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COMPLEXIDADE E TRANSDISCIPLINARIDADE NA FORMAÇÃO DE
PROFESSORES
SAHEB, Daniele - Universidade Federal do Paraná-UFPR
LIMA, Jacques Ferreira - Pontifícia Universidade Católica do Paraná-PUCPR
Resumo
Este artigo foi desenvolvido pelos integrantes de um Grupo de pesquisa consolidado de
uma Universidade particular de grande porte do Paraná. A pesquisa de abordagem
qualitativa do tipo descritiva foi realizada com 28 alunos formandos do curso de
Pedagogia de uma instituição privada de Curitiba que responderam um questionário com
perguntas abertas após terem conhecimento teórico e prático sobre complexidade e
transdisciplinaridade durante a formação inicial. A epistemologia da complexidade e de
transdisciplinaridade começou a ser discutida no meio acadêmico, principalmente, na área
da educação e de sobremaneira no campo da formação de professores. Tais discussões e
reflexões buscam respostas ou possibilidades a partir da temática de complexidade e da
transdisciplinaridade, pois muitos são os desafios que a formação docente apresenta e
enfrenta na contemporaneidade. Diante deste contexto da formação de professores, temos
como problema de pesquisa a seguinte questão: Qual é a concepção que os alunos de
Pedagogia apresentam sobre complexidade e transdisciplinaridade e qual é a influência
dos fundamentos epistemológicos e metodológicos da complexidade e
transdisciplinaridade na formação inicial desses professores? O objetivo da pesquisa foi
o de analisar a concepção dos estudantes do curso de Pedagogia sobre complexidade e
transdisciplinaridade e identificar as influências dos fundamentos epistemológicos e
metodológicos da complexidade e transdisciplinaridade na formação inicial dos futuros
pedagogos. O referencial de aporte da pesquisa baseia-se em Morin (2010; 2009; 2001),
Moraes (2012), Behrens (2006) e demais autores que discutem e pesquisam essa temática.
As considerações circunstanciais da pesquisa evidenciaram que nesta formação inicial os
alunos apresentam uma concepção clara sobre complexidade e transdisciplinaridade,
assim como, identificam as influências dessas concepções na prática pedagógica e a
importância dessa ação no processo de ensino e aprendizagem.
Palavras-chaves: Complexidade, Transdisciplinaridade, Formação de Professores.
Introdução
Este artigo apresenta a pesquisa intitulada “Complexidade e Transdisciplinaridade
na Formação de Professores” que foi realizada pelos integrantes de um grupo de pesquisa
consolidado que investiga sobre Paradigmas Educacionais e Formação de Professores, de
um Programa de Pós-Graduação stricto sensu, de uma Universidade Particular de grande
porte do Paraná. A complexidade, como epistemologia investiga e pesquisa os sistemas
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complexos e os fenômenos emergentes de várias áreas do conhecimento, como a
educação, que procura ultrapassar a visão cartesiana, linear e fragmentada que ainda
influenciam o processo de ensino e de aprendizagem. Assim como a complexidade, a
transdisciplinaridade como concepção científica busca entender a vida, o homem, a
natureza, as relações sociais e as demais formas de cultura que buscam a unidade do
conhecimento para superar os desafios complexos que permeiam a sociedade na
contemporaneidade.
Diante do contexto da educação, em especial, à formação docente, esta pesquisa,
apresenta como problematização a seguinte questão: Qual é a concepção que os alunos
de Pedagogia apresentam sobre complexidade e transdisciplinaridade e qual é a influência
dos fundamentos epistemológicos e metodológicos da complexidade e
transdisciplinaridade na formação inicial desses alunos? Em seu objetivo, a pesquisa
busca analisar a concepção dos formandos do curso de Pedagogia sobre complexidade e
transdisciplinaridade e identificar as influências dos fundamentos epistemológicos e
metodológicos da complexidade e transdisciplinaridade na formação inicial dos futuros
pedagogos.
