Constituiçao de Em Imagens

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Constituiçao de Em Imagens

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  • II CONINTER Congresso Internacional Interdisciplinar em Sociais e Humanidades Belo Horizonte, de 8 a 11 de outubro de 2013

    CONSTITUIAO DE/EM IMAGENS IDENTIDADES DE GNERO EM APRENDIZAGEM.

    FONTES, JULIO C. M.

    Estudante do curso de Especializao lato sensu em Mdias na Educao UFOP/MG. Licenciado e Bacharel em Educao Fsica, UFMG.

    [email protected]

    RESUMO

    A cultura dos desenhos animados nas experincias infantis das crianas brasileiras proporciona inmeras possibilidades de aprendizagem das dimenses que circundam meninos e meninas em suas prticas socioculturais. Pensando na visibilidade, visualidade e interao que os desenhos animados realizam nas crianas, este trabalho tenta mostrar atravs da cultura visual das histrias da Turma da Mnica, como os personagens deste universo infantil vivenciam, compreendem, e aprendem as identidades de gnero masculinidades e feminilidades nos diferentes contextos de prticas culturais e na interao com os diferentes indivduos participantes das narrativas visuais.

    Palavras-chave: Identidade de gnero. Identidade de gnero e cultura visual. Identidade de gnero e infncia.

  • Os momentos e movimentos, as coisas, objetos, instrumentos de trabalho, as vestimentas, os

    passos, os gestos, posturas, falas, discursos, as posies, as hierarquias, os pertencimentos,

    os agrupamentos comumente direcionados aos sujeitos transpassam pelos aprendizados das

    pessoas na perspectiva das relaes cotidianas das identidades de gnero ocorrendo em

    diversos contextos de prtica social. Consequentemente, os traos configurados em figuras,

    fotos e imagens, em especial, construdos pelos desenhos animados, apreciado em grande

    parte pelo pblico infanto juvenil, tambm espao de aprendizagem das identidades de

    gnero. Neste sentido, tentarei, nestas linhas imagticas, mostrar atravs da cultura dos

    desenhos animados pelos quais meninos e meninas possuem acessibilidade pelas relaes

    estabelecidas nas prticas socioculturais, como as vivncias e experincias constitudas

    pelos personagens desta historias virtuais e reais pelas visibilidades e visualidades dialogam,

    compreendem e aprendem entre seus pares as identidades de gnero masculinidades e

    feminilidades. Dentro das possibilidades de histrias em desenhos animados que habitam o

    universo das infncias das crianas brasileiras, escolheu se a Turma da Mnica por haver

    identificao das crianas com os personagens e ter visibilidade mais difundida em todas as

    origens sociais.

    AS IMAGENS E FACETAS PELA CULTURA E ANTROPOLOGIA

    VISUAL.

    O que as imagens mostram, falam, traduzem? Quais os aprendizados masculinos e femininos

    que os sujeitos visualizam nas relaes com as histrias nos desenhos animados? Indagar

    sobre estas questes produzir outros questionamentos, outras interaes, outras

    visibilidades, outras imagens. Dvidas e problemticas que dialogam com as contribuies de

    Cunha (2008, p.118): que interpretaes sobre o mundo as crianas esto realizando via

    telas? Que efeitos de realidades esto sendo elaboradas a partir destes referentes? Como

    os imaginrios esto sendo constitudos nestas interaes virtuais? Que olhares sobre o

    mundo esto sendo produzidos?.

    Aprendizagens de algo, sobre o mundo, as relaes das coisas em instncias diversas, de

    acordo com Brougre e Ulmann (2012), um processo complexo que no se reduz na

    transmisso de informaes, contedos e conhecimentos. Aprender um ato voluntrio que

    ocorreria num contexto especifico e que requereria uma constante atividade dos sujeitos. O

    que caracterizaria esta perspectiva pensar as aprendizagens pelos interesses, no

    estabelecimento e nas interaes sociais, a construo de sentidos nas atividades

    executadas. Assim, o sujeito que aprende seria epistmico, em que a relao com o saber

    seria uma relao reciproca consigo mesmo e com o outro, consigo e com o mundo. Neste

    sentido, os autores argumentam que a mdia capaz de modificar comportamentos e, sendo

  • assim, processos de aprendizagem. Pois, um modo de objetivar uma aprendizagem consiste

    em notar modificaes de comportamentos. (Brougre e Ulmann, 2012).

