Como preparar uma boa apresentação científica

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COMO PREPARAR UMA BOA APRESENTAÇÃO CIENTÍFICA?

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COMO PREPARAR UMA BOA APRESENTAÇÃO CIENTÍFICA?

Vanessa HatjeUFBA – LOQ, Instituto de Química. E-mail: [email protected]

Atualmente as palestras científicas são um dos mais importantes meios de comunicação da academia. Apesar do “palanque” ser assustador,estudantes e cientistas devem ser capazes de apresentar palestras bem organizadas e planejadas, uma vez que a reputação do pesquisador poderá seraumentada ou reduzida em decorrência das apresentações acadêmicas. Este artigo apresenta sugestões para a preparação e apresentação de um bomseminário científico.

Palavras-chave: Seminários científicos; apresentações orais; conteúdo de apresentações orais.

Nowadays scientific talks are one of the most important communication forums for the scientific community. Although stage can be frightening,

students and scientists must be able to deliver well organized and well prepared talks, once researcher reputation will be enhanced or diminished

by academic talks. This article presents a guideline for preparing and delivering a good academic talk.

Key-words: Scientific talks; oral presentation; talk contents.

INTRODUÇÃO

Um maior número de pesquisadores terá acesso aresultados científicos inéditos ouvindo conferências emcongressos, simpósios e defesas de tese do que lendoartigos, visto que a apresentação oral é um dos principaismeios de comunicação científica (HEYING, 2003;SCHOEBERL e TOON, 2008). Uma prova disto é ocrescente número de participantes em eventos científicos,assim como o aumento da diversidade e do número deeventos. A reputação de um aluno ou pesquisador poderáser melhorada ou piorada em função da maneira como umapalestra é proferida. Uma apresentação mal elaboradaenviará a mensagem de que o apresentador não sepreocupa com a audiência e, talvez, de que nem mesmo seinteresse realmente pelo assunto (HILL, 1997). Aapresentação oral de trabalhos faz parte do processo decomunicação científica, e todo pesquisador deverá sercapaz de elaborar e apresentar uma boa palestra. Issodeverá ocorrer independente do medo de lidar com opúblico ser grande ou pequeno.

Existem várias situações em que alunos epesquisadores necessitarão falar em público, como emseminários, aulas, reuniões informais, defesa dedissertações e teses, e entrevistas. Para o sucessoacadêmico será preciso aprender e desenvolver essahabilidade.

Para fazer uma boa apresentação será precisoassistir boas palestras. O ambiente universitário éespecialmente propício para isso. Bons palestrantes têm acapacidade de transmitir de maneira clara e simples idéiascomplexas. Sendo assim, durante a apresentação depalestras, independente da natureza destas, é interessanteobservar não só o conteúdo da apresentação, mas tambémcomo o palestrante interage com a platéia, como varia oseu tom de voz, como lida com o tempo e, também, comoutiliza os recursos audiovisuais.

Boas apresentações sempre terão as seguintescaracterísticas: i. apresentar argumentos e suas evidências;ii. convencer a audiência de que os argumentos sãoverdadeiros; iii. ser interessante e agradável (EDWARDS,2004). Independente do tipo de apresentação será preciso,antecipadamente, conhecer a audiência. O palestrantedeverá saber quem são e quais são os interesses dosouvintes, também será importante conhecer seu nível

sócio-cultural (POLITO, 1999). A audiência será compostapor alunos de graduação ou especialistas? Isso fará muitadiferença não só no conteúdo, como também novocabulário e na forma da apresentação.

Foi demonstrado que o tempo de concentração dosseres humanos é de aproximadamente 45 minutos(ALVES, 2005). Neste período deverá ser apresentado omáximo de três idéias principais, e enfatizá-las não só nocomeço, mas também no meio e no final da palestra.

