Constituiçao de Em Imagens
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II CONINTER Congresso Internacional Interdisciplinar em Sociais e Humanidades Belo Horizonte, de 8 a 11 de outubro de 2013
CONSTITUIAO DE/EM IMAGENS IDENTIDADES DE GNERO EM APRENDIZAGEM.
FONTES, JULIO C. M.
Estudante do curso de Especializao lato sensu em Mdias na Educao UFOP/MG. Licenciado e Bacharel em Educao Fsica, UFMG.
RESUMO
A cultura dos desenhos animados nas experincias infantis das crianas brasileiras proporciona inmeras possibilidades de aprendizagem das dimenses que circundam meninos e meninas em suas prticas socioculturais. Pensando na visibilidade, visualidade e interao que os desenhos animados realizam nas crianas, este trabalho tenta mostrar atravs da cultura visual das histrias da Turma da Mnica, como os personagens deste universo infantil vivenciam, compreendem, e aprendem as identidades de gnero masculinidades e feminilidades nos diferentes contextos de prticas culturais e na interao com os diferentes indivduos participantes das narrativas visuais.
Palavras-chave: Identidade de gnero. Identidade de gnero e cultura visual. Identidade de gnero e infncia.
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Os momentos e movimentos, as coisas, objetos, instrumentos de trabalho, as vestimentas, os
passos, os gestos, posturas, falas, discursos, as posies, as hierarquias, os pertencimentos,
os agrupamentos comumente direcionados aos sujeitos transpassam pelos aprendizados das
pessoas na perspectiva das relaes cotidianas das identidades de gnero ocorrendo em
diversos contextos de prtica social. Consequentemente, os traos configurados em figuras,
fotos e imagens, em especial, construdos pelos desenhos animados, apreciado em grande
parte pelo pblico infanto juvenil, tambm espao de aprendizagem das identidades de
gnero. Neste sentido, tentarei, nestas linhas imagticas, mostrar atravs da cultura dos
desenhos animados pelos quais meninos e meninas possuem acessibilidade pelas relaes
estabelecidas nas prticas socioculturais, como as vivncias e experincias constitudas
pelos personagens desta historias virtuais e reais pelas visibilidades e visualidades dialogam,
compreendem e aprendem entre seus pares as identidades de gnero masculinidades e
feminilidades. Dentro das possibilidades de histrias em desenhos animados que habitam o
universo das infncias das crianas brasileiras, escolheu se a Turma da Mnica por haver
identificao das crianas com os personagens e ter visibilidade mais difundida em todas as
origens sociais.
AS IMAGENS E FACETAS PELA CULTURA E ANTROPOLOGIA
VISUAL.
O que as imagens mostram, falam, traduzem? Quais os aprendizados masculinos e femininos
que os sujeitos visualizam nas relaes com as histrias nos desenhos animados? Indagar
sobre estas questes produzir outros questionamentos, outras interaes, outras
visibilidades, outras imagens. Dvidas e problemticas que dialogam com as contribuies de
Cunha (2008, p.118): que interpretaes sobre o mundo as crianas esto realizando via
telas? Que efeitos de realidades esto sendo elaboradas a partir destes referentes? Como
os imaginrios esto sendo constitudos nestas interaes virtuais? Que olhares sobre o
mundo esto sendo produzidos?.
Aprendizagens de algo, sobre o mundo, as relaes das coisas em instncias diversas, de
acordo com Brougre e Ulmann (2012), um processo complexo que no se reduz na
transmisso de informaes, contedos e conhecimentos. Aprender um ato voluntrio que
ocorreria num contexto especifico e que requereria uma constante atividade dos sujeitos. O
que caracterizaria esta perspectiva pensar as aprendizagens pelos interesses, no
estabelecimento e nas interaes sociais, a construo de sentidos nas atividades
executadas. Assim, o sujeito que aprende seria epistmico, em que a relao com o saber
seria uma relao reciproca consigo mesmo e com o outro, consigo e com o mundo. Neste
sentido, os autores argumentam que a mdia capaz de modificar comportamentos e, sendo
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assim, processos de aprendizagem. Pois, um modo de objetivar uma aprendizagem consiste
em notar modificaes de comportamentos. (Brougre e Ulmann, 2012).
