Como Reconhecer a Arte Do Renascimento - Pintura[1]

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  • 5/14/2018 Como Reconhecer a Arte Do Renascimento - Pintura[1]

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    o volume:MasaccioE t tplca de grandeparte da pintura doAenascimento aconstante procurapo=VOlume~_~li1_,de um clare ele ito'""de--- -tridimensionalidade__DaS_figuras~Atitudeesta que vai a pare passo com apreocupacao deeolocar as figurasnum espaco bemdefinido e emrelar;:ao evidentecom ospersonagens. Emulto importante,nes te t ipo de obras,o contr ibuto dadopela perspectiva.

    PinturaTalvez nenhuma epoca artistica tenha sido igualrnerica de tao talentosos e tao grandes pinto res como 0Renascimento. Piero della Francesca e Fra Angelico, Bot i-

    celli ~ Mante~n.a, Le~nardo e Miguel Angelo.' Antonello~aMessina e Ticiano: isto para citar .so alguns. E, depo~s,Masaccio , Perugino, 0 supremo Rafael, os Bellini, Gior-gio~e, Paolo Uccello, Luca Signorelli, os dois Lippi,Ghirlandaio, Cosme Tura, Carpaccio , Qualquer urn delesbastaria para nobiiitar urn perfodo e uma nacao. Mas todoseles viveram no mesmo pais e na mesrna epoca, ou quase.No entanto , nao faria sentido falar de pintura renascen-tista de outro modo que nao fosse em termos europeus,invocando os grandes mestres de alem-Alpes: os alemaesDurer e Cranach, part icipantes directos no Renascimento esuas tendencias, 0 flamengo Van Eyck: as suas pesquisassao, em parte, divergentes das dos italianos, mas igual-mente importantes para a evolucao das artes, incluindo asda Italia.

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    Masaccio,Opa game nto doTributo; Florenr;:a,igreja de SantaMaria del Carmine.Masacc io (de quema ult ima figura adire i ta parece ser 0auto-retrato) apre-senta ja quase to-das as caracteristi-cas da pintura doAenascimentoPleno: monumenta-lidade, reproducaofiel do corpo hu-mano, proporcaoentre as partes. 0que mais chama aatencao e 0 efeitotridimensional: asfiguras sao pinta-das, mas poder -se- ia dizer delasque sao esculpidassobre a superficie.

    PinturaTodavia, embora breve em comparacao com outrosmovimentos artfsticos, 0 Renascimento estendeu-se porcerca de dois seculos. Dois seculos ricos de obras variadfs-simas e muitfssimo numerosas. E tambem de uma grande,fantastica liberdade. A qual e , vendo bern, 0 primeiro emais tfpico caracter da pintura renascentista. Libertacao dosesquemas rfgidos e pre-estabelecidos pr6prios da arte go- .

    tica.:e Iibertacao das figuras representadas das constricoesdas cornijas ou dos enquadramentos arquitectonicos emque, anteriormente, eram encerradas. Nao que 0 Renasci-mente fosse privado de esquemas. Mas, neles, as figurassurgiam em composicao, mais encaixadas.Quanta ao resto, contou, acima de tudo, 0 efeito devasta-dar provocado pela perspectiva. Esta invencao, ao contrariodo que se poderia pensar, foi, nos primeiros tfmpos,bastante menos importante para a pintura do que 0 foi -por exemplo - para a arquitectura. De facto, ela nao foiadoptada de repente, nem aplicada integral e constante-mente. A razao disso e bern clara: ela s6 se tornouimportante, ou melhor, fundamental, nos casos em quequeria pintar urn quadro absolutamente realista. Mas apintura baseava-se - ou parecia basear-se - no desenho.

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    o vo;lume:Pierodella Francesca.Nas obras de Pimadella Francesca, aselementos propnosdo Aenascimentosao evidentes. Aperspectiva e acomponentefundamental.. Todaa construcao equase rnaternatlca:a arqui tectura v,islamesmo de frente,os grupos defiguras distribufdossegundorectanpulosproporcionais aosda arqui tectura, acorresponoenclaent re ospersonagens dosdois grupos.

