Concreto Morto - Viver-só

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VIVER-SÓ

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Encarte do disco "Viver-só", da banda Concreto Morto. Diagramação: Thaís Bianca (http://nuvvem.tumblr.com) Ilustrações: Lucian Januário (www.facebook.com/lucian.januario) www.facebook.com/concretomorto

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VIVER-SÓ

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“Quando a vida é reduzida a uma

tal Vida Besta em escala planetária

nesse estado hipnótico-consumista

do Homo otarius ou do Cyber-Zum-

bi, quando a dissolução das formas

institucionais ou identitárias que antes

asseguravam alguma consistência ao

laço social, apenas reitera a gregarie-

dade atomizada, cabe indagar o que

poderia ainda sacudir-nos de tal estado

de letargia. Seria de se perguntar, que

modalidades de êxodo, de escape, de

exílio voluntário ou involuntário, que

modalidades de curto-circuito silen-

cioso ou ruidoso, denunciam um tal

contexto de sobrevivencialismo maciço

por mais místicas, psicóticas ou suici-

das que pareçam essas formas de êx-

odo; quais e quantos gestos solitários,

mas também experiências instituídas,

que lhes fazem eco, reivindicam uma

distribuição outra, entre o que está

vivo e o que está morto, entre viver e

sobreviver, entre aquilo que é desejável

e aquilo que é intolerável, tentam re-

inventar a relação entre solidão e vida

coletiva?”

Viver - SóC O N C R E T O M O RT O

1 . M e r s a u l t

2 . S e r v i l

3 . A b e s t a d e v e m o rr e r

4 . À b a s e d e c o n v u l s õ e s pr é v i a s , e rr ô n e a s

5 . S . M . H .

6 . 書を捨てよ, 町へ出よう

7 . A l t a s d o s e s d e c a f e í n a n o s s u i c í d i o s s e m a n a i s

8 . A a b o l i ç ã o d o t r a b a l h o ( p o r E x c r i a R e v e r b e r a )

9 . 人間失格

1 0 . g a s o l i n a

Como Viver - Só

Peter Pál Pelbart

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“Como se essa grande cólera tivesse

lavado de mim o mal, esvaziado de

esperança, diante dessa noite carregada

de signos e estrelas, eu me abria pela

primeira vez à terna indiferença do

mundo. Ao percebê-la tão parecida a

mim mesmo, tão fraternal, enfim, eu senti

que havia sido feliz e que eu era feliz mais

uma vez. Para que tudo fosse consumado,

para que eu me sentisse menos só,

restava-me apenas desejar que houvesse

muitos espectadores no dia de minha

execução e que eles me recebessem com

gritos de ódio.”

- “O Estrangeiro”, Albert Camus

Misantropo numa cidade

letárgica. Buscando escapar

da engrenagem que move a

existência de maneira absurda

e que transforma a linha do

tempo em uma espiral.

1. MERSAULT

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Todo mundo que deixou pra trás tor-

nou-se um membro arrancado de seu

corpo pela Besta que é a vida. Alguns,

ainda coçam. Outros, ainda doem. Os

que já não sente mais foram devorados

por si mesmo.

2. SERVIL

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“O que me envolve sufoca, o cinza das paisagens e o silêncio do pensar

O que me é dado, a vida tira

Imagino se aquilo o que me lembro é realmente o que apreendi ou é fruto de sonhos

Ou ilusão.”

- “O inconstante ir e vir, o constante permanecer”, A Besta Deve Morrer

“A besta reviveu, esta é uma homenagem a todos que já tocaram e construíram alguma coisa comigo, espero que nunca se esqueçam e que deixem a Besta Vida morrer.”

-Yuri

3. A BESTA DEVE MORRER

A lição tirada de tudo que foi dito até agora é a de que a Besta que é a vida deve morrer.

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A todo o tempo, os fatos nos confundem. (“Quem está sempre assistindo, esperando

o que vem depois, nunca age”). O que nos impede de lutar rasteja, ao longo de

gerações. Com os pensamentos em chamas, nos deparamos com a desmotivação. E

então, nos damos conta de que o que guia nossas vidas não passa de ilusão.

4. À base de convulsões prévias,

errôneas

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“Os capitalistas têm de produzir além de seus custos para ter

lucro; este, por seu lado, deve ser reinvestido para gerar mais

lucro. A perpétua necessidade de encontrar territórios férteis

para a geração do lucro e para seu reinvestimento é o que

molda a política do capitalismo. Mas os capitalistas enfrentam

uma série de barreiras à expansão contínua e desimpedida. Se

a mão de obra é escassa e os salários são altos, a mão de obra

existente tem de ser disciplinada, ou então é preciso encontrar

mão de obra nova através da imigração e investimentos no

exterior. O capitalista também deve descobrir novos recursos

naturais, o que exerce uma pressão crescente sobre o meio

ambiente.”-”O direito à cidade”, David Harvey

5. S.M.H

A cidade capital

não convive com a

cidade marginal.

