CONSIDERAÇÕES ACERCA DAS ÁREAS DE RECARGA DO...

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CONSIDERAÇÕES ACERCA DAS ÁREAS DE RECARGA DO AQUÍFERO SERRA GERAL EM LONDRINA (PR) Alan Alves Alievi 1 Eixo temático: O CAMPO E A CIDADE RESUMO: Procurou-se, neste artigo, verificar as condições das áreas de recarga do Aquífero Serra Geral em Londrina (PR), para realizar algumas considerações acerca das condições ambientais das referidas áreas. Desta forma, foi possível verificar quais são os tipos de uso do solo nas áreas de recarga do Aquífero Serra Geral na área urbana. Com isso, houve a possibilidade de apontar alguns impactos que podem ser provocados por estes diferentes usos nas características dos recursos hídricos subterrâneos. As localidades mais problemáticas do ponto de vista sócio-ambiental e de risco de contaminação dos mananciais subterrâneos são as áreas que apresentam população de baixa renda, e que não são completamente assistidas por infraestrutura de saneamento básico. Este trabalho objetiva, em última instância, promover a discussão de questões ligadas a esse assunto, bem como ampliar os estudos e planos de delimitação e proteção das áreas urbanas de recarga de aquíferos. PALAVRAS-CHAVE: Londrina (PR), uso do solo, área de recarga, aquífero Serra Geral 1 INTRODUÇÃO Há, nos últimos, um crescente uso das águas subterrâneas devido à relativa facilidade de sua obtenção e diminuição de custos, sendo o esse uso quase irrestrito, devido à boa qualidade destas águas. Isto resulta com que as mesmas sejam uma alternativa viável, mas, ao mesmo tempo, preocupante, caso não sejam realizadas algumas considerações mais profundas acerca das áreas de recarga, muito importantes quando se trata das águas subterrâneas. 1 Licenciado em Geografia, mestrando em Geografia, Dinâmica Espaço Ambiental pela Universidade Estadual de Londrina UEL. Email: [email protected].

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CONSIDERAÇÕES ACERCA DAS ÁREAS DE RECARGA DO AQUÍFERO SERRA

GERAL EM LONDRINA (PR)

Alan Alves Alievi1

Eixo temático: O CAMPO E A CIDADE

RESUMO: Procurou-se, neste artigo, verificar as condições das áreas de recarga do Aquífero Serra

Geral em Londrina (PR), para realizar algumas considerações acerca das condições ambientais das

referidas áreas. Desta forma, foi possível verificar quais são os tipos de uso do solo nas áreas de

recarga do Aquífero Serra Geral na área urbana. Com isso, houve a possibilidade de apontar alguns

impactos que podem ser provocados por estes diferentes usos nas características dos recursos hídricos

subterrâneos. As localidades mais problemáticas do ponto de vista sócio-ambiental e de risco de

contaminação dos mananciais subterrâneos são as áreas que apresentam população de baixa renda, e

que não são completamente assistidas por infraestrutura de saneamento básico. Este trabalho objetiva,

em última instância, promover a discussão de questões ligadas a esse assunto, bem como ampliar os

estudos e planos de delimitação e proteção das áreas urbanas de recarga de aquíferos.

PALAVRAS-CHAVE: Londrina (PR), uso do solo, área de recarga, aquífero Serra Geral

1 INTRODUÇÃO

Há, nos últimos, um crescente uso das águas subterrâneas devido à relativa facilidade

de sua obtenção e diminuição de custos, sendo o esse uso quase irrestrito, devido à boa

qualidade destas águas. Isto resulta com que as mesmas sejam uma alternativa viável, mas, ao

mesmo tempo, preocupante, caso não sejam realizadas algumas considerações mais profundas

acerca das áreas de recarga, muito importantes quando se trata das águas subterrâneas.

1Licenciado em Geografia, mestrando em Geografia, Dinâmica Espaço Ambiental pela Universidade Estadual de

Londrina – UEL. Email: [email protected].

