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FACULDADE BOA VIAGEM CENTRO DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO EM ADMINISTRAÇÃO – CPPA MESTRADO EM ADMINISTRAÇÃO MÔNICA FIGUEIREDO DE MELO COMPARTILHAMENTO DO CONHECIMENTO: A percepção dos Coordenadores da Equipe de Estudos e Projetos da Maia Melo Engenharia RECIFE, 2007

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FACULDADE BOA VIAGEM CENTRO DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO EM ADMINISTRAÇÃO – CPPA

MESTRADO EM ADMINISTRAÇÃO

MÔNICA FIGUEIREDO DE MELO

COMPARTILHAMENTO DO CONHECIMENTO: A percepção dos Coordenadores da Equipe de Estudos e

Projetos da Maia Melo Engenharia

RECIFE, 2007

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MÔNICA FIGUEIREDO DE MELO

COMPARTILHAMENTO DO CONHECIMENTO: A percepção dos Coordenadores da Equipe de Estudos e Projetos da Maia Melo Engenharia

Dissertação apresentada como requisito complementar para obtenção do grau de Mestre em Administração do Centro de Pesquisa e Pós-Graduação em Administração – CPPA da Faculdade Boa Viagem.

Orientadora: Professora Lúcia Maria Barbosa de Oliveira, Ph.D.

RECIFE, 2007

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Melo, Mônica Figueiredo de.

COMPARTILHAMENTO DO CONHECIMENTO: A Percepção dos Coordenadores da Equipe de Estudos e Projetos da Maia Melo Engenharia. – Recife: O Autor, 2007. 109 folhas: Dissertação (mestrado) – Faculdade Boa Viagem. Administração, 2007. Inclui bibliografia e apêndice. 1.Comportamento Organizacional. 2.Conhecimento 3.Compartilhamento do Conhecimento Título

658.3 CDU FBV

M528c

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FACULDADE BOA VIAGEM CENTRO DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO EM ADMINISTRAÇÃO – CPPA

MESTRADO EM ADMINISTRAÇÃO

COMPARTILHAMENTO DO CONHECIMENTO: A percepção dos Coordenadores da Equipe de Estudos e Projetos da Maia Melo Engenharia

MÔNICA FIGUEIREDO DE MELO

Dissertação submetida ao corpo docente do Mestrado em Administração do Centro de Pesquisa e Pós-Graduação em Administração (CPPA) da Faculdade Boa Viagem e aprovada

em 27 de dezembro de 2007

Banca Examinadora:

Professora Lúcia Maria Barbosa do Oliveira, Ph.D. – FBV (Orientadora)

Professora Drª. Mônica Maria de Barbosa Gueiros – UFPE (Examinadora Externa)

Professora Sonia Maria Rodrigues Calado Dias, Ph.D - FBV (Examinadora Interna)

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Dedico este trabalho à memória do meu pai, Antão Luiz de

Melo que em vida foi exemplo de determinação e dignidade

e à minha mãe, Helena Figueiredo de Melo pela sua

incansável e nobre tarefa em minha formação.

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AGRADECIMENTOS

Primeiramente a Deus, porque para Ele, nada é impossível.

Em especial aos meus pais, pelos valores que me foram transmitidos na infância que sustentam a minha vida pessoal e profissional.

Aos meus filhos, Pedro e Gabriela, que dão leveza e alegria à minha vida.

Aos meus sobrinhos queridos, Priscilla, Manuela, Roberto e Giovanna, que como meus filhos, terão sempre meu amor.

À minha amiga e cunhada, Ana Cristina, nunca vou esquecer seu apoio nos meus momentos mais difíceis.

À minha orientadora, Professora Lúcia Barbosa, pelo respeito, nunca deixando o lado humano, conduziu-nos com sabedoria para essa conquista. Muito obrigada professora!

À Professora Sonia Calado, minha examinadora interna, por acreditar e lutar para tirar de nós o nosso melhor.

À professora Mônica Gueiros, minha examinadora externa, pelas observações tão pertinentes dirigidas ao meu trabalho e que muito contribuíram para o meu aperfeiçoamento.

À Maia Melo Engenharia, em especial: Ana Cláudia, Betânia, Elsen, Glauber, Joel, Jorge, Marília, Myrtes, Rômulo, Yêda e Sérgio, pela disposição em me cederem seu precioso tempo para que pudesse chegar a conclusão deste trabalho.

À minha querida amiga Cristiane Conde. Sem ela eu não teria conseguido.

Aos amigos do Mestrado, que encheram meu coração com amizade, carinho, apoio, ensinamentos, Carolina Medeiros, Conceição Moraes, Djailton Cunha e Elda Madruga.

Aos colegas do mestrado, a todos aqueles que fazem a Faculdade Boa Viagem.

E, finalmente, mas não menos importante, a todos os meus amigos e familiares que de forma direta ou indireta acompanham minha jornada de carreira e vida e que muito torceram para que este sonho pudesse ser concretizado. Obrigada a todos!

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“Todos os dias estarás refazendo o teu desenho.

Não te fatigues logo. Tens trabalho para toda a vida.

E nem para o teu sepulcro terás a medida certa.

Somos sempre um pouco menos do que pensávamos.

Raramente, um pouco mais.”

Cecília Meireles

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RESUMO

O presente estudo diz respeito a compartilhamento do conhecimento em empresa de projetos de engenharia. Nesse sentido, tomando por base conceitos fundamentais sobre gestão do conhecimento e teorias do conhecimento nas organizações (DAVENPORT & PRUSAK, 1997; NONAKA & TAKEUCHI,1997), objetivou-se verificar até que ponto o compartilhamento do conhecimento constitui valor fundamental na cultura e identificar o seu impacto no sucesso da organização na percepção dos Coordenadores de Projetos Executivos da Maia Melo Engenharia. Para isso, foram realizadas entrevistas semi-estruturadas com os Coordenadores e Colaboradores de Estudos e Projetos da Maia Melo Engenharia procedeu-se à análise qualitativa dos conteúdos levantados (BARDIN, 2004), visando identificar até que ponto o compartilhamento do conhecimento faz parte da cultura e se constitui aspecto relevante para o sucesso da empresa. Os achados demonstraram que o compartilhamento do conhecimento faz parte da cultura da empresa e este constitui em aspecto de sucesso na visão dos coordenadores da organização. Os aspectos facilitadores e as barreiras no compartilhamento foram identificados e foi evidenciado que o treinamento, a gestão pela qualidade e os valores da cultura inicial representaram os aspectos facilitadores, assim como a integração entre equipes e a comunicação entre os líderes foram fatores representativos de barreira para o compartilhamento do conhecimento. PALAVRAS-CHAVE: comportamento organizacional, conhecimento, compartilhamento do conhecimento.

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ABSTRACT

The present study it’s about the knowledge sharing in company of engineering projects. In this direction, taking for base basic concepts on management of the knowledge and theories of the knowledge in organizations (DAVENPORT & PRUSAK, 1998; NONAKA & TAKEUCHI, 1997), was objectified to verify until point the sharing of the knowledge constitutes basic value in the culture and identify its impact in the success of the organization in the perception of the Coordinators of Executive Projects of the Maia Melo Engineering. For this, a script of half-structuralized interview was elaborated. Carried through the theoretical revision and interview with the Coordinators and Collaborators of Studies and Projects of the Maia Melo Engineering, where the same ones had answered the 13 open questions (in a total of 8 interviews), it was proceeded qualitative analysis (BARDIN, 2004) from the data, having aimed at to delineate the culture of the knowledge sharing and its impact in the success of the organization, based on the perception of the Coordinators of Projects. As conclusions of the study, it was possible to investigate the relative aspects to the easinesses and the barriers to the sharing of the knowledge and its relation with the success of the organization. Finally it could still be observed that the knowledge sharing constitutes basic value in the organizational culture of the studied company. KEY WORDS: Organizational behavior, knowledge, sharing of the knowledge.

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1 Compartilhamento de conhecimento e o efeito indireto sobre a satisfação do cliente ................................................................ 18

Figura 2 Fases da Conversão do Conhecimento................................................. 28

Figura 3 Obstáculos ao Compartilhamento do conhecimento............................. 45

Figura 4 Modelo de Compartilhamento de Conhecimento ................................. 47

Figura 5 Mapa da Pesquisa................................................................................ 66

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LISTA DE QUADROS

Quadro 1 Conceito básico do modelo de expectativa de Victor Vroom.................................................................................................... 38

Quadro 2 Fases do Modelo de Compartilhamento do Compartilhamento.................................................................................. 46

Quadro 3 Dificuldades da fase de Iniciação no Processo do Compartilhamento do Conhecimento ..................................................... 48

Quadro 4 Dificuldades da fase da Implementação do processo de Compartilhamento do Conhecimento ..................................................... 49

Quadro 5 Dificuldades na fase do processo de apoio ao compartilhamento do conhecimento ....................................................... 51

Quadro 6 Dificuldades na fase do processo de incorporação do compartilhamento do conhecimento ....................................................... 51

Quadro 7 Elementos básicos do Modelo de Compartilhamento do Conhecimento ........................................................................................ 52

Quadro 8 Entrevistados por idade e escolaridade ................................................... 60

Quadro 9 Categorização dos aspectos de relacionados à Variável Sucesso .................................................................................................. 68

Quadro 10 Categorização dos aspectos favoráveis ao compartilhamento do conhecimento ....................................................... 73

Quadro 11 Categorização dos aspectos representativos de barreira para o Compartartilhamento do Conhecimento....................................... 84

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SUMÁRIO

RESUMO

ABSTRACT

LISTA DE FIGURAS

LISTA DE QUADROS

1. INTRODUÇÃO......................................................................................................13

1.1 Definição do Problema ....................................................................................13 1.2 Objetivos da Pesquisa......................................................................................19

1.2.1 Objetivos Gerais .....................................................................................19 1.2.2 Objetivos Específicos .............................................................................19

1.3 Justificativa .....................................................................................................20 1.3.1 Justificativa Teórica................................................................................20 1.3.2 Justificativa Prática .................................................................................20

1.4 Estrutura da Dissertação ..................................................................................21

2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA .........................................................................22

2.1 Conhecimento .................................................................................................22 2.1.1 Aprendizagem.........................................................................................24 2.1.2 Tipos de Conhecimento ..........................................................................25 2.1.3 Conversão do Conhecimento...................................................................27 2.1.4 Espiral do Conhecimento ........................................................................28

2.2 Compartilhamento do Conhecimento...............................................................29 2.2.1 Condições para o Compartilhamento do Conhecimento ..........................32 2.2.2 Barreiras para o Compartilhamento do Conhecimento.............................43

2.3 Modelo de Compartilhamento de Conhecimento no trabalho ...........................46 2.3.1 Fases do Processo de Compartilhamento de Conhecimento.....................47

3. METODOLOGIA ..................................................................................................53

3.1 Natureza da Pesquisa..........................................................................................53

3.2 Caracterização da pesquisa .................................................................................53

3.3 Método da pesquisa ............................................................................................55

3.4 Locus da Pesquisa ..............................................................................................56

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3.5 Delimitação da pesquisa .....................................................................................59

3.6 Coleta de Dados .................................................................................................61 3.6.1 Instrumento da pesquisa.............................................................................61 3.6.2 Processo de coleta de dados .......................................................................62

3.7 Análise dos dados...............................................................................................63

3.8 Limites e limitações da pesquisa.........................................................................65

4. RESULTADOS ......................................................................................................66

4.1 Fatores Indicativos de Sucesso ...........................................................................67

4.2 Fatores Facilitadores do Compartilhamento do Conhecimento............................72 4.2.1 Indicador cultura como facilitador do compartilhamento do

conhecimento..........................................................................................74 4.2.2 Indicador liderança como facilitador do compartilhamento do

conhecimento..........................................................................................77 4.2.3 Indicador motivação como facilitador do compartilhamento

do conhecimento.....................................................................................80

4.3 Barreiras para o Compartilhamento do Conhecimento ........................................83

4.3.1 Indicador cultura como barreira para o compartilhamento do conhecimento..........................................................................................85

4.3.2 Indicador liderança como barreira para o compartilhamento do conhecimento.....................................................................................87

4.3.3 Indicador motivação como barreira para o compartilhamento do conhecimento.....................................................................................91

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................................................99

5.1 Conclusão ........................................................................................................100

5.2 Sugestões para pesquisas futuras ......................................................................103

6. REFERÊNCIAS ...................................................................................................105

APÊNDICE

APÊNDICE 1 Roteiro de Entrevista

ANEXOS

ANEXO 1 - Organograma da Maia Melo Engenharia

ANEXO 2 - Planejamento de Projetos e Desenvolvimento de Engenharia

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1 Introdução

1.1 DEFINIÇÃO DO PROBLEMA

Desde as primeiras civilizações, a problemática da “gestão” do conhecimento pode ser

vista através dos esforços para se preservar o conhecimento adquirido das experiências e

pensamentos. Ao longo do tempo, esta necessidade de adquirir, armazenar e repassar o

conhecimento conduziu ao crescimento de novas tecnologias e através desse desenvolvimento

se aumentava a possibilidade de captação e distribuição do conhecimento, conseqüentemente a

necessidade de compreender as suas potencialidade e os requisitos de utilização (LOUREIRO,

1997).

A discussão sobre conhecimento vem de muito longe, para Carbone et al (2005), é

possivelmente no contexto da obra de Platão que aparece uma das primeiras definições acerca

do conhecimento. Ao longo dos séculos, muitos filósofos fracassaram em suas tentativas de

definir o significado do conhecimento. Carbone et al (2005) citando Russel, teria

recomendado, de forma explícita a não definir conhecimento por ser um termo difícil de

conceituar.

Os filósofos intermediários herdaram as visões platônica e aristotélica. René Descartes

propôs algumas regras para o pensamento racional, desenvolveu também o “método da

dúvida”, questionando todas as crenças para tentar criar, a partir do nada, sua própria filosofia

(NONAKA e TAKEUCHI, 1997).

O argumento na década de 20 era do conhecimento relacionado entre sujeito e objeto,

só através do conhecimento é que o sujeito apreende o objeto, e nesse mesmo momento o

objeto condiciona o sujeito que aprende (HENSSEN, 2000).

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Ao longo dos anos, várias definições surgiram, e por volta dos anos 60 o conceito de

conhecimento esteve relacionado à existência de um problema ou à ausência dele, uma vez

que a realidade era aceita como certa e o conhecimento era tido como verdadeiro (CARBONE

et al, 2005).

O conhecimento era visto como fator de produção, elevando-se profundamente a partir

da segunda metade do século XX, ao ponto de se denominar como sociedade Pós-Capitalista

ou do Conhecimento por Drucker (2001) e seus seguidores.

Nos anos 70, Argyris (1999) afirmou que foi por força da competitividade e da rápida

evolução tecnológica que a eficiência dos negócios passou a depender mais da contínua

atualização e da aprendizagem do que mesmo da autoridade gerencial. Ainda nesse mesmo

período, Schon (1971) expunha também a necessidade da empresa aprender a aprender, face

ao ambiente contínuo de transformações.

Nos anos 80 e início da década de 90, muitas organizações sofreram de “deficiência de

aprendizado” e foi só através do raciocínio sistêmico que se pôde encontrar a chave para a

integração entre a razão e a intuição. Especialistas citavam que o sucesso da organização

estaria vinculado à capacidade de aprender mais rápido que os concorrentes (SENGE, 1990 ).

Segundo Fleury (2006) nos tempos atuais três ondas de mudanças sobrepõem-se: a

passagem de um regime de mercado vendedor para mercado comprador, a globalização dos

mercados e da produção e o advento da economia baseada em conhecimento. Nessa última

destaca-se que os elementos que mais somam valor são as atividades inteligentes.

Surge então a gestão do conhecimento, disposta na conjugação de três processos de

aprendizagem nas organizações: aquisição e desenvolvimento de conhecimentos,

disseminação e construção de memórias, em um processo de elaboração das competências

necessárias à organização (FLEURY, 2004).

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A quantidade de informações disponíveis para a tomada de decisão nas organizações

tem aumentado de forma rápida, alavancada pelo desenvolvimento da tecnologia de

comunicação e informática. As organizações passam então a ter novas características: o

aumento rápido da proporção de trabalhadores do conhecimento, maior dependência dos

trabalhadores da produção em relação aos trabalhadores do conhecimento, o reconhecimento

de que o conhecimento torna-se a chave para o esforço competitivo, a conscientização dos

gestores da pressão sofrida pela organização (ANGELONI, 2005).

Assim, espera-se que no futuro as empresas construam estruturas organizacionais

baseadas em processos, regras e valores direcionados para o compartilhamento de

conhecimento e para a criatividade, utilizando cultura favorável. As estruturas deverão ser

ainda, descentralizadas, flexíveis e disponíveis à integração entre equipes a fim de permear o

conhecimento (LEONARDI 2005).

A Maia Melo Engenharia Ltda., por exemplo, é uma empresa privada na área de

engenharia consultiva, fundada na década 80, e tem sua atuação nos campos de planejamento,

elaboração de projetos, gerenciamento, supervisão, fiscalização de obras, desenvolvimento

institucional, racionalização administrativa, logística, sistemas de transporte e sistemas

informatizados.

Ao longo dos seus 25 anos de existência, a Maia Melo Engenharia tem dedicado 70%

de suas atividades à elaboração de projetos e à supervisão de obras rodo-ferroviárias, tendo

contribuído com soluções inovadoras como, por exemplo, o emprego de tipo de pavimento de

baixo custo e novo modelo de revitalização de rodovias. (MAIA MELO, 2006).

Para esta empresa, alguns aspectos são considerados relevantes atualmente: o aumento

da competitividade através da redução de custos operacionais e administrativos; maior

investimento baseado na qualidade dos seus produtos e serviços e o aumento da satisfação dos

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clientes, através da capacitação contínua de seus profissionais, visando à utilização de

soluções técnicas inovadoras nos seus projetos e tecnologias de ponta (MAIA MELO, 2006).

Para assegurar a operação, o controle e o monitoramento dos Processos Produtivos, de

Apoio e Organizacionais, a Maia Melo Engenharia gera informações, realiza análises e

promove as ações necessárias através de procedimentos documentados. Para isso, a empresa

dispõe de um Sistema de Gestão Empresarial, baseado no Balanced Score Card, com cinco

perspectivas de negócio (MAIA MELO, 2006).

Um ponto crucial para empresas como a Maia Melo Engenharia, diz respeito à

imprevisibilidade ao longo das diversas fases do projeto, que provoca o desenvolvimento e

fluxos de novos conhecimentos relevantes. Outra questão que interfere negativamente está

ligada à retenção e à reutilização desses conhecimentos devido à distância física, à distância

temporal e à ausência de registro de todo o conhecimento desenvolvido em um projeto.

(BARROSO e ROCHA, 2007).

Contudo, o conhecimento pode não estar associado simplesmente a tudo o que um

profissional sabe, mas também a uma compreensão sistemática de fatos ou de hipóteses que

poderão ser encontrados na memória da empresa (PFEIFFER, 2005). Para este autor, a

qualidade do conhecimento não depende exclusivamente da quantidade dos fatos registrados,

mas da capacidade de relacioná-los de uma forma lógica comprovando, assim, a importância

da gestão do conhecimento para as empresas que lidam também com projetos.

Reforçando essa perspectiva, a arte do pensamento sistêmico consiste em enxergar

além do que é complexo, podendo ver os fatos geradores de mudanças e assim ter condições

de discernir entre o que se deve descartar ou agregar. Organizar a complexidade em história

coerente e minimizar questões relativas à imprevisibilidade é fundamental para o tipo de

empresa como a Maia Melo Engenharia, que lida com a técnica e exatidão (SENGE, 1990).

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A importância das atividades desenvolvidas e a necessidade de atender aos requisitos e

normas de sua clientela na área de projetos e tecnologia e o compromisso com a melhoria

contínua pela Maia Melo Engenharia, exige cada vez mais a necessidade de considerar, como

a informação é reunida, compartilhada e utilizada e o que se pode aprender com ela dentro da

organização (DAVENPORT, 1998).

Para elaborar um projeto, nesse tipo de empresa, é necessário uma gerência com

competência e responsabilidade definidas, para assim, serem também definidos os papéis e as

funções dos outros participantes que não terão poderes para decidir como bem entendem,

havendo assim a necessidade de reuniões de planejamento, para através de um modelo

participativo definir e delimitar o que compartilhar e de que forma. (PFEIFFER, 2005).

Esse profissional de coordenação de projetos, que detém um determinado poder, tem

que exercer seu papel de líder ao identificar a importância de seu saber para a empresa e

encaminhar os assuntos relativos ao compartilhamento, à cooperação e ao desprendimento.

Grande parte dos conhecimentos tácitos adquiridos por esses profissionais, advém de muitas

horas de dedicação e muitas conquistas, assim, nem sempre o compartilhamento do

conhecimento é uma tendência natural nas organizações (PROBST, 2006).

Outro ponto delicado ressaltado pelo o mesmo autor, diz respeito à comunicação que é

essencial para o trabalho em equipe, como na Maia Melo Engenharia, a sua eficácia é

imprescindível, favorecendo o fluxo de informações técnicas e as relações interpessoais.

Para Probst et al (2006), são diversos os ganhos alcançados pelo compartilhamento de

conhecimento, um deles diz respeito ao prazo e à qualidade, e por ser a Maia Melo

Engenharia uma empresa que possui certificações ISO 9001/2000 e NBR ISO 14001/2004, é

clara a sua preocupação em manter-se competitiva ao longo dos anos, e, um fator chave que

pode influenciar a competitividade pode estar presente no compartilhamento e na propagação

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de conhecimento, demonstrado a seguir na figura 1, que identifica o caminho do

compartilhamento do conhecimento com efeito indireto na satisfação do cliente.

FIGURA 1 – Compartilhamento de conhecimento e o efeito indireto sobre a satisfação do cliente Fonte: PROBST et al. 2006

A Maia Melo Engenharia se desenvolveu com uma visão voltada para o pensar e agir

em equipe, pois para o fundador, a fertilização técnica requer trabalho conjunto, mesmo

aqueles de formação diferentes: proporcionar é um limite pouco preciso entre especialidades e

disciplinas, porém, é nessa troca que se escondem as mais promissoras possibilidades de

desenvolvimento científico e técnico (MAIA MELO, 2006).

Muitas mudanças ocorreram na organização ao longo do tempo, hoje a empresa tem

nova direção, provavelmente nova cultura, mas é de grande valia a ênfase dada em pontos

específicos do conhecimento, como o compartilhamento por resgatar a história e conduzir ao

desejo inicial da época da sua fundação. Encaminhamos, dessa forma, a pesquisa para tentar

responder:

� Até que ponto o compartilhamento do conhecimento faz parte da cultura da Maia

Melo Engenharia na percepção dos Coordenadores de Estudos e Projetos?

