Conteúdo para provas 3ªsérie 2ºbimestre 2015
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RESUMO GERAL PARA AVALIAÇÕES DE FILOSOFIA – 3ªSÉRIE – 2ºBIMESTRE 1
SITUAÇÃO DE APRENDIZAGEM 3 A CONDIÇÃO ANIMAL COMO PONTO INICIAL NO
PROCESSO DE COMPREENSÃO SOBRE O HOMEM
O olhar atento e reflexivo sobre a nossa condição
animal nos remete a um cenário de disputas de
alimento, de território, de machos e de fêmeas. Esse
mesmo olhar nos remete, portanto, a um traço
fundamental do ser humano, que é a possibilidade de
destruição de outros seres na luta pela sobrevivência e
na luta por poder e bens que, em um primeiro
momento, não estão ao seu alcance. A re- flexão
filosófica não pode ignorar esse traço constitutivo de
nossa realidade e não pode deixar de formular duas
perguntas centrais: Como a humanidade construiu sua
convivência enfrentando esta disputa? Como é possível
uma educação dos homens para garantir sobrevivência
em cooperação e solidariedade?
O que dizem dois filósofos? Em geral, a Filosofia e as ciências contam com
uma vasta literatura que aborda a importância de se
distinguir o ser humano dos demais seres da natureza.
Já no século XVII, e com mais vigor a partir do século
XIX, as ciências se afirmaram como conhecimento
capaz de não apenas demonstrar a superioridade
humana na natureza, mas de conceber a necessidade
de dominar essa mesma natureza, construindo a ideia
de que não somos apenas diferentes, mas superiores
aos outros seres.
Essa consciência pode ter impulsionado todas as
maravilhas técnicas e científicas que a humanidade
edificou. Mas responde também pela ilusão de que
somos capazes de intervir e controlar a natureza sem
consequências desastrosas para nós mesmos e para
todo o planeta.
Uma ideia importante desta Situação de
Aprendizagem é considerarmos a perspectiva de não
nos vermos como seres distintos e superiores, mas
distintos e ocupantes de um mesmo contexto material,
natural; distintos e responsáveis justamente por
sermos seres de consciência, capazes de prever
consequências, assumir equívocos e de rever metas
contemplando a preservação da própria vida e a de
outros seres.
Descartes e Pascal nos oferecem dois textos
interessantes para inspirar essa consciência sobre
nossa inserção em uma natureza material assim como
a todos os seres que nos cercam. Ambos foram escritos
no século XVII.
Destacamos dois fragmentos desses textos para
a reflexão
Meditações E, primeiro, não existe nenhuma dúvida que tudo
o que a natureza me ensina contém algo de ver-
dadeiro […].
Ora, não há nada que essa natureza me ensine
mais claramente nem mais sensivelmente que o fato de
eu ter um corpo que fica indisposto quando sinto dor,
que tem necessidade de comer ou de beber quando
tenho os sentimentos de fome ou de sede etc. E,
portanto, eu não posso absolutamente duvidar que
tenha alguma verdade nisso.
A natureza me ensina também por meio desses
sentimentos de dor, fome, sede etc. que eu não estou
apenas alojado em meu corpo como um comandante
em seu navio, mas que, além disso, lhe estou muito
intimamente conjugado e tão entrelaçado e misturado
que componho um único todo com ele. [...]
Além disso, a natureza me ensina que vários
outros corpos existem em volta do meu, alguns dos
quais devo seguir e de outros fugir. DESCARTES, René. Oeuvres philosophiques de Descartes. Adolphe Garnier
(Org.). V. 1. Paris: Librairie Classique et Élémentaire de L. Hacuette, 1835. Disponível
em: <http://goo.gl/bG4L0F>. Acesso em: 16 out. 2013. Tradução Célia Gambini.
O homem perante a natureza A primeira coisa que se oferece ao homem ao
contemplar-se a si próprio é seu corpo, isto é, certa
parcela de matéria que lhe é peculiar. Mas, para
compreender o que ela representa e fixá-la dentro de
seus justos limites, precisa compará-la a tudo o que se
encontra acima ou abaixo dela. Não se atenha, pois, a
olhar para os objetos que o cercam, simplesmente, mas
contemple a natureza inteira na sua alta e plena
majestade. Considere esta brilhante luz colocada acima
dele como uma lâmpada eterna para iluminar o
universo, e que a Terra lhe apareça como um ponto na
RESUMO GERAL PARA AVALIAÇÕES DE FILOSOFIA – 3ªSÉRIE – 2ºBIMESTRE 2
órbita ampla deste astro e maravilhe-se de ver que essa
amplitude não passa de um ponto insignificante na rota
dos outros astros que se espalham pelo firmamento. E
se nossa vista aí se detém, que nossa imaginação não
pare; mais rapidamente se cansará ela de conceber,
que a natureza de revelar. Todo esse mundo visível é
apenas um traço perceptível na amplidão da natureza,
que nem sequer nos é dado a conhecer de um modo
vago. Por mais que ampliemos as nossas concepções e
as projetemos além de espaços imagináveis,
concebemos tão somente átomos em comparação com
a realidade das coisas. [...]
