Como Um Feixe de Juncos _ Michael Laitman

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    Como Um Feixe de Juncos

    Como a União e a Responsabilidade Mútua

    São a Necessidade do Momento

    Laitman Kabbalah

    Publishers

    Michael Laitman, PhD

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    Como um Feixe de Juncos

    Como a União e a Responsabilidade Mútua

    São a Necessidade do Momento 

    Copyright © 2013 por Michael Laitman

    Todos os Direitos Reservados

    Publicado por Laitman Kabbalah Publishers

    1057 Steeles Avenue West, Suite 532, Toronto, ON, M2R 3X1, Canada

    2009 85th Street #51, Brooklyn, New York, 11214, USAImpresso no Canadá

     Nenhuma parte deste livro pode ser reproduzida por qualquer meio sem a permissão porescrito da editora exceto no caso de citações breves em resenhas ou críticas de livros.

    ISBN: 978-1-897448-82-3

    Pesquisa: Norma Livne, Masha Shayovich, Sarin David, David Melnitchuk,Christiane Reinstrom, Kristian Dawson, Dr. David Martino, Ciro Grossi

    Tradução para o português: Bnei Baruch Portugal

    Revisão: Bnei Baruch Brasil

    Editor Executivo: Chaim Ratz

    Pós Produção: Uri Laitman

    Primeira Edição: JANEIRO 2014

    Primeira Impressão

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    Índice

    PREFÁCIO .............................................................................................................................. 5

    ........................................................................................................................ 9

    CAPÍTULO 1  Uma Nação Nasce ........................................................................................... 14

    CAPITULO 2 Quero, Logo Sou .............................................................................................. 21

    CAPÍTULO 3 Correções através das Eras ............................................................................... 26

    CAPÍTULO 4 Uma Nação numa Missão ................................................................................. 35

    CAPÍTULO 5 Exilados ........................................................................................................... 43

    CAPÍTULO 6 Dispensáveis .................................................................................................... 49

    CAPÍTULO 7 Sinos Misturados .............................................................................................. 59

    CAPITULO 8 Juntos Para Sempre .......................................................................................... 72

    CAPÍTULO 9 Pluralmente Falando ......................................................................................... 78

    CAPÍTULO 10 Viver num Mundo Integrado........................................................................... 89

    POSFÁCIO ......................................................................................................................... 105

    Notas .................................................................................................................................... 107

    O Autor e Sua Obra............................................................................................................... 115

    Informações para Contato ..................................................................................................... 119

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    Como eu vim a escrever este livro

     Nasci em Agosto de 1946 na cidade de Vitebsk, Bielorrússia. Era o segundo verão depoisdo fim da Segunda Guerra Mundial, minha vida era preguiçosa, lentamente mancando

     para trás em direção à afável monotonia da normalidade. Sendo o filho primogénito deum pai dentista e uma mãe ginecologista, tive uma infância despreocupada,convenientemente crescendo num bairro suburbano, não tendo preocupações materiaisque a maioria dos meus amigos de infância tinha.

    E todavia, uma sombra me perseguia pela minha infância e até durante a minhaadolescência: o espectro do Holocausto, esse fantasma que muitos nunca escolhemmencionar, embora esteja sempre lá. Nomes de familiares ou amigos que pereceramforam mencionados num tom sombrio lhes dando uma presença estranha, como se ainda

    estivessem conosco, embora soubesse que nunca estiveram.E mais estranha ainda era o asco dos meus colegas Russos dos Judeus. Crianças com asquais cresci odiavam Judeus simplesmente porque eram Judeus. Elas sabiam o que tinhaacontecido aos seus vizinhos Judeus há apenas um ano atrás, mas eram tão sarcásticas einsensíveis como antes da guerra, o que me foi contado pelos mais idosos. Isto, eu nãoconseguia entender. Porque eram eles tão odiados? Que mal imperdoável os Judeusfizeram? E de onde tinham eles aprendido essas histórias de horror sobre as coisas que osJudeus podiam fazer?

    Como seria de esperar do filho de pais em profissões de medicina, eu, também, assumi a profissão médica como minha carreira "de escolha." Estudei bio-cibernética, uma ciência

    que explora os sistemas do corpo humano, e tornei-me um cientista, um investigador noInstituto de Pesquisa do Sangue de São Petersburgo. E enquanto fantasiava comigomesmo radiando orgulho sobre o púlpito em Estocolmo na Suécia, vencedor de umPrémio Nobel, uma paixão profunda que já nutria e que vinha à superfície da minhaconsciência. "Eu quero compreender o sistema," comecei a pensar, "saber como tudofunciona." Mas mais que tudo, comecei a ponderar porque tudo era da maneira que era.

    Enquanto cientista de coração, comecei a pesquisar respostas cientificas que pudessemexplicar tudo, não só como calcular a massa de um objeto ou a aceleração de sua queda,mas o que causava esse objeto a existir em primeiro lugar. E dado que não consegui acharuma resposta na ciência, decidi avançar. Depois de ser um refusenik (Judeus soviéticos a

    quem era negada permissão para emigrar para o estrangeiro) durante dois anos, finalmenteobtive a minha licença e parti para Israel em 1974.

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    Em Israel, continuei a procurar o sentido e a razão por trás de tudo. Dois anos depois deter chegado a Israel, comecei a estudar Cabalá. Mas não foi até Fevereiro de 1979 queencontrei o meu professor, o Rabash, o filho primogénito e sucessor do Rav Yehuda LeibHaLevi Ashlag, conhecido como Baal HaSulam (Dono da Escada) pelo seucomentário Sulam (Escada) sobre O Livro do Zohar .

    Finalmente, minhas orações foram respondidas! Cada dia, cada hora, novas revelaçõesdespertavam em mim. As peças do quebra cabeça da realidade caíram em seu lugar umade cada vez e uma imagem coerente do mundo começou a se formar perante mim, comose o nevoeiro em si mesmo estivesse se formando diante de meus olhos atônitos.

    Minha vida havia sido transformada e eu submergia a mim mesmo nos estudos e emassistir o Rabash da maneira que conseguia. Era sortudo o suficiente para ser capaz desuportar a minha família com apenas algumas horas de trabalho todos os dias e dedicavao resto do meu tempo a absorver a sabedoria tanto e quão profundamente podia. Paramim, vivia numa realidade de sonho. Tive uma maravilhosa família, vivia num país ondeme sentia realmente livre, tinha uma boa vida com facilidade e tinha encontrado as

    respostas às minhas perguntas vitalícias.

    Uma dessas perguntas persistentes era aquela sobre o ódio aos Judeus. Na Cabalá,descobri porque acontece, porque é tão persistente e mais importante, o que deve ser feito

     para o curar. Certamente, antissemitismo é uma ferida no coração da humanidade, um ecode uma dor não curada que o mundo carrega há praticamente 4000 anos, desde Abraão,nosso Patriarca, ter deixado a Babilônia.

    A Cabalá ensinou-me que Abraão tinha proposto ao seu povo se unir e ser uma vez maisde "uma língua e uma fala" (Génesis 11:1), e que Rei Nimrod, governante da Babilônianessa altura, tinha proibido Abraão de circular a sua ideia. Gradualmente, vi que o que o

    mundo agora precisa é dessa mesma união, essa camaradagem e responsabilidade mútuaque Abraão havia desenvolvido com seu grupo e descendência e que Rei Nimrod o tinhaimpedido de doar aos seus irmãos e irmãs Babilônios.

    Em uma aula matinal, meu professor, o Rabash, ensinou-me a " Introdução ao Livro do Zohar ," de Baal HaSulam. No final dele, Baal HaSulam escreveu que a menos que osJudeus doassem ao mundo o conhecimento e orientação para a união, as nações do mundodesprezariam os Judeus, os humilhariam, os expulsariam para fora da terra de Israel e osatormentariam onde quer que estivessem. Havia lido esse ensaio insondávelanteriormente, mas nessa manhã teve um impacto mais profundo em mim. Senti outrafase no meu desenvolvimento a emergir por dentro.

    Mais tarde nesse dia, fomos até Kfar Sába, uma pequena cidade perto de Telavive, a umKolel (seminário judaico) com o nome do meu estimado mentor. Na cave, o Rabashmostrou-me uma caixa de cartão de tamanho médio cheia até à borda de pequenos

     pedaços de papel. Ele perguntou-me se o levaria para o carro e o traria para a sua casa.

    Coloquei a caixa na mala do carro e no caminho de volta perguntei-lhe o que eram esses papeis na caixa. Sem a menor cerimónia ele murmurou, "Alguns velhos manuscritos deBaal HaSulam." Eu olhei para ele, mas ele olhou diretamente para a estrada à frente emanteve-se silencioso todo o caminho de volta.

     Nessa noite, as luzes estavam acesas na cozinha de Baruch Ashlag toda a noite. Fiquei láe li meticulosamente cada pedaço de papel até que descobri um que não me deixaria

     procurar mais. Era a peça do quebra cabeça que procurava sem sequer o saber. Era ocapeamento, o primeiro passo na marcha que estava prestes a tomar doravante.

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    O papel que tinha encontrado, que é agora parte de "Os Escritos da Última Geração"  deBaal HaSulam," contava um conto de agonia e sede, amor e amizade, libertação ecompromisso. Aqui estão as palavras que descobri: "Há uma alegoria sobre amigos queestavam perdidos no deserto, esfomeados e sedentos. Um deles havia encontrado umacampamento abundantemente cheio de cada delicia. Ele lembrou-se dos seus pobres

    irmãos, mas ele já se havia afastado deles e não sabia onde estavam. ...Ele começou agritar alto e a soprar o chifre, talvez seus pobres, amigos esfomeados escutassem sua voz,se aproximassem e viessem a esse acampamento abundantemente cheio de cada delícia.

    "Assim é a questão perante nós: nós nos perdemos no terrível deserto juntamente comtoda a humanidade e agora encontramos um grande e abundante tesouro, nomeadamenteos livros da Cabalá. Eles preenchem nossas ansiosas almas e nos preenchemabundantemente com exuberância e acordo.

    "Somos saciados e há mais, mas a memória dos nossos amigos deixadosdesesperadamente no terrível deserto permanece fundo dentro dos nossos corações. Adistância é grande e palavras não conseguem abrir caminho entre nós. Por esta razão,

    temos de montar esta trombeta para soprar com força para que nossos irmãos possamescutar e se aproximar e serem tão felizes como nós.

    "Saibam, nossos irmãos, nossa carne, que a essência da sabedoria da Cabalá consiste deconhecimento de como o mundo desceu do seu lugar elevado e celestial ao nosso estadoignóbil. ...É desta forma muito fácil descobrir na sabedoria da Cabalá todas as correçõesfuturas destinadas a vir dos mundos perfeitos que nos precedem. Através dela saberemoscomo corrigir nossas maneiras doravante.