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    Assirn, a aplicacao da perspectiva tornou 0 desenho nalingua comum a todas as disciplinas artisticas, na medidaem que pennitiu - rnelhor dizendo, provocou - 0 nasci-rnento do projecto, que acabou por surgir como averdadeira essencia da obra de arte , mais do que a execucaopropriamente dita. Sera atraves do desenho que se acabarapor experimentar todas as diversas teorias artlsticas. E daquia sua traducao em quadro vai urn curto passo. Resurnindo, apartir do Renascirnento, a pintura tornou-se no banco deensaios de tadas as mudancas artisticas.. Em segundo lugar, a pintura veio a dispor, no decurso doseculo XV e do prirneiro quartel do seculo XVI de todauma serie de novas tecnicas e de novos metodos expressivosque lhe proporcionaram um.grande aumento da capacidadede expressao , diminuindo, ao mesmo tempo, 0 custo e 0trabalho necessaries a execucao de uma pintura ou de urnfresco. Par volta dos finais do seculo XV, seria introduzidana Italia, vinda dos Paises Baixos, a pinrura a oleo: umatecnica, bast~nte mais c6moda e eficaz do que a da temperaque ate en tao fora usada pelos artistas italianos e, sobre-tudo, dotada de uma capacidade de expressao do real que,literalmente , seduziu- os pin tares renascentistas. Quase ao

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    Pierro dellaFrancesca, Aflagelafao; Urbino,Palacio Ducal. 0e sp ac o d as figurase rigorosamente16gico. Mas e aindaurna realidadeteatral : com urnponto de vistaforcado e centralem relalfao a cena,com ospersonaqens quaseem pose eenquadrados naarquitectura. Estarealidade ~reconstrui d1'l.QPDJ___...,.---um ngormatemalic6tambem oonstiluiurn caracter t iplcodo Aenasciment9.

    mesmo tempo, foi introduzido 0 uso da tela como suporteda pintura, em substituicao da tabua de madeira uti lizada ateaquela altura, aumentando-lhe a durabilidade e a capacidadede transporte. A evolucao do desenho, finalmente, levou afazer preceder sempre 0 quadro definitive por urna vastaserie de esquicos preparatorios, facilitados pela nova tee-nica da perspectiva, pelo usa de papeis de melhor quali-dade, peia apariciio de novos processes de desenho ~ asangufnea, 0 pastel -que se juntaram aos ja existentes -pineel, pena, ponta de prata, carvao. Os frescos tomaram-sebastante rnais faceis de realizar com a uti! izac30 de cartoes,representando 0 tema, pintados com toda a tranquilidade noesnidio e, em seguida, decalcados para a parede rebocadade fresco mediante uma tecnica chamada spolvero , An-teriormente , era precise tracar 0 desenho directamente sabreo reboco, nas suas l inhas gerais, e depois completa-lo com amaior rapidez, irnprovisando, no lugar da pintura definitiva.Mas que objectives persegue esta arte e quais as formasque ela exprirne? Esquematizar urn movimento tao denso depersonal idades, de obras, de tendenc ias, e sempre dificil e,em certa medida, false, Mas algumas linhas de (undo,alguns temas, sao indubitavelrnente comuns.

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    Pinturao volume: MiguelAngeloA tendencia para 0estudo, valorizacaoe representacaosxpresslva atinge,em Miguel Angelo,o mais alto grauexibido peloRenascimento_ Porvezss. comoacontecefrequentemente notermo de umprooesso. com urncerto exaqero. Mastambem com umabsoluto ernaqnlf ico, dornlnlodos proprlosprocessos, quer seIrate do esquemaeomposilivo - degrandes linhascurvas e ja nao deblocos qeornstrlcos-, qusr no querespeila aexpressao doscorpos,

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    o tema cHissico foi, desde sempre, pelo menos para apintura-ocidental,""a representacao do hornem e do seu meioambiente , Este e, tambem, 0 terna- principal do Renasci-mento. A maior inovacao que esta epoca trouxe foi aprocura de um realismo bastante mais acentuado na repre-sentacao do tema. 0 que era 16gico: toda a cultura renas-centista estava impregnada de interesse peJo homem, pelanatureza e pelo seu aspecto.No que respeita it representacao do homem e do seuambiente, os pinto res do Renascimento agruparam-se emduas grandes correntes. A producao de cada uma delassurge absoluta e tipicamente renascentista. Mas as forrnassao as mais diversificadas.Os artistas da primeira corrente , ou escola, podem seretiquetados, decerto arbirrariamente, mas c6moda e signfi-cativamente , de inovadores; ou progressistas. A defi-niyao e justificada pelo facto de as suas obras serem as quemais se afastaram dos resultados do passado e que, aomesmo tempo, exprimiram mais cornpletamente os valoresda nova epoca. As suas obras serao , tambern, pontes dereferenda muito frequentes para as pintores das geracoesfuturas.