As aprendizagens que buscamos em outras reas do conhecimento encontram nas
dimenses tericas metodolgicas da antropologia visual possibilidades de interao para
dar sentido aos objetivos pretendidos com as visualizaes e aes dos sujeitos em prticas
sociais. Ribeiro (2005) expe em suas anlises sobre o campo da antropologia visual, trs
dimenses sobre este conhecimento: primeiro, o estudo dos aspectos picturais da cultura, das
pinturas das cavernas a fotografias, filmes, televiso, vdeo domstico; o uso dos meios
visuais para comunicar o saber antropolgico; e, o estudo das manifestaes visuais da
cultura encontrados atravs das experincias das pessoas nas expresses faciais,
movimentos corporal, danas, vesturios e adornos corporais, uso simblico do espao e os
objetos. Quanto mais a antropologia se aproxima do material e do corporal, mais as imagens,
estticas ou no, um campo fcil de expresso (Godolphim, 1995).
Para Ribeiro (2005, p. 621), a primeira funo das imagens em antropologia foi a prtica de
documentar criar algo portador de informao que traz em si a inscrio e o registo de um
acontecimento observvel ou verificvel, as imagens funcionariam como meio de
representao ao ir de encontro ao sujeito na argumentao acerca de uma realidade, um
acontecimento ou tema. Dentro destas possibilidades as aproximaes entre a Antropologia e
as imagens identificariam: a busca do registro de diferentes modos de vida; sua funo
enquanto memria e acervo de diversos modos de ser; o desejo de proximidade com aqueles
que nos so distantes; a relao com o mundo do outro; a tentativa de reconstruir esse outro
mundo; a tentativa de buscar no outro o que de si, fazendo do outro um espelho; a busca
incessante de aspectos universais nos diferentes modos de ser humano, at mesmo certo
voyeurismo (Novaes, 2009). Sendo assim, a fotografia, representaria e expressaria as
articulaes espaciais, e o cinema, alm de registrar os deslocamentos de tempo espao,
seguindo a dinmica das interaes sociais teria a possibilidade de registrar as vozes.
(Godolphim, 1995).
Alguns autores (Joly, 1996, Novaes, 2009, Cunha, 2008, Mierzoeff, 2003, entre outros)
retratam as imagens como observao da experincia humana, intercesso e produo entre
homem e mundo, penetram em nosso cotidiano de diferentes abordagens e alteram o nosso
modo de ser e perceber a realidade que se encontra as pessoas. Assim, no ponto de vista de
Joly (1996), as imagens so como mensagens visuais, compostas de signos, ferramenta de
expresso e comunicao, consideradas expressivas ou comunicativas, determinantes para a
compreenso dos contedos de visualidades das aprendizagens entre os sujeitos. Portanto,
Os significados das imagens so construdos nas interaes sociais e
culturais que realizamos com elas. Os contextos sociais e culturais, amplos
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ou especficos, e as pessoas, do existncia aos materiais visuais
atribuindo-se significados. Portanto, o sentido no emana das imagens,
mas dos dilogos produzidos entre elas e as pessoas, sendo que estes
dilogos so mediados pelos contextos culturais e histricos (Cunha, 2008, p.
111).
Assim sendo, nenhuma narrativa oriunda de imagens definitiva ou exclusiva, seus
significados so considerados mveis, parciais, h mobilidade e variedade no modo como so
constitudos e negociados.
Sardelich (2006) nos prope refletir sobre a leitura de imagens evidenciando suas
proximidades e distncias na aplicao destas possibilidades nas prticas educativas e
pedaggicas. Em suas argumentaes, a autora afirma que as imagens simplesmente no
cumprem a funo de informar ou ilustrar, mas tambm de educar e produzir conhecimento
atravs da apreciao, decodificao e interpretao das imagens constitudas e vinculadas
em nossa vida cotidiana. Para a autora, ler uma imagem significa analisar tanto a forma como
elas so construdas e constitudas e operam em nossas vidas, como o contedo que
comunicam em situaes concretas e especificas. Assim, ler, ver e entender as imagens seria
constituio do olhar com o sentido da realidade algo que aparece em
nossa linguagem cotidiana, em nossas expresses como: ponto de vista,
perspectiva, sem sombra de dvida, ter ou no ter a ver, vises de mundo,
quando nos diferenciamos entre lcidos e alucinados, iluminados e sombrios
(Wunder, 2006, p.2).