    ". . .Imaginem, por exemplo, que certo livro histórico fosse descoberto hoje, que descreveas últimas gerações milhares de anos a frente, descrevendo o comportamento tanto dos

    indivíduos como sociedade. Nossos líderes procurariam cada conselho para organizar avida aqui correspondentemente, e nós não chegaríamos às manifestações nas praças.Corrupção e o terrível sofrimento cessariam e tudo chegaria pacificamente ao seu lugar.

    “Agora, distintos leitores, este livro encontra -se aqui diante de vocês, em um armário.Ele afirma explicitamente a inteira sabedoria do estadismo e as condutas da vida privadae pública que virão a existir no fim dos dias. Eles são os livros da Cabalá, onde os mundoscorrigidos estão dispostos. Abram estes livros e encontrarão todos os bonscomportamentos que virão a aparecer no fim dos dias e encontrarão dentro deles as boaslições pelas quais ordenar as questões mundanas hoje também.

    “...Não consigo mais me conter. Resolvi divulgar as condutas da correção do nosso futuro

    definitivo que descobri pela observação e pela leitura nestes livros. Decidi sair ao povodo mundo com esta trombeta e acredito e estimo que ela será suficiente para reunir todosaqueles que merecem começar a estudar e a mergulhar nos livros. Assim eles sesentenciarão a si mesmos e ao mundo inteiro a uma escala de mérito. ”1 

    Cerca de um ano depois de descobrir estes artigos, publiquei os meus primeiros três livroscom a orientação e apoio do meu professor. Tenho publicado livros desde então e circuleia Cabalá por numerosos outros meios, também.

    A realidade de hoje é muito dura, e as pessoas frequentemente não têm paciência oudesejo de mergulhar em livros, como Baal HaSulam imaginara. Mas a essência dasabedoria, o amor, e a união que são as fundações da realidade e que a Cabalá instiga nosseus praticantes, permanecem tão verdadeiras como sempre foram.

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    Além do mais, desde o virar do século, o antissemitismo tem aumentado uma vez mais,desta vez por todo o mundo. O espectro e o ódio aos Judeus enraizaram-se mundialmente.Se espalhando furtiva e venenosamente, ele ameaça infestar nações inteiras com fobia de

     judeus e repetir os horrores do passado.

    Mas agora sabemos qual é a cura. Cada vez que os Judeus se unem, a serpente escondea sua cabeça. O espírito de camaradagem e responsabilidade mútua que sempre foram anossa "arma," nosso escudo contra a adversidade. Agora devemos reunir esse espírito,nos vestirmos com ele e deixar que o seu calor curativo nos rodeie. E assim que otenhamos feito, devemos partilhar esse espírito com o resto do mundo, pois esta é a nossavocação, a essência do nosso ser "uma luz para as nações."

    E assim, porque todos precisamos de respostas para as nossas perguntas mais profundas, porque bem fundo todos os Judeus querem saber a cura para o antissemitismo e porque éo legado do meu professor e de seu pai e grande professor. Decidi detalhar o que significaser um Judeu, o que significa ser comprometido e o que significa partilhar. Mas acima detudo, eles me ensinaram o que significa amar o Criador.

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    “Se uma pessoa pegasse num feixe de juncos, ela não os conseguiria quebrar todos deuma vez. Mas se pegasse um de cada vez, até uma criança os quebraria. Assim também,

    Israel não será redimida até que todos sejam um feixe."

    Durante a história do povo Judeu, união e garantia mútua (conhecida comoresponsabilidade mútua) têm sido os emblemas de nossa nação. Inumeráveis sábios elíderes espirituais escreveram sobre o significado destas duas marcas registradas, ashasteando como o coração e alma da nossa nação, e declarando que salvação e redenção

     podem chegar somente quando houver união em Israel.

     Na realidade, o conceito de união tem sido tão proeminente que excedeu o da devoção aoCriador e a observação dos mandamentos. Um número considerável de líderes espirituaisJudeus e escrituras sagradas durante as gerações sublinham a importância da união acimade tudo.  Masechet Dérech Eretz Zuta, escrito aproximadamente na mesma época doTalmude, é uma das numerosas declarações escritas nesse espírito: "Mesmo quando Israeladora ídolos e há paz entre o povo, o Senhor diz, 'Eu não tenho desejo de lhes fazer mal.'...’Mas se eles são contestados, o que se diz sobre eles? 'Seu coração está dividido, agoraeles carregarão sua culpa’." 2

    Depois da ruína do Segundo Templo, a proeminência da união e amor fraterno alcançaramum pico. O Talmude Babilônico, entre muitas outras fontes, ensina-nos que a razão pelaqual o Segundo Templo foi arruinado foi ódio sem fundamento e a divisão dentro deIsrael. As fontes até declaram que ódio sem fundamento é tão prejudicial, que ele equivaleao impacto dos três grandes males que causaram a ruína do Primeiro Templo, todos

     juntos: idolatria, incesto e derramamento de sangue. Masechet Yomá ensina-nos essa liçãomuito claramente: "O Segundo Templo... porque foi ele arruinado? Foi porque havia ódiosem fundamento nele, ensinando-vos que ódio sem fundamento é igual a todas as trêstransgressões, idolatria, incesto e derramamento de sangue, combinadas." 3

    Evidentemente, união, fraternidade, e responsabilidade mútua não estão somente no ADNda nossa nação, elas são a substância da linha da vida que nos poupou de aflições quandoas tivemos, e permitiu que aflições se revelassem quando não as tínhamos. Nestes temposdifíceis de benefício próprio e narcisismo, precisamos de união mais que nunca, todaviaela parece mais inacessível que em qualquer outro tempo na história.

    Há cerca de quatrocentos séculos atrás, no sopé do Monte Sinai, nos encontramos comoum homem com um coração, e ao fazer isso nos tornamos uma nação. Deste então, aunião nos sustentou através da chuva e sol, como o reconhecido orador e escritor, RabiKalonymus Kalman Halevi Epstein, descreve em sua aclamada composição,  Maor vaShemesh (Luz e Sol): “Embora a geração de Ahab fossem idolatras, eles se envolveramem guerra e venceram porque havia união entre eles. É ainda mais quando há união emIsrael e eles se envolvem na Torá pelo Seu bem ... Com isso, eles subjugam todos aqueles

    que estão contra eles, e a tudo o que eles dizem com suas bocas, o Senhor concede seusdesejos”. 4

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    Seguindo Moisés, chegamos a Canaã, a conquistamos, e a tornamos A Terra de Israel,então fomos exilados uma vez mais, desta vez para Babel. E assim que Mordecai nos uniuem Babel, regressamos, embora com praticamente duas das doze tribos originais, eestabelecemos o Segundo Templo. Enquanto mantivemos nossa união, tambémmantivemos nossa soberania e o Templo. Mas assim que renunciamos ao amor fraterno,

    fomos esmagados pelo inimigo e fomos exilados nos séculos que se seguiram.Todavia, divisão e ódio sem fundamento, que causaram a ruína do Segundo Templo e oexílio da nação da sua terra, não aprisionaram nosso desenvolvimento enquanto em exílio.Através de muito dos últimos dois milénios e pouco, mantivemo-nos para nós mesmos,mantendo relativa separação da vida cultural das nações nas quais residíamos.

    Mas desde o Iluminismo, gradualmente adotamos uma cultura que hasteia distinção pessoal e realização individual, e tolera a exploração dos fracos e necessitados. Nasúltimas várias décadas, sobressaímos tanto na cultura do interesse pessoal e do benefício

     pessoal que nos tornamos o oposto completo da comunidade preocupada e humana quenutríamos no começo de nossa nação.

     No mundo de hoje, o tom e atmosfera predominantes são os do benefício pessoal eegoísmo até ao ponto do narcisismo. No seu livro perspicaz,  A Epidemia do Narcisismo:Viver na Era do Benefício Pessoal , os psicólogos Jean M. Twenge e Keith Campbelldescrevem ao que se referem como “O crescimento incansável do narcisismo na nossacultura”, 5 e os problemas que causa.

    Eles explicam que "Os Estados Unidos presentemente sofrem de uma epidemia denarcisismo. …traços de personalidade narcisista aumentaram tão rápido como aobesidade”. 

    Pior ainda, eles continuam, "O aumento no narcisismo está acelerando, com resultados

    crescendo mais rápido nos anos 2000 que nas décadas anteriores. Em 2006, um de quatroestudantes de liceu concordavam com a maioria dos itens numa medida padronizada detraços narcisistas”. 6

    E a maioria de nós Judeus, progenitores do princípio, "Ama teu próximo como a timesmo," não só nos sentamos e vemos enquanto o egoísmo celebra, mas também nos

     juntamos à festa, muitos de nós até liderando o grupo, tomando os espólios onde quer que possamos. Abraçamos a máxima, "Quando em Roma, faça como os Romanos," comentusiasmo espetacular, e ao fazer assim, muitos nomes Judeus se tornaram sinônimos deriqueza e poder. Não há dúvida que não perseguimos riqueza e poder para apresentarnossa herança como superior a dos outros. Contudo, quando os Judeus ganham

    notoriedade pelas mencionadas duas distinções, eles são notados não só pelos seusganhos, mas também por sua herança.

    Por muito injusto que possa parecer, Judeus e o estado Judeu não são vistos da mesmamaneira que são os outros países e nações. Eles são tratados como especiais, tanto positivacomo negativamente.

    Mas há uma boa razão porque isto assim é. Quando Abraão descobriu a força singularque conduz o mundo, aquele a que nos referimos como "o Criador," "Deus," " HaShem,

     HaVaYaH (Yod-Hey-Vav-Hey, o “Senhor”), ele desejou contar ao mundo inteiro sobreisso. Enquanto babilônio e de elevado estatuto social e espiritual, filho de um fazedor deídolos e estátuas, ele estava numa posição para ser escutado. Foi somente quando o Rei

     Nimrod o tentou matar e mais tarde o expulsou da Babilônia que ele foi para outro lugar,eventualmente chegando a Canaã.

