Comparativo entre RPG e Alongamento Segmentar

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12 Reeducação postural global e alongamento estático segmentar na melhora da flexibilidade, força muscular e amplitude de movimento: um estudo comparativo Global posture reeducation and static muscle stretching on improving flexibility, muscle strength, and range of motion: a comparative study José Luís Pimentel do Rosário 1 , Adriana de Sousa 2 , Cristina Maria Nunes Cabral 3 , Silvia Maria Amado João 4 , Amélia Pasqual Marques 4 1 Fisioterapeuta; Ms. 2 Fisioterapeuta; mestranda em Ciências da Reabilitação no Fofito/FMUSP (Depto. de Fonoaudiologia, Fisioterapia e Terapia Ocupacional da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, São Paulo, SP) 3 Fisioterapeuta; Profa. Dra. do Programa de Mestrado em Fisioterapia, Universidade Cidade de São Paulo, São Paulo, SP 4 Fisioterapeutas; Profas. Dras. do Curso de Fisioterapia, Fofito/FMUSP ENDEREÇO PARA CORRESPONDÊNCIA Amélia P. Marques Fofito/ FMUSP Rua Cipotânea 51 Cidade Universitária 05360-160 São Paulo SP e-mail: [email protected] APRESENTAÇÃO set. 2006 ACEITO PARA PUBLICAÇÃO ago. 2007 RESUMO: Exercícios de alongamento são usados para aumentar a flexibilidade e amplitude de movimento (ADM). Entre os métodos existentes, destacam-se a reeducação postural global (RPG), que promove o alongamento global das cadeias musculares, e o alongamento segmentar, que alonga um músculo ou grupo muscular específico. Este estudo visou comparar o alongamento segmentar e o global pela técnica de RPG quanto ao ganho de flexibilidade, ADM e força muscular. Trinta mulheres foram distribuídas aleatoriamente em três grupos (n=10 em cada): o grupo global fez alongamento de cadeias musculares; o grupo segmentar realizou alongamento segmentar; e o grupo controle não fez alongamento. Antes e depois do tratamento, em todos os grupos, foram avaliadas a ADM de extensão da perna, flexibilidade pelo teste 3o dedo-solo e força isométrica de flexão da perna em 45° e 90°. Os dois grupos experimentais realizaram oito sessões de alongamento de 30 minutos cada, duas vezes por semana. Toda a análise estatística foi realizada com p<0,05. Os resultados dos grupos global e segmentar foram semelhantes entre si e superiores aos do grupo controle na ADM, flexibilidade e força muscular em 45° e 90° (p<0,05). Na avaliação intra-sessões, os dois grupos também tiveram desempenhos semelhantes, com ganho relativo da ADM maior nas primeiras e decrescendo ao longo das sessões. Ambas as técnicas de alongamento foram pois igualmente eficientes no aumento de flexibilidade, ADM e força muscular. DESCRITORES: Amplitude de movimento articular; Elasticidade; Exercícios de alongamento muscular; Força muscular ABSTRACT: Stretching exercises are prescribed to increase flexibility and range of motion (ROM). Two current stretching methods are the global posture reeducation (GPR), where muscle chains are stretched, and segmentary exercises, where a single muscle or muscle group is stretched. The aim of this study was to compare these two techniques, assessing their effects on improving flexibility, ROM and muscle strength. Thirty women were randomly distributed into three groups (n=10 each): global group performed stretching following GPR method; segment group performed segment stretching exercises; and control group did no exercise. Before and after treatment, in all groups, knee extension ROM, flexibility by means of the fingertip-to-floor test, and isometric muscular strength at 45° and 90° knee flexion were measured. Each treated group performed eight stretching 30-minute sessions for four weeks, twice a week. Data were statistically analysed and the significance level set at p<0.05. Global and segment group results were similar and better than control group’s concerning ROM, flexibility and muscle strength at 45° and 90° knee flexion (p<0.05). When assessing improvement inter-sessions, both groups had better ROM improvement at the first sessions, decreasing along the others. Both global and segmentary stretching techniques were hence found effective in improving flexibility, ROM and leg muscle strength. KEY WORDS: Elasticity; Muscle strength; Muscle stretching exercises; Range of motion, articular FISIOTERAPIA E PESQUISA 2008; 15(1): 12-8

