Conto - O MISTÉRIO DO CAVALEIRO DE GEMBELL
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O
MISTÉRIO DO CAVALEIRO
DE GEMBELL
runo, é a sua vez, disso o mais velho da roda em torno da
fogueira, atirando um dos marshmallow de seu espeto, para
lembra o esquecido de que ele devia contar uma lenda assim como todos do
círculo. Bruno sabia que o momento era ideal para uma história que trouxesse
mágica, cavaleiros, rei e que causasse medo nos ouvidos pelo qual passasse, foi
quando ele lembrou de uma lenda que seu tio havia contado na sua última
temporada de férias quando ainda estavam na fazenda. Desesperadamente, porém
muito confiante no que suas palavras fariam, Bruno colocou seu espeto com
marshmallow nas labaredas da fogueira e começou:
Era manhã de Natal do ano de 1560, a fortaleza de Gembell, que está situada
sobre uma célebre e fantástica montanha, estava recoberta com um espesso manto
de neve que lhe ficava muito bem. No vasto pátio de entrada da majestosa
fortaleza, a força militar tinha aberto caminhos que conduziam às torres de defesa,
aos prédios de serviço e aos grandiosos salões. Estas novas passagens conferiam à
neve um ar de imponência, que desafiava as estreitas vielas, soando um som
sombrio que misturava - se com os ungidos dos lobos das colinas mais altas da
região.
Não precisava chegar aos altos ninhos das águias para perceber a quão
suntuosa se mostrava a paisagem. A suave neve era apenas mais um dos toques de
harmonia dos vales. Por todos os lados se viam aldeiazinhas fantásticas, cujo das
chaminés se desprendiam dezenas de colunas de fumaça azulada e prazenteira.
Uma floresta de altas árvores rodeia a fortaleza, árvores que mais se pareciam com
um lampadário de ouro acesso para uma celebração religiosa.
Pelos caminhos que levam a Gembell, diversos grupos de cavalheiros e damas
montadas à cavalo, chegavam dos castelos vizinhos que estabeleciam relações
comerciais com o Duque. Engraçado é dizer que eles pareciam quase
desaparecidos entre suas vestimentas carregadas de lã e veludos forrados com
pele de animais que iam desde coelhos até bisões, meu tio não teve compaixão
com eles haha chamou os de brega quando me contou a história.
Os visitantes foram chegando com seus narizes vermelhos de frio, mas seus
olhares brilhavam de alegria. Todos eram convidados do Duque Ricard e da
duquesa Nara, que haviam decidido celebrar nesse Natal uma missa
homenageando o nascimento do pequeno filho do casal, Eidan IV, acontecido em
meados do Outono, quando as folhas das laranjeiras e macieira começaram a cair
lentamente até o chão.
Entre os convidados que se dirigiam a Gembell havia um cortejo
particularmente destacado, digo uma presença ilustre: era o de Dom Yarns I, clérigo
de Midi - Pyrénées , personagem a quem o Duque pediu que prestigiasse com sua
presença a cerimônia e celebrasse a missa pelo bebê. Dom Yarns aceitou o inegável
convite feito pelo Duque de Gembell. Quando ele chegou uma escolta de cavaleiros
e homens de armas deixou a fortaleza para ir a seu encontro e trazê-lo por um bom
caminho, garantindo ao mesmo tempo sua segurança contra os percalços de uma
terra onde abundam os uivos dos lobos, o zumbido da neve e os bandidos de
estrada. Depois da atenção redobrada dada ao Dom, os familiares e amigos
começaram a se reunir. Assistidos por suas respectivas mães e sogras, Duque
Richard e a Duquesa Nara acolhiam os convidados na grande sala do castelo.
Os maiores problemas de uma viajem tão longa não é apenas a distância, foi
pensando assim que o Duque tomou a liberdade é garantiu que seus convidados
estariam confortáveis depois da viagem, estava previsto para que e o frio e as
fadigas da viagem se desfizessem junto ao grande fogo da lareira. Vinhos quentes e
calorosas palavras de boas-vindas faziam o resto. Cada um tinha um quarto
reservado segundo sua a condição de grau de relação comercial com o Duque,
tendo Dom Yarns recebido a mais bela peça do alojamento.
Eis que a noite se aproxima e surge o crepúsculo, que por sinal foi
deslumbrante. Como se fosse um ritual, os convidados correram e subiram em
grande número nas muralhas da fortaleza, para ver a última dança do enorme disco
amarelo que mostrou seus últimos raios por trás das densas florestas da serra. Sim,
o pôr do sol de inverno naquela região é sempre exuberante. Com a despedida do
sol, o céu transparente da noite deixou brilhar uma constelação de estrelas. Foi
nesse momento que as coisas começaram a ficar sinistras, os tocheiros entravam
em ação lançando de um lado a outros raios luminosos que entravam em contraste
com os cristais de neve que cobria a passagem que levava até a capela. Naquela
noite, a pequena igreja criada pelo pai do Duque, com fortes características
românicas ia estar cheia como jamais esteve.
Obviamente, depois que abriram-se as portas o primeiro personagem a entrar
foi clérigo de Midi – Pyrénées , seguido pelo Duque e a Duquesa, depois pelas
babás Adelaide e Misha que levavam o berço do festeiro em seus braços. Em
seguida vieram a família, os amigos e os convidados. No fim as colossais portas da
capela foram fechadas. Tudo parecia uma bela peça teatral, os convidados
andavam em sincronia, os festeiros sentam mais próximo do altar, luxuosamente
todos esperam que os festivos religiosos começassem. O clero e os coroinhas
estavam reunidos na sala por trás do altar.