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    Todavia, Rav Moshé Ben Maimon (Maimônides) descreve a toda a hora a maneira comoele continuava à procura de almas gémeas com quem partilhar sua descoberta: “Elecomeçou a clamar ao mundo inteiro, para alertar que há um Deus para o mundo inteiro...Ele clamava, vagando de cidade em cidade e de reino em reino, até que ele chegou à terrade Canaã… E uma vez que eles [pessoas nos lugares onde ele vagava] se reuniam ao seu

    redor e lhe perguntavam sobre suas palavras, ele ensinou todos…até que ele os trouxe devolta ao caminho da verdade. Finalmente, milhares e dezenas de milhares se reuniram aoseu redor, e eles são o povo de 'a casa de Abraão.' Ele plantou seu princípio nos seuscorações, compôs livros sobre isso, e ensinou seu filho, Isaac. E Isaac se sentou, e ensinou,alertou, e informou Jacob, e o nomeou professor, para sentar e ensinar... E Jacob oPatriarca ensinou todos seus filhos, e separou Levi e o nomeou a cabeça, e o fez sentar eaprender o caminho de Deus”…7 

    De Jacob em diante, narra a reconhecida composição , O Kozari, “Divindade é reveladanuma assembleia, e desde então é a contagem pela qual contamos os anos dosantepassados, de acordo com o que foi dado na lei de Moisés [Torá], e sabemos o que se

    desdobrou desde Moisés até este dia”. 8Assim, a união se tornou uma condição para alcançar a percepção de Deus, ou o Criador,como os Cabalistas frequentemente se referem a Ele (por razões que não descreveremosaqui, pois isso está além da amplitude deste livro). Sem união, a realização erasimplesmente impossível. Aqueles que foram capazes de se unir, se tornaram o povo deIsrael e alcançaram o Criador, a força singular que cria, governa, e conduz o todo darealidade. Aqueles que não foram capazes de fazê-lo permaneceram sem essa percepção,todavia com uma sensação de que os Israelitas sabiam algo que eles não, e tinham algoque lhes pertencia, também, mas que eles não podiam ter.

    Esta é a raiz do ódio a Israel, que mais tarde se tornou antissemitismo. É uma sensação

    de que os Judeus têm algo que não estão compartilham com o mundo, mas que têm quecompartilhar.

    Certamente, os Judeus devem partilhá-lo com o mundo. Tal como Abraão tentou partilharsua descoberta com todos os seus semelhantes babilônios, os Judeus, seus descendentes,devem fazer o mesmo. Este é o significado de ser "Uma luz para as nações”. 

    Esta é a obrigação para a qual o grande Rav Kook, o primeiro Rabino Chefe de Israel sereferiu no seu estilo eloquente e poético quando escreveu, “O movimento genuíno daalma Israelita na sua grandiosidade é expresso somente pela sua força sagrada e eterna,que flui de dentro de seu espírito. Foi isso que a fez, a faz, e a fará ainda uma nação quese encontra como uma luz para as nações, como redenção e salvação para o mundo inteiro

     para seu próprio propósito especifico, e pelos propósitos globais, que estão interligados.”9 

    Este compromisso também é ao que Rav Yehuda Leib Arie Altar se referiu com suas palavras, “Os filhos de Israel são fiadores no sentido que eles receberam a Torá em prolde corrigir o mundo inteiro, as nações, também”. 10

    E o que é que estamos obrigados a transmitir as nações exatamente? É a união, que umdescobre a força única, singular e criadora da vida, o Senhor, ou Deus.

     Nas palavras de Rabi Shmuel Bornstein, autor de Shem MiShmuel [Um Nome A Partir deSamuel ], “A meta da Criação foi para que todos fossem uma associação ... Mas devido ao

     pecado, a matéria tornou-se tão estragada que até os melhores nessas gerações foramincapazes de se unirem juntos para servir o Senhor, mas foram somente uns poucos. ”11 

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    Por esta razão, continua Rabi Bornstein, somente aqueles que se podiam unir o fizeram,enquanto o resto os abandonou até que fossem capazes de se juntar à união. Nas suas

     palavras, “A correção começou ao fazer uma reunião e associação de pessoas para serviro Criador, começando com Abraão o Patriarca e seus descendentes, para que eles fossemuma comunidade consolidada pela obra de Deus. Sua ideia [do Criador] em separar os

     povos foi que primeiro Ele causou separação na raça humana, no tempo da Babilônia, etodos os malfeitores foram dispersados. ...Subsequentemente começou a reunião em prolde servir do Criador, à medida que Abraão o Patriarca foi e clamou pelo nome do Senhoraté que uma grande comunidade se reuniu na sua direção, que havia sido chamada 'o povoda casa de Abraão.' A matéria continuou a crescer até que se tornou a assembleia dacongregação de Israel ... e o fim da correção será no futuro, quando todos se tornem umaassociação em prol de fazer Vossa vontade com todo o coração. ”12

    Considerando as presentes circunstâncias globais, parece urgente que todos saibam sobreo conceito de união como um meio para alcançar o Criador. Assim que todos nóssaibamos e aceitemos esse princípio, paz e fraternidade naturalmente prevalecerão.

     Na realidade, de acordo com o reconhecido Cabalista, Rav Yehuda Ashlag, conhecidocomo Baal HaSulam [Dono da Escada] pelo seu comentário Sulam [Escada] sobre O

     Livro do Zohar , a necessidade de conhecer o Criador tem sido urgente há praticamenteum século até agora. Em "Paz no Mundo," um ensaio que data do princípio dos anos 30,Baal HaSulam explica que porque somos todos interdependentes, devemos aplicar as leisde responsabilidade mútua ao mundo inteiro. Enquanto o termo, "globalização," não eraubíquo em tratados do seu tempo, suas palavras claramente ilustram sua necessidadeurgente de tornar o mundo uma única unidade solidificada.

    Aqui está a descrição de globalização e interdependência de Baal HaSulam: “Não fiquesurpreso se eu misturar juntos o bem-estar de um coletivo particular com o bem-estar do

    mundo inteiro, porque certamente, já chegamos a tal grau que o mundo inteiro éconsiderado um coletivo e uma sociedade. Isto é, porque cada pessoa no mundo extraisua essência e vivacidade da vida de todas as pessoas no mundo, um é coagido a servir ecuidar do bem-estar do mundo inteiro.

    “...Desta forma, a possibilidade de levar condutas boas, felizes e  pacificas num país éinconcebível quando não é assim em todos os países no mundo, e vice-versa. No nossotempo, os países estão todos ligados na satisfação de suas necessidades da vida, como osindivíduos estavam nas suas famílias em tempos anteriores. Desta forma, não podemosmais falar ou lidar somente com condutas que garantam o bem-estar de um país ou umanação, mas somente com o bem-estar do mundo inteiro porque o benefício ou dano de

    toda e cada pessoa no mundo depende e é medido pelo benefício de todas as pessoas nomundo. ”13 

    Contudo, para o mundo alcançar essa união, essa garantia mútua, ele precisa de ummodelo exemplar, um grupo ou coletividade que possa implementar a união, alcançar oCriador, e através de exemplo pessoal, pavimentar o caminho para o resto da humanidade.Porque nós Judeus já estivemos nesse ponto, e o mundo sente isso subconscientemente,é nosso dever reacender esse amor fraterno entre nós, alcançar essa força singular, e

     passar ambos o método de união e a realização do Criador ao resto do mundo. Este é o papel dos Judeus: trazer a luz do Criador para o mundo, ser uma luz para as nações.

    Em “O Amor a Deus e o Amor ao Homem”, Baal HaSulam descreve claramente esse

    modus operandi: “A nação Israelita já foi estabelecida como uma transição. À mesmamedida que os próprios Israel são purificados ao manter a Torá [a lei (de união), que

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    dissemos na introdução ser uma condição prévia para a realização do Criador], elestransmitem seu poder ao resto das nações. E quando o resto das nações tambémsentenciam a si mesmas a uma escala de mérito [se unem e alcançam o Criador], oMessias [a força que nos puxa para fora do egoísmo] será revelado. ”14 

    Rav Yehuda Altar similarmente descreve o papel dos Judeus em respeito ao resto dasnações: “Pareceria que os filhos de Israel, os recipientes da Torá, são os mutuários e nãoos fiadores, exceto que os filhos de Israel se tornaram responsáveis pela correção domundo inteiro através do poder da Torá. É por isso que lhes foi dito, ‘E vós sereis paraMim um reino de sacerdotes e uma nação sagrada’. ...E foi a isso que eles responderam,‘Isso que o Senhor disse, nós faremos’, corrigir o todo da Criação. ...Na verdade, tudodepende dos filhos de Israel. Tanto quanto eles se corrigem a si mesmos, todas as criaçõesos seguem. Como os estudantes seguem o Rav [professor] que corrige a si mesmo ... emsemelhança, o todo da Criação segue os filhos de Israel. ”15 

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    CAPÍTULO 1

    Uma Nação Nasce O Nascimento do Povo de Israel

    Antes de mergulharmos no significado e posição do povo de Israel no mundo, precisamosolhar para a razão pela qual a nação Israelita se formou, e como essa formação se revelou.Vamos, por um momento, viajar praticamente seis mil milhas para o leste, e praticamente

    quatro mil anos no passado, para a antiga Mesopotâmia, o coração do Crescente Fértil, o berço da civilização. Situada dentro de um vasto e exuberante trecho de terra entre os riosTigre e Eufrates, no que hoje é o Iraque, a cidade-estado Babilônia representava-seanfitriã para uma civilização florescente. Explodindo com vida e ação, ela era o centro decomércio do mundo antigo.

    Babilônia, o coração dessa civilização dinâmica, era uma panela de pressão, um substratoideal sobre o qual uma miríade de sistemas de crença e ensinamentos cresceram efloresceram. Os Babilônios praticavam muitos tipos de idolatria. O Sefer HaYashar [O

     Livro do Justo] descreve a vida dos Babilônios nessa altura, e como eles adoravam:“Todas as pessoas da terra fizeram, cada uma, seu próprio deus nesses dias, deuses de

    madeira e pedra. Eles os adoravam, e se tornaram deuses para eles. Nesses dias, o rei etodos seus servos, e Terah [pai de Abraão] e seu inteiro agregado, foram os primeirosentre os adoradores de madeira e pedra. ... [Terah] os adoraria e se dobraria a eles, e assimfez o todo dessa geração. Todavia, eles haviam abandonado o Senhor, que os havia criado,e não havia um único homem em toda a terra que conhecesse o Senhor ”... 16

    Ainda assim, o filho de Terah, Abraão, que então ainda era chamado pelo nome de Abrão, possuía uma certa qualidade que fazia dele único: ele era invulgarmente perceptivo, comum zelo cientifico pela verdade. Abraão era também uma pessoa preocupada, que reparouque o povo da sua cidade estava tornando-se crescentemente infeliz. Quando ele refletiusobre isso, descobriu que a causa da sua infelicidade era o crescente egoísmo e alienação

    que se apoderavam deles. Dentro de um período de tempo relativamente curto, elesdeclinaram a união e preocupação mútua, tendo sido “De uma língua e uma fala” (Génesis11:1), para a vaidade e alienação, dizendo “Vinde, construamos uma cidade, e uma torre,com seu topo nos céus, e façamos para nós mesmos um nome” (Génesis, 11:4).  