    _0 interesse primordial, embora certamente nao 0 unico,deste grupo de artistas e urn modo novo de I~Ere~entar-o-homem e, acima de tudo , a sua realidade ffsica, Naverda de, se tivessemos de apontar uma caracteristica fun-damental nas suas pinturas, poderiamos referir 0 volumedas figuras. 0 que quer isto dizer? Durante longo tempo, apintura, ainda que a desejasse, nfio possufa os meios para

    Miguel AngeloBuonarroti, Ac ri aq8.o do H om em ,pormenor do tectoda Capela Sistina;Roma, Vaticano. Apaisagem foireduzida aominima: aimportanciaconcentra-se todanas f iguras deAdao e do Crlador.o artista naoutilizou modelospara estas fi.guras:o senconhecimento daanatomia era talque -criava- asimagens, chegandoa acentuar algumaspartes do corpopara tamar 0 ternaainda mais"natural.

    Pinturareproduzir exactamente 0 aspecto fisico do homern, as tresdimens6es ocupadas pelo seu corpo, em suma. Assirn, aspinturas apresentavarn-se como silhuetas, perfis sern vo-lume recortados no fundo - em geral, dourado, ou eutaooutros igualmente irreais - do quadro. Ambos os aspectosdo problema mudaram, durante 0 Renascimento. Par urnlado, 0 ambiente em que, nesta epoca, se movern e colocarnos persona gens pode ser representado com maior fidelidadeao real, e tarnbern, se se quiser, com absoluta precisao. Anova tecnica da perspectiva permite-o. Por outro lado, eainda mais importante , toda a orientacao ciacu!tura empurrao artista para urn interesse profundo pelo homern , colocan-do-o num ambiente bern definido, reconhecivel e reprodu-zido com rigor. Tudo isto pintado de rnuitas maneiras Masa nova arte, caracteristicamente, fa-lo com 0 desenho: assuas personagens e as suas paisagens sao - no fundo -desenhos coloridos.Esta escola principia com 0 primeiro grande pintor doseculo XV, Masaccio: um artista que morreu muito jovem,antes dos trinta anos, mas que foi desde logo consideradopelos seus contemporaneos como 0 Brunelleschi da pintura,au seja, a iniciador da nova maneira de trabalhar. A

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    A graclosidadeFra Angelico, AAnuncia9ao,pormenor; Madrid,Museu do Prado. Asegunda correnteda pinturarenascentista econstltuida pelospinto res queutllizararn as novastecnlcas paramodernizar asantigasconcepcoes,usando, sobretudo,a del icadeza dodesenho e aelegancia dasimagens_46

    caracteristica mais evidente e significative da sua nao muitonurnerosa, mas excepcional, obra e o aspecto monumental,rnacico, serenamente majestoso, dos personagens nela pre-sentes _Os movimentos sao poucos e comedidos; algumasfiguras sao absolutarnente imoveis, erectas. Mas cada umadelas tern um relevo bem definido sobre 0 "palco consti-tuido pelo ambiente do quadro (uma maneira, esta deconsiderar as figuras do tema como actores num teatroimaginario, que e curiosamente tipica de rnuita da pinturaquatrocentista); ocupa urn espao;o proprio, individualizadocom toda a clareza; e, sobretudo, e perceptivel , sem sombrade duvida, como urn corpo em tres dirnensoes.Este caminho foi prosseguido por muitos artistas, emespecial do Proto-Renascimento, como Piero della Fran-cesca. Nas obras deste, a representacao poderosa e monu-mental dos personagens junta-se um aberto interesse pela

