Como Suspeitar e Identificar Precocemente a Dislexia (2)

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“Dislexia: Como Suspeitar e Identificar Precocemente o Transtorno na Escola”. Releitura de profissionais de Neurociências, com enfoque PEDAGOGICO e FONOAUDIOLOGICO pelas fonoaudiólogas e especialistas em psicopedagogia Lana Bianchi e Vera Mietto A identificação precoce de um possível ou suposto quadro de dislexia no ambiente escolar, sensibiliza os profissionais da educação ao exercício de um novo olhar: “olhar” mais cuidadoso, criterioso, investigativo e com mais participação na vida escolar dessa criança. O diagnóstico que envolve a exclusão de outras condições e dificuldade por parte da criança, deve voltar-se para uma serie de sinais e sintomas muito peculiares, que podem sugerir a suspeita e levar a busca de profissionais especializados para tal Dislexia

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“Dislexia: Como Suspeitar e Identificar Precocemente o Transtorno na Escola”.

Releitura de profissionais de Neurociências, com enfoque PEDAGOGICO e

FONOAUDIOLOGICO pelas fonoaudiólogas e especialistas em psicopedagogia

Lana Bianchi e Vera Mietto

A identificação precoce de um possível ou suposto quadro de dislexia no

ambiente escolar, sensibiliza os profissionais da educação ao exercício de um

novo olhar: “olhar” mais cuidadoso, criterioso, investigativo e com mais

participação na vida escolar dessa criança.

O diagnóstico que envolve a exclusão de outras condições e dificuldade

por parte da criança, deve voltar-se para uma serie de sinais e sintomas muito

peculiares, que podem sugerir a suspeita e levar a busca de profissionais

especializados para tal diagnóstico.

Neste contexto, é difícil estabelecer critérios precoces para esta

identificação, pois acompanhar o desempenho evolutivo de uma criança é um

dos marcadores para inferir inadequações neste desenvolvimento. Sabemos

que podem surgir atrasos no desenvolvimento motor e linguístico,

inadequações nas fases desse desenvolvimento e superação delas em

ambiente familiar estimulador ou não, além de outros fatores que possam

Dislexia

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implicar direta ou indiretamente no desempenho formal do aprendizado de

leitura e escrita.

Estabelecer estratégias e metas novas e eficazes para que crianças

desenvolvam o mais correto possível suas habilidades sensoriais e motoras

para atingir o contexto formal escolar, sem grandes atribulações é fundamental

já que, qualquer aprendizado pedagógico passa pela aprendizagem informal,

aprendizado esse que depende do ambiente, da família, da sociedade e das

particularidades individuais de cada ser.

Aprender é algo único, e neste aspecto devemos valorizar as pequenas e

altas habilidades, pois deste modo, precocemente perceberemos aqueles com

mais habilidades para raciocínio, cálculo, e aqueles com habilidades mais

linguísticas e assim, facilitamos sua integração no contexto pedagógico formal

Habilidade para Desenvolver a Escrita e Leitura

Os processos cognitivos que resultam em aquisição do processo de leitura e

escrita formam uma base, como apresentaremos:

(1) Conhecimento de (leitura) e (nome) dessas letras:

É importante que esse conhecimento não venha de uma sequência

automática de memória do abecedário e sim de conhecimento e

reconhecimento de grafemas e o nome que esses grafemas possuem.

2) Consciência Fonológica:

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Envolve a habilidade em que a criança aprende a ouvir com o Ouvido

Neurológico, associando sons e letras e com essas transposições entre os

sinais auditivos corresponder-se a símbolos gráficos, oriundos das unidades

articulatórios da fala.

(3) Aptidões da Fala e Linguagem:

Direciona a criança para dentro de um processo de aprendizagem formal,

e através dele podemos entender que, quando uma criança está na escola, ela

já adquiriu a fala (oralidade), já possui uma estrutura linguistica oral, e a partir

deste processo adquirido irá construir um novo processo: a escrita, e em

conseqüência, a leitura.