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Reeducação postural global e alongamento estático segmentar na melhora daflexibilidade, força muscular e amplitude de movimento: um estudo comparativo

Global posture reeducation and static muscle stretching on improving flexibility,muscle strength, and range of motion: a comparative study

José Luís Pimentel do Rosário1, Adriana de Sousa2, Cristina Maria Nunes Cabral3,Silvia Maria Amado João4, Amélia Pasqual Marques4

1 Fisioterapeuta; Ms.

2 Fisioterapeuta; mestranda emCiências da Reabilitação noFofito/FMUSP (Depto. deFonoaudiologia, Fisioterapia eTerapia Ocupacional daFaculdade de Medicina daUniversidade de São Paulo,São Paulo, SP)

3 Fisioterapeuta; Profa. Dra. doPrograma de Mestrado emFisioterapia, UniversidadeCidade de São Paulo, SãoPaulo, SP

4 Fisioterapeutas; Profas. Dras.do Curso de Fisioterapia,Fofito/FMUSP

ENDEREÇO PARA

CORRESPONDÊNCIAAmélia P. MarquesFofito/ FMUSPRua Cipotânea 51 CidadeUniversitária05360-160 São Paulo SPe-mail: [email protected]

APRESENTAÇÃOset. 2006

ACEITO PARA PUBLICAÇÃOago. 2007

RESUMO: Exercícios de alongamento são usados para aumentar a flexibilidade eamplitude de movimento (ADM). Entre os métodos existentes, destacam-se areeducação postural global (RPG), que promove o alongamento global das cadeiasmusculares, e o alongamento segmentar, que alonga um músculo ou grupo muscularespecífico. Este estudo visou comparar o alongamento segmentar e o global pelatécnica de RPG quanto ao ganho de flexibilidade, ADM e força muscular. Trintamulheres foram distribuídas aleatoriamente em três grupos (n=10 em cada): ogrupo global fez alongamento de cadeias musculares; o grupo segmentar realizoualongamento segmentar; e o grupo controle não fez alongamento. Antes e depoisdo tratamento, em todos os grupos, foram avaliadas a ADM de extensão da perna,flexibilidade pelo teste 3o dedo-solo e força isométrica de flexão da perna em 45°e 90°. Os dois grupos experimentais realizaram oito sessões de alongamento de30 minutos cada, duas vezes por semana. Toda a análise estatística foi realizadacom p<0,05. Os resultados dos grupos global e segmentar foram semelhantesentre si e superiores aos do grupo controle na ADM, flexibilidade e força muscularem 45° e 90° (p<0,05). Na avaliação intra-sessões, os dois grupos também tiveramdesempenhos semelhantes, com ganho relativo da ADM maior nas primeiras edecrescendo ao longo das sessões. Ambas as técnicas de alongamento foram poisigualmente eficientes no aumento de flexibilidade, ADM e força muscular.DESCRITORES: Amplitude de movimento articular; Elasticidade; Exercícios de

alongamento muscular; Força muscular

ABSTRACT: Stretching exercises are prescribed to increase flexibility and rangeof motion (ROM). Two current stretching methods are the global posturereeducation (GPR), where muscle chains are stretched, and segmentaryexercises, where a single muscle or muscle group is stretched. The aim ofthis study was to compare these two techniques, assessing their effects onimproving flexibility, ROM and muscle strength. Thirty women were randomlydistributed into three groups (n=10 each): global group performed stretchingfollowing GPR method; segment group performed segment stretching exercises;and control group did no exercise. Before and after treatment, in all groups,knee extension ROM, flexibility by means of the fingertip-to-floor test, andisometric muscular strength at 45° and 90° knee flexion were measured. Eachtreated group performed eight stretching 30-minute sessions for four weeks,twice a week. Data were statistically analysed and the significance levelset at p<0.05. Global and segment group results were similar and better thancontrol group’s concerning ROM, flexibility and muscle strength at 45° and90° knee flexion (p<0.05). When assessing improvement inter-sessions, bothgroups had better ROM improvement at the first sessions, decreasing alongthe others. Both global and segmentary stretching techniques were hencefound effective in improving flexibility, ROM and leg muscle strength.KEY WORDS: Elasticity; Muscle strength; Muscle stretching exercises; Range of

