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    .. .. •

    g

    C o n s t r u ç ã o S o c i a l

    d o C u r r í c u l o

    F . G O O D S O N

    R F . G OO D S O N é P ro fe ss or n a U niv er si da de d e W e stern Ontar io (C an adá) , para

    ~ de m anter um a co la bo ra çã o d oc en te reg ul ar com vá rias univ er sid ade s

    r íc an as e e ur op eia s. A utor de renom e mund ial , tem publica do tex tos de

    rên cia no dom ín io da h istó ria d o c urr ícul o , das po líticas edu cativa s, do s

    .u rso s d e v ida d os p ro fessores e das m etodo log ias qu alit a tiva s. D ent re as s ua s

     

    m ai s c onhecidas, a lg um as das qua is e sc ritas ou co ord en ad as em co -aut o ria ,

    acam -se :

    S ch oo l S ub jec ts a nd C urricu lum C h an ge

     983),

    Dejin ing the

    r ic ul um : H i st or ie s a n d E tb n og ra p hi es  984), Socia l Histo ries o f the

    - n da r y C u r ri c ul u m : S u b je c ts

    for

    S tud y

     985),

    Inter na tional P erspectioe s in

    iiculum

    History

     987),

    T he M akin g of Curriculum

     988), Biog rapby 

    itity

     

    S c h oo l in g : B p is o d es i n E d u ca t io n al Resear ch

     991),

    Co m pu ters ,

    s r oo m s , a n d C u l tu r e :S t ud i es i n th e U s e o f C o m p u te rs

    for

    C lassroom L earning

    11),StudyingT eacb ers  Li v es

     992),

    H is to r y, C o ntex t, a nd Q uali ta ti ve M etho ds

    IJ e S tu dy o f E du cation

     992),

    S c h oo l in g an d C ur ricu lum : St ud ie s i n So cial

    struct ion  994) e

    T e a cher s 

    Pr o fessiona l

    L i v e s 9 9 6 )

    es ent e li v ro c o ns titu i um a sele cç ão o ri gin a l, fe ita pe lo pr óp rio autor , de al g uns

    se us te xto s m ais re presen ta tivos. Com base nu m a abord ag em hi stórica , Ivo r F .

    ds on a pr es en ta um a v is ão p es soa l s ob re os deb ates cur riculares a o lo n go do

    10 X X . O rg an iza da em s ei s c ap ítu los , es ta ob ra avança refl e xõe s m u ito i nt e-

    :nt es sobre um conju n to alargado de temát icas : O) A hi stór ia so c ia l das di sci -

    IS escolares; ( 2) D is cip linas esco lares: p ad rões de es tabilid ade; (3 ) Di sc ipl inas

    lare s: p ad rõ es d e m udan ça; ( 4) H istória de um a di sc iplin a esco l ar : a s C iências;

    ) co n tex to das invenções cul tura is : aprend izag em e c urrícul o ; (6 ) Sob re a f orm a

    cul ar : no tas re la ti va s a um a te ori a do c ur rícul o . E sp era-se qu e es te liv ro permi ta

    :on tac to m a is e strei to do p úb lic o portug uês, nomeadam ente dos professo res e

    es tant e s p ro f is si onais da edu cação , co m área s d e tra balh o e de p esqu isa qu e se

    .e lev ado m uito es t imulantes .

    o apo iada pe lo M ini stério da E du cação/ Instituto de In ovação B ducacional, n o q ua dro

    nema de in ce n t ivos à qu alid ade da edu cação .

    rf\mln  ]llP C,..•. ;•.......  ...•..•.,..-. ........._~__

     :

    ~

      ;

    I V O R F G O O D S O N

      C o n s t ru ç ã o S o c i a l

    d o C u r r í c u l o

    1

      J

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    ~

    E D U C A . CURRíCULO

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    Biblioteca Nacional - Catalogação na Publicação

    Goo ds on   Ivo r F  

    A Construção Social do Currículo.

    - (Educa. Currículo: 3)

    ISBN 972-8036-17·5

    CDU 371.2

    EDUCA

    Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação

    Universidade de Lisboa

    Alameda da Universidade

    1600 Lisboa

    Te  . 793 4554

    Fax. 793 34 08

    A Construção Social do Currículo

    ©

    Educa e autor, 1997

    Tradução de Maria João Carvalho

    Capa e a rr anjo gráfico de Rogério Peringa

    Cole cç ão Educa , Currículo

    Janeiro de 1997

    Impressão: IAG - Artes Gráfica s, Lda.

    Depósito legal:

    105012/96

    ISBN: 972-8036·17·5

    suMÁRIo

    Nota d e A p r es e ntação .

    I/ '-AHis t ór ia S o cia l das D isc ip lin as E scolares .

    .( .D isci p lin as E sc o la res : P ad rõ es de E stabilid ad e .

    ,vD i sci pl in a s E s co la res : P ad rõ es de Mudan ça .

    ~H ' ,. d D  li E 1 A C ·

     

    ist o n a e um a ISC lpm a sco a r: s ienc ias .

    o

    C ont ex to d as In v enções C ul turai s :

    A pre ndi zag em e Cur r ícu lo .

    1

    S ob re a F o rma C urr icul a r:

    N otas R elat iv as a um a Teo ri a d o Cur r ícul o .

    R e fe rênc ia s B ib lio g ráfi ca s .

    9

     

    27

    43

    53

    7 9

    95

    107

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    N O T A D E A P R E S E N T A Ç Ã O

    .U ma hi stó ria do cur ríc ul o não dev e ria est ar c en tr ad a n u ma preocup ação epi ste m oló-

    g ic a c om a ve rd ade ou va l idade d o c o n he c im e n to . Também não dev eri a tom ar como

    eixo de análi s e a s pr eocup aç ões peda góg i c as actuais (nem as passada s ), a s sim co mo

    nã o dev eri a se r ce lebra tó ri a ou ev olucionista. T am b ém dev e ria tent ar fu g ir da or ient a-

    çã o da hi stor iogr afi a tr ad i ci o na l cen tr ad a n as id e ias do s gr and es edu ca dores e pedag o-

    g o s . Uma hi stó ria do curríc ulo tem q ue s er u ma hi stó ri a soc ial do cur rícul o , cen trada

    nu m a epi stemolog ia socia l d o con h e ci m en t o e s co l ar, preo cup ada co m os determin an-

    te s s o ci ais e po líti cos do conhe c imento educ a c iona lmente or g ani zad o. Um a his tória do

    curríc ul o, enfim , não pode deix ar de t en ta r d e sc o br ir q uais con hec im ent os , va lo res e

    habilidades eram co nsi derados como verdadei ros e leg ítim os nu m a determ in ada

    époc a, assim co mo não pode deixa r d e te nt ar d ete r min ar de que form a e ss a v alid ade e

    leg itim idade fo ram es tabe lecí da ss.

    A s p a la vra s an te ri o res - esc rit as p or T om az Tad eu da S il va '  na ap resen-

    tação d a ed ição bras il eir a do li v ro de Ivor G oodso n , C urrícu lo: T e oria e

    Hi stória - tra du ze m bem o se ntid o da s abordag ens pro po stas po r es te aut o r.

    N a v erd ad e, cont inuan do a s eg ui r a lin ha d e refl ex ão de To m az Tad eu da S il v a,

    é

    possíve l id en tifi ca r alg un s pont os esse n ci ai s n a an áli se hi stór ica do currícu -

    lo , ta l co m o ela se te m o rg ani za do no s ú lt im o s a nos .

    E m p rim e iro lu g a r,

    é

    im port ant e qu e a hi s tó ria do cu rr íc ul o nos a ju de a

    ve r o co nhec im ent o esco la r com o um artefacto socia l e hi stó ri co su je it o a

    m ud anças e flutu a çõ es , e não com o um a real idade fi x a e a t empo ral. P or ou tro

     J) Cf . SIL VA ,To m a z T ad eu (1996) . Id en tid a d es ter mi nais - As tr ansfo rm a çõe s na p o lític a d a p ed ag og ia e

    n a p e d ag og ia d a p o lítica .

    Pe trópo li s :

    Vozes ,

    pp .

    77-82.

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    IV OR F. GOODSON

    que ag em no sen tid o de evo lu ções e a da pt aç õe s c onstantes . O jo g o

    en tr e as fo r ças

    pró-estabi lidade

    e

    pró -mudança

    co n sag ra p ad rõ es e

    m odelos que au to r iza m no va s c om pr ee nsões d a au sê n c ia /prese nça de

    cer tas d isc ipl ina s e sco la re s no currícu lo do s ensin o s bá sic o e s ecund á-

    r io .

    • O qu a rt o ca p ítu lo ,

    H is tó ria d e u ma di sc ipl in a e sc ola r : a s C i ên c ia s,

    il u s-

    tr a , a tr a vé s d a e vo lu çã o do en sin o cient ífi c o, a lg um as d as id e ia s e ref le-

    x õe s expo sta s ant e ri o rm en te . A rg um en ta -se , no essen c ia l, q ue a h is tór ia

    d as d isc iplin a s e sc ola res deve ser cont ada co m o a h istór ia d as fo rça s

    so cia is q ue as tr o ux eram para o curr ícu lo . A ss im , n a pa rte in icia l d o

    ca pí tulo , Ivo r G oo dson an a li sa a m ud an ça de p ad rõ es do en sin o, qu e

    pas sou d e um a perspect iv a cen tr ad a n a ciência das co is a s c o m un s (m ai s

    út i l e pe rtin en te pa ra a educação das c lasses tra ba lh ado ras ) pa ra um a

    lóg i ca baseada num a

    ciê ncia lab orat orial pura

    (m ai s ad eq uad a

    à

    fo r-

    m aç ão d as e lit e s s oc ia is) . O au to r re lac ion a es ta m udan ça com tensõ es

    e co nf l i to s p o líti co s , m as tam bé m com a pr óp ri a evo lu ção c ien tífi ca aca -

    dém ic a e uni vers it á ria , m o stra nd o de qu e fo rm a o cur ríc u lo do ensin o

    se cund á ri o é, em g rand e m edid a , d etermin ado po r estas fo rç as e xter io -

    res». A part e fin al do ca p ít u lo é d ed icad a ao e n sin o da B io log i a, qu e

    ap enas se im pôs em p leno sécul o X X , sur g in do a ref lex ão apo iada,

    essen c ialm en te, n o s c as os d a G rã-B re tanh a e dos E stad os U nidos d a

    A m éri ca . I v or G ood son rev e la a e x is tênc ia de duas t radições p rincip a is

    - um a de ca r iz u tilit á ri o e out ra m a is pr eo cupad a com o s a spec tos ac a -

    dé m ico s -, co nc luindo que a con sol idação cu rr icu la r da d isc i pl in a d e

    C iê nc ias fo i co n se g ui d a a travé s da sua p rom oção com o c iên c ia ex ac ta,

    ex pe r imenta l e r ig oro sa . P elo ca m i nho pe rd eu-se, no en ta n to , um a v isã o

    m ais g lo ba l da B io log ia , in te g rad a no vasto cam po disc iplin ar d as

    C iênc ias .

    • O quin to ca p ít u lo , O

    co nte xto d as i no va çõ es c ur ricul a r es : a p re n dizag em

    e c ur rícu lo, debruça -se so bre a o rg an ização do ensin o por t u rmas» e

    so b re o p rocesso h is tór ico de desenvo lv im ent o d a e sc ola d e m as sas».

    N um e nou t ro c as o, re fe re -se a int e rve n ção de fo rç as s oc ia is, p o lítica s ,

    económ ica s e re li g i os a s q u e fo ra m d and o corp o ao s m ode lo s actu ai s d e

    ens in o e d e acção pedagóg i ca . Iv or G oo dso n abo rd a , em esp ec ia l, o

    pa pe l d esempe nh ado pe lo E sta do , na tra nsição do séc ul o X IX para o

    sé cul o X X , n a im pos içã o de um a de te rminad a v isã o d a e sc ola , em sin -

    ton ia com o s pro jec to s d e con so li dação das n aç õ es. N este se n tid o,

    de tém -se na an ális e da p edagog ia, do curríc u lo e da ava li a çã o enquan-

    N O T A D E A P RE SE N TA ÇÃ O 13

    to en tra da trip la q ue p erm it e c om p re end e r o pap el d es em pe nh ad o pe lo

    Es tado na aren a da educ ação . A o ident i f ic ar o s m e cani sm os d e d if e ren-

    ciação do en sin o , nom ead am ent e en tre as «v ias c lás s ic as » ( académicas )

    e as v ias vocac ion ais- (pr of iss iona li zan tes ) , Iv or G oo dso n su bl inha a

    var ied ad e de ob jec ti vo s qu e se en co n tram po r d etr á s da re tó rica da

     escola d e m a ss as» e do ensin o púb li co » . A co n c lu sã o do c ap ítu lo apon -

    ta p ara a neces sid ad e d e ab ri r a

    ca ixa ne gr a

    do curr ícul o de fo rm a a

    qu e se ja p ossíve l ca p ta r a co m p lex id ade e a s im p li cações po lít ic as in e -

    rentes

    à

    organ ização do en si no .

