Consumismo e Produção de Mal Estar Contemporâneo

7/26/2019 Consumismo e Produo de Mal Estar Contemporneo

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Centro Universitrio So Jos de Itaperuna

Curso de Graduao em Psicologia

GLAUCIA APARECIDA MACHADO FABRE

O CONSUMISMO COMO PRODUO DE UM MAL-ESTAR CONTEMPORNEO

Itaperuna/RJ2012


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Artigo apresentado Banca Examinadorado Curso de Psicologia do CentroUniversitrio So Jos de Itaperuna comorequisito final para a obteno do ttulo dePsiclogo.

Orientadora: Profa. Ms. Camila Miranda deAmorim Resende

Itaperuna/RJDezembro/2012


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Artigo apresentado Banca Examinadorado Curso de Psicologia do CentroUniversitrio So Jos de Itaperuna comorequisito final para a obteno do ttulo dePsiclogo.

Orientadora: Prof. Ms. Camila Miranda deAmorim Resende

Itaperuna-RJ, 03 de dezembro de 2012

Banca Examinadora:

___________________________________Prof. Ms.Camila Miranda de Amorim Resende (Orientador)UNIFSJItaperuna - RJ

__________________________________Prof. Ms. Hegle Fraga Pinheiro Dias (Examinador 1)UNIFSJItaperuna - RJ

___________________________________Prof. Ignael Muniz Rosa (Examinador 2)UNIFSJItaperunaRJ


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Glaucia Aparecida Machado Fabre1

Camila Miranda de Amorim Resende

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Resumo: Este artigo se props a discutir a imbricao entre o consumismo e a mdiano que diz respeito ao desenvolvimento de um mal-estar contemporneo. Para tal, foidesenvolvida uma pesquisa qualitativa de carter bibliogrfico baseada, em especialnos seguintes autores: Bauman, Debord e Kehl. Compreendemos que o consumismo to marcante na atual sociedade, que articulado com a mdia, vem produzindo novasformas de subjetivao. Na sociedade que tem o consumo como sinnimo de prazer esatisfao, consumir deixou de ser um ato de subsistncia para estar presente em

todos os momentos da vida. Desta forma, influenciados pela mdia que oferece ospadres a serem seguidos, as pessoas esto buscando cada vez mais o modelo devida que apresentado. Sua identidade passa a ser, assim, constituda por meio daproduo em massa, apesar de todo o liberalismo existente. Vivendo numa intensaansiedade pela busca de satisfaes que o mercado e a mdia oferecem, o homemcontemporneo est adoecendo cada vez mais.

Palavras-chaves: Consumo. Excesso. Mdia. Felicidade.

Introduo

O fenmeno da globalizao e da alta tecnologia est modificando a vida do

homem contemporneo, que est sendo perpassada cada vez mais pelas relaes de

produo e de consumo. No se tem dvida da necessidade do ser humano em

consumir, porm hoje h uma necessidade de se pensar e se discutir as caractersticas

do consumo, como este est acontecendo e quais suas implicaes na vida do homem

contemporneo.

1Graduanda do Curso de Psicologia do Centro Universitrio Fundao So Jos (UNIFSJ), emItaperuna/RJ. E-mail:glaucia.fabre @gmail.com.2Professora de Psicologia do Centro Universitrio Fundao So Jos (UNIFSJ), em Itaperuna/RJ. E-mail:[email protected].
mailto:[email protected]:[email protected]:[email protected]:[email protected]


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Influenciados pela mdia e pela cultura do consumo, os homens parecem

impulsionados a querer sempre mais. Com essa necessidade sem fim de consumir a

qualquer custo, muitas vezes nos parece que a noo de realizao pessoal e

felicidade ficam associadas ao consumo.Vale tudo para realizar o sonho de consumo: fazer horas extras, prestaes,

emprstimos... Bauman (2001) defende que o sujeito est em uma constante busca do

ter para ser, ou seja, as identidades esto se configurando no consumo. Voc

aquilo que consome ou que pode vir a consumir.

Constantemente somos convencidos a buscar o modelo de vida que a mdia e a

publicidade nos apresentam partindo da idia de bem-estar e felicidade. Modelo este

que parece, inclusive, controlar nossa maneira de pensar e agir.Tudo parece girar em torno do consumo. H uma crena geral que se pode

comprar tudo: carro do ano, a sade, o ltimo lanamento de celular, o corpo perfeito e

at mesmo a liberdade e a felicidade. Ainda assim com todas essas possibilidades

proporcionadas pelo consumo, observamos que o homem est vivendo numa constante

angstia e num complexo mal-estar.

desse contexto que emerge a investigao desse trabalho. Sendo de carter

qualitativo, visa por meio de pesquisa bibliogrfica discutir sobre a relao atual do

homem contemporneo com o consumo, analisar as implicaes da mdia neste cenrio

e discutir o mal-estar subjetivo produzido por esta ideologia de consumo.