     Na realidade, eles estavam tão preocupados em construir sua torre de orgulho que seesqueceram completamente das pessoas que lhes eram em tempos parentes. Acomposição,  Pirkey de Rabi Eliezer   (Capítulos de Rabi Eliezer ), um dos  Midrashim(comentários) sobre a Torá (Pentateuco), oferece uma descrição vivida não só da vaidadedos Babilônios mas também da alienação com a qual eles se consideravam uns aos outros.O livro escreve, “Nimrod disse a seu povo, ‘Construamos uma grande cidade e moremosnela, caso contrário ficaremos dispersos pela terra como os primeiros, e construamos umagrande torre dentro dela, subindo em direção aos céus ... e façamos para nós um grandenome na terra...’ 

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    “Eles a construíram alta ... aqueles que trariam os tijolos a subiam pelo seu lado oriental,e aqueles que desciam dela, desciam pelo seu lado ocidental. Se uma pessoa caísse emorresse, eles não se preocupariam com ela. Mas se um tijolo caísse, eles se sentariam echorariam e diriam, ‘Quando virá outro em seu lugar ’. ”17 

    A atitude dos conterrâneos de Abraão uns para com os outros o incomodava, e ele iria atélá e observaria a conduta dos construtores.  Pirkey de Rabi Eliezer  continua a descreversuas observações da sua animosidade de uns para os outros: “Abraão, filho de Terah,

     passou e os viu construir a cidade e a torre”. Ele tentou falar com eles e lhes contar sobreo Criador, a força governante da união que ele havia descoberto, para atestar que as coisasseriam ótimas somente se eles seguissem a lei da união, também. “Mas eles abominaramsuas palavras”, o livro descreve. Em vez disso, “Eles desejaram falar a língua uns dosoutros”, como antes, quando ainda eram de uma língua, “Mas eles não sabiam a línguauns dos outros. Que fizeram eles? Cada um deles pegou sua espada e lutou com o outroaté à morte. Certamente, metade do mundo morreu ali pela espada. ”18 

    À luz da grave situação do seu povo, Abraão decidiu espalhar o princípio que ele havia

    encontrado, independentemente dos riscos.

     Na sua composição,  HaYad HaChazakah (A Mão Poderosa), também conhecida como Mishné Torá (Repetição da Torá) , o reconhecido acadêmico do século XII, Maimonides(o RAMBAM), descreve a determinação de Abraão e esforços para descobrir as verdadesda vida: “Desde que este firme foi desmamado, ele começou a questionar. ...Ele começoua ponderar dia e noite, e ele questionava-se como era possível que esta roda semprerodasse sem um condutor? Quem a roda, pois ela não se pode rodar a si mesma? Ele nãotinha nem professor nem tutor. Em vez disso, ele foi cunhado em Ur dos Caldeus entre osidolatras iletrados, com sua mãe e pai, e todas as pessoas que adoravam as estrelas, e ele,adorava com eles. ”19

     Na sua busca, Abraão descobriu a união, a unicidade da realidade, essa força singularcriativa que cria, sustenta e conduz toda a realidade para a sua meta. Nas palavras deMaimonides, “[Abraão] alcançou o caminho da verdade ... com sua sabedoria correta, esabia que havia um Deus que conduz… que Ele criou tudo, e que em tudo o que há, nãohá outro Deus senão Ele. ”20 

    Para compreender precisamente o que é que Abraão alcançou, mantenha em mente quequando os Cabalistas falam de Deus, eles não se referem a um ser todo-poderoso ou auma força que você deve adorar, agradar e apaziguar, que em retorno recompensa osdevotos adoradores com saúde, riqueza, longa vida e outros benefícios terrenos. Em vezdisso os Cabalistas identificam Deus com a Natureza, o todo da Natureza. 

    Rav Yehuda Ashlag, conhecido como Baal HaSulam (Dono da Escada), fez váriasafirmações inequívocas sobre o sentido do termo, “Deus”. Sucintamente, ele explica queDeus é sinônimo de Natureza. No ensaio, “A Paz”, Baal HaSulam escreve (num excertoligeiramente editado), “Para evitar de ter que usar ambas as línguas daqui em diante,‘Natureza’ e um ‘Supervisor’, entre os quais, como demonstrei, não há qualquerdiferença…é melhor para nós … aceitarmos as palavras dos Cabalistas que  HaTeva [A

     Natureza] é o mesmo…que Elokim [Deus]. Então, serei capaz de chamar às leis de Deus‘mandamentos da Natureza’, e vice-versa, pois eles são um e o mesmo, e não precisamosdiscutir mais. ” 21 

    “Aos quarenta anos de idade”, escreve Maimonides, “Abraão veio a conhecer seuFazedor”, a lei singular da Natureza, que cria todas as coisas. Mas Abraão não manteve

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    sua descoberta para si mesmo: “Ele começou a fornecer respostas ao povo de Ur dosCaldeus, a conversar com eles e a lhes contar que o caminho sobre o qual elescaminhavam não era o caminho da verdade. ”  22 Assim, Abraão foi confrontado peloestabelecimento, que neste caso era Nimrod, rei de Babel.

    O  Midrash Rabbá, escrito no século V da E.C., apresenta uma descrição vivida daconfrontação de Abraão com Nimrod, um vislumbre das dificuldades que Abraão sofreu

     por sua descoberta e sua dedicação à verdade. Ele também fornece uma divertida visãono fervor de Abraão. “Terah [Pai de Abraão] era um adorador de ídolos [que ganhavasua vida fazendo e vendendo estátuas na loja da família]. Uma vez, ele foi a certo lugar edisse a Abraão que ficasse em seu lugar para ele. Um homem entrou e quis comprar umaestátua. [Abraão] perguntou-lhe, ‘Quão velho sois vós? ’  E o homem respondeu,‘Cinquenta ou Sessenta’, Abraão disse-lhe: ‘Ai daquele que tem sessenta e tem de adoraruma estátua de um dia.’ O homem ficou embaraçado e partiu.

    “Outra vez, uma mulher entrou com uma taça de semolina. Ela disse-lhe, ‘Aqui, sacrifica perante as estátuas’, Abraão levantou-se, pegou no martelo, quebrou todas as estátuas,

    então colocou o martelo nas mãos da maior. Quando seu pai regressou, ele perguntou-lhe, ‘Quem fez isto’? [Abraão] respondeu, ‘Uma mulher entrou. Ela trouxe-lhes uma taçade semolina e pediu-me que sacrificasse perante elas. Eu sacrifiquei e uma disse, ‘Eucomerei primeiro’, e a outra disse, ‘Eu comerei primeir o’. A maior levantou-se, pegou omartelo, e as quebrou’. Seu pai disse, ‘Estás tu a enganar -me? O que sabem elas’? EAbraão respondeu-lhe, ‘Tuas orelhas escutam o que tua boca diz’? ”23 

     Nesse ponto, Terah sentiu que não conseguia mais disciplinar seu filho descarado.“[Terah] levou [Abraão] e entregou-o a Nimrod [o rei, mas também a autoridade espiritualmais alta da Babilônia]. [Nimrod] disse-lhe, ‘Adora o fogo’. Abraão respondeu, ‘Talvezdeva adorar a água, que extingue o fogo’? Nimrod respondeu, ‘Adora a água’! [Abraão]

    disse-lhe: ‘Então talvez deva adorar a nuvem, que transporta a água’? [Nimrod] disse-lhe,‘Adora a nuvem’!

    “[Abraão] disse-lhe: ‘Nesse caso, devo eu adorar o vento que dispersa as nuvens’? Eledisse-lhe, ‘Adora o vento’! [Abraão] disse-lhe, ‘E devemos nós adorar o homem, quesofre do vento’? [Nimrod] disse-lhe: ‘Tu falas demasiado, eu adoro somente o fogo. Eu

     jogar-te-ei nele, e deixarei que o Deus que adoras te venha salvar dele!

    “Harã [irmão de Abraão] lá se encontrava. Ele disse, ‘Se Abraão vencer, eu direi queconcordo com Abraão, e se Nimrod vencer, eu direi que concordo com Nimrod’. QuandoAbraão desceu à fornalha e foi salvo, eles perguntaram [Harã], ‘Com quem estais’? Eledisse-lhes: ‘Eu estou com Abraão’. Eles o levaram e o jogaram no fogo, e ele morreu na

     presença de seu pai. Assim foi dito, ‘E Harã morreu na presença de seu pai Terah’. ”24 

    Assim Abraão resistiu Nimrod, mas foi expulso da Babilônia e partiu para a terra de Harã(pronunciada Charan, para distingui-la de Harã, filho de Terah). Mas Abraão não deixoude circular sua descoberta só porque ele estava exilado da Babilônia. As descriçõeselaboradas de Maimônides contam-nos, “Ele começou a clamar ao mundo inteiro, paraos alertar que há um Deus para o mundo todo... Ele clamou, vagueando de cidade emcidade e de reino em reino, até que chegou à terra de Canaã…  

    “E uma vez que eles [pessoas nos lugares onde ele vagava] se reuniam ao seu redor e lhe perguntavam sobre suas palavras, ele ensinava a todos…até que ele os trouxe de volta ao

    caminho da verdade. Finalmente, milhares e dezenas de milhares se reuniram ao seuredor, e eles são o povo da casa de Abraão. Ele colocou seu princípio nos seus corações,

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    compôs livros sobre isso, e ensinou seu filho Isaac. E Isaac se sentou e ensinou e alertou,e informou Jacob, e o nomeou professor, para se sentar e ensinar... E Jacob o Patriarcaensinou todos os seus filhos. Ele separou Levi e o nomeou a cabeça, e o fez sentar eaprender o caminho de Deus…”25 

    Para garantir que a verdade se transpor taria pelas gerações, Jacob “ordenou a seus filhosque não parassem de nomear nomeado após nomeado de entre os filhos de Levi, para queo conhecimento não fosse esquecido. Isto continuou e se expandiu nos filhos de Jacob enaqueles que os acompanharam. ”26 

    ISRAEL — O MAIS PROFUNDO ANSEIO

    O resultado surpreendente dos esforços de Abraão foi o nascimento de uma nação queconhecia as leis mais profundas da vida, a derradeira Teoria de Tudo, ou nas palavras de

    Maimônides: “Uma nação que conhece o Senhor foi feita no mundo. ”27 Certamente, Israel não é meramente o nome de um povo. Em Hebraico, a palavra, Ysrael  (Israel), consiste de duas palavras: Yashar  (direto), e  El  (Deus). Assim, Israel designauma mentalidade de querer descobrir a lei da vida, um desejo de alcançar ou perceber oCriador. Nas palavras de Rabi Meir Ben Gabai, “No significado do nome ‘Israel’ hátambém Yashar El  [direito a Deus]” .28 Em semelhança, no seu Drush [sermão escrito]a respeito da Oração do Viajante, o grande Ramchal escreveu simplesmente, “Israel— Yashar El ”.