A importância da água subterrânea pode ser resumida em alguns números

apresentados pelo IBGE (2000), em que se verificou que aproximadamente 61% da população

brasileira é abastecida, para fins domésticos, com água subterrânea, sendo que 6% se auto-

abastece das águas de poços rasos, 12% de nascentes ou fontes e 43% de poços profundos. O

número de poços tubulares em operação no Brasil está estimado em cerca de 300.000, com

um número anual de perfurações de aproximadamente 10.000 (MMA, 2002).

Objetiva-se, neste trabalho, realizar um levantamento dos diferentes usos do solo sobre as

áreas de recarga do Aquífero Serra Geral em Londrina-PR, assim como realizar algumas

considerações em termos de impactos sócio-ambientais resultantes destes usos sobre a água

que ingressa nestes solos e que abastece as reservas subterrâneas.

O levantamento do aspecto geológico, em que se encontra Londrina (PR), permite

inferir sobre as áreas de lineamentos estruturais, numa escala local, caracterizando-os como

pontos de recarga do aquífero Serra Geral, aquífero este caracterizado por ser do tipo

fraturado, contido em rochas basálticas oriundas de processos vulcânicos da Formação Serra

Geral. O fraturamento desta formação geológica permite o condicionamento de água em suas

fissuras, compondo, desta forma, um reservatório denominado Aquífero Serra Geral.

Esta avaliação é necessária devido à importância de se estabelecer políticas de gestão

de recursos hídricos, tanto com embasamento teórico e empírico na proteção das áreas de

recarga de aquíferos, como com a implantação de ações práticas devido à importância

gradativa que estes recursos hídricos subterrâneos vêm adquirindo nas últimas décadas,

principalmente no que tange ao seu uso no abastecimento público.

A partir de levantamentos de campo, bem como de pesquisa bibliográfica em estudos sobre

uso e ocupação do solo em Londrina (PR), realizados por Barros (et al, 2008) e Kishi (2003),

verificou-se os tipos de uso do solo nas áreas de recarga do aquífero Serra Geral em Londrina

(PR). Assim, avaliaram-se algumas consequências desses diferentes usos nas características

desses recursos hídricos subterrâneos.

2 GEOLOGIA DA ÁREA DE ESTUDO

A cidade de Londrina (PR) localiza-se a 23°18'36" S e 51°09'46" O e está situada

sobre a Formação Serra Geral, caracterizada por ser formada de rochas vulcânicas basálticas,

representadas pelos sucessivos derrames (CELLIGOI & DUARTE, 1997, p. 118). Estes

derrames são geralmente constituídos de efusivas basálticas ou simplesmente basaltos,

independentemente de sua eventual variação litológica. Segundo Rebouças (1978), a

circulação e acúmulo de água subterrânea nesta unidade são determinados pelas zonas de

fraturamento e falhamentos, bem como pelas descontinuidades entre os derrames – zonas

vesículo-amigdaloidais.

Segundo Filho (1997), a água que se infiltra no solo pode ser dividida em 3 partes

diferentes: a primeira permanece na zona não-saturada, a zona onde os vazios do solo estão

parcialmente preenchidos por água e ar, acima do nível freático. A segunda, denominada

interfluxo (escoamento sub-superficial), pode continuar a fluir lateralmente e alcançar os

leitos dos cursos d’água. Por fim, a terceira parte pode percolar até o nível freático,

constituindo a recarga do aquífero. A profundidade deste nível freático varia conforme

mudanças climáticas, topografia da região e permeabilidade da rocha (LEINZ, 2003, p. 78).

Neste último nível, abaixo da superfície piezométrica, que também é conhecido como

zona saturada, a água subterrânea preenche os poros – vazios intergranulares – das rochas

sedimentares, ou as fraturas, falhas e fissuras das rochas compactas (cristalinas). Leinz (2003)

afirma que as águas atingem esta zona por gravidade, até alcançar uma profundidade limite,

onde as rochas estão tão saturadas que a água não pode penetrar mais, simplesmente porque

os poros e capilares estão cada vez menores, devido à compressão das rochas superiores.