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    consrrucao -rnarematica- da paisagem e do meio ambientecircundante. E outro aspecto tipico do Renascimento.Mas 0 auge desta tendencia, 0 ponto mais alto desta,,;:i830,aqui como na escultura, sera atingido por MiguelAngelo: Has suas pinturas, 0 caracterfstico relevo dasfiguras obtido atraves do desenho acabara por se tornarexplosivo , por serem U tO turgidas, possantes e heroicas assuas representacoes do corpo humane: quase que 0 unico ,compulsive e obcessivo interesse do artista.A corrente a que chamamos progressista podemosacrescentar a que the era completamente oposta, a par da_ qual, todavia, ela se desenvolve durante todo 0 perfodo do_ Renascirnento. Charnar-lhe conservadora. e , evidente-mente, mais uma vez arbitrario. E, no entanto, 0 adjectiveexprime bem a dificuldade dos seus participantes emabandonarem por completo os magnificos resultados alcan-

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    Sandra Botticell i, 0nes ctmento devenus,.pormenor;Florenga, Galeriados Uffizi. Aelegancia da figura,com os seusharmoniososencaracolados e aati tude graciosa docorpo, tern, empinturas como asia,o lugar que naspinturas deMasaccio ou Pierodella Francescatem 0 volume e acorporalidade dospersonagens.

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    lucas Cranach, aVelho, Adao,Florenca, Galeriados LJffizi. A umamaneira de pintarmais baseada nosvalores l ineares ede cores do queem pesquisasvolurnetrlcas eespaciais - au seja,de expressao doespal to e daprofundldade=,tao-pouco forammsenstvets asartistasestrangeiros, comoe precisamente acaso de Granach.o que e logico,pais, apesar daotivia dlversidade,tal maneira depintar surge comomais proxima daque era tradicionalnos paisesn6rdicos. E tlplcode .Cranach 0 lundauni forme - azul,sepia, verde pal ldo- sobre que sedestacamasfiguras.,

    Pinturacados pelas geracoes passadas e, sobretudo, 0 aspectoimaginativo, alegre, colorido, gentil, das pinturas anterio-,_ ,res.Desejando a todo 0 custo sintetizar num elemento ou numconceito a obra destes pintores , poderernos dizer que, paraeles, a elegancia constitui aquilo que 0 relevo. era paraos artistas aqui recordados. A elegancia, acrescentemos,obtida atraves da utilizacao sapiente, magistral, daqueleelernentotecnico que se chama Iinha , au seja, 0 desenhode um objecto dado atraves dos seus contornos.Fra Angelico, Botticelli , Cranach, expoentes desta ten-dencia, nao se furtaram, evidentemente, a s novidades elicoes pr6prias do Renascimeuto: perspectiva, naturali smo,estudo da anatomia. Mas 0 seu interesse nao se virou tantopara a representacao da dura e corp6rea realidade flsica,quanto para a elegancia do gesto,do panejamento, dascores. Por urn lado, linhas esguias, corpos voluptuosos emfundos de lenda ou de sonho; par outro, severidade,monumentalidade, vigor. .

    Aquilo que varia e , sobretudo, a maneira de conceber 0quadro , Este, para uns, pode ser, num certo sentido, umpalco teatral, do qual sao tres os elementos que contarn: 0esp~o delimitado pelo Cm'lrio (arquitectura, montanhas,elementos naturais), as posicoes das figuras dentro desteespa~o e a relevo de cada figura n o interior do grupo de quefaz parte. Para outros - os que foram esquernatizados como adjective conservadores -, 0 suporte e, pelo contrario ,uma superficie , sabre a qual se representam cenas atravesdo desenho e das cores. Por isso, aquila que verdadeira-mente conta e 0 esquema que sistematiza essa superffcie e aelegancia das figuras que lhe correspondem. Em suma,conta mais a quadro do que 0 seu tema .

