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CONTAMINAÇÃO POR MERCÚRIO EM SEDIMENTO E EM MOLUSCOS DO PANTANAL, MATO GROSSO, BRASIL Luiz M. Vieira I 2 Cleher J.R. Alho Geraldo A.L. Ferreira 3 ABSTRACT. MI·.KCl'KY l'Ol'l IION I:>: ANil IN OI' PA,N I NA!.. MATO GKOSSO. BKAI.I!.. The \<llal levei <lI' mercury delec\ed in the sedimenl and in thl.: 01" mollusl:s fnml hasin. althoug:h low. hav(: that th(: in th...: mining activiti...:s in th...: Pr ... wdlands has (ontaminat...:d lhos...: aYlIati( hahitals in Pantanal. From69 S...:uilll..:nt analyz...:d. 26'fr. (N = I X) haw shown Iewls ranging I'mm 0.01 to 01' mereury (mnisl weight). Mercury leveis analYl.ed in 54 samples oI' mollusc tissues (AIIII'II1/aria sca/w1s Orhigny. I X35: A. ca/latim/ata Lamard. I li 19 and Mtllisa I'/a/logyra Pilshry. 1933) haw shnwnlhat30'lt (N= 16) were c,)nlaminaled with Iewls ranging I'rom 0.02 to moist weigh!. This sludy shnws that the mcrcury used in digs for gold mining anti n.:kas...:d into th...: ...:nVil'lllllll...:nt has n.:a(h...:d th...: hahitals 01' Pantanal sprçad frlllll th...: s...:dim...:nt iolo Ih...: living in Ih...: r...:gion. KEY WORDS. Mnlluscs. hinmagnilicatinn. contaminants. mercury. sediment A garimpagém tlé ouro. com uso inténsivo tlé mércúno, éstahdécida no início dos anos 80 na hacia do rio Paraguai. prim;ipalménté no município de Poconé (Mato Grosso, Brasil), aprésénta dévado pOléncial contaminação do sédiménto e hiota aquática da planícié do Pantanal. O prohléma révéslé ainda maior rdévância pdo risco contaminação êcossistémas paísés vizinhos à jusanlé na bacia. Para cada quilograma de ouro rdirado são utilizados 1,32 a 2,OOkg mércúrio (PFEIFFER er (/1. 1989a.h; MALLAS & BENDICTO (986), dos quais 457c é carréado para os rios é 557c para a atmostúa (PFEIFFER op. cir.), no proCéssO tinal qUéima do amálgama é postériorméntê rdorna aos sislémas aquáticos através prêcipitaçôés pluviométricas. Incorporado ao sistema aquático na forma inorgânica (Hg O - méfcúrio mdálico), désloca-sé para o sédiménto, Ondé pOdé ocorrér a mélilação (JENSEN & JERNELOV 1969). dando origém ao métilmércúrio qUé. além tóxico é pérsislénlé, se acumula nos organismos é se magnitica na I) do PanlanaJ. Caixa Postal 109.79320-970 Corumhá. Maio Gro>so do Sul. Brasil. 2) Fundo Mundial para a Natura ... (WWF-Brasil). SHIS EQQL 6/X Cl)njunto E 2" andar. 71620-430 BraSllia. Distrito Federal. Brasil. 3) Departamento de Química. Universidade de Brasília. Caixa Postal 0463. 7CN I 0-<)70 Brasília. Di'lrito Federal. Brasil. Revta bras. Zool. 12 (3): 663 - 670. 1995

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CONTAMINAÇÃO POR MERCÚRIO EM SEDIMENTO E EMMOLUSCOS DO PANTANAL, MATO GROSSO, BRASIL

Luiz M. Vieira I2Cleher J.R. Alho

Geraldo A.L. Ferreira 3

ABSTRACT. MI·.KCl'KY l'Ol'l A~lI~A IION I:>: SEIlI~IEI'T ANil IN ~lOLI.lIS('S OI' PA,N IA·NA!.. MATO GKOSSO. BKAI.I!.. The \<llal levei <lI' mercury delec\ed in the sedimenl andin thl.: tis~'.;u~s 01" mollusl:s fnml th~ B~llt() G()m~s hasin. althoug:h low. hav(: ~ho\Vn