Complexidade e Transdisciplinaridade
Mediante as contradições e desafios que caracterizam a contemporaneidade surge
sustentada por bases teóricas alternativas e progressistas, a proposição de uma educação
voltada para a complexidade. Nesse sentido, a contribuição da Teoria da Complexidade
de Morin para a Educação consiste na construção de um conhecimento que possibilite a
compreensão das multidimensionalidades dos fenômenos físicos, naturais e sociais (SÁ,
2008), superando, como diz Morin (2010), uma concepção fragmentada, disjuntiva,
excludente e reducionista.
Essa reflexão aponta para a necessidade de mudanças e transformações na
superação de modelos reducionistas de conhecimento, de homem, de mundo, de
sociedade e de educação. Almeja-se um conhecimento que responda à complexidade da
atual tarefa de transformação da sociedade. Entretanto, para sua concretização é
necessário um novo posicionamento diante das questões pedagógicas. Em relação a isso
Carvalho (2001) adverte:
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Que necessitamos de uma reforma do pensamento é mais do que óbvio. Que a
disciplinarização representa uma forma de controle do poder acadêmico já
parece redundante. Que a transdisciplinaridade é problema e desafio, mais do
que solução para todos os males do conhecimento, tornou-se quase um lugar
comum nos corredores da academia. O enigma reside em saber os porquês da
não efetivação desses objetivos no ensino fundamental, médio e superior que
permanecem tributários do velho paradigma dualista (CARVALHO, 2001, p.
11).
Morin (2009, p. 31), afirma que a finalidade da educação é fornecer aos alunos que
irão enfrentar o terceiro milênio, “uma cultura que lhes permita articular, religar,
contextualizar, situar-se no contexto e, se possível, globalizar, reunir os conhecimentos
que adquiriram”. Para tanto, existe a urgência de reformas no pensar e agir do educador
tanto dentro da sala de aula como fora dela. Trata-se de uma mudança paradigmática, já
mencionada anteriormente, isto é, da superação de um paradigma conservador para um
paradigma emergente (MORAES, 1996; BEHRENS, 2006).
Em decorrência dos desafios que a globalidade coloca para o século XXI, a
Complexidade e a Transdisciplinaridade propõem outra forma de pensar as questões
contemporâneas contrapondo-se ao paradigma cartesiano, alicerçado na fragmentação do
conhecimento.
Apesar da educação refletir fortemente influenciada por essa visão newtoniano-
cartesiana, um número significativo de educadores e pesquisadores têm recorrido aos
estudos acerca da Complexidade e da Transdisciplinaridade com o intuito de ressignificar
sua prática pedagógica à luz dos problemas atuais.
Portanto, nossos problemas são também de natureza transdisciplinar, o que, por
sua vez, requer soluções equivalentes e compatíveis com sua natureza complexa.
Assim, os pensamentos disciplinar e pluridisciplinar não dão conta de resolver
os problemas dessa magnitude. Necessitamos de um pensamento mais
elaborado, mais profundo, de natureza interdisciplinar ou transdisciplinar, de
novos modos de conhecer a realidade, para dar conta dos desafios que tanto nos
preocupam (MORAES, 2012, p. 75).
Esses aspectos implicam na necessidade de práticas educacionais que privilegiem
a construção de um pensamento complexo e transdisciplinar, que contemple a religação
dos diferentes saberes e a tríade – indivíduo/sociedade e natureza. Disso decorre a
importância do diálogo entre especialistas de diferentes áreas do conhecimento, de
diferentes olhares possibilitando a ampliação e o aprimoramento da compreensão sobre a
realidade educacional, que precisa ser entendida na multidimensionalidade de suas
relações e conexões.
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A reflexão desenvolvida acerca da Educação a partir da contribuição da
Complexidade e da Transdisciplinaridade de Morin e de pesquisadores convergentes,
demonstra que a viabilização da Educação do Futuro proposta pelo autor, depende das
decisões tomadas no presente. A partir dessa perspectiva serão abordadas algumas
contribuições da Teoria da Complexidade para a formação inicial ou continuada de
educadores.
