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Convênio SUDAM/ Fundação para o Desenvolvimento da UFPE COMPETITIVIDADE DA CADEIA PRODUTIVA DA SOJA NA AMAZÔNIA LEGAL

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Convênio SUDAM/ Fundação para o Desenvolvimento da UFPE

CO MPETITIVIDADE DA

CADEIA PRODUTIVA DA SOJA

NA AMAZÔNIA LEGAL

Competitividade da Cadeia Produtiva da Soja na Amazônia Legal

Antônio Maria Gomes de Castro(1)

Suzana Maria Valle Lima (2) Antônio de Freitas Filho(3)

Hermino Ramos de Souza(4) Assis Ramos de Souza(5) César Nunes de Castro(6)

Junho de 2001

(1) PhD em Análise de Sistemas Agrícolas, Universidade de Reading (Inglaterra), Pesquisador da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa). E.mail [email protected] (2) PhD em Sociologia das Organizações, Universidade de Wisconsin-Madison (EUA), Pesquisadora da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa). (3) MSc em Economia Agroalimentar, Instituto Agronômico Mediterrâneo de Montpellier (França), Pesquisador da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa). (4) PhD em Economia, Universidade de Wisconsin-Madison (EUA), Professor da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) (5) Eng. Agronômo, Consultor do Instituto de Desenvolvimento Sustentável – IDS (6) Agronomando, Escola Superior Luiz de Queiróz, USP/ Piracicaba, SP.

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Este trabalho foi realizado sob os auspícios do

Contrato SUDAM/ Fundação do Desenvolvimento da UFPE, contando com a cooperação técnica da

Embrapa e do IPEA.

Os posicionamentos e opiniões contidos no presente trabalho são de inteira responsabilidade dos

autores, não representando necessariamente a posição institucional das organizações envolvidas.

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DESEMPENHO DA CADEIA PRODUTIVA DA SOJA NA

AMAZÔNIA LEGAL

Sumário Agradecimentos e relação de entrevistados 1 INTRODUÇÃO 2 MARCO CONCEITUAL E METODOLOGIA ADOTADA 2.1 Conceito de agronegócio e de cadeias produtivas 2.2 Análise de cadeias produtivas 2.3 Competitividade, eficiência e qualidade em cadeias produtivas 2.4 Demandas tecnológicas e não tecnológicas 2.5 Estratégia de intervenção 2.6 Metodologia de estudo de cadeias produtivas 2.7 Atividades realizadas 3 O AGRONEGÓCIO DA SOJA 3.1 – No mundo

3.1.1 – Produção 3.1.2 – Consumo 3.1.3 – Exportação e importação 3.1.4 – Preços

3.2 – No Brasil 3.2.1 – Área plantada, produção e produtividade 3.2.2 – Consumo 3.2.3 – Importação e exportação 3.2.4 - Preços

3.3 – Na Amazônia 4 ANÁLISE DA CADEIA PRODUTIVA DE SOJA NA AMAZÔNIA LEGAL 4.1 – CARACTERIZAÇÃO GERAL DA CADEIA PRODUTIVA 4.2 – CADEIA PRODUTIVA DE SOJA NA AMAZÔNIA LEGAL 4.3 - MERCADO CONSUMIDOR 4.4 – COMERCIALIZAÇÃO VAREJISTA E ATACADISTA 4.5 – INDUSTRIA E AGROINDUSTRIA 4.6 – SISTEMA PRODUTIVOS AGRICOLAS

4.6.1 Marco conceitual de análise 4.6.2 Segmentação dos sistemas produtivos de soja

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4.6.3 Análise de desempenho dos processos produtivos 4.6.4 Análise dos processos produtivos e da gestão de tecnologia 4.6.5 Principais limitações tecnológicas

4.7 - INSUMOS 4.8 - AMBIENTES ORGANIZACIONAL E INSTITUCIONAL

4.8.1 Ambiente institucional – impostos 4.8.2 Normas ambientais 4.8.3 Ambiente organizacional – pesquisa agropecuária 4.8.4 Ambiente organizacional – crédito rural

5 FATORES CRÍTICOS ATUAIS E FUTUROS DE COMPETITIVIDADE 6 ESTRATÉGIAS PARA A COMPETITIVIDADE 7 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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RELAÇÃO DAS TABELAS

No da Tabela

Título

1 Principais etapas para a análise de demandas da cadeia produtiva da soja na Amazônia.

2 Cronograma de execução dos estudos da Cadeia Produtiva da Soja na Amazônia Legal

3 Evolução da produção dos principais países produtores de soja no período 1990-98.

4 Evolução da participação relativa na produção mundial de soja dos principais países produtores no período 1990-98.

5 Evolução do consumo mundial de soja dos principais países no período 1990-98.

6 Evolução da participação relativa no consumo mundial de soja dos principais países consumidores no período 1990-98.

7 Evolução da exportação e importação de soja dos principais países no período 1990-98.

8 Evolução da participação relativa dos principais países na exportação e importação de soja no período 1990-98.

9 Área colhida e produção da soja no Brasil, no período 1990-1999.

10 Área colhida e produção da soja nos estados brasileiros, no período 1990-1999.

11 Evolução do consumo e consumo per capita de soja, farelo e óleo de soja no Brasil, de 1990 a 1998.

12 Evolução da exportação e importação de soja, farelo e óleo de soja no Brasil, de 1990 a 1998.

13 Área colhida e produção da soja na Amazônia Legal, no período 1990-1999.

14 Evolução percentual da participação da produção e área de soja da Amazônia Legal na produção e área colhida do Brasil.

15 Principais municípios produtores e área potencial por Estado, para plantio de soja.

16 Preços da terras em estados produtores de soja, em áreas tradicionais e na Amazônia Legal (ano base 1997).

17 Matriz de transporte de produtos selecionados no Brasil. 18 Evolução das quantidades de soja transportadas pelo Porto de

Itacoatiara, Amazonas. 19 Custos de transporte da soja via portos de Itacoatiara e de

Paranaguá (I). 20 Custos de transporte da soja via portos de Itacoatiara e de

Paranaguá (II). 21 Consumo Nacional e da Amazônia Legal de Farelo e Óleo de

Soja.

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22 Empresas de processamento de soja na Amazônia Legal e suas capacidades instaladas de processamento.

23 Comparação entre a produção e a capacidade instalada de processamento na Amazônia Legal.

24 Tipos de sistemas produtivos de soja e critérios utilizados para a sua classificação.

25 Comparativo de custos de produção de soja (plantio convencional e direto) no Brasil.

26 Comparativo de custos de produção de soja (Plantio convencional e direto) em municípios da Amazônia Legal e de centros tradicionais de produção no Brasil.

27 Comparativo de custos de produção de soja (plantio convencional e direto) em municípios da Amazônia Legal e em centros tradicionais de produção no Brasil.

28 Estimativa de custos de soja em Paragominas no Pará. 29 Principais limitações tecnológicas dos sistemas produtivos de

soja na Amazônia Legal. 30 Estimativa de quantidades e valores mobilizados com os

principais insumos para os sistemas produtivos de soja nos Estados produtores da Amazônia Legal.

31 Principais características do Programa de crédito BNDES Automático.

32 Programa de crédito para investimentos em máquinas e implementos agrícolas pelo BNDES (Finame).

33 Fatores críticos de natureza não tecnológica para a competitividade da cadeia produtiva da soja na Amazônia Legal

34 Fatores críticos de natureza tecnológica para a competitividade da cadeia produtiva da soja na Amazônia Legal.

35 Estratégias tecnológicas e não tecnológicas para a competitividade da cadeia produtiva da soja na Amazônia Legal.

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RELAÇÃO DAS FIGURAS

No da figura

Título

1 Modelo Geral da Cadeia Produtiva 2 Modelo Geral de Agronegócio 3 Evolução da produção mundial de farelo de soja (1989/99) 4 Evolução da produção mundial de óleo de soja (1989/99) 5 Evolução da produção mundial total de soja (1989/99) 6 Evolução dos preços de soja no mundo (em US$ por t) no

período de 1990-1998. 7 Evolução dos preços de óleo de soja no mundo (em US$ por t)

no período de 1990-1998. 8 Evolução dos preços de farelo de soja no mundo (em US$ por t)

no período de 1990-1998. 9 Relação entre estoque e preços de soja no mercado mundial. 10 Evolução da produtividade brasileira e regional de soja no

período de 1992-1999. 11 Evolução da produtividade média da produção brasileira de soja,

no período 1991-1998. 12 Evolução da produção brasileira de óleo de soja, no período

1990-1998. 13 Evolução da produção brasileira de farelo de soja, no período

1990-1998. 14 Evolução dos preços da soja no Brasil, no período de 1990-1998. 15 Evolução dos preços de farelo de soja no Brasil, no período de

1990-1998. 16 Evolução dos preços de óleo de soja no Brasil, no período de

1990-1998. 17 Evolução dos preços de soja em grãos, farelo e óleo, no período

de 1990-1998. (Ano1 = 1990). 18 Médias mensais de preços no Porto de Paranaguá nas fazendas

de Goiás e Mato Grosso, para soja em grãos (1990-1998). 19 Diferença de preços entre a soja em grãos nos Estados de Mato

Grosso e Goiás e no Porto de Paranaguá (médias mensais de 1990 a 1998).

20 Evolução percentual da participação da produção e área de soja da Amazônia Legal na produção e área colhida do Brasil.

21 Diagrama de fluxo da cadeia produtiva da soja. 22 Processamento da soja e seus principais produtos. 23 Mapa com a distribuição das áreas de plantios de soja na

Amazônia Legal e no Brasil. 24 Área potencial de soja, principais municípios produtores e malha

de transportes do Estado de Mato Grosso.

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25 Área potencial de soja, principais municípios produtores e malha de transportes do Estado de Rondônia

26 Área potencial de soja, principais municípios produtores e malha de transportes do Estado do Tocantins.

27 Área potencial de soja, principais municípios produtores e malha de transportes do Estado do Maranhão.

28 Área potencial de soja, principais municípios produtores e malha de transportes do Estado de Roraima .

29 Área potencial de soja, principais municípios produtores e malha de transportes do Estado do Pará.

30 Área potencial de soja, principais municípios produtores e malha de transportes do Estado do Amazonas.

31 Corredores estratégicos de desenvolvimento no Brasil e a cadeia produtiva da soja.

32 Matriz de transporte da soja no Brasil e nos Estados Unidos. 33 Representação esquemática de um sistema produtivo agrícola. 34 Evolução da produtividade média de soja no Brasil (1951- 1996).

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AGRADECIMENTOS

RELAÇÃO DE ENTREVISTADOS E SUAS INSTITUIÇÕES Os autores registram os seus agradecimentos às seguintes pessoas e instituições abaixo relacionadas, pela gentileza em apoiar a realização deste trabalho, oferecendo informações e conhecimentos sobre a cadeia produtiva, que tornaram este estudo possível. Um agradecimento especial é devido ao colegas da Embrapa-CPATU em Belém-Pa e da Embrapa-CPAA em Manaus-Am pelo apoio técnico e gerencial oferecido para a realização desse estudo; e ao GEIPOT – pelo apoio, informações e a cessão dos mapas sobre transportes, utilizados nesta obra.

RELAÇÃO DE ENTREVISTADOS E SUAS INSTITUIÇÕES

Nome

Instituição

Endereço

Acilino do Carmo Canto Min. Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior Superintendência da Zona Franca de Manaus –SUFRAMA

Rua Min. Gonçalves de Souza s/nº - Dist. Industrial 69075-770 Manaus, AM

Antenor Manaki Utida

Fazenda Utida Chefe de produção

Campo Novo do Parecis, Mato Grosso

Armando Yoso Sazaki Banco do Brasil Superintendência Estadual – Super

Av. Presidente Vargas, 248 5º andar 66010-900 Belém, PA

Carlos Alberto da Nóbrega Presidente do GEIPOT Ministério dos Transportes

Brasília DF

Dorremi Oliveira Embrapa Amazônia Ocidental Rod. AM 010 – Km 29 69048-660 Manaus AM

Eduardo Calha Junguer Analista de comercialização e mercado Cia. Vale do Rio Doce

São Luiz, Maranhão

Emeleocípio B. de Andrade Pesquisador da Embrapa Amazônia Oriental

Centro Embrapa Amazônia Oriental – CPATU Belém – PA

Fábio Trigueirinho Secretário Geral da Abiove

São Paulo SP

Francisco A Queiroz Agropecuária Jesuíta Ltda Rua Mário Andreazza, 2090 Bairro S. Cristovão 69100-000 Itacoatiara, AM

Francisco Pinto de Alencar Delegacia do Ministério de Agricultura - Setor de fomento

Cuiabá, Mato Grosso

Honorato Cosenza Nogueira

Min. da Integração Nacional Sudam-Superintendência do Desenvolvimento da Amazônia

Av. Almirante Barroso, 426 Marco 66.090-900 Belém,PA

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Jamil Chaas El-Husny Pesquisador da Embrapa Amazônia Oriental

Centro Embrapa Amazônia Oriental – CPATU Belém – PA

João Ferdinando Barreto Pesquisador, Embrapa Amazônia Ocidental - CPAA

Rod. AM 010 – Km 29 69048-660 Manaus AM

José Carminnatti Empresário rural Produtor de soja

Rua Presidente Figueredo, 168 68625-000 Paragominas, PA

José Mário Adacheski CAMPO-Companhia de Promoção Agrícola

-

Luiz Antonio Pagot HERMASA – Navegação da Amazônia S. A

Rua Rio Mar, 655, Conj. VIEIRALVES 69053-180 Manaus , AM

Marco Antônio Abreu do Amaral

EMATER- Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Estado do Pará

Belém, PA

Marco Antônio de Carvalho Ministério da Agricultura, do Abastecimento e da Reforma Agrária Companhia Nacional de Abastecimento-CONAB

SGAS Quadra 901 Conhunto A-Ed. CONAB 70390-010 Brasília, DF

Maria de Lourdes Guedes Pereira

SAGRI Secretaria Executiva de Agricultura UAGRO/Paragominas

Rua Costa e Silva, 242 68625-970 Paragominas, PA

Mário Antonio Zanette Banco do Brasil Agência Paragominas - PA

Av. Pres. Castelo Branco, 421 68625-000 Paragominas, PA

Miguel Simão Neto Embrapa Amazônia Oriental - CPATU - Núcleo da Belém Brasília-NBB

Rua Costa e Silva, 242 68625-970 Paragominas, PA

Odilson Antônio S. Picanço Secretaria Municipal de Agricultura Rua Costa e Silva, 242 68625-970 Paragominas, PA

Petrônio Rogério de Morais HERMASA – Navegação da Amazônia S.A.

Rua Rio Mar, 655 Conj. VIEIRALVES 69053-180 Manaus , AM

Rômulo Chaves Molina

Chefe do Depto. De Produção da CAMPO

São Luiz, Maranhão

Samuel Rodrigues Cardoso Neto

Banco do Brasil Superintendência Estadual do Pará

Av. Presidente Vargas, 248 5º andar 66010-900 Belém, PA

Sandra Borges da Costa

Diretora BANPARÁ Belém, PA

Soila Maria Brilhante de Souza

Min.da Integração Nacional SUDAM-Superintendência do Desenvolvimento da Amazônia

Av. Almirante Barroso,426-Bl. C, 3º andar – B. Marco 66690-900

Teresa Sandri

Empresária Fazenda Grota Funda

Balsas, Maranhão

Virgílio Amaral/ Marcos Ramos

- Pedro Afonso, Tocantins

Walter Cassiano Ferreira BASA Diretoria de Crédito Rural Belém, PA

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Competitividade da Cadeia Produtiva da Soja na Amazônia Legal

1 - INTRODUÇÃO O presente trabalho tem por objetivo modelar e avaliar a o desempenho da cadeia produtiva (CP) da soja na Amazônia, nos seus aspectos político, social, econômico e tecnológico, com vistas a oferecer subsídios para a gestão das cadeias, seja pela intervenção governamental ou pela iniciativa privada. Esta gestão, orientada para a melhora da competitividade, pode trabalhar os fatores críticos de competitividade da cadeia e contribuir para o desenvolvimento regional.

Os objetivos específicos dos estudos são: - Analisar a cadeia produtiva da soja na Amazônia, buscando fatores críticos de

competitividade (eficiência, qualidade) e sustentabilidade ambiental, em relação a CPs competidoras, principalmente em relação aos elos agrícola e agroindustrial.

- Oferecer subsídios à elaboração de políticas públicas de melhoria de competitividade das cadeia estudada.

- Oferecer subsídios aos integrantes da cadeia estudada, para aprimoramento da coordenação e da competitividade

- Buscar novas oportunidades para melhoria da competitividade da CP.

O trabalho oferece como produto, relatório com diagnóstico das cadeia produtiva da soja, identificando seus principais elos e componentes segmentados; analisando o desempenho dos principais componentes, notadamente os de sistemas produtivos agrícolas e de agroindústria; e identificando fatores críticos para a eficiência, qualidade, sustentabilidade ambiental e competitividade das cadeia analisada, na região Amazônica. 2 – MARCO CONCEITUAL E METODOLOGIA ADOTADA

2.1 - Conceito de agronegócio e de cadeias produtivas

A agricultura como um todo compreende componentes e processos interligados que propiciam a oferta de produtos aos seus consumidores finais, através da transformação de insumos pelos seus componentes. Este conjunto de processos e instituições ligadas por objetivos comuns constitui um sistema que, por sua vez, engloba outros sistemas menores, ou subsistemas. O sistema maior é o chamado negócio agrícola, agronegócio ou “agribusiness”.

Os cenários futuros sinalizam para uma crescente importância da tecnologia

como fator de competitividade e de sucesso dos negócios, em todos os setores da economia (Porter, 1997). O negócio agrícola brasileiro tem assimilado estes sinais, procurando integrar e harmonizar o trabalho de todos os segmentos desse mercado.

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O agronegócio compõe-se de cadeias produtivas, e, estas possuem entre seus componentes, os sistemas produtivos que operam em diferentes ecossistemas ou sistemas naturais. Operando como contexto, existe um conglomerado de instituições de apoio, composto de instituições de crédito, pesquisa, assistência técnica, entre outras, e um aparato legal e normativo, exercendo forte influência no desempenho do agronegócio.

Consequentemente, a política agrícola busca mobilizar conceitos e

instrumentos de intervenção nas cadeias produtivas, como o crédito agrícola, a pesquisa agropecuária, as normas de taxação, serviços de apoio, etc.. para melhorar o desempenho em relação a algum indicador específico. Estas intervenções entretanto, só se tornam eficazes quando é possível compreender sistematicamente, não só o que ocorre nos limites das propriedades rurais mas em todos os sistemas em que a produção agropecuária se insere.

O negócio agrícola é definido como um conjunto de operações de produção,

processamento, armazenamento, distribuição e comercialização de insumos e de produtos agropecuários e agroflorestais. Incluem serviços de apoio e objetiva suprir o consumidor final de produtos de origem agropecuária e florestal.

A cadeia produtiva é o conjunto de componentes interativos, incluindo os sistemas produtivos, fornecedores de insumos e serviços, industriais de processamento e transformação, agentes de distribuição e comercialização, além de consumidores finais. Este conceito está ilustrado na Figura 1

A Figura 1 ilustra uma típica cadeia produtiva agrícola, com os seus principais

componentes e fluxos. Distinguem-se os seus componentes mais comuns, ou sejam, o mercado consumidor, composto pelos indivíduos que consomem o produto final (e pagam por ele), a rede de atacadistas e varejistas, a indústria de processamento e/ou transformação do produto, as propriedades agrícolas, com seus diversos sistemas produtivos agropecuários ou agroflorestais e os fornecedores de insumos (adubos, defensivos, máquinas, implementos e outros serviços). Esses componentes estão relacionados a um ambiente institucional (leis, normas, instituições normativas) e a um ambiente organizacional (instituições de governo, de crédito etc.), que em conjunto exercem influência sobre os componentes da cadeia.

As cadeias produtivas agrícolas devem suprir o consumidor final de produtos

em qualidade e quantidade compatíveis com as suas necessidades e a preços competitivos. Por esta razão, é muito forte a influência do consumidor final sobre os demais componentes da cadeia e é importante conhecer as demandas desse mercado consumidor.

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Ambiente Institucional

Ambiente Organizacional

FORNECE-DORES DE INSUMOS

PROPRIE-DADE AGRÍ-

COLA

SIST PROD 1,2,3, n

AGRO-INDÚS-

TRIA

COMÉRCIO (Atacado)

COMÉRCIO (Varejo)

CONSUMIDOR FINAL

Figura 1: Modelo Geral da Cadeia Produtiva Fonte : Castro et al., 1995, adaptado de Zylbersztajn, 1994

O sistema produtivo é um conjunto de componentes interativos que objetiva a

produção de alimentos, fibras, energéticos e outras matérias-primas de origem animal e vegetal. É um subsistema da cadeia produtiva, referindo-se às atividades produtivas, chamadas como “dentro da porteira da fazenda”.

No gerenciamento dos sistemas produtivos, busca-se, em geral: a) maximizar

a produção biológica e/ou econômica; b) minimizar custos; c) maximizar a eficiência do sistema produtivo para determinado cenário sócio-econômico; d) atingir determinados padrões de qualidade; e) proporcionar sustentabilidade ao sistema produtivo; f) garantir competitividade ao produto. Dessa forma, pode-se ampliar a definição de sistema produtivo como sendo um conjunto de conhecimentos e tecnologias, aplicado a uma população de vegetais ou animais em determinado meio ambiente, de utilidade para o mercado consumidor, buscando atingir os objetivos descritos nos itens de a a f (Castro et al. 1995).

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Serviços de apoioVeterinários, agronômicos, P&D, bancários, marketing, vendas, transporte,

armazéns, portos, assistência técnica, bolsas, seguros, outros

Fornecedorde insumo

Produçãoagrícola

Processamentoe

transformação

Distribuiçãoe

consumoCONSUMIDORES

Sementes Prod.animal Alimentos RestaurantesCorretivos Cult.perman. Tecidos HotéisFertilizantes Cult.tempor. Roupas BaresRação Horticultura Calçados PadariasDefensivos Silvicultura Madeiras FeirasProd.veter. Extração Bebidas Supermerc.Tratores vegetal Álcool ComércioColheita Papel AtacadistaMáquinas Fumo ExportaçãoMotores Azeite

Elementos do Negócio AgrícolaElementos do Negócio Agrícola

Figura 2: Modelo Geral de Agronegócio Fonte: Castro et al., 1998. O conceito de agronegócio (ou negócio agrícola) é uma abordagem aplicada

da teoria geral dos sistemas, ou enfoque sistêmico. Um sistema é, na definição de Sppeding (1975), “um conjunto de componentes interativos”. A caracterização de um sistema (ou sua análise) inicia-se com o estabelecimento de seus objetivos, seguida da definição de seus limites, subsistemas componentes e contexto externo. Ao definir limites e hierarquias, estabelecem-se as interações de seus subsistemas componentes, mensuram-se suas entradas e saídas e respectivos desempenhos intermediários (subsistemas) e final (sistema) (ver Figura 2).

Ao se analisar como um sistema opera, é necessário conhecer seus

elementos, qualificando e quantificando-os. Esta análise permite a gestão do sistema, modificando-o para melhorar seu desempenho. A segunda fase denomina-se de síntese e o conjunto de análise-síntese corresponde ao enfoque sistêmico.

O sistema natural é um conjunto de elementos bióticos e abióticos em

interação, mediante um fluxo de energia em permanente troca com seu ambiente. Este sistema natural, ou meio ambiente, exerce forte influência sobre os sistemas produtivos e sobre os demais componentes das cadeias que lhe são relacionadas

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(Goedert et al., 1996) e por isso precisam ser incluídos como entorno nas análises de desempenho das cadeias produtivas.

A oferta adequada de tecnologia à clientela requer a antecipação de suas

necessidades e aspirações futuras. Trata-se de desenvolver visão prospectiva, utilizando-se os métodos correspondentes (Johnson & Marcovitch, 1994) . A análise prospectiva é o conjunto de conceitos e técnicas para a previsão de comportamento de variáveis sócio-econômicas, políticas, culturais e tecnológicas. Um tipo especial de análise prospectiva, a prospecção tecnológica, objetiva identificar demandas atuais, potenciais e futuras, de uma cadeia produtiva

A previsão tradicional constrói o futuro à imagem do passado, enquanto a

análise prospectiva focaliza futuros com possibilidades alternativas de serem diferentes do passado. É importante destacar que a visão prospectiva objetiva orientar a tomada de decisões presentes, tendo como premissa a existência de turbulências que provocam modificação de tendências do comportamento de variáveis - os fatores críticos - consideradas relevantes.

O mercado pode ser entendido como um conjunto de indivíduos e empresas

que apresentam interesse, renda e acesso a produtos disponíveis. Embora esta definição tenha caráter amplo, pode ser aplicada ao “produto” especial que é a tecnologia. O potencial de adoção de tecnologia depende do interesse que desperte entre os adotantes. É necessário que a cultura e a renda do adotante sejam compatíveis com a tecnologia proposta e que o mesmo seja posto em contato com a tecnologia, tendo acesso à informação e aos insumos associados a sua adoção.

Mas, em última instância, será o mercado consumidor final que irá determinar

as características dos produtos a serem oferecidos. Essas preferências afetam os demais componentes da cadeia produtiva, inclusive os sistemas produtivos e correspondentes sistemas naturais. Desta forma, o mercado consumidor torna-se fonte primária das demandas para uma cadeia produtiva.

Outro conceito importante é o de segmentação, que divide esses mercados

em conjuntos homogêneos, de forma que qualquer um possa ser selecionado como mercado-alvo, atingível por um “marketing “ distinto e adequado às suas características comuns. A segmentação de mercado é fundamental porque não é possível uma organização ser eficiente se não for capaz de distinguir as necessidades e aspirações de vários segmentos de seu mercado, especialmente se o produto pode (e deve) ser apresentado em múltiplas formas, como é o caso da tecnologia.

2.2 - Análise de cadeias produtivas

Para constituir-se num guia metodológico orientador da análise de cadeias produtivas e da prospecção de suas demandas, foi produzido um documento (Castro et al., 1995), com conceitos e instrumentos aplicáveis a esta finalidade.

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Nesse documento são apresentados conjuntos metodológicos (CM) onde se agrupam procedimentos, conteúdos, métodos e técnicas sugeridas para executar a análise da cadeia produtiva e a prospecção de demandas tecnológica e não tecnológicas, dos diversos componentes da cadeia.

A base comum das etapas na metodologia são as mesmas dos elementos

necessários à caracterização de um sistema: a) explicitação de objetivos e limites do sistema; b) caracterização do contexto ou ambiente externo do sistema; c) definição de componentes do sistema e seus respectivos fluxos ou interações; d) especificação dos insumos, produtos saídos e de pontos de estrangulamento, considerados críticos ou relevantes ao desempenho do sistema.

Sob a ótica de análise proposta, os pontos de estrangulamento, ou fatores

críticos ao desempenho, atuais, potenciais e futuros, constituem-se demandas tecnológicas e não tecnológicas, que passam a orientar as intervenções para a gestão da cadeia produtiva.

2.3 - Competitividade, eficiência e qualidade em cadeias produtivas

O processo produtivo agropecuário e florestal deve ter seu desempenho orientado e aferido por um conjunto de critérios. De forma geral, os principais marcos de referência para valorar demandas de uma cadeia produtiva podem considerar como critérios: competitividade, eficiência, qualidade, sustentabilidade e/ou equidade (Castro et al.,1996).

Em 1985, foi lançado um novo conceito para a competitividade das empresas, o conceito de vantagem competitiva (Porter, 1997). Por este conceito, distinguem-se apenas duas formas de empresas se diferenciarem de suas concorrentes, apresentando uma vantagem competitiva: a diferenciação ou os baixos custos. Uma terceira dimensão a ser considerada, afetando a diferenciação ou os baixos custos é o escopo, ou seja, a gama de segmentos de mercado visados pela empresa. A função deste modelo conceitual é o fornecimento de elementos para a a formulação de estratégias de gestão da competitividade das empresas.

Juntamente com o conceito de competitividade industrial, Porter desenvolveu

o conceito de cadeia de valor na Empresa, um modelo de análise competitiva e um conjunto de estratégias genéricas, capazes de orientar a formulação de estratégias específicas de competitividade. Isto se constituiu numa base teórica para o planejamento de competitividade industrial, tornando-se uma referencia para o planejamento da competitividade nos meios acadêmicos e empresariais (Mintzberg et al., 2000).

O conceito de competitividade em cadeias produtivas agropecuárias pode ser

derivado a partir do conceito estabelecido por Porter, considerando os produtos ou subprodutos da cadeia competindo no mercado consumidor de produtos agropecuários. Há que distinguir-se, entretanto, produtos com valor agregado ou diferenciados por algum tipo de característica distintiva e produtos do tipo

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commodities. O estabelecimento de vantagem competitiva será diferente em cada caso.

Para o caso de cadeias produtivas produtoras de commodities, face a não

diferenciação do produto final, a competitividade é principalmente estabelecida por baixos custos, que permite uma lucratividade para a cadeia produtiva mesmo quando os preços dos produtos são baixos. Isto significa uma eficiência produtiva maior, ao longo de toda a cadeia produtiva. Notar que a análise neste caso é comparativa, abrangendo as cadeias produtivas concorrentes, e deve englobar tudo o que ocorre antes, dentro e fora da porteira da fazenda e não apenas o que se passa dentro da fazenda, nos sistemas produtivos. Uma outra situação específica de competitividade de cadeias produtivas é a que envolve produtos com valor agregado, ou seja produtos diferenciados, onde a vantagem competitiva será estabelecida a partir de um desempenho maior em qualidade de produtos ou seja, no estabelecimento de uma imagem de diferenciação, produtos que são reconhecidos pelos seus consumidores como possuindo características diferenciadas. Cadeias produtivas de determinadas frutas, hortaliças, especiarias e outros produtos similares são exemplos de competitividade por diferenciação. Neste caso, características de qualidade e marca podem ser muito mais importante na determinação da competitividade na cadeia do que fatores de eficiência produtiva. A exploração de nichos de mercado também pode se constituir em um fator a mais, na determinação de competitividade para estas cadeias.

