Constituição dogmática lumen gentium a igreja

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CONSTITUIÇÃO DOGMÁTICA LUMEN GENTIUM SOBRE A IGREJA CAPÍTULO I O MISTÉRIO DA IGREJA Objecto da Constituição: a Igreja como sacramento 1. A luz dos povos é Cristo: por isso, este sagrado Concílio, reunido no Espírito Santo, deseja ardentemente iluminar com a Sua luz, que resplandece no rosto da Igreja, todos os homens, anunciando o Evangelho a toda a criatura (cfr. Mc. 16,15). Mas porque a Igreja, em Cristo, é como que o sacramento, ou sinal, e o instrumento da íntima união com Deus e da unidade de todo o género humano, pretende ela, na sequência dos anteriores Concílios, pôr de manifesto com maior insistência, aos fiéis e a todo o mundo, a sua natureza e missão universal. E as condições do nosso tempo tornam ainda mais urgentes este dever da Igreja, para que deste modo os homens todos, hoje mais estreitamente ligados uns aos outros, pelos diversos laços sociais, técnicos e culturais, alcancem também a plena unidade em Cristo. A vontade salvífica do Pai 2. O Eterno Pai, pelo libérrimo e insondável desígnio da Sua sabedoria e bondade, criou o universo, decidiu elevar os homens à participação da vida divina e não os abandonou, uma vez caídos em Adão, antes, em atenção a Cristo Redentor «que é a imagem de Deus invisível, primogénito de toda a criação» (Col. 1,15) sempre lhes concedeu os auxílios para se salvarem. Aos eleitos, o Pai, antes de todos os séculos os «discerniu e predestinou para reproduzirem a imagem de Seu Filho, a fim de que Ele seja o primogénito de uma multidão de irmãos» (Rom. 8,29). E, aos que crêem em Cristo, decidiu chamá-los à santa Igreja, a qual, prefigurada já desde o princípio do mundo e admiràvelmente preparada na história do povo de Israel e na Antiga Aliança(1), foi constituída no fim dos tempos e manifestada pela efusão do Espírito, e será gloriosamente consumada no fim dos séculos. Então, como se lê nos Santos Padres, todos os justos depois de Adão, «desde o justo Abel até ao último eleito» (2), se reunirão em Igreja universal junto do Pai. Missão e obra do Filho: fundação da Igreja 3. Veio pois o Filho, enviado pelo Pai, que n'Ele nos elegeu antes de criar o mundo, e nos predestinou para sermos seus filhos de adopção, porque lhe aprouve reunir n'Ele todas as coisas (cfr. Ef. 1, 4-5. 10). Por isso, Cristo, a fim de cumprir a vontade do Pai, deu começo na terra ao Reino dos Céus e revelou-nos o seu mistério, realizando, com a própria obediência, a redenção. A Igreja, ou seja, o Reino de Cristo já presente em mistério, cresce visivelmente no mundo pelo poder de Deus. Tal começo e crescimento exprimem-nos o sangue e a água que manaram do lado aberto de Jesus crucificado (cfr. Jo. 19,34), e preanunciam-nos as palavras do Senhor acerca da

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CONSTITUIÇÃO DOGMÁTICA

LUMEN GENTIUM SOBRE A IGREJA

CAPÍTULO I

O MISTÉRIO DA IGREJA

Objecto da Constituição: a Igreja como sacramento

1. A luz dos povos é Cristo: por isso, este sagrado Concílio, reunido no Espírito Santo, deseja

ardentemente iluminar com a Sua luz, que resplandece no rosto da Igreja, todos os homens,

anunciando o Evangelho a toda a criatura (cfr. Mc. 16,15). Mas porque a Igreja, em Cristo, é

como que o sacramento, ou sinal, e o instrumento da íntima união com Deus e da unidade de todoo género humano, pretende ela, na sequência dos anteriores Concílios, pôr de manifesto com maior

insistência, aos fiéis e a todo o mundo, a sua natureza e missão universal. E as condições do nosso

tempo tornam ainda mais urgentes este dever da Igreja, para que deste modo os homens todos,

hoje mais estreitamente ligados uns aos outros, pelos diversos laços sociais, técnicos e culturais,

alcancem também a plena unidade em Cristo.

A vontade salvífica do Pai

2. O Eterno Pai, pelo libérrimo e insondável desígnio da Sua sabedoria e bondade, criou o

universo, decidiu elevar os homens à participação da vida divina e não os abandonou, uma vezcaídos em Adão, antes, em atenção a Cristo Redentor «que é a imagem de Deus invisível,

primogénito de toda a criação» (Col. 1,15) sempre lhes concedeu os auxílios para se salvarem.

Aos eleitos, o Pai, antes de todos os séculos os «discerniu e predestinou para reproduzirem a

imagem de Seu Filho, a fim de que Ele seja o primogénito de uma multidão de irmãos» (Rom.

8,29). E, aos que crêem em Cristo, decidiu chamá-los à santa Igreja, a qual, prefigurada já desde o

princípio do mundo e admiràvelmente preparada na história do povo de Israel e na Antiga

Aliança(1), foi constituída no fim dos tempos e manifestada pela efusão do Espírito, e será

gloriosamente consumada no fim dos séculos. Então, como se lê nos Santos Padres, todos osjustos depois de Adão, «desde o justo Abel até ao último eleito» (2), se reunirão em Igreja

universal junto do Pai.

Missão e obra do Filho: fundação da Igreja

3. Veio pois o Filho, enviado pelo Pai, que n'Ele nos elegeu antes de criar o mundo, e nos

predestinou para sermos seus filhos de adopção, porque lhe aprouve reunir n'Ele todas as coisas

(cfr. Ef. 1, 4-5. 10). Por isso, Cristo, a fim de cumprir a vontade do Pai, deu começo na terra ao

Reino dos Céus e revelou-nos o seu mistério, realizando, com a própria obediência, a redenção. A

Igreja, ou seja, o Reino de Cristo já presente em mistério, cresce visivelmente no mundo pelo

poder de Deus. Tal começo e crescimento exprimem-nos o sangue e a água que manaram do lado

aberto de Jesus crucificado (cfr. Jo. 19,34), e preanunciam-nos as palavras do Senhor acerca da

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Sua morte na cruz: «Quando Eu for elevado acima da terra, atrairei todos a mim» (Jo. 12,32 gr.).Sempre que no altar se celebra o sacrifício da cruz, na qual «Cristo, nossa Páscoa, foi imolado» (1

Cor. 5,7), realiza-se também a obra da nossa redenção. Pelo sacramento do pão eucarístico, ao

mesmo tempo é representada e se realiza a unidade dos fiéis, que constituem um só corpo em

Cristo (cfr. 1 Cor. 10,17). Todos os homens são chamados a esta união com Cristo, luz do mundo,

do qual vimos, por quem vivemos, e para o qual caminhamos.

O Espírito santificador e vivificador da Igreja

4. Consumada a obra que o Pai confiou ao Filho para Ele cumprir na terra (cfr. Jo. 17,4), foi

enviado o Espírito Santo no dia de Pentecostes, para que santificasse continuamente a Igreja e

deste modo os fiéis tivessem acesso ao Pai, por Cristo, num só Espírito (cfr. Ef. 2,18). Ele é o

Espírito de vida, ou a fonte de água que jorra para a vida eterna (cfr. Jo. 4,14; 7, 38-39); por

quem o Pai vivifica os homens mortos pelo pecado, até que ressuscite em Cristo os seus corpos

mortais (cfr. Rom. 8, 10-11). O Espírito habita na Igreja e nos corações dos fiéis, como num

templo (cfr. 1 Cor. 3,16; 6,19), e dentro deles ora e dá testemunho da adopção de filhos (cfr. Gál.4,6; Rom. 8, 15-16. 26). A Igreja, que Ele conduz à verdade total (cfr. Jo. 16,13) e unifica na

comunhão e no ministério, enriquece-a Ele e guia-a com diversos dons hierárquicos e carismáticose adorna-a com os seus frutos (cfr. Ef. 4, 11-12; 1 Cor. 12,4; Gál. 5,22). Pela força do Evangelho

rejuvenesce a Igreja e renova-a continuamente e leva-a à união perfeita com o seu Esposo (3).Porque o Espírito e a Esposa dizem ao Senhor Jesus: «Vem» (cfr. Apoc. 22,17)!

Assim a Igreja toda aparece como «um povo unido pela unidade do Pai e do Filho e do Espírito

Santo (4).

O Reino de Deus

5. O mistério da santa Igreja manifesta-se na sua fundação. O Senhor Jesus deu início à Sua Igrejapregando a boa nova do advento do Reino de Deus prometido desde há séculos nas Escrituras:«cumpriu-se o tempo, o Reino de Deus está próximo» (Mc. 1,15; cfr. Mt. 4,17). Este Reino

manifesta-se na palavra, nas obras e na presença de Cristo. A palavra do Senhor compara-se àsemente lançada ao campo (Mc. 4,14): aqueles que a ouvem com fé e entram a fazer parte do

pequeno rebanho de Cristo (Luc. 12,32), já receberam o Reino; depois, por força própria, asemente germina e cresce até ao tempo da messe (cfr. Mc. 4, 26-29). Também os milagres de

Jesus comprovam que já chegou à terra o Reino: «Se lanço fora os demónios com o poder deDeus, é que chegou a vós o Reino de Deus» (Luc. 11,20; cfr. Mt. 12,28). Mas este Reino

manifesta-se sobretudo na própria pessoa de Cristo, Filho de Deus e Filho do homem, que veio«para servir e dar a sua vida em redenção por muitos» (Mt. 10,45).

E quando Jesus, tendo sofrido pelos homens a morte da cruz, ressuscitou, apareceu como Senhor e

Cristo e sacerdote eterno (cfr. Act. 2,36; Hebr. 5,6; 7, 17-21) e derramou sobre os discípulos oEspírito prometido pelo Pai (cfr. Act. 2,33). Pelo que a Igreja, enriquecida com os dons do seufundador e guardando fielmente os seus preceitos de caridade, de humildade e de abnegação,

recebe a missão de anunciar e instaurar o Reino de Cristo e de Deus em todos os povos e constituio germe e o princípio deste mesmo Reino na terra. Enquanto vai crescendo, suspira pela

consumação do Reino e espera e deseja juntar-se ao seu Rei na glória.

As figuras da Igreja

6. Assim como, no Antigo Testamento, a revelação do Reino é muitas vezes apresentada em

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imagens, também agora a natureza íntima da Igreja nos é dada a conhecer por diversas imagenstiradas quer da vida pastoril ou agrícola, quer da construção ou também da família e matrimónio,

imagens que já se esboçam nos livros dos Profetas.

Assim a Igreja é o redil, cuja única porta e necessário pastor é Cristo (Jo. 10, 1-10). E também orebanho do qual o próprio Deus predisse que seria o pastor (cfr. Is. 40,11; Ez. 34,11 ss.), e cujas

ovelhas, ainda que governadas por pastores humanos, são contudo guiadas e alimentadas semcessar pelo próprio Cristo, bom pastor e príncipe dos pastores (cfr. Jo. 10,11; 1 Ped. 5,4), o qual

deu a vida pelas suas ovelhas (cfr. Jo. 10, 11-15).

A Igreja é a agricultura ou o campo de Deus (1 Cor. 3,9). Nesse campo cresce a oliveira antiga deque os patriarcas foram a raiz santa e na qual se realizou e realizará a reconciliação de judeus e

gentios (Rom. 11, 13-26). Ela foi plantada pelo celeste agricultor como uma vinha eleita (Mt. 21,33-43 par.; Is. 5,1 ss.). A verdadeira videira é Cristo que dá vida e fecundidade aos sarmentos,

isto é, a nós que pela Igreja permanecemos n'Ele, sem o qual nada podemos fazer (Jo. 15, 1-5).

A Igreja é também muitas vezes chamada construção de Deus (1 Cor. 3,9). O próprio Senhor secomparou à pedra que os construtores rejeitaram e se tornou pedra angular (Mt. 21,42 par.; Act.4,11; 1 Ped. 2,7; Salm. 117,22). Sobre esse fundamento é a Igreja construída pelos Apóstolos

(cfr. 1 Cor. 3,11), e d'Ele recebe firmeza e coesão. Esta construção recebe vários nomes: casa deDeus (1 Tim. 3,15), na qual habita a Sua «família»; habitação de Deus no Espírito (cfr. Ef. 2, 19-

22); tabernáculo de Deus com os homens (Apoc. 21,3); e sobretudo «templo» santo, o qual,representado pelos santuários de pedra e louvado pelos Santos Padres, é com razão comparado,

na Liturgia, à cidade santa, a nova Jerusalém (5). Nela, com efeito, somos edificados cá na terracomo pedras vivas (cfr. 1 Ped. 2,5). Esta cidade, S. João contemplou-a «descendo do céu, de

Deus, na renovação do mundo, como esposa adornada para ir ao encontro do esposo» (Apoc.21,1 ss.).

A Igreja, chamada «Jerusalém do alto» e «nossa mãe» (Gál. 4,26; cfr. Apoc. 12,17), é também

descrita como esposa imaculada do Cordeiro imaculado (Apoc. 19,7; 21,2. 9; 22,17), a qual

Cristo gamou e por quem Se entregou, para a santificar» (Ef. 5, 25-26), uniu a Si por umindissolúvel vínculo, e sem cessar «alimenta e conserva» (Ef. 5,29), a qual, purificada, quis unida a

Si e submissa no amor e fidelidade (cfr. Ef. 5,24), cumulando-a, por fim, eternamente, de bens

celestes; para que entendamos o amor de Deus e de Cristo por nós, o qual ultrapassa toda acompreensão (cfr. Ef. 3,19). Enquanto, na terra, a Igreja peregrina longe do Senhor (cfr. 2 Cor.

5,6), tem-se por exilada, buscando e saboreando as coisas do alto, onde Cristo está sentado à

direita de Deus, e onde a vida da Igreja está escondida com Cristo em Deus, até que apareça com

seu esposo na glória (Cfr. Col. 3, 1-4).

A Igreja, Corpo místico de Cristo

7. O filho de Deus, vencendo, na natureza humana a Si unida, a morte, com a Sua morte eressurreição, remiu o homem e transformou-o em nova criatura (cfr. Gál. 6,15; 2 Cor. 5,17). Pois,

comunicando o Seu Espírito, fez misteriosamente de todos os Seus irmãos, chamados de entre

todos os povos, como que o Seu Corpo.

É nesse corpo que a vida de Cristo se difunde nos que crêem, unidos de modo misterioso e real,

por meio dos sacramentos, a Cristo padecente e glorioso(6). Com efeito, pelo Baptismo somos

assimilados a Cristo; «todos nós fomos baptizados no mesmo Espírito, para formarmos um sócorpo» (1 Cor. 12,13). Por este rito sagrado é representada e realizada a união com a morte e

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ressurreição de Cristo: ; «fomos sepultados, pois, com Ele, por meio do Baptismo, na morte»; se,

porém, ; «nos tornámos com Ele um mesmo ser orgânico por morte semelhante à Sua, por

semelhante ressurreição o seremos também (Rom. 6, 4-5). Ao participar realmente do corpo doSenhor, na fracção do pão eucarístico, somos elevados à comunhão com Ele e entre nós. ;

«Porque há um só pão, nós, que somos muitos, formamos um só corpo, visto participarmos todos

do único pão» (1 Cor. 10,17). E deste modo nos tornamos todos membros desse corpo (cfr. 1Cor. 12,27), sendo individualmente membros uns dos outros» (Rom. 12,5).

E assim como todos os membros do corpo humano, apesar de serem muitos, formam no entanto

um só corpo, assim também os fiéis em Cristo (cfr. 1 Cor. 12,12). Também na edificação doCorpo de Cristo existe diversidade de membros e de funções. É um mesmo Espírito que distribui

os seus vários dons segundo a sua riqueza e as necessidades dos ministérios para utilidade da

Igreja (cfr. 1 Cor. 12, 1-11). Entre estes dons, sobressai a graça dos Apóstolos, a cuja autoridade

o mesmo Espírito submeteu também os carismáticos (cfr 1 Cor. 14). O mesmo Espírito, unificandoo corpo por si e pela sua força e pela coesão interna dos membros, produz e promove a caridade

entre os fiéis. Daí que, se algum membro padece, todos os membros sofrem juntamente; e se algum

membro recebe honras, todos se, alegram (cfr. 1 Cor. 12,26).

A cabeça deste corpo é Cristo. Ele é a imagem do Deus invisível e n 'Ele foram criadas todas as

coisas. Ele existe antes de todas as coisas e todas n'Ele subsistem. Ele é a cabeça do corpo que a

Igreja é. É o princípio, o primogénito de entre os mortos, de modo que em todas as coisas tenha oprimado (cfr. Col. 1, 15-18). Pela grandeza do Seu poder domina em todas as coisas celestes e

terrestres e, devido à Sua supereminente perfeição e acção, enche todo o corpo das riquezas da

Sua glória (cfr. Ef. 1, 18-23) (7).

Todos os membros se devem conformar com Ele, até que Cristo se forme neles (cfr. Gál. 4,19).

Por isso, somos assumidos nos mistérios da Sua vida, configurados com Ele, com Ele mortos e

ressuscitados, até que reinemos com Ele (cfr. Fil. 3,21; 2 Tim. 2,11; Ef. 2,6; Col. 2,12; etc.).

Ainda peregrinos na terra, seguindo as Suas pegadas na tribulação e na perseguição, associamo-nos nos seus sofrimentos como o corpo à cabeça, sofrendo com Ele, para com Ele sermos

glorificados (cfr. Rom. 8,17).

É por Ele que «o corpo inteiro, alimentado e coeso em suas junturas e ligamentos, se desenvolvecom o crescimento dado por Deus» (Col. 2,19). Ele mesmo distribui continuamente, no Seu corpo

que é a Igreja, os dons dos diversos ministérios, com os quais, graças ao Seu poder, nos

prestamos mutuamente serviços em ordem à salvação, de maneira que, professando a verdade nacaridade, cresçamos em tudo para Aquele que é a nossa cabeça (cfr. Ef. 4, 11-16 gr.).

E para que sem cessar nos renovemos n'Ele (cfr. Ef. 4,23), deu-nos do Seu Espírito, o qual, sendo

um e o mesmo na cabeça e nos membros, unifica e move o corpo inteiro, a ponto de os SantosPadres compararem a Sua acção à que o princípio vital, ou alma, desempenha no corpo

humano(8).

Cristo ama a Igreja como esposa, fazendo-se modelo do homem que ama sua mulher como opróprio corpo (cfr. Ef. 5, 25-28); e a Igreja, por sua vez, é sujeita à sua cabeça (ib. 23-24).

«Porque n'Ele habita corporalmente toda a plenitude da natureza divina» (Col. 2,9), enche a Igreja,

que é o Seu corpo e plenitude, com os dons divinos (cfr. Ef. 1, 22-23), para que ela se dilate e

alcance a plenitude de Deus (cfr. Ef. 3,19).

A Igreja, sociedade visível e espiritual

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8. Cristo, mediador único, estabelece e continuamente sustenta sobre a terra, como um todo visível,a Sua santa Igreja, comunidade de fé, esperança e amor, por meio da qual difunde em todos a

verdade e a graça (9). Porém, a sociedade organizada hierarquicamente, e o Corpo místico de

Cristo, o agrupamento visível e a comunidade espiritual, a Igreja terrestre e a Igreja ornada com os

dons celestes não se devem considerar como duas entidades, mas como uma única realidadecomplexa, formada pelo duplo elemento humano e divino (10). Apresenta por esta razão uma

grande analogia com ó mistério do Verbo encarnado. Pois, assim como a natureza assumida serve

ao Verbo divino de instrumento vivo de salvação, a Ele indissoluvelmente unido, de modo

semelhante a estrutura social da Igreja serve ao Espírito de Cristo, que a vivifica, para ocrescimento do corpo (cfr. Ef. 4,16) (11).

Esta é a única Igreja de Cristo, que no Credo confessamos ser una, santa, católica e apostólica(12); depois da ressurreição, o nosso Salvador entregou-a a Pedro para que a apascentasse (Jo.

21,17), confiando também a ele e aos demais Apóstolos a sua difusão e governo (cfr. Mt. 28,18

ss.), e erigindo-a para sempre em «coluna e fundamento da verdade» (I Tim. 3,5). Esta Igreja,

constituída e organizada neste mundo como sociedade, é na Igreja católica, governada pelosucessor de Pedro e pelos Bispos em união com ele (13), que se encontra, embora, fora da sua

comunidade, se encontrem muitos elementos de santificação e de verdade, os quais, por serem

dons pertencentes à Igreja de Cristo, impelem para a unidade católica.

Mas, assim como Cristo realizou a obra da redenção na pobreza e na perseguição, assim a Igreja é

chamada a seguir pelo mesmo caminho para comunicar aos homens os frutos da salvação. Cristo

Jesus «que era de condição divina... despojou-se de si próprio tomando a condição de escravo

(Fil. 2, 6-7) e por nós, «sendo rico, fez-se pobre» (2 Cor. 8,9): assim também a Igreja, emboranecessite dos meios humanos para o prosseguimento da sua missão, não foi constituída para

alcançar a glória terrestre, mas para divulgar a humildade e abnegação, também com o seu

exemplo. Cristo foi enviado pelo Pai « a evangelizar os pobres... a sarar os contritos de coração»(Luc. 4,18), «a procurar e salvar o que perecera» (Luc. 19,10). De igual modo, a Igreja abraça

com amor todos os afligidos pela enfermidade humana; mais ainda, reconhece nos pobres e nos

que sofrem a imagem do seu fundador pobre e sofredor, procura aliviar as suas necessidades, e

intenta servir neles a Cristo. Enquanto Cristo «santo, inocente, imaculado» (Hebr. 7,26), nãoconheceu o pecado (cfr. 2 Cor. 5,21), mas veio apenas expiar os pecados do povo (Hebr. 2,17),

a Igreja, contendo pecadores no seu próprio seio, simultaneamente santa e sempre necessitada de

purificação, exercita continuamente a penitência e a renovação.

A Igreja «prossegue a sua peregrinação no meio das perseguições do mundo e das consolações de

Deus» (14), anunciando a cruz e a morte do Senhor até que Ele venha (cfr. Cor. 11,26). Mas é

robustecida pela força do Senhor ressuscitado, de modo a vencer, pela paciência e pela caridade,as suas aflições e dificuldades tanto internas como externas, e a revelar, velada mas fielmente, o seu

mistério, até que por fim se manifeste em plena luz

CAPÍTULO II

O POVO DE DEUS

A Nova Aliança com o novo Povo de Deus

9. Em todos os tempos e em todas as nações foi agradável a Deus aquele que O teme e obra

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justamente (cfr. Act. 10,35). Contudo, aprouve a Deus salvar e santificar os homens, não

individualmente, excluída qualquer ligação entre eles, mas constituindo-os em povo que O

conhecesse na verdade e O servisse santamente. Escolheu, por isso, a nação israelita para Seupovo. Com ele estabeleceu uma aliança; a ele instruiu gradualmente, manifestando-Se a Si mesmo e

ao desígnio da própria vontade na sua história, e santificando-o para Si. Mas todas estas coisas

aconteceram como preparação e figura da nova e perfeita Aliança que em Cristo havia de ser

estabelecida e da revelação mais completa que seria transmitida pelo próprio Verbo de Deus feitocarne. Eis que virão dias, diz o Senhor, em que estabelecerei com a casa de Israel e a casa de Judá

uma nova aliança... Porei a minha lei nas suas entranhas e a escreverei nos seus corações e serei o

seu Deus e eles serão o meu povo... Todos me conhecerão desde o mais pequeno ao maior, diz o

Senhor (Jer. 31, 31-34). Esta nova aliança instituiu-a Cristo, o novo testamento no Seu sangue (cfr.

1 Cor. 11,25), chamando o Seu povo de entre os judeus e os gentios, para formar um todo, não

segundo a carne mas no Espírito e tornar-se o Povo de Deus. Com efeito, os que crêem em Cristo,regenerados não pela força de germe corruptível mas incorruptível por meio da Palavra de Deus

vivo (cfr. 1 Ped. 1,23), não pela virtude da carne, mas pela água e pelo Espírito Santo (cfr. Jo. 3,

5-6), são finalmente constituídos em «raça escolhida, sacerdócio real, nação santa, povo

conquistado... que outrora não era povo, mas agora é povo de Deus» (1 Ped. 2, 9-10).

Este povo messiânico tem por cabeça Cristo, «o qual foi entregue por causa das nossas faltas e

ressuscitado por causa da nossa justificação» (Rom. 4,25) e, tendo agora alcançado um nomesuperior a todo o nome, reina glorioso nos céus. E condição deste povo a dignidade e a liberdade

dos filhos de Deus, em cujos corações o Espírito Santo habita como num templo. A sua lei é o

novo mandamento, o de amar assim como o próprio Cristo nos amou (cfr. Jo. 13,34). Por último,

tem por fim o Reino de Deus, o qual, começado na terra pelo próprio Deus, se deve desenvolver

até ser também por ele consumado no fim dos séculos, quando Cristo, nossa vida, aparecer (cfr.