that th(: Ill~n.:ury lIS~J in th...: g~,I<J mining activiti...:s in th...: Pr....:on~ wdlands has(ontaminat...:d lhos...: aYlIati( hahitals in Pantanal. From69 S...:uilll..:nt sampl~s analyz...:d.26'fr. (N = IX) haw shown Iewls ranging I'mm 0.01 to 0.25~g.g·1 01' mereury (mnislweight). Mercury leveis analYl.ed in 54 samples oI' mollusc tissues (AIIII'II1/aria

sca/w1s Orhigny. I X35: A. ca/latim/ata Lamard. I li 19 and Mtllisa I'/a/logyra

Pilshry. 1933) haw shnwnlhat30'lt (N= 16) were c,)nlaminaled with Iewls rangingI'rom 0.02 to I.16~g.g·1 moist weigh!. This sludy shnws that the mcrcury used indigs for gold mining anti n.:kas...:d into th...: ...:nVil'lllllll...:nt has n.:a(h...:d th...: hahitals 01'

Pantanal sprçad frlllll th...: s...:dim...:nt iolo Ih...: 1ll0111l~(S living in Ih...: r...:gion.KEY WORDS. Mnlluscs. hinmagnilicatinn. contaminants. mercury. sediment

A garimpagém tlé ouro. com uso inténsivo tlé mércúno, éstahdécida noinício dos anos 80 na hacia do rio Paraguai. prim;ipalménté no município de Poconé(Mato Grosso, Brasil), aprésénta dévado pOléncial dé contaminação do sédiménto

e hiota aquática da planícié do Pantanal. O prohléma Sé révéslé ainda dé maiorrdévância pdo risco dé contaminação dé êcossistémas dé paísés vizinhos à jusanlé

na bacia.

Para cada quilograma de ouro rdirado são utilizados dé 1,32 a 2,OOkg démércúrio (PFEIFFER er (/1. 1989a.h; MALLAS & BENDICTO (986), dos quais 457cé carréado para os rios é 557c para a atmostúa (PFEIFFER op. cir.), no proCéssOtinal dé qUéima do amálgama é postériorméntê rdorna aos sislémas aquáticosatravés dé prêcipitaçôés pluviométricas. Incorporado ao sistema aquático na formainorgânica (Hg O

- méfcúrio mdálico), désloca-sé para o sédiménto, Ondé pOdéocorrér a mélilação (JENSEN & JERNELOV 1969). dando origém ao métilmércúrioqUé. além dé tóxico é pérsislénlé, se acumula nos organismos é se magnitica na

I) C~ntrll d~ P~MJuis{1 Agrop~l:uária do PanlanaJ. Elnpr~sa Brasil~ira d~ P~sqllisa Agror~l.:wíria. CaixaPostal 109.79320-970 Corumhá. Maio Gro>so do Sul. Brasil.

2) Fundo Mundial para a Natura... (WWF-Brasil). SHIS EQQL 6/X Cl)njunto E 2" andar. 71620-430BraSllia. Distrito Federal. Brasil.

3) Departamento de Química. Universidade de Brasília. Caixa Postal 0463. 7CN I0-<)70 Brasília. Di'lritoFederal. Brasil.

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cadeia alimentar. No sedimento vivem muitas comunidades hentônicas qUe,alimentando-se de detritos contaminados por mercúrio. podem transferi-lo aospeixes por ingestão (EPA 1972), e estes contaminarem o homem pdo consumo.O sedimento contaminado ~ fonte potencial dinâmica de mercúrio (SEI 1978) paraa água e para a hiota aquática durante 10 a 100 anos (BRAILE & CAVALCANTI1979). Isso signi tica qUe. mesmo com a paralisação da fonte emissora. há aindaconsideráveis quantidades de maclÍrio ahsorvidas ao sedimento (REIr\'IERS er lI/.1974: CALLlSTER er lI/. 1986) e que podem ser transferidas e incorporadas à hiota.dependendo das condiçôes físicas. químicas e hiológicas do amhienlé aquático(LORING 1975: CLlFTO & VIVIAN 1975: CALLlSTER eI lI/. 1986). KUDO &MORTIMER (1979) vai ficaram experimentalmenlé que a concentração de macúrionos peixes, proveniente do sedimento, foi nove VeZeS superior à acumulada a partirda água.