1 Consumismo

O consumo uma atividade praticada pelo homem desde a antiguidade, porm

para que ele chegasse forma como conhecemos hoje, muitas transformaes

aconteceram em especial no modo como o consumo foi tomado pelo capitalismo aolongo dos ltimos sculos. No sculo XIX, por exemplo, destacava-se uma economia

essencialmente familiar, centrada na figura do burgus empreendedor e seus valores.

Proprietrios e empregados eram pessoalmente conhecidos, e o destino da empresa

estava ligado ao destino da famlia. J no sculo XX, com o objetivo da produo em

massa, com a padronizao do trabalho e as novas tcnicas de extenso do mercado


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(marketing), surgiu a grande empresa industrial centralizada e burocratizada. Sua

organizao se realizava essencialmente atravs da figura do diretor e dos executivos

que procuram no s aumentar a riqueza, mas tambm aumentar ilimitadamente o

tamanho da empresa. As organizaes alm de oferecerem perspectivas de carreira,tambm ofereciam infra-estrutura para a vida cotidiana dando maior segurana para o

trabalhador como moradia por exemplo. (BOLTANSKY; CHIAPELLO, 2009).

Ainda que hoje seja possvel encontrarmos empresas organizadas segundo o

modelo acima descrito, Boltansky e Chiapello (2009) destacam que novas mudanas

aconteceram no que eles chamam de esprito do capitalismo trazendo grandes

modificaes de vida, de trabalho e de expectativa para os trabalhadores. Hoje quase

no se tem mais garantia de trabalho, os diplomas superiores j no so garantia decarreira segura e duradoura. Os projetos passaram a ser a forma mais valorizada de

viver neste contexto, sendo que o sucesso de um projeto possibilidade de acesso a

outros mais interessantes. Essas descries mostram claramente que:

Enquanto o primeiro esprito do capitalismo dava valor a uma moral depoupana, e o segundo a uma moral do trabalho e da competncia, onovo esprito marcado por uma mudana tanto na relao com odinheiro quanto na relao com o trabalho.(BOLTANSKY; CHIAPPELLO2009, p. 189).

Neste mesmo sentido Schweriner (2008) fala que, h poucas dcadas o incentivo

das massas voltava-se para a economia da poupana, ou seja, no havia gastos se no

tivesse dinheiro na mo. Hoje, diferentemente, o consumidor incitado a comprar

mesmo sem o dinheiro, atravs de crditos que, facilitam o aumento do consumo. Ou

seja, a sociedade que antes poupava, hoje estimulada ao consumo. Neste contexto

ocorre o lanamento incessante de novos produtos e, por isso a ideologia de poupana

no tem mais espao, uma vez que no daria conta de absorver todo o produzido.

Nesse sentido Barreto (1981), (apud SCHWERINER, 2008, p.15) diz.

(...) enquanto no sculo XIX a tendncia geral era para economizar, eno para permitir-se gastos que no pudessem ser pagosimediatamente, o sistema contemporneo exatamente o contrrio.Todo mundo incitado a comprar tudo o que pode mesmo antes dehaver economizado o suficiente para pagar suas compras. A


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propaganda e todos os demais meios de presso psicolgica estimulampoderosamente a necessidade de um consumo maior.

Neste sentido o consumo , segundo Bauman (2011), a caracterstica central das

sociedades contemporneas. O autor diz que a vida marcada pelo consumo , antes de

qualquer coisa, uma vida marcada pelo movimento. Neste cenrio, experimentar novas

sensaes o desejo principal de todos ns. Como ele mesmo diz; na sociedade

contempornea ou sociedade da modernidade fluida, mesmo estando parado

fisicamente, estamos em movimento quando na tela do computador nos conectamos

com todos os cantos do mundo. O consumidor uma pessoa em movimento e fadada

a se mover sempre. (BAUMAN, 1999, p. 93).

Esta concepo de Bauman (1999) nos remete ao que disseram Boltanski eChiapello (2009) sobre os projetos. Para eles, a vida hoje compreendida por uma

continuidade de projetos diferentes uns dos outros. Numa cidade por projetos,

pequeno aquele que (...) se mostra incapaz de mudar de projeto (...) . (p.152).