Col. 3,4) e «a própria criação for liberta do domínio da corrupção, para a liberdade da glória dos

filhos de Deus» (Rom. 8,21). Por isso é que este povo messiânico, ainda que não abranja de factotodos os homens, e não poucas vezes apareça como um pequeno rebanho, é, contudo, para todo o

género humano o mais firme germe de unidade, de esperança e de salvação. Estabelecido por

Cristo como comunhão de vida, de caridade e de verdade, é também por Ele assumido como

instrumento de redenção universal e enviado a toda a parte como luz do mundo e sal da terra (cfr.

Mt. 5, 13-16).

Mas, assim como Israel segundo a carne, que peregrinava no deserto, é já chamado Igreja de Deus

(cfr. 2 Esdr. 13,1; Num. 20,4; Deut. 23,1 ss.), assim o novo Israel, que ainda caminha no tempopresente e se dirige para a futura e perene cidade (cfr. Hebr. 13-14), se chama também Igreja de

Cristo (cfr. Mt. 16,18), pois que Ele a adquiriu com o Seu próprio sangue (cfr. Act. 20,28),

encheu-a com o Seu espírito e dotou-a dos meios convenientes para a unidade visível e social. Aos

que se voltam com fé para Cristo, autor de salvação e princípio de unidade e de paz, Deus

chamou-os e constituiu-os em Igreja, a fim de que ela seja para todos e cada um sacramento visível

desta unidade salutar (15). Destinada a estender-se a todas as regiões, ela entra na história dos

homens, ao mesmo tempo que transcende os tempos e as fronteiras dos povos. Caminhando pormeio de tentações e tribulações, a Igreja é confortada pela força da graça de Deus que lhe foi

prometida pelo Senhor para que não se afaste da perfeita fidelidade por causa da fraqueza da

carne, mas permaneça digna esposa do seu Senhor, e, sob a acção do Espírito Santo, não cesse de

se renovar até, pela cruz, chegar à luz que não conhece ocaso.

O sacerdócio comum e o sacerdócio ministerial

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10. Cristo Nosso Senhor, Pontífice escolhido de entre os homens (cfr. Hebr. 5, 1-5), fez do novo

povo um «reino sacerdotal para seu Deus e Pai» (Apor. 1,6; cfr. 5, 9-10). Na verdade, os

baptizados, pela regeneração e pela unção do Espírito Santo, são consagrados para serem casa

espiritual, sacerdócio santo, para que, por meio de todas as obras próprias do cristão, ofereçam

oblações espirituais e anunciem os louvores daquele que das trevas os chamou à sua admirável luz

(cfr. 1 Ped. 2, 4-10). Por isso, todos os discípulos de Cristo, perseverando na oração e louvando a

Deus (cfr. Act., 2, 42-47), ofereçam-se a si mesmos como hóstias vivas, santas, agradáveis a Deus(cfr. Roma 12,1), dêem. testemunho de Cristo em toda a parte e àqueles que lha pedirem dêem

razão da esperança da vida eterna que neles habita (cfr. 1 Ped. 3,15). .O sacerdócio comum dos

fiéis e o sacerdócio ministerial ou hierárquico, embora se diferenciem essencialmente e não apenas

em grau, ordenam-se mutuamente um ao outro; pois um e outro participam, a seu modo, do único

sacerdócio de Cristo (16). Com efeito, o sacerdote ministerial, pelo seu poder sagrado, forma e

conduz o povo sacerdotal, realiza o sacrifício eucarístico fazendo as vezes de Cristo e oferece-o a

Deus em nome de todo o povo; os fiéis, por sua parte, concorrem para a oblação da Eucaristia em

virtude do seu sacerdócio real (17), que eles exercem na recepção dos sacramentos, na oração eacção de graças, no testemunho da santidade de vida, na abnegação e na caridade operosa.

O exercício do sacerdócio comum nos sacramentos

11. A índole sagrada e, orgânica da comunidade sacerdotal efectiva-se pelos sacramentos e pelas

virtudes. Os fiéis, incorporados na Igreja pelo Baptismo, são destinados pelo carácter baptismal ao

culto da religião cristã e, regenerados para filhos de Deus, devem confessar diante dos homens a féque de Deus receberam por meio da Igreja (18). Pelo sacramento da Confirmação, são mais

perfeitamente vinculados à Igreja, enriquecidos com uma força especial do Espírito Santo e deste

modo ficam obrigados a difundir e defender a fé por palavras e obras como verdadeiras

testemunhas de Cristo (19). Pela participação no sacrifício eucarístico de Cristo, fonte e centro de

toda a vida cristã, oferecem a Deus a vítima divina e a si mesmos juntamente com ela (20); assim,

quer pela oblação quer pela sagrada comunhão, não indiscriminadamente mas cada um a seu

modo, todos tomam parte na acção litúrgica. Além disso, alimentados pelo corpo de Cristo na

Eucaristia, manifestam visivelmente a unidade do Povo de Deus, que neste augustíssimo sacramentoé perfeitamente significada e admiravelmente realizada.

Aqueles que se aproximam do sacramento da Penitência, obtêm da misericórdia de Deus o perdão

da ofensa a Ele feita e ao mesmo tempo reconciliam-se com a Igreja, que tinham ferido com o seu

pecado, a qual, pela caridade, exemplo e oração, trabalha pela sua conversão. Pela santa Unção

dos enfermos e pela oração dos presbíteros, toda a Igreja encomenda os doentes ao Senhor

padecente e glorificado para que os salve (cfr. Tg. 5, 14-16); mais ainda, exorta-os a que,associando-se livremente à Paixão e morte de Cristo (cfr. Rom. 8,17; Col. 1,24; 2 Tim. 11,12; 1

Ped. 4,13), concorram para o bem do Povo de Deus. Por sua vez, aqueles de entre os fiéis que

são assinalados com a sagrada Ordem, ficam constituídos em nome de Cristo para apascentar a

Igreja com a palavra e graça de Deus. Finalmente, os cônjuges cristãos, em virtude do sacramento

do Matrimónio, com que significam e. participam o mistério da unidade do amor fecundo entre

Cristo e a Igreja (cfr. Ef. 5,32), auxiliam-se mutuamente para a santidade, pela vida conjugal e pela

procriação e educação dos filhos, e têm assim, no seu estado de vida e na sua ordem, um dom

próprio no Povo de Deus (cfr. 1 Cor. 7,7) (21) Desta união origina-se a família, na qual nascemnovos cidadãos da sociedade humana os quais, para perpetuar o Povo de Deus através dos

tempos, se tornam filhos de Deus pela graça do Espírito Santo, no Baptismo. Na família, como

numa igreja doméstica, devem os pais, pela palavra e pelo exemplo, ser para os filhos os primeiros

arautos da fé e favorecer a vocação própria de cada um, especialmente a vocação sagrada.

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Munidos de tantos e tão grandes meios de salvação, todos os fiéis, seja qual for a sua condição ou

estado, são chamados pelo Senhor à perfeição do Pai, cada um por seu caminho.

O sentido da fé e dos carismas no povo cristão

12. O Povo santo de Deus participa também da função profética de Cristo, difundindo o seu

testemunho vivo, sobretudo pela vida de fé e de caridade oferecendo a Deus o sacrifício de louvor,

fruto dos lábios que confessam o Seu nome (cfr. Hebr. 13,15). A totalidade dos fiéis que

receberam a unção do Santo (cfr. Jo. 2, 20 e 27), não pode enganar-se na fé; e esta sua

propriedade peculiar manifesta-se por meio do sentir sobrenatural da fé do povo todo, quandoeste, «desde os Bispos até ao último dos leigos fiéis» (22), manifesta consenso universal em matéria

de fé e costumes. Com este sentido da fé, que se desperta e sustenta pela acção do Espírito de

verdade, o Povo de Deus, sob a direcção do sagrado magistério que fielmente acata, já não recebe

simples palavra de homens mas a verdadeira palavra de Deus (cfr. 1 Tess. 2,13), adere

indefectivelmente à fé uma vez confiada aos santos (cfr. Jud. 3), penetra-a mais profundamente

com juízo acertado e aplica-a mais totalmente na vida.

Além disso, este mesmo Espírito Santo não só santifica e conduz o Povo de Deus por meio dossacramentos e ministérios e o adorna com virtudes, mas «distribuindo a cada um os seus dons

como lhe apraz» (1 Cor. 12,11), distribui também graças especiais entre os fiéis de todas as

classes, as quais os tornam aptos e dispostos a tomar diversas obras e encargos, proveitosos para

a renovação e cada vez mais ampla edificação da Igreja, segundo aquelas palavras: ; «a cada qual

se concede a manifestação do Espírito em ordem ao bem comum» (1 Cor. 12,7). Estes carismas,

quer sejam os mais elevados, quer também os mais simples e comuns, devem ser recebidos com

acção de graças e consolação, por serem muito acomodados e úteis às necessidades da Igreja.Não se devem porém, pedir temerariamente, os dons extraordinários nem deles se devem esperar

com presunção os frutos das obras apostólicas; e o juízo acerca da sua autenticidade e recto uso,

pertence àqueles que presidem na Igreja e aos quais compete de modo especial não extinguir o

Espírito mas julgar tudo e conservar o que é bom (cfr. 1 Tess. 5, 12. 19-21).

Universalidade e catolicidade do único Povo de Deus

13. Ao novo Povo de Deus todos os homens são chamados. Por isso, este Povo, permanecendouno e único, deve estender-se a todo o mundo e por todos os séculos, para se cumprir o desígnio

da vontade de Deus que, no princípio, criou uma só natureza humana e resolveu juntar em unidade

todos os seus filhos que estavam dispersos (cfr. Jo. 11,52). Foi para isto que Deus enviou o Seu

Filho, a quem constituiu herdeiro de todas as coisas (cfr. Hebr. 1,2), para ser mestre, rei e

sacerdote universal, cabeça do novo e universal Povo dos filhos de Deus. Para isto Deus enviou

finalmente também o Espírito de Seu Filho, Senhor e fonte de vida, o qual é para toda a Igreja e

para cada um dos crentes princípio de agregação e de unidade na doutrina e na comunhão dosApóstolos, na fracção do pão e na oração (cfr. Act. 2,42 gr.).

E assim, o Povo de Deus encontra-se entre todos os povos da terra, já que de todos recebe os

cidadãos, que o são dum reino não terrestre mas celeste. Pois todos os fiéis espalhados pelo orbe

comunicam com os restantes por meio do Espírito Santo, de maneira que «aquele que vive em

Roma, sabe que os indianos são membros seus»(23),. Mas porque o reino de Cristo não é deste

mundo (cfr. Jo. 18,36), a Igreja, ou seja o Povo de Deus, ao implantar este reino, não subtrai coisaalguma ao bem temporal de nenhum povo, mas, pelo contrário, fomenta e assume as qualidades, as

riquezas, os costumes e o modo de ser dos povos, na medida em que são bons; e assumindo-os,

purifica-os, fortalece-os e eleva-os. Pois lembra-se que lhe cumpre ajuntar-se com aquele rei a

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quem os povos foram dados em herança (cfr. Salm. 2,8), e para a cidade à qual levam dons e

ofertas (cfr. Salm. 71 [72], 10; Is. 60, 47; Apoc. 21,24). Este carácter de universalidade que

distingue o Povo de Deus é dom do Senhor; por Ele a Igreja católica tende eficaz e constantemente

à recapitulação total da humanidade com todos os seus bens sob a cabeça, Cristo, na unidade do

Seu Espírito (24).

Em virtude desta mesma catolicidade, cada uma das partes traz às outras e a toda a Igreja os seus

dons particulares, de maneira que o todo e cada uma das partes aumentem pela comunicação

mútua entre todos e pela aspiração comum à plenitude na unidade. Daí vem que o Povo de Deus

não só se forma de elementos oriundos de diversos povos mas também se compõe ele mesmo de

várias ordens. Existe de facto entre os seus membros diversidade, quer segundo as funções,

enquanto alguns desempenham o sagrado ministério a favor de seus irmãos, quer segundo acondição e estado de vida, enquanto muitos, no estado religioso, buscando a santidade por um

caminho mais estreito, estimulam os irmãos com o seu exemplo. É também por isso que na

comunhão eclesial existem legitimamente igrejas particulares com tradições próprias, sem

detrimento do primado da cátedra de Pedro, que preside à universal assembleia da caridade (25),

protege as legítimas diversidades e vigia para que as particularidades ajudem a unidade e de forma

alguma a prejudiquem. Daí, finalmente, os laços de íntima união entre as diversas partes da Igreja,

quanto às riquezas espirituais, obreiros apostólicos e ajudas materiais. Pois os membros do Povode Deus são chamados a repartir entre si os bens, valendo para cada igreja as palavras do

Apóstolo: «cada um ponha ao serviço dos outros o dom que recebeu, como bons administradores

da multiforme graça de Deus» (1 Ped. 4,10).

Todos os homens são chamados a esta unidade católica do Povo de Deus, a qual anuncia e

promove a paz universal; a ela pertencem, de vários modos, ou a ela se ordenam, quer os católicos

quer os outros que acreditam em Cristo quer, finalmente, todos os homens em geral, pela graça de

Deus chamados à salvação.

Os fiéis católicos; a necessidade da Igreja

14. O sagrado Concílio volta-se primeiramente para os fiéis católicos. Fundado na Escritura e

Tradição, ensina que esta Igreja, peregrina sobre a terra, é necessária para a salvação. Com efeito,

só Cristo é mediador e caminho de salvação e Ele torna-Se-nos presente no Seu corpo, que é a

Igreja; ao inculcar expressamente a necessidade da fé e do Baptismo (cfr. Mc. 16,16; Jo. 3,15),

confirmou simultaneamente a necessidade da Igreja, para a qual os homens entram pela porta doBaptismo. Pelo que, não se poderiam salvar aqueles que, não ignorando ter sido a Igreja católica

fundada por Deus, por meio de Jesus Cristo, como necessária, contudo, ou não querem entrar nela

ou nela não querem perseverar.

São plenamente incorporados à sociedade que é a Igreja aqueles que, tendo o Espírito de Cristo,

aceitam toda a sua organização e os meios de salvação nela instituídos, e que, pelos laços da

profissão da fé, dós sacramentos, do governo eclesiástico e da comunhão, se unem, na suaestrutura visível, com Cristo, que a governa por meio do Sumo Pontífice e dos Bispos. Não se

salva, porém, embora incorporado à Igreja, quem não persevera na caridade: permanecendo na

Igreja pelo «corpo», não está nela com o coração (26). Lembrem-se, porém, todos os filhos da

Igreja que a sua sublime condição não é devida aos méritos pessoais, mas sim à especial graça de

Cristo; se a ela não corresponderem com os pensamentos, palavras e acções, bem longe de se

salvarem, serão antes mais severamente julgados (27).

Os catecúmenos que, movidos pelo Espírito Santo, pedem explicitamente para serem incorporados

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na Igreja, já lhe estão unidos por esse desejo, e a mãe Igreja já os abraça com amor e solicitude.

Vínculos da Igreja com os cristãos não-católicos

15. A Igreja vê-se ainda unida, por muitos títulos, com os baptizados que têm o nome de cristãos,

embora não professem integralmente a fé ou não guardem a unidade de comunhão com o sucessor

de Pedro (28). Muitos há, com efeito, que têm e prezam a Sagrada Escritura como norma de fé ede vida, manifestam sincero zelo religioso, crêem de coração em Deus Pai omnipotente e em

Cristo, Filho de Deus Salvador (29), são marcados pelo Baptismo que os une a Cristo e

reconhecem e recebem mesmo outros sacramentos nas suas próprias igrejas ou comunidades

eclesiásticas. Muitos de entre eles têm mesmo um episcopado, celebram a sagrada Eucaristia e

cultivam a devoção para com a Virgem Mãe de Deus (30). Acrescenta-se a isto a comunhão de

orações e outros bens espirituais; mais ainda, existe uma certa união verdadeira no Espírito Santo,

o qual neles actua com os dons e graças do Seu poder santificador, chegando a fortalecer algunsdeles até ao martírio. Deste modo, o Espírito suscita em todos os discípulos de Cristo o desejo e a

prática efectiva em vista de que todos, segundo o modo estabelecido por Cristo, se unam

pacificamente num só rebanho sob um só pastor (31). Para alcançar este fim, não deixa nossa mãe

a Igreja de orar, esperar e agir, e exorta os seus filhos a que se purifiquem e renovem, para que o

sinal de Cristo brilhe mais claramente no seu rosto.

Relação da Igreja com os não-cristãos

16. Finalmente, aqueles que ainda não receberam o Evangelho, estão de uma forma ou outra

orientados para o Povo de Deus (32). Em primeiro lugar, aquele povo que recebeu a aliança e as

promessas, e do qual nasceu Cristo segundo a carne (cfr. Rom. 9, 4-5), povo que segundo a

eleição é muito amado, por causa dos Patriarcas, já que os dons e o chamamento de Deus são

irrevogáveis (cfr. Rom. 11, 28-29). Mas o desígnio da salvação estende-se também àqueles que

reconhecem o Criador, entre os quais vêm em primeiro lugar os muçulmanos, que professam seguir

a fé de Abraão, e connosco adoram o Deus único e misericordioso, que há-de julgar os homens noúltimo dia. E o mesmo Senhor nem sequer está longe daqueles que buscam, na sombra e em

imagens, o Deus que ainda desconhecem; já que é Ele quem a todos dá vida, respiração e tudo o

mais (cfr. Act. 17, 25-28) e, como Salvador, quer que todos os homens se salvem (cfr. 1 Tim.

2,4). Com efeito, aqueles que, ignorando sem culpa o Evangelho de Cristo, e a Sua Igreja,

procuram, contudo, a Deus com coração sincero, e se esforçam, sob o influxo da graça, por

cumprir a Sua vontade, manifestada pelo ditame da consciência, também eles podem alcançar a

salvação eterna (33). Nem a divina Providência nega os auxílios necessários à salvação àqueles

que, sem culpa, não chegaram ainda ao conhecimento explícito de Deus e se esforçam, não sem oauxílio da graça, por levar uma vida recta. Tudo o que de bom e verdadeiro neles há, é

considerado pela Igreja como preparação para receberem o Evangelho (34), dado por Aquele que

ilumina todos os homens, para que possuam finalmente a vida. Mas, muitas vezes, os homens,

enganados pelo demónio, desorientam-se em seus pensamentos e trocam a verdade de Deus pela

mentira, servindo a criatura de preferência ao Criador (cfr. Rom. 1,21 e 25), ou então, vivendo e

morrendo sem Deus neste mundo, se expõem à desesperação final. Por isso, para promover a

glória de Deus e a salvação de todos estes, a Igreja, lembrada do mandato do Senhor: «pregai oEvangelho a toda a criatura» (Mc. 16,16), procura zelosamente impulsionar as missões.

Carácter missionário da Igreja

17. Assim como o Filho foi enviado pelo Pai, assim também Ele enviou os Apóstolos (cfr. Jo.

20,21) dizendo: «ide, pois, ensinai todas as gentes, baptizai-as em nome do Pai e do Filho e do

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Espírito Santo, ensinai-as a observar tudo aquilo que vos mandei. Eis que estou convosco todos os

dias até à consumação dos séculos» (Mt. 28, 19-20). A Igreja recebeu dos Apóstolos estemandato solene de Cristo, de anunciar a verdade da salvação e de a levar até aos confins da terra

(cfr. Act. 1,8). Faz, portanto, suas as palavras do Apóstolo: «ai de mim, se não prego o

Evangelho» (1 Cor. 9,16), e por isso continua a mandar incessantemente os seus arautos, até que

as novas igrejas se formem plenamente e prossigam, por sua vez, a obra da evangelização. Pois é

impelida pelo Espírito Santo a cooperar para que o desígnio de Deus, que fez de Cristo o princípio

de salvação para todo o mundo, se realize totalmente. Pregando o Evangelho, a Igreja atrai os

ouvintes a crer e confessar a fé, dispõe para o Baptismo, liberta da escravidão do erro e incorpora-os a Cristo, a fim de que n'Ele cresçam pela caridade, até à plenitude. E a sua acção faz com que

tudo quanto de bom encontra no coração e no espírito dos homens ou nos ritos e cultura próprios

de cada povo, não só não pereça mas antes seja sanado, elevado e aperfeiçoado, para glória de

Deus, confusão do demónio e felicidade do homem. A todo. o discípulo de Cristo incumbe o

encargo de difundir a fé, segundo a própria medida (35). Mas se todos podem baptizar os que

acreditam, contudo, é próprio do sacerdote aperfeiçoar, com o sacrifício eucarístico, a edificação

do corpo, cumprindo assim a palavra de Deus, anunciada pelo profeta: «do Oriente até aoOcidente grande é o meu nome entre as gentes, e em todos os lugares é sacrificada e oferecida ao

meu nome uma oblação pura» (Mal. 1,11) (36). É assim que a Igreja simultâneamente ora e

trabalha para que toda a humanidade se transforme em Povo de Deus, corpo do Senhor e templo

do Espírito Santo, e em Cristo, cabeça de todos, se dê ao Pai e Criador de todas as coisas toda a

honra e toda a glória.

CAPÍTULO III

A CONSTITUIÇÃO HIERÁRQUICA

DA IGREJA E EM ESPECIAL O EPISCOPADO

Proémio: o primado de Pedro

18. Cristo Nosso Senhor, para apascentar e aumentar continuamente o Povo de Deus, instituiu na

Igreja diversos ministérios, para bem de todo o corpo. Com efeito, os ministros que têm o podersagrado servem os seus irmãos para que todos os que pertencem ao Povo de Deus, e por isso

possuem a verdadeira dignidade cristã, alcancem a salvação, conspirando livre e ordenadamentepara o mesmo fim.

Este sagrado Concílio, seguindo os passos do Concílio Vaticano I, com ele ensina e declara que

Jesus Cristo, pastor eterno, edificou a Igreja tendo enviado os Apóstolos como Ele fora enviadopelo Pai (cfr. Jo. 20,21); e quis que os sucessores deles, os Bispos, fossem pastores na Sua Igreja

até ao fim dos tempos. Mas, para que o mesmo episcopado fosse uno e indiviso, colocou o bem-aventurado Pedro à frente dos outros Apóstolos e nele instituiu o princípio e fundamento perpétuo

e visível da unidade de fé e comunhão (37). Este sagrado Concílio propõe de novo, para serfirmemente acreditada por todos os fiéis, esta doutrina sobre a instituição perpétua, alcance enatureza do sagrado primado do Pontífice romano e do seu magistério infalível, e, prosseguindo a

matéria começada, pretende declarar e manifestar a todos a doutrina sobre os Bispos, sucessoresdos Apóstolos, que, com o sucessor de Pedro, vigário de Cristo (38) e cabeça visível de toda a

Igreja, governam a casa de Deus vivo.

O colégio dos doze Apóstolos

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19. O Senhor Jesus, depois de ter orado ao Pai, chamando a Si os que Ele quis, elegeu doze para

estarem com Ele e para os enviar a pregar o Reino de Deus (cfr. Mc. 3, 13-19; Mt. 10, 1-42); e aestes Apóstolos (cfr. Luc. 6,13) constituiu-os em colégio ou grupo estável e deu-lhes como chefe a

Pedro, escolhido de entre eles (cfr. Jo. 21, 15-17). Enviou-os primeiro aos filhos de Israel e,depois, a todos os povos (cfr. Rom. 1,16), para que, participando do Seu poder, fizessem de

todas as gentes discípulos seus e as santificassem e governassem (cfr. Mt. 28, 16-20; Mc. 16,15;Luc. 24, 45-8; Jo. 20, 21-23) e deste modo propagassem e apascentarem a Igreja, servindo-a,sob a direcção do Senhor, todos os dias até ao fim dos tempos (cfr. Mt. 28,20). No dia de

Pentecostes foram plenamente confirmados nesta missão (cfr. Act. 2, 1-26) segundo a promessado Senhor: «recebereis a força do Espírito Santo que descerá sobre vós e sereis minhas

testemunhas em Jerusalém e em toda a Judeia e Samaria e até aos confins da terra (Act. 1,8). E osApóstolos, pregando por toda a parte o Evangelho (cfr. Mc. 16,20), recebido pelos ouvintes

graças à acção do Espírito Santo, reunem a Igreja universal que o Senhor fundou sobre osApóstolos e levantou sobre o bem-aventurado Pedro seu chefe, sendo Jesus Cristo a suma pedra

angular (cfr. Apoc. 21,14; Mt. 16,18; Ef. 2,20) (39).

Os Bispos, sucessores dos Apóstolos

20. A missão divina confiada por Cristo aos Apóstolos durará até ao fim dos tempos (cfr. Mt.

28,20), uma vez que o Evangelho que eles devem anunciar é em todo o tempo o princípio de todaa vida na Igreja. Pelo que os Apóstolos trataram de estabelecer sucessores, nesta sociedade

hierarquicamente constituída.