O monitoramento da poluição de rios atrav~s de análise de sedimentoiniciou-se na Holanda em 1960. A avaliação dos níveis de mercúrio no sedimentode rios, atualmente um indicador amplamente generalizado, inclusive para áreasde importância ecológica ganhou rdevância após a demonstração de que a maiorproporção de mercúrio em tecido muscular de peixes ~ metilmercúrio (WESTOO1972; HEDERSON elll/. 1972; BISHOP & EARY 1974) e que o sedimento ~ capazde metilar macúrio a partir de tinmas inorgânicas (JENSEN & JERNELOV 1969).Antes aa consensual que o macúrio no sedimento não representasse ameaça aoamhiente aquático (RICHINS & RISSER 1975).

O uso de organismos como indicadores hiológicos de poluição amhientaltem a vantagem de estimar as disponihilidades do poluenlé para as hiomassas dediferentes regiôes (PHILLlPS 1977). Os moluscos são considerados hons indicado­res para metais pesados e para comparaçôes de fatores de concentração (HANNERS1968). Muitos autores t~m usado diferentes gastrópodos para monitorarcontaminação mercurial em sistemas de água doce (ZADORY & MULLER 1981)com hase no SeU potencial de acumulação de altos níVéis de méfcúrio, o quegaalmente evidencia as condiçiks toxicológicas dos sistemas aquáticos. Sendosedentários, rdletem muito hem as condições locais de contaminação, al~m desaem ahundanlés e de larga distrihuição geográfica nos sistemas aquáticos doPantanal. Há forte corrdação entre a concentração de mercúrio total nos moluscose os níveis no sedimento (H ILDEBRAND eI lI/. 1980, !lpud M IKAC ef lI/. 1985).

O ohjdivo desta pesquisa tói avaliar o potencial de acumulação de mercúriono sedimento e nos moluscos da hacia de drenagem do rio Bento Gomes, noPantanal, tenuo em vista sua futura utilização como parâmetros indicauores depoluição nessa região.

MATERIAL E MÉTODOS

Após sohrevôo da hacia hidrográfica do rio Bento Gomes (l6°40'S,57° 12'W), dreno coldor principal c.Ias microhacias onde se localizam os garimposde ouro de Pocon~, tinam demarcadas oito estações de colda de sedimento,localizadas desde a caheceira at~ o cruzamento do Rio Bento Gomes com a Estrada

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Transpantaneira, no halxo Pantanal (Mato Grosso). Em çada estação foramcolhidas três amostras de sedimento, em çada uma das çoletas realizadas emagosto/89, novemhro-dezemhro/89 e .junho/90. O coletor do tipo "core", consti­tuído de um tuho çoletor de anl1ico e as partes acessórias de material inoxidável.As amostras çorresponderam ao nível do sedimento at~ 20çm de prohmdidade.Estas foram aç(JIldiçionadas individualmente, em saÇ(lS de polietileno etiquetadose transportadas para o lahoratório em çaixas t~rmiças çontendo gelo. No laho­ratório. as amostras foram armazenadas e çonservadas em çongelador a -18"C.Para a análise. as amostras foram desç(JIlgeladas à somhra, sendo iniçialmenteseças ao ar livre e depois em estufa a 50"C. Ao atingirem a temperatura amhiente.as amostras foram passadas por peneira inoxidável çom 0.27mm de ahertura demalha.

Amostras de aproximadamente um grama de sedimento foram digeridas emmistura de H 03: H2S0-l (concentrados e na proporção de I: I). em halões de vidrode horosiliçato de 250ml, com juntas esmerilhadas. acoplados em condensadoresde vidro. com circulação de água soh refluxo. Após o período de digestão a frio.de no mínimo 30 minutos, introduziu-se aqueçimento gradual, at~ aproximada­mente 100°e. UtiliZOu-se KMnO-l çomo oxidante e cloreto de hidroxilamina paraneutralizar o exçesso de açidez. O agente redutor de merçúrio foi SnCI2 a 10'1cem H2S0-l 18N. Maiores detalhes podem ser ençontrados em PONCE er aI. (1990).

As déterminaçiies de mercúrio total no sedimento tóram realizadas pelat~cniça de espectrofotomdria de ahson;ão atômiça computadorizada SCHIMADZU.modelo AA-660, equipado çom lâmpada de çatodo oço de merçúrio, wm feixeôptiÇ() alinhando uma ç~lula de vidro com janelas de quartzo e ajustado aocomprimento de onda de 253,7mm.