    As aprendizagens que buscamos em outras reas do conhecimento encontram nas

    dimenses tericas metodolgicas da antropologia visual possibilidades de interao para

    dar sentido aos objetivos pretendidos com as visualizaes e aes dos sujeitos em prticas

    sociais. Ribeiro (2005) expe em suas anlises sobre o campo da antropologia visual, trs

    dimenses sobre este conhecimento: primeiro, o estudo dos aspectos picturais da cultura, das

    pinturas das cavernas a fotografias, filmes, televiso, vdeo domstico; o uso dos meios

    visuais para comunicar o saber antropolgico; e, o estudo das manifestaes visuais da

    cultura encontrados atravs das experincias das pessoas nas expresses faciais,

    movimentos corporal, danas, vesturios e adornos corporais, uso simblico do espao e os

    objetos. Quanto mais a antropologia se aproxima do material e do corporal, mais as imagens,

    estticas ou no, um campo fcil de expresso (Godolphim, 1995).

    Para Ribeiro (2005, p. 621), a primeira funo das imagens em antropologia foi a prtica de

    documentar criar algo portador de informao que traz em si a inscrio e o registo de um

    acontecimento observvel ou verificvel, as imagens funcionariam como meio de

    representao ao ir de encontro ao sujeito na argumentao acerca de uma realidade, um

    acontecimento ou tema. Dentro destas possibilidades as aproximaes entre a Antropologia e

    as imagens identificariam: a busca do registro de diferentes modos de vida; sua funo

    enquanto memria e acervo de diversos modos de ser; o desejo de proximidade com aqueles

    que nos so distantes; a relao com o mundo do outro; a tentativa de reconstruir esse outro

    mundo; a tentativa de buscar no outro o que de si, fazendo do outro um espelho; a busca

    incessante de aspectos universais nos diferentes modos de ser humano, at mesmo certo

    voyeurismo (Novaes, 2009). Sendo assim, a fotografia, representaria e expressaria as

    articulaes espaciais, e o cinema, alm de registrar os deslocamentos de tempo espao,

    seguindo a dinmica das interaes sociais teria a possibilidade de registrar as vozes.

    (Godolphim, 1995).

    Alguns autores (Joly, 1996, Novaes, 2009, Cunha, 2008, Mierzoeff, 2003, entre outros)

    retratam as imagens como observao da experincia humana, intercesso e produo entre

    homem e mundo, penetram em nosso cotidiano de diferentes abordagens e alteram o nosso

    modo de ser e perceber a realidade que se encontra as pessoas. Assim, no ponto de vista de

    Joly (1996), as imagens so como mensagens visuais, compostas de signos, ferramenta de

    expresso e comunicao, consideradas expressivas ou comunicativas, determinantes para a

    compreenso dos contedos de visualidades das aprendizagens entre os sujeitos. Portanto,

    Os significados das imagens so construdos nas interaes sociais e

    culturais que realizamos com elas. Os contextos sociais e culturais, amplos

  • ou especficos, e as pessoas, do existncia aos materiais visuais

    atribuindo-se significados. Portanto, o sentido no emana das imagens,

    mas dos dilogos produzidos entre elas e as pessoas, sendo que estes

    dilogos so mediados pelos contextos culturais e histricos (Cunha, 2008, p.

    111).

    Assim sendo, nenhuma narrativa oriunda de imagens definitiva ou exclusiva, seus

    significados so considerados mveis, parciais, h mobilidade e variedade no modo como so

    constitudos e negociados.