Assim, não só tiveram vários auxiliares no ministério (40) mas, para que a missão que lhes foraentregue se continuasse após a sua morte, confiaram a seus imediatos colaboradores, como em

testamento, o encargo de completarem e confirmarem a obra começada por eles (41),recomendando-lhes que velassem por todo o rebanho, sobre o qual o Espírito Santo os

restabelecera para apascentarem a Igreja de Deus (cfr. Act. 20, 28). Estabeleceram assim homenscom esta finalidade e ordenaram também que após a sua morte fosse o seu ministério assumido por

outros homens experimentados (42). Entre os vários ministérios que na Igreja se exercem desde osprimeiros tempos, consta da tradição que o principal é o daqueles que, constituídos no episcopadoem sucessão ininterrupta (43) são transmissores do múnus apostólico (44). E assim, como

testemunha santo Ireneu, a tradição apostólica é manifestada em todo o mundo (45) e guardada(46) por aqueles que pelos Apóstolos foram constituídos Bispos e seus sucessores.

Portanto, os Bispos receberam, com os seus colaboradores os presbíteros e diáconos, o encargoda comunidade (47), presidindo em lugar de Deus ao rebanho (48) de que são pastores como

mestres da doutrina, sacerdotes do culto sagrado, ministros do governo (49). E assim comopermanece o múnus confiado pelo Senhor singularmente a Pedro, primeiro entre os Apóstolos, eque se devia transmitir aos seus sucessores, do mesmo modo permanece o múnus dos Apóstolos

de apascentar a Igreja, o qual deve ser exercido perpetuamente pela sagrada Ordem dos Bispos(50). Ensina, por isso, o sagrado Concílio que, por instituição divina, os Bispos sucedem aos

Apóstolos (51), como pastores da Igreja; quem os ouve, ouve a Cristo; quem os despreza,despreza a Cristo e Aquele que enviou Cristo (cfr. Luc. 10,16) (52).

O Episcopado como Sacramento

21. Na pessoa dos Bispos, assistidos pelos presbíteros, está presente no meio dos fiéis o SenhorJesus Cristo, pontífice máximo. Sentado à direita de Deus Pai, não deixa de estar presente ao

corpo dos seus pontífices (53), mas, antes de mais, por meio do seu exímio ministério, prega a

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todas as gentes a palavra de Deus, administra continuamente aos crentes os sacramento . da fé,incorpora por celeste regeneração e graças à sua acção paternal cfr. 1 Cor. 4,15) novos membrosao Seu corpo e, finalmente, com sabedoria e prudência, dirige e orienta o Povo do Novo

Testamento na peregrinação para a eterna felicidade. Estes pastores, escolhidos para apascentar orebanho do Senhor, são ministros de Cristo e dispensadores dos mistérios de Deus (cfr. 1 Cor.

4,1); a eles foi confiado o testemunho do Evangelho da graça de Deus (cfr. Rom. 15,16; Act.20,24) e a administração do Espírito e da justiça em glória (cfr. 2 Cor. 3, 8-9).

Para desempenhar tão elevadas funções, os Apóstolos foram enriquecidos por Cristo com umaefusão especial do Espírito Santo que sobre eles desceu (cfr. Act. 1,8; 2,4; Jo. 20, 22-23), e elesmesmos transmitiram este dom do Espírito aos seus colaboradores pela imposição das mãos (cfr. 1

Tim. 4,14; 2 Tim. 1, 6-7), o qual foi transmitido até aos nossos dias através da consagraçãoepiscopal (54). Ensina, porém, o sagrado Concílio que, pela consagração episcopal, se confere a

plenitude do sacramento da Ordem, aquela que é chamada sumo sacerdócio e suma do sagradoministério na tradição litúrgica e nos santos Padres (55). A consagração episcopal, juntamente com

o poder de santificar, confere também os poderes de ensinar e governar, os quais, no entanto, porsua própria natureza, só podem ser exercidos em comunhão hierárquica com a cabeça e osmembros do colégio episcopal. De facto, consta pela tradição, manifestada sobretudo nos ritos

litúrgicos da Igreja tanto ocidental como oriental, que a graça do Espírito Santo é conferida pelaimposição das mãos e pelas palavras da consagração (56), e o carácter sagrado é impresso (57)

de tal modo que os Bispos representam de forma eminente e conspícua o próprio Cristo, mestre,pastor e pontífice, e actuam em vez d'Ele (58). Pertence aos Bispos assumir novos eleitos no corpo

episcopal por meio do sacramento da Ordem.

O Colégio dos Bispos e a sua Cabeça

22. Assim como, por instituição do Senhor, S. Pedro e os restantes Apóstolos formam um colégio

apostólico, assim de igual modo estão unidos entre si o Romano Pontífice, sucessor de Pedro, e osBispos, sucessores dos Apóstolos. A natureza colegial da ordem episcopal, claramente

comprovada pelos Concílios ecuménicos celebrados no decurso dos séculos, manifesta-se já nadisciplina. primitiva, segundo a qual os Bispos de todo o orbe comunicavam entre si e com o Bispo

de Roma no vínculo da unidade, da caridade e da paz (59); e também na reunião de Concílios(60), nos quais se decidiram em comum coisas importantes (61), depois de ponderada a decisãopelo parecer de muitos (62); o mesmo é claramente demonstrado pelos Concílios Ecuménicos,

celebrados no decurso dos séculos. E o uso já muito antigo de chamar vários Bispos a participaremna elevação do novo eleito ao ministério do sumo sacerdócio insinua-a já também. É, pois, em

virtude da sagração episcopal e pela comunhão hierárquica com a cabeça e os membros do colégioque alguém é constituído membro do corpo episcopal.

Porém, o colégio ou corpo episcopal não tem autoridade a não ser em união com o RomanoPontífice, sucessor de Pedro, entendido com sua cabeça, permanecendo inteiro o poder do seuprimado sobre todos, quer pastores quer fiéis. Pois o Romano Pontífice, em virtude do seu cargo

de vigário de Cristo e pastor de toda a Igreja, tem nela pleno, supremo e universal poder que podesempre exercer livremente. A Ordem dos Bispos, que sucede ao colégio dos Apóstolos no

magistério e no governo pastoral, e, mais ainda, na qual o corpo apostólico se continuaperpetuamente, é também juntamente com o Romano Pontífice, sua cabeça, e nunca sem a cabeça,

sujeito do supremo e pleno poder sobre toda a Igreja (63), poder este que não se pode exercersenão com o consentimento do Romano Pontífice. Só a Simão colocou o Senhor como pedra eclavário da Igreja (cfr. Mt. 16, 18-19), e o constituiu pastor de todo o Seu rebanho (cfr. Jo. 21, 15

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ss.); mas é sabido que o encargo de ligar e desligar conferido a Pedro (Mt. 16,19), foi tambématribuído ao colégio dos Apóstolos unido à sua cabeça (Mt. 18,18; 28, 16-20) (64). Este colégio,

enquanto composto por muitos, exprime a variedade e universalidade do Povo de Deus e,enquanto reunido sob uma só cabeça, revela a unidade do redil de Cristo. Neste colégio, os

Bispos, respeitando fielmente o primado e chefia da sua cabeça, gozam de poder próprio para bemdos seus fiéis e de toda a Igreja, corroborando sem cessar o Espírito Santo a estrutura orgânica e aharmonia desta.

O supremo poder sobre a Igreja universal, que este colégio tem, exerce-se solenemente noConcílio Ecuménico. Nunca se dá um Concílio Ecuménico sem que seja como tal confirmado ou

pelo menos aceite pelo sucessor de Pedro; e é prerrogativa do Romano Pontífice convocar estesConcílios, presidi-los e confirmá-los (65). O mesmo poder colegial pode ser exercido, juntamentecom o Papa, pelos Bispos espalhados pelo mundo, contanto que a cabeça do colégio os chame a

uma acção colegial ou, pelo menos, aprove ou aceite livremente a acção conjunta dos Bisposdispersos, de forma que haja verdadeiro acto colegial.

Relação dos Bispos dentro do Colégio

23. A união colegial aparece também nas mútuas relações de cada Bispo com as igrejas

particulares e com a Igreja universal. O Romano Pontífice, como sucessor de Pedro, é perpétuo evisível fundamento da unidade, não só dos Bispos mas também da multidão dos fiéis (66). E cadaum dos Bispos é princípio e fundamento visível da unidade nas suas respectivas igrejas(67),

formadas à imagem da Igreja universal, das quais e pelas quais existe a Igreja católica, una e única(68). Pelo que, cada um dos Bispos representa a sua igreja e, todos em união com o Papa, no

vínculo da paz, do amor e da unidade, a Igreja inteira.

Cada um dos Bispos que estão à frente de igrejas particulares, desempenha a acção pastoral sobreo porção do Povo de Deus a ele confiada, não sobre as outras igrejas nem sobre a Igreja universal.

Porém, enquanto membros do colégio episcopal e legítimos sucessores dos Apóstolos, estãoobrigados, por instituição e preceito de Cristo, à solicitude sobre toda a Igreja (69), a qual, embora

não se exerça por um acto de jurisdição, concorre, contudo, grandemente para o bem da Igrejauniversal. Todos os Bispos devem, com efeito, promover e defender a unidade da fé e disciplina

comum a toda a Igreja; formar os fiéis no amor pelo Corpo místico de Cristo, principalmente pelosmembros pobres, sofredores e que padecem perseguição por amor da justiça (cfr. Mt. 5,0);

devem, finalmente, promover todas as actividades que são comuns a toda a Igreja, sobretudo paraque a fé se difunda e a luz da verdade total nasça para todos os homens. Aliás, é certo que,governando bem a própria igreja, como porção da Igreja universal, concorrem eficazmente para o

bem de todo o Corpo místico, que é também o corpo das igrejas (70).

O cuidado de anunciar o Evangelho em todas as partes da terra pertence ao corpo dos pastores,

aos quais em conjunto deu Cristo o mandato, impondo este comum dever, como já o PapaCelestino recordava aos Padres do Concílio de Éfeso (71). Pelo que, cada um dos Bispos, quantoo desempenho do seu próprio ministério o permitir, está obrigado a colaborar com os demais

Bispos é com o sucessor de Pedro, a quem, dum modo especial, foi confiado o nobre encargo depropagar o cristianismo (72). Devem, por isso, com todas as forças, subministrar às Missões, não

só operários para a messe, mas também auxílios espirituais e materiais, tanto por si mesmosdirectamente como fomentando a generosa cooperação dos fiéis. Finalmente, os Bispos, em

universal comunhão de caridade, prestem de boa vontade ajuda fraterna às outras igrejas, emespecial às mais vizinhas e necessitadas, segundo o venerando exemplo dos antepassados.

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Por divina Providência sucedeu que várias igrejas, instituídas em diversos lugares pelos Apóstolos eseus sucessores, se juntam, no decorrer do tempo, em vários grupos organicamente unidos, os

quais, salva a unidade da fé e a única constituição divina da Igreja universal, têm leis próprias, ritolitúrgico próprio, e património teológico e espiritual próprio. Algumas de entre elas, principalmente

as antigas igrejas patriarcais, como matrizes da fé, geraram outras, que são como que as suas filhase com as quais permaneceram unidas na vida sacramental e no respeito pelos mútuos direitos e

deveres (73). Esta variedade de igrejas locais a convergir para a unidade, manifesta maisclaramente a catolicidade da indivisa Igreja. De modo semelhante, as Conferências episcopaispodem hoje aportar uma contribuição múltipla e fecunda para que o sentimento colegial leve a

aplicações concretas.

O tríplice ministério dos Bispos

24. Os Bispos, com sucessores dos Apóstolos, recebem do Senhor, a quem foi dado todo o poderno céu e na terra, a missão de ensinar todos os povos e de pregar o Evangelho a toda a criatura,para que todos os homens se salvem pela fé, pelo Baptismo e pelo cumprimento dos mandamentos

(cfr. Mt 28,18; Mc. 16, 15-16; Act. 26, 17 ss.). Para realizar esta missão, Cristo Nosso Senhorprometeu o Espírito Santo aos Apóstolos e enviou-o do céu no dia de Pentecostes, para, com o

Seu poder, serem testemunhas perante as nações, os povos e os reis, até aos confins da terra (cfr.Act. 1,8; 2,1 ss.; 9,15). Este encargo que o Senhor confiou aos pastores do Seu povo é um

verdadeiro serviço, significativamente chamado «diaconia» ou ministério na Sagrada Escritura (cfr.Act. 1, 17 e 25; 21-19; Rom. 11, 13; 1 Tim. 1,12).

A missão canónica dos Bispos pode realizar-se segundo legítimos costumes, não revogados pela

suprema e universal autoridade da Igreja, ou por leis concedidas ou reconhecidas por esta mesmaautoridade, ou directamente pelo próprio sucessor de Pedro. Se este recusar ou negar a comunhão

apostólica, não poderão os Bispos entrar no exercício do seu cargo (74).

O ministério episcopal de ensinar

25. Entre os principais encargos dos Bispos ocupa lugar preeminente a pregação do Evangelho

(75). Os Bispos são os arautos da fé que para Deus conduzem novos discípulos. Dotados daautoridade de Cristo, são doutores autênticos, que pregam ao povo a eles confiado a fé que se

deve crer e aplicar na vida prática; ilustrando-a sob a luz do Espírito Santo e tirando do tesoiro darevelação coisas novas e antigas (cfr. Mt. 13,52), fazem-no frutificar e solicitamente afastam os

erros que ameaçam o seu rebanho (cfr. 2 Tim. 4, 1-4). Ensinando em comunhão com o RomanoPontífice, devem por todos ser venerados como testemunhas da verdade divina e católica. E osfiéis devem conformar-se ao parecer que o seu Bispo emite em nome de Cristo sobre matéria de fé

ou costumes, aderindo a ele com religioso acatamento. Esta religiosa submissão da vontade e doentendimento é por especial razão devida ao magistério autêntico do Romano Pontífice, mesmo

quando não fala ex cathedra; de maneira que o seu supremo magistério seja reverentementereconhecido, se preste sincera adesão aos ensinamentos que dele emanam, segundo o seu sentir e

vontade; estes manifestam-se sobretudo quer pela índole dos documentos, quer pelas frequentesrepetições da mesma doutrina, quer pelo modo de falar.

Embora os Bispos, individualmente, não gozem da prerrogativa da infalibilidade, anunciam, porém,

infalivelmente a doutrina de Cristo sempre que, embora dispersos pelo mundo mas unidos entre si ecom o sucessor de Pedro, ensinam autenticamente matéria de fé ou costumes concordando em que

uma doutrina deve ser tida por definida (76). O que se verifica ainda mais manifestamente quando,reunidos em Concílio Ecuménico, são doutores e juízes da fé e dos costumes para toda a Igreja,

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devendo-se aderir com fé às suas definições (77).

Mas esta infalibilidade com que o divino Redentor quis dotar a Sua igreja, na definição de doutrinas

de fé ou costumes, estende-se tanto quanto se estende o depósito da divina Revelação, o qual sedeve religiosamente guardar e fielmente expor. Desta mesma infalibilidade goza o Romano Pontífice

em razão do seu ofício de cabeça do colégio episcopal, sempre que, como supremo pastor dosfiéis cristãos, que deve confirmar na fé os seus irmãos (cfr. Lc. 22,32), define alguma doutrina em

matéria de fé ou costumes (78). As suas definições com razão se dizem irreformáveis por simesmas e não pelo consenso da Igreja, pois foram pronunciadas sob a assistência do EspíritoSanto, que lhe foi prometida na pessoa de S. Pedro. Não precisam, por isso, de qualquer alheia

aprovação, nem são susceptíveis de apelação a outro juízo. Pois, nesse caso, o Romano Pontíficenão fala como pessoa privada, mas expõe ou defende a doutrina da fé católica como mestre

supremo da Igreja universal, no qual reside de modo singular o carisma da infalibilidade da mesmaIgreja (79). A infalibilidade prometida à Igreja reside também no colégio episcopal, quando este

exerce o supremo magistério em união com o sucessor de Pedro. A estas definições nunca podefaltar o assentimento da Igreja, graças à acção do Espírito Santo, que conserva e faz progredir naunidade da fé todo o rebanho de Cristo (80).

Porém, quando o Romano Pontífice, ou o corpo episcopal com ele, define alguma verdade,propõe-na segundo a Revelação, à qual todos se devem conformar. Esta transmite-se

integralmente, por escrito ou por tradição, através da legítima sucessão dos Bispos e, antes demais, graças à solicitude do mesmo Romano Pontífice; e, sob a iluminação do Espírito de verdade,

é santamente conservada e fielmente exposta na Igreja (81). Para a investigar como convém eenunciar aptamente, o Romano Pontífice e os Bispos, segundo o próprio ofício e a gravidade doassunto, trabalham diligentemente, recorrendo aos meios adequados (82); não recebem, porém,

nenhuma nova revelação pública que pertença ao depósito divino da fé (83).

O ministério episcopal de santificar

26. Revestido da plenitude do sacramento da Ordem, o Bispo é o «administrador da graça dosupremo sacerdócio» (84), principalmente na Eucaristia, que ele mesmo oferece ou providencia

para que seja oferecida (85), e pela qual vive e cresce a Igreja. Esta Igreja de Cristo estáverdadeiramente presente em todas as legítimas comunidades locais de fiéis, as quais aderindo aosseus pastores, são elas mesmas chamadas igrejas no Novo Testamento (86). Pois elas são, no local

em que se encontram, o novo Povo chamado por Deus, no Espírito Santo e com plena segurança(cfr. 1 Tess. 1, 5). Nelas se congregam os fiéis pela pregação do Evangelho de Cristo e se celebra

o mistério da Ceia do Senhor «para que o corpo da inteira fraternidade seja unido por meio dacarne e sangue do Senhor» (87) Em qualquer comunidade que participa do altar sob o ministério

sagrado do Bispo (88), é manifestado o símbolo do amor e da unidade do Corpo místico, sem oque não pode haver salvação (89). Nestas comunidades, embora muitas vezes pequenas e pobres,ou dispersas, está presente Cristo, por cujo poder se unifica a Igreja una, santa, católica e

apostólica (90). Pois «outra coisa não faz a participação no corpo e sangue de Cristo, do quetransformar-nos naquilo que recebemos» (91). Toda a legítima celebração da Eucaristia é dirigida

pelo Bispo, a quem foi confiado o encargo de oferecer à divina Majestade o culto da religião cristã,e de o regular segundo os preceitos do Senhor e as leis da Igreja, ulteriormente determinadas para

a própria diocese, segundo o seu parecer. Deste modo, os Bispos, orando e trabalhando pelopovo, espalham multiforme e abundantemente «plenitude da santidade de Cristo. Pelo ministério dapalavra, comunicam a força de Deus, para salvação dos que crêem (cfr. Rom. 1,16) e, por meio

dos sacramentos, cuja distribuição regular e frutuosa ordenam com a sua autoridade, santificam os

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fiéis (92). São eles que regulam a administração do Baptismo, pelo qual é concedida a participação

no sacerdócio real de Cristo. São eles os ministros originários da Confirmação, dispensadores dassagradas ordens e reguladores da disciplina penitencial, e com solicitude exortam e instruem o seu

povo para que participe com fé e reverência na Liturgia, principalmente no santo sacrifício damissa. Finalmente, devem ajudar com o próprio exemplo aqueles que governam, purificando ospróprios costumes de todo o mal e tornando-os bons, quanto lhes for possível com o auxílio do

Senhor, para que alcancem, com o povo que lhes é confiado, a vida eterna (93).

O ministério episcopal de reger

27. Os Bispos governam as igrejas particulares que lhes foram confiadas como vigários e legadosde Cristo (94), por meio de conselhos, persuasões, exemplos, mas também com autoridade epoder sagrado, que exercem unicamente para edificar o próprio rebanho na verdade e na

santidade, lembrados de que aquele que é maior se deve fazer como o menor, e o que presidecomo aquele que serve (cfr. Luc. 22, 26-27). Este poder que exercem pessoalmente em nome de

Cristo, é próprio, ordinário e imediato, embora o seu exercício seja superiormente regulado pelasuprema autoridade da Igreja e possa ser circunscrito dentro de certos limites para utilidade da

Igreja ou dos fiéis. Por virtude deste poder, têm os Bispos o sagrado direito e o dever, perante oSenhor, de promulgar leis para os seus súbditos, de julgar e de orientar todas as coisas quepertencem à ordenação do culto e do apostolado.

A eles é confiado em plenitude o encargo pastoral, isto é, o cuidado quotidiano e habitual daspróprias ovelhas; nem devem ser tidos por vigários dos Romanos Pontífices, uma vez que exercem

uma autoridade própria e com toda a verdade são chamados antístites (95) dos povos quegovernam. O seu poder não é, pois, diminuído pela autoridade suprema e universal, mas antes, pelo

contrário, é por ela assegurado, fortificado e defendido (96), dado que o Espírito Santo conservaindefectivelmente a forma de governo estabelecida por Cristo Nosso Senhor na Igreja.

O Bispo, enviado pelo Pai de família a governar a Sua família, tenha diante dos olhos o exemplo do

bom pastor, que veio servir e não ser servido (cfr. Mt. 20,28; Mc. 10,45) e dar a própria vidapelas ovelhas (cfr. Jo. 10,11). Escolhido dentre os homens, e sujeito às fraquezas humanas, pode

compadecer-se dos ignorantes e transviados (cfr. Hebr. 5, 1-2). Não se recuse a ouvir os súbditos,de quem cuida como verdadeiros filhos e a quem exorta a que animosamente cooperem consigo.

Tendo que prestar contas a Deus pelas suas almas (cfr. Hebr. 13,17), deve, com a oração, apregação e todas as obras de caridade, ter cuidado tanto deles como daqueles que ainda nãopertencem ao único rebanho, os quais ele deve considerar como tendo-lhe sido confiados pelo

Senhor. Devendo, como o Apóstolo, dar-se a todos, esteja sempre pronto para a todosevangelizar (cfr. Rom. 1, 14-15) e para exortar os próprios fiéis ao trabalho apostólico e

missionário. Por seu lado, os fiéis devem aderir ao seu Bispo, como a Igreja adere a Jesus Cristo, eJesus Cristo ao Pai, a fim de que todas as coisas conspirem para a unidade (97) e se multipliquem

para a glória de Deus (cfr. 2 Cor. 4,15).

Os Presbíteros e suas relações com Cristo,com os Bispos, com o presbitério e com o povo Cristão

28. Por meio dos Seus Apóstolos, Cristo, a quem o Pai santificou e enviou ao mundo (Jo. 10,36),tornou os Bispos, que são sucessores daqueles, participantes da Sua consagração e missão (98): e

estes transmitiram legitimamente o múnus do seu ministério em grau diverso e a diversos sujeitos.Assim, o ministério eclesiástico, instituído por Deus, é exercido em ordens diversas por aqueles quedesde a antiguidade são chamados Bispos, presbíteros e diáconos (99). Os presbíteros, embora

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não possuam o fastígio do pontificado e dependam dos Bispos no exercício do próprio poder,

estão-lhes, porém, unidos na honra do sacerdócio (100) e, por virtude do sacramento da Ordem(101), são consagrados, à imagem de Cristo, sumo e eterno sacerdote (Hebr. 5, 1-10; 7,24; 9,

11-28), para pregar o Evangelho, apascentar os fiéis e celebrar o culta divino, como verdadeirossacerdotes do Novo Testamento (102). Participantes, segundo o grau do seu ministério, da função

de Cristo mediador único (1 Tim, 2,5), anunciam a todos a palavra de Deus. Mas é no culto. oucelebração eucarística que exercem principalmente o seu múnus sagrado; nela, actuando em nomede Cristo (103) e proclamando o Seu mistério, unem as preces dos fiéis ao sacrifício da cabeça e,

no sacrifício da missa, representam e aplicam, até à vinda do Senhor (cfr. 1 Cor. 11,26), o únicosacrifício do Novo Testamento, ou seja, Cristo oferecendo-se, uma vez por todas, ao Pai, como

hóstia imaculada (cfr. Hebr. 9, 11-28) (104). Exercem ainda, por título eminente, o ministério dareconciliação e o do conforto para com os fiéis arrependidos ou enfermos, e apresentam a Deus

Pai as necessidades e preces dos crentes (cfr. Hebr. 5, 1-4. Desempenhando, segundo a medidada autoridade que possuem, o múnus de Cristo pastor e cabeça (105), reúnem a família de Deusem fraternidade animada por um mesmo espírito (106) e, por Cristo e no Espírito Santo,

conduzem-na a Deus Pai. No meio do próprio rebanho adoram-nO em espírito e verdade (cfr. Jo.4,24). Trabalham, enfim, pregando e ensinando (1 Tim. 5,17), acreditando no que lêem e meditam

na lei do Senhor, ensinando o que crêem e vivendo o que ensinam (107).

Os presbíteros, como esclarecidos cooperadores da ordem episcopal (108) e a sua ajuda e

instrumento, chamados para o serviço do Povo de Deus, constituem com o seu Bispo umpresbitério (108) com diversas funções. Em cada uma das comunidades de fiéis, tornam de algummodo presente o Bispo, ao qual estão associados com ânimo fiel e generoso e cujos encargos e

solicitude assumem, segundo a própria medida, e exercem com cuidado quotidiano. Sob aautoridade do Bispo, santificam e governam a porção do rebanho a si confiada, tornam visível, no

lugar em que estão, a Igreja universal e prestam uma grande ajuda para a edificação de todo ocorpo de Cristo (cfr. Ef. 4, 12). Sempre atentos ao bem dos filhos de Deus, procurem dar a sua

ajuda ao trabalho de toda a diocese, melhor, de toda a Igreja. Por causa desta participação nosacerdócio e na missão, reconheçam os presbíteros o Bispo verdadeiramente como pai, eobedeçam-lhe com reverência. O Bispo, por seu lado, considere os sacerdotes, seus

colaboradores, como filhos e amigos, à imitação de Cristo que já não chama aos seus discípulosservos mas amigos (cfr. Jo. 15,15). Deste modo, todos os sacerdotes, tanto diocesanos como

religiosos, estão associados ao corpo episcopal em razão da Ordem e do ministério, e, segundo aprópria vocação e graça, contribuem para o bem de toda a Igreja.

