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1 COMUNHÃO Revista Espírita Bimestral Propriedade da COMUNHÃO ESPÍRITA CRISTÃ DE LISBOA www.comunhaolisboa.com ANO 32 Nº 191 JULHO - AGOSTO 2013 (Não aderimos ao acordo ortográfico) Proriedade, Administração, Índice Página Redacção, Composição e Impressão : Editorial 2 Calçada do Tojal, 95, s/c Palavras de Kardec 4 1500-592 Lisboa A felicidade não é deste mundo 5 Telefone : 217 647 441 Fé (Soneto) 12 * Propriedades do Perispírito 13 Director Responsável : A esperança recém-nascida 16 Manuela Vasconcelos Deus (Soneto) 20 Páginas do Passado 21 * A vida é uma obra de arte 28 Tiragem : 150 exemplares Estímulo fraternal 31 Distribuição Gratuita * Registo nº.211720 * Depósito Legal Nº. 13972

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COMUNHÃO

Revista Espírita Bimestral Propriedade da

COMUNHÃO ESPÍRITA CRISTÃ DE LISBOA

www.comunhaolisboa.com

ANO 32 Nº 191

JULHO - AGOSTO 2013 (Não aderimos ao acordo ortográfico)

Proriedade, Administração, Índice Página

Redacção, Composição e

Impressão :

Editorial 2

Calçada do Tojal, 95, s/c Palavras de Kardec 4

1500-592 Lisboa A felicidade não é deste mundo 5

Telefone : 217 647 441 Fé (Soneto) 12

* Propriedades do Perispírito 13 Director Responsável : A esperança recém-nascida 16

Manuela Vasconcelos Deus (Soneto) 20

Páginas do Passado 21

* A vida é uma obra de arte 28

Tiragem : 150 exemplares Estímulo fraternal 31

Distribuição Gratuita

*

Registo nº.211720 *

Depósito Legal Nº. 13972

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EDITORIAL

Aconteceu, finalmente! Depois de dois meses de ensaios, em

que cada um procurou dar o seu melhor, a estreia da nossa peça de

teatro “E AGORA?”, com a qual comemorámos, este ano, mais

um aniversário da COMUNHÃO – o 32º - a estreia, dizíamos,

sucedeu no domingo findo, dia 23 de Junho.

Para nós, qualquer peça de teatro é importante por dois

motivos: o primeiro, será sempre o de conseguirmos juntar e

confraternizar, ao longo de todo o tempo dos ensaios, com todos

aqueles que formam o grupo de colaboradores da nossa Casa,

divididos por toda a semana, nem sempre se encontrando; então,

estes ensaios são importantes para que haja uma aproximação e

convivência maior; o segundo motivo que pode, perfeitamente ser

o primeiro, tão importante é um como outro, é o da mensagem que

sempre procuramos transmitir – pois sabemos que há muitas

pessoas que frequentam os Centros Espíritas mas não lêem e muito

menos estudam a Doutrina; talvez, até, nem compareçam por uma

questão de fé mas pelo auxílio espiritual que ali recebem. Muitas

das vezes afirmam até que se “!desdobram”, embora esse

desdobramento seja feito com a respiração, por vezes, um pouco

mais sonora, própria de um organismo que relaxou e se esqueceu

do local onde se encontrava… Às vezes, também acontece nos

cinemas!…

Então, a estreia aconteceu: no nosso espaço pequenino

conseguimos juntar perto de 90 cadeiras, todas ocupadas, e depois

de sentadas as pessoas não arredaram mais pé até ao final do

espectáculo, que foi seguido com muita atenção e, pensamos que

apreciado devidamente: é que o Grupo de Actores da

COMUNHÃO, não sendo de profissionais, é composto por

pessoas que dão o seu melhor, têm os papéis decorados, sabem

meter “uma bucha” quando o parceiro não lhe dá a deixa devida, e

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apresentaram-se no meio de um cenário interessantíssimo, a

condizer com o próprio texto, com guarda-roupa e caracterização à

maneira…

Valeu a pena? Pensamos que sim porque, de cada vez que

apresentamos uma peça teatral temos a preocupação da mensagem

que a mesma transmita a quem nos veja: e, a desta, era simples de

perceber: a vida continua e cada um continua a ser, do outro lado,

a continuação do que era quando na Terra. Claro que, depois, vem

a mensagem com a certeza da modificação e melhoria, com o

arrependimento, a oração, e o aprendizado.

No final, passou-se à sala de convívio para o lanche

compartilhado por todos os presentes.

Se para o ano há mais? Depende… Depende do tempo, dos

actores, das possibilidades… mas, vontade não nos falta!

Antes de terminarmos, queremos deixar aqui, em nome da

Direcção, o agradecimento que cabe fazer a todos eles e àqueles

outros que, não sendo colaboradores mas familiares ou amigos dos

que o são, também estiveram presentes dando o seu melhor.

Para todos eles, o nosso BEM-HAJAM!

A DIRECÇÃO

Nenhum tempo deve ser considerado perdido quando,

durante o qual, se conseguiu estender a mão e abrir o

coração para a transmissão de uma mensagem, de uma

orientação, de um corinho que vá envolver a alguém!

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PALAVRAS DE KARDEC Caracteres da Revelação Espírita

(Continuação)

34 – A pluralidade das existências, cujo princípio o Cristo

estabeleceu no Evangelho mas sem defini-lo mais que a muitos

outros, é uma das leis mais importantes reveladas pelo

Espiritismo, no sentido de demonstrar a realidade e a necessidade

do progresso. Por essa lei, o homem explica todas as anomalias

aparentes que a vida humana apresenta; as diferenças de posição

social; as mortes prematuras, que sem a reencarnação tornariam

inúteis para a alma as vidas abreviadas; a desigualdade das

aptidões intelectuais e morais pela antiguidade do Espírito, que

aprendeu mais ou menos, e progrediu e que traz, ao renascer, a

aquisição de suas existências anteriores. (Nº 5).