    Colocando-o diferentemente, Israel não é uma atribuição genética, mas em vez disso onome, ou direção do desejo que conduziu Abraão às suas descobertas. Geneticamente, os

     primeiros Israelitas foram Babilônios ou membros de outras nações que se juntaram aogrupo de Abraão. O significado de seu nome era claro para os antigos Israelitas. ComoMaimônides escreveu, eles tiveram seus professores, os Levitas, e eles foram ensinadosa seguir as leis essenciais da vida.

    Hoje, contudo, estamos inconscientes do fato de que "Israel" na realidade se refere aodesejo de conhecer a lei básica da vida, o Criador, e ele não faz alusão a uma linhagemgenética. Quase 2000 anos de ocultação da verdade desde a ruína do Segundo Templo

     praticamente obliteraram a verdade de que a descoberta de Abraão era dirigida para todasas pessoas no mundo, tal como o próprio Abraão o pretendia para todas as pessoas naBabilônia, e mais tarde “começou a clamar ao mundo inteiro”, para citar Maimônides.

    Com o passar dos anos, somente os Cabalistas mantiveram esta verdade viva. Cabalistastais como Elimelech de Lizhensk,29 Shlomo Ephraim Luntschitz,30 Chaim Iben Attar,31Baruch Ashlag32 e muitos outros escreveram em palavras simples: Ysrael   significaYashar El  (diretamente a Deus).

    Além do mais, a necessidade de descobrir esta força é mais pertinente hoje que nunca. Nada mudou na Natureza desde o tempo de Abraão, e o Criador ainda é a força una quecria, governa e sustenta a vida.

    O que mudou é que hoje precisamos de verdadeiro conhecimento do Criador mais quenunca. No tempo de Abraão, a humanidade teve numerosos outros caminhos a seguir

    além do caminho da verdade de Abraão. Os caminhos sociais de hoje, contudo, estão

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    gradualmente a se provar a si mesmos ineficazes em solucionar a nossa moral e coesãosocial em declínio.

    Certamente, a seu tempo, a cultura Babilônia se dissipou e as pessoas se dispersaram pelomundo. Sua alienação e discórdia social, que causaram sua queda, representadas pelaqueda da torre, se tornaram discretas e comedidas. As pessoas realojaram-se em novoslugares, trazendo com elas a cultura e atitude Babilônia, inconscientes de quetransportavam seus costumes de desarmonia entre elas, as sementes de lutas futuras.

    Agora que temos uma comunidade global, cada crise é numa escala global. Os erros quefizermos fazem sua cobrança no mundo inteiro, tornando a descoberta de uma única forçade Abraão informação soberana e salva-vidas que deve ser somada aos nossos cálculos e

     planos se desejamos sobreviver.

    UNIÃO —  E CONSEQUENTEMENTE, IGUALDADE

    Hoje, nossa única esperança é nos unirmos, porque a união, como veremos abaixo, é adireção da força que conduz toda a vida. Nosso desafio, desta forma, é aprender comonos unirmos. É possível e é plausível, mas num tempo de crises, isso exigirá reconhecera força da vida e gerar um esforço mútuo para cooperar e colaborar para que possamosviver pelas prescrições desta lei.

    Deve ser notado, contudo, que união não exige paridade ou semelhança. Em vez disso,ela exige disparidade, sobre a qual nos unirmos. Hoje, por exemplo, há muitasdenominações dentro da religião Judaica, bem como Judeus não afiliados. União Judaicasignificaria que sem mudar nossos costumes, sem convergir para uma única denominação,nos uniríamos e aprenderíamos a valorizar, e eventualmente nos preocuparmosverdadeiramente uns pelos outros.

    Isso pode parecer impossível, considere uma família com várias crianças. Numa famílianormativa, cada criança tem sua personalidade única. Mais frequentemente que ocontrário, essas personalidades colidem, como nossas memórias das nossas brigas deinfância com nossos parentes testemunham. Frequentemente pensamos de nossos irmãose irmãs em tais termos como, “Se ele/ela não fosse meu irmão/irmã, nunca estaria pertodele/dela”. Mas, precisamente esse fato de que estamos juntos com nosso parente muitodiferente prova que quando há amor, podemos unir-nos acima das diferenças.

    É precisamente o que precisamos fazer, nos unir acima de nossas diferenças. Desse modointensamente sentiremos tanto nossa diversidade, frequentemente qualidades opostas, e aunião que cavalga acima delas. Quando isso acontecer, seremos capazes de usar nossasdiferenças para o melhor, pois cada um de nós contribui perspectivas, ideias e modos deação que mais ninguém consegue, assim formando um todo mais forte. Tal como nossoscorpos precisam de diferentes órgãos para nos manter saudáveis, precisamos permanecerdiferentes e nos unir acima das diferenças por uma meta comum de realizar o papel do

     povo Judeu, trazer a luz da união às nações.

    Seguindo a partida de Abraão da Babilônia, regressando ao nosso tópico anterior, a cidadecontinuou a cultivar a despreocupação egocêntrica. E embora não haja nada de errado

    com prazer e diversão, quando é absolutamente egocêntrico, eventualmente éautodestrutivo. O verdadeiro propósito da vida, Abraão descobriu, é nos tornarmos

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    semelhantes à força singular da vida, experimentar a unicidade com tudo. Nossos sábioschamam a essa união e unicidade, Dvekut  [adesão], e o que pretendem eles dizer com essa

     palavra e que eventualmente devemos adquirir as qualidades do Criador e nos tornarmossimilares, ou até iguais a Ele.

    Para citar as palavras de Rabi Meir Ben Gabai, “Sobre a parte da Dvekut  [adesão] com asforças do Grande Nome e Suas qualidades, você apega-se ao Senhor seu Deus, pois Eleé Seu nome, e Seu nome é Ele, pois você está relacionado e é semelhante a Ele, e Dvekut  com Ele é a verdadeira vida”. 33 Em semelhança, o Sagrado Shlah escreveu em Toldot

     Adam [As Gerações do Homem] , “Nossos sábios disseram (Sotah 14a), ‘E vós que vosapegais ao Senhor ’, apegai-vos a Suas qualidades, e então ele é chamado Adam [homem],como em, adamé la Elyon [Eu serei como o mais alto] ”. 34

     No século XX, Baal HaSulam elaborou extensamente sobre o termo, Dvekut , o definindocomo “equivalência de forma”, ou seja adquirir a "forma" (qualidades) do Criador.

     Na sua “Introdução ao Prefácio à Sabedoria da Cabalá”, ele escreveu, “Assim, [a alma]

    será digna de receber toda a abundância e prazer incluídos no Pensamento da Criação, etambém estará em completa Dvekut  (adesão) com Ele, em equivalência de forma.35

    Em “Introdução ao O Livro do Zohar ”, Baal HaSulam acrescenta, “Assim, uma pessoacompra a completa adesão com Ele, pois adesão espiritual é senão equivalência de forma,como nossos sábios disseram, ‘Como é possível se apegar a Ele? Em vez disso, apegai -vos a Suas qualidades’”. 36

    Com o tempo, como mencionado acima, o grupo de Abraão tornou-se uma nação, e anecessidade de um novo método de união surgiu. Os ensinamentos de Abraãomantiveram-se enquanto todos em Israel podiam ser ensinados. Mas no tempo em que o

     povo de Israel saiu do Egito, eles atingiram o número de 600.000 homens e algumas três

    milhões de pessoas ao todo. Era impossível ensinar todos eles da mesma maneira que seaprende de um professor. A solução encontrava-se no sopé do Monte Sinai. Lá, nesse

     ponto essencial da história de nosso povo, o princípio mais fundamental da nossa Toráfoi dado, e é dado ainda hoje, cada dia e em cada momento. Esse princípio, como RabiAkiva o colocou, é “Ama teu próximo como a ti mesmo”. 

     No sopé do Monte Sinai, explica o grande acadêmico e intérprete RASHI, recebemos aTorá, as leis pelas quais nos uniremos, porque lá concordamos com todo o coração assimfazer. Nas suas palavras, “‘E Israel acampou lá’, como um homem com um coração”. 37Desse momento em diante, união tem sido o principal bem do povo Judeu, o meio peloqual alcançamos o Criador, adquirimos Suas qualidades, e obtemos Dvekut , equivalência

    de forma (qualidades) com Ele.O Midrash Tanah De Bei Eliyahu escreve, “O Senhor disse para eles, para Israel: ‘Meusfilhos, careci Eu de algo que vos deva pedir? E que vos posso pedir? Somente que vosamais uns aos outros, vos respeitais uns aos outros, e vos temais uns aos outros, e nãohaverá transgressão, roubo, e feiura entre vós”. ”38 

    Com o tempo, união tornou-se tão crucial que substituiu qualquer outro mandamento emtermos de sua importância. Ela tornou-se a una e única chave para a redenção espiritualde Israel e salvação de seus inimigos. O Midrash Tanhumá escreve, “Se uma pessoa pegarnum feixe de juncos, ela não os consegue quebrar a todos. Mas se ela pegar um de cadavez, até uma criança os quebra. Similarmente, Israel não serão redimidos até que elessejam todos um feixe. ”39 

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     No mesmo espírito,  Masechet Derech Eretz Zutá  escreve, “Assim Rabi Eleazar ha-Kappar diria, ‘Amai a paz, e desprezai a divisão. Grande é a paz, pois até quando Israel

     pratica idolatria, e há paz entre eles, o Criador diz, ‘Eu não lhes desejo tocar [magoar] ’,como está escrito (Hosea, 4:17), ‘Efraim está junto aos ídolos, deixai-o sozinho’. Se hádivisão entre eles, o que se diz sobre eles (Hos, 10:2)? ‘Seu coração está dividido, agora

    eles carregarão sua culpa’. ’”40 E todavia, por tudo o que acaba de ser dito sobre a importância da união, quando olhamosao nosso redor é evidente que a maioria das pessoas nem se deseja unir, nem encontraqualquer benefício na união, certamente não com seus próximos, como o princípio dita.Para compreender como tal princípio se tornou tão supremo para a existência de nosso

     povo, e agora para o mundo inteiro, precisamos de examinar a evolução da realidade deum ponto de vista diferente do que aquele que a ciência frequentemente toma. Precisamosolhar para a realidade como uma evolução de desejos. Quando vemos a realidade comotal, a razão por trás da proeminência do desejo de unir, e a consequente aquisição daqualidade do Criador, se tornarão claras como o cristal. Desta forma, a evolução dos

    desejos será o tópico do próximo capítulo.

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    CAPITULO 2

    Quero, Logo Sou

    A Vida Como Uma Evolução De Desejos

     No capítulo anterior, dissemos que o nome, Ysrael  (Israel), combina as palavras Yashar  (direito) e El  (Deus). Estabelecemos que o nome surgiu quando Abraão reuniu pessoasque desejavam alcançar o Criador, descobrir Deus, e que foram chamadas "Israel"segundo esse desejo. Neste capítulo discutiremos a formação dos desejos em geral, e a

    formação do desejo pelo Criador, nomeadamente Israel, em particular. Para fazer isso, precisamos de examinar a realidade como uma evolução de desejos.