Em virtude da comum sagrada ordenação e missão, todos os presbíteros estão entre si ligados emíntima fraternidade, que espontânea e livremente se deve manifestar no auxílio mútuo, tantoespiritual como material, pastoral ou pessoal, em reuniões e na comunhão de vida, de trabalho e de

caridade.

Velem, como pais em Cristo, pelos fiéis que espiritualmente geraram pelo Baptismo e pela

doutrinação (cfr. 1 Cor. 4,15; 1 Ped. 1,23). Fazendo-se, de coração, os modelos do rebanho (1Ped. 5,3), de tal modo dirijam e sirvam a sua comunidade local que esta possa dignamente serchamada com aquele nome com que se honra o único Povo de Deus todo inteiro, a saber, a Igreja

de Deus (cfr. 1 Cor. 1,2; 2 Cor. 1,1; etc. etc.). No seu trato e solicitude de cada dia, não seesqueçam de apresentar aos fiéis e infiéis, aos católicos e não-católicos, a imagem do autêntico

ministério sacerdotal e pastoral, de dar a todos testemunho de verdade e de vida, e de procurartambém, como bons pastores (cfr. Luc. 15, 4-7), aqueles que, baptizados embora na Igreja

católica, abandonaram os sacramentos ou até mesmo a fé.

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Dado que o género humano caminha hoje cada vez mais para a unidade política, económica esocial, tanto mais necessário é que os sacerdotes em conjunto e sob a direcção dos Bispos e doSumo Pontífice, evitem todo o motivo de divisão, para que a humanidade toda seja conduzida à

unidade da família de Deus.

Os diáconos

29. Em grau inferior da hierarquia estão os diáconos, aos quais foram impostas as mãos «não emordem ao sacerdócio mas ao ministério» (109). Pois que, fortalecidos com a graça sacramental,servem o Povo de Deus em união com o Bispo e o seu presbitério, no ministério da Liturgia, da

palavra e da caridade. É próprio do diácono, segundo for cometido pela competente autoridade,administrar solenemente o Baptismo, guardar e distribuir a Eucaristia, assistir e abençoar o

Matrimónio em nome da Igreja, levar o viático aos moribundos, ler aos fiéis a Sagrada Escritura,instruir e exortar o povo, presidir ao culto e à oração dos fiéis, administrar os sacramentais, dirigir

os ritos do funeral e da sepultura. Consagrados aos ofícios da caridade e da administração,lembrem-se os diáconos da recomendação de S. Policarpo: «misericordiosos, diligentes,caminhando na verdade do Senhor, que se fez servo de todos» (110).

Como porém, estes ofícios, muito necessários para a vida da Igreja na disciplina actual da Igrejalatina, dificilmente podem ser exercidos em muitas regiões, o diaconado poderá ser, para o futuro,

restaurado como grau próprio e permanente da Hierarquia. As diversas Conferências episcopaisterritoriais competentes cabe decidir, com a aprovação do Sumo Pontífice, se e onde é oportuno

instituir tais diáconos para a cura das almas. Com o consentimento do Romano Pontífice, poderáeste diaconado ser conferido a homens de idade madura, mesmo casados, e a jovens idóneos; emrelação a estes últimos, porém, permanece em vigor a lei do celibato.

CAPÍTULO IV

OS LEIGOS

Proémio: Carácter peculiar dos leigos

30. Declaradas as diversas funções da Hierarquia, o sagrado Concílio volta de bom grado a sua

atenção para o estado daqueles fiéis cristãos que se chamam leigos. Com efeito, se é verdade quetodas as coisas que se disseram a respeito do Povo de Deus se dirigem igualmente aos leigos, aos

religiosos e aos clérigos, algumas, contudo, pertencem de modo particular aos leigos, homens emulheres, em razão do seu estado e missão; e os seus fundamentos, devido às circunstânciasespeciais do nosso tempo, devem ser mais cuidadosamente expostos. Os sagrados pastores

conhecem, com efeito, perfeitamente quanto os leigos contribuem para o bem de toda a Igreja.Pois eles próprios sabem que não foram instituídos por Cristo para se encarregarem por si sós de

toda a missão salvadora da Igreja para com o mundo, mas que o seu cargo sublime consiste empastorear de tal modo os fiéis e de tal modo reconhecer os seus serviços e carismas, que todos,

cada um segundo o seu modo próprio, cooperem na obra comum. Pois é necessário que todos,«praticando a verdade na caridade, cresçamos de todas as maneiras para aquele que é a cabeça,Cristo; pelo influxo do qual o corpo inteiro, bem ajustado e coeso por toda a espécie de junturas

que o alimentam, com a acção proporcionada a cada membro, realiza o seu crescimento em ordemà própria edificação na caridade (Ef. 4, 15-16).

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Conceito e vocação do leigo na Igreja

31. Por leigos entendem-se aqui todos os cristãos que não são membros da sagrada Ordem ou doestado religioso reconhecido pela Igreja, isto é, os fiéis que, incorporados em Cristo pelo

Baptismo, constituídos em Povo de Deus e tornados participantes, a seu modo, da funçãosacerdotal, profética e real de Cristo, exercem, pela parte que lhes toca, a missão de todo o Povo

cristão na Igreja se no mundo.

É própria e peculiar dos leigos a característica secular. Com efeito, os membros da sagrada

Ordem, ainda que algumas vezes possam tratar de assuntos seculares, exercendo mesmo umaprofissão profana, contudo, em razão da sua vocação específica, destinam-se sobretudo eexpressamente ao sagrado ministério; enquanto que os religiosos, no seu estado, dão magnífico e

privilegiado testemunho de que se não pode transfigurar o mundo e oferecê-lo a Deus sem oespírito das bem-aventuranças. Por vocação própria, compete aos leigos procurar o Reino de

Deus tratando das realidades temporais e ordenando-as segundo Deus. Vivem no mundo, isto é,em toda e qualquer ocupação e actividade terrena, e nas condições ordinárias da vida familiar e

social, com as quais é como que tecida a sua existência. São chamados por Deus para que, aí,exercendo o seu próprio ofício, guiados pelo espírito evangélico, concorram para a santificação domundo a partir de dentro, como o fermento, e deste modo manifestem Cristo aos outros, antes de

mais pelo testemunho da própria vida, pela irradiação da sua fé, esperança e caridade. Portanto, aeles compete especialmente, iluminar e ordenar de tal modo as realidades temporais, a que estão

estreitamente ligados, que elas sejam sempre feitas segundo Cristo e progridam e glorifiquem oCriador e Redentor.

Unidade na diversidade

32. A santa Igreja, por instituição divina, é organizada e governada com uma variedade admirável.«Assim como num mesmo corpo temos muitos membros, e nem todos têm a mesma função, assim,

sendo muitos, formamos um só corpo em Cristo, sendo membros uns dos outros» (Rom. 12, 4-5).

Um só é, pois, o Povo de Deus: «um só Senhor, uma só fé, um só Baptismo (Ef. 4,5); comum é a

dignidade dos membros, pela regeneração em Cristo; comum a graça de filhos, comum a vocaçãoà perfeição; uma só salvação, uma só esperança e uma caridade indivisa. Nenhuma desigualdade,portanto, em Cristo e na Igreja, por motivo de raça ou de nação, de condição social ou de sexo,

porque «não há judeu nem grego, escravo nem homem livre, homem nem mulher: com efeito, emCristo Jesus, todos vós sois um» (Gál. 3,28 gr.; cfr. Col. 3,11).

Portanto, ainda que, na Igreja, nem todos sigam pelo mesmo caminho, todos são, contudo,chamados à santidade, e a todos coube a mesma fé pela justiça de Deus (cfr. 2 Ped. 1,1). Ainda

que, por vontade de Cristo, alguns são constituídos doutores, dispensadores dos mistérios epastores em favor dos demais, reina, porém, igualdade entre todos quanto à dignidade e quanto àactuação, comum a todos os fiéis, em favor da edificação do corpo de Cristo. A distinção que o

Senhor estabeleceu entre os ministros sagrados e o restante Povo de Deus, contribui para a união,já que os pastores e os demais fiéis estão ligados uns aos outros por uma vinculação comum: os

pastores da Igreja, imitando o exemplo do Senhor, prestem serviço uns aos outros e aos fiéis: eestes dêem alegremente a sua colaboração aos pastores e doutores. Deste modo, todos

testemunham, na variedade, a admirável unidade do Corpo místico de Cristo: a própria diversidadede graças, ministérios e actividades, consagra em unidade os filhos de Deus, porque «um só e omesmo é o Espírito que opera todas estas coisas» (1 Cor. 12,11).

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Os leigos, portanto, do mesmo modo que, por divina condescendência, têm por irmão a Cristo, oqual, apesar de ser Senhor de todos, não veio para ser servido mas para servir (cfr. Mt. 20,28), de

igual modo têm por irmãos aqueles que, uma vez estabelecidos no sagrado ministério, apascentama família de Deus ensinando, santificando e governando com a autoridade de Cristo, de modo que

o mandamento da caridade seja por todos observado. A este respeito diz belissimamente S.Agostinho: «aterra-me o ser para vós, mas consola-me o estar convosco. Sou para vós, comoBispo; estou convosco, como cristão. Nome de ofício, o primeiro; de graça, o segundo; aquele, de

risco; este, de salvação»(111).

O Apostolado dos leigos

33. Unidos no Povo de Deus, e constituídos no corpo único de Cristo sob uma só cabeça, osleigos, sejam quais forem, todos são chamados a concorrer como membros vivos, com todas asforças que receberam da bondade do Criador e por graça do Redentor, para o crescimento da

Igreja e sua contínua santificação.

O apostolado dos leigos é participação na própria missão salvadora da Igreja, e para ele todos são

destinados pelo Senhor, por meio do Baptismo e da Confirmação. E os sacramentos, sobretudo asagrada Eucaristia, comunicam e alimentam aquele amor para com Deus e para com os homens,

que é a alma de todo o apostolado.

Mas os leigos são especialmente chamados a tornarem a Igreja presente e activa naqueles locais ecircunstâncias em que só por meio deles ela pode ser o sal da terra (112). Deste modo, todo e

qualquer leigo, pelos dons que lhe foram concedidos, é ao mesmo tempo testemunha e instrumentovivo da missão da própria Igreja, «segundo a medida concedida por Cristo» (Ef. 4,7).

Além deste apostolado, que diz respeito a todos os fiéis, os leigos podem ainda ser chamados, pordiversos modos, a uma colaboração mais imediata no apostolado da Hierarquia 3, à semelhançadaqueles homens e mulheres que ajudavam o apóstolo Paulo no Evangelho, trabalhando muito no

Senhor (cfr. Fil. 4,3; Rom. 16,3 ss.). Têm ainda a capacidade de ser chamados pela Hierarquia aexercer certos cargos eclesiásticos, com finalidade espiritual.

Incumbe, portanto, a todos os leigos a magnífica tarefa de trabalhar para que o desígnio desalvação atinja cada vez mais os homens de todos os tempos e lugares. Esteja-lhes, pois,

amplamente aberto o caminho, a fim de que, segundo as próprias forças e as necessidades dostempos, também eles participem com ardor na acção salvadora da Igreja.

A consagração do mundo pelo apostolado dos leigos

34. O supremo e eterno sacerdote Cristo Jesus, querendo também por meio dos leigos continuar oSeu testemunho e serviço, vivifica-o pelo Seu Espírito e sem cessar os incita a toda a obra boa e

perfeita. E assim, àqueles que Intimamente associou à própria vida e missão, concedeu tambémparticipação no seu múnus sacerdotal, a fim de que exerçam um culto espiritual, para glória de

Deus e salvação dos homens. Por esta razão, os leigos, enquanto consagrados a Cristo e ungidosno Espírito Santo, têm uma vocação admirável e são instruídos para que os frutos do Espírito semultipliquem neles cada vez mais abundantemente. Pois todos os seus trabalhos, orações eempreendimentos apostólicos, a vida conjugal e familiar, o trabalho de cada dia, o descanso do

espírito e do corpo, se forem feitos no Espírito, e as próprias incomodidades da vida, suportadascom paciência, se tornam em outros tantos sacrifícios espirituais, agradáveis a Deus por JesusCristo (cfr. 1 Ped. 2,5); sacrifícios estes que são piedosamente oferecidos ao Pai, juntamente com

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a oblação do corpo do Senhor, na celebração da Eucaristia. E deste modo, os leigos, agindo emtoda a parte santamente, como adoradores, consagram a Deus o próprio mundo.

O testemunho de vida pelo apostolado dos leigos

35. Cristo, o grande profeta, que pelo testemunho da vida e a força da palavra proclamou o reinodo Pai, realiza a sua missão profética, até à total revelação da glória, não só por meio daHierarquia, que em Seu nome e com a Sua autoridade ensina, mas também por meio dos leigos;para isso os constituiu testemunhas, e lhes concedeu o sentido da fé e o dom da palavra (cfr. Act.2, 17-18; Apoc. 19,10) a fim de que a força do Evangelho resplandeça na vida quotidiana, familiar

e social. Os leigos mostrar-se-ão filhos da promessa se, firmes na fé e na esperança, aproveitarembem o tempo presente (cfr. Ef. 5,16; Col. 4,5) e com paciência esperarem a glória futura (cfr.Rom. 8,25). Mas não devem esconder esta esperança no seu íntimo, antes, pela contínuaconversão e pela luta «contra os dominadores deste mundo tenebroso, contra os espíritos do mal»

(Ef. 6,12), manifestem-na também nas estruturas da vida secular.

Do mesmo modo que os sacramentos da nova lei, que alimentam a vida e o apostolado dos fiéis,prefiguram um novo céu e uma nova terra (cfr. Apoc. 21,1), assim os leigos tornam-se valorososarautos da fé naquelas realidades que esperamos (cfr. Hebr. 11,1), se juntarem sem hesitação, auma vida de fé, a profissão da mesma fé. Este modo de evangelizar, proclamando a mensagem de

Cristo com o testemunho da vida e com a palavra, adquire um certo carácter específico e umaparticular eficácia por se realizar nas condições ordinárias da vida no mundo.

Nesta obra, desempenha grande papel aquele estado de vida que é santificado por um sacramentopróprio: a vida matrimonial e familiar. Aí se encontra um exercício e uma admirável escola deapostolado dos leigos, se a religião penetrar toda a vida e a transformar cada vez mais. Aí

encontram os esposos a sua vocação própria, de serem um para o outro e para os filhos astestemunhas da fé e do amor de Cristo. A família cristã proclama em alta voz as virtudes presentesdo reino de Deus e a esperança na vida bem-aventurada. E deste modo, pelo exemplo e pelotestemunho, argui o mundo do pecado e ilumina aqueles que buscam a verdade.

Por isso, ainda mesmo quando ocupados com os cuidados temporais, podem e devem os leigos

exercer valiosa acção para a evangelização do mundo. E se há alguns que, na medida do possível,suprem nas funções religiosas os ministros sagrados que faltam ou estão impedidos em tempo deperseguição, a todos, porém, incumbe a obrigação de cooperar para a dilatação e crescimento doReino de Cristo no mundo. Dediquem-se, por isso, os leigos com diligência a conseguir um

conhecimento mais profundo da verdade revelada, e peçam insistentemente a Deus o dom dasabedoria.

A santificação das estruturas humanas pelo apostolado dos leigos

36. Tendo-se feito obediente até à morte e tendo sido, por este motivo, exaltado pelo Pai (cfr. Fil.2, 8-9), entrou Cristo na glória do Seu reino. Todas as coisas Lhe estão sujeitas, até que Ele se

submeta, e a todas as criaturas, ao Pai, para que Deus seja tudo em todos (cfr. 1 Cor. 15, 27-28).Comunicou este poder aos discípulos, para que também eles sejam constituídos em régia liberdadee, com a abnegação de si mesmos e a santidade da vida, vençam em si próprios o reino do pecado(cfr. Rom. 6,12); mais ainda, para que, servindo a Cristo também nos outros, conduzam os seusirmãos, com humildade e paciência, àquele Rei, a quem servir é reinar. Pois o Senhor deseja dilatar

também por meio dos leigos o Seu reino, reino de verdade e de vida, reino de santidade e degraça, reino de justiça, de amor e de paz (114), no qual a própria criação será liberta da servidão

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da corrupção, alcançando a liberdade da glória dos filhos de Deus (cfr. Rom. 8,21). Grande é apromessa, grande o mandamento que é dado aos discípulos: «tudo é vosso; vós sois de Cristo; eCristo é de Deus» (1 Cor. 3,23).

Por consequência, devem os fiéis conhecer a natureza íntima e o valor de todas as criaturas, e a suaordenação para a glória de Deus, ajudando-se uns aos outros, mesmo através das actividades

propriamente temporais, a levar uma vida mais santa, para que assim o mundo seja penetrado doespírito de Cristo e, na justiça, na caridade e na paz, atinja mais eficazmente o seu fim. Narealização plena deste dever, os leigos ocupam o lugar mais importante. Por conseguinte, com a suacompetência nas matérias profanas, e a sua actuação interiormente elevada pela graça de Cristo,contribuam eficazmente para que os bens criados sejam valorizados pelo trabalho humano, pela

técnica e pela cultura para utilidade de todos os homens, sejam melhor distribuídos entre eles econtribuam a seu modo para o progresso de todos na liberdade humana e cristã, em harmonia como destino que lhes deu o Criador e segundo a iluminação do Verbo. Deste modo, por meio dosmembros da Igreja, Cristo iluminará cada vez mais a humanidade inteira com a Sua luz salvadora.

Além disso, também pela união das próprias forças, devem os leigos sanear as estruturas econdições do mundo, se elas porventura propendem a levar ao pecado, de tal modo que todas seconformem às normas da justiça e antes ajudem ao exercício das virtudes do que o estorvem.Agindo assim, informarão de valor moral a cultura e as obras humanas. E, por este modo, ocampo, isto é, o mundo ficará mais preparado para a semente da palavra divina e abrir-se-ão à

Igreja mais amplamente as portas para introduzir no mundo a mensagem da paz.

Devido à própria economia da salvação, devem os fiéis aprender a distinguir cuidadosamente entreos direitos e deveres que lhes competem como membros da Igreja e os que lhes dizem respeitoenquanto fazem parte da sociedade humana. Procurem harmonizar entre si uns e outros,lembrando-se que se devem guiar em todas as coisas temporais pela consciência cristã, já que

nenhuma actividade humana, nem mesmo em assuntos temporais, se pode subtrair ao domínio deDeus. É muito necessário em nossos dias que esta distinção e harmonia se manifestem claramentenas atitudes dos fiéis, que a missão da Igreja possa corresponder mais plenamente às condiçõesparticulares do mundo actual. Assim como se deve reconhecer que a cidade terrena se consagra a

justo título aos assuntos temporais e se rege por princípios próprios, assim com razão se deverejeitar a nefasta doutrina que pretende construir a sociedade sem ter para nada em conta areligião, atacando e destruindo a liberdade religiosa dos cidadãos (115)

Relações dos leigos com a Hierarquia

37. Como todos os fiéis, também os leigos têm o direito de receber com abundância, dos sagrados

pastores, os bens espirituais da Igreja, principalmente os auxílios da palavra de Deus e dossacramentos (116); e com aquela liberdade e confiança que convém a filhos de Deus e a irmãos emCristo, manifestem-lhes as suas necessidades e aspirações. Segundo o grau de ciência,competência e autoridade que possuam, têm o direito, e por vezes mesmo o dever, de expor o seuparecer sobre os assuntos que dizem respeito ao bem da Igreja (117). Se o caso o pedir, utilizem

os órgãos para isso instituídos na Igreja, e procedam sempre em verdade, fortaleza e prudência,com reverência e amor para com aqueles que, em razão do seu cargo, representam a pessoa deCristo.

Como todos os cristãos, devem os leigos abraçar prontamente, com obediência cristã, todas ascoisas que os sagrados pastores, representantes de Cristo, determinarem na sua qualidade de

mestres e guias na Igreja, a exemplo de Cristo, o qual com a Sua obediência, levada até à morte,

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abriu para todos o feliz caminho da liberdade dos filhos de Deus. Nem deixem de encomendar aoSenhor nas suas orações os seus prelados, já que eles olham pelas nossas almas, como devendo

dar contas delas, a fim de que o façam com alegria e não gemendo (cfr. Hebr. 13,17).

Por seu lado, os sagrados pastores devem reconhecer e fomentar a dignidade e responsabilidadedos leigos na Igreja; recorram espontaneamente ao seu conselho prudente, entreguem-lhesconfiadamente cargos em serviço da Igreja e dêem-lhes margem e liberdade de acção, animando-os até a tomarem a iniciativa de empreendimentos. Considerem atentamente e com amor paterno,

em Cristo, as iniciativas, pedidos e desejos propostos pelos leigos (118). E reconheçam a justaliberdade que a todos compete na cidade terrestre.

Muitos bens se devem esperar destas relações confiantes entre leigos e pastores: é que assim sefortalece nos leigos o sentido da própria responsabilidade, fomenta-se o seu empenho é maisfacilmente se associam nas suas energias à obra dos pastores. Estes, por sua vez, ajudados pela

experiência dos leigos, tanto nas coisas espirituais como nas temporais, mais facilmente julgarãocom acerto, a fim de que a Igreja inteira, com a energia de todos os seus membros, cumpra maiseficazmente a sua missão para a vida do mundo.

Conclusões: os leigos vivificadores do mundo

38. Cada leigo deve ser, perante o mundo, uma testemunha da ressurreição e da vida do Senhor

Jesus e um sinal do Deus vivo. Todos em conjunto, e cada um por sua parte, devem alimentar omundo com frutos espirituais (cfr. Gál. 5,22) e nele difundir aquele espírito que anima os pobres,mansos e pacíficos, que o Senhor no Evangelho proclamou bem-aventurados (cfr. Mt. 5, 3-9).Numa palavra, «sejam os cristãos no mundo aquilo que a alma é no corpo» (119)

CAPÍTULO V

A VOCAÇÃO DE TODOS À SANTIDADE NA IGREJA

Proémio: chamamento universal à santidade

39. A nossa fé crê que a Igreja, cujo mistério o sagrado Concílio expõe, é indefectivelmente santa.

Com efeito, Cristo, Filho de Deus, que é com o Pai e o Espírito ao único Santo» (120), amou aIgreja como esposa, entregou-Se por ela, para a santificar (cfr. Ef. 5, 25-26) e uniu-a a Si comoSeu corpo, cumulando-a com o dom do Espírito Santo, para glória de. Deus. Por isso, todos naIgreja, quer pertençam à Hierarquia quer por ela sejam pastoreados, são chamados à santidade,segundo a palavra do Apóstolo: «esta é a vontade de Deus, a vossa santificação» (1 Tess. 4,3; cfr.

Ef. 1,4). Esta santidade da Igreja incessantemente se manifesta, e deve manifestar-se, nos frutos dagraça que o Espírito Santo produz nos fiéis; exprime-se de muitas maneiras em cada um daquelesque, no seu estado de vida, tendem à perfeição da caridade, com edificação do próximo; aparecedum modo especial na prática dos conselhos chamados evangélicos. A prática destes conselhos,abraçada sob a moção do Espírito Santo por muitos cristãos, quer privadamente quer nas

condições ou estados aprovados pela Igreja, leva e deve levar ao mundo um admirável testemunhoe exemplo desta santidade.

Jesus, mestre e modelo

40. Jesus, mestre e modelo divino de toda a perfeição, pregou a santidade de vida, de que Ele é

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autor e consumador, a todos e a cada um dos seus discípulos, de qualquer condição: «sedeperfeitos como vosso Pai celeste é perfeito» (Mt. 5,48) (121). A todos enviou o Espírito Santo,que os move interiormente a amarem a Deus com todo o coração, com toda a alma, com todo oespírito e com todas as forças (cfr. Mc. 12,30) e a amarem-se uns aos outros como Cristo os

amou (cfr. Jo. 13,34; 15,12). Os seguidores de Cristo, chamados por Deus e justificados noSenhor Jesus, não por merecimento próprio mas pela vontade e graça de Deus, são feitos, peloBaptismo da fé, verdadeiramente filhos e participantes da natureza divina e, por conseguinte,realmente santos. É necessário, portanto, que, com o auxílio divino, conservem e aperfeiçoem,vivendo-a, esta santidade que receberam. O Apóstolo admoesta-os a que vivam acorro convém a

santos» (Ef. 5,3), acorro eleitos e amados de Deus, se revistam de entranhas de misericórdia,benignidade, humildade, mansidão e paciência» (Col. 3,12) e alcancem os frutos do Espírito para asantificação (cfr. Gál. 5,22; Rom. 6,22). E porque todos cometemos faltas em muitas ocasiões (Tg.3,2), precisamos constantemente. da misericórdia de Deus e todos os dias devemos orar:

«perdoai-nos as nossas ofensas» (Mt. 6,12) (122). É, pois, claro a todos, que os cristãos dequalquer estado ou ordem, são chamados à plenitude da vida cristã e à perfeição da caridade(123). Na própria sociedade terrena, esta santidade promove um modo de vida mais humano. Paraalcançar esta perfeição, empreguem os fiéis as forças recebidas segundo a medida em que as dáCristo, a fim de que, seguindo as Suas pisadas e conformados à Sua imagem, obedecendo em tudo

à vontade de Deus, se consagrem com toda a alma à glória do Senhor e ao serviço do próximo.Assim crescerá em frutos abundantes a santidade do Povo de Deus, como patentemente semanifesta na história da Igreja, com a vida de tantos santos.