Se morar é um luxo,

ocupar é um direito!

A Torre: Rompimento das formas aprisionadoras, liberação para um novo início. Desafios dos momentos de transição. Destruição da rigidez. Aber-tura. Conhecimento. Desmoronamento e queda. Alterações, subversões, mudanças, debilidades. Libertação da alma aprisionada; quebras.Mental: Indica o perigo que pode haver em perseverar em certa direção, em manter uma ideia fixa. Advertência para evitar tropeços e total aniqui-lamento dos planos em andamento.Emocional: Domínio sobre os seres, mas sem caridade nem amor, já que se exerce com despotismo. Tarde ou cedo, sofrerá uma rejeição afetiva.

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6. 書を捨てよ, 町へ出ようs h o w o s u t e yo m a c h i h e d e yo u

j o g u e f o r a s e u s l i v r o s , t o m e a s r u a s d e a s s a l t o

Jogue fora seus livros, esqueça os nomes

“importantes” que forçou-se a decorar.

Rasgue as citações, apague os trechos

que sublinhou. Jogue fora seus livros,

tome as ruas de assalto!

“Por comodismo acabamos por deixar deconhecido o que poderia colocar em chamas

nossos corações. Como uma parte de mim que ganhou vida, uma outra vida, que não a

minha. Acabamos por deixar desconhecidas as coisas mais bonitas que poderíamos sentir

em nossas vidas.”- “Roto”, Pés Descalços

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“...mas o trabalho moderno tem implicações piores. As pessoas não só apenas

trabalham, elas têm “empregos”. Uma pessoa desempenha uma única tarefa produtiva

o tempo todo sob a ameaça de um “ou senão...”. Mesmo quando a tarefa tem algo

de intrinsecamente interessante, a monotonia de sua exclusividade obrigatória drena

todo o potencial lúdico.”

-”A abolição do trabalho”, Bob Black

Sem perspectiva de alcançar qualquer tipo de melhora, a cabeça morre próxima ao

concreto, maldito, presente e infinito. Alterado para produzir, treinado para odiar.

7. Altas doses de cafeína

nos suicídios semanais

8. A abolição do trabalho( p o r E x c r i a R e v e r b e r a )

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“As pessoas falam sobre os “exilados da

sociedade”. As palavras aparentemente

denotam os miseráveis, os perdedores, os

viciados, mas eu sinto como se eu tivesse sido

um “exilado da sociedade” desde o momento

em que nasci. Sempre que conheço alguém

que a sociedade tenha designado como um

exilado, eu inevitavelmente sinto afeição por

esta pessoa, uma emoção que faz com que

eu me derreta em ternura.”

- ”Ningen shikakku”, de Osamu Dazai

“Na tentativa de encontrar-se em tudo

que o cercava, descobriu-se estrangeiro

em si mesmo.” Reflexo de nada, ningen

shikkaku, falha como humano.

9. 人間失格n i n g e n s h i k k a k u

f a l h a n d o c o m o s e r h u m a n o

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Assim como Gramsci, nutria o ódio pelos indiferentes.

A corda quebrou seu pescoço e ficou o arrependimen-

to de ter deixado para trás a gasolina, a garrafa e o

pedaço de pano.

10. GASOLINAP o e s i a ( r u i m ) e s c r i t a c o m g a s o l i n a

“A arma do povo contra o estado é o próprio povo.

Um novo homem, nova sociedade baseada em

liberdade.

Gasolina, garrafa, pedaço de pano!

Estão nos matando, por que não mata-los? Estamos

apenas nos defendendo. Extinção de classes, apenas

igualdade, é isso que estamos querendo.”

- ”Gasolina”, Kusta Päsää

O Pendurado: Abnegação. Aceitação do destino ou do sacrifício. Desinteresse, esquecimento de si mesmo. Submissão ao dever, sacrifício pessoal, impotência. Perdas. Auto renúncia, passivi-dade. Os bons sentimentos serão desviados para empreendi-mentos condenáveis. Resoluções acertadas, mas que não se executam; projetos abortados; plano bem concebido que fica na teoria. Promessas não cumpridas, amor não correspondido.

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Faixa 8 Excria Reverbera meia-vida.bandcamp.com

Diagramação Thaís Biancanuvvem.tumblr.com

Ilustrações

Foto

Lucian Januáriofacebook.com/lucian.januario

Elaine Momizflickr.com/photos/momysmomys

Gravado no estúdio Passagem de Som - Agosto de 2014

concretomorto.bandcamp.com

Concreto Morto Daniel, Felipe, Vinicius e Yuri

Mixagem/masterização

Diego Poloni

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c o n c r e t o m o rt o