    .E este, em sfntese (numa sintese resumidissima), 0panorama da pintura ____c __ chamemos-lhe assirn - de tema,que tanto pode ser uma historia ou urn acontecimen to, comouma situacao. No entanto, ela nao e a unica do Renasci-mento, que desenvolve, au melhor, praticamente inventaurn outro genero , destinado ao maior sucesso: 0 retrato.Nao que antes se nao fizessern retratos. Mas 0 queimportava, durante a ldade Media, 0 que era pedido aopintor, era a papel do personagem em eflgie e nao a suapersonalidade, au os tracos do rosto. Ein suma, peso ou 0strnbolo, nunca 0 hornem. 0 Renascimento nao podiapartilhar de semelhante imposicao, absolutamente contraria

    a sua maneira de sentir, que tornava hornem, e tambem 049

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    Pinturao retratoAntonel lo daMessina, Retratode hom em , supostoauto-retrato;Londres, NationalGallery. A par epasse com 0interesse peloindividuo, 0Renascimentodesenvolveu 0interesse peloretrato. A formacaracterfstica e ado meio busto. Aprmclplo, 0personagem eraretratado de perfi l,diante de uma

    janela absrta. Masdepressa se imp6suma solucao mui tomais articulada: 0ret rato a I resquartos (comoeste) , com a figur arecor tada sobre umlundo sscuro.

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    indivlduo , no motor da cultura e do progresso. Os comiren-tes comecararn a querer retratos parecidos; e os pintores aproduzi-Ios,De infcio, como em todas as experiencias novas, ascapacidades tecnicas punham limites as possibilidades ex-pressi vas. Os primeiros retratos, de facto, foram executadosmostrando 0 modele inteiramente de perfil, au seja, pin-tando 0 rosto como se 0 pintor estivesse de frente 'para. 0ombro da pessoa a retratar, a qual olhava fixamente paradiante de si , Os resultados artlsticos sao excepcionais, arepresentacao das caracteristicas ftsicas e psicologicas e ,geralmente. excelente. Mas nao se pode negar que 0esquema seja falso, arbitrario e bastante limitative. Nin-

    guem nunea se viu desse maneira. No fundo, 0 pintor ainda

    Piero dellaFrancssca. Retratod o d uq ue Fe de ric oda Montefe/fro;Floren "a, Galeriados Uff izL Esle t ipode ret rato fai 0primeiro a serexper imentado noseculo x . 0modelo esta postoexactamente deperfi l: c lare, umasolucao simplesmas nem par issomuito realista,a inda que cadatrace lisionom;ico

    esteja reproduzioocom 0 maior r igor.Por out ro lado, 0pintar aindahesitava em saconcentrar apenasna ligura humana einser iu-a numambiente natural : efascinante, masdispersa a atencao.

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    nao se tinha libertado par completo das convencoes, dahabitual, disposicao plana dos sells retratados sobre asuperffcie a pintar. So 0 fundo sobre 0 qual ele projecta apessoa e que ja nao is plano, mas sim real: uma paisagem,apanhada nas suas Iinhas eorrectas e com as cores exactas.Paralelamente, tambem 0 rosto do modele sofria 0 mesmoprocesso: ja nfio e urn perfil de cartao, mas sim qualquercoisa de realistico, onde estao indicados com precisao ostraces dominantes, as caracteristicas ffsicas individuals.Depois, no decorrer de poucas decadas, os pintores come-caram a representar os modelos numa pose mais natural, atres quartos, ou seja, como se estivessem a ser olhados poralguem que estivesse na sua frente, mas de lado. Adquiridacoufianca nos seus proprios meios, cornecaram a abolir par

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    A lnsereao nanaturezao interesse pelosaspectos do mundofls lco levou a quaseconstante presenceda paisagem e, porvezes, areproducao dosproprios fen6menosnaturals: aqui, urnatempestade.

    completo a paisagem do segundo plano, substituindo-a porurn fundo escuro, sobre 0 qual se destaca 0 personagem. Poroutro lado, substituiram gradualmente a pintura a oleo, comas suas cores quentes e suaves, pela pin t um a tempera, detonalidades mais frias, de superficie mais l isa e muito rnais. diffcil de utilizar quando escolhida para pintar urn retratoque tivesse.de dar a ilusao da realidade.Entretanto, tambem a paisagem tendia a tornar-se nao jaurn fundo, mas sim a tema principal, ou exclusivo, de umdetenninado tipo de quadros, ,s6 a ela dedicados, A tenden-

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    Giorgione, Atempestade,pormenor; Veneza,Museu daAcademia. Ospintores da Italiacentral concebiamum quadro comoum desenhocolor ido. Ospintoresvenezianos, parseu turno,sentiam-nosobretudo como umconjunto de cores,distribuidassegundo umdesenho. Por isso,davam menosimportancia a linhae ao rigor daperspectiva. Ebaseavam-se naut l l izacao sapienteda s cores. AquiGiorgione consegueum impartanleresul tado tecnieo: apintura tonal ; l sto e,obtern efe itos defuzes e sombras eo pr6pr io r elevo dasf iguras atravss deum progressivoesbatimento ouavivamento daslonalidades.