    Sardelich (2006) nos prope refletir sobre a leitura de imagens evidenciando suas

    proximidades e distncias na aplicao destas possibilidades nas prticas educativas e

    pedaggicas. Em suas argumentaes, a autora afirma que as imagens simplesmente no

    cumprem a funo de informar ou ilustrar, mas tambm de educar e produzir conhecimento

    atravs da apreciao, decodificao e interpretao das imagens constitudas e vinculadas

    em nossa vida cotidiana. Para a autora, ler uma imagem significa analisar tanto a forma como

    elas so construdas e constitudas e operam em nossas vidas, como o contedo que

    comunicam em situaes concretas e especificas. Assim, ler, ver e entender as imagens seria

    constituio do olhar com o sentido da realidade algo que aparece em

    nossa linguagem cotidiana, em nossas expresses como: ponto de vista,

    perspectiva, sem sombra de dvida, ter ou no ter a ver, vises de mundo,

    quando nos diferenciamos entre lcidos e alucinados, iluminados e sombrios

    (Wunder, 2006, p.2).

    A cultura visual enquanto estratgia para compreender a vida contempornea, trata o visual

    como um lugar desafiante de interao social e definio em termos de classe, gnero,

    identidade sexual e racial. Local onde se criam e se discutem significados, a cultura visual,

    redimensiona os valores e identidades construdos e comunicados via mediao visual, como

    tambm natureza conflituosa desse visual devido aos seus mecanismos de incluso e

    excluso dos processos identitrios. As identidades e as experincias das pessoas so

    construdas e de sobremaneira determinada por uma gama variada de imagens, discursos e

    cdigos. Com isso, as imagens atuam como novas e velhas formas de poder como tambm

    de ensaios de novas formas de sociabilidades (Sardelich, 2006, p. 462).

    Segundo Almeida (2003), a mdia audiovisual, pelos usos de aparelhos tecnolgicos, contribui

    para as aprendizagens de crianas e jovens devido a sua linguagem produzida atravs da

    interao entre imagens, movimentos e sons em que a comunicao resulta do encontro entre

    palavras, gestos e movimentos. Neste sentido, adentrar nas imagens projetadas pelos

    desenhos animados, vale a pena no proposito de mostrar que as questes de gnero, nas

  • prticas visuais das histrias em quadrinhos e nos desenhos animados, seriam de

    fundamental importncia a serem discutidas nas prticas cotidianas pelas visualidades que

    perpassam os contextos sociais. Tais como mitos, rituais, vivencias, as imagens flmicas

    agregam sentido, dramatizam situaes do cotidiano, representam a vida social. Os aspectos

    recorrentes e inconscientes do agir social esto igualmente presentes nas imagens flmicas e

    fotogrficas, cabendo ao pesquisador investigar as relaes que se constroem e os

    significados que as constituem (Novaes, 2009, p.19).

    De acordo com Cunha (2008), os produtos da Turma da Mnica possuem o poder de difundir

    ensinamentos e contedos, de falar sobre e para a infncia. E, que as imagens sempre

    contam histrias de determinados pontos de vista e perspectiva, com vises de mundo, com

    intencionalidades de quem as produziu e as reproduziu no trato das histrias e significados

    construdos pelos sujeitos em suas relaes sociais. As imagens moldam os modos de ver,

    territorializam tribos, constroem e disputam significados. Neste sentido, concordo com as

    indagaes da autora: Que contedos universais as corporaes de entretenimento sobre a

    Turma da Mnica propagam? O que os produtores das histrias da Turma da Mnica querem

    ensinar disfaradamente s crianas? O que e como o universo visual ensina a infncia e a

    ns sobre a infncia?

    Portanto, torna-se relevante o fazer refletir sobre as possibilidades de aprendizagem nas

    visualidades a partir das narrativas das produes, no no sentido de copiar imagens e/ou

    personagens, mas na tentativa de propor solues aos conflitos mostrados. Estas relaes

    esto imbudas de modelos e cdigos hegemnicos, porque, as prticas visuais (...)

    caracterizadas por padres culturais e estticos da comunidade e da famlia so respeitados e

    inseridos na educao, e aceitos como cdigos bsicos a partir dos quais se deve construir a

    compreenso e imerso em outros cdigos culturais. (SARDELICH, 2006, p. 464).

    IDENTIDADES DE GNERO E SUAS RELAES COM AS CRIANAS.