A taxa de ingresso da água na zona de recarga deste tipo de aquífero depende

basicamente do grau de fraturamento, dos afloramentos rochosos assim como do tipo de solo

existente nos topos dos mesmos, da inclinação, da cobertura vegetal, e da intensidade de

chuvas (chuvas pouco intensas e prolongadas aumentam a taxa de infiltração, aumentando a

possibilidade de armazenamento no aquífero) (MOTA, 1995).

Em se tratando de zonas urbanas como a que se discute neste trabalho, outro elemento a se

destacar é a superfície impermeabilizada formada pelas ruas, calçadas, prédios, casas, etc.,

que dificulta a ingresso das águas da chuva que viriam a recarregar o aquífero, logo abaixo

desta superfície. Entretanto, além deste problema, sabe-se que os resíduos gerados das

diferentes atividades humanas neste ambiente, provocam a poluição dos recursos hídricos

tanto superficiais como subterrâneos. Não sendo suficiente, a dificuldade promovida pela

superfície impermeabilizante da zona urbana na capacidade de infiltração da água da chuva,

ainda existe o prejuízo do contato destas águas com substâncias poluidoras, oriundas das

atividades da sociedade sobre esse espaço urbano.

3 RELEVO DE LONDRINA (PR)

Para reconhecer as feições do relevo que reflitam as condições geológicas de

determinada localidade, faz-se uso da interpretação visual por meio de fotografias aéreas,

mapas de relevo (topográficos), etc., das feições lineares identificáveis no terreno. Estas

feições lineares (ou mesmo curvilíneas), quando significantes no relevo, são denominadas

lineamentos. Segundo Hudgson (1974, p. 4) “[...] um lineamento é considerado uma feição

mapeável da superfície, linearmente simples ou composta, que está alinhada de forma

retilínea ou suavemente encurvada”.

A partir do relevo podem-se verificar quais são as áreas mais propícias à infiltração da

água de precipitação. Geralmente, os aquíferos fraturados como é no caso do Serra Geral, são

abastecidos por meio das fraturas e fissuras que ocorrem na própria formação geológica. É

possível analisar as formas de relevo e identificar as possíveis ocorrências de fraturas a partir

de alguns aspectos do mesmo, principalmente, por meio do estudo da rede de drenagem, que

pode fornecer fortes indícios de fraturas (diáclases ou falhas), permitindo então a localização

das mesmas e seu mapeamento. Então, através do mapeamento dos lineamentos, que são

interpretados como fraturas presentes nas rochas, podem-se identificar as áreas de recarga de

aquíferos ou que, pelo menos, sejam as mais propícias para tal.

Figura 1. Zonas de fraturamento do embasamento rochoso da Formação Serra Geral, onde se assenta

o perímetro urbano de Londrina (PR). Adaptado de Celligoi & Duarte (1997).

No caso de Londrina (PR), verifica-se que as zonas de recarga compreendem

principalmente os pontos mais altos do relevo conforme figura 01 acima, pois mesmo que as

fraturas do relevo estejam condicionando os cursos d’água da cidade, o que se levaria a

deduzir que são os rios que abastecem o aquífero, na verdade, não é o que acontece, pois estes

rios são caracterizados por serem do tipo efluente, ou seja, são eles próprios abastecidos pelos

mananciais subterrâneos e não o contrário.

Contribui para isto o clima subtropical úmido da cidade, que apresenta precipitação

pluviométrica o ano todo, abastecendo assim os reservatórios subterrâneos que por sua vez

abastecem os cursos d’água da cidade. Diferente do que ocorre, por exemplo, nas zonas

áridas, em que devido a pouca umidade e precipitação, os rios tendem a infiltrar no solo e

abastecer os reservatórios subterrâneos de água, pois o nível hidrostático do aquífero em

questão está abaixo no nível do rio, ou mesmo lago, lagoa, etc.