Os níVeis de meluírio total no sedimento, expressos em ~lg.g-I de peso Secotóram registrados após ajustamento numa curva padrão de calihração e correçãodas leituras dos hrancos. A inexistência de interferênçia de matriz t(li testadaatrav~s de uma curva e çalihração wm adi,ão padrão. Na ausência de padnies dereferência. a precisão e exatidão da t~cnica tóram avaliadas por testes de recupe­ração de mercúrio.

Três esp~çies de molusços da família Ampullariidae. AJllpl/l!(/ria CIII/ltli­CI/I(/((/. A. sClllaris e MllrislI pllll/ogym. t(lram çoldadas manualmente no Rio BentoGomes (entronçamento com a Estrada Transpantaneira) e no çórrego Piraputanga.no Pantanal (Mato Grosso). nas três ~pocas referidas anteriormente para osedimento. Essas esp~çies de moluscos tóram seleçionadas por serem presas dogavião-caramujeiro - Rosrlinlll/I/.I .wciu/Jilis (Viellot. 1877) - e do carão - Arl/ll/I/s

XI/ara 1/11 11 (Linnaeus. 1766), aVes que viVem nas proximidades de áreas alagadasno Pantanal. Após a çaptura. os moluscos tóram coloçados em saços plástiÇ(lsdiqudados e acondicionados em çaixas t~rmiças çontendo gelo e transportados aolahoratório. No lahoratório foram çonservados e armazenados em ç(JIlgelador a-18°e. Para as análises de mercúrio total nos molusços. foram utilizadas apenasas partes moles e seguiu-se a mesma t~cniça desçrita para o sedimento. Os níveisde merçúrio nos molusços foram expressos em ,llg.g.1 de peso úmido.

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Os reagentes utilizados nas análises de mercúrio total foram: H2S0~ marcaMicroQuímica para Lahoratórios LIda., P.A.: NHOJ Synth. P. A.; KMnO~GrupoQuímica P.A., ACS; Cloreto de Hidroxilamina, VekC Química Fina, P.A.; SnCb.Grupo Química P.A., ACS. Todas as análises foram realizadas nos laboratóriosde Química Analítica e Amhiental da Universidade de Brasília (UnB) e noLaboratório de Análises de Tecidos do Centro de Pesquisa Agropecuária dosCerrados (CPAC/EMBRAPA), em Planaltina (Distrito Federal).

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Os níveis de mercLÍrio total detectados nos sedimentos da bacia hidrográficado rio Bento Gomes em Pocon~, de modo geral são haixos (Tab. I). Constatou-seque do total de 69 amostras analisadas, apenas 26 % (n = (8) apresentaramconcentraçiies detectáveis. Entre os teores de mercLÍrio detectáveis, 33.33 o/c (n = 6)Se situaram acima do nível considerado natural (0.1 flg.{1 de peso secO), o qual,segundo LACERDA er (//. (1987), rdlete as condiçiies de áreas nào contaminadas.Em 16 amostras foram detectados mais de 0,02 pg.g'l de peso seco. nível citadopor LACERDA (1990) como referencial dos rio amazônicos não contaminados. Jáem regiôes de garimpo, onde a contaminação tem sido s~ria, como em SerraPelada, Gurupi e Tapajós no Pará, e no norte de Mato Grosso, os níveis demercLÍrio no sedimento que ultrapassam O, If1g.g'l de peso SeCO têm sido da ordemde 100% (SILVA er (//. 1989).

Tabela I. Níveis de mercúrio (pg.g" de peso seco) detectados no sedimento das estações

de coleta na bacia de drenagem do rio Bento Gomes (Poconé, Mato Grossol.

Estações decoleta

Época das coletas

Agosto/89 Novembro-dezembro/89 Junho/90

Nascente do rio Bento Gomes

Ponte da Cotia

Ponte do Morrinho

Rio Piranema/rio Bento Gomes

Captação d'água de Poconé

Córrego dos Padres

Córrego Piraputanga

Rio Bento Gomes/Transpantanelra

'. Não detectável (NO).