35 – Com a doutrina da criação da alma a cada nascimento,

voltamos a cair no sistema das criações privilegiadas; os homens

são estranhos uns aos outros, nada os une, os laços da família são

puramente carnais; com a crença do nada depois da morte, toda

relação cessa com a vida; não são solidários no futuro. Pela

reencarnação, são solidários no passado e no futuro; suas relações

se perpectuam no mundo espiritual e no mundo corporal, a

fraternidade tem por base as próprias leis da Natureza; o bem tem

uma finalidade, o mal tem suas consequências inevitáveis.

36 – Com a reencarnação, caem os preconceitos de raça e de

casta, de vez que o mesmo Espírito pode renascer rico ou pobre,

grão-senhor ou proletário, patrão ou subordinado, livre ou escravo,

homem ou mulher. De todos os argumentos invocados contra a

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injustiça da servidão e da escravatura, contra a sujeição da mulher

à lei do mais forte, nenhum há que saliente, pela lógica, o facto

material da reencarnação. Portanto, se a reencarnação fundamenta

sobre uma lei da Natureza o princípio da fraternidade universal,

ela fundamenta sobre a mesma lei o da igualdade dos direitos

sociais e, por conseguinte, o da liberdade.

(Continua)

(In: A GÉNESE, 13ª ed. Lake, 1981, capítulo 1).

*

A FELICIDADE NÃO É

DESTE MUNDO!

“Só é verdadeiramente grande aquele que, considerando a

vida como uma viagem que o deve levar a um destino, não se

incomoda com as asperezas do caminho e nem por um instante se

deixa desviar do roteiro certo. De olhos fixos no termo da viagem,

pouco se preocupa com as dificuldades do percurso; espinhos e

abrolhos tocam-no, sem o alcançar; segue sempre o seu rumo.

Arriscar os dias para vingar uma injúria é retroceder diante das

provas da vida; é sempre um crime aos olhos de Deus; e se não

vos deixásseis iludir tanto pelos vossos preconceitos, tal coisa

seria ridícula e suprema loucura aos olhos dos próprios

homens.(…)

ADOLFO, BISPO DE ALGER – 1861

Escolhemos este texto, retirado do capítulo XII de O

Evangelho Segundo o Espiritismo, de Allan Kardec, para

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escrevermos um pouco sobre o suicídio e isto porque, dadas as

circunstâncias, que tantos vivem, com os dois membros do casal

despedidos pela mesma entidade patronal; com os filhinhos

pequenos ou mais crescidos já a passarem dificuldades, senão

necessidades; “expulsos”, por assim dizer de uma situação a que

se tinham acomodado sem pensarem, talvez, num amanhã mais

negro - é comum, infelizmente, tomarmos conhecimento de mais

um suicídio, sempre cometido por alguém que viu o seu status

social perdido, como viu perdida a casa, o carro, as férias no

estrangeiro… e tanta outra coisa que passou a fazer parte da vida

de cada um por indispensável mas de que se podia, querendo,

abdicar facilmente.

Depois, há ainda aquele outro, cometido por jovens de 10, 12,

14 anos, face a situações criadas mas de consequências não

assumidas, como o da gravidez indesejada, fruto de relações

sexuais onde o amor nunca esteve presente.

Olhando à nossa volta e analisando a própria Sociedade onde

estamos inseridos, este – o suicídio – é um dos actos que mais nos

preocupa e que, infelizmente, se está a verificar

“corriqueiramente”, como se tivesse passado a ser natural na vida

de cada um recorrer-se a ele de cada vez que uma contrariedade ou

um obstáculo maior lhes bata à porta – e que, hoje em dia, é

perpetrado também por crianças, aqui mesmo em Portugal. E se,

para os ignorantes da Vida que continua para além da morte,

podemos pensar que o procurem como um terminus de todo o

sofrimento que vivam, o mesmo já não acontece em relação às

crianças.

Todos têm medo de sofrer, seja por doença – dor física,

portanto – como pela dor Moral, consequência de desgostos de

vária ordem… e, se o medo do sofrimento de uma doença terminal

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(ou não) pode levar alguém a procurar uma ’libertação’ mais

rápida, torna-se contraditório o não se querer morrer da doença

que vence os corpos debilitados e procurar-se a morte para se

deixar de sofrer!

A única, senão das únicas justificativas que podem impedir uns

e outros de buscarem a morte, é a fé: neste caso, o medo de

desagradar a Deus, o medo do ‘inferno’ como consequência de se

cometer ‘um pecado mortal’ e sem retrocesso, leva a que seja

sustido o gesto que, afirmam, os libertaria.

Mas, seria mesmo liberdade o que iriam encontrar?

É, portanto, sobre as consequências do suicídio que iremos

escrever um pouco procurando, com as nossas palavras, esclarecer

e tentar deter aqueles que pensem na fuga da reencarnação que

vivem pela ‘morte por antecipaçãp’… Morte que muitos afirmam

acontecer porque Deus quer, por que se Ele não quisesse não se

concretizaria – sem quererem aceitar que cada um é responsável

pelos seus actos, tendo que responder perante o Senhor por um

livre arbítrio mal utilizado.

Os mandamentos da Lei de Deus, psicografados por Moisés no

Monte Sinai e que, conforme esclarecimento a Allan Kardec (Q.

622 de O Livro dos Espíritos), estão gravados na nossa

consciência, os Mandamentos contêm, no seu número 5, a

determinação: NÃO MATARÁS.

Esta determinação não significa uma ordem só em relação a

terceiros: ela começa por se aplicar a nós próprios, à vida que

Deus nos concedeu mas que, apesar disso, continua a ser pertença

Sua, porque tudo nos é dado por empréstimo. Nada, mas nada

mesmo, existe em nós que seja nosso, a não ser os nossos actos e a

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sua consequência – boa ou má -, sempre registada no nosso Livro

da Vida. Se os bons servem para a nossa evolução e vão sendo

acrescentados a tudo o que de bom fizemos antes – qual o cinzel

do escultor que vai desbastando e burilando a sua obra até a tornar

perfeita -, os maus têm consequências negativas, até mesmo em

função do prejuízo que levamos a uns e a outros. Tal como Jesus

afirmou: Tudo terá de ser pago até ao último ceitil. E ‘pagar’

significa unicamente ‘reparar’, demore-se o tempo que esse

‘pagamento’ leve a saldar a dívida que se contraiu para com a Lei.