É comum ver estudantes de pós-graduação tentandoapresentar toda a sua dissertação ou tese em uma palestrade 40-50 minutos, isso não funciona. Uma seleção dospontos mais interessantes deverá ser realizada e as idéiasdeverão ser apresentadas dentro de um contexto amplo,pois isso ajudará os ouvintes a se situarem e avaliarem arelevância do estudo. O apresentador deverá indicar para aplatéia qual é a mensagem que eles deverão levar para casa(CLARK e EDWARDS, 2000).

O objetivo deste trabalho é subsidiar a preparaçãode boas apresentações científicas, adequadas ao tema eobjetivos da palestra, assim como, aos ouvintes. Nasseções seguintes serão apresentadas orientações gerais paradiversos tópicos que constituem a maioria dasapresentações científicas nas áreas de ciências biológicas,exatas e da terra.

CONTEÚDO DA APRESENTAÇÃO

As técnicas da narrativa servem para dar àapresentação começo, meio e fim, todos claramentereconhecíveis (ALVES, 2005). O conteúdo é a chave deuma boa apresentação e, geralmente, poderá ser divididoem quatro tópicos: introdução, materiais e métodos,resultados e discussão, e conclusões. Ao contrário de ummanuscrito, a apresentação oral não permite ao ouvintevirar a página e analisar a informação que foi apresentadapreviamente. Sendo assim, para a efetiva transmissão deuma mensagem será essencial que a idéia principal sejarepetida várias vezes ao longo da apresentação. A seguirsão apresentadas informações específicas para cada tópicoda apresentação.

Apresentação da introdução

Introdução é a parte da apresentação onde osouvintes deverão ser conquistados, portanto, é fundamental

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causar uma boa impressão logo no início da fala(HEYING, 2003). Apresentar-se de forma afirmativa esegura, o que na prática significa estar bem preparado, éuma das melhores formas. Levar anotações com uma ouduas frases para iniciar a palestra poderá ser útil,permitindo que o palestrante se concentre na maneiracomo a informação é transmitida e liberando-o dapreocupação com a escolha das palavras iniciais.

A introdução deverá ser curta, cerca de 10-15% dototal de uma apresentação. É importante que aapresentação seja iniciada de maneira simples, como“contar uma história” que todos na platéia possamcompreender (HAUSER, 2008). O problema e/ou idéia-chave do trabalho deverá ser claramente explicado, bemcomo a motivação para resolver este problema. A platéiadeverá ser motivada e convencida de que o problema emquestão é também importante para eles (HEYING, 2003).Em geral, apesar de algumas pessoas na platéia estaremfamiliarizadas com o assunto da apresentação, muitos nãoo são e, portanto, precisarão de ajuda. O palestrante deveráajudar a audiência a entender a importância do problemaque tem em suas mãos e porque eles deveriam manter aatenção na palestra. Também será preciso oferecer ummapa para a audiência, avisá-la sobre o caminho que serápercorrido, por exemplo, fornecendo informações rápidassobre os itens que serão discutidos. Deverá serapresentada, etapa por etapa, uma seqüência lógica deraciocínio, enfatizando qual é a idéia principal. É precisoque o apresentador esteja focado nos objetivos quepretende atingir com a sua apresentação, por exemplo,difundir informação (e.g. resultado de pesquisa), motivar(e.g. alunos a trabalhar em determinada área de pesquisa)ou mesmo promover-se (POLITO, 1999).

Para preparar a introdução deve-se imaginar que amesma tenha a estrutura de um cone invertido. A faladeverá ser iniciada com os aspectos gerais, e a medida quese desenvolve a escala deverá ser reduzida até que sefinaliza com os aspectos mais específicos do trabalho. Asinformações apresentadas na introdução precisarão estarrelacionadas com a discussão e conclusão da fala.

Finalmente, cabe ressaltar que a grande maioria dosouvintes não será mais compreensiva com o palestrantecaso este comece sua palestra se desculpando, seja pelotempo diminuto que teve para preparar sua palestra ou peladificuldade com o idioma. Esta situação deverá ser evitada.