    • O sex to ca p ítu lo , So bre a fo rm a cu rricu lar : n ot as r elat ivas a um a teoria

    d o cu rrícu lo , ensaia a lg um as re fle xõ es c on c lu siv as , a p ar tir de um a

    re elabo ração d as id e ia s apr es en tad as ant er io rmen te. Ivo r Good s on insis-

    te na p e rspec tiv a do curr ícu lo com o um a «co n str uç ã o s o ci al», interro-

    g ando-- se sob re a raz ão qu e nos leva , fr eq u en tem en te , a tr atá-Io com o

    um da do atempo ral-. A tr a v és d e um a re fer ên c ia a tra ba lho s de so ciolo-

    g ia d o conh ec im ent o , an ali s a a qu es tão d as relações in te rn as do curr ícul o ,

    is to é , da fo rm a c urricular . Te nd o co m o arg um ent o cen tral a f ra se e sco -

    lh id a pa ra su btítu lo ,

    A ca beça m ais do q u e a s m ãos,

    exp li ca um co njun -

    to d e po lític as e de p rá ti c as d e d es envo lv im ent o curr icula r q ue ti ver am

    lu g ar em In g la te rra e que co nduz ira m a um a di fe renc iação ex ter na , e

    m ai s ta rd e interna, das v ias d e ensi no . N um a sí n te se fi n al, p ropõe um a

    fig ura com q u atr o ent rad as ' q ue de fin em dis tin ta s com b in a çõ es curr icu-

    la re s . A con clu sã o do cap ítu lo r ef er e q ue a for m a académ ica do curr í -

    cu lo (c, a ca b eç a m a is do que as mãos-) f oi h is tor icam en te favor ecid a,

    p rim eiro d e m o do expl íci to e , p os te r iorm en te, a tr avés d a in ter na li zaçã o

    d e um a d if eren c iação que en cobr iu e fi caz m en te os pr oces sos d e re p ro -

    d uç ão so cia l at ravés d a e sc ola . A s ú ltim as p a lav ras di r ig em- se

    à

    n ec es-

    si dad e de e xa min a r o cur ríc u lo p or d entro , co n tri bu i ndo as sim par a um a

    m elh o r com pree n sã o do proces so in te rn o d e estabi l idade e d e mudan -

    ça curr icu lares .

    O co nce it o de curr ícu lo é m ui to r ec en te n a cu ltu ra ed u cacio n a l p ort u -

    g u es a . A pes a r d e ter s id o utiliz ado a nt es do s anos o iten ta , é p or es ta a ltu ra qu e

    s e v u lg a r iza, n om e ad amen te na se quênc i a d a ch am ada re fo rm a

    curricular-.

    H á

    du a s r az õ es pr inc ip a is q ue ex p lic am a tr ad uçã o d es te te rm o para a rea lid ad e

    po rt ug ues a : a pr im eira p re nd e -se com a im port ânc ia cre scen te d o un iv e rso

    an g lo -s axóni co n a de f iniçã o dos m odo s de pensa r, d as c ateg ori as de an á li se e

    das lin g u ag en s a u tili z ar n o con texto da educ ação e d a s c iên cias da edu cação ;

    a se g un da relacio na -s e c om confl i to s e lu tas de pod er no in teri o r da co mun i -

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    IVO R F. GO ODS ON

    d ad e e du ca cio na l e c ientífica , n o se n tid o d e in st au rar (leg itimar) ce rt as cor-

    ren te s e t en d ência s de in ve sti g ação e d e a cç ão p edagóg i ca .

    A fo rm a co mo a ex pr essão cu rr ículo

    é

    mobi l izad a, desco nt ex t ua li za d a d a

    su a p róp r ia h is tó ri a e n quant o co ncei to educac i ona l, rev ela bem as ambi gu i da -

    des q u e e st ão s u bj ac e nt es

    à

    sua impor t açã o p ara P ortug a l: por ve zes, p rocu ra -

    se ab ran ger c om e sta d esig n ação o co nju nto d os p ro blem as do ensino e da

    ped ag o g ia ( u ti li za ção corrent e junto d e c erto s c í rculos nort e -amer i canos );

    out ras vezes, p a re c e q u e o con c e it o s e rv e , s o b re t udo , p ara sub stituir a id eia d e

    di d áct ica ou , p elo m enos , d e d id ác ti ca g e r a l ( u t il i z açã o pr óx im a d as t radições

    ge rrn âni cas) ;

    f inalmente , ve rifica -se , aqu i e a li, q ue o te rm o

    é

    empre g ue em

    vez d e m eto do lo gia e /ou de m et od o lo g ia g e ral (utiliza çã o m ais fr equen t e n o

    espaç o f ra n có f on o ). O im p o rtant e é r ec o nh e ce r q u e a mobi l ização de ste co n-

    ce ito n ão é in oce nte e q ue ele tend e a le g i tima r c e r to s g r u po s e tend ência s em

    de sfav o r d e o utro s. N este se nt ido , ele d ev e s er v is to co m o part e dos jo g os d e

    in te res s es q ue d ef in em o tra ba lh o acad ém ico e os pro cessos de legi t imação

    das d i ve r sa s cor r en te s ci entíficas .

    A e st e p ro p ó si to , é po ss ív e l a li nh ar u m a r ef lex ão id ên ti ca

    à

    que é suge r i-

    da p or Y ve s B ertra nd e [ean H ou ss aye so bre o s concei to s d e didáctica e de

    pedagogia , n a q ua l e xp li cam que esta q uerela não é m ais do que um a no va

    form a d a l ut a

    -cl ássica-

    ent re sa be res d isc ip linares (legitim ado s, a gora, p o r v ia

    da didáctica) e s ab e re s pedag ógicos:

    «N o d o n ú ni o d a p ed ag ogi a e da didáct ica, a p o lé m ic a d as pa lav ras e a def e sa d o s t er r i-

    tórios inst i tuc ionais , m uito e m esp ec ia l n o c am p o d a f o r maçã o d e p r of ess ores, e st ão n a

    o rd em d o d ia e m F ranç a. ( ... )T ra d ic ionalmente, o s d e fe nsor es do s s abe res r e cu s ar am as

    q u e st õ es d i ta s p e d agógicas, t en d o r ed u zi do a f or m ação d e p ro fesso res unicamente

    à

    d im e ns ão d o s sa b er e s d i scipl inares. ( ...) M as, h o je d ia , re cor re- se ao s espe c i al i st a s em

    didáctica , subl inhando , n o e n ta n to , qu e se tr at a d e a l go n ovo e di ferent e da peda gog i a.

    ( .. .) É

    uma f a ls a d i cotomia , po is did áctica e pedagog ia sã o um a e a m esm a c o is a, desig-

    nam a m esm a r e al id a de?' .

    H oje e m d ia , o co nce it o de cu rr ículo impôs-se no léx ico das C iên c ia s d a

    Ed ucação e é d ifíc il es crev e r so br e qu es tões pe dagóg ic as sem o utiliza r p or

    um a ou por o utra ra zão . M as é impor tan te qu e o faça m os co m um a consciê n-

    cia c r ít ic a e h i st ó ri ca . O liv ro de Iv or G oodson pode a ju da r- nos a m e lh o r co m-

    pr een de r o s d es afio s do tr abalh o de const ru ç ão s o cia l d o cu rrícul o.

    (3) BERTRAN D , Yve s

     

    HO USSAYE,jea n (19 9 5 ) . • Di dac tique et Pédagog ie: l'i llu sion de Ia ditférence-.  es

    Sc ien ce s de l Éd u ca tion - P o u r l E re N ou ve ll e, 1 /199 5 , pp . 7 -2 3.

    N O TA D E A PR ES EN TA Ç Ã O

      5

    Em Portugal , tem hav id o um a re novaçã o im p ortan te do s estu dos his tór i-

    cos em ed ucação . N o e n tant o, ra ras têm sido as inves ti g ações qu e incidem

    di rec tam en te so br e as q ues tõe s do curr ícul o . A e sc ola se m pr e fo i v is ta com o

    um lugar de cultura: prim e ir o, n um a ac ep çã o id ealiz ad a de tr ansm issão de

    conhec im en tos e de v alo res di tos «universais» ;m ais ta rd e, nu m a perspect iva

    crítica d e in cu1caçã o id eol óg ica e de rep ro du çã o s ocia l. N um e nou tr o c as o,

    ig no rou- se o t ra ba lh o in te rn o de p rodu çã o de um a

    cultura escolar,

    que não é

    in depend en te das lutas e dos conf l i tos sociais , m as que tem es p ec i f icidades

    p rópr ias qu e n ão p o de m ,s e r o lh a das a pe na s p elo p rism a d as so br edetermina-

    ções

    do m u n d o e x te ri or. E n es te pl an o q ue o s e stu dos so bre o curr ícul o adqu i-

    rem toda a su a d im ensã o , o qu e obr ig a a adop ta r pe rspectiv as te ó ric as e

    m e todo ló g ica s qu e n ão têm sid o sis tema t ic amen te u t iliz adas pela comunidade

    his tó ric o -edu c a ci o n al p o r tu g uesa.

    A rea liza ção d e estu dos h is tó ri cos sobre o cur rí cu lo o u sobr e as d is c ipli-

    n as esc o la re s, t a l c om o têm sid o d es en vo lv id os n os E stado s U nido s d a A m érica

    por H e rb er t K lie ba rd '? e em F ran ça pe la e qu ipa de P ierr e C as p ar d ' , pode

    co n stitu ir u m p asso dec is ivo pa ra a r e nov a ç ã o h i st o ri og ráfi ca n o n os so p aís .

    N est e sent ido , é p reciso desconstru ir a p arte d o ensin o q ue m ais aparece

    envo l ta n um a id eo lo gia d e «na turalid ade » (e /ou d e in ev itabi li dade), is to é , o

    currículo.

    N a verdade, enqu an to co nstru çã o s oc ia l, o c ur rícu lo f o i c o nc e bi do

    p ara s urg ir com o um el emento «n atural» , d e tal m odo que n ão é su je it o a o

    e sc ru tí ni o d o p en sa m en to e d a c rít ic a. O m esm o se p assa co m o

    m o d el o e sc o-

    lar

    q ue c on sa g ra o c ur ríc ul o ex is tente. Mas t r a ta - s e, nu m e n o u tr o c a so , de

    di s-

    cursos

    q ue c on stroem as no ssas po ss ib ilid ad es (e im po ss ibilid ad es) e q ue

    m arc am , sempre , a predom in ân cia de ce rt os p o n tos de v ista (e i n te r es s es )

    sobre pon to s d e v is ta (e in te re s se s) c oncorrentes .

    N a es te ir a d e T ho mas Popkew ítz  , é p re ciso reconh ec e r qu e o presente

    não é apenas a nossa expe ri ênc ia ou as n os sa s p rá tica s im ed ia tas . A n os sa

    co nsc iên ci a h i st ó rica pa ss a pelo rec onh ec im en to de que o p as sad o é p ar te d o

    no sso d iscu rs o d e to dos os di a s, e st ruturando o que pode se r d ito e as possi -

    bi lid ad es e d esaf io s d o tem po p res ente.

    É

    n e st a p e rs pec tiva que pod em ser

    lid as, ig ua lmen t e, a s q uestõe s da

    a lq uim ia c urricular,

    is to é, da tr ans fo rmação

    (4 ) C f., por ex em p lo : K U EB A R D, Her ber t (1995) . Tb e stru g g le f or l he Am er ica n cu rri cul um , 18 93 -1 9 58.

    Ne w York   L o nd on : R out ledge ,

    edi ção .

    ( 5) C f., po r ex emp lo , algu ns dos nú m eros rec ent es da rev ista Histoire d e l Édu ca tion .

    (6 ) POPKEWITZ, T h omas (19 87) . Tb e form a tion o f sc ho ol subjecis : Tb e str ugg le for creat ing a n A m erican

    in stitu tion . L o nd on : Falm er Pr ess.