� Até que ponto o compartilhamento do conhecimento constitui aspecto relevante para

o sucesso da Maia Melo Engenharia, na percepção dos Coordenadores de Estudos e

Projetos?

Conhecimento Compartilhado

Rapidez do Desempenho

Qualidade no Desempenho

Satisfação Do Cliente

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1.2 OBJETIVO

1.2.1 Objetivos Gerais

� Compreender até que ponto o compartilhamento do conhecimento faz parte da

cultura da Maia Melo Engenharia, na percepção dos Coordenadores de Estudos e

Projetos;

� Verificar até que ponto o Compartilhamento do Conhecimento constitui aspecto

relevante para o sucesso da Maia Melo Engenharia, na percepção dos Coordenadores

de Estudos e Projetos.

1.2.2 Objetivos Específicos

a) Identificar os fatores indicativos de sucesso da Maia Melo Engenharia, na visão

dos Coordenadores de Estudos e Projetos;

b) Identificar se há fatores que facilitam o compartilhamento de conhecimento entre

os funcionários da equipe da Maia Melo Engenharia Ltda.;

c) Investigar se há fatores que representam barreira para o compartilhamento de

conhecimento entre os funcionários da equipe da Maia Melo Engenharia Ltda.

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1.3 JUSTIFICATIVA

A justificativa deste trabalho abrange dois planos, o teórico e o prático organizacional,

conforme descritos abaixo.

1.3.1 Justificativa Teórica

No âmbito teórico tem-se observado muitas pesquisas acerca das pressões sofridas

pelas empresas contemporâneas num mercado cada vez mais global. Algumas estratégias

permitem condições para tornar mais efetivas as empresas, uma delas é a gestão do

conhecimento que tem como um dos pressupostos principais o compartilhamento do

conhecimento (EARL, 2001).

Com base nos resultados dos fatores que facilitam e inibem o compartilhamento do

conhecimento, estudos poderão ser realizados com possibilidade de aprimorar e criar novos

métodos que propiciem a disseminação do conhecimento nas organizações.

1.3.2. Justificativa prática

No campo das organizações esta pesquisa poderá nortear e contribuir com subsídios

que ajudem equipes a circular seu conhecimento para a criação de novos modelos conceituais

a serem usados no momento oportuno, como diferencial frente à concorrência.

Com esta pesquisa, é possível também estimular nos gestores a rever seu papel como

facilitador de atitudes de cooperação frente ao seu par e sua equipe, no que diz respeito ao

crescimento intelectual e pessoal, podendo ajudar inclusive as questões relativas ao clima e ao

desempenho organizacional.

A Maia Melo Engenharia, tendo como maior patrimônio os seus ativos intangíveis,

composto pelo capital intelectual que detém o conhecimento tácito e o capital estrutural

composto do fluxo do conhecimento interno (conceitos, métodos, modelos, metodologias,

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manuais, normas, padrões, documentos, atitudes e sistemas administrativos), apresenta como o

produto de seu negócio a venda de conhecimento. A partir dos achados, ações poderão ser

planejadas para um melhor aproveitamento desse conhecimento.

Espera-se poder favorecer a reflexão acerca do resgate à cultura inicial voltada para o

compartilhamento do conhecimento, a fim de suprir possíveis carências em gestão do

conhecimento.

Por fim, o interesse mais pessoal tanto no local de realização quanto ao tema dessa

pesquisa, deu-se pelo vínculo familiar existente entre a pesquisadora e o fundador da empresa,

que teve como missão o compartilhamento de conhecimentos. Assim é possível contribuir

com a revisão dos valores iniciais para a preservação das conquistas.

1.4 ESTRUTURA DA DISSERTAÇÃO

Esta dissertação encontra-se dividida em cinco capítulos. O primeiro, introduz o tema

no qual podem ser identificados: o problema e as perguntas de pesquisa, os objetivos gerais e

específicos, a justificativa e a estrutura do trabalho.

O segundo capítulo consta da fundamentação teórica dos temas usados ao longo do

estudo. O terceiro capítulo apresenta a metodologia utilizada para a realização do estudo,

apresentando a natureza, a caracterização, o método, o locus e a delimitação da pesquisa, o

método da coleta dos dados e da análise dos dados, e os limites e limitações do estudo.

O quarto capítulo descreve a análise dos dados levantados e o quinto capítulo refere-se

à conclusão.

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2 Fundamentação Teórica

O compartilhamento do conhecimento como elemento parte do sucesso na empresa é o

tema desta pesquisa.

Para a empresa ser competitiva, ela deve manter ao longo dos anos vantagem

competitiva, obtida por meio da inovação que tem a essência no conhecimento. É através do

conhecimento que se pode minimizar as incertezas geradas pela inovação. O conhecimento é

construído socialmente pelo individuo, por meio da aprendizagem que busca a solução de

problemas provenientes do mundo do trabalho. Uma ação inovadora depende do esforço das

suas iniciativas para ser competitiva (CARBONE et al, 2005).

Angeloni (2005) ressalta que o conhecimento não pode ser visto como sinônimo de

acúmulo de informações, mas sim, como um agrupamento articulado destas, empírica,

cognitiva e emocionalmente. Neste capítulo apresenta-se a fundamentação teórica, com o

objetivo de embasar o tema da pesquisa e facilitar o alcance dos objetivos.

2.1 CONHECIMENTO

É percebido hoje pelas organizações que o recurso do conhecimento se transformou no

segredo da vantagem competitiva longa e estruturada. Para Terra e Gordon (2005), a Gestão

do Conhecimento é resumidamente o esforço para melhorar o desempenho humano e

organizacional. Terra (2003) afirma que a gestão do conhecimento persegue de forma

obstinada para que todos na organização tenham acesso ao conhecimento.

Para entender o que vem a ser conhecimento, é útil ressaltar algumas peculiaridades a

respeito de informação e conhecimento. O conhecimento está relacionado a crenças,

compromissos, à atitude, à perspectiva ou a alguma intenção específica. No conhecimento,

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existe alguma finalidade e diz respeito a um significado. Na informação não existe relação

com a ação, nem com as crenças e atitudes, porém existe relação com o significado, assim

como no conhecimento (NONAKA e TAKEUCHI, 1997).

Davenport e Prusak (1998) destacam que o sucesso de uma organização muitas vezes

pode depender de se entender a diferença entre dado, informação e conhecimento, e saber a

hora certa de utilizar cada um deles. Neste sentido, os autores caracterizaram estas três

palavras da seguinte forma:

Dado: são registros estruturados de transação, que descrevem apenas parte daquilo que

aconteceu. Os dados por si só têm pouca relevância ou propósito, não são capazes de nos

ajudar a tomar decisões, fazer avaliações etc. Entretanto os dados são muito importantes para

as organizações, elas também precisam deles, além disso, o dado é a matéria-prima essencial

para a criação da informação;

Informação: no significado original da palavra, ”informar” é “dar forma a”. Neste

sentido, percebe-se que a informação é um dado dotado de relevância, ela nos ajuda a extrair

significado de uma situação contribuindo para a tomada de decisão ou a solução de um

problema;

Conhecimento: o conhecimento é algo bem mais complexo: é a interpretação da

informação, com o objetivo de desenvolver ações para a solução de problemas reais.

Deste modo, o conceito de conhecimento pode ser sintetizado como “informação

registrada e sistematizada”. A aprendizagem “resgata as informações, que repousam no

conhecimento”, no momento em que ingressam novamente em cena para diminuir incertezas

dos que o buscam (BARROSO e ROCHA, 2003).

A teoria de aprendizagem será abordada na seção a seguir, destacando a aprendizagem

no meio organizacional apontando os conceitos relacionados aos diversos campos

profissionais que serão base para este trabalho.

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2.1.1 Aprendizagem

Considerando as mudanças constantes num ambiente competitivo e interno das

organizações, pode-se perceber que é necessária uma participação mais efetiva das pessoas

com o objetivo de tornar a empresa mais ágil e mais preparada para ter resultado com vista a

atender às necessidades competitivas. Essa participação mais efetiva tem atualmente um

caminho que conduzirá ao sucesso empresarial, esse caminho é o da aprendizagem, que levará

ao conhecimento (BITENCOURT, 2001).

Toda mudança de comportamento consiste numa evidência de que há aprendizagem

(SOTO, 2002). A aprendizagem é vista como resultado da experiência, podendo ser sutil e

despercebida ou mesmo evidente e deliberada como nos estudos acadêmicos (EDWARDS,

1972).

No âmbito organizacional, a aprendizagem tem se mostrado como tema clássico da

teoria das organizações, podendo ser vinculada inclusive ao conceito de inovação e mudança

como relatado acima. É de suma importância aprofundar o tema aprendizagem, para pôr em

prática na organização. Em contrapartida Dogson (1993) relata que existem diversos conceitos

do significado da aprendizagem organizacional nas diversas visões interdisciplinares,

aumentando as discordâncias em relação a um significado único.

O mesmo teórico divide e cita os conceitos de aprendizagem vistos pelos diversos

campos profissionais. Nas ciências econômicas, a aprendizagem pode ser vista como

melhorias quantificáveis nas atividades e definidas pela quantificação de resultados. Para os

administradores, contudo, a aprendizagem pode ser vista como a base para uma vantagem

competitiva; e na literatura o tema é compreendido como uma estratégia inovadora eficiente.

No ambiente da psicologia, a aprendizagem é focalizada como processo: a forma como as

organizações constroem e organizam seus conhecimentos e suas rotinas, observando suas

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atividades e cultura, desenvolvendo a eficiência organizacional por meio da melhoria de

habilidades.

A Aprendizagem Organizacional refere-se então para Dogson (1993) ao como ocorre a

aprendizagem na organização, as habilidades e processos de construção e utilização do

conhecimento. Em seus estudos, ele destaca ainda alguns pontos básicos referentes ao

conceito de Aprendizagem Organizacional: processo - em termos de continuidade;

transformação - baseado na mudança de atitude; grupo - enfatizando o coletivo; criação e

reflexão - sob a ótica da inovação e conscientização; ação - apropriação e disseminação do

conhecimento, tendo como referência uma visão pragmática.

No contexto da aprendizagem, Dogson (1993) aponta ainda para a necessidade de

compartilhar insights, conhecimentos, crenças e metas para que o coletivo prevaleça e a

organização aprenda, a empresa alcance sua própria realidade e sua memória que darão base

para aprendizados futuros. A aprendizagem individual é transformada no momento em que o

conhecimento individual é incorporado às práticas organizacionais.

A seguir trataremos de questões do conhecimento de forma mais aprofundada, com a

finalidade de compreender os tipos de conhecimentos existentes.

2.1.2 Tipos de Conhecimento

Polanyi (1983), apud Nonaka e Takeuchi (1997), fazem a distinção entre dois tipos de

conhecimento: o tácito e o explícito. O conhecimento explícito é aquele que pode ser

verbalizado ou escrito podendo então ser transmitido facilmente entre os indivíduos. O

conhecimento tácito, difícil de ser articulado na linguagem formal, é o conhecimento pessoal

incorporado à experiência individual e envolve fatores intangíveis como, por exemplo,

crenças pessoais, perspectivas e sistemas de valor. O conhecimento tácito, subjetivo, é o

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conhecimento da experiência – corpo; enquanto o conhecimento explícito, objetivo, é o

conhecimento da racionalidade – mente. Ambos se complementam, acrescentam os autores.

O conhecimento tácito é altamente pessoal e subjetivo, desenvolvido e internalizado

ao longo do tempo pelo indivíduo, sobretudo por meio das experiências por ele vivenciadas.

Sveiby (1998) observa que o conhecimento prático é, em grande parte, tácito. Nas

palavras de Nonaka e Takeuchi (1997), o conhecimento tácito está aprofundado nas atitudes e

experiências de um indivíduo, bem como em suas emoções, valores ou ideais. As Conclusões,

insights e palpites subjetivos também são incluidos categoria de conhecimento.

Nesse sentido, o conhecimento tácito é composto por elementos cognitivos e

elementos técnicos. Os elementos cognitivos estão relacionados aos modelos mentais dos

indivíduos, são os esquemas, paradigmas, perspectivas, crenças e percepções que moldam a

forma como os indivíduos percebem a realidade. Os elementos técnicos correspondem às

habilidades, técnicas e know-how concreto, difíceis de definir e articular (NONAKA;

TAKEUCHI, 1997).

O conhecimento tácito dos indivíduos constitui a base da criação do conhecimento organizacional. A organização tem de mobilizar o conhecimento tácito criado e acumulado no nível individual [...]. A criação do conhecimento organizacional é um processo em espiral que começa no nível individual e vai subindo, ampliando comunidades de interação que cruzam fronteiras entre seções, departamentos, divisões e organizações. (NONAKA; TAKEUCHI, 1995, p. 82).

Vale destacar que o conhecimento explícito é mais fácil de ser representado, pois ele

se caracteriza por informações ou dados, não é um conhecimento implícito, ele já foi

exteriorizado, pode estar em um papel, disquete ou outro suporte, menos na pessoa, como o

conhecimento tácito. Neste sentido o maior desafio das organizações é transformar o

conhecimento tácito em explícito, e conseqüentemente organizá-lo para torná-lo disponível.

Segundo Davenport & Prusak (1998) de nada vale o conhecimento em algum lugar

dentro da organização se ele não está acessível, ele precisa ser exteriorizado e estar disponível

para que ocorra o seu uso efetivo.

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Trataremos, a seguir dos aspectos de como se converte o conhecimento, tratando de

suas principais fases: socialização, externalização, combinação e internalização. Essa etapa

ajudará a compreensão do compartilhamento do conhecimento.

2.1.3 Conversão do Conhecimento

A tarefa de gerenciar de forma eficaz os processos e rotinas que envolvem

conhecimento dentro da organização, para aproveitá-los mais adiante, ganhando desta forma

vantagem competitiva, principalmente em longo prazo, é o foco das organizações do

conhecimento, empresas que valorizam este aspecto e direcionam seus esforços na aquisição,

tratamento e divulgação do conhecimento, passando o mesmo por constante conversão, é a

espiral do conhecimento de NONAKA e TAKEUCHI (1997) descrita a seguir:

Socialização: é onde ocorre a troca de conhecimentos tácitos entre os indivíduos da

organização, a qual propicia o compartilhamento de suas experiências, conhecimentos,

habilidades etc., acontecendo desta forma o aprendizado mútuo;

Externalização: esta fase do ciclo é caracterizada pela conversão do conhecimento

tácito em explícito. Este processo pode ocorrer através da escrita, por exemplo, onde o

conhecimento se torna mais acessível, já que ele está sendo exteriorizado;

Combinação: é o agrupamento dos conhecimentos explícitos, eles são agrupados em

uma base de conhecimentos, tornando-se efetivamente acessíveis nesta forma, já que o

conhecimento possui o tratamento adequado. Este processo envolve também a disseminação

do conhecimento pela empresa;

Internalização: é a conversão do conhecimento explícito em tácito, onde a pessoa

incorpora o conhecimento externo aos seus conhecimentos, agregando outro valor ao

conhecimento adquirido, fazendo com que ele se torne tácito novamente. Desta forma pode-se

perceber que esta conversão de conhecimento é um processo contínuo e infinito.

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A seguir, apresentaremos o espiral do conhecimento, que se baseia na teoria de

Nonaka e Takeuchi (1997), que ilustra as fazes que o conhecimento percorre, com ênfase na

socialização, etapa fundamental para o entendimento do compartilhamento do conhecimento.

2.1.4 Espiral do Conhecimento

Como uma das bases da Gestão do Conhecimento, a espiral do conhecimento

idealizada por Nonaka e Takeuchi, 1997 (figura 2) expressa de forma clara uma das grandes

chaves do gerenciamento do conhecimento: o desenvolvimento da informação em forma de

espiral divergente com o crescimento da massa crítica seja através das relações interpessoais

(socialização) ou solitárias de rearranjo das informações (combinação).

Esse ciclo, todavia, virtuoso só pode ser mantido através das pessoas, sendo estas as

grandes catalisadores do processo de externalização do conhecimento tácito e da

internalização dos conhecimentos explícitos.

Conhecimento Tácito em Conhecimento Explícito

Conhecimento

Tácito

do

Conhecimento

Explícito

A seguir será descrita a fase de socialização, essa fase é determinante para uma maior

fundamentação no entendimento do compartilhamento do conhecimento.

SOCIALIZAÇÃO

Conhecimento Compartilhado

EXTERNALIZAÇÃO

Conhecimento Conceitual

INTERNALIZAÇÃO

Conhecimento Operacional

COMBINAÇÃO

Conhecimento Sistêmico

FIGURA 2 – Fases da Conversão do Conhecimento Fonte: Nonaka e Takeuchi (1997)

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� Socialização do conhecimento

Para Nonaka e Takeuchi (1997), a socialização é um método de compartilhar as

experiências em busca da construção do conhecimento tácito. Entender e aprofundar todo o

processo de socialização do conhecimento é de fundamental importância para o tema

principal.

Para a socialização do conhecimento acontecer, Nonaka e Takeuchi (1997) citam

alguns dos muitos métodos que podem ser usados e aplicados pelas equipes na organização:

Sessões de brainstorming, que são reuniões formais para discussões detalhadas com o

objetivo de resolver problemas de difícil solução, na Honda por exemplo, essas reuniões são

organizadas fora do ambiente de trabalho e são abertas a todos os funcionários interessados no

projeto que está sendo desenvolvido. Essas reuniões são oportunas também para compartilhar

experiências e ampliar a confiança mútua dos participantes;

A observação, imitação e prática também são utilizadas como meio para se chegar à

socialização do conhecimento tácito;

A interação com os clientes antes do desenvolvimento de algum projeto ou produto,

compartilhando as experiências e estabelecendo diálogos constantes com esses clientes.

A teoria do compartilhamento do conhecimento será tratada a seguir, com destaque

para as condições e as barreiras para se compartilhar o conhecimento, bem como o exemplo de

um modelo de compartilhamento do conhecimento desenvolvido por Tonet e Paz (2006).

2.2 COMPARTILHAMENTO DO CONHECIMENTO

A única vantagem competitiva que uma empresa possui é aquilo que ela detém com

informações, experiências, habilidades, valores e os insights dos membros que dela fazem

parte, além da prontidão e eficiência com que o conhecimento é utilizado e adquirido

(DAVENPORT e PRUSAK, 1998). Torna-se necessário, então, criar condições para que os

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conhecimentos acumulados por cada indivíduo da organização sejam efetivamente

compartilhados. Mas, o que significa efetivamente compartilhar conhecimento?

Os termos compartilhamento, transmissão, troca, partilha, transferência são utilizados

com freqüência, preserva-se neste estudo a idéia de que o compartilhamento envolve

disponibilizar de um determinado conhecimento e sua absorção por quem o recebeu. Além

disso, reforça-se que, ao contrário dos ativos convencionais, o conhecimento não desaparece

ou é depreciado quando compartilhado. Como indica Sveiby (1998), “[...] uma idéia ou

habilidade compartilhada com alguém não se perde, dobra”.

O compartilhamento do conhecimento para Davenport e Prusak (1998) vem explicar o

termo transferência do conhecimento, o ato de transmitir pode acontecer de modo espontâneo

ou estruturado na organização entre as pessoas. Ao transferir o conhecimento, duas ações são

destacadas: a transmissão e a absorção. A primeira está relacionada ao encaminhamento ou à

apresentação do conhecimento e a segunda à incorporação ou assimilação desse conhecimento

para a pessoa ou ao grupo que recebeu. É sustentada pelo autor a importância de colocar em

uso o conhecimento para se ter valor.

Ainda para os mesmos autores, a forma mais eficaz de se transmitir conhecimento é

contratar pessoas perspicazes e deixar que elas conversem entre si. Grande parte das técnicas

e estratégias apresentadas pelos autores para transferir conhecimento resume-se a maneiras

eficazes de se comunicar, principalmente quando se trata de compartilhar conhecimento tácito

que exige intenso contato pessoal. Já o conhecimento explícito pode, mais facilmente

transferido, através de métodos menos sociais. O que denota a necessidade de observar-se o

tipo de conhecimento a ser transferido no momento da escolha da estratégia.

Conforme Dixon (2000), olhando para quem vai receber, qual o tipo de atividade está

envolvida e qual o tipo de conhecimento tem que ser transferido, é possível para as

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organizações construir um sistema de disseminação do conhecimento para sua situação

específica.

Choo (2003) acredita que apesar de não ser codificável, o conhecimento tácito pode e

é normalmente ensinado e compartilhado. O conhecimento tácito pode ser aprendido por meio

de exemplo e compartilhado, por meio de formas ricas de discurso, que incluem o uso de

analogias, metáforas ou modelos, e mediante o compartilhamento de histórias.

De acordo com Shaw e Perkins (1993), a capacidade de transferir e disseminar

conhecimento são conseguidos quando há um intercâmbio colaborativo de idéias nos quais

perspectivas diferentes são expostas e o conhecimento é partilhado.

Bartol e Srivastava (2002) definem compartilhamento de conhecimento como sendo o

compartilhamento de informações, idéias, sugestões e experiências organizacionalmente

relevantes, do indivíduo com outros, e afirmam que o compartilhamento de conhecimento é

um componente chave dos sistemas de gestão do conhecimento.

Szulanski (2000) ressalta que essa transferência não deve ser vista como um ato em

que uma pessoa passa algo a outra, e sim, como processo, constituído de diferentes estágios,

cada um com suas dificuldades próprias.

O compartilhamento de conhecimento nas organizações sofre a influência de inúmeras

variáveis, que podem causar impacto nesse processo de diferentes formas (DAVENPORT &

PRUSAK, 1998; NONAKA & TAKEUCHI,1997; SZULANSKI, 2000). Entre elas, estão

variáveis relacionadas com o conhecimento transferido, com o transmissor e o receptor do

conhecimento, e com o contexto em que ocorre o compartilhamento do conhecimento. No

tocante às variáveis que configuram barreiras ao compartilhamento advindas da própria

organização, incluem-se as relacionadas à estrutura, aos processos operacionais, à cultura e ao

clima organizacional (TERRA, 2005).

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Para ocorrer o compartilhamento de conhecimento, há necessidade de existir uma

linguagem comum entre as pessoas que atuam na organização. O grande obstáculo está

exatamente neste aspecto: muitas vezes o conhecimento a ser compartilhado envolve

vocabulário inovador para os receptores, ou envolve termos que acabam sendo decodificados

de forma diferente daquela pretendida pelo emissor.

Sveiby (1998) afirma que algum significado expresso por um enunciador para alguém

nunca gerará o mesmo entendimento na mente da pessoa que o recebe. Pode também ocorrer

que o próprio emissor tenha dificuldades em traduzir em palavras o conhecimento que deseja

compartilhar com os demais, e até mesmo que não tenha palavras adequadas para isso.