Apresentação dos materiais e métodos

Nesta seção deverão ser apresentados a abordagem,o desenho experimental e metodologias de campo elaboratório utilizadas no estudo. A metodologia deverá serapresentada na voz ativa, por exemplo: “Eu avaliei osmétodos A e B, ambos não funcionaram, então testei ométodo C”. Esse tipo de abordagem vai revelar mais sobreas qualidades do apresentador como cientista e indicará,possivelmente, se ele fez o trabalho de fato (HEYING,2003). O detalhamento da metodologia vai depender dotópico a ser abordado e dos objetivos do trabalho. Porexemplo, se um método padrão foi utilizado, não serápreciso fornecer detalhes. Mas caso tenha sidoimplementada alguma modificação importante no métodooriginal, será preciso informar as principais diferençasentre o método utilizado e o método padrão e/ou osanteriormente usados. Além disso, deverão ser mostradosquais foram os avanços obtidos em relação ao método

anterior e as evidências comprovando os melhoresresultados (SCHEWCHUK, 2008). Também seránecessário apresentar as limitações metodológicas dotrabalho, bem como deixar claro que o apresentador estáciente delas (COTTRELL, 2006). Os métodos tambémdeverão ser apresentados como uma história e não comoestaria escrito em um texto. O apresentador deverá dizer“eu fiz isso e depois aquilo”, etc... A apresentação poderáser planejada de modo a deixar lacunas para que durante aseção de perguntas seja possível retornar a esse ponto casoseja pertinente.

Apresentação dos resultados e discussão

Nos resultados e na discussão os dados deverão serapresentados, discutidos e interpretados. Apenas osprincipais padrões obtidos com os dados deverão sermostrados, detalhes menos importante não deverão serapresentados, a não ser no momento das perguntas, caso opúblico solicite. Será preciso ser claro e breve nasexplicações, sendo que é extremamente importante que asconexões e as implicações dos dados sejam apresentadas.O apresentador não deverá assumir que a platéia fará issosozinha (CLARK e EDWARDS, 2000).

De um modo geral, deverá ser evitado o uso detabelas para mostrar os dados, e priorizar o uso de gráficose figuras, pois eles ilustrarão melhor os resultados e,visualmente, chamarão a atenção do público (HAUSER,2008; POLITO, 2003; KSCHISCHANG, 2000). Caso ouso de tabelas se faça necessário, a quantidade deinformação a ser apresentada deverá ser limitada eapresentada de maneira bem objetiva. As tabelas deverãoconter apenas as informações que serão mencionadasdurante a apresentação e que facilitarão a compreensão dopúblico. Grandes tabelas com poucos resultadosinteressantes nunca deverão ser apresentadas. Cuidadotambém deverá ser tomado em apresentar apenas o númerode algarismos significativos necessários.

Para cada figura ou gráfico será necessário explicaros eixos, as variáveis e as unidades dos dados. Isso ajudaráos ouvintes a compreender a informação que está sendoapresentada. Fontes com pelo menos 16 pontos deverãoser utilizadas para as ilustrações. Uma maneira de verificarse o gráfico estará legível para a audiência, é imprimir oslide em tamanho A4, colocá-lo no chão e tentar ler asinformações do gráfico mantendo-se em pé (SCHOEBERLe TOON, 2008); caso visualize com clareza todas asinformações, o gráfico estará no tamanho adequado.Quando os eixos tiverem números, por exemplo, empercentagem, bastará colocar 0, 50 e 100% e mostrar asgradações (HAUSER, 2008). As cores deverão ser usadaspara ressaltar as informações mais importantes. Porexemplo, dados de um gráfico em preto e linhas vermelhaspara circular uma determinada área de interesse no gráfico,ou mesmo para mostrar uma tendência (HAUSER, 2008).Caso o palestrante tenha dificuldade em fazer os gráficos eescolher as cores do mesmo, a apresentação deverá sermostrada a um colega, solicitando sua opinião, pois issopoderá fazer toda a diferença.