    Em 1937, Baal HaSulam publicou Talmude Esser HaSephirot  (O Estudo das Dez Sefirot),um comentário monumental sobre os escritos do ARI, autor de  A  Árvore da Vida. Nocomentário, o autor entra em grande detalhe para explicar que na base da realidade resideo desejo de dar, a que ele chama "a vontade de doar," que então criou a vontade de receber.Esta é a razão porque, explica Baal HaSulam, nossos sábios testemunham que "Ele é bome faz o bem”, 41 e falam de “Seu desejo de fazer o bem às Suas criações”. 42

     Na Parte 1 de O Estudo das Dez Sefirot , Baal HaSulam explica porque a vontade de doar

    necessariamente criou a vontade de receber, e porque os dois desejos estão na base dotodo da Criação. Nas suas palavras, “Assim que Ele contemplou a criação em prol dedeleitar Suas criaturas, esta Luz [prazer] imediatamente se prolongou e expandiu d ’Elena completa medida e forma dos prazeres que Ele havia contemplado. Tudo está incluídonesse pensamento, a que chamamos ‘O Pensamento da Criação’. ...O Ari disse que no

     princípio, uma Luz superior e simples havia preenchido o todo da realidade. Isto significaque uma vez que o Criador contemplou deleitar as criações, e a Luz se expandiu e partiud’Ele, o desejo de receber Seus Prazeres foi imediatamente impresso nesta Luz ”. 43

    Para sublinhar a suposição de que a vontade de doar, o Criador, criou a vontade de receberem prol de lhe dar prazer, Baal HaSulam categoriza essa seção, “A vontade de doar noEmanador necessariamente gera a vontade de receber no emanado, e ela [a vontade dereceber] é o vaso na qual o emanado recebe Sua Abundância”. 44

    Ashlag não foi o primeiro a se referir à criação da vontade de receber pela vontade dedoar, por isso ele o fez mais implicitamente. Rabi Isaiah HaLevi Horowitz (O SagradoShlah) também escreveu que “Uma vez que Ele favoreceu fazer o bem às Suas criações,Ele as desejou beneficiar com o verdadeiro benefício, como com a matéria da criação dainclinação do mal [vontade de receber, egoísmo], que é a favor das criações”. 45

    Semelhante aos dois mencionados acima os sábios, Rabi Nathan Sternhertz escreve em Likutey Halachot [Regras Sortidas] , “O Senhor aumenta Suas misericórdias e gentileza, pois Ele desejou beneficiar Suas criações no melhor possível de todo o melhor ”. 46

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    Assim, a vontade de doar, o Criador, deseja doar sobre nós, Suas criações, e é supostorecebermos esse benefício, a doação. Todavia, o que é esse benefício, o bem que é supostorecebermos?

     Na sua “Introdução ao Estudo das Dez Sefirot”, Baal HaSulam escreve que o benefícioque é suposto recebermos é alcançar o Criador, tal como Abraão fez há praticamente 4000anos atrás. Nas palavras de Ashlag, “[quando alcançamos] sente -se o maravilhoso

     benefício contido no Pensamento da Criação, que é deleitar Suas criaturas com Sua mãocompletamente bondosa e generosa. Devido à abundância do benefício que se alcança,amor maravilhoso aparece entre uma pessoa e o Criador, incessantemente derramandosobre ela pelos próprios trilhos e canais através dos quais o amor natural aparece.Contudo, tudo isto chega a uma pessoa a partir do momento em que ela alcança e daí emdiante. ”47 

    Para alcançar o Criador, temos de ter qualidades semelhantes às Suas, ou nos termos deBaal HaSulam, temos de obter “equivalência de forma" com Ele. Na "Introdução aoLivro,  Panim Meirot uMasbirot   [Brilhante e Acolhedora Face]”, Ashlag escreve,

    “Assim, como pode-se alcançar a Luz ... quando se está separado e em completa oposiçãode forma ... e há grande ódio entre eles [Criador e pessoa]?

    ...Desta forma, a pessoa ... lentamente purifica e inverte a forma de recepção para ser em prol de doar. Você descobrirá que a pessoa equaliza sua forma com o sistema desantidade, e a equivalência e amor entre eles regressa ... Assim, se é recompensado coma Luz ... uma vez que se entrou na presença do Criador. ”48 

    QUATRO NÍVEIS DE DESEJO

    MOLDAM A REALIDADE

    Quando examinando a realidade da perspectiva da evolução de desejos, os Cabalistasdescobriram que a vontade de receber que acabamos de descrever contém quatro níveisdistintos, imóvel (inanimado), vegetativo (flora), animado (fauna), e falante (humano).Desde que o ARI mencionou a divisão da realidade nesses quatro níveis no século XVI,49numerosos acadêmicos e Cabalistas discutiram esses quatro níveis. O MALBIM (MeirLeibush ben Iehiel Michel Weiser),50 Rabi Pinhas HaLevi Horovitz,51 e o RABaD (RabiAvraham Ben David), que escreveram, “Todas as criaturas do mundo são imóveis,vegetativas, animadas e falantes”,52 são senão três de numerosos sábios que se referem

    à realidade como consistindo desses quatro níveis.

    Todavia, nenhum sábio ou acadêmico é tão descritivo como Baal HaSulam. Seus escritos,que explicitamente pretendeu que todos lessem e compreendessem, sistemática eelaboradamente detalham a estrutura da realidade da maneira que os Cabalistas eacadêmicos Judeus a percebiam durante as eras. Em seu ensaio, “A Liberdade”, eleexplica a estrutura dos desejos imóvel, vegetativo, animado e falante sob a seção, “Lei daCausalidade”. Ele explica que todos os elementos da realidade estão ligados e emergemuns dos outros. Nas suas palavras, “É verdade que há uma ligação geral entre todos oselementos da realidade perante nós, que se regem pela lei da causalidade, por meio decausa e efeito, avançando em frente. E como o todo, assim cada item em si mesmo, ou

    seja que toda e cada criatura no mundo dos quatro tipos, imóvel, vegetativo, animado efalante, se rege pela lei da causalidade por meio de causa e efeito.

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    “Além do mais, cada forma particular de um comportamento particular, que uma criaturasegue enquanto neste mundo, é empurrada por causas antigas, a obrigando a aceitarmudança nesse comportamento e não outro que se pareça. Isto é aparente a todos aquelesque examinam os caminhos da Natureza de um ponto de vista puramente cientifico e semuma migalha de influência. Certamente, devemos analisar esta matéria para nos

     permitirmos a nós mesmos examiná-la de todos os lados. ”53 

    OS QUATRO NÍVEIS DENTRO DE NÓS

    Mas há mais, nossos sábios afirmam, os níveis de imóvel, vegetativo e falante não sãoexclusivos à natureza externa. Eles existem dentro de todo e cada um de nós, formando a

     base dos nossos desejos e até da estrutura interior de cada desejo. Rabi Nathan NetaShapiro escreve, “Há quatro f orças no homem, imóvel, vegetativo, animado e falante, eIsrael têm ainda outra, quinta parte, pois eles são o Divino falante. ”54 

    Baal HaSulam fornece uma explicação mais elaborada da maneira como estes níveis dedesejos funcionam dentro de nós: “Nós distinguimos quatro divisões na espécie falante[humanos], ordenadas em gradações uma sobre a outra. Essas são as Massas, os Fortes,os Ricos, e os Sagazes. Elas são iguais aos quatro graus no todo da realidade, chamados‘Imóvel’, ‘Vegetativo’, ‘Animado’, e ‘Falante’.

    “O imóvel ... suscita as três propriedades, vegetativo, animado, e falante. ...A mais pequena força entre elas é a vegetativa. A flora opera ao atrair o que é benéfico para elae rejeitando o prejudicial muito da mesma maneira que os humanos e animais. Contudo,não há sensação individual nela, mas uma força coletiva, comum a todas as plantas no

    mundo...“Sobre elas está o animado. Cada criatura sente a si mesma, atraindo o que é benéfico aela e rejeitando o prejudicial. ...Esta força sensível no Animado é muito limitada emtempo e espaço, uma vez que a sensação não opera sequer a mais curta distância fora deseu corpo. Também, ele não sente nada fora de sua própria estrutura temporal, ou seja no

     passado ou no futuro, mas somente no presente momento.

    “Acima delas está o falante, consistindo de uma força emocional e uma força intelectual juntas. Por esta razão, seu poder em atrair o que é bom para ele e rejeitar o que é prejudicial e ilimitado no tempo e lugar, como é no animado. Devido à ciência, que é umafaculdade intelectual, ilimitada pelo tempo e lugar, se consegue ensinar a outros onde

    quer que eles estejam no todo da realidade, no passado ou no futuro, e no decorrer dasgerações. ”55 

    ONDE SOMOS NÓS LIVRES PARA ESCOLHER

    Tal como aprendemos de Baal HaSulam, a diferença entre o nível falante da realidade eos outros três níveis, tanto na sua natureza geral e dentro de nós, é que nós somosilimitados em tempo e lugar enquanto escolhendo o que aproximar a nós e o que repelir.

    Colocando-o diferentemente, no todo da Natureza, a raça humana é a única espécie quetem liberdade de escolha. Enquanto todas as outras criaturas seguem as ordens da

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     Natureza involuntariamente, nós podemos escolher se as seguimos ou não.Lamentavelmente, como é evidenciado pelas crises globais de hoje, quando escolhemosir contra as ordens da Natureza sem completo conhecimento das implicações de nossasações, sofremos duras consequências pelos nossos erros.

    E uma vez que interiormente consistimos dos mesmos quatro níveis, a mesma regra seaplica dentro de nós, e somente aqueles desejos e qualidades dentro de nós que pertencemao nível falante são aquelas nas quais temos liberdade de escolha.

    Dentro de nós, os desejos básicos naturais, para reprodução e continuação da espécie, porabrigo e por alimentação, correspondem aos primeiros três níveis de desejos na Natureza,imóvel, vegetativo, e animado. O quarto nível, "falante," manifesta dentro de nós desejos

     por prosperidade além das nossas necessidades, poder, fama, respeito e conhecimento. Adiferença fundamental entre os três níveis inferiores e o do topo é que os três inferioresexistem em cada criatura na terra. Cada criatura procura assegurar a existência da sua

     própria espécie e manter sua descendência a salvo num abrigo adequado. Inversamente,o quarto nível de desejos, que definiremos rudemente como "desejos por riqueza, honra

    e conhecimento," são exclusivamente humanos.