A santidade nos diversos estados

41. Nos vários géneros e ocupações da vida, é sempre a mesma a santidade que é cultivada por

aqueles que são conduzidos pelo Espírito de Deus e, obedientes à voz do Pai, adorando emespírito e verdade a Deus Pai, seguem a Cristo pobre, humilde, e levando a cruz, a fim demerecerem ser participantes da Sua glória. Cada um, segundo os próprios dons e funções, deveprogredir sem desfalecimentos pelo caminho da fé viva, que estimula a esperança e que actua pelacaridade.

Em primeiro lugar, os pastores do rebanho de Cristo, à semelhança do sumo e eterno sacerdote,pastor e bispo das nossas almas, desempenhem o próprio ministério santamente e com alegria, comhumildade e fortaleza; assim cumprido, também para eles será o seu ministério um sublime meio desantificação. Escolhidos para a plenitude do sacerdócio, receberam a graça sacramental para que,

orando, sacrificando e pregando, com toda a espécie de cuidados e serviços episcopais, realizem atarefa perfeita da caridade pastoral (124), sem hesitarem em oferecer a vida pelas ovelhas e, feitosmodelos do rebanho (cfr. 1 Ped. 5,3), suscitem na Igreja, também com o seu exemplo, umasantidade cada vez maior.

Os presbíteros, à semelhança da ordem dos Bispos, de que são a coroa espiritual (125), já que

participam das suas funções por graça de Cristo, eterno e único mediador, cresçam no amor deDeus e do próximo com o exercício do seu dever quotidiano; guardem o vínculo da unidadesacerdotal, abundem em toda a espécie de bens espirituais e dêem a todos vivo testemunho deDeus (126), tornando-se émulos daqueles sacerdotes que no decorrer dos séculos, em serviçomuitas vezes humilde e escondido, nos deixaram magnífico exemplo de santidade. O seu louvor

persevera na Igreja. Orando e oferecendo o sacrifício pelo próprio rebanho e por todo o Povo deDeus, conforme é seu ofício, conscientes do que fazem e imitando as realidades com que lidam(127), longe de serem impedidos pelos cuidados, perigos e tribulações do apostolado, devem antes

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por eles elevar-se a uma santidade mais alta, alimentando e afervorando a sua acção com a

abundância da contemplação, para alegria de toda a Igreja de Deus. Todos os presbíteros, eespecialmente aqueles que por título particular da sua ordenação são chamados sacerdotesdiocesanos, lembrem-se de quanto ajudam para a sua santificação a união fiel e a cooperaçãogenerosa com o próprio Bispo.

Na missão de graça do sumo sacerdote, participam também de modo peculiar os ministros de

ordem inferior, e sobretudo os diáconos; servindo nos mistérios de Cristo e da Igreja (128), devemconservar-se puros de todo o vício, agradar a Deus, atender a toda a espécie de boas obras diantedos homens (cfr. 1 Tim. 3, 8-10. 12-13). Os clérigos que, chamados pelo Senhor e separados afim de ter parte com Ele, se preparam sob a vigilância dos pastores para desempenhar os ofícios deministros, procurem conformar o coração e o espírito com tão magnífica eleição, sendo assíduos na

oração e fervorosos no amor, ocupando o pensamento com tudo o que é verdadeiro, justo e deboa reputação, fazendo tudo para glória é honra de Deus. Destes se aproximam aqueles leigos,que, escolhidos por Deus, são chamados pelos Bispos para se consagrarem totalmente àsactividades apostólicas e com muito fruto trabalham no campo do Senhor (129).

Os esposos e pais cristãos devem, seguindo o seu caminho peculiar, amparar-se mutuamente na

graça, com amor fiel, durante a vida inteira, e imbuir com a doutrina cristã e as virtudes evangélicasa prole que amorosamente receberam de Deus. Dão assim a todos exemplo de amor incansável egeneroso, edificam a comunidade fraterna e são testemunhas e cooperadores da fecundidade daIgreja, nossa mãe, em sinal e participação daquele amor, com que Cristo amou a Sua esposa e por

ela Se entregou (130). Exemplo semelhante é dado, mas de outro modo, pelas pessoas viúvas oucelibatárias, que muito podem concorrer para a santidade e acção da Igreja. Aqueles que seocupam em trabalhos muitas vezes duros, devem, através das tarefas humanas, aperfeiçoar-se a simesmos, ajudar os seus concidadãos, fazer progredir a sociedade e toda a criação; e, ainda,imitando com operosa caridade a Cristo, cujas mãos se exercitaram em trabalhos de operário e,

em união com o Pai, continuamente actua para a salvação de todos; alegres na esperança, levandoos fardos uns dos outros, subam com o próprio trabalho quotidiano a uma santidade mais alta,também ela apostólica.

Todos quantos se vêem oprimidos pela pobreza, pela fraqueza, pela doença ou tribulações várias,e os que sofrem perseguição por amor da justiça, saibam que estão unidos, de modo especial, a

Cristo nos seus sofrimentos pela salvação do mundo; o Senhor, no Evangelho, proclamou-os bem-aventurados e «o Deus... de toda a graça, que nos chamou à Sua eterna glória em Cristo Jesus,depois de sofrerem um pouco, os há-de restabelecer, confirmar e consolidar» (1 Ped. 5,10).

Todos os fiéis se santificarão cada dia mais nas condições, tarefas e circunstâncias da própria vida

e através de todas elas, se receberem tudo com fé da mão do Pai celeste e cooperarem com adivina vontade, manifestando a todos, na própria actividade temporal, a caridade com que Deusamou o mundo.

A caridade. O martírio. Os conselhos evangélicos.

A santidade no próprio estado

42. «Deus é caridade e quem permanece na caridade, permanece em Deus e Deus nele» (1 Jo.4,16). Ora, Deus difundiu a sua caridade nos nossos corações, por meio do Espírito Santo, quenos foi dado (cfr. Rom. 5,5). Sendo assim, o primeiro e mais necessário dom é a caridade, comque amamos a Deus sobre todas as coisas e ao próximo por amor d'Ele. Para que esta caridade,

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como boa semente, cresça e frutifique na alma, cada fiel deve ouvir de bom grado a palavra deDeus, e cumprir, com a ajuda da graça, a Sua vontade, participar frequentemente nos sacramentos,sobretudo na Eucaristia, e nas funções sagrarias, dando-se continuamente à oração, à abnegação

de si mesmo, ao serviço efectivo de seus irmãos e a toda a espécie de virtude; pois a caridade,vínculo da perfeição e plenitude da lei (cfr. Col. 3,14; Rom. 13,10), é que dirige todos os meios desantificação, os informa e leva a seu fim (131). E, pois, pela caridade para com Deus e o próximoque se caracteriza o verdadeiro discípulo de Cristo.

Como Jesus, Filho de Deus, manifestou o Seu amor dando a vida por nós, assim ninguém dá maior

prova de amor do que aquele que oferece a própria vida por Ele e por seus irmãos (cfr. 1 Jo. 3,16;Jo. 15,13). Desde os primeiros tempos, e sempre assim continuará a suceder, alguns cristãos foramchamados a dar este máximo testemunho de amor diante de todos, e especialmente perante osperseguidores. Por esta razão, o martírio, pelo qual o discípulo se torna semelhante ao mestre, quelivremente aceitou a morte para salvação do mundo, e a Ele se conforma no derramamento do

sangue, é considerado pela Igreja como um dom insigne e prova suprema de amor. E embora sejaconcedido a poucos, todos, porém, devem estar dispostos a confessar a Cristo diante dos homense a segui-l'O no caminho da cruz em meio das perseguições que nunca faltarão à Igreja.

A santidade da Igreja é também especialmente favorecida pelos múltiplos conselhos que o Senhorpropõe no Evangelho aos Seus discípulos (132). Entre eles sobressai o de, com o coração mais

facilmente indiviso (cfr. 1 Cor. 7, 32-34), se consagrarem só a Deus, na virgindade ou no celibato,dom da graça divina que o Pai concede a alguns (cfr. Mt. 19,11; 1 Cor. 7,7) (133). Estacontinência perfeita, abraçada pelo reino dos céus, foi sempre tida em grande estima pela Igreja,como sinal e incentivo do amor e ainda como fonte privilegiada de fecundidade espiritual no mundo.

A Igreja recorda-se também da recomendação com que o Apóstolo, incitando os fiéis à caridade,os exorta a ter sentimentos semelhantes aos de Jesus Cristo, o qual «Se despojou a Si próprio,tomando a condição de escravo... feito obediente até à morte (Fil. 2, 7-8) e, «sendo rico, por nósSe fez pobre» (2 Cor. 8,9). Sendo necessário que sempre e em todo o tempo os discípulos imitemesta caridade e humildade de Cristo, e delas dêem testemunho, a mãe Igreja alegra-se de encontrar

no seu seio muitos homens e mulheres que seguem mais de perto o abatimento do Salvador e maisclaramente o manifestam, abraçando a pobreza na liberdade dos filhos de Deus e renunciando àspróprias vontades: em matéria de perfeição, sujeitam-se, por amor de Deus, ao homem, para alémdo que é de obrigação, a fim de mais plenamente se conformarem a Cristo obediente (134).

Todos os cristãos são, pois, chamados e obrigados a tender à santidade e perfeição do próprio

estado. Procurem, por isso, ordenar rectamente os próprios afectos, para não serem impedidos deavançar na perfeição da caridade pelo uso das coisas terrenas e pelo apego às riquezas, emoposição ao espírito da pobreza evangélica, segundo o conselho do Apóstolo: os que usam nomundo, façam-no como se dele não usassem, pois é transitório o cenário deste mundo (1 Cor.

7,31 gr.) (135).

CAPÍTULO VI

OS RELIGIOSOS

Os conselhos evangélicos e o estado religioso

43. Os conselhos evangélicos de castidade consagrada a Deus, de pobreza e de obediência, vistoque fundados sobre a palavra e o exemplo de Cristo e recomendados pelos Apóstolos, pelos

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Padres, Doutores e Pastores da Igreja, são um dom divino, que a mesma Igreja recebeu do seu

Senhor e com a Sua graça sempre conserva. A autoridade da Igreja, sob a direcção do EspíritoSanto, cuidou de regular a sua prática e também de constituir, à base deles, formas estáveis devida. E assim sucedeu que, como em árvore plantada por Deus e maravilhosa e variamenteramificada no campo do Senhor, surgiram diversas formas de vida, quer solitária quer comum, e

várias famílias religiosas, que vêm aumentar as riquezas espirituais, tanto em proveito dos seuspróprios membros como no de todo o Corpo de Cristo (136). Com efeito, essas famílias dão aosseus membros os auxílios duma estabilidade mais firme no modo de vida, duma doutrina segura emordem a alcançar a perfeição, duma comunhão fraterna na milícia de Cristo, duma liberdaderobustecida pela obediência, para assim poderem cumprir com segurança e guardar fielmente a

profissão religiosa e avançar jubilosos no caminho da caridade (137).

Tendo em conta a constituição divina hierárquica da Igreja, este estado não é intermédio entre oestado dos clérigos e o dos leigos; de ambos estes estados são chamados por Deus alguns cristãos,a usufruirem um dom especial na vida da Igreja e, cada um a seu modo, a ajudarem a sua missãosalvadora (138).

Consagração ao serviço divino; o testemunho de vida

44. Pelos votos, ou outros compromissos sagrados a eles semelhantes, com os quais se obriga aostrês mencionados conselhos evangélicos, o cristão entrega-se totalmente ao serviço de Deussumamente amado, de maneira que por um título novo e especial fica destinado ao serviço doSenhor. Já pelo Baptismo, morrera ao pecado e fora consagrado a Deus; mas, para poder recolher

frutos mais abundantes dá graça baptismal, pretende libertar-se, pela profissão dos conselhosevangélicos na Igreja, dos impedimentos que o poderiam afastar do fervor da caridade e daperfeição do culto divino, é consagrado mais intimamente ao serviço divino (139). E estaconsagração será tanto mais perfeita quanto mais a firmeza e a estabilidade dos vínculos

representarem a indissolúvel união de Cristo à Igreja, Sua esposa.

E como os conselhos evangélicos, em razão da caridade a que conduzem (140), de modo especialunem à Igreja e ao seu mistério aqueles que os seguem, deve também a sua vida espiritual serconsagrada ao bem de toda ela. Daqui nasce o dever de trabalhar na implantação e consolidaçãodo reino de Cristo nas almas e de o levar a todas as regiões com a oração ou também com a

acção, segundo as próprias forças e a índole da própria vocação. Por isso, a Igreja defende efavorece a índole própria dos vários Institutos religiosos.

A profissão dos conselhos evangélicos aparece assim como um sinal, que pode e deve atraireficazmente todos os membros da Igreja a corresponderem animosamente às exigências da.vocação cristã. E porque o Povo de Deus não tem na terra a sua cidade permanente, mas vai em

demanda da futura, o estado religioso, tornando os seus seguidores mais livres das preocupaçõesterrenas, manifesta também mais claramente a todos os fiéis os bens celestes, já presentes nestemundo; é assim testemunha da vida nova é eterna, adquirida com a redenção de Cristo, epreanuncia a ressurreição futura e a glória do reino celeste. O mesmo estado. religioso imita mais

de perto, e perpetuamente representa na Igreja aquela forma de vida que o Filho de Deus assumiuao entrar no mundo para cumprir a vontade do Pai, e por Ele foi proposta aos discípulos que Oseguiam. Finalmente, o estado religioso patenteia de modo especial a elevação do reino de Deussobre tudo o que é terreno e as suas relações transcendentes; e revela aos homens a grandeza dopoder de Cristo Rei e a potência infinita com que o Espírito Santo maravilhosamente actua na

Igreja.

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Portanto, o estado constituído pela profissão dos conselhos evangélicos, embora não pertença àestrutura hierárquica da Igreja, está contudo inabalavelmente ligado à sua vida e santidade.

Regras e constituições

A relação com a Hierarquia

45. Sendo dever da Hierarquia pastorear o Povo de Deus e conduzi-lo a abundante pastio (cfr. Ez.34,14), a ela pertence regular com sábias leis a prática dos conselhos evangélicos, que tantoajudam à perfeição da caridade para com Deus e o próximo (141). Dócil à moção do EspíritoSanto, ela acolhe as regras, propostas por homens e mulheres eminentes é, depois de

aperfeiçoadas, aprova-as autênticamente; e assiste com vigilância e protecção de sua autoridadeaos Institutos, por toda a parte fundados para a edificação do Corpo de Cristo, para que cresçame floresçam segundo o espírito dos fundadores.

Para que melhor se atenda às necessidades de todo o rebanho do Senhor, qualquer Instituto de

perfeição e cada um dos seus membros, podem ser isentos pelo Sumo Pontífice, em razão do seuprimado sobre toda a Igreja, da jurisdição do Ordinário do lugar e ficar sujeitos só a ele, em vistado bem comum (142). Podem igualmente ser deixados, ou confiados, à autoridade patriarcalprópria. E os membros dos Institutos de perfeição, ao cumprir o seu dever para com a Igreja,segundo o modo peculiar da sua vida, devem, de acordo com as leis canónicas, respeito e

obediência aos Bispos, em atenção à sua autoridade de pastores das igrejas particulares e ànecessária unidade e harmonia no trabalho apostólico (143).

Mas a Igreja não se limita a elevar, com a sua aprovação, a profissão religiosa à dignidade deestado canónico, senão que a manifesta também na sua liturgia como estado consagrado a Deus.Com efeito, pela autoridade que Deus lhe concedeu, ela recebe os votos dos que professam,

implora para eles, com a sua oração pública, os auxílios da graça, recomenda-os a Deus econcede-lhes a bênção espiritual, unindo a sua oblação ao sacrifício eucarístico.

Pureza de vida ao serviço do mundo

46. Procurem os religiosos com empenho que, por seu intermédio, a Igreja revele cada vez maisCristo aos fiéis e infiéis, Cristo orando sobre o monte, anunciando às multidões o reino de Deus,

curando os doentes e feridos, trazendo os pecadores à conversão, abençoando as criancinhas efazendo bem a todos, obediente em tudo à vontade do Pai que O enviou (144).

Finalmente, tenham todos presente que a profissão dos conselhos evangélicos, ainda que importa arenúncia a bens de grande valor, não se opõe, contudo, ao verdadeiro desenvolvimento da pessoa

humana, más antes a favorece grandemente. Na verdade, os conselhos evangélicos, assumidoslivremente segundo a vocação pessoal de cada um, contribuem muito para a pureza de coração eliberdade de espírito, alimentam continuamente o fervor da caridade e, sobretudo, como bem odemonstra o exemplo de tantos santos fundadores, podem levar o cristão a conformar-se maisplenamente com o género de vida virginal e pobre que Cristo Nosso Senhor escolheu para Si e a

Virgem Sua mãe abraçou. Nem se pense que os religiosos, pela sua consagração, se tornamestranhos aos homens ou inúteis para a cidade terrena. Pois, mesmo quando não prestam umaajuda directa aos seus contemporâneos, têm-nos sempre presentes dum modo mais profundo, noamor de Cristo, e colaborara espiritualmente com eles, a fim de que a construção da cidade terrenase funde sempre no Senhor e para Ele se oriente, não seja que trabalhem em vão os que edificam a

casa (145).

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Por isso, finalmente, o sagrado Concílio confirma e louva os homens e mulheres, Irmãos e Irmãs,que, nos mosteiros, escolas, hospitais ou missões, embelezam a Igreja com a sua perseverante ehumilde fidelidade na mencionada consagração, e prestam generosamente aos homens os maisvariados serviços.

Conclusão: perseverança e santidade

47. Cada um dos que foram chamados à profissão dos conselhos, cuide com empenho deperseverar na vocação a que o Senhor o chamou, e de nela se aperfeiçoar para maior santidade daIgreja e maior glória da una e indivisa Trindade, a qual em Cristo e por Cristo é a fonte e origem detoda a santidade.

CAPÍTULO VII

A ÍNDOLE ESCATOLÓGICA DA IGREJA PEREGRINA E A SUA UNIÃO COM A IGREJA CELESTE

Caráter escatológico da nossa vocação à Igreja

48. A Igreja, à qual todos somos chamados e na qual por graça de Deus alcançamos a santidade,

só na glória celeste alcançará a sua realização acabada, quando vier o tempo da restauração detodas as coisas (cfr. Act. 3,21) e, quando, juntamente com o género humano, também o universointeiro, que ao homem está intimamente ligado e por ele atinge o seu fim, for perfeitamenterestaurado em Cristo (cfr. Ef, 1,10; Col. 1,20; 2 Ped. 3, 10-13).

Na verdade, Cristo, elevado sobre a terra, atraiu todos a Si (cfr. Jo. 12,32 gr.); ressuscitado de

entre os mortos (cfr. Rom. 6,9), infundiu nos discípulos o Seu Espírito vivificador e por Eleconstituiu a Igreja, Seu corpo, como universal sacramento da salvação; sentado à direita do Pai,actua continuamente na terra, a fim de levar os homens à Igreja e os unir mais estreitamente pormeio dela, e, alimentando-os com o Seu próprio corpo e sangue, os tornar participantes da Sua

vida gloriosa. A prometida restauração que esperamos, já começou, pois, em Cristo, progride coma missão do Espírito Santo e, por Ele, continua na Igreja; nesta, a fé ensina-nos o sentido da nossavida temporal, enquanto, na esperança dos bens futuros, levamos a cabo a missão que o Pai nosconfiou no mundo e trabalhamos na nossa salvação (cfr. Fil. 2,12).

Já chegou, pois, a nós, a plenitude dos tempos (cfr. 1 Cor. 10,11), a restauração do mundo foi já

realizada irrevogavelmente e, de certo modo, encontra-se já antecipada neste mundo: com efeito,ainda aqui na terra, a Igreja está aureolada de verdadeira, embora imperfeita, santidade. Enquantonão se estabelecem os novos céus e a nova terra em que habita a justiça (cfr. 2 Ped. 3,13), a Igrejaperegrina, nos seus sacramentos e nas suas instituições, que pertencem à presente ordem temporal,leva a imagem passageira deste mundo e vive no meio das criaturas que gemem e sofrem as dores

de parto, esperando a manifestação dos filhos de Deus (cfr. Rom. 8, 19-22).

Unidos, pois, a Cristo na Igreja, e marcados com o sinal do Espírito Santo «que é o penhor danossa herança» (Ef. 1,14), chamamo-nos filhos de Deus e em verdade o somos (cfr. 1 Jo. 3,1);mas não aparecemos ainda com Cristo na glória (cfr. Col. 3,4), na qual seremos semelhantes a

Deus, porque O veremos como Ele é (cfr. 1 Jo. 3,2). E assim, «enquanto estamos no corpo,vivemos exilados, longe do Senhor» (2 Cor. 5,6) e, tendo recebido as primícias do Espírito,gememos no nosso íntimo (cfr. Rom. 8,23) e anelamos por estar com Cristo (cfr. Fil. 1,23). Por

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este mesmo amor somos incitados a viver mais para Ele, que por nós morreu e ressuscitou (cfr. 2Cor. 5,15). Esforçamo-nos, por isso, por agradar a Deus em todas as coisas (cfr. 2 Cor. 5,9) e

revestimo-nos da armadura de Deus, para podermos fazer frente às maquinações do diabo eresistir no dia perverso (cfr. Ef. 6, 11-13). Mas, como não sabemos o dia nem a hora, é precisoque, segundo a recomendação do Senhor, vigiemos continuamente, a fim de que no termo da nossavida sobre a terra, que é só uma (cfr. Hebr. 9,27), mereçamos entrar com Ele para o banquete denúpcias e ser contados entre os eleitos (cfr. Mt. 25, 51-46), e não sejamos lançados, como servos

maus e preguiçosos (cfr. M t. 25,26), no fogo eterno (cfr. Mt. 25,41), nas trevas exteriores, onde«haverá choro e ranger de dentes» (Mt. 22,13; 25,30). Com efeito, antes de reinarmos com Cristoglorioso, cada um de nós será apresentado «perante o tribunal de Cristo, a fim de ser remuneradopelas obras que realizou enquanto vivia no corpo, boas ou más» (2 Cor. 5,10); e, no fim do

mundo, «os que tiverem feito boas obras, irão para a ressurreição da vida, os que tiverempraticado más acções, para a ressurreição da condenação (Jo. 5,29; cfr. Mt. 25,46). Pensando,pois, que «os sofrimentos desta vida não têm proporção com a glória que se há-de revelar em nós»(Rom. 8,18; cfr. 2 Tim. 2, 11-12), fortalecidos pela fé, aguardamos «a bem-aventurada esperançae a vinda gloriosa do grande Deus e salvador nosso Jesus Cristo), (Tit. 2,13), «o qual transformará

o nosso corpo miserável, tornando-o conforme ao Seu corpo glorioso), (Fil. 3,21) e virá «serglorificado nos Seus santos e admirado em todos os que acreditaram), (2 Tess. 1,10).

União da Igreja celeste com a Igreja peregrina

49. Deste modo, enquanto o Senhor não vier na Sua majestade e todos os Seus anjos com Ele(cfr. Mt. 25,31) e, vencida a morte, tudo Lhe for submetido (cfr. 1 Cor. 15, 26-27), dos Seus

discípulos uns peregrinam sobre a terra, outros, passada esta vida, são purificados, outros,finalmente, são glorificados e contemplam «claramente Deus trino e uno, como Ele é»(146); todos,porém, comungamos, embora em modo e grau diversos, no mesmo amor de Deus e do próximo, etodos entoamos ao nosso Deus o mesmo hino de louvor. Com efeito, todos os que são de Cristo e

têm o Seu Espírito, estão unidos numa só Igreja e ligados uns aos outros n'Ele (cfr. Ef. 4,16). Eassim, de modo nenhum se interrompe a união dos que ainda caminham sobre a terra com osirmãos que adormeceram na paz de Cristo, mas antes, segundo a constante fé da Igreja, éreforçada pela comunicação dos bens espirituais (147). Porque os bem-aventurados, estando maisìntimamente unidos com Cristo, consolidam mais firmemente a Igreja na santidade, enobrecem o

culto que ela presta a Deus na terra, e contribuem de muitas maneiras para a sua mais amplaedificação em Cristo (cfr. 1 Cor. 12, 12-27) (148). Recebidos na pátria celeste e vivendo junto doSenhor (cfr. 2 Cor. 5,8), não cessam de interceder, por Ele, com Ele e n'Ele, a nosso favor diantedo Pai (149), apresentando os méritos que na terra alcançaram, graças ao mediador único entreDeus e os homens, Jesus Cristo (cfr. 1 Tim., 2,5), servindo ao Senhor em todas as coisas e

completando o que falta aos sofrimentos de Cristo, em favor do Seu corpo que é a Igreja (cfr. Col.1,24) (150). A nossa fraqueza é assim grandemente ajudada pela sua solicitude de irmãos.