Na sua formulação mais geral, eficiência de um sistema é mensurada pela relação entre insumos (I) necessários à formação do produto do sistema e este produto ou "output" (O). Insumos e produtos devem ser mensurados num mesmo elemento de fluxo (capital, energia, materiais, informações), sendo por isso a eficiência uma medida sem dimensão (Spedding, 1975). Para a análise de uma cadeia produtiva (ou de seus respectivos sistemas produtivos), o elemento de fluxo mais apropriado para a mensuração é o de capital, traduzido em uma determinada moeda (Dólares americanos, Reais etc.).

Qualidade é a totalidade das propriedades e características de um produto,

serviço ou processo, que contribuem para satisfazer necessidades explícitas ou implícitas dos clientes intermediários e finais de uma cadeia produtiva e de seus componentes.

Usualmente, qualidade é traduzida por um conjunto de normas e padrões a

serem atingidos por produtos e serviços, ofertados pelas cadeias e sistemas produtivos. O conceito abrange, também, as entradas e saídas de processos administrativos no contexto das cadeias produtivas.

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Velazquez et al.(1998) informam que os produtos finais – porém com segurança também os intermediários – devem ter suas propriedades intrínsecas e extrínsecas identificadas. Estas propriedades, no caso de cadeias produtivas agropecuárias, podem se referir:

a) qualquer atributo necessário para o uso adequado do produto e seu manejo;

b) propriedades físicas (cor, peso, integridade, tamanho, grau de maturação, características para empacotamento, método de conservação, forma de uso, perenidade, etc);

c) propriedades químicas tais como pureza (em oposição a presença de resíduos químicos) contribuições nutricionais e estabilidade do produto;

d) propriedades organolépticas, ou avaliação sensorial sobre odor, apresentação visual, sabor, sensação recebida pela utilização:

e) atributos especiais: produtos saudáveis, ecologicamente corretos, com propriedades nutricionais específicas.

A qualidade de produtos e processos na cadeia produtiva deve ser avaliada por indicadores de qualidade, preferencialmente quantitativos, cujo conjunto irá compor uma norma de qualidade para determinado produto ou processo produtivo. Um exemplo de indicador poderia ser a percentagem de umidade de uma semente comercial. Este indicador, juntamente com outros, tais como percentagem de germinação, grau de pureza podem constituir em um padrão de qualidade para sementes certificadas, a medida que os níveis mínimos a serem atingidos por um lote de sementes são estabelecidos.

A sustentabilidade ambiental é a capacidade de um sistema produtivo (SP)

agropecuário ou agroflorestal, em manter determinado padrão de eficiência e qualidade no tempo. A influência antrópica no ecossistema, quebrando o seu equilíbrio original em favor da exploração econômica do mesmo, é neutralizada por tecnologias que evitam a degeneração do ecossistema onde a produção ocorre. É, dessa forma, um critério de mensuração mais específico de um dos componentes da cadeia produtiva, os sistemas produtivos agropecuários. Tal componente, entretanto, representa a clientela preferencial para a pesquisa agropecuária - os produtores rurais. Eles são os principais segmentos do mercado de tecnologia para a maioria dos centros de P&D em agropecuária.

Equidade é definida como equilíbrio na apropriação dos benefícios

econômicos gerados ao longo da cadeia produtiva pelos seus componentes ou, internamente, entre os indivíduos e organizações de um segmento da cadeia produtiva.

18

A equidade de uma cadeia pode ser analisada através da quantificação do fluxo de capital, iniciando-se no consumidor final e verificando-se a acumulação entre os demais componentes. Historicamente, as organizações de comercialização têm acumulado a maior parte dos capitais circulantes na cadeia, como foi demonstrado no trabalho de Leite & Pessoa (1996), na cadeia produtiva do caju. Os sistemas produtivos e os produtores rurais geralmente têm recebido a menor fração relativa dos benefícios, salvo em situações extraordinárias.

2.4 - Demandas tecnológicas e não tecnológicas

As demandas tecnológicas de uma cadeia produtiva podem ser definidas em função dos sistemas que lhes dão origem e classificadas em três tipos básicos: Demandas tipo I, para problemas dependentes de ações de adaptação/difusão de tecnologias; Demandas tipo II, para problemas necessitando de ações de geração de tecnologias; Demandas tipo III, para problemas não dependentes de solução tecnológica, ligados a fatores conjunturais, infra-estrutura de apoio, etc. mas com impacto indireto nos resultados da pesquisa.

No caso das cadeias e sistemas produtivos, as demandas são necessidades

de conhecimentos e tecnologias, visando reduzir o impacto de limitações identificadas nos componentes da cadeia produtiva, para a melhoria da qualidade de seus produtos, eficiência produtiva, competitividade, sustentabilidade e equidade de benefícios entre os seus componentes.

2.5 - Estratégia de intervenção

Os objetivos dos estudos de cadeias produtivas podem ser múltiplos, embora

o conhecimento adquirido sobre gargalos e oportunidades, sob a forma de demandas tecnológicas e não-tecnológicas seja de alto valor para a formulação de estratégias.

Várias agências públicas e privadas podem utilizar os resultados dos estudos

para orientar sua atuação. Demandas tecnológicas podem orientar a pesquisa pública e privada na formulação de bons projetos de P&D. Agencias de desenvolvimento regional podem formular políticas para incrementar a competitividade das cadeias estudadas, seja na solução de fatores limitantes da competitividade, ou no aproveitamento de oportunidades. Gerentes de organizações participantes da cadeia podem aprimorar as suas estratégias de competitividade, buscando uma posição mais favorável na cadeia produtiva.

2.6 – Metodologia do estudo

A estratégia metodológica adotada nos estudos é descrita a seguir: 1. Aplicação de conceitos e técnicas de análise de cadeias produtivas, visando a

determinação de fatores críticos de competitividade. 2. Modelagem e análise de fluxos de materiais e capitais na cadeia produtiva.

19

3. Análise preliminar de mercado para os principais produtos da CP e para produtos competidores, em busca de oportunidades e fatores críticos de competitividade.

4. Análise preliminar comparativa de ambientes organizacional e institucional (impostos, transportes, armazenagem, crédito, normas e leis) da CP e de CPs competidoras em busca de fatores críticos de competitividade.

5. Análise preliminar de processo, comparativa, para a estrutura de comercialização varejista e atacadista. Determinação de fatores críticos de competitividade.

6. Análise comparativa de processo produtivo agro-industrial e agrícola, em busca de fatores críticos de competitividade.

7. Análise comparativa preliminar da estrutura de fornecimento de insumos.

No próximo item, a presente estratégia é detalhada.

A análise de cadeias produtivas é desenvolvida em etapas, nas quais são associados os conceitos, métodos e técnicas para execução do estudo. Algumas técnicas indicadas nos conjuntos metodológicos estão contidas no trabalhos de Castro et al. (1995; 1998).

As etapas para análise de cadeia produtiva estão contidas na Tabela 1. A

análise se inicia pela caracterização dos consumidores da cadeia produtiva e pela definição das necessidades e aspirações desse mercado consumidor em relação ao(s) produto(s) da cadeia produtiva (CP). A posição relativa da cadeia produtiva no negócio agrícola é examinada, e os limites e relações com o ambiente externo da cadeia são definidos.

De uma forma geral, os principais objetivos de desempenho perseguidos pelas

cadeias produtivas, ou pelos seus componentes individualmente, são a eficiência, qualidade, competitividade, sustentabilidade e a equidade. A metodologia de análise das cadeias produtivas deve responder quais desses objetivos são mais apropriados para a situação em análise, quais os padrões a atingir e respectivos instrumentos e mecanismos de mensuração. No presente caso, a hipótese de trabalho adotada foi a de competitividade, com ênfase em fatores críticos de eficiência produtiva.

A partir do modelo geral, os componentes da cadeia produtiva da sojaforam

qualificados e quantificados, bem como as relações, sob a forma de transações, entre os componentes. Definiram-se os critérios de mensuração de desempenho da cadeia produtiva, pondo-se ênfase nos de eficiência produtiva, qualidade e competitividade. O desempenho foi analisado principalmente em relação a eficiência e competitividade. A análise foi conduzida, considerando-se um fluxo de capital, que se inicia no consumidor final e se desenvolve na direção do elo final da cadeia, os fornecedores de insumos. As entradas e saídas de capital em cada componente foram quantificadas, para estudo individual da eficiência, qualidade e competitividade e da distribuição de benefícios na cadeia.

Definido o desempenho dos principais componentes, o passo seguinte foi o de

explicar o seu comportamento. O comportamento da cadeia produtiva foi identificado examinando-se os processos produtivos desses principais componentes. Neste

20

exame, identificaram-se as variáveis críticas, aquelas de maior impacto no(s) critério(s) de desempenho eleitos, e que explicam o funcionamento atual e passado da cadeia.

As demandas serão definidas a partir da determinação de fatores críticos de maior impacto sobre a melhoria de eficiência, qualidade e da competitividade da cadeia produtiva.

As etapas iniciais da metodologia de análise do sistema produtivo são muito

similares às do estudo da cadeia produtiva. Isto se justifica porque o desempenho dos sistemas produtivos é fortemente influenciado pelo comportamento da cadeia produtiva em que se insere.

Tabela 1 – Principais etapas para a análise de demandas da cadeia produtiva da soja na Amazônia.

ETAPAS CADEIA PRODUTIVA SISTEMA PRODUTIVO

DIAGNÓSTICO Definição de objetivos Definição de objetivos Hierarquia e relações com o

agronegócio Hierarquia e relações com a cadeia produtiva

Modelagem, limites e segmentação

Limites e segmentação (tipologia)

Análise quantitativa (eficiência, qualidade, competitividade)

Análise quantitativa (eficiência, qualidade, competitividade)

Fatores críticos Fatores críticos PROGNÓSTICO Análise prospectiva

(projeções extrapolativas) Análise prospectiva (cenários, projeções extrapolativas)

Demandas atuais e potenciais Demandas atuais e potenciais Serão aplicadas, como técnicas de estudo, a revisão da informação

secundária disponível e o levantamento, processamento e síntese de informações primárias sobre o desempenho e a competitividade dos componentes da cadeia produtiva e dos seus competidores. Os levantamentos de dados primários serão realizados aplicando-se técnicas de Rapid Rural Appraisal.

Serão aplicadas técnicas prospectivas extrapolativas, para reflexão sobre desempenhos futuros de alguns dos fatores críticos de competitividade das CP. ATIVIDADES PREVISTAS E REALIZADAS

As principais atividades desenvolvidas nos dois estudos estão apresentadas na Tabela 2. O cronograma apresentado considera o período efetivo do estudo, descontando o tempo referente a espera pela liberação dos recursos.

21

Além do trabalho de coleta de dados secundários, realizado por processo de

pesquisa bibliográfica e busca na internet, realizou-se um amplo levantamento de campo na região alvo do estudo. Foram visitadas áreas produtivas nos Estados do Pará, Amazonas, Mato Grosso, Tocantins e Maranhão, sendo entrevistados pesquisadores, extensionistas, gerentes de agências de crédito, de desenvolvimento, cooperativas, empresários e comerciantes de insumos e produtos. Este trabalho de campo permitiu a equipe coletar um grande acervo de informações, de grande utilidade para a análise de desempenho das cadeias produtivas estudadas.

Tabela 2 - Cronograma de execução dos estudos da Cadeia Produtiva da Soja

na Amazônia Legal

Etapas PREVISTO REALIZADO Planejamento do estudo 06-99 Sim Levantamento bibliográfico descritivo da CP, no mundo, Brasil e na Amazônia

12-99 Sim

Análise de dados e modelo preliminar da CP 04-00 Sim Consolidação do modelo preliminar da CP 05-00 Sim Validação do modelo na região - 1º levantamento preliminar sobre os segmentos agrícola e agroindustrial (Belém, Manaus).

05-00 Sim

Revisão do modelo (produto: descrição preliminar da CP) 02-00 Sim Consolidação do modelo 03-00 Sim Análise dos componentes da CP • Análise econômica de mercado 04-00 Sim • Análise de fluxo econômico e sua distribuição 04-00 Sim • Análise de impostos, crédito, transporte, armazenagem 04-00 Sim • Análise de consumidor, comércio atacadista e varejista e

assistência técnica e pesquisa, insumos

04-00 Sim

• Análise da agroindústria 04-00 Sim • Análise de sistemas produtivos 05-00 Sim Preparação de rapid rural appraisal (RRA) para levantamento de dados sobre processos (SP e agroindustria)

05-00 Sim

Levantamento por RRA 05-00 Sim Análise dos dados do RRA 07-00 Sim Consolidação de relatórios parciais e determinação de fatores críticos de competitividade por segmento

08-00 Sim

Consolidação do relatório final da CP e emissão de relatório parcial

08-00 Sim

Ajustes finais nas partes individuais do documento 09-00 Sim Finalização do relatório final e preparação de materiais para apresentação

09-00 Sim

Revisão de relatório final, com base em parecer do contratatante

06/2001 Sim

22

3. O AGRONEGÓCIO DA SOJA 3.1 – NO MUNDO O agronegócio da soja no âmbito mundial abrange quase todos os países,

seja como produtores e exportadores do produto, seja como consumidores. Por suas características de produto de múltiplas aplicações, a soja tem sido utilizada tanto como uma fonte de proteina vegetal, como uma produtoras de óleo, de usos doméstico na alimentação humana e industrial, com variadas aplicações em processos. Estima-se que o mercado mundial da soja e derivados movimenta 17 bilhões de dólares americanos, dos quais o farelo e o óleo representam 57% deste total (Geipot, 1999).

Evolução da Produção Mundial de Farelo de Soja

P = 64707e0,0457T

R2 = 0,9644

60.000

65.000

70.000

75.000

80.000

85.000

90.000

95.000

100.000

105.000

1989/90 1990/91 1991/92 1992/93 1993/94 1994/95 1995/96 1996/97 1997/98* 1998/99**

Mil

Tone

lada

s

Produção de Farelo de Soja - Mundo Expon. (Produção de Farelo de Soja - Mundo)

Figura 3 – Evolução da produção mundial de farelo de soja (1989/99) Fonte: Agrianual, 1999.

23

3.1.1 - Produção A soja é comercializada na forma de farelo, óleo e grãos. Uma forma de

caracterizar este agronegócio é analisar a evolução da produção mundial, dos preços e dos estoques, uma vez que estas variáveis estão estreitamente relacionadas. Na Figura 3 é apresentada a evolução da produção mundial de farelo de soja.

Evolução da Produção Mundial de Óleo de Soja

P = 14711e0,0454T

R2 = 0,9636

15.000

16.000

17.000

18.000

19.000

20.000

21.000

22.000

23.000

24.000

1989/90 1990/91 1991/92 1992/93 1993/94 1994/95 1995/96 1996/97 1997/98* 1998/99**

Mil

Tone

lada

s

Produção de Óleo de Soja - Mundo Expon. (Produção de Óleo de Soja - Mundo)

Figura 4 - Evolução da produção mundial de óleo de soja (1989/99) Fonte: Agrianual, 1999. O comportamento da produção mundial de óleo de soja é apresentado na

Figura 4. A mesma evolução de produção é apresentada na Figura 5, agora para a produção mundial total de soja no período.

24

Evolução da Produção Mundial de Soja

P = 97217e0,0452T

R2 = 0,8739

100.000

110.000

120.000

130.000

140.000

150.000

160.000

1989/90 1990/91 1991/92 1992/93 1993/94 1994/95 1995/96 1996/97 1997/98* 1998/99**

Mil

Tone

lada

s

Produção de Soja - Mundo Expon. (Produção de Soja - Mundo)

Figura 5 - Evolução da produção mundial total de soja (1989/99) Fonte: Agrianual, 1999. As Figuras 3, 4 e 5 apresentam tendências semelhantes para a produção

mundial de soja nos últimos 10 anos, a de aumento constante e acentuado, que pode ser representado por uma exponencial. As taxas de crescimento foram altas, podendo ser estimadas em cerca de 44 a 48% para o período analisado, dependendo da forma de comercialização do produto.

A contribuição para este incremento na produção mundial foi devido

principalmente a dois países, Estados Unidos e Brasil. Na Tabela 3, apresenta-se a evolução da produção de soja, óleo e farelo, nos principais países produtores, nos últimos 10 anos.

25

Tabela 3 – Evolução da produção dos principais países produtores de soja no período 1990-98.

(Em 1000t) Óleo Farelo Soja

PAÍSES 1990 1998 % 1990 1998 % 1990 1998 % Estados Unidos

25696 32046 24,7 6082 7511 23,5 52416 74692 44,4

Brasil 10250 15563 51,8 2450 3683 50,3 15750 28000 77,7 China 3278 7533 129,8 599 1432 139,0 11000 13500 22,7 Argentina 6042 9242 52,9 1261 1962 55,6 11500 13900 20,8 Índia 1890 3200 69,3 425 720 69,4 2602 4500 72,9 Paraguai - - - - - - 1300 2700 107,7 Canadá - - - - - - 1262 2700 113,9 Indonésia - - - - - - 1400 1500 7,1 Bolívia - - - - - - 392 1260 221,4 Itália 1673 1280 -23,5 337 251 -25,5 1751 1100 -37,1 Tailândia - - - - - - 530 360 -32,0 Coréia do Norte

- - - - - - 440 300 -31,8

Japão 2619 2870 9,5 619 674 8,9 - - - Holanda 2553 3150 23,4 611 768 10,9 - - - Alemanha 2398* 2720 13,4 522* 612 17,2 - - - México 1516 2028 33,8 330 510 54,5 - - - Espanha 1493 1824 22,1 319 408 27,9 - - - Taiwan 1609 1711 6,3 371 384 3,5 - - - Outros 10235 11117 8,6 2292 2461 7,4 3836 2595 -32,3 Total 68850 94656 37,5 15696 21376 36,2 104179 147107 41,3

Fonte: Agrianual, 1999 O incremento da produção mundial no período estudado foi de cerca de 43

milhões de toneladas, o que corresponderia a um incremento de área plantada mundial de cerca de 20.000.000 de Ha, caso não houvesse incrementos de produtividade. Estados Unidos, Brasil, China e Argentina produzem cerca de 87% desse total, tanto no início quanto ao final do período, indicando que são estes países os líderes mundiais na produção primária.

As participações relativas foram diferenciadas, ao início e ao final do período,

indicando que as competitividades foram diferentes. Na Tabela 4, estas posições relativas dos países são apresentadas. Nela, os quatro países de maior contribuição para a produção mundial são destacados, enquanto os demais países produtores, cuja contribuição não ultrapassou 13%, são agrupados como “outros” países produtores.

O exame das Tabelas 3 e 4 permite algumas extrair inferências sobre o

desempenho das cadeias produtivas nos diversos países produtores. A primeira é que o bloco formado por Estados Unidos, Brasil, Argentina e China foram mais competitivos na década analisada, em todas as dimensões de produção, em relação aos demais competidores. A participação relativa dos demais países foi decrescente,

26

tanto para a produção de óleo (-2,5%), farelo (-2,2%), como para a produção total de grãos (-1,4%). Estas diferenças foram apropriadas por Brasil e China, sendo que o Brasil teve um desempenho mais expressivo na produção de grãos, enquanto a China apresentou melhor desempenho na produção de óleo e farelo.

Tabela 4 – Evolução da participação relativa na produção mundial de soja dos

principais países produtores no período 1990-98.

Óleo Farelo Soja PAÍSES

1990 1998 1990 1998 1990 1998

Estados Unidos 37,3 33,8 38,2 35,0 50,3 50,8 Brasil 14,8 16,4 15,4 17,3 15,1 19,0 China 4,8 7,9 3,8 6,5 10,6 9,2 Argentina 8,7 9,7 8,3 9,1 11,0 9,4 Outros 34,7 32,2 34,3 32,1 13,0 11,6 Total 100 100 100 100 100 100

Fonte: Cálculo dos autores, baseado em Agrianual, 1999

No bloco dos grandes países produtores, além dos desempenhos destacados de Brasil e China, os Estados Unidos, embora tenha apresentado a maior contribuição quantitativa para o aumento da produção mundial, apresentou menores taxas de crescimento absoluto e relativo em todas as situações. A Argentina aumentou consideravelmente sua participação em produtos com valor agregado (óleo e farelo) e teve menor desempenho na produção de soja. Ao final, o Brasil apresentou o melhor desempenho relativo dos quatro, melhorando sua posição na produção de soja, de farelo e de óleo.

Um fato a destacar é a participação de países industrializados como a

Holanda, Alemanha, Japão e Espanha, que embora não sejam produtores de soja apresentaram expressivos desempenhos como produtores de farelo e óleo. Estes países tem se constituído em concorrentes dos países produtores de soja tipo commodity, como o Brasil, criando limitações à agregação de valor na origem. São conhecidas, por exemplo, as sobretaxas impostas por estes países à comercialização de óleo e de farelo, e os incentivos oferecidos a comercialização de grãos.

Outro fato expressivo a anotar é o crescimento, no período, da produção de

soja no Paraguai e Bolívia, cujos percentuais foram os mais altos do mundo. É possível imaginar que parte desse crescimento tenha sido influenciado pela expansão da produção brasileira, uma vez que estes países fazem fronteira com áreas de grande expressão para a produção nacional, como Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Paraná.

27

3.1.2 – Consumo O consumo mundial de soja e derivados teve crescimento constante no

período, resultando em 34,0% (grãos) a 38,9% (óleos), conforme registra a Tabela 5. Este crescimento, da ordem de cerca 35 milhões de toneladas de grãos, demandou uma expansão de área plantada e da produtividade, que seria da ordem de 17 milhões de hectares, caso tal aumento de consumo fosse todo atendido por produção oriunda apenas de acréscimo de área plantada.

Quando se examina a situação específica dos países consumidores, as

quantidades consumidas e evoluções no período são bastante diferenciadas. Estados Unidos, Brasil, China e Japão são grandes consumidores, mantendo-se como tal em todo o período. Estes países representam cerca de 60% do consumo mundial de óleo e mais de 70% do consumo de grãos. Apenas no consumo de farelo de soja esta situação se modifica, sendo o consumo mais distribuído por outros países.

Tabela 5 – Evolução do consumo mundial de soja dos principais países no

período 1990-98. (Em 1000t)

Óleo Farelo Soja PAÍSES 1990 1998 % 1990 1998 % 1990 1998 %

Canadá 172 275 59,9 1340 1804 34,6 1181 2095 77,0 Estados Unidos 5518 6486 17,5 20805 25491 22,5 34903 44189 26,6

Brasil 2073 2685 29,5 3125 5550 77,6 14257 21400 50,0 China 1055 3010 185,0 1028 10858 956,0 9173 16000 74,0

Argentina - - - - - - 7827 11900 52,0 Japão 624 696 11,5 3522 3708 52,8 4624 4975 7,6

Holanda 199 295 48,0 1767 2565 45,0 3370 4182 24,0 Índia 445 860 93,0 - - - 2602 4470 71,8

Alemanha 328 505 53,9 3542 3420 -0,03 3009 3400 12,9 México 404 580 43,5 1786 2650 48,0 1993 3000 50,5

Espanha - - - 3270 3479 6,0 2324 2610 12,0 Taiwan 379 380 0,3 - - - 2299 2477 7,7

Indonésia - - - - - - 1930 2415 25,0 Irã 431 431 0,0 - - - - - -

Itália 253 261 3,0 3008 3060 1,7 - - - Coréia do Sul 178 293 64,6 1150 1980 72,0 - - -

França - - - 3567 3800 6,5 - - - Reino Unido - - - 1692 2150 27,0 - - -

Outros 3810 4851 27,3 23715 25117 5,9 16956 16569 -0,2 Total 15541 21598 38,9 69775 95632 37,0 103979 139682 34,0

Fonte: Agrianual, 1999 A evolução de consumo dos países no período pode ser segmentado em tres

grupos: a) países com forte crescimento, de mais de 50%; b) países com crescimento moderado, de 20 a 50%; c) países com pouco ou nenhum crescimento.

28

As situações não são semelhantes para os subprodutos comercializados. No caso do consumo de óleo, Canadá, China, Índia, Alemanha, e Coréia do Sul tiveram aumento de consumo superiores a 50%; Em consumo de farelo, os países de maior evolução foram China, Brasil, Coréia do Sul e Japão; em consumo de grãos, Canadá, China, Índia, Argentina, México e Brasil. Os Estados Unidos, país com maior consumo mundial, apresentou taxas de crescimento moderadas, variando de 17,5 a 26,6%. A Argentina, que figura entre os tres maiores países produtores, não apresenta consumo de óleo e farelo, tendo tido um incremento alto no consumo de grãos.

Este crescimento diferenciado de consumo alterou a participação relativa dos

países como consumidores, impactando o mercado mundial de soja. Na Tabela 6 as alterações verificadas no período são apresentadas.

Tabela 6 – Evolução da participação relativa no consumo mundial de soja dos

principais países consumidores no período 1990-98.

Óleo Farelo Soja PAÍSES

1990 1998 1990 1998 1990 1998

Estados Unidos 35,5 30,0 29,8 26,6 33,5 31,6 Brasil 13,0 12,4 4,0 5,8 13,7 15,3 China 6,7 13,9 1,0 11,0 8,8 11,4 Argentina - - - - 7,5 8,5 Japão 4,0 3,2 5,0 3,8 4,0 3,5 Índia 2,8 3,9 - - 2,0 3,0 Outros 38,0 36,6 60,2 52,8 30,5 26,7 Total 100 100 100 100 100 100

Fonte: Cálculo dos autores, baseado em Agrianual, 1999. Considerando os principais países consumidores como mercados mais

importantes, é notável a evolução da China, aumentando sua participação relativa entre os países consumidores em até 10 vezes, como no caso do farelo. Estados Unidos e Japão diminuíram levemente suas participações relativas, enquanto Brasil, Argentina e Índia tiveram aumentos discretos, em sua participação como consumidores. Todos os demais países reduziram suas participações relativas, possivelmente em razão da forte entrada da China no mercado como demandante.

Examinando-se o consumo anual per-capita de óleo de soja desses países,

com base nos dados da Tabela 5 para 1998, pode-se estimar como indicadores 25,9 Kg para os Estados Unidos, 17,9 Kg para o Brasil, 5,8 Kg para o Japão, 3,0 Kg para a China e 1,0 Kg para a Índia. Estes números explicam o crescimento obtido nos últimos 10 anos e sugerem oportunidades de amplo crescimento da demanda nos próximos anos, principalmente em um cenário econômico favorável. Pequenos acréscimos de consumo per-capita na China e Índia, pelo tamanho desses mercados, podem gerar demandas adicionais muito importantes, abrindo oportunidades não somente para a oferta de commodities, mas também para produtos com valor agregado, como óleo e farelo.

29

3.1.3 – Exportação e importação As exportações mundiais tiveram forte evolução no período, com acréscimo

de 56% para a exportação de grãos e 62,9 % para a exportação de óleos. A expansão da exportação de farelo foi menor, da ordem de 27,0%. Este cenário indica uma tendência dos países produtores a intensificar a agregação de valor na sua oferta de produtos ao mercado internacional.

Nesta linha de procedimento, Brasil e Estados Unidos foram os países de

maior desempenho no período. O crescimento brasileiro de exportação de óleo foi da ordem de 184,8%, enquanto o dos Estados Unidos foi da ordem de 175,0%. A Argentina, que deteve a liderança nas exportações de óleo, teve uma taxa de crescimento 3 vezes menor que o Brasil e Estados Unidos, diminuindo sua participação relativa no rol de países exportadores. Na Tabela 8, verifica-se que enquanto a Argentina reduzia sua participação relativa no mercado exportador de 35,9% para 32,3%, os Estados Unidos aumentava a sua participação para 16,9% e o Brasil para 20,3%.

Pode-se inferir uma certa tendência em no período em estes 3 países

assumirem o controle das exportações de óleo. Juntos, eles exportaram cerca de 70%, cabendo aos demais países exportadores de óleo, como Holanda, Espanha e Alemanha, uma participação decrescente, que no total baixou de 42,5% para 30,5%.

Cabe registrar o crescimento de países como a Bolívia, o Canadá e o

Paraguai, que desempenharam um papel ascendente no cenário das exportações de soja em grãos. Estes países passaram a figurar entre os exportadores, com participações relativas ascendentes. A Argentina reduziu significativamente sua participação neste mercado, perdendo sua posição relativa, que era de segundo exportador mundial no início da década, para o Brasil, que evoluiu de uma posição relativa de terceiro para segundo exportador mundial de soja em grãos. Esta situação indica que parte da produção da cadeia produtiva Argentina foi redirecionada para a agregação de valor, sob as formas de óleo e farelo, ambas apresentando expressivas taxas de crescimento no período.

Comparando o conjunto de informações sobre o mercado exportador, pode-se

inferir que a cadeia produtiva brasileira da soja teve um dos melhores desempenhos dentre as demais, no que tange ao mercado exportador. Apresentou a maior taxa de crescimento em exportação de óleo, tornou-se o líder no mercado exportador de farelo e segundo exportador de soja em grãos, melhorando o seu desempenho neste setor. São números expressivos, indicadores de uma cadeia produtiva em franca expansão.

30

Tabela 7 – Evolução da exportação e importação de soja dos principais países no período 1990-98.

