Contos

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Contos A propósito da leitura de "Histórias da Terra e do Mar", de Sophia de Melo B Andresen, os alunos do 8.º ano, turmas E e F, criaram novos contos na aula de Português com a Professora Madalena Morais.

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Contos escritos pelos alunos do 8º Ano

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Contos

A propósito da leitura de "Histórias da Terra e do Mar", de Sophia de Melo B

Andresen, os alunos do 8.º ano, turmas E e F, criaram novos contos na aula

de Português com a Professora Madalena Morais.

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A Gata Borralheira

- Parece-me que não o conheço…

- Conheces, vim aqui para remediar a tua vida. – Respondeu o

desconhecido.

- O que quer dizer?

- Lúcia, desde o baile há vinte anos, mudaste muito.

- Como é que sabe?

- Eu vejo tudo, vejo o mar, vejo as montanhas, vejo a guerra e vejo a

paz. Vejo-te a ti, indiferente ao mal que causas, cruel com os

outros e não conheces as dificuldades da vida. Por isso, terás de

pagar.

- Não, por favor, farei qualquer coisa para me redimir! – Gritou Lúcia.

- Então terás de desistir da tua vida e oferecê-la a quem maltrataste.

- Mas isso significa que perderei a vida! – Retorquiu Lúcia.

- Esse é o pagamento. – Respondeu o homem desconhecido.

E dito isto Lúcia caiu, com uma expressão de susto e com a pele

fria como o gelo.

David Apolinário Pereira 8.º E

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A Gata Borralheira

Estavam agora dançando no meio da sala, precisamente no meio da sala,

debaixo do lustre, quando o sapato esquerdo escorregou do pé de Lúcia. Ela

sentiu-o escorregar mas, levada pelo movimento da dança, não conseguiu

parar logo para o segurar. Olhou e viu o sapato separado de si no meio da

sala.” E disse:

- Esse sapato é meu! – mostrando o outro sapato do pé direito.

Todas as pessoas presentes no baile começaram a rir-se de Lúcia, mas

Lúcia interrompeu-as dizendo:

- Estes sapatos podem ser velhos e sujos, mas eu tenho muito carinho por

eles, foi a minha mãe que mos deu e, foi com que ela dançou no seu primeiro

baile, no qual encontrou o seu namorado que mais tarde se tornou seu

marido. Hoje, é também o meu primeiro baile, quem sabe se não encontrarei

o meu futuro marido aqui.

Todas as pessoas ficaram comovidas com Lúcia. O baile durou até tarde.

Lúcia continuou a dançar com o seu par e a música do baile tornou-se muito

calma. Então o rapaz com quem dançava disse-lhe:

- Eu amo-te!

Lúcia repetiu o mesmo e assim acabou o baile.

Passados dez anos Lúcia estava casada com o seu par e tinha um filho, uma

filha e uma boa vida. Lúcia deu os sapatos à sua filha para ela os usar no seu

primeiro baile. E assim os sapatos foram passados de geração em geração.

João Francisco 8.ºE

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A Gata Borralheira

Era uma família. Uma família pobre e ambiciosa. Os pais trabalhavam

arduamente, todos os dias da semana, para conseguirem subir na vida. Esse

casal tinha uma filha, Clara Bela. Clara Bela era uma jovem de 15 anos, era

ambiciosa tanto ou mais que os pais. Mas também era uma jovem fria, e com

auto estima.

Clara Bela estava farta de ser pobre e não poder ir aos bailes da cidade,

como as amigas. Clara Bela queria trabalhar para ganhar riqueza, mas os

seus pais queriam que ela estudasse. Clara Bela era também uma rapariga

que pensava por ela própria e não precisava das opiniões dos outros para ser

feliz.

Todas as noites, Clara Bela, tinha um ritual. Ia para o seu quarto, que era na

cave da casa, e sentava-se no chão em frente ao espelho, a pensar e a

imaginar.

Numa dessas noites, Clara Bela pensou porque é que os seus pais eram

tão pobres, tão pobres que, por vezes, não tinham o que comer. Os pais de

Clara Bela trabalhavam na agricultura, e ela ouvia várias vezes os pais a

dizerem que tinham vendido toda a colheita e que iam aproveitar bem aquele

dinheiro. Clara Bela pensava sempre que seria daquela vez que iria a um

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baile, e ficava entusiasmada. Mas isso nunca acontecia. E Clara Bela

questionava-se porquê…

Uma coisa que Clara Bela não sabia era que os seus pais esbanjavam todo

o seu dinheiro em vestidos de baile, mas não para ela, mas sim para eles

próprios. Todas as noites em que diziam que iam regar o campo, iam na

realidade aos bailes, claro que Clara Bela esperta como era, desconfiava.

