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GOVERNO ELETRÔNICO 17 de maio de 2004, 15h37 Por Hugo Cesar Hoeschl A iniciação nos assuntos centrais do Governo Eletrônico chama a atenção para a prática de ações humanas em um ambiente chamado de “ciberespaço”. Você sabe o que é isso? Antes de abordar a questão, é necessário justificar a opção pelo estabelecimento de um conceito, pois, em se tratando de um objeto cercado de virtualidades, tal exercício é positivo. É adequada a firmação contida em Ortega e Gasset, nas “Meditações de Quixote”, no sentido de que “sem o conceito não sabemos bem onde começa e onde termina uma coisa. O conceito nos dá a forma, o sentido das coisas”. Mesmo diante de tal justificativa, o estudo em curso não o apresenta. Porém, analisamos aqui elementos provavelmente úteis para tanto. Vamos, então, conhecer este “lugar” chamado “Ciberespaço”, e HAMIT vai apresentá-lo: “Nossa terra incógnita é chamada de espaço cibernético. O conceito pleno, de fato, a própria palavra, tem menos de uma década. O autor de ficção científica William Gibson descreveu-o pela primeira vez em seu romance de 1985, Neuromancer, como uma alucinação coletiva partilhada por bilhões de pessoas. Ele escreveu sobre um mundo vislumbrante que criou um novo universo de meditação eletrônica sensorial; um mundo isolado onde a informação era percebida como uma manifestação física, não só vista e ouvida, como também sentida.” A idéia de um ambiente comunicativo fortemente sensorial nos permite tratar de forma diferente a informação, visualizando-a “não só como palavras e números numa página impressa, mas como gráficos, objetos físicos que podem ser manipulados diretamente, à vontade”, conforme o mesmo autor. . Ciberespaço é o melhor produto da revolução das comunicações

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  • 24/06/2015 ConJurCiberespaoomelhorprodutodarevoluodacomunicao

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    GOVERNO ELETRNICO

    17 de maio de 2004, 15h37

    PorHugo Cesar Hoeschl

    A iniciao nos assuntos centrais do Governo Eletrnico chama a ateno paraa prtica de aes humanas em um ambiente chamado de ciberespao. Vocsabe o que isso?

    Antes de abordar a questo, necessrio justificar a opo peloestabelecimento de um conceito, pois, em se tratando de um objeto cercado devirtualidades, tal exerccio positivo. adequada a firmao contida emOrtega e Gasset, nas Meditaes de Quixote, no sentido de que sem oconceito no sabemos bem onde comea e onde termina uma coisa. O conceitonos d a forma, o sentido das coisas.

    Mesmo diante de tal justificativa, o estudo em curso no o apresenta. Porm,analisamos aqui elementos provavelmente teis para tanto.

    Vamos, ento, conhecer este lugar chamado Ciberespao, e HAMIT vaiapresent-lo:

    Nossa terra incgnita chamada de espao ciberntico. O conceito pleno, defato, a prpria palavra, tem menos de uma dcada. O autor de fico cientficaWilliam Gibson descreveu-o pela primeira vez em seu romance de 1985,Neuromancer, como uma alucinao coletiva partilhada por bilhes de pessoas.Ele escreveu sobre um mundo vislumbrante que criou um novo universo demeditao eletrnica sensorial; um mundo isolado onde a informao erapercebida como uma manifestao fsica, no s vista e ouvida, como tambmsentida.

    A idia de um ambiente comunicativo fortemente sensorial nos permite tratarde forma diferente a informao, visualizando-a no s como palavras enmeros numa pgina impressa, mas como grficos, objetos fsicos que podemser manipulados diretamente, vontade, conforme o mesmo autor. .