Formação de Professores
De acordo com o Paradigma da Complexidade, a docência precisa ser embasada
em princípios que configurem atitudes coerentes com a transdisciplinaridade: uma
postura capaz de reconhecer a multidimensionalidade humana e de articular saberes
provenientes de diferentes áreas do conhecimento; permitindo assim a interconexão entre
o ser humano, o outro e a natureza.
Alguns documentos nacionais que orientam e regulamentam a Educação no Brasil
trazem em seu bojo aspectos convergentes com essa proposta. Entre eles destacam-se: as
Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil (2009) e as Diretrizes
Curriculares Nacionais para o ensino Fundamental (2010), ambos orientarem o trabalho
com as múltiplas linguagens, com questões étnicas e socioambientais, com projetos e
ainda ao ressaltam o viés interdisciplinar destas etapas. Esta realidade aumenta a
responsabilidade da formação inicial e continuada de docentes capacitados, o que toma
especial relevo neste estudo.
Frente à necessidade do diálogo com as questões contemporâneas e suas
implicações para a prática docente, cabe à reflexão sobre a formação docente diante dos
aspectos epistemológicos e metodológicos propostos pela Complexidade de Morin.
Discutir a formação docente envolve aspectos da esfera política, econômica, social
e cultural, pensando a docência de modo articulado e integrado. O foco desta discussão,
porém, consiste nas implicações de um processo de formação de educadores para a
complexidade e sobre o que isso representará no futuro, ou seja, “[...] necessita-se também
refletir sobre o enfoque tradicional que subsidia os trabalhos de formação docente, que,
com todos os seus vícios e estratégias, reproduzem um modelo de ensino de natureza
tradicional” (MORAES, 2010, p. 176).
Buscando subsídios para esta reflexão, foram analisadas as diferentes perspectivas
ideológicas no discurso teórico e prático quanto à formação do professor, apresentadas
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por Sacristán e Pérez Gómez (1998), que distinguem quatro perspectivas básicas de
modelos de formação de professores: perspectiva acadêmica, técnica, prática e de
reconstrução social.
Para os autores, a perspectiva acadêmica, concebe o professor como um especialista
no que diz respeito às disciplinas e sua formação estará vinculada exclusivamente ao
domínio dos conteúdos que deverá transmitir. Do mesmo modo, a didática é a da
homogeinedade, com base na qual, o professor deve expor o conteúdo para alunos da
mesma idade, os quais constituem um grupo composto por sujeitos que aprendem de
forma similar. De acordo com este modelo, a competência do professor é definida pelo
domínio de conteúdo e pela clareza em explicá-los.
A perspectiva técnica visa formar um professor como um técnico que domina as
aplicações do conhecimento científico produzido por outros e transformado em regras de
atuação. Nesta perspectiva a formação de professores é impregnada por uma concepção
linear e simplista dos processos de ensino e aprendizagem, abrangendo normalmente dois
grandes componentes: um científico-cultural - para assegurar o conhecimento do
conteúdo a ensinar - e um psicopedagógico - como atuar eficazmente na sala de aula
(SACRISTÁN; PÉREZ GÓMEZ, 1998). Com base em Morin (2010, 2011), entende-se
que a compartimentação, tanto da realidade quanto curricular desses modelos de
formação, torna as complexidades invisíveis, e os grandes problemas humanos
desaparecem ao se estudar isoladamente cada situação humana, social, econômica e
ambiental.
A partir desta concepção os cursos de formação docente têm preparado o professor
para exercer atividades meramente técnicas, geralmente desconsiderando elementos
reflexivos, críticos, sociais e políticos, que envolvem todo o processo educativo.
Entretanto, o cotidiano é permeado por situações que não podem ser tratados de forma
instrumental, deste modo, a prática pedagógica requer do professor conhecimentos que
ultrapassem a técnica, de forma reflexiva e criativa, no contexto da Complexidade.