Até que uma noite em que os seus pais foram “regar o campo” Clara Bela

pôs-se a pensar nisso, mas não chegou a nenhuma conclusão. Clara Bela

queria tirar tudo a limpo e vasculhou pela casa, procurando provas, e passou

por um baú que nunca a tinha intrigado, mas naquela noite fazia sentido

espreitar pois nunca o tinha feito antes. Quando ia a abrir o baú, reparou que

tinha um cadeado. Clara Bela sabia onde os pais guardavam todas as chaves

e foi buscá-las.

Entretanto no baile…

Os pais dançavam bem no centro da sala de baile, davam muito nas vistas,

na medida em que ambos tinham roupa bordada a brilhantes. Entra na sala

de baile, a vizinha da família com a sua filha, seria o seu primeiro baile. Essa

vizinha sabia tanto dos bailes com Clara Bela, em choque chegou ao meio da

sala e disse:

- Falsos, seus falsos, passam fome, e vêem para aqui fingir que moram num

palácio, e essas roupas, a quem é que roubaram?

Fez-se silêncio imediato.

-Nós…Nós… -balbuciou o pai de Clara Bela.

- Nós não roubamos, jamais! Mas queremos riqueza, juntamos o dinheiro

das colheitas, e é muito, e… e… compramos fatos.- disse a mãe de Clara

Bela humilhada.

A sala encheu-se murmúrios, perturbadores. Os pais decidiram voltar a casa.

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Em casa…

Clara Bela pegou no molho de chaves e experimentou todas elas. Os pais

de Cara Bela tinham feito isso de propósito, para se alguma vez Clara Bela

desconfiasse, como nessa noite. Mas ela estava determinada, e demorou

meia hora até chegar à última chave, rodou a chave, e… Os pais entraram

em casa no preciso momento em que Clara Bela ia abrir o baú. A rapariga

correu rápida mas silenciosamente, até ao seu quarto na cave, mas parou a

meio das escadas, e ficou à espreita para comprovar se a sua teoria estava

correta ou não.

Para seu espanto, vê a sua mãe que tivera passado fome ao jantar dessa

noite com um vestido de brilhantes. Estava chocada e começou a chorar. Os

pais não estavam preocupados quanto à presença de Clara Bela, porque

àquela hora encontrava-se sempre a dormir.

Clara Bela não aguentou e correu escada acima e disse tudo o que tinha a

dizer:

-Agora sei! Sei tudo! Vocês são uns falsos, uns falsos, sublinho! Vocês

passam fome para ter vestidos e fatos caros e nunca me deixaram ir a um

baile?!

- Filha… - disse a mãe chocada.

- Espera agora falo eu, estes anos todos enganaram-me passamos fome e

agora vens com um vestido de quinhentas mil libras?! Aposto que sei o que

está ali! – Clara Bela aponta para o baú, agarra no molho de chaves e abre-o

com a última chave.

- Estou chocada! Um baú deste tamanho, cheio de fatos de baile? Devem

estar aqui milhares de libras!

- Filha por favor...

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- Não há filha, nem meia filha! Eu não consigo, viver debaixo do mesmo

tecto que vocês! Vou viver para bem longe, vou ganhar o meu próprio

dinheiro, e ainda vão ouvir falar muito de mim!

- Não vás filha! Onde vais dormir?

Clara Bela nem respondeu. Bateu com a porta e saiu. Os pais sabiam que

ela tinha razão e deixaram-na ir. Esperaram que ela voltasse, por isso não se

preocuparam. Passados dias, meses, anos perceberam que foi uma má

decisão. Nunca mais ninguém viu Clara Bela.

Inês Melo Jordão 8.ºE

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O Búzio

No entanto, lembro-me que bebia cada palavra, cada som que emitia,

lembro-me que falava com sentimento, paixão e alegria e eu, esquecida de

que estava sozinha, sentia-me em completa harmonia com a vida, com o

Búzio, comigo mesma.