O uso de equações deverá ser evitado (HEYING,2003; POLITO, 2003), portanto, será importante avaliar seas equações são realmente importantes e necessárias para aapresentação. O grande problema associado às fórmulasdeve-se ao fato de que as pessoas estão acostumadas aestudar equações e não vê-las em flashes de dois minutos

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de duração. Assim, o palestrante não deve tentarimpressionar a platéia colocando uma imensa equaçãonum slide. Se for indispensável a apresentação defórmulas, estas deverão ser explicadas brevemente. Umadica importante é adicionar setas e identificar por escritocada variável da fórmula, deixando claro o que significacada uma delas.

Apresentação das conclusões

Um erro bastante comum nas conclusões é,simplesmente, listar os principais resultados previamenteapresentados. Certamente, as conclusões deverão serbreves e deverão condensar todos os resultados, mas serápreciso deixar claro o significado e as implicações dosmesmos. Nesta seção deverão ser demonstradas asconexões entre os resultados e as informaçõesapresentadas na introdução (HEYING, 2003; HAUSER,2008). Será conveniente estruturar a conclusão de maneirainversa à introdução, como um cone. Os aspectos maisespecíficos do trabalho deverão ser apresentados primeiroe aos poucos deverá ser ampliada a dimensão de interessepara contextualizar os resultados/conclusões obtidos emuma abordagem generalista e, portanto, de maioraplicabilidade.

Nesta parte, caberá ao palestrante indicar amensagem que o ouvinte deverá levar para casa, casocontrário cada pessoa da platéia fará esta escolha sozinha eo foco da sua palestra não terá sido bem disseminado.Além disso, palestrantes também poderão apresentar,depois da conclusão, informações sobre a pesquisa futura.

Existe uma frase famosa a respeito das boaspalestras, ela diz: “Diga a platéia o que você vai falar, falepara ela. Então diga a ela o que você acabou de dizer”(HEYING, 2003). A grande maioria das pessoas absorvepouca informação na primeira exposição a umdeterminado assunto, sendo assim, o caminho para amelhor fixação da mensagem de interesse será realizarexposições múltiplas e, assim, facilitar a sedimentação deidéias. Uma maneira de fazer isso será sumarizarresultados na introdução e repetir os mesmos pontosdurante a apresentação dos resultados e conclusão.

DETALHES TÉCNICOS

Atualmente, a maior parte das apresentações oraisutiliza recursos visuais como o projetor multimídia e oretroprojetor, o que de certa forma tornou mais fácil ebarata a preparação de material audiovisual.Conhecimentos básicos de informática, de um modo geral,são suficientes para a elaboração de uma apresentaçãoclara e concisa. Além de preparar o material audiovisual, oapresentador deverá ser capaz de manipular a mídia a serutilizada, estar familiarizado com o tópico da apresentaçãoe, ainda, estar preparado para responder questões, quemuitas vezes não foram antecipadas.

O PowerPoint®, programa da Microsoft® para apreparação de slide e painéis, se tornou um recursoaudiovisual padrão em apresentações científicas e é,certamente, uma ferramenta importante, mas nem semprenecessária. O recurso audiovisual (i.e. slides), entretanto,não poderá suplantar a importância do palestrante, seupapel será subsidiar a transmissão de informações entre opalestrante e a platéia, ressaltando as informações maisimportantes, esclarecendo e complementando a fala do

apresentador (POLITO, 2003). Uma grande vantagem dautilização de PowerPoint® é que, com um computador, empoucos minutos é possível alterar a apresentação e prepararnovos slides.