    As sociedades se constituem e constroem pelas relaes envolvidas entre os sujeitos nos

    diferentes contextos sociais. Como possibilidade de compreender as relaes humanas, as

    aprendizagens que envolvem as interaes sociais, o gnero um meio para entender estas

    formas de aprendizado destas interaes. Nas contribuies de Lipset (2009, p. 60), o que

    distingue homens de mulheres no so apndices e orifcios, mas as relaes sociais em

    cujos contextos eles so ativados... A diferena ... envolve interaes, no atributos. Os

    corpos em suas dimenses de gnero no pertencem s pessoas, mas so compostos das

    relaes das quais uma pessoa composta. As crianas o repositrio de aes de

    mltiplos outros. Estes sujeitos constituem as relaes sociais das quais compostos em

  • situaes posteriores a que esto vivenciando para criar outros laos no sentido de reconstruir

    os j existentes, a atividade social a dissoluo de entidades completas (Strathern, 1997,

    p.41). Consequentemente,

    A "necessidade" de transmitir e passar adiante a cultura, de forma

    semelhante propriedade, apresentada como uma condio humana geral

    e uma pr-condio para a continuidade. Parece to bvio que as crianas

    tenham de "aprender" cultura, "aprender" regras sociais, tal como aprendem

    uma lngua, que se supe que outros povos percebem a mesma

    necessidade. (...) prticas como ritos de iniciao so instrumentos

    deliberados de socializao. A inteno dos atores lida como um desejo de

    transformar as crianas em adultos, equipando-as com o aparato apropriado,

    moldando-as segundo uma forma. (Strathern, 1997, p.12)

    O processo que envolve o aprendizado e a construo/constituio de masculinidades e

    feminilidades nos muitos contextos sociais em que as pessoas vivem, um empreendimento

    coletivo levado adiante por e em diversos grupos sociais. Paechter (2009) em sua narrativa

    traz elementos relevantes do aprendizado da masculinidade e da feminilidade tendo como

    pano de fundo para sua construo terica as contribuies de Lave e Wenger (2003). A

    autora (2009) narra em suas contribuies, relevantes concepes e analises sobre as

    identidades de gnero as masculinidades e as feminilidades - desenvolvidas por meninos e

    meninas desde o nascimento at a juventude perpassando pelas contribuies da famlia, da

    escola, da cultura de pares. Todos estes contextos apresentam graus diferenciados de

    importncia em momentos diversos da vida das crianas. A autora (2009) enfoca o modo

    como as crianas pensam sobre si prprias, uma sobre as outras e sobre os adultos que as

    rodeiam em termos de homens e mulheres. A abordagem desta concepo sobre o

    desenvolvimento das identidades masculinas e femininas um processo essencialmente

    cognitivo. Ou seja, a compreenso que meninos e meninas possuem sobre si e o que isto

    significa nos ambientes especficos de aprendizagem a estopim que subjaz s diferena dos

    comportamentos entre os sexos. E, por isso, as aprendizagens relacionadas a ser homem ou

    mulher ocorrem em comunidades de prtica de masculinidade e feminilidade.

    Para Barbosa (2007, p.107), a infncia e os movimentos das crianas um dos perodos mais

    intensos onde se vivem as relaes das identidades de gnero. Gnero em suas identidades

    e identificaes no esttica, ser um menino ou menina um processo dinmico e

    partilhado com os outros nas relaes e interaes dirias e cotidianas. As interaes sempre

    so interpoladas por performances de cada um dos participantes na ao, o processo de

    construo das identidades de gnero incessantemente um processo de descoberta,

    confronto e experimentao. Neste sentido, focar no gnero e entender a infncia como um

  • perodo no qual a identidade de gnero se assume como relevante, seria possvel a partir das

    observaes das aes do brincar e de suas rotinas, na percepo do papel que as crianas

    tm na construo das suas identidades e representaes de gnero. E, tambm pelas

    interaes constitudas nas imagens visualizadas pelas crianas em suas dimenses nos

    desenhos animados.

    As identidades de gnero algo que se aprende, que constantemente mostrado,

    (re)produzido e (re)configurado, alm de ser encenado entre todos os sujeitos envolvidos nas

    prticas sociais. Portanto, evidencia no apenas o que somos, mas o que fazemos, como nos

    apresentamos, como pensamos sobre ns prprios em tempos diversos e lugares

    especficos, o que corrobora com as concepes de Kimmel (1998) no sentido de que a

    masculinidade, e, tambm a feminilidade, exige constantes momentos de comprovao das

    atitudes dos sujeitos. Assim, permanecer dentro de uma comunidade de prtica de

    masculinidades e feminilidades, as pessoas devem regular suas performances de forma a

    sintonizarem com os princpios daquela comunidade (Paechter, 2009).