Afinal que é o homem dentro da natureza? Nada,
em relação ao infinito; tudo, em relação ao nada; um
ponto intermediário entre o tudo e o nada.
Infinitamente incapaz de compreender os extremos,
tanto o fim das coisas quanto o seu princípio
permanecem ocultos num segredo impenetrável, e é-
lhe igualmente impossível ver o nada de onde saiu e o
infinito que o envolve. PASCAL, Blaise. Parte dois. Pensamentos. Tradução Mario Laranjeira. São
Paulo: Martins Fontes, 2005.
Reflexão do texto
Merecem destaque:
A afirmação enfática de que somos um corpo;
A imagem de que a natureza me ensina que
convivo com outros corpos;
A ideia de que fujo de alguns e de outros me
aproximo;
A ideia de que não vemos, não compreendemos
nossos extremos: nem fim, nem princípio;
A ideia de que somos nada em relação ao
infinito, porém somos tudo em relação ao nada.
Se um texto (Descartes) traz a visão de conflito
do homem consigo mesmo, o outro (Pascal) traz a ideia
de nossa limitação diante da natureza. Duas condições
básicas da existência humana que precisam ser
corajosa e filosoficamente enfrentadas para a
compreensão do ser humano. Qualquer projeto
educacional com vista à preservação da natureza, e
com esta à preservação da humanidade, requer
conscientização sobre nossos limites e nossas
necessidades como seres corpóreos que até o presente
momento nada sabe sobre seu início, seu fim e que
continuam a destruir-se mutuamente.
Questões sobre o texto 1.Quais são as consequências de termos um
corpo humano?
A necessidade de nos alimentar, de defecar, de
promover a higiene do nosso corpo, assim como as
possibilidades de manusear e fabricar coisas, e como
essas ações, derivadas do fato de termos um corpo,
afetam outros corpos dispostos no meio ambiente.
Quais desafios o fato de ter um corpo me traz?
RESUMO GERAL PARA AVALIAÇÕES DE FILOSOFIA – 3ªSÉRIE – 2ºBIMESTRE 3
SITUAÇÃO DE APRENDIZAGEM 4 A LINGUAGEM E A LÍNGUA COMO CARACTERÍSTICAS
QUE IDENTIFICAM A ESPÉCIE HUMANA Linguagem é palavra associada aos processos de
comunicação entre os seres. Compreendida em um
sentido amplo, está presente nas práticas realizadas
por todos os animais, incluindo gestos, movimentos,
sinais de diversas naturezas, cores, sons; não é,
portanto, um processo exclusivamente associado aos
seres humanos.
Aristóteles, em seu livro A política, anunciou
essa especificidade humana afirmando que todos os
animais têm vozes, mas somente o homem tem
palavra.
As palavras articulam-se no contexto de uma
língua. Por isto é possível afirmar que não existe
pensamento sem a base, sem o suporte de uma língua.
A língua e os saberes coletivos A língua, por sua vez, tem seus suportes. A língua
falada tem como base física os sons, ou seja, a vibração
do ar, e a língua escrita tem sua base na imagem, quer
dizer, em um desenho no espaço. Ela também tem uma
base física no animal que fala. A língua falada de- pende
de um aparelho fonético bastante sofisticado, e a
língua escrita depende de uma mão igualmente
sofisticada. Há, ainda, a linguagem de sinais, que tem
como base os gestos decorrentes de uma linguagem
natural. Todas apresentam características exclusivas da
nossa espécie.
As línguas falada, escrita e de sinais têm uma
base cultural, pois são indissociavelmente ligadas a
uma forma de vida, uma cultura determinada. Ao
mesmo tempo que a cultura é gerada pela língua, ela
também gera a língua. Ao nomear, classificar,
categorizar, registrar suas experiências vitais.
A língua é o “saber coletivo” fundamental de um
povo, de uma nação, de uma cultura. É fundamental
porque, com a língua, os grupos humanos fundam sua
identidade, por meio das palavras que organizam e
nomeiam suas atividades para sobrevivência, suas
crenças, seus valores, suas artes. Assim como é
verdadeira a afirmação de que existem comunicações
sem palavras, é verdadeira a impossibilidade de
constituição de um agrupamento humano, seja uma
tribo, uma cidade ou um país, sem a edificação de
saberes coletivos que são planejados, registrados –
ainda que na memória da tradição oral – e
comunicados pela língua de geração em geração. A
língua é o saber coletivo mais bem repartido de um
povo ou comunidade. Além disso, é um saber em
contínua transformação e crescimento. Todos nós
aprendemos a língua constantemente e todos nós
ensinamos a língua constantemente.