No entanto, o sucesso de uma apresentaçãocientífica só ocorrerá se alguns cuidados forem tomados.Primeiramente, lembre-se que o apresentador estaráutilizando equipamentos elétricos e eletrônicos, comocomputador e projetor, os quais estão sujeitos a problemastécnicos e/ou interrupção do fornecimento da rede elétrica.Nesta situação, o nervosismo e o despreparo agravarão oquadro, dificultando a solução do problema ou a busca poralternativas. Para minimizar a chance de contratempos, énecessário carregar backups (i.e. pen-drive, cd e/outransparências) e com a devida antecedência, entregar oarquivo para o responsável pelo evento, e certificar-se queo arquivo está abrindo e os sistemas operacionais sãocompatíveis. Dessa forma haverá tempo suficiente paratomar providências acertadas.

Outro aspecto importante que deve ser enfatizado éa necessidade de prezar pela simplicidade na confecçãodas apresentações utilizando o PowerPoint® (HAUSER,2008; COTTRELL, 2006; CLARK e EDWARDS, 2000;KSCHISCHANG, 2000). A simplicidade facilitará acompreensão da audiência, de modo que a informaçãoprojetada possa ser absorvida com rapidez e sem esforços(POLITO, 2003). Apresentações com excesso de cores ebrilhos podem passar a impressão de que o palestrante estámais preocupado com a aparência do que com o conteúdo.Além disso, prejudica a visualização das informações quedeveriam ser destacadas. Sendo assim, planos de fundomuito colorido, como ilustrações ou fotos deverão serevitados. As fotos, por apresentarem variação de cor,geralmente não funcionam bem como plano de fundo, poisem geral só é possível obter um bom contraste entre fontee plano de fundo em apenas uma parte da foto, dificultandoa transmissão da informação. Por isso, recomenda-sereservar as fotos para os slides de título da apresentação eagradecimentos.

Cuidados também deverão ser tomados com relaçãoaos recursos de animação, os quais distraem a audiência.Além disso, estes recursos variam nas diferentes versõesdo programa e podem não funcionar.

As cores do material a ser projetado também podemvariar de acordo com a versão do programa ou aparelhoutilizado para projeção, portanto, é importante escolhercombinações que proporcionam um bom contraste entre acor do plano de fundo e do texto. Duas boas alternativassão: i. fundos claros (branco, bege e cinza claro) com letrasescuras (preta, azul marinho ou bordô) para ambientes bemiluminados, os quais tendem a causar menos sono; ii.fundo escuro (preto, bordô e azul marinho) com letrasclaras (amarelas e brancas). O ambiente para este tipo deapresentação deverá estar bem escuro para obtenção de umexcelente contraste. É recomendável que no máximo trêscores sejam empregadas. Independente da escolha doplano de fundo, letras em vermelho deverão ser evitadas,pois dificultam a leitura.

As fontes utilizadas deverão ser grandes, nãoinferiores a tamanho 24 para o texto e 32 para o título. Asfontes deverão ser claras do tipo Arial ou Verdana, asquais são fontes comuns em qualquer versão dePowerPoint®. Esses tipos de fonte, nos tamanhos

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supracitados, servirão para qualquer tipo e tamanho deauditório.

A quantidade de texto dos slides deverá ser mínima(SCHOEBERL e TOON, 2008; HILL, 1997; HAUSER,2008; SCHEWCHUK, 2008). Isso significa um máximode 10 linhas por slide, incluindo o título do mesmo. Se forpreciso escrever mais, mais slides deverão ser utilizados.Utilize frases curtas, e limite-se a apenas dois ou trêspontos importantes por slide. Um corretor ortográficodeverá ser utilizado no preparo de todas as apresentações.

Todas as referências utilizadas deverão ser citadas.Isso poderá ser feito no rodapé do slide onde a citação épertinente ou no final da apresentação em uma seção dereferências.