Já no cair da tarde, quando o belíssimo Sol que antes pousava sobre o corpo

do Búzio, agora apenas incidia sobre o mar, sobre as suas águas

transparentes, límpidas, parecendo suaves a um simples toque, o Búzio

caminhava comendo o pão que a criada lhe dera, com satisfação. Eu não me

cansava de o admirar, tudo nele era interessante, o seu olhar brilhante e

profundo como as ondas do mar. Decidi voltar para casa. Enquanto

caminhava sentia uma presença constante, como se alguém me seguisse,

senti um toque. Alguém me tocara, era o Búzio. Olhava-me com os seus

olhos, com os mesmos olhos com que olhava para o mar.

Todos os dias encontrava-me com ele na praia, na mesma praia onde o

conheci, e conversávamos, conversávamos com o mar, conversávamos

connosco mesmos, ríamos, emocionávamo-nos. Assim se foi construindo

uma amizade, uma bela e forte amizade, uma amizade de sonho, onde

pairava a compreensão e a harmonia. Os dias passavam e quando

terminavam, olhávamos um para o outro e depois para o Sol que ia

desaparecendo.

Catarina Carquejo 8.ºE

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O Búzio

Lembro-me de ouvir aquele homem a falar com paixão, com saudade, com

vontade de viver. Todos os dias me relembro das palavras sofridas e vividas,

e sinto que preciso de voltar àquela tarde solarenga, aquela tarde pintada de

laranja e vermelho, preciso de voltar a sentir aquela areia picada

grosseiramente, nas plantas dos meus pés. Voltar a ouvi-lo a chamá-las.

Elas, as coisas, as rochas, a areia, os cheiros, as cores, a alegria, e o

silêncio. Preciso de ouvir o silêncio das palavras daquele homem.

Lembro-me que aquele dia começara mal para mim. Foi o primeiro dia de

Agosto, lembro-me de uma grande discussão, de fugir, de chegar àquela

praia a quilómetros de casa, para poder respirar um profundo ar silencioso.

Lembro-me de as palavras e a natureza serem coisas importantes para

mim, lembro-me de começar a chorar quando olhava para o mar, e de ele me

contar histórias com palavras silenciosas. Essas palavras eram pesadas e

densas.

Lembro-me de naquela tarde ver pela primeira vez o mar sem chorar, era

nova e todos pensavam que era um medo de criança, mas o mar trepava

pelas minhas pernas e chegava aos olhos, com lágrimas doces e quentes

não frias e salgadas como o mar.

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Lembro-me de perceber que tinha algo em comum com esse homem,

preciso agora de perceber o quê... Seriam as palavras, os sentimentos as

dores…?

Lembro-me de ser consumida pelo mar pelo mar e pelas palavras desse

homem, não sei mais!

Eu vou voltar àquele dia, àquela tarde, àquele momento e vou sentir

novamente o silêncio a inundar-me de saudade, e paixão.

Inês Jordão 8.º E

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Ter um amigo é tudo

... Búzio continuava a falar com o mar, foi então que eu me levantei. Tive de

passar por plantas espinhosas que baloiçavam com a brisa do mar e, de

repente, uma tempestade de areia apareceu, mas passou muito rápida.

Quando estava a poucos passos de Búzio, ele começou a chorar. Eu toquei-

lhe com a minha mão no ombro e, logo de seguida, ele virou a cara para

mim, abraçou-me e eu perguntei-lhe por que é que ele estava a chorar. Ele

ficou calado, mas eu não desisti. Logo lhe perguntei de novo, e ele

respondeu que nunca tinha tido um amigo. Então eu disse-lhe que eu podia

ser amigo dele e ele sorriu para mim e foi-se embora com a brisa do vento e

desapareceu no horizonte.

João Francisco 8.ºE

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Silêncios

Silêncios assustadores, sim, aqueles inesperados! Que nem eu nem vocês

sabem que vão acontecer… num momento está um barulho imenso, e num

outro um silêncio que dá para ouvir o Zzzz das moscas.

E como é que esses silêncios acontecem? Acontecem, por exemplo, na fila

do autocarro, quando está toda a gente a conversar, a espreitar pela beirinha

do passeio, para ver se o autocarro se está a aproximar, e, de súbito, um

homem encarapuçado passa a correr e tira a mala de uma pobre senhora.

Nesse momento, o silêncio é tão grande que se consegue ouvir a brisa, quem

estava a conversar deixa de o fazer, quem estava a espreitar pela beirinha do

passeio recolhem imediatamente a cabeça e olham para a pobre senhora

que foi assaltada, para ver se ela está bem, e só passados 5 segundos é que

esse silêncio acaba… esse silêncio perturba o coração de qualquer

pessoa, parece que nesse curto espaço de tempo o mundo pára, tudo morre,

as pessoas ficam pasmadas, ficam boquiabertas, assustadas...

