e estudando todas as notas acadêmicas de rodapé. O resultado disso é que eles nunca leram de fato uma peça de Shakespeare. Quando eles chegavam ao final, já tinham esquecido o início e já tinham perdido a visão de conjunto. Em vez de serem forçados a adotar essa abordagem pedante, eles deveriam ser encorajados a ler a peça de uma vez só e discutir o que tivessem assimilado desta primeira e rápida leitura. Só então eles estariam prontos para estudar a peça cuidadosamente, porque já teriam entendido o suficiente sobre ela para aprenderem mais.”

Com a experiência de quem tentou ler Shakespeare com dicionário do lado aos 12 anos, posso dizer que esse é ótimo conselho. Leia sem se angustiar pelos pontos obscuros, pelas notas de rodapé herméticas, pelos neologismos mal-explicados e as referências exóticas. Essa primeira leitura, aqui chamada de “superficial” no sentido positivo, serve para nosfamiliarizar com a obra em todos os seus aspectos: idéias centrais, estilo, vocabulário etc. Ela vai identificar os pontos mais ou menos difíceis, vai nos sinalizar para o tipo de ajuda de que talvez possamos precisar, vai nos preparar, enfim, para a segunda leitura e o alargamento de nossa compreensão— o benefício mais duradouro de boa leitura.Pode ser que tenham nos ensinado justamente o contrário. Muitos pais e instrutores bem intencionados ensinam as crianças e jovens a procurar no dicionário qualquer termo obscuro, ou pesquisar sobre algum tema desconhecido que surja no texto. Isso não está errado, mas deve ser feitono momento certo, sem interromper a leitura inicial. Especialmente porque, especialmente no caso de crianças, a preocupação com esses detalhes e a angústia daí gerada pode fazer com que a leitura se torne atividade penosa demais.