    Ciberespao o melhor produto da revoluodas comunicaes

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    Embora a definio da figura, ciberespao ou espao ciberntico, sejarelativamente recente, a sua existncia no o , ou seja, o ciberespao j existeh muitos anos, e o surgimento das tcnicas da telemtica - principalmente oscomputadores e as redes de comunicao - permitiu a constituio do seuterritrio, como aponta a assertiva de HAMIT:

    Apesar de definido recentemente, o espao ciberntico no novo. Ele foireconhecido, pela primeira vez, por pioneiros como Morse, Edison e Marconni. Ainveno do computador simplesmente comps o territrio disponvel assim quea computao comeou a ser utilizada para controlar comunicaes eletrnicas.Um casamento de iguais, mas espao ciberntico ainda. Ele poderia serimaginado como um imprio de comunicao eletrnica envolvendo redes decomunicao e sinais de transmisso, assim como interaes entrecomputadores.

    No h dvida, o ciberespao o melhor produto da mais atual das revolues,a das comunicaes, identificada pelo mestre WARAT:

    Barnett Pearce introduce la metfora del terremoto para referirse a larevolucin en las comunicaciones (y el saber de la modernidad, yo agregara) Sialguno de ustedes estuvo alguna vez en un terremoto sabr que produce unagran desorientacin. Cuando de pronto aquello que siempreconsideramosestable (la tierra a nuestros pies o la fuerza de la gravedad) deja de serlo, sesiente un profundo vrtigo y uno ya no sabe en qu puede apoyarse; o bien paradecirlo ms literalmente, sobre qu puede estar parado. El terremoto de larevolucin ciberespacial.

    A velocidade das mudanas tamanha que DUBNER, j em 1996, fazia umaimportante advertncia, afirmando que em 1994 quando James Martin(considerado um guru tanto na rea de informtica como na de negcios)anunciou que, em 1997, todas as empresas estariam interligadas e que alnternet seria o principal veculo de marketing, parecia uma loucura at para omais otimista dos visionrios. Hoje, apenas dois anos depois, louco quem noacredita.

    O fato, realmente, de difcil refutao e as mudanas esto em curso. Vamosa uma abordagem especfica sobre o termo, feita por WARAT, a qual reafirmao perfil revolucionrio desse instituto conceitual:

    La expresin ciberespacio pertenece a Gibson, autor de ciencia-ficcin, que enuno de sus libros mostraba la aterradora situacin de un hombre proyectado enuna red gigante de informaciones. Diez aos despes de la aparicion del libro la

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    palabra comienza a ganar espacios en el lenguaje acadmico para definir ese no-lugar en que virtualidad y realidad se mezclan descubriendo horizontesdesconocidos que abrirn, creo, simultneamente puertas del paraso y delinfierno. La gran revolucin de la numerizacin generalizada, la compresin dedatos y redes de informacin imposibles de controlar. La revolucin de las redesde informacin, que har desaparecer las pautas bsicas con que hoy nosmovemos, en relacin a los saberes, el tiempo y el espacio. Otras realidades biendistintas a las que el conocimiento de la modernidad nos coloc.

    Mas o to citado e festejado Willian GIBSON quem apresenta umacontextualizao verdadeiramente alucinante, que originou todos oscomentrios sobre suas formulaes:

    No monitor Sony uma guerra do espao, bidimensional, desaparecida atrs deuma floresta de fetos gerados matematicamente, demonstrando aspossibilidades espaciais das espirais logartimicas; metragem militar azul-frioardida; animais de laboratrio ligados por fios a sistemas de ensaios; elmosalimentando circuitos de controle de incndio de tanques e avies de combate. -O ciberespao. Uma alucinao consensual, vivida diariamente por bilhes deoperadores legtimos, em todas as naes, por crianas a quem esto ensinandoconceitos matemticos... Uma representao grfica de dados abstrados dosbancos de todos os computadores do sistema humano. Uma complexidadeimpensvel. Linhas de luz alinhadas que abrangem o universo no-espao damente; nebulosas e constelaes infindveis de dados. Como luzes de cidade,retrocedendo.