motion, articular

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INTRODUÇÃOOs exercícios de alongamento têm

como principal objetivo proporcionarmaior flexibilidade a qual, segundoBandy et al.1, é a habilidade de ummúsculo aumentar seu comprimento,possibilitando a uma ou mais arti-culações, em seqüência, se moveremem uma determinada amplitude demovimento (ADM).

Na prática clínica, freqüentementeo alongamento estático é o mais utili-zado por ser considerado mais seguro,pois uma força relativamente constanteé aplicada vagarosa e gradualmenteaté um ponto tolerado pelo paciente(que representa o ponto de maior com-primento muscular possível, de formaa evitar o reflexo de estiramento) emantida por um curto período detempo2,3. Ainda que Lardner4 considerealongamento estático só o que é reali-zado por uma força passiva, externaao paciente (por exemplo, um fisiote-rapeuta), o mesmo pode ser realizadopelo próprio indivíduo, desde que hajarelaxamento muscular na posiçãoalongada.

O alongamento estático normal-mente é utilizado para alongar isola-damente um músculo até um pontotolerável e sustentar a posição por cer-to tempo, daí ser considerado segmen-tar. Por sua vez, o alongamento globalalonga vários músculos simultanea-mente, pertencentes à mesma cadeiamuscular, e parte do pressuposto deque um músculo encurtado cria com-pensações em músculos próximos oudistantes5. Essa técnica, conhecidacomo reeducação postural global(RPG), preconiza a utilização de postu-ras específicas para o alongamento demúsculos organizados em cadeiasmusculares, sendo considerado de lon-ga duração (aproximadamente 15 minu-tos em cada postura). De acordo com aRPG, as cadeias musculares são cons-tituídas por músculos gravitacionais quetrabalham de forma sinérgica dentroda mesma cadeia. Por exemplo, todosos músculos da cadeia posterior possi-bilitam a manutenção da posiçãoortostática contra a ação da gravidade.

Rosário et al. Comparação entre alongamento global e segmentar

O alongamento segmentar de um des-ses músculos, ao não levar em contaas compensações secundárias queocorrem na respectiva cadeia mus-cular, poderiam torná-lo menoseficiente6.

Em relação ao aumento de ADM,alguns estudos foram realizados parademonstrar os benefícios do alongamen-to segmentar. Bandy et al.2 compararamos efeitos de diferentes repetições diáriase durações do alongamento ativosegmentar dos músculos isquiotibiaissobre a flexibilidade, medida pelo en-curtamento dos mesmos músculos. Ossujeitos avaliados foram divididos emcinco grupos: o primeiro realizou trêsrepetições de alongamento comduração de um minuto, o segundo trêsrepetições com duração de 30 segun-dos, o terceiro, uma repetição de alon-gamento por um minuto, o quarto umarepetição com 30 segundos de duraçãoe o quinto foi o grupo controle. Osalongamentos foram realizados duran-te seis semanas com freqüência decinco vezes semanais. Os autoresconstataram que, quando o objetivo éaumentar a ADM, alongamentos comduração de 30 segundos mostram-seefetivos, e que não houve diferençaquando a duração do alongamentoaumentou de 30 para 60 segundos oua freqüência de uma para três vezesdiárias.

Guirro et al.7 avaliaram a flexibili-dade e força dos músculos isquiotibiaisem contração isométrica com a pernafletida a 30°, 90° e 120°, após umprograma de alongamento segmentarem mulheres sem lesão musculoes-quelética. O programa foi realizadodurante cinco semanas com fre-qüência de três vezes semanais, sendorealizadas 15 repetições de alonga-mento passivo mantidas por 60 segun-dos. Os resultados mostraram diminui-ção do encurtamento dos músculosisquiotibiais e aumento da força mus-cular em todos os ângulos avaliados.