Quando esta criança não tem uma boa estrutura de linguagem oral que

comporte uma estrutura textual, dificilmente conseguirá fazê-lo dentro de uma

estrutura na escrita. Quando apresenta uma oralidade contaminada por

substituições e omissões, essas trocas aparecerão no processo de aquisição da

escrita, é necessário verificar suas estruturas anteriores (pré-requisitos) para

que a possibilidade de transpor para leitura e escrita esteja adequada.

(4) Atenção Sustentada:

Nascemos com uma atenção automática que é uma resposta aos

estímulos e estes provocam essa atenção para uma resposta a estímulos

fortes, com grande intensidade, e estes fazem seus registros de automatismo.

É essa atenção que persiste na criança durante o aprendizado informal.

Para integrarmos ao aprendizado formal (pedagógico) precisamos da

extensão desta atenção voluntária, escolher o que queremos focar, saber

relacionar com a situação e contexto escolar. Mais do que isso, se faz

necessário uma sustentação para este foco, que é uma habilidade que

depende da maturação do lobo frontal, de uma maturação neurológica, que

depende de muito treino, adaptação, adequação, e intensa participação da

criança.

Esta atenção sustentada é que mantém as zonas de associação com a

atenção auditiva para o aprendizado, possibilitando a retenção, ou seja, a

consolidação do conhecimento. Deste modo podemos compreender a

necessidade e importância do treino dessa habilidade (talvez a que mais

necessite de treino) na primeira infância (no ensino infantil pré-requisitos

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ligados a fase sensório-motor).

(5) Memória Operacional

Esta memória é que nos conduz a memória de trabalho, ou seja, é

necessário muito treino com a memória operacional no período da

aprendizagem informal para que através das habilidades exercitadas da

criança, ela possa seguir para aprendizagem estrutural e assimilar o significado

e significante dos símbolos sonoros. Essa correspondência se transformará em

imagens mentais abstratas e concretas, em nomeação, relações de fatos com

sons para que efetive as relações de oralidade e imagens (codificar e

decodificar), estabelecendo significado ao que se aprende.

Neste processo complexo, a maturação neurológica, as zonas de

aprendizado e as relações nas áreas frontotemporais são essenciais: a

memória auditiva de curto prazo relacionando-se com muitas associações para

que a memória de longo prazo efetive o conhecimento e dê seguimento ás

próximas etapas linguisticas.

Das Dificuldades:

Como entender: os DIS? Dislexia, Disortografia, Disgrafia, Discalculia...Para

cada hipótese, temos um entendimento neurológico e evolutivo de cada

expressão e seu respectivo significado:

1) Dislexia:

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É a incapacidade de processar o conceito de codificar e decodificar a

unidade sonora em unidades gráficas, (forma de grafemas) com capacidade

cognitiva preservada (nível de inteligência normal). Os disléxicos têm

capacidade para aprender todas as funções sociais e até altas habilidades,

desde que, bem diagnosticado, seja trabalhado em suas áreas corticais

favoráveis e com estratégias e intervenções adequadas. Essa intervenções

devem valorizar suas funções viso-motoras, imagens com significado e

significante associados a ritmo e memória visual auxiliando sua memória

auditiva, para que desenvolva a capacidade por outras rotas (sabido que

sua rota fonológica é prejudicada).

2) Disortografia:

Definimos como disortografia, os erros na transformação do som no símbolo

gráfico que lhe corresponde. Nem sempre a disortografia faz parte da

dislexia e pode surgir nos transtornos ligados á má alfabetização, na

dificuldade de atenção sustentada aos sons, na memória auditiva de curto

prazo (Déficit de Atenção) e também nas dificuldades visuais que podem

interferir na escrita. Quando não estão co-morbidas à Dislexia, o prognóstico

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é melhor.

3) Disgrafia:

Não se pode confundi-la ou compará-la com disortografia, pois a disgrafia

tem características próprias. A criança com disgrafia apresenta uma escrita

ilegível decorrente de dificuldades no ato motor de escrever, alterações na

coordenação motora fina, ritmo, e velocidade do movimento, sugerindo um

transtorno praxico motor (psicomotricidade fina e visual alteradas).