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    cia para este genero comeca exactamente no Renascimento,embora nao chegue ao seu termo nessa epoca, Num certosentido, e 0 contraponto necessario a afirmacao do retrato.Primeiro, os dois temas coexistiram na mesma pintura,meio arnbiente e homem, constituindo cada urn deles, em simesmo, urn genero. Vimos 0 desenvolvirnento do pri-meiro. No que respeita ao segundo, ele mostra, ate ao fimdo seu aparecimento, duas correntes. Por urn lado, asatencoes viram-se para a paisagem natural, isto e, repre-sentam-se ambientes urbanos e arquitectonicos (sao tipicos

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    e famosissimos os dos pintores venezianos, que mostram,na sua realidade festiva e variegada, a vida de Veneza e dosseus habitantes) , reais au imaginaries. Este ult imo aspectovai tomando importancia aos poucos, dando origem aquele Iimponente fen6meno que sera, nos periodos seguintes, a I~decoracao piet6rica dos sofitos dos palacios e das igrejas \com arquitecnrras fingidas. INos seculos XV e XVI, produziram-se excelentes exern-plos de ambos os generos. Mas deve salientar-se uma coisa:nunea se chegou nem a excluir dos quadros a figurahumana, ainda que 0 terna principal fosse a paisagern, nema dar a esta uma irnportancia de mero contorno , deacessorio. Isto vira a ser urn fruto de evolucoes posteriores.Durante todo 0 Renascimento, 0 interesse pelo homempennaneee demasiado vivo. Ele surge sernpre, f isicamentee tarnbem como tema, pelo menos aparente, adequado, doquadro. Nas cenas pintadas mais tarde, em que 0 interesse

    incide sobre a representacao da arquitectura, e evidente , aterevelado, 0 valor da perspectiva. Quase pareee que a pinturafoi concebida e executada para demonstrar as possibilidadesda nova tecnica de reproducao dos objectos (e, por vezes, ernesmo assim). Assim, 0 ponto: de fuga e quase semprecentral , is to e . , todas as Iinhas da construcao convergempara urn unico ponto a meio da composicao. E frequente I'adoptar-se , noutros casos, uma forma global para toda apintura, de rnaneira a mostrar inequivocamente 0 esquema(veja-se, na pagina 55, onde 0 fresco, pintado sobre umsofito, representa uma lanterna circular: as personagenspintados a toda a sua volta mostram com suficiente eviden-cia que 0 ponto de vista exacto para se olhar a composicao ea centro da falsa Ianterna).Finalmente - e born nao 0 esquecer -, a esmagadoramaioria das pinturas renascentistas tinha temas e origensreligiosas. Figuras de santos, episodios da Biblia, apote-oses, temas simbolicos ou rituais: eram encomendas destetipo que mantinha a arte viva. E de todos des se encontram

    numerosos exemplos nas pinturasrenascentistas. Mas haurn tema que prevalece sobre todos os outros: a representa-yao da Virgem com 0 Menino. Quase nao houve urn pintornos seculos XV e XVI que 0 nao tivesse enfrentado pelomenos uma ou duas vezes - mas, regra geral, muitas.Alguns, como Rafael, fizeram dele, exclusivarnente, 0 selltema caracteristico. Claro que nfio tinham fim as maneirasde pintar 0 tema e que as variantes sao imensas. Mas apenasuma era dominante, sugerida pela tradicao e, ao mesmo

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    A exibi~ao daperspectlvaAndrea Mantegna,sol ita da Cameradegli Sposi , Mantua,Palac io Ducal . Aperspectiva e apreocupacaodominante destaplntura, que sera 0arqusnpo de todauma gram-je ssrle:a das .omamentac,:Oescom jogos deperspectiva dossofitos de palaciose igrejas. 0 frescorepresenta urngrande oculoaberto para 0ceu, no sofito deuma sa la, em cu jorebordo se juntamdiversas pessoas eanimais.