Eu pessoalmente fico diferente o resto do dia, fico triste, não consigo olhar

para as pessoas da mesma maneira, para andar na rua seria diferente, não

conseguiria caminhar normalmente, os meus passos seriam diferentes, mais

pesados mas calmos e cuidadosos, não conseguiria andar sozinha na rua,

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teria medo e receio.

Esses silêncios mexem muito com as pessoas, assustam-nas.

Contudo, depois desse silêncio interminável começa uma gritaria imensa, em

que só se ouve:

- Ladrão, ladrão! Apanhem-no!

E só os mais corajosos o cumprem.

Carolina Araújo 8.º F

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Silêncios

Há silêncios assustadores, silêncios relaxantes, silêncios constrangedores,

silêncios desejados, silêncios interiores, silêncios perturbadores. Há pessoas

que não vivem sem silêncio. Outras que se querem livrar ele. Gosto do

silêncio! Não gosto de multidões… As multidões fazem-me sentir só! Sinto-

me bem no silêncio aconchegante. Não no silêncio frio e vazio. O silêncio

bom faz-me sentir acompanhada, acompanhada como se estivesse no meio

de milhares de pessoas.

No silêncio sinto que o ar fala comigo, conversamos sempre em silêncio. O

silêncio dá-me tempo… quando estamos no silêncio, o tempo anda com uma

bola de chumbo às costas, e ando muito devagar… No silêncio eu vivo

apenas aquilo que quero viver no silêncio tudo é bom, até que um som corta

a respiração do silêncio, e o deixa caído num canto.

Quando a noite cai, o silêncio levanta-se e volta a respirar. À noite consigo

pensar, consigo ouvir-me a sussurrar. Depois vem o ar e começamos a falar

até eu adormecer e cair nos braços do tempo. O tempo carrega-me até ao

mundo do silêncio…

Silêncio, silêncio, Silêncio…

Inês Melo Jordão, 8ºE

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O Silêncio

Silêncios, sexo masculino, plural de silêncio; 1. ausência de ruído;

2. sossego, calma; 3. segredo.

Como é que conseguimos viver sem silêncios? Eis a resposta: não

conseguimos, porque o silêncio é a paz interior e, pode prolongar-se para o

exterior. Já diziam os alentejanos que sem silêncios a vida não era a mesma

coisa.

Há dois tipos de silêncios, ou seja os silêncios bons e os silêncios maus. Vou

começar por explicar o que são os silêncios bons, os silêncios bons. Como o

nome indica são bons, por exemplo é aquele silêncio que sentimos no interior

do nosso corpo quando... Ajudamos alguém, logo sentimo-nos em paz. E

agora, senhoras e senhores! Os maus da fita, como todos nós sabemos são

os silêncios maus, um silêncio mau é aquele silêncio quando estamos...

Tristes, logo sentimo-nos irritados, e assim esse silêncio pode sair do nosso

corpo em forma de ruído, consequentemente arranjamos sarilhos.

João Francisco 8.ºE

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Silêncio

“Silêncios”… momentos intermináveis, momentos de pensamento, reflexão…

Momentos que surgem quando algo não nos deixa falar, por medo, vergonha,

ou timidez…

Momentos que surgem quando algo nos provoca demasiada alegria,

depressão…

Momentos que aparecem quando nos apercebemos ou tomamos

conhecimento de algo inesperado…

Momentos que nos param no tempo e nos fazem, em instantes, pensar em

todas as nossas acções e sentimentos que nos levam a olhar à volta e

pensar no que fizemos à nossa vida, naquilo em que a tornámos…

Silêncio… algo que pode representar perfeição, destruição, fim, vazio…

São momentos, instantes, segundos… em que o mundo envolvente se

neutraliza,… o nosso cérebro… coração… a rotação da Terra… pára.

Momentos em que as nuvens enterram o sol, os ventos sufocam, o mar

arrasta-nos até à praia… e depois, com o passar de uma leve brisa, a vida, é

devolvida ao universo, e tudo volta ao seu lugar…

Lucas Garcia 8.ºF

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Rumo ao Desconhecido

Imagem de Paulo Galindro

O filho mais velho de Hans, John decidiu seguir as passadas do seu pai, e

aos dezoito anos organizou uma viagem ao desconhecido. Após a

organização, partiu numa frota de cinco navios rumo ao desconhecido,

durante dias, semanas, meses, anos.