Segundo Szulanski (2000) o compartilhamento do conhecimento depende da

capacidade de absorção do destinatário, que está relacionada com o conhecimento e

habilidades anteriores e com a motivação que possui para buscar e aceitar conhecimentos

diferentes ou novos. A falta de motivação nesse sentido poderá levar à atitude de adiamento,

rejeição, sabotagem, passividade ou aceitação na implementação e no uso do conhecimento

compartilhado, que se tornarão barreiras para o compartilhamento do conhecimento.

A seguir, o tema relativo às condições para o compartilhamento do conhecimento será

abordado e associado aos temas relativos às atitudes, à cultura, à liderança e à motivação.

2.2.1 Condições para o Compartilhamento do Conhecimento

Os fenômenos a seguir citados fazem parte do comportamento organizacional, para

associar o compartilhamento do conhecimento na empresa como geradores de condições

favoráveis ou não. Abordaremos a seguir os temas relacionados à atitude, à cultura, à

liderança e à motivação.

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a) Atitude

Segundo Tonet (2006), a atitude é preditora do comportamento e significa o estado de

prontidão mental ou a predisposição para influenciar respostas de avaliação dirigidas a

objetos, pessoas ou grupos.

O mesmo autor ressalta que as experiências tidas são aprendidas ao longo da vida e

determinam as atitudes das pessoas em relação a objetos, pessoas, situações e eventos. As

atitudes quando desenvolvidas são difíceis de detectar sua origem e acabam afetando o

comportamento, mesmo que os indivíduos não tenham a consciência de suas justificativas. As

atitudes são comumente estáveis, mas podem ser modificadas através do processo de

aprendizagem, e não apenas pelo simples acesso às informações.

A atitude está relacionada para Lindzey et al (1977) como reações pessoais aprendidas

dos indivíduos, objetos e eventos. Essas reações além de aprendidas são avaliativas,

provenientes de julgamento de valores e afetivas, provenientes das emoções. Na medida em

que os objetos são percebidos conforme suas funções, as atitudes são logo distinguidas em

relação às necessidades, aos desejos ou às ações humanas. Resumindo, a atitude é composta

por três componentes: o cognitivo, o afetivo e o comportamental, porém não se pode deixar de

ter em mente que a atitude está relacionada essencialmente à parte afetiva destes três

componentes (ROBBINS, 2004).

Dentro das organizações, Robbins (2004) afirma que as atitudes afetam o

comportamento no trabalho, por isso elas são tão importantes. Uma pessoa pode ter inúmeras

atitudes, porém em comportamento organizacional, o foco se dá em apenas um percentual

delas que estão relacionadas com o trabalho revelando avaliações positivas ou negativas,

conforme mencionado acima, nos vários aspectos de seu ambiente de trabalho.

Robbins (2004) destaca ainda que as pesquisas revelam três tipos de atitudes:

satisfação e envolvimento com o trabalho, e o comprometimento organizacional. A satisfação

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com o trabalho, para ele, diz respeito à atitude geral de uma pessoa em relação ao trabalho que

ela realiza. O alto nível de satisfação do indivíduo pela organização provoca atitudes positivas,

enquanto que a insatisfação gera atitude negativa.

O envolvimento com o trabalho tem estudos recentes e segundo Robbins (2002), não

existe um consenso acerca do tema, mas o que se tem constatado é que quanto mais envolvido

o indivíduo esteja com o seu trabalho, mais profunda é a identificação com ele e sua

preocupação com o tipo de trabalho que realiza.

Comprometimento organizacional para Robbins (2002) é a terceira atitude no trabalho

que é definida como situação em que há identificação com a organização à qual se trabalha,

com desejo de se manter nessa organização.

As pesquisas mostram que as pessoas buscam geralmente consistência entre suas

próprias atitudes, e entre suas atitudes e seu comportamento, ou seja, o indivíduo busca

reconciliar atitudes divergentes e alinhar atitudes com comportamento de forma que sejam

coerentes. Ao surgir inconsistência, logo desencadeiam forças que fazem o indivíduo voltar ao

estado de equilíbrio. Isso se consegue pela mudança de atitude ou de comportamento, ou

através de uma racionalização que possa justificar a discrepância. (ROBBINS, 2002).

Lindzey et al, (1977) descrevem ainda que as atitudes constituem as reações aos

objetos ou aos seres humanos que estão ao redor, incluindo, dessa forma, as reações, tanto as

abertas quanto as dissimuladas, em relação ao próprio objeto. A atitude consiste, então, em

uma predisposição para agir positiva ou negativamente a um objeto ou evento.

Robbins (2002) afirma também que a partir do conhecimento da atitude do indivíduo

em relação a um determinado assunto pode ser possível prever seu comportamento, através do

princípio da consistência. A teoria da dissonância cognitiva busca explicar exatamente o

vínculo que existe entre atitudes e comportamentos, quando não existe a consistência entre

atitudes e comportamentos significa que houve dissonância. A dissonância cognitiva se refere

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a qualquer incompatibilidade entre duas ou mais de suas atitudes ou seus comportamentos, as

pessoas costumam buscar um estado de estabilidade, no qual exista um mínimo possível de

dissonância.

Outro ponto relevante a ser abordado no presente estudo é a atitude de ajuda: ela é

descrita por Darley e Latané (1967) através de estudos a respeito do indivíduo que ao constatar

a existência de uma pessoa que necessita de ajuda, sente-se indeciso entre ajudar ou não,

porém se for verificado por ele que essa pessoa não tem assistência alguma, será mais

provável que ele tente ajudá-la. Ocorre o contrário a partir do momento em que é observado

que a pessoa já possui algum tipo de ajuda, nesse caso, ele irá transferir a responsabilidade e a

tendência a se omitir é maior.

Outra situação ocorre se essa pessoa que necessita de ajuda for uma amiga, Latané e

Rodin (1969) apud Lindzey et al, (1977) comprovaram em estudos que será maior a

probabilidade de que o indivíduo tenha a atitude de ajudá-la, independente de ter ou não sido

assistida. Conclui-se através desse estudo que a existência do vínculo afetivo pode facilitar

esse comportamento de ajuda.

b) Cultura

A cultura organizacional pode afetar negativamente a transferência do

conhecimento através da falta de apoio para essa atividade de compartilhamento. Pode-se

perceber a definição das áreas importantes do conhecimento pela ênfase dada pela empresa ao

tipo de atividade, caracterizando seu indicador significativo da área de peso em relação à

cultura organizacional.

A cultura organizacional é compreendida pelas normas e valores que ajudam a

determinar o que é apropriado e inapropriado. Segundo Terra (2005), estas normas e valores

podem ser considerados sistemas de controle que têm condições para se chegar à eficácia.

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Para Linke (2001), a cultura organizacional compõe além da filosofia dos

proprietários e dirigentes, a junção com os valores e crenças dos funcionários, agregando a

bagagem que vem da sua origem e experiência anterior no momento em que ingressa na

empresa.

Shein (1985) afirma que o núcleo de uma cultura organizacional é formado por

crenças e valores. As crenças representam o que as pessoas acreditam como realidade e

consequentemente exercem influência no que os indivíduos percebem no que eles pensam e

sentem. As crenças estão fora do seu nível de consciência e ajudam o indivíduo a prever como

algumas coisas são e como alguns fatos podem ocorrer.

Ainda para Shein (1985), os valores são os princípios, objetivos e padrões sociais

mantidos dentro de uma cultura e que têm sua importância intrínseca. Valores determinam

qual a preocupação das pessoas numa organização, se democracia, lealdade ou riqueza.

Valores são a base para que pessoas julguem o que é certo e errado e encontram-se no nível

mais consciente.

No entanto, os valores novos que são trazidos de fora de uma empresa só deverão

gerar mudanças, incorporadas e aceitas na cultura como crenças básicas pelos membros

quando sua importância for atestada em termos de benefícios e de resultados organizacionais

adequados pelos membros de uma organização (SHEIN, 1985).

Para a implantação de uma gestão de conhecimento que vise ao compartilhamento,

Costa & Gouvinhas (2003), ressaltam que se não houver mudança cultural que priorize

questões relativas ao conhecimento, as pessoas dificilmente compartilharão as idéias a

respeito de assuntos que consideram importantes e raramente conseguirão que informações

transformem-se em conhecimento.

A mudança da cultura não ocorre por meio de decretos ou palavras, mas por

transformações, crenças e valores das pessoas que firmam a identidade empresarial. Para

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pensar em conhecimento, as organizações são responsáveis por buscarem uma cultura de

aprendizado com o apoio da alta administração, para que este não se transforme num aspecto

dificultador. (PURCIDONIO et al 2005).

A cultura é fundamental para a criação do conhecimento em uma empresa.

Escolher métodos para proporcionar compartilhamento é significativo e no caso de um

método de compartilhamento do conhecimento que não tenha consonância com a cultura

empresarial poderá acarretar em um dificultador para a manutenção ou aceitação. Algumas

empresas permitem que seus funcionários troquem idéias e conversem nos corredores, na sala

do café ou em torno dos bebedouros, enquanto outras ainda acham essa prática um

desperdício de tempo, pois consideram a conversa não como produtiva para o trabalho, nesse

caso, acabam escolhendo métodos mais formais como as reuniões para a troca de idéias,.

(DAVENPORT & PRUSAK, 1998).

A seguir, o conceito de motivação será descrito, com ênfase na Teoria da

Expectativa de Victor Vroom. Assuntos como: trabalho em grupo, redes pessoais e equipes e

escritórios virtuais, também foram inseridos no contexto da motivação.

c) Motivação

Davenport e Prusak (1998) apontam que muitas vezes o conhecimento é

disponibilizado, mas não é absorvido e não é colocado em uso por várias razões, como: falta

de crédito na sua fonte, orgulho, teimosia, falta de tempo, resistência à mudança, medo de

assumir riscos. É dito ainda pelos autores que não é suficiente apenas absorver o novo

conhecimento, mas ele deverá ser aceito e isso envolve várias questões pessoais e

psicológicas.

Como citada por Lathi (2000), a motivação é um item imprescindível tanto para

quem compartilha seu conhecimento como para quem o recebe: para existir o desejo de ouvir

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e aprender é necessário que a motivação esteja presente. Outro fato é o clima estabelecido na

relação entre quem recebe o conhecimento e quem o repassa, nesse caso, os dois devem ter

vontade e disposição para que a troca ocorra.

Na teoria da instrumentalidade ou da expectativa, é defendido por Victor Vroom

que uma conduta intencional é originada pela expectativa de seus futuros efeitos ou

resultados, essa expectativa se revela como determinante na conduta escolhida entre várias

alternativas, e tem como função de um “instrumento” usado para o alcance de um objetivo e o

valor desse resultado se potencializa numa determinada conduta (SOTO, 2002).

Para Soto (2002), na teoria da expectativa, a conduta do individuo é proveniente

de uma expectativa que de que se produzirá um determinado resultado (reforço positivo e

negativo) e a expectativa de que por meio de um determinado resultado serão conseguidos os

objetivos do indivíduo.

Dentro desse conceito, três categorias são descritas na figura a seguir: Expectativa,

Instrumentalidade e Valência. O Quadro 1 a seguir, mostra o conceito básico do Modelo da

Teoria da Expectativa de Victor Vroom, conceituando as três categorias: Expectativa,

Instrumentalidade e Valência.

TEORIA DA EXPECTATIVA

� VALENCIA É o resultado final ou objetivo pessoal. (elogios, aumento salarial, promoção, segurança, aceitação).

� INSTRUMENTALIDADE É relativa à probabilidade de um determinado resultado final. (Desempenho, criatividade, prestação de contas).

� EXPECTATIVA As chances de que o comportamento de esforço conduzirá ao resultado intermediário, que atrai um resultado final. (nível de esforço).

QUADRO 1 – Conceito básico do modelo de expectativa de Victor Vroom. Fonte: Soto, 2002

Algumas condições para o compartilhamento do conhecimento existir foram descritas

por alguns teóricos conforme citados a seguir. Esses aspectos podem ser associados às

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questões motivacionais, e podem ser avaliados como pontos a favor ou não do

compartilhamento do conhecimento dentro das organizações, dependendo de como será sua

utilização.

� Trabalho em grupo: Probst et al. (2006) citam que o trabalho em equipe vem sendo

utilizado há algum tempo com resultados satisfatórios para o conhecimento,

atualmente o funcionário é avaliado pela sua capacidade de dar contribuições para

sua equipe de trabalho e a forma como ele usa o conhecimento dos colegas.

� Times Virtuais: Rodriguez (2002) relata que o time compartilha objetivos e

resultados, seus valores são definidos formalmente. O resultado determinará sua

eficácia. As fronteiras são bem definidas entre os membros que têm suas tarefas bem

definidas e há um líder.

� Rodízio planejado de funções: Ainda segundo Rodriguez (2002), o objetivo do

rodízio é capacitar os funcionários para alcançar novos postos na empresa.

� Visita a outras empresas: Rodriguez (2002) cita que essa prática é enriquecedora,

pois poderá ser verificado de perto como o que foi planejado está sendo executado e

seu efeito no mercado.

� Estágios em Universidades: Essa interação entre a academia com o mundo do

negócio é o próprio exercício entre teoria e prática (RODRIGUEZ, 2002).

� Equipes e escritórios virtuais: Para Probst et al. (2006) a grande vantagem dos

escritórios virtuais diz respeito à aproximação das distâncias físicas e à centralização

das informações. Os especialistas da Hewllett-Packard que estão em

desenvolvimento em vários países europeus colocam suas habilidades à disposição

de todas as filiais através de uma rede européia.

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Entendendo que cada pessoa inserida no contexto organizacional vivenciará as relações

relativas à liderança, à mentoria, e aos cargos de apoio, vale ressaltar a importância desses

temas diante do contexto organizacional e assim favorecer a percepção das atitudes referentes

a seus liderados e mentorados, e só então apontar as relações com o compartilhamento do

conhecimento. Abaixo serão descritos alguns conceitos relativos ao tema.

d) Liderança, Mentoria, cargos e atribuições de apoio.

d.1 Cargos de apoio

Os gerentes do conhecimento têm o papel de produzir e controlar o processo

do conhecimento baseado na praticidade. São esses gerentes que dão o norte das atividades de

criação do conhecimento dentro da empresa. Eles devem executar a tarefa baseando-se na

expressão dos conceitos principais sobre o que a empresa deve ser, na determinação de uma

visão do conhecimento sob forma de visão da empresa e no estabelecimento de padrões que

justifiquem o valor do conhecimento criado. Então, pode-se concluir que a tarefa principal

para um profissional do conhecimento é descobrir “o que deve ser”. (NONAKA e

TAKEUCHI, 1997).

Davenport (1998) diz que os gerentes de equipes de operadores de conhecimento

precisam encorajar o diálogo, ter a capacidade de auxiliar os outros a expressar seu

conhecimento e de despertar a confiança entre os membros da equipe.

d.2 Liderança

As pessoas que lidam com gestão do conhecimento não seguem cegamente os

passos dos outros, elas são orientadas para estarem cientes de suas opções, através das

vivências do dia-a-dia. A confiança depositada nos líderes é fundamental para definir o

porquê do líder ser seguido. Os lideres confiáveis e com integridade que agreguem coerência

entre discurso e ação são os lideres que são necessários nas organizações agitadas da

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atualidade, eles terão mais probabilidade de conseguir o comprometimento dos liderados para

a busca dos novos conhecimentos (DAVENPORT 1998).

A liderança tem papel ativo em vários processos. Um deles diz respeito a

fatores como o sistema de recompensas e a disponibilização de ferramentas tecnológicas,

esses são muito importantes, para ocorrer mudança realmente por toda a organização.

Imprescindível é que líder e gerentes, antes de todos, estejam convencidos de que o

compartilhamento do conhecimento dá resultados e é necessário para a sua organização.

Nesse sentido, O'Dell e Grayson (1998) citam algumas táticas, que aparecem no quadro

abaixo e podem ser empregadas tanto por líderes, como gerentes para apoiar o processo de

compartilhamento do conhecimento:

Algumas táticas para apoiar o processo de compartilhamento do conhecimento

que podem ser utilizadas como estratégia pelos líderes (O'DELL e GRAYSON, 1998).

1. Coordenar iniciativas e visão, criando e publicando uma missão, visão, e

valores que endossem e sustentem o compartilhamento;

2. Reforçar e recompensar comportamentos positivos em relação ao

compartilhamento, promovendo as pessoas certas;

3. Divulgar aos indivíduos a importância do compartilhamento;

4. Compartilhar conhecimento através de suas próprias ações, servindo como

exemplo para seus colaboradores. Além de líderes e gerentes, podem ser

criados outros cargos específicos de dedicação exclusiva, que auxiliem no

compartilhamento do conhecimento com a função de eleger as informações

e conhecimentos mais valiosos, sintetizá-los, organizá-los, sumarizá-los e

disponibilizá-los na organização para posterior acesso.

Diante da percepção de Soto (2002) sobre as teorias liderança, é citado por ele que a

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habilidade de influir num comportamento de uma pessoa ou grupo para conseguir a realização

de metas, ou objetivos organizacionais, individuais ou pessoais pode estar associada ao poder

quando esta busca influir por meio de ordens que levem a atingir os objetivos

organizacionais. O poder outorga a capacidade de mandar, de ordenar, de dispor, de mostrar o

que deve ser feito, onde, quando, como e por quem. O significado do poder pode também

estar relacionado à influencia, ou seja, à capacidade que algumas pessoas têm em orientar de

acordo com seus interesse (SOTO, 2002).

Ainda para Soto (2002), outras formas de se exercer o poder podem ser descritas. A

influência que o individuo exerce para quem está abaixo dele numa escala hierárquica, pode

ser chamado de poder legítimo. Outras manifestações do poder também são relacionadas,

como o especialista, baseado na autoridade que a posse de conhecimentos específicos e

profundos sobre determinado assunto confere. O carismático, que corresponde às qualidades

e características de pessoas que não ostentam um poder legítimo. O premiador, que pode se

relacionar à capacidade para recompensar um seguidor e o coercitivo, que se vale da

capacidade de líder para castigar e sancionar.

Sendo assim, uma vez que o líder pode ter uma influência direta apoiando o

compartilhamento do conhecimento na sua equipe, segue-se fundamentando através do

conceito de mentoria, que pode ser percebido com papel semelhante no processo de

compartilhamento do conhecimento conforme detalhado a seguir.

e) Mentoria

A definição da diferença entre mentor e líder por Appelbaum et.al,(1994) apud

Cunha (2007), consiste em que para o líder, o relacionamento com seu liderado é mais formal

e aberto enquanto que para o mentor, a relação com seu mentorado é mais discreta e mais

sutil, os autores sugerem inclusive, que um mentor pode ser simplesmente um líder

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disfarçado.

A importância da mentoria é descrita por Levison et.al, (1978), como associada na

formação dos gerentes, para aprender a natureza do processo de identificação, a importância

do comportamento de modelagem e a sistemática de ensinar aos outros, são fatores de cada

habilidade de mentoria de um gerente.

Mentores direcionam pessoas para seguir um tipo de pensamento: como guias e

conselheiros cofiáveis que são, eles são capazes de desenvolver o interesse das pessoas e têm

a responsabilidade em assistência aos outros (APPELBAUM et al, apud CUNHA 2007).

Algumas condições serão relatadas a seguir como barreiras para um

comportamento de compartilhamento de conhecimento dentro da organização.

2.2.2 Barreiras para o Compartilhamento do Conhecimento

Alguns aspectos são considerados desfavoráveis por alguns autores para o processo do

compartilhamento do conhecimento circular na organização, serão citados a seguir a

comunicação, o poder e a confiança.

Probst et al. (2006) afirmam que eliminar as barreiras que impedem o

compartilhamento do conhecimento são condições necessárias e adequadas para as várias

áreas, em especial nas relacionadas ao gerenciamento do funcionário e à cultura

organizacional. As barreiras podem acontecer nos níveis hierárquicos e funcionais e quando

somadas resultam em ilhas isoladas de conhecimento impedindo que se dissemine. Eles citam

ainda algumas barreiras que podem ser conhecidas quando existir a necessidade de

implementar um processo de mudança.

Probst et al. (2006) acreditam que alguns fatores devem ser observados como barreiras

e que levam o indivíduo a não poder compartilhar o conhecimento: um está ligado a

capacidade, por exemplo, da falta talento para a comunicação e/ou da interação social

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deficiente. A outra está relacionada à vontade pessoal ou à motivação em compartilhar, nesse

caso a boa vontade pode ser influenciada por muitos motivos, um deles é o orgulho em ter a

posse de um tipo de conhecimento especializado que poderá representar um papel importante

para o indivíduo; a outra questão diz respeito à sobrecarga de informações reais ou

imaginárias reduzindo o tempo para o preparo desse tipo de atividade de compartilhamento

ou ainda o questionamento sobre que tipo de recompensa se alcançará.

Existem muitos outros fatores que podem ser relevantes para proporcionar barreiras

impedindo que haja compartilhamento de conhecimento. Alguns desses fatores já foram

citados como facilitadores. Todavia, se mal administrados poderão gerar freio na

disseminação do conhecimento dentro da organização. Alguns deles são: a cultura

organizacional, citada por Probst et al (2006), que se a empresa deseja implantar a gestão do

conhecimento é fundamental que antes da implantação desse modelo gerencial haja uma

análise da cultura bem como dos valores organizacionais difundidos dentro dela.

A Liderança ou o gerenciamento do funcionário tem um papel importante a

desempenhar. No contexto da liderança há algumas questões que devem ser refletidas: os

incentivos, o poder e a confiança, esses pontos são enfatizados por Davenpor e Prusak (1998)

como possíveis geradores de barreiras. A falta de incentivos direcionados para se

compartilhar e distribuir o conhecimento poderá ser um agravante, como citado na teoria da

motivação por Robbins (2004), se o líder não focar nas recompensas ou incentivos, isso

poderá implicar no desempenho, consequentemente na satisfação das metas pessoais, e de

certa forma gerar as barreiras ao compartilhamento.

Poder é um ponto ressaltado por Davenport e Prusak (1998), para explicar que o

compartilhamento do conhecimento pode acarretar na perda de força em relação à posição do

dono da organização, de algum dirigente, ou mesmo de um colaborador que tenham mentes

voltadas para entender o conhecimento como fonte de estabilidade e poder, o obstáculo para

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compartilhamento, nesse caso será grandioso, para os teóricos acima, o compartilhamento do

conhecimento será provavelmente impossível.