A língua de um povo, portanto, é um
instrumento valioso para a sua identidade. Ela é a
espinha dorsal de uma sociedade ou cultura. E é por
isso que os antropólogos, quando se deparam com
uma nação tribal em risco, imediatamente chamam os
linguistas para fixarem a língua em uma escrita, na
tentativa de não a deixar morrer.
Pensamos, falamos, lemos e escrevemos as
palavras que herdamos como seres nascidos em tempo
e espaço determinados, em meio a saberes coletivos
já consolidados. Herdamos a língua com as palavras já
enredadas em significados. É com essas palavras, com
essa herança que é a língua, que abarca os saberes
coletivos de nosso grupo cultural e o universo de
significados por ele produzidos, que construímos nossa
arte, nossa expressão escrita e falada, nosso modo de
ler e dizer o mundo.
A língua como criadora de realidades Outra característica importante do ser humano
que é permitida pela linguagem pode ser encontrada
na capacidade de sair do presente e da presença do
que é visto para lançar--se ao passado, ao futuro e a
mundos nunca visitados.
Aliadas à faculdade da memória, a língua e a
linguagem nos trazem registros do passado; e aliadas à
nossa capacidade imaginativa, nos projetam para o
futuro. Passado e futuro só existem por causa da
linguagem e da palavra. A característica virtual da
linguagem e da língua permite essa fuga para lugares
não existentes. Tal virtualidade permite, ainda, que
pensemos em objetos que não estão presentes e sobre
experiências que não são nossas. Com a linguagem e a
língua, representamos o mundo, imaginamos outras
RESUMO GERAL PARA AVALIAÇÕES DE FILOSOFIA – 3ªSÉRIE – 2ºBIMESTRE 4
formas de viver e elaboramos saberes coletivos que
herdamos e transmitimos para gerações que nos
sucedem.
A Filosofia como o cuidado com as
criações da palavra Até o momento, vimos que o homem é um ser
de linguagem assim como os outros animais, mas que
em sua linguagem há uma especificidade que o
distingue e que se chama “palavra”. A palavra
relaciona-se ao pensamento, criando-o e sendo criada
por ele.
Vimos que as palavras se articulam na língua de
forma a descrever e nomear as coisas do mundo, mas
não somente isso. A língua é um processo bastante
complexo, associado às ações humanas, ao que os
seres humanos fazem para sobreviver, mas, sobretudo,
é um processo que permite a construção de
significados ou de saberes coletivos como a ciência, a
religião, a técnica, a tecnologia, a arte. Vimos que
linguagem e língua permitem, ainda, que o ser humano
ocupe um lugar imaginário, escapando do mundo tal
como se mostra.
E a Filosofia? Também resulta da capacidade
humana de criar a língua e é criada por essa capacidade
reciprocamente.
Os conceitos filosóficos e os modos de sua
enunciação nada mais são do que o resultado de uma
depuração do uso comum de uma língua. Esse processo
pode ocorrer deliberadamente e resultar na criação de
um sistema filosófico, como quando, por exemplo, um
filósofo se debruça sobre noções morais encontradas
no senso comum para examinar se estão corretamente
formuladas ou não, como fez Kant em sua obra
Fundamentação da metafísica dos costumes (1784).
Pode ser também que um filósofo se sirva da linguagem
comum para expressar concepções inusitadas,
valendo-se, para tanto, do recurso a um estilo
particular, como Rousseau, no Discurso sobre os
fundamentos e a origem da desigualdade entre os
homens (1756), obra que pretende demonstrar uma
verdade que poucos perceberam, por meio de uma
linguagem que todos conhecem, moldada por um estilo
elevado e comovente.
Por fim, frequentemente acontece de a própria
linguagem comum embutir conceitos e raciocínios
filosóficos de maneira irrefletida, que ali se encontram
pelo acúmulo de experiências dos diferentes usuários
da língua ao longo do tempo. Encontramos exemplos
abundantes disso na maneira como são utilizadas as
definições de nomes, ou como são estabelecidas as
relações entre sujeito e predicado, na atribuição dos
gêneros, nas flexões e declinações, em praticamente
todas as operações gramaticais. Toda língua tem
regras, é como um sistema, e funciona como uma
espécie de reflexão sobre si mesma, ou seja, sobre a sua
própria capacidade de enunciação. Isso mostra que há
muito em comum entre o uso de uma língua e o
pensamento filosófico. É curioso notar que o sentido e
o significado são transmitidos, nas línguas, pela
expressividade dos sons, e que, portanto, o que a língua
pensa, ou permite pensar, quando a falamos ou a
ouvimos, é comunicado pela sensibilidade e tem efeito
direto nesta.