As famílias dos marinheiros estavam já muito preocupadas com os filhos e

maridos.

Certo dia, Hans acordou com os gritos da tripulação:

– Terra à vista! Terra à vista!

Mas aquela terra não era igual às outras. Era uma terra branca e árida, com

vegetação preta e abundante. John saiu do barco, tocou na terra, era macia

como a seda.

Observou a vegetação. Notou que a vegetação só tinha vinte e seis espécies

diferentes, mas que juntas criavam uma infinidade de possibilidades.

Finalmente apercebeu-se que as infinidades de possibilidades formavam

palavras. Palavras muito organizadas e harmoniosas que criavam letras,

frases, parágrafos, capítulos.

E continuou pela selva de letras, rumo ao desconhecido.

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Ao fim de algumas horas de caminhada na densa população de palavras,

John viu ao longo um pequeno bairro, extremamente calmo e silencioso.

John e a tripulação decidiram bater a uma porta para pedir alimento.

Quem a veio abrir foi uma rapariga alta e magra de nome Joana.

Esta ofereceu-lhes jantar e conversavam durante toda a noite.

De manhã, quando John e a sua tripulação se preparavam para partir

receberam um pedido de Joana:

– Por favor, deixem-me ir convosco, quero conhecer mais do que o meu

pequeno bairro, quero partir para a aventura convosco e dar a volta ao

mundo em busca do desconhecido.

E assim foi, Joana embarcou com John, na condição de cozinhar para eles.

Mais uma vez John navegava rumo ao infinito, com um novo passageiro a

bordo.

Passavam-se dias, semanas, meses, anos, até que mais uma vez:

– Terra à vista! Terra à vista!

E mais uma vez se aventuraram por letras, frases, parágrafos, capítulos, até

que chegaram a uma velha casa onde numa vivia um homem, e uma criança.

John, Joana e a tripulação perguntaram onde estavam, a que o homem

respondeu:

– Estás na nossa humilde casa, no meio de nada.

Nessa noite o homem contou a história de uma rapariga chamada Lúcia, que

tinha morrido de uma forma peculiar.

Decidiram voltar ao rumo do desconhecido com dois novos membros, o rapaz

e a pequena rapariga.

Se uma dia vires, um navio no mar, a navegar rumo ao desconhecido,

saberás que são os nossos aventureiros em busca de novas letras, palavras,

frases, parágrafos, capítulos, histórias.

David Apolinário nº13;

João Silva nº17;

João Francisco nº18.

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Saga

Já não aguentava mais aquela demora. A frieza e a amargura do ar gélido

e pesado da noite que entrava pelas fendas das janelas antigas da casa

alimentavam o meu desespero. Hans, não chegava.

Ele insistia naquelas viagens de barco pela noite fora, era a sua verdadeira

paixão, sentir o cheiro do mar e a brisa das ondas que abalavam o barco

rangente onde navegava.

Esta ansiedade causava-me uma estranha sensação, que percorria todo o

meu corpo, tremia por fora, chorava por dentro.

As horas passavam, as nuvens voavam, as folhas caíam, e nada.

O telefone antigo e enferrujado que não sei como ainda tinha, tocou. De lá

saiu uma voz áspera e cansada.

Sem demoras e condolências, ele deu a notícia, que há muito eu já

esperava… Tinham-se acabado as viagens, as alegrias, as sensações e

emoções que eram depositadas no coração de Hans quando vagueava

aquele mar rude e selvagem.

Demorei a acreditar, não conseguia imaginar-me sobreviver numa vida sem

Hans. O pior, o pior de tudo, era a criança que Hans me tinha deixado, e eu

ainda carregava.

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Passaram-se meses, e a minha mágoa permanecia. As estações do ano

eram a única coisa que ainda possuía um ciclo à minha volta.

A criança nasceu, eu sentia que ela sofria comigo. Com o amor que tinha

por ela, eu sabia que não a podia fazer passar por tal mágoa.

Fiz as malas, fechei a porta, e com o filho que tinha nos braços, eu, Joana,

parti.

Cheguei à cidade e procurei a casa o mais longe possível do litoral.

Pousei as malas no chão, e o bebé na cama. Deitei-me, pouco depois,

reergui-me.

Olhei a janela espelhada do quarto, e decidi começar uma nova vida.

Nessa mesma noite, jurei, que a criança a meu lado, nunca iria conhecer as

águas do mar…

Lucas Garcia 8.º F