Flexibilidade, novos projetos, adaptabilidade e novas conexes so fundamentais para

algum que quer ser grande na atualidade.

Num mundo conexionista, portanto, os seres tm como preocupao

natural o desejo de conectar-se com os outros, de relacionar-se, deestabelecer elos, para no ficarem isolados. Para que isso d certo,precisam depositar e inspirar confiana, saber comunicar-se, discutirlivremente e tambm ser capaz de ajustar-seaos outros e s situaes,de acordo com que elas exigem deles, sem serem freados pela rigidezou pela desconfiana. a esse preo que podem coordenar-se emdispositivos e projetos. (BOLTANSKI; CHIAPELLO, 2009, p. 143).

Com o aprimoramento das novas tecnologias, com aperfeioamento da

comunicao e do fluxo de informaes, a circulao de mercadorias no mercado est

cada vez mais veloz o que implica na acelerao do consumo. (HARVEY, 2011). Isso

facilita com que no mercado consumista, os produtos primeiramente surjam, para que

somente depois seja buscada sua utilizao.

Como nem sempre todos os produtos conseguem instigar uma necessidade ou

desejo e, ainda que consigam, so rapidamente pressionados por outros produtos que

surgem com a mesma funo, s que de uma forma melhor, mais aperfeioada, o

excesso e o desperdcio so inevitveis. (BAUMAN, 2008). Excesso e desperdcio so,


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portanto, caractersticas importantes da economia consumista, que para alimentar

novas necessidades criadas pelo prprio mercado, utilizam-se do excesso e do

descarte.

Hoje em dia, at as empresas que obtm maiores lucros so aquelasespecializadas em remoo e descarte: de gordura corporal, de acne, depresso, rugas

faciais... Os encontros realizados pelas empresas de internet mostram tambm a

facilidade do descarte, neste caso, especfico de pessoas. Como destaca Bauman

(2008), voc pode se livrar do parceiro indesejvel facilmente s desconect-lo ou

mesmo bloquear suas mensagens.

Assim sendo, mais do que jogar fora os bens produzidos, a sociedade do

descarte tambm capaz de jogar fora os valores, relacionamentos... Enfim,constituem-se novos modos de agir e de ser. (HARVEY, 2011). Na cidade de projetos

h um sacrifcio de tudo que possa impedir a disponibilidade, ou seja, o

comprometimento a um novo projeto. Isso significa que os projetos que duram a vida

inteira (uma vocao, uma profisso, um casamento etc) so cada vez mais

desvalorizados em detrimento de projetos que vo surgindo e exigindo grande

mobilidade e deslocamentos. Todos esses sacrifcios tm o efeito de aumentar a leveza

dos seres, pressupondo a renncia estabilidade, ao enraizamento como uma melhor

forma de viver. (BOLTANSKI; CHIAPELLO, 2009).

O consumo hoje, portanto, um estilo de vida que expressa uma lgica de

funcionamento. Praticamente se consome tudo, de coisas a relacionamentos, de

tecnologias a praticas espirituais.(BEZERRA Jr, 2009, p.43). Tudo se transforma em fonte

descartvel de momentnea satisfao num cenrio onde a inovao, a velocidade e a

fluidez so dominantes. Nesse mesmo cenrio h um enfraquecimento e decomposio

dos laos humanos, das comunidades e das parcerias, que so vistos como coisas a

serem consumidas e no produzidas. Compromissos do tipo at que a morte nos separe

se transformam em contratos do tipo enquanto durar a satisfao. Se o prazer esperado

no for correspondido, no h motivo para ficar com um produto inferior, pois o

aperfeioado est nas lojas espera do comprador. (BAUMAN, 2001, p. 187).

Nesta lgica o prprio ser humano tornar-se objeto de consumo, na medida em

que ele mero instrumento para o prazer egico do outro. O outro s existe como meio


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de alimentar o eu e no como relao de alteridade. Evidenciam-se assim o utilitarismo

das relaes interpessoais em que o outro tratado como um objeto de consumo

qualquer que pode ser descartado a qualquer momento. (FORTES, 2009).

Desvalorizar produtos, sujeitos, etc, logo aps terem sido desejados parece,portanto, a atividade central deste novo capitalismo que vivenciamos atualmente. Desta

forma, o consumismo torna-se uma espcie de economia da decepo. Decepo

porque a insatisfao permanente o meio que o mercado usa para conseguir xito. O

consumidor satisfeito seria uma catstrofe para a economia, apesar de a satisfao do

cliente ser a promessa da sociedade de consumidores. Assim o mercado precisa

lanar cada vez mais novas mercadorias e fazer com que o caminho para o lixo seja o

mais rpido possvel. Afinal, comprar e jogar fora so sinal de que a economia vai bem.(BAUMAN, 2008).