A cultura visual enquanto estratgia para compreender a vida contempornea, trata o visual
como um lugar desafiante de interao social e definio em termos de classe, gnero,
identidade sexual e racial. Local onde se criam e se discutem significados, a cultura visual,
redimensiona os valores e identidades construdos e comunicados via mediao visual, como
tambm natureza conflituosa desse visual devido aos seus mecanismos de incluso e
excluso dos processos identitrios. As identidades e as experincias das pessoas so
construdas e de sobremaneira determinada por uma gama variada de imagens, discursos e
cdigos. Com isso, as imagens atuam como novas e velhas formas de poder como tambm
de ensaios de novas formas de sociabilidades (Sardelich, 2006, p. 462).
Segundo Almeida (2003), a mdia audiovisual, pelos usos de aparelhos tecnolgicos, contribui
para as aprendizagens de crianas e jovens devido a sua linguagem produzida atravs da
interao entre imagens, movimentos e sons em que a comunicao resulta do encontro entre
palavras, gestos e movimentos. Neste sentido, adentrar nas imagens projetadas pelos
desenhos animados, vale a pena no proposito de mostrar que as questes de gnero, nas
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prticas visuais das histrias em quadrinhos e nos desenhos animados, seriam de
fundamental importncia a serem discutidas nas prticas cotidianas pelas visualidades que
perpassam os contextos sociais. Tais como mitos, rituais, vivencias, as imagens flmicas
agregam sentido, dramatizam situaes do cotidiano, representam a vida social. Os aspectos
recorrentes e inconscientes do agir social esto igualmente presentes nas imagens flmicas e
fotogrficas, cabendo ao pesquisador investigar as relaes que se constroem e os
significados que as constituem (Novaes, 2009, p.19).
De acordo com Cunha (2008), os produtos da Turma da Mnica possuem o poder de difundir
ensinamentos e contedos, de falar sobre e para a infncia. E, que as imagens sempre
contam histrias de determinados pontos de vista e perspectiva, com vises de mundo, com
intencionalidades de quem as produziu e as reproduziu no trato das histrias e significados
construdos pelos sujeitos em suas relaes sociais. As imagens moldam os modos de ver,
territorializam tribos, constroem e disputam significados. Neste sentido, concordo com as
indagaes da autora: Que contedos universais as corporaes de entretenimento sobre a
Turma da Mnica propagam? O que os produtores das histrias da Turma da Mnica querem
ensinar disfaradamente s crianas? O que e como o universo visual ensina a infncia e a
ns sobre a infncia?
Portanto, torna-se relevante o fazer refletir sobre as possibilidades de aprendizagem nas
visualidades a partir das narrativas das produes, no no sentido de copiar imagens e/ou
personagens, mas na tentativa de propor solues aos conflitos mostrados. Estas relaes
esto imbudas de modelos e cdigos hegemnicos, porque, as prticas visuais (...)
caracterizadas por padres culturais e estticos da comunidade e da famlia so respeitados e
inseridos na educao, e aceitos como cdigos bsicos a partir dos quais se deve construir a
compreenso e imerso em outros cdigos culturais. (SARDELICH, 2006, p. 464).
IDENTIDADES DE GNERO E SUAS RELAES COM AS CRIANAS.