Sacristán e Pérez Gómez (1998, p. 363) trazem ainda a perspectiva prática como
proposta de formação de professores, a qual se baseia prioritariamente na “aprendizagem
da prática, para a prática e a partir da prática”. A experiência dos docentes é o
procedimento mais eficaz na aquisição das habilidades do futuro professor. O enfoque
reflexivo sobre a prática busca clarificar a necessidade da criticidade, da criatividade em
detrimento da reprodução.
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Na perspectiva de Reconstrução Social (SACRISTÁN; PÉREZ GÓMEZ, 1998, p.
373), a formação de professores privilegia uma educação para o desenvolvimento de
cidadãos dotados de consciência social capazes de contribuir para a construção de uma
sociedade mais justa. O professor é considerado um intelectual transformador que tem o
compromisso de mobilizar seus alunos para a discussão e reflexão acerca dos problemas
sociais e em consequência a transformação.
Ressalta-se que os modelos de formação apontados por Sacristán e Pérez Gómez
(1998) podem ser identificados tanto na formação inicial quanto na continuada, e ainda,
que esses modelos contribuem para que o profissional construa um pensamento linear e
reducionista ou baseado na compreensão complexa da realidade. Este estudo reforça a
perspectiva da Reconstrução Social apontada por Sacristán e Pérez Gómez (1998), como
importante para ampliar o debate acerca da formação de professores. Aspecto que vem
ao encontro da reflexão de Morin sobre a missão da universidade, um dos grandes
responsáveis pela formação inicial e continuada de docentes:
A universidade conserva, memoriza, integra e ritualiza uma herança cultural
de saberes, ideias e valores, porque ela se incumbe de reexaminá-la, atualizá-
la e transmiti-la, o que acaba por ter um efeito regenerador. A Universidade
gera saberes, ideias e valores que posteriormente, farão parte dessa mesma
herança. Por isso, ela é simultaneamente conservadora, regeneradora e
geradora (MORIN, 2009, p. 15).
Morin (2010) alerta que a característica conservadora da universidade, ao mesmo
tempo em que pode ser essencial, pode torná-la estéril, caso seja for dogmática, fixa e
rígida. Desse contexto decorre a função da universidade para Morin de adaptação à
modernidade e concomitantemente integrá-la, respondendo às necessidades fundamentais
de uma formação, o que o autor denomina de um “ensino metaprofissional e metatécnico”
(MORIN, 2010, p. 16). Que a universidade, portanto busque por meio de sua formação,
culturalizar a sociedade, sendo uma cultura que esteja pronta para auxiliar os cidadãos a
rever seu destino e repensar o seu presente, primando pela autonomia da consciência e da
problematização. Portanto, destacam-se questionamentos sobre os enfrentamentos e as
demandas contemporâneas e de suas decorrências, sobre que princípios orientarão tais
mudanças, especialmente nos espaços educacionais. E assim valores e crenças,
determinados nesse processo, têm se manifestado nos componentes que sustentam os
currículos escolares, as metodologias de ensino, as formas de avaliação, como também, a
formação docente.
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Os cursos de formação de educadores, portanto, necessitam de novos enfoques
apoiados no pensamento complexo e dialógico, capaz de contribuir para a construção uma
nova ética que reverencie os diferentes aspectos da vida e reconheça que vida e
aprendizagem não estão separadas (MORAES, 2010, p. 1). Uma formação que possibilite
a construção do conhecimento a partir de conexões com os valores para uma cidadania
planetária. Essa reforma do pensamento e do ensino é descrita por Morin como um
“empreendimento histórico que deverá ser arquitetado pelo universo docente, o que nos
leva a inquirir sobre a necessidade de se pensar na formação dos formadores e na
autoeducação dos educadores” (MORIN, 2001, p. 35).
Com base nessa perspectiva, acredita-se que a proposta de formação de
educadores a partir da Complexidade de Morin é um caminho para movimentar novas
reflexões críticas necessárias para uma práxis transformadora.
Encaminhamento Metodológico
A investigação apresentada realizou-se num grupo de pesquisa consolidado de
uma Universidade particular de grande porte do Paraná. A pesquisa de abordagem
qualitativa do tipo descritiva foi realizada com 28 alunos formandos do curso de
Pedagogia de uma instituição privada do Paraná que responderam um questionário com
perguntas abertas após terem conhecimento teórico e prático sobre complexidade e
transdisciplinaridade durante a formação inicial.