Neste sentido, Bauman diz que a vida de consumo uma vida de aprendizado

rpido... e imediato esquecimento. (BAUMAN, 2011, p. 151). Ao contrrio do que parece,

adquirir e colecionar bens no so o objetivo do consumidor vido por novas experincias

e sensaes. Seu interesse descartar e substituir tanto quanto puder. Vale ressaltar

aqui, o que SCHWERINER, (2008), fala sobre a ousadia de Campbell (2001):

Para ele, a sociedade de consumo tudo menos materialista, pois aocontrrio do acmulo de bens, cuja posse e o uso perdurariam por longotempo, observa-se o descarte contnuo das mercadorias substitudas pornovidades que ao menos prometem novas emoes e daydreams.Ento, a sociedade de consumo no materialista na medida em que aposse (material) fulgas, substituda pela incessante sucesso deemoes. (CAMPBELL, apud SCHWERINER, 2008, p. 35).

Num mundo cheio de atraentes oportunidades, com infinitas possibilidades, no

movimentar, no experimentar o novo passa a ser concebido como o mesmo que

renunciar sua prpria liberdade e felicidade. O que importa o movimento, ainda que

sua nica certeza seja que seu desejo nunca ser saciado.

Frente ao desenvolvimento tecnolgico e cientfico e ao crescimento do liberalismo

econmico, parece haver uma crena de que estamos em uma sociedade livre. Nesse

sentido Melman (2009), afirma que vivenciamos a passagem de culturas onde a religio

obrigava seus seguidores ao recalque dos desejos para uma cultura que propaga a livre


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expresso e a plena satisfao. Segundo Dufour (2008), teramos cado sob a

dependncia de um novo deus, o Divino Mercado, que nos diria; gozem!

Dufour (2008) diz que os consumidores da atualidade so na verdade

arrebanhados pelo mercado com o discurso de liberdade e com a promessa de fazertudo o que se quer. O sujeito vai assim livremente ao encontro das mercadorias que o

prprio sistema capitalista fabrica para ele. Ou seja, as pessoas que se acreditam cada

vez mais livres encontram na verdade arrebanhadas pelo mercado.

Neste mesmo sentido Melman (2009) defende que a existncia se encontra cada

vez mais liberta, liberada, mas por outro lado extremamente sensvel s sugestes. O

sujeito contemporneo que apresenta cada vez mais dificuldade de se relacionar com o

outro perdeu ainda, suas referncias histricas, o que o tornou extremamente sensvela todas as situaes vindas de outrem, o que facilita que a mdia se torne poderosa,

vindo substituir esse outro. Da resulta um sujeito eminentemente manipulvel e

manipulado. (MELMAN, 2008, p.126)

2 Consumidores ou mercadorias?

Ao falarmos de consumidores no podemos deixar de pensar que consumidores

so esses e qual a relao do consumidor com o objeto a ser consumido. Isto porque

ao que parece, muitas vezes o consumidor persuadido a se tornar o prprio objeto de

consumo, ou seja, a mercadoria.

Na sociedade em que vivemos, constantemente vemos os sales de beleza

lotados, as indstrias de cosmticos crescendo cada vez mais, um crescente e

assustador nmero de cirurgias plsticas sendo realizadas, uma preocupao

exagerada com a sade, com o bem-estar, uma busca incessante pelo corpo ideal, uma

valorizao de tudo aquilo que dito que voc deve ser. Mas quase sempre isso tudono simplesmente por puro luxo, mas sim artefatos que os sujeitos acreditam

necessrios para que eles prprios no sejam descartados. (BAUMAN, 2007).

Somos a todo custo convencidos a usar a marca x, a malhar tantas vezes por

semana, a alimentar-nos de tal alimento, de preferncia que seja saudvel, a

comportar-nos de maneira tal, enfim... Tudo isso s possvel pela sugestionabilidade


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caracterstica do sujeito contemporneo mencionada acima. a partir das ofertas das

grandes indstrias que construmos nossa imagem. Imagem esta que acreditamos

precisar para sermos promovidos e para que tenhamos um lugar digno na sociedade .

a insegurana pessoal o combustvel para a indstria que se beneficia dessa espciede manipulao que ns sofremos na contemporaneidade.