Outro ponto a refletir é a confiança. Ela é imprescindível para Davenport e Prusak,

(1998), sobretudo no que tange ao compartilhamento: a confiança se estabelece

paulatinamente com exemplos positivos e pode ser destruída em pouco tempo e

definitivamente apenas com a presença de eventos negativos. Quando se tomam decisões

importantes que poderão afetar o clima como, por exemplo, uma redução no quadro gerando

uma demissão de um profissional do conhecimento, isso poderá abalar seriamente a

confiança, acarretando barreiras para o compartilhamento.

A figura abaixo ilustra os principais obstáculos para o compartilhamento do

conhecimento. (FLORIANO 2006).

Obstáculos ao Compartilhamento do conhecimento

FIGURA 3: Obstáculos ao Compartilhamento do Conhecimento Fonte: Floriano (2006)

No próximo item será apresentado um Modelo de compartilhamento do conhecimento

do trabalho criado em 2004 por Tonet e Paz, com a finalidade de associar a teoria com a

prática de compartilhar conhecimento dentro da organização.

Desconfiança

Distância física

Estrutura organizacional

Status

Não conhecer a fonte ou receptor

Motivação do colaborador

Conhecimento igual a poder

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2.3 MODELO DE COMPARTILHAMENTO DE CONHECIMENTO NO TRABALHO

O modelo abordado nesse estudo trata-se de uma proposta de Tonet e Paz (2006) que

está apoiada nas propostas de Szulanski (2000) e de Strocchia (2001), as quais tratam o

compartilhamento do conhecimento de forma mais ampla, considerando o processo de

transferência de conhecimento na organização. O foco principal desse modelo é o processo

que ocorre nos grupos de trabalho e a organização é considerada como um elemento do

contexto em que esses grupos estão inseridos.

A base do modelo de Tonet e Paz (2006) está ligada à Teoria de Sistemas

(BERTALANFFY, 1975) e nas teorias da comunicação humana (BERLO, 1970; THAYER,

1979; THOMPSON, 1973).

O modelo de Tonet e Paz (2006) considera que o processo de compartilhamento de

conhecimento é integrado por 4 fases, e são caracterizadas por ações específicas, próprias de

cada fase como indica o quadro 2 a seguir.

FASES AÇÕES

1. INICIAÇÃO

Caracteriza-se por ações voltadas para identificar e analisar as necessidades de conhecimentos, e as oportunidades existentes para empregar conhecimentos diferentes ou novos, e para localizar fontes onde esses conhecimentos poderão ser encontrados;

2. IMPLEMENTAÇÃO Caracteriza-se com ações voltadas para promover a integração entre fontes e destinatários do conhecimento;

3. APOIO

Caracteriza-se por ações voltadas para criar oportunidades de exercício do conhecimento compartilhado e para promover orientação da prática, até que ocorra a assimilação do conhecimento e o desenvolvimento das habilidades necessárias ao uso proficiente;

4. INCORPORAÇÃO Esta fase se caracteriza por ações voltadas para fazer com que o conhecimento compartilhado possa fluir livremente entre aqueles que deverão usá-lo.

QUADRO 2 - Fases do Modelo Compartilhamento do Conhecimento Fonte: (TONET E PAZ ,2006)

A figura 4 a seguir, ilustra o caminho das fases do modelo de compartilhamento de

conhecimento no trabalho e as principais ações associadas que as caracterizam, com ênfase no

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percurso que o destinatário deve tomar se não for assimilado o conhecimento quando

colocado em prática.

FIGURA 4: Modelo de Compartilhamento de Conhecimento Fonte: (TONET E PAZ ,2004).

O item a seguir detalha as fases do processo de compartilhamento de conhecimento,

previstas no modelo proposto por Tonet e Paz (2006), com foco nas suas principais

dificuldades.

2.3.1 Fases do Processo de Compartilhamento de Conhecimento

O modelo de processo de compartilhamento de conhecimento possui 4 fases:

iniciação, implementação, apoio e incorporação.

a) Fase de Iniciação: Na primeira fase do processo de compartilhamento de

conhecimento, segundo o modelo, é considerada a identificação de necessidades ou demandas

de conhecimento, que servirão como estímulo para a localização de fontes de conhecimentos

para suprir as carências do funcionário. O ingresso de um novo membro no grupo de trabalho,

por exemplo, sugere a necessidade de repasse de conhecimento; é interessante que seja feita

uma análise de quais conhecimentos deverão ser repassados ao novo elemento, e localizadas

as fontes que melhor poderão atendê-lo: pode ocorrer que o funcionário novato já domine

pelo menos parte do conjunto de conhecimentos que deverá possuir, para compreender bem o

Análise de necessidades e oportunidades

Localização de fontes de

conhecimento

Interação fonte x

destinatário

Exercitamento/ prática

orientada

Destinatário assimila

Prática de conhecimento

assimilado

Destinatário não assimila

Iniciação Implementação Apoio Incorporação

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que ocorre na unidade; e não repassar-lhe aquilo que já domina, pois além de tedioso, seria

perda de tempo.

O cuidado no levantamento de necessidades evitará esforços desnecessários na

aquisição de conhecimentos que poderão não ser úteis para o indivíduo, para o seu grupo de

trabalho e para a organização (TONET e PAZ, 2006).

A primeira fase do modelo de Tonet e Paz (2006), conforme demonstrado no quadro 3

abaixo, considera a busca de conhecimentos disponíveis na unidade de trabalho do indivíduo,

ou na organização, que não estão sendo usados.

DIFICULDADES NA BUSCA DO CONHECIMENTO DISPONÍVEL

� Identificação precisa das necessidades ou demandas de conhecimento

� Localizar quem está apto e disposto para compartilhar o conhecimento

� Gerir as competências necessárias para quem vai repassar e receber assim viabilizar o compartilhamento do conhecimento;

� Gerir aspectos da cultura interna que possam impactar no compartilhamento do conhecimento.

QUADRO 3: Dificuldades da fase de iniciação no processo de compartilhamento do conhecimento Fonte: (TONET E PAZ, 2006)

A descoberta não planejada do conhecimento, que poderá ocorrer por situações como

diálogos, discussão de idéias utilizada e compartilhada, terá maior chance de ocorrer o

compartilhamento se na organização existir esse interesse, e também se houver crenças e

atitudes que sejam convergentes (TONET E PAZ, 2006).

b) Fase de Implementação: nessa fase são estabelecidos vínculos entre a fonte que

possui o conhecimento e o destinatário do conhecimento a ser compartilhado; os focos de

maior interesse nessa fase são as trocas que ocorrem entre a fonte e o destinatário, e as

condições em que elas ocorrem.

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O planejamento cuidadoso das ações necessárias ao compartilhamento de

conhecimento poderá contribuir para evitar problemas que possam reduzir ou impedir os seus

resultados desejados.

A implementação do conhecimento é auxiliada com o uso da redundância (NONAKA

& TAKEUCHI, 1997), que é um recurso para assegurar a qualidade da recepção do

conhecimento compartilhado. O uso de redundância aumenta a probabilidade do destinatário

assimilar a parcela de conhecimento compartilhado (THAYER, 1979).

Segundo Tonet e Paz (2006), uma pessoa pode simplesmente transmitir um

conhecimento para quem recebe, com base nos referenciais tecnológicos e vivenciais que

possui. Quanto às dúvidas e experiências pessoais do destinatário, podem ser colocadas numa

arena comum, objetivando buscar o conhecimento que irá solucionar o problema em

discussão. Algumas dificuldades ocorrem nessa fase, elas estão descritas abaixo no quadro 4.

DIFICULDADES DA FASE DE IMPLEMENTAÇÃO DO PROCESSO

� Dificuldades de comunicação e uso de linguagem, pela fonte e pelo destinatário do conhecimento.

� Resistência da fonte em repassar o conhecimento que detém, por receio de perder status ou poder, por

temer ser substituído, ou outros.

� Resistência do destinatário em adquirir o conhecimento, resiste a mudar a forma como trabalha,

desconforto na posição de aprendiz, temer não assimilar a nova aprendizagem;

� Falta de interesse e comprometimento com as demandas da organização, pela fonte ou pelo

destinatário;

� Existência na organização de gerentes com estilos de gestão refratários à cooperação interna, e

conseqüentemente, ao compartilhamento de conhecimento;

� Possíveis necessidades de revisão de crenças, atitudes e valores arraigados na cultura organizacional,

em decorrência do compartilhamento do conhecimento.

� Falta de habilidade da fonte para compartilhar o conhecimento e não compreensão do receptor do

conhecimento para manejar o conhecimento.

� Situações desfavoráveis do contexto organizacional, falta de tempo, estrutura inadequada, falta de

equipamento adequado para o compartilhamento.

QUADRO 4: Dificuldades da fase de implementação do processo de compartilhamento do conhecimento Fonte: (TONET E PAZ, 2006).

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Tonet e Paz (2006) citam abaixo algumas soluções que podem minimizar os

problemas ao se implementar um processo de compartilhar conhecimento.

� Aperfeiçoar os processos de comunicação interpessoal, intergrupal e

organizacional;

� Reduzir as inseguranças que as pessoas possam ter em relação à organização;

� Criar clima propício ao envolvimento voluntário, à cooperação e ao

estabelecimento da confiança entre as pessoas;

� Estimular a aquisição de novas competências, a prática da reflexão, a mudança de

modelos mentais, e a aprendizagem contínua;

� Buscar a adoção de estilos gerenciais facilitadores do trabalho cooperativo e do

comprometimento das pessoas com o que fazem;

� Adotar políticas que incentivem e valorizem o compartilhamento de

conhecimento.

c) Fase de Apoio: A fase de apoio desse modelo supõe a necessidade e a existência de

oportunidades para esclarecer e retificar conhecimentos repassados que ainda mereçam

atenção, para evitar que passem a ser usados de forma ineficiente ou inadequada.

No quadro 5, a seguir, estão relacionadas algumas dificuldades que podem surgir nessa

fase de apoio.

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DIFICULDADES NA FASE DE APOIO DO PROCESSO

� Aumento ou redução de níveis hierárquicos podendo gerar resistências dos atingidos;

� Linguagem comum entre os usuários ou aplicadores do conhecimento compartilhado;

� Treinamento insuficiente dos usuários para a aplicação do conhecimento;

� Dificuldades de assimilação por falta de requisitos pessoais ao uso do conhecimento compartilhado;

� Retomada de conhecimentos antigos, por parecerem mais fáceis e rápidos de aplicar nas situações de

sobrecarga de trabalho;

� Falta de acesso à fonte do conhecimento, para solução de dúvidas surgidas;

� Desempenho insuficiente ou fora dos padrões esperados;

� Falta de condições físicas e materiais necessários para a prática do novo conhecimento;

� Movimentação de pessoas para posições que impeçam sua aplicação.

� Mudanças rápidas, que forçam redirecionar a organização e dificultam a realização do trabalho.

QUADRO 5: Dificuldades na fase do processo de apoio ao compartilhamento do conhecimento Fonte: (TONET E PAZ, 2006)

Se não enfrentados rapidamente nessa fase os problemas podem agravar e as práticas

incorretas poderão se enraizar e dificultando ainda mais a remoção dos problemas (TONET e

PAZ, 2006).

d) Fase de Incorporação: O conhecimento compartilhado tende a ser incorporado à

medida que o receptor aplica o conhecimento no seu dia-a-dia, e principalmente quando mais

pessoas começam a fazer o mesmo. A relevância da fase está relacionada ao esforço para

remover obstáculos ao uso do conhecimento compartilhado. Conforme mostra o quadro 6

abaixo.

DIFICULDADES NA FASE DE INCORPORAÇÃO DO PROCESSO

� Expectativas inadequadas não previstas de promoção ou atribuição de diferença salarial, devido à agregação de novas competências com o conhecimento assimilado;

� Expectativas dos recebedores, por estarem aplicando o novo conhecimento;

� Exigência de aplicação do conhecimento em situações não totalmente esclarecidas;

� Evidências de conseqüências indesejáveis, decorrentes do uso do conhecimentos, como redução de quadro e desligamento de pessoal;

� Mudanças súbitas nas atividades que dificultem ou inviabilizem o uso do novo conhecimento; como atribuição de novas e diferentes atividades, com sobrecarga de trabalho para os indivíduos.

QUADRO 6 : Dificuldades na fase do processo de incorporação do compartilhamento do conhecimento Fonte: (TONET E PAZ, 2006)

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As principais dificuldades existentes nessa fase estão relacionadas com a capacidade

de gestão dos conflitos organizacionais quanto ao uso do conhecimento, indicadas

anteriormente, e com as habilidades e atitudes necessárias para a aplicação do conhecimento.

Nesse modelo Tonet e Paz (2006), descrevem os elementos básicos que correspondem

ao processo de comunicação no quadro 7 a seguir.

Elementos Básicos do Processo de Comunicação

A fonte do conhecimento,

O destinatário,

O conhecimento a ser compartilhado,

O contexto em que o compartilhamento de conhecimento ocorre.

QUADRO 7: Elementos básicos do processo de comunicação Fonte: Tonet e Paz (2006)

Neste capítulo um conjunto de conceitos e teorias válidas no campo do

comportamento organizacional que foram importantes para associar ao tema do conhecimento

humano foram pesquisados e apresentados. Todos esses requisitos, conhecimento,

compartilhamento de conhecimento e aspectos do comportamento organizacional inferem um

no outro. O passeio na literatura possibilitou estabelecer base fundamental para a estruturação

e conclusão deste trabalho. A seguir o capítulo 3 detalhará o desenvolvimento da pesquisa

tratando da metodologia utilizada.

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3 Metodologia da pesquisa

O presente capítulo tem por objetivo apresentar o processo metodológico adotado que

conduziu o desenvolvimento deste estudo considerando o problema de pesquisa proposto.

Cada investigação, diz Koche (1997), deve focar conforme as características do problema

investigado.

A metodologia pode ser considerada o modo de conduzir a pesquisa, são os princípios

e os procedimentos os quais são abordados os problemas a fim de achar as respostas

procuradas (BOGDAN; TAYLOR, 1976).

Desta forma, os tópicos a seguir apresentarão os procedimentos e critérios

metodológicos da pesquisa proporcionando a compreensão de como a realidade foi estudada.

3.1 NATUREZA DA PESQUISA

Em relação aos fins, esta investigação é do tipo exploratório-descritiva. Nesse caso, a

metodologia adotada para a realização deste estudo fundamenta-se em pressupostos da

pesquisa exploratória e da pesquisa descritiva. A pesquisa exploratória tem por finalidade

fornecer um maior conhecimento sobre os temas e problemas de pesquisa em análise,

proporcionando maior aprofundamento e esclarecimento sobre o assunto (COOPER &

SCHINDLER, 2004).

3.2 CARACTERIZAÇÃO DA PESQUISA

Este estudo analisou em profundidade um caso específico, então esta pesquisa

caracteriza-se como sendo do tipo estudo de caso que se constitui em uma das formas de

estudar um problema adotando o enfoque qualitativo.

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O estudo de caso foca no conhecimento da vivência do caso e a sua atenção é

direcionada para compreender as influências sociais, políticas e de grupo, além de outros

contextos (STAKE, 2000). Gil (1994) reconhece o estudo de caso como sendo uma pesquisa

caracterizada pelo estudo profundo de um ou poucos objetos, favorecendo um conhecimento

detalhado e minucioso.

Fleury (2004) relata que a maioria das pesquisas que são realizadas sobre cultura

organizacional é baseada em estudo de caso, com o olhar para a realidade de uma

organização. E Vergara (1997) descreve um estudo de caso como sendo uma ou poucas

unidades, entendidas como: uma pessoa, uma família, um produto, uma empresa, um órgão

público, uma comunidade ou mesmo um país.

De acordo com Yin, (2005) o pesquisador em estudo de caso deve ter habilidade na

escuta bem como na realização das perguntas, ser capaz de realizar mudanças adaptando seu

roteiro quando necessário, estar ciente das questões que estão sendo pesquisadas, e

principalmente não carregar opiniões formadas que possam vir a impedir possibilidade de

descobertas, evitando viés.

Bruyne et al (1977) também destacam que o estudo de caso tem o objetivo de permitir

a reunião de informações detalhadas e numerosas, apreendendo, assim, a totalidade de uma

situação.

Para desenvolver o estudo de caso foi adotado um enfoque descritivo porque pretende

apresentar de forma mais ou menos detalhada a realidade investigada. Conforme Vergara

(1997), a pesquisa descritiva visa a abordar características de determinado fenômeno ou

população. Além disso, pode estabelecer correlações entre variáveis e definir sua natureza. De

forma similar, Babbie (1998) diz que um estudo com enfoque descritivo visa a detalhar

situações e eventos em estudo.

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Assim, o presente estudo de caso contribuiu para entender de forma mais ampla e

aprofundada os processos relacionados ao compartilhamento do conhecimento na empresa

pesquisada.

No próximo item, assuntos referentes ao Método da Pesquisa serão apresentados a fim

de detalhar e justificar a abordagem escolhida para essa pesquisa.

3.3 MÉTODO DA PESQUISA

Neste estudo a abordagem escolhida para pesquisa foi predominantemente qualitativa.

Conforme Richardson et al (1999), a escolha de uma abordagem, a forma como se pretende

analisar um problema, é que define a abordagem a ser utilizada a depender da natureza do

problema de pesquisa ou do seu grau de aprofundamento.

Os estudos qualitativos podem descrever segundo Richardson et al (1999), a

complexidade de determinado problema, analisar a interação de certas variáveis, compreender

e classificar processos dinâmicos, contribuir no processo de mudança de determinado grupo e

viabilizar um maior aprofundamento nas questões relativas ao comportamento individual.

É percebido por Lüdke e André (1986), que o estudo qualitativo é o que se desenvolve

num ambiente natural tendo como fonte direta de dados. Os dados descritivos são mais ricos e

flexível e apontam a realidade com sua complexidade e também contextualizada. Entretanto,

Minayo et al (2000) ressaltam que a pesquisa qualitativa trabalha com uma gama de

significados, motivos, aspirações, crenças, valores e atitudes, o que está relacionado ao

aprofundamento das relações, dos processos e dos fenômenos que não podem ser limitados à

operacionalização de variáveis.

Para Richardson et al, (1999), existem algumas situações que implicam no método

qualitativo que necessitam substituir os dados estatísticos por dados qualitativos, por

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exemplo: os estudos que se referem aos fatos do passado, os que dizem respeito aos aspectos

culturais, as investigações sobre grupos que necessitam de mais informações; os estudos com

ênfase nos aspectos psicológicos como atitudes, motivações, valores, expectativas e por fim,

nas situações em que as observações são usadas para o funcionamento de estruturas sociais.

A pesquisa qualitativa para Godoi et al. (2006), possibilita o estudo dos fenômenos

que envolvem os seres humanos e suas relações sociais. Um fenômeno pode ser mais bem

compreendido no contexto em que ocorre e do qual é parte, se analisado numa perspectiva

qualitativa. Para tanto, o pesquisador vai a campo buscando perceber os fenômenos

envolvidos no estudo a partir da colocações e visões das pessoas nele envolvidas,

considerando todos os pontos de vista como sendo relevantes. Vários tipos de dados são

coletados e analisados para que se entenda a dinâmica do fenômeno.

O tema dessa pesquisa se refere aos aspectos complexos, que enfatizam conteúdos

individuais relativos aos temas subjetivos dentro de comportamento organizacional, que

aprofundam questões interpessoais ao explorar o compartilhamento do conhecimento, estando

dessa forma mais adequada a utilização das situações descritas.

Nesse caso dada à natureza do problema e diante dos objetivos apresentados, acredita-

se que um estudo qualitativo possibilite um maior aprofundamento da realidade da empresa

escolhida.

A seguir no próximo tópico, será apresentado o lócus de investigação da pesquisa.

3.4 Locus DA PESQUISA

A organização em que o estudo foi realizado é a Maia Melo Engenharia Ltda., uma

empresa de engenharia consultiva, fundada em 31 de maio de 1982, com atuação nos campos

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de estudos e projetos, gerenciamento/supervisão/fiscalização de obras e outros serviços

técnicos.

Nesses campos de atuação, o esforço da empresa tem sido na elaboração de projetos e

supervisão de obras rodo-ferroviárias, o que representa cerca de 85% de suas atividades e tem

contribuído com soluções inovadoras como, por exemplo, o emprego de tipos de pavimentos

de baixo custo.

Igualmente importante é ressaltar o pioneirismo da empresa pesquisada no campo da

Qualidade, tendo sido a primeira empresa de consultoria a obter a certificação pela NBR ISO

9001/1994, no Norte e Nordeste do Brasil em 29 de setembro de 2000 e a primeira empresa

nacional de engenharia consultiva a conseguir a certificação da adequação do seu sistema da

qualidade à Norma NBR ISO 9001/2000 em 29/11/2001. Essas certificações foram

concedidas pela Fundação Carlos Alberto Vanzolini.

A Certificação do Sistema Evolutivo QUALIOP, Nível "C", em 09 de maio de 2003,

registro no 0232/03/04/C/01, foi concedida pela Comissão de Qualificação do QUALIOP do

Estado da Bahia. Esta Certificação foi renovada em 09/10/03, com o mesmo número de

registro. Em 16 de julho de 2004, foi elevada a Certificação QUALIOP para o Nível "B",

registro nº 0166/04/04/B/01.

No processo de melhoria contínua, a empresa estudada obteve a certificação do seu

Sistema de Gestão Ambiental (SGA), dentro dos requisitos da NBR ISO 14001/1996, na 287ª

Reunião da Comissão de Certificação da Fundação Vanzolini, realizada em 11 de dezembro

de 2003, com Certificado nº SGA – 118, sendo atualizada para a Norma ISO 14001/2004, em

12 de maio de 2006 (Certificado nº SGA-290). Como conseqüência, a direção da empresa

promoveu o Sistema Integrado de Gestão – SIG.

Em 11 de janeiro de 2005 a empresa obteve a Certificação no sistema "PARA

OBRAS", nível "A" com o certificado nº. CPA M00492 - 298/05 pela Fundação Vanzolini.

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Em 19 de dezembro de 2005, a empresa aderiu ao PROPERQ/PE e em 22 de setembro

de 2006 obteve a 2ª Recertificação do seu SIG, pela Fundação Vanzolini, conforme

Certificados nº SQ-5405 (ISO 9001/2000) e SGA-310 (ISO 14001/2004), ambos com

validade até 21 de setembro de 2009. Nessa oportunidade, foram obtidas, também, as

renovações das certificações dos sistemas evolutivos QUALIOP/BA e PARAOBRAS/PA.

A Maia Melo é uma empresa privada, de médio porte, de capital limitado, tendo, pela

última alteração contratual em 21 de novembro de 2003, 10 acionistas.