Expressões dessa união: orações pelos defuntos, culto dos santos

50. Reconhecendo claramente esta comunicação de todo o Corpo místico de Cristo, a Igreja dos

que ainda peregrinam, cultivou com muita piedade desde os primeiros tempos do Cristianismo amemória dos defuntos (151) e, «porque é coisa santa e salutar rezar pelos mortos, para que sejamabsolvidos de seus pecados» (2 Mac. 12,46), por eles ofereceu também sufrágios. Mas, osapóstolos e mártires de Cristo que, derramando o próprio sangue, deram o supremo testemunho de

fé e de caridade, sempre a Igreja acreditou estarem mais ligados connosco em Cristo, os venerou

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com particular afecto, juntamente com a Bem-aventurada Virgem Maria e os santos Anjos (152) eimplorou o auxílio da sua intercessão. Aos quais bem depressa foram associados outros, que maisde perto imitaram a virgindade e pobreza de Cristo (153) e, finalmente, outros, cuja perfeição nasvirtudes cristãs (154) e os carismas divinos recomendavam à piedosa devoção dos fiéis (155).

Com efeito, a vida daqueles que fielmente seguiram a Cristo, é um novo motivo que nos entusiasmaa buscar a cidade futura (cfr. Hebr. 14,14; 11,10) e, ao mesmo tempo, nos ensina um caminhoseguro, pelo qual, por entre as efémeras realidades deste mundo e segundo o estado e condiçãopróprios de cada um, podemos chegar à união perfeita com Cristo, na qual consiste a santidade(156). É sobretudo na vida daqueles que, participando connosco da natureza humana, se

transformam, porém, mais perfeitamente à imagem de Cristo, (cfr. 2 Cor. 3,18) que Deus revelaaos homens, de maneira mais viva, a Sua presença e a Sua face. Neles nos fala, e nos dá um sinaldo Seu reino (157), para o qual, rodeados de uma tão grande nuvem de testemunhas (cfr. Hebr.12,1) e tendo uma tal afirmação da verdade do Evangelho, somos fortemente atraídos.

Porém, não é só por causa de seu exemplo que veneramos a memória dos bem-aventurados, mas

ainda mais para que a união de toda a Igreja aumente com o exercício da caridade fraterna (cfr. Ef.4, 1-6). Pois, assim como a comunhão cristã entre os peregrinos nos aproxima mais de Cristo,assim a comunhão com os santos nos une a Cristo, de quem procedem, como de fonte e cabeça,toda a graça e ã própria vida do Povo de Deus(158).

É, portanto, muito justo que amemos estes amigos e co-herdeiros de Jesus Cristo, nossos irmãos egrandes benfeitores, que dêmos a Deus, por eles, as devidas graças (159), «lhes dirijamos asnossas súplicas e recorramos às suas orações, ajuda e patrocínio, para obter de Deus osbenefícios, por Seu Filho Jesus Cristo, Nosso Senhor e Redentor e Salvador único» (160) Porquetodo o genuíno testemunho de veneração que prestamos aos santos, tende e leva, por sua mesma

natureza, a Cristo, que é a «coroa de todos os santos» (161) e, por Ele, a Deus, que é admirávelnos seus santos e neles é glorificado (162).

Mas a nossa união com a Igreja celeste realiza-se de modo mais sublime. quando, sobretudo nasagrada Liturgia, na qual a virtude do Espírito Santo actua sobre nós através dos sinaissacramentais, concelebramos em comum exultação os louvores da divina Majestade (163) e, todos

de todas as tribos, línguas e povos, remidos no sangue de Cristo (cfr. Apoc. 5,9) e reunidos numaúnica Igreja, engrandecemos com um único canto de louvor o Deus uno e trino. Assim, ao celebraro sacrifício eucarístico, unimo-nos no mais alto grau ao culto da Igreja celeste, comungando evenerando a memória, primeiramente da gloriosa sempre Virgem Maria, de S. José, dos santos

Apóstolos e mártires e de todos os santos (164).

Unidade no amor e na Liturgia

51. Esta venerável fé dos nossos maiores acerca da nossa união vital com os irmãos que já estãona glória celeste ou que, após a morte, estão ainda em purificação, aceita-a este sagrado Concíliocom muita piedade e de novo propõe os decretos dos sagrados Concílios Niceno II (167),

Florentino (165) e Tridentino (166). Ao mesmo tempo, com solicitude pastoral, exorta todosaqueles a quem isto diz respeito a esforçarem-se por desterrar ou corrigir os abusos, excessos oudefeitos que porventura tenham surgido aqui ou além, e tudo restaurem para maior glória de Cristoe de Deus. Ensinem, portanto, aos fiéis que o verdadeiro culto dos santos não consiste tanto namultiplicação dos actos externos quanto na intensidade do nosso amor efectivo, pelo qual, para

maior bem nosso e da Igreja, procuramos «na vida dos santos um exemplo, na comunhão com elesuma participação, e na sua intercessão uma ajuda» (168). Por outro lado, mostrem aos fiéis que as

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nossas relações com os bem-aventurados, quando concebidas à luz da fé, de modo algum

diminuem o culto de adoração prestado a Deus pai por Cristo, no Espírito, mas pelo contrário oenriquecem ainda mais (169).

Pois, com efeito, todos os que somos filhos de Deus, e formamos em Cristo uma família (cfr. Hebr.3,6), ao comunicarmos na caridade mútua e no comum louvor da Trindade Santíssima,correspondemos à íntima vocação da Igreja e participamos, prelibando-a, na liturgia da glória

(170), Com efeito, quando Cristo aparecer e se der a gloriosa ressurreição dos mortos, a luz deDeus iluminará a cidade celeste e o seu candelabro será o Cordeiro (cfr. Apoc. 21,24). Então,toda a Igreja dos santos, na suprema felicidade da caridade, adorará a Deus e ao «Cordeiro quefoi imolado» (Apoc. 5,12), proclamando numa só voz: «louvor, honra, glória e poderio, pelosséculos dos séculos, Aquele que está sentado no trono, e ao Cordeiro» (Apoc. 5, 13-14).

CAPÍTULO VIII

A BEM-AVENTURADA VIRGEM MARIA MÃE DE DEUS NO MISTÉRIO DE CRISTO E DA IGREJA

I. PROÉMIO

A Virgem mãe de Cristo

52. Querendo Deus, na Sua infinita benignidade e sabedoria, levar a cabo a redenção do mundo,«ao chegar a plenitude dos tempos, enviou Seu Filho, nascido de mulher,... a fim de recebermos afiliação adoptiva» (Gál. 4, 4-5). «Por amor de nós, homens, e para nossa salvação, desceu doscéus e encarnou na Virgem Maria, por obra e graça do Espírito Santo» (171). Este divino mistérioda salvação é-nos relevado e continua na Igreja, instituída pelo Senhor como Seu corpo; nela, os

fiéis, aderindo à cabeça que é Cristo, e em comunhão com todos os santos, devem tambémvenerar a memória «em primeiro lugar da gloriosa sempre Virgem Maria Mãe do nosso Deus eSenhor Jesus Cristo» (172).

A Virgem e a Igreja

53. Efectivamente, a Virgem Maria, que na anunciação do Anjo recebeu o Verbo no coração e no

seio, e deu ao mundo a Vida, é reconhecida e honrada como verdadeira Mãe de Deus Redentor.Remida dum modo mais sublime, em atenção aos méritos de seu Filho, e unida a Ele por umvínculo estreito e indissolúvel, foi enriquecida com a excelsa missão e dignidade de Mãe de DeusFilho; é, por isso, filha predilecta do Pai e templo do Espírito Santo, e, por este insigne dom da

graça, leva vantagem á todas as demais criaturas do céu e da terra. Está, porém, associada, nadescendência de Adão, a todos os homens necessitados de salvação; melhor, «é verdadeiramenteMãe dos membros (de Cristo)..., porque cooperou com o seu amor para que na Igreja nascessemos fiéis, membros daquela cabeça» (173). É, por esta razão, saudada como membro eminente einteiramente singular da Igreja, seu tipo e exemplar perfeitíssimo na fé e na caridade; e a Igreja

católica, ensinada pelo Espírito Santo, consagra-lhe, como a mãe amantíssima, filial afecto depiedade.

Intenção do Concílio

54. Por isso, o sagrado Concílio, ao expor a doutrina acerca da Igreja, na qual o divino Redentor

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realiza a salvação, pretende esclarecer cuidadosamente não só o papel da Virgem Santíssima nomistério do Verbo encarnado e do Corpo místico, mas também os deveres dos homens resgatadospara com a Mãe de Deus, Mãe de Cristo e Mãe dos homens, sobretudo dos fiéis. Não tem,

contudo, intenção de propor toda a doutrina acerca de Maria, nem de dirimir as questões aindanão totalmente esclarecidas pelos teólogos. Conservam, por isso, os seus direitos as opiniões quenas escolas católicas livremente se propõem acerca daquela que na santa Igreja ocupa depois deCristo o lugar mais elevado e também o mais próximo de nós (174).

II. A VIRGEM SANTÍSSIMA NA ECONOMIA DA SALVAÇÃO

A mãe do Redentor no Antigo Testamento

55. A Sagrada Escritura do Antigo e Novo Testamento e a venerável Tradição mostram de modoprogressivamente mais claro e como que nos põem diante dos olhos o papel da Mãe do Salvadorna economia da salvação. Os livros do Antigo Testamento descrevem a história da salvação naqual se vai preparando lentamente a vinda de Cristo ao mundo. Esses antigos documentos, taiscomo são lidos na Igreja e interpretados à luz da plena revelação ulterior, vão pondo cada vez mais

em evidência a figura duma mulher, a Mãe do Redentor. A esta luz, Maria encontra-se jáprofeticamente delineada na promessa da vitória sobre a serpente (cfr. Gén. 3,15), feita aosprimeiros pais caídos no pecado. Ela é, igualmente, a Virgem que conceberá e dará à luz um Filho,cujo nome será Emmanuel (cfr. Is. 7,14; cfr. Miq. 5, 2-3; Mt. 1, 22-23). É a primeira entre oshumildes e pobres do Senhor, que confiadamente esperam e recebem a salvação de Deus. Com

ela, enfim, excelsa Filha de Sião, passada a longa espera da promessa, se cumprem os tempos e seinaugura a nova economia da salvação, quando o Filho de Deus dela recebeu a natureza humana,para libertar o homem do pecado com os mistérios da Sua vida terrena.

Maria na Anunciação

56. Mas o Pai das misericórdias quis que a aceitação, por parte da que Ele predestinara para mãe,

precedesse a encarnação, para que, assim como uma mulher contribuiu para a morte, tambémoutra mulher contribuisse para a vida. É o que se verifica de modo sublime na Mãe de Jesus, dandoà luz do mundo a própria Vida, que tudo renova. Deus adornou-a com dons dignos de uma tãogrande missão; e, por isso, não é de admirar que os santos Padres chamem com frequência à Mãe

de Deus «toda santa» e «imune de toda a mancha de pecado», visto que o próprio Espírito Santo amodelou e d'Ela fez uma nova criatura (175). Enriquecida, desde o primeiro instante da suaconceição, com os esplendores duma santidade singular, a Virgem de Nazaré é saudada pelo Anjo,da parte de Deus, como «cheia de graça» (cfr. Luc. 1,28); e responde ao mensageiro celeste: «eisa escrava do Senhor, faça-se em mim segundo a tua palavra» (Luc. 1,38). Deste modo, Maria,

filha de Adão, dando o seu consentimento à palavra divina, tornou-se Mãe de Jesus e, não retidapor qualquer pecado, abraçou de todo o coração o desígnio salvador de Deus, consagrou-setotalmente, como escrava do Senhor, à pessoa e à obra de seu Filho, subordinada a Ele ejuntamente com Ele, servindo pela graça de Deus omnipotente o mistério da Redenção. por isso,consideram com razão os santos Padres que Maria não foi utilizada por Deus como instrumento

meramente passivo, mas que cooperou livremente, pela sua fé e obediência, na salvação doshomens. Como diz S. Ireneu, «obedecendo, ela tornou-se causa de salvação, para si e para todo ogénero humano» (176). Eis porque não poucos, Padres afirmam com ele, nas suas pregações, que«o no da desobediência de Eva foi desatado pela obediência de Maria; e aquilo que a virgem Eva

atou, com a sua incredulidade, desatou-o a virgem Maria com a sua fé» (177); e, por comparaçãocom Eva, chamam Maria a «mãe dos vivos»(178) e afirmam muitas vezes: «a morte veio por Eva, avida veio por Maria» (179).

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Maria na infância de Jesus

57. Esta associação da mãe com o Filho na obra da salvação, manifesta-se desde a conceiçãovirginal de Cristo até à Sua morte. Primeiro, quando Maria, tendo partido solicitamente para visitarIsabel, foi por ela chamada bem-aventurada, por causa da fé com que acreditara na salvaçãoprometida, e o precursor exultou no seio de sua mãe (cfr. Luc. 1, 41-45); depois, no nascimento,

quando a Mãe de Deus, cheia de alegria, apresentou aos pastores e aos magos o seu Filhoprimogénito, o qual não só não lesou a sua integridade, mas antes a consagrou (180). E quando Oapresentou no templo ao Senhor, com a oferta dos pobres, ouviu Simeão profetizar que o Filhoviria a ser sinal de contradição e que uma espada trespassaria o coração da mãe, a fim de serevelarem os pensamentos de muitos (cfr. Luc. 2, 34-35). Ao Menino Jesus, perdido e buscado

com aflição, encontraram-n'O os pais no templo, ocupado nas coisas de Seu Pai; e nãocompreenderam o que lhes disse. Mas sua mãe conservava todas estas coisas no coração e nelasmeditava (cfr. Luc. 2, 41-51).

Maria na vida pública e na paixão de Cristo

58. Na vida pública de Jesus, Sua mãe aparece duma maneira bem marcada logo no princípio,

quando, nas bodas de Caná, movida de compaixão, levou Jesus Messias a dar início aos Seusmilagres. Durante a pregação de Seu Filho, acolheu as palavras com que Ele, pondo o reino acimade todas as relações de parentesco, proclamou bem-aventurados todos os que ouvem a palavra deDeus e a põem em prática (cfr. Mc. 3,35 e paral.; Luc. 11, 27-28); coisa que ela fazia fielmente(cfr. Luc. 2, 19 e 51). Assim avançou a Virgem pelo caminho da fé, mantendo fielmente a. união

com seu Filho até à cruz. Junto desta esteve, não sem desígnio de Deus (cfr. Jo.19,25), padecendoacerbamente com o seu Filho único, e associando-se com coração de mãe ao Seu sacrifício,consentindo com amor na imolação da vítima que d'Ela nascera; finalmente, Jesus Cristo,agonizante na cruz, deu-a por mãe ao discípulo, com estas palavras: mulher, eis aí o teu filho (cfr.

Jo. 19, 26-27) (181).

Maria depois da Ascensão

59. Tendo sido do agrado de Deus não manifestar solenemente o mistério da salvação humanaantes que viesse o Espírito prometido por Cristo, vemos que, antes do dia de Pentecostes, osApóstolos «perseveravam unânimemente em oração, com as mulheres, Maria Mãe de Jesus e Seus

irmãos» (Act. 1,14), implorando Maria, com as suas orações, o dom daquele Espírito, que já sobresi descera na anunciação. Finalmente, a Virgem Imaculada, preservada imune de toda a mancha daculpa original (198), terminado o curso da vida terrena, foi elevada ao céu em corpo e alma (183) eexaltada por Deus como rainha, para assim se conformar mais plenamente com seu Filho, Senhordos senhores (cfr. Apoc. 19,16) e vencedor do pecado e da morte (184).

III. A VIRGEM SANTÍSSIMA E A IGREJA

O influxo salutar de Maria e a mediação de Cristo

60. O nosso mediador é só um, segundo a palavra do Apóstolo: «não há senão um Deus e ummediador entre Deus e os homens, o homem Jesus Cristo, que Se entregou a Si mesmo para

redenção de todos (1 Tim. 2, 5-6). Mas a função maternal de Maria em relação aos homens demodo algum ofusca ou diminui esta única mediação de Cristo; manifesta antes a sua eficácia. Com

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efeito, todo o influxo salvador da Virgem Santíssima sobre os homens se deve ao beneplácitodivino e não a qualquer necessidade; deriva da abundância dos méritos de Cristo, funda-se na Suamediação e dela depende inteiramente, haurindo aí toda a sua eficácia; de modo nenhum impede a

união imediata dos fiéis com Cristo, antes a favorece.

A maternidade espiritual

61. A Virgem Santíssima, predestinada para Mãe de Deus desde toda a eternidadesimultâneamente com a encarnação do Verbo, por disposição da divina Providência foi na terra anobre Mãe do divino Redentor, a Sua mais generosa cooperadora e a escrava humilde do Senhor.

Concebendo, gerando e alimentando a Cristo, apresentando-O ao Pai no templo, padecendo comEle quando agonizava na cruz, cooperou de modo singular, com a sua fé, esperança e ardentecaridade, na obra do Salvador, para restaurar nas almas a vida sobrenatural. É por esta razãonossa mãe na ordem da graça.

A natureza da sua mediação

62. Esta maternidade de Maria na economia da graça perdura sem interrupção, desde oconsentimento, que fielmente deu na anunciação e que manteve inabalável junto à cruz, até àconsumação eterna de todos os eleitos. De facto, depois de elevada ao céu, não abandonou estamissão salvadora, mas, com a sua multiforme intercessão, continua a alcançar-nos os dons da

salvação eterna (185). Cuida, com amor materno, dos irmãos de seu Filho que, entre perigos eangústias, caminham ainda na terra, até chegarem à pátria bem-aventurada. Por isso, a Virgem éinvocada na Igreja com os títulos de advogada, auxiliadora, socorro, medianeira (186). Mas istoentende-se de maneira que nada tire nem acrescente à dignidade e eficácia do único mediador, queé Cristo (187).

Efectivamente, nenhuma criatura se pode equiparar ao Verbo encarnado e Redentor; mas, assimcomo o sacerdócio de Cristo é participado de diversos modos pelos ministros e pelo povo fiel, eassim como a bondade de Deus, sendo uma só, se difunde vàriamente pelos seres criados, assimtambém a mediação única do Redentor não exclui, antes suscita nas criaturas cooperações

diversas, que participam dessa única fonte.

Esta função subordinada de Maria, não hesita a Igreja em proclamá-la; sente-a constantemente einculca-a aos fiéis, para mais intimamente aderirem, com esta ajuda materna, ao seu mediador esalvador.

Maria tipo da Igreja como Virgem e Mãe

63. Pelo dom e missão da maternidade divina, que a une a seu Filho Redentor, e pelas suassingulares graças e funções, está também a Virgem intimamente ligada, à Igreja: a Mãe de Deus é otipo e a figura da Igreja, na ordem da fé, da caridade e da perfeita união com Cristo, como jáensinava S. Ambrósio (188). Com efeito, no mistério da Igreja, a qual é também com razãochamada mãe e virgem, a bem-aventurada Virgem Maria foi adiante, como modelo eminente e

único de virgem e de mãe (189). Porque, acreditando e obedecendo, gerou na terra, sem terconhecido varão, por obra e graça do Espírito Santo, o Filho do eterno Pai; nova Eva, queacreditou sem a mais leve sombra de dúvida, não na serpente antiga, mas no mensageiro celeste. Edeu à luz um Filho, que Deus estabeleceu primogénito de muitos irmãos (Rom. 8,29), isto é, dosfiéis, para cuja geração e educação Ela coopera com amor de mãe.

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A fecundidade virginal da Igreja

64. Por sua vez, a Igreja que contempla a sua santidade misteriosa e imita a sua caridade,cumprindo fielmente a vontade do Pai, toma-se também, ela própria, mãe, pela fiel recepção dapalavra de Deus: efectivamente, pela pregação e pelo Baptismo, gera, para vida nova e imortal, osfilhos concebidos por acção do Espírito Santo e nascidos de Deus. E também ela é virgem, pois

guarda fidelidade total e pura ao seu Esposo e conserva virginalmente, à imitação da Mãe do seuSenhor e por virtude do Espírito Santo, uma fé íntegra, uma sólida esperança e uma verdadeiracaridade (190).

Virtudes de Maria

65. Mas, ao passo que, na Santíssima Virgem, a Igreja alcançou já aquela perfeição sem mancha

nem ruga que lhe é própria (cfr. Ef. 5,27), os fiéis ainda têm de trabalhar por vencer o pecado ecrescer na santidade; e por isso levantam os olhos para Maria, que brilha como modelo de virtudessobre toda a família dos eleitos. A Igreja, meditando piedosamente na Virgem, e contemplando-a àluz do Verbo feito homem, penetra mais profundamente, cheia de respeito, no insondável mistério

da Encarnação, e mais e mais se conforma com o seu Esposo. Pois Maria, que entrou intimamentena história da salvação, e, por assim dizer, reune em si e reflecte os imperativos mais altos da nossafé, ao ser exaltada e venerada, atrai os fiéis ao Filho, ao Seu sacrifício e ao amor do Pai. Por suaparte, a Igreja, procurando a glória de Cristo, torna-se mais semelhante àquela que é seu tipo esublime figura, progredindo continuamente na fé, na esperança e na caridade, e buscando e fazendo

em tudo a vontade divina. Daqui vem igualmente que, na sua acção apostólica, a Igreja olha comrazão para aquela que gerou a Cristo, o qual foi concebido por acção do Espírito Santo e nasceuda Virgem precisamente para nascer e crescer também no coração dos fiéis, por meio da Igreja. E,na sua vida, deu a Virgem exemplo daquele afecto maternal de que devem estar animados todos

quantos cooperam na missão apostólica que a Igreja tem de regenerar os homens.

IV. O CULTO DA BEM-AVENTURADA VIRGEM NA IGREJA

Natureza e fundamento do culto

66. Exaltada por graça do Senhor e colocada, logo a seguir a seu Filho, acima de todos os anjos ehomens, Maria que, como mãe santíssima de Deus, tomou parte nos mistérios de Cristo, é comrazão venerada pela Igreja com culto especial. E, na verdade, a Santíssima Virgem é, desde ostempos mais antigos, honrada com o título de «Mãe de Deus», e sob a sua protecção se acolhem

os fiéis, em todos os perigos e necessidades (191). Foi sobretudo a partir do Concílio do Éfesoque o culto do Povo de Deus para com Maria cresceu admiràvelmente, na veneração e no amor,na invocação e na imitação, segundo as suas proféticas palavras: «Todas as gerações meproclamarão bem-aventurada, porque realizou em mim grandes coisas Aquele que é poderoso»

(Luc.1,48). Este culto, tal como sempre existiu na Igreja, embora inteiramente singular, difereessencialmente do culto de adoração, que se presta por igual ao Verbo encarnado, ao Pai e aoEspírito Santo, e favorece-o poderosamente. Na verdade, as várias formas de piedade para com aMãe de Deus, aprovadas pela Igreja, dentro dos limites de sã e recta doutrina, segundo os diversostempos e lugares e de acordo com a índole e modo de ser dos fiéis, têm a virtude de fazer com

que, honrando a mãe, melhor se conheça, ame e gloria fique o Filho, por quem tudo existe (cfr.Col. 1, 15-16) e no qual «aprouve a Deus que residisse toda a plenitude» (Col. 1,19), e tambémmelhor se cumpram os seus mandamentos.

Espírito da pregação e do culto

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67. Muito de caso pensado ensina o sagrado Concílio esta doutrina católica, e ao mesmo temporecomenda a todas os filhos da Igreja que fomentem generosamente o culto da Santíssima Virgem,

sobretudo o culto litúrgico, que tenham em grande estima as práticas e exercícios de piedade paracom Ela, aprovados no decorrer dos séculos pelo magistério, e que mantenham fielmente tudoaquilo que no passado foi decretado acerca do culto das imagens de Cristo, da Virgem e dossantos (192). Aos teólogos e pregadores da palavra de Deus, exorta-os instantemente a evitaremcom cuidado, tanto um falso exagero como uma demasiada estreiteza na consideração da

dignidade singular da Mãe de Deus (193). Estudando, sob a orientação do magistério, a SagradaEscritura, os santos Padres e Doutores, e as liturgias das Igrejas, expliquem como convém asfunções e os privilégios da Santíssima Virgem, os quais dizem todos respeito a Cristo, origem detoda a verdade, santidade e piedade. Evitem com cuidado, nas palavras e atitudes, tudo o que

possa induzir em erro acerca da autêntica doutrina da Igreja os irmãos separados ou quaisqueroutros. E os fiéis lembrem-se de que a verdadeira devoção não consiste numa emoção estéril epassageira, mas nasce da fé, que nos faz reconhecer a grandeza da Mãe de Deus e nos incita aamar filialmente a nossa mãe e a imitar as suas virtudes.