Óleo Farelo Soja PAÍSES 1990 1998 % 1990 1998 % 1990 1998 %

Exportação (1000 t) Estados Unidos 354 975 75,0 4962 6622 33,0 15161 25719 69,6 Brasil 410 1168 84,8 7414 10100 36,0 1645 7000 25,5 Paraguai - - - - - - 1030 1675 62,6 Argentina 1266 1860 46,9 6294 8840 40,0 4401 2000 -55,0 Canadá - - - - - - 213 620 191,0 Bolívia - - - - - - 106 610 475,4 Índia - 1420 2750 93,6 - - - Holanda 462 528 14,0 1957 2385 21,8 - - - Alemanha 330 202 -39,0 1054 900 -15,0 - - - Espanha 157 170 8,0 - - - - - - Outros 876 752 -15,0 4752 2463 -49,0 1942 634 -68,0 Total 3525 5744 62,9 26799 34060 27,0 24498 38258 56,0

Importação (1000 t) Japão - - - - - - 4375 4750 8,5 Holanda - - - 1171 1800 53,7 3776 4350 15,0 Alemanha - - - 2194 1600 -28,0 3026 3410 12,6 México - - - - - - 1376 3000 118,0 Espanha - - - 1735 1750 0,8 2232 2600 16,0 Taiwan - - - - - - 2208 2500 13,0 China 459 1600 248,6 140 3350 2292,0 - - - Irã 417 410 -2,0 - - - - - - Bangladesh 235 250 6,0 - - - - - - Brasil 45 200 344,4 - - - - - - Marrocos 67 190 183,0 - - - - - - Colômbia 22 175 695,4 - - - - - - Itália - - - 1381 1800 30,0 - - - França - - - 3434 3400 -1,0 - - - Outros 2303 3250 41,0 19209 21349 11,0 12053 15960 32,0 Total 3548 6075 71,0 26930 35049 30,0 26020 36570 40,0

Fonte: Agrianual, 1999 A importação apresentou como destaques no período o maior aumento

relativo da comercialização de óleo, em relação aos grãos e ao farelo (71%, 40% e 30% respectivamente), porém com os dois últimos produtos mantendo a posição de maior expressão em volumes comercializados. A China destacou-se como o país que mais incrementou as importações de óleo e de farelo, com incrementos da ordem de 2,5 até 22 vezes em relação às quantidades importadas no início da década. O México foi o recordista em incremento de importação de soja em grãos, aumentando suas exportações em 118% no período.

31

Tabela 8 – Evolução da participação relativa dos principais países na exportação e importação de soja no período 1990-98.

Óleo Farelo Soja PAÍSES

1990 1998 1990 1998 1990 1998

Exportação Estados Unidos 10,0 16,9 18,5 19,4 61,8 67,8 Brasil 11,6 20,3 27,6 29,6 6,7 18,2 Argentina 35,9 32,3 23,4 25,9 17,9 5,2 Paraguai - - - - 4,2 4,3 Bolívia - - - - 0,4 1,5 Outros 42,5 30,5 30,5 25,1’ 9,0 3,6 Total 100 100 100 100 100 100

Importação Japão - - - - 16,8 12,9 Holanda - - 4,3 5,1 14,5 11,8 México - - - - 5,3 8,2 Alemanha - - 8,1 4,5 11,6 9,3 China 12,9 26,3 5,1 9,5 - - França - - 12,7 9,7 - - Taiwan - - - - 8,4 6,8 Espanha - - 6,4 4,9 8,5 7,1 Outros 87,1 73,7 63,4 66,3 34,9 43,9 Total 100 100 100 100 100 100

Fonte: Cálculo dos autores, baseado em Agrianual, 1999. Uma rápida vista na Tabela 8 mostra que as importações de óleo foram

impactadas pela forte mudança de posição da China, que passou a representar de 12,9% das importações em 1990 para 26,3% em 1998. Este impacto foi menor em relação ao farelo (variação de 5,1 a 9,5% em 1998), com outros países aumentando sua participação relativa. Todos os países importadores de grãos diminuíram suas posições relativas, a exceção do México, que aumentou a sua posição de 5,3 para 8,2%.

3.1.4 – Preços As variações de preços da soja no mercado mundial tem sido pouco

expressivas, embora importantes sob o ponto de vista da rentabilidade dos produtores. Tomando-se os valores em dólares deflacionados, expressos na Figura 6, a variação máxima de preço da tonelada de grãos foi da amplitude de US$ 50,00 por tonelada, ou seja, uma variação de US$ 13,80 a 17,40 por saca de 60 Kg. Isto representa uma variação de cerca de 26%, ou seja, uma renda adicional de cerca de US$ 120,00 por Ha, considerada a produtividade média de 2000 a 2500 Kg/Ha, obtida por muitos segmentos produtivos brasileiros.

32

Evolução dos Preços de Soja - Mundo

Pdef = 0,97T + 251,08R2 = 0,0191

200210220230240250260270280290300

1989/90 1990/91 1991/92 1992/93 1993/94 1994/95 1995/96 1996/97 1997/98*

US$

/t

Preços em US$ Corrente Preços em US$ Deflacionado Linear (Preços em US$ Deflacionado)

Figura 6 – Evolução dos preços de soja no mundo (em US$ por t) no

período de 1990-1998. (Fonte: Agrianual, 1999) O comportamento dos preços não apresentou uma tendência definida de

crescimento ou redução, como mostra a tentativa de ajuste de curva para representar os preços no período. Alternaram-se períodos de baixa, de alta e de estabilidade, porém em intervalos que não ultrapassam a 3 anos. Nos últimos anos do período esta tendência de baixa acentuou-se, podendo se esperar uma recuperação para os próximos anos, caso o comportamento cíclico se confirme.

Evolução dos Preços de Óleo de Soja - Mundo

Pdef = 0,565T + 572,45R2 = 0,0009

400

450

500

550

600

650

700

1989/90 1990/91 1991/92 1992/93 1993/94 1994/95 1995/96 1996/97 1997/98*

US$

/t

Preços em US$ Corrente Preços em US$ Deflacionado Linear (Preços em US$ Deflacionado)

Figura 7 – Evolução dos preços de óleo de soja no mundo (em US$ por t) no período de 1990-1998. (Fonte: Agrianual, 1999)

33

O soja e dovariaçõesvariação variação a 255,00

160170180190200210220230240250260

US$

/t

P

As

diretamenQuando ena Figura

mesmo padrão anterior é apresentado pelas curvas de preços do óleo de farelo no mesmo período, nas Figuras 7 e 8, apenas com pequenas

. Os ciclos de alta e baixas são mantidos, porém com menor amplitude de para o óleo, de US$ 500,00 a 660,00 por tonelada, representando uma de 32%; e uma variação mais ampla para o farelo de soja, de US$ 170,00 por tonelada, uma amplitude de 50% de variação.

Evolução dos Preços de Farelo de Soja - Mundo

Pdef = 0,365T + 210,95R2 = 0,0013

1989/90 1990/91 1991/92 1992/93 1993/94 1994/95 1995/96 1996/97 1997/98*

reços em US$ Corrente Preços em US$ Deflacionado Linear (Preços em US$ Deflacionado)

Figura 8 – Evolução dos preços de farelo de soja no mundo (em US$

por t) no período de 1990-1998. (Fonte: Agrianual, 1999)

possíveis causas para o comportamento cíclico de preços estão te relacionadas com a evolução dos estoques mundiais do produto. stes crescem, diminuem os preços. Esta relação inversa é demonstrada

9, onde a relação entre estoques e preços de matéria prima é apresentada.

Evolução dos Preços e do Estoque de Soja - Mundo

230,0

240,0

250,0

260,0

270,0

280,0

290,0

300,0

1989/90 1990/91 1991/92 1992/93 1993/94 1994/95 1995/96 1996/97 1997/98*

Preç

o (U

S$/t)

6.500

7.500

8.500

9.500

10.500

11.500

12.500

13.500

Esto

que

(Mil

Ton.

)

Preço em US$ Deflac. Estoque Final

Figura 9 – Relação entre estoque e preços de soja no mercado mundial.

A relação inversa entre preço e estoque é facilmente perceptível na Figura 9.

Os estoques estiveram muito baixos no início da década e muito altos ao final. Os preços acompanharam esta tendência, porém de forma inversa, sendo altos no início e baixos ao final dos anos 90. Este padrão indica que a cadeia produtiva se mobiliza rapidamente para produzir, quando há estímulo de preços, retraindo-se quando os preços são pouco estimulantes. Os movimentos de avanço e recuo são aparentemente rápidos, promovendo ciclos curtos de alta e baixa de preços.

A menor amplitude de variação de preços verificada no caso da comercialização de grãos é uma indicação de que há um maior interesse do mercado por este produto da cadeia produtiva, e uma maior competição quando se trata de produtos com valor agregado, como o farelo e o óleo de soja. Este fato é corroborado pelo comportamento de alguns países importadores, como o Japão, que impõem sobretaxas ao óleo e ao farelo, liberando a comercialização de grãos. Estes movimentos podem anular as vantagens do processo de agregação de valor nos países produtores, como o Brasil.

35

3.2 – NO BRASIL 3.2.1 – Área plantada, produção e produtividade A produção brasileira de soja cresceu rapidamente a partir dos anos 70, criando a partir da produção primária uma das mais pujantes cadeias produtivas do país, como foi visto no item anterior. Na Tabela 9, esta evolução é examinada, abrangendo a produção brasileira de soja na década de 90. Tabela 9 – Área colhida e produção da soja no Brasil, no período 1990-1999.

Área colhida ( em 1000 Ha)

Produção (em 1000 t)

REGIÕES

1990 1995 1999 1990 1995 1999 Norte 52,0 21,4 56,4 53,2 45,5 133,4 Nordeste 385,4 575,9 775,9 267,8 1267,8 1615,9 Centro-oeste 3706,0 4559,8 4995,0 6325,6 10084,7 13356,1 Sudeste 1165,0 1163,6 1097,6 1843,5 2365,9 2756,9 Sul 6234,6 5358,0 6119,3 11688,9 12170,2 12918,9 Brasil

11533,0

11687,7

13044,4

20179,0

25934,1

30781,4

Fontes: Agrianual, 1998, 1999, 2000. A área colhida evoluiu em cerca de 13% no país, enquanto a produção evoluia em 52,5%, quatro vezes mais. Este é um indicador de ganhos substantivos de eficiência produtiva no período, associados a avanços tecnológicos e gerenciais na cadeia produtiva. As maiores evoluções ocorreram na região Centro-oeste, onde a área colhida evoluiu em 34,8% e a produção em 111,1%, colocando a região como a maior produtora do Brasil, embora com uma área plantada 18% menor que a da região Sul. A produção e área colhida regional apresentaram dinâmicas diferenciadas: Centro-oeste e Nordeste apresentaram grandes avanços (respectivamente 35% e 101% de crescimento em área colhida e 111,1% e 504,8% em produção); Sudeste e Sul apenas mantiveram, ou até reduziram a área colhida e apresentaram modestos incrementos de produção (49,5% e 10,5% respectivamente). A situação de plantio e produção dos Estados, já esboçada na Tabela anterior, é detalhada na Tabela 10. Os estados com melhor desempenho relativo foram os da região Centro-oeste, particularmente o Estado do Mato Grosso, seguido pelo Paraná, com o segundo melhor desempenho. No Nordeste, Bahia e Maranhão apresentaram bons desempenhos, porém de menor impacto na formação da produção nacional.

36

O Mato Grosso incrementou a sua área colhida em 69,5% e a produção total em 135,0%; o Paraná, em 22,1% e 64,4%; Goiás em 40,8% e 136,9; Bahia em 59,5% e 352,1%; Maranhão em 916,8% e 5828,3%. Este extraordinário avanço do Maranhão pode ser explicado por uma tremenda evolução na produtividade (de 450 kg/Ha em 1990 para 2500 kg/Ha em 1999), por simples equívocos nas estatísticas, ou mais provavelmente, por estes dois fatores. O Rio Grande do Sul e Santa Catarina tiveram desempenhos negativos, tanto em área colhida como em produção, indicando que a produção migrou no período em direção ao Centro-oeste e à Amazônia, como será mostrado posteriormente. Tabela 10 – Área colhida e produção da soja nos estados brasileiros, no

período 1990-1999.

Área colhida ( em 1000 Ha)

Produção (em 1000 t)

ESTADOS

1990 1995 1999 1990 1995 1999 RO 7,8 4,8 6,5 15,6 13,0 18,5 TO 34,2 16,6 42,1 37,6 32,5 98,5 MA 16,0 91,7 162,7 6,7 169,6 390,5 PI 0,4 13,6 29,2 0,4 25,2 67,1 BA 366,0 470,6 584,1 256,2 1073,0 1158,3 MG 583,0 600,0 577,1 874,5 1188,0, 1335,9 SP 582,0 563,6 520,5 969,0 1177,9 1420,9 PR 2267,6 2120,6 2769,2 4649,7 5534,8 7644,5 SC 390,0 222,4 215,6 600,6 484,8 439,7 RS 3577,0 3015,0 3134,5 6438,6 6150,6 5603,0 MS 1209,0 1097,9 1053,9 1934,4 2426,4 2663,2 MT 1503,0 2295,4 2548,0 2900,8 5440,1 6816,9 GO 940,0 1122,7 1324,7 1410,8 2133,1 3342,9 DF 53,5 43,8 35,6 79,6 85,1 63,9

OUTROS 3,0 - 7,8 4,5 - 18,4 Brasil

11533,0

11678,7

13044,4

20179,0

25934,1

30781,4

Fonte: Agrianual, 1998, 1999, 2000 Uma reflexão sobre a regionalização da produção primária da soja nos anos 90, com base nos números contidos nas Tabelas 9 e 10, pode indicar que: a) há uma migração acentuada da produção agrícola da cadeia no sentido sul-norte

do Brasil, ocupando principalmente as terras mais baratas e mais extensas dos cerrados;

b) esta expansão, mesmo consideradas as dificuldades naturais e estruturais da nova fronteira, foi uma força impulsora ao desempenho da cadeia produtiva, como demonstram os indicadores comparativos de desempenho da cadeia produtiva, na década de 90, apresentados no item 3.1.

c) as estatísticas apresentadas indicam ganhos de eficiência produtiva, que certamente foram responsáveis pelo desempenho de maior competitividade da

37

cadeia produtiva como um todo no cenário internacional. A variável tecnológica desempenhou um papel importante neste processo, principalmente consideradas as incertezas dos novos cenários ambientais para onde a atividade produtiva agrícola se deslocou.

Evolução da Produtividade de Soja

1,0

1,2

1,4

1,6

1,8

2,0

2,2

2,4

2,6

2,8

1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998* 1999**

Tone

lada

s/ha

NorteNordesteSudesteSulC. OesteBRASIL

Figura 10 – Evolução da produtividade brasileira e regional de soja no período de 1992-1999.

Fonte: Agrianual, 1999.

Na Figura 10, são representadas as evoluções da produtividade de soja no Brasil e nas cinco regiões brasileiras, em toneladas por hectare, no período de 1992 a 1999. A produtividade é um indicador direto de eficiência produtiva, e esta aumentou no período, no Brasil e em todas as regiões. A média brasileira evoluiu de cerca de 2,0 t /Ha para 2,4 t /Ha no período. Esta média foi impulsionada pela elevação de produtividade no Centro-oeste, que evoluiu de aproximadamente 2,2 t /Ha até 2,6 t /Ha. As produtividades do Nordeste começaram muito baixas (cerca de 1,5 t /Ha) e se elevaram gradualmente, chegando próximas da média nacional, ao final do período. As produtividades nas regiões tradicionais de produção, Sul e Sudeste, estiveram muito próximas da média nacional (até porque são estas regiões as que exercem maior influência na formação desta média), inclusive apresentando uma

38

amplitude de variação muito mais limitada. Estas variações foram de 10 a 15%, em quase 10 anos, o que pode indicar que o atual paradigma tecnológico, responsável pela evolução do desempenho dos sistemas produtivos nestas regiões, estaria próximo do seu limite. Caso verdadeiro, somente a emergência de um novo paradigma tecnológico poderia possibilitar novos incrementos de eficiência produtiva nestas regiões. Este novo paradigma poderá ser a aplicação da biotecnologia no desenvolvimento de cultivares com desempenho ampliado. Chama atenção na Figura 10 a baixa média produtividade registrada na Região Norte durante o ano de 1997, completamente discrepante da curva de desempenho desta variável, o que pode ser atribuído a possíveis problemas na coleta do dado. Na Figura 11, a evolução anual da produtividade média de soja no Brasil é destacada, ajustando-se para a mesma uma curva exponencial de crescimento.

Evolução da Produtividade de Soja

Pt = 2,0021e0,0231T

R2 = 0,8525

2,00

2,05

2,10

2,15

2,20

2,25

2,30

2,35

2,40

2,45

1991/92 1992/93 1993/94 1994/95 1995/96 1996/97* 1997/98**

Ton/

ha

Soja Expon. (Soja)

Figura 11 – Evolução da produtividade média da produção brasileira de soja,

no período 1991-1998. Fonte: Agrianual, 1999

39

A produtividade da região Norte será analisada posteriormente, no item onde o agronegócio da soja na Amazônia Legal será discutido.

Além da produção de soja em grãos, o Brasil melhorou sua posição no mercado internacional de óleo e de farelo de soja. A cadeia produtiva produziu no período soja em grãos, óleo e farelo de soja, para suprir o mercado interno e para a exportação. Na Figura 12, apresenta-se a evolução da produção brasileira de óleo de soja. Na Figura 13, a de farelo.

Evolução da Produção Brasileira de Óleo de Soja

P = 3E+06e0,0438T

R2 = 0,6288

2.400.000

2.600.000

2.800.000

3.000.000

3.200.000

3.400.000

3.600.000

3.800.000

4.000.000

4.200.000

1988/89 1989/90 1990/91 1991/92 1992/93 1993/94 1994/95 1995/96 1996/97* 1997/98**

Tone

lada

s

Produção de Óleo - Brasil Expon. (Produção de Óleo - Brasil)

Figura 12 – Evolução da produção brasileira de óleo de soja, no período 1990-

1998. Fonte: Agrianual, 1999. Após um período de declínio, a produção de óleo iniciou em 1990 um processo de forte recuperação que se estendeu pelos próximos 5 anos. Neste período, a produção se elevou de 2,5 milhões de toneladas para cerca de 4,1 milhões, um crescimento da ordem de 64% no período. Nos últimos anos, houve um pequeno recuo, porém com a produção retornando em seguida ao nível anterior. A evolução da produção de farelo é em tudo semelhante a do óleo, com as mesmas características da curva representativa. De um patamar de produção de 12,7 milhões de toneladas, houve um declínio nos dois anos seguintes para 10,3 milhões, ocorrendo a partir daí a recuperação, com a produção atingindo um pico de 17,0 milhões de toneladas em 1995. Isto representa uma evolução percentual da ordem de 65% em 4 a 5 anos. Estas altas taxas de crescimento neste período estão

40

relacionadas com o alto desempenho da cadeia produtiva no mercado internacional, no mesmo período.

Evolução da Produção Brasileira de Farelo

F

F ie4méed p 3 i

P = 1E+07e0,0438T

R2 = 0,6288

10.000.000

11.000.000

12.000.000

13.000.000

14.000.000

15.000.000

16.000.000

17.000.000

18.000.000

1988/89 1989/90 1990/91 1991/92 1992/93 1993/94 1994/95 1995/96 1996/97* 1997/98**

Tone

lada

s

Produção de Farelo - Brasil Expon. (Produção de Farelo - Brasil)

igura 13 – Evolução da produção brasileira de farelo de soja, no período 1990-1998.

onte: Agrianual, 1999.

A produção de grãos e de óleo é principalmente consumida no mercado nterno, enquanto a produção de farelo de soja é em sua maioria exportada. As xportações de grãos representaram de 10 a 25% da produção; a de óleo, de 25 a 2%; as de farelo de 55 a 75% da produção nacional. Esta combinação de ercados interno e externo é uma das grandes vantagens da atividade, uma vez que possível aos diversos segmentos da cadeia produtiva gerenciar conjunturas conômicas internas e externas, estabelecendo estratégias de oferta de produtos e erivados aos diversos mercados.

O consumo brasileiro de soja será examinado com maior nível de detalhes no róximo item.

.2.2 – Consumo

O consumo de soja e derivados foi ascendente na década de 90, sendo mais ntenso para o farelo, que elevou a quantidade consumida em 102,4%. O consumo

41

de grãos cresceu 39,4% e o de óleo 28,6%. As estatísticas de desempenho do consumo em três momentos da década estão registrados na Tabela 11. Tabela 11 – Evolução do consumo e consumo per capita de soja, farelo e óleo

de soja no Brasil, de 1990 a 1998 Consumo total (em 1000 t) Consumo per capita

(kg/hab./ano)

Produto 1990 1994 1998 1990 1994 1998

Grãos 16667,1 23234,0 22482,0 115,2 150,0 139,5 Farelo 2915,7 4460,0 5900,0 20,1 29,2 36,6 Óleo 2130,5 2425,0 2740,0 14,7 15,9 17,0

Fonte: Agrianual, 2000 O consumo per capita teve desempenhos semelhantes, com o farelo de soja apresentando o maior crescimento no período (82,4%), seguido de grãos (21,9%) e do óleo de soja (15,6%). O aumento do consumo interno de grãos entre 1990 e 1998 foi de cerca de 5,8 milhões de toneladas. Considerando-se uma produtividade média de 2,0 t /Ha, seriam demandados 2.907.450 de hectares de plantio adicional para atender este consumo incremental. Para uma produtividade média de 2,5 t /Ha, a área imcremental seria de 2.325.960 Ha. Na Tabela 9, registra-se que esta elevação no período foi de 1.511.400 Ha, uma média aproximada de 150.000 Ha de incremento médio de área colhida por ano. O deficit entre o que seria necessário plantar, para atender ao crescimento do consumo interno e o que foi efetivamente colhido, foi coberto por importações de grãos, como será apresentado na próxima seção, e que alcançou a até 1.450.000 t em 1997. Estes números indicam um grande potencial para a expansão de área plantada com soja no país e possivelmente contribuem para justificar a expansão geográfica da cadeia produtiva em direção ao norte do País. Foge aos objetivos deste trabalho o aprofundamento da análise do mercado consumidor interno de soja. Algumas inferências adicionais podem entretanto, ser extraídas a partir dos dados da Tabela 11. O extraordinário crescimento do consumo per capita de farelo não é explicável isoladamente pelo aumento vegetativo da população no período, que foi muito inferior ao crescimento do consumo e ao consumo per capita de farelo. Consequentemente, este fator está associado à recuperação econômica verificada com o fim das altas taxas de inflação no país, que promoveu uma melhora na distribuição de renda, gerando incremento de demanda por proteína animal, como o frango, o porco e a carne bovina. Todas estas cadeias produtivas utilizam o farelo de soja como base alimentar, especialmente a cadeia produtiva das aves. Para ilustrar a afirmação anterior, transcreve-se dados sobre o consumo per capita de ovos, carne de frango, de bovinos e de suínos no Brasil, de 1989 a 1997 (ABIOVE, 1997). O consumo per capita de ovos evoluiu de 83 para 104

42

unidades/hab./ano; o de carne de frango de 12,4 para 23,0 Kg/hab./ano; o de carne suína de 6,6 para 9,1 Kg/hab./ano; o de carne bovina de 24,7 para 29,6 Kg/hab./ano. A avicultura de corte utilizou, em 1997, 2.871 mil t de farelo; a avicultura de postura, 476 mil t; a suinocultura, 1529 mil t (ABIOVE, 1997). No ano em questão, o farelo de soja representou cerca de 20% da composição das rações preparadas no Brasil. Para se ter um parâmetro de referência, o consumo per capita dos Estados Unidos em 1998 foi de aproximadamente 25,9 Kg de óleo e 101 Kg de farelo de soja (ver item 3.1). Com a devida cautela, estes números podem ser tomados como indicadores de potencialidade de crescimento do consumo no Brasil. Uma duplicação da taxa de consumo per-capita de farelo, da ordem de 72 Kg/hab./ano, pode gerar potencial de plantio que duplicam as atuais taxas de expansão obtidas. Esta duplicação coloca o consumo per capita do Brasil ainda distante do atualmente verificado nos Estados Unidos. Em resumo, sob o ponto de vista do consumo interno e externo, as forças foram favoráveis a expansão da cadeia produtiva no Brasil, principalmente ao seu elo produtivo agrícola. As indicações são que haverá oportunidade para a continuidade desta tendência de crescimento nos próximos anos, sendo o Brasil um dos principais países com capacidade para responder a este estímulo. 3.2.3 – Importação e exportação As exportações brasileira de soja e derivados já foram analisadas anteriormente no item 3.1. Uma visão numérica complementar é apresentada na Tabela 12, que também sintetiza as importações do país na última década. Tabela 12 – Evolução da exportação e importação de soja, farelo e óleo de soja

no Brasil, de 1990 a 1998 Exportação (em 1000 t) Importação (em 1000 t)

Produto 1990 1994 1998 1990 1994 1998

Grãos 4140,6 5403,6 7000,0 16,3 881,5 - Farelo 8775,8 10635,3 10100,0 0 5,0 - Óleo 872,1 1518,4 1168 10,8 270,3 200,0

Fonte: Agrianual, 1999 e 2000 Confirmando as informações anteriormente apresentadas, o desempenho foi muito forte em relação a exportação de grãos, moderado para farelo (19,0%) e forte para óleo (56%). Embora o ganho mais expressivo de mercado tenha sido do mercado de grãos, um produto tipo commodity, a cadeia produtiva avançou fortemente na colocação de óleo, produto de valor agregado, fortemente protegido por barreiras tarifárias em mercados importantes como Estados Unidos e Japão. As importações brasileiras no período, embora volumetricamente pouco expressivas em relação aos totais consumidos, aumentaram significativamente no

43

período representado. O país chegou a importar 885.000 t de grãos, baixando a para níveis muito baixos em 1998, o que representa um extraordinário avanço relativo. As importações de farelo, quase inexistentes no início da década, se mantiveram neste patamar. As importações de óleo se mantiveram num patamar equilibrado, sofrendo pouca variação ao longo da década. Pode-se especular que os acréscimos nas importações, ocorridos a partir de de 1994, estiveram relacionados com a retomada econômica do país após o fim da inflação, que gerou aumento da demanda de soja e derivados, para o qual a cadeia produtiva não conseguiu responder a curto prazo. 3.2.4 - Preços Os preços da soja são principalmente estabelecidos pela bolsa de Chicago. Consequentemente, as cotações deste centro de comercialização tem impacto direto sobre o preço da soja no Brasil.

Evolução dos Preços de Soja - Brasil

Pdef = 0,8207T + 219,91R2 = 0,0086

150

170

190

210

230

250

270

290

1988/89 1989/90 1990/91 1991/92 1992/93 1993/94 1994/95 1995/96 1996/97* 1997/98**

US$

/t

Preços em US$ Corrente Preços em US$ Deflacionado Linear (Preços em US$ Deflacionado)

Figura 14 – Evolução dos preços da soja no Brasil, no período de 1990-1998. Fonte: Agrianual, 1999 Na Figura 14, apresenta-se a evolução dos preços internos para a soja em grãos, de 1990 a 1998. Há uma curva de preços reais, em US$/t, uma curva a preços deflacionados e uma tentativa infrutífera de ajuste estatístico, que atesta o alto grau de variação dos dados. De fato, os preços estiveram variando durante todo o período, indo de US$ 190,00 a US$270,00 por tonelada (de US$ 11,40 a 16,20 a saca de 60 Kg).

44

O mesmo padrão de variação de preços, observado em relação ao mercado internacional se aplica aos preços no mercado interno, não apenas em relação à soja em grãos, mas também em relação ao farelo e ao óleo, conforme expressam as Figuras 15 e 16.

Evolução dos Preços de Farelo de Soja - Brasil

Pdef = -4,9505T + 252,66R2 = 0,1277

150

170

190

210

230

250

270

290

310

1988/89 1989/90 1990/91 1991/92 1992/93 1993/94 1994/95 1995/96 1996/97* 1997/98**

US$

/t

Preços em US$ Corrente Preços em US$ Deflacionado Linear (Preços em US$ Deflacionado)

Figura 15 – Evolução dos preços de farelo de soja no Brasil, no período de

1990-1998. Fonte: Agrianual, 1999. Os preços do farelo apresentaram uma amplitude de variação maior que os dos grãos, de US$ 155,00 a 280,00 por tonelada (preços deflacionados). Em geral, o farelo e os grãos possuem cotações bastante próximas, sendo determinante para definir as variações positivas ou negativas de preços as quantidades de estoque disponíveis para cada uma destas frações. O óleo de soja é o produto de mais alta cotação, tendo variado, em valores deflacionados, de US$ 560,00 a 1055,00. Comparando a amplitude de variação de preços no período entre estes produtos, o óleo teve a maior variação, de 88,4%, o farelo variou quase na mesma proporção (80,6%) e os grãos tiveram uma variação aproximadamente a metade das demais frações (42,1%). Estes números podem sugerir diversas interpretações. Primeiro, o mercado de produtos com valor agregado comportou-se de forma muito mais turbulenta que o mercado de matéria prima. As necessidades do setor agro-industrial por matéria prima funcionaram como um buffer para os preços da soja em grãos, reduzindo os riscos associados as altas variações de preços, que foram muito maiores em relação aos produtos de valor agregado, como o óleo de soja.