Elaborado especialmente para o São Paulo faz
escola
RESUMO GERAL PARA AVALIAÇÕES DE FILOSOFIA – 3ªSÉRIE – 2ºBIMESTRE 5
SITUAÇÃO DE APRENDIZAGEM 5 FILOSOFIA E RELIGIÃO
Diferenças entre Filosofia e Religião O primeiro esforço para pensar as relações entre
a Filosofia, a Mitologia e a Religião conduz à questão
sobre a origem da Filosofia. É bastante divulgada a
ideia de que o modo de pensar, que hoje identificamos
como próprio da Filosofia, tem origem na Grécia
Antiga, no final do século VII a.C. e início do século VI
a.C. Atribui-se a Pitágoras (570 a.C.-496 a.C.) o
emprego da palavra “filosofia” pela primeira vez,
unindo dois termos: philia ou philos (amizade) e sophia
ou sophos (saber), o que resultou em uma palavra que
expressa amor pela sabedoria. Esse modo de pensar
teria surgido com a necessidade de se responder a
questões sobre o mundo natural e sobre os homens,
que não haviam sido respondidas, de maneira
plenamente satisfatória, pelas narrativas mitológicas.
O segundo esforço para pensar as relações entre
a Filosofia, a Mitologia e a Religião é justamente de
distinguir perguntas e respostas próprias a cada um
desses modos de pensar.
Sobre a origem da Filosofia como necessidade
grega de criar uma forma de pensamento que pudesse
melhor explicar o mundo, deve-se considerar que
egípcios, mesopotâmios, hindus e chineses, ou seja, o
oriente e norte da África, também criaram filosofias em
períodos concomitantes ou anteriores aos primeiros
filósofos gregos. Historiadores como Abel Rey –
pesquisador português contemporâneo – defendem a
ideia de que não se pode afirmar que a origem da
Filosofia tenha se dado exclusivamente na Grécia,
porque os próprios gregos exaltaram a sabedoria
oriental. Dessa forma, o ideal é perguntarmos pela
origem da Filosofia tanto no campo do pensamento
oriental como no campo do pensamento ocidental.
Historiadores da Filosofia, entre os quais
destacamos Werner Jaeger, defendem ainda que a
Filosofia não surgiu em contraposição e como algo
absolutamente diferente dos mitos, mas sim com base
nesses, com base em temas e preocupações
predominantes nos discursos religioso e mitológico
registrados em poemas como a Ilíada e a Odisseia, de
Homero, e nos poemas de Hesíodo, por exemplo. Os
historiadores destacam vários aspectos que são
comuns a ambos: preocupação dos poetas por
apresentar causas e motivos das ações; esforço para
descrever os fatos em uma abrangência que abarca
deuses, homens, terra, céu, guerra, paz, bem e mal;
preocupação dos poetas por construir narrativas para
ensinar a justiça como virtude fundamental. O mito,
assim, já contemplaria a estrutura de apresentação dos
fatos e os temas valorizados pela Filosofia. Se a
Filosofia não é uma inovação que rompe radicalmente
com o discurso próprio dos mitos, dos poemas e da
Religião, deve-se perguntar, então, qual é a sua
novidade, qual é a sua diferença?
Elaborado especialmente para o São Paulo faz escola.
Crítica da razão pura, de Immanuel
Kant I. Da diferença entre o conhecimento puro e o
conhecimento empírico
Não há dúvida de que todo o nosso
conhecimento começa com a experiência; pois de que
outro modo poderia a nossa faculdade de
conhecimento ser despertada para o exercício, não
fosse por meio de objetos que estimulam nossos
sentidos e, em parte, produzem representações por si
mesmos, em parte colocam em movimento a atividade
de nosso entendimento, levando-a a compará-las,
conectá-las ou separá-las e, assim, transformar a
matéria bruta das impressões sensíveis em um
conhecimento de objetos chamado experiência? No
que diz respeito a um tempo, portanto, nenhum
conhecimento antecede em nós à experiência, e com
esta começam todos.
Ainda, porém, que todo nosso conhecimento
comece com a experiência, nem por isso surge ele
apenas da experiência. Pois poderia bem acontecer que
mesmo o nosso conhecimento por experiência fosse um
composto daquilo que recebemos por meio de
impressões e daquilo que nossa própria faculdade de
conhecimento (apenas movida por impressões
sensíveis) produz por si mesma; uma soma que não
podemos diferenciar daquela matéria básica enquanto
um longo exercício não nos tenha tornado atentos a
isso e aptos a efetuar tal distinção.
Aquela expressão não é suficientemente
determinada, contudo, para designar de maneira
adequada o sentido integral da questão posta. Pois, se
RESUMO GERAL PARA AVALIAÇÕES DE FILOSOFIA – 3ªSÉRIE – 2ºBIMESTRE 6
costuma dizer, de muitos conhecimentos derivados de
fontes da experiência que nós somos capazes ou
participantes deles a priori, na medida em que não os
derivamos imediatamente da experiência, mas sim de
uma regra universal que, no entanto, tomamos
emprestada da própria experiência. Assim, diz-se de
alguém que solapou os fundamentos de sua casa que
ele poderia saber a priori que ela cairia, i.e., ele não
precisava esperar pela experiência em que ela de fato
caísse. Inteiramente a priori, contudo, ele não poderia
mesmo sabê-lo. Pois teria que aprender antes, por meio
da experiência, que os corpos são pesados e, por isso,
caem quando lhes é retirado o suporte.