    Tal como na sua natureza geral, os três níveis inferiores funcionam automaticamente, deacordo com as ordens da Natureza. A única faculdade na qual há liberdade de escolha éo nível falante de desejos. Desta forma, devemos primeiro aprender os funcionamentosda nossa natureza interior antes que tentemos satisfazer os desejos do nível superior.

    Para sermos capazes de trabalhar com o quarto nível de desejos, precisamos de saber oque afeta esses desejos e o propósito de sua existência dentro de nós. Com efeito, há outronível de desejos dentro de nós que “suplanta” todos os quatro níve is, e que existe somentenos humanos.

    UM PONTO NO CORAÇÃO

    Este é o nível a que Rabi Nathan Shapiro chamou, “o Divino falante” . Ele é este desejoque nos propulsiona a explorar como este mundo funciona, o que o faz funcionar e comoele o faz, e porquê. Ele é o desejo a que chamamos “Israel”, Yashar El (direito ao Criador).Em Abraão, esse desejo apareceu como o anseio de saber “Como era possível que estaroda sempre rodasse sem um condutor? Quem a roda, pois ela não se pode rodar a simesma? ”56 

    Baal HaSulam chamou a esse desejo de conhecer o Criador, “o ponto no coração”. Nasua “Introdução de O Livro do Zohar ”, ele explica que o coração pode ser visto como otodo dos nossos desejos, e que “o ponto no coração” é o desejo dentro de nós que aponta

     para o Criador.57 Meu professor, o Rav Baruch Shalom HaLevi Ashlag (o Rabash), ofilho primogénito de Baal HaSulam e seu sucessor, explicou que o “ponto no coração” éo desejo chamado “Israel”. Nas suas palavras, “Há também Israel numa pessoa ... mas elaé chamada ‘um ponto no coração’. ”58 

    Agora podemos ver porque Abraão estava tão determinado a partilhar o que ele haviadescoberto. Ele sabia que os desejos humanos estavam evoluindo, e ele sabia que quanto

    mais eles evoluem, mais eles se voltarão para adquirir prosperidade, poder, dominaçãosobre os outros e conhecimento. Era claro para ele que sem adquirir o conhecimento da

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    natureza dos desejos humanos, as pessoas não seriam capazes de se gerir a si mesmas esuas sociedades adequadamente.

    Assim que Nimrod teve sucesso em impedir os esforços de Abraão de circular seuconhecimento aos Babilônios, esse homem sábio juntou aqueles que o seguiam e saiu daBabilônia para espalhar sua mensagem no exterior. Certamente, o legado de Abraão paranós é que aqueles que compreenderam o que ele havia ensinado deviam partilhar oconhecimento com quem quer que estivesse disposto a escutar. Nas palavras de O Livrodo Zohar , “Abraão cavou esse poço [Beer Sheba]. Ele descobriu-o porque ele haviaensinado a todas as pessoas no mundo a servir o Criador. E assim que ele o cavou, eleemite águas vivas que nunca cessam. ”59 

    O povo de Israel de hoje são os descendentes dos estudantes de Abraão, pessoas com pontos nos seus corações, o ponto de Israel dentro delas. E embora esse ponto agora estejaenterrado por baixo de séculos de esquecimento, ele existe e aguarda ser reacendido. Nas

     palavras do Sagrado Shlah, “Israel são chamados a ‘Assembleia de Israel’, pois emboraabaixo eles estejam separados uns dos outros, todavia, acima, na raiz de suas almas, eles

    são uma unidade, e estão congregados, pois são a parte do Senhor. Os ramos [o povo deIsrael] que desejam regressar a suas raízes devem seguir o exemplo de suas raízes, ou sejase unirem abaixo também. Quando a separação está entre eles, aparentemente causamseparação e divisão acima, vejam quão longe a questão se prolonga. Desta forma, o tododa casa de Israel deve perseguir a paz e ser um, em paz e completude, sem um defeito,

     para se assemelhar a seu Fazedor [estarem em equivalência de forma com Ele], pois assimé o nome do Senhor, ‘Paz’. ”60 

    Assim que Israel se una e assim se corrigirá, a si mesmos, eles podem concretizar suavocação e serem “Uma luz para as nações” (Isaías 42:6). Nas palavras de Rabi NaftaliTzvi Yehuda Berlin (O NATZIV  de Volojin), “A principal razão pela qual maioria de nós

    vive em exílio é que o Senhor divulgou a Abraão Nosso Pai que seus filhos foram feitos para serem uma luz para as nações, que é impossível a menos que estejam dispersos noexílio. Assim foi Jacob, Nosso Pai, quando ele chegou ao Egito, onde a maioria do povoestava. Com isso, Seu nome se tornou grande, quando eles viram Sua providência sobreJacob e seus descendentes. ”61 

    Falando da evolução dos desejos, a raça humana constitui o quarto e mais alto nível dedesejo, o único que permite o livre arbítrio. Mas para tomar as escolhas certas, as pessoas

     precisam saber como tudo funciona a partir da sua raiz. O povo Israelita representa odesejo de conhecer a raiz, e desta forma é sua responsabilidade estudar a raiz, e transmitirseus discernimentos e percepções ao resto da humanidade. Assim, todos saberão como

    fazer com que suas escolhas funcionem para seu benefício.Para obter esse conhecimento, Abraão formou um método de estudo que os sábios duranteas eras nutriram e desenvolveram. O próximo capítulo descreverá a evolução dessemétodo, que desde que foi escrito O Livro do Zohar , tem sido referido como “Cabalá”.

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    CAPÍTULO 3

    Correções através das Eras

    A Evolução do Método de Correção

     No capítulo anterior, dissemos que os desejos crescem de imóvel, a vegetativo, a animal,a falante. Dissemos que esta progressão ocorre tanto externamente, na natureza geral, einternamente, dentro de nós. Também dissemos que somente no nível falante dentro denós temos nós uma escolha livre, mas que para tomar escolhas que nos são benéficas,temos primeiro de aprender como a Natureza opera na sua raiz.

    Finalmente, dissemos que Israel representa o desejo de conhecer a raiz, o Criador, oFazedor de tudo o que há, e que Abraão foi o primeiro a descobrir esta raiz. Ele tentouensinar seus contemporâneos, e os Judeus de hoje, os descendentes desse desejo, devemlevar a cabo a vocação de Abraão e completar a sua tarefa.

    O que Abraão descobriu foi que o único problema com os seus conterrâneos foi seus egoscrescentes. Eles estavam tornando-se demasiado egocêntricos para manter uma sociedadesustentável. Eles costumavam ser de "Uma língua e uma fala," mas devido a seus egoscrescentes se tornaram alienados e incomunicáveis. Eles tornaram-se tão indiferentes uns

     para os outros, tão descuidados e preocupados em se auto explorar que, como mencionadono capítulo anterior, "Se uma pessoa caia e morresse [enquanto construindo a torre deBabel] eles não se preocupariam com ela. Mas se um tijolo caísse no eles se sentariam echorariam e diriam, 'Quando virá outro que se encontre no seu lugar.'"62

    Pior ainda, Abraão descobriu que o crescente ego não estava prestes a parar de crescer.Ele era um traço inerente na natureza humana, uma característica distinta do nível falanteque o ego deve crescer constantemente porque ele é alimentado pela inveja dos outros.

     Na sua "Introdução ao Livro,  Panim Meirot uMasbirot  (Face Brilhante e Acolhedora) ”,Baal HaSulam escreve, "O Criador instigou três inclinações nas massas [pessoas],chamadas, 'inveja,' 'cobiça,' e 'honra.' Devido a elas, as massas desenvolvem-se grau apósgrau para induzir uma face de um homem inteiro". 63 Por outras palavras, inveja não émá em si mesma, e contudo temos de lidar com ela, corrigi-la, e apontá-la para umadireção construtiva.

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    A INCLINAÇÃO (NÃO NECESSARIAMENTE) DO MAL

    Quando nossos sábios escrevem sobre Yetzer HaRá  (inclinação ao mal), referem-se àmaneira como usamos a inveja para prejudicar os outros ou beneficiar às suas custas. Mas

    se usarmos as já mencionadas inveja, cobiça e honra adequadamente, tornam-se o nosso próprio meio de correção. Foi isto que o Sagrado Shlah escreveu, "As piores qualidadessão inveja, ódio, avareza, cobiça e assim por diante, que são as qualidades da inclinaçãoao mal - as próprias com as quais ele servirá o Criador". 64

    E todavia, inerentemente, usamos essas inclinações negativamente, como está escrito(Génesis, 8:21), “A inclinação do coração do homem é má desde sua juventude".Similarmente, “ Não há mal senão a inclinação do mal,” escreveu Shimon Ashkenazi,65e séculos antes, o  Midrash Rabá  estabeleceu que “As pessoas estão inundadas eminclinação do mal, como se diz, 'Pois a inclinação do coração do homem é má desde a sua

     juventude’”. 66

    Abraão descobriu que de todas as criações, somente as pessoas possuem uma inclinaçãoao mal. Foi por isso que o grande Ramchal escreveu, "Não há outra criação que possafazer mal como o homem. Ele pode pecar e se revoltar e a inclinação do coração dohomem é má desde sua juventude, que não é assim com qualquer outra criatura. ”67 

    Baal HaSulam escreve que a inclinação do mal é a vontade de receber.68 Todavia, emanteriores capítulos dissemos que a vontade de receber é o todo da Criação, e o homemconstitui o quarto e mais desenvolvido nível da vontade de receber. Por que então é anossa vontade de receber a origem de todo o mal?

    O problema é que a vontade de receber no nível falante não é estática. Ela está

    constantemente crescendo e constantemente buscando mais. Nas palavras de nossossábios, "Não se abandona o mundo com metade dos seus desejos na sua mão, pois aqueleque tem cem deseja duzentos; aquele que tem duzentos deseja quatrocentos". 69

    Porque procuramos constantemente mais, estamos sempre carentes.

    Similarmente, o Sagrado Shlah diz, "Aquele que não está contente sempre carece,"70 eestá desta forma constantemente infeliz e insatisfeito. Olhando para a nossa sociedadeconsumista, podemos ver que se sucumbirmos a esse elemento na nossa natureza, seremos

     jogados para uma "caça ao prazer" interminável que não pode terminar e que não nos fazfelizes, também.