45

Evolução dos Preços de Óleo de Soja - Brasil

Pdef = -24,692T + 865,41R2 = 0,226

450

550

650

750

850

950

1050

1150

1988/89 1989/90 1990/91 1991/92 1992/93 1993/94 1994/95 1995/96 1996/97* 1997/98**

US$/

t

Preços em US$ Corrente Preços em US$ Deflacionado Linear (Preços em US$ Deflacionado)

Figura 16 – Evolução dos preços de óleo de soja no Brasil, no período de 1990-

1998. Fonte:Agrianual, 1999. Uma outra constatação é que os ganhos com elevações do preço do óleo não são repassados ao preço da matéria prima. A relação entre preço de grãos e de óleo variaram entre 2,5/1,0 e 5,5/1,0. Estes números indicam que o elo agro-industrial repassou pouco seus ganhos de preços, nos momentos de alta do preço do óleo, ao elo agrícola da cadeia. Na Figura 17, cobrindo os anos 1990-1998, apresentam-se os preços médios anuais deflacionados, em Dólares Americanos, para o óleo de soja, farelo e soja em grãos. É patente na figura a pouca relação entre a evolução do preço do óleo e a do preço dos grãos.

46

S$

)

eço

(U

Pr

0

200

400

600

800

1000

1200

1 2 3 4 5 6 7 8 9

Anos

ÓleoFareloGrãos

Figura 17 – Evolução dos preços de soja em grãos, farelo e óleo, no período de 1990-1998. (Ano1 = 1990). Fonte: Agrianual, 1999

A formação de preços, como já foi mencionado, é fortemente e inversamente correlacionada com a questão de estoques. Estoques altos determinam declínio de preços. Preços declinantes reduzem oferta e estoque e invertem a curva de preços. Nos últimos 10 anos, estes ciclos tiveram duração de 3 a 4 anos. O comportamento dos preços ao longo do ano tende a apresentar alguma sazonalidade, particularmente no que tange ao preço da soja em grãos. Na Figura 18 foram plotados os preços médios mensais de soja em grãos (médias do período 1990-1998) , nos Estados de Mato Grosso e Goiás e no Porto de Paranaguá. Estes estados foram escolhidos por serem parte da fronteira geográfica de expansão da cadeia produtiva no país.

As médias mensais de preços mostram que há uma variação mensal de

preços da matéria prima que é superior nos Estados e menor no preço porto. No Mato Grosso a variação entre a cotação média mensal mais alta e mais baixa é de

47

Figura 18 – Médias mensais de preços no Porto de Paranaguá nas fazendas de

Goiás e Mato Grosso, para soja em grãos (1990-1998).

0

50

100

150

200

250

300

Jan Fev Mar abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez

Meses

US$

/t ParanaguáGoiásMato Grosso

Fonte: Agrianual, 1999. 19,1%; em Goiás, 23,1%. No Porto de Paranaguá, 5,8%. Esta diferença está associada ao período de safra do produto, que ocorre de março a maio, e a entressafra, de agosto a novembro. A disponibilidade de estoques internos é outra variável interferente neste fenômeno.

A diferença de cotações entre Paranaguá e os estados reflete o custo para movimentar a soja, dos segmentos produtivos ao porto de embarque. Nesta diferença estão contidos todos os custos e encargos de transporte de curta e longa distância, secar e armazenar a matéria prima. Esta diferença, na média anual de 1990 a 1998 foi de US$ 74,5/t para o Mato Grosso e de US$ 63,5/t para o Estado de Goiás.

48

0

10

20

30

40

50

60

70

80

90

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12

Mes

Dife

renç

a de

pre

ço (U

S$)

Paranaguá-MatoGrosso Paranaguá-Goiás

Figura 19 – Diferença de preços entre a soja em grãos nos Estados de

Mato Grosso e Goiás e no Porto de Paranaguá (médias mensais de 1990 a 1998).

Fonte: Agrianual, 1999.

As margens expressas na Figura 19 são de grande importância para a gestão da competitividade da cadeia produtiva da soja no Brasil, notadamente ao que concerne a comercialização de grãos, cuja competitividade se estabelece principalmente por vantagem comparativa em custos. Uma parte substantiva deste diferencial é representado pelo custo de transportar a soja por rodovia, a uma distância que pode ultrapassar a 2000 Km. Esta questão é crítica para a expansão da soja na região Norte do Brasil e será posteriormente examinada, com maior nível de detalhes, nas próximas seções.

49

3.3 – NA AMAZÔNIA LEGAL Dentre as dimensões do agronegócio da soja na região a examinar neste item, consumo, importação e exportação e preços já foram analisados na seção anterior. A cadeia produtiva é representada nestes estados pelos consumidores, estruturas do ambiente institucional e organizacional, produtores agrícolas e pelos fornecedores de insumos. Nesta seção, será analisada principalmente a produção de matéria prima, ficando o aprofundamento da análise dos demais elementos para o item 4. A evolução da área colhida e da produção de soja na região estudada é apresentada na Tabela 13. A área colhida evoluiu em 77,5% enquanto a produção evoluia em 148%, nos últimos 10 anos. Estes números mostram uma intensa atividade de expansão do negócio na região, aumentando a área plantada e colhida em mais de um milhão de hectares e a produção em mais de três milhões de toneladas. Tabela 13 – Área colhida e produção da soja na Amazônia Legal, no período

1990-1999.

Área colhida ( em 1000 Ha)

Produção (em 1000 t)

ESTADOS

1990 1995 1999 1990 1995 1999 RO 7,8 4,8 6,5 15,6 13,0 18,5 AM - - 3,9 - - 8,7 PA - - 8,3 - - 9,7 TO 34,2 16,6 42,1 37,6 32,5 98,5 MA 16,0 91,7 162,7 6,7 169,6 390,5 MT 1503,0 2295,4 2548,0 2900,8 5440,1 6816,9

Amazônia Legal

1561,0

2408,5

2771,5

2960,7

5655,2

7342,8

Brasil

11533,0

11678,7

13044,4

20179,0

25934,1

30781,4

Fonte: Agrianual, 1998, 1999, 2000 Uma particularidade importante no crescimento verificado é que este ocorreu, segundo os números da Tabela 13, por expansão de área e por aumento de produtividade. Este fato é particularmente importante, uma vez que, para efeito da competitividade deste negócio, produzir a custos mais baixos é fator crítico. O crescimento da região foi superior, no período, ao crescimento das demais regiões brasileiras, tanto em área, como em produção. A participação relativa da região em área colhida no Brasil, que era de 13,5% em 1990, cresceu para 20,6% em 1995 e para 21,2% em 1999. A participação relativa na produção evoluiu de

50

14,7% em 1990, para 18,1% em 1995 e para 23,8% em 1999. Esta evolução é ilustrada na Figura 20.

0

5

10

15

20

25

1 2 3Anos 1990, 1995 1999

%

Part. Área (%) Part. Produção (%)

Figura 20 – Evolução percentual da participação da produção e área de soja da

Amazônia Legal na produção e área colhida do Brasil. Fonte: Agrianual, 1999. Da situação apresentada na Figura 20 pode-se derivar diversos pontos para a reflexão: 1) a produção de soja no Brasil está migrando em direção ao trópico com níveis satisfatórios de desempenho; 2) consideradas as diferenças regionais, a soja está oferecendo oportunidades de negócios que pode impactar positivamente o desenvolvimento da região; 3) os índicadores de desempenho da produção agrícola na região mostram cenários até mais favoráveis do que aqueles típicos das regiões produtoras tradicionais. Para se estimar o impacto econômico da cadeia produtiva na região, pode-se tomar os dados da Tabela 13 e transformá-los em Dólares Americanos, que estariam ingressando na região a partir da comercialização do produto da cadeia produtiva. Como referência para o cálculo estimativo, tomou-se o preço médio anual da soja em grãos, no Porto de Paranaguá. Este exercício é realizado na Tabela 14.

51

Tabela 14 – Produção e valor da produção da soja na Amazônia Legal, no

período 1990-1999.

Produção (1000 t)

Valor da produção

(1000 US$)

ESTADOS

1990

1999

1990 (*)

1999 (**)

RO 15,6 18,5 4285,3 4445,5

AM - 8,7 - 2090,6

PA - 9,7 - 2330,9

TO 37,6 98,5 10328,7 23669,5

MA 6,7 390,5 1840,5 93837,1

MT 2900,8 6816,9 796849,8 1638101,0

Amazônia Legal

2960,7

7342,8

813.304,3

1.764.474,8

Brasil

20179,0

30781,4

5.543.171,3

7.396.770,4

Fonte: Agrianual, 1998, 1999, 2000 (*) – Calculado a um preço médio anual deflacionado de US$ 270,9 / t. (**) - Calculado a um preço médio anual deflacionado de US$ 240,3 / t. Considerando-se que parte do valor FOB é recolhido pela estrutura de comercialização, transporte e impostos, como foi visto na seção 3.2, e que este valor pode alcançar até 30% do valor pago no Porto, pode-se multiplicar os valores das duas últimas colunas da Tabela 14 por 0,7, a resultante sendo o valor recebido pelos produtores de soja. Ainda resulta um valor de 1,23 bilhões de Dólares Americanos em 1999 e 569,3 milhões em 1990, uma soma difícil de registrar com outras atividades econômicas na Região. Pode-se estimar as quantidades de empregos diretos e outros negócios que tal soma promove, ao ingressar nas fazendas produtoras. Um exercício desta natureza será tentado no item 4. Obviamente, há também ameaças a avaliar ( e neutralizar), como por exemplo a questão da sustentabilidade ambiental. Este tema também será examinado na próxima seção. Contudo, é importante realçar a magnitude dos números contidos na Tabela 14, ponderando sua importância a luz do desenvolvimento regional. 52

4 ANÁLISE DA CADEIA PRODUTIVA DE SOJA NA AMAZÔNIA LEGAL 4.1 – CARACTERIZAÇÃO GERAL DA CADEIA PRODUTIVA

Este trabalho tem como objetivo orientar a formulação de estratégias para a competitividade e a sustentabilidade ambiental da cadeia produtiva da soja, notadamente dos seus sistemas produtivos agrícolas, na Amazônia Legal. Estes objetivos determinam uma maior ênfase do estudo sobre os elos produtivos agrícola da cadeia e sobre os elementos do ambiente organizacional e institucional que interferem sobre este elo produtivo.

Sementes/ Sementes/ Mudas Mudas

FornecedoFornecedor de de

Adubo e adubo e calcáreo

FornecedoFornecedor de de

Defensivodefensivos

Equipa- Equipa- mentos mentos

Grandes Grandes/ médios Produto- produto-

res rres

Ali- Ali- mentos mentos

Industria Industria de sabões de sabões

Industria Industria de de

rações rações Coopera- Coopera-

tiva tiva

Consumi- Consumi- dor final dor final ( interno e Iexterno)

Cadeias Cadeias integra- integra-

das das

Ind. de óleoss

Comércio Comércio atacadista atacadista

Comércio Comércio varejista varejista

Comércio Comércio atacadista atacadista

Comércio Comércio exterior exterior

Ambiente institucional

Ambiente organizacional i i l

Indústria de esmagamento

Figura 21 – Diagrama de fluxo da cadeia produtiva da soja.

A análise de uma cadeia produtiva deve iniciar pela sua modelagem, ou seja, pelo estabelecimento de uma representação do sistema real, em formato que ajude a compreensão do desempenho do sistema analisado. Neste processo, são determinados seus elementos mais importantes: os objetivos, limites, entradas, saídas, componentes, segmentos, fluxos de materiais e de capitais. É também parte do processo analítico a caracterização do ambiente externo relevante para a cadeia produtiva, composto por um ambiente institucional (leis e normas) e por um ambiente organizacional (organizações de crédito, pesquisa, assistência técnica,

53

etc.) que geram influências positivas ou negativas sobre o desempenho dos diversos componentes da cadeia produtiva.

A forma mais adequada para iniciar esta análise é elaborar um diagrama de fluxo, contendo os elementos acima descritos. Na Figura 21 este diagrama de fluxo de materiais é apresentado. Na Figura, as setas indicam um fluxo de materiais ocorrendo entre as organizações e grupos sociais que compõem os segmentos da cadeia produtiva, representados por caixas. Implícito, ocorre um fluxo de capitais no sentido inverso ao fluxo de materiais, caracterizando as transações comerciais, de natureza formal ou informa, na cadeia produtiva.

O modelo apresentado na Figura 21 retrata, de forma bem resumidada, a cadeia produtiva da soja, da forma como esta se desenvolve no Brasil e de segmentos na Amazônia Legal. Nela distingue-se um segmento consumidor final, composto por consumidores de óleos e outros produtos derivados da soja; este consumidor também consome o produto transformado por outras cadeias produtivas integradas, como a de carnes e ovos de aves e a carne de suínos. O consumidor final pode ser segmentado em consumidores internos e consumidores externos, compondo os mercados interno e externo para os produtos, subprodutos e derivados da soja. Outras segmentações poderiam ser realizadas, porém para os objetivos deste estudo, a segmentação apresentada é suficiente.

A soja chega ao consumidor final sob a forma de derivados, como o óleo, a margarina, a maionese, a lecitina de soja, a carne de frango, de suínos, etc.. Para a distribuição destes produtos, operam uma estrutura de comercialização atacadista e varejista, que se relacionam com os segmentos agro-industriais, para colocar o produto a disposição do consumidor final. No Brasil, o principal produto consumido é o óleo de soja e este é distribuído aos consumidores finais através de redes de supermercados, nos grandes centros urbanos, e de supermercados e feiras livres, em comunidades de menor tamanho. Como já foi definido anteriormente, uma discussão mais aprofundada sobre esta estrutura de comercialização atacadista e varejista foge aos objetivos deste trabalho.

A soja é matéria prima para diferentes ramos industriais. A indústria de alimentos de produtos derivados da soja, como as margarinas e maioneses, é uma das componentes da cadeia. A indústria de óleos é das mais importantes para a cadeia produtiva, como já foi discutido na seção 3 deste documento. Em 1999, este segmento da cadeia produziu o equivalente a US$ 2.700.000.000,00, exportando cerca de 33,4% deste montante (Agrianual, 2000).

A indústria de rações é outra grande consumidora intermediária de soja. Cada tonelada de soja esmagada produz aproximadamente 0,78 t de farelo e 0,19 t de óleo (Zylbersztajn et al., 1999). O farelo produzido ou é exportado pelas tradings para o mercado externo, ou é adquirido pela indústria de rações para aves, suínos e peixes, passando a ser incorporado em outras cadeias produtivas, produtoras de carnes e ovos.

Um outro segmento industrial da cadeia produtiva é a indústria de sabões e cosméticos, que utilizam além do óleo de soja, outros óleos vegetais e gorduras animais em suas formulações industriais. Este segmento tem menor densidade econômica relativa entre os demais segmentos da cadeia.

54

Existe um segmento atacadista transacionando diretamente com os produtores de grãos, com a agroindústria de esmagamento de soja e com o mercado externo, composto por armazenadores, corretores e pelas tradings. Este segmento compra, armazena e faz a movimentação da produção, ou para a indústria de esmagamento, ou para o mercado externo de grãos. No caso das exportações, a comercialização é feita principalmente pelas tradings.

As tradings operam relacionando-se com produtores, com cooperativas e com as indústrias de esmagamento, comercializando a soja com o mercado externo. Muitas cooperativas e empresas esmagadoras possuem seus departamentos de comercialização, porém se articulam com as tradings, para facilitar suas exportações. Há grandes produtores que também atuam como compradores, intermediando a comercialização como formadores de lotes maiores de matéria prima. Em geral, estes produtores possuem estruturas para armazenamento da soja.

O segmento agroindustrial da cadeia é a indústria de esmagamento da soja. Este segmento extrai, refina e processa derivados do óleo. Seus principais produtos são o óleo bruto, o óleo refinado e o farelo de soja, embora muitos outros produtos estejam em produção ou sejam potencialmente passíveis de produção no futuro. Para o desempenho futuro da competitividade da cadeia produtiva, é neste segmento que repousa as maiores potencialidades, pelas possibilidades de diferenciação e da consequente agregação de valor. Zílio (1998) aponta como possíveis oportunidades de agregação de valor à soja brasiileira os seguintes derivados:

1. Farinha desengordurada;

2. Farinha full fat;

3. Proteína texturizada 50%

4. Proteína texturizada 70%

5. Proteína concentrada food grade;

6. Proteína concentrada feed grade (utilizada em aquacultura)

7. Proteína isolada de soja (de peso molecular normal e de baixo peso molecular);

8. Fibra dietética;

9. Tocoferol (8 a 35%) para produção de vitamina E;

10. Concentrados de isoflavona;

11. Óleos vegetais hidrogenados e interesterificados;

12. Lecitinas naturais e modificadas.

55

Atualmente, a soja em grãos gera uma gama diversificada de produtos. Na visão de Trigueirinho (1998), estes principais produtos estariam representados na Figura 22.

SOJA EMGRÃOS

Prod. Carnes

Óleos envasados

Margarinas

Gorduras Hidrogenadas

Rações

Refinarias

Uso Industrial

Farelos

SISTEMA PRODUTIVOAGRÍCOLA

Alimentos Protéicos

Tecnologias,Recursos,

Gestão

RecursosNaturais

Óleos em bruto

IndústriaProcessadora

Figura 22 – Processamento da soja e seus principais produtos.

Fonte: Trigueirinho, 1998 (adaptado)

O segmento produtivo agrícola da cadeia produtiva é composto por médias e grandes propriedades agrícolas, em geral empresas direcionadas para o mercado. De acordo com a região do país em que se situam, podem produzir somente soja ou soja em rotação com outros grãos. Este segmento se relaciona com a indústria de insumos, comprando os materiais e equipamentos necessários a produção e com corretoras, tradings, cooperativas e indústrias de esmagamento, para vender a produção.

O segmento fornecedor de insumos é composto por organizações comerciais e indústrias que fornecem máquinas (tratores, colheitadeiras, aspersores), fertilizantes e corretivos, implementos agrícolas, inseticidas, fungicidas, herbicidas e sementes. O impacto deste segmento na eficiência produtiva é muito grande, principalmente em regiões de fronteira agrícola, como a Amazônia Legal, onde em geral o fornecimento destes meios de produção são precários.

Esta descrição genérica da cadeia produtiva no Brasil pode ser aplicada para caracterizar quais segmentos desse sistema estão representados nos limites geográficos da Amazônia Legal. É importante realçar que os componentes da cadeia produtiva da soja nesta região estão estreitamente relacionados com os demais componentes da cadeia produtiva no Brasil, desta recebendo e sobre ela gerando influências.

Particularizando os componentes da cadeia na região, há um mercado consumidor

local, composto por cerca de 18 milhões de consumidores (IBGE, 1998), representando cerca de 10% do mercado interno para derivados de soja; associado a este mercado consumidor, há uma estrutura de comercialização varejista e atacadista, suprindo o

56

consumidor regional de derivados da soja. Há na região uma produção local de aves e de suínos, utilizando rações constituídas de farelo de soja.

Os segmentos de comercialização e de logística estão presentes em toda região,

notadamente nos estados de maior densidade de produção agrícola, como Mato Grosso. Em áreas onde a atividade agrícola se estabeleceu recentemente, como Pará, Rondônia e Amazonas, estes segmentos estão em fase de estruturação.

O segmento de esmagamento de soja na região está restrito aos Estados de Mato

Grosso e Maranhão, e em situação minoritária, comparado com a distribuição das unidades industriais no território nacional. Segundo a ABIOVE (1997), cerca de 7% da capacidade instalada de esmagamento de soja se localizava naquele estado. Paraná, Rio Grande do Sul e São Paulo, com cerca de 66% da capacidade instalada eram os estados onde a agregação de valor estava acontecendo. A capacidade de esmagamento total do país na ocasião era de 117.875 t / dia.

A expansão da cadeia produtiva da soja na Amazônia Legal está ocorrendo em

função da expansão da cultura da soja em toda a região, conforme já foi apresentado na seção 3 deste trabalho. Esta expansão foi possivelmente causada pelo escasseamento e encarecimento das terras disponíveis na Região Sul, onde a soja inicialmente se estabeleceu e posteriormente foi viabilizada pelo domínio tecnológico da exploração dos cerrados e da soja tropical, obtidos a partir dos trabalhos de pesquisa da EMBRAPA. Iniciada a partir do Estado do Mato Grosso e de Goiás, a atividade se expandiu a norte e a leste na região, ocupando principalmente as áreas de cerrados disponíveis, alcançando o Maranhão, o Tocantins, Rondônia e mais recentemente Pará, Roraima e Amazonas.

Os indicadores econômicos e sociais da importância desta expansão já foram (e

ainda serão) apresentados neste trabalho. Como toda atividade pioneira, esta ocupação carrega muitas oportunidades e algumas ameaças, que devem ser bem entendidas, antes que estratégias sejam formuladas. É patente, contudo, que o plantio de soja na Amazônia Legal é uma realidade irreversível e como tal, deve ser gerenciada, para que a contribuição ao desenvolvimento da região seja maximizado.

Nos próximos itens serão analisados os segmentos da cadeia produtiva de maior

importância e presença na Amazônia Legal. Esta análise sistêmica, terá como referência a análise de mercado realizada na seção 3, e terá como principal propósito a identificação de oportunidades e ameaças, que possam constituir-se em fatores críticos de competitividade para a cadeia produtiva na Amazônia Legal.

4.2 – A CADEIA PRODUTIVA DA SOJA NA AMAZÔNIA LEGAL

A inclusão dos Estados do Mato Grosso, Tocantins e Maranhão na Amazônia Legal torna esta região uma das mais importantes para o desempenho da cadeia produtiva no Brasil. Com uma produção estimada de 7,34 milhões de toneladas de produção em 1999, a região produziu 23,85% da soja brasileira e amealhou cerca de 1,7 bilhões de Dólares Americanos. Estes valores tornam a cadeia produtiva da soja como a de maior expressão econômica no agronegocio da região. Dados da SUDAM (2000) afirmam ser a cadeia produtiva da soja, nos Estados do Mato Grosso e Maranhão, responsável por 91,4% da exportação de produtos agrícolas da Amazônia e por 18,7% do total de todas as exportações regionais. Estes são números

57

expressivos, geradores de oportunidades a jusante e a montante da produção agrícola, e portanto de grande interesse para o desenvolvimento regional. A distribuição dos plantios de soja determina os locais de maior intensidade de atividades da cadeia produtiva. Na Figura 23, é apresentado um mapa com as áreas de concentração de potencial de produção de soja na Amazônia Legal.

A evolução dos plantios é intensa a partir do Mato Grosso, alcançando o Estado de Rondônia na direção noroeste e os Estados do Tocantins, nordeste do Pará e Maranhão, na direção nordeste. Alguns focos isolados de áreas de plantio são registrados em Roraima e no Amazonas, possivelmente em função da existência do porto graneleiro de Itacoatiara e da existência terras baratas de cerrados , e no Município de Santarém, em função da proximidade com o porto daquela cidade. A questão da localização de áreas atuais e potenciais de plantio de soja na Amazônia Legal e em alguns estados do Nordeste e Centro-oeste, foi analisada por um grupo interministerial dos Ministérios dos Transportes e da Agricultura e Abastecimento. Este grupo foi instituído pela Portaria Interministerial No 609, de 17/12/1998. Baseado num trabalho do GEIPOT, Corredores Estratégicos de Desenvolvimento, este GT elaborou em seu relatório (Ministério dos Transportes/ Ministério da Agricultura e Abastecimento, 1998) uma série de mapas com estimativas de área potencial para plantio de soja, principais municípios produtores e malha de transportes rodoviário, ferroviário e fluvial em cada estado. Pela riqueza de informações, não somente sobre a localização das áreas potenciais de produção agrícola na região estudada, mas também pelas informações sobre a malha de transportes, essencial para a logística de movimentação da produção, fator crítico de competitividade da cadeia produtiva, os mapas disponíveis sobre os estados da Amazônia Legal são reproduzidos nas Figuras 24 (Mato Grosso), 25 (Rondônia), 26 (Tocantins), 27 (Maranhão), 28 (Roraima), 29 (Pará) e 30 (Amazonas). A questão de transportes será examinada no próximo item. A partir das Figuras 23 a 30, é possível derivar a Tabela 15, com um resumo do principais municípios produtores e a estimativa de área potencial para plantio de soja em cada estado.

A primeira reação a informação contida na Tabela 15 é que, considerando-se válidas as estimativas contidas sobre disponibilidade de terras para plantio de soja, a atual área plantada teria um potencial de crescimento de quase 10 vezes. Consequentemente, não seria por limitação de áreas para plantio que a atividade poderia ter a sua expansão reduzida.

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Tabela 15 – Principais municípios produtores e área potencial por Estado, para

plantio de soja.

ESTADOS

PRODUTORES

PRINCIPAIS MUNICÍPIOS

PRODUTORES

ÁREA

POTENCIAL PARA SOJA

(1000 Ha)

ÁREA

PLANTADA EM 1999 (1000 Ha)

Mato Grosso Sorriso, Campo Novo dos Parecis, Tangará da Serra, São José do Rio Claro, Sapezal, Sinop, Primavera do Leste, Rondonópolis, Alto Taquari, Alto Garças, Campo Verde, Comodoro, Diamantino, Itiquira, Lucas do Rio Verde, Nova Mutum, Novo São Joaquim, Pedra Preta.

12.200 2548,0

Maranhão Balsas, São Raimundo das Mangabeiras, Tasso Fragoso,

Riachão, Sambaíba.

1.500 162,7

Tocantins Formoso do Araguaia, Alvorada, Campos Lindos, Pedro Afonso,

Gurupi.

2.000 42,1

Rondônia Vilhena, Colorado do Oeste, Cacoal, Ji-Paraná,...

1.100 6,5

Pará Redenção, Paragominas, Marabá, Conceição do

Araguaia,...

4.000 8,3

Amazonas Humaitá, Lábrea 19,1 Roraima Boa Vista, Alto Alegre,

Normandia, Bonfim,... 1.500 -

Total - 22.300 2767,6 Fontes: MT/MA, 1998; Agrianual, 1999. IBGE, 1998; GEIPOT, 1999.

Uma questão que assume importância, em relação as áreas de expansão futuras é

sobre as possibilidades de a soja vir a se expandir em áreas de floresta, diferentemente de como esta expansão tem ocorrido até o presente, principalmente em áreas de cerrado. Nos últimos anos, com o avanço dos plantios de soja no Pará, Amazonas e Roraima, começaram a surgir preocupações em relação a sustentabilidade ambiental e sobre a possibilidade da expansão da soja vir a contribuir para o aumento do processo de desflorestamento na Amazônia.

Esta preocupação é legitima e deve ser ponderada, a luz das percepções dos

segmentos sociais envolvidos e de fatos, que possam oferecer uma guia para a formulação de estratégias para a sustentabilidade ambiental. Para tanto, a equipe do estudo recolheu evidências positivas e negativas na literatura existente e entrevistou instituições publicas e privadas, ONGs e profissionais da região, durante os trabalhos de campo efetuados no Pará, Amazonas, Mato Grosso, Tocantins e Maranhão.

59

Um primeiro fato é que a expansão da soja na Amazônia Legal ocorreu nos últimos 10 anos principalmente nos Cerrados de Mato Grosso, Tocantins e Maranhão. Estes Estados detinham 99,5% da área colhida de soja em 1999. Aos demais Estados da região restaram 0,5% de plantios. Estes estados possuem ainda uma reserva de áreas para expansão da ordem de 12,95 milhões de hectares, segundo os dados da Tabela 15. Considerando-se que a evolução de área colhida em toda a região, nos últimos 10 anos, foi da ordem de 1,21 milhões de hectares, mantidos os atuais ritmos de expansão seriam necessários cerca de 100 anos para ocupar a área disponível de cerrados, somente nestes 3 estados.

A estimativa do INPE, citada pela SUDAM (2000) estabelece em 551.782 Km2 a

área bruta desmatada da Amazônia até 1998. Embora a literatura registre controvérsias sobre estes quantitativos, tomando-se este número como uma referência para a reflexão, tem-se uma área desmatada de aproximadamente 55 milhões de hectares, principalmente nos Estados do Pará, Amazonas e Rondônia, onde a atividade agropecuária e o povoamento foram mais intensos. Comparando-se esta área com a expansão da cultura na região nos últimos 10 anos, de maneira análoga a anterior (1,21 milhões de hectares por 10 anos), seriam necessários cerca de 500 anos para ocupar esta área já desmatada com plantios de soja.

Obviamente estas reflexões são especulativas, na medida em que poderá existir

proprietários, já estabelecidos nestes estados, em áreas de floresta e com predisposição para o plantio de soja. Para estes entretanto, haverá algumas barreiras de caráter econômico ou normativo a suplantar, entre as quais pode-se mencionar:

a) o código de uso de terras vigente, que restringe a área passível de desmatamento na propriedade e a intensa atuação dos orgãos de fiscalização ambiental governamentais e privados;

b) o custo de derruba, limpeza e destocamento da floresta virgem, para tornar a área de plantio mecanizável. As características de cultivo intensivo da soja, que demandam intensa mecanização em todas as fases do ciclo vegetativo, , são incompatíveis com o trabalho em áreas não sistematizadas, com obstáculos à moto-mecanização;

c) o custo do destocamento para limpeza do terreno praticamente anula a vantagem competitiva do preço da terra na região (ver Tabela 16). As implicações da Tabela 16 serão comentadas posteriormente;

d) nas áreas de expansão, onde ocorrem áreas com mata, parece haver um consenso entre orgãos públicos, privados e produtores sobre não viabilidade e a inoportunidade de utilização de áreas com matas para plantio de soja. Este consenso está expresso em documentos e foi também verificado nos levantamentos de campo realizados pela equipe, nos Estados do Pará, Amazonas, Maranhão, Tocantins e Mato Grosso.

Adicionando alguns comentários sobre os pontos C e D anteriores, constata-se na

Tabela 16 uma grande diferença de preço de terras entre as áreas produtoras tradicionais e as áreas de expansão da Amazônia Legal. Esta diferença varia de 4,3 a mais de 10 vezes, entre o preço da terra no Paraná e na Amazônia. Esta diferença de preço impõe um custo muito mais alto para a soja produzida nas regiões tradicionais, sendo um fator de competitividade para a produção da Amazônia.