ND

NO a 0,07

NO a 0,02

NO

NO

NO a 0,24

NO a 0,25

NO

NO

NO

NO a 0,06

NO aO, 12

NO aO, 13

NO

NO a 0,07

NO a 0,04

0,01aO,17

NO

NO aO, 15

0,01 a 0,04

NO

NO

NO

Os níVeis de mercLÍrio mais elevados (0,24 e 0.25 pg.g-I de pesO seCO), querepresentam 2,5 VeZes o limite de contaminação natural do sedimento. ocorreramem amostras coletadas no tanque dos Padres e nas drenagens do córrego Pi rapu­tanga, respectivamente, e se caracterizam como depósitos de rejeitos de mineraçãomais próximos da áreas de garimpo, nestas duas microhacias (Tah, I). Por outrolado, de modo geral, os níveis de mercLÍrio encontrados no sedimento das demaisestaçiies de coleta estão muito prcíXll1l0S dos teores encontrados por LACERDA

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(1990) (não detect,íveis a O, 18"g.g-1 de peso seCO), em estudos de dispersão demercúrio no sedimento da hacia de drenagem do tanque dos Padres (Poconé. MatoGrosso). No entanto, os níVeis detectados neste estudo situam-se ahaixo do teormais devado (0.9"g.g,1 de peso SeCO) registrado por PFEIFFER ('{ aI. (1989h) nosedimento Ue rios UO estauo UO Rio Ue Janeiro, cujas águas tamhém recehem r~ieitos

de garimpos. FRAGA er 1/1. (1989) encontraram níVeis de meluírio no sedimentodos rios Paral11a uo Sul, Muriaré, Parafha, Preto e Itahapoana (Rio de Janeiro),da ordem de 0,05 a 0,40 flg.g'l de peso seco, onue a atividade garimpeira tamhémse fez presente. BOLBRINI er ai. (1983) encontraram níveis de mercúrio nosedimento dos rios Mogi-Guaçu e Pardo, no estado ue São Paulo, que variaramde não uekctávd a 4,23 ,llg.g-I e de não detectávd a 1.02 "g.g-I de peSo seco,respectivamente.

Concentraçôes extremamente elevadas de mercúrio no sedimento tamhémtêm sido registradas na literatura. 1AL/l1 er 1/1. (1990). apesar de terem encontradomédia dos níVeis de mercúrio de 10.20 .llg.g-I de peso seco (n=27), chegaram a

detectar 157,31 "g.{l de peSO SeCO, em sedimento de rio localizauo em área detloresta na região Amazônica, nas proximiuades de garimpos. No rio Madeira.MALM er aI. (1990) encontraram teores de mercúrio no sedimento em umaamplitude de variação de 0,03 a 0,35 flg.g-I de peso seco, com média ue

0, 13±O, II"g.{i Ue peSO SeCO (n=26). Há tamhém registro de mercúrio ue 19,8

"g.g-l ue peSO SeCO (PFEIFFER er ai. 1989a) em sedimento do rio MutumParaná/Madeira (Rondônia), onde a presença ue garimpos.iá constitui séria ameaçaecoló!!ica. Se!!lIllUO LACERDA er 1/1. (1987), os rios amazônicos não contaminadospossu~m níveis de mercúrio no sedimento COI11 variação entre 0.05 a 0,28 flg.g'lde peSO SeCO, enquanto que os contaminados oscilam entre 0,21 a 19,80 flg.g-I depeSO seco.

É interessante ohservar que na segunda época de coleta Ue sedi mento(novemhro-dezemhro/89), realizada nas proximiuades da estação ue captação ueágua de Poconé. foi uetectauo mercúrio no seuimento na concentração ueO,13flg.{1 de peSO SeCO, nívd esse pouco acima do considerado normal. Estainformação serve Ue alerta para as autoriuaues sanitárias de Mato Grosso e, uemodo especial, de Poconé, e sugere a necessidade Ue análise mais uetalhaua doprohlema, pois isso pode representar indícios de contaminação UO sedimento UOrio Bento Gomes. emhora ANDRADE er ai. (1988) não tenham encontrado rdaçãoentre os níVeis ue mercúrio na água com aqudes detectados no sedimento de ummesmo rio em Goiás.

Os níveis de mercúrio total detectados em partes moles dos moluscos captu­rados na hacia hidrográfica do rio Bento Gomes, estão apresentados na tahda 11.