Portanto, neste trabalho verifica-se a existência da zona de recarga nas porções mais

altas do relevo do perímetro urbano de Londrina, e assim, o mapeamento destas áreas se

conformou como na figura 01.

4 ÁREAS DE RECARGA DA ÁREA DE ESTUDO

A origem da água subterrânea está relacionada ao ciclo hidrológico, que é um sistema

natural (fechado) em que a água circula do oceano para a atmosfera, para depois ser

precipitada para os continentes e então, retornar ao oceano superficialmente e/ou

subterraneamente. Nesse último meio (subterrâneo), parte da água infiltrada é retida pelas

raízes das plantas e acaba evaporando por meio da capilaridade2 do solo ou pela

evapotranspiração destes vegetais. A outra parte move-se para camadas mais profundas, por

efeito da gravidade, formando assim as águas subterrâneas.

Assim, numa das etapas do ciclo hidrológico, que é o ciclo de movimentação da água

pelo planeta e que abrange os meios atmosférico, aquoso e terrestre (simplificadamente), a

água infiltra-se no solo para então alcançar o meio subterrâneo, compondo então o aquífero

daquela determinada localidade. Para tanto, a água da superfície precisa ter as condições

2 Capilaridade é a subida (ou descida) de um líquido através de um tubo fino, que recebe o nome de capilar.

necessárias para infiltrar-se no solo, percolar os diferentes horizontes do mesmo, para

posteriormente alcançar o leito rochoso. (MOTA, 1995)

Desta forma, boa parte da água subterrânea se origina da superfície do solo, sendo a

recarga feita da precipitação, cursos d’água e reservatórios superficiais (MOTA, 1995, p.

141). Segundo o mesmo autor, as águas subterrâneas podem ocorrer em duas zonas: na zona

não saturada, ou de aeração, onde os interstícios estão parcialmente ocupados por água e

parcialmente ocupados por ar; e na zona de saturação, na qual todos os interstícios estão

ocupados por água sob a pressão hidrostática (MOTA, 1995, p. 141)

Interessante ressaltar que a água pode mover-se verticalmente num aquífero saturado,

ou então lateralmente, e conforme assevera Mota (1995, p. 144) “[...] O tipo de movimento

influi na percolação e sobrevivência dos poluentes, bem como na distância que os mesmos

podem alcançar a partir de determinada fonte”. Desta forma, pode-se afirmar que a

movimentação de poluentes segue o sentido do fluxo da água no meio subterrâneo,

considerando que as águas que percolam todo o substrato pedológico e alcancem a zona

saturada, e que porventura apresentem traços de elementos poluentes, podem movimentar-se

horizontalmente nesta zona, é possível inferir que estas mesmas águas venham a abastecer os

rios efluentes3 que estejam localizados próximos às áreas de afloramento do aquífero,

tangencialmente ao nível freático do mesmo.

5 USO DO SOLO NAS ÁREAS DE RECARGA

Cabe sempre ressaltar que determinados tipos de solos têm determinadas respostas à

sua utilização, o que pode provocar, dependendo do tipo de uso, uma degradação mais

contundente, contribuindo, assim, para uma maior propagação de agentes

poluidores/contaminantes no meio pedológico e, consequentemente, no meio hídrico

subterrâneo.

Segundo BARROS et al (2008), verifica-se que os latossolos e nitossolos ocupam a

maior parte do perímetro urbano, sendo que a malha urbana e principalmente as áreas de

recarga, estão sobre esses tipos de solo. No caso do latossolo, as maiores áreas de ocorrência

do mesmo situam-se na Zona Norte (bairros como Eldorado, Cinco Conjuntos, Cidade

Industrial, Pq. Indústrias Leves, Ouro Verde, Coliseu, Lindóia) e na Zona Sul (Esperança,

3 Rios efluentes são rios em que a recarga é feita tanto pelo aquífero como pela precipitação em sua cabeceira,

tornando-o perene e caudaloso.