    GIBSON escreveu essa definio antes dos filmes da srie Matrix, que,segundo alguns autores, foram inspirados exatamente em sua obra. De fato,aps a leitura do trecho citado (bem como da obra na ntegra), compreende-seos motivos pelos quais a formulao de GIBSON causou tanto impacto,chegando a atingir, mais tarde, o universo cientfico. A definio, na realidade,foi preconizada, anteriormente, por outros autores. No foi GIBSON seucriador, nem o pretendeu, mas quem lhe deu forma e nome. Seus referenciaisdeterminaram os desdobramentos acadmicos posteriores, como asconsideraes de ALEXANDRE:

    O ciberespao algo amplo e bastante complexo, ele cristaliza a rede atual delinhas de comunicao e bancos de dados num pseudocosmos colorido, umaalucinao consensual atravs da qual informaes e pessoas circulam como sefossem a mesma coisa. Diga-se, esclarece o jornalista Julian Dibbel que, de fato,dados e homens se equivalem no ciberespao, um lugar onde os cubos, globos e

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    pirmides de informao so to reais quanto a prpria autoprojeo de umapessoa. O ciberespao a ptria e a terra natal da era da informao - o lugaronde os cidados do futuro esto destinados a habitar.

    A abordagem encontra fertilidade nas incurses da fico cientfica. Porm,cabe um importante destaque: diversas descobertas importantes da histria dacincia moderna, ligadas evoluo tecnolgica, foram antecipadas pelaliteratura da fico. Tal no ocorreu com o ciberespao. O homem acreditava,antes de ter elementos materiais para tanto, que poderia voar, ir lua, descerdentro do mar, e at mesmo dispor de mecanismos artificiais que o auxiliasseem tarefas intelectuais. Mas o homem nunca imaginou que produziriatecnologia, equipamentos e comportamentos capazes de gerarem um lugarno qual os limites fsicos so diferentes dos conhecidos tradicionalmente, comobem descrito pelo mesmo autor:

    Imagine descobrir um continente to vasto que suas dimenses talvez notenham fim. Imagine um novo mundo com mais recursos que toda a nossa futuraganncia poderia esgotar, com mais oportunidades do que os empresriopoderiam explorar. Um lugar muito particular que se expande com ocrescimento.

    Imagine um mundo onde os transgressores no deixam pegadas; onde as coisaspodem ser furtadas um nmero infinito de vezes e ainda assim ficarem na possedos seus donos originais; onde coisas de que voc nunca ouviu falar possuam ahistria dos seus assuntos pessoais; onde a fsica aquela do pensamento quetranscende o mundo material; e, onde cada um uma realidade to verdadeiracomo as sombras da caverna de Plato.

    Tal lugar realmente existe, se lugar for uma palavra apropriada. Ele formadopor estados de eltrons, microondas, campos magnticos, pulsos de luz epensamento prprio - uma onda na rede dos nossos processamentos eletrnicose sistemas de comunicao. Costumava-se cham-lo de Esfera de Dados atque surgiu, em 1984 o livro Neuromancer, de Willian Gibson, que lhe deu o nomeevocativo de Ciberespao.

    Note-se bem: tais palavras, como as do prprio autor, entusiasmadas, somenteforam proferidas aps a constatao de que o fenmeno j existia. Nenhumcrebro humano idealizou, visionariamente, o ciberespao antes que elepassasse, de fato a ser uma realidade vivel.

    Mas como se chega l? Quais so suas portas de entrada? Como se percebe suaexistncia?

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    Existem, basicamente, duas formas de ingresso no ciberespao: a internet e arealidade virtual, como afirma HAMIT :

    Normalmente, percebemos o espao ciberntico atravs de uma janela ou tela.Agora possvel, usando as tcnicas de realidade virtual, ir alm desta visobidimensional para uma manipulao tridimensional direta de informaes.Algumas pessoas acham esta idia engraada e outras a vem com medo eapreenso.

    Analisaremos a internet em outra ocasio. Agora, vamos dedicar algumaslinhas para a realidade virtual, comeando pelas seguintes questes: O quequer dizer realidade virtual? Como surgiu essa idia? Para que ela serve?