Os níveis de mercúrio total detectados em partes moles das três espécies demolusco analisadas de modo geral. pouem ser considerados tamhém como haixos.

Constatou-se que uo total de 5-lmoluscos analisados. em 307'< deles (n= 16)os níveis de mercúrio tóram udectáveis. Entre estes, 18.757'< (n=3) continhamacima de 0,5"g.{1 de peSO úmiuo, que é o limite Imíximo estahdecido, a partirdo quaIjá pode ocorrer compromdimento da viLla aquática (EPA 1972).

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Tabela 11. Níveis de mercúrio 1119.9· 1 de peso úmido) detectados nas partes moles demoluscos Ampullariidae, coletados na bacia hidrográfica do rio Bento Gomes iPoconé.Mato Grosso).

Córrego P1raputanga RIO Bento Gornes/TranspamanelraEspêeles

Agosto/S9 Nov-Dez 89 Junho,90 Agosto 89 Nov-Dez 89 Junho,gO

AmpulJana sca/ans ND a 0,03 ND a 0,02 NDaO,15 ND ND a 0,02 ND a 0,88

AmpuJlana canalicula ta ND ND ND ND "JD a 1,16 NO

Mansa planogyra NO NOaO,18 0,0720,13 NO 0,04 a 0,59 NO

'. Não detectável (NO).

Os níVeis ue mercúrio constatauos nas três esp~cies ue molusco estuuauassituaram-se bem próximos uaqueles ueléctauos por LACERDA l'f ai, (1987) (nãoudecláveis a 0.93 llg.g'l Ue peso úmiuo). em AlllfJlIl/ari(( sp .. em estuuo realizauona bacia ue urenagem uo tanque UOS Paures. o entanto, situam-Se muito abaixoUOS níVeis udectauos por MIKAC 1'1 ai. (1985) em outras esp~cies Ue moluscosinuicadoras de poluição, mas com diterenlés dietas e mecanismos ue ahsorção.bem como em condição ue elevaua contaminação ambiental.

Pode-se tamb~m observar que os níVeis ddectados nos moluscos t(lfam. uemodo geral. mais elevauos que os encontrados no seuimento. Isto pode significaro início de um processo ue biomagnificação Ue mercúrio, AI~m disso, a constataçãode 30 rc de níVeis detectáveis nos moluscos e a ocorrência Ue níVeis aCIma de 0.5flg.g- 1 de peso úmido, pode estar se rdletindo no gavião-caramujeiro. que 'iealimenta basicamente de AlllfJlIl/aria ",calari", e de A. ('(///(/Iiclllwa e no carão quetem. em Mari,l'iI plallogyl'll. um dos ítens mais importantes ue sua uida.

A manutenção de boas condiç()es sanitárias na planície de inundação doPantanal ~ de extrema relevância ecológica e sócio-econômica. para que sejapreservaua sua biodiversidade. AI~11l disso, () Pantanal recehe muitas esp~cies ueaVes migratórias. tanto do extremo sul do contlllente sul-amencano COIllO uaAm~rica do Norte.

Espera-se que os níVeiS de contaminação por mercúno ddectados nosedimento e em moluscos ua bacia hiurogrática do rio Bento Gomes sirvam dealerta e suhsídio para as autoridades responsáVeis pela preservação e conservaçàodo Pantanal, para que as mesmas se empenhelll em suhstituir o atual processo deextração de outro com merClírio por outros não lesivos à saúde humana e àintegridade dos ecossislémas de toda a hacia do rio Paraguai.

AGRADECIMENTOS. Às direl"rias li" Celllm de Pe''luisa Agmpecuária lI"s Cerrad"s

(CPAC). da Empr~:-a Bra:-ikira d~ Pl.:squisa Agropl.:l:lIéíria. do Fundo f\1unuiai para a Nalllr~/(t

(WWF-Bra~il). ou C~nlnl Nm:ional o~ R~":llr~u~ G~n~li":lls ~ Bit)t~..:nol()gia (CENARGE ) ~

Univ~r~idad~ l.k Bra:-.ília (UnB). pda!-. 1~I..:ilidad~~ t~..:ni..:()-..:i~nlílil."a~ ~ apoio. À Pr~r~ittlra h'luTli..:ipal

d~ P()..:nn~ (h1atll Grn~~o). pdo apoit) logí~ti..:().

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