Espacialmente, opera na Região Norte (Roraima, Rondônia, Acre, Amapá, Amazonas

e Pará); na Região Centro-Oeste (Mato Grosso); na Região Nordeste (Maranhão, Piauí, Ceará,

Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco, Alagoas, Sergipe e Bahia), com incursões no Rio

de Janeiro e no Distrito Federal.

A sede da empresa, em Recife, está situada em um bairro residencial/comercial, onde

se localiza a Diretoria, o setor administrativo-financeiro e o setor de projetos e pesquisa. Em

função de seus contratos, a empresa mantém alguns escritórios de representação em

Belém/PA, Brasília/DF e Rio de Janeiro/RJ, assim como escritórios temporários nas frentes

de trabalho abertos.

Cerca de 90% do seu mercado de trabalho é, essencialmente, ligado a órgãos públicos

nos três níveis de governo – Federal, Estadual e Municipal – e incursões na iniciativa privada

(cerca de 10%).

As informações referentes à empresa foram adquiridas através do contato estabelecido

entre a pesquisadora e o gestor da área de qualidade, em que foram apresentados a estrutura

organizacional, os departamentos envolvidos na pesquisa e organograma da empresa (vide

anexo 1). Informações sobre o fluxo relativo à elaboração de projetos rodoviários, também

foram apresentadas a fim de situar e orientar a pesquisadora (vide anexo 2).

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3.5 DELIMITAÇÃO DA PESQUISA

Nesta seção serão definidos a população e a amostra deste estudo. De acordo com

Richardson et al. (1999), população ou universo é o conjunto completo de elementos que

possuem determinadas características sobre as quais desejamos fazer algumas inferências.

O universo ou população, como define Vergara (1997), corresponde ao conjunto de

elementos, como por exemplo, empresas, pessoas, que possuem características que serão

objeto de estudo.

O universo da Maia Melo é composto de 10 acionistas, dos quais 4 exercem a função

de coordenadores de projetos e estudos executivos. Sua força total de trabalho é constituída de

120 empregados permanentes, 32 que possuem nível de escolaridade superior, dos quais 25

são engenheiros, 62 que possuem nível de escolaridade técnico e 26 atuam na área

administrativa.

A amostra da pesquisa corresponde a todos os coordenadores responsáveis pela equipe

de estudos e projetos da Maia Melo Engenharia (4), bem como quatro (4) colaboradores que

estão subordinados à mesma coordenação, escolhidos intencionalmente pelo tempo de

empresa que eles possuíam, levando em conta os períodos da mudança da diretoria da

empresa. Ao convidar esses colaboradores, a idéia foi a de coletar mais informações para a

pesquisa e compatibilizar dados.

Definiram-se os seguintes critérios para a escolha da amostra: representatividade

(significa entrevistar todos os 4 coordenadores de projetos) disponibilidade (significa

entrevistar 4 colaboradores que estavam presentes na instituição com tempo disponível para a

entrevista durante a etapa de coleta de dados) e acessibilidade (significa entrevistar pessoas

residentes dentro da cidade de Recife).

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Quanto à escolaridade, os coordenadores entrevistados são graduados em engenharia

civil, dos quais 1 possui título de mestre e os outros são mestrandos. O quadro 8 a seguir,

relaciona idade e escolaridade dos entrevistados respectivamente.

ENTREVISTADOS

ESCOLARIDADE IDADE 2º. Grau Superior

incompleto Superior completo

Mestrandos Mestres

29 a 39 - 1 2 - -

40 a 49 - - - 1 1

Acima 50 1 - - 2 -

QUADRO 8: Entrevistados por idade e escolaridade Fonte: Dados da pesquisa

Foi estabelecido como critério para a escolha dos colaboradores o tempo de empresa,

dessa forma foram convidados 2 funcionários com mais de oito anos de trabalho na empresa e

outros 2 com menos de oito anos de trabalho na empresa. O tempo foi determinado devido à

mudança de diretoria ter ocorrido nesse período. As pessoas diretamente envolvidas na

pesquisa perfazem um total de (8) entrevistados.

O universo ou população, como define Vergara (1997), corresponde ao conjunto de

elementos, como por exemplo, empresas, pessoas, que possuem características que serão

objeto de estudo. No caso deste estudo, o universo da pesquisa corresponde às pessoas

envolvidas diretamente na coordenação de estudos e projetos e colaboradores que estão

subordinados às mesmas coordenações.

No próximo tópico será visto como foram coletados os dados, detalhando os

instrumentos utilizados para esta pesquisa e como ocorreu o processo de coleta de dados

respectivamente.

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3.6 COLETA DE DADOS

Esta seção é composta de duas etapas: primeiramente a descrição do instrumento que

foi construído para a coleta de dados e em seguida o processo de coleta de dados utilizado

neste trabalho.

3.6.1 Instrumento da pesquisa

Considerando ser esta uma pesquisa predominantemente qualitativa do tipo estudo de

caso, conforme exposto anteriormente, uma das técnicas de coleta de dados mais utilizadas,

segundo Godoi (2006) é a entrevista. Nesta técnica é possível desenvolver uma relação mais

próxima com as pessoas envolvidas, diz Richardson et al (1999). Selltiz et al (1987)

ressaltam ainda que para obter as informações a respeito de aprofundar questões relacionadas

ao que as pessoas pensam sobre suas expectativas, crenças, sentimentos, desejos, ações e

ainda suas justificativas sobre suas atitudes anteriores, a entrevista é um método bastante

adequado. Como já mencionado, os participantes deste estudo de caso constituem-se de

pessoas internas à organização.

Os dados primários foram obtidos com base em entrevistas semi-estruturadas. Essa

técnica tem como objetivo o de que o entrevistado possa se posicionar com liberdade nas suas

próprias colocações, nos assuntos que o entrevistador coloca para serem abordados

(RICHARDSON et al, 1999). Como ressalta Triviños (1994), essa opção metodológica ao

mesmo tempo em que valoriza e mantém atuante a presença do investigador, propicia ao

informante a liberdade e espontaneidade necessária, o que, segundo o autor, favorece a

descrição, explicação e compreensão da totalidade dos fenômenos sociais.

As entrevistas semi-estruturadas realizadas foram baseadas em um roteiro elaborado

sob a perspectiva dos fundamentos teóricos norteadores desta pesquisa (Vide apêndice 1).

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Como diz Triviños (1994), os instrumentos de coleta de dados são a teoria em prática,

apoiando a visão do pesquisador.

Lüdke e André (1986) destacam que a entrevista semi-estruturada se concretiza a

partir de um esquema básico, porém não aplicado rigidamente, permitindo que o pesquisador

faça as adaptações que considerar necessárias.

A seguir, será detalhado o processo de coleta de dados que conduziu a presente

pesquisa.

3.6.2 Processo de Coleta de dados

Em primeiro momento, a pesquisadora entrou em contato com um dos coordenadores

de projetos para um entendimento mais próximo do funcionamento das equipes e o seu

pessoal envolvido. Dentre a coordenação contactada, verificou-se a viabilidade em pesquisar

as quatro coordenações de projetos com intuito de colher a percepção acerca da existência do

compartilhamento do conhecimento como valor fundamental na cultura e seu impacto para o

sucesso da organização.

Em outro momento, os entrevistados foram procurados pela pesquisadora a fim de

agendar previamente o dia e a hora para a realização da entrevista. Buscou-se proporcionar

aos entrevistados a liberdade e a espontaneidade essenciais para o enriquecimento da

investigação, conforme sugere Triviños (1994). As entrevistas foram conduzidas no próprio

ambiente de trabalho dos participantes, no mês de dezembro de 2007, com duração média de

1 hora cada e todas gravadas em formato digital.

A coleta de dados ocorreu, em muitos momentos, em interação dinâmica com sua

análise. Triviños (1994) relata que o processo de pesquisa qualitativa desenvolve-se em

contínua retroalimentação entre coleta e análise dos dados, a proporção que se obtêm os

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dados, eles vão sendo levados para novas análises, que em seguida se transformarão em novas

buscas de informações.

Na seção seguinte, será descrito o procedimento utilizado para analisar os dados

referentes ao estudo.

3.7 ANÁLISE DE DADOS

Como técnica de análise para tratamento dos dados, foi utilizada a análise de

conteúdo, através de inferências básicas a partir do texto, objetivando descrever

sistematicamente o teor da comunicação (MARCONI, LAKATOS, 1999).

Conforme os estudos de Bardin (2004), o instrumento utilizado para análise qualitativa

foi um roteiro de entrevista (APÊNDICE 1). Neste instrumento constavam perguntas abertas

para que o entrevistado pudesse expressar seus pontos de vista e seus pareceres acerca do

tema pesquisado. Baseado nas teorias sobre conhecimento nas áreas relacionadas, foi

desenvolvida uma categorização das respostas para a aplicação da análise de conteúdo

apresentada a seguir.

Segundo Richardson et al (1999), a análise de conteúdo é um conjunto de técnicas e

procedimentos metodológicos, aperfeiçoados continuamente e empregados em diversas

comunicações, mensagens e discursos. Ainda para o mesmo autor, a análise de conteúdo tem

como objetivo realizar inferências, baseada numa lógica explicitada, sobre os discursos cujos

aspectos foram identificados e sistematizados através de um processo de localização-

atribuição de traços de significação.

Na presente pesquisa, a análise de conteúdo foi aplicada para avaliação das respostas

das perguntas abertas presentes no roteiro de entrevista (APÊNDICE 1). Nesse sentido, um

sistema de categorias foi estabelecido conforme objetivos.

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De acordo com Gil (1994), o objetivo da análise consiste em organizar e sumariar os

dados de forma a responder aos objetivos da pesquisa. Além disso, segundo o autor, uma

interpretação desses dados necessita ser realizada em conjunto com os conhecimentos teóricos

obtidos, com o objetivo de dar um sentido às respostas. Desta forma, a análise foi realizada

com base em um estudo aprofundado dos dados coletados num processo de idas e vindas da

análise desse material junto ao referencial teórico apresentado dando suporte às reflexões

elaboradas.

Foram classificadas três categorias de acordo com os objetivos propostos:

a) Fatores indicativos de Sucesso;

b) Fatores facilitadores do Compartilhamento do Conhecimento;

c) Fatores representativos de barreiras do Compartilhamento do Conhecimento.

A análise dos dados de acordo com a primeira categoria proporcionou ao pesquisador

maior compreensão do processo da cultura inicial, desde o momento da criação da empresa

até os dias atuais e ainda identificou fatores indicativos do sucesso a partir dos achados.

Na segunda e na terceira categorias (fatores que representam facilidades e fatores que

representam barreiras para o compartilhamento do conhecimento), os resultados obtidos

foram classificados conforme três indicadores:

� Cultura;

� Liderança e

� Motivação.

No item seguinte, serão abordados os assuntos referentes a limites e limitações do

estudo.

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3.8 LIMITES E LIMITAÇÕES DA PESQUISA

Toda pesquisa científica apresenta limites e limitações e neste trabalho foi apresentada

com uma maior ênfase a percepção dos coordenadores de estudos e projetos da empresa

estudada através de um pequeno número de colaboradores. Se o número de colaboradores

entrevistados fosse maior isto poderia contribuir para compatibilizar ainda mais os

depoimentos entre coordenadores e funcionários.

Uma outra limitação se refere à dificuldade, algumas vezes, de se obter a real posição

dos entrevistados, visto que pode haver receio em colocar para o entrevistador questões que

denotem falhas e deficiências da atuação do entrevistado.

Essa pesquisa possuiu uma análise qualitativa, a qual permitiu um resultado

específico, já que, para Triviños (1994), essa metodologia propicia liberdade para o

entrevistado a qual favorece o aprofundamento dos fenômenos ocorridos na organização, não

devendo, dessa forma, generalizar suas conclusões para outras organizações

Por fim, a implicação da autora no contexto da pesquisa também se constitui numa

limitação. Essa limitação conforme Barbier apud Cunha (2007), pode ser proveniente de

alguns fatores, como por exemplo, questões psicoafetivas, que podem prejudicar a

neutralidade científica, porém não invalidando o método utilizado.

O próximo capitulo apresentará os resultados e suas discussões com ênfase nos três

objetivos específicos e suas conclusões.

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4 Resultados

Para a análise de conteúdo foi utilizada a teoria em Bardin (2004). As colocações

acerca dos conteúdos questionados tiveram a estrutura desmontada para a melhor visualização

das diferentes características e significados. Os conteúdos dos elementos foram detalhados e

agrupados em torno de categorias. Os elementos constituíram unidades de análise, palavras,

que se referiam aos indicadores (cultura, liderança e motivação), foram avaliados conforme

sua situação dentro do conteúdo, no sentido e nos valores atribuídos.

A figura 5 abaixo mostra o mapa do Estudo com ênfase nos indicadores e nos resultados

em relação ao compartilhamento do conhecimento, foco desta pesquisa.

Figura 05: Mapa da Pesquisa Fonte: Dados da pesquisa

LIDERANÇA

INDIVÍDUO + CONHECIMENTO

MOTIVAÇAO CULTURA

Conhecimento estagnado

INDIVÍDUO + CONHECIMENTO NOVO

SSUUCCEESSSSOO

Favorável

Conhecimento estagnado

Favorável

Visão do colaborador

Favorável

Conhecimento estagnado

Visão do coordenador

normas

Crenças Valores

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Nesse processo recorreu-se também a uma leitura das entrelinhas e das contradições

relatadas nos diversos discursos. As respostas dos entrevistados foram agrupadas conforme

categorias, a partir daí a pesquisadora construiu histogramas com a distribuição das

freqüências dos aspectos mais relevantes, relacionando todas aos indicadores identificados.

Os achados acerca do objetivo especifico número 1 serão expostos na próxima seção, os

fatores indicativos de sucesso da empresa estudada.

4.1 FATORES INDICATIVOS DE SUCESSO

Essa etapa visa a detalhar questões referentes ao primeiro Objetivo Específico que

trata dos fatores indicativos de sucesso da Maia Melo Engenharia, na visão dos

Coordenadores de Estudos e Projetos. Para analisar esse objetivo específico foi necessário

relacionar os fatores que foram considerados pelos coordenadores como indicadores do

sucesso da empresa pesquisada.

As questões 1, 2 e 11 do roteiro de entrevista (Vide APÊNDICE 1) possibilitaram

subsidiar a determinação da categorização do primeiro objetivo específico. O quadro 9 a

seguir, sintetiza os pontos principais dos demais depoimentos acerca dos fatores de sucesso.

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CATEGORIZAÇÃO DOS ASPECTOS RELEVANTES DOS INDICADORES DE SUCESSO

F

ASPECTOS RELACIONADOS

6 Fundador: Visão de Futuro, Espírito Inovador

5 Fundador Implantou Cultura para compartilhamento do conhecimento

3 Capacidade produtiva dos Recursos Humanos

2 Tecnologia

2 Profissionalismo

2 Qualidade dos serviços

2 Administracão Atual

2 Aperfeiçoamento dos Técnicos

2 Certificações de Qualidade

1 Reconhecimento Nacional do fundador

1 Fundador: Treinou e efetivou a diretoria

1 Pioneirismo em vários produtos

1 Vem de uma empresa forte do ramo

1 Bom ambiente

S

U

C

E

S

S

O

31 TOTAL

QUADRO 9 Categorização dos aspectos de relacionados à Variável Sucesso Fonte: Dados da pesquisa.

Conforme relatos dos entrevistados, historicamente a empresa estudada nasceu com

um comportamento voltado para compartilhar informações, experiências, idéias, ou seja, o

conhecimento. Para Davenport e Prusak (1998), os fatores culturais e estruturais que fazem

parte da organização podem influenciar o compartilhamento do conhecimento. Destacando as

falas dos entrevistados 1 e 4 a seguir, pode-se constatar que o fundador exercitava o

compartilhamento do conhecimento e fazia parte de seu perfil profissional, sua atitude para

compartilhar o saber que possuía foi estabelecida desde o início como valor que estruturou a

cultura.

Dr. Antão era professor então, ele estava sempre em busca de se atualizar, ao mesmo tempo,

devido a sua própria formação, estava adquirindo conhecimento e sempre transmitindo,

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inclusive, organizando seminários, cursos, ele não se restringia apenas à Maia Melo não, ele

colocava os clientes junto e até os nossos concorrentes, a finalidade era difundir

conhecimentos novos no meio técnico, quer dizer que a partir do momento em que você

consegue que seu meio se valorize, você também se valoriza junto com ele. (entrevistado 1)

A saída do Mairon marcou, mas ele como ele era da área administrativa não foi tão

relevante, mas mesmo assim significou até porque o Maia era dele. O falecimento de Antão

preocupou os funcionários e o mercado, os clientes e concorrentes achavam que a Maia Melo

não iria resistir, mas a cultura implantada por ele de delegação, de ensinar, de tocar a

empresa fez com que nós, os técnicos, tocassem. Até hoje a empresa se mantém como empresa

de ponta no mercado Norte e Nordeste. (entrevistado 4).

Adotar e aplicar o comportamento de compartilhar o conhecimento só deverá ter bom

resultado com o respaldo da cultura da empresa (DAVENPORT E PRUSAK, 1998), e a

cultura da empresa pesquisada possuiu desde sua criação um olhar para o novo, para um fazer

diferente.

As percepções dos entrevistados 2, 3 e 4 abaixo, sobre o sucesso da empresa nos dias

atuais são relacionadas ao reflexo do comportamento inovador do Dr. Antão, que possuía

preocupação em aprimorar e adquirir novos conhecimentos.

Nosso fundador deixou um pensamento que é o de fazer da melhor forma sempre, essa

filosofia a gente tenta colocar em prática e o que a gente colhe hoje foi o que plantamos

ontem, com um trabalho sério. (entrevistado 3)

Isso foi nosso diferencial, exatamente por Dr. Antão ser um professor, gostava sempre de

trazer novidades, sua mentalidade era de sempre inovar, além disso, ele era apaixonado por

livros, por idéias inovadoras, ele adorava criar, então foi essa semente que ele nos deu e nos

ensinou e ela existe até hoje. E continua esse espírito de que a gente pode trazer idéia nova

que será sempre bem vinda, bem aceita. (entrevistado 2)

[...] a cultura implantada por ele de delegação, de ensinar, de tocar a empresa fez com que

nós, os técnicos, tocassem e até hoje a empresa se mantém como empresa de ponta no

mercado Norte e Nordeste. (entrevistado 4)

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Os valores deixados pelo fundador não foram esquecidos ao longo dos anos, pelo que é

percebido, estão presentes até mesmo nos funcionários que não participavam da organização

na época em que ele estava presente, mas o significado de como o trabalho era executado para

dar certo continua vivo, sendo considerado fonte de sucesso pelo entrevistado 5, conforme

relato abaixo:

[...] eu não trabalhei na época, mas pelo que o pessoal comenta que esse espírito

empreendedor, visionário, de querer inovar do Dr. Antão, isso fez a gente partir na frente

com novas idéias. Na área da gente quem parte na frente tem um diferencial, então, ele tinha

essa iniciativa de querer criar novas soluções e eu acho que isso foi uma das coisas que fez a

gente ter esse diferencial. Porque se a gente fosse querer só imitar os outros ou fazer a

mesmice de sempre a Maia Melo não tinha chegado onde chegou hoje, e ele incentivava as

pessoas a fazerem isso dizendo: “ olha vamos fazer diferente!” Os textos que ele fazia, o

pessoal comenta que ele sempre procurava fazer uma identidade própria para cada um dos

projetos, enquanto que as outras empresas já não fazem isso, refazem as mesmas

coisas.(entrevistado 5)

Rossatto (2003), refere-se à competição como algo cada vez mais voltado para a

capacidade de transformar informação em conhecimento, consequentemente em decisões e

ações de negócios, onde o valor do produto vem dependendo mais de inovação, tecnologia e

conhecimento incorporado. No caso da Maia Melo Engenharia esse conceito de transformar

informação em conhecimento e buscar inovação já vem sendo praticado há 25 anos, conforme

demonstrado na visão dos gestores e funcionários no quadro 9, página 68.

O desaparecimento de algumas funções faz entender que a empresa provocou

mudanças para estar sintonizada com as transformações do mundo dos negócios e partir na

frente de seus concorrentes com as novas tecnologias. Os entrevistados a seguir relatam essas

mudanças que podem ser relacionadas às questões do sucesso da empresa pesquisada.

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Com a inovação tecnológica, veio o desaparecimento de algumas funções, o departamento dos

desenhistas se extinguiu. Mudamos completamente o modo de fazer projetos. [...] Nossa

biblioteca cresceu e sempre foi extremamente organizada. (entrevistado 2)

Entrei numa fase que mais houve mudança, estrutura física, porque o mercado pediu isso,

informática, computador, software, evoluiu de 2001 pra cá. Dr. Antão e o pessoal antes de

mim, já tinham feito muitas coisas, foi a preparação para essa era de 2001 que a evolução

tecnológica foi tremenda!(entrevistado 5)

O passo maior foi a informatização, e com ela, a Maia Melo foi logo investindo e saindo na

frente, não esperamos, não tínhamos quem ensinasse. Acompanhamos a parte de informática

saindo à frente das nossas concorrentes. (entrevistado 8)

Nesse contexto, insere-se o pensamento de Nonaka e Takeuchi (1997), sobre a

organização de negócios de que a empresa não apenas “processa”, mas também “cria” o

conhecimento. E esse conhecimento pessoal incorporado à experiência, segundo os autores,

diz respeito a fatores relativos a crenças pessoais, perspectivas e sistemas de valor, estando

assim, relacionado ao conhecimento que envolve fatores intangíveis, denominado de

conhecimento tácito que é considerado a fonte da competitividade das empresas japonesas.

Ainda para os mesmos autores, a interação entre o conhecimento explícito e tácito é

considerada como a principal dinâmica da criação do conhecimento na organização de

negócios.

Para finalizar, pode-se perceber que na Maia Melo Engenharia não vem sendo

diferente do citado na teoria acima, pois ao longo desses 25 anos, o conhecimento tácito foi

estimulado através das pesquisas, leituras, insights, através da criação das novas tecnologias.

Outro ponto foi o entusiasmo do fundador em aprender e enriquecer seu conhecimento tácito e

também o explícito através do querer ensinar, passar e trocar informações, foram as atitudes

que embasaram a cultura e deram sustentação para enfrentar as turbulências e alcançar o

sucesso.

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Com a finalidade de tratar dos fatores considerados facilitadores do compartilhamento

do conhecimento, a próxima seção apresentará os achados acerca do objetivo especifico

número 2.

4.2 FATORES FACILITADORES DO COMPARTILHAMENTO DE CONHECIMENTO

Essa etapa visa detalhar questões referentes ao segundo Objetivo Específico, descrever

os fatores que facilitam o compartilhamento de conhecimento entre os funcionários da equipe

da Maia Melo Engenharia.