A pessoa que passa o dia na frente do espelho, tendo como metaunicamente o seu exterior, ou medindo o bceps e comparando o traxcom outras pessoas, sente-se como se seu sucesso pessoaldependesse unicamente de seu corpo ou da roupa que estiver usando.(ANZAI, 2000, p. 74).

Bauman (2007, p. 13) fala que as pessoas so hoje, aliciadas, estimuladas ou

foradas a promover uma mercadoria atraente e desejvel, ou seja, somos a prpria

mercadoria. Assim sendo, ainda que de forma sutil e disfarada, compreendemos que a

sociedade de consumidores tem como caracterstica transformar os consumidores em

mercadorias. Mercadoria essa que desperte atrao e desejo, para atrair demanda e

fregueses a um mercado que exige que o sujeito seja ao mesmo tempo, promotor das

mercadorias e tambm permitam que as mercadorias os promovam, ou seja, que

simultaneamente seja o produto, e tambm seu prprio agente de marketing.

Remodelar a si mesmode acordo com as regras do mercado o esforo do homemcontemporneo. (BAUMAN, 2008).

Na sociedade de consumidores, ningum pode se tornar sujeito semprimeiro virar mercadoria, e ningum pode manter segura suasubjetividade sem reanimar, ressuscitar e recarregar de maneiraperpetua as capacidades esperadas e exigidas de uma mercadoriavendvel. (BAUMAN, 2008, p. 20).

3 Mdia e subjetividade

Dentre o contexto do consumo sobre o qual este trabalho tece algumas

consideraes faz-se relevante falar de mdia, uma vez que, como j foi destacada

anteriormente, ela est intimamente imbricada a esta cultura de consumo. Como visto o

modo de ser e de viver das pessoas se encontra cada vez mais manipulvel e, em

grande parte, parece condicionado por padres e modelos fornecidos pela cultura


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miditica. Barroso, (2006) afirma que mais do que divulgar produtos e lan-los no

mercado, a publicidade cria hbitos, modos de viver e de pensar, fabrica modelos

identificatrios atravs de imagens-refernciaconforme as leis mercadolgicas.

A publicidade um bom exemplo de como as necessidades so criadas pela aodas palavras e das imagens. Os anncios publicitrios promovem a iluso de

completude por meio da felicidade anunciada, estabelecem uma associao entre o

objeto divulgado, a sua posse e a satisfao de anseios de toda ordem.(BARROSO,

2006, p. 93). Mas para isso preciso que a imagem seja capaz de influenciar e seduzir

o consumidor. A utilizao de gente famosa para a associao de um novo produto

um bom meio para conseguir tal efeito, pois so pessoas de sucesso, referncias para

todos os consumidores. (BARROSO, 2006). Alm disso, Harvey, (2011, p. 259) diz que:

A publicidade j no parte da idia de informar ou promover no sentidocomum, voltando-se cada vez mais para a manipulao dos desejos egostos mediante imagens que podem ou no ter relao com o produtoa ser vendido. Se privssemos a propaganda moderna da refernciadireta ao dinheiro, ao sexo e ao poder, pouco restaria.

Editoriais, entrevistas, dicas de consumo... Esto todos engendrados no cotidiano

de todos ns, descrevendo e fornecendo o que conveniente ou no no que diz

respeito a todos os segmentos da vida, desde personalidade, relacionamento afetivo,

beleza at os ideais modos de ser, (popular, atraente, descolado...). neste sentido

que Debord (1997, p.24) fala da alienao do espectador em detrimento do objeto

contemplado.

Quanto mais ele contempla, menos vive; quanto mais aceita reconhecer-se nas imagens dominantes da necessidade, menos compreende suaprpria existncia e seu prprio desejo. Em relao ao homem que age,a exterioridade do espetculo aparece no fato de seus prprios gestos jno serem seus, mas de um outro que os representa por ele. por isso

que o espectador no se sente em casa em lugar algum, pois oespetculo est em toda parte.

Faz-se cr, que a cada posse de um novo produto, uma nova forma de existir

tambm adquirida. como se a aquisio do produto fosse capaz de fazer com que a

pessoa elevasse sua auto-estima. Vestir-se como a moda manda um bom exemplo


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disso, uma vez que faz com que vrias pessoas se acreditem realizadas pelo simples

fato de usar tal roupa. (BORIS; CESDIO, 2007).