    Nas relaes estabelecidas entre os meninos, as meninas e entre os meninos e as meninas,

    conformem crescem eles aprendem quais os aspectos essenciais para que algum sejam

    homem e mulher na comunidade que pertencem acatando certas disposies e

    comportamentos em detrimentos a outros, atravs do controle das prticas. Segundo

    Paechter (2003), necessrio haver as fronteiras entre o que faz parte da prtica do grupo e o

    que no faz. Por isto, os sujeitos com participao legitimada (adultos ou crianas com mais

    experincias nas atividades coletivas) tem de conferir o status da participao perifrica a

    outros indivduos.

    Para Paechter (2009, 2006), os grupos de pares constroem/constituem suas aprendizagens

    de masculinidades e feminilidades atravs de atividades e esportes realizados em espaos

    recreativos. Estes locais so importantes na considerao das comunidades infantis de

    prticas em funo de seu status de lugar que pertence criana, porque esses espaos so

    percebidos diferentemente pelos sujeitos e variam de acordo com o contexto. As

    masculinidades e as feminilidades apreendidas nos espaos recreativos seriam

    influenciadas pela percepo que os meninos tinham sobre o que seria ser um adolescente,

    um menino e um homem em comunidades mais amplas. Nestes espaos, as brincadeiras

    possuem um papel relevante nas aprendizagens das masculinidades e feminilidades, sendo

    que a maioria destas prticas mostra a clara dominncia masculina do espao, que ocorre em

    grande intensidade pelas prticas esportivas. No sentido de aprender nestes domnios a

    excluso, a marginalizao ou o rebaixamento dos sujeitos menos aptos para tais atividades.

    Consequentemente, as formas de identidade a serem assumidas e mantidas em qualquer

    cenrio especfico depender, pelo menos parcialmente, dos arranjos espaciais deste e de

  • como se sustentam ou se solapam determinadas formaes de poder/conhecimento.

    (Paechter, 2009, p.122).

    Oliveira (2004) em sua relevante contribuio para os estudos da masculinidade traz uma

    narrativa densa sobre o constructo desta temtica numa perspectiva de sua origem social, na

    modernidade e numa suposta ps-modernidade. O autor procura entender como e por que a

    masculinidade, e num processo interacional tambm pode ser pensado para as feminilidades

    em suas especificidades, apresenta como um lugar simblico/imaginrio fundamenta e

    constitui em um valor social, como se manteve e se reproduziu. E, ainda, entender o porqu

    em alguns momentos das vivncias dos sujeitos a masculinidade funcionam como uma lei

    que prescreve comportamentos (p.15).

    Na ps-modernidade, as vivncias interacionais de masculinidade de que trata Oliveira

    (2004) o ponto fundamental que o lugar simblico da masculinidade (re) produzido como

    lugar imaginrio num processo de recursividade continua. Elas abrangem um amplo aspecto

    de atividades. Nestes locais manter a imagem masculina corresponde a passar por situaes

    de perigo e mesmo arriscar a vida.

    Vivncias so experincias, situaes, modos ou hbitos de vida, que na perspectiva das

    interaes da masculinidade so experincias ou situaes de vida realizadas, aprendidas,

    ensinadas, dialogadas, combatidas em processos nas interaes com os sujeitos no

    movimento de aprendizagem, ou significao social de identidades. Oliveira (2004)

    argumenta que as dimenses das vivncias pensadas sob a forma de interao. Isto

    significa que cada interao marcada por correntes de vivncias que se influenciam. Cada

    vivncia singular, no entanto, so justificadas atravs da vivncia, e reitero da convivncia,

    do outro e com o outro. E, mais decisivo nas vivncias das masculinidades como vivncias de

    identidades este ser-percebido que existe fundamentalmente pelo reconhecimento dos

    outros. Nesta dinmica de vivenciar interagir experienciar situar habitar, estas

    possibilidades variam de acordo com o contexto, tornando-se mais ou menos importantes, de

    acordo com situaes especificas.