Para analisar esse objetivo específico foi necessário relacionar os fatores considerados

facilitadores de compartilhamento de conhecimento e compatibilizá-los com os indicadores:

� Cultura

� Liderança e

� Motivação.

Nos fatores facilitadores vinculados ao indicador Cultura, ficou claro nos depoimentos

que apenas os aspectos relacionados a crenças e valores estavam presentes como continuação

da cultura inicial. Nenhum dos entrevistados relatou normas da empresa que permitem a

manutenção dessa cultura de compartilhar conhecimento.

No indicador de liderança presentes nas falas dos pesquisados, curiosamente, os

assuntos associados aos aspectos facilitadores do compartilhamento, foram percebidos apenas

nas falas dos coordenadores de projeto e os liderados não colocaram nenhum aspecto como

facilitador do compartilhamento do conhecimento relacionado ao indicador de liderança.

Nas questões que remetiam ao indicador motivação como facilitador do

compartilhamento do conhecimento, as falas foram classificadas conforme as definições

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presentes nas teorias de motivação fundamentadas. A categorização desses achados pode ser

visualizada no quadro 10.

CATEGORIZAÇÃO DOS ASPECTOS FAVORÁVEIS AO COMPARTILHAMENTO DO CONHECIMENTO

INDICADORES F ASPECTOS RELEVANTES

8 Ensinamento deixado pelo fundador, a importância de difundir o conhecimento

8 Valor no crescimento profissional (competência e eficácia)

7 Fundador estimulava a criatividade (criatividade)

7 Acredita-se na inovação como diferencial (confiança)

4 As idéias são bem vindas (imaginação)

CULTURA (Valores e Crenças)

34 TOTAL

4 Indicar profissionais para cursos. Gerenciamento de treinamento.

4 Formando novos lideres

3 Profissionais da casa são indicados para ministrar cursos internos (confiança).

3 Coordenador busca ser o exemplo (confiança)

3 Coordenação envolve os colaboradores na tomada de decisão.

LIDERANÇA ( na visão

dos coordenadores)

17 TOTAL

8 Querer desenvolver-se obter conhecimento (intelectualidade).

8 Gestão de qualidade bem estruturada (Certificação, Responsabilidade Social)

(segurança).

7 Tecnologia de ponta (visão ampla).

6 Avaliação de desempenho – como estratégia de planejamento treinamento

(reconhecimento).

3 Benefícios para o funcionário (apoio).

2 Para ensinar um amigo “fico após o expediente”. (afetividade).

2 Ambiente apoiador (apoio).

1 Aniversariante do mês tem espaço para o grupo de disseminadores (harmonia).

MOTIVAÇÃO

37 TOTAL

QUADRO 10 Categorização dos aspectos favoráveis ao compartilhamento do conhecimento Fonte: Dados da pesquisa.

No próximo item, serão descritos os relatos que foram vinculados ao indicador cultura.

As questões que favoreceram essa coleta podem ser visualizadas nas questões 1, 3, 5, e 9 do

roteiro de entrevista (vide APÊNDICE 1).

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4.2.1 Indicador cultura como facilitador do compartilhamento do conhecimento

Neste item as questões relacionadas ao indicador de cultura serão citadas e associadas

às demais teorias.

Alguns aspectos que são favoráveis ao compartilhamento podem vir de crenças e

valores pessoais ou podem ser percebidos como valores defendidos pela equipe ou mesmo

pela organização. Quando se percebe pelo indivíduo que há ganhos pessoais ao se

compartilhar conhecimentos, esses aspectos podem estar relacionados a diversas variáveis

como: reconhecimento, desejo de colaborar, consciência da utilidade do conhecimento,

reciprocidade, confiança, consciência da aprendizagem e relevância (LEONARDI, 2005).

A cultura da Maia Melo foi relacionada pelos entrevistados como sendo um fator

predominantemente direcionada para o comportamento de compartilhar conhecimento, foi

comentado pelos entrevistados que essa cultura de compartilhar conhecimento diz respeito aos

valores do fundador que costumava direcionar os esforços para transmitir e dividir

informações, experiências, idéias e conhecimento. A percepção dos entrevistados foi associada

à cultura, aos fatores tidos como valores de compartilhar conhecimento, como mostram os

relatos abaixo.

Na época de Dr. Antão, ele compartilhava realmente, ele não só passava não, ele chamava o

pessoal, os desenhistas, por exemplo, para saber a opinião. Queria saber a visão deles, dizia:

“o que vocês acham?” Ouvia as pessoas, era sempre assim na época dele. Agora hoje,

continua ainda. Eu vejo um ou outro coordenador pedindo a opinião de um engenheiro.

(entrevistado 7)

Já vi fatos interessantes, alguma vezes nos sábados, Dr. Antão, via os motoristas meio parados

lá fora e chamava-os para passar os slides das visitas do campo que ele fazia, ele projetava e

explicava tudo para os motoristas (entrevistado 2)

Gueiros (2007) demonstra que a aprendizagem tem uma tendência a ser efetivada por

meio do desempenho das atividades profissionais, ou seja, o aprender fazendo, e ela também

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pode ser favorecida pela interação entre pessoas, como por exemplo, nos momentos de

compartilhamento em reuniões. Gueiros (2007) define ainda a influência da mentoria na

aprendizagem e estabeleceu que essa interação pudesse estar ligada a pessoas próximas ou até

mesmo a pessoas que são consideradas uma autoridade na área, que é o caso dos mentores.

É possível observar através do depoimento do entrevistado.3 abaixo, que o fundador

encaminhava seus funcionários, muitos deles eram também alunos, para as atividades

executadas no campo, dando oportunidade para eles aprenderem praticando. Nos seminários

internos, os profissionais se desenvolvem e aprendem com o repasse de seus conhecimentos

para seus colegas conforme depoimento do entrevistado 1. O significado desse diretor como

autoridade no seu meio fica claro nos discursos e impacta na perpetuação do comportamento

de compartilhamento do conhecimento como valor forte para sobreviver ainda nos dias atuais.

Quantas vezes eu já vim, como aluna, para palestras organizadas pelo professor aqui mesmo

na Maia Melo e proferidas pelos próprios engenheiros, a gente tinha acesso aos trabalhos da

empresa. E as aulas no campo? Íamos em ônibus da Universidade para o campo, ver os

projetos da Maia Melo que estavam sendo desenvolvidos. Foram muitas!(entrevistado 3)

Os cursos internos, cada colaborador fala para o coordenador o que ele tá querendo. O

coordenador tem a visão da empresa, então quando coincide, aquilo que o colaborador tá

querendo com o que a empresa está precisando então é ótimo! A gente faz sempre curso e

cursos internos e muitas vezes são os colaboradores que dão esses cursos internos.

(entrevistado 1)

Na empresa estudada, os valores e crenças eram voltados para o aperfeiçoamento

constante do funcionário, essas atividades eram prioridades e se desenvolviam com apoio e

exemplo da diretoria, acabavam sendo vistas como normas (vide quadro 10 pág. 73). Hoje

existe flexibilização de horário para estimular os funcionários ao seu desenvolvimento através

dos estudos e cursos, demonstrando que a cultura de estímulo a ampliar conhecimento através

do crescimento intelectual até os dias atuais é relatada como favorável e a cultura implantada

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pelo fundador foi a de que a prioridade era esclarecer dúvidas, o que fica claro no depoimento

do entrevistado 3, abaixo.

Foi associado ao comportamento de compartilhar o conhecimento pelos

coordenadores, o fato de incentivar, de adquirir conhecimentos em cursos/seminários e serem

também estimulados a repassar a todos as novidades vistas, conforme mostra o relato do

entrevistado 1, abaixo.

Ainda temos valores voltados para o compartilhamento do conhecimento, nunca vi alguma

iniciativa minha ou que um profissional meu que precisasse de um curso e a diretoria negar,

todo esse apoio na capacitação em geral a diretoria continua na mesma linha de favorecer o

conhecimento (entrevistado 1).

Dr. Antão tinha a vocação e ainda priorizava a necessidade de aprender do colaborador, ele

podia estar com qualquer pessoa em reunião, podia ser cliente ou não, quando entravam em

sua sala com alguma dúvida, ele pedia um minutinho e ali mesmo, com a maior boa vontade

explicava o que era preciso para o funcionário (entrevistado 3).

Fleury (2006) cita que o conceito de cultura é o processo de aprendizagem que

acontece tanto no momento de criação, como no momento de transmissão de valores aos

novos membros da organização. Para Robbins (2004), a cultura da empresa, seus costumes,

suas tradições dependem muito do que foi realizado antes do sucesso que se alcançou e sua

fonte primária vem dos fundadores.

O relato do entrevistado 5, denota que os comportamentos voltados para o

compartilhamento se solidificaram com o tempo fortificando as crenças relacionadas à busca

de novos conceitos e criação de tecnologias novas (vide quadro 10, pág. 73). O entrevistado a

seguir é um funcionário que não conheceu o fundador da empresa, isso faz constatar que esses

valores continuam sendo enfatizados e permanecem.

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Dr. Antão, buscava a solução otimizada. Isso faz um diferencial tremendo né? Dava qualidade

ao trabalho e fazia o diferencial e respeito. A Maia Melo tem em cada trabalho que ela faz, um

trabalho diferenciado, específico para aquela solução ali, isso era uma coisa que ele fazia,

hoje ainda se faz e ele deixou isso aí pra gente, né? (entrevistado 5).

Resumindo o item sobre cultura, os fatores que apresentaram maior relevância foram

os ensinamentos deixados pelo fundador sobre a importância de difundir o conhecimento e

ainda o valor dado desde a fundação ao crescimento profissional dos funcionários.

O próximo item descreverá os relatos levantados nas entrevistas que foram associados

ao indicador de liderança. As questões relativas a esse indicador constam no roteiro de

entrevista e estão compatíveis com as questões: 9, 10, 12 (Vide APÊNDICE 1).

4.2.2 Indicador liderança como facilitador do compartilhamento do conhecimento

Serão citados a seguir os achados que se relacionam ao indicador de liderança como

facilitador do compartilhamento do conhecimento, os relatos compatíveis com este item são

todos referentes aos depoimentos dos líderes.

A alta gerência tem papel imprescindível no apoio aos programas direcionados à

gestão do conhecimento. Davenport e Prusak (1998) relataram que os líderes que defendiam as

iniciativas do conhecimento eram cultos e bem informados e direcionavam uma cultura

voltada para o conhecimento.

Para Mello (1999), a mudança de postura para favorecer o compartilhamento do

conhecimento deve se iniciar pelos líderes, pois são eles que deverão dar início e estimular

esse comportamento de disseminar conhecimento nas organizações. A seguir no relato do

entrevistado 4, fica nítida como coordenador, sua visão de líder que valoriza e tem iniciativa

para ampliar o aspecto do compartilhar conhecimento.

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Quando a necessidade de adquirir conhecimento é imediata, como por exemplo, no projeto de

terraplanagem, então tem um técnico de nível médio que domina o assunto, aí um

coordenador nosso, bota ele junto da engenheira para ir ensinando tudo para ela

(entrevistado 4).

Terra (2005) salienta a importância de ser estimulado um clima de confiança, pois

através de uma relação de confiança as pessoas tendem a compartilhar mais seu conhecimento,

bem como se perceberem ética e recompensa, comunicação clara entre os dirigentes e líderes.

O discurso do coordenador 4, abaixo, demonstra que na sua prática como coordenador

existe uma participação mútua entre ele e seus liderados, porém não cita os outros fatores que

poderiam estimular a prática do compartilhamento do conhecimento.

Aqui a gente tem a cultura de que, sempre que algum processo não tá bom, então aquele

funcionário pode propor a mudança do processo ou alguma alteração. Isso já ocorreu, tanto

com os líderes como com a equipe como um todo (entrevistado 4).

Nos estudos de Ahamad (1994), Reesor (1995), apud Gueiros (2007), é defendido que

o mentor pode influenciar a carreira e as escolhas de seu mentorado em seguir a mesma

função. Os teóricos demonstram, por exemplo, que os mentores além de terem criado a

oportunidade para atingir a meta, incentivam seus mentorados a alcançarem posições.

No depoimento do coordenador 2 fica evidente a preocupação em compartilhar e

desenvolver profissionalmente seu liderado, aproximando-se das características de um mentor

conforme citado na teoria acima. No relato do coordenador 1 fica clara também a

sensibilidade em perceber que área está compatível com seu liderado. Estes relatos

determinam atitudes facilitadoras para um processo de compartilhar conhecimento na visão

dos líderes da empresa estudada.

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Eu tenho formado algumas pessoas, na área que trabalho, eu procuro formar e essas pessoas

depois pegam seu vôo próprio. Fico feliz em poder repassar e tem muitos exemplos aqui de

pessoas que hoje estão em grandes empresas, como coordenadores (entrevistado 2).

[...] o coordenador vai passando a tarefa conforme sua prática ou interesse. Logicamente falo

da minha equipe, tem pessoas com quem nunca trabalhei e na minha equipe não percebo

diferença (entrevistado 1).

O ponto de vista dos líderes responsáveis pelas equipes da organização pesquisada foi

que existe acesso para trocar informações, para receber opiniões e idéias entre coordenação e

coordenados, conforme quadro 10 na página 73, porém na visão dos colaboradores tal

afirmação não foi constatada, estabelecendo mais uma vez somente a visão dos coordenadores.

Outro fator relevante é o depoimento do coordenador 3, logo mais abaixo, que entende

que o espaço para comunicação com a equipe é facilitado e ainda é levada em consideração a

opinião dos liderados como decisiva, porém o mesmo coordenador salienta também que não

depende dele como líder abrir esse espaço, mas sim do colaborador. O líder, nesse caso

específico do coordenador 3, apenas deve aproveitar o espaço dado pelo liderado.

Essa questão contradiz algumas teorias relativas à liderança, como por exemplo a de

Hitt (1993), ao relatar que a influência do líder é adquirida através de um relacionamento

pessoal e efetivo entre líder e seguidores e é através desse relacionamento que o líder poderá

extrair o de melhor de seus seguidores. O verbo extrair nesse contexto reflete bem quanto a

liderança deve ser ativa na busca, mas não passiva à espera de seu liderado.

Pergunto à equipe como é melhor fazer e peço que decidam, acho que ter abertura ou não

depende do colaborador, alguns tratam naturalmente, sem constrangimento, no geral as

pessoas têm tranqüilidade (entrevistado 3).

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Por fim, os pontos de maior relevância analisados e coletados nesse indicador refletem

que os coordenadores da empresa estudada entendem que seu papel como líder é favorável e

existe estímulo à prática de compartilhar conhecimento através de ações como indicações de

sua equipe para participação e desenvolvimento em cursos através do gerenciamento de

treinamento, e ainda a formação de novos líderes (Vide quadro 10 na página 73).

A próxima etapa tratará das questões relativas ao indicador motivação como forma de

facilitar o compartilhamento do conhecimento. No roteiro de entrevista as questões que

favoreceram coletar informações sobre este indicador são as de número: 4, 6, 8 e 10 (Vide

APÊNDICE 1).

4.2.3 Indicador motivação como facilitador do compartilhamento do conhecimento

Foram achados nos relatos dos entrevistados alguns aspectos favoráveis compatíveis

com o este indicador entre os colaboradores da organização pesquisada que serão apresentados

a seguir.

A teoria da expectativa define que se o indivíduo tem expectativas de que uma ação

sua trará resultados esperados e que esses resultados atraiam o indivíduo, então existirá uma

probabilidade de se agir de determinada maneira (Robbins, 2004). Isto pode ser verificado nos

diversos relatos, como por exemplo, do entrevistado 4, abaixo.

Tem que haver o interesse do colaborador de querer aprender. Tem gente que tem interesse

em tal área e um tem afinidade e se dedica mais em tal tarefa [...] (entrevistado 4).

Os relatos dos entrevistados 8 e 2 traduzem com clareza a teoria da expectativa, devido

ao fato de sua ação estar fundamentada no seu conhecimento e na sua capacidade de construir

e criar algo novo. Essa ação pode levá-los a uma nova tecnologia ou ao crescimento

profissional. Percebe-se ainda a motivação para compartilhar conhecimento, nas falas que

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ocorrem entre os colaboradores no sentido de querer descobrir novos produtos e buscar o

conhecimento. Isto pode ser visto como aspecto relevante conforme mostra o quadro 10

página 73.

[...] muitas coisas a gente aprendeu na vontade, metendo as caras, descobrindo, conversando

e a nossa base intelectual deu para desenvolver muitos produtos (entrevistado 8).

Aqui sempre compartilhei meus conhecimentos e também tive espaço para crescer, sou uma

pessoa inquieta, eu não gosto de estar fazendo sempre a mesma coisa, então a solução para

estar sempre à procura de uma coisa nova, provavelmente para mim foi a satisfação de estar

trabalhando numa empresa que você pode estar sempre crescendo. Isso aconteceu comigo,

cada vez eu tô tendo mais responsabilidade, à medida que eu fui mostrando a capacidade e

adquirindo confiança (entrevistado 2).

Quando a pessoa que necessita de ajuda for uma amiga, Latané e Rodin apud Lindzey

et al. (1977) comprovaram em estudos que será maior a probabilidade do indivíduo ter atitude

de ajudá-la, independente da pessoa necessitada já ter sido ou não assistida.

Nos depoimentos do entrevistado 5, logo abaixo, ficou explícito que existe um esforço

maior quando quem necessita de ajuda tem afinidade com quem poderá ensinar nesse caso

específico existe relação com a teoria citada acima e uma pergunta poderia ser lançada:

Proporcionar mais integração entre os membros possibilitaria o desenvolvimento de

relacionamentos e consequentemente a descoberta de mais afinidades entre colegas das

equipes de estudos e projetos?

[...] às vezes eu procuro ficar até mais tarde para ajudar alguém, mexe com a questão da

afinidade também, né? Eu não vou chegar para uma pessoa que não trabalho e dizer, tu quer

aprender isso? Se a pessoa quiser vir a mim e pedir ajuda aí tudo bem, eu nunca me neguei a

fazer. Mas a iniciativa é pessoal não tem um espaço, nem horário. Isso aí com certeza!

(entrevistado 5).

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Nesse tempo que entrei, eu nunca tive experiência de não conseguir as informações que

precisei como vice e versa. Eu tenho uma política que quanto mais eu ensino mais eu aprendo

então o que eu sei e consigo absorver eu vou passando e à medida que vou passando eu vou

aprendendo mais e vou fixando o que aprendi (entrevistado 5).

Alguns depoimentos, como os dos entrevistados 5 e 7, demonstram que a empresa

pesquisada deseja ampliar sua visão e atuação nas questões relativas à responsabilidade social,

e é incentivado o compartilhamento do conhecimento devido ao interesse em se certificar

nesse campo, consequentemente atividades estão sendo oferecidas pela empresa para se

disseminar o conhecimento entre os funcionários.

. [...] tivemos também a mudança tanto física como a de mentalidade da empresa, hoje com

preocupação em responsabilidade social, e com o seu funcionári. (entrevistado 5).

[...] todos os colaboradores, a turma da área técnica, teve espaço para falar sobre o que

entende de responsabilidade social, todos ficaram com um tema, pesquisamos na internet e

organizamos uma apresentação por subgrupos. Fizemos cartazes e foi numa sexta- feira ao

fim do expediente, pena que nem todos os coordenadores participaram, mas a diretoria tava

presente (entrevistado 7).

A partir das colocações analisadas é fácil concluir que na Maia Melo Engenharia não

existe nenhuma dificuldade no que diz respeito ao receber conhecimento, isso é buscado

sempre pelos profissionais, pois o interesse pessoal deles em receber conhecimento é grande.

A teoria da expectativa tem sua essência nos objetivos de cada indivíduo e é observado que

aprender faz parte dos objetivos dos funcionários desta empresa, o que é apresentado nas

diversas afirmações em que o indicador motivação demonstra aspectos a favor do

compartilhamento do conhecimento.

Resumindo o exposto no item 4.2.3, pode-se evidenciar que existem alguns aspectos

favoráveis ao compartilhamento do conhecimento, porém esses aspectos não estão fixados em

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bases sólidas já que culturalmente a empresa está se enfraquecendo devido à ausência das

normas que possibilitariam fortalecer essa cultura de compartilhar o conhecimento.

O indicador de liderança para os aspectos favoráveis ao compartilhamento não existe

em quaisquer dos relatos dos liderados, porém no depoimento dos coordenadores, diversas

ações são mencionadas como atitudes que favorecem a disseminação do conhecimento, o que

proporciona essa diferença de percepção entre líderes e liderados é uma questão para reflexão

na tentativa de descobrir o porquê delas não estarem sendo percebidas por todos.

Por último, nas questões relativas ao indicador motivação, a empresa encontra-se

favorável ao compartilhamento do conhecimento e as colocações mais relevantes descritas

pelos entrevistados foram as que os colaboradores sentem-se mais motivados a buscarem o

conhecimento (autodesenvolvimento). O fato de a empresa ter uma área de qualidade bem

estruturada é traduzida como confiança para eles e impulsiona a chegada do conhecimento.

Na próxima seção, achados acerca do objetivo específico número três, que

categorizam as Barreiras que impedem o Compartilhamento do Conhecimento entre os

funcionários da Equipe de Estudos e Projetos serão apresentados.

4.3 BARREIRAS PARA O COMPARTILHAMENTO DO CONHECIMENTO.

Essa etapa visa categorizar as questões referentes ao terceiro Objetivo Específico, investigar se

há algum fator que representa barreira para o compartilhamento do conhecimento entre a equipe de

estudos e projetos da Maia Melo Engenharia.

Alguns aspectos foram reconhecidos como barreira para o comportamento de compartilhar

conhecimento de acordo com relatos de coordenadores e colaboradores da organização em questão,

esses aspectos foram associados a três indicadores:

� Cultural

� Liderança e

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� Motivação.

Estes foram os mesmos indicadores que categorizaram o objetivo específico número 2.

Nas questões referentes ao indicador de cultura, foi percebido que o fator que representa

barreira para o compartilhamento do conhecimento é relativo às normas e o indicador

liderança como elemento de barreira que impede o compartilhamento do conhecimento está

restrito apenas à visão dos colaboradores. O quadro 11 na página 83 ilustra a categorização

pertinente e demonstra as principais barreiras para o compartilhamento do conhecimento

citadas neste estudo.