A publicidade e as imagens da mdia tm, portanto, um papel integrador nas

prticas culturais, assumindo uma importncia no crescimento do capitalismo. Investirna construo da imagem to importante para as empresas quanto investir em

maquinrio. A imagem estabelece uma identidade no mercado. Essa identidade que a

imagem proporciona tambm se estende a uma identidade individual, a aquisio de

uma imagem (por meio da compra de um sistema de signos como roupas de griffe e o

carro da moda) possui o sentido de autorrealizao e significado na vida. (HARVEY,

2011 p.260).

Indo mais longe, Debord (1997) afirma que vivemos no que ele denomina desociedade do espetculo, na qual h um deslizamento geral do terpara o parecer, ou

seja, todo ter efetivo deve extrair seu prestgio imediato e sua funo ltima.

(DEBORD, 1997, p.18). Esse parecer vai ao encontro da avidez de bisbilhotar e

consumir vidas alheias que Sibilia (2008) em O show do eu coloca como uma

tendncia contempornea. Para ela, buscamos hoje a exibio da intimidade, da vida

cotidiana buscando conquistar a visibilidade, exibir-se, falar de si atravs de todos os

meios de comunicao. Desse modo cada vez menos a interiorizao psicolgica

define a identidade do sujeito. Em contrapartida, a exterioridade do corpo que indica

quem se . O eu ento passa a ser estruturado em torno da imagem visvel, moldado

por modelos de felicidade expostos pela mdia, que de acordo com a sociedade do

espetculo de Debord (1997, p.16-17), o que aparece bom, o que bom aparece.

Da a necessidade de aparecerpara ser, seja na tela do computador, na televiso no

celular, no vdeo, nos reality shows etc. Nesse monoplio da aparncia, tudo o que

ficar do lado de fora simplesmente no . (SIBILIA, 2008, p.112).

4 Mal-Estar contemporneo

bem visvel que novas subjetividades esto emergindo frente ao bombardeio de

informaes imposto pela mdia, que alm de influenciar o modo de viver das pessoas,

torna-as alienadas frente aos padres idealizados pelo mesmo. (...) Sob todas as suas


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formas particulares informao ou propaganda, publicidade ou consumo direto de

divertimentos -, o espetculo constitui o modelo atual da vida dominante na sociedade

(...). (DEBORD, 1997, p.14).

Caracterizadas pela cultura do gozo e pela crescente liberdade nas escolhasindividuais, a sociedade de consumo auxiliada pelas propagandas publicitrias pregam

o prazer imediato passando uma mensagem de que a felicidade pode ser adquirida nas

prateleiras do supermercado. A felicidade parece, portanto, cada vez mais articulada

aquisio de objetos implicando assim em um consumo exacerbado pelo sujeito.

(FORTE, 2009). Esta concepo de felicidade difere bastante da que Freud falou no

seu clssico texto O mal-estar da civilizao (1930-1936/2010). Segundo ele, o

progresso extraordinrio que as ltimas geraes alcanaram que por sinal possuigrande valor para a humanidade, no foi capaz de elevar o grau de satisfao entre as

pessoas, ou seja, no nos tornamos mais felizes por isso. Esta idia de Freud

partilhada por Bittencourt (2011) que diz que apesar de todos os avanos tecnolgicos

e cientficos dos ltimos sculos, a felicidade no se ampliou.

A felicidade no se ampliou, mas a busca pelo prazer, sim. Como vimos,

encontramo-nos numa cultura do consumo que tem como ideologia o fato de que todos

ns precisamos consumir sempre os produtos mais novos, sejam eles utenslios,

acessrios, transformaes do corpo ou mesmo estilos de vida como viagens etc.

Diante desse contexto, fica evidente o quanto essa cultura que enfatiza fortemente o

prazer e o consumo, est presente na vida do homem contemporneo.

Ao contrrio dos sculos anteriores, onde as valorizaes eram das posses dos

bens materiais, na sociedade de consumo, o incentivo para o permanente giro de

mercadorias, o que significa que o rpido descarte dos objetos constitui o pilar do

consumismo. (SCHWERINER, 2008). Nesse mercado que se aproveita do fato do

desejo humano ser sempre inatingvel, a insatisfao inerente ao humano parece sergradativamente transformada em compulso e vcio, que tambm no deixa de ser uma

forma de excesso. Compulso advinda de ansiedade psicolgica de um sujeito incapaz

de encontrar um nvel duradouro de satisfao (...) mantendo-se assim um crculo

vicioso que une vazio interior, ansiedade, frustrao psicolgica e estmulo para novas

aquisies materiais (...). (BITTENCOURT, 2011, p.108).