    Numa listas de atos, atividades, situaes distintas e isoladas elaboradas Oliveira (2004) as

    vivncias interacionais de masculinidade, experimentadas desde a infncia at a velhice,

    expressam valores, afetam e influenciam outras vivncias, dos prprios sujeitos e de outros,

    num processo de configurao da identidade subjetiva e na manuteno do valor simblico

    que avaliza tais vivncias. Qualquer vivncia um compsito complexo de sentimentos

    aglutinadores e devastadores dos sujeitos, em que podem estar presentes situaes de

    xtase, atividade, passividade, insegurana, indiferena, entusiasmo e at mesmo cinismo

    entre outros, juntamente com fantasias, lembranas, intuies, percepes e outros tipos de

    cogitao. (Oliveira, 2004, p. 261-262).

  • Nas imediaes das infncias de meninos em suas praticas corporais, Oliveira (2004, p.260)

    nos mostra que os meninos so guardies do comportamento masculino junto aos colegas e

    vice-versa. As caractersticas, os movimentos, os desvios considerados inadequados para o

    gnero masculino so desmoralizados pelos sujeitos atravs de chacotas, brincadeiras

    jocosas, insultos e brigas. Assim, aos meninos continuamente conduzida a tomar sobre si

    prpria o ponto de vista dos outros, a adotar o ponto de vista alheio para descobrir e avaliar

    por antecipao como ser visto e definido por eles. E, ainda, se tornar um sujeito que seja

    percebido e condenado a ser definido em sua verdade pela percepo dos outros. Neste

    sentido, as brincadeiras masculinas apresentam desafios constantes de afirmao da

    masculinidade, no movimento do uso de fora e resistncia fsica e tambm na necessidade

    de se distinguir das meninas.

    IDENTIDADES DE GNERO NAS IMAGENS DA TURMA DA MNICA.

    Que se aprende de essencial em atos, atividades cotidianas, ainda que ocupem a maior

    parte do nosso tempo? (Brougre e Ulmann, 2012).

    A indagao proposta por Brougre e Ulmann (2012) faz com que analisemos as mais

    diversas situaes cotidianas e as torne como experincias das nossas vivncias

    interacionais e estas sejam possveis de momentos de aprendizagem de habilidades de

    prticas sociais. Os autores (2012) comentam que a vida no existiria se no fosse objeto de

    aprendizagem. Portanto, aprende-se primeiro a prpria vida cotidiana, suas prticas e seus

    saberes. E, as identidades de gnero neste processo de aprendizagem da dinmica da vida

    cotidiana esta imbuda nas praticas cotidiana e entrelaados nas situaes vivenciadas pelos

    personagens da Turma da Mnica, ambiente de analise deste texto.

    Atravs de observaes e anlises dos desenhos da Turma da Mnica, percebe-se a

    constituio da comunidade de prtica de masculinidades e feminilidades constitudas pelos

    sujeitos (Paechter, 2008) atravs das interaes que os personagens desenvolviam no

    percurso das narrativas. Dentro de ver, assistir, o olhar torna-se mais propicio a ver os

    detalhes que as identidades de gnero so e esto intricados nas histrias virtuais.

    Foram assistidos muitos desenhos, e para que fizessem parte da coletnea para este estudo,

    os episdios tinham que ter situaes cotidianas e propicias para as aprendizagens das

    identidades de gnero. Como so crianas, os episdios possuam grandes atividades

    cotidianas de brincar. Brincadeiras que em suas dimenses eram possibilidades de vivenciar

    e constituir habilidades sociais, um processo de aprendizagem para a vida (Brock et al, 2011).

    No entanto, ocorriam fatos, fragmentos que estavam desconectados do titulo do episodio,

    mas que perpassavam as identidades de gnero. Os episdios dos desenhos podem ser

    visualizados pelas mdias eletrnicas e esto disponveis numa rede social do mundo virtual.

  • Os episdios dos desenhos foram os seguintes:

    A nova bab.

    Boas maneiras.

    Fantasia de carnaval.

    Duelo em quadrinhos.

    Brincadeiras modernas.

    Brincando de bonecas.

    Jogo de vlei.