As sociedades se constituem e constroem pelas relaes envolvidas entre os sujeitos nos
diferentes contextos sociais. Como possibilidade de compreender as relaes humanas, as
aprendizagens que envolvem as interaes sociais, o gnero um meio para entender estas
formas de aprendizado destas interaes. Nas contribuies de Lipset (2009, p. 60), o que
distingue homens de mulheres no so apndices e orifcios, mas as relaes sociais em
cujos contextos eles so ativados... A diferena ... envolve interaes, no atributos. Os
corpos em suas dimenses de gnero no pertencem s pessoas, mas so compostos das
relaes das quais uma pessoa composta. As crianas o repositrio de aes de
mltiplos outros. Estes sujeitos constituem as relaes sociais das quais compostos em
-
situaes posteriores a que esto vivenciando para criar outros laos no sentido de reconstruir
os j existentes, a atividade social a dissoluo de entidades completas (Strathern, 1997,
p.41). Consequentemente,
A "necessidade" de transmitir e passar adiante a cultura, de forma
semelhante propriedade, apresentada como uma condio humana geral
e uma pr-condio para a continuidade. Parece to bvio que as crianas
tenham de "aprender" cultura, "aprender" regras sociais, tal como aprendem
uma lngua, que se supe que outros povos percebem a mesma
necessidade. (...) prticas como ritos de iniciao so instrumentos
deliberados de socializao. A inteno dos atores lida como um desejo de
transformar as crianas em adultos, equipando-as com o aparato apropriado,
moldando-as segundo uma forma. (Strathern, 1997, p.12)
O processo que envolve o aprendizado e a construo/constituio de masculinidades e
feminilidades nos muitos contextos sociais em que as pessoas vivem, um empreendimento
coletivo levado adiante por e em diversos grupos sociais. Paechter (2009) em sua narrativa
traz elementos relevantes do aprendizado da masculinidade e da feminilidade tendo como
pano de fundo para sua construo terica as contribuies de Lave e Wenger (2003). A
autora (2009) narra em suas contribuies, relevantes concepes e analises sobre as
identidades de gnero as masculinidades e as feminilidades - desenvolvidas por meninos e
meninas desde o nascimento at a juventude perpassando pelas contribuies da famlia, da
escola, da cultura de pares. Todos estes contextos apresentam graus diferenciados de
importncia em momentos diversos da vida das crianas. A autora (2009) enfoca o modo
como as crianas pensam sobre si prprias, uma sobre as outras e sobre os adultos que as
rodeiam em termos de homens e mulheres. A abordagem desta concepo sobre o
desenvolvimento das identidades masculinas e femininas um processo essencialmente
cognitivo. Ou seja, a compreenso que meninos e meninas possuem sobre si e o que isto
significa nos ambientes especficos de aprendizagem a estopim que subjaz s diferena dos
comportamentos entre os sexos. E, por isso, as aprendizagens relacionadas a ser homem ou
mulher ocorrem em comunidades de prtica de masculinidade e feminilidade.
Para Barbosa (2007, p.107), a infncia e os movimentos das crianas um dos perodos mais
intensos onde se vivem as relaes das identidades de gnero. Gnero em suas identidades
e identificaes no esttica, ser um menino ou menina um processo dinmico e
partilhado com os outros nas relaes e interaes dirias e cotidianas. As interaes sempre
so interpoladas por performances de cada um dos participantes na ao, o processo de
construo das identidades de gnero incessantemente um processo de descoberta,
confronto e experimentao. Neste sentido, focar no gnero e entender a infncia como um
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perodo no qual a identidade de gnero se assume como relevante, seria possvel a partir das
observaes das aes do brincar e de suas rotinas, na percepo do papel que as crianas
tm na construo das suas identidades e representaes de gnero. E, tambm pelas
interaes constitudas nas imagens visualizadas pelas crianas em suas dimenses nos
desenhos animados.
As identidades de gnero algo que se aprende, que constantemente mostrado,
(re)produzido e (re)configurado, alm de ser encenado entre todos os sujeitos envolvidos nas
prticas sociais. Portanto, evidencia no apenas o que somos, mas o que fazemos, como nos
apresentamos, como pensamos sobre ns prprios em tempos diversos e lugares
especficos, o que corrobora com as concepes de Kimmel (1998) no sentido de que a
masculinidade, e, tambm a feminilidade, exige constantes momentos de comprovao das
atitudes dos sujeitos. Assim, permanecer dentro de uma comunidade de prtica de
masculinidades e feminilidades, as pessoas devem regular suas performances de forma a
sintonizarem com os princpios daquela comunidade (Paechter, 2009).