    Assim, Abraão percebeu que a inclinação do mal, o ódio e alienação que apareciam entreos Babilônios, causavam todos os problemas entre eles, e que não havia esperança queeste fermentar abrandasse por si mesmo. Contudo, ele também percebeu que ter umavontade de receber intensa era necessário para o propósito da Criação, para o homemalcançar  Dvekut   [adesão, equivalência de forma] com o Criador. Nas palavras deRamchal, completando a citação acima, "Mas por outro lado, quando ele [homem] écorrigido e complementado, ele se eleva acima de todos, e ele merece aderir [apegar] aEle, e todas as outras criações são dependentes dele". 71

    Desta forma, em vez de tentar aniquilar a inclinação do mal. Abraão desenvolveu ummétodo pelo qual as pessoas se corrigiriam, ou "domariam" suas inclinações, ou seja seus

    egos, e assim beneficiariam do seu crescimento. Assim que ele concebeu o método, ele

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    começou a partilhá-lo com todos, não abrindo exceções, como Maimônides testemunha,"Ele começou a clamar ao mundo inteiro”. 72

    Como mencionamos na Introdução, Maimônides escreveu que Abraão "plantou seu princípio [que há um Deus, uma força no mundo] nos seus corações, compôs livros sobreisso, e ensinou seu filho, Isaac".

    Contudo, o método de Abraão era adequado somente aos seus contemporâneos. Ele não podia ser, nem era suposto ser adequado a gerações posteriores. Porque a inclinação domal no nível falante - a vontade de recebermos para nós mesmos, também conhecidacomo "egoísmo" - está sempre crescendo e se desenvolvendo, na altura em que o povo deIsrael havia se tornado uma nação e saiu do Egito, um novo método de correção eranecessário.

    Os três milhões ou assim que saíram do Egito eram diferentes das setenta almas quehaviam entrado nele dois séculos mais cedo. No Egito, a vontade de receber de Israelaumentou tremendamente, e precisava de um conjunto muito explicito de instruções com

    o objetivo de a corrigir.

    MOISÉS DIZ, "UNAM-SE!"

    A solução veio na forma da Torá de Moisés, mas também uma nova condição prévia paraa execução de qualquer correção desse tempo em diante. Para receber a Torá, escreve ogrande comentador, RASHI, o povo de Israel se encontrou no sopé do Monte Sinai "comoum homem com um coração". 73 Essa absoluta e completa unidade mais tarde evoluíanuma das características mais proeminentes de Israel - responsabilidade mútua- o nobretraço que distinguia Israel de todas as nações desse tempo.

    Sob sua aceitação da condição de serem como um homem com um coração, Israelreceberam a Torá, a instrução, o código de leis que os ajudaria a dominar o ego. Com ela,eles tornaram-se uma sociedade onde cada membro - homem, mulher e criança - alcançouo Criador e vivia pela lei de garantia mútua, em equivalência de forma com o Deus (ouforça) una que Abraão havia descoberto. O Talmude Babilónio escreve, "Eles verificaramde Dan a Beer Sheva e nenhum ignorante [pessoa não corrigida] foi encontrado de Gevata Antipris, e nenhum menino ou menina, homem ou mulher foi encontrado que nãoversasse cuidadosamente nas leis da pureza e impureza [correções de acordo com a lei deMoisés]. ”74 

    Com sua recentemente adquirida unidade, Israel conquistou Canaã - da palavra  Kenia'a (render)75 - e tornou-a a "Terra de Israel" - um lugar onde o desejo pelo Criador governa.O Templo que Israel estabeleceu na terra representava seu alto nível de realização, ondeeles continuaram a desenvolver e a implementar o método de Moisés.

    E ainda assim, como nossos sábios escrevem, "A inclinação ao mal nasce com o homem,e cresce com ele sua vida inteira,"76 e "A inclinação no coração do homem é má desdesua juventude, e sempre cresce em todas as cobiças". 77 Ainda assim, o método de Moisésde correção, as leis a que chamamos "a Torá," permaneceu intacto durante o primeiro esegundo Templos, e até durante o exílio em Babel.

    Mas à medida que o declínio espiritual de Israel continuou, o povo achou cada vez maisdifícil se segurar à sua unidade e conexão com o Criador. Como resultado, o Segundo

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    Templo era num grau espiritual inferior (nível de conexão, ou equivalência de forma como Criador) que o primeiro.

    O Cabalista Rabi Behayei Ben Asher Even Halua explica, "Desde o dia em que aDivindade estava presente em Israel, sob a doação da Torá, ela não se moveu de Israelaté à ruína do Primeiro Templo. Uma vez que desde a ruína do Primeiro Templo ... elanão estava presente permanentemente, como durante o Primeiro Templo. ”78 

    Eventualmente, o nível de egoísmo aumentou no povo de Israel a tamanha extensão queele os separou por completo uns dos outros e do Criador. Certamente, foi a separação unsdos outros que causou sua separação do Criador, da percepção da força fundamental davida. Isto, por sua vez, resultou na ruína do Segundo Templo, e o último e mais longoexílio.

     No seu livro, Netzá Yisrael  [O Poder de Israel ], Rabi Yisrael Segal descreve a queda dagraciosidade de Israel: "No Segundo Templo havia uma virtude especial, que Israel nãoestavam divididos em dois; havia somente união entre eles. Desta forma, o Primeiro

    Templo foi arruinado por transgressões que são Tuma'a [impureza], e o Senhor não moraentre eles no meio de sua Tuma'a. Mas o Segundo Templo foi arruinado por ódio semfundamento, que revoga sua união, que era sua virtude no Segundo Templo". 79

    Similarmente, o grande acadêmico e poeta, Rabi Avraham Ben Meir Ibn Ezra, escreveu,"'E vós pisareis nos seus altos lugares,' 'E eu vos deixarei montar nos altos lugares daterra,' e a razão é que o ódio sem fundamento que estava presente no Segundo Templo atéque ele gerasse o exílio sobre Israel". 80

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    A GRANDE QUEDA,

    E AS SEMENTES DA REDENÇÃO

    O exílio após a ruína do Segundo Templo derivou de ódio sem fundamento, mas elatambém serviu um propósito duplo. O primeiro foi que o exílio foi um incentivo paradesenvolver mais o método de correção. Uma vez que a Torá de Moisés não era maissuficiente para manter o nível espiritual da nação, era hora de adaptar o método à presentecondição do povo - estando em exílio, e mais egoísta que durante o tempo de Moisés. Osegundo propósito do exílio foi que Israel se misturasse com outras nações, para espalharo "gene espiritual" pelo mundo, e assim permitir a correção da humanidade inteira, comoAbraão pretendia inicialmente.

     Na altura da ruína do Segundo Templo, dois corpos seminais foram compostos. Um foi oMishná, e o outro foi O Livro do Zohar . O anterior, juntamente com a Bíblia, tornou-se afundação de virtualmente toda a sabedoria Judaica desse dia em diante. O último, poroutro lado, foi escondido pouco depois de ser escrito, e permaneceu escondido durantemais de mil anos, até ter aparecido nas mãos de Rabi Moshé de Leon.

    Os autores do Mishná, a Gemará, e o resto dos escritos de nossos sábios forneceram ao povo exilado de Israel a orientação tanto nos níveis espirituais como físicos. Enquanto osescritos narram estados espirituais, eles podem também ser prontamente percepcionamoscomo mandamentos físicos.

    Porque as leis que nossos sábios instruíram se originaram de leis espirituais, elas foramaplicáveis à vida física, tal como Israel as havia aplicado antes da ruína do Templo

    Desta maneira, os Judeus mantiveram certo nível de conexão com o nível espiritual do passado sem o próprio alcance da fonte e origem das leis.

    Rabi Menahem Nahum de Chernobyl escreveu em respeito da desconexão de Israel donível espiritual e perda de alcance do Criador. "A razão do exílio é a ruína do Templo emgeral e em particular. Israel se [tornaram] tão corrompidos que causaram a expulsão daShechiná [Divindade] do Templo geral. Este Templo particular [pessoal] está dentro deseus corações ... e através a partida do Templo [Divindade] particular ... [eles]abandonaram o Templo geral e o exílio chegou". 81

     No mesmo espírito, Jonathan Ben Natan Netah Eibshitz escreveu, "No Primeiro Templo,Divindade não se moveu do Templo porque o exílio foi durante um curto tempo. Mas na

    segunda ruína, que é durante um período prolongado de tempo, a Shechiná [Divindade] partiu por completo". 82

    E enquanto a maioria dos Judeus se concentrou em manter uma ligação com aespiritualidade no nível instruído a eles pelos sábios do Mishná e Gemará, houveramsempre alguns poucos excepcionais que simplesmente não conseguiam permanecer coma observação cega de mandamentos. As questões que conduziram Abraão a descobrir oCriador ardiam dentro deles; seus pontos no coração não haviam sido saciados, e elesforam conduzidos ao mais profundo de todos os estudos, a sabedoria da Cabalá.

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    UMA NOVA ERA, UMA NOVA ABORDAGEM

    Os Cabalistas mantiveram seus estudos secretos. Nos seus quartos secretosdesenvolveram um método de correção que seria adequado a todos, quem quer que precisasse. Em pequenos grupos, por vezes sozinhos, eles estudavam e alcançavam, masmantinham o que haviam aprendido e escreviam na maioria das vezes para si mesmos.

    Mas um dia no século XVI, um jovem homem com o nome de Isaac Luria veio à cidadeCabalista de Tzfat no Norte de Israel. Sua chegada marcou o começo de uma nova era naevolução do método de correção. Através do seu principal estudante, Chaim Vital, IsaacLuria - hoje conhecido como o Sagrado ARI - detalhou uma abordagem completamentenova à sabedoria da Cabalá. Suas explicações aparentemente técnicas da estrutura dosistema espiritual e suas descrições sistemáticas precisas gradualmente se tornaram ométodo de estudo prevalecente entre os Cabalistas.

    O principal discípulo do ARI, Rabi Chaim Vital, diligentemente escreveu o que seu professor havia ditado. Depois do falecimento de Rabi Vital, seu filho começou a publicaresses escritos, os mais notáveis dos quais são Árvore da Vida e Oito Porões. Nesse tempo,essas composições tornaram-se a base do método predominante de estudo de Cabalá, aCabalá Luriânica, nomeada segundo Isaac Luria, o ARI.

    PERMISSÃO PARA SE ENVOLVER

    Juntamente com a crescente predominância da Cabalá Luriânica, uma gradual emergênciado sigilo começou assim que mais e mais Cabalistas sentiram que o tempo era certo paradivulgar o método pelo qual o mundo alcançaria sua correção final.

     No seu livro,  Luz do Sol , o Cabalista Rabi Avraham Azulai escreveu, "A proibição doAlto a se refrear do estudo aberto da sabedoria da verdade [Cabalá] foi durante um períodolimitado de tempo, até ao fim de 1490. Desta forma, é considerada a última geração, naqual a proibição foi levantada e a permissão foi dada para se envolver em O Livro do

     Zohar . E desde o ano 1540, tem sido um grande Mitzvá (mandamento, boa ação, correção) para as massas estudarem, velhos e novos. E uma vez que o Messias está destinado a vircomo resultado, e por nenhuma outra razão, é desapropriado ser negligente". 83

    Embora o ARI não permitisse a ninguém senão Chaim Vital a estudar seus ensinamentos,o último escreveu profusamente sobre a importância de estudar a