Na prática fisioterapêutica, sãousados com freqüência os exercíciosde alongamento de músculo ou gruposmusculares, ou seja, o alongamentosegmentar. Clinicamente, o alonga-

mento global tem se mostrado eficien-te no tratamento dos desvios posturaise no ganho de flexibilidade, porém aliteratura ainda é escassa6,8,9. Dessaforma, o objetivo deste estudo foicomparar os dois tipos de alongamento– segmentar e global pela técnica deRPG – na melhora da flexibilidade,força muscular e ADM de indivíduossem lesão musculoesquelética.

METODOLOGIAO estudo foi realizado no Centro de

Docência e Pesquisa do Departamentode Fonoaudiologia, Fisioterapia e Te-rapia Ocupacional e o projeto foi apro-vado pelo Comitê de Ética do Hospitaldas Clínicas da Faculdade de Medici-na da Universidade de São Paulo.

SujeitosParticiparam do estudo 33 volun-

tárias sem lesão musculoesqueléticade tipo algum, selecionadas de acordocom os seguintes critérios:

• ter idade entre 21 e 30 anos;

• ser do sexo feminino, para garan-tir maior homogeneidade daamostra;

• apresentar encurtamento dosmúsculos isquiotibiais, considera-do como uma perda de, pelomenos, 15° na extensão da perna;

• consentir em participar do estudoe assinar o termo de consenti-mento pós-informação, livre eesclarecido.

Foram excluídas as voluntárias comalgum tipo de algia musculoesquelé-tica dos membros inferiores e de pa-tologia que limitasse a amplitude demovimento; as participantes querelatassem mudança na freqüência e/ou intensidade de prática esportivadurante o tratamento; e as que faltas-sem a uma sessão e esta não fossereposta na mesma semana.

Três participantes, devido às faltas,não completaram o tratamento. Dessaforma, a amostra final foi constituídapor 30 mulheres, distribuídas aleatoria-

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mente em três grupos com 10 indi-víduos cada: o grupo global fezalongamento pela técnica de RPG; ogrupo segmentar (fez alongamentosegmentar; e o grupo controle não fezalongamento.

InstrumentosForam utilizados um goniômetro de

acrílico transparente (Carci®) commarcações de zero a 360°; fita métri-ca; dinamômetro (Filizola®) cilíndricocom capacidade de 50 Kgf, devida-mente calibrado; colchonetes e macapara as sessões de alongamento.

Procedimentos de avaliaçãoA avaliação de todas as partici-

pantes, realizada na primeira e últimasessões, consistiu em: preenchimentode um protocolo onde se registraramdados pessoais; e avaliação dasseguintes variáveis:

• Encurtamento dos músculosisquiotibiais: foi medido pelaamplitude de extensão da perna.A voluntária ficava em decúbitodorsal, mantendo as pernas fleti-das com os pés apoiados nocolchonete. A coxa direita foi po-sicionada em flexão de 90° esolicitava-se que estendesse ati-vamente a perna, aplicando-se ogoniômetro com o braço fixoapontando para o trocânter maiordo fêmur, o fulcro no centro daarticulação do joelho seguindo alinha do epicôndilo lateral dofêmur, e o braço móvel apontan-do para o maléolo lateral2,10. Asmedidas foram obtidas sempre nojoelho direito.

• Flexibilidade: foi utilizado o teste3o dedo–solo. A voluntária ficavaem posição ortostática com ospés paralelos e em seguidarealizava flexão do tronco man-tendo os braços e a cabeça rela-xados. O avaliador media a dis-tância perpendicularmente doterceiro dedo da mão direita aosolo10,11.