60

Tabela 16 – Preços da terras em estados produtores de soja, em áreas

tradicionais e na Amazônia Legal (ano base 1997).

PREÇO DAS TERRAS (EM US$/Ha)

ESTADOS

Lavouras Campos Matas

Rio Grande do Sul 1330 ND ND Paraná 2300 1106 1000 Mato Grosso 530 161 210 Maranhão 248 89 98 Rondônia 353 185 179 Pará 335 64 107

Fontes: IBRE-FGV, citado por Agrianual, 1998. Fato semelhante ocorre em relação ao preço da terra com mata e da terra tipo

campo, em geral terra de cerrado ou capoeira proveniente de áreas desmatadas. No Pará, esta diferença é de US$ 43,00. Em Rondônia, US$ 6,00. Ao adicionar as terras com matas o custo da limpeza e destoca, para viabilizar o plantio mecanizado da soja, o empresário estará investindo o equivalente ao que seria o custo das terras nas regiões tradicionais. Portanto, um mau negócio, sob o ponto de vista empresarial.

Finalmente, as diversas entrevistas conduzidas pela equipe deste estudo nas

regiões produtoras revelaram quase um consenso entre organizações públicas, privadas e empresários rurais ligados à cadeia produtiva sobre a inoportunidade econômica, social e ambiental do plantio da soja em áreas de floresta. Nessas condições, as agências de crédito não fazem financiamento de custeio (Banco do Brasil e Basa, entrevistas com gerências locais e estadual); a pesquisa e a assistência técnica não patrocinam a atividade nestas condições; os próprios produtores entrevistados no Pará, alegaram dificuldades econômicas e técnicas, as mesmas já aludidas anteriormente, para realizar plantios em áreas de florestas.

São representantes emblemáticos desta posição os trabalhos de Sampaio (2000),

Husny (2000), Embrapa-CPATU (2000), Cerdeira (2000), todos de acordo que os cerrados e as áreas desmatadas são a melhor oportunidade para o estabelecimento da soja.

Este conjunto de fatos e argumentos induzem a inferência de que os riscos de

expansão da soja na região nos próximos anos, afetando significativamente as taxas de desmatamento sejam de pequena monta, e portanto gerenciáveis, dentro do aparato de leis, normas e instituições vigentes e atuantes na Região. As questões mais prementes aparentemente são as referentes a manutenção da sustentabilidade ambiental dos plantios efetuados nas áreas de cerrado e em áreas desmatadas, que serão discutidas posteriormente.

A questão dos transportes é crucial para a competitividade da soja, em qualquer

forma de apresentação ao mercado, mas notadamente na questão do farelo e dos grãos. Na Amazônia Legal, esta questão é ainda mais crítica, dada as naturais dificuldades de movimentação terrestre na região. Em contrapartida, esta oferece uma das maiores malhas fluviais do planeta, com calhas navegáveis todo o ano por navios de grande porte, atingindo os mercados externos por via fluvial/ marítima. Assim, há ameaças e oportunidades a serem exploradas nesta questão.

61

Nas Figuras 23 a 30, explorou-se a questão das potencialidades e disponibilidades

de áreas para plantios de soja na Amazônia Legal. Estas figuras também apresentam a malha, existente e projetada, de transportes rodoviário, ferroviário e fluvial nos estados da região. Antes de examinar estas figuras entretanto, é interessante alinhar alguns fatos de ordem genérica, para orientar a análise específica da questão na Amazônia.

Segundo o GEIPOT,(1999) o “Brasil não tem hoje, ainda, a infra-estrutura apropriada para dar suporte a um transporte multimodal eficiente, em um cenário de crescimento de demanda até o ano de 2015, principalmente nas áreas agrícolas potenciais”.

62

Figura 23 - Mapa com a distribuição das áreas de plantios de soja na Amazônia

Legal e no Brasil. Fonte: GEIPOT, 1999.

63

Figura 24 - Área potencial de soja, principais municípios produtores e malha de

transportes do Estado de Mato Grosso. Fonte: GT interministerial MT/MA, 1998.

64

Figura 25 - Área potencial de soja, principais municípios produtores e

malha de transportes do Estado de Rondônia. Fonte: GT interministerial MT/MA, 1998.

65

Figura 26 - Área potencial de soja, principais municípios produtores e malha de

transportes do Estado do Tocantins. Fonte: GT interministerial MT/MA, 1998.

66

Figura 27 - Área potencial de soja, principais municípios produtores e malha de

transportes do Estado do Maranhão. Fonte: GT interministerial MT/MA, 1998.

67

Figura 28 - Área potencial de soja, principais municípios produtores e malha de

transportes do Estado de Roraima . Fonte: GT interministerial MT/MA, 1998.

68

Figura 29 - Área potencial de soja, principais municípios produtores e malha de transportes do Estado do Pará.

Fonte: GT interministerial MT/MA, 1998.

69

Figura 30 - Área potencial de soja, principais municípios produtores e malha de

transportes do Estado do Amazonas. Fonte: GT interministerial MT/MA, 1998.

70

Figura 31 – Corredores estratégicos de desenvolvimento no Brasil e a cadeia

produtiva da soja. Fonte: GEIPOT,1999

71

Baseado nesta premissa, a infra-estrutura de transportes do país foi analisada como sistemas troncais estruturadores dos corredores estratégicos de desenvolvimento selecionados (ver Figura 31). Tais corredores são (GEIPOT, 1999):

• Corredor Extremo-Oeste: compreende a BR-364, a Hidrovia Madeira Amazonas e os portos de Porto velho, Manaus e Itacoatiara.

• Corredor Norte: baseado na BR-174, na Hidrovia dos Rios Branco, Negro e no portos de Manaus e Caracaraí.

• Corredor Oeste Norte: com base principalmente na BR-163, na Hidrovia Tapajós-Teles Pires e no Porto de Santarém.

• Corredor Centro-Norte: com base na BR-153, na Hidrovia Tocantins-Araguaia, nas ferrovias Norte-Sul, Carajás e nos portos de Vila do Conde, Itaqui e Terminal Vila da Madeira.

• Corredor Nordeste: baseado na rede troncal rodoviária e ferroviária regional, nas Hidrovias do São Francisco e Parnaíba, na ferrovia Transnordestina e nos portos de Suape e Pecém.

• Corredor Centro-Leste: baseado no sistema troncal rodoviário e ferroviário de Mato Grosso, Goiás. Minas e Espirito Santo, e os portos de Tubarão e Vitória.

• Corredor Sudeste: composto do sistema troncal rodoviário e ferroviário de São Paulo e Rio de Janeiro, da hidrovia Tietê-Paraná, destacando os portos de Santos e Sepetiba e interligações rodoferroviárias com subsistemas modais de outros corredores;

• Corredor do Mercosul: baseado nos sistemas viários dos corredores de transporte do Sudeste, do Paraná, Santa Catarina e do Rio Grande do Sul, baseado nas hidrovias do Paraná-Paraguai e do Taquarí-Guaiba, tendo ainda os portos de Paranaguá, São Francisco do Sul, Itajaí, Rio Grande, Pelotas e Estrela.

Na modelagem destes corredores, tomou-se como fundamento a dinâmica de

negócios ocorrendo no âmbito geográfico do corredor, para o qual a oferta de transporte é um fator de viabilização.

Para estudar os cenários futuros de necessidades de transporte de carga

nestes corredores, foram selecionados como produtos mais demandantes a soja, o farelo de soja, óleo de soja, derivados claros de petróleo e álcool, fertilizantes, minério de ferro e cimento. Não foram considerados no modelo o milho, trigo e arroz. Na Tabela 17, apresenta-se uma estimativa dos volumes transportados no Brasil e o percentual por modalidade de transporte.

É claramente demonstrado a predominância do transporte terrestre e neste,

do transporte por estrada, na matriz brasileira. O transporte hidroviário, alternativa mundialmente mais barata, é responsável por menos de 1,0% do volume transportado no país. Segundo o GEIPOT (1999), os custos elevados de movimentação nos portos seriam responsáveis pela baixa utilização do transporte fluvial e marítimo no Brasil, situação que tenderia a melhorar com o processo de

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privatizações em curso e com a flexibilização das restrições para a entrada no mercado de operadores de terminais.

M E IO S D E T R A N S P O R T E - C O M P L E X O S O J A

R O D O V I A6 7 %

H I D R O V I A5 % F E R R O V I A

2 8 %

R O D O V I A1 6 %

F E R R O V I A2 3 %

H I D R O V I A6 1 %

B R A S I L

E U A

Figura 32 - Matriz de transporte da soja no Brasil e nos Estados Unidos. Fonte: ABIOVE, 1997.

73

Tabela 17 – Matriz de transporte de produtos selecionados no Brasil. Ano base – 1996

VOLUME TRANSPORTADO

MODALIDADE DE

TRANSPORTE

QUANTIDADE (1000t) PARTICIPAÇÃO (%)

Rodoviário 114.995,8 63,9 Ferroviário 58.847,6 32,7 Hidroviário 1619,7 0,9

Navegação de cabotagem

4499,1

2,5

TOTAL 179.962,2 100 Fonte: GEIPOT, 1999. O transporte de soja no Brasil segue a tendência genérica apontada pelo

trabalho do GEIPOT. Na Figura 32, são apresentadas as matrizes de transporte de soja no Brasil e no seu principal competidor, os Estados Unidos. Fica claro na Figura que o Brasil, seguindo a tendência geral já mencionada, concentra o transporte da soja nas rodovias (67%), enquanto a soja americana é transportada por via fluvial (61%). O transporte por ferrovia tem percentuais semelhantes nos dois países (23 a 28%).

A desvantagem dessa matriz é que o transporte de grandes volumes a

grandes distâncias é muito mais barato pela via fluvial do que por rodovias. Este fato faz com que a cadeia produtiva americana tenha neste aspecto uma vantagem competitiva em relação a soja brasileira. Um estudo do IPEA realizado em 1993, estimou os custos no dois países em torno de US$ 7,0/t nos Estados Unidos, contra um custo de US$ 30,0/t no Brasil (Silva, 1994).

No caso da Amazônia Legal, os custos médios apontados para o Brasil podem

ser até mais altos, conforme já foi apresentado inicialmente. Os preços pagos no Porto de Paranaguá e no Mato Grosso, por uma tonelada de soja, indicam um custo de movimentação de mais de US$ 70,00/t. A diferença de cotações entre Paranaguá e os estados reflete o custo para movimentar a soja, dos segmentos produtivos ao porto de embarque. Nesta diferença estão contidos todos os custos e encargos de transporte de curta e longa distância, secar e armazenar a matéria prima. Esta diferença, na média anual de 1990 a 1998 foi de da ordem de US$ 74,5/t para o Mato Grosso. Uma grande percentagem desse valor pode ser atribuído ao custo de transporte.

De acordo com os mapas contidos nas Figuras 24 a 30, e nas entrevistas e

levantamentos diretos efetuados, mostram uma situação atual, na qual a soja produzida na Amazônia Legal está sendo transportada principalmente por rodovia, para os portos de Paranaguá e São Luiz e uma pequena fração pelo Porto de Itacoatiara (ver Tabela 18). Pode-se também imaginar um cenário futuro promissor, no qual a soja produzida na Amazônia Legal será parcialmente transportada por

74

rodovias e ferrovias até as hidrovias do Rio Madeira, Tapajós, Rio Branco-Negro e Rio Amazonas, sendo exportada pelos Portos de Itacoatiara, Manaus, Santarém, Belém e São Luiz.

Tabela 18 – Evolução das quantidades de soja transportadas pelo Porto

de Itacoatiara, Amazonas.

Total transportado (1000 t)

Ano

Por Itacoatiara Outros 1997 312 - 1998 550 - 1999 712 6104,9 2000 850 -

Fonte: Hermasa (Manaus) – Levantamento direto

Considerando os corredores de desenvolvimento já aludidos anteriormente, atualmente a soja produzida no Mato Grosso é transportada principalmente no Corredor Centro-Leste, baseado no sistema troncal rodoviário e ferroviário de Mato Grosso (ver Figura 24), Goiás, Minas e entrando no Corredor do Mercosul, utilizando sistemas viários dos corredores de transporte de São Paulo e do Paraná, finalizando principalmente no porto de Paranaguá; a fração representada na Figura 18, correspondente a cerca de 10% da produção de Mato Grosso, é transportada no Corredor Extremo-Oeste, compreendendo a BR-364, a Hidrovia Madeira Amazonas e os portos de Porto Velho e Itacoatiara. A soja produzida em Rondônia é transportada por semelhante logística.

A soja produzida no Maranhão, Tocantins e Nordeste do Pará (ver Figuras 26,

27 e 29) tem sido transportada principalmente pelo Corredor Centro-Norte, com base na BR-153, na Hidrovia Tocantins-Araguaia, na ferrovia Carajás, acessada por via rodoviária a partir de Imperatriz e no porto de Ponta da Madeira em São Luiz (Souza, 1997). A soja paraense poderá ainda utilizar no futuro, o acesso ao porto de Belém pelas BR-010, BR-316 e pela PA-150.

O Corredor Norte, baseado na BR-174, na Hidrovia dos Rios Branco, Negro e

no portos de Itacoatiara, Manaus e Caracaraí, será o escoadouro natural da soja produzida nos campos de Roraima.

O Corredor Oeste Norte, com base principalmente na BR-163 (Cuiabá-

Santarém), na Hidrovia Tapajós-Teles Pires e no Porto de Santarém é uma importante alternativa de transporte para a soja do Estado de Mato Grosso. Além da substancial redução de distância (de 2000 para cerca de 700Km) este corredor está planejado para oferecer a alternativa do transporte hidroviário e ferroviário. A viabilização desta alternativa poderá representar um grande avanço na redução de custos de transporte da soja Matogrossense, tornando-a mais competitiva.

75

Para ilustrar os potenciais ganhos possíveis com a implantação desta

alternativa, apresenta-se na Tabela 19 uma estimativa de custos de transporte da soja de Mato Grosso, pelos portos de Paranaguá e de Itacoatiara, onde se verifica um pequeno ganho para a alternativa Itacoatiara, mesmo esta estando ainda em fase inicial de operação.

Uma visão alternativa desta comparação de custos de transportes por estes

dois corredores é oferecida por Souza (1997) e está descrita na Tabela 20. Para este autor, o transporte da soja pelo corredor modal Extremo Oeste apresentaria uma vantagem comparativa sobre a rota do corredor Centro Oeste de US$ 30,00 por tonelada de soja transportada. Esta é uma tremenda vantagem comparativa e se confirmada, representaria um ganho de mais de 10% sobre os atuais parâmetros de preços recebidos pelos produtores. Tais cifras representariam uma transferência de 205 milhões de dólares, da rede transportadora para os produtores e intermediários da comercialização de Mato Grosso e Rondônia, a valores de 1999.

Tabela 19 – Custos de transporte da soja via portos de Itacoatiara e de Paranaguá (I).

Itens de custo

Preços

Em US$/t Via Porto de Itacoatiara: Área de produção – Porto Velho , pela Br 364 (900km) 25,00 Porto Velho – Itacoatiara 19,00. Custo Porto 1,50 Itacoatiara – Europa 12,00

Total 57,50 Via Porto de Paranaguá Área de produção – Porto, por caminhão 45,00 a 50,00 Custo Porto 9,00 Paranaguá-Europa 14,00 73,00

Fonte: Levantamento direto (Hermasa, Abiove)

A vantagem comparativa apresentada pelos números obtidos na Hermasa, companhia que gerencia o Porto de Itacoatiara é menor que a apresentada por Souza na Tabela 20. De fato, é de US$ 15,50 por tonelada de soja transportada, a metade da estimativa apresentada na Tabela 20. Por esta estimativa, o ganho seria da ordem de 106 milhões de dólares por ano, a valores de 1999, ainda um tremendo avanço para a competitividade da soja na região.

76

Tabela 20 – Custos de transporte da soja via portos de Itacoatiara e de Paranaguá (II).

Itens de custo

Preços

Em US$/t Via Porto de Itacoatiara: Zona dos Parecis MT – Porto Velho , pela Br 364 (900km) 31,00 Transbordo no terminal de Porto Velho 2,00. Frete Hidrovia Porto Velho – Itacoatiara 19,50 Transbordo no Porto de Itacoatiara 6,50 Itacoatiara – Europa (frete fluvial-marítimo) 16,00

Total 75,00 Via Porto de Paranaguá Zona dos Parecis MT – Porto Paranaguá, por caminhão (2.300 Km) 80,00 Despesas portuárias 9,00 Paranaguá – Rotterdam (frete marítimo) 16,00

Total 105,00 Fonte: Souza, 1997 A informação da Tabela 19 aparentemente reflete com maior precisão a

questão de custos de transporte de soja pelos corredores atualmente em operação, não somente pela sua maior atualidade, mas também pela fonte de informação e pela maior proximidade dos parâmetros internacionais e nacionais disponíveis. Não resta dúvidas, entretanto, que o encurtamento de distâncias e a multimodalidade de transportes é a solução para a competitividade da cadeia produtiva na Amazônia Legal.

O abaixamento de custos de transporte é crítico para a competitividade da

produção na Amazônia Legal, uma vez que este fator hoje se situa acima dos padrões dos principais competidores do Brasil, os Estados Unidos e a Argentina. As análises realizadas neste trabalho, entretanto, indicam que os atuais custos podem ser reduzidos, na dependência de intervenções governamentais para viabilização da malha planejada de transportes nos corredores de desenvolvimento, principalmente do corredor Oeste Norte. Ademais, a apropriação dos ganhos com a eficientização da logística de transportes deve beneficiar em grande parte o segmento agrícola da cadeia produtiva, promovendo impactos no desenvolvimento regional.

77

4.3 – MERCADO CONSUMIDOR Conforme já mencionado anteriormente, há um mercado consumidor local na

Amazônia Legal, composto por cerca de 18 milhões de consumidores (IBGE, 1998), representando cerca de 10% do mercado interno para derivados de soja; associado a este mercado consumidor, há na região uma produção local de aves e de suínos, utilizando rações constituídas de farelo de soja. Na Tabela 21, este mercado local e naciomal de óleo e farelo de soja é dimensionado.

Tabela 21 - Consumo Nacional e da Amazônia Legal de Farelo e Óleo de

Soja. Em 1000t ESTADOS

FARELO DE SOJA ÓLEO DE SOJA

RONDÔNIA ACRE AMAZONAS RORAIMA PARÁ AMAPÁ TOCANTINS MARANHÃO MATO GROSSO

4,3 1,3

10,1 1,2

61,7 1,6 2,3

30,4 66,2

23,1 7,7

39,5 4,5

92,8 5,6

17,0 88,4 39,7

AMAZONIA LEGAL 179,1 318,3 DEMAIS ESTADOS 4776,9 2345,6 BRASIL 4956,0 2663,9

Fonte: ABIOVE e Associação Paulista de Avicultura, citados por GEIPOT, 1999.

O mercado consumidor de óleo da Amazônia Legal representa cerca de 12%

do consumo nacional, sendo Pará e Maranhão os grandes consumidores na região, consumindo 2/3 do total. O consumo de farelo de soja é mais modesto, quando comparado com o consumo nacional, representando apenas cerca de 3,6% do total consumido no Brasil. Isto se deve a pequena atividade de criação de suínos e aves na região, comparado com as demais regões brasileiras.

A produção total de grãos de soja na região é muito superior às necessidades

do mercado consumidor local. De fato, a produção de soja na região em 1999 foi da ordem de 7342,8 milhões de toneladas. O consumo de óleo regional seria suprido por cerca de 1675 milhões de toneladas de grãos, o de farelo por 230 mil toneladas. Consequentemente, a produção da cadeia produtiva na região é muito maior que o consumo o que a torna em exportadora. Nessas condições, o impacto do consumo local no mercado de soja é muito pequeno, para exercer influências sobre o seu desempenho.

As questões mais genéricas sobre o mercado consumidor de soja no mundo e

no Brasil já foram discutidas no Item 3 deste trabalho. Da análise deste mercado,

78

depreende-se que a cadeia produtiva da soja tem participado no mercado internacional principalmente como ofertante de produto do tipo commodity, onde a competitividade se estabelece em função de custos mais baixos. Embora o Brasil também participe do mercado internacional de óleo, este produto sofre de sobretaxas que na prática podem anular os ganhos obtidos com a agregação de valor na origem. Por esta razão, Zílio (1998) acredita ser importante buscar outras formas de agregação de valor à soja e aponta como possíveis oportunidades os seguintes derivados:

• Farinha desengordurada;

• Farinha full fat;

• Proteína texturizada 50%;

• Proteína texturizada 70%;

• Proteína concentrada food grade;

• Proteína concentrada feed grade (utilizada em aquacultura);

• Proteína isolada de soja (de peso molecular normal e de baixo peso molecular);

• Fibra dietética;

• Tocoferol (8 a 35%) para produção de vitamina E;

• Concentrados de isoflavona;

• Óleos vegetais hidrogenados e interesterificados;

• Lecitinas naturais e modificadas. Um aprofundamento da análise destas oportunidades potenciais na Amazônia

Legal foge aos propósitos deste trabalho, porém a relação apresentada oferece pistas para futuros estudos para explorar estes potenciais, a serem patrocinados por orgãos setoriais de desenvolvimento, ou até mesmo por associações de produtores regionais. Processos agroindustriais que agreguem valor localmente são de interesse, não somente à competitividade da cadeia produtiva, mas também para o desenvolvimento regional.

4.4 – COMERCIALIZAÇÃO VAREJISTA E ATACADISTA

O consumidor final adquire a soja sob a forma de derivados, como o óleo, a margarina, a maionese, etc.. Para a distribuição destes produtos, operam uma estrutura de comercialização atacadista e varejista, que se relacionam com os segmentos agro-industriais, para colocar o produto a disposição do consumidor final. No Brasil, o principal produto consumido é o óleo de soja e este é distribuído aos consumidores finais através de redes de supermercados, nos grandes centros urbanos, e de supermercados e feiras livres, em comunidades de menor tamanho.

Existe um segmento atacadista transacionando diretamente com os produtores de grãos, com a agroindústria de esmagamento de soja e com o mercado externo,

79

composto por armazenadores, corretores e pelas tradings. Este segmento compra, armazena e faz a movimentação da produção, ou para a indústria de esmagamento, ou para o mercado externo de grãos. No caso das exportações, a comercialização é feita principalmente pelas tradings.

As tradings operam relacionando-se com produtores, com cooperativas e com as indústrias de esmagamento, comercializando a soja com o mercado externo. Muitas cooperativas e empresas esmagadoras possuem seus departamentos de comercialização, porém se articulam com as tradings, facilitar suas exportações. Há grandes produtores que também atuam como compradores, intermediando a comercialização como formadores de lotes maiores de matéria prima. Em geral, estes produtores possuem estruturas para armazenamento da soja.

Como já foi mencionado anteriormente, uma discussão mais aprofundada sobre esta estrutura de comercialização atacadista e varejista foge aos objetivos deste trabalho.

4.5 – INDUSTRIA E AGROINDUSTRIA

Atualmente, a soja em grãos gera uma gama diversificada de produtos. Como já foi anteriormente apresentado, estes principais produtos estariam representados na Figura 22. Pela informação contida naquela figura, ao chegar no segmento agroindustrial da cadeia produtiva, esta pode ser transformada em farelo, em óleo bruto e em alimentos protéicos, seguindo a partir de cada uma destes produtos, rotas industriais diferentes.

Na primeira rota, o esmagamento dos grãos produz o farelo de soja, que é incorporado, como componente proteico, as diversas formulações de rações para aves, suínos e peixes. Daí, integra-se com outras cadeias produtivas de carnes e de ovos.

Na segunda rota, dos grãos esmagados é extraído o óleo bruto ou degomado, que ou é usado para fins industriais, ou é refinado, seguindo para o mercado final como óleo envasado, para a industria de gorduras hidrogenadas ou para a indústria de marganinas.

Na terceira rota, a soja é utilizada na indústria de alimentos protéicos. Um exemplo de potenciais produtos desta rota foi anteriormente apresentado no item anterior.

Os processos industriais variam para cada um dos produtos industriais. A obtenção de óleo bruto e de farelo é feita em cinco etapas, o abastecimento, a preparação da soja, a extração do óleo por solvente, a degomagem do óleo e a preparação do farelo. O óleo refinado, as margarinas, as gorduras hidrogenadas, as maioneses são obtidas a partir do óleo bruto, passando por tres etapas de processamento industrial, a neutralização, o branqueamento e a desodorização-desacidificação (Souza, 1997).

Uma descrição extensiva dos processos industriais da soja fogem aos propósito deste trabalho. É relevante para os objetivos deste estudo, entretanto, a localização

80

geográfica desta estrutura industrial, o que está disponível e o que deveria existir na região, consideradas as potencialidades e interesses do desenvolvimento regional.

Para as empresas, a localização das indústrias é decidida em função suas estratégias comerciais, tendo como fatores influenciadores de decisão a busca da melhor rentabilidade ao empreendimento, a destinação da produção para o mercado interno ou externo, a disponibilidade e acesso a matéria prima e a localização frente a logística de transportes.

As indústrias podem optar por produzir para o mercado interno ou para exportação. Podem trabalhar somente para produção de óleo bruto e farelo, basicamente fazendo o esmagamento dos grãos, ou verticalizar a produção, integrando a produção de óleo bruto com a de óleo refinado, margarinas, etc..

Em 1997, existiam na Amazônia Legal sete industrias de esmagamento de soja para a produção de óleo bruto e farelo, localizadas no Mato Grosso e no Maranhão, com capacidade de processamento de 8650 t de grãos por dia. Este valor corresponderia a 2.229.000 t em uma jornada de 260 dias por ano, ou 2.681.000 t, a uma jornada de 310 dias por ano, considerando o processamento no máximo da capacidade instalada. A maioria destas indústrias estavam instaladas em Mato Grosso, conforme demonstra a Tabela 22.

Tabela 22 – Empresas de processamento de soja na Amazônia Legal e suas capacidades instaladas de processamento.

Empresas

Localização

Capacidade instalada

t/dia Ceval S/A Ceval S/A Encomind Olvepar

Sperafico (Perdigão) Sadia S/A

Oleama S/A

Cuiabá, MT Rondonópolis,MT

Cuiabá, MT Cuiabá, MT Cuiabá, MT

Rondonopolis, MT São Luiz, MA

1600 1800 900 1500 1200 1300 350

Total - 8650 Fonte: Abiove, 1997 Há referências a uma fábrica em fase de construção em São Luiz, MA, com capacidade de processamento de 2000 t /dia. Em Rondonópolis, MT, a Sadia também possui uma refinaria de óleo, com capacidade para 225 t /dia, ou 72.000 t /ano (Souza, 1997).

As indústrias geralmente tem duas alternativas para se instalar, próximo aos

centros de produção de matéria prima ou próximo ao porto de exportação. A Tabela 22 indica que as indústrias atualmente instaladas optaram prefencialmente pela primeira alternativa. Cerca de 95% da capacidade instalada de processamento de soja na Amazônia Legal está em Mato Grosso e apenas 5% próximo ao litoral, em

81

São Luiz, Maranhão. A par de possíveis vantagens regionais oferecidas às indústrias para a sua localização em um ou outro sítio, o fator proximidade aos centros de produção de matéria prima parece ter um peso importante na decisão das empresas. Este fator não foi explorado nos levantamentos de campo.

A capacidade instalada na região não é suficiente para processar toda a

produção local. Na Tabela 23, são apresentados os indicadores de produção local, por estados da Amazônia Legal, e a capacidade instalada de processamento de grãos, óleo e farelo. Somente os Estados do Maranhão e Tocantins oferecem facilidades industriais para o processamento de soja na região.

Tabela 23 – Comparação entre a produção e a capacidade instalada de

processamento na Amazônia Legal

CAPACIDADE DE PROCESSAMENTO (1000

t/ANO)

ESTADOS

POPULAÇÃO(1)

Em 1000 hab.

PRODUÇÃO 1000 t (1999)

Grãos Óleo Farelo RO 1229 18,5 - - - AM 2389 8,7 - - - PA 5511 9,7 - - - TO 1049 98,5 - - - MA 5222 390,5 108,5 20,6 85,7 MT 2236 6816,9 2573,0 488,9 2032,7 AC 484 - - - - RR 247 - - - - AP 379 - - - -

Amazônia Legal

18746 7342,8 2.681,5 509,5 2118,4

Fonte: Souza, 1997 (adaptado) (1) IBGE, 1996 A capacidade instalada na região era de cerca de 36% da produção regional.

Consequentemente, cerca de 4.661.300 t eram transportadas como grãos, seja para a exportação, ou para processamento das indústrias localizadas nos demais estados do Brasil.

Os números da Tabela 23 sugerem que a industrialização da soja pode

representar uma oportunidade, não somente para a agregação de valor na cadeia produtiva, como também para o desenvolvimento regional. Considerando-se o consumo per-capita nacional de 17 kg de óleo por ano (Agrianual, 2000), somente para abastecer a população da região são necessários 318.682 t de óleo por ano, numa estimativa otimista. A região produziu 509.500 t em 1996, porém de óleo

82

bruto. Há registro de uma única indústria de refinamento de óleo em Rondonópolis, com capacidade para 225 t /dia ou seja, 67.500 t /ano. Somente para abastecer a região se poderiam instalar até mais quatro indústrias de mesma capacidade da atualmente existente, visando o suprimento regional.

Algumas condições facilitariam a abertura de novos empreendimentos

industriais na região. A agregação de valor é importante para a competitividade da cadeia produtiva, fortalecendo-a e contribuindo diretamente para o desenvolvimento regional, constituindo-se portanto, num fato político importante. Existem Distritos Industriais próximos aos principais corredores de transportes, como por exemplo em Manaus, Belém, Santarém e São Luiz, com políticas de incentivos a industrialização regional.