Uma das vertentes de pesquisa sobre formação de professores estudada pelo grupo
de pesquisa foi a influência dos fundamentos epistemológicos e metodológicos da
complexidade e transdisciplinaridade na formação de professores e seus desdobramentos.
Diante deste contexto da formação de professores, temos como problemática a seguinte
questão: Qual é a concepção que os alunos de Pedagogia apresentam sobre complexidade
e transdisciplinaridade e qual é a influência dos fundamentos epistemológicos e
metodológicos da complexidade e transdisciplinaridade na formação inicial desses
professores? O objetivo da pesquisa foi o de analisar a concepção dos estudantes do curso
de Pedagogia sobre complexidade e transdisciplinaridade e identificar as influências dos
fundamentos epistemológicos e metodológicos da complexidade e transdisciplinaridade
na formação inicial dos futuros pedagogos.
A pesquisa deste artigo científico apresenta uma abordagem qualitativa do tipo
descritiva que foi realizada com uma turma de 28 alunos do último ano do curso de
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Pedagogia de uma instituição privada do Paraná. Os alunos do curso tiveram disciplinas
na graduação que contemplavam os fundamentos epistemológicos e metodológicos da
complexidade e transdisciplinaridade. A pesquisa desenvolvida teve aprovação do comitê
de Ética em pesquisas da instituição ensino e todos os alunos concordaram em responder
o instrumento de coleta de dados (questionário) que foi enviado por e-mail. Todos os
participantes da pesquisa responderam o questionário que tinha seis questões abertas que
estavam relacionadas ao objetivo deste artigo.
A pesquisa qualitativa na educação, assim como na formação de professores busca
interpretar a complexidade dos fenômenos educativos e formativos que permeiam a
realidade educacional. Chizotti (2003, p. 222) descreve a pesquisa qualitativa como:
[...] um campo transdisciplinar, envolvendo as ciências humanas e sociais,
assumindo tradições ou multiparadigmas de análise, derivadas do positivismo,
da fenomenologia, da hermenêutica, do marxismo, da teoria crítica e do
construtivismo, e adotando multimétodos de investigação para o estudo de um
fenômeno situado no local em que ocorre, e enfim, procurando tanto encontrar
o sentido desse fenômeno quanto interpretar os significados que as pessoas dão
a eles.
A pesquisa do tipo descritiva, segundo Gil (2010) busca descrever as
características de determinadas populações ou fenômenos. Uma de suas peculiaridades
está na utilização de técnicas padronizadas de coleta de dados, tais como o questionário
e a observação sistemática.
A pesquisa desenvolvida com os alunos de Pedagogia utilizou como instrumento
de coleta de dados um questionário. A análise dos dados coletados aconteceu de maneira
reflexiva e interpretativa diante da visão dos pesquisadores que confrontaram as
informações coletadas com a fundamentação teórica construída no artigo científico. Entre
seis questões do questionário escolhemos duas para realizar a análise juntamente com
quatro respostas relevantes que os alunos responderam no questionário. No
questionamento do instrumento de investigação: O que você entende sobre
complexidade e transdisciplinaridade na educação? Foi possível levantar:
“A complexidade é o conjunto de ações baseadas em conhecimento teórico e prático de
várias áreas do conhecimento que buscam superar as dificuldades presentes na
sociedade. A complexidade trabalha com a cooperação de todos para solucionar os
desafios presentes na escola. A transdisciplinaridade procura articular várias disciplinas
do currículo a um projeto em comum” Aluno 5.
“A complexidade é o entrelaçamento de atitudes, conhecimento, aprendizagem e demais
elementos que buscam superar a visão fragmentada da educação para compreender a
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homem e a sociedade como um todo. Eu entendo a transdisciplinaridade como atitude
que buscar interação contínua do conhecimento com a realidade para superar as
dificuldades complexas que existem na escola” Aluna 17.