Então, em relação ao suicídio, podemos considera-lo sempre

como uma morte antecipada e, por consequência, contrária à Lei

de Deus. E se o Senhor nos concedeu a reencarnação para

evolução, aprimoramento e reparação do que se fez, antes, de

errado, procura-lo será sempre fugir aos desígnios que aceitámos

na programação de vida que nos foi feita antes de reencarnarmos.

Concretizá-lo, pondo de parte a Lei Divina como se ela não

existisse, é infringir a Lei – e toda a rebeldia tem o seu momento

de consequências para quem a pratica, seja em relação à lei civil

existente no País onde se tiver reencarnado e a que todos estamos

subordinados, seja em relação à Lei de Deus, que nos acompanha

desde o momento da Criação.

Não há – seja o que for que se viva e leve alguém a tornar-se

suicida – não há nada que justifique ou autorize a fuga da vida

pela morte.

É verdade que nem todos pensam assim, é verdade que muitos,

afirmando-se até “oportunamente ateus”, declaram que a morte é o

fim de tudo e não haverá nunca nada para além dela.

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Lembramos que, no século findo, na década de 80, surgiu em

Paris um livro intitulado “As cem maneiras de cometer suicídio”,

ensinando cada um a procurar e/ou escolher, desde a mais fácil à

mais económica, a menos dolorosa àquela outra de maior

sofrimento – esta dedicada aos masoquistas! -, livro que ensinava

os interessados a acabarem com a vida. Neste caso, por cada

suicida que seguiu a orientação dada no livro, o escritor tornou-se

sempre conivente no crime.

Na Roma antiga, no tempo dos Imperadores, eram elogiados

os que o praticavam – muitas vezes até e unicamente por uma

questão de ‘fastio de viver’… Quase que podemos afirmar que

cada um dispunha da sua existência como se a jogasse num

tabuleiro de xadrez e o suicídio era o xeque-mate de quem se

encontrava cansado de um viver sem sentido!

No Japão, pelo contrário, os naturais do País praticavam ( hoje

já muito raramente) o harakiri por questões de honra e por que,

aceitando a reencarnação como uma realidade, pensavam que, de

imediato, voltariam à vida… Normalmente, o espírito do suicida

fica em sofrimento, no vale dos suicidas, pelo tempo que lhe

faltaria ainda viver reencarnado na mesma existência de que fugiu.

Tudo tem o seu tempo e a Justiça Divina dá a cada um, não só em

função dos seus actos mas, também, em função daquilo que os

leva a cometer esses mesmos actos.

Alguém terá pensado já, antes de cometer tal acção, nas

consequências do que vai fazer para os que ficam para trás? Como

irão ultrapassar não só o desgosto, pela ausência de quem partiu,

como o desespero, a loucura, o desamparo em que todos ficarão?

E se, por causa disso, os familiares que continuam encarnados se

tornarem ladrões, assassinos, prostituas… a quem serão imputadas

as culpas, no Plano Espiritual?

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E o que acontece àqueles outros que, não querendo – por um e

outro motivo – “partir sozinhos” praticam primeiro o homicídio

contra todos os que estão à sua responsabilidade, num acto de

amor muitas das vezes, pensando que se reunirão de imediato no

“outro lado”, e depois, então, acabam (julgam acabar) com a

própria vida?

Como gritar, explicar para uns e para outros que parem, que

detenham o gesto tresloucado que se propõem concretizar, porque

morrer não é, nunca será, acabar – já que Deus nos criou à sua

imagem de Espírito Eterno – e o horror que se viverá a seguir,

podendo o mesmo comparar-se ao ‘inferno das penas eternas’, de

que se julga nunca mais encontrar o fim?!

Nas consequências espirituais de quem comete o suicídio,

lembremos que o perispírito, que faz a ligação entre o espírito e o

corpo físico, podendo também ser chamado, vulgarmente, de “o

fato que veste o espírito, tem em si toda uma programação e

registo da reencarnação que cada um deve viver, do momento

mais ou menos certo do desencarne, das doenças, etc..

Aproximando-se o desencarne, o cordão fluídico, que liga o

perispírito ao corpo físico, vai enfraquecendo para que na morte

tudo aconteça sem violências que afectem a sua estruturação.

Quando acontece o suicídio, a morte é violenta e a violência

detiora o cordão fluídico que, em vez de enfraquecer naturalmente,

sofre como que um arrebentamento, se assim se pode dizer, que,

transmitido ao perispírito, provoca o seu desequilíbrio, em função

da maneira como a morte aconteceu. (No chamado ‘suicídio

indirecto’, - vida de desregramentos, levando à desorganização da

saúde e dos diversos órgãos do corpo físico, morte por excessos de

toda a ordem, etc., etc. -, a situação é a mesma). Então, para que o

reequilíbrio volte, há necessidade de uma ‘reestruturação’, que só

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acontece com o tempo e através da volta do espírito ao corpo

físico; e cada um traz, na reencarnação imediata, senão em várias,

as consequências da maneira como se “matou”, seja na doença

cardíaca, como no enfisema pulmonar, nas doenças cancerígenas,

de que sofre desde a nascença, como na doença de estômago, para

os que se envenenaram, e ainda a deficiência mental para os que

destruíram o sistema nervoso. Tudo tem de ser pago…E, a Lei de

Causa e Efeito, ensina-nos também que a sementeira é livre, mas a

colheita obrigatória!

Então, quando as lágrimas inundarem os corações sofridos

pelo desespero em que uns e outros se debatem, que cada um seja

capaz de o aceitar sem revolta para que a prova se torne mais leve

– em vez de o aumentar num acto tresloucado que levará sempre a

um sofrimento maior!

O Senhor nunca abandona nenhum dos seus filhos – então, que

nenhum dos seus filhos Lhe fuja ou se tente esconder d’Ele para

cometer um acto tão tresloucado!

MANUELA VASCONCELOS

*

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F É

E perguntais-me vós que ideia faço

De Deus na Criação? Sei lá que ideia!

(Invocai-O… Que sombra se incendeia

No vosso olhar de dúvida e cansaço?)