• Força muscular: medida pelo

teste realizado com a voluntáriaem decúbito ventral, com o dina-mômetro fixado à parede e presoa seu tornozelo por meio de umafaixa de tecido sintético inexten-sível. O objetivo foi medir a in-tensidade da força isométrica(em Kgf) da flexão da perna a 45°e 90°, sendo realizadas trêsrepetições de 6 segundos comintervalos de 30 segundos entrecada repetição. Um tempo dedescanso de dois minutos foi dadoantes da mudança de angulação.A instrução dada era que as vo-luntárias fizessem o máximo deforça no sentido da flexão daperna assim que ouvissem ocomando inicial, e relaxassemao comando final. Durante ascontrações isométricas, foramdados estímulos verbais por partedo examinador. Foi consideradaa maior medida obtida nas trêsrepetições em cada posição7.

Sessões de alongamentoAs sessões tiveram duração de 30

minutos e foram realizadas duas vezespor semana durante quatro semanas,com intervalo mínimo de 48 horasentre as sessões.

No grupo RPG, as participantesforam submetidas a duas posturas dealongamento mantidas por 15 minutoscada, em abertura e fechamento doângulo coxofemoral. A decisão sobrequais posturas seriam utilizadas emcada sessão teve como parâmetros ostestes de abertura e fechamento deângulo coxofemoral e membrossuperiores, segundo procedimento deMarques12. Essas posturas eramrealizadas em decúbito dorsal quandoo objetivo era trabalhar com maiorênfase os membros superiores e o seg-mento cervical da coluna vertebral;na posição sentada, quando a ênfaseera no tórax e coluna vertebral; e empé, quando se focalizavam tronco emembros inferiores.

Em todas as posturas eram tomadosalguns cuidados: não permitir compen-sações em outras articulações, como

aumento da lordose lombar ou protru-são de ombros; evitar que as costelasadotassem a posição inspiratória; e osegmento lombar da coluna vertebraldeveria permanecer retificado.

No grupo segmentar, foram alonga-dos músculos que fazem parte dascadeias musculares e que também fo-ram alongados no grupo global. Cadaalongamento durava 30 segundos,realizado passivamente ou de maneiraautopassiva, bilateralmente, semprecom a preocupação de fixar os seg-mentos próximos a fim de evitarcompensações. Os exercícios dealongamento foram baseados emKisner e Colby13 e Kendall et al.14.Foram alongados os seguintes músculosnas posições:

• decúbito dorsal: músculos isquio-tibiais, flexor curto e longo dosdedos, flexor profundo e super-ficial dos dedos, flexor curto elongo do hálux, paravertebrais,glúteos, músculos lombares, fle-xor longo do polegar e adutor dopolegar, subescapular, deltóide,pronador redondo e pronadorquadrado;

• decúbito ventral: músculos gas-trocnêmios e sóleo, peitoralmaior, peitoral menor, bícepsbraquial e braquial;

• sentada: músculos adutores demembro inferior, iliopsoas, tra-pézio superior, pronador redondoe pronador quadrado.

Análise estatísticaFoi realizada com nível de signifi-

cância de 5% e os intervalos com coe-ficientes de confiança de 90%, pelostestes qui-quadrado, t de Student,ANOVA e Kruskal-Wallis. O teste qui-quadrado foi usado para analisar avariável qualitativa “atividade física”das voluntárias.

O teste ANOVA foi usado paracomparar os grupos sob suposição denormalidade e igualdade de variância.A confirmação dos resultados daANOVA foi feita pelo teste de Kruskal-Wallis, que é não paramétrico. Os

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21

3

2

1

3

2

1

3-2

5

12

19

Global Segmentar Controle

Mel

hora

rel

ativ

a

Limite Superior

Média

Limite Inferior

Ganho relativo de ADM: intervalos com 90% de confiança

0

2

4

6

8

10

1ª 2ª 3ª 4ª 5ª 6ª 7ª 8ª

Mel

hora

rel

ativ

a

Limite superior

Média

Limite inferior

Variável Global (n=10)

Segmentar (n=10)

Controle (n=10)

p Anova p K-W

Encurtamento dos músculos isquiotibiais (°) 16 3,8 12,6 7,8 0,9 4,1 0,001 0,12

Flexibilidade (cm) 9,6 8,8 2,7 2,5 1,3 0,9 0,02 0,28 Força muscular a 90° (Kgf) 1,1 1,4 1,4 2,0 -0,5 1,3 0,02 0,92 Força muscular a 45° (Kgf) 2,2 1,1 3,1 3,2 -1 1,8 0,02 0,92

intervalos de confiança para a médiados grupos foram construídos para aidentificação dos grupos discrepantes.Para confirmação do que foi visuali-zado nos gráficos de intervalos deconfiança, o teste Kruskal-Wallis foiutilizado na comparação dois a doisdos grupos.