Também não se pode deixar de considerar como oportunidade para a cadeia

produtiva na região, as possibilidades de alcançar mercados externos dos países vizinhos a Amazônia Legal, como Venezuela, Colômbia, Peru, Equador, Guianas, e América Central, atualmente constando como compradores esporádicos da soja brasileira. Juntos, estes países formam um mercado atrativo para óleo e farelo de soja, e com custos de transporte muito mais competitivos, quanto os corredores de transporte projetados estejam totalmente operacionalizados. O corredor Norte poderá se constituir no acesso da produção industrial da região à Venezuela, Colômbia e Caribe. O corredor Oeste Norte, facilitará o acesso as Guianas, em adição aos mercados já tradicionalmente explorados.

Como o Brasil possui capacidade instalada de esmagamento de soja

ligeiramente superior ao volume total produzido - 35 milhões de toneladas por ano (ABIOVE, 1997), para uma produção de grãos de cerca de 31 milhões de toneladas de grãos em 1999 - a instalação de novas plantas industriais de esmagamento na região deveria ser balizada por interesses estratégicos relacionados com a competitividade da produção regional, relacionados, por exemplo, com abaixamento de custos de movimentação, racionalização da oferta de subprodutos, em resposta a alterações do mercado.

Deve ser também considerada como oportunidade para agregação de valor a

relação de produtos da soja proposta por Zilio, 1998, cuja viabilidade na região poderia ser estudada de forma mais aprofundada posteriormente.

4.6 – SISTEMA PRODUTIVOS AGRICOLAS 4.6.1 – Marco conceitual de análise

O segmento produtivo agrícola da cadeia produtiva é certamente o elo mais forte e mais estruturado na região. Composto por médias e grandes propriedades agrícolas, são empresas direcionadas para o mercado. De acordo com o Estado da região em que se situam, podem produzir somente soja ou soja em rotação com outros grãos. Este segmento se relaciona com a indústria de insumos, comprando os

83

materiais e equipamentos necessários a produção e com corretoras, tradings, cooperativas e indústrias de esmagamento, para vender a produção.

Para facilitar a compreensão deste segmento, é necessário colocar alguns conceitos que fundamentam as análises realizadas:

SISTEMA PRODUTIVO é um conjunto de conhecimentos e tecnologias aplicado ao manejo de uma população de vegetais ou animais em determinado meio ambiente, cujos produtos são de utilidade para o mercado consumidor.

Na análise de sistemas produtivos identificam-se duas etapas básicas: a) a

segmentação dos sistemas por suas características socio-econômicas e tecnológicas semelhantes; b) a análise comparativa do processo produtivo de cada segmento, observando-se as operações empregadas, processos de gestão, custos associados e rendimentos obtidos. São analisados os fluxos de capital ou de materiais recebidos ou produzidos pelas populações de animais ou vegetais, no sistema produtivo e, a partir destes, determinadas as demandas tecnológicas e não tecnológicas do sistema.

Demandas tecnológicas do sistema produtivo: são os “gargalos” ao fluxo de

capital ou de materiais, com maior impacto sobre a eficiência, qualidade ou sustentabilidade do sistema produtivo. Para fundamentar esta análise, pode-se considerar, como possíveis objetivos de desempenho de um sistema produtivo: • Maximizar a produção biológica e/ou econômica; • Maximizar a eficiência em um determinado cenário sócio-econômico; • Alcançar determinados padrões de qualidade; • Produzir eficientemente, com sustentabilidade ambiental; • Garantir competitividade ao produto.

Uma representação esquemática de um sistema produtivo agrícola é

apresentada na Figura 33. Nesta, o elo produtivo agrícola é detalhado, para apresentar os principais elementos componentes de um sistema agrícola. Os elementos importantes para a análise são as características sócio-econômicas do segmento produtivo, representado na figura pelo tamanho do grupo e da unidade produtiva, as operações do sistema produtivo (OP1, OP2, ..... OPn) com seus respectivos custos (C1, C2, .... Cn) e os indicadores de eficiência do sistema, representados pela produtividade (P) ou pela eficiência produtiva (EF).

84

A partir desta base conceitual, nos itens seguintes serão analisados os

sistemas produtivos da cadeia produtiva de soja na Amazônia Legal. 4.6.2 – Segmentação dos sistemas produtivos de soja Os sistemas produtivos de soja na Amazônia Legal podem ser segmentados

de acordo com muitos critérios, sendo o mais comum a segmentação pelo tamanho da exploração. Molina, citado por Castro et Al. (1995), criou um sistema de segmentação de sistemas produtivos agrícolas baseado em critérios associados a adoção de inovações, pelo qual as unidades produtivas são classificadas em quatro grandes categorias. Destas categorias, as três aplicáveis às unidades produtivas de soja e respectivos critérios tipificadores, estão descritos na Tabela 24.

D E M A I S E L O S D A C A D E I A P R O D U T I V A

5 0 05 0 0G ra n d e sG ra n d e sP ro d u to re sP ro d u to re s

S I S T E M A P R O D U T I V O 1S I S T E M A P R O D U T I V O 1O P 1 O P 2 O P 3 O P 4 O P 5 O P 6 O P 7 O P 8O P 1 O P 2 O P 3 O P 4 O P 5 O P 6 O P 7 O P 8

C 1 C 2 C 3 C 4 C 5 C 6 C 7 C 8C 1 C 2 C 3 C 4 C 5 C 6 C 7 C 8

P= 2 xP = 2 xE fE f= 1n= 1 n

O P = O p e ra ç õ e s C = C u s to s

P = P ro d u t iv id a d eE f = E f ic iê n c ia

D E M A N D A SD E M A N D A S

I N Ì C I OI N Ì C I O T É R M I N O T É R M I N O

Figura 33 - Representação esquemática de um sistema produtivo agrícola. Fonte: Castro et Al., 1998.

85

Tabela 24 – Tipos de sistemas produtivos de soja e critérios utilizados para a sua classificação.

Unidade camponesa: categoria de fazenda produtora que se caracteriza por: a) produtores residentes na própria fazenda ou perto dela, e constituindo-se de pequeninos proprietários1, parceiros arrendatários, posseiros, colonos e trabalhadores com direito à terra; b) área da fazenda modular ou submodular2, totalmente aproveitada; c) mão-de-obra essencialmente familiar, não remunerada; d) nível tecnológico pré-industrial, nenhum/pouco uso de máquinas e insumos modernos; e) policultura, especialmente para auto-consumo; f) pequena ou nula participação no mercado; g) capital de exploração praticamente nenhum, crédito informal. Empresa familiar: categoria de fazenda produtora que se caracteriza por: a) produtores residentes na própria fazenda ou em cidade próxima, constituindo-se por pequenos proprietários e alguns arrendatários especiais; b) área da fazenda modular, totalmente aproveitada; c) mão-de-obra predominantemente familiar, mesmo em caso de trabalho de terceiros; d) nível tecnológico industrial, com uso de máquinas e insumos modernos; e) especializada ou em vias de, com poucas linhas de exploração; f) grande participação no mercado, autoconsumo pouco significativo; g) capital de exploração relativamente grande, uso de crédito bancário. Empresa capitalista: categoria de fazenda produtora que se caracteriza por: a) produtores não-residentes na fazenda, constituindo-se por médios e grandes proprietários, sociedades familiares, cooperativas anônimas e arrendatários capitalistas; b) área da fazenda multimodular, totalmente aproveitada; c) mão-de-obra assalariada contratada individualmente, geralmente não-residente e temporária; d) nível tecnológico industrial, grande uso de insumos e máquinas modernos; e) especializada em uma ou poucas linhas de exploração, complementares e integradas; f) total participação no mercado, autoconsumo inexistente; g) grande uso de capital de exploração e de crédito bancário.

Fonte: questionário de levantamento de campo, baseado em Molina, citado por Castro et Al. (1995).

Nos levantamentos de campo realizados nos Estados de Mato Grosso, Pará,

Tocantins e Maranhão, aplicando-se técnicas de Rapid Rural Appraisal os especialistas entrevistados concordaram que as unidades produtivas de seus estados se enquadravam principalmente nos critérios definidores de Empresas Capitalistas, com uma pequena percentagem de unidades que poderiam se enquadrar como Empresas Familiares. O tamanho das unidades e o uso de mão de obra foram os principais critérios diferenciadores destas duas categorias.

Aos critérios de segmentação da Tabela 24 poderiam ser acrescentados

outros critérios para definir sub-segmentos. No presente estudo, é interessante observar o desempenho dos sistemas produtivos em função da sua localização geográfica, uma vez que há diferenças de desempenho nos diversos estados da região. Um outro critério para a segmentação está relacionado ao tipo de manejo do sistema produtivo e tem relação com a sustentabilidade ambiental: é a utilização do

1 Pequenino proprietário: possui área menor que 20 ha; pequeno proprietário: área entre 20 e 50 ha; médio proprietário: área entre 50 a 100 ha; grande proprietário: área superior a 100 ha. 2 Área modular: propriedades geralmente oriundas de colonização/assentamentos, com tamanho semelhante, entre 20 e 30 ha (módulo); submodular: áreas menores que 20 ha; multimodular: áreas de tamanho que correspondam a múltiplos de um módulo.

86

plantio direto, como forma de manejo dos solos, em contraposição ao plantio com preparo mecanizado do solo. Além das diferenças de desempenho destes dois sistemas, há também impactos diferenciados de cada um deles sobre a sustentabilidade ambiental.

Na análise dos processos produtivos e seus desempenhos, estes segmentos

geográficos e de tipo de manejo serão considerados, tomando-se como base a categoria Empresa Capitalista, predominante na região.

4.6.3 – Análise de desempenho dos processos produtivos Na análise dos sistemas produtivos, procede-se a descrição comparativa dos

processos produtivos de cada segmento, contabilizando-se as operações em função da tecnologia empregada, os processos de gestão, custos associados e rendimentos obtidos. São analisados os fluxos de capital ou de materiais recebidos ou produzidos (entradas e saídas – inputs e outputs) pelo sistema produtivo.

No presente trabalho, foram levantadas inicialmente as diversas fontes de

informação secundária disponíveis, e a partir desta informação, a análise foi complementada com coleta de informação primária, junto a empresários representativos dos segmentos, especialistas locais de orgãos públicos federais, regionais estaduais e municipais, agências de crédito como Banco do Brasil (BB) e Banco da Amazônia (BASA) e especialistas de empresas privadas, como a Vale do Rio Doce, Campo, etc. Uma relação das pessoas entrevistadas é apresentada no início deste relatório.

Para iniciar a análise, apresenta-se na Tabela 25 uma estrutura de custos

médios de soja no Brasil, para produtividades crescentes (2000, 2500, 3000 Kg/Ha e 3000 Kg/Ha com plantio direto). Embora os valores apresentados sejam médias de indicadores de custos no Brasil, e portanto apresentem um grau de generalidade muito alto, sua utilização serve para introduzir a análise de processo produtivo de soja na Amazônia.

A Tabela 25, baseada em Agrianual (2000), indica genericamente que o

desempenho dos sistemas produtivos da soja apresentam maior eficiência (calculada como a relação entre inputs e outputs) a medida que crescem as produtividades médias obtidas, sendo muito pouco eficientes (Ef= 1,02) em patamares de produtividade de 2000 Kg e muito mais atrativos quando estas produtividades alcançam 3000 Kg (Ef=1,24, plantio direto). Neste caso, o custo da saca de soja se reduziria de US$ 8,91 para US$ 7,51 e a margem obtida pelos produtores variaria de 2,0% sobre os custos até 19,2%.

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Tabela 25 - Comparativo de custos de produção de soja (plantio convencional e direto) no Brasil.

(em US$/Ha) CUSTOS (US$/Ha) /

PRODUTIVIDADE Alternativas de

custos DESCRIÇÃO

Unidade 2000 Kg/Ha

2500 Kg/Ha

3000 Kg/Ha

3000 Kg/Ha*

1 – OPERAÇÕES Conservação do solo Preparo do solo Plantio Tratos culturais Colheita

US$/ha US$/ha US$/ha US$/ha US$/ha

2,50

15,99 18,15 23,01 30,91

5,00

24,10 18,56 23,31 34,35

10,00 28,14 18,97 25,96 37,78

10,00

3,79 18,97 28,20 34,78

2 – INSUMOS Adubos plantio Corretivos Sementes/mudas Outros materiais de plantio Formicidas Fungicidas Herbicidas Inseticidas Outros defensivos

US$/ha US$/ha US$/ha US$/ha US$/ha US$/ha US$/ha US$/ha US$/ha

45,73 15,83 19,66

1,46 6,33 0,00

31,43 12,72

7,45

54,87 21,10 20,75

1,46 6,33 1,39

53,55 8,76 7,45

64,02 21,10 21,85

1,46 6,33 1,39

77,55 17,53

7,45

64,02 21,10 21,85

1,46 6,33 1,39

93,41 17,53

7,45 3 –ADMINISTRAÇÀO Mão de obra administrativa Assistência técnica Contabilidade e escritório Conserv./deprec. Benfeitorias Viagens Impostos/ Taxas

US$/ha US$/ha US$/ha

% Subtotal(A+B) US$/ha

% Receita

28,48

2,29 6,79 0,04 5,20 8,85

10,69

0,81 1,63 0,02 0,78

10,01

4,28 2,85 0,77 0,02 0,35

13,57

4,28 2,85 0,77 0,02 0,35

13,57

4 – PÓS-COLHEITA Transporte armazém Recebimento Pré-limpeza Secagem Descarga Armazenagem Taxa administrativa

US$/ha US$/ha US$/ha US$/ha US$/ha US$/ha US$/ha

4,55 1,10 1,19 4,08 0,61 0,97 0,87

8,47 1,37 1,49 4,75 0,76 1,21 1,05

6,82 1,37 1,78 5,70 0,92 1,45 1,23

6,82 1,37 1,78 5,70 0,92 1,45 1,23

Custo Total (US$/Ha) 296,92 324,94 381,75 375,49 Custo Total (US$/Sc) - 8,91 7,80 7,63 7,51 Custo Total (US$/t) - 148,46 129,98 127,25 125,16 Receita (US$/Ha) - 303 343 465 465 Margem (%/Ha) - 2,0% 5,2% 17,9% 19,2% EFICIÊNCIA (O/I) 1,02 1,05 1,22 1,24 Fonte: Agrianual, 2000.

88

Embora estes indicadores, pelo seu grau de generalidade devam ser tomados com grande cautela, os mesmos ilustram a importância da tecnologia para a eficiência produtiva da soja e consequentemente, para a sua competitividade, uma vez que, em se tratando de uma commodity, a eficiência é o principal fator no estabelecimento da competitividade. Observe-se na Tabela 25 que, para um acréscimo de custo de US$ 78,57 entre os sistemas menos e mais eficiente, ocorre um ganho de receita da ordem de US$ 162,00 por hectare. A inversão em tecnologia garante, segundo os números apresentados, um ganho de relativo de 17,2%, representando um lucro adicional por hectare de US$ 83,43. Para se ter uma idéia da magnitude deste número, isto representa uma renda adicional de US$ 83.430,00 por ano, para um produtor neste patamar de eficiência, que cultive 1000 Ha anuais. Há ainda a considerar o impacto do aumento da produtividade no custo de produção da soja, que varia de US$ 148,46 a 125,16 quando a produtividade varia de 2000 para 3000 Kg/Ha. Isto representa um ganho de US$ 23,30 por tonelada produzida, o que contribui para a competitividade do produto. Uma outra indicação da Tabela 25, e que será ainda explorada posteriormente, é a comparação sobre quais fatores do processo produtivo apresentam diferenças substantivas em termos de custos. De fato, o uso de herbicidas e de adubos no plantio são os fatores de maior variação de custos. Comparando-se o sistema produtivo de menor índice de eficiência com o de maior índice, apura-se uma diferença de US$ 61,98 por hectare, para a inversão em herbicida, e de US$ 18,29 por hectare, para inversão em adubação de plantio. As variações entre os demais fatores são de menor monta, a exceção do custo no preparo do solo entre o sistema de plantio direto e os demais sistemas. No plantio direto, o menor custo de preparo do solo, corresponde um substancial acréscimo no custo do uso de herbicidas. Contudo, este acréscimo de custo é amplamente compensado pelo pela elevação da produtividade e consequentemente, da eficiência produtiva, como já foi anteriormente discutido. Os dados genéricos da Tabela 25 sugerem que o manejo da interação solo-planta e a nutrição de plantas podem ser relacionados diretamente com o desempenho dos sistemas de soja no Brasil, medido pela eficiência. Contudo, é importante aprofundar esta análise, examinando-se o desempenho local de sistemas produtivos de soja na Amazônia Legal e comparando-se este desempenho com o de outros sistemas produtivos, localizados em regiões produtivas tradicionais do país. Esta análise será feita a partir da informação contida na Tabela 26. Os municípios escolhidos para compor a Tabela 26 representam os sistemas produtivos segmentados por região geográfica (Amazônia Legal e áreas tradicionais de produção) e também tipo de manejo (plantio tradicional e plantio direto). Da Amazônia Legal, foram escolhidos os municípios de Balsas no Maranhão, Campos Novos dos Parecis e Sorriso no Mato Grosso. Itumbiara, Cascavel e Passo Fundo representam as áreas tradicionais de produção de soja no Brasil. Recorde-se que

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Mato Grosso e Maranhão representam as áreas de maior expressão econômica de produção de soja na Amazônia Legal. Em relação ao tipo de manejo, os sistemas produtivos modelados de Sorriso e Campos Novos dos Parecis representam também segmento que realiza o plantio direto, enquanto os demais fazem o plantio convencional. Consequentemente, estes segmentos podem ser combinados de forma a se comparar o desempenho dos sistemas produtivos por diferentes critérios de segmentação, como já foi anteriormente aludido.

Numa primeira análise, o custo é contabilizado por área de plantio. Posteriormente, na Tabela 27, será analisado por tonelada de soja produzida. O custo mais alto é o de Cascavel, o mais baixo é o Sorriso, de US$ 382,47 e US$ 284,61 por hectare, respectivamente. Os demais sistemas se situam entre estes valores. Todavia, estes números são pouco informativos, uma vez que, ao se examinar as receitas e margens obtidas, Cascavel passa a figurar como o padrão máximo e balsas como o mínimo, enquanto os sistemas produtivos de Mato Grosso se situam num patamar intermediário. As produtividades obtidas variam de 2100 a 3200 Kg/Ha, com Passo Fundo apresentando o valor mais baixo e Cascavel o mais alto. Contudo, este indicador, tomado isoladamente, é também enganoso, uma vez que, no ranking das produtividades, Balsas estaria numa situação de desempenho satisfatório, o que não é exatamente preciso quando outros indicadores são agregados à análise. Quando se determinam os indicadores de eficiência dos diversos sistemas, Balsas apresenta o menor índice (1,03), Cascavel o mais alto (1,28), com Campos Novos do Parecis e Sorriso apresentando índices de eficiência muito altos e próximos ao registrado por Cascavel. O desempenho em eficiência recebe forte influencia dos preços recebidos pelos produtores, nos diversos locais. Como já foi anteriormente apontado, o custo da movimentação da soja é descontado do produtor, via preços obtidos. Assim, proximidade do porto exportador representa vantagem comparativa e agrega competitividade aos sistemas produtivos. Enquanto os sistemas produtivos de Mato Grosso receberam US$ 122,00 / t de soja, os de Cascavel e Passo Fundo receberam até US$ 32,28 adicionais, pela mesma quantidade. Esta é mais uma indicação do quanto é crítica a questão do transporte, para a competitividade da soja na Amazônia Legal. Em síntese, a alta eficiência obtida pelos sistemas produtivos de Mato Grosso, a partir do menor custo de produção (em torno de US$ 6,00 / saca ou US$ 100,00 por tonelada de grãos), pode explicar o sucesso desta atividade na região, já que estes baixos custos neutralizaram a vantagem comparativa dos sistemas produtivos implantados em áreas mais próximas aos portos de embarque. Também, conferem a estes sistemas produtivos uma maior capacidade para enfrentar riscos de flutuações de preços no mercado. Apenas para ilustrar este raciocínio, com o preço caindo para US$ 122,00/ t, a receita dos produtores de Cascavel cairia para

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US$ 390,40, a margem para US$ 7,93 / Ha e a eficiência para apenas 1,02, indicares de desempenho inferiores aos obtidos por Balsas. Resta examinar comparativamente como os fatores de custo influenciam o desempenho dos sistemas produtivos. Para tanto, é necessário analisar os componentes de custo, o manejo dos sistemas produtivos, incluindo-se as operações e seus custos e a tecnologia empregada, o que é feito no item seguinte.

4.6.4 – Análise dos processos produtivos e da gestão de tecnologia O processo produtivo da soja em cerrados possui uma base tecnológica

robusta, desenvolvida pelos diversos centros da Embrapa. Uma visão da tecnologia recomendada por estes centros para os Estados com cenários de plantio dessa natureza, entre os quais pode-se mencionar o Mato Grosso, Rondônia, Tocantins e Maranhão, está detalhadamente relacionada no trabalho de recomendações técnicas para a soja na Região Central do Brasil em 1999-2000 (Embrapa Soja, 2000). Nos demais Estados da Amazônia Legal, no Pará, Amazonas, Acre, Roraima e Amapá, a produção da soja é muito recente e ainda enfrenta alguma controvérsia (Sampaio, 2000), para que a base tecnológica esteja desenvolvida. Neste caso, são feitas extrapolações do processo tecnológico utilizado nos Estados de Mato Grosso e Maranhão, adaptando-se a tecnologia para as condições locais. Não é objetivo deste trabalho realizar uma descrição detalhada da base tecnológica empregada na Amazônia Legal, até porque esta pode ser facilmente recuperada a partir dos documentos existentes. É, contudo, realizar uma reflexão de como este fator pode impactar a competitividade da cadeia produtiva na região, identificar gargalos e propor estratégias para superação dos mesmos. A recomendação técnica existente (Embrapa Soja, 1999) é direcionada para o Brasil Central, cobrindo os Estados de Mato Grosso, Rondônia, Tocantins e Maranhão. Esta recomendação cobre as principais operações do processo produtivo que deveria ser utilizadas pelos produtores destes Estados, seja pelo manejo em sistema tradicional, seja em regime de plantio direto. Consta desta proposição de tecnologia de produção para a soja tópicos com conhecimentos e técnicas sobre as exigências climáticas, a rotação de culturas, o manejo do solo, a correção e manutenção da fertilidade do solo, recomendação de cultivares, a aquisição e manejo das sementes, a instalação da lavoura, o controle de plantas daninhas, o manejo de pragas, o controle integrado de pragas e doenças, a colheita e pós-colheita. A tecnologia recomendada oferece alternativas para o plantio tradicional ou o plantio direto. A proposição acima foi idealizada principalmente para o plantio de soja em condições de campos e cerrados. Os municípios de Balsas, MA, Sorriso e Campos Novos dos Parecis, MT e Pedro Afonso, no Tocantins, representam esta realidade. Já o plantio em áreas de floresta, penetrando na região de floresta Amazônica,

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como no Pólos de Paragominas, do sul do Pará (Redenção, Conceição do Araguaia, Xinguara, etc...), de Santarém no Pará, na região de Itacoatiara e Humaitá, no Amazonas e Estado de Rondônia ou ainda tem caráter experimental ou estão em fase muito incipiente, para se dispor de uma base tecnológica razoável. Considere-se que nestes casos, os plantios foram iniciados a partir de 1995. Consequentemente, a informação sobre a base tecnológica aplicada nos diversos sistemas produtivos é muito mais consistente no primeiro caso, o dos plantios em campos e cerrados, e extremamente frágil, para os plantios em áreas de floresta. Para efeito de análise, a questão tecnológica será comentada considerando-se estes dois segmentos. Como foi apresentado nas Tabelas 26 e 27, a eficiência produtiva no Mato Grosso, Maranhão e Tocantins estiveram muito próximas, com uma razoável vantagem para o Mato Grosso. As produtividades médias variaram de 2600 a 2850 Kg/ Ha (Agrianual, 2000), e no levantamento de campo de 2400 Kg/ Ha (Pedro Afonso, TO) até 3000 Kg/ Ha (Campo Novo dos Parecis). Nestes Estados, os plantios são realizados em áreas de cerrado ou áreas ocupadas anteriormente com outras culturas, principalmente pastos (levantamento direto). Dentre os fatores de custo, que refletem a tecnologia empregada, os fatores adubos e corretivos, herbicidas e sementes e material de plantio representam os grandes impactantes, correspondendo de 44,4 a 53,2% dos custos totais no Mato Grosso e Maranhão, não incluído neste valor a mão de obra para processar a operação. O tratamento fitossanitário representa apenas 5,3 a 5,9% do custo total, valor de pouca significância, se comparado com os itens anteriores. A mão de obra representa de 25,4 a 27,3% dos custos, estando incluídos neste valor aquela que operacionaliza as máquinas durante o manejo da cultura. Os valores acima estão alinhados com o preconizado pela Embrapa soja (1999), que aponta como fatores tecnológicos mais importantes na formação dos custos de produção da soja o fertilizante (40,52% do total dos insumos), a semente melhorada e o herbicida. Consequentemente, são estes os fatores de custo que podem oferecer as melhores oportunidades para abaixamento e são, todavia, os mais promissores para projetos de P&D, direcionados a melhoria de eficiência por redução de custos. Obviamente, a estratégia de gestão tecnológica pode ser baseada em aumento de eficiência por aumento de output. Para ilustrar este raciocínio, tome-se o exemplo das Tabelas 26 e 27, onde os plantios de Cascavel apresentam custos mais altos que os dos municípios de Mato Grosso, porém sua produtividade é cerca de 14% mais alta. Somando-se a isto um melhor preço de venda, obtem-se para este município a maior eficiência produtiva. Dessa forma, tecnologias que melhorem output, como cultivares melhor adaptadas as condições ecológicas dos Estados da região, podem ter grande impacto na competitividade da cadeia produtiva.

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Tabela 28 - Estimativa de custos de soja em Paragominas no Pará.

Valor Total

Descrição

Unid.

Quant./ha

Valor Unitário (R$)

(R$) US$ l – Insumos 1. Sementes KG 65.00 1.00 65.00 2. Fertilizantes: Base: NPK 02-28-20+FTE KG 350.00 0.50 175.00 Calcáreo Dolomítico T ----- 50.00 ----- Superfosfato Simples (P205) KG ----- 0.27 ----- Inoc. Brad. Japonicun Dose 4.00 5.20 20.80 3. Defensivos Fungicidas Trat. Sementes: Derosal L ----- 29.00 ----- Fung. Vitavax – thiran KG 0.15 33.00 4.95 Fung. Trat. Parte Aérea: L 0.60 29.00 17.40 Herbicidas Pré – Emergente L 4.00 13.50 54.00 Pós – Emergente L 0.05 700.00 35.00 Espalhante Adesivo L 0.20 2.50 0.50 Inseticidas Inset. Trat. Aéreo (lagarta 2X) L 0.50 21.00 21.00 Inset. Trat. Aéreo (percev.1X) L. 0.50 21.00 1.50 Espalhante Adesivo (2X) L 0.20 2.50 1.00 Formicida granulado KG 0.30 9.00 2.70 Sub – Total R$ 407.85 II – Serviços Preparo do solo Gradagem pesada H/T 1.00 40.00 40.00 Gradagem média H/T 1.00 30.00 30.00 Gradagem leve H/T 0.50 20.00 10.00 Aplicação de herbicidas (2X) H/T 0.50 20.00 20.00 Plantio/ Adubação H/T 1.00 20.00 20.00 Capina Manual D/H 1.00 7.50 7.50 Aplicação de inseticidas (3X) H/T 0.40 20.00 24.00 Aplicação de Formicida D/H 0.20 7.50 1.50 Colheita Ha 1.00 64.84 64.80 Sub – Total R$ 217.80 Total Geral do Orçamento (insumos e serviços) R$ 625.65 Total Geral do Orçamento (insumos e serviços) US$ - 338,19 Custo/ tonelada soja (2400 Kg/ Ha) 140,91 Receita (2400 Kg x US$ 0,122) - 292,80 Margem (US$) - -45,39 Eficiência 0,86 Fonte: Banco do Brasil, Ag. Paragominas (levantamento direto)

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Os novos pólos de expansão no Pará, Amazonas, Roraima e Rondônia, como já anteriormente citado, são recentes e ainda não se registra suficiente informação secundária para analisar o seu desempenho. Por esta razão, foi necessário utilizar-se a informação quantitativa coletada em levantamento direto, executado pela equipe do estudo. Na Tabela 28, apresenta-se o custo de produção e alguns indicadores de desempenho dos sistemas produtivos no polo Paragominas, Pará. Como nos sistemas produtivos anteriores, fertilizantes, sementes e herbicidas representam os principais componentes de custo, indicando a importância de se trabalhar estes fatores para a melhoria da competitividade da soja na região. Contudo, chama atenção o alto custo por tonelada de soja, estimado em US$ 140,91, muito superior aos custos obtidos em outras regiôes da Amazônia Legal. Recorde-se que o custo por tonelada de grãos em Mato Grosso foi estimado em torno de US$ 100,00 (ver Tabela 27), o que coloca o atual desempenho do Polo Paragominas em situação desvantajosa, em termos de competitividade, com os demais polos regionais. Esta situação é possivelmente provocada pela pouca experiência com a atividade nestes novos polos, considerando-se que os plantios de soja nestes sítios iniciaram-se a pouco menos de cinco anos. Dificuldades de aplicação e manejo de tecnologia de produção, acesso a insumos, disponibilidades de infra-estruturas de apoio a produção, podem explicar as baixas produtividades obtidas pelos plantios locais, que, segundo os levantamentos diretos efetuados, situam-se em torno de 2400,00 Kg/ Ha. Estes rendimentos induzem a eficiência produtiva negativa (menor que 1), o que é um claro indicador da necessidade de aprimorar o manejo do processo produtivo, para obter desempenhos atualmente obtidos nos demais estados da Amazonia Legal. Embora a pouca quantidade de informação disponível recomende que as indicações relatadas anteriormente sejam tomadas com bastante cautela, outros autores tem chegado a conclusões semelhantes sobre a produção de soja em outros polos não tradicionais. Os documentos emitidos pela pesquisa agropecuária tem considerado estas experiências como plantios experimentais, embora em escala comercial. Kitamura (1998) menciona neste caso os plantios efetuados ao Sul, ao Leste e no Médio Amazonas Paraense, na região de Humaitá no Amazonas, nas áreas de campos de Roraima e nos cerrados do Amapá e em áreas desmatadas do Acre, atribuindo-lhes riscos relativamente altos, em face a falta de resultados validados de pesquisa sobre o desempenho dos sistemas produtivos nestes locais. Em Paragominas, os entrevistados informaram que os prejuízos com a soja são compensados pelos benefícios indiretos que a cultura proporciona as culturas de arroz e milho, plantados em rotação com a soja. Dessa forma, a pouca eficiência do sistema produtivo da soja é neutralizada no output global da unidade produtiva. Não foi por acaso que a área cultivada com grãos (milho, arroz e soja) evoluiu de 530 Ha em 1996 para 22300 Ha em 2000.