Talvez, ao seu poder, no infinito espaço,

O mundo seja um pó que revolteia;

Talvez esteja neste grão de areia

Que em meu caminho piso e despedaço.

Que ideia fiz de Deus? Sei lá… Nenhuma!

Perguntai vós a um hálito de espuma

O que entende do mar: se o sente e o vê.

Amo-o, pressinto-o: e mais não sei. Quem ama,

Responde, não pergunta. É como a chama:

Sobe, alumia, - sem saber porquê.

ANTÓNIO CORREIA DE OLIVEIRA

(Transcrito da Revista da F.E.P., MENSAGEIRO ESPÍRITA, de

Janeiro/Abril de 1938).

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PROPRIEDADES DO

PERISPÍRITO

O Perispírito é o mais importante produto

do fluído cósmico. - ALLAN KARDEC 1

Certa feita, um sacerdote – utilizando-se de ironia recortante e

em tom de zombaria – mandou perguntar ao Mestre Lionês: Qual

dos corpos tomará o Espírito de Elias no último julgamento

anunciado pela Igreja para se apresentar diante de Jesus: o corpo

de Elias ou o de João Batista?

Kardec respondeu2: - “Vamos tentar dar ao Sr. Cura a resposta

à pergunta que propôs embora, com tal indagação, tenha

demonstrado não ser muito versado no Evangelho, pois sua

questão retorna àquela que foi posta a Jesus pelos saduceus.

Assim, não tinha, pois, senão que se referir à resposta de Jesus,

que tomamos a liberdade de lhe lembrar, uma vez que a não sabe:

Naquele dia, os saduceus, que negam a ressurreição, vieram

encontra-lO e propuseram-Lhe uma questão, dizendo-Lhe:

“Mestre, Moisés ordenou que se alguém morresse sem filhos, seu

irmão esposasse sua mulher, e suscitasse filhos ao seu irmão

morto. Ora, havia entre nós sete irmãos, dos quais o primeiro,

tendo esposado uma mulher, morreu; e, não tendo filhos, deixou

sua mulher ao seu irmão. A mesma coisa ocorreu ao segundo, ao

terceiro e a todos os outros até ao sétimo. Enfim, essa mulher

morreu depois deles todos. Então, pois, que a ressurreição

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chegue, de qual desses sete seria mulher, uma vez que o foi de

todos?”

Jesus lhes respondeu: - “Estais no erro, não compreendendo as

Escrituras nem o poder de Deus; porque depois da ressurreição os

homens não terão mulher, nem as mulheres marido; mas serão

como OS ANJOS DE DEUS NO CÉU. E pelo que é da

ressurreição dos mortos, não leste estas palavras que Deus vos

disse: Eu sou o Deus de Abraão, o Deus de Isaac e o Deus de

Jacó? Ora, Deus não é o Deus dos mortos, mas dos vivos”. – (Mateus, cap. XXII, v: de 23 a 32).

“Uma vez que, depois da ressurreição, os homens serão como

os anjos do céu, e que os anjos não têm corpo carnal, mas um

corpo etéreo e fluídico, os homens não ressuscitarão, pois, em

carne e osso. Se João Batista foi Elias, não é senão uma mesma

alma tendo tido duas vestes deixadas em duas épocas diferentes

sobre a Terra, e que não se apresentará nem com uma nem com a

outra, mas com o envoltório etéreo próprio ao mundo invisível

(perispírito).

Duvidais de que João Batista foi Elias? Lede São Mateus, cap.

XI, v. 13, 14, 15: “Porque até João, todos os profetas, tão bem

quanto a lei, profetizaram; e se quereis compreender o que vos

digo, é ele mesmo que é esse Elias que deve vir. Que ouça aquele

que tem ouvidos para ouvir.” Aqui não há nenhum equívoco; os

termos são claros e categóricos, e para não ouvir é necessário não

ter ouvidos, ou querer fechá-los.”

Existe um detalhe rarissimamente percebido pelos estudiosos

da Vida do Mestre e que pode ser entendido somente por aqueles

que aprenderam sobre o perispírito com sua característica de

flexibilidade plástica:

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Após o terceiro dia da crucificação, Ele aparece a Cleofas e

outro discípulo que O acompanhava na estrada de Emaús. Eles O

reconheceram apenas no final da viagem, quando à mesa partiu o

pão, desaparecendo-lhes da visão empós. Naturalmente Suas mãos

não apresentavam as marcas dos cravos que O identificariam ainda

na estrada. Na mesma hora, levantando-se, voltaram a Jerusalém,

onde achavam-se reunidos onze apóstolos (menos Tomé).

Souberam, então, que Simão já O havia visto, e, enquanto

narravam as experiências mútuas, Jesus apareceu no meio deles

(estando fechadas as portas) e diz-lhes3:

“Paz seja convosco.

Assustam-se, mas Jesus os tranquiliza dizendo4:

-Vêde as minhas mãos e os meus pés, que sou Eu mesmo.

Agora as chagas estavam ali visíveis!...

Utilizando-se das leis e propriedades do perispírito, Jesus ora

deixava visíveis as chagas, ora as deixava invisíveis. Sendo

Espírito da mais alta categoria, Seu perispírito, tornado visível não

precisaria apresentar os estigmas do corpo carnal. Ele, porém, era

o Mestre e a aparição, tal como foi, serviria de instrução, não só

para os Apóstolos como também para a Humanidade, através dos

tempos, chamando-nos a atenção para o carácter transcendente de

Sua vinda até à Terra.

Se o Sr. Cura prestasse mais atenção, ele teria descoberto o

perispírito na Bíblia que manuseava (?) e saberia que esse

modelador plástico pode dar ao Espírito a aparência que este

desejar.