CATEGORIZAÇÃO DAS BARREIRAS AO COMPARTILHAMENTO DO CONHECIMENTO

INDICADORES (Barreiras)

F ASPECTOS RELEVANTES

4 Processo seletivo não é estruturado para busca de profissionais com perfil para o compartilhamento.

4 Regras não são claras.

3 Plano de Desenvolvimento de Carreira não existe.

CULTURA

(Normas)

11 TOTAL

4 Não se pratica o pensamento sistêmico (há competitividade entre equipes.)

4 Falta reuniões entre equipes de planejamento.

4 Opiniões e sugestões só entre engenheiros e coordenação.

4 Pouca escuta das necessidades de cada um.

4 Má distribuição de tarefas entre equipes com sobrecarga de trabalho.

3 Delegação gerando pouco acompanhamento, afastamento.

LIDERANÇA

(Visão do colaborador)

23 TOTAL

8 Falta tempo para o compartilhamento ( sobrecarga de trabalho).

5 Faltam reuniões entre equipes e coordenação. (Comunicação)

4 Os lideres não estimulam o compartilhamento do conhecimento entre equipes diferentes (visão sistêmica)

4 Não existe integração entre equipes. (interação)

4 Falta de união entre as equipes, cada um por si. (harmonia)

3 Os colaboradores não aprovam cursos em áreas novas. (estímulo à carreira)

3 Não existem requisitos para um plano de incentivos. (recompensa).

1 Idéias dadas e não divulgação da autoria. (reconhecimento)

MOTIVAÇÃO

32 TOTAL

QUADRO 11 Categorização dos aspectos representativos de barreira para o compartilhamento do conhecimento. Fonte: Dados da pesquisa.

Na próxima etapa serão tratadas as questões relativas ao indicador cultura. As questões

formuladas que favoreceram a coleta deste indicador foram as questões de números 2, 3, 5, e

9 do Roteiro de Entrevista (Vide APÊNDICE).

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4.3.1 Indicador cultura como barreira para o compartilhamento do conhecimento

Foram achados nos relatos dos entrevistados aspectos considerados barreiras para o

compartilhamento do conhecimento presentes no indicador cultura. Os fatores relacionados à

cultura visualizados como barreira foram compatíveis com a ausência de determinadas normas

que dificultam o compartilhamento do conhecimento como será apresentado a seguir.

Robbins (2004) afirma que, para manter uma cultura viva, algumas práticas de recursos

humanos devem ser mantidas, como a seleção de pessoal. Por exemplo, os candidatos

escolhidos são frutos de avaliações baseadas nas competências, conhecimento, habilidades e

atitudes. Alguns candidatos terão o perfil, só que a decisão da escolha tenderá a ser pelo

indivíduo que mais se aproxima da filosofia da organização. A adaptação do funcionário e as

ações dos dirigentes nas questões de normas, riscos também são relevantes, segundo Robbins

(2004), para que a cultura se perpetue.

Na organização foco do estudo, normas que preservem a cultura do compartilhamento

do conhecimento são deficientes, não são claras, isso fica evidente nas colocações acerca das

atividades de Recursos Humanos, por exemplo, as seleções de pessoal, que acontecem não têm

critérios estabelecidos para sondagem de competências individuais, principalmente na

dimensão das atitudes individuais que possibilitaria checar crenças e valores referentes ao

compartilhamento do candidato. Portanto, foi percebido que existe uma cultura focada nas

crenças e valores para o compartilhamento, mas não foram relatadas ações como regras para a

manutenção desta cultura. Este fato impacta na preservação da cultura para o

compartilhamento do conhecimento, este fato poderá ser analisado no depoimento do

entrevistado 2, a seguir.

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Quando o funcionário entra na empresa, essas coisas não são ditas, o fato de ter que dividir

as tarefas ou o conhecimento, não é colocado para eles como uma regra, porque essas coisas

só são percebidas à proporção que ele vai conhecendo a empresa. No início, ele recebe a

atenção dos colegas, quando ensinam as tarefas que ele vai desenvolver e com o tempo ele vai

vendo (entrevistado 2).

Ainda nesse contexto, Davenport (1998) cita que as empresas deveriam ter orientações

positivas no que se refere ao conhecimento das suas culturas, o fator mais importante para o

autor é o tipo de pessoas que a empresa atrai e contrata. Funcionários que buscaram e

aplicaram o conhecimento na escola nos outros empregos que vivenciaram porque esses

indivíduos provavelmente continuarão a fazê-lo. O entrevistado 5 relata abaixo a falta de

critério para selecionar os funcionários, podendo assim prejudicar a cultura para o

compartilhamento de conhecimento. Pode ser constatada a sua relevância no quadro 11, na

página 84.

A Maia Melo não tem critério de selecionar funcionário, até porque nem existe uma pessoa

que faça um processo seletivo, existem muitas questões que poderiam ser analisadas mas não

existe ninguém treinado aqui para ver isso, só aquela pessoa que irá trabalhar com o

candidato que faz uma entrevista, mas não tem prova, tem indicação e só depois é visto como

ele se comporta no dia a dia (entrevistado 5).

Um ponto que foi relatado como mudança da cultura, foi o de atualmente não ter mais

os especialistas, pois carregam os custos fixos e isso foi relatado como dificuldade na questão

de compartilhamento de conhecimento.

Hoje em dia não temos mais especialistas em todas as áreas, só contratamos quando temos

projetos, a vantagem é não ter que manter a estrutura pesada, porém essa pessoa não tem

obrigação nenhuma em nos passar o conhecimento dela. Tem o lado bom, mas tem o ruim, que

é não ter nem quem critique o trabalho dele. (entrevistado 2).

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Os resultados revelados sugerem que, na perspectiva da cultura inicial uma transição

poderá ocorrer afetando aquelas características de compartilhamento de conhecimento

praticadas na época da criação da empresa mas faltam os critérios para essas práticas se

manterem, os fatos obtidos em depoimentos demonstram que o esforço para o

compartilhamento permear está vinculado apenas ao perfil pessoal de cada um e funciona

desordenadamente.

A próxima etapa tratará da variável liderança como barreira para o compartilhamento

do conhecimento. No roteiro de entrevista, as questões que favoreceram essa coleta foram as:

9, 10,12 (Vide APÊNDICE 1).

4.3.2 Indicador liderança como barreira para o compartilhamento do conhecimento

Neste item, os depoimentos dos liderados aparecem demonstrando exatamente

opiniões opostas às dos seus líderes que foram expostos na seção anterior.

Logo abaixo, um colaborador relaciona os aspectos do saber ouvir e da não

disponibilidade de tempo de seus coordenadores para aproximarem-se mais da equipe e poder

perceber suas reais necessidades conforme quadro 11 (página 84).

Eu tiro muita dúvida com meu coordenador. Mas nessas reuniões com coordenadores

poderiam decidir como, por exemplo, no projeto 156, decidiram que minha colega e eles

deviam ver ali também onde poderia ser mexido para que houvesse mais ajuda e mais

interação entre as equipes, para ajudar a quebrar mais as barreiras e acabar com essa coisa

de projeto de um ou de outro (entrevistado 6).

A descoberta não planejada do conhecimento, que poderá ocorrer por situações como

em diálogos, discussões de idéias, terão maior chance de ocorrer o compartilhamento se na

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organização existir esse interesse, e se também existir crenças e atitudes que sejam

convergentes. (TONET E PAZ, 2006).

O entrevistado 7 coloca a dificuldade da troca entre os líderes e liderados, devido a

pouca comunicação fazendo assim aumentarem as barreiras para o compartilhamento do

conhecimento. Vide quadro 11 na página 84.

Os coordenadores deveriam ouvir mais a necessidade dos funcionários, fazer mais reuniões

conosco, com a gente para dizer as prioridades em relação aos projetos. Nós deveríamos nos

juntar para ter mais união para ajudar a todos. Por exemplo, o projeto x, tem dois

coordenadores e eu acho que não é nem de um nem do outro, deveria ser feito mutirão

indicado por eles (entrevistado 7).

A mais importante tarefa relacionada a todo coach é a de ser um bom ouvinte, para

Goldsmith et al (2003) é um milagre o ato da comunicação humana. Os coachs devem

incentivar as pessoas a perceberem outros ângulos da realidade para tentar descobrir

alternativas para interpretação dos fatos e descobrir novas idéias que levem ao crescimento do

conhecimento, outro exemplo relacionado a diálogo como facilitador do compartilhamento do

conhecimento entre os coordenadores é citado pelo entrevistado 8 como deficiente.

Na coordenação tá precisando mais dialogo, eles são atarefados mil coisas para fazer, mas

tem que dar suporte. Se eu fosse o coordenador eu estaria junto para ver qual a dificuldade e

saber: “O que você tá sentindo?”, “O que tá faltando?”, “O que precisa fazer?”, porque

muitas vezes se delega, aí se pensa: “Pronto, passei agora vou resolver outra bronca.” Mas

tem que tá sempre em link. A comunicação entre eles e a gente precisaria melhorar mais!

(entrevistado 8).

Segundo Tonet e Paz (2006), uma pessoa pode simplesmente transmitir um

conhecimento que detém sobre como resolver determinado problema, para quem recebe se

decodifica o que ouve com base nos referenciais tecnológicos e vivenciais que possui. Quanto

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às dúvidas e experiências pessoais do destinatário, podem ser colocadas numa arena comum,

com objetivo da busca do conhecimento que irá solucionar o problema em discussão.

Abaixo um colaborador relata sugestões a respeito de medidas que seus líderes

poderiam tomar, a fim de transformar essa realidade vivenciada.

Existem reuniões de acompanhamento da diretoria com os coordenadores e os auxiliares dos

coordenadores, deveriam existir reuniões setorizadas setor de desenho CAD, setor de Exell,

setor de informática, áreas técnicas, reuniões setorizadas poderiam ser mensais e reunir e

ouvir as pessoas (entrevistado 5).

Na visão de Angeloni (2005), os líderes deveriam mudar sua maneira de atuação antes

de enfrentar as mudanças, repensar as atitudes que vêm sendo desenvolvidas. O líder deverá

aprender a ouvir, orquestrar as iniciativas, deverá ter consciência de sua posição, ser o

exemplo de seu discurso, ser verdadeiro, ter paixão pelos valores e incentivar padrões mais

sistêmicos de pensamento. Ele necessita, na realidade, aceitar o desafio de mudar para que

possa criar um ambiente no qual as pessoas também queiram mudar e assim estimular atitudes

voltadas para o crescimento do conhecimento na equipe.

Os colaboradores 5 e 7 explicitam abaixo seus sentimentos relacionados à

conseqüência da falta de escuta de suas idéias pelos seus líderes e o que isso pode gerar de

perda para empresa com a não colocação de idéias novas, acrescenta ainda a insatisfação do

colaborador e consequentemente a barreira que é gerada pelo próprio líder.

Se o funcionário chegar e tiver dando uma idéia ou quiser inovar e não for ouvido o que vai

acontecer, se ele não tiver tido nenhuma resposta? Nunca mais ele vai procurar então se

fechou uma porta de comunicação para ouvir funcionário, idéia, conhecimento, tudo. Isso é

uma questão, a outra é se ele for ouvido e não ter nenhuma resposta. Puxa! Isso é a pior coisa

que tem, eu cheguei aqui todo estimulado depois de ter passado noites em claro estudando

determinado assunto, você vai para seu chefe direto e diz, olha, eu tenho uma idéia! E o cara

ouve e aquilo ali nunca vai pra frente. Nunca mais, a não ser que o cara esqueça, Ele ficará

desestimulado e vai ser uma pessoa a menos. Então a primeira coisa seria ouvir, passar pra

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frente e dar feedback sobre aquela idéia da pessoa que fez aquilo ali, isso que deveria

acontecer aqui (entrevistado 5).

Isso é disputa porque um fica querendo terminar só o seu trabalho. Às vezes comentamos

sugestões que temos na sala e não falamos por não ter espaço para falar (entrevistado 7).

A seguir o depoimento de outro funcionário expõe a dificuldade que vivenciou por não

ser incentivado pelo seu líder para compartilhar informações com um colega (vide quadro 11

na página 83).

Eu já levei até alguns puxões de orelha! Já disseram para mim, “olha o teu trabalho está

lá!”, mas me deixa agilizar esse colega aqui porque o meu eu sei como eu faço, ele tá meio

atrapalhado aqui! Então acho que é melhor eu ir ajudar mesmo que perca um pouquinho de

tempo, aí depois eu vou fazer o meu né? E eu já ouvi: você não pode, você não pode!

(entrevistado 8).

Vale salientar, entretanto, que planos existem para essa troca de conhecimento entre

líderes, conforme o depoimento abaixo de um líder. Demonstra que existe um interesse em

reuniões para disseminação. Essa idéia poderia ser o início de um comportamento voltado para

uma gestão do conhecimento conforme mostra a fala de um coordenador abaixo.

[...] eu tinha tido a idéia de fazer reuniões entre coordenadores para repassar conhecimento.

Eu vi isso na área médica, toda semana um médico ia contar um caso que ele teve para os

colegas, casos de sucesso ou insucesso para transmitir. Eu quis fazer aqui na Maia Melo,

sempre que acabasse um projeto um coordenador iria transmitir para os outros, mas não

consegui, pois a quantidade de serviço é tanta aqui, e ainda quem fosse expor teria que se

preparar. Mas é um caminho que ainda podemos tentar! (entrevistado 4).

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Resumindo este tópico, é relevante a visão dos colaboradores sobre a interação entre a

equipe com seus líderes essa ação vem sendo negligenciada pela pouca comunicação. Há

deficiência nas questões voltadas para participação, valorização, integração de seus

colaboradores, pois as pessoas no ambiente de trabalho da Maia Melo Engenharia vivenciam

um distanciamento entre as pessoas, falta o estímulo para a troca de conhecimento entre as

pessoas, entre equipes e pelos líderes. Para os colaboradores essa atitude poderia ser

estimulada pela coordenação que demonstra em seus depoimentos anteriores o inverso.

A seguir será tratado o indicador motivação como barreira para o compartilhamento do

conhecimento. No roteiro de entrevista as questões que favoreceram essa coleta foram as: 4, 6,

8 e 10 (Vide APÊNDICE 1).

4.3.3. Indicador motivação como barreira para compartilhar o conhecimento

Neste tópico podem ser vistos nos resultados das entrevistas realizadas, achados

desfavoráveis ao compartilhamento do conhecimento compatíveis com o indicador motivação.

As pessoas não se sentem motivadas para essa ação devido a diversos fatores presentes na

empresa como demonstrados a seguir e presentes no quadro 11 da página 84.

O depoimento abaixo sobre o conhecimento demonstra que ele pode não ser passado

por falta de tempo ou pode estar faltando cooperação devido à não existência de um clima

organizacional que estimule confiança e solidariedade entre colaboradores.

Agora pelo que as pessoas já me passaram eu percebi que não existe essa preocupação da

pessoa reter informação nem conhecimento. Comigo não acontece isso mas às vezes posso tá

até enganado porque não sei até que ponto a pessoa tem conhecimento. Por exemplo, você

não sabe a dimensão do meu conhecimento, só tá no meu interior, não é? Agora, se eu tiver

lá na sala dando uma demonstração que tenho muito mais conhecimento do que aquilo que

você me perguntou e você sentiu que na hora eu não dei essa atenção é até compreensível,

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pois a correria aqui é tão grande, às vezes, passamos apenas o suficiente para resolver a

questão ali. Têm pessoas e pessoas, tem aquelas que sentam com você e passam duas horas e

têm outras que já não têm essa preocupação passam apenas o que é importante para resolver

aquela tarefa (entrevistado 2).

Ainda nas questões relativas à falta de tempo, algumas idéias de promover o

compartilhamento do conhecimento existem entre os líderes da Maia Melo, porém não são

postas em prática, segundo eles, devido à sobrecarga de trabalho.

[...] nunca foi posta em prática que cada coordenador tenha algum fato novo, que tenha sido

vivenciado, ou situações atípicas para fazer uma mesa redonda e colocar os fatos que não são

comuns, mas isso deveria ser constante, sempre ocorrer, com a presença de um facilitador

que pudesse conduzir a reunião e com compromisso. Ali poderíamos relatar as experiências

vividas em um projeto. Se não tivermos essa iniciativa perderemos os casos de sucessos e

insucesso (entrevistado 2).

Para Robbins (2004), o sucesso de um trabalho pode ser facilitado ou dificultado por

haver ou não recursos de apoio, ou seja, a interação entre capacidade e motivação, leva ao

desempenho. Se a capacidade ou a motivação falhar o desempenho será afetado de forma

negativa.

Na empresa estudada, não existe ação para desenvolver a capacidade de transmissão,

ou aprendizagem de técnicas voltadas para comunicação, nos cursos oferecidos aos

colaboradores e eles não possuem área com o objetivo gerir o conhecimento, conforme citado

a seguir pelo entrevistado 5.

.

Algumas pessoas querem passar conhecimento e tem dificuldade não conseguem por terem

problemas de integração, comunicação ou paciência mesmo e aí não passam e outras têm as

duas qualidades de poder passar, têm tempo, gostam então isso aí acontece em tudo que é

lugar (entrevistado 5).

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Vale ressaltar que a relação desempenho e recompensa será fortalecida quando o

funcionário perceber que o seu desempenho é recompensado, independente de tempo de casa,

preferências e outros critérios (ROBBINS, 2004).

Foi relatado que na administração da época da criação da empresa, existia recompensa

aos funcionários como reconhecimento, isso foi uma atitude que segundo o entrevistado 4,

marcou a história, porém, hoje em dia não existem regras claras para salários e carreira

conforme relata abaixo o entrevistado 2. Essas questões podem ser compatíveis com barreira

que geram impacto na motivação dos funcionários, já que poderá prejudicar as atitudes

relativas à inovação, à criação e ao compartilhamento de conhecimento. Essa motivação pode

decair devido ao fato dos colaboradores não saberem como ou se irão ascender

profissionalmente, como acontecia anteriormente, o que mostram as falas abaixo.

Os dois sócios iam observando a equipe e iam premiando os principais e iam inclusive

distribuindo as quotas aos demais. Repasse de cota a custo zero! Isso é

reconhecimento, atitude muito positiva para incentivo da equipe e foi um marco na

época, essa distribuição de cotas (entrevistado 4).

Não tem plano de carreira, as regras não são claras e nesse sentido, isso é muito negativo,

porque às vezes têm colaboradores que têm uma dedicação, dá tudo de si, se empenha mais

que o outro e no fim, eles têm o mesmo pagamento (entrevistado 2).

Criar o contexto adequado para a criação de conhecimento está associado à estrutura

da empresa, que deveria valorizar mais as competências, reconhecer a inteligência e o

conhecimento como um ativo alavancador da empresa. Uma estrutura mais participativa é

mais eficaz para estimular a motivação (NONAKA E TAKEUCHI, 1997).

A seguir segue o relato da questão relacionada à sobrecarga de trabalho na empresa,

que pode dificultar essa estrutura participativa citada acima por Nonaka e Takeuchi (1997),

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devido a não sobrar tempo para o compartilhamento do conhecimento, e recair sobre o fator

motivação.

O compartilhamento do conhecimento pode não ter acontecido pela sobrecarga, ele acontece

nos períodos de folga e nos períodos de folga o pessoal também está trabalhando.

Historicamente a sobrecarga aqui é normal (entrevistado 5).

A personalidade humana carrega em si um todo único, não deve ser considerada como

apenas a junção de várias partes. O indivíduo leva nele cada uma de suas características inatas

e adquiridas, ela recebe informações e alimentação por meio das próprias necessidades e

desejos, essa necessidade é transformada em energia. A relação entre essas questões internas e

a empresa é que resultará num comportamento facilitador ou não, conforme colocações sobre

a necessidade de se posicionar. (BERGAMINI, 1982)

Na equipe da Maia Melo Engenharia, fica claro quando relatado pelo colaborador

sobre o ser ouvido pelo seu líder, nesse caso seus objetivos seriam expostos e ao ser atendido

provavelmente o seu comportamento seria orientado para seus interesses que levariam aos da

organização. No discurso abaixo, a necessidade do colaborador mostrar seus interesses em

ampliar sua área de conhecimento para provavelmente ser disseminados na empresa, seria um

fator que afetaria positivamente a motivação para compartilhar conhecimento (vide quadro 11,

pág.84).

Mas se pudesse ter alguma idéia tipo ouvir o funcionário sobre o que ele pensa o que ele acha

eu ainda não vi. Vamos botar um questionário, vamos ver se a pessoa gosta de fazer isso, às

vezes a pessoa quer trabalhar com sinalização e nunca teve oportunidade ou porque não tem

tempo ou porque não tem curso , ninguém nunca viu isso de ninguém (entrevistado 5).

Angeloni (2005) afirma que o ser humano tem uma necessidade de ser criador de

conhecimento e as organizações devem proporcionar condições que permitam ao indivíduo

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criar dentro do trabalho. O modelo ultrapassado de empresa na qual quem pensava era apenas

a direção e a base operária agia foi substituída pelo modelo em que idéias e conhecimento

fluam em todos os níveis da organização.

As reuniões que os colaboradores desejam na empresa em questão são ressaltadas

como necessidade também de contato, da troca entre colaboradores, grupo e coordenador,

com possibilidades de integração, de divulgação de idéias ou soluções e melhorias conforme

relatos a seguir (vide quadro 11, pág. 84).

[...] reuniões pequenas assim, acho que isso une muito o grupo. O chefe direto vai enxergar

dificuldades que ele não enxerga, não porque ele não quer, às vezes, mas porque ele tá

pensando e trabalhando outras questões e o técnico vivenciando questões que ele não sabe.

Então esse canal não existe. Como o técnico não encontra esse canal, muitos não vão lá

procurar, aí ele só vai reclamar, reclamar e reclamar. A gente faz isso aqui do mesmo jeito,

agora se tivesse uma reunião, seria perguntada qual a sua deficiência? O que você acha que

tem que melhorar? (entrevistado. 5)

O canal que tem é um documento que as pessoas escrevem num papel, mas não adianta, se

você não juntar e não ouvir, eu e você, olho a olho, cara a cara, a pessoa não vai falar ela não

vai correr atrás então senta vamos fazer isso , a prioridade é isso, vamos melhorar isso minha

gente na próxima reunião eu vou dizer o que a gente fez o que não vai dar certo o que vai

(entrevistado 5).

Pillotto (2006) reforça a questão de que nas organizações está crescente a participação dos

outros profissionais de outros cargos e setores, envolvidos nas decisões, o processo decisório em

equipe favorece maior capacidade de pensamento e maior comprometimento quando for cumprir e

decidir. Os relatos abaixo demonstram a necessidade de ser ouvido para gerar mais conhecimento

através da escuta das necessidades de cada um.

A pessoa dá uma idéia moderniza alguma coisa dá uma idéia diferente, agiliza uma

determinada atividade que você passa tempo anos aqui e ninguém vai se ligar nisso aí, só o

cara que tá lá em cima da máquina que vai sentindo aquilo ali (entrevistado 5).