    A realidade virtual uma tcnica, gerada atravs de uma srie de conceitos,equipamentos e programas, com o fim de formar uma representao de algoque pode ou no existir materialmente, detalhada doutrinariamente daseguinte forma (HAMIT):

    Realidade virtual um mtodo que permite s pessoas manipulareminformaes num computador da mesma maneira que manipulam objetos nanatureza. Ele objetiva aprimorar nossa capacidade de lidar com ascomplexidades de uma sociedade cada vez mais tecnolgica. A idia da realidadevirtual que estas interfaces no devem ser s uma representao, mas tambmuma substituio, em todos os sentidos usados para a percepo do instrumento:um usurio no deve simplesmente clicar um boto do mouse ou outro controle,mas estender-se e girar uma maaneta virtual, da mesma maneira que umamaaneta real girada. Isso implica no s o uso da viso e possivelmente daaudio, mas tambm do tato, com as sensaes relacionadas de resistncia fora, movimento, temperatura e peso. Alm disso, um usurio deste mundovirtual deve poder pegar e mover objetos que existem nele e deve poder moveroutro objeto - o corpo do usurio (ou parte dele) - para qualquer lugar dentrodeste espao ciberntico.

    Seu nome teve origem em elevados ambientes acadmicos, e o termorealidade virtual foi criado, de acordo com alguns relatos, no MassachusettsInstitute of Technology MIT (Instituto Massachusetts de Tecnologia), no finalda dcada de 1970, para expressar a idia da presena humana num espaogerado por computador , mas foi Jaron Lannier, um polmico executivo doramo, quem efetivamente popularizou a expresso, e a definiu, ainda, comomuito mais um meio de partilhar imaginao do que experincias fsicas,conforme assertivas do mesmo autor.

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    Trata-se, sem dvida, de uma forma superior de interao entre homem emquina, cuja concepo derivou diretamente da programao decomputadores, como se v pela afirmao que segue (HAMIT):

    A idia de um mundo virtual em vez de um mundo real no nova. A concepobsica inerente ao uso de programao orientada ao objeto, ao uso de umboto de mouse para clicar em cones numa interface grfica para usurios, ouao uso de simulaes de computador para executar experincias no-destrutivas' de novos equipamentos. A idia de usar objetos virtuais ourepresentaes grficas no lugar do mundo real uma maneira de tornar ainterface homem-computador mais acessvel ou amigvel .

    De fato, seu desenvolvimento anterior inveno do computador, e osprimeiros passos foram dados no sentido de tentar envolver o sentido daviso em combinao com os sentidos de movimento e audio.

    Suas aplicaes so variadas, e muito se diz sobre o seu potencial, desdecomparecer a reunies por procurao - tanto a prpria pessoa, quanto aprojeo de uma imagem do que ele gostaria de ser - a mergulho em guasprofundas, jogos de guerra e viagens dentro do prprio fgado, como afirmouPOURNELLE.

    Aps o contato com tais abordagens, possvel o esboo de uma noo maispalpvel do que seja o objeto em tela, o ciberespao. Trata-se de um ambientegerado eletronicamente, formado pelo homem, as mquinas, a informtica eas telecomunicaes, onde possvel a prtica de atos de vontade, dotado delimites diversos dos tradicionais, norteado e dimensionado fisicamente porcomprimentos de onda e freqncias, ao invs de pesos e medidas materiais, eno constitudo por tomos, mas por correntes energticas.

    Referncias

    HAMIT, Francis. A realidade virtual e a explorao do espao ciberntico.

    WARAT, Lus Alberto. Por quem cantan las sirenas?

    DUBNER, Alan Gilbert. A era do marketing digital, in Informtica Exame n123, p. 162.

    GIBSON, Willian. Neuromancer.

    ALEXANDRE, Slvio. O autor e sua obra, in Neuromancer.

    Hugo Cesar Hoeschlpost doc em governo eletrnico professor da UFSC.

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    tambm ex-secretario de Gerao de Oportunidades de Florianpolis.Especialista em Informtica Jurdica, doutor em Inteligncia Aplicada e ps-doutor em Governo Eletrnico. Ex-Promotor de Justia e ex-Procurador daFazenda Nacional.

    Revista Consultor Jurdico, 17 de maio de 2004, 15h37