1 – KARDEC, Allan. A Génese, 43 ed. Rio (de Janeiro): FEB,

2003, cap. XIV, item 7;

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2 – KARDEC, Allan. Revue Spirite. Dezembro de 1863. Araras:

IDE, 2000, p. 368-369;

3 – Lucas, 24:36;

4 – Lucas, 24:39

ROGÉRIO COELHO

(Mauriaé – MG. – Brasil)

A ESPERANÇA

RECÉM-NASCIDA

Quando findou o 3 de Outubro de 1804, a Terra já aninhava no

seu colo a Esperança, recém-nascida, na forma de um menino que

então alegrava os pais, para, logo mais, vir a alegrar os povos,

entregando à Humanidade o fruto do seu trabalho em benefício

geral: a Doutrina Espírita codificada, revivendo os ensinos de

Jesus e reacendendo a chama da esperança por dias melhores,

facultando-nos reencontrar Jesus, em Sua majestosa simplicidade e

verdade, dando-nos nova razão de viver, permitindo-nos voltar a

sonhar, esperando o que pode ser esperado.

Falamos de Hipollyte Léon Denizard Rivail, que ficou

conhecido como Allan Kardec, nascido na cidade de Lyon, na

França, nessa data, às 7 horas da noite.

Ele foi aquele que, no dizer de Hilel, o ancião, como uma

única vela pôde acender outras mil sem se diminuir.

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Das inúmeras lições que a Doutrina Espírita nos oferece,

destacamos, neste editorial, a lição da união, elemento-força que

dá sustentação e amparo às realizações pessoais e colectivas a que

nos propomos em nossas vidas; quer seja a união no âmbito da

família, no âmbito profissional, no âmbito da cidadania, etc..

O quanto esse elemento-força chamado união não poderá gerar

de bom no contexto das actividades espíritas, no Movimento

Espírita, já que tão bem faz à família, à sociedade em geral?

Ditosos os que hajam dito a seus irmãos: “Trabalhemos juntos

e unamos os nossos esforços a fim de que o Senhor, ao chegar,

encontre acabada a obra”, porquanto o Senhor lhes dirá: “Vinde

a mim, vós que sois bons servidores, vós que soubeste impor

silêncio aos vossos ciúmes e às vossas discórdias, a fim de que daí

não viesse dano para a obra.”

Sempre é oportuno relembrar esse texto do Espírito de

Verdade, que retiramos de O Evangelho Segundo o Espiritismo,

cap. XX, item 5. É um verdadeiro cântico de louvor e de convite à

união pelo bem de todos.

La Fontaine disse muito bem sobre a união: Toda a força é

fraca, se não é unida.

Em Eclesiastes (4,12), encontramos: Alguém sozinho é

derrotado, dois conseguem resistir, e a corda tripla não se rompe

facilmente.

A união se dá pela afinidade dos ideais, não obrigatoriamente

pela igualdade das pessoas ou das forças que se juntam. É a

combinação das diferenças por um objectivo comum. Não é

preciso que esse ou aquele desapareça ou se anule. É preciso que

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se reúnam por um mesmo Ideal, cada um dando o máximo e o

melhor de si.

Há um provérbio sueco que diz: Quando o cego carrega o

manco, ambos vão para a frente.

Quando falamos de união, não há espaço para o orgulho, para

a vaidade, para o egoísmo. Precisamos decidir como poderemos

ser valiosos no contexto em que nos encontramos, em vez de

pensar em quão valiosos somos.

Em nome da união não se está impedido de ter ideias próprias

e tantas vezes diferentes de outras ideias. Divergir faz parte da

busca do consenso. Dissentir é obra do orgulho. O objectivo das

questões ou da discussão não deve ser a vitória e, sim, o

aperfeiçoamento da ideia. No mesmo sentido, não gerar obstáculos

à busca do melhor a todos, em nome de miudezas e pontos de ista

acanhados, fruto do egoísmo e do orgulho. Pequenas coisas só

afectam as mentes pequenas, ensina-nos Benjamim Disraeli.

O que se espera é que sejam reunidas e ordenadas as

possibilidades, os recursos, as forças enfim de cada um, pelo Ideal

maior, pelo bem comum.

Solidários seremos união. Separados uns dos outros, seremos

pontos de vista. Juntos, alcançaremos a realização de nossos

propósitos. Distanciados entre nós, continuaremos à procura do

trabalho com que já nos encontramos honrados pela Divina

Providência.1

Estimado leitor, prezado confrade espírita: o bom senso nos diz

que não é triste mudar de ideias; triste é não ter ideias para

mudar, segundo o Barão de Itararé, Aparício Torelly.

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Trabalhemos nossas ideias, revejamos nossos conceitos,

reflitamos sobre os valores e as virtudes, mudemos no que

precisar, robusteçamos o que esteja certo, aprimoremos o que já

vem sendo feito de bem e de bom. A água que não corre forma um

pântano; a mente que não trabalha forma um tolo, destaca Victor

Hugo.

Façamos como o Codificador do Espiritismo, Allan Kardec,

promotor do renascimento da esperança para nós, ao descortinar o

grande continente da alma, pondo-nos firmes no trabalho em prol

do bem, dando passagem livre à união e à concórdia, para que

facilitem a disseminação do amor sobre a Terra.

1 – Bezerra de Menezes – Psicografia de Francisco C. Xavier –

mensagem de União – “Unificação”, Nov./Dez./1980.

(In: Editorial do jornal espírita brasileiro MUNDO ESPIRITA, da

Federação Espírita do Paraná, Outubro de 2007).

*

As boas intenções, a própria moralidade do médium nem

sempre bastam para evitar a intromissão dos Espíritos levianos,

mentirosos e pseudo-sábios nas comunicações. Além das falhas do

seu próprio espírito, pode dar-lhes entrada por outras causas das

quais a principal é a fraqueza de carácter e uma confiança

excessiva na invariável superioridade dos Espíritos que com ele se

comunicam. – ALLAN KARDEC : Revista Espírita, edicel, Fevº

1859.

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DEUS

Espirito do Abismo e das Alturas,

Que em tudo quanto vive se derrama:

Já luz esparsa, antes de ser chama!

Criador que se fez das criaturas!

Alma que deu sua alma às pedras duras!

Amor tão desamado que nos ama!

Génio que inspira a noite e a treva inflama,

Desde as ondas às verdes espessuras!

Centro de fusão de todas as distâncias;

Velhice-mãe de todas as infâncias

E futuro de quanto há de morrer…

Possa a minha alma ver-te um só segundo,

Presente e em ti, - pretérito do mundo,

Infinito imortal do Verbo Ser!...