    Nestas situaes apresentadas pelos personagens durante as interaes situo o momento e o

    movimento dos processos de aprendizagem das masculinidades e feminilidades em trs

    pontos de vista. Nas relaes entre os personagens do gnero masculinos os meninos, nas

    relaes entre os personagens do gnero feminino as meninas e nas relaes entre os dois

    gneros os meninos e as meninas.

    Na abordagem em que as interaes se desenvolvem pelo gnero masculino a comunidade

    da Turma da Mnica mostra como os personagens mantm e afirmam o discurso do processo

    hegemnico de ser e estar masculino na sociedade. Como mostra Strathern (2006, p.83 ),

    a vida coletiva dos homens gira em torno da mobilizao de grupos polticos

    (como os cls) na busca de prestigio tanto individual como coletivo atravs

    das trocas com outros grupos, da guerra e da celebrao de cultos. No

    contexto da exaltao da masculinidade destas atividades, os homens

    depreciam a esfera da produo domestica, na qual so proeminentes as

    mulheres.

    As visualidades estabelecidas pelos personagens expunham: o uso de vestimentas e acessrios de

    cor mais intensa (azul, preto, verde escuro); brincadeiras com brinquedos que retratavam

    profisses historicamente constitudas como masculina (avies, navios, carros); constituio

    imaginria onde o desafio era constante, (o pirata, o super heri que destri os inimigos);

    movimentos mais duros1 (correr, saltar, girar com mais agressividade, arremessar, subir, cair,

    rolar, dividir).

    As feminilidades constitudas nas relaes entre as personagens do gnero feminino, as

    meninas construam: pela subservincia da mulher perante ao homem; atividades e

    expresses consideradas menos violentas; conflitos imaginrios, as personagens brincavam

    buscando a docilidade e a graciosidade nas representaes; uso de vestimentas e acessrios

    de cores singelas e os discursos. Estas imagens retratam e corroboram com o estudo de

    1 Ver com mais detalhes o conceito de duras e brutas em (2011).

  • Barbosa (2007), onde ser carinhosa e cuidadosa, bonita e elegante corresponde a

    esteretipos sobre a feminilidade.

    E, nas prticas que os personagens desenvolviam conjuntamente, o que se percebeu foi que

    as prticas esportivas servem de conflitos na ocupao de espaos e contextos fsicos,

    imaginrios, sociais; a constituio das caractersticas, vivncias, situaes e expresses

    masculinas em vivncias consideradas femininas e a relao inversa; e reafirmao das

    identidades de um gnero no momento da diluio das fronteiras entre os mesmos gneros.

    Estas prticas mantem as possveis coerncias das fronteiras de uma identidade de gnero

    sobre a outra nos conflitos constitudos nas atividades e experincias coletivas. necessrio

    que haja as fronteiras entre aquilo que faz parte de um grupo e o que no faz, tanto para

    situarem suas prprias identidades quanto para serem reconhecidos e identificados pelo

    grupo oposto (Paechter, 2009).

    POSSIVEIS CONCLUSES.

    As imagens retratadas nas historias em quadrinhos pelas contribuies das abordagens da

    antropologia visual reflete como os desenhos animados em suas perspectivas de movimentos

    so relevantes meio e veculos de aprendizagem das fotografias das identidades de gnero.

    Nas vivncias visualizadas pelos personagens da Turma da Mnica as identidades de gnero

    esto intrincadas num intenso processo da vida daqueles personagens que realizam um

    movimento duplo. De transpor suas aprendizagens para os meninos e meninas reais nas

    situaes de identidades masculinas e femininas e como os meninos e meninas construrem

    novas possibilidades de relao para dar contar das disparidades que ocorrem entre os

    gneros na releitura de outras narrativas das imagens.

    Tanto as imagens como as identidades de gnero no desenvolvem num vazio social,

    precisam de pessoas, de sentidos, de prticas, de vivncias para constituir como

    aprendizagens individuais e coletivas atravs dos conflitos, divergncias, mobilizaes,

    angustias. As aprendizagens de masculinidades e feminilidades como bem mostra Paechter

    (2009, 2006, 2003) gira nas/pelas relaes, nos contatos, nos corpos, nos cotidianos dos

    processos dos movimentos dos bebs, das crianas, dos jovens, dos adultos.

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