ESTILO DE APRESENTAÇÃO

Independente do tipo e estilo da apresentação, aprática prévia da fala é um treinamento extremamentenecessário para a obtenção de uma boa desenvolturadurante a palestra e para evitar a insegurança doapresentador na frente dos ouvintes (SCHOEBERL eTOON, 2008; SCHEWCHUK, 2008). É interessante queuma dessas práticas seja feita na frente do espelho, paraque se possa avaliar a expressão do palestrante eidentificar maneirismos desnecessários que poderão sereliminados (MALLON, 2003). Realizar prévias para oscolegas de pós-graduação e/ou grupo de pesquisa érecomendável, pois esta prática auxiliará não só nalocalização dos pontos fracos, mas também na avaliaçãodo conteúdo, do visual e da duração da apresentação.

Manter-se dentro do tempo estipulado para aapresentação será sempre crucial e poderá evitar situaçõesembaraçosas. Coordenadores de sessões em congressos esimpósios, por exemplo, têm autonomia para interromperpalestras antes que as conclusões sejam apresentadas. Paraevitar este tipo de situação, deverá ser reservado, emmédia, entre 1-2 minutos por slide, mas cabe lembrar queisso dependerá muito do estilo e prática do apresentador. Ébastante comum, em função da pressão exercida pelapresença da platéia, que alunos apresentem seu trabalhomuito rapidamente, em decorrência do nervosismo, mas oinverso também pode ocorrer. Para controlar o andamentoda apresentação, é recomendável fazer anotações nosslides, isso vai ajudar a monitorar o tempo. A utilização derelógios, de preferência os que apresentam cronômetrosdigitais, também será útil. Ainda com relação ao tempo,cuidados deverão ser tomados com a improvisação.Quando apropriadamente utilizada, a improvisação podeser um recurso interessante para chamar a atenção daplatéia, no entanto, palestrantes com limitada experiênciadeverão evitá-la, visto que a mesma poderá consumirminutos preciosos.

Outro recurso pouco indicado para ser utilizado nasapresentações, especialmente no início da fala, é contarpiadas. Embora esta prática possa ser útil e favorecer oapresentador, nem todas as pessoas conseguem serengraçadas, especialmente em frente de uma platéia, e umapiada fora de hora, ou mesmo sem graça, poderá causardesconforto para a platéia e para o palestrante.

A postura que o apresentador assume durante aapresentação deverá auxiliar a transmissão de informações.Por exemplo, a escuta e a compreensão serão facilitadas

caso haja um contato visual com a platéia. Assim sendo, opalestrante deverá olhar e apontar para o objeto deinteresse na projeção e, então, direcionar sua atenção paraa audiência e discutir o objeto abordado. Em algunsmomentos, durante a apresentação, é interessante esperaralguns segundos para a audiência observar o objeto antesque explicação seja feita. Alguns autores também sugeremque o palestrante escolha algumas pessoas na platéia e,então, faça as explicações olhando para elas, isso ajudará amanter o foco e a atenção da audiência (HILL, 1997;EDWARDS, 2004). Além disso, é importante observar areação das pessoas, pois esta indicará como a mensagemestá sendo assimilada.

Além da postura e da posição, é importante quecada palestrante descubra a intensidade e o tom em que suavoz soa melhor (ALVES, 2005). O tom de voz deverámanter um ritmo, mas é importante que o palestranteescolha alguns pontos da palestra para dar ênfase e decidacomo, verbalmente, determinado ponto será enfatizado,como por exemplo, alterando a entonação da voz. Empontos críticos da apresentação o apresentador deverá serenfático para contagiar a audiência com seu entusiasmo emrelação ao seu trabalho. O apresentador também deveráevitar os uhhh, eeee, ahhhm durante a apresentação. Estasvocalizações involuntárias captarão a atenção da audiência(SCHOEBERL e TOON, 2008). Nesta situação opalestrante deverá parar, pensar e só então recomeçar a suafala. Algumas vezes o silêncio momentâneo éparticularmente oportuno. Não há urgência em preencherespaços vazios, pois a audiência estará ocupada ementender as idéias que estão sendo apresentadas.