4) Discalculia:

A Discalculia do desenvolvimento é uma dificuldade em aprender

matemática, com falhas para adquirir adequada proficiência neste domínio

cognitivo, a despeito de inteligência normal, oportunidade escolar,

estabilidade emocional e motivação. Não é causada por nenhuma

deficiência mental, déficits auditivos e nem pela má escolarização. As

crianças que apresentam esse tipo de dificuldade realmente não conseguem

entender o que está sendo pedido nos problemas propostos pela professora.

Não conseguem descobrir a operação pedida no problema: somar, diminuir,

multiplicar ou dividir. Além disso, é muito difícil para elas entenderem as

relações de quantidade, ordem, espaço, distância e tamanho.

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Aproximadamente de 3 a 6% das crianças em idade escolar tem discalculia

do desenvolvimento (dados da Academia Americana de Psiquiatria). De um

modo geral, o prognóstico das crianças com discalculia é melhor do que as

crianças com dislexia, ou pelo menos, elas tem sucesso em outras

atividades que não dependam desta área de calculo numérico.

Conclusão:

Todo trabalho escolar, da vida acadêmica de uma criança deve ser

investigado precocemente, desde seus primeiros momentos em berçários,

creches, escolas infantis, pois a detecção de falhas ou inabilidade no seu

D.N.P.M. (desenvolvimento neuropsicomotor) será precioso para atendê-la

melhor, até seu inicio ao ensino formal, respeitando seu ritmo, mas

oferecendo-lhe oportunidade de uma boa intervenção, caso descubra-se

precocemente esta falha ou incapacidade.

O pré-diagnóstico no âmbito escolar é excelente para o aluno, para a

escola, para os pais e a sociedade, onde não se atropela o desenvolvimento e

nem permite más condutas com gastos desnecessários no futuro.

Todos devem participar desse novo olhar: professores, direção de escola,

pais, psicopedagogos, e outros profissionais envolvidos direta ou indiretamente

na alfabetização.

Lana Cristina de Paula Bianchi- Fonoaudióloga, Pedagoga, Psicopedagoga,

Atuaçao em Neurociencias em Crianças e Adultos na FAMERP- FUNFARME- Sao

Jose Rio Preto- SP- Especialista em linguagem no Projeto Gato de Botas-

Disturbios de Aprendizagem; www.projetogatodebotas.org.br; CRFa: 2907-

1982- PUCC- Campinas-SP- Profa na Disciplina de Psicologia-UNILAGO- São Jose

Rio Preto-SP- Linguagem e Cogniçao- 2010- Orientadora em monografias no

curso de pos-graduaçao de Psicopedagogia- Famerp- 2010- Campo de

pesquisa: Linguagem infantil e adulto-

Vera Lucia de Siqueira Mietto, Fonoaudióloga, Psicopedagoga,

Neuropedagoga e Tutora EAD do www.chafic.com.br e www.ceitec.com.br em

Neurociencias, Dislexia e TDAH e docente dos cursos de Pos -Graduação do

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Censupeg nos cursos de Neuropsicopedagogia e Psicopedagogia e da UNICEAD

na Pós Graduação de Monte Claros e Sete Lagoas -MG e Sete Lagoas

Referências bibliográficas:

“Leitura, Escrita e Dislexia” – Uma análise cognitiva – Andrew W. Ellis – 2ª edição – Editora Artmed

“Entendendo a Dislexia” – Um novo e completo programa para todos os níveis de problemas de leitura – Salley Shaywitz – Reimpressão 2006 – Editora Artmed

“Dificuldades de Aprendizagem” – detecção e estratégias de ajuda – Ana Maria Salgado Gomez Nora Espinosa Tenan Edição Mmix

“Transtornos de aprendizagem – Abordagem neurológica e multidisciplinar”Newra RottaLígia OhhweilerRudimar dos Santos RiesgoEd Artimed, 2006

“Dislexias”Arrne Van HoutFrançoise EstieneEd Arttimed, Porto Alegre, 2001

“Neurociência Aplicada à Aprendizagem”Telma Pântano Jaime ZorziEd Pulso, São José dos Campos. 2009

Sites:

www.lerecompreender.com.br/palestras.asp- Dislexia: Como Suspeitar e Identificar

Precocemente o Transtorno na Escola”,2010

http://cursoschafic.com/neurociencias.html,

http://cursoschafic.com/dislexia.html,

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