Vivendas do Arvoredo, Terra Bonita), ocorrem também margeando a porção central da

cidade, mais precisamente acompanhando o curso do ribeirão Cambé (que forma o Lago

Igapó) seguindo pela sua vertente direita, e outra pequena área abarca alguns bairros da Zona

Leste, como o Ernani, Antares, Hospital Universitário e Aeroporto.

Segundo STIPP (2000) os latossolos ocorrem nos espigões divisores d’água, ou seja,

ocupam normalmente posições de topo até o terço médio das encostas suave-onduladas,

típicas das áreas de derrames basálticos, são solos com alta permeabilidade à água, o que se

traduz numa maior infiltração (EMBRAPA, 2009). São solos muito apropriados à recarga de

aquíferos.

Conforme Embrapa (2009), os nitossolos formam-se sobre rochas básicas e ocupam as

porções média e inferior de encostas onduladas até fortemente onduladas. É comum sua

ocorrência em áreas bem drenadas, próximas a cursos d água onde predominam rochas

básicas (basalto, diabásio). Estão frequentemente associadas à Latossolos vermelhos escuro.

Verifica-se que estas áreas coincidem, na sua maioria, nas áreas de ocorrência de

latossolos, que como demonstrado, ocupam os topos de morro. Os usos destes solos são

diversificados, basicamente são de uso residencial, comercial, industrial, áreas públicas

(praças, campos de futebol, etc.), áreas verdes e vazios urbanos.

Segundo Kishi (2003), as áreas mais verdes de Londrina (PR) encontram-se na zona Sul, que

apresenta um relevo mais acidentado, enquanto que na zona Norte encontra-se um relevo que

favorece a ocupação, propiciando o desmatamento destas áreas e a subsequente ocupação dos

solos desta localidade pela malha urbana. Grande parte desta malha está sobre as áreas de

recarga, principalmente nas zonas Norte e Oeste e em parte da zona Central e da zona Sul.

A porção da área de recarga mais a Oeste (na direção de Cambe) abrange os bairros

Cilo 34, Cilo 2, Leonor, Bandeirantes, Jamaica, Champagnat, Quebec, Shangri-lá e Sabará. O

uso do solo para essa área se resume a uso residencial, principalmente nos bairros Shangri-lá,

Quebec, Champagnat, Bandeirantes, Jamaica, Leonor e Coliseu. As zonas industriais e

atacadistas concentram-se principalmente nos Bairros Cilo 2 e Cilo 3 e margeando a Av.

Tiradentes, até a altura do bairro Quebec. Nestes mesmos bairros, excetuando o Quebec,

encontram-se muitos vazios urbanos, caracterizados por terrenos sem ocupação alguma,

tomados muitas vezes por mato e até mesmo sendo utilizados como depósitos de lixo, assim

como há terrenos sem vegetação alguma sobre eles.

4 Na década de 1970, o poder público delimitou a implantação de indústrias próximas ao centro urbano em

espaços mais vantajosos para esta atividade, estes espaços foram denominados CILOS. (KISHI, 2003)

Existem também áreas de uso especial, que segundo Barros (et al, 2008), são áreas

abertas que contam muitas vezes com a presença de vegetação que influencia beneficamente

na infiltração da água no solo, como também no clima urbano. Correspondem à localização de

instituições, em grande maioria, públicas como a Universidade Estadual de Londrina, o

Instituto Agronômico do Paraná - IAPAR, o Aeroporto de Londrina e o Autódromo

(BARROS et al, 2008). Entretanto, como os autores afirmam, ocupam apenas 2,97% do

perímetro urbano.

Nesta área Oeste, identifica-se o Parque de Exposições Ney Braga e o terreno que era

ocupado pelo Hipódromo. Atualmente, parte deste é utilizada pela Pontifícia Universidade

Católica de Londrina (PUC). Existe, ainda, no bairro Cilo 3, o uso agrícola, com pequenas

propriedades rurais e sítios. Cabe ressaltar que, nos bairros residenciais da zona Oeste também

se encontram praças públicas e verdes viários, dentre outros, tal como pode-se verificar em

outras zonas da cidade. Esses são lugares que de certa forma, facilitam a infiltração da água

das chuvas no solo.