ANTÓNIO CORREIA DE OLIVEIRA

(In: MENSAGEIRO ESPIRITA, revista espirita da Federação

Espírita Portuguesa, Janeiro/Abril/1938).

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PÁGINAS DO PASSADO

*

ESPÍRITO E MATÉRIA

Tudo quanto existe no Universo está penetrado

por um princípio único: a Alma que anima a

matéria e se mistura com esse grande corpo. –

ENEIDA, Canto VI

Espírito e matéria! Manifestações fenoménicas do Universo!

As raízes ou origens de ambos são eternas. Os livros sagrados da

Índia chamam à forma ou Matéria, Maya, ou Ilusão. De facto, a

matéria é o véu que envolve o espírito que é a vida, ou realidade.

A ciência oficial procura na Matéria a origem da vida, mas

ainda não conseguiu demonstrar que a imortalidade da alma é uma

crendice própria de ignorantes.

Algumas escolas de filósofos e cientistas desde Berkley, no

século XVII, e depois Augusto Conte, Littré, Berthelot, Claude

Bernard e, por último, Poincaré, no século XIX, afirmam que o

cérebro é a vida.

Em Portugal, o Dr. Luiz Cebola, afirmou que – “A História da

Humanidade é a História do Cérebro Humano”. E realçando o

“valor extraordinário do cérebro”, declarou que – “a ignorância

absoluta das suas funções superiores levou os primeiros sacerdotes

a urdirem uma fantasia, para explicarem o pensamento do Homem

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e chamarem “Alma”, “Espírito” ao que é simplesmente o produto

do trabalho assaz completo dessa máquina maravilhosa”.

Este cientista pertence à escola materialista que procura e

espera encontrar a origem da vida na ponta dos seus escalpelos!

Até agora isso nunca aconteceu, nem jamais acontecerá, visto que

o cérebro é somente o órgão do pensamento porque a vida mental

vai além da vida cerebral, como veremos noutros artigos.

Querer concretizar a vida no funcionamento do cérebro é

demonstrar plena ignorância do mundo exterior ou Mundo

Cósmico, de que o cérebro tem funções de transmissor.

O que é o Espírito? E o que é a Matéria? Na realidade, não

sabemos qual a sua constituição. Em essência, sabemos que o

Espírito é eterno porque é a essência de Deus, e a Matéria Deus

manifestado no plano físico.

O Espírito é a Vida que perdura eternamente e a Matéria, ao

contrário, é o transitório, sujeito à morte, fenómeno que ocasiona a

sua destruição pela decomposição química natural.

O Espírito Eterno é a essência de Deus e a Matéria, Deus

manifestado no plano físico, não só nos nossos corpos como em

todas as outras manifestações materiais; por isso se diz

vulgarmente que Deus está em toda a parte.

A medicina considera ainda a matéria como uma pura

abstracção. Os sábios observam-na como um agregado de átomos

e de células; estas são constituídas por verdadeiras multidões de

seres vivos, policelulares ou microscópicos. Os átomos são

considerados como centros de forças sem nenhuns laços materiais,

mas sendo centros de energia. Neste ponto, está a ciência moderna

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oficial; verifica, apenas, as manifestações da vida designando-as

por energia. É a última palavra da ciência.

É certo que a matéria revela energia mas não é ela que a

mantém e lhe dá vida. Bem pelo contrário, essa energia emana da

vida que anima a matéria. Donde provém, então, esse elemento

energético? Se tudo tem uma origem, donde vem essa força?

Reside aqui o ponto nevrálgico que criou a discórdia entre a

ciência oficial materialista e a ciência espiritualista não

oficializada e, até, perseguida, motivo por que veio até nós com a

designação de Ciência Oculta.

Que explicação nos fornecem os sábios oficiais sobre esse

importantíssimo elemento que é a energia ou força vital?

Espiritus ou anima lhe chamou Santo Agostinho, esse grande

filósofo espiritualista. De facto, é a alma que anima o corpo, a sua

própria definição bem o afirma – alma – de anima, princípio de

vida, do verbo animer – o que anima ou movimenta.

É esta a base da Ciência Espiritualista, ensinada desde a mais

remota antiguidade.

Perguntarão, decerto os cépticos: os animais e as plantas

também têm alma? Não nos resta a menos dúvida que assim seja,

mas o reino animal e o vegetal possuem “almas” em embrião. Os

próprios minerais também são animados por essa energia, visto

que eles se desenvolvem e envelhecem, manifestando

sensibilidade – portanto, vivem dentro do princípio cósmico – ou

alma universal.

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No reino hominal esse princípio atinge o seu máximo

desenvolvimento com a posse da consciência ou partícula divina,

que distingue o ser humano dos outros animais. É curioso frisar o

facto de certos animais, como os cães e os cavalos, terem

demonstrado, por vezes, possuírem mais consciência que muitos

seres do reino hominal. Esses factos explicam-se facilmente pela

fase da transição – o animal, atingindo o seu apogeu evolutivo, e o

homem entrando no seu início espiritual; o cão, ao terminar a sua

manifestação no reino animal; e o homem, ao principiar as suas

encarnações humanas. Mais um caso que confirma o axioma de

que os extremos se tocam: o animal tendo manifestações humanas

e o homem dando ainda provas de animalidade.

No nosso século, mantêm-se ainda acesas as polémicas entre

materialistas e espiritualistas, e, o que é pior ainda, entre estes e os

fanáticos dogmáticos de certas religiões, como a católica.

Afinal, a alma o que é? Também o não sabemos de maneira

exacta, da mesma forma que ninguém ainda definiu com precisão

o que é a electricidade – fluído de origem física que todos

conhecemos pelos seus efeitos, mas que nenhum cientista, até

hoje, conseguiu analisar num laboratório, pesando-a, medindo-a,

decompondo-a.

O mesmo acontece com a alma. Basta-nos, por momento,

contentarmo-nos em reconhecer que esta é a essência, e a outra

uma força do Universo.