No que segue, portanto, entendermos por
conhecimento a priori aqueles que se dão não
independentemente desta ou daquela, mas de toda e
qualquer experiência. A eles se supõe os conhecimentos
empíricos ou aqueles que só são possíveis a posteriori,
i.e., por meio da experiência. KANT, Immanuel. Crítica da razão pura. Tradução Fernando Costa Mattos. 2.
ed. Petrópolis: Vozes; Bragança Paulista: Editora Universitária São Francisco, 2013. p.
45-46.
Diferenças entre Mito e religião Ao compararmos o texto filosófico e o texto
mitológico, podemos observar diferenças no que se
refere ao conteúdo e à forma de abordá-lo. Mas quais
seriam as relações e as diferenças entre as narrativas
mitológicas e o discurso religioso? Podemos identificar
um caminho seguro que nos permita estabelecer
relações e rupturas entre o mito e a religião? Trata-se
de um tema muito complexo, mas, em linhas gerais,
procuramos trazer alguns elementos para o
entendimento do tema e aprofundar as nossas
reflexões. Partimos do entendimento de que a
crescente complexidade dos mitos e a fundação de
religiões têm relação com o aumento da complexidade
na relação entre os homens e entre os homens e a
natureza. As mudanças na produção da vida, nas
relações com os outros, a crescente complexidade na
relação com o mundo e com os outros refletem nas
práticas produtivas, na relação com o simbólico e com
as práticas relacionadas ao sagrado. Nesse sentido,
podemos estabelecer uma ligação entre a produção da
vida material, a narrativa mitológica e a composição do
sentimento religioso. Apesar de estabelecermos essa
ligação, não é possível identificar com precisão um
momento específico em que o mito é relegado em prol
da religião, ou em que momento o mito torna-se base
para a fundação de uma crença religiosa ou até que
ponto o mito proporciona a experiência religiosa. Mas,
se não podemos identificar esse momento, podemos, a
partir das contribuições oriundas de estudos
antropológicos, reconhecer diferentes etapas
mitológicas e até conjecturar sobre como a crescente
complexidade das relações entre a produção da vida e
dos mitos permitiram o estabelecimento de religiões.
Indicamos três etapas básicas, nas quais
consideramos um trajeto em que a inquietação e o
empenho em desvendar os mistérios do mundo
compõem um sentimento e um certo estabelecimento
da história do sagrado.
Primeira etapa: Recortamos como primeira
etapa a relação entre os homens, seus sentimentos e
anseios e as forças da natureza. Os homens
reconhecem as suas necessidades e fragilidades e que
estão diante de um mundo hostil, cujos eventos ainda
não podem ser explicados. Os homens reconhecem que
as forças naturais podem ser benéficas ou prejudiciais
aos empreendimentos humanos e essa percepção é
marcada pelo medo e pela alegria. A força do sagrado
manifesta-se nos elementos e nos fenômenos naturais,
assim como nas disposições do humano.
Segunda etapa: A segunda etapa tem relação
com a presença de deuses mais personalizados, mais
próximos dos homens e das suas artes; a complexidade
da vida exige deuses mais personalizados e com
funções específicas. Mais do que favorecimento em
relação às forças da natureza, existe a perspectiva de
fundamentar as regras e as normas relativas a ações
mais complexas como, por exemplo, as regras para a
composição e harmonia do lar ou regras para promover
a fertilidade do solo, favorecer a colheita abundante,
provocar as chuvas, entre outras. Pela complexidade da
função dos deuses em relação às necessidades e
atividades humanas, a evocação passa a ter
características específicas e, assim, convertidas em
práticas de rituais.
Terceira etapa: Os deuses compartilham dos
sentimentos humanos e a complexidade de suas
intervenções fica cada vez maior. Com o
desenvolvimento dessa fase representada por uma
crescente complexidade da vida e das ações humanas,
há condições para o estabelecimento de religiões
monoteístas e politeístas. O entendimento do divino,
nessa fase, passa por questões de ordem subjetiva e
moral e, dessa forma, a divindade passa a atuar nas
relações entre o bem e o mal e atua como poder de
RESUMO GERAL PARA AVALIAÇÕES DE FILOSOFIA – 3ªSÉRIE – 2ºBIMESTRE 7
justiça, cujo critério nas religiões monoteístas é
revelado por um profeta e escrito em um livro sagrado
e, nas religiões politeístas (gregos antigos, indígenas e
alguns países do continente africano), que não são
pautadas por escrituras sagradas, os acessos aos
mistérios do mundo são diversos.