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4.6.5 – Principais limitações tecnológicas

Além dos fatores já mencionados no item anterior, durante os levantamentos de campo alguns fatores limitantes emergiram nas entrevista com produtores e técnicos de agencias públicas e privadas. Estas limitações teriam impacto direto ou indireto sobre a eficiência produtiva, afetando dessa forma a competitividade da cadeia produtiva.

Para facilitar a apresentação dessa informação, as limitações serão agrupadas

em dois segmentos principais: a) em relação as áreas de produção mais antigas, compostas pelos Estados de Mato Grosso, Rondônia, Tocantins e Maranhão; b) as áreas de expansão recente da cultura, composta pelos Estados do Pará, Amazonas, Roraima, Acre e Amapá. A Tabela 29 apresenta esta informação.

Tabela 29 – Principais limitações tecnológicas dos sistemas produtivos

de soja na Amazônia Legal.

LIMITAÇÕES TECNOLÓGICAS IDENTIFICADAS

ÁREA TEMÁTICA

Áreas tradicionais (Mato Grosso, Rondônia, Tocantins,

Maranhão)

Áreas de expansão (Pará, Amazonas, Acre, Roraima,

Amapá) GENÉTICA E MELHORAMENTO

Variedades resistentes estão ultrapassadas.

Falta de variedade de ciclo longo para a região (Paragominas). Colheita na época da chuva, em função da falta de variedades de ciclo longo. Má qualidade e custo da semente .

SOLOS E NUTRIÇÃO DE PLANTAS

O uso racional de adubos no plantio.

O uso racional de adubos e calcário no plantio

CONTROLE INTEGRADO DE PRAGAS E DOENÇAS

Ataques de pragas e doenças

-

MANEJO DO SOLO E MECANIZAÇÃO

O uso racional de herbicidas Tecnologia de manejo do solo, que minimize erosão e a compactação provocado pela mecanização.

Mão de obra pouco qualificada, principalmente para operar máquinas.. Perdas na colheita por má regulagem da colhetadeira. Tecnologia de manejo do solo, que minimize erosão e a compactação provocado pela mecanização.

OUTROS

Contaminação dos solos e dos mananciais com defensivos e herbicidas.

Contaminação dos solos e dos mananciais com defensivos e herbicidas.

Fonte: levantamento direto da equipe.

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Os fatores tecnológicos apontados na Tabela anterior mostram que há pequenas diferenças na natureza das demandas tecnológicas atuais, entre as áreas tradicionais e as áreas de expansão na Amazônia Legal. Nas áreas de expansão, o problema de novas cultivares está relacionado com o ciclo produtivo, adaptado as condições climáticas locais. Recorde-se que neste cenário ecológico, o período chuvoso se estende até fins de abril, sendo interessante variedades que possam ser colhidas em julho ou agosto, época em que já iniciou o período seco. Isto será possível com o uso de variedades produtivas de ciclo mais longo que as atualmente disponíveis.

A questão da nutrição mineral da soja é relevante em toda a região, uma vez

que, tanto nos cerrados, como em solos de floresta, a regra geral na região é a de solos de baixa fertilidade, acidez elevada e de grande fragilidade quando submetidos a situações de stress. Estes solos em geral possuem baixos teores de P, K, elevados teores de Al e Fe, pH ácido, necessitando calagem e adubação para uma produção eficiente. Souza & Lobato (1996) recomendam a aplicação de calagem, P, K. e micronutrientes, em solos de cerrado, para manutenção de altas produtividades.

Como os gastos com fertilizantes e corretivos estão entre os mais altos,

comparados com os demais componentes de custos, a competitividade da cadeia produtiva na região pode ser fortemente beneficiada com tecnologias que reduzam este item na composição geral dos custos da soja. Recorde-se que a soja Argentina, competidora direta do Brasil, gasta apenas cerca US$ 2,00 por tonelada de grãos produzidos (Silva, 1994), enquanto estes mesmos gastos em Paragominas são estimados em US$ 39,40 por tonelada. Consequentemente, toda inovação desenvolvida neste tópico contribuirá não apenas para a competitividade nacional da cadeia, como também para a competitividade no cenário internacional.

O manejo dos solos oferece várias dimensões para a análise. Há a dimensão

ambiental, na qual o manejo inadequado dos solos pode contribuir para a erosão, assoreamento dos rios e igarapés, compactação, poluição do solo e das águas. Há paralelamente o risco de impactos negativos na eficiência produtiva, como consequência do impacto de um, ou de muitos desses fatores combinados, limitando a competitividade da cadeia produtiva na região.

Sob o ponto de vista ambiental, a questão é preocupante, uma vez que,

mesmo em condições de solos mais favoráveis que as oferecidas aos produtores da Amazônia, como por exemplo no Paraná, tem sido registrados danos a conservação dos solos. A problemática envolve adaptação local de tecnologias já desenvolvidas em outras regiões, como por exemplo, o plantio direto e a capacitação da mão de obra, para operar a tecnologia disponível em níveis ótimos de eficiência. Raij (2000) considera a erosão como sério problema ambiental e recomenda o plantio direto como alternativa tecnológica para minimizá-la.

A contaminação do solo e da água por defensivos e herbicidas é outro risco ao

ambiente. Cerdeira (2000) considera que o potencial de contaminação dos herbicidas é mais alto que o dos demais insumos. Como o herbicida é o insumo presente em

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qualquer sistema produtivo adotado, o monitoramento, a capacitação da mão de obra e a pesquisa por doses, produtos e modo de aplicação mais seguros é fundamental para assegurar sustentabilidade ambiental.

A compactação dos solos é um risco para todos os sistemas produtivos, uma

vez que estes são muito dependentes de mecanização, em todas as etapas do plantio. A pouca capacitação da mão de obra em áreas de expansão, no manejo de máquinas é uma força restritiva, que amplifica este problema. A questão merece ser investigada, tanto sob o ponto de vista da sustentabilidade ambiental, como em relação aos impactos sobre a eficiência produtiva.

Finalmente, resta comentar a situação das pragas e doenças e o seu controle,

cujo fator apresenta baixo impacto nos custos de produção, mas é apontado como uma limitação tecnológica por especialistas das áreas tradicionais de produção. Existem cerca de 40 doenças provocadas por fungos, bactérias, vírus e nematóides atacando a soja (Cerdeira, 2000). Um outro grande número de pragas é registrado. Ocorre que, o trabalho de pesquisa da Embrapa, desenvolvendo variedades resistentes, foi extremamente efetivo, minimizando as principais ameaças nesta área, como o cancro da haste ou o nematóide do cisto (Agroanálisys, 1998).

Dessa forma, o controle integrado de pragas e doenças é uma atividade que

demanda trabalho continuado de investigação, para evitar que as posições conquistadas não sejam perdidas, pelo estabelecimento de novos patógenos ou até por mutações dos atualmente incidentes nos plantios.

A incidência de doenças e pragas ainda não é problema sério nas áreas de

expansão, mas é possível se prever que, com o adensamento dos plantios, estes possam vir a se manifestar no futuro.

4.7 - INSUMOS No item anterior, ficou claro que a cadeia produtiva da soja, embora apresente muitas outras necessidades de insumos, tem como principais para os seus sistemas produtivos, os fertilizantes e corretivos, a semente certificada para plantio e os herbicidas. Obviamente, os defensivos agrícolas, máquinas e equipamentos para preparo do solo, plantio, tratos culturais e colheita são importantes para o desempenho dos sistemas, porém apresentam menor impacto nos custos de produção (ver tabelas 26 e 27). A questão do suprimento de insumos para a cadeia produtiva na região possui muitas interfaces com a logística de escoamento da produção, e é, ao mesmo tempo, uma questão de dimensionamento adequado da oferta e demanda. Aparentemente, não é possível, como no caso das análises anteriores, padronizar as necessidades e demandas por insumos em toda a Região. Outra vez, pode-se distinguir dois grandes blocos com situações distintas: a) um bloco mais desenvolvido, onde a questão do suprimento de insumos está razoavelmente

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equacionada, em termos de quantitativos, qualidade e custos: b) um bloco menos desenvolvido onde a situação ainda é incipiente e são identificados problemas de suprimento quantitativo, qualitativo e de custos. Os Estados do Mato Grosso, Rondônia, Tocantins e Maranhão representam o grupo com maior fluência no suprimento de insumos. O grupo com maiores limitações é composto por Amazonas, Roraima, Acre, Pará e Amapá (Kitamura, 1998). Analisando inicialmente o primeiro bloco de Estados, pode-se dimensionar as demandas dos principais insumos nestes Estados. A Tabela 30 estima quantidades e valores mobilizados para a produção de soja no ano de 1999. Os dados da Tabela 30 mostram que as quantidades e valores dos insumos mobilizados pelos plantios nestes Estados, principalmente no Mato Grosso, são extraordinários. Do valor total estimado de US$ 417.327.970,00 aplicados nos principais insumos para plantio da soja em 1999, coube ao Estado de Mato Grosso o valor de US$ 385.308.560,00, números que atestam a importância econômica desta atividade para a região. Este desempenho ocorreu no cenário de dificuldades de logística, como apontado pelo estudo que fundamenta o PPA no período 1999-2007 (BNDES, 2000), que classifica estes estados entre os mais difíceis, em termos de custo de transporte e de infra-estruturas. Tabela 30 - Estimativa de quantidades e valores mobilizados com os principais

insumos para os sistemas produtivos de soja nos Estados produtores da Amazônia Legal.

ANO BASE-1999 ESTADOS Discriminação Mato Grosso Rondônia Tocantins Maranhão

Área plantada 1999 (Ha) 2.548.000 6.500 42.100 162.700 Sementes: Quantidade ( t )

140.140,00

365,50

2.526,00

11.389,00

Valor (US$ 1.000) 41.328,56 105,43 1.180,48 4.562,10 Fertilizantes * Quantidade ( mil t )

1.019,20

2,60

16,84

65,08

Valor (US$ 1.000) 216.580,00 552,.50 2.989,10 14.317,60 Herbicida: Quantidade (1.000 l)

11.211,20

28,60

98,93

382,34

Valor: (US$ 1.000) 127.400,00 325,00 1.641,90 6.345,30 TOTAL: Quantidade (1000 t)

12.370,54

31,56

118,30

458,81

Valor: (US$ 1.000)

385.308,56

982,93

5.811,48

25.225,00

* Calculado a média de 400 kg/ha. Aparentemente, as limitações existentes não foram suficientes para provocar gargalos expressivos ao suprimento de insumos e ao desempenho da cadeia produtiva. Mesmo considerando as limitações existentes, os depoimentos coletados em pesquisa de campo não registram grandes gargalos em relação a disponibilidade,

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qualidade ou preços de insumos nos estados relacionados na Tabela 30. Em complemento, Kitamura (1998) registra que Mato Grosso, Rondônia, Tocantins e Maranhão não apresentam problemas de suprimento de calcário, por possuírem jazidas e indústrias para processar o produto, com capacidade de oferta em condições competitivas. Possivelmente, é o volume de negócios que explica a aparente boa disponibilidade de insumos nas áreas de plantio de Mato Grosso, onde o transporte de cargas de grande volume é diferenciadamente mais caro. Deve contribuir para este quadro favorável a logística de transportes desenvolvida para escoar a produção de soja, que pode dessa forma usufruir de fretes de retorno, no sentido Porto – áreas de plantio. Um ponto levantado durante as entrevistas de campo é que no Estado do Mato Grosso foi noticiada a existência de uma estrutura de comercialização de insumos composta por armazéns de produtos agropecuários, fabricantes de adubos e defensivos e por revendedores e representantes. Todavia, somente este Estado apresenta semelhante estrutura. Nos demais estados, esta estrutura está fortemente baseada em revendedores e representantes. Nos demais estados da Amazônia Legal, a situação é principalmente de falta de mercado, ou de mercado pouco desenvolvido, para apresentar atratividade para a iniciativa privada. Assim, cria-se uma limitação circular, na qual não há disponibilidade de insumos porque a demanda é pequena, porém esta pouca disponibilidade inibe a expansão da agricultura, que aumentaria a demanda. Há pouca informação disponível sobre a atividade nesses Estados, uma vez que a atividade ainda é muito recente. Na Tabela 13 do item 3.3, verifica-se que em 1999, somente os Estados do Pará e Amazonas apresentaram produção, com áreas colhidas de 8.300 Ha e 3.900 Ha respectivamente. Se aplicados os coeficientes técnicos utilizados na Tabela 30, estas áreas consumiriam 3320 t e 1560 t respectivamente de adubos. Estas quantidades representariam um montante aproximado de US$ 1.000.000,00 nos dois estados, valor muito pequeno para motivar maiores investimentos da iniciativa privada. A consequência é uma situação de escassez e de altos preços de insumos, nestes dois estados. A estrutura de fornecimento é composta principalmente por representantes, ou alternativamente, compra-se em outros municípios, como no caso de Paragominas, que registra aquisições em São Luiz, Imperatriz ou em Goiás. No caso particular do calcário, a situação é semelhante. Há matéria prima na região, mas o produto não é ofertado a preços competitivos ao produtor. Kitamura (1988) registra que em Manaus um produto de baixa qualidade (PRNT de 50 a 70) a um preço de R$ 45,00 por tonelada, o dobro dos preços pagos pelos produtores do centro-sul. Este autor registra que a demanda total de calcário da agricultura Amazônia, de cerca de 100.000 t por ano, é insuficiente para viabilizar a implantação de usinas de calcário na região.

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Os levantamentos de campo efetuados evidenciaram diferenças de preços dos insumos entre a Amazônia Legal e outras regiões do Brasil. Em Balsas, os entrevistados alegam que os preços de adubos, calcáreo, defensivos, máquinas e equipamentos são de 20 a 40% mais caros que em outras regiões. Em Paragominas, esta variação de preços é estimada em 15 a 20% para adubos e defensivos, a até 250%, para o preço do calcáreo.

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4.8 - AMBIENTES ORGANIZACIONAL E INSTITUCIONAL

4.8.1 - AMBIENTE INSTITUCIONAL - IMPOSTOS A primeira constatação que existe em relação à questão de impostos sobre os componentes da cadeia produtiva da soja no Brasil é a insatisfação dos componentes da cadeia produtiva com a política interna vigente e com o protecionismo dos países desenvolvidos, em contraposição ao discurso de liberalização de comércio predominante.

Para Silva (1998), Diretor da Ceval Alimentos, em artigo para a Agroanalysis, a política interna de impostos incidentes sobre a cadeia produtiva da soja no Brasil “desarticula a agregação de valor no país e exporta empregos”. Para este autor, o Brasil, neste processo, estaria regredindo a posição colonial de supridor de matérias-primas, num processo curioso de substituição de exportações. A outra face desta moeda é a existência de barreiras tarifárias por parte dos países consumidores, em proteção aos seus parques industriais, porém em desacordo com o discurso de abertura ao comércio internacional, de abertura de livre comércio entre as nações. O protecionismo dos países consumidores afeta a cadeia produtiva brasileira, por tornar, de forma artificial, mais atrativa a exportação da soja em grãos, ao sobretaxar em até 28% a importação de óleo, como ocorre com o Japão e, ao mesmo tempo, no próprio Brasil. Ao estabelecer uma incidência de ICMS de 12% sobre os movimentos de soja em grãos entre estados, mesmo quando esta matéria-prima seria processada por indústrias brasileiras para ser exportada como óleo, criam-se incentivos à exportação de matéria-prima e se desincentiva o processamento pela indústria brasileira. A este respeito, Silva (1998), menciona o fechamento de indústrias de esmagamento de soja em função do impacto combinado destes dois fatores. Este autor estima que cerca de R$ 200.000.000,00 de ICMS incidiria sobre a soja enviada pelos demais estados produtores, entre eles o Mato Grosso, para processamento pelas indústrias do Paraná e São Paulo. A questão do protecionismo internacional tem sido tratada nos diversos foros de negociação diplomática, relacionadas ao comércio mundial, como OMC, GATT, etc.. Sob os auspícios do GATT, os Estados Unidos patrocinaram uma proposta de equalização e redução de tarifas denominada Level Playing Field. Por esta proposta, ou por outra ainda mais radical, denominada zero por zero, as tarifas seriam reduzidas ou até desapareceriam. (Camargo Neto, 1998).

Carlos\Usr\AMaria\Ambiente Institucional – Impostos.doc 101

As reações à proposta de redução de tarifas foram tímidas. O Japão, representado pelo seu grupo corporativo de esmagadores de soja, não está disposto a abrir mão de suas vantagens competitivas. Estados Unidos e Argentina aceitam o zero por zero, desde que, com o consenso de todos os países, o que é pouco viável, a curto prazo. Os países europeus preferem esperar a próxima rodada de negociação da OMC. Em relação ao trânsito da matéria prima para processamento, entre estados produtores e processadores, Silva (1998) argumenta que este transito seria necessário, para redirecionar eventuais excedentes de matéria prima, para estados onde a oferta de matéria prima é menor que a capacidade instalada de processamento industrial. Além do ICMS, há uma incidência do Funrural, no valor de 2,2% sobre o valor da produção . Independente da avaliação que possa ser feita sobre a oportunidade da cobrança de ICMS sobre a soja em trânsito para ser industrializada, deve-se mencionar a alternativa da industrialização no próprio local da produção, como já apresentado anteriormente como oportunidade. 4.8.2 – NORMAS AMBIENTAIS A proteção ao meio ambiente possui uma legislação vigorosa, que influencia fortemente a atividade agrícola na Amazônia. São inúmeras leis, decretos-leis, decretos, resoluções e portarias, regulando desde as questões mais amplas até as mais específicas, como a regulamentação de funções administrativas no âmbito do tema. Um dos primeiros diplomas legais para regulamentar uma política nacional de meio ambiente foi a Lei No 6.938, de 31 de agosto de 1981, que estabeleceu o Sistema Nacional do Meio Ambiente, instituindo o Cadastro de Defesa Ambiental. No âmbito desse sistema, foram criados o CONAMA e o IBAMA, como orgão executor da política ambiental (Pinto, 1996). Embora já com 20 anos de vigência, e modificada posteriormente por revisões, esta lei continua regulamentando a proteção ambiental no Brasil (MMA, 2000). Registra-se ainda no aparato legal disponível o Código Florestal, a Lei de Crimes Ambientais, a Política Nacional de Recursos Hídricos e as resoluções do CONAMA. Aparentemente, este aparato legal cobre as principais necessidades de normatização para a proteção ambiental. As brechas existentes deveriam ser buscadas no processo de implementação dessas normas. Nas entrevistas de campo realizadas, não houve manifestações contrárias as leis ambientais por parte dos entrevistados. Registrou-se até um elevado nível

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de consciência sobre a importância da sustentabilidade ambiental para o desempenho da cadeia produtiva. Esta percepção se baseia nos depoimentos que assinalavam a necessidade de buscar alternativas tecnológicas para evitar a erosão do solo e a sua compactação, a preocupação com a contaminação do solo e da água, e a posição manifesta dos entrevistados sobre a utilização de solos já desmatados para o plantio de grãos, conforme foi expresso por todos os segmentos entrevistados em Paragominas. Embora o simples discurso não seja suficiente para assegurar que a proteção ambiental será respeitada, a manifestação de posições favoráveis a sustentabilidade ambiental, em locais onde o processo de agressão foi intenso no passado, é um passo adiante, no grande processo educativo para harmonizar a relação produtiva com a natureza. 4.8.3 – AMBIENTE ORGANIZACIONAL – PESQUISA AGROPECUÁRIA A cadeia produtiva da soja é talvez uma das mais bem dotadas de apoio de pesquisa, entre as demais cadeias produtivas do país. De fato, a expansão geográfica desta atividade produtiva em regiões tropicais é atribuída ao trabalho da pesquisa agropecuária, notadamente à Embrapa. Foi o desenvolvimento de cultivares e manejos específicos para os cerrados, que tornaram possível o patrimônio econômico e social que a soja representa para a Amazônia Legal, e em especial para os Estados do Mato Grosso, Rondônia, Tocantins e Maranhão (Agroanalysis, 1998). A geração de tecnologia para a soja é feita por diversos centro de pesquisa, de caráter nacional e regional, ou empresas estaduais de pesquisa, formando uma verdadeira rede de pesquisa, através de projetos de P&D em parceria. Destacam-se, pela sua influência na cadeia produtiva da Amazônia Legal, o Embrapa Soja, em Londrina; o Embrapa Cerrados em Planaltina; Embrapa Agropecuária Oeste, em Dourados, MT; o Embrapa Amazônia Oriental em Belém; o Embrapa Rondônia, em Porto Velho; as Empresas Estaduais de Pesquisa Agropecuária como a Fundação Estadual de Pesquisa Agropecuária do Rio Grande do Sul (Fepagro); a EPAGRI de Santa Catarina; o Instituto Agronômico de Campinas IAC; a Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais EPAMIG, a Empresa de Pesquisa e Assistência Técnica de Mato Grosso do Sul, Mato Grosso do Sul. Há atividades de P&D sendo iniciadas nos centros da Embrapa Acre, Embrapa Roraima, Embrapa Amazônia Ocidental. Complementarmente ao setor público, alguns grupos empresariais tem também participado diretamente do processo de P&D, notadamente no desenvolvimento de cultivares no Mato Grosso, Rondônia e Pará, ou financiando projetos da rede pública de pesquisa, por meio de Fundações. Como exemplo, mencionam-se as Fundação Cerrados (DF), Fundação Fapsem (Balsas), Fundação Mato Grosso (Mato Grosso), Fundação Bahia (Barreiras, BA), Fundação de Apoio à Pesquisa Agropecuária do Triângulo e Alto Paranaíba (Goiânia, GO) (Agroanalysis, 1998). Esta situação é possivelmente reflexo da

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posição dos empresários da cadeia produtiva, expressa em entrevista pelo presidente da Abiove (Associação Nacional das Indústrias de Óleos Vegetais) Sérgio Barroso, que enfatiza a “necessidade de o país viabilizar mais recursos para aplicar em novas tecnologias e sugere a criação de um fundo privado de investimentos, com recursos provenientes dos produtores, a feição dos Estados Unidos, para alavancar o processo de ganhos de produtividade e redução de custos” (Barroso, 1998).

Como consequencia da estrutura existente, foi desenvolvida uma boa base tecnológica para o processo produtivo da soja em cerrados, que não apenas viabilizou a produção de soja nestas condições ecológicas, como lhe conferiu competitividade, como foi apresentado anteriormente, graças aos níveis de eficiência obtidos. Esta base tecnológica se assenta em mais de 80 cultivares lançados em 20 anos de pesquisa, com controle biológico e sistemas de manejo adequados aos diversos cenários de plantio.

A estratégia adotada tem sido a de desenvolver variedades produtivas

resistentes a doenças, como por exemplo, o cancro da haste e o nematóide do cisto, e depois trabalhar programas regionais de adaptação e manejo dessas variedades nas condições ecológicas locais. Esta estratégia tem sido vitoriosa, como se pode inferir a partir dos dados de evolução da produtividade média no Brasil, a partir de informações da Abiove (1997), desde 1950 até 1995. Esta evolução está expressa na Figura 34.

A evolução da produtividade média da soja na Figura 34 foi plotada em

intervalos de 5 anos, iniciando-se em 1951 e finalizando em 1996. É patente pela tendência da curva, que no período 1 a 4, representando o intervalo de 1951 a 1971 a produtividade média involuiu. Somente a partir no início dos anos 70, que coincide com a criação da Embrapa e a intensificação dos trabalhos de pesquisa com a soja, a produtividade assume uma nova tendência ascendente, que se mantém até o final do período, já no final dos anos 90. Tomando-se o menor e o maior valor observado para a produtividade média neste período, respectivamente 850 e 2299 Kg/Ha, o aumento relativo obtido foi da ordem de 170,5%, um extraordinário resultado que certamente influênciou fortemente os ganhos de competitividade da cadeia produtiva no Brasil.

A produtividade média do país é um indicador importante, porém introduz

viés subestimativo, como se pode constatar quando se comparam os dados da Figura 34 com as estimativas de produtividade apresentadas na Tabela 26. Nesta última, com base no desempenho da safra de 1999, as produtividades médias municipais alcançam a 3.200 Kg em Cascavel, 2850 Kg no Mato Grosso e 2400 Kg em Goiás. Só o Rio Grande do Sul (Passo Fundo) apresenta valor inferior a média máxima registrada na Figura 34. Comparando-se o máximo de 3200 Kg obtido em Cascavel, com o mínimo de 850 Kg, a evolução é ainda maior, da ordem de 276,5 %.

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1 2 3 4

5 6

7 8

9 10

0

500

1000

1500

2000

2500

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10

Ano 1951 - 1996

Kg/Ha

Figura 34 – Evolução da produtividade média de soja no Brasil (1951-

1996). Fonte: Abiove, 1997.

Nos Estados da Amazônia Legal onde a soja tem recentemente avançado, no Pará, Amazonas, Acre, Roraima e Amapá, a viabilidade e a oportunidade da produção da soja ainda enfrenta alguma controvérsia (Sampaio, 2000), para que a base tecnológica esteja desenvolvida. Contudo, diversas frentes de pesquisa estão evoluindo, sendo as principais descritas a seguir (Sampaio, 1999). Em Vilhena, Rondônia, principal centro de pesquisa com soja na Amazônia Ocidental, uma parceria com o setor privado criou um polo de melhoramento, testando 32.000 linhagens /ano, selecionando cerca de 400 populações segregantes e testando-as em grande número de experimentos em toda a região. Os materiais produzidos oferecem potencialidades de uso em grande parte da região, complementado o produto obtido pelo campo de melhoramento de Balsas no Maranhão, outro centro produtor de cultivares. Prado (2000) menciona que os materiais selecionados chegam a alcançar, em condições de campos experimentais, produtividades superiores a 4.800 Kg.