Digo basta-nos, porque no estado actual das sociedades, é

quase um crime estudar a alma e as suas manifestações, que nos

obrigam ao turbilhão das reencarnações, rodopiando em torno da

grande espiral da evolução que conduz à Perfeição ou a Deus –

ponto de partida e meta do espírito, o que nos prova que os

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extremos se tocam – princípio e fim – desde o nascimento do

espírito até ao seu apogeu ou Perfeição. A nossa evolução anímica

está submetida a este incessante movimento de Vida, porque ele

caracteriza o próprio Universo.

Não podendo penetrar na origem das coisas – Matéria e

Espírito – observemos os seus fenómenos. Teremos, certamente,

provas da existência dessa força energética à qual tudo obedece

como princípio animador.

Tudo que no mundo existe forma uma cadeia, um Todo

Portentoso.

Sendo o homem uma partícula de Deus, ele contém em si o

reflexo desse Todo, que é a Divindade. Começa aqui a auto-

análise, problema complicadíssimo que poucos, infelizmente,

conseguem abordar, por falta de preparação ou cómoda preguiça

mental.

Percorrer a longa trajectória, que liga o mundo finito ao mundo

invisível, não é tarefa fácil. Estudar os fenómenos que nos provam

a nossa verdadeira existência é, ainda hoje, sobretudo entre certos

povos, empresa de Titans, tão grande é ainda a ignorância humana.

O homem, mesmo o sábio, perde-se muita vez ante os enigmas

que encontra para decifrar, tão grandes são os problemas da

ciência espiritual. Perante ela, o mais reputado cientista, é como

uma criança que apenas conhece o alfabeto, o que levou certo

sábio a dizer que quanto mais sabia, mais sabia que não sabia.

Os sábios, os estudiosos e os experimentadores espiritualistas

chegaram a esta conclusão fornecida pelos seus próprios estudos: -

que a Ciência de Deus é infinita e que dela faz parte a nossa

própria alma. Feito este primeiro raciocínio, fica-nos, depois, o

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imenso campo de observação com que a natureza se nos

apresentou, com um extraordinário laboratório composto de

infinitos elementos de estudo.

As forças subtis da natureza, a constituição do homem, a

grande cadeia da Criação, constituem matéria para longas e

profundas meditações. Não me restam dúvidas que, quanto mais

crente é o indivíduo que estuda, e quanto mais afastado se

encontra dos dogmas científicos e religiosos, mais rapidamente

sobe a grande escada ascensional das verdadeiras descobertas

espirituais, no campo da ciência-una.

Neste caso, deve estar o verdadeiro espiritualista, que,

consequentemente, tem de ser eclético. Deste modo ele sabe

desenvolver o sentimento religioso, dentro dos moldes da religião

natural e intuitiva.

Dentro do Neo-Espiritualismo o homem e a mulher têm, diante

de si, vastos e variados caminhos que lhes facilitam seguir,

segundo os seus temperamentos, os progressos das ciências da

natureza, da alma e do coração. Desde que estes desejos sejam

sinceros, todos podem desenvolver as suas faculdades; o

sentimental, como o cerebral, o curioso como o estudioso.

Em épocas primitivas, quando o homem era quase um animal

lutando corpo a corpo com as feras, nessas épocas longínquas,

ignorava ele que possuía em si o Espírito Eterno. Mas os seres das

actuais raças civilizadas, já estão em condições de penetrar no

estudo dessas forças e, em poucos anos, disso estou convencida,

grandes e deslumbrantes descobertas virão revolucionar os

princípios científicos actualmente existentes.

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Muitas dessas descobertas já são uma realidade mas,

infelizmente, não estão ainda aplicadas sob o benéfico impulso das

forças brancas da ciência espírita, por esta não estar ainda

oficializada.

Na realidade, os mistérios não existem porque Deus não oculta

a Sua Obra; ela está bem patente em toda a sua magnificência. A

palavra mistérios significa quase sempre ignorância ou atraso

espiritual, pois que, muitas vezes, se verifica que pessoas

analfabetas mas de alma evoluída apercebem a Divindade e

compreendem as suas leis.

Os grandes iluminados não nos falam de mistérios, mas da

Verdade ou Realidade de Deus, como essência e manifestação

cósmica. Por isso, Huxley disse que “nada de grande foi jamais

feito pelo homem no campo da Ciência, por maior que tenha sido

o seu poder, sem o auxílio do divino influxo do pesquisador da

Verdade”. É ela a divina inspiração que em nós se transforma em

notas harmoniosas, em verdadeiras sinfonias que nos

entusiasmam, impelindo-nos para belas empresas em busca de luz,

que é o conhecimento das leis que nos regem. Luz e Verdade são

sinónimos, porque as suas belezas de infinitos cambiantes

embriagam aqueles que as sentem e as compreendem. Os espíritos

ainda fracos, devido ao seu atraso, não compreendem estas duas

facetas da divindade, sem as quais não poderíamos progredir.

Contudo, é este o nosso mais veemente desejo, porque sem o

progresso espiritual nunca poderemos ser felizes, e a ânsia de

felicidade é condição natural de todos os seres, em especial do

homem.

A felicidade material é relativa, e só a felicidade espiritual é

infinita, pois se mostra sempre com a mesma excelsa beleza a

todas as almas que a conquistam pela Bondade, que as aproxima

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da perfeição. Para possuir a felicidade, todos nós, mulheres e

homens, procuramos alcançá-la numa ânsia febril, empregando os

nossos maiores esforços. Infelizmente, muitos enganam-se no

caminho, e, por essa razão, não conseguem usufruir as suas

deliciosas e mesmo celestiais riquezas. Para chegar a esse ponto

culminante do nosso progresso, é necessário estudar muito, e

sofrer ainda mais. Estudando, meditando e sofrendo, tal foi a

própria existência de Jesus.

É esse, portanto, o caminho que todos temos de percorrer, uns

mais do que outros. É para esse fim que se faz a nossa passagem

pela Terra, na luta do Espírito com a Matéria.

ADELAIDE YVONE DE SOUSA

(Adelaide Yvone de Sousa fez parte dos Corpos Sociais da

primitiva Federação Espírita Portuguesa. Este seu artigo foi

publicado, em Maio de 1949, na REVISTA DE

METAPSICOLOGIA da F.E.P., para onde escreveu muitas vezes.

A sua biografia está publicada na obra MEP & ALGUNS

VULTOS, da autoria de Manuela Vasconcelos e lançado, em

edição FEP este ano).