Essas breves considerações tiveram o sentido de
mostrar possíveis aspectos da relação entre mito e
religião; a partir delas, podemos pensar, num primeiro
momento, que, para os homens, nas suas re- lações
com os eventos da natureza e com os eventos
humanos, nada é natural. Essa perspectiva está
presente na narrativa mitológica, cujos eventos sempre
têm uma explicação que está além da natureza, e no
discurso religioso, cuja valorização da vontade em
relação à adesão ao bem deve estar acima de qualquer
força da natureza.
Esse tema e as possíveis reflexões e discussões
que ele suscita é atual e é preciso destacar que esses
discursos convivem. Não podemos dizer que a religião
suplantou as narrativas mitológicas, assim como não
podemos afirmar que o discurso religioso tem se
fragilizado diante do discurso científico. O convite desta
Situação de Aprendizagem tem o sentido de sensibilizar
para reconhecer a especificidade de cada um desses
discursos e narrativas e procurar estabelecer
possibilidades de aproximações, rompi- mentos e até
que ponto um não pode ser reconhecido sem o outro.
Elaborado especialmente para o São Paulo faz
escola.
RESUMO GERAL PARA AVALIAÇÕES DE FILOSOFIA – 3ªSÉRIE – 2ºBIMESTRE 8
SITUAÇÃO DE APRENDIZAGEM 6 O HOMEM COMO SER POLÍTICO
Como teria surgido a referência à
política na história da Filosofia? Os Grego e a Democracia Entre as diversas questões que a filosofia visa
investigar, pode-se perguntar sobre como é e como
deveria ser o convívio em sociedade. Se for investigada
a palavra política, que vem do grego, será
compreendido que politika refere-se aos assuntos da
cidade (pólis). É neste sentido que, em filosofia política,
pergunta-se sobre a natureza das leis, a natureza do
governo, a origem da organização social e sobre qual
seria a melhor forma de convívio entre os indivíduos.
Todos estes temas nos levam a pensar sobre o espaço
público, que é o espaço da política.
O primeiro filósofo a sistematizar uma ideia
política foi Platão (428-7 – 348-7 a.C.). Ele escreveu
sobre o assunto principalmente em dois livros, A
república e As leis. Nestes livros, apresenta a ideia de
que uma sociedade bem ordenada é aquela onde cada
indivíduo desempenha a função na qual é mais
habilidoso. Os hábeis com as mãos deveriam ser
artesãos, os fortes devem proteger a cidade e os sábios
devem governá-la. Platão pensa também sobre como
deve ser a educação nesta cidade ideal, para conseguir
desenvolver em cada criança o seu potencial a fim de
que possa executar melhor a sua função. Cada
indivíduo, para ele, será livre enquanto estiver
cumprindo as leis, criadas com o intuito de melhor
conduzir a cidade.
Ainda no mundo grego, Aristóteles (384 – 322
a.C.) vai discordar de Platão. Em Política, Aristóteles
pensa que a cidade ideal de Platão, onde há prioridade
daquilo que é público sobre aquilo que é privado, não
funcionaria muito bem. Para ele, as pessoas dão mais
valor ao que pertence a si mesmo, do que ao que
pertence a todos. Aristóteles se preocupou menos com
hipóteses de uma sociedade perfeita e mais em
compreender a realidade política de seu tempo,
estudando as leis de diferentes cidades e as formas de
governo existentes. A melhor forma de organização
política, defendida por ele, é um sistema misto de
democracia e aristocracia, chamado política, para
evitar os conflitos de interesses entre os ricos e pobres.
É dele também a ideia de que o homem é um animal
político, isto é, que faz parte da natureza humana se
organizar politicamente.
A ideia de que é natural se organizar
politicamente perdurou até o séc. XVII. Thomas Hobbes
(1588 – 1679), conhecido por ter escrito Leviatã, propôs
a ideia de que a sociedade se organiza a partir de um
contrato social. Pensou assim, pois é possível imaginar
uma hipótese sobre o convívio humano antes da
formação das sociedades. Hobbes via esse momento
como uma guerra de todos contra todos, onde, em
liberdade, cada indivíduo iria apenas pensar em sua
conservação. Deste momento, no qual o homem é o
lobo do homem, a racionalidade faz o homem perceber
que a melhor forma de conservar a sua vida é perdendo
um pouco de liberdade. É neste instante que os homens
assinam um contrato fictício de convívio social. A partir
desta origem da sociedade, Hobbes pensa no melhor
governo para evitar o retorno para um estado de
natureza caótico. Com isto, vê a garantia da vida como
função vital do Estado, que deve defendê-la mesmo que
use de seu poder para coagir a liberdade dos cidadãos.