V. MARIA, SINAL DE SEGURA ESPERANÇA E DE CONSOLAÇÃO PARA O POVO DE DEUS PEREGRINANTE

Sinal de Esperança e de consolação

68. Entretanto, a Mãe de Jesus, assim como, glorificada já em corpo e alma, é imagem e início daIgreja que se há-de consumar no século futuro, assim também, na terra, brilha como sinal deesperança segura e de consolação, para o Povo de Deus ainda peregrinante, até que chegue o diado Senhor (cfr. 2 Ped. 3,10).

Medianeira para a unidade da Igreja

69. E é uma grande alegria e consolação para este sagrado Concílio o facto de não faltar entre osirmãos separados quem preste à Mãe do Senhor e Salvador o devido culto; sobretudo entre osOrientais, que acorrem com fervor e devoção a render culto à sempre Virgem Mãe de Deus (194).Dirijam todos os fiéis instantes súplicas à Mãe de Deus e mãe dos homens, para que Ela, que

assistiu com suas orações aos começos da Igreja, também agora, exaltada sobre todos os anjos ebem-aventurados, interceda, junto de seu Filho, na comunhão de todos os santos, até que todos ospovos, tanto os que ostentam o nome cristão, como os que ainda ignoram o Salvador, se reunamfelizmente, em paz e harmonia, no único Povo de Deus, para glória da santíssima e indivisaTrindade.

Roma, 21 de Novembro de 1964.

PAPA PAULO VI

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NOTIFICAÇÕES FEITAS PELO EX.MO SECRETÁRIO GERAL DO SAGRADO CONCÍLIO, NA CONGREGAÇÃO GERAL CXXIII,

NO DIA 16 DE NOVEMBRO DE 1964

Notificações: valor teológico das proposições

Foi perguntado qual deve ser a qualificação teológica da doutrina exposta no esquema DeEcclesia que se propõe à votação. A Comissão Doutrinal respondeu à pergunta ao examinaros Modos referentes ao capítulo terceiro do esquema De Ecclesia, com estas palavras:

«Como é evidente, o texto conciliar deve sempre ser interpretado segundo as regras gerais, de

todos conhecidas». A Comissão Doutrinal, nesta ocasião, remete para a sua Declaração do dia 6de Março de 1964, cujo texto se transcreve aqui:

«Tendo em conta a praxe conciliar e o fim pastoral do presente Concilio, este sagrado Concilio sódefine aquelas coisas relativas à fé e aos costumes que abertamente declarar como de fé.

Tudo o mais que o sagrado Concílio propõe, como doutrina do supremo Magistério da Igreja,

devem-no os fiéis receber e abraçar segundo a mente do mesmo sagrado Concílio, a qual se deduzquer do assunto em questão, quer do modo de dizer, segundo as normas da interpretaçãoteológica».

Por autoridade superior comunica-se aos Padres uma nota prévia explicativa dos «Modos»referentes ao capítulo terceiro do esquema De Ecclesia; é segundo o espírito e o sentido desta

nota que se deve explicar e entender a doutrina exposta nesse capítulo terceiro.

NOTA EXPLICATIVA PRÉVIA

«A Comissão decidiu fazer preceder das seguintes observações gerais o exame dos Modos:

1° Colégio não se entende em sentido jurídico estrito, ou seja, de um grupo de iguais, quedelegam o seu poder ao que preside; mas no sentido de um grupo estável, cuja estrutura eautoridade se devem deduzir da Revelação. Por isso, na resposta ao Modo 12, se diz

expressamente, acerca dos Doze, que o Senhor constituiu-os em Colégio ou grupo estável. Cfr.também o Modo 53, c. - Pelo mesmo motivo, ao tratar-se do Colégio dos Bispos, são tambémempregados a cada passo os termos Ordem ou Corpo. O paralelismo entre Pedro e os restantesApóstolos por um lado, e o Sumo Pontífice e os Bispos pelo outro, não implica a transmissão do

poder extraordinário dos Apóstolos aos seus sucessores, nem, como é evidente, a igualdade entrea Cabeça e os membros do Colégio, mas apenas uma proporcionalidade entre a primeira relação(Pedro-Apóstolos) e a segunda (Papa-Bispos). Daí ter a Comissão resolvido escrever no inicio don.° 22 «pari ratione» e não « eadem ratione». Cfr. Modo 57.

2.° Uma pessoa torna-se membro do Colégio em virtude da sagração episcopal e pela comunhão

hierárquica com a Cabeça e com os membros do Colégio. Cfr. n.° 22, no fim da primeira alínea.

Na sagração é conferida a participação ontológica nos ofícios sagrados, como indubitàvelmenteconsta da Tradição, mesmo litúrgica. Intencionalmente se emprega a palavra munerum e nãopotestatum, porque esta última palavra poderia entender-se como poder apto para o exercício.Ora, para que tal poder exista, deve sobrevir a determinação canónica ou jurídica, por parte da

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autoridade hierárquica. Esta determinação do poder pode consistir na concessão de um ofício

particular ou na atribuição de súbditos, e é dada segundo as normas aprovadas pela autoridadesuprema. Essa norma ulterior é exigida pela própria natureza das coisas, visto tratar-se depoderes que devem ser exercidos por diversas pessoas que, segundo a vontade de Cristo,cooperam hieràrquicamente. E evidente que esta «comunhão» sé foi exercendo na vida da Igreja,segundo as circunstâncias dos tempos, mesmo antes de, por assim dizer, ser codificada no direito.

Por isso mesmo se diz expressamente que se requer a comunhão hierárquica com a Cabeça emembros da Igreja. A comunhão é um conceito tido em grande veneração na antiga Igreja (eainda hoje, sobretudo no Oriente). Não se trata, porém, de um sentimento vago, mas de umarealidade orgânica, que exige uma forma jurídica e é ao mesmo tempo animada pela caridade. Porisso a Comissão resolveu, quase por unanimidade, que se devia escrever: «pela comunhão

hierárquica». Cfr. Modo 40 e também o que se diz acerca da missão canónica, no n. 24.

Os documentos dos últimos Sumos Pontífices acerca da jurisdição dos Bispos, devem serinterpretados segundo esta determinação necessária dos poderes.

3.° Diz-se que o Colégio, que não pode existir sem cabeça, «é também sujeito do supremo epleno poder sobre toda a Igreja». Isto tem de se admitir necessàriamente, para que a plenitude

do poder do Romano Pontífice não seja posta em questão. O Colégio, com efeito, entende-sesempre e necessàriamente com a sua Cabeça, a qual, no Colégio, conserva integralmente o seucargo de Vigário de Cristo e Pastor da Igreja Universal. Por outras palavras, a distinção não sefaz entre o Romano Pontífice e os Bispos, tomados colectivamente, mas entre o Romano Pontífice

só, e o Romano Pontífice juntamente com os Bispos. E uma vez que o Sumo Pontífice é a Cabeçado Colégio, só ele pode executar certos actos, que de modo nenhum competem aos Bispos como,por exemplo, convocar e dirigir o Colégio, aprovar normas de acção, etc. Cfr. Modo 81.

Ao juízo do Sumo Pontífice, a quem foi entregue o cuidado de todo o rebanho de Cristo, compete,segundo as necessidades da Igreja, que variam no decurso dos tempos, determinar o modo mais

conveniente de actuar esse cuidado, quer essa actuação se faça de modo pessoal quer de modocolegial. Quanto a ordenar, promover e aprovar o exercício colegial, procede o Romano Pontíficesegundo a sua própria discrição.

4.° O Sumo Pontífice, visto ser o Pastor supremo da Igreja, pode exercer, como lhe aprouver, oseu poder ern todo o tempo; exige-o o próprio cargo. O Colégio, porém, embora exista sempre,

nem por isso age permanentemente com uma acção estritamente colegial, conforme consta daTradição da Igreja.

Por outras palavras, não está sempre «em exercício pleno». Mais ainda: sòmente por intervalos agede uma maneira estritamente colegial e nunca sem o consentimento da Cabeça. Diz-se, porém,

«com o consentimento da Cabeça» para que não se pense numa dependência de pessoa porassim dizer estranha; o termo «consentimento» evoca, pelo contrário, a comunhão entre a Cabeça.e os membros e implica a necessidade do acto que é próprio da Cabeça. Isto é afirmadoexplicitamente no número 22 e explicado no mesmo lugar. A fórmula negativa «a não ser»compreende todos os casos, e assim é evidente que as normas aprovadas pela Autoridade

suprema devem ser sempre observadas. Cfr. Modo 84.

Em tudo isto, é também evidente que se trata da união dos Bispos com a sua Cabeça e nunca deuma acção dos Bispos independentemente do Papa. Neste caso, faltando a acção da Cabeça, osBispos não podem agir colegial mente, como se depreende da mesma noção de «Colégio». Esta

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Comunhão hierárquica de todos os Bispos com o Sumo Pontífice é certamente habitual naTradição.

N. B. Sem a comunhão hierárquica, o cargo sacramental-ontológico, que se deve distinguir do

aspecto canónico-jurídico, não pode ser exercido. A Comissão, porém, julgou que não deviaentrar nas questões de liceidade e validade, que se deixam à discussão dos teólogos, em especialno referente ao poder que de facto se exerce entre os Orientais separados e para cuja explicaçãoexistem várias sentenças».

Notas

1. Cfr. S. Cipriano, Epist. 64, 4: PL 3, 1017. CSEL (Hartel), III B, p. 720. S. Hilário Píct., In Mt.23, 6: PL 9, 1047. S. Agostinho, passim. S. Cirilo Alex., Glaph. in Gen. 2, 10: PG 69, 110 A.

2. Cfr. S. Gregório M., Hom. in Evang. 19, 1: PL 76, 1154 B. S. Agostinho, Serm. 341, 9, 11:

PL 39, 1499 s. S. J. Damasceno, Adv. Iconocl. 11: PG, 1357.

3. Cfr. S. Ireneu, Adv. Haer. III, 24, 1: PG 7, 966 B; Harvey 2, 131, ed. Sagnard, Sources Chr.,p. 398.

4. S. Cipriano, De orat. Dom. 23: PL 4, 553; Hartel, III A, p. 285. S. Agostinho, Serm. 71, 20,33: PL 38, 463 s. S. J. Damasceno, Adv. Iconocl. 12: PG 96, 1358 D.

5. Cfr. Origenes, In Mt. 16, 21: PG 13, 1443 C; Tertuliano, Adv. Marc. 3, 7: PL 2, 357 C; CSEL47, 3, p. 386. Para os documentos litúrgicos, cfr. Sacramentarium Gregorianum: PL 78, 160 B.ou C. Mohlberg, Liber Sacramentorum romanae ecclesiae, Roma, 1960, p.111, XC; «Deus, quiex omni coaptacione sanctorum aeternum tibi condis habitaculum...». Hinos Urbs Ierusalem beata

em Breviário monástico, e Coelestis Urbs Ierusalem em Breviário Romano.

6. Cfr. S. Tomás, Summa Theol. III, q. 62, a. 5, ad 1.

7. Cfr. Pio XII, Encíclica Mystici Corporis, 29 jun. 1943: AAS 35 (1943), p. 208.

8. Cfr. Leão XIII, Carta Encicl. Divinum illud, 9 maio 1897: ASS 29 (1896-97) p. 650. Pio XII,Encíclica Mystici Corporis, 1. c., pp. 219-220; Denz. 2288 (3808). S. Agostinho, Serm. 268, 2:

PL 38, 1232, etc. S. João Crisóstomo, In Eph. Hom. 9, 3: PG 62, 72. Didimo Alex., Trin. 2, 1:PG 39, 449 s. S. Tomás, In Col. 1, 18, lect. 5; ed. Marietti, II, n. 46: «Sicut constituitur unumcorpus ex unitate animae, ita Ecclesia ex unitate Spiritus...».

9. Leão XIII, Encíclica Sapientiae christianae, 10 jan. 1890: ASS 22 (1889-90) p. 392. Id.,Carta Encicl. Satis cognitum, 29 jun. 1896: ASS 28 (1895-96) pp. 710 e 724 ss. Pio XII,

Encíclica Mystici Corporis, 1. c., pp. 199-200.

10. Cfr. Pio XII, Encíclica, Mystici Corporis, 1. c., p. 221 ss. Id., Encíclica Humani generis, 12agosto 1950: AAS 42 (1950) p. 571.

11. Leão XIII, Carta Encícl. Satis cognitum, 1. c., p. 713.

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12. Símbolo. Apostólico: Denz. 6-9 (10-13) ; Símbolo Nic. - Constantinopolitano: Denz. 86 (150)

; cfr. Prof. fidei Trid,: Denz. 994 e 999 (1862 e 1868).

13. Diz-se «Igreja santa (católica, apostólica) romana» em: Prof. fidei Trid., 1. c., e Cone. Vat. I,Const. dogm. de fide cath.: Denz. 1782 (3001).

14. S. Agostinho, De Civ. Dei, XVIII, 51, 2: PL 41, 614.

15. Cfr. S. Cipriano, Epist. 69, 6: PL 3, 1142 B; Hartel 3 B, p. 754: «inseparabile unitatis

sacramentum».

16. Cfr. Pio XII, Aloc. Magnificate Dominum, 2 nov. 1954: AAS 46 (1954) p. 669. Encícl.Mediator Dei, 20 nov. 1947: AAS 39 (1947) p, 555.

17. Cfr. Pio XI, Encicl. Miserentissimus Redemptor, 8 maio 1928: AAS 29 (1928) p. 171 s. Pio

XII, Aloc. Vous nous avez, 22 set. 1956: AAS 48 (1956) p. 714.

18. Cfr. S. Tomás, Summa Theol. III, q. 63, a. 2.

19. Cfr. S. Cirilo de Jerus. Catech. 17, de Spiritu Santo, II, 35-37: PG 33, 1009-1012. Nic.Cabasilas, De vita in Christo, lib. III, de utilitate chrismatis: PG 150, 569-580. S. Tomás, SummaTheol. 111, q. 65, a. 3 e q. 72, a. 1 e 5.

20. Cfr. Pio XII, Encicl. Mediator Dei, 20 nov. 1947: AAS 39 (1947), sobretudo p. 552 s.

21. 1 Cor. 7, 7: «Unusquisque proprium donum (idion charisma) habet ex Deo: alius quidem sie,alius vero sic». Cfr. S. Agostinho, De Dono Persev. 14, 37: PL 45, 1015 s.: Non tantumcontinentia Dei donum est, sed coniugatorum atiam castitas».

22. Cfr. S. Agostinho, De Praed. Sanct. 14, 27: PL 44, 980.

23. Cfr. S. J. Crisóstomo, In Io. Hom. 65, 1: PG 59, 361.

24. Cfr. S. Ireneu, Adv. Haer. 111, 16, 6; III, 22, 1-3: PG 7, 925 C-926 A, e 955 C-958 A:Harvey 2, 87 s. e 120-123; Sagnard, Ed. Sources Chrét., pp. 290-292 e 372 ss.

25. Cfr. S. Inácio M., Ad Rom., Pref.: ed. Funk, I, p. 252.

26. Cfr. S. Agostinho, Bapt. c. Donat. V, 28, 39: PL 43, 197: «C'erte manifestum est, id quod

dicitur, in Ecclesia intus et foris, in corde, non in corpore cogitandum». Cfr. ib., III, 19, 26: col.152; V, 18, 24: col. 189; In Io. Tr. 61, 2: PL 35, 1800, etc. etc.

27. Cfr. Lc. 12, 48: « Omni autem, cui multum datum est, multum quaeretur ab eo». Cfr. Mt. 5, 19-

20; 7, 21-22; 25, 41-46; Tg. 2,14.

28. Cfr. Leão XIII, Carta Apost. Praeclara gratulationis, 20 jun. 1894: ASS 26 (1893-94) p.

707.

29. Cfr. Leão XIII, Carta Encícl. Satis cognitum, 29 jun. 1896: ASS 28 (1895-96) p. 738. CartaEncicl. Caritatis studium, 25 jul. 1898: ASS 31 (1898-99) p. 11. Pio XII, Radiomensagem

Nel'alba, 24 dez. 1941: AAS 34 (1942) p. 21.

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30. Cfr. Pio XI, Encicl. Rerum Orientalium, 8 set. 1928: AAS 20 (1928) p. 287. Pio XII, Encícl.Orientalis Ecclesiae, 9 abril 1944: AAS 36 (1944) p. 137.

31. Cfr. Instr. do Santo Oficio, 20 dez. 1949: AAS 42 (1950) p. 142.

32. Cfr. S. Tomás, Summa Theol. III, q. 8, a. 3, ad 1.

33. Cfr. Carta do S. Oficio ao Arcebispo de Boston: Denz. 3869-72.

34. Cfr. Eusébio Ces., Praeparatio Evangelica, 1, 1: PG 21, 28 AB.

35. Cfr. Bento XV, Carta Apost. Maximum Illud: AAS 11 (1919) p. 440, sobretudo p. 451 ss.Pio XI, Encícl, Rerum Ecclesiae: AAS 18 (1926) p. 68-69. Pio XII, Encicl. Fidei Donum, 21

abr. 1957: AAS 49 (1957) pp. 236-237.

36. Cfr. Didachè, 14: ed. Funk, I, p. 32. S. Justino, Dial. 41: PG 6, 564. Ireneu, Adv. Haer. IV,

17, 5: PG 7, 1023; Harvey, 2, p. 199 s. Conc. Trid., Sess. 22, cap. 1; Denz. 939 (1742).

37. Cfr. Conc. Vat. I, Const. Dogm. Pastor aeternus: Denz. 1821 (3050 s.).

38. Cfr. Cone. Flo., Decretum pro Graecis: Denz. 694 (1307) e Conc. Vat. I, ib.: Denz. 1826(3059).

39. Cfr. Liber sacramentorum de S. Gregório, Praefatio in natali S. Matthiae et S. Thomae: PL

78, 50, 51 e 152; cfr. Cod. Vat. lat. 3548, f. 18. S. Hilário, In Ps. 67, 10: PL 9, 450; CSEL 22, p.

286. S. Jerónimo, Adv. Iovin. 1, 26: PL 23, 247 A. S. Agostinho, In Ps. 86, 4: PL 37, 1103. S.Gregório M., Mor. in lob, XXVIII, V:. PL 76, 455-456. Primásio, Comm in Apoc. V.: PL 68, 924

BC. Pascãsio Radb., In Matth. L. VIII, cap. 16: PL 120, 561 C. Cfr. Leão XIII, Carta Et sane,17dez. 1888: ASS 21 (1888) p. 321.

40. Cfr. Act, 6, 2-6; 11,30; 13,1; 14,23; 20,17; 1 Tess. 5, 12-13; F11. 1,1; Col. 4,11, etc. etc.

41. Cfr. Act. 20, 25-27; 2 Tim. 4,6 s. coll. 1 Tim. 5,22; 2 Tim. 2,2; Tit. 1,5; S. Clem. Rom., AdCor. 44,3; ed. Funk, I, p. 156.

42. S. Clem. Rom. Ad Cor. 44,2; ed. Funk, I, p. 154 s.

43. Cfr. Tertuliano, Praescr. Haer. 32: PL 2, 52 s.; S. Inácio M., passim.

44. Cfr. Tertuliano, Praescr. Haer. 32: PL 2, 53.

45. Cfr. S. Ireneu. Adv. Haer. III, 3, 1: PG 7, 848 A; Harvey 2,8; Sagnard, p. 100 s.:«manifestatam».

46. Cfr. S. Ireneu, Adv. Haer, III, 2, 2: PG 7, 847; Harvey 2,7; Sagnard, p. 100: « custoditur>>,

cfr. ib. IV, 26,2: col. 1053; Harvey 2, 236, e IV, 33,8: co1..1077; Harvey 2,262.

47. S. Inácio M., Philad., Praef., ed. Funk, I, p. 264.

48. S. Inácio M., Philad, 1,1; Magn. 6,1; ed. Funk, I, pp. 264 e 234.

49. S. Clem. Rom., 1. c., 42, 3-4; 44, 3-4; 57, 1-2; ed. Funk, I, 152, 156, 171 s. S. Inácio M.

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Philad. 2; Smyrn. 8; Magn. 3; Trall, 7; ed. Funk, p. 265 s.; 282, 232; 246 s. etc.; S. Justino,

Apol., 1, 65: PG 6, 428; S. Cipriano, Epist. passim.

50. Cfr. Leão XIII, Carta Encícl. Satis cognitum, 29 jun. 1896: ASS 28 (1895-96) p. 732.

51. Cfr. Conc. Trid., Decr. de sacr. Ordinis, cap. 4: Denz. 960 (1768); Cone. Vat. I, Pastor

aeternus, Const. Dogm. 1 De Ecclesia Christi, cap. 3: Denz. 1828 (3061). Pio XII, Encícl.Mystici Corporis, 29 jun. 1943: AAS 35 (1943) pp. 209 e 212. Cod. Iur. Can., c. 329 § 1.

52. Cfr. Leão XIII, Carta Et sane, 17 dez. 1888: ASS 21 (1888), p. 321 s.

53. S. Leão M., Serm. 5, 3: PL. 54, 154.

54. Cone. Trid., Sess. 23, cap. 3 cita as palavras de 2 Tim. 1, 6-7, para provar que a ordem é umverdadeiro sacramento: Denz. 959 (1766).

55. Em Trad. Apost. 3, ed. Botte, Sources Chr., pp. 27-30, dá-se ao Bispo o «primado do

sacerdócio». Cfr. Sacramentarium Leonianum, ed. C. Mohlberg, Sacramentarium Veronense,

Roma, 1955, p. 119: «ad summi sacerdotii... ministerium... Comple in sacerdotibus tuis mysterii tuisummam»... Id. Liber Sacramentorum Romanae Ecclesiae, Roma, 1960, pp. 121-122: «Tribuas

eis, Domine, cathedram episcopalem ad regendam Ecelesiam tuam et plebem universam». Cfr. PL78, 224.

56. Trad. Apost. 2, ed. Botte, p. 27.

57. Conc. Trid., Sess. 23, cap. 4, ensina que o sacramento da Ordem imprime carácter indelével:Denz. 960 (1767). Cfr. João XXIII, Aloc. Iubilate Deo, 8 maio 1960: AAS 52 (1960) p. 466.

Paulo VI, Homilia na Bas. Vaticana, 20 out. 1963: AAS 55 (1963) p. 1014.

58. S. Cipriano, Epist. 63, 14: PL 4, 386; Hartel, III B. p. 713: «Sacerdos vice Christi verefungitur». S. João Crisóstomo In 2 Tim. Hom. 2. 4: PG 62, 612: sacerdos est «symbolon» Christi.

S. Ambrósio, In Ps. 38, 25-26: PL 14, 1051-52: CSEL 64, 203-204. Ambrosiaster, In 1 Tim. 5,

19: PL 17, 479 C e In Eph. 4, 11-12: col. 387 C. Teodoro Mops., Hom. Catech. XV, 21 e 24:ed. Tonneau, pp. 497 e 503. Hesiquio de Jerus., In Lev. L. 2, 9, 23: PG 93, 894 B.

59. Cfr. Eusébio, Hist. Eccl., V, 24, 10: GCS II, 1, p. 495; ed. Bardy, Sources Chr. II, p. 69.

Dionisio, em Eusébio, ib. VII, 5, 2: GCS II, p. 638 s.; Bardy, II, p. 168 s.

60. Acerca dos antigos Concílios, cfr. Eusébio Hist. Eccl. V, 23-24: GCS II, 1, p. 488 s.; Bardy,

II, p. 66 ss. etc. Conc. Niceia, can. 5: Conc. Oec. Decr. p. 7.

61. Tertuliano, De Ieiunio, 13: PL 2, 972 B; CSEL 20, p. 292, lin. 13-16.

62. S. Cipriano, Epist. 56, 3: Hartel III B, p. 650; Bayard, p. 154.

63. Cfr. Relação oficial de Zinelli, no Conc. Vat. I: Mansi 52, 1109 C.

64. Cfr. Conc. Vat. I, Esquema da Const. dogm. II, de Ecclesia Christi, c. 4: Mansi 53, 310. Cfr.

Relação de Kleutgen sobre o Esquema reformado: Mansi 53, 321 B-322 B e declaração de Zinelli:Mansi 52, 1110 A. Cfr. também S. Leão M., Serm. 4, 3: PL 151 A.

65. Cfr. Cod. Iur. Can., c. 222 e 227.

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66. Cfr. Conc. Vat. I, Const. Dogm. Pastor aeternus: Denz. 1821 (3050 s.).

67. Cfr. S. Cipriano, Epist. 66, 8: Hartel III, 2, p. 733: «Episcopus in Ecclesia et Ecclesia In

Episcopo».

68. Cfr. S. Cipriano, Epist. 55, 24: Hartel, p. 642, lin. 13: «Una Ecclesia per totum mundum in

multa membra divisa». Epist. 36, 4: Hartel, p. 575, lin. 29-21.

69. Cfr. Pio XII, Encícl. Fidei Donum, 21 de abr. 1957: AAS 49 (1957) p. 237.

70. Cfr. S. Hilário Pict., In Ps. 14, 3: PL 9, 206; CSEL 22, p. 86. S. Gregório M., Moral. IV, 7,12: PL 75, 643 C. Ps.-Basilio, In Is. 15, 296: PG 30, 637 C.