Estes materiais são testados nos pontos de teste selecionados juntamente com a iniciativa privada, em Humaitá e Itacoatiara AM; Rio Branco, AC; Santarém, PA; Boa Vista, RR e previsão para Macapá, AP. Obviamente, estes locais definem

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áreas de interesse da iniciativa privada, sob o ponto de vista de expansão de plantios e estão todos bem localizados em relação aos eixos de transporte previstos para a região. Os pontos de teste de Itacoatiara e Humaitá são de pequena dimensão e estão limitados pelo pouco interesse despertado até o presente, na atividade. Humaitá apresenta pouca viabilidade para plantio de novembro-dezembro e maior viabilidade para plantio tardio, em fevereiro-março. Itacoatiara apresenta vantagem estratégica de situar-se próximo ao porto graneleiro. Em Roraima, tem sido testado cultivares em articulação com o polo de Rondônia. Identificou-se potencial para a produção de sementes, visando abastecer os mercados local e regional. No Acre, foi também implantado um polo de testes, para validar materiais selecionados em Rondônia. Neste estado, há potencial para se trabalhar a soja como fator de recuperação de pastagens degradadas. No Amapá há um polo testes semelhantes, porém enfrentando resistências locais. No Pará, instituiu-se um polo de testes em Santarém, com bons resultados. O CPATU promove testes em outras regiões do Estado. No polo de Paragominas foram identificadas variedades capazes de produzir acima de 3000 Kg/Ha, sendo duas delas, as Bays e Rio Balsas, capazes de produzir mais de 4,0 t / Ha. No polo Sul do Pará, a atividade de pesquisa e resultados obtidos foram semelhantes aos do polo Paragominas (Husny, 2000). A importância da pesquisa para o desempenho da cadeia produtiva é reconhecido pelos produtores. Em Campos Novos dos Parecis, MT, um dos empresários entrevistados testemunhou que, “sem a pesquisa, os produtores estariam falidos há tres anos”. Finalizando, pode-se inferir que a pesquisa agropecuária tem desempenhado um importante papel na conquista e manutenção da competitividade da cadeia produtiva em toda Amazônia Legal, sendo este fato atestado pelos indicadores de desempenho apresentados. Há contudo, que manter as conquistas alcançadas, uma vez que os países competidores seguem aprimorando seus processos e estruturas produtivas. Os novos desafios são múltiplos. Nas áreas de produção mais antigas, no Mato Grosso e congêneres, será buscar avanços para a manutenção da competitividade, aprimorando o manejo dos sistemas produtivos a custos ainda mais baixos. É possível que novos paradigmas tenham que ser desenvolvidos, como por exemplo a agricultura de precisão e a ainda muito controvertida técnica de uso de transgênicos no desenvolvimento de cultivares. A este respeito, é interessante conhecer o trabalho de Zylbersztajn et al. 1999, com uma avaliação dos impactos de variedades transgênicas no sistema agroindustrial da soja. Será necessário investir em projetos de defesa da sustentabilidade ambiental,

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relacionados com erosão e compactação dos solos e contaminação por resíduos poluentes, como herbicidas e inseticidas. Nas áreas de expansão, além dos desafios já mencionados, será necessário desenvolver materiais e formas de manejo local desses materias que garantam os mesmos níveis de eficiência obtidos no Mato Grosso. A capacitação técnica e gerencial nestas áreas é de fundamental importância, sendo a pesquisa uma das fontes de inspiração desse processo. Pela localização das áreas em regiões de bioma florestal Amazônico, a questão da sustentabildade e da exploração sustentável deverá merecer maior prioridade que as questões de eficiência produtiva. 4.8.4 – AMBIENTE ORGANIZACIONAL – CRÉDITO RURAL Talvez pela sua importância e atratividade econômica, a cadeia produtiva possui uma diversificada oferta de apoio financeiro para suportar o processo produtivo e de comercialização da produção. Fontes públicas de financiamento, como o crédito rural oficial e privados, como a indústria de processamento e tradings, oferecem recursos creditícios aos produtores. As fontes públicas são principalmente recursos alocados em fundos de desenvolvimento regional, como o Fundo de Desenvolvimento da Amazônia (FNA), que são alocados ao BNDES e operados pelos bancos estatais como o Banco do Brasil (BB), Banco da Amazônia S. A. (BASA), Banco do Nordeste do Brasil (BNB) ou Banco do Pará (Banpará), este último atuando somente no estado do Pará. Neste caso, os bancos repassadores são responsáveis pela seleção e análise dos projetos, assumindo também o risco do crédito. Esta norma induz o processo de seleção a seguir critérios de mercado (Faveret Filho & Paula, 1998). O BNDES só financia investimentos fixos, através do Finame Agrícola, (Financiamento de máquinas e equipamentos), BNDES Automático e Finem (Financiamento a empresa). . Para a cadeia produtiva da soja, isto significa que o segmento agrícola só recebe financiamento para abertura de área, máquinas, implementos, armazenagem e recentemente, a partir de 1977, aplicação de calcário. No segmento agroindustrial, o refino de óleo tem recebido cerca de 90% dos financiamentos. O segmento agrícola tem utilizado principalmente o Finame, enquanto o segmento agroindustrial tem utilizado principalmente as operações automáticas (Faveret Filho e Paula, 1998). As principais características dos dois principais programas de crédito do BNDES estão descritas nas Tabelas 31 e 32.

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Tabela 31 – Principais características do Programa de crédito BNDES Automático.

Financiamentos de até R$ 7 milhões, incluindo aquisição de máquinas e equipamentos nacionais, Taxa de juros: Custo Financeiro + Spread Básico + Spread do Agente Custo Financeiro: - TJLP - Taxa de Juros de Longo Prazo

Spread Básico: - nível padrão: 2,5% ao ano. - nível especial: 1,0% ao ano - microempresas, pequenas empresas, Spread do Agente: A ser negociado entre a instituição financeira credenciada e o cliente; nas operações garantidas pelo Fundo de Garantia para Promoção da Competitividade - FGPC (Fundo de Aval) até 4% a.a.. Prazo Total : Determinado em função da capacidade de pagamento do empreendimento, da empresa, ou do grupo econômico. Nível de Participação - Máquinas e equipamentos: até 80%. Demais Itens de Investimento: até 60%.

Itens não financiáveis terrenos e benfeitorias existentes; máquinas e equipamentos usados (exceto para microempresas); animais para revenda, formação de pastos em áreas de preservação ambiental; veículos; capital de giro para exportação, agropecuária e serviços *. *exceto, microempresas prestadoras de serviço. Garantias a serem negociadas entre a instituição financeira credenciada e o cliente, também podendo ser utilizado o FGPC. Fonte: BNDES. As operações de até R$ 7.000.000,00 por empresa /ano são automáticas, ou seja, não são analisadas pelo BNDES, somente pelo agente financeiro. Acima deste valor, a tramitação é mais demorada, havendo aprovação do financiamento pela diretoria do BNDES. Em relação aos spreads, o básico remunera o custo operacional do BNDES, variando de 1 a 2,5%. A Amazônia Legal possui taxas mais baixas. O spread de risco é negociado livremente entre mutuário e banco, variando de 2 a 6% ao ano. Aos spreads, adiciona-se o custo financeiro, determinado pela Taxa de Juros de Longo Prazo (TJLP), que tem variado de 10 a 12% ao ano. O BNDES aplicou na agropecuária as importâncias de US$ 1,58 bilhões em 1996 e US$ 2,53 bilhões em 1997, sendo beneficiadas as cadeias produtivas das carnes, cana de açúcar, grãos, frutas, cacau, laticínios, café, e fumo. Cerca de 7% desses recursos foram para as cadeias de grãos e destes, cerca de 90% para o segmento agroindustrial (Faveret Filho e Paula, 1998). Dessa forma, o setor produtivo agrícola obteve cerca de US$ 18.000.000,00 em 1997, um valor bastante modesto considerando os valores que fluíram na cadeia produtiva no mesmo ano.

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Tabela 32 – Programa de crédito para investimentos em máquinas e implementos agrícolas pelo BNDES (Finame).

Financiamento para aquisição de implementos agrícolas e manutenção/ recuperação de máquinas, tratores e equipamentos agrícolas - BNDES

Financiamento através de instituição financeira credenciada para aquisição de implementos agrícolas e manutenção/recuperação de máquinas, tratores e equipamentos agrícolas.

Clientes Empresas de qualquer porte, cooperativas e pessoas físicas, com efetiva atuação no setor agropecuário.

Taxa de Juros 11,95% a.a., incluído o Spread do Agente de 2,95% a.a. Nível de Participação: Até 100%

Prazo Total Prazo Total: 18 meses. Prazo de Contratação: até 31.12.2000

Modalidade de Pagamento Ao final de 12 meses serão cobrados os encargos financeiros referentes ao período; Ao final de 18 meses serão cobrados os encargos financeiros referentes a 6 meses, e o valor do principal, correspondente ao valor financiado.

Critérios Específicos As máquinas, tratores e equipamentos agrícolas objeto de Manutenção/recuperação deverão ter no máximo 15 anos de idade e o valor a ser financiado não poderá ser superior a 20% do valor atual de um mesmo bem novo. Além dos recursos para investimento, os produtores agrícolas necessitam recursos para custear as operações de manejo do sistema produtivo. Esta linha de crédito é operada pelos bancos estatais, sendo os de maior atuação na região o Banco do Brasil, o BASA, o BNB (Maranhão) e os bancos estaduais, como o Banpará. As principais características da atuação de alguns destes agentes financeiros são apresentadas a seguir, com base em entrevistas realizadas com dirigentes regionais das instituições.

O crédito de custeio é operacionalizado via prefeituras. Há exigência de uso de mecanização (áreas não destocadas não são aceitas). Em Paragominas já se financia 21.000 ha de grãos. Não exige garantia para o crédito de custeio (exige viabilidade do negócio), somente para crédito de investimento.

No Pará, o BB está financiando o plantio da soja em Redenção,

Paragominas, Vlianópolis, Conceição do Araguaia. Não financia soja em Santarém, por duvidar da viabilidade econômica atual, devido aos altos preços dos insumos (por exemplo, calcáreo a R$150,00). O banco só financia em áreas anteriormente desmatadas (como em Paragominas, onde os plantios tem sido realizados em terras de pastagem degradada). A principal fonte dos recursos é o FAT (BNDES).

A carência dos financiamentos é de, no máximo, 2 anos. O prazo máximo

de empréstimo é definido pelo projeto. Os juros médios são de 8,75% ao ano. Exige-se o uso de manejo mecanizado (áreas não destocadas não são aceitas). No financiamento de custeio são financiados os tratos culturais, insumos e a

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colheita. O período de financiamento abrange uma safra, sendo os juros 6% acrescidos da TJ (18% a/a). BANPARÁ

A filosofia do banco é de se trabalhar com programas de desenvolvimento e não com linhas de financiamento. Dentro do programa são criadas as condições operacionais adequadas a cada contexto. Apenas os proprietários são habilitados a receber financiamentos (exigência de titularidade), contudo não há exigência de vincular a terra como garantia. 1. Cada programa tem suas condições específicas de prazos e condições de

financiamento. 2. Perfil do produtor/empresário que utiliza o crédito:

Sul do Pará: pequeno/ médio produtor. Nordeste do Pará: pequeno/ médio produtor capitalizado. Oeste do Pará: pequeno/ médio produtor. Não há financiamento para grandes produtores.

Na alta gerência do banco há opinião que as condições das linhas de crédito oferecidas pelo BNDES, por serem de cunho nacional, não atendem ás especificidades da região norte.

BASA

O Basa não tem linhas específicas de crédito por cultura. Tem um programa global que abrange as principais culturas de interesse para a região, cobrindo qualquer atividade com viabilidade econômica e ambiental.

Diversas linhas de crédito são aplicados em vários segmentos: (Prosolo;

Financiamento para aquisição de implementos agrícolas e manutenção/ recuperação de máquinas; Programa especial de financiamento agrícola; Finame agrícola; Modernização da Frota de Tratores e implementos. As condições de cada uma dessas linhas seguem as normas do BNDES. O prazo máximo é de 12 anos, variando em função de investimento, ou custeio. A carência máxima é de 6 anos.

Todos os projetos tem que atender as questões ambientais. É feita pelo Banco uma análise de impacto ambiental, em relação a todas as praticas ambientais (impactos no solo, ar, água, etc). A soja é considerada cultura de alto impacto ambiental. Um projeto submetido ao BASA, recebe uma pontuação relativa aos impactos ambientais. Se forem atendidas as medidas preconizadas pelo Banco, as resistências para concessão de financiamento são minimizadas (ex. de medidas: utilização de plantio direto; manejo integrado de pragas; máquinas regulares, etc.). Só há financiamento para áreas alteradas, não se financia áreas para desmatamento de florestas.

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As condições da linhas de crédito ofertadas pelo BASA são as seguintes:

Operações Rurais: Agricultores familiares, suas cooperativas e associações, excluídas as operações decorrentes de projetos de estruturação de colonos e assentados nos programas oficiais de assentamento, colonização e reforma agrária, aprovados pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária – INCRA: 5% a. a.; Mini produtores, suas cooperativas e associações: 9% a. a.; Pequenos produtores, suas cooperativas e associações: 10,5% a. a.; Médios produtores, suas cooperativas e associações: 14% a. a.; Grandes produtores, suas cooperativas e associações: 16% a. a.; Operações Industriais, agro-industriais, de infra-estrutura e de turismo: microempresa: 9% a. a.; Empresa de pequeno porte: 11% a. a.; Empresa de médio porte: 15% a. a.; Empresa de pequeno porte: 16% a.a.

Em síntese, embora haja disponibilidade de financiamentos para todas as etapas do processo e para os diversos segmentos da cadeia produtiva, patrocinada por uma estrutura de agências bancárias de caráter estadual, regional e federal, há uma rede privada de financiamento das atividades do segmento agrícola, indicando que as condições de financiamento oferecidas pela rede oficial são percebidas como desvantajosas pelos tomadores de crédito.

De fato, os juros e encargos do crédito de custeio podem chegar a quase

25% a.a. , o que foi apontado como um fator impeditivo para o seu uso, durante algumas entrevistas realizadas. Este valor onera os custos de produção da soja produzida, diminuindo a sua competitividade. Foi relatado por um dos dirigentes entrevistado que o seu banco possuía fundos que não encontravam tomadores, face ao alto custo do dinheiro.

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5 – FATORES CRÍTICOS ATUAIS E FUTUROS DE COMPETITIVIDADE

O processo produtivo agropecuário e florestal deve ter seu desempenho orientado e aferido por um conjunto de critérios. De forma geral, os principais marcos de referência para valorar demandas de uma cadeia produtiva podem considerar como critérios: competitividade, eficiência, qualidade, sustentabilidade e/ou equidade (Castro et al.,1996).

O conceito de vantagem competitiva (Porter, 1997) distingue apenas duas formas de empresas se diferenciarem de suas concorrentes, apresentando uma vantagem competitiva: a diferenciação de produtos ou de custos. A função deste modelo conceitual é o fornecimento de elementos para a formulação de estratégias de gestão da competitividade das empresas.

O conceito de competitividade em cadeias produtivas agropecuárias pode

ser derivado a partir do conceito estabelecido por Porter, considerando os produtos ou subprodutos da cadeia competindo no mercado consumidor de produtos agropecuários. Há que distinguir-se, entretanto, produtos com valor agregado ou diferenciados por algum tipo de característica distintiva e produtos do tipo commodities. O estabelecimento de vantagem competitiva será diferente em cada caso.

Para o caso de cadeias produtivas produtoras de commodities, como a da

soja na Amazônia, face a não diferenciação do produto final, a competitividade é principalmente estabelecida por baixos custos, que permite uma lucratividade para a cadeia produtiva mesmo quando os preços dos produtos são baixos. Isto significa uma eficiência produtiva maior, ao longo de toda a cadeia produtiva. Notar que a análise neste caso é comparativa, abrangendo as cadeias produtivas concorrentes, e deve englobar tudo o que ocorre antes, dentro e fora da porteira da fazenda, como foi realizado neste trabalho, e não apenas o que se passa dentro da fazenda, nos sistemas produtivos.

Definida a competitividade como o principal critério de desempenho da cadeia produtiva analisada, examinaram-se processos produtivos dos principais componentes. Neste exame, identificaram-se as variáveis críticas, aquelas de maior impacto no critério de desempenho eleito, e que explicam o funcionamento atual e passado da cadeia. As demandas foram definidas a partir da determinação desses fatores críticos e são a base para a formulação de estratégia para a competitividade da cadeia estudada. Para efeito de organização dos resultados, os fatores críticos serão agrupados em fatores de natureza tecnológica e de não tecnológica, estes últimos mais relacionados com o ambiente organizacional e institucional da cadeia produtiva. A Tabela 33 resume os fatores críticos de natureza não tecnológica.

112

Tabela 33 - Fatores críticos de natureza não tecnológica para a competitividade da cadeia produtiva da soja na Amazônia Legal.

No de ordem

Descrição do fator crítico de competitividade

Impacto no desempenho da CP

1 Deficiente estrutura de transporte multimodal para grãos e farelo de soja na Região.

Custos comparativos de movimentação da produção mais altos em até US$ 30,00 /t .

2 Oportunidade para agregação de valor pela expansão de plantas industriais de processamento de grãos e de óleo bruto.

Geração de produto com valor agregado para suprimento do mercado regional. Impactos no desenvolvimento regional (emprego, renda, impostos).

3 Problemas de suprimento quantitativo, qualitativo e de custos de insumos, principalmente no Amazonas, Roraima, Acre, Pará e Amapá. Mercado pouco desenvolvido, para apresentar atratividade comercial.

Aumento no custo de produção, reduzindo a eficiência produtiva e a competitividade.

4 Política interna de impostos incidentes sobre a cadeia produtiva da soja no Brasil.

Desarticula a agregação de valor no país e exporta empregos.

5 Barreiras tarifárias por parte dos países consumidores, em proteção aos seus parques industriais.

Torna, de forma artificial, mais atrativa a exportação da soja em grãos.

6 Manutenção da sustentabilidade ambiental.

Danos ao meio ambiente podem afetar a imagem da cadeia produtiva e a eficiência produtiva.

7 Condições de financiamento (principalmente custos) oferecidas pela rede oficial percebidas como desvantajosas.

Custos do financiamento oneram a eficiência produtiva e a competitividade. Escassez de capital restringe a inovação tecnológica.

8 Diferencial de preços e disponibilidade de terras entre as áreas tradicionais de produção, no Sudeste e Sul e na Amazônia Legal.

Reduz custo total da soja produzida na Amazônia Legal, tornando-a mais competitiva.

Os fatores críticos contidos na Tabela 33 foram discutidos com detalhes nos respectivos itens. Obviamente, alguns tiveram seus impactos sobre a competitividade da cadeia produtiva estimados quantitativamente, enquanto outros, pela sua maior complexidade, foram avaliados qualitativamente. Há muitos outros fatores limitantes, que pelo seu menor impacto no desempenho da cadeia produtiva, não foram avaliados, no momento do estudo, como de mesma natureza dos apresentados na Tabela 33. Entretanto, modificações futuras no ambiente externo em que a cadeia opera poderá modificar a importância relativa desses fatores, tornando-os críticos para o desempenho pretendido. Por isso,

113

estes fatores limitantes são sinais a serem futuramente monitorados, para que as estratégias propostas possam ser ajustadas. De forma análoga, a Tabela 34 resume os fatores críticos de natureza tecnológica. Tabela 34 - Fatores críticos de natureza tecnológica para a competitividade

da cadeia produtiva da soja na Amazônia Legal.

Descrição do fator crítico de competitividade

No de ordem Áreas tradicionais

(Mato Grosso, Rondônia, Tocantins, Maranhão)

Áreas de expansão (Pará, Amazonas, Acre,

Roraima, Amapá)

Impacto no

desempenho da CP

1

Variedades resistentes estão ultrapassadas.

Falta de variedade de ciclo longo para a região (Paragominas). Colheita na época da chuva, em função da falta de variedades de ciclo longo. Má qualidade e custo da semente.

Produtividade mais baixa, perdas na colheita e menor eficiência produtiva.

2

O uso racional de adubos no plantio.

O uso racional de adubos e calcário no plantio.

Custos mais altos, menor produtividade, eficiência menor.

3

Ataques de pragas e doenças.

---

Perdas de produtividade, menor eficiência.

4

O uso racional de herbicidas Tecnologia de manejo do solo, que minimize erosão e a compactação provocado pela mecanização.

Mão de obra pouco qualificada, principalmente para operar máquinas. Perdas na colheita por má regulagem da colhetadeira. Tecnologia de manejo do solo, que minimize erosão e a compactação provocado pela mecanização.

Danos a sustentabilidade ambiental, perdas de produtividade, menor eficiência.

5

Contaminação dos solos e dos mananciais com defensivos e herbicidas.

Contaminação dos solos e dos mananciais com defensivos e herbicidas.

Danos a sustentabilidade ambiental.

6 Formas de agregação de valor pelo desenvolvimento de novos produtos comerciais derivados da soja.

Promover a diferenciação por produtos, para incrementar a competitividade.

Dos fatores apresentados na Tabela 34, a questão da nutrição da soja é o fator que se apresenta com maiores possibilidades de contribuição para a promover a competitividade (por diferenciação de custos) da cadeia produtiva na região, uma vez que neste quesito, os principais competidores internos (Paraná e Rio Grande do Sul) quanto externos (Argentina e Estado Unidos) apresentam vantagens competitivas em relação a este fator.

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Todavia, este é um problema de grande complexidade, uma vez que pode apresentar muitas possíveis rotas de solução. O problema poderá ser trabalhado em diversas frentes temáticas e de forma interdisciplinar, pelo melhoramento genético, aprimoramento dos gerenciamento da nutrição da cultura e até pela adoção de práticas de agricultura de precisão. A questão para a pesquisa será desenvolver cultivares e práticas de nutrição da soja, que mantenham os atuais padrões de produtividade, reduzindo os custos com aplicação de adubos e corretivos, nos diversos tipos de solos que a cultura se assenta na Amazônia Legal. Um outro sério problema de natureza tecnológica a ser enfrentado é o referente a relação da atividade produtiva com a sustentabilidade ambiental. Tanto nas áreas de cerrado tradicionais ((Mato Grosso, Rondônia, Tocantins, Maranhão), como nas áreas de expansão (Pará, Amazonas, Acre, Roraima, Amapá), a relação entre os plantios de soja e o meio ambiente apresenta desafios de natureza social, econômica e ambiental. Embora o plantio direto seja uma tecnologia eficiente para o controle da erosão, este é fortemente dependente de herbicidas e em mecanização intensiva, cujos efeitos nas propriedades físicas e químicas dos frágeis solos da região, a médio e longo prazo, precisam ser minuciosamente avaliados. Além dos impactos diretos que esta questão pode apresentar sobre a eficiência produtiva, há temores, por parte das classes produtoras, que a questão ambiental possa ser utilizada por países competidores para sobretaxar toda a produção brasileira, com base no argumento do dano sustentabilidade ambiental, o que torna este fator ainda de maior dimensão.

É de grande importância estratégica a pesquisa de novos produtos da soja, que possam conferir competitividade por diferenciação de produtos. Estes novos produtos podem significar oportunidades de implementação de parques industriais locais, de grande significância para o desenvolvimento econômico e social da região.

115

6 – ESTRATÉGIAS PARA A COMPETITIVIDADE

Os objetivos dos estudos de cadeias produtivas podem ser múltiplos, embora o conhecimento adquirido sobre gargalos e oportunidades, sob a forma de demandas tecnológicas e não-tecnológicas seja de alto valor para a formulação de estratégias.

Várias agências públicas e privadas podem utilizar os resultados dos

estudos para orientar sua atuação. Demandas tecnológicas podem orientar a pesquisa pública e privada na formulação de bons projetos de P&D. Agencias de desenvolvimento regional podem formular políticas para incrementar a competitividade das cadeias estudadas, seja na solução de fatores limitantes da competitividade, ou no aproveitamento de oportunidades. Gerentes de organizações participantes da cadeia podem aprimorar as suas estratégias de competitividade, buscando uma posição mais favorável na cadeia produtiva.

Esta abordagem é muito semelhante a desenvolvida por Porter (1997) e relatada por Mintzberg et al. (2000). Juntamente com o conceito de competitividade industrial, de cadeia de valor na Empresa, de um modelo de análise competitiva e um conjunto de estratégias genéricas, modelou-se uma forma de orientar a formulação de estratégias específicas de competitividade. Isto se constituiu numa base teórica para o planejamento de competitividade industrial, tornando-se uma referencia para o planejamento da competitividade nos meios acadêmicos e empresariais. O enfoque adotado neste trabalho é semelhante ao anterior e foi desenvolvido pelos autores (Castro et al., 1998). A partir do exame do negócio da soja na Amazônia Legal, tendo como contexto o agronegócio brasileiro e internacional da soja, foram estimados os principais gargalos à competitividade da cadeia produtiva analisada, expressos como fatores críticos de competitividade. A estratégia para a competitividade deve propor alternativas para a manutenção futura da competitividade da cadeia na região, aproveitando as oportunidades de expansão de mercado e de produção identificadas. As estratégias a serem desenvolvidas buscam minimizar ameaças ou a alavancar oportunidades, relacionadas com a competitividade da cadeia produtiva. Estão diretamente relacionadas com a questão tecnológica, que se conecta com a eficiência produtiva, ou com fatores oriundos do ambiente institucional e organizacional da cadeia produtiva. Para que as estratégias tenham possibilidade de ser implementadas, serão apresentadas por sua natureza (tecnológica e não tecnológica) e por segmentos da cadeia produtiva que teriam maior afinidade com a implementação. Na Tabela 35, as estratégias são apresentadas, classificadas por sua natureza e com a indicação do(s) segmento(s) da cadeia produtiva com maior afinidade para a implementação. Tais estratégias abrangem os segmentos da cadeia produtiva, orgãos setoriais e regionais de desenvolvimento, governos

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federal e estaduais, sendo importante para a sua implementação a articulação para a integração de esforços. Esta articulação é complexa, pela natureza das instâncias envolvidas, demandando esforço institucional planejado. Como o produto desse esforço vai afetar diretamente os diversos segmentos da cadeia produtiva, seriam estes os maiores interessados em que esta articulação ocorra. Consequentemente, é central que os segmentos da cadeia produtiva, notadamente o segmento produtivo agrícola se organize em associação (ões) que possa(m) articular a cadeia produtiva em torno de uma estratégia de competitividade que beneficie todos os elos. Já há uma associação do segmento industrial, a ABIOVE, que articula os interesses desse segmento. Uma associação de produtores agrícolas seria de grande importância, para complementar o trabalho de articulação e defesa dos interesses da cadeia produtiva, de forma mais sistêmica. Muitas das estratégias propostas na Tabela 35 são dependentes de articulação e de instituições com interesse direto nas questões relacionadas. Para que as demais instituições envolvidas mantenham a motivação e o envolvimento com a implementação das estratégias, é essencial a existência de um grupo de pressão, demandando a sua execução, o que é certamente o papel das associações representativas dos segmentos da cadeia produtiva.

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Tabela 35 – Estratégias tecnológicas e não tecnológicas para a competitividade da cadeia produtiva da soja na Amazônia Legal.

Estratégia tecnológica

Segmento(s) Vinculado(s)

Estratégia não

tecnológica

Segmento(s) vinculado(s)

Desenvolvimento de cultivares adaptadas aos diversos ecossistemas da região e de menor consumo de nutrientes.

Pesquisa agropecuária, orgãos de financiamento, associação de produtores.

Apoiar a execução do PPA, no que tange a implementação dos eixos de transporte multimodal principalmente os Corredores Extremo-Oeste, Centro-Norte e Oeste Norte.

Associação de produtores, orgãos regionais, governos estaduais.

Desenvolvimento de tecnologias de manejo da nutrição da soja, visando abaixamento de custo.

Pesquisa agropecuária, orgãos de financiamento, associação de produtores.

Estudar viabilidade da instalação de industriais locais de esmagamento e refino de óleo. Incentivar com renuncia fiscal ou crédito, a implantação de projetos viáveis.

Associação de produtores, orgãos regionais agencias de financiamento.

Desenvolvimento de tecnologia de manejo mecanizado de solos menos poluente e minimizador da erosão e compactação.

Pesquisa agropecuária, orgãos de financiamento, associação de produtores.

Implementação de estruturas de fornecimento temporário de insumos (ou incentivos para), em locais de baixa atratividade para a iniciativa privada, como indutor da atividade produtiva.

Governos estaduais, orgãos regionais, cooperativas.

Desenvolver conhecimentos sobre impactos de poluentes sobre o solo, as águas nos ecossistemas da Amazônia Legal, e como manejá-los na cadeia da soja, para a sustentabilidade ambiental.

Pesquisa agropecuária, orgãos de financiamento, associação de produtores, Universidades, ONGs.

Implementação de câmaras setoriais da cadeia produtiva para articulação da cadeia e negociação com instâncias, federais e estaduais sobre normas de tributação e barreiras protecionistas e normas creditícias.

Associação de produtores, orgãos regionais.

Monitoramento da emergência de pragas e doenças na soja, nos diversos ecossistemas da Amazônia Legal.

Pesquisa agropecuária.

Desenvolvimento de campanhas de esclarecimento a opinião pública, apresentando as vantagens sociais da cadeia e desvinculando a cultura da soja da imagem de promotora de danos ambientais.

Associação de produtores, orgãos regionais.

Fortalecimento da base de pesquisa agropecuária local e desenvolvimento de incentivos para atendimento das prioridades da cadeia produtiva.

Associação de produtores, orgãos regionais e pesquisa agropecuária.

Desenvolvimento de estrutura de difusão de informação tecnológica, gerencial, ambiental e de mercados, para apoiar os produtores rurais.

Associação de produtores, orgãos de desenvolvimento regional.

118

As estratégias propostas em geral demandam mais de uma instituição para serem implementadas, sendo as associações parte integrante de praticamente todas elas. Em alguns casos, como por exemplo na questão do barateamento do custo de transportes, já há ações em curso, sendo demandado por parte dos segmentos da cadeia produtiva a mobilização política, para contrabalançar as pressões contrárias.

Há estratégias que são talhadas para a atuação de orgãos de desenvolvimento regional, cuja missão é promover intervenções setoriais, mobilizando mecanismos de renúncia fiscal e incentivos creditícios. O patrocínio para a instalação de industrias locais de processamento de grãos e de óleo bruto é uma típica estratégia que pode ser emcampada por esta instituição. Uma outra possibilidade é o patrocínio as atividades de P&D, alocando recursos para projetos prioritários a competitividade da cadeia produtiva na região. Os governos estaduais tem um papel preponderante no que se refere ao suporte ao fornecimento de insumos, principalmente aqueles onde a atividade está se expandindo recentemente e a pouca importância econômica atual da atividade não é ainda suficientemente atrativa para a iniciativa privada. Neste caso, o Estado teria um papel indutor, oferecendo o apoio para que a atividade econômica possa se estabelecer, retirando-se quando esta pudesse ser assumida pelo setor privado. Esta estratégia já vem sendo aplicada por alguns estados, em relação ao suprimento de calcáreo e adubos. Por último, mas não menos importante, é necessário mobilizar campanhas de esclarecimento e comunicação a opinião pública dissociando o plantio da soja da imagem da de vilão ambiental, que alguns segmentos sociais costumam lhe atribuir. Para tanto, deve-se realçar os cuidados tomados com a sustentabilidade ambiental, a impossibilidade de se implantar a atividade em áreas de floresta, a vocação econômica e social da atividade para transformar áreas já degradadas e improdutivas em áreas aproveitadas para a geração de riquezas e sobretudo, as grandes possibilidades dessa cadeia produtiva para geral desenvolvimento econômico e social numa região ainda carente de boas alternativas de desenvolvimento.

119

7 – REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ABIOVE Estatísticas do Complexo Soja. São Paulo, 1997. AGRIANUAL Anuário da Agricultura Brasileira. FNP, São Paulo, 1998. AGRIANUAL Anuário da Agricultura Brasileira. FNP, São Paulo, 1999. AGRIANUAL Anuário da Agricultura Brasileira. FNP, São Paulo, 2000. ARAÚJO, N. B.; WEDEKIN, I.; PINAZZA, J. L. O Agronegócio Brasileiro.

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