Pensando na ideia de um contrato social, John
Locke (1632 – 1704), em seus dois tratados políticos,
escreveu que antes da formação das sociedades os
indivíduos não viviam em guerra, pois estavam debaixo
de leis naturais. Para ele, é natural a garantia da vida e
os homens racionais respeitariam esta lei. A formação
das sociedades ocorre pela necessidade da garantia da
propriedade. O melhor governo, para Locke, é aquele
que garanta os direitos à vida, liberdade, propriedade
e de se revoltar contra governos injustos e leis injustas.
Ainda pensando sobre a noção de contrato, Jean-
Jacques Rousseau (1712 – 1778) via o homem vivendo
antes da formação das sociedades de forma bem
otimista. Para Rousseau, havia terra e alimento para
todos e não haveria motivos para que guerreassem
entre si. Via no surgimento da propriedade o
surgimento da desigualdade, de onde resultam
diversos males sociais, como os roubos e os
assassinatos. Neste sentido, sendo impossível retornar
a um estado de natureza, o melhor governo é aquele
que esteja de acordo com a vontade da maioria.
A forma de pensar dos contratualistas (Hobbes,
Locke e Rousseau) foi retomada no século XX por John
Rawls (1921 – 2002). Para ele, a sociedade deve
RESUMO GERAL PARA AVALIAÇÕES DE FILOSOFIA – 3ªSÉRIE – 2ºBIMESTRE 9
basear-se em princípios de justiça escolhidos na
fundação da sociedade. Em igualdade, ele pensa, os
indivíduos escolheriam dois princípios de justiça, o de
liberdades iguais para todos e o de que as
desigualdades devem trazer maior benefício para os
menos favorecidos e serem acessíveis a todos por
igualdade de oportunidade. Filipe Rangel Celeti: Bacharel em Filosofia pela Universidade Presbiteriana
Mackenzie – SP; Mestre em Educação, Arte e História da Cultura pela Universidade
Presbiteriana Mackenzie – SP
Sócrates e a Virtude Política Segundo a tradição filosófica grega, pode-se
destacar, mais uma vez, a contribuição de Platão e
Aristóteles para pensarmos a política em uma
perspectiva original, distante das conotações
assumidas em nossa sociedade e na sociedade
brasileira em especial.
Um dos diálogos de Platão (428 a.C.- 347 a.C.)
apresenta uma das teses mais antigas sobre a arte da
política. Além de antiga, ela tornou-se um marco na
história da Filosofia. O diálogo chama-se Protágoras, e
a tese sobre a virtude política encontra-se no trecho
que ficou conhecido como o Mito de Protágoras.
Um jovem chamado Hipócrates pede que
Sócrates o apresente a Protágoras (480 a.C.- 410 a.C.)
na esperança de tornar-se seu discípulo, por quem tem
grande admiração. Sócrates leva Hipócrates a uma
reunião, na qual Protágoras se exibe para uma
pequena plateia de atenienses.
Ler texto no caderno do aluno página 58 a 59.
RESUMO GERAL PARA AVALIAÇÕES DE FILOSOFIA – 3ªSÉRIE – 2ºBIMESTRE 10
SITUAÇÃO DE APRENDIZAGEM 8 A DESIGUALDADE SEGUNDO ROUSSEAU
Em 1753, Rousseau decide trabalhar no novo
assunto proposto para a Academia de Dijon: "qual é a
origem da desigualdade entre os homens, e se ela é
autorizada pela lei natural". Esse seu retorno evidencia
que, apesar da reforma que impusera à sua própria
vida, a glória ainda o seduzia. Embora habitasse Paris,
Rousseau fez à Saint Germain "uma viagem de sete ou
oito dias" para "meditar à vontade sobre esse grande
assunto". "Embrenhado na floresta, procurava nela e
nela encontrei a imagem dos primeiros tempos, de que
fielmente traçava a história" dizia ele; "peguei as
pequenas mentiras dos homens; ousei desvendar sua
natureza, seguir o progresso do tempo e das coisas que
às desfiguraram e comparando o homem do homem
com o homem natural mostrar-lhes em seu pretenso
aperfeiçoamento à verdadeira fonte de suas misérias".
Desigualdade natural e desigualdade
social Em 1753, a Academia de Dijon, na França, lançou
um concurso no qual os interessados deveriam
discorrer sobre as seguintes questões: Qual é a origem
da desigualdade entre os homens? É autorizada pela lei
natural? Jean-Jacques Rousseau já havia vencido
anteriormente um concurso semelhante, proposto pela
mesma academia, sobre o tema “Se o progresso das
ciências e das artes contribuiu para cor- romper ou
apurar os costumes”. Ele resolveu, então, participar de
novo, escrevendo seu Discurso sobre a origem da
desigualdade entre os homens. Vejamos como, nesse
texto, o autor explicou o surgimento da desigualdade
social.