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    Os esquemascompositivosRafael Sanzia,Ma do na d elcardellino;Florence, Galeriados Uffizi. Naspinturas, tal comona estatua ria, acomposlcao empiramide e , delonge, a queprevalece:principaJmenle, nosgrupos sacros,entao em grandevoga. Muilas vezes ,acrescenta-se-Ihe,ou en tao faz par tedela, urn fundopaisagistico. Fundoesse que pode sermeramente naturalau arquitect6nico,mas que e semprecomposto segundoesquemasregulares.

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    tempo, na l inha das novas orientacoes, majestoso e funcio-nal: ditado, na pratica, pela pr6pria natureza do tema.Trata-se da disposicao das figuras - mae e filho -,dispostas dentro duma piramide. 0 que significa que adisposicao das suas linhas exteriores deve formar umtri f i ngu 1 0 , tendo como base os pes e a orla das vestes da _Madona e, como vertice , a cabeca da propria Virgem. E , defacto, este 0 esquema fixo, absolutamente tipico , dasMadonas do Renascimento. Claro que as possibilidades demodificar tal esquema eram diversas, gracas a utilizacao deprocessos cad a vez mais sofisticados: contrapposto, porexemplo, que e 0 subterfugio que mostra certas partes docorpo em rotacao, relativamente a s outras (numa figurasentada, vemos os pes voltados para a direita, enquanto acabeca esta virada para a esquerda, com um efeito de torsao

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    o sfurnatoleonardo da Vinci ,Ma do na d elgarofano; Munique,Alte Pinakothek_ 0grande Leonardofoi mes lre numatecnica de pinluraespecialissima: 0claro--escuro, auseja, um desenhodas sornbras, taorequintado egradual que lornaextremamentesuaves , quase naose dando par elas,as passagens daszonas iluminadaspara as zonassombreadas. Estatecnlca, conhecidacomo sfumato,d e. um caractsrmuito par ticular assuas obras , queparecem ser vistasat r aves como quede um finissimoveu: assim,. apercebem-semelhor aspormenores maiscomplexes.

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    de todo 0corpo que da movimento e vida 11imagem); ouentao 0 -claro-escuro (no qual 0 grande Leonardo foimestrej, tecnica que faz esbater os contornos das figuras,niio atraves do desenho , mas sim atraves das passagens daluz para a sombra, isto 06, do contraste entre as partesbanhadas pela luz e as partes imersas na sombra: 0 conjuntofica curiosamente esfumado (0 chamado sfumato), como seo quadro fosse visto atraves de urn veu,Sao estes, em stntese, os esquemas; ou, por outraspalavras, 0 exame - em linhas muitlssimo gerais - dasform as e metod os adoptados para coligir os elementoscompositivos mais caracteristicos e mais facilmente reco-nheciveis na pintura do Renascimento.Esta arte, que s6 por si enche as pinacotecas e museus domundo inteiro , dell azo a uma quase incrtvel e fantastica

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    r PinturaOs esquemasgeometricostam bern figuramnas composlccescomplexasAlbrecht Durer,A do ra qa o d aTrindade; Viena,KunsthistorischesMuseum. Se hauma constants quepercorre todo 0desenrolar doR.enascimento, elae a procure deesquemasracionais, em todasas situacees. Umaobra renascentistae sempreoonstrulda-mentalmente: deuma manei ra clarae segundorigorosos canonesgeometricos,. E enisto que reside,ineqavelrnente,mult o do seufascfnlo.

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    explosao de genio; estabeleceu regras e rnodelos de com-portamento que ainda hoje nos condiclonam; encerroudefinitivamente a Idade Media: - mil anos de hist6ria ecultura! - e iniciou a historia modema. Tude isto empoucas decadas, nurn pais que revelou neste brevissimoperiodo mais artistas que todos as que outros perfodostiveram em toda a sua existencia. Os esquemas nao podemexplicar a vitalidade e a forca de uma tal arte melhor do quea observacao de urn facto pode indicar a personalidade e 0caracter de quem 0 enverga. Mas talvez consigam ser - eja sera rnuito - 0 primeiro passo para a compreensao eapreciacao de urn dos periodos mais fecundos, significat i-vos e interessantes ,.vivos e movirnentados.Comecar bern, costuma dizer-se , e meio carninho an-dado.