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Na clnica contempornea esse excesso tambm se apresenta atravs de

sintomas e de um intenso mal-estar. (...) a necessidade de viver o excesso abre

caminho para o aniquilamento de si. Resistimos a pagar o preo de sermos sujeitos da

condio humana e nos deixamos cada vez mais ser levados pela tirania do imediato

e da urgncia. (POIAN, 2011, p.32).

Ali onde, ontem, para a maioria dos pacientes que se dirigiam aopsicanalista, tratava-se de encontrar uma sada diferente da neurosepara a conflitualidade inerente ao desejo, hoje, os que encontram ocaminho de seu consultrio vm, com freqncia, falar-lhe de seuenviscamento num gozo excessivo. (LEBRUN, 2008, p. 9).

Este enviscamento num gozo excessivo de que fala Lebrun (2008) conduz ao

que chamamos de mal-estar contemporneo, algo que pode ser observado sobdiferentes eixos de anlise. Dentro do contexto consumista, por exemplo, Bauman

(2011) defende que a obsesso por compras funciona como forma de paliativo frente s

inseguranas e incertezas da atualidade. um modo de compensao diante do vazio

da prpria subjetividade: o comprar compulsivo tambm um ritual feito luz do dia

para exorcizar as horrendas aparies da incerteza e da insegurana que assombram

as noites. (BAUMAN, 2011, p. 96).

Essa insegurana da qual falamos advm de um processo histrico e social, queteve como efeito o aniquilamento do poder normativo das tradies e o favorecimento

da auto-constituio do sujeito resultando num paradoxo:

De um lado, os indivduos so estimulados a se desvencilharem do pesodas tradies, de modo a usufruir plenamente de sua liberdade e viverde forma autnoma. Essa liberao, no entanto, ao longo do tempo setransforma numa injuno. O que emergiu como abertura foi se tornandoimperativo tirnico e paradoxal: seja livre! O sujeito contemporneo deverecusar referncias externas e buscar em si mesmo o solo no qualancorar sua identidade sempre em risco de desgarrar num mar depossibilidades sem limites oferecidos no imaginrio da cultura.(BEZERRA JR, 2009, p. 40).

Ao entender por autnomo aquele que possui lei, costume,vida prpria entende-

se que autonomia absoluta no existe que ela sempre relativa. Melman, (2009) fala

que a mdia, ao considerar a pessoa como consumidor, faz ela se acreditar como um

sujeito soberano, autnomo e capaz de escolher o melhor, respeitando apenas a lei


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prpria. Assim autonomia se torna sinnimo de autossatisfao, em detrimento do

outro, do prximo, da famlia, da sociedade, etc. (MELMAN, 2009, p. 55). Ou seja,

proclama um gozo perfeito, ainda que desmedido. Mas na realidade, o sujeito

autnomo, livre, est submisso ao objeto a ser consumido cuja presena indispensvel no cotidiano.

Por outro lado no se pode negar que vivemos num momento histrico que

podemos muito mais do que em momentos anteriores, fazer o que desejamos. A

religio que antes impunha comportamentos e crenas j no nos influencia como

antes. A famlia, antes reguladora, controladora que sobrepujava os indivduos, agora

est enfraquecida, desinstitucionalizada. Em suma, em todas as instituies visvel

uma deslegitimao da autoridade que outrora exerciam.

(...) vivemos em tempos de desorganizao das presses e dos modelosde classe (...) hoje, em todos os grupos sociais, expressa-se o gostopelas marcas, pela moda, pelo luxo, pelo turismo, pelos jogos. Atmesmo nas favelas os jovens querem marcas valorizadas (...) a pobrezacontinua a fazer parte da realidade, mas os pobres tambm sohiperconsumidores que assistem televiso, vem a publicidade epensam que no legtimo serem excludos do mundo das marcas, doconsumo, da moda (...) (LIPOVETSKY, 2009, p.62).

Aqui podemos observar como a ideologia do consumo que vivemos contribui

inclusive para acentuar os conflitos sociais. Na medida em que o sujeito motivado ao

consumo e no possui meios para tal realizao, este pode vir a cometer prticas

ilcitas, criminosas e violentas para a realizao de seus objetivos, o que conduz a

trficos, criminalidade, entre tantos outros tipos de violncias. (LUIZ, 2005).