Rousseau iniciou distinguindo dois tipos de
desigualdade: uma instituída pela natureza e outra
produzida pelos homens. Deixemos, porém, que o
próprio autor, em sua obra, explique mais claramente
a diferença entre elas:
“Concebo na espécie humana duas espécies de
desigualdade; uma, que chamo de natural ou física,
por- que é estabelecida pela natureza, e que consiste
na diferença das idades, da saúde, das forças do corpo
e das qualidades do espírito, ou da alma; a outra, que
se pode chamar de desigualdade moral ou política,
porque depende de uma espécie de convenção, e que é
estabelecida ou, pelo menos, autorizada pelo
consentimento dos homens. Esta consiste nos
diferentes privilégios de que gozam alguns com
prejuízo dos outros, como ser mais ricos, mais
honrados, mais poderosos do que os outros, ou mesmo
fazerem-se obedecer por eles. ” Diz Rousseau: “Não se
pode perguntar qual é a fonte da desigualdade natural,
porque a resposta se encontraria enunciada na simples
definição da palavra”: ela decorre da natureza. Por
isso, o autor dedicou-se a investigar as origens da
desigualdade que ele chamou de “moral ou política”,
isto é, da desigualdade social, procurando
compreender o processo pelo qual ela foi gradualmente
instituída pelos homens, desde os tempos mais
remotos, até chegar ao estado em que se encontrava à
época em que ele vivia (Europa do século XVIII).
Quanto ao método adotado para empreender tal
investigação, Rousseau esclareceu que “Não se deve
tomar as pesquisas que podemos realizar sobre este
tema por verdades históricas, mas somente por
raciocínios hipotéticos e condicionais”. Ele também não
levou em consideração as explicações dadas pela
religião, segundo as quais a desigualdade resultaria da
vontade de Deus, preferindo deixar de lado os dogmas
da fé e, fazendo uso apenas da razão, “formar
conjecturas, tiradas somente da natureza do homem e
dos seres que o rodeiam”. Esclarece, ainda, que não se
preocuparia em “considerá-lo [o homem] desde a sua
origem e examiná-lo [...] no primeiro embrião da
espécie”. Para entender como por meio de sucessivos
desenvolvimentos ele chegou a ser o que é atualmente.
Disse o autor:
“Não me deterei a buscar no sistema animal o
que pode ter sido no começo para se tornar afinal o que
é. Não examinarei, como pensa Aristóteles, se suas
unhas alongadas não foram a princípio garras
recurvadas; se não era peludo como um urso; e se, ao
andar sobre quatro patas, seu olhar dirigido para a
terra e limitado a um horizonte de alguns passos não
marcaria ao mesmo tempo o caráter e o limite de suas
ideias”.
Na realidade, Rousseau optou por não recorrer
aos conhecimentos disponíveis já naquela época sobre
as possíveis mudanças na conformação física e na
anatomia do homem, por se tratar de assunto sobre o
qual ele apenas poderia formular “conjecturas vagas e
RESUMO GERAL PARA AVALIAÇÕES DE FILOSOFIA – 3ªSÉRIE – 2ºBIMESTRE 11
quase imaginárias”. Em vez disso, preferiu supor o
homem como ele é hoje: “andando com dois pés,
servindo-se de suas mãos como fazemos com as nossas,
dirigindo o olhar para toda a natureza e medindo com
os olhos a vasta extensão do céu”. Vale lembrar que
Rousseau não conheceu a teoria da evolução, de
Darwin, que somente surgiria no século XIX.
Elaborado especialmente para o São Paulo faz
escola.
Comentário do Texto A nosso ver, importa destacar nesse texto as
duas espécies de desigualdade definidas por Rousseau
e suas considerações quanto aos procedimentos
metodológicos que ele adotou. No primeiro caso,
Rousseau distinguiu desigualdade natural de
desigualdade convencional, esclarecendo que é desta
última que irá tratar na obra em questão. No segundo,
explicou que utilizará raciocínios hipotéticos e
condicionais e que, por isso, suas conclusões não
podem ser tomadas como verdades históricas.
Acreditamos que essa informação é importante para
que os alunos evitem justamente tomá-las como tais e
também para que entrem em contato com esse tipo de
raciocínio (hipotético e condicional) empregado pelo
autor.
Ainda sobre as considerações metodológicas do
autor, convém reforçar também que ele opta por
deixar de lado tanto as explicações religiosas para a
desigualdade, preferindo buscar compreender seu
objeto de estudo apenas à luz da razão (e neste ponto
ele parece estar em perfeita sintonia com o movi-
mento Iluminista), quanto os conhecimentos já
disponíveis em sua época sobre as mudanças na
conformação física e anatômica do ser humano. Não
está preocupado, portanto, em descrever a evolução
biológica do homem, mas em compreender os traços
característicos de sua natureza e os caminhos pelos
quais passou do estado de natureza ao estado social,
culminando com a instituição da desigualdade.