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    16

    IVOR f  GOODSO N

    d e u m c on he cim e nto s itu ad o n o seu es pa ço c ientífico de referência e m c on he -

    cimento sit ua do n o e sp aço socia l da e sc ola,

    P ara a análise deste conjunto de qu es tõe s , a ob ra de Iv or G ood son é

    ess encia l. A o lon go d os últim os qu in ze anos, e le tem-se im po sto co mo u m

    aut o r de referência, em parti cu lar nos dom íni os da hi stó ri a do currícul o , da s

    polít ica s educat ivas, d os p ercur sos de v id a dos pr o fessores e das metodolog ias

    qu a l it at iv as , D e nt re a s s uas ob ras m ais co nh ec id as , al g um as das q u a is e s cr it a s

    ou c o or de n ad as em c o -a u to r ia , de s tac am -se : Sc h o ol S u bject s a n d C u r ri cu lu m

    C ha n ge

    (983),

    Definin g th e Cu rriculum : H ist ories an d E thn og r ap h ie s 1 98 4 ),

    So ci al H is tories o f the Secondary C urricul um. Subj ects fo r Stu dy 98 5 ),

    In ter n atio na l P er sp ec tiv es in C urri culum H istory

    (987),

    T he M akin g of

    Cu rriculum

    ( 1 988 ) ,

    B i ography, Id entity

     

    Sc hool i ng: E p is od es i n E d uc a ti on a l

    R es earch

    ( 9 91 ),

    C o m p u ters, C l assro o m s, a nd C ultu re: Stu dies in the U se o f

    C o m pu te rs f or C la ss ro o m L e ar ni ng

    ( 9 91 ),

    S tu d ying T ea ch ers   L iv es 1 9 92 ),

    Hi s t ory, C ont ext, a n d Q u al it at ive M et hods in th e Stu dy o f E du ca ti on 9 92 ),

    S c ho o li ng a n d C u rr ic ul um : St udies in S ocia l C on structi on

    (994)

    e

    Teachers 

    P rof ess io na l L ive s 9 9 6 ).

    E s ta m o s p e ra nt e t ra balh o s académ ic os de g ran de r ele vância, c u ja l ei tu r a

    p od e a ju da r a c om p re en de r m e lh or alguns dos d il em a s e d ucat iv o s a c tu a is. O

    livro qu e ag ora se ap resen ta ao p úblico por tug uês re pr es en ta u m a p arc ela

    peq ue na d es te la bo r c ie ntí fi co . M as s e ele d eix ar a v on tad e de ir

    à

    p ro cu ra d e

    ou tr os te xto s d o a uto r, t er á s id o at ing ido o nos so p ro pós i to p r in c ip a l.

    O eir as ,

    15

    de A g os to d e

    1 9 9 6

    A n tó n io N ó v oa

    A HISTÓR IA SOC IALDAS D I SC IPL INASESCOLARES

    Estudar a s d i sc ip lin as escolares : Porqu ê?

    O cu rrícul o e sco lar é um art efac to socia ll ..concebid o pa ra reali zar deter-

    m in ad os o bje ctivo s hum anos ~cífi co s .~ , at é à da ta, na m aio r part e das

    an a li se s e ducativa s , o currícul o escrit o - m a nif es ta çã o ext rem a de co ns tru ções

    soc ia is - tem sido tr a tado co m o um dado . P or o utro lado , não pode deixa r de

    lev ant ar a lg un s probl em as o fac to d e te r s id o t ra ta do com o um dado neut ro ,

    qu e se enco n tra in teg rado nu m a situ aç ão , e ss a s im , sig nifica tiv a e com p lexa.

    N o en ta nt o , n o d ecur so do nosso pr óp rio p erc urs o escolar, t ínham os consc iên-

    c ia de g ostar de ce rt as d isc iplinas , tem áticas e li çõ es. A pr end íam os fac ilm ent e

    e de bom gr ado algum as di sc iplin as, enq uan to r eje itáv am os out ras . P o r ve zes ,

    a ex plic açã o r es id ia no pro fessor, no ho rário ou na sal a (ou m es m o em nós

    pr óp rios) , m a s frequ ent em ent e o qu e es tav a em causa e ra a fo rm a ou o co n-

    teúd o do p róp ri o cu rrícul o. A lém des tas re spo s ta s indiv id uali stas , h á tam bém

    re a cç õ es c olec ti vas em re la çã o a o cu rrí cu lo e , quando os padr ões são expl ic i-

    tado s , p e rc ebe-se que o cur ríc ul o esc ol ar e st á l on ge de se r u m fac to r ne u tro . A

    no ssa p róp ria co nstrução socia l en co ntra -s e n o c ern e do pr o cesso atr avés do

    qua l pr oc edem os

    à

    edu cação dos n o ss os f il ho s. Contudo, apes ar de ce rt os

    esforços do s so ció lo gos , em espec ia l do s sociólogos do co nh ec im ent o, pouco

    se tem fe ito para es tud ar em pr of undidad e a histó ria socia l do cur r ícul o .

    Q uand o se aceit a que o currí cul o é u m a f on te ess encia l para o e s tu do hi s-

    tó ri co , sur g em um a sé ri e de novos problemas , po is «o cur rícul o - é um co nce i-

    to ilu só ri o e mul t i fac etado . Trata-se , n um c erto sent ido , de um co nce ito

    -escorr egad ío- ,

    na m edi da em qu e se define , red efin e e negoceia nu m a sé ri e

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    IVO R F. GOODSO N

    de ní vei s e de arenas , sen do m u ito difíc il ident ifi ca r os seu s p on to s c ríti cos .

    Po r o utro la do, o ca m po di fere sub s tancialm ent e em função das e s tr u tu r as e

    padr ões locais ou nacionais. É por iss o qu e se to rn a tão pr ob l em á t ic o d e te r -

    m in ar as b ases em q ue ass ent a o nosso tr abalho.

    Um a g ran de p arte dos es tu dos m ais im po rt ant es sob re o currículo , sobre

    o cu rr íc ulo c om o c onstru ção socia l, tev e lu g ar nos anos sess en ta e no in íc io

    do s ano s setenta . Tratou- se de um perío do de mud ança e de in stab il id a de e m

    todo o m undo ocident a l, p arti cul arm ent e no mund o da educação , e m g er al, e

    no m undo do curr ículo , em es pec ia l. N es sa altura , o de sab roch ar da inves ti-

    g açã o c ur ri cu la r n u ma abord ag em c rítica fo i encorajador e s intomát ico. O a pa -

    re cim en to d e u m ca m po de es tu dos sob re o currículo co m o c on str uç ã o s oc ia l

    co nstit ui u u ma re alid ade nova e de g rand e sig nificado. M as es te mov im e n to

    teve tam bém o seu reverso , nom ea damen te no que se re fe re a d ois a sp ec to s

    q ue s e r ev ela m i mp or tant es à m edi da qu e com eç am os a r ed e fi ni r a n o ss a a bo r-

    d ag em d a esco la e d o currícul o.

    Em p ri m ei ro lugar, vá ri os in ve s tig adore s col oc aram -se na p ersp ectiv a d e

    q ue a edu caçã o d ev ia ser refo rm ada, -revo lu c ionada-, de que os «m a pa s d a

    a p re nd iz a ge m d ev iam se r d esen hados de no vo » . Em se g u nd o lu g ar, e s ta i n ve s -

    tiga ção o c or re u n u m p e rí odo de g rand e int en s id ade do s m o v im e n to s d e r ef or -

    m a curr icular, que p rocurava m «rev ol ucio nar os cur r ícul o s esco l a re s» . A s s im

    sendo, e ra i m pr ováv el que es tes in ve stig ado res se qu ise ss em d eb ru ça r so bre

    a s á re as d e e sta bilid ad e q ue exi s tent es no cur ríc u lo e sc o la r.

    N o s a no s s es se nta, poder -se -i a ca rac teriz ar a r ef or m a c u rr ic u la r c o m o u m a

    es pé ci e d e « to rr en te». P or t oda a par te as on das cri avam tu rb ul ên ci a e a ct iv i-

    dade , m as , na ver dade , limitaram -se a engo lir a lg um as i lhotas, e nq ua nto a s

    m as sas terrestre s m ais im po rt ant es não fo ram pr atica men te afectadas e as m on-

    tanh as (o «t er reno ele va do- ) perm anec eram co m pl etamen te intactas . Ago r a, à

    m ed ida que a m aré re cua rapi dam ent e , o terr eno el ev ado é v isto com o um a

    si lh u et a a ustera . A no ss a análi se da reform a cu r ri cu l ar d ev ia permi t i r -nos, pelo

    menos , reconhece r qu e n o m un do do curr ícu lo não há apenas « t e rr eno e l eva-

    do» , m as também «t er reno no rm al».

    N o n ov o h or iz on te des taca-se , m ais do qu e nu nca, a d i sc ip l in a e s co l ar ,

    so bre tu do a s d isciplina s «bá s icas»ou «t radi c ionais» . Po r to do o m u n do o c id e n-

    ta l há apelos, e in díc io s cla ros , para o reg resso à s « apr endizag e n s b á s ic a s» , para

    um a revaloriza çã o das «di sc iplinas tr ad ici onais» . E m Ing la terra , p o r e xe m p lo , o

    nov o C u rr íc u lo N ac ional def in e um a g am a de di sc iplinas a se re m e n si na da s

    co m o curr ículo «nu cle ar» em todas as esc ola s. E s tas di sc ip lin as tê m u m a e str a-

    nh a semelhan ça co m a li s ta das di sc iplinas do ens in o se cu n dá ri o a p ro v ad a e m

    19 04, o que m erece o seg uinte co m ent ári o do Ti m e s E d uc at io n al S u pp le m en t:

    « A pr im e ir a c o is a a d iz er so br e todo es te exerc íc io é qu e p õe e m c au sa o ite n-

    A HI S TÓ R IA S O CI AL D A S D ISC IPL IN A S E S C O LA R E S

    19

    ta anos de h istór ia ed ucacional da In g la terra (e do Paí s de G ales) . É um a situ a-

    ção em que vo ltar a tr ás sig nific a a v ançar ».

    N os p rim eir os anos do sécul o X I X f or am cri adas as p rim e ir as e sc olas

    secund ári as e stat a is. O seu cur r ículo e ra a p re s en t ado pelo Nationa l Bo ard of

    Ed ucation, sob a o rient ação m et iculos a de S ir R obert M orant :

    « o

    curso dev e forn ecer in stru çã o em L íng ua I ng les a e Li te ratu ra , pe lo m enos nu m a

    outra Lí ng ua para além do Ing lês, e m G e og r af ia , em Hi stó ri a , em Ma t em át ica , em

    Ci ênc ia s e em D ese nh o , pr es tar a d ev i da a te nçã o aos Tr ab alh os M anu ais e à Edu cação

    F í s ic a e , na s e sco las d e r a pa r igas , aos La vor es . N ão dev em se r a t ribuídas m enos do que:

    4 ,5 hora s p o r se m ana ao Ing lês , à G eografia e à Hi stória ; 3,5 ho ras à L íng ua e strange ira

    escolh ida (o u 6 hora s q u an d o f osse m escolhidas du as L íngu a s e str ange ir as ); 7, 5 horas

    à s C iências e à M atem átic a , s en do q ue d ev em se r con sag radas pelo m enos 3 horas à s

    Ciênc ias ».

    M as, a o o lh ar para o novo Curr ícul o N acional, apr ovado em 1987 , desco -

    br imo s que:

    .0 ho rário de

    8-10

    di sc iplinas , q ue o d oc um en to d e d isc ussão ap rese nt a, tem um a pr eo-

    cup ação académi ca , com o Sir R ob ert M oran t n un ca ter ia im ag in ado .   Ti m es

    Ed u ca t u m a l S u p p lem ent , 3 1 /7 /1 9 8 7 ).

    Do m es m o m odo , ao anali sa r a h is tó ria d o c urrícul o do ensin o secun dá-

    r io n os E stados U ni dos da Am éri ca , H e r be r t K l ie bard sa li ent a a im po rt ância das

    disciplin a s e sc olares « tr adi c iona is» ,ape sar das vag as de re form a curricul ar qu e

    t iv e r am lug ar em per íodos m ais ou m en os re mo to s. K liebard ca rac teri za as d is -

    ciplin a s e sc olares , no âmb i to do cu rr íc u lo d o ens in o se cun dár io no rt e- am er i-

    cano ent re 18 93 e 19 5 3 , c om o a fortalez a inex pu gnáv el (198 6 , p. 2 69 ).

    M a s , v o ltem os à conce pt uali za çã o do cu rrícul o co m o fonte de es tu do , não

    obs tante a di ficul dade da sua def iniçã o , m esm o nos tem pos actu ais qu e lh e

    conferem um a no va cent ra lid ad e, no qu adro de um reg re sso à s «apr end iz ag ens

    bás icas» . N os ano s s ess ent a e seten ta , o s es tudos crít ico s do cur ríc ul o co m o

    const ruç ão so cia l apont av am par a a sa la d e aula com o o loc al da sua negocia-

    ção e co nc re tiz ação. A sala de aul a e ra o « ce ntro da ac ção- , « a a r ena de res is -

    tência » . Se g un do es ta perspec tiv a , o c ur r ícul o

    era

    o qu e se passava na sa la de

    a ul a. A defin ição de cur r ícul o escrit o , pr é-activo - a perspect iva a partir do « ter-

    re no e lev ad o» e das m ont anh as - encont rava-se sujeita a redefinições ao n ív e l

    d a s al a de aul a , e era mui tas ve zes irrelevante.