A variável utilizada em todos ostestes estatísticos foi o ganho relativo(GR) comparando-se o pré e o pós-trata-mento, de acordo com as seguintesfórmulas:

• GR = 100 X (pós-pré)/pré, no casoonde aumento significa melhora;

• GR = 100 X (pré-pós)/pré, no casoonde diminuição representamelhora.

Os procedimentos estatísticos utili-zados neste trabalho podem ser encon-trados em detalhe em Noether15.

RESULTADOSA análise dos dados demográficos

(Tabela 1) não evidenciou diferençaestatisticamente significante entre osgrupos em relação à idade (p=0,16) eao nível de atividade física (p=0,5).Além disso, todas as voluntárias eramdo sexo feminino, estudantes e solteiras.

Os valores médios do ganho rela-tivo de ADM da extensão da perna,de flexibilidade e de força de flexãoda perna a 45° e 90° são apresentadosna Tabela 2. Foi observada diferençaestatisticamente significante entre ostrês grupos no ganho de ADM,flexibilidade e força muscular (p<0,05)pela ANOVA. Quando o teste Kruskal-Wallis comparou os grupos dois a dois,não houve diferença significante entreos grupos que realizaram alongamentona ADM (p=0,12), flexibilidade(p=0,28) e força muscular a 45° (p=0,92)e 90° (p=0,92), indicando igualdadeentre eles.

O Gráfico 1 mostra os intervalosde confiança para o ganho relativo deADM de extensão da perna dos trêsgrupos. Entre os grupos que realizaramalongamento, os intervalos de confian-ça apresentam intersecção, indicando

Variável Global (n=10)

Segmentar (n=10)

Controle (n=10) p

Idade (anos – média dp) 22,7 1,8 21,7 1,7 21,3 1,3 0,16 Atividade física

Ativas Sem atividade

40% 60%

20% 80%

30% 70%

0,5

Tabela 1 Idade e atividade física das participantes dos grupos global,segmentar e controle

Tabela 2 Ganho relativo (média±desvio padrão e valores de p) após otratamento em cada variável estudada nos grupos global, segmentar econtrole

K-W: teste de Kruskal-Wallis; os valores de p resultantes da aplicação desse testereferem-se à comparação apenas entre os grupos global e segmentar.

Gráfico 1 Ganho relativo (intervalos de confiança a 90%) de ADM de extensãoda perna nos grupos global, segmentar e controle

Gráfico 2 Ganho relativo (intervalos de confiança a 90%) de ADM de extensãoda perna intra-sessões de alongamento nos grupos global (à esquerdaem cada coluna) e segmentar (à direita)

Rosário et al. Comparação entre alongamento global e segmentar

Sessões

Ganho relativo de ADM intra-sessões

Limite superior

Média

Limite inferior

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que não diferem significantemente en-tre si, porém diferem do grupo controle.

Na Gráfico 2 está representado oganho relativo de ADM de extensãoda perna intra-sessões para os gruposglobal e segmentar. A intersecção entreos grupos indica ausência de diferençaestatisticamente significante. Nota-seem ambos que a melhora relativa foimaior nas primeiras sessões, decres-cendo ao longo das mesmas.

DISCUSSÃOO objetivo deste estudo foi compa-

rar o efeito da RPG e do alongamentosegmentar no ganho de flexibilidade,força muscular e ADM, sendo que ahipótese inicial era que exercícios dealongamento com tempo de manuten-ção mais prolongado e em cadeiasteriam resultados mais favoráveis. Osdados dos dois grupos estudados apre-sentaram ganhos significantes após arealização dos alongamentos, porémos exercícios de curta e longa duração(alongamento segmentar e RPG, res-pectivamente) mostraram-se igual-mente eficientes.