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Porque isso, aí o cara pensa, eu tô sendo ouvido, as minhas idéias estão indo pra frente eu tô

recebendo feedback aí começa a estimular a pessoa. Isso poderia ser melhorado, essa questão

mais humana, isso que falta e aí em termos de produtividade é ganho, compensa qualquer

tempo gasto em reuniões (entrevistado 5).

Quando existe disputa interna, as pessoas acabam construindo ilhas e protegendo seus

conhecimentos das outras pessoas, por temerem em relação ao futuro, já que mostrar

capacidade e cumprimento com os prazos se torna mais valorizado que a extensão em que

ajudam a outros. Não existirá motivação para se compartilhar, já que isso não trará influência

para o indivíduo (VON KROGH; ICHIJO; NONAKA, 2001).

Para os mesmos teóricos a competição interna pode induzir as pessoas a agirem de

forma não confiável, a negar a ajuda aos pares, a criticar as novas idéias que podem ser

valiosas.

A necessidade de receber ajuda quando preciso é essencial para o indivíduo sentir-se

valorizado e importante. Essa questão foi relevante conforme mostra a colocação do

colaborador. É percebido que falta a integração entre as equipes e que não se dá a devida

importância pela dificuldade do outro e só existe preocupação de correr atrás para terminar

apenas o seu, o que faz parte de sua equipe e coordenação. Este fato afeta a satisfação na

equipe de projetos da empresa que poderá gerar afastamento entre os membros dificultando

dessa forma a motivação para o compartilhamento do conhecimento, como mostra a fala do

entrevistado 6, abaixo.

[...] mas acontece aqui às vezes grupinhos, grupinhos de cada coordenador,[...] aquele

grupinho ali, aí dificilmente a gente vai trocar idéias com os outros grupinhos. Por exemplo,

tem um coordenador x que eu quase não falo e que mal me vê, não lembro de ter perguntado

algo. Às vezes tô com um trabalho grande para entregar e o pessoal da outra equipe nem se

envolve, eles nem vão parar o que estão fazendo para me ajudar ou a minha equipe, eles não

se metem não, o projeto pode até nem ir!. Agora se fizéssemos um mutirão, tipo agora vamos

fazer, seria menos pesado para todos nós. Por exemplo, estamos trabalhando até às 11 da

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noite e no fim de semana, isso até o fim do ano, mas se todos se unissem para ajudar poderia

reduzir esse trabalho. Tem gente que tá com menos projeto, não tá com todo esse trabalho,

isso falta aqui na Maia Melo não é o projeto de A,B,C ou D, é da Maia Melo (entrevistado 6).

Resumindo o tópico, o indicador motivação foi associado neste contexto como

representativo de barreira para o compartilhamento do conhecimento em alguns aspectos,

conforme quadro 11 na página 84, pois existem situações em que há condições desfavoráveis

para que o funcionário sinta-se motivado para compartilhar conhecimento e esses aspectos

estão associados a fatores como estrutura e normas da organização.

Para concluir este tópico sobre as barreiras para o compartilhamento do conhecimento

é válido analisar as questões chaves sobre os três indicadores presentes.

No tocante à cultura como barreira para o compartilhamento, deve-se levar em conta

que a empresa encontra-se à frente para iniciar uma gestão do conhecimento por ter tido em

sua criação essa prática e os valores e crenças continuarem presentes, portanto, a implantação

das normas voltadas para a preservação daquela cultura poderiam ser eficazes com uma

política de seleção de pessoal bem definidas, para estabelecimento de uma cultura de

compartilhamento.

No indicador de liderança como barreira para o compartilhamento do conhecimento,

uma visão nova poderia ser buscada a fim de amparar a relação entre líderes e liderados,

através do pensamento sistêmico dos gestores para um olhar amplo na direção da empresa e se

planejarem estrategicamente visando ações neste campo na empresa como um todo.

O indicador motivação como barreira para compartilhar conhecimento deve ser

avaliado e modificado para que outros comportamentos possam ser estimulados como, por

exemplo, a possibilidade de integrar equipes entre pares e entre líderes, possibilidade de um

rodízio poderia ser pertinente e ainda o estimulo às novas idéias com recompensas e a

estruturação de um plano de cargos e carreiras. Essas ações poderiam ser favoráveis para a

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eliminação das barreiras e implantação uma possível gestão voltada para o compartilhamento

do conhecimento.

Por fim, percebe-se nos objetivos específicos deste estudo que um dos fatores de

sucesso da empresa estudada está vinculado à cultura de compartilhamento do conhecimento,

entretanto, as facilidades para compartilhar conhecimento não a fortalecem atualmente e há

barreiras que dividem a empresa e impedem a circulação do conhecimento. Diante destes

argumentos pode-se compreender que o conhecimento não tem força para circular, ou

incentivo para percorrer na organização, tendo essas questões solucionadas poderia melhorar

o seu processo de criação e inovação, fatos presentes na cultura que impactaram no sucesso da

Maia Melo Engenharia.

É pertinente então refletir sobre o pensamento de Pillotto (2006), de que existe uma

necessidade de rever os aspectos voltados para uma gestão contemporânea, essa questão está

relacionada ao poder desenvolver a capacidade de intuir, de ampliar a percepção, a emoção e

a imaginação, podendo assim transformar os gestores em dirigentes diferentes e empresas

melhores.

O próximo capítulo apresentará as considerações finais, destacando as conclusões e

sugestões para trabalhos futuros.

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5 Considerações finais

Esta pesquisa teve como foco central os seguintes objetivos gerais:

� Compreender até que ponto o compartilhamento do conhecimento faz parte da

cultura da Maia Melo Engenharia, na percepção dos Coordenadores de Estudos e

Projetos;

� Verificar até que ponto o Compartilhamento do Conhecimento constitui aspecto

relevante para o sucesso da Maia Melo Engenharia, na percepção dos

Coordenadores de Estudos e Projetos.

Os objetivos específicos foram respondidos através de uma sistemática propícia para

análise dos dados.

Dessa forma o desenvolvimento deste trabalho buscou entendimentos sobre cultura

através de evidências desta empresa que ajudassem a relacionar com compartilhamento do

conhecimento na visão dos coordenadores de projetos e com isso contribuir para estudos

relacionados a esses constructos.

O estudo de caso foi realizado numa empresa privada e por isso, não é possível

generalizar os resultados.

Cunha (2007) relata que existe uma dificuldade natural para qualquer pesquisador

explicar as percepções dos indivíduos, isso porque essas percepções são baseadas em fatores

explícitos (conscientes) e implícitos (inconscientes), afetando dessa forma a compreensão do

objeto do estudo.

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Na seção seguinte, com base em todos os resultados e suas inter-relações serão

apresentadas às conclusões obtidas com a realização dessa pesquisa e as sugestões para

pesquisas futuras.

5.1 CONCLUSÃO

O presente estudo mostrou que a o compartilhamento do conhecimento faz parte da

cultura organizacional da Maia Melo Engenharia e possui impacto em seu sucesso. Ao

pesquisar se o compartilhamento do conhecimento faz parte da cultura, pôde-se percorrer no

tempo, 25 anos atrás, e entender a dinâmica em que o processo de formação dos valores

culturais se iniciaram e a base em que se sustentavam as crenças.

Durante a pesquisa, foi possível investigar os aspectos facilitadores e barreiras ao

compartilhamento do conhecimento, bem como a os fatores representativos de sucesso da

organização na visão dos coordenadores e explorar fatores relativos ao compartilhamento do

conhecimento, que envolvem as questões da interação humana. A pesquisa teve as seguintes

perguntas:

� Até que ponto o compartilhamento do conhecimento faz parte da cultura da Maia

Melo engenharia na percepção dos Coordenadores de Estudos e Projetos?

� Até que ponto o compartilhamento do conhecimento constitui, aspecto relevante

para o sucesso da Maia Melo Engenharia, na percepção dos Coordenadores de

Estudos e Projetos?

Respondendo a primeira pergunta de pesquisa, o compartilhamento do conhecimento

já nasceu com a empresa. Desde sua criação os valores eram bem direcionados para

compartilhar conhecimento, sendo considerado um dos fatores chave para o sucesso da

empresa pelos entrevistados.

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Nos achados verificou-se que, na história da Maia Melo Engenharia, a participação

ativa do fundador com suas competências como professor foram vistas como um dos pontos

relevantes no estabelecimento de valores essenciais para a cultura pelos entrevistados. Suas

competências e comprometimento com o papel de docente que era, fizeram uma trajetória

baseada na crença de que o conhecimento deve ser disseminado.

Nesta pesquisa percebeu-se que, a partir da forma que é interpretada a realidade a

respeito da estrutura, regras, políticas, objetivos, missões, e descrições de cargos é que

poderia ser definida a questão cultural. Cultura seria então formada pelo conjunto de

pressupostos básicos que um grupo descobriu, implementou e que por funcionar bem o

suficiente, vai se perpetuando pelo grupo (MUSSI et al.,2001).

Pôde-se observar nos achados que a visão de futuro e espírito inovador do fundador e

a implantação de uma cultura voltada para compartilhar conhecimento foi se solidificando ao

longo dos anos sendo considerada variável que impulsionou o sucesso da organização.

A percepção de que existem ganhos quando se compartilha conhecimento segundo

Brown e Duguid, apud Leonardi (2005) é um ponto a favor de se perpetuar essa crença.

Porém, nos achados pertinentes à cultura, foi constatado que não existem normas

direcionadas para manter a prática do inicio de compartilhar conhecimento e estas poderiam

sustentar essa cultura.

Como visto, no contexto da manutenção da cultura de compartilhar conhecimento,

alguns aspectos que representam barreiras foram identificados, tais como a falta de critérios

para Seleção de Pessoal e Plano de Cargos Salários, sem regras claras e pouco estruturados.

Curiosamente, um dos fatores que marcou historicamente a Maia Melo Engenharia foi

a distribuição de quotas como reconhecimento do desempenho de seu pessoal, este fato não

teve nenhum tipo de tratamento e se perdeu no tempo. A competitividade de hoje que exige

um diferencial nas “recompensas em função de resultados”, foi um feito do passado na

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empresa de uma ação visionária de seu fundador, respalda a organização nos períodos de

crises e de instabilidade.

Na Seleção de Pessoal, existe carência de um trabalho direcionado para a questão das

competências individuais, a ênfase na atitude individual a fim de compatibilizar com os

valores culturais de disseminar conhecimento seria primordial.

Os aspectos de comunicação, motivação e liderança, definindo uma estratégia de

Recursos Humanos pode obter uma força de trabalho altamente motivada e comprometida

com a organização e deveria preceder as demais estratégias organizacionais (FLEURY, 2006).

Os achados demonstraram que a comunicação, interação, cooperação entre as quatro

coordenações e suas equipes simultaneamente, está sofrível, a visão sistêmica ali não é

aplicada. Nos discursos dos entrevistados essa questão é clara e é pregada como verdade,

porém os mesmos não conferem ação a ela, ou provavelmente não encontraram, o caminho

para sua prática.

Nesse contexto, Morin apud Pillotto (2006) afirma que o pensamento voltado para a

rigidez e a lógica clássica, será substituído pelo pensamento que busca a integração das partes

em um todo constituído em rede sistêmica.

O que foi encontrado neste estudo reforça, portanto, o pensamento de Tonet e Paz

(2006), que trata algumas soluções para minimizar problemas ao se implementar o

compartilhamento do conhecimento, uma delas é aperfeiçoar os processos de comunicação

interpessoal, intergrupal e organizacional, bem como buscar a adoção de estilos gerenciais

facilitadores do trabalho cooperativo e do comprometimento das pessoas.

Os coordenadores de projetos, entrevistados neste estudo têm uma visão e uma prática

favorável na capacitação da sua equipe, este ponto foi significativo nas questões sobre

conhecimento abordadas na pesquisa e defendidas pelos colaboradores que sentem-se

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privilegiados pela facilidade em alguns de adquirirem mais conhecimento e evoluírem

profissionalmente.

Este estudo poderá ajudar a fomentar planos de ação em gestão do conhecimento

direcionados para o rompimento de barreiras que dificultam o compartilhamento de

conhecimento e favorecer o aproveitamento das questões facilitadoras nesse processo.

Diante do analisado, verificou-se que a variável relacionada ao poder não apareceu

entre os resultados, conforme verificado na teoria. Foi observado que os entrevistados têm

grande interesse com o tema compartilhamento do conhecimento, e não foi constatada

nenhuma associação do conhecimento com o poder relacionado à posição hierárquica.

Neste caso específico da Maia Melo Engenharia, foi constatado que historicamente, a

equipe tem uma trajetória de contato direto e constante com o compartilhar conhecimento e

uma influência positiva do fundador que tinha um propósito: fazer crescer e valorizar a

engenharia.

Por fim, sobre a importância de compartilhar o conhecimento, vale ressaltar as

palavras de um colaborador que faz a Maia Melo Engenharia:

“Você não consegue deter o conhecimento, o que seria da humanidade se os grandes

pensadores do mundo ficassem para eles as grandes idéias? Estaríamos ainda nas cavernas,

porque todo conhecimento tem que transpor barreiras e fazer um benefício para o mundo”

(entrevistado 8).

5.2 SUGESTÕES PARA PESQUISAS FUTURAS

Como sugestões para futuras pesquisas, podem ser apontadas aquelas que visem a

aprofundar e aperfeiçoar as conclusões obtidas neste trabalho, por meio de análises mais

detalhadas ou mesmo por meio da proposição de gestão do conhecimento para fortalecimento

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organizacional. Por isso, outros estudos são recomendados, enfocando outras dimensões além

das contempladas nesta pesquisa, por exemplo:

a) Desenvolvimento de pesquisa referente à mentoria como aspecto facilitador do

compartilhamento do conhecimento;

b) Estudar a relação entre estilos de lideranças e o compartilhamento do

conhecimento;

c) Propor Modelo de compartilhamento no trabalho associado às teorias de

aprendizagem.

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APÊNDICE 1: Roteiro de Entrevista FACULDADE BOA VIAGEM MESTRADO EM ADMINISTRAÇÃO ORIENTAÇÃO: Lúcia Barbosa ALUNO: Mônica Figueiredo de Melo

O compartilhamento do conhecimento

na Maia Melo Engenharia: percepção dos gestores. 1. De onde você acredita que vem a fonte de sucesso da Maia Melo Engenharia?

2. Que mudanças significativas ocorreram nesses 25 anos de existência da Maia Melo Engenharia?

3. Na sua percepção, como o fundador lidava com as questões da troca de informações, de experiências e de

idéias, ou seja, de compartilhamento do conhecimento com os coordenadores e equipe de colaboradores?

4. Relate como você percebe a capacidade dos colaboradores em passar informações, experiências, idéias, ou

seja, em compartilhar seus conhecimentos.

5. Fale um pouco sobre quando você chegou aqui, existiaM valores voltados para o trocar informações,

experiências e idéias, ou seja, havia o compartilhamento do conhecimento?

6. Você costuma dividir com seus pares suas informações, suas experiências e suas idéias,ou seja, compartilha

seu conhecimento ?

7. Na sua visão, como é que as pessoas costumam trocar informações, experiências e idéias, ou melhor,

compartilham o conhecimento?

8. Na sua visão, quais são as atitudes para incentivar a equipe a repassar e receber informações, experiências,

idéias ou melhor, a compartilhar o conhecimento?

9. Já foi experienciado por você algum clima competitivo entre a equipe quando da oportunidade de trocar

informações, experiência e idéias, digo compartilhar conhecimento?

10. Como você entende o papel do líder diante das questões relativas a trocar informações, experiências e

idéias, ou seja, compartilhamento do conhecimento?

11. Qual a sua opinião em relação a participação de todos no processo de inovação?

12. Você percebe alguma diferença de atitude em relação ao dividir informações, experiências e idéias, ou

melhor, compartilhar conhecimento, entre os dirigentes e os colaboradores?

13. O que você gostaria de falar mais sobre essa questão do compartilhamento?

Formação

Curso

Tempo de Empresa

Função

Idade

Sexo

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ANEXO 1: Organograma

.

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ANEXO 2:

Execução de Projeto Executivo desenvolvido pela Maia Melo Eengenharia

P R O J E T O E D E S E N V O L V I M E N T O

A fase inicial de um projeto é o momento de determinar suas principais

características, que servem para embasar todo o estudo econômico e de viabilidade,

permitindo assim dar início ao desenvolvimento do projeto básico. Nesse momento será

dimensionado os principais componentes, preparação de cronogramas, estimativas de custo,

os dados gerais do que será utilizado, suas produtividades e mão de obra necessária.

(SANTIAGO JR., 2004)

É citada ainda por Santiago a importância de se utilizar as informações existentes de

projetos anteriores com características similares desenvolvidos pela empresa. Uma adequada

gestão do conhecimento possibilita o desenvolvimento do projeto básico compatível ao que

será produzido durante o projeto executivo.

O departamento responsável pelo desenvolvimento de Projeto na Maia Melo é o Setor

de Estudos e Projetos, que desenvolve projetos em diversos segmentos como: Rodoviários,

Ferroviários, Obras de Arte Especiais, Aeroportos, Saneamento, Obras Hidráulicas, Obras

Civis e outros (Manual de Gestão Integrada, 2006).

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P L A N E J A M E N T O D O P R O J E T O E D E S E N V O L V I M E N T O

Para a elaboração de cada projeto de obra, a Maia Melo prepara Plano de Trabalho ou

uma programação de Serviços, onde são especificadas as etapas e fases em que o mesmo está

estruturado, bem como as atividades que compõem cada fase, tudo dentro de uma seqüência

lógica assegurada por fluxogramas e cronogramas de execução, obedecendo aos prazos

contratuais. Consta deste Plano/ Programação, ainda, a Organização para a Execução dos

Serviços, compreendendo o Organograma para o trabalho e a definição das responsabilidades

e atribuições especificas das equipes técnicas, bem como indicação dos

procedimentos/instruções de serviço do SIG (Sistema Integrado de Gestão), alem das

especificações técnicas do cliente que serão utilizadas (MGI, 2006).

As atividades são atribuídas a pessoal qualificado e equipado com recursos adequados.

As interfaces técnicas e organizacionais são previstas no fluxograma e na estrutura. Para

equacionar essas interfaces entre diferentes grupos de técnicos que participam do projeto, são

realizadas reuniões técnicas, onde se definem responsabilidades. Dessas reuniões, ressaltam

diretrizes e informações que são transmitidas para os demais componentes da equipe técnica

(MGI,2006).

Os requisitos de entrada do projeto são identificados, documentados e analisados

criticamente quanto a sua adequação, de forma que não existam dúvidas quanto a requisitos

incompletos, ambíguos e conflitantes (MGI, 2006).

O fluxograma abaixo representa a elaboração de um Projeto Final de Obra de

Engenharia completo. A adoção, total ou parcial das etapas que o compõem depende do Edital

de Licitação que expressa as exigências do cliente (MGI, 2006).

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F L U X O G R A M A G E R A L D E P R O J E T O D E O B R A D E E N G E N H A R I A

Figura: Fluxograma Geral de Projeto de Obra de engenharia Fonte: Manual de Gestão Integrada (2006)

A N Á L I S E C R Í T I C A D E P R O J E T O E D E S E N V O L V I M E N T O

Nas várias etapas do projeto ou Serviço de supervisão, são planejadas e conduzidas

análises críticas formais e documentadas dos resultados alcançados, feitas por consultores e

técnicos envolvidos naquele estágio do serviço e conduzidas pelo Coordenador do Projeto ou

Supervisor (MGI, 2006).

Todas as análises criticas são devidamente registradas nos relatórios periódicos ou em

outros documentos específicos. Este processo de análise envolve reuniões internas da

coordenação do projeto ou supervisão da obra com todos os técnicos envolvidos e, reuniões

técnicas periódicas (mensais, bimensais, etc.) da coordenação/ Supervisão com o cliente, além

da análise de documentos recebidos do cliente, com indicação de ajustes a serem feitos ou

novas exigências (MGI,2006).

Semanalmente, são realizadas reuniões de acompanhamento e avaliação dos contratos

em andamento, com a presença da direção da empresa, dos coordenadores/ supervisores e do

Gerente de Controle Financeiro de Contratos, dessa forma, é possível identificar qualquer

problema e propor as ações necessárias para a sua correção (MGI, 2006).

Controle Financeiro do contrato

Planeja Mento de Estudos

e Projetos

Contratação de Terceiros

Formalização do contrato

Atualização do plano de

trabalho para

Elaboração do projeto

Levantamento de campo e de escritório

Estudos

Projetos

Projeto final

De obra de engenharia

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V E R I F I C A Ç Ã O D E P R O J E T O

São verificações parciais feitas ao término de cada etapa do projeto ou serviço, se

necessário com a participação do cliente, para assegurar que a saída desses estágios atendam

aos requisitos de entrada correspondentes. Os resultados dessas verificações são registrados

através da sua inclusão nos relatórios periódicos (MGI, 2006).

V A L I D A Ç Ã O D E P R O J E T O

A validação de projeto é feita para assegurar que o produto esteja em conformidade

com as necessidades e/ou requisitos do cliente. Esta validação e concretizada com a

verificação acurada do projeto ou serviço pela Maia Melo que deverá levar em consideração

se diz respeito a metodologias consagradas e projetos similares, ou não. (MGI, 2006)

Esta análise crítica deve obedecer a critérios técnicos definidos, incluindo

considerações sobre equipamentos utilizados, qualificação do pessoal e uso de métodos

específicos (MGI, 2006).

A aprovação do relatório final pelo cliente corrobora esta validação, cujo registro se

fará através da emissão do ‘Atestado de Conclusão do Serviço’, no caso de ter obedecido ao

prazo estipulado e de estar em conformidade com as especificações e requisitos estabelecidos.

(MGI, 2006).

C O N T R O L E E A L T E R A Ç Õ E S D E P R O J E T O

As alterações ou modificações em projeto resultam normalmente de manifestação do

cliente, podendo a iniciativa partir da própria equipe técnica da Maia Melo, em qualquer caso,

deve ser feita a análise crítica da alteração pretendida e submetida à aprovação do cliente,

antes de sua implementação. Esta analise crítica deve incluir uma visão de impactos que a

alteração possa exercer sobre as partes já concluídas do trabalho. (MGI, 2006)

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Todas as alterações são documentadas e devidamente registradas em relatórios ou outros

documentos. Os procedimentos que são documentados à realização de projeto são os que

encontram-se descritos abaixo:

� Analise Crítica de Edital

� Elaboração de Propostas

� Planejamento para a Elaboração de Estudos e Projetos

� Planejamento para o Gerenciamento, Supervisão e Fiscalização de Obras.

� Controle de Arquivos Magnéticos

� Controle, Manuseio, Arquivamento e Preservação de documentos

� Controle de Documentos e Dados Externos.