“Complexidade é a ciência que visa o todo, procura reagrupar as partes do processo de
ensino para favorecer a aprendizagem num pensamento complexo, que seria o
pensamento crítico, aberto, incerto, amplo e complementar. A transdisciplinaridade é a
continuação da complexidade, pois busca integrar todas as partes do processo de ensino
para uma visão completa e não disciplinar, aprendizagem para a vida” Aluna 21.
“Eu entendo que complexidade é a ação de ver o todo, reagrupar as partes do processo
de ensino e aprendizagem que foram fragmentados. A complexidade é uma ação que
possibilita a superação das dificuldades presentes na sociedade, definir complexidade
não é fácil, a pessoa precisa de muito estudo para entender o objetivo principal dessa
concepção. Como futura professora eu vejo que essa concepção é a mais adequada para
ajudar a entender a complexa realidade da escola, da sala de aula, do ensino e da
aprendizagem. Sem a ação de ver o todo não há transdisciplinaridade, que é a união, a
colaboração de todos para um objetivo em comum, sem fragmentar ou disciplinar”
Aluna 22.
Diante do questionamento buscou-se identificar a compreensão por parte dos
estudantes a respeito da Complexidade e Transdisciplinaridade. Nesse sentido, quanto ao
entendimento sobre a Complexidade todos os alunos demonstraram reconhecer a
importância da superação da fragmentação e da necessidade do diálogo entre as áreas do
conhecimento, inclusive dos quatro sujeitos que responderam a questão, quatro
mencionaram a “visão do todo”:
De acordo com os quatro estudantes ainda, a Complexidade é compreendida como
um caminho para a superação das dificuldades e desafios decorrentes da
contemporaneidade. Como se pode verificar nos depoimentos, os dois aspectos
apontados: visão do todo e superação das dificuldades e desafios contemporâneos,
repetiram-se no discurso dos estudantes caracterizando-se como centrais em sua definição
de Complexidade. A esse propósito cabe reafirmar que, tanto a ciência como a educação,
vive-se um momento de transição paradigmática, na qual a universidade tem o importante
papel de desenvolver um processo de formação de educadores pautado na construção de
uma postura crítica. Para tanto segundo Behrens (2007, p. 21).
O professor, ao tomar o novo paradigma na ação docente, necessita reconhecer
que complexidade não é apenas um ato intelectual, mas também o
desenvolvimento de ações individuais e coletivas que permitam desafiar os
preconceitos, que lacem novas atitudes para encarar a vida, que gerem
situações de enfrentamento dos medos e das conquistas.
Outro questionamento focou-se na compreensão dos estudantes de Pedagogia
sobre a Transdisciplinaridade, explicada por eles como o caminho para a “integração”, a
“união” e “interação” entre as áreas do conhecimento. Entre as respostas selecionadas
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observou-se ainda a presença da relação entre a transdisciplinaridade e o preparo para a
resolução de problemas concretos que se apresentam ao longo da vida.
Com base nas respostas obtidas constatou-se que os alunos demonstraram em seu
discurso, reconhecer aspectos importantes referentes à Complexidade e a
Transdisciplinaridade. Nesse sentido acredita-se que a abertura ao diálogo com os
fundamentos científicos e filosóficos convergentes com a Teoria da Complexidade de
Morin, demonstrada pelos estudantes ser vista como um elemento importante no caminho
para a transformação rumo à construção do pensamento complexo.
A indagação De que maneira você identifica na prática pedagógica
fundamentos epistemológicos e metodológicos da complexidade e
transdisciplinaridade? Permitiu destacar as seguintes contribuições:
“Eu vejo complexidade e transdisciplinaridade na prática pedagógica de um professor
quando ele foge do tradicional, buscar inovar. Quando o professor ensina e aprender,
quando ele ajuda realmente seus alunos a superar as dificuldades de aprendizagem,
ensina o aluno a viver socialmente respeitando os demais, o meio ambiente, etc” Aluna
2.