Neste trabalho, a RPG foi aplicadapor um período de 15 minutos em cadauma das duas posturas, enquanto ogrupo segmentar alongou vários mús-culos, à razão de 30 segundos cadamúsculo, resultando em um tempototal de alongamento dos dois gruposde aproximadamente 30 minutos porsessão. Em relação ao tempo de ma-nutenção, os achados deste estudo vãocontra o postulado por Kisner e Colby13,de que o alongamento de 20 minutosou mais traria melhores ganhos que osde curta duração.

A RPG pode ser enfática em ummúsculo, mas sua proposta é o alonga-mento máximo não permitindo quehaja compensações, ou seja, consistenum tratamento que tem como umade suas premissas alongar um númerogrande de músculos de uma única vez.Por isso, outra possibilidade para expli-car a similaridade entre os grupos glo-bal e segmentar nas variáveis flexibili-dade e encurtamento dos músculos

isquiotibiais pode ser o fato de que aRPG, por distribuir a força de alon-gamento pelos músculos das cadeias,diminui a intensidade sofrida por cadamúsculo isoladamente. Como, pelaLei de Hooke16, o grau de deformaçãoé igual à força aplicada multiplicadapelo tempo de aplicação, pode-se terencontrado um resultado não estatisti-camente significante entre os grupostratados pelo fato de o alongamentosegmentar promover uma intensidadealta o suficiente para compensar ocurto tempo de alongamento.

Torna-se necessário discutir a inten-sidade do alongamento pela RPG nosmúsculos posteriores dos membrosinferiores, já que essa técnica usacontrações excêntricas para a evolu-ção das posturas, enquanto o alonga-mento segmentar trabalha os músculospassivamente. Salvini17 e Alter18 des-crevem a eficácia da contração excên-trica no ganho de ADM e hipertrofiamuscular. Portanto, esperava-se que,no presente estudo, houvesse no grupoglobal um ganho maior de flexibili-dade, ADM de extensão da perna e,em especial, de força muscular, tantopelo aumento da energia potencialelástica relativa à maior ADM deextensão da perna quanto pelo treinodireto de força contrátil da muscula-tura. Mas tal fato não ocorreu, ou seja,não foram encontradas diferençassignificantes dessas variáveis entre osdois tipos de alongamento. Isso podesignificar que, durante o tratamentocom alongamento global, não houveestimulação contrátil suficiente nosmúsculos isquiotibiais para provocaras diferenças esperadas.

Alguns estudos investigaram os efei-tos do alongamento muscular segmen-tar na ADM, considerando como formade avaliação o encurtamento dosmúsculos isquiotibiais. Bandy et al.2

observaram que, em uma populaçãode adultos jovens, o tempo de manu-tenção de 30 segundos é suficientepara obter ganhos de flexibilidade.Grandi19 não obteve diferenças entre18 e 30 segundos de manutenção nomesmo tipo de população, enquantoFeland et al.20 constataram um aumen-to na ADM de extensão da perna após

a realização de alongamentos manti-dos por 60 segundos estudandoindivíduos idosos. Como a populaçãodeste estudo tinha idade entre 21 e 30anos, inferiu-se que 30 segundos emposição de alongamento eram su-ficientes para aumentar a flexibilidadee ADM.

Outros autores estudaram os efeitosda técnica de RPG e do alongamentosegmentar no tratamento de pacientes.Cabral et al.9 trataram pacientes comsíndrome fêmoro-patelar por oito sema-nas e observaram que ambas as técni-cas aumentaram a ADM de extensãoda perna, porém o alongamento globalproduziu maior ganho de flexibilidade.Essa diferença em relação ao presenteestudo pode ter ocorrido pela etiologiaespecífica dessa síndrome, baseadaem encurtamentos musculares. JáFernández-de-las-Peñas et al.8 tratarampacientes com espondilite anquilosan-te e observaram uma melhora da mo-bilidade do esqueleto axial após arealização de ambas as técnicas, oque, apesar das diferentes regiõesavaliadas, está de acordo com osresultados obtidos neste estudo.