(...) O que distingue a sociedade de consumo no o fato de que todoscomprem incessantemente os bens em oferta, acessveis a poucos, masque todos estejam de acordocom a idia de que tanto o sentido da vidasocial como o valor dos sujeitos sejam dados pelo consumo. Dito deoutra forma, o que caracteriza a sociedade de consumo o fato de queo fetiche da mercadoria, acrescido do valor (imaginrio) do gozo, seja overdadeiro organizador do lao social. (KEHL, 2009, p. 100)

O fato do destino na vida das pessoas no ser mais traado e determinado pelas

grandes instituies que outrora regiam a vida dos sujeitos, e sim construdo, inventado e

decidido pela prpria pessoa, parece tornar problemtico at mesmo coisas simples


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como sair de frias, pois preciso decidir para onde ir, como ir, escolher a data etc.

Assim, percebemos que quanto mais autonomia, mais escolhas e, conseqentemente,

mais conflitos para si mesmo.

Imbricados nesse universo do consumo, com toda a exaltao do prazer e daautonomia, as fragilidades psicolgicas esto cada vez mais generalizadas, Lipovetsky

(2009, p. 65) afirma que:

(...) a poca contempornea seria a poca que renuncia o futuro embenefcio-to-somente do presente. Viver imediatamente, fruir agora... bem verdade que a poca vive o desenvolvimento de uma cultura dafruio, do lazer, da abundancia dionisaca, mas, ao mesmo tempo,vemos expressar-se uma cultura do medo, um sentimento deinsegurana que est presente em toda parte. Medo do desemprego, da

poluio, da insegurana urbana, da doena, da idade, do peso, dovrus, daquilo que comemos e respiramos. O indivduo hipermodernotende a se tornar polifbico, onifbico, ao mesmo tempo em que apublicidade celebra a fruio, os sentidos, os prazeres do instante (...).

Todas estas transformaes nos colocam diante de um grande aumento dos

transtornos psicolgicos: estresse, ansiedade, suicdio depresso e um consumo cada

vez maior de tranqilizantes, tudo isso est em alta nos tempos atuais. Assim

percebemos o quanto o sujeito hoje, inseguro e frgil. (LIPOVESTSKY, 2009, p. 63).

Apesar de vivenciarmos um contexto de velocidade, fluidez, consumo, liberdade eexaltao do prazer que falamos anteriormente, h, portanto, um crescente sentimento

de mal-estar em nossas vidas.

nesse sentido que Kehl (2009, p. 51) destaca que:

Os transtornos depressivos se tornaram a quarta causa mundial demorbidade e incapacitao... at 2020, segundo a OMS, a depressoter se tornado a segunda principal causa de morbidade no mundoindustrializado, atrs apenas das doenas cardiovasculares.

Isso compreensvel ao admitirmos que estamos vivendo numa sociedade onde

existe uma grande presso psicolgica e social devido a necessidade de se recriar e se

reinventar a todo instante em uma velocidade e concorrncia frentica. As pessoas

parecem estar, diante disso, sofrendo por no serem capazes de aguentar esse ritmo,

alm da dificuldade que possuem para pagar o preo alto que a sociedade


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contempornea impe: um sentimento de insegurana generalizado. (BAUDRILLARD,

2010).

5 Consideraes finais

Influenciados pela mdia e pela cultura do consumo, as pessoas esto cada vez

mais buscando a realizao pessoal e a felicidade nos objetos. Assim o consumo

deixou de ser uma necessidade de subsistncia para se tornar um momento de prazer

que nunca ser satisfeito, pois a cada instante o mercado lana novos produtos e,

consequentemente, novas necessidades so criadas.

Em busca de tal satisfao inatingvel, as pessoas esto adoecendopsiquicamente. Comportamentos compulsivos, estresses, depresso, ansiedade, entre

outras, esto se tornando comum nos modo de ser e de viver das pessoas que buscam

o padro que o mercado e a mdia estabelecem.

Ao mesmo tempo em que h uma vivncia da cultura do excesso, do desperdcio,

do gozo, da propagao da livre expresso e da plena satisfao, o homem se encontra

massificado por padres impostos pela sociedade. Na busca pela felicidade e pelo

bem-estar propagados pelo marketing e pela publicidade acabam alienados por tais

ideologias.

Assim percebemos o quanto a cultura contribui para o modo de ser e de viver do

homem, que atualmente est vivendo um complexo mal-estar. Digo complexo porque

ainda h muitos fatores, imbricados na questo da subjetividade humana e no mal-estar

que vivenciamos hoje, a serem analisados. Posteriormente esses outros fatores podem

ser estudados em futuros trabalhos permitindo melhor compreenso do homem e de

seu modo de ser e estar no mundo.

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