*

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A VIDA É

UMA OBRA DE ARTE

A vida é uma obra de arte!

Com todo o meu carinho para vocês, que continuam

ensinando-me como viver: sou um aprendiz da vida!

Na primeira lição, aprendi que não posso exigir o amor de

ninguém, posso apenas dar boas razões para que gostem de mim e

ter paciência, para que a vida faça o resto.

Aprendi que não importa o quanto certas coisas sejam

importantes para mim; tem gente que não dá a mínima importância

e eu jamais consegui convencê-las.

Aprendi que posso passar anos construindo uma verdade e

destrui-la em apenas alguns segundos; que posso usar o meu

‘charme’ por apenas 5 minutos… Depois disso, preciso saber do

que estou falando.

Aprendi… que posso fazer algo em um minuto e ter que

responder por isso o resto da vida; que por mais que corte um pão,

cada fatia continua tendo duas faces… e o mesmo vale para tudo o

que cortamos em nosso caminho.

Aprendi que vai demorar muito para me transformar na pessoa

que quero ser e devo ter paciência. Mas, aprendi, também, que

posso ir além dos limites que eu próprio coloquei, que preciso

escolher entre controlar meus pensamentos ou ser controlado por

eles.

Aprendi que os heróis são pessoas que fazem o que devem

fazer “naquele” momento, independentemente do medo que

sentem e que perdoar exige muita prática… e que há muita gente

que gosta de mim, mas não consegue demonstrá-lo.

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Aprendi que nos momentos mais difíceis, a ajuda veio,

justamente, daquela pessoa que eu achava que iria tentar piorar as

coisas… Também aprendi que posso ficar furioso; tenho o direito

de me irritar, mas não tenho o direito de ser cruel.

Repasso ao mundo que jamais posso dizer a uma criança que

seus sonhos são impossíveis, pois seria uma tragédia para o mundo

se eu conseguisse convencê-la disso.

Eu aprendi que o meu melhor amigo vai-me magoar de vez em

quando… e eu tenho de me acostumar com isso. E, que não é o

bastante ser perdoado pelos outros – eu preciso perdoar-me

primeiro!

Aprendi que não importa o quanto o meu coração esteja

sofrendo: o mundo não vai parar por causa disso.

Eu aprendi que as circunstâncias da minha infância são

responsáveis pelo que eu sou, mas não pelas escolhas que eu faço

quando adulto, e que, numa briga, eu preciso escolher de que lado

estou, mesmo quando eu não me quero envolver.

Aprendi que, quando duas pessoas discutem, não significa que

elas se odeiem e que, quando duas pessoas não discutem, não

significa que elas se amem; e que, por mais que eu queira proteger

os meus filhos, eles vão-se machucar e eu também – e isso faz

parte da vida.

Aprendi que a minha existência pode mudar para sempre, em

poucas horas, por causa de gente que eu nunca vi antes; e,

também, que diplomas na parede não me fazem mais respeitável

nem mais sábio.

Logo aprendi que as palavras de amor perdem o sentido,

quando usadas sem critério. E que amigos não são apenas para

guardar no fundo do peito, mas para mostrar que somos amigos e,

ainda, que certas pessoas vão embora da nossa vida de qualquer

maneira, mesmo que desejemos retê-las para sempre.

Aprendi, afinal, que é difícil traçar uma linha para ser gentil,

não ferir as pessoas, e saber lutar pelas coisas em que acredito.

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Eu aprendi, ainda, que tenho muito, mesmo muito a aprender

em minha vida.

Com todo o meu carinho e respeito, rogo a vocês que

continuem ensinando-me a viver… e que Deus nos abençoe na

nossa caminhada, rumo à perfeição.

(Mensagem psicografada, sem data, na COMUNHÃO ESPÍRITA

CRISTÃ, de Rio Tinto, pela médium Rosa Xavier Teles).

*

ESTÍMULO FRATERNAL

“O meu Deus, segundo as suas riquezas,

suprirá todas as vossas necessidades em

glória, por Cristo Jesus.” – PAULO. –

(Filipenses, 4:19).

Não te julgues sozinho na luta purificadora, porque o Senhor

suprirá todas as nossas necessidades.

Ergue teus olhos para o Alto e, de quando em quando,

contempla a rectaguarda.

Se te encontras em posição de servir, ajuda e segue.

Recorda o irmão que se demora sem recursos, no leito da

indigência. Pensa no companheiro que ouve o soluço dos

filhinhos, sem possibilidades de enxugar-lhes o pranto Detém-te

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para ver o enfermo que as circunstâncias enxotaram do lar. Pára

um momento, endereçando um olhar de simpatia à criancinha sem

tecto. Medita na angústia dos desequilibrados mentais,

confundidos no eclipse da razão. Reflecte nos aleijados que se

algemam na imobilidade dolorosa. Pensa nos corações maternos,

torturados pela escassez de pão e harmonia no santuário

doméstico. Interrompe, de vez em quando, o passo apressado, a

fim de auxiliares o cego que tateia nas sombras.

É possível, então, que a tua própria dor desapareça aos teus

olhos. Se tens braços para ajudar e cabeça habilitada a reflectir no

bem dos semelhantes, és realmente superior a um rei que possuísse

um mundo de moedas preciosas, sem coragem de amparar a

ninguém.

Quando conseguires superar as tuas aflicções para criares a

alegria dos outros, a felicidade alheia te buscará, onde estiveres, a

fim de improvisar a tua ventura. Que a enfermidade e a tristeza

nunca te impeçam a jornada.

É preferível que a morte nos surpreenda em serviço, a

esperarmos por ela numa poltrona de luxo.

Acende, meu irmão, nova chama de estímulo, no centro da tua

alma, e segue além… Sê o anjo da fraternidade para os que te

seguem dominados de aflicção, ignorância e padecimento.

Quando plantares a alegria de viver nos corações que te

cercam, em breve as flores e os frutos de tua sementeira te

enriquecerão o caminho.

EMMANUEL

(Do livro mediúnico FONTE VIVA, psicografia de Francisco C.

Xavier, ed. FEB, capítulo 73).