Na zona Norte, a área de recarga recobre bairros como o Eldorado, Perobinha, Parigot

de Souza, Ouro Verde, Vivi Xavier, Cinco Conjuntos, Autódromo e Pacaembu. Nesta zona

encontra-se variados usos, mas principalmente o uso residencial se faz mais presente. Os

vazios urbanos podem ser encontrados em quase todos estes bairros, mas no que se refere

àqueles situados sobre a área de recarga, os vazios urbanos mais relevantes estão nos bairros

Vivi Xavier, Eldorado, Ouro Verde e Pacaembu.

Dentre todos estes bairros, somente o Perobinha apresenta um uso agrícola mais

relevante (BARROS et al, 2008). Após a década de 1950, com o declínio da produção

cafeeira, houve a substituição da cultura perene (café) pela rotativa cerealista, como a soja e o

trigo. Isto acarretou uma série de problemas ambientais, pois houve um aumento na utilização

de insumos agrícolas no controle de pragas (KISHI, 2003). Atualmente, estas áreas agrícolas

remanescentes, próximas à malha urbana estão ocupadas por pequenas propriedades (culturas

de pequeno porte) e sítios utilizados dentre outras coisas, para o lazer. Entretanto, ainda

podem-se observar resquícios das atividades anteriores nos solos provavelmente

contaminados por pesticidas, dentre outros insumos agrícolas usados para o controle de

pragas.

Outra questão relevante sobre o uso do solo na área de recarga é a utilização do

mesmo para cemitérios. Na zona Norte de Londrina-PR, encontra-se o cemitério Jardim da

Saudade, mais precisamente na Av. Saul Elkind, no conjunto Vivi Xavier. Este é um

cemitério implantado no ano de 1984, e que tem atualmente cerca de dois mil jazigos,

segundo dados da Acesf (Administração de Cemitérios e Serviços Funerários –

www.acesf.com.br).

A decomposição dos corpos enterrados pode gerar contaminantes para águas

subterrâneas, caso os mesmos estejam enterrados de maneira inapropriada e localizados em

áreas onde a profundidade do solo seja pequena, onde ocorram as possibilidades de que as

valas tenham uma profundidade que alcance o nível freático local. A contaminação pode se

dar por necrochorume (efluentes líquidos resultantes da decomposição dos corpos) e

substâncias químicas que compõem os caixões.

Até o momento, nenhum estudo preliminar identificou problemas dessa natureza em

relação a este cemitério e seus túmulos foram construídos seguindo os requisitos mínimos

instituídos pelo IAP (Instituto Ambiental do Paraná). Ainda assim, faz-se necessário um

monitoramento contínuo dos solos e das águas de superfície e sub-superfície dos cemitérios,

posicionados em áreas de recarga.

A zona Norte caracteriza-se por apresentar em sua maioria, como antecipado, um uso

residencial dos solos. Observando o mapa de áreas de recarga, obtém-se a justaposição deste

uso residencial na maior parte destas áreas. A condição sócio-econômica da população

residente nestas localidades caracteriza-se por ser de baixa renda, com pouco acesso a

infraestrutura de saneamento básico em alguns bairros, notadamente, alguns ocupam as áreas

de recarga do aquífero.

Na área central de Londrina (PR) verifica-se também a ocorrência de outra zona de

recarga. No entanto, a malha urbana, que aqui se encontra mais concentrada, funciona como

uma capa impermeável, promovendo o fluxo de água das chuvas superficialmente por esta

malha, que acaba por não ingressar o solo, não atingindo o nível freático. A área central de

Londrina (PR), densamente ocupada e, portanto, pouco permeável devido à superfície ser

recoberta por construções, calçadas, asfalto, etc., localiza-se justamente no ponto mais alto do

espigão divisor de águas, local típico de uma zona de recarga. Caracteristicamente, nesta área

central o uso do solo se resume ao residencial, comercial, espaços públicos como praças,

bosques (que ajudam na infiltração das águas) e uso especial.