Nas relaes estabelecidas entre os meninos, as meninas e entre os meninos e as meninas,
conformem crescem eles aprendem quais os aspectos essenciais para que algum sejam
homem e mulher na comunidade que pertencem acatando certas disposies e
comportamentos em detrimentos a outros, atravs do controle das prticas. Segundo
Paechter (2003), necessrio haver as fronteiras entre o que faz parte da prtica do grupo e o
que no faz. Por isto, os sujeitos com participao legitimada (adultos ou crianas com mais
experincias nas atividades coletivas) tem de conferir o status da participao perifrica a
outros indivduos.
Para Paechter (2009, 2006), os grupos de pares constroem/constituem suas aprendizagens
de masculinidades e feminilidades atravs de atividades e esportes realizados em espaos
recreativos. Estes locais so importantes na considerao das comunidades infantis de
prticas em funo de seu status de lugar que pertence criana, porque esses espaos so
percebidos diferentemente pelos sujeitos e variam de acordo com o contexto. As
masculinidades e as feminilidades apreendidas nos espaos recreativos seriam
influenciadas pela percepo que os meninos tinham sobre o que seria ser um adolescente,
um menino e um homem em comunidades mais amplas. Nestes espaos, as brincadeiras
possuem um papel relevante nas aprendizagens das masculinidades e feminilidades, sendo
que a maioria destas prticas mostra a clara dominncia masculina do espao, que ocorre em
grande intensidade pelas prticas esportivas. No sentido de aprender nestes domnios a
excluso, a marginalizao ou o rebaixamento dos sujeitos menos aptos para tais atividades.
Consequentemente, as formas de identidade a serem assumidas e mantidas em qualquer
cenrio especfico depender, pelo menos parcialmente, dos arranjos espaciais deste e de
-
como se sustentam ou se solapam determinadas formaes de poder/conhecimento.
(Paechter, 2009, p.122).
Oliveira (2004) em sua relevante contribuio para os estudos da masculinidade traz uma
narrativa densa sobre o constructo desta temtica numa perspectiva de sua origem social, na
modernidade e numa suposta ps-modernidade. O autor procura entender como e por que a
masculinidade, e num processo interacional tambm pode ser pensado para as feminilidades
em suas especificidades, apresenta como um lugar simblico/imaginrio fundamenta e
constitui em um valor social, como se manteve e se reproduziu. E, ainda, entender o porqu
em alguns momentos das vivncias dos sujeitos a masculinidade funcionam como uma lei
que prescreve comportamentos (p.15).
Na ps-modernidade, as vivncias interacionais de masculinidade de que trata Oliveira
(2004) o ponto fundamental que o lugar simblico da masculinidade (re) produzido como
lugar imaginrio num processo de recursividade continua. Elas abrangem um amplo aspecto
de atividades. Nestes locais manter a imagem masculina corresponde a passar por situaes
de perigo e mesmo arriscar a vida.
Vivncias so experincias, situaes, modos ou hbitos de vida, que na perspectiva das
interaes da masculinidade so experincias ou situaes de vida realizadas, aprendidas,
ensinadas, dialogadas, combatidas em processos nas interaes com os sujeitos no
movimento de aprendizagem, ou significao social de identidades. Oliveira (2004)
argumenta que as dimenses das vivncias pensadas sob a forma de interao. Isto
significa que cada interao marcada por correntes de vivncias que se influenciam. Cada
vivncia singular, no entanto, so justificadas atravs da vivncia, e reitero da convivncia,
do outro e com o outro. E, mais decisivo nas vivncias das masculinidades como vivncias de
identidades este ser-percebido que existe fundamentalmente pelo reconhecimento dos
outros. Nesta dinmica de vivenciar interagir experienciar situar habitar, estas
possibilidades variam de acordo com o contexto, tornando-se mais ou menos importantes, de
acordo com situaes especificas.