Não existe consenso em relação àfreqüência com que os exercíciosdevem ser realizados. Bandy et al.2 eFeland et al.20 realizaram alongamen-tos com freqüência de cinco vezes porsemana e Grandi19 apenas uma vez porsemana. Neste estudo, os exercíciosde alongamento foram realizados duasvezes por semana e os resultados foramsatisfatórios no ganho de flexibilidadee força muscular e na diminuição doencurtamento dos músculos isquio-tibiais.

O aumento da força muscular rela-tivo ao ganho de flexibilidade emhumanos foi descrito por Guirro et al.7.Resultados semelhantes foram encon-trados neste estudo, já que os grupostratados tiveram melhor desempenhodo que o controle, porém sem diferençaentre si. Aliás, talvez nem seja possí-vel falar apenas sobre aumento de for-ça muscular, mas também de um me-canismo de maior vantagem mecâni-ca possibilitando um melhor rendi-mento21 pela otimização do uso da

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energia potencial elástica22-24. Tendoem mente esse mecanismo de aprovei-tamento de energia potencial elástica,é possível relacionar os resultados deforça muscular com o encurtamentodos músculos isquiotibiais, pois os doisgrupos alongados se comportaram demaneira semelhante, ganhando igual-mente flexibilidade e vantagem me-cânica.

No presente trabalho, foi verificadoum aumento da força muscular dosgrupos que realizaram alongamento.Isso significa que a energia potencialelástica obtida pelo aumento daflexibilidade e ADM não substituiu aforça perdida por uma suposta com-placência do tendão. Os resultadosaqui obtidos levam a concordar comDeyne25, que calculou uma intensida-de enorme da tensão gerada peloalongamento concentrada no músculo.É muito provável que o alongamentonão afete negativamente a transmissãode força, e que, ao contrário, exerçaum efeito positivo nessa tarefa.

Analisando o ganho de ADM obtidointra-sessões, não houve diferença

entre os grupos alongados após aintervenção. Como alguns autores26,27

afirmam que o alongamento estáticode 45 segundos resulta num relaxa-mento do estresse viscoelástico instan-tâneo de 18 a 20%, com o encurta-mento usual voltando em menos de 1hora, supõe-se que o ganho intra-sessãotenha relação com a viscoelasticida-de. No Gráfico 2, é possível notar quea viscoelasticidade diminui progressi-vamente com as sessões, mostrandoque quanto mais alongada uma pessoaestá, mais difícil é o ganho maior dealongamento por efeito viscoelástico.

Outra justificativa para a respostahomogênea dos grupos é que o tra-tamento foi realizado seguindo osmesmos princípios: não permitindocompensações, estimulando um ritmorespiratório lento e sem bloqueio inspi-ratório. O alongamento estáticosegmentar é de execução mais sim-ples, o que facilita sua aprendizagem.Porém, seu procedimento adequado,com atenção cuidadosa, se faz neces-sário para obtenção do efeito obser-vado no presente estudo.

As sessões dos dois grupos foramindividuais, permitindo um atendi-mento mais personalizado e semprecom o mesmo fisioterapeuta, o que fa-cilita o vínculo e fortalece a motivaçãopara atingir as metas terapêuticas. Afigura do terapeuta que cuida e orientafaz parte do papel pedagógico na con-dução e aprendizagem dos exercícios,sugerindo sua influência nos resultados.

CONCLUSÃOAs duas técnicas de alongamento

utilizadas, reeducação postural globale estático segmentar, foram igualmen-te eficientes no ganho de flexibili-dade, amplitude de movimento e forçamuscular de indivíduos sem lesãomusculoesquelética; ambas levaram aresultados superiores aos do grupocontrole. Dessa forma, infere-se queambas podem ser utilizadas em situa-ções clínicas. Porém, para ampliar asrepercussões clínicas, recomenda-se arealização de estudos semelhantescom diferentes lesões musculoesque-léticas.

Rosário et al. Comparação entre alongamento global e segmentar

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Referências (cont.)