No sentido Oeste-Sul, abrangendo os bairros Sabará, Olímpico, Universidade,

Palhano, Vivendas do Arvoredo e Guanabara, o uso do solo compreende grandes áreas de

vazio urbano, loteamentos residenciais, áreas de uso especial como a Universidade Estadual

de Londrina, algumas porções de uso agrícola nas proximidades da mesma Universidade, rede

viária e algumas unidades de conservação de mata nativa. Devido à ocupação não ser

pronunciada como nas outras áreas destacadas, os impactos ambientais destes usos sobre as

áreas de recarga são possivelmente menores, exceto no caso de bairros como o Sabará e

Olímpico, que apresentam, junto de outros bairros em outras localidades da cidade, os

mesmos problemas anteriormente levantados.

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

partir do exposto, cabe tecer algumas considerações que necessitam ser levadas em

conta no uso e manejo dos solos do perímetro urbano de Londrina (PR) que se encontra sobre

as zonas de recarga do Aquífero Serra Geral, conforme demonstrado neste estudo.

Verificou-se que a zona de recarga recobre áreas da cidade caracterizadamente

residenciais que não apresentam maiores impactos sobre os solos em que se assentam. Os

maiores impactos se resumem à impermeabilização promovida pelas construções, arruamento

e calçadas de concreto que impedem o ingresso das águas da chuva no solo abaixo. Na zona

Oeste, onde se verifica uma maior área de ocorrência da zona de recarga, observa-se também

uma quantidade considerável (ainda que menor do que na zona Norte) de vazios urbanos que

podem, de certa forma, contribuir para a infiltração das águas. Porém, é preciso levar em

conta que muitos desses vazios acabam se tornando depósito de lixo, tanto doméstico como

de construção, que quando em contato com as águas de precipitação, podem contribuir para a

contaminação destas e consequentemente poluir a água subterrânea subsequente, entretanto,

são necessários maiores estudos acerca deste fato.

Ainda não existem estudos sistemáticos, até o presente momento, que demonstrem

uma profícua contaminação das águas subterrâneas nas zonas industriais de Londrina (PR).

Segundo dados da CODEL (Instituto de Desenvolvimento de Londrina), a cidade apresenta

um complexo industrial constituído de cerca de 3.107 indústrias de diversos setores. Destas,

as mais relevantes em questão de número e possível impacto ambiental, a partir da forma

como praticam suas atividades sobre os terrenos onde estão instaladas, são as indústrias dos

setores de produtos minerais não-metálicos; metalurgia; couros; peles e similares; vestuários;

produtos alimentares; química; bebidas; dentre outras.

Todos estes setores geram resíduos que podem vir a contaminar as águas superficiais,

assim como os solos adjacentes. No entanto, a maioria destas indústrias não está localizada

sobre as zonas de recarga, e as poucas que estão ainda não foram investigadas a respeito.

Sendo mais um indicativo da necessidade de maiores estudos acerca do assunto abordado

neste trabalho.

As localidades de maior risco do ponto de vista sócio-ambiental e de contaminação

dos mananciais subterrâneos são as áreas que apresentam população de baixa renda, e que não

são completamente assistidas por infraestrutura de saneamento básico. Muitos destes lugares,

como os bairros Olímpico e Sabará (zona Oeste), assim como porção considerável da zona

Norte, detêm elevada quantidade de fossas rudimentares (negras) que muito contribuem para a

provável contaminação de águas subterrâneas, sendo um agravante o fato de que muitas

destas fossas se encontram sobre as áreas de recarga apontadas neste trabalho, e não se

presume até que ponto a contaminação das águas que por ali percolam alcançaram limites

insustentáveis de poluição.

REFERÊNCIAS

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