Numa listas de atos, atividades, situaes distintas e isoladas elaboradas Oliveira (2004) as
vivncias interacionais de masculinidade, experimentadas desde a infncia at a velhice,
expressam valores, afetam e influenciam outras vivncias, dos prprios sujeitos e de outros,
num processo de configurao da identidade subjetiva e na manuteno do valor simblico
que avaliza tais vivncias. Qualquer vivncia um compsito complexo de sentimentos
aglutinadores e devastadores dos sujeitos, em que podem estar presentes situaes de
xtase, atividade, passividade, insegurana, indiferena, entusiasmo e at mesmo cinismo
entre outros, juntamente com fantasias, lembranas, intuies, percepes e outros tipos de
cogitao. (Oliveira, 2004, p. 261-262).
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Nas imediaes das infncias de meninos em suas praticas corporais, Oliveira (2004, p.260)
nos mostra que os meninos so guardies do comportamento masculino junto aos colegas e
vice-versa. As caractersticas, os movimentos, os desvios considerados inadequados para o
gnero masculino so desmoralizados pelos sujeitos atravs de chacotas, brincadeiras
jocosas, insultos e brigas. Assim, aos meninos continuamente conduzida a tomar sobre si
prpria o ponto de vista dos outros, a adotar o ponto de vista alheio para descobrir e avaliar
por antecipao como ser visto e definido por eles. E, ainda, se tornar um sujeito que seja
percebido e condenado a ser definido em sua verdade pela percepo dos outros. Neste
sentido, as brincadeiras masculinas apresentam desafios constantes de afirmao da
masculinidade, no movimento do uso de fora e resistncia fsica e tambm na necessidade
de se distinguir das meninas.
IDENTIDADES DE GNERO NAS IMAGENS DA TURMA DA MNICA.
Que se aprende de essencial em atos, atividades cotidianas, ainda que ocupem a maior
parte do nosso tempo? (Brougre e Ulmann, 2012).
A indagao proposta por Brougre e Ulmann (2012) faz com que analisemos as mais
diversas situaes cotidianas e as torne como experincias das nossas vivncias
interacionais e estas sejam possveis de momentos de aprendizagem de habilidades de
prticas sociais. Os autores (2012) comentam que a vida no existiria se no fosse objeto de
aprendizagem. Portanto, aprende-se primeiro a prpria vida cotidiana, suas prticas e seus
saberes. E, as identidades de gnero neste processo de aprendizagem da dinmica da vida
cotidiana esta imbuda nas praticas cotidiana e entrelaados nas situaes vivenciadas pelos
personagens da Turma da Mnica, ambiente de analise deste texto.
Atravs de observaes e anlises dos desenhos da Turma da Mnica, percebe-se a
constituio da comunidade de prtica de masculinidades e feminilidades constitudas pelos
sujeitos (Paechter, 2008) atravs das interaes que os personagens desenvolviam no
percurso das narrativas. Dentro de ver, assistir, o olhar torna-se mais propicio a ver os
detalhes que as identidades de gnero so e esto intricados nas histrias virtuais.
Foram assistidos muitos desenhos, e para que fizessem parte da coletnea para este estudo,
os episdios tinham que ter situaes cotidianas e propicias para as aprendizagens das
identidades de gnero. Como so crianas, os episdios possuam grandes atividades
cotidianas de brincar. Brincadeiras que em suas dimenses eram possibilidades de vivenciar
e constituir habilidades sociais, um processo de aprendizagem para a vida (Brock et al, 2011).
No entanto, ocorriam fatos, fragmentos que estavam desconectados do titulo do episodio,
mas que perpassavam as identidades de gnero. Os episdios dos desenhos podem ser
visualizados pelas mdias eletrnicas e esto disponveis numa rede social do mundo virtual.
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Os episdios dos desenhos foram os seguintes:
A nova bab.
Boas maneiras.
Fantasia de carnaval.
Duelo em quadrinhos.
Brincadeiras modernas.
Brincando de bonecas.
Jogo de vlei.