A história começa a tornar se arrepiante, quando um ser desumano aparece
em meio à multidão ansiosa para a festa, ninguém havia de prestar atenção no
novo convidado, era um monge de hábito escuro escondido atrás de uma coluna.
Um grande capuz ocultava-lhe a cabeça, o que lembrava os monges da Ordem
Franciscana, mas um observador atento teria ficado surpreso contemplando na
sombra seus olhares negros desprovidos de sutileza. Mas talvez não era falta de
atenção dos demais, o novo convidado tinha essas silhuetas flexíveis que permitem
passar despercebido.
O clérigo de Midi – Pyrénées, Dom Yars I subiu ao altar e começou os ritos
iniciais da missa de meia-noite: “Dominus dixit ad me; filius meus es tu...”. Mais foi
no exato momento em que ele pronunciava essas palavras, que uma rajada de ar
quente apagou velas dos candeeiros, inclusive a lâmpada a óleo, vinda do Norte da
França, que ardia dia e noite junto ao Santíssimo Sacramento. Um murmúrio de
surpresa percorreu toda a igreja, mas o clérigo não perdeu seu sangue frio,
comandou o coroinha para que acendesse as velas e continuou como se nada
tivesse acontecido. A teimosia garantiu ao clérigo sérios problemas, a meio-
caminho do altar até os fiéis suas pernas se recusaram ir mais longe, como se
tivessem sido enfeitiçadas e viradas chumbo. Era nítido que ele já não mais podia
fingir desconhecer este segundo fenômeno. Para deixar a situação ainda mais
problemática, o canto ficou afogado em sua garganta. Os fiéis estavam
profundamente perturbados vendo nesses fatos maus presságios para o pequeno
futuro sucessor do Duque.
Não podendo avançar, o oficiante da cerimonia se viu obrigado a voltar para o
altar, deixando em segundo plano a ideia de se aproximar das fiéis. Ninguém
observou que Dom Yars tinha se posicionado exatamente no mesmo lugar onde
antes estava aquele sombrio monge. Entretanto, a Missa continuou, com o luxo dos
cantos gregorianos mais emocionantes que de costume.
Finalmente, chegada a hora da Elevação, todos estavam à espera do toque da
sineta para se ajoelhar sobre o frio chão de pedra. Mas por mais que o coroinha
tocasse sineta, som algum se ouvia na capela. Como de costume todos receberam
a comunhão. Chegou o tão esperado momento, a consagração do bebê a Deus.
Contudo, uma trovoada interrompeu o momento, um relâmpago iluminou a igreja, e
todas as lâmpadas apagaram-se como da primeira vez. Uma luminosidade de um
amarelo intenso e um odor de enxofre escaparam da capela.
Desta vez não foi possível manter o controle e como se imaginava a
desordem atingiu um auge: os guardas abriram as portas, e a multidão, que não
mais aguentava, correu para fora. O caos iniciou, vários guardas foram atropelados
e jogados para fora da capela por um ser nunca visto cuja sombra gigantesca se
tornava brilhosa quando refletida nos enormes rochedos que circulava a fortaleza.
Como anfitrião dos festivos, o Duque Ricard fez um pronunciamento com
ordens para que os convidados fossem conduzidos até o grandioso salão onde
estaria servido o jantar, para evitar transtornos e um futuro fracasso da festa. Mais
as pessoas estavam cheias de medo, ninguém tinha fome, nem ousava levantar o
olhar ou se quer romper o silêncio. Por fim, Dom Yars se animou a falar: com sua
voz imponente e sempre suave, ele explicou o que tinha acontecido as fiéis, não
sem antes dar sua bênção final. Calmamente, ele disse que esses presságios
provinham de Lúcifer, o qual durante muito tempo viveu nas regiões montanhosas
de Gembell, em forma de um cavaleiro que perdeu seu posto na força militar local,
ele ficou tão frustrado que mergulhou no Rio Tero, um rio caudaloso que passava
entres os rochedos e que causa medo em todos os camponeses, o rio era tão
poderoso que levou o corpo do cavaleiro até nunca mais poder ser visto. Desde
então ele manifesta seu despeito e injustiça agindo em torno da fortaleza.
Prometendo contornar a situação, Dom Yars disse que iria realizar uma Missa de
Exorcismo no dia seguinte.
Anos se passaram, novamente aberta a capela, descobriu-se que as lajes
estavam completamente carbonizadas como se tivesse em chamas por tempos. Os
visitantes começaram ir até a capela com um misto de curiosidade e temor, isso
porque
essa estranha noite de Natal continuou a correr de boca em boca durante muito
tempo. Porém, o demônio do cavaleiro achava que não tinha desabafado todo seu
ódio contra a poderosa e traiçoeira fortaleza de Gembell, que atualmente se
encontra abandonada, se não fosse os fogos de artifícios que saem da capela nas
noites de Natal anunciando a fúria demoníaca.
Mas ninguém foi louco o suficiente para ir verificar a veracidade dos fatos.
Bruno saiu dos encantando de sua história quando percebeu que seu
marshamallow estava mais queimado do que as madeiras que estavam prostradas
na brasa. Seus amigos ficaram horrorizados com a história, mesmo depois de Bruno
dizer brincando que tudo não passava de uma velha história de camponeses.