71. Cfr. S, Celestino, Epist. 18, 1-2, ao Conc. de Éfeso: PL 50, 505 AB; Schwartz, Acta Conc.

Oec. I, 1, 1, p. 22. Cfr. Bento XV, Carta Apost. Maximum illud: AAS 11 (1919) p. 440. Pio XI,

Encicl. Rerum Ecclesiae, 28 fev. 1926: AAS 18 (1926) p. 69. Pio XII, Encícl. Fidei Donum, 1.c.

72. Leão XIII, Encícl. Grande munus, 30 set. 1880: AAS 13- (1880) p. 145. Cfr. Cod. Iur.

Can., c. 1327; c. 1350 § 2.

73. Acerca dos direitos das Sés patriarcais, cfr. Conc. Nicaenum, can. 6 sobre Alexandria e

Antioquia, e can. 7 sobre Jerusalém: Conc. Oec. Decr., p. 8. Conc. Later. IV, em 1215, Constit.V: De dignitate Patriarcharum: ibid. p. 212 - Conc. Ferr. - ibid. p. 504.

74. Cfr. Cod. Iuris Can. pro Eccl. Orient., c. 216-314: de Patriarchis; c. 324-339: de

Archiepiscopis maioribus; c. 362-391: de aliis dignitariis; In. specie, c. 238 § 3, 216; 240 251;

255: de Episcopis a Patriarcha nominandis.

75. Cfr. Conc. Trid., Decr. de reform., Sess. V, c. 2, n, 9; e Sess. XXIV, can. 4: Conc. Oec.Decr. pp. 645 e 739.

76. Cfr. Conc. Vat. I, Const. dogm. Dei Filius, 3: Denz. 1,712 (3011). Cfr. nota junta ao esquema

I de Eccl. (tirada de S. Rob. Belarmino): Mansi 51, 579 C; e o Esquema reformado da Const. II

de Ecclesia, com o comentário de Kleutgen: Mansi 53, 313 AB. Pio IX, Carta Tuas libenter:Denz. 1683 (2879).

77. Cfr. Cod. Iur. Can., c. 1322-1323.

78. Cfr. Conc. Vat. I, Const. dogm. Pastor Aeternus: Denz. 1389 (3074).

79 Cfr. explicação de Gasser em Conc. Vat. I: Mansi 52, 1213 AC.

80. Gasser, ib.: Mansi 1214 A.

81. Gasser, ib.: Mansi 1215 CD, 1216-1217 A.

82. Gasser, ib.: Mansi 1213.

83. Conc. Vat. I, Const. dogm. Pastor Aeternus, 4: Denz. 1836 (3070).

84. Oração da sagração episcopal no rito bizantino: Euchologion to mega, Roma, 1873, p. 139.

Page 46: Constituição dogmática lumen gentium   a igreja

85. Cfr. S. Inácio M., Smyrn. 8, 1: ed. Funk, I, p. 282.

86. Cfr. Act. 8,1; 14, 22-23; 20, 17, etc., etc.

87. Oração moçárabe: PL 96, 759 B.

88. Cfr. S. Inácio M., Smyrn. 8, 1: ed. Funk, I, p. 282.

89. S. Tomás, Summa Theol. III, q. 73, a. 3.

90. Cfr. S. Agostinho, C. Faustum, 12, 20: PL 42, 265; Serm. 57, 7: PL 38, 389, etc.

91. S. Leão M., Sermo 63,7: PL 54, 357 C.

92. Traditio Apostolica Hippolyti, 2-3: ed. Botte, pp. 26-30.

93. Cfr. texto do exame no inicio da sagração episcopal, e oração no fim da missa da mesmasagração, depois do Te Deum.

94. Bento XV, Breve Romana Ecclesia, 5 out. 1752, § 1: Bullarium Benedicti XIV, t. IV, Roma,

1758, 21: «Episcopus Christi typum gerit, Eiusque munere fungitur». Pio XII, Encicl. Mystici

Corporis, 1. c., p. 211: «Assignatos sibi greges singuli singulos Chrísti nomine pascunt et regunt».

95. Leão XIII, Carta Encicl. Satis cognitum, 29 jun. 1896: ASS 28 (1895-96) P. 732. Idem,Carta Officio sanctissimo, 22 dez. 1887: ASS 20 (1887) p. 264. Pio IX, Carta Apost. aos

Bispos alemães, 12 março 1875, e Aloc. Consist., 15 março 1875: Denz. 3112-3117, só na novaed.

96. Conc. Vat. I, Const. dogma Pastor aeternus, 3: Denz. 1828 (3061). Cfr. Relação de Zinelli:Mansi 52, 1114 D

97. Cfr. S. Inácio M., Ad Ephes. 5, 1: ed. Funk, 1, p. 216.

98. Cfr. S. Inácio M., Ad Ephes, 6, 1: ed. Funk, I, p. 216.

99. Cfr. Conc. Trid. De sacr. Ordinis, cap. 2: Denz. 958 (1765), e can. 6: Denz. 966 (1776).

100. Cfr. Inocêncio I, Epist. ad Decentium: PL 20, 554 A; Mansi 3, 1029; Denz. 98 (215) :«Presbyteri, licet secundi sint sacerdotes, pontificatus tamen apicem ron habent». S. Cipriano,

Epist. 61, 3: ed. Hartel, p. 696.

101. Cfr. Conc. Trid., 1. c., Denz. 956a-968 (1763-1778), e em especial can. 7: Denz. 967(1777). Pio XII, Const. Apost. Sacramentum Ordinis: Denz. 2301 (3857-61).

102. Cfr. Inocêncio I, 1. c.; S. Gregório Naz., Apol. II, 22: PG 35, 432 B. Ps.-Dionísio, Eccl.Hier., 1, 2: PG 3, 372 D.

103. Cfr. Conc. Trid., Sess. 22: Denz. 940 (1743). Pio XII, Encícl. Mediator Dei, 20 nov. 1947:

AAS 39 (1947) p. 553; Denz. 2300 (3850).

104. Cfr. Conc. Trid. Sess. 22: Denz. 938 (1739-40). Conc. Vat. II, Const. De Sacra Liturgia,

Sacrosanctum Concilium, n. 7 e n. 47.

Page 47: Constituição dogmática lumen gentium   a igreja

105. Cfr. Pio XII, Encícl. Mediator Dei, 1. c. n. 67.

106. Cfr. S. Cipriano, Epist. 11, 3: PL 3, 242 B: Hartel, II, 2, p. 497.

107. Cfr. Pontificale romanum, De Ordinatione presbyterorum, na imposição das vestes.

108. Cfr. Pontificale romanum, De Ordinatione presbyterorum, no prefácio.

109. Cfr. S. Inácio M., Philad. 4: ed. Funk, I, p. 266. S. Cornélio I, em S. Cipriano, Epist. 48, 2:

Hartel III, 2, p. 610.

110. Constitutiones Ecclesiae aegyptiacae, III, 2: ed. Funk, Didascalia, II, p. 103. StatutaEccl. Ant. 31-41: Mansi 3, 954. 75 S. Policarpo, Ad Phil. 5, 2: ed. Funk, p. 300: Cristo é

chamado «omnium diaconus factus». Cfr. Didachè, 15, 1: ib., p. 32; S. Inácio M., Trall. 2, 3: ib.,

p. 242. Constitutiones Apostolorum, 8, 28, 4: ed. Funk, Didascalia, I, p. 530.

111. S. Agostinho, Serm. 340, 1: PL 38, 1483.

112. Cfr. Pio XI, Encícl. Quadragesimo anno, 15 maio 1931: AAS 23 (1931) p. 221 s. Pio XII,Aloc. De quelle consolation, 14 out. 1951: AAS 43 (1951) p. 790 s.

113. Cfr. Pio XII, Aloc. Six ans se sont écoulés, 5 out. 1957: AAS 49 (1957) p. 927.

114. Cfr. Missale romanum, Prefácio da festa de Cristo Rei.

115. Cfr. Leão XIII, Carta Encícl. Immortale Dei, 1 nov. 1855: ASS 18 (1885), p. 166 ss. Idem,Encícl. Sapientia christianae, 10 jan. 1890: ASS 22 (1889-90) p. 397 ss. Pio XII, Aloc. Alla

vostra filiale, 23 março 1958: AAS 50 (1958) p. 220: «la légittima sana laicità dello Stato».

116. Cfr. Cod. Iur. Can. can. 682.

117. Cfr. Pio XII, Aloc. De quelle consolation, I. c., p. 789: «Dans les batailles décisives, c'est

parfois du front que partent les plus heureuses iniciativas...» Idem, Aloc. L'Importance de Iapresse catholique, 17 fev. 1950: AAS 42 (1950) p. 256.

118. Cfr. 1 Tess. 5,19 e 1 Io. 4,1.

119. Epist. ad Diognetum, 6: ed. Funk I, p. 400. Cfr. S. João Crisóstomo, In Matth. Hom. 46

(47),2: PG 58, 478, acerca do fermento na massa.

120. Missale Romanum, Gloria in excelsis. Cfr. Lc. 1,35; Mc, 1,24; Lc. 4,34; Io. 6,69 (ho hagios

tou Theou); Act. 3,14; 4,27 e 30; Hebr. 7,26; 1 Io. 2,20: Apoc. 3,7.

121. Cfr. Orígenes, Comm Rom. 7, 7: PG 14, 1122 B. Ps. - Macário, De Oratione, 11: PG 34,861 AB. S. Tomás, Summa Theol. II-II q. 184, a. 3.

122. Cfr. S. Agostinho, Retract. II, 18: PL 32, 637 s. Pio XII, Encícl. Mystici Corporis, 29 jun.1943: AAS 35 (1943) p. 225.

123. Cfr. Pio XI, Encícl. Rerum omnium, 26 jan. 1923: AAS 15 (1923) p. 50 e pp. 59-60.

Encicl. Casti Connubii, 31 dez. 1930: AAS 22 (1930) p. 548. Pio XII, Const. Apost. Provida

Mater, 2 fev. 1947: AAS 39 (1947) p. 117. Aloc. Annus sacer, 8 dez. 1950: AAS 43 (1951) pp.

Page 48: Constituição dogmática lumen gentium   a igreja

27-28. Aloc. Nel darvi, 1 jul. 1956: AAS 48 (1956) p. 574 s.

124. Cfr. S. Tomás, Summa Theol. II-II, q. 184, a. 5 e 6. De perf. vitae spir. c. 18; Orígenes, InIs. Hom. 6, 1: PG 13, 239.

125. Cfr. S. Inácio M., Magn. 13, 1: ed. Funk, I, p. 241.

126. Cfr. S. Pio X, Exort. Haerent animo, 4 ago. 1908: ASS 41 (1908) p. 560 s. Cod. Iur.

Can., can. 124. Pio XI, Encicl. Ad catholici sacerdotii, 20 dez. 1935: AAS 28 (1936) p. 22 s.

127. Cfr. Pontificale romanum, De Ordinatione presbyterorum, na exortação inicial.

128. Cfr. S. Inácio M., Trall. 2, 3: ed. Funk, p. 244.

129. Cfr. Pio XII, Aloc. Sous Ia maternelle protection, 9 dez. 1957: AAS 50 (1958) p. 36.

130. Pio XI, Encicl. Casti Connubii, 31 dez. 1930: AAS 22 (1930) p. 548 s. S. João

Crisóstomo, In Ephes. Hom. 20, 2: PG 62, 136 ss.

131. Cfr. S. Agostinho, Enchir. 121, 32: PL 40, 288. S. Tomás, Summa Theol. II-II, q. 184, a.

1. Pio XII, Exort. Apost. Menti nostrae, 23 set. 1950: AAS 42 (1950) p. 660.

132. Acerca dos conselhos em geral, cfr. Orígenes, Comm. Rom. X, 14: PG 14, 1275 B. S.Agostinho De S. Virginitate, 15, 15: PL 40, 403. S. Tomás, Summa Theol. I-II, q. 100, a. 2 C.

(no fim); I-II, q. 44, a. 4, ad 3.

133. Acerca da superioridade da sagrada virgindade, cfr. Tertuliano, Exhort. Cast. 10: PL 2, 925

C. S. Cipriano, Hab. Virg. 3 e 22: PL 4, 433 B e 461 A s. S. Atanásio, De Virg.: PG 28, 252, ss.S. João Crisóstomo, De Virg.: PG 48, 533 ss.

134. Sobre a pobreza espiritual, cfr. Mt. 5,3 e 19-21; Mc. 10,21; Lc. 18,22; sobre a obediência,

aduz o exemplo de Cristo Jo. 4,34 e 6,38; Fil. 2, 8-10; Hebr. 10, 5-7. Os Padres e fundadores de

Ordens abundam em referências.

135. Acerca da prática efectiva dos conselhos, que não se impõe a todos, cfr. S. João Crisóstomo,In Matth. Hom. 7, 7: PG 57, 81 s. S. Ambrósio, De Viduis, 4, 23: PL 16, 241 s.

136. Cfr. Rosweydus, Vitae Patrum, Anvers, 1628, Apophtegmata Patrum: PG 65. Paladius,

Historia Lausiaca: PG 34, 995 ss.: ed. Butler, Cambridge 1898 (1904). Pio XI, Const. Apost.

Umbratilem, 8 jul. 1924: AAS 16 (1924) pp. 386-387. Pio XII, Aloc. Nous sommes heureux,11 abr. 1958:. AAS 50 (1958) p. 283.

137. Cfr. Paulo VI, Aloc. Magno gaudio, 23 maio 1964: AAS 56 (1964), p. 566.

138. Cfr. Cod. Iur. Can., e. 487 e 488, 4.°; Pio XII, Aloc. Annus sacer, 8 dez. 1950: AAS 43

(1951) p. 27 s.; Pio XII, Const. Apost. Provida Mater, 2. fev. 1947: AAS 39 (1947) p. 120 ss.

139. Cfr. Paulo VI, 1. c., p. 567.

140. Cfr. S. Tomás, Summa Theol. II-II, q, 184, a. 3 e q. 188, a. 2. S. Boaventura, Opusc. XI,

Apologia Pauperum, e. 3, 3: ed. Opera, Quaracchi, 1898, t. 8, p. 245 a.

Page 49: Constituição dogmática lumen gentium   a igreja

141. Cfr. Cone. Vat. I, Esquema De Ecclesia Christi, cap. XV, e Adnot. 48: Mansi 51, 549 s. e

619 s. - Leão XIII, Carta Au milieu des consolations, 23 dez. 1900: ASS 33 (1900-01) p. 361.Pio XII, Const. Apost. Provida Mater, l. c., p. 114 s.

142. Cfr. Leão XIII, Const. Romanos Pontifices, 8 maio 1881: ASS 13 (1880-81) p. 483. PioXII, Aloc. Annus sacer, 8 dez. 1950: AAS 43 (1951) p. 28 s.

143. Cfr. Pio XII, Aloc. Annus sacer, 1. c., p, 28. Pio XII, Const. Apost. Sedes Sapientiae, 31

maio 1956: AAS 48 (1956) p. 355. Paulo VI, Aloc. Magno gaudio, 23 maio 1964: AAS 56(1964), p. 570-571.

144. Cfr. Pio XII, Encícl. Mystici Corporis, 29 jun. 1943: AAS 35 (1943) p. 214 s.

145. Cfr. Pio XII, Aloc. Annus sacer, 1. c., p. 30. Aloc. Sous Ia maternelle protection, 9 dez.1957: AAS 50 (1958) p. 39 s.

146. Conc. Florentino, Decretum pro Graecis: Denz. 693 (1305).

147. Além de documentos mais antigos contra qualquer forma de evocação dos espíritos a partir

de Alexandre IV (27 set. 1258), efr. Carta do Santo Oficio, De magnetismi abusu, 4 ago. 1856:

ASS (1865) pp. 177-178; Denz. 1653-1654 (2823-2825); resposta do Santo Ofício, 24 abr.1917: AAS 9 (1917) p. 268; Denz. 2182 (3642).

148. Veja-se a exposição sintética desta doutrina paulina em: Pio XII Encícl. Mystici Corporis:

AAS 35 (1943) p. 200, etc., etc.

149. Cfr. S. Agostinho, Enar. in Ps. 85, 24: PL 37, 1099. S. Jerónimo, Liber contra

Vigilantium, 6: PL 23, 344. S. Tomás, In 4m Sent., d. 45, q. 3, a. 2. S. Boaventura, In 4m Sent.,d. 45, a. 3 q. 2; etc.

150. Cfr. Pio XII, Encícl. Mystici Corporis: AAS 35 (1943) p. 245.

151. Cfr. muitas inscrições nas catacumbas romanas.

152. Cfr. Gelásio I, Decretal De libris recipendis, 3: PL 59, 160, Denz. 165 (353).

153. Cfr. S. Método, Symposion, VII, 3: GCS (Bonwetsch), 74.

154. Cfr. Bento XV, Decretum approbationis virtutum in Causa beatificationis ecanonizationis Servi Dei Ioannis Nepomuceni Neumann: AAS 14 (1922) p. 23; Várias

alocuções de Pio XI sobre os Santos: Inviti All'eroismo, em Discorsi e Radiomessaggi t. I-III,

Roma, 1941-1942, passim; Pio XII, Discorsi e Radiomessaggi, t. 10, 1949, pp. 37-43.

155. Cfr. Pio XII, Encícl. Mediator Dei: AAS 39 (1947) p. 581.

156. Cfr. Hebr. 13,7; Eccli. 44-50; Hebd. 11, 3-40. Cfr. também Pio XII, Encícl. Mediator Dei:AAS 39 (1947) pp. 582-583.

157. Cfr. Conc. Vaticino I, Const. De fide catholica, cap. 3: Denz. 1794 (3013).

158. Cfr. Pio XII, Encícl. Mystici Corporis: AAS 35 (1943) p. 216.

Page 50: Constituição dogmática lumen gentium   a igreja

159. "Quanto à gratidão para com os próprios Santos, cfr. E. Diehl, Inscriptiones latinae

christianae veteres, I, Berlim, 1925, nn. 2008, 2382, etc. etc.

160. Conc. Tridentino, Decr. De invocatione... Sanctorum: Denz. 984 (1821).

161. Breviarium Romanum, Invitatorium in festo Sanctorum Omnium.

162. Cfr. v. g. 2 Tess. 1,10.

163. Conc. Vaticano II, Const. De Sacra Liturgia, Sacrosanctum Concilium, cap. 5, n. 104: AAS

56 (1964) p. 125-126.

164. Cfr. Missale Romanum, cânon da missa.

165. Conc. Niceno II, Act. VII: Denz. 302 (600).

166. Conc. Florentino, Decretum pro Graecis: Denz. 693 (1304).

167. Conc. Tridentino, Decr. De invocatione, veneratione et reliquiis Sanctorum et sacris

imaginibus: Denz. 983 (1820); Decretum de iustificatione, can. 30: Denz. 840 (1580).

168. Missale Romanum, Prefácio dos Santos concedido a algumas dioceses de França.

169. Cfr. S. Pedro Canisio, Catechismus Maior seu Summa Doctrinae christianae, cap. III (ed.crit. F. Streicher) parte I, pp. 15-16, n. 44 e pp. 100-101, n. 49.

170. Cfr. Conc. Vaticano II, Const. De Sacra Liturgia, Sacrosanctum Concilium, cap. 1, n. 8:AAS 56 (1964), p. 401.

171. Símbolo Constantinopolitano: Mansi 3, 566. Cfr. Conc. Efesino, 1b. 4, 1130 (íb. 2, 665 e 4,

1071); Conc. Calcedonense, ib. 7, 111-116; Conc. Constantinopolitano II, ib. 9, 375-396 MissaleRomanum, Credo.

172. Missale Romanum, cânon.

173. S. Agostinho, De S. Virginitate, 6: PL 40, 399.

174.. Cfr. Paulo VI, Alocução no Concílio, no dia 4 dez. 1963: AAS 56 (1964) p. 37.

175. Cfr. S. Germano Const., Hom in Annunt. Deiparae: PG 98, 328 A; In Dorm. 2: col. 357.-Anastácio Antioq., Serm. 2 de Annunt., 2: PG 89, 1377 AB; Serm. 3, 2: col. 1388: C. - S. André

Cret., Can. in B. V. Nat. 4: PG 97, 1321 B. In B. V. Nat., 1: col. 812 A. Hom. in dorm. 1: col.

1086 C. - S. Sofrónio, Or. 2 in Annunt., 18: PG' 87 (3), 3237 BD.

176. S. Ireneu, Adv. Haer. III, 22, 4: PG 7, 959 A; Harvey, 2, 123.

177. S. Ireneu, ib.; Harvey, 2, 124.

178. S. Epináfio, Haer. 78, 18: PG 42, 728 CD - 729 AB.

179. S. Jerónimo, Epist. 22, 21: PL, 22, 408. Cfr. S. Agostinho, Serm. 51, 2, 3: PL 38, 335;

Serm. 232, 2: col. 1108. -S. Cirilo de Jerusalém, Catech. 12, 15: PG 33, 741 AB. - S. JoãoCrisóstomo, In Ps. 44, 7: PG 55, 193. - S. João Damasceno, Hom. 2 in dorm. B. M. V., 3: PG

Page 51: Constituição dogmática lumen gentium   a igreja

96, 728.

180. Cfr. Conc. Lateranense em 649, can. 3: Mansi 10, 1151. S. Leão M., Epist. ad. Flav.: PL

54, 759. - Conc. Calcedonense: Mansi 7, 462. - S. Ambrósio, De instit. virg.: PL 16, 320.

181. Cfr. Pio XII, Encícl. Mystici Corporis, 29 jun. 1943: AAS 35 (1943) pp. 247-248.

182. Cfr. Pio IX, Bula Ineffabilis, 8 dez. 1854: Acta Pii IX, 1, I. p. 616, Denz. 1641 (2803).

183. Cfr. Pio XII, Const. Apost. Munificentissimus, 1 nov. 1950: AAS 42 (1950); Denz. 2333(3903). Cfr. S. João Damasceno, Enc. in dorm. Dei genetricis, Hom. 2 e 3: PG 96, 721-761,

sobretudo col. 728 B. -S. Germano Constantinop., In S. Dei gen. dorm. Serm. 1: PG 98 (6) ;

340-348; Serm. 3: cola 361. -S. Modesto de Jerus. In dorm. SS. Deiparae: PG 86 (2), 3277-3312.

184. Cfr. Pio XII, Encicl. Ad coeli Reginam, 11 out. 1954: AAS 46 (1954), pp. 633-636; Denz.

Denz. 3913 ss. S. André Cret., Hom. 3 in dorm. SS. Deiparae: PG 97, 1089-1109. -S. João

Damasceno, De lide orth., IV, 14: PG 94, 1153-1161.

185. Cfr. Kleugten, texto reformado De mysterio Verbi incarnati, cap. IV: Mansi 53, 290. Cfr.S. André Cret., In nat. Mariae serm. 4: PG 97, 865 A. S. Germano de Constantin., In ann.

Deiparae: PG 98, 321 BC; In dorm, Deiparae, III: col. 361 D.-S. João Damasceno, In dorm. B.V. Mariae, Hom. 1, 8: PG 96, 712 BC-713 A.

186. Cfr. Leão XIII, Encícl. Adiutricem populi, 5 set. 1895: ASS 15 (1896-96) p. 303. -S. Pio XEnciel. Ad diem illum, 2 fev. 1904: Acta, 1, p. 154; Denz. 1978 a (3370). - Piq XI, Encícl.

Miserentissimus, 8 maio 1928: AAS 20 (1928) p. 178. Pio XII, Radiomensagem 13 maio 1946:AAS 38 (1946) p. 266.

187. S. Ambrósio, Epist. 63: PL 16, 1218.

188. S. Ambrósio, Expos. U. II, 7: PL 15, 1555.

189. Cfr. Ps. - Pedro Dam., Serm. 63: PL 144, 861 AB.-Godofredo de S. Victor. In nat. B. M.,Ms. Paris, Mazarine, 1002, fol. 109 r. - Gerhohus Reich, De gloria et honore Filii hominis, 10:

PL 194, 1105 AB.

190. S. Ambrósio, Expos. Lc. II, 7 e X, 24-25: PL 15, 1555 e 1810. S. Agostinho, In Io. Tr. 13,

12: PL 35, 1499. Cfr. Serm. 191, 2, 3: PL 38, 1010; etc. Cfr. também Ven. Beda, In Lc. Expos.I, cap. 2: PL 92, 330. - Isaac de Stella, Serm. 31: PL 194, 1863 A.

191. Cfr. Breviarium Romanum, anta «Sub tuum praesidium», das primeiras Vésperas do Oficio

menor de Nossa Senhora.

192. Cfr. Conc. Niceno II, em 787: Mansi 13, 378-379: Denz. 302 (600-601) ; Conc. Trident.,

sess. 25: Mansi 33, 171-172.

193. Cfr. Pio XII, Radiomensagem, 24, out. 1954: AAS 46 (1954) p. 679. Encícl. Ad coeliReginam, 11 out. 1954: AAS 46 (1954) p. 637.

194. Cfr. Pio XI, Encícl. Ecclesiam Dei, 12 nov. 1923: AAS 15 (1923) p. 581. - Pio XII, Encícl.

Fulgens corona, 8 set. 1953: AAS 45 (1953) pp. 590-591.

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