Nestas situaes apresentadas pelos personagens durante as interaes situo o momento e o
movimento dos processos de aprendizagem das masculinidades e feminilidades em trs
pontos de vista. Nas relaes entre os personagens do gnero masculinos os meninos, nas
relaes entre os personagens do gnero feminino as meninas e nas relaes entre os dois
gneros os meninos e as meninas.
Na abordagem em que as interaes se desenvolvem pelo gnero masculino a comunidade
da Turma da Mnica mostra como os personagens mantm e afirmam o discurso do processo
hegemnico de ser e estar masculino na sociedade. Como mostra Strathern (2006, p.83 ),
a vida coletiva dos homens gira em torno da mobilizao de grupos polticos
(como os cls) na busca de prestigio tanto individual como coletivo atravs
das trocas com outros grupos, da guerra e da celebrao de cultos. No
contexto da exaltao da masculinidade destas atividades, os homens
depreciam a esfera da produo domestica, na qual so proeminentes as
mulheres.
As visualidades estabelecidas pelos personagens expunham: o uso de vestimentas e acessrios de
cor mais intensa (azul, preto, verde escuro); brincadeiras com brinquedos que retratavam
profisses historicamente constitudas como masculina (avies, navios, carros); constituio
imaginria onde o desafio era constante, (o pirata, o super heri que destri os inimigos);
movimentos mais duros1 (correr, saltar, girar com mais agressividade, arremessar, subir, cair,
rolar, dividir).
As feminilidades constitudas nas relaes entre as personagens do gnero feminino, as
meninas construam: pela subservincia da mulher perante ao homem; atividades e
expresses consideradas menos violentas; conflitos imaginrios, as personagens brincavam
buscando a docilidade e a graciosidade nas representaes; uso de vestimentas e acessrios
de cores singelas e os discursos. Estas imagens retratam e corroboram com o estudo de
1 Ver com mais detalhes o conceito de duras e brutas em (2011).
-
Barbosa (2007), onde ser carinhosa e cuidadosa, bonita e elegante corresponde a
esteretipos sobre a feminilidade.
E, nas prticas que os personagens desenvolviam conjuntamente, o que se percebeu foi que
as prticas esportivas servem de conflitos na ocupao de espaos e contextos fsicos,
imaginrios, sociais; a constituio das caractersticas, vivncias, situaes e expresses
masculinas em vivncias consideradas femininas e a relao inversa; e reafirmao das
identidades de um gnero no momento da diluio das fronteiras entre os mesmos gneros.
Estas prticas mantem as possveis coerncias das fronteiras de uma identidade de gnero
sobre a outra nos conflitos constitudos nas atividades e experincias coletivas. necessrio
que haja as fronteiras entre aquilo que faz parte de um grupo e o que no faz, tanto para
situarem suas prprias identidades quanto para serem reconhecidos e identificados pelo
grupo oposto (Paechter, 2009).
POSSIVEIS CONCLUSES.
As imagens retratadas nas historias em quadrinhos pelas contribuies das abordagens da
antropologia visual reflete como os desenhos animados em suas perspectivas de movimentos
so relevantes meio e veculos de aprendizagem das fotografias das identidades de gnero.
Nas vivncias visualizadas pelos personagens da Turma da Mnica as identidades de gnero
esto intrincadas num intenso processo da vida daqueles personagens que realizam um
movimento duplo. De transpor suas aprendizagens para os meninos e meninas reais nas
situaes de identidades masculinas e femininas e como os meninos e meninas construrem
novas possibilidades de relao para dar contar das disparidades que ocorrem entre os
gneros na releitura de outras narrativas das imagens.
Tanto as imagens como as identidades de gnero no desenvolvem num vazio social,
precisam de pessoas, de sentidos, de prticas, de vivncias para constituir como
aprendizagens individuais e coletivas atravs dos conflitos, divergncias, mobilizaes,
angustias. As aprendizagens de masculinidades e feminilidades como bem mostra Paechter
(2009, 2006, 2003) gira nas/pelas relaes, nos contatos, nos corpos, nos cotidianos dos
processos dos movimentos dos bebs, das crianas, dos jovens, dos adultos.
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