“A complexidade e a transdisciplinaridade são identificadas na prática pedagógica
quando o professor rompe com o ensino conservador e ensina o aluno a ver o todo, a
perceber a utilidade do conhecimento para a vida, a sua utilidade na prática” Aluna 10.
“É quando o professor ensina e apresenta possibilidades que podem acrescentar valores
como união, respeito, cooperação, pensar de forma sustentável, com respeito e aceitar
as diferenças que existe na escola, é a prática pedagógica que agrega, soma e não
diminui” Aluna 15.
“Eu identifico complexidade e transdisciplinaridade na prática pedagógica do professor
quando ele aceita as diferenças e dificuldades dos alunos. Quando o professor consegue
ensinar de forma colaborativa. Ele faz uma aliança com os alunos e todos ganham com
o processo de ensino. O professor ensina conteúdos, mas essa aprendizagem tem que ir
além da sala de aula, é uma aprendizagem que tem utilidade não só para a profissão,
mas sim para a vida em sociedade aonde muitos valores estão perdidos, desalinhados”
Aluna 28.
Diante do questionamento feito aos alunos pudemos identificar a compreensão
que eles têm sobre Complexidade e Transdisciplinaridade na prática pedagógica. A
grande maioria dos alunos reconheceu os fundamentos epistemológicos e metodológicos
da complexidade e transdisciplinaridade na prática educativa, nas descrições ficou
evidente a busca pela superação do ensino conservador. A visão conservadora
newtoniano-cartesiana levou os professores a adotarem uma ação docente fragmentada e
reducionista focalizada no “escute, leia, decore e repita” (BEHRENS, 2005). Nesse
sentido, quanto ao entendimento e a identificação da Complexidade e
Transdisciplinaridade na prática pedagógica de acordo com os alunos, os quatro
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mencionaram a necessidade da “transição do ensino conservador” para uma metodologia
que privilegie a busca pela inovação, pelo ensino que faz sentido e significado a formação
do aluno, ao conhecimento para a vida, a aceitação das diferenças e a aliança com os
alunos.
A prática pedagógica que contempla a complexidade e a transdisciplinaridade
busca a superação do ensino conservador, ficou evidente na descrição dos alunos que a
prática educativa nessa perspectiva precisa refletir sobre a necessidade de:
[...] contraposição a essa educação mecanicista que leva a uma reprodução do
conhecimento, cujo professor é um facilitador do processo ensino-
aprendizagem, na Pedagogia da Complexidade o professor é um mediador
entre o saber elaborado e o conhecimento a ser produzido (BEHRENS, 2005,
p.73).
O desafio reside em o professor refletir e ressignificar a sua prática, a ensinar os
alunos a aprender a aprender, para que possam desenvolver suas potencialidades, superar
suas dificuldades, aprender para a vida e acima de tudo, a produzir conhecimento.
Considerações Circunstanciais
Os objetivos de analisar a concepção dos estudantes do curso de Pedagogia sobre
complexidade e transdisciplinaridade e de identificar as influências desses fundamentos
epistemológicos e metodológicos na formação inicial dos futuros pedagogos, foram
atingido, uma vez que por meio da pesquisa, percebemos que os alunos apresentaram
algum conhecimento sobre complexidade e transdisciplinaridade, bem como,
consideraram a importância dessas temáticas na formação inicial dos pedagogos e seus
possíveis desdobramentos na prática pedagógica.
Com a pesquisa realizada foi possível compreender que o paradigma da
complexidade e a visão transdisciplinar começa a delinear caminhos na formação inicial
de professores. A visão transdisciplinar abriga um nível de integração, interconexão e
inter-relacionamento disciplinar tomando como base o pensamento complexo. Trata-se
de uma interação de disciplinas que vai além da interdisciplinaridade indicada pelos
participantes da pesquisa, pois a transdisciplinaridade exige uma integração e
interconexão de vários sistemas interdisciplinares num contexto mais amplo. Assim,
acredita-se que existe um longo caminho a seguir na formação de professores que acolha
a transdisciplinaridade no paradigma da complexidade.
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