Quando as apresentações são realizadas em grandessalas ou auditórios, a projeção terá uma dimensãoincompatível com a utilização de apontador de madeira,neste caso, muitas vezes será necessário o uso do laser.Utilizá-lo apropriadamente é difícil e requer prática. Aregra para a boa utilização do laser é mantê-lo fixo noponto de interesse (SCHEWCHUK, 2008). A maioria daspessoas tentará fazer círculos ao redor dos objetos e nãoapontá-los. Isso é um erro bastante comum. Cuidadotambém deverá ser tomado com os apontadores a laser quemudam slides e/ou têm outras funções acopladas, pois emum momento de nervosismo, será fácil apertar o botãoerrado.

Todas as apresentações deverão ser finalizadas comos agradecimentos. Neste momento, será importanteagradecer a audiência, as pessoas que ajudaram durante odesenvolvimento do trabalho, as pessoas que convidaram opalestrante para falar e, claro, as agências financiadoras.Estes agradecimentos deverão ser sumarizados em umslide final.

Após os agradecimentos, geralmente segue-se umasessão de perguntas. Para a grande maioria dos alunos depós-graduação, este, é certamente o momento mais difícil.Embora as prateleiras estejam repletas de livros que podemsubsidiar a preparação de uma boa palestra, a literaturaespecífica sobre como se comportar e se preparar pararesponder perguntas é praticamente inexistente. Noentanto, existem algumas estratégias que podem ajudar.Por exemplo, visto que geralmente ocorrerá o aumento deatenção da platéia durante as perguntas, este momentopoderá ser utilizado para ampliar e reiterar o tópico maisimportante da apresentação. Assim sendo, é importanteque o palestrante demonstre que aprecia estar explicando e

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compartilhando idéias com os ouvintes. Será preciso muitaconcentração para escutar cada palavra da pergunta. Se opalestrante repetir a questão que foi colocada, será possívelganhar um pouco de tempo e, principalmente, verificar seentendeu a questão. Caso contrário, deverá ser solicitadoque a platéia repita a pergunta. Se mesmo depois destetempo extra o palestrante não se lembrar ou souber aresposta, ele deverá assumir e dizer que terá que pesquisareste aspecto (SCHOEBERL e TOON, 2008). O palestrantedeverá identificar em cada pergunta a oportunidade deresponder de maneira simples, com maior profundidade oumesmo ampliar para assuntos correlatos. Argumentos coma platéia deverão sempre ser evitados. Assim, se a pessoaque questionou o palestrante discorda dos argumentosapresentados e a discussão torna-se fora de propósito ouagressiva, a situação deverá ser contornada. Um bommoderador, neste caso, deverá interferir a favor dopalestrante e finalizar a discussão. Caso contrário, opalestrante deverá resolver esta situação incômodasozinho, assumindo que discorda em determinado ponto edeverá sugerir que os questionamentos continuem,prontificando-se a voltar ao assunto com esta pessoaespecífica depois de finalizar sua apresentação(SCHOEBERL e TOON, 2008). É importante não insultara audiência e/ou perder a compostura.

Finalmente, o palestrante deverá se vestir de formadiscreta. Um traje adequado estará mandando a mensagemde que o apresentador se importa com a audiência e de quese vestiu bem para ela.

CONCLUSÕES

Com a aplicação de alguns princípios básicos, comomanter a simplicidade e muita prática, será possívelpreparar e fazer uma apresentação científica de sucesso.Certamente, à medida que mais apresentações foremrealizadas, mais fácil e eficiente esta tarefa se tornará.

AGRADECIMENTOS

A autora agradece os comentários e sugestões deFrancisco Barros, Jailson B. de Andrade e Núbia MouraRibeiro.

REFERÊNCIAS

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