    E s te pont o de v is ta é in su stentável no s d ias de hoje . É ve rd ade qu e o «ter-

    r en o e leva do» do curr ícu lo esc r it o e s tá su je it o a r en e goc ia ção a ní ve is in feri o -

    r e s, n om e ad ament e na sala de au la . M a s c on sid erá -I a irre lev ant e , com o nos

    anos sessent a, não faz q u a lq u e r s e nt id o. P are ce -m e q ue a ideia de qu e o «ter-

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    2

    I VO R F. GOODSON

    re no e le va do » é im po rta nte e stá a g an ha r u ma a ce ita çã o c ad a v ez m aio r. N o

    «ter reno elev ad o» o q ue é

    básico

    e

    tradicional

    é r ec o ns ti tu íd o e r ei nv e nt ad o.

    O e sta tu to , q ue a ss um im o s c om o u m dado, d o c on he cim e nto e sc ola r é , ass im,

    re in ve nta do e re afirm ad o. N ão se tra ta a pe na s d e u ma m an ob ra p olít ic a o u

    r etó ri ca , p ois e st a r ea fir ma çã o a fe cta o d is cu rs o s ob re a e du ca çã o e r ela cio na -

    -se com os p ar âm e tr os d a p rá ti ca . P enso q ue, h oje em d ia , s er ia u m a in se n-

    s at ez i gn o ra r a i m po rt ân c ia c en tr al d o c o nt ro lo e d ef in iç ã o d o c u rr íc ul o e sc ri to .

    N u m s en tid o s ig n if ic ati vo , o c urr íc ul o e sc rito é o t es te m un ho p úb lic o e v is ív el

    d a s r a ci o na.li.ç lade sesco lh id a~ retó rica Ieg i ti m a d or a d a s p r át ic a s e s co l ar~ .

    N a In gla terra e n o P aís de G ale s o c ur rí cu lo e sc ri to p ro m ulg a e s us te nt a

    d ete rm in ad as in te nç õe s b ásic as a o n ív el e du ca tiv o, n a m ed id a e m q ue sã o

    o p e ra c io n a li za d a s em e s tr u tu r as e i n st it u iç õ e s. D ito d e o utro m od o: o c urríc u-

    l o e sc rito d ef in e a s ra cio na lid ad es e a r etó ric a d a d is cip lin a, c o ns ti tu in d o o

    ú n ic o a sp e ct o t an g ív e l d e u m a p a dr on iz aç ão d e r ec u rs os ( fi na n ce ir os , a v al ia ti-

    v o s , m a t er ia is , e t c.). N e st a s im b io se , é c om o s e o c ur ríc ulo e sc rito s er vi ss e d e

    g u ia à r et ór ic a l eg it im a d or a d a s p rá ti ca s e sc o la re s, u ma v ez q ue é c on cre tiz a-

    d o a tr av és d e p ad rõ es d e a fe cta çã o d e r ec ur so s, d e a tr ib ui çã o d e e sta tu to e d e

    d is tr ib u iç ã o d e c a rr ei ra s. Em s u m a, o c u rr íc u lo e sc ri to p ro p or ci on a -n o s u m t es -

    t em u n ho , u m a f on te d o cu m e nt al, u m m ap a v ariá ve l d o te rre no : é ta mb ém u m

    d o s m e lh o re s r ot ei ro s o fi ci ai s p a ra a e st ru tu ra i ns ti tu c io n al iz a da d a e d uc aç ão .

    O q ue im po rta sa lie nta r é q ue o c ur rí cu lo e sc rit o - n om e ad am e nte o p la no

    d e e stu do s, a s o rie nta çõ es p ro g ra m átic as o u o s m a nu ai s d as d is ci pl in as - te m,

    n este c as o, u m sig nific ad o sim bó lic o m as ta mb ém u m s ig nific ad o p rá tic o.

    S im b ó li co , p o rq u e d e te rm i na d as i nt en ç õe s e d uc a ti va s s ão , d e st e m o d o, p u bl i-

    c am e n te c o m un ic a da s e l eg it im a d as . P r át ic o , p o rq u e e st as c o nv e nç õ es e sc ri ta s

    tr ad uz em -s e e m d is tr ib uiç ão d e r ec ur so s e e m b en ef íc io s d o p on to d e v is ta d a

    car re i ra .

    O e st ud o d o c ur ríc ulo e sc rit o d ev er ia p ro po rc io na r u m a s éri e d e c on he ci-

    m en to s s ob re o e nsin o. M as , é p re ciso s alie nta r q ue e ste e stu do d ev e e sta r

    r el ac io n ad o c o m i nv e st ig a çõ e s s ob re o s p ro c es so s e d uc a ti vo s, o s t ex to s e sc o-

    la re s e a h is tó ri a d a p ed ag o gia . P o rq ue a e du ca çã o é c om p os ta p ela m a tr iz a rti-

    c ula da d es te s e d e o utr os in g re die nte s v ita is . Q u an to a o e ns in o, e a o c ur rícul o

    e m p ar ti cu la r, a s q ue st õe s c en tr ais s ão Q uem fica co m o quê? e O qu e é qu e

    e le sfa ze m c om is so ?

    A d ef in iç ão d o c ur ríc ulo f az p ar te d es ta h is tó ri a. E is to n ão s ig nif ic a a fir -

    m ar u ma re la çã o d ire cta e ntre a d efin iç ão p ré -a ctiv a d o c urríc ulo e sc rito e a

    s ua r ea li za çã o i nt er ac ti va n a s al a d e a u la . S ig n if ic a, s im , a fi rm a r q u e o c u rr íc u-

    l o e sc ri to f ix a f re q ue n te m en te p a râm et ro s i m po rt an te s p a ra a p rá ti ca d a s al a d e

    a ula (n em s em pre , n em e m to da s a s o ca siõ es, n em e m to da s a s s ala s d e a ula ,

    m as frequentemente). E m p rim e ir o lu ga r, o e stu do d o c urr íc ul o e sc rito f ac il ita

    A H IS TÓ R IA S O CI AL D A S D I SC IP LI NA S E S C O LA R E S

    2

    a c om p re en sã o d o m o do c om o a s in flu ên cia s e i nt er es se s a ctiv os in te rv êm n o

    nív e l p r é- a ct iv o. E m seg undo lug ar, esta com preensão prom ove o nosso

    c o nh ec im e n to r el at iv a m en te a o s v a lo re s e o b je ct iv o s r ep re se n ta do s n a e d uc a-

    ção e ao m od o co mo a de finição p ré-a ct iv a , n ã o o b st an te a s v a ri aç õ es i nd iv i-

    d ua is e lo cais, pode fixar parâm etro s para a realiza ção e negociação

    in te ra cti va s n a s ala d e a ula e n a e sc ola .

    P e rs p ec t iv a s p a ra o e s tu d o d a s d i sc ip l in a s e s co l ar e s

    C o m o d es en vo lv im e nt o d os s is te m as e sta ta is d e e ns in o, a d is cipli na e sc o -

    lar to rn ou -se o p rin cip al p on to d e re fe rê nc ia p ara u m n úm ero c re sc en te d e

    alunos. C o m o c o ns eq u ên c ia , o t ra b al ho a ca d ém i co o rg a ni zo u-se em torno das

    d isciplinas . F o st er W a ts on , p io n ei ro n e st e c am p o, a f irm a v a q u e:

    « D ev id o a o r áp id o d es en v ol vi me nt o d e u m s is te m a d e e sc ol as s ec un d ár ia s d is tr it ai s e

    munic ipa is, e m I ng la te rr a e n o P aís d e Gales, observa-se, n o s n o ss os d ia s, um i n t ere s se

    e s pe c ia l p e lo l ug a r e f u nç ã o d a s d is c ip li n as mod e rn a s» n a s e sc o la s s e cu n d ár ia s » (190 9 ,

    p . vii).

    E sta r ac io na lid ad e a nte cip a, d e a lg um m o do, a s id eia s d os f utu ro s s oc ió -

    lo go s d o c on he cim en to n a m ed id a e m q ue:

    « Já é t em p o d e o s f ac to s h is tó ri co s r el ac io n ad o s c om a s o r ig e ns d as d is ci pl in as m o de r-

    n a s em I n g la te r ra s e rem c onhe c id o s, e s er em c on h ec id o s e m r el aç ão à h is tó ri a d as f or -

    ç a s s o ci ai s q u e a s i nt ro d u zi ram no c u rr íc u lo e d uc a ci on al» ( W at so n, 190 9, p . v i ii ).

    N os c in qu en ta a no s s eg uin te s, p ou co s in ve stig ad ore s se gu ira m F os te r

    Wa t son, p ro cu ra n do r el ac io n ar a s d is ci pl in a s e sc o la re s c om a s f or ça s s o ci ai s

    q u e a s i nt ro d uz ir am n o c u rr íc u lo e d uc a ci on a l» .

    N o e n ta n to , n os a no s se sse nta , s urg iu , p or p arte d os s oc ió lo go s e m uito

    e m e sp e ci al d o s s oc ió lo g o s d o c o nh e ci m en to , u m n ov o ím pe to fa ce à in ve sti-

    g a çã o d a s d is ci pl in a s e sc o la re s. Em 1 9 68 , F r an k M u s gr ov e e x or ta v a o s i nv e st i-

    g ad or es e du ca cio na is a e xa m in ar em a s d is cip li na s, t an to n a e sc ola c om o n o

    pa ís e m g er al , e nq ua nto c on ju nto d e s is te m as s oc ia is a lic erç ad os e m r ed es d e

    C o mu nic aç ão , re cu rs os m a te ri ais e id eo lo gia s» ( 19 6 8, p . 1 01 ). N o q ue d iz r es-

    p eito à s re de s d e c om u nic aç ão », E sla nd a fir mo u p os te rio rm e nt e q ue a in ve s-

    t ig a çã o d e ve ri a i nc id ir , e m p a rt e, n a p e rs pe c ti va d is ci pl in a r d o p ro fe ss or.

    « O c o n he ci me nt o c om q u e u m p ro fe ss or p en sa p re en ch er a s ua d is ci pl in a é d et id o

    e m c om um c om m em br os d e u m a c om u nid ad e d e a po io q ue, c o l ec t ivamente , a bordam

    o s s eu s p ar ad ig m as e c ri té ri os d e u ti li da de , a f or m a c om o s ão l eg it im a do s n o s c ur so s

  • 8/18/2019 construção Social Do Currículo

    10/19

    22

    IVOR F. GOODSON

    de f o rm a ç ão e n a s d e cl arações  oficiais  . D i r -s e- ia q u e o s p rofessores, d e v id o à n a tu r e-

    z a d i spersa da s su as comuni dade s ep i st émi ca s, sentem a incertez a c on ce pt ua l q ue v em

    d a f al ta d e o u tr o s s ig n if ic an te s q u e p o de m c on fi rm a r a p la us ib il id ad e. E s t ã o, a s s im ,

    e x tr em a m en te d ep e nd e nt es d e p u bl ic aç õe s e sp ec ia lizada s e, e m m en or g ra u, d e c on -

    ferências, q u e c on fi rm e m a s u a r e al id a de » 0 9 71 , p. 79) .

    E sla nd e D ale d esen vo lv e ra m , poster iormente , e s te i nte res se p e l os p r of es -

    so res n a s c om u n id ade s d isc iplin are s:

    «Os profe ssore s, c omo po rt a- v o ze s d a s c omuni d ad e s d i sc ip l in a re s, e s tã o e n v ol v id o s

    n uma o r g an ização el ab o r ad a d o c o n he c im e n to . A c o mu n id ad e t em u m a h is tó r ia e , atra-

    vé s d e la , u m c or po d e c o nh e ci m en to s r es pe it ad o.T em r eg r as p ar a r ec on h ec er a ss un to s

     inoportunos   ou  i legí t imos , e f or ma s d e e vit ar a c on tam in ação c og n it iv a. T er á u m a

    f il o so f ia e um c on ju n to d e a u to r id a d es, q ue d ão u ma g r a nd e l eg i ti m aç ã o à s a c ti v id a d es

    q u e s ão a ce itáv ei s p ara a c omuni d ad e. A a lg u n s m e m br o s é a tr ib uído o po der d e p res-

    tar  de c l ara ç ões of i ci a is  - p or e xe mp lo , d ir ec to r es d e revistas , presidentes, responsá-

    v e is p e d ag ó g i co s e i n sp e ct o res. E le s s ão importantes c omo  ou t ros s i gn if i c an t e s  qu e

    p r o vi d en c iam model os p ar a o s m e mb r os m a is n o vo s o u i nd ec is os, n o q u e d iz r es p ei to

    à a d eq u aç ão d as su a s c r en ç as e c ompor tam e nt o s» 0973 , pp . 70- 71).

    E s la n d e s te v e sem pr e esp eci a l m en te p re o cu p ad o c om a r ea liz aç ão d e u m a

    in ves tig aç ão q ue c larificas se o p ap el d os g ru po s p ro fis s i on a is n a c o n st ru ç ão

    so c i al d as d is cip li na s esc o lares . E ss es g ru po s p od em s er c on sid era do s c om o

    m e d ia d o re s d a s «fo rças so c ia is  re f er id a s p o r F o st er W a t so n :

    «Asasso ciaç õe s d e p ro f es so re s p o r d is ci pl in a s p o de m s er, t e o ri c ament e , r e pres e n ta da s

    c omo s e gm en t os e mo vi m e nt o s s o ci ai s e n v ol v id o s n a n e g oc iaçã o d e n ov as a lia nç as e

    rac ional idades, à m ed id a q ue a s c on st ru çõ es d a r ea li da de d et id a c ol ec ti va me nt e s e

    t ransformam . Assim , aplicad as à s i d en t id a d es p r o fi ss io n a is d o s p r o fess or es n um a e sc o-

    la , s e r ia pos s ível re ve l ar a s r e g ular id a d es e mud a nç a s c o n ce p tu a is q u e s ã o g e r ad a s a tr a -

    v é s d o s m e m br os d e c o mu n id ad es d is ci pl in ar es e sp ec íf ic as , à m ed id a em q ue são

    mani festadas em manu ais escolares , e m p la no s d e e st ud o, em publ ic a ções e spe ci a li z a -

    da s, e m r el at ór io s d e c on fe rências , et c».

    T en do em c on ta a impor tân cia d a s p e rs p ec tivas his tó r icas , E s l an d a c r es -

    cen to u q ue « as d i sc ip linas p od em s er a pre se nta da s c om o

    carreiras

    q ue são

    d ep en d en te s d o s cor re lati vo s só c io - es tr u tu r ai s e sócio-p sico l óg ico s do s m em -

    b ro s d e c om u n id a d es

    epi stérnicas -

    (19 71 , p . 107 ).

    A re la çã o e nt re o co n teú do d o e nsin o, a e d uc ação e as q u es tõ es d e p o de r

    e co n t ro lo f o i e lu c idad a , em 1961 , p o r R a ym o n d W i ll ia ms. N a su a o bra

    Long

    Revolution fa z a s eg uin te o bse rv açã o:

     N ã o s e t ra ta so men te d o m od o c om o a ed uca ção e stá organizada , e x p re s sa n d o c o n s-

    c ie nte e in co ns ci en te me nt e a o rg an iz aç ão d e u m a c ul tu ra e d e u m a s oc ie da de : o q ue

    23

    HI S TÓ R IA S OC IA L D A S D ISC IPllN AS E SC O l A R E S

    s e p e n sa v a s er u m a s im p les d i s tr i bu iç ã o cons ti t u i, na ve rdade, u m a m o d el aç ão r ea l c o m

    ob je c ti v os s o ci ai s específico s. T ra ta -s e t am b ém d o f ac to d e q ue o co n te úd o d a e du c a-

    çã o, q u e e s tá s u je it o a um a f il ia ç ão h i st ó ri ca c la r a, represe n ta d e te rm in a d os e lem e nt o s

    b á si co s d a c u lt u ra , c o nsc ie nt e e i nc o ns ci en te m en te . O q u e s e c onsidera ser  u m a e du -

    cação  é, d e f a ct o, u m c on ju n to e sp ec íf ic o d e ê nf as es e o m is sõ es» 09 75 , p . 1 4 6) .

    P o de r- se -ia ju n ta r a q ui a n oção d e W illiam s d e «cont eú do d a e du ca çã o  ,

    p ois a b ata lh a p elo

    conteúd o

    d o c urrícul o , e mb ora p or v ezes vis ível , é , em

    mu i t os s e n ti d o s, m e no s im p orta nte d o q ue o c on tro lo so bre as formas sub j a -

    cente s.

    M i c ha e l Y o u n g p r oc u ro u se g uir a re la çã o e ntre c on hec im e nto e sc ola r e

    cont rolo so cia l e fê -I o d e m o do a fo ca r o c on teú do e a fo rm a:

    «O s q ue e st ão e m p os iç õe s d e p od er te nt ar ão d ef in ir o q ue s e d ev er á e nt en de r c om o

    c o nh e ci m en to , o g r au d e a ce ss ib il id ad e a o c on h ec im e nt o d e d if er en te s g r up o s e q u ai s

    a s r e la ç õe s a c ei te s e n tr e a s d i st in t as á r ea s d e c o n he c im e n to e e ntr e o s q ue a e la s t êm

    a c es s o e a s t o rn am d i sp o n ív e is. 09 71 , p . 5 2) .

    A s ua p re oc up a çã o c om a f or m a d as d is ci pli na s escolare s d e e le v ad o e st a-

    t ut o c e nt ro u -s e n o s « p ri nc íp io s organizadores- q ue id en tific ou c om o s en do a

    b a se d o c u rr íc u lo a c ad ém ic o:

    «Sâoe l e s a a l f abe t iz a ç ão, a tr av é s d a ê n fa se d a da à e sc ri ta c o mo o p os iç ão à a p re se n ta -

    ç ão o ra le a o i nd iv id u al is m o ( o u a fa st am e nt o d o t ra b al ho d e g r up o o u c oo p er aç ão ),

    q ue se c en tra n o m od o co mo o tr ab alh o a cad ém ic o é a valia do e q ue co nstitu i u ma

    c a ra c te r ís ti ca t an t o d o  processo  d e a pr en diz ag em c om o d a f or ma c om o o  produto  

    é apre se n t ado; a a bs t ra cçã o d o c on h ec im e nt o e s u a e s tr ut ur aç ão e c o mp ar ti m en ta li za -

    çã o, i nd ep en d en te m en te d o c o nh ec im e nt o d o a lu n o; e , p o r f im , e re la ci on ad o c om a

    anterior, es tá a d esc on e xã o d o s c ur rí cu lo s a ca dé m ic o s, qu e se r ef er e à d im en sã o e m

    qu e e s te s e s tã o  em conf li t o  c o m a v id a e a e x pe ri ên ci a d iá ri as» (Youn g , 19 71, p . 3 8 ).

    E sta tó nic a p os ta n a fo rm a d o c on hec im e n to e sc ola r n ão d ev e ri a, por ém ,

    exc l u i r p r eocupações c om o a d e W i llia m s c om a c on str uçã o so c ia l d e conteú-

    dos específicos.

    O p on to p rin cip al a re te r é o d a fo rça c or re la cio n ad a d a f or m a

    e d o c on te úd o, q ue d ev er ia e sta r n o c en tro d o n osso es tu d o d a s d is c ip l in a s

    e sc ola re s. O e stu do d a fo rm a e d o c on te úd o d a d is cip lin a d ever ia , a lém d is so ,

    s e r c o l o ca d o n um a p e rs p ec ti va h is tó r ic a .

    D e f ac to , n o s eu ú lt im o tr ab a lh o , Y o un g r ec on h ec e a de t e rminação um

    p o uc o e stá tic a d a s ua e sc ri ta e m K n ow le dg e a nd C on tr ol e a firm a q ue o tra -

    b alh o h is tó ric o d ev er ia s er u m in gre die nte e ss en cia l d o e stu do d o c on he ci-

    m e n to e sc ol ar . E s c re ve u s ob re a n ec es si da d e d e c o m pr ee n de r a «eme r g ê n c i a e

    p e r si s tê n c ia h i st ó ri c as d e c onv e n ç õe s e s p e cí fi c as ( a s d i sc i p li n a s e s c o la r e s, po r

    exemplo)   . Q u an do e sta m os lim ita do s n a n os sa c om p re en sã o h is tó ric a d os

  • 8/18/2019 construção Social Do Currículo

    11/19

    24

    IVO R F. GO ODSO N

    prob lem as con tem porâneos da ed ucação, es tam o s t ambém limi t ados quan to à

    com p re ensão das ques tõe s da po líti ca e do cont ro lo . Po r isso , You ng conclu i

    que: «U m a fo rm a cru c ia l de refo rmula r e tra nsc ende r os lim ite s em que tr ab a-

    lh am os é ve r ... co m o e ss es l im i t es não estão pre de finid o s, m as são , s im , pr o -

    du z id os atr avé s das acções e in tere ss es c onf litu a is d os hom ens na hi s tó ri a»

    (1977 , pp . 248 -249).

    E stu d o d a h i st ó ria soc ia l da s di sc ipl ina s es colare s

    o

    impor t an te tr aba lh o empreend i do p elo s s oc iólogo s do co nh ec im en to na

    de fin ição de p rog ram as de pes qui sa so br e o

    co nhecim ent o esc olar

    co nd uziu à

    va lo ri zaçã o da inv es ti g ação h is tóric a. O es tu do da s di sc iplin a s e sc ola res abr e

    um a nov a fase . O tr aba lh o i n i c ia l levado a c abo pelo s p rec urs o res do i n íc i o do

    sé cul o X X ava nço u elem ent o s fundam ent a is ; os soc ió log os do co nh ec imen to

    desempenha r am , em se g ui da , um pap el v it al ao re cupe rar em e rea f i rmarem a

    va lid ad e d es te p ro jec to in te lectual; porém , no d ec u rso do p rocesso , de ix ou de

    se pr es ta r a a tenção d ev ida às ci rcunstâncias hi s tó r icas e empí r ic as . A g or a , a

    ta re fa a r e al iz a r passa pe lo re exa m e do p ape l do s mé todo s hi stór ico s no es tu -

    do do curr ículo e p ela a rti cu la ção de um m odo de estudo que es ti m ule a n o ssa

    co m p re ensão relati va m ent e à hi s tó ri a s oc ial do curr ícu lo e sco la r e às d isc ipli-

    na s e sc olare s em parti cul a r.

    Em

    Sc hool Su bj ec ts and C urricul um C hange,

    debruce i-m e so br e a his tór ia

    de tr ês di scipl inas : geog r a fia , biolog ia e estu do s ambi en tais (G oodso n , 19 83).

    C ada um a de stas di sc iplin as segu ia um per fi l ev o lu c io n ár io se m elh an te e es te

    tr ab a lh o i n i c ia l pe rmi t iu o des en vol v im ent o d e um a sér ie d e hi pó teses sobre o

    m odo co m o o es tatu to , os rec ur sos e a estruturaç ão das di sc iplin a s escol a res

    em purram o co nh ec im ent o da d isc iplin a esc o la r em di re cçõ es especí fi ca s: em

    dir ec ção do que eu cham o a «tr ad içã o

    aca dém ica-.

    N a esteir a deste tr abalh o ,

    fo i lança da um a nov a sé ri e d e es tu dos em h is tó ria d o cu rríc ul o . N o prim eir o

    vo lu m e,

    Soc ial

    Hi s tor ies

    of th e Secondary C urr iculu m

    (Goodson ,

    19 85 ),

    o tra -

    ba lh o abran g e um a vasta g am a de d isc ip lin as : G rego e L atim (S tray , E ng l ish ),

    c iê nc ia s (War i ng ), ec onom ia do m és ti ca (Pu rv is) , ed u cação reli g ios a (B ell ) ,

    es tu dos so ciais (Fr ankl in e W hitty) e líng u as v ivas (R adf ord ). Estes e stu dos

    ref lec tem um in teresse crescent e pe la h is tó ria d o curr ícul o e , a lém de e lucida-

    rem so bre a m udança sim bó li ca do conh ec im en to es co lar pa ra a tr adi çã o aca -

    dém ica, lev ant am qu estõe s e ssenc iai s re la ti va m ent e a e xpl icações p ass ad as e

    present es da s di sc iplin a s e sc ola re s, num a perspec tiva so cio ló g ica ou f ilosó fi ca .

    U m ou tro trab a lh o da m es m a sér ie debr uçou -se em p orm eno r so br e discipl i -

    n as espec ífi ca s: em

    198 5 ,

    M cCul lo ch , L ay ton e Jenkin s pub l ica ram o liv ro

    A H IST Ó RI A SO C IA l D AS D ISC IPL IN A S E SC O L A R ES

      5

    Te c hnolog ical R e vo lution?

    E sta o bra exam in a a po lítica d o cur rícul o esco lar

    c ientífico e tec no lóg ico em In g lat erra e no Pa ís de G a les des de a Ir G uerr a

    M un dia l. U m trab a lh o pos te rio r de B rian W ooln oug h

    (1988 )

    aborda a hi st ó ri a

    do ensino da fí s ica nas esc o las , no p er íodo de

    196 0

    a

    1985 .

    U ma ou tr a á re a de

    trab a lh o em erg ent e é a hi s tó ria da m atem á ti ca esco lar : o li v ro d e Coop er,

    Re negotiating Seco ndary Sc hoo l M ath emat i cs (198 5), tem co m o tem a o desti-

    no de um a sé rie de tr adi çõ es na M atem á tic a e a rti cu la um m od elo pa ra a rede -

    f iniçã o d o co nhec imen to da d isc iplin a esco la r; en treta n to , o livro de Bob

    Moon ,

    Th e  N ew

    Maths  Cumculum

    C ont ro vers y (1986),

    incide sobre a

    M at em át ica em In g la te rr a e no s E stad os U nido s d a A m éri ca e apr esen ta um tra -

    balh o m ui to int eress an te so bre a di ss em in ação dos m anua is es colares .

    A inv estig ação em curso n a A m ér ica com eç a, tam bém , a fo ca r a evo lu ção

    do cu rr ículo es co lar nu m a persp ec ti va hi stór ica . O inf luent e li v ro de H erb ert

    Kl ieba rd ,

    T h e S t ru g gle for the

      merican

    C urr icu lum

    1893 -19 58 (1986 ), d istin-

    g ue um a sé r ie de tr adi ções dom in an te s n o c ur rícul o esc olar . E ste aut o r c he ga

    t ambém à con clusão int r ig ant e de qu e , no fi nal do pe ríod o em ques tão , a d is-

    cipl ina esco la r trad ic ion al m an teve -se um a for ta lez a in ex pu g náve l» . M as o tr a-

    b alh o d e K liebard não nos lev a ao de talhe da v id a esco la r. Q uan to a e ste

    a spec to , a o bra d e B arry Fr ank lin ,

    Bu ild ing the

     merican

    C ommuni ty 1986),

    fornec e- n os conh ec imento s pr ec iosos. A qu i, po dem os obse rv ar a n egoc iação

    v i ta l de id eia s curr ic ul ares , o terr eno do trabalho d e K li eba rd , no quadr o da

    s ua i mp lem entação com o p ráti c a e sc olar . A lém disso , um con jun to d e doc u-

    mentos c ompil ad os por Tom Popkew itz

    (19 87)

    abor dam o s aspecto s hi stór ico s

    de um a g am a de d isc iplin as : ed u caçã o pré-e sc o lar (B lo ch), a rte (F reedm an),

    lei tura e es cr ita (M onag ha e Saul ), bi o log ia (R os ent hal e Bybee ), m atem á ti ca

    (Staníc ), est ud os so ciais (L ybh el), educaçã o esp ec ia l (Fran klin e S lee ter ), cu r-

    r ículo social is ta (Te it e lb aum ) e um es tu do do m anual es co lar de Rug g s

    CKlieb ar de W eg ner ).

    N o C a na dá , a hi stó ria do cu rr ícul o fo i lança d a com o ca m po de estu do s

    deVido a o trabalh o pi onei ro de G eo rg e Tomk ins,

    A C om mon C ou nte nance

    (1986),

    que exa m in ou o s pad rões de es tabilid ade e de m uda nça curr icu lares

    n uma sé rie de d isc iplin as ao lon g o do s do is últim o s sécul os . E st a ob ra e sti-

    m u lo u u ma vasta g am a de novo s e im po rt ant es trabalh os s ob re h is tó ri a curri-

    cu l a r . P or ex em pl o , o es tu do mui to es t imulant e de G aske ll sobr e a hi s tór ia da

    física esco lar, que é um dos tex tos in teg r ado s n um liv ro rec en te,

    In terna ti on al

    Perspe ctiv es in Curr iculum History , que pr ocur a reun ir alg un s do s m a is sig n i-

    ficativ o s c ont r ibuto s pr oduzid os em difer ent es países so bre a hi s tó ri a curri cu-

    la r. A lém dos traba lh os já m enc ion ado s de S t an ic , M o on , F rankl in, M cC ul loc h ,

    Ba l l e G aske ll , es tão a in d a i nc luíd os três a r t igos:

    V ic tor ian Sc h oo l S c ience

    de

    Bodso

    n

    ; Sc ie nce E du cation d e L ou is Smith ; English on the N or w e gia n Co m m on

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      6

    I VO R F. GOODSON

    Sc hool

    d e G u nd em ; e

    T be D eo elo pm en t o f S en io r S ch oo l G eo gr ap hy in W e st

    Australia

    d e M a rs h ( G oo d so n , 1 9 88 ).

    O u tro s tra ba lh os c om e ça ra m a d eb ru ça r- se s ob re te m as m a is v as to s. O

    l iv ro d e P ete r C u nn in g ha m (19 8 8) , p o r e xe m p lo , a na li sa a m u d an ç a c u rr ic u la r

    o co rrid a n as e sc ola s p rim á ria s d a G rã -B re ta nh a d es de 1 94 5. O liv ro d e P .w .

    Mus g r a v e , W h os e K n o w le dg e (19 8 8 ) , é um estudo de caso d a Victoria

    U n iv e rs it y E x am i na ti on s B o ar d e n tr e 1 9 64 e 1 9 79 . N e st es ú lti m os te x to s, o tr a-

    b a lh o h i st ór ic o p e rm i te e s cl ar ec e r a m u d a nç a d e c o n te ú d o c u rr ic u la r p a ra c o n-

    te úd o e xa m in áv el, p rin cip alm e nte n o q ue d iz r es pe ito à c om p re en sã o d o

    m o do c om o o e sta tu to e o s re cu rs os s ão a fe cta do s n o s eio d a e sc ola .

    A s o ri en ta çõ es f ut ur as p ar a o e st ud o d a s d is ci pli na s e sc ol ar es e d o c ur rí-

    c ulo a po nta m p ara u m a a bo rd ag em m a is a m pla . A lin ha d e b as e d o tra ba lh o

    e xp os to é a pe na s o in íc io d e u m a ta re fa m a is e la bo ra da e c om p le xa .

    É

    impor -

    ta nte a va nç ar n o s en tid o d e e xa m in ar a r ela çã o e ntr e o c on te úd o e a fo rm a d a

    d i s c i p~ i.~; co  .? ~e an lli s~ r a2..~ §. t.õ ~s J l~ J? r,~ t~ca e .§ .?~ ,~ P  

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    28

    IV OR F. GO ODSON

    ca pac idade cre scente para m ob ili za r rec ur so s socia is para obj ec tivo s o rg aniza-

    cíona is- (19 83 , p . 8 6). A es te res peit o , [ohn M eyer faz um a di stin ção ent re c at e-

    go rias insti tucionais e or ganizacion ais.

    « O

    inst i tucion a l reme te para um a  id eo l og i acu l t u r a l  e

    é

    co nfr on ta d o com o organi-

    zacional , isto é, proteg ido dentr o de es t r u tu r a s ún i cas e tang íve is c om o as esco las e as

    sala s d e a u la . As categ or ias in st it u ci o na i s i n cl u em n ívei s de en sino (c om o o p r im á r io ),

    tipo s de escola (co mo a unific ada), fun çõe s educaciona is (com o a de reito r) e t ó pi c os

    cur r iculares (co m o a leitura, a R efor ma o u a M a te máti ca ). Em cada um deste s ca so s, a

    f o rma o r g an i zacional c r ia da e m antid a pel o s p r o f es so re s (e p or o utro s acto res)

    é

    co n-

    f ro n ta da c om u m a c ategor ia in s tituc ional, signif icat iva p ar a u m p úb li co (o u p ú b li c os )

    ma i s v asto » (Re id , 1984 , p . 6 8) .

    A s ca te g or ia s i nstitu c ionais qu e M ey er de fin e são a prin cip a l m oed a n o

    m e rca do educaciona l. N es te m erca do , são nece s sá r ia s tipif ica ções s oc ia i s i d en-

    tifi cáve is e pad ronizáveis : para o s alun os , porque es tão a c on s t r ui r c a r re i ra s

    escolar es lig a da s a c ertos obj ec tiv os profis sionais e socia is; p ara o s professo-

    res , p o rq u e d e se ja m assegurar o futuro do s se u s alun os e alcan ça r boas car-

    re ir as e e st at ut os p ro fiss ionais para e le s p ró p ri os. A m issã o do s espaços

    di sc ip lin are s lig a-se ao m erca do na p ro cu ra d es sa s r etó ri ca s qu e ir ão assegu -

    ra r ca te gor ias identifi cáve is, credí ve is p ara a o pin ião pú blica . Para Reid :

     Asr e tó r ic a s b em suc edidas são real idades. E m b or a o s profess ore s e o s g e st or es e sc o-

    lare s t en ha m de es t ar a tento s p ar a q u e a s d i sj un çõ e s entre a s pr áti cas e as convicções

    n ã o a um e nt em de form a a poderem pôr e m c a us a a c re d ib il idade da educação ,

    é

    cer to

    q ue o m ais im por tante para o suc ess o d a s d is c ip li nas escolares não

    é

    a e n tr e ga de

     bens  q u e p o de m se r p u bl icam ente aval iados, ma s s im o desen vol v i me nt o e m an u-

    te nç ão d e retór icas leg ítim as qu e dão a po io a uto mático a um a act iv i d ad e c o rr e cta-

    men t e clas sificada . A e sc olh a de clas s i fi c aç õ e s a p ro p ri a da s e a a ssoc iaç ão de stas , na

    op i n ião púb l ic a, com re tó ric as pl ausívei s d e j u st if icação p odem se r v istas co mo a m is-

    sã o p r in c ip a l d a q ueles qu e trabalham p ara m ode rn iz ar o u defend e r as dis ci p li n as d o

    cu rrículo» 0 98 4, p . 7 5 ).

    Se g undo este pont o de v is ta, a fu nçã o socia l do ensin o fi xa pa râmet ros ,

    perspec tivas e in centivos claros para os a ct or es e nvo lvidos na co ns tru ção das

    di sc iplinas esc olar es . A nossa in ve stig ação sob re as activ id ade s de sse s act o res

    c las s ifi ca -as como : activ id ades indiv id uais o u c o le c tiv as , c om «c arr e ir as »e  m is -

    sões» dependentes de font es ex tern as para a o bte nçã o de rec ur so s e d e ap oio

    id eo lóg ico . O in ter Ja ce ent re os acto res disciplinar es in tern o s » e as suas rela-

    ç õe s e xtern as é m ed ia do pela pr oc u ra d e re cu rso s e de apo io ideo ló g ic o. A

    depend ên cia de re curso s tem du as fac es : é conhecid a com o um a limi tação à s

    es tr a tég ias de

    ac çã o ,

    m as tam bém pode se r v is ta c om o um m odo d e p ro mo-

    ve r e faci lit a r v e rs õ es e v isões parti cu la re s d a s d is ci plin a s esc ola res.

    D ISC IP LI N A S E SC O lA R ES : PA D R Õ E S D E E ST ABI LID A D E

      9

    A gran de força de M eyer e R ow an na carac te ri zação do ensin o , e da sua

    lig aç ão a u ma a nálise da di stribuiçã o de recursos , passa pela dem onstra ção de

    qu e o est ud o c u rr icu lar tant o pode fo ca r a sp ecto s de es tabilidade e conserva-

    ç ão c om o a sp e ct os de co nflito e m u d an ç a. I st o p ro porciona um an t íd o to p a ra

    os peri g o s d o in tern ali sm o e do ent en dim en to d o cur ríc ul o co m o um dado , já

    ant eri o rm ente m encio nados ; pr oporciona tam bém um a res pos ta ao t rabalho

    de S te ven L uke, qu e , após criti ca r as concep ções de poder

    -un ídi m ensíona is-

    ou p lu ra l is ta s q ue fo ca m so m ent e o conflito , afirm a qu e o uso de poder m ais

    efi caz e i ns id io so é o de pr ev en ir q ue o c on flito sur ja log o à partida» .

    E s tu d o da e s t ab i li d ade cu r r icu l a r

    O s ass u n to s i n te r no s e as re laç ões ex terna s d a m udança curricu la r deve-

    ri am se r as pe cto s inter- re lac ionados em q u al qu e r análi se de refo rm a educacio -

    nal. Q uando o

    intern o

    e o

    ex te rn o

    es tã o e m c on flito (ou des s incronizados) a

    m ud ança te nd e a se r g radu al ou ef éme r a. Um a ve z qu e a harm oni za ção sim ul-

    tânea é difícil, a e stabilidade ou co nse r va çã o c u rr icular é co m um . O qu e aco n-

    te ce m u it as v e ze s é um a di ve rg ência entre a s «categ o ri as

    in stituc io na is -

    de

    M eye r e as

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    IVOR F. GOODSON

    v er t óp ic os a ce ss ív ei s a o m a io r n ú me ro p o ss ív el d e a lu n os , e s tã o n o va m en te a a um e n-

    t ar a s e x ig ê nc ia s e m t er m os d e c o nt eú d os e a p ô r e m c au sa e st il os i no v ad o re s d e e ns i-

    no » 0984, p. 73).

    E st e e pis ód io e xe m plif ic a e ss en cia lm e nt e u m a s itu aç ão e m q ue o s a ss un -

    to s in te rn os e a s re la çõ es e xte rn as n ão e stã o e m h arm o nia o u, m a i s c o n c re t a-

    men t e , são d ive rg en te s . A s m udança s o rg an iz ac io nais fo ram ass im

    imp l emen t ada s, m a s a s c a te g o ri as i ns ti tu c io n ai s, d ep en den tes d e g ru po s d e

    a p o io e x te r n os , m o s t ra r am - s e r e si s te n te s à mudança . É m u it o i m pr ov á ve l q u e

    a m u d an ç a o r ga n iz a ci on a l, s em u m a po io o u a co m pa nh am en to a o n ív el in sti-

    t uc io n al ( is to é , c om s ig n if ic ad o p ar a g ru po s m a is v as to s) , v en h a a t er e fe it os

    a l on g o p ra zo .

    Essencia lmente , a qu il o q ue é n ec es sá ri o p ar a c om p re en d er a e st ab ili da de

    e m ud an ça c urricu lare s são fo rm as d e a ná lise q ue p ro cu ram e xam in ar o s

    a s su n t os i n te r n os e m p a r al e lo co m a s re la çõ es ex tern as , c om o u m m od o d e

    d esen vo lv er p on to s d e v is ta so bre a m ud an ça o rg an iza cio nal e so bre a s

    m u d a nç a s e m c a te g o ri as i ns ti tu c io n ai s m a is a m p la s. E s ta a n ál is e u lt ra p as sa a

    f o rm a u m p o uc o i nt er na li st a d e g r an d e p a rt e d a s p e sq u is as c u rr ic u la re s. Trata-

    - se d e p rá ti ca s d e p es qu is a q ue d es en v olv em f re qu en te m en te a na lo g ia s m é di-

    c as e , p or is so , M ile s r efe riu -s e à « s aúde

    organizacional-

    d as e sco las . N o

    tra ba lh o d e H oy le s ( 19 69 ), a m u da nç a c urric ula r n ão « pe ga.. d ev id o a u m a

    e sp éc ie d e re je iç ão d e te cid os p or p arte d e e sc ola s q ue n ão tê m s aú de o rg a-

    nizacional . A t ón ic a f oi p o st a n a c o ns ti tu iç ã o e f u nc io n am e n to i nt er no d a e sc o -

    l a c om o u m c or po d is cr et o e a ut o- re g ula do r.

    W e b st er a rg u m en to u c on vin ce nte m en te c on tr a e sta a na lo g ia m é dic a a o

    d es en v olv er a lg u ns d o s p on to s d e v is ta d e R o be rt N is be t, q ue n os ex orta m a

    c on ce ntra r a a te nç ão e m a sp ec to s m a is v as to s d a m ud an ça e d a c on se rv aç ão

    cul tura i s. I nc it a- no s a a p re c ia r o s m e c an is m o s d e e s ta b il id a de e p e rs is tê n ci a n a

    sociedade , «o s im p le s p od er d o c on se rv an tis m o n a v id a s oc ia l: o p od er d o c os -

    t ume , d a tr ad iç ão , d o h áb it o e d a m e ra i né rc ia .. (W e b st er , 1 9 71 , p p . 204 - 205) .

    T a l c o m o W e b s te r o b se rv a:

    « Se g un d o o p o nt o d e v is ta d e N is be t, e ng a ná m o-n o s m u it as v ez es q u an d o p en sa m os

    q u e s e e st á a d ar u m a m u da n ça s oc ia l r ad ic al, p o rq u e n ão n o s a pe rc eb em o s d a d is ti n-

    ç ã o s ig n i fi ca ti v a .. . e n tr e r e aj u st am e n to o u a f as tam e nt o i n di v id u a l n um a e s tr u tu r a s o ci al

    ( c u jos e fe it os, embo ra p o ss iv e lm e n te c umu la ti v os, n u nc a s ão s u fi ci en te s p ar a a lt er ar a

    e st ru tu ra d e u m a s o ci ed ad e o u i ns ti tu iç ão p ar a p o st ul ad o s c ul tu ra is b ás ic os ) e a m a is

    f un d am e nt al , e m bo ra e ni gm á ti ca , m u da n ça d e e st ru tu ra , t ip o, p ad rã o o u p ar ad ig m a»

    ( 1 9 71 , p p . 204-205).

    P or e sta ra zã o, N isb et a firm a q ue « sã o r aro s o s m o me nto s h is tó ric os e m

    que , c om o c on se qu ên cia d e u m a c ris e, e q ua lq ue r tip o d e a te nç ão d ad a a e ss a

    D I SC I PL I N AS E S C O IA R E S: P A D RÕ E S D E E S TA B IL I DA D E

    31

    c rise p or p arte d e u m a e lite o u d e u m in div íd uo , o r es ulta do s eja u m m od o d e

    v id a g e nu in am e nt e n o vo »  G era lm en te , « a c o ns eq uê nc ia a ca ba p or s er u m a

    e sp éc ie d e s ob re viv ên cia d a c ri se e , cons equen t emen t e, u m r eg re ss o a o f am i-

    l ia r e a o t ra d ic io n al u ( 19 7 1, p . 2 0 6) . P e n so q ue q u al qu er e st ud io so d a m u da n-

    ça e in ovação cu rricu la res reconhece ria e s te resu ltado . A m udança

    o rg a niz ac io na l t em d e s er a co m pa nh ad a p or u m a m u da nç a d a c at eg o ria in sti -

    t uc io n al ( e p e lo a p ar ec im e n to d e n o v as p r át ic a s i ns ti tu c io n al iz a da s ), d e m o d o

    a as se g u ra r a «mud a n ç a f u n d am e n ta l .. d e N i sb e t. M a s o e sta be le cim e nt o d e u m a

    n o v a c a te g o r ia i n st it u ci o n al , e d e p r át ic a s i n st it u ci o na l iz a d a s a s so c ia d a s, acar -

    r et a a s se me nte s d e n ov os p ad rõ es d e tr ad iç ão e in érc ia . E m su m a, a m u da n-

    ç a f un dam e n ta l e x ig e a « in v en ç ão d e ( n ov a s) t ra d iç õ es . ..

    M c K i nn e y e W e s tb u ry e st ab e le c er am a n a tu re z a s is té m ic a d a m u d an ç a c u r-

    r ic ula r, n u m e st ud o p io ne ir o s ob re a « e st ab il id a de e a m u d an ç a

    »

    n a s e sc o la s

    p ú bl ic a s d e G a ry ( In d ia n a), n o p er ío do e nt re 1 9 40 -1 9 70 .

    «O s d is cu rs os i nt el ec tu a is q u e s e p e n sa , n u m d ad o p e rí od o , t er em u m v al or c ul tu ra l o u

    i n st rum e n ta l p a ra o s j o ve n s, tomam -se , n a e s co l a, discipl inas qu e, p or s ua v ez, provi -

    d en c ia m a o rg a ni za çã o i nt el ec tu al e o s v eí cu lo s q u e o s p ro fe ss or es e m pr eg a m p ar a

    e n si n ar s is tem a ti cam e nt e o s s e us c o n he c im e n to s a m i lh õ e s d e a lu n o s, d u ra n te o s d o ze

    anos , o u m a is, e m q u e e st ão n a e sc o la . O s p r o fe s so r es d e ix am a s e s co l as, m a s o s a lu n os

    p er ma ne ce m - é a e xis tê nc ia d e u m p ro gr am a o rg an iz ad o d e f or ma s r oti ne ir as q ue

    p os si bi lit a o f ac to d e u m p ro fe ss or r et om ar a m até ria o nd e o o utr o d ei xo u, q u e r s e ja

    n o m eio d o a no , o u n o f in al d o a no . É a ex i st ê nci a de s ta s i ns ti t u iç õe s soc i ai s, co m o s eu

    c ar ác te r c on h ec id o , q u e t om a p o ss ív el o s e s fo rç o s c om u ns d e u m s is te m a e sc ol ar - f or -

    m a çã o d o s p ro fe ss o re s, e la b or aç ão d e t ex to s e e x am e s, c o ns tr uç ão d e e qu ip am e nt o e

    edificios , etc . P o r o u t ra s p a la vr as , a s d is ci pl in as e a s f or m as d e e ns in o q u e a s r o d ei am

    s ão e st ru tu ra s q u e e sp e ci fi ca m a s c o n di çõ e s e o s c on te xt os d e s en ti do e m q u e o e ns i-

    n o te rá l ug ar , e c on st itu em o s e sp aç os e o s m ei os d e c ol ab or aç ão in st it uc io na l d as

    a g ên ci as e du ca ti va s p ar a o p ro g re ss o d o s eu t ra ba lh o» (19 75, p p . 8 -9 ).

    A d i sc i p li n a e s c ol a r c omo s is t em a e p r á ti c a i n st it u ci o n al iz a d a p r o po r c io n a,

    ass im , u ma e stru tu ra p ara a a cç ão . M as a d isc ip lin a em si fa z p arte d e u ma

    e str utu ra m a is a m pl a q ue i nc or po ra e d ef in e o s o bj ec ti vo s e p o ss ib ilid ad es

    s o c ia i s d o e n s in o . P o rq u e a d e fi ni çã o d a d is ci pl in a e s co la r c o m o d is cu rs o r et ó-

    r ic a , c o n te ú d o, f or m a o rg a n iz a ci on a l e p rá ti ca i ns ti tu c io n al iz a da f az p a rt e d a s

    p r át ic a s d e d is tr ib u iç ã o e d e r ep ro d u çã o s o ci al.

    É p re ci so , p o r i ss o, c om e ça r a o lh ar p ar a a d is ci pli na c om o u m b lo co n u m

    m o sa ic o c ui da do sa m en te c on st ru íd o d ur an te o s q u at ro ce nt os a no s ( ou m a is )

    q ue d em oro u a d elin ea r o s sis te ma s e du ca tiv os e sta ta is . S ó a í p od ere mo s

    c om eç ar a e nte nd er o p ap el d a d isc ip lin a e sc ola r n o q ue d iz re sp eito a o bje c-

    t iv os s oc ia is m a is a m pl os : o bj ec ti vo s e ss es q ue m u it as v ez es s e r el ac io na m

    i nt im a m e nt e c o m o s m i st er io s os « m e ca n is m o s d e e s ta b il id a de e p e rs is tê n ci a n a

  • 8/18/2019 construção Social Do Currículo

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    32

    IV O R F . G O O D S O N

    so ciedade» m encion ados ant eri o rm ent e . A di sc iplin a esc olar é , as sim , um dos

    pr ism as através dos qu ais poderem os v is l umbrar a es trutura do ensin o es ta ta l.

    Pa rece , no entanto , um terre no pa rti c ul arm ent e va lio so para a pes qu isa , um a

    ve z qu e a di sc iplina se situ a na in tersecção da s fo rça s in tern as e ex ter nas qu e

    m encio nám os: a lém di s so , a s a cç õe s do E stado em m atéri a edu ca cion al sã o

    mu i ta s v ez es in ca rac teristic am ent e v is íve is em a lturas de reo r g ani zação di sc i-

    plin ar (por ex em pl o, no caso pr es ent e do cur ríc ul o nac ional br it âni co ou no

    deba te ac tual so br e o cu rríc ul o austr a li ano) .

    D e ce rt a fo rm a, a di sc iplin a esco lar perm anece co m o um arq uétipo da

    di visã o e fr ag m ent açã o do con hec imen to nas no ssas soc iedades .

    E nclau sur ado s de ntro de ca da -m ícro-o ís c íplin a , o s de bates m ais va st o s

    so br e os ob ject ivo s socia is do ens in o tend em a ser tr av ado s de fo rm a isol a-

    da e seg m ent ada (e , sem dú v id a , se di m ent ada) en tre o s di fe rent es ní vei s

    in tern o s e e x tern os e en tre o s dom ín ios públ ico s e pr ivad os do di sc u rs o . A

    harmonização atr av és dos ní ve is e dom ín io s é um a busc a ilu só ria : a estabili-

    d ade e a co nse rvação co nt inuam , as sim , a se r o re sul tado m a is pr ov ável da

    es trutur ação do ens in o , no qu al as di sc iplina s co ns titu em um ing redient e cru-

    c ia l.

    A lguns in ves tig ado res afirm aram recent em ent e qu e o s is tem a fo i co nstruí-

    do, de sde os seu s prim órd io s, para assegu ra r a es tabilid ade e para m istif ic a r e

    di ss imu lar as re laç ões de po der qu e su stent am todas a s ac ções cur r iculares .

    P o r ex em pl o , refer in do -se ao caso da A lem anh a em parti cul ar e da Eur opa em

    g eral, H aft e H opm ann a f i rmaram qu e:

    «Assoc i edades co m o a no s sa s ão so cieda des de cla s s es , o rgan iza das de fo rm a a p ro-

    po rc ionar um a d istribuição d es ig ual dos recur so s n ecessários ao m odo de v id a d e c a da

    um e , portanto, às su as perspecti vas edu cati v a s . U m a ve z qu e tai s r ecurso s não podem

    se r a um entad os sem m ais nem m enos , qualqu er decisã o s obr e a sua distri bu içã o s ig n i-

    fica ti ra r a um e d ar a out ro . C on se qu ent em en te , a lu ta soc ia l es tá tanto na a genda

    na cio nal co m o na ag en da in tern ac ion al. O s p robl em as sur g em se m pr e qu e os derrota-

    do s recu sa m ce d er. A s sim , d o pon to de v ista das fo rças d om inan tes n a l uta pela dist ri-

    bu ição , é ne cessário or ga ni zar a di st ribuiçã o d e f or ma a asseg u rar um consenso

    m ai oritár io - ou , na p io r d e h i pó teses , de fo rm a a qu e n ão le va nt e r esis tên cias signi fi -

    ca t ivas.

    O m es m o se a p lic a à acç ão curricular es tatal: a di st ribuiçã o do co nh ecim en to es tá asse-

    g urad a s ocialm ent e, de sde qu e sej a a c ei te c omo um a reg ra - ou , pe lo m en os , d es d e q ue

    nã o s eja se ri am ent e po sta em cau sa , por m ais des ig u al q ue po s sa s er» 0 99 0 , p. 15 9) .

    E , a lém di sso, qu e:

    ,

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    16/19

    34

    I VO R F. GOODSON

    A e s tr u tu r aç ã o d o e n s in o em d i sc ip l in a s r e pr e se n ta , s im u l ta n e am e n t e, um a

    f ra gm e nt aç ão e u m a in te rn aliz aç ão d as lu ta s p ela e st atiz aç ão d a e du ca çã o.

    F r agmen t a ção, p orq ue o s c on flito s s urg em d e u ma s érie d e d is cip lin as c om -

    p a rt im e n ta li za d as ; i nt er na li za çã o , p o rq u e, a c tu a lm e n te , o s c o nfli to s s ur g em

    n ão s ó d en tr o d a e sc ol a, m a s ta m bé m d en tro d os lim ite s d a d is cip li na . D a r p ri -

    maz i a

    à

    « d is c ip l in a e s co l ar » n a a t ri b ui çã o d e r e cu r so s a o e n s in o s ig n i fi ca , a s sim ,

    f in a nc ia r e p ro m o ve r u m a r ed u çã o p a rt ic u la r d o d is cu rs o p o ss ív e l s ob re o e n si -

    no .

    A c on sa gra çã o s im bó lic a d as d isc ip lin as c om o a b as e d os c urríc ulo s do

    e ns in o s ec un dá rio é , ta lv ez , o p rin cíp io m ais b em su ce did o n a h is tó ria d a

    a c ç ão c u rr ic u la r. N o e nta nto , c om o tiv em os o po rtu nid ad e d e o bs erv ar, n ão é

    u m e sq ue m a n eu tr o, b ur oc rá tic o o u r ac io na l/ ed uc ac io na l, m a s s im u m e sq ue-

    m a p erfe ito p ara a c on se rv aç ão e a e sta bilid ad e, p er ma ne ce nd o p ar a f ru str ar

    e fi ca z m en te q u ai sq u er o u tr as i ni ci at iv a s g lo b ai s d e r ef or m a. A s i no v aç õ es n o

    s en tid o d a u nif ic aç ão , ta is c om o a s s ug er id as p or D e we y, t êm p ou ca s h ip óte-

    ses d e serem im plem en ta das a lo ng o p raz o. N os term os de N isb et e las p er-

    m a n ec em , i ne v it av e lm e n te , n u m m u n do e st ru tu ra d o d is ci pl in a rm e n te , o n de a

    m u d an ç a f un d am e n ta l d os « re aj us ta m en to s o u d es vi os i nd iv id ua is » é q ua se

    imposs ível .

    A s n o va s i ni ci ati va s d e a cç ã o c u rr ic ula r d ev em s er e xa m in ad as n es te n ív el

    d e a cç ão s im b óli ca . U m m o de lo d e e ns in o d is cip lin ar e s eg m en ta do a ctu a p ara

    s il en c ia r o u m a rg in a li za r e fi ca zm e n te m o d el os a lt er na ti vo s . T o da v ia , m uita s

    v e ze s o s ig n if ic ad o s im b ó li co d a c en tr al iz aç ã o d is ci pl in a r é d e sc o nh e ci do em

    m u ito s d eb at es s ob re a s n ov as in ic ia tiv as . N o d eb ate s ob re o c ur rí cu lo n ac io -

    n al b ritâ nic o te m h av id o u m sil ê nc io e ns ur de ce do r q ua nt o a e ste a sp ec to d as

    propos tas .

    R e i n sc r ev e n d o o « t ra d ic io n a l» :

    O c u rr íc u lo n a c io n a l b r it â ni co

    T od as a s n ov as in ic ia ti va s d is cip li na re s s ão p alc o d e u m in te ns o d eb ate

    s ob re o s o bje ctiv os e o s p arâ me tro s d o e ns in o. M a s, a o n ão q ue stio na re m a

    e st ru tu ra , o s i nt er ve n ie n te s n o d e ba te a ce it am u m a i ni ci at iv a q u e, c o m o a c ção

    s im b ól ic a, f ar á c om q ue a e sta bi lid ad e e a c on se rv aç ão s e to rn em m a is s ub tis

    e d ur ad ou ra s. E sta é a q ue st ão -c ha ve : tr av am -s e d eb at es in te rm in áv eis s ob re

    o b je ct iv o s e p a râm e tr os c u rr ic u la re s, m a s s ão d e ba te s f ra g m en ta d os e i nt erna-

    l iz ad o s d e nt ro d e l im i te s q u e t or na m q u al qu e r m u d an ç a d e f un d o p ra ti ca m e nte

    imposs ível .

    DI SC I P LI N A S E S CO L A RE S : P A D RÕ E S D E E S TA B IL I DA D E

    35

    «Uma e s tr u tu r a c u rr ic u la r f ra gm e nt ad a p e rm i te q u e n o vo s c o nc e it o s s e jam a dopt ad o s,

    p e lo m e no s p a rc ia lm e n te, d es de q u e a s m a r g en s e nt re a s d i s ci pl in as n ão e st ej am i rr e-

    conhecíveis.A a ut or iz aç ão p ar a a ba nd o na r a s up o st a e st ru tu ra d a a d mi ni st ra çã o d is ci -

    p lin ar n ão é d e m od o alg um f ac ilm en te o btid a e es tá s em pre c on fm ad a a ár ea s

    d i s ci p li na re s i n t imament e re la c i onada s . A co l iga ç ão  q u e c o n st it u i um a d e te rm in a d a

    d is ci pl in a t em q u e s er e nf ra qu ec id a a p ar ti r d e d en tr o.

    É

    p o r i ss o q u e o e sf or ço i ng lê s

    p ar a d es en v ol ve r u m a a bo rd ag e m i nt eg r ad a d o e ns in o c ie n tí fi co s ó t ev e s uc es so q u an -

    d o f oi a po ia do p o r u m a c om b in aç ão d e i nc en ti vo s e u m a e sc as se z s ig n íf ic at iv a d e p ro-

    f es so re s d e C iê n ci as . . . E s ta be le ce r a a bo rd ag e m i nt eg r ad a c om o f or m a r eg ular do

    ens ino c i e nt í fi c o, p a re c e b a st an t e i m pos s ív e l, a n ão s er q u e s ur ja m p ro g ra m as a d eq u a-

    d o s, t an to a n ív el a dm in is tr at iv o c om o a n ív el e du ca ti vo ( o q u e s er á d if íc il, devido à

    di v is ã o soc ia l da s d i s ci p li na s) .

    O f ac to d e a s a b o rd ag e ns i nt eg r ad as n ão s er em ú te is e m s is te m as c om p ar tí me nt al iz a-

    d o s n ã o s ig n í fi ca, p o ré m , q u e t en h am d e e xi st ir d if er en te s c on ce it os c ur ri cu la re s e m

    cada compa r timen to . O o po sto é v er da de ir o. O s l im it es d o s is te ma c om o u m to do

    r ed uz em o g ra u d e m u da nç a q ue u m s im p le s e sf or ço p od e c on se gu ir . N os s is te ma s

    c om p ar ti me n ta li za do s n ão s e d e ix o u a ce ss ív el n en h um n ív el n o q u al o d e se nv o lv i-

    m en to c ur ri cu la r p ud es se s er o rg an iz ad o c om o u m e sf or ço d e c on str uç ão s oc ia l d e

    n o va s e st ru tu ra s e l óg ic as d e d is tr ib u iç ão d o c on h ec im e nt o. P o rq u e a s d ep en d ên ci as

    e a s i d eia s d om in an te s n ão p od em s er d es af ia da s e m g er al.Assim , s e e xis tir u m c on -

    c eit o c ur ri cu la r p re do mi na nte c om q ue o s is te ma c om o u m to do p os sa c on ta r, i ss o

    te m d e s er a ce ite c om o a r eg ra d o j og o e m c ad a c om pa rti me nto ( is to é, a s mud an ç as

    d ev em r es pe it ar o l im i te d e v ar ia çã o q u e l he s é i m po st o)» (Haft

     

    Hopmann, 1990,

    p. 167).

    N os ú ltim os a no s, o d eb ate s ob re o c urríc ulo e sc ola r te m re afirm ad o e

    re co n st it uí do o s p a dr õe s d e t ra d iç ã o e e st ab ili d ad e q u e e s ti v er am ob s cu r ec i do s

    de vid o a os e sf or ço s d e r ef or ma d os f in ai s d os a no s s es se nta e p rin cí pio s d os

    a n os s et en ta . N o h o ri zo n te a p re se n ta -s e, m ais d o qu e n un ca, u m re fo rç o d as

    d i sc i pl in a s e s co l ar e s, d a s a p re n d iz a g en s b á si c as » . T r a di ci o na lm en t e, o r e fo r ço

    da s « a p re n d iz a g e ns b á si c as » c o n si st ia em c o n ce d e r um a a te n ç ão p r iv i le g ia d a a o s

    trê s R s - l er , e s cr ev er e c on ta r ( re ad in g , w r it in g , r ec ko n in g ). N o s a n os o it en ta , é

    ju sto d iz er q ue a qu ele s q ue d etê m o p od er c urric ula r s eg u ir am u m a n ov a v er -

    s ão d os tr ês

    R s - r ea bi li ta ç ão , r ei nv en ç ão e r ec on st it ui çã o .

    Frequentemente , a

    e s tr a té g i a d e r e ab i li ta ç ã o d a s d i sc i plin as e sc ola re s n os a no s o ite nt a p as sa p ela

    afirm aç ão d e q ue o b om e ns in o é , d e fa cto , o b om e ns in o

    disciplinar.

    I s to c o r-

    re sp on de a la nç ar u m v éu s ob re to da a e xp er iê nc ia d os a no s s es se nta , a te nt ar

    e sq ue ce r a r az ão p or q ue m u ita s r ef or ma s c ur ric ula re s f or am d es en vo lv id as

    pa ra e nc on tr ar a nt íd oto s p ar a a s f alh as e in su fi ciê nc ia s o bs er va da s n o e ns in o

    d i s c ip l in a r convenc iona l. N e ste s en ti do , a e st ra té gi a d e r ea bi lita çã o é f un da -

    m e n ta lm e n te n ã o h is tó ri ca , m a s, p a ra d ox a lm e n te , é t am b é m u m a l em b ra n ça d o

    po d er d o s « ve st íg io s d o p a ss ad o » p a ra s ob re v iv e r, r ev iv e r e r ep ro d uz ir .

    E m In gla te rr a, a r ei nv e nç ão d a s d is ci pl in a s « tr ad ic io n ai s» t ev e i ní ci o e m

    19 6 9 c om a p ub lic aç ão d a p rim e ir a c ole cç ão d os

    B l ac k P a pe rs

    (Cox

     

    Dyson,

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    3 6

    IVOR F. GO ODSON

    19 69; C o x

     

    Boys on , 1 975 ). O s au to re s desta co le cç ão a firm av am que os pr o-

    fe ss o res t inham sid o d em as iad o in flu en c iado s pe las teo r ia s pr og res sis tas da

    ed u cação, ta is co m o a in teg raç ão das di sc ipl inas e p rá ti ca s d e ens in o b asea -

    das n a p es qu isa e na d esc ober ta . Is to te ve co m o co n se qu ênc ia um a neg li -

    g ên cia do ensino de co nhec im en to s b ásico s e d isc ipl ina res e condu z iu a um a

    red u ção do s padr õe s de ap ro vei tam ent o do a lu no e a um aum en to da i nd is-

    c iplin a na esco la ; a tr a vé s d este rac iocínio , a di sc ip lin a es colar (aca dém ica)

    e ra p os ta em p arale lo co m a di sc iplin a m o ra l e soc ia l (c ompo r